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Copyright © 2023 Stacye Caramelws

EDITORA FRUTO PROIBIDO


 
É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer
forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo
xerográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.
 
 
AVISO:
 
Atenção, as informações, bem como dinâmica escolar e os elementos presentes no texto a
seguir são de autoria da escritora, não existindo pretensão de compromisso com a
realidade escolar vigente em nosso país ou nos EUA.

 
 
 
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para Natalia,
minha melhor amiga.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 

 
 

 
 

Nem mesmo a distância de uma vida poderia separá-los.


Eles se pertenciam, afinal, qualquer um podia notar.

LIVRO 1 – DOCE GAROTA


 
 
 
 
 
 
 
 
Cameron disse que precisaria participar de uma reunião de
negócios hoje e, por esse motivo, não estaria na escola, então eu
decidi passar o intervalo sozinha.
Me sentei na arquibancada do campo vazio, o único lugar
sem ninguém... bom, isso até Karen e suas abelhas começarem a
se aproximar.
— Entrevista com a capitã — Yuna disse se sentando ao meu
lado.
— Hoje não gente.
— Como foi que começou seu namoro com o capitão?
Porque assim, foi muito rápido, não? Você mal tinha chegado na
escola… — Yuna começou, simplesmente ignorando meu pedido
— Fora que parecia falso — uma garota completou.
— O que está insinuando? — questionei e Karen riu.
— Acho que você me entendeu — ela disparou. — Acho que
começaram um namoro só pra você ter um lugarzinho de respeito
na escola.
— Desculpa, qual é seu nome? — perguntei.
— Brooke — disse ríspida.
Calleb e Luce atravessaram o campo de futebol como dois
foguetes.
— Brooke — me levantei, colocando minhas coisas na bolsa
—, acho que está tão acostumada com falsidade que não sabe ver
quando um namoro é verdadeiro — disparei quando Calleb e Luce
pararam próximos de mim.
— Conta pra gente, capitã, como foi a primeira vez de vocês?
— Karen se intrometeu.
— Me poupe, Karen, você não deve nem lembrar o nome de
quem você transou ontem — Calleb rebateu.
— Não sou igual a você que dá pro meu irmão e pra mais
vinte.
— Escuta aqui sua… — segurei Calleb e parei em sua frente.
— Não vale a pena, vamos sair daqui — pedi e Luce olhava
Brooke como se fosse atacá-la.
— Você ainda não respondeu à pergunta de Karen, capitã —
Brooke disse em voz alta e a olhei pronta para responder: — Oh
não, vocês ainda não transaram, não é? Você é da igreja —
debochou e todos me olharam.
— Como deve ser saber que o namorado já transou com
várias? — Karen questionou aos risos, fazendo as demais a
acompanharem — É legal dormir em uma cama onde várias outras
já estiveram?
Parei em sua frente e a olhei fixamente.
— Você é engraçada, Karen — disse com um sorrisinho nos
lábios e ela ficou séria —, principalmente por usar transas e
relacionamentos que não são seus para tentar me atacar, mas tudo
o que eu escuto quando você fala é uma garotinha implorando para
ser escolhida pelo menos uma vez na vida, me conte, não superou
algum menino? Sofria bullying no ensino fundamental?
Quando estava para sair, ela segurou meu braço, sem muita
força, apenas para chamar minha atenção.
— Uma hora ele vai precisar de algo além de beijos e você
não vai conseguir segurá-lo.
— Já chega! — Luce me puxou e empurrou Karen quase
fazendo-a cair — Você é louca, garota, vai se tratar — disse me
afastando de todos.
— Karen, o que foi isso? — Ouvi Yuna questionar.
Soltei a respiração começando a caminhar até o refeitório ao
ar livre onde Natalie estava com Melissa.
— Becca, o que aconteceu com o seu braço? — Natalie
questionou.
Estava com um pequeno roxo, eu provavelmente tinha batido
em algum lugar, já que a forma como Karen segurou meu braço não
foi o suficiente para aquilo, mas duvidava que eles entenderiam.
— Acho que bati em algum lu...
— Foi Karen — Calleb disse.
— Não foi, ela não segurou meu braço com força — rebati.
Mas então, ele começou a contar o que aconteceu minutos
atrás e eu o interrompia quando percebia algum fato aumentado.
No fim da história, Melissa e Natalie se entreolharam.
— Acho que vocês precisam conversar — Natalie disse.
Melissa concordou, um pouco desanimada.
— Suas próximas aulas são muito importantes? —
questionou me olhando.
— A professora não veio — comentei.
Ela concordou, balançando a cabeça e a tensão dominou o
ambiente.
— Gente, vamos — Natalie chamou.
Calleb e Luce pareciam querer ficar e entender a fofoca, mas
acompanharam Natalie.
— Isso é culpa minha — disse de imediato. — Karen gostava
de Cameron desde o fundamental porque ele era o único que não
fazia bullying com ela na escola. Eu e ela éramos melhores amigas
até eu começar a gostar dele e… — ela me olhou — isso pode ser
um pouco desconfortável.
— Continua — pedi e ela soltou a respiração.
— Escolhi ele pra ser meu primeiro — puxei a respiração e
soltei tentando disfarçar ao máximo, mas acho que não consegui e
ela abaixou o olhar.
— Como assim escolheu?
— Ele não sabia que eu era virgem, mas no meu aniversário
de dezessete anos pedi pra ele dormir lá em casa. Ele super se
preocupou se era minha primeira vez e eu insistia em dizer que não,
mas não é fácil disfarçar, então no fim ele percebeu — mordi o lábio
inferior por nervosismo e passei a mão no rosto — me gabei para
uma amiga minha e acabou chegando em Karen. Brigamos feio e
Karen tenta me superar em muita coisa até hoje, inclusive quando o
assunto é Cameron, ele é bonito e, enfim, ela sabe que me atingiria
se eles aparecessem juntos.
Balancei a cabeça negativamente e a olhei.
— Você tem noção do quanto vocês assediam Cameron só
por que ele é bonito? E pelo que vejo, o sexualizam como os
homens fazem com a gente. Acredito nos seus sentimentos, mas
você também o assediou, quem gosta não faz isso, entende?
Neji se aproximou enquanto Melissa parecia pensar em algo
para falar.
— Reunião com a diretora agora, capitã — disse abrindo um
sorriso.
— Preciso ir — avisei Melissa enquanto pegava minhas
coisas — te vejo depois — me despedi e caminhei com Neji, vendo-
a perdida em pensamentos.
 
Depois da reunião, fui direto para a consulta com o médico.
Não vi ninguém depois que sai da escola e não queria aquilo, o dia
estava péssimo.
Como minha mãe estava trabalhando e eu precisava de
alguém de maior para me acompanhar, tia Eliza se disponibilizou.
A notícia que o doutor me deu não era a melhor, ele explicou
que o índice de açúcar em meu sangue estava aumentando e
diminuindo com uma frequência violenta e, por aquele motivo, eu
estava passando tão mal com picos altos e baixos, ele me deu uma
nova dosagem da minha medicação, mas disse que eu precisaria
balancear na minha alimentação.
Acabei levando um sermão quando a nutricionista entrou na
sala. Precisei falar como estava me alimentando e odiei ter de fazer
isso na frente de Eliza, que deixava de comer para não passar mal.
A nutricionista disse que isso poderia me causar um distúrbio
alimentar.
Achei que teria boas notícias, mas o doutor Huston disse que
se continuasse assim, eu não chegaria aos trinta anos de idade e
que poderia acabar internada se essa nova dosagem não desse
certo.
Ele explicou mais algumas coisas e finalmente me vi livre de
tudo aquilo por enquanto. Passamos na farmácia para comprar
minha medicação e tia Eliza tentou me distrair, mas sabia que ela
contaria tudo a Cameron.
— Como está se sentindo? — questionou quando parei o
carro na frente de sua casa.
— Bem, vai ficar tudo bem.
— Rebecca eu sou psicóloga, não me subestime — ela disse
rindo.
Suspirei abrindo um sorriso falso.
— Só preciso pensar em um jeito de falar tudo para a dona
Olívia sem que ela surte — ela tocou em minha mão.
— Ela só quer seu bem — disse, tentando amenizar a
situação e eu a olhei.
— Ela sempre que tem uma brecha fica me cobrando demais,
vai acabar me matando com isso e tá fazendo o mesmo com Isaac
— quando as palavras saíram de minha boca, quis pegá-las de volta
—, me desculpe, a senhora não tem que ficar me ouvindo.
— Não tenho problemas em te ouvir, filha — disse
acariciando minha mão como uma mãe faria.
— Obrigada. — Sorri. — Preciso ir. Pode avisar Natalie que já
vou buscar Kurama?
— Claro, quer que eu esteja com você para falar com Olívia?
— Neguei.
— Preciso enfrentar sozinha, mas obrigada.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Quinta-feira, 19:12.
 
Como esperado, minha mãe falou durante três horas o
quanto eu era irresponsável com a minha saúde, que se fosse
necessário proibiria a Coca-Cola em casa.
— Olívia, já chega! — Papai disse, colocando as chaves na
bancada.
— Tudo bem, pai — eu disse, na tentativa de não ter que
ouvir mais brigas.
— Ela não está se cuidando, Owen! O que você quer que eu
faça? Olha que irresponsabilidade, como vai entrar na faculdade se
estiver em uma cama de hospital...
— Eu disse já chega — repetiu, ainda mantendo o tom calmo
—, não está na hora de buscar as crianças na casa de Amora? —
questionou fazendo a situação ficar totalmente em seu controle. —
Me espera no carro, por favor, Olívia.
Mamãe saiu com sangue nos olhos e eu suspirei, me
levantando.
Papai me abraçou e eu acabei rindo. Meu pai não era tão
bom em perceber quando eu estava mal, mas tentava e eu amava
aquilo.
— Não se preocupe, eu estou bem — disse quando ele me
soltou.
— Mesmo? A situação é muito ruim? — questionou, tentando
disfarçar a preocupação.
— O doutor passou uma nova dosagem, a nutricionista me
ensinou a balancear melhor minha alimentação e vou precisar fazer
exercícios na semana.
— Filha, o que você precisar, estou aqui. — Sorri
concordando.
— Melhor você ir. Dona Olívia deve estar irritada.
Papai concordou e saiu de casa antes de mim.
Chorei tudo o que tinha para chorar enquanto tomava um
banho e me sentia um pouco melhor. Troquei minhas roupas e
caminhei até a casa de Natalie.
Assim que bati na porta Molly, uma funcionária da família, me
recebeu.
— Boa noite, senhorita Rebecca — disse me dando
passagem para entrar.
— Boa noite, Molly, como vai?
— Bem, querida — disse cordialmente e me acompanhou até
Natalie, que estava contando uma historinha a Kurama e Floki, eles
olhavam o livrinho de imagens como se entendessem tudo.
— Oi amiga — Natalie se levantou e me abraçou. — Tudo
bem?
— Sim e você? — Nos sentamos.
— Como foi a consulta? Mamãe não me contou nadinha —
disse emburrada.
— Mudaram a dosagem da minha medicação, vou ter que
maneirar mais e preciso fazer exercícios pelo menos três vezes na
semana — expliquei.
— Ah sim — ela pensou um pouco —, vamos fazer
academia? Pelo menos dança e esteira? Meu tio tem algumas
academias e uma é aqui perto, família não paga — sugeriu.
— E quanto eu vou ter que pagar?
— Tá surda? — Dei um tapa em sua perna a vendo rir —
Família não paga. Além de ser namorada do meu irmão, é minha
melhor amiga. É família de qualquer forma e estou precisando fazer
também, depois que sai das líderes relaxei demais — abri minha
boca para falar, mas ela não me deixou começar a frase. — Vamos
falar com meu tio na segunda.
— Mas eu nem aceitei.
— Mas você vai — disse, sorrindo animada. — Você tinha
que ver a alegria da minha mãe quando viu Cameron arrumado para
a reunião da empresa. Ele nunca foi responsável de participar
dessas coisas e agora, meu Deus — ela riu — até parece gente.
Acho que agora ele sabe que tem responsabilidades em um
casamento e como vocês se casarão... — insinuou animadamente e
entrelaçando nossos dedos — ele nem recuou quando meu pai
disse sobre a reunião, coisa que ele sempre fazia antes.
Sorri concordando e quando me percebi que estava sem jeito
com aquele assunto, questionei:
— E você e Elliot, conversaram?
— Ah… — Ela suspirou apaixonada — para começar ele riu
de mim. Disse que ficou grudento comigo porque eu tinha
reclamado dele ser muito seco, ele estava tentando mudar e como
não falei nada, ele continuou, explicou que não gostava de ser
assim o tempo todo. E, bom, ele sabe que gosto de Andrew e disse
que respeita isso, que não se importa de terminar desde que eu
fique bem.
— E vocês terminaram?
— Então — ela riu — terminamos, mas ele acabou dormindo
aqui ontem.
— Ah — acabei rindo e negando com a cabeça —, fico feliz
por vocês terem se resolvido, só não machuca ele e nem se
machuque, caso contrário, vou atropelar os dois — ameacei e ela
gargalhou.
Paramos de falar quando a porta foi aberta e Cameron e
Arthur entraram na sala, não consegui tirar meus olhos de Cameron.
Ele estava inexplicavelmente lindo e atraente.
Usando social dos pés à cabeça, camisa branca, um colete,
calça, gravata por dentro do colete e o sapato, tudo na cor preta.
As mangas da camiseta estavam dobradas, mostrando seus
pulsos tatuados e o relógio no braço esquerdo. O cabelo estava
meio bagunçando e ele segurava o terno, também preto. Estava tão
hipnotizada que não me dei conta do momento em que Natalie e
Arthur se retiraram.
— Oi, minha princesa — disse rindo e colocou o terno em
cima do sofá.
— Estou sonhando de novo? — questionei após me levantar.
Ele abriu um sorrisinho e me puxou pela cintura.
Percebi que o Cameron de verdade ficava tímido quando
recebia elogios, pelo menos quando era eu quem o elogiava.
— Não, eu sou real senhorita — disse, selando nossos
lábios.
— Meu Deus, você é perfeito — elogiei enchendo seu rosto
de beijinhos enquanto ele sorria.
— Licença — Molly, uma funcionária da família dele, pediu
entrando na sala e me olhou —, a senhorita vai se juntar a família
para o jantar?
— Não, muito obrigada, Molly — sorri, ela acenou com a
cabeça e saiu.
— Por que não? — As mãos de Cameron apertaram minha
cintura.
— Não estou com fome — expliquei, desviando o olhar.
— Quando foi a última vez que você comeu? — indagou e eu
suspirei me soltando dele.
— Depois da consulta com o médico — disse me sentando
no sofá.
Ele tirou o colete e a gravata os colocando junto do paletó e
soltou a camisa que estava por dentro da calça.
Não sabia que era possível, mas ele conseguiu ficar ainda
mais atraente.
— Já faz tempo? — Questionou se sentando ao meu lado.
Seus braços me envolveram me puxando para si.
— Não precisa se preocupar com isso — o olhei —, minha
avó que contou, não foi? — Ele permaneceu com os olhos fixos em
mim, apenas acariciando minha cintura. — No domingo, foi isso o
que ela te disse?
— Amor…
— Preciso ir, Cam, amanhã vou cedo para a reunião — tentei
me soltar dele, mas seus braços me prendiam com firmeza. —
Cameron.
— Não fique brava com a sua avó, ela só está tentando
cuidar de você mesmo de longe.
— Eu sei, mas existem coisas que mesmo a pessoa
pertencendo a sua família, ela não tem o direito de contar —
expliquei —, isso era algo totalmente particular que eu quem devia
te contar quando estivesse pronta — consegui me soltar dele e me
levantei.
Ele se levantou, me puxou pela cintura com calma e acariciou
meu rosto.
— Desculpe invadir seu espaço assim — disse afastando
meu cabelo do rosto —, você se importa se eu durmo ou não, certo?
— Concordei — Então, você sabe o sentimento que é me preocupar
com você se alimentando ou não. É inevitável.
— Eu sei, mas prefiro comer em casa, ainda tenho que tomar
meu remédio. — Ele passou as mãos em meus braços que estavam
cobertos pela blusa de manga cumprida.
Em seguida envolveu minha cintura e me puxou com firmeza.
— Me encontre depois — pedi, envolvendo meus braços em
seus ombros.
— Com certeza — ele sorriu roçando a ponta do nariz em
meu pescoço e eu me arrepiei por inteira. — Senti sua falta. — Ele
me olhou. — Como foi seu dia hoje?
— Tranquilo. — Dei de ombros e me soltei dele. — Te vejo já.
— Selei nossos lábios e saí de sua casa rapidamente.
Cheguei em casa e, depois de cumprimentar Isaac que era o
único na sala de estar, entrei no quarto, coloquei meu pijama e me
olhei no espelho por instantes.
— Pode entrar — disse pegando a escova e a passando em
meu cabelo.
Cameron entrou e fechou a porta. Sorri o olhando e me voltei
para o espelho. Ele se aproximou e parou atrás de mim, pegou a
escova e começou a passar calmamente em meu cabelo.
— Então você e tia Olívia brigaram — começou e eu balancei
a cabeça positivamente —, e como estão agora?
— Não nos falamos ainda — expliquei.
Cameron terminou de me pentear e colocou a escova em seu
lugar. Seus braços envolveram minha cintura. O olhei através do
espelho afastando meu cabelo do pescoço para beijá-lo, isso me fez
estremecer.
Fechei os olhos sentindo os beijos percorrerem uma trilha até
minha orelha. Sua mão começou a descer a manga de minha blusa
e eu respirei fundo, pronta para fazê-lo parar, mas quando o olhei
entendi que não se tratava de tirar minha roupa.
— Natalie me contou tudo — disse me virando de frente e
olhando meu braço —, quando você ia me contar?
— Sei o quanto odeia marcas em mim, que imaginar alguém
me machucando te deixa nervoso e não queria encher mais a sua
cabeça porque sei que mesmo eu falando que devo ter batido em
algum lugar, você não vai acreditar em mim — expliquei cobrindo
meu braço.
— Sim, amor, não gosto de te ver machucada — disse dando
um passo para frente e eu um para trás — não gosto de marcas em
você — deu outro passo e eu também, já sentindo a parede próxima
do espelho em minhas costas — porque só de imaginar alguém te
tocando, te machucando, eu fico louco. Ninguém toca na minha
mulher, entendeu?
Olhei em seus olhos e balancei a cabeça positivamente.
— Não foi ela.
— Mesmo assim ela te perseguiu hoje, não foi?
Soltei a respiração.
— Você não vai fazer nada com Karen, certo?
Ele riu, selando nossos lábios com calma.
— Cameron?
— Fica tranquila — disse, me puxando pela cintura até a
cama. — Conversaremos sobre as coisas que aconteceram na
escola depois, pode ser? — questionou com a voz tranquila. — Mas
agora, só quero ficar com você.
Nos deitamos e Cameron me puxou, selando nossos lábios.
Lhe dei espaço para um beijo e me senti sendo puxada mais para
ele. Suas mãos apertaram minha cintura e eu me senti envolvida por
uma delas enquanto a outra subia em minhas costas. Mordi seu
lábio inferior, puxando-o e o vendo sorrir. Sua mão me puxou pela
nuca para não parar o beijo e sua língua massageava lentamente a
minha. Cameron puxou meu cabelo, me fazendo inclinar a cabeça e
fez uma trilha de beijos em meu pescoço subindo até minha orelha.
— Você não tem noção da saudade que eu estava de você —
sussurrou, voltando a beijar meu pescoço.
Meu pulmão estava perdendo o ar, me sentia ofegante e ficou
ainda pior quando apertou mais minha cintura. Ele passou os dedos
em meus lábios enquanto me encarava.
— E eu senti demais a sua — sussurrei, arranhando seu
braço.
Ele sorriu selando novamente nossos lábios. Não sei há
quanto tempo estávamos aos beijos quando ele nos afastou.
— Amanhã você vai sair cedo, amor, melhor irmos dormir.
— Só mais um pouquinho — pedi e ele apertou minha
cintura, negando com a cabeça.
— Não, amor, sério... melhor pararmos — disse me
encarando.
Senti minhas bochechas queimarem e concordei.
— Boa noite, amor — beijei seu rosto quando ele me
abraçou.
Sua respiração foi voltando ao normal aos poucos.
— Bê? — chamou enquanto fazia cafuné em meu cabelo.
— Oi — disse sem levantar a cabeça.
— Você sabe que não é problema nenhum te esperar, certo?
— O olhei — Mas é melhor não ir muito além. — Sorri pegando em
sua mão e a beijando.
— Não precisa se explicar, eu entendo — disse apagando a
luminária.
Senti um beijo em minha cabeça e acabei adormecendo com
suas carícias em meus cabelos.
 
 
 
 
 
Acordei com a luz do amanhecer.
Encarei Rebecca, que ainda estava dormindo, acariciei seu
rosto e afastei o cabelo de sua nuca. Beijei sua testa e me levantei
calmamente da cama para não a acordar.
Ela estava estranha desde ontem, por mais que tentasse
disfarçar, sabia que algo tinha acontecido. Natalie resumiu o
acontecimento de ontem com Karen com um ela implicou com a
Becca de novo e minha mãe disse que era melhor que Rebecca
falasse sobre sua consulta, ou seja, eu sabia de praticamente nada.
Assim que sai de seu banheiro, a vi coçando os olhos e ri de
sua cara inchada, ela fez um coque em seu cabelo e se levantou
cambaleando.
Rebecca escondeu o rosto nas mãos, como sempre fazia
quando acordávamos juntos, e caminhou até o banheiro. Não me
importava com sua cara inchada, seu cabelo bagunçado ou seu
mau humor logo cedo, não via a hora de acordar todo dia ao seu
lado em nossa casa.
Estava quase cochilando quando ela saiu arrumada do
banheiro.
— Bom dia amor — disse selando nossos lábios, em seguida
beijou a cabeça de Kurama e eu a puxei para um abraço.
— Você precisa parar com essa frescura — reclamei,
deslizando minhas mãos em sua nuca.
Parecia que depois que assumimos um para o outro os
nossos sentimentos o frio na barriga estava mais intenso, assim
como os toques, os beijos e olhares.
— Não vou parar — disse beijando a ponta de meu nariz —
porque eu quero acordar linda sempre.
— Você acorda linda sempre — afirmei puxando levemente
seu cabelo.
Ela fechou os olhos, puxando um pouco a respiração, e
sorriu. Estava hipnotizado a olhando, ela abaixou o olhar e suas
bochechas coraram.
— Preciso ir, amor.
Concordei, mas antes de deixá-la ir, selei nossos lábios com
calma. Ela me deu espaço e foi inevitável não deixar um sorriso
aparecer em meu rosto.
Quando puxei levemente seu lábio inferior com os dentes,
após beijá-la e subi a mão em sua nuca até seu cabelo, ela segurou
meu braço.
— Parou — disse abrindo os olhos —, te vejo mais tarde —
disse se levantando.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sexta-feira, 09:23.
 
Não aguentava mais o treinador falando as mesmas coisas
de sempre, mas concordei com tudo para que ele parasse logo de
falar.
O time foi dispensado do vestiário e eu fui o último a sair.
Bárbara, do jornal, estava me aguardando próxima do laboratório de
física que estava abandonado e acabou se tornando uma sala de
cadeiras e mesas reservas. Entrei no laboratório e ela me encarou
com os braços cruzados.
— Odiei ter que fazer papel de hétero só pra falar com o
babaca do Julian — disparou.
Julian, o garoto que disse que eu estava comendo bem
quando me viu com Rebecca, era capitão do time da escola que
jogaria contra os Warriors na próxima semana.
— E o que descobriu? — questionei indo direto ao ponto.
— Oliver e Kevin estão espalhando para os próximos times
que Becca é seu ponto fraco. Pelo que entendi, estão querendo tirar
vocês da jogada por ser o jogador mais talentoso e mais da metade
dos meninos dos Warriors tem chance de participar da seleção de
calouros de Stanford ano que vem, sendo assim, a oportunidade
dos meninos dos times rivais são mínimas. Eles sabem que te
desestabilizando e mexendo com a capitã vai afetar o time todo.
— Você conseguiu tirar tudo isso de Julian? — questionei
admirado.
— Por ele ser um tarado sem noção e burro, foi fácil fazer ele
falar — disse com expressão enojada.
— Eu sabia que ele era um tarado sem noção, por isso disse
que não precisava ir falar com ele — adverti a olhando seriamente.
Barbara riu, dando de ombros.
— Não posso mentir, gosto de fofocas e Eric e Adam
estavam só esperando Julian passar do limite para irem para cima.
Me aproximei da porta negando com a cabeça e a abrindo.
— Não faça isso outra vez, é perigoso, há outros meios de
saber de uma fofoca.
Ela riu concordando.
Saímos e eu caminhei até o campo de futebol americano.
Natalie estava tirando algumas fotos e Calleb observava Josh jogar,
como sempre fazia. O olhei e ele pareceu entender, pois começou a
caminhar em minha direção.
— Natalie — chamei, ela me olhou e, também, se aproximou
—, o que aconteceu ontem entre Karen e Rebecca? — questionei
ainda observando os meninos do time — Tá cansado, Eric? —
perguntou em voz alta quando o vi desacelerando, ele negou e
voltou a correr mais rápido.
— Ela usou sua vida sexual passada pra afetar Becca e, se
quer saber, acho que funcionou — Natalie disparou sem rodeios e
eu a olhei. — Conheço ela, por mais que se mantenha forte e diga
que está tudo bem, não está.
— Karen ainda questionou sobre como ela se sentia sabendo
que várias já dormiram com você, ficou nítido que nosso docinho
ficou mal, não sei como ela se manteve forte, eu já estava louco pra
acabar com Karen — Calleb admitiu —, mas imagino que foi
horrível, quando cheguei elas queriam saber sobre a primeira vez de
vocês. — Eu e Natalie automaticamente nos olhamos.
— E ela não quis dizer sobre o que estavam falando antes de
Luce e Calleb chegarem. Sabe como Rebecca é, prefere guardar
para evitar confusões a falar tudo — disse Natalie e concordei
balançando a cabeça.
— IRONSIDE! — o treinador me gritou, me despedi deles e
me afastei.
— Oi, treinador.
— E aí, garoto. — Deu dois tapinhas nas minhas costas. —
Escuta, o time reserva está muito desanimado, preciso que você
fique mais no pé deles.
— Pode deixar, vou participar do treino hoje — ele
concordou.
Os treinos pareciam ser pesados vendo de fora, mas quem
participava sequer sentia.
Quando parei percebi que o time estava dividido. O time
oficial que jogaria nos próximos jogos, composto por Elliot, Peter,
Josh, Eric, Adam, Brian, Phillipe, Cole, Richard e Noah estavam de
um lado conversando com Natalie, o que era bem estranho já que
minha irmã sempre dizia que o time era um bando de sem noção; e
do outro lado estavam os meninos reservas.
— Capitão, vem aqui — Peter chamou.
— Vocês vão continuar sendo reservas se treinarem nesse
ânimo, até minha avó faz melhor — disparei passando pelos
reservas que logo começaram a treinar com mais firmeza e me
aproximei dos outros meninos e de minha irmã. — O que está
fazendo aqui, baixinha? — Fingi apoiar meu braço em sua cabeça e
ela me empurrou.
— Seu time me chamou para conversar — explicou e olhou
para os reservas em seguida para os oficiais. — Quer dizer, alguns
deles
— Sua irmã estava dando alguns conselhos para os meninos
— Elliot explicou, Natalie parou ao lado dele e o abraçou pela
cintura.
— Conselhos sobre o quê? — Questionei ainda sem
entender.
— Sua irmã deu uma ideia, estávamos pensando em pedir
uma desculpa coletiva a Rebecca por… você sabe, até mesmo
quando Oliver estava aqui — Peter começou.
— E comentamos isso com os outros meninos — Josh disse
e olhou Phillipe e Noah, eles se entreolharam e Phillipe tomou a
frente.
— Eles não concordaram, disse que ela é linda e devia estar
acostumada com os olhares e que seria idiotice pedir desculpas,
que era desnecessário.
— E que pedir desculpas não muda nada já que eles não se
arrependem de achá-la bonita e que os pensamentos não vão
mudar — Noah disparou e eu senti um calor, movido pela raiva,
subir pelo meu corpo.
— Então os únicos do time que vão viajar com a gente são os
que estão aqui agora — Natalie explicou — Ah, alguns da natação
também vão.
Apenas concordei e em poucos minutos o treino terminou.
Depois de tomar um banho rápido, sai do vestiário e caminhei
até meu armário para pegar a chave da moto. Vi Karen sair da sala
onde o grêmio se reunia. Pensei se valeria a pena perder meu
intervalo, mas podia me atrasar na volta.
— Karen — antes que eu terminasse, ela já estava
caminhando em minha direção.
— Oi, Cam — disse erguendo a mão para me tocar, segurei-a
e a puxei até o estacionamento. — Não precisa ser tão grosso —
reclamou quando soltei seu pulso.
— Jasper me contou sobre a noite de vocês — disparei
seriamente e ela ficou pálida — e que você ofereceu muita coisa
para ele aceitar apostar Rebecca, muita coisa mesmo. Não
esperava que você chegasse a esse ponto, isso também é um tipo
de prostituição. — Ela engoliu em seco e seus olhos marejados não
me comoveram. — Eu não jogaria baixo se você não tivesse tocado
na minha garota.
— Cameron, eu posso explicar…
— Não, não pode. E não quero saber. Não ache normal o que
você está fazendo por status, olha a que ponto está chegando,
Karen, você não precisa disso... — afirmei cruzando os braços. — E
ir justamente em Jasper.
— Eu sei, ele achou um absurdo, como se ela fosse da
família dele...
Me aproximei dela e olhei em seus olhos. Ela pareceu se
encolher um pouco.
— Assim que Rebecca chegar, você vai pedir desculpas a
ela. Não quero saber mais de você falando da minha vida antes de
Rebecca, nem durante e nem depois. Não dirija a palavra a ela,
estamos entendidos? — questionei friamente, vendo-a engolir em
seco outra vez. — E se eu souber que você encostou mais nela de
novo…
— Isso não vai acontecer, Cameron, prometo — disse em voz
baixa.
— Ótimo — fui firme.
Subi na moto, relaxando os músculos de meu corpo. Odiava
aquele tipo de coisa, sabia que Rebecca me odiaria se soubesse,
estava com nojo da história de Karen e com raiva, fora que não
aguentava mais ficar longe da minha garota. Não pude estar com
ela desde ontem e isso realmente estava me matando.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sexta-feira, 11:12.
 
Natalie se sentou ao meu lado enquanto eu observava o
treino, a segunda parte dele.
— Ficou sozinho no intervalo? — questionou colocando a
câmera de lado.
— Sim.
— Está tudo bem? — A olhei rindo.
— Saudades dela — reclamei, me encostando na bancada
de cima e Natalie riu alto.
— Gosto de te ver assim — disse sorrindo.
— Apaixonado e com saudade?
— Feliz.
Eu e ela nos olhamos por instantes, ambos sabendo o
significado daquilo.
Felicidade era algo que, por muito tempo, achei que não
merecia ou que nunca mais teria.
— Você se permitindo também é ótimo de ver — concordei
balançando a cabeça.
— Mamãe falou sobre a consulta de Rebecca? — questionei
e ela concordou — A situação é muito ruim?
— Irmão, ela já tem problemas com a alimentação, depois
que descobriu a diabete parece que piorou, ela não come direito e
ficar sem comer o dia todo não é normal — explicou. — Ela vai
começar a fazer exercícios por conta da dosagem da medicação e o
médico quer diminuir, mas como vai aguentar se não come direito?
Natalie parou de falar quando Melissa começou a se
aproximar. A olhei e olhei as líderes, senti meu corpo ficar tenso e o
dia pareceu horrível quando vi Katherine chegando e se juntando a
elas.
— Posso falar com você? — Melissa questionou, sua voz
soou quase inaudível e ela parecia ter acabado de chorar.
Nada me comovia, nem mesmo Melissa, que foi minha amiga
no ano passado. Não depois que ela começou a me tratar como um
objeto sexual e me assediar, isso fez nossa amizade perder
completamente o significado. Natalie dizia que ela tinha mudado,
mas isso porque não sabia dos acontecimentos entre mim e
Melissa, no entanto, eu me lembrava muito bem do quanto ela
insistiu em transar comigo outra vez e as coisas que fazia para
conseguir o que queria.
— Agora não, Melissa.
— Por favor, Cameron — implorou.
Natalie encostou em meu ombro, olhei-a e ela apenas
balançou a cabeça positivamente, como se tentasse me incentivar a
conversar.
Suspirei aceitando.
Entramos na escola e o corredor estava vazio. Me encostei
em meu armário e a olhei.
— Se for mais uma proposta de sexo, a resposta é não.
— Não, não é isso — disse abaixando a cabeça. — Andei
pensando em tudo o que já aconteceu entre a gente — começou,
mas meu cérebro parou de processar o que ela falava quando vi
Rebecca entrar na escola e passar pelo corredor sorridente
enquanto conversava com Neji — Eu te amo sim e…
— Podemos conversar depois? — questionei ainda com os
meus olhos presos em Rebecca, Melissa seguiu meu olhar e
abaixou a cabeça.
— Claro, não quero atrapalhar — disse desanimada e
praticamente correu dali.
Não me importei muito. Algumas pessoas diziam que ela
estava sofrendo porque realmente gostava de mim, mas isso jamais
entraria na minha cabeça, depois que conheci Rebecca descobri
que quem ama jamais agiria como Melissa, jamais me assediaria e
acharia normal, jamais espalharia como foi a primeira vez só para
ter status ou para passar por cima de alguma amiga, jamais tentaria
ter sexo na base de pressão.
Encarei Rebecca que observou Melissa correndo até o
banheiro, era nítido sua expressão confusa. Ela abraçou
rapidamente Neji e caminhou até mim com a graciosidade de
sempre. Senti um frio na barriga e consegui perceber que suas
bochechas estavam avermelhadas. Aquela garota era incrivelmente
linda.
— Oi, amor — disse sorrindo.
Soltei a respiração enquanto a abraçava.
A olhei e finalmente selei nossos lábios com calma, pela
primeira vez ela deixou que a beijasse em público. Talvez por não
ter ninguém no corredor. Estava tão perdido e envolvido em seus
lábios que não conseguia ouvir nada a não ser sua respiração
ofegante, o que era uma das coisas que mais gostava de ouvir.
Afastamos nossos lábios e ela sorriu ao me olhar.
— Nossa, você viu que beijo bonito — uma garota disse
passando pela gente com um garoto.
Os dois riram baixo e Rebecca abaixou a cabeça novamente
com as bochechas avermelhadas.
— Tudo bem, minha princesa? — questionei acariciando seu
rosto — Como foi a reunião?
— Foi incrível. Achei que seria difícil, que surtaria com tanta
pressão e, quando vi alguns diretores de Stanford eu quase chorei,
mas foi muito tranquilo — ela beijou meu ombro e entrelaçou o
braço no meu para caminharmos até o estacionamento. — Todos
pareciam saber que eu e você estamos namorando — ela riu — um
dos olheiros estava lá e disse “então você é a famosa capitã dos
Warriors?” e todos diretores e olheiros me encararam admirados —
explicou empolgada de forma que era lindo de ver. — Não sabia que
tinha uma seleção de calouros em Stanford.
Paramos próximos de seu carro.
— É, começou faz só dois anos. Um projeto para ajudar os
jogadores a entrar na universidade, também tem natação, pintura e
futebol feminino.
— Entendi — disse envolvendo os braços em meus ombros.
Percebi que seu sorriso se desfez.
— Teve algum problema na reunião que você quer falar? —
Apertei sua cintura com meus braços envoltos e ela prendeu um
pouco a respiração.
— Não, foi tudo bem — afirmou se soltando de mim e a puxei
cuidadosamente pelo braço.
— Amor…
— Não foi nada — insistiu conseguindo se soltar de mim.
A segurei pela cintura e a pressionei contra o carro.
— Para de esconder as coisas de mim — pedi olhando em
seus olhos.
— Você também faz isso — rebateu.
— Eu não faço — disse calmamente.
— Você sempre faz. Tudo o que eu sei sobre você foram
outras pessoas que me contaram — argumentou sem tirar os olhos
dos meus.
— Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa — ela
negou e eu abaixei a cabeça.
— Amor — levantou meu rosto pelo queixo —, sabemos que
não é assim, você criou uma barreira tão grande para não mostrar
seus sentimentos que isso acaba acontecendo entre a gente. Sobre
o que você teve com Melissa, foi ela quem me contou, quando
defendeu Jace foi ele quem me contou, sobre o que aconteceu entre
você, Alice e Andrew foram Natalie e Elliot que me contaram, sobre
ter sumido de casa e sua relação com tio Arthur foi sua mãe quem
me contou e sobre Aaron e Lucca, foram eles quem me falaram
ontem. A única coisa que você, de fato, me falou foi que morou com
seus avós. Às vezes acho que só sei sobre você através de outras
pessoas — confessou mantendo o tom calmo.
Fiquei instantes em silêncio, assimilando nossas palavras.
— Nós dois fazemos isso — foi tudo o que eu disse.
— Eu já me abri muito mais com você. Já te contei sobre me
sentir culpada, sobre meus traumas, sobre…
— Sua avó foi quem me contou sobre sua alimentação, seus
amigos contam sobre o que as meninas daqui da escola fazem,
parte do time me disse sobre os meninos falarem coisas horríveis
sobre você na minha ausência. Não preciso ter controle sobre sua
vida, mas tem muitas coisas que você também não me conta. Às
vezes até quando é algo sobre mim, você não quer contar como
está fazendo agora — repliquei.
Ela afastou o cabelo dos ombros.
— Cameron — Katherine se aproximou —, preciso falar com
você.
Senti uma dor no estômago e mesmo assim me virei para a
garota.
— Não tenho nada para fala com você — disparei a olhando
nos olhos.
Ela pareceu assustada e deu um passo para trás.
— Por favor? Não aguento mais carregar o que aconteceu
naquela noi…
— Não ouse terminar — disse pausadamente e seriamente,
ela quase choramingou. — Vai, Katherine, vai embora.
Voltei meu olhar para Rebecca depois que a outra garota
saiu.
— Acredito que seja mais uma coisa que eu não sei — disse
soltando um suspiro desanimada.
Era um assunto tão doloroso que não sabia se era capaz de
falar sobre.
— Rebecca…
— Tinham outros representantes na reunião hoje, uma garota
da escola Rivel disse que era fácil você namorar uma santinha e
debochou dizendo que para mim devia ser um pesadelo — ela
suspirou. — Detesto isso, sabe? Mas não podia começar uma
discussão ali.
— Capitães, compramos sorvete, estamos indo para o campo
— Josh avisou, se aproximando com Peter que não parava de
batucar os dedos em uma caixa de isopor.
— Estamos indo — avisei, eles saíram e eu voltei meu olhar
para Rebecca. — Não gosto do que estão fazendo com você,
prometo dar um jeito — ela pontuou.
— Você não pode brigar com todo mundo que falar esse tipo
de coisa, é nosso fardo por estarmos em Liberty, cada
acontecimento é motivo de falatório em outros lugares — disse me
puxando para irmos até o campo.
— ...estou dizendo que entre o capitão e a capitã, acho que a
capitã cairia mais fácil se apostássemos isso — ouvi Josh, que
estava abraçado com Calleb, dizer.
— Apostar o quê? — Rebecca questionou se sentando no
meio do campo, ao lado de Peter e eu me sentei atrás dela,
abraçando-a.
Natalie passou um sorvete de pote de chocolate com menta
para Rebecca e um de céu azul para mim.
— Estávamos falando sobre vocês não conseguirem ficar um
dia inteiro sem se beijarem e que se o Cameron te provocar, você
cai — Natalie explicou.
Tanto eu quanto os meninos começamos a rir.
— Pois eu já acho que se a Rebecca quiser ela tem o capitão
nas mãos — Calleb disparou.
Por dentro eu concordava, se ela descobrisse o poder que
tem sobre mim eu estaria muito ferrado.
— Eu concordo — disse uma das líderes.
— Estou meio a meio — Natalie disse.
Um falatório sobre o assunto começou entre as meninas e os
meninos. Rebecca me olhou e eu não consegui evitar rir toda vez
que os meninos diziam que ela quem perderia.
— Se Rebecca ganhar, faremos o que ela quiser — Peter
disse em voz alta e ela abriu um sorriso como se gostasse da ideia.
— Qualquer coisa? — questionou e o time parou para a olhar.
— Qualquer coisa — disseram juntos.
— Sei que eu ganharia, mas ainda não aceitei nada —
afirmei e Rebecca me olhou.
— Não aceitou porque sabe que vai perder — rebateu com
tom provocativo.
Todos murmuram um uh e eu sorri, passando a língua nos
lábios.
— Ótimo — repliquei —, quando eu ganhar, quero que as
pessoas que torcem por Rebecca participem de dois treinamentos
de domingo, os mais pesados em que a gente acorda cedo, vai
correr e essas coisas.
— E na escola vão usar camisetas escrito eu amo os
Warriors com a foto do time durante uma semana inteira — Peter
disse e o time oficial, que estava presente, riu dando toques de
mãos.
Olhei Rebecca de forma desafiadora, mesmo sabendo que
me arrependeria. As meninas deixaram mostrar um pouco de
insegurança, mas logo reverteram a situação quando a capitã
limpou a garganta para falar.
— Caso eu ganhe — começou tendo a atenção de todos —,
quando o time for para a final, na entrada vocês dançarão Beyoncé
com as líderes de torcida. — A olhei desacreditado, as meninas e
Calleb comemoraram, os meninos do time acharam graça, mas
fecharam a cara para manter a postura. — Porém, vocês vão ter
que já começar a comemorar nas danças das vitórias de cada ponto
e o gran finale será na final. E vamos ter uma noite das garotas com
direito a unhas pintadas e tudo mais, já que se eu perder serão dois
dias de treinamento, se eu ganhar serão duas noites das garotas —
todos me olharam esperançosos.
O olhar desafiador de Rebecca me motivava a aceitar
qualquer provocação vinda dela.
— Já pode encomendar as camisetas — disse com firmeza e
deixei um sorrisinho aparecer em meus lábios.
Ela sorriu, me dando um aperto de mão.
— Então, a partir da meia noite até às onze e cinquenta e
nove de sábado vocês vão se provocar até um ceder primeiro —
Calleb explicou.
— Aproveitem o hoje então — Luce disse aos risos. —
Rebecca, eu acredito em você!
— Por favor, eu não quero usar foto dos meninos — Barbara,
do jornal, choramingou.
— Mas vai — Adam provocou rindo.
Envolvi meus braços em Rebecca e a apertei enquanto o
pessoal se provocava nos usando como pauta principal. Aproximei
meus lábios de sua orelha.
— Não se esqueça que na arte de provocar eu sempre fui o
melhor — sussurrei a vendo se arrepiar — e você não passa de
uma iniciante — completei vendo minha namorada rir.
Rebecca não retrucou, então me dei conta de que ela
guardaria tudo para o momento certo. Gostava de ver que comigo
ela sentia a liberdade de se conhecer.
Ouvimos o sinal de fim do intervalo, me levantei primeiro e a
puxei para fazer o mesmo.
— Rebecca — ela a olhou e Karen engoliu em seco —, quero
te pedir desculpas por tudo o que te falei — Rebecca franziu o
cenho, assim como Calleb e Natalie. — Me desculpe.
— Ah, sim. Ok — disse, ainda sem entender.
Karen saiu andando após ouvir Rebecca.
— O que você fez? — questionou me olhando.
— Nada demais.
Ouvi seu suspiro desanimado e ela negou com a cabeça.
Natalie a olhou, em seguida olhou Calleb e ambos saíram
rapidamente.
— Não ficarei cobrando que fale algo para mim, sempre optei
por te deixar falar quando estiver confortável para isso, mas me
incomoda não saber de nada ou coisas que são voltadas a mim e
me sinto no direito de estar incomodada. Um relacionamento precisa
de comunicação e confiança, mas você não me dá espaço nem
mesmo para te conhecer, Cameron — admitiu.
Senti uma dor no estômago e perdi a fala, sem saber o que
viria após isso.
— Você… — senti minhas mãos suarem frio — o que está
querendo dizer?
Ela me olhou confusa.
— Que precisamos nos ajudar — ela riu como se fosse obvio.
— Sei que não sou a pessoa mais fácil de lidar — admitiu
deslizando as mãos em minha cintura e senti meus músculos
relaxarem —, mas precisamos parar de achar que um não aguenta
os problemas do outro. Seu peso vai ser meu e vamos carregar
juntos. — Suspirei aliviado e ela me encarou. — O que achou que
eu diria?
— Achei que terminaria comigo — desabafei me sentindo
uma criança.
— Não baby, meu amor não é frágil e muito menos raso —
disse selando nossos lábios. — Preciso ir, prometi a Natalie que
compraríamos biquínis iguais — ela riu selando nossos lábios outra
vez.
A observei caminhar até minha irmã e as perdi de vista
quando foram para o estacionamento. Ela não tinha noção do
quanto suas palavras mudavam tudo para mim.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sexta-feira, 16:23.
 
Bati na porta da casa de Rebecca e quem me atendeu foi
Nádia, não conseguia entender seu olhar para mim, mas havia algo
de errado.
— Boa tarde, Rebecca está no quarto — avisou me dando
passagem.
Pensei em questionar, o que eu realmente fiz, mas Nádia
estava totalmente fechada, sem espaço para conversas. Ela era
alguns anos mais velha que eu e Rebecca, antes parecia flexível,
mas agora, algo estava estranho e eu não fazia ideia do quê.
Subi as escadas calmamente e lá estava Rebecca cantando
enquanto arrumava sua bolsa.
Ela gritou quando a assustei apertando sua cintura e
gargalhou se entregando aos meus braços. A puxei pela nuca
selando nossos lábios e me deliciando em seu beijo. Estava com
saudade de senti-la, de estar apenas com ela e de tê-la só para
mim.
A pressionei contra a parede enquanto nossas línguas se
massageavam lentamente. Senti suas unhas deslizarem em minhas
costas e então percebi que estava totalmente em suas mãos, ela
mordeu meu lábio inferior quando puxei seu cabelo e eu queria
mais... muito mais.
— Eu amo seu beijo — afirmei lhe dando leves beijinhos — e
amo saber que você é minha.
— E você é meu? — questionou olhando em meus olhos.
Sorri, afastando as mechas de cabelo de seu rosto.
— Sempre fui  — deslizei os dedos em seus lábios —, mas
preferia disfarçar através de provocações.
Sua fala pareceu sumir e tudo o que ela fez foi me beijar
outra vez, com mais intensidade, mais vontade. Sorri, sentindo seus
lábios descerem em meu pescoço.
Meu corpo se arrepiou por inteiro e por mais envolvido que eu
estivesse, sabia que precisávamos conversar. Mesmo um pouco
receoso, era momento de me abrir para a garota com quem queria
passar o resto da minha vida.
— Becca — ela me olhou assim que a chamei e eu acariciei
seu rosto —, quero falar com você antes de viajarmos.
Ela concordou, percebendo que era sério e nos sentamos em
sua cama.
— Ensaiei mentalmente tudo o que queria te falar e agora
simplesmente não sei por onde começar — admiti um pouco sem
jeito.
— Sobre o que estamos falando?
— Sobre tudo. Meu passado, meu presente, as meninas da
escola. Quero me conheça sim, amor, mas nunca precisei fazer isso
com outra pessoa e não sei por onde começar. — Ela riu beijando
meu rosto.
— Não vou mentir, quero saber o que você disse a Karen, o
que aconteceu entre você e Katherine porque sinto que tem algo
muito estranho, mas sempre que te olho, penso na sua tatuagem. —
Ela se sentou entre minhas pernas e me olhou. — Uma vez você me
disse que explicaria o motivo e juro que tentei imaginar qualquer
coisa que te levasse a fazer algo assim. — Ela pensou um pouco e
eu senti um incômodo em voltar nesse assunto. — Acha que
consegue me explicar? Temos tempo.
Puxei o ar para os meus pulmões. Ela segurou minhas mãos
e as beijou. Por algum motivo, sentia que não desistiria de mim por
conta do meu passado.
— Você sabe que eu também cresci na igreja, certo? — Ela
concordou.
Então comecei a explicar que no ano retrasado eu frequentei
uma igreja onde gostava de estar, onde não tinha tanta pressão
como algumas têm. Eu era baterista da banda e quando disse
aquilo, vi um sorriso se formar em seus lábios, mas logo ele
desapareceu quando citei a filha do pastor, que cantava na banda e
era dois anos mais velha que eu.
—... e ela sempre ficava em cima de mim. Por eu brincar
muito com as pessoas, todos achavam que eu ficava com várias ou
que dava em cima dela porque falava e brincava com todo mundo,
mas eu nem ligava, era um virgem que gostava de assistir anime e
jogar videogame. — Ri lembrando das melhores épocas da minha
vida antes de não conseguir mais sorrir com sinceridade.
Comecei a contar sobre quando Hilary, a filha do pastor,
começou a me ajudar com aulas de violão e que ela sempre pedia
para eu tirar a camisa.
— E eu, todo ingênuo e burro, tirava. — Ri novamente,
tentando descontrair, mas Rebecca se manteve séria e eu continuei:
— Depois que comecei a fazer academia, ela pedia sempre,
passava a mão em mim e essas coisas.
Foi impossível, enquanto contava a Rebecca, não lembrar do
quanto Hilary começou a insistir para que eu a beijasse. Ainda
conseguia vê-la se sentando em meu colo e se esfregando em mim,
até que me estressei e naquele dia fui embora.
Na noite em que fui para igreja o pai dela me chamou porque
ela tinha dito que eu tentei ficar com ela a força, mas que não
denunciaria porque considerava nossa família. Depois de uma
discussão maior do que consigo descrever, chegamos em casa e
por causa de tamanha mentira, meu pai ficou cego e eu apanhei
como nunca na minha vida, minha mãe não conseguiu intervir
porque eu não deixei, não queria que ela visse nada. Ele só parou
de me bater porque a fivela do cinto soltou e rasgou as minhas
costas.
Vi os olhos de Rebecca marejarem e ela apertou mais forte
minha mão, ela fechou os olhos como se sentisse tudo o que falei e
beijou meus dedos.
Quando um dos seguranças arrombou a porta, meu pai
estava imóvel olhando para o que fez, minha mãe surtou e me levou
para casa do meu avô paterno.
Ri fraco tentando disfarçar, fazer parecer que isso era
passado e não me abalava, mas esse tipo de coisa não passa de
uma hora para a outra e Rebecca me abraçou forte.
— Meu Deus, amor — sussurrou acariciando minha nuca —,
eu sinto muito — a envolvi meus braços, sentindo a paz que isso
sempre me transmitia.
Falar sobre isso era como tirar um peso enorme das minhas
costas.
— E por conta disso, fiz a tatuagem. Se olhar bem dá para
ver que tem uma cicatriz.
— Deixa eu ver? — pediu saindo do meu colo.
A olhei por instantes e me virei.
Levantei a blusa e senti seus dedos contornando a tatuagem,
logo ela achou a cicatriz. Quando seus lábios beijaram minha
cicatriz e, por algum motivo, prendi a respiração.
— Isso não muda nada entre nós, faz parte da pessoa por
quem eu me apaixonei — a olhei e ela sorriu — e como está sua
relação com tio Arthur?
— Não pense que meu pai é um monstro, estamos muito
bem agora — afirmei, ela me olhou por segundos e concordou. —
Quase não brigamos, para falar a verdade. Quando estamos juntos
falamos de negócios, de você, sobre a faculdade, os jogos e outras
coisas. Não tem espaço para brigas e nem motivos. Ele ainda me
pressiona quanto a faculdade, mas estamos muito bem. Consigo até
morar com ele sem sumir. — Ri dando de ombros.
— Fiquei sabendo que você parecia um de mestre dos
magos e sumia — ela riu bagunçando meu cabelo.
— Agora se sumir estou na casa da minha namorada. —
Puxei-a, selando nossos lábios. Seu sorriso foi se desfazendo.
— Não sei o que aconteceu entre você e Katherine, mas
percebo que ela te incomoda. Não quero que ela vá para a casa da
sua família sendo que é uma pessoa que te deixa desconfortável —
disse deslizando as unhas em meus braços.
— A história do meu pai já foi muito pesada, essa então… —
Suspirei.
Ela olhou o relógio e me olhou.
— Se não quiser contar, tudo bem, mas que ela não vai hoje,
te garanto que não vai!
Tentei sorrir, mas não conseguia.
Juntei toda minha coragem e mesmo com um nó na
garganta, me forcei a falar.
— Ela se aproveitou de mim bêbado.
Rebecca me encarou sem reação, como se não conseguisse
processar o que eu tinha acabado de falar. Sua voz pareceu sumir e
ela ficou apenas me olhando com os olhos arregalados, depois que
engoliu em seco conseguiu dizer:
— Ela… ela o quê? — questionou com a voz quase falhando.
— Não me lembro direito.
Rebecca se encostou na cama e me puxou para um abraço.
Me deitei em suas pernas como uma criança e ela acariciou meu
cabelo, como se não fizesse ideia do que deveria fazer.
— Como assim? — questionou calmamente.
— No começo do ano, pouco tempo depois que você voltou,
o irmão dela veio para a cidade, fez uma social com os amigos mais
próximos e me chamou. Não gosto muito de beber, mas naquele dia
acabei aceitando. Passei mal e Nathan me deixou ficar no quarto
dele, vomitei tudo o que tinha no estômago e capotei na cama.
Fiquei muito ruim mesmo. Na verdade, não lembro direito o que
aconteceu depois que passei mal, mas lembro dela se sentando em
meu colo, beijando meu corpo e… — balancei a cabeça tentando
tirar aqueles pensamentos da minha mente — não lembro de mais
nada depois dela tentando abrir minha calça — admiti com a voz
carregada de peso, era como se aquilo fosse me sufocar, eu
realmente não sabia o que tinha vindo depois. — Queria ter
conseguido fazê-la parar, mas nem conseguia me mexer. Só
resmunguei um para, não quero, mas não tive forças — admiti.
Uma lágrima silenciosa desceu no rosto de Rebecca e eu
toquei em sua mão quando me sentei na cama.
— Isso não é justo! — disse dando espaço para mais
lágrimas escorrerem em seu rosto.
Um nó se formou em minha garganta, me fazendo sentir que
tinha errado em ter contado aquela história.
— Ela não vai! De jeito nenhum! E você para de se culpar
pelo que essa garota fez — pediu como se lesse meus
pensamentos e se levantou limpando as lágrimas. — Precisamos
denunciá-la. Você não pode ficar na mesma escola que aquela
garota. — Me levantei, ela não parava quieta e começou a andar de
um lado para o outro euforicamente. — Meu pai vai pegar o caso,
ela nunca mais vai pisar em Liberty. Meu Deus, se ela aparecer na
minha frente não vou conseguir amar o próximo. —
Ri da inquietação de Rebecca. Me sentei na cama e a puxei
pela cintura.
— Não, amor, não quero voltar nesse assunto — suas
bochechas e nariz estavam avermelhados. — Por favor não. É uma
escolha minha.
— Mas Cameron…
— Por favor, Rebecca, não me faça ter que contar isso para
mais alguém, por favor — supliquei, olhando-a nos olhos.
Ela soltou a respiração e passou as mãos em meu cabelo.
Se arrumou, se sentando em minhas pernas, apertei sua
cintura e selei nossos lábios.
— Não quero que mais ninguém saiba — pedi e ela
concordou, parecendo ser um esforço enorme ter que guardar
aquilo.
— Não concordo, mas sim, essa decisão é sua e se é isso
que você quer eu respeito mesmo odiando você ter que vê-la todo
dia na escola. — Ela me empurrou, me fazendo deitar na cama e
colocou as mãos na altura de minha cabeça —, mas ela não vai pra
casa dos seus avós. Estamos entendidos, senhor Styles? —
questionou olhando nos meus olhos.
— Sim, futura senhora Styles. — Sorri, subindo a mão em
sua nuca e envolvi seu pescoço, a puxei para selar nossos lábios,
mas ela não deixou.
— Como você se sente depois de ter me contado essas
coisas? — questionou, jogando o cabelo para o lado.
A olhei por instantes, amava quando ela fazia aquilo e
demorava um pouco mais para me recuperar e afastar meu desejo.
— Mais leve — admiti e ela sorriu selando nossos lábios.
Ela ficou com os lábios próximos dos meus e olhou em meus
olhos. Tentei beijá-la e ela não deixou, tentei outra vez e ela
novamente desviou. Riu de mim e, quando fiquei sério, ameaçou me
beijar.
Estava ficando louco para sentir seus lábios e era nítido que
ela queria. A puxei pelo pescoço e a beijei com calma. De início ela
sorriu, em seguida me beijou com a mesma intensidade.
Ouvimos duas batidas na porta e nos separamos. Rebecca
se levantou e abriu a porta.
— Seus amigos já chegaram, senhorita — ouvi Nádia dizer.
— Já estamos descendo — avisou com graciosidade.
Assim que Nádia saiu, ela voltou e terminou de arrumar suas
coisas.
Me levantei e caminhei até ela, a abracei por trás enquanto
ela fechava sua bolsa.
— Está pronta para perder, capitã? — provoquei, afastando o
cabelo de sua nuca e deixando leves beijinhos em seu pescoço.
A ouvi arfar. Ela se virou calmamente para mim e sorriu de
forma maléfica.
— Você me subestima demais, senhor Styles — disse
passando os dedos em minha nuca —, mas sabemos a verdade. —
A olhei confuso.
— Que verdade?
Ela sorriu aproximando os lábios de meu ouvido.
Senti suas unhas deslizando em minhas costas e faltou ar em
meus pulmões.
— Que você sabe que não vai conseguir resistir a mim —
sussurrou e em seguida roçou os lábios em minha nuca.
Minha fala sumiu e pisquei pelo menos três vezes tentando
me recompor. Meu fim de semana seria longo.
Ela riu, selando nossos lábios.
— Vamos, amor?

 
Depois que me contou tudo sobre a relação com tio Arthur e
sobre Katherine, Cameron parecia um pouco mais leve.
Ele pegou minha mochila e descemos as escadas.
Sabia o tamanho risco que estava correndo em ter aceitado a
aposta do pessoal, mas não deixaria Cameron me subestimando no
quesito provocações.
Observei minha sala de estar com as pessoas que iriam para
a casa de campo.
Encarei Katherine e de imediato a raiva me dominou.
— Vocês podem me esperar só um minuto? — questionei.
— Mas queremos falar com você antes de sair, capitã —
Peter avisou.
Franzi o cenho.
— Serei rápida, prometo — afirmei e ele concordou. —
Katherine, preciso falar com você. — Ela me olhou assustada.
Estava prestes a segui-la quando Cameron me puxou para
um canto.
— Becca, por favor…
— Eu falei que ela não iria. Sei que a casa não é minha e
nem tenho autoridade para isso, mas você é meu namorado e eu te
quero bem, não se preocupe, prometo não quebrar o braço dela que
nem você fez com Oliver — sussurrei o vendo soltar uma risadinha.
Selei nossos lábios e caminhei até Katherine.
As líderes e as meninas do grêmio me olharam confusas.
Não eram todas que me provocavam, na verdade, nem mesmo um
terço das garotas faziam aquilo e era bom vê-las indo para a casa
de campo e simplesmente não tentando passar por cima de mim ou
criar uma rivalidade desnecessária.
— Podemos? — questionei calmamente olhando Katherine.
Ela concordou me seguindo até a cozinha, Natalie e Elliot
estavam aos beijos quando chegamos e pararam quando sentiram
que não estavam mais sozinhos.
— Tudo bem, amiga? — Natalie questionou.
— Tudo ótimo — sorri —, mas preciso de privacidade, não
deixe ninguém entrar, ok?
Ela concordou saindo da cozinha e fechou a porta.
— Rebecca…
— Já brincou de eu nunca? — Ela me olhou confusa, porém
concordou. — Então vamos brincar, mas do meu jeito. Você diz algo
que nunca fez e se eu já fiz, você me dá um soco, caso seja ao
contrário, eu te soco.
— Não acho uma boa ide…
— Eu começo — fingi estar pensando em algo e a olhei nos
olhos, dei um passo para frente e ela para trás. — Eu nunca me
aproveitei de alguém bêbado.
Ela engoliu em seco.
— Rebecca eu…
— Você vai sair pela porta da cozinha dizendo que não está
se sentindo bem, Cameron não quer entrar nesse assunto e acredito
que você não queira um processo nas costas. — Seus olhos
marejaram, mas estava com tanta raiva que sentia meu coração
disparado. — Katherine, não aceito estupradores na minha casa.
Nunca mais pise aqui. Não a quero perto de Cameron, se ele estiver
de um lado, você vai para o outro, estamos entendidas?
— Eu não transei com ele, Nathan chegou bem na hora —
disparou para em seguida perceber o que tinha falado, ela me olhou
assustada e abaixou a cabeça. — Nunca transei com ele, eu juro. —
Ri tentando me acalmar.
— Mas tentou. Acariciou ele com intenções sexuais, não foi?
— As lágrimas silenciosas desceram em seu rosto. — Isso foi abuso
sexual. Suas entidades ainda falam com você? — Disparei e a vi
começar a chorar. — Nem eu quero falar com alguém assim — me
afastei. — Pode ir embora, Katherine.
— Rebecca, por favor, eu preciso do perdão dele — disse se
aproximando de mim.
— Isso não cabe a mim. Vai embora!
Katherine ficou imóvel enquanto as lágrimas desciam em seu
rosto.
Quando ela saiu correndo pela porta dos fundos, precisei me
sentar no banco, sentindo o peso de toda aquela situação e
pensando no tempo em que Cameron carregou tudo aquilo em
silencio.
Sai da cozinha minutos depois da saída de Katherine da
minha casa.
— O que aconteceu? — Melissa questionou Isabel.
— Não sabemos, Katherine só saiu correndo. Não sei o que
ela fez, mas ainda bem que fez. Ninguém aguentava mais aquela
garota — Isabel afirmou e quando me olhou, lançou uma piscadela.
Ninguém pareceu se importar com Katherine ter ido embora e
Cameron me olhou enquanto eu me aproximava.
— Bom, já que a capitã voltou, é nossa vez de falar com ela
— Josh anunciou se levantando.
Os outros meninos do time se levantaram na mesma hora e
me olharam.
— Capitã, sabemos que fizemos errado em ter pedido
desculpas ao capitão por todas as vezes que demos em cima de
você — Peter começou.
— E por termos rido quando Oliver te apelidou de… você
sabe — Eric disse.
— E até concordamos com algumas merdas que ele já disse
— disse Richard um pouco sem jeito, ele quase nunca falava nada.
— E — Adam olhou Cameron um pouco receoso, tomou
coragem e continuou: — não temos o direito de falar de você como
estávamos falando, chegamos até a desrespeitar — ele olhou
Natalie em busca de aprovação como se ela quem tivesse o
ensinado a falar tudo o que disse.
Acabei rindo da cena, parecia uma criança e Natalie
concordou.
— Não devíamos ter deixado Oliver ficar em cima de você —
Phillipe disse.
— E nem nós devíamos ter ficado em cima, pois sabíamos
que você não gostava — Cole afirmou.
— Então queremos te pedir desculpas pelas coisas que já
fizemos e te incomodaram, não estamos em busca do perdão do
capitão, mas sim de você, porque você também é nossa capitã e o
que fizemos não foi legal — Noah finalizou.
Eles olharam Natalie que balançou a cabeça em aprovação e
todos me olharam esperançosos.
— Meu Deus, gente — disse com o queixo caído. — Vocês já
mostraram que são diferentes do que eu achei e, nossa, não
esperava. Está tudo bem agora, sei que foi pela euforia de ter
alguém novo chegando na escola — ri sentindo uma felicidade
enorme —, mas não é só eu quem me incomodo com essas coisas,
espero que daqui pra frente isso seja válido para as outras garotas
também.
Eles concordaram olhando algumas das garotas na sala e me
olharam novamente.
— Os outros meninos não concordaram com isso — Peter
disse meio desanimado, dei de ombros e o abracei.
— Não podemos mudar o mundo todo, mas só de vocês
terem feito o que fizeram já é uma grande mudança — ele sorriu. —
Ei, quer deixar sua medicação com a minha?
Peter tinha contado que descobriu ser diabético fazia dias e
eu e Cameron fazíamos o máximo para ele nunca se sentir invalido
por aquilo.
— Eu ia falar disso, nem sei como levar esse negócio em
viagens — disse meio desconcertado.
— Não se preocupe, você aprende. — O vi sorrir.
— Já estão todos aqui? — Cameron questionou.
A porta da minha casa foi aberta e Jasper entrou com
Samuel.
— Acho que agora sim — Natalie disse.
— Então vamos — ele disse, concordamos e quando íamos
sair, parei na porta.
— Preciso falar com Nádia, só um minuto — pedi e ele
concordou.
Ele me analisou por instantes, concordou e me deu um
selinho após pegar minha bolsa.
Caminhei até a cozinha e Nádia me olhou séria.
— Foi ele de novo?
— O quê? — olhei-a confusa.
— Vi seu braço antes de você colocar essa blusa, foi ele
outra vez?
— Não, nunca, nunca mesmo, nem se quer encostou em mim
de forma agressiva. — Me aproximei e segurei em suas mãos. —
Entendo sua preocupação, sei que, infelizmente, essas coisas
acontecem muito, mas eu não estaria com Cameron se isso
acontecesse, pode ter certeza — disse finalizando o assunto.
Me despedi depois de passar as instruções para Nádia e
quando voltei para a sala, todos ainda estavam em casa.
— O capitão disse que seus pais têm o costume de fazer
oração antes de viajar — Josh disse assim que me aproximei.
Sorri olhando Cameron e ele me chamou para perto. O
abracei pela cintura.
— Vou rezar para Maria nos proteger — Lana disse e eu sorri
concordando.
— Vou pedir para as minhas entidades nos guiar em paz
também — Calleb disse e concordei novamente ainda sorrindo.
— ...e que mesmo em alta velocidade, o Senhor nos proteja
— Cameron finalizou e ouvi algumas risadas.
— Amém — todos concordaram.
Caminhamos até a frente da casa para separarmos quem iria
com quem.
— Eu quero ir com Rebecca e as meninas — Calleb
resmungou.
— Mas só os meninos vão dirigindo e você não dirige ainda,
amor — Josh explicou.
— Por que só os meninos? — questionei e Cameron me
olhou.
— A Becca dirige — Luce afirmou.
— Ela está sem o carro — Cameron rebateu.
— Posso ir com o seu — sugeri, sabendo qual seria a sua
resposta.
Os meninos do time riram por saberem que ele era um
grande chato com seu carro.
— Nessa belezinha? Não mesmo — disse de forma esnobe
passando a mão no capô, em seguida se encostou ali, revirei os
olhos e ele sorriu.
Eu odiava aquele jeitinho dele.
— Qual é o problema, capitão? Está com medo de eu dirigir
melhor que você? — provoquei, vendo-o ficar sério.
Uma explosão alta de risadas dominou o ambiente. A risada
de Natalie era de se ouvir até da esquina, mas ficamos com os
olhares travados um no outro.
— Vai capitão, deixa ela — Peter incentivou.
— É, vamos ver se ela dirige bem como está dizendo — Josh
provocou.
Cameron ainda olhava fixamente em meus olhos. Não
abaixei a cabeça e algo me dizia que aquilo o agradava. Ele veio
calmamente em minha direção.
Eu estava na escada, no primeiro degrau, ele subiu apenas
um, ficando maior que eu e olhando em meus olhos. Quando me
entregou a chave, ouvi uma breve comemoração e, por reflexo, vi os
demais entrando em seus carros.
— Obrigada, capitão — disse, olhando-o.
Ele passou a língua nos lábios e se aproximou de seu carro.
Abriu a porta do motorista para mim e assim que entrei, ele se
inclinou me encarando, pois, a janela estava aberta. Mesmo com
Natalie, Calleb e Luce dentro do carro, ele aproximou o rosto do
meu e sorriu.
— Muito cuidado com essa belezinha — alertou, em seguida
aproximou os lábios de minha orelha enquanto afastava meu
cabelo, fechei os olhos com seu toque. — Eu vou te fazer implorar
por mim — disse lentamente em um sussurro.
Prendi minha respiração e ele se afastou após apertar
levemente meu pescoço. Abri meus olhos com mais dificuldade do
que o normal e o observei entrar no carro de Elliot. Natalie me deu
uma garrafinha de água, mas eu ainda estava atordoada.
— Estou  passaaaaaada  — Calleb disse prolongando a
palavra.
— Que nojo — Natalie fez uma careta.
Cameron, que estava dirigindo o carro de Elliot, deu partida
rapidamente e eu comecei a segui-lo.
— Ok, eu tenho uma pergunta — Calleb anunciou —, sou
amigo de algumas meninas de uma igreja evangélica e elas
estavam falando sobre esperar até depois do casamento, você tem
esse propósito?
Quando entendi que a pergunta era direcionada para mim, o
respondi:
— Não por ter sido criada em uma igreja, mas por algumas
coisas que já passei e, bom, há outros motivos — expliquei.
— Entendo — Calleb disse e ficou segundos em silencio.
— Mas você não tem medo de não gostar de como ele faz ou
se arrepender de ter esperado e não gostar, não ser bom? — Luce
questionou.
— Nossa, obrigado por ter questionado isso — Calleb
agradeceu nos fazendo rir. Eu sei que quero Josh e já sei como ele
é. Mas você, tipo... não sei explicar.
Não fiquei com vergonha por entrarmos naquele assunto,
tinha se tornado um pouco comum falarmos disso, ou melhor, eles
falarem disso. Eu e Luce, que éramos virgens, ficávamos ouvindo
quase sempre quando Natalie, Calleb e Lana falavam sobre.
Não demorou para entender que era um assunto comum
entre pessoas de dezessete e dezoito anos que estavam
começando suas vidas sexuais ou ainda começariam.
— Vocês acham mesmo que eu questiono se com Cameron
vai ser bom? — perguntei confusa e rindo. — Não acho que com ele
eu preciso me preocupar com isso — disparei.
— Meu Deus, Rebecca — Natalie disse aos risos.
— Justo — Calleb disse. — Pensando por esse lado, não
precisa se preocupar, é só olhar o jeito que ele te pega para saber
que…
— Calleb por favor, se controla, é o meu irmão! — Natalie
rebateu antes que ele terminasse.
— Pois eu acho que ele vai ser bem carinhoso com ela —
Luce afirmou.
Esse pensamento me fez sorrir disfarçadamente enquanto
olhava a estrada.
— Para com essa cara, sua safada, que desconfortável,
quero chorar — Natalie disse fazendo expressão de nojo e rimos.
Aquele assunto me deixava apreensiva, fazia o máximo para
não pensar, mas era inevitável. Ser bom para mim não significava
que seria para ele.
— Vamos ter que parar para abastecer antes de descer a
rodoviária — Natalie avisou.
Concordei vendo os carros parando em um posto e fiz o
mesmo.
— O pessoal vai ir comer rapidinho na lanchonete aqui do
lado, vamos?
— Obrigada, amiga, mas não estou com fome — disse
vestindo a blusa de Cameron.
— E vai ficar aqui sozinha? — Natalie questionou.
— Não é problema para mim — ela soltou a respiração.
— Então já venho — concordei balançando a cabeça e a
observei sair do carro.
No carro ao lado, Cameron havia saído e estava conversando
com Elliot e Jasper. Natalie foi até eles. Trouxe o moletom de
Cameron até o meu nariz para sentir o seu cheiro.
Ouvi duas batidas no vidro da janela.
Abaixei o vidro da janela, Cameron inclinou, se apoiando e
me encarando.
— E aí, princesa, vem sempre por aqui? — questionou com
um sorrisinho maroto nos lábios.
— Só quando você não está, hoje me equivoquei —
provoquei o olhando.
— Talvez esse equívoco tenha acontecido por uma boa
causa — ele abriu a porta do carro. Sai e com os lábios próximos
dos seus, questionei:
— E que boa causa seria? — Ele sorriu fechando a porta.
Seus lábios se aproximaram de minha orelha.
— Acha mesmo que preciso falar? — Ele roçou os lábios em
minha bochecha.
— Olha para mim — pedi, e ele o fez. Sorri olhando seus
lábios e quando ele se inclinou para me beijar, o impedi com a mão
em seu peitoral. — Você não consegue ficar um segundo sem me
beijar, como pôde aceitar uma aposta que claramente já está
vencida?
Seu olhar pareceu mudar.
Ele passou a língua nos dentes e, com a mão em minha
cintura, me empurrou contra o carro de forma que meu corpo colidiu
com ele. Seus olhos estavam cravados em mim e pareciam mais
azuis e ardentes do que antes.
— Você está muito confiante, senhorita Malik — ele deixou
leves beijinhos em minha bochecha, fazendo uma trilha até meu
pescoço e comecei a agradecer por não ter ninguém aqui onde
estávamos. — Vai ser ótimo acabar com essa sua confiança. —
Senti meu cabelo sendo puxado e seus lábios pararam em meu
pescoço apenas me deixando sentir sua respiração. — E vai ser tão
rápido que você vai ficar impressionada consigo mesma. — Ele
apenas roçou os lábios em meu pescoço e o apertou.
Um arrepio forte passou por todo o meu corpo. Não tinha
forças e nem condições para falar. Quando ele se afastou, consegui
soltar a respiração.
Engoli em seco e abri os olhos, em seu rosto vi um sorrisinho
vitorioso.
— Para de me olhar assim — reclamei, o empurrando pelos
ombros.
Estava prestes a entrar novamente no carro quando ele me
puxou pela cintura.
— Vamos comer alguma coisa.
— Eu comi antes de você chegar lá em casa, amor. — O
olhei. — E sério, não estou com fome. Acabei almoçando muito
tarde, mas se estiver com fome eu vou com você.
— Certeza? — questionou me olhando.
— Sim, baby — ri o olhando e selei nossos lábios —, e você,
não vai comer?
— Eu me alimento certinho, dona Malik — provocou.
— Vai jogar na cara mesmo? Palhaço — brinquei fingindo
estar brava.
— Vou sim, baixinha — disse bagunçando meu cabelo e
rimos quando ele me abraçou. — Tá dirigindo meu carro direito? Tá
cuidando do meu filho?
— Cameron, você é insuportável — o empurrei para me
soltar dele, mas fui segurada firmemente pela cintura.
— Amo quando você fica brava — disse sorrindo, juntou
minhas mãos nas suas e as beijou.
— Vamos, gente? — Ouvi Natalie chamar.
Ele me olhou e apenas balançou a cabeça positivamente.
— Te vejo em casa, amor.
— Até, amor — selei nossos lábios e ele abriu a porta para
que eu entrasse no carro.
 
Enquanto cantávamos e conversávamos, percebi que os
meninos estavam tentando me fechar na estrada para não os
ultrapassar.
— Eles estão de graça — Calleb observou.
— Isso é coisa do Cameron, tenho certeza — Natalie afirmou
e a olhei em concordância.
— Sabe o caminho da casa dos seus avós? — questionei e
ela sorriu entendendo.
Meu pai me ensinou muito bem a dirigir e até fizemos uma
competição eu, ele e meu primo Nicholas em uma estrada. Minha
mãe odiou e brigou com a gente, mas ficou orgulhosa em saber que
eu passei de Nicholas, mas era impossível ultrapassar meu pai.
Comecei a dirigir com quatorze anos e com dezesseis tirei
minha habilitação, pouco antes de voltar para o Brasil, minha cidade
natal, e ter que dirigir escondido.
 
Quando chegamos na rodovia, com Natalie me explicando o
caminho, acelerei o carro e, depois de ultrapassar Eric, Brian e
Adam, ultrapassei Peter que estava com Josh. Calleb fez questão
de mostrar o dedo do meio para Josh.
— Passa o Jasper, passa o Jasper. TACA O PAU DOIDA! —
Luce disse animada.
Jasper ainda tentou não me deixar ultrapassar e por pouco
quase conseguiu, ele dirigia igual a um doido.
— MEU DEUS, QUE DELÍCIA — Luce disparou animada
quando consegui o ultrapassar.
O carro de Cameron era ótimo de dirigir e mais rápido e
potente que o de Elliot. Quando o ultrapassei, Natalie fez uma festa
que me fez gargalhar. Mas eu não estava tão a frente, Cameron
parecia um doido dirigindo e se esse carro estivesse em suas mãos,
não teria o ultrapassado.
— Sentiram o sabor? — Natalie se gabou.
— É o poder — Calleb disse.
— Não sabia que você dirigia tão bem — Luce disse. — Na
verdade, nunca vi alguém dirigir tão bem assim depois de Cameron
e Jasper — elogiou.
— Muito obrigada, Luce — agradeci sorrindo.
— Meu pai quem me ensinou. Em uma pista dessas ele
adoraria competir comigo — ri dando de ombros.
— E sua mãe odiaria — Natalie completou.
Não demorou muito para que chegássemos.
A entrada deixava claro que era tudo enorme. Sabia que a
família Styles era umas das mais ricas do estado, mas não sabia até
que ponto.
O primeiro portão automático se abriu, precisamos fazer o
reconhecimento facial e só nos deixaram entrar por estarmos com
Natalie. Passamos por mais um portão e descemos do carro para
ser revistado. Natalie dispensou as polícias que iam revistar nossos
corpos. Mas por Calleb ser homem, ele não conseguiu se livrar.
Entramos no carro e passamos do terceiro portão que era
apenas por segurança. Finalmente vimos a mansão luxuosa da
família e meu queixo caiu na medida que eu me aproximava.
Na frente havia uma pequena fonte com uma estátua de leão
sustentando sua boca aberta em um rugido que, curiosamente,
jorrava água dali, também havia estátuas de dois tigres sentados de
cada lado, como se estivessem de vigia. De cara entendi que a
família Styles era uma família de líderes e que muitos os seguiam.
Logo na entrada tinham seguranças e funcionárias com
uniformes combinando. Natalie os cumprimentou, fizemos o mesmo
e entramos.
A mansão luxuosa tinha paredes cinzas e pretas, as mobílias
e vidraças eram pretas e tinha uma enorme sala de estar com uma
escada enorme para o andar de cima.
Observei a casa e senti um certo conforto porque tinha um
jeito total do Cameron. Era luxuosa, mas não extravagante. Como o
quarto dele com paredes pretas e cinzas escuro.
— Essa mansão é mesmo dos seus avós? — questionei
Natalie em voz baixa.
Ela apenas negou.
Ouvimos os demais entrando na casa e com eles vieram a
barulheira, mas Cameron e Elliot ainda não tinham chegado.
— Cameron está conversando com os seguranças — Peter
explicou me olhando como se tivesse lido meus pensamentos.
— Ele esperou todos chegarem, deixou todos os carros
passarem na frente para ver se todos vieram mesmo, é impossível
não se apaixonar por… — a garota, Amber, que estava falando se
calou quando outras líderes a olharam, em seguida alguns olhares
se voltaram para mim.
— É, é difícil assim mesmo — Melissa disse se sentando no
sofá.
Fiquei feliz por Lana estar indiferente quanto a aquele
comentário.
Peguei meu celular e liguei para meu pai, pois ele queria
saber se eu tinha chegado bem e pediu que eu ligasse quando
chegasse.
— Oi, docinho — o ouvi dizer do outro lado do telefone.
— Oi, paizinho — disse saindo da sala de estar e entrando no
primeiro lugar que vi.
— Como está? Como foi a viagem? — Observei a enorme
cozinha e tirei da mochila uma pequena bolsa térmica onde estava a
caixinha com minha mediação e a de Peter.
— Foi tudo bem, ultrapassei os meninos dirigindo o carro de
Cameron — afirmei rindo.
— Dirigiu com cuidado?
— Sempre.
— Essa é a minha bebê — papai riu.
— Manda um beijo para a mamãe e para os meus irmãos.
— Eles estão mandando outro, querida, qualquer coisa me
ligue — pediu. — Te amo.
— Te amo.
Desliguei a chamada e me sentei no banco.
Queria conseguir controlar aquele sentimento horrível ao
perceber que alguém desejava Cameron, queria não sentir nada,
sabia que ele não tinha culpa, mas... ficava perdida diante daquilo.
— Se eu não te conhecesse eu diria que você está um
pouquinho incomodada, mas como te conheço — a olhei —, então
tenho certeza de que está muito incomodada. O que foi, amiga? —
Natalie parou em minha frente.
Soltei a respiração e ela me abraçou.
— Não desconfio de Cameron. Sei que ele gosta de mim e
não tenho dúvidas, mas eu vejo os olhares das meninas, sei que ele
ficou com algumas que estão aqui — bufei. — Fico segurando tudo
isso porque não quero ser fraca nem uma louca ciumenta porque
não sou, mas é tão... — soltei a respiração — chato e
desconfortável. Não há o que fazer, tenho que superar, sei disso,
mas…
— Sua insegurança não deixa — completou. — Imagino tudo
o que está passando pela sua cabeça e isso não tem a ver apenas
com as garotas querendo o Cam porque você é sim muito forte para
se incomodar com esse tipo de coisa. Eu perdi minha virgindade
ano passado com Andrew — admitiu e meu queixo caiu, mas ela
não me deu espaço para questionar nada. — Estava ficando com
ele e ficava pensando: e se Raquel e Alice foram melhores que eu,
ele ainda vai gostar de mim? — Aquilo, por algum motivo, me doeu.
— E sempre que ele me chamava para ir a algum lugar eu pensava
nisso e nunca ia. Não estou falando que você vai fazer o mesmo,
pelo amor de Deus — rimos —, mas o que quero dizer é para não
pensar o mesmo que eu. Não ficar pensando em algo que Cam
claramente nem pensa.
— Como assim claramente?
— Você é um oceano de inteligência, mas tem uns pingos de
lerdeza que até Luce sendo a pessoa mais lerda que já conheci
ficaria impressionada — acabei rindo mesmo que aquilo fosse,
aparentemente, uma crítica. — Meu irmão sempre foi uma pessoa
muito carnal em relação aos sentimentos, para ele era um rostinho e
corpo lindos e estava tudo certo. Mas ele, com você, é bem mais
forte. Não sabia que ele podia ser emocional ou sentimental porque
estava bem longe disso, mas... o que quero dizer é que está
estampado na cara dele que ele nem consegue lembrar de como
foram as transas ou ficadas passadas porque tudo o que ele vê é
você, ele mesmo me disse — ela me olhou — para de chorar —
pediu rindo.
Limpei meu rosto, sendo levada pelas risadas.
Era uma loucura, e um poucos assustador, estar em um
relacionamento pela primeira vez.
Ela passou os dedos em minhas bochechas e me fez a olhar.
— Entende que você é quem está pensando nessas coisas e
não ele? Sei que isso não é uma coisa que muda do dia para a
noite, mas não fique segurando tudo. Estou aqui por você. — Ela
limpou novamente meu rosto. — E se não tiver forças para esquecer
tudo isso e ter um fim de semana tranquilo, daremos um jeito.
— Não, não vou deixar isso atrapalhar, só precisava falar —
sorri a abraçando e relaxando meu corpo —, obrigada amiga.
— Na verdade, eu queria te agradecer — disse quando desci
da cadeira e eu a olhei confusa.
— Pelo quê? — Ela riu.
— Por não ter desistido de mim. Você sabe que já usei
drogas e até foi me buscar em uma festa quando chegou em Los
Angeles, não desistiu de mim mesmo sabendo que eu estava com
Andrew como amante e nem mudou comigo mesmo eu te afastado
durante anos, enfim, nunca desistiu de mim mesmo com inúmeros
motivos.
— Que amiga eu seria se desistisse? Até parece — disse,
beijando o rosto dela que sorriu me olhando.
— Acho que eles já chegaram.
— Preciso colocar as medicações na geladeira, o abençoado
do Peter nem deve se lembrar — eu disse e Natalie negou.
— Não vamos deixar nessa geladeira, os meninos vão
encher de bebidas, é perigoso — disse colocando a caixinha de
volta na bolsa. — Vem. — Ela entrelaçou nossos braços e me
entregou a mochila.
Assim que voltamos para a sala de estar os olhos de
Cameron se fixaram em mim. Pelo seu olhar imaginei que eu devia
estar com o nariz e olhos avermelhados por ter chorado. Outras
pessoas também me olharam, mas voltaram a atenção para um
homem que estava nos apresentando os funcionários e explicando
que, para o que precisássemos, eles estariam as ordens.
Os olhos de Cameron não saíram de mim por um segundo
sequer, até mesmo quando Robert, o homem que estava fazendo as
apresentações, disse algo e precisou da confirmação dele.
— Eu estou morrendo por você — Calleb sussurrou e eu o
olhei confusa —, o jeito que ele te olha, estou passando mal.
Ri negando com a cabeça e olhei Cameron que tomou a
frente para falar.
— Vocês podem sair pela área toda pois é tudo da minha
família, exceto depois das cercas, mas precisaria ir muito longe para
chegar até lá, elas são elétricas e não me responsabilizo por
machucados que podem causar. Os responsáveis de vocês
autorizaram a vinda de cada um, portanto, não me responsabilizarei
e nem a minha família — comecei a estranhar o porquê de tanta
burocracia, afinal, são apenas jovens aproveitando um fim de
semana, não? — Mesmo assim, a segurança de vocês é muito
importante, deixando claro que minhas prioridades são Natalie e
Rebecca — disse com firmeza e meu corpo começou a esquentar
—, estão todos avisados e a única coisa proibida é qualquer tipo de
assédio e abuso, independentemente de estarem bêbados, quanto a
isso. Vocês já sabem como lido com esse tipo de situação. — Seus
olhos encararam friamente os meninos que concordaram. — Sobre
drogas — ele riu — Jasper, Peter e Josh estão avisados do que
pode ou não — os três riram junto com Cameron.
— Obrigado pelas informações, senhor Styles — disse
Robert.
— Uau — Luce e Calleb disseram juntos.
— Ele parece um chefe da máfia passando ordens — Luce
afirmou em voz baixa.
Natalie permaneceu em silêncio, assim como eu.
— Ele é um verdadeiro líder — Calleb admirou.
O observei e, claramente, ele iria querer saber o motivo de eu
ter chorado.
— Vamos mostrar os quartos de vocês — Robert avisou e
todos começaram a segui-lo para a enorme escada.
— Peter — Cameron chamou, se aproximando de mim e
subiu a mão em minhas costas, acabei puxando a respiração e a
soltando com calma —, o quarto que você vai ficar tem um frigobar
pra colocar sua medicação e, caso você precise comer algo doce,
tem as coisas lá.
— Nossa cara — Peter disse admirado e deu um sorrisinho.
— Ele namora uma diabética, esperava o quê? — questionei
rindo e entregando a medicação dele.
— Obrigado mesmo, vocês dois — disse.
Concordamos e uma funcionária levou Peter até seu quarto.
Logo em seguida Cameron pegou minha mochila e subimos as
escadas.
O corredor era enorme e sua cor era preto fosco.
Nas paredes havia candelabros pretos e pratas, e no teto
luzes bem claras. Na parede esquerda, cinco quadros espalhados
estampando jogadores famosos e artistas antigos, havia algumas
coisas escritas em outros idiomas em todos eles. À direita, uma
árvore genealógica começando pelos avós paternos Styles.
Cameron tinha três tios e uma tia. A árvore estava incompleta, as
últimas fotos eram dos primos de Cameron, dele e Natalie.
Chegamos no fundo e havia duas bifurcações.
— Esses dois corredores dão para os quartos, quer ver? —
concordei e seguimos a direita. — Aqui são os quartos com camas
de solteiros, as crianças e jovens ficam mais aqui e esses são para
os casais.
— Por que tanto quarto? — questionei enquanto
caminhávamos até o último quarto.
— Minha família é enorme e a gente sempre se reúne —
explicou.
Os dois últimos quartos, um de frente para o outro, estavam
trancados. Cameron os abriu, eram grandes, organizados e não
eram pretos e cinzas como os outros, as paredes eram um azul bem
claro.
— Esses são os quartos dos meus avós e dos meus pais,
visita nenhuma entra aqui, são apenas deles — disse, trancando a
porta de ambos.
Natalie saiu de outro quarto e nos olhou.
— Esse é o de Natalie e bom, ela decorou conforme o gosto
dela — concordei rindo — e esse — ele abriu um quarto igual aos
outros, preto e cinza — está separado pra Nicolly e Carter.
— Eles vão vir? — questionei animada e Natalie se animou
também.
— AH, NÃO ACREDITO — Natalie pulou em Cameron, o
abraçou e em seguida me abraçou. — Ela precisa de um biquíni
igual ao da gente, aí meu Deus! Vou pedir para alguém trazer —
afirmou animada e Elliot se aproximou.
— Eles vão chegar amanhã cedo ou de madrugada.
— Calma — pedi e eles me olharam —, você quer colocar
Natalie e Elliot e Carter e Nicolly em quartos juntos? Casais em
quartos apenas para eles?
— Qual é o problema? — Cameron questionou confuso.
Olhei Natalie e Elliot, ele me olhou concordando e passando
a mão na nuca.
— Cameron é muito difícil não transar, ok? Você sabe disso e
ficar atentando não vai dar certo — Natalie disparou antes de mim.
— Meu Deus, Natalie, eu ia explicar de uma forma mais
tranquila — eu disse aos risos e Elliot ficou roxo de vergonha.
— Ai, me desculpa — pediu e Cameron acabou rindo.
— Eu e Becca conseguimos — disse vitorioso.
— A Becca consegue, né? E você consegue porque ela
consegue, por si só eu duvido que…
— Ok, já entendemos — afirmei e Cameron mostrou o dedo
para Natalie, o puxei para o quarto vazio. — Escuta, Natalie e Elliot
não são eu e você, Elliot é a moda antiga e por mais que Natalie
não ultrapasse os limites dele, é difícil para ambos. Você ter um foco
não significa que não vai ter problemas no caminho, entende? — ele
concordou — E Nicolly, bom, ela vai esperar até depois do
casamento e ele respeita isso, mas ela não consegue ficar tão de
boa quando dorme com ele. Eles estão noivos e, enfim, por mais
que a gente tenha um pensamento e um foco, nosso corpo também
pede.
— Natalie e Nicolly dormem no quarto de Natalie e os
meninos dormem no outro.
— E eu vou dormir onde?
— Comigo, no meu quarto que vou te mostrar agora.
— Não mesmo — afirmei puxando minha mão para que ele
não me fizesse segui-lo.
Ele me olhou e riu. Em seguida se aproximou e me puxou
calmamente pela cintura.
— Por quê? Seu corpo está pedindo? — O olhei tentando
ficar séria, mas acabei rindo.
— Meia noite começa a aposta, não vou arriscar ficar perto
de você essa noite, serei uma donzela em perigo se ficar — afirmei.
— Você não respondeu minha pergunta — gelei o olhando,
sentindo meu corpo pegar fogo e me afastei dele.
— Vou precisar de um frigobar no quarto de Natalie — dei um
selinho rápido e, já que a porta estava aberta, entrei no quarto dela.
— Elliot, hoje você vai dormir com os meninos — afirmei o vendo rir.
Era claro que meu corpo pedia, mas meu coração e meus
sentimentos estavam tão focados em conhecê-lo por inteiro e em
amá-lo pelo que ele era, que os nossos corpos eram as últimas
coisas que queria que se conhecessem.
 
Coloquei uma calça de moletom um pouco mais apertada do
que de costume, uma regata fina que não precisava de sutiã e
cobria até metade do abdômen, tudo na cor preta. Puxei a blusa de
frio do Paris Saint-Germain que  era  de Cameron e me encarei no
espelho enquanto passava a escova nos cabelos.
Ouvi duas batidas na porta e abri a porta.
Cameron me olhou de cima abaixo e sorriu.
— Já começou a valer a aposta?
— Não, por quê?
Ele deslizou lentamente a mão em minha cintura por dentro
da blusa de frio, na parte onde a regata não cobria e o contato de
sua mão quente com minha pele me fez arrepiar. Quando me puxou
para perto com firmeza precisei respirar fundo.
— Você fica linda usando minhas blusas sabia? Mesmo
quando rouba alguma — riu olhando meus lábios.
— Não roubei. Essa blusa, querido — disse fingindo deboche
— foi a que você deu quando me sujou na escola.
— Não te dei não.
— Deu sim — rebati apertando suas bochechas e selei
nossos lábios, em seguida mordi levemente seu lábio inferior e ele
me apertou com força.
— Vamos comer e depois te mostro nosso quarto.
— Seu quarto — corrigi.
— Que em breve será nosso — rebateu me fazendo sorrir.
— Preciso ver como está a  caramelinho  antes — ele
concordou.
Depois de medir minha glicose e ver que estava tudo bem,
envolvi meu braço no dele e saímos do quarto.
— Por que estava chorando? — questionou assim que
descemos a escada.
— Estava falando com Natalie sobre algumas inseguranças
que tenho — expliquei.
Ele apenas concordou e beijou minha testa, mas seu olhar
ficou um pouco desanimado.
Suspirei esfregando minhas mãos e ele me olhou confuso.
Estava tão tensa que qualquer pessoa poderia notar, tomei coragem
e finalmente disse:
— Tem muitas coisas que quero e preciso te contar — ele
parou em minha frente e entrelaçou nossos dedos —, mas precisa
ser em um lugar privado, com só eu e você.
— Tem certeza? Você esperou meu tempo para contar tudo.
— Quero que me conheça de verdade.
Ele sorriu concordando e entramos na sala de jantar.
Por algum motivo os meninos gritaram em comemoração à
nossa chegada.
Cameron puxou a cadeira para mim, em seguida se sentou
ao meu lado. Duas funcionárias vieram para pegar nossos pedaços
de pizza e nos servir.
— Não precisa — sorri para a jovem garota de cabelos loiros
—, mas obrigada — ela olhou Cameron como se pedisse permissão
e ele apenas concordou.
Tanto ele quanto eu nos servimos.
Senti um peso e quando levantei meu olhar vi uma garota de
cabelos ruivos me observando e analisando. Não parecia um olhar
de raiva, pelo contrário, de certa forma era triste e até doloroso. Ela
virou o rosto quase que de imediato quando percebeu que estava
me encarando, franzi o cenho sem entender, voltei a comer e, após
a garota servir mais um pedaço de pizza a Jasper, ela retornou ao
seu posto. Olhei Cameron que falava algo com Peter, Josh e Elliot.
Quando colocou a mão calmamente em minha perna e beijou
minha bochecha me fazendo sorrir, olhei novamente a garota e seus
olhos estavam marejados.
— Amor… — Ele parou de falar.
Seus olhos estavam em mim, mas não o olhei, estava focada
na garota.
Ela o olhava como as outras garotas apaixonadas por
Cameron. Ele seguiu meu olhar, chamou um funcionário com um
aceno de mão e disse algo baixo no ouvido dele. O homem apenas
concordou e seguiu até a garota.
Cameron apertou um pouco minha coxa me fazendo tomar
um gole de limonada para me manter calma. Observei o homem
dizendo algo a garota que estava a ponto de chorar, ela concordou
sem nos olhar e saiu silenciosamente.
— Explicarei em um momento oportuno — sussurrou em meu
ouvido e beijou meus lábios. Concordei e foi quase impossível não
ouvir a gritaria das meninas conversando.
As líderes e Melissa estavam fazendo uma bagunça
desnecessária e as funcionárias ficavam limpando o tempo todo se
forçando a não reclamar e nem fazer cara feia. Os meninos
pareciam uns selvagens sem noção espalhando comida.
Natalie, Calleb e Luce comiam como pessoas normais, até
Peter, Josh, Elliot, Neji, Jasper e Samuel. Percebi que tinha amizade
com as pessoas certas, exceto com Jasper e Samuel que não tinha
muito contato.
Olhei Cameron e seu olhar denunciou que ele me entendia.
— Posso? — questionei, ele sorriu concordando e voltando a
comer — Qual é o nome da garota que está limpando a sujeira das
líderes o tempo todo?
— Maya.
— Maya — chamei a garota que estava pronta para limpar
novamente e ela me olhou assustada —, não precisa recolher
novamente os guardanapos que ela nem usou, ela pode muito bem
juntar e jogar no lixo.
— Mas ela está aqui justamente para isso — Melissa rebateu
e todos ficaram em silêncio.
A arrogância de suas palavras desceu rasgando em minha
garganta.
— Manso, manso, manso — Natalie pediu me fazendo
segurar a risada.
— Não, Melissa, ela não está aqui para sustentar seus
caprichos de rainha e nem os de ninguém. Cada um aqui pode
muito bem limpar a própria sujeira. Os funcionários não estão aqui
para limpar as nojeiras dos meninos ou suprir os caprichos que
vocês meninas estão fazendo. Eles não recebem para isso e nem
trabalham exclusivamente para vocês.
— E é para você que trabalham? — Melissa rebateu e eu me
senti frustrada por ela estar agindo daquela forma.
— Ela é minha futura esposa, Melissa. Você realmente quer
ficar rebatendo sobre pessoas que em breve vão trabalhar para ela?
— Cameron disse tão calmamente que desestabilizaria qualquer
pessoa.
— E ela não está se referindo só a você — Natalie tentou
amenizar, Cameron não teve um pingo de dó com Melissa, sabia
que era coisa entre os dois, por isso não questionava e não falava
nada —, isso vale para todos porque isso é senso. Vocês estão
acostumados a pessoas servindo comida na boca, mas com a
nossa família não é assim. Ninguém é servo de ninguém, são
funcionários e eles são da nossa família também! — Natalie
disparou.
Olhei Luce e ela acenando com a cabeça indicou que queria
falar comigo, em seguida olhou Natalie e fez o mesmo. Eu e ela nos
olhamos.
— Já venho amor — disse em voz baixa e ele concordou.
Cameron me observou saindo. Os olhares dele acabavam
comigo.
— Ela não está bem — Luce disparou assim que entramos
na cozinha —, não estou justificando, mas quero que vocês saibam.
Não estou ficando com ela, por mais que eu queria, ela não gosta
do mesmo que eu, não sei ela é confusa — ela riu como se aquilo
não doesse. — Estava tentando ajudá-la e estava dando certo. Mas
tudo foi por água abaixo quando a irmã dela ligou para mãe dizendo
que esse ano a família não teria a coroa, Alice debochou de Melissa
quando a mãe a chamou para a chamada de vídeo. A senhora
Morgan ficou desapontada na hora.
— Por causa da merda de uma coroa? — Natalie disparou.
— Sim… não. Quer dizer, também. Morgan ama ter uma boa
reputação na vizinhança e sempre quis Cameron como genro,
quando viu que Melissa não o segurou, ficou decepcionada. Não
vou justificar tudo só na mãe e na irmã dela não, ela também é bem
soberba e arrogante. Não procura ajuda e, de verdade? Não quer
ser ajudada. Tentei até onde aguentei, mas ela estava me sugando
— Luce demonstrou sua tristeza quando seus olhos marejaram. —
Por que eu me sinto tão errada em colocar minha saúde mental
acima da dela?
— Porque você gosta dela, mas se as duas não ficarem bem,
ninguém ajuda ninguém — afirmei, em seguida a abracei forte.
— Acho engraçado o jeito que você bate e mesmo assim não
dói tanto. — Luce riu, recebendo o abraço, o que foi ótimo já que ela
não era uma pessoa muito afetiva no toque.
— Sinto muito, mas não vou ficar do lado de Melissa —
Natalie disse —, ela queria uma oportunidade de se redimir com
Cam e ter seu perdão, eu ajudei, mas não conte com isso já que ela
quer regredir a garota que ela era antes. E se for para cima de
Becca, a coisa ficará muito feia para ela!
— Ela tentou mesmo, mas depois que Becca chegou, ele
simplesmente esqueceu tudo e nem deu atenção a Mel — Luce
disse me fazendo entender o motivo dela ter saído correndo quando
cheguei na escola. — Ela não vai superar ele tão cedo, acho que
chegou a gostar dele de verdade.
— Isso não justifica tudo o que ela fez meu irmão passar! —
Natalie rebateu com raiva na voz.
— Ei — segurei sua mão —, parou.
— Todo Styles é esquentadinho, né? — Luce observou —
Não estou justificando nada mesmo. É só que Rebecca merece
saber com quem está lidando e mesmo com o coração apertado,
não vou ficar do lado da Mel.
— Sei que você sabe muito bem se defender sozinha, mas se
Melissa vacilar, principalmente com você, nem que me peça o
contrário, vou acabar com ela — Natalie prometeu.
Quando fui puxada para a sala de estar fiquei pensando na
forma que Natalie se comportava com quem amava. Cameron
também era assim, um pouco mais agressivo e bem menos
paciente, mas defendia seus afetos todas as formas possíveis.
Achei graça quando cada um pegou a própria sujeira, jogou
nos lixos e colocou os pratos e copos em bandejas seguradas por
funcionários. Em seguida foram para a ala de piscina e ligaram o
som extremamente alto.
— Senhorita Rebecca — uma senhora chamou quando
Cameron puxou minha cadeira para que me levantasse, a olhei e
ela aparentemente era bem severa —, em nome de toda a equipe,
obrigada pelo que falou aos seus amigos. É muito importante para
nós alguém com um pensamento assim, principalmente sabendo
que será nossa próxima chefe — ela sorriu de forma simpática e
todo o seu jeito frio e severo se esvaiu.
— Isso pode demorar um pouco — sorri sentindo os braços
de Cameron me envolverem —, mas era o mínimo que podia fazer,
principalmente vocês sendo da família — afirmei sorrindo.
— Aliás, sou Matilde, a capitã da equipe — se apresentou. —
Para a senhorita, estou à disposição para qualquer coisa, assim
como o resto da equipe.
— Está disposta a não me chamar de senhorita? —
questionei rindo.
— Isso não funciona com a Mati — Cameron disse rindo e
me abraçou com firmeza.
A senhora sorriu e com toda a educação do mundo se
despediu de nós.
Senti os lábios de Cameron beijarem meu pescoço.
— Precisamos levar nossos pratos antes — avisei, ele riu
olhando a mesa e nossos lugares estavam vazios.
— Matilde pediu que levassem sem que você percebesse —
o senti respirando em meu pescoço e em seguida uma mordida
leve. — Você que escolhe — ele me virou de frente, deu passos em
minha direção, e eu para trás, até sentir a parede em minhas costas
—, te beijo depois que sairmos daqui ou te beijo aqui mesmo? —
Suas mãos apertaram minha cintura, me puxando para si e seus
lábios se aproximaram de minha orelha. — Com o pessoal
passando e limpando as coisas. — Ele me pressionou ainda mais
contra a parede e eu fechei os olhos. — Eu não me importo se
verem o quanto eu gosto de te beijar. — Mordi os lábios.
— Você não ia me mostrar seu quarto? — questionei estando
totalmente perdida com seus toques.
Ele me olhou sorrindo e concordou estendendo a mão como
um convite. A segurei e ele me guiou pelas escadas. Passamos pelo
corredor a esquerda, só então fui me dar conta da porta ao fim do
trajeto. Ela se abriu em duas depois de Cameron encarar uma
câmera situada no topo. Passamos dali e, antes que subíssemos
uma escada branca, o segurei pela mão.
— Calma, isso não é do seu avô — afirmei —, isso é tudo
seu? — questionei e ele riu.
— Sim, amor, mas vamos subir.
As luzes se acendiam nos degraus na medida em que os
subíamos. Estava tão impressionada por saber que era tudo dele
que fiquei sem fala.
Cameron abriu outra porta no topo das escadas, dessa vez
com sua digital e meu queixo caiu assim que a luz do quarto se
acendeu.
Caberiam três apartamentos aqui. As paredes eram de vidro
preto, tinham duas pilastras pretas e no meio uma cama enorme,
um piano a esquerda, uma bateria, um violão e uma guitarra a
direita. No meio tinha um tapete enorme cinza escuro, no canto a
esquerda tinha um cúbico com um saco preto de pancadas e luvas
de boxe. As mobílias eram cinzas e pretas, um pouco à frente da
cama tinha um sofá preto e uma televisão enorme. Era tudo tão
luxuoso e tão solitário ao mesmo tempo.
— É tudo tão lindo, amor — o olhei admirada —, mas não
tem janelas?
Ele riu ouvindo minha pergunta e com as mãos em minha
cintura me puxou para a parede depois da cama.
— Konan, abertura dois — disse em voz alta e as paredes
pretas ficaram transparentes após um barulho parecido com o do
Windows em um computador.
Arregalei meus olhos, daqui tinha a visão de tudo, até de uma
cachoeira que parecia a uma boa caminhada de distância daqui.
O céu estava estrelado e olhei mais além vendo colinas e
pequenas montanhas. Observei abaixo onde o pessoal estava
dentro da piscina. Alguns fumando, conversando, se pegando e
essas coisas. A música não chegava até aqui ou as paredes eram a
prova de som.
— Não sei o que falar — afirmei ainda sem reação e ele
sorriu.
— Nunca trouxe ninguém aqui, só meus pais, meus avós e
Natalie sabem desse quarto, outras pessoas nem sabem onde dá a
porta do fim do corredor, a maioria das vezes venho para cá por
outras passagens — o abracei pelos ombros —, contei a todos que
aqui é de meu avô, pois os meninos iam querer vir sempre e sendo
do meu avô posso arranjar uma desculpa.
— Nunca, na minha vida, eu imaginaria que isso tudo é seu
— ele começou a caminhar até a cama dele comigo de costas para
ela — e nem sabia o quanto sua família é rica.
— Seu pai sabe de tudo e com você demos autorização para
falar o que você quisesse saber — ele explicou e eu neguei com a
cabeça.
— Sua vida financeira nunca me interessou, nem a de
Natalie. Sei que vocês são ricos porque já saiu em um jornal, mas
não perguntei, pois não vi necessidade, isso não me interessa —
afirmei e ele sorriu apertando minha cintura.
— Depois desse jornal todo mundo quis ser amigo de Natalie
e de mim, sendo que já queriam isso pelo tal status que tenho em
Liberty. A diretora sempre pegou leve comigo porque meu pai banca
todos os projetos da escola, não porque ela acredita no meu
potencial. E olha, ela não sabe da metade do que temos — ele disse
e eu selei nossos lábios com calma.
— Acredito que ela conheça o seu potencial sim, mas quando
se tem muito dinheiro as pessoas se aproximam por isso, não todas,
claro — ele concordou.
— Por esse motivo proibi a área depois das cercas — franzi o
cenho —, é minha propriedade também, mas tem uma garagem
subterrânea onde escondi os carros.
— Meu Deus — ri impressionada — e ainda tem mais —
admirei o vendo rir.
— Aqui é enorme, na verdade — ele me empurrou
cuidadosamente me fazendo cair deitada na cama —, vamos ter
muito tempo para ver cada lugarzinho daqui — afirmou ficando em
cima de mim e beijando meu pescoço.
Sorri o ouvindo e seus dedos se entrelaçaram nos meus na
altura de minha cabeça.
— Eu nunca vi alguém tão linda como você — disse
admirado.
Seus olhos azuis esbanjavam adoração.
Sorri acariciando suas mãos com os polegares e passei a
língua nos lábios enquanto ele apenas me encarava.
— Me sinto perdida em você e ao mesmo tempo sei que
encontrei meu lar — admiti o vendo sorrir —, é incrível e assustador
— ele concordou.
Senti seu peso em mim e me inclinei para beijá-lo, mas ele se
afastou. Roçou os lábios nos meus e se afastou novamente. O
encarei entendendo. Subi minhas pernas em sua cintura e as
entrelacei, o puxando mais para mim. O vi engolir em seco e suas
bochechas pareciam estar queimando. Ele olhou para baixo e puxou
e soltou a respiração duas vezes.
— Me beija logo, Cameron — pedi impaciente e ele sorriu
voltando a ter controle de si mesmo.
Sua mão direita escorregou até minha cintura e seus lábios
se aproximaram de minha orelha, ele sabia que isso me fazia perder
o foco com facilidade.
— Vou adorar ouvir isso daqui algumas horas — com sua
respiração estava cortada, sua voz rouca e falhada, ele me olhou e
eu precisei fechar os olhos para não me entregar — e acabar logo
com essa aposta, já sabemos quem sempre ganha.
O olhei sorrindo e em um movimento rápido o empurrei para
ficar por cima.
— Desculpe. — Deslizei minhas mãos na cama, em seguida
escorreguei as unhas por seus braços e entrelacei nossos dedos
como ele tinha feito antes. Passei meus lábios em seu pescoço,
mas sem tocá-lo, apenas o deixei sentir minha respiração e
aproximei minha boca da dele. — O que foi que disse?
Ele sorriu passando a língua nos lábios e ficamos nos
encarando por instantes, mas por motivos que ambos entendíamos,
sai de cima dele.
Cameron continuou deitado, tentando controlar a respiração e
passou a mão no rosto avermelhado, sabia que estava com
vergonha por ele nunca ter ficado assim... bom, não que eu tivesse
sentido.
— Se quiser, a gente conversa amanhã — sugeri e ele riu
negando.
— Não, não precisa. Só… me desculpa — pediu ainda sem
me olhar.
Ri em silêncio e optei por me afastar.
— Tudo bem, amor — me levantei e caminhei até a enorme
parede de vidro transparente. — Ei, você toca bateria? — questionei
olhando a bateria do quarto e voltei meu olhar para o pessoal
festejando logo abaixo.
Senti meus ombros sendo cobertos por uma manta fina e ele
se sentou ao meu lado, acompanhando meu olhar.
— Não, bom, não mais — explicou.
Apenas concordei e ele entrelaçou nossos dedos.
— Não está incomodada depois do que aconteceu aqui?
— Não amor, não estou — o tranquilizei —, sabia que uma
hora isso aconteceria.
— Achei que nunca tinha passado por algo assim já que…
nunca namorou. — Senti meus olhos encherem d'água e abaixei o
olhar.
— Não precisei namorar para sentir alguém excitado — o vi
franzir o cenho —, mas foi em uma situação bem horrível — ele
apertou minha mão — nada parecido com isso aqui. Estou tentando
falar tudo sem chorar. — Ri, levantando meu olhar
Ele me abraçou e antes que eu pudesse falar, estava
chorando em relembrar tudo e seu abraço ficava cada vez mais
firme, me sentia protegida e quando estava um pouco aliviada o
olhei.
— Vou contar tudo, até chegar nessa história — ele
concordou.
Antes pegou duas latas de água de seu frigobar, trouxe uma
toalhinha higiênica preta e me entregou, depois se sentou
novamente.
— Leve o tempo que for necessário — pediu, beijando minha
testa.
— Certo. — Pensei um pouco e finalmente tomei coragem. —
Tia Eliza já deve ter contato sobre eu ter adquirido diabetes e sobre
fazer muitas coisas ao mesmo tempo, não foi?
— Sim, contou.
— Isso tudo começou quando tinha dez anos, meus pais me
colocaram para fazer francês e eu sempre estudei em período
integral, então meu fundamental todo foi das sete da manhã até às
cinco da tarde. Aos sábados fazia francês e estava ótimo para mim.
Quando fiz onze anos minha mãe me colocou para fazer piano e
karatê também. Comecei a ficar muito cansada, só tinha onze anos,
fazia piano depois da escola de segunda a quarta, francês no
sábado quase o dia todo, karatê na quinta e sexta e no domingo
tinha igreja, tinha que estudar as matérias da escola e fazer as
tarefas. Fora que sempre participei de coisas na congregação. Meu
pai nem sempre foi tão bom comigo e minha mãe, bom, é minha
mãe…
Ele abriu as latas de água e me olhou.
— Falei a ela que estava cansada e ela contou para o meu
pai, mas contou como se eu não quisesse fazer mais nada por
frescura. Papai chegou dizendo que eu só estudava, não trabalhava,
não tinha que levar comida para casa, que eles nunca pediram nada
além do meu esforço e que eu ainda fazia corpo mole, que queria
desistir por frescura. — Suspirei. — E o que eu podia fazer? Era só
uma criança e quem tinha que me defender, me entender e me
ajudar estava me atacando. — Ele entrelaçou nossos dedos. —
Então cresci com o pensamento de que tudo o que faço por quem
eu amo é o mínimo.
— Ainda pensa assim?
— Às vezes, comecei a trabalhar porque ouvi muito a
conversa de que eu só estudava — ficamos em silêncio por
instantes e Cameron parecia não saber o que falar, então continuei.
— Eu sempre, sempre tirei notas boas e as mais altas da turma, até
da escola. Mas duas semanas antes do meu aniversário teve
reunião dos pais e o professor de geografia disse que eu estava
com uma nota ruim e, sendo a ótima aluna que era, eu facilmente
conseguiria recuperar com uma prova. O professor ainda tentou
aliviar minha situação dizendo que já tinha resolvido com a diretora
e que eu conseguiria.
“Qualquer pessoa via como meus pais eram comigo. Quando
chegamos em casa o que minha mãe disse foi um: vou contar tudo
ao seu pai, eu lembro que chorei implorando para que ela não
falasse pra ele, tinha medo porque ele sempre gritava comigo,
nunca falava numa boa. Ela me fez ir as aulas de piano e colocar
um sorriso no rosto. Quando cheguei em casa e vi meu pai, só
chorei. Eu só queria que alguém me entendesse sabe?”
“Mas tudo o que tive foram os dois contra mim, com os dois
era assim. Minha mãe enchendo a cabeça do meu pai sem me dar
espaço para justificativas e os dois ficavam contra mim. Não estou
falando que eles tinham que ficar um contra o outro, mas queria ser
escutada. Fico feliz por eles terem melhorado”.
Suspirei sentindo lágrimas em meu rosto, acabei rindo de
mim mesma e ele me abraçou beijando minha cabeça.
— Não sabia que doía tanto até começar a falar com alguém
que não fosse terapeuta. — Ele concordou acariciando meu cabelo
e me estendeu a lata de água.
— Quer continuar? — Concordei após tomar um gole.
Seus braços me fizeram ficar ainda mais próxima, ele
depositou suas mãos em minhas pernas e me olhou.
— Fui fazer a prova um dia antes do meu aniversário, meus
pais não podiam entrar comigo na sala, só estava eu, o professor de
geografia e uma coordenadora. Foi quando tive um ataque de
pânico, comecei a chorar de desespero e ficar sem ar, eles acharam
muito estranho já que eu sempre fui inteligente e a prova estava
fácil. Contei a eles que estava com medo de falhar e de cara
entenderam. Com a autorização da coordenadora, o professor
explicou as questões, sem dar respostas claro. Ele corrigiu quando
meus pais entraram na sala e eu gabaritei a prova. No dia seguinte
foi meu aniversário, mas eu estava tão, tão triste por ter ouvido que
não me dedicava o suficiente, que levava a vida na brincadeira e
pela forma agressiva deles que nem queria sair da cama. Mesmo
assim, como teria festa de aniversário com vários convidados, me
forçaram a sair da cama e…
— Parei de falar quando vi um flashback passando diante de
meus olhos.
— Amor? — O olhei.
— Sempre tive unhas grandes, mas por ser muito nova as
cortava porque, em brincadeiras, acabava machucando as outras
crianças. Porém, como era meu aniversário, pedi a mamãe que
deixasse um pouco grande para poder pintá-las. — Ri ao me
lembrar disso. — Antes de descer para a festa, comecei a me
beliscar com as pontas das unhas, achava que sentindo dor física
eu aguentaria a dor que sentia por dentro.
O vi me olhar totalmente sem reação e, mesmo assim, suas
mãos não fraquejaram em minhas pernas.
— Vou entender se não quiser que eu continue, é muita
coisa, sei disso.
Cameron afastou meu cabelo do rosto com delicadeza e
beijou minhas mãos. Ele olhou no fundo dos meus olhos e com
muita calma disse:
— Vou carregar seus pesos comigo, independente do que for.
— Sorri beijando seu ombro e sentindo o calor de seu corpo. —
Você continuou a fazer isso?
— Infelizmente. Continuei a fazer várias coisas e sempre que
sentia que estava cansada, me machucava. Começou com as
beliscadas, depois comecei a arrancar pequenas mechas de meu
cabelo, até chegar ao ponto de nada me doer e eu fazer cortes mais
fundos em mim — disse com a cabeça baixa. — Fui tão fraca,
sabe? Queria ter lidado com tudo.
— Não. — Ele levantou meu queixo. — Você era uma
criança, é claro que isso não faz bem e não é o meio de resolver
seus problemas, mas isso não te faz fraca. Você conseguiu passar
disso amor, você conseguiu — disse apertando levemente minhas
coxas e eu sorri concordando.
— Com treze anos eles descobriram que estava me
automutilando e foi a gota d'água para tudo, meus pais estavam a
ponto de se separar, minha mãe começou a perceber tudo o que
estava ao redor dela, o quanto algumas coisas estavam me fazendo
mal, meu pai estava quase caindo no alcoolismo, Isaac foi
diagnosticado com TDAH, um caos. Foi quando minha avó paterna,
que é umbandista, deu vários conselhos a minha mãe, ela parou
para ouvir e buscou ajuda. Meus pais começaram a passar na
terapia e foi ótimo.
Tomei fôlego, bebi água novamente e voltei a dizer:
— Mesmo com tudo isso, continuei fazendo várias coisas ao
mesmo tempo, queria ser a filha perfeita, não tinha muito tempo pra
fazer amigos e mamãe começou a ficar preocupada, começou a
dizer que precisava fazer amigos e que devia parar de me vestir
como menino, sendo que eram apenas roupas largas e não tinha
nada de errado com aquilo. — Ele franziu o cenho, mas não disse
nada. — Dentre tudo isso eu ainda me machucava porque ainda
tínhamos conflitos e não conseguia falar com os meus pais e nem
queria psicólogo porque sendo criança pra mim eles contariam tudo
para os meus pais, era com uma frequência menor, mas me
machucava. Em um belo dia, fui para a igreja arrumada do jeito que
minha mãe queria e três meninos da igreja chegaram em mim, mas
foi bem tranquilo, sai para comer com eles em dias diferentes para
ver se algum me interessava, mas não rolou.
— Você é a minha prometida — disse rindo e eu o empurrei
pelos ombros.
— Você só não sabia disso — afirmei e ele deu de ombros
—, mas então voltei para as minhas roupas largas, Pollo me levava
para escola e me buscava todo dia porque fui seguida naquela
semana por um homem muito mais velho.
— Seu avô contou sobre o que aconteceu com Pollo, sinto
muito. — Entrelacei nossos dedos novamente, balançando a cabeça
positivamente.
— Ele era incrível, era meu segundo irmão mais velho depois
do meu primo Nicholas, mas não podia ficar muito perto dele, não
depois de ter bebido e fumado tudo o que não podia. — Cameron
ficou totalmente surpreso.
— Você o quê? — questionou confuso.
— É, amor, essa parte só eu, Nicolly e meu pai sabemos, e
agora você. Ainda com quinze anos fui dormir na Nicolly, não
sabíamos que Pollo daria uma festa, quando chegou o pessoal
participamos de tudo. Nicolly sempre quis experimentar tudo o que o
irmão consumia e, não vou mentir, eu também. Nessa festa eu e ela
bebemos tudo o que conseguimos, tudo mesmo, até às bebidas
mais fortes para nós. Usamos maconha e aprendi a fumar narguilé
sem tossir. Depois desse dia ela parou e eu continuei, bebia e
fumava até cigarro com Pollo, tudo escondido, e a cada dia me
afastava mais de Deus. Achava que estava me fazendo bem por ter
parado a automutilação, meus pais não desconfiavam de nada,
conseguia relaxar e esquecer de tudo, mas quando chegava em
casa ficava mal, o efeito de tudo acabava rápido. Me sentia péssima
e só chorava. Continuei me acabando até que Pollo se envolveu
com pessoas nada do bem, ele implorou que eu não fosse com ele,
mesmo assim fui. Pollo fumou tanta coisa que teve uma overdose e
a única pessoa que pensei foi no meu pai. Contei tudo a ele desde o
momento em que comecei com aquilo e depois que Pollo sobreviveu
não quis mais nada. Papai me ouviu em tudo, disse que me ajudaria
a superar e me ajudou. Foi quando ele realmente começou a ser
meu pai.
— Sua mãe nunca desconfiou?
— Na verdade, acho que papai já contou e ela, pela primeira
vez, decidiu não brigar — expliquei sentindo suas carícias.
Ele acabou rindo.
— Não acredito, Rebecca Malik já bebeu até cair — brincou
me fazendo rir.
— Só cai uma vez e foi no seu papinho — brinquei de volta e
ele riu me puxando pela nuca.
— No meu papinho? Quem me golpeou foi você, lutadora —
disse selando nossos lábios, mas logo se afastou.
E eu fiz bico.
— Só um beijinho? — Ele riu do meu pedido e selou nossos
lábios outra vez.
Lhe dei passagem com calma e nosso beijo seguiu um ritmo
lento.
Sentia como se minha alma tivesse totalmente ligada à dele,
não era um beijo levado a provações e desejos, era como se, de
fato, ele sempre fosse estar ali por mim… e eu por ele.
Sorrimos ao finalizar o beijo e meu coração estava tão
acelerado quanto o dele.
— Você sabendo de tudo isso, não muda nada? —
questionei.
— Faz parte da pessoa que eu amo — afirmou olhando nos
meus olhos.
Meu coração disparou ainda mais com suas palavras de
amor.
Sorri, beijando-o novamente, totalmente levada pela
felicidade e, quando nos afastamos, seu sorriso denunciou que ele
estava nas nuvens, mas logo voltou a realidade.
— As pessoas acham que ter fé em Deus significa ser
perfeita, mas estou bem longe disso. A única coisa que tenho
certeza é de que Ele sempre esteve e sempre está comigo.
— Quando que você começou a ficar assim?
— Quando descobri a diabete, tive um encontro enorme com
Ele. — Cameron me olhou esperançoso. — Estava desacreditada
de tudo, principalmente de Deus. Em um hospital, a primeira coisa
que perdi foi a fé, que já estava fraca. Um dia minha glicose subiu
pra HI, tomei várias medicações e, quando minha mãe saiu um
pouco do quarto, eu comecei a falar com Deus. Falei que se Ele
existisse, eu queria ver o mundo espiritual. Nossa, para que que eu
fui pedir aquilo? — Ri de mim mesma e ele riu junto. — Na
madrugada, eu saí do meu corpo e me vi deitada na cama. Vi
certinho a batalha espiritual pela minha vida, quando comecei a ficar
desesperada acordei suando frio porque a diabete tinha abaixado
demais. Cameron, eu via uma luz muito forte e uma escuridão
assustadora lutando. A escuridão tentava entrar na luz e a luz se
mantinha forte a todo custo — disse sentindo uma carga de arrepios
passando pelo meu corpo. — Acordei chorando e meu pai entrou no
quarto na mesma hora, me deram um doce e, depois de comer,
comecei a chorar. Depois daquilo eu decidi que queria estar sempre
com Deus, não por religião, mas pelas experiencias que tive.
Ele sorriu beijando minhas mãos.
— Becca — acariciou meu rosto com as costas da mão —,
sei que existem mais coisas que você precisa me contar e eu quero
saber.
— É, acho que essa parte da minha vida vai te deixar bem…
nervoso.
— Ótimo, agora quero saber mais do que nunca! — disse me
olhando e demonstrando todo o interesse no assunto.
 
 
 
Cameron me olhava atentamente, entrelacei nossos dedos e
beijei sua mão.
— Depois de tudo aquilo que aconteceu, meus pais ficaram
mais ao meu lado. Eu e minha mãe, mesmo com os
desentendimentos, nos tornamos bem amigas. Papai começou a me
defender para quem quer que fosse, é assim até hoje, e fez Isaac
crescer querendo me proteger. Mas… — Senti as palavras se
bagunçando em minha boca.
Era horrível voltar naquilo.
— Amor, respira fundo — pediu. — E com calma solte a
respiração — disse acariciando meus ombros, tentando aliviar a
tensão. 
Fiz o que ele pediu.
— Faz de novo — inspirei e expirei — consegue falar? —
Concordei balançando a cabeça.
— Viajamos para Madrid por causa do trabalho do meu pai e
ficamos lá por um ano, foi bom ter acompanhamento médico em um
lugar onde ninguém conhecia minha família. Meu pai ia fechar
negócios com um britânico e sempre foi meu sonho conhecer
Londres, de cara disse que seria meu presente de aniversário de
dezessete anos. 
— O que você me vai me contar agora foi há seis meses? 
— Sete na verdade — ele ficou pensativo e voltou a me olhar.
— Fui para Londres e conheci vários lugares de lá, estava tão feliz e
realizada que podia jurar que nada estragaria minha noite.
Chegamos para jantar e o filho do empresário foi também, com duas
primas da minha idade — senti meu corpo formigar de incômodo. —
O jantar estava ótimo, fiz amizade com as meninas e o garoto
parecia muito gentil. Nossos pais iam começar a falar de negócios
quando Bronwen deu a ideia de irmos para fora, onde tinha um lago
e sofás para nos sentarmos.
— Turner? — disparou — Bronwen Turner?
— O conhece? — questionei e ele pensou um pouco.
— Só porque ele é filho de um empresário que meu pai não
gosta. Continue minha princesa — pediu.
O olhei me questionando se deveria, mas se não
continuasse, seria pior.
— As meninas ficaram desconfortáveis quando saímos e a
todo momento pareciam querer me proteger. O cara, que é seis ou
sete anos mais velho que eu, pegou em minha mão e disse que
queria conversar comigo, me conhecer. Não aceitei, disse que
queria ficar com as meninas e elas também queriam que eu ficasse.
Ele insistiu novamente e eu fui mesmo sem querer para não fazer
escândalo, mesmo estando com medo, como fiz aulas de
autodefesa imaginei que conseguiria usar ali caso ele tentasse algo.
Nos aproximamos de uma proteção que tinha visão para o lago, por
algum motivo ele olhou as meninas e elas se sentaram ficando de
costas para nós. Já estava com medo antes mesmo dele começar
falar comigo e disse que ficaria com o meu pai. Ele não me deixou ir
e me segurou muito forte, os seguranças dele fingiram que nem
estavam vendo e os seguranças do meu pai estavam com ele, eram
todos colegas até então. Ninguém imaginava que aquilo iria
acontecer.
Senti as lágrimas descerem descontroladamente e mesmo
assim continuei a falar:
— Ele me colocou em sua frente, só que de costas. Eu sabia
o que ia acontecer, sabia que podia correr, mas fiquei tão sem
reação e ele era tão forte que me machucava, fiquei com medo dele
me machucar mais e senti que ninguém me ouviria. — Funguei e as
lágrimas não paravam de escorrer em meu rosto. — Ele ficou se
esfregando em mim sem parar e parecia que tudo ao meu redor
tinha parado, não conseguia me mover; ele tentou subir meu
vestido, então me dei conta do que estava acontecendo, mas ele já
tinha acabado de gozar em mim. — Cameron pareceu ficar tenso
me ouvindo e seus olhos deixavam claro o ódio que ele estava
sentindo. — O empurrei e comecei a gritar. Ele tentou me calar, mas
meu pai chegou na hora, caso contrário ele teria ido além, não sei.
— Parei de falar e meu rosto estava encharcado.
A raiva transpassava o rosto de Cameron, ele me abraçou
forte, me fazendo ficar entre suas pernas. Passamos um bom tempo
daquela forma, ele acariciava meus cabelos e beijava minha
cabeça, mas quando o olhei, seus olhos carregavam chamas de
fúria.
— Sei que está nervoso, mas isso ficou no passado — disse
limpando o rosto.
— Não tem como controlar a raiva que eu estou sentindo
desse desgraçado, nem de qualquer pessoa que te faça mal. Por
favor, termine de contar, quero saber tudo.
— Mas…
— Por favor — pediu apertando levemente minha cintura. 
— Consegui dar um soco nele e meu pai fez o resto, bateu
muito nele e quando o pai do Bronwen chegou, os nossos
seguranças o fizeram ver meu pai batendo no garoto. Enquanto
isso, outros seguranças não deixaram os que estavam protegendo
Bronwen se aproximassem e depois fizemos a denúncia, ganhamos
na hora. Meus tios que são desses meios jurídicos só não mataram
Bronwen porque ficaria na cara quem foi. A denúncia, além do
abuso, foi contra agressão física.
— Ele te bateu? — As mãos de Cameron estavam pegando
fogo. 
— Ele me apertou demais, fiquei semanas com marcas no
pescoço, nos braços e na cintura. — Limpei o rosto novamente.
Cameron se contorceu e começou a respirar fundo.
— Depois disso dormi com meus pais durante dois meses e
Isaac começou a dormir comigo. Ele só não dorme quando você vai
lá.
— Você não tem noção de como minha mente fica porque
você — ele levantou meu rosto pelo queixo — é a pessoa mais
importante da minha vida. Saber que já te marcaram, que já
encostaram em você sem seu consentimento, que ultrapassaram
seus limites, que abusaram de você, me deixa furioso. Com ódio. —
Ele deslizou os dedos em meu braço, mas era nítido que estava a
ponto de explodir. — Se eu vir esse cara na minha frente, juro que
vou acabar com ele — prometeu.
— É passado, amor — tentei amenizar a situação, mas ele
negou.
— Ouvi falar de um caso dele que abafaram no ano passado
e já fiquei com ódio por ele comprar o delegado, ter conseguido
pagar a fiança e saído com três meses na cadeia. Como ele
conseguiu? Seu pai nunca teria deixado isso acontecer.
— Três meses preso, mas ficou de prisão domiciliar até o
mês passado, ele não pode estar no mesmo lugar que eu, qualquer
policial e segurança tem autorização de tirá-lo caso ele chegue
perto. Mas não o vejo desde o ocorrido e nem pretendo. E todos os
meus meios de pesquisa são bloqueados de ver qualquer coisa
sobre ele. Inclusive computadores da escola. — Ri dando de
ombros. — Jamais pesquisaria qualquer coisa dele, mesmo assim,
papai exigiu isso. Ele já deve estar seguindo a vida dele como
antes, mas a denúncia jamais vai ser retirada.
Cameron ficou pensativo com tudo o que ouviu. Suas
bochechas estavam bem coradas e ele parecia suar.
— Cam… — Ele respirou fundo colocando as mãos em
minha cintura, decidi mudar de assunto. — Também fiz uma
tatuagem em um ponto específico para tampar cicatrizes. — Ele
olhou minha pequena tatuagem.
— Você mudar de assunto não significa que eu não vou
acabar com ele. — Ri dando de ombros e continuei tentando mudar
de assunto.
— Essa foi a da última vez que me machuquei para nunca
mais — ele riu e beijou a cicatriz. — Sei que não é justificativa, mas
é pelo meu antigo relacionamento com os meus pais que nunca
achei que poderia ser protegida. 
— Pois agora isso mudou. — Ele sorriu me puxando pela
nuca e selando nossos lábios. — Era por isso que estava chorando
com Natalie? 
Neguei, quando ia começar a falar, vi pelo vidro transparente
minha prima Nicolly e Carter passando pelo pessoal que estava na
área da piscina. Cameron seguiu meu olhar. 
— Achei que eles chegariam só amanhã — comentou.
Peguei no pulso dele e olhei seu relógio.
— Cameron — ele me olhou —, me beija.
— O quê? Mas…
— Não estou pedindo — o interrompi e ele sorriu.
Seus braços envolveram minha cintura e seus lábios
encontraram os meus intensamente como fogo em uma brasa
ardente. 
Seguimos um ritmo lento e eu me impulsionei para frente,
fazendo-o se deitar. Quando o fôlego estava se acabando, desci
meus lábios em seu pescoço, vendo-o suspirar e levantar um pouco
o rosto me dando passagem.
— Eu amo seus lábios — disse ofegante e fraco. 
Sorri o olhando e voltei a beijá-lo com calma. Cameron
apertou firmemente minha cintura e subiu a mão em minhas costas,
me puxando para si. Afastei nossos lábios e ele me olhou sorrindo,
mas fechou os olhos respirando fundo.
— Olhe para mim — disse mais firme do que eu esperava e
ele abriu os olhos impressionado —, é meia noite amor — afirmei
com os lábios próximos dos seus.
O ouvi choramingar baixo e engolir em seco.
— Rebecca, assim você acaba comigo — murmurou com a
respiração cortada e eu sorri em vê-lo assim, totalmente em minhas
mãos.
— Essa é a intenção — disse dando leves beijos em sua
bochecha até seu pescoço. — Boa sorte, capitão — sussurrei o
sentindo estremecer e sai de seu colo.
Cameron ficou imóvel, deitado no chão por alguns minutos
enquanto eu me sentei na cama rindo de sua reação. 
— A Nini chegou, vamos ir falar com ela — pedi me
levantando e caminhando até a porta.
— Só quando minha alma voltar para o meu corpo —
resmungou e eu me aproximei.
— Anda, Styles, para de frescura — disse rindo e pegando
em suas mãos para que ele se levantasse. — Fala sério, não
acredito que vou te vencer com muita facilidade — provoquei
quando ele se levantou.
— Eu não estava preparado, apenas isso — admitiu.
— Você é fraco, te falta ódio — comecei a rir, ele me olhou
sério. — Estou brincando, estou brincando — disse me afastando,
ele parecia um animal prestes a me atacar enquanto caminhava
para frente e eu para trás. — Cameron... — Quando senti a pilastra
em minhas costas percebi que agora era a vez dele.
— Sabe, Malik, quando me falaram dessa aposta eu pensei
que seria tranquilo e deveria pegar leve — afirmou dando um último
passo para frente ficando extremamente próximo de mim, mas sem
encostar nossos corpos —, mas de tranquila você não tem nada. —
Ele riu colocando as mãos na parede. — Está se descobrindo
agora? — Ele subiu a mão lentamente pelo meu pescoço, o apertou
me fazendo segurar seu braço e puxar a respiração.
As veias estavam saltando e acredito que seu coração esteva
tão acelerado quanto o meu.
— Cameron, eu…
— Shiii — ordenou colando o corpo no meu — fica quentinha
— sussurrou mais como uma ordem, engoli em seco e olhei em
seus olhos que pareciam pegar fogo. — Vou te fazer querer tanto
me beijar que quando implorar até você vai ficar impressionada —
prometeu e sua mão subiu até meu rosto e seu polegar deslizou em
meus lábios me fazendo abri-los um pouco.
Ele me encarou por instantes, ainda deslizando o polegar em
meus lábios, em seu rosto vi um sorriso se abrir, ele me deu um leve
tapinha no rosto e desceu a mão passando novamente em meus
lábios.
— Boa sorte Malik — desejou.
Sorri agarrando o lábio inferior com os dentes para conter o
sorriso e não acreditando que tinha gostado daquilo.
Abaixei o olhar tentando controlar minha respiração e passei
a mão no rosto. Apertei minhas mãos tentando me fazer voltar ao
foco e Cameron levantou meu rosto pelo queixo.
— Você fica linda com essa carinha — disse com um
sorrisinho maroto.
— Que carinha? — questionei confusa. Ele sorriu e me puxou
pela cintura, me fazendo começar a andar com seus braços
envoltos de mim. — Que carinha Cameron? — Perguntei
novamente e senti seus lábios se aproximando de minha orelha.
— De safada — estremeci em seus braços —, fica bem em
você.
De imediato coloquei as mãos no rosto tentando esconder
minha vergonha.
Meu rosto estava queimando, ele riu dando um beijinho em
minha cabeça e me abraçou pelos ombros.
Sentia o sangue fervendo em minhas veias, uma sensação
estranha, porém incrível. 
— Amor — o olhei quando saímos do quarto e paramos no
primeiro degrau —, depois desse negócio com o filho do empresário
você não se sente incomodada quando te toco? — Franzi o cenho e
balancei a cabeça negativamente.
— Quando começamos com esse namoro de mentira eu
achei que ficaria desconfortável — me virei de frente para ele e ele
me encostou na proteção da escada —, principalmente porque, para
mim, você iria querer sexo se a gente se beijasse. — Ele me olhou
surpreso. — Mas, não sei, seu toque me faz bem, me deixa nas
nuvens — brinquei. — E agora que te conheço, sei que você não
me olha só pelo físico.
— Por mais lindo que seu corpo seja e me deixe... — ele me
olhou — enfim, foi a segunda coisa que eu olhei. — Ele riu um
pouco tímido. — Não sei explicar a conexão que tenho com você,
mas não foi pelo físico — disse e parou pensando um pouco. —
Apesar de que a conexão física é ótima e sei que vai ficar melhor —
nos olhamos e acabamos rindo.
— Ei, você se sente desconfortável quando te toco? Você
também passou por algo semelhante.
— Quando você me toca eu fico louco, parece que vou
explodir de tão bom que é — afirmou me fazendo corar e ele estava
tão empolgado falando que não percebeu o efeito de suas palavras
—, nunca me senti tão confortável com uma garota.
Sorri afastando uma mecha de seu cabelo.
— Vamos?
— Não — o olhei confusa —, o que Katherine te disse? —
Bufei abaixando a cabeça.
— Disse que não transou com você porque Nathan chegou
bem na hora que ela ia para o ato — disparei segurando suas mãos,
de quentes elas esfriaram rapidamente, ele abaixou o olhar como se
tentasse encaixar alguma coisa e por algum motivo se sentou no
degrau da escada. — Amor? — Me sentei ao seu lado.
— Mas eu lembro dela passando a mão em mim. — O
abracei pela cintura.
— Porque ela fez isso, ainda assim foi abuso, ela não chegou
no ato, mas infelizmente abusou. — Beijei seu ombro. — Você não
quer resolver isso mesmo? — Propus e ele negou.
— Falarei com Nathan quando voltarmos para casa —
explicou e eu apenas concordei, não podia fazer nada já que sabia
de sua decisão.
— Tudo bem — disse após um suspiro.
Ele me olhou por instantes, afastou meu cabelo do rosto e
beijou minha testa.
— Eu prometo te proteger, amor, sempre, até quando você
não quiser. — Sorri beijando seu rosto.
— E eu prometo sempre estar aqui, até quando você não
quiser — afirmei e ele esfregou o nariz em minha bochecha.
Acabei rindo pela vontade de beijá-lo. 
— Vou te dar a oportunidade de desistir dessa aposta antes
de perder — disse se levantando e estendeu a mão para mim,
ignorei e me levantei sozinha.
— Você é engraçado — ironizei o vendo fechar a expressão.
— Estou te achando muito convencido para quem nem consegue
disfarçar o quanto está me desejando — sussurrei com os lábios
próximos dos dele.
Ele mordeu o lábio e eu desci as escadas até a porta que
dava para o corredor de quartos.
— Ah, Rebecca — seu tom de voz era convencido, fui
puxada para trás e nossos corpos se colidiram —, você fala assim
porque é mais difícil disfarçar no meu caso — suas mãos apertaram
minha cintura —, mas sei que sente o mesmo porque ouço seu
coração disparado, sua respiração descompassada e vejo suas
bochechas coradas. Eu sei o efeito que causo em você — sussurrou
em meu ouvido.
Tentei controlar minha respiração, mas foi impossível. Sabia
que ele estava com um sorriso estampado no rosto, então evitei o
olhar.
Cameron me puxou, me levando a uma passagem onde as
luzes eram baixas. 
— Falei ao meu avô que meu sonho era um quarto com
várias passagens escondidas para sair e entrar, só não sabia que
teria um — disse rindo.
— Eu ainda estou impressionada com tudo isso — afirmei e
ele parou de andar, parei também e logo seu corpo começou a
pressionar o meu.
— Imagina te beijar aqui — disse me olhando e colocando a
mão em minha nuca, o corredor de fato era estreito e perfeito para
um beijo.
— Não, não quero — menti virando meu rosto e ele riu.
— Nem eu — disse dando de ombros e voltando a andar
após eu o empurrar.
— Isso aqui deve ter dado um trabalho enorme para fazer —
comentei quando passamos por uma porta que deu na cozinha, uma
funcionária até se assustou com a nossa chegada repentina e nós
três rimos.
— E deu — Cameron respondeu após cumprimentar os
funcionários e me guiar até a sala de estar. — Eu, meu avô e mais
de quarenta homens trabalhamos aqui durante cinco meses para
ficar tudo do meu jeito.
— Não entendo, vocês terem tanto dinheiro e moram em uma
casa que se comparando a tudo aqui é simples.
— Se eu ficar mostrando que tenho dinheiro é pior. A gente
gosta de viver a vida mais calma — explicou e eu concordei.
Passamos para a ala de piscina e então me liguei sobre o
que Cameron disse.
— Calma. Você e seu avô construíram aqui? — questionei, o
fazendo parar de andar.
— Isso. Ele sempre gostou de trabalhar nessas coisas e eu
fui ajudá-lo, peguei gosto e fizemos parte até da construção daqui.
Acredite, mexer com cimento é bem cansativo, mas é bom.
— Estou imaginando você com uma inchada na mão, deve
ter ficado lindo — ele riu.
— Foi legal, consegui ficar mais forte do que ir à academia
por um ano — afirmou.
Nos sentamos em um sofá um pouco afastados dos demais.
— É inacreditável isso tudo ser seu.
— Meu bisavô deixou o terreno todo, dinheiro e disse que
tudo o que estava no testamento era que eu merecia. Eu e Nat
fomos os únicos bisnetos que cuidaram dele e o visitamos até o
último suspiro. Éramos crianças e nem ligávamos para o dinheiro
dele, papai ensinou que independente dele ter conseguido dinheiro
de forma errada, não podíamos destratar ele. Fora que ele era legal,
pelo menos comigo e minha irmã — ele sorriu. — Para Natalie ele
deixou uma mansão já construída, mas é um pouco longe daqui e
menor. Para os outros bisnetos deixou brinquedos velhos, para os
netos deixou apenas uma casinha e as mansões deixou para o meu
pai — ele gargalhou, tentei ficar séria, mas a risada dele me fez rir.
— Sua família mexe com coisa errada? — questionei em voz
baixa.
— Só meu bisavô paterno e o materno mexiam — arregalei
meus olhos. — Meus avós não quiseram nada dos pais, fizeram as
próprias vidas financeiras e ensinaram meus pais a fazerem as
deles, agora eles nos ensinam.
— Nossa — disse impressionada.
— Eu te odeio — Natalie disparou e eu a olhei sem entender.
— NINI! — Me soltei de Cameron, me levantei e a abracei. 
— Oi, minha gostosa — disse dando um tapa na minha
bunda, me soltei dela rindo e me sentei novamente, ela olhou
Cameron. — Vontade de ser eu agora, né Cameron? — Provocou e
ele mostrou o dedo do meio para ela.
Rimos quando eu abaixei a mão dele, em seguida olhei
Natalie. 
— Por que me odeia? — Ela bufou, me entregando um copo
com Coca-Cola.
— Você nunca me contou que sabe dançar pole dance —
disparou e eu comecei a tossir por ter me engasgado com a coca.
— Nicolly, eu vou te matar — ela riu correndo até chegar em
Carter, que estava conversando com Elliot, e Cameron apertou
minha cintura com firmeza. — Natalie, por que você é assim? — Ela
gargalhou — Não podia ter falado em um momento só eu e você?
— Cameron ia saber de qualquer forma — disse
naturalmente e saiu andando até Elliot rindo da minha cara.
Sabia que estava vermelha ou até roxa de vergonha.
— Vai dançar para mim? — Ouvi Cameron questionar e seus
lábios beijaram meu ombro. Quando olhei, ele estava com um
sorriso safado no rosto.
— Não me olha assim — pedi.
— Por que você sabe dançar isso? — questionou curioso.
— Não sei dançar muito bem, aprendi pouquíssimo. Minha
mãe sempre amou dança e fez aulas com uma professora muito
legal. Comecei a ir a algumas aulas com ela no ano passado, a
professora fez uma aula só com a gente, quando vi a barra de pole
dance comentei que achava muito legal quem sabia dançar. Ela
questionou se eu queria aprender. Acabei gostando e praticando
algumas vezes, quatro no máximo, mas não sei nem um terço.
— Só acredito vendo — Cameron disparou me fazendo
esconder o rosto em minhas mãos e rir.
— Gostaria de dizer que a partir de agora vocês estão sob os
olhares de todos e, se rolar um selinho se quer, vamos saber —
Calleb disse fazendo eu e Cameron abrirmos espaço para ele se
sentar. — Posso ficar com a minha amiga? Você já ficou com ela por
mais de três horas.
— Não — Cameron disse tão sério que até eu acreditei, mas
quando sorriu se levantando, Calleb suspirou aliviado. — Cuide
dela. — Ele beijou minha testa.
— Sempre — Calleb disse e se virou para mim. — Você
contou para ele que a gente falou sobre como vai ser a primeira vez
de vocês? 
— Calleb, ele está aqui ainda — disse o olhando e ouvi
Cameron rir.
— E o que tem? — Calleb questionou.
— Preciso de novos amigos — disparei rindo.
— Eu gosto desses — Cameron disse se afastando aos risos.
— Oi — Nicolly disse como uma criança me olhando, em
seguida olhou Calleb. — Oi, sou Nicolly — ela se sentou ao meu
lado e Natalie se aproximou.
— Oi, sou Calleb — disse no mesmo tom e ambos sorriram
um para o outro.
— Me diga, Calleb, de onde tiraram a ideia de apostar o beijo
do casal?
Calleb explicou o motivo da aposta, para, no fim, perguntar a
Nicolly:
— O que você acha disso?
— Como prima da Rebecca eu diria que ela é bem resistente,
mas meu noivo e eu concordamos que ninguém vai ganhar nem
perder, os dois vão perder — Calleb se engasgou com a bebida
quando começou a gargalhar.
— Vou ir ver Luce — Calleb avisou ao ver a amiga enchendo
o copo de bebida e saiu.
— Estou pensando em ir para a cachoeira antes de todos
irem amanhã — comentei.
— Posso ir junto? — Natalie questionou.
— Claro, ia convidar agora.
— Maravilha, estou precisando mesmo — Nicolly disse. —
Então você comprou biquínis iguais para gente. — Ela olhou Natalie.
— Sim, é azul claro — respondeu animada.
Ri dando de ombros enquanto elas conversavam. Meu olhar
encontrou Peter, o vi sozinho olhando o copo com bebida alcoólica
como se não quisesse tomar, mas que não via outra alternativa.
Aquilo me deixou triste, ele era sempre tão animado, sempre com
tanta gente ao redor, se importava com todo mundo, mas agora que
parecia precisar de uma companhia, estava sozinho.
— Já venho — avisei.
Caminhei na direção de Peter, mas antes que eu chegasse
até ele, Lana me parou.
— Vai falar com Peter? — indagou parecendo um pouco
nervosa.
— Vou sim — ela soltou a respiração, checou se não tinha
ninguém perto de nós e se achegou como se fosse me contar um
segredo.
— Acha que faço o tipo dele? — A olhei desapontada.
— De verdade? — Ela abaixou o olhar e o levantou
concordando. — Com certeza — sorri e ela abriu um sorriso de
orelha a orelha.
— Pode me ajudar com ele?
— Claro, já estava indo falar com ele mesmo. Me dá um
tempinho e aí falo sobre você — ela concordou me abraçando com
rapidez. — Lana? — A chamei antes que saísse. — Não sei se
tenho direito, mas posso te perguntar qual foi sua relação com
Cameron? — Questionei receosa e ela me olhou surpresa.
— Sexo triste — admitiu e rimos. — Fui amiga até Alice
entrar na vida dele, éramos dois nerds que amavam videogame. Em
um belo dia bebemos juntos, ele tinha terminado com Alice, eu com
meu ex-namorado e aconteceu. Foi para esquecermos o quanto
estávamos mal e acabamos ficando pior porque, depois do prazer, a
gente ficou muito mal por um ter usado o outro. Se quer saber, a
gente se arrepende por isso porque ele foi filho da puta de não ter
me contado a verdade e eu fui filha da puta pelo mesmo motivo. 
— E por isso não se falam mais? — Ela negou.
— Nossa amizade já estava diferente bem antes, rumos
diferentes, pensamentos diferentes e cada um foi para o seu lado.
Sem remorso, sem mágoa, só seguimos. — Balancei a cabeça,
concordando, e ela apertou meu ombro. — Imagino que se
preocupe com essa área da vida de vocês, mas cara, Cameron está
leve, parece até o garoto que conheci antes da vaca da Alice e de
Melissa entrarem na vida dele. Está na cara dele, você vale muito
mais que qualquer relacionamento físico e sexual que ele já teve.
Estou muito feliz por vocês, de verdade. — Ela me abraçou
novamente.
— Obrigada por ser sincera comigo — sorrimos.
Estava para ir até Peter quando Cameron se aproximou dele.
Parei no caminho, e quando decidi que voltaria com as meninas, ele
me chamou.
— Pode vir, amor — disse sorrindo.
Ri envergonhada e me aproximei.
— Vocês pensam conectados? — Peter questionou rindo. 
— Não, a gente só sonha conectado — Cameron se sentou
de um lado dele e eu de frente para ele. 
— Sério? — Peter pareceu surpreso e concordamos rindo.
Ele riu fraco e voltou a encarar o copo de bebida. 
— O que está acontecendo? — questionei entrelaçando
meus dedos com os de Cameron.
Peter pensou um pouco, mas parecia perdido nos próprios
pensamentos.
— Não sou forte que nem você, capitã — eu e Cameron nos
olhamos e voltamos a atenção a Peter. — Fico me perguntando se
vou conseguir viver como uma pessoa normal por ser diabético —
admitiu.
Senti incomodo o ouvindo, sabia o quanto era horrível aquele
tipo de pensamento, mas me mantive neutra. Cameron demonstrou
que me entendia quando apertou minha mão e deixamos que Peter
continuasse a desabafar:
— Sou um desastre, meus pais me odeiam, meus amigos
estão cada vez mais afastados e não passo de um drogado de
merda — quando ele ia levar o copo até a boca, Cameron segurou
seu braço.
— Sei que você quer esquecer tudo isso, que acha que é o
melhor caminho, mas não é — Cameron disse e foi o suficiente para
Peter começar a chorar. 
Cameron o abraçou e fiquei impressionada com a forma que
eles não se incomodaram. Alguns meninos pareciam ter receio com
contato físico. 
Segurei as mãos de Peter e ele me olhou.
— Uma coisa de cada vez, ok? — Ele concordou quando
limpei as lágrimas de seu rosto com as mangas da blusa. — Bebida
não faz bem para a diabete, assim como Coca-Cola não faz. A
diferença entre essa bebida e a Coca é que a Coca não me faz
esquecer o que fiz no dia seguinte. — Peter riu. — Sei que faz mal e
estou tomando em quantidade menor, consigo viver normalmente,
Pê.
— Mas no seu caso você bebe pra esquecer os problemas e
não só porque gosta — Cameron disparou e Peter o olhou. — Sabe
que o problema com seus pais é por conta de eles acharem que
você os odeia por terem se separado. Seu pai sempre quis falar
com você sobre tudo e você não dá abertura. Não pode colocar a
culpa em ninguém por achar que sua vida está ruim já que não
procura melhorar — disse com firmeza.
— Mas cara, eu chego na casa deles e eles ficam tensos.
— Já experimentou falar com eles? Falar um “oi, tudo bem?”,
não vai te matar, Peter. Problemas com os pais eu, Becca e todo
mundo tem, mas ficar voltando no passado e justificando seus
problemas em uma coisa que você não quer resolver vai dar em
nada. Ainda vai piorar se você ficar tentando esquecer tudo com
bebidas — Cameron disse, eu simplesmente estava os ouvindo e
eles me olharam.
— Sei que quer falar algo — Peter disse.
— Seus pais brigam muito com você?
— Pelas notas e bebidas sim — disse desanimado.
— E você acha que se falar a verdade, que tem problemas
com drogas, bebidas e as notas eles vão te julgar e brigar com
você? — questionei o vendo ficar pensativo.
— Não. Quer dizer, mesmo separados, se eu precisar
conversar com os dois no mesmo lugar eles vão — explicou —, mas
a sensação de que vou decepcioná-los é horrível. 
— E eles não ficarão decepcionados se descobrirem tudo por
outras pessoas e não por você? — perguntei e ele abaixou o olhar.
Um segurança se aproximou de Cameron, ele se levantou e,
após ouvir o que o homem tinha a dizer, me olhou.
— Dois meninos da natação brigaram, vou resolver — disse
calmamente e beijou minha testa. 
— Vocês se completam — Peter disse, me fazendo voltar a
atenção a ele.
— Como assim?
— Vocês são bem diretos, mas Cameron é um pouco mais…
bruto com as palavras. Já você é mais tranquila, bate que a gente
nem percebe. — Ri concordando. — E com você ele é todo
calminho. 
— Equilíbrio — brinquei o vendo rir. — Me diz, Pê, o que te
falta para falar com seus pais? 
Ele me olhou por segundos.
— Acho que uma atitude minha — disse após um tempo em
silêncio.
— Vai falar com eles? — Ele concordou. — Sabe que, se
precisar, estamos aqui, Cameron tem esse jeito dele, mas ele se
importa com você também. Bebidas não é o problema, mas se você
sempre beber para esquecer tudo, pode acabar se viciando e sabe
que alcoolismo é uma doença que leva a morte. — Ele concordou
mais uma vez.
— Obrigado, de verdade. — Sorri o abraçando.
— Lana faz seu tipo, não faz? — questionei e ele me olhou
confuso.
— A Collins? — Concordei e ele a olhou, o sorrisinho em seu
rosto o entregou.
— LANA — a chamei virando o rosto e ela me olhou.
— Que porra você está fazendo, capitã? — Peter questionou
assustado. — Desculpa pelo palavrão. — Ri o olhando e me levantei
quando Lana se aproximou.
— Então, você faz o tipo dele. — Ela me olhou com os olhos
arregalados e suas bochechas coraram de imediato.
— Você perguntou isso para ele? Assim? — questionou baixo
e com a voz falhada.
— Sim, por quê?
— Você não é nem um pouco discreta mesmo, pior que a
Natalie. — Ela riu de nervosismo.
— Tchau, casal — me despedi saindo. 
Entrei na casa pela sala de estar e caminhei até a cozinha,
mas não entrei. Me escondi atrás das escadas após ouvir vozes
conhecidas:
— Sempre foi ela, não foi? — Uma garota choramingou.
Cameron e a funcionária de cabelos ruivos estavam
conversando.
— Sim, Jessie, sempre foi ela — disse a olhando e cruzando
os braços. — Mais alguma coisa? — indagou rispidamente.
— Eu... eu... você nunca vem para cá, achei que dessa vez a
gente… — ela começou a chorar e Cameron se manteve a olhando.
— Amanhã cedo arrume suas coisas. Vou te dar duas
opções: ir para a casa de meus avós paternos na Noruega onde
você pode estudar e ficar com a sua família ou para Londres com
meus avós maternos. Assim que se decidir, pode informar a Natalie
que ela vai resolver tudo amanhã mesmo.
— Não quero ir embora daqui, não quero ficar longe de você
— a garota se aproximou e ele deu um passo para trás.
— Jessie, não vou prolongar seu sofrimento. Depois do que
aconteceu entre você e Jeremy prometi que não te deixaria em
qualquer lugar e não vou, mas aqui você não pode ficar. Quando me
casar com Rebecca vai ser pior para você me ver todos os dias com
a garota que amo. E vou contar tudo a ela, sei que ela vai ficar
desconfortável e não quero isso para a minha garota. — Jessie
chorou ainda mais. — Sinto muito, meu coração já pertence a outra
pessoa. 
— Ela não precisa saber da história — disse em meio a
soluços. — E se souber, talvez não fique incomodada, você a ama.
— Ele balançou a cabeça negativamente.
— Jessie, tem um garoto com quem Rebecca trabalha e eu
fico extremamente incomodado com isso. Não por ela ter
sentimentos por ele, mas sim por eu saber o que ele sente. Como é
trabalho dela, não me envolvi, mas aqui na minha casa posso muito
bem evitar que ela se sinta incomodada e tudo o que eu puder fazer
para que ela se sinta bem, vou fazer.
Senti um tapa na minha cara. Cameron nunca abriu espaço
nem para amizades com outras garotas que tinham sentimentos por
ele e eu simplesmente não me incomodei em trabalhar com Andrew
mesmo ele gostando de mim. Precisei ouvi-lo para me dar conta de
que isso o incomodava.
— Estou aqui há dois anos e você simplesmente vai me
chutar assim? — questionou fungando.
— Não estou te chutando. Você tem duas opções ótimas para
seguir sua vida, mas não quero estar incluso em nenhuma delas.
Não haja como se eu estivesse escolhendo entre você e ela, porque
é ela. Não tem espaço para opções ou escolhas, sempre vai ser ela.
Pare de prolongar essa dor, Jessie, você não merece isso. Por
favor, amanhã cedo deixe suas coisas arrumadas, o que decidir,
faremos — disse friamente.
Me recostei na parede, assimilando tudo o que ouvi.
Nunca tive sentimentos por Andrew de forma amorosa e
mesmo assim não o deixei livre como Cameron fez com Jessie.
Ela passou por mim e me olhou assustada, mas sua
expressão relaxou. Jessie, com o rosto molhado pelas lágrimas,
olhou em meus olhos.
— Me desculpa pelo que a senhorita ouviu. — Seus olhos
emitiam sinceridade. — Cuida dele, por favor. — Apenas balancei a
cabeça concordando.
Ela respirou fundo e subiu as escadas.
Cameron me olhou preocupado assim que me encontrou,
ainda parada e contra a parede.
— Você ouviu?
— Não sabia como você se sentia com Andrew até sentir o
mesmo com as garotas. Você as afastou por conta do sentimento
delas, mesmo que Andrew não faça nada, não se joga para mim
como as meninas fazem com você, percebi o quanto é
desconcertante te ver com alguém que gosta de você. Você a
libertou, Cam. 
— O que está querendo dizer com isso? — questionou, se
aproximando mais e envolveu os braços em minha cintura.
— Que preciso ser honesta com Andrew e o deixar livre
também. Aceitei a proposta do trabalho por conta da liberdade e
saber que não seria vista mais como a pessoa que só estuda, mas,
talvez, ele não veja assim e eu sei dos sentimentos dele, não quero
alimentar nada — expliquei, vendo-o sorrir. — Me desculpa não ter
percebido isso antes, fui burra.
— Você não é burra, um pouquinho desapercebida para
algumas coisas, mas burra não — disse beijando minha bochecha.
— Tá me chamando de lerda? — Ele riu.
— Demorou uma vida para perceber que eu te queria —
respondeu me olhando sem parar de rir.
— Tinha medo — expliquei. — Claro que tinha percebido
você babando por mim, mas sempre ficava me convencendo de que
não porque assim, Cameron, você estava sempre com uma garota
diferente, se eu me deixasse ficar apaixonada sabia que ia sofrer.
Bom, eu achava isso.
— Pensava isso até depois do namoro falso? — Balancei a
cabeça positivamente.
— Você me deixou pensando que quando saía nos fins de
semana era para festas e ficar com outras pessoas. Quem me
contou que você tinha sossegado foi Elliot.
— Não queria dar o braço a torcer. Logo eu apaixonado por
você! — Rimos.
— É, nem eu queria admitir. Logo eu apaixonada pelo
quarterback que se acha. — Fiz uma careta.
— Eu me acho porque posso — disparou, revirei os olhos
rindo e desviando o olhar dele, mas ele me segurou pelo pescoço
me fazendo o olhar. — Não revira os olhos para mim.
— Isso te irrita, capitão? — questionei, passando a língua nos
lábios e sorrindo sem mostrar os dentes.
Ele sorriu maliciosamente.
— Não é por isso não — afirmou, me encarando e passou a
língua nos dentes, em seguida fingiu que ia me beijar.
— Beija — disse roçando meu nariz no dele —, é só beijar.
— NICOLLY E NATALIE VENHAM AQUI. — Ouvi Calleb
gritar e tapei o rosto, me encostando no ombro de Cameron
enquanto riamos.
— Eles não vão aguentar — Nicolly disse.
— Eu avisei — Carter disse com ar convencido.
Eu e Cameron nos sentamos no sofá da sala de estar onde
estávamos sob a "supervisão" de Natalie e Elliot. Cameron disse
que esperaria todos irem dormir para poder dormir.
Elliot estava extremamente tenso por conta de Cameron estar
o tempo todo os observando, mesmo que a distância entre nós
fosse grande.
— Para de olhar para eles — pedi, acariciando seu rosto e o
fazendo me olhar. — Você deixa Elliot desconfortável.
— Elliot desconfortável? Ele está  pegando  minha irmã! —
disparou.
— Pegando? — questionei seriamente.
— Beijando, falei errado, desculpa — corrigiu, achei graça. 
— Eles namoram, baby, para de ser ciumento com ela —
pedi e ele negou.
— Quem namora somos eu e você, eles não assumiram
nada.
— O nosso assumido é falso — retruquei e ele me olhou
pensativo. — Enfim, Jessie é a garota que você falou que Jeremy
tentou pegar a força? — Ele concordou balançando a cabeça e me
olhou.
— Decidi que o lugar mais seguro para ela seria aqui, depois
de construirmos tudo a trouxe para cá. Só queria que ela se sentisse
confortável em algum lugar e ela disse que se sentia assim comigo.
Natalie entendeu o interesse dela em mim e me avisou, mas na
época não me importei. 
— É estranho — pensei alto.
— O quê? — Coloquei minhas pernas em seu colo e ele
começou a acariciá-las.
— Ela escolher se guardar para alguém que, na época, ficava
com muita gente — comentei —, se eu tivesse conhecido essa
versão sua, não estaria aqui. Quer dizer, você parou de ficar com
outras pessoas quando começamos o namoro falso.
— Jamais desejaria que você me conhecesse no ano
passado — alegou beijando minhas mãos —, mas acho que talvez
teria sido ajudado antes.
— Há um tempo para tudo, não estávamos preparados para
nada do que estamos vivendo agora — ele sorriu concordando.
— Boa noite, casais — Isabel, uma das líderes de torcida,
disse enrolado e sendo carregada Amber.
— Boa noite — dissemos rindo.
— Deve ser superchato para você ter toda hora alguma
garota diferente, não? — reclamei, quando me lembrei de Amber
dizendo que era difícil não se apaixonar por Cameron, e ele riu, me
puxando com a mão em meu pescoço.
— Estou sentindo um leve ciúme em suas palavras — disse
beijando lentamente meu pescoço.
Mordi o lábio inferior rindo e fechando os olhos enquanto
sentia seus lábios trilharem até minha orelha.
— Mas já disse que sou todo seu — sussurrou em meu
ouvido.
— Sei disso, não tenho dúvidas — afirmei o olhando.
Nossos lábios estavam tão próximos que ele respirou fundo
fechando os olhos, mas não se afastou. 
— Ei, olha para mim — pedi beijando sua bochecha até
próximo de sua boca e senti suas mãos apertarem minha cintura,
me fazendo arfar.
— Senhor Cameron — olhamos o segurança, estava pronta
para me afastar de Cameron, mas ele não deixou —, todos já
entraram e estão em seus devidos quartos — avisou.
— Obrigado, Sean — agradeceu, o segurança de retirou e
ele me olhou. — Vou ir dormir com você.
— Não vai — rebati e ele deu de ombros.
— Por favor — resmungou como uma criança.
— Dá para colocar colchões no quarto, tem espaço — Natalie
disse se aproximando de nós —, mas amanhã vamos ir para a
cachoeira mais cedo.
Cameron me olhou e Natalie saiu puxando Elliot para subir as
escadas.
Subimos as escadas e ele avisou que passaria em seu quarto
antes de ir para o de Natalie. Três garotas passaram no corredor e
não notaram que eu estava na porta do quarto.
— Agora você entende o motivo de todas as mães quererem
que suas filhas fiquem ou até se casem com Cameron? Ouvi dizer
que a mãe de Karen até queria que ela desse um golpe da barriga
nele — disse Elise.
— Minha mãe sempre disse que ele é um rapaz muito bom e
rico, que seria ótimo eu ter algo com ele, pois sua família tem
grande influência em qualquer lugar, fora que ele é um gostoso! Mas
não consegui nada além de um selinho em uma festa e ele nem
deve se lembrar — disse Kristen e eu fiz uma careta
involuntariamente.
— Que Deus me perdoe, mas eu torço para que esse
relacionamento dele com a representante acabe logo. Preciso de
pelo menos uma noite com esse garoto e nem é por causa de golpe
do baú, é simplesmente por ser ele — Paloma disparou e as
meninas riram.
— Quando Cameron terminar com a nerd, vamos revezar —
Kristen disse e Elise pareceu desconfortável ouvindo aquilo, mas
não rebateu nada. — Além de ser gostoso tem muito dinheiro e
deve ser ótimo na cama, o único defeito é a namorada.
Entrei no quarto de Natalie, batendo a porta com força.
Me sentia irritada, nervosa, incomodada e ao ponto de gritar.
Natalie saiu do banheiro correndo e me olhou, estava tirando a
maquiagem do rosto.
— O que aconteceu? — questionou preocupada e se
aproximando de mim.
Nicolly apareceu logo em seguida.
— Essas garotas da escola são muito sem noção! Elas
querem dividir o Cameron, disseram que não veem a hora do nosso
namoro acabar, que eu sou o único defeito que ele tem! Elas são
tão, tão nojentas, o tratam como prêmio, que ódio! — disparei
furiosa enquanto andava de um lado para o outro.
Respirei fundo e, mesmo sentindo meu corpo todo tenso,
tentei me acalmar.
— Desculpa — disse olhando as duas e elas me abraçaram.
— Não se desculpe, sei o quanto isso é horrível — Natalie
me confortou.
— Mas se quiser bater nelas, estou dentro — Nicolly disparou
com seu jeito marrento.
— Não, tudo bem, passou — afirmei. — Me empresta um
pijama? — pedi a Natalie.
— Mas todo mundo vai te ver de biquíni amanhã — Natalie
comentou, entrando no banheiro com um pijama azul escuro.
— Isso não me conforta — ri pegando o pijama.
— Nanat, é impossível convencer essa garota — Nicolly
disse enquanto tirava a maquiagem se olhando no espelho.
— Ela sabe e mesmo assim tenta — rebati e Natalie me
mostrou a língua.
Depois de trocar minhas roupas, sai do banheiro e me sentei
no colchão que Natalie disse ser meu. O quarto dela não era
enorme como o de Cameron, mas era um dos maiores daqui.
Parecia um quarto de princesa e era a cara dela. As paredes eram
lilás, os móveis roxos escuro, tinham manequins com vestidos,
chapéus e acessórios, e um closet.
Me espreguicei e me deitei, ficamos conversando um pouco
sobre a nossa noite até eu anunciar:
— Vou ir dormir gente, boa noite.
— Boa noite — as duas disseram juntas.
Mandei mensagem para os meus pais e Isaac desejando boa
noite. Meu corpo se entregou ao descanso, mas minha mente parou
após ouvir Cameron chegando.
Seus dedos começaram a acariciar meu rosto suavemente,
queria abrir os olhos e vê-lo, mas estava tão vencida pelo cansaço
que meu corpo não estava me obedecendo. Me sentia tão em paz,
tranquila e protegida que poderia ficar ali para sempre.
Ouvi as vagas conversas do pessoal, Carter riu dizendo que
nunca tinha visto Cameron tão entregue a alguém e Elliot disse que
ele nunca tinha se permitido. Consegui escutar sua oração baixinha
em meu ouvido, como se fosse uma coisa só minha e dele e foi
após isso que consegui adormecer em seus braços.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 08:12.
 
Depois de colocar meu biquíni e um conjunto de saia e
cropped cujo as alças eram caídas em meus braços, sai do banheiro
sem fazer muito barulho. Natalie, Elliot e Cameron não estavam no
quarto. Tomei minha medicação e desci as escadas.
— Bom dia senhorita, não sabíamos que iria acordar tão
cedo, mas Natalie nos avisou e fizemos uma entrada antes do café
da manhã — Maya disse mostrando uma tigela com pedaços de
melão em cima de uma bandeja e suas mãos tremiam um pouco.
— Se acalme, Maya. Matilde disse que ela é tranquila —
disse uma garota de cabelos pretos. — Olá, senhorita Rebecca, me
chamo Evelyn.
— Olá. Podem não me chamar de senhorita? Apenas quando
estiverem na frente dos outros — pedi pegando a tigela. — Muito
obrigada, Maya. 
— De-de nada senhorita — disse tímida, o que me fez rir.
— Desculpe-nos, Cameron nunca trouxe uma garota na qual
pediu prioridade quanto ao seu conforto e tudo o que precisar. Não
queremos invadir seu espaço, mas a queremos muito bem — disse
Evelyn.
— Tudo bem — disse agradecida e peguei um melão com o
garfo levando até a boca. — Está ótimo para mim. Viram Cameron?
— O vi subindo para o quarto mais cedo — Maya disse.
— E Natalie?
As duas garotas se olharam apreensivas e observaram a
janela da cozinha. Caminhei até ela onde era possível ver Elliot e
Natalie conversando com Jessie e um segurança. A garota não
parava de chorar e Natalie chorava com ela. 
— Sinto muito pela amiga de vocês irem embora — disse as
olhando e elas franziram o cenho.
— Nós não sentimos — afirmou Evelyn e Maya riu
concordando.
— Ela é incrível, a amamos, mas sempre soubemos que o
que a prendia aqui era Cameron. Jessie precisava ir embora, o amor
dela era muito sofrido por não ser correspondido e  ela criava
expectativas por qualquer coisa dita por ele — Maya explicou.
— Expectativas?
— Sim — iniciou Evelyn. — Uma vez Cameron nos chamou
para dar uma volta pela área, até meus irmãos gêmeos de três anos
foram e ele quem cuidou deles, fez questão disso — ela sorriu com
graciosidade, não parecia apaixonada enquanto falava, mas a
admiração era notória — e Jessie ficou a semana toda falando que
ele fez aquilo porque queria ficar próximo dela, mas ele ficou apenas
com os meninos e nem falou com ela direito.
— Ela criava toda uma história em sua cabeça e alimentava o
tempo todo. Nunca se jogou para ele, mas passava mais tempo
chorando por querê-lo e não o ter, do que sorrindo e vivendo sua
própria vida. Jessie estava sofrendo e tudo bem, quem nunca
sofreu? — disse Maya relaxando os ombros. — Vai ficar bem melhor
estando com a família.
— A família dela trabalha para os avós de Cameron. Não
sinta muito, está tudo bem — Evelyn disse apertando meu ombro
me confortando.
Natalie entrou antes que pudéssemos conversar mais. 
— Bom dia, docinho — disse beijando meu rosto. — Vou me
arrumar rapidinho e já venho. Vamos tomar café por lá, ok? 
— Ok. Aproveita e chama a Nini, ela estava dormindo quando
desci — avisei e ela concordou, saindo da cozinha. 
Ela trombou com Cameron na entrada. Senti meu estômago
se encher de borboletas e minhas mãos suaram. 
— Olha por onde anda, otário — Natalie xingou e ele bateu
na testa dela com dois dedos, como Itachi fazia em Sasuke.
— Desculpa, daqui de cima não te vi — rebateu.
Acabei rindo, Natalie era pouca coisa menor que eu e ele
insistia em irritá-la com isso.
Ela deu um tapa em seu ombro e sumiu após passar da
porta. Maya e Evelyn se arrumaram rapidamente na entrada uma ao
lado da outra com uma enorme formalidade.
— Bom dia — Cameron disse, olhando as garotas.
Estava com uma camisa preta um pouco justa que ficou linda
em seu corpo, um short azul escuro e os cabelos molhados e
bagunçados.
— Bom dia — as meninas disseram juntas e ele me olhou
passando a mão nos cabelos, os jogando para trás.
Percebi o olhar delas percorrendo o corpo dele e ambas
coraram, abaixando a cabeça.
— Podem preparar a mesa do café, por favor? — Pediu, mas
seus olhos estavam focados em mim. 
Voltei a comer os pedaços de melão que estavam na tigela.
As meninas saíram após sua ordem e ele caminhou graciosamente
até mim.
— Bom dia minha princesa — disse me olhando e afastando
uma mecha de cabelo de meu rosto.
— Bom dia, amor. — Beijei seu rosto. — Esse melão está
ótimo — elogiei.
— Deixa eu experimentar. — O olhei sorrindo.
— Só pegar — desafiei levando um pedaço até a boca. 
Ele olhou minha boca e mordeu os lábios, suas mãos
apertaram minha cintura enquanto respirava fundo. Mordi o melão e
sorri sarcasticamente.
— Esperava mais de você, capitão — provoquei colocando a
tigela na bancada.
Estava pronta para me afastar quando ele me pressionou
contra a geladeira.
— Esperava mais de mim? — questionou subindo a mão pela
alça do biquíni e a desceu pelos meus ombros. — Mas eu nem
comecei ainda — sussurrou colocando a mão na geladeira e
beijando meu ombro.
Deslizei as unhas nas laterais de suas costas até sua lombar
e ele estremeceu por inteiro, arfando próximo de meu ouvido. Ouvir
sua respiração ofegante me deixou arrepiada. 
Seus olhos encontraram os meus e ficamos nos encarando
por instantes enquanto sua mão subia em minha nuca. Por
instantes, esqueci o motivo de não termos nos beijado ainda e ele
parecia ter se esquecido também.
Apertei sua cintura o puxando para mais perto, ele sorriu me
olhando e puxando meu cabelo, me fazendo inclinar a cabeça. Senti
sua mão desocupada puxando minha perna esquerda até a altura
de sua cintura e a apertando com firmeza. Seus olhos não
desviavam dos meus por nada. Quando arranhei suas costas, ele
inspirou e puxou meu cabelo com mais força, pronto para selar
nossos lábios.
— Prima, vam… misericórdia. — Ouvi a voz de Nicolly.
Cameron bufou e soltou cuidadosamente minha perna
enquanto seus olhos continuavam me encarando.
— A gente termina isso depois — afirmou acariciando meu
rosto e arrumou a alça do meu biquíni em seu devido lugar.
— Estou ansiosa para isso — rebati passando os dedos em
sua corrente de Konoha e ele sorriu. — Preciso ir. — Beijei próximo
do canto de sua boca.
Estava louca para selar nossos lábios e ele também, pois
ficou me olhando por instantes.
— Te vejo já, Malik — disse com os olhos semicerrados
enquanto me soltava lentamente.
Sorri o olhando de cima abaixo e sai da cozinha antes que
acabasse com a aposta. Meu corpo estava fervendo e nem vi
quando Nicolly saiu da cozinha.
— Estão te aguardando na ala de piscinas — Maya avisou,
entregando-me minha bolsa.
— Obrigada, Maya — a agradeci com um sorriso nos lábios.
 
Natalie nos trouxe a um jardim enorme e lindo. Mais à frente
havia plantações, árvores frutíferas e uma reserva de morangueira.
Pelo que entendi, eles vendiam tudo o que plantavam, como frutas,
verduras e legumes, mas os principais eram os morangos.
Depois de comermos, oramos e conversamos sobre tudo, os
namoros, as dificuldades que temos em nossas vidas, nossa
intimidade com Deus, nossos relacionamentos, nossos objetivos e
essas coisas. Queria compartilhar sobre meu maior medo que era o
projeto inteligência de Stanford e de como tudo isso implicaria na
minha vida com Cameron, mas não queria pensar nisso agora.
Grande parte da minha oração silenciosa foi chorando e
falando sobre o quanto estava com medo, o quanto aquilo era
apavorante, e por incrível que parecesse apenas uma paz enorme
tomando conta de mim, talvez porque eu finalmente tinha
desabafado, mesmo que em silêncio, sabia que tinha alguém me
ouvindo.
— Nini, está precisando conversar? — questionei, pegando
em sua mão.
Ela chorou antes mesmo de começarmos a orar.
— Não, é que fazia muito tempo que eu não tinha um
momento assim — explicou limpando o rosto. — Obrigada, mesmo.
— Ela me olhou e em seguida olhou Natalie.
— Eu amei esse momento com vocês — disse Natalie
animada e sorrimos nos abraçando.
— Eu também. Esse lugar é lindo — admirei —, e as frutas
daqui parecem ser uma delícia — afirmei e Natalie riu.
— Você já comeu as frutas daqui — a olhei confusa. — Bem
no começo do ano quando Cameron trocou sua coca cola por uma
salada de frutas, lembra? Então, foram as frutas daqui. O próprio
Cameron que fez sua salada de frutas.
Um balão de felicidade cresceu dentro de mim e eu sorri
sozinha.
Ele, sempre foi ele.
Não tinha palavras que pudessem expressar o que estava
sentindo, jurava que tinha sido Natalie, mas não fazia o tipo dela
mexer com comida, assim como eu também não gostava.
— Um fofo mesmo — Nicolly disse enquanto eu estava
perdida em meus pensamentos. 
— Gente — me virei na direção da voz vendo Lana —, as
meninas estão indo para a cachoeira agora, o Pê falou que os
meninos vão assim que terminar de jogar futebol — sorri ao ouvi-la
—, vocês vão com a gente?
— Pê? — questionei olhando Lana que ficou com as
bochechas rosadas.
Natalie se levantou em um pulo e começou a bater palminhas
de animação.
— Vocês finalmente ficaram? Aí meu Deus! Que delícia —
disse dando um abraço em Lana que sorriu me olhando.
— Rebecca deu uma forcinha.
— Forcinha? — Nicolly se levantou e me puxou pelas duas
mãos me fazendo levantar também. — Essa forcinha com certeza te
fez querer enfiar a cabeça em um buraco. — As duas gargalharam.
— Minha nossa, sim! Achei que ia morrer de vergonha —
Lana disse rindo.
— Fiz nada, gente — brinquei dando de ombros e ajudando
Natalie a arrumar a bagunça que fizemos na toalha onde tomamos o
café da manhã.
— Fico feliz que agora posso ser sua amiga sem toda aquela
bobeira de as pessoas vão saber que eu te passo informações —
Natalie disse olhando Lana e a abraçou com o braço desocupado.
As duas me olharam.
— O quê? — questionei confusa.
— Ela vai te explicando no caminho. Me ajude a deixar as
coisas em casa? — Natalie pediu a Nicolly que concordou. — A
gente encontra vocês no caminho.
— Eu repassava as informações para Natalie — Lana iniciou
quando começamos nossa caminhada até a cachoeira —, logo
quando começou o boato de que você era a garota das fotos
misteriosas de Cameron e Karen, Melissa e Raquel queriam abordar
você sozinha depois da escola, contei tudo a Natalie e Calleb. Eu
estava na reunião delas quando Calleb estava na casa de Josh,
avisei a ele para tentar ouvir nossa conversa atrás da porta e ele
conseguiu. — A olhei impressionada. — Sobre o jornal, quase o
perdi por causa de Yuna.
— A matéria sobre A Favorita? — Ela concordou.
— Ele queria colocar coisas sobre mesmo você sendo virgem
conseguiu segurar Cameron e Melissa, que estava disposta a dar
tudo a Cameron, não conseguiu. Nem a diretora gostou, mas ia
deixar passar. Ia ser horrível e vergonhoso demais! As pessoas têm
uma fixação em você e Cameron que chega a se tornar obsessão —
disse soltando a respiração.
— Então você sempre esteve do nosso lado? 
— Sim — ela sorriu —, Cameron sabia que eu fingia o querer
apenas para estar inclusa no assunto das meninas. Uma vez Karen
estava planejando de embebedá-lo para… — ela abaixou o olhar
parecendo decepcionada — você sabe — concordei —, o avisei na
hora e ela até hoje não faz ideia disso. Sempre odiei todas as coisas
que as meninas faziam, mas precisava ajudá-lo. Então falei para ele
e Natalie fingirem que não tinham contato comigo.
— Lana, você é a pessoa mais inteligente e bondosa que já vi
— disparei e ela me olhou surpresa. — Obrigada, mesmo! 
— Não, eu que te agradeço. Você salvou Cameron, está
salvando Pê, vários meninos do time mostraram que são pessoas
incríveis, sei que não só por você, mas por eles mesmos. De
verdade, quem viu Cameron ano passado sabe que ele estava se
destruindo.
Encontramos as outras meninas. Melissa me olhou, mas
voltou a conversar com as líderes. Olhei Kristen e Paloma com uma
vontade enorme de vomitar por tudo o que elas falaram ontem. Elise
estava com Isabel, me olhou, mas não disse nada. Não tinha o que
dizer, ela não sabia que eu tinha escutado toda aquela nojeira.
Percebi que algumas garotas estavam com saídas de banho
que cobriam apenas a parte de baixo do biquíni. Quem me dera ter
essa segurança toda…, quando pensava em todos me vendo de
biquíni ficava apreensiva por motivos que nem eu sabia como
explicar. Não sabia se era vergonha ou insegurança. Talvez os dois
juntos.
Natalie falava alguma coisa com Luce e Nicolly já tinha feito
amizade com as meninas do futebol.
— Me conte, como foi com Peter? — Ela sorriu animada,
entrelaçou o braço no meu, me puxando, e nos afastando das
meninas.
— Ele foi incrível comigo — disse mostrando um belo sorriso.
— Não sei no que vai dar, mas depois de ontem, espero que dê
certo — afirmou.
— Desejo isso a vocês também — sorri na mesma animação.
— Você não tem noção de como eu fiquei com vergonha
ontem porque você não é nem um pouco discreta — rimos.
— Só faço isso com quem tenho muita amizade e Peter é um
grande amigo. Ele ficou apavorado quando te chamei.
— Depois ele foi tão fofo comigo — choramingou apaixonada.
— Obrigada mesmo. Ele gosta muito de você e da sua amizade —
afirmou.
— E eu gosto muito dele. Ele é incrível — ela concordou
sorrindo. 
Chegamos na cachoeira e os meninos ainda não estavam.
Tirei meu conjunto e me joguei na piscina natural que era formada
pela fonte da cachoeira. 
Estava tão abafado e quente que a água estava morna.
Amava ficar na água, mergulhei várias vezes, me
esquecendo de tudo. Não era a maior fã de natureza por conta dos
insetos, mas amava ver que tudo o que Deus criou era lindo e
perfeito. 
Me sentei em uma rocha, aproveitando o som da água caindo
da fonte e a cantoria harmonizada dos pássaros.
De reflexo, notei uma sombra se formando e se aproximando
de mim, mas sem óculos, tudo o que consegui perceber era uma
garota. Quando ela estava a poucos passos distantes de mim, notei
quem era.
— Posso? — Melissa questionou e eu concordei. 
Ficamos instantes em silêncio, apenas olhando a água
caindo.
— De longe parece que somos duas idiotas olhando para o
nada, de perto parece que está de longe.
Melissa gargalhou após me ouvir e sua risada era tão
engraçada que acabei rindo.
— Se me der liberdade, quero ser sincera com você.
— Fique à vontade — afirmei.
Ela soltou a respiração e disse:
— Por um bom tempo, não queria a vida de Alice, nem de
minha mãe. Queria a sua. Você conquistou tudo com tanta rapidez e
naturalidade que eu me senti ofuscada. Não é sua culpa, quero
deixar claro. 
— Certo…
— Cameron sempre foi tão entregue a você, até mesmo
quando fingia que te odiava, ele sempre esteve em suas mãos. Era
tudo o que eu queria. Ter seu brilho natural, ser leve, transmitir paz,
tranquilidade e depois… queria sua amizade, de verdade, mas
nunca consegui e agora que sei o meu problema, é melhor nem ter
sua amizade — franzi o cenho —, me perdoe — seu rosto começou
a se molhar por algumas lágrimas —, mas não posso tentar ser sua
amiga agora, não vou conseguir me curar estando próxima de
pessoas que, sem intenção, me destroem. — Ela olhou em meus
olhos. — Vê-lo com você me destrói, Rebecca. Porque eu queria ser
a garota dele, queria cuidar dele como você cuida e, por mais que
eu tente, não consigo, não posso fazer isso mais. Você é perfeita e
eu fico me comparando o tempo todo com você.
— Melissa — a interrompi —, não sou perfeita e nunca vou
ser, mas nunca concordei com a personagem que você criou para
si. Não me peça perdão por fazer algo por si mesma, sou a favor do
perdão próprio. Se perdoe, se cuide, se cure e afaste quem você
sentir que precisa. Tudo bem, sei que você é uma garota incrível e
só não descobriu isso ainda.
Ela sorriu com os olhos cheios d'água.
— Eu desejo, do fundo do meu coração, que você fique bem,
mas por favor, nunca mais envolva Cameron nas suas provocações
com Karen — pedi.
— Nunca mais, eu prometo.
Balancei a cabeça concordando.
Ela se despediu com um aceno desajeitado e se afastou.
Decidi deixar novamente meus pensamentos de lado. Ao lado
da fonte maior da cachoeira, havia pequenas quedas de água, como
se fossem chuveiros.
Parei embaixo de uma me molhando por inteira. Gostava de
ficar com as meninas, porém, melhor que a companhia delas, era a
minha.
Ouvia as vozes delas brincando, cantando e gritando. Em
seguida ouvi a dos meninos.
Abri meus olhos quando senti as mãos dele me tocando. Seu
toque era inconfundível. A queda de água não era tão forte o que
facilitou meu olhar sobre ele. Suas mãos deslizaram lentamente nas
curvas de minha cintura, fui empurrada contra uma rocha que nos
escondia um pouco de todos os olhares e ele aproximou os lábios
dos meus sem encostá-los. 
Seu olhar estava diferente. Era ardente, de forma que mesmo
debaixo das águas, me sentia dominada por um calor intenso.
Ele afastou meus cabelos molhados do rosto e ficou apenas
me encarando. Passei a língua nos lábios e desviei o olhar dele. Me
sentia tensa e fraca, mas resistiria.
Talvez não por muito tempo…
Cameron beijou minha bochecha e sem dizer nada se
afastou, seus olhos percorreram meu corpo, vi suas bochechas
coradas e seu sorriso denunciou que nem ele sabia o que falar. 
— Vem com a gente, amiga — Natalie gritou me puxando.
Não entendia o que estava acontecendo, mas quando Calleb
gritou três e todos pularam na grande piscina natural, eu pulei junto.
Rimos um da cara do outro e começamos a jogar água em todos. 
Quando comecei a me aproximar de Cameron, que estava
fazendo palhaçadas e dançando com os meninos, ele começou a se
afastar.
— Ela quer me atacar, socorro — disse, fingindo se esconder
atrás de Carter.
— Amor, para de graça — reclamei rindo e tentando me
aproximar. 
— Rebecca, não! Eu vou morrer, socorro meu Deus. NÃO! —
gritou e como uma criança começou a correr.
Não consegui ir atrás dele porque não parava de rir. Quando
ele parou de correr e ficou ao lado de Peter, revirei os olhos e ele
me olhou sério.
Me aproximei de Luce, Calleb e Lana que estavam tomando
sol sentados em uma pedra enorme. Fiquei com os pés na beira
d'água ouvindo a conversa deles falando sobre a beleza do corpo
das outras meninas.
— Isabel por exemplo tem um corpo muito bonito — Lana
elogiou. 
— De verdade, mas todo mundo já vê pelas roupas que ela
usa — Calleb rebateu.
— O corpo dessa aqui que é bonito. — Ouvi Luce dizer e os
três me olharam.
— Magnifico — Lana disse.
— Mas o seu também, amiga, que corpão, e ainda ficou na
dúvida se era o tipo do Peter — rebati e ela gargalhou.
— Que casalzão, saibam que eu e Josh seremos padrinhos
do filho de vocês — Calleb anunciou.
— Até parece que isso é negociável, é logico que serão, Josh
e Peter são inseparáveis — Luce observou.
— Acho que vocês atrapalham o relacionamento de Peter e
Josh igual eu e Nanat atrapalhamos o relacionamento de Elliot e
Cameron — comentei brincando.
— Eu sinceramente concordo — Calleb afirmou rindo.
— Cameron é um guerreiro, acho que qualquer um já teria
perdido essa aposta — Luce disparou revezando o olhar entre mim
e Cameron, quando me levantei.
— Ele está aqui ó — apontei para a palma da minha mão —
na palma da minha…
Não consegui terminar a frase. Sua mão subiu pela minha
nuca e ele puxou meu cabelo com uma firmeza que me fez dar um
passo para trás. Com facilidade, ele me virou de frente e me
encarou de forma que me fez estremecer.
— Estou onde? — questionou com a voz rouca.
Arranquei forças do fundo do meu interior e o encarei.
— Você me ouviu — disse com firmeza e passando as unhas
em seus braços, mesmo que ele ainda estivesse com os dedos
envolvidos em meus cabelos, aproximei mais nossos lábios. — E
você sabe que não estou mentindo — sussurrei sem tirar os olhos
dele.
— MEU DEUS DO CÉU GENTE — Luce gritou
animadamente.
— Me segura, minha pressão caiu — Calleb dramatizou.
— Nossa, olha como eles estão se olhando, minha nossa
senhora — Lana disse impressionada.
— Vem comigo — Cameron pediu colocando a mão em
minha cintura.
Natalie me entregou uma saída de praia. Aceitamos ficar sob
a supervisão de todos, então não ficaríamos a sós. Coloquei a saída
de praia mesmo com o biquíni úmido e subimos algumas rochas que
pareciam degraus de escada. Cameron precisou me segurar duas
vezes para não cair e acabou rindo das duas vezes. 
Chegamos em uma parte alta onde era possível ver todos
embaixo, mas a visão da paisagem era linda daqui de cima. Nos
sentamos e ele me abraçou por trás me deixando aproveitar a linda
paisagem e o sol batendo em nós. Ficamos assim alguns instantes,
apenas aproveitando as carícias e a companhia um do outro.
— Soube que você quem fez minha salada de frutas —
comentei o ouvindo rir baixo —, tem mais algo que você tenha feito
e mandado outra pessoa me entregar? — Me virei de frente para
ele.
Ele me analisou por instantes, em seguida pegou minha mão
e começou a passar os dedos por ali.
— Pedi para minha mãe entregar porque achei que ia deixar
muito na cara meus sentimentos por você, fiquei com medo de te
assustar e querer desistir de tudo.
— Cameron — disse impressionada e balancei a cabeça
rindo de mim mesma por nunca ter percebido —, você é incrível e
surpreendente, sabia? — Beijei sua mão, em seguida fui puxada
para seu colo.
— E você é o meu amor, sabia? — disse me olhando e
soltando o laço da saída de praia calmamente me fazendo respirar
pesado. — Você, Rebecca Malik, é a garota mais linda que eu já vi
na minha vida — suas mãos entraram por dentro da saída de praia
e me apertaram.
— E você, Cameron Styles — arranhei levemente suas
costas e beijei suas bochechas — é o garoto mais lindo — beijei seu
pescoço —, incrível — deslizei meus lábios até sua orelha — e sem
dúvidas o mais perfeito que já conheci em toda a minha vida — ele
me apertou ainda mais forte e inspirou com força.
— Me beija, Rebecca, sei que você quer. — Ele soltou a
respiração em meu ouvido, fechei os olhos, sabia que não
aguentaria e nem sabia se queria aguentar mais alguma coisa. —
Acaba logo com isso.
— Não vou cair nessa — afirmei o olhando e sai de seu colo
—, talvez você não seja tão irresistível assim — disse quando
estava distante dele. 
Desci as rochas rapidamente, porém com cuidado.
Sabia que se ficasse ali não aguentaria mais.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 14:51.
 
Estava assistindo as meninas jogando queimada quando
Natalie me chamou para ver os meninos andando de skate na pista
abaixo da de basquete. Me sentei ao lado de Nicolly que estava
limpando um machucado no braço de Carter, ela mais ria da cara
dele do que limpava a ferida.
— Você é péssimo andando de skate, meu Deus, até minha
mãe é melhor — debochou dele e ele fingiu estar bravo, mas logo
começou a rir também.
Cameron, Jasper, Elliot e Peter andavam muito bem e se
exibiam fazendo manobras. Acabei rindo quando Cameron quase
caiu.
— Está rindo do que, nerd? — Cameron implicou e os
meninos me olharam.
— De você quase cair — respondi abrindo a garrafinha de
água e bebendo.
— Vem fazer melhor — desafiou e eu o olhei séria.
— Vai amiga, sei que você lembra como faz — Nicolly
disparou. 
Me levantei e caminhei até Cameron amarrando o cabelo.
Comecei a andar de skate com Pollo e Nicholas e depois de
vários machucados, choros e quase desistir, acabei aprendendo o
básico. Os dois eram totalmente inconsequentes e não tinham medo
de se machucar e as manobras que eles faziam eram incríveis.
Nicholas ainda praticava e até ganhou uma competição em Nova
York saindo em primeiro lugar.
Peguei o skate da mão de Cameron e ele me olhou
impressionado por ter aceitado.
— Você me subestima demais, Styles — afirmei. 
Dei algumas voltas na pista para conhecê-la e saber o que
podia fazer. Era como andar de bicicleta, a gente nunca esquecia.
Depois de mostrar que sabia fazer algumas coisas, os meninos
riram e me aplaudiram.
— Você não cansa de ser perfeita não? — Cameron disse
soando mais como uma reclamação.
— Não — disse com tom convencido e ele riu.
— Eu admito, a senhorita anda muito bem.
— Muito obrigada senhor — disse com uma cordialidade
fingida.
— Cameron, os meninos estão brigando na quadra de
basquete — Natalie avisou.
Ele bufou e deu um beijinho em minha testa. Olhei em seus
olhos e percebi que eles pareciam cansados.
— Já venho — concordei o observando caminhar até a
quadra de basquete.
Continuei a dar algumas voltas de skate. 
— Onde aprendeu a andar bem assim? — Olhei na direção
da voz de Jasper.
— Meu primo me ensinou, ele até ganhou um campeonato
disso — expliquei rindo e ele sorriu.
— Maneiro. Já faz muito tempo que anda?
— Três anos, eu acho. Esse ano nem parei para andar, achei
que nem lembrava — disse, me equilibrando no skate.
— Acho que a gente nunca esquece como anda nessas
coisas.
—… é como andar de bicicleta — dissemos juntos e
acabamos rindo.
Jasper, assim como Luce, tinha algo familiar para mim, como
se eu já os tivesse visto quando criança ou algo parecido. Observei
Cameron voltar e acabei me desequilibrando. Por sorte, Jasper me
segurou pelas mãos a tempo e riu de mim.
— Tire as mãos da minha garota! — Cameron disse ríspido.

 
 

 
O corpo de Rebecca era, sem dúvidas, o mais perfeito que já
vi em toda a minha vida. Suas curvas tão bem desenhadas me
fizeram desejá-la como nunca. Queria beijar cada parte de seu
corpo e sabia que a bela visão que tive dela na cachoeira jamais
sairia de minha mente.
Estava irritado em não poder beijá-la e tudo piorava quando
me lembrava que aceitamos uma aposta idiota onde os únicos
prejudicados eram eu e ela, mas nada superava a raiva dentro de
mim pela forma que a olharam de biquíni ou até mesmo com as
roupas que estava hoje.
Sabia que estava disfarçando, mas seu incômodo era notório.
Os meninos do time a olharam disfarçadamente, porém os outros
nem se deram ao trabalho de disfarçar. Se eu pudesse arrancaria os
olhos de cada um por vez só para que ela se sentisse confortável
vestida do jeito que quisesse.
Era claro que Rebecca tinha um corpo perfeito, mas sabia o
quanto era ruim ser olhado apenas por isso na maioria das vezes.
Reconhecia os olhares deles e não poder ter tudo sob o meu
controle me deixava ainda mais nervoso.
Meu estresse estava dividido em não poder beijar minha
garota e não ter dormido direito pensando nas diversas formas que
acabaria com Bronwen. Precisei me controlar de mil formas
diferentes enquanto ouvia Rebecca falar o que aquele desgraçado
fez, não queria que ela pensasse que minha raiva era sua culpa,
mas quebraria a cara dele facilmente se o visse antes mesmo da
luta em outubro e eu ainda não tinha contado a ela sobre isso.
Pensar que teve seus limites ultrapassados me deixava com
os nervos à flor da pele. Ele ainda a deixou marcada, imaginar
minha mulher marcada me deixava louco. Acho que se um dia a
machucasse iria pirar, mal conseguiria olhar nos olhos dela sem
pensar no que causei.
Afastei esses pensamentos quando percebi que estava com
o punho cerrado. Isso me deixava totalmente furioso.
Quando desci, retornando para as pistas de skate, senti
vontade de socar Jasper por estar com as mãos em Rebecca após
ela quase se desequilibrar.
— Tire as mãos da minha garota! — disparei me
aproximando.
— Ela quase caiu, cara, só estava…
— Agora que ela não caiu, tire as mãos dela — disse o
afastando.
— Eu jamais encostaria nela, Cameron — Jasper alegou com
firmeza.
— Chega! — Rebecca disse decidida, se colocou em minha
frente e começou a me empurrar para trás.
— Você não percebe que…
— Cameron, você dormiu? — questionou antes que eu
terminasse de falar.
— Não começa! — reclamei impaciente.
— Não começa? — questionou. — Você, mais do que
qualquer um, vê que Jasper não me olha de forma maldosa, me
olha como Peter ou até como um dos meus primos, não sei explicar,
mas não faz o menor sentido fazer essa cena toda! Sabe do que
estou falando, você não está bravo com ele por ter me ajudado, está
irritado porque não dormiu, anda, vamos dormir — disse, me
puxando pelo braço.
— Mas ainda nem são quatro da tarde — protestei.
— Isso não me impede de dormir e nem vai te impedir —
afirmou sem parar de caminhar até a casa me puxando.
— Amor, não. Não posso deixar a casa sozinha, olha o tanto
de gente que tem aqui — expliquei tranquilamente.
— Carter e Elliot vão tomar conta daqui — disse me olhando.
— Para de resistir! Não entendo metade da necessidade de tanta
proteção aqui, mas acredito que os seguranças estão atentos. Amor,
vamos dormir — pediu beijando minha bochecha.
Suspirei aceitando, queria descansar um pouco.
— Vou só avisar o chefe da segurança — afirmei e ela
concordou sorrindo.
Depois de conversar com Ronald, subimos as escadas para o
meu quarto. Tomei um banho, mas não conseguia relaxar. Minha
mente parecia ligada no duzentos e vinte.
Sai do banheiro após colocar uma calça de moletom preta e a
encontrei tocando o piano no quarto. Me aproximei silenciosamente
a ouvindo tocar e cantar Kiss Me do Ed Sheeran. Parecia uma
artista em uma apresentação profissional.
O brilho que Rebecca trazia aos meus dias, a minha vida por
completo, era impossível de explicar e me fazia ter mais certeza de
que ela era a mulher da minha vida.
Quando finalizou a música, olhou em minha direção e sorriu
se levantando.
— Desculpa, não sabia se podia tocar — disse quando se
aproximou de mim.
— Claro que pode, amor, vai ser tudo seu — afirmei,
puxando-a para mim, quando ia aproximar meus lábios dos seus ela
se afastou.
Maldita aposta!
— Se aguentarmos mais um pouquinho, ninguém perde —
disse com um sorrisinho nos lábios e eu passei a mão no rosto
sentindo minhas bochechas queimarem.
— Quero te beijar — admiti impaciente.
— Só depois — disse me puxando pelo braço até chegarmos
na cama —, agora vamos dormir — afirmou.
— E você está com sono? Aparentemente dormiu bem essa
noite.
— Você se impressionaria se soubesse a quantidade de sono
que tem dentro de mim.
Ela se deitou na cama e eu ao seu lado. Me deitei de bruços
e ela colocou a perna em minha cintura. Acariciei seu rosto
enquanto a olhava.
— Bê? — chamou e me olhou. — Sei que você sempre quis
me proteger, antes mesmo de começarmos a namorar... de onde
vem essa necessidade toda?
Pensei um pouco enquanto acariciava sua nuca e deslizava o
polegar em sua bochecha.
— Na verdade, lembra quando tentaram roubar um selinho
seu? Acho que tínhamos entre quatorze ou quinze anos —
relembrei e ela concordou rindo —, depois que soquei Andrew, eu
cheguei em casa desesperado para falar com a minha mãe. Não
sabia de onde vinha, mas queria muito que ninguém te fizesse mal,
sabe? Por mais que eu te irritasse muito, não queria te ver triste por
nada. Lembro que cheguei em minha mãe e falei: “acho que estou
com problema no intestino, que negócio estranho aqui dentro.”  —
Ela começou a gargalhar e acabei rindo junto. — Quando mamãe
disse que talvez eu gostasse de você, fingi que ia vomitar.
— Consigo ver perfeitamente essa cena. — Ela riu brincando
com os meus cabelos e percebi que seus olhos brilhavam.
— E hoje é muito maior o sentimento, de um jeito que quase
me consome. Cresci protegendo Natalie de tudo porque ela é minha
irmã e eu a amo. Mas com você é surreal. Não sou seu dono, mas
sei que você é minha e se eu pudesse criava uma barreira contra
tudo o que pudesse te fazer mal. Acho que é isso o que acontece
quando a gente ama alguém — a olhei nos olhos —, eu por exemplo
te olho e vejo meu mundo — acariciei seu rosto a vendo ficar sem
reação. — Não quero que a pessoa mais importante da minha vida
se machuque, chore, sofra ou coisas assim, então faço até o
impossível para evitar e quando vejo alguma marca em você —
passei os dedos em seu braço onde Karen a arranhou —, é como
se eu tivesse falhado.
— Você não falhou — disse me interrompendo. — Você não
vai conseguir me proteger de tudo.
— Mas posso tentar.
— Não quero você se acabando por mim, amor — disse
deslizando as unhas em meus braços.
— É sobre você, mas isso não é uma escolha sua — afirmei
calmamente e ela riu.
— Você é um teimoso mesmo, Cameron Styles.
— E você uma mandona, Rebecca Malik. — Rimos nos
olhando.
— Ninguém vai precisar se acabar por ninguém — afirmou
beijando meu ombro e fechando os olhos após me abraçar.
Não queria dormir, mas quando senti suas unhas deslizando
com leveza em minhas costas, me entreguei facilmente ao sono.
 
Despertei sentindo meu corpo todo arrepiado e estremeci
enquanto Rebecca beijava minhas costas. Ela deslizou os lábios
lentamente na medida em que me arranhava.
— Hora de acordar, amor — sussurrou calmamente em meu
ouvido. 
Arfei, apertando o travesseiro sentindo meu corpo se arrepiar
ainda mais. De início eu achava que ela realmente não percebia as
coisas que fazia, seu olhar parecia inocente, mas agora tinha
certeza de que ela tinha total controle.
Antes que pudesse revidar, ela já tinha levantado da cama e
estava próxima da pilastra esquerda me olhando. Me virei, a
observando e ela cruzou os braços.
— Espero que você me acorde assim sempre. — Ela riu se
aproximando e se sentando na cama ao meu lado. Subi a mão por
sua nuca e ela sorriu, segurando meu braço.
— Os meninos afirmaram que eu já devo ter perdido
enquanto estávamos aqui no quarto. Isso porque você, antes de
chegarmos na cachoeira, disse a eles para prepararem as
camisetas das meninas e que nós devíamos preparar nossos braços
e pernas porque ia pegar pesado nos exercícios.
— Becca…
— Sabe uma das coisas que mais detesto e sei que nunca
vai mudar? — questionou deslizando as unhas em meu braço. —
Esse seu jeito convencido e a sua competitividade.
— Engraçado, vindo de alguém que ama competir — rebati a
puxando para perto —, você nunca gosta de sair em desvantagem e
nem eu — ela riu passando a língua nos lábios.
— Tenho menos de quatro horas para te fazer perder na
frente de todo mundo — disparou com tom provocativo.
— Quem disse que eu vou perder? — Ela se aproximou de
mim.
Seu olhar estava diferente, intenso, desejoso e parecia estar
levando tudo mais a sério do que antes. Estava hipnotizado a
olhando e amava vê-la assim, tão confiante.
— Você vai perder, Cameron, sabe disso — disse com os
lábios próximos dos meus e ficamos nos olhando por instantes. —
Te espero lá embaixo — avisou se afastando.
A observei sair.
Coloquei uma camiseta folgada preta, um chinelo da Nike e ri
lembrando que Rebecca andava de chinelo e meia o tempo todo. Só
não ia a escola assim porque agora precisava andar por todos os
projetos.
Sai do quarto e me questionei por onde ela tinha saído,
poderia se perder caso entrasse por alguma passagem que não
conhecesse.
— Sean, por onde Rebecca saiu? — questionei o segurança.
— Por aqui mesmo — disse indicando a porta.
Apenas concordei e desci as escadas que davam para a ala
de piscinas.
Estava uma bagunça. Pessoas na piscina, outros bebendo e
fumando, alguns dançando ou se beijando e a música era bem alta.
Depois da ala de piscinas tinha um cúbico com quatro sofás
pretos e uma fogueira dentro de uma espécie de caixa quadrada de
concreto.
Rebecca estava lá com Peter, Lana, Carter, Nicolly, Natalie,
Elliot, Josh e Calleb. Achei graça quando me aproximei e vi que os
meninos colocaram os narguilés de forma que quando fumassem
não chegava fumaça em Rebecca. Me tranquilizava ver que alguns
deles gostavam de Rebecca não por ser linda ou pelo corpo
espetacular, mas por saberem a garota incrível que ela era.
Quando cheguei até eles, vi que ela estava deitada no colo
de Lana recebendo carícias em seus cabelos. Parecia uma criança
quase adormecendo.
— O sorrisinho no rosto dele gente, olhem — Nicolly
anunciou fazendo todos me olharem.
— Me esquece, Nicolly — brinquei vendo Rebecca se sentar
e colocar os óculos ainda sonolenta. Ela me olhou e riu.
— Fala para a gente, Becca — Calleb começou, me sentei
em um canto e ela se aproximou de mim. — Ele já perdeu a aposta,
não é?
— Ainda não — afirmou. — Mas quase, várias vezes. —
Apertei a cintura dela quando senti sua mão deslizando em minha
perna.
— Até parece, você também quase perdeu. — Ela se virou
para mim e olhou meus lábios.
— Não tanto quanto você — disparou.
Ouvi a risada dos demais.
— Vamos deixar o casal — Natalie disse se levantando. —
Rebecca, trate de vencer agora. Me recuso a usar camiseta com a
cara dos meninos do time. Entendeu? Me recuso! — afirmou a
olhando.
— Lembra que ele falou para os meninos do time que te
venceria, não seja fraca — Lana disparou.
— Cuida da sua vida,  Lama  — impliquei errando seu nome
de propósito, pois sabia que ela odiava. Ela me mostrou o dedo do
meio e Rebecca riu.
Antes que Lana pudesse receber uma resposta, Peter a
puxou pela cintura, levando-a até o outro sofá.
— Desde quando eles estão juntos? — questionei confuso.
— Desde ontem — Rebecca me olhou e colocou as pernas
em cima das minhas —, sou uma ótima cupido — se gabou.
— Sua flecha veio logo em mim — disse apertando sua coxa
e envolvendo meu braço em sua cintura.
— Você era um alvo fácil, baby — provocou beijando minha
bochecha enquanto acariciava minha nuca, fiz uma careta e rimos.
— Peter ontem disse que a gente se completa, que somos sinceros,
só que você é bruto e eu mais tranquila nas palavras — beijei seu
ombro, sua pele era tão macia... ela continuou — e disse que
comigo você é calminho.
— Você me estressa as vezes e me irrita também, claro,
assim como eu também devo fazer com você, mas por que eu
descontaria algo em você sendo que o problema de estresse é
totalmente meu? E não desconto em ninguém, é que com os
meninos sempre dialoguei do meu jeito — ela sorriu. — Por muito
tempo vi meu pai falando de forma agressiva com minha mãe,
mesmo depois que ela foi embora por um tempo e eu fiquei
morando com meu avô, meu pai ainda continuou sendo grosso com
ela. Mas depois do que ele fez nas minhas costas, tentava se
controlar comigo. Então aproveitei a primeira oportunidade e o
questionei se ele realmente amava minha mãe — Rebecca pareceu
surpresa.
— Como assim amor? — Ela entrelaçou nossos dedos.
— Se ele a ama de verdade, por que sempre que estava
estressado descontava nela sendo que ela não tinha nada a ver?
Quando está com raiva deixa de amar? O amor é fraco ou tão frágil
que dá espaço para descontar a raiva?
— Entendo, mas tem horas que acontece sem a gente
perceber — disse, não parecia querer justificar meu pai, estava
falando de si mesma.
— Ah, sim, isso eu sei. Claro que eu posso acabar falando
algo a você sem pensar e acabar te deixando chateada, mas não de
forma agressiva e violenta. Para mim a maior prova de amor é a
forma que a pessoa te trata quando está com raiva. — Ela me olhou
surpresa e beijou minhas mãos, ficou tão pensativa que pensei ter
falado algo errado. — No dia da primeira competição do Alpha,
quando a gente discutiu e eu falei aquelas coisas, estava com raiva
por você estar com Andrew, mesmo assim, não tinha motivo ser
agressivo só por um surto meu.
— Você está certo — afirmou. — Nossa, eu tenho muita coisa
a aprender — ela riu.
— Nós dois temos — afirmei, apertando sua cintura e a
puxando mais para mim.
— Amor, por que tem tanta burocracia aqui? Os três portões,
seguranças por toda a parte, autorização dos pais e essas coisas.
Por que de tudo isso?
Ela se aconchegou ficando mais próxima de mim.
— No ano passado a casa foi invadida durante a festa de
aniversário de Natalie, pegaram dois convidados e fizeram de
reféns. Acabaram os machucando, tínhamos avisado para não
passarem da área sem autorização e não nos ouviram, eles
apanharam muito e tivemos que arcar com tudo por serem menores
de idade, sem autorização dos pais e, enfim, as agressões sofridas
num todo. Depois disso, eu e minha família decidimos tomar essas
medidas ao trazermos pessoas para cá, até mesmo da nossa
parentela — expliquei calmamente. — Na verdade, todos assinaram
os formulários com as regras que Robert passou e com tudo o que
disse a eles sobre eu não ter responsabilidade por dados causados
a eles.
— E por que eu não assinei nada? — questionou com o
cenho franzido.
— Porque você está totalmente sob minha responsabilidade.
Os seguranças estão cientes que sua segurança é minha prioridade,
assim como a de Natalie, então nada aconteceria a vocês — ela
abriu um sorrisinho — e se tivesse outra invasão, estão avisados de
que você e Natalie teriam que ser as primeiras a serem tiradas
daqui.
— Pode ter outra invasão aqui? — Sua expressão esbanjava
preocupação e eu ri negando.
— A segurança foi triplicada, não se preocupe — acariciei
seu rosto e subi meus dedos em sua nuca, até afundá-los em seus
cabelos. — Nada de ruim vai te acontecer, Rebecca, eu te amo e
nunca vou deixar que te machuquem. Quem tentar, pode se
considerar morto.
— Repete o que disse — pediu, seus olhos estavam
arregalados e iluminados.
— Que nunca vou deixar que te machuquem?
— Antes.
Olhei seus olhos esperançosos. Minhas mãos suaram frio.
Consegui tomar coragem para dizer algo que nunca havia dito a
nenhuma garota em toda a minha existência.
— Eu te amo, Rebecca.
Ela abriu o mais lindo dos sorrisos e seus olhos cintilavam.
— E eu te amo, Cameron.
Meu coração disparou.
Nos olhamos sorrindo e no exato momento, nem antes, nem
depois, e selamos nossos lábios. A puxei totalmente para mim,
fazendo-a ficar entre minhas pernas e a beijei matando parte da
vontade que me cerou o dia todo, mas minha vontade ia muito além
de beijá-la.
Seus lábios macios nos meus me trouxe a paz e felicidade
que precisava. Ela me amava, mesmo com tantos problemas,
mesmo todo destruído e quebrado, ela me amava!
Minha alma estava inteiramente ligada à dela. Subi minhas
mãos em sua nuca, pressionando mais seus lábios nos meus.
Ouvimos a gritaria do pessoal nos sofás distantes e acabamos rindo
durante o beijo, mas nos afastamos.
— Acho que perdemos — disse rindo e me dando um
selinho.
— Pois para mim, acabamos de ganhar. Perdendo eu estava
quando não podia te beijar — afirmei, acariciando seus cabelos.
Com uma rapidez enorme, Calleb parou em nossa frente.
— Ok, quem foi? — O olhamos rindo, não tínhamos
explicação alguma.
— Cameron com certeza — Nicolly acusou.
— Foi a capitã — Peter rebateu.
— Foi Cameron — Lana retrucou.
— Gente, é claro que foi Rebecca — Elliot disse.
Eles começaram a discutir até Rebecca assobiar de forma
que todos ficaram em silêncio e surpresos, inclusive eu.
— Nos beijamos exatamente no mesmo tempo. Nem antes e
nem depois, foi no mesmo instante — explicou e quando ia se
arrumar no sofá, a segurei, não queria que ela se afastasse.
— Então a aposta está anulada? — Lana questionou.
— As meninas e os meninos vão ter que pagar — Nicolly
disse, Natalie e Calleb fingiram chorar.
— Pior que nem tem como ficar bravo, eles resistiram muito
— Calleb admitiu. — Vamos Lana, temos que espalhar o
acontecimento — ele riu a puxando.
— Eu avisei, não avisei? Avisei — Carter disse rindo e
abraçando Nicolly quando todos voltaram para os outros sofás.
Rebecca me abraçou com firmeza.
— Já não aguentava mais — admitiu baixinho em meu
ouvido.
Passei a mão em suas coxas e sorri a abraçando pela
cintura.
— Se você tentasse mais algo, eu teria perdido.
Ela me olhou emburrada.
— Por que não me avisou antes? 
Fiz uma careta balançando a cabeça negativamente, vendo-a
rir.
A beijei novamente por minutos sem me importar com o
pessoal do outro lado da pequena fogueira e nem eles pareciam se
importar. A desejava ardentemente de forma que nada me deixava
contentado.
A cada momento a beijando, sentindo seus toques, apertos e
ouvindo sua respiração ofegante eu percebia o quanto a amava e
precisava dela.
Desci meus lábios em seu pescoço enquanto ela arranhava
meus braços e os apertava. Envolvi meu braço em sua cintura e
subi minha mão desocupada em sua nuca.
— Cameron… — deixou escapar baixinho e ofegante me
deixando louco.
A apertei ainda mais, com cuidado para não a deixar
marcada, o que a acontecia com muita facilidade.
— Estou viciado em você — sussurrei em seu ouvido, ela
parecia estar tão sensível a mim que se arrepiou e estremeceu.
Estava pronto para beijar novamente seus lábios quando
Natalie a chamou, me deixando nervoso quase que
incontrolavelmente. Bufei quando ela desviou o olhar de mim com
um sorriso nos lábios.
— Amiga — disse se aproximando aos poucos um tanto
receosa —, seu pai não para de ligar — ela mostrou o celular de
Rebecca onde a ligação estava silenciada, então não tinha como ele
nos ouvir —, disse que estava com Cameron e ele disse que
precisava falar com você rápido.
— Ah, claro. Obrigada, amiga — agradeceu e atendeu a
ligação. — Oi, pai.
Não prestei atenção em sua conversa com Owen, comecei a
beijar suas bochechas, em seguida seu pescoço trilhando até sua
orelha. Ela tentou me empurrar e afastar minha mão de sua coxa.
— Só um minutinho, pai — pediu e, após silenciar a ligação,
me encarou. — Me solta — exigiu.
Abri um sorriso selando nossos lábios e mordendo seu lábio
inferior, ela ainda deixou que minha língua massageasse a dela com
calma, mas me afastou.
— Vou pegar algo para gente tomar — avisei e ela concordou
sorrindo.
A observei ir para um canto com menos barulho. Antes de
passar do pessoal, baguncei o cabelo de Natalie, fazendo-a parar
de beijar Elliot e me xingar.
Passei da sala, indo até a cozinha da casa.
— …acho que Becca ainda não contou nada ao Cameron,
talvez por medo deles terminarem pela distância, apesar de que não
acho que eles terminariam por isso — ouvi Neji falar e quando entrei
na cozinha vi que estava falando com Luce.
— Não me contou o quê? — questionei seriamente.
Luce choramingou como se sentisse dor e me olhou
assustada, igual a vez em que dei uma surra em Jasper por zoar e
bater em Jace. Neji ficou ainda mais pálido do que era, parecia ter
visto um fantasma.
— Não, não foi nada capitão — disse quase gaguejando.
O nervosismo ficou nítido em seu rosto e ele não parava de
apertar as próprias mãos.
— Vou perguntar mais uma vez. — O olhei. — E não minta
para mim.
— Cameron, é melhor você ir falar com Rebecca.
— Eu sei o que é melhor — disparei sem olhá-la.
Neji abaixou a cabeça e engoliu em seco.
— Ela vai me odiar por isso — lamentou antes de me olhar.
— É sobre o projeto inteligência e a seleção de calouros de Stanford
— disse desanimado —, ela te contou algo sobre?
Senti todo o meu corpo em tensão. Não… ela sabia o quanto
odiava quando me escondia as coisas e mesmo assim insistia em
fazê-lo.
— Vem comigo, por favor — disse saindo da cozinha.
Subimos as escadas, antes da porta do quarto dos meus pais
estava a porta da biblioteca, abri e deixei que Neji entrasse primeiro.
— Posso trazer algo a vocês? — questionou Maya antes que
eu entrasse na biblioteca.
— Não, Maya, obrigado — agradeci, tentando não
demonstrar a confusão que estava em minha mente. — Faça um
suco de laranja e leve para Rebecca, por favor? Um copo grande de
preferência.
Ela concordou dizendo um: “sim, senhor”, fez uma reverência
totalmente desnecessária e saiu. Fechei a porta e me sentei
pedindo para que Neji se sentasse na cadeira a minha frente.
— Pode começar.
— Cara, ela vai me odiar. Ela quem devia estar te contando
tudo e…
— Não me questione, apenas conte tudo — disse firme.
Ele respirou fundo e então começou:
— O Projeto Inteligência de Stanford, conhecido como P.I.S é
um programa para os estudantes do último ano do colegial onde são
selecionados os alunos em destaques de algumas escolas para
finalizar o ensino médio em Stanford e de lá eles já ficam para o
ensino superior, sem precisar fazer provas ou passar pelas
burocracias de alunos recém-saídos do colegial. Rebecca é a mais
cogitada dentre todas as cento e cinquenta escolas escolhidas para
esse projeto, está em primeiro lugar e, no caso dela, por ser muito,
muito inteligente — ele tomou fôlego e voltou a falar — e por estar
mais que avançada no colegial, ela conseguiria começar a
faculdade. Faria faculdade de manhã e o fim do ensino médio de
tarde, eles falaram que conseguiriam dar um jeito mesmo sem o
certificado de conclusão do ensino médio. Ela terminaria a faculdade
seis meses antes do que se ela terminar em Liberty, mas teria que
entrar no projeto após as férias de verão.
Me senti zonzo e me recostei na cadeira.
— E ela aceitou?
— Ela pediu um tempo, tem até o último jogo dos Warriors
para decidir, depois disso terá a última reunião com Anthony e
Geórgia e precisa ter a resposta.
— Neji, preciso de sua sinceridade — o olhei nos olhos —, o
que ela te disse? Com tudo isso, como reagiu?
Ele pensou um pouco e pareceu relaxar mais na minha
presença, enquanto eu me sentia um poço de tensão.
— Ela disse que não pode simplesmente largar tudo e ir, mas
ela não estava falando só de amigos e família, capitão, eu e você
sabemos que ela tem medo de te perder. Acho que ela não vai
aceitar.
— Mas é o futuro dela — disse a mim mesmo.
— Foi o que eu disse e acho que vocês são fortes para se
esperarem, vão poder se ver entre as viagens do time e essas
coisas. Não é que ela quer deixar o futuro dela para lá, mas quer ir
junto com você para a universidade. Os diretores de Stanford
deixaram claro que ela não participar do projeto não interfere na ida
dela para a faculdade após o término do colegial, mas qual é? Uma
oportunidade dessas é única. Ela está em primeiro lugar de tudo,
seria totalmente privilegiada e muitos já a conhecem.
Os fios de meus pensamentos pareciam estar soltos. Não
conseguia raciocinar quase nada e a única coisa que parecia
entender era que, se necessário, a afastaria de mim, assim ela não
teria motivos para ficar em Liberty, pelo contrário.
— E a seleção de calouros? — recordei-me.
— Sabe que é uma seleção onde eles escolhem os melhores
jogadores recém-saídos do colegial e dão a oportunidade de uma
bolsa em troca de se dedicar ao time nos primeiros dois anos na
faculdade, certo? — concordei. — Pois eles foram mais adiante. Os
olheiros estão buscando os melhores jogadores para essa seleção e
os escolhidos vão viajar com o time oficial, até mesmo podendo
jogar com eles em competições televisionadas. Só que, a seleção
de calouros viajaria durante um ano inteiro com times profissionais
que tem parceria com a universidade, não vai interferir nos estudos,
eles já têm um jeito de ninguém sair prejudicado.
— E qual é o problema nisso?
— Os Warriors estão com quase todas as vagas garantidas.
Não tem um olheiro se quer que não esteja gostando do
desenvolvimento do time. Seu nome foi citado não só pelos olheiros
como por cinco dos sete diretores que estavam na reunião. Elliot,
Peter, Josh, Eric, Adam, Brian, Richard, Phillipe e… — ele pensou
um pouco como se tentasse lembrar de alguém — Cole também
tiveram seus nomes citados. Basta continuar com o desempenho
atual. Eu nem devia estar te contando isso, mas Becca vai falar para
o treinador mesmo. Será uma ótima oportunidade para vocês
também, vai facilitar muito a entrada de vocês na universidade e
Becca disse que faria de tudo para você entrar na seleção, mesmo
que ficasse um ano sem te ver. Mas, no caso da seleção, vocês
precisam terminar o colegial em Liberty, se formar e depois entrar na
seleção.
As palavras pareceram sumir de minha boca. Comecei a
pensar em tudo o que Neji disse. Um ano fora? Seis meses sem
Rebecca na escola? Não terminaríamos o colegial juntos? Um ano e
meio sem vê-la? Como podia ser egoísta de não deixar que ela faça
o melhor para o seu futuro? Isso jamais aconteceria, ela precisava
aceitar essa proposta.
— Obrigado, Neji — o agradeci e ele concordou um pouco
desanimado.
— Acho que já perdi a amizade de Rebecca mesmo —
resmungou baixo e se levantou.
— Não se preocupe com isso. Você foi chamado para o
projeto? — Ele concordou parecendo curioso com minha dúvida. —
Vou precisar que cuide dela e me informe tudo até que eu chegue
em Stanford.
— Você não…
— Obrigado, Neji — finalizei a conversa, me levantei e,
quando abri a porta, o ouvi xingar algo para si mesmo.
Minha cabeça estava a milhão, não conseguia pensar direito,
mas sabia que precisava fazer algo. Precisava vê-la, precisava
entender o porquê de ela não ter me contado nada.
Desci as escadas, vi Luce sentada no sofá chorando
abraçada com Melissa e uma garrafa de vodca na mão.
— Não faça isso a si mesma, beber por estar triste leva ao
vício de sempre querer esquecer a tristeza — disse tirando a garrafa
da mão de Luce. — Eric — o chamei antes que voltasse para a ala
de piscinas — leve Luce para o quarto — pedi e de imediato ele a
pegou no colo.
— O que está acontecendo? Ela não quis me contar nada —
Melissa se prontificou.
A olhei sem me importar muito.
— Melissa, volte para a festa ou vá cuidar de quem sempre
esteve presente por você — avisei saindo da sala.
Rebecca estava sentada no mesmo sofá em que estávamos
antes. Ela conversava animadamente com Maya e eu me aproximei
com calma. Maya se levantou rapidamente e endireitou as costas.
— Desculpe minha informalidade, senhor, eu…
— Pode nos dar licença, Maya? — questionei friamente e
Rebecca me olhou confusa.
A garota saiu.
— O que aconteceu?
— Quando ia me contar sobre o projeto inteligência de
Stanford? — perguntei apressadamente.
Queria acabar logo com aquilo, estava me doendo, mas não
podia ficar entre ela e seu futuro. Ela colocou o copo no chão e se
levantou, percebi que estava nervosa.
— Quem te contou isso?
— É isso o que importa e não o fato de que você me
escondeu uma coisa que devíamos falar sobre?
— Amor, senta-se, vamos conversar e…
— E o que, Rebecca? — questionei a olhando — Por que
não aceitou entrar no projeto?
— Sem te contar nada?
— O que acha que eu te diria? Para você ficar? Entende o
que você tem a perder se não aceitar?
— E eu não tenho nada a perder se aceitar? — Seus olhos
encheram d'água.
Meu coração despedaçou.
— Não.
— O que está querendo dizer? — Ela parecia entender, mas
precisava confirmar.
— Você é esperta, Rebecca, sabe o que quero dizer — meu
corpo estava tenso como nunca. — Não posso ficar no meio de algo
tão importante assim, não posso. Se é por mim que você não quer
ir, então…
— Senhor Styles — ouvi a voz de Ronald, o chefe dos
seguranças.
Quando o olhei, vi que estava acompanhado de Rodrigo, o
segurança da família Malik em quem Owen mais confiava. Havia
algo errado.
Olhei Rebecca que parecia perdida, decepcionada e ao ponto
de chorar.
— O que aconteceu? — questionei.
— Seus pais e os senhores Malik estão aguardando o retorno
de vocês imediatamente — disse Ronald.
Rodrigo e outro segurança pararam atrás de Rebecca.
— Por qual motivo? — Rebecca questionou.
— Temos autorização maiores para nos mantermos em
silêncio. Suas coisas já estão no carro senhorita Malik, podemos ir?
— Rodrigo questionou.
— Vamos no meu carro — afirmei e quando ia me aproximar
de Rebecca, Rodrigo se colocou em minha frente, me impedindo.
Minha vontade foi de empurrá-lo.
— Isso não será possível, senhor Styles — disse
calmamente. — As ordens são para que não o deixe se aproximar
dela até chegarmos na presença de Owen.
Minha cabeça parecia ao ponto de explodir.
Natalie e Nicolly correram para perto de nós, mas nenhum
segurança as deixou se aproximarem.
— Não adianta contrariar as instruções que meu pai passa
para os seguranças — Rebecca disse firme, mas seu olhar
denunciava que estava tão confusa quanto eu. — Podemos ir,
Rodrigo.
— O que está acontecendo? — Nicolly questionou.
— Cameron? — Natalie chamou.
— Ronald, prepare o carro, já estou indo — avisei.
Elliot e Carter pararam ao lado de Natalie.
— O que rolou, cara? — Elliot questionou.
— Não sei, mas vou descobrir. — Olhei nos olhos de Natalie
e beijei sua testa. — As coisas tendem a ficar complicadas, não
quero que saia do lado dela, ok?
— Ah… por favor, não — pediu, já chorando e me abraçando.
— Elliot e Carter, preciso que tomem conta de tudo e não
deixem ninguém saber de nada. Apenas digam que tivemos que ir
embora para resolvermos problemas da família e não vão embora
antes da segurança ver se todos partiram, ok? — Eles concordaram.
— Qualquer problema, podem falar com Ronald.
Natalie ainda estava abraçada comigo.
— Amor, vou acompanhar a Becca até o carro, pode ir
comigo? — Nicolly questionou Carter de longe.
Olhamos em sua direção e Rebecca, que estava com os
olhos fixos em mim, desviou o olhar.
— Natalie — ela me olhou —, eu não vou ficar como estava,
não se preocupe com isso. Não abandone Rebecca outra vez. —
Ela congelou com minhas palavras.
— Mas não posso deixar meu irmão.
— E não vai. Por favor, vá até o carro com ela — pedi, ela
concordou e correu até Rebecca que estava caminhando com
Nicolly.
— O carro está pronto, Cameron — Ronald disse.
Apenas balancei a cabeça concordando. Quando Natalie
abraçou Rebecca, percebi que lágrimas de seu rosto foram limpas
por minha irmã.
Estava confuso, irritado, perdido e sem conseguir entender
como fomos de um “eu te amo” tão apaixonado para aquilo.
— Ei cara, sabe que pode contar comigo para o que precisar
— disse Elliot apertando meu ombro.
— Sinto que as coisas vão ficar ruins por um tempo indefinido
— afirmei começando a andar e ele me seguiu. — Não faço ideia
nenhuma do que aconteceu, depois que os seguranças dos Malik
chegaram não me deixaram nem se aproximar dela. Por que fizeram
isso?
Elliot também parecia não entender. Rebecca e os
seguranças haviam saído quando me aproximei do carro que me
levaria.
Quando entrei no carro, vi a última pessoa que acreditava
que veria nesse momento.
— Andrew?
Ele me olhou, estava sentado no banco de frente para o meu
e não parecia nada feliz.
— Estou tão surpreso quanto você.
— O que está fazendo aqui? Tem a ver com Rebecca? —
questionei e o motorista deu partida.
— Sei que não temos amizade nenhuma, mas seu pai me
chamou depois de conversar com Owen. Ele não tinha outra pessoa
para chamar, Owen nem sabe que estou aqui. Preste atenção no
que vou falar, temos apenas quarenta minutos de viagem.
Afirmou e respirou fundo, meu nervosismo só aumentava.
Por que justamente ele?
Andrew limpou a garganta e começou:
— Sabe quem é Nádia?
— É claro que sei quem é Nádia — disse impaciente.
— Ela já sofreu violência doméstica por anos, mas negava
porque tinha medo do ex-marido violento. No dia em que Rebecca
foi falar comigo para pedir as contas, seu braço estava com um
pequeno roxo, mas de cara percebi que alguém tinha a apertado —
quis interrompê-lo, mas não o fiz — a questionei, mas ela não quis
me contar. Nesse mesmo dia Isaac viu um hematoma em sua
cintura e Rebecca disse que tinha caído na escola, claro que um
tombo não faria isso. Isaac acreditou, mas Nádia, que estava junto
com eles desconfiou e questionou Rebecca. Ela estava machucada,
Cameron.
Minhas mãos suaram frio e uma fúria tomou conta de mim.
— Quem fez isso? Já descobriram? Estamos voltando para
descobrir quem foi?
— Ela contou tudo a Nádia e a funcionária queriam que
Rebecca não escondesse isso de ninguém — minha mente estava
tão confusa que não conseguia encaixar nada —, mas Rebecca
preferiu guardar tudo como sempre faz. Só que ela apareceu
novamente machucada, dessa vez sei que foi Karen, mas Nádia
achou que Rebecca estava acobertando a mesma pessoa que a
machucou antes.
Chacoalhei a cabeça tentando raciocinar. Perguntava a
Rebecca o porquê dos olhares de Nádia para mim terem mudado e
ela sempre desviava o assunto.
Quando tive noção do que estava acontecendo, meu corpo
todo formigou. Olhei Andrew no fundo de seus olhos, sabia a
resposta, mas queria ouvi-la.
— Andrew, quem machucou Rebecca? — questionei e ele
esfregou as mãos.
— Você, Cameron. Você teve um pesadelo, ela acordou
porque seus apertos a machucaram e até a deixaram marcada —
disse seriamente.
Todos os meus sentidos pareceram desligar e quando me
liguei, não conseguia sentir raiva de ninguém a não ser de mim
mesmo. Me recostei no banco do carro ainda sem acreditar.
Não, eu não podia ter feito isso com ela.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Era domingo de manhã quando chegamos na casa de campo
do meu pai.
Ainda não tinha visto Cameron, mas sabia que ele estava em
algum lugar da casa.
Papai me encarou depois que eu expliquei tudo: desde
Cameron tendo um pesadelo e inconscientemente me deixando
marcada até ter amanhecido com um roxo no braço e Karen ter me
apertado deixou um pouco pior.
Acreditava que ele tinha entendido tudo o que aconteceu, que
compreenderia que Cameron não tinha culpa de nada, mas nossa
conversa começou a seguir outro rumo…
— Você está me dizendo que das duas vezes em que te
machucaram, Cameron foi o pivô das situações e até mesmo o
causador? — questionou.
— Não, estou explicando abertamente o que aconteceu
acreditando que o senhor entenderia — disse mantendo a calma.
— Eu entendi, querida, eu entendi.
E então ficou em silêncio e se recostou na cadeira.
— O que o senhor quiser fazer, faça, mas, por favor, não
jogue tudo nas costas de Cameron. As garotas da escola são
loucas, pai, ele nem estava no dia em que Karen surtou.
Papai se levantou e passou os dedos nos livros das
prateleiras do escritório.
— Ele sabe sobre o projeto de Stanford onde você é a aluna
prioridade?
Engoli em seco. Era claro que papai sabia daquilo.
— Sabe.
— E o que ele disse? — questionou me olhando.
— Estava terminando comigo quando os seguranças
chegaram — expliquei desanimada.
Ainda sentia vontade de chorar, mas não queria parecer uma
criancinha que chorava por tudo, teria de enfrentar o que fosse com
firmeza.
— Lee — chamou o segurança que estava imóvel na porta
—, peça para eles entrarem, por gentileza.
O segurança apenas concordou e se retirou aos passos
firmes e pesados.
— Mas pai…
— Não os proibirei de nada, pois sei como funciona o amor
proibido, mas quero saber o que ele tem a dizer e não vou esconder
nada de você — explicou calmamente, se sentando.
O encarei por instantes.
— Você vai testá-lo — deduzi.
Eu era a cópia do meu pai, como todos diziam, mais calma e
com a beleza e graciosidade de minha mãe. Então o conhecia bem.
— Não me culpe por querer conhecer o garoto que minha
filha gosta. — Seus olhos se voltaram para mim. — Você é minha
filha, minha protegida, minha pequena. Sei que a escolha é
totalmente sua, mas me acho no direito de apenas querer saber do
caráter de Cameron.
— Você o conhece desde que nasceu.
— Sim. O conheço como filho de um grande amigo meu,
como um amigo também, até como filho. Mas não o conheço como
o homem que minha filha escolheu, nem sei do seu caráter como tal
e não me recordo dele ter te pedido oficialmente em namoro e me
falado isso, e agora tudo mudou devido a situação em que estamos.
— Ele não me pediu em namoro oficialmente — o recordei.
— Então, foi tudo falso até agora? — Ele me lançou um olhar
cético e eu entendi que tinha caído em sua provocação.
Duas batidas na porta me fizeram ficar calada.
Lee entrou seguido de Cameron e Arthur.
A primeira coisa que percebi quando passaram da porta, foi a
mão de Cameron sem aliança, com feridas tão pequenas que quase
não eram possíveis de serem vistas e estavam bem avermelhadas.
Seus cabelos molhados e seus olhos atentos.
Podia parecer uma coisa mínima, um simples detalhe, um
drama…, mas vê-lo sem aliança fez meu coração se apertar.
Então era nisso que resultaria nossa conversa na mansão?
Deveria dizer algo sobre? Aquilo ainda importava diante da situação
em que estávamos?
Não acreditava que terminaríamos pela distância e agora...
— Sentem-se, por favor — papai pediu.
Cameron se sentou ao meu lado, mas tio Arthur se manteve
em pé atrás da cadeira de meu pai. Ele olhou me cumprimentando
com um aceno de cabeça e encarou Cameron como se conhecesse
até sua alma, seus olhos eram tão calmos e confiantes como eram
os do filho.
— Quem vai começar a falar? — Papai questionou.
— Essa conversa devia acontecer entre mim e ele primeiro,
não estamos em um tribunal — disparei olhando meu pai.
Arthur riu abaixando e balançando a cabeça negativamente.
— Ela é você todinha, com um toque enorme de Olívia —
disse descontraindo o ambiente.
— Imagina o trabalho que tenho — papai disse no mesmo
tom de humor. — Querem conversar a sós? Deixaremos vocês a
sós.
— Não — Cameron respondeu, respirei fundo e com força —,
eu começo — papai o olhou e eu abaixei a cabeça sabendo o que
viria. — Não tinha conhecimento do que fiz, mas sei que o único
culpado sou eu.
— Ah, claro — ironizou meu pai. — Até porque o que você
fez foi proposital, não?
Foi quando eu percebi que meu pai nos apoiava e sabia que
com ironia, Cameron entregaria suas intenções comigo.
— Eu jamais encostaria na sua filha para machucá-la e
acabaria com qualquer que o fizesse — Cameron respondeu tão
rapidamente quanto a pergunta de meu pai.
Ele o olhou nos olhos e em nenhum segundo vacilou o olhar.
Papai o encarou por segundos e seus lábios tremeram em
um sorrisinho. Ele olhou Artur balançando a cabeça positivamente
como se aprovasse algo. 
— Cameron — ele me olhou —, vai se ferrar! — disse
irritada.
Seus olhos se arregalaram e eu encarei papai que estava tão
impressionado quanto Cameron, mas Arthur parecia acostumado.
— Os dois homens na sala estão amando ver Cameron
agindo como se eu fosse propriedade de alguém.
— Não estou te tratando como propri…
— Estou falando agora! — Olhei Cameron me sentindo
furiosa.
Voltei meu olhar para os homens a minha frente após
perceber que tinha irritado Cameron, então continuei:
— Se essa conversa continuar assim, então vamos parar.
Não vou tolerar esse tipo de coisa, pois, no meio disso tudo, a
escolha também vai ser minha!
— Você está certa. — Olhamos meu pai — Não vou intervir
na situação. Qual será a escolha de vocês então? — Ele juntou as
mãos e revezou o olhar em nós.
O desafio estava lançado, era agora que ele queria saber o
que Cameron tinha decidido. De repente a tensão dominou meu
corpo.
Podia fingir um desmaio, dizer que minha diabete estava
abaixando, que estava ficando com fome…, mas não, dentre todas
as opções, escolhi ser forte.
— Não acho que seja viável eu continuar tendo qualquer
relação com Rebecca, se eu causo suas marcas, como vou evitar
que outras pessoas não causem? — O sofrimento nas palavras de
Cameron era notório.
Não me lembrava de tê-lo visto daquela forma antes. Ele
apertava às próprias mãos o tempo todo, mesmo que o olhar
parecesse calmo e tranquilo.
Suas palavras doeram no fundo de meu coração.
— Enquanto eu for ameaça a Rebecca não pretendo
encostar um dedo se quer nela — Cameron disse decidido, meu
queixo caiu e meu coração apertou.
Ameaça?
— Cameron, você não é ameaça alguma para mim — ele não
me olhou.
— Acredito que isso seja pelo ocorrido, não tem nada a ver
com Rebecca ir a Stanford, correto? — Papai questionou.
Quando Cameron abaixou o olhar, papai entendeu.
— Preciso focar nas minhas coisas também, o time, a luta
com Bronwen e…
— Luta com quem? — Cameron me olhou. — Você só pode
estar de brincadeira. Uma luta? Com aquele cara? Você perdeu a
noção? — questionei. — Podem nos deixar a sós?
Papai me olhou com um sorrisinho nos lábios. Ele estava
adorando o show e vendo que nem sempre era calma como
mostrava. Quando se levantou, o olhei.
— Desliga a câmera, pai — pedi olhando o notebook em sua
mesa.
— Mas…
— Por favor — o encarei.
Ele me olhou odiando o fato de ser contrariado e mexeu em
seu notebook. Ambos saíram tranquilamente e fecharam a porta, dei
uma última checada no notebook e andei de um lado para o outro.
— Quando ia me contar dessa luta?
— Quando ia me contar sobre Stanford e as marcas que
deixei em você? — questionou tentando se manter sereno e se
levantou. — Não importa, já não temos que dar satisfação um ao
outro — replicou sem me olhar.
Sabia o que estava tentando fazer. Queria que eu o odiasse,
assim facilitaria minha partida e sua ida para a seleção de calouros,
talvez funcionasse.
Mas seria possível odiá-lo com meu coração sendo
totalmente dele?
Tirei minha aliança e a bati contra mesa com tanta raiva que
quase a afundei sob o madeirado. Ele me olhou surpreso enquanto
eu caminhava em sua direção, mas logo ficou calmo novamente.
— Era isso que você queria? — o empurrei. — Que eu te
odiasse? — o empurrei novamente. — Você conseguiu, Cameron!
Ele segurou meus braços e quando tentei me soltar, fui
pressionada contra uma das estantes de livros.
— Você não me odeia, só está nervosa — disse calmamente
prendendo minhas mãos atrás de meu corpo.
— Eu te odeio sim, Cameron! Me solta — disse tentando me
soltar. — Me solta! — Exclamei, ele prendeu minhas mãos apenas
com uma mão em cima de minha cabeça e colocou o peso de seu
corpo contra o meu.
— Você não me odeia! — Ele me encarou e eu virei o rosto.
Estava furiosa com tudo e principalmente comigo mesma por
ainda sim querer beijá-lo, mais do que qualquer outra vez.
— Olhe para mim e diga que me odeia — pediu. — Diga,
Rebecca, que me odeia de verdade, que não quer me ver mais e eu
te solto agora mesmo.
Juntei forças e gritei:
— Eu te odeio! — O olhei sentindo as lágrimas querendo sair
dos meus olhos e sua expressão serena me deixou ainda mais
furiosa. — Te odeio porque você foi um covarde de desistir da gente
antes mesmo de saber desses machucados. Não era isso o que
você ia fazer, Styles?
— Eu não desisti da gente! — exclamou tão nervoso quanto
eu. — Mas o que você queria que eu fizesse? Você aceitou que eu
te machucasse, pensou em me escolher ao invés de Stanford, o que
você queria Rebecca?
— Eu não tinha tomado nenhuma decisão, mas claro, você
sempre quer fazer tudo do seu jeito. — Seus olhos me encaravam
seriamente. — Eu te odeio, Cameron! Me solte agora! Me solte —
tentei o empurrar, mas ele se manteve me encarando.
Respirou fundo duas vezes e com a voz mais calma, disse:
— E eu te odeio. Te odeio por te amar — sua mão deslizou
em minha cintura —, te odeio por não ter me contado a verdade, por
ter aceitado que eu te machucasse, por cogitar me colocar como
opção para não fazer algo que vai ser ótimo para o seu futuro. Te
odeio porque sei que mesmo com tudo isso, nunca vou parar de te
amar, que a cada dia longe de você uma parte de mim vai se
destruir. Eu te odeio, Rebecca Malik — ele me pressionou ainda
mais contra a estante.
— Então parece que estamos quites outra vez! — disse firme
olhando seus lábios.
Não acreditava que toda essa situação tinha me deixado com
uma vontade enorme de beijá-lo. Estava tão confusa e ao mesmo
tempo precisava dele.
— Ótimo! — Afirmou em um sussurro olhando, também,
meus lábios.
— Ótimo — repeti baixo e sentindo suas mãos apertarem
minha cintura após ele soltar meus braços.
Em questão de segundos, nossos lábios estavam
pressionados um contra o outro. A raiva, o desejo, a confusão, a
tristeza, o ódio, o amor. Uma mistura de tudo nos consumia
ardentemente.
Cameron puxou uma de minhas pernas até sua cintura. Seu
corpo pressionado ao meu me fez estremecer. Arranhei sua nuca e
quando mexi o quadril, ele se movimentou de forma que fez minhas
costas deslizaram para cima e para baixo na estante, em seguida
me pressionou mais contra o móvel, me imobilizando por completo.
Eu era dele, qualquer um poderia notar isso.
Nem mesmo a distância, os problemas, o tempo e as
confusões eram capazes de mudar isso. O amava, mesmo sabendo
que estávamos predestinados a uma separação, parte de mim
sempre seria dele.
Ele me olhou após morder meu lábio inferior e quando juntou
nossas testas uma lágrima escorreu em seu rosto.
Seu aperto em minha perna era com precisão. Ele me olhava
atentamente, vê-lo perdido como eu e não calmo como sempre me
deixou um pouco aliviada.
Cameron acariciou meu rosto com calma e me encarou como
se fosse a última vez que me veria.
— Meu amor… — sua voz era fraca e sofrida. — Por que não
me contou? Isso é algo muito sério. — Encostei meu rosto em seu
ombro sentindo suas carícias em meu cabelo e uma vontade
enorme de chorar.
— Sabia que você se odiaria, não foi sua culpa — ele riu
como se eu tivesse acabado de falar uma enorme besteira. — Cam
— subi minhas mãos em sua nuca —, não foi sua culpa. Você teve
um pesadelo.
Ele acariciou meu rosto e selou nossos lábios novamente.
— Te amo Rebecca, com a minha alma, e pensar que te
machuquei acaba comigo. O que disse é a verdade, se não posso
evitar que eu mesmo te machuque, como vou evitar os outros?
— Cameron, não. — Ele me soltou com calma como se eu
fosse tão frágil que poderia me machucar a qualquer momento. —
Pode ao menos me escutar?
Ele se sentou novamente na poltrona e me olhou
concordando. Me sentei em sua frente e acariciei seus cabelos.
— Sei que sonhou comigo e, em meio ao desespero, você
acabou me apertando, se isso se repetisse, eu te contaria amor,
com toda a certeza… — ele afastou minhas mãos que acariciavam
seus cabelos, as juntou em meu colo sem me soltar e me olhou.
— Rebecca, você não entende. E quando eu sonhar outra
vez que estou te perdendo? Não sonhei com você se separando de
mim, sonhei que te perdia para sempre, que nunca mais
contemplaria seu sorriso, sonhei que você não teria um futuro. E se
acontecer novamente por que minha mente está uma bagunça, vou
te machucar outra vez? Prefiro que você me odeie e eu consiga ao
menos de proteger, do que continuarmos juntos e eu te machucar.
— Cameron, não faz isso — supliquei abaixando o olhar e ele
acariciou minhas mãos.
— Becca — não quis levantar o olhar, mas ele levantou meu
rosto pelo queixo —, não estou desistindo de você, mas não posso
fazer isso agora. Estou ficando louco só de pensar em te machucar
outra vez, minha pequena — suas palavras fizeram uma lágrima
dolorosa descer em meu rosto e ele a limpou. — Enquanto eu for o
motivo das suas marcas, não posso.
Pensei um pouco olhando para uma das enormes estantes
de livros. Era uma luta perdida.
— Não vou lutar a favor de uma coisa que você não quer
mais, então, não me resta nada além de aceitar e seguir minha vida.
Ele pensou um pouco.
— Então, vai para Stanford?
— Com toda a certeza.
Ele se levantou satisfeito e, como se as tristezas e lágrimas
anteriores nunca tivessem acontecido, disse:
— Quando você estiver formada antes de todos os seus
amigos, pode me agradecer por ter te convencido a ir — seu ar
passou de inconsolável a persuasivo.
Jamais admitiria aquilo em voz alta, mas éramos ótimos
sendo inimigos.
— Jura que achou mesmo que eu precisaria ser convencida
por alguém que nem namorava oficialmente comigo? — Seu sorriso
audacioso se desfez. — Cameron, já tinha tomado minha decisão
antes de falar com você — ri de sua expressão —, eu só iria te
comunicar por conta da consideração que tinha.
Ele ficou um tempo paralisado, mas se recompôs.
— Ah, claro, acredito que em nenhum momento você tenha
pensado em desistir por mim, então — afirmou.
— Exatamente.
— Muito bom! Acho que não terei problemas nenhum em ser
solteiro em Liberty — ele sorriu. — Você conhece as garotas de lá,
não?
Achei graça.
— Não me preocupo com isso, afinal,  você  é o que mais
conhece as garotas de Liberty — me aproximei dele. — Mas
imagine comigo, eu, nova estudante, nova garota e conhecida na
universidade, chegando em Stanford  totalmente solteira  — me
deliciei em minhas palavras. — Sem dúvidas encontrarei alguém
que me faça esquecer até o seu nome.
— Acredita mesmo que ter outra pessoa vai me fazer desistir
de você? — Ele se levantou rindo. — Essa ideia chega a ser
engraçada. Vamos nos reencontrar sim, Rebecca, nem que seja
daqui há um ano e meio, não vou desistir de nós!
— Isso não significa nada — o desafiei cruzando os braços.
Com muita calma ele se aproximou e parou em minha frente.
— Veremos, minha princesa — disse com um sorrisinho
safado, acariciou meu rosto e deu um leve tapinha.
Empurrei sua mão quando percebi que sorria junto com ele.
— Você é um safado sem vergonha, Cameron Styles.
— Que você ama — disse me puxando pela cintura.
Desviei o olhar dele segurando o riso.
— Não, eu te odeio mesmo — tentei me soltar. — Cameron!
— Dei um tapa em seu braço e ele riu me apertando mais, meu
coração começou a bater tão forte que ele poderia até ter escutado,
o encarei desistindo de me soltar. — Não ache que vamos ser
amiguinhos durante meu tempo aqui — ele concordou subindo a
mão em minha nuca e eu respirei fundo. — Trate de achar uma
nova dupla nas aulas, nosso último trabalho junto será o de história
e nenhum outro. — Ele concordou novamente puxando meu cabelo,
fechei os olhos me contendo e o olhei outra vez. — E não volte a ser
o babaca que você era.
— Amanhã mesmo vou sair beijando todo mundo que chegar
em mim — ironizou, estralei um tapa em seu ombro e ele riu. — O
que acha de uma festa amanhã em casa? Acho ótimo.
— Acho que Noah precisa de ajuda com biologia — comentei
e ele me empurrou agressivamente contra a mesa de meu pai,
quase derrubando o notebook. — O que foi? Ficou bravo? Devia ter
pensado nisso antes de terminar tudo — provoquei sentindo seus
apertos em minha cintura.
— Então agora você vai usar as pessoas para me provocar?
Que baixo, Rebecca, não sabia que era assim — me sentei na mesa
o fazendo se encaixar no espaço entre minhas pernas.
— Usar não, jamais. Mas não deixarei de falar com ninguém
e vou ajudar quem precisar — expliquei calmamente, ele subiu a
mão em meu pescoço e ficou com os olhos fixos em mim.
— Pode falar com quem quiser e quem cair no seu papo, eu
quebro depois — ele disse, eu ri sarcasticamente.
— Vai bater em todos que falarem comigo?
— Eu já não fazia isso? — Ficamos nos encarando por
instantes.
— Com quem me importunava, sim.
— E agora vou acrescentar mais algumas pessoas na lista.
— Revirei os olhos e ele apertou ainda mais meu pescoço.
Eu devia odiá-lo! Acabamos de terminar tudo e não era esse
o rumo que esperava para nossa conversa.
— Você é um babaca mesmo! — Ele riu. — Vou repetir: não
sou sua propriedade!
— E não acho isso, se achasse, não te deixaria livre para ir a
Stanford. Confio no nosso amor. — Ele desceu a mão que estava
em meu pescoço até minha cintura. — Porém, conheço os meninos
de Liberty, pode me odiar, mas não vou deixar que encostem em
você.
— O que somos agora? Inimigos novamente?
— Por mim, tudo bem. — Ele se afastou um pouco, cruzei
minhas pernas vendo seu olhar percorrê-las e ele respirou fundo por
eu estar de short. — Nunca conseguiria ser seu amigo…
— Por que não?
— Um amigo jamais te desejaria como eu te desejo — disse
deslizando os dedos em minhas pernas.
— Você prometeu ao meu pai que não tocaria em mim —
mesmo com as minhas palavras, deixei que sua mão subisse em
minha coxa.
Me levantei, parei atrás dele e aproximei meus lábios de sua
orelha.
— Então… quero que todas as manhãs você se lembre de
que não vai poder me tocar — comecei sussurrando —, que pense
que vai me olhar o dia todo na escola e não poderá me beijar —
subi as mãos em sua cintura e comecei a arranhá-la — e, antes de
dormir, quero que pense em todos os beijos que já demos — beijei
sua nuca, vendo-o estremecer —, em todas as vezes que nos
tocamos, mas principalmente em todas as vezes que chamei seu
nome com a respiração ofegante. — Arranhei levemente suas
costas e beijei seu ombro.
Me afastei, indo até um espelho antigo verificando a bagunça
que meu cabelo estava. Ele permaneceu imóvel, mesmo distante
conseguia ouvir sua tentativa de controlar a respiração e seu punho
estava cerrado.
Iria embora, ficaria sem ele por tanto tempo que não sabia o
que o destino estava preparando, mas partiria em grande estilo e,
mesmo que ele tentasse, não me esqueceria.
— Tudo bem, Cameron? — Me aproximei como se não
entendesse o motivo dele estar em choque e quando ia tocá-lo, ele
segurou minha mão com o rosto corado, me soltou sem dizer uma
palavra e se sentou. — Vou pedir para Lee chamar nossos pais —
avisei tranquilamente como se nada tivesse acontecido.
— Isso não vai ficar assim, Rebecca, pode ter certeza —
avisou enquanto eu caminhava até a porta, sorri ainda de costas
para ele e em seguida me virei.
— Não sei do que você está falando — afirmei inocente e ele
respirou com força, abri a porta. — Lee, pode chamar meu pai e tio
Arthur? 
O segurança concordou na mesma hora. Não sabia o que
falar, nem tínhamos discutido nada, mas improvisaria.
Nossos pais retornaram para o escritório e a conversa entre
eles parou de imediato quando entraram. Papai se sentou e tio
Arthur se manteve em pé como antes. Eles nos olhavam como se
tentassem juntar as peças de um quebra-cabeça.
Estava pronta para falar, quando papai questionou:
— Explicou a ela sobre a luta com Bronwen, Cameron?
Teria começado a rir se não tivesse congelado antes. Não
conversamos sobre isso, meu Deus, não conversamos sobre  nada
disso.
— Não há muito o que fazer, ele vai lutar de qualquer jeito e
eu já não tenho nada a ver com o que ele faz ou não — disse
tranquilamente e ficou nítido a confusão de meu pai pois não
respondi o que ele perguntou.
— O que decidiram? — Tio Arthur questionou.
Eu quem pergunto: o que decidimos?
Cameron limpou a garganta e começou:
— Há um tempo eu e Rebecca evitávamos falar um com o
outro, então não vai ser problema nenhum voltar a isso. Não
queremos envolver a família em nada, temos maturidade para
separarmos as coisas até mesmo na escola. Não continuaremos
juntos — disse respondendo à pergunta no olhar de nossos pais. —
Acredito que ela vai querer manter o contato normal com Natalie e,
— ele olhou meu pai — se me permitir, não quero perder o vínculo
com o pequeno Isaac, ele é muito importante para mim — papai
concordou. — Se todos estiverem de acordo, as coisas continuarão
normais, apenas comigo e Rebecca separados.
O olhei e abaixei o olhar entendendo seu jogo.
As famílias eram muito unidas, se os jantares, almoços e
reuniões continuarem, ele conseguiria me ver com facilidade sempre
que quisesse. Esperto, muito esperto.
Papai o encarou por instantes e Cameron não parecia ter
medo, estava sossegado como sempre.
— Então, de fato, vocês terminaram? Sem brigas, sem
separar e voltar o tempo todo. Simplesmente terminaram? Como
amigos?
— Isso mesmo — foi a minha vez de responder e papai me
olhou com os olhos semicerrados.
— Entendo — pensou um pouco e se recostou na cadeira, a
girando na direção de Arthur para o olhar. — Então, Arthur, se
estamos todos bem, acho que seu filho não se importará em ver a
ex-namorada acompanhando o filho do nosso cliente italiano no
jantar de hoje.
— Acredito que não mesmo — Arthur olhou o filho.
O olhei também e o vi cerrar o punho, piscou duas vezes e
voltou ao seu controle.
— Com todo o respeito — papai se virou para ele —, o
histórico dos filhos dos seus clientes com Rebecca não dos
melhores — disparou.
— Você também é filho de um cliente — retruquei e o olhei.
— Mas nunca fiz algo que você não queria — rebateu me
olhando e eu me segurei para não rir.
— Não se preocupe, não teremos esse problema novamente.
A filha do cliente também irá, gostaria de se juntar a nós? — Papai
questionou, revirei os olhos e ele me olhou querendo rir, em seguida
olhou para Cameron.
— Ah, com certeza.
— Ótimo. Partiremos daqui a trinta minutos para nossas
casas, o jantar será às sete da noite — avisou papai.
Cameron concordou e saiu com tio Arthur depois de me olhar
rapidamente. Ficando apenas eu e papai, o olhei.
— Achei que o senhor ficaria muito mais nervoso e daria um
jeito de me afastar de Cameron.
— Foi a primeira coisa que quis fazer, estava tão nervoso que
pedi para Rodrigo te buscar e não deixar Cameron tocar em você.
Afirmei que nunca mais o deixaria chegar perto, como se isso fosse
uma escolha minha — ele riu de si mesmo.
— Como Nádia contou a vocês? — quis saber.
— Viajamos na sexta-feira e no sábado tudo colaborou para
irmos embora. Os bebês estavam enjoados, Eliza não parava de
vomitar e o tempo simplesmente se fechou em Seattle. Todos
achamos melhor irmos para nossas casas e quando chegamos,
Nádia estava lá. Ela disse que precisava falar com a gente, mas que
esperaria Eliza ficar melhor, pois os pais de Cameron precisavam
estar presentes. Comecei a estranhar, quando Eliza estava melhor
já era tarde, mesmo assim, Nádia fez questão de ir em casa.

“Então, ela começou a contar sua própria versão. Disse sobre o


ocorrido, mas não que você contou a ela sobre o pesadelo que ele
teve. Apenas disse que Cameron estava te agredindo e você não
queria contar a ninguém por medo dele”.

“Sua mãe estranhou, mas eu fiquei louco e, de cara, acreditei em


tudo. Nádia ainda disse que ele já tinha sido agressivo com você e
que os machucados em seu braço eram marcas da segunda vez
que tinha te batido. Arthur foi em defesa do filho como nunca vi
antes e começamos a brigar, a brigar de verdade”.
Papai mostrou os punhos com algumas feridas.
— Vocês se bateram como dois adolescentes? — questionei
e ele riu concordando.
— Não que fosse a primeira vez.
— E o senhor ainda quer que Isaac seja calmo sendo que ele
tem o mesmo gênio do senhor? — Ele bufou.
— Não comece, dona Malik, ouvimos você batendo na mesa.
— Mas não bati em ninguém e nem vejo motivos para isso —
ele me olhou como se fosse uma criança irritada por levar broncas.
— Então, Eliza ficou desesperada e começou a gritar para
pararmos, eu estava tão cego… normalmente me acalmo antes de
tomar qualquer atitude, mas quando me falaram que estavam te
machucando, tudo sumiu, inclusive meu senso de justiça que me faz
escutar os dois lados da história.

“Quando paramos de brigar, sua mãe já tinha ligado para Rosie que
foi correndo com Andrew para a nossa casa e lá Eliza explicou tudo
a eles. Sua mãe encarava Nádia de um jeito que se eu não
estivesse tão cego, teria entendido que ela sabia que havia algo
errado. Mas sua mãe esperou, como sempre mais sensata do que
eu, Andrew ouviu toda a história e, por incrível que pareça, começou
a defender Cameron.”
Aquilo me fez sorrir.
— Mas defendeu muito mesmo, falou várias coisas a Nádia,
não sei se eles já se conheciam. A chamou de mentirosa, disse que
Cameron jamais encostaria em você daquele jeito. Não sabia da
amizade confusa deles. Quando pedi a Rodrigo que te buscasse, vi
Arthur conversando com Andrew e ele saiu com um segurança, mas
não me importei, não queria saber de nada, só de você protegida.

“Felizmente, as crianças estavam com Amora por pedido de sua


mãe, era como se ela já soubesse que algo ruim viria. Rosie e
Arthur levaram Eliza para a casa depois que eu fui para o escritório,
sua mãe entrou furiosa, muito furiosa, estava com Nádia e a
empurrou para se sentar no sofá. E disse a ela: ande, fale tudo,
conte a verdade”.

“Nádia se recusava a falar qualquer palavra, então sua mãe falou


por ela”.
Papai me olhou e eu não sabia o que esperar, não entendia
seu olhar.
— Nádia sabia da verdade, sabia que Cameron não tinha te
machucado, e mesmo assim contou toda aquela história, não
fazemos ideia do que a levou a aquilo. Sei que ela passou por
coisas semelhantes, mas naquele momento ela agiu com maldade
— explicou. — Fui tão burro, filha, não pensei em nada, só agi por
impulso e você sabe o quanto me odeio por minhas ações em meio
a raiva.
— Seus ataques de raiva não são mais constantes, pai e…
— Não, querida. Fiquei exatamente do jeito que você tinha
medo antes, fico aliviado por não ter me visto — ele abaixou o olhar
e suspirou.
Peguei em suas mãos e as beijei.
— Isso passou, o importante é como vai ser daqui para
frente. Continue, por favor.
Ele sorriu fraco e retomou a história. Explicou que mandou
Nádia embora e eu ela voltou para o Brasil, vai morar com os
parentes do pai. Ele e Arthur se perdoaram, Eliza ficou bem e foi ao
médico ver se estava tudo bem com o bebê após tanto nervosismo.
Isaac não sabia de nada e eu afirmei que contaria, pois ele sabia
muito sobre mim e não queria que ele descobrisse por outra pessoa.
Rosie estava cuidando de Eliza junto com a minha mãe e por isso
elas não vieram para a casa de campo, mas o pequeno ou pequena
Styles que tia Eliza carregava estava bem. Parecia que tudo tinha
acabado bem e eu nunca entenderia o que levou Nádia a fazer o
que fez.
Fiquei feliz por Andrew ter defendido Cameron, mas isso me
lembrava de ter que falar com ele. Não era só porque eu e Cameron
não estávamos juntos que eu podia prender Andrew a mim.
— Filha — papai me olhou quando caminhamos pelo
corredor —, falei sobre o jantar apenas para ter algumas…
respostas. O garoto não vai desistir mesmo de você. — Ele sorriu.
— E admito que o cuidado que ele tem com você é impressionante!
— elogiou. — Mas se você não quiser ir ao jantar, está tudo bem.
Jamais te forçaria a ir.
— Está tudo bem.
— Se o garoto, Matteo, te deixar desconfortável, além de não
fechar negócios com o pai dele, vamos embora na mesma hora.
Arthur está ciente disso.
— E acredito que Cameron também — completei.
— Nem precisamos falar nada, ele age por si só. — Rimos
concordando. — Vocês estão bem mesmo?
O olhei.
— Você viu como Cameron age comigo, sabe das nossas
implicâncias, acha mesmo que terminamos tudo como amigos?
— Acho que nem terminaram — insinuou após subirmos as
escadas. — Vamos esperar lá embaixo, sua diabete está
controlada?
— Sim. Vou tomar um banho e já desço.
— Se agasalhe — pediu abrindo a porta do quarto —, a
estrada é fria — alertou e beijou minha testa.
Seguimos direções diferentes. Entrei no quarto, tomei meu
banho e, após me arrumar, vi se de fato estava tudo bem com a
minha saúde. Mandei uma mensagem para Peter não esquecer de
trazer seus remédios e, por mais que ele tenha dito um:  “ok,
obrigado”,  sabia que ele esqueceria. Então avisei Lana por
precaução.
Depois de pronta, sai do quarto dando de cara com Cameron.
Ele me olhou e quando ia desviar, ele segurou carinhosamente
minha mão esquerda.
Com calma e delicadeza ele encaixou nossa aliança no meu
dedo anelar da mão esquerda e em sua mão, no mesmo lugar,
também estava sua aliança.
— Eu, Cameron William Styles, vou substituir essa aliança
um dia — ele beijou a aliança. — Isso é uma promessa — afirmou e
meu coração quase parou.
Mesmo o vendo me soltar e se afastar, sabia que não estava
brincando, que não fazia parte de nenhuma provocação, não era um
truque. Ele prometeu e, com a promessa, selou nosso amor, eu e
ele, apenas, destinados a nos reencontrarmos.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Domingo, 19:02.
 
Me sentia, sem dúvidas, a garota mais linda do universo
usando um vestido vinho cinturado que deixava minhas costas
totalmente expostas, tomara que caia e um pouco rodado na parte
de baixo.
Decidi não fazer nada extravagante no cabelo e usar uma
maquiagem bem leve como um delineado bem-feito pelas mãos de
Rosie com um batom vinho que deixa minha boca maior do que era,
mamãe fez cachinhos nas pontas de meus cabelos e, para mim,
estava ótimo. Coloquei um salto prata e ainda assim fiquei menor
que meu pai. Tio Arthur quase cancelou o jantar, pois tia Eliza ainda
não estava cem porcento bem, mas mamãe e Rosie disseram que
cuidariam dela. Quem queria fechar negócios era o senhor Andréas
Hernandez, milionário e tinha algumas lojas da Nike, pelo que
entendia, queria fechar parceria.
Papai explicou recentemente que a família Styles não tinha
apenas uma indústria de doces famosa, Cameron investiu na marca
da Nike e tinha mais de cinco lojas pelo estado.
— Mas o senhor Andréas vai fechar contrato com tio Arthur
ou com Cameron? — questionei confusa.
— Cameron ainda não tem todo o tempo necessário para
focar apenas nos negócios, quem está administrando, por enquanto,
é Arthur, quando o próprio garoto terminar a faculdade e ter tempo
para isso vamos apoiá-lo. Basicamente, quando se refere a Nike,
Arthur trabalha para o filho.
— Cameron não era irresponsável com os negócios? —
Papai riu concordando.
— Era o que achávamos, até ele falar na reunião que fomos
na quinta-feira sobre o que faz. Quem administrava tudo era o avô
paterno dele, porém, Cameron disse que finalmente o pai o tinha
dado um voto de confiança e que seu avô podia descansar. Foi
quando descobrimos sobre Cameron ter parcerias com hortifrutis e
as lojas da Nike. Arthur ficou tão orgulho que até chorou. — Papai
riu. — O garoto está fazendo o futuro dele.
Me sentia orgulhosa e tudo fazia sentindo. Ele havia dito que
estava correndo atrás do dele, só não imaginava que era dessa
forma e que estava bem avançado.
— Até frutas para outros países ele manda — papai
continuou. — Quem investiu nele foi o bisavô.
— Quem vai assinar os documentos então será Cameron —
conclui.
— E aí que fizemos uma estratégia. Cameron não quer que
ninguém saiba sobre seus negócios, nem mesmo a mãe e irmã por
motivos dele. Então, aceitaremos a proposta do italiano se for
satisfatória e confiável, mas mandaremos os documentos assinados
só depois. Para Cameron assinar sozinho ele precisa tem vinte e um
anos, precisará da assinatura de Arthur também.
— De qualquer jeito, Andréas não vai ver a assinatura de
Cameron no contrato? — Papai me olhou impressionado.
— Está sabendo bastante sobre isso — disse orgulhoso e
sorrindo. — Andréas saberá, mas a questão das assinaturas será
conversada outro dia, longe dos filhos dele. Hoje ouviremos apenas
o que tem a dizer.
— Chegamos, senhor Malik — o motorista Alec avisou.
Ainda não vi Cameron, pois saímos um pouco depois deles,
mas acredito que esteja lindo como quando foi na outra reunião de
negócios.
Quando o carro parou, Alec abriu a porta para mim e segurou
minha mão para que eu saísse.
— Obrigada, Alec — sorri e ele apenas concordou, era o
segurança mais novo que tínhamos.
Papai saiu e estendeu o braço para mim. Aceitei e, quando
olhei para frente, lá estava ele. Cameron respirou fundo quando me
viu e seu olhar mudou, sentia que seria devorada a qualquer
momento por seus olhos e aquilo fazia meu corpo queimar.
— Eles estão nos aguardando — Arthur avisou e Cameron
ainda me olhava parecendo hipnotizado. — Bom dia, Cameron, hora
de acordar — disse aos risos.
Papai me olhou em busca de minha reação, mas contive meu
sorriso. Quando meu pai desviou os olhos de mim, encarei Cameron
e ele passou a língua nos lábios.
Desviei os olhos dele sentindo meus lábios tremerem em um
sorriso e entramos no restaurante.
Ao nos aproximarmos de uma mesa em um dos cantos mais
reservados do restaurante luxuoso, vi um garoto de cabelos loiros
receber um toque de um homem muito parecido com ele, só que
mais velho e com os cabelos grisalhos. A garota, que parecia pouco
com os dois homens, se levantou e sorriu para Cameron como se o
conhecesse.
Decidi não o olhar.
— Olá, senhores, é uma honra tê-los conosco — o homem,
acredito que seja Andréas, nos recebeu.
— Cameron, quanto tempo! Lembro de mim? — a garota
disse com a voz tão fina que entrou no fundo de meus tímpanos e
ele a olhou confuso. — Felicity Hernandez — relembrou um pouco
desanimada.
Felicity… tentei não demonstrar meu incomodo.
Se bem me lembrava, era uma das garotas que dormiu com
Cameron enquanto estudava em Liberty no ano passado, a ex-
presidente do grêmio.
— Ah, claro que lembro — disse ele. — Como vai, Felicity?
— questionou após beijar sua mão.
— Essa é minha filha Rebecca — papai me apresentou aos
homens.
— Rebecca Malik? — Matteo questionou estonteado. — Que
prazer conhecer a garota mais bem falada de Stanford, permita-me
dizer que a senhorita está deslumbrante, ouço falar muito bem de
você na universidade — elogiou e eu sorri para ele.
— Patético. — Ouvi Cameron dizer e Matteo mudou o olhar
para confusão.
— Que surpresa a minha, muito obrigada pelos elogios —
agradeci ignorando Cameron.
Matteo se inclinou para puxar a cadeira para que eu me
sentasse, mas Cameron o olhou tão friamente que o garoto recuou.
O encarei e revirei os olhos em provocação.
— Ainda te farei revirar os olhos por outro motivo —
sussurrou discretamente em meu ouvido enquanto encaixava a
cadeira no lugar e meu corpo se arrepiou.
Artur se sentou em uma ponta e Andréas em outra; papai se
sentou a direita de Arthur e Cameron a esquerda; me sentei entre
Cameron e Matteo e a garota, Felicity, estava entre os advogados.
Ficou notório seu incômodo.
Enquanto eles conversaram, Matteo se virou para mim.
— Então, senhorita Malik, irá para Stanford após as férias de
verão?
— Sim, claro. Posso saber o que tanto falam de mim na
universidade? — questionei, tomando um pouco Coca-Cola que até
ficou chique na taça.
— Ah, coisas maravilhosas, mas não sabia que carregava
uma beleza tão incrível, apenas sabia sobre uma garota com uma
inteligência impressionante — ele disse me fazendo sorrir.
— Acho que está exagerando, mas obrigada.
— Não, é a verdade.
Ele me olhou por instantes e eu simplesmente não sabia o
que falar.
— Já está cantando a garota, Matteo, nem esperou chegar
em Stanford — disse Felicity virando a taça de champanhe em um
gole.
Papai olhou o garoto na medida em que Cameron deslizou a
mão em minha coxa calmamente, me fazendo arrepiar. Prendi a
respiração tentando empurrar sua mão e, em retorno, ele apertou
minha coxa por cima do vestido me fazendo fechar as pernas.
Matteo olhou rapidamente a mão em minha coxa, abaixei o olhar
sabendo que Cameron havia percebido e provavelmente estava
com seu sorrisinho vitorioso.
— Não estou, irmã — Matteo começou. — Estava apenas
falando a verdade, nada intencional — explicou.
Quando todos voltaram a conversar, Felicity pediu licença e
se dirigiu até o banheiro. Matteo se virou para mim.
— Desculpe, não sabia que namorava.
— Eu não…
— Você estuda em Stanford — Cameron disse me
interrompendo —, deve saber sobre mais assuntos além da
inteligência de Rebecca.
Matteo e Cameron ficaram se encarando por instantes.
— Vou ir ver se Felicity está bem, com licença — Matteo
disse se levantando e saindo sem demonstrar nervosismo.
— Eu te odeio — disse baixo o suficiente para apenas
Cameron ouvir.
— Não prometi ao seu pai que não tocaria em você, disse
que pretendia, ou melhor, que tentaria. Isso não significa que vou
conseguir.
Ouvi sua risada e senti sua mão deslizando até a separação
de minhas coxas e me apertando com tanta força que precisei me
concentrar em diversas coisas diferentes para não tremer.
Fechei as pernas com um pouco mais de firmeza e segurei
sua mão tomando mais um gole de coca. Não conseguia explicar
tudo o que passou em minha mente e nem sabia que poderia
imaginar tanta coisa assim com Cameron, mas em segundos
imaginei mais do que deveria e suas carícias em minha coxa me
deixavam ainda mais tentada, o que piorou tudo, pois mal conseguia
levantar os olhos e o encarar.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Após finalizarmos o jantar, Andréas pediu que os
deixássemos conversar. Cameron lançou um olhar para Arthur e
meu pai como se passasse várias instruções sem dizer uma só
palavras.
Era impressionante vê-los trabalhando para Cameron, não
sabia se era possível, mas ele ficava ainda mais atraente com toda
essa marra e responsabilidade.
Cameron puxou um pouco minha cadeira para que eu
levantasse e, enquanto caminhávamos para uma parte com paredes
de vidro e sofás, sua mão deslizou em minhas costas nuas, me
fazendo estremecer.
Chegamos no local onde havia uma área aberta para
olharmos o lago e o céu a frente. Me sentei vendo Matteo ir até o
parapeito e observar o lago.
— Você não se lembra de mim, mesmo, Cameron? — Felicity
choramingou assim que ele se sentou ao meu lado.
— Com licença — pedi tranquilamente pronta para me retirar
e Cameron segurou minha mão com calma.
— Não precisa sair.
— Prefiro não participar dessa conversa — afirmei afastando
sua mão da minha deixando explicito o meu desconforto.
E ele não insistiu.
Me aproximei de Matteo, mantendo uma distância
considerável entre nós.
— Seu namorado não achará um problema? — achei graça
de sua pergunta.
— Na verdade, não namoramos. — Ele me olhou. — Não
mais — conclui.
— Ele sabe disso? — Fiz expressão de tédio e ele riu.
— Então, você é estudante de Stanford — mudei de assunto.
— Está cursando o quê?
— Medicina — disse com orgulho —, você será contadora,
certo?
— Talvez, pretendo fazer pós em comércio exterior e
expandir minha vida profissional — expliquei o vendo concordar. —
Como sabe sobre meu curso?
— Todo mundo sabe, na verdade — ele riu. — Pelo que vejo,
você é mais conhecida em Stanford do que imagina.
— Então você sabia que eu namorava? — questionei
arqueando a sobrancelha e ele riu envergonhado.
— Desculpe-me, mas achei que não estava mais. Me falaram
que vocês usavam alianças e… peço desculpas a senhorita por ter
sido inconveniente, alianças não deviam ser o motivo de eu achar
que namora ou não.
Acabei me permitindo rir de seu jeito, mas quando ele me
olhou por inteira senti o mesmo olhar do filho do quase cliente
britânico de papai e, por instinto, dei um passo para trás.
— Fiz algo que te incomodou? — Ele deu um passo à frente
e eu para trás, ainda sem saber o que falar.
— Rebecca — Cameron se aproximou, ele me olhou e em
seguida, com os nervos à flor da pele, encarou Matteo. — O que
você fez?
— Cameron, ele não…
— Fale, o que você fez?
O segurei pelo braço quando ele estava prestes a ir para
cima de Matteo e coloquei meu corpo em sua frente.
— Ele não fez nada — repliquei com sinceridade —, acho
que foi coisa da minha cabeça.
Quando olhei Matteo, ele parecia totalmente confuso.
— Me desculpe se fiz algo…
— Não chega perto — Cameron pediu erguendo a mão
direita para a frente, como se tentasse o afastar de mim.
— Não, não se preocupe. A culpa não foi sua, eu quem peço
desculpas — disse, abaixando a mão de Cameron.
Matteo apenas balançou a cabeça, carregando confusão em
seu olhar, e correu até Felicity quando ela quase caiu de tanto que
tinha bebido.
Quando eles se afastaram e saíram da sala, encarei
Cameron que ainda estava tenso e não tirava os olhos de mim.
— Está tudo bem? Ele fez algo?
— Não amo… Cameron — me corrigi, sentindo um frio na
barriga.
Caminhei até os sofás, me sentando, comecei a sentir dores
nos pés e com um frio repentino passando pelo meu corpo, acabei
estremecendo.
— Ele só me olhou e foi como se eu visse… — suspirei —
enfim, tenho certeza de que foi minha mente me sabotando.
Cameron se sentou ao meu lado após colocar o paletó em
meus ombros. Senti seus lábios beijarem minha testa e ele me
abraçou pelos ombros, me fazendo deitar em seu peitoral.
— Sei como é — afirmou beijando novamente o topo de
minha cabeça. — Mas ele te olhou com maldade?
— Não quero pensar nisso. — O abracei pela cintura, mesmo
sabendo que não estávamos mais namorando.
Nos olhamos e ele suspirou, passando a mão no rosto
corado.
— Meus pés estão doendo, acha que vou passar vergonha
se sair desse restaurante super chique descalça? — questionei, me
soltando dele e olhando meus pés.
— Não acho, mas acredito que seja melhor eu te carregar no
colo, assim não vai chamar tanta atenção — brincou e se levantou
pronto para me pegar.
— Não, garoto — rebati rindo e empurrando suas mãos.
— Mas depois que nos casarmos, eu vou te carregar no colo
de qualquer jeito — disse com um sorrisinho fofo nos lábios.
— Você joga baixo, Styles — me levantei o encarando,
mesmo de salto ficava menor que ele.
— Você que vem toda arrumada, com um vestido que, se
Deus quiser, um dia eu vou rasgar todinho, um batom que está me
deixando louco e, não sei como, mas está mais perfeita do que já é,
e quer me dizer que eu jogo baixo?
Perdi a fala. Rasgar meu vestido? Por que tive que me
concentrar justamente nessa parte?
— Cameron, não me dirija a palavra.
— Vou dirigir o beijo, então — disse dando um passo para
frente, estiquei o braço tocando em seu abdômen e o mantendo
afastado.
— Você para, entendeu? Terminamos. Cada um para o seu
lado.
— Mas às vezes eu posso ir para o seu lado — ele me puxou
pelo braço que o impedia de nos aproximar.
— Você é impossível mesmo.
— E você é perfeita — afirmou roçando o nariz em meu
pescoço.
— Com licença — o chamado do garçom fez com que eu me
afastasse de Cameron. — O senhor Malik e o senhor Styles estão
os aguardando para partir — avisou.
Concordamos e, novamente, Cameron colocou a mão em
minhas costas enquanto caminhávamos até a saída. Me despedi
dele e de tio Arthur, e finalmente me livrei dos saltos sentindo um
alívio percorrer meu corpo.
— O que vocês estavam fazendo? — Papai quis saber.
— Conversando com os Hernandez — respondi tentando
finalizar o assunto.
Papai riu e não disse mais nada.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Segunda-feira, 02:23.
 
Me virei na cama pela terceira vez. Não importava o que eu
fizesse, Cameron ainda estava em meus pensamentos,
principalmente nos impróprios.
Me levantei após ver que, se continuasse deitada, não
conseguiria dormir. Olhei o formulário em minha mesa de estudos e
me lembrei de que precisava preenchê-lo e entregar a diretora para
garantir que entraria no projeto de Stanford. Neji disse que
entregaria o dele amanhã que, na verdade, era hoje, talvez eu
fizesse o mesmo.
Liguei a luz de meu quarto, coloquei meus óculos e comecei
a preencher todas as informações solicitadas. Minha idade,
nacionalidade, cor, gênero e todas essas informações chatas.
Assinei o formulário e agora só faltavam as assinaturas dos meus
pais e da diretora.
Estava decidida.
Entre ficar em Liberty remoendo meu término com Cameron,
esperar a ida dele para a seleção de Stanford ou ir para a
universidade e ter minha vaga garantida, escolhi a segunda opção.
Acreditava que mesmo após contar a ele, iria de qualquer
forma. Sabia que não tinha o colocado entre meu futuro, mas queria
explicar para ele o projeto e não terminaríamos como terminamos.
Amanhã como olharia para Cameron e não o beijaria?
Éramos amigos ou inimigos? Ex-namorados? Não vamos nos falar?
Vamos nos falar? E se alguém desse em cima dele, ele der moral
para a pessoa e eu ainda sim quiser matá-lo, eu poderia?
Ah, claro que não! Que loucura a minha… talvez dar apenas
um soco. É, talvez.
Perdida nesses pensamentos enquanto encarava a janela, vi
uma pequena luz em minha direção piscar três vezes. Era meu sinal
com Natalie quando tínhamos oito anos e fazíamos com a lanterna.
Sorri colocando um roupão e as pantufas.
Desci rapidamente as escadas, mas sem fazer barulho,
passei da porta após a parede da churrasqueira que tinha atrás da
casa e caminhei até a casa na árvore. Vi Natalie, que me olhou com
um sorriso alegre e olhos avermelhados, e subi até ela.
— O que aconteceu amiga? — A abracei forte e ela chorou.
— Você vai embora — resmungou baixinho. — Acabei de tê-
la novamente em minha vida e vou ver você partir. — Ela me olhou
—, mas não é isso. A verdade é que estou tão orgulhosa de você
que mal consigo pensar no quanto vou sentir sua falta. Estou
chorando de felicidade pela sua conquista — disse com sinceridade
em seus olhos.
— Deixe para sentir saudades quando for o momento, ainda
tenho mais de um mês aqui e quero aproveitar ao máximo. — Ela
sorriu me abraçando forte.
— Eu te amo, sua chata. Estou orgulhosa de você. — Sorri
com os olhos cheios d'água.
— Muito obrigada! E… — ela me olhou limpando o rosto —
também estou orgulhosa de você. Está crescendo e amadurecendo,
vendo o que é prioridade e quando cheguei aqui você estava uma
bagunça.
— Estava, não é? — Ela riu se endireitando e olhando para o
céu, beijei o topo de sua cabeça e ela me olhou. — Pode me
explicar por que você e Cameron não estão acabados? Tinha
certeza de que ele ficaria destruído com o término de vocês.
Procurei as palavras exatas, mas não achei nada. Abri a boca
para falar três vezes e nada.
— Vocês terminaram, certo? Acho que a essa altura todos
sabem.
— Terminamos… — disse e não consegui concluir a fala.
— Você ficou com ele mesmo depois de terminar, não foi? —
questionou como se não fosse surpresa.
Fiz uma careta.
— É… — admiti. — Por que tem que ser difícil assim? Estava
com raiva dele, ele quem terminou comigo e do nada estávamos
nos beijando, depois nos provocando e… é confuso. Depois ele
ficou com ciúmes de Matteo e eu simplesmente não me incomodei
com isso.
— Vocês se amam, claro que vai ser confuso e muito difícil.
Acho que enquanto você estiver aqui, isso não vai acabar, e talvez
nem depois.
— Mas tem que acabar… concordamos em nos separarmos
e talvez o sofrimento seja menor quando eu for embora — insisti a
vendo negar.
— Você sabe que não há nada que possa ser feito para o
sofrimento de ficarem longe diminuir, não tem como não sofrer
porque vocês se amam. Acredito que o arrependimento vai ser
grande se não aproveitarem o agora.
Paramos de falar quando a silhueta de Cameron se formou
na escuridão. Ele desceu o pequeno gramado e parou na frente da
casa da árvore.
Natalie estava certa, não havia nada a fazer para amenizaria
o sofrimento, mas podíamos brincar um pouco, nosso jogo particular
de provocações não precisava acabar, pelo menos nos restaria as
lembranças boas, engraçadas e até quentes.
— As duas donzelas sabem que são três da madrugada e
amanhã temos aula? — ele questionou jogando a luz da lanterna
em nossos rostos.
— Sim, temos relógio — rebati.
— Ótimo, então não preciso avisar que está na hora voltar a
dormir — Cameron retrucou.
Eu e Natalie nos olhamos, suspiramos e descemos da casa.
— Te vejo depois amiga, te amo. — Ela me abraçou e
começou a subir até sua casa.
Comecei a caminhar até a minha e notei que Cameron vinha
atrás.
— Problemas para dormir, senhorita grosseria? — O olhei
quando estávamos próximos de um muro.
— Estava preenchendo o formulário de Stanford, senhor
intrometido.
— E por que decidiu preencher isso a essa hora? — Seus
lábios tremeram em um sorrisinho cínico.
— Não te devo satisfação alguma, Styles.
— Tenho um palpite — ele se aproximou de mim e deixou a
lanterna desligada no chão —, você estava pensando em mim —
ele deu um passo para frente, senti a parede fria em minhas costas
e seu corpo colando no meu — e por isso não conseguiu dormir — e
apertou minha cintura.
— Você é muito egocêntrico, isso não tem nada a ver. — O vi
sorrir.
— Algo me diz — ele começou a subir a mão em minha nuca
— que você quer me beijar — sussurrou com os lábios próximos de
minha orelha e puxando meu cabelo.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Quem te garante isso?
Ainda com os lábios próximos de minha orelha, sussurrou:
— Você não se afastou.
Meu coração parou e minhas mãos suaram. Abri os olhos e
senti seus lábios nos meus. Fingi que lhe daria passagem e me
afastei com um sorrisinho.
— Não vai ser assim tão fácil. Boa noite, Styles — beijei sua
bochecha.
Ele suspirou, sem falar nada, beijou minha testa e me
observou partir.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Segunda-feira, 06:15.
 
Antes de me levantar, ouvi duas batidas na porta do quarto.
— Pode entrar — disse me espreguiçando na cama e mamãe
entrou no quarto.
— Bom dia, querida, vim ver como está — disse se sentando
na minha cama após dar um beijinho na minha testa.
— Fui dormir tarde e estou exausta, o dia vai ser longo hoje
— comentei me sentando e ela concordou. — Mãe, a senhora apoia
minha ida para Stanford?
— Com toda a certeza, docinho! — afirmou animada e eu
suspirei aliviada.
— Vou entregar o formulário hoje.
Ela concordou, pensou por instantes e disse:
— Sabe que toda a escolha, mesmo que seja ótima para o
futuro, tem consequências, não é?
Abaixei o olhar concordando e ela continuou:
— Isso não é para te desmotivar, pelo contrário, quero que
você invista no seu futuro da melhor forma. Mas não é só de
Cameron que você vai se separar, vai ser dos seus irmãos, de mim
e do seu pai, dos seus amigos… — As lágrimas começaram a brotar
em meus olhos e descer em meu rosto. — Minha querida, alguns
sacrifícios são necessários para que algo melhor aconteça. Você
está se separando agora, mas depois vai ter todo o tempo para
estar junto das pessoas que ama. Além do mais, vai conhecer novas
pessoas para acrescentar em sua vida. Quero que esteja pronta
para tudo, desde a partida até a chegada.
A abracei, me permitindo chorar.
— Vai doer sim, mas preciso ir — afirmei e ela concordou
sorrindo.
— Fico feliz em te ver tomando suas próprias decisões — ela
sorriu limpando meu rosto e sua expressão ficou alegre. — Agora
pode me explicar qual é a relação de você com Cam?
Comecei a rir enquanto fungava pelas lágrimas anteriores.
— Como vou explicar algo que nem eu entendo? — Ela me
olhou impressionada. — Na verdade, como sempre foi, eu não
quero dar o braço a torcer e nem ele.
— Acho que é melhor eu não perguntar mais nada, vocês são
confusos — ela riu se levantando.
— É, faz parte — comentei.
— Tchau, querida.
— Tchau, mãe.
Depois de me arrumar, tomei um café rápido e corri até o
carro de Natalie.
— Bom dia, senhorita atrasada.
— Bom dia, coisa chata — retruquei quando ela deu partida.
— Vai entregar o formulário? — Suspirei concordando. —
Podemos ir ao shopping hoje?
— Claro, só que vou ir falar com Andrew mais tarde e depois
podemos ir.
— Andrew? — questionou confusa.
Antes, quando falava o nome de Andrew, Natalie ficava
estranha, incomodada e um pouco sem jeito. Agora parecia um
simples nome, sem qualquer sentimento por trás, como se ela
estivesse falando de Josh ou Peter.
— Tenho algumas coisas a resolver com ele — ela apenas
concordou sem fazer muita questão de perguntar mais algo.
— Sabe o que eu estava pensando? — A olhei negando
quando ela estacionou o carro e seus olhos encararam Elliot
encostado no próprio carro com os meninos do time. — Nossas
vidas amorosas estão em sintonia.
— O quê? — questionei rindo e ela deu de ombros aos risos
também.
— Eu e Elliot terminamos, mas a gente não se separa. Você
e meu irmão a mesma coisa. A diferença é que com você aconteceu
algo que nenhum dos dois quer me contar e tem Stanford no meio.
— É… acho que faz um pouco de sentido — observei a
mesma direção que ela e franzi o cenho, confusa. — Cameron não
veio?
— Vem mais tarde, disse que precisava resolver algumas
coisas com Nathan.
— O irmão de Katherine?
— Ele mesmo — ela se soltou do cinto. — Ficou sabendo
que Katherine foi morar com a avó no Canadá? Muito estranho, ela
parecia estar amando Liberty.
— É… muito estranho — afirmei tentando não demonstrar
que sabia o motivo.
— Acho que você a expulsou, onde eu assino para te
agradecer por isso? — A olhei com olhos arregalados.
— Me agradecer? — questionei saindo do carro e ela logo
em seguida.
— Sim, toda garota abusiva com o meu irmão que
simplesmente some é uma benção — disse erguendo as mãos para
o céu como se agradecesse. — Mas acho que não foi você. — Ela
riu. — Deve ter sido outra coisa. Enfim, como foi o jantar de ontem?
Soube que Felicity e o gostoso do irmão dela estavam lá.
— Estavam. Matteo parece ser legal, mas acho que assustei
ele. — Ela entrelaçou o braço no meu e, quando estava prestes a
dizer algo, várias pessoas vieram em nossa direção.
Sabia que teria de lidar com aquilo, não por ser o foco de
Liberty, mas por Cameron ser o capitão do time, rico, conhecido e
desejado. Agora estando solteiro e eu sendo a ex-namorada,
seriamos o foco, porque muitos ali amavam uma fofoca e, por ora,
éramos nós o assunto do momento.
— Então você e o capitão terminaram? — Elise questionou.
— Por que terminaram? — um garoto questionou.
— Cameron está livre para a gente? — duas garotas
comemoraram juntas.
— Finalmente, assim que ele chegar vou ir falar com ele —
reconheci a voz de Kristen.
— Vamos planejar o que vamos fazer — Paloma disse com o
tom de voz devasso.
— E você está solteira? — Jack, do time, questionou.
— Já tem vaga? — Victor, que também era do time, brincou.
— Vai para Stanford mesmo? — Ouvi alguém questionar.
— Por isso que vocês terminaram? — outra pessoa
questionou.
As perguntas não paravam e eu não conseguia mais
distinguir quem estava perguntando o quê. Soltei um assobio alto,
como meu avô materno me ensinou a fazer com os cavalos da
fazenda, e até mesmo quem não estava na rodinha me
questionando ficou em silêncio.
— Sim, eu e Cameron não estamos mais juntos. Não, eu não
estou disponível e não quero um novo relacionamento. O motivo do
término não diz respeito a vocês e se vou ou não a Stanford contarei
as pessoas que realmente gostam de mim e não um bando de
curiosos que só querem espalhar a fofoca. Vocês podem me deixar
em paz agora! Paloma e Kristen — as duas me olharam —, parem
de querer usar o Cameron para sexo, isso é baixo até para vocês e
ficar planejando um golpe do baú nele me dá ânsia de vômito.
As duas ficaram sem saber onde enfiar a cara.
— Com licença — pedi me afastando de todos e caminhando
até a escola.
Não demorou muito para que Natalie se aproximasse com
Elliot, no meio da confusão ela acabou sendo afastada de mim.
— Capitã — ouvi Peter chamar, ele me abraçou e em seguida
os outros meninos fizeram o mesmo.
Como sempre, eles pegaram tudo o que eu estava segurando
e carregaram.
— Ah, sua safada! — Lana pulou na minha frente e me
abraçou. — Estou muito feliz por você! — disse beijando meu rosto.
— Minha mãe é professora de lá, espero que vocês se conheçam.
— Eu também espero, fico pensando em não conhecer
ninguém em Stanford, me deixa tão aflita.
— Não se preocupe, logo estaremos lá — Josh disse
animado.
Calleb me abraçou pelos ombros praticamente empurrando
Lana.
— Eu te odeio sua pilantra, você nunca me conta nada.
— Nem para o namorado ela contou — Elliot disparou e eu
revirei os olhos, fazendo uma careta para ele.
— Ex-namorado — corrigi.
— Natalie também é minha ex — ele a puxou tão
rapidamente que ela nem teve tempo para desviar.
— Vou entregar o formulário agora — disse quando parei em
meu armário e Calleb concordou parando no dele. — Obrigada,
meninos — agradeci a Eric e Adam que apenas concordaram e
saíram.
— Boa sorte! — Lana, Calleb e Natalie disseram juntos
quando comecei a caminhar até a diretoria.
A recepcionista pediu que eu esperasse um pouco, pois a
diretora estava em reunião e, quando a porta se abriu, quase não
acreditei no que via. Kevin, Oliver e mais dois homens. Eles
passaram por mim, jurava que iam rir, mas estavam cabisbaixos
como se fossem morrer se me olhassem.
— Senhorita Malik — um dos homens me chamou —, sou
Mark, pai de Oliver — ele estendeu a mão, apenas acenei com a
cabeça sem tocar em sua mão e ele colocou às mãos no bolso da
calça um pouco surpreso e sem jeito. — Gostaria de dizer que meu
filho e Kevin estão vindo para Liberty em paz.
— Conheço a paz de Oliver e Kevin — rebati e só depois tive
noção do que disse.
O olhar dos homens mudou e Oliver e Kevin continuaram
sem me olhar.
— Espero não termos problemas — o outro homem, pai de
Kevin se estava certa, disse.
— Rebecca — a diretora chamou, a olhei e ela me deu
passagem para entrar em sua sala.
— Com licença — pedi me retirando.
— Sente-se, por favor — fiz o que a diretora pediu. — Como
vai, Malik? No que posso te ajudar?
— Vim entregar o formulário e as cópias dos meus
documentos estão junto — expliquei, pegando a pasta com os
documentos e a entregando.
— Devo dizer as consequências dessa escolha antes de
levar esses documentos a Geórgia.
— Sei que é um grande passo e que vou me afastar de todos
os meus amigos, tenho noção disso — ela sorriu carinhosamente.
— Tenho certeza de que sabe, minha cara, não é apenas
isso, porém. Sobre seus sentimentos e perdas, estou certa de que
Olívia e Owen cuidaram disso — iniciou. — Mas essa escolha vai
além de se separar dos seus amigos — ela abriu uma das gavetas
de sua mesa e tirou de dentro um documento. — Vamos começar
pelo Fênix, em resumo — ela colocou os óculos — na cláusula
sétima do contrato que precisei assinar para ter Liberty nas
competições, diz: apenas alunos ingressantes no ensino médio
podem participar das competições.

“E se bem me lembro, você não será uma estudante do colegial,


será uma universitária a partir do momento em que este formulário
estiver nas mãos dos diretores de Stanford”.
Seus olhos se voltaram aos meus e eu senti um aperto no
coração.
Teria de deixar o Fênix.
— Neji vai precisar deixar o Fênix também? Nossa, ele vai
ficar arrasado.
A diretora riu.
— Ele ainda não, poderá continuar no Fênix até o último dia
em Liberty. As condições de vocês são diferentes, enquanto você
será uma universitária, ele continuará como estudante do colegial.
Preciso que entenda que estar acima dos seus amigos, na questão
de ir a Stanford, terão coisas assim a serem passadas, nem ficar
junto durante os estudos do Fênix você vai poder.
— Não estou acima de ninguém.
— Sim, está. Não quero que se sinta melhor do que ninguém,
mas não é apenas uma estudante de Liberty, é uma universitária de
Stanford — disse firme. — Não poder participar das competições do
Fênix diz muita coisa. Os diretores das escolas se reuniram no
sábado com Geórgia e Anthony, tentamos abrir uma exceção para
você participar das competições caso você aceitasse ir para o
projeto de Stanford e sabe o que eles disseram?
Balancei a cabeça negativamente e ela disse:
— Que não era justo Liberty ter essa enorme vantagem. Os
diretores estão loucos com as vantagens de Liberty na seleção de
calouros de Stanford e ainda mais com você. Para todos, você é a
enorme vantagem de Liberty. A discussão foi grande, queriam até
que eu tirasse Cameron da frente do time já que só alunos do
segundo ano podem ser capitão do time, mas Anthony conseguiu
intervir. Queriam que você já saísse de Liberty e Geórgia não
aceitou.
Ela suspirou desanimada e mesmo com isso continuava com
postura elegante. Assim, prosseguiu:
— Fico feliz por Liberty ter alunos que estejam se destacando
dessa maneira. Sei que Cameron pensa que o aceito aqui na escola
apenas pelo pai dele patrocinar o time, mas vai muito além. Ele é
um garoto especial e o time o ama.
— Desculpe a pergunta, mas acha que vai dar certo a volta
de Kevin e Oliver? — Seus olhos estavam cansados e ela
concordou.
— Cameron odiou, mas não tive muitas alternativas. Eu e
Arthur sabemos o que aconteceu entre o time, Kevin e Oliver.
Estamos ao lado de Cameron, mas… promete que vai ficar entre
nós?
— Claro! — Disse a olhando nos olhos.
— Cameron deu uma surra nos meninos. — Ela riu para si
mesma. — É o Arthur todinho. Oliver e Kevin foram pressionados a
contar tudo aos pais, mas não contaram absolutamente nada! Só
que Mark desconfiou do medo do filho ao falar de Cameron e Kevin
ficava do mesmo jeito. Eles vieram até mim dizendo que se eu não
aceitasse os filhos deles, iriam processar a escola por acobertar
esse tipo de coisa e eu não tive escolhas — ela respirou fundo
fechando os olhos e voltou a me olhar —, se a escola tivesse
qualquer tipo de processo, mesmo que fosse inocentada depois de
toda a burocracia, por hora Stanford cancelaria sua vaga e a de Neji
para o projeto, as do time para a seleção e as dos outros projetos.
Dependendo da demora do processo, vocês perderiam as chances
de vocês.
Me recostei na cadeira.
— Por que os pais de Kevin e Oliver os querem tanto aqui?
— Liberty está na boca do povo. Todos estão dizendo que os
melhores atletas, melhores estudantes e pessoas mais inteligentes
estão aqui. As matrículas para o próximo semestre estão lotadas.
— Eles vão estudar a partir de quando?
— Hoje — disse se recostando na cadeira. — Não consegui
convencer Mark e Miguel a trazê-los só em agosto.
— Entendo. Na verdade, diretora López, te agradeço por ter
pensado em nós, alunos — ela sorriu e pude notar que, talvez,
nunca tinha recebido esse tipo de gratidão. — Então Cameron sabe
sobre eles?
— Sim, claro. Marquei uma reunião hoje às cinco da
madrugada com ele, Arthur e seu pai. Queria deixar tudo em ordem,
já que o ocorrido foi diretamente com ele achei que seria bom deixá-
los avisados.
Juntei minhas mãos e a olhei nos olhos.
— A senhora sabe que Oliver veio para cima de mim quando
comecei a namorar, sabe das coisas que Kevin falou sobre mim e
que eles estavam espalhando que eu era o ponto fraco de Cameron,
certo? — Ela concordou sem entender onde eu queria chegar. — E
em nenhum momento cogitou falar comigo, mas achou uma boa
ideia falar com os homens?
Ela abriu a boca para falar duas vezes, mas se pensou em
dizer algo a respeito, desistiu.
— Bom, diretora López, há algo mais que eu vá perder por ir
a Stanford? — questionei quebrando o silêncio.
Ela se recompôs, limpou a garganta e disse:
— O contrato da escola não permite te ter como
representante, vamos precisar colocar outra pessoa em seu lugar.
— Tudo bem — disse desanimada, mas não estava surpresa.
— Gostaria de uma opinião sua, acha que alguém pode fazer
um trabalho tão bom quanto você em ser representante?
Pensei em todas as minhas possibilidades. Natalie havia
deixado claro que não deixaria a fotografia para ser representante,
Lana jamais deixaria o jornal, Luce não queria esse tipo de
responsabilidade…, mas havia alguém que amaria participar e não
precisaria abandonar seu projeto.
— Melissa.
— A capitã das líderes? — indagou cética.
— Isso mesmo. Sei que Melissa às vezes deixa Isabel
ensaiar as líderes, ela poderia dividir as tarefas e tenho certeza de
que fará um ótimo trabalho.
— Melissa é bem dedicada mesmo, às vezes até demais —
comentou, mas sorriu concordando. — Bom, me parece ótimo,
afinal.
— Certo, mais alguma coisa a ser discutida?
— Devia ter falado com você sobre Oliver e Kevin, sinto muito
— disparou com sinceridade. — E, desejo toda a sorte a você. Vou
assinar os documentos e levarei a Geórgia na quinta-feira.
Parabéns, Rebecca.
— Obrigada, diretora — agradeci me levantando e sai da sala
após me despedir.
Não tinha percebido o quanto minha conversa com a diretora
tinha sido extensa. Havia perdido todas as aulas de antes do
intervalo, então decidi comprar uma salada de frutas e me sentei em
um banco das arquibancadas.
O time estava treinando, pois teria o último jogo de maio na
sexta-feira, assim como os outros projetos que vão competir no
mesmo dia.
Não percebi a hora em que as lágrimas começaram a
escorrer em meu rosto por me lembrar de ir embora e tudo o que
deixaria para trás. Não acompanharia o crescimento de Isaac e os
gêmeos, não me formaria com meus amigos, e… se Cameron
encontrasse alguém melhor que eu, não poderia intervir.
— O que aconteceu? — Ouvi sua voz, levantei os olhos e lá
estava ele.
— Nada — disse limpando minhas bochechas, ele beijou
minha testa e se sentou ao meu lado me olhando desacreditado.
— Achei que tivéssemos passado disso, Malik — comentou.
Respirei fundo, pensando um pouco.
— Não vou poder participar do Fênix por ser uma quase
universitária, fico pensando em tudo — o olhei e abaixei olhar — o
que estou deixando para ir a Stanford…
— Pare de agir como se estivesse abandonando todo mundo
— disse ainda se mantendo afastado de mim. — Você não está.
Ainda vai ver seus amigos, sua família e… — nos olhamos e ele
desviou — ninguém vai deixar de te amar por você estar fazendo o
melhor para si.
— Eu sei. — Suspirei. — Eu sei.
Ficamos observando o time treinar, não sabia ao certo o que
falar e nunca me senti tão tensa assim.
— Conversou com Nathan? — Ele me olhou concordando.
— Katherine não chegou a transar comigo — começou em
voz baixa, mas percebi seu alívio. — Isso não diminui o que
aconteceu e Nathan disse sobre ela ter ido embora, mas que se
fosse necessário a faria voltar para lidar com as consequências de
seus atos.
— E você não aceitou.
— Não, se antes não queria voltar nesse assunto, agora que
não quero mesmo!
Respirei fundo, engolindo a decisão dele a força.
— Estava pensando… não conversamos sobre a luta, senhor
Styles.
— Isso só confirma que você não conseguiu dormir porque
estava pensando em mim, senhorita Malik — ele me olhou sorrindo
animadamente.
Sabia que odiava, então revirei os olhos, ele levantou o braço
vindo na direção no meu pescoço, mas fechou a mão e os olhos
puxando a respiração. Achei graça quando ele passou a mão na
nuca com o rosto corado e, sem me olhar, disse:
— Não há nada que me faça desistir dessa luta.
— Ele luta sujo, Cameron! Ele vence com trapaças, e se ele
te drogar? E se ele atingir um ponto que sabe que pode te deixar
paraplégico?
— Vamos torcer para que isso não aconteça!
Me contive para não socá-lo, mesmo que fosse minha maior
vontade no momento.
— Você é um cabeça dura mesmo — repliquei me
levantando. — Garanta meu ingresso, pois eu vou nessa luta.
Estava pronta para sair quando ele parou em minha frente.
— Você não vai.
— Vou sim, você não manda em mim — provoquei vendo seu
peito estufar por respirar tão fundo.
Percebi que os olhares estavam em nós e Cameron me
olhava de um jeito que me fazia entender o que ele queria fazer: me
puxar para ele com a mão envolta do meu pescoço.
— Seja lá o que estiver pensando, não faça — pedi olhando
em seus olhos que estavam azuis como o céu e carregados de
desejo. — Estão todos nos olhando e não namoramos mais, então
não me trate como sua namorada, vai ficar estranho, não acha?
O vi cerrar os punhos tentando se controlar de suas
vontades.
— Não vou deixar você ir a essa luta, estar no mesmo lugar
que aquele cara, de jeito nenhum! — disse com os dentes cerrados.
— Veremos. Se você for, eu também vou! Devia ter pensado
nisso antes de aceitar essa luta — o avisei e me afastei dele indo
até Calleb e Luce que estavam em outras arquibancadas.
— Terminaram porra nenhuma — Calleb disse assim que me
sentei.
Acabei rindo e voltei a comer.
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Segunda-feira, 17:55.
 
Cameron avisou ao pessoal do jornal, e ao resto da escola,
que os questionamentos sobre nosso término estavam proibidos e,
por incrível que parecesse, até mesmo Yuna e Karen abaixaram a
cabeça concordando.
Entrei na Goldens decidida a falar com Andrew, mas não
tinha planejado por onde começar. A lanchonete estava vazia de
clientes.
— Rebecca — Raquel disse.
— Boa tarde — cumprimentei educadamente —, Andrew
está?
— O que quer com ele? Agora que terminou com Cameron
vai se jogar para outro?
— Oh, não — fingi estar surpresa — vai me dizer que voltou
a ser amante dele e agora acha que vou ser ameaça?
Ouvi a gargalhada de Esme e Raquel fechou a cara no
mesmo instante em que me ouviu.
— Oi, docinho, está no escritório, mas a ex-namorada dele
está junto.
Olhei Raquel, que estava com uma cara péssima, e tudo fez
sentido, não era eu quem a incomodava, era Alice.
— Ah, certo. Pode avisar a ele que eu…
— Rebecca? — Ouvi a voz de Andrew e a garota loira de
olhos verdes apareceu atrás dele.
— Rebecca? A Malik? — Sua voz era ainda mais fina e
enojada do que eu imaginava.
Ela se colocou na frente dele.
— Sou Alice, mas isso você deve saber, Cameron deve ter
falado de mim — se gabou, jogando os cabelos para o lado.
— Acho que ele, ou os amigos dele, já citaram você no
namoro mais vergonhoso que ele teve na vida — disse claramente e
abri um falso sorriso simpático.
Andrew riu alto, Esme me olhou segurando a risada e até
mesmo Raquel abaixou a cabeça rindo.
— Hoje ela está atacada — Esme disse baixo enquanto Alice
me encarava furiosa.
— Soube que vocês não namoram mais — disse com
superioridade.
— E deve saber que não foi por uma traição — rebati ouvindo
o sininho de entrada da lanchonete.
— Garota, você é muito...
Alice estava furiosa quando levantou a mão, mas fui puxada
para trás assim como ela empurrada para o lado, por Andrew.
Me virei vendo que quem tinha me puxado era ninguém
menos do que Cameron.
Alice o olhou com vários sentimentos no olhar, Andrew
apenas o cumprimentou com a cabeça, Raquel arrumou a postura o
encarando e Esme foi até a cozinha.
— Tudo bem? — indagou apertando minha cintura.
Seu corpo tão próximo do meu, as mãos firmes em minha
cintura, não só me fizeram esquecer de tudo ao meu redor como
trouxeram milhares de lembranças. Eu estava com tanta saudade
dele...
— Sim, obrigada.
Quando me soltou, quase choraminguei.
— Cameron — Alice disse com um peso enorme na voz.
Ele olhou Alice como se fosse uma outra garota qualquer,
sem significado algum e sem emoção alguma.
— Veio de carro? — Ele me olhou, estava tão presa no olhar
de Alice ao ponto de chorar, que só quando senti seu toque em meu
braço, o olhei.
— Não, Peter me deixou aqui e disse que me buscaria
quando eu terminasse de falar com Andrew — expliquei.
— Te espero no carro — Cameron avisou dando um beijo em
minha testa.
— Mas…
— Te espero no carro — repetiu indo até o balcão. — Boa
tarde, Raquel. Meu pedido está pronto? — questionou.
Reorganizei meus pensamentos, Alice parecia desolada
olhando Cameron, ao passo que Andrew me olhava com milhares
de pensamentos.
— Podemos? — questionei, vendo-o concordar rapidamente.
— Não me deixe sozinha — Alice pediu correndo até Andrew.
— Você está sozinha já faz tempo — alertou, erguendo a
mão em sinal para eu segui-lo.
 
Andrew ficou me olhando por instantes, sentado em sua
cadeira.
Tomei coragem para falar e comecei:
— Uma vez você me perguntou se eu queria entrar nesse
assunto, mas não aceitei por medo, agora não vejo outra alternativa
a não ser enfrentar — ele me analisava quase sem piscar. —
Você…
— Sim, Rebecca, sinto algo por você, não sei bem o que é —
respondeu como se lesse meus pensamentos — e nunca me senti
preso a esse sentimento, você me deixa feliz e livre, até mesmo
como amiga.
Achei que ficaria apavorada com as suas palavras, mas me
senti tão tranquila que soltei um suspiro aliviado.
— Você merece a verdade, Andrew — pensei um pouco —,
vou ser sempre dele.
— Sei disso, infelizmente não controlo o que sinto, mas
controlo o que faço. Antes de ir embora, também quero ser sincero.
— Ele se inclinou para frente. — Você é, sem dúvidas, a garota mais
espetacular que já conheci, não só na aparência, mas você tem
pensamentos, ideias e valores admiráveis, às vezes é um pouco
difícil de lidar e dona da razão, mas tudo bem. — Rimos. — Sempre
soube que meus sentimentos eram únicos e não compartilhados,
que só eu sentia e qualquer forma de te ter, ao menos, por perto,
era válida. Mas sempre tive consciência de que você nunca seria
nada além de uma amiga, minha mente me sabotava me fazendo
acreditar que teríamos algo além, mas eu sabia que não.
Ele me olhou por segundos, buscando minha concordância, e
eu balancei a cabeça positivamente.

— Não quero que carregue o peso de ter me prendido porque você


sempre deixou tudo bem claro. Só que é bem difícil parar de gostar
de alguém, mesmo assim, continuei seguindo minha vida. E agora
irei para Cambridge porque, mesmo sem saber, você me incentivou
a não desistir de mim mesmo.
Limpei as lágrimas de meu rosto.
— Vai para Cambridge? — questionei animada e ele
concordou.
— Quero terminar o curso de administração e ajudar meus
pais nos negócios deles — explicou.
— Isso é ótimo, Andrew — disse voltando a chorar.
— Você não está chorando apenas pela minha partida, sei
disso.
— É que eu também vou embora e está todo mundo falando
que é uma coisa ótima para o meu futuro, mas dói deixar tudo
assim…
— E não tem problemas doer, isso só mostra que você se
importa e ama as pessoas que vão ficar. Não se julgue por isso —
pediu com a voz suave.
Sorri limpando os olhos e soltei a respiração que nem
percebia estar prendendo.
— Obrigada por ter defendido, Cameron — agradeci o
olhando.
— Fiz muita coisa por me importar com você, Rebecca, mas
o que fiz foi por ele. Não podia vê-lo ser acusado daquela forma!
— Sei disso, mesmo assim, obrigada.
Ele sorriu concordando.
— Então, acho que isso é uma despedida — afirmei me
levantando e ele fez o mesmo.
— Temporária. Parece que nossas mães estão voltando a ter
amizade, assim como com Eliza, a gente vai se ver em algum dia —
disse com um sorrisinho triste.
— Boa sorte em Cambridge — desejei o abraçando.
— E boa sorte em Stanford — disse dando um beijo no topo
de minha cabeça e nos soltamos.
— Vai quando?
— Pouco antes do fim do mês que vem — explicou. — Até lá,
prometo ajudar Cameron a bater em Kevin e Oliver.
— Andrew, me erra você também — brinquei caminhando até
a porta.
— Antes de partir acerto os valores com você, acredito que
não vai vir mais, certo?
Balancei a cabeça concordando.
— Então, até logo, capitã.
— Até logo, chefe — ele sorriu.
Quando passei pela porta e a fechei, me senti leve e ao
mesmo tempo triste. Não por ter sido clara com Andrew, mas por
saber que ele merecia um amor que eu não podia dar.
Sai da Goldens, feliz por ter trabalho lá, mesmo que por
pouquíssimo tempo, e Cameron estava mesmo me esperando.
E sinto que ele sempre vai me esperar, assim como eu por
ele.
 
Estava um silêncio constrangedor dentro carro e, para
amenizar a tensão, liguei o rádio mesmo sem saber se podia.
Era estranho, optarmos pelo silêncio mesmo cheios de coisas
para falarmos.
Era difícil saber e entender que realmente terminamos tudo, a
tensão não conseguia diminuir a paz que ele me trazia, mas era
desconcertante estar assim.
A lanchonete, que nem era tão longe de nossas casas,
pareceu ficar a milhares de quilômetros de distância. Quando ele
parou o carro, percebi que havíamos chegado.
— Obrigada pela carona — agradeci, me soltando do cinto.
Não o toquei, a vontade era enorme, mas não o fiz.
Ele apenas concordou, saiu do carro e abriu a porta para
mim.
Tentei me segurar o máximo possível para conter os olhos
marejados, quando vi que não conseguiria, decidi que minha outra
alternativa era não o olhar e assim o fiz. Tudo em mim o queria e
tudo em mim sabia que as coisas nunca mais seriam as mesmas.
Não consegui me despedir direito e acredito que nem ele
queria isso.
Entrei em casa, falei com os meus pais e irmãos com a
mesma alegria de sempre, mas quando fechei a porta de meu
quarto, tudo o que me restou foram as lágrimas. Desmarquei o
cinema com Natalie, não estava me aguentando… e, no momento,
não queria ter que aguentar nada.
 
 
Na última sexta-feira de maio, semana passada, Liberty
venceu em todos os projetos, sendo eles: futebol feminino, futebol
americano, competições do grupo de estudos e natação. E, nesse
mesmo dia, foi meu último como representante de Liberty.
A diretora disse que faria as apresentações dos novos
representantes e estávamos todos espalhados pela escola
aguardando acabar a reunião com os professores para irmos até a
quadra de basquete.
Eu estava conseguindo lidar com os meus últimos dias,
alguns eram bons, outros nem tanto. Mesmo demonstrando estar
bem, Calleb, Luce, Natalie e Lana notavam de longe a minha
tristeza.
Uma das coisas que mais me doeram no último dia de
representante, foi quando desejei a Cameron boa sorte no jogo
contra Westson. Foram as únicas palavras diferentes que trocamos
em uma semana e meia.
Eu e ele apenas nos olhávamos de longe e o único momento
em que nos aproximávamos era para ele me desejar um bom dia e
beijar minha testa.
E só… era apenas aquilo.
A cada dia que passava a dificuldade aumentava chegando a
ser inevitável de sentir. Seu olhar era sofrido e acredito que o meu
também era, às vezes ele levantava a mão para me tocar, mas se
afastava, mudamos nossas duplas nas aulas, quando o grupo do
trabalho de história aparecia em casa ele sempre ficava no lugar
mais distante e em todas as noites ele me olhava da janela, se
despedindo com um olhar doído de boa noite.
No último fim de semana ele não foi ao almoço com a minha
família e nem eu participei. Queríamos que tudo continuasse
normal, mas era impossível. Quase duas semanas completas sem o
toque um do outro era torturante, parecia doer mais do que o fato de
que iria embora.
Era a primeira sexta-feira de junho e o time parecia estar
mais em cima de mim do que nunca, não com cantadas, mas com
proteção excessiva, Kevin e Oliver não podiam me olhar que eles
começavam com piadinhas e ameaças contra os dois garotos, podia
pedir para que eles parassem, mas isso nunca acontecia.
Meus dias, depois do término com Cameron, estavam
repletos de questionamentos na escola, como: "Quem terminou com
quem?", "Foi ele né?", "Vocês se amavam e terminaram?", "Não tem
medo de vê-lo com outras garotas?", "Não te incomoda todas as
meninas ficarem em cima dele agora?", "Não tem medo de perdê-lo
para Melissa?".
Às vezes tinha vontade de simplesmente ir embora da escola,
mas ainda precisava terminar esse mês por conta do meu registro
de faltas.
— Oi capitã, como vai? — Ouvi um garoto da natação
questionar assim que sai de meu carro.
— Tudo bem e você… — Tentei me lembrar o nome dele,
mas não consegui — desculpe, não me recordo seu nome.
— É…
— Pode sair Spencer, você não faz o tipo dela — disse Peter
colocando o braço envolto dos meus ombros.
— Peter… — o chamei, mas ele continuou olhando o garoto.
— Vai, ouviu, não? — Josh questionou.
O garoto saiu passando a mão na cabeça e murmurando
alguma coisa.
— Ok, o que está acontecendo? Vocês estão mais protetores
do que antes — disse os olhando e cruzei os braços. — O garoto
nem fez nada, apenas veio me cumprimentar e vocês o expulsaram
daqui.
— Ele faz seu tipo? — Adam questionou.
— É claro que não! Mas isso não significa que vocês podem
afastar as pessoas assim.
— Capitã, agora que está solteira o cuidado tem que ser
dobrado mesmo, você não vê, mas alguns meninos estão loucos
para chegar em você. Todo cuidado é pouco — Peter disse.
— Da mesma forma que a gente também não deixa o capitão
sozinho porque as meninas são umas psicopatas, não vamos deixar
você — Josh completou.
— Cameron quem mandou vocês ficarem assim, não foi? —
questionei desconfiada e eles riram.
— Não, é porque queremos mesmo — Adam disparou.
De longe, encostado em seu carro, Cameron me observava
enquanto conversava com Elliot e Eric.
— Capitã. — Me virei na direção da voz e tive o desprazer de
ver Brooke, a garota que me chamou, seguida por Yuna e Karen,
me afastei dos meninos indo na direção dos três, mas os meninos
pareciam bem atentos. — Gostaria de entregar isso eu mesma em
suas mãos. — Ela sorriu com maldade me entregando o jornal.
— Matéria fresquinha — Yuna disse vitorioso.
— Eu sabia que vocês não iam durar, só não imaginava que
você seria a pessoa que desistiria. Talvez não o amasse tanto
assim, mas fingiu muito bem, devo admitir. O teatro está perdendo
uma ótima atriz — Karen disse sorridente, parecia ter conquistado o
mundo ou algo que quisesse muito, e saiu com seus dois zangões.
Josh encarava a irmã com decepção nos olhos.
Decidi não dizer nada, afinal, não sabia o que estava
acontecendo.
Me encostei em meu carro enquanto Josh, Peter e Adam
conversavam. Eles me encararam, mas não disseram uma só
palavra a mim.
Abri o jornal vendo a primeira matéria:
POR BROOKE MISFIELD
 
Para a tristeza de muitos, e alegria de alguns, o nosso amado
casal real chegou ao fim!
Com muita dor em meu coração, venho trazer essa notícia
que nos faz querer chorar.
O mais impressionante é saber que um relacionamento tão
lindo, puro e sincero, terminou por decisão de nossa amada capitã e
foi o próprio rei de Liberty, nosso maravilhoso — e agora solteiro —
capitão do time quem nos disse isso…
 
Não consegui terminar a leitura, era uma bajulação falsa
demais junto de uma mentira grande demais. Meu primeiro
movimento foi levantar a cabeça e, incrédula, encarei Cameron.
Seus olhos buscavam os meus, mas a raiva era tanta que optei por
abaixar a cabeça novamente, tentando me acalmar.
Meus pensamentos começaram a entrar em conflito. Me
sentia triste, decepcionada e com raiva.
— Rebecca, a diretora está te chamando — Neji avisou e me
olhou com o cenho franzido. — Você está bem? O que aconteceu?
Ele pegou o jornal de minha mão, correu os olhos pelo papel
e voltou a me olhar. Antes que ele pudesse falar algo, eu disse:
— Estou bem sim. — Dei um beijo em sua bochecha e
comecei a caminhar pelo estacionamento.
— Rebecca, eu posso expli…
— Finja que eu já fui embora! Não fale comigo, nem olhe
para mim, por favor, me esquece, Cameron — pedi em voz baixa
olhando no fundo de seus olhos.
Conseguia perceber a dor que ele sentiu ao me ouvir e um fio
de arrependimento percorreu meu corpo, mas era tarde.
Ele deixou que eu passasse, então, caminhei até a diretoria
sentindo cada parte do meu corpo doer e meu coração se quebrar.
Queria gritar, correr ou simplesmente arrumar minhas coisas
e ir logo para Stanford. Acabar com tudo isso de uma vez! Estava
exausta de Liberty, passei cada dia dessas semanas ouvindo
perguntas sobre mim e Cameron e o vendo receber abraços —
forçados — de outras garotas. E agora, o coitadinho receberia ainda
mais consolo de todas elas.
Não conseguia mais me entender, estava com ciúmes, com
raiva dele, mas não conseguia simplesmente deixar de amá-lo. Nem
mesmo essa raiva que estava sentindo era capaz de acabar com o
meu amor por ele, mas ainda assim, não era justo!
Não que eu não tivesse culpa de nada, não era santa, mas
jogar tudo em cima de mim? Não! Não era possível! Ele sabia da
verdade.
— Finalmente te achei! — exclamou a diretora quando virei à
direita. — Pensei em dizer algo, mas acho melhor mostrar — disse
caminhando em minha direção e me entregou um envelope.
O abri tirando de dentro um documento, era um e-mail onde
dizia:
 
georgia@stanford.com;

sex, 05/06/2020, 06:45 a.m.


Assunto: Aprovação de Proposta
 
Prezada Diretora López,
Com muita felicidade venho por meio deste comunicar que a
proposta feita pela aluna Rebecca Nogueira Malik, matriculada em
Stanford, foi aceita pelo comitê gestor de projetos.
Além dos projetos de colaboração com a entrada dos
estudantes que participam do time futebol americano, time feminino
de futebol, natação e grupo de estudos, acrescentamos, também, a
dança como um projeto a ser investido. Assim, líderes de torcida e
quaisquer outros projetos de danças, seja apresentações de solo ou
coletivas como em peças musicais, poderão ter sua chance de
entrar em Stanford através de uma prova menos dificultosa.
Agradecemos a colaboração da aluna especial que Liberty
nos apresentou, é muito importante investirmos nas artes e talentos
dos alunos.
Te vejo em breve.
Cordialmente,
GEÓRGIA LACERDA
DIRETORA EXECUTIVA
Universidade de Stanford
 
Guardei novamente o documento e a olhei animada.
Consegui esquecer por segundos tudo o que me deixava mal e
pude sentir a felicidade me contagiando.
— Vou informar os alunos hoje na reunião. Estou muito feliz
por terem aceitado sua proposta na última vez que fomos a uma
reunião com eles — disse admirada e encarou o relógio. — Te vejo
em breve.
A proposta que fiz há duas semanas, antes de todo o
ocorrido na mansão de Cameron, foi aceita, não podia me sentir
mais feliz. Achava que não daria certo. Quando os diretores
disseram sobre o projeto inteligência, de imediato tive a ideia para
que outras coisas pudessem ter o mesmo privilégio de entrar em
Stanford com uma prova mais fácil se algum olheiro gostasse do
desenvolvimento da pessoa no projeto. A academia de artes da
universidade pareceu ter gostado daquela ideia, que pensei
juntamente com Neji e lhe dei os créditos durante a reunião.
Depois que a diretora saiu, caminhei até o campo de futebol
vazio e me sentei em um dos bancos. Minha cabeça estava
explodindo de dor e de pensamentos, milhares de pensamentos…
Tirei meus óculos e passei a mão no rosto, peguei minha
garrafinha de água e tomei um gole. Ficar sentada não resolveria
nada, entretanto, não queria falar com Cameron agora, e nem pelo
resto do dia de preferência.
Quando o sinal de aviso para ir a quadra de basquete tocou,
permaneci sentada. Eu entregaria tudo agora, o Fênix, o cargo e a
responsabilidade e após isso, era só esperar o momento de ir
embora.
Me levantei e caminhei até a quadra, que já estava cheia.
Provavelmente, fui a última a chegar.
— Onde estava? — a professora Horan questionou, mas não
me deixou responder. — Venha, a diretora quer você ao lado dela.
Deixe sua bolsa com alguém — ordenou antes que eu falasse
qualquer coisa.
A primeira pessoa que vi foi Lana com Peter que estava junto
do time. Caminhei até ela vendo Cameron me encarar e, não sei ao
certo como explicar, ignorei os olhares dele e me voltei a ela.
— Onde você estava? — questionou preocupada.
— Ficamos que nem loucos te procurando — Peter
completou.
Antes de conseguir responder, metade do time estava me
encarando e esperando uma resposta.
— Estava falando com a diretora, depois fui para o campo —
expliquei e olhei Lana. — Pode segurar minha bolsa? A diretora me
quer ao lado dela.
Lana concordou. Entreguei minha bolsa e me sentei ao lado
da professora Horan, que guardou meu lugar.
— Bom dia, alunos de Liberty… — começou a diretora. —
Nossa aluna Rebecca Malik passou a ser uma universitária de
Stanford após eu entregar o formulário aos diretores da
universidade e continua em Liberty apenas para registro de sua
presença. É uma grande felicidade para nós sabermos que tivemos
uma ótima aluna como ela. Aplaudam nossa aluna nota cem!
Todos aplaudiram enquanto eu agradecia silenciosamente
esbanjando um sorriso animado, porém falso. Em seguida foi a vez
de falar sobre Neji também ir para Stanford e foi recebido com
aplausos tão barulhentos quanto na minha vez.
Quando todos se acalmaram, ela voltou a falar e sua voz
ficou longe. Sentia mais olhares em mim hoje do que nos outros
meses. Alguns cochichavam, outros olhavam disfarçadamente o
jornal e me encaravam incrédulos; Karen falava com Yuna com um
sorrisinho nos lábios e os olhos cravados em mim; Natalie que
estava tirando algumas fotos, me olhou e vi seus lábios se moverem
silenciosamente perguntando: “o que aconteceu?”, e eu sorri para
ela mostrando que não era nada.
—… na semana passada tivemos uma vitória contra o time
de Westson, e na semana que vem Liberty competirá contra Rivel…
— a diretora continuou.
Meus olhos seguiram uma direção na qual eu não desejava.
Me deparei com o olhar firme de Cameron e pensei em desviar o
olhar, mas não o fiz. O encarei com a mesma intensidade, com um
pequeno toque de pouco caso e ele balançou a cabeça
negativamente como se quisesse falar milhares de coisas.
—… e hoje, quero chamar nossa universitária para anunciar
os novos representantes de Liberty.
Olhei Neji e ele riu de mim, com certeza tinha armado aquilo
junto com a diretora e pelas minhas costas.
Mesmo surpresa, me levantei e caminhei até o palanque
onde estava a diretora.
— Se quiser falar algumas palavras, querida, fique à vontade
— disse em meu ouvido.
Todos me olhavam atentamente esperando por algo, ainda
mais do que antes.
— Antes de passar o cargo, quero agradecer o tempo que
passei aqui e a cada representante dos projetos que ajudaram e
facilitaram as coisas tanto para mim, quanto para Neji. Confesso
que deixar Liberty não é tão fácil quanto parece, mas são
necessários alguns finais para novos começos... — disse a mim
mesma. — Acredito que as pessoas que vão estar na frente agora
vão continuar sendo ótimos representantes.

“Quando a diretora me perguntou quem eu acreditava ser uma boa


pessoa para representante não consegui pensar em alguém melhor
que ela. Tenho fé de que seu jeito perfeccionista, sua força de
vontade em correr atrás do que quer e tentar resolver as coisas será
muito bom para Liberty”.

“E não vejo dupla melhor para fazer isso dar certo. Além dele ser
uma pessoa que também vai atrás de tudo e gosta das coisas
resolvidas, pode também ser um certo termômetro entre eles”.
Olhei o papel a minha frente com os nomes dos novos
representantes.
— Sei que farão um ótimo trabalho. Deixo tudo em suas
mãos Melissa Parker — ela me olhou surpresa e seus olhos
brilharam — e Samuel Hale — ele me olhou espantado e incrédulo.
Era uma combinação estranha, mas apoiei Neji em escolhê-
lo.
Houve uma explosão de aplausos e quando Melissa se
aproximou, estava radiante. Parecia surpresa e sem acreditar que
podia ser escolhida por alguém.
— Você… você me escolheu? — questionou em voz baixa e
abrindo um sorriso.
— Sim, não tenho dúvidas de que você é perfeita para isso!
— Ela me abraçou sorrindo.
— Vocês perderam a noção comigo, não foi? — Samuel
disse baixinho.
— Você que lute — rebati o vendo rir.
— Muito obrigada, Rebecca.
Após o agradecimento da diretora, voltei ao meu lugar vendo
Karen, Yuna, Kristen e Paloma bufarem me olhando com ódio. Foi
então que confirmei ter feito a escolha perfeita com Melissa.
Fomos dispensados após a diretora terminar de falar e me
senti perdida quando vi todos irem para os seus devidos projetos,
não existia um aluno se quer que não participasse de algum, seja
nos bastidores ou a frente de algo.
Eu não participava de nenhum pois ser uma universitária de
Stanford me proibia daquilo, não era representante de nada e todos
os meus amigos estavam fazendo suas tarefas, não podia ficar em
cima e atrapalhar a todos.
Estava decidida a ir para a casa ver se tia Eliza precisava de
algo para a festa surpresa de Natalie — considerando que seu
aniversário seria amanhã — e só retornar na segunda-feira de aula,
quando senti alguém tocando suavemente minha mão.
— Capitã — ouvi a voz de Melissa —, como pôde confiar em
mim assim?
— Eu faço o que sinto que devo fazer. Você é perfeita para
isso Melissa, sempre achei que era você a certa para fazer isso e
não eu, mas tem toda essa idiotice de prova e nota cem como se
isso pudessem definir a inteligência e responsabilidade de alguém.
— Você é louca, Rebecca, você era perfeita e estava fazendo
um ótimo trabalho — rebateu me fazendo sorrir.
— E agora você vai continuar fazendo um ótimo trabalho!
— Não sem você — franzi o cenho —, Neji vai ajudar Samuel
com as coisas que ele fazia e eu vou precisar da sua ajuda, sério,
preciso mesmo. Como vou conciliar os ensaios das líderes com
tudo? Me ajuda?
— Com toda a certeza! — Ela me abraçou de forma tão
espontânea que me fez sorrir.
— Obrigada por confiar em mim e… — a olhei — me
escolher.
— Não precisa agradecer, vem, vou pegar a blusa de
representante no meu carro para te entregar.
Ela sorriu começando a caminhar ao meu lado.
— Quando for o jogo dos meninos, você pode pedir para o
Samuel fazer a anotações, eu nunca conseguia ficar parada quando
via alguém chegando perto do Cameron com intenção de machucá-
lo — rimos —, então Neji quem fazia as anotações. Como você vai
dançar com as líderes, fale com ele para anotar as coisas.
— É tão estranho falar com Samuel depois ter transado com
ele — disparou e quando a olhei surpresa, ela levou a mão até a
boca como se tivesse se arrependido de suas palavras.
— Tudo bem, não sei de nada — afirmei me rendendo.
— Foi estranho, mas foi incrivelmente bom. Ele é engraçado,
é tímido, mas na cama não — me admirei com ela falando tudo para
mim, mas parecia não ter medo e nem estava desconfortável —… é
maconheiro e gostoso. O que eu faço? Toda vez que olhar para ele
vou lembrar dele sem roupa.
— Aí se ele concordar você tira a roupa dele — brinquei e ela
deu um tapa em meu ombro.
— Rebecca! — repreendeu enquanto eu gargalhava.
— Admito que para mim uma relação assim é diferente, por
mais que meus amigos transem logo no primeiro encontro ou em
uma festa, não sei como lidar porque nunca fiz. Mas você o quer de
novo?
— Não, credo, ele é um nerd!
— E, credo, você é uma líder de torcida! — rebati com tom
enojado.
— Às vezes eu tenho vontade de te bater, sabia? — disse
rindo.
— De qualquer forma, você vai precisar falar bastante com
ele.
— Ótimo, mal posso esperar — ela fingiu estar desanimada,
mas havia algo em sua voz que a entregava.
— Me engana que eu gosto — rebati, vendo-a rir
envergonhada.
Peguei a camiseta de representante e entreguei a ela, em
seguida travei o carro.
— Ele é amigo de Luce — comentou enquanto retornávamos
para a escola. — Ela vai ficar tão chateada se souber…
— E vai ficar ainda mais se souber por outra pessoa que não
seja você, acredito — comentei e ela abaixou o olhar.
— Sei disso, mas é difícil contar assim, sabe?
— Se preocupe com as coisas de agora e depois conte a ela
— pedi quando passamos por Cameron, Peter, Josh e Elliot. Tentei
ignorar os olhares de Cameron, mas era inevitável.
— Certo. Vou ir ver se a blusa fica boa em mim.
Ela entrou no banheiro e eu me dirigi até meu armário para
pegar a prancheta que usava nas anotações de representante.
— Podem ir na frente. — Ouvi Cameron dizer.
Senti um frio na barriga quando os meninos passaram com
sorrisinhos bobos nos rostos e fizeram um sinal de soldado para
mim, deixando o corredor apenas comigo e Cameron.
— Rebecca.
— Cameron, não. Não quero conversar — disse fechando o
armário e começando a caminhar.
— Por que você tem que ser tão difícil? — questionou,
parando em minha frente, era nítido que ele tentava não me tocar.
— Que bom que não precisa lidar mais comigo, afinal, eu
quem terminei o namoro — rebati desviando dele.
— Me escuta pelo menos, Malik! — exigiu, o ignorei e
continuei andando. — Rebecca! Mas que inferno! — O ouvi xingar.
Em questão de segundos seus passos se apressaram e ele
me prendeu contra a parede de forma que minhas costas bateram
contra ela.
O toque dele contra minha pela trouxe uma carga elétrica tão
forte que não consegui o olhar, sabia que se olhasse toda minha
raiva sumiria e aquilo não podia acontecer. Mas, mesmo tentando
me manter fria, meu corpo todo estava arrepiado e quente, e seus
olhos o percorrendo deixava claro que ele tinha percebido.
— Não quero falar com você — disse desviando o olhar e
tentando afastá-lo, o empurrando pela cintura.
Ele estremeceu um pouco, precisando de mim tanto quanto
eu precisava dele.
— Você com raiva fica impossível de parar! — disse com um
certo tom de brincadeira.
Tentei controlar, mas com suas mãos em minha cintura,
minha respiração começou a ficar acelerada e meu coração
disparado.
— Acha mesmo que faria algo para te deixar mal? Para te
prejudicar? — questionou com tom sofrido, como se aquilo o
ofendesse.
Ele acariciou minha bochecha e eu tive vontade de chorar…
precisava tanto dele que era difícil disfarçar.
— Me culpar de algo parece ser uma coisa para me deixar
mal sim, Styles. Eu e você sabemos o que aconteceu, sei que não
estou totalmente sem culpa nisso tudo, mas você sabe da verdade
— disparei o olhando e quando terminei de falar, desviei novamente
o olhar e tentei me soltar dele.
Ouvimos passos leves pelo corredor e Cameron me
empurrou para dentro de um laboratório vazio onde a única
claridade era a que entrava pelas janelas.
— Me admira você ainda desconfiar do meu amor e lealdade
— disse me deixando sem fala. — Eu jamais, Rebecca, jamais
gostaria de fazer algo para te deixar chateada e me dói por inteiro
saber que o fiz, mas não tive escolhas.
Seu corpo ainda estava colado no meu, consegui o olhar e
seus olhos pareciam buscar os meus mais do que qualquer outra
vez.
— Do que você está falando? — questionei em voz baixa.
— Você deve ter ouvido os comentários que estavam fazendo
sobre eu ter terminado por falta de sexo — começou sem rodeios,
ele se afastou de mim e passou a mão em uma das cadeiras que
tinha na sala, como se estivesse pensando em tudo. — E as coisas
só estavam piorando, a cada dia que passava eles estavam falando
mais e mais sobre, não podia deixar que essa merda toda
continuasse — disse se virando e me encarando —, então dei um
jeito.
— Dizendo que foi eu quem terminei?
— Sim. Yuna e Brooke queriam uma matéria, estavam
dispostos a escrever as opções para termos terminado e deixar que
as pessoas votassem, dentre elas estaria eu ter terminado por você
não ter me segurando sem sexo ou você ter terminado por pensar
no seu futuro.
— Cameron, parece até que eu sou uma grande egoísta que
só pensou em mim! — disparei com raiva.
— Então era melhor eu deixar todo mundo cogitando nosso
término ter sido por você não me segurar? Não entende o que fiz?
Você não saiu como egoísta, saiu como a garota que pensou no seu
futuro, leu a matéria toda? Acredito que não, mas deixei claro que
não foi por falta de amor, foi por um motivo maior e que a gente
sabe que no fim vamos nos reencontrar. Caso contrário, você sairia
como a garota que não consegue segurar homem e eu como o
garoto que só queria tirar sua virgindade, mas não, você vai embora
de cabeça erguida como alguém que pensou no futuro.
Engoli em seco. A primeira opção parecia horrível para
ambos os lados.
Abaixei a cabeça assimilando tudo e ouvi seus passos,
quando levantei os olhos, ele estava próximo de mim.
— Como você mesma disse, sabemos o que aconteceu e eu
tenho total noção de que foi eu quem terminei, só que não podia
deixar todos falando aquelas coisas de você e fiz Yuna prometer
que não voltaria mais nesse assunto ou ele vai ver algo que não vai
gostar nem um pouco — afirmou passando os dedos em meu rosto.
— Sei que não concorda, mas agora você está ainda mais livre
para...
— Você não vê o que está bem na sua cara! — Ele me olhou
confuso. — Eu nunca estive presa porque seu amor me faz sentir
livre. Acha mesmo que se eu me sentisse presa continuaria com
esse relacionamento? Claro que não. Não tem do que me libertar,
Cameron — afirmei. — Você podia ao menos ter me contado sobre
esse negócio do jornal.
Ele riu fraco.
— Não tinha como e não quero nem que saibam que estou
falando com você agora.
— Estão em cima de você tanto quanto estão de mim? — Ele
concordou.
— Demais. Minha mãe não para de perguntar todo dia como
estou, quase não me deixa sozinho quando estamos em casa
porque acha que vou fugir. Os meninos do time toda hora querem
fazer algo e na escola as meninas estão se jogando para cima de
mim, minha irmã tá um saco, todo mundo ligado em mim e não tinha
como falar com você — achei graça de seu jeito de falar.
— Eu sinto muito — pedi — e por ter te culpado e duvidado
de você também. — Forcei um sorriso. — Comigo está na mesma.
O time está me protegendo ainda mais. — O olhei. — Graças a
você. Admito que, meus pais acham melhor estarmos separados,
papai tinha deixado claro isso e agora mamãe também concorda.
Disse que se ficarmos acostumados assim, minha ida a Stanford por
ser um pouquinho menos dolorosa — quando senti suas carícias
novamente em meu rosto, meu corpo todo se arrepiou. — Mas está
doendo, Cameron — decidi admitir, não queria mais ficar longe
dele… e nem sabia se aguentava. — Não aguento mais ficar assim.
Dei um passo para frente e ele para trás.
— Eu preciso de você, muito, muito mesmo. Mas… não
quero te machucar outra vez — disse com um tom doloroso e sem
me olhar.
— E você não vai — afirmei levantando seu rosto. — Tenho
certeza disso.
Acariciei suas bochechas colando nossas testas e o vendo
respirar fundo. Selei nossos lábios e ele sorriu colocando a mão em
minha nuca.
Sentia que seu toque ainda era receoso e dei passos para
frente o fazendo ir para trás, quando ele parou o empurrei para se
sentar na cadeira.
Não me importava com nada, queria beijá-lo nem que fosse
por uma última vez. Pude ver todos os seus medos se esvaindo e
um sorriso malicioso e desejoso se formar em seus lábios enquanto
seus olhos brilhavam me encarando.
Suas mãos puxaram minha cintura com firmeza me fazendo
sentar em seu colo com uma perna de cada lado e, então, me beijou
com voracidade.
Quando senti sua mão em minha nuca, empurrei seu braço
para cima fazendo seus dedos se afundarem em meus cabelos e os
puxarem com firmeza.
De início, era um beijo de saudade, ambos sentindo uma falta
avassaladora dos lábios um do outro, mas se tornou algo mais.
Além do perigo de sermos pegos dentro do laboratório, tinha
a adrenalina que percorria nossos corpos e o desejo que nos
dominava, era quase impossível de conter.
Cameron me puxava contra seu peitoral com a mão firme em
minhas costas e sua mão desocupada apertava minhas coxas
enquanto nossas línguas se massageavam lentamente.
Seu braço envolveu minha cintura na medida em que com a
mão desocupada ele voltava a puxar meu cabelo e eu deslizei as
unhas em seus braços com mais força do que as outras vezes em
que o arranhava.
— Senti tanto a sua falta, tentei dizer a mim mesmo que se
continuasse longe ficaria menor minha saudade, mas não… meu
corpo precisa do seu, meu coração precisa de você — sussurrou
beijando meu pescoço e em seguida o apertou.
Sorri arranhando sua nuca, não queria dizer nada, mesmo
sentindo o mesmo que ele.
Voltamos a nos beijar e o tempo parecia ter parado.
Suas mãos me tocavam e me apertavam com precisão, desci
meus lábios lentamente em seu pescoço sentindo sua pele macia e
seu cheiro estonteante, suas mãos, porém, começaram a fraquejar
ao ponto em que sua respiração ficou descompassada e ofegante.
— Rebecca… — murmurou com a voz rouca, quase que em
um gemido baixo, quando me movi um pouco para frente e ele
estremeceu.
Quando o senti, me afastei um pouco, entendendo o motivo
dele estar tão fraco, sensível e entregue. Meu corpo todo se
arrepiou novamente e minhas bochechas queimaram.
— Me desculpa — disse saindo de seu colo e ele estava
vermelho, mas não de vergonha como eu. — Acho melhor eu… é…
sair e te dar espaço, não?
Ele riu baixo passando as mãos no rosto e apoiando os
cotovelos na bancada.
— Por mais que eu não queira te deixar nunca, acho melhor
também.
— Certo — disse um pouco sem jeito, queria beijá-lo antes de
sair, mas ele estava concentrado em controlar a respiração e talvez
controlar a si próprio.
Verifiquei atentamente se havia alguém no corredor e para a
minha felicidade estava vazio. Corri para o banheiro feminino e me
deparei com a figura mais bagunçada possível de mim mesma.
Sorri sozinha e feliz, estava radiante e precisava me
controlar.
Se soubessem seria pior, mais notícias para o jornal, meus
pais odiariam no momento, meus amigos me encheriam de
perguntas e seria um caos, faltavam semanas para as férias de
verão e todos iriam se achar no direito de se meterem em nossas
vidas. Não estava preparada para isso e para uma porção de coisas
que viriam juntas, e sabia que ele também não estava.
Depois de usar o banheiro, passar uma água no rosto e
acalmar todos os nervosos de meu corpo, sai indo até uma máquina
de refrigerante e pegando uma latinha de coca cola.
Meu corpo ainda estava eufórico, quase não conseguia
disfarçar o sorriso em meu rosto, mas um pensamento veio em
minha mente e tudo mudou.
— Achei você! — Ouvi a voz de Natalie.
E por algum motivo um frio se passou em meu estômago,
sentia-me flagrada mesmo não fazendo nada, pelo menos não
agora.
Me virei lentamente em sua direção torcendo para que não
estivesse estampado em minha cara que acabei de beijar seu irmão.
— Oi, amiga — a olhei abrindo minha coca.
— Onde estava? — questionou se aproximando.
Gelei tomando um gole de coca pensando em uma desculpa.
— No estacionamento recarregando minhas energias —
menti.
— Imagino. — Ela entrelaçou o braço no meu me fazendo
caminhar junto. — Hoje não ouvi tantas coisas, acho que pelo jornal.
Lana estava chorando achando que você ficaria brava com ela por
ter deixado sair a matéria de Brooke, mas ela só queria que
parassem de falar o que estavam falando de você.
— Às vezes acho que não ouvi nem metade do que falam —
admiti e ela concordou.
— Por que acha que o time está tão cuidadoso com você?
Não é apenas pelos meninos, mas sim por eles conseguirem fazer
tanto barulho que você nem consegue escutar os comentários —
disse enojada. — Não é como se a escola toda falasse de vocês,
mas os fofoqueiros falam sobre a intimidade de você e Cam como
se fosse um assunto no qual eles podem falar, sério, era tão
nojento. Pelo menos hoje, depois do jornal, isso acabou porque
agora sabem a verdade.
A verdade…
— Em breve nada disso vai importar, não quero perder meu
tempo. O que vai fazer amanhã no seu aniversário? — questionei
caminhando até às arquibancadas do campo de futebol onde o
pessoal estava.
— Elliot vai me levar para passear e depois não sei, hoje vão
fazer a noite das garotas com o time, estávamos te esperando para
falar sobre — explicou.
— Olha só a bonita apareceu — Calleb disse com tom
irônico.
— Onde estava? — Luce indagou.
— Buscando minha sanidade mental no estacionamento —
respondi a vendo rir.
Lana me olhou sem saber se devia ou não falar comigo, eu
me joguei em cima dela e a abracei.
— Não estou brava — afirmei beijando seu rosto e ela me
abraçou.
— Está muito animadinha, dona Rebecca — Calleb disse me
fazendo rir.
— Então, onde vai ser a noite das garotas com o time? —
Mudei de assunto.
Me sentei entre as pernas de Lana e ela me abraçou pelos
ombros.
— Na nova mansão dos Styles — disse Lana.
Imediatamente olhei Natalie em busca de respostas.
— É… fiquei sabendo ontem que minha família vai se mudar,
é um pouco longe e bem reservado. Ainda não fui lá, vou hoje —
explicou animada.
— Cabe todo mundo? Porque metade do time vai — Calleb
disse.
— Pela foto é enorme — Natalie se virou para os meninos do
time.
Cameron tinha acabado de chegar no campo e estava
dançando animadamente com as líderes. Começamos a rir quando
Elliot, Peter e Josh se juntaram a ele imitando as meninas dançando
Problem da Ariana Grande. Melissa continuou dançando mesmo
caindo na gargalhada e Natalie tirou algumas fotos daquela cena.
Cameron estava irradiante, contente e iluminado. A felicidade dele
transparecia de uma forma que todos sorriam com ele, era incrível e
tão natural que chegava a ser lindo de ver.
Ele estava no centro, mesmo atrás das líderes, todos o
olhavam.
— Nossa, ele está feliz como nunca — disse Luce.
— Tá, o que você fez? — Natalie me encarou e todos me
olharam, meu sorriso se desfez. — Ele estava um poço de angústia,
desanimado e meio perdido, e agora… — ela deu uma pausa e
paramos para o olhar novamente.
Ele deu um mortal para trás e correu para ir falar com o
treinador, sem deixar o sorriso abandonar seu rosto.
— Não fiz nada, nem com ele estou conversando — disse
friamente.
Natalie me olhou desconfiada.
— CAMERON! — Ela gritou quando ele terminou de falar
com o treinador.
Ele se aproximou calmamente e quando chegou até nós,
percebi seus braços arranhados e até mesmo na nuca.
Calleb e Luce me olharam em busca de alguma reação
minha e eu desviei rapidamente os olhos dos arranhados que deixei
em Cameron.
Engoli em seco quando Natalie me encarou, em seguida o
encarou.
— Quem fez isso? — Ela questionou.
Claramente não era essa a pergunta que estava pronta para
fazer.
Precisava pensar em algo rápido. Não nos olhamos, mas
ambos queríamos rir. Por dentro eu estava tão feliz que podia
explodir de alegria, por fora precisava fingir que tais arranhados não
eram de meu conhecimento.
— Isso não te diz respeito — rebateu Cameron com um tom
frio.
Era minha deixa.
— Licença, acho que isso é demais para mim — afirmei me
levantando e puxando minha bolsa.
— Nossa Cameron, você é ridículo! — Lana disparou.
— Ela quem terminou, achou que eu ia ficar esperando? —
Rebateu e me olhou, revirei os olhos e seus lábios tremeram
querendo rir.
— Vai se ferrar, Styles! — Disparei o vendo passar a língua
nos lábios e tentando conter o sorriso. — Me avise na hora de ir
para sua casa — disse me voltando para Natalie e a abraçando.
— Eu sinto muito, me desculpe — ela suplicou.
— Não se preocupe, você não tem culpa de nada e nunca
deixei que ele acabasse com a minha diversão, não vai ser agora
que vou deixar — beijei o rosto dela. — Ele que lute! — Sussurrei
encarando Cameron por cima dos ombros de Natalie.
Ela riu alto na medida que ele mordeu os lábios me olhando.
— Tchau gente, vejo vocês depois.
Me despedi, sai andando rapidamente e soltei a respiração
quando entrei no carro.
Eu sabia o que eu e ele éramos agora?  Não. Eu me
importava com aquilo? Também não.

 
 

 
Sem dúvidas eu não imaginava que estaríamos daquela
forma. 
Tudo o que aconteceu de repente não tinha tamanha
importância devido a saudade que eu sentia dela… e que ela sentia
de mim.
Pensava todos os dias em tê-la machucado, mas, depois de
conversar com os pastores da igreja que Rebecca raramente
frequentava, que eram psicólogos profissionais, e falar sobre tudo o
que me fazia ter medo de perdê-la, as coisas começaram a se
clarear para mim.
Sabia que não a machucaria outra vez. Porém, nosso término
tinha tomado uma proporção maior. Não estávamos separados
porque eu, sem consciência alguma, a machuquei. Estávamos
separados pelo que viria em breve…
Mas sabíamos que nem mesmo a distância era capaz de
acabar com o sentimento. Eu era dela, qualquer um sabia disso.
Tive medo durante esses dias de só eu ainda sentir algo e depois do
que aconteceu dentro do laboratório, aquilo já não fazia mais
sentido. Ela ainda era minha e sempre seria.
Não podíamos simplesmente voltar diante de toda a situação,
porém. Isso envolveria amigos, escola, nossos pais e irmãos, eu
não me importava, mas sabia que ela sim.
Natalie, ontem, chorou conversando com Elliot sobre não
querer que eu e Rebecca voltássemos, pois, mesmo sofrendo,
estávamos  conseguindo  seguir em frente. Minha mãe pensava a
mesma coisa e eu me odiaria fazê-las sofrer por minha causa outra
vez.
Quando Rebecca conseguiu disfarçar que não estávamos
juntos, me senti mais tranquilo. Ela pensava da mesma forma que
eu.
Admito que não sabia mais o que éramos, mas não
precisávamos definir nada agora.
 
 Los Angeles, Estados Unidos,
Sexta-feira, 18:56.
 
— Eu busco, não há problemas. Não é bom que ela venha
sozinha de carro para cá, não somos mais vizinhos, nossa casa está
longe e é perigoso — afirmei.
— Ela pode vir com os seguranças de tio Owen — Natalie
rebateu.
— E ela virá — papai interveio —, mas conhecendo Owen ele
acharia melhor que ela viesse com alguém daqui também. Concordo
em Cameron ir buscá-la — afirmou.
Sorri discretamente o olhando e ele apenas fez um
movimento rápido e positivo com a cabeça. Nunca tive a aprovação
dele para nada e vê-lo tão orgulhoso de mim era ótimo, um
sentimento de missão cumprida.
— Pai, ele ficou com outra garota hoje. Acha certo Rebecca
vir com ele depois isso? — Natalie me dedurou, sem se importar
comigo ainda estar presente na conversa.
Meus pais me olharam incrédulos.
— Natalie, você está mais incomodada que a própria
Rebecca — retruquei.
— Então você realmente ficou com outra pessoa? — Mamãe
questionou tentando não demonstrar sua decepção.
Não a respondi, papai apenas me encarou desconfiado, mas
não disse nada. Lancei um olhar para ele e ele entendeu que não
tinha outra pessoa. Gostava daquela conexão que estávamos
começando a ter. 
Quando estava pronto para falar, meu celular tocou. Era ela.
Meu coração disparou e tentei me manter o mais neutro
possível. A atendi na frente de todos.
— Estávamos falando de você agora — disse para que ela
entendesse que eu estava acompanhado.
— Tentei ligar para Natalie, mas a bonita não me atende  —
ela disse e eu ouvi sua risada. — Escute, Isaac está me implorando
para você vir aqui, disse que quer te mostrar uma coisa que
aprendeu no Jiu-jitsu. Pensei que pudesse me buscar e aproveitar
para vê-lo antes que ele viaje com meus pais  — olhei Natalie com
um sorrisinho vitorioso.
Ela tomou o celular de minha mão e colocou no viva voz.
— Mas você não está chateada com ele? — Questionou e
Rebecca riu.
—  Oh céus, meus dias estão péssimos porque meu ex-
namorado beijou outra pessoa  — ironizou, ex-namorado… por que
aquilo me incomodou tanto? — Disse que não ia envolver a família e
não vou. Não somos crianças então não é momento de ficar
chateada com uma coisa que eu sabia que iria acontecer.
Por algum motivo, olhei meu pai e ele estava passando a
mão na barba segurando um sorriso que lutava para sair. Minha
mãe parecia confusa e ao mesmo tempo orgulhosa de nossa
"maturidade".  Peguei o celular novamente, tirei do viva voz e sai da
sala.
— Já vou, meu amor.
— Não sou mais seu amor — ela rebateu rindo.
— É sim, vai sempre ser. Chego aí em dois minutos.
Me despedi e entrei no carro dando partida com rapidez.
Passei pela minha antiga casa e a encarei. Depois de tantos
anos morando aqui, finalmente nos mudamos. Enquanto estávamos
na escola, os funcionários levaram tudo para nossa nova mansão.
Da casa para a escola eram quarenta minutos de carro, como
a casa de Rebecca era caminho para Liberty, continuaria levando
Isaac para a escola dele.
Me deparei com a casa de Rebecca e todas as luzes
apagadas, com apenas as luzes da sala e de seu quarto acessas.
Quatro seguranças estavam de vigia. 
— Rebecca está? — Questionei o segurança Johnson.
— Sim, disse para deixarmos o senhor entrar quando
chegasse — explicou apontando para a porta. 
Não entendia o que estava acontecendo, mas entrei e subi
até seu quarto.
Estava tão fascinado que as palavras sumiram de minha
boca.
Há quanto tempo não a via se arrumando de frente para o
espelho? Tão linda, tão delicada — mesmo sendo bruta as vezes
—, tão perfeita… era a minha garota.
Meu coração disparou quando ela se virou para a porta, mas
recordei-me do outro motivo que me fez vir aqui.
— Isaac? — Questionei caminhando até ela.
— Já foi.
— Mas…
— Foi uma desculpa para você vir me buscar — sorri a
puxando para um selinho. 
Amava seus lábios, amava senti-la.
O que era para ser apenas um selinho, se tornou em um beijo
carregado de ternura e desejo.
— Já sei que o vou dar de presente para Natalie — disse
após morder calmamente seu lábio.
— O quê? — Ela me olhou curiosa e com os braços envoltos
de meu pescoço.
— Você de cunhada — ela gargalhou acariciando meus
cabelos e eu apertei sua cintura.
— Talvez no próximo aniversário.
— Por mim poderia ser em todos — disse selando nossos
lábios.
A pressionei contra a parede de seu quarto sem parar o beijo.
Eu só queria nunca mais ter que me afastar dela, de seus lábios, de
seu toque, de seu cheiro. Rebecca era tudo o que eu precisava.
— Queria te contar uma coisa — disse a puxando para se
sentar em sua cama, em seguida me sentei ao seu lado.
— Aconteceu alguma coisa? — Questionou preocupada e eu
sorri acariciando sua mão.
— No domingo passado eu fui a igreja — comecei
entrelaçando nossos dedos, amava fazer isso — e conversei com os
pastores, você não estava nesse dia. Falei tudo a eles no particular,
pensei que eles sendo psicólogos poderiam me ajudar, inclusive
falei de coisas do passado até o momento em que te machuquei e
eles não me julgaram de nada, me aconselharam tão bem que sai
da igreja como se um peso enorme tivesse saído das minhas
costas. Percebi que fiz errado com você, não parei para te ouvir e
simplesmente tomei minhas decisões, sendo que você sempre foi o
centro das minhas escolhas, quero te pedir perdão por ter feito o
que fiz…
Ela sorriu beijando minhas mãos.
— Eu entendi que você tomou atitudes em meio ao
desespero, ficaria triste se não percebesse isso e voltasse a repeti-
los, mas eu também errei… — disse um pouco sem jeito —
desconfiei de você e do seu amor por mim, me perdoa, fiquei com
tanta raiva que ficar contra você pareceu melhor do que me deixar
ter um coração quebrado, isso não justifica eu sei. Me perdoa?
Beijei sua testa.
— Tudo bem, mas nunca mais desconfie de mim, muito
menos do meu amor, nunca te dei motivos para isso — os olhos
dela se encheram d'água enquanto ela concordava e aquilo apertou
meu coração. — Ei, não estou brigando minha princesa — disse a
abraçando com cuidado.
— Eu sei, só estou mais sensível que o normal ultimamente.
Ficamos em silêncio por instantes e eu limpei suas
bochechas.
— Fiz uma coisa para Natalie — disse se levantando e indo
até seu guarda-roupa, tirou de lá o que parecia ser uma caderneta
rosa e grande. — Mas acho muito simples — disse desanimada e se
sentou novamente. 
— Posso? — Perguntei indicando que pegaria a caderneta de
suas mãos e ela concordou me entregando.
Comecei a ver cada folha e sorrindo ao passá-las. Tinha fotos
delas desde pequenas até agora e em cada folha tinha algumas
coisas escritas, como frases de incentivo e declarações de amor de
amizade. 
— São cento e cinquenta e duas páginas, algumas estão sem
fotos porque não achei, mas aqui — ela apontou para o cabeçalho
da página onde estava escrito dia 59 — são para ela ler em cada dia
que eu estiver longe. Meu tempo em Stanford que era para eu estar
com ela são exatamente o número de páginas que fiz.
— Amor… isso é incrível! Como pode achar que é simples?
Deve ter dado um trabalho enorme — admirei ainda fascinado pela
caderneta.
— Fazia de madrugada — ela comentou sorrindo. — Assim
que recebi a proposta de Stanford comecei a pensar em algo que
não me deixasse tão distante dela — a olhei, vendo seus olhos
cheios d'água.
— Você ama minha irmã, não é? — Ela concordou sorrindo.
— Ela é minha melhor amiga, faria qualquer coisa por ela —
disse dando um beijinho em meu ombro. — Acho que ela vai ficar
muito chateada se souber que não contei sobre a gente.
— Ah, não vai não — ri fechando a caderneta, a coloquei na
cama e entrelacei novamente nossos dedos. — Se quer saber, acho
que ela já desconfia, mas não vai falar nada por entender nossos
lados.
— É, acho que ela descobriria até mesmo antes da gente —
ela disse.
Sorri subindo a mão em sua nuca. 
A beijei carinhosamente e com calma. Quando a puxei para o
meu colo, ela recuou.
— Fiz algo de errado? — Ela negou, meio sem jeito.
Percebi que havia algo de errado e antes que pudesse
questioná-la, ela disse:
— Acho melhor irmos.
E se levantou pegando a caderneta, a colocou dentro de uma
caixa e a devolveu para o guarda-roupa. Pensava em mesmo assim
insistir em saber o que havia de errado, mas teria tempo em outro
momento.
Peguei sua bolsa e descemos as escadas, era bom tê-la em
meus braços enquanto caminhávamos pelo corredor. O balançar de
sua cintura em minha mão na medida em que ela andava me
deixava satisfeito. 
Abri a porta para ela entrar no carro, em seguida entrei e dei
partida segurando sua mão.
— Vocês se mudaram hoje, decidiram assim, de última hora?
— Questionou acariciando minha mão com o polegar.
— Isso. Estávamos pensando em nos mudar depois das
férias, mas meus irmãos chegam na segunda e queremos recebê-
los já na nova casa — expliquei ainda com os olhos focados na
estrada.
— Acho a adoção um ato espetacular, penso em adotar duas
crianças também como meus pais fizeram.
— Para mim não será problema nenhum — sorri pensando
em encher minha casa de crianças, minhas crianças. — Até cinco
filhos adotivos e três biológicos me parece ótimo.
— Sua esposa vai precisar ser uma guerreira para cuidar de
oito crianças — provocou.
— Eu te acho uma ótima guerreira — afirmei a olhando
quando parei o carro no farol vermelho. — E você não vai cuidar
sozinha, serão meus filhos, também vou cuidar deles. 
— Eu odeio você — disse com um sorrisinho no rosto.
— Acho que posso conviver com isso — rebati beijando sua
mão.
Ela soltou minha mão e quando estava para reclamar, senti
suas carícias em minha nuca, o que me fez sorrir e ao mesmo
tempo estremecer.
Acelerei novamente o carro e começamos a cantar as
músicas que Rebecca escolhia.
Ela afastou a mão quando chegamos na entrada de casa.
Odiava aquilo, queria que todos soubessem que estávamos
juntos e não poder fazer aquilo me deixava muito irritado.
Abri a porta para que ela saísse e joguei a alça de sua bolsa
em meu ombro.
— Dá próxima vez eu escolho a cor da bolsa, acho que essa
não combina comigo — brinquei ajeitando a bolsa e ela riu a
pegando.
— Você é meu ex e ficou com outra garota hoje, favor, não
falar comigo — disse me empurrando de leve e caminhando até a
casa.
Entrei um pouco depois dela e ela já estava conversando
com Natalie. 
—… acho melhor sua medicação ficar no quarto de Cameron,
as pessoas ficarão abrindo e fechando a geladeira o tempo todo. 
— E eu vou ter que ficar entrando no quarto dele caso
precise tomar a medicação? — Rebecca fingiu resistência contra as
palavras de Natalie.
— Não vai ser a primeira vez que vai entrar no meu quarto —
rebati me intrometendo na conversa e ela me lançou um olhar cruel
que mesmo sendo falso, me fez estremecer.
— E pelo visto — começou olhando meus braços arranhados
— não serei a primeira a entrar — insinuou.
Minha vontade foi de empurrá-la contra a parede e fazê-la
repetir suas palavras enquanto eu beijava seu pescoço devagar, a
deixando totalmente em minha mão, mas eu não podia… não aqui.
— Mas — ela se virou para Natalie — vou colocar esses
problemas de lado, onde é seu quarto Styles? 
— Que Deus me ajude — Natalie disparou se afastando de
nós.
Assim que ela saiu, eu e Rebecca nos olhamos rindo.
Coloquei a mão em suas costas a levando até às escadas. Não
tinha ninguém no corredor, então a empurrei contra a parede e a
beijei ardentemente, passando a mão em seu corpo. 
— Você é uma ótima atriz, Malik — disse apertando as
curvas perfeitas e desenhadas de sua cintura.
— Beija mais e fala menos — rebateu me puxando para outro
beijo.
Sorri a beijando, gostava de sua ousadia e vê-la tão desejosa
quanto eu era um paraíso. 
Ouvimos o barulho proposital que meu pai fez com a
garganta.
Enquanto eu sorria o olhando, Rebecca ficou vermelha como
um pimentão. 
— Acredito que vocês não queiram que seus amigos os
vejam — disse naturalmente. 
Empurrei Rebecca com máximo cuidado para trás de mim, já
que estava tão envergonhada que não conseguia levantar o rosto. 
— Sejam mais cuidados — pediu e seu sorrisinho mostrou
alívio e felicidade, com um misto de preocupação.
— Pode deixar — disse puxando Rebecca pela cintura e
começando a andar. — Pai — me virei para ele.
— Não se preocupe, não vi nada — respondeu sem parar de
caminhar para a saída do corredor.
— Meu Deus que vergonha, ele vai contar para o meu pai e
meu pai vai me matar — ela se virou para mim —, isso se não te
matar primeiro.
— Vale a pena o sacrifício — disse a puxando para o meu
quarto. 
Depois que ela colocou sua medicação no pequeno frigobar,
descemos as escadas e eu quase me esqueci de soltá-la. 
— Minha querida — mamãe disse caminhando até Rebecca
—, você está bem? 
— Sim, sim. Estou ótima e a senhora? — Questionou a
abraçando.
— Bem, muito bem. Posso falar com você um minutinho
antes de descer para o salão? 
Rebecca concordou um pouco confusa e seguiu minha mãe.
Corri meus olhos por seu corpo e fui pego em flagrante quando ela
me olhou balançando a cabeça como se desaprovasse, mas seu
sorrisinho denunciou que ela não achava ruim.
Meu pai apareceu ao meu lado.
— Ela ficou preocupada com Rebecca saber que você ficou
com outra pessoa — disse com um certo deboche em sua voz. 
— Sei que não gosta de guardar esse tipo de coisa e nem de
esconder nada da minha mãe e Owen, mas… ela concorda em não
dizer a ninguém, não queremos todos se envolvendo, as coisas já
estão complicadas na escola — expliquei sem tirar os olhos de
Rebecca.
Não queria perder nada dela nesse curto tempo em que a
tinha por perto.
— É notório que você gosta dela de verdade e se quer correr
o risco, sabe o que está fazendo, não vou me envolver. Mas,
lembre-se, você não pode ficar bravo por todos agirem como se
você fosse um idiota, acharem que vocês estão separados e essas
coisas — aconselhou.
Concordei balançando a cabeça e vendo Rebecca voltar
junto com minha mãe. 
— Podemos, Malik? — Questionei a olhando e ela me
ignorou.
— Boa noite tia Eliza e tio Arthur — ela beijou
carinhosamente o rosto de minha mãe e meu pai a abraçou como
ele fazia com Natalie.
Ela começou a caminhar na minha frente, sendo que não
fazia ideia de para onde tinha que ir.
— Boa noite querido — mamãe beijou meu rosto. 
Meu pai me lançou um olhar de  boa sorte e cuida de
Rebecca e saiu abraçado com a minha mãe. Quando chegaram nas
escadas ouvi o grito de minha mãe e suas risadas por ele tê-la
pegado no colo. Aquilo me fez sorrir, ele não era muito carinhoso
com ela, pelo menos não na nossa frente.
Voltei meus olhos a Rebecca que estava me encarando com
os braços cruzados. Eram apenas eu, ela e dois seguranças que
olhavam para frente.
Caminhei até ela calmamente ainda percorrendo os olhos em
seu corpo. Ela ficava incrivelmente linda de blusa branca, deixava
sua cintura e seios perfeitamente desenhados. 
— Para de me olhar assim — pediu descruzando os braços.
— Parece que vai me devorar. 
— A intenção é essa — rebati a sentindo me empurrar pelos
ombros. — Não agora, relaxa.
— Cameron! — Repreendeu. — Você não está melhorando
as coisas — disse aos risos e eu a puxei pela cintura.
— Acha que estou brincando? — Dei um passo para frente à
fazendo ir para trás. — Não estou — a prendi contra a parede de
vidro da sala.
— Cameron… alguém pode nos ver — disse olhando para os
lados — e seus seguranças estão aqui.
— Eles não se importam — afirmei deslizando os dedos em
seus braços e ela me empurrou.
— Mas eu me importo e muito — disse séria. — Minha
intimidade com você não tem que ficar sendo exposta, mesmo que
sejam funcionários e não vão contar a ninguém — seu tom era
calmo, mas era nítido que não estava brincando.
Era a primeira vez que ela tinha falado algo que a
incomodava assim, sem rodeios, sem que eu precisasse insistir.
— Desculpa, não queria ser grossa — disse após soltar um
suspiro.
— Não foi, só estou impressionado em você ter falado algo
que te incomoda sem que eu precise implorar para te entender —
afirmei e ela abriu um sorrisinho. — E você está certa, não vai se
repetir — disse começando a caminhar com a mão em suas costas.
Passamos da ala de piscinas e continuamos caminhando
pela trilha que daria no salão, eu passeava as mãos em suas costas
enquanto ela sorria e se arrepiava. 
Ela empurrou minha mão quando chegamos no salão e eu
dei um beijinho em seu ombro.
— Ao menos disfarce — pediu. 
— Sim, senhorita — confirmei, mesmo sabendo que não iria
disfarçar.
Entramos e todos nos olharam. O salão era enorme. Havia
várias camas no local, sofás e mesas com várias coisas de
maquiagem. Já me cansava só de pensar em ter que passar por
tudo aquilo.  As meninas estavam animadas e gritando tanto que
minha cabeça começou a doer e Rebecca estava em um canto mais
silencioso junto com Lana e Melissa.
— Por que chamaram todas as líderes? — Josh questionou.
— Caralho, Kristen e Paloma gritam demais.
— Não sei, Natalie quem deixou elas virem, ela nunca
consegue falar não quando alguém se convida — expliquei fazendo
pouco caso.
Não demorou muito para que cinco garotas se oferecessem,
não só para me maquiar, e depois mais outras. Estressado, comecei
a caminhar até Natalie pronto para dizer que não participaria disso.
—… tudo bem mesmo ficar com ele? — Ouvi Natalie, que
estava de costas para mim e Rebecca de frente para ela, dizer.
— Sem problemas — Rebecca me olhou.
— Natalie, por que chamou todas essas meninas? —
Perguntei irritado e limpando meus ombros como se pudessem me
limpar dos toques insinuantes em mim. — Uma delas quase se
esfregou em mim se eu não tivesse saído, estou indo embora.
— Não, irmão, não vai. Rebecca aceitou te maquiar — disse
me olhando e eu me contive para não abrir um sorriso. — Fiquem
no sofá do canto perto de Peter e Lana, o mais reservado já que
todos vão ficar com os olhos e ouvidos em vocês.
— Ok, vou trocar de roupa — Rebecca avisou passando por
mim, senti vontade de passar os dedos em seu longo cabelo, mas
me controlei.  Natalie me olhou como se quisesse dizer algo, mas
aparentemente mudou para outra coisa.
— Não deveria ter chamado todas as líderes, mas me senti
mal em não chamar — disse desanimada. — Enfim, vou ir fazer
a skin care do meu amor — afirmou indo até Elliot. 
Caminhei até o sofá, que era bem no canto, quase ninguém
nos via, pois o sofá ao lado — não tão próximo do que ficaríamos —
nos cobria. 
—… Peter, não dói limpar a sobrancelha, relaxa — ouvi Lana
dizer. — Vou ir colocar meu pijama e já volto — avisou saindo assim
que me joguei no sofá ao lado.
— Se não me casar com essa garota eu não caso com mais
ninguém — Peter disse me fazendo o olhar, estava com um
sorrisinho bobo no rosto.
— Sei bem como é, cara — afirmei. 
— Sabe? — Peter se sentou, sério como nunca tinha visto
antes. — Porque parece que superou rápido a capitã, já está até
com outra. 
— E quem é você para me questionar de alguma coisa? —
Rebati o mais grosseiro possível na tentativa de Peter não insistir no
assunto, mas ele estava determinado a fazer o contrário.
— Sou amigo dela. Tem noção de como ela é importante para
mim? — ele se levantou e se sentou ao meu lado. — Ela
aparentemente está bem, mas não é isso, Cameron. Rebecca
nunca tinha chorado na minha frente até o último fim de semana que
fui em sua casa porque ela não queria ver e nem falar com ninguém.
E mesmo mal, todos os dias, absolutamente todos, ela me
perguntava se eu tomei minha medicação, se eu quero comer algo,
se eu preciso de alguma coisa, até se tomei água. Ela se tornou
uma irmã para mim e eu não gosto de vê-la triste e machucada.
Você pode até quebrar um braço meu, pode estourar minha cabeça,
mas se machucar ela de novo, não vou ficar parado só olhando.
Você ficou com outra pessoa… eu te respeito capitão, mas nisso
não — Disse com uma certa decepção no olhar. 
Não tinha resposta, admirava a coragem de Peter, nenhum
dos meninos falava daquela forma comigo. 
— Não posso explicar muita coisa e você precisa me
prometer que não vai contar a ninguém, caso contrário, vou costurar
seus lábios — ele me olhou confuso. — Não tenho outra pessoa. 
Seus olhos se arregalaram e ele riu alto. Quando as meninas
voltaram, Peter revezou o olhar rapidamente entre mim e Rebecca e
voltou para o seu sofá. Sabia que ele gostava de Rebecca e a
protegeria a todo custo, confiava nele e tinha certeza de que ele não
falaria nada, assim como não falou nada quando descobriu Josh e
Calleb, fora que ele nunca se metia em nada da minha vida, mesmo
sabendo de tudo. 
Observei a bela garota caminhando em minha direção, usava
seu pijama xadrez, cujo as mangas caiam em seus ombros
mostrando as alças da regata branca que estava por baixo. Queria
beijar cada centímetro do seu corpo e deixar que ela sentisse o
quanto a amo e a desejo. Suas bochechas ficaram coradas
enquanto a admirava, Rebecca ficava envergonhada com facilidade
e não tinha noção de sua beleza.
Ela se sentou ao meu lado e sem me importar com Lana e
Peter no sofá um pouco distante de nós, passei a mão nas laterais
de suas coxas, as apertando.
A olhei fazer um coque no cabelo, mas as mechas soltas
ainda caiam em seu rosto.
— Queria que Natalie fizesse uma trança em mim —
comentou. — Mas ela está ocupadíssima.
— Quer que eu faça? — Ela me olhou com o cenho franzido. 
— E desde quando você sabe fazer? — Indagou
desconfiada.
— Desde quando Natalie queria jogar futebol e não sabia
amarrar o cabelo direito, minha mãe trabalhava e nem sempre
conseguia fazer tranças no cabelo de Natalie, então aprendi com
doze anos porque não queria que outras pessoas ficassem pegando
no cabelo dela, as vezes ela pede para eu fazer. 
— É, Natalie sempre amarrava o cabelo de qualquer jeito —
disse rindo e se virou deixando que eu tocasse seus cabelos. — E
você já fez no cabelo de alguma outra pessoa? 
Acabei rindo de sua pergunta, ela conseguiu disfarçar bem,
mas notei seu tom de ciúmes. 
— No da senhora minha mãe — respondi me sentando direito
no sofá e acariciando seus cabelos, os trazendo para trás.
Eram macios e cheirosos, amava acariciá-los e puxá-los…
— E nesse tempo todo você nunca me contou que sabia
fazer tranças.
Aproveitei que as pessoas estavam barulhentas e
desatentas, e passei os dedos em seu pescoço, a observando se
arrepiar tão forte que estremeceu. 
Terminei a trança embutida com facilidade e me sentei mais
relaxado no sofá.
— Não planejava te contar — ela me olhou. — Queria te
mostrar que sabia fazer em um momento mais nosso — sussurrei
passando a mão em sua perna — para que não te atrapalhasse em
nada.
— E em que momento seria esse? — Desafiou, em seu rosto
estava claro que ela entendia o que eu queria dizer e mesmo assim
queria me ouvir.
— Depois do casamento, quando eu te fizesse totalmente
minha — sussurrei com um sorriso malicioso nos lábios ao contrário
dela que franziu o cenho como se sofresse com as minhas palavras,
apertei sua perna, ela respirou fundo passando a mão por baixo dos
óculos e seu corpo estremeceu.
Rebecca estava mais vulnerável do que antes e acreditava
ser pela falta que sentia de mim, assim como eu sentia dela. 
Em silêncio, ela começou a pegar alguns produtos e passar
em meu rosto, em seguida pegou a pinça e me olhou.
— Podemos? 
— Podemos — respondi. — Se quiser sentar aqui para
facilitar — ofereci batendo em minhas coxas duas vezes, ela me deu
um leve tapa.
— Se controla Styles! — Disse séria e passando os dedos
em minhas sobrancelhas.
— Não estou a fim — sussurrei depositando minha mão em
sua cintura, por dentro da blusa do pijama. 
A ouvi rir e fechei meus olhos. Senti os pelos de minha
sobrancelha sendo puxados, mas suas mãos eram tão leves que
não sentia dor alguma. 
Sua respiração quente me fazia sorrir, passei a mão em sua
cintura por baixo da blusa, ainda de olhos fechados, e sua pele ficou
ainda mais arrepiada quando a apertei.
— Você está me desconcentrando — sussurrou e quando
abri os olhos, seus lábios estavam próximos dos meus. 
Mordi os lábios e, sem pensar em nada, me inclinei para
frente pronto para beijá-la, mas ela se afastou com um sorriso no
rosto. 
— UM DESFILE! VAMOS FAZER UM DESFILE — Natalie
gritou animadamente correndo até Rebecca e pulando nela. — A
Mel deu a ideia de os meninos desfilarem para a gente, vai, rápido,
maquia logo ele — disse batendo palminhas. — Nossa, amei seu
pijama, depois quero tirar uma foto sua. Cameron, vou escolher sua
roupa agora — avisou e saiu saltitando.
— Olha que feia, parece até uma cabrita pulando — balbuciei
e Rebecca gargalhou. 
— Anda princesa, vou te maquiar para ficar linda e perfeita.
— Acho que o rosa combina comigo — afinei a voz e fingi
jogar meu cabelo imaginário para trás.
— Não, azul combina mais com você — rebateu.
— Você combina mais comigo — disparei e ela riu, quando
olhou Lana, ficou séria.
— Vergonha na cara combina com você — Lana disse me
olhando — e com você sua dissimulada, ele ficou com outra! —
Afirmou olhando Rebecca.
— Ah, me erra Lana — disse fingindo estar incomodada, mas
logo riu quando Lana mostrou o dedo do meio para ela.
Eu e Rebecca nos olhamos segurando a risada na medida
em que Lana voltou a maquiar Peter.
 
Fui o último a desfilar no palco improvisado que fizemos entre
as camas e sofás. Rebecca não pegou leve na maquiagem e Natalie
me fez usar um vestido rosa de alças finas, que ficou bem colado
em meu corpo.
Me sentei na cadeira e puxei o vestido como se tentasse
cobrir minhas pernas, a maioria das meninas faziam isso e decidi
imita-las.
— Estou me sentindo espetacular, meninas — disse me
olhando em um espelhinho que peguei de Melissa.
— Está arrasando mesmo, gata — Josh disse com a voz tão
fina quanto a minha. 
— Estou pensando em tingir meu cabelo de rosa choque, o
que acham amigas? — Peter questionou balançando seu cabelo
imaginário.
— Acho ótimo, quero fazer também — Samuel brincou se
juntando a nós.
Brincamos mais um pouco entretendo as meninas que
estavam ao nosso redor, os outros meninos do time se juntaram a
nós até Natalie me puxar para tirar fotos com Elliot. Nos divertimos
fazendo poses fingidas que modelos faziam. Depois de um tempo
fomos tirar os vestidos, saias e brincos de pressão que nos fizeram
usar.
— Usar vestido é bom, deixa minhas
bolas  tomando  um  arzinho maneiro  — Peter disse colocando um
short folgado.
— Agora eu entendo o porquê de aqueles caras da Suíça
usarem saia — ouvi Eric dizer.
— É na Escócia, seu burro — Josh disse rindo.
— E o nome é Kilt — Elliot completou rindo também.
Os meninos continuaram conversando e se xingando como
sempre, enquanto eu só queria tirar todo aquele peso do rosto. 
— Tira isso de mim pelo amor de Deus — pedi a Rebecca
que riu concordando. 
— Você foram demais, amei ver o time assim — disse
passando um lenço em minhas bochechas, após tirar os cílios
postiços que eram horríveis de usar.
— Foi legal para nós também — comentei depositando
minhas mãos em suas pernas. — Rebecca — abri os olhos —, quer
borrar meu batom? 
Ela riu arrumando os óculos no rosto.
— Você não perde tempo mesmo — disse em voz baixa. —
Vai, lava seu rosto para eu passar os outros produtos. 
Fiz tudo o que ela pediu no banheiro masculino que tinha. Era
como banheiro de um restaurante, com quatro gabinetes, cinco
mictórios e um granito com cinco pias. O salão era enorme e tinha
dois andares, papai mandou muito bem em comprar aqui. 
Voltei para Rebecca e ela passou um último produto em meu
rosto, que deixou minha pele macia.
— Por que um salão tão grande? — Questionou me fazendo
abrir os olhos.
— Para as reuniões com clientes, meu pai não quer mais
fazê-las longe de casa já que vão ter três crianças para cuidar e,
enfim, ele não quer mais ficar longe de minha mãe. 
— Isso é ótimo. Percebi que depois do salão tem um outro
galpão, estou curiosa — ela riu de si mesma, senti sua mão parando
em minha coxa e precisei me arrumar no sofá para mostrar que
estava tudo tranquilo, mesmo que não estivesse. 
— Central de treinamento dos nossos seguranças, vai ser
aqui agora. Alguns novatos dos meus tios vão vir para cá também
— expliquei naturalmente.
— Uau — disse impressionada e em voz baixa. 
— Quero te mostrar uma coisa.
— Vai na frente que eu já vou — prometeu. — Só vou ir tirar
uma foto que Natalie me pediu. 
Concordei e me levantei. Depois de me espreguiçar e ver
Rebecca desfazendo a trança para tirar as fotos, sai do salão. 
Fiquei olhando todo o lugar, era enorme e incrivelmente
confortável. Mais do que o suficiente, mas papai estava fazendo o
certo. Um lugar reservado para cuidar das crianças e elas
estudariam em uma escola particular que não era tão longe de casa.
Seguranças por toda a parte e a proteção daqui era infinitamente
melhor. Pelo que soube, Owen se mudaria também, e não seria
para longe daqui.
Mas a única diferença dos Malik vindo para cá era a
proximidade de nossas famílias e a criação das crianças juntas, uma
vez que eu, Rebecca e Natalie iriamos embora, as coisas seriam
diferentes para nós.
— Nanat quis mais fotos do que eu imaginava — ouvi
Rebecca dizer e sorri a olhando, seus cabelos estavam levemente
ondulados. 
— Alguém te viu saindo? 
— Sim, todo mundo na verdade, disse que ia tomar minha
medicação — explicou.
— Certo, vamos — disse a puxando pela cintura. 
Descemos a lateral direita de fora do salão e seguimos até a
casa na árvore que eu e Natalie pedimos que fizessem, queríamos
que as crianças tivessem algumas coisas que tivemos. 
A ajudei a subir as escadas atrás de uma das árvores e ela
me olhou impressionada.
— É três vezes maior do que a que tinha no seu quintal —
admirou olhando todo o lugar.
— Por isso precisamos de duas árvores, felizmente as duas
cresceram bem perto uma da outra — disse enquanto ela olhava
pela janela e então, voltou a olhar por dentro.
— É lindo, Cameron, de verdade. 
Sorri a puxando e selando nossos lábios. A beijei com calma
e cuidado, queria aproveitar cada segundo ao seu lado. 
Comecei a caminhar para frente até sentir que a deixei contra
a parede e acariciei seu rosto, apenas a luz do luar nos iluminava. 
— Estava louco para te beijar — sussurrei a puxando pela
cintura. 
Ela sorriu passando a língua em meus lábios.
— E eu estava me segurando para não te beijar — sussurrou
voltando a selar nossos lábios. 
Desci meus dedos nos botões de sua blusa xadrez e os abri,
deslizei minhas mãos por dentro de sua regata envolvendo apenas
sua cintura, sem quebrar o beijo. Sua pele quente e macia me
deixava louco e querendo mais.
— Amanhã vou ir buscar o presente dos meus avós maternos
no aeroporto que eles mandaram para Natalie, é em uma cidade há
uma hora e meia daqui — disse após afastar nossos lábios. — Você
podia ir comigo, já que seus pais não estão em casa e não vai
precisar de uma desculpa para eles — ri a olhando, mas ela
pareceu um pouco envergonhada.
— Acho melhor não… — disse se afastando de mim
totalmente. 
— Você está estranha, desde o laboratório. Foi por que eu
pedi para você sair? 
Ela me olhou e olhou para o chão em busca das palavras
certas para começar. 
— É uma coisa que não dá para controlar e não é proposital,
sei disso e me desculpe, mas estou ficando louca. Todos dizem que
você esbanjava sensualidade, que todas estavam aos seus pés, que
te queriam e você podia ter quem você quisesse. Sei que você
mudou, mas não sente falta de… — seu rosto começou a ficar
avermelhado — você tinha uma vida sexual ativa, ao que parece, e
agora, comigo... é...
Rebecca parou de falar quando seu celular tocou.
— É Nicolly — disse com o cenho franzido, talvez confusa
por conta de passar do meia-noite.
— Atende. 
Seus olhos eram receosos, mesmo assim, ela atendeu. 
Andei até a janela sentindo meu corpo ficar tenso. Claro que
eu a queria, como nunca quis ninguém, mas o que se passava pela
cabeça dela? Que eu queria transar com uma pessoa sem
significado amoroso só para passar o desejo? Aquilo não era uma
coisa que me bastava, queria mais que sexo, queria ela. Apenas ela
e esperaria o tempo que fosse.
—…  está indo para a minha casa?  — A olhei e ela parecia
totalmente perdida. —  …, mas… ok, já estou chegando  — Nicolly
disse algo que fez Rebecca travar e ficar ainda mais tensa. — Vou…
vou levar.
Ela desligou e olhou para o chão tentando assimilar tudo.
— O que aconteceu, amor?
 
 
 
 
 
Não queria discutir com Cameron sobre sua vida sexual, nem
estava insinuando que ele
precisava de outro alguém.
Aquilo nem se passou pela minha cabeça.
Tinha me expressado errado, na verdade queria apenas falar
sobre seus limites, ele me conhecia perfeitamente, e eu queria
saber se estava o respeitando.
O observei ir até a janela, claramente irritado com as minhas
palavras.
Mas meu cérebro congelou com as palavras teste de
gravidez. 
— O que aconteceu, amor? — Ouvi Cameron questionar.
— Preciso voltar para casa, Nicolly está indo para lá e… —
optei por não esconder nada dele — vou precisar passar na
farmácia para comprar um — o olhei — teste de gravidez. 
Ele arregalou os olhos e olhou para o chão pensando no que
dizer.
— Certo, vou pedir para tirarem o carro da garagem.
— Podemos ir de moto? Na garagem de casa está com dois
carros e minha moto, cabe mais uma e como você vai dormir lá em
casa, melhor deixar a moto guardadinha. 
— Vou dormir na sua casa? — Questionou me olhando.
— Não quer? — Ele pensou um pouco e eu quase conseguia
ouvir seus pensamentos. — Para de achar que vai me machucar de
novo — pedi acariciando seu rosto. — Preciso de você, sei que te
irritei com esse assunto, não queria…
— Agora não é momento de falar sobre isso, há coisas mais
importantes a serem resolvidas.
— Você é importante para mim — rebati.
— E por você ser importante para mim eu digo que não quero
conversar agora, Nicolly precisa de você e podemos conversar
depois. Uma vez, no dia da competição do Fênix, eu atrapalhei toda
a sua concentração, estou tentando não fazer isso de novo, ok? 
— Tudo bem — sorri por vê-lo me compreendendo.
Descemos da casa de árvore e, enquanto ele foi tirar a moto
da garagem, fui até o salão barulhento pois colocaram música alta e
estavam bebendo, alguns meninos nem tinham tirado a maquiagem
que estava ficando borrada.
— Amiga — puxei Natalie para um canto. — Feliz aniversário
— a abracei forte e ela sorriu. — Eu te amo e me desculpe por
precisar ir embora, prometo que amanhã venho te ver.
— Por que já está indo? Começamos a festa agora.
Nicolly tinha pedido para não contar a ninguém sobre a
suposta gravidez.
— Nicolly está com um problemão e precisa de ajuda. 
Estava pronta para ouvir seu e eu preciso de você aqui, é
uma data importante e difícil para mim, afinal, sua mãe faleceu no
dia de seu nascimento. Senti um aperto no coração, o que eu faria
se ela falasse isso? 
— Tudo bem — disse tirando-me de meus pensamentos, a
olhei surpresa, sabia que amava Nicolly, mas o ciúmes que uma
tinha da outra comigo era nítido. — Promete que vem me ver
amanhã? Assim que eu chegar do passeio com Elliot, te aviso.
— Venho sim, sem dúvidas — beijei seu rosto. — Vai ficar
bem, mesmo? 
— Claro que sim, estou com o meu amor — ela sorriu
olhando Elliot.
A abracei e me despedi.
Caminhei até a saída, passei na frente de uma sala onde
estavam todas as roupas que os meninos tinham usado e me
deparei com Melissa e Samuel aos beijos.
— Acho melhor fecharmos a porta — ouvi Melissa dizer com
a respiração ofegante. 
Quando os passos de Samuel se aproximaram, sai
rapidamente com o máximo de cuidado para não me ouvirem.
Acabei sorrindo feliz por Melissa, mas ainda estava tensa.
Cheguei no quarto de Cameron, troquei minhas roupas e
desci rapidamente as escadas, senti um peso enorme ao pensar em
Nicolly, sua voz estava embargada, ela parecia chorar e ao mesmo
tempo beber alguma coisa. Meu corpo todo estremeceu quando
cheguei na presença de Cameron. Um sentimento horrível estava
tomando conta de mim e eu sabia que ela não estava bem. 
— Minha princesa — ele me segurou pela cintura —, você
está bem? 
— Estou — segurei suas mãos. — Promete ficar em casa
comigo?
— Claro amor — disse afastando meu cabelo do rosto e
beijando minha testa.
Subimos na moto e ele acelerou, chegaríamos em segundos
nessa velocidade. O abracei forte, sabia o que viria agora, Nicolly
sentia tudo com muita intensidade e para mim, que de acordo com
minha avó paterna e Calleb era uma esponja que suga tudo com
grande proporção, seria péssimo.
Paramos em uma farmácia que funcionava vinte e quatro
horas e Cameron fez questão de entrar comigo. Olhei ao redor da
farmácia, mas não sabia qual era o melhor teste por nunca ter
precisado fazer ou comprar um.
Peguei dois dos melhores testes que tinham de acordo com
as instruções do farmacêutico, não era certeza como o exame de
sangue, mas podíamos ao menos ter uma base antes de Nicolly ir
ao hospital.
— Obrigada — agradeci ao farmacêutico e caminhei até a
atendente. 
Quando ela se virou, sabia que viria problemas. Ela olhou os
testes em minhas mãos, em seguida encontrou Cameron que me
observava de longe próximo da porta de saída e sorriu de forma
maldosa. Não demorou para que Cameron parasse ao meu lado, a
garota endireitou-se ainda mais a coluna e encolheu a barriga. 
— Ora, ora, talvez você não seja a  virgenzinha  que todos
acham — disse passando os testes no leitor de código de barras.
— Ora, ora, não sabia que você era do setor que cuidava da
virgindade das pessoas. A sua está bem cuidada? — Disparei sem
rodeios, estava cansada de tudo aquilo. 
Brooke respirou como se fosse um touro irritado e Cameron
riu passando a mão em minha cintura. Fiz o pagamento e peguei a
sacola com os testes.
— Você nunca me enganou, santa é o caralho — disse baixo.
O farmacêutico estava com fones de ouvido e totalmente
desatento.
Cameron se impulsionou para rebater Brooke, mas o detive
com a mão em seu peitoral. 
— Deve ser horrível ter uma vida tão desinteressante que
precisa cuidar da vida de outras pessoas. Vai fazer o que, Brooke?
Contar a escola toda e colocar a prova algo que não diz respeito a
você? Já que se incomoda tanto com a minha virgindade, por que
não me conta sobre a sua? Talvez sua grande experiência me
aconselhe em algo, me diga, como perdeu? — Olhei no fundo de
seus olhos e ela pareceu se encolher um pouco abaixando a
cabeça.
Brooke abriu a boca duas vezes, mas parecia não saber o
que falar. 
— Talvez nem tenha perdido — deduzi a vendo engolir em
seco. — O que você não entende é que não há problema nenhum
nisso e ficar tentando usar essas coisas contra mim, não me afeta,
só mostra o quão imatura e insegura você é de tentar me atingir
para se sentir melhor.
Percebendo que não havia mais o que falar ali, sai da
farmácia sendo seguida por Cameron. Soltei a respiração e ele me
olhou.
— O que foi isso? Você acabou com ela! — Disse admirado.
— Acho que não foi uma ideia muito boa pedir para você me
levar em casa — disse me afastando dele.
— Você não pediu, eu simplesmente quis vir — relembrou me
abraçando por trás e eu me virei para ele.
— Talvez você veja uma versão diferente de mim hoje —
alertei.
— E eu vou continuar te amando — replicou selando nossos
lábios.
Assim que chegamos em minha casa, a encontramos
sentada no degrau da escada com uma garrafa de vodca.
— Nicolly — chamei tirando o capacete e olhei um segurança
na porta. — Por favor, abre a garagem da casa para Cameron —
pedi quando Nicolly levantou seus olhos cheios de lagrimas em
minha direção. — Vamos entrar.
Tentei levantá-la, mas ela não fez questão de me ajudar.
— Não quero, só quero morrer e fazer tudo isso acabar —
resmungou chorando e se sentando novamente no chão. 
— Nicolly, você precisa me ajudar — afirmei tentando
levantá-la outra vez.
— Pode colocar minha moto lá dentro? — Ouvi Cameron
pedir e em segundos estava ao meu lado.
Ele pegou Nicolly no colo com uma facilidade e leveza
impressionantes, ela parecia uma pena enquanto era levada até a
casa, a colocou no sofá após eu abrir a porta e ainda segurava a
garrafa de bebida.
— Sério, Nicolly? — Comecei vendo Cameron parar ao meu
lado esquerdo, um pouco distante nos dando espaço. — Se estiver
grávida mesmo está prejudicando você e a criança com essa bebida
— repreendi.
— Tomara mesmo — disse e bebeu um gole direto do
gargalo.
— Não faça isso a si mesma, você será a primeira
prejudicada! — Puxei a garrafa de sua mão sentindo meu corpo
pegar fogo.
— É muito fácil para você falar! Não é você quem está com
suspeita de gravidez, não foi você quem perdeu a virgindade. NÃO
FOI VOCÊ! — Gritou se levantando e Cameron deu um passo como
se fosse intervir, o olhei negando. — Me dá a garrafa, Rebecca —
Nicolly avançou em minha direção. — ME DÁ AGORA! — Gritou
outra vez.
A olhei no fundo de seus olhos. Com raiva e a encarando,
apertei a garrafa em minha mão e a estourei no chão ouvindo os
cacos de vidro se espalhando. Nicolly soltou um gritinho assustado
e prendeu a respiração, Cameron me olhou surpreso na medida em
que eu me mantive falsamente calma.
— Você não tem cinco anos — dei um passo à frente ela para
trás — então não haja como se tivesse — ela se sentou no sofá,
ainda em êxtase. — Você está bebendo porque está com medo e eu
não a culpo, não faço ideia do que está sentindo agora, mas isso vai
prejudicar a si mesma!
— Você não entende — Nicolly começou a chorar e eu senti
tudo dentro de mim começar a doer. — Estou tão arrependida por
ter transado com ele… — disse em voz baixa. 
— Não acho que esteja arrependida de ter transado — ela
me encarou como se eu tivesse falado uma coisa idiota. — E sabe
por que acho isso? — a vi negar com a cabeça. — Porque eu amo
Cameron e não me arrependeria se nossa primeira vez fosse hoje,
tenho certeza de que é ele quem eu amo — admiti. — Me destruiria
por outros motivos, por propósitos e escolhas minhas, sim. Mas sei
que você é diferente de mim. Nicolly, eu te conheço a minha vida
inteira, você não está agindo como alguém que está arrependida do
que fez com Carter, está agindo como alguém com medo dos
julgamentos das pessoas e sinceramente, isso fará mal,
principalmente, a você.  
— Não. Não estou triste com o que minha mãe vai dizer, nem
com o que as outras pessoas vão dizer — olhei para o lado e
Cameron tinha saído em um momento que não vi. — Há duas
semanas, na mansão dos Styles, chorei muito quando você
começou a cantar, quando me perguntou precisava conversar eu
menti, não queria contar na frente de Natalie — ela chorou ainda
mais e eu me sentei ao seu lado. — Já tinha acontecido, não sabia
o que fazer, mas Carter disse que íamos adiantar o casamento, que
precisávamos resolver as coisas, mas não quero correr assim… eu
fui tão fraca — sua voz falhou e ela se deixou chorar. 
— Você não é fraca e eu sinto tanto por você pensar assim
por causa da igreja — admiti, pois sabia que a religiosidade podia
destruir alguém.
A puxei para um abraço.
Sentia meu coração ficando dolorido, eram sentimentos muito
fortes.
— Sei que parece que minha vida toda foi baseada em
religião, mas não, estava firme Rebecca, conheci uma igreja incrível
perto de Yale, amava estar lá e mesmo assim por descuido eu caí e
levei Carter junto comigo. 
Ela parou de falar e começou a respirar pesado, em seguida
estava começando a ter falta de ar.
— AMOR! — Gritei e ele veio tão rápido que parecia esperar
por esse chamado. — Pega água para ela por favor. Nicolly, olhe
para mim — ela continuava a puxar a respiração.
Comecei a esfregar seu peito enquanto ela apertava meus
braços com precisão. Era desesperador. Cameron trouxe um copo
de água, mas Nicolly só conseguia chorar e puxar a respiração
quase gritando de desespero.
— Inspira — pedi deixando que me apertasse um pouco mais
e ela conseguiu fazer o que pedi com uma certa dificuldade. —
Agora solta e faz de novo.
Ela repetiu mais algumas vezes e foi se acalmando aos
poucos.
Suas mãos fraquejaram, mas sentia que toda a energia dela
tinha vindo para mim e meu corpo começou a cansar. Entreguei o
copo de água a ela.
— Me desculpe, fazia anos que não tinha esses ataques —
disse após minutos inspirando e expirando.
— Tudo bem, não se preocupe.
Ela buscou meus olhos.
— O que eu faço agora? 
— A única coisa que posso fazer é estar ao seu lado, talvez
você se sinta um pouco melhor em desabafar, mas não é comigo
que precisa falar no momento.
Algumas lágrimas desceram em seu rosto.
— Escute, o quarto de Isaac está arrumadinho, tome um
banho e demore o tempo que for necessário. Vou deixar roupas e os
testes para você.
Ela concordou e subimos as escadas juntas. Deixei as roupas
no quarto de Isaac, os testes e sai fechando a porta enquanto ela já
estava no banho.
Minha cabeça não parava de doer, meu corpo estava todo
dolorido, me sentia fraca e exausta, meu corpo estava trêmulo com
uma mistura de fome e cansaço, o açúcar no meu sangue devia
estar descendo sem parar por eu ter comido pouquíssimo hoje, que
no caso foi ontem.
Desci as escadas com uma certa dificuldade e forcei minha
visão vendo Cameron limpando a sujeira que fiz. 
— Amor — chamei me aproximando e me apoiando no sofá
—, deixa que eu limpo.
— Já terminei, você precisa comer — disse me segurando
pela cintura e praticamente me carregou até a cozinha.
Me sentei na cadeira da bancada e Cameron colocou um
prato com salada de alface e tomate, dois filés de frango fritos e um
copo com suco de laranja. 
— Fiz para Nicolly também, achei que vocês precisariam
comer depois de… tudo — Cameron disse me fazendo sorrir.
— Meu Deus, você é perfeito mesmo — beijei seus lábios.
Não sabia se estava com muita fome ou se a comida de
Cameron era espetacular, tinha certeza de que era os dois; comi
com tanta vontade que suspirei aliviada por estar alimentada, mas
senti as lágrimas descendo em meu rosto.
Sem dizer uma palavra, ele me abraçou forte como se
pudesse tirar de mim toda a dor e ele conseguia amenizar. Seria tão
difícil me acostumar a enfrentar as coisas sem ele...
Nicolly estava triste por ter quebrado o propósito que fez e eu
sabia exatamente como aquilo tendia a ser doloroso.
Não sei quantos minutos fiquei chorando abraçada com
Cameron, mas foi o suficiente para deixar sua blusa molhada.
— Eu devia ter contado que sou uma esponja — disse
sentindo seus dedos limparem as lágrimas de meu rosto.
— Devia — confirmou —, mas sua mãe me contou.
O olhei confusa e ele sorriu beijando minha testa.
— O que foi? Achou que eu nunca tinha conversado com a
minha sogra? 
— Sobre isso não — disse fungando e tomando um gole de
suco. — Obrigada por ter ficado aqui comigo — beijei seu rosto.
— Você ainda está cansada — seus dedos acariciavam meu
rosto me trazendo uma paz enorme e reconfortante.
— Estou, mas preciso ver Nicolly, você também está
cansado, se quiser pode ir dormir e eu já vou.
— Não senhorita, só vou quando você for — disse beijando o
topo de minha cabeça. — E nem tente me convencer do contrário. 
Sorri e beijei seu queixo.
— Pode ligar para Carter? O celular de Nicolly não para de
tocar, pede para ele vir para cá por favor? 
Ele concordou e pegou em meus braços vendo os apertos de
Nicolly marcados em mim, sairia com rapidez pois não foi forte e
mesmo assim ficou nítido que ele não gostou nenhum pouco. Selei
nossos lábios e em seguida me soltei dele, depois de preparar o
prato de Nicolly subi as escadas. Antes que pudesse bater na porta,
ela a abriu com os olhos inchados e soltou um suspiro longo.
— Estou me sentindo mais leve — admitiu e se sentou na
cama. 
— Cameron quem fez para você comer — disse colocando a
bandeja com o prato de comida e o suco.
— Ele é um fofo, mesmo que não pareça nenhum pouco —
rimos, me sentei ao lado dela e segurei sua mão, ela ainda estava
chorosa.
— Carter vai vir para cá, pedi para o Cam ligar — avisei e ela
fungou concordando.
— Vou ir fazer os testes — avisou se levantando com
coragem e foi até o banheiro.
Eu estava nervosa, mesmo que não fosse comigo, parecia
que meu coração sairia pela boca. Andei de um lado para o outro
até Carter aparecer na porta.
— Onde ela está?
Ele parecia ter corrido para se arrumar e estava com o cabelo
úmidos, a casa de seus pais era na rua de cima da minha, mas
acredito que ele tenha vindo de carro. Ele não morava mais lá por
conta da faculdade e por ter seu próprio lugar.
— No banheiro — disse em voz baixa e me aproximei de
Cameron que apareceu logo depois dele. 
Carter coçou a cabeça, se sentou na cama apoiando os
cotovelos nas pernas e entrelaçando os dedos.
— E como ela estava? — Questionou me olhando, Cameron
me abraçou por trás e beijou meu ombro esquerdo.
— Mal e bebendo.
— Merda! Será que afetou o bebê? Ela passou mal? Meu
Deus, ela está bem? 
A preocupação de Carter me admirou, mas não sabia ao
certo o que falar e antes que pudesse, Nicolly saiu no banheiro
segurando os dois testes e chorando.
— Amor — Carter se levantou com uma rapidez que se fosse
eu minha pressão teria me derrubado e correu até ela.
— Deu positivo — disse baixo e sem acreditar. — Os dois…
deram positivos.
A reação de Carter foi abraçá-la como se tivesse conquistado
o mundo e Nicolly, mesmo com as circunstâncias complicadas,
estava feliz também, ela sorriu com lágrimas nos olhos e os fechou.
— Acho melhor deixarmos eles — Cameron sussurrou em
meu ouvido. — E agora é hora de eu cuidar de você.
Concordei sorrindo e balançando a cabeça. Saímos do quarto
em silêncio enquanto Carter repetia que seria pai, que amava
Nicolly, que ela não precisava ter medo e que as coisas se
resolveriam desde que eles ficassem juntos.
Tomei um banho relaxante depois de tomar minha
medicação, sai com os olhos cansados e inchados de tanto que
chorei, mas me sentia melhor e mais leve, como se a água do
chuveiro tivesse levado todo o peso da situação. 
Coloquei um pijama leve e sai do banheiro soltando o cabelo,
Cameron tinha tomado banho enquanto eu tomava minha
medicação e estava com outras roupas — as que tinham ficado aqui
em casa quando namorávamos.
Me joguei em cima dele e o abracei pela cintura. 
— O convite de ir buscar o presente de Natalie ainda está de
pé? — Questionei o olhando e ele sorriu concordando. — Então eu
vou — beijei seus lábios e me sentei na cama pronta para conversar
sobre o que falei na casa da árvore.
— Amarra o cabelo em um coque e se deite de costas —
ordenou.
— Mas…
— Amarra o cabelo e se deite de costas, amor — repetiu, o
olhei surpresa.
Ele ficou tão atraente falando daquela forma. 
Fiz como ele mandou e abracei o travesseiro, logo sentindo
suas mãos apertarem cuidadosamente minhas costas as
massageando.
Me entreguei ao alívio que percorria cada parte do meu
corpo.
Quando ele parou, me sentia fraca. Me sentei na cama e ele
soltou meus cabelos dando um beijinho em meu ombro.
— Você é um anjo mesmo, estava precisando, muito
obrigada — disse agradecida e o beijei. 
— Me escute — pediu se recostando na cabeceira da cama.
—, não é problema nenhum te esperar, já te falei uma vez e isso
não mudou — seus dedos se entrelaçaram aos meus e ele me
olhou nos olhos. — Eu te amo Rebecca e esperaria minha vida toda
por você, mas preciso que entenda que se meu corpo reage a
absolutamente tudo o que você faz, não é intencional, não queria te
deixar desconfortável com isso, mas está se tornando incontrolável
porque a cada dia que passa eu preciso mais de você…
Ele deu uma pausa, recuperou o fôlego e então voltou: 
— E nem se não respirasse perto de mim adiantaria porque
eu não consigo parar de pensar em você — senti minhas bochechas
queimarem. — O ponto que quero chegar é que se pudesse,
controlaria isso, mas não posso. Hoje, mais do que nunca, entendo
os motivos dos seus propósitos, mas isso não me deixa imune de te
querer e é você, amor, quem eu quero.
As palavras de Cameron tinham feito meu coração disparar e
por mais que eu gostaria de dizer coisas lindas, intensas e
verdadeiras como ele disse, tudo o que consegui fazer foi abrir um
sorriso bobo que logo se desfez.
— E eu juro por Deus que fico muito nervoso quando coloca
minha vida sexual acima do meu amor, todo mundo faz isso com a
gente Rebecca, desde que começamos a namorar, e acaba comigo
ver que você está fazendo a mesma coisa. 
Seu tom parecia tão doloroso que senti meu coração apertar.
— Não estou colocando sua vida sexual acima do seu amor! 
Rebati com uma certa raiva por ele ter esperado algo assim
de mim.
— Só achei que precisávamos conversar sobre isso, seus
limites. Você me compreende tão bem e sabe até onde pode ir que
as vezes penso que não estou te respeitando. Eu só queria
conversar — respirei fundo —, mas já que falou, quero explicar tudo.
Não fico desconfortável em saber que me quer e nem quando…
bom, sinto nitidamente o quanto me deseja — rimos. — Quando
saio do seu colo ou me afasto é por mim e por saber que se ficar
mais um pouquinho aos beijos com você não vou me segurar —
admiti. — Eu amo Deus, mas também te amo e te quero, e todos os
meus desejos são por você, não deixo de sentir nada, seria mais
fácil se deixasse, e por isso as vezes tenho que me parar e não te
parar, quer dizer, te parar também — ele riu. — Entende que a
questão não é ficar desconfortável e sim ficar confortável demais? 
Ele soltou a respiração, concordou balançando a cabeça e
beijou meu ombro me puxando para um abraço.
— Você precisa parar de achar que quero desistir de nós ou
que vou propor que fique com outra pessoa pelo sexo — o olhei
seriamente e acariciei seu rosto. — Porque nem ferrando eu
gostaria de ver o meu amor com outra pessoa.
— Só não fique agindo como os outros e me colocando como
um adolescente que precisa desesperadamente transar loucamente
como se não existisse amanhã, porque isso só falei com você.
Acabei gargalhando sentindo meu rosto queimar.
— Cameron!
Ele riu comigo me dando vários selinhos. 
Nos deitados e senti suas carícias em meus cabelos por
instantes enquanto eu deslizava as unhas em seu braço.
— Vai estranhar se eu disser que achei muito atraente você
estourar a garrafa no chão? — Gargalhei o ouvindo e me jogando
para o lado vazio da cama. 
— Não costumo fazer isso — ele riu se virando para mim.
— Desde que não quebre nada em mim, está ótimo —
afirmou abraçando minha cintura.
— Engraçadinho — ele selou nossos lábios enquanto sorria.
— Já fez isso outra vez? 
— Com Pollo e Nicholas, meus primos. Pollo não queria parar
de beber e precisávamos ir embora de uma festa, eu já não bebia
mais então estourei a garrafa no chão e ameacei estourar a outra na
cabeça dele se ele não viesse comigo — Cameron gargalhou. — E
com Nicholas foi porque ele odiava bebida, mas conheceu uma
garota que amava beber e seguiu esse caminho, depois que eles
terminaram, ele ficou muito mal e queria se entregar as bebidas,
então quebrei todas as garrafas que ele tinha gastado horrores
comprando — ele me olhou impressionado. — Hoje em dia sei que
foi errado e imaturo ter me envolvido assim na vida de Nic, mas ele
estava se afogando e ninguém fazia nada, não podia perder outro
primo e deixá-lo se perder daquela forma. 
— E algum deles avançou em você como Nicolly fez hoje? 
— Não, meus primos nunca brigaram comigo — afirmei. —
Só eu e Nicolly que já brigamos feio várias vezes, mas sempre
precisamos uma da outra. 
— Minha princesa, se soubesse o poder que tem, as pessoas
de Liberty pensariam duas vezes antes de mexer com você — disse
subindo a mão em minha nuca e me encarando.
— Como? 
— Isso mesmo que ouviu. Você é intimidadora, intensa e
consegue fazer as pessoas verem o quanto estão sendo idiotas sem
precisar partir para a agressão. Claro que tudo precisa ter um limite,
mas viu como Brooke ficou perdida dentro de si mesma na farmácia
e você nem precisou fazer muito? Se não tivesse tanto medo de
mostrar seu poder, Karen, Yuna e até mesmo Melissa teriam
pensado muito bem antes de se meter com você — disse selando
nossos lábios. — Pense nisso, você fala muito com expressões e
seu olhar as vezes acaba comigo de um jeito bom — admitiu rindo.
— Agora imagina se não tivesse medo de usar isso com as
pessoas, não olhar para elas como olha para mim, mas falar muito
sobre algo sem dizer uma só palavra. Deu para entender?
— Sim — ri beijando sua mão. — E o meu olhar em você não
é nada planejado, é só… você, entende? — Ele sorriu concordando.
— Confesso que antes não entendia os motivos de você se
guardar tanto para depois do casamento, mas hoje… sua ligação
com Deus é surreal — afirmou admirado e acariciando meu rosto
com o polegar, sorri o ouvindo.
— Vai um pouco além da minha conexão com Deus, mas
ainda não estou pronta para falar — ele concordou balançando a
cabeça. — Enfim, conversei com Calleb, Luce e Natalie enquanto
íamos pra sua casa de campo e entramos no assunto de eu ter
medo da minha primeira vez ser ruim — ele me olhava atentamente
e pela primeira vez não sentia vergonha de falar sobre aquele
assunto —, mas quando se tem um foco maior, esses medos são
tão passageiros e… — passei a língua nos lábios tentando não abrir
um sorriso — claro que já pensei nisso e cheguei à conclusão de
que com você, eu não preciso ter a preocupação de que vai ser
ruim. 
Ele abriu um sorriso encantador, ficou todo vermelho e
escondeu o rosto na mão desocupada enquanto abaixava a
cabeça. 
— Amor — tentei tirar a mão de seu rosto.
— Não, me deixa quieto — pediu como uma criança. Achei
graça e acariciei seus cabelos. — Amanhã vamos sair cedo —
avisou ainda sem me olhar. 
— Você está com vergonha mesmo? — Questionei rindo.
— Me deixa — resmungou abraçando mais forte minha
cintura. 
Apaguei o abajur querendo rir sem parar, levantei seu rosto e
selei nossos lábios. 
Cameron me beijou com doçura e calma. Estava em paz,
depois de uma noite tão longa e conturbada, ainda assim estava
tranquila e com ele dormindo comigo depois de duas semanas longe
era uma benção, mesmo que eu não sabia se seria a última vez
antes de ir embora…
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 09:59.
 
Acordei com os beijos de Cameron em minha nuca e virei
meu rosto para que ele não me vê-se toda desarrumada.
— Já desço — avisei me levantando e correndo até o
banheiro.
Ouvi sua risada e um  não cansa de ser chata nunca, em
seguida me tranquei no banheiro para me arrumar. 
Após o banho, vesti uma calça jeans rasgada e uma blusa
rosa salmão da Nike que Cameron deixou em cima da minha cama
de presente, era confortável e leve, ótima para viajar. Coloquei meus
chinelos e desci com os tênis na mão caso fosse necessário sair do
carro. Como Cameron estava com roupas leves, decidi que não teria
problemas usar o mesmo. 
Deixei minhas coisas na sala e caminhei até a cozinha
ouvindo altas risadas.
— Bom dia! — Disse entrando no lugar e Nicolly pulou em
mim me abraçando.
— Bom dia — beijou meu rosto. — Espero que não se
importe em eu e Carter termos feito o café da manhã — disse
olhando.
— Sem problemas.
Nos sentamos para comer enquanto conversávamos sobre
Yale e onde eles iriam morar após o casamento, eles só teriam mais
seis meses na faculdade.
Assim que terminamos, os dois olharam eu e Cameron, que
estava com a mão em minha coxa e Nicolly começou:
— Não sei bem como está a relação de vocês e nem vou me
envolver nisso, mas você é minha melhor amiga — disse me
olhando — e Cameron além de amigo de Carter também é da
família. Queríamos saber se… é…
— Não quero saber não, vocês vão ser nossos padrinhos —
Carter interrompeu com uma afirmativa que nos fez rir.
Eu e Cameron nos olhamos e ele me lançou um olhar de  o
que você disser eu aceito enquanto acariciava minha coxa.
— Aceitam? — Nicolly questionou apreensiva.
— Claro que sim, quando será o casamento? — Perguntei
tomando um pouco de achocolatado.
— Vamos manter a data, o último sábado de junho — disse
Carter.
— Vai ser um pouco corrido essas semanas, mas vai dar tudo
certo. Hoje vamos falar com os nossos pais e depois iremos para a
festa de Natalie — Nicolly completou e olhou Carter discretamente. 
— Ah, você quer falar com ela — disse entendendo seu
olhar. 
Ele e Cameron saíram da cozinha e Nicolly me olhou.
— Obrigada por ter ficado do meu lado ontem, de verdade.
— Quando Pollo faleceu e eu disse que sempre estaria aqui
por você, não estava mentindo — afirmei e ela sorriu com os olhos
marejados.
— Eu te amo.
— E eu te amo — apertei sua mão. — Como está se
sentindo? 
— Bem, tenho algumas coisas para resolver. Vou fazer o
exame de sangue essa semana, devo estar de três ou quatro
semanas.
— Quatro semanas? — Questionei mais surpresa do que
deveria. 
— Eu sei, faz tempo. Só fomos uma vez em todo esse tempo,
queria te contar e não sabia como — disse cabisbaixa.
— Nicolly, não fale como se eu pudesse te julgar porque não
posso e, fala sério, olha só Cameron, estou sujeita a cair do mesmo
jeito — ela riu concordando.
— É, ele é bem bonito mesmo. Uma vez eu e Carter
estávamos conversando sobre vocês e ele deixou escapar que na
festa em que conheceu Cameron e Elliot as meninas ficavam o
tempo todo em cima do Cameron e ele quase nunca conseguia
aproveitar as festas, acabava indo embora cedo, disse que chegava
a ser chato de tanta gente que aparecia querendo ele.
— Imagino — admiti, afinal, em Liberty era exatamente do
mesmo jeito. 
— Deve ser horrível — Nicolly comentou. — Enfim, obrigada
de novo.
Estava tensa, mas consegui chegar em um assunto que tinha
me deixado muito curiosa.
— Sei que vai parecer invasivo, minha mãe já falou comigo
sobre isso e queria falar com Natalie, mas não tive coragem porque
enfim, estou com o irmão dela — disse sentindo minhas mãos
suarem. — Como foi? — Ela franziu o cenho e quando entendeu
acabou rindo.
— Foi incrivelmente bom, não imaginava que a primeira vez
podia ser tão boa, mas Carter tem experiência e sabia exatamente o
que fazer, fora que eu não estava tensa e isso ajuda muito. Eu
simplesmente fui, sem ficar pensando demais.
— Às vezes sinto um certo medo, sabe? Já ouvi meninas
dizendo que a primeira vez foi péssima e que elas estavam super
tensas porque depois do casamento é como uma regra o sexo e
você sabe que precisa. Odiei ter pensado nisso… 
— Quando já entregou tudo a pessoa que ama e a última
coisa que vai entregar é o corpo, não tem isso, você não fica com
medo porque sabe que ninguém no mundo vai te entender tão bem
quanto ela. Claro que não quero que seja levada pelo desejo como
eu fui, mas quando for, esse medo vai parecer extremamente bobo
— suspirei aliviada. — E, qual é, Cameron foi tão galinha quanto
Carter, talvez até mais do que ele, deve ter o dobro de experiência.
— Não fala assim dele — protestei.
— No final, nós que vamos tirar proveito — rebateu e rimos
juntas. 
— Vocês podem ficar o tempo que for necessário, os
seguranças trancam a casa depois — avisei e ela sorriu
concordando.
— Você e Cameron…
— Terminamos — completei e ela franziu o cenho — e você
— me aproximei colocando o braço em seus ombros —, minha
prima favorita, não vai contar a ninguém que ele dormiu aqui e nem
que estou saindo com ele.
— Claro, madame, até onde sei vocês terminaram — disse
com um tom cordial fingido que me fez rir baixo.
Beijei seu rosto e, após me despedir de Carter e avisar as
novas funcionárias de que sairia, segui Cameron até o carro.
Como sempre, ele abriu a porta para mim e em seguida
entrou no carro.
— Nossa, nem perguntei qual será a cor que as madrinhas
vão usar — comentei assim que ele deu partida.
— Você fica perfeita com qualquer cor — sorri beijando seu
ombro.
— Ei, quem trouxe seu carro? Viemos de moto ontem —
lembrei.
— O motorista do meu pai — disse apertando o botão para
as janelas subirem no automático.
De início não entendia o motivo dele fazer aquilo, até ver que
estávamos passando na frente da lanchonete Goldens e Raquel
estava olhando justamente o carro dele. Os vidros eram fumês e
mesmo assim quis me encolher um pouco para que ela não me
visse. Não demorou muito para que Cameron acelerasse colocando
a mão em minha coxa e a apertasse. 
— Amor, como você gostaria que fosse seu casamento? —
Questionou me olhando e em seguida voltou os olhos para a
estrada.
— Eu gostaria que o  nosso  — corrigi — casamento fosse
uma coisa mais simples, sabe? Acho lindo casamento na praia, só
com o pessoal que realmente gosta da gente, uma coisa mais nossa
— admiti arranhando levemente seu braço.
— Me parece bom depois de estarmos rodeados por tanta
gente, ter um pouquinho de paz — sorri concordando.
— O que você comprou de presente para Natalie? 
 — Um ateliê.
— Ah que leg… um o quê? — Questionei, devia ter escutado
errado.
— Um ateliê em Palo Alto, é um pouco longe de Stanford,
mas vai dar para ela trabalhar e fazer faculdade.
— Cameron você comprou um ateliê para ela! — Disse
admirada e mesmo falando ainda parecia mentira.
— É, ela sempre quis um então eu fui lá e comprei, ano que
vem vai estar tudo pronto.
— Você foi lá e comprou — achei graça. — Claro, todo
mundo faz isso — ironizei o vendo rir. 

Depois de buscarmos a caixa enorme com vários materiais para


costura vindo direto da Noruega pelos avós maternos de Cameron,
destinada a Natalie que estava no aeroporto em que viemos buscar,
comemos e ele me trouxe a uma praça vazia. 
Ficamos um tempo caminhando, conversando e apostamos
corrida até o carro.
— Você perdeu, me deve um beijo — disse entrando no carro
e me puxando para o seu colo.
— Não vale, você é atleta — reclamei e ele riu fazendo uma
expressão de convencido.
— Chora menos e me beija mais — retrucou afundando os
dedos em meus cabelos e me puxando para si.
Sorri o beijando com calma e ternura, quando nos afastamos,
questionei:
— O que você mais gosta em mim fisicamente falando? 
— Além do corpo? — Cameron questionou com naturalidade,
seus olhos percorreram meu corpo e ele se inclinou para o lado
olhando minha bunda.
— Sim, amor, além do corpo — ri o empurrando para se
recostar no banco do carro.
Ele inclinou um pouco o banco para trás e sorriu.
— Eu amo seu cabelo — disse enrolando uma mecha em seu
dedo. — Gosto quando está todo liso, mas quando está com essas
ondinhas fica espetacular e dá para ficar enrolando nos dedos,
sabe? — Sorriu como uma criança, mas ao encontrar meus olhos,
seu olhar mudou e se direcionou aos meus lábios. — Não só por
isso — afirmou subindo a mão em minha nuca e puxando meu
cabelo com firmeza, fechei os olhos abaixando a cabeça e sorrindo.
— E sua boca — passeou os dedos em meus lábios quando o olhei
— se beijando já é uma delícia imagina… — ele sorriu, suas
bochechas coraram e seus olhos ficaram ainda mais azuis —
dizendo sim no altar — completou apertando minhas coxas.
— Você não pensou isso — rebati o vendo sorrir
maliciosamente e ficar ainda mais corado.
— E como sabe disso?
— Suas bochechas coradas, seus olhos brilhando e seu
sorriso safado — disse o puxando e selando nossos lábios.
— Quando você fica corada e abaixa a cabeça significa que
você teve pensamentos indevidos comigo?  — Questionou com um
leve tom provocativo e afundou os dedos em meus cabelos.
— Eu não disse isso — protestei.
— Na noite do jantar você ficou assim, então me fale que
estou mentindo e eu acreditarei — desafiou apertando meu pescoço
e eu busquei forças para conseguir respondê-lo a altura.
— Não confirmarei nada, talvez um dia você saiba — disse
passando as unhas em sua cintura e ele respirou fundo. — Sabe o
que eu mais gosto de em você? — Questionei o olhando e
impulsionando meu corpo mais para frente. — As sardas em seu
nariz e em suas bochechas, parece que foram desenhadas com
muita calma e delicadeza, acho perfeito, e os seus olhos —
comentei e ele sorriu me puxando para um beijo.
Suas mãos em minhas costas me puxavam mais para si e
sua língua massageava a minha com muita calma e desejo. Nos
afastamos após ele morder meu lábio e ficamos instantes
abraçados. Olhei pelo vidro traseiro do carro vendo que a chuva
caia mesmo com o sol ainda brilhando.
— O que acha de um banho de chuva? — Questionei
animada e ele sorriu.
— Um banho gelado cairia bem agora — afirmou balançando
a camisa como se tentasse afastar o calor.
Foi então que percebi que seu corpo estava fervendo e talvez
o meu também estivesse. Rimos juntos. 
Um banho de chuva, o primeiro e, talvez, o último antes da
minha partida. 
Cameron colocou a música Kiss Me do Ed Sheeran para
tocar alto e me puxou para uma dança na chuva.
— Você é a única garota que eu realmente queria ir ao baile e
dançar a noite toda — começou me girando e me puxou para si — e
como não estará presente, esse aqui será o nosso baile.
Sorri para ele deixando minhas lágrimas se misturarem com
as gotas da chuva.
Me sentia como o dia de hoje: estava um sol lindo e ao
mesmo tempo chovia e, como eu, era a alegria no meio do caos. 
— Eu te amo — afirmei. — Posso não estar aqui o tempo
todo, mas meu amor vai estar.
Antes que ele pudesse me responder, beijei o sorriso que se
abria em seus lábios, ele correspondeu ao beijo na mesma
intensidade enquanto a chuva diminuía o ritmo ficando com gotas
tão finas que quase não sentíamos e em segundos fui pressionada
contra o capô do carro sem quebrar o beijo.
Cameron me impulsionou a sentar e cruzei minhas pernas
em sua cintura o deixando mais próximo de mim. Seus beijos
desceram em meu pescoço e eu abri os olhos apenas para me
certificar de que ninguém nos veria. 
Seus apertos eram cada vez mais precisos e nossas roupas
frias e molhadas não conseguiam amenizar o calor de nossos
corpos. Mexi meu quadril para me arrumar no capô e ele
estremeceu. Sorri o puxando pela correntinha de Konoha que
sempre usava, voltando a beijá-lo.
Minhas bochechas estavam queimando quando ele me
encarou após morder meu lábio inferior. 
— As bochechas coradas — comentou com um sorrisinho.
— As suas também estão — rebati arranhando suas costas.
— Não preciso ficar corado para você perceber que te quero
— alertou pressionando seu corpo mais ao meu me deixando senti-
lo, apertei sua cintura respirando pesado e ele se afastou com um
sorrisinho malicioso no rosto.
A chuva cessou com a mesma rapidez em que havia
começado. 
O carro ficou todo molhado por dentro quando entramos para
voltar para a casa, mas Cameron disse que não se importava pois
mandaria secá-lo.
E ficar uma hora com frio pelas roupas úmidas valeu a pena
pelos segundos em que passamos na chuva. Aquele era um dos
momentos mais preciosos em nosso relacionamento.
— Venho te buscar as sete para a festa de Natalie — avisou
após abrir a porta do carro e eu sair.
— Não precisa, Peter vem me buscar — expliquei e ele me
olhou seriamente.
—  Eu  venho te buscar — disse envolvendo os braços em
minha cintura.
— Ele se ofereceu hoje por mensagem, disse que não
precisava pois iria de carro, mas ele insistiu porque acha que é
perigoso eu ir sozinha. Não vejo problemas em ir com Peter —
expliquei me soltando dele. — Não somos mais namorados
Cameron, é nisso que todos acreditam — relembrei o vendo bufar.
Abri a porta de casa e o olhei, estava irritado e lutando contra
si mesmo para não insistir.
— Te vejo lá então — disse dando a volta no carro, entrou no
mesmo e deu partida acelerando com rapidez. 
Suspirei e observei o carro até perdê-lo de vista.
Tínhamos que disfarçar, sabia daquilo, mas estava odiando
no momento. 
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 19:12.
Peter veio o caminho todo falando sobre Lana. Ele havia me
dito que ela ficou na casa de Natalie para terminar algumas coisas
da decoração com Melissa, por isso não estava no carro. 
Imaginei que chegando na casa, Cameron ainda estaria
irritado comigo por não ter aceitado a carona dele e decidi que ele
continuaria porque terminamos aos olhos de todos, e se queríamos
que ninguém soubesse, seria necessário disfarçar.
— Olá meu anjo, você está linda — tia Eliza disse assim que
entrei na sala. 
— Obrigada tia, Natalie pediu para eu vestir essa roupa uma
vez quando foi lá em casa, decidi usar hoje — sorri a abraçando. 
Estava usando um vestido justo preto de alças finas e curto,
uma blusa de frio rosa claro de tecido fino que cobria o vestido e o
tênis preto.
— Ficou incrível! Não te vi o dia todo, achei que ficaria aqui
junto com as meninas — disse passando as mãos em sua barriga
que ainda não estava tão grande.
— Fiquei um pouco ocupada, ontem tive que sair às pressas
para resolver um problema de família — expliquei e ela me olhou
preocupada.
Senti um olhar pesado em mim e olhei para os sofás onde
estavam alguns homens, quando vi o primo de Cameron chamado
Jeremy e Thomas, irmão de Arthur, deduzi que todos ou maior parte
dos que estavam ali eram da família.
Jeremy me olhou por inteira, sorriu e me lançou uma
piscadela. Voltei meu olhar para Eliza que havia perguntado se
estava tudo bem.
— Está sim, não se preocupe — afirmei forçando um sorriso
ainda sentindo aquele olhar nojento em mim.
— Mãe, tia Adelaide e as três crianças dela acabaram de
chegar — Cameron avisou colocando o braço em minha cintura e
me puxando para si.
Ela nos olhou rindo, porém não disse nada sobre ele ter me
puxado. Ele era bom em disfarçar mil coisas, mas com o fato de
ainda estarmos juntos estava indo de mal a pior.
— Ah, que maravilha, vou ir vê-la — avisou passando pela
gente e deu um leve tapa no ombro de Cameron.
— Por que você é assim? — Questionei me soltando e
ficando de frente para ele.
— O que eu fiz? — Indagou com um sorrindo maroto.
Revirei os olhos.
— Posso guardar isso no seu quarto? — Perguntei indicando
a caixa com os meus presentes para Natalie. — Quero entregar
bem no final.
— Claro minha princesa — disse sem tirar o sorrisinho do
rosto, pegou minha mochila e me puxou pela cintura me levando até
o corredor. 
— Você não está disfarçando nada — afirmei chegando em
seu quarto.
— Relaxa amor, era só a família que estava ali — explicou
trancando a porta. 
Deixei a caixa em cima de sua mesa de estudos e me virei o
olhando.
— O que acha que está fazendo? — Cruzei os braços e ele
caminhou até a minha direção. 
— Disfarçando — ironizou subindo a mão em minha nuca e
puxando meu cabelo. 
— O pessoal já chegou, não? — Tentei me soltar, mas fui
empurrada contra a parede.
— Estão no salão.
Foram suas palavras antes de selar nossos lábios. Suas
mãos me apertaram e com facilidade ele me pegou no colo me
pressionando mais na parede. 
Eu simplesmente não conseguia parar o beijo, tudo em mim,
razão e emoção, concordavam em continuar.
A passos rápidos ele se sentou na cama, em seguida se
deitou sem quebrar o beijo. Com uma mão juntou meus cabelos no
pulso os puxando, aproximou os lábios de minha orelha e sussurrou:
— Você ficou perfeita com essa roupa — seus beijos
desceram em meu pescoço.
— Fico feliz que tenha gostado — disse voltando a beijá-lo. 
Desci meus lábios em seu pescoço o vendo passar as mãos
no rosto avermelhado, endireitei minhas costas e arranhei seu
abdômen lentamente o vendo se contorcer um pouco. Era a visão
mais linda que já tinha visto.
Ele puxou a respiração com rapidez e me puxou pelo
pescoço, respirou fundo com um sorrisinho safado e passou a
língua em meus lábios, os puxando levemente com os dentes.
Ouvimos o grito de SURPRESA e nos afastamos.
— Ah que ótimo! — Disse saindo de seu colo e ouvindo os
parabéns começando a ser cantado. 
Arrumei meu vestido e Cameron se levantou gargalhando.
— Idiota — resmunguei e ele passou os dedos em meus
cabelos os arrumando.
— Estressadinha — retrucou beijando o topo de minha
cabeça e foi até a porta a abrindo.
Descemos as escadas e em seguida corremos até o salão.
Entramos e nos separamos antes que nos vissem, felizmente
estavam tão entretidos com os parabéns animado do time não
notaram nossa chegada, exceto o próprio time que nos olharam,
mas continuaram cantando. Cameron se juntou aos meninos e eles
gritaram ainda mais alto, Natalie estava com um sorriso lindo no
rosto.
Me aproximei de Lana e ela me olhou.
— Onde estava? 
— Escondendo o presente de Natalie — expliquei
rapidamente e quando ela ia retrucar senti minha blusa de frio sendo
puxada.
Olhei para baixo vendo uma criança de olhos azuis e cabelos
loiros quase brancos. 
— Tia, eu não estou conseguindo ver nada — disse chorando
e eu e Lana nos olhamos rindo. 
Peguei a garotinha no colo e ela começou a bater palmas
animadamente rindo alto. 
— Qual é seu nome? — Disse enrolado e me olhando.
— Rebecca e o seu? — Ela fez um barulho de surpresa e
levou a mão até a boca.
— Você tem o meu nome — disse como se aquilo fosse a
coisa mais surpreendente do mundo.
— Não acredito, sério? — Questionei fingindo a mesma
surpresa.
Ela riu balançando a cabeça e envergonhada.
A cantoria terminou, a garotinha desceu do meu colo e correu
junto com as outras crianças. Caminhei até Natalie e a abracei.
— Feliz aniversário! — Disse animada e ela deu um gritinho
animado.
— Meu Deus, ficou perfeito, você está linda — elogiou me
abraçando.
— Obrigada, é muito confortável, exceto pelo fato de que o
vestido fica subindo as vezes — ela riu. — Seu presente te dou
depois — beijei o rosto dela e me vi na obrigação de me afastar pois
tinham outros convidados querendo a atenção de Natalie.
O salão ficou mais para a família e os adolescentes e jovens
foram para a piscina.
Me sentei em um banco os vendo se divertirem, Nicolly
chegou pouco depois dos parabéns e parecia estar amando
conversar com Lana.
—… espera só, quando a nerd for embora, Cameron vai ficar
em minhas mãos — ouvi Karen dizer.
Olhei na direção da voz e ela sorriu.
— Olá capitã — disse com superioridade, percebi que estava
acompanhada de Yuna e Brooke, que abaixou a cabeça quando me
levantei.
— Karen, estava mesmo quero falar com você — disse
fingindo animação e ela franziu o cenho. — Escute, andei pensando
em um assunto bem legal que você como a incrível presidente do
grêmio — fingi admiração — poderia abrir um debate.
Ela bebeu um gole de bebida, sorriu com falsidade e indagou:
— E sobre o que seria? 
— Assédio nas escolas, estupro em festas, embebedar
alguém para tentar transar com a pessoa… — seus olhos pegaram
fogo — e acho que você seria a pessoa exata para falar sobre,
afinal, foi isso o que tentou fazer com o capitão do time, certo?
— Do que está falando? — Questionou irritada e dando um
passo para frente e eu para trás. 
— Não acredito — fingi surpresa e dei outro passo para trás,
por reflexo vi a piscina —, você não sabe do que eu estou falando? 
— Não me subestime, garota! — Exclamou.
— Calma, calma presidente, não perca o controle, é feio para
garotas exemplares como você — sussurrei provocativa. — Sabe do
que estou falando — dei outro passo para trás quando ela deu um
para frente. 
— Se acha que pode destruir tudo o que construí antes de ter
sua vidinha perfeita em Stanford, está muito enganada! — Ameaçou
em voz baixa. 
— Você quem se destruiu, Karen — rebati calmamente. 
— Você não vai me derrubar, Rebecca! Sou melhor que você,
sabemos e vou provar isso quando o cara que você fingiu amar
estiver em minhas mãos. Eu vou acabar com você! — Afirmou.
— Estou ansiosa por isso — dei um último passo para trás
que ela provocou dando um para frente.
Ela avançou para cima de mim e eu consegui desviar, foi o
que bastou para ela se desequilibrar e cair na piscina. 
Todos os olhares se voltaram para ela na piscina, seu rímel
estava descendo pelo rosto e a maquiagem parecia estar
derretendo. Tinha quase certeza de que Yuna e Brooke tentariam
ajudá-la, mas começaram a rir baixo.
Quando Karen começou a afundar na piscina e bater as
mãos, tirei minha blusa, o tênis e pulei na piscina a ajudando a sair,
antes que se afogasse. 
Ela me empurrou para o lado quando a ajudei a subir na
borda da piscina.
— Eu te odeio! — Se levantou. — EU TE ODEIO! — Gritou e
saiu andando a passos apressados. 
— Ei, o que aconteceu? — Ouvi Peter questionar, seguido de
Lana e Calleb, e Josh correu atrás da irmã.
— Ela tentou me derrubar na piscina, desviei e ela se
desequilibrou — expliquei me levantando. — Vou ir trocar de roupa. 
— Becca… — ouvi Lana chamar.
— Por favor, só preciso de um minutinho sozinha — pedi e
ela concordou.
Me senti um pouco aliviada por ela não insistir e por mais
ninguém questionar o que aconteceu. 
Pensei em entrar pela sala, mas molharia todo o carpete e as
funcionárias demorariam para deixá-lo seco novamente. Caminhei
até a porta da cozinha que estava entreaberta, mas não entrei
quando ouvi as vozes de Cameron e Carter.
—… e como foi? — Cameron quem questionou, olhei pela
pequena abertura e observei Carter abrir um sorriso radiante. 
— É uma sensação espetacular fazer com quem a gente
ama. Lembra que sempre conversávamos sobre não ficar com
meninas virgens porque tinha que ter todo o cuidado e essas
coisas? 
— Lembro — ouvi Cameron dizer e em seguida riu pela ironia
da vida.
Senti vontade de estapear os dois com aquela conversa.
— Foi diferente, sabe? Sentia a necessidade de cuidar dela,
de ir com calma, de em todo momento querer ela estivesse bem e
confortável, e principalmente que fosse bom para ela e não a
machucasse, não porque ela era virgem, mas porque é o meu amor
e eu não a queria machucada ou que tivesse sido ruim. Juro que no
começo parecia um virgem, estava super nervoso e nem na minha
primeira vez fiquei assim. Depois fiquei tranquilo e na moral, foi
incrível! — Sentia a animação de Carter apenas o ouvindo. — Mas
depois…
— Depois?
— Sim, quando ela falou que ia tomar um banho eu achei
normal e tal, mas quando saiu não parava de chorar, aquilo acabou
comigo. Perguntei o que tinha acontecido e ela disse só faltavam
algumas semanas pro nosso casamento… e voltou a chorar, nisso
eu já tinha entendido tudo. Me deitei com ela e deixei que ela
chorasse, me senti totalmente inútil por não poder fazê-la parar de
chorar, nada do que eu falasse a faria se sentir melhor. Então só
fiquei ali o tempo todo com ela, era mínimo — a animação na voz de
Carter tinha se apagado e aquilo me doeu.
— E como você se sentiu?
— O pior cara do mundo — disparou. — Foi como se eu
tivesse feito algo que ela não queria, mesmo que ela tenha repetido
que gostou, que foi ótimo, que só estava arrependida de não ter
esperado mais um pouco. Senti que tinha arrancado toda a pureza
dela a força, fiquei muito mal, mas tive que colocar de lado isso
porque ela era minha prioridade — explicou.
— Fico pensando nisso às vezes, por mais que quero muito a
Becca, não posso fazer isso. Parece que vou estar ultrapassando os
limites dela — Cameron disse.
— Exatamente, me senti assim. Depois que nos resolvemos,
mesmo com tudo o que aconteceu, a sensação de ter tocado ela de
uma forma mais íntima… — Carter estava quase suspirando —
esperei tanto por aquele momento que nem parece ter sido real —
os dois riram. — E eu sei que ela não se guardou para mim, se
guardou por ela mesma, mas entende que ela me escolheu pra ser
o primeiro e único homem a tocá-la nesse nível de intimidade? Cara,
é incrível! — disse com orgulho.
Não imaginava que esse tipo de escolha trazia essa
sensação aos garotos, talvez não a todos.
— E agora você vai ser pai! — Cameron disse entusiasmado.
— E eu vou ser pai! — Repetiu sorridente. — Mas você está
preocupado, é por causa dessa conversa toda?
Cameron ficou instantes em silêncio, mas logo começou:
— Fico pensando nisso tudo só que com Rebecca, eu fui
literalmente a primeira pessoa a tocá-la com permissão. Minha
cabeça explode pensando em outra pessoa encostando nela —
explicou e Carter riu.
— Então não a perca e você não precisará ficar com a
cabeça explodindo…
De repente meu corpo me avisou que eu ainda estava
molhada e com frio, quanto tempo fiquei aqui fora com o vento
gelado batendo em minhas costas e me deixando ainda mais fria? 
Espirrei duas vezes entrando na cozinha e fingindo ter
acabado de chegar.
— Becca! — Cameron se levantou vindo até minha direção e
tocou meus braços. — Meu Deus amor! Vem, você precisa de um
banho quente — disse antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. 
Sentindo calafrios e tremendo, subi as escadas e Cameron
me trouxe até seu quarto. Entrei no banheiro e dentro do box tirando
minhas roupas. 
Deixei que a água quente caísse em meu corpo e levasse
todo frio que me percorria.
Quando terminei o banho, sai do box vendo que a porta do
banheiro estava fechada. Porém, tinham toalhas brancas, um
moletom preto, meias brancas e um chinelo preto da Nike. Não
sabia o momento exato em que Cameron deixou todas essas coisas
no banheiro e não questionaria sobre. 
Depois de passar o secador em meus cabelos os deixando
úmidos, me preparei para sair do banheiro, mas deixei a porta
entreaberta quando Alice invadiu o quarto.
— Amor, estava te procurando! — A garota disse se jogando
nos braços de Cameron, que se afastou rapidamente. 
— O que está fazendo aqui, Alice? Quem te deixou entrar? —
Cameron questionou com uma frieza tão grande que nem parecia a
mesma pessoa que falava comigo.
— Melissa pediu para trazer as roupas dela, aproveitei para
te ver. Sei que sentiu minha falta — ela se impulsionou para frente
pronta para um abraço que não foi aceito, pois Cameron deu um
passo para trás.
— Se já trouxe o que sua irmã pediu, pode ir embora, não é
bem-vinda aqui — disparou sem rodeios. 
— Não se faça de difícil, amor, sei que sente minha falta e
das coisas que fazíamos quando estávamos sozinhos — ela sorriu
maliciosamente e inclinou a mão para tentar passar no corpo de
Cameron, mas novamente foi impedida.
Ela abriu a boca para falar novamente. Cansada dessas
insinuações e do desconforto de Cameron, sai do banheiro
passando os dedos no cabelo.
— Amor… quer dizer, Cameron — disse errando
propositalmente e parei olhando Alice. — Não sabia que tínhamos
visitas — me aproximei, entrelacei meu braço no dele e olhei Alice
que parecia desacreditada.
— Vocês não tinham terminado? — Ela questionou incrédula.
— Você não tinha que cuidar da sua vida? — Rebati e
Cameron riu se colocando em minha frente.
— Vai embora, Alice — pediu calmamente. 
Ela ficou o olhando por instantes com o ódio fervendo em
seus olhos e saiu quase batendo o pé. 
— Ela vai contar para todo mundo — ele disse e se virou
para mim.
— E eu não me importo, podemos dizer que foi para sua ex
maluca te deixar em paz — expliquei sentindo sua mão subir em
minha nuca.
— Você também é minha ex — provocou.
— Não a maluca — rebati e ele sorriu aproximando os lábios
dos meus, me senti tentada, mas desviei olhando a porta. — Porta
aberta, alvo fácil — ele me olhou.
— Posso fechar se esse é o problema.
— Não, vamos voltar para a festa — afirmei indo até a porta e
o puxando.
— Ei, o que aconteceu para você ficar toda molhada? —
Questionou após trancar o quarto.
— Karen queria me empurrar, mas acabou se
desequilibrando e caindo, começou a se afogar e eu fui ajudá-la.
— Ela tentou te derrubar e você ainda ajudou? — Ele riu
descendo as escadas.
— Exatamente, senhor.
Ele me puxou pela cintura e beijou minha testa, ao aproximar
os lábios de minha orelha e apertar forte minha cintura, sussurrou: 
— A próxima vez que você ficar molhada vai ser porque eu
vou te deixar.
Engoli em seco e o empurrei para voltar para a ala de
piscinas. Mamãe, porém, me encontrou quando passei pela sala de
estar. 
— Querida — ela abriu um sorriso, mas notei que estava
apreensiva.
— Oi mãe — beijei seu rosto. — Oi pai — o abracei. —
Chegaram quando?
— Quase agora — papai explicou e logo foi puxado por tio
Arthur.
— Filha — mamãe me levou para um lado calmo da sala, me
deixando de costas para as pessoas e ficando de frente comigo —,
por que seu cabelo está molhado? — Franzi o cenho estranhando
sua pergunta.
— Ajudei uma garota que estava quase se afogando —
expliquei.
— E você estava até agora com Cameron?
— Mãe, o que aconteceu? Por que está perguntando essas
coisas? — Questionei sentindo um frio na barriga.
Ela respirou pesado e antes que pudesse responder,
Cameron passou os dedos em minhas costas parando a mão em
minha cintura.
— Oi tia Olívia — disse dando um beijo em seu rosto, minha
mãe parecia a ponto de surtar e eu não entendia o motivo. —
Becca, está se sentindo melhor? Não te vi comendo hoje.
— Como assim? Ela não estava bem? — Mamãe questionou
desesperada. — Não me diga que você… que você estava…
enjo… 
Antes que terminasse, as pernas de mamãe fraquejaram.
Cameron a segurou na mesma hora em que ela desmaiou.
Subimos para o escritório de tio Arthur. Eu, mamãe —
tomando água e tentando organizar os pensamentos —, Cameron e
tia Eliza. Ouvi passos corridos no corredor e a porta se abriu
revelando meu pai e tio Arthur.
— Benzinho, como está se sentindo? — Papai correu até o
sofá onde minha mãe estava e segurou suas mãos após se ajoelhar.
— Estou bem, querido. Arthur, entre e feche a porta, por favor
— pediu.
Eu e Cameron nos olhamos rapidamente falando milhares de
coisas em um curto momento e tia Eliza nos analisou por instantes.
Mamãe me olhou, em seguida olhou Cameron. Se levantou e
respirou fundo. Eu estava justamente ao lado dele.
— Chegamos em casa de viagem e Isaac estava arrumando
as coisas dele para tomar banho, quando do nada ele me gritou no
quarto perguntando se eu tinha jogado um termômetro no lixo dele
— gelei, mas não podia olhar Cameron e não sabia o que falaria. 
— Ah, céus… — tia Eliza se sentou já entendendo. 
Meu pai e tio Arthur ficaram nos olhando como se fossemos
uma equação que eles não faziam ideia do que significava cada
sigla. Era uma situação engraçada e uma péssima hora para cair na
risada. 
Eu e Cameron nos olhamos novamente e ele balançou a
cabeça negando.
— Meu Deus, era um teste de gravidez? — Tio Arthur
quebrou o silêncio com sua voz alta. 
— Eu cuido da criança para que eles possam estudar, não há
problemas — tia Eliza disse passando a mão na testa.
— O quê? — Papai me olhou. — Você está grávida? —
Questionou assimilando cada palavra. — Eu vou te matar! —
Esbravejou indo na direção de Cameron e eu me coloquei em sua
frente.
— Gente, pelo amor de Deus — inclinei a mão impedindo que
papai avançasse em Cameron. — Por favor, pai — pedi, ele me
olhou nos olhos entendendo o que eu queria dizer e se afastou. —
O teste não é meu.
Mamãe soltou um suspiro aliviado e se sentou no sofá me
olhando, parecia ter tirado um peso enorme dos ombros.
— E não acho que devo dizer de quem é, pois se trata de
algo muito particular e quem tem que contar é a pessoa —
expliquei. 
— Só de saber que não é seu, já me tranquiliza — papai
afirmou.
Nossos pais nos olharam e eu acabei entendendo a dúvida
que rondava cada mente ali.
— Sei o que estão pensando e a resposta é não — afirmei
me referindo a mim e Cameron já termos transado alguma vez.
Tio Arthur e Eliza se olharam surpresos e não precisava
perguntar o motivo, mamãe me olhou orgulhosa e papai abaixou a
cabeça balançando negativamente como se aquele fosse o pior
assunto do mundo.
— E mesmo que tivéssemos um filho, seria nossa
responsabilidade — Cameron disse olhando tia Eliza que apenas
balançou a cabeça positivamente.
— Porém — papai se levantou —, acredito que Olívia apenas
pensou nisso pois você foi o último namorado de Rebecca, mas não
precisamos nos preocupar mais com isso — ele olhou Cameron nos
olhos. — Vocês não namoram mais. 
Cameron ficou tenso e fechou o punho o apertando com
força, queria tocá-lo, acalmá-lo e dizer que papai estava o testando,
mas não podia.
— Vamos voltar para a festa, os convidados estão esperando
— mamãe disse se levantando e puxando meu pai para sair do
escritório.
Papai parou na porta me olhando, entendi seu olhar e sai do
escritório morrendo de vontade de olhar Cameron. 
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Domingo, 00:38.
 
Meus pais foram embora e disseram que amanhã queriam
mostrar uma coisa para mim, então teria que estar em casa antes
do almoço. 
Estava cansada da festa, aproveitei ao máximo, mas minha
bateria social foi se acabando.
Não foi problema nenhum me sentar em um sofá que me
dava visão da piscina, do outro lado estavam todos dançando, mas
onde eu estava era tudo mais tranquilo e os dois casais que
deveriam estar em quartos estavam tão longes que não me
incomodava. 
— Docinho — segui a voz doce de Eliza —, por que está
sozinha? 
Suspirei rindo e dando espaço para que ela se sentasse.
— Por mais que eu tente, minha bateria social acabou —
expliquei e ela sorriu concordando.
— Mas algo está te incomodando, te sinto distante às vezes,
quer conversar?
Abaixei a cabeça pensando se devia ou não, mas optei pelo
não, já que todos achavam que eu e Cameron não namorávamos
mais.
— Minha partida está próxima, as vezes ficar olhando a todos
se divertindo me deixa confortável, quando for embora quero me
lembrar de todos assim, felizes — expliquei e ela balançou a cabeça
concordando.
— Sou mãe de Cameron, mas também sou psicóloga e acho
que devo ser amiga da garota que meu filho gosta, não? — A olhei.
— Quero que saiba que pode falar qualquer coisa comigo, farei o
máximo para ajudar. Desde coisas do coração até dúvidas quanto a
sexo e… 
Achei graça e balancei a cabeça negativamente entendendo
o que ela achava ser minha preocupação.
— Não deixei de transar com Cameron por medo ou falta de
vontade, foi por outros motivos e ele respeita isso — expliquei e
seus olhos brilharam de orgulho e surpresa.
— Acho que criei um príncipe — disse e sorriu o olhando do
outro lado da piscina onde brincava com dois menininhos que
aparentavam ter entre dois e três anos. 
Ele começou a dançar com as crianças de uma forma
engraçada, sem se importar com olhares.
— Ele está tão livre, fico feliz por isso — ela sorriu e voltou o
olhar para mim.
Soltei a respiração buscando as palavras certas.
— Espero que ele fique bem — disse baixo sentindo as
lágrimas brotarem nos cantos de meus olhos. 
— Vai ficar, vocês vão se reencontrar afinal, acredito que seja
isso que está o mantendo calmo — afirmou.
— A senhora sabe da luta de outubro? — Ela suspirou
balançando a cabeça positivamente. 
— Uma tradição ridícula na minha opinião. Sabe quem
começou? — Neguei com a cabeça. — O tataravô de Cameron, ele
fez o filho dele lutar contra o filho de um mafioso para conquistar um
ótimo ponto para o tráfico na Espanha e em Nova Iorque. Depois o
bisavô paterno, Charles Styles, para não deixar muito nítido que
mexia com coisas da máfia, envolveu empresários de diversos
lugares e passou de tradição mafiosa para uma competição por
bons espaços comerciais ou industriais e dinheiro. Não estou de
acordo com essa luta, mas assim como William — disse se referindo
ao avô paterno de Cameron —, Arthur e seus irmãos tiveram a
escolha de participar ou não dessa luta, Cameron também pode
escolher. Todos os seus primos com mais de dezoito anos aceitaram
participar e ele não ficaria de fora.
— Vão colocar os filhos em um ringue por espaço? —
Perguntei deixando explícito meu desconforto com essa ideia.
— Isso é tão horrível para você quanto para mim, mas ele
quem aceitou isso, me odiaria se eu interferisse. Arthur deu todo o
apoio para ele desistir ou continuar. 
— Meu Deus, que coisa ridícula. Meu pai já participou disso?
— Ela torceu o nariz pensando um pouco.
— Na mesma época que Arthur — afirmou.
— Então Isaac também vai ter a opção de participar… —
comentei mais a mim mesma do que para Eliza.
— Acha que ele aceitaria? Ele parece um doce de criança
que não gosta de violência — achei graça.
— Acho ele bem parecido com Cameron quando tínhamos
onze anos — ela riu alto.
— Que Deus nos ajude e a Olívia também — rimos juntas.
— Gostaria de intervir em relação a luta, mas eu e Cameron
claramente não temos o mesmo pensamento quanto a isso e será
perca de tempo, ele já se decidiu — disse respirando fundo.
— Principalmente sendo contra um garoto que já mexeu com
você, nem mesmo William conseguiria evitar um confronto entre
eles — afirmou e eu engoli em seco.
Assimilei cada palavra que ela disse até tio Arthur chegar
pedindo licença dizendo que teria de roubar a atenção de tia Eliza
de mim por uns minutinhos, claramente ela não voltaria para ficar
ouvindo meus problemas, sorri me despedindo dela e de tio Arthur
que pediu para que eu aproveitasse a festa com os meus colegas.
— Tia — olhei na direção da voz de uma garota idêntica a
Rebekah, a criança que me pediu colo nos parabéns —, a gente
pode sentar aqui com você? Minha mãe bebeu muito, papai está
ajudando e eu não quero ficar perto do primo Jeremy — pediu se
aproximando — e nem ele — disse arrastando um garotinho que
parecia ser mais novo que ela.
— Claro meu bem, sente-se aqui — pedi dando espaço a
menina.
O garotinho se sentou no sofá um pouco desengonçado,
ficou mexendo os pequenos pés e me olhou abrindo um sorrisinho
cansado. Abri meus braços para que ele se sentasse em meu colo e
ele não pensou duas vezes antes de se deitar em mim, não
demorou para que fechasse os olhos e relaxasse.
— E qual é o seu nome? — Questionei a garotinha.
— Helena e o seu? — Indagou encostando a cabeça em meu
peito.
— Rebecca.
— Você é bonita. Quantos anos você tem? 
Achei graça.
— Você que é bonita — ela sorriu envergonhada. — Tenho
dezessete.
— Eu tenho cinco — ela bocejou fechando os olhos. — O
nome dele é Pietro, ele tem dois anos e ainda não fala —
resmungou antes de cair no sono.
— Aí está você — Cameron disse chamando minha atenção.
Com ele estavam Kiara, sua prima, e um outro garoto que vi
na sala quando cheguei.
— Levem as crianças para o quarto em que estão Rebekah e
Steven por favor — pediu. 
Kiara se aproximou sorrindo e beijou meu rosto antes de
pegar Pietro de meu colo.
— Oi priminha, esse é Kenny, meu irmão — disse indicando o
garoto com a cabeça.
— Ah, claro, você é a famosa Rebecca — disse me
estendendo a mão e eu o cumprimentei.
— Famosa?
— Calado Kenny! — Cameron implicou.
— Cameron não parava de falar de você, até dormindo, ele já
falou enquanto dormia com você? Ele ficava chamando Rebecca…
estou chegando… Rebecca… te esperei tanto tempo...  — disse
Kenny em um tom engraçado que me fez rir e Cameron deu um
tapa em sua cabeça, mas o garoto o empurrou e continuou. — Ele
ficou meses te chamando, achei até que era doença — debochou.
— Some daqui Kenny, some — Cameron o empurrou rindo. 
— Tchau prima — Kenny disse pegando Helena no colo e
seguindo Kiara.
— Então eu sou famosa? — Olhei Cameron enquanto sorria
e ele me olhou concordando.
— A famosa mulher da minha vida — disparou me fazendo
rir. — O que está fazendo aqui? 
— Esperando tudo acabar, não sei onde vou dormir, preciso
aguardar Natalie.
— Vai dormir comigo, está todo mundo entretido e bêbado,
Natalie está no salão e não vai subir tão cedo — concordei um
pouco frustrada.
— Tudo bem — aceitei me levantando e ele sorriu beijando
minha cabeça.
— Entra primeiro que eu já vou — pediu.
— Aproveite mais a festa — o olhei. — Eu espero, não tem
problemas, você parecia estar te divertindo.
— Rebecca, não quero aproveitar festa nenhuma, eu quero te
beijar — afirmou abrindo um sorrisinho safado e saiu andando na
direção do salão.
Fiquei instantes o observando até perdê-lo de vista.
O que ele causava em mim com poucas palavras era
incontrolável.
Subi para o corredor que dava para os quartos observando
todo o lugar, ainda admirada por ser tão grande e chique. Entrei no
quarto de Cameron que era três vezes maior que o anterior da
antiga casa e me sentei no sofá que tinha, a porta foi aberta com
pressa.
— ELE ME PEDIU EM NAMORO! — Natalie correu e pulou
em meu colo, em seguida se levantou e me puxou para dar pulinhos
de alegria com ela.
Depois de um tempo rindo, nos jogamos juntas no sofá.
— Olha — ela me mostrou sua aliança prata, fina e brilhante.
— Meu Deus — disse eufórica. — Como foi? 
— Ele me levou para a casa na árvore, disse que queria falar
comigo a sós, disse que me amava, que não podia me perder, que
não aguentava mais fingir que não estava comigo e essas coisas,
no fim me pediu em namoro e eu aceitei — disse animada.
— Que perfeito! Parabéns — beijei seu rosto e a abracei. 
— Cameron disse que você queria falar comigo — achei
graça.
— Não queria te atrapalhar — comecei me levantando —,
mas já que está aqui — peguei a caixa em cima da mesa de
estudos e caminhei até Natalie — para você. 
Ela pegou a caixa rosa salmão animadamente e inclinou a
mão para desfazer o laço.
— Não — segurei sua mão. — Queria que abrisse quando eu
viajasse para Stanford, mas sei que é muito curiosa. Se conseguir,
abra no dia em que eu viajar, mas se não, abra quando ninguém
estiver por perto — pedi e ela concordou sorrindo.
Mas logo me abraçou e começou a chorar.
— Ainda não acredito que você vai embora — sussurrou sem
me soltar. — Vou sentir muito a sua falta.
— E eu a sua — afirmei com lágrimas nos olhos —, mas vai
aproveitar sua festa, por favor, você merece! 
— Eu só vou porque sei que Cameron vai ficar como sua
companhia — ela riu me olhando e eu limpei as lágrimas de seus
olhos.
— Quem disse?
— Alguém precisa dizer, sua dissimulada?
Rimos juntas.  
Ela bagunçou meu cabelo, pegou a caixa de presente e
saiu. Me sentia um pouco ansiosa por saber que Cameron entraria
pela porta a qualquer momento, não era ruim, era como se uma
coisa muito boa fosse acontecer e eu não conseguia deixar de ficar
ansiosa para que ele chegasse logo.
O observei entrar no quarto com dois pedaços de bolo de
chocolate em pratos em uma bandeja. Me arrumei no sofá e passei
os dedos nos cabelos para que eles ficassem arrumados e os
coloquei para o lado.
A porta foi trancada e Cameron se sentou ao meu lado.
Ele me ofereceu um dos pedaços de bolo e eu sorri
aceitando.
— Agora Elliot é oficialmente seu cunhado — provoquei e ele
me olhou com expressão de tédio.
— Engraçadinha — ironizou me fazendo rir. — Natalie feliz é
o que me importa, meu pai disse que se ele magoar minha irmã
nunca mais vai conseguir fazer filho na vida.
— E se eles se magoarem, se perdoarem e voltarem, Natalie
não vai ter filhos — debochei e ele revirou os olhos.
— Eles podem adotar.
Empurrei seu ombro o vendo rir. 
Peguei um pouco de chantili e sujei o canto de seus lábios,
ele me olhou pronto para falar algo, mas não deixei que começasse
e passei a língua no canto de sua boca a limpando.
— Suja mais — pediu com tom malicioso.
Coloquei o prato na bandeja em cima da mesinha de vidro na
frente do sofá, peguei a pequena colher e passei o chantili em meus
lábios enquanto Cameron me olhava esperançoso.
Beijei seu pescoço fazendo uma trilha com o creme em meus
lábios em seguida passei a língua limpando e o sentindo respirar
pesado.  Ele me puxou pelo pescoço e selou nossos lábios com
voracidade, suas mãos me puxaram para o seu colo e mesmo
ouvindo o barulho do prato caindo no chão não paramos o beijo.
Suas mãos entraram por dentro de minha blusa e apertaram minhas
costas me empurrando contra o seu peitoral. Arranhei sua nuca e
mordi seu lábio inferior com calma. 
— Prometo que quando nos casarmos, vou comprar de volta
todas as suas roupas que eu destruir — sussurrou em meu ouvindo
me fazendo arrepiar. — Todos os vestidos de todos os jantares que
fomos e eu acabar rasgando, comprarei novos e idênticos para você
— afirmou entre beijos e leves mordidas em meu pescoço. 
Deslizei as unhas em seu abdômen e ele apertou minha
cintura.
— Pretende destruir minhas roupas? — O olhei sentindo meu
rosto queimar.
— Pretendo fazer muita coisa, aliás, vou comprar vestidos
mais fáceis também — disse com um sorrisinho nos lábios.
— Mais fáceis para quê?
— Para eu tirar — sussurrou me puxando para outro beijo. 
 
Los Angeles, Estados Unidos,
Domingo, 09:46.
Tentei me levantar da cama, mas a perna de Cameron em
cima das minhas e seu braço envolto de minha cintura me
impossibilitava. Fiquei instantes pensando em como sair sem
acordá-lo e quando tentei outra vez, ele me abraçou mais forte.
— Seu dissimulado — reclamei —, você já está acordado.
Ele riu afundando o rosto na curva de meu pescoço,
— Não quero que vá embora — resmungou e eu me virei
para ele, que ainda estava com os olhos fechados.
— Cameron, eu tenho família — retruquei o vendo rir e ele
me soltou.
Corri para o banheiro e me arrumei mais rápido que o meu
normal.
— Vou me arrumar rapidinho e já te levo.
— Descansa, amor, peço para o meu pai vir me buscar —
avisei e ele me olhou incrédulo, não me respondeu e entrou no
banheiro.
Acabei rindo e pegando meu celular para avisar minha mãe
de que estava chegando, ela me respondeu e me mandou um
endereço, me pedindo para ir direto para lá.
Cameron chegou de mansinho e apertou minha cintura na
intenção de me assuntar, eu acabei soltando um gritinho pelo susto.
— Garoto! — Repreendi o empurrando e ele sorriu.
Colocou a camisa e o par de chinelos.
— Preciso ir para esse endereço, acho que é há cinco
minutos daqui — mostrei o celular para ele —, posso ir andando.
— Sei onde é — ele disse, ignorando minhas últimas
palavras — e sim, eu vou te levar — abri a boca para falar, mas ele
não me deixou — para de ser teimosa, mulher!
Gargalhei concordando e ele me puxou pela cintura.
— Vamos, você precisa tomar café e acredito que seus pais
estejam te esperando para isso — afirmou me arrastando para fora
do quarto após pegar minha mochila e jogar a alça no ombro
esquerdo.
Enquanto caminhávamos para uma área que não era distante
da mansão dos Styles, eu e Cameron conversávamos sobre a festa
de ontem e que no momento em que ele me deixou com Natalie, os
meninos da festa estavam doidinhos pelas primas dele.
Franzi o cenho quando paremos em frente a um enorme
portão preto que protegia uma mansão não muito diferente da dos
Styles.
Levantei meu olhar vendo que em cima estava escrito
Mansão Malik e meu queixo caiu de surpresa.
Um segurança que estava do lado da frente me olhou e
acenou com a cabeça.
— Bom dia, senhorita Malik e senhor Styles — disse com
cordialidade, mexeu em algo no relógio e após segundos o portão
foi aberto automaticamente.
— Te vejo depois — Cameron disse beijando minha
bochecha e eu concordei me despedindo.
Entrei acompanhada pelo segurança e meu pai me esperava
na frente da mansão, com um enorme sorriso no rosto.
— Bença, pai — o abracei e ele beijou o topo de minha
cabeça.
— Deus te abençoe — disse e me olhou.
Observei a mansão e voltei meu olhar a ele.
— É melhor eu não começar a questionar, não é?
Ele me fitou e respirou fundo.
— Por enquanto, não — afirmou.
Mas eu sabia que tinha algo por trás daquilo, minha família
não tinha o melhor histórico do mundo, era semelhante ao dos
Styles na questão dos nossos antepassados, e eu tinha completa
noção disso, mas fingia não saber de nada.
Mamãe estava feliz como nunca, Isaac corria pela casa e os
gêmeos estavam eufóricos. Peguei Louis no colo e começamos a
andar vendo cada lugar da mansão, a cozinha era cinza, preta e
marrom, a sala era cinza claro com cinza escuro e branco, mas o
que eu mais amei, depois do meu quarto, foi a biblioteca. Era
enorme e linda, tinham diversos livros e uma parede com nossa
arvore genealogia, sendo ela a família materna e a paterna.
Sorri ao pensar que teria o nome de Cameron ao meu lado,
como meu esposo.
 
 
 
 

Havíamos acabado de chegar de um jantar de negócios e eu


me sentia carregada de energia, desejando-o mais do que nunca.  
Entramos no quarto aos beijos, ouvi a porta se fechando com
força. Fui pressionada contra a parede com rapidez. Ele afastou os
lábios dos meus, me virando de costas e antes que pudesse impedi-
lo, o tecido de meu vestido foi rasgado até o final, onde ele o puxou
e o jogou para um canto.  
Meu corpo parecia mais atraente e desenhado.  
Estávamos em sua casa de campo e tudo parecia igual a
última vez em que estive aqui. 
— Já é o terceiro vestido nessa semana — me ouvi dizer
enquanto ele me virava e me pegava no colo, se colocando entre o
meu corpo e deixando minhas pernas ao seu redor. 
Seus braços estavam mais fortes e os fios de seus cabelos
mais escuros. 
— Eu disse que faria isso — retrucou caminhando até a
cama, onde se sentou com calma e me beijou. 
O empurrei contra a mesma e ele sorriu deslizando a mão em
meu corpo, se deitando e me fazendo ficar por cima. 
Ouvi um tapa estralar quando chegou em minha bunda e
acabei sorrindo. Era estranho, ao mesmo tempo que eu era a
mulher que sentia tudo, também estava me vendo, como se
estivesse fora de meu corpo. 
Seus dedos com agilidade foram até a alça de meu sutiã
enquanto sua mão desocupada apertava meu pescoço, mas a
detive.  
— Muita calma, eu estou no comando hoje — disse e selei
nossos lábios o sentindo sorrir. 
Me afastei e puxei sua camisa com força a abrindo. Vi seu
corpo com algumas tatuagens novas e ainda mais desenhado e
definido. Ele se inclinou para me beijar, mas o impedi com as mãos
em seu abdômen forçando para que continuasse deitado.  
Fiz uma trilha de beijos de seu pescoço até seu abdômen, ele
se mexeu um pouco. O observei ficar com as bochechas coradas e
o sentia endurecendo embaixo de mim. Cameron me olhou com um
sorrisinho torto nos lábios levando a mão até minha nuca e a
acariciando, enquanto afastava meus cabelos para o lado
esquerdo. 
Ele respirou fundo quando levantei meu olhar, mantive
contato visual enquanto descia meus lábios. Encarando suas
bochechas coradas, os lábios rosados, os olhos mais azuis do que
nunca, vi quando seus dedos se afundaram em seus próprios
cabelos os puxando e bagunçando. Continuei descendo, desabotoei
sua calça até…  
 
Pulei da cama quando ouvi o despertador do celular gritando
em meu ouvido, desliguei e sai correndo até o banheiro. 
Que sonho foi esse? Eu sentia absolutamente tudo, cada
toque, cada beijo, o corpo dele quente contra o meu… tudo, tudo
mesmo! 
Acabei rindo de mim mesma, nunca cheguei a sonhar com
algo semelhante e a última coisa que me lembrava era dele
fechando os olhos, um gemido abafado saindo de seus lábios e
meus cabelos sendo puxados com mais força. Sabia que deveria
concentrar minha mente em outras coisas, para que o sonho não
ficasse me perturbando o tempo todo. Não queria ter o foco voltado
àquilo, porque não me concentraria em mais nada. 
 
Era quarta-feira, os dois primeiros dias da semana haviam se
passado com muita rapidez. Na segunda não tivemos aula porque
foi reunião da diretoria estadual; na terça passei o dia na escola
ajudando Melissa com o show de talentos que acontecerá na sexta-
feira dessa semana e depois fui ajudar Nicolly com alguns
preparativos para o casamento, que será na semana que vem. 
Ainda estava me adaptando as coisas da nossa nova…
mansão.  
Desci as escadas até a sala de jantar, tomei café da manhã
rapidamente e meus pais reclamaram por eu não ter acordado mais
cedo e ter uma alimentação descente antes de começar o dia. Se
eles soubessem o motivo do meu atraso… 
Como olharia Cameron depois daquele sonho?  
Apliquei a medicação, beijei Eloise e Louis, Isaac tinha ido
para a escola, brinquei com Kurama e após abraçar meus pais,
mamãe disse: 
— Não se esqueça do jantar de hoje. 
A encarei fazendo uma careta. 
— A senhora vai mesmo juntar sua família com a do papai?
Meus tios paternos odeiam seus irmãos, só o papai deu sorte de ser
amigos deles — repliquei e papai começou a rir, mas quando
mamãe o olhou com repreensão, ele ficou sério. 
— Não fale assim, docinho, meus irmãos não têm problemas
com ninguém. — Eu e ele nos olhamos, nos seguramos por
instantes até começarmos a gargalhar e mamãe se juntou a nós. 
— Avisei que hoje é sem confusão — papai disse.  
— E sem armas — mamãe completou. 
Eu e papai nos olhamos novamente, nem ele acreditava
naquilo, o próprio estava sempre armado. Vovô os ensinou a usar
armas desde os quinze anos, depois dos meus tios serem
sequestrados por pessoas que queriam dinheiro da família,
quando  ainda moravam no interior de São Francisco. Assim que
completei quatorze anos, papai também me ensinou. 
— Se a senhora diz, tudo bem — comentei e ela revirou os
olhos. 
— Eu odeio seu sarcasmo — rebateu. 
— É minha única defesa. — Ela fez uma careta quando repeti
as palavras de Stiles, de Teen Wolf. — Vejo vocês mais tarde. —
Mandei um beijo para eles e saí correndo quando ouvi a buzina do
carro da Natalie.  
— Bom dia — disse entrando no carro. 
— Eu vi o presente — disse com lágrimas nos olhos. — Não
tudo, deixei para ver nos dias em que colocou. — Sorri com
lágrimas escorrendo em meu rosto. 
— Fico feliz que tenha gostado. — Limpei minhas
bochechas. 
— Você se superou. — Ela riu dando partida. — Está bem?
Parece ter caído da cama. 
— Não dormi direito — comentei olhando pela janela. Não
contaria do sonho a absolutamente ninguém. — Como foi o jantar
de ontem? — Questionei a vendo fazer uma careta enojada. 
— Horrível, estar no mesmo ambiente que Bronwen depois
de saber o que ele fez com você. E  com ele me olhando daquele
jeito. — Ela estremeceu. — Odiei. 
— Bronwen é nojento por completo — afirmei. 
— Não acredito que demorou tanto para me contar o que ele
fez, Cameron estava se segurando ontem para não voar naquele
nojento — ela disse. 
— Queria ter ido, mas não tive coragem. 
— O que é super compreensível. Na verdade, Cameron não
quer nem que você vá na luta justamente para não ter que ver o
Turner. 
Dei de ombros e ela continuou: 
— Foi horrível, de verdade, eles fizeram uma entrevista
idiota, tinham outros garotos que vão lutar, isso inclui todos os meus
primos com idade para essa idiotice. Ficaram se provocando o
tempo todo, exceto Cameron que não disse quase nada durante o
jantar. Minha irmã pintou as unhas de Cameron na segunda, de
preto, e Bronwen tentou tirar sarro disso, mas Cam não se importou,
disse que no ringue eles conversariam. Ah, que ódio! Foi um show
de horrores e eu não vejo a hora do meu irmão acabar com aquele
babaca. — Ela me olhou. 
— Vai ao jantar hoje? — A vi balançar a cabeça
positivamente.  
— Melissa pediu para você encontrá-la no anfiteatro após o
intervalo, disse que estaria muito ocupada e talvez não conseguirá
te encontrar. Caso vocês não se vejam até o intervalo, o recado está
dado. 
— Sim, senhora. — Ela riu se soltando do cinto de segurança
e saímos do carro.  
Calleb se aproximou de nós com Lana e Luce. 
— Que fofa, perdeu a aposta e acha que vai se livrar — disse
aos risos. — Pode ir colocar sua blusinha, capitã. — Ele me
entregou uma sacola. — E fotógrafa. — Entregou uma semelhante a
Natalie. — Ficaram prontas hoje.  
Olhei suas blusas e eram pretas com uma foto do time, eu e
Natalie começamos a rir no instante em que nos olhamos. 
— Vamos usar no último jogo na sexta que vem. — Lana fez
uma careta. 
— Vou sentir falta disso — comentei baixo e Natalie me
abraçou pelos ombros. 
— Vamos aproveitar por enquanto — pediu. 
Cameron ainda não havia chegado na escola. Cumprimentei
os meninos do time que fizeram questão de perguntar onde estava
minha blusa com a foto deles, disseram que estavam ansiosos para
ver a capitã com a cara deles estampada na blusa.  
Entramos na escola e Natalie precisou ir falar com Lana
rapidamente após colocar a blusa do time. Fiquei me olhando por
instantes no espelho depois de colocar a blusa. Me senti um pouco
ansiosa para vê-lo, meu sonho estava vagando em meus
pensamentos e se me concentrasse conseguiria lembrar dos toques
e sensações. 
Respirei fundo tentando desviar minha mente e sai do
banheiro. 
Parei em meu armário e antes que pudesse abri-lo, Melissa
surgiu animada pelo corredor, caminhando em minha direção,
acabei sorrindo com a animação dela. 
— Bom dia, capitã. 
— Bom dia, representante. — Cumprimentei cordialmente.  
— Você hoje vai ficar como jurada depois do intervalo, pode
ser? Amanhã serão Luce e Jasper. 
— Pode sim, Natalie me avisou. Quem vai ficar comigo?  
— Seu rei, óbvio — disse aos risos e abriu o casaco rosa
mostrando a camiseta com a foto do time. — Devo te odiar por
isso?  
— Não pode me culpar — me defendi e ela gargalhou. 
— Não mesmo, então, após o intervalo vocês me esperam no
anfiteatro. Combinado? — Concordei balançando a cabeça. — Pode
avisá-lo, por favor? 
No exato momento em que ouvi suas palavras, Cameron
entrou pela porta que dava para o estacionamento. Senti meu corpo
todo formigar e quando ele me olhou abrindo um sorrisinho, tive a
certeza de que deveria sair daqui.  
Meu corpo estava ficando quente. 
— Não namoramos mais — relembrei —, mas fique à
vontade para avisá-lo. — Ela me olhou como se mil coisas
passassem em sua mente e quando se virou, olhando Cameron,
pude perceber que endireitou a coluna e respirou fundo. 
Caminhei até a sala de história antes do sinal de início da
aula tocar, precisava sair dali.  
Era a penúltima aula que teria de história, hoje as
apresentações e na próxima semana o professor informaria quem
precisaria recuperar as notas depois das férias de verão, assim
como os outros fariam na semana que vem. 
Antes de entrar na sala, Josh avisou que deveríamos subir
até a sala de vídeo, onde serão feitas as apresentações. 
— Por que não está com os meninos do time? Estavam todos
lá fora — comentei enquanto andávamos até a sala de vídeo. 
— Estava te esperando na verdade. — Franzi o cenho o
olhando. 
— Aconteceu alguma coisa?  
— Queria te pedir desculpas por Karen. — Achei graça e
parei em um canto. 
— Por algum motivo, sabia que faria isso — afirmei. — Você
não deve pedir desculpas pelo erro de outra pessoa e está tudo
bem, não se preocupe. 
— Não sei qual é o problema dela — disse soltando um
suspiro. — Ela tem tudo, meus pais sempre fazem o que ela quer. 
— Talvez esse seja o problema, ela não tem tudo o que quer
aqui na escola. Não tem Cameron, não tem… 
— Sua fama, seu carisma e sua naturalidade — completou. 
— Para a sala, por favor — o professor pediu nos olhando. 
Apenas concordei entrando na sala seguida por Josh e suas
palavras se fixaram em minha mente. O professor foi chamado pela
coordenadora da escola e saiu fechando a porta da sala. Caminhei
até os meninos, meu grupo de história, e os olhos de Cameron
estavam fixos em mim. Queria sair correndo, dizer que estava
passando mal ou inventar qualquer outra desculpa para não ficar
perto dele, mas não podia. Hesitei antes de me aproximar dele e ele
franziu o cenho. 
— Oi meninos — os cumprimentei e eles fizeram o mesmo
comigo, em seguida voltaram a repetir suas falas.  
Olhei o único lugar livre, que era ao lado de Cameron, atrás
de uma das fileiras e passei por Peter que relia um papel com suas
falas. 
— Cameron, preciso passar para me sentar — eu disse, já
que suas pernas atrapalhavam minha passagem. 
Ele movimentou o quadril para frente e passou a mão na
coxa. Suas unhas ainda estavam pintadas de preto e seus dedos
com anéis, inclusive com nossa aliança. 
— Pode se sentar — disse com um sorrisinho safado no
rosto. 
Me controlei para não abrir um sorriso e parecer que gostei
de ouvi-lo dizer aquilo, mas vi Peter começar a rir baixo, assim como
os outros meninos que estavam a nossa frente. 
Empurrei suas pernas e me sentei na cadeira, estava nervosa
só de estar ao lado dele.  
— Por que está fugindo de mim? — Questionou em voz
baixa, colocando o braço na borda de minha cadeira. 
— Não fugi de você — disse rapidamente e me direcionei aos
meninos. — Vocês estão prontos? Lembram o que cada um vai
falar? — Questionei e eles me olharam. 
Os meninos disseram um sim tão alto que chamou a atenção
das pessoas que estavam na sala, repassando suas falas para a
apresentação.  
— Certo. Boa sorte, gente! Vocês foram incríveis e pela
primeira vez se dedicaram de verdade a um trabalho — brinquei
rindo e eles gargalharam. 
— Bom dia, turma! — O professor cumprimentou entrando na
sala. 
Peguei a mão de Cameron, enquanto o professor falava
sobre hoje ser dia de apresentação, e a tirei do apoio de minha
cadeira. Os meninos riram e até mesmo ele riu, enquanto revirei os
olhos fingindo estar brava. 
—… Rebecca, por favor, como você não precisa mais de
notas — o professor começou —, quero que me ajude a avaliar as
apresentações. 
Gelei quando ouvi suas palavras.  
— Não é justo. Para o grupo dela, ela vai dar dez! — Amber
protestou e outras líderes concordaram. Melissa revirou os olhos, o
que me fez rir, e quando percebeu que eu a olhava, sorriu também.  
— Claro professora Amber, gostaria de dizer mais algo? Que
tal dar as próximas aulas? — O professor ironizou deixando a garota
sem graça e me olhou. — Por favor, Rebecca, sente-se aqui para ter
a visão de todas as apresentações — pediu apontando com a
caneta para a cadeira ao lado dele. e duas mesas uma na frente de
minha cadeira e outra na dele.  
Me levantei sentindo todos os olhares direcionados a mim e
caminhei, pedindo a Deus para não cair no meio da sala. Me sentei
ao lado do professor e então as apresentações começaram. 
Como sempre, algumas pessoas travaram no começo, o que
é totalmente normal, mas acabaram indo muito bem. Calleb fez com
tanta facilidade e tranquilidade que parecia ter nascido para aquilo,
assim como Melissa que até ajudava as pessoas do grupo a
relembrarem suas falas. 
Chegou a vez do grupo dos meninos. Acreditei que Eric
travaria no meio da apresentação, mas a verdade era que todos
estavam relaxados e sabiam o que estavam fazendo. Cameron
nasceu para falar ao público e aquilo ficou ainda mais nítido, ele
explicava o tema como se estivesse explicando as estatísticas de
futebol americano.  
O professor fez algumas perguntas a eles, como fez para
todos os outros grupos. Peter desenrolava as perguntas e Josh
completava, foi incrível. O  professor ficou tão focado na
apresentação deles que quase nem fez anotações. Quando
Cameron começou a falar, minha mente foi longe, chegando até o
sonho. Se fechasse meus olhos pensaria nele e se os abrisse, veria
o garoto que estava no sonho. Parei de assistir e voltei às minhas
anotações assim que Cameron percebeu meu olhar nele.  
Absolutismo não era um assunto legal e chegava a ser
cansativo, mas com eles apresentando parecia fácil. 
— Devo admitir que estou impressionado com a
apresentação de vocês. É a primeira vez que estudam de fato para
um seminário, não? — O professor brincou. 
— Com a capitã não tinha como deixar de estudar — Eric
disse e os meninos concordaram rindo. 
— Ah, claro, a capitã de vocês. — O professor me olhou e riu,
voltando o olhar para os meninos — E  Styles, parabéns! Primeiro
seminário em dois anos e meio em Liberty que você apresentou, e
se saiu muito bem, não acha Rebecca? — Indagou me olhando. 
Os olhares de todos na sala se voltaram a mim. 
— Claro, parabéns capitão. — Foi o que consegui dizer
enquanto o olhava, e com seu sorrisinho cínico nos lábios suspeitei
que algo viria. 
— Obrigado, amor — disparou no meio da classe e todos nos
olharam confusos, exceto Peter. 
— Não sou seu amor — afirmei o encarando e senti uma
corrente de eletricidade passando em minha corrente sanguínea. 
— Para mim, você é — afirmou com os olhos fixos nos
meus.  
— Certo, certo — o professor disse risonho. — Vocês
fecharam com dez, time. Na minha matéria não devem mais nada,
podem se retirar porque preciso falar com os outros grupos. — Ele
me olhou — e obrigado, Rebecca — disse enquanto recebia minhas
anotações. — Estão dispensados.  
Saímos da sala e o time fez uma comemoração breve, porém
barulhenta, por terem ido bem na apresentação. Organizamos
nossas coisas no armário e eu já estava pronta para ir até o
estacionamento, esperar o final do intervalo para ajudar Melissa
com a seleção do show de talentos, quando Peter começou a me
empurrar para o campo com as mãos em meus ombros. 
— Nada de ficar sozinha no estacionamento — Josh disse
rindo com Peter. 
— Me errem — retruquei fingindo fugir deles. 
Peter e Josh começaram a correr atrás de mim pelo corredor
enquanto riamos, até darmos de cara com a inspetora Sullivan. Eles
se colocaram em minha frente, impedindo a inspetora de me dar
uma bronca. 
— Isso não é uma pista de corrida e vocês não são mais
crianças de cinco anos, vão para seus projetos agora mesmo! —
Exigiu em tom rígido. 
— Sim, chefe! — Os dois disseram juntos, fazendo a
inspetora rir. 
— Andem logo — disse rindo e entrando em um corredor. 
Nós três nos olhamos e rimos. Caminhamos até o campo e
eu me sentei nas arquibancadas. 
Observei o treino, o ensaio das líderes, as meninas gritando
quando Cameron tirou a camisa seguido dos outros meninos, Lana
mandando algumas meninas se ferrarem, Melissa olhando
Cameron, como se o sentimento por ele fosse impossível de não ser
sentido e depois limpando o canto dos olhos para voltar ao ensaio.
Natalie a olhando com compaixão e Calleb dando um
empurrãozinho em seu ombro para que voltasse a tirar fotos.
Sentiria falta da minha vida em Liberty, mas não me arrependia de
ter tomado aquela decisão. Só queria poder levar Cameron e Natalie
comigo. 
— Ainda está aí? — Ouvi Nicolly dizer.  
Estávamos conversando por chamada de vídeo, porque ela
queria me mostrar as cores que escolheu para as mesas da festa de
casamento. 
— Desculpe — disse rindo e a olhando. 
— Preciso ir, Carter e eu precisamos resolver algumas outras
coisas, mas antes, está sozinha? — Balancei a cabeça concordando
e em seguida indiquei que estava com fones de ouvido. — Nossa,
nem tinha reparado — disse rindo. — Fale com ele. 
— O quê? 
— Sobre o que conversamos. Seus medos na primeira vez, o
que a igreja te causou fazendo com que crescesse acreditando que
depois do casamento se tornaria uma escrava sexual. Vocês têm
intimidade para isso, ou estou errada?  
— Não é muito precoce? Nem estamos namorando mais —
disse baixinho após um tempinho em silêncio. 
— Eu e Carter namoramos há três anos e conversamos sobre
isso após seis meses juntos, mas você e Cameron se conhecem
desde que nasceram — ela riu da situação. — Só falta conhecerem
algumas outras partes, que com o tempo os dois vão mostrando,
mas se isso é algo importante para você, acho que ele gostaria de
saber.  
— Eu vou embora, Nicolly, não acho que seja momento para
esse assunto. 
— Ah, claro. Esqueci que com você se mudando, o amor vai
acabar, desculpe — debochou. 
— Você é detestável! — Rebati a vendo abrir um sorriso. 
— Impossível, você roubou toda chatice do mundo — replicou
gargalhando,  fiz uma careta para ela, mas logo me juntei a suas
risadas.  — Preciso ir, te amo. 
— Te amo também — ela mandou um beijo e desligou.  
Tirei meus fones e em seguida minha blusa de frio. Levantei
meu olhar percebendo Cameron me encarar. Quando deu um toque
de mão com o resto do time e me olhou, senti meu corpo ainda mais
quente. Tomei um pouco de água da minha garrafinha e abaixei a
cabeça passando a mão na testa.  
— Amor… — o ouvi dizer baixo. 
— Para de me chamar assim aqui — pedi sem o olhar e o
senti rir. 
Respirei fundo e quando levantei minha cabeça, o vi me
olhando de cima, a mesma visão do sonho, quando estava beijando
seu abdômen até chegar em sua calça, a diferença era que ele
estava deitado. 
— Por que está fugindo de mim? — Soltei a respiração. 
— Não estou. — Ele se sentou ao meu lado. 
— Sim, está. Qual é o problema?  
— Sonhei com você — disparei o olhando, ele sorriu, em
seguida franziu o cenho. 
— E qual é o problema? — Repetiu a pergunta. 
— Não foi como os outros. — Passei a mão na nuca sentindo
minhas bochechas queimarem. 
— Olha para mim — pediu. 
— Não. 
— Olha para mim — disse com mais firmeza e o sinal do
intervalo ecoou.  
Sai tão depressa que não o dei espaço para me impedir.  
Me encontrei com Natalie, Lana, Calleb e Luce para
comermos juntos. Nos sentamos em uma mesa no fundo, onde
pude encostar minhas costas na parede. 
Estávamos conversando sobre as férias de verão quando os
meninos do time entraram no refeitório e se sentaram na mesa a
nossa frente, não estavam mais vestidos com os uniformes do time.
Mandaram corações e beijinhos em nossa direção após apontarem
para nossas camisetas, estavam amando, sem dúvidas. 
—… só falta Peter pedir Lana em namoro agora — ouvi
Calleb dizer alto. Peter se virou da mesa do time e mostrou o dedo
do meio à Calleb que riu respondendo com os dois dedos do meio
levantados. 
Senti uma nuvem pairando em cima da minha cabeça. No
instante que vi Cameron, ele estava com os olhos fixados em mim,
como se quisesse ler meus pensamentos. 
Endireitei minha coluna tentando não mostrar o quanto
estava apreensiva com seu olhar e não consegui desviar meus
olhos dele.  
Aqueles beijos, ele rasgando meu vestido…  
— Então, o que acha? — Ouvi Calleb questionar e minhas
bochechas estavam queimando.  
Ele estava tão lindo, eu parecia saber exatamente o que
fazer… 
— Rebecca? — Era a voz de Lana.  
Depois que beijei seu peitoral eu… 
— Rebecca, bom dia! — Natalie disse balançando meus
ombros. 
— Ah, oi. — Vi Cameron sorrir e desviei meu olhar dele. —
Acho que o show de talentos vai ser ótimo também, preciso ir… —
pensei rapidamente em uma desculpa — atender uma ligação. —
Avisei me levantando e caminhando antes de ouvir qualquer
protesto, deixei bandeja na prateleira e sai rapidamente. 
Respirei fundo quando cheguei no refeitório ao ar livre, onde
felizmente não havia ninguém.  Caminhei de um lado para o outro
após deixar minha mochila em uma das mesas. Talvez um livro me
poderia me distrair, talvez bater na minha cabeça com uma bíblia
fosse a solução… 
Tive que seguir a primeira opção e peguei o livro Paixão da
saga Fallen, sentei-me no banco e me entreguei ao livro após
colocar meus fones de ouvido. 
Meu pensamento voltou para a realidade quando senti meus
cabelos sendo juntados para trás, não precisei me virar para saber
quem era, tirei meus fones e seus lábios se aproximaram de minha
orelha. 
— O que acha de irmos para a ponte depois da escola? —
Questionou em um sussurro, me virei o olhando e ele apoiou as
mãos em minhas coxas, as apertando. 
— Tenho um jantar hoje à noite. — Ele concordou com os
lábios próximos dos meus, precisei fechar meus olhos e respirar
fundo. 
— Sei disso, sogrinha me convidou — murmurou sorrindo. —
Mas será às sete da noite, temos tempo.  
Ele segurou minha mão, se endireitou e me puxou me
fazendo levantar, mas o empurrei. 
— Tudo bem, mas fique longe de mim aqui na escola — pedi
pegando minhas coisas e o olhei. — Você não vai para o anfiteatro? 
— Pode ir na frente, gosto de te ver de costas rebolando
enquanto anda. — Dei um tapa em seu braço e ele gargalhou. 
— Seu safado — disse me deixando rir junto e ele selou
nossos lábios com rapidez. — Anda, vai logo. 
— Ah, amor, mas eu quero… 
— Mas nada, vai — repliquei o empurrando enquanto ria. 
Me afastei dele assim que entramos na escola e seguimos
para o anfiteatro.  
— Eu juro que vou te bater — ameacei Melissa quando a vi
sentada em uma cadeira da ponta, fazendo com que eu ficasse ao
lado de Cameron. 
— Acho que não vai não. — Brincou abrindo um sorriso. —
Podem começar — disse para a dupla que estava em cima do
palco. 
Cameron passou os dedos em minhas costas e subiu a mão
até minha nuca, por baixo do meu cabelo, e a apertou. Estremeci
em sua mão e o afastei com um empurrão, mas era claro que não
bastava. 
Ele então, enquanto eu falava com Melissa sobre a minha
opinião em relação à apresentação, colocou a mão em minha coxa
e apertou. 
Outra performance iniciou, era Barbara, do jornal, cantando
com um garoto da natação, ficou um dueto incrível. E eu teria
prestado toda a atenção, se Cameron não tivesse colocado a mão
entre a separação das minhas coxas, apertando a direita e me
fazendo escorregar um pouco para trás na cadeira. 
Durante as quatro apresentações ele opinava, sem afastar a
mão de mim. 
— Uma pausa, preciso tomar um pouco d’agua — Melissa
avisou. — Querem alguma coisa? 
— Eu... 
— Não — Cameron respondeu antes de mim e Melissa riu
como se entendesse bem o que aquilo significava.  
Quase entrei em desespero quando ela saiu do anfiteatro,
com Isabel, me deixando sozinha com Cameron, considerando que
a pausa também servia para os participantes do show de talentos.
Me levantei e ele me puxou para o seu colo. 
— Cameron... 
— Temos cinco minutos a sós — alertou me prendendo com
seu braço em minha cintura. 
Sua mão desocupada tirou os óculos de meu rosto, os
deixando na bancada, e subiu em minha nuca para me puxar para
um beijo. Me sentia completamente frágil e desejosa, de uma forma
que me fazia abaixar a guarda e apenas querê-lo, de todas as
formas possíveis. 
Ele não parou de apertar minha cintura enquanto me fez
levantar levemente o queixo para beijar meu pescoço. 
— Você é tão, tão linda, Rebecca — murmurou apertando
mais o braço ao meu redor. 
O olhei por instantes, o suficiente para pensar, e balancei a
cabeça negativamente, sem saber em que momento consegui
raciocinar. 
— E você, Cameron, é tão, tão lindo, que preciso ficar longe
— alertei me levantando de seu colo e me sentando em minha
cadeira.  
Ouvi Melissa entrando novamente no anfiteatro com Isabel,
que estava como assistente de palco, e me inclinei para ele, para
falar o mais baixo possível. 
— Volte a me provocar e eu vou entrar no seu jogo —
ameacei e ele sorriu passando a língua nos lábios. 
— Sei que vocês não pediram nada, mas acho que os dois
precisam se hidratar — Melissa avisou entregando uma garrafinha
de água para mim e outra Cameron. 
— Obrigada — a agradeci. 
— Obrigado — Cameron agradeceu. 
As apresentações voltaram e Cameron colocou o braço
apoiado em minha cadeira, ele ainda estava tomando água, quando
coloquei a mão em sua coxa, o fazendo quase cuspir a água que
estava tomando.  
O vi estremecer e sabia que estava frágil por conta de
minutos atrás, em resposta ele entrelaçou nossos dedos e eu
entendi que era um pedido de rendição. 
Olhei para ele sorrindo vitoriosamente e voltei minha atenção
para as apresentações.  
 
Los Angeles, Estados Unidos, 
Quarta-feira, 11:43. 
 
— Disse aos meninos do time que Elliot ficaria no comando
hoje — Cameron afirmou assim que chegamos na ponte.  
Tirei meu tênis e ele se virou de costas enquanto eu colocava
uma camiseta sua e um short de linho fino rosa claro que peguei em
casa antes de chegarmos aqui. 
— Por que não ficou? O jogo será na semana que vem, não
seria bom ficar para treinar? — Questionei o vendo tirar a camisa. 
Ele pulou no lago, subiu até a superfície passando as mãos
no rosto e eu me sentei na borda observando seu corpo brilhar
pelas gotas d'água.  
— Estou cansado, treinos puxados de futebol e da luta,
reuniões de negócios, faculdade, provas, trabalhos… — comentou e
eu concordei balançando a cabeça.  
Fiquei feliz por ele compartilhar aquilo comigo, normalmente
sempre guardava tudo e queria mostrar que era um super-homem
imbatível.  
Pulei no lago, mergulhei fundo e ele me acompanhou,
subimos até a superfície juntos. 
— Sabe onde vai passar as férias de verão? — Questionei
enquanto sentia a água gelada em minha pele.  
— Noruega, sempre passo com meus avós — explicou.  
Me aproximei e nos olhamos dizendo milhares de coisas. 
— Era para você ir — disse, finalmente, quebrando o
silêncio. 
Respirei fundo sentindo meu rosto queimar pelas lágrimas
que viriam e o abracei. 
— Faltam dias, amor, ficarmos juntos só vai piorar, sei disso,
mas não consigo simplesmente te deixar — sussurrei em seu ouvido
e Cameron me abraçou mais forte.  
— Vamos deixar a dor para depois — pediu puxando minhas
pernas para sua cintura, o olhei e ele selou nossos lábios trazendo
milhares de sentimentos à tona. 
Ficamos nadando, brincando, jogando água um no outro e
tiramos algumas fotos. Ele continuou no lago quando sai e fiquei na
borda, sentada, sentindo o sol em meu corpo e rosto. 
— Tia Eliza contou sobre a tradição das lutas — comentei
balançando meus pés na água.  
Quando Cameron emergiu à superfície, o observei sair da
água e se sentar ao meu lado.  
— E disse que odeia essa tradição? — Concordei
balançando a cabeça. — Ela deu um sermão em mim e meu pai
durante quatro horas — comentou, aos risos. 
— Imagina o coração dela, como vai ficar — o olhei. — Assim
como o meu. 
— Você não vai — disparou e eu levantei uma sobrancelha
quando percebi que estava falando sério. 
— Vou te dar duas opções: passar meus últimos dias em Los
Angeles discutindo, porque acho que devo te lembrar que você não
manda em mim; ou aproveitar esse tempo que temos. Então, qual
vai ser? — Questionei olhando dentro de seus olhos. 
Ele soltou a respiração, puxou e soltou novamente. 
— Não mando em você, amor — disse olhando o lago. — Só
não quero que precise ver aquele cara novamente. 
— Vou vê-lo todo quebrado depois que você acabar com ele,
talvez não seja tão ruim assim — disse encostando minhas costas
na borda da ponte e ele fez o mesmo aos risos. 
— Talvez. 
— Sua mãe também achou que não tínhamos transado por
falta de vontade ou porque eu não sabia o que fazer. — Ele
gargalhou me ouvindo e me abraçou. — Para de rir, besta. — Dei
um tapinha em sua coxa. 
— O que disse a ela?  
— Que não fizemos ainda porque você respeita meus
motivos — expliquei e ele concordou balançando a cabeça. 
— Se fosse por mim e por vontade já teria acontecido —
admitiu subindo a mão em minha nuca. 
Pensei um pouco, respirei fundo e ele me olhou como se
soubesse que eu tinha algo a dizer.  
— O que sonhou dessa vez, amor? — O olhei e acabei
sorrindo. 
— Não vou contar. — Ele bufou e revirou os olhos. — Preciso
falar com você… sobre outra coisa, é um assunto semelhante,
mas… — Me virei ficando de frente para ele, entrelacei nossos
dedos, tomando tempo e coragem para entrar no assunto. 
Ele pegou a garrafinha de água e tomou um gole, esperando
que eu começar a falar. 
— Água, bê? — Questionou me estendendo a garrafinha e eu
neguei, balançando a cabeça. — O que te deixa tão nervosa?  
— Promete que não vai rir de mim? É um medo bobo e idiota.
— Ele acariciou meu rosto e beijou minha testa. 
— Prometo. 
— Certo… — Procurei as palavras certas. — Desde os meus
treze anos ouvi muitas mulheres dizendo sobre fazer sexo só pra
agradar os maridos, que às vezes tinham que fazer, como se fosse
uma obrigação. Odeio pensar que posso me sujeitar a ser escrava
sexual, porque… 
— Por Deus, Rebecca, você acha que eu chegaria a esse
ponto? — Indagou me olhando como se eu tivesse o ofendido
profundamente.  
Olhei em seus olhos e ele se levantou começando a andar de
um lado para o outro. 
— Não eu… não falei isso. — Me levantei também. — Só
estou dizendo o que sempre ouvi. Cameron. — Ele me olhou. — Eu
nunca tive esse tipo de contato físico íntimo com ninguém, dentro de
um casamento não sei como funciona e tudo o que sei é baseado
no que as pessoas falaram. Minha mãe sempre disse que meu pai
nunca fez esse tipo de coisa, mas as irmãs dela, as mulheres da
igreja — pensei um pouco. — E algumas amigas falavam que as
vezes os maridos precisavam se aliviar, então elas iam mesmo sem
vontade. 
Ele respirou fundo, acredito que organizando os
pensamentos em sua cabeça. 
— Jamais vou tocar em você contra sua vontade e nem vou
te fazer pressão psicológica para esse tipo de coisa — afirmou me
olhando. — Meu Deus! Isso não devia estar em discussão, não é
uma opção esse tipo de coisa. — Seus dedos acariciavam meu
rosto com cuidado. — Entendo o que quer dizer, você não é escrava
sexual de ninguém e nem um mero pedaço de carne, amor, e nunca
vai ser no que depender de mim. — Seus dedos se afundaram em
meus cabelos. — Sinto muito que tenha ouvido esses tipos de
pensamentos. 
Acariciei seu braço e selei nossos lábios, me encostei na
borda da ponte. 
— É tão horrível pensar que a pessoa que devia te amar e
respeitar te olha como um objeto de alívio sexual — comentei em
um suspiro. — Não acredito que você faria algo assim, mas
precisava te contar, não quis ofender. 
— Calma, amor. — Ele riu pegando minhas mãos e as
beijando. — Não fiquei bravo com você, fiquei por achar que tinha
imaginado que eu faria algo assim. 
— Claro que não! E — dei uma pausa, ele me acharia uma
idiota — eu odeio esse negócio de sexo depois do casamento
porque traz um peso enorme quando se é baseado na religião. 
— Mas por que fez uma escolha dessas, se você odeia? 
— Não odeio a escolha que fiz. O ponto é que, pelo menos
para mim, o que parece é que não tenho escolhas, não tem como
relaxar, as garotas que transaram antes do casamento sempre
falam que preciso estar relaxada para não doer e coisas assim, mas
não tem como, na lua de mel é como se fosse uma consequência
você transar. Tipo, você vai à escola e sabe que vai passar por
provas, por testes. Você casa e sabe que vai ter que transar, não sei
se dá para me entender — disse frustrada e envergonhada. — Não
gosto de pensar que o sexo é uma consequência do casamento,
precisa ser algo natural, não acha? 
Não o olhei, me sentia envergonhada demais para isso. 
Seus dedos levantaram meu rosto, mas não o olhei, não
sabia se conseguiria. 
— Olhe para mim — pediu passando os dedos em minhas
bochechas, tomei coragem e assim o fiz. — Não é um medo bobo, e
nada do que eu diga vai fazer isso passar até que chegue o dia que
acontecer. O sexo não é uma consequência do casamento e sim do
amor, eu te amo e sabe que por mim essa consequência,
incrivelmente satisfatória, já teria acontecido. — Rimos juntos. —
Mas, no momento, posso afirmar uma coisa. — Ele sorriu
maliciosamente subindo a mão em minha nuca, aproximando os
lábios de minha orelha. — Posso deixar a situação mais confortável
para você — sussurrou como se fosse um segredo.  
— Confortável? — Perguntei, sabia o que isso queria dizer,
mas desejava ouvir ele falando. 
Suas mãos apertaram minha cintura e ele me virou com
rapidez para trás, me fazendo lembrar do sonho quando me colocou
contra parede e rasgou meu vestido. 
— Quando se está envolvido demais — começou colocando
meu cabelo para o lado esquerdo e colando o corpo no meu. —
Você esquece tudo ao seu redor — continuou descendo os dedos
lentamente em meus braços, até prende-los em minhas costas. —
Será como nas vezes em que nos beijamos, quando quase
passamos do limite. — Senti seus lábios roçando em meu pescoço,
fechei os olhos sentindo minha respiração acelerar e meu corpo
esquentar. — A diferença. — Sua mão direita subiu até meu
pescoço e o apertou. — É que não terá limites.  
— Amor... não faz isso — supliquei ofegante. Segurando seu
braço em meu pescoço, ele me virou de frente e eu abaixei o olhar
sentindo meu rosto queimar. 
— Foi com isso que sonhou? — Indagou afastando meu
cabelo do rosto, acabei rindo e passando a mão nos olhos. 
Ele sorriu de lado e selou nossos lábios com calma e ternura
pressionando ainda mais o corpo contra o meu.  Suas mãos me
apertavam com força por baixo da blusa molhada que estava
usando, ele mordeu meu lábio inferior quando subiu a mão em meu
pescoço e o apertou. O olhei por instantes, ainda não me
conformava em como ele era incrivelmente lindo. 
— Natalie comentou que você tem medo de que eu não goste
da nossa primeira vez — disse como se isso não fizesse o menor
sentindo. — Percebe o quão absurdo isso soa?  
— Amor, a questão é que você teve experiências, e uma
garota que simplesmente não sabe nem como começar pode ser
frustrante. — Suspirei e ele sorriu beijando minha testa. 
— Você se preocupa tanto com coisas desnecessárias —
afirmou. — Se quer saber, acho que você vai ser ótima — disse
sorrindo e acariciou minha nuca. — Principalmente porque aprende
as coisas rápido e quando puder mostrar tudo o que deseja fazer,
vai me deixar doidinho — admitiu roçando os lábios nos meus. —
Acho que não tem com que se preocupar. — Seus olhos estavam
fixos nos meus, deixando claro que ele já tinha pensado nisso mais
vezes do que eu poderia imaginar.  
Senti meu corpo todo  arrepiar e respirei fundo antes de
afastá-lo com a mão em seu abdômen definido. 
— Estou com fome — comentei beijando seu ombro. 
— Então vamos comer. 
Nos secamos, trocamos de roupa, arrumamos nossas coisas.
Paramos em uma lanchonete não muito distante da ponte, mas era
longe o suficiente de casa para termos a certeza de que ninguém
conhecido nos avistaria.  
— Seu pai disse que quer conversar comigo antes do jantar,
tem alguma ideia do que seja? — Questionou e em seguida mordeu
um pedaço de seu lanche. 
Balancei a cabeça concordando e limpei os lábios com um
guardanapo. 
— Provavelmente para você ficar atento. Papai convidou
alguns clientes e outros que estão para fechar contrato com ele.
Todos têm dois ou mais filhos homens e ele não confia em
ninguém. 
— Com motivo — Cameron rebateu. 
— Ao que tudo indica, as irmãs de mamãe virão também,
junto com seus maridos e enteados. Acho um pouco exagerado. Ele
já colocou Alec para ficar me vigiando, Nicholas também virá, você
devia aproveitar o jantar e não ficar de olho em mim — afirmei. 
— Mesmo que seu pai não me pedisse, ficaria de olho em
você — disse com firmeza.  
— Cameron… 
— Isso não é um debate, amor. — Me encostei na cadeira
tomando um gole de suco de laranja. — Não estou tentando te
controlar, só não quero seu mal e nem ninguém encostando em
você.  
— Sei disso, mas eles vão estar dentro da minha casa, seria
loucura tentar algo comigo sabendo que meu pai tem olhos em
todos os lugares. 
— Eu não confio. — Achei graça e balancei a cabeça
negando.  
— E isso não é surpresa nenhuma — afirmei o vendo rir e dar
de ombros. 
 
 
 
 
 
Faltavam minutos para o jantar começar e eu ainda me
encarava no espelho, achando um grande exagero estar tão
arrumada assim para um jantar na minha casa.  
Meu vestido tão leve e confortável, tomara que caia, longo e
com uma abertura na perna direita, me faria ter que tomar o máximo
de cuidado quando me sentasse, mesmo estando com um shortinho
curto por baixo que era tão fino que parecia que estava sem. 
Ouvi duas batidas na porta e pedi que entrasse. Alec me
olhou e acenou com a cabeça. 
— Senhorita Malik, seu pai está a sua espera no escritório —
avisou estendendo o braço para que eu o acompanhasse. 
— Você acha que se eu fugisse agora e voltasse só quando o
jantar acabasse, teria grandes problemas? — Questionei em tom
brincalhão e pela primeira vez Alec se permitiu rir comigo por perto,
mas logo se conteve. 
— Acredito que o senhor Owen acabaria com o jantar e
colocaria todos a sua procura, senhorita — afirmou, revirei os olhos
em frustração. 
— Acho que não tenho escolhas então — concordei dando
uma última olhada no espelho, conferindo se estava tudo certo. 
Me sentia péssima em tirar o colar que Cameron me deu,
porque não combinava com o vestido azul bebê, parecia que faltava
algo em mim quando não o usava.  
Não estava com maquiagem pesada, apenas um delineado e
passei uma corzinha nos lábios, que não chegava a ser um batom,
mas não sairia quando fosse comer.  
Entrelacei meu braço no de Alec, peguei meu celular e
caminhamos até o escritório de papai, que era no terceiro andar de
casa. A porta automática se abriu assim que paramos no carpete
preto com sensor, mas acreditava que foi por papai ter visto a nossa
chegada pela câmera.  
Entramos e Cameron estava na sala, apenas ele e meu pai.  
Ele me olhou por inteira, sem piscar, sorriu de lado e passou
a língua nos lábios. Papai estava me olhando também, acredito que
Alec percebeu meu nervosismo em ver Cameron porque me olhou
rapidamente. 
— Obrigado, Alec — papai disse quando soltei o braço de
Alec que concordou balançando a cabeça e se retirou. — Querida,
você está linda — elogiou admirado e o abracei. 
— Obrigada, pai.  
Peguei Cameron no flagra quando percebi que seus olhos
estavam em minha bunda, eu teria lhe dado um tapa, se
estivéssemos a sós.  
Senti meu corpo todo se esquentar apenas com o olhar
dele.  
O analisei, vendo que sua camisa social era da mesma cor
que meu vestido, um pouco mais clara. Acabei rindo sozinha
lembrando que quem escolheu meu vestido foi mamãe,
provavelmente acompanhada de tia Eliza. Deveria suspeitar que
dona Olívia era nossa apoiadora, mas que tentava disfarçar, já que
papai queria testá-lo o tempo todo. 
Esses testes estavam começando a me irritar.  
Cameron estava lindo, o cabelo arrumado, as mangas da
camisa social dobradas até o meio do pulso, deixando suas
tatuagens um pouco amostra, os anéis nos dedos e ele não deixava
de usar a aliança de forma nenhuma, assim como eu. As unhas
permaneciam pintadas de preto e aquilo o deixava com um charme
incrível. Ele fica atraente de qualquer forma. Seu colete, calça,
gravata e sapatos eram na cor preta, o que fazia seus olhos azuis
se destacarem.  
— Querida, Cameron te escolheu para ser a companhia dele.
— Olhei papai, incrédula. 
— Tinham outras opções? — Questionei calmamente e
quando vi seu sorriso, passei a entender que se tratava não só de
um teste para Cameron, mas para mim também.  
— Felicity e Gabbe queriam que ele as acompanhasse hoje. 
— A irmã de Nicholas? — Perguntei apenas para confirmar e
ele balançou a cabeça positivamente. 
— Sim, ela também é sua prima — papai explicou rindo, mas
quando viu que para mim não era um momento engraçado, passou
a me analisar. 
Milhares de coisas vieram em minha cabeça. Seria ela a
mesma garota que Cameron se envolveu no ano passado e se
afastou por conta das meninas que começaram a atacá-la? A única
garota que ele de fato achava legal e queria ter algo mais sério?
Minha prima era a mesma Gabbe que Cameron citou?  
Papai pareceu entender que eu tinha dúvidas quando olhei
rapidamente Cameron, tentando não demonstrar muita coisa, mas
era impossível.  
— Parece que eles tiveram um passado juntos — papai
provocou olhando Cameron. 
— Exatamente, passado — Cameron disse friamente, mas
não o olhei.  
— Entendo — disse tentando manter a calma e me aproximei
de papai. — O senhor queria falar comigo? — Mudei de assunto e
ele me olhou por instantes, me analisando outra vez. 
— Fique perto de Cameron, se necessário, até finjam ainda
estar namorando. Acredito que seja uma especialidade de vocês —
provocou novamente, o olhei incrédula e olhei Cameron que estava
com o punho cerrado. 
— Pode nos dar um segundo, por favor? Já desço. — Ele
balançou a cabeça positivamente, mas em seus olhos via o quanto
estava nervoso e irritado. 
O observei sair aos passos firmes do escritório, voltei meu
olhar a papai e comecei a fazer o nó em sua gravata. 
— Está pegando pesado — comentei e ele riu olhando para
frente. — Até quando vai isso? 
— Não estou fazendo nada. 
— Você adora fazer o sonso, senhor Owen. — Ele
gargalhou. 
— Na verdade, não farei mais nada. O tanto que ele está se
controlando por medo de eu proibir vocês, já mostra muita coisa e
— ele bufou — sua mãe disse que era momento de parar, pois você
vai embora e não é justo afastá-los, mesmo que pareça ser o melhor
na minha opinião.  
A frase você vai embora soou dolorosa e sofrida. 
— Uma trégua? — Questionei, talvez um pouco animada
demais. 
O suspiro dele foi a minha resposta. 
— Não exagera.  
Abri um sorriso finalizando o nó de sua gravata.  
— Preciso ir fazer a abertura do jantar — suspirei. — Não
acha um exagero?  
— Você sempre acha as coisas que sua mãe faz um exagero
— comentou em tom brincalhão. 
— Não é verdade — rebati e ele me olhou incrédulo, mas seu
olhar mudou para sério e firme. 
— Escute, filha — começou segurando minhas mãos. —
Preciso que fique segura, estava falando com Alec e Ned sobre sua
segurança quando Cameron chegou, nem preciso dizer que ele por
si só te prioriza, mesmo assim, Alec e Ned estarão com os olhos em
você.  
Ned era um novo segurança, com a mesma idade que Alec e
amigo dele desde que nasceram. Gostava de tê-los por perto, sentia
uma familiaridade enorme com eles. 
— Então, nunca teve abertura para Cameron escolher eu ou
as meninas, não é, senhor Malik? — Papai riu concordando. 
— Você já deveria ter conhecimento de que uma hora ou
outra eu iria querer saber como é a confiança entre vocês, isso é
uma das maiores coisas que faz um relacionamento dar certo —
explicou calmamente.  
— Cameron está armado? — Perguntei e seu olhar afirmou
que sim. — Também quero. 
— De jeito nenhum, sua mãe ficou falando por cinco horas
sobre isso, cinco horas, Rebecca, tem noção? Ela não parava —
comecei a rir do jeito desesperado de papai. — Juro que tentei,
ainda falei que você sabia muito bem usar uma arma, mas ela não
deixou. Sinto muito, foi um sacrifício até para que eu ficasse
armado.  
— Imagino — comentei um pouco desanimada. — Pai, por
que  tanto? Esse vestido, toda a segurança… estamos em casa, é
um jantar de agradecimento pela casa, não? — O olhei por
instantes. — Não estamos nos envolvendo com ninguém errado,
certo? 
— É claro que não, querida, mas era para ser sim um jantar
apenas de gratidão e para a família, porém, aproveitei para convidar
alguns clientes e outros que querem fechar contrato comigo ou com
os Styles. 
— Você está a trabalho? Como está vivo ainda? Mamãe
concordou com isso? 
Ele riu passando a mão na nuca. 
— Foram as cinco horas falando — relembrou. — E sua
segurança, de sua mãe e de seus irmãos são prioridades,
principalmente porque as irmãs de sua mãe virão. 
— Ah… — murmurei. — Os filhos dos maridos delas
também? 
Papai balançou a cabeça positivamente, mostrando que
também odiava aquela ideia. 
— É a família de sua mãe, não podia negar. 
— Pelo menos os tios estarão aqui também — comentei e
ouvimos duas batidas na porta.  
— Pode entr… — Antes que papai terminasse a fala, mamãe
entrou e nos encarou no fundo de nossas almas. 
— Que horas vocês acham que são?  
— Já estávamos indo, benzinho — papai afirmou. 
Ela o olhou e segurou o sorriso, em seguida soltou a
respiração e se aproximou de mim. 
— Você está perfeita — disse admirada e segurando minhas
mãos. — Não fique sozinha hoje e se cuide. — Balancei a cabeça
concordando. — Como eles se saíram? — Mamãe questionou
olhando papai e eu franzi o cenho o vendo rir baixo. 
— Você estava certa, Olívia, Cameron mesmo com raiva se
conteve e não disse nenhuma palavra — explicou. 
— Percebi quando ele passou pelo corredor ao ponto de
explodir, acabou esse seu joguinho, as crianças merecem paz —
mamãe ordenou e ele deu de ombros concordando. 
— A senhora sabia desses testes do papai?  
— Sim, querida, mas isso acabou — explicou olhando papai,
que logo confirmou balançando a cabeça outra vez. — Falando
nele, há algo que quero conversar antes de descermos para o
jantar. — Ela olhou papai que entendeu o recado. 
Deu um beijo em minha testa, na de mamãe e saiu do
escritório com o paletó preto em mãos, quando a porta foi fechada,
mamãe me encarou.  
— O vestido ficou incrível em você — começou, sorri me
olhando e concordando. — Eliza foi comigo comprar. 
— Ficou bem nítido, Cameron está usando a mesma cor que
eu. — Rimos juntas e caminhamos até a janela que nos dava a
visão da ala de piscinas. 
— Sim, vocês ficaram ótimos, na minha opinião — afirmou o
olhando através do vidro da janela, ele estava conversando com
Nicholas e Gabbe. — Soube do que aconteceu entre ele e Gabbe,
pode ficar brava, mas contei à  Eliza que Gabbe tem uma inveja
enorme de você e de Nicolly desde a infância e que já tentou te
prejudicar quando morávamos na Espanha, por causa de um garoto
da igreja. 
— Isso já faz dois anos. 
— E você acha que ela simplesmente deixou de lado? Amo
sua tia, ela sabe disso, mas Gabbe tem um sério problema de inveja
que vai além de você. Isso é horrível, devíamos ter tratado desde a
infância. — Mamãe me olhou. — Porém, não é sobre isso que quero
falar, nunca te perguntei sobre o assunto, mas me diga, por que
escolheu esperar?  
Franzi o cenho, era uma pergunta totalmente inesperada.  
— Não estou falando de propósito com Deus, porque isso eu
já sei. 
— Acho que não sei responder isso…  
— Sabe, querida. Pense um pouco, quando decidiu que
esperaria até o casamento?  
Mordi o lábio um pouco nervosa. 
— Primeiro porque eu gosto de ter controle sobre o meu
corpo e minhas ações, fazer o que quero, principalmente quando se
trata de uma área tão íntima. 
— Saber seus limites, o que deseja fazer, o que não quer, ter
um foco é algo incrível, raramente adolescentes da sua idade
sabem determinar isso por estarem em uma fase de
autoconhecimento. Tem algo mais?  
— E, porque… — engoli em seco — depois do ocorrido com
o Turner e da vez que um garoto tentou me beijar na escola e Pollo
me defendeu, queria alguém que me respeitasse, me entendesse,
que não me olhasse como um pedaço de carne, porque a maioria
me olhava assim… sei que sexo pra alguém que conhece, que teve
experiências pode chegar a ser prioridade em um relacionamento,
mas eu não queria ser tratada assim, sei que é algo importante, mas
não queria um relacionamento que o sexo fosse a única prioridade.
— Mamãe sorriu, concordando. 
— Você fala de seu pai, mas foi a primeira a testar Cameron
— engoli em seco. — E ele nunca te pediu nada, só sua confiança.  
— Onde quer chegar?  
— Pelo que sei, virão cinco garotas que já tiveram algum
contato com Cameron, talvez um que vocês ainda não tiveram. —
Respirei fundo. — É sobre isso que estou tentando falar, filha. 
— Sobre ele ter transado com cinco meninas que virão para o
jantar? Não sei se foi uma boa hora para isso.  
— Você não percebe? Cameron faz de tudo por você, não te
pede nada em troca e não te testa. Não estou dizendo que é errado
você querer conhecer a pessoa que está se relacionando e nada do
que fez, seu propósito e querer respeito estão errados, fez o certo
querida. Mas é errado ser egoísta e só esperar que ele faça tudo.  
Senti um tapa em minha cara e ela continuou: 
— Acredito que faça muito por ele também, não diminuo nada
no relacionamento de vocês até porque não sei de tudo, mas a
conheço muito bem porque nisso, infelizmente, você se parece
comigo. É insegura, quando sente ciúmes se retrai, se fecha e finge
que é forte para aguentar tudo. Mas não precisa disso, são cinco
garotas que vão estar aí e ele só tem olhos para você. 
— Então para que preciso fazer algo?  
— Querida, em algum momento essas meninas vão para
cima dele, olhe — pediu olhando a janela, agora Felicity e Raquel
também conversavam com Cameron, junto de Gabbe. — Meu Deus,
ele é realmente disputado. 
Me sentei no sofá sentindo meu sangue ferver. 
— E o que eu deveria fazer? Não sou surtada ou possessiva,
mas se pudesse arrancava a força essas meninas de cima dele —
disparei um pouco sem pensar e ela riu. 
— Não precisa ser surtada para ser confiante, apenas
coloque as coisas em seu devido lugar. Se vocês realmente se
pertencem, você saberá o que fazer. — Ela levantou meu rosto pelo
queixo. — Não precisa ser louca, surtar ou privá-lo de falar com as
pessoas, mas esteja com ele quando for com essas meninas. O
pouco que Eliza me contou sobre os assédios que fizeram a ele, eu,
particularmente, não o deixaria sozinho se fosse você. 
Sabia que Felicity havia espalhado sobre ter dormido com
Cameron, na verdade Elliot desconfiava e eu também, mesmo
sabendo pouco da história. 
— Gabbe o assediava também? — Questionei incrédula.  
— Isso eu não sei, Eliza também não sabe dizer, mas olha
só. — Mamãe voltou para a janela e eu a segui. — Ela está a ponto
de se esfregar nele.  
— É, parece uma cadela no cio. — Mamãe gargalhou alto me
fazendo rir junto e observei Cameron entrando na casa sozinho.  
— Rebecca, pelo amor de Deus.  
— Precisamos ir, ainda tenho que cantar — afirmei. 
— Claro, claro. Vamos. 
Saímos do escritório, desci as escadas até o segundo andar
e parei em meu quarto, avisei mamãe que desceria em breve, entrei
e me olhei novamente no espelho.  
Através do espelho o vi me observando, ele fechou a porta e
se aproximou a passos calmos. Seus olhos brilhavam enquanto me
olhava por inteira. 
— Trouxe algo para você — disse com uma caixinha
retangular em mãos. — Feche os olhos. 
— Assim você me deixa nervosa. 
— Feche os olhos — pediu novamente com um sorrisinho
nos lábios. 
Suspirei fazendo o que ele pediu e senti seus dedos próximos
de minha nuca, quando o colar tocou minha pele abri meus olhos.
Era prateado com uma pedrinha azul.  
— É lindo — sussurrei passando os dedos no colar.  
Ele me puxou pela cintura sorrindo e colocou meus cabelos
para o outro lado. Me olhando através do espelho, Cameron
aproximou os lábios na minha orelha.  
— Todos os colares ficam lindos em você, mas eu prefiro
esse — sussurrou envolvendo a mão em meu pescoço e o
apertando. 
Soltei a respiração que não percebi que estava prendendo e
encostei minha cabeça em seu peitoral em busca de apoio. Meu
corpo todo se arrepiou e ele sorriu beijando meu pescoço devagar.
Suas mãos me viraram com rapidez me deixando de frente para ele
e em segundos eu estava entre a parede e o corpo quente de
Cameron. Envolvi meus braços em seus ombros, o puxando mais
para perto de mim e, sem pensarmos duas vezes, selamos nossos
lábios no mesmo segundo.  
Arranhei sua nuca quando suas mãos me apertaram ainda
mais, senti seus dedos em minha perna descoberta pela abertura do
vestido e ele a puxou na altura de sua cintura. Nossas roupas não
conseguiam disfarçar o quanto desejávamos um ao outro. 
Sua mão subiu em minha coxa  por dentro do vestido na
direção de minha bunda. Enquanto nossas línguas se
massageavam lentamente, mordi seu lábio inferior. 
O olhei sorrindo, passando os dedos em seu rosto.  
Ele abriu um sorriso perfeito enquanto apertava minha bunda
e eu o beijei novamente.  
Mexi minha cintura e Cameron me pressionou ainda mais
contra ela. 
— Não faz isso — pediu em voz baixa colocando a mão em
minha cintura e a apertando. 
— Por que não? — Provoquei com meus lábios próximos aos
seus. 
Ele apertou meu pescoço com a mão desocupada e olhou em
meus olhos com um sorrisinho nos lábios. 
— Porque isso me faz imaginar você rebolando em cima mim
— sussurrou me fazendo prender a respiração e engolir em seco.  
Minha fala simplesmente desapareceu, soltei a respiração e
acabei sorrindo. 
— Anda pensando demais nisso? — Questionei passando os
dedos em seu rosto. 
Ele segurou meu pulso, parando meu toque. 
— Melhor descermos, não quero que seu pai nos veja assim
— afirmou se afastando. 
— Claro — disse me olhando no espelho e deixando meu
cabelo em ordem. 
Senti os dedos de Cameron parando no fecho de meu
vestido. 
— Não comece com suas graças. — Empurrei sua mão e ele
riu. 
— Só queria testar um negócio, para de ser chata —
reclamou me fazendo rir.  
— Você está muito assanhado, capitão — rebati o puxando
para fora do quarto. 
— Você me deixa assim, capitã — disse baixo estendendo o
braço para mim.  
O olhei e revirei os olhos, ele mordeu os lábios e sorriu.  
Descemos as escadas e eu estava tão feliz por estar com ele
que nada parecia importar. Tia Eliza abriu um sorriso lindo quando
nos viu. 
— Vocês estão deslumbrantes — elogiou sorrindo.  
— E a senhora está espetacular — admirei e ela sorriu. 
— Onde vocês estavam? — Natalie questionou se
aproximando de nós. 
— Estava terminando de… arrumar o cabelo — respondi
calmamente e ela olhou Cameron. 
— E eu estava arrumando o cabelo dela — ele afirmou com
naturalidade. 
Tia Eliza se engasgou com a água que estava tomando, na
medida que Natalie gargalhou e minhas bochechas queimaram
enquanto passava a mão no rosto, envergonhada com suas
palavras.  
Mamãe se aproximou de nós sorrindo para alguns
convidados que a cumprimentava.  
— Aqueceu a voz querida? Se alimentou direito hoje? —
Questionou calmamente e eu me soltei de Cameron começando a
caminhar com minha mãe.  
— Sim, mãe, estou pronta para cantar — afirmei um pouco
apreensiva. 
— Fique calma, você se sairá perfeitamente bem — disse
baixo e sorrindo. 
— Você está bonitinha hoje, o que aconteceu? Finalmente
tomou banho? — Isaac provocou assim que parou de correr e me
viu. 
— Você se arrumou hoje? Continua tão feio — rebati e ele
mostrou a língua, fiz o mesmo e mamãe olhou feio para nós dois. 
— Se comportem pelo menos dessa vez, crianças — pediu.
— Isaac, vá procurar Jeff e não o deixe começar a comer as
sobremesas. — Ele concordou e saiu correndo.  
Estava um fofo de roupa social e colete, mas não demoraria
para ficar todo desarrumado.  
— Como te disse, a cantora chegará logo, em breve e você
não precisará se cansar com isso, apenas duas músicas. 
— Tudo bem — repliquei quando paramos próximas do
palco. 
Mamãe me apresentou ao guitarrista da banda e ele me
ajudou a subir no palco. 
Respirei fundo e me virei na direção das mesas, as pessoas
entravam, se cumprimentavam, procuravam um lugar para se sentar
e começavam a conversar. Não conhecia quase ninguém. Desde o
ocorrido com Bronwen Turner, nunca mais frequentei os jantares de
negócios de papai, o último que fui foi com os Hernandez. 
Algumas pessoas eram da minha família e os cumprimentei
com um sorriso no rosto quando acenavam para mim. Olhei para a
banda novamente e perguntei ao guitarrista se sabiam tocar as
músicas que queria. 
— Vamos começar com I Put A Spell On You — pedi e eles
concordaram iniciando a música.  
Todos os olhares se voltaram para mim, busquei o que me
interessava e o encontrei. Cameron estava com os olhos fixos em
mim, enquanto Gabbe conversava com ele, mas ela parou de falar
quando me olhou. 
Comecei a cantar a música e não conseguia tirar meus olhos
dele. Ele era meu e a música dizia exatamente aquilo, e sobre o
quanto ela o amava. Era isso, Cameron me pertencia e eu a ele.  
Não de uma forma que nos sufocava, mas de uma que nos
dava a certeza de que nada poderia acabar com o que tínhamos. As
coisas poderiam mudar ao nosso redor, mas sabíamos que sempre
haveria algo entre nós.  
Fechei meus olhos e não foi uma boa ideia, a música, saber
que ele estava ali me olhando, que sabia que a música era para ele,
o que aconteceu no quarto, a intensidade do nosso contato físico,
do sentimento, tudo parecia vir em minha mente enquanto cantava,
era quase incontrolável não sentir as borboletas descontroladas em
meu estômago. Abri meus olhos procurando um novo foco, mas era
ele… dentre todos os olhares, era o dele que eu encontrava.  
Não cantava apenas para que soubesse que era meu,
cantava para as garotas que se achavam no direito de ficar em cima
dele, de desrespeitá-lo daquela forma. Era triste ver que assim
como os garotos, elas também não sabiam respeitar, mas Cameron
não parecia se importar com elas. 
Entretanto, eu estava amando o gostinho de vê-las se
afastando de Cameron enquanto meus olhos estavam nele e os
dele em mim.  
— Because… you're mine — cantei atingindo uma nota alta,
ele abriu um sorriso e suas bochechas coraram quando alguns
olhares se voltaram para ele, principalmente os dos meus tios.  
Ouvi os aplausos e só assim consegui olhar para as outras
pessoas.  
Mamãe parecia impressionada e levantou a taça em
aprovação. 
Pela primeira vez desde que aceitei ir a Stanford eu não
estava com medo, nosso amor não era frágil, tinha certeza disso.  
Comecei a cantar a música I Will Always Love You da
Whitney Houston, sabia que não teria voz depois, mas valeria a
pena. Mamãe me olhou sem acreditar quando comecei a cantar e
começou a chorar de imediato, na primeira nota alta todos me
olhavam surpresos e animados. 
Essa música era para Cameron, para minha família e meus
amigos que vou passar tanto tempo longe. Eu os amava, era grata
pelos poucos momentos que passei aqui, sentiria falta, mas não me
arrependia.  
Observei rapidamente Andrew com Alice e senti vontade de
vomitar. Ela fazia tanto mal a ele quanto fazia a Cameron. 
Decidi deixar aquilo para depois da música, também era grata
a Andrew por ter sido meu amigo, olhei minha mãe e meu pai, eles
ficariam bem, assim como Natalie que tinha Calleb, Lana, Melissa e,
principalmente, Elliot.  
Cameron também estaria em boas mãos, o time cuidaria
dele, mas mesmo sabendo de tudo aquilo, ainda doía… 
Fechei meus olhos e tomei todo meu fôlego alcançando o
tom mais alto da música, o que mamãe sempre quis que tentasse e
eu dizia que não conseguia. Por ela, por todos, pela minha partida,
por tudo o que eu deixaria, consegui jogar tudo para fora com a
música.  
O que me fez voltar à realidade foram os aplausos e gritos
dos convidados. Abri meus olhos vendo Nicolly e Natalie eufóricas,
mamãe chorava com tia Amora e Eliza, papai estava tão surpreso
que ficou parado, apenas me olhando e começou a bater palmas. 
— ESSA É MINHA IRMÃ! — Isaac gritou. 
Abaixei o tom de voz, finalizando a música com suavidade e
os aplausos ainda não haviam parado.  
Olhei Cameron e meu coração doeu, ao mesmo tempo, me
sentia bem. Tinha conhecido o amor com ele, não poderia estar
mais feliz.  
Os aplausos continuaram enquanto eu descia do palco e
papai tomou o microfone para saudar os convidados. Com algumas
pessoas me cumprimentando, me parabenizando pela voz incrível,
dizendo como cresci e estava linda, continuei caminhando e antes
que pudesse chegar em um lugar mais calmo, mamãe me puxou
para falar com mais parentes e clientes de papai. 
Minha voz estava rouca e minha garganta doía, precisava de
água, mas ainda tinha que ser educada. 
— Posso roubá-la por um momento? Também sinto falta da
minha prima — ouvi Nicholas dizer. Minha salvação!  
— Ah, claro — tia Ada disse com um sorriso. 
Entramos na casa e eu pulei em Nicholas o abraçando.  
— Quanto tempo, Nic! — Disse quando ele me levantou ao
ar. 
— Você está bem? — Questionou, me e entregando uma
garrafinha d'água.  
Nos sentamos nas cadeiras da bancada da cozinha. 
— Sim, ótima. Como está em Stanford? Como você está?  
— Tudo muito corrido, estou cuidando de um dos escritórios
do papai — comentou. — E você? Soube que namorou, na verdade
ficou bem nítido quem era a pessoa. 
— Mas eu disfarcei tão bem — ironizei o vendo rir. 
— Ah sim, claro, mas me fala, como foi abandonar os beijos
no travesseiro e beijar uma boca de verdade? — Provocou e eu o
empurrei pelos ombros aos risos. 
— Idiota — rebati. — Foi falso por um tempo. 
— Cameron Styles, nunca pensei que vocês teriam algo. 
— O conhece? — Ele riu um pouco apreensivo e concordou.
— Ele e Gabbe… — Nicholas abaixou o olhar. — Entendi.  
— Mas isso foi passado e você está tão autoconfiante,
sempre foi na verdade. Parou de quebrar garrafas de bebidas ou
ainda está doida da cabeça? 
— Aí Nicholas, você é um insuportável — reclamei o vendo
rir. 
— Senti sua falta. 
— E eu a sua. Provavelmente estava ocupado ficando com
vinte garotas em uma festa — o provoquei me levantando.  
— Vai se foder, Rebecca. 
— Estou mentindo? — O olhei e ele riu. 
— Ah, mas não chega a vinte.  
— Seu otário. Vamos voltar, estou faminta — reclamei. 
— Lá vai a morta de fome — implicou. 
— Me deixa em paz, Nicholas — disse rindo e voltando para
onde estávamos.  
Observei Cameron rodeado de algumas garotas, olhei
mamãe e ela parecia me incentivar a fazer alguma coisa.  
— Amor — o chamei tocando suas costas e ele me olhou,
quase suspirando aliviado.  
Gabbe revirou os olhos, insinuando milhares de coisas;
Felicity sorriu de forma simpática, o que estranhei, mas mesmo
assim retribui; Raquel me olhou por inteira e as outras garotas eu
não conhecia.  
— Você canta tão bem — uma garota ruiva disse me olhando
de forma amigável. 
— Obrigada — agradeci e voltei meu olhar a Cameron. —
Vou precisar te roubar agora, tchau meninas. 
— Uma grande mal-educada! — Gabbe disse alto o suficiente
para que eu ouvisse. 
— Por tirar meu namorado de perto de você? — Questionei
com sarcasmo.  
Quando Gabbe se preparou para responder, Felicity colou o
braço no dela e a puxou começando um assunto sobre uma festa
que ela daria. Ainda não entendia quais eram as intenções de
Felicity, mas não tinha muito tempo para aquilo.  
— Cameron, filho, vem aqui por favor — tio Arthur chamou e
ele me olhou. 
— Tenho tantas coisas a dizer. 
— Depois — selei nossos lábios rapidamente sem me
importar com todos que estavam presentes, papai tinha liberado,
não me importava com mais nada e ele sorriu. — Vai, amor. —
Soltei dele e antes que retrucasse, me afastei caminhando até a
mesa de aperitivos. 
Peguei alguns, que eram uma delícia, e bebi do suco que
estavam servindo. Andrew se aproximou pegando alguns aperitivos
e os provando também. 
— Andrew. 
— Rebecca — achei graça da formalidade fingida. — Está
linda hoje.  
— Muito obrigada, você também está. 
— Estou linda? — Questionou brincalhão. 
— Maravilhosa — brinquei de volta o vendo rir.  
Quando olhamos para frente, Cameron me olhava seriamente
mesmo com seu pai e alguns outros homens falando com ele e Alice
olhava Andrew emburrada.  
— Acho melhor eu ir — afirmou pronto para sair.  
— Andrew — ele me olhou —, por que veio com ela?  
— Ela me tiraria a paciência até minha volta — explicou
desanimado.  
— Sinto muito. 
— Eu também — foram suas palavras ao sair. 
Desejei que Andrew encontrasse a felicidade em Oxford,
alguém que não sugasse as coisas boas, mas que proporcionasse
momentos incríveis a ele, que o amasse de verdade, o respeitasse
como ele merecia e que ele fizesse o mesmo para a pessoa.  
— Devo admitir que você canta muito bem, mais uma
qualidade da aluna nota cem que eu não sabia — Matteo disse
admirado.  
Cameron e Nicholas se olharam como se conhecessem há
anos, em seguida me olharam. 
— Muito obrigada, Matteo — agradeci com cordialidade e o
olhando. 
— Te deixo incomodada por estar por perto? Posso me
afastar se quiser — disse um pouco na defensiva. 
— Não e sinto muito pelo que fiz no jantar — comentei
envergonhada. 
— Não entendi nada do que aconteceu, mas está tudo bem.
Se fiz algo, peço desculpas também — concordei sorrindo, não
sabia ao certo o que dizer e ainda estava com fome.  
Me virei pegando mais aperitivos e fiquei feliz por Matteo falar
sobre Stanford, conseguia visualizar melhor o lugar para o qual
estava indo passar. 
—… a academia de artes vai amar saber que além de
inteligente, você também canta muito bem. Espero te ver e ouvir
cantando nas aberturas dos jogos de Stanford — comentou. 
— Mesmo? E quem vai contar aos diretores da academia de
artes que eu canto? — Questionei desafiadora e ele levantou os
braços se rendendo. 
— Tem minha palavra de que será eu, sem dúvidas —
afirmou me fazendo rir.  
— Não sei se quero que isso chegue em Stanford —
comentei. 
— Entendo — ele deu um passo se aproximando —, sinto
muito em dizer, mas está vendo aquele pessoal ali? — Questionou
olhando na direção de uma mesa com pessoas que conversavam e
riam educadamente. — São de Stanford. 
— Ah… — Suspirei, e foi quando vi Cameron caminhando até
nós, que percebi a mão de Matteo próxima de minha cintura, quase
me tocando.  
— Com licença, preciso da minha filha por alguns instantes
— papai disse olhando Matteo, que concordou nos dando espaço. 
— Não quero conhecer mais clientes — resmunguei
desanimada, mas estava grata por Cameron ter parado de andar em
nossa direção. 
— Sem brigas, Cameron — papai pediu o olhando e ele
tentou relaxar os músculos tensos de seu corpo. 
— Não sei se posso prometer isso — Cameron disse baixo e
voltando para onde estava com tio Arthur, meu pai riu, ele, na
verdade, adorava aquilo. 
— Querida, será rápido, há algumas pessoas que querem te
conhecer e depois vamos jantar. 
— Tenho outra alternativa? — Perguntei o olhando e ele riu. 
— Fingir um desmaio. 
— Você me segura? Estou pronta — brinquei o vendo rir. 
Papai mentiu, o jantar ainda demoraria um pouco e ele me
apresentou para várias pessoas que me elogiaram pela voz, pela
beleza e inteligência, inclusive as pessoas de Stanford. 
Paramos onde Cameron estava com tio Arthur e mais alguns
homens.  
— Bernard, essa é minha filha Rebecca — papai me
apresentou a um homem alto, de pele escura e olhos claros. —
Esse é Bernard Durand, um cliente francês. 
— Prazer em conhecê-la, você canta muito bem — disse com
seu sotaque francês.  
— Obrigada, é um prazer te conhecer também — o
cumprimentei sorrindo. 
— Esse é meu filho, Valentim — e apresentou o garoto que
se parecia muito com ele, antes que pudesse cumprimentá-lo, o
homem disse: — Olha só, vocês fariam um belo casal.  
Papai e tio Arthur riram. 
— Amor, acha que eu faria um casal bonito com ele? — Me
virei para Cameron que sorriu de lado. 
— Faria, se eu não existisse, claro — Cameron disse com a
voz carregada de sarcasmo. 
Os sorrisos nos rostos de Valentim e Bernard sumiram dando
espaço a vergonha, Bernard ficou sem reação na medida que o filho
ficou totalmente sem graça, não consegui evitar sentir pena do
garoto, ele nem sequer falou. 
— Oh, me desculpe, não sabia que…  
— Ok, pai, acho que todos entendemos — Valentim disse,
pela primeira vez ouvi sua voz. — Nos perdoe, Rebecca e…
Cameron. 
— Tudo bem — respondi e Cameron me puxou pela cintura. 
— Diria que está tudo bem se não te conhecesse, Valentim
— foram as palavras de Cameron e o clima ficou pesado no mesmo
instante.  
Ele me tirou de perto dos homens assim que parou de
encarar Valentim, que não conseguiu manter muito contato visual.  
— O que foi isso? — Questionei confusa quando ele me
levou para dentro de casa. 
— Ele fingiu que é bom moço com você, mas o tempo todo
estava te encarando de um jeito nada bom. Graças a Deus eu não
sei ler a mente das pessoas — murmurou me empurrando com seu
corpo para dentro da biblioteca que tinha em casa.  
— Cameron, o que você está faz… 
Ele não me deixou terminar, seu corpo me pressionou contra
a estante de livro com a mão envolta no meu pescoço. 
— Você é minha — sussurrou lentamente, me fazendo
prender a respiração. — Só minha — disse passando os dedos em
meus lábios. 
Sua mão subiu em minha nuca e ele me puxou para um beijo
calmo e carregado de desejo. Me desprendi da estante de livros o
impulsionando para trás, sem parar o beijo e, com as mãos em seu
abdômen, o empurrei para o sofá que tinha na biblioteca.  
Me sentei em seu colo, com uma perna de cada lado, quando
ele me puxou pela cintura e antes de voltar a beijá-lo, puxei a arma
que estava em sua cintura e ele riu quando a coloquei na mesinha
de madeira ao nosso lado.  
O puxei pela nuca selando novamente nossos lábios com
intensidade. Suas mãos me apertavam com precisão, uma delas
subiu em minhas costas até por baixo de meus cabelos os puxando
e me fazendo inclinar a cabeça para trás, lhe dando espaço para
beijos em meu pescoço. Ele se levantou comigo no colo, voltando a
me beijar, e me colocou em cima da mesa, que estava vazia.  
Seus lábios desceram novamente em meu pescoço, até
minha clavícula. Respirei fundo e soltei a respiração pesada,
Cameron colocou a mão em minha boca, a tapando. 
— Alguém pode nos ouvir aqui — sussurrou sorrindo e com a
mão em minha boca me fez inclinar a cabeça para trás, passando a
língua em meu pescoço.  
— Cameron… — murmurei o puxando para que me olhasse
e me sentei na mesa o prendendo com minhas pernas, precisava
tirar minha dúvida — sei que sonhávamos um com o outro, mas era
no mesmo tempo? Mesmas noites?  
— Não sei te responder isso — disse afastando meus
cabelos dos ombros e subindo a mão em minha nuca. 
— Você sonhou comigo essa noite? — O olhei e seus olhos
brilharam. 
— Sim — respondeu com sua voz rouca e falhada. 
— O que sonhou? 
Ele abriu um sorrisinho safado e passou o dedo no canto de
minha boca, como se estivesse limpando. Meu queixo caiu, minhas
bochechas queimaram e senti uma espécie de corrente elétrica
passando em meu corpo. 
— Acho que sabe com o que eu sonhei — afirmou olhando
minha boca. 
— Mas eu... — abaixei a cabeça —, mas eu acordei antes de
fazer qualquer coisa — ele riu mordendo os lábios. 
— Mas eu não acordei — disse em voz baixa. — E pareceu
ter sido ótimo — sussurrou me arrepiando por inteiro. 
Escondi meu rosto nas mãos e me apoiei em seu peitoral.  
— Ei, baby. — Ele sorriu tirando minhas mãos do rosto, mas
eu estava queimando de vergonha. 
— Eu... continuei? Tipo, mesmo? — Ele riu concordando. —
Qual era a cor do meu vestido? Onde estávamos? Não é possível,
sonhamos a mesma coisa?  
— Seu vestido era azul e estávamos em uma casa em
Amsterdã, se não me engano.  
— Certo, isso foi diferente pelo menos.  
— Foi um dos melhores sonhos assim. 
— Um dos?  
— É — respondeu naturalmente apertando minhas coxas e
olhou em meus olhos. — Mas eu queria saber… — Ele passou os
dedos em meus lábios lentamente. — Teria coragem de ir até o fim
fora do sonho?  
Engoli em seco, ele nunca tinha perguntado nada daquilo. 
Suas bochechas coraram, acabei sorrindo quando achei uma
resposta, passei a língua nos lábios os mordendo e ele começou a
respirar pesado, aproximei meus lábios de sua orelha e sussurrei: 
— Na hora você vai saber. — O empurrei e me levantei. —
Precisamos voltar. 
— Ei! — Ele me puxou pelo braço e colou o corpo no meu,
me fazendo caminhar para trás até próximo da porta — Você quer
ser minha Cinderela?  
— Por que Cinderela? — Questionei confusa. 
— Porque meia-noite eu posso fazer seu vestido sumir —
sussurrou olhando o decote do meu vestido, estremeci com seu
toque em minhas costas e levantei seu rosto pelo queixo. 
— Cinderela só queria dançar e ter uma boa noitada, o
príncipe veio de brinde. 
— E eu posso te dar manhãs. — Ele beijou meu pescoço. —
Tardes. — Outro beijo em meu pescoço. — Noitadas e — me
pressionou contra a porta e me olhou — madrugadas incríveis —
afirmou me beijando devagar. 
Seu corpo emitia a necessidade que tinha do meu, porém,
acabamos precisando parar o beijo quando ouvimos vozes e passos
pelo corredor.  
— O jantar será servido e ainda não achamos Rebecca e
Cameron — ouvi Isaac dizer. 
— E eu estou morrendo de fome — Jeff resmungou. 
— Acho que precisamos ir — sussurrei e Cameron concordou
sorrindo. 
 
 
 
 
 
 
 
Tomei outro gole de vinho, era minha quinta e última taça pois
já sentia minha diabete me mandando parar e estava ficando um
pouco alegre demais. 
—… não sei se a comida que estava uma delícia ou eu que
fiquei muito tempo sem comer — comentei com Natalie e Nicolly. 
— Ficou sem comer de novo? — Nicolly questionou incrédula
e olhei Cameron desejando retirar tudo o que falei. 
Ele deixou sua taça de vinho na mesa e ficou me encarando,
esperando uma resposta. 
— Natalie, vamos ao banheiro? — Nicolly pediu e a garota
concordou no mesmo instante. 
— Essa é a nossa deixa — Elliot disse assim que as meninas
se retiraram e saiu puxando Carter. 
— Quando foi a última vez que comeu? — Perguntou
calmamente. 
— Com você, depois da ponte — respondi esperando o
sermão. 
— Está me dizendo que a última vez foi antes da uma da
tarde? — Questionou desacreditado. — Rebecca já são dez da
noite! — Exclamou. 
— Eu sei. — Abaixei o olhar. 
— Você insiste em ficar brincando com a sua saúde, amor.
Não vê o quanto isso é sério? — Seus dedos levantaram meu rosto
pelo queixo. — Não precisa comer muito o tempo todo, mas precisa
se alimentar pelo menos um pouquinho. 
— Eu vou, prometo. — Ele acariciou meu rosto e olhou em
meus olhos. 
— Não quero que prometa, quero que faça. Apenas isso. É
sua saúde, não é brincadeira — afirmou seriamente e tudo o que
consegui fazer foi concordar. — Estou falando sério, amor, isso é
muito importante. Você não imagina como fico quando penso em te
perder, na verdade sabe, porque até te machuquei por isso. 
O olhei surpresa. 
— Me perdendo? Teve um pesadelo de que estava me
perdendo? 
Ele pareceu ter noção do que deixou escapar, abaixou a
cabeça e me olhou novamente. 
— Sim — disse soltando um suspiro. — Eu te perdia mesmo,
não era para a distância, pra Stanford ou para outro cara, não. Eu te
perdia totalmente. — Ele passou a mão nos fios de seu cabelo, seu
nervosismo era nítido e até mesmo sua respiração começou a
acelerar. 
— Ei! — Entrelacei nossos dedos e, com a mão desocupada,
toquei seu rosto. 
— Rebecca, eu não posso te perder — suplicou segurando
minhas mãos. — Não assim, para sempre, nem de forma nenhuma. 
— Você não vai, amor. — Beijei sua mão. — Por que anda
pensando tanto nisso? 
— Tinha parado, mas depois que te machuquei e me
contaram isso… — disse como se fosse uma repreensão por eu não
ter contado a ele. — Voltei a pensar e repensar no motivo de ter te
deixado marcada. 
Olhei em seus olhos. 
— Baby, você tem descansado desde que paramos de dormir
juntos? — Perguntei apenas para confirmar minha suspeita e ele
desviou o olhar em resposta. 
— Não quero falar disso. 
— Não me venha com essa, não escondi sobre minha
alimentação porque passamos disso — afirmei e ele me olhou
bufando. 
— Tenho dormido pouco… passo quase a noite toda
treinando boxe, as vezes cochilo um pouco, mas não descanso —
suspirou pesado. 
— Dorme aqui durante esses dias? — Pedi e ele franziu o
cenho. 
— Mas seu pai… 
— Ele está tranquilo por enquanto — expliquei o vendo rir. 
— Por mim tudo bem então — respondeu como se esperasse
aquele convite há mais tempo do que aparentava e eu lhe dei um
selinho o sentindo sorrir. 
— Cameron, quero falar com você — Gabbe disse mais
como uma ordem, a olhei incrédula e meu sangue ferveu. 
— Sobre? — Cameron questionou quando a olhou. 
— A gente — disse o encarando e os olhos dele se voltaram
para mim. 
Respirei fundo, pois minha vontade era de fazê-la ir para
longe daqui com sua inconveniência, mas jogaria o jogo dela. 
Deslizei a mão na coxa de Cameron que se arrumou na
cadeira e encarei no fundo dos olhos da garota. 
— Não me incomoda essa conversa, fique à vontade —
desafiei em tom provocativo. 
— Precisa ser a sós! — Exclamou irritada. 
— Ei, não precisa se exaltar — debochei e Cameron riu
baixo, colocando a mão na boca e o braço desocupado em volta de
minha cintura. — Eu não vou sair daqui, Cameron não vai sair
daqui, acho que você é a única que está sobrando, não concorda? 
— Você continua a mesma… 
— Escute, Gabbe. — Me levantei e Cameron segurou minha
mão. — Você vem na minha casa, fica se jogando para o meu
namorado e ainda quer me insultar? Não ache que sou a mesma
garotinha que quase teve uma perna quebrada porque você não
superava o fato de que um macho me queria ao invés de te querer!
Não me teste Gabbe, ou a próxima a sair chorando será você —
ameacei friamente e ela recuou. 
— Rebecca, nunca te vi assim — disse com a voz falhada. —
Eu… 
— Chega, Gabbe, é melhor você ir — Cameron interveio
calmamente me puxando pela cintura. 
Ela o olhou, me olhou e saiu às pressas, Nicholas me
encarou, praticamente se desculpando, e eu apenas balancei a
cabeça dizendo, fique tranquilo, sem som.  
Me sentei novamente, sentindo um peso sair de minhas
costas, estava exausta de tudo aquilo. Não foi apenas por Cameron,
foi por mim, decidi que não carregaria mais esse tipo de coisa. 
— Você fica uma delícia brava, se você me bater, eu
agradeço — Cameron disse admirado, o que me fez rir. 
— Se você me estapear, no momento certo, também
agradeço — disparei sem pensar direito. 
Ele me olhou sorrindo e beijou meu rosto, aproximou os
lábios de minha orelha e sussurrou: 
— Se você for uma garota obediente, talvez eu pegue leve —
provocou passando a mão em minha coxa descoberta. 
Me virei ficando cara a cara com ele. 
— Então serei desobediente, senhor Styles — provoquei em
um sussurro e sua mão apertou minha coxa com firmeza, me
fazendo fechar as pernas e estremecer. 
— Então vou ter que pegar pesado... muito pesado —
afirmou lentamente com sua voz rouca, olhando meus lábios e
sorrindo. 
Passei a língua nos lábios e ele também, sorrimos juntos e
nossas bochechas estavam igualmente coradas, eu senti meu corpo
todo ferver o desejando. Com os olhos fixos nos meus ele deslizou a
mão entre a separação de minhas coxas, meu corpo todo se
arrepiou e eu não consegui manter meu olhar nele. Fechei os olhos
respirando pesado, empurrei sua mão e cruzei as pernas. 
Me encostei em seu ombro tentando disfarçar o efeito que
causava em mim, mas ele sabia bem. Mesmo estando em uma
mesa afastada de todos, quase isolada dos demais, ainda assim era
perigoso. Ninguém, além de Alec e Ned, prestava atenção em nós,
acreditava e esperava que eles viram o que aconteceu debaixo da
mesa. 
Olhei na direção que Melissa, Andrew, Raquel, Alice e Gabbe
estavam sentados, na tentativa de afastar meus pensamentos de
Cameron. 
Melissa e Andrew conversavam entre si entretidos, na
medida em que as três garotas começaram a nos encarar com
sangue nos olhos. 
— Minha princesa. — O olhei e ele afastou meus cabelos dos
ombros, em seguida começou a subir a mão em minha nuca
afundando os dedos em meus cabelos, parecendo não se importar
com os olhares. — Me promete que qualquer coisa que eu fizer e te
incomodar você vai me falar? — Perguntou acariciando meu rosto
com o polegar. — Seja em alguma coisa que eu falar, ou se te tocar
e te deixar desconfortável, mesmo depois de estarmos casados —
disse olhando em meus olhos. 
— Por que está dizendo isso? 
— Porque, até agora, você não disse nada sobre a forma que
te toquei no quarto, na biblioteca e agora — explicou em voz baixa. 
— Deve ser porque não me incomodei — sussurrei como se
estivesse contado um segredo e ele abriu um sorriso radiante. 
— Mesmo? — Balancei a cabeça positivamente e selei
nossos lábios. 
Ouvimos os saltos de Gabbe firmes contra o chão, a olhamos
vendo que caminhava a passos firmes para dentro de casa
limpando as lágrimas, seguida dela entrou Alice com a mesma
expressão triste e Raquel parecendo estar na pior noite de sua vida,
mas Raquel eu acreditava ser mais por Andrew do que por
Cameron. 
Quando avistamos a mesa em que elas saíram, Andrew e
Melissa gargalhavam. Melissa ergueu a taça em minha direção
como cumprimento e aprovação de algo que nem eu sabia o que
tinha feito, sorri para ela e ela voltou a falar com Andrew, observei
os dois saírem juntos enquanto Andrew sussurrava algo em seu
ouvido. 
— Você não acha engraçado? — Questionei voltando minha
atenção a Cameron. 
Se ele pudesse me devorar com os olhos, certamente teria
feito. 
— O quê? Querer arrancar sua roupa? — Questionou
afastando o colete do corpo, como se tentasse afastar o calor junto. 
— Não, amor. — O olhei rindo e passei as unhas em sua
nuca. — O fato de termos tanta certeza quando falamos que vamos
nos casar. Temos só dezoito anos, eu ainda vou fazer no caso, mas
já falamos sobre esse assunto como se fosse acontecer em dois
dias. 
Ele sorriu acariciando meu rosto. 
— Minha intenção é unicamente casar e te fazer feliz, mas só
porque falamos disso não significa que vai acontecer tão rápido
assim. Ainda temos muito o que fazer, não sabemos o que o futuro
nos espera, mas tenho certeza de que é você, mesmo que demore. 
Sorri beijando seu ombro e entrelaçando nossos dedos. 
— Você pegou sua arma na biblioteca? — Ele balançou a
cabeça concordando. — Me diga, como foi ter suas unhas pintadas
por uma garotinha de três anos? — Questionei me referindo as
unhas que sua irmã adotiva pintou.  
— Natasha é uma garotinha incrível, mas pintou mais meus
dedos do que as unhas. Mamãe se acabava de rir enquanto Natalie
concertava os borrados — explicou rindo. 
— Ficaram lindas, devia pintar de branco na próxima vez —
opinei e ele me olhou com um sorrisinho bobo. — O que foi? 
— É bom estar com alguém que me apoia até em coisas tão
simples — disse suspirando, sorri beijando sua mão. 
— Meus netinhos são tão lindos — vovó Abigail afirmou
sorrindo, com ela estavam Antonella e Polly que eram casadas e
patrocinadoras de Stanford. As mulheres riram assim como eu e
Cameron. — Docinho, Antonella e Polly gostariam de falar com
você. 
Cameron se preparou para se levantar e sair, mas Antonella
balançou a cabeça negativamente e levantou a mão como sinal para
que ele ficasse. 
— Pode ficar, querido — disse de forma doce e eu me
arrumei na cadeira quando ele colocou a mão em minha coxa. 
Antonella me olhou por instantes, com um olhar tão familiar
que me deixou momentaneamente intrigada. 
As mulheres se sentaram nas cadeiras a nossa frente e
começaram a puxar assunto sobre a universidade depois que minha
avó se retirou, mas minha mente começou a desfocar do assunto
quando a mão de Cameron deslizou devagar em minha coxa, até a
separação entre elas. 
—… e as pessoas dizem que você é inteligentíssima! Na
verdade, tudo indica que realmente é, Liberty guardou uma joia
preciosa — Polly disse sorrindo. 
— E o quarterback também, ficamos felizes por tê-lo como
aluno de Stanford — Antonella completou. 
Franzi o cenho e olhei rapidamente Cameron, que também
parecia ter ficado confuso. 
— Cameron será aceito em Stanford? — Questionei sentindo
meu corpo todo esquentar em euforia e a mão dele parou de
acariciar minha coxa. 
— Digamos que sim, mas não posso dar muitos detalhes, já
falei demais — Antonella piscou para Cameron indicando que ele
não tinha com o que se preocupar. 
A esperança em meu coração aumentou. 
O corpo de Cameron pareceu relaxar e ele apertou minha
coxa com força quando Antonella começou a falar sobre a
inauguração de uma associação para crianças carentes, no caso
órfãs. 
Deu para perceber que estávamos conversando com
mulheres que tinham tanto dinheiro que não sabiam mais o que
fazer, mas era ótimo ver que investiram em quem realmente
precisava. 
—… e esperamos que dê certo a associação, as crianças
precisam — comentei disfarçando que Cameron continuava
deixando sua mão boba subir e descer em minha coxa. 
Precisei entrelaçar nossos dedos, o fazendo parar, para não
surtar de vez. 
— Será na sexta-feira, gostaríamos de saber se você aceita
cantar na inauguração? — Polly questionou me fazendo voltar para
a realidade. 
— Será de noite, acho que não interfere na escola para você,
a não ser que tenha outro compromisso — Antonella disse, em
seguida olhou Cameron. — E gostaríamos de sua presença
também, sua família comparecerá. 
— Irei, sem dúvidas — Cameron respondeu com a mesma
elegância da mulher e os pares de olhos dos três se voltaram em
minha direção. 
— Aceito, claro — sorri —, mas preciso ver se meus pais
irão. 
— Ah, eles vão. As famílias de vocês são as que mais
apoiam essa associação — explicou Polly com um sorriso nos
lábios. 
— Querida, precisamos ir, ainda temos muito o que resolver
para sexta — Antonella disse à Polly enquanto  levantava-se
calmamente. 
As duas mulheres saíram após se despedirem, vovó apenas
ergueu a taça em nossa direção com orgulho no olhar, enquanto as
mulheres se aproximaram dela para conversar. 
— Vou buscar algo sem álcool para tomarmos — Cameron
avisou e eu concordei balançando a cabeça. 
Observei sua caminhada  até a mesa onde estavam as
bebidas, tio Silas se aproximou como se fosse seu melhor amigo e
começou a conversar animadamente.  
Raramente tio Silas gostava de algum garoto que não fosse
da família, demorou até ele gostar de Nicholas. Por ser parente da
parte de papai, ele simplesmente odiava os maridos e enteados das
minhas tias Mical e Merabe. 
— Priminha — ouvi a voz, embargada pelo álcool, de Joffrey,
o enteado de tia Mical, e o olhei sem muito ânimo.  
— Oi, Joffrey — disse friamente.  
— Você está muito bonita. — Ele se sentou no lugar onde
Cameron estava antes. 
— Obrigada. 
— E você cresceu, parece ser mais deliciosa agora do que
quando mais nova — disse colocando a mão, ousadamente, em
minha perna descoberta e a apertando. 
Me levantei no mesmo instante empurrando sua mão e
deixando que os talheres e taças se agitassem na mesa. Foi o
necessário para que meus três tios paternos, tio Silas e Cameron se
aproximassem. 
— Muita calma — Joffrey disse de forma debochada. — Não
fiz nada com a garota. 
— Sai de perto de mim, seu nojento — disparei dando outro
passo para trás e Cameron colocou a mão em minha cintura. 
Os convidados se voltaram para nós e tio Benjamin, o irmão
mais velho de papai, se aproximou de Joffrey. 
— O que ele fez? — Questionou calmamente em voz baixa
quando os convidados desviaram a atenção. 
— Veio passando a mão na minha perna e disse que eu
parecia estar mais…  
E não consegui terminar, era vergonhoso repetir aquilo. 
Tio Ben olhou Cameron que pareceu entender perfeitamente
seu olhar, Cameron me trouxe para um canto com muita delicadeza
e calma. 
— O que ele disse, minha princesa? — Perguntou com as
duas mãos em minha nuca. 
— Que eu estava mais deliciosa agora do que antes… —
disse tão baixo que achei que ele não tinha ouvido, mas seus olhos
queimaram ainda mais enquanto fixados nos meus. 
Em um movimento rápido ele foi até meu tio Ben, repetiu
minha fala e voltou para mim. Vi meu tio cerrar o punho e respirar
fundo. 
Os olhos de papai, mesmo de longe, estavam cravados em
nós. Tio Ben saiu levando Joffrey, que repetia as palavras eu não ia
fazer nada. Meu tio Pedro caminhou calmamente até papai e disse
algo em particular. 
— Espero que arranquem a mão desse desgraçado! —
Cameron disse irritado. 
Joffrey era sete anos mais velho que eu, e era um nojento
não só comigo, com Nicolly e Gabbe também. Acredito que tenha
demorado até ele soltar suas nojeiras em cima de mim, mas antes?
Que antes? Quando eu era uma criança? 
— Quero te mostrar um lugar — disse a Cameron, o puxando
para dentro da casa. 
Ele veio o caminho todo questionando para onde estava o
levando e subimos as últimas escadas chegando na estufa de flores
que tinha em casa, mamãe fez questão de ter uma e era linda. 
— Que lindo — Cameron disse admirado olhando as plantas
bem cuidadas. 
Apertei o botão que abria o teto automático, nos dando a
visão do céu estrelado.  
Me sentei em um estofado grande preto feito de paletes e ele
se aproximou. 
Nos deitamos e ficamos olhando o céu por alguns segundos. 
— Há tantos lugares que quero te mostrar — disse enquanto
deslizava os dedos devagar em meu braço — e que quero conhecer
com você. 
O olhei e seus olhos brilharam cheios d'água, seu rosto
estava avermelhado e ele fungou. 
— O que foi, meu amor? Por que está chorando? —
Questionei preocupada e acariciando seu rosto. 
— Porque eu te amo — disse como uma criança. — Demais,
de verdade. Você é muito mais que um sonho, muito mais que a
realidade, muito mais do que eu mereço. 
— Não amor, você me merece sim, eu te amo de um jeito que
parece que me consome da forma mais espetacular possível. — Ele
sorriu quando limpei o canto de seus olhos e me abraçou forte,
beijando levemente o topo de minha cabeça. 
Meu coração parecia ao ponto de explodir. 
— Lembra quando você me deu um soco, por eu ter falado
que meninas não jogavam futebol por ser coisa de homem? —
Cameron questionou rindo depois de segundos em silêncio. 
— Você mereceu. 
— Você era uma chata, Rebecca, pelo amor de Deus, se
estressava muito fácil — retrucou. 
— Cameron, fala sério! Você sempre testava a minha
paciência, seu insuportável — disse me sentando de forma que o
vestido cobrisse minhas pernas. — E, quando voltei, achei que tinha
amadurecido, mas estávamos exatamente do mesmo jeito, a
diferença é que você estava louco para me beijar. 
— Eu não estava louco, sua exagerada — implicou se
sentando e se recostando no encosto. 
— Sempre foi caidinho por mim — provoquei. — Nem me
preocupo em ir embora, você jamais conseguiria ficar com outra
garota. 
— Está se achando demais, Malik, não me teste — ameaçou
com firmeza. 
— Ou o quê? — Desafiei levantando a minha perna
descoberta pela abertura e deixando que meu vestido caísse para
baixo, mas tomando cuidado para não mostrar demais. 
Ele a olhou passando a língua nos lábios e me puxou pelo
pescoço. 
— No momento certo você vai saber — sussurrou e passou a
língua devagar em meus lábios. 
— Quem se acha muito às vezes nem é tudo isso —
provoquei me levantando. 
Me aproximei de um pequeno espelho para arrumar meu
cabelo e precisei me inclinar para baixo, porque era um espelho
para a altura de Isaac e não para a minha. 
Com uma mão Cameron apertou minha cintura na medida em
que a outra deslizava das minhas costas até minha nuca, quando
chegou em meus cabelos me puxou com força para trás, me
fazendo ficar reta. 
Cameron fechou o braço em minha cintura e me pressionou
contra a vidraça da estufa, segurando com força meus cabelos. Sua
mão prendeu meus pulsos para trás, enquanto seu corpo se
mantinha tão colado ao meu que eu conseguia sentir o quanto me
desejava. Ao mesmo tempo em que seu toque era firme, era notório
o quanto ele me segurava com cuidado, como se eu fosse tão frágil
que poderia quebrar. 
— Você não faz ideia do que sou capaz de fazer,
especialmente com você — sussurrou e me virou de frente. 
Seus lábios encontraram os meus ardentemente, meu
coração estava disparado, minha respiração descompassada e
desejei que da mesma forma que eu não conseguiria esquecer de
seu toque, ele não conseguisse esquecer de algo em mim. 
Me senti eufórica, desejosa e acima de tudo, a garota mais
poderosa do mundo por ser cobiçada daquela forma. Meus
músculos se contraiam o querendo cada vez mais, enquanto sua
mão apertava minha cintura com firmeza e a outra puxava meus
cabelos. Seus lábios desceram em meu pescoço fazendo meu
corpo todo se arrepiar e eu queria provocá-lo, como ele estava
fazendo comigo. 
Passei as unhas em sua nuca e troquei nossas posições o
deixando, dessa vez, contra a vidraça. Suas mãos deslizaram em
minha cintura quando desci os lábios em seu pescoço, devagar,
deixando beijinhos por toda a parte, mordi levemente o vendo sorrir
e arfar. Ele estremeceu e pude notar os pelinhos de sua nuca se
arrepiarem. 
Senti uma de suas mãos descendo em minha
bunda,  apertando e me pressionando mais contra si. Afundei
os dedos em seus cabelos e aproximei meus lábios de sua orelha. 
— Cameron… — Choraminguei em um gemido baixo e
ofegante. 
O vi puxar a respiração, seus músculos se contraíram e ele
congelou após me apertar forte, em seguida se afastou e olhou para
o céu, passando as mãos nos cabelos. 
— Me lembre de ficar bem longe de você quando estiver
atacada desse jeito — pediu com a respiração falhada. 
— Prometo não te lembrar — provoquei afastando meu
cabelo da nuca, sentindo um calor enorme.  
— Jesus, segura essa mulher — disse com ar sofrido e
acabamos caindo na gargalhada juntos enquanto nos
encarávamos. 
Me aproximei dele e ele deu passos se afastando. 
— Vamos descer. 
— Mas... 
— Agora, pelo amor de Deus — implorou e eu acabei rindo. 
Descemos as escadas retornando ao jantar e Cameron foi
chamado por tio Arthur assim que aparecemos. Me sentei pensando
no que tinha acabado de acontecer e não consegui evitar sorrir
sozinha, não me importava se tinha alguém me vendo aos risos. 
— Ah, você cantou tão bem — tia Merabe disse se
aproximando com tia Mical, ela me puxou para que levantasse e eu
quase revirei os olhos em ter que abraçá-la, meu sorriso se desfez
no instante em que ela apareceu.  
— Esse vestido ficou tão bem em você — Mical disse,
sorrindo falsamente. — Mas acho que engordou um pouco, não? —
Ela analisou meu corpo enojada. — Sua bunda está enorme. 
Ela e tia Merabe riram, ao passo que senti meus nervos à flor
da pele. 
— Ah, está incomodada com o meu corpo por quê? Seu
marido nojento olha mais para minha bunda do que para a sua? —
Disparei e o sorriso em seu rosto sumiu com rapidez, tia Merabe riu
colocando a mão na boca, a tapando. — Isso não tem graça, é
nojento. 
— Quem você está achando que é, garota? Sou sua tia e
mais velha, você precisa me respeitar! — Mical disse irritada. 
— Se dependesse de mim, nem da minha família a senhora
seria — disparei baixo e sem pensar, mas quando as palavras
saíram, não tinha mais como retirá-las.  
— Sua mãe vai saber disso, sua criança mal-educada, isso é
falta de uma boa surra! — Afirmou segurando meu pulso e eu puxei
meu braço me soltando dela. 
Revirei os olhos e sai andando, tentando parecer calma, mas
estava extremamente furiosa e enraivecida. 
Era sempre aquilo, elas falavam do meu corpo enquanto seus
maridos me olhavam com maldade, tentava ignorar quando
acontecia, mas as vezes simplesmente não dava. Era assim
comigo, com Nicolly e Gabbe.  
Entrei em casa e, quando vi os cabelos loiros de Felicity e as
mãos de Nicholas apertando sua bunda, entendi que ela não queria
ser minha inimiga e sim minha prima. Aquilo fez com que meus
pensamentos voltados às minhas tias sumissem por instantes, me
fazendo rir baixo. 
Eles se separaram e Felicity ficou vermelha assim que me
viu, Nicholas, porém, abriu um sorriso safado. 
— Sorte sua que não é Jeff ou Isaac no meu lugar, se não a
casa toda saberia disso — afirmei. — A sala de jogos está livre —
avisei sabendo que se não providenciasse um lugar, ele tentaria
invadir meu quarto. 
— Valeu, prima — Nicholas agradeceu quando sai andando
para a sala de jantar ainda rindo pela situação. 
Tirei meus saltos no meio do corredor e voltei a caminhar
para a sala de jantar, sabia que era questão de segundos até Alec e
Ned descobrirem onde eu estava. 
Estava prestes a entrar no local quando ouvi as vozes de
Gabbe e Nicolly. 
—… já disse para você não falar de Rebecca! — Nicolly
exclamou. 
Entrei no exato momento, Nicolly não podia passar nervoso. 
— O que está acontecendo? — Perguntei olhando Nicolly,
que estava sentada, enquanto Gabbe estava em pé com Alice ao
lado. 
— Olha só quem chegou — Alice anunciou. 
— Essa daí, eu duvido que ainda seja tão santa namorando
alguém como o Cameron — Gabbe disparou.  
— Minha vida sexual te incomoda? O que se passa, Gabbe?
A sua não está boa? — Questionei sarcasticamente. 
— Acho que a de Nicolly está melhor, até engravidou —
debochou e vi o olhar firme de Nicolly se transformar em culpa. 
Meu sangue ferveu. Gabbe continuou com seu tom
debochado: 
— Que bela moça de família, na primeira oportunidade já foi,
não é? Não passa de uma va… 
Não dei um tapa em Gabbe, dei um soco em seu nariz que
no mesmo instante começou a sangrar, a fazendo gritar de dor
cambaleando para trás. 
Alec e Ned entraram na sala com expressões confusas. 
— Tio Owen vai saber disso — Gabbe ameaçou entre
choramingões. 
— Sugiro que corra para contar a ele antes que eu te soque
novamente — disparei olhando em seus olhos. — Você não passa
de uma ignorante que acha que moça de família é ser perfeita,
sendo que você não passa de uma pessoa suja. Se não sair agora,
eu te farei sair. 
Ela saiu correndo na direção do banheiro e Alice foi junto. 
— Meu Deus! — Nicolly se levantou e me abraçou. —
Finalmente não deixou barato. 
— Ah, eu não aguento mais essa gente, vou começar a
eliminar da minha família — brinquei a abraçando de volta. — O que
aconteceu? 
Ela olhou Ned e Alec, receosa de começar a falar. 
— Poderiam nos esperar do lado de fora? Vamos sair daqui a
pouco — avisei os olhando. Ambos concordaram e saíram em
silêncio. 
— Alice e Gabbe já ficaram com Carter também, Alice veio
começar a falar que eu e você gostávamos dos mais galinhas. Pedi
que parasse e avisei que não estava a fim de conversar. Gabbe
pareceu sentir o cheiro da confusão e veio justamente para cá, foi
quando começou a falar que eu e você éramos iguais, que não
duvidava de você aparecer grávida a qualquer momento… — Nicolly
parou de falar quando as lágrimas escorreram em seu rosto. 
— Ei. — Limpei as gotas com as costas de minha mão. 
— É tanto julgamento alheio. Eles não imaginam nada do que
eu passo e não respeitam nem o fato de eu estar gravida, já é bem
difícil a gravidez, porque eu estou o tempo todo enjoada e ainda
vem com isso. Gabbe insiste em apontar o dedo como se fosse
perfeita. 
Estava pronta para dizer algo, quando educadamente Alec
nos interrompeu. 
— Desculpe senhoritas, o senhor Malik está te chamando no
escritório — disse me olhando. 
Abri um sorriso e me senti ansiosa para saber como tudo
aquilo acabaria. 
— Os convidados foram embora? — Questionei e ele
concordou balançando a cabeça. — Ned, fique com Nicolly até ela
sair, por favor? 
— Sim, senhorita — respondeu com um aceno discreto. 
Com os saltos em mãos, sai caminhando com Alec. 
Papai estava sentado, à medida que mamãe estava de forma
elegante ao seu lado em pé, pareciam um rei e uma rainha. 
— Gabbe foi às pressas para o hospital com o nariz quebrado
— papai começou tirando os óculos de grau que raramente usava e
me olhou. — Tem parte nisso? 
— Uma bem grande, na verdade — admiti. 
— E por qual motivo? 
Suspirei pesado e mamãe se sentou ao meu lado.  
Expliquei todo o ocorrido, até mesmo com tia Mical. 
— Não concordo com violência — mamãe começou e eu
sabia que viria um sermão enorme —, mas não podemos te culpar
por reagir ao que te falaram. Mical e Hayato são complicados… sua
vó ficaria tão triste se não a chamasse, porém, isso terá que mudar
se sempre que vier ela e Merabe te deixarem mal, não serão mais
bem-vindas. 
— Conversarei com Pedro sobre o que Gabbe fez.
Resolveremos tudo, docinho — papai avisou. 
Estava um pouco sem reação e feliz. Acreditei que estaria
encrencada, de castigo ou coisa do tipo, mas meus pais me
entenderam e ficaram ao meu lado. 
— Mas por favor, sem violência — mamãe pediu aos risos e
me abraçou. 
— Se for necessário, tudo bem. 
— Owen! — Mamãe disse como se estivesse brigando com
ele, mas acabamos rindo juntos. 
— Filha, sei que hoje foi cansativo, mas precisamos falar
sobre outra coisa. — Olhei papai. — Eu e sua mãe precisaremos
viajar às pressas com sua tia Ada para resolvermos um problema na
empresa dela, não estaremos presentes na inauguração de Polly e
Antonella. Soubemos do convite que fizeram a você, quer mesmo
ir? 
— Quero sim. 
— Ótimo, irá com a família Styles, tudo bem para você? 
— É a família dela também — mamãe replicou sorrindo e
passando os dedos em meus cabelos.  
— Tudo bem sim. 
— Ótimo, as crianças irão com a gente, mas Isaac pediu para
ficar com Jeff, estamos de partida já — papai disse se levantando. 
— Certo, boa sorte então. — Me levantei e mamãe também. 
— Vai ficar bem, querida? — Ela questionou me olhando e
segurando gentilmente meus braços. 
— Sim, claro. 
— Por favor, se cuide. Natalie e Nicolly vão dormir aqui com
você — afirmou e eu apenas confirmei, balançando a cabeça. —
Acredito que não só elas. 
— Também acredito nisso — disse aos risos. 
— Voltaremos na segunda-feira, cuide de sua saúde, se
alimente e aqueça a voz para sexta-feira — mamãe pediu. 
— Ela já sabe, Olívia — papai interveio entediado. 
Abracei mamãe aos risos enquanto ela continuava a falar, em
seguida, abracei papai e sai do escritório. Entrei em meu quarto
fechando a porta e finalmente me livrei do vestido. 
A água do chuveiro caía sobre meu corpo o aliviando um
pouco. Depois de relaxada, sai do box e fiquei me observando no
espelho. Tentava de todas as formas parecer forte, sendo que, na
verdade, ouvir falarem do meu corpo acabava comigo. 
Tinha engordado um pouco, devido as medicações pesadas
que tomava para controlar a diabete, e não me sentia feia, mas
ficava péssima quando alguém falava como se fosse algo horrível.
Me enrolei na toalha, decidida a parar de me importar com coisas
que não acrescentavam na minha vida, era difícil, mas eu tentaria. 
Sai do banheiro me deparando com Cameron sentado na
cama, havia tirado o colete, a camisa estava com alguns botões
abertos e os cabelos em uma bagunça charmosa. Seus olhos azuis
se levantaram e ele me olhou boquiaberto, de forma que fez a
correntinha que estava mordendo cair de sua boca. 
Ele pareceu prender e soltar a respiração, abaixou a cabeça
e se levantou lentamente. 
— Não sabia que estava no quarto — foi tudo o que consegui
dizer quando ele começou a se aproximar. 
Dei passos para trás sentindo a estante de livros em minhas
costas e segurei ainda mais firme minha toalha quando ele colocou
as mãos na estante, na altura de minha cabeça. 
Prendi a respiração quando ele roçou o nariz do meu
pescoço até minha orelha, minhas pernas bambearam e eu
estremeci por inteira fechando os olhos, sentindo cada parte do meu
corpo se contraindo e palpitando de desejo. Era como se apenas a
toalha nos impedisse, mesmo que fosse algo muito além. 
Apertei minha toalha com as duas mãos quando seus lábios
se aproximaram de minha orelha. 
— Eu amo seu cheiro — afirmou devagar apertando minha
cintura. — Adoraria fazer essa toalha simplesmente sumir. 
O olhei sentindo meu corpo e minhas bochechas queimarem,
talvez teria que tomar outro banho. 
— Você não devia insinuar essas coisas, Styles — disparei
tentando manter minha voz firme, mas claramente não funcionou e
ele sorriu colando o corpo no meu. 
— Respeito seus limites acima de tudo — disse olhando em
meus olhos e desceu para os meus lábios —, mas eu vou te
provocar tanto... — Suas mãos me apertaram com força e me
pressionou mais contra a estante. — Que quando chegar o
momento, você não vai conseguir se controlar — sussurrou me
fazendo estremecer. 
Seus lábios se aproximaram dos meus fingindo começar um
beijo, mas ele sorriu de forma safada e se afastou. 
O observei pegar uma toalha, suas roupas e entrar no
banheiro. Ainda estava imóvel e tentando voltar a ter controle sobre
minhas ações, quando soltei a respiração que nem percebia estar
prendendo, voltei à realidade. 
Coloquei rapidamente uma roupa confortável e um moletom
de Cameron. 
Desci as escadas até a saída de casa vendo que meus pais
estavam prontos para a partida. Me despedi e fiquei olhando o carro
até perdê-lo de vista. 
Pensei em ir para a ala de piscinas onde todos estavam, mas
ao invés disso caminhei até a sala de estar e me joguei no sofá,
liguei a tevê e deixei em uma série que tinha assistido com
Cameron. 
Depois de alguns minutos sozinha, ouvi os passos entrando
em casa. 
— Por que ficou aqui sozinha? Estávamos na ala de piscinas
conversando — Nicolly disse se sentando ao meu lado. 
— Eu sei, não estava muito a fim de ficar lá fora — expliquei. 
— Amor, te espero lá em cima — Carter avisou beijando a
testa de Nicolly. — Boa noite, meninas. 
— Boa noite — respondemos juntas. 
Elliot também nos desejou boa noite após beijar o rosto de
Natalie e ambos subiram as escadas juntos, cada um sabia onde
ficaria. 
— Soube do que tia Mical disse — Nicolly começou e Natalie
entrelaçou nossos dedos. 
Olhei Nicolly, me segurando para não chorar. 
— Estou tão ruim assim? — Perguntei ouvindo minha própria
voz falhar. 
— É claro que não! — Natalie disparou. 
— Pelo amor de Deus, Becca, você sabe o quanto Mical é
maldosa — Nicolly afirmou. 
— Seu corpo é perfeito, de verdade amiga — Natalie elogiou.
— Uma bunda maravilhosa que eu amaria ter — sorri enquanto
limpava os cantos dos olhos. 
— Obrigada, gente — as beijei nas bochechas. — Agora vão
dormir, sei que estão cansadas. 
— E você, não vai? — Nicolly questionou. 
— Sim, vou subir daqui a pouco — avisei e elas apenas
concordaram. 
Enquanto elas subiam as escadas, Cameron descia, ele
bagunçou os cabelos de Natalie e ela deu um tapa em seu ombro
enquanto ria. 
A passos calmos se aproximou, sentou-se ao meu lado e
seus braços me envolveram. 
— Por que estava chorando? — Questionou beijando o topo
de minha cabeça. 
— Tia Mical falou sobre o meu corpo. 
— Que você é uma grande gostosa? — Olhei Cameron com
os olhos arregalados e senti minhas bochechas queimarem. — Meu
Deus, nem percebi o que acabei de falar, não resisti — disse
impressionado consigo mesmo, mas não tinha um fio de vergonha. 
— Seu safado — rebati e ele riu afastando meus cabelos da
nuca. — Ela falou sobre eu ter engordado e essas coisas, as
pessoas deviam ter mais responsabilidade sobre as coisas que
falam. 
Sua mão apertou minha cintura enquanto a outra se movia
subindo em minha nuca até seus dedos entrarem em meus
cabelos. 
— Você é perfeita — disse olhando em meus olhos. — Não é
à toa que eu fico à milhão quando outros homens se aproximam de
você, porque sei que você é perfeita e qualquer um iria te querer,
não só pelo corpo. 
Olhei em seus olhos e por instantes senti que nada ao meu
redor tinha importância. Nunca odiei meu corpo, tinha inseguranças,
mas não me sentia mais feia por estar assim. Gostava de mim, tinha
aprendido a me amar. 
Selei meus lábios nos de Cameron com calma e ele sorriu. 
— Me senti para baixo quando ela falou aquilo, ela é tão
inconveniente — admiti colocando minhas pernas em cima das
pernas dele. 
— Ei, se te colocarem pra baixo me avisa que eu te coloco
para cima… de mim — disse em voz baixa, me puxando e fazendo
com que eu ficasse entre suas pernas. 
— Cameron! — O repreendi dando um leve tapa em seu
braço e ele sorriu colocando novamente a mão em minha nuca. 
— E eu nem estou brincando — disse pouco antes de selar
nossos lábios. 
Mordi seu lábio inferior e, após um beijo calmo e tranquilo,
me levantei. 
— Vamos nos deitar — pedi o puxando pelo braço após
desligar a tevê. 
Cameron envolveu o braço em minha cintura enquanto
subíamos as escadas e caminhávamos pelo corredor até meu
quarto. 
Fechei a porta e me sentei ao lado dele, cobrindo minhas
pernas. 
— Estou sem sono, acho melhor ir para a minha casa —
disse coçando a nuca. 
— Prefere dormir sozinho a dormir comigo? — Questionei
cruzando os braços. 
— Não amor, eu… 
— Nossa Cameron, vai então, dorme sozinho — dramatizei e
ele me puxou fazendo meus braços descruzarem. 
— Para de frescura, você sabe que não é isso, amorzinho —
afirmou me olhando. — Eu só estou com muita coisa na cabeça. 
— Sei disso — disse movendo minhas mãos até a borda de
sua camisa. — Mas hoje você vai conseguir descansar. 
Puxei sua blusa o ajudando a tirar e milhares de coisas se
passaram em minha cabeça, em algum momento eu faria aquilo
novamente e não seria para dormir. Seu olhar alegou que pensava o
mesmo que eu, sorrimos juntos e ele ficou corado. 
— Deite-se de bruços — pedi e ele me olhou tentando
decifrar meus pensamentos, mas não relutou, apenas se deitou
conforme solicitado. 
Despejei creme em suas costas e comecei a massageá-lo. 
— O que te impede de descasar? — Questionei após um
tempo em silêncio, apertando suas costas, olhava sua tatuagem e
sorria sem que ele pudesse ver, era o ponto principal de meus
sonhos antigos, antes de saber que era com ele. 
— A faculdade, você ir embora, a luta, o time, os negócios —
admitiu cansado. — Eu só tenho dezoito anos e tantas coisas para
pensar. 
— Sim, não temos para onde correr, mas quanto a faculdade,
está nítido que não precisa se preocupar tanto, o time está indo
bem, a luta é só em outubro e confio em você. A respeito dos
negócios, não há o que fazer, sinto muito — comentei desanimada.
— E sobre eu ir embora, acho que também não há o que fazer. 
Voltamos ao silêncio, ambos cheios de coisas para falar, mas
sem saber por onde começar. Meus olhos se encheram d'água ao
pensar nisso e tive que me controlar por não querer que Cameron
pensasse ainda mais. Sabia que não perderíamos o contato e nem
tínhamos que parar de nos ver, alinharíamos tudo aquilo, mas ainda
assim teria a distância... 
Quando terminei a massagem, ele se virou devagar e seus
olhos encontraram os meus. Eram sofridos, chegava a doer em
mim. 
— Estou pronto para te ver correr atrás dos seus sonhos
amor, mas dói saber que não vou te ver todos os dias ou poder ficar
sempre ao seu lado. Meu coração, por inteiro, vai te acompanhar —
disse acariciando meu rosto, suas bochechas estavam
avermelhadas e os olhos brilhavam pelas lágrimas que queriam
sair. 
Deslizei os dedos em seu braço e a dor me consumiu, não
conseguia parar de chorar. Cameron me abraçou se deitando na
cama, cada vez mais forte como se pudesse evitar nossa separação
tão próxima. 
Ele beijou o topo de minha cabeça quando o abracei com
precisão, comecei a soluçar, não consegui parar, era como se fosse
me sufocar. 
— Amor… — Chamou depois de fungar e não consegui o
olhar. — Olha para mim. 
— Eu não consigo — sussurrei com a voz falhada. 
Ele soltou a respiração afundando os dedos em meus
cabelos, me fez levantar um pouco a cabeça e aproximou os lábios
de minha orelha: 
— Eu te amo e sempre vou ser seu — sussurrou e beijou
minha testa. 
O abracei mais forte e mesmo que tentasse, as palavras não
saiam de minha boca, eu era dele e o amaria mesmo passando
anos longe, mas não conseguia falar agora, não agora. 
 
Acordei sem Rebecca ao meu lado, ainda estava de noite ou
era o começo da madrugada, não sabia ao certo.  
Me espreguicei e observei a tela do celular vendo que ainda
eram cinco e meia da madrugada, não sabia se eram as semanas
sem dormir direito, mas me pareceu que havia dormido doze horas
sem parar, de tão bem que descansei, mesmo que em poucas
horas.  
Coloquei minha camiseta preta e desci as escadas passando
os dedos nos olhos, como se aquilo pudesse me ajudar a enxergar
melhor. 
— … eu não queria você me vendo passar mal assim, que
vergonha — ouvi Nicolly choramingar e quando entrei discretamente
na sala de estar, a vi chorando abraçada com Carter.  
Ela não me viu porque estava com o rosto afundado no
peitoral dele, mas ele me viu e riu baixo, apontando para a cozinha
e me fazendo entender que a minha garota estava lá.  
Rebecca estava inclinada para frente procurando alguma
coisa no armário, ela empinada daquele jeito era uma visão
incrivelmente tentadora, não sabia se ainda estava sonhando outra
vez ou se era realidade.  
Ela se endireitou e quando me viu deu um gritinho de susto
seguido de uma risada baixa. 
— Que susto, menino! — Replicou colocando a mão contra o
peito. 
— O que aconteceu? — Questionei me sentando no banco
da bancada quando ela se direcionou ao fogão e o ligou colocando
o bule. 
— Nicolly está passando muito mal pela gravidez e não
queria que Carter ficasse a vendo nesse estado… 
— Vocês são bem parecidas nisso. — Ela me olhou e revirou
os olhos, adorava vê-la irritada, adoraria ainda mais fazê-la revirar
os olhos de outra forma e ela sabia.  
— Enfim. — Virou-se  para o armário se empinando quando
foi pegar algo na parte de cima. — Vou fazer um chá para ver se ela
melhora. 
A observei, a calça e regata finas do pijama caiam
perfeitamente bem nela, mostrando seu corpo desenhado e
definido. 
— Me dá um chá também — pedi a olhando por inteira e
passando a língua nos lábios. 
— Ah, eu… — Quando ela se virou e encontrou meu olhar
em seu corpo, riu envergonhada e ao mesmo tempo incrédula. —
Não sei por que ainda caio na sua.  
— O que que está acontecendo? — Natalie questionou
sonolenta entrando na cozinha e encostando a cabeça em meu
ombro.  
— Nossa gravidinha está enjoada — Rebecca explicou e
Natalie estava colocando todo o peso em mim quando me abraçou
pelos ombros, quase dormindo em pé. — Vai dormir, amiga, ela vai
ficar bem. 
— Não, prometemos que seria nós três sempre — Natalie
murmurou cambaleando para fora da cozinha.  
Me levantei me aproximando de Rebecca que estava apoiada
no granito da pia. 
— Você devia estar descansando, parecia estar dormindo tão
bem — comentou deslizando as unhas em meus bíceps. 
— Dormi melhor hoje do que em qualquer outro dia — admiti
acariciando sua cintura.  
— Só dormimos cinco horas, isso prova que antes nem
cochilando direito você estava — rebateu olhando em meus olhos.  
Dei de ombros e ela balançou a cabeça negativamente, em
seguida me deu um beijinho nos lábios e voltou a atenção para o
bule. 
Depois que o chá estava pronto e morno, caminhamos para a
sala de estar, Elliot trouxe um balde com pouca água e o colocou na
frente de Nicolly. 
— Tome isso e depois vamos lá para fora, aqui dentro está
abafado demais — Rebecca disse entregando a xícara para Nicolly
que começou a chorar a olhando. 
— Eu acordei todo mundo, me desculpem, gente. — Achei
graça. 
— Ahhhhh, Nicolly, para de se achar! Estou aqui pelo meu
namorado Carter — brinquei a vendo rir. 
— E eu estou pelos meus namorados também — Elliot disse
enquanto a garota ainda ria. 
— Somos um trisal, já te falei — Carter completou rindo. —
Eu estou aqui por você, se quando não estava grávida já ficava
sempre, imagina agora que está carregando minha filha — disse
com tanta certeza sobre ser uma menina que o ultrassom
aparentemente seria apenas para confirmar.  
— Como sabe que é uma menina? — Rebecca questionou. 
— Não sei explicar, eu já achava que era e depois que sua
mãe se referiu ao bebê como a filha de Nicolly tive a certeza, a
mulher é uma bola de cristal — disse admirado. 
— Para que teste de gravidez se temos a tia Olívia, não é? —
Natalie brincou.  
— Quando a Rebecca engravidar ao invés dela contar para a
tia, a tia que vai contar para ela — Nicolly disse aos risos. —
Podemos ir lá para fora agora? — Questionou depois de tomar todo
o chá.  
— Ah, claro — Rebecca replicou se levantando. — Vou pegar
cobertor para todos — avisou se direcionando até a escada. 
A segui e a abracei por trás no meio da escada. 
— Você pega os cobertores e eu te pego — disse baixo em
seu ouvido e ela sorriu envergonhada.  
— Não vejo problemas — sussurrou quando chegamos no
corredor. 
Sorri a fazendo se encostar na parede e, com calma, a beijei. 
Senti suas unhas deslizando em minhas costas, lentamente,
enquanto nossas línguas se massageavam devagar. Rebecca me
deixava louco e quando me arranhava me fazia desejá-la cada vez
mais. Tive a liberdade de deixar minhas mãos percorrerem as
curvas de sua cintura até sua bunda. Me sentia incrível por ela me
deixar tocá-la assim, mesmo depois de tudo o que passou, poderia
pedir que eu parasse se estivesse desconfortável, mas não pediu
em nenhuma das vezes. 
Meu corpo todo implorava pelo dela e ao mesmo tempo
desejava esperar seus momentos. Estávamos em um nível
inexplicável em nosso relacionamento, totalmente diferente do que
quando começamos. Tínhamos liberdade um com o outro e
respeito, nunca achei que estaria assim, justamente com a garota
que me odiava desde a infância.  
Desci a alça de sua regata enquanto meus lábios deslizavam
em seu pescoço lhe dando leves beijinhos que a deixavam
arrepiada. Quando ela estremeceu, não consegui disfarçar o
sorriso.  
— Amor, precisamos voltar — disse levantando meu rosto
pelo queixo. 
Bufei e ela sorriu quando arrumei a alça de sua regata no
lugar. 
— Sabe o que fizeram com Joffrey? — Questionou quando
chegamos em um quarto de hóspedes. 
— Não, amor.  
— Soube que ele foi para o hospital, Nicholas quem disse.
Acredita que ele estava aqui quando desci? — Franzi o cenho sem
entender. 
— Por que estava aqui?  
— Ele e Felicity estavam na sala de jogos há horas —
comentou pegando uma coberta fina e me entregando. — Quando
desci para pegar água, ouvi seus passos e o peguei no flagra
tentando abrir a porta da cozinha com a garota, até falei para eles
comerem alguma coisa e dormir aqui porque estava tarde, Felicity
parecia… cansada. — Rimos nos olhando e peguei o outro cobertor,
ela pegou o terceiro e saímos do quarto. — Parei para comer
também porque tinha acabado de tomar remédio, quem aplicou em
mim foi Felicity, sabia? Ela está fazendo enfermagem. Enfim, foi
quando Nic me disse que tio Pedro, o pai dele, ligou e explicou a
situação.  
Ela suspirou desanimada, me abraçou pela cintura e voltou a
falar:  
— Nic não me contou o que fizeram com Joffrey, eles nunca
contam, mas disse que foi parar no hospital em estado grave,
parece que eu não fui a primeira garota que ele mexeu no jantar e
só agravou para ele. 
— E os médicos não perguntaram nada? — Ela riu. 
— O diretor do hospital Alencardinni é seu tio Richard, que é
cliente de papai — explicou — e meu tio Benjamin é médico desse
hospital e foi quem atendeu Joffrey, quem iria questionar?  
— E se falassem com o delegado estaria tudo bem, porque é
pai de Elliot — completei e ela riu passando a mão nos olhos, por
baixo dos óculos. 
Chegamos até a ala de piscinas, no fundo tinha um sofá
enorme, que era para as crianças na hora do jantar.  
Joguei os cobertores para os meninos e me sentei entre as
pernas de Rebecca que me abraçou por trás e deu um beijo em
meu ombro. 
— Irmão, podíamos dar uma volta de lancha amanhã depois
da escola, não? — Natalie questionou. 
— Amanhã não tem que ficar para a decoração do show na
sexta? — Rebecca indagou me fazendo rir baixo. 
— Acha que precisa de nota ainda, Becca? — Elliot
questionou. 
— Só precisará ficar quem fechou o bimestre com notas
baixas, primeira vez que Cameron não precisará ficar e nem Elliot —
Natalie provocou. 
— Minha namorada me ajudou com as notas e a cunhadinha
também — Elliot explicou com uma cordialidade fingida. — Na
verdade, todos os meninos do time, que a gente deixou ter aula com
a capitã, passaram sem problemas nenhum, o treinador falou ontem
que Victor, Dylan, Oliver, Kevin e alguns outros talvez até precisem
ir durante as férias de verão para se recuperarem. 
— Os meninos que vocês deixaram? — Rebecca questionou
com ênfase na palavra.  
— Não permitiria que  os meninos que não te respeitam
tivessem aulas com você — disse entrelaçando nossos dedos. —
Você ficou mil vezes mais confortável estando apenas com os
meninos que foram na minha casa de campo, não? — A olhei
virando um pouco o rosto.  
Ela ficou séria por instantes, mas acabou rindo e balançou a
cabeça positivamente. 
— Fico feliz que tenham passado, os piores eram vocês,
Peter e Josh — ela disse sorrindo. 
— Josh é o namorado do Calleb, certo? — Nicolly perguntou
e eu balancei a cabeça positivamente. 
— O namoro fez bem, essa é a verdade — Natalie começou.
— Vocês meninos podem até negar na nossa frente, mas a verdade
é que os quatro eram os terrores dos professores, dos pais e da
diretora, super irresponsáveis. Não estou falando que eu, Becca,
Lana e Calleb mudamos vocês de uma hora para a outra, mas que
depois de um relacionamento vocês mudaram, isso é nítido.
Principalmente meu irmão. — Fiz uma careta para ela. 
— Vocês nos mudaram  sim, porque vimos prioridades na
vida. Elas então... — Elliot riu olhando Rebecca e em seguida
Nicolly — Carter e Cameron até querem se casar.  
— Em minha defesa, Cameron era cinco vezes pior que eu —
Carter disse rindo enquanto acariciava o rosto de Nicolly. 
— Não quero falar disso — retruquei rindo vendo todos se
juntarem a mim e beijei a mão de Rebecca.   
— O que mais me impressionou e acredito que à Nat
também, não foi Cameron ter se rendido a Rebecca, porque todo
mundo percebia, quando eles tinham treze anos, que Cameron
babava por ela — olhei Nicolly com expressão de tédio e ela riu —,
mas Rebecca ter se rendido a Cameron. Isso sim me deixou
surpresa. Ela sempre foi uma pedra com os meninos e todo mundo
sabia que ela só saia com os da igreja para comer.  
— Nossa, Nicolly, parou — Rebecca disse rindo. 
— E era super grossa com os meninos no fundamental —
Natalie começou. — Enquanto eu falava com todos, ela era meu cão
raivoso que não queria amizade com ninguém. 
— Não sei o que eu fiz para merecer duas patricinhas como
amigas, meu Deus — Rebecca se queixou nos fazendo rir. 
— O casal que não esperávamos ficar assim era Cameron e
Rebecca mesmo, quando ele me contou que estava com ela eu
precisei ver para acreditar — Carter afirmou aos risos.  
— Tinha que ver na escola, ela mal tinha voltado para Los
Angeles e ele estava babando por ela — Elliot disse. 
— Melhor parte, para mim, foi quando ele tentou ficar com
uma garota e chegou falando que não tinha conseguido… 
— Natalie, cala a boca! Para de me expor! — Pedi
quase desesperado ouvindo todos rirem. 
— Ah, para, nunca contou isso à Rebecca? — Encarei como
se fosse óbvio, quando ela entendeu que não, ficou um pouco sem
graça. — Ah… me desculpa. 
O clima, de certa forma, ficou tenso. Não havia contado à
Rebecca, achava um assunto vergonhoso demais.  
— Fico feliz por não ter sido o único — Carter disparou
quebrando o silêncio. — Qual é, simplesmente aconteceu. Nicolly
tinha terminado comigo e incorporou a Rebecca. Quase quebrou a
garrafa de bebida em mim, surtada demais. 
— Ei, eu já parei com isso! — Rebecca se defendeu, mas
quando seu olhar encontrou o de sua prima, ambas começaram a
rir.  
— E aí fui ficar com uma garota e, merda, não consegui —
Carter explicou dando de ombros.  
— Que fofo — Natalie disse rindo. 
— Horrível — comentei. 
— Eu amei — Nicolly disse. 
— Constrangedor — Carter rebateu. 
— Nunca passei por isso — Elliot disse despreocupado. 
— Ah, Elliot, vai se ferrar! — Disparei. 
Eles começaram a falar sobre suas experiências com as
garotas e as meninas falando sobre alguns garotos que foram
inconvenientes com elas. Tanto eu, quanto Rebecca, ficamos
apenas os ouvindo. Acredito que, assim como eu, ela não se sentia
confortável para falar sobre o que já aconteceu em sua vida. E
desconfio que todos notaram, porque mudaram de assunto. Um que
não consegui prestar a menor atenção depois que Rebecca
aproximou os lábios de minha orelha.  
— Você me provocou no jantar, enquanto estávamos falando
com Antonella e Polly — iniciou em um sussurro. — Agora é minha
vez. — Senti sua mão chegando na barra de minha camiseta. 
— Rebecca, não faz isso — pedi, quase implorando em voz
baixa. 
— Você gosta tanto de mostrar que tem o controle de tudo,
que sabe tudo o que sinto. — Suas mãos entraram por baixo de
minha blusa e arranharam lentamente meu abdômen. Senti um
pequeno alívio pelos casais estarem entretidos e conversando em
voz alta.  
— Amor, para — tentei manter minha voz o mais firme
possível.  
Dobrei minha perna direita de forma que ninguém conseguiria
ver o que estava acontecendo. O pior de tudo era estar com um
short, tão fino, que qualquer um poderia perceber minha ereção
quando ficasse evidente.  
Não conseguia racionar nada enquanto seus dedos
deslizavam para a parte baixa de meu abdômen e suas unhas me
arranhavam por baixo da barra do short, quase entrando. 
Foi meu limite. Minhas veias estavam pulsando e eu ao ponto
de explodir. Meu corpo todo se contraiu desejando o dela. Não
imaginava que Rebecca tinha tanta criatividade para provocação,
mas eu amei. Desejei por instantes que ela continuasse, mas logo
afastei essa ideia, ainda não era o tempo.   
Me virei, ficando de frente para ela, voltando a ter controle de
meus pensamentos mais obscuros e a abracei pela cintura, sem
conseguir conter o sorriso que se abria em meu rosto.  
Me deitei em seus seios e fechei os olhos controlando minha
respiração. Sabia que quando fosse o momento certo não iria
conseguir parar, ia querê-la o tempo todo. 
— Gente, estou me sentindo melhor, vou tentar dormir um
pouco — ouvi Nicolly dizer. 
— Acho que vou treinar um pouco — disse virando o rosto na
direção do pessoal.  
— Mas você dormiu pouquíssimo e vamos entrar mais tarde
na escola — Rebecca disse me fazendo olhá-la. 
— Não estou mais com sono, amor. 
— Relaxa, a gente cuida dele — Carter replicou e Rebecca
balançou a cabeça concordando. — Vou só levar Nicolly para o
quarto e trocar de roupa.  
— Ok, eu já vou também — avisei abraçando minha garota
com mais força.  
Os casais se despediram e eu esperei alguns minutos até me
levantar do sofá. Rebecca riu quando segurei o cobertor na altura de
minha cintura.  
— Qual é a graça? — Questionei fingindo irritação. 
— Você! — Provocou.  
Puxei Rebecca pela cintura, a colocando justamente em
minha frente, pressionando-a contra meu corpo e percebendo
quando prendeu a respiração. 
— Agora você não parece tão engraçadinha — sussurrei
apertando sua cintura, ainda segurando o cobertor com a mão
desocupada. 
Ela sorriu, mas não falou nada. 
Chegamos em seu quarto e me livrei do cobertor, o jogando
no chão, assim que fechei a porta do quarto. Com rapidez a
empurrei contra a parede, a prendendo com meu corpo.  
Pressionar minha rigidez contra seu corpo era uma sensação
avassaladora que quase me dominava por inteiro. 
— Você está brincando com fogo, Rebecca — disse fitando
seus olhos enquanto apertava seu pescoço. 
Ela abriu um sorriso safado, que me deixava louco. 
— Que estranho, achei que quem brincava com fogo se
queimava, mas eu não me sinto queimada — provocou com seu
olhar desafiador.  
— Mas seu corpo parece estar pegando fogo — afirmei
abrindo um sorriso malicioso. 
Comecei a beijar seu pescoço, era seu ponto fraco. Afundei
meus dedos em seu cabelo, a fazendo inclinar a cabeça um pouco
para trás, me dando mais espaço para trilhar beijos até sua nuca.
Coloquei minha perna entre as dela e quando pressionei a minha no
pouco espaço que tinha, ela estremeceu por inteiro puxando a
respiração com força. Soltou  um gemido baixo e tentando me
empurrar. Rebecca estava com as bochechas vermelhas, como um
tomate, e seus olhos, fechados. Sorri aproximando meus lábios de
sua orelha e pressionei meu joelho mais uma vez entre suas
pernas.  
— Você não parece tão confiante agora — sussurrei. 
— Eu… — Não deixei que terminasse, a virei contra a parede
e pressionei meu corpo no dela, as únicas coisas que nos impediam
eram as roupas finas, o respeito que tinha por ela e seu propósito.  
Subi minha mão em seu pescoço o apertando e a ouvi arfar.
Em seguida desci a mão em sua barriga até a borda de sua calça e
passei o dedo por dentro, sem descer muito, mesmo que fosse a
minha maior vontade.  
Ela respirou fundo e choramingou, tapei sua boca quando
ouvi os passos e vozes de Carter e Elliot no corredor.  
— Pense bem antes de me provocar, baby — sussurrei em
seu ouvido mexendo minha cintura devagar, ansiando pelo
momento em que faria aquilo com nossos corpos totalmente
despidos.  
Sua respiração estava descompassada, as palavras
pareciam ter sumido de sua boca e a vi estremecer quando lhe dei
espaço para me olhar.  
Ela abaixou a cabeça como se tentasse organizar seus
pensamentos.  
— O que foi, amor? Parece desnorteada — ironizei passando
os dedos em seu rosto e ela bateu em minha mão a afastando. 
— Fica longe de mim, garoto — disse me empurrando, achei
graça.  
Rebecca se sentou na cama, mas eu ainda queria provocá-la
mais um pouco.  
Me aproximei, ficando em pé em sua frente. Sabia do sonho
que teve na noite passada, porque tive o mesmo sonho, um pouco
mais além… 
Passei os dedos em seu rosto a fazendo me olhar e levantar
um pouco a cabeça, não conseguia deixar de sorrir quando percebi
que essa havia sido minha visão do sonho, e ela de óculos parecia
ainda mais bonita.  
Pela primeira vez não me importei com meu corpo
demostrando o quanto a desejava. 
— Engraçado é que você está com a respiração ofegante,
está corada e ainda nem chegamos na melhor parte — disse
acariciando seu rosto e dando um tapinha no final. 
Ela ficou olhando para o chão enquanto mordia o lábio
inferior e apertava o lençol da cama, levantou-se e tomou uma
pequena distância. 
— Quero te beijar — disse devagar dando um passo para me
aproximar novamente e ela me fitou com um olhar ladino. 
— Vai ter que me pegar primeiro — disparou se afastando
ainda mais. 
Quando comecei a ir atrás dela, ela desviou e todas as outras
vezes fazia o mesmo, como se tentasse fugir de mim.  
— Mas eu te pego todo dia — disse sabendo que isso a
irritaria.  
— Nossa, Cameron — ela me deu um tapa no ombro e eu a
puxei pelo braço. 
— Peguei — disse vitorioso, a pressionando contra meu
peito. 
— Idiota — replicou aos risos e iniciou um beijo.  
Peguei Rebecca no colo e me sentei no sofá próximo da
janela, quanto mais lento o beijo ficava, mais meu corpo ardia. Não
via a hora de poder mostrar o quanto a amava, e consumi-la por
inteira. 
Apertei sua cintura a fazendo deslizar para frente e meu
corpo estremeceu. Respirei fundo e pesado e ela sorriu durante o
beijo, percebendo o quanto eu estava duro.  
— Merda… — murmurei baixinho afundando meu rosto em
seu pescoço.  
— O que foi?  
A olhei como se fosse óbvio e respirei fundo. 
— Como que eu vou treinar desse jeito?! — Ela riu tapando a
boca com a mão.  
— Um banho, talvez? — Questionou. 
— Você vem comigo? — Ela fingiu raiva, mas acabou
sorrindo com as bochechas coradas.  
Quando saiu do meu colo, recostei minhas costas no apoio
do sofá e coloquei uma almofada em meu colo. Passei a mão no
rosto, mas não conseguia parar de pensar em arrancar nossas
roupas. 
— Fala qualquer coisa para me distrair — pedi ainda com a
mão sob os olhos. Sabia que nada funcionária no momento, mas
não podia ficar daquele jeito.  
— Quero saber sobre o que Natalie disse. 
A encarei incrédulo. 
— Tanta coisa para falar e você quer saber a primeira vez
que eu broxei? — Ela riu. 
— Exatamente — suspirei com sua resposta, pior que aquele
assunto funcionava. 
— Foi com uma garota de Harvard. — Me sentei ainda com a
almofada no colo. — Lembra da festa em que você foi buscar a
Natalie, que estava muito bêbada?  
Ela balançou a cabeça concordando. 
— Naquela noite, Elliot me apresentou uma prima dele, não
lembro o nome dela. — Ela fez expressão de tédio. — Na hora que
estávamos quase, eu não consegui. 
— Fico triste com uma notícia dessas — Rebecca disse e
abriu um sorriso. 
— Sem graça — a provoquei e ela continuou rindo. 
— Você pensou em mim e broxou? — Questionou depois de
pensar um pouco. 
— Pensando em você eu não broxaria, mas tinha algo de
errado, simplesmente não consegui. — Ela me olhou com as
bochechas coradas e só depois percebi o que falei.  
Ela abriu um sorriso abaixando a cabeça. 
— E a garota disse alguma coisa?  
— Disse que tudo bem, mas foi horrível e constrangedor.
Nunca tinha acontecido comigo antes — comentei sentindo uma
certa vergonha ao relembrar do ocorrido. — E depois disso não quis
ficar com as meninas, por mais que elas viessem eu simplesmente
não queria, fiquei um tempo sem entender o motivo de não
conseguir transar.  
— Efeito Malik — brincou me fazendo rir. 
— Não se ache demais — rebati.   
Ela se aproximou de mim colocando uma mão em cada lado
do sofá, me deixando sem saída, e ficou com os lábios próximos
dos meus. 
— Sabe que não estou mentindo, amor — sussurrou
passando a língua em meus lábios. — Você não ia treinar? —
Questionou se afastando e se sentando novamente onde estava.  
A olhei por instantes e decidi não a tocar, não agora. Sabia
que todo o alívio que percorria o meu corpo agora  acabaria no
instante em que a tocasse outra vez.  
Depois de ter trocado minhas roupas, sai do banheiro a
vendo olhar pela janela com seus fones de ouvido, parecia
entretida.  
A passos calmos para não chamar sua atenção, sai do
quarto. Desci as escadas e encontrei Natalie, que parecia esperar
alguém. 
— Tudo bem, irmã? — Questionei. 
— Queria falar uma coisa com você — começou. Me encostei
na pia e ela apoiou o cotovelo na bancada. — Toda essa conversa
me fez lembrar de uma coisa… sabe que Andrew foi o primeiro e o
único que tive relação, certo?  
— Quer falar disso? Ah não — suspirei com expressão
enojada.  
— Não idiota, deixa eu terminar. Me lembrei que depois do
ocorrido eu fiquei com medo porque ele, você e pelo visto Carter e
Nicholas eram do mesmo jeito em relação a ter transado com mais
de, sei lá, dez garotas. — Cruzei os braços ainda sem entender. —
E eu, em uma conversa com a Nini e a Becca, entrei nesse assunto.
Nicolly disse que também teve esse medo e, por isso, Carter fez
exames. 
— Onde quer chegar com isso?  
— Meu Deus, você já foi mais esperto — disparou me
fazendo revirar os olhos de irritação. — Não acha que seria bom
fazer exames para ver se tem alguma doença? Mesmo que você
não tenha. — Sua pergunta me deixou um tanto pensativo. —
Rebecca não falou nada sobre o assunto, mas se ela não pensava
nisso, passou a pensar. Eu fiz Andrew fazer esses exames, porque
achei o mínimo, já que nunca tinha tido nenhuma relação sexual. 
— Mas eu sempre me cuidei. 
— Até parece — disse incrédula e se levantando da cadeira.
— Tenho certeza de que mesmo que a Becca não duvide de algo
assim, ela ficaria contente em saber que você teve essa atitude. Ou
você gostaria de passar alguma doença para uma garota que nunca
teve relações? Pense nisso. 
Fiquei parado um tempo. Nunca tive problemas com aquele
tipo de coisa, minha mãe sendo psicóloga e sexóloga sempre me
avisou sobre essas questões e não me deixou crescer com um
pensamento de que era imune a doenças, mas agora, com
Rebecca, aquilo tomou uma proporção enorme e ainda mais
importante. 
Caminhei até a academia, que ficava exatamente na
separação entre minha casa e a de Rebecca, nossos pais decidiram
fazer assim. Malharia primeiro e avançaria para o boxe depois.  
— Fala sério — Elliot disse começando na musculação. —
Ontem éramos três caras que só ficavam em festas e com as
garotas sem nos importarmos. Agora estamos aqui, totalmente
rendidos. 
Eu e Carter rimos com ele. 
— Carter sempre foi gado, nem estou impressionado que vai
ser o primeiro a casar. Eu sempre fui suave, mas o Cameron, puta
merda, parece mentira — completou. 
— Gado o que Elliot? Vai se ferrar — Carter disse dando um
tapa em seu pescoço quando passou perto dele.  
— Ah, para. Quase se amarrou na prima da Rebecca. 
— A diferença entre nós três é que o Cameron foi o primeiro
dela, eu o segundo e você ignorou Gabbe e meteu o pé depois de
uns beijos, mas ficamos com ela de qualquer jeito — Carter afirmou
e eu franzi o cenho. 
— Eu fui o que dela? — Perguntei repetindo as palavras em
minha mente. 
— O primeiro — Carter repetiu. — Foi por isso que Nicholas
avançou em cima de você quando se conheceram em Stanford,
não?  
— Não! Nem sei por que ele veio pra cima de mim, achei que
tinha sido porque ele estava ficando com Felicity e quando eu
cheguei ela veio falar comigo.  
— Não foi isso o que ele me disse. Ele acabou contando que
você tirou a virgindade da menina e depois caiu fora, mas contou
isso ano passado. Ele tá mudado desde que Rebecca disse que se
ele quisesse se matar, ela ajudaria. Cara, ela apontou a arma na
cabeça dele — Carter disse rindo.  
— Ela sabe usar armas? — Elliot questionou antes de mim,
impressionado. 
— Sim e muito bem, Nicholas também, a família Nogueira os
ensina cedo — Carter explicou levantando um dos pesos.  
Estava assimilando e remoendo as palavras que tinha
acabado de ouvir.  
— Mano, por que essas meninas são assim? — Questionei
incrédulo. — Eu não fazia ideia sobre Gabbe. 
— Você não percebeu quando dormiu com ela? — Elliot
questionou.  
— Da primeira vez não. Sabe como eu bebia no ano
passado, estava bêbado na festa de Felicity e quando me liguei, já
estava lá, lembro de quase nada — disse desanimado. 
— E ela estava bêbada? — Carter questionou e eu encolhi os
ombros em resposta, não me lembrava nem de como tinha voltado
para a casa. 
— Acho que ela bebeu um pouco e mesmo assim, Gabbe
sabia que eu a queria na época. Na segunda vez eu não tinha
bebido muito e nem ela — rebati e ele me olhou com expressão de
fala sério Cameron! 
— Se quer saber, fico feliz que encontrou alguém que jamais
faria o que essas meninas fizeram. Fala sério, Cameron, elas se
aproveitaram tanto que agora nem você consegue distinguir quem
fez e quem não fez isso — Elliot interveio. — Você sempre achava
Gabbe uma garota legal por fingir não ter interesse, mas na primeira
que você chegou nela, ela foi. Não acha estranho?  
Os dois me olharam por ser algo óbvio e eu não ter me
ligado, paramos de treinar. 
— E as meninas no geral ainda falavam ninguém manda ser
bonito. Vai se ferrar! Isso não justifica nada. Eu te avisava sobre
todas as garotas e você não queria saber, se achava porque estava
transando com todo mundo aos dezessete anos, mas não passava
de um pedaço de carne para elas — o olhei surpreso. — E ela não
era legal, só forjou uma personalidade para você gostar — replicou
irritado. 
— Outras garotas fizeram a mesma coisa? — Carter
questionou confuso. 
— Katherine, Melissa, até mesmo Alice. Quando Cameron
estava sóbrio só pensava em jogo, em ganhar, em ser o melhor.
Quando bebia, ia com qualquer uma — Elliot disparou. — Acho que
as únicas que não, foram Lana, Raquel e Felicity. 
— Eu não transei bêbado com Raquel. 
— Por isso que ela não foi uma babaca, porque ela também
teve oportunidade na primeira vez, mas não fez — explicou com
certa irritação na voz. — Isso porque ela era apaixonada por Andrew
e você ainda é o protegido dele. 
— E eu não estava tão bêbado quando fui com Melissa —
disse tentando encaixar tudo em minha mente.  
Elliot me deu um tapa na
cabeça.                                                                      
— Não estava, não? Você fez uma torre com os copos que
bebeu seu idiota, para de tentar defendê-las ou amenizar a situação.
Sabe que Melissa tem tomado jeito agora, porque não passava de
uma insuportável problemática. Fala sério, elas esperavam você
ficar bêbado, porque sabiam que não notaria algo de errado. — Me
levantei pronto para acalmar Elliot, mas ao invés disso ele me
empurrou me fazendo dar passos para trás. — E quando eu fui te
avisar da merda toda que estavam fazendo com você, na noite em
que você sumiu com Gabbe, sabe o que fez? Consegue se
lembrar?  
Forcei minha mente, mas só tinha alguns clarões daquela
noite, foi a primeira vez que usei droga. 
— Viu, Cameron? Foi uma das piores noites. Quando estava
mal, você bebeu, se drogou e Gabbe saiu com você mesmo estando
totalmente sóbria, quando eu fui tentar te tirar de lá — ele me
empurrou novamente —, você me socou, gritou que não era para
cuidar da merda da sua vida! Então não, Cameron, não me venha
com essa porra de defesa para essas meninas. Você foi o que mais
sofreu na mão delas, mas eu também! Imagina como foi ver você se
acabando, deixando todo mundo te usar porque não via mais
sentido na vida e ao invés de alguém estender a mão, não, se
aproveitavam de você. Felizmente ainda teve Felicity e Lana. 
— Felicity também se aproveitou uma vez.  
Carter entregou nossas garrafinhas de água, estava tentando
entender tudo, mas meus últimos dois anos pareciam borrões em
minha vida. Passei a maior parte do tempo chapado e bêbado ou
treinando e malhando, as vezes tudo junto.  
— Eu também achava isso, mas no dia em que todo mundo
pensou que vocês tinham transado, na verdade ela cuidou de você,
depois disse que vocês tinham transado porque sabia que Gabbe
ficaria brava e se afastaria de você, o que deu certo.  
Minha cabeça estava a ponto de explodir. 
— Então Felicity sempre cuidou de mim — disse a mim
mesmo como se, falando em voz alta, aquilo entraria em minha
mente. Apesar de ter transado com ela sóbrio, ainda assim não se
aproveitou de mim. — Puta que pariu, eu fui um idiota com ela.  
— Não te culpo, parece que era difícil distinguir quem
realmente gostava de você e quem só queria te usar — Carter
afirmou se envolvendo no assunto.  
— Ela gostou mesmo, cara, por isso não conseguiu se
aproveitar. Lana me contou que ela chorava toda vez que você
ficava com alguma garota que só estava te usando — Elliot
comentou. 
— Mas já foi gente, não tem o que fazer. Qual é? Eu não via
problemas em elas se aproveitarem de mim — comentei tentando
amenizar a situação, ou aquilo daria uma proporção enorme se
fosse levado adiante. 
— Queria ver se você quem tivesse se aproveitado delas
bêbadas — Carter comentou.  
Coloquei as luvas de boxe pensando sobre o assunto.  
Ouvimos a porta automática abrindo e voltamos o olhar na
direção, vendo que Nicholas havia acabado de entrar.  
Ele deu um toque de mão com Carter e Elliot e em seguida
caminhou em minha direção. Não sabia muito sobre Nicholas e
quando o conheci, foi depois de deitá-lo na porrada. 
— Vou precisar que vocês dois deixem o local, tio Owen me
mandou falar com Cameron sobre a luta — Nicholas afirmou
chamando minha atenção.  
Os meninos apenas concordaram e eu voltei a socar o saco
de pancadas. 
— Minha conversa vai ser tranquila com você, porque se
minha prima te deixa tocá-la como faz, isso mostra que você a
respeita e a deixa confortável — iniciou. — Tio Owen disse que você
sabe do que Bronwen fez à Rebecca — Nicholas disse me fazendo
o olhar. 
— E o que tem? 
Ele segurou o saco de pancadas. 
— Deixe-me te contar coisas que tenho certeza que minha
prima não contou — disse quando voltei com os socos, retomando
devagar. — Rebecca é uma garota que tenta ser a pessoa mais
incrível do mundo, com qualquer um que ela conhece, de longe a
garota mais legal dentre todas que já conheci. Claro que nunca vou
falar isso para ela. 
Ele riu sozinho. 
— E soube através de Lana. — Hesitei por instantes e o
olhei. — Já fiquei com ela — explicou rapidamente e eu voltei minha
atenção aos socos contra o saco de pancadas. —Que muitas
garotas falavam que Rebecca era uma burra, que não via que você
a queria e depois de estarem juntos, disseram novamente que ela
era burra por não ter transado com você — dei um soco mais forte
por ouvir aquilo. — Pelo visto você não sabia que as meninas
falavam assim dela… 
— É claro que não! Acha que eu deixaria falarem isso sobre
ela? — Perguntei o olhando. 
— Ainda nem chegamos na pior parte — alertou. —
Recapitulando, Rebecca, desde que chegou em Los Angeles notou
que você a queria, mas ela me contou que teve medo — confessou. 
— Agora sim pode começar a mostrar que você não é tão fraco nos
socos — disse enquanto me observava. —    Como sabe, ela foi
abusada sexualmente e provavelmente só te falou que ficou um
tempo dormindo com Isaac, não?  
— Sim, ela disse.  
— Ela não começou a dormir com Isaac por ter se cortado,
isso foi uma das coisas que acrescentaram para que eles
dormissem juntos, Isaac começou a dormir com ela porque toda
noite Rebecca acordava gritando para que Bronwen parasse —
comecei a aumentar a velocidade e força dos meus socos
imaginando a situação. — E ela teve medo quando se aproximou de
você, não sabia o que esperar, não te conhecia mais porque ficaram
muito tempo distantes e ainda carregou todos os xingamentos e
julgamentos pela escolha que fez. Acha que é apenas um propósito
com Deus? Tem muito mais por trás disso. Para você ter uma
noção, qualquer um que se aproximava dela até mesmo eu, ela se
encolhia de medo — senti meu sangue fervendo. — Agora imagine
Cameron, você ouvir toda a noite Rebecca gritando e implorando
para que aquele babaca não a tocasse, ela implorava, porra!  
Parei de bater no saco de pancadas apenas por ele ter
soltado dos ferros que o prendia no teto, eu estava furioso, meu
sangue fervia em minhas veias e eu tinha certeza de que acabaria
com aquele desgraçado!  
Antes que pudesse dizer algo, ouvi a porta automática da
academia se abrindo. Rebecca nos olhou, em seguida olhou o saco
de pancadas no chão e olhou Nicholas como se fosse acabar com
ele. 
— Não espero menos que isso na noite da luta, porque tio
Owen só não matou Bronwen por ser conhecido — Nicholas disse
com naturalidade e dando tapinhas em minhas costas. 
— O que você está fazendo? — Rebecca questionou. 
Enquanto tirava as luvas de boxe e caminhava até a parte
onde estava minha garrafinha, o observei bagunçar os cabelos de
Rebecca da mesma forma que eu sempre fazia com Natalie.  
— Batendo papo com meu novo primo, tá com ciúmes, coisa
chata?  
— Aí, Nicholas, me erra! — Ela o empurrou. — Não quero
que você faça amizade com ele, esse menino é insuportável — ela
disse caminhando até mim. 
— Ei, cara — chamei depois de beber um pouco de água e
ele me olhou. — Depois da escola vamos dar uma volta de lancha, o
que acha? 
— Beleza, mano — Nicholas respondeu e piscou para
Rebecca. 
— Dois chatos — disparou. 
— Que você ama e não vive sem — Nicholas disse antes de
sair da academia.  
Rebecca se aproximou de mim e passou os dedos
delicadamente em meus punhos avermelhados.  
— Precisamos tomar café e ir para a escola — disse me
olhando.  
Apenas concordei e ela me deu um selinho rápido antes de
sair da academia. 
Observei que as roupas de Rebecca eram mais largas do que
as que ela estava usando ultimamente, ficavam lindas nela, mas
sabia eram devido aos comentários de sua tia ontem no jantar. Seu
maior defeito era se importar com o que falavam dela. 
Tomei um banho relaxando o corpo, mas minha mente estava
a milhão. Nunca presenciei Rebecca gritar de desespero, mas no
fundo do meu subconsciente conseguia ouvi-la, e aquilo me
torturava. 
Sai do banho e após me secar, colocar minhas roupas e
passar o pente, só para falar que arrumei o cabelo, desci as
escadas até a cozinha, onde ouvi as vozes do pessoal.  
Elliot estava falando sobre mim e Nicholas termos nos
conhecido depois de eu surra-lo.  
— Cameron parece o Naruto, bate e depois quer fazer
amizade — ouvi Nicholas dizer. 
— Quem veio fazer amizade foi você — rebati e ele mostrou
o dedo para mim. 
— Eu já vou indo porque prometi ao Calleb que o ajudaria
com algumas coisas de amanhã — Natalie avisou se despedindo e
levando Elliot junto.  
— Já vou também, vejo vocês mais tarde — Nicholas se
despediu e se retirou.  
— Sobre o que conversaram? — Rebecca questionou
colocando as coisas que tinha usado para comer na pia.  
— Conselhos sobre a luta — expliquei e ela me olhou sem
acreditar muito. 
— Mas você está pensativo, amor — comentou. 
Era verdade. Muitas coisas rondavam minha mente, Gabbe
ter se aproveitado de mim, Felicity que ficou ao meu lado enquanto
achava que ela quem tinha me exposto, o fato de eu ter quase me
tornado um viciado ano passado, ter sido usado como um
brinquedinho sexual e todas as outras coisas.  
Terminei de comer, fomos para o meu carro e eu dei partida
com rapidez.  
— Fui usado como brinquedinho sexual por mais garotas do
que eu imaginava e ainda justificavam tudo com um ninguém manda
ser bonito. — Quando parei de falar, ouvi seu suspiro. 
— E como está se sentindo?  
— Normal — admiti. — Era uma coisa comum antes, não me
importava em ser usado. 
— Mas você ia totalmente consciente ou mais garotas
tentaram se aproveitar de você bêbado? — A olhei quando parei no
sinal vermelho e soltei a respiração pesada.  
— Acontece. 
— Eu odeio isso. Não normaliza isso, amor! Não é legal.
Acontece e está tudo bem? Não, claro que não. Você não é um
brinquedinho descartável. 
— Eu sei, hoje tenho consciência disso. — Ela balançou a
cabeça concordando. 
— A verdade é que eu odeio o fato normalizarem a fala
ninguém mandou ser bonito. É  horrível, ridículo. Muitas garotas
falam e quando falam eu escuto a mesma frase, foi estuprada por
causa da roupa, fala sério! É praticamente a mesma coisa! Um, eu
te assedio porque você é bonito, soa ainda pior, as roupas são uma
escolha sua e, mesmo assim, nada justifica! E aparência? Corpo?
Que coisa ridícula!  
— Já te falaram algo assim? — Perguntei prevendo a
resposta. 
— Várias vezes, mas você é bonita, claro que vão tentar
roubar um beijinho seu, é normal — imitou uma voz masculina e
bufou. — O que mais vocês conversaram?  
— Soube que mais de uma garota teve a primeira vez
comigo, sem eu saber.  
— Se você soubesse que era a primeira vez dela, algo
mudaria? — Rebecca questionou quando parei o carro no
estacionamento da escola. 
— Quer mesmo saber? — Ela respirou fundo tentando
disfarçar.  
— Sim. 
Tomei coragem e disse:  
— Não teria transado com elas. — Ela manteve seu olhar em
mim em busca de respostas. — Não ficava com meninas virgens,
porque sabia que elas se apegavam demais e eu não era o tipo de
pessoa boa para elas. 
— Alguma vez você fez sexo por realmente gostar da pessoa
ou sempre foi por prazer e só?  
— Eu… — comecei, mas não consegui prosseguir.  
Sua pergunta doeu um pouco, me fez refletir e eu
simplesmente não consegui responder, mesmo sabendo qual era a
resposta correta para aquilo. Seu tom não era de julgamento, mas
fez doer alguma coisa em mim. 
— Tudo bem, não precisa responder e eu também não estou
te julgando, sei que era assim que você se divertia, sei que muitas
pessoas só querem o prazer e nada além, jamais reclamaria disso
— disse um pouco sem jeito. — Desculpa ser tão inconveniente,
queria fazer essa pergunta há um tempo. Vou indo, ok? Preciso falar
com a diretora López, urgente — avisou dando um beijo em meus
lábios e saiu do carro rapidamente. 
Todos os meus instintos desejaram ter aberto a porta do carro
para que ela saísse, como sempre fazia, mas estava tão perdido
procurando na minha mente um momento em que alguém de fato
me amou e eu fiz sexo com sentimento que fiquei parado feito uma
estátua. Também queria dizer que jamais a trataria como tratei as
meninas que perderam a virgindade comigo, mesmo sem eu saber.
Tinha medo de que ela se sentisse insegura, achando que eu seria
um babaca com ela. 
A verdade era que quando pensava na nossa primeira vez,
eu ia ao céu várias vezes, imaginando o quanto cuidaria para que
fosse tudo perfeito. 
Mas, no momento, não conseguia deixar de pensar em sua
pergunta e no que os meninos falaram mais cedo. 
 
Não desconfiava de Cameron, nossa relação deixava claro
que ele não me descartaria, mas esperar nunca significou tanto para
mim. Tinha certeza de que não seria descartada, mas era inevitável
não me sentir, de certa forma, desconfortável com suas palavras
sobre outras garotas.  O pior era que não havia nada que pudesse
mudar aquilo, era passado. Minha maior vontade no momento era
de esquecer essas histórias de garotas o escolhendo para sexo,
pensar demais me dava nos nervos. 
Assim que sai de seu carro, me deparei com Melissa saindo
do carro de Andrew. Quando ele me viu, sorriu acenando, olhou
Melissa dizendo algo e deu partida acelerando.  
— Acha que Alice vai me matar quando souber? —
Questionou quando se aproximou de mim, estava sorridente. 
— Talvez — opinei desconfiando se Alice foi capaz de gostar
de Andrew. 
— Só por eu ter algo que já foi dela — olhei Melissa. 
— Andrew é um objeto para você? — Perguntei sentindo um
desconforto enorme ao me lembrar que tratavam Cameron da
mesma forma. — Ele sabe disso?  
— Não foi o que quis dizer — disse cabisbaixa quando
entramos na escola. — E, Becca. — Ela me puxou para um canto
reservado. — Sei que você teve a sorte e benção de ter apenas
uma pessoa e essa pessoa se apaixonou perdidamente por você,
mas nem todos conseguem isso e as vezes só querem curtir. 
— Desculpe, Mel, não quero parecer estar te julgando e não
é da minha conta quem quer sexo por diversão, não foi isso que
quis dizer — me desculpei. — Mas a forma com que disse pareceu
que estava feliz só por ter algo que Alice não tem, como se fosse
um simples objeto que amanhã você vai descartar. E Andrew, assim
como Cameron, foi tratado assim a vida toda pelas garotas, só não
queria imaginar que está acontecendo de novo. 
— Mas com Cameron… — ela parou de falar quando
entendeu meu olhar.  
— Escute, não sei da relação de vocês, mas confesso que
me incomodei ao se referir a Andrew como se fosse um prêmio. Sei
que é por eu ter sido considerada assim um dia e não foi legal —
expliquei. — Mas eu de coração espero que vocês ao menos
tenham encontrado um pouquinho de felicidade em estar
acompanhados, ele pelo menos parecia animado — disse sorrindo e
me afastando. 
— Acho que foi por ter te visto e não por mim. — Senti meu
coração apertar quando ela disse aquilo em voz alta. 
Me virei a olhando.  
— Pare de me colocar a sua frente Melissa, foi por isso que
você criou uma rivalidade entre nós. — Caminhei novamente até ela
vendo que o corredor estava vazio. — Quando você viu Cameron
me olhando diferente achou que eu era melhor que você, sendo que
sentimento a gente não escolhe, é algo que acontece e isso não
significa que seja por eu ser melhor ou pior. Depois disso tentou
fazer um inferno na minha vida — relembrei e me deixei rir, aguentei
tudo aquilo e agora chegava a ser engraçado. 
— Eu não fui tão ruim — se defendeu rindo. 
— Você foi o cão comigo, Melissa. — Ela gargalhou. 
— Justo. 
— O que quero que você faça, não só comigo, mas com
qualquer outra garota, é parar de nos colocar acima de você, porque
ninguém está acima de ninguém. Andrew pode se apaixonar por
você sim, mas sem que você tente agir como outra garota, ok? —
Ela abriu um sorrisinho triste. 
— As pessoas não gostam de mim como eu realmente sou. 
— Você que não gosta de você como realmente é porque se
compara com as outras — disparei e seus olhos se encheram
d'água. — Me desculpe — pedi me sentindo culpada. 
— Não, você está certa. 
— Preciso ir falar com a diretora — avisei quando ela
levantou o olhar limpando o canto dos olhos para disfarçar que
queria chorar. — Mas lembre-se, ser quem você realmente é, acaba
sendo a única coisa que temos na vida, algo que ninguém pode tirar.
A vida nos machuca muito, mas no fim sabemos quem somos de
verdade. Não perca sua essência por ninguém.  
Ela concordou balançando a cabeça e eu caminhei até a
diretoria, onde Neji me aguardava.  
A diretora havia nos falado que o primeiro semestre,
composto por três bimestres, havia sido fechado e, pelo que
entendi, desde maio eu estava liberada de tudo. López se despediu
de nós e desejou todo o sucesso. Foi meu primeiro contato com a
despedida e fiquei feliz por ter sido tão tranquilo. 
A semana que entraria seria repleta de projetos e lazer para
os alunos, mas o time seguiria treinando para o jogo de sexta-feira e
tudo isso me deixou ansiosa. 
As coisas tendiam a acontecer com muita rapidez. Projetos,
último jogo da temporada do time e, após isso, eles viajariam para
Nova Iorque para ficarem três dias conhecendo jogadores
profissionais… Quando Cameron me contou, aquilo parecia
distante.  
Mas antes da viagem do time, na primeira segunda-feira do
mês de julho, tinha o casamento de Nicolly.  
Não sabia como reagir, o tempo parecia tão curto, estava
tudo acabando ao meu redor e eu iria embora. 
— A diretora falou sobre a arrecadação de dinheiro para
enviar a uma associação de caridade, o que acha que eles vão
fazer? — Neji questionou me tirando de meus pensamentos. 
— Não sei, mas acho que será algo engraçado — afirmei e
ele riu concordando.  
Entramos no anfiteatro onde tinham poucas pessoas, dentre
elas Melissa, Lana, Natalie, Calleb e algumas pessoas do grêmio
planejando a decoração.  
Enquanto Melissa e Lana conversavam sobre a decoração
em cima do palco, Calleb e Natalie estavam na plateia rindo das
meninas discordando o tempo todo entre si.  
Me aproximei deles e abracei Calleb, ficando empinada para
trás. Como não havia mais ninguém, não me importei de ficar
abraçada daquela forma com ele. 
— Você está bem, docinho? Falou com a diretora? — Calleb
questionou. 
— Falei sim, meus pais vão precisar assinar alguns
documentos até o fim das aulas — comentei. 
Senti um calor subindo em meu corpo quando ele parou atrás
de mim e pressionou seu quadril contra a minha bunda, me fazendo
soltar Calleb e arrumar minha postura na medida em que me
impulsionava para a frente.  
— É nessa posição que eu gosto — sussurrou em meu
ouvido e passou por mim deslizando a mão em minha cintura. 
Fiquei o olhando por instantes e ele sorriu maliciosamente me
encarando.  
— Vocês voltaram? — Calleb questionou quando me sentei
ao seu lado. 
— Não, por quê?  
— Vocês postaram fotos juntos. 
— E o que tem? 
— Sonsa! — Calleb replicou rindo. 
A diretora entrou com os professores e não demorou muito
para que começasse a reunião. Ela basicamente repetiu algumas
coisas que tinha falado para mim e Neji, em seguida chamou a
inspetora Sullivan. 
— Antes de falar os nomes dos que podem aproveitar a
semana de projetos e as férias de verão sem preocupações, os
alunos Neji Mizuki e Rebecca Malik estão dispensados por ordem
da diretora López. Agradecemos a colaboração até o presente
momento e é com muita honra e felicidade que Liberty os verá indo
para Stanford — disse a inspetora com a voz carregada de
animação.  
Me levantei totalmente envergonhada diante dos aplausos
que o time começou. Quando passei por eles começaram a gritar
sem parar dizendo “que orgulho da nossa capitã”, “arrasa amiga”,
“perfeita nunca errou”, “rainha dos Warriors”, “dona de Liberty” e
outras coisas.  
Sai do anfiteatro com Neji aos risos, mas quando chegamos
no campo de futebol comecei a chorar. Neji não disse nada, mas me
abraçou como se fosse um irmão e me deixou chorar. Não tinha
dúvidas de que, dentre todos, ele seria o único a entender a minha
dor. 
Quando parei, ele me olhou e disse: 
— Acho que você segurou muito e por um longo tempo. 
Limpei os olhos e suspirei. 
— Não quero que todos achem que estou mal e sofrerem por
minha causa.  
— É algo inevitável, Becca. Você não pode proteger todo
mundo de sofrer guardando tudo, é pior e pode te sufocar — disse. 
— Não me importo. 
— Deveria — afirmou me olhando. — Você se arrepende de
ter se escolhido em primeiro lugar? — Franzi o cenho. — Ir
à  Stanford é se colocar em primeiro lugar, porque é seu futuro, se
arrepende de estar partindo?  
— Não — admiti. — Não me arrependo por ser minha
prioridade, porque durante anos não consegui ser, apenas seguia o
que meus pais queriam. Mas dessa vez é uma coisa totalmente
minha, que sei que preciso. — Senti meus olhos se encherem
d'água novamente. — É só que eu nunca fiquei longe dos meus
pais, sempre fui grudada com Isaac, nunca me apaixonei, recuperei
minha melhor amiga recentemente e deixar tudo isso é difícil. 
— Infelizmente é algo que eu e você teremos que passar.
E conseguiremos, Becca, tenho certeza disso. 
Estava em partes feliz, ao menos tinha alguém que iria
comigo e sabia como era doloroso a situação. Também teria
Nicholas e tinha um bom pressentimento quanto a Felicity. 
— Podemos ir para o estacionamento? Acho que o pessoal
vai direto para lá — pedi. 
Ele concordou e se levantou no mesmo instante que eu. 
— Queria te fazer uma pergunta muito particular — comecei
enquanto andávamos, ele me olhou curioso e balançou a cabeça
para que eu continuasse. — Uma vez, o Pê falou que você... —
Pensei em uma maneira adequada para de falar. — Que você tinha
uma leve atração por mim. — Recostei-me no carro de Cameron e
Neji riu alto.  
— Sim, Becca, tive sim — admitiu, o olhei admirada e ele riu
com naturalidade. — Foi assim que te vi, seu jeito me lembrou muito
meu primeiro amor.  
— Ah, sério? — Ele balançou a cabeça concordando, queria
perguntar o que havia acontecido com a pessoa, mas senti que
invadiria seu espaço, então optei pelo silêncio.  
— A perdi no fim do ano retrasado, antes de me mudar para
Los Angeles — começou e eu me senti aliviada por não precisar
tentar puxar assunto. — Seu jeito reservado me lembrou muito
dela.  
— Ficaria incomodado se eu questionasse o que
aconteceu?  
Ele puxou a respiração, a soltou e me olhou. 
— Não resistiu a um acidente. 
— Eu sinto muito — afirmei com sinceridade. 
— Eu também, mas você me deixou lembrar um pouco dela
— disse com um tom doce em sua voz. — Sou grato por isso.  
— Neji? — Ouvi Calleb chamar. — Eu preciso muitíssimo da
sua ajuda. 
Calleb deu um beijinho em meu rosto e saiu com Neji pedindo
licença. Cameron se aproximou me analisando, olhou em meus
olhos e passou os dedos em meu rosto. Ele me conhecia tão bem
que se tornou previsível sua pergunta. 
— Estava chorando? 
— Sim, Styles, eu estava. — Afastei sua mão. 
Não era bem a atitude que queria ter tomado, mas estava
confusa com o que Cameron queria ou não deixar nítido para os
alunos de Liberty.  
— Não me importo com o que vão falar se acharem que
estamos ou não juntos — afirmou me olhando nos olhos. 
— Fofo e corajoso da sua parte, mas não vou permitir que
você carregue isso com a minha partida. Se acreditarem que
terminamos antes, ninguém vai ficar colocando a prova que nosso
relacionamento terminou por uma simples distância — disse em voz
baixa e ele soltou a respiração. — Não foi nisso que pensou quando
disse à Yuna que eu quem terminei?  
— Foi — replicou desanimado.  
— Rebecca — ouvi Karen me chamar receosa, eu e
Cameron a olhamos. — Eu posso falar com voc… 
— Se manca, Karen! — Melissa respondeu por mim, vi que
ela estava com Lana e Natalie, que vieram para o meu lado.  
— Agora não, Melissa! — Karen pediu irritada.  
— Agora não mesmo, acha que pode falar com ela como se
nada tivesse acontecido? — Melissa replicou e eu a olhei confusa. 
— O que aconteceu? — Questionei sentindo a mão de
Cameron tocar minha cintura e o olhei. 
— Essa vagabunda disse ao Jasper que se ele conseguisse
ser seu primeiro, ela faria o que ele quisesse! Ela ofereceu sexo a
ele em troca de acabar com a sua decisão — Melissa disparou e eu
me senti nauseada. 
— Você acha que pode falar alguma coisa, Melissa? Quem
foi que no início do ano propôs para o Oliver fazer tudo para
conseguir alguma coisa com ela? — Karen disse com a voz
carregada de raiva.  
Meu estômago doeu. 
Minha vontade foi de gritar e esbravejar, mas ao mesmo
tempo chorar. 
— É verdade isso? — Olhei Melissa e ela me olhou com os
olhos marejados, balancei a cabeça negativamente como se isso
pudesse me ajudar a organizar meus pensamentos. — Quando eu
acho que não, vocês vêm e me provam que são nojentas! — Disse
olhando Karen e Melissa. — Vocês sabiam? — Olhei Natalie e Lana
que abaixaram a cabeça. — E você? — Meu olhar encontrou o de
Cameron que denunciou sua resposta.  
Balancei a cabeça novamente, ainda desacreditada.  
— Becca, eu posso explicar — Melissa pediu me segurando
pelo braço. 
— Me solta, Melissa! 
— Becca… 
— Sugiro que me solte antes que seu lindo nariz saia
quebrado! — Avisei sem paciência e ela arregalou os olhos me
soltando.  
Sai andando e ouvi passos atrás de mim. 
— Amor, por favor — Cameron chamou. 
Quando vi o carro vinho de meu tio Benjamin, senti um alívio
percorrer meu corpo. A porta dele se abriu, me fazendo acelerar o
passo, assim que vi meu tio o abracei, ainda sem entender o motivo
dele estar aqui. 
— Olá, Moranguinho. 
— Pode me tirar daqui?  
— Sim, claro — disse de imediato, me trazendo até o banco
do passageiro e abrindo a porta para mim. 
— O que veio fazer aqui? — Questionei quando ele deu
partida.  
— Precisava resolver algumas coisas com a diretora López,
mas isso pode esperar. O que aconteceu, moranguinho? Parece
chateada. 
Suspirei, me sentia ótima quando ele me chamava assim,
sabia que era uma forma de sempre estar conectado com Riley,
minha prima que faleceu de câncer com dezesseis anos, um ano e
meio antes do meu nascimento. Ela era ruiva, como a mãe, e amava
os desenhos da Moranguinho, por isso tio Ben colocou aquele
apelido. Quando fiz dez anos ele encontrou traços da personalidade
de Riley em mim e sempre dizia que meus olhos e a forma que meu
cabelo era fino e ondulado nas pontas eram iguais aos dela. Em
uma foto que vi, posso afirmar que de fato éramos parecidas.  
— Algumas meninas da escola são loucas e me
deixaram  muito irritada — expliquei sem muitos detalhes. —
Podíamos tomar um sorvete, você sempre me levava quando mais
nova — comentei e ele riu concordando.  
Coloquei uma música para tocar no rádio, sabendo que ele
amava músicas antigas com ritmo country. Era engraçado conseguir
cantar a maioria, sendo que não era meu estilo favorito, eu
simplesmente sabia.  
Chegamos em uma sorveteria bem reservada e, de certa
forma, chique. Sentei-me na cobertura, onde me permitia ver o sol.
Tio Ben trouxe um sorvete de morango com calda de morango e
bolinhas de chocolate, era o preferido de Riley não o meu, gostava
do sabor, mas preferia o de céu azul, porém não tinha coragem de
admitir.  
— Andei observando você e seu… namorado? — Me olhou
com dúvida. 
— É complicado. — Ele riu. — O que tem a gente?  
— Ele parece muito com Castiel, que namorou Rylie —
replicou e eu franzi o cenho. 
— Mesmo? E o que aconteceu com ele?  
Ele abaixou o olhar e eu senti que havia falado algo de
errado.  
— Infelizmente faleceu dois dias depois de Riley, não
aguentou a falta dela e saiu bêbado de moto. — Senti meu coração
doer e uma vontade enorme de chorar. — Eles eram um casal
incrível, Riley dizia que o conhecia de uma vida passada e Bridget
sempre achava graça disso.  
— Nunca mais conversou com Bridget? — Questionei e ele
suspirou pesado negando com a cabeça.  
Não gostava de sentir o clima tenso entre nós, tio Ben tinha
passado por muita coisa em sua vida. Desejava que ele e Bridget se
reencontrassem, ela foi a única mulher que conseguiu o amor dele.  
— Vem comigo — pedi me levantando. 
Desci as escadas da cobertura, com rapidez, e ele me seguiu
questionando para onde estávamos indo. Paramos em uma ponte
usada para atravessar uma parte da cidade, apenas pedestres
passavam por ali e era próximo da sorveteria, achei graça quando o
vi segurando os sorvetes em mãos. 
— Aqui é lindo, não acha? — Questionei o olhando e
pegando o sorvete que ele estendeu para mim. 
— Sim, é lindo. 
— Pai, tira uma foto minha — pedi colocando o sorvete na
borda da ponte e puxando do bolso meu celular. Coloquei na
câmera e ele ficou me olhando paralisado, não entendi o que eu
disse de errado. — Tio Ben? Tira uma foto minha — repeti meu
pedido e ele pareceu soltar a respiração. — Falei algo de errado? 
— Não, Moranguinho, não — replicou. 
Tiramos as fotos e por instantes consegui me sentir mais
leve. 
Tio Ben me trouxe para casa, pediu que um funcionário
levasse minha bolsa e começou a caminhar na direção da central de
segurança dos Styles, onde os seguranças das nossas famílias
treinavam.  
— Tio, quero descansar.  
— Moranguinho, te conheço. Você ficou estranha do nada,
sei que está pensando em tudo o que aconteceu na escola. — O
olhei. — Então, acho que você deve concordar que precisa jogar
isso tudo para fora de uma forma que sei que funciona. 
Um segurança abriu uma porta de metal pesada, que se abria
com uma senha que ele inseriu no painel. Entramos no enorme
local, com diversos andares e pessoas treinando, entramos em um
elevador que começou a descer. A porta do elevador abriu, me
mostrando a sala de treinando com armas. Cameron, tio Arthur e
mais outros seguranças estavam presentes. 
Cameron me olhou e se desencostou, pronto para se
aproximar, mas tio Arthur o impediu inclinando a mão e olhou para a
bancada de armas. Olhei tio Ben e ele apenas balançou a cabeça
concordando. Me senti uma criança sorrindo, colocando os óculos e
fones de proteção. Dois bonecos se levantaram como alvos. 
— Vocês estão subestimando minha sobrinha, coloquem
mais três — ouvi tio Benjamin dizer quando peguei a primeira arma.
— Moranguinho, está querendo contar uma piada ou apenas sendo
modesta na frente do namorado? — Provocou. 
Sorri e peguei outra arma. Respirei fundo e pensei em tudo o
que estava acontecendo.  
Como papai me ensinou, não pensei nas pessoas que me
faziam mal, mas sim no sentimento que estava dentro de mim. Ter
raiva de alguém não era o ideal de se pensar com uma arma na
mão, fui aconselhada desde os quatorze anos a pensar no
sentimento que eu, apenas eu, sentia. 
Comecei a atirar com as duas armas, minha coordenação
motora da mão esquerda não era boa como a da direita. Eu não era
uma atiradora tão boa, mas praticando durante quase quatro anos,
consegui ter uma boa experiência. 
Era como se uma fumaça preta saísse do meu corpo, tirando
minhas dores e raivas, mas ainda não era o suficiente. 
Observei minhas opções olhando a parede com algumas
variedades. Sorri mirando a metralhadora, não pensei duas vezes e
a peguei. Joguei a alça em meus ombros e a carreguei.  
— Amor, eu não acho que seja uma boa…  
Antes que Cameron continuasse, comecei a atirar nos
bonecos, em um ponto específico de cada, até começar a atirar sem
parar. Não acertava bem os alvos, porque era a segunda vez que
atirava com uma metralhadora, a primeira foi no ano passado.  
Me senti leve quando soltei a arma descarregada na mesa.
Tio Arthur, Cameron e os seguranças me olhavam boquiabertos. 
— Achei que tinha perdido a prática, mas foi muito bem,
Moranguinho — tio Ben disse me olhando e me abraçou. 
— Obrigada, tio Ben, agora vou para casa — avisei dando
um beijo em seu rosto.  
Caminhei até tio Arthur e o abracei. 
— Muito bem, docinho. Não imaginava, acho que está pronta
para conhecer nossa família — disse com orgulho na voz.  
— Que honra! — Brinquei.  
Dei uma olhada em Cameron e comecei a caminhar para a
saída da sala.  
— Ele está encrencado — tio Ben disse aos risos. 
— E muito — ouvi tio Artur dizer. 
Entrei no elevador e Cameron logo em seguida.  
— Amor, deixa eu explicar. 
— Você guardou tudo isso e agiu como se nada tivesse
acontecido, o que quer explicar? — Questionei sem o olhar.  
— Olha para mim. 
— Não começa, Cameron! — Pedi saindo do elevador.  
O segurança abriu a porta de metal me permitindo sair e
Cameron veio logo atrás. 
— Posso ao menos falar?  
Não sabia se queria ouvi-lo agora, então continuei andando
até chegar próximo da piscina de casa. Entrei em casa e subi as
escadas, praticamente fugindo. 
— Rebecca, já chega! — Cameron disse tão firme que me fez
o olhar, suas bochechas estavam coradas e ele parecia irritado,
mesmo que seu tom não fosse explosivo. A porta foi fechada, mas
continuamos distantes um do outro. — Me desculpe por não ter te
contado, me desculpe mesmo, mas eu não sou o culpado dessa
história, que inferno! Todo mundo jogando um bilhão de coisas em
mim, sendo que não tenho responsabilidade por tudo — desabafou.
— Eu não sabia sobre Melissa. A única vez que ela mencionou algo
para mim foi depois da foto que tiraram nossa no estacionamento,
há meses atrás, quando ninguém sabia quem era você. Ela disse
aquilo para ver se eu sentia algo e fingi que não. Mas que droga,
não sabia que ela chegaria a esse ponto.  
Ele me olhou por instantes e soltou a respiração começando
a andar de um lado para o outro.  
— E sobre Karen. — Ele parou e me encarou. — Soube há
um tempo, mas você estava tão bem e ela não estava tão em cima
de você, então achei melhor não falar nada. Não vou me justificar
Rebecca, achei que estava fazendo o certo, mas errei. 
Estava tão exausta que tombei para trás me sentando no
sofá, todo o peso da situação pareceu emergir.  
Abaixei a cabeça, tentando pensar, mas me sentia aflita. 
Cameron se sentou, me abraçou e ficou mexendo em meu
cabelo enquanto eu chorava em seu colo. Era sempre assim quando
carregava algo muito pesado: guardava tudo, explodia de raiva e,
por fim, chorava.  
Ficamos assim até ele começar a cantarolar uma melodia
que não reconheci, mas que me acalmou. Limpei meus olhos e o
olhei. 
— Queria que tivesse me contado sobre isso antes, mas não
foi por esse motivo que não quis te ouvir. 
— Amor, você não quer descansar antes? — Questionou com
preocupação no olhar e eu balancei a cabeça negando. 
— Não quis te ouvir no meio do caminho porque sabia que
começaria a chorar — disse sentindo meus olhos marejados. —
Elas brincaram com coisas muito sérias e que são importantes para
mim. Não entendo, elas agem comigo como se fosse incomum ser
virgem com a minha idade, sendo que muitos ainda nem
começaram uma vida sexual e está tudo bem, cada um começa
quando achar que deve começar. — Soltei a respiração. — Por que
elas são assim?  
Ele pensou um pouco, ainda acariciando minha nuca. 
— Liberty tem um ciclo vicioso. É uma das melhores escolas
do estado, tem o melhor time de futebol americano e futebol
feminino, o melhor em natação, nos grupos de estudo e nos projetos
em geral. Por isso Stanford, Harvard, Yale sempre a colocam em
primeiro lugar para bolsas de estudo. Desde sempre é esse ciclo, de
um tentar passar por cima do outro para se exibir mais para a
diretora. Eu sempre soube que seria um alvo fácil para as meninas
virem para cima, pela minha família e pelo time. E, bom, não tinha
ninguém novo para ameaçá-las de perder o foco da diretora, a
diretora venerava Karen e Melissa, mas aí você chegou. Os
meninos do time viraram seus amigos, a diretora puxou seu saco,
pela família Malik e por ser inteligente e ainda começamos a
namorar. O que elas fizeram foi errado e elas precisam entender
isso de alguma forma, mas sei que querer ficar no auge é por tanto
falatório da família. A família de Melissa é péssima e a de Karen, os
pais não, mas as tias são horríveis. Não as deixam viver como as
adolescentes que são — explicou, mas sentia os vestígios de
irritação em sua voz.   
— Se a família soubesse quanto a pressão pode afetar a
gente, que só tem entre dezessete e dezoito anos, com certeza não
fariam — eu disse e ele balançou a cabeça. — Mas isso não
justifica, elas já têm idade para saber que o que fizeram foi nojento e
repugnante. Me reduziram a isso? — Questionei, tão chateada que
não conseguia disfarçar.  
— Amor, não! — Ele tocou meu rosto me fazendo o olhar. —
Não se resuma ao que essas meninas acham e fazem. Tenho
motivos para não confiar em nenhuma delas e o que Melissa e
Karen fizeram foi imperdoável! Mas isso é devido ao fato delas não
terem noção, o mínimo de senso, empatia e respeito por ninguém.
Nem por elas mesmas. Por isso, quando alguém que se respeita
aparece, elas tentam destruir. Isso não tem a ver com o que você
significa ou com a sua escolha. Tem a ver com elas serem tão
insignificantes para si mesmas, que querem te fazer sentir igual,
porque estão apavoradas. Mas você, Rebecca Nogueira Malik —
replicou me fazendo o olhar. — Jamais será igual a elas!  
Abri um sorriso, quase sem acreditar que ele conseguiu me
fazer rir. 
— Está exagerando. 
— O quê? Claro que não — afirmou. — Para começar, você é
a diabética mais amarga, que tem o beijo mais doce que eu já
conheci — disse me fazendo gargalhar. — Segundo, você quebra
garrafas de bebidas, ameaça atirar nas pessoas e sabe usar uma
metralhadora — admirou ainda sem acreditar. — Finge ser um poço
de calmaria com sua voz tranquila, mas se der uma arma na sua
mão, você faz um estrago. Se não é a garota mais incrível do
universo, então a mais incrível não existe. 
Os elogios aqueceram tanto meu coração, que as lágrimas
deram espaço para as bochechas queimarem de vergonha e alegria
ao mesmo tempo. Selei nossos lábios com uma certa euforia que foi
correspondida no mesmo momento, seguido de um abraço. 
— Eu te amo e obrigada por estar comigo. — Ele sorriu
concordando quando beijei seu queixo. 
— Eu te amo e por você, estarei sempre aqui — eu disse e
enchi seu rosto de beijinhos, o vendo e ouvindo sorrir. 
Me levantei e o olhei, buscando uma forma de dizer que não
tinha clima para um passeio de lancha, quando começou a chover. 
Ouvimos as risadas de Nicolly, Felicity, Carter e Nicholas
enquanto entravam na casa correndo pelas gotas fortes de chuva. 
— Que tal vermos um filme? — Questionei e ele sorriu
concordando.  
 
Los Angeles, Estados Unidos, 
Quinta-feira, 19:36. 
 
— Baby…? — Ouvi seu chamado de longe. — Baby, acorda
— pediu com calma dando beijinhos em minhas costas.  
Abri os olhos lentamente me virando na cama e me
espreguiçando. 
— Que horas são?  
— Preciso que venha comigo sem me questionar — pediu
quando me sentei na cama.  
— Por que você é assim? — Questionei desacreditada.  
— Sem reclamações, dona Malik — disse me puxando para
me levantar.  
— Deixa eu escovar os dentes e ver meu cabelo antes,
criatura?  
Escovei meus dentes, passei os dedos nos cabelos e
coloquei um dos moletons que ele deixou aqui em casa. Não sabia
para onde iria, mas pelo menos estava apresentável.  
— Podemos?  
— Não quer colocar um vestido, fazer uma maquiagem ou
colocar um salto também?  
— Nossa, para de ser chato — reclamei colocando meus
óculos e o empurrando pelos ombros.  
Ele sorriu, selando nossos lábios e me fazendo caminhar em
sua frente. Era engraçado o fato de não conseguirmos deixar de
lado as provocações, até mesmo infantis, que com o nível do nosso
relacionamento, só aumentavam. 
Quando chegamos perto de sua casa, ele tirou meus óculos e
colocou uma venda em meus olhos. 
— Tirando os óculos eu já não enxergo nada, Cameron. Nem
precisa de venda.  
— Ah Rebecca, fica quieta — pediu com falsa irritação. 
— Me obrigue — provoquei o ouvindo rir. 
— A próxima vez que eu te vendar, você vai trocar o falatório
por outra coisa — sussurrou enquanto me fazia andar com as mãos
em minha cintura. — E nossa única preocupação será os vizinhos
terem te escutado ou não. 
— Se não tivermos vizinhos, não teremos problemas — ouvi
Cameron rir alto. 
— Limites foram para onde, Malik?  
— Sumiram no quarto ontem, antes do jantar — brinquei e
ele riu dando um beijinho em minha nuca. 
— Preciso que fique quietinha até chegarmos, pode ser?  
Ele me fez caminhar mais um pouco, me sentar em um sofá e
sussurrou em meu ouvido: 
— Espere só mais um minutinho. 
Quando ouvi o som do baixo e do teclado iniciando a melodia
de Sugar do Maroon 5, a venda de meu olho foi retirada com
cuidado por Nicolly e Peter começou a cantar a música. Josh estava
no baixo, Elliot no teclado e Carter na guitarra. Calleb, Natalie e
Lana fingiam fazer as vozes de fundo e improvisavam uma dança,
sem conseguir parar de rir. Era engraçado e ao mesmo tempo
incrível, olhei a bateria, sem acreditar que Cameron estava
tocando.  
Meu choro de tristeza se tornou em felicidade e Felicity me
entregou lencinhos para limpar as lágrimas, era impossível controlar
minhas emoções. 
Vi que tio Ben estava mais ao fundo, apenas observando
junto de tio Arthur e tia Eliza. O resto do time surgiu atrás do sofá
em que eu estava e começou a cantar o refrão. 
Aquilo se tornou uma bagunça enorme e Nicholas me puxou
para dançar. Foi quando nada mais tinha sentido, a não ser a
felicidade. 
Era lindo ver Cameron tocando e se divertindo.  
— Vocês sabem tocar Sweet Child O'Mine do Guns? — Ouvi
Nicholas questionar. — Essa música é da Becca desde que ela virou
de açúcar. — Todos riram quando o empurrei pelos ombros aos
risos. 
Ele e Cameron se entreolharam rindo, o baterista se levantou
e pegou a guitarra que estava com Carter. Estendeu as banquetas
para Nicholas e eu o olhei dando o apoio que fosse. Me sentei
novamente no sofá, entre Felicity e Nicolly. Carter agora estava no
baixo enquanto Peter e Elliot permaneceram onde estavam. 
Meus avós paternos eram roqueiros, então sempre que
íamos na casa deles ouvíamos as músicas do Guns N' Roses. Eles
se conheceram em um show da banda, no mesmo dia em que
conheceram os avós paternos dos Styles. Mesmo com o tempo em
que nossas famílias se conheciam, eu ainda não conhecia metade
da família de Cameron, incluindo seus avós. Os vi apenas uma vez,
quando era bem nova, mas não passou disso, porque eles moravam
na Noruega há anos. 
— Os meninos planejaram tudo enquanto você estava
dormindo — Lana iniciou enquanto os meninos da "banda" se
organizavam e os outros do time comiam os aperitivos que tinham.
— Eles souberam que você não estava bem e vieram para cá.  
— Josh deu a ideia de fazer um show para você, já que
alguns sabem tocar instrumentos — Calleb completou. 
— Eles fazem de tudo por você — Natalie observou com
admiração. 
— Acham que Cameron é o capitão do time, mas quem
manda é a Becca — Lana disse aos risos.  
Quando Sweet Child O’ Mine começou com Cameron na
guitarra, minha atenção se voltou para ele. Ele ficava extremamente
atraente tocando guitarra e, meu Deus, parecia um anjo.  
Cameron estava tranquilo tocando, a voz de Peter combinava
perfeitamente com a música, mas quando o solo de guitarra
começou eu e tio Benjamin nos olhamos impressionados. Estava
totalmente hipnotizada em vê-lo tocando. 
— Amiga, você está babando — ouvi Nicolly dizer aos risos
fingindo limpar meu queixo. 
— Aram. — Foi tudo o que consegui dizer sem desprender
meus olhos de Cameron. 
Ele me olhou com um sorrisinho safado que me fez queimar
de vergonha e abaixar o rosto. Minha mente parecia explodir a
qualquer instante com tantos pensamentos inadequados. Não
consegui olhar em seus olhos e focar em seus dedos foi ainda pior.
Estava amando o espetáculo, mas agradeci a Deus quando acabou,
ou eu surtaria. Os meninos do time não paravam de aplaudir e gritar
para o capitão. 
Eles pararam de tocar ao finalizarem a música e Cameron se
aproximou do time, que começou a pular e gritar em cima dele.  
As meninas e Calleb se levantaram e foram para a mesa de
comida quando ele se aproximou de mim. 
— Gostou?  
— Você ainda pergunta? Eu amei! — Disse sorrindo, selei
nossos lábios e o puxei para se sentar comigo no sofá. — Não sabia
que tocava tão bem — admiti admirada.  
— Ah, eu faço muitas coisas com esses dedos, coisas que
você com certeza vai gostar — disse com tom carregado de malícia
e sorrindo. 
Dei um tapa em seu braço o fazendo rir. Ele entrelaçou
nossos dedos e beijou minha mão. 
— Se sente melhor?  
— Muito melhor, mais leve e mais tranquila — expliquei.  
— Com licença, senhorita Malik — Alec interveio. — Posso
falar a sós com a senhorita?  
— Pode falar aqui mesmo, não há problemas — pedi
suavemente sentindo Cameron me olhar. 
— Claro, senhorita. Andrew Payne está aqui alegando
precisar falar com você e em seguida — olhou Cameron — com o
senhor.  
Eu e Cameron nos olhamos.  
— Obrigada, Alec, já estamos indo — avisei e o segurança se
retirou. — Amor, se você não se sentir confortável comigo falando
com ele, vou entender — disse finalmente. 
Ele me olhou com um sorrisinho triste nos lábios e acariciou
meu rosto.  
— Confio em você — afirmou, mas ainda sim parecia
desconfortável. 
— Então vamos juntos e você fica lá para ouvir o que ele tem
a te dizer na sequência. 
Cameron abriu um sorriso que por algum motivo consegui ler
com facilidade, ele estava feliz por eu tê-lo incluído em uma escolha
tão simples e aquilo só me provou que tinha muito o que aprender
em um relacionamento. 
 
 
O encontramos na sala de estar e fiquei aliviada por Cameron
não me segurar com firmeza, como sempre fazia quando estava
com ciúmes. 
— Andrew? — O chamei. 
— Oi Becca, oi Cameron. — Ele respirou fundo.  
— Ok, eu odeio isso. Podemos ir direto ao assunto? —
Questionei um pouco incomodada. 
— Acho melhor começarmos com Cameron — ouvi Peter
dizer e o olhei ficando ainda mais confusa. 
— Estava pensando nisso — Andrew completou. 
Me sentei no sofá e olhei os três garotos em pedido que
fizessem o mesmo. 
— Se o assunto é com Cameron, vocês querem que eu
continue aqui? — Perguntei, estava pronta para sair quando
Cameron acariciou minha cintura. 
— Pode começar, Andrew — pediu calmamente. 
Andrew apertou os próprios dedos enquanto o olhamos. 
Olhei Peter o incentivando a fazer alguma coisa e ele
balançou a cabeça impaciente. 
— Andrew não foi amante de Alice — Peter disparou,
arregalei os olhos e senti a mão de Cameron apertar minha cintura.
— Era isso o que precisava para começar a falar, ótimo, pode
começar. 
Observei Cameron, mas ele sempre esbanjava tranquilidade.
Andrew e ele ficaram se olhando por instantes que pareceram
longos. 
— Certo, é… — Andrew começou — Alice e eu não tivemos
nada além de alguns beijos fingidos. No ano retrasado, que era
nosso último e o seu primeiro ano no colegial, ela achava que você
não conseguiria ter a coroa de rei e que isso influenciaria na
coroação idiota dela. 
— Essa parte já sabemos — Cameron disse ríspido. 
O olhei seriamente.  
Ele me olhou e olhou Andrew. 
— Continue — pediu. 
— Você não quer contar essa parte? — Andrew questionou
Peter que abaixou a cabeça negando. 
Por estar de frente com Peter acariciei levemente seu joelho,
tentando mostrar que estava com ele independente de tudo.
Quando ele não me olhou, soube que havia algo de muito errado. 
— Não vamos julgar ninguém, independente do que
aconteceu — ouvi Cameron dizer e Peter balançou a cabeça
concordando sem levantar o olhar.  
— Peter começou a usar heroína ano retrasado e por pouco
não se viciou. E… 
— Me envolvi com uma mulher com mais de cinquenta anos,
que me fornecia as drogas — Peter disparou ainda com os olhos no
chão. — Foram duas semanas indo na boate da mulher e Andrew
me tirou de lá a força. Combinamos que ninguém saberia desde que
eu não voltasse mais e eu não voltei… nunca mais — afirmou nos
olhamos como se tentasse responder algumas dúvidas nossa. 
— Mas Alice descobriu, porque tinha um colega que
trabalhava para essa mulher, e ela conseguiu fotos de Peter
entrando e saindo da boate, conversando com a mulher e outras
coisas é… particulares — Peter abaixou os olhos quando encontrou
os meus enquanto Andrew falava. — Sei que há uma série de
coisas que eu poderia e deveria ter feito, mas todas envolviam expor
a situação de Peter, e o pai dele o mataria se soubesse e não estou
exagerando. Então aceitei fazer tudo o que Alice queria, desde o
ano retrasado, até Peter desabafar com os pais e contar o que
aconteceu. Logo, ela não tinha mais nada que me segurasse e que
me prendesse. 
Cameron parecia estar assimilando tudo quando o olhei, o
silêncio pendurou por instantes até Peter quebrá-lo. 
— Eu não sabia, cara. Andrew contou esse ano porque o
pressionei. Sabia que tinha algo de errado por ele gostar de verdade
de alguém e não conseguir se livrar de Alice, mas foi minha culpa,
não sabia que ele estava fazendo isso por mim, ele quis me
proteger e… 
— Chega, Peter! — Cameron pediu e tirou a mão de minha
cintura. 
Ele se levantou, andou de um lado para o outro e olhou
Andrew. 
— Me fez acreditar esse tempo todo que você tinha sido um
filho da puta? — Cameron questionou e Andrew se levantou. 
A sala de estar, que era tão enorme, pareceu um cúbico
minúsculo. 
— Cara, eu… 
— Acha que eu me importava com Alice ter me traído? Eu
sempre soube que ela gostava somente dela, mas você? Você sabia
que se tivesse me contato eu entenderia. 
Me levantei parando ao lado de Peter atrás do encosto do
sofá. 
— Entenderia? Você estava louco de ódio, nem olhava na
minha cara, porra! Só ficava bebendo e fumando o tempo todo,
aguardando a merda da sua vida acabar! — Vi Andrew empurrá-lo
quando Cameron deu as costas para ele. 
— Merda… — Peter murmurou e quando me impulsionei
para impedi-los, ele me segurou. — Essa conversa devia ter
acontecido há um ano, deixa eles. 
— NÃO OUSE FALAR DISSO — Cameron gritou nos
fazendo voltar a atenção para os dois, seguido de um soco no rosto
de Andrew. 
Andrew revidou o empurrando contra o sofá e começando a
socá-lo, Peter me puxou antes que um deles caíssem diante de nós.
Quando Cameron jogou Andrew contra a mesa de vidro da sala, a
estourando, todos que antes estavam do lado de fora entraram às
pressas, mas isso não foi o suficiente para que eles parassem. 
Nunca tinha visto Cameron e Andrew tão nervosos e
violentos. 
Tio Benjamin segurou Andrew e Arthur segurou Cameron, os
separando. De imediato, quando Cameron teve noção do que havia
acabado de acontecer, se soltou de tio Arthur. 
— Você não me fez acreditar que perdi uma namorada e um
colega, você me fez acreditar que tinha perdido um irmão —
Cameron disse olhando nos olhos de Andrew, que se soltou de tio
Benjamin, e saiu da sala, enraivecido. 
— Josh, vai com o pessoal para a sala de jogos e peçam algo
para comer na nossa conta — tia Eliza pediu calmamente e todos
começaram a sair com Josh. — Rebecca, cuide dos machucados de
Cameron, por favor — pediu e concordei de imediato. — Natalie…
— tia Eliza a olhou, em seguida olhou Elliot e depois Andrew. 
— Eu cuido de Andrew, só preciso saber onde ficam as
coisas — Felicity interveio olhando Natalie que soltou a respiração
discretamente em alívio. 
— Não precisa, eu vou embora — Andrew disparou limpando
o sangue dos lábios. 
— Vocês ainda precisam conversar — tia Eliza disse. 
— Mas eu… 
— Não estou pedindo, Andrew! — Disse firmemente como se
fosse sua mãe e ele apenas abaixou a cabeça concordando. 
Sai da sala ouvindo tio Arthur falar com um funcionário sobre
as mobílias novas que precisariam ser compradas, ele estava tão
calmo que me fez acreditar que esse tipo de confusão era algo
normal em sua vida. 
Subi as escadas e entrei no quarto para esperar Cameron
sair do banho, como ele havia deixado a porta aberta, deduzi que
sabia que eu viria atrás. 
Fechei a porta e liguei a tevê, deixando em um canal
aleatório de basquete. Não entendia a ligação dele com Andrew,
mas eles pareciam ter brigado daquela forma mais vezes do que
podia imaginar.  
Ouvi a porta do banheiro se abrindo e em seguida Cameron
saiu sem camisa, o cabelo estava molhado. Meu foco foi totalmente
na direção do hematoma no canto de seu abdômen, as mãos
avermelhadas e o braço com um corte médio expelindo um pouco
de sangue. Me levantei e peguei a caixa com medicamentos e
curativos básicos no banheiro. Quando voltei ao quarto ele estava
jogado deitado na cama mexendo no celular. 
— Cameron, me ajuda a te ajudar — pedi. 
— Rebecca, não estou a fim e não preciso de cuidado
nenhum! Só me deixa quieto — disparou olhando a tevê, largou o
celular na cabeceira e cruzou os braços. 
O olhei balançando a cabeça negativamente e coloquei a
caixinha na cabeceira ao lado de sua cama. Conhecia Cameron e,
tanto ele quanto eu, quando estávamos irritados, tendíamos a
querer afastar as pessoas, para não descontar em ninguém. Não
desejava irritá-lo ainda mais, porque quando era ao contrário, ele se
esforçava para me acalmar e eu não desejava deixá-lo sozinho. 
— Você é um teimoso e já que insiste… — Me sentei em seu
colo, em suas coxas. — Farei do meu jeito. 
Ele se conteve para não sorrir, mas percebi o sorrisinho
safado em seus lábios querendo se abrir e ele descruzou os
braços.  
Quando fiz um coque no cabelo ele respirou fundo, passando
a mão no rosto. 
— Não quero conversar sobre Andrew — disse como uma
alerta. 
— E tem alguém conversando sobre ele? — Questionei e ele
passou a língua nos dentes, ainda se contendo para não rir. 
Puxei sua mão e comecei a limpar seu braço, em seguida os
punhos, ele tentava não me olhar e assistir ao jogo, mas o pegava
me espionando. 
Me inclinei para passar o algodão no canto de sua
sobrancelha, porque havia uma ferida minúscula. Nossos rostos
ficaram próximos e meu cabelo soltou sozinho, senti sua
respiração acelerando.  
Terminei de limpar e coloquei o algodão na mesa, aproximei
meus lábios dos dele com o apoio de minhas mãos na cama. 
— Agora sim está melhor, marrentinho — sussurrei e ele me
olhou nos olhos. 
Me impulsionei para me levantar, mas fui puxada com rapidez
e firmeza pelo pescoço. Ele me olhou por instantes, tirou meus
óculos com calma e me beijou. 
Suas mãos se direcionaram para as minhas costas, me
empurrando mais contra seu peitoral. O beijo, que se iniciou com
voracidade, seguiu um ritmo lento. 
Arranhei as laterais de sua cintura até chegar em seus pulsos
e suas mãos, onde entrelacei nossos dedos. Apertei nossos dedos e
desci um pouco o corpo, o sentindo ficar animado. Sorri descendo
meus lábios em seu pescoço, ele abriu um sorriso e soltou minhas
mãos, me puxando novamente para um beijo. 
Suas mãos desceram da minha cintura até minha bunda e
me fizeram movimentar o quadril lentamente contra sua leve ereção,
estremeci por inteira sentindo meu corpo ferver e se arrepiar.
Quando parou de provocar meus movimentos, deu um tapa forte em
minha bunda, me fazendo soltar um suspiro baixo. 
Ele riu me empurrando para o lado vazio da cama, me
afastando enquanto eu comecei a rir por ele estar mais vermelho
que um pimentão. 
— Para de rir, sem graça, a culpa é toda sua — disse
emburrado e jogando o travesseiro em mim. 
— Pelo menos você não está mais tão irritado — brinquei e
ele me olhou. 
— Só você para me acalmar e me animar ao mesmo tempo
— comentou com um sorrisinho safado no rosto e afastou meu
cabelo com a mão desocupada, me deixando corada. — Se agora
eu te quero o tempo todo, depois então — disse me fazendo sorrir e
afundou o rosto na curva de meu pescoço. 
— Acha que o casamento pode fazer com a gente enjoe um
do outro? — Questionei acariciando seus cabelos. 
— Acho que casamento não são flores, é amor, mas também
adaptação, convívio, aprendizado e milhares de responsabilidades. 
— E por que quer se adaptar, conviver, aprender e ter
responsabilidades comigo? — Ele me olhou. — Não duvido de seu
amor, mas como entramos nesse assunto… 
— Me adaptar a você e conviver são coisas tranquilas. — Ele
sorriu. — Mas o aprender é algo que já faço desde agora e sei que
você é a melhor pessoa para me ajudar com isso. Você também não
sabe como é ser casada, como é ser esposa ou mãe, caso você
queira ser, claro. — Sorri e acariciei seu rosto. — Mas tenho certeza
de que assim como eu, você está disposta a aprender as coisas
com calma e sem colocar um milhão de coisas nas minhas costas.
Você, amor, é a pessoa que carrega o peso comigo e eu quero
carregar os seus também. Se eu já encontrei a pessoa feita para
mim, por que não me casar com ela? 
Senti meus olhos marejados e selei nossos lábios com
doçura. 
— Eu com certeza quero aprender a lidar com um
casamento, desde que seja com você — afirmei e seu sorriso
maroto deu sinal em seu rosto. 
— Tem coisas que eu já sei e só você vai precisar aprender
— disse com tom malicioso, o olhei sorrindo e ele olhou minha boca
quando passei a língua em meus lábios. 
— Vai ter paciência para me ensinar? — Perguntei sentindo
seus dedos se afundarem em meus cabelos. 
— Com toda certeza — afirmou antes de me beijar com
calma e desejo. 
Passei as unhas levemente em suas costas, o que era
necessário para fazê-lo estremecer, e ele me olhou após morder
meu lábio inferior. 
— Sei que não concorda com violência e com a forma que
lidei com Andrew. Pode falar, não vai dar certo adiar esse assunto
com você mesmo. — Me sentei na cama o olhando. 
— Não é sobre isso, amor, mas confesso que fiquei um tanto
frustrada com os dois. Vocês alimentaram esse ódio durante quase
dois anos e na oportunidade de se resolverem, vocês partiram para
a agressão… 
— Amor… 
— Não, me escuta. Não quero justificativas quanto ao que
sentiu agora que sabe da verdade, mas você entende que,
enquanto vocês brigavam, Peter via tudo e sentia que a culpa era
dele? Ele foi vítima de, no mínimo, três crimes e ao invés de
colocarem o ego de lado e os sentimentos que estavam alimentando
por tanto tempo, vocês optaram por mais confusão. Sinceramente,
amor, não fico brava com as brigas que você se envolve mais. Sabe
da minha opinião e tem idade para saber o que deve ou não fazer.
Só que foi totalmente desnecessário, de ambas as partes, terem
uma briga nessa proporção, sendo que existia alguém ali que
merecia mais atenção. 
Ouvimos duas batidas na porta, mas Cameron parecia tão
pensativo que apenas olhou na direção da mesma que se abria,
mostrando tio Arthur. 
— Sua mãe está te chamando. 
— Ok — Cameron disse se levantando e colocando uma
camisa. 
— Assim? Sem retrucar? — Tio Arthur questionou com o
cenho franzido. 
Cameron me olhou como se eu fosse a própria resposta e
balançou a cabeça na medida em que Arthur começou a rir. 
— Já desço — avisou antes que seu pai saísse do quarto
fechando a porta. — Vou falar com Peter depois. 
— Eu me importo com os seus sentimentos, é só que... 
— Eu entendi, amor, fique tranquila. 
Sorri concordando. 
— Amor! — Ele me olhou. — Pode me deixar na sala de
jogos antes? Ainda não sei me encontrar nessa mansão — admiti o
vendo rir. 
— Não, procure sozinha — implicou. 
O olhei seriamente e me levantei da cama saindo
rapidamente de seu quarto após pegar meu celular. Encontrei uma
funcionária no corredor e fui na direção dela. 
— Amor, eu estava brin… 
— Boa noite — disse à garota, que parece ter em média vinte
e quatro anos. 
— Boa noite, senhorita — disse docemente e Cameron ficou
nos olhando. 
— Poderia me levar para a sala de jogos? — Pedi a olhando
e ela olhou Cameron. — Ele não vai fazer nada contra você,
prometo — avisei entrelaçando meu braço no dela e ouvi Cameron
gargalhar. 
— Amor, eu te levo — disse se aproximando e passando a
mão em minha cintura. Empurrei sua mão. 
— Estou muito bem acompanhada, com licença — disse
vendo a garota se conter para não rir e sai caminhando com ela. 
Quando chegamos no fim do corredor, começamos a rir. Ela
me trouxe até a sala barulhenta de jogos, onde os meninos
estavam. 
— E aí, capitã — Peter anunciou e o time começou a gritar
tão alto que comecei a rir. 
Depois de cumprimentá-los, senti a mão de Natalie na minha
e a olhei. 
— Preciso falar com você — pediu, concordei a seguindo e
saindo da sala de jogos. 
Entrei na cozinha vendo que Lana estava presente com o
rosto avermelhado. 
— Aconteceu mais alguma coisa? — Questionei. 
— Não, é que Lana chora por tudo. — Natalie riu fraco. —
Mas queremos te pedir desculpas por não ter contado nada. 
— Soubemos há três dias sobre Karen, não sabia como te
contar. E, de Melissa, eu não fazia ideia de que ela tinha feito aquilo
no começo do ano e envolvido Oliver. Sabia que ele era apaixonado
em Melissa, mas não que iria a esse ponto — Lana admitiu. 
— Eu sinto muito, amiga, muito mesmo. Queria ter contado
antes, mas você tinha passado por tanta coisa, eu simplesmente
não soube como falar — Natalie admitiu desanimada e me olhando. 
— Confesso que fiquei sim triste por não terem me contado,
porque se fosse ao contrário não pensaria duas vezes antes de
falar, ninguém merece viver uma amizade na base de mentiras —
desabafei. — Mas entendo o lado de vocês. — Entrelacei meus
dedos nos delas. — Por favor, não escondam nada quando o
assunto for totalmente relacionado a mim, ok? 
— Ok — as duas disseram juntas e nos abraçamos. 
— O que você vai fazer em relação a elas? — Lana
questionou.  
Soltei a respiração. 
— Nada. Tenho apenas essa semana na escola e,
sinceramente, não quero contato nenhum com elas — admiti e
Natalie me abraçou pelos ombros. 
— É compreensível, eu não desejaria ter nenhum contato
com elas e por mim, você sabe, nem falaria com elas há muito
tempo — admitiu. 
— Precisamos falar com a diretora — Lana advertiu. 
— Para quê? Os pais das duas são patrocinadores dos
projetos da escola, a López vai passar pano, como sempre —
afirmei. 
— Entre meus pais, os seus e os delas, acho que você sabe
quem ela vai escolher — Natalie afirmou 
— Isso não é um jogo de poder, não vamos ter voz se for… 
— Olha, Rebecca, eu sei que você odeia os privilégios de ter
uma família rica e poderosa, mas já chega. Nossas famílias estão
dispostas a virar o mundo de ponta cabeça para nos deixar bem e
você está se importando se será joguinhos de poder? Oliver aceitou
essa merda toda e ele pode até fingir mudança, mas vai continuar
disposto a fazer alguma coisa ruim. Fala sério, você não é ingênua
de ter acreditado nele. Ele só pediu desculpas porque senão o time
todo pesaria na dele. Você precisa parar de achar que não merece
todo o amor que recebe e deixar a gente cuidar de você! — Natalie
disparou. 
Parei um pouco, pensando no que ela havia acabado de falar,
e antes que pudesse responder, Andrew interveio fazendo um
barulho com a garganta para chamar nossa atenção. 
As duas garotas o olharam e me olharam. 
— Tudo bem? — Lana questionou se referindo a conversar
com Andrew. 
Concordei balançando a cabeça e as duas se prepararam
para sair da cozinha. 
— Natalie? — Andrew chamou, Lana continuou seu caminho
e Natalie o olhou. — Sinto muito por ter quebrado seu coração. 
Natalie engoliu em seco, respirou fundo, me olhou e o olhou. 
— Eu recolhi os pedaços e arrumei a bagunça que você fez
— disse com um certo orgulho. 
— Fico feliz por você — Andrew disse com sinceridade. 
O olhar dela mudou, mas o dele ainda carregava admiração e
tristeza. Sem dizer nada, Natalie saiu da cozinha com um brilho nos
olhos de quem choraria a qualquer momento. 
— O que foi isso? — Questionei depois que Andrew parou de
olhar para a porta por onde Natalie havia saído. 
— Desculpe ter feito isso com você aqui, mas acho que Elliot
se sentirá melhor em saber que não falei com ela sozinho —
admitiu, o olhei impressionada e balancei a cabeça concordando. 
— Você está bem? — Perguntei olhando seus braços com
curativos e seu olho roxo. 
Ele esticou um pouco as costas com uma expressão de dor
em seu rosto. Cameron sempre que brigava parecia que nada tinha
acontecido, o máximo que ele ficou dessa vez foi com um corte no
braço o qual não precisou de curativo e um hematoma no canto do
abdômen. 
— Ele está brigando melhor do que antigamente — Andrew
admitiu me fazendo rir. 
— Vocês se resolveram? — Ele balançou a cabeça
concordando. 
— Soube do que Melissa fez. Como está se sentindo? —
Indagou me analisando. 
— Escute, Andrew, não quero ficar entre você e nenhum
relacionamento seu. 
— Não é sobre isso, Rebecca — afirmou me interrompendo.
— López precisa saber, a escola, querendo ou não, é ela quem se
responsabiliza em qualquer lugar que for. Aceitar estupradores e
pessoas que colaboram com esse tipo de coisa podre é
completamente doentio, a que ponto iriam se você não estivesse
com Cameron? 
Abaixei a cabeça tentando organizar minha mente. 
— O certo seria fazer isso, Becca, mesmo que você esteja
em Stanford, seu pai vai gostar de saber o que aconteceu —
alertou. 
— Cameron pediu para você falar isso? — O olhei e ele riu. 
— Você é realmente teimosa — disse balançando a cabeça
negativamente. — Perguntei para ele se tudo bem tentar falar com
você sobre o ocorrido. 
Pensei um pouco e soltei a respiração. 
— Não consigo pensar nisso, não agora — admiti. — Estou
extremamente cansada desse assunto. Pelo menos, por hoje, não
quero falar disso — pedi o olhando. 
Ele me olhou por instantes e concordou balançando a
cabeça. 
— Tudo bem — foi tudo o que disse antes de saímos da
cozinha, seguindo até a sala de jogos. 
— De volta a família? — Ouvi Eric questionar Andrew e em
seguida todos do time olharam Cameron, que apenas concordou
balançando a cabeça. 
Foi o necessário para os meninos fazerem festa, começaram
a gritar e pular em cima de Andrew. Estava feliz por ter acabado
tudo bem, mas a ausência de Peter me deixou preocupada.
Enquanto a atenção de todos estava voltada ao time que pulava
superanimados, me direcionei a saída da sala de jogos. 
Encontrei Peter sozinho sentado no chão, olhando a água da
piscina enquanto fumava seu baseado de sempre. Me aproximei o
ouvindo fungar e parei ao seu lado. 
— Posso? 
Ele concordou balançando a cabeça voltando a fumar, mas
quando me sentei ele apagou o baseado e jogou longe. 
— Sabe que não precisa fazer isso só por que eu cheguei,
né? 
Peter me olhou e riu concordando. 
— Mas sei que te incomoda e entre conversar com a minha
amiga onde ela está confortável e ficar fumando, eu escolho a
primeira opção. — Sorri e baguncei seu cabelo. 
— Não me incomoda, tive um primo que soltava mais fumaça
que aqueles trens antigos, sabe? — Peter riu me vendo tentar fazer
os trilhos do trem com as mãos. — Mas obrigada por se importar
comigo assim. 
Ele sorriu fraco e abaixou o olhar. 
— Pode perguntar, sei que tem dúvidas. 
— Está confortável em falar disso comigo? — Questionei com
cautela. 
— Sim — disse após soltar a respiração. 
— Certo... 
— Sei que me prostitui, se é por essa parte que quer
começar. 
— Você transava consciente, Pê? — Perguntei finalmente o
vendo abaixar o olhar. 
— Ela deixava eu me drogar antes — disse baixinho. 
Senti uma dor tão forte que não consegui falar e limpei as
lágrimas que escorreram em meu rosto. 
— Eu me sentia um lixo toda vez, mas não conseguia parar e
acabava voltando — explicou ainda olhando para baixo e ele me
encarou. — Ah, merda, não queria te fazer chorar, já causei muita
confusão. 
Limpei novamente o rosto e balancei a cabeça negando. 
— Não pode se culpar por alguém se importar com você, eu
te amo, Andrew te ama e, se ele guardou aquilo, foi por escolha
própria e, se eu estou chorando, é porque não queria que você
tivesse passado por isso — afirmei o olhando, ele sorriu fraco e
mirou a extensão da piscina. 
— Só não quero mais voltar nesse assunto, contei aos meus
pais algumas coisas, disse que conseguiram fotos minhas
comprando drogas, apenas isso. Se contasse tudo... — Ele soltou a
respiração. — Não quero conviver com o peso de que fui vítima de
um crime. 
Tudo o que eu planejava falar de repente não teve mais
abertura.  
— Sabe que estarei sempre aqui por você, né? Mesmo não
fisicamente, pode me chamar para qualquer coisa, mesmo que seja
algo mínimo, entendeu? — Ele sorriu balançando a cabeça. 
— Obrigado de verdade, irmãzinha — disse com a voz
carregada de gratidão. 
— Não precisa agradecer, maninho — brinquei dando um
leve empurrão em seu ombro. 
— Capitã — ouvi Josh chamar, me virei e todos do time
estavam presentes. 
Peter riu se levantando e me ajudando a levantar, Cameron
estava aos risos com Nicholas, Andrew, Carter e Elliot. 
— Sim? 
— Queremos saber se você acha ruim se comprarmos
bebida agora? — Eric quem questionou. 
— Por que acharia ruim? — Questionei e Josh se aproximou
de mim colocando o braço em meus ombros. 
— Capitã, em toda festa que tem você some.  Não sabemos
se é por causa das bebidas ou pelo capitão, mas queremos você
por perto, já que serão os últimos dias juntos e não vamos te trocar
por bebidas… não hoje — brincou. 
— Não me importo e prometo não sumir… não hoje —
reforcei o vendo rir e os meninos do time fizeram uma breve
comemoração. 
— Então já voltamos — Josh avisou e pulou em cima de
Peter o empurrando para que fosse junto.  
Os meninos começaram a sair da ala de piscinas, Nicholas
se aproximou batendo palmas, Cameron, Elliot, Andrew e Carter
fizeram o mesmo. 
— Por que estamos batendo palma? — Carter questionou. 
— Porque Nicholas começou — Andrew respondeu e os
cinco meninos começaram a rir. 
— Não sei se aguento esses cinco juntos não — Nicolly disse
aos risos. 
— Quem diria, Rebecca Malik tendo um time todo aos seus
pés — Nicholas disse bagunçando meu cabelo e eu dei um tapa em
sua mão o afastando. 
— Depois que pegou Cameron, a gente espera de tudo —
Nicolly brincou. 
— Ei — Cameron protestou. 
— Me errem — pedi fingindo irritação. 
— Vou preparar minha caipirinha — Nicholas avisou saindo
da ala de piscinas. 
Os demais o seguiram entrando na casa, enquanto eu decidi
me sentar em um sofá que tinha depois das piscinas. 
— Peter não quer voltar nesses assuntos — comentei
quando Cameron se sentou ao meu lado. 
— Imaginei — disse me abraçando pela cintura. — Como
está se sentindo? 
— Um pouco cansada, mas vou ficar com vocês hoje —
afirmei colocando minhas pernas em cima das suas. — Amanhã não
vou para o show, não consigo. — Ele me olhou e passou os dedos
em meu rosto. 
— Queria poder ficar com você, porém sendo o capitão do
time tem todo aquele negócio de boa conduta, mas vou tentar não ir
— disse passando os lábios em meu pescoço. 
— Tudo bem, acho melhor você ir. Amor? — Ele me olhou. —
Vai beber com os meninos? — O vi sorrir fraco e negar. 
— Ainda não consigo. Passei muito tempo chapado e
bêbado, fico sempre me lembrando da sensação horrível de beber
para preencher um vazio e acabar fazendo alguma coisa errada.
Isso quando não era abusado e as garotas não se aproveitavam da
situação — comentou brincando com nossos dedos. 
— Odeio saber que já fizeram isso com você — admiti
passando os dedos em suas bochechas. 
— Sei que jamais faria algo assim comigo, mas eu não
consigo mais beber quando não é com você ou com algumas
pessoas da família, com o time eu ainda travo — explicou, balancei
a cabeça positivamente e selei nossos lábios rapidamente. — Agora
me diga, quando ia me contar que sabe usar uma metralhadora? 
— Na verdade, foi a segunda vez que peguei uma, a primeira
foi ano passado. Com as outras armas eu comecei aos quatorze
anos. Meus avós ensinaram meu pai e meus tios depois que
aconteceu um sequestro na família, e todos os meninos da família
aprenderam também, mamãe não queria que eu aprendesse porque
tinha medo de não saber lidar sendo tão nova, mas depois de muita
conversa ela deixou. Tive que passar no psicólogo para saber se eu
não queria me matar ou matar alguém. — Ele riu concordando. 
— Também passei por isso — disse me puxando e me
fazendo sentar em suas pernas. — Mas você ficou muito, muito
sexy atirando — sussurrou em meu ouvido e desceu os lábios em
meu pescoço. 
— Cameron, alguém pode vir para cá — disse baixo sentindo
sua mão apertar minha coxa. 
— Não vão. 
Sua mão começou a descer o zíper do moletom e entrou no
mesmo, apertando minha cintura com firmeza por cima da blusa fina
do pijama. 
— Você me deixa louco, sabia? — Sussurrou fazendo uma
trilha de beijos de minha nuca até minhas bochechas. 
— Sabia — disse saindo de seu colo e me levantando. —
Mas é momento de você ficar bem consciente, nada de ficar louco
— afirmei e ele riu me puxando pela cintura quando se levantou. 
Sem dizer uma palavra voltou a beijar meu pescoço
apertando minha cintura. 
Nos olhamos e ele bufou. 
— Ok, vamos entrar então — disse emburrado. 
Entramos na casa indo até a sala de jogos. 
Cameron se jogou no sofá onde os meninos estavam jogando
videogame. Caminhei até Nicolly, Natalie e Felicity que estavam em
um sofá enorme e me deitei em Natalie. 
— Eu estava pensando — Nicholas começou quando se
jogou no colo de Felicity, que o abraçou. 
— Você pensando é novidade — impliquei o vendo mostrar o
dedo do meio. 
— Você podia morar comigo quando for para Stanford —
continuou. 
Cameron se sentou ao lado de Natalie enquanto Carter e
Elliot continuaram jogando. 
— Me recuso a morar com a sua irmã — afirmei. 
— Ela não mora comigo, mora no apartamento dela —
explicou. — Cameron. — Olhei Nicholas. — Você vai para Stanford,
não é? — Cameron concordou. — Tem uma mansão muito boa lá,
podíamos dividir quando você chegar. 
— Elliot — Cameron chamou. 
— Meu Deus — eu e Natalie dissemos juntas aos risos. Os
meninos começaram a combinar de morarmos juntos. Fingi ter
concordado com tudo, porque sabia que não daria nada certo.  
 
Cameron não havia bebido nada alcoólico, mas tanto ele
quanto Carter e Elliot não precisavam de muito para ficarem
animados como os meninos que beberam.  
Os meninos estavam na máquina de socos quando terminei
de comer e me aproximei deles. Cameron parecia uma criança
atentada até ser sua vez. Quando ele deu o soco a pontuação
começou a subir com rapidez e ao chegar nos 900 a máquina parou
de funcionar. 
Ele parou e ficou olhando pra Natalie como se estivesse
encrencado. 
— Eu vou contar para o pai — ela disse aos risos. 
— Gente, por que o Elliot está na piscina? — Josh
questionou.  
Não vi o momento em que Cameron, Nicholas, Carter e
Andrew saíram da sala de jogos, mas os achei quando pularam na
piscina. Os demais do time estavam prontos para se juntar a eles
quando Eliza apareceu com os braços cruzados na borda da
piscina. 
— A festa acabou meninos, hora de dormir — tio Arthur
avisou entrando na sala. 
— Estava ansiosa por esse momento — comentei me
aproximando da saída. — Boa noite, tio — Arthur beijou minha testa
se despedindo. 
— Podemos ir para sua casa? Aqui já tem muita gente —
Natalie disse, vi que Lana, Nicolly e Felicity me olhavam
esperançosas. 
— Claro. Lana, chama Calleb também por favor? — Pedi e
ela concordou. 
Eu, Nicolly, Natalie e Felicity começamos a caminhar devagar
na direção de minha casa. 
— Fico tão feliz vendo Cameron bem, achei que nunca mais
o veria assim — Felicity comentou. 
— Becca faz muito bem para ele — Natalie disse sorrindo.  
— Ele parece livre — Felicity completou me fazendo sorrir. 
Depois que achamos quartos para todos, descemos as
escadas e paramos na cozinha para fazer algo para comer. 
— Não estou a fim de ir para o show de talentos, vocês vão?
— Calleb questionou pegando um pão de queijo da forma. 
— Não — Lana disse, a olhei sem entender. 
— Nem eu — Natalie respondeu. 
— Vocês não vão cobrir o evento para o jornal? — Perguntei
confusa. 
— Precisamos, mas não vamos — Lana explicou. — Não
dessa vez, o evento foi organizado por Melissa e Karen, não
estamos a fim de colaborar com elas. 
— A diretora não vai achar ruim? — Questionei colocando a
jarra de suco na bancada. 
— Provavelmente, mas a gente não se importa — Calleb
disse aos risos. 
— Nossa, meu pai ainda nem viu que eu quebrei a máquina
— ouvi Cameron dizer e começar a rir. 
— Como você conseguiu fazer uma coisa dessas? —
Nicholas questionou. 
— Você não viu? — Natalie questionou e Cameron parou ao
meu lado. 
O abracei pela cintura e vi Nicholas negar com a cabeça. 
— Ele deu um soco muito forte e quebrou — Carter afirmou
aos risos. 
— Gente, amanhã não vamos para o show de talentos —
Lana avisou.  
Cameron e Elliot se entreolharam. 
— Por mim, tudo bem — Elliot avisou e Cameron concordou. 
— Não, gente, não acho necessário ninguém… 
— Rebecca, por favor — Calleb interrompeu. — Se ninguém
fizer nada contra esse tipo de coisa, elas vão achar que está tudo
bem fazer maldades assim com outras pessoas. Bastou os dois
últimos anos, esse eu estou cansado para aturar toda essa gente
mimada, se não mudarmos, Liberty continuará do mesmo jeito para
os próximos anos. 
— Exatamente, os outros meninos do time vão concordar,
sem dúvidas — Josh afirmou. 
Abri a boca para falar, mas quando olhei Nicholas, vi em seu
olhar que ele pedia que eu apenas aceitasse, soltei a respiração e
olhei os demais. 
— Obrigada, gente, por se importarem assim comigo e com
quem entrará em Liberty depois — agradeci. 
— Nossa, finalmente nos aceitou! — Peter exclamou
animado e fez todos rirem. 
Decidimos assistir um filme. Os meninos não pararam um
minuto de falar e xingar, o que era muito engraçado, porém
barulhento.  
Tentei me manter acordada, mas quando me aconcheguei em
Cameron e os meninos começaram a prestar atenção no filme sem
gritar, adormeci quase que de imediato. 
 
 
 
 
 
Cameron precisou sair cedo para resolver alguma coisa
particular e disse que em seguida iria a um almoço de negócios com
tio Arthur e tio Benjamin, que os acompanhou para repassar as
informações ao meu pai.  
Tio Benjamin, além de médico, se formou em direito para
estar sempre por dentro de qualquer burocracia das empresas de
meu avô Marcus, mas seguiu na medicina.  
— Não vai nadar com a gente? — Peter questionou se
aproximando de mim na piscina de casa. 
— Não, não posso ficar fungando porque vou cantar de noite
e a água está muito gelada — expliquei. — Já almoçou?  
— Sim e a senhorita? — Questionou balançando os cabelos
molhados deixando que os pingos espirrassem em mim. 
— Sim senhor — disse secando meu rosto aos risos e limpei
meus óculos.  
Meu celular começou a tocar e vi que era o número de
Antonella, minha avó fez questão de me fazer salvar o número
dela.  
Peter voltou a mergulhar e provocou Lana e Calleb jogando
água neles, que estavam tomando sol. Me levantei e entrei em
casa. 
— Boa tarde — disse atendendo a chamada. 
— Boa tarde, Rebecca, é a Antonella, como vai? —
Questionou calmamente. 
— Bem e a senhora? — Ouvi sua risada. 
— Bem também, querida. Tomei a liberdade de pedir a sua
mãe suas medidas para um vestido, trabalhamos muito nele para
que ficasse perfeito para hoje. Há problema em um motorista te
buscar às quatro da tarde para começarmos a te arrumar?
Queremos você perfeita e usando nosso vestido, que ainda não foi
visto por ninguém, é da coleção que será lançada em novembro.  
— Eu serei a primeira a usar? Não acredito… — Disse a mim
mesma. — Aceito sim, claro. Às quatro horas estarei pronta para ser
buscada — brinquei a ouvindo rir.  
— Ótimo. Preferi eu mesma ligar para você, assim não teria
espaço para negar — disse aos risos. — Meu secretário entrará em
contato avisando os Styles que você estará no evento com a gente,
mas que ficará com eles após a abertura, tudo bem?  
— Sim, ótimo.  
— Até mais, querida — se despediu e desligou.  
Me apoiei no granito na pia e busquei pelo nome de Antonella
Loughty no navegador do celular, ela era patrocinadora de Stanford
e uma estilista escocesa famosa em seu país e nos Estados Unidos,
casada com Polly Loughty McLean a juíza mais bem falada de Los
Angeles e outros estados do país.  
Observei alguns vestidos de Antonella vendo as perfeições
que eram, a marca Loughty era, também, muito conhecida em Paris,
Londres e Noruega e os desfiles eram espetaculares. 
Tentei me imaginar usando alguns vestidos criados por ela,
mas nada parecia ficar bem em mim. Estava entretida vendo as
coleções, quando me virei na direção porta que dava para a ala de
piscinas e acabei esbarrando em Cameron.  
— Agora até usando óculos você não enxerga? —
Questionou rindo. 
— Idiota — disse séria, mas acabei rindo e selando nossos
lábios. — Como foi o almoço?  
— Não quero falar disso — afirmou subindo as mãos em
minha nuca. — Chega de trabalho por hoje. 
Franzi o cenho.  
— Ok — suspirei. — Vou usar um vestido que Antonella
desenhou, não sabia que ela era a estilista Loughty — comentei me
apoiando novamente no granito da pia.  
— Já viu o vestido que vai usar? — Questionou deslizando as
mãos em minha cintura.  
— Ainda não, disse que é da coleção nova dela — expliquei.
— Mas os vestidos ficam tão lindos nas modelos, não sei se em
mim ficará bom, não tenho o corpo delas.  
— Você vai ficar perfeita, amor. 
Soltei a respiração balançando a cabeça positivamente e
puxei seu braço para ver como estava o corte de ontem.  
— Está tudo bem — afirmou me puxando e selando nossos
lábios.  
Concordei voltando a beijá-lo, seu braço fechou em minha
cintura deixando nossos corpos colados e me impulsionou a sentar
no granito da pia. Sua mão desocupada deslizou em minha coxa e a
apertou, ele abriu um sorriso durante o beijo e sorri junto.  
Desci meus lábios em seu pescoço e ele arfou apertando
minha cintura, sua mão que estava em minha coxa se direcionou a
minha nuca, fazendo com que voltasse a beijá-lo.  
Arranhei suas costas com leveza e ele separou seus lábios
dos meus.  
O olhei confusa e ele estava com os olhos fechados, juntou
as mãos como que em uma oração, respirou fundo e começou a
mover as mãos fingindo estar fazendo combinações de Jutsu do
Naruto.  
— O que você está fazendo?  
— Concentrando todo o meu chakra para não ficar duro aqui,
porque tenho que ir para a piscina — ele continuou de olhos
fechados. 
— Cameron — chamei tentando controlar minhas risadas e
ele foi se afastando. 
— Jutsu ficar longe da namorada — disse caminhando até a
porta movimentando as mãos como se empurrasse um objeto
imaginário.  
— Cameron, para de graça — disse o seguindo e ele se virou
para mim. 
— Fica longe de mim, garotinha — exigiu e saiu da cozinha.  
Entrei na ala de piscinas e me aproximei da borda da piscina
onde Natalie, Lana e Calleb estavam.  
— Vocês conhecem Antonella Loughty? Ela estava no jantar
— comentei. 
— É claro que conheço, que mulher incrível! — Lana disse
admirada. 
— Os eventos dela são espetaculares, sem dúvidas a melhor
estilista que já vi — Calleb comentou. 
— Ela é minha maior referência, quando tia Olívia me
apresentou para ela eu quase desmaiei — Natalie disse eufórica. 
— Vou usar um vestido feito por ela hoje — disse animada e
eles me olharam surpresos. 
— De que coleção? — Natalie questionou e saiu da piscina
se sentando ao meu lado. 
— Uma coleção que será lançada em novembro. 
Os três fizeram o mesmo barulho de surpresa.  
— Meu Deus, que sonho! — Lana disse animada. 
— Me mande fotos — Calleb exigiu. 
— Ahhhh, você vai ficar perfeita, tenho certeza! — Natalie me
abraçou. 
Sorri dando um beijo em seu rosto e eles começaram a
conversar sobre os melhores vestidos de Antonella e os desfiles
carregados de polêmicas que ela fazia.  
— Nic? — Chamei Nicholas que estava aos beijos com
Felicity.  
— Você gosta de me atrapalhar, né, coisa chata? — Nicholas
implicou e Felicity o olhou balançando a cabeça aos risos.  
— Da próxima vez não arranjo nenhum quarto para você —
retruquei e ele revirou os olhos fingindo irritação, quando rimos
Felicity soltou a respiração em alívio. — Escute, Nicolly foi para a
casa dos sogros dela então só tenho você para ficar cuidando da
casa. 
— Vai sair?  
— Vou me arrumar com Antonella e vou ao evento com ela e
a esposa, encontro vocês lá. Se os meninos quiserem ficar aqui em
casa de noite, pode deixar, papai está avisado e os seguranças
também. 
— Ok. 
— Você vai? — Olhei Felicity.  
— Sem meu pai e meu irmão, não — disse desanimada. —
Eu meio que não tenho relevância sem eles.  
— Para mim você tem relevância e vai comigo — Nicholas
replicou e ela sorriu fraco. 
— Eu e Natalie temos vestidos que com certeza ficarão lindos
em você, vou avisá-la de que vocês se arrumarão juntas.  
— Mas… 
— Até o jantar, Felicity. — Me despedi aos risos enquanto me
levantava e caminhava até Natalie, novamente. — Amiga! — Ela me
olhou. — Felicity vai se arrumar para o jantar com você, tem
problema?  
— Não, claro que não — disse lançando uma piscadela para
Felicity. 
— Ótimo, estou indo então — avisei mandando um beijo no
ar para Natalie e os demais. Cameron estava falando no telefone e
me observando. 
Subi até meu quarto e tomei um banho enquanto repassava
as músicas que cantaria hoje.  
Depois de vestir minhas roupas, me sentei de frente para o
espelho e comecei a passar a escova em meus cabelos. Ouvi duas
batidas na porta e pedi que entrasse. 
— Amor, tenho uma fofoca para te contar — começou
caminhando até mim e pegando a escova de minha mão. 
— Que fofoca?  
— Você acredita que minha namorada não me contou que
não vai ao jantar comigo e que estará lá quando eu chegar? Não sei
mais o que faço com aquela doida — disse fingindo estar
impressionado.  
Acabei rindo e abaixando a cabeça. 
— Não te contei? Jurava que tinha contado.  
— Engraçadinha — ironizou terminando de pentear meu
cabelo.  
Me levantei e o olhei.  
— A gente se encontra no jantar — disse selando nossos
lábios. 
— Avisa o motorista que eu vou te levar — pediu afastando
meus cabelos dos ombros. 
— Você precisa descansar, amor, dormiu quase nada e
acordou cedo.  
— Baby… 
— Não, descanse um pouco — pedi acariciando seu rosto. —
Sabe como fica estressado quando não dorme. Vem. — O puxei
para minha cama.  
— Não vou dormir agora. 
— Aposto que vai — afirmei o ajudando a tirar a camisa e ele
sorriu como uma criança se deitando de bruços.  
Comecei a cantar baixo a melodia da música I'll Show You,
do Justin, enquanto acariciava seus cabelos. Fiquei com ele até
faltar cinco minutos para as quatro horas, Cameron parecia um
anjinho dormindo.  
Desci as escadas, me despedi do pessoal e entrei no carro,
vendo que Alec estava em uma moto e que sem dúvidas me
acompanharia até ver que eu estava segura, como ele sempre
fazia.  
 
Los Angeles, Estados Unidos, 
Sexta-feira, 19:20. 
 
Estava nervosa.  
Dessa vez cantaria sem ter meus pais por perto e mesmo
tendo Cameron e os Styles, ainda assim não era a mesma coisa
que estar com a minha família. Mas eu precisava me acostumar.
Sabia que teria sempre minha família por perto, meus amigos,
parentes e o meu amor, mas no fundo teria que lidar com a vida
sozinha, aprender sozinha. Ao mesmo tempo, tinha noção de que
sempre precisaria de alguém, mas não podia depender sempre
desse alguém. 
— Está confortável com o vestido? É muito importante que
esteja — Antonella disse pela terceira vez. 
— Sim, estou muito confortável — afirmei e ela sorriu. 
— Ficou tão bem em você, aceitaria desfilar com ele em
novembro? O desfile será em Paris. 
A olhei incrédula.  
— Eu… é, não sei. Não gosto muito dos holofotes —
comentei um pouco tímida. — Esse vestido é lindo e acredito que
merece ser bem representado por uma profissional. 
— Ah, entendo, mas hoje se importa de tirar algumas fotos?
— Questionou elegantemente e pareceu não ficar incomodada por
eu ter negado desfilar.  
— Não, não me importo. 
— Certo. Preciso ter seu direito de imagem, seus pais
assinaram, mas disseram que só seria permitido se você também
assinasse, afinal, serão fotos suas — iniciou. — É importante que
esteja ciente de que as fotos saíram em revistas e páginas da mídia,
se não quiser, entenderemos — explicou.  
Eu entendia toda aquela burocracia, porque em todo jantar de
negócios que papai ia e minha mãe usava algum vestido de algum
estilista, ela assinava esses termos.  
— Tudo bem, aceito tirar as fotos. 
— Ah, que incrível! Marlon, traz o termo aqui por favor? Você
tem dez minutos, ok? Já vamos começar — avisou e, após me ver
concordar, saiu da sala. 
Me olhei novamente no espelho, o vestido era lindo, lilás bem
claro e roxo no final. Carregado de pedrinhas brilhantes do começo
ao fim, aberto em uma das pernas, uma das mangas escorria em
meu braço, bem acinturado e aberto atrás. Um pouco pesado por
conta das pedrinhas, mas era perfeito.  
Não gostava muito de usar coques, mas aquele estava bonito
e não deixava minha testa enorme, já que soltaram duas mexas que
caiam em meu rosto, não era um coque tão preso. A maquiagem
era leve, exceto pelo batom vinho. Me sentia bonita e ao mesmo
tempo desconfortável, não estava acostumada com tudo aquilo,
queria colocar meu pijama e me deitar para ler um livro. 
Assinei o termo depois de Polly explicá-lo e fui avisada de
que precisaria entrar no palco agora mesmo.  
Respirei fundo, era tudo tão chique e luxuoso que as vezes
me questionava se de fato nasci para uma vida de rico. Meus pais
me criaram na simplicidade, justamente para que eu não me
tornasse uma criança soberba — coisa que com os meus irmãos foi
diferente —, mas sempre soube que a família era rica.  
As cortinas se abriram na medida em que começou a música
What A Wonderful World. A voz de Louis Armstrong era totalmente
diferente da minha, mas encontrei o tom perfeito para mim e a
música saiu incrivelmente satisfatória, na minha opinião.  
Ainda não havia encontrado Cameron no meio de tantos
olhares.  
A música At Last da Etta James se iniciou e no exato
momento o encontrei. Ele parecia fascinado me encarando e ergueu
a taça de champanhe na minha direção como cumprimento.  
O sentimento que pairava dentro de mim era de euforia, mas
uma tão boa que me fazia sentir estar só eu e ele dentro desse
imenso salão. Cameron não parecia se incomodar com os olhares
indo em sua direção, por me verem cantando especialmente para
ele.  
Finalizei a música e, como da outra vez, acordei de meus
pensamentos com a chuva de aplausos.  
— Muito obrigada, senhorita Malik — ouvi a apresentadora do
evento agradecer. 
Antes de cumprimentar os convidados, me direcionei ao
banheiro. Precisava ver se eu estava em ordem para falar com as
pessoas e felizmente estava. Lavei minhas mãos, dei uma última
olhada no espelho e sai do banheiro. 
Quando passei pelo corredor, fui puxada pela cintura para
dentro de uma das salas vazias do local. Era enorme, porque seria a
casa para diversas crianças órfãs. 
— Não — parei Cameron quando ele estava prestes a me
beijar. 
— Só um beijinho? — Pediu me encostando na porta depois
de fechá-la. 
— Vai borrar o batom — expliquei e ele pressionou o corpo
no meu. 
— Depois você limpa — disse beijando meu pescoço
enquanto apertava minha cintura. — Nossa, você está tão linda
nesse vestido — sussurrou descendo mais os lábios e puxando
minha perna, onde era a abertura do vestido, até sua cintura.  
— Amor… — Murmurei baixinho. — Não podemos ficar
aqui.  
— Eu sei — disse deslizando a mão em minha coxa e
subindo os lábios em minha nuca.  O empurrei quando meu corpo
todo se arrepiou e me afastei dele saindo de perto da porta. 
— Não vou te beijar — avisei e ele sorriu se aproximando, me
virei de costas porque se o olhasse demais não resistiria, e observei
a enorme janela da sala.  
— Você também disse que não namoraria comigo, que nunca
me beijaria e uma série de coisas, mas olha onde estamos — disse
me abraçando por trás e apertando minha cintura.  
— Isso não vem ao caso… — Suspirei quando seus lábios
tocaram minhas costas e ele voltou a beijar minha nuca.  
O senti sorrindo, mas não disse nada, sua mão subiu em meu
pescoço me fazendo encostar a cabeça em seu peitoral, quando me
apertou, puxei a respiração tentando me conter.  
— Há coisas que eu poderia fazer sem nem precisar tirar
esse vestido — sussurrou me fazendo estremecer. 
Apertei seu braço e ele mordeu levemente o lóbulo de minha
orelha. 
— Chega! — Disse me soltando. 
Sua mão desceu até o fecho de meu vestido quando me
afastei um pouco. 
— Cameron, para de graça — pedi tentando empurrar sua
mão e ele riu. 
— Tem que testar, amor, só um teste — disse segurando
minha mão para não o atrapalhar.  
Quando seus dedos puxaram o fecho do vestido ouvi o
barulho de tecido se rasgando e meu corpo gelou. 
— Me diz que você não fez isso…  
— Eu não sabia que esse tecido era tão frágil — disse
quando me virei o olhando. 
— Deve ser porque ele não é para ser puxado Cameron! —
Afirmei irritada, minha vontade era de socá-lo, principalmente
quando ele começou a rir passando a mão no rosto. — Como que
eu vou explicar para Antonella que você rasgou meu vestido? 
— Falando a verdade, simples. 
— Cameron. — Ele me olhou. — Eu te odeio! — Ele riu
mandando um beijo para mim e eu lhe dei três tapas. — Vá chamá-
la antes que eu te soque! 
— Também vou poder te socar? — Questionou com malícia.  
— Cameron! — Exclamei irritada e ele gargalhou. 
— Nossa, calma, prometo que vou devagar para não te
machucar. — Dei outro tapa em seu braço o vendo rir.  
Ele deu um selinho rápido em meus lábios e saiu da sala
rapidamente. Aquele garoto era totalmente sem explicação, acabei
rindo da situação. 
Comecei a pensar no que falaria a Antonella sem morrer de
vergonha. O rasgo não era grande, acredito que tenha apenas
descosturado algo, mas o vestido era aberto demais para confiar em
sair assim.  
A porta foi aberta mostrando Antonella e seu assistente, tudo
o que consegui fazer foi me desculpar. 
— Tudo bem, querida — ela disse aos risos. — Não quero
nem saber como foi que isso aconteceu. Vou dar um jeito rápido,
porque vamos apresentar o vestido em minutos. Não se preocupe
— disse calmamente enquanto mexia no vestido.  
Cameron ficou perto de uma parede com as mãos no bolso
da calça social e me olhando.  
— A culpa é sua — disse sem som e ele me mandou um
beijo. — Idiota! — Mandou outro beijo. — Eu te odeio. — Ele
colocou a mão no coração e de expressão de apaixonado.  
— Você está uma delícia — Cameron disse sem som. 
— Pronto, vamos? — Antonella indagou e eu a olhei
impressionada. 
— Mesmo?  
— Sim, querida, trabalho com isso desde os meus quinze
anos. Cameron, acompanhe sua noiva até o palco por favor. 
— Não sou noiva dele — disse rindo e caminhando até a
porta de saída após entrelaçar meu braço no de Cameron. 
— Que estranho, Abigail me disse que vocês se casariam em
breve. — Eu e Cameron nos olhamos. 
— Ainda não temos idade para nos casarmos — expliquei,
ela sorriu e nos olhou. 
— Mesmo? — Questionou pensando um pouco. — Concordo
que sejam muito novos, mas, se bem me lembro, os pais de vocês
se casaram aos dezoito anos e estão até hoje. Não que vocês vão
fazer o mesmo que eles, mas fiquei curiosa com algo… Qual é a
idade para se casar quando se encontra a pessoa que ama? — Abri
a boca para falar, mas ela não me deu espaço. — Obrigada Marlon,
pode voltar ao jantar. Me sigam por gentileza — pediu cordialmente. 
— E agora, vamos receber a anfitriã da noite — ouvi Bella, a
apresentadora, anunciar.  
Uma chuva de aplausos rondou o salão e Antonella subiu no
palco com um belo sorriso no rosto, a mulher fez os agradecimentos
e então, pediu que eu subisse também.  
— Soubemos que o vestido de Rebecca Malik é exclusivo de
sua nova coleção que será apresentada no desfile de novembro,
devo admitir que você nos surpreendeu com esse espetáculo —
disse a apresentadora admirada e me olhando.  
— Ah, muito obrigada, Bella — Antonella agradeceu com
graciosidade. 
Comecei a questionar quanto tempo precisaria ficar sorrindo,
Cameron estava aos risos com Nicholas e Andrew, por estar notório
que eu queria correr dali. 
— … e confesso que o vestido caiu perfeitamente bem em
Rebecca, raramente um vestido meu se encontra bem em alguma
modelo e precisamos fazer diversos ajustes em todos os desfiles —
ouvi Antonella dizer.  
— Devia seguir a carreira de modelo como sua mãe. Acredito
que seria a mais bela de todas — disse Bella e não me deu espaço
para uma resposta. — Se importa em dar uma voltinha para vermos
o vestido por inteiro?  
Era desconcertante, mesmo assim me virei e foi o que bastou
para ouvir diversos elogios e assobios. Quando olhei os três
garotos, que antes riam,  notei que seus sorrisos haviam sumido,
dando espaço a alerta máximo. Cameron tinha uma mistura de
irritação e incômodo em seu olhar.  
Fiz um passeio rápido com os olhos por toda a extensão do
salão e quando encontrei aqueles olhos escuros e frios, meu sorriso
morreu. 
As vozes de Antonella e Bella ficaram longes demais para
serem ouvidas, meu estômago doeu e eu não conseguia me
concentrar em mais nada. Bronwen ergueu a taça para mim e sorriu,
abaixei o olhar e mesmo sem entender direito o que Bella havia dito,
comecei a caminhar para sair do palco quando vi um homem
estendendo o braço para que eu descesse.  
Me sentia zonza e fechar os olhos só me fazia lembrar de
tudo na noite do jantar em Londres, aquele, sem dúvidas, era meu
pior pesadelo.  
— Amor! — ouvi Cameron dizer me trazendo a realidade e o
olhei — Vamos embora. 
— Não posso, assinei um termo aceitando tirar algumas fotos
durante o jantar — expliquei e ele me olhou incrédulo. 
— Que se dane o termo! — Disparou me puxando pela
cintura. 
— Você está por dentro dos negócios, sabe que não é assim
— disse desanimada e controlando minha respiração. — Só me
deixe longe dele. 
— Rebecca… 
— Por favor, Cameron — pedi com firmeza e, mesmo
contrariado, ele concordou. 
Cameron comeu pouco e tentava conversar com os meninos,
sem tirar o braço de minha cintura. Eu olhava a todo tempo para o
salão querendo ver se Bronwen estava longe de mim, se havia
alguma possibilidade dele se aproximar ou algo do tipo.  
— Moranguinho, você quer ir embora? — Tio Ben questionou
com cautela. 
— Assinei um termo aceitando tirar fotos com Antonella e não
quero problemas — eu disse. 
Cameron me olhou ainda desacreditado e Nicholas, que
estava do meu outro lado, me encarou do mesmo jeito.  
— Vou pedir que adiantem as fotos para você ir para a casa
então — afirmou e saiu antes que eu pudesse retrucar. 
Cameron deu um beijo em minha testa, me puxando mais
para ele. 
Não demorou para que tio Ben nos olhasse acenando,
pedindo uma aproximação em um lugar reservado para fotos. 
— Querida, devia ter me falado que não estava se sentindo
muito bem, as fotos serão rápidas e você estará livre, consegue tirar
algumas? — Questionou calmamente. 
— Consigo sim. 
Tiramos diversas fotos. Percebi que Antonella e Tio Benjamin
se entreolharam de uma forma que me fez franzir o cenho. Observei
Antonella melhor, sentindo traços familiares em seu rosto, mas não
tinha psicológico para pensar demais naquilo.  
— Iremos ficar até a hora do brinde — tio Arthur disse nos
olhando. — Mas Natalie quer ir embora e acho melhor levar
Nicholas, ele bebeu um pouco e está ao ponto de arrumar alguma
confusão.  
— Certo — ouvi Cameron dizer.  
— Você bebeu? — Questionou olhando o filho. 
— Se eu tivesse bebido já teria atirado em Turner — disse
seriamente e tio Arthur riu com tio Ben. 
— Gosto desse garoto — tio Ben disse orgulhoso e rindo.  
Seguimos para a saída, Natalie estava do lado de fora com
Felicity, Nicholas e Elliot onde nos encontraríamos para irmos
embora.  
— Cameron Styles — disse lentamente. A voz dele fez meu
coração disparar de ansiedade. 
Cameron me colocou para trás dele e encarou Bronwen.
Abaixei a cabeça sentindo um barulho ensurdecedor em meus
ouvidos. Tudo parecia vir rápido demais me deixando perdida e
assustada.   
— Rebecca Malik… — disse como se gostasse do jeito que
meu nome soava em sua voz e se curvou um pouco para o lado, na
tentativa de mostrar que queria me ver, — Quanto tempo não te
vejo. 
Cameron se colocou ainda mais em minha frente, tapando
minha visão.  
— Não ouse dirigir a palavra a ela, nem mesmo fale o nome
dela ou eu vou acabar com você aqui mesmo! — Ameaçou. 
Os dois ficaram se encarando por um tempo, não tinha forças
para pedir que Cameron se afastasse e não precisei. Com o
mandato de que Bronwen precisava ficar longe de mim, não
demorou para que o delegado Grier se aproximasse com dois
seguranças. 
— Leve-a para a casa, garoto. Hoje não é o dia em que você
vai bater nele — o delegado disse se posicionando entre Bronwen e
Cameron.  
Cameron me puxou pela cintura e só então me dei conta de
que muitas pessoas do salão haviam presenciado aquela cena. 
Sair daquele lugar foi o suficiente para que eu chorasse e ele
me abraçasse. Era uma sensação horrível, como se tudo voltasse
de uma vez, como se eu fosse tocada contra minha vontade
novamente. Os olhos dele me encarando eram como um pesadelo
impossível de esquecer.  
Cameron praticamente me carregou até seu carro e me
ajudou a entrar.  
Sentei-me no banco e limpei meu rosto imaginando que
estivesse com toda a maquiagem borrada, com tudo péssimo, tinha
estragado a noite. 
Observei Cameron falando com Elliot e fazendo Nicholas
entregar a chave do carro a Elliot. Não demorou para que meu
primo desse duas leves batidas com os dedos no vidro da janela,
apertei o botão automático e o olhei. 
— Estraguei a noite, não foi? — Questionei desanimada. 
— Você não estragou nada, aquele merda que estragou! —
Disse tentando controlar a irritação e passou o polegar em minha
bochecha a limpando. — Mas agora vamos para a casa, precisamos
descansar. 
Concordei balançando a cabeça.  
— Se sente confortável indo apenas com Cameron? Se
quiser eu e Felicity vamos com vocês. 
Sabia que sua preocupação era devido aos dias e noites
horríveis que passei após o acontecimento em Londres,
principalmente depois de eu ficar receosa com todos e
acidentalmente gritei quando Nicholas me acordou em uma noite
que dormiu lá em casa, foi desesperador. Nicholas ficou tão mal
achando que eu ficava incomodada com ele por perto que ficamos
dois meses sem nos abraçarmos, até que eu voltasse a me sentir
bem com o toque de outras pessoas. 
— Está tudo bem, me sinto confortável com ele — expliquei
vendo Nicholas sorrir concordando. 
Ele se afastou depois de dar um beijo em minha testa e
Cameron entrou no carro dando partida com rapidez. Entrelaçou
seus dedos nos meus e a todo instante beijava minha mão.  
Viemos o caminho todo escutando algumas músicas calmas,
me sentia protegida com ele, mas ainda assim me sentia estranha,
às vezes um pouco perdida. 
Ele abriu a porta do carro para eu sair e dei de cara com
Nicolly que correu e me abraçou. 
— Prima! — Disse me abraçando ainda mais forte.  
— Pode me ajudar a tirar essas coisas do meu cabelo? —
Pedi tentando disfarçar o quão exausta a situação me deixava e ela
concordou. 
Subimos as escadas até meu quarto, ela me ajudou a tirar
tudo sem dizer uma só palavra e eu me mantive forte, mas quando
senti a água quente do chuveiro contra minha pele tensa, eu
desabei. 
Não queria ficar calma agora, a sensação era horrível e me
fazia querer gritar. Era ficar frente a frente com o seu abusador. 
Quando estava um pouco mais aliviada, me sequei, coloquei
uma roupa leve e sai do banheiro. Cameron, Nicolly e Nicholas
estavam conversando no quarto. Nicholas me olhou e mostrou a
caixa de pizza. 
— Diabetes está boa? — Questionou esperançoso. 
Abri um leve sorriso e balancei a cabeça concordando.  
— Maravilha, qualquer coisa estamos lá embaixo, ok? —
Nicolly avisou me olhando. 
— Obrigada, gente — agradeci e eles sorriram concordando,
mas logo saíram me deixando com Cameron que estava olhando
pela janela.  
Me aproximei dele e beijei seu ombro, ele sorriu me
olhando.  
— Tudo bem se eu te tocar? — Indagou receoso. 
— Claro, amor. — Ele sorriu envolvendo o braço em meus
ombros e me abraçando forte. — Me desculpe acabar com o
jantar… 
— Rebecca, não começa, por favor. — Ele me olhou e eu
senti meus olhos queimarem pelas lágrimas. — Você é muito mais
importante que qualquer outra coisa, me entendeu? 
Limpei as lágrimas que brotaram em meus olhos e selei
nossos lábios com rapidez. 
Nos sentamos no chão e começamos a comer. 
— Quer conversar? 
Suspirei. 
— Quero, mas sobre qualquer outra coisa que não seja o
jantar ou sobre como me sinto agora, porque parece que está tudo
dolorido dentro de mim e continuar nesse assunto vai machucar
ainda mais — disparei e ele me olhou concordando, soltei a
respiração. — Não queria jogar tudo em você assim. 
— O que jogou em mim? Pelo contrário, felizmente está me
falando o que quer de verdade e como está se sentindo. — Ele
sorriu apertando levemente minha bochecha após limpar as mãos.
— Tem algo que quero te mostrar, só me deixa achar. 
Ele se levantou e saiu do quarto, deixando a porta aberta.
Permaneci sentada tomando um pouco de Coca. Papai me ligou
questionando como eu estava, quando Cameron voltou, foi o tempo
suficiente para acalmar meu pai, explicar que eu estava bem e que
ele não precisava voltar às pressas. 
Desliguei a chamada e me sentei na cama depois de tirar as
coisas do chão. Cameron se sentou ao meu lado e eu fiquei de
frente para ele, ansiosa pelo que queria me contar.  
— Natalie e eu estávamos conversando e devo admitir que
ela abriu meus olhos para algo que eu não tinha parado para
pensar. — Franzi o cenho quase pegando os documentos de sua
mão e os abrindo. — Fiz alguns exames para saber se… — ele
parecia todo perdido.  
— O que, homem? Fala. Está me deixando nervosa — disse
o vendo rir.  
— Para ver se eu não tinha nenhuma doença sexual que
pudesse te passar — falou rapidamente e suas bochechas
coraram.  
O olhei surpresa, Natalie e Nicolly de fato tinham falado sobre
esse assunto e eu preferi não falar nada, mas era claro que a
conversa delas me fez pensar nessas coisas. 
— Pensava em fazer antes do casamento, mas se eu tivesse
alguma doença, iria preferir que você soubesse antes de chegar ao
noivado — explicou e eu olhei os resultados do exame que
comprovavam que ele não tinha nenhuma doença.  
O olhei sorrindo. Beijei seus lábios e o abracei pelos ombros. 
Ele sorriu envolvendo os braços em minha cintura, me
abraçando com firmeza enquanto sua língua se movimentava
lentamente contra a minha.  
Seus dentes agarraram meu lábio inferior enquanto me sentia
sendo ainda mais apertada por seus braços fortes, o olhei sorrindo e
lhe dei um selinho. Não sabia exatamente o momento em que parei
em seu colo, mas não me importava com aquilo. 
— Confesso que nunca tinha pensado nisso até ouvir as
meninas falando, não queria acreditar que você tinha e poderia me
passar alguma doença, mas foi ignorância da minha parte, porque
se você transou com várias, estava sujeito a ter algo se não se
cuidasse. 
Seu olhar mudou e com as mãos em minha cintura, Cameron
me impulsionou a sair de seu colo. Me sentei ao seu lado e ele
soltou a respiração. 
— Não transei com tantas assim, como você diz — comentou
me olhando.  
Pensei um pouco no que dizer.  
— Foi o modo de dizer — disse entrelaçando nossos dedos e
ele negou balançando a cabeça. 
— Todo mundo acha que eu transei com meio mundo, que eu
fui um sem noção, mas não fui — explicou soltando minha mão.  
O olhei por instantes enquanto ele encarava  um canto
aleatório da cama. 
— Você quer que eu me desculpe por pensar assim? Quando
cheguei não sabia de nada sobre essa parte e se quer saber, ainda
não quero até que você queira. Porque essa área da sua vida é
particular e existem partes do seu passado que talvez você queira
guardar. Você decide até onde quer me contar, mas não me culpe
em pensar algo assim quando é tudo o que sei — disse o mais
calma possível.  
— Tudo o que você sabe? Sério?  
— Nessa parte? Sim. E  outra coisa que sei é que algumas
tentaram sexo com você bêbado, o que é horrível, muito horrível!
Mas com todas foram assim? Eu nem sei de que todas estou
falando. — Ele ficou me olhando por instantes e soltou a
respiração. 
E me disse os nomes: Alice, Melissa, Raquel, Gabbe, Felicity
e Lana eu tinha conhecimento de toda a situação, mesmo assim
meu estômago doeu. Na sequência, falou sobre quatro garotas de
uma faculdade, que não foi nada sério e que não passou de uma
festa. Meu estômago revirou e eu, de fato, não entendia o porquê
chegamos naquele assunto.   
— E se quer saber, nenhuma delas foi com sentimento. Nem
todos transam porque amam ou têm algum vínculo com a pessoa,
eu só queria curtir e ter o prazer ali no momento.  
— Sei disso. — Ele me olhou e eu tentei não demonstrar
muito desconforto. — Desculpa, esse não é um dos meus assuntos
favoritos e eu não estou sabendo lidar com tanta coisa… Mas não
estou brava, foi horrível o que algumas fizeram.  
— Acho que teríamos que conversar sobre isso. Sim, é meu
passado, mas quero que saiba tudo de mim, sem espaço para
dúvidas — afirmou me puxando para um abraço. 
O olhei e acariciei seu rosto. 
— Amor, eu sei muito bem que uma pessoa pode só querer
sexo e prazer, até porque ninguém fez as mesmas escolhas que eu,
assim como eu não faço as mesmas escolhas que outra pessoa e
não te culpo por nada disso. É  seu passado e isso não me deixa
menos interessada em você. Mas mesmo sendo necessário
falarmos sobre, é impossível não ficar incomodada — disse sentindo
seus dedos acariciando meus cabelos. — Se pudesse pegaria uma
borracha e passaria em tudo, dizendo que você não fez nada disso.
— Ele riu beijando minha testa. — E é inevitável não sentir
incômodo, ok? Não sei bem como explicar, mas também não é um
sentimento permanente ou que vá passar por cima do meu amor por
você.  
— Eu sei. Se você tivesse sequer beijado algum outro cara
antes de mim eu também ficaria desconfortável com isso, mesmo
sem significado, mesmo confiando totalmente em você e sabendo
que é uma coisa que acontece. 
— Ainda temos tanto o que amadurecer até não ficarmos
com ciúmes de coisas irrelevantes ou insignificantes. — Rimos
juntos. — Mas obrigada por ter sido sincero comigo, eu precisava
disso — afirmei o olhando e ele sorriu fraco. — Que tal vermos um
filme?  
— Eu escolho? — Questionou com os olhos carregados de
esperança. 
— Naruto de novo? — Fiz uma careta fingindo decepção. 
— Sempre, minha Kunoichi mais gostosa desse mundo. —
Sorriu me deitando na cama e me beijando com calma.  
Ouvimos duas batidas na porta que, sem esperar uma
resposta, foi aberta rapidamente mostrando Elliot. 
— Jasper acabou de ligar, Josh e Calleb estão no hospital —
Cameron se levantou rapidamente. — Se arrumem, precisamos ir —
Elliot me olhou. — Você também, Becca, Calleb vai precisar… 
Pensei em milhares de coisas e todas faziam sentido na
minha cabeça, quando encontramos Jasper, Peter, Lana e Andrew
conversando, tive ainda mais certeza e por impulso, corri até eles.  
— Eles apanharam por causa de homofobia, viram eles
andando de mãos dadas na rua perto de onde eu moro e acabaram
com eles — Jasper explicou. 
Carter, Nicholas e Elliot haviam se aproximado em um
momento em que não percebi.  
— Você sabe quem foi? — Cameron questionou olhando
Jasper, que negou balançando a cabeça.  
— Acompanhantes de Josh Evans e Calleb Johnson — uma
enfermeira chamou e a olhamos.  
— Os pais deles ainda não chegaram, mas já os avisamos.
Podemos entrar até que eles cheguem? — Questionei antes que
qualquer outro falasse algo.  
— Claro, apenas dois podem entrar em cada quarto para ver
os pacientes — a enfermeira avisou. — Calleb está no quarto
número 12 e Josh no número 13 — explicou me olhando e mostrou
os crachás com os números dos quartos, dois de cada.  
Eu e Lana nos olhamos concordando e pegamos os crachás
com o número 12, na medida em que Peter e Cameron pegaram o
número 13.  
— Esperem lá fora — Cameron pediu aos meninos. 
Cameron beijou minha testa rapidamente antes de entrar no
quarto de Josh. 
Não consegui evitar ficar espantada, triste, nervosa e mais
outros turbilhões de sentimentos quando vi Calleb todo machucado.
Lana não conseguiu segurar as lágrimas. Respirei fundo e me
aproximei o vendo abrir um sorriso que parecia doer.  
— Estou tão ruim assim? — Questionou lentamente.  
Seus olhos estavam roxos, seus lábios inchados e com
pequenos machucados sangrando, dois cortes em cada bochecha e
hematomas pelo braço. Acreditava que pelo corpo também haveria
mais.  
— Está melhor que eu — brinquei e ele sorriu fraco. Peguei
em sua mão com cuidado e ele apertou a minha sem força. —
Vamos ver em que nível você está, ainda consegue dançar as
músicas da Ariana?  
— Até de cadeira de rodas, meu amor — brincou de volta.  
— Então você está em perfeito estado — afirmei.  
Lana se aproximou do outro lado dele e pegou  sua mão
desocupada.  
— Vocês viram Josh? Como ele está? Preciso vê-lo, ele
apanhou muito mais para que eles não me batessem tanto. — Meu
coração doeu ouvindo suas palavras, os batimentos de seu coração
se aceleraram e seu aperto em minha mão ficou forte.  
— Ele está bem, Cameron e Peter estão com ele — Lana
disse acariciando a mão de Calleb.  
— Eu juro que nem um beijo demos, só estávamos de mãos
dadas e conversando quando eles chegaram e começaram a nos
bater. Josh conseguiu revidar quando vieram para cima de mim,
mas eram cinco. — As lágrimas começaram a rolar no rosto de
Calleb. 
Antes que pudéssemos dizer algo, ouvimos duas batidas na
porta. Lana correu para abri-la e deixou que revelassem a maca
onde Josh estava, os meninos estavam o trazendo. Sorri vendo a
alegria no rosto de ambos e Josh estava realmente pior que Calleb. 
A maca foi colocada ao lado da cama de Calleb, eles deram
as mãos e Josh o olhou por instantes.  
— Vai ficar tudo bem, prometo — disse baixinho a Calleb.  
— Eu sinto muito, você já estava machucado, não devia
ter… 
— Calleb — Josh o calou. — Eu faria isso milhares de vezes,
só para amenizar sua dor — disse devagar e sonolento. 
Foi o necessário para que Calleb chorasse e me olhasse. 
— Pode cantar aquela música Oceans do Hillsong? — Pediu
me olhando. 
Concordei e iniciei a música. Ele sempre me dizia que
gostava de louvores, que traziam muita paz, às vezes me pedia para
cantar algum que tinha ouvido recentemente. 
— Você é incrível — Calleb disse quando terminei de cantar.  
— E você é incrível — rebati o vendo sorrir e Josh deu um
sorrisinho fraco para mim quando apertei sua mão com cuidado. —
Vocês são incríveis. 
— Crianças, vocês precisam sair, os pais dos meninos
chegaram — ouvi tio Ben dizer ao entrar no quarto e concordamos. 
— Vou dar um jeito nisso — Cameron disse a Josh.  
— Eu sei — Josh disse baixo e deu um toque de mão com
ele. 
Quando passamos pela porta, tio Ben estava conversando
com os pais dos meninos, que entraram de imediato. Eu e Cameron
o olhamos.  
— Eles vão ficar bem — tio Benjamin começou. — Não
tiveram machucados internos, mas Josh infelizmente não
conseguirá jogar na sexta-feira, sua recuperação será mais
demorada. Ele se sacrificou para que Calleb não apanhasse ainda
mais.  
Percebi a tristeza e raiva no olhar de Cameron. 
— Cameron — tio Benjamin chamou e seguimos para um
canto mais reservado do corredor. — Conseguiu o que queria?  
— Sim. 
— Carter está com vocês? — Olhei meu tio com o cenho
franzido. 
— Não vou deixá-lo ir — Cameron afirmou e ele concordou.  
— Sem armas, você não vai querer carregar morte alguma
nas costas — alertou em voz baixa. — Te vejo depois, Moranguinho
— avisou após me abraçar e beijar minha testa.  
— O que você conseguiu? — Questionei. 
— Descobri quem foram os caras que fizeram isso, consegui
tirar foto do retrato falado e vou mostrar a Jasper — explicou
calmamente. 
O olhei por instantes, mas logo desviei. 
— Cameron — ouvi a voz do delegado Grier, que estava com
Elliot e se aproximou de nós, chamar. — Você quem fez esse
retrato? — Indagou mostrando um rosto que eu nunca havia visto e
depois mais quatro.  
— Sim, delegado — fingiu formalidade. 
— Já pensou em trabalhar na polícia? — Brincou entregando
a um outro policial. 
O delegado olhou Cameron e Elliot.  
— Não quero vocês em confusão — replicou como se
conhecesse a alma dos dois.  
— A confusão normalmente vem até mim — Elliot disse
apontando para Cameron. — Rebecca não sabe, mas beija a
própria confusão em pessoa — acabamos rindo. 
— Falando em confusão, vamos? — Cameron indagou
Elliot.  
— Vamos — Elliot aceitou de imediato.  
— Iremos resolver tudo — prometeu. — Se encontrarmos
vocês no meio disso, vamos prende-los — o delegado avisou, mas
senti um tom de humor em sua voz.  
— De novo? — Elliot brincou. 
— De novo — o delegado disse. 
— Cameron… — O chamei enquanto caminhávamos para a
saída do hospital. — Você não vai… 
— Vou fazer uma coisa que você não vai gostar nenhum
pouco — admitiu soltando a respiração e Elliot continuou
caminhando em nossa frente quando paramos no estacionamento. 
Fiquei o olhando por instantes.  
— Fala alguma coisa — pediu me analisando. 
— O que quer que eu diga? Vai com Deus? — Ele revirou os
olhos. — Nada do que eu falar vai mudar o que você quer fazer,
Cameron, então, faça o que achar melhor.  
— Por que você está brava comigo? É certo eu deixar os
meninos machucados assim e não fazer nada?  
— Em que momento disse isso? Eu simplesmente não acho
certo entrar em confusão agora, você já se machucou com Andrew
ontem e tem jogo na sexta-feira. Você é o jogador, sabe como isso
pode prejudicar o desenvolvimento do jogo e você pode muito bem
ir atrás desses caras amanhã, mas isso vai te impedir de fazer algo?
Não vai! O delegado disse que faria algo, e como são filhos de
amigos dele, eu acredito que vai fazer algo sim, mas isso vai te
impedir? Não, não vai. Então não venha pedir minha opinião para
algo que você já decidiu fazer!  
— Rebecca… 
— E não, não me peça para não ficar preocupada. Porque
você irá a um lugar que não sei onde é, se metendo com pessoas
que fizeram um estrago com os meninos e ainda tem a
probabilidade de eu acordar com a notícia de que está na delegacia
por agressão física, porque mesmo que esses agressores sejam
denunciados, eles também podem te denunciar. Eu não vou te
impedir de nada, mas não me peça para simplesmente aceitar toda
essa situação — afirmei. 
Ele apenas abaixou o olhar, Cameron iria atrás de quem fez
aquilo de qualquer forma e eu simplesmente não fazia ideia do que
era certo falar no momento. 
Caminhei até Lana e os meninos, Cameron fez o mesmo e
mostrou uma calma fingida. Ele, com certeza, estava carregado de
raiva com toda a situação e eu não ajudei em nada.   
— Vamos? — Jasper questionou e Lana me abraçou de lado,
parecia tão confusa no que sentir nessa situação quanto eu. 
— Vamos. Carter, leve as meninas em segurança para a casa
— Cameron exigiu.  
— Não, eu vou com vocês. — Carter se impulsionou a entrar
no carro e Cameron se colocou em sua frente.  
— Você tem uma mulher grávida em casa que não pode
passar nervoso. Você vai voltar para a casa e ficará com ela — disse
firme e o olhando nos olhos. — Me entendeu?  
Eles ficaram se olhando por instantes, até o momento em que
Carter balançou a cabeça positivamente. 
Nicholas caminhou em minha direção enquanto os meninos
se organizavam em seus carros. Ele me abraçou quando Lana se
afastou para falar com Peter e deu uma risadinha. 
— Vou tomar conta dele, relaxa. 
— Como relaxar se  meu namorado e meu primo estão indo
fazer sabe se lá o quê? É inevitável não ficar preocupada —
expliquei. 
— Nicholas, você vai comigo e Elliot — Cameron afirmou se
aproximando.  
— Ok! — Nicholas me abraçou novamente. — Avise Felicity,
por favor?  
Acabei rindo, ele sempre dizia que jamais daria satisfações a
alguma garota que estava ficando, mas apenas concordei o vendo
entrar no carro.  
Eu e Cameron nos olhamos por segundos e, se pudesse, o
faria voltar para casa só para não o ver em mais confusões. Estava
com medo de que ele se machucasse ainda mais.  
— Acho melhor você ir — afirmei abaixando o olhar.  
Ele levantou meu rosto pelo queixo, beijou minha testa e
entrou no carro. 
 
Los Angeles, Estados Unidos, 
Sábado, 04:40. 
 
Estava aliviada em Felicity ter me ajudado a acalmar Natalie,
que estava pensando em milhares de formas que aquilo poderia
prejudicar os meninos. Não a culpo, mas era um pouco difícil lidar
com as crises de ansiedade de Natalie e, como Nicolly tinha os
mesmos problemas, pedi que não ficasse com a gente naquele
momento. Lana foi perfeita em ficar com minha prima e acalmá-la
junto com Carter.  
A noite foi um tanto conturbada e me deixou com o corpo
todo dolorido de tantas emoções, e eu ainda precisava lidar com as
minhas. Era horrível não ter notícias de ninguém e minha tentativa
para ficar mais calma foi uma conversa com Deus.  
Minha diabete começava a subir sem parar até que eu me
acalmasse, então não podia ficar nervosa e ansiosa pela situação,
porque minhas emoções negativas me prejudicavam até mesmo
fisicamente. 
Me deitei na cama e deixei o abajur ligado, em uma luz baixa,
enquanto olhava a janela do quarto. Uma tentativa falha de dormir,
estava inquieta e ao mesmo tempo cansada.  
Desci as escadas após colocar uma blusa de frio e caminhei
até a cozinha deixando a luz baixa para que se alguém acordasse
não viesse para cá, não estava a fim de lidar com ninguém no
momento. Fiz um chocolate quente e me sentei na bancada. 
Quando ouvi o barulho de passos e as vozes de Cameron e
Nicholas, senti um peso saindo de minhas costas.  
Eles pararam, acredito que próximo da entrada da cozinha,
porque era onde ficava o caminho para a escada que dava no
segundo andar de casa, e eu desci da bancada em silencio.  
— Não conte a Rebecca que estávamos na delegacia, pelo
menos não agora — ouvi Cameron dizer.  
— Acho que isso não vai dar certo, mas ok — Nicholas
concordou. — Se você não contar… — o ouvi dizer enquanto me
aproximava — e ela descobrir, vai ficar muito brava. 
Nicholas parou de falar quando me viu encostar na borda da
abertura da cozinha. 
— Acredito que ela vai ficar brava com os dois por tentarem
esconder algo dela — disparei vendo Cameron se virar e me olhar.
— Boa noite — desejei retornando para a cozinha.  
— Amor… — Cameron disse em voz baixa.  
O olhei após me sentar novamente na bancada e voltei a
tomar meu chocolate quente. 
— Quando estiver pronto para não esconder algo de mim, aí
você me chama de amor — afirmei e o vi arregalar os olhos de
surpresa. 
Já tínhamos passado dessa de ficar escondendo as coisas
um do outro, nada me fazia acreditar que ele tinha motivos para tal
feito e não o deixaria me convencer do contrário. Cameron se
acostumou com todos passando pano para ele, e foram tantas
pessoas que ele ainda não desacostumou em simplesmente falar a
verdade ao invés de se esquivar. Era uma área da vida dele que
precisava ser trabalhada, assim como eu tinha várias áreas da vida
para trabalhar.  
— Me desculpe, mas eu soube que Natalie teve uma crise de
ansiedade e sei como fica exausta quando isso acontece. Não
queria mais coisas na sua cabeça. Já tinha o que aconteceu com os
meninos, mais a crise da Natalie e eu estava tentando… 
— Me escute, Cameron. — Desci da bancada e o olhei no
fundo dos olhos. — Pense muito bem antes de esconder algo ou de
influenciar outros a esconderem também. — Dei um passo para
frente e ele para trás. — Já passamos disso, eu te conto tudo, sem
exceções. 
— Mas eu… 
— Não terminei. — Ele engoliu em seco e deu outro passo
para trás quando fui para frente. — Odeio mentiras, Cameron, e
quando aceitei um namoro falso foi por não aguentar mais toda a
bagunça das meninas e dos meninos em cima de nós. No começo
do nosso relacionamento, escondíamos mesmo, porque estávamos
nos adaptando e criando confiança, mas depois eu e você entramos
em um acordo de carregarmos nossos pesos juntos. Mas... — Dei
outro passo e ele também. — Você escolheu esconder de mim por
medo de levar bronca, então não me venha com essa de você
estava cansada, porque sabe que é mentira! Agora medo de levar
um sermão? Você é melhor que isso — o provoquei olhando em
seus olhos e cruzando os braços.  
Ficamos nos olhando por instantes e seu olhar parecia arder
em mim, não dava para manter muito contato dessa forma ou eu me
perderia todinha.  
— Então, quando quiser conversar sem parecer uma criança
apavorada com medo de levar uma bronca, aí sim você volta a
dormir no meu quarto. Enquanto isso, boa noite, Cameron. 
Coloquei a xícara que estava na bancada na pia e quando
me dirigi para a saída da cozinha, Cameron me puxou pelo braço.  
— Não vou dormir brigado com você e muito menos sem
você. 
— Não estou brigada com ninguém, só não gosto quando
esconde algo de mim, somos parceiros, sabe disso — expliquei e
ele envolveu o braço em minha cintura.  
— Sim, eu não queria que você falasse ainda mais, porque
aconteceu quase tudo o que disse no estacionamento. O delegado
apareceu e ficamos lá por horas, meu pai quem foi buscar a gente e
ele falou um monte para mim e Nicholas. Minha mãe brigou o
caminho todo, o delegado brigou com Elliot, tia Rosie brigou com
Peter e Andrew até eles não aguentarem mais. Eu só não queria
você falando mais coisas para mim. 
— Vocês encontraram quem fez aquilo com Josh e Calleb?
— Questionei, ficando surpresa em me importar com isso e não por
ele ter parado na delegacia.  
Cameron pareceu ainda mais surpreso que eu e concordou
balançando a cabeça.  
— Não tem como eu dizer que não me importo com você
entrando em confusões por diversos motivos, e eu não concordo
com violência mesmo que conversa nem sempre resolva, é uma
coisa minha. Isso não significa que você pense assim como eu, mas
— Soltei a respiração. — Pensamentos diferentes fazem parte de
um relacionamento. Ainda assim não espere que eu concorde em
você se envolvendo em confusões, mas tudo bem porque foi por ser
contra a homofobia e não por ego. — Ele riu concordando. 
— Não vou tentar te fazer mudar o pensamento, mas Josh e
Calleb apanharam por mim e por homofobia também. Faz uns
meses isso, estávamos jogando basquete com uns meninos e
outros chegaram querendo tomar todo o espaço. Os deixamos
jogarem, mas implicando o tempo todo, não demorou muito pra
discutirmos e eles foram embora afirmando que não ficaria assim.
Josh estava junto no dia, ninguém sabia que Calleb morava por lá e
quando Josh foi levá-lo pra casa de carro, os meninos os viram,
tiraram os dois do carro e bateram neles.  
Levantei o rosto de Cameron pelo queixo. 
— Como você nunca se machuca? — Perguntei o analisando
e ele riu.  
— Raramente alguém consegue me golpear, não treino que
nem loco para ficar apanhando — explicou com um tom convencido,
seu braço estava fechado em minha cintura e sua mão desocupada
subiu em minha nuca com calma. — Me desculpe, não devia ter
falado para o Nicholas não te contar.  
— Aceito suas desculpas. — Ele riu como se minha fala fosse
inesperada.  
— Você não pega leve comigo mesmo — disse puxando
levemente meu cabelo. 
Sorri o olhando. 
— Vou poder dormir com você? — Questionou com os olhos
cheios de esperança. 
O olhei e tudo o que consegui fazer foi concordar. Ele sorriu
selando nossos lábios com calma, mas antes que se tornasse um
beijo afastei nossas bocas. 
— Me desculpe amor, mas eu estou muito cansada — disse
cabisbaixa e devagar, ele levantou meu rosto e me olhou nos
olhos.  
— Não peça desculpas por seu cansaço, está tudo bem,
minha princesa — afirmou beijando minha testa.  
Subimos as escadas até meu quarto e nos deitamos na
cama. Cameron me deixou deitar em seu peitoral e acariciou meus
cabelos, me sentia extremamente bem com ele. Um momento de
carícias sem outras intenções a não ser cuidar um do outro. Depois
daquele dia, eu precisava daquele momento. 
— Calleb e Josh receberão alta amanhã de tarde — o ouvi
dizer.  
— Vou ir à igreja antes de ir ao hospital, vou me despedir do
pessoal que conheci, mesmo indo raramente — comentei com uma
pontada de dor no coração.  
— Posso ir com você? — Questionou me olhando sem parar
de acariciar meus cabelos.  
— Claro, estava pensando em pedir para Alec levar Isaac e
Jeff depois das dez da manhã, tem brincadeiras para as crianças e
eles adoram ir. Seus irmãos podiam ir. 
Cameron balançou a cabeça concordando e deu um
sorrisinho.  
— Te amo — disse antes de me aconchegar em seu abraço. 
— Te amo — afirmou beijando minha testa.  
 
Los Angeles, Estados Unidos,  
Sábado, 14:32. 
Cameron, comendo muito doce, ficava elétrico e cheio de
energia. Ele não parou de me pedir em namoro um só segundo e
quando estávamos na igreja, no momento reservado para as
crianças, em uma confraternização, até sua irmãzinha Natasha
pediu que eu aceitasse só para que ele parasse, e mesmo
aceitando em todas as vezes, ele não parou. 
Foi uma manhã e início de tarde perfeita, exceto pelo
momento em que me despedi de Sarah, a mulher do pastor, e de
Joseph, o pastor. Eles me passavam tanta confiança, amor, calmaria
e tranquilidade em estar seguindo meus sonhos que eu me sentia
em paz. Disseram que o que era meu, sempre seria meu e que eu
deveria ir em paz, sem me cobrar tanto. Foi uma despedida, mas
sem dúvidas a melhor que tive.  
Eu e Cameron seguimos para o hospital depois de deixarmos
as crianças em casa. 
— Tá mais calmo? — Questionei olhando Cameron que me
encarou com os olhos acesos de energia. 
— A gente devia correr depois daqui, vocês não pagaram
essa parte da aposta. 
— Cameron, pelo amor de Deus — repliquei rindo.  
— Vou colocar Josh nas minhas costas e Nicholas leva
Calleb— comentou aos risos.  
— Se acalma, garotinho — brinquei. 
— Josh ficou muito mal em saber que não vai poder participar
do jogo, mesmo que estivesse óbvio o motivo, ele não queria
acreditar de jeito nenhum — Cameron disse com uma certa
tristeza.  
— Ah… eu imagino. 
Quando chegamos, ele abriu a porta do carro para que eu
saísse, cumprimentamos o pessoal e não deixei de observar os
olhos roxos e outros machucados nos meninos que eles pareciam
não se importar nem um pouco. 
Cameron me abraçou por trás, com os braços em cima de
meus ombros, e aproximou os lábios de minha orelha. 
— Se eu falasse ontem, você provavelmente quebraria uma
garrafa na minha cabeça. Eu quase não consegui falar nada com
você brava, porque, com o jeitinho que falou comigo, só conseguia
me imaginar arrancando toda a sua roupa e sua você descontaria a
raiva de outra forma — sussurrou enquanto os meninos falavam
alto. 
Meu corpo todo se arrepiou e eu engoli em seco.  
— E toda vez que você fica brava e fala comigo daquele jeito,
minha mente automaticamente começa a imaginar isso —
completou.  
Apertei seus braços com calma e foi inevitável não imaginar
nada com suas palavras.  
— Que péssima hora pra falar isso, Cameron — disse baixo
tentando soltar seus braços de mim. Ele me abraçou com mais
força, dando um beijinho leve em minha nuca. 
Tentei focar na conversa do time e, mesmo falhando
miseravelmente, foi o suficiente para dar o tempo de Josh e Calleb
saírem do hospital. 
Calleb estava andando normal, mas Josh precisou de
muletas quando se levantou da cadeira de rodas. 
Os meninos fizeram muito barulho quando os dois
apareceram, até quem estava no estacionamento direcionou a
atenção para eles. Era engraçado e divertido de se ver, amava estar
com eles, mas então me veio a dúvida: quem vai ajudá-los com as
notas enquanto eu estiver em Stanford?  
Pelo que entendi, Calleb vai ficar na casa de Josh, por ter
uma qualidade de vida melhor e pela enfermeira que vai cuidar
deles. Chegamos na casa de Josh e, felizmente, Karen não estava. 
— Eu te amo, mas se ela chegar vou ser obrigada a ir
embora — afirmei olhando Calleb que riu concordando. 
— Me leva junto — pediu olhando para a piscina. 
— Levo com certeza, meus pais adoraram você, não será um
problema. — Rimos, mas logo Calleb parou e ficou me analisando
por um tempo. 
— O que te incomoda?  
Soltei a respiração. 
— Fico me perguntando quem vai ajudar os meninos com as
notas? Quem vai cuidar deles e avisar os livros que tem que levar?
Cameron tem Natalie e Lana para ficarem no pé dele, mesmo
assim, quem vai?  
Calleb riu me abraçando pelos ombros. 
— Docinho, já está tudo resolvido. Lana e Luce são ótimas
nas matérias de exatas, eu e Natalie mandamos bem nas de
humanas, Samuel e Luce de novo — achei graça — são ótimos em
biológicas. Fizemos um cronograma do que você passava para eles
na semana e vamos fazer o mesmo — explicou me fazendo chorar.  
— Fico aliviada em saber que vocês vão se cuidar. —
Suspirei beijando seu rosto e ele sorriu.  
 
Los Angeles, Estados Unidos, 
Sábado, 19:40. 
 
Entrei na academia de casa vendo que Carter e Nicholas
estavam treinando juntos.  
— Olá, meninos — disse os fazendo voltar a atenção para
mim. 
— E aí, caramelinho — Carter cumprimentou. 
— Oi, meu doce — Nicholas me abraçou. 
— Nic! — O olhei. — Estava pensando, lembra quando
treinávamos karatê? Queria relembrar agora, o que acha?  
— Acho melhor não, prima. 
— Por quê? — Questionei o olhando e ele engoliu em seco.
— Ok, Carter, você já… 
— Não, está ok. Eu vou — Nicholas interrompeu. 
Nicholas sempre foi ciumento comigo, até com Pollo, quando
estava vivo, e nunca deixou de demonstrar com Carter.
Caminhamos até um espaço vazio da academia. Nos preparamos e
sem pensar duas vezes o golpeei com três golpes diferentes, ele
conseguiu recuar nos dois primeiros, porém, o terceiro o acertou em
cheio do abdômen, o fazendo cair no chão. 
Ele gemeu baixo de dor e colocou a mão sobre a barriga.
Cruzei meus braços e o observei ser ajudado por Carter, que não
parava de rir, a se levantar. Meus golpes foram fracos. Ele era muito
melhor que eu no karatê, mas, devido a confusão que se meteu,
estava sensível. 
— Eu já entendi que você está brava comigo — Nicholas
replicou sofrido. 
— Você escolheu esconder de mim, Nicholas, fala sério!
Nunca fizemos isso um com o outro. 
Nicholas abaixou o olhar e soltou a respiração. 
— Não tenho justificativas, me desculpe — pediu me
olhando. — Não vai se repetir. 
— Promete?  
— Prometo — disse mostrando o dedo mindinho. 
Sorri e juntei nossos dedos mindinhos. O olhei nos olhos
ainda sem soltar seu dedo. 
— Não se esqueça que estou indo para Stanford com você,
esconda algo de mim ou minta e a próxima garrafa quebrada será
na sua cabeça — ameacei o vendo arregalar os olhos e separei
nossos dedos. 
— Sim, senhora.  
— Por que foram parar na delegacia? — Questionei quando
saímos da academia indo na direção da ala de piscinas.  
— Os policiais chegaram minutos depois de Cameron ter
quebrado uma garrafa de vidro nas costas do cara que bateu mais
em Josh. Jasper não podia parar na delegacia, porque seria a
terceira vez. Então, ao invés de deixar os polícias irem atrás dele,
Cameron deu a cara a tapa para não foder a vida de Jasper —
explicou e eu balancei a cabeça negativamente.  
Antes que pudesse responder, segui o olhar de Nicholas
vendo Melissa a minha frente. Nicolly estava ao lado dela e me
olhou.  
— Não sabia o que fazer — disse como se achasse que
tivesse feito a pior coisa de sua vida.  
— Tudo bem, podem nos dar licença? — Pedi e Nicholas me
analisou por instantes.  
— Tem certeza?  
O olhei concordando. 
Observei Melissa e ela soltou a respiração, olhando para o
chão por instantes. 
— Não preciso que me responda agora, mas eu quero do
fundo do meu coração te pedir perdão. Eu fui uma ridícula, sei que
me odeia e entendo. 
— Melissa. — Ela me olhou com os olhos cheios d'água. —
Está me pedindo desculpas por medo de ser odiada ou por
realmente se arrepender e entender a gravidade da situação?  
Ela engoliu em seco e me encarou por um momento. 
— Não se preocupe, ninguém te odeia. Melissa, você não me
deixou brava, me deixou decepcionada de uma forma que nem eu
esperava. Uma vez te disse que sabia que você podia me
decepcionar, mas envolver assédio? Isso eu realmente não
esperava. Quando você entender a gravidade do que queria fazer,
podemos conversar.  
— Rebecca, eu… — A olhei e ela parou de falar. 
— Você ainda tem tempo de se conhecer, descobrir suas
prioridades, entender seus erros e buscar melhora. Mas por favor,
estou exausta. Desde que entrei em Liberty é isso e mais um pouco.
Sinto muito, meu tempo aqui é curto, então, por favor, não me
prenda mais nisso — pedi calmamente a olhando. 
A observei chorar e tentar se controlar.  
— Alec? — O chamei, ele nunca me deixava sozinha. —
Pode pedir a Ned para levá-la em casa? Não acho que seja bom ela
ir sozinha.  
— Sim, senhorita. 
Senti um peso sair de minhas costas por falar tudo o que
devia ter falado desde o início. 
Caminhei até a cozinha vendo que Cameron falava em uma
ligação sobre uma entrevista que precisava comparecer por conta
da luta de outubro. Me sentei na bancada e peguei a tigela com
pedaços de melão que estava com ele. 
Quando Cameron terminou de falar na chamada, se
aproximou de mim ficando entre minhas pernas.  
— Roubando o melão dos outros? — Provocou. 
— Não é dos outros, é do meu ex atual namorado — brinquei
o fazendo comer um pedaço de melão que estava no garfo. 
— Ex atual. — Ele riu depois de comer. 
— Ou indecifrável, fica mais bonito — repliquei aos risos. —
Vai ter uma entrevista? 
Ele balançou a cabeça concordando.  
— Depois das férias começa. Um canal pago vai passar as
informações, gravações dos treinos e essas coisas — explicou
calmamente. 
— Achei que eram lutas ilegais — disse levando um melão
até a boca e ele riu. 
— Começou ilegal, mas há dez anos legalizaram. Nicholas
me disse que Melissa estava aí — comentou antes de comer o
último pedaço de melão. 
Expliquei todo o acontecimento, ele me olhou, passando os
dedos em meu rosto. 
— Finalmente — afirmou colando nossas testas e me deu um
selinho rápido de me olhar. — São coisas que você deveria ter dito
há muito tempo. 
— É, eu sei, mas existe momento para tudo — afirmei
impulsionando meus braços envoltos em sua nuca, o puxando para
perto. — E no momento — lhe dei um selinho. — Eu só quero te
beijar — sussurrei olhando sua boca, o vendo sorrir.  
Seus braços  envolveram minha cintura, deixando nossos
corpos ainda mais colados, seus lábios se pressionaram
suavemente nos meus. Sua língua começou a massagear
lentamente a minha e suas mãos, que antes estavam em minha
cintura, se moveram para as minhas coxas me puxando um pouco
mais enquanto as apertava. 
O fôlego foi se esvaindo aos poucos com o beijo devagar e
demorado. Seus lábios desceram em meu pescoço, com calma,
uma calma que me deixava atordoada. 
Minhas mãos entraram em sua blusa e deslizei minhas unhas
lentamente em suas costas. Cameron parou de beijar meu pescoço
e sua mão deslizou na madeira da bancada, vi seu punho cerrar e
ele socou fraco a bancada com a respiração começando a se
descontrolar. 
— Me desculpa — disse rindo e beijei sua bochecha.  
Ele ficou com o rosto afundado na curva de meu pescoço por
alguns instantes, em seguida, me olhou com as bochechas coradas
e jogou o cabelo para trás com a mão. 
— Gosto de você aprendendo a provocar — disse beijando
minha bochecha até chegar em minha orelha. — Mas só comigo. —
Me olhou novamente — Porque você é minha. 
— Sou sua? Tem certeza?  
— Você não? 
— Não… — provoquei e o olhei com um sorrisinho
desafiador, o que bastou para que ele me puxasse pelo pescoço,
deixando nossos lábios novamente próximos. 
— Em todas as vidas, em todas as dimensões, em todos os
lugares, você é minha e eu sou seu — afirmou olhando em meus
olhos e apertando um pouco mais meu pescoço. 
— Você é meu — sussurrei com a voz falhada e ele sorriu
selando novamente nossos lábios enquanto acariciavam minha
nuca. 
— Amor? — O olhei. — Você um dia vai me contar o motivo
de ter escolhido esperar? — Franzi o cenho. — Minha sogra disse
que é sobre seu relacionamento com Deus, mas que envolve coisas
sobre você. 
— Tem curiosidade em saber disso? — Questionei surpresa. 
— Claro que sim — disse como se fosse óbvio. 
— Então vou sim te contar, mas não agora. 
Ele sorriu e concordou, enquanto eu só conseguia pensar em
como começar a falar sem chorar na primeira palavra.  
 
 
 
— Amigo, calma. — Ela gargalhou com algo que Calleb disse
na ligação. — Me escute, garoto! — Pediu ainda rindo. — Vou falar
com Cameron e te retorno. 
Parei o jogo quando Rebecca desligou e me olhou.  
— Estava prestando atenção, não é? Seu curioso — ela
disse rindo e eu me virei totalmente para ela.  
— Você disse meu nome, queria o que, mocinha? —
Questionei me aproximando dela. — Os meninos do time querem
fazer algo amanhã ou ainda hoje — comentei.  
— Calleb me disse o mesmo. — Ela viu o celular e me olhou.
— Neji e as meninas também, disseram que topam qualquer coisa
que a gente propor e que, mesmo sendo nove horas da noite, eles
vêm para cá. 
— E você pensou em algo? — Perguntei passando os dedos
em sua perna.  
— Queria ir à fazenda do meu avô paterno — explicou. —
Papai está na casa junto com os meus irmãos, eles me chamaram
para ir assim que voltaram de viagem. 
— Sim, concordo, mas teremos que voltar amanhã de noite,
porque segunda eu e o time vamos fazer algo para a arrecadação
de dinheiro para a associação para crianças carentes que a diretora
disse. 
— Ah sim, claro, a competição de quem arrecada mais
dinheiro. — Ela sorriu enquanto falava. — Voltaremos de noite
então, se todos concordarem. Chama seus pais e seus irmãos para
irem também — ela sugeriu e eu concordei.  
— Onde é a fazenda? — Questionei. 
— San Diego, há menos de três horas daqui — explicou.  
Descemos as escadas mandando mensagens nos grupos e
seguimos direções opostas, ela para a sala de estar, encontrar com
sua família, e eu segui para a minha casa.   
Assim que cheguei, me deparei com Natalie pulando do sofá
animadamente e se levantando enquanto puxava Elliot pela mão. 
— Vamos para a fazenda, vamos para a fazenda —
cantarolou animadamente e eu acabei rindo. — Oi, maninho, que
horas vamos?  
— Pedimos para todos estarem na casa da Becca às dez. 
— Quem vai buscar Josh e Calleb? — Elliot questionou.  
— Peter, como sempre — eu disse e rimos juntos. — Onde
estão nossos pais?  
— Já saíram — Natalie respondeu. — Ah, é verdade, você
mora mais na casa da Becca do que aqui — debochou me fazendo
revirar os olhos. — Seu querido sogro os chamou para irem à
fazenda hoje à tarde e eles foram, sabe que os pais de Becca não
podem falar um a que nossos pais aceitam — disse rindo e subindo
as escadas para seu quarto, sem soltar a mão de Elliot.  
Arrumei apenas o básico para levar na mochila, tomei um
banho rápido e, depois de me secar e colocar roupas confortáveis
para a viagem, desci novamente para a sala, onde o casal estava
pronto.  
Seguimos para a garagem e descemos de carro até a casa
de Rebecca, os meninos do time tinham chegado em peso e com
uma rapidez impressionante. 
O segurança abriu o portão para entrarmos e seguimos até a
frente da casa, não tive resistência em entrar, considerando que
fazia isso sempre que buscava Isaac para levá-lo a escola.  
— ...e mamãe já tinha chamado tia Eliza para ir à fazenda —
Rebecca disse aos risos, descendo com seu tio Benjamin, que riu
com ela.  
— Seu pai e Arthur têm uma amizade de anos, para onde um
viaja o outro é chamado para ir — Benjamin disse rindo e me olhou.
— Oi, garoto — me cumprimentou e me entregou a mochila de
Rebecca, que tentou pegar antes de mim, mas desviei a fazendo
rir.  
— Vocês me mimam demais — ela disse, com um ar de
gratidão e ao mesmo tempo brincalhão. — Vem, tio, quero te
apresentar os seguranças e os outros meninos. 
— Ainda tem mais? — Benjamin questionou sofrido e me
olhou. — A culpa é toda sua. — E  deu um leve soco em meu
abdômen, me fazendo rir.  
— Tio! — Nicholas correu até nós. — Os amigos de Rebecca
tem uma variação admirável, vou te apresentar um cara que é
segurança e parece ser todo politicamente correto e outro que
vende maconha. 
— NICHOLAS! — Rebecca protestou dando um tapa na
cabeça do primo. 
— Eles parecem irmãos — Nicholas disse rindo. — Vamos!
— E puxou o tio para acompanhá-lo. 
— Essas crianças... — Benjamin disse balançando a cabeça
negativamente.  
Rebecca se virou para mim e me abraçou pela cintura.  
— Espero que não se incomode, mas chamei Jasper e
Samuel para irem também. Luce é bem amiga deles e perguntou se
tinha algum problema, disse que não e ela pediu para eu chamá-los
ou eles não aceitariam — ela explicou rindo e suspirou. 
— Tudo bem, amor — afirmei beijando o topo de sua
cabeça. 
Encontramos todos na sala de estar, onde estavam falando
ao mesmo tempo tornando tudo uma enorme bagunça. 
Rebecca não chamou todo o time, apenas os que foram para
a casa de campo, as meninas, seus parentes que estavam por
perto,  Calleb, Neji, Jasper, Samuel, Alec e Ned, que eram seus
seguranças, mas ela tinha uma proximidade amigável com eles.  
— Queria que seus avós estivessem presentes também —
ouvi Nicolly dizer e franzi o cenho olhando a estrada.  
Rebecca sorriu e colocou a mão na minha coxa.  
— Nicolly é minha prima materna e a fazenda é do meu avô
paterno, mas no fim todo mundo se considera família — ela explicou
rapidamente. — E queria que eles estivessem também, mas estão
curtindo o Brasil ainda — comentou. 
— Há quase dezoito anos curtindo — Nicolly disse aos risos
e Rebecca concordou. — Benjamin pegou amizade rápido com seus
seguranças e com aqueles dois meninos que chegaram depois,
não?  
— Sim, muito rápido, nunca vi Jasper e Samuel socializarem
como fizeram com Alec e Ned e depois com tio Bem. Luce ficou um
bom tempo conversando com Ned, fico feliz que todos estão virando
amigos — Rebecca disse, com orgulho em sua voz.  
 
Depois de duas horas de viagem, eu e Carter trocamos de
lugar para que ele fosse dirigindo e não demorou muito para
chegarmos. 
— REBECCA! — Natasha gritou correndo até ela e pulou em
seu colo assim que entramos na casa. 
— ELLIOT! — Ryan gritou correndo até ele e pulou em seus
braços. 
Eu e Natalie ficamos nos olhando, desacreditados. 
— Ei, cara, não fica triste não, eu faço com você — Isaac
disse e começou a se afastar. — CAMERON! — Gritou e correu até
mim para pular. 
— Ah, garoto, sai fora. — O empurrei enquanto ele e o resto
do time caíam na risada.  
— Que bagunça toda é es... — Owen parou de falar quando
viu o time dentro da casa. — Mas que porr... 
— Pai! — Rebecca o repreendeu rindo e o abraçou. —
Chamei alguns amigos, apenas.  
— Eu não sabia que ela tinha tanto amigo homem —
Benjamin surgiu dentre os meninos. 
— ARTHUR, O TIME ESTÁ AQUI — Owen gritou.  
— Por Deus, homem, é assim que você recebe os meninos?
— Olivia questionou aparecendo na entrada da casa. — Venham,
temos quartos para todos e comida, imagino que a viagem tenha
dado fome — disse calmamente. 
Eu e Rebecca nos olhamos, aquilo facilmente aconteceria
entre eu e ela.  
 
Depois de todos descobrirem quais seriam os seus quartos,
decidimos assistir um filme até ficarmos com sono. Segui para a
cozinha, onde Rebecca estava com seus pais, Elliot e Natalie. Eles
estavam gargalhando enquanto Natalie e Olivia faziam a pipoca e os
outros escolhiam um filme.  
— Cameron, estávamos falando de você — Elliot anunciou e
eu franzi o cenho. — Quando meu pai prendeu a gente porque
arrumamos confusão cinco vezes na mesma semana — explicou
me fazendo rir ao lembrar daquele dia.  
— Em minha defesa, fui totalmente influenciado por Elliot —
disse levantando os braços. 
— Ah, claro, e a gente acredita nisso — Owen disse
enquanto brincava com Eloise. 
— Cinco vezes? Nem eu sabia disso — Natalie entrou na
conversa. 
— A capacidade do seu irmão de entrar em uma briga te
surpreenderia — Elliot disse me fazendo rir e parar atrás de
Rebecca, que estava com Louis no colo.  
— Duas foram você, seu bosta — acusei e ele mostrou o
dedo para mim.  
— Não ficam um minuto sem se xingar, meu Deus —
Rebecca disse rindo.  
Os meninos escolheram assistir Mercenários. 
— CALA A BOCA TODO MUNDO! — Peter gritou. —
Rebecca, qual é sua opinião?  
Benjamin, Owen e Olivia deram risadas e ela acabou rindo
junto.  
— Ela é a maior fã de Mercenários — Nicholas disse antes
dela e eu a olhei. 
— Isso explica tudo — comentei e os meninos me olharam,
mas me esquivei de qualquer pergunta e meu pai riu. 
Eles dormiram jogados no meio da sala antes do filme
acabar, mas eu, Peter, Elliot e Rebecca ajudamos Josh e Calleb a
irem para os seus quartos dormirem, enquanto Lana e Natalie
ajudavam Olivia e minha mãe a colocarem as crianças para dormir. 
 
San Diego, Estados Unidos,  
Domingo, 09:44. 
 
— Amor — ouvi Rebecca chamar, mas não abri os olhos, a
puxei mais perto e a abracei. — Amor — chamou outra vez. 
— Oi — disse em voz baixa, sem muito ânimo. 
Ouvi sua risada e logo senti seus lábios beijando meu ombro,
enquanto suas unhas passavam em minhas costas lentamente. Abri
meus olhos e a vi, parecia já estar arrumada, o que me fez acordar
totalmente e me sentei na cama. 
— Por que está arrumada?  
— Troque suas roupas rápido, você vai entender. 
Acabei rindo e me levantando, me troquei rapidamente e sai
do banheiro depois de escovar os dentes.  
Saímos do quarto e descemos pela escada que dava para a
cozinha, passamos pela porta parando na área perto do enorme
campo onde meu pai estava e, mais a fundo, estavam minha mãe e
Oliva com as crianças correndo e brincando. 
Benjamin e Owen chegaram com armas de água, em seguida
vieram Alec e Ned com mais outras e outros funcionários com
baldes de bexiga cheias d’agua.  
Comecei a rir e apenas concordei, sem que eles dissessem
uma palavra.  
Alec entregou duas armas à Rebecca e Ned me entregou as
duas que estavam com ele. 
— Nada disso, vocês vêm com a gente — Rebecca disse
entregando uma arma a Alec e outra a Ned, em seguida eu
entreguei a minha à ela e Owen entregou uma ao meu pai.  
— Vai, pai — Rebecca pediu olhando Owen que riu
concordando.  
Entramos de fininho na sala e Peter estava acordado, todos
apontamos para ele, que levantou os braços e disse: 
— Mas que porr...  
E não o deixamos terminar, começamos a jogar água em
todos os meninos enquanto riamos alto. Eles se levantaram às
pressas e começaram a correr e xingar enquanto não parávamos de
atirar neles. 
— TÁ GELADO, TÁ GELADO, CARALHOOOO — Elliot gritou
enquanto eu e meu pai atirávamos nele.  
— MAS QUE PORRAAAAAAAA — Nicholas saiu gritando no
meio da casa quando Owen e Benjamin começaram a atirar nele. 
Todos correram para fora da casa, mas Rebecca e Alec
foram buscar Josh e Calleb no quarto deles. Quando a água da
minha arma acabou, os meninos aproveitaram para começar a jogar
as bexigas em mim. 
Virou uma bagunça quando Peter colocou Josh nas costas
dele, encheu uma das armas e saiu correndo enquanto Josh atirava
em todo mundo.  
Recarreguei a arma e eu e meu pai começamos a jogar água
em minha mãe e em meus irmãos, enquanto Rebecca e Owen
faziam o mesmo com os irmãos dela. As crianças estavam eufóricas
como nunca e os meninos fizeram questão de colocá-los no meio da
brincadeira. 
Quando as bexigas acabaram, nos jogamos no meio do
campo aos risos. 
— Vocês são umas graças — tia Olivia disse rindo e Louis se
jogou em cima de mim, gargalhando.  
Vi Rebecca se levantar com Peter e correr para a cozinha
com Lana.  
— Vão se secar, o café já ficará pronto — Owen ordenou. —
E vocês poderão ir para a cachoeira na sequência.  
Entrei na cozinha e Rebecca estava sentada na frente de
Peter e Lana ao lado dele, enquanto ele tomava um achocolatado
forte, então entendi de imediato o que estava acontecendo. 
— Tudo bem, cara? — Josh questionou Peter, entrando na
casa com a ajuda de Calleb, e se sentou. 
— Tudo sim, a diabete despencou — Peter disse, sem se
incomodar muito. 
Rebecca me olhou e saímos da cozinha, considerando que
Peter estava com boas companhias.  
— Depois do café, quero te levar para ver os cavalos — ela
disse, com um sorriso lindo nos lábios e eu concordei a beijando.  
 
Terminamos nosso café antes de todos e saímos depois que
Rebecca pediu a Nicholas para levar o pessoal para a cachoeira.  
Ela me mostrou diversos lugares com as criações de animais
dos avós. O pasto era grande e muito bem separado, com pessoas
cuidando.  
— Meu avô vem todo mês para cá, disse que quer morar por
aqui daqui há dois anos — Rebecca explicou sorrindo e me puxou
para a parte em que os cavalos estavam. 
— Seus avós só criam? — Questionei a olhando. 
— Sim, amor, eles também têm plantações de legumes e
frutas, mas outro dia eu te mostro. Eles amam animais e cuidam
sempre que vem para cá, quando algum animalzinho morre, eles
ficam arrasados — explicou. — Olá, Lila, como vai? — Ela
cumprimentou uma mulher. — Esse é Cameron. 
— Olá, Lila, prazer em conhecê-la — a cumprimentei. 
— Quero te mostrar meu cavalo — Rebecca disse me
puxando e me trouxe até alguns cavalos.  
Ela foi falando o nome de todos até chegar em um cavalo
preto que ela começou a fazer carinho. 
— E esse é o caramelinho, Pollo colocou esse nome nele,
mas é meu. — Ela sorriu acariciando o cavalo. 
— Ele é lindo — disse começando a acariciá-lo e ele pareceu
receber muito bem minhas caricias.  
— E gostou de você — afirmou. — Vamos?  
— Para onde?  
— Cavalgar — disse como se fosse obvio.  
— Você em cima de mim? — Questionei e ela me deu um
tapa no braço que me fez gargalhar.  
— Seu idiota! — Xingou tentando conter a risada. 
— Eu, particularmente, adoraria — afirmei e ela me olhou
seriamente, mas sorriu quando lhe dei um selinho. 
Demos algumas voltas a cavalo, eu estava em um marrom,
que se chamava açúcar, porque ele amava cubinhos de açúcar, e
Rebecca estava no que era dela. 
— Vamos até a cachoeira — ela disse, enquanto andávamos
lentamente um ao lado do outro.  
— Não temos que deixar os cavalos onde eles estavam? —
Questionei e ela sorriu negando.  
— Não, amor, eles voltam sozinhos, às vezes correm por aí,
vão até as plantações, destroem algumas coisas, voltam para os
estábulos e assim eles vão vivendo — explicou. — Te vejo na
cachoeira — ela disse, para em seguida começar a correr com seu
cavalo.  
— Sua traidora! — Gritei, começando a correr na sequência. 
Por pouco, não consegui passar dela. Quando cheguei onde
ela havia parado, Rebecca estava descendo do cavalo enquanto ria
da minha cara.  
— Não valeu, você roubou — acusei.  
— Você não sabe perder mesmo, garoto — debochou
enquanto eu descia do cavalo. 
Os dois cavalos saíram correndo, praticamente juntos. 
— Sei perder quando é uma corrida honesta e você foi tudo,
menos honesta — afirmei e ela riu me olhando. 
— Está me chamando de desonesta, Styles? — Questionou
tirando os tênis e descendo para a cachoeira.  
— Sim, claro — rebati e ela parou de andar. 
— Você perdeu, supera — disse me olhando e eu a puxei. 
— Só depois que me beijar — afirmei beijando suas
bochechas até chegar em seus lábios e ela sorriu.  
Beijei com calma, fazendo Rebecca dar passos para trás e se
apoiar em uma árvore grande. Ela envolveu os braços em meus
ombros e mordeu meu lábio inferior, puxando um pouco e me
fazendo sorrir.  
— O que vocês pensam em fazer para a arrecadação de
dinheiro? — Questionou passando os dedos em minha
sobrancelha. 
— Como vão fechar o campus da escola apenas para isso,
as meninas vão fazer comidas e nós faremos um miniparque de
diversões. Natalie, Luce e Lana não ficaram no mesmo grupo que
Melissa e Karen, que seriam das meninas, no caso, e a maioria das
meninas, que já foram afetadas por elas na escola, ficaram do lado
de Natalie. Então, elas vão aproveitar para vender algumas comidas
doces e salgadas com os meninos.  
— Que ótima ideia — afirmou. — Lana me disse que as
líderes queriam fazer um lava-rápido das meninas com biquinis. —
Envolvi meu braço em seus ombros e voltamos a descer na direção
da cachoeira.  
— Imagino que tenha odiado a ideia — disse rindo e ela
concordou.  
— Sim, dei minha opinião para Natalie e Lana sobre ser
contra usar o corpo das meninas, que são todas menores de idade,
para conseguirem dinheiro.  
Balancei a cabeça concordando.  
— Não sei o que elas vão fazer, mas já estamos espalhando
a notícia de que terá o evento em Liberty, amanhã, para as famílias.
— Dei de ombros e ela sorriu pulando em meus braços, selando
nossos lábios.  
— Sempre pensando nas famílias — disse, de certa forma,
admirada e me fazendo abrir um sorriso. 
 
Ficamos horas na cachoeira e paramos quando chegou a
hora do almoço. Owen e Benjamin adoravam fazer churrasco em
qualquer reunião com mais de cinco pessoas, com o time por perto
e a minha família, eles com certeza concordaram em fazer um
churrasco, ensinando os meninos o ponto certo da carne. 
— A partir de hoje, eu voto que toda confraternização nossa,
seja com a família da Rebecca — Peter anunciou e o pessoal gritou
em concordância.  
— Mas com o capitão se casando com a capitã, teremos
churrasco sempre também, não? — Josh questionou me fazendo
sorrir e concordar e, novamente, eles gritaram. 
Tia Olivia me olhou com um sorriso nos lábios, balançando a
cabeça positivamente, como se apoiasse fielmente aquela decisão.  
Quando todos estavam entretidos e conversando entre si,
puxei Rebecca, que estava ao meu lado no banco da enorme mesa
de madeira ao ar livre, e aproximei meus lábios de sua orelha. 
— Eu não vou sossegar enquanto não fazer de você uma
Styles, a minha Styles, a minha esposa — sussurrei e ela me olhou,
surpresa e sorridente. 
— Isso é uma promessa? — Indagou olhando em meus
olhos.  
— Com certeza. 
— Ótimo, porque eu prometo que vou fazer de você o meu
esposo — afirmou mantendo o tom baixo. 
Sorrimos, selando nossos lábios e, também, as nossas
promessas.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como sempre digo, sem vocês eu não teria chegado até
aqui, porque foram vocês quem me motivaram, incentivaram esse
sonho e pediram tanto pelo livro físico, que aqui estamos nós. 
Sou muitíssimo grata por vocês, pela realização desse sonho
e por essa conquista. Agradeço, primeiramente, aos que estão
comigo desde antes de eu imaginar que Doce Garota seria
publicado. Você, leitor que me achou antes do livro ser publicado,
saiba que eu agradeço muito e amo você.   
E agradeço aos que chegaram depois, que se apaixonaram
por Cameron e Rebecca e decidiram acompanhar o casal, mesmo
sendo um misto de confusão e sentimentos.  
Obrigada a quem me acompanha, me motiva e me incentiva
nesse sonho.   
Tudo por vocês, coquinhas.  
 
Até breve,  
Stacye C.  
 
 

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