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PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Para Natalia,
minha melhor amiga.
Depois que me contou tudo sobre a relação com tio Arthur e
sobre Katherine, Cameron parecia um pouco mais leve.
Ele pegou minha mochila e descemos as escadas.
Sabia o tamanho risco que estava correndo em ter aceitado a
aposta do pessoal, mas não deixaria Cameron me subestimando no
quesito provocações.
Observei minha sala de estar com as pessoas que iriam para
a casa de campo.
Encarei Katherine e de imediato a raiva me dominou.
— Vocês podem me esperar só um minuto? — questionei.
— Mas queremos falar com você antes de sair, capitã —
Peter avisou.
Franzi o cenho.
— Serei rápida, prometo — afirmei e ele concordou. —
Katherine, preciso falar com você. — Ela me olhou assustada.
Estava prestes a segui-la quando Cameron me puxou para
um canto.
— Becca, por favor…
— Eu falei que ela não iria. Sei que a casa não é minha e
nem tenho autoridade para isso, mas você é meu namorado e eu te
quero bem, não se preocupe, prometo não quebrar o braço dela que
nem você fez com Oliver — sussurrei o vendo soltar uma risadinha.
Selei nossos lábios e caminhei até Katherine.
As líderes e as meninas do grêmio me olharam confusas.
Não eram todas que me provocavam, na verdade, nem mesmo um
terço das garotas faziam aquilo e era bom vê-las indo para a casa
de campo e simplesmente não tentando passar por cima de mim ou
criar uma rivalidade desnecessária.
— Podemos? — questionei calmamente olhando Katherine.
Ela concordou me seguindo até a cozinha, Natalie e Elliot
estavam aos beijos quando chegamos e pararam quando sentiram
que não estavam mais sozinhos.
— Tudo bem, amiga? — Natalie questionou.
— Tudo ótimo — sorri —, mas preciso de privacidade, não
deixe ninguém entrar, ok?
Ela concordou saindo da cozinha e fechou a porta.
— Rebecca…
— Já brincou de eu nunca? — Ela me olhou confusa, porém
concordou. — Então vamos brincar, mas do meu jeito. Você diz algo
que nunca fez e se eu já fiz, você me dá um soco, caso seja ao
contrário, eu te soco.
— Não acho uma boa ide…
— Eu começo — fingi estar pensando em algo e a olhei nos
olhos, dei um passo para frente e ela para trás. — Eu nunca me
aproveitei de alguém bêbado.
Ela engoliu em seco.
— Rebecca eu…
— Você vai sair pela porta da cozinha dizendo que não está
se sentindo bem, Cameron não quer entrar nesse assunto e acredito
que você não queira um processo nas costas. — Seus olhos
marejaram, mas estava com tanta raiva que sentia meu coração
disparado. — Katherine, não aceito estupradores na minha casa.
Nunca mais pise aqui. Não a quero perto de Cameron, se ele estiver
de um lado, você vai para o outro, estamos entendidas?
— Eu não transei com ele, Nathan chegou bem na hora —
disparou para em seguida perceber o que tinha falado, ela me olhou
assustada e abaixou a cabeça. — Nunca transei com ele, eu juro. —
Ri tentando me acalmar.
— Mas tentou. Acariciou ele com intenções sexuais, não foi?
— As lágrimas silenciosas desceram em seu rosto. — Isso foi abuso
sexual. Suas entidades ainda falam com você? — Disparei e a vi
começar a chorar. — Nem eu quero falar com alguém assim — me
afastei. — Pode ir embora, Katherine.
— Rebecca, por favor, eu preciso do perdão dele — disse se
aproximando de mim.
— Isso não cabe a mim. Vai embora!
Katherine ficou imóvel enquanto as lágrimas desciam em seu
rosto.
Quando ela saiu correndo pela porta dos fundos, precisei me
sentar no banco, sentindo o peso de toda aquela situação e
pensando no tempo em que Cameron carregou tudo aquilo em
silencio.
Sai da cozinha minutos depois da saída de Katherine da
minha casa.
— O que aconteceu? — Melissa questionou Isabel.
— Não sabemos, Katherine só saiu correndo. Não sei o que
ela fez, mas ainda bem que fez. Ninguém aguentava mais aquela
garota — Isabel afirmou e quando me olhou, lançou uma piscadela.
Ninguém pareceu se importar com Katherine ter ido embora e
Cameron me olhou enquanto eu me aproximava.
— Bom, já que a capitã voltou, é nossa vez de falar com ela
— Josh anunciou se levantando.
Os outros meninos do time se levantaram na mesma hora e
me olharam.
— Capitã, sabemos que fizemos errado em ter pedido
desculpas ao capitão por todas as vezes que demos em cima de
você — Peter começou.
— E por termos rido quando Oliver te apelidou de… você
sabe — Eric disse.
— E até concordamos com algumas merdas que ele já disse
— disse Richard um pouco sem jeito, ele quase nunca falava nada.
— E — Adam olhou Cameron um pouco receoso, tomou
coragem e continuou: — não temos o direito de falar de você como
estávamos falando, chegamos até a desrespeitar — ele olhou
Natalie em busca de aprovação como se ela quem tivesse o
ensinado a falar tudo o que disse.
Acabei rindo da cena, parecia uma criança e Natalie
concordou.
— Não devíamos ter deixado Oliver ficar em cima de você —
Phillipe disse.
— E nem nós devíamos ter ficado em cima, pois sabíamos
que você não gostava — Cole afirmou.
— Então queremos te pedir desculpas pelas coisas que já
fizemos e te incomodaram, não estamos em busca do perdão do
capitão, mas sim de você, porque você também é nossa capitã e o
que fizemos não foi legal — Noah finalizou.
Eles olharam Natalie que balançou a cabeça em aprovação e
todos me olharam esperançosos.
— Meu Deus, gente — disse com o queixo caído. — Vocês já
mostraram que são diferentes do que eu achei e, nossa, não
esperava. Está tudo bem agora, sei que foi pela euforia de ter
alguém novo chegando na escola — ri sentindo uma felicidade
enorme —, mas não é só eu quem me incomodo com essas coisas,
espero que daqui pra frente isso seja válido para as outras garotas
também.
Eles concordaram olhando algumas das garotas na sala e me
olharam novamente.
— Os outros meninos não concordaram com isso — Peter
disse meio desanimado, dei de ombros e o abracei.
— Não podemos mudar o mundo todo, mas só de vocês
terem feito o que fizeram já é uma grande mudança — ele sorriu. —
Ei, quer deixar sua medicação com a minha?
Peter tinha contado que descobriu ser diabético fazia dias e
eu e Cameron fazíamos o máximo para ele nunca se sentir invalido
por aquilo.
— Eu ia falar disso, nem sei como levar esse negócio em
viagens — disse meio desconcertado.
— Não se preocupe, você aprende. — O vi sorrir.
— Já estão todos aqui? — Cameron questionou.
A porta da minha casa foi aberta e Jasper entrou com
Samuel.
— Acho que agora sim — Natalie disse.
— Então vamos — ele disse, concordamos e quando íamos
sair, parei na porta.
— Preciso falar com Nádia, só um minuto — pedi e ele
concordou.
Ele me analisou por instantes, concordou e me deu um
selinho após pegar minha bolsa.
Caminhei até a cozinha e Nádia me olhou séria.
— Foi ele de novo?
— O quê? — olhei-a confusa.
— Vi seu braço antes de você colocar essa blusa, foi ele
outra vez?
— Não, nunca, nunca mesmo, nem se quer encostou em mim
de forma agressiva. — Me aproximei e segurei em suas mãos. —
Entendo sua preocupação, sei que, infelizmente, essas coisas
acontecem muito, mas eu não estaria com Cameron se isso
acontecesse, pode ter certeza — disse finalizando o assunto.
Me despedi depois de passar as instruções para Nádia e
quando voltei para a sala, todos ainda estavam em casa.
— O capitão disse que seus pais têm o costume de fazer
oração antes de viajar — Josh disse assim que me aproximei.
Sorri olhando Cameron e ele me chamou para perto. O
abracei pela cintura.
— Vou rezar para Maria nos proteger — Lana disse e eu sorri
concordando.
— Vou pedir para as minhas entidades nos guiar em paz
também — Calleb disse e concordei novamente ainda sorrindo.
— ...e que mesmo em alta velocidade, o Senhor nos proteja
— Cameron finalizou e ouvi algumas risadas.
— Amém — todos concordaram.
Caminhamos até a frente da casa para separarmos quem iria
com quem.
— Eu quero ir com Rebecca e as meninas — Calleb
resmungou.
— Mas só os meninos vão dirigindo e você não dirige ainda,
amor — Josh explicou.
— Por que só os meninos? — questionei e Cameron me
olhou.
— A Becca dirige — Luce afirmou.
— Ela está sem o carro — Cameron rebateu.
— Posso ir com o seu — sugeri, sabendo qual seria a sua
resposta.
Os meninos do time riram por saberem que ele era um
grande chato com seu carro.
— Nessa belezinha? Não mesmo — disse de forma esnobe
passando a mão no capô, em seguida se encostou ali, revirei os
olhos e ele sorriu.
Eu odiava aquele jeitinho dele.
— Qual é o problema, capitão? Está com medo de eu dirigir
melhor que você? — provoquei, vendo-o ficar sério.
Uma explosão alta de risadas dominou o ambiente. A risada
de Natalie era de se ouvir até da esquina, mas ficamos com os
olhares travados um no outro.
— Vai capitão, deixa ela — Peter incentivou.
— É, vamos ver se ela dirige bem como está dizendo — Josh
provocou.
Cameron ainda olhava fixamente em meus olhos. Não
abaixei a cabeça e algo me dizia que aquilo o agradava. Ele veio
calmamente em minha direção.
Eu estava na escada, no primeiro degrau, ele subiu apenas
um, ficando maior que eu e olhando em meus olhos. Quando me
entregou a chave, ouvi uma breve comemoração e, por reflexo, vi os
demais entrando em seus carros.
— Obrigada, capitão — disse, olhando-o.
Ele passou a língua nos lábios e se aproximou de seu carro.
Abriu a porta do motorista para mim e assim que entrei, ele se
inclinou me encarando, pois, a janela estava aberta. Mesmo com
Natalie, Calleb e Luce dentro do carro, ele aproximou o rosto do
meu e sorriu.
— Muito cuidado com essa belezinha — alertou, em seguida
aproximou os lábios de minha orelha enquanto afastava meu
cabelo, fechei os olhos com seu toque. — Eu vou te fazer implorar
por mim — disse lentamente em um sussurro.
Prendi minha respiração e ele se afastou após apertar
levemente meu pescoço. Abri meus olhos com mais dificuldade do
que o normal e o observei entrar no carro de Elliot. Natalie me deu
uma garrafinha de água, mas eu ainda estava atordoada.
— Estou passaaaaaada — Calleb disse prolongando a
palavra.
— Que nojo — Natalie fez uma careta.
Cameron, que estava dirigindo o carro de Elliot, deu partida
rapidamente e eu comecei a segui-lo.
— Ok, eu tenho uma pergunta — Calleb anunciou —, sou
amigo de algumas meninas de uma igreja evangélica e elas
estavam falando sobre esperar até depois do casamento, você tem
esse propósito?
Quando entendi que a pergunta era direcionada para mim, o
respondi:
— Não por ter sido criada em uma igreja, mas por algumas
coisas que já passei e, bom, há outros motivos — expliquei.
— Entendo — Calleb disse e ficou segundos em silencio.
— Mas você não tem medo de não gostar de como ele faz ou
se arrepender de ter esperado e não gostar, não ser bom? — Luce
questionou.
— Nossa, obrigado por ter questionado isso — Calleb
agradeceu nos fazendo rir. Eu sei que quero Josh e já sei como ele
é. Mas você, tipo... não sei explicar.
Não fiquei com vergonha por entrarmos naquele assunto,
tinha se tornado um pouco comum falarmos disso, ou melhor, eles
falarem disso. Eu e Luce, que éramos virgens, ficávamos ouvindo
quase sempre quando Natalie, Calleb e Lana falavam sobre.
Não demorou para entender que era um assunto comum
entre pessoas de dezessete e dezoito anos que estavam
começando suas vidas sexuais ou ainda começariam.
— Vocês acham mesmo que eu questiono se com Cameron
vai ser bom? — perguntei confusa e rindo. — Não acho que com ele
eu preciso me preocupar com isso — disparei.
— Meu Deus, Rebecca — Natalie disse aos risos.
— Justo — Calleb disse. — Pensando por esse lado, não
precisa se preocupar, é só olhar o jeito que ele te pega para saber
que…
— Calleb por favor, se controla, é o meu irmão! — Natalie
rebateu antes que ele terminasse.
— Pois eu acho que ele vai ser bem carinhoso com ela —
Luce afirmou.
Esse pensamento me fez sorrir disfarçadamente enquanto
olhava a estrada.
— Para com essa cara, sua safada, que desconfortável,
quero chorar — Natalie disse fazendo expressão de nojo e rimos.
Aquele assunto me deixava apreensiva, fazia o máximo para
não pensar, mas era inevitável. Ser bom para mim não significava
que seria para ele.
— Vamos ter que parar para abastecer antes de descer a
rodoviária — Natalie avisou.
Concordei vendo os carros parando em um posto e fiz o
mesmo.
— O pessoal vai ir comer rapidinho na lanchonete aqui do
lado, vamos?
— Obrigada, amiga, mas não estou com fome — disse
vestindo a blusa de Cameron.
— E vai ficar aqui sozinha? — Natalie questionou.
— Não é problema para mim — ela soltou a respiração.
— Então já venho — concordei balançando a cabeça e a
observei sair do carro.
No carro ao lado, Cameron havia saído e estava conversando
com Elliot e Jasper. Natalie foi até eles. Trouxe o moletom de
Cameron até o meu nariz para sentir o seu cheiro.
Ouvi duas batidas no vidro da janela.
Abaixei o vidro da janela, Cameron inclinou, se apoiando e
me encarando.
— E aí, princesa, vem sempre por aqui? — questionou com
um sorrisinho maroto nos lábios.
— Só quando você não está, hoje me equivoquei —
provoquei o olhando.
— Talvez esse equívoco tenha acontecido por uma boa
causa — ele abriu a porta do carro. Sai e com os lábios próximos
dos seus, questionei:
— E que boa causa seria? — Ele sorriu fechando a porta.
Seus lábios se aproximaram de minha orelha.
— Acha mesmo que preciso falar? — Ele roçou os lábios em
minha bochecha.
— Olha para mim — pedi, e ele o fez. Sorri olhando seus
lábios e quando ele se inclinou para me beijar, o impedi com a mão
em seu peitoral. — Você não consegue ficar um segundo sem me
beijar, como pôde aceitar uma aposta que claramente já está
vencida?
Seu olhar pareceu mudar.
Ele passou a língua nos dentes e, com a mão em minha
cintura, me empurrou contra o carro de forma que meu corpo colidiu
com ele. Seus olhos estavam cravados em mim e pareciam mais
azuis e ardentes do que antes.
— Você está muito confiante, senhorita Malik — ele deixou
leves beijinhos em minha bochecha, fazendo uma trilha até meu
pescoço e comecei a agradecer por não ter ninguém aqui onde
estávamos. — Vai ser ótimo acabar com essa sua confiança. —
Senti meu cabelo sendo puxado e seus lábios pararam em meu
pescoço apenas me deixando sentir sua respiração. — E vai ser tão
rápido que você vai ficar impressionada consigo mesma. — Ele
apenas roçou os lábios em meu pescoço e o apertou.
Um arrepio forte passou por todo o meu corpo. Não tinha
forças e nem condições para falar. Quando ele se afastou, consegui
soltar a respiração.
Engoli em seco e abri os olhos, em seu rosto vi um sorrisinho
vitorioso.
— Para de me olhar assim — reclamei, o empurrando pelos
ombros.
Estava prestes a entrar novamente no carro quando ele me
puxou pela cintura.
— Vamos comer alguma coisa.
— Eu comi antes de você chegar lá em casa, amor. — O
olhei. — E sério, não estou com fome. Acabei almoçando muito
tarde, mas se estiver com fome eu vou com você.
— Certeza? — questionou me olhando.
— Sim, baby — ri o olhando e selei nossos lábios —, e você,
não vai comer?
— Eu me alimento certinho, dona Malik — provocou.
— Vai jogar na cara mesmo? Palhaço — brinquei fingindo
estar brava.
— Vou sim, baixinha — disse bagunçando meu cabelo e
rimos quando ele me abraçou. — Tá dirigindo meu carro direito? Tá
cuidando do meu filho?
— Cameron, você é insuportável — o empurrei para me
soltar dele, mas fui segurada firmemente pela cintura.
— Amo quando você fica brava — disse sorrindo, juntou
minhas mãos nas suas e as beijou.
— Vamos, gente? — Ouvi Natalie chamar.
Ele me olhou e apenas balançou a cabeça positivamente.
— Te vejo em casa, amor.
— Até, amor — selei nossos lábios e ele abriu a porta para
que eu entrasse no carro.
Enquanto cantávamos e conversávamos, percebi que os
meninos estavam tentando me fechar na estrada para não os
ultrapassar.
— Eles estão de graça — Calleb observou.
— Isso é coisa do Cameron, tenho certeza — Natalie afirmou
e a olhei em concordância.
— Sabe o caminho da casa dos seus avós? — questionei e
ela sorriu entendendo.
Meu pai me ensinou muito bem a dirigir e até fizemos uma
competição eu, ele e meu primo Nicholas em uma estrada. Minha
mãe odiou e brigou com a gente, mas ficou orgulhosa em saber que
eu passei de Nicholas, mas era impossível ultrapassar meu pai.
Comecei a dirigir com quatorze anos e com dezesseis tirei
minha habilitação, pouco antes de voltar para o Brasil, minha cidade
natal, e ter que dirigir escondido.
Quando chegamos na rodovia, com Natalie me explicando o
caminho, acelerei o carro e, depois de ultrapassar Eric, Brian e
Adam, ultrapassei Peter que estava com Josh. Calleb fez questão
de mostrar o dedo do meio para Josh.
— Passa o Jasper, passa o Jasper. TACA O PAU DOIDA! —
Luce disse animada.
Jasper ainda tentou não me deixar ultrapassar e por pouco
quase conseguiu, ele dirigia igual a um doido.
— MEU DEUS, QUE DELÍCIA — Luce disparou animada
quando consegui o ultrapassar.
O carro de Cameron era ótimo de dirigir e mais rápido e
potente que o de Elliot. Quando o ultrapassei, Natalie fez uma festa
que me fez gargalhar. Mas eu não estava tão a frente, Cameron
parecia um doido dirigindo e se esse carro estivesse em suas mãos,
não teria o ultrapassado.
— Sentiram o sabor? — Natalie se gabou.
— É o poder — Calleb disse.
— Não sabia que você dirigia tão bem — Luce disse. — Na
verdade, nunca vi alguém dirigir tão bem assim depois de Cameron
e Jasper — elogiou.
— Muito obrigada, Luce — agradeci sorrindo.
— Meu pai quem me ensinou. Em uma pista dessas ele
adoraria competir comigo — ri dando de ombros.
— E sua mãe odiaria — Natalie completou.
Não demorou muito para que chegássemos.
A entrada deixava claro que era tudo enorme. Sabia que a
família Styles era umas das mais ricas do estado, mas não sabia até
que ponto.
O primeiro portão automático se abriu, precisamos fazer o
reconhecimento facial e só nos deixaram entrar por estarmos com
Natalie. Passamos por mais um portão e descemos do carro para
ser revistado. Natalie dispensou as polícias que iam revistar nossos
corpos. Mas por Calleb ser homem, ele não conseguiu se livrar.
Entramos no carro e passamos do terceiro portão que era
apenas por segurança. Finalmente vimos a mansão luxuosa da
família e meu queixo caiu na medida que eu me aproximava.
Na frente havia uma pequena fonte com uma estátua de leão
sustentando sua boca aberta em um rugido que, curiosamente,
jorrava água dali, também havia estátuas de dois tigres sentados de
cada lado, como se estivessem de vigia. De cara entendi que a
família Styles era uma família de líderes e que muitos os seguiam.
Logo na entrada tinham seguranças e funcionárias com
uniformes combinando. Natalie os cumprimentou, fizemos o mesmo
e entramos.
A mansão luxuosa tinha paredes cinzas e pretas, as mobílias
e vidraças eram pretas e tinha uma enorme sala de estar com uma
escada enorme para o andar de cima.
Observei a casa e senti um certo conforto porque tinha um
jeito total do Cameron. Era luxuosa, mas não extravagante. Como o
quarto dele com paredes pretas e cinzas escuro.
— Essa mansão é mesmo dos seus avós? — questionei
Natalie em voz baixa.
Ela apenas negou.
Ouvimos os demais entrando na casa e com eles vieram a
barulheira, mas Cameron e Elliot ainda não tinham chegado.
— Cameron está conversando com os seguranças — Peter
explicou me olhando como se tivesse lido meus pensamentos.
— Ele esperou todos chegarem, deixou todos os carros
passarem na frente para ver se todos vieram mesmo, é impossível
não se apaixonar por… — a garota, Amber, que estava falando se
calou quando outras líderes a olharam, em seguida alguns olhares
se voltaram para mim.
— É, é difícil assim mesmo — Melissa disse se sentando no
sofá.
Fiquei feliz por Lana estar indiferente quanto a aquele
comentário.
Peguei meu celular e liguei para meu pai, pois ele queria
saber se eu tinha chegado bem e pediu que eu ligasse quando
chegasse.
— Oi, docinho — o ouvi dizer do outro lado do telefone.
— Oi, paizinho — disse saindo da sala de estar e entrando no
primeiro lugar que vi.
— Como está? Como foi a viagem? — Observei a enorme
cozinha e tirei da mochila uma pequena bolsa térmica onde estava a
caixinha com minha mediação e a de Peter.
— Foi tudo bem, ultrapassei os meninos dirigindo o carro de
Cameron — afirmei rindo.
— Dirigiu com cuidado?
— Sempre.
— Essa é a minha bebê — papai riu.
— Manda um beijo para a mamãe e para os meus irmãos.
— Eles estão mandando outro, querida, qualquer coisa me
ligue — pediu. — Te amo.
— Te amo.
Desliguei a chamada e me sentei no banco.
Queria conseguir controlar aquele sentimento horrível ao
perceber que alguém desejava Cameron, queria não sentir nada,
sabia que ele não tinha culpa, mas... ficava perdida diante daquilo.
— Se eu não te conhecesse eu diria que você está um
pouquinho incomodada, mas como te conheço — a olhei —, então
tenho certeza de que está muito incomodada. O que foi, amiga? —
Natalie parou em minha frente.
Soltei a respiração e ela me abraçou.
— Não desconfio de Cameron. Sei que ele gosta de mim e
não tenho dúvidas, mas eu vejo os olhares das meninas, sei que ele
ficou com algumas que estão aqui — bufei. — Fico segurando tudo
isso porque não quero ser fraca nem uma louca ciumenta porque
não sou, mas é tão... — soltei a respiração — chato e
desconfortável. Não há o que fazer, tenho que superar, sei disso,
mas…
— Sua insegurança não deixa — completou. — Imagino tudo
o que está passando pela sua cabeça e isso não tem a ver apenas
com as garotas querendo o Cam porque você é sim muito forte para
se incomodar com esse tipo de coisa. Eu perdi minha virgindade
ano passado com Andrew — admitiu e meu queixo caiu, mas ela
não me deu espaço para questionar nada. — Estava ficando com
ele e ficava pensando: e se Raquel e Alice foram melhores que eu,
ele ainda vai gostar de mim? — Aquilo, por algum motivo, me doeu.
— E sempre que ele me chamava para ir a algum lugar eu pensava
nisso e nunca ia. Não estou falando que você vai fazer o mesmo,
pelo amor de Deus — rimos —, mas o que quero dizer é para não
pensar o mesmo que eu. Não ficar pensando em algo que Cam
claramente nem pensa.
— Como assim claramente?
— Você é um oceano de inteligência, mas tem uns pingos de
lerdeza que até Luce sendo a pessoa mais lerda que já conheci
ficaria impressionada — acabei rindo mesmo que aquilo fosse,
aparentemente, uma crítica. — Meu irmão sempre foi uma pessoa
muito carnal em relação aos sentimentos, para ele era um rostinho e
corpo lindos e estava tudo certo. Mas ele, com você, é bem mais
forte. Não sabia que ele podia ser emocional ou sentimental porque
estava bem longe disso, mas... o que quero dizer é que está
estampado na cara dele que ele nem consegue lembrar de como
foram as transas ou ficadas passadas porque tudo o que ele vê é
você, ele mesmo me disse — ela me olhou — para de chorar —
pediu rindo.
Limpei meu rosto, sendo levada pelas risadas.
Era uma loucura, e um poucos assustador, estar em um
relacionamento pela primeira vez.
Ela passou os dedos em minhas bochechas e me fez a olhar.
— Entende que você é quem está pensando nessas coisas e
não ele? Sei que isso não é uma coisa que muda do dia para a
noite, mas não fique segurando tudo. Estou aqui por você. — Ela
limpou novamente meu rosto. — E se não tiver forças para esquecer
tudo isso e ter um fim de semana tranquilo, daremos um jeito.
— Não, não vou deixar isso atrapalhar, só precisava falar —
sorri a abraçando e relaxando meu corpo —, obrigada amiga.
— Na verdade, eu queria te agradecer — disse quando desci
da cadeira e eu a olhei confusa.
— Pelo quê? — Ela riu.
— Por não ter desistido de mim. Você sabe que já usei
drogas e até foi me buscar em uma festa quando chegou em Los
Angeles, não desistiu de mim mesmo sabendo que eu estava com
Andrew como amante e nem mudou comigo mesmo eu te afastado
durante anos, enfim, nunca desistiu de mim mesmo com inúmeros
motivos.
— Que amiga eu seria se desistisse? Até parece — disse,
beijando o rosto dela que sorriu me olhando.
— Acho que eles já chegaram.
— Preciso colocar as medicações na geladeira, o abençoado
do Peter nem deve se lembrar — eu disse e Natalie negou.
— Não vamos deixar nessa geladeira, os meninos vão
encher de bebidas, é perigoso — disse colocando a caixinha de
volta na bolsa. — Vem. — Ela entrelaçou nossos braços e me
entregou a mochila.
Assim que voltamos para a sala de estar os olhos de
Cameron se fixaram em mim. Pelo seu olhar imaginei que eu devia
estar com o nariz e olhos avermelhados por ter chorado. Outras
pessoas também me olharam, mas voltaram a atenção para um
homem que estava nos apresentando os funcionários e explicando
que, para o que precisássemos, eles estariam as ordens.
Os olhos de Cameron não saíram de mim por um segundo
sequer, até mesmo quando Robert, o homem que estava fazendo as
apresentações, disse algo e precisou da confirmação dele.
— Eu estou morrendo por você — Calleb sussurrou e eu o
olhei confusa —, o jeito que ele te olha, estou passando mal.
Ri negando com a cabeça e olhei Cameron que tomou a
frente para falar.
— Vocês podem sair pela área toda pois é tudo da minha
família, exceto depois das cercas, mas precisaria ir muito longe para
chegar até lá, elas são elétricas e não me responsabilizo por
machucados que podem causar. Os responsáveis de vocês
autorizaram a vinda de cada um, portanto, não me responsabilizarei
e nem a minha família — comecei a estranhar o porquê de tanta
burocracia, afinal, são apenas jovens aproveitando um fim de
semana, não? — Mesmo assim, a segurança de vocês é muito
importante, deixando claro que minhas prioridades são Natalie e
Rebecca — disse com firmeza e meu corpo começou a esquentar
—, estão todos avisados e a única coisa proibida é qualquer tipo de
assédio e abuso, independentemente de estarem bêbados, quanto a
isso. Vocês já sabem como lido com esse tipo de situação. — Seus
olhos encararam friamente os meninos que concordaram. — Sobre
drogas — ele riu — Jasper, Peter e Josh estão avisados do que
pode ou não — os três riram junto com Cameron.
— Obrigado pelas informações, senhor Styles — disse
Robert.
— Uau — Luce e Calleb disseram juntos.
— Ele parece um chefe da máfia passando ordens — Luce
afirmou em voz baixa.
Natalie permaneceu em silêncio, assim como eu.
— Ele é um verdadeiro líder — Calleb admirou.
O observei e, claramente, ele iria querer saber o motivo de eu
ter chorado.
— Vamos mostrar os quartos de vocês — Robert avisou e
todos começaram a segui-lo para a enorme escada.
— Peter — Cameron chamou, se aproximando de mim e
subiu a mão em minhas costas, acabei puxando a respiração e a
soltando com calma —, o quarto que você vai ficar tem um frigobar
pra colocar sua medicação e, caso você precise comer algo doce,
tem as coisas lá.
— Nossa cara — Peter disse admirado e deu um sorrisinho.
— Ele namora uma diabética, esperava o quê? — questionei
rindo e entregando a medicação dele.
— Obrigado mesmo, vocês dois — disse.
Concordamos e uma funcionária levou Peter até seu quarto.
Logo em seguida Cameron pegou minha mochila e subimos as
escadas.
O corredor era enorme e sua cor era preto fosco.
Nas paredes havia candelabros pretos e pratas, e no teto
luzes bem claras. Na parede esquerda, cinco quadros espalhados
estampando jogadores famosos e artistas antigos, havia algumas
coisas escritas em outros idiomas em todos eles. À direita, uma
árvore genealógica começando pelos avós paternos Styles.
Cameron tinha três tios e uma tia. A árvore estava incompleta, as
últimas fotos eram dos primos de Cameron, dele e Natalie.
Chegamos no fundo e havia duas bifurcações.
— Esses dois corredores dão para os quartos, quer ver? —
concordei e seguimos a direita. — Aqui são os quartos com camas
de solteiros, as crianças e jovens ficam mais aqui e esses são para
os casais.
— Por que tanto quarto? — questionei enquanto
caminhávamos até o último quarto.
— Minha família é enorme e a gente sempre se reúne —
explicou.
Os dois últimos quartos, um de frente para o outro, estavam
trancados. Cameron os abriu, eram grandes, organizados e não
eram pretos e cinzas como os outros, as paredes eram um azul bem
claro.
— Esses são os quartos dos meus avós e dos meus pais,
visita nenhuma entra aqui, são apenas deles — disse, trancando a
porta de ambos.
Natalie saiu de outro quarto e nos olhou.
— Esse é o de Natalie e bom, ela decorou conforme o gosto
dela — concordei rindo — e esse — ele abriu um quarto igual aos
outros, preto e cinza — está separado pra Nicolly e Carter.
— Eles vão vir? — questionei animada e Natalie se animou
também.
— AH, NÃO ACREDITO — Natalie pulou em Cameron, o
abraçou e em seguida me abraçou. — Ela precisa de um biquíni
igual ao da gente, aí meu Deus! Vou pedir para alguém trazer —
afirmou animada e Elliot se aproximou.
— Eles vão chegar amanhã cedo ou de madrugada.
— Calma — pedi e eles me olharam —, você quer colocar
Natalie e Elliot e Carter e Nicolly em quartos juntos? Casais em
quartos apenas para eles?
— Qual é o problema? — Cameron questionou confuso.
Olhei Natalie e Elliot, ele me olhou concordando e passando
a mão na nuca.
— Cameron é muito difícil não transar, ok? Você sabe disso e
ficar atentando não vai dar certo — Natalie disparou antes de mim.
— Meu Deus, Natalie, eu ia explicar de uma forma mais
tranquila — eu disse aos risos e Elliot ficou roxo de vergonha.
— Ai, me desculpa — pediu e Cameron acabou rindo.
— Eu e Becca conseguimos — disse vitorioso.
— A Becca consegue, né? E você consegue porque ela
consegue, por si só eu duvido que…
— Ok, já entendemos — afirmei e Cameron mostrou o dedo
para Natalie, o puxei para o quarto vazio. — Escuta, Natalie e Elliot
não são eu e você, Elliot é a moda antiga e por mais que Natalie
não ultrapasse os limites dele, é difícil para ambos. Você ter um foco
não significa que não vai ter problemas no caminho, entende? — ele
concordou — E Nicolly, bom, ela vai esperar até depois do
casamento e ele respeita isso, mas ela não consegue ficar tão de
boa quando dorme com ele. Eles estão noivos e, enfim, por mais
que a gente tenha um pensamento e um foco, nosso corpo também
pede.
— Natalie e Nicolly dormem no quarto de Natalie e os
meninos dormem no outro.
— E eu vou dormir onde?
— Comigo, no meu quarto que vou te mostrar agora.
— Não mesmo — afirmei puxando minha mão para que ele
não me fizesse segui-lo.
Ele me olhou e riu. Em seguida se aproximou e me puxou
calmamente pela cintura.
— Por quê? Seu corpo está pedindo? — O olhei tentando
ficar séria, mas acabei rindo.
— Meia noite começa a aposta, não vou arriscar ficar perto
de você essa noite, serei uma donzela em perigo se ficar — afirmei.
— Você não respondeu minha pergunta — gelei o olhando,
sentindo meu corpo pegar fogo e me afastei dele.
— Vou precisar de um frigobar no quarto de Natalie — dei um
selinho rápido e, já que a porta estava aberta, entrei no quarto dela.
— Elliot, hoje você vai dormir com os meninos — afirmei o vendo rir.
Era claro que meu corpo pedia, mas meu coração e meus
sentimentos estavam tão focados em conhecê-lo por inteiro e em
amá-lo pelo que ele era, que os nossos corpos eram as últimas
coisas que queria que se conhecessem.
Coloquei uma calça de moletom um pouco mais apertada do
que de costume, uma regata fina que não precisava de sutiã e
cobria até metade do abdômen, tudo na cor preta. Puxei a blusa de
frio do Paris Saint-Germain que era de Cameron e me encarei no
espelho enquanto passava a escova nos cabelos.
Ouvi duas batidas na porta e abri a porta.
Cameron me olhou de cima abaixo e sorriu.
— Já começou a valer a aposta?
— Não, por quê?
Ele deslizou lentamente a mão em minha cintura por dentro
da blusa de frio, na parte onde a regata não cobria e o contato de
sua mão quente com minha pele me fez arrepiar. Quando me puxou
para perto com firmeza precisei respirar fundo.
— Você fica linda usando minhas blusas sabia? Mesmo
quando rouba alguma — riu olhando meus lábios.
— Não roubei. Essa blusa, querido — disse fingindo deboche
— foi a que você deu quando me sujou na escola.
— Não te dei não.
— Deu sim — rebati apertando suas bochechas e selei
nossos lábios, em seguida mordi levemente seu lábio inferior e ele
me apertou com força.
— Vamos comer e depois te mostro nosso quarto.
— Seu quarto — corrigi.
— Que em breve será nosso — rebateu me fazendo sorrir.
— Preciso ver como está a caramelinho antes — ele
concordou.
Depois de medir minha glicose e ver que estava tudo bem,
envolvi meu braço no dele e saímos do quarto.
— Por que estava chorando? — questionou assim que
descemos a escada.
— Estava falando com Natalie sobre algumas inseguranças
que tenho — expliquei.
Ele apenas concordou e beijou minha testa, mas seu olhar
ficou um pouco desanimado.
Suspirei esfregando minhas mãos e ele me olhou confuso.
Estava tão tensa que qualquer pessoa poderia notar, tomei coragem
e finalmente disse:
— Tem muitas coisas que quero e preciso te contar — ele
parou em minha frente e entrelaçou nossos dedos —, mas precisa
ser em um lugar privado, com só eu e você.
— Tem certeza? Você esperou meu tempo para contar tudo.
— Quero que me conheça de verdade.
Ele sorriu concordando e entramos na sala de jantar.
Por algum motivo os meninos gritaram em comemoração à
nossa chegada.
Cameron puxou a cadeira para mim, em seguida se sentou
ao meu lado. Duas funcionárias vieram para pegar nossos pedaços
de pizza e nos servir.
— Não precisa — sorri para a jovem garota de cabelos loiros
—, mas obrigada — ela olhou Cameron como se pedisse permissão
e ele apenas concordou.
Tanto ele quanto eu nos servimos.
Senti um peso e quando levantei meu olhar vi uma garota de
cabelos ruivos me observando e analisando. Não parecia um olhar
de raiva, pelo contrário, de certa forma era triste e até doloroso. Ela
virou o rosto quase que de imediato quando percebeu que estava
me encarando, franzi o cenho sem entender, voltei a comer e, após
a garota servir mais um pedaço de pizza a Jasper, ela retornou ao
seu posto. Olhei Cameron que falava algo com Peter, Josh e Elliot.
Quando colocou a mão calmamente em minha perna e beijou
minha bochecha me fazendo sorrir, olhei novamente a garota e seus
olhos estavam marejados.
— Amor… — Ele parou de falar.
Seus olhos estavam em mim, mas não o olhei, estava focada
na garota.
Ela o olhava como as outras garotas apaixonadas por
Cameron. Ele seguiu meu olhar, chamou um funcionário com um
aceno de mão e disse algo baixo no ouvido dele. O homem apenas
concordou e seguiu até a garota.
Cameron apertou um pouco minha coxa me fazendo tomar
um gole de limonada para me manter calma. Observei o homem
dizendo algo a garota que estava a ponto de chorar, ela concordou
sem nos olhar e saiu silenciosamente.
— Explicarei em um momento oportuno — sussurrou em meu
ouvido e beijou meus lábios. Concordei e foi quase impossível não
ouvir a gritaria das meninas conversando.
As líderes e Melissa estavam fazendo uma bagunça
desnecessária e as funcionárias ficavam limpando o tempo todo se
forçando a não reclamar e nem fazer cara feia. Os meninos
pareciam uns selvagens sem noção espalhando comida.
Natalie, Calleb e Luce comiam como pessoas normais, até
Peter, Josh, Elliot, Neji, Jasper e Samuel. Percebi que tinha amizade
com as pessoas certas, exceto com Jasper e Samuel que não tinha
muito contato.
Olhei Cameron e seu olhar denunciou que ele me entendia.
— Posso? — questionei, ele sorriu concordando e voltando a
comer — Qual é o nome da garota que está limpando a sujeira das
líderes o tempo todo?
— Maya.
— Maya — chamei a garota que estava pronta para limpar
novamente e ela me olhou assustada —, não precisa recolher
novamente os guardanapos que ela nem usou, ela pode muito bem
juntar e jogar no lixo.
— Mas ela está aqui justamente para isso — Melissa rebateu
e todos ficaram em silêncio.
A arrogância de suas palavras desceu rasgando em minha
garganta.
— Manso, manso, manso — Natalie pediu me fazendo
segurar a risada.
— Não, Melissa, ela não está aqui para sustentar seus
caprichos de rainha e nem os de ninguém. Cada um aqui pode
muito bem limpar a própria sujeira. Os funcionários não estão aqui
para limpar as nojeiras dos meninos ou suprir os caprichos que
vocês meninas estão fazendo. Eles não recebem para isso e nem
trabalham exclusivamente para vocês.
— E é para você que trabalham? — Melissa rebateu e eu me
senti frustrada por ela estar agindo daquela forma.
— Ela é minha futura esposa, Melissa. Você realmente quer
ficar rebatendo sobre pessoas que em breve vão trabalhar para ela?
— Cameron disse tão calmamente que desestabilizaria qualquer
pessoa.
— E ela não está se referindo só a você — Natalie tentou
amenizar, Cameron não teve um pingo de dó com Melissa, sabia
que era coisa entre os dois, por isso não questionava e não falava
nada —, isso vale para todos porque isso é senso. Vocês estão
acostumados a pessoas servindo comida na boca, mas com a
nossa família não é assim. Ninguém é servo de ninguém, são
funcionários e eles são da nossa família também! — Natalie
disparou.
Olhei Luce e ela acenando com a cabeça indicou que queria
falar comigo, em seguida olhou Natalie e fez o mesmo. Eu e ela nos
olhamos.
— Já venho amor — disse em voz baixa e ele concordou.
Cameron me observou saindo. Os olhares dele acabavam
comigo.
— Ela não está bem — Luce disparou assim que entramos
na cozinha —, não estou justificando, mas quero que vocês saibam.
Não estou ficando com ela, por mais que eu queria, ela não gosta
do mesmo que eu, não sei ela é confusa — ela riu como se aquilo
não doesse. — Estava tentando ajudá-la e estava dando certo. Mas
tudo foi por água abaixo quando a irmã dela ligou para mãe dizendo
que esse ano a família não teria a coroa, Alice debochou de Melissa
quando a mãe a chamou para a chamada de vídeo. A senhora
Morgan ficou desapontada na hora.
— Por causa da merda de uma coroa? — Natalie disparou.
— Sim… não. Quer dizer, também. Morgan ama ter uma boa
reputação na vizinhança e sempre quis Cameron como genro,
quando viu que Melissa não o segurou, ficou decepcionada. Não
vou justificar tudo só na mãe e na irmã dela não, ela também é bem
soberba e arrogante. Não procura ajuda e, de verdade? Não quer
ser ajudada. Tentei até onde aguentei, mas ela estava me sugando
— Luce demonstrou sua tristeza quando seus olhos marejaram. —
Por que eu me sinto tão errada em colocar minha saúde mental
acima da dela?
— Porque você gosta dela, mas se as duas não ficarem bem,
ninguém ajuda ninguém — afirmei, em seguida a abracei forte.
— Acho engraçado o jeito que você bate e mesmo assim não
dói tanto. — Luce riu, recebendo o abraço, o que foi ótimo já que ela
não era uma pessoa muito afetiva no toque.
— Sinto muito, mas não vou ficar do lado de Melissa —
Natalie disse —, ela queria uma oportunidade de se redimir com
Cam e ter seu perdão, eu ajudei, mas não conte com isso já que ela
quer regredir a garota que ela era antes. E se for para cima de
Becca, a coisa ficará muito feia para ela!
— Ela tentou mesmo, mas depois que Becca chegou, ele
simplesmente esqueceu tudo e nem deu atenção a Mel — Luce
disse me fazendo entender o motivo dela ter saído correndo quando
cheguei na escola. — Ela não vai superar ele tão cedo, acho que
chegou a gostar dele de verdade.
— Isso não justifica tudo o que ela fez meu irmão passar! —
Natalie rebateu com raiva na voz.
— Ei — segurei sua mão —, parou.
— Todo Styles é esquentadinho, né? — Luce observou —
Não estou justificando nada mesmo. É só que Rebecca merece
saber com quem está lidando e mesmo com o coração apertado,
não vou ficar do lado da Mel.
— Sei que você sabe muito bem se defender sozinha, mas se
Melissa vacilar, principalmente com você, nem que me peça o
contrário, vou acabar com ela — Natalie prometeu.
Quando fui puxada para a sala de estar fiquei pensando na
forma que Natalie se comportava com quem amava. Cameron
também era assim, um pouco mais agressivo e bem menos
paciente, mas defendia seus afetos todas as formas possíveis.
Achei graça quando cada um pegou a própria sujeira, jogou
nos lixos e colocou os pratos e copos em bandejas seguradas por
funcionários. Em seguida foram para a ala de piscina e ligaram o
som extremamente alto.
— Senhorita Rebecca — uma senhora chamou quando
Cameron puxou minha cadeira para que me levantasse, a olhei e
ela aparentemente era bem severa —, em nome de toda a equipe,
obrigada pelo que falou aos seus amigos. É muito importante para
nós alguém com um pensamento assim, principalmente sabendo
que será nossa próxima chefe — ela sorriu de forma simpática e
todo o seu jeito frio e severo se esvaiu.
— Isso pode demorar um pouco — sorri sentindo os braços
de Cameron me envolverem —, mas era o mínimo que podia fazer,
principalmente vocês sendo da família — afirmei sorrindo.
— Aliás, sou Matilde, a capitã da equipe — se apresentou. —
Para a senhorita, estou à disposição para qualquer coisa, assim
como o resto da equipe.
— Está disposta a não me chamar de senhorita? —
questionei rindo.
— Isso não funciona com a Mati — Cameron disse rindo e
me abraçou com firmeza.
A senhora sorriu e com toda a educação do mundo se
despediu de nós.
Senti os lábios de Cameron beijarem meu pescoço.
— Precisamos levar nossos pratos antes — avisei, ele riu
olhando a mesa e nossos lugares estavam vazios.
— Matilde pediu que levassem sem que você percebesse —
o senti respirando em meu pescoço e em seguida uma mordida
leve. — Você que escolhe — ele me virou de frente, deu passos em
minha direção, e eu para trás, até sentir a parede em minhas costas
—, te beijo depois que sairmos daqui ou te beijo aqui mesmo? —
Suas mãos apertaram minha cintura, me puxando para si e seus
lábios se aproximaram de minha orelha. — Com o pessoal
passando e limpando as coisas. — Ele me pressionou ainda mais
contra a parede e eu fechei os olhos. — Eu não me importo se
verem o quanto eu gosto de te beijar. — Mordi os lábios.
— Você não ia me mostrar seu quarto? — questionei estando
totalmente perdida com seus toques.
Ele me olhou sorrindo e concordou estendendo a mão como
um convite. A segurei e ele me guiou pelas escadas. Passamos pelo
corredor a esquerda, só então fui me dar conta da porta ao fim do
trajeto. Ela se abriu em duas depois de Cameron encarar uma
câmera situada no topo. Passamos dali e, antes que subíssemos
uma escada branca, o segurei pela mão.
— Calma, isso não é do seu avô — afirmei —, isso é tudo
seu? — questionei e ele riu.
— Sim, amor, mas vamos subir.
As luzes se acendiam nos degraus na medida em que os
subíamos. Estava tão impressionada por saber que era tudo dele
que fiquei sem fala.
Cameron abriu outra porta no topo das escadas, dessa vez
com sua digital e meu queixo caiu assim que a luz do quarto se
acendeu.
Caberiam três apartamentos aqui. As paredes eram de vidro
preto, tinham duas pilastras pretas e no meio uma cama enorme,
um piano a esquerda, uma bateria, um violão e uma guitarra a
direita. No meio tinha um tapete enorme cinza escuro, no canto a
esquerda tinha um cúbico com um saco preto de pancadas e luvas
de boxe. As mobílias eram cinzas e pretas, um pouco à frente da
cama tinha um sofá preto e uma televisão enorme. Era tudo tão
luxuoso e tão solitário ao mesmo tempo.
— É tudo tão lindo, amor — o olhei admirada —, mas não
tem janelas?
Ele riu ouvindo minha pergunta e com as mãos em minha
cintura me puxou para a parede depois da cama.
— Konan, abertura dois — disse em voz alta e as paredes
pretas ficaram transparentes após um barulho parecido com o do
Windows em um computador.
Arregalei meus olhos, daqui tinha a visão de tudo, até de uma
cachoeira que parecia a uma boa caminhada de distância daqui.
O céu estava estrelado e olhei mais além vendo colinas e
pequenas montanhas. Observei abaixo onde o pessoal estava
dentro da piscina. Alguns fumando, conversando, se pegando e
essas coisas. A música não chegava até aqui ou as paredes eram a
prova de som.
— Não sei o que falar — afirmei ainda sem reação e ele
sorriu.
— Nunca trouxe ninguém aqui, só meus pais, meus avós e
Natalie sabem desse quarto, outras pessoas nem sabem onde dá a
porta do fim do corredor, a maioria das vezes venho para cá por
outras passagens — o abracei pelos ombros —, contei a todos que
aqui é de meu avô, pois os meninos iam querer vir sempre e sendo
do meu avô posso arranjar uma desculpa.
— Nunca, na minha vida, eu imaginaria que isso tudo é seu
— ele começou a caminhar até a cama dele comigo de costas para
ela — e nem sabia o quanto sua família é rica.
— Seu pai sabe de tudo e com você demos autorização para
falar o que você quisesse saber — ele explicou e eu neguei com a
cabeça.
— Sua vida financeira nunca me interessou, nem a de
Natalie. Sei que vocês são ricos porque já saiu em um jornal, mas
não perguntei, pois não vi necessidade, isso não me interessa —
afirmei e ele sorriu apertando minha cintura.
— Depois desse jornal todo mundo quis ser amigo de Natalie
e de mim, sendo que já queriam isso pelo tal status que tenho em
Liberty. A diretora sempre pegou leve comigo porque meu pai banca
todos os projetos da escola, não porque ela acredita no meu
potencial. E olha, ela não sabe da metade do que temos — ele disse
e eu selei nossos lábios com calma.
— Acredito que ela conheça o seu potencial sim, mas quando
se tem muito dinheiro as pessoas se aproximam por isso, não todas,
claro — ele concordou.
— Por esse motivo proibi a área depois das cercas — franzi o
cenho —, é minha propriedade também, mas tem uma garagem
subterrânea onde escondi os carros.
— Meu Deus — ri impressionada — e ainda tem mais —
admirei o vendo rir.
— Aqui é enorme, na verdade — ele me empurrou
cuidadosamente me fazendo cair deitada na cama —, vamos ter
muito tempo para ver cada lugarzinho daqui — afirmou ficando em
cima de mim e beijando meu pescoço.
Sorri o ouvindo e seus dedos se entrelaçaram nos meus na
altura de minha cabeça.
— Eu nunca vi alguém tão linda como você — disse
admirado.
Seus olhos azuis esbanjavam adoração.
Sorri acariciando suas mãos com os polegares e passei a
língua nos lábios enquanto ele apenas me encarava.
— Me sinto perdida em você e ao mesmo tempo sei que
encontrei meu lar — admiti o vendo sorrir —, é incrível e assustador
— ele concordou.
Senti seu peso em mim e me inclinei para beijá-lo, mas ele se
afastou. Roçou os lábios nos meus e se afastou novamente. O
encarei entendendo. Subi minhas pernas em sua cintura e as
entrelacei, o puxando mais para mim. O vi engolir em seco e suas
bochechas pareciam estar queimando. Ele olhou para baixo e puxou
e soltou a respiração duas vezes.
— Me beija logo, Cameron — pedi impaciente e ele sorriu
voltando a ter controle de si mesmo.
Sua mão direita escorregou até minha cintura e seus lábios
se aproximaram de minha orelha, ele sabia que isso me fazia perder
o foco com facilidade.
— Vou adorar ouvir isso daqui algumas horas — com sua
respiração estava cortada, sua voz rouca e falhada, ele me olhou e
eu precisei fechar os olhos para não me entregar — e acabar logo
com essa aposta, já sabemos quem sempre ganha.
O olhei sorrindo e em um movimento rápido o empurrei para
ficar por cima.
— Desculpe. — Deslizei minhas mãos na cama, em seguida
escorreguei as unhas por seus braços e entrelacei nossos dedos
como ele tinha feito antes. Passei meus lábios em seu pescoço,
mas sem tocá-lo, apenas o deixei sentir minha respiração e
aproximei minha boca da dele. — O que foi que disse?
Ele sorriu passando a língua nos lábios e ficamos nos
encarando por instantes, mas por motivos que ambos entendíamos,
sai de cima dele.
Cameron continuou deitado, tentando controlar a respiração e
passou a mão no rosto avermelhado, sabia que estava com
vergonha por ele nunca ter ficado assim... bom, não que eu tivesse
sentido.
— Se quiser, a gente conversa amanhã — sugeri e ele riu
negando.
— Não, não precisa. Só… me desculpa — pediu ainda sem
me olhar.
Ri em silêncio e optei por me afastar.
— Tudo bem, amor — me levantei e caminhei até a enorme
parede de vidro transparente. — Ei, você toca bateria? — questionei
olhando a bateria do quarto e voltei meu olhar para o pessoal
festejando logo abaixo.
Senti meus ombros sendo cobertos por uma manta fina e ele
se sentou ao meu lado, acompanhando meu olhar.
— Não, bom, não mais — explicou.
Apenas concordei e ele entrelaçou nossos dedos.
— Não está incomodada depois do que aconteceu aqui?
— Não amor, não estou — o tranquilizei —, sabia que uma
hora isso aconteceria.
— Achei que nunca tinha passado por algo assim já que…
nunca namorou. — Senti meus olhos encherem d'água e abaixei o
olhar.
— Não precisei namorar para sentir alguém excitado — o vi
franzir o cenho —, mas foi em uma situação bem horrível — ele
apertou minha mão — nada parecido com isso aqui. Estou tentando
falar tudo sem chorar. — Ri, levantando meu olhar
Ele me abraçou e antes que eu pudesse falar, estava
chorando em relembrar tudo e seu abraço ficava cada vez mais
firme, me sentia protegida e quando estava um pouco aliviada o
olhei.
— Vou contar tudo, até chegar nessa história — ele
concordou.
Antes pegou duas latas de água de seu frigobar, trouxe uma
toalhinha higiênica preta e me entregou, depois se sentou
novamente.
— Leve o tempo que for necessário — pediu, beijando minha
testa.
— Certo. — Pensei um pouco e finalmente tomei coragem. —
Tia Eliza já deve ter contato sobre eu ter adquirido diabetes e sobre
fazer muitas coisas ao mesmo tempo, não foi?
— Sim, contou.
— Isso tudo começou quando tinha dez anos, meus pais me
colocaram para fazer francês e eu sempre estudei em período
integral, então meu fundamental todo foi das sete da manhã até às
cinco da tarde. Aos sábados fazia francês e estava ótimo para mim.
Quando fiz onze anos minha mãe me colocou para fazer piano e
karatê também. Comecei a ficar muito cansada, só tinha onze anos,
fazia piano depois da escola de segunda a quarta, francês no
sábado quase o dia todo, karatê na quinta e sexta e no domingo
tinha igreja, tinha que estudar as matérias da escola e fazer as
tarefas. Fora que sempre participei de coisas na congregação. Meu
pai nem sempre foi tão bom comigo e minha mãe, bom, é minha
mãe…
Ele abriu as latas de água e me olhou.
— Falei a ela que estava cansada e ela contou para o meu
pai, mas contou como se eu não quisesse fazer mais nada por
frescura. Papai chegou dizendo que eu só estudava, não trabalhava,
não tinha que levar comida para casa, que eles nunca pediram nada
além do meu esforço e que eu ainda fazia corpo mole, que queria
desistir por frescura. — Suspirei. — E o que eu podia fazer? Era só
uma criança e quem tinha que me defender, me entender e me
ajudar estava me atacando. — Ele entrelaçou nossos dedos. —
Então cresci com o pensamento de que tudo o que faço por quem
eu amo é o mínimo.
— Ainda pensa assim?
— Às vezes, comecei a trabalhar porque ouvi muito a
conversa de que eu só estudava — ficamos em silêncio por
instantes e Cameron parecia não saber o que falar, então continuei.
— Eu sempre, sempre tirei notas boas e as mais altas da turma, até
da escola. Mas duas semanas antes do meu aniversário teve
reunião dos pais e o professor de geografia disse que eu estava
com uma nota ruim e, sendo a ótima aluna que era, eu facilmente
conseguiria recuperar com uma prova. O professor ainda tentou
aliviar minha situação dizendo que já tinha resolvido com a diretora
e que eu conseguiria.
“Qualquer pessoa via como meus pais eram comigo. Quando
chegamos em casa o que minha mãe disse foi um: vou contar tudo
ao seu pai, eu lembro que chorei implorando para que ela não
falasse pra ele, tinha medo porque ele sempre gritava comigo,
nunca falava numa boa. Ela me fez ir as aulas de piano e colocar
um sorriso no rosto. Quando cheguei em casa e vi meu pai, só
chorei. Eu só queria que alguém me entendesse sabe?”
“Mas tudo o que tive foram os dois contra mim, com os dois
era assim. Minha mãe enchendo a cabeça do meu pai sem me dar
espaço para justificativas e os dois ficavam contra mim. Não estou
falando que eles tinham que ficar um contra o outro, mas queria ser
escutada. Fico feliz por eles terem melhorado”.
Suspirei sentindo lágrimas em meu rosto, acabei rindo de
mim mesma e ele me abraçou beijando minha cabeça.
— Não sabia que doía tanto até começar a falar com alguém
que não fosse terapeuta. — Ele concordou acariciando meu cabelo
e me estendeu a lata de água.
— Quer continuar? — Concordei após tomar um gole.
Seus braços me fizeram ficar ainda mais próxima, ele
depositou suas mãos em minhas pernas e me olhou.
— Fui fazer a prova um dia antes do meu aniversário, meus
pais não podiam entrar comigo na sala, só estava eu, o professor de
geografia e uma coordenadora. Foi quando tive um ataque de
pânico, comecei a chorar de desespero e ficar sem ar, eles acharam
muito estranho já que eu sempre fui inteligente e a prova estava
fácil. Contei a eles que estava com medo de falhar e de cara
entenderam. Com a autorização da coordenadora, o professor
explicou as questões, sem dar respostas claro. Ele corrigiu quando
meus pais entraram na sala e eu gabaritei a prova. No dia seguinte
foi meu aniversário, mas eu estava tão, tão triste por ter ouvido que
não me dedicava o suficiente, que levava a vida na brincadeira e
pela forma agressiva deles que nem queria sair da cama. Mesmo
assim, como teria festa de aniversário com vários convidados, me
forçaram a sair da cama e…
— Parei de falar quando vi um flashback passando diante de
meus olhos.
— Amor? — O olhei.
— Sempre tive unhas grandes, mas por ser muito nova as
cortava porque, em brincadeiras, acabava machucando as outras
crianças. Porém, como era meu aniversário, pedi a mamãe que
deixasse um pouco grande para poder pintá-las. — Ri ao me
lembrar disso. — Antes de descer para a festa, comecei a me
beliscar com as pontas das unhas, achava que sentindo dor física
eu aguentaria a dor que sentia por dentro.
O vi me olhar totalmente sem reação e, mesmo assim, suas
mãos não fraquejaram em minhas pernas.
— Vou entender se não quiser que eu continue, é muita
coisa, sei disso.
Cameron afastou meu cabelo do rosto com delicadeza e
beijou minhas mãos. Ele olhou no fundo dos meus olhos e com
muita calma disse:
— Vou carregar seus pesos comigo, independente do que for.
— Sorri beijando seu ombro e sentindo o calor de seu corpo. —
Você continuou a fazer isso?
— Infelizmente. Continuei a fazer várias coisas e sempre que
sentia que estava cansada, me machucava. Começou com as
beliscadas, depois comecei a arrancar pequenas mechas de meu
cabelo, até chegar ao ponto de nada me doer e eu fazer cortes mais
fundos em mim — disse com a cabeça baixa. — Fui tão fraca,
sabe? Queria ter lidado com tudo.
— Não. — Ele levantou meu queixo. — Você era uma
criança, é claro que isso não faz bem e não é o meio de resolver
seus problemas, mas isso não te faz fraca. Você conseguiu passar
disso amor, você conseguiu — disse apertando levemente minhas
coxas e eu sorri concordando.
— Com treze anos eles descobriram que estava me
automutilando e foi a gota d'água para tudo, meus pais estavam a
ponto de se separar, minha mãe começou a perceber tudo o que
estava ao redor dela, o quanto algumas coisas estavam me fazendo
mal, meu pai estava quase caindo no alcoolismo, Isaac foi
diagnosticado com TDAH, um caos. Foi quando minha avó paterna,
que é umbandista, deu vários conselhos a minha mãe, ela parou
para ouvir e buscou ajuda. Meus pais começaram a passar na
terapia e foi ótimo.
Tomei fôlego, bebi água novamente e voltei a dizer:
— Mesmo com tudo isso, continuei fazendo várias coisas ao
mesmo tempo, queria ser a filha perfeita, não tinha muito tempo pra
fazer amigos e mamãe começou a ficar preocupada, começou a
dizer que precisava fazer amigos e que devia parar de me vestir
como menino, sendo que eram apenas roupas largas e não tinha
nada de errado com aquilo. — Ele franziu o cenho, mas não disse
nada. — Dentre tudo isso eu ainda me machucava porque ainda
tínhamos conflitos e não conseguia falar com os meus pais e nem
queria psicólogo porque sendo criança pra mim eles contariam tudo
para os meus pais, era com uma frequência menor, mas me
machucava. Em um belo dia, fui para a igreja arrumada do jeito que
minha mãe queria e três meninos da igreja chegaram em mim, mas
foi bem tranquilo, sai para comer com eles em dias diferentes para
ver se algum me interessava, mas não rolou.
— Você é a minha prometida — disse rindo e eu o empurrei
pelos ombros.
— Você só não sabia disso — afirmei e ele deu de ombros
—, mas então voltei para as minhas roupas largas, Pollo me levava
para escola e me buscava todo dia porque fui seguida naquela
semana por um homem muito mais velho.
— Seu avô contou sobre o que aconteceu com Pollo, sinto
muito. — Entrelacei nossos dedos novamente, balançando a cabeça
positivamente.
— Ele era incrível, era meu segundo irmão mais velho depois
do meu primo Nicholas, mas não podia ficar muito perto dele, não
depois de ter bebido e fumado tudo o que não podia. — Cameron
ficou totalmente surpreso.
— Você o quê? — questionou confuso.
— É, amor, essa parte só eu, Nicolly e meu pai sabemos, e
agora você. Ainda com quinze anos fui dormir na Nicolly, não
sabíamos que Pollo daria uma festa, quando chegou o pessoal
participamos de tudo. Nicolly sempre quis experimentar tudo o que o
irmão consumia e, não vou mentir, eu também. Nessa festa eu e ela
bebemos tudo o que conseguimos, tudo mesmo, até às bebidas
mais fortes para nós. Usamos maconha e aprendi a fumar narguilé
sem tossir. Depois desse dia ela parou e eu continuei, bebia e
fumava até cigarro com Pollo, tudo escondido, e a cada dia me
afastava mais de Deus. Achava que estava me fazendo bem por ter
parado a automutilação, meus pais não desconfiavam de nada,
conseguia relaxar e esquecer de tudo, mas quando chegava em
casa ficava mal, o efeito de tudo acabava rápido. Me sentia péssima
e só chorava. Continuei me acabando até que Pollo se envolveu
com pessoas nada do bem, ele implorou que eu não fosse com ele,
mesmo assim fui. Pollo fumou tanta coisa que teve uma overdose e
a única pessoa que pensei foi no meu pai. Contei tudo a ele desde o
momento em que comecei com aquilo e depois que Pollo sobreviveu
não quis mais nada. Papai me ouviu em tudo, disse que me ajudaria
a superar e me ajudou. Foi quando ele realmente começou a ser
meu pai.
— Sua mãe nunca desconfiou?
— Na verdade, acho que papai já contou e ela, pela primeira
vez, decidiu não brigar — expliquei sentindo suas carícias.
Ele acabou rindo.
— Não acredito, Rebecca Malik já bebeu até cair — brincou
me fazendo rir.
— Só cai uma vez e foi no seu papinho — brinquei de volta e
ele riu me puxando pela nuca.
— No meu papinho? Quem me golpeou foi você, lutadora —
disse selando nossos lábios, mas logo se afastou.
E eu fiz bico.
— Só um beijinho? — Ele riu do meu pedido e selou nossos
lábios outra vez.
Lhe dei passagem com calma e nosso beijo seguiu um ritmo
lento.
Sentia como se minha alma tivesse totalmente ligada à dele,
não era um beijo levado a provações e desejos, era como se, de
fato, ele sempre fosse estar ali por mim… e eu por ele.
Sorrimos ao finalizar o beijo e meu coração estava tão
acelerado quanto o dele.
— Você sabendo de tudo isso, não muda nada? —
questionei.
— Faz parte da pessoa que eu amo — afirmou olhando nos
meus olhos.
Meu coração disparou ainda mais com suas palavras de
amor.
Sorri, beijando-o novamente, totalmente levada pela
felicidade e, quando nos afastamos, seu sorriso denunciou que ele
estava nas nuvens, mas logo voltou a realidade.
— As pessoas acham que ter fé em Deus significa ser
perfeita, mas estou bem longe disso. A única coisa que tenho
certeza é de que Ele sempre esteve e sempre está comigo.
— Quando que você começou a ficar assim?
— Quando descobri a diabete, tive um encontro enorme com
Ele. — Cameron me olhou esperançoso. — Estava desacreditada
de tudo, principalmente de Deus. Em um hospital, a primeira coisa
que perdi foi a fé, que já estava fraca. Um dia minha glicose subiu
pra HI, tomei várias medicações e, quando minha mãe saiu um
pouco do quarto, eu comecei a falar com Deus. Falei que se Ele
existisse, eu queria ver o mundo espiritual. Nossa, para que que eu
fui pedir aquilo? — Ri de mim mesma e ele riu junto. — Na
madrugada, eu saí do meu corpo e me vi deitada na cama. Vi
certinho a batalha espiritual pela minha vida, quando comecei a ficar
desesperada acordei suando frio porque a diabete tinha abaixado
demais. Cameron, eu via uma luz muito forte e uma escuridão
assustadora lutando. A escuridão tentava entrar na luz e a luz se
mantinha forte a todo custo — disse sentindo uma carga de arrepios
passando pelo meu corpo. — Acordei chorando e meu pai entrou no
quarto na mesma hora, me deram um doce e, depois de comer,
comecei a chorar. Depois daquilo eu decidi que queria estar sempre
com Deus, não por religião, mas pelas experiencias que tive.
Ele sorriu beijando minhas mãos.
— Becca — acariciou meu rosto com as costas da mão —,
sei que existem mais coisas que você precisa me contar e eu quero
saber.
— É, acho que essa parte da minha vida vai te deixar bem…
nervoso.
— Ótimo, agora quero saber mais do que nunca! — disse me
olhando e demonstrando todo o interesse no assunto.
Cameron me olhava atentamente, entrelacei nossos dedos e
beijei sua mão.
— Depois de tudo aquilo que aconteceu, meus pais ficaram
mais ao meu lado. Eu e minha mãe, mesmo com os
desentendimentos, nos tornamos bem amigas. Papai começou a me
defender para quem quer que fosse, é assim até hoje, e fez Isaac
crescer querendo me proteger. Mas… — Senti as palavras se
bagunçando em minha boca.
Era horrível voltar naquilo.
— Amor, respira fundo — pediu. — E com calma solte a
respiração — disse acariciando meus ombros, tentando aliviar a
tensão.
Fiz o que ele pediu.
— Faz de novo — inspirei e expirei — consegue falar? —
Concordei balançando a cabeça.
— Viajamos para Madrid por causa do trabalho do meu pai e
ficamos lá por um ano, foi bom ter acompanhamento médico em um
lugar onde ninguém conhecia minha família. Meu pai ia fechar
negócios com um britânico e sempre foi meu sonho conhecer
Londres, de cara disse que seria meu presente de aniversário de
dezessete anos.
— O que você me vai me contar agora foi há seis meses?
— Sete na verdade — ele ficou pensativo e voltou a me olhar.
— Fui para Londres e conheci vários lugares de lá, estava tão feliz e
realizada que podia jurar que nada estragaria minha noite.
Chegamos para jantar e o filho do empresário foi também, com duas
primas da minha idade — senti meu corpo formigar de incômodo. —
O jantar estava ótimo, fiz amizade com as meninas e o garoto
parecia muito gentil. Nossos pais iam começar a falar de negócios
quando Bronwen deu a ideia de irmos para fora, onde tinha um lago
e sofás para nos sentarmos.
— Turner? — disparou — Bronwen Turner?
— O conhece? — questionei e ele pensou um pouco.
— Só porque ele é filho de um empresário que meu pai não
gosta. Continue minha princesa — pediu.
O olhei me questionando se deveria, mas se não
continuasse, seria pior.
— As meninas ficaram desconfortáveis quando saímos e a
todo momento pareciam querer me proteger. O cara, que é seis ou
sete anos mais velho que eu, pegou em minha mão e disse que
queria conversar comigo, me conhecer. Não aceitei, disse que
queria ficar com as meninas e elas também queriam que eu ficasse.
Ele insistiu novamente e eu fui mesmo sem querer para não fazer
escândalo, mesmo estando com medo, como fiz aulas de
autodefesa imaginei que conseguiria usar ali caso ele tentasse algo.
Nos aproximamos de uma proteção que tinha visão para o lago, por
algum motivo ele olhou as meninas e elas se sentaram ficando de
costas para nós. Já estava com medo antes mesmo dele começar
falar comigo e disse que ficaria com o meu pai. Ele não me deixou ir
e me segurou muito forte, os seguranças dele fingiram que nem
estavam vendo e os seguranças do meu pai estavam com ele, eram
todos colegas até então. Ninguém imaginava que aquilo iria
acontecer.
Senti as lágrimas descerem descontroladamente e mesmo
assim continuei a falar:
— Ele me colocou em sua frente, só que de costas. Eu sabia
o que ia acontecer, sabia que podia correr, mas fiquei tão sem
reação e ele era tão forte que me machucava, fiquei com medo dele
me machucar mais e senti que ninguém me ouviria. — Funguei e as
lágrimas não paravam de escorrer em meu rosto. — Ele ficou se
esfregando em mim sem parar e parecia que tudo ao meu redor
tinha parado, não conseguia me mover; ele tentou subir meu
vestido, então me dei conta do que estava acontecendo, mas ele já
tinha acabado de gozar em mim. — Cameron pareceu ficar tenso
me ouvindo e seus olhos deixavam claro o ódio que ele estava
sentindo. — O empurrei e comecei a gritar. Ele tentou me calar, mas
meu pai chegou na hora, caso contrário ele teria ido além, não sei.
— Parei de falar e meu rosto estava encharcado.
A raiva transpassava o rosto de Cameron, ele me abraçou
forte, me fazendo ficar entre suas pernas. Passamos um bom tempo
daquela forma, ele acariciava meus cabelos e beijava minha
cabeça, mas quando o olhei, seus olhos carregavam chamas de
fúria.
— Sei que está nervoso, mas isso ficou no passado — disse
limpando o rosto.
— Não tem como controlar a raiva que eu estou sentindo
desse desgraçado, nem de qualquer pessoa que te faça mal. Por
favor, termine de contar, quero saber tudo.
— Mas…
— Por favor — pediu apertando levemente minha cintura.
— Consegui dar um soco nele e meu pai fez o resto, bateu
muito nele e quando o pai do Bronwen chegou, os nossos
seguranças o fizeram ver meu pai batendo no garoto. Enquanto
isso, outros seguranças não deixaram os que estavam protegendo
Bronwen se aproximassem e depois fizemos a denúncia, ganhamos
na hora. Meus tios que são desses meios jurídicos só não mataram
Bronwen porque ficaria na cara quem foi. A denúncia, além do
abuso, foi contra agressão física.
— Ele te bateu? — As mãos de Cameron estavam pegando
fogo.
— Ele me apertou demais, fiquei semanas com marcas no
pescoço, nos braços e na cintura. — Limpei o rosto novamente.
Cameron se contorceu e começou a respirar fundo.
— Depois disso dormi com meus pais durante dois meses e
Isaac começou a dormir comigo. Ele só não dorme quando você vai
lá.
— Você não tem noção de como minha mente fica porque
você — ele levantou meu rosto pelo queixo — é a pessoa mais
importante da minha vida. Saber que já te marcaram, que já
encostaram em você sem seu consentimento, que ultrapassaram
seus limites, que abusaram de você, me deixa furioso. Com ódio. —
Ele deslizou os dedos em meu braço, mas era nítido que estava a
ponto de explodir. — Se eu vir esse cara na minha frente, juro que
vou acabar com ele — prometeu.
— É passado, amor — tentei amenizar a situação, mas ele
negou.
— Ouvi falar de um caso dele que abafaram no ano passado
e já fiquei com ódio por ele comprar o delegado, ter conseguido
pagar a fiança e saído com três meses na cadeia. Como ele
conseguiu? Seu pai nunca teria deixado isso acontecer.
— Três meses preso, mas ficou de prisão domiciliar até o
mês passado, ele não pode estar no mesmo lugar que eu, qualquer
policial e segurança tem autorização de tirá-lo caso ele chegue
perto. Mas não o vejo desde o ocorrido e nem pretendo. E todos os
meus meios de pesquisa são bloqueados de ver qualquer coisa
sobre ele. Inclusive computadores da escola. — Ri dando de
ombros. — Jamais pesquisaria qualquer coisa dele, mesmo assim,
papai exigiu isso. Ele já deve estar seguindo a vida dele como
antes, mas a denúncia jamais vai ser retirada.
Cameron ficou pensativo com tudo o que ouviu. Suas
bochechas estavam bem coradas e ele parecia suar.
— Cam… — Ele respirou fundo colocando as mãos em
minha cintura, decidi mudar de assunto. — Também fiz uma
tatuagem em um ponto específico para tampar cicatrizes. — Ele
olhou minha pequena tatuagem.
— Você mudar de assunto não significa que eu não vou
acabar com ele. — Ri dando de ombros e continuei tentando mudar
de assunto.
— Essa foi a da última vez que me machuquei para nunca
mais — ele riu e beijou a cicatriz. — Sei que não é justificativa, mas
é pelo meu antigo relacionamento com os meus pais que nunca
achei que poderia ser protegida.
— Pois agora isso mudou. — Ele sorriu me puxando pela
nuca e selando nossos lábios. — Era por isso que estava chorando
com Natalie?
Neguei, quando ia começar a falar, vi pelo vidro transparente
minha prima Nicolly e Carter passando pelo pessoal que estava na
área da piscina. Cameron seguiu meu olhar.
— Achei que eles chegariam só amanhã — comentou.
Peguei no pulso dele e olhei seu relógio.
— Cameron — ele me olhou —, me beija.
— O quê? Mas…
— Não estou pedindo — o interrompi e ele sorriu.
Seus braços envolveram minha cintura e seus lábios
encontraram os meus intensamente como fogo em uma brasa
ardente.
Seguimos um ritmo lento e eu me impulsionei para frente,
fazendo-o se deitar. Quando o fôlego estava se acabando, desci
meus lábios em seu pescoço, vendo-o suspirar e levantar um pouco
o rosto me dando passagem.
— Eu amo seus lábios — disse ofegante e fraco.
Sorri o olhando e voltei a beijá-lo com calma. Cameron
apertou firmemente minha cintura e subiu a mão em minhas costas,
me puxando para si. Afastei nossos lábios e ele me olhou sorrindo,
mas fechou os olhos respirando fundo.
— Olhe para mim — disse mais firme do que eu esperava e
ele abriu os olhos impressionado —, é meia noite amor — afirmei
com os lábios próximos dos seus.
O ouvi choramingar baixo e engolir em seco.
— Rebecca, assim você acaba comigo — murmurou com a
respiração cortada e eu sorri em vê-lo assim, totalmente em minhas
mãos.
— Essa é a intenção — disse dando leves beijos em sua
bochecha até seu pescoço. — Boa sorte, capitão — sussurrei o
sentindo estremecer e sai de seu colo.
Cameron ficou imóvel, deitado no chão por alguns minutos
enquanto eu me sentei na cama rindo de sua reação.
— A Nini chegou, vamos ir falar com ela — pedi me
levantando e caminhando até a porta.
— Só quando minha alma voltar para o meu corpo —
resmungou e eu me aproximei.
— Anda, Styles, para de frescura — disse rindo e pegando
em suas mãos para que ele se levantasse. — Fala sério, não
acredito que vou te vencer com muita facilidade — provoquei
quando ele se levantou.
— Eu não estava preparado, apenas isso — admitiu.
— Você é fraco, te falta ódio — comecei a rir, ele me olhou
sério. — Estou brincando, estou brincando — disse me afastando,
ele parecia um animal prestes a me atacar enquanto caminhava
para frente e eu para trás. — Cameron... — Quando senti a pilastra
em minhas costas percebi que agora era a vez dele.
— Sabe, Malik, quando me falaram dessa aposta eu pensei
que seria tranquilo e deveria pegar leve — afirmou dando um último
passo para frente ficando extremamente próximo de mim, mas sem
encostar nossos corpos —, mas de tranquila você não tem nada. —
Ele riu colocando as mãos na parede. — Está se descobrindo
agora? — Ele subiu a mão lentamente pelo meu pescoço, o apertou
me fazendo segurar seu braço e puxar a respiração.
As veias estavam saltando e acredito que seu coração esteva
tão acelerado quanto o meu.
— Cameron, eu…
— Shiii — ordenou colando o corpo no meu — fica quentinha
— sussurrou mais como uma ordem, engoli em seco e olhei em
seus olhos que pareciam pegar fogo. — Vou te fazer querer tanto
me beijar que quando implorar até você vai ficar impressionada —
prometeu e sua mão subiu até meu rosto e seu polegar deslizou em
meus lábios me fazendo abri-los um pouco.
Ele me encarou por instantes, ainda deslizando o polegar em
meus lábios, em seu rosto vi um sorriso se abrir, ele me deu um leve
tapinha no rosto e desceu a mão passando novamente em meus
lábios.
— Boa sorte Malik — desejou.
Sorri agarrando o lábio inferior com os dentes para conter o
sorriso e não acreditando que tinha gostado daquilo.
Abaixei o olhar tentando controlar minha respiração e passei
a mão no rosto. Apertei minhas mãos tentando me fazer voltar ao
foco e Cameron levantou meu rosto pelo queixo.
— Você fica linda com essa carinha — disse com um
sorrisinho maroto.
— Que carinha? — questionei confusa. Ele sorriu e me puxou
pela cintura, me fazendo começar a andar com seus braços
envoltos de mim. — Que carinha Cameron? — Perguntei
novamente e senti seus lábios se aproximando de minha orelha.
— De safada — estremeci em seus braços —, fica bem em
você.
De imediato coloquei as mãos no rosto tentando esconder
minha vergonha.
Meu rosto estava queimando, ele riu dando um beijinho em
minha cabeça e me abraçou pelos ombros.
Sentia o sangue fervendo em minhas veias, uma sensação
estranha, porém incrível.
— Amor — o olhei quando saímos do quarto e paramos no
primeiro degrau —, depois desse negócio com o filho do empresário
você não se sente incomodada quando te toco? — Franzi o cenho e
balancei a cabeça negativamente.
— Quando começamos com esse namoro de mentira eu
achei que ficaria desconfortável — me virei de frente para ele e ele
me encostou na proteção da escada —, principalmente porque, para
mim, você iria querer sexo se a gente se beijasse. — Ele me olhou
surpreso. — Mas, não sei, seu toque me faz bem, me deixa nas
nuvens — brinquei. — E agora que te conheço, sei que você não
me olha só pelo físico.
— Por mais lindo que seu corpo seja e me deixe... — ele me
olhou — enfim, foi a segunda coisa que eu olhei. — Ele riu um
pouco tímido. — Não sei explicar a conexão que tenho com você,
mas não foi pelo físico — disse e parou pensando um pouco. —
Apesar de que a conexão física é ótima e sei que vai ficar melhor —
nos olhamos e acabamos rindo.
— Ei, você se sente desconfortável quando te toco? Você
também passou por algo semelhante.
— Quando você me toca eu fico louco, parece que vou
explodir de tão bom que é — afirmou me fazendo corar e ele estava
tão empolgado falando que não percebeu o efeito de suas palavras
—, nunca me senti tão confortável com uma garota.
Sorri afastando uma mecha de seu cabelo.
— Vamos?
— Não — o olhei confusa —, o que Katherine te disse? —
Bufei abaixando a cabeça.
— Disse que não transou com você porque Nathan chegou
bem na hora que ela ia para o ato — disparei segurando suas mãos,
de quentes elas esfriaram rapidamente, ele abaixou o olhar como se
tentasse encaixar alguma coisa e por algum motivo se sentou no
degrau da escada. — Amor? — Me sentei ao seu lado.
— Mas eu lembro dela passando a mão em mim. — O
abracei pela cintura.
— Porque ela fez isso, ainda assim foi abuso, ela não chegou
no ato, mas infelizmente abusou. — Beijei seu ombro. — Você não
quer resolver isso mesmo? — Propus e ele negou.
— Falarei com Nathan quando voltarmos para casa —
explicou e eu apenas concordei, não podia fazer nada já que sabia
de sua decisão.
— Tudo bem — disse após um suspiro.
Ele me olhou por instantes, afastou meu cabelo do rosto e
beijou minha testa.
— Eu prometo te proteger, amor, sempre, até quando você
não quiser. — Sorri beijando seu rosto.
— E eu prometo sempre estar aqui, até quando você não
quiser — afirmei e ele esfregou o nariz em minha bochecha.
Acabei rindo pela vontade de beijá-lo.
— Vou te dar a oportunidade de desistir dessa aposta antes
de perder — disse se levantando e estendeu a mão para mim,
ignorei e me levantei sozinha.
— Você é engraçado — ironizei o vendo fechar a expressão.
— Estou te achando muito convencido para quem nem consegue
disfarçar o quanto está me desejando — sussurrei com os lábios
próximos dos dele.
Ele mordeu o lábio e eu desci as escadas até a porta que
dava para o corredor de quartos.
— Ah, Rebecca — seu tom de voz era convencido, fui
puxada para trás e nossos corpos se colidiram —, você fala assim
porque é mais difícil disfarçar no meu caso — suas mãos apertaram
minha cintura —, mas sei que sente o mesmo porque ouço seu
coração disparado, sua respiração descompassada e vejo suas
bochechas coradas. Eu sei o efeito que causo em você — sussurrou
em meu ouvido.
Tentei controlar minha respiração, mas foi impossível. Sabia
que ele estava com um sorriso estampado no rosto, então evitei o
olhar.
Cameron me puxou, me levando a uma passagem onde as
luzes eram baixas.
— Falei ao meu avô que meu sonho era um quarto com
várias passagens escondidas para sair e entrar, só não sabia que
teria um — disse rindo.
— Eu ainda estou impressionada com tudo isso — afirmei e
ele parou de andar, parei também e logo seu corpo começou a
pressionar o meu.
— Imagina te beijar aqui — disse me olhando e colocando a
mão em minha nuca, o corredor de fato era estreito e perfeito para
um beijo.
— Não, não quero — menti virando meu rosto e ele riu.
— Nem eu — disse dando de ombros e voltando a andar
após eu o empurrar.
— Isso aqui deve ter dado um trabalho enorme para fazer —
comentei quando passamos por uma porta que deu na cozinha, uma
funcionária até se assustou com a nossa chegada repentina e nós
três rimos.
— E deu — Cameron respondeu após cumprimentar os
funcionários e me guiar até a sala de estar. — Eu, meu avô e mais
de quarenta homens trabalhamos aqui durante cinco meses para
ficar tudo do meu jeito.
— Não entendo, vocês terem tanto dinheiro e moram em uma
casa que se comparando a tudo aqui é simples.
— Se eu ficar mostrando que tenho dinheiro é pior. A gente
gosta de viver a vida mais calma — explicou e eu concordei.
Passamos para a ala de piscina e então me liguei sobre o
que Cameron disse.
— Calma. Você e seu avô construíram aqui? — questionei, o
fazendo parar de andar.
— Isso. Ele sempre gostou de trabalhar nessas coisas e eu
fui ajudá-lo, peguei gosto e fizemos parte até da construção daqui.
Acredite, mexer com cimento é bem cansativo, mas é bom.
— Estou imaginando você com uma inchada na mão, deve
ter ficado lindo — ele riu.
— Foi legal, consegui ficar mais forte do que ir à academia
por um ano — afirmou.
Nos sentamos em um sofá um pouco afastados dos demais.
— É inacreditável isso tudo ser seu.
— Meu bisavô deixou o terreno todo, dinheiro e disse que
tudo o que estava no testamento era que eu merecia. Eu e Nat
fomos os únicos bisnetos que cuidaram dele e o visitamos até o
último suspiro. Éramos crianças e nem ligávamos para o dinheiro
dele, papai ensinou que independente dele ter conseguido dinheiro
de forma errada, não podíamos destratar ele. Fora que ele era legal,
pelo menos comigo e minha irmã — ele sorriu. — Para Natalie ele
deixou uma mansão já construída, mas é um pouco longe daqui e
menor. Para os outros bisnetos deixou brinquedos velhos, para os
netos deixou apenas uma casinha e as mansões deixou para o meu
pai — ele gargalhou, tentei ficar séria, mas a risada dele me fez rir.
— Sua família mexe com coisa errada? — questionei em voz
baixa.
— Só meu bisavô paterno e o materno mexiam — arregalei
meus olhos. — Meus avós não quiseram nada dos pais, fizeram as
próprias vidas financeiras e ensinaram meus pais a fazerem as
deles, agora eles nos ensinam.
— Nossa — disse impressionada.
— Eu te odeio — Natalie disparou e eu a olhei sem entender.
— NINI! — Me soltei de Cameron, me levantei e a abracei.
— Oi, minha gostosa — disse dando um tapa na minha
bunda, me soltei dela rindo e me sentei novamente, ela olhou
Cameron. — Vontade de ser eu agora, né Cameron? — Provocou e
ele mostrou o dedo do meio para ela.
Rimos quando eu abaixei a mão dele, em seguida olhei
Natalie.
— Por que me odeia? — Ela bufou, me entregando um copo
com Coca-Cola.
— Você nunca me contou que sabe dançar pole dance —
disparou e eu comecei a tossir por ter me engasgado com a coca.
— Nicolly, eu vou te matar — ela riu correndo até chegar em
Carter, que estava conversando com Elliot, e Cameron apertou
minha cintura com firmeza. — Natalie, por que você é assim? — Ela
gargalhou — Não podia ter falado em um momento só eu e você?
— Cameron ia saber de qualquer forma — disse
naturalmente e saiu andando até Elliot rindo da minha cara.
Sabia que estava vermelha ou até roxa de vergonha.
— Vai dançar para mim? — Ouvi Cameron questionar e seus
lábios beijaram meu ombro. Quando olhei, ele estava com um
sorriso safado no rosto.
— Não me olha assim — pedi.
— Por que você sabe dançar isso? — questionou curioso.
— Não sei dançar muito bem, aprendi pouquíssimo. Minha
mãe sempre amou dança e fez aulas com uma professora muito
legal. Comecei a ir a algumas aulas com ela no ano passado, a
professora fez uma aula só com a gente, quando vi a barra de pole
dance comentei que achava muito legal quem sabia dançar. Ela
questionou se eu queria aprender. Acabei gostando e praticando
algumas vezes, quatro no máximo, mas não sei nem um terço.
— Só acredito vendo — Cameron disparou me fazendo
esconder o rosto em minhas mãos e rir.
— Gostaria de dizer que a partir de agora vocês estão sob os
olhares de todos e, se rolar um selinho se quer, vamos saber —
Calleb disse fazendo eu e Cameron abrirmos espaço para ele se
sentar. — Posso ficar com a minha amiga? Você já ficou com ela por
mais de três horas.
— Não — Cameron disse tão sério que até eu acreditei, mas
quando sorriu se levantando, Calleb suspirou aliviado. — Cuide
dela. — Ele beijou minha testa.
— Sempre — Calleb disse e se virou para mim. — Você
contou para ele que a gente falou sobre como vai ser a primeira vez
de vocês?
— Calleb, ele está aqui ainda — disse o olhando e ouvi
Cameron rir.
— E o que tem? — Calleb questionou.
— Preciso de novos amigos — disparei rindo.
— Eu gosto desses — Cameron disse se afastando aos risos.
— Oi — Nicolly disse como uma criança me olhando, em
seguida olhou Calleb. — Oi, sou Nicolly — ela se sentou ao meu
lado e Natalie se aproximou.
— Oi, sou Calleb — disse no mesmo tom e ambos sorriram
um para o outro.
— Me diga, Calleb, de onde tiraram a ideia de apostar o beijo
do casal?
Calleb explicou o motivo da aposta, para, no fim, perguntar a
Nicolly:
— O que você acha disso?
— Como prima da Rebecca eu diria que ela é bem resistente,
mas meu noivo e eu concordamos que ninguém vai ganhar nem
perder, os dois vão perder — Calleb se engasgou com a bebida
quando começou a gargalhar.
— Vou ir ver Luce — Calleb avisou ao ver a amiga enchendo
o copo de bebida e saiu.
— Estou pensando em ir para a cachoeira antes de todos
irem amanhã — comentei.
— Posso ir junto? — Natalie questionou.
— Claro, ia convidar agora.
— Maravilha, estou precisando mesmo — Nicolly disse. —
Então você comprou biquínis iguais para gente. — Ela olhou Natalie.
— Sim, é azul claro — respondeu animada.
Ri dando de ombros enquanto elas conversavam. Meu olhar
encontrou Peter, o vi sozinho olhando o copo com bebida alcoólica
como se não quisesse tomar, mas que não via outra alternativa.
Aquilo me deixou triste, ele era sempre tão animado, sempre com
tanta gente ao redor, se importava com todo mundo, mas agora que
parecia precisar de uma companhia, estava sozinho.
— Já venho — avisei.
Caminhei na direção de Peter, mas antes que eu chegasse
até ele, Lana me parou.
— Vai falar com Peter? — indagou parecendo um pouco
nervosa.
— Vou sim — ela soltou a respiração, checou se não tinha
ninguém perto de nós e se achegou como se fosse me contar um
segredo.
— Acha que faço o tipo dele? — A olhei desapontada.
— De verdade? — Ela abaixou o olhar e o levantou
concordando. — Com certeza — sorri e ela abriu um sorriso de
orelha a orelha.
— Pode me ajudar com ele?
— Claro, já estava indo falar com ele mesmo. Me dá um
tempinho e aí falo sobre você — ela concordou me abraçando com
rapidez. — Lana? — A chamei antes que saísse. — Não sei se
tenho direito, mas posso te perguntar qual foi sua relação com
Cameron? — Questionei receosa e ela me olhou surpresa.
— Sexo triste — admitiu e rimos. — Fui amiga até Alice
entrar na vida dele, éramos dois nerds que amavam videogame. Em
um belo dia bebemos juntos, ele tinha terminado com Alice, eu com
meu ex-namorado e aconteceu. Foi para esquecermos o quanto
estávamos mal e acabamos ficando pior porque, depois do prazer, a
gente ficou muito mal por um ter usado o outro. Se quer saber, a
gente se arrepende por isso porque ele foi filho da puta de não ter
me contado a verdade e eu fui filha da puta pelo mesmo motivo.
— E por isso não se falam mais? — Ela negou.
— Nossa amizade já estava diferente bem antes, rumos
diferentes, pensamentos diferentes e cada um foi para o seu lado.
Sem remorso, sem mágoa, só seguimos. — Balancei a cabeça,
concordando, e ela apertou meu ombro. — Imagino que se
preocupe com essa área da vida de vocês, mas cara, Cameron está
leve, parece até o garoto que conheci antes da vaca da Alice e de
Melissa entrarem na vida dele. Está na cara dele, você vale muito
mais que qualquer relacionamento físico e sexual que ele já teve.
Estou muito feliz por vocês, de verdade. — Ela me abraçou
novamente.
— Obrigada por ser sincera comigo — sorrimos.
Estava para ir até Peter quando Cameron se aproximou dele.
Parei no caminho, e quando decidi que voltaria com as meninas, ele
me chamou.
— Pode vir, amor — disse sorrindo.
Ri envergonhada e me aproximei.
— Vocês pensam conectados? — Peter questionou rindo.
— Não, a gente só sonha conectado — Cameron se sentou
de um lado dele e eu de frente para ele.
— Sério? — Peter pareceu surpreso e concordamos rindo.
Ele riu fraco e voltou a encarar o copo de bebida.
— O que está acontecendo? — questionei entrelaçando
meus dedos com os de Cameron.
Peter pensou um pouco, mas parecia perdido nos próprios
pensamentos.
— Não sou forte que nem você, capitã — eu e Cameron nos
olhamos e voltamos a atenção a Peter. — Fico me perguntando se
vou conseguir viver como uma pessoa normal por ser diabético —
admitiu.
Senti incomodo o ouvindo, sabia o quanto era horrível aquele
tipo de pensamento, mas me mantive neutra. Cameron demonstrou
que me entendia quando apertou minha mão e deixamos que Peter
continuasse a desabafar:
— Sou um desastre, meus pais me odeiam, meus amigos
estão cada vez mais afastados e não passo de um drogado de
merda — quando ele ia levar o copo até a boca, Cameron segurou
seu braço.
— Sei que você quer esquecer tudo isso, que acha que é o
melhor caminho, mas não é — Cameron disse e foi o suficiente para
Peter começar a chorar.
Cameron o abraçou e fiquei impressionada com a forma que
eles não se incomodaram. Alguns meninos pareciam ter receio com
contato físico.
Segurei as mãos de Peter e ele me olhou.
— Uma coisa de cada vez, ok? — Ele concordou quando
limpei as lágrimas de seu rosto com as mangas da blusa. — Bebida
não faz bem para a diabete, assim como Coca-Cola não faz. A
diferença entre essa bebida e a Coca é que a Coca não me faz
esquecer o que fiz no dia seguinte. — Peter riu. — Sei que faz mal e
estou tomando em quantidade menor, consigo viver normalmente,
Pê.
— Mas no seu caso você bebe pra esquecer os problemas e
não só porque gosta — Cameron disparou e Peter o olhou. — Sabe
que o problema com seus pais é por conta de eles acharem que
você os odeia por terem se separado. Seu pai sempre quis falar
com você sobre tudo e você não dá abertura. Não pode colocar a
culpa em ninguém por achar que sua vida está ruim já que não
procura melhorar — disse com firmeza.
— Mas cara, eu chego na casa deles e eles ficam tensos.
— Já experimentou falar com eles? Falar um “oi, tudo bem?”,
não vai te matar, Peter. Problemas com os pais eu, Becca e todo
mundo tem, mas ficar voltando no passado e justificando seus
problemas em uma coisa que você não quer resolver vai dar em
nada. Ainda vai piorar se você ficar tentando esquecer tudo com
bebidas — Cameron disse, eu simplesmente estava os ouvindo e
eles me olharam.
— Sei que quer falar algo — Peter disse.
— Seus pais brigam muito com você?
— Pelas notas e bebidas sim — disse desanimado.
— E você acha que se falar a verdade, que tem problemas
com drogas, bebidas e as notas eles vão te julgar e brigar com
você? — questionei o vendo ficar pensativo.
— Não. Quer dizer, mesmo separados, se eu precisar
conversar com os dois no mesmo lugar eles vão — explicou —, mas
a sensação de que vou decepcioná-los é horrível.
— E eles não ficarão decepcionados se descobrirem tudo por
outras pessoas e não por você? — perguntei e ele abaixou o olhar.
Um segurança se aproximou de Cameron, ele se levantou e,
após ouvir o que o homem tinha a dizer, me olhou.
— Dois meninos da natação brigaram, vou resolver — disse
calmamente e beijou minha testa.
— Vocês se completam — Peter disse, me fazendo voltar a
atenção a ele.
— Como assim?
— Vocês são bem diretos, mas Cameron é um pouco mais…
bruto com as palavras. Já você é mais tranquila, bate que a gente
nem percebe. — Ri concordando. — E com você ele é todo
calminho.
— Equilíbrio — brinquei o vendo rir. — Me diz, Pê, o que te
falta para falar com seus pais?
Ele me olhou por segundos.
— Acho que uma atitude minha — disse após um tempo em
silêncio.
— Vai falar com eles? — Ele concordou. — Sabe que, se
precisar, estamos aqui, Cameron tem esse jeito dele, mas ele se
importa com você também. Bebidas não é o problema, mas se você
sempre beber para esquecer tudo, pode acabar se viciando e sabe
que alcoolismo é uma doença que leva a morte. — Ele concordou
mais uma vez.
— Obrigado, de verdade. — Sorri o abraçando.
— Lana faz seu tipo, não faz? — questionei e ele me olhou
confuso.
— A Collins? — Concordei e ele a olhou, o sorrisinho em seu
rosto o entregou.
— LANA — a chamei virando o rosto e ela me olhou.
— Que porra você está fazendo, capitã? — Peter questionou
assustado. — Desculpa pelo palavrão. — Ri o olhando e me levantei
quando Lana se aproximou.
— Então, você faz o tipo dele. — Ela me olhou com os olhos
arregalados e suas bochechas coraram de imediato.
— Você perguntou isso para ele? Assim? — questionou baixo
e com a voz falhada.
— Sim, por quê?
— Você não é nem um pouco discreta mesmo, pior que a
Natalie. — Ela riu de nervosismo.
— Tchau, casal — me despedi saindo.
Entrei na casa pela sala de estar e caminhei até a cozinha,
mas não entrei. Me escondi atrás das escadas após ouvir vozes
conhecidas:
— Sempre foi ela, não foi? — Uma garota choramingou.
Cameron e a funcionária de cabelos ruivos estavam
conversando.
— Sim, Jessie, sempre foi ela — disse a olhando e cruzando
os braços. — Mais alguma coisa? — indagou rispidamente.
— Eu... eu... você nunca vem para cá, achei que dessa vez a
gente… — ela começou a chorar e Cameron se manteve a olhando.
— Amanhã cedo arrume suas coisas. Vou te dar duas
opções: ir para a casa de meus avós paternos na Noruega onde
você pode estudar e ficar com a sua família ou para Londres com
meus avós maternos. Assim que se decidir, pode informar a Natalie
que ela vai resolver tudo amanhã mesmo.
— Não quero ir embora daqui, não quero ficar longe de você
— a garota se aproximou e ele deu um passo para trás.
— Jessie, não vou prolongar seu sofrimento. Depois do que
aconteceu entre você e Jeremy prometi que não te deixaria em
qualquer lugar e não vou, mas aqui você não pode ficar. Quando me
casar com Rebecca vai ser pior para você me ver todos os dias com
a garota que amo. E vou contar tudo a ela, sei que ela vai ficar
desconfortável e não quero isso para a minha garota. — Jessie
chorou ainda mais. — Sinto muito, meu coração já pertence a outra
pessoa.
— Ela não precisa saber da história — disse em meio a
soluços. — E se souber, talvez não fique incomodada, você a ama.
— Ele balançou a cabeça negativamente.
— Jessie, tem um garoto com quem Rebecca trabalha e eu
fico extremamente incomodado com isso. Não por ela ter
sentimentos por ele, mas sim por eu saber o que ele sente. Como é
trabalho dela, não me envolvi, mas aqui na minha casa posso muito
bem evitar que ela se sinta incomodada e tudo o que eu puder fazer
para que ela se sinta bem, vou fazer.
Senti um tapa na minha cara. Cameron nunca abriu espaço
nem para amizades com outras garotas que tinham sentimentos por
ele e eu simplesmente não me incomodei em trabalhar com Andrew
mesmo ele gostando de mim. Precisei ouvi-lo para me dar conta de
que isso o incomodava.
— Estou aqui há dois anos e você simplesmente vai me
chutar assim? — questionou fungando.
— Não estou te chutando. Você tem duas opções ótimas para
seguir sua vida, mas não quero estar incluso em nenhuma delas.
Não haja como se eu estivesse escolhendo entre você e ela, porque
é ela. Não tem espaço para opções ou escolhas, sempre vai ser ela.
Pare de prolongar essa dor, Jessie, você não merece isso. Por
favor, amanhã cedo deixe suas coisas arrumadas, o que decidir,
faremos — disse friamente.
Me recostei na parede, assimilando tudo o que ouvi.
Nunca tive sentimentos por Andrew de forma amorosa e
mesmo assim não o deixei livre como Cameron fez com Jessie.
Ela passou por mim e me olhou assustada, mas sua
expressão relaxou. Jessie, com o rosto molhado pelas lágrimas,
olhou em meus olhos.
— Me desculpa pelo que a senhorita ouviu. — Seus olhos
emitiam sinceridade. — Cuida dele, por favor. — Apenas balancei a
cabeça concordando.
Ela respirou fundo e subiu as escadas.
Cameron me olhou preocupado assim que me encontrou,
ainda parada e contra a parede.
— Você ouviu?
— Não sabia como você se sentia com Andrew até sentir o
mesmo com as garotas. Você as afastou por conta do sentimento
delas, mesmo que Andrew não faça nada, não se joga para mim
como as meninas fazem com você, percebi o quanto é
desconcertante te ver com alguém que gosta de você. Você a
libertou, Cam.
— O que está querendo dizer com isso? — questionou, se
aproximando mais e envolveu os braços em minha cintura.
— Que preciso ser honesta com Andrew e o deixar livre
também. Aceitei a proposta do trabalho por conta da liberdade e
saber que não seria vista mais como a pessoa que só estuda, mas,
talvez, ele não veja assim e eu sei dos sentimentos dele, não quero
alimentar nada — expliquei, vendo-o sorrir. — Me desculpa não ter
percebido isso antes, fui burra.
— Você não é burra, um pouquinho desapercebida para
algumas coisas, mas burra não — disse beijando minha bochecha.
— Tá me chamando de lerda? — Ele riu.
— Demorou uma vida para perceber que eu te queria —
respondeu me olhando sem parar de rir.
— Tinha medo — expliquei. — Claro que tinha percebido
você babando por mim, mas sempre ficava me convencendo de que
não porque assim, Cameron, você estava sempre com uma garota
diferente, se eu me deixasse ficar apaixonada sabia que ia sofrer.
Bom, eu achava isso.
— Pensava isso até depois do namoro falso? — Balancei a
cabeça positivamente.
— Você me deixou pensando que quando saía nos fins de
semana era para festas e ficar com outras pessoas. Quem me
contou que você tinha sossegado foi Elliot.
— Não queria dar o braço a torcer. Logo eu apaixonado por
você! — Rimos.
— É, nem eu queria admitir. Logo eu apaixonada pelo
quarterback que se acha. — Fiz uma careta.
— Eu me acho porque posso — disparou, revirei os olhos
rindo e desviando o olhar dele, mas ele me segurou pelo pescoço
me fazendo o olhar. — Não revira os olhos para mim.
— Isso te irrita, capitão? — questionei, passando a língua nos
lábios e sorrindo sem mostrar os dentes.
Ele sorriu maliciosamente.
— Não é por isso não — afirmou, me encarando e passou a
língua nos dentes, em seguida fingiu que ia me beijar.
— Beija — disse roçando meu nariz no dele —, é só beijar.
— NICOLLY E NATALIE VENHAM AQUI. — Ouvi Calleb
gritar e tapei o rosto, me encostando no ombro de Cameron
enquanto riamos.
— Eles não vão aguentar — Nicolly disse.
— Eu avisei — Carter disse com ar convencido.
Eu e Cameron nos sentamos no sofá da sala de estar onde
estávamos sob a "supervisão" de Natalie e Elliot. Cameron disse
que esperaria todos irem dormir para poder dormir.
Elliot estava extremamente tenso por conta de Cameron estar
o tempo todo os observando, mesmo que a distância entre nós
fosse grande.
— Para de olhar para eles — pedi, acariciando seu rosto e o
fazendo me olhar. — Você deixa Elliot desconfortável.
— Elliot desconfortável? Ele está pegando minha irmã! —
disparou.
— Pegando? — questionei seriamente.
— Beijando, falei errado, desculpa — corrigiu, achei graça.
— Eles namoram, baby, para de ser ciumento com ela —
pedi e ele negou.
— Quem namora somos eu e você, eles não assumiram
nada.
— O nosso assumido é falso — retruquei e ele me olhou
pensativo. — Enfim, Jessie é a garota que você falou que Jeremy
tentou pegar a força? — Ele concordou balançando a cabeça e me
olhou.
— Decidi que o lugar mais seguro para ela seria aqui, depois
de construirmos tudo a trouxe para cá. Só queria que ela se sentisse
confortável em algum lugar e ela disse que se sentia assim comigo.
Natalie entendeu o interesse dela em mim e me avisou, mas na
época não me importei.
— É estranho — pensei alto.
— O quê? — Coloquei minhas pernas em seu colo e ele
começou a acariciá-las.
— Ela escolher se guardar para alguém que, na época, ficava
com muita gente — comentei —, se eu tivesse conhecido essa
versão sua, não estaria aqui. Quer dizer, você parou de ficar com
outras pessoas quando começamos o namoro falso.
— Jamais desejaria que você me conhecesse no ano
passado — alegou beijando minhas mãos —, mas acho que talvez
teria sido ajudado antes.
— Há um tempo para tudo, não estávamos preparados para
nada do que estamos vivendo agora — ele sorriu concordando.
— Boa noite, casais — Isabel, uma das líderes de torcida,
disse enrolado e sendo carregada Amber.
— Boa noite — dissemos rindo.
— Deve ser superchato para você ter toda hora alguma
garota diferente, não? — reclamei, quando me lembrei de Amber
dizendo que era difícil não se apaixonar por Cameron, e ele riu, me
puxando com a mão em meu pescoço.
— Estou sentindo um leve ciúme em suas palavras — disse
beijando lentamente meu pescoço.
Mordi o lábio inferior rindo e fechando os olhos enquanto
sentia seus lábios trilharem até minha orelha.
— Mas já disse que sou todo seu — sussurrou em meu
ouvido.
— Sei disso, não tenho dúvidas — afirmei o olhando.
Nossos lábios estavam tão próximos que ele respirou fundo
fechando os olhos, mas não se afastou.
— Ei, olha para mim — pedi beijando sua bochecha até
próximo de sua boca e senti suas mãos apertarem minha cintura,
me fazendo arfar.
— Senhor Cameron — olhamos o segurança, estava pronta
para me afastar de Cameron, mas ele não deixou —, todos já
entraram e estão em seus devidos quartos — avisou.
— Obrigado, Sean — agradeceu, o segurança de retirou e
ele me olhou. — Vou ir dormir com você.
— Não vai — rebati e ele deu de ombros.
— Por favor — resmungou como uma criança.
— Dá para colocar colchões no quarto, tem espaço — Natalie
disse se aproximando de nós —, mas amanhã vamos ir para a
cachoeira mais cedo.
Cameron me olhou e Natalie saiu puxando Elliot para subir as
escadas.
Subimos as escadas e ele avisou que passaria em seu quarto
antes de ir para o de Natalie. Três garotas passaram no corredor e
não notaram que eu estava na porta do quarto.
— Agora você entende o motivo de todas as mães quererem
que suas filhas fiquem ou até se casem com Cameron? Ouvi dizer
que a mãe de Karen até queria que ela desse um golpe da barriga
nele — disse Elise.
— Minha mãe sempre disse que ele é um rapaz muito bom e
rico, que seria ótimo eu ter algo com ele, pois sua família tem
grande influência em qualquer lugar, fora que ele é um gostoso! Mas
não consegui nada além de um selinho em uma festa e ele nem
deve se lembrar — disse Kristen e eu fiz uma careta
involuntariamente.
— Que Deus me perdoe, mas eu torço para que esse
relacionamento dele com a representante acabe logo. Preciso de
pelo menos uma noite com esse garoto e nem é por causa de golpe
do baú, é simplesmente por ser ele — Paloma disparou e as
meninas riram.
— Quando Cameron terminar com a nerd, vamos revezar —
Kristen disse e Elise pareceu desconfortável ouvindo aquilo, mas
não rebateu nada. — Além de ser gostoso tem muito dinheiro e
deve ser ótimo na cama, o único defeito é a namorada.
Entrei no quarto de Natalie, batendo a porta com força.
Me sentia irritada, nervosa, incomodada e ao ponto de gritar.
Natalie saiu do banheiro correndo e me olhou, estava tirando a
maquiagem do rosto.
— O que aconteceu? — questionou preocupada e se
aproximando de mim.
Nicolly apareceu logo em seguida.
— Essas garotas da escola são muito sem noção! Elas
querem dividir o Cameron, disseram que não veem a hora do nosso
namoro acabar, que eu sou o único defeito que ele tem! Elas são
tão, tão nojentas, o tratam como prêmio, que ódio! — disparei
furiosa enquanto andava de um lado para o outro.
Respirei fundo e, mesmo sentindo meu corpo todo tenso,
tentei me acalmar.
— Desculpa — disse olhando as duas e elas me abraçaram.
— Não se desculpe, sei o quanto isso é horrível — Natalie
me confortou.
— Mas se quiser bater nelas, estou dentro — Nicolly disparou
com seu jeito marrento.
— Não, tudo bem, passou — afirmei. — Me empresta um
pijama? — pedi a Natalie.
— Mas todo mundo vai te ver de biquíni amanhã — Natalie
comentou, entrando no banheiro com um pijama azul escuro.
— Isso não me conforta — ri pegando o pijama.
— Nanat, é impossível convencer essa garota — Nicolly
disse enquanto tirava a maquiagem se olhando no espelho.
— Ela sabe e mesmo assim tenta — rebati e Natalie me
mostrou a língua.
Depois de trocar minhas roupas, sai do banheiro e me sentei
no colchão que Natalie disse ser meu. O quarto dela não era
enorme como o de Cameron, mas era um dos maiores daqui.
Parecia um quarto de princesa e era a cara dela. As paredes eram
lilás, os móveis roxos escuro, tinham manequins com vestidos,
chapéus e acessórios, e um closet.
Me espreguicei e me deitei, ficamos conversando um pouco
sobre a nossa noite até eu anunciar:
— Vou ir dormir gente, boa noite.
— Boa noite — as duas disseram juntas.
Mandei mensagem para os meus pais e Isaac desejando boa
noite. Meu corpo se entregou ao descanso, mas minha mente parou
após ouvir Cameron chegando.
Seus dedos começaram a acariciar meu rosto suavemente,
queria abrir os olhos e vê-lo, mas estava tão vencida pelo cansaço
que meu corpo não estava me obedecendo. Me sentia tão em paz,
tranquila e protegida que poderia ficar ali para sempre.
Ouvi as vagas conversas do pessoal, Carter riu dizendo que
nunca tinha visto Cameron tão entregue a alguém e Elliot disse que
ele nunca tinha se permitido. Consegui escutar sua oração baixinha
em meu ouvido, como se fosse uma coisa só minha e dele e foi
após isso que consegui adormecer em seus braços.
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 08:12.
Depois de colocar meu biquíni e um conjunto de saia e
cropped cujo as alças eram caídas em meus braços, sai do banheiro
sem fazer muito barulho. Natalie, Elliot e Cameron não estavam no
quarto. Tomei minha medicação e desci as escadas.
— Bom dia senhorita, não sabíamos que iria acordar tão
cedo, mas Natalie nos avisou e fizemos uma entrada antes do café
da manhã — Maya disse mostrando uma tigela com pedaços de
melão em cima de uma bandeja e suas mãos tremiam um pouco.
— Se acalme, Maya. Matilde disse que ela é tranquila —
disse uma garota de cabelos pretos. — Olá, senhorita Rebecca, me
chamo Evelyn.
— Olá. Podem não me chamar de senhorita? Apenas quando
estiverem na frente dos outros — pedi pegando a tigela. — Muito
obrigada, Maya.
— De-de nada senhorita — disse tímida, o que me fez rir.
— Desculpe-nos, Cameron nunca trouxe uma garota na qual
pediu prioridade quanto ao seu conforto e tudo o que precisar. Não
queremos invadir seu espaço, mas a queremos muito bem — disse
Evelyn.
— Tudo bem — disse agradecida e peguei um melão com o
garfo levando até a boca. — Está ótimo para mim. Viram Cameron?
— O vi subindo para o quarto mais cedo — Maya disse.
— E Natalie?
As duas garotas se olharam apreensivas e observaram a
janela da cozinha. Caminhei até ela onde era possível ver Elliot e
Natalie conversando com Jessie e um segurança. A garota não
parava de chorar e Natalie chorava com ela.
— Sinto muito pela amiga de vocês irem embora — disse as
olhando e elas franziram o cenho.
— Nós não sentimos — afirmou Evelyn e Maya riu
concordando.
— Ela é incrível, a amamos, mas sempre soubemos que o
que a prendia aqui era Cameron. Jessie precisava ir embora, o amor
dela era muito sofrido por não ser correspondido e ela criava
expectativas por qualquer coisa dita por ele — Maya explicou.
— Expectativas?
— Sim — iniciou Evelyn. — Uma vez Cameron nos chamou
para dar uma volta pela área, até meus irmãos gêmeos de três anos
foram e ele quem cuidou deles, fez questão disso — ela sorriu com
graciosidade, não parecia apaixonada enquanto falava, mas a
admiração era notória — e Jessie ficou a semana toda falando que
ele fez aquilo porque queria ficar próximo dela, mas ele ficou apenas
com os meninos e nem falou com ela direito.
— Ela criava toda uma história em sua cabeça e alimentava o
tempo todo. Nunca se jogou para ele, mas passava mais tempo
chorando por querê-lo e não o ter, do que sorrindo e vivendo sua
própria vida. Jessie estava sofrendo e tudo bem, quem nunca
sofreu? — disse Maya relaxando os ombros. — Vai ficar bem melhor
estando com a família.
— A família dela trabalha para os avós de Cameron. Não
sinta muito, está tudo bem — Evelyn disse apertando meu ombro
me confortando.
Natalie entrou antes que pudéssemos conversar mais.
— Bom dia, docinho — disse beijando meu rosto. — Vou me
arrumar rapidinho e já venho. Vamos tomar café por lá, ok?
— Ok. Aproveita e chama a Nini, ela estava dormindo quando
desci — avisei e ela concordou, saindo da cozinha.
Ela trombou com Cameron na entrada. Senti meu estômago
se encher de borboletas e minhas mãos suaram.
— Olha por onde anda, otário — Natalie xingou e ele bateu
na testa dela com dois dedos, como Itachi fazia em Sasuke.
— Desculpa, daqui de cima não te vi — rebateu.
Acabei rindo, Natalie era pouca coisa menor que eu e ele
insistia em irritá-la com isso.
Ela deu um tapa em seu ombro e sumiu após passar da
porta. Maya e Evelyn se arrumaram rapidamente na entrada uma ao
lado da outra com uma enorme formalidade.
— Bom dia — Cameron disse, olhando as garotas.
Estava com uma camisa preta um pouco justa que ficou linda
em seu corpo, um short azul escuro e os cabelos molhados e
bagunçados.
— Bom dia — as meninas disseram juntas e ele me olhou
passando a mão nos cabelos, os jogando para trás.
Percebi o olhar delas percorrendo o corpo dele e ambas
coraram, abaixando a cabeça.
— Podem preparar a mesa do café, por favor? — Pediu, mas
seus olhos estavam focados em mim.
Voltei a comer os pedaços de melão que estavam na tigela.
As meninas saíram após sua ordem e ele caminhou graciosamente
até mim.
— Bom dia minha princesa — disse me olhando e afastando
uma mecha de cabelo de meu rosto.
— Bom dia, amor. — Beijei seu rosto. — Esse melão está
ótimo — elogiei.
— Deixa eu experimentar. — O olhei sorrindo.
— Só pegar — desafiei levando um pedaço até a boca.
Ele olhou minha boca e mordeu os lábios, suas mãos
apertaram minha cintura enquanto respirava fundo. Mordi o melão e
sorri sarcasticamente.
— Esperava mais de você, capitão — provoquei colocando a
tigela na bancada.
Estava pronta para me afastar quando ele me pressionou
contra a geladeira.
— Esperava mais de mim? — questionou subindo a mão pela
alça do biquíni e a desceu pelos meus ombros. — Mas eu nem
comecei ainda — sussurrou colocando a mão na geladeira e
beijando meu ombro.
Deslizei as unhas nas laterais de suas costas até sua lombar
e ele estremeceu por inteiro, arfando próximo de meu ouvido. Ouvir
sua respiração ofegante me deixou arrepiada.
Seus olhos encontraram os meus e ficamos nos encarando
por instantes enquanto sua mão subia em minha nuca. Por
instantes, esqueci o motivo de não termos nos beijado ainda e ele
parecia ter se esquecido também.
Apertei sua cintura o puxando para mais perto, ele sorriu me
olhando e puxando meu cabelo, me fazendo inclinar a cabeça. Senti
sua mão desocupada puxando minha perna esquerda até a altura
de sua cintura e a apertando com firmeza. Seus olhos não
desviavam dos meus por nada. Quando arranhei suas costas, ele
inspirou e puxou meu cabelo com mais força, pronto para selar
nossos lábios.
— Prima, vam… misericórdia. — Ouvi a voz de Nicolly.
Cameron bufou e soltou cuidadosamente minha perna
enquanto seus olhos continuavam me encarando.
— A gente termina isso depois — afirmou acariciando meu
rosto e arrumou a alça do meu biquíni em seu devido lugar.
— Estou ansiosa para isso — rebati passando os dedos em
sua corrente de Konoha e ele sorriu. — Preciso ir. — Beijei próximo
do canto de sua boca.
Estava louca para selar nossos lábios e ele também, pois
ficou me olhando por instantes.
— Te vejo já, Malik — disse com os olhos semicerrados
enquanto me soltava lentamente.
Sorri o olhando de cima abaixo e sai da cozinha antes que
acabasse com a aposta. Meu corpo estava fervendo e nem vi
quando Nicolly saiu da cozinha.
— Estão te aguardando na ala de piscinas — Maya avisou,
entregando-me minha bolsa.
— Obrigada, Maya — a agradeci com um sorriso nos lábios.
Natalie nos trouxe a um jardim enorme e lindo. Mais à frente
havia plantações, árvores frutíferas e uma reserva de morangueira.
Pelo que entendi, eles vendiam tudo o que plantavam, como frutas,
verduras e legumes, mas os principais eram os morangos.
Depois de comermos, oramos e conversamos sobre tudo, os
namoros, as dificuldades que temos em nossas vidas, nossa
intimidade com Deus, nossos relacionamentos, nossos objetivos e
essas coisas. Queria compartilhar sobre meu maior medo que era o
projeto inteligência de Stanford e de como tudo isso implicaria na
minha vida com Cameron, mas não queria pensar nisso agora.
Grande parte da minha oração silenciosa foi chorando e
falando sobre o quanto estava com medo, o quanto aquilo era
apavorante, e por incrível que parecesse apenas uma paz enorme
tomando conta de mim, talvez porque eu finalmente tinha
desabafado, mesmo que em silêncio, sabia que tinha alguém me
ouvindo.
— Nini, está precisando conversar? — questionei, pegando
em sua mão.
Ela chorou antes mesmo de começarmos a orar.
— Não, é que fazia muito tempo que eu não tinha um
momento assim — explicou limpando o rosto. — Obrigada, mesmo.
— Ela me olhou e em seguida olhou Natalie.
— Eu amei esse momento com vocês — disse Natalie
animada e sorrimos nos abraçando.
— Eu também. Esse lugar é lindo — admirei —, e as frutas
daqui parecem ser uma delícia — afirmei e Natalie riu.
— Você já comeu as frutas daqui — a olhei confusa. — Bem
no começo do ano quando Cameron trocou sua coca cola por uma
salada de frutas, lembra? Então, foram as frutas daqui. O próprio
Cameron que fez sua salada de frutas.
Um balão de felicidade cresceu dentro de mim e eu sorri
sozinha.
Ele, sempre foi ele.
Não tinha palavras que pudessem expressar o que estava
sentindo, jurava que tinha sido Natalie, mas não fazia o tipo dela
mexer com comida, assim como eu também não gostava.
— Um fofo mesmo — Nicolly disse enquanto eu estava
perdida em meus pensamentos.
— Gente — me virei na direção da voz vendo Lana —, as
meninas estão indo para a cachoeira agora, o Pê falou que os
meninos vão assim que terminar de jogar futebol — sorri ao ouvi-la
—, vocês vão com a gente?
— Pê? — questionei olhando Lana que ficou com as
bochechas rosadas.
Natalie se levantou em um pulo e começou a bater palminhas
de animação.
— Vocês finalmente ficaram? Aí meu Deus! Que delícia —
disse dando um abraço em Lana que sorriu me olhando.
— Rebecca deu uma forcinha.
— Forcinha? — Nicolly se levantou e me puxou pelas duas
mãos me fazendo levantar também. — Essa forcinha com certeza te
fez querer enfiar a cabeça em um buraco. — As duas gargalharam.
— Minha nossa, sim! Achei que ia morrer de vergonha —
Lana disse rindo.
— Fiz nada, gente — brinquei dando de ombros e ajudando
Natalie a arrumar a bagunça que fizemos na toalha onde tomamos o
café da manhã.
— Fico feliz que agora posso ser sua amiga sem toda aquela
bobeira de as pessoas vão saber que eu te passo informações —
Natalie disse olhando Lana e a abraçou com o braço desocupado.
As duas me olharam.
— O quê? — questionei confusa.
— Ela vai te explicando no caminho. Me ajude a deixar as
coisas em casa? — Natalie pediu a Nicolly que concordou. — A
gente encontra vocês no caminho.
— Eu repassava as informações para Natalie — Lana iniciou
quando começamos nossa caminhada até a cachoeira —, logo
quando começou o boato de que você era a garota das fotos
misteriosas de Cameron e Karen, Melissa e Raquel queriam abordar
você sozinha depois da escola, contei tudo a Natalie e Calleb. Eu
estava na reunião delas quando Calleb estava na casa de Josh,
avisei a ele para tentar ouvir nossa conversa atrás da porta e ele
conseguiu. — A olhei impressionada. — Sobre o jornal, quase o
perdi por causa de Yuna.
— A matéria sobre A Favorita? — Ela concordou.
— Ele queria colocar coisas sobre mesmo você sendo virgem
conseguiu segurar Cameron e Melissa, que estava disposta a dar
tudo a Cameron, não conseguiu. Nem a diretora gostou, mas ia
deixar passar. Ia ser horrível e vergonhoso demais! As pessoas têm
uma fixação em você e Cameron que chega a se tornar obsessão —
disse soltando a respiração.
— Então você sempre esteve do nosso lado?
— Sim — ela sorriu —, Cameron sabia que eu fingia o querer
apenas para estar inclusa no assunto das meninas. Uma vez Karen
estava planejando de embebedá-lo para… — ela abaixou o olhar
parecendo decepcionada — você sabe — concordei —, o avisei na
hora e ela até hoje não faz ideia disso. Sempre odiei todas as coisas
que as meninas faziam, mas precisava ajudá-lo. Então falei para ele
e Natalie fingirem que não tinham contato comigo.
— Lana, você é a pessoa mais inteligente e bondosa que já vi
— disparei e ela me olhou surpresa. — Obrigada, mesmo!
— Não, eu que te agradeço. Você salvou Cameron, está
salvando Pê, vários meninos do time mostraram que são pessoas
incríveis, sei que não só por você, mas por eles mesmos. De
verdade, quem viu Cameron ano passado sabe que ele estava se
destruindo.
Encontramos as outras meninas. Melissa me olhou, mas
voltou a conversar com as líderes. Olhei Kristen e Paloma com uma
vontade enorme de vomitar por tudo o que elas falaram ontem. Elise
estava com Isabel, me olhou, mas não disse nada. Não tinha o que
dizer, ela não sabia que eu tinha escutado toda aquela nojeira.
Percebi que algumas garotas estavam com saídas de banho
que cobriam apenas a parte de baixo do biquíni. Quem me dera ter
essa segurança toda…, quando pensava em todos me vendo de
biquíni ficava apreensiva por motivos que nem eu sabia como
explicar. Não sabia se era vergonha ou insegurança. Talvez os dois
juntos.
Natalie falava alguma coisa com Luce e Nicolly já tinha feito
amizade com as meninas do futebol.
— Me conte, como foi com Peter? — Ela sorriu animada,
entrelaçou o braço no meu, me puxando, e nos afastando das
meninas.
— Ele foi incrível comigo — disse mostrando um belo sorriso.
— Não sei no que vai dar, mas depois de ontem, espero que dê
certo — afirmou.
— Desejo isso a vocês também — sorri na mesma animação.
— Você não tem noção de como eu fiquei com vergonha
ontem porque você não é nem um pouco discreta — rimos.
— Só faço isso com quem tenho muita amizade e Peter é um
grande amigo. Ele ficou apavorado quando te chamei.
— Depois ele foi tão fofo comigo — choramingou apaixonada.
— Obrigada mesmo. Ele gosta muito de você e da sua amizade —
afirmou.
— E eu gosto muito dele. Ele é incrível — ela concordou
sorrindo.
Chegamos na cachoeira e os meninos ainda não estavam.
Tirei meu conjunto e me joguei na piscina natural que era formada
pela fonte da cachoeira.
Estava tão abafado e quente que a água estava morna.
Amava ficar na água, mergulhei várias vezes, me
esquecendo de tudo. Não era a maior fã de natureza por conta dos
insetos, mas amava ver que tudo o que Deus criou era lindo e
perfeito.
Me sentei em uma rocha, aproveitando o som da água caindo
da fonte e a cantoria harmonizada dos pássaros.
De reflexo, notei uma sombra se formando e se aproximando
de mim, mas sem óculos, tudo o que consegui perceber era uma
garota. Quando ela estava a poucos passos distantes de mim, notei
quem era.
— Posso? — Melissa questionou e eu concordei.
Ficamos instantes em silêncio, apenas olhando a água
caindo.
— De longe parece que somos duas idiotas olhando para o
nada, de perto parece que está de longe.
Melissa gargalhou após me ouvir e sua risada era tão
engraçada que acabei rindo.
— Se me der liberdade, quero ser sincera com você.
— Fique à vontade — afirmei.
Ela soltou a respiração e disse:
— Por um bom tempo, não queria a vida de Alice, nem de
minha mãe. Queria a sua. Você conquistou tudo com tanta rapidez e
naturalidade que eu me senti ofuscada. Não é sua culpa, quero
deixar claro.
— Certo…
— Cameron sempre foi tão entregue a você, até mesmo
quando fingia que te odiava, ele sempre esteve em suas mãos. Era
tudo o que eu queria. Ter seu brilho natural, ser leve, transmitir paz,
tranquilidade e depois… queria sua amizade, de verdade, mas
nunca consegui e agora que sei o meu problema, é melhor nem ter
sua amizade — franzi o cenho —, me perdoe — seu rosto começou
a se molhar por algumas lágrimas —, mas não posso tentar ser sua
amiga agora, não vou conseguir me curar estando próxima de
pessoas que, sem intenção, me destroem. — Ela olhou em meus
olhos. — Vê-lo com você me destrói, Rebecca. Porque eu queria ser
a garota dele, queria cuidar dele como você cuida e, por mais que
eu tente, não consigo, não posso fazer isso mais. Você é perfeita e
eu fico me comparando o tempo todo com você.
— Melissa — a interrompi —, não sou perfeita e nunca vou
ser, mas nunca concordei com a personagem que você criou para
si. Não me peça perdão por fazer algo por si mesma, sou a favor do
perdão próprio. Se perdoe, se cuide, se cure e afaste quem você
sentir que precisa. Tudo bem, sei que você é uma garota incrível e
só não descobriu isso ainda.
Ela sorriu com os olhos cheios d'água.
— Eu desejo, do fundo do meu coração, que você fique bem,
mas por favor, nunca mais envolva Cameron nas suas provocações
com Karen — pedi.
— Nunca mais, eu prometo.
Balancei a cabeça concordando.
Ela se despediu com um aceno desajeitado e se afastou.
Decidi deixar novamente meus pensamentos de lado. Ao lado
da fonte maior da cachoeira, havia pequenas quedas de água, como
se fossem chuveiros.
Parei embaixo de uma me molhando por inteira. Gostava de
ficar com as meninas, porém, melhor que a companhia delas, era a
minha.
Ouvia as vozes delas brincando, cantando e gritando. Em
seguida ouvi a dos meninos.
Abri meus olhos quando senti as mãos dele me tocando. Seu
toque era inconfundível. A queda de água não era tão forte o que
facilitou meu olhar sobre ele. Suas mãos deslizaram lentamente nas
curvas de minha cintura, fui empurrada contra uma rocha que nos
escondia um pouco de todos os olhares e ele aproximou os lábios
dos meus sem encostá-los.
Seu olhar estava diferente. Era ardente, de forma que mesmo
debaixo das águas, me sentia dominada por um calor intenso.
Ele afastou meus cabelos molhados do rosto e ficou apenas
me encarando. Passei a língua nos lábios e desviei o olhar dele. Me
sentia tensa e fraca, mas resistiria.
Talvez não por muito tempo…
Cameron beijou minha bochecha e sem dizer nada se
afastou, seus olhos percorreram meu corpo, vi suas bochechas
coradas e seu sorriso denunciou que nem ele sabia o que falar.
— Vem com a gente, amiga — Natalie gritou me puxando.
Não entendia o que estava acontecendo, mas quando Calleb
gritou três e todos pularam na grande piscina natural, eu pulei junto.
Rimos um da cara do outro e começamos a jogar água em todos.
Quando comecei a me aproximar de Cameron, que estava
fazendo palhaçadas e dançando com os meninos, ele começou a se
afastar.
— Ela quer me atacar, socorro — disse, fingindo se esconder
atrás de Carter.
— Amor, para de graça — reclamei rindo e tentando me
aproximar.
— Rebecca, não! Eu vou morrer, socorro meu Deus. NÃO! —
gritou e como uma criança começou a correr.
Não consegui ir atrás dele porque não parava de rir. Quando
ele parou de correr e ficou ao lado de Peter, revirei os olhos e ele
me olhou sério.
Me aproximei de Luce, Calleb e Lana que estavam tomando
sol sentados em uma pedra enorme. Fiquei com os pés na beira
d'água ouvindo a conversa deles falando sobre a beleza do corpo
das outras meninas.
— Isabel por exemplo tem um corpo muito bonito — Lana
elogiou.
— De verdade, mas todo mundo já vê pelas roupas que ela
usa — Calleb rebateu.
— O corpo dessa aqui que é bonito. — Ouvi Luce dizer e os
três me olharam.
— Magnifico — Lana disse.
— Mas o seu também, amiga, que corpão, e ainda ficou na
dúvida se era o tipo do Peter — rebati e ela gargalhou.
— Que casalzão, saibam que eu e Josh seremos padrinhos
do filho de vocês — Calleb anunciou.
— Até parece que isso é negociável, é logico que serão, Josh
e Peter são inseparáveis — Luce observou.
— Acho que vocês atrapalham o relacionamento de Peter e
Josh igual eu e Nanat atrapalhamos o relacionamento de Elliot e
Cameron — comentei brincando.
— Eu sinceramente concordo — Calleb afirmou rindo.
— Cameron é um guerreiro, acho que qualquer um já teria
perdido essa aposta — Luce disparou revezando o olhar entre mim
e Cameron, quando me levantei.
— Ele está aqui ó — apontei para a palma da minha mão —
na palma da minha…
Não consegui terminar a frase. Sua mão subiu pela minha
nuca e ele puxou meu cabelo com uma firmeza que me fez dar um
passo para trás. Com facilidade, ele me virou de frente e me
encarou de forma que me fez estremecer.
— Estou onde? — questionou com a voz rouca.
Arranquei forças do fundo do meu interior e o encarei.
— Você me ouviu — disse com firmeza e passando as unhas
em seus braços, mesmo que ele ainda estivesse com os dedos
envolvidos em meus cabelos, aproximei mais nossos lábios. — E
você sabe que não estou mentindo — sussurrei sem tirar os olhos
dele.
— MEU DEUS DO CÉU GENTE — Luce gritou
animadamente.
— Me segura, minha pressão caiu — Calleb dramatizou.
— Nossa, olha como eles estão se olhando, minha nossa
senhora — Lana disse impressionada.
— Vem comigo — Cameron pediu colocando a mão em
minha cintura.
Natalie me entregou uma saída de praia. Aceitamos ficar sob
a supervisão de todos, então não ficaríamos a sós. Coloquei a saída
de praia mesmo com o biquíni úmido e subimos algumas rochas que
pareciam degraus de escada. Cameron precisou me segurar duas
vezes para não cair e acabou rindo das duas vezes.
Chegamos em uma parte alta onde era possível ver todos
embaixo, mas a visão da paisagem era linda daqui de cima. Nos
sentamos e ele me abraçou por trás me deixando aproveitar a linda
paisagem e o sol batendo em nós. Ficamos assim alguns instantes,
apenas aproveitando as carícias e a companhia um do outro.
— Soube que você quem fez minha salada de frutas —
comentei o ouvindo rir baixo —, tem mais algo que você tenha feito
e mandado outra pessoa me entregar? — Me virei de frente para
ele.
Ele me analisou por instantes, em seguida pegou minha mão
e começou a passar os dedos por ali.
— Pedi para minha mãe entregar porque achei que ia deixar
muito na cara meus sentimentos por você, fiquei com medo de te
assustar e querer desistir de tudo.
— Cameron — disse impressionada e balancei a cabeça
rindo de mim mesma por nunca ter percebido —, você é incrível e
surpreendente, sabia? — Beijei sua mão, em seguida fui puxada
para seu colo.
— E você é o meu amor, sabia? — disse me olhando e
soltando o laço da saída de praia calmamente me fazendo respirar
pesado. — Você, Rebecca Malik, é a garota mais linda que eu já vi
na minha vida — suas mãos entraram por dentro da saída de praia
e me apertaram.
— E você, Cameron Styles — arranhei levemente suas
costas e beijei suas bochechas — é o garoto mais lindo — beijei seu
pescoço —, incrível — deslizei meus lábios até sua orelha — e sem
dúvidas o mais perfeito que já conheci em toda a minha vida — ele
me apertou ainda mais forte e inspirou com força.
— Me beija, Rebecca, sei que você quer. — Ele soltou a
respiração em meu ouvido, fechei os olhos, sabia que não
aguentaria e nem sabia se queria aguentar mais alguma coisa. —
Acaba logo com isso.
— Não vou cair nessa — afirmei o olhando e sai de seu colo
—, talvez você não seja tão irresistível assim — disse quando
estava distante dele.
Desci as rochas rapidamente, porém com cuidado.
Sabia que se ficasse ali não aguentaria mais.
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 14:51.
Estava assistindo as meninas jogando queimada quando
Natalie me chamou para ver os meninos andando de skate na pista
abaixo da de basquete. Me sentei ao lado de Nicolly que estava
limpando um machucado no braço de Carter, ela mais ria da cara
dele do que limpava a ferida.
— Você é péssimo andando de skate, meu Deus, até minha
mãe é melhor — debochou dele e ele fingiu estar bravo, mas logo
começou a rir também.
Cameron, Jasper, Elliot e Peter andavam muito bem e se
exibiam fazendo manobras. Acabei rindo quando Cameron quase
caiu.
— Está rindo do que, nerd? — Cameron implicou e os
meninos me olharam.
— De você quase cair — respondi abrindo a garrafinha de
água e bebendo.
— Vem fazer melhor — desafiou e eu o olhei séria.
— Vai amiga, sei que você lembra como faz — Nicolly
disparou.
Me levantei e caminhei até Cameron amarrando o cabelo.
Comecei a andar de skate com Pollo e Nicholas e depois de
vários machucados, choros e quase desistir, acabei aprendendo o
básico. Os dois eram totalmente inconsequentes e não tinham medo
de se machucar e as manobras que eles faziam eram incríveis.
Nicholas ainda praticava e até ganhou uma competição em Nova
York saindo em primeiro lugar.
Peguei o skate da mão de Cameron e ele me olhou
impressionado por ter aceitado.
— Você me subestima demais, Styles — afirmei.
Dei algumas voltas na pista para conhecê-la e saber o que
podia fazer. Era como andar de bicicleta, a gente nunca esquecia.
Depois de mostrar que sabia fazer algumas coisas, os meninos
riram e me aplaudiram.
— Você não cansa de ser perfeita não? — Cameron disse
soando mais como uma reclamação.
— Não — disse com tom convencido e ele riu.
— Eu admito, a senhorita anda muito bem.
— Muito obrigada senhor — disse com uma cordialidade
fingida.
— Cameron, os meninos estão brigando na quadra de
basquete — Natalie avisou.
Ele bufou e deu um beijinho em minha testa. Olhei em seus
olhos e percebi que eles pareciam cansados.
— Já venho — concordei o observando caminhar até a
quadra de basquete.
Continuei a dar algumas voltas de skate.
— Onde aprendeu a andar bem assim? — Olhei na direção
da voz de Jasper.
— Meu primo me ensinou, ele até ganhou um campeonato
disso — expliquei rindo e ele sorriu.
— Maneiro. Já faz muito tempo que anda?
— Três anos, eu acho. Esse ano nem parei para andar, achei
que nem lembrava — disse, me equilibrando no skate.
— Acho que a gente nunca esquece como anda nessas
coisas.
—… é como andar de bicicleta — dissemos juntos e
acabamos rindo.
Jasper, assim como Luce, tinha algo familiar para mim, como
se eu já os tivesse visto quando criança ou algo parecido. Observei
Cameron voltar e acabei me desequilibrando. Por sorte, Jasper me
segurou pelas mãos a tempo e riu de mim.
— Tire as mãos da minha garota! — Cameron disse ríspido.
O corpo de Rebecca era, sem dúvidas, o mais perfeito que já
vi em toda a minha vida. Suas curvas tão bem desenhadas me
fizeram desejá-la como nunca. Queria beijar cada parte de seu
corpo e sabia que a bela visão que tive dela na cachoeira jamais
sairia de minha mente.
Estava irritado em não poder beijá-la e tudo piorava quando
me lembrava que aceitamos uma aposta idiota onde os únicos
prejudicados eram eu e ela, mas nada superava a raiva dentro de
mim pela forma que a olharam de biquíni ou até mesmo com as
roupas que estava hoje.
Sabia que estava disfarçando, mas seu incômodo era notório.
Os meninos do time a olharam disfarçadamente, porém os outros
nem se deram ao trabalho de disfarçar. Se eu pudesse arrancaria os
olhos de cada um por vez só para que ela se sentisse confortável
vestida do jeito que quisesse.
Era claro que Rebecca tinha um corpo perfeito, mas sabia o
quanto era ruim ser olhado apenas por isso na maioria das vezes.
Reconhecia os olhares deles e não poder ter tudo sob o meu
controle me deixava ainda mais nervoso.
Meu estresse estava dividido em não poder beijar minha
garota e não ter dormido direito pensando nas diversas formas que
acabaria com Bronwen. Precisei me controlar de mil formas
diferentes enquanto ouvia Rebecca falar o que aquele desgraçado
fez, não queria que ela pensasse que minha raiva era sua culpa,
mas quebraria a cara dele facilmente se o visse antes mesmo da
luta em outubro e eu ainda não tinha contado a ela sobre isso.
Pensar que teve seus limites ultrapassados me deixava com
os nervos à flor da pele. Ele ainda a deixou marcada, imaginar
minha mulher marcada me deixava louco. Acho que se um dia a
machucasse iria pirar, mal conseguiria olhar nos olhos dela sem
pensar no que causei.
Afastei esses pensamentos quando percebi que estava com
o punho cerrado. Isso me deixava totalmente furioso.
Quando desci, retornando para as pistas de skate, senti
vontade de socar Jasper por estar com as mãos em Rebecca após
ela quase se desequilibrar.
— Tire as mãos da minha garota! — disparei me
aproximando.
— Ela quase caiu, cara, só estava…
— Agora que ela não caiu, tire as mãos dela — disse o
afastando.
— Eu jamais encostaria nela, Cameron — Jasper alegou com
firmeza.
— Chega! — Rebecca disse decidida, se colocou em minha
frente e começou a me empurrar para trás.
— Você não percebe que…
— Cameron, você dormiu? — questionou antes que eu
terminasse de falar.
— Não começa! — reclamei impaciente.
— Não começa? — questionou. — Você, mais do que
qualquer um, vê que Jasper não me olha de forma maldosa, me
olha como Peter ou até como um dos meus primos, não sei explicar,
mas não faz o menor sentido fazer essa cena toda! Sabe do que
estou falando, você não está bravo com ele por ter me ajudado, está
irritado porque não dormiu, anda, vamos dormir — disse, me
puxando pelo braço.
— Mas ainda nem são quatro da tarde — protestei.
— Isso não me impede de dormir e nem vai te impedir —
afirmou sem parar de caminhar até a casa me puxando.
— Amor, não. Não posso deixar a casa sozinha, olha o tanto
de gente que tem aqui — expliquei tranquilamente.
— Carter e Elliot vão tomar conta daqui — disse me olhando.
— Para de resistir! Não entendo metade da necessidade de tanta
proteção aqui, mas acredito que os seguranças estão atentos. Amor,
vamos dormir — pediu beijando minha bochecha.
Suspirei aceitando, queria descansar um pouco.
— Vou só avisar o chefe da segurança — afirmei e ela
concordou sorrindo.
Depois de conversar com Ronald, subimos as escadas para o
meu quarto. Tomei um banho, mas não conseguia relaxar. Minha
mente parecia ligada no duzentos e vinte.
Sai do banheiro após colocar uma calça de moletom preta e a
encontrei tocando o piano no quarto. Me aproximei silenciosamente
a ouvindo tocar e cantar Kiss Me do Ed Sheeran. Parecia uma
artista em uma apresentação profissional.
O brilho que Rebecca trazia aos meus dias, a minha vida por
completo, era impossível de explicar e me fazia ter mais certeza de
que ela era a mulher da minha vida.
Quando finalizou a música, olhou em minha direção e sorriu
se levantando.
— Desculpa, não sabia se podia tocar — disse quando se
aproximou de mim.
— Claro que pode, amor, vai ser tudo seu — afirmei,
puxando-a para mim, quando ia aproximar meus lábios dos seus ela
se afastou.
Maldita aposta!
— Se aguentarmos mais um pouquinho, ninguém perde —
disse com um sorrisinho nos lábios e eu passei a mão no rosto
sentindo minhas bochechas queimarem.
— Quero te beijar — admiti impaciente.
— Só depois — disse me puxando pelo braço até chegarmos
na cama —, agora vamos dormir — afirmou.
— E você está com sono? Aparentemente dormiu bem essa
noite.
— Você se impressionaria se soubesse a quantidade de sono
que tem dentro de mim.
Ela se deitou na cama e eu ao seu lado. Me deitei de bruços
e ela colocou a perna em minha cintura. Acariciei seu rosto
enquanto a olhava.
— Bê? — chamou e me olhou. — Sei que você sempre quis
me proteger, antes mesmo de começarmos a namorar... de onde
vem essa necessidade toda?
Pensei um pouco enquanto acariciava sua nuca e deslizava o
polegar em sua bochecha.
— Na verdade, lembra quando tentaram roubar um selinho
seu? Acho que tínhamos entre quatorze ou quinze anos —
relembrei e ela concordou rindo —, depois que soquei Andrew, eu
cheguei em casa desesperado para falar com a minha mãe. Não
sabia de onde vinha, mas queria muito que ninguém te fizesse mal,
sabe? Por mais que eu te irritasse muito, não queria te ver triste por
nada. Lembro que cheguei em minha mãe e falei: “acho que estou
com problema no intestino, que negócio estranho aqui dentro.” —
Ela começou a gargalhar e acabei rindo junto. — Quando mamãe
disse que talvez eu gostasse de você, fingi que ia vomitar.
— Consigo ver perfeitamente essa cena. — Ela riu brincando
com os meus cabelos e percebi que seus olhos brilhavam.
— E hoje é muito maior o sentimento, de um jeito que quase
me consome. Cresci protegendo Natalie de tudo porque ela é minha
irmã e eu a amo. Mas com você é surreal. Não sou seu dono, mas
sei que você é minha e se eu pudesse criava uma barreira contra
tudo o que pudesse te fazer mal. Acho que é isso o que acontece
quando a gente ama alguém — a olhei nos olhos —, eu por exemplo
te olho e vejo meu mundo — acariciei seu rosto a vendo ficar sem
reação. — Não quero que a pessoa mais importante da minha vida
se machuque, chore, sofra ou coisas assim, então faço até o
impossível para evitar e quando vejo alguma marca em você —
passei os dedos em seu braço onde Karen a arranhou —, é como
se eu tivesse falhado.
— Você não falhou — disse me interrompendo. — Você não
vai conseguir me proteger de tudo.
— Mas posso tentar.
— Não quero você se acabando por mim, amor — disse
deslizando as unhas em meus braços.
— É sobre você, mas isso não é uma escolha sua — afirmei
calmamente e ela riu.
— Você é um teimoso mesmo, Cameron Styles.
— E você uma mandona, Rebecca Malik. — Rimos nos
olhando.
— Ninguém vai precisar se acabar por ninguém — afirmou
beijando meu ombro e fechando os olhos após me abraçar.
Não queria dormir, mas quando senti suas unhas deslizando
com leveza em minhas costas, me entreguei facilmente ao sono.
Despertei sentindo meu corpo todo arrepiado e estremeci
enquanto Rebecca beijava minhas costas. Ela deslizou os lábios
lentamente na medida em que me arranhava.
— Hora de acordar, amor — sussurrou calmamente em meu
ouvido.
Arfei, apertando o travesseiro sentindo meu corpo se arrepiar
ainda mais. De início eu achava que ela realmente não percebia as
coisas que fazia, seu olhar parecia inocente, mas agora tinha
certeza de que ela tinha total controle.
Antes que pudesse revidar, ela já tinha levantado da cama e
estava próxima da pilastra esquerda me olhando. Me virei, a
observando e ela cruzou os braços.
— Espero que você me acorde assim sempre. — Ela riu se
aproximando e se sentando na cama ao meu lado. Subi a mão por
sua nuca e ela sorriu, segurando meu braço.
— Os meninos afirmaram que eu já devo ter perdido
enquanto estávamos aqui no quarto. Isso porque você, antes de
chegarmos na cachoeira, disse a eles para prepararem as
camisetas das meninas e que nós devíamos preparar nossos braços
e pernas porque ia pegar pesado nos exercícios.
— Becca…
— Sabe uma das coisas que mais detesto e sei que nunca
vai mudar? — questionou deslizando as unhas em meu braço. —
Esse seu jeito convencido e a sua competitividade.
— Engraçado, vindo de alguém que ama competir — rebati a
puxando para perto —, você nunca gosta de sair em desvantagem e
nem eu — ela riu passando a língua nos lábios.
— Tenho menos de quatro horas para te fazer perder na
frente de todo mundo — disparou com tom provocativo.
— Quem disse que eu vou perder? — Ela se aproximou de
mim.
Seu olhar estava diferente, intenso, desejoso e parecia estar
levando tudo mais a sério do que antes. Estava hipnotizado a
olhando e amava vê-la assim, tão confiante.
— Você vai perder, Cameron, sabe disso — disse com os
lábios próximos dos meus e ficamos nos olhando por instantes. —
Te espero lá embaixo — avisou se afastando.
A observei sair.
Coloquei uma camiseta folgada preta, um chinelo da Nike e ri
lembrando que Rebecca andava de chinelo e meia o tempo todo. Só
não ia a escola assim porque agora precisava andar por todos os
projetos.
Sai do quarto e me questionei por onde ela tinha saído,
poderia se perder caso entrasse por alguma passagem que não
conhecesse.
— Sean, por onde Rebecca saiu? — questionei o segurança.
— Por aqui mesmo — disse indicando a porta.
Apenas concordei e desci as escadas que davam para a ala
de piscinas.
Estava uma bagunça. Pessoas na piscina, outros bebendo e
fumando, alguns dançando ou se beijando e a música era bem alta.
Depois da ala de piscinas tinha um cúbico com quatro sofás
pretos e uma fogueira dentro de uma espécie de caixa quadrada de
concreto.
Rebecca estava lá com Peter, Lana, Carter, Nicolly, Natalie,
Elliot, Josh e Calleb. Achei graça quando me aproximei e vi que os
meninos colocaram os narguilés de forma que quando fumassem
não chegava fumaça em Rebecca. Me tranquilizava ver que alguns
deles gostavam de Rebecca não por ser linda ou pelo corpo
espetacular, mas por saberem a garota incrível que ela era.
Quando cheguei até eles, vi que ela estava deitada no colo
de Lana recebendo carícias em seus cabelos. Parecia uma criança
quase adormecendo.
— O sorrisinho no rosto dele gente, olhem — Nicolly
anunciou fazendo todos me olharem.
— Me esquece, Nicolly — brinquei vendo Rebecca se sentar
e colocar os óculos ainda sonolenta. Ela me olhou e riu.
— Fala para a gente, Becca — Calleb começou, me sentei
em um canto e ela se aproximou de mim. — Ele já perdeu a aposta,
não é?
— Ainda não — afirmou. — Mas quase, várias vezes. —
Apertei a cintura dela quando senti sua mão deslizando em minha
perna.
— Até parece, você também quase perdeu. — Ela se virou
para mim e olhou meus lábios.
— Não tanto quanto você — disparou.
Ouvi a risada dos demais.
— Vamos deixar o casal — Natalie disse se levantando. —
Rebecca, trate de vencer agora. Me recuso a usar camiseta com a
cara dos meninos do time. Entendeu? Me recuso! — afirmou a
olhando.
— Lembra que ele falou para os meninos do time que te
venceria, não seja fraca — Lana disparou.
— Cuida da sua vida, Lama — impliquei errando seu nome
de propósito, pois sabia que ela odiava. Ela me mostrou o dedo do
meio e Rebecca riu.
Antes que Lana pudesse receber uma resposta, Peter a
puxou pela cintura, levando-a até o outro sofá.
— Desde quando eles estão juntos? — questionei confuso.
— Desde ontem — Rebecca me olhou e colocou as pernas
em cima das minhas —, sou uma ótima cupido — se gabou.
— Sua flecha veio logo em mim — disse apertando sua coxa
e envolvendo meu braço em sua cintura.
— Você era um alvo fácil, baby — provocou beijando minha
bochecha enquanto acariciava minha nuca, fiz uma careta e rimos.
— Peter ontem disse que a gente se completa, que somos sinceros,
só que você é bruto e eu mais tranquila nas palavras — beijei seu
ombro, sua pele era tão macia... ela continuou — e disse que
comigo você é calminho.
— Você me estressa as vezes e me irrita também, claro,
assim como eu também devo fazer com você, mas por que eu
descontaria algo em você sendo que o problema de estresse é
totalmente meu? E não desconto em ninguém, é que com os
meninos sempre dialoguei do meu jeito — ela sorriu. — Por muito
tempo vi meu pai falando de forma agressiva com minha mãe,
mesmo depois que ela foi embora por um tempo e eu fiquei
morando com meu avô, meu pai ainda continuou sendo grosso com
ela. Mas depois do que ele fez nas minhas costas, tentava se
controlar comigo. Então aproveitei a primeira oportunidade e o
questionei se ele realmente amava minha mãe — Rebecca pareceu
surpresa.
— Como assim amor? — Ela entrelaçou nossos dedos.
— Se ele a ama de verdade, por que sempre que estava
estressado descontava nela sendo que ela não tinha nada a ver?
Quando está com raiva deixa de amar? O amor é fraco ou tão frágil
que dá espaço para descontar a raiva?
— Entendo, mas tem horas que acontece sem a gente
perceber — disse, não parecia querer justificar meu pai, estava
falando de si mesma.
— Ah, sim, isso eu sei. Claro que eu posso acabar falando
algo a você sem pensar e acabar te deixando chateada, mas não de
forma agressiva e violenta. Para mim a maior prova de amor é a
forma que a pessoa te trata quando está com raiva. — Ela me olhou
surpresa e beijou minhas mãos, ficou tão pensativa que pensei ter
falado algo errado. — No dia da primeira competição do Alpha,
quando a gente discutiu e eu falei aquelas coisas, estava com raiva
por você estar com Andrew, mesmo assim, não tinha motivo ser
agressivo só por um surto meu.
— Você está certo — afirmou. — Nossa, eu tenho muita coisa
a aprender — ela riu.
— Nós dois temos — afirmei, apertando sua cintura e a
puxando mais para mim.
— Amor, por que tem tanta burocracia aqui? Os três portões,
seguranças por toda a parte, autorização dos pais e essas coisas.
Por que de tudo isso?
Ela se aconchegou ficando mais próxima de mim.
— No ano passado a casa foi invadida durante a festa de
aniversário de Natalie, pegaram dois convidados e fizeram de
reféns. Acabaram os machucando, tínhamos avisado para não
passarem da área sem autorização e não nos ouviram, eles
apanharam muito e tivemos que arcar com tudo por serem menores
de idade, sem autorização dos pais e, enfim, as agressões sofridas
num todo. Depois disso, eu e minha família decidimos tomar essas
medidas ao trazermos pessoas para cá, até mesmo da nossa
parentela — expliquei calmamente. — Na verdade, todos assinaram
os formulários com as regras que Robert passou e com tudo o que
disse a eles sobre eu não ter responsabilidade por dados causados
a eles.
— E por que eu não assinei nada? — questionou com o
cenho franzido.
— Porque você está totalmente sob minha responsabilidade.
Os seguranças estão cientes que sua segurança é minha prioridade,
assim como a de Natalie, então nada aconteceria a vocês — ela
abriu um sorrisinho — e se tivesse outra invasão, estão avisados de
que você e Natalie teriam que ser as primeiras a serem tiradas
daqui.
— Pode ter outra invasão aqui? — Sua expressão esbanjava
preocupação e eu ri negando.
— A segurança foi triplicada, não se preocupe — acariciei
seu rosto e subi meus dedos em sua nuca, até afundá-los em seus
cabelos. — Nada de ruim vai te acontecer, Rebecca, eu te amo e
nunca vou deixar que te machuquem. Quem tentar, pode se
considerar morto.
— Repete o que disse — pediu, seus olhos estavam
arregalados e iluminados.
— Que nunca vou deixar que te machuquem?
— Antes.
Olhei seus olhos esperançosos. Minhas mãos suaram frio.
Consegui tomar coragem para dizer algo que nunca havia dito a
nenhuma garota em toda a minha existência.
— Eu te amo, Rebecca.
Ela abriu o mais lindo dos sorrisos e seus olhos cintilavam.
— E eu te amo, Cameron.
Meu coração disparou.
Nos olhamos sorrindo e no exato momento, nem antes, nem
depois, e selamos nossos lábios. A puxei totalmente para mim,
fazendo-a ficar entre minhas pernas e a beijei matando parte da
vontade que me cerou o dia todo, mas minha vontade ia muito além
de beijá-la.
Seus lábios macios nos meus me trouxe a paz e felicidade
que precisava. Ela me amava, mesmo com tantos problemas,
mesmo todo destruído e quebrado, ela me amava!
Minha alma estava inteiramente ligada à dela. Subi minhas
mãos em sua nuca, pressionando mais seus lábios nos meus.
Ouvimos a gritaria do pessoal nos sofás distantes e acabamos rindo
durante o beijo, mas nos afastamos.
— Acho que perdemos — disse rindo e me dando um
selinho.
— Pois para mim, acabamos de ganhar. Perdendo eu estava
quando não podia te beijar — afirmei, acariciando seus cabelos.
Com uma rapidez enorme, Calleb parou em nossa frente.
— Ok, quem foi? — O olhamos rindo, não tínhamos
explicação alguma.
— Cameron com certeza — Nicolly acusou.
— Foi a capitã — Peter rebateu.
— Foi Cameron — Lana retrucou.
— Gente, é claro que foi Rebecca — Elliot disse.
Eles começaram a discutir até Rebecca assobiar de forma
que todos ficaram em silêncio e surpresos, inclusive eu.
— Nos beijamos exatamente no mesmo tempo. Nem antes e
nem depois, foi no mesmo instante — explicou e quando ia se
arrumar no sofá, a segurei, não queria que ela se afastasse.
— Então a aposta está anulada? — Lana questionou.
— As meninas e os meninos vão ter que pagar — Nicolly
disse, Natalie e Calleb fingiram chorar.
— Pior que nem tem como ficar bravo, eles resistiram muito
— Calleb admitiu. — Vamos Lana, temos que espalhar o
acontecimento — ele riu a puxando.
— Eu avisei, não avisei? Avisei — Carter disse rindo e
abraçando Nicolly quando todos voltaram para os outros sofás.
Rebecca me abraçou com firmeza.
— Já não aguentava mais — admitiu baixinho em meu
ouvido.
Passei a mão em suas coxas e sorri a abraçando pela
cintura.
— Se você tentasse mais algo, eu teria perdido.
Ela me olhou emburrada.
— Por que não me avisou antes?
Fiz uma careta balançando a cabeça negativamente, vendo-a
rir.
A beijei novamente por minutos sem me importar com o
pessoal do outro lado da pequena fogueira e nem eles pareciam se
importar. A desejava ardentemente de forma que nada me deixava
contentado.
A cada momento a beijando, sentindo seus toques, apertos e
ouvindo sua respiração ofegante eu percebia o quanto a amava e
precisava dela.
Desci meus lábios em seu pescoço enquanto ela arranhava
meus braços e os apertava. Envolvi meu braço em sua cintura e
subi minha mão desocupada em sua nuca.
— Cameron… — deixou escapar baixinho e ofegante me
deixando louco.
A apertei ainda mais, com cuidado para não a deixar
marcada, o que a acontecia com muita facilidade.
— Estou viciado em você — sussurrei em seu ouvido, ela
parecia estar tão sensível a mim que se arrepiou e estremeceu.
Estava pronto para beijar novamente seus lábios quando
Natalie a chamou, me deixando nervoso quase que
incontrolavelmente. Bufei quando ela desviou o olhar de mim com
um sorriso nos lábios.
— Amiga — disse se aproximando aos poucos um tanto
receosa —, seu pai não para de ligar — ela mostrou o celular de
Rebecca onde a ligação estava silenciada, então não tinha como ele
nos ouvir —, disse que estava com Cameron e ele disse que
precisava falar com você rápido.
— Ah, claro. Obrigada, amiga — agradeceu e atendeu a
ligação. — Oi, pai.
Não prestei atenção em sua conversa com Owen, comecei a
beijar suas bochechas, em seguida seu pescoço trilhando até sua
orelha. Ela tentou me empurrar e afastar minha mão de sua coxa.
— Só um minutinho, pai — pediu e, após silenciar a ligação,
me encarou. — Me solta — exigiu.
Abri um sorriso selando nossos lábios e mordendo seu lábio
inferior, ela ainda deixou que minha língua massageasse a dela com
calma, mas me afastou.
— Vou pegar algo para gente tomar — avisei e ela concordou
sorrindo.
A observei ir para um canto com menos barulho. Antes de
passar do pessoal, baguncei o cabelo de Natalie, fazendo-a parar
de beijar Elliot e me xingar.
Passei da sala, indo até a cozinha da casa.
— …acho que Becca ainda não contou nada ao Cameron,
talvez por medo deles terminarem pela distância, apesar de que não
acho que eles terminariam por isso — ouvi Neji falar e quando entrei
na cozinha vi que estava falando com Luce.
— Não me contou o quê? — questionei seriamente.
Luce choramingou como se sentisse dor e me olhou
assustada, igual a vez em que dei uma surra em Jasper por zoar e
bater em Jace. Neji ficou ainda mais pálido do que era, parecia ter
visto um fantasma.
— Não, não foi nada capitão — disse quase gaguejando.
O nervosismo ficou nítido em seu rosto e ele não parava de
apertar as próprias mãos.
— Vou perguntar mais uma vez. — O olhei. — E não minta
para mim.
— Cameron, é melhor você ir falar com Rebecca.
— Eu sei o que é melhor — disparei sem olhá-la.
Neji abaixou a cabeça e engoliu em seco.
— Ela vai me odiar por isso — lamentou antes de me olhar.
— É sobre o projeto inteligência e a seleção de calouros de Stanford
— disse desanimado —, ela te contou algo sobre?
Senti todo o meu corpo em tensão. Não… ela sabia o quanto
odiava quando me escondia as coisas e mesmo assim insistia em
fazê-lo.
— Vem comigo, por favor — disse saindo da cozinha.
Subimos as escadas, antes da porta do quarto dos meus pais
estava a porta da biblioteca, abri e deixei que Neji entrasse primeiro.
— Posso trazer algo a vocês? — questionou Maya antes que
eu entrasse na biblioteca.
— Não, Maya, obrigado — agradeci, tentando não
demonstrar a confusão que estava em minha mente. — Faça um
suco de laranja e leve para Rebecca, por favor? Um copo grande de
preferência.
Ela concordou dizendo um: “sim, senhor”, fez uma reverência
totalmente desnecessária e saiu. Fechei a porta e me sentei
pedindo para que Neji se sentasse na cadeira a minha frente.
— Pode começar.
— Cara, ela vai me odiar. Ela quem devia estar te contando
tudo e…
— Não me questione, apenas conte tudo — disse firme.
Ele respirou fundo e então começou:
— O Projeto Inteligência de Stanford, conhecido como P.I.S é
um programa para os estudantes do último ano do colegial onde são
selecionados os alunos em destaques de algumas escolas para
finalizar o ensino médio em Stanford e de lá eles já ficam para o
ensino superior, sem precisar fazer provas ou passar pelas
burocracias de alunos recém-saídos do colegial. Rebecca é a mais
cogitada dentre todas as cento e cinquenta escolas escolhidas para
esse projeto, está em primeiro lugar e, no caso dela, por ser muito,
muito inteligente — ele tomou fôlego e voltou a falar — e por estar
mais que avançada no colegial, ela conseguiria começar a
faculdade. Faria faculdade de manhã e o fim do ensino médio de
tarde, eles falaram que conseguiriam dar um jeito mesmo sem o
certificado de conclusão do ensino médio. Ela terminaria a faculdade
seis meses antes do que se ela terminar em Liberty, mas teria que
entrar no projeto após as férias de verão.
Me senti zonzo e me recostei na cadeira.
— E ela aceitou?
— Ela pediu um tempo, tem até o último jogo dos Warriors
para decidir, depois disso terá a última reunião com Anthony e
Geórgia e precisa ter a resposta.
— Neji, preciso de sua sinceridade — o olhei nos olhos —, o
que ela te disse? Com tudo isso, como reagiu?
Ele pensou um pouco e pareceu relaxar mais na minha
presença, enquanto eu me sentia um poço de tensão.
— Ela disse que não pode simplesmente largar tudo e ir, mas
ela não estava falando só de amigos e família, capitão, eu e você
sabemos que ela tem medo de te perder. Acho que ela não vai
aceitar.
— Mas é o futuro dela — disse a mim mesmo.
— Foi o que eu disse e acho que vocês são fortes para se
esperarem, vão poder se ver entre as viagens do time e essas
coisas. Não é que ela quer deixar o futuro dela para lá, mas quer ir
junto com você para a universidade. Os diretores de Stanford
deixaram claro que ela não participar do projeto não interfere na ida
dela para a faculdade após o término do colegial, mas qual é? Uma
oportunidade dessas é única. Ela está em primeiro lugar de tudo,
seria totalmente privilegiada e muitos já a conhecem.
Os fios de meus pensamentos pareciam estar soltos. Não
conseguia raciocinar quase nada e a única coisa que parecia
entender era que, se necessário, a afastaria de mim, assim ela não
teria motivos para ficar em Liberty, pelo contrário.
— E a seleção de calouros? — recordei-me.
— Sabe que é uma seleção onde eles escolhem os melhores
jogadores recém-saídos do colegial e dão a oportunidade de uma
bolsa em troca de se dedicar ao time nos primeiros dois anos na
faculdade, certo? — concordei. — Pois eles foram mais adiante. Os
olheiros estão buscando os melhores jogadores para essa seleção e
os escolhidos vão viajar com o time oficial, até mesmo podendo
jogar com eles em competições televisionadas. Só que, a seleção
de calouros viajaria durante um ano inteiro com times profissionais
que tem parceria com a universidade, não vai interferir nos estudos,
eles já têm um jeito de ninguém sair prejudicado.
— E qual é o problema nisso?
— Os Warriors estão com quase todas as vagas garantidas.
Não tem um olheiro se quer que não esteja gostando do
desenvolvimento do time. Seu nome foi citado não só pelos olheiros
como por cinco dos sete diretores que estavam na reunião. Elliot,
Peter, Josh, Eric, Adam, Brian, Richard, Phillipe e… — ele pensou
um pouco como se tentasse lembrar de alguém — Cole também
tiveram seus nomes citados. Basta continuar com o desempenho
atual. Eu nem devia estar te contando isso, mas Becca vai falar para
o treinador mesmo. Será uma ótima oportunidade para vocês
também, vai facilitar muito a entrada de vocês na universidade e
Becca disse que faria de tudo para você entrar na seleção, mesmo
que ficasse um ano sem te ver. Mas, no caso da seleção, vocês
precisam terminar o colegial em Liberty, se formar e depois entrar na
seleção.
As palavras pareceram sumir de minha boca. Comecei a
pensar em tudo o que Neji disse. Um ano fora? Seis meses sem
Rebecca na escola? Não terminaríamos o colegial juntos? Um ano e
meio sem vê-la? Como podia ser egoísta de não deixar que ela faça
o melhor para o seu futuro? Isso jamais aconteceria, ela precisava
aceitar essa proposta.
— Obrigado, Neji — o agradeci e ele concordou um pouco
desanimado.
— Acho que já perdi a amizade de Rebecca mesmo —
resmungou baixo e se levantou.
— Não se preocupe com isso. Você foi chamado para o
projeto? — Ele concordou parecendo curioso com minha dúvida. —
Vou precisar que cuide dela e me informe tudo até que eu chegue
em Stanford.
— Você não…
— Obrigado, Neji — finalizei a conversa, me levantei e,
quando abri a porta, o ouvi xingar algo para si mesmo.
Minha cabeça estava a milhão, não conseguia pensar direito,
mas sabia que precisava fazer algo. Precisava vê-la, precisava
entender o porquê de ela não ter me contado nada.
Desci as escadas, vi Luce sentada no sofá chorando
abraçada com Melissa e uma garrafa de vodca na mão.
— Não faça isso a si mesma, beber por estar triste leva ao
vício de sempre querer esquecer a tristeza — disse tirando a garrafa
da mão de Luce. — Eric — o chamei antes que voltasse para a ala
de piscinas — leve Luce para o quarto — pedi e de imediato ele a
pegou no colo.
— O que está acontecendo? Ela não quis me contar nada —
Melissa se prontificou.
A olhei sem me importar muito.
— Melissa, volte para a festa ou vá cuidar de quem sempre
esteve presente por você — avisei saindo da sala.
Rebecca estava sentada no mesmo sofá em que estávamos
antes. Ela conversava animadamente com Maya e eu me aproximei
com calma. Maya se levantou rapidamente e endireitou as costas.
— Desculpe minha informalidade, senhor, eu…
— Pode nos dar licença, Maya? — questionei friamente e
Rebecca me olhou confusa.
A garota saiu.
— O que aconteceu?
— Quando ia me contar sobre o projeto inteligência de
Stanford? — perguntei apressadamente.
Queria acabar logo com aquilo, estava me doendo, mas não
podia ficar entre ela e seu futuro. Ela colocou o copo no chão e se
levantou, percebi que estava nervosa.
— Quem te contou isso?
— É isso o que importa e não o fato de que você me
escondeu uma coisa que devíamos falar sobre?
— Amor, senta-se, vamos conversar e…
— E o que, Rebecca? — questionei a olhando — Por que
não aceitou entrar no projeto?
— Sem te contar nada?
— O que acha que eu te diria? Para você ficar? Entende o
que você tem a perder se não aceitar?
— E eu não tenho nada a perder se aceitar? — Seus olhos
encheram d'água.
Meu coração despedaçou.
— Não.
— O que está querendo dizer? — Ela parecia entender, mas
precisava confirmar.
— Você é esperta, Rebecca, sabe o que quero dizer — meu
corpo estava tenso como nunca. — Não posso ficar no meio de algo
tão importante assim, não posso. Se é por mim que você não quer
ir, então…
— Senhor Styles — ouvi a voz de Ronald, o chefe dos
seguranças.
Quando o olhei, vi que estava acompanhado de Rodrigo, o
segurança da família Malik em quem Owen mais confiava. Havia
algo errado.
Olhei Rebecca que parecia perdida, decepcionada e ao ponto
de chorar.
— O que aconteceu? — questionei.
— Seus pais e os senhores Malik estão aguardando o retorno
de vocês imediatamente — disse Ronald.
Rodrigo e outro segurança pararam atrás de Rebecca.
— Por qual motivo? — Rebecca questionou.
— Temos autorização maiores para nos mantermos em
silêncio. Suas coisas já estão no carro senhorita Malik, podemos ir?
— Rodrigo questionou.
— Vamos no meu carro — afirmei e quando ia me aproximar
de Rebecca, Rodrigo se colocou em minha frente, me impedindo.
Minha vontade foi de empurrá-lo.
— Isso não será possível, senhor Styles — disse
calmamente. — As ordens são para que não o deixe se aproximar
dela até chegarmos na presença de Owen.
Minha cabeça parecia ao ponto de explodir.
Natalie e Nicolly correram para perto de nós, mas nenhum
segurança as deixou se aproximarem.
— Não adianta contrariar as instruções que meu pai passa
para os seguranças — Rebecca disse firme, mas seu olhar
denunciava que estava tão confusa quanto eu. — Podemos ir,
Rodrigo.
— O que está acontecendo? — Nicolly questionou.
— Cameron? — Natalie chamou.
— Ronald, prepare o carro, já estou indo — avisei.
Elliot e Carter pararam ao lado de Natalie.
— O que rolou, cara? — Elliot questionou.
— Não sei, mas vou descobrir. — Olhei nos olhos de Natalie
e beijei sua testa. — As coisas tendem a ficar complicadas, não
quero que saia do lado dela, ok?
— Ah… por favor, não — pediu, já chorando e me abraçando.
— Elliot e Carter, preciso que tomem conta de tudo e não
deixem ninguém saber de nada. Apenas digam que tivemos que ir
embora para resolvermos problemas da família e não vão embora
antes da segurança ver se todos partiram, ok? — Eles concordaram.
— Qualquer problema, podem falar com Ronald.
Natalie ainda estava abraçada comigo.
— Amor, vou acompanhar a Becca até o carro, pode ir
comigo? — Nicolly questionou Carter de longe.
Olhamos em sua direção e Rebecca, que estava com os
olhos fixos em mim, desviou o olhar.
— Natalie — ela me olhou —, eu não vou ficar como estava,
não se preocupe com isso. Não abandone Rebecca outra vez. —
Ela congelou com minhas palavras.
— Mas não posso deixar meu irmão.
— E não vai. Por favor, vá até o carro com ela — pedi, ela
concordou e correu até Rebecca que estava caminhando com
Nicolly.
— O carro está pronto, Cameron — Ronald disse.
Apenas balancei a cabeça concordando. Quando Natalie
abraçou Rebecca, percebi que lágrimas de seu rosto foram limpas
por minha irmã.
Estava confuso, irritado, perdido e sem conseguir entender
como fomos de um “eu te amo” tão apaixonado para aquilo.
— Ei cara, sabe que pode contar comigo para o que precisar
— disse Elliot apertando meu ombro.
— Sinto que as coisas vão ficar ruins por um tempo indefinido
— afirmei começando a andar e ele me seguiu. — Não faço ideia
nenhuma do que aconteceu, depois que os seguranças dos Malik
chegaram não me deixaram nem se aproximar dela. Por que fizeram
isso?
Elliot também parecia não entender. Rebecca e os
seguranças haviam saído quando me aproximei do carro que me
levaria.
Quando entrei no carro, vi a última pessoa que acreditava
que veria nesse momento.
— Andrew?
Ele me olhou, estava sentado no banco de frente para o meu
e não parecia nada feliz.
— Estou tão surpreso quanto você.
— O que está fazendo aqui? Tem a ver com Rebecca? —
questionei e o motorista deu partida.
— Sei que não temos amizade nenhuma, mas seu pai me
chamou depois de conversar com Owen. Ele não tinha outra pessoa
para chamar, Owen nem sabe que estou aqui. Preste atenção no
que vou falar, temos apenas quarenta minutos de viagem.
Afirmou e respirou fundo, meu nervosismo só aumentava.
Por que justamente ele?
Andrew limpou a garganta e começou:
— Sabe quem é Nádia?
— É claro que sei quem é Nádia — disse impaciente.
— Ela já sofreu violência doméstica por anos, mas negava
porque tinha medo do ex-marido violento. No dia em que Rebecca
foi falar comigo para pedir as contas, seu braço estava com um
pequeno roxo, mas de cara percebi que alguém tinha a apertado —
quis interrompê-lo, mas não o fiz — a questionei, mas ela não quis
me contar. Nesse mesmo dia Isaac viu um hematoma em sua
cintura e Rebecca disse que tinha caído na escola, claro que um
tombo não faria isso. Isaac acreditou, mas Nádia, que estava junto
com eles desconfiou e questionou Rebecca. Ela estava machucada,
Cameron.
Minhas mãos suaram frio e uma fúria tomou conta de mim.
— Quem fez isso? Já descobriram? Estamos voltando para
descobrir quem foi?
— Ela contou tudo a Nádia e a funcionária queriam que
Rebecca não escondesse isso de ninguém — minha mente estava
tão confusa que não conseguia encaixar nada —, mas Rebecca
preferiu guardar tudo como sempre faz. Só que ela apareceu
novamente machucada, dessa vez sei que foi Karen, mas Nádia
achou que Rebecca estava acobertando a mesma pessoa que a
machucou antes.
Chacoalhei a cabeça tentando raciocinar. Perguntava a
Rebecca o porquê dos olhares de Nádia para mim terem mudado e
ela sempre desviava o assunto.
Quando tive noção do que estava acontecendo, meu corpo
todo formigou. Olhei Andrew no fundo de seus olhos, sabia a
resposta, mas queria ouvi-la.
— Andrew, quem machucou Rebecca? — questionei e ele
esfregou as mãos.
— Você, Cameron. Você teve um pesadelo, ela acordou
porque seus apertos a machucaram e até a deixaram marcada —
disse seriamente.
Todos os meus sentidos pareceram desligar e quando me
liguei, não conseguia sentir raiva de ninguém a não ser de mim
mesmo. Me recostei no banco do carro ainda sem acreditar.
Não, eu não podia ter feito isso com ela.
Era domingo de manhã quando chegamos na casa de campo
do meu pai.
Ainda não tinha visto Cameron, mas sabia que ele estava em
algum lugar da casa.
Papai me encarou depois que eu expliquei tudo: desde
Cameron tendo um pesadelo e inconscientemente me deixando
marcada até ter amanhecido com um roxo no braço e Karen ter me
apertado deixou um pouco pior.
Acreditava que ele tinha entendido tudo o que aconteceu, que
compreenderia que Cameron não tinha culpa de nada, mas nossa
conversa começou a seguir outro rumo…
— Você está me dizendo que das duas vezes em que te
machucaram, Cameron foi o pivô das situações e até mesmo o
causador? — questionou.
— Não, estou explicando abertamente o que aconteceu
acreditando que o senhor entenderia — disse mantendo a calma.
— Eu entendi, querida, eu entendi.
E então ficou em silêncio e se recostou na cadeira.
— O que o senhor quiser fazer, faça, mas, por favor, não
jogue tudo nas costas de Cameron. As garotas da escola são
loucas, pai, ele nem estava no dia em que Karen surtou.
Papai se levantou e passou os dedos nos livros das
prateleiras do escritório.
— Ele sabe sobre o projeto de Stanford onde você é a aluna
prioridade?
Engoli em seco. Era claro que papai sabia daquilo.
— Sabe.
— E o que ele disse? — questionou me olhando.
— Estava terminando comigo quando os seguranças
chegaram — expliquei desanimada.
Ainda sentia vontade de chorar, mas não queria parecer uma
criancinha que chorava por tudo, teria de enfrentar o que fosse com
firmeza.
— Lee — chamou o segurança que estava imóvel na porta
—, peça para eles entrarem, por gentileza.
O segurança apenas concordou e se retirou aos passos
firmes e pesados.
— Mas pai…
— Não os proibirei de nada, pois sei como funciona o amor
proibido, mas quero saber o que ele tem a dizer e não vou esconder
nada de você — explicou calmamente, se sentando.
O encarei por instantes.
— Você vai testá-lo — deduzi.
Eu era a cópia do meu pai, como todos diziam, mais calma e
com a beleza e graciosidade de minha mãe. Então o conhecia bem.
— Não me culpe por querer conhecer o garoto que minha
filha gosta. — Seus olhos se voltaram para mim. — Você é minha
filha, minha protegida, minha pequena. Sei que a escolha é
totalmente sua, mas me acho no direito de apenas querer saber do
caráter de Cameron.
— Você o conhece desde que nasceu.
— Sim. O conheço como filho de um grande amigo meu,
como um amigo também, até como filho. Mas não o conheço como
o homem que minha filha escolheu, nem sei do seu caráter como tal
e não me recordo dele ter te pedido oficialmente em namoro e me
falado isso, e agora tudo mudou devido a situação em que estamos.
— Ele não me pediu em namoro oficialmente — o recordei.
— Então, foi tudo falso até agora? — Ele me lançou um olhar
cético e eu entendi que tinha caído em sua provocação.
Duas batidas na porta me fizeram ficar calada.
Lee entrou seguido de Cameron e Arthur.
A primeira coisa que percebi quando passaram da porta, foi a
mão de Cameron sem aliança, com feridas tão pequenas que quase
não eram possíveis de serem vistas e estavam bem avermelhadas.
Seus cabelos molhados e seus olhos atentos.
Podia parecer uma coisa mínima, um simples detalhe, um
drama…, mas vê-lo sem aliança fez meu coração se apertar.
Então era nisso que resultaria nossa conversa na mansão?
Deveria dizer algo sobre? Aquilo ainda importava diante da situação
em que estávamos?
Não acreditava que terminaríamos pela distância e agora...
— Sentem-se, por favor — papai pediu.
Cameron se sentou ao meu lado, mas tio Arthur se manteve
em pé atrás da cadeira de meu pai. Ele olhou me cumprimentando
com um aceno de cabeça e encarou Cameron como se conhecesse
até sua alma, seus olhos eram tão calmos e confiantes como eram
os do filho.
— Quem vai começar a falar? — Papai questionou.
— Essa conversa devia acontecer entre mim e ele primeiro,
não estamos em um tribunal — disparei olhando meu pai.
Arthur riu abaixando e balançando a cabeça negativamente.
— Ela é você todinha, com um toque enorme de Olívia —
disse descontraindo o ambiente.
— Imagina o trabalho que tenho — papai disse no mesmo
tom de humor. — Querem conversar a sós? Deixaremos vocês a
sós.
— Não — Cameron respondeu, respirei fundo e com força —,
eu começo — papai o olhou e eu abaixei a cabeça sabendo o que
viria. — Não tinha conhecimento do que fiz, mas sei que o único
culpado sou eu.
— Ah, claro — ironizou meu pai. — Até porque o que você
fez foi proposital, não?
Foi quando eu percebi que meu pai nos apoiava e sabia que
com ironia, Cameron entregaria suas intenções comigo.
— Eu jamais encostaria na sua filha para machucá-la e
acabaria com qualquer que o fizesse — Cameron respondeu tão
rapidamente quanto a pergunta de meu pai.
Ele o olhou nos olhos e em nenhum segundo vacilou o olhar.
Papai o encarou por segundos e seus lábios tremeram em
um sorrisinho. Ele olhou Artur balançando a cabeça positivamente
como se aprovasse algo.
— Cameron — ele me olhou —, vai se ferrar! — disse
irritada.
Seus olhos se arregalaram e eu encarei papai que estava tão
impressionado quanto Cameron, mas Arthur parecia acostumado.
— Os dois homens na sala estão amando ver Cameron
agindo como se eu fosse propriedade de alguém.
— Não estou te tratando como propri…
— Estou falando agora! — Olhei Cameron me sentindo
furiosa.
Voltei meu olhar para os homens a minha frente após
perceber que tinha irritado Cameron, então continuei:
— Se essa conversa continuar assim, então vamos parar.
Não vou tolerar esse tipo de coisa, pois, no meio disso tudo, a
escolha também vai ser minha!
— Você está certa. — Olhamos meu pai — Não vou intervir
na situação. Qual será a escolha de vocês então? — Ele juntou as
mãos e revezou o olhar em nós.
O desafio estava lançado, era agora que ele queria saber o
que Cameron tinha decidido. De repente a tensão dominou meu
corpo.
Podia fingir um desmaio, dizer que minha diabete estava
abaixando, que estava ficando com fome…, mas não, dentre todas
as opções, escolhi ser forte.
— Não acho que seja viável eu continuar tendo qualquer
relação com Rebecca, se eu causo suas marcas, como vou evitar
que outras pessoas não causem? — O sofrimento nas palavras de
Cameron era notório.
Não me lembrava de tê-lo visto daquela forma antes. Ele
apertava às próprias mãos o tempo todo, mesmo que o olhar
parecesse calmo e tranquilo.
Suas palavras doeram no fundo de meu coração.
— Enquanto eu for ameaça a Rebecca não pretendo
encostar um dedo se quer nela — Cameron disse decidido, meu
queixo caiu e meu coração apertou.
Ameaça?
— Cameron, você não é ameaça alguma para mim — ele não
me olhou.
— Acredito que isso seja pelo ocorrido, não tem nada a ver
com Rebecca ir a Stanford, correto? — Papai questionou.
Quando Cameron abaixou o olhar, papai entendeu.
— Preciso focar nas minhas coisas também, o time, a luta
com Bronwen e…
— Luta com quem? — Cameron me olhou. — Você só pode
estar de brincadeira. Uma luta? Com aquele cara? Você perdeu a
noção? — questionei. — Podem nos deixar a sós?
Papai me olhou com um sorrisinho nos lábios. Ele estava
adorando o show e vendo que nem sempre era calma como
mostrava. Quando se levantou, o olhei.
— Desliga a câmera, pai — pedi olhando o notebook em sua
mesa.
— Mas…
— Por favor — o encarei.
Ele me olhou odiando o fato de ser contrariado e mexeu em
seu notebook. Ambos saíram tranquilamente e fecharam a porta, dei
uma última checada no notebook e andei de um lado para o outro.
— Quando ia me contar dessa luta?
— Quando ia me contar sobre Stanford e as marcas que
deixei em você? — questionou tentando se manter sereno e se
levantou. — Não importa, já não temos que dar satisfação um ao
outro — replicou sem me olhar.
Sabia o que estava tentando fazer. Queria que eu o odiasse,
assim facilitaria minha partida e sua ida para a seleção de calouros,
talvez funcionasse.
Mas seria possível odiá-lo com meu coração sendo
totalmente dele?
Tirei minha aliança e a bati contra mesa com tanta raiva que
quase a afundei sob o madeirado. Ele me olhou surpreso enquanto
eu caminhava em sua direção, mas logo ficou calmo novamente.
— Era isso que você queria? — o empurrei. — Que eu te
odiasse? — o empurrei novamente. — Você conseguiu, Cameron!
Ele segurou meus braços e quando tentei me soltar, fui
pressionada contra uma das estantes de livros.
— Você não me odeia, só está nervosa — disse calmamente
prendendo minhas mãos atrás de meu corpo.
— Eu te odeio sim, Cameron! Me solta — disse tentando me
soltar. — Me solta! — Exclamei, ele prendeu minhas mãos apenas
com uma mão em cima de minha cabeça e colocou o peso de seu
corpo contra o meu.
— Você não me odeia! — Ele me encarou e eu virei o rosto.
Estava furiosa com tudo e principalmente comigo mesma por
ainda sim querer beijá-lo, mais do que qualquer outra vez.
— Olhe para mim e diga que me odeia — pediu. — Diga,
Rebecca, que me odeia de verdade, que não quer me ver mais e eu
te solto agora mesmo.
Juntei forças e gritei:
— Eu te odeio! — O olhei sentindo as lágrimas querendo sair
dos meus olhos e sua expressão serena me deixou ainda mais
furiosa. — Te odeio porque você foi um covarde de desistir da gente
antes mesmo de saber desses machucados. Não era isso o que
você ia fazer, Styles?
— Eu não desisti da gente! — exclamou tão nervoso quanto
eu. — Mas o que você queria que eu fizesse? Você aceitou que eu
te machucasse, pensou em me escolher ao invés de Stanford, o que
você queria Rebecca?
— Eu não tinha tomado nenhuma decisão, mas claro, você
sempre quer fazer tudo do seu jeito. — Seus olhos me encaravam
seriamente. — Eu te odeio, Cameron! Me solte agora! Me solte —
tentei o empurrar, mas ele se manteve me encarando.
Respirou fundo duas vezes e com a voz mais calma, disse:
— E eu te odeio. Te odeio por te amar — sua mão deslizou
em minha cintura —, te odeio por não ter me contado a verdade, por
ter aceitado que eu te machucasse, por cogitar me colocar como
opção para não fazer algo que vai ser ótimo para o seu futuro. Te
odeio porque sei que mesmo com tudo isso, nunca vou parar de te
amar, que a cada dia longe de você uma parte de mim vai se
destruir. Eu te odeio, Rebecca Malik — ele me pressionou ainda
mais contra a estante.
— Então parece que estamos quites outra vez! — disse firme
olhando seus lábios.
Não acreditava que toda essa situação tinha me deixado com
uma vontade enorme de beijá-lo. Estava tão confusa e ao mesmo
tempo precisava dele.
— Ótimo! — Afirmou em um sussurro olhando, também,
meus lábios.
— Ótimo — repeti baixo e sentindo suas mãos apertarem
minha cintura após ele soltar meus braços.
Em questão de segundos, nossos lábios estavam
pressionados um contra o outro. A raiva, o desejo, a confusão, a
tristeza, o ódio, o amor. Uma mistura de tudo nos consumia
ardentemente.
Cameron puxou uma de minhas pernas até sua cintura. Seu
corpo pressionado ao meu me fez estremecer. Arranhei sua nuca e
quando mexi o quadril, ele se movimentou de forma que fez minhas
costas deslizaram para cima e para baixo na estante, em seguida
me pressionou mais contra o móvel, me imobilizando por completo.
Eu era dele, qualquer um poderia notar isso.
Nem mesmo a distância, os problemas, o tempo e as
confusões eram capazes de mudar isso. O amava, mesmo sabendo
que estávamos predestinados a uma separação, parte de mim
sempre seria dele.
Ele me olhou após morder meu lábio inferior e quando juntou
nossas testas uma lágrima escorreu em seu rosto.
Seu aperto em minha perna era com precisão. Ele me olhava
atentamente, vê-lo perdido como eu e não calmo como sempre me
deixou um pouco aliviada.
Cameron acariciou meu rosto com calma e me encarou como
se fosse a última vez que me veria.
— Meu amor… — sua voz era fraca e sofrida. — Por que não
me contou? Isso é algo muito sério. — Encostei meu rosto em seu
ombro sentindo suas carícias em meu cabelo e uma vontade
enorme de chorar.
— Sabia que você se odiaria, não foi sua culpa — ele riu
como se eu tivesse acabado de falar uma enorme besteira. — Cam
— subi minhas mãos em sua nuca —, não foi sua culpa. Você teve
um pesadelo.
Ele acariciou meu rosto e selou nossos lábios novamente.
— Te amo Rebecca, com a minha alma, e pensar que te
machuquei acaba comigo. O que disse é a verdade, se não posso
evitar que eu mesmo te machuque, como vou evitar os outros?
— Cameron, não. — Ele me soltou com calma como se eu
fosse tão frágil que poderia me machucar a qualquer momento. —
Pode ao menos me escutar?
Ele se sentou novamente na poltrona e me olhou
concordando. Me sentei em sua frente e acariciei seus cabelos.
— Sei que sonhou comigo e, em meio ao desespero, você
acabou me apertando, se isso se repetisse, eu te contaria amor,
com toda a certeza… — ele afastou minhas mãos que acariciavam
seus cabelos, as juntou em meu colo sem me soltar e me olhou.
— Rebecca, você não entende. E quando eu sonhar outra
vez que estou te perdendo? Não sonhei com você se separando de
mim, sonhei que te perdia para sempre, que nunca mais
contemplaria seu sorriso, sonhei que você não teria um futuro. E se
acontecer novamente por que minha mente está uma bagunça, vou
te machucar outra vez? Prefiro que você me odeie e eu consiga ao
menos de proteger, do que continuarmos juntos e eu te machucar.
— Cameron, não faz isso — supliquei abaixando o olhar e ele
acariciou minhas mãos.
— Becca — não quis levantar o olhar, mas ele levantou meu
rosto pelo queixo —, não estou desistindo de você, mas não posso
fazer isso agora. Estou ficando louco só de pensar em te machucar
outra vez, minha pequena — suas palavras fizeram uma lágrima
dolorosa descer em meu rosto e ele a limpou. — Enquanto eu for o
motivo das suas marcas, não posso.
Pensei um pouco olhando para uma das enormes estantes
de livros. Era uma luta perdida.
— Não vou lutar a favor de uma coisa que você não quer
mais, então, não me resta nada além de aceitar e seguir minha vida.
Ele pensou um pouco.
— Então, vai para Stanford?
— Com toda a certeza.
Ele se levantou satisfeito e, como se as tristezas e lágrimas
anteriores nunca tivessem acontecido, disse:
— Quando você estiver formada antes de todos os seus
amigos, pode me agradecer por ter te convencido a ir — seu ar
passou de inconsolável a persuasivo.
Jamais admitiria aquilo em voz alta, mas éramos ótimos
sendo inimigos.
— Jura que achou mesmo que eu precisaria ser convencida
por alguém que nem namorava oficialmente comigo? — Seu sorriso
audacioso se desfez. — Cameron, já tinha tomado minha decisão
antes de falar com você — ri de sua expressão —, eu só iria te
comunicar por conta da consideração que tinha.
Ele ficou um tempo paralisado, mas se recompôs.
— Ah, claro, acredito que em nenhum momento você tenha
pensado em desistir por mim, então — afirmou.
— Exatamente.
— Muito bom! Acho que não terei problemas nenhum em ser
solteiro em Liberty — ele sorriu. — Você conhece as garotas de lá,
não?
Achei graça.
— Não me preocupo com isso, afinal, você é o que mais
conhece as garotas de Liberty — me aproximei dele. — Mas
imagine comigo, eu, nova estudante, nova garota e conhecida na
universidade, chegando em Stanford totalmente solteira — me
deliciei em minhas palavras. — Sem dúvidas encontrarei alguém
que me faça esquecer até o seu nome.
— Acredita mesmo que ter outra pessoa vai me fazer desistir
de você? — Ele se levantou rindo. — Essa ideia chega a ser
engraçada. Vamos nos reencontrar sim, Rebecca, nem que seja
daqui há um ano e meio, não vou desistir de nós!
— Isso não significa nada — o desafiei cruzando os braços.
Com muita calma ele se aproximou e parou em minha frente.
— Veremos, minha princesa — disse com um sorrisinho
safado, acariciou meu rosto e deu um leve tapinha.
Empurrei sua mão quando percebi que sorria junto com ele.
— Você é um safado sem vergonha, Cameron Styles.
— Que você ama — disse me puxando pela cintura.
Desviei o olhar dele segurando o riso.
— Não, eu te odeio mesmo — tentei me soltar. — Cameron!
— Dei um tapa em seu braço e ele riu me apertando mais, meu
coração começou a bater tão forte que ele poderia até ter escutado,
o encarei desistindo de me soltar. — Não ache que vamos ser
amiguinhos durante meu tempo aqui — ele concordou subindo a
mão em minha nuca e eu respirei fundo. — Trate de achar uma
nova dupla nas aulas, nosso último trabalho junto será o de história
e nenhum outro. — Ele concordou novamente puxando meu cabelo,
fechei os olhos me contendo e o olhei outra vez. — E não volte a ser
o babaca que você era.
— Amanhã mesmo vou sair beijando todo mundo que chegar
em mim — ironizou, estralei um tapa em seu ombro e ele riu. — O
que acha de uma festa amanhã em casa? Acho ótimo.
— Acho que Noah precisa de ajuda com biologia — comentei
e ele me empurrou agressivamente contra a mesa de meu pai,
quase derrubando o notebook. — O que foi? Ficou bravo? Devia ter
pensado nisso antes de terminar tudo — provoquei sentindo seus
apertos em minha cintura.
— Então agora você vai usar as pessoas para me provocar?
Que baixo, Rebecca, não sabia que era assim — me sentei na mesa
o fazendo se encaixar no espaço entre minhas pernas.
— Usar não, jamais. Mas não deixarei de falar com ninguém
e vou ajudar quem precisar — expliquei calmamente, ele subiu a
mão em meu pescoço e ficou com os olhos fixos em mim.
— Pode falar com quem quiser e quem cair no seu papo, eu
quebro depois — ele disse, eu ri sarcasticamente.
— Vai bater em todos que falarem comigo?
— Eu já não fazia isso? — Ficamos nos encarando por
instantes.
— Com quem me importunava, sim.
— E agora vou acrescentar mais algumas pessoas na lista.
— Revirei os olhos e ele apertou ainda mais meu pescoço.
Eu devia odiá-lo! Acabamos de terminar tudo e não era esse
o rumo que esperava para nossa conversa.
— Você é um babaca mesmo! — Ele riu. — Vou repetir: não
sou sua propriedade!
— E não acho isso, se achasse, não te deixaria livre para ir a
Stanford. Confio no nosso amor. — Ele desceu a mão que estava
em meu pescoço até minha cintura. — Porém, conheço os meninos
de Liberty, pode me odiar, mas não vou deixar que encostem em
você.
— O que somos agora? Inimigos novamente?
— Por mim, tudo bem. — Ele se afastou um pouco, cruzei
minhas pernas vendo seu olhar percorrê-las e ele respirou fundo por
eu estar de short. — Nunca conseguiria ser seu amigo…
— Por que não?
— Um amigo jamais te desejaria como eu te desejo — disse
deslizando os dedos em minhas pernas.
— Você prometeu ao meu pai que não tocaria em mim —
mesmo com as minhas palavras, deixei que sua mão subisse em
minha coxa.
Me levantei, parei atrás dele e aproximei meus lábios de sua
orelha.
— Então… quero que todas as manhãs você se lembre de
que não vai poder me tocar — comecei sussurrando —, que pense
que vai me olhar o dia todo na escola e não poderá me beijar —
subi as mãos em sua cintura e comecei a arranhá-la — e, antes de
dormir, quero que pense em todos os beijos que já demos — beijei
sua nuca, vendo-o estremecer —, em todas as vezes que nos
tocamos, mas principalmente em todas as vezes que chamei seu
nome com a respiração ofegante. — Arranhei levemente suas
costas e beijei seu ombro.
Me afastei, indo até um espelho antigo verificando a bagunça
que meu cabelo estava. Ele permaneceu imóvel, mesmo distante
conseguia ouvir sua tentativa de controlar a respiração e seu punho
estava cerrado.
Iria embora, ficaria sem ele por tanto tempo que não sabia o
que o destino estava preparando, mas partiria em grande estilo e,
mesmo que ele tentasse, não me esqueceria.
— Tudo bem, Cameron? — Me aproximei como se não
entendesse o motivo dele estar em choque e quando ia tocá-lo, ele
segurou minha mão com o rosto corado, me soltou sem dizer uma
palavra e se sentou. — Vou pedir para Lee chamar nossos pais —
avisei tranquilamente como se nada tivesse acontecido.
— Isso não vai ficar assim, Rebecca, pode ter certeza —
avisou enquanto eu caminhava até a porta, sorri ainda de costas
para ele e em seguida me virei.
— Não sei do que você está falando — afirmei inocente e ele
respirou com força, abri a porta. — Lee, pode chamar meu pai e tio
Arthur?
O segurança concordou na mesma hora. Não sabia o que
falar, nem tínhamos discutido nada, mas improvisaria.
Nossos pais retornaram para o escritório e a conversa entre
eles parou de imediato quando entraram. Papai se sentou e tio
Arthur se manteve em pé como antes. Eles nos olhavam como se
tentassem juntar as peças de um quebra-cabeça.
Estava pronta para falar, quando papai questionou:
— Explicou a ela sobre a luta com Bronwen, Cameron?
Teria começado a rir se não tivesse congelado antes. Não
conversamos sobre isso, meu Deus, não conversamos sobre nada
disso.
— Não há muito o que fazer, ele vai lutar de qualquer jeito e
eu já não tenho nada a ver com o que ele faz ou não — disse
tranquilamente e ficou nítido a confusão de meu pai pois não
respondi o que ele perguntou.
— O que decidiram? — Tio Arthur questionou.
Eu quem pergunto: o que decidimos?
Cameron limpou a garganta e começou:
— Há um tempo eu e Rebecca evitávamos falar um com o
outro, então não vai ser problema nenhum voltar a isso. Não
queremos envolver a família em nada, temos maturidade para
separarmos as coisas até mesmo na escola. Não continuaremos
juntos — disse respondendo à pergunta no olhar de nossos pais. —
Acredito que ela vai querer manter o contato normal com Natalie e,
— ele olhou meu pai — se me permitir, não quero perder o vínculo
com o pequeno Isaac, ele é muito importante para mim — papai
concordou. — Se todos estiverem de acordo, as coisas continuarão
normais, apenas comigo e Rebecca separados.
O olhei e abaixei o olhar entendendo seu jogo.
As famílias eram muito unidas, se os jantares, almoços e
reuniões continuarem, ele conseguiria me ver com facilidade sempre
que quisesse. Esperto, muito esperto.
Papai o encarou por instantes e Cameron não parecia ter
medo, estava sossegado como sempre.
— Então, de fato, vocês terminaram? Sem brigas, sem
separar e voltar o tempo todo. Simplesmente terminaram? Como
amigos?
— Isso mesmo — foi a minha vez de responder e papai me
olhou com os olhos semicerrados.
— Entendo — pensou um pouco e se recostou na cadeira, a
girando na direção de Arthur para o olhar. — Então, Arthur, se
estamos todos bem, acho que seu filho não se importará em ver a
ex-namorada acompanhando o filho do nosso cliente italiano no
jantar de hoje.
— Acredito que não mesmo — Arthur olhou o filho.
O olhei também e o vi cerrar o punho, piscou duas vezes e
voltou ao seu controle.
— Com todo o respeito — papai se virou para ele —, o
histórico dos filhos dos seus clientes com Rebecca não dos
melhores — disparou.
— Você também é filho de um cliente — retruquei e o olhei.
— Mas nunca fiz algo que você não queria — rebateu me
olhando e eu me segurei para não rir.
— Não se preocupe, não teremos esse problema novamente.
A filha do cliente também irá, gostaria de se juntar a nós? — Papai
questionou, revirei os olhos e ele me olhou querendo rir, em seguida
olhou para Cameron.
— Ah, com certeza.
— Ótimo. Partiremos daqui a trinta minutos para nossas
casas, o jantar será às sete da noite — avisou papai.
Cameron concordou e saiu com tio Arthur depois de me olhar
rapidamente. Ficando apenas eu e papai, o olhei.
— Achei que o senhor ficaria muito mais nervoso e daria um
jeito de me afastar de Cameron.
— Foi a primeira coisa que quis fazer, estava tão nervoso que
pedi para Rodrigo te buscar e não deixar Cameron tocar em você.
Afirmei que nunca mais o deixaria chegar perto, como se isso fosse
uma escolha minha — ele riu de si mesmo.
— Como Nádia contou a vocês? — quis saber.
— Viajamos na sexta-feira e no sábado tudo colaborou para
irmos embora. Os bebês estavam enjoados, Eliza não parava de
vomitar e o tempo simplesmente se fechou em Seattle. Todos
achamos melhor irmos para nossas casas e quando chegamos,
Nádia estava lá. Ela disse que precisava falar com a gente, mas que
esperaria Eliza ficar melhor, pois os pais de Cameron precisavam
estar presentes. Comecei a estranhar, quando Eliza estava melhor
já era tarde, mesmo assim, Nádia fez questão de ir em casa.
“Quando paramos de brigar, sua mãe já tinha ligado para Rosie que
foi correndo com Andrew para a nossa casa e lá Eliza explicou tudo
a eles. Sua mãe encarava Nádia de um jeito que se eu não
estivesse tão cego, teria entendido que ela sabia que havia algo
errado. Mas sua mãe esperou, como sempre mais sensata do que
eu, Andrew ouviu toda a história e, por incrível que pareça, começou
a defender Cameron.”
Aquilo me fez sorrir.
— Mas defendeu muito mesmo, falou várias coisas a Nádia,
não sei se eles já se conheciam. A chamou de mentirosa, disse que
Cameron jamais encostaria em você daquele jeito. Não sabia da
amizade confusa deles. Quando pedi a Rodrigo que te buscasse, vi
Arthur conversando com Andrew e ele saiu com um segurança, mas
não me importei, não queria saber de nada, só de você protegida.
Após finalizarmos o jantar, Andréas pediu que os
deixássemos conversar. Cameron lançou um olhar para Arthur e
meu pai como se passasse várias instruções sem dizer uma só
palavras.
Era impressionante vê-los trabalhando para Cameron, não
sabia se era possível, mas ele ficava ainda mais atraente com toda
essa marra e responsabilidade.
Cameron puxou um pouco minha cadeira para que eu
levantasse e, enquanto caminhávamos para uma parte com paredes
de vidro e sofás, sua mão deslizou em minhas costas nuas, me
fazendo estremecer.
Chegamos no local onde havia uma área aberta para
olharmos o lago e o céu a frente. Me sentei vendo Matteo ir até o
parapeito e observar o lago.
— Você não se lembra de mim, mesmo, Cameron? — Felicity
choramingou assim que ele se sentou ao meu lado.
— Com licença — pedi tranquilamente pronta para me retirar
e Cameron segurou minha mão com calma.
— Não precisa sair.
— Prefiro não participar dessa conversa — afirmei afastando
sua mão da minha deixando explicito o meu desconforto.
E ele não insistiu.
Me aproximei de Matteo, mantendo uma distância
considerável entre nós.
— Seu namorado não achará um problema? — achei graça
de sua pergunta.
— Na verdade, não namoramos. — Ele me olhou. — Não
mais — conclui.
— Ele sabe disso? — Fiz expressão de tédio e ele riu.
— Então, você é estudante de Stanford — mudei de assunto.
— Está cursando o quê?
— Medicina — disse com orgulho —, você será contadora,
certo?
— Talvez, pretendo fazer pós em comércio exterior e
expandir minha vida profissional — expliquei o vendo concordar. —
Como sabe sobre meu curso?
— Todo mundo sabe, na verdade — ele riu. — Pelo que vejo,
você é mais conhecida em Stanford do que imagina.
— Então você sabia que eu namorava? — questionei
arqueando a sobrancelha e ele riu envergonhado.
— Desculpe-me, mas achei que não estava mais. Me falaram
que vocês usavam alianças e… peço desculpas a senhorita por ter
sido inconveniente, alianças não deviam ser o motivo de eu achar
que namora ou não.
Acabei me permitindo rir de seu jeito, mas quando ele me
olhou por inteira senti o mesmo olhar do filho do quase cliente
britânico de papai e, por instinto, dei um passo para trás.
— Fiz algo que te incomodou? — Ele deu um passo à frente
e eu para trás, ainda sem saber o que falar.
— Rebecca — Cameron se aproximou, ele me olhou e em
seguida, com os nervos à flor da pele, encarou Matteo. — O que
você fez?
— Cameron, ele não…
— Fale, o que você fez?
O segurei pelo braço quando ele estava prestes a ir para
cima de Matteo e coloquei meu corpo em sua frente.
— Ele não fez nada — repliquei com sinceridade —, acho
que foi coisa da minha cabeça.
Quando olhei Matteo, ele parecia totalmente confuso.
— Me desculpe se fiz algo…
— Não chega perto — Cameron pediu erguendo a mão
direita para a frente, como se tentasse o afastar de mim.
— Não, não se preocupe. A culpa não foi sua, eu quem peço
desculpas — disse, abaixando a mão de Cameron.
Matteo apenas balançou a cabeça, carregando confusão em
seu olhar, e correu até Felicity quando ela quase caiu de tanto que
tinha bebido.
Quando eles se afastaram e saíram da sala, encarei
Cameron que ainda estava tenso e não tirava os olhos de mim.
— Está tudo bem? Ele fez algo?
— Não amo… Cameron — me corrigi, sentindo um frio na
barriga.
Caminhei até os sofás, me sentando, comecei a sentir dores
nos pés e com um frio repentino passando pelo meu corpo, acabei
estremecendo.
— Ele só me olhou e foi como se eu visse… — suspirei —
enfim, tenho certeza de que foi minha mente me sabotando.
Cameron se sentou ao meu lado após colocar o paletó em
meus ombros. Senti seus lábios beijarem minha testa e ele me
abraçou pelos ombros, me fazendo deitar em seu peitoral.
— Sei como é — afirmou beijando novamente o topo de
minha cabeça. — Mas ele te olhou com maldade?
— Não quero pensar nisso. — O abracei pela cintura, mesmo
sabendo que não estávamos mais namorando.
Nos olhamos e ele suspirou, passando a mão no rosto
corado.
— Meus pés estão doendo, acha que vou passar vergonha
se sair desse restaurante super chique descalça? — questionei, me
soltando dele e olhando meus pés.
— Não acho, mas acredito que seja melhor eu te carregar no
colo, assim não vai chamar tanta atenção — brincou e se levantou
pronto para me pegar.
— Não, garoto — rebati rindo e empurrando suas mãos.
— Mas depois que nos casarmos, eu vou te carregar no colo
de qualquer jeito — disse com um sorrisinho fofo nos lábios.
— Você joga baixo, Styles — me levantei o encarando,
mesmo de salto ficava menor que ele.
— Você que vem toda arrumada, com um vestido que, se
Deus quiser, um dia eu vou rasgar todinho, um batom que está me
deixando louco e, não sei como, mas está mais perfeita do que já é,
e quer me dizer que eu jogo baixo?
Perdi a fala. Rasgar meu vestido? Por que tive que me
concentrar justamente nessa parte?
— Cameron, não me dirija a palavra.
— Vou dirigir o beijo, então — disse dando um passo para
frente, estiquei o braço tocando em seu abdômen e o mantendo
afastado.
— Você para, entendeu? Terminamos. Cada um para o seu
lado.
— Mas às vezes eu posso ir para o seu lado — ele me puxou
pelo braço que o impedia de nos aproximar.
— Você é impossível mesmo.
— E você é perfeita — afirmou roçando o nariz em meu
pescoço.
— Com licença — o chamado do garçom fez com que eu me
afastasse de Cameron. — O senhor Malik e o senhor Styles estão
os aguardando para partir — avisou.
Concordamos e, novamente, Cameron colocou a mão em
minhas costas enquanto caminhávamos até a saída. Me despedi
dele e de tio Arthur, e finalmente me livrei dos saltos sentindo um
alívio percorrer meu corpo.
— O que vocês estavam fazendo? — Papai quis saber.
— Conversando com os Hernandez — respondi tentando
finalizar o assunto.
Papai riu e não disse mais nada.
Los Angeles, Estados Unidos,
Segunda-feira, 02:23.
Me virei na cama pela terceira vez. Não importava o que eu
fizesse, Cameron ainda estava em meus pensamentos,
principalmente nos impróprios.
Me levantei após ver que, se continuasse deitada, não
conseguiria dormir. Olhei o formulário em minha mesa de estudos e
me lembrei de que precisava preenchê-lo e entregar a diretora para
garantir que entraria no projeto de Stanford. Neji disse que
entregaria o dele amanhã que, na verdade, era hoje, talvez eu
fizesse o mesmo.
Liguei a luz de meu quarto, coloquei meus óculos e comecei
a preencher todas as informações solicitadas. Minha idade,
nacionalidade, cor, gênero e todas essas informações chatas.
Assinei o formulário e agora só faltavam as assinaturas dos meus
pais e da diretora.
Estava decidida.
Entre ficar em Liberty remoendo meu término com Cameron,
esperar a ida dele para a seleção de Stanford ou ir para a
universidade e ter minha vaga garantida, escolhi a segunda opção.
Acreditava que mesmo após contar a ele, iria de qualquer
forma. Sabia que não tinha o colocado entre meu futuro, mas queria
explicar para ele o projeto e não terminaríamos como terminamos.
Amanhã como olharia para Cameron e não o beijaria?
Éramos amigos ou inimigos? Ex-namorados? Não vamos nos falar?
Vamos nos falar? E se alguém desse em cima dele, ele der moral
para a pessoa e eu ainda sim quiser matá-lo, eu poderia?
Ah, claro que não! Que loucura a minha… talvez dar apenas
um soco. É, talvez.
Perdida nesses pensamentos enquanto encarava a janela, vi
uma pequena luz em minha direção piscar três vezes. Era meu sinal
com Natalie quando tínhamos oito anos e fazíamos com a lanterna.
Sorri colocando um roupão e as pantufas.
Desci rapidamente as escadas, mas sem fazer barulho,
passei da porta após a parede da churrasqueira que tinha atrás da
casa e caminhei até a casa na árvore. Vi Natalie, que me olhou com
um sorriso alegre e olhos avermelhados, e subi até ela.
— O que aconteceu amiga? — A abracei forte e ela chorou.
— Você vai embora — resmungou baixinho. — Acabei de tê-
la novamente em minha vida e vou ver você partir. — Ela me olhou
—, mas não é isso. A verdade é que estou tão orgulhosa de você
que mal consigo pensar no quanto vou sentir sua falta. Estou
chorando de felicidade pela sua conquista — disse com sinceridade
em seus olhos.
— Deixe para sentir saudades quando for o momento, ainda
tenho mais de um mês aqui e quero aproveitar ao máximo. — Ela
sorriu me abraçando forte.
— Eu te amo, sua chata. Estou orgulhosa de você. — Sorri
com os olhos cheios d'água.
— Muito obrigada! E… — ela me olhou limpando o rosto —
também estou orgulhosa de você. Está crescendo e amadurecendo,
vendo o que é prioridade e quando cheguei aqui você estava uma
bagunça.
— Estava, não é? — Ela riu se endireitando e olhando para o
céu, beijei o topo de sua cabeça e ela me olhou. — Pode me
explicar por que você e Cameron não estão acabados? Tinha
certeza de que ele ficaria destruído com o término de vocês.
Procurei as palavras exatas, mas não achei nada. Abri a boca
para falar três vezes e nada.
— Vocês terminaram, certo? Acho que a essa altura todos
sabem.
— Terminamos… — disse e não consegui concluir a fala.
— Você ficou com ele mesmo depois de terminar, não foi? —
questionou como se não fosse surpresa.
Fiz uma careta.
— É… — admiti. — Por que tem que ser difícil assim? Estava
com raiva dele, ele quem terminou comigo e do nada estávamos
nos beijando, depois nos provocando e… é confuso. Depois ele
ficou com ciúmes de Matteo e eu simplesmente não me incomodei
com isso.
— Vocês se amam, claro que vai ser confuso e muito difícil.
Acho que enquanto você estiver aqui, isso não vai acabar, e talvez
nem depois.
— Mas tem que acabar… concordamos em nos separarmos
e talvez o sofrimento seja menor quando eu for embora — insisti a
vendo negar.
— Você sabe que não há nada que possa ser feito para o
sofrimento de ficarem longe diminuir, não tem como não sofrer
porque vocês se amam. Acredito que o arrependimento vai ser
grande se não aproveitarem o agora.
Paramos de falar quando a silhueta de Cameron se formou
na escuridão. Ele desceu o pequeno gramado e parou na frente da
casa da árvore.
Natalie estava certa, não havia nada a fazer para amenizaria
o sofrimento, mas podíamos brincar um pouco, nosso jogo particular
de provocações não precisava acabar, pelo menos nos restaria as
lembranças boas, engraçadas e até quentes.
— As duas donzelas sabem que são três da madrugada e
amanhã temos aula? — ele questionou jogando a luz da lanterna
em nossos rostos.
— Sim, temos relógio — rebati.
— Ótimo, então não preciso avisar que está na hora voltar a
dormir — Cameron retrucou.
Eu e Natalie nos olhamos, suspiramos e descemos da casa.
— Te vejo depois amiga, te amo. — Ela me abraçou e
começou a subir até sua casa.
Comecei a caminhar até a minha e notei que Cameron vinha
atrás.
— Problemas para dormir, senhorita grosseria? — O olhei
quando estávamos próximos de um muro.
— Estava preenchendo o formulário de Stanford, senhor
intrometido.
— E por que decidiu preencher isso a essa hora? — Seus
lábios tremeram em um sorrisinho cínico.
— Não te devo satisfação alguma, Styles.
— Tenho um palpite — ele se aproximou de mim e deixou a
lanterna desligada no chão —, você estava pensando em mim —
ele deu um passo para frente, senti a parede fria em minhas costas
e seu corpo colando no meu — e por isso não conseguiu dormir — e
apertou minha cintura.
— Você é muito egocêntrico, isso não tem nada a ver. — O vi
sorrir.
— Algo me diz — ele começou a subir a mão em minha nuca
— que você quer me beijar — sussurrou com os lábios próximos de
minha orelha e puxando meu cabelo.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Quem te garante isso?
Ainda com os lábios próximos de minha orelha, sussurrou:
— Você não se afastou.
Meu coração parou e minhas mãos suaram. Abri os olhos e
senti seus lábios nos meus. Fingi que lhe daria passagem e me
afastei com um sorrisinho.
— Não vai ser assim tão fácil. Boa noite, Styles — beijei sua
bochecha.
Ele suspirou, sem falar nada, beijou minha testa e me
observou partir.
Los Angeles, Estados Unidos,
Segunda-feira, 06:15.
Antes de me levantar, ouvi duas batidas na porta do quarto.
— Pode entrar — disse me espreguiçando na cama e mamãe
entrou no quarto.
— Bom dia, querida, vim ver como está — disse se sentando
na minha cama após dar um beijinho na minha testa.
— Fui dormir tarde e estou exausta, o dia vai ser longo hoje
— comentei me sentando e ela concordou. — Mãe, a senhora apoia
minha ida para Stanford?
— Com toda a certeza, docinho! — afirmou animada e eu
suspirei aliviada.
— Vou entregar o formulário hoje.
Ela concordou, pensou por instantes e disse:
— Sabe que toda a escolha, mesmo que seja ótima para o
futuro, tem consequências, não é?
Abaixei o olhar concordando e ela continuou:
— Isso não é para te desmotivar, pelo contrário, quero que
você invista no seu futuro da melhor forma. Mas não é só de
Cameron que você vai se separar, vai ser dos seus irmãos, de mim
e do seu pai, dos seus amigos… — As lágrimas começaram a brotar
em meus olhos e descer em meu rosto. — Minha querida, alguns
sacrifícios são necessários para que algo melhor aconteça. Você
está se separando agora, mas depois vai ter todo o tempo para
estar junto das pessoas que ama. Além do mais, vai conhecer novas
pessoas para acrescentar em sua vida. Quero que esteja pronta
para tudo, desde a partida até a chegada.
A abracei, me permitindo chorar.
— Vai doer sim, mas preciso ir — afirmei e ela concordou
sorrindo.
— Fico feliz em te ver tomando suas próprias decisões — ela
sorriu limpando meu rosto e sua expressão ficou alegre. — Agora
pode me explicar qual é a relação de você com Cam?
Comecei a rir enquanto fungava pelas lágrimas anteriores.
— Como vou explicar algo que nem eu entendo? — Ela me
olhou impressionada. — Na verdade, como sempre foi, eu não
quero dar o braço a torcer e nem ele.
— Acho que é melhor eu não perguntar mais nada, vocês são
confusos — ela riu se levantando.
— É, faz parte — comentei.
— Tchau, querida.
— Tchau, mãe.
Depois de me arrumar, tomei um café rápido e corri até o
carro de Natalie.
— Bom dia, senhorita atrasada.
— Bom dia, coisa chata — retruquei quando ela deu partida.
— Vai entregar o formulário? — Suspirei concordando. —
Podemos ir ao shopping hoje?
— Claro, só que vou ir falar com Andrew mais tarde e depois
podemos ir.
— Andrew? — questionou confusa.
Antes, quando falava o nome de Andrew, Natalie ficava
estranha, incomodada e um pouco sem jeito. Agora parecia um
simples nome, sem qualquer sentimento por trás, como se ela
estivesse falando de Josh ou Peter.
— Tenho algumas coisas a resolver com ele — ela apenas
concordou sem fazer muita questão de perguntar mais algo.
— Sabe o que eu estava pensando? — A olhei negando
quando ela estacionou o carro e seus olhos encararam Elliot
encostado no próprio carro com os meninos do time. — Nossas
vidas amorosas estão em sintonia.
— O quê? — questionei rindo e ela deu de ombros aos risos
também.
— Eu e Elliot terminamos, mas a gente não se separa. Você
e meu irmão a mesma coisa. A diferença é que com você aconteceu
algo que nenhum dos dois quer me contar e tem Stanford no meio.
— É… acho que faz um pouco de sentido — observei a
mesma direção que ela e franzi o cenho, confusa. — Cameron não
veio?
— Vem mais tarde, disse que precisava resolver algumas
coisas com Nathan.
— O irmão de Katherine?
— Ele mesmo — ela se soltou do cinto. — Ficou sabendo
que Katherine foi morar com a avó no Canadá? Muito estranho, ela
parecia estar amando Liberty.
— É… muito estranho — afirmei tentando não demonstrar
que sabia o motivo.
— Acho que você a expulsou, onde eu assino para te
agradecer por isso? — A olhei com olhos arregalados.
— Me agradecer? — questionei saindo do carro e ela logo
em seguida.
— Sim, toda garota abusiva com o meu irmão que
simplesmente some é uma benção — disse erguendo as mãos para
o céu como se agradecesse. — Mas acho que não foi você. — Ela
riu. — Deve ter sido outra coisa. Enfim, como foi o jantar de ontem?
Soube que Felicity e o gostoso do irmão dela estavam lá.
— Estavam. Matteo parece ser legal, mas acho que assustei
ele. — Ela entrelaçou o braço no meu e, quando estava prestes a
dizer algo, várias pessoas vieram em nossa direção.
Sabia que teria de lidar com aquilo, não por ser o foco de
Liberty, mas por Cameron ser o capitão do time, rico, conhecido e
desejado. Agora estando solteiro e eu sendo a ex-namorada,
seriamos o foco, porque muitos ali amavam uma fofoca e, por ora,
éramos nós o assunto do momento.
— Então você e o capitão terminaram? — Elise questionou.
— Por que terminaram? — um garoto questionou.
— Cameron está livre para a gente? — duas garotas
comemoraram juntas.
— Finalmente, assim que ele chegar vou ir falar com ele —
reconheci a voz de Kristen.
— Vamos planejar o que vamos fazer — Paloma disse com o
tom de voz devasso.
— E você está solteira? — Jack, do time, questionou.
— Já tem vaga? — Victor, que também era do time, brincou.
— Vai para Stanford mesmo? — Ouvi alguém questionar.
— Por isso que vocês terminaram? — outra pessoa
questionou.
As perguntas não paravam e eu não conseguia mais
distinguir quem estava perguntando o quê. Soltei um assobio alto,
como meu avô materno me ensinou a fazer com os cavalos da
fazenda, e até mesmo quem não estava na rodinha me
questionando ficou em silêncio.
— Sim, eu e Cameron não estamos mais juntos. Não, eu não
estou disponível e não quero um novo relacionamento. O motivo do
término não diz respeito a vocês e se vou ou não a Stanford contarei
as pessoas que realmente gostam de mim e não um bando de
curiosos que só querem espalhar a fofoca. Vocês podem me deixar
em paz agora! Paloma e Kristen — as duas me olharam —, parem
de querer usar o Cameron para sexo, isso é baixo até para vocês e
ficar planejando um golpe do baú nele me dá ânsia de vômito.
As duas ficaram sem saber onde enfiar a cara.
— Com licença — pedi me afastando de todos e caminhando
até a escola.
Não demorou muito para que Natalie se aproximasse com
Elliot, no meio da confusão ela acabou sendo afastada de mim.
— Capitã — ouvi Peter chamar, ele me abraçou e em seguida
os outros meninos fizeram o mesmo.
Como sempre, eles pegaram tudo o que eu estava segurando
e carregaram.
— Ah, sua safada! — Lana pulou na minha frente e me
abraçou. — Estou muito feliz por você! — disse beijando meu rosto.
— Minha mãe é professora de lá, espero que vocês se conheçam.
— Eu também espero, fico pensando em não conhecer
ninguém em Stanford, me deixa tão aflita.
— Não se preocupe, logo estaremos lá — Josh disse
animado.
Calleb me abraçou pelos ombros praticamente empurrando
Lana.
— Eu te odeio sua pilantra, você nunca me conta nada.
— Nem para o namorado ela contou — Elliot disparou e eu
revirei os olhos, fazendo uma careta para ele.
— Ex-namorado — corrigi.
— Natalie também é minha ex — ele a puxou tão
rapidamente que ela nem teve tempo para desviar.
— Vou entregar o formulário agora — disse quando parei em
meu armário e Calleb concordou parando no dele. — Obrigada,
meninos — agradeci a Eric e Adam que apenas concordaram e
saíram.
— Boa sorte! — Lana, Calleb e Natalie disseram juntos
quando comecei a caminhar até a diretoria.
A recepcionista pediu que eu esperasse um pouco, pois a
diretora estava em reunião e, quando a porta se abriu, quase não
acreditei no que via. Kevin, Oliver e mais dois homens. Eles
passaram por mim, jurava que iam rir, mas estavam cabisbaixos
como se fossem morrer se me olhassem.
— Senhorita Malik — um dos homens me chamou —, sou
Mark, pai de Oliver — ele estendeu a mão, apenas acenei com a
cabeça sem tocar em sua mão e ele colocou às mãos no bolso da
calça um pouco surpreso e sem jeito. — Gostaria de dizer que meu
filho e Kevin estão vindo para Liberty em paz.
— Conheço a paz de Oliver e Kevin — rebati e só depois tive
noção do que disse.
O olhar dos homens mudou e Oliver e Kevin continuaram
sem me olhar.
— Espero não termos problemas — o outro homem, pai de
Kevin se estava certa, disse.
— Rebecca — a diretora chamou, a olhei e ela me deu
passagem para entrar em sua sala.
— Com licença — pedi me retirando.
— Sente-se, por favor — fiz o que a diretora pediu. — Como
vai, Malik? No que posso te ajudar?
— Vim entregar o formulário e as cópias dos meus
documentos estão junto — expliquei, pegando a pasta com os
documentos e a entregando.
— Devo dizer as consequências dessa escolha antes de
levar esses documentos a Geórgia.
— Sei que é um grande passo e que vou me afastar de todos
os meus amigos, tenho noção disso — ela sorriu carinhosamente.
— Tenho certeza de que sabe, minha cara, não é apenas
isso, porém. Sobre seus sentimentos e perdas, estou certa de que
Olívia e Owen cuidaram disso — iniciou. — Mas essa escolha vai
além de se separar dos seus amigos — ela abriu uma das gavetas
de sua mesa e tirou de dentro um documento. — Vamos começar
pelo Fênix, em resumo — ela colocou os óculos — na cláusula
sétima do contrato que precisei assinar para ter Liberty nas
competições, diz: apenas alunos ingressantes no ensino médio
podem participar das competições.
“E não vejo dupla melhor para fazer isso dar certo. Além dele ser
uma pessoa que também vai atrás de tudo e gosta das coisas
resolvidas, pode também ser um certo termômetro entre eles”.
Olhei o papel a minha frente com os nomes dos novos
representantes.
— Sei que farão um ótimo trabalho. Deixo tudo em suas
mãos Melissa Parker — ela me olhou surpresa e seus olhos
brilharam — e Samuel Hale — ele me olhou espantado e incrédulo.
Era uma combinação estranha, mas apoiei Neji em escolhê-
lo.
Houve uma explosão de aplausos e quando Melissa se
aproximou, estava radiante. Parecia surpresa e sem acreditar que
podia ser escolhida por alguém.
— Você… você me escolheu? — questionou em voz baixa e
abrindo um sorriso.
— Sim, não tenho dúvidas de que você é perfeita para isso!
— Ela me abraçou sorrindo.
— Vocês perderam a noção comigo, não foi? — Samuel
disse baixinho.
— Você que lute — rebati o vendo rir.
— Muito obrigada, Rebecca.
Após o agradecimento da diretora, voltei ao meu lugar vendo
Karen, Yuna, Kristen e Paloma bufarem me olhando com ódio. Foi
então que confirmei ter feito a escolha perfeita com Melissa.
Fomos dispensados após a diretora terminar de falar e me
senti perdida quando vi todos irem para os seus devidos projetos,
não existia um aluno se quer que não participasse de algum, seja
nos bastidores ou a frente de algo.
Eu não participava de nenhum pois ser uma universitária de
Stanford me proibia daquilo, não era representante de nada e todos
os meus amigos estavam fazendo suas tarefas, não podia ficar em
cima e atrapalhar a todos.
Estava decidida a ir para a casa ver se tia Eliza precisava de
algo para a festa surpresa de Natalie — considerando que seu
aniversário seria amanhã — e só retornar na segunda-feira de aula,
quando senti alguém tocando suavemente minha mão.
— Capitã — ouvi a voz de Melissa —, como pôde confiar em
mim assim?
— Eu faço o que sinto que devo fazer. Você é perfeita para
isso Melissa, sempre achei que era você a certa para fazer isso e
não eu, mas tem toda essa idiotice de prova e nota cem como se
isso pudessem definir a inteligência e responsabilidade de alguém.
— Você é louca, Rebecca, você era perfeita e estava fazendo
um ótimo trabalho — rebateu me fazendo sorrir.
— E agora você vai continuar fazendo um ótimo trabalho!
— Não sem você — franzi o cenho —, Neji vai ajudar Samuel
com as coisas que ele fazia e eu vou precisar da sua ajuda, sério,
preciso mesmo. Como vou conciliar os ensaios das líderes com
tudo? Me ajuda?
— Com toda a certeza! — Ela me abraçou de forma tão
espontânea que me fez sorrir.
— Obrigada por confiar em mim e… — a olhei — me
escolher.
— Não precisa agradecer, vem, vou pegar a blusa de
representante no meu carro para te entregar.
Ela sorriu começando a caminhar ao meu lado.
— Quando for o jogo dos meninos, você pode pedir para o
Samuel fazer a anotações, eu nunca conseguia ficar parada quando
via alguém chegando perto do Cameron com intenção de machucá-
lo — rimos —, então Neji quem fazia as anotações. Como você vai
dançar com as líderes, fale com ele para anotar as coisas.
— É tão estranho falar com Samuel depois ter transado com
ele — disparou e quando a olhei surpresa, ela levou a mão até a
boca como se tivesse se arrependido de suas palavras.
— Tudo bem, não sei de nada — afirmei me rendendo.
— Foi estranho, mas foi incrivelmente bom. Ele é engraçado,
é tímido, mas na cama não — me admirei com ela falando tudo para
mim, mas parecia não ter medo e nem estava desconfortável —… é
maconheiro e gostoso. O que eu faço? Toda vez que olhar para ele
vou lembrar dele sem roupa.
— Aí se ele concordar você tira a roupa dele — brinquei e ela
deu um tapa em meu ombro.
— Rebecca! — repreendeu enquanto eu gargalhava.
— Admito que para mim uma relação assim é diferente, por
mais que meus amigos transem logo no primeiro encontro ou em
uma festa, não sei como lidar porque nunca fiz. Mas você o quer de
novo?
— Não, credo, ele é um nerd!
— E, credo, você é uma líder de torcida! — rebati com tom
enojado.
— Às vezes eu tenho vontade de te bater, sabia? — disse
rindo.
— De qualquer forma, você vai precisar falar bastante com
ele.
— Ótimo, mal posso esperar — ela fingiu estar desanimada,
mas havia algo em sua voz que a entregava.
— Me engana que eu gosto — rebati, vendo-a rir
envergonhada.
Peguei a camiseta de representante e entreguei a ela, em
seguida travei o carro.
— Ele é amigo de Luce — comentou enquanto retornávamos
para a escola. — Ela vai ficar tão chateada se souber…
— E vai ficar ainda mais se souber por outra pessoa que não
seja você, acredito — comentei e ela abaixou o olhar.
— Sei disso, mas é difícil contar assim, sabe?
— Se preocupe com as coisas de agora e depois conte a ela
— pedi quando passamos por Cameron, Peter, Josh e Elliot. Tentei
ignorar os olhares de Cameron, mas era inevitável.
— Certo. Vou ir ver se a blusa fica boa em mim.
Ela entrou no banheiro e eu me dirigi até meu armário para
pegar a prancheta que usava nas anotações de representante.
— Podem ir na frente. — Ouvi Cameron dizer.
Senti um frio na barriga quando os meninos passaram com
sorrisinhos bobos nos rostos e fizeram um sinal de soldado para
mim, deixando o corredor apenas comigo e Cameron.
— Rebecca.
— Cameron, não. Não quero conversar — disse fechando o
armário e começando a caminhar.
— Por que você tem que ser tão difícil? — questionou,
parando em minha frente, era nítido que ele tentava não me tocar.
— Que bom que não precisa lidar mais comigo, afinal, eu
quem terminei o namoro — rebati desviando dele.
— Me escuta pelo menos, Malik! — exigiu, o ignorei e
continuei andando. — Rebecca! Mas que inferno! — O ouvi xingar.
Em questão de segundos seus passos se apressaram e ele
me prendeu contra a parede de forma que minhas costas bateram
contra ela.
O toque dele contra minha pela trouxe uma carga elétrica tão
forte que não consegui o olhar, sabia que se olhasse toda minha
raiva sumiria e aquilo não podia acontecer. Mas, mesmo tentando
me manter fria, meu corpo todo estava arrepiado e quente, e seus
olhos o percorrendo deixava claro que ele tinha percebido.
— Não quero falar com você — disse desviando o olhar e
tentando afastá-lo, o empurrando pela cintura.
Ele estremeceu um pouco, precisando de mim tanto quanto
eu precisava dele.
— Você com raiva fica impossível de parar! — disse com um
certo tom de brincadeira.
Tentei controlar, mas com suas mãos em minha cintura,
minha respiração começou a ficar acelerada e meu coração
disparado.
— Acha mesmo que faria algo para te deixar mal? Para te
prejudicar? — questionou com tom sofrido, como se aquilo o
ofendesse.
Ele acariciou minha bochecha e eu tive vontade de chorar…
precisava tanto dele que era difícil disfarçar.
— Me culpar de algo parece ser uma coisa para me deixar
mal sim, Styles. Eu e você sabemos o que aconteceu, sei que não
estou totalmente sem culpa nisso tudo, mas você sabe da verdade
— disparei o olhando e quando terminei de falar, desviei novamente
o olhar e tentei me soltar dele.
Ouvimos passos leves pelo corredor e Cameron me
empurrou para dentro de um laboratório vazio onde a única
claridade era a que entrava pelas janelas.
— Me admira você ainda desconfiar do meu amor e lealdade
— disse me deixando sem fala. — Eu jamais, Rebecca, jamais
gostaria de fazer algo para te deixar chateada e me dói por inteiro
saber que o fiz, mas não tive escolhas.
Seu corpo ainda estava colado no meu, consegui o olhar e
seus olhos pareciam buscar os meus mais do que qualquer outra
vez.
— Do que você está falando? — questionei em voz baixa.
— Você deve ter ouvido os comentários que estavam fazendo
sobre eu ter terminado por falta de sexo — começou sem rodeios,
ele se afastou de mim e passou a mão em uma das cadeiras que
tinha na sala, como se estivesse pensando em tudo. — E as coisas
só estavam piorando, a cada dia que passava eles estavam falando
mais e mais sobre, não podia deixar que essa merda toda
continuasse — disse se virando e me encarando —, então dei um
jeito.
— Dizendo que foi eu quem terminei?
— Sim. Yuna e Brooke queriam uma matéria, estavam
dispostos a escrever as opções para termos terminado e deixar que
as pessoas votassem, dentre elas estaria eu ter terminado por você
não ter me segurando sem sexo ou você ter terminado por pensar
no seu futuro.
— Cameron, parece até que eu sou uma grande egoísta que
só pensou em mim! — disparei com raiva.
— Então era melhor eu deixar todo mundo cogitando nosso
término ter sido por você não me segurar? Não entende o que fiz?
Você não saiu como egoísta, saiu como a garota que pensou no seu
futuro, leu a matéria toda? Acredito que não, mas deixei claro que
não foi por falta de amor, foi por um motivo maior e que a gente
sabe que no fim vamos nos reencontrar. Caso contrário, você sairia
como a garota que não consegue segurar homem e eu como o
garoto que só queria tirar sua virgindade, mas não, você vai embora
de cabeça erguida como alguém que pensou no futuro.
Engoli em seco. A primeira opção parecia horrível para
ambos os lados.
Abaixei a cabeça assimilando tudo e ouvi seus passos,
quando levantei os olhos, ele estava próximo de mim.
— Como você mesma disse, sabemos o que aconteceu e eu
tenho total noção de que foi eu quem terminei, só que não podia
deixar todos falando aquelas coisas de você e fiz Yuna prometer
que não voltaria mais nesse assunto ou ele vai ver algo que não vai
gostar nem um pouco — afirmou passando os dedos em meu rosto.
— Sei que não concorda, mas agora você está ainda mais livre
para...
— Você não vê o que está bem na sua cara! — Ele me olhou
confuso. — Eu nunca estive presa porque seu amor me faz sentir
livre. Acha mesmo que se eu me sentisse presa continuaria com
esse relacionamento? Claro que não. Não tem do que me libertar,
Cameron — afirmei. — Você podia ao menos ter me contado sobre
esse negócio do jornal.
Ele riu fraco.
— Não tinha como e não quero nem que saibam que estou
falando com você agora.
— Estão em cima de você tanto quanto estão de mim? — Ele
concordou.
— Demais. Minha mãe não para de perguntar todo dia como
estou, quase não me deixa sozinho quando estamos em casa
porque acha que vou fugir. Os meninos do time toda hora querem
fazer algo e na escola as meninas estão se jogando para cima de
mim, minha irmã tá um saco, todo mundo ligado em mim e não tinha
como falar com você — achei graça de seu jeito de falar.
— Eu sinto muito — pedi — e por ter te culpado e duvidado
de você também. — Forcei um sorriso. — Comigo está na mesma.
O time está me protegendo ainda mais. — O olhei. — Graças a
você. Admito que, meus pais acham melhor estarmos separados,
papai tinha deixado claro isso e agora mamãe também concorda.
Disse que se ficarmos acostumados assim, minha ida a Stanford por
ser um pouquinho menos dolorosa — quando senti suas carícias
novamente em meu rosto, meu corpo todo se arrepiou. — Mas está
doendo, Cameron — decidi admitir, não queria mais ficar longe
dele… e nem sabia se aguentava. — Não aguento mais ficar assim.
Dei um passo para frente e ele para trás.
— Eu preciso de você, muito, muito mesmo. Mas… não
quero te machucar outra vez — disse com um tom doloroso e sem
me olhar.
— E você não vai — afirmei levantando seu rosto. — Tenho
certeza disso.
Acariciei suas bochechas colando nossas testas e o vendo
respirar fundo. Selei nossos lábios e ele sorriu colocando a mão em
minha nuca.
Sentia que seu toque ainda era receoso e dei passos para
frente o fazendo ir para trás, quando ele parou o empurrei para se
sentar na cadeira.
Não me importava com nada, queria beijá-lo nem que fosse
por uma última vez. Pude ver todos os seus medos se esvaindo e
um sorriso malicioso e desejoso se formar em seus lábios enquanto
seus olhos brilhavam me encarando.
Suas mãos puxaram minha cintura com firmeza me fazendo
sentar em seu colo com uma perna de cada lado e, então, me beijou
com voracidade.
Quando senti sua mão em minha nuca, empurrei seu braço
para cima fazendo seus dedos se afundarem em meus cabelos e os
puxarem com firmeza.
De início, era um beijo de saudade, ambos sentindo uma falta
avassaladora dos lábios um do outro, mas se tornou algo mais.
Além do perigo de sermos pegos dentro do laboratório, tinha
a adrenalina que percorria nossos corpos e o desejo que nos
dominava, era quase impossível de conter.
Cameron me puxava contra seu peitoral com a mão firme em
minhas costas e sua mão desocupada apertava minhas coxas
enquanto nossas línguas se massageavam lentamente.
Seu braço envolveu minha cintura na medida em que com a
mão desocupada ele voltava a puxar meu cabelo e eu deslizei as
unhas em seus braços com mais força do que as outras vezes em
que o arranhava.
— Senti tanto a sua falta, tentei dizer a mim mesmo que se
continuasse longe ficaria menor minha saudade, mas não… meu
corpo precisa do seu, meu coração precisa de você — sussurrou
beijando meu pescoço e em seguida o apertou.
Sorri arranhando sua nuca, não queria dizer nada, mesmo
sentindo o mesmo que ele.
Voltamos a nos beijar e o tempo parecia ter parado.
Suas mãos me tocavam e me apertavam com precisão, desci
meus lábios lentamente em seu pescoço sentindo sua pele macia e
seu cheiro estonteante, suas mãos, porém, começaram a fraquejar
ao ponto em que sua respiração ficou descompassada e ofegante.
— Rebecca… — murmurou com a voz rouca, quase que em
um gemido baixo, quando me movi um pouco para frente e ele
estremeceu.
Quando o senti, me afastei um pouco, entendendo o motivo
dele estar tão fraco, sensível e entregue. Meu corpo todo se
arrepiou novamente e minhas bochechas queimaram.
— Me desculpa — disse saindo de seu colo e ele estava
vermelho, mas não de vergonha como eu. — Acho melhor eu… é…
sair e te dar espaço, não?
Ele riu baixo passando as mãos no rosto e apoiando os
cotovelos na bancada.
— Por mais que eu não queira te deixar nunca, acho melhor
também.
— Certo — disse um pouco sem jeito, queria beijá-lo antes de
sair, mas ele estava concentrado em controlar a respiração e talvez
controlar a si próprio.
Verifiquei atentamente se havia alguém no corredor e para a
minha felicidade estava vazio. Corri para o banheiro feminino e me
deparei com a figura mais bagunçada possível de mim mesma.
Sorri sozinha e feliz, estava radiante e precisava me
controlar.
Se soubessem seria pior, mais notícias para o jornal, meus
pais odiariam no momento, meus amigos me encheriam de
perguntas e seria um caos, faltavam semanas para as férias de
verão e todos iriam se achar no direito de se meterem em nossas
vidas. Não estava preparada para isso e para uma porção de coisas
que viriam juntas, e sabia que ele também não estava.
Depois de usar o banheiro, passar uma água no rosto e
acalmar todos os nervosos de meu corpo, sai indo até uma máquina
de refrigerante e pegando uma latinha de coca cola.
Meu corpo ainda estava eufórico, quase não conseguia
disfarçar o sorriso em meu rosto, mas um pensamento veio em
minha mente e tudo mudou.
— Achei você! — Ouvi a voz de Natalie.
E por algum motivo um frio se passou em meu estômago,
sentia-me flagrada mesmo não fazendo nada, pelo menos não
agora.
Me virei lentamente em sua direção torcendo para que não
estivesse estampado em minha cara que acabei de beijar seu irmão.
— Oi, amiga — a olhei abrindo minha coca.
— Onde estava? — questionou se aproximando.
Gelei tomando um gole de coca pensando em uma desculpa.
— No estacionamento recarregando minhas energias —
menti.
— Imagino. — Ela entrelaçou o braço no meu me fazendo
caminhar junto. — Hoje não ouvi tantas coisas, acho que pelo jornal.
Lana estava chorando achando que você ficaria brava com ela por
ter deixado sair a matéria de Brooke, mas ela só queria que
parassem de falar o que estavam falando de você.
— Às vezes acho que não ouvi nem metade do que falam —
admiti e ela concordou.
— Por que acha que o time está tão cuidadoso com você?
Não é apenas pelos meninos, mas sim por eles conseguirem fazer
tanto barulho que você nem consegue escutar os comentários —
disse enojada. — Não é como se a escola toda falasse de vocês,
mas os fofoqueiros falam sobre a intimidade de você e Cam como
se fosse um assunto no qual eles podem falar, sério, era tão
nojento. Pelo menos hoje, depois do jornal, isso acabou porque
agora sabem a verdade.
A verdade…
— Em breve nada disso vai importar, não quero perder meu
tempo. O que vai fazer amanhã no seu aniversário? — questionei
caminhando até às arquibancadas do campo de futebol onde o
pessoal estava.
— Elliot vai me levar para passear e depois não sei, hoje vão
fazer a noite das garotas com o time, estávamos te esperando para
falar sobre — explicou.
— Olha só a bonita apareceu — Calleb disse com tom
irônico.
— Onde estava? — Luce indagou.
— Buscando minha sanidade mental no estacionamento —
respondi a vendo rir.
Lana me olhou sem saber se devia ou não falar comigo, eu
me joguei em cima dela e a abracei.
— Não estou brava — afirmei beijando seu rosto e ela me
abraçou.
— Está muito animadinha, dona Rebecca — Calleb disse me
fazendo rir.
— Então, onde vai ser a noite das garotas com o time? —
Mudei de assunto.
Me sentei entre as pernas de Lana e ela me abraçou pelos
ombros.
— Na nova mansão dos Styles — disse Lana.
Imediatamente olhei Natalie em busca de respostas.
— É… fiquei sabendo ontem que minha família vai se mudar,
é um pouco longe e bem reservado. Ainda não fui lá, vou hoje —
explicou animada.
— Cabe todo mundo? Porque metade do time vai — Calleb
disse.
— Pela foto é enorme — Natalie se virou para os meninos do
time.
Cameron tinha acabado de chegar no campo e estava
dançando animadamente com as líderes. Começamos a rir quando
Elliot, Peter e Josh se juntaram a ele imitando as meninas dançando
Problem da Ariana Grande. Melissa continuou dançando mesmo
caindo na gargalhada e Natalie tirou algumas fotos daquela cena.
Cameron estava irradiante, contente e iluminado. A felicidade dele
transparecia de uma forma que todos sorriam com ele, era incrível e
tão natural que chegava a ser lindo de ver.
Ele estava no centro, mesmo atrás das líderes, todos o
olhavam.
— Nossa, ele está feliz como nunca — disse Luce.
— Tá, o que você fez? — Natalie me encarou e todos me
olharam, meu sorriso se desfez. — Ele estava um poço de angústia,
desanimado e meio perdido, e agora… — ela deu uma pausa e
paramos para o olhar novamente.
Ele deu um mortal para trás e correu para ir falar com o
treinador, sem deixar o sorriso abandonar seu rosto.
— Não fiz nada, nem com ele estou conversando — disse
friamente.
Natalie me olhou desconfiada.
— CAMERON! — Ela gritou quando ele terminou de falar
com o treinador.
Ele se aproximou calmamente e quando chegou até nós,
percebi seus braços arranhados e até mesmo na nuca.
Calleb e Luce me olharam em busca de alguma reação
minha e eu desviei rapidamente os olhos dos arranhados que deixei
em Cameron.
Engoli em seco quando Natalie me encarou, em seguida o
encarou.
— Quem fez isso? — Ela questionou.
Claramente não era essa a pergunta que estava pronta para
fazer.
Precisava pensar em algo rápido. Não nos olhamos, mas
ambos queríamos rir. Por dentro eu estava tão feliz que podia
explodir de alegria, por fora precisava fingir que tais arranhados não
eram de meu conhecimento.
— Isso não te diz respeito — rebateu Cameron com um tom
frio.
Era minha deixa.
— Licença, acho que isso é demais para mim — afirmei me
levantando e puxando minha bolsa.
— Nossa Cameron, você é ridículo! — Lana disparou.
— Ela quem terminou, achou que eu ia ficar esperando? —
Rebateu e me olhou, revirei os olhos e seus lábios tremeram
querendo rir.
— Vai se ferrar, Styles! — Disparei o vendo passar a língua
nos lábios e tentando conter o sorriso. — Me avise na hora de ir
para sua casa — disse me voltando para Natalie e a abraçando.
— Eu sinto muito, me desculpe — ela suplicou.
— Não se preocupe, você não tem culpa de nada e nunca
deixei que ele acabasse com a minha diversão, não vai ser agora
que vou deixar — beijei o rosto dela. — Ele que lute! — Sussurrei
encarando Cameron por cima dos ombros de Natalie.
Ela riu alto na medida que ele mordeu os lábios me olhando.
— Tchau gente, vejo vocês depois.
Me despedi, sai andando rapidamente e soltei a respiração
quando entrei no carro.
Eu sabia o que eu e ele éramos agora? Não. Eu me
importava com aquilo? Também não.
Sem dúvidas eu não imaginava que estaríamos daquela
forma.
Tudo o que aconteceu de repente não tinha tamanha
importância devido a saudade que eu sentia dela… e que ela sentia
de mim.
Pensava todos os dias em tê-la machucado, mas, depois de
conversar com os pastores da igreja que Rebecca raramente
frequentava, que eram psicólogos profissionais, e falar sobre tudo o
que me fazia ter medo de perdê-la, as coisas começaram a se
clarear para mim.
Sabia que não a machucaria outra vez. Porém, nosso término
tinha tomado uma proporção maior. Não estávamos separados
porque eu, sem consciência alguma, a machuquei. Estávamos
separados pelo que viria em breve…
Mas sabíamos que nem mesmo a distância era capaz de
acabar com o sentimento. Eu era dela, qualquer um sabia disso.
Tive medo durante esses dias de só eu ainda sentir algo e depois do
que aconteceu dentro do laboratório, aquilo já não fazia mais
sentido. Ela ainda era minha e sempre seria.
Não podíamos simplesmente voltar diante de toda a situação,
porém. Isso envolveria amigos, escola, nossos pais e irmãos, eu
não me importava, mas sabia que ela sim.
Natalie, ontem, chorou conversando com Elliot sobre não
querer que eu e Rebecca voltássemos, pois, mesmo sofrendo,
estávamos conseguindo seguir em frente. Minha mãe pensava a
mesma coisa e eu me odiaria fazê-las sofrer por minha causa outra
vez.
Quando Rebecca conseguiu disfarçar que não estávamos
juntos, me senti mais tranquilo. Ela pensava da mesma forma que
eu.
Admito que não sabia mais o que éramos, mas não
precisávamos definir nada agora.
Los Angeles, Estados Unidos,
Sexta-feira, 18:56.
— Eu busco, não há problemas. Não é bom que ela venha
sozinha de carro para cá, não somos mais vizinhos, nossa casa está
longe e é perigoso — afirmei.
— Ela pode vir com os seguranças de tio Owen — Natalie
rebateu.
— E ela virá — papai interveio —, mas conhecendo Owen ele
acharia melhor que ela viesse com alguém daqui também. Concordo
em Cameron ir buscá-la — afirmou.
Sorri discretamente o olhando e ele apenas fez um
movimento rápido e positivo com a cabeça. Nunca tive a aprovação
dele para nada e vê-lo tão orgulhoso de mim era ótimo, um
sentimento de missão cumprida.
— Pai, ele ficou com outra garota hoje. Acha certo Rebecca
vir com ele depois isso? — Natalie me dedurou, sem se importar
comigo ainda estar presente na conversa.
Meus pais me olharam incrédulos.
— Natalie, você está mais incomodada que a própria
Rebecca — retruquei.
— Então você realmente ficou com outra pessoa? — Mamãe
questionou tentando não demonstrar sua decepção.
Não a respondi, papai apenas me encarou desconfiado, mas
não disse nada. Lancei um olhar para ele e ele entendeu que não
tinha outra pessoa. Gostava daquela conexão que estávamos
começando a ter.
Quando estava pronto para falar, meu celular tocou. Era ela.
Meu coração disparou e tentei me manter o mais neutro
possível. A atendi na frente de todos.
— Estávamos falando de você agora — disse para que ela
entendesse que eu estava acompanhado.
— Tentei ligar para Natalie, mas a bonita não me atende —
ela disse e eu ouvi sua risada. — Escute, Isaac está me implorando
para você vir aqui, disse que quer te mostrar uma coisa que
aprendeu no Jiu-jitsu. Pensei que pudesse me buscar e aproveitar
para vê-lo antes que ele viaje com meus pais — olhei Natalie com
um sorrisinho vitorioso.
Ela tomou o celular de minha mão e colocou no viva voz.
— Mas você não está chateada com ele? — Questionou e
Rebecca riu.
— Oh céus, meus dias estão péssimos porque meu ex-
namorado beijou outra pessoa — ironizou, ex-namorado… por que
aquilo me incomodou tanto? — Disse que não ia envolver a família e
não vou. Não somos crianças então não é momento de ficar
chateada com uma coisa que eu sabia que iria acontecer.
Por algum motivo, olhei meu pai e ele estava passando a
mão na barba segurando um sorriso que lutava para sair. Minha
mãe parecia confusa e ao mesmo tempo orgulhosa de nossa
"maturidade". Peguei o celular novamente, tirei do viva voz e sai da
sala.
— Já vou, meu amor.
— Não sou mais seu amor — ela rebateu rindo.
— É sim, vai sempre ser. Chego aí em dois minutos.
Me despedi e entrei no carro dando partida com rapidez.
Passei pela minha antiga casa e a encarei. Depois de tantos
anos morando aqui, finalmente nos mudamos. Enquanto estávamos
na escola, os funcionários levaram tudo para nossa nova mansão.
Da casa para a escola eram quarenta minutos de carro, como
a casa de Rebecca era caminho para Liberty, continuaria levando
Isaac para a escola dele.
Me deparei com a casa de Rebecca e todas as luzes
apagadas, com apenas as luzes da sala e de seu quarto acessas.
Quatro seguranças estavam de vigia.
— Rebecca está? — Questionei o segurança Johnson.
— Sim, disse para deixarmos o senhor entrar quando
chegasse — explicou apontando para a porta.
Não entendia o que estava acontecendo, mas entrei e subi
até seu quarto.
Estava tão fascinado que as palavras sumiram de minha
boca.
Há quanto tempo não a via se arrumando de frente para o
espelho? Tão linda, tão delicada — mesmo sendo bruta as vezes
—, tão perfeita… era a minha garota.
Meu coração disparou quando ela se virou para a porta, mas
recordei-me do outro motivo que me fez vir aqui.
— Isaac? — Questionei caminhando até ela.
— Já foi.
— Mas…
— Foi uma desculpa para você vir me buscar — sorri a
puxando para um selinho.
Amava seus lábios, amava senti-la.
O que era para ser apenas um selinho, se tornou em um beijo
carregado de ternura e desejo.
— Já sei que o vou dar de presente para Natalie — disse
após morder calmamente seu lábio.
— O quê? — Ela me olhou curiosa e com os braços envoltos
de meu pescoço.
— Você de cunhada — ela gargalhou acariciando meus
cabelos e eu apertei sua cintura.
— Talvez no próximo aniversário.
— Por mim poderia ser em todos — disse selando nossos
lábios.
A pressionei contra a parede de seu quarto sem parar o beijo.
Eu só queria nunca mais ter que me afastar dela, de seus lábios, de
seu toque, de seu cheiro. Rebecca era tudo o que eu precisava.
— Queria te contar uma coisa — disse a puxando para se
sentar em sua cama, em seguida me sentei ao seu lado.
— Aconteceu alguma coisa? — Questionou preocupada e eu
sorri acariciando sua mão.
— No domingo passado eu fui a igreja — comecei
entrelaçando nossos dedos, amava fazer isso — e conversei com os
pastores, você não estava nesse dia. Falei tudo a eles no particular,
pensei que eles sendo psicólogos poderiam me ajudar, inclusive
falei de coisas do passado até o momento em que te machuquei e
eles não me julgaram de nada, me aconselharam tão bem que sai
da igreja como se um peso enorme tivesse saído das minhas
costas. Percebi que fiz errado com você, não parei para te ouvir e
simplesmente tomei minhas decisões, sendo que você sempre foi o
centro das minhas escolhas, quero te pedir perdão por ter feito o
que fiz…
Ela sorriu beijando minhas mãos.
— Eu entendi que você tomou atitudes em meio ao
desespero, ficaria triste se não percebesse isso e voltasse a repeti-
los, mas eu também errei… — disse um pouco sem jeito —
desconfiei de você e do seu amor por mim, me perdoa, fiquei com
tanta raiva que ficar contra você pareceu melhor do que me deixar
ter um coração quebrado, isso não justifica eu sei. Me perdoa?
Beijei sua testa.
— Tudo bem, mas nunca mais desconfie de mim, muito
menos do meu amor, nunca te dei motivos para isso — os olhos
dela se encheram d'água enquanto ela concordava e aquilo apertou
meu coração. — Ei, não estou brigando minha princesa — disse a
abraçando com cuidado.
— Eu sei, só estou mais sensível que o normal ultimamente.
Ficamos em silêncio por instantes e eu limpei suas
bochechas.
— Fiz uma coisa para Natalie — disse se levantando e indo
até seu guarda-roupa, tirou de lá o que parecia ser uma caderneta
rosa e grande. — Mas acho muito simples — disse desanimada e se
sentou novamente.
— Posso? — Perguntei indicando que pegaria a caderneta de
suas mãos e ela concordou me entregando.
Comecei a ver cada folha e sorrindo ao passá-las. Tinha fotos
delas desde pequenas até agora e em cada folha tinha algumas
coisas escritas, como frases de incentivo e declarações de amor de
amizade.
— São cento e cinquenta e duas páginas, algumas estão sem
fotos porque não achei, mas aqui — ela apontou para o cabeçalho
da página onde estava escrito dia 59 — são para ela ler em cada dia
que eu estiver longe. Meu tempo em Stanford que era para eu estar
com ela são exatamente o número de páginas que fiz.
— Amor… isso é incrível! Como pode achar que é simples?
Deve ter dado um trabalho enorme — admirei ainda fascinado pela
caderneta.
— Fazia de madrugada — ela comentou sorrindo. — Assim
que recebi a proposta de Stanford comecei a pensar em algo que
não me deixasse tão distante dela — a olhei, vendo seus olhos
cheios d'água.
— Você ama minha irmã, não é? — Ela concordou sorrindo.
— Ela é minha melhor amiga, faria qualquer coisa por ela —
disse dando um beijinho em meu ombro. — Acho que ela vai ficar
muito chateada se souber que não contei sobre a gente.
— Ah, não vai não — ri fechando a caderneta, a coloquei na
cama e entrelacei novamente nossos dedos. — Se quer saber, acho
que ela já desconfia, mas não vai falar nada por entender nossos
lados.
— É, acho que ela descobriria até mesmo antes da gente —
ela disse.
Sorri subindo a mão em sua nuca.
A beijei carinhosamente e com calma. Quando a puxei para o
meu colo, ela recuou.
— Fiz algo de errado? — Ela negou, meio sem jeito.
Percebi que havia algo de errado e antes que pudesse
questioná-la, ela disse:
— Acho melhor irmos.
E se levantou pegando a caderneta, a colocou dentro de uma
caixa e a devolveu para o guarda-roupa. Pensava em mesmo assim
insistir em saber o que havia de errado, mas teria tempo em outro
momento.
Peguei sua bolsa e descemos as escadas, era bom tê-la em
meus braços enquanto caminhávamos pelo corredor. O balançar de
sua cintura em minha mão na medida em que ela andava me
deixava satisfeito.
Abri a porta para ela entrar no carro, em seguida entrei e dei
partida segurando sua mão.
— Vocês se mudaram hoje, decidiram assim, de última hora?
— Questionou acariciando minha mão com o polegar.
— Isso. Estávamos pensando em nos mudar depois das
férias, mas meus irmãos chegam na segunda e queremos recebê-
los já na nova casa — expliquei ainda com os olhos focados na
estrada.
— Acho a adoção um ato espetacular, penso em adotar duas
crianças também como meus pais fizeram.
— Para mim não será problema nenhum — sorri pensando
em encher minha casa de crianças, minhas crianças. — Até cinco
filhos adotivos e três biológicos me parece ótimo.
— Sua esposa vai precisar ser uma guerreira para cuidar de
oito crianças — provocou.
— Eu te acho uma ótima guerreira — afirmei a olhando
quando parei o carro no farol vermelho. — E você não vai cuidar
sozinha, serão meus filhos, também vou cuidar deles.
— Eu odeio você — disse com um sorrisinho no rosto.
— Acho que posso conviver com isso — rebati beijando sua
mão.
Ela soltou minha mão e quando estava para reclamar, senti
suas carícias em minha nuca, o que me fez sorrir e ao mesmo
tempo estremecer.
Acelerei novamente o carro e começamos a cantar as
músicas que Rebecca escolhia.
Ela afastou a mão quando chegamos na entrada de casa.
Odiava aquilo, queria que todos soubessem que estávamos
juntos e não poder fazer aquilo me deixava muito irritado.
Abri a porta para que ela saísse e joguei a alça de sua bolsa
em meu ombro.
— Dá próxima vez eu escolho a cor da bolsa, acho que essa
não combina comigo — brinquei ajeitando a bolsa e ela riu a
pegando.
— Você é meu ex e ficou com outra garota hoje, favor, não
falar comigo — disse me empurrando de leve e caminhando até a
casa.
Entrei um pouco depois dela e ela já estava conversando
com Natalie.
—… acho melhor sua medicação ficar no quarto de Cameron,
as pessoas ficarão abrindo e fechando a geladeira o tempo todo.
— E eu vou ter que ficar entrando no quarto dele caso
precise tomar a medicação? — Rebecca fingiu resistência contra as
palavras de Natalie.
— Não vai ser a primeira vez que vai entrar no meu quarto —
rebati me intrometendo na conversa e ela me lançou um olhar cruel
que mesmo sendo falso, me fez estremecer.
— E pelo visto — começou olhando meus braços arranhados
— não serei a primeira a entrar — insinuou.
Minha vontade foi de empurrá-la contra a parede e fazê-la
repetir suas palavras enquanto eu beijava seu pescoço devagar, a
deixando totalmente em minha mão, mas eu não podia… não aqui.
— Mas — ela se virou para Natalie — vou colocar esses
problemas de lado, onde é seu quarto Styles?
— Que Deus me ajude — Natalie disparou se afastando de
nós.
Assim que ela saiu, eu e Rebecca nos olhamos rindo.
Coloquei a mão em suas costas a levando até às escadas. Não
tinha ninguém no corredor, então a empurrei contra a parede e a
beijei ardentemente, passando a mão em seu corpo.
— Você é uma ótima atriz, Malik — disse apertando as
curvas perfeitas e desenhadas de sua cintura.
— Beija mais e fala menos — rebateu me puxando para outro
beijo.
Sorri a beijando, gostava de sua ousadia e vê-la tão desejosa
quanto eu era um paraíso.
Ouvimos o barulho proposital que meu pai fez com a
garganta.
Enquanto eu sorria o olhando, Rebecca ficou vermelha como
um pimentão.
— Acredito que vocês não queiram que seus amigos os
vejam — disse naturalmente.
Empurrei Rebecca com máximo cuidado para trás de mim, já
que estava tão envergonhada que não conseguia levantar o rosto.
— Sejam mais cuidados — pediu e seu sorrisinho mostrou
alívio e felicidade, com um misto de preocupação.
— Pode deixar — disse puxando Rebecca pela cintura e
começando a andar. — Pai — me virei para ele.
— Não se preocupe, não vi nada — respondeu sem parar de
caminhar para a saída do corredor.
— Meu Deus que vergonha, ele vai contar para o meu pai e
meu pai vai me matar — ela se virou para mim —, isso se não te
matar primeiro.
— Vale a pena o sacrifício — disse a puxando para o meu
quarto.
Depois que ela colocou sua medicação no pequeno frigobar,
descemos as escadas e eu quase me esqueci de soltá-la.
— Minha querida — mamãe disse caminhando até Rebecca
—, você está bem?
— Sim, sim. Estou ótima e a senhora? — Questionou a
abraçando.
— Bem, muito bem. Posso falar com você um minutinho
antes de descer para o salão?
Rebecca concordou um pouco confusa e seguiu minha mãe.
Corri meus olhos por seu corpo e fui pego em flagrante quando ela
me olhou balançando a cabeça como se desaprovasse, mas seu
sorrisinho denunciou que ela não achava ruim.
Meu pai apareceu ao meu lado.
— Ela ficou preocupada com Rebecca saber que você ficou
com outra pessoa — disse com um certo deboche em sua voz.
— Sei que não gosta de guardar esse tipo de coisa e nem de
esconder nada da minha mãe e Owen, mas… ela concorda em não
dizer a ninguém, não queremos todos se envolvendo, as coisas já
estão complicadas na escola — expliquei sem tirar os olhos de
Rebecca.
Não queria perder nada dela nesse curto tempo em que a
tinha por perto.
— É notório que você gosta dela de verdade e se quer correr
o risco, sabe o que está fazendo, não vou me envolver. Mas,
lembre-se, você não pode ficar bravo por todos agirem como se
você fosse um idiota, acharem que vocês estão separados e essas
coisas — aconselhou.
Concordei balançando a cabeça e vendo Rebecca voltar
junto com minha mãe.
— Podemos, Malik? — Questionei a olhando e ela me
ignorou.
— Boa noite tia Eliza e tio Arthur — ela beijou
carinhosamente o rosto de minha mãe e meu pai a abraçou como
ele fazia com Natalie.
Ela começou a caminhar na minha frente, sendo que não
fazia ideia de para onde tinha que ir.
— Boa noite querido — mamãe beijou meu rosto.
Meu pai me lançou um olhar de boa sorte e cuida de
Rebecca e saiu abraçado com a minha mãe. Quando chegaram nas
escadas ouvi o grito de minha mãe e suas risadas por ele tê-la
pegado no colo. Aquilo me fez sorrir, ele não era muito carinhoso
com ela, pelo menos não na nossa frente.
Voltei meus olhos a Rebecca que estava me encarando com
os braços cruzados. Eram apenas eu, ela e dois seguranças que
olhavam para frente.
Caminhei até ela calmamente ainda percorrendo os olhos em
seu corpo. Ela ficava incrivelmente linda de blusa branca, deixava
sua cintura e seios perfeitamente desenhados.
— Para de me olhar assim — pediu descruzando os braços.
— Parece que vai me devorar.
— A intenção é essa — rebati a sentindo me empurrar pelos
ombros. — Não agora, relaxa.
— Cameron! — Repreendeu. — Você não está melhorando
as coisas — disse aos risos e eu a puxei pela cintura.
— Acha que estou brincando? — Dei um passo para frente à
fazendo ir para trás. — Não estou — a prendi contra a parede de
vidro da sala.
— Cameron… alguém pode nos ver — disse olhando para os
lados — e seus seguranças estão aqui.
— Eles não se importam — afirmei deslizando os dedos em
seus braços e ela me empurrou.
— Mas eu me importo e muito — disse séria. — Minha
intimidade com você não tem que ficar sendo exposta, mesmo que
sejam funcionários e não vão contar a ninguém — seu tom era
calmo, mas era nítido que não estava brincando.
Era a primeira vez que ela tinha falado algo que a
incomodava assim, sem rodeios, sem que eu precisasse insistir.
— Desculpa, não queria ser grossa — disse após soltar um
suspiro.
— Não foi, só estou impressionado em você ter falado algo
que te incomoda sem que eu precise implorar para te entender —
afirmei e ela abriu um sorrisinho. — E você está certa, não vai se
repetir — disse começando a caminhar com a mão em suas costas.
Passamos da ala de piscinas e continuamos caminhando
pela trilha que daria no salão, eu passeava as mãos em suas costas
enquanto ela sorria e se arrepiava.
Ela empurrou minha mão quando chegamos no salão e eu
dei um beijinho em seu ombro.
— Ao menos disfarce — pediu.
— Sim, senhorita — confirmei, mesmo sabendo que não iria
disfarçar.
Entramos e todos nos olharam. O salão era enorme. Havia
várias camas no local, sofás e mesas com várias coisas de
maquiagem. Já me cansava só de pensar em ter que passar por
tudo aquilo. As meninas estavam animadas e gritando tanto que
minha cabeça começou a doer e Rebecca estava em um canto mais
silencioso junto com Lana e Melissa.
— Por que chamaram todas as líderes? — Josh questionou.
— Caralho, Kristen e Paloma gritam demais.
— Não sei, Natalie quem deixou elas virem, ela nunca
consegue falar não quando alguém se convida — expliquei fazendo
pouco caso.
Não demorou muito para que cinco garotas se oferecessem,
não só para me maquiar, e depois mais outras. Estressado, comecei
a caminhar até Natalie pronto para dizer que não participaria disso.
—… tudo bem mesmo ficar com ele? — Ouvi Natalie, que
estava de costas para mim e Rebecca de frente para ela, dizer.
— Sem problemas — Rebecca me olhou.
— Natalie, por que chamou todas essas meninas? —
Perguntei irritado e limpando meus ombros como se pudessem me
limpar dos toques insinuantes em mim. — Uma delas quase se
esfregou em mim se eu não tivesse saído, estou indo embora.
— Não, irmão, não vai. Rebecca aceitou te maquiar — disse
me olhando e eu me contive para não abrir um sorriso. — Fiquem
no sofá do canto perto de Peter e Lana, o mais reservado já que
todos vão ficar com os olhos e ouvidos em vocês.
— Ok, vou trocar de roupa — Rebecca avisou passando por
mim, senti vontade de passar os dedos em seu longo cabelo, mas
me controlei. Natalie me olhou como se quisesse dizer algo, mas
aparentemente mudou para outra coisa.
— Não deveria ter chamado todas as líderes, mas me senti
mal em não chamar — disse desanimada. — Enfim, vou ir fazer
a skin care do meu amor — afirmou indo até Elliot.
Caminhei até o sofá, que era bem no canto, quase ninguém
nos via, pois o sofá ao lado — não tão próximo do que ficaríamos —
nos cobria.
—… Peter, não dói limpar a sobrancelha, relaxa — ouvi Lana
dizer. — Vou ir colocar meu pijama e já volto — avisou saindo assim
que me joguei no sofá ao lado.
— Se não me casar com essa garota eu não caso com mais
ninguém — Peter disse me fazendo o olhar, estava com um
sorrisinho bobo no rosto.
— Sei bem como é, cara — afirmei.
— Sabe? — Peter se sentou, sério como nunca tinha visto
antes. — Porque parece que superou rápido a capitã, já está até
com outra.
— E quem é você para me questionar de alguma coisa? —
Rebati o mais grosseiro possível na tentativa de Peter não insistir no
assunto, mas ele estava determinado a fazer o contrário.
— Sou amigo dela. Tem noção de como ela é importante para
mim? — ele se levantou e se sentou ao meu lado. — Ela
aparentemente está bem, mas não é isso, Cameron. Rebecca
nunca tinha chorado na minha frente até o último fim de semana que
fui em sua casa porque ela não queria ver e nem falar com ninguém.
E mesmo mal, todos os dias, absolutamente todos, ela me
perguntava se eu tomei minha medicação, se eu quero comer algo,
se eu preciso de alguma coisa, até se tomei água. Ela se tornou
uma irmã para mim e eu não gosto de vê-la triste e machucada.
Você pode até quebrar um braço meu, pode estourar minha cabeça,
mas se machucar ela de novo, não vou ficar parado só olhando.
Você ficou com outra pessoa… eu te respeito capitão, mas nisso
não — Disse com uma certa decepção no olhar.
Não tinha resposta, admirava a coragem de Peter, nenhum
dos meninos falava daquela forma comigo.
— Não posso explicar muita coisa e você precisa me
prometer que não vai contar a ninguém, caso contrário, vou costurar
seus lábios — ele me olhou confuso. — Não tenho outra pessoa.
Seus olhos se arregalaram e ele riu alto. Quando as meninas
voltaram, Peter revezou o olhar rapidamente entre mim e Rebecca e
voltou para o seu sofá. Sabia que ele gostava de Rebecca e a
protegeria a todo custo, confiava nele e tinha certeza de que ele não
falaria nada, assim como não falou nada quando descobriu Josh e
Calleb, fora que ele nunca se metia em nada da minha vida, mesmo
sabendo de tudo.
Observei a bela garota caminhando em minha direção, usava
seu pijama xadrez, cujo as mangas caiam em seus ombros
mostrando as alças da regata branca que estava por baixo. Queria
beijar cada centímetro do seu corpo e deixar que ela sentisse o
quanto a amo e a desejo. Suas bochechas ficaram coradas
enquanto a admirava, Rebecca ficava envergonhada com facilidade
e não tinha noção de sua beleza.
Ela se sentou ao meu lado e sem me importar com Lana e
Peter no sofá um pouco distante de nós, passei a mão nas laterais
de suas coxas, as apertando.
A olhei fazer um coque no cabelo, mas as mechas soltas
ainda caiam em seu rosto.
— Queria que Natalie fizesse uma trança em mim —
comentou. — Mas ela está ocupadíssima.
— Quer que eu faça? — Ela me olhou com o cenho franzido.
— E desde quando você sabe fazer? — Indagou
desconfiada.
— Desde quando Natalie queria jogar futebol e não sabia
amarrar o cabelo direito, minha mãe trabalhava e nem sempre
conseguia fazer tranças no cabelo de Natalie, então aprendi com
doze anos porque não queria que outras pessoas ficassem pegando
no cabelo dela, as vezes ela pede para eu fazer.
— É, Natalie sempre amarrava o cabelo de qualquer jeito —
disse rindo e se virou deixando que eu tocasse seus cabelos. — E
você já fez no cabelo de alguma outra pessoa?
Acabei rindo de sua pergunta, ela conseguiu disfarçar bem,
mas notei seu tom de ciúmes.
— No da senhora minha mãe — respondi me sentando direito
no sofá e acariciando seus cabelos, os trazendo para trás.
Eram macios e cheirosos, amava acariciá-los e puxá-los…
— E nesse tempo todo você nunca me contou que sabia
fazer tranças.
Aproveitei que as pessoas estavam barulhentas e
desatentas, e passei os dedos em seu pescoço, a observando se
arrepiar tão forte que estremeceu.
Terminei a trança embutida com facilidade e me sentei mais
relaxado no sofá.
— Não planejava te contar — ela me olhou. — Queria te
mostrar que sabia fazer em um momento mais nosso — sussurrei
passando a mão em sua perna — para que não te atrapalhasse em
nada.
— E em que momento seria esse? — Desafiou, em seu rosto
estava claro que ela entendia o que eu queria dizer e mesmo assim
queria me ouvir.
— Depois do casamento, quando eu te fizesse totalmente
minha — sussurrei com um sorriso malicioso nos lábios ao contrário
dela que franziu o cenho como se sofresse com as minhas palavras,
apertei sua perna, ela respirou fundo passando a mão por baixo dos
óculos e seu corpo estremeceu.
Rebecca estava mais vulnerável do que antes e acreditava
ser pela falta que sentia de mim, assim como eu sentia dela.
Em silêncio, ela começou a pegar alguns produtos e passar
em meu rosto, em seguida pegou a pinça e me olhou.
— Podemos?
— Podemos — respondi. — Se quiser sentar aqui para
facilitar — ofereci batendo em minhas coxas duas vezes, ela me deu
um leve tapa.
— Se controla Styles! — Disse séria e passando os dedos
em minhas sobrancelhas.
— Não estou a fim — sussurrei depositando minha mão em
sua cintura, por dentro da blusa do pijama.
A ouvi rir e fechei meus olhos. Senti os pelos de minha
sobrancelha sendo puxados, mas suas mãos eram tão leves que
não sentia dor alguma.
Sua respiração quente me fazia sorrir, passei a mão em sua
cintura por baixo da blusa, ainda de olhos fechados, e sua pele ficou
ainda mais arrepiada quando a apertei.
— Você está me desconcentrando — sussurrou e quando
abri os olhos, seus lábios estavam próximos dos meus.
Mordi os lábios e, sem pensar em nada, me inclinei para
frente pronto para beijá-la, mas ela se afastou com um sorriso no
rosto.
— UM DESFILE! VAMOS FAZER UM DESFILE — Natalie
gritou animadamente correndo até Rebecca e pulando nela. — A
Mel deu a ideia de os meninos desfilarem para a gente, vai, rápido,
maquia logo ele — disse batendo palminhas. — Nossa, amei seu
pijama, depois quero tirar uma foto sua. Cameron, vou escolher sua
roupa agora — avisou e saiu saltitando.
— Olha que feia, parece até uma cabrita pulando — balbuciei
e Rebecca gargalhou.
— Anda princesa, vou te maquiar para ficar linda e perfeita.
— Acho que o rosa combina comigo — afinei a voz e fingi
jogar meu cabelo imaginário para trás.
— Não, azul combina mais com você — rebateu.
— Você combina mais comigo — disparei e ela riu, quando
olhou Lana, ficou séria.
— Vergonha na cara combina com você — Lana disse me
olhando — e com você sua dissimulada, ele ficou com outra! —
Afirmou olhando Rebecca.
— Ah, me erra Lana — disse fingindo estar incomodada, mas
logo riu quando Lana mostrou o dedo do meio para ela.
Eu e Rebecca nos olhamos segurando a risada na medida
em que Lana voltou a maquiar Peter.
Fui o último a desfilar no palco improvisado que fizemos entre
as camas e sofás. Rebecca não pegou leve na maquiagem e Natalie
me fez usar um vestido rosa de alças finas, que ficou bem colado
em meu corpo.
Me sentei na cadeira e puxei o vestido como se tentasse
cobrir minhas pernas, a maioria das meninas faziam isso e decidi
imita-las.
— Estou me sentindo espetacular, meninas — disse me
olhando em um espelhinho que peguei de Melissa.
— Está arrasando mesmo, gata — Josh disse com a voz tão
fina quanto a minha.
— Estou pensando em tingir meu cabelo de rosa choque, o
que acham amigas? — Peter questionou balançando seu cabelo
imaginário.
— Acho ótimo, quero fazer também — Samuel brincou se
juntando a nós.
Brincamos mais um pouco entretendo as meninas que
estavam ao nosso redor, os outros meninos do time se juntaram a
nós até Natalie me puxar para tirar fotos com Elliot. Nos divertimos
fazendo poses fingidas que modelos faziam. Depois de um tempo
fomos tirar os vestidos, saias e brincos de pressão que nos fizeram
usar.
— Usar vestido é bom, deixa minhas
bolas tomando um arzinho maneiro — Peter disse colocando um
short folgado.
— Agora eu entendo o porquê de aqueles caras da Suíça
usarem saia — ouvi Eric dizer.
— É na Escócia, seu burro — Josh disse rindo.
— E o nome é Kilt — Elliot completou rindo também.
Os meninos continuaram conversando e se xingando como
sempre, enquanto eu só queria tirar todo aquele peso do rosto.
— Tira isso de mim pelo amor de Deus — pedi a Rebecca
que riu concordando.
— Você foram demais, amei ver o time assim — disse
passando um lenço em minhas bochechas, após tirar os cílios
postiços que eram horríveis de usar.
— Foi legal para nós também — comentei depositando
minhas mãos em suas pernas. — Rebecca — abri os olhos —, quer
borrar meu batom?
Ela riu arrumando os óculos no rosto.
— Você não perde tempo mesmo — disse em voz baixa. —
Vai, lava seu rosto para eu passar os outros produtos.
Fiz tudo o que ela pediu no banheiro masculino que tinha. Era
como banheiro de um restaurante, com quatro gabinetes, cinco
mictórios e um granito com cinco pias. O salão era enorme e tinha
dois andares, papai mandou muito bem em comprar aqui.
Voltei para Rebecca e ela passou um último produto em meu
rosto, que deixou minha pele macia.
— Por que um salão tão grande? — Questionou me fazendo
abrir os olhos.
— Para as reuniões com clientes, meu pai não quer mais
fazê-las longe de casa já que vão ter três crianças para cuidar e,
enfim, ele não quer mais ficar longe de minha mãe.
— Isso é ótimo. Percebi que depois do salão tem um outro
galpão, estou curiosa — ela riu de si mesma, senti sua mão parando
em minha coxa e precisei me arrumar no sofá para mostrar que
estava tudo tranquilo, mesmo que não estivesse.
— Central de treinamento dos nossos seguranças, vai ser
aqui agora. Alguns novatos dos meus tios vão vir para cá também
— expliquei naturalmente.
— Uau — disse impressionada e em voz baixa.
— Quero te mostrar uma coisa.
— Vai na frente que eu já vou — prometeu. — Só vou ir tirar
uma foto que Natalie me pediu.
Concordei e me levantei. Depois de me espreguiçar e ver
Rebecca desfazendo a trança para tirar as fotos, sai do salão.
Fiquei olhando todo o lugar, era enorme e incrivelmente
confortável. Mais do que o suficiente, mas papai estava fazendo o
certo. Um lugar reservado para cuidar das crianças e elas
estudariam em uma escola particular que não era tão longe de casa.
Seguranças por toda a parte e a proteção daqui era infinitamente
melhor. Pelo que soube, Owen se mudaria também, e não seria
para longe daqui.
Mas a única diferença dos Malik vindo para cá era a
proximidade de nossas famílias e a criação das crianças juntas, uma
vez que eu, Rebecca e Natalie iriamos embora, as coisas seriam
diferentes para nós.
— Nanat quis mais fotos do que eu imaginava — ouvi
Rebecca dizer e sorri a olhando, seus cabelos estavam levemente
ondulados.
— Alguém te viu saindo?
— Sim, todo mundo na verdade, disse que ia tomar minha
medicação — explicou.
— Certo, vamos — disse a puxando pela cintura.
Descemos a lateral direita de fora do salão e seguimos até a
casa na árvore que eu e Natalie pedimos que fizessem, queríamos
que as crianças tivessem algumas coisas que tivemos.
A ajudei a subir as escadas atrás de uma das árvores e ela
me olhou impressionada.
— É três vezes maior do que a que tinha no seu quintal —
admirou olhando todo o lugar.
— Por isso precisamos de duas árvores, felizmente as duas
cresceram bem perto uma da outra — disse enquanto ela olhava
pela janela e então, voltou a olhar por dentro.
— É lindo, Cameron, de verdade.
Sorri a puxando e selando nossos lábios. A beijei com calma
e cuidado, queria aproveitar cada segundo ao seu lado.
Comecei a caminhar para frente até sentir que a deixei contra
a parede e acariciei seu rosto, apenas a luz do luar nos iluminava.
— Estava louco para te beijar — sussurrei a puxando pela
cintura.
Ela sorriu passando a língua em meus lábios.
— E eu estava me segurando para não te beijar — sussurrou
voltando a selar nossos lábios.
Desci meus dedos nos botões de sua blusa xadrez e os abri,
deslizei minhas mãos por dentro de sua regata envolvendo apenas
sua cintura, sem quebrar o beijo. Sua pele quente e macia me
deixava louco e querendo mais.
— Amanhã vou ir buscar o presente dos meus avós maternos
no aeroporto que eles mandaram para Natalie, é em uma cidade há
uma hora e meia daqui — disse após afastar nossos lábios. — Você
podia ir comigo, já que seus pais não estão em casa e não vai
precisar de uma desculpa para eles — ri a olhando, mas ela
pareceu um pouco envergonhada.
— Acho melhor não… — disse se afastando de mim
totalmente.
— Você está estranha, desde o laboratório. Foi por que eu
pedi para você sair?
Ela me olhou e olhou para o chão em busca das palavras
certas para começar.
— É uma coisa que não dá para controlar e não é proposital,
sei disso e me desculpe, mas estou ficando louca. Todos dizem que
você esbanjava sensualidade, que todas estavam aos seus pés, que
te queriam e você podia ter quem você quisesse. Sei que você
mudou, mas não sente falta de… — seu rosto começou a ficar
avermelhado — você tinha uma vida sexual ativa, ao que parece, e
agora, comigo... é...
Rebecca parou de falar quando seu celular tocou.
— É Nicolly — disse com o cenho franzido, talvez confusa
por conta de passar do meia-noite.
— Atende.
Seus olhos eram receosos, mesmo assim, ela atendeu.
Andei até a janela sentindo meu corpo ficar tenso. Claro que
eu a queria, como nunca quis ninguém, mas o que se passava pela
cabeça dela? Que eu queria transar com uma pessoa sem
significado amoroso só para passar o desejo? Aquilo não era uma
coisa que me bastava, queria mais que sexo, queria ela. Apenas ela
e esperaria o tempo que fosse.
—… está indo para a minha casa? — A olhei e ela parecia
totalmente perdida. — …, mas… ok, já estou chegando — Nicolly
disse algo que fez Rebecca travar e ficar ainda mais tensa. — Vou…
vou levar.
Ela desligou e olhou para o chão tentando assimilar tudo.
— O que aconteceu, amor?
Não queria discutir com Cameron sobre sua vida sexual, nem
estava insinuando que ele
precisava de outro alguém.
Aquilo nem se passou pela minha cabeça.
Tinha me expressado errado, na verdade queria apenas falar
sobre seus limites, ele me conhecia perfeitamente, e eu queria
saber se estava o respeitando.
O observei ir até a janela, claramente irritado com as minhas
palavras.
Mas meu cérebro congelou com as palavras teste de
gravidez.
— O que aconteceu, amor? — Ouvi Cameron questionar.
— Preciso voltar para casa, Nicolly está indo para lá e… —
optei por não esconder nada dele — vou precisar passar na
farmácia para comprar um — o olhei — teste de gravidez.
Ele arregalou os olhos e olhou para o chão pensando no que
dizer.
— Certo, vou pedir para tirarem o carro da garagem.
— Podemos ir de moto? Na garagem de casa está com dois
carros e minha moto, cabe mais uma e como você vai dormir lá em
casa, melhor deixar a moto guardadinha.
— Vou dormir na sua casa? — Questionou me olhando.
— Não quer? — Ele pensou um pouco e eu quase conseguia
ouvir seus pensamentos. — Para de achar que vai me machucar de
novo — pedi acariciando seu rosto. — Preciso de você, sei que te
irritei com esse assunto, não queria…
— Agora não é momento de falar sobre isso, há coisas mais
importantes a serem resolvidas.
— Você é importante para mim — rebati.
— E por você ser importante para mim eu digo que não quero
conversar agora, Nicolly precisa de você e podemos conversar
depois. Uma vez, no dia da competição do Fênix, eu atrapalhei toda
a sua concentração, estou tentando não fazer isso de novo, ok?
— Tudo bem — sorri por vê-lo me compreendendo.
Descemos da casa de árvore e, enquanto ele foi tirar a moto
da garagem, fui até o salão barulhento pois colocaram música alta e
estavam bebendo, alguns meninos nem tinham tirado a maquiagem
que estava ficando borrada.
— Amiga — puxei Natalie para um canto. — Feliz aniversário
— a abracei forte e ela sorriu. — Eu te amo e me desculpe por
precisar ir embora, prometo que amanhã venho te ver.
— Por que já está indo? Começamos a festa agora.
Nicolly tinha pedido para não contar a ninguém sobre a
suposta gravidez.
— Nicolly está com um problemão e precisa de ajuda.
Estava pronta para ouvir seu e eu preciso de você aqui, é
uma data importante e difícil para mim, afinal, sua mãe faleceu no
dia de seu nascimento. Senti um aperto no coração, o que eu faria
se ela falasse isso?
— Tudo bem — disse tirando-me de meus pensamentos, a
olhei surpresa, sabia que amava Nicolly, mas o ciúmes que uma
tinha da outra comigo era nítido. — Promete que vem me ver
amanhã? Assim que eu chegar do passeio com Elliot, te aviso.
— Venho sim, sem dúvidas — beijei seu rosto. — Vai ficar
bem, mesmo?
— Claro que sim, estou com o meu amor — ela sorriu
olhando Elliot.
A abracei e me despedi.
Caminhei até a saída, passei na frente de uma sala onde
estavam todas as roupas que os meninos tinham usado e me
deparei com Melissa e Samuel aos beijos.
— Acho melhor fecharmos a porta — ouvi Melissa dizer com
a respiração ofegante.
Quando os passos de Samuel se aproximaram, sai
rapidamente com o máximo de cuidado para não me ouvirem.
Acabei sorrindo feliz por Melissa, mas ainda estava tensa.
Cheguei no quarto de Cameron, troquei minhas roupas e
desci rapidamente as escadas, senti um peso enorme ao pensar em
Nicolly, sua voz estava embargada, ela parecia chorar e ao mesmo
tempo beber alguma coisa. Meu corpo todo estremeceu quando
cheguei na presença de Cameron. Um sentimento horrível estava
tomando conta de mim e eu sabia que ela não estava bem.
— Minha princesa — ele me segurou pela cintura —, você
está bem?
— Estou — segurei suas mãos. — Promete ficar em casa
comigo?
— Claro amor — disse afastando meu cabelo do rosto e
beijando minha testa.
Subimos na moto e ele acelerou, chegaríamos em segundos
nessa velocidade. O abracei forte, sabia o que viria agora, Nicolly
sentia tudo com muita intensidade e para mim, que de acordo com
minha avó paterna e Calleb era uma esponja que suga tudo com
grande proporção, seria péssimo.
Paramos em uma farmácia que funcionava vinte e quatro
horas e Cameron fez questão de entrar comigo. Olhei ao redor da
farmácia, mas não sabia qual era o melhor teste por nunca ter
precisado fazer ou comprar um.
Peguei dois dos melhores testes que tinham de acordo com
as instruções do farmacêutico, não era certeza como o exame de
sangue, mas podíamos ao menos ter uma base antes de Nicolly ir
ao hospital.
— Obrigada — agradeci ao farmacêutico e caminhei até a
atendente.
Quando ela se virou, sabia que viria problemas. Ela olhou os
testes em minhas mãos, em seguida encontrou Cameron que me
observava de longe próximo da porta de saída e sorriu de forma
maldosa. Não demorou para que Cameron parasse ao meu lado, a
garota endireitou-se ainda mais a coluna e encolheu a barriga.
— Ora, ora, talvez você não seja a virgenzinha que todos
acham — disse passando os testes no leitor de código de barras.
— Ora, ora, não sabia que você era do setor que cuidava da
virgindade das pessoas. A sua está bem cuidada? — Disparei sem
rodeios, estava cansada de tudo aquilo.
Brooke respirou como se fosse um touro irritado e Cameron
riu passando a mão em minha cintura. Fiz o pagamento e peguei a
sacola com os testes.
— Você nunca me enganou, santa é o caralho — disse baixo.
O farmacêutico estava com fones de ouvido e totalmente
desatento.
Cameron se impulsionou para rebater Brooke, mas o detive
com a mão em seu peitoral.
— Deve ser horrível ter uma vida tão desinteressante que
precisa cuidar da vida de outras pessoas. Vai fazer o que, Brooke?
Contar a escola toda e colocar a prova algo que não diz respeito a
você? Já que se incomoda tanto com a minha virgindade, por que
não me conta sobre a sua? Talvez sua grande experiência me
aconselhe em algo, me diga, como perdeu? — Olhei no fundo de
seus olhos e ela pareceu se encolher um pouco abaixando a
cabeça.
Brooke abriu a boca duas vezes, mas parecia não saber o
que falar.
— Talvez nem tenha perdido — deduzi a vendo engolir em
seco. — O que você não entende é que não há problema nenhum
nisso e ficar tentando usar essas coisas contra mim, não me afeta,
só mostra o quão imatura e insegura você é de tentar me atingir
para se sentir melhor.
Percebendo que não havia mais o que falar ali, sai da
farmácia sendo seguida por Cameron. Soltei a respiração e ele me
olhou.
— O que foi isso? Você acabou com ela! — Disse admirado.
— Acho que não foi uma ideia muito boa pedir para você me
levar em casa — disse me afastando dele.
— Você não pediu, eu simplesmente quis vir — relembrou me
abraçando por trás e eu me virei para ele.
— Talvez você veja uma versão diferente de mim hoje —
alertei.
— E eu vou continuar te amando — replicou selando nossos
lábios.
Assim que chegamos em minha casa, a encontramos
sentada no degrau da escada com uma garrafa de vodca.
— Nicolly — chamei tirando o capacete e olhei um segurança
na porta. — Por favor, abre a garagem da casa para Cameron —
pedi quando Nicolly levantou seus olhos cheios de lagrimas em
minha direção. — Vamos entrar.
Tentei levantá-la, mas ela não fez questão de me ajudar.
— Não quero, só quero morrer e fazer tudo isso acabar —
resmungou chorando e se sentando novamente no chão.
— Nicolly, você precisa me ajudar — afirmei tentando
levantá-la outra vez.
— Pode colocar minha moto lá dentro? — Ouvi Cameron
pedir e em segundos estava ao meu lado.
Ele pegou Nicolly no colo com uma facilidade e leveza
impressionantes, ela parecia uma pena enquanto era levada até a
casa, a colocou no sofá após eu abrir a porta e ainda segurava a
garrafa de bebida.
— Sério, Nicolly? — Comecei vendo Cameron parar ao meu
lado esquerdo, um pouco distante nos dando espaço. — Se estiver
grávida mesmo está prejudicando você e a criança com essa bebida
— repreendi.
— Tomara mesmo — disse e bebeu um gole direto do
gargalo.
— Não faça isso a si mesma, você será a primeira
prejudicada! — Puxei a garrafa de sua mão sentindo meu corpo
pegar fogo.
— É muito fácil para você falar! Não é você quem está com
suspeita de gravidez, não foi você quem perdeu a virgindade. NÃO
FOI VOCÊ! — Gritou se levantando e Cameron deu um passo como
se fosse intervir, o olhei negando. — Me dá a garrafa, Rebecca —
Nicolly avançou em minha direção. — ME DÁ AGORA! — Gritou
outra vez.
A olhei no fundo de seus olhos. Com raiva e a encarando,
apertei a garrafa em minha mão e a estourei no chão ouvindo os
cacos de vidro se espalhando. Nicolly soltou um gritinho assustado
e prendeu a respiração, Cameron me olhou surpreso na medida em
que eu me mantive falsamente calma.
— Você não tem cinco anos — dei um passo à frente ela para
trás — então não haja como se tivesse — ela se sentou no sofá,
ainda em êxtase. — Você está bebendo porque está com medo e eu
não a culpo, não faço ideia do que está sentindo agora, mas isso vai
prejudicar a si mesma!
— Você não entende — Nicolly começou a chorar e eu senti
tudo dentro de mim começar a doer. — Estou tão arrependida por
ter transado com ele… — disse em voz baixa.
— Não acho que esteja arrependida de ter transado — ela
me encarou como se eu tivesse falado uma coisa idiota. — E sabe
por que acho isso? — a vi negar com a cabeça. — Porque eu amo
Cameron e não me arrependeria se nossa primeira vez fosse hoje,
tenho certeza de que é ele quem eu amo — admiti. — Me destruiria
por outros motivos, por propósitos e escolhas minhas, sim. Mas sei
que você é diferente de mim. Nicolly, eu te conheço a minha vida
inteira, você não está agindo como alguém que está arrependida do
que fez com Carter, está agindo como alguém com medo dos
julgamentos das pessoas e sinceramente, isso fará mal,
principalmente, a você.
— Não. Não estou triste com o que minha mãe vai dizer, nem
com o que as outras pessoas vão dizer — olhei para o lado e
Cameron tinha saído em um momento que não vi. — Há duas
semanas, na mansão dos Styles, chorei muito quando você
começou a cantar, quando me perguntou precisava conversar eu
menti, não queria contar na frente de Natalie — ela chorou ainda
mais e eu me sentei ao seu lado. — Já tinha acontecido, não sabia
o que fazer, mas Carter disse que íamos adiantar o casamento, que
precisávamos resolver as coisas, mas não quero correr assim… eu
fui tão fraca — sua voz falhou e ela se deixou chorar.
— Você não é fraca e eu sinto tanto por você pensar assim
por causa da igreja — admiti, pois sabia que a religiosidade podia
destruir alguém.
A puxei para um abraço.
Sentia meu coração ficando dolorido, eram sentimentos muito
fortes.
— Sei que parece que minha vida toda foi baseada em
religião, mas não, estava firme Rebecca, conheci uma igreja incrível
perto de Yale, amava estar lá e mesmo assim por descuido eu caí e
levei Carter junto comigo.
Ela parou de falar e começou a respirar pesado, em seguida
estava começando a ter falta de ar.
— AMOR! — Gritei e ele veio tão rápido que parecia esperar
por esse chamado. — Pega água para ela por favor. Nicolly, olhe
para mim — ela continuava a puxar a respiração.
Comecei a esfregar seu peito enquanto ela apertava meus
braços com precisão. Era desesperador. Cameron trouxe um copo
de água, mas Nicolly só conseguia chorar e puxar a respiração
quase gritando de desespero.
— Inspira — pedi deixando que me apertasse um pouco mais
e ela conseguiu fazer o que pedi com uma certa dificuldade. —
Agora solta e faz de novo.
Ela repetiu mais algumas vezes e foi se acalmando aos
poucos.
Suas mãos fraquejaram, mas sentia que toda a energia dela
tinha vindo para mim e meu corpo começou a cansar. Entreguei o
copo de água a ela.
— Me desculpe, fazia anos que não tinha esses ataques —
disse após minutos inspirando e expirando.
— Tudo bem, não se preocupe.
Ela buscou meus olhos.
— O que eu faço agora?
— A única coisa que posso fazer é estar ao seu lado, talvez
você se sinta um pouco melhor em desabafar, mas não é comigo
que precisa falar no momento.
Algumas lágrimas desceram em seu rosto.
— Escute, o quarto de Isaac está arrumadinho, tome um
banho e demore o tempo que for necessário. Vou deixar roupas e os
testes para você.
Ela concordou e subimos as escadas juntas. Deixei as roupas
no quarto de Isaac, os testes e sai fechando a porta enquanto ela já
estava no banho.
Minha cabeça não parava de doer, meu corpo estava todo
dolorido, me sentia fraca e exausta, meu corpo estava trêmulo com
uma mistura de fome e cansaço, o açúcar no meu sangue devia
estar descendo sem parar por eu ter comido pouquíssimo hoje, que
no caso foi ontem.
Desci as escadas com uma certa dificuldade e forcei minha
visão vendo Cameron limpando a sujeira que fiz.
— Amor — chamei me aproximando e me apoiando no sofá
—, deixa que eu limpo.
— Já terminei, você precisa comer — disse me segurando
pela cintura e praticamente me carregou até a cozinha.
Me sentei na cadeira da bancada e Cameron colocou um
prato com salada de alface e tomate, dois filés de frango fritos e um
copo com suco de laranja.
— Fiz para Nicolly também, achei que vocês precisariam
comer depois de… tudo — Cameron disse me fazendo sorrir.
— Meu Deus, você é perfeito mesmo — beijei seus lábios.
Não sabia se estava com muita fome ou se a comida de
Cameron era espetacular, tinha certeza de que era os dois; comi
com tanta vontade que suspirei aliviada por estar alimentada, mas
senti as lágrimas descendo em meu rosto.
Sem dizer uma palavra, ele me abraçou forte como se
pudesse tirar de mim toda a dor e ele conseguia amenizar. Seria tão
difícil me acostumar a enfrentar as coisas sem ele...
Nicolly estava triste por ter quebrado o propósito que fez e eu
sabia exatamente como aquilo tendia a ser doloroso.
Não sei quantos minutos fiquei chorando abraçada com
Cameron, mas foi o suficiente para deixar sua blusa molhada.
— Eu devia ter contado que sou uma esponja — disse
sentindo seus dedos limparem as lágrimas de meu rosto.
— Devia — confirmou —, mas sua mãe me contou.
O olhei confusa e ele sorriu beijando minha testa.
— O que foi? Achou que eu nunca tinha conversado com a
minha sogra?
— Sobre isso não — disse fungando e tomando um gole de
suco. — Obrigada por ter ficado aqui comigo — beijei seu rosto.
— Você ainda está cansada — seus dedos acariciavam meu
rosto me trazendo uma paz enorme e reconfortante.
— Estou, mas preciso ver Nicolly, você também está
cansado, se quiser pode ir dormir e eu já vou.
— Não senhorita, só vou quando você for — disse beijando o
topo de minha cabeça. — E nem tente me convencer do contrário.
Sorri e beijei seu queixo.
— Pode ligar para Carter? O celular de Nicolly não para de
tocar, pede para ele vir para cá por favor?
Ele concordou e pegou em meus braços vendo os apertos de
Nicolly marcados em mim, sairia com rapidez pois não foi forte e
mesmo assim ficou nítido que ele não gostou nenhum pouco. Selei
nossos lábios e em seguida me soltei dele, depois de preparar o
prato de Nicolly subi as escadas. Antes que pudesse bater na porta,
ela a abriu com os olhos inchados e soltou um suspiro longo.
— Estou me sentindo mais leve — admitiu e se sentou na
cama.
— Cameron quem fez para você comer — disse colocando a
bandeja com o prato de comida e o suco.
— Ele é um fofo, mesmo que não pareça nenhum pouco —
rimos, me sentei ao lado dela e segurei sua mão, ela ainda estava
chorosa.
— Carter vai vir para cá, pedi para o Cam ligar — avisei e ela
fungou concordando.
— Vou ir fazer os testes — avisou se levantando com
coragem e foi até o banheiro.
Eu estava nervosa, mesmo que não fosse comigo, parecia
que meu coração sairia pela boca. Andei de um lado para o outro
até Carter aparecer na porta.
— Onde ela está?
Ele parecia ter corrido para se arrumar e estava com o cabelo
úmidos, a casa de seus pais era na rua de cima da minha, mas
acredito que ele tenha vindo de carro. Ele não morava mais lá por
conta da faculdade e por ter seu próprio lugar.
— No banheiro — disse em voz baixa e me aproximei de
Cameron que apareceu logo depois dele.
Carter coçou a cabeça, se sentou na cama apoiando os
cotovelos nas pernas e entrelaçando os dedos.
— E como ela estava? — Questionou me olhando, Cameron
me abraçou por trás e beijou meu ombro esquerdo.
— Mal e bebendo.
— Merda! Será que afetou o bebê? Ela passou mal? Meu
Deus, ela está bem?
A preocupação de Carter me admirou, mas não sabia ao
certo o que falar e antes que pudesse, Nicolly saiu no banheiro
segurando os dois testes e chorando.
— Amor — Carter se levantou com uma rapidez que se fosse
eu minha pressão teria me derrubado e correu até ela.
— Deu positivo — disse baixo e sem acreditar. — Os dois…
deram positivos.
A reação de Carter foi abraçá-la como se tivesse conquistado
o mundo e Nicolly, mesmo com as circunstâncias complicadas,
estava feliz também, ela sorriu com lágrimas nos olhos e os fechou.
— Acho melhor deixarmos eles — Cameron sussurrou em
meu ouvido. — E agora é hora de eu cuidar de você.
Concordei sorrindo e balançando a cabeça. Saímos do quarto
em silêncio enquanto Carter repetia que seria pai, que amava
Nicolly, que ela não precisava ter medo e que as coisas se
resolveriam desde que eles ficassem juntos.
Tomei um banho relaxante depois de tomar minha
medicação, sai com os olhos cansados e inchados de tanto que
chorei, mas me sentia melhor e mais leve, como se a água do
chuveiro tivesse levado todo o peso da situação.
Coloquei um pijama leve e sai do banheiro soltando o cabelo,
Cameron tinha tomado banho enquanto eu tomava minha
medicação e estava com outras roupas — as que tinham ficado aqui
em casa quando namorávamos.
Me joguei em cima dele e o abracei pela cintura.
— O convite de ir buscar o presente de Natalie ainda está de
pé? — Questionei o olhando e ele sorriu concordando. — Então eu
vou — beijei seus lábios e me sentei na cama pronta para conversar
sobre o que falei na casa da árvore.
— Amarra o cabelo em um coque e se deite de costas —
ordenou.
— Mas…
— Amarra o cabelo e se deite de costas, amor — repetiu, o
olhei surpresa.
Ele ficou tão atraente falando daquela forma.
Fiz como ele mandou e abracei o travesseiro, logo sentindo
suas mãos apertarem cuidadosamente minhas costas as
massageando.
Me entreguei ao alívio que percorria cada parte do meu
corpo.
Quando ele parou, me sentia fraca. Me sentei na cama e ele
soltou meus cabelos dando um beijinho em meu ombro.
— Você é um anjo mesmo, estava precisando, muito
obrigada — disse agradecida e o beijei.
— Me escute — pediu se recostando na cabeceira da cama.
—, não é problema nenhum te esperar, já te falei uma vez e isso
não mudou — seus dedos se entrelaçaram aos meus e ele me
olhou nos olhos. — Eu te amo Rebecca e esperaria minha vida toda
por você, mas preciso que entenda que se meu corpo reage a
absolutamente tudo o que você faz, não é intencional, não queria te
deixar desconfortável com isso, mas está se tornando incontrolável
porque a cada dia que passa eu preciso mais de você…
Ele deu uma pausa, recuperou o fôlego e então voltou:
— E nem se não respirasse perto de mim adiantaria porque
eu não consigo parar de pensar em você — senti minhas bochechas
queimarem. — O ponto que quero chegar é que se pudesse,
controlaria isso, mas não posso. Hoje, mais do que nunca, entendo
os motivos dos seus propósitos, mas isso não me deixa imune de te
querer e é você, amor, quem eu quero.
As palavras de Cameron tinham feito meu coração disparar e
por mais que eu gostaria de dizer coisas lindas, intensas e
verdadeiras como ele disse, tudo o que consegui fazer foi abrir um
sorriso bobo que logo se desfez.
— E eu juro por Deus que fico muito nervoso quando coloca
minha vida sexual acima do meu amor, todo mundo faz isso com a
gente Rebecca, desde que começamos a namorar, e acaba comigo
ver que você está fazendo a mesma coisa.
Seu tom parecia tão doloroso que senti meu coração apertar.
— Não estou colocando sua vida sexual acima do seu amor!
Rebati com uma certa raiva por ele ter esperado algo assim
de mim.
— Só achei que precisávamos conversar sobre isso, seus
limites. Você me compreende tão bem e sabe até onde pode ir que
as vezes penso que não estou te respeitando. Eu só queria
conversar — respirei fundo —, mas já que falou, quero explicar tudo.
Não fico desconfortável em saber que me quer e nem quando…
bom, sinto nitidamente o quanto me deseja — rimos. — Quando
saio do seu colo ou me afasto é por mim e por saber que se ficar
mais um pouquinho aos beijos com você não vou me segurar —
admiti. — Eu amo Deus, mas também te amo e te quero, e todos os
meus desejos são por você, não deixo de sentir nada, seria mais
fácil se deixasse, e por isso as vezes tenho que me parar e não te
parar, quer dizer, te parar também — ele riu. — Entende que a
questão não é ficar desconfortável e sim ficar confortável demais?
Ele soltou a respiração, concordou balançando a cabeça e
beijou meu ombro me puxando para um abraço.
— Você precisa parar de achar que quero desistir de nós ou
que vou propor que fique com outra pessoa pelo sexo — o olhei
seriamente e acariciei seu rosto. — Porque nem ferrando eu
gostaria de ver o meu amor com outra pessoa.
— Só não fique agindo como os outros e me colocando como
um adolescente que precisa desesperadamente transar loucamente
como se não existisse amanhã, porque isso só falei com você.
Acabei gargalhando sentindo meu rosto queimar.
— Cameron!
Ele riu comigo me dando vários selinhos.
Nos deitados e senti suas carícias em meus cabelos por
instantes enquanto eu deslizava as unhas em seu braço.
— Vai estranhar se eu disser que achei muito atraente você
estourar a garrafa no chão? — Gargalhei o ouvindo e me jogando
para o lado vazio da cama.
— Não costumo fazer isso — ele riu se virando para mim.
— Desde que não quebre nada em mim, está ótimo —
afirmou abraçando minha cintura.
— Engraçadinho — ele selou nossos lábios enquanto sorria.
— Já fez isso outra vez?
— Com Pollo e Nicholas, meus primos. Pollo não queria parar
de beber e precisávamos ir embora de uma festa, eu já não bebia
mais então estourei a garrafa no chão e ameacei estourar a outra na
cabeça dele se ele não viesse comigo — Cameron gargalhou. — E
com Nicholas foi porque ele odiava bebida, mas conheceu uma
garota que amava beber e seguiu esse caminho, depois que eles
terminaram, ele ficou muito mal e queria se entregar as bebidas,
então quebrei todas as garrafas que ele tinha gastado horrores
comprando — ele me olhou impressionado. — Hoje em dia sei que
foi errado e imaturo ter me envolvido assim na vida de Nic, mas ele
estava se afogando e ninguém fazia nada, não podia perder outro
primo e deixá-lo se perder daquela forma.
— E algum deles avançou em você como Nicolly fez hoje?
— Não, meus primos nunca brigaram comigo — afirmei. —
Só eu e Nicolly que já brigamos feio várias vezes, mas sempre
precisamos uma da outra.
— Minha princesa, se soubesse o poder que tem, as pessoas
de Liberty pensariam duas vezes antes de mexer com você — disse
subindo a mão em minha nuca e me encarando.
— Como?
— Isso mesmo que ouviu. Você é intimidadora, intensa e
consegue fazer as pessoas verem o quanto estão sendo idiotas sem
precisar partir para a agressão. Claro que tudo precisa ter um limite,
mas viu como Brooke ficou perdida dentro de si mesma na farmácia
e você nem precisou fazer muito? Se não tivesse tanto medo de
mostrar seu poder, Karen, Yuna e até mesmo Melissa teriam
pensado muito bem antes de se meter com você — disse selando
nossos lábios. — Pense nisso, você fala muito com expressões e
seu olhar as vezes acaba comigo de um jeito bom — admitiu rindo.
— Agora imagina se não tivesse medo de usar isso com as
pessoas, não olhar para elas como olha para mim, mas falar muito
sobre algo sem dizer uma só palavra. Deu para entender?
— Sim — ri beijando sua mão. — E o meu olhar em você não
é nada planejado, é só… você, entende? — Ele sorriu concordando.
— Confesso que antes não entendia os motivos de você se
guardar tanto para depois do casamento, mas hoje… sua ligação
com Deus é surreal — afirmou admirado e acariciando meu rosto
com o polegar, sorri o ouvindo.
— Vai um pouco além da minha conexão com Deus, mas
ainda não estou pronta para falar — ele concordou balançando a
cabeça. — Enfim, conversei com Calleb, Luce e Natalie enquanto
íamos pra sua casa de campo e entramos no assunto de eu ter
medo da minha primeira vez ser ruim — ele me olhava atentamente
e pela primeira vez não sentia vergonha de falar sobre aquele
assunto —, mas quando se tem um foco maior, esses medos são
tão passageiros e… — passei a língua nos lábios tentando não abrir
um sorriso — claro que já pensei nisso e cheguei à conclusão de
que com você, eu não preciso ter a preocupação de que vai ser
ruim.
Ele abriu um sorriso encantador, ficou todo vermelho e
escondeu o rosto na mão desocupada enquanto abaixava a
cabeça.
— Amor — tentei tirar a mão de seu rosto.
— Não, me deixa quieto — pediu como uma criança. Achei
graça e acariciei seus cabelos. — Amanhã vamos sair cedo —
avisou ainda sem me olhar.
— Você está com vergonha mesmo? — Questionei rindo.
— Me deixa — resmungou abraçando mais forte minha
cintura.
Apaguei o abajur querendo rir sem parar, levantei seu rosto e
selei nossos lábios.
Cameron me beijou com doçura e calma. Estava em paz,
depois de uma noite tão longa e conturbada, ainda assim estava
tranquila e com ele dormindo comigo depois de duas semanas longe
era uma benção, mesmo que eu não sabia se seria a última vez
antes de ir embora…
Los Angeles, Estados Unidos,
Sábado, 09:59.
Acordei com os beijos de Cameron em minha nuca e virei
meu rosto para que ele não me vê-se toda desarrumada.
— Já desço — avisei me levantando e correndo até o
banheiro.
Ouvi sua risada e um não cansa de ser chata nunca, em
seguida me tranquei no banheiro para me arrumar.
Após o banho, vesti uma calça jeans rasgada e uma blusa
rosa salmão da Nike que Cameron deixou em cima da minha cama
de presente, era confortável e leve, ótima para viajar. Coloquei meus
chinelos e desci com os tênis na mão caso fosse necessário sair do
carro. Como Cameron estava com roupas leves, decidi que não teria
problemas usar o mesmo.
Deixei minhas coisas na sala e caminhei até a cozinha
ouvindo altas risadas.
— Bom dia! — Disse entrando no lugar e Nicolly pulou em
mim me abraçando.
— Bom dia — beijou meu rosto. — Espero que não se
importe em eu e Carter termos feito o café da manhã — disse
olhando.
— Sem problemas.
Nos sentamos para comer enquanto conversávamos sobre
Yale e onde eles iriam morar após o casamento, eles só teriam mais
seis meses na faculdade.
Assim que terminamos, os dois olharam eu e Cameron, que
estava com a mão em minha coxa e Nicolly começou:
— Não sei bem como está a relação de vocês e nem vou me
envolver nisso, mas você é minha melhor amiga — disse me
olhando — e Cameron além de amigo de Carter também é da
família. Queríamos saber se… é…
— Não quero saber não, vocês vão ser nossos padrinhos —
Carter interrompeu com uma afirmativa que nos fez rir.
Eu e Cameron nos olhamos e ele me lançou um olhar de o
que você disser eu aceito enquanto acariciava minha coxa.
— Aceitam? — Nicolly questionou apreensiva.
— Claro que sim, quando será o casamento? — Perguntei
tomando um pouco de achocolatado.
— Vamos manter a data, o último sábado de junho — disse
Carter.
— Vai ser um pouco corrido essas semanas, mas vai dar tudo
certo. Hoje vamos falar com os nossos pais e depois iremos para a
festa de Natalie — Nicolly completou e olhou Carter discretamente.
— Ah, você quer falar com ela — disse entendendo seu
olhar.
Ele e Cameron saíram da cozinha e Nicolly me olhou.
— Obrigada por ter ficado do meu lado ontem, de verdade.
— Quando Pollo faleceu e eu disse que sempre estaria aqui
por você, não estava mentindo — afirmei e ela sorriu com os olhos
marejados.
— Eu te amo.
— E eu te amo — apertei sua mão. — Como está se
sentindo?
— Bem, tenho algumas coisas para resolver. Vou fazer o
exame de sangue essa semana, devo estar de três ou quatro
semanas.
— Quatro semanas? — Questionei mais surpresa do que
deveria.
— Eu sei, faz tempo. Só fomos uma vez em todo esse tempo,
queria te contar e não sabia como — disse cabisbaixa.
— Nicolly, não fale como se eu pudesse te julgar porque não
posso e, fala sério, olha só Cameron, estou sujeita a cair do mesmo
jeito — ela riu concordando.
— É, ele é bem bonito mesmo. Uma vez eu e Carter
estávamos conversando sobre vocês e ele deixou escapar que na
festa em que conheceu Cameron e Elliot as meninas ficavam o
tempo todo em cima do Cameron e ele quase nunca conseguia
aproveitar as festas, acabava indo embora cedo, disse que chegava
a ser chato de tanta gente que aparecia querendo ele.
— Imagino — admiti, afinal, em Liberty era exatamente do
mesmo jeito.
— Deve ser horrível — Nicolly comentou. — Enfim, obrigada
de novo.
Estava tensa, mas consegui chegar em um assunto que tinha
me deixado muito curiosa.
— Sei que vai parecer invasivo, minha mãe já falou comigo
sobre isso e queria falar com Natalie, mas não tive coragem porque
enfim, estou com o irmão dela — disse sentindo minhas mãos
suarem. — Como foi? — Ela franziu o cenho e quando entendeu
acabou rindo.
— Foi incrivelmente bom, não imaginava que a primeira vez
podia ser tão boa, mas Carter tem experiência e sabia exatamente o
que fazer, fora que eu não estava tensa e isso ajuda muito. Eu
simplesmente fui, sem ficar pensando demais.
— Às vezes sinto um certo medo, sabe? Já ouvi meninas
dizendo que a primeira vez foi péssima e que elas estavam super
tensas porque depois do casamento é como uma regra o sexo e
você sabe que precisa. Odiei ter pensado nisso…
— Quando já entregou tudo a pessoa que ama e a última
coisa que vai entregar é o corpo, não tem isso, você não fica com
medo porque sabe que ninguém no mundo vai te entender tão bem
quanto ela. Claro que não quero que seja levada pelo desejo como
eu fui, mas quando for, esse medo vai parecer extremamente bobo
— suspirei aliviada. — E, qual é, Cameron foi tão galinha quanto
Carter, talvez até mais do que ele, deve ter o dobro de experiência.
— Não fala assim dele — protestei.
— No final, nós que vamos tirar proveito — rebateu e rimos
juntas.
— Vocês podem ficar o tempo que for necessário, os
seguranças trancam a casa depois — avisei e ela sorriu
concordando.
— Você e Cameron…
— Terminamos — completei e ela franziu o cenho — e você
— me aproximei colocando o braço em seus ombros —, minha
prima favorita, não vai contar a ninguém que ele dormiu aqui e nem
que estou saindo com ele.
— Claro, madame, até onde sei vocês terminaram — disse
com um tom cordial fingido que me fez rir baixo.
Beijei seu rosto e, após me despedir de Carter e avisar as
novas funcionárias de que sairia, segui Cameron até o carro.
Como sempre, ele abriu a porta para mim e em seguida
entrou no carro.
— Nossa, nem perguntei qual será a cor que as madrinhas
vão usar — comentei assim que ele deu partida.
— Você fica perfeita com qualquer cor — sorri beijando seu
ombro.
— Ei, quem trouxe seu carro? Viemos de moto ontem —
lembrei.
— O motorista do meu pai — disse apertando o botão para
as janelas subirem no automático.
De início não entendia o motivo dele fazer aquilo, até ver que
estávamos passando na frente da lanchonete Goldens e Raquel
estava olhando justamente o carro dele. Os vidros eram fumês e
mesmo assim quis me encolher um pouco para que ela não me
visse. Não demorou muito para que Cameron acelerasse colocando
a mão em minha coxa e a apertasse.
— Amor, como você gostaria que fosse seu casamento? —
Questionou me olhando e em seguida voltou os olhos para a
estrada.
— Eu gostaria que o nosso — corrigi — casamento fosse
uma coisa mais simples, sabe? Acho lindo casamento na praia, só
com o pessoal que realmente gosta da gente, uma coisa mais nossa
— admiti arranhando levemente seu braço.
— Me parece bom depois de estarmos rodeados por tanta
gente, ter um pouquinho de paz — sorri concordando.
— O que você comprou de presente para Natalie?
— Um ateliê.
— Ah que leg… um o quê? — Questionei, devia ter escutado
errado.
— Um ateliê em Palo Alto, é um pouco longe de Stanford,
mas vai dar para ela trabalhar e fazer faculdade.
— Cameron você comprou um ateliê para ela! — Disse
admirada e mesmo falando ainda parecia mentira.
— É, ela sempre quis um então eu fui lá e comprei, ano que
vem vai estar tudo pronto.
— Você foi lá e comprou — achei graça. — Claro, todo
mundo faz isso — ironizei o vendo rir.