Você está na página 1de 469

Copyright © 2023 KERLEM VIANA

Todos os direitos reservados

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de


qualquer forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e
processo xerográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção.

Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


na obra são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Capa & Diagramação: Lilly Desiggn


Revisão: Danielle Oliveira
Ilustração: Carlos Miguel
Assessoria: Devassa Literária (@devassaliteraria)
Betagem: Jenifer Elen, Lillian Cristina, Juliana Gomes,
Geane Loureiro, Franz Thialis

MATTEO ROCATTI - A Redenção do Mafioso Italiano.


[recurso digital], Kerlem Viana — 1ª Ed, 2023.
1. Romance 2. NewAdult 3. Máfia Romance 4. Ficção 5.
Sinopse
Playlist
Nota da Autora
Alerta de Gatilhos
Dedicatória I
Dedicatória II
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Epílogo
Agradecimentos
Redes Sociais
Matteo Rocatti é um renomado e importante empresário do setor
marítimo de exportação, um pai viúvo de gêmeos peraltas de 4 anos. Mas o
que a sociedade não sabe é que Matteo é um cruel e impiedoso mafioso, o
segundo na linha de comando da maior organização do mundo: a Máfia
Italiana. Seu coração batia apenas por seus filhos, até uma linda babá
brasileira entrar em seu caminho, roubando a sua razão junto com seu
coração.
Gabriela de Castro é uma mulher sozinha, pois morava em outro país
longe de sua irmã, que é sua única família, mas uma mudança foi necessária
para que ela pudesse fugir das agressões físicas do seu ex-namorado
abusivo. Apaixonada por crianças, sua única opção era ser babá em um país
desconhecido, e é nessa busca por refúgio que ela tem seu coração tomado
de amor por duas lindas crianças.
Matteo vive uma vida dupla e só quer ser capaz de dar o melhor aos
filhos.
Gabriela só precisa de uma recomeço e de algo que possa se apegar.
Ambos quebrados de alguma forma serão tomados por uma paixão
avassaladora.
Escaneie o QR CODE e ouça a playlist de ‘’Matteo Rocatti’’,
ou clique aqui para acessar.
Olá, leitoras lindas do meu coração, esta obra é um romance de máfia,
uma máfia diferente, criada pela minha cabeça louca, com um
mafioso/mocinho de condutas suspeitas, mais com um coração lindo. Nossa
mocinha é sofrida, mais muito guerreira. Temos 2 crianças inteligentes e
espoletas no meio dessa confusão gostosa. Muito hot e putaria, além de
conter cenas que podem trazer gatilhos, para as leitoras mais sensíveis, este
livro contém cenas de sexo explícito e de fazer molhar as calcinhas de
vocês, então se você é menor de 18 anos é melhor se retirar, pois essa
leitura não é para você, tô de olho, hem? Regras da máfia, lugares e
situações são inventadas pelas vozes da minha cabeça, nada condiz com a
realidade. Espero que gostem e se apaixonem por Matteo e Gabriela assim
como eu, desejo a vocês uma boa leitura.
Este livro contém cenas de tortura física e psicológica, violência
doméstica, assassinatos, dependência emocional e sequestro.
Além de cenas de sexo explícitas, palavras de baixo calão, não sendo
recomendado para menores de 18 anos.
Essa autora maluca que vos fala, não romantiza nem um desses gatilhos,
tudo é ficção, apenas para dar mais emoção a trama, então se você é
sensível a algum desses itens, esse livro infelizmente não é recomendado
pra você.
Dedico esse livro a todas as mulheres fortes, que lutam
por um futuro feliz, você é forte o suficiente para começar
de novo! A culpa nunca foi de vocês!
Dedico esse livro a você, que não espera um príncipe
encantado em um cavalo branco, pois as vezes ele usa
terno e vem em uma SUV para te deixar de calcinha
molhada!
A cadeira de espera do hospital estava fria e desconfortável. O clima era
sombrio e, após duas horas aguardando notícias e ameaçando pessoalmente
o médico responsável e o diretor do hospital, minha paciência havia se
esgotado. Todos sabiam que contrariar o chefe da máfia mais temida do
mundo não era bom para a saúde, mas, surpreendentemente, todos pareciam
brincar com a morte naquele dia.
Giovanni e Luigi estavam ao meu lado, não saíram de perto nem por um
segundo. Minha mãe não saía da capela do hospital e meu pai estava parado
no corredor, aguardando o primeiro médico passar pela porta de
emergência. Poucas pessoas sabiam que éramos uma família atípica dentro
da máfia. Amávamos, apoiávamos uns aos outros e éramos unidos e leais.
― Responsável pela paciente Angelina Rocatti? ― um senhor careca
com óculos na ponta do nariz falou alto.
Caminhei rapidamente em sua direção.
― Sou eu, o marido dela ― respondi, ansioso por não ter controle da
situação e não gostar de me sentir assim.
Todos se aproximaram de mim, exceto os soldados responsáveis por
nossa segurança, Afinal, tínhamos no hospital um Don, um subchefe e um
futuro sucessor, alvos fáceis para os inimigos.
― Vamos ter que fazer uma cesárea de emergência ― Falou o médico,
sério. ― A situação é grave, mas faremos tudo o que for possível para
salvá-los.
― Mas é muito cedo para um parto, minha nora está apenas com sete
meses de gestação, doutor ― minha mãe expressou o que eu queria dizer,
mas não conseguia pronunciar.
― Sim, é cedo, mas dentro do quadro médico é o melhor a ser feito
agora.
― Ela está bem? ― perguntei receoso.
Estava no escritório de meu pai quando minha governanta ligou, dizendo
que Angelina tinha desmaiado. Desde então, estávamos agoniados sem
notícias concretas.
― A pressão arterial da paciente está muito elevada, o que indica pré-
eclâmpsia, por isso a necessidade de uma cesárea de emergência. O senhor
vai assistir ao parto? ― O mundo deu uma volta e parou bruscamente em
minha cabeça.
Senti as mãos dos meus amigos em meus ombros. Respirei fundo,
precisava ser forte por eles.
― Claro que sim. Respondi, por fim.
Com o tempo, nos tornamos mais amigos do que marido e mulher.
Éramos companheiros. Angelina era incrível, o tipo de mulher com quem
eu poderia conversar sobre tudo. Passávamos horas pensando no futuro.
Nosso casamento não foi por amor, mas mantinha-se por respeito. Fui
obrigado a me casar com ela por contrato, mas fiz tudo o que pude para que
ela tivesse uma vida feliz. Só não podia lhe dar o amor de homem e mulher.
No mundo em que vivemos, onde homens espancam mulheres e as tratam
como meras incubadoras para reproduzir herdeiros, eu tratava Angelina
com respeito e amizade. Para ela, isso era muito mais do que poderia
esperar.
Tivemos relações apenas uma vez, na lua de mel, para consumar o
casamento e cumprir o terrível e machista ritual dos lençóis de sangue. Uma
das coisas que quero mudar nas leis da máfia quando assumir a posição de
meu pai. Um ato tão arcaico como esse.
Entrei na sala de cirurgia e ela estava sendo preparada. Sentei-me em um
banco ao seu lado. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela ainda
sorria.
― Oi ― ela se virou para olhar em meu rosto.
― Oi ― respondi com a voz embargada.
― Matteo? ― ela me chamou, apertando minha mão. ― Sinto que algo
não está certo, então, prometa-me uma coisa.
― Para com isso. Vai ficar tudo bem. Daqui a pouco estaremos em casa,
e vou fazer aquele chocolate quente que você ama enquanto troco várias
fraldas cheias de cocô ― falei, passando a mão em seu rosto delicado.
Angelina era uma mulher linda, com longos cabelos loiros e olhos azuis
como o céu em uma manhã de domingo.
― Prometa que, se eu morrer, você cuidará de nossos bebês com amor e
carinho ― já tínhamos conversado sobre isso, sobre como criaríamos
nossos filhos de uma maneira diferente do que havia sido ensinado a ela
dentro da máfia.
Angelina não tinha família além do seu influente, importante e cruel pai,
o saco de merda morreu um mês após nosso casamento, e para Angelina o
casamento foi uma carta de alforria, para se ver livre do homem que deveria
ter sido um pai e não um carrasco.
― Não fala assim, somos parceiros, lembra? Vamos cumprir essa
jornada juntos ― meus olhos estavam ardendo.
― Preste atenção, não obrigue nossa filha a se casar sem amor, e se ela
quiser ser uma chefe como você, você vai apoiá-la. Não obrigue nosso
menino a ser o que ele não quer ser. Deixe-os ter uma infância e
adolescência e só depois, se quiserem, inclua-os na máfia. Mova o mundo,
mas não deixem meus bebês sofrerem ― Pediu em um só fôlego, com
lágrimas grossas descendo em seu rosto.
Abracei suas lágrimas com os dedos.
Uma raiva crescia em mim. Meu destino e vocação eram liderar a máfia.
Sentia prazer nas lutas, na tortura, em tudo que fosse relacionado à
organização, mas essa constante sensação de estar sempre sendo induzido a
fazer o que os abutres do conselho queriam, com suas regras ultrapassadas,
infundadas e machistas, me deixava nervoso.
Quantas mulheres perdiam a vida ou viviam em relacionamentos
abusivos? Quantos pais não davam amor aos seus filhos? Mulheres eram
tratadas como pedaços de carne, tudo por causa das regras arcaicas do
conselho, que se recusava a aceitar que estamos no século 21.
― Eu prometo. Dou-lhe a minha palavra de honra, prometo com todo o
meu coração que agora ele bate apenas por eles. Serei o exemplo de pai que
o meu foi para mim, serei um homem digno da admiração deles. Eles nunca
sofrerão, nem pelas minhas mãos, nem pelas mãos de ninguém ― prometi,
encostando minha testa na dela e respirando fundo. ― Mas você estará ao
meu lado, minha parceira. Estará firme, me ensinando e me puxando a
orelha quando for preciso ― acrescentei. Ela sorriu um sorriso lindo de
contentamento.
― Não fale assim, futuro Don, ou alguém pode ouvir e sua
credibilidade, por ser o mais cruel dos chefes, vai por água abaixo ao deixar
sua esposa puxar sua orelha ― brincou, e ambos gargalhamos.
Foi um momento leve. Tudo com Angelina era leve. Antes de responder,
fomos interrompidos por um choro forte. Não percebemos, mas a cesárea já
estava acontecendo.
― Primeiro, um lindo meninão, Dante ― falou o médico, que já sabia os
nomes dos bebês, nos mostrando-o de longe e entregando-o para a
enfermeira, que rapidamente o levou para uma incubadora.
Olhei para Angelina, ainda segurando sua mão, e outro choro se fez
ecoar na sala, mais forte e agudo. Minha princesa.
― A segunda, a linda menina Nina. Parabéns, papais. Eles são lindos ―
falou a outra obstetra que acompanhou Angelina desde o início da gravidez.
Minha cabeça estava explodindo. Meu coração transbordava de emoção.
Esse era, sem dúvida, o melhor dia da minha vida.
― Pode ser clichê, mas você me fez o homem mais feliz desse mundo.
Não preciso de mais nada nessa vida ― falei, acariciando sua testa e
falando em seu ouvido.
Ela sorriu e disse em um fio de voz:
― Não feche seu coração. O amor vai te encontrar quando menos
esperar... ― Um bipe contínuo se fez alto na sala.
Olhei para Angelina. Ela estava com os olhos fechados e um sorriso
singelo nos lábios. Todos me afastaram e me colocaram para fora da sala,
dizendo que precisavam reanimá-la. Mas, no fundo, eu sabia. Ela não iria
voltar.
A notícia veio minutos depois. O médico disse que fez de tudo, mas já
era esperado que não conseguissem salvar os três. Eu estava sem chão, sem
rumo. Não era porque não existia amor em nossa relação que eu não a
amava à minha maneira.
Eu coloquei como meta de vida fazer tudo que ela me pediu. Seria um
pai para meus filhos, um homem forte e bom dentro de casa.
Dentro da UTI neonatal, após algumas semanas do nascimento dos meus
bebês, estava sendo instruído sobre o método canguru, para melhor
recuperação deles. Não fui para casa nem um dia. Minha mãe e meus
amigos traziam roupas e comida para mim. Eu não sairia desse hospital sem
meus bebês.
A sensação de ter pele com pele é incrível. Sentado em uma poltrona,
tenho Dante em minha barriga, tão pequenino, tão lindo. Em outra poltrona,
Giovanni está com Nina em seu peito.
Nossa amizade vem desde a infância, além de ser meu chefe de
segurança, ele agora foi promovido a tio babão, juntamente com Luigi, meu
primo e melhor amigo também. Outro babão que não saia de perto.
Nesse momento, ele está em pé na porta, vigiando tudo que as
enfermeiras fazem. Elas suspiram pelos corredores ao ver três brutamontes
tatuados cuidando de dois bebês prematuros. Até fraldas já aprendemos a
trocar. Ontem, Luigi quase quebrou o nariz do pediatra que inseriu um
palito na boca de Nina para examiná-la por dentro. Ela assustou, chorou, e
isso foi o estopim para ele. Tenho muito orgulho em dizer que meus filhos
têm os melhores tios.
― Quem diria, não é mesmo? De consumidor para fornecedor ―
Giovanni falou, tirando-me dos meus devaneios.
― O mundo não gira, ele capota ― concordou Luigi.
― E eles terão os melhores e os mais idiotas tios. ― Completei,
entrando na brincadeira. ― E é melhor que calem a boca, não me
façam pensar nisso agora. Ainda tenho uns 20 anos para lidar com esse
assunto, e não é como se eu fosse sofrer sozinho ― eles rapidamente
perderam os sorrisos dos rostos, lembrando-se de que são tios de uma
menina.
― Merda ― Luigi falou seriamente.
― Porra, é verdade ― Giovanni rosnou.
― Não falem palavrão aqui, esqueceram? - falei sério, mas morrendo de
vontade de rir.
Meu telefone vibrou no bolso do paletó, e Luigi foi pegá-lo para mim.
Mais uma vez, era a secretária da sede do conselho querendo marcar uma
reunião para resolver o assunto do meu próximo casamento.
Porra, o corpo da minha esposa nem esfriou no caixão e eles já querem
me casar novamente, usando como desculpa leis e regras. Não posso
assumir o cargo de meu pai no futuro por ser viúvo. Estou cansado dessa
perseguição, e não vou me casar por um contrato novamente. Já segui as
regras uma vez.
Eles não respeitam meu luto, meus filhos. Meu pai não pode fazer nada
em relação ao conselho, exceto votar contra. Minha família possui três
cadeiras no conselho: a do meu pai como Don, a do meu tio, pai de Luigi, e
a minha. Haverá uma votação para escolher uma nova esposa para mim,
mas vou mostrar a esses abutres velhos e retrógados que não preciso da
aprovação deles para nada.
― Luigi, marque a reunião para daqui a meia hora. Não vou interromper
o cuidado dos meus filhos para atender esses merdas ― ordenei, atendendo
a ligação e resolvendo os detalhes.
Em seguida, continuei acariciando as pequenas costas de Dante enquanto
ele descansava em meu peito.
Entrei no hall do grande prédio da sede do conselho e senti um vazio no
coração, um frio na espinha. Eu havia deixado meus bebês no hospital.
Giovanni e minha mãe estavam lá, mas não era a mesma coisa. Não era eu.
Porra, é assim que os pais se sentem quando estão longe dos filhos?
Não dei tempo para a secretária anunciar, entrei sem bater na porta,
escancarando-a com força e assustando todos os homens sentados ao redor
de uma mesa oval. Eram 19 velhos, calvos e barrigudos. Nem cuidam da
própria saúde e estão tentando cuidar da minha vida. Se eu os colocasse em
uma missão, todos morreriam em combate.
― Boa tarde, senhores ― cumprimentei sério, observando que minha
cadeira não estava ao lado direito do meu pai. O lugar estava vazio.
Olhei rapidamente para Luigi, que percebeu a mesma coisa.
― Sente-se, Rocatti. Vamos iniciar a reunião, e a pauta será o seu estado
civil ― iniciou Marcos, um velho filho da puta que se acha. Ele nunca
gostou de mim.
― Me sentar onde? Se minha cadeira não está aqui? ― Fiz a
observação, e eles me olharam sem jeito.
― Providenciaremos uma cadeira para você, mas você não pode ocupar
essa até se casar. Não temos membros solteiros ― dessa vez quem falou foi
Giancarlo, outro merda.
― Não sou solteiro, sou viúvo, e assim continuarei por tempo
indeterminado ― me expressei, tentando ficar calmo.
― Você está muito nervoso, rapaz. Não precisa ser tão grosseiro ―
Marcos voltou a falar.
― Certo, serei mais educado. Peço, por gentileza, que evitem causar
transtornos na minha vida neste momento tão delicado pelo qual estou
passando. Queria imensamente que todos vocês fossem tomar banho em um
lugar onde o sol não bate, localizado na região glútea. ― Ouvi Luigi
engasgar com uma gargalhada.
Meu pai abaixou a cabeça para esconder o sorriso, e eu continuei em pé,
olhando as caras de surpresa e raiva dos velhos filhos da puta.
― Mas é um moleque mesmo. Acho que seu pai não te deu surras
suficientes para aprender a respeitar os mais velhos e mais importantes do
que você, seu moleque ― esbravejou Giancarlo, apontando o dedo no meu
rosto.
― Não vá por esse lado, Giancarlo. Não traga a criação do meu filho
para essa discussão na mesa, porque você vai perder feio ― meu pai se
levantou, batendo a mão na mesa com um estrondo.
Eu continuei na mesma posição, em pé, com o dedo do velho gaga
apontado para o meu rosto.
― Você tem razão. Meu pai não me ensinou a respeitar quem não me
respeita, independentemente da idade ― seu grito ecoou alto pela sala,
enquanto inúmeras armas foram apontadas para mim.
Naquele momento, decepei o dedo dele com a minha adaga, que retirei
do coldre.
― Luigi, traga minha cadeira ― ele saiu rapidamente e voltou
carregando a minha cadeira, que nunca deveria ter sido removida do lado do
meu pai naquela mesa.
― Seu moleque desrespeitoso. Você vai pagar por isso. Eu exijo Dom
Filippo - falou, olhando para o meu pai, segurando sua mão com o dedo
indicador faltando, coberto por um lenço entregue por seu segurança.
― Quando apontamos um dedo para alguém, Giancarlo, quatro se
voltam apontando para nós. Você colocou em dúvida a educação que dei ao
meu filho e, acima de tudo, ofendeu o seu futuro Dom. Sua execução seria
de grande valia para mim, mas acho que o castigo que seu futuro chefe lhe
deu foi suficiente, por enquanto ― ele exalava raiva pelos olhos.
Nesse momento, todas as armas foram guardadas, e coloquei minha
cadeira de volta em seu devido lugar. Peguei um lenço branco do bolso do
paletó de Giancarlo, limpei minha adaga e a guardei no coldre novamente,
jogando o lenço sujo na mesa.
― Tenho duas crianças que precisam de mim neste momento, e estou
perdendo tempo aqui com vocês. Portanto, serei rápido. Não quero me casar
novamente, aliás, não vou me casar novamente. Não preciso de uma mulher
ao meu lado para comandar. Ao meu lado, terá uma esposa e companheira
quando eu decidir que assim será. Já cedi às vontades de vocês uma vez,
não preciso ceder novamente ― falei, e estava me virando quando um dos
conselheiros começou a gritar.
― Sua cadeira não pode ficar vazia por tanto tempo, Rocatti. ― Me
virei, abaixei e peguei o dedo indicador de Giancarlo no chão, sem sentir
nojo, e o coloquei no assento.
― Agora não está mais vazia. Que isso sirva de aviso para que cuidem
das suas próprias vidas de merda. Esqueçam a minha e vão mostrar trabalho
gerenciando a organização, que é para isso que o conselho existe, não para
serem uns santos casamenteiros de merda ― me virei e saí da sala, com
Luigi me seguindo.
Meu pai foi deixado para trás, com um sorriso orgulhoso. E eu? Bem, eu
iria cuidar dos meus dois corações que batem fora do peito, que estavam me
esperando no hospital e só sairia de lá com os dois nos braços.
Eu sempre me senti incompleta, como se uma parte da minha vida não
existisse, estivesse longe, e na verdade estava, minha irmã, minha metade, a
parte que sempre faltou em mim.
Ela estava do outro lado do oceano, seguindo os seus sonhos. E eu?
Estava aqui tentando entender como a vida podia ser tão injusta, pois
mesmo sabendo que agora estava livre, não conseguia me libertar, parecia
errado ser livre.
Será que foi um equívoco da minha parte abandonar o que me fazia mal,
me puxava para trás e me humilhava?

― Você não acha que essa saia está muito curta para ir para faculdade?
― Meu namorado gritou do lado de fora do nosso quarto.
― É só uma saia Carlos, não confia em mim? ― Perguntei, cansada
dessa conversa.
― Confio em você, só não confio neles.
Era sempre assim, as roupas, os amigos, os lugares que eu frequentava.
Nós nos conhecemos na faculdade, ele cursava direito e eu pedagogia.
Meu sonho era trabalhar com crianças, sempre gostei da alegria e da magia
que era o mundo infantil.
Carlos era bonito, tinha corpo sarado, o cabelo sempre com o corte feito,
roupas legais, o carro do ano, amigos sempre por perto, era o playboy da
faculdade, nunca achei que ele iria me notar, até que em uma festa da
faculdade, lá estava ele conversando comigo e pedindo o meu número.
Em menos de um ano estávamos morando juntos, abandonamos nossas
respectivas repúblicas para dividir uma quitinete, segundo ele, precisa ficar
perto de mim, para me proteger das amizades ruins que eu tinha.
Eu trabalhava durante o dia em um consultório pediátrico, o médico, Dr.
Alcides, era um amor, tanto com os funcionários, quanto com os pequenos
pacientes dele.
Mas tive que sair do meu emprego, pois Carlos achava que o Dr. Alcides
era um pervertido que não tirava os olhos de mim, e a namorada dele não
precisava trabalhar.
Minha vida foi assim por muito tempo, vivia em função do meu
namorado, que por sinal, não aceitava nem o curso que eu escolhi fazer,
pois segundo ele não ia ganhar dinheiro trabalhando com crianças. Mas eu
não queria saber do dinheiro, queria ser feliz, coisa que não estava
conseguindo há um bom tempo.
Carlos bancava as nossas despesas, afinal, ele vinha de uma família
muito poderosa e rica de Minas Gerais, enquanto eu lutava para segurar a
minha bolsa de estudos integral que consegui com muito esforço.
― Tudo bem Carlos, eu troco, se vai te deixar feliz. ― Falei, exausta.
― Como é que é? Tudo bem, o que? ― Ele respondeu, perdendo a
paciência.
― Tudo bem amor, eu troco. ― Concordei com medo da sua reação.
― Isso mesmo, sou seu amor e você sabe que nunca vai achar alguém
que te ame mais do que eu, né?
― Claro que sei, amor!
Estava no meu limite com esse relacionamento, e era o último ano do
meu curso, eu só queria me ver livre dessa situação.
Carlos me deixou no campus e seguiu para o seu estágio, na empresa de
advocacia do pai. Ele se formou no ano passado, mas ainda não passou no
curso da ordem, o pai dele estava uma fera, e como de costume, ele colocou
a culpa em mim.
― Você sabe que tenho olhos aí dentro, né? Espero não ter que te
lembrar que não precisa de amigos, eu sou suficiente para você. ― Disse
me beijando de um jeito molhado demais, como se quisesse marcar
território no meu rosto.
― Eu sei meu amor! ― Concordei louca para sair do carro e vomitar no
banheiro.
Corri para o campus e já na entrada encontrei Sofia, minha amiga
doidinha, ela tinha os cabelos coloridos e as roupas mais legais que já vi,
uma alma alegre, diferente do que eu sou hoje.
― Gaby, achei que não ia sair daquele carro nunca. ― Comentou com
cautela.
― Amiga, está cada vez mais difícil lidar com o Carlos, agora até as
minhas roupas eu tenho que trocar para não o desagradar.
Ela sabia de tudo, era um alívio conversar com alguém e poder dizer
toda a verdade, ela me entendia, mas não aceitava a situação e sempre me
chamava para morar com ela.
― Não sei o que você está esperando para terminar esse relacionamento,
amiga. Espero que você não deixe o pior acontecer. ― Ela falou com ar de
esperança com o dia em que eu me libertaria de Carlos.
― Amiga, me empresta o seu celular? Preciso ligar para minha irmã. ―
Desconversei.
Eu não tinha mais celular, desde quando Carlos me pegou contando para
minha irmã que ele tinha levantado a voz para mim, ele o quebrou na
parede. Eu era proibida de conversar com a minha irmã sozinha, só podia
pelo celular dele e com ele por perto. E é claro que minha irmã o odeia.
― Vamos até o banheiro, assim você conversa à vontade.
Corremos para o banheiro e lá liguei para minha irmã. Ela morava em
Portugal, foi atrás dos seus sonhos, e está muito feliz trabalhando e curtindo
a vida.
Ela mora com uma amiga, a Madá, ela e minha irmã são uma figura. Na
turma tem também o Miguel, ele é chef de cozinha e tem um restaurante
bem badalado, já minha irmã Beatriz e Madá tem um ateliê de estética, elas
arrasam.
Me tornei muito amiga deles, embora conversássemos por três anos
apenas por ligação, foi inevitável não surgir uma amizade entre nós quatro.
Eles tentam me convencer de ir embora também, buscar sonhos que nem
eu mesma sei se os tenho, estou no meu limite e assim que conseguir um
dinheiro para as passagens vou embora. Elas têm uma vida financeira
tranquila, mais não quero ser um peso na vida de mais ninguém, já basta me
sentir a cruz que meu namorado carrega.
― Irmãaaaaaaaaaa, que bom que ligou! ― Ela grita do outro lado da
linha, sempre me chamando de “irmã” e nunca pelo meu nome.
― Oi Bea, como você está? ― perguntei, tentando não demonstrar que
estava chateada.
― Morrendo de saudades de você!
― Para com isso, nós conversamos ontem!
― Nunca é o suficiente, só vou me acostumar quando você estiver aqui
comigo, aliás, e essa carinha aí em?
Eu era dois anos mais velha, mesmo assim ela sempre me tratou e
aconselhou como se fosse a mais velha entre nós.
― Nada, só cansada mesmo. ― Tentei mentir, mesmo sabendo que
falharia miseravelmente na missão de enganá-la.
― Não mente pra mim, foi aquele bosta de novo, né? Para de marra e
vem embora logo, se liberta.
Bea a cada dia nomeia Carlos com um apelido diferente, a relação deles
nunca foi um mar de rosas, desde que se conheceram.
― É tão difícil para mim, parece que estou planejando algo ruim contra
ele, como se fosse errado, sabe?
― Não tem nada de errado em querer viver e sonhar com coisas
melhores.
― Eu nem sei se sou capaz de sonhar, irmã.
― Às vezes precisamos nos aventurar, conhecer novos ares, viver coisas
novas, alimentarmos nossa alma para podermos sonhar livremente.
Ela falou de forma tão sábia, quem a ouvisse, não acreditaria que era a
mais animada do rolê, nós éramos inimigas do fim, não via a hora de
estarmos juntas.
― O que essa cabecinha está pensando, hem? ― Bea perguntou, me
tirando das lembranças da época em que saíamos sem preocupação alguma.
― Nada demais, só lembrando dos nosso rolês, como era bom sair com
você e esquecer de tudo.
― Irmã, eu estava conversando com a Madá, esse mês foi muito bom,
estamos atendendo várias madames aqui, e as gorjetas são ótimas, Miguel
também...
― Nem começa, eu não quero que vocês gastem o dinheiro suado de
vocês comigo. ― A cortei imediatamente.
Fechei a tampa do vaso e me sentei - sim, eu precisava conversar
escondido dentro da cabine do banheiro - já não estava me sentindo bem
com essa conversa.
― Nós somos uma família, família se ajuda, estende a mão quando a
outra precisa.
― Eu sei, mas até agora só consegui tirar o passaporte, e até o ano que
vem consigo juntar grana para a passagem. ― Falei de forma sonhadora,
queria muito ir embora, ficar com elas.
― Para de bobagem, nós vamos resolver isso esse mês ainda, você vai
vir embora o quanto antes.
― Não posso ir sem um emprego, sem alguma coisa segura, não quero
dar trabalho para mais ninguém.
― Você não me daria trabalho nenhum, eu te amo e quero você por
perto. ― Eu sei que ela falava a verdade, pois faria o mesmo por ela.
― Irmã, tenho que ir para aula, depois nos falamos, tá bom? ― Me
despedi para evitar esse assunto.
― Está bem, mas você não vai escapar de uma conversa séria, viu?
Miguel tem milhas e vamos comprar essa passagem o mais breve possível.
― Ela afirmou toda animada.
― Tudo bem Bea, amo você!
― Ok, te amo mais.
Era sempre assim que finalizávamos nossas conversas, com amor sempre
em dobro.
Depois das três primeiras aulas, corri para o outro lado do campo, onde
ficava a área de alimentação. Como meu namorado não me permitia
trabalhar, eu tinha que arrumar dinheiro de alguma forma. Fazia trabalhos
para alguns colegas e cobrava por isso. Não me interpretem mal, eu sei que
não é correto, mas não tinha outra opção, pelo menos até meu plano de ir
embora dar certo. Eu tinha que aceitar tudo.
Dona Tereza, a tia da lanchonete, me recebeu com um abraço carinhoso,
o melhor abraço do mundo. Ela não sabia de tudo que acontecia na minha
vida, mas imaginava, já que eu a ajudava na cozinha em segredo. Ela sabia
que meu namorado não podia saber. Ela me pagava pela ajuda, já que seu
filho havia se acidentado e não poderia mais ajudá-la até se recuperar. Era
outra forma que encontrei para conseguir dinheiro extra.
― Você está muito pálida e magrinha, minha filha. Vem comer antes de
lavar essas louças ― disse ela, enquanto colocava um escondidinho de
frango divino na minha frente.
Se tem uma coisa que me conquista é comida, definitivamente, e a
comida da dona Tereza era a melhor.
― Obrigada, nem lembrei de comer hoje ― falei enquanto devorava o
prato.
― Come, menina. Saco vazio não para em pé.
Depois do movimento, lavei as louças e ajudei a limpar a cozinha. Eu
precisava ficar nos bastidores, não podia ajudar no atendimento, pois não
queria ser vista pelos amigos do meu namorado. Fui assistir ao restante das
aulas e, no fim do horário, encontrei Sofia, que me acompanhou até a saída.
Já era tarde, o sol estava se pondo, pintando o céu com tons de um
alaranjado lindo.
― Gaby, vou fazer uma festa na República neste fim de semana. Será
que o insuportável do Carlos deixa você ir? ― perguntou minha amiga.
― Amiga, provavelmente não. A futura esposa de um admirável
advogado não pode frequentar esse tipo de ambiente ― respondi, sabendo
das restrições que o relacionamento impunha.
― Tão admirável que nem advogado é, né amiga? Nem na OAB ele
conseguiu passar ― ela disse, gargalhando alto, e eu a acompanhei. Eu não
gostava de diminuir ninguém, mas a Sofia me fazia sentir mais leve, e eu
precisava aproveitar esses momentos de alegria.
― Do que as meninas mais lindas da faculdade estão rindo? ― um braço
passou pelo meu ombro e outro no de Sofia, enquanto recebia um beijo no
rosto.
― Irmão! ― Sofia gritou alto, soltando-se e pulando em seus braços.
Antônio era o irmão mais velho dela, morava em outra cidade e sempre
vinha visitá-la quando podia.
― Calma, irmãzinha, assim vai derrubar nós dois ― ele disse rindo da
animação da irmã.
― Estava com tantas saudades, onde está a Camila? ― quis saber Sofia.
― Não estava se sentindo muito bem, no final da gravidez tudo
incomoda. Quis ficar na casa da mamãe, mas ela está te esperando lá.
Vamos jantar todos juntos? ― perguntou para nós.
― Claro que sim! Mal posso esperar para ter meu sobrinho nos braços
― disse Sofia, animada com a possibilidade de ser tia. Sua empolgação era
contagiante.
― Vamos, Gaby? Mamãe mandou sequestrar vocês duas. Ela diz que
você nunca mais apareceu lá em casa ― disse Antônio, me repreendendo
com carinho.
― Não vai dar, Antônio. Carlos vem me buscar ― disse, me livrando da
vergonha de Carlos chegar e fazer um show, pois qualquer pessoa do sexo
masculino é uma ameaça para ele.
― Tudo bem, mas não vou aceitar um não da próxima vez, hein? ―
disse Sofia, me abraçando e dando um beijo. Antônio fez o mesmo, e eles
foram em direção ao estacionamento.
Caminhei um pouco em direção à saída quando senti uma dor no meu
braço direito. Só então percebi que era Carlos me puxando para o carro.
― Boa tarde, amor. Como foi o seu dia? ― disse, tentando sondar o seu
humor.
Mas ele não me respondeu. Fizemos todo o caminho em silêncio até
nossa casa. Ou pelo menos o lugar que chamávamos de casa, mas que não
tinha nada de nosso. Era tudo dele, frio, sem cor, sem vida.
Subimos pelo elevador, ainda estranhando o seu silêncio. Ele abriu a
porta, e fui para o quarto, guardei minhas coisas e tirei o tênis. Estava indo
para a cozinha preparar algo para comer quando o encontrei tomando uma
cerveja na sala.
Algo foi arremessado na parede ao lado da minha cabeça. Com sorte,
consegui me esquivar e a garrafa que estava em sua mão não me acertou.
Fiquei em choque, sem reação. Ele sempre gritava, sempre me ofendia, mas
nunca me machucava.
Esse ainda era o motivo pelo qual eu permanecia aqui. Eu o amei um dia,
realmente achei que ele fosse o homem da minha vida. Mas a convivência
foi me mostrando que ele não queria compartilhar uma vida juntos. Ele
queria me possuir da pior maneira possível.
― Você acha mesmo que sou cego, Gabriela? Acha que não vejo você se
oferecer como uma qualquer, para qualquer homem que se aproxima? ―
gritou ele, como se quisesse que o prédio inteiro ouvisse.
― Não estou entendendo, Carlos. O que eu fiz para você agir assim? ―
disse, afastando-me, porque estava realmente com muito medo.
― Eu agir assim? Estou agindo assim por sua causa. Você me faz ser
assim. A culpa é sua, sua vadia.
― Pelo amor de Deus, Carlos, não fiz nada.
― Você acha que me engana, né? Acha que não vi como estava se
esfregando e recebendo beijos daquele idiota do irmão da Sofia? ― Então
era isso. Ele viu Antônio conversando conosco. Pelo amor de Deus, não
houve maldade alguma.
― Antônio foi buscar Sofia. Ele nos convidou para jantarmos e conhecer
a esposa dele, que está grávida, Carlos. Só isso ― tentei acalmá-lo.
― Então é pior do que eu pensava. Além de se envolver com ele, você ia
fazer papel de amante na frente da esposa do cara? ― Meu Deus, esse
homem não está bem.
― Carlos, você está me ofendendo. Nunca passou pela minha cabeça a
possibilidade de te trair. Por favor, se acalme. ― Tentei me aproximar para
conversar com calma, mas ele me pegou pelo braço, jogou-me no sofá, caiu
em cima de mim e deu um tapa no rosto.
Na hora, não consegui assimilar o que estava acontecendo. Sua mão foi
para o meu pescoço, privando-me de ar, e eu não conseguia reagir. Ele
puxava meu cabelo, gritando coisas que eu não conseguia mais entender.
Tirando forças não sei de onde, consegui dar um chute em sua virilha, e
ele caiu para o lado, segurando-se de dor.
― Não foge de mim, sua vadia. Hoje eu te mostro como você é minha
mulher e tem que se comportar ― disse, levantando-se e vindo atrás de
mim. Eu consegui correr e me trancar no quarto.
― Não, não, por favor, não. Eu não quero ser mais uma mulher nas
estatísticas. Tenho que ir embora daqui ― pensei, arrastando a cômoda para
a porta para que ele não pudesse entrar. Ele não parava de gritar e socar a
porta, mandando eu abrir.
― Se não abrir essa porta, eu vou destrui-la, assim como vou fazer com
você, sua maldita vadia.
― Por favor... Vá embora!
Só consegui dizer isso. Nada saía da minha boca. Eu não sabia o que
fazer. Não tinha celular, não tinha como me comunicar com ninguém, pedir
ajuda. Morava no quinto andar, pelo amor de Deus, nem dava para pular a
janela. Encostei na parede e deixei meu corpo escorregar para o chão.
Abracei minhas pernas e fiquei assim até os gritos pararem e ele desistir,
indo embora.
Fiquei assim por tanto tempo que não vi a hora passar. O silêncio estava
me envolvendo naquele momento. Lembrei das palavras de apoio da minha
irmã e dos meus amigos. Eu não precisava passar por aquilo. Eu era uma
mulher forte e independente, sempre corri atrás do meu próprio caminho,
era alegre e cheia de vida. Agora, estava aqui, sentada no chão com medo
do homem que um dia achei que seria o pai dos meus filhos. Chega, tenho
que sair daqui, mas como sem que ele veja e venha atrás de mim?
Estava tudo calmo demais. Ou ele tinha saído para beber com os amigos,
ou tinha desmaiado de tanto beber. Ele descontava toda a frustração que o
pai jogava nele desde a desastrosa nota no exame da ordem em mim e na
bebida.
Juntei toda coragem que havia em meu corpo e me levantei. Peguei
minha mochila e coloquei o essencial. Peguei meu passaporte, que tirei com
muito sacrifício e escondi embaixo do colchão, e o pouco dinheiro que
consegui guardar. Peguei uma foto minha e da minha irmã e pronto, não
precisava de mais nada, nem de lembranças dessa casa, dessa vida, desse
homem. Pensando em sair na surdina, arrastei a cômoda da porta sem fazer
muito barulho e abri a porta. O silêncio predominava o ambiente, como
aquela calmaria antes da tempestade.
Caminhei na ponta dos pés, sem fazer qualquer barulho. Ele não estava
na pequena cozinha nem no banheiro. Continuei aliviada, ele só podia ter
saído. Chegando na porta, a chave não estava na fechadura. Sim, minhas
amigas, eu não tinha a chave da minha própria casa.
Pensando em alguma forma de abrir a porta ou gritar por ajuda, meu
cabelo foi puxado para trás com tanta força que perdi os sentidos ao bater a
cabeça no chão.
― Onde pensa que vai, vadia? Achou que seria tão fácil assim?
Eu estava com tanto medo, que acabei não tendo reação. Mais uma vez,
estava desprotegida, desamparada, fraca nas mãos desse homem.
Ele me puxou como se eu não pesasse nada e me jogou no chão, caindo
em cima de mim. Olhando para o seu rosto desfigurado pelo ódio, percebi
que não teria chance de escapar, que ali seria o meu fim.
― Você é minha e sempre vai ser, porra! Não me provoca. Não tá vendo
que eu fico assim por causa das suas atitudes? ― Ele disse como se eu
tivesse culpa, passando a mão pelo meu rosto onde havia me batido antes,
deixando uma marca. Fico impressionada como ele muda de humor de um
momento para o outro.
― Só me deixe ir embora, por favor, pelo tempo que ficamos juntos, me
deixe ir!
― Você está pensando em me deixar? Por causa de uma briga à toa? É
isso?
― Fala, porra! ― Disse gritando e socando o chão ao lado da minha
cabeça. Eu só sabia chorar, estava apavorada. Deus, me ajude, o que devo
fazer?
O medo já tomava conta do meu corpo. Tentei argumentar com ele.
― Eu não vou, só me deixe levantar. Estou com medo, Carlos.
― Você tem medo de mim? Vou te mostrar o que é ter medo. Não
precisava ser assim, mas você não me ajuda a te ajudar.
Em um minuto, eu tinha esperança.
Em outro, o pavor me paralisou. Ele rasgou minha camiseta e mordeu
meu seio como um animal. Eu tentei sair de debaixo dele, mas ele era muito
pesado. Ele abriu o botão da calça, pronto para fazer comigo o que quisesse,
sem meu consentimento.
― Vou foder essa sua boceta até você entender que eu sou o único
homem que vai estar dentro de você! Entendeu, vadia? ― Meu Deus! ―
Meu pai tinha razão. Tinha que ter te ensinado há muito tempo a ser
obediente, dessa forma, sua puta.
Eu não conseguia me mexer. Ele me mordia e me apertava. Eu consegui
virar para o lado, e ele me deu um soco na costela. Fiquei sem ar de tanta
dor que meu corpo recebeu. Ele tentava tirar meu jeans, e nesse momento
avistei a chave que caiu do seu bolso. Sem pensar duas vezes, peguei o
enfeite de vidro que ficava na mesa de centro e bati com toda a minha força
em sua cabeça.
Ele cambaleou para o lado, e eu vi a oportunidade ali. Peguei a chave do
chão, e minha mochila estava perto da porta caída. Não sei se foi obra
divina, mas consegui abrir a porta.
Minha visão estava embaçada pelas lágrimas e pelo sangue, muito
sangue, que só agora percebi que estava ali. Ele se misturava, o meu e o
dele, que espirrou em mim. Eu precisava pensar, não conseguiria ir muito
longe nesse estado, nem chamar a polícia. Ele e o pai jogariam tudo debaixo
do tapete, tudo o que ele fez em apenas algumas horas. Eu precisava fugir,
precisava de ajuda.
Passando pelo corredor, prestes a correr pela escada de incêndio, uma
porta se abriu e uma mão me puxou para dentro. Só ouvi o barulho da
fechadura se trancando e um abraço forte envolvendo meu corpo. Nesse
momento, vi minhas esperanças se construindo novamente.
Eu nem sabia o nome dela, só lembro de vê-la na porta sempre que
chegava da rua com Carlos. Ela era muito bonita, devia ter uns quarenta e
cinco anos no máximo, cabelo curto e preto, muito bem cuidado, e roupas
elegantes.
― Seu nome é Gabriela, não é? Desculpa, eu sei por que ouço sempre as
discussões de vocês, aliás, quase todos ouvem, desculpe, não quero ser
indelicada, só quero que saiba que estou do seu lado.
Nunca em toda a minha vida imaginei estar nesta situação. Sempre
pensei que seria eu a demonstrar sororidade com alguma mulher, nunca
imaginei ser eu a receber esse sentimento. Olhei para ela, que estava
assustada, mesmo assim transmitia tranquilidade.
― Vamos chamar a polícia. Esse sangue é todo seu? ― perguntou,
levando-me para uma cadeira.
― Não, ai meu Deus, eu bati nele. Será que o matei? ― O pavor tomou
conta de mim mais uma vez. Seria possível que ele destruiria a minha vida
dessa forma?
― Claro que não, estou ouvindo barulho no corredor. Calma, vou tentar
ver algo pelo olho mágico. ― Eu estava apavorada. A senhora foi olhar
pelo buraquinho da porta e voltou correndo.
― Ele está no corredor, esperando o elevador. Ele está vivo, não se
preocupe. Vamos chamar a polícia agora. Você quer ligar para alguém
antes?
― Não, polícia não. Ele vai acabar comigo. O pai dele e ele são
advogados. Eu só quero ir embora, só isso.
― Tá bem, eu te entendo, mas você tem alguém para quem possamos
ligar?
― Tenho sim, você me empresta o seu telefone? ― Só tinha um número
fixado na minha cabeça, o da Sofia. O número da minha irmã era
internacional, com muitos dígitos e eu não memorizei. A Sofia tinha o dela
salvo em seu celular.
― Claro, espera só um minuto. ― Ela saiu e voltou com o celular e uma
maleta de primeiros socorros.
Peguei o telefone e já comecei a digitar o número. No quarto toque, ela
atendeu. Já era tarde da noite, mas eu sabia que ela não dormia cedo. Ela
devia estar em algum barzinho nessa hora.
― Alô? ― O barulho alto confirmou onde ela estava, no bar do Raul,
um lugar muito frequentado pelos estudantes da nossa faculdade.
― Amiga, sou eu.
Nesse momento, ela já sabia o que tinha acontecido e nem me perguntou
nada, apenas onde eu estava.
― Onde você está? Vou te buscar agora, sem discussão. ― Ela foi
falando, e o barulho ficou para trás.
― Estou na casa de uma vizinha, ela me ajudou. Por favor, não queria te
envolver nisso, mas me ajuda a sair daqui, amiga ― eu disse, na dúvida
entre envolvê-la nessa confusão. Minha amiga não merecia isso.
― Passa o telefone para a sua vizinha, Gaby.
Passei o telefone e elas conversaram por alguns minutos. Em seguida,
ela desligou e disse que me ajudaria a sair do prédio e ir ao encontro da
Sofia. Ela não poderia ir ao prédio, pois Carlos era bem-visto por todos e
conseguiria mudar a história a favor dele, prejudicando minha amiga.
― Vamos, Gabriela. Vem tomar um banho, trocar de roupa, fazer uns
curativos e dar um jeito de chegarmos até o meu carro na garagem ― Me
levantei, sentindo meu corpo dar os primeiros sinais de cansaço.
A água morna caía pelo meu corpo, e eu fui sentindo exatamente os
lugares onde ardia e doía. Mas nenhum lugar doía mais do que o meu
coração. Como o homem que um dia amei pôde apenas me trazer dor e
medo? Como eu seguiria com minha vida carregando a lembrança dessa
noite?
Se eu conseguisse sair desse maldito prédio que só me trouxe sofrimento
seria um alívio.
― Gaby, você está bem? Precisa de ajuda? ― Marta, cujo nome só
soube depois de um tempo, me chamou do outro lado da porta. Nem percebi
o tempo passar; já deve estar de madrugada.
― Não, Marta, obrigada. Já estou indo ― Respondi, só querendo deitar
e dormir. Mas só farei isso quando estiver longe e segura.
― Desculpe, não percebi o tempo passar. Seu chuveiro é maravilhoso ―
elogiei, tentando ser agradável, afinal, ela me ajudou até agora.
Marta sentou-se ao meu lado na cama e se aproximou.
― Vamos fazer esse curativo. Parece que não será preciso dar pontos,
mas ficará uma pequena marca na sua testa.
― Para que eu nunca esqueça dessa noite ― disse tristemente.
― Não, Gabriela. Essa marca será para te lembrar o quão forte você é e
de como superou isso de cabeça erguida. Sempre admirei sua coragem,
minha filha. Não é de hoje que ouço as brigas, os insultos dele contra você.
Eu sabia que essa força dentro de você um dia te libertaria. Estou muito
orgulhosa de você. Apesar de não concordar, você deveria ir à polícia e
fazer um boletim de ocorrência. Ele não pode sair impune.
― Obrigada, Marta. Nunca poderei agradecer o suficiente pelo que fez
por mim, sem nem me conhecer. Mas realmente, não será bom para mim ir
à polícia. A vida se encarregará de puni-lo, eu não duvido.
― Você não precisa me agradecer. Se todas as mulheres se ajudassem
em vez de julgar e rir da desgraça uma da outra, a vida seria muito mais
leve, e esses indivíduos desprezíveis que acham que podem mandar em nós
não existiriam.
― Marta, você já passou pelo que estou passando? ― Perguntei, com
medo da resposta. Como podemos sofrer tanto, meu Deus?
― Sim, passei e consegui me libertar. E você também conseguirá.
Agora, vamos vestir uma roupa... ― ela foi interrompida pela campainha, e
o medo e o pavor tomaram conta do meu corpo novamente.
― Calma, vou ver quem é. Não estou esperando ninguém. Vá para o
banheiro e se esconda lá ― Ela falou e eu saí correndo para o banheiro e
me tranquei.
Ouvi uma conversa ao longe, mas não me arrisquei a chegar perto para
ouvir o que estavam falando. Um tempo depois, Marta voltou e eu estava
paralisada de pânico.
― Gaby, sou eu, Marta. Pode abrir a porta. Era o porteiro, ele já foi ―
disse Marta.
Saí do meu estado de transe e abri a porta, tremendo.
― O que ele queria, Marta?
― Ele veio conversar, queria saber se eu não tinha visto você passar pela
porta. Disse que o Sr. Carlos estava procurando por você, preocupado
porque você teve uma crise de pânico e fugiu de casa. Ele está indo de porta
em porta perguntando.
― Meu Deus, ele está dizendo que eu fugi por causa de uma crise de
pânico? ― Eu não conseguia acreditar.
― Sim, querida, infelizmente. E o idiota do porteiro é tão desprezível
quanto ele. Todos sabem que ele não é um bom namorado para você, e o
porteiro está protegendo esse canalha.
― Como vou sair daqui, Marta, se o porteiro está do lado de Carlos?
― Vamos dar um jeito. Sua amiga já está nos esperando em um
estacionamento de um supermercado 24 horas. Ela achou melhor do que te
levar para casa dela, pois com certeza ele vai te procurar lá.
― Com certeza, esse será o primeiro lugar aonde ele irá.
― Vamos te vestir com as roupas do meu namorado, que ficam aqui, e
vamos para a garagem. Eu vou distrair o idiota do porteiro enquanto você
entra no meu carro.
Deus me ajude, que isso dê certo. Não quero voltar para as mãos desse
homem.
Vesti um jeans, botas e um casaco de couro que tinha capuz de moletom.
Saímos com cuidado e desci pela escada abraçada a Marta, como um casal
de namorados. Minha mochila estava escondida debaixo do casaco. Eu era
magrinha, então foi bom para me dar mais volume.
Chegamos ao térreo do prédio, onde havia um hall de entrada. O porteiro
tinha acesso tanto à entrada pelo hall quanto à garagem, havia uma porta
anexa. Passei pela porta com a chave do carro de Marta na mão. Ela já tinha
me dito qual era o seu carro.
Ela foi em direção ao porteiro para desviar a atenção dele das câmeras.
Assim que ele a viu, mudou a postura. Não era surpresa, Marta era uma
mulher linda, forte e imponente. Aproveitei a distração e corri para o carro,
destravei a porta e entrei, puxando bem o capuz do casaco para cobrir o
meu rosto. Depois de minutos que mais pareciam horas, Marta entrou no
carro.
― Desculpa pela demora, mas queria saber onde aquele traste do seu ex
estava. Fingi querer saber da fofoca e o porteiro contou que ele e o pai
saíram de carro para te procurar nas redondezas. Disse que o pai está mais
furioso do que ele mesmo, até o chamou de incompetente, dizendo o idiota
do porteiro.
― Isso nos dá a chance de sair do prédio, né? É bom?
― Sim, é ótimo. Vamos sair logo daqui ― Ela ligou o carro, e eu quase
chorei de felicidade, mas me segurei. Ainda não era hora.
― Depois de uma eternidade, chegamos ao estacionamento de um
grande supermercado que funcionava 24 horas. Procuramos pelo carro da
minha amiga, um Fiat 500 branco com teto solar. Mais a cara dela,
impossível. O carro era lindo e engraçado, assim como ela.
Minha amiga desceu do carro correndo, chorando, só parando quando
nossos corpos se chocaram. Me abraçou e ficou passando a mão em mim,
procurando todos os machucados.
― Amiga, como você está? Esse filho da puta tem que pagar por isso,
amiga ― disse ela, passando a mão nos meus curativos, no meu olho e no
rosto com hematomas que já estavam roxos.
― Não, amiga, não tenho tempo. Só quero sumir, mas não sei o que
fazer.
― Amiga, eu imaginei isso. Então, me perdoa pelo que vou contar
agora, mas entrei em contato com sua irmã ― ela jogou essa bomba em
mim, e eu fiquei sem reação. Não tinha pensado nisso ainda.
Minha irmã, como vou encará-la levando problemas?
― Meninas, vamos conversar dentro do carro. Acho mais seguro. ―
Marta disse, abrindo a porta do carro. Entrei atrás, com Marta e Sofia nos
bancos da frente. Sofia começou a falar.
― Gaby, não temos outra escapatória. Ou é polícia ou você ir embora,
não é o que sempre quis? Ficar com a sua irmã? Você pode não me perdoar,
mas fiz pensando no melhor para você ― Meu Deus, minha melhor amiga
estava se culpando por me ajudar.
Não, ela não fez nada de errado. Rapidamente, esclareci para ela.
― Sofia, você não fez nada que precise se desculpar, amiga. Você fez
certo. Só não tinha pensado em ter essa conversa com a minha irmã ainda.
― Avisei a ela o horário em que iríamos nos encontrar, e ela está muito
nervosa em saber se você está bem. Logo ela vai ligar, e resolvemos. Não
tenho muito, você sabe, mas posso pegar minhas economias para a gente
comprar uma passagem para você.
― Sim, eu também posso ajudar ― disse Marta, me surpreendendo.
― Mulher, você é um anjo, é? Não tem lógica você fazer isso por mim,
nem me conhece ― eu falei brincando, mas com o mais puro sentimento de
gratidão no peito.
― Não precisamos nos conhecer para ajudar outra mulher, Gaby, e você
tem que ir embora.
― Sua irmã está ligando, vai atender, Gaby ― disse Sofia, me
entregando o celular.
Olhei para a tela e vi uma chamada de vídeo. Eu não queria que minha
irmã me visse desse jeito, mas atendi e era uma chamada em grupo com
Madá, Miguel e minha irmã, todos apreensivos.
― Irmã, pelo amor de Deus, o que aquele monstro fez com você? ―
minha irmã falou desesperada.
― Desgraçado, vou aí pessoalmente quebrar a cara desse filho da mãe
― foi a vez de Miguel falar, ele estava visivelmente nervoso com seu
sotaque português.
― Amiga, como você está? ― Madá quis saber, triste e já chorosa.
― Calma, gente, agora estou bem e livre dele ― Tentei acalmar os
ânimos, mas eles estavam muito agitados e falando ao mesmo tempo.
― Gente, calma, não temos tempo. Ele está pela cidade procurando por
Gaby. O que vocês acham que é melhor ser feito? Um de cada vez, por
favor? ― Sofia pediu gritando, colocando ordem na casa. Já disse que amo
minha amiga?
― É simples, já compramos a passagem e você vem embora agora
mesmo. O voo sai daí às 4 horada da manhã ― Miguel avisou, sem nem
respirar.
― Irmã, é sério. Você só precisa aguentar mais um pouco e logo estará
longe desse pesadelo.
― Estou com tanta vergonha de colocar vocês nessa situação ― Eu
falei, começando a chorar.
― Não tem que ter vergonha de nada, amiga. Esse idiota é que tem que
ter vergonha ― Madá falou emotiva.
― Olha, vamos tentar ser práticas, ok? ― começou Sofia ― Gaby, você
conseguiu pegar seu passaporte e documentos? ― Balancei a cabeça em
afirmativo. ― Ok, vamos bolar um plano. São uma e meia da manhã agora.
Vamos para o aeroporto e ficamos no estacionamento até a chamada do
embarque, e só então saímos do carro e levamos você até o portão de
embarque. Acho que o imbecil do Carlos não teria a coragem de chamar a
polícia, ele deve estar tentando te encontrar sem envolver as autoridades ―
Sofia concluiu eufórica.
― Sim, enquanto isso, faço o check-in online no meu notebook, aqui do
carro mesmo ― Marta mais uma vez me surpreende sendo prestativa.
― Ele sempre duvidava que eu teria coragem de ir embora, dizia que
não era capaz de fazer nada sem ele ― Falei sem perceber que tinha
pensado em voz alta. O silêncio impregnou o carro.
― Vou organizar a sua chegada em casa. Eu e Madá já estávamos
arrumando um quarto para você. Já está quase tudo pronto ― Minha irmã
me comunicou, apertando meu coração. Eu dormiria até no chão estando ao
seu lado, para mim era o que importava.
― Não se preocupe com emprego, Gaby. Você me ajuda lá no
restaurante até arrumar alguma outra coisa que goste de fazer ― Miguel
sugeriu empolgado.
Eu poderia trabalhar com a minha irmã, sim, mas não tenho os dons que
elas têm e só iria atrapalhá-las.
― Vamos, então, porque o caminho até o aeroporto não é rápido. Me
envia a passagem dela, Miguel ― Sofia pediu, já fazendo Marta ligar o
carro.
Eu só queria ficar ali, olhando aqueles três rostos na tela do celular, em
conjunto com essas duas mulheres na minha frente, os cinco eram as únicas
pessoas que me apoiaram nesse momento, e eu era muito agradecida por
isso.
― Vamos desligar, irmã, para adiantar tudo e te esperar no aeroporto.
Não se preocupe, estaremos lá no desembarque esperando por você, que
nunca mais vai sair de perto de nós.
― Obrigada, amo você!
― Te amo mais ― minha irmã disse, me emocionando, mas ainda assim
não me permitia chorar, não ainda.
Me despedi deles sem saber como pagaria por tudo que fazem por mim.
Eu e minha irmã temos uma história bem estilo novela mexicana. Não
sabíamos da existência uma da outra até metade de nossas vidas. Por um
acaso do destino, ela descobriu que não era filha biológica dos seus pais e
assim começou a saga em busca da sua irmã mais velha, no caso eu.
Com dois anos de diferença, morávamos em cidades vizinhas no estado
de Minas Gerais. O pai adotivo dela ajudou a me encontrar. No começo, foi
meio estranho. Éramos muito novinhas, eu com meus 15 anos, toda
adolescente, e ela um amor de menina. Desde nosso encontro, não nos
separamos mais. Nossa progenitora não fez questão de suprir nossas
dúvidas, só contou que nos deu para adoção porque não podia cuidar das
duas. Aliás, sempre foi assim. Minha relação com minha mãe nunca foi
fácil, sempre em pé de guerra. Eu nunca era boa o suficiente para ela como
filha.
Quando fiz 18 anos, saí de casa e arrumei um emprego. Depois de dois
anos, decidi prestar vestibular e minha irmã resolveu ir para Portugal. Eu
até ia acompanhá-la quando a faculdade acabasse, realizando assim o sonho
de morar com ela, mas aí Carlos entrou no meio do caminho, e até aqui
vocês já sabem o que aconteceu.
― Chegamos, amiga ― Fui acordada das minhas lembranças por Sofia.
Ficamos no carro, Marta abriu seu notebook e fez o meu check-in.
Esperamos as horas que faltavam. Aproveitei que estava mais calma e
perguntei a Marta o que estava martelando em minha cabeça.
― Marta, posso fazer uma pergunta?
― Claro, querida.
― Como você conseguiu seguir em frente? Pelo que entendi, você tem
um namorado, certo? ― Só então lembrei que estava com as roupas dele e
comecei a trocar pelas minhas.
― É simples, querida. Aprendi a me amar primeiro, a ver as outras
pessoas com outros olhos. Aprendi que o amor de verdade não dói, que
depois que superei, nunca mais dormi chorando, e que ninguém vai me
amar mais do que eu mesma. E em relação ao meu namorado, só o aceitei
na minha vida depois que ele me provou que nunca seria capaz de me
machucar. Nem todos os homens são iguais, e alguns, mesmo que poucos,
ainda prestam.
Eu ri, Sofia gargalhou, mas a emoção em nossos olhares estava lá, e eu
nunca seria capaz de pagar o que essas mulheres fortes fizeram por mim.
A primeira chamada do meu voo saiu pelo alto-falante com aquela voz
feminina. Olhei para Sofia, que chorava como um bebê, e abracei minha
amiga-irmã, que esteve ao meu lado em muitos momentos da minha vida.
― Obrigada por tudo, amiga, por ser essa menina com o coração lindo e
cheio de amor. Vai ser muito difícil ficar sem você ― Falei sem querer sair
do abraço de Sofia.
A verdade é que achei que quando esse dia chegasse, eu não iria precisar
abandonar minha faculdade, conhecidos e, principalmente, Sofia.
― Eu quero o melhor para você, e não vai se ver livre de mim. Vou lá
em Portugal atrás de você, e quem sabe não acho um boy europeu gato? ―
Ela brincou, me fazendo gargalhar mesmo nessa situação, me tirando
sorrisos.
Me virei para Marta, e não preciso dizer, né? A mulher me abraçou como
se fosse uma mãe mandando a filho voar. Me despedi delas ouvindo que
seriam amigas e me prometendo ficarem bem e em segurança.
― Amo vocês! ― Disse de longe já na fila do embarque vendo-as se
afastarem.
Entrei no avião com o coração apertado, só ficaria em paz quando esse
avião estivesse em solo português. Não demorou muito, estávamos no ar,
cortando as nuvens, e eu olhando pela janela, imaginando a vida que deixei
para trás. O cansaço me pegou e nem os olhares curiosos pelas minhas
marcas roxas conseguiram me impedir de mergulhar em um sono profundo.

Estaciono meu SUV, seguido por Luigi e Giovanni, meu braço direito e
esquerdo, respectivamente. Admiro o meu império, um prédio cuja fachada
perfeita para os meus negócios ilícitos é claramente confundida com o
transporte marítimo e construção de embarcações. A "Rocatti Marine" é a
maior empresa de transporte e construção marítima de Portugal.
Sim, tornei-me milionário quando a oportunidade de comprar a empresa
chegou até mim, cerca de oito anos atrás. O dinheiro limpo que dela provém
me faz ter certeza de que foi um bom negócio, mas nada se compara à
oportunidade de poder transportar minhas cargas de drogas e armamentos
que vêm da Itália e de nossos parceiros comerciais, sem me preocupar com
as autoridades.
Estamos localizados em Lisboa, uma cidade que aprendi a gostar,
embora não tanto quanto a minha Itália, é claro, mas não fica para trás. Sou
o subchefe da máfia italiana, o segundo na linha de comando, mas isso não
vem ao caso agora. Meu pai, o Don da Cosa Nostra, está muito bem de
saúde e pode se manter no cargo por muitos anos. Enquanto isso, ocupo-me
em conquistar territórios e tomar Portugal como um segundo lar para minha
família e negócios.
― Nervoso para a sua reunião, chefe? ― Giovanni me tira do diálogo
comigo mesmo.
― Deveria? Afinal, não é um fornecedor de armamentos, mas sim de
obras-primas. Ainda não aprendeu a separar os negócios? ― disse,
perdendo a paciência. Não estava em um dia bom, e eles, mais do que
ninguém, sabiam disso.
― Desculpa, chefe. Não está mais aqui quem falou! ― Giovanni coloca
os braços para cima, em sinal de rendição.
― Os pirralhos não dormiram de novo? ― Luigi pergunta preocupado,
mas com seu senso de humor apurado.
Os pirralhos a quem ele se referia eram meus filhos, Dante e Nina. Os
gêmeos têm apenas 4 anos e já fizeram cinco babás pedirem demissão.
O motivo? Ninguém sabe. Eles não falam, não comem, só infernizam a
vida das coitadas até que elas não voltem mais. À noite, eles não dormem
direito, principalmente em dias chuvosos. Passo a noite tentando entender
do que eles precisam, mas na verdade eu sei. Daria minha vida por eles, o
mundo se fosse preciso, mas não posso dar o que eles realmente precisam:
uma mãe.
― Sim, eles não dormiram. Chuva e gêmeos não combinam ― disse,
atravessando a calçada e entrando na porta giratória do prédio de 26
andares.
― Vou te falar a verdade, sua mãe não vê a hora de te casar novamente.
Ela acha que o que falta para as crianças é uma figura feminina. ―
Giovanni comenta caminhando atrás de mim e passando pela catraca ao
meu lado.
― Minha mãe quer me casar de qualquer maneira. É apenas uma
desculpa para apressar as coisas. As crianças já têm uma figura feminina em
casa, a Margô. ― Continuo andando em direção aos elevadores.
As recepcionistas me cumprimentam com um aceno de cabeça. Meus
funcionários nunca olham diretamente para mim. Todos têm medo de mim
por ser um CEO focado nos negócios. Imagina se eles soubessem que sou
um mafioso assassino e cruel. Aí sim teriam medo.
― Sua governanta já está velha e sem energia para correr atrás dos
pirralhos, Matteo. Em algum momento, você vai ter que resolver isso. ―
Luigi afirma, meu primo e meu futuro consigliere. Ele é o único que ouço
conselhos e se atreve a questionar minhas decisões. Isso vale para Giovanni,
que é meu amigo de infância. Mas é melhor ele não saber, senão seu ego
ficará nas alturas.
― Na hora certa, porra! Já estou cansado dessa conversa. ― Falo
impaciente. Paciência não é uma virtude minha.
Giovanni estende o braço segurando a porta do elevador. Entramos e ele
aperta o botão para o nosso andar. Lá em cima, está o meu trono, onde vejo
o mundo passar aos meus pés. Subimos em silêncio. Eles me conhecem o
suficiente para saber quando se calar. Giovanni, além de amigo, é chefe da
segurança. É o homem em quem confio a minha vida e a dos meus filhos.
Ele está encarregado de toda a nossa segurança.
Passo pela minha secretária, que se levanta assim que me vê, trazendo o
meu café. Meu dia não começa sem ele. Sigo direto para a minha sala.
― Bom dia, Sr. Rocatti. Aqui está a pauta da reunião que o senhor me
pediu. ― diz ela, já colocando as pastas na minha mesa. Poderia pagar
alguém para fazer o trabalho lícito? Poderia, mas gosto de estar aqui no
topo do mundo.
― Bom dia, Srta. Vasques. A sala de reunião já está pronta? ― pergunto,
já sabendo que sim. Minha secretária é muito competente, não posso negar.
― Já está, Sr. Rocatti. Estou apenas aguardando os fornecedores
chegarem. ― respondeu um pouco desconfortável. Ela não se sente à
vontade na presença de Giovanni. Na verdade, ele não disfarça sua
expressão de assassino de aluguel.
― Está bem, pode se retirar. Me avise quando eles chegarem. E Srta.
Vasques, ligue para aquela agência de babás e peça para enviarem uma mais
qualificada desta vez. A última não aguentou nem 4 horas dentro de casa.
― pedi, fazendo um sinal de que ela poderia sair.
― Sim, senhor.
― Você vai fazer essa moça pedir demissão um dia desses, Giovanni.
Pare de assustar a garota. ― Luigi disse repreendendo Giovanni, que estava
esticado no meu sofá e apenas sorriu. ― E quanto ao carregamento que foi
roubado? Eles colocaram fogo em uma de nossas boates no Algarve. Por
sorte, nenhuma das garotas foi morta. ― Luigi mudou de assunto
preocupado.
Além do meu império, tenho uma variedade infinita de
empreendimentos: boates, bares, pubs, restaurantes. Os malditos russos
estão querendo invadir meu território, achando que vou deixá-los comer
pelas beiradas. Estão enganados.
― Escolham um negócio de grande faturamento deles e coloquem uma
bomba. Vamos mandar nosso recado. ― mandei, atendendo uma ligação da
minha secretária.
Levantei-me, arrumei meu terno de três peças e fui para a sala de
reuniões junto com a minha secretária, Luigi e Giovanni, que se sentaram
próximos a mim. Os fornecedores se posicionaram ao redor da grande mesa
oval. A reunião transcorreu bem, com um contrato de matéria-prima a um
preço razoável que me renderia um bom lucro no final.
Saí da empresa já tarde e passei em um dos nossos galpões para conferir
um carregamento de drogas que seguiria para Madri. Meus soldados
trabalhavam a todo vapor, contabilizando a mercadoria, quando meu
telefone tocou.
― Sr. Rocatti, as crianças querem falar com o senhor. ― alertou Margô,
minha governanta.
― Claro, Margô. Pode passar para eles. ― disse, afastando-me dos
soldados.
Eu não gostava que me vissem no meu momento de pai. Na máfia, não
se pode demonstrar fraqueza, e perante os chefes antigos da organização,
amor é igual a fraqueza. Eu não me via fraco por amar meus filhos. Pelo
contrário, era forte o suficiente para lutar por eles.
― Papai, papai! ― gritaram juntos em uma bagunça que só eles sabiam
fazer.
― Calma, um de cada vez.
― O Dante jogou minha boneca na piscina. ― Nina disse, chorosa.
― Ela duvidou de mim, papai. ― Dante disse, todo orgulhoso.
Enquanto meu menino era ação, minha menina era coração.
― Dante, quantas vezes já disse para não brigar com sua irmã? Você tem
que cuidar dela, não a provocar. ― falei, tentando acalmar os ânimos.
― Mas eu não a joguei na piscina, foi só a boneca. ― eu me segurei
para não sorrir. Meu garoto era muito direto.
― Está bem, quando chegarmos em casa, vamos conversar, certo?
Ligaram só para falar com o papai? ― Perguntei duvidando. Esses dois
eram os maiores fofoqueiros que já conheci na vida. Devem estar
aprendendo com Giovanni.
― Não, papai. Ligamos para contar que o vovô e a vovó estão no seu
escritório há um tempão te esperando! ― Nina confessa, e já consigo
imaginar ela com a mão na boquinha, fazendo cara de sapeca. Às vezes, não
acredito que eles tenham apenas 4 anos.
― Fizeram muito bem, minha principessa. Papai já está indo para casa.
Vamos jantar juntos.
Desligo o celular, pensando no que o Don da Cosa Nostra está fazendo
na minha mansão sem avisar. Só pode ser dor de cabeça ainda mais com
minha mãe junto.
Desde que a mãe dos meus filhos morreu no parto dos gêmeos, minha
mãe tenta me casar novamente, por causa das crianças, segundo ela. Mas,
no fundo, ela quer é organizar um casamento do ano e escolher uma mulher
para mim entre as doces e virginais damas da máfia. A esposa perfeita. O
que me preocupa é meu pai estar no meio dessa armadilha para mim.
Ele sempre entendeu que meu objetivo era aumentar nosso império e
cuidar dos meus filhos. Já basta o meu primeiro casamento por contrato
com a mãe das crianças. Angelina era uma boa pessoa. Não a amava, mas a
respeitava. Sei que ela faz falta para as crianças, mas nunca amei ninguém
além dos meus pais e filhos, e pretendo continuar assim.
― Vou para casa. Cuide de tudo por mim, Dona Donattela está em casa
me aguardando. Não sairei mais hoje. ― avisei a Luigi, que ficou rindo da
minha cara. Figlio di puttana.
Saí de lá escoltado por um Giovanni que estava com semblante
divertido. Outro que queria rir da minha cara.
Passo pela guarita, onde meus soldados verificam os carros. Sempre
ando com dois carros extras, com soldados de confiança, garantindo minha
segurança. As crianças também seguem os mesmos padrões. Nunca saem
sozinhas. Temos muitos inimigos e não posso arriscar meus bens mais
preciosos por falta de segurança.
Passo pelo grande jardim e desço na porta de casa. No interior, posso
ouvir a bagunça das crianças vindo do segundo andar. Passo direto pela
sala, adentrando meu escritório. Papa está sentado na minha mesa, de
costas para a entrada, admirando a paisagem pela grande janela de vidro.
Papa é um Don cruel e impiedoso, o mais temido da Cosa Nostra. Eu
não fico para trás. Tudo o que sei, aprendi com ele. Dentro de nossas
paredes, trato-o como Papa, com admiração e respeito pelo homem que ele
é, pois ele me ensinou que dentro de casa posso ser eu mesmo, mas lá fora
devo ser temido e odiado pelos aliados e inimigos. Só assim imponho
respeito.
Em nossa comunidade, não existe casamento por amor. As putas dos
bordéis têm mais de nós do que as próprias esposas. Um pensamento
machista, eu sei. Por sorte, meu pai me ensinou que a família deve ser
cuidada e amada, lembrando que isso deve ficar entre nossas paredes.
Passo direto e vou até o bar. Sirvo dois copos da minha bebida âmbar
favorita, perdendo apenas para o vinho. Paro ao seu lado e entrego um
copo. Ele aceita, já sabendo da minha presença há muito tempo.
― Papa ― digo, já esperando o assunto tão aguardado.
― Figlio ― Ele me cumprimenta, mas permanece calado.
― Qual o motivo da visita sem aviso, papa? ― falo, ficando apreensivo.
― Sua mãe é o motivo, meu filho, e, por incrível que pareça, o Conselho
também ― agora entendi. Meu pai nunca cederia aos caprichos de Dona
Donattela sem algo por trás. ― Você sabe que entendo os seus motivos meu
filho, mas o Conselho está me pressionando, querendo saber quando você
vai se casar. Se algo acontecer comigo, você sabe que aqueles cabeças-
duras não aceitariam um Don solteiro ― Aqueles ultrapassados não me dão
paz.
― Não preciso de uma esposa para comandar, papa ― disse, afastando-
me e sentando no sofá, enquanto meu pai virava a cadeira.
― Eu sei que você não quer, e você será um Don muito melhor do que
eu fui, mas as crianças precisam de uma figura feminina também, meu
filho.
― Agora você está falando como a mamãe.
― Sim, ela sabe ser muito mais perigosa do que os inimigos russos
quando quer nos torturar. Tudo o que ela diz fica na cabeça ― ele diz,
divertido.
― Eu sei, pai. Me dê apenas mais um tempo, preciso eliminar a presença
dos russos em nosso território. Não é o momento para isso agora ― Falei,
querendo ganhar mais tempo.
Não quero me prender a ninguém agora. Estou bem com as prostitutas
por enquanto, apesar de não ser algo constante. Vou me divertir nos bordéis
uma vez ou outra.
― Ok, vamos jantar então. Volto para a Itália ainda hoje. Queria ter essa
conversa pessoalmente e ter uma resposta para aqueles infelizes ― Diz,
saindo do escritório.
Termino minha bebida e sigo em direção à sala de jantar.
Avisto mama descendo as escadas com Dante. Nina já está nos braços do
meu pai. Esse momento em família revitaliza minhas energias.
Sentamos à mesa, com Nina à minha direita, Dante à minha esquerda,
Papa e Mama ao lado deles. Os funcionários servem os pratos: um
delicioso peixe com legumes grelhados e as crianças não comem, como
sempre.
Não importa o que façam, a cozinheira sempre pega o prato dos meus
filhos intacto. No fim da noite, eles tomam leite para dormir e fica por isso
mesmo, mas sei que não é o correto.
Meus pais se despedem e partem de jatinho de volta para a Itália. Eu fico
com a cabeça fervendo, pensando em nossa conversa.
Tomo um banho enquanto Margô fica com as crianças. Sem babá, fica
difícil cuidar das coisas em casa. Assim que terminado de me arrumar pego
os meus filhos e vou para o quarto deles. Eles gostam de dormir juntos.
― O papai queria pedir a vocês dois que se comportem amanhã com a
próxima babá que virá, nós precisamos de uma e vocês sabem disso ―
digo, esperando que eles compreendam.
― Não gosto delas, papai. Elas parecem bruxas e não brincam com a
gente ― Nina diz, sem muita vontade.
― E todas querem que comamos legumes ruins, eca ― Dante não aceita
qualquer coisa que seja verde no prato.
― Se vocês não se comportarem, o papai vai ter que se casar com uma
moça, e ela vai ajudar a cuidar de nós ― espero que eles entendam a minha
aflição.
― Casar, não, papai! Não quero nenhuma princesa em casa que não seja
eu ― Nina, toda autoritária como sempre, consegue tudo o que quer.
Já sei que é hora de encerrar esse assunto.
― Ok, amanhã continuamos a conversa. Venham deitar-se ― Os chamo
assim que deito na cama de Nina. Os dois vêm para cima de mim e assim
temos uma noite de sono tranquila, sem chuva e pesadelos.
Acordo todo dolorido por ter dormido no meio dos dois, mas nada me
aborrece ao saber que meus filhos não tiveram pesadelos essa noite. Vou
para o meu quarto e me arrumo para mais um dia de trabalho. Desço as
escadas e encontro Margô já mostrando a casa para a nova babá.
― Bom dia ― cumprimento-as, já saindo de casa.
Não tomo café em casa, só faz sentido quando as crianças estão
acordadas, e não é o caso hoje. Mais tarde ligo para elas dando bom dia.
Encontro Giovanni com a porta do carro aberta. Cumprimento-o e ele me
dá notícias sobre o carregamento de ontem e me passa todos os dados da
nova babá. Não coloco ninguém perto dos meus filhos sem conhecer
completamente sua vida e seguimos para um galpão que tenho afastado da
cidade enquanto me informo de tudo.
― Encontramos um dos russos em nosso território. Pegamos ele para
animar o seu dia ― Giovanni diz, todo animado.
Se tem algo que me fascina é a tortura. Ver no olhar do traidor a vontade
de morrer logo e a dor cessar é algo que nunca me cansa. Está no meu
sangue o poder de infligir dor a alguém que merece. Sim, é um bálsamo
para os meus dias.
Dentro do galpão, o cheiro de urina e medo se misturam com o de
sangue, e eu já fico animado. Tiro meu terno, dobro as mangas da minha
camisa e vou em direção ao meu brinquedo. Ele está amarrado pelos braços
com correntes, totalmente nu. Percebo que meus soldados já se divertiram
bem com o infeliz. Meus olhos brilham ao vê-lo. Bem, isso será divertido.
Estava tão aliviada. Eles estão aqui, como prometeram. Estou finalmente
em Portugal posso me sentir segura. Caminho até o portão de desembarque
e corro para os braços daqueles que nunca vão me machucar.
― Que alívio ver vocês aqui ― digo, com as lágrimas prontas para cair.
― Seja bem-vinda, irmã, ao seu recomeço ― minha irmã diz animada,
mas com um olhar triste ao ver meus hematomas.
― Vem, deixa eu pegar a sua bagagem ― Miguel diz procurando a
mala.
― Não tenho nada além dessa mochila, amigo, deixa que eu levo ― a
tristeza se manifestou em forma de lembrança. Deixei tudo o que tinha para
trás.
― Claro que não, né? Eu levo. Vem aqui, me dá um abraço, e vamos sair
daqui. Você precisa comer e descansar ― diz, pegando minha mochila e me
abraçando enquanto andamos em direção à saída do aeroporto.
― Veste esse casaco, irmã. Está muito frio ― Beatriz falou, entregando-
me o casaco que havia trazido para mim. Eu estava morrendo de frio desde
a saída do avião. Que lugar frio é esse?
― Obrigada. Cadê a Madá? ― perguntei, sentindo sua falta.
― Está em casa, preparando uma comidinha gostosa para você. Louca
para te ver. Eu iria fazer uma comida para você, mas o carro da sua irmã
está no conserto, então tive que ser motorista dessa vez ― Miguel falou,
todo divertido com seu sotaque português que eu amo.
Miguel era ainda mais bonito pessoalmente. Como pode um cara ser tão
bonito? Ele foi feito à pincel, loiro, olhos azuis, alto, másculo, inteligente e
chef de cozinha. Só faltou o mais importante: gostar de mulheres. Sim,
Miguel é gay. Quem olha para ele nunca diz, ele não dá pistas. É um
príncipe europeu, sabe? Muito bonito e não finge que não é bonito porque
ele sabe que é.
Seguimos para o carro que é muito bonito, limpo e cheiroso. Miguel é
muito cuidadoso, pelo que percebi até agora. É estranho ter um amigo tão
íntimo que só agora vou conseguir conhecer os detalhes.
A cidade é linda e o que mais me encanta é a mistura do antigo com o
novo, como se a cidade contasse duas histórias ao mesmo tempo. Espero
que eu consiga refazer o mesmo, um dia contar as duas versões da minha
história.
Chegamos ao prédio onde minha irmã e Madá moram. É lindo, parece
aqueles imóveis que a gente vê nos livros antigos. Janelas grandes, algumas
partes em tijolinho, mas por dentro é tudo moderno. Entramos no elevador
até o terceiro andar. O frio estava fazendo meu queixo tremer. Estava
receosa, ansiosa, nervosa. Tudo que continha o sufixo "osa" eu estava
sentindo.
A porta foi aberta por uma Madá emocionada. O abraço foi gostoso,
quentinho, e logo na porta já senti o cheiro de casa, um cheiro que não
sentia há muito tempo.
― Vamos entrar, irmã. Você precisa de um banho e comer. Vamos
conversar bastante também ― Minha irmã disse, entrando. Madá se afastou
e me puxou para dentro.
O apartamento era lindo, simples, mas arrumado no estilo delas, que,
aliás, era o meu estilo também. Eu gostava muito, tinha um jeito de
Pinterest, sabe? Em tons bege, marrom e dourado. Parecia que eu estava
dentro de uma foto.
― Nossa! ― Só consegui murmurar isso.
― É a nossa cara, né, irmã? Espera até ver o seu quarto. Arrumamos
com muito carinho para você.
― Eu dormiria no chão se fosse preciso, Bea. Não precisa gastar o seu
dinheiro comigo. Já estou te dando tanto trabalho ― Me sentia tão
envergonhada, tão intrusa na vidinha delas.
― Ei, não pense assim. Você não tem que ter vergonha de nada. Somos
uma família, uma família de 4 pessoas, mesmo assim uma família que se
ama e se cuida ― Ela parece que leu meus pensamentos.
Minha irmã é uma pessoa tão mais evoluída que eu, mesmo sendo mais
nova, me inspiro nela.
Miguel e Madá também são sozinhos, não têm parentes próximos, e acho
que isso nos une um pouco mais.
― Vem ver o seu quarto ― Madá disse, já me puxando. Saímos da sala,
mas já tínhamos passado pela cozinha, pequena, mas muito bem arrumada.
No corredor, tinha um banheiro. Estranhei não ter um chuveiro, mas tinha
uma banheira que, meus senhores, eu ia ficar de molho ali umas boas horas.
No fim do corredor, tinha três quartos. Olhei para minha irmã em uma
pergunta silenciosa.
― Quando alugamos o apartamento, o Miguel morava conosco, lembra?
Aí, no fim do ano, ele resolveu morar sozinho. E no lugar de escolher outro
apartamento, achamos melhor esperar, porque sabíamos que você ia vir
morar com a gente. Era só uma questão de tempo. Não foi da forma que
imaginei, mas você está aqui agora, é o que importa ― Minha irmã falou,
me emocionando mais uma vez. E dessa forma, as lágrimas apareceram,
mas não deixei que elas caíssem ainda.
― O seu cantinho, amiga ― Madá disse, abrindo a segunda porta depois
do banheiro.
― Onde você vai colocar o sono em dia, a cabeça no lugar, descansar,
porque amanhã será um novo dia ― Miguel me aconselhou, sensato como
sempre.
Minha irmã estava me abraçando por trás e eu olhei para dentro do
quarto. Tinha uma cama de casal com uma cabeceira branca de aço, parecia
uma cama de princesa. O quarto era de um tom cinza claro, o guarda-roupas
era branco de porta de correr. Um tapete felpudo cobria quase todo o quarto.
Havia um banheiro pequeno, e esse sim tinha uma ducha. Disseram que era
o quarto do Miguel e que ele, como o único homem da casa, não dividia o
banheiro com as meninas, pois segundo ele, elas eram muito bagunceiras.
Era simples, mas era lindo e era meu.
Havia dois porta-retratos. Um com uma foto minha e da minha irmã no
Brasil ainda, em uma balada que tínhamos ido, estávamos lindas e um
porta-retratos vazio. Olhei para as três pessoas no quarto.
― Está vazio porque ainda não temos uma foto em família. Quando
saímos para comemorar a sua chegada e recomeço, vamos revelar e colocar
aqui ― disse Miguel emocionado. Eu concordei com a cabeça e eles
pularam deitando-se na cama.
― Deixamos para você decorar devagar, do jeito que você quiser. Foi
tudo muito rápido, mas em breve você poderá colocar do seu jeitinho ―
Beatriz falou, me puxando para deitar em cima deles. Este momento era
tudo o que eu queria: o colo das pessoas que me amam.
― Vocês acham que ele pode vir atrás de mim por achar que tem direito
sobre mim? ― perguntei, tentando conter a enxurrada de lágrimas em meus
olhos.
― Acho que ele não tem coragem para isso, mas se tiver, ele que venha.
Vou mostrar para aquele idiota o lugar dele ― Miguel falou bravo, e as
meninas riram dele, achando engraçado o seu nervosismo. Logo, ficamos
sérios de novo, os quatro olhando para o nada.
― Não tenha medo, irmã. Agora você está segura e nada vai te abalar
mais. Estamos aqui ― Bea falou me abraçando. E eu não consegui mais me
segurar, acho que agora posso me dar o direito de chorar tudo no abraço da
minha irmã.
Depois do primeiro soluço, vieram outros e outros. Madá e Miguel
vieram para o abraço também. Ficamos assim, abraçados e chorando por
tanto tempo que meus olhos arderam, as pálpebras pesaram e se fecharam.
Dormi em um sono pós-choro, tão profundo que quando acordei e olhei
para o relógio na mesinha ao lado da cama. Já era mais de dez da noite.
Levantei e encontrei os três na sala, tomando uma garrafa de vinho. Sentei
no tapete ao lado deles. Me sentia tão segura agora que o mundo lá fora não
importava mais.
― Tu dormiste um sono de beleza, hein? ― disse Miguel, levando sua
taça de vinho à boca.
― Parece que a Gaby não precisa de sono de beleza, olha essa pele ―
Madá estava sentada de frente para mim no sofá.
― Minha irmã é linda, a nossa genética é boa! Como você se sente
agora, depois de colocar tudo para fora? ― Beatriz perguntou receosa.
― Mais leve, segura por estar aqui com vocês. Nem em dez vidas vou
poder pagar pelo que vocês fizeram por mim!
― Não precisa pagar nada. Só quero que você volte a ser a menina feliz
e alegre que era antes desse idiota! E vamos começar com uma garrafa de
vinho bem gostosa, que você adora, um banho e uma comidinha. Você não
deve ter comido nessas últimas 24 horas ― Minha irmã me puxou pelo
braço, me levou para o banheiro, colocou a banheira para encher,
acrescentou sais de banho e um produto cheiroso, e mandou eu entrar
enquanto ela saía para me dar privacidade.
Tirei minha roupa e me assustei com a quantidade de hematomas
espalhados pelo meu corpo. Parecia uma pintura em vários tons de roxo,
amarelo e verde. Não me permiti chorar mais. Ergui a cabeça e decidi que
nenhum homem iria me fazer chorar nem me machucar novamente.
Entrei na banheira decidida a voltar a ser a mulher forte que era, pelo
menos por fora. Minha irmã bateu na porta, entrou e me entregou uma taça
de vinho. Aceitei, nem me lembrando da última vez que tomei vinho, pois,
na minha antiga vida, uma mulher direita não bebia.
Pegando o shampoo, ela começou a esfregar minha cabeça, cuidando de
mim como uma criança que precisa de carinho, sem dizer uma palavra,
tivemos a conversa mais preciosa da minha vida. Ela me mostrou cuidado,
carinho e amor apenas em gestos.
No fim do banho, vesti um pijama quentinho e felpudo e uma meia fofa
da minha irmã, que me ajudou a secar o cabelo. Fomos para a cozinha e lá
estava Miguel no fogão, preparando algo muito cheiroso. Foi nesse
momento que lembrei que não tinha comido a comida de Madá. Olhei para
ela com um olhar de desculpas, e ela me olhou divertida, sem julgamentos.
Ela sabia que eu precisava descansar.
Comemos um bacalhau divino e bebemos umas duas garrafas de vinho.
Eles me contaram como eram as coisas por lá, sobre o ateliê das meninas.
Concordamos que minha presença lá não seria de grande ajuda, afinal, não
podia fazer nada além de cuidar da minha aparência. Depois de pensar um
pouco, Miguel achou melhor esperar alguns dias para os hematomas no
meu rosto diminuírem, assim eu poderia escondê-los com maquiagem e não
chamar a atenção desnecessariamente.
Não quis ir ao médico, estava bem, pelo menos era isso que eu queria
acreditar. Eu iria ajudar no “restaurante-bar” que o Miguel tinha, até
encontrar uma ocupação que eu realmente gostasse.
Tive que trancar a faculdade, então liguei para a Sofia para falarmos
desses detalhes, e ela rapidamente incluiu a Marta na chamada. Foi só
emoção.
Fomos dormir quando já era madrugada, mas eu me sentia leve e feliz.
Não fui para o meu quarto, me ajeitei no cantinho da cama da minha irmã e
dormimos abraçadas como duas crianças com medo do escuro.
O dia foi cansativo, mas muito produtivo. A empresa superou minhas
expectativas, somos os maiores exportadores da Europa. Nossas
embarcações têm uma lista de espera de dois anos à frente. Nossos clientes
incluem magnatas empresariais e até associados da máfia, que desejam uma
embarcação para passeios. Nossos iates e lanchas são os melhores do
mercado.
No entanto, as atividades ilegais estão me deixando irritado. Esses
malditos russos acham que podem me desafiar, enviando aliados e soldados
para o meu território. Vou devolvê-los um por um, para que aprendam que
não permito intrusos no meu território.
Don, meu chefe, está preocupado com a repercussão negativa que isso
pode trazer. Em nosso meio, não toleramos fraqueza e essa brecha que os
russos estão explorando está sendo vista como tal. Eles acham que dou
muita atenção à empresa e estou negligenciando a máfia. Eles não veem que
tripliquei o lucro líquido da máfia em menos de 5 anos. Quando assumir a
posição de Don, farei muitas mudanças no Conselho e aqueles que não
concordarem terão sua vida encerrada de forma simples e rápida.
Meu império me permite ter associados como juízes, delegados e
políticos importantes, todos eles na minha folha de pagamento. Ter uma
dívida comigo é como dever ao diabo.
― O passarinho russo cantou? ― Perguntou Luigi sobre o russo que eu
torturei.
― Cantou uma ópera linda. Eles não foram capazes de enviar um
soldado que aguentasse 3 horas de tortura. Foi até frustrante ― Respondi
sentando-me na minha mesa favorita na boate da família.
Essa é uma boate mais restrita aos membros da família. Há gaiolas onde
dançarinas tentam atrair a atenção dos clientes, que em sua maioria são
soldados e aliados próximos. O ambiente tem uma atmosfera mais sombria,
com sofás de veludo vermelho espalhados pelo local e atendentes vestindo
lingeries provocantes.
Uma delas se aproxima com a melhor garrafa de uísque da casa e três
copos. Não sou alguém que frequenta essa boate apenas para sexo, mas hoje
estou particularmente estressado e preciso aliviar minha tensão. A tortura
não foi suficiente.
― Vocês não acham estranho esses ataques malfeitos e esses soldados
despreparados? ― Giovanni, que até então estava calado, expressa sua
opinião.
― Na verdade, sim. O russo disse que recebeu apenas uma ordem por
telefone e não sabe de onde veio, nem quem foi o superior que deu a ordem.
Já mandei nosso hacker monitorar e rastrear o celular do russo ― respondi,
pensativo.
― Você acha que eles estão planejando algo grande? ― Perguntou
Luigi, e já pude ver a fumaça saindo de sua mente pensativa.
― Ele disse que minha cabeça está a prêmio. O maldito do Nikolai quer
tomar parte da Europa e sabe que só conseguirá passando por cima do meu
cadáver ― Falei e já estava cansado dessa conversa, só precisava me
enterrar em uma relação sexual neste momento.
― Vamos reforçar a segurança na empresa e na mansão. As crianças não
podem ficar expostas ― Afirmou Giovanni, olhando ao redor em busca de
sua presa.
Embora eu não tenha irmãos, meus filhos têm dois tios que se
preocupam com eles, e sou grato por isso.
― Esse é o primeiro passo. O segundo é caçar todos os malditos russos
que estiverem em meu território. A partir do momento em que Nikolai
colocou um alvo nas minhas costas, ele declara guerra contra a Cosa
Nostra. Envie um comunicado para todos os soldados e associados. Não
quero ninguém vivo ― falei determinado.
Fiz um sinal para Ana, uma das mulheres da casa que sabe como fazer
um excelente boquete, para subir para a suíte no segundo andar.
Temos várias suítes para o conforto dos nossos homens e as mulheres
aqui não são vítimas de violência. Ao contrário de outras máfias, não
obrigamos as mulheres a se prostituírem. Elas estão aqui porque querem e
são bem pagas por isso. Esse é mais um dos motivos pelos quais o Conselho
me considera fraco. Mas não entendo como forçar uma mulher pode ser um
sinal de poder.
― Considere feito, chefe. Agora, se me der licença, vou conversar com
uma bela mulher ali ― Avisou Giovanni, levantando-se e caminhando
rapidamente atrás de uma morena peituda.
― Bom, eu vou adiantar algumas coisas em casa mesmo, já que você vai
ficar por aqui ― Luigi falou.
Ele não gosta muito de boates com prostitutas. Ele prefere nossa versão
de boate "normal", onde pode flertar com mulheres do mundo "real". Ele
gosta mais de dançar e beber. Não julgo, também frequento, mas hoje não
estou com vontade de conquistar.
― Ok, vá lá. Não vou ficar por aqui hoje. Assim que terminar, vou para
casa. As crianças não estão passando por um bom momento ― Não gosto
de me afastar por muito tempo dos meus filhos, ainda mais com essa
rotatividade de babás. Pelo menos a babá de hoje ainda não foi embora.
Terminei meu copo de uísque e segui para o segundo andar. Havia várias
portas vermelhas lado a lado. Entrei na suíte de sempre, já tirando a parte de
cima do meu terno que coloquei em cima da cadeira e, ao tirar a gravata,
observei Ana deitada na cama completamente nua.
Ana era loira, sua raiz escura entregava que não era natural, seu corpo
era longo, barriga chapada, olhos castanhos, peitos grandes, não eram
naturais também, mais um conjunto bem satisfatório para uma boa foda,
com o tempo deixei que tivesse um certo nível de intimidade comigo, coisa
que as outras não tinham, mas como Ana sabia o seu lugar, deixei que
pensasse que era minha exclusiva.
Ela se levantou e foi até o bar que estava no canto da suíte, enchendo um
copo de uísque. Em seguida, ela veio andando em minha direção, com um
jeito cativante, e me entregou o copo.
― Deixa que te ajudo, chefe. ― Falou enquanto desabotoava minha
camisa. Bebi o líquido de uma só vez, e então ela retirou minha camisa e se
abaixou, desfazendo o botão da minha calça.
― Achei que você não se lembrava mais de mim, chefe. Quanto tempo
faz desde a última vez que senti o seu gosto? ― Perguntou de forma
manhosa, reclamando da minha ausência.
― Chupa. ― Ordenei, sem interesse em prolongar a conversa, eu só
queria desestressar hoje, não trocar palavras.
Seus olhos brilharam, ela adorava seguir ordens na cama, já eu adoro
comandar e dar prazer. As minhas parceiras nunca saíram insatisfeitas da
minha cama, mesmo quando quero um sexo mais bruto, como agora.
Ela segurou meu pau com uma mão e lambeu a minha glande já
lubrificada com o meu pré-sêmen, colocou ele na boca até a metade e com a
outra mão foi massageando as minhas bolas, agarrei seus cabelos fazendo
um rabo de cavalo e ela foi mais fundo, colocando todo meu comprimento
em sua boca, não resisti.
― Se prepare gostosa, vou foder a sua boca como fosse a sua boceta. ―
Falei com um tom de aviso.
Segurei a sua cabeça e fodi sua boca até ela se engasgar procurando por
ar, afrouxei a pegada deixando-a respirar, mas a safada queria mais e me
engoliu novamente, continuei os movimentos bruscos até sair lágrimas em
seus olhos, e como eu estava longe de gozar, ordenei que Ana se levantasse,
peguei ela no colo e a coloquei na cama.
Ela procurou meu pau e começou a me masturbar. Retribui a gentileza
massageando o seu clitóris, espalhando a lubrificação pela sua boceta que
estava encharcada só de me chupar.
A safada se contorcia na cama, e logo eu inseri dois dedos na sua boceta
macia, fazia movimentos rápidos e com o polegar massageava o seu clitóris,
logo ela gozou com força e aproveitei a deixa para encapar o meu pau com
a camisinha, que já estava na cama, já que Ana estava sempre bem-
preparada e eu gostava disso nela.
Sem aviso a penetrei de uma só vez, fazendo meu pau se enterrar no
fundo de sua boceta.
― Não vou ser piedoso hoje, gostosa, estou a fim de uma foda dura. ―
Avisei assim que comecei meus movimentos.
― Não esperava outra coisa, chefe, sou toda sua. ― Ela não sabia, mas o
seu consentimento me animou ainda mais.
A fodi com força em movimentos ritmados, indo até o fim sem dó, sentia
minhas bolas baterem na sua bunda, e eu adorava ver como ela se entregava
a mim. Sem piedade a virei de costas a colocando de quatro pra mim,
admirei a sua bunda pequena, redonda e no formato certo para uns tapas,
estalei um tapa bem dado do seu lado esquerdo, depois cruzei os braços em
sua cintura e enfiei com força até o fundo da sua boceta, dando uma última
ordem.
― Se toque, quero você gozando no meu pau agora. ― Ela mais do que
rápida começou a se tocar, se remexendo na cama em busca de alívio.
Eu a segurava no lugar, socando forte em sua boceta, saí e entrei com
força, dando um último tapa no seu lado direito, e logo Ana estremeceu
apertando o meu pau com sua boceta molhada, me fazendo gozar em
seguida.
Saí de dentro dela admirando o meu trabalho. Ana estava deitada de
bruços com a respiração ofegante, fui até o bar e me servi mais uma dose de
uísque, virando de uma só vez, me vesti e fui em direção a minha casa, mais
aliviado, mais não menos preocupado.
Meu motorista de confiança estava ao volante quando entrei no carro, já
acomodado, e Giovanni entrou atrás, sentando ao meu lado.
― O cerco está se fechando, chefe. Eles estão mais próximos do que
imaginamos. Uma das mulheres que peguei esta noite na boate me contou
que tem tido um aumento no número de russos rondando por lá. Já solicitei
as imagens das câmeras internas. ― Giovanni trouxe essa novidade, me
deixando ainda mais preocupado.
Eles estavam se aproximando muito e eu não gostava disso.
― Vamos aguardar as imagens. Aliás, você se diverte ou conversa com
as mulheres? ― perguntei.
― Ficaria surpreso com a quantidade de coisas que consigo fazer ao
mesmo tempo, chefe! ― Respondeu ele com seu jeito brincalhão de
sempre.
― Prefiro não imaginar, obrigado. ― Seguimos para casa.
Giovanni tinha seu próprio apartamento, assim como Luigi, mas ambos
tinham quartos na minha mansão. Quando as coisas ficavam confusas, eles
dormiam lá para estar sempre por perto e para ajudar com as crianças.
O problema era que, às vezes, eles faziam mais bagunça do que
ajudavam com as crianças. Não dava para saber quem eram as crianças e os
adultos. Tínhamos um acordo silencioso de sempre estarmos lá uns pelos
outros. Éramos nós três contra o mundo.
Chegamos em casa e fui ver meus filhos, que já estavam dormindo.
Giovanni passou pelo quarto deles também para se certificar de que
estavam bem e seguiu para o seu quarto. Fiquei na porta admirando os dois
dormindo quando Margô apareceu atrás de mim usando roupas de dormir e
um roupão por cima.
Margô deveria ter seus 60 anos bem vividos, com cabelos grisalhos
sempre presos em um coque perfeito. Ela cuidou de mim quando eu era
criança, ajudou na criação de Luigi também, e sempre passou a mão na
cabeça de Giovanni quando ele aparecia em nossa casa. Na Itália, nós três
éramos inseparáveis. Quando os gêmeos nasceram, minha mãe nos
emprestou Margô e Carmen, nossa cozinheira, mas nunca mais deixei que
elas voltassem. Margô é o equilíbrio desta casa.
― Quem vê esses anjinhos dormindo assim nem acredita que são
capazes de fazer todas as travessuras que fazem ― Ela comentou, em tom
de brincadeira.
― Verdade. O que a senhora está fazendo acordada a essa hora? E por
que não está em sua casa? ― Perguntei, já curioso.
Todos os funcionários que trabalham para mim dormem em uma casa
nos fundos da propriedade. Margô tem seu chalé, que reformei do jeito que
ela quis, porque ela não é uma simples governanta, ela é parte da família.
Em casa, apenas a babá dorme em um quarto bem equipado nos fundos
da cozinha. Afinal, não tenho horário para chegar em casa, e as crianças não
podem ficar sozinhas. Gosto de ter privacidade, mas no momento as
crianças precisam de alguém.
― A babá do dia não aguentou até o entardecer. Ela era uma senhora
boa, mas os ratos que as crianças colocaram na gaveta de suas roupas
íntimas foram o fim para ela. ― Margô contou, pesarosa.
― De onde essas crianças arranjaram ratos, Margô? Como é possível
que duas crianças de 4 anos tenham essas ideias? ― Eu segurava o riso, não
conseguia entender.
― Da mesma forma que arranjaram minhocas, cocô de cachorro, aliás,
até os soldados têm medo de chegar perto do canil, bolinhos de barro na
comida delas... O repertório é extenso e cansativo. Não vale a pena contar
ao senhor todas as travessuras. Os ratos provavelmente saíram dos galpões
de móveis velhos. ― Meu Deus, eu não sabia dessas coisas. Eles não
podem ficar fazendo essas travessuras.
― Margô, me dê uma solução, uma luz, qualquer coisa. ― Eu caí na
gargalhada, e ela me acompanhou.
― Vocês três eram assim, ou você se esqueceu? Até armadilhas de ratos
colocavam dentro das gavetas. ― Ela me trouxe lembranças da nossa
infância. Éramos realmente impossíveis.
― É verdade, Margô, mas a senhora e minha mãe juntas controlavam os
danos. Eu não sei por onde começar.
― Eu sei que é difícil. A questão é como você vai lidar com os danos
que essas crianças causam a elas mesmas. Eu estou aqui com você, sempre
ajudando no que for preciso, mas só você pode resolver essa situação. ―
Ela me lançou um olhar carinhoso e materno.
― Eu consigo lidar com o inimigo mais cruel e perigoso, mas não
consigo entender meus filhos.
― A paternidade é assim, meu querido. Nem sempre há uma resposta
certa para cada problema.
― Estou começando a perceber. ― Eu disse pensativo.
― Pedi uma última tentativa na empresa de recrutamento de babás. Eles
estão achando difícil porque já experimentamos todo o catálogo, mas a
gerente me garantiu que o senhor não vai ficar na mão. Eles pediram alguns
dias para resolverem o problema e enviar alguém mais bem preparado.
Enquanto isso, vou cuidar deles aqui. ― Isso resolvia meu problema
temporariamente.
― Obrigado, Margô. Vamos esperar então. Diga a eles para agilizarem,
não é possível que não haja ninguém competente nessa empresa,
considerando o valor que estou disposto a pagar. A senhora pode aumentar
o valor se achar necessário e tem a liberdade de escolher a moça que achar
melhor, desde que passe pelo crivo do Giovanni. Não se esqueça disso. Vou
tomar um banho e me deitar.
― Sim, vou mantê-lo informado.
Ela se retirou para o seu aposento, e uma dor de cabeça começou a me
cercar. Será que estou fazendo um bom trabalho com meus filhos? Tento ser
um pai tão bom quanto o meu foi, mas sinto que estou falhando em algum
ponto e me sinto frustrado.
Nos últimos dias, dediquei-me a conhecer a cidade. Miguel me levou
para passear de bonde pela cidade. Minha irmã e Madá me levaram ao
shopping, onde comemos em lugares diferentes e visitamos cafés
encantadores que pareciam saídos de um filme. Compramos algumas
roupas para mim, já que minha irmã, Madá e eu vestíamos o mesmo
tamanho, eu estava usando as roupas delas, mas precisava de algumas
coisas minhas, afinal, não tinha quase nada.
Minha irmã tinha um celular que não usava e me emprestou para que eu
pudesse falar com Sofia e Marta sem precisar pedir o delas o tempo todo.
Para muitos, ter um celular é apenas um luxo, mas para mim era um
símbolo de liberdade. Eu não queria gastar o dinheiro da minha irmã, então
procurei por coisas mais baratas. Encontramos um brechó cheio de coisas
lindas e conseguimos comprar muitas coisas legais. Também encontramos
algumas lojas com preços mais acessíveis, e foi incrível ter esse tempo com
eles.
Miguel também era excelente em moda e me ajudou a escolher casacos e
peças-chave para montar um guarda-roupa inteligente, segundo ele. Eu
adorava peças de alfaiataria com tênis, croppeds e coisas retrô, mas também
gostava de peças modernas, vestidos bem estruturados. Conseguimos tudo o
que eu precisava por enquanto. Fiz as contas de tudo, pois eu iria pagar todo
o dinheiro que eles gastaram comigo.
Passamos em uma farmácia, onde comprei itens de higiene que gostava.
Minha irmã me levou a uma lojinha que parecia ter saído de um filme
chinês, com vários produtos de maquiagem e acessórios. Compramos
algumas maquiagens, pois meus hematomas não haviam sumido e eu estava
os cobrindo com maquiagem. Os hematomas na costela e no rosto eram os
piores.
Miguel me levou à clínica de um amigo dele, onde fizemos um raio-x.
Não havia quebrado nada, era apenas uma luxação. No prontuário da
clínica, tive que explicar que tinha caído, mas não fui muito convincente. Vi
nos olhos da enfermeira e do médico amigo de Miguel que eles suspeitaram
que ele tivesse me causado aquilo. No final, ele foi conversar em particular
com Miguel, que deve ter contado a minha situação, já que eu era uma
imigrante sem visto ou residência no país. Depois de me receitar alguns
medicamentos para a dor, eles nos liberaram.
O restaurante de Miguel não é apenas um simples restaurante, parece
uma casa antiga por fora e do lado de dentro possui dois andares
interligados por uma parte coberta e outra ao ar livre, sendo a área externa
mais reservada para o restaurante e um pub. Entre as mesas, há aquecedores
de pé para aquecer os clientes do pub durante o inverno. Há um bar enorme
com bancadas altas para aqueles que desejam beber no balcão, além de uma
mesa muito estilosa onde um DJ toca música ambiente durante o dia e
animadas durante a noite para os clientes da área externa. É um lugar
extremamente charmoso e de um bom gosto incrível.
Embora não seja um restaurante grande, a área aberta é suficiente para os
mais jovens desfrutarem de petiscos e bons drinks. O restaurante oferece
uma comida excelente, com destaque para um cardápio exclusivo de risotos
que conquistou meu coração, além de outras delícias. Como adoro beber e
sei fazer alguns drinks, estou ajudando no balcão à noite e tem sido muito
divertido. Conheci os funcionários do restaurante, que foram muito
receptivos comigo.
― Moça, poderia fazer qualquer drink para mim com uísque, por favor?
― Pediu uma moça com um olhar cansado para mim. Respondi com meu
melhor sorriso.
― Claro, você gosta de canela? ― perguntei para preparar um drink, e
se ela concordasse, faria um que adoro com uísque.
― A moça bonita é brasileira? Gosto sim, pode fazer do seu jeito. O
Miguel está aqui hoje? ― Ela me lançou duas perguntas ao mesmo tempo,
olhando para os lados.
― Sim, ele está aqui. Está finalizando a cozinha e deve estar vindo para
cá. E sim, sou brasileira. Você quer que eu o chame? ― perguntei enquanto
pegava um copo de uísque bonito para fazer uma apresentação à altura para
a moça simpática. Adoro pessoas educadas.
― Não precisa, pode fazer do seu jeito. Estou estressada e hoje não vou
sair daqui tão cedo ― Ela disse rindo nervosamente. Eu acenei com a
cabeça e fui preparar sua bebida.
Peguei o copo, queimei um pau de canela e, quando começou a sair
fumaça, coloquei-o no copo e virei de cabeça para baixo. Em seguida,
peguei uma laranja, tirei a casca de metade dela sem chegar na parte branca,
desvirei o copo, coloquei gelo e a fatia de laranja, que girou e ficou um
charme. Adicionei o pau de canela e completei com uísque. Entreguei para
a moça simpática, que ficou admirando o copo e provou sem tirar os olhos
de mim. Seus olhos se arregalaram e ela soltou um gemido alto.
― Nossa, garota, de onde você tirou isso? Que delícia! Não vou sair
desse balcão mais. ― Elogiou dando outro gole.
― Sei que tem um nome, mas não sei qual. Encontrei a receita na
internet. Adoro drinks e gosto de uísque, mas não consigo tomar puro.
Então experimentei a receita um dia e deu certo. Que bom que gostou. ―
Antes da moça me responder, Miguel chegou atrás de mim.
― Dia difícil, Paula? Tomando uísque, então o dia foi tenso! ―
Perguntou ele, divertido.
― Nossa, nem me fala. Estou com um problemão e não consigo
encontrar uma solução para ele. Aliás, quem é a sua nova funcionária? Ela é
incrível. Vou tomar mais um, pode fazer outro, por favor. ― Já disse que
adoro gente educada? Pois é.
Fui fazer o drink enquanto eles conversavam.
― Posso ajudar de alguma forma, amiga? ― Miguel perguntou a Paula,
solícito.
― A não ser que conheça uma babá com boas referências, aí você pode
me ajudar, amigo. Sabe aquele magnata da exportação? O cara mais
importante e rico de Lisboa? Ele tem gêmeos de 4 anos e esses anjinhos já
aterrorizaram seis das melhores babás que contratei. E agora, a governanta
do cara me deu um ultimato. Se eu não enviar uma babá excelente, ele vai
procurar outra empresa, e você sabe que ele pode acabar com a minha
reputação com um estalar de dedos, afinal, ele nunca vai admitir que as
crianças são duas pestinhas. ― Paula desabafou em um fôlego só, tadinha,
já estava com os olhos cheios de lágrimas.
― Nossa, Paula, que barra. Essas crianças devem ser uns pirralhos
mimados, não é? ― disse Miguel.
― Ou então são totalmente incompreendidos e estão passando por uma
fase difícil. ― Não aguentei e me intrometi na conversa.
― Já pensei nisso, mas nenhuma babá dá conta deles. As travessuras
envolvem cocô de cachorro, minhocas, barro na comida. A última tinha
pavor de ratos e adivinha o que ela encontrou na gaveta de calcinhas dela?
Isso mesmo, um rato! ― Ela nos contou desesperada, e nós três
gargalhamos.
Alguma coisa estava errada com essas crianças, tadinhas.
― Amiga, você não estudava pedagogia? ― Miguel me perguntou
animado.
― Sério? ― Paula me questionou.
― Sim, estudava. Meu sonho era trabalhar com crianças, mas não
terminei meu curso. Falta um ano, e meu diploma não é válido aqui de
qualquer forma, amigo. E até o momento, estou ilegal no país, esqueceu? ―
Falei triste, sabendo que nunca poderia realizar meu sonho.
― O fato de ser ilegal podemos resolver. Tenho uma empresa que
recruta babás e ajudantes do lar. Arrumar um contrato de trabalho para você
é fácil. ― Paula disse tão animada que estava até sem fôlego.
― E o diploma é indispensável para esse cargo, amiga. Aposto que a
maioria das babás da Paula não tem formação acadêmica. ― Miguel falou,
sentando-se em frente a Paula com uma long neck na mão.
― Verdade, como é seu nome mesmo? Desculpa pela falta de educação.
― Paula quis saber.
― Gaby, Gabriela. ― Respondi pensativa. Seria essa a oportunidade que
eu precisava?
― Gaby, vamos lá então. Eu preciso de alguém responsável e que saiba
lidar com os anjinhos. Você teria um visto de trabalho, eu te ajudo e você
me ajuda. Só preciso de referências suas, porque o cara é bilionário e
superexigente com os filhos. ― Ela afirmou, animada.
― Eu me responsabilizo pela Gaby, te dou a minha palavra de que ela é
mais responsável do que você possa imaginar. Minha referência vale? ―
Miguel perguntou em seu modo protetor.
― Claro que vale, amigo. Sua palavra é lei para mim. Só falta agora a
Gaby aceitar. O valor do salário é absurdamente bom. O cara não tem dó de
gastar com seus filhos. Só tem um probleminha: tem que dormir no
emprego e as folgas são aos sábados e domingos. Mas como o cara viaja
muito, isso pode ser discutido com a governanta, mas ele paga horas extras
e um monte de benefícios. ― Paula estava tentando me convencer.
― Nossa, deve ter um problema grande com essas crianças. Um
emprego tão bom e nem uma babá ficou? ― Miguel falou curioso.
― Como em qualquer emprego para imigrantes, não tínhamos ninguém
com formação direcionada à área pedagógica. Às vezes a Gaby dá certo e é
a minha última esperança. Por favor, Gaby, aceita. ― O desespero estava
em seu rosto.
― Meu Deus, que responsabilidade. O que você acha, amigo? ― Quis
saber a opinião de Miguel.
― Acho uma excelente oportunidade. Não deixe escapar, Gaby. Você
queria dinheiro para ajudar nas despesas das meninas e pagar as coisas que
elas compram para você, apesar de elas dizerem que não precisa. E temos a
questão do seu visto, sem contar que vai fazer o que gosta: trabalhar com
crianças. ― Ele estava me convencendo a cada minuto.
― Vamos fazer assim: você faz um teste de um mês e se gostar, você
fica. Aliás, com o valor que garanto que irá receber, em um mês você paga
suas despesas com sua irmã. ― Paula bateu o martelo com essa frase. Tudo
o que eu quero é pagar tudo que eles gastaram comigo.
― Beleza, vamos lá. Não deve ser tão difícil lidar com duas crianças de
4 anos, não é mesmo? ― Pensei, rezando para dar certo.
― Já deu certo, amiga. Tu vai ver. ― Miguel estava animado.
― Faz assim, te espero amanhã na empresa. Leva seus documentos, vou
te levar pessoalmente até a mansão Rocatti. ― Nossa, mansão, pensei
comigo. Deve ser incrível.
― Tudo bem, Miguel. Você me leva até a empresa? ― Perguntei a meu
amigo.
― Claro que sim, amiga. ― Ele me respondeu solícito, como sempre.
Após conversar muito sobre a mansão e as crianças, Paula foi embora e
eu e Miguel começamos a arrumar o balcão com o bartender que trabalhava
para ele. Ele não tinha muitos funcionários, mas todos eram muito
competentes.
Miguel me contou, enquanto enxugava os copos, que o cara era
realmente bilionário, italiano, disse que ele era um tesão de tão lindo -
palavras do Miguel -, viúvo e que vivia cercado de seguranças. Saiu em
revistas de fofoca e até nas mais badaladas revistas de negócios.
Assim que terminamos de organizar tudo, lembramos de contar a
novidade para as meninas, que deviam estar em casa. Mandamos uma
mensagem no nosso grupo do WhatsApp.

Miguel:
Meninas, a Gaby arrumou um emprego!

Bea:
Jura? Onde?

Madá:
Que legal, amiga! Onde é?

Miguel:
Um bilionário vai bancá-la!

Bea:
Como assim? Bancar?

Madá:
Amiga, você não vai se tornar uma prostituta, né? Tudo bem, acho que
você precisa liberar a Larissinha.

Bea:
Mas não precisa sair distribuindo, né, irmã? Assim não! Haha.

Madá:
Tá, mas hipoteticamente falando, quão bonito ele é?

Bea:
E de quanto dinheiro estamos falando?

Não aguentei a brincadeira deles e respondi, já tinha passado do limite,


fingi que estava brava.

Gaby:
Miguel, vai procurar o que fazer e para de palhaçada. É mentira,
meninas.
Madá:
Hahaha.

Bea:
Puta que pariu, hahaha.

Miguel:
A beleza dele é, hipoteticamente, nada mais, nada menos que o gostoso
do Matteo Rocatti.

Bea:
O quê? O bilionário? Dos iates?

Madá:
Para mundo que eu quero descer, só de olhar pra aquele homem eu gozo.

Bea:
Se ele disser "goza", eu gozo sem pensar duas vezes.

Miguel:
Gente, sério, chega de brincadeira. Gaby vai cuidar dos anjinhos dele.

Bea:
Ele também precisa de cuidados, não?

Madá:
Que pena, eu daria até banho, hahaha.
Gaby:
Chega, meninas! Se não, vou ficar olhando para o homem e lembrando
de vocês, e vou ficar rindo o tempo todo, haha. Chega, estou indo embora.

Miguel:
Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

Gaby:
Meninas, vocês podem me emprestar uma mala pequena? A amiga do
Miguel disse para levar coisas para uma semana, pois tenho que dormir na
mansão durante a semana.

Bea:
Ai, que chique, na mansão, hahaha!

Madá:
Eu dormia na casinha do cachorro. Tá, parei.

Nós nos despedimos e fomos para casa arrumar as coisas que


precisávamos. Esses três são uma figura, amo estar com eles. Vai ser triste
passar a semana longe, mas fazer o que, né? Estou muito animada com essa
nova oportunidade. Será que é o começo do meu recomeço?
Quando Miguel me deixou na porta do prédio já era meia-noite. Ele não
mora mais com as meninas desde o ano passado, pois queria mais liberdade
e não queria incomodar as meninas, já que sempre chegava tarde por causa
do restaurante. As meninas não concordam e dizem que é para ele levar
seus parceiros sem ter que fazer apresentações. Minha irmã diz que ele tem
um "P.A" fixo (pau amigo) e o nomeou de Lombard. Segundo ela, todo
mundo sabe que ele existe, mas ninguém nunca o viu. Ele nunca apresentou
o cara, mas alguém está lá, e elas sempre brincam com ele por isso.
Madá e Bea ainda estavam acordadas me esperando para saber as
novidades. Contei como conheci Paula e sobre a proposta de emprego.
Colocamos os prós e contras na balança, pois a opinião delas era muito
importante para mim. Elas concordam que é um emprego muito bom para
arriscar, apesar de ficarem receosas por eu passar a semana toda fora de
casa. O medo me domina de uma forma estranha, um medo de não dar
conta.
Minha irmã disse que esse poderia ser o início de uma nova fase na vida.
Ela pode estar certa, preciso acreditar em mim e seguir em frente.
Sofia e Marta me disseram que está tudo muito tranquilo. Carlos anda
pelo prédio como se nada tivesse acontecido. Sofia me contou que ele me
procurou na casa dela, fez acampamento na porta da faculdade e até na casa
da mãe dela. Ele agiu como um cachorro abandonado, dizendo que eu o
abandonei e que está inconsolável.
Sofia ainda disse que teve que se segurar para não dizer a ele que sabia
de tudo e que ela me ajudou a fugir. Ele nem imagina que estou em outro
país e que tive a ajuda dela. Como imaginamos, ele não procurou a polícia e
não tem nenhum sinal meu, pois nem tranquei a faculdade. Ele sabe que não
estive por lá. Estou satisfeita assim. Espero que ele esqueça que eu existo.
Deixo esses pensamentos guardados no fundo da minha mente e em um
canto bem protegido do meu coração. Não posso simplesmente esquecer o
que me machucou tanto. Ainda não estou preparada para isso. É melhor
deixar guardado e não mexer em lembranças que machucam.
Pensando em coisas boas, relembro os conselhos de Sofia e Marta para
seguir em frente e não remoer o passado. Tenho tido pesadelos ruins com
Carlos me sufocando, mas não me abalo. Antes de dormir, penso em coisas
boas e peço a Deus para que seja apenas uma fase ruim, que isso vai passar.

― Chegamos, Gaby. ― Paula avisou animada, apontando para o grande


portão de aço preto à nossa frente.
Acordei muito cedo, queria ter tudo organizado e passei muito tempo
pensando em como abordar as crianças para não repetir os erros das outras
babás.
― Nossa, é muito grande, né? Sabia que era uma mansão pelas coisas
que as meninas me disseram, mas não imaginava que fosse tão grande. ―
Comentei, olhando em volta pelo vidro do carro de Paula. Os muros da
mansão ocupavam um quarteirão inteiro. Não sei o que tem dentro, mas
daria para construir um condomínio inteiro aqui. Por que alguém precisa de
uma casa tão grande?
― Pois é, garota bonita, essa é a mansão mais bem avaliada de Lisboa.
O cara tem dinheiro para comprar o que quiser. ― Ela disse, apertando o
botão do interfone.
O portão se abriu para que pudéssemos entrar com o carro. Paula disse
seu nome e paramos em uma guarita enquanto um segurança pegava nossos
documentos. Mais dois seguranças cercavam o carro, segurando umas varas
compridas com espelhos quadrados na ponta, semelhantes aos usados por
equipes antibombas. Pediram para que não saíssemos do carro e revistaram
o interior, passando um aparelho que apita como nos aeroportos. Eles
estavam muito armados, nunca estive perto de armas, só vi pela televisão, e
posso garantir que é assustador.
Liberaram nossa entrada, voltamos para o interior do carro e
atravessamos o jardim.
― É normal essa abordagem? Tantas armas? Meu Deus, estou
apavorada. ― Perguntei para Paula, com os olhos arregalados.
― Toda vez que vim aqui buscar ou trazer alguma das babás, fui
revistada. Dizem que o senhor Rocatti é paranoico com segurança. ― Paula
respondeu, estacionando em frente a uma porta grande. Parecia ser uma
porta secundária, não a entrada principal.
― Essa é a entrada da cozinha. Você sempre deve entrar por aqui, todos
os funcionários passam por aqui, ok? ― Explicou, e eu fiz uma anotação
mental de que os funcionários tinham sua própria entrada.
― Ok, entendi. ― Saindo do carro, avistei uma senhora parada na porta
com as mãos atrás do corpo. Devia ter uns 60 anos, corpo ereto, um coque
perfeito nos cabelos grisalhos. Vestia uma saia lápis preta com uma camisa
de botão da mesma cor, sapatos também pretos com um salto pequeno. Ela
era elegante, parecia uma daquelas governantas dos livros que eu adoro ler
no meu Kindle. Aliás, vou comprar um novo com meu primeiro salário.
Não dá para ficar sem aquelas histórias mágicas. A senhora tinha um olhar
acolhedor e um semblante pacífico.
― Você deve ser a Gabriela, certo? ― Margô me perguntou, com um
sorriso modesto no rosto.
― Sim, senhora, é um prazer. ― Respondi, nervosa.
― Sou a Margô, sem a senhora. Não precisa me tratar com formalidade.
Seja bem-vinda, e o prazer é meu, minha menina.
― Tudo bem, Margô, sem senhora. ― Arrisquei uma piada, e foi a
escolha certa, porque Margô soltou uma gargalhada gostosa, porém
elegante. Nunca vi alguém gargalhar com elegância. Eu, hem, mas gostei.
― Pelo visto, vai ser divertido ter você aqui. Vem, vamos entrar. Quero
lhe mostrar tudo. ― Ela disse, abrindo caminho. Me despedi de Paula,
peguei a mala pequena e minha bolsa, e segui Margô.
A cozinha era linda, um sonho de toda dona de casa. Já tinha algumas
funcionárias trabalhando a todo vapor. Uma delas usava um chapéu de chef
de cozinha na cabeça, e sua expressão não era das melhores. A cozinha
tinha eletrodomésticos cromados por todos os lados. Havia uma ilha enorme
com uma pia menor e um fogão embutido. Na ilha, havia armários e
gavetas. Na parede de trás, havia armários da mesma cor, todos em tons de
bege e branco. As bancadas eram de mármore. Havia outra pia, maior que a
da ilha, e um fogão industrial com forno. Também tinha uma geladeira
imensa de duas portas. Eu não sabia que era possível ter uma geladeira
desse tamanho. Seria um sonho cozinhar ali, ainda mais com as crianças.
Será que elas gostavam de cozinhar?
― Bem, gostou da cozinha? Seus olhinhos estão brilhando. ― Margô
me perguntou, curiosa.
― Sim, claro que gostei. É um sonho de cozinha. ― Disse animada.
― É um sonho mesmo. Espera até ver o resto. A casa é antiga, mas a
reforma feita uns 6 anos atrás ficou de muito bom gosto. Essas são Tereza,
Mônica e Judite. Elas são responsáveis pela limpeza da casa. Essa com o
chapéu é a Carmem, nossa chef de cozinha. Senhoras, essa é Gabriela, a
nova babá. ― Margô me apresentou para as senhoras.
― Bom dia, é um prazer conhecer vocês. ― Disse de forma educada.
― Sem senhora para nós também, mocinha. Brasileira, é? Tomara que
tenha mais sorte do que as outras que passaram por aqui. ― Brincou Judite,
uma senhora simpática. As outras só me desejaram bom dia.
― Sou brasileira sim, e espero que eu tenha sorte com as crianças. É um
prazer conhecer todas vocês. ― Já estava nervosa e começando a suar frio.
― Vai durar menos de um dia, aposto o que vocês quiserem. ― Ouvi a
chef de cozinha dizer baixinho e rir de mim. Fingi que não ouvi e segui
Margô, que saiu andando.
Ela parou em frente a uma porta anexa à cozinha, suficientemente
distante para não ouvir os barulhos provenientes dela.
― Este é o seu quarto. Tem um banheiro e espaço para acomodar suas
coisas. Mais tarde, se precisar de algo que não tenha aqui, é só me avisar
que providencio. ― Explicou, passando a mão e esticando a colcha da cama
para remover um vinco.
A cama era grande, de casal, com uma colcha fofa, dessas de hotel.
Havia uma escrivaninha, um guarda-roupa e uma cômoda. Em cima desta
última, havia uma pequena TV. O chão era todo revestido de um carpete
macio. O banheiro era pequeno, mas muito bonito, com um box e um
chuveiro, uma bancada de tamanho adequado para os meus produtos de
higiene e um armário embaixo dela. Era tudo muito gracioso, em tons de
rosa queimado e dourado.
― É lindo. Tudo que preciso está aqui. Tenho certeza de que não vou
precisar de mais nada. ― Informei empolgada.
― Fico feliz que esteja satisfeita. Vou conversar com você aqui mesmo.
As crianças não têm horário para acordar, então é sempre uma surpresa.
Nunca sabemos como elas vão acordar, de acordo com o humor. ― Ouvi,
surpresa, franzindo as sobrancelhas. Como assim as crianças não têm uma
rotina, um horário?
― Vejo que está confusa, né? Com tantas idas e vindas, as crianças estão
cansadas e não se adaptam a tantas babás. Para elas, às vezes, é difícil. E o
senhor Matteo acha melhor não as contrariar. ― Fiquei abismada com a
revelação. Temos muitas coisas erradas aqui, minha gente.
― Entendi, mas não concordo. Criança tem que ter rotina.
― É difícil impor uma rotina com um rodízio tão grande de babás,
Gabriela.
― Sim, a senhora tem razão. O que mais eu preciso saber? ― Já estava
ansiosa.
― Bem, suas folgas são aos sábados e domingos. O senhor Matteo pode
precisar dos seus serviços nesses dias também, mas você será remunerada.
Pode ser necessário acompanhá-los em viagens ou passeios. A
responsabilidade pelas crianças é totalmente sua. Não precisa limpar, lavar
ou cozinhar, sua função é única e exclusivamente cuidar das crianças. O
senhor Rocatti gosta fazê-las dormir quando está em casa. Às vezes dar
banho também, depende do dia, mas você sempre tem que estar por perto.
Dentro da propriedade, as crianças podem ir aonde quiserem, exceto no
galpão onde fica a academia. As crianças têm aulas em casa, vou te passar
os horários. Isso é tudo. Você é a única funcionária que dorme na casa,
então precisa ficar atenta à noite. As crianças têm pesadelos e podem passar
a noite em claro. ― Ela disse pausadamente, para que eu entendesse. Já
convivia com Miguel e Madá, então já não era difícil entender, mesmo com
o sotaque italiano. De tudo o que ela disse, só consegui focar nos pesadelos
e nas noites em claro. Pelo visto, temos algo em comum.
― Posso fazer uma pergunta?
― Claro, minha querida, estou aqui para isso. ― Respondeu
carinhosamente.
― As crianças fazem acompanhamento psicológico? Digo, pelos
pesadelos? Coitadinhos, imagino o sofrimento em seus coraçõezinhos. ―
Falei com pesar, e Margô me olhou de um jeito diferente. Seu olhar parecia
cheio de gratidão.
― Não, minha querida, infelizmente eles não aceitam conversar com
ninguém além do pai, dos tios e de mim, que sempre estamos aqui. ― Ela
respondeu tristemente.
― Entendi, Margô. E qual é o nome deles? Só sei que têm 4 anos.
― Nina e Dante. São duas crianças lindas, inteligentes e cheias de
energia. Quero ser sincera com você, as crianças não são fáceis, mas
também não são más. ― Ela me alertou.
― Nenhuma criança é má, Margô. Elas são incompreendidas. O
problema não está nelas, mas sim nos adultos que dizem isso. ― Margô deu
um sorriso lindo.
― Acho que encontramos a pessoa certa agora, não é? Ninguém chegou
aqui preocupado com as crianças, só com os valores, folgas e aposentos.
Espero sinceramente que você conquiste o coração das minhas crianças. ―
Ela estava esperançosa, e eu também.
― Eu também espero, Margô. Vim aqui para isso.
― Então, vamos conhecer o resto da casa?
― Não, eu prefiro conhecer as crianças primeiro, pode ser? ― Disse,
abandonando minha bolsa e minha mala em cima da cama. Ela me olhou
mais uma vez com aquele olhar de gratidão.
― Claro, minha querida, vamos lá. ― Saindo do quarto, a acompanhei.
Passamos por uma sala de jantar com uma mesa enorme. Devia ter umas
20 cadeiras ao redor dela. Linda, mas fria. Não sei, é muito grande. Gosto
de ter todos que amo pertinho de mim, então não vejo calor nessa sala.
Em seguida, passamos pela sala com vários sofás, um bar enorme, uma
TV gigante e vários itens de decoração. A sala era quentinha e
aconchegante. Tinha uma escada enorme, igual às dos filmes de princesa.
Ela fazia uma curva para os dois lados. Quem estava no topo, com certeza,
tinha uma visão de toda a casa.
Avistei muitas portas. Nossa, ia ter que decorar tudo. A casa é muito
grande, caberia umas 4 famílias morando aqui dentro. Paramos em uma
porta branca, a segunda à direita. Margô me explicou que o primo e melhor
amigo do senhor Matteo são como irmãos, criados juntos. Cada um tem a
sua casa, mas cada um tem seu quarto na casa também, sendo o deles os
quartos dos fundos à esquerda e o do senhor Matteo é o último à direita.
É, realmente preciso decorar tudo para em hipótese alguma entrar nos
quartos deles ou no escritório na parte de baixo da casa por engano.
Logo chegamos no quarto das crianças e já fomos entrando. Havia
muitos brinquedos espalhados, várias prateleiras com livros, uma
penteadeira de princesa e uma escrivaninha com desenhos de dinossauros.
As duas camas estavam no chão, no estilo Montessori. Imagino que seja
para que as crianças tenham tudo ao seu alcance, como é o propósito desse
estilo de móveis.
Elas estavam dormindo com pijamas fofos e descobertos. Me aproximei
delas e observei de perto como eram lindas, com cabelos lisos e rostos
angelicais. “O que aflige vocês, crianças?” Perguntei em meus
pensamentos.
― Eles são lindos, não é? ― Margô perguntou.
― São as crianças mais lindas que já vi em toda a minha vida! ― Disse
em um sussurro.
― Deseja acordá-los?
― Sim, vou tentar uma técnica diferente. Não vou dar espaço para que
não gostem de mim. Vou começar o dia impondo minha presença para eles.
― Disse determinada.
― Você não acha que assim pode ter alguns ratos nas suas gavetas? ―
Ela disse, brincando.
― Não tenho medo de ratos, Margô, nem de cara feia. Todas as babás
antes de mim pediram permissão e tentaram agradá-los, não foi? Vou fazer
diferente, quem sabe dê certo ― Falei e fui abrindo a enorme cortina que
cobria uma janela igualmente grande.
Bati palmas falando em um tom alto o suficiente para que eles
acordassem.
― Bom dia, bom dia! Vamos levantar, o dia está lindo e temos muito o
que fazer hoje. Bora, princesa, bora, príncipe! Vamos escovar esses dentes
para tirar o bafo. ― Eles abriram os olhos assustados com minha presença,
sem entender o que estava acontecendo.
― Quem é você? ― Disse uma Nina sonolenta, esfregando os olhos.
― Sou Gaby, a nova babá de vocês. Muito prazer, mocinha ― Falei,
estendendo a mão para ela, que pegou com relutância.
― Você não pode nos acordar assim, acordamos sozinhos. ― Dante
disse, bravo.
Gente, essas crianças tinham mesmo só 4 anos?
― Não só posso como já acordei. Ou vocês querem perder a manhã
dormindo e passar o dia todo tendo aula sem poder brincar? Fora o café da
manhã que vão perder. ― Falei animada.
Dante mudou um pouco sua expressão e Nina me olhava de um jeito
curioso. Perfeito, peguei-os de surpresa. Margô me olhava curiosa da porta
e fez um sinal de "joinha" para mim.
Eles só acordaram de verdade após lavar o rosto e escovar os dentes.
Parecia que suas almas ainda não haviam despertado, apenas seus corpos. E
se eu disse que eles eram as crianças mais lindas do mundo, é porque eu
ainda não os havia visto acordados. Eles parecem anjos, tão perfeitos, com
cabelos loiros e pele de porcelana. São tão brancos que dá para ver as veias
em seus corpos, e seus olhos são de um azul tão profundo que poderiam ser
confundidos com o fundo do mar. Notei que a tonalidade da cor dos olhos
muda com a luminosidade. Eles são a perfeição em forma de crianças.
Margô disse que o café da manhã já estava pronto e me passou os
horários das crianças. Eles tinham aulas em casa, mas não entendi por que
não iam à escola. Procurei não tocar nesse assunto.
Depois de os dois se vestirem adequadamente, fui pentear o cabelo de
Nina. Estava tão embaraçado que parecia um ninho. Coitadinha, o cabelo
dela era muito liso e fino, mas ela não deixou que eu desembaraçasse. Disse
que doía muito e pediu para fazer apenas um rabo de cavalo. Fiz uma nota
mental para pedir a alguém que comprasse um óleo para bebês. Eu ia
desfazer aqueles nós.
Descemos para a sala de jantar, que parecia estar mais fria do que o
normal. Aquela mesa gigante, mas apenas dois pratos postos na cabeceira
da mesa, um de cada lado. Como pode não ter nenhum item colorido na
mesa? Nem parece que há crianças nesta casa.
― Papa vem tomar café com a gente, tia Margô? ― Nina perguntou
esperançosa, com os olhinhos brilhantes.
― Infelizmente, seu papai saiu bem cedo, minha querida, mas disse que
vai almoçar com vocês. ― Margô tentou consertar a ausência do pai.
Dante tinha um olhar distante e passou por um momento de
desapontamento, que desapareceu mais rápido do que nunca. Fiquei com
pena deles.
Eles se sentaram cada um em seu lugar e esperaram. A chef de cozinha
veio pessoalmente trazer os pratos das crianças, mas acho que ela se
confundiu. Só pode ser comida de presídio. No prato havia um mingau com
uma consistência estranha, não era líquido nem sólido. A cor era um cinza
claro e havia algumas rodelas de banana ao lado. Eu olhei aquilo e entendi
por que Margô disse que as crianças devolviam os pratos intactos para a
cozinha.
Esperei e as crianças não tocaram na comida de presídio, nem chegaram
perto. Apenas tomaram um copo de leite em silêncio e fizeram menção de
levantar, dizendo que tinham terminado. Em seguida, foram para a sala e
ligaram a TV. Eu olhei para Margô de boca aberta.
― Margô, o que é isso? ― Apontei para o prato estranho.
― É mingau de aveia com banana. A chef tem uma tabela de comidas
elaboradas pela nutricionista, e eles precisam seguir um valor nutricional.
― Minha boca formou um perfeito "o" de surpresa.
― E para que serve a tabela nutricional se eles não comem nada dela?
Eles não tocaram na comida ― Falei, já desacreditada.
― Menina, essas crianças têm os melhores pediatras e nutricionistas do
país. Tudo é pensado para o bem-estar delas. Eu entendo que algo está
errado, precisamos descobrir onde estamos falhando. ― Pela primeira vez
em nossa conversa, eu concordo com algo.
― Sim, precisamos descobrir, e eu vou fazer do meu jeito, Margô.
Posso? ― Perguntei com medo de receber um não.
― Claro que sim, menina. Você é a nossa última esperança. ― Ela falou
esperançosa.
Concordei e fui para a sala chamar a atenção das crianças. Ainda
faltavam cerca de duas horas para o início das aulas. Queria levá-las para
brincar. Estava frio lá fora, mas nada que um casaco não resolvesse.
― O que acham de brincarmos um pouco no jardim até a hora da aula?
― Perguntei, toda animada.
― Está frio, não queremos. ― Dante foi curto e grosso.
― Meu nariz fica vermelho quando corro no frio, e minhas mãos ficam
geladas. Não quero. ― Nina disse sem se virar para mim, com o olhar fixo
no desenho de princesa que passava na TV.
― Ok, então o que vocês gostam de fazer nos dias frios? ― Perguntei,
tentando manter o ânimo.
― Gostamos de ver TV, só isso. ― Nina disse, distante.
― É só isso. ― Dante concordou, encerrando o assunto e meio que
mandando que eu me calasse.
Caramba, essas crianças são realmente diferentes. Na minha infância no
Brasil, era só correria na rua, brincar de bola, andar de bicicleta e ralar os
joelhos. O que essas crianças fazem para se divertir?
Decidi por fim ficar observando as crianças.
Nina estava vendo a Princesa Sofia dançar de um lado para o outro, e
Dante estava sentado no tapete brincando com alguns carrinhos e
dinossauros. Eles não pareciam crianças felizes, e isso me deixava triste.
Margô ficou comigo e disse que hoje era o período de adaptação, então
ela iria me acompanhar para me mostrar tudo. Fiquei mais segura com ela
ao meu lado, que me levou ao jardim e mostrou a enorme piscina, cercada
por várias espreguiçadeiras. Ao lado, havia um parque com brinquedos para
as crianças brincarem, mas aparentemente estava abandonado, sem sinal de
brincadeiras. O jardim era vasto, com flores do campo e uma roseira ao
fundo. Margô me contou que havia um jardim de inverno na casa, com uma
piscina aquecida, uma sala de cinema e uma biblioteca. Meus olhos se
encheram de encantamento.
Quando voltei, as crianças já estavam na mesa da biblioteca, fazendo a
lição de casa com muita concentração. Deixei-os lá, pois ficariam pelo
menos mais duas horas. Segui para o meu quarto, passando pela cozinha e
ouvindo os cochichos das funcionárias.
Encontrei Margô e informei a ela que precisava de um o óleo infantil,
mais cedo tinha me esquecido. Ela disse que iria providenciar e foi me
apresentar ao senhor Paulo, o motorista das crianças e responsável por
comprar o que eu precisasse. Ótimo! Ele era um senhor moreno, alto e foi
muito simpático comigo. Pedi as coisas de que precisava e fui para o meu
quarto arrumar minhas coisas.
Organizei minhas roupas, coloquei meus itens de higiene no banheiro e
guardei meu celular na mesa de cabeceira, juntamente com "Alfredo", bem
no fundo da gaveta. Não quero que alguém encontre meu amigo consolo
aqui, né? Minha irmã e a Madá compraram para mim, pois segundo elas, já
fazia muito tempo desde o meu último orgasmo, e eu precisava começar de
alguma forma. Ainda não o usei, não tive inspiração, e não quero correr o
risco de usá-lo e me lembrar das péssimas transas que tive com Carlos. Ri
da minha própria desgraça, e quando me dei conta, já era hora do almoço
das crianças.
Saí do quarto e fui para a sala, onde a professora estava se despedindo
das crianças. Chamei-as para lavar as mãos, pois elas passaram toda a
manhã sem comer.
― Vamos almoçar? Vocês precisam se alimentar para ficarem fortes. ―
Alertei, já me sentando. Agora havia três pratos na mesa, pelo visto iria
conhecer o senhor Matteo hoje.
― Tio Giovanni e tio Luigi são fortes porque vão à academia, não por
comer. Eu quero ser forte como eles e como o papai. ― Dante disse
orgulhoso, mas olhando constantemente para o assento vazio na ponta da
mesa.
― Aposto que eles também comem, senão seria impossível terem força
para levantar peso na academia, não é mesmo? O que você acha de
perguntar a eles o que comem para ficarem fortes?
― Pode ser. ― Dante estava triste. Perguntei a Margô sobre o pai das
crianças, e ela disse que ele ainda não havia dado notícias.
― Vamos começar a comer, crianças? Quando o papai de vocês chegar,
vocês podem fazer companhia para ele, que tal? ― Perguntei, fazendo sinal
para trazerem os pratos.
― Tudo bem. ― Disseram em uníssono, tristes, mas concordaram.
Mais uma vez, a comida era estranha e nada agradável aos olhos.
Brócolis, salada, peixe, arroz e grão-de-bico. Sério? Eles comeram o arroz e
o peixe, mas não tocaram nos outros itens. Beberam suco e, no final do
almoço, se levantaram. O pai não apareceu, e eles seguiram para a sala de
estar mais uma vez para assistir TV.
Tentei chamá-los para tirar uma soneca à tarde, mas com a rotina fora do
lugar deles, era impossível aceitarem. Depois de dois filmes de princesas e
um de dinossauros, eles se levantaram do sofá e disseram:
― Agora queremos brincar no jardim. ― Pediu Dante animado.
― Sim, agora queremos. ― Nina falou batendo palminhas.
Ué, cadê o nariz vermelho e a mão congelante?
― Claro que sim, eu brinco com vocês. Vamos? ― Chamei, já
caminhando em direção ao jardim. Afinal, não deve ser tão difícil lidar com
essas fofuras.
Chegamos à porta do jardim, peguei dois casacos e os vesti. Encontrei
uma luva e coloquei em Nina para proteger as mãozinhas da pequena
Frozen.
Era inverno em Portugal, mesmo com um sol tímido, não estava
agradável. Eu usava uma calça jeans, tênis All Star branco e uma blusa de
manga também branca. A blusa era fina, pois dentro de casa estava
aquecido e eu havia deixado o casaco no quarto. Não queria ir buscá-lo e
perder as crianças correndo pelo jardim.
Dante pediu para buscar seus dinossauros na sala pois ele estava apenas
com o carrinho de controle remoto nas mãos. Não vi problema nisso, pois
havia bastante segurança ao redor do jardim, então entrei em casa e fui em
busca do seu brinquedo.
Acordei cedo com alguém batendo na porta. Meu humor já não era dos
melhores pela manhã, acho que as crianças puxaram isso de mim. Só podia
ser o Giovanni, só ele me irrita dessa forma. Estava apenas de cueca boxer,
não me importei em vestir qualquer coisa.
― A menos que estejamos sendo atacados, nada justifica me acordar
desse jeito. ― Disse no auge do meu mau humor.
― Primeiro, vá vestir uma roupa. Não preciso te ver pelado. Segundo,
ainda não estamos sendo atacados, e terceiro, já estou acordado há muito
tempo cuidando das suas coisas, então me agradeça e não me trate mal.
Você fere os meus sentimentos. ― Giovanni tinha o péssimo hábito de
acordar cedo e estar de bom humor.
― Por que você fala tanto de manhã, hein? O que você quer, droga? ―
Perguntei voltando para o interior do meu quarto, e Giovanni me
acompanhou fechando a porta.
― Precisamos ir à boate. Luigi tem algo importante, e eu consegui as
filmagens da rua. Parece que o russo estava rondando as meninas na saída.
Vamos ver com quem ele conversou.
― Ótimo. E ele? Já sabemos quem é? ― Perguntei, indo ao closet pegar
minha roupa.
― Ainda não, mas vamos identificá-lo hoje mesmo. Passei parte da
manhã checando o histórico da sua nova babá, aliás. ― Falou, mudando de
assunto repentinamente e chamando minha atenção. Como ele conseguia
falar tanto a essas horas da manhã?
― Nova babá? A empresa mandou mais alguém? ― Perguntei curioso.
― Sim, mandaram hoje bem cedo. Já analisei as informações
importantes. A pasta está pronta.
― A que horas você acordou? Ou nem dormiu? ― Sempre fico
impressionado com sua rapidez.
― Acordei às 4h30, malhei e resolvi tudo que precisava. Ainda são 6h30
e se você se apressar, pegaremos um trânsito tranquilo. Pare de enrolar. ―
Falou, saindo do quarto e me deixando boquiaberto.
Fui tomar um banho rápido, me troquei e passei pelo quarto das crianças
para dar um beijo neles. Ainda estavam dormindo. Não gostava de sair
antes que acordassem, mas havia coisas que eu precisava resolver logo, e
não podia esperar, afinal, não tinham horário para acordar.
Desci as escadas e encontrei Margô que estava impecável como sempre.
Ela me comunicou sobre a nova babá e eu informei que ela poderia lidar
com ela da forma que achasse melhor, pois se o Giovanni já liberou sua
entrada na mansão, é porque não encontrou nada de errado em suas
referências. Também avisei que almoçaria com as crianças para compensar
minha ausência no café da manhã e segui para o carro.
Giovanni já me aguardava em pé com a porta aberta. Entrei, e ele entrou
em seguida, fechando a porta e me entregando a ficha da babá.
Ela era uma jovem de 24 anos, brasileira. Pela foto, dava para ver que
era bonita. Estudou pedagogia no Brasil, mas não concluiu o curso. Está em
Portugal há alguns dias e mora com a irmã e uma amiga. Sua referência
pessoal é boa, sem antecedentes criminais e sem vínculo com cartéis ou
outras máfias. Parece ser uma imigrante em busca do sonho de juntar
dinheiro na Europa. Se ela fizer bem o trabalho dela, está ótimo para mim.
― Brasileira, hein? Nunca tivemos funcionárias brasileiras na casa. E
bonita também. ― Giovanni falou, com segundas intenções.
― Nem pense em se aproximar dela. Se ela se der bem com as crianças,
não quero problemas. Você está proibido de se envolver romanticamente
com funcionárias da mansão. Ou você esqueceu do que aconteceu da última
vez?
O problema de Giovanni é que ele não consegue controlar seus desejos,
e qualquer mulher de saia é uma tentação para ele. Ele se envolveu com
uma antiga funcionária da limpeza, que depois não saiu mais do seu pé,
achando que eles se casariam. Margô ficou furiosa por ter que demitir uma
de suas funcionárias.
― Tudo bem, não estou aqui para isso. Só fiquei animado porque nunca
fiquei com uma brasileira. Dizem que elas são incríveis na cama. ―
Comentou, em um tom brincalhão.
― Chega de conversa fiada. Onde está Luigi?
― Ele já está nos esperando. Está conversando com as garotas para
tentar descobrir mais alguma coisa.
― Quero pegar esse russo o mais rápido possível. Ele não pode ficar
rondando a nossa boate, ainda mais com um carregamento de drogas prestes
a ser enviado em poucos dias. Não vou mudar a rota. ― Estava perdendo a
paciência. Esses malditos estavam atrasando meus carregamentos, o que
prejudicava os negócios.
Chegamos à boate. Luigi estava sentado em uma mesa, conversando com
as garotas. As luzes estavam acesas, não havia mais clientes, apenas
funcionários. Ele nos seguiu até o escritório e analisamos as filmagens.
Esses filhos da puta estavam tentando se infiltrar como clientes, mas
estavam muito enganados se achavam que conseguiriam.
― O que você acha, chefe? ― Giovanni estava pensativo.
― Eles estão tentando recrutar algum funcionário para obter
informações internas, e já conseguiram. É por isso que estão tão próximos.
― Não tinha mais dúvidas.
― Qual é o próximo passo? ― Luigi já estava estalando os dedos,
adorando uma boa briga.
― Primeiro, vamos mudar todas as rotas e endereços de entrega. Apenas
nós três saberemos, e os soldados só serão informados no dia. Instalem
câmeras em todos os pontos cegos de todas as boates, todas elas.
― Vamos interrogar as garotas? ― Giovanni perguntou.
― Não, vamos deixar eles acharem que não percebemos seus
movimentos. ― Peguei um cigarro e dei uma tragada. Não era de fumar
sempre, mas quando o estresse me atingia, eu me permitia.
― Ok, chefe. ― Luigi disse, levantando-se e indo em direção ao bar. Ele
encheu três copos e os trouxe para nós.
― Não acha que é muito cedo, Luigi? Está se tornando alcoólatra agora?
― Giovanni perguntou, mas pegou o copo sem se importar.
― Matteo vai precisar, depois que eu contar o que o hacker encontrou no
celular do russo. ― Informou despreocupado.
― Fala logo, Luigi. Não gosto de suspense. ― Já estava no meu limite.
― Nosso homem rastreou todas as frequências do celular do russo, na
esperança de receber alguma mensagem ou ligação, e conseguiu. As
mensagens vindas da Rússia são realmente de Nikolai. ― Ele informou o
óbvio. Eu já sabia disso.
― Era de se esperar. O que mais você descobriu sobre essa história? ―
Perguntei, ajeitando-me na minha poltrona e descansando o calcanhar na
perna direita, dando mais uma tragada.
― Ele recebeu uma ligação, como se fosse um sinal para retornar, sabe?
Um código. E adivinhem de onde veio? Da Itália, mais precisamente do
local onde triangulamos a sede do conselho na Itália. Pode ser alguém
próximo ao prédio, mas também não podemos descartar outras
possibilidades. ― Luigi tomou o último gole de uísque e eu virei o meu de
uma vez.
― Estamos sendo traídos de dentro da nossa própria organização? Que
merda! ― Esbravejei, socando a mesa.
― Caralho, como isso é possível? Eles não só querem tomar nosso
território, mas também querem subir na hierarquia do Conselho, aposto com
vocês. ― Giovanni expôs o que eu já estava pensando.
― Vamos pegar esse desgraçado, e eu vou arrancar toda a pele do seu
maldito corpo. ― Falei com ódio.
― Vai comunicar isso ao seu pai, que tem um traidor sentado ao lado
dele? ― Luigi perguntou.
― Não, vou entregar a cabeça dele em uma bandeja para o meu pai e
mostrar para aqueles velhos de merda para saberem que não sou fraco.
Além de me subestimarem, são burros por não perceberem que tinham um
traidor sentado à mesa com eles. ― Já estava no bar, enchendo outro copo.
Não poderia ser diferente; vou pegar esse traidor e ele vai desejar nunca ter
nascido.
Começamos a nos movimentar, cada um desempenhando sua função.
Comecei a fazer ligações e cobrar alguns favores dos meus aliados.
Giovanni foi cuidar da segurança e aumentar o fluxo na mansão; as crianças
não podiam ficar desprotegidas. Todos acham que sou obcecado por
segurança, mas não desconfiam de nada, apenas alguns funcionários e os
soldados que sabem que sou subchefe da máfia. Para o mundo, sou um
bilionário egocêntrico.
Luigi foi cuidar da parte de inteligência, rastreando e clonando os
celulares dos principais suspeitos. Existe uma extensa lista e não vou deixar
ninguém de fora. A mesa do conselho está repleta dos Capos mais antigos
das famílias mais importantes da organização. Entre eles está meu pai, o
Don. Em momento algum ele será meu suspeito, apesar de também estar
sendo investigado, não seria justo.
Meu tio, irmão do meu pai e pai de Luigi, é um dos mais velhos depois
do meu pai. Ele está na mesa do conselho porque meu pai cedeu um
território para ele. Apesar de ser mais novo que meu pai, ele não se dá bem
com Luigi, pois ele não quis seguir para o seu próprio território, mas sim
ficar comigo como meu futuro Consigliere. Ser um incômodo não significa
que ele arriscaria sua vida com uma traição, mesmo assim, não posso
descartar ninguém, então todos serão investigados.
Não percebi o tempo passar e quando dei por mim, percebi que esqueci
do almoço com as crianças. Juntei minhas coisas e fui em direção à saída da
boate. Meu escritório do submundo funciona aqui, pois não gosto de
misturar os negócios ilícitos com os da minha empresa.
Avisei que estava indo para casa e fui sozinho com meu motorista e
segurança de confiança no carro, além de mais dois carros fazendo minha
escolta.
Cheguei na mansão ainda durante o dia. Apesar de todo o estresse, eu
conseguiria passar um tempo com as crianças antes de dormir. Desci do
carro e ouvi vozes no fundo do jardim. Fui silenciosamente ver o que meus
anjinhos estavam aprontando.
Fiquei atrás da roseira e vi Nina um pouco distante, esfregando suas
mãozinhas uma na outra, como se estivesse aprontando alguma coisa. Dante
estava ao lado da porta de saída do jardim. A porta foi aberta pela babá,
imagino, com uns dinossauros nos braços. Quando a porta se abriu por
completo, um balde de água caiu em sua cabeça, molhando toda a sua blusa
branca, que agora estava transparente, revelando seu sutiã branco de renda.
Seu cabelo estava grudado em seu rosto, os dinossauros caíram no chão e as
crianças começaram a gargalhar alto sem parar.
Dante dava pulinhos e Nina balançava as mãos diante da travessura bem-
sucedida, mas nada me preparou para o momento em que a moça tirou o
cabelo do rosto e um filete de sangue escorreu por sua cabeça, caindo em
seu rosto.
Corri em direção às crianças, repreendendo-as. Margô apareceu correndo
diante da gritaria. Ela passou a mão na cintura da babá, momento em que
ela tentou virar a cabeça para o meu lado e sentiu uma vertigem.
Margô gritou para alguém trazer uma cadeira e a fez sentar, enquanto
analisava sua testa ensanguentada. Nunca briguei com as crianças, mas elas
estão passando dos limites. Meu dia já não foi bom e elas ainda machucam
pessoas assim. Não posso permitir isso, embora seja um absurdo ter esse
pensamento, sendo que eu mesmo torturo e mato pessoas todos os dias. Mas
isso não significa que meus filhos devem fazer o mesmo, especialmente tão
cedo. Dante é meu sucessor, mas ainda é muito novo.
― Como vocês são capazes de fazer isso com a babá de vocês? Acho
que chegamos a um limite aqui, crianças ― Gritei em alto e bom som e elas
começaram a tremer ao perceberem que machucaram a babá. Nina começou
a chorar e Dante sacudia e tremia as mãos.
― Isso é sangue? ― Perguntou Nina inconsolável, correndo em minha
direção.
― É sim, Nina, olha só. Vocês não têm limites? ― Dante não conseguia
se mover, estava congelado, olhando para a babá.
Aproximei-me dela, peguei um lenço no bolso do meu terno e entreguei
em sua mão. Ela o pegou rapidamente, seus dedos gelados tocaram os
meus, e ela agradeceu enquanto limpava a testa. Logo levantou-se em um
pulo e foi em direção a Nina.
― O senhor não precisa brigar com eles, foi um acidente. ― Ela falou
com os dentes batendo de frio e eu percebi seu sotaque carregado e como
era bonita.
― Não, não foi um acidente. Eu vi tudo. Eles planejaram para que a
senhorita passasse pela porta e o balde caísse em sua cabeça. ― Nina
chorava sem parar, assustada com a situação.
― Tudo bem, não foi um acidente, mas não precisa brigar com eles, eles
estão mais assustados do que eu, e não tinham a intenção de me machucar,
certo, crianças? ― Ela perguntou.
Nina confirmou com a cabeça. Dante, de longe, continuava a tremer.
Margô foi até ele e o pegou no colo, e eu peguei Nina.
― Eles precisam entender que toda ação tem uma reação. Isso que
aconteceu não pode se repetir. ― Eu disse seriamente, pedindo para Margô
liderar o caminho. Eles receberiam castigos, não podiam continuar
expulsando todas as babás.
― Minha menina, vá para o seu quarto, tome um banho e tire essa roupa
molhada, logo vou lá ver como está a sua cabeça. ― Margô aconselhou em
um tom materno, que ela só usa comigo, com Luigi, Giovanni e as crianças,
é claro, então percebi que a moça já conquistou seu coração.
Ela fez sinal de que sim, mantendo os braços cruzados na frente do peito,
certamente para esconder os seios molhados. Alguns seguranças estavam ao
redor e as funcionárias da cozinha estavam do lado de fora.
― Vocês não têm trabalho a fazer? ― Eu perguntei nervoso.
A babá estava molhada e com um corte na cabeça, e meus funcionários
parados iguais paspalhos só assistindo a cena. Não sei por que, mas queria
que ela se sentisse bem logo, e pudesse se retirar sem mais
constrangimentos.
Seguimos para dentro de casa e fomos para o quarto das crianças.
Coloquei eles sentados na cama de Nina, e eles não paravam de chorar e
pedir desculpas. Margô estava ao meu lado, e eu não sabia por onde
começar. Como duas crianças de 4 anos podiam fazer uma coisa dessas?
Me abaixei na altura deles e falei no melhor tom que consegui:
― O que vocês fizeram foi muito sério, uma pessoa saiu machucada,
mais uma babá que perdemos em menos de um dia. Vocês precisam parar
com isso. ― Eu disse com calma, pausadamente, mas sério.
― Desculpa, papai. Eu não queria machucar a Gaby. ― Dante disse
chorando, agora ele parou de tremer.
― É, papai, só queríamos que ela parasse de ser legal com a gente. ―
Parei por um minuto, atordoado com a alegação de Nina.
― Como assim parar de ser legal? Vocês gostaram dela? Então por que
fizeram isso? ― Eu perguntei, perplexo.
― Porque se todas as babás foram embora, ela também vai embora, e
assim nós não sentimos falta dela. ― Meus filhos estavam sofrendo.
― Vocês precisam pedir desculpas para ela, não para mim, e parar de
agir assim. Se alguém nos trata bem, nos dá carinho, temos que retribuir,
não afastar. ― Eu disse, esperando que eles entendessem.
― Nós prometemos, papai, nunca mais fazer essas coisas! ― Dante
afirmou, segurando a mãozinha da irmã.
Margô se afastou e me chamou para um canto do quarto.
― Senhor Matteo, a Gaby é um amor de menina. Ela levou o dia até que
bem diante das recusas das crianças. Seria uma pena perdê-la assim. ―
Margô disse triste.
Voltei para perto das crianças. Se Margô disse que a moça é boa, não vou
contrariar. Ela tem um radar para essas coisas.
― Ok, espero que cumpram, mas vocês não vão fugir do castigo. Margô,
pode ficar aqui com eles? Vou ver se consigo fazer a babá não ir embora ―
Pedi, engolindo meu orgulho e indo até o quarto da nova babá.
Desci as escadas determinado a conversar com a moça. Pensei até
oferecer mais folgas se fizesse ela ficar. Passei pela cozinha,
cumprimentando as funcionárias com um aceno de cabeça. Parei em frente
à sua porta antes de bater, ensaiando uma conversa em minha cabeça.
Quando pela fresta aberta na porta, a vi de costas em frente ao espelho de
corpo inteiro.
Ela estava usando outra calça jeans, que realçava sua bunda grande e
arrebitada. Nos pés, apenas meias brancas. Na parte de cima, estava apenas
com um sutiã de bojo, que deixava seus seios pequenos muito bonitos. Sua
cintura era fina, um corpo perfeito. Mas o que mais me chamou atenção foi
a grande marca roxa em sua costela. Ela estava passando algum tipo de
pomada e fazia uma careta de dor. Eu já tive e fiz muitas marcas dessas na
costela, e posso garantir que não foi com baldes de água.
De onde essa menina arrumou essa marca? Observando melhor, havia
outras marcas mais amareladas em sua barriga. Uma tremedeira subiu em
minhas mãos, e tive que fechar os punhos para não socar a parede. Odiava a
violência contra mulheres, seja qual for.
Saí dali e fui para o meu escritório. Estava muito nervoso para ter uma
conversa agora. Peguei meu celular e liguei para Giovanni.
― Faça uma investigação minuciosa sobre a minha nova babá.
Namorado, ex-marido, família, os lugares que ela frequenta desde que
chegou aqui. Quero saber até o dia em que ela menstrua. Quero isso para
ontem.
― Aconteceu alguma coisa? Foi com as crianças? ― Giovanni
perguntou, preocupado.
― Aconteceu, mas não foi hoje, deve ter sido no máximo há uma
semana, e não é com as crianças. ― Contei tudo a ele, e ele ouviu em
silêncio.
Não é à toa que ele é meu braço direito e meu melhor amigo. Ele sente a
mesma repulsa que eu.
― Pode deixar, chefe. Vai demorar um pouco mais, porque estamos em
rastreamento, mas vou cuidar pessoalmente disso. ― Ele falou
determinado.
Depois de um copo de uísque, levantei-me e fui novamente ao quarto da
babá. A essa altura, ela já devia estar vestida e mais calma do susto. Bati na
porta, mas ninguém atendeu. Abri a porta, mas não havia ninguém em seu
quarto. Pelo jeito, ela já foi embora antes que eu pudesse me desculpar
pelas crianças. Subi as escadas para liberar Margô, e ouvindo conversas me
aproximei da porta.
― Desculpe a gente, Gaby. Não vamos mais fazer essas coisas,
prometemos. ― Cheguei à porta, onde Margô estava de frente para eles,
Gaby ajoelhada em frente à cama e os dois de joelhos com as mãozinhas
fechadas em posição de oração.
― Era para ser uma brincadeira, desculpe, por favor. ― Dante disse
esperançoso.
― Claro que eu perdoo vocês. Eu sei que não queriam me machucar,
mas quero que entendam que foi muito perigoso o que fizeram. Como vocês
subiram para colocar aquele balde lá? Vocês poderiam ter caído e quebrado
alguma parte do corpinho de vocês, imaginem? ― Fiquei surpreso. Ela
estava preocupada com meus filhos se machucarem, e não com o fato de
eles terem machucado a ela.
― Eu peguei a escada, e como cuido muito bem da minha irmã, fui eu
quem subiu, e ela apenas vigiou! ― Dante disse orgulhoso por proteger a
irmã. Daria até para rir se não fosse trágico.
― Olhem, prestem atenção, me prometam que nunca mais vão fazer
nada que possa colocar vocês em perigo? ― Ela pediu algo quase
impossível de ser feito, mas eu esperava que ela conseguisse mudar a
mentalidade deles.
Eles se aproximaram mais dela.
― Sim, Gabyzinha, nós prometemos! ― Nina disse toda manhosa,
dando um novo apelido a um já existente. Ela sabia ser muito fofa quando
queria.
― Não sei mais o que fazer com vocês. Tudo que eu tinha planejado foi
por água abaixo com a Gabyzinha ― ela falou, sorrindo.
Eu sabia o que ela estava sentindo, passo por isso todos os dias, sempre
cedendo a eles.
― Prometemos de coração! ― Dante falou decidido.
― Vamos fazer assim: no meu país, temos um juramento muito sério e
importante, ninguém nunca ousou quebrar um juramento de dedinho!
Então, quando temos um assunto muito sério e importante, juramos de
dedinho! Vamos lá? ― Por um momento, pensei que ela fosse fazer eles
assinarem um contrato.
― Tudo bem, juramos de dedinho. Como se faz? ― Dante perguntou
curioso e Gaby esticou o dedo mindinho, ensinando as crianças, e eles
cruzaram os dedos.
― Preciso que vocês repitam comigo: Juro de dedinho ― ela pediu.
― Juro de dedinho ― eles foram repetindo tudo que ela falava.
― Nunca mais fazer coisas que possam me machucar. ― continuou ela.
― Nunca mais fazer coisas que possam me machucar. ― Surpreendendo
a todos, eles completaram juntos.
― E nunca mais machucar a Gabyzinha ― a babá seguia falando.
― E nunca mais machucar a Gabyzinha. ― repetiram mais uma vez, e a
moça soltou o dedo deles, e os abraçou.
― O que eu faço com vocês? Em um dia, já vivi emoções para uma vida
toda. ― Ela disse toda brincalhona.
― Você pode fazer carinho, Gaby. ― Dante respondeu, e Gaby e Margô
caíram na gargalhada.
Eu só consegui ficar ali, estático, imaginando como ela conseguiu
atravessar a barreira deles.
― Que coisa feia, Senhor Matteo, ouvindo atrás da porta? ― Margô me
pegou de surpresa, dessa vez quem estava fazendo uma travessura era eu.
― Fui procurá-la no quarto e ela não estava. Pensei que tinha ido
embora. ― Respondi, me recompondo do susto e apontando para a babá.
― A menina subiu para ver como as crianças estavam. Ela parece ser
especial, Matteo. Desde o momento que chegou aqui, preocupou-se com
eles, e a reação dela diante do ocorrido foi totalmente diferente das outras
babás. ― Margô ponderou sobre as atitudes de Gabriela.
― Sim, Margô, eu percebi isso. Vou conversar com ela. Só o fato de ela
ainda estar aqui já é uma surpresa. Peça para ela ir até o meu escritório, por
favor. ― Falei, descendo as escadas em direção ao meu escritório.
Entrei e servi-me de mais uma dose de uísque. Parecia que o dia não
teria fim. Sentei-me de frente para a janela, que dava para onde eles
estavam brincando mais cedo e peguei-me lembrando da blusa molhada no
corpo da babá, da sua barriga chapada..., mas fui interrompido por um toque
suave na porta.
― Sim? ― Perguntei, sem me virar. Já imaginava quem seria.
― O senhor Rocatti queria falar comigo? ― Ela perguntou timidamente,
com um forte sotaque brasileiro. Devia estar nervosa, falando com o
sotaque tão carregado.
― Sim, chamei. Queria me desculpar pelo ocorrido mais cedo. ― Falei,
virando a cadeira.
Tive uma pequena dificuldade em me concentrar. Mesmo tendo a visto
duas vezes e por foto, nada me preparou para essa visão.
Ela estava parada em frente à minha mesa, com os braços atrás do corpo.
Vestia uma blusa de lã marsala, que cobria seu corpo. Usava os mesmos
jeans claros de mais cedo e tênis nos pés. Seu cabelo estava preso em um
coque frouxo, com alguns fios soltos do seu cabelo castanho escuro caídos
pelo rosto. Seus olhos eram da cor de um chocolate claro, quase mel. Tinha
o nariz fino, a boca carnuda e um curativo de unicórnio na testa. Sem uma
gota de maquiagem, ela era a mulher mais extraordinária que já vi em
minha vida. Ela tirava a visão de qualquer outra mulher da minha
mente.
Estava em pé, tremendo como vara verde, diante da enorme mesa de
mogno, em frente ao homem mais atraente que já vi em toda a minha
miserável existência.
Quando o vi correndo em minha direção mais cedo para me entregar um
lenço, senti-me como em um conto de fadas, só que molhada e
ensanguentada. Levei um susto ao ouvir sua voz rouca brigando com as
crianças, coitadinhas. Não vou dizer que não estou chateada com o que
fizeram, porque estou sim, mas minha raiva momentânea passou quando vi
Dante tremendo e chorando. Já imaginava que Nina iria chorar, mas ver
Dante chorando? O arrependimento estava presente naqueles pequenos
olhos azuis, como o oceano. Tentei intervir, mas o senhor Matteo, também
conhecido como "Hugostoso", não aceitou minhas desculpas. Sim, eu já dei
um apelido para ele na minha cabeça.
Ele era alto, devia ter uns 1,90 e alguma coisa, com um corpo
musculoso. A calça social marcava suas coxas, o terno alinhado parecia
feito sob medida e abraçava seus braços, deixando pouca coisa para a
imaginação. Aliás, eu consigo imaginar, apostaria meu rim que há um
pacote de seis gominhos debaixo dessa camisa de botão preta. Ele usava um
terno de três peças grafite escuro, camisa e gravata pretas e sapatos
italianos. Seu cabelo negro como a noite estava perfeitamente penteado,
seus olhos negros tão intensos que pareciam hipnotizar, nariz fino e
arrebitado, e a boca perfeitamente desenhada. E, por último, mas não menos
importante, a barba. Como amo um homem com barba bem-feita e aparada.
O conjunto era perfeito, nem mesmo meus personagens literários eram
tão completos em perfeição. Quase esqueci da pergunta para dar uma
resposta e fiquei aqui de boca aberta. Firmei a voz, nervosa e admirada com
sua beleza tão próxima.
― Não precisa se desculpar, senhor Rocatti, eles já me pediram. ―
Disse, ainda mais nervosa do que o normal.
― Não precisa me tratar com tanta formalidade, pode me chamar
Matteo ― Ele disse, sendo simpático, mas minhas mãos estavam tão
suadas que escorregavam uma na outra.
― Tudo bem, senhor Matteo ― Falei séria, mas ele riu, e meu Deus, ele
ficou ainda mais atraente, quase obsceno de tão perfeito.
Nossa Senhora, protetora das calcinhas molhadas, me ajude.
― Sério, não precisa se desculpar, e se o senhor não quiser que eu
prossiga com o trabalho, eu vou entender. Afinal, deixei eles sozinhos para
pegar o brinquedo que Dante me pediu. ― Falei sem pausas, com medo da
resposta.
― A culpa não foi sua, e sim da imaginação fértil deles. Não se
preocupe, eu queria apenas fazer o pedido de desculpas mesmo. Da próxima
vez, apenas fique mais atenta. Não acredito na total redenção dos dois
ainda. ― Ele me alertou em tom de diversão, e eu criei coragem para
perguntar.
― Posso fazer uma pergunta? Sen... Matteo? ― Corrigi antes que ele
chamasse minha atenção novamente.
― Claro, se eu puder responder. ― Afirmou, arrumando a postura em
sua poltrona.
― Eu reparei que as crianças ficam tristes sem a sua presença nas
refeições. O senhor não teria como estar presente? Pelo menos no café da
manhã? Já conversei com eles e vamos criar uma rotina, eles terão horário
para acordar agora. ― Pronto, joguei a bomba. Se desse certo, beleza. Se
não, sairia correndo.
O cara é bilionário, deve ter muitos funcionários para trabalhar para ele
por apenas meia hora enquanto toma café com os filhos.
― Eu sei que eles ficam tristes. Vou fazer o possível para participar das
refeições a partir de hoje, ok? É difícil, tenho vários negócios e meus
horários são incertos, mas farei o meu melhor. ― Respondeu decidido, e eu
acreditei em suas palavras. Por enquanto, estava satisfeita.
― Que maravilha, muito obrigada! ― Falei animada, quase dei pulinhos
de alegria.
― Como está a sua cabeça? Quer ir ao médico? ― Perguntou
preocupado.
― Não precisa, estou ótima. Foi só um arranhão.
― Ok, pode se recolher, Gabriela. Vou dar banho nas crianças e fazê-las
dormir. O dia foi puxado para você. ― Falou, me surpreendendo, e eu
aceitei. Estava exausta.
― Sim, senhor. Boa noite. ― Disse, esquecendo de não o chamar de
senhor.
― E, Gabriela? ― Ele me chamou, já estava com a mão na maçaneta,
mas me virei.
― Obrigado, por se importar. ― Eu concordei com a cabeça e corri para
a cozinha.
Estava faminta e vi que estavam preparando o jantar, ou já estava pronto,
não dei importância. Judite me chamou e perguntou se eu estava bem e se
iria ficar na mansão. Disse que sim. Ela avaliou minha testa e perguntou se
eu queria comer, já Carmem me olhou feio, acho que ela não foi com a
minha cara.
Peguei um prato de comida. Hoje era macarrão com almôndegas. Não
quis comer na cozinha e fui para o quarto. Aproveitei para fazer uma
ligação para as meninas. Elas fizeram uma chamada de vídeo em grupo.
Queria contar de uma vez sobre o dia turbulento. Assim que Miguel
atendeu, comecei a contar o que tinha acontecido desde o início. Houve
muitas gargalhadas.
― Os filhos deste homem só podem ser anões no corpo de criança, não
tem outra explicação para essas travessuras, já gostei deles. ― Minha irmã
disse, quase chorando de tanto rir.
― Ou na verdade são filhos do Homem-Aranha, como subiram lá com o
balde cheio de água? ― Madá queria respostas que nem eu tinha.
― Podia ter acontecido uma tragédia, gente, que absurdo essas crianças.
Fique de olho neles, Gaby. ― Miguel foi o único sensato do grupo.
― Sim, já estou preparada para amanhã. Não tirarei os olhos deles, que
aliás, estão com o "Hugo" agora.
― Hugo? Quem é Hugo, Gaby? ― Miguel perguntou sério.
― "Hugostoso" é o pai deles ― Uma onda de gargalhadas e gritos
explodiram do alto-falante do celular. Tive que abaixar o volume e me
controlar para não chamar atenção das cozinheiras.
― Seja bem-vinda de volta! ― Bea gritou. Miguel e Madá também
gritaram alto, e só eu fiquei sem entender.
― Como assim? Bem-vinda de volta? ― Perguntei.
― Você, irmã, a velha e boa Gaby está de volta, e na sua melhor versão.
― Entendi, e sim, eu precisava voltar a ser o que eu era.
Existia uma antiga e uma nova Gaby, e eu queria ser a nova.
― Agora, falando sério, amiga, vamos aproveitar que você está voltando
ao normal, para nos contar, já usou o Alfredo? ― Madá perguntou, curiosa
e safada como sempre.
― Claro que não, né, amiga? Preciso de inspiração. ― Respondi
brincalhona para ela.
― Sua imaginação é fértil, irmã, e agora você tem o senhor "Hugostoso"
na mesma casa que você. ― Bea disse, engraçadinha.
― Meninas lindas do meu coração, tenho que ir trabalhar, mas me
atualizem dos novos acontecimentos! ― Miguel se despediu.
― Bom trabalho, amigo. ― Dissemos em uníssono.
― Meninas, vou também, pois quero dormir cedo. Amanhã tenho ideias
para fazer com as crianças e vou aproveitar que estão mais receptivas.
― Estou muito orgulhosa de você, irmã. O caminho é esse, fazer o que
você gosta e ainda morar com o senhor "Hugostoso" ― Elas riram, e eu não
resisti, caindo na risada também.
― E vamos comemorar sábado no restaurante do Miguel. Um bom
vinho, boa comida e as melhores companhias que você poderia ter: nós! ―
Eu já estava ansiosa para o fim de semana.
― Tudo bem, meninas. Estou precisando de um porre e de boa comida.
― Disse, já bocejando.
― Você realmente quer que a gente te leve a sério com essas frases de
duplo sentido? ― Minha irmã perguntou, rindo novamente. Não aguento
mais, vou fazer xixi nas calças.
― Boa noite, meninas! ― Me despedi.
― Boa noite! ― Madá falou.
― Ok, amo você ― Minha irmã completou.
― Amo você em dobro. ― Falei, usando nossa despedida de sempre.
Vesti um pijama quentinho e confortável. Já mencionei que aqui faz frio,
tipo o Alasca? Para os meus padrões de frio no Brasil, aqui estou
congelando. Vou levar meu prato amanhã. Não tenho mais energia para
nada hoje.

Acordei suada, ofegante, com a boca seca, uma sensação de falta de ar.
Isso me incomodava, meu pulmão ardia. Meu Deus, isso nunca terá fim?
Toda noite isso. Esses malditos pesadelos não vão me deixar em paz?
Levantei da cama, precisava de água, de ar, precisava respirar. Fui até a
cozinha, peguei um copo, abri a geladeira e a claridade dela foi bem-vinda.
A casa estava totalmente escura. Virei com o copo na boca e fechei a
geladeira.
― Noite difícil? ― Me assustei, dei um pulo para trás e soltei um grito
envergonhado.
A figura estava sentada na ilha da cozinha, com um copo na mão,
idêntico ao meu. Meu Deus, será que ele ouviu meu pesadelo? Com a mão
ainda na boca, só consegui acenar em concordância.
― Desculpe incomodar o senhor ― Foi o único pensamento que
consegui formar.
― Há quanto tempo? ― A pergunta era clara como água.
― Há pouco tempo! ― Não queria me expor mais.
― Boa noite para o senhor! ― Falei me afastando e indo em direção ao
quarto.
― Boa noite, Gaby. ― Ele disse Gaby? Ou eu ainda estou dormindo?
Não respondi, apenas fui para o quarto tentar voltar a dormir.

O dia amanheceu e eu já estava animada, iria preparar um café da manhã


digno de príncipe e princesa.
Fui até a cozinha, não havia ninguém. Ainda era bem cedo. Peguei tudo
que precisava, conferi as frutas, fiz uma massa de waffle com baunilha, pois
tinha visto a máquina no balcão ontem, ela estava lá, parada sozinha,
inutilizável, então resolvi torná-la útil.
Piquei morangos, fiz suco de laranja e achocolatado, que percebi que
eles gostam. Havia uns pãezinhos no armário, passei requeijão neles. Estava
montando a bandeja, já havia limpado tudo para evitar reclamações da chef,
quando um cara alto, com cara de assassino e corpo de deus grego, parou na
minha frente sem camisa.
UAU! Só tinha homens gostosos nessa casa?
― Bom dia, Gabriela. ― O homem me cumprimentou, todo suado e já
pegando um waffle da bandeja.
Deu vontade de bater na mão dele, mas me segurei.
― Bom dia, senhor? ― Só podia ser um dos irmãos do senhor Matteo.
Afinal, quem mais andaria sem camisa pela casa às seis da manhã?
― Giovanni, ao seu inteiro dispor. ― Deu uma piscadinha e foi
caminhando em direção à cozinha, mas se virou novamente para mim e
concluiu sua fala ― Aliás, está uma delícia o seu waffle. Os pirralhos vão
adorar, mas a Carmem não vai gostar muito. ― Concluiu rindo e sumiu do
meu campo de visão.
Isso eu já imaginava. Afinal, quem gosta que mexam na sua cozinha?
Deixei esse pensamento de lado, coloquei os morangos em cima do waffle,
adicionei um fio de mel, fiz ovos mexidos, peguei uma xícara de café bem
forte e coloquei talheres extras. O senhor Matteo disse que tentaria tomar
café da manhã com as crianças e quem não gostaria de um café da manhã
desses?
Eles têm que gostar pelo menos de alguma coisa, não é possível. Subi as
escadas, segurando as duas bandejas nas mãos, cheguei à porta do quarto
das crianças e o senhor Matteo apareceu na minha frente, lindo e cheiroso.
Nossa Senhora das calcinhas molhadas, me ajuda!
― Posso te ajudar? ― Ele perguntou.
― Não precisa, eu dou conta! ― Falei determinada.
― Ah, é? E como vai abrir a porta? ― Ops!
― Tudo bem, ainda não tinha pensado nisso. Pode abrir pra mim, por
favor? ― Pedi com um sorriso sem graça.
― Claro que sim. ― Ele abriu a porta e lá estavam os dois anjinhos
incompreendidos, dormindo em um sono profundo.
Vai ser difícil no início, mas eles têm que acordar cedo e tirar uma
soneca à tarde. Deixei as bandejas no pé de cada cama.
Matteo estava me olhava do canto do quarto, eu podia sentir seu olhar
queimar minhas costas. Eu estava usando uma calça preta de cintura alta,
justa, e uma camisa xadrez de flanela marrom e bege, além de um coturno
bege, nada chamativo, imagino eu. Enquanto ele já estava com seu lindo
terno de três peças, bem cortado.
Prendi meu cabelo em um coque frouxo, abri as janelas e acordei as
crianças como ontem.
― Bom dia, bom dia, príncipe e princesa! Vamos acordar e tomar um
café da manhã real? Bora, bora! ― Disse, batendo palmas.
― Bom dia, Gabyzinha! ― Nina foi a primeira a se manifestar,
esfregando os olhos de maneira adorável.
― Bom dia, Gaby. ― Foi a vez de Dante, bocejando.
― Olhem quem veio tomar café da manhã com vocês ― Saí da frente e
eles viram o pai parado.
― Bom dia, meus amores. ― Matteo falou com aquela voz rouca.
― Papai, papai! ― Gritaram e pularam nos braços do pai, que
rapidamente se sentou na cama de Nina.
― Fiz um café da manhã especial para vocês, espero que gostem ―
Comuniquei, colocando as bandejas na frente deles que olharam com os
olhos tão arregalados que achei até engraçado.
― Espero que o senhor não se importe, acho que essas coisas não estão
na tabela nutricional da Carmem ― Me justifiquei, com pesar.
― Claro que não. Essa coisa de nutricionista foi invenção da minha mãe,
nunca entendi isso. Faça o que funcionar, você tem carta branca. ― O
senhor Matteo falou, me animando.
― Nossa, que delícia, eu amo waffle ― Dante falou, pegando um
pedaço com a mão mesmo.
― Como se fala quando alguém prepara algo especial para nós? ―
Senhor Matteo perguntou as crianças.
― Obrigada, Gabyzinhaaaaa! ― Eles estavam muito animados, só
não dava para saber se era pela comida ou pela companhia do pai.
― Foi feito com muito amor, espero que gostem e comam tudo. Não vi
vocês comerem nada ontem. ― Lembrei, triste por essa situação.
― Olha, papai, tem para você também. ― Dante alertou, mostrando
o café para o pai.
― Olha só que maravilha! Vou ter que tomar café por aqui também pelo
visto ― Ele respondeu, em tom de brincadeira.
― E comer tudo ― Informou Dante, e os três acharam graça.
― Que delícia! Seu café da manhã é mais gostoso do que o da Carmem.
Olha só, tudo colorido. Quero assim sempre, posso, papai? ― Nina
perguntou animada.
― Claro que sim, princesa. Gabriela pode passar a receita para a
Carmem, não é Gabriela?
― Sim, senhor. Quer dizer, Matteo.
― Aliás, seu café está muito bom, obrigado.
Balancei a cabeça em concordância e observei os três. Dante comeu
tudo, enquanto Nina comeu um pouco de tudo, mas não até o fim.
Senhor Matteo tomou seu café e comeu ovos e waffle. Eles agradeceram,
o pai se despediu das crianças e disse que tentaria voltar para almoçar, mas
eles já estavam tão felizes que estava tudo bem para eles.
E foi assim que começou o meu segundo dia com aquela família.
Passei a noite em claro. Não foi fácil dormir com tantos problemas na
minha cabeça. Já era madrugada quando desisti de tentar dormir, coloquei
uma bermuda de treino e segui para o centro de treinamento nos fundos de
casa.
Para alguns, era apenas a minha academia particular, mas na verdade era
o centro de treinamento dos meus soldados e dos rapazes. Tínhamos outra
academia, mas aqui tínhamos privacidade. O galpão era enorme, com
estande de tiro, ringue de luta e área de musculação.
Fui em direção ao ringue, já colocando as luvas e me aproximando do
saco de boxe, quando um barulho chamou minha atenção.
― Sem sono também, irmão? ― Luigi perguntou, saindo do vestiário e
vestindo bermudas como eu.
― Dia difícil. Já ficou sabendo do que os seus sobrinhos aprontaram? ―
Perguntei enquanto ele vestia as luvas. Parecia que não iríamos usar o saco
de boxe.
― Já sim. As paredes têm ouvidos, e o Giovanni tem a língua muito
grande ― falou sorrindo.
Eu já imaginava. Tá para nascer alguém mais fofoqueiro que o Giovanni.
― Margô acha que a moça é especial ― contei, algo que no fundo eu
também achava.
“Especial e gostosa”. Balancei a cabeça, espalhando os pensamentos.
― Sim, e você não achou só isso, né? ― Luigi perguntou com ironia,
desferindo o primeiro golpe que desviei e acertei um soco em sua costela.
― Você lê pensamentos agora, porra? ― Perguntei surpreso, pulando e
desviando de seus ataques.
― Não precisa, está na cara ― respondeu.
Pronto, só falta ele dizer que os olhos são as janelas da alma. Dei um
chute e ele se defendeu rapidamente.
― Não posso negar que ela é muito gostosa aos olhos, mas não preciso
de uma distração agora ― Levei um soco no ouvido para me provar que já
estava distraído. Revidei com uma sequência de chutes até encurralá-lo na
parede.
― O que está fazendo aqui, então, a essa hora da madrugada, se não
quer se distrair? ― O filho da puta me conhecia como ninguém. Melhor
mudar de assunto.
― O que você está achando dessa movimentação toda, Luigi? Acha que
os russos estão se envolvendo com alguns italianos para me ferrar? ―
Perguntei o óbvio.
Ele se livrou dos meus chutes e me aplicou um mata-leão, jogando-me
no chão.
― Tenho certeza. Minha dúvida é: quem seria louco o suficiente para
trair a máfia? ― Perguntou ofegante. Virei meu corpo e fiquei por cima
dele.
― Você acha que o seu pai está envolvido nessa história? Afinal, o
sonho dele sempre foi ser o Don e não ver o meu pai ocupando esse lugar
― perguntei com pesar.
Se meu tio estiver envolvido nisso, não terei piedade, e Luigi sabia disso.
Finalizei um golpe em seu pescoço e encerrei a luta.
― Meu chefe e líder é você, irmão. Se ele estiver envolvido, não pedirei
clemência por ele. Ele nunca foi um homem bom como o tio. Não se
preocupe comigo, vamos fazer o nosso trabalho ― Estávamos sentados no
ringue, olhando para o vazio.
Eu sabia qual era a opinião de Luigi. A relação com tio Roberto nunca
foi boa. Quem praticamente criou Luigi foram meus pais, não é à toa que
somos irmãos. Mas eu precisava ouvir isso diretamente dele. Tudo estava
em jogo, e não irei arriscar nada.
― Vamos dormir, logo amanhece. Amanhã será um dia agitado ― Luigi
falou, já se levantando. ― E Matteo? Ela realmente é gostosa, Giovanni não
estava mentindo ― concluiu rindo e saindo do galpão.
Por que eu não gostei dessa afirmação?
Segui para a cozinha pois precisava de um copo de água, e de repente
ouvi alguns murmúrios ao longe. Cheguei à porta de Gabriela, mas não tive
coragem de entrar.
Conheço esses sons, e não são sonhos. Voltei para a cozinha, peguei um
copo de água e me sentei no balcão. Logo ela despertou do pesadelo,
parecia distraída e sonolenta, já que não me viu e se assustou quando me
manifestei.
Eu queria descobrir quem fez mal a ela, não entendo ainda o porquê, mas
queria.
O café da manhã que Gabriela preparou animou as crianças. Fazia tempo
que não as via tão felizes. Margô tinha razão, ela vai mudar as coisas por
aqui, se já não estiver mudando.
O caminho até a empresa foi tranquilo, com Luigi e Giovanni me
atualizando sobre as últimas informações. Parece que a temporada de
dormir na mansão vai aumentar para esses caras. Espero que seja apenas
por questões de segurança.
Cumprimento minha secretária e entro imediatamente em minha sala.
Temos uma carga saindo para a América hoje, e nada pode dar errado.
Estarei lá pessoalmente. Mesmo com tantas coisas para fazer, minha mente
não consegue esquecer a manhã agradável que tive com meus filhos e
Gabriela.
Uma batida na porta chama minha atenção.
― A carga de drogas já está misturada com os eletrodomésticos dentro
do contêiner. Você vai conferir? ― Giovanni perguntou, sentando-se na
cadeira em frente a mim, enquanto Luigi se acomodava no sofá.
― Vou descer para ver isso pessoalmente. Como estão as investigações?
Alguma novidade? Meu pai está me ligando querendo informações, dei
apenas informações parciais, mas não gosto de omitir as coisas.
― Por enquanto, só temos mensagens de maridos traindo esposas.
Alguns falam mal de você, mas nada preocupante ― Respondeu Luigi
tranquilamente.
― Tenho novidades sobre a sua babá. Isso te anima? ― Giovanni
perguntou, chamando minha atenção.
Claro que me anima, algo estava errado nessa história, e eu queria
descobrir o que.
― Ela chegou a Portugal há algumas semanas, com uma passagem
comprada à vista no cartão de Miguel da Veiga. O cara tem 28 anos e é
proprietário de um restaurante badalado aqui em Lisboa. Não tem
antecedentes criminais, pelo que tudo indica, é uma pessoa de bem ― “Por
que ele comprou uma passagem para ela? Será que são namorados?” pensei.
― Ela mora aqui com uma irmã, né? ― Luigi perguntou.
― Sim, a irmã Beatriz e uma amiga chamada Madalena. O cara morava
com as duas até o ano passado, agora mora sozinho em um apartamento
próximo ao delas ― Entendi, ele se mudou, mas quis continuar próximo.
Luigi se levantou e pegou algumas fotos da minha mesa que Giovanni
havia anexado com as informações.
― Que trio maravilhoso, hein, meus amigos! Pegaria qualquer uma
facilmente! ― Luigi afirmou, sem tirar os olhos das fotos.
― Eu também. Nem sei qual escolher, fico até em dúvida ― Giovanni
entrou na conversa, sorrindo.
― Vocês esqueceram que elas não são prostitutas da boate? No mundo
"normal", são elas que escolhem, não vocês, seus idiotas! ― Já estava no
meu limite com esses dois.

― Odeio quando o seu lado certinho e defensor das mulheres se


sobressai! ― Luigi disse rindo, sabendo que estava me provocando.
― E no Brasil, alguma novidade? ― Perguntei curioso e ignorei o idiota
do Luigi.
― Aí é que a história fica interessante. Ela morava com o namorado em
um apartamento de classe média. O cara se chama Carlos Alberto, é
bacharel em direito e trabalha no escritório de advocacia do pai. O mais
estranho é que ela simplesmente largou a faculdade durante o dia e, às 4:00
da manhã, pegou um voo rumo a Portugal sem nem se dar o trabalho de
trancar a faculdade. Tem algo aí que não me cheira bem.
― Abandonar a faculdade, a casa, o namorado e uma vida
aparentemente estável para vir trabalhar como babá em outro país? Isso está
muito estranho, não é? ― Luigi falou pensativo, acendendo um cigarro e
soltando a fumaça para cima.
― O melhor vem agora. Assim que chegou aqui, o tal Miguel a levou a
uma clínica médica. Acessei o sistema da clínica, que aliás não tem
nenhuma segurança, e consta no laudo médico que ela fez uma radiografia
da costela, suspeita de fratura, mas era apenas uma luxação. Isso dói tanto
quanto, né? Porra. ― Giovanni ia me informando, revoltado.
― Deve ser o hematoma que Matteo mencionou que viu ― concluiu
Luigi.
― Sim, com certeza foi. Então ela já veio do Brasil com isso. Mais
alguma coisa no laudo médico? ― perguntei, dando uma tragada no cigarro
que eu havia acendido e esperando que a nicotina me acalmasse. Já estava
começando a ficar nervoso.
― Não, o Miguel assinou um termo de responsabilidade. Até então, ela
era ilegal no país. Ela trabalhou como bartender no restaurante do cara por
alguns dias antes de ir para a mansão ― Giovanni continuou.
― Não sei onde isso vai dar, mas sei de uma coisa: vai dar merda, e eu
estou envolvido ― Luigi falou, não esperava nada diferente dele. ― Mas
ao invés de ficar imaginando e revirando a vida da moça, por que você não
pergunta a ela? ― quis saber.
― Não quero ser invasivo, e só queria saber para ter certeza de que os
acontecimentos na vida dela não representarão riscos para os meus filhos,
que já estão se apegando a ela ― soltei fumaça para cima, tentando
disfarçar a mentira.
― Não sei se você mente mais para si mesmo ou para a gente ―
Giovanni falou, e Luigi concordou.
― Vocês não têm trabalho para fazer? Não sei se lembram, mas temos
uma exportação para inspecionar ― falei, levantando-me da cadeira e me
dirigindo à porta.
Antes de abrir a maçaneta, dei uma última ordem a Giovanni:

― Quero saber tudo sobre esse Carlos Alberto e o pai dele,


principalmente onde eles estão. ― Ainda não sabia o que eu queria fazer, só
sei que não vai ser bom para ele, é claro.
― Pra quem não se importa, você está bem determinado, né? ―
Luigi falou, andando, e Giovanni o seguiu gargalhando.
Esses dois... ainda vou acertar as contas com eles.
O contêiner já estava pronto, tudo legalizado e documentado. O Capo
de Las Vegas receberia um belo carregamento de eletrodomésticos. Temos
negócios desde que cheguei a Portugal. Romeo é o chefe do território de
Las Vegas, um dos meus melhores clientes. Ele é cruel e conhecido por sua
forma peculiar de torturar os inimigos e sua obsessão por tudo que lhe
interessa.
Las Vegas foi praticamente tomada do antigo Capo por Romeo, que
entrou em uma briga sangrenta por território, pois já tinha metade de Las
Vegas: cassinos, restaurantes, boates e todo o ramo de entretenimento
adulto era dele. Ele possui o maior número de soldados de todos os
territórios e investe em todas as tecnologias. O cara é o Rambo da máfia, e
não quero tê-lo como inimigo. Afinal, quanto mais aliados, melhor. Por isso
é tão importante que essa carga chegue em boas condições às mãos dele.
― Tudo pronto. Podemos almoçar? ― Giovanni disse, com a mão no
estômago.
― Vamos sim, quero almoçar em casa hoje! ― informei, e deixei um
pequeno sorriso se formar no canto da minha boca.
Seguimos em direção à minha SUV Cadillac Escalade blindada, a minha
preferida, e fomos direto para a mansão.
A manhã foi muito animada e de um aprendizado enorme para nós três,
eu, Dante e Nina.
Ficamos juntos até a chegada da professora e arrumamos o quarto que
estava cheio de brinquedos espalhados por todos os lados. Judite disse que
não precisava, que era função dela limpar, mas as crianças tinham que
aprender a arrumar sua própria bagunça, juntar os brinquedos e arrumar a
cama era o mínimo. Mesmo com empregadas.
O senhor Paulo me entregou o óleo que pedi hoje pela manhã. Passei nos
cabelos de Nina e a mergulhei na banheira. Tirei todos os nós de seu cabelo
e ela pediu duas tranças de princesa e ficou ainda mais linda do que já era.
Quando descemos já era hora das aulas. Deixei-os na biblioteca e segui
para a cozinha.
Perguntei a Margô se poderíamos mexer no cardápio do almoço. Queria
algo que as crianças realmente fossem comer. Carmem não gostou muito e
disse que a senhora Donattela não aprovaria, mas Margô informou que era
ordem do senhor Matteo, então ela saiu da cozinha pisando forte e disse que
iria fazer o almoço dos funcionários na casa auxiliar.
Definitivamente, ela não gosta de mim e ainda me acusou de bagunçar a
despensa pela manhã, o que não era verdade, e eu não cairia em suas
provocações.
Estava animada e fiz um almoço bem estilo brasileiro: arroz, feijão,
carne de panela e salada de alface com tomate, beterraba e cenoura cortados
em cubinhos bem pequeninos. A comida era simples, mas estava cheirando
tão bem que o senhor Paulo chegou à porta com um sorriso largo quando
me viu pilotando o fogão.
Não sei se eles iriam gostar de uma comida típica brasileira, mas fiz com
muito amor.
Coloquei a mesa com a ajuda de Margô, que não saía do meu lado, e
coloquei as travessas de comida na mesa para evitar que os funcionários
ficassem entrando e saindo, atrapalhando a atenção das crianças durante o
almoço.
Fiz questão de servir o prato das crianças. Coloquei o arroz em uma
cumbuquinha redonda e depois moldei o arroz, fazendo um olho com duas
ervilhas, uma boca com tomate e um nariz com cenoura. Fiz cabelinhos de
alface no boneco e coloquei feijão de um lado e carne do outro. Ficou tão
engraçadinho que até eu comeria. Servi suco de maracujá, pois hoje eles
tirariam um cochilo à tarde. Margô colocou o prato do senhor Matteo na
mesa, mas disse que ele nem sempre aparecia para o almoço.
As crianças vieram correndo ao final da aula e as levei para lavar as
mãos, depois cada um se sentou em seu devido lugar
― Que lindo, Gabyzinha, olha o nariz dele, Dante! ― Nina disse,
batendo palmas.
― Olha o cabelo, tá legal, mas eca, é verde! ― Dante reclamou, e antes
que eu pudesse retrucar, o pai entrou na sala de jantar.
― Olha só, cheguei em boa hora? ― Matteo perguntou, abraçando Nina
e, em seguida, Dante.
― Sim, papai, olha só o que tia Gaby fez! ― Nina mostrou o seu prato
toda animada.
― Quero saber se tem comida pra mim, porque estou com a fome de um
hipopótamo. ― Giovanni disse, sentando ao lado de Dante.
― Tio Giovanni tem comida sim, a Gabyzinha fez. ― Dante explicou.
― Sério? A Carmem deixou? ― Luigi perguntou curioso, sentando ao
lado de Nina.
Matteo já havia se sentado na ponta da mesa. Margô chegou atrás de
mim, nem tinha visto ela sair.
― Ela não teve alternativa, e não ficou muito feliz, mas a Gaby tirou de
letra. ― Margô contou, colocando pratos para Luigi e Giovanni.
― E o que vamos comer hoje? Nunca tivemos comida assim na mesa
para servir. ― Luigi falou curioso, servindo-se de arroz, feijão, carne e os
legumes, exceto a alface.
― Esse boneco parece o Olaf, olha só o nariz dele! ― Dante falou, rindo
e colocando a mão na barriguinha. ― Mas não vou comer o cabelo verde
dele não.
Na hora, lembrei da conversa sobre ser forte e disse:
― Pois é, mas você me disse que ia perguntar ao tio Luigi o que ele
come para ficar forte na academia, lembra? Ele disse para mim que é o
alface que o deixa forte como o Hulk, não é tio Luigi? ― Ele me lançou um
olhar do tipo "você me paga", mas eu não tenho medo de cara feia, então o
olhei de volta, e desafiando, levantei uma sobrancelha.
Ele imediatamente pegou um punhado de alface e colocou no seu prato,
levando uma garfada na boca que quase arrancou um dente. Giovanni sorria
baixinho, e Dante ficou pensativo olhando para o prato.
― Não gosto de beterraba, tia Gabyzinha, posso deixá-la de lado? ―
pediu Nina, toda manhosa.
― Ah, sério? Mas eu queria tanto te mostrar a mágica que ela faz! ―
falei, tentando enrolá-la.
― Sério? Quero ver! ― Dante se ergueu na cadeira para ver o prato da
irmã.
― Eu também quero, por favor! ― Nina disse, juntando as mãozinhas.
― Prestem atenção, olha só, o arroz está branco, né? ― Eles balançaram
a cabeça, e os adultos me olhavam sem piscar, e eu podia sentir o olhar de
Matteo queimando em mim.
― Simmmmm! ― eles gritaram, Giovanni e Luigi também. Tive que me
segurar para não rir.
― Ele vai ficar rosa, vocês acreditam? ― perguntei.
― Não vai não! ― Nina falou, duvidando.
― Então olha só ― misturei o arroz e a beterraba, e um "o" se formou
na boquinha deles imediatamente.
Dante e Luigi bateram palmas, Nina colocou a mão na boca, encantada,
Giovanni só sabe rir das reações, Matteo me encarava sem piscar e Margô
observava tudo em silêncio.
― Não é possível, vou comer todo o Olaf e beber todo o suco de
"mucuruja" ― Nina disse o nome da fruta errado e eu quase me derreti.
Aliás, foi uma luta para o Sr. Paulo encontrar maracujá nesse lugar.
― E eu vou comer o cabelo da alface, para ficar forte como meus tios e
meu pai ― Dante falou, já com o talher no ar.
― É maracujá, princesa, uma fruta típica brasileira, não é isso, Gabriela?
― Matteo corrigiu Nina e me perguntou.
Todos olharam para mim.
― Sim, é sim. E é um ótimo calmante natural. As crianças após o
almoço vão cochilar mais tranquilas, não é, crianças? ― Perguntei, e eles
não me responderam.
Olhei na direção deles e percebi que estavam de boca cheia.
― Nossa, Gaby, que delícia de comida! Se você cozinhar todos os dias,
vou ter que vir saborear sua comida todo dia também ― Giovanni falou,
ainda com a boca cheia.
― Conta uma novidade, Giovanni. Você já não sai daqui de casa!
Gabriela não é sua cozinheira, aliás, está mesmo uma delícia, Gaby ―
Matteo elogiou, olhando nos meus olhos.
― Mais suco de maracujá, por favor? ― Dante pediu.
Fiquei superfeliz ao ver que o seu prato estava vazio. Olhei para o de
Nina, e ela também tinha comido tudo. Meu Deus, que alegria! Olhei para
as crianças emocionada e uma lágrima escapou pela minha bochecha.
― Está chorando, Gabyzinha? Está triste? ― Nina perguntou, já se
levantando da mesa e abraçando minha perna.
― Sim, não, quer dizer, estou, mas é de felicidade! Estou muito feliz por
vocês terem comido tudo ― Margô me olhou emocionada também, e os
três homens à minha frente me olhavam com um olhar de gratidão.
― Amanhã podemos fazer um dinossauro? ― Dante, alheio à conversa e
à intensidade da situação, quebrou o silêncio.
― Não, amanhã quero que seja princesa. Pode fazer Gabyzinha, por
favor? ― Nina pediu, juntando as mãozinhas.
― Cada dia eu faço um, mas todos os dias vocês têm que comer tudo,
combinado? ― perguntei animada.
― Juramos de dedinho! ― Os dois gritaram e vieram cruzar os dedos.
― Acho que temos novos tempos nessa casa! ― Margô falou animada.
O senhor Matteo e os rapazes foram para o escritório depois de raparem
os pratos, e as crianças pediram para ver um filme, mas dessa vez na sala de
cinema, que era enorme, com poltronas que mais pareciam camas. O filme
da vez foi Frozen. Conversamos, comemos pipoca e depois de dois filmes
seguidos, eles finalmente dormiram.
Peguei a Nina no colo, subi com ela para o quarto. Fiz o mesmo percurso
com Dante. Deitados em suas camas, eu os admirava, tão inocentes. Essa
foi a primeira vitória de muitas outras que viriam.

A semana passou rapidamente. As crianças comeram todos os dias.


Margô me pediu para preparar um cardápio mais simples para a semana,
pois as crianças não se adaptaram bem a comidas muito elaboradas que
estavam sendo feitas. Carmen não ficou muito feliz, mas fez o que Margô
pediu. Eu montava os pratos todos os dias, e Carmen não abria mão de levar
os pratos do patrão e de seus irmãos, que comiam todos os dias com as
crianças.
O café da manhã era sempre uma bagunça, o almoço nem se fala. Luigi e
Giovanni estavam conquistando meu coração, eles eram umas figuras e eu
já me permitia dar tapinhas nas mãos dos dois, que agora saíam da
academia direto para a cozinha toda vez.
Eu já deixava as três xícaras de café preto e os waffles com ovos prontos
para os três. Eles comiam, faziam graça e sumiam. O senhor Matteo fazia
tudo com eles ao lado, sempre me observando. Sentia seu olhar em mim
constantemente, e eu, sempre que podia, dava uma olhada também. Não sou
de ferro, não é mesmo?
Também fiz amizade com os seguranças. Todos eles eram educados
comigo e sempre que dava, levava café e chocolate quente para eles, que
ficavam lá fora, coitados, no frio miserável desse país. Só não conseguia
encontrar uma forma de me dar bem com a Carmem ainda, a senhora
realmente não me dava brecha.
Hoje é sexta-feira e amanhã é minha folga. Bea e Madá estão
superanimadas para sair e eu quero muito me divertir com elas. Miguel já
disse que terá um DJ muito legal amanhã no seu restaurante, será a nossa
grande noite.
Durante a semana conversei algumas vezes com Sofia e Marta, eu estava
preocupada com elas. Carlos procurou Sofia e a ameaçou, dizendo que ia
acabar com a carreira dela antes mesmo de começar. Sofia disse que riu na
cara dele.
Ela pode não ter medo dele, mas eu tenho, principalmente depois de
saber que ele contratou um detetive para me encontrar de qualquer jeito. Eu
não sou propriedade dele e não posso viver me sentindo ameaçada. Preciso
dar um jeito nisso, mesmo Marta tendo me assegurado que está tudo bem e
pedido para eu ficar tranquila.
Eu estava deitada na minha cama, enquanto lá fora a chuva caía e eu lia
tranquilamente as atividades da minha aula de italiano online. As crianças
também estavam me ensinando algumas palavras, afinal, eu queria
aprender, já que trabalho para italianos. Arrisco algumas palavras e estou
muito orgulhosa de mim mesma.
De repente, ouvi um choro distante e um trovão cortou o céu com um
barulho ensurdecedor. Levantei da cama e corri para o quarto das crianças,
passei pela cozinha e subi as escadas correndo. Entrei no quarto e vi Dante
se debatendo com a coberta, de olhos fechados, enquanto Nina chorava
desesperadamente e chamava pelo pai.
Eu sabia que ele ainda não tinha chegado. Adquiri o hábito de vigiar
quando ele chegava, ele costumava parar na sala, dobrar as mangas da
camisa e pegar um copo de uísque antes de subir. Mas ele não fez isso hoje
ainda.
Deitei-me na cama de Nina e arrastei a de Dante para criar uma cama de
casal improvisada. Abracei os dois que tremiam e choravam. Eu sabia o que
eles estavam passando. Comecei a sussurrar uma música de ninar em seus
ouvidos e aos poucos eles começaram a se acalmar.
No escritório da minha casa, os rapazes estavam sentados à minha frente,
olhando para o vazio. Ainda estávamos em choque pelo que aconteceu na
mesa do almoço. Como Gabriela fez as crianças comerem tudo, inclusive
legumes e frutas? Até Luigi, um mafioso assassino e cruel que nunca comeu
alface na vida, ela o obrigou apenas com um olhar. E caramba, como ela
estava linda com aquele coque frouxo. Ela estava ao redor da mesa, dando
atenção aos meus filhos e tendo toda a minha atenção.
A semana passou rapidamente. Pegamos mais dois russos, mas eles não
disseram nada. A tortura não valeu de nada. Morreram em silêncio.
Romeo pediu uma reunião comigo sobre uma remessa de armamento que
comprei dos alemães. Meu cliente está muito interessado.
Carlos – suposto ex de Gaby - está no meu radar. Já descobri muitas
barbaridades sobre o pai dele. Eles são abusivos com suas parceiras,
corruptos, entre outras coisas. Se eu não fosse um mafioso, seria
surpreendente. Descobri que a polícia federal tem um caso aberto sigiloso
contra o pai dele e ele é apenas um fantoche nas mãos do pai. Considero
esse homem um fraco.
Estava saindo da empresa depois de muitas reuniões cansativas, mas
necessárias, ansioso para chegar em casa, mas infelizmente, não vou
encontrar as crianças acordadas. Gabriela conseguiu fazer com que elas se
adaptassem a uma rotina de sono tranquila. Elas estão mais felizes e
dispostas.
No momento, minha obsessão é ver Gabriela conversando com as
crianças, alimentando-as, vestindo-as, brincando com elas. Na verdade,
minha obsessão envolve qualquer coisa em que ela esteja envolvida. Quero
chegar em casa rapidamente para vê-la de longe ou ouvir as risadas vindas
do quarto dela enquanto conversa com amigos e irmã, mesmo sabendo que
os sorrisos não são para mim.
Cheguei em casa debaixo de uma chuva forte. Me despedi dos
seguranças e entrei em casa, pegando um copo de uísque e não resistindo à
tentação de ir ao quarto dela.
A porta está aberta e não há ninguém aqui. Volto para a sala, guardo o
copo vazio e subo as escadas, ouvindo um sussurro baixo, porém
reconfortante, então paro na porta do quarto das crianças.

Muito obrigada meu papai do céu, pelas duas crianças que o senhor me
deu...
Tanta tristeza que há no mundo, mas não há tristeza nos olhinhos seus...
A voz de Gabriela me encantou como um canto de sereia. Nina estava
deitada em sua barriga, Dante abraçado entre a irmã e Gabriela, deitado em
seu braço. Ela acariciava suas cabeças, e eu queria guardar aquele momento
para sempre em minha memória.
Ela me viu e fiquei desconcertado, nunca me senti assim antes. Gabriela
me cumprimentou com um aceno de cabeça, ajeitou as crianças na cama e
saiu de perto delas. Ela juntou as camas, se levantou e então eu vi: aquelas
pernas perfeitas vestindo um shortinho fino e uma camisa masculina por
cima. Um tremor atingiu meu coração. De quem seria aquela camisa? Do
seu ex?
Por um momento, imaginei como ela ficaria usando uma camisa minha.
Ela veio andando na ponta dos pés, cruzou os braços para cobrir os seios e
me chamou, interrompendo meus devaneios.
― Eles tiveram um pesadelo, choraram e pediram por você. Consegui
fazê-los dormir, mas estavam muito assustados ― Comunicou, olhando
para mim sem jeito. Ela parecia desconfortável com as roupas.
― Acontece em tempos de chuva, não sabemos o porquê, mas os
pesadelos estão sempre presentes ― Respondi com tristeza ― As crianças
não merecem passar por isso.
― Imagino. Eu também enfrento isso de vez em quando, mas agora já
está tudo bem. Vou me deitar.
― Vou te acompanhar até a cozinha ― Falei, querendo ficar mais um
tempo perto dela.
― Tudo bem, vou beber água e voltar a dormir ― Respondeu.
Descemos as escadas e eu a observei por trás, reparando naquela bunda
perfeita. Como seria deixar a marca da minha mão ali?
Ela abriu a geladeira e pegou a garrafa de água, distraída, não me viu
atrás dela quando se virou rapidamente e eu levantei o braço para pegar um
copo no armário. Ela imediatamente se abaixou e colocou os braços na
frente do rosto. Fiquei paralisado. Ela estava com medo de mim? Eu nunca
a machucaria.
― Gabriela, olhe para mim. Não tenha medo, eu só ia pegar um copo ―
Tentei acalmá-la.
Ela me olhou e pude ver dor e medo em seus olhos. Eu nem sabia que
tinha um coração, mas ele se despedaçou naquele momento.
― Desculpe, eu me assustei. Não tenho medo de você ― disse com a
voz embargada.
E foi assim que eu ultrapassei os limites do aceitável e a abracei. Ela
tremia e, quando se acostumou com meu toque, começou a chorar.
― Quem fez isso com você, pequena? ― Perguntei, já sabendo a
resposta, mas sentindo a necessidade de que ela me contasse, de que
confiasse em mim.
― Não quero falar sobre isso ― Ela se afastou e eu senti um arrepio na
espinha, uma ausência do seu calor. ― Desculpe, molhei sua camisa ― Ela
falou envergonhada.
― Gabriela, já imagino o que aconteceu e preciso que você confie em
mim. Eu posso te ajudar, mas preciso ouvir de você. Eu queria que você me
desse essa chance.
― Obrigada, mas está tudo bem. Só me assustei mesmo e desculpa de
novo. ― falou, virando-se e indo para o quarto.
A vontade de ir atrás dela, abraçá-la e ficar debaixo das cobertas com ela
era grande, mesmo que nunca tenha feito isso com nenhuma outra mulher.
Mas com ela, esse tipo de coisa parecia certo. Olhei a porta se fechar e fui
para o meu quarto.
Acordei, ou melhor, nem cheguei a dormir, desistindo de tentar e fui para
a academia e encontrei os rapazes. Malhamos e, no final, passamos pela
cozinha. O cheiro de café estava por toda parte. Gabriela estava com duas
xícaras na mão, entregou uma para Giovanni e outra para Luigi, e depois se
virou e me entregou uma.
― Ei, por que a dele é maior? ― Giovanni brincou.
― Porque ele paga o salário dela, ué! ― Luigi disse rindo.
― Vocês não cansam, né? ― disse, e Giovanni abriu a máquina de
waffles, mas Gabriela deu um tapa na mão dele. Ele reclamou que queria
apenas um, então ela pegou um, colocou no prato e deu para ele.
― Sua mãe não te deu educação? ― Gabriela perguntou, sorrindo para
ele.
― Deu sim, mas ela não fazia waffles perfeitos assim. ― Gabriela
gargalhou.
― Hoje não é a sua folga, Gaby? ― Luigi perguntou, recebendo um
waffle também. Em seguida, foi a minha vez. Sentamos os três na ilha da
cozinha, de frente para Gabriela.
― Sim, mas queria deixar o café da manhã pronto para vocês. Já estou
indo daqui a um pouquinho. ― se justificou, tomando um gole do seu café.
― Quer carona? Estou saindo e posso te levar. ― Perguntei, e ela me
respondeu rapidamente, ainda sem graça comigo por ontem.
― Não precisa, obrigada. O Miguel vem me buscar. ― Eu tremi e quase
não consegui disfarçar. O que esse cara quer com ela?
― Seu namorado? Você nunca fala sobre a sua vida. ― Giovanni
perguntou, e eu fiquei aguardando a resposta.
― Não, ele não é meu namorado. É mais fácil ele querer beijar a sua
boca do que a minha! ― Ela respondeu, rindo alto.
Luigi se engasgou com o café enquanto Giovanni disse um "não" mudo.
E eu, bem eu, senti um alívio! Que merda é essa?
Todos nós rimos e logo o interfone tocou e Gabriela foi atender, dizendo
que já ia descer. Ela vestia uma calça preta que abraçava sua bunda perfeita,
coturnos pretos, uma blusa de gola alta bem justa no corpo, que marcava
seus seios pequenos e perfeitos. Eu imaginava se eles caberiam
perfeitamente em minhas mãos. Vi ela ir ao quarto pegar sua pequena mala
de rodinhas, uma bolsa e um casaco nos braços, e então se despediu de nós.
Pediu para darmos um beijo nas crianças por ela e se foi.
Olhei para Giovanni e finalmente pude matar minha curiosidade.
― Por que você não me deu a informação de que o cara era gay? ―
Perguntei nervoso. Poderia ter me poupado dessa dor de cabeça.
― Porque eu não tinha essa informação. Está bravo porque ficou com
ciúmes esse tempo todo, chefe? ― Luigi perguntou, e eu os mandei se
foderem.
Fui me arrumar, pois os negócios não param. A Margô ia ficar com as
crianças, mas eu queria chegar em casa cedo para dormir com elas.
― Estava com tantas saudades! ― Bea pulou no meu colo e eu tentei
segurá-la para não cairmos no chão.
― Calma, foi só uma semana, já estou de volta.
Miguel me buscou na mansão, viemos direto para casa, pois estava com
muita saudade das meninas.
― Madá ainda está dormindo, saiu com um cara ontem e até agora não
deu sinal de vida. Só espero que ela não esteja de ressaca quando formos
sair mais tarde. Agora quero saber todos os babados da semana. ― Bea
estava muito animada, e eu também, não vou negar.
― Vou esperar ela acordar para contar os últimos acontecimentos da
mansão. ― Contávamos tudo em grupo para não ter que repetir várias
vezes.
― Ah, não, vou lá acordar aquela safada. Não tenho culpa se ela passou
a noite toda com alguém. Quero saber das fofocas. MADÁAAAAAAAA.
― Minha irmã gritou, bateu na porta do quarto e, meia hora depois, Madá
apareceu na sala, enrolada na coberta, e sentou-se no tapete em frente a nós.
Miguel fez um chocolate quente divino. Pedi a Madá que trocasse de
lugar comigo. Ela se levantou e deitou com a cabeça no colo de Miguel e as
pernas no colo de Bea.
Contei tudo o que aconteceu durante a semana e, principalmente, ontem
à noite. Eles ficaram chocados com o pedido de Matteo para eu confiar nele
e com a revelação que ele fez para mim, sobre saber o que tinha acontecido
comigo. Eu também fiquei muito mexida. Por um breve instante, quase me
abri para ele, pois me senti segura em seus braços.
― E o que você está sentindo? Sentiu necessidade de se abrir para ele?
― Miguel perguntou sério.
― Sinceramente? Quase me abri. Eu me senti segura em seus braços,
mas não posso me iludir novamente. O cara é um bilionário lindo, gostoso,
pode ter qualquer mulher que quiser. Você acha que terei alguma
importância para ele? Serei apenas mais uma em sua cama. ― Disse,
olhando fixamente para a parede.
― Lá vem você começar com essa baixa autoestima. Você não se olha
no espelho? Louco é o cara que não te quiser. ― Minha irmã falou brava
comigo.
Não posso negar que me sinto inferior, me diminuí tanto para caber na
vida de Carlos por tantos anos, que agora me sinto um nada.
― Você é a garota mais linda que eu conheço. O cara que enxergar isso
será o cara mais sortudo do mundo. ― Miguel disse, acariciando os cabelos
de Madá.
― Ele me abraçou tão forte que senti os batimentos do coração dele,
acredita? E ele cheira tão bem, mas não posso me iludir. Sou funcionária e
ele é o patrão. Carlos está se aproximando, e se ele realmente contratou um
detetive? Vai descobrir rapidamente que estou aqui. ― Estava com tanto
medo, não só por mim, mas também por eles.
― Ele disse que te ajudaria se você contasse, não foi? Quem sabe ele
possa realmente ajudar? O cara é bilionário e tem contatos. Ele coloca
aquele idiota no chinelo. Espere um pouco mais. Se você confiar nele, quem
sabe ele possa te ajudar? ― Madá, que estava calada até agora, disse de
uma vez com a voz sonolenta.
― Também acho. Um cara com dinheiro pode comprar o que quiser, mas
um cara influente conquista o mundo. ― Miguel levantou-se. ― Meninas,
tenho que ir adiantar algumas coisas para hoje à noite. Acho que teremos
lotação máxima. O DJ é muito bom. Vou indo e vocês se preparem, pois já
reservei a mesa de vocês perto dele.
― O que acham de fazer uma limpeza de pele, hidratar o cabelo? Dia de
meninas? ― Minha irmã perguntou, me animando.
― Dia de meninas! ― Gritamos, juntando nossas mãos.
Madá até despertou e vamos obrigar ela a contar detalhes sórdidos da
noite dela com o misterioso.
O dia passou voando. Além de cuidar de nós, bebemos vinho e
arrumamos a casa. Conversar com as meninas era fácil e tranquilo. Ligamos
para Sofia e Marta, que contaram que depois do surto de ameaças de Carlos,
ele sumiu e não procurou mais Sofia. Marta também contou que o entra e
sai de mulheres duvidosas no apartamento dele só aumenta.
Deixei esses pensamentos ruins de lado e minha mente me levou para a
mansão, senti saudade das crianças e dos rapazes também. Eles são umas
figuras. Contar para eles que Miguel era gay foi um impulso. Não sei por
que, mas não queria que Matteo pensasse que tenho alguém, estranho, né?
Mais tarde, arrumamos nossos cabelos. O meu estava liso na raiz e
ondulado nas pontas, com volume. Estava lindo, parecendo cabelo de
comercial de shampoo. Peguei um vestido emprestado da minha irmã, que
era preto, com um decote acentuado no peito e saia curta. As sandálias de
salto fino tinham tiras na frente e o bico fino lembrava um scarpin. Nas
pontas das tiras, nas pernas, tinha uma pequena pluma. Completei com
acessórios e uma bolsa de lado, além de um casaco elegante. Sentia-me
como uma celebridade.
Fomos de táxi até o restaurante. Minha irmã não queria dirigir, porque
queria beber. Chegamos na porta do restaurante e entramos. As meninas
também estavam lindas. Minha irmã usava um vestido vermelho, e Madá
estava maravilhosa com uma calça de cintura alta bem justa e um top de
couro tomara que caia.
Já na entrada, percebemos como a área do pub estava lotada.
Cumprimentei os funcionários que já conhecia, enquanto as meninas me
puxavam de mãos dadas para passarmos entre as pessoas. Havia muita
gente em pé e sentada. Foi quando encontramos Miguel, ele nos abraçou e
nos levou até a nossa mesa, que ficava ao lado da mesa do DJ, que, aliás,
era um gato. Minha irmã não tirava os olhos dele, uma safada mesmo.
Sentamos e pedimos nossas bebidas. Madá optou pela vodca, minha irmã
preferiu o vinho e eu decidi tomar um gin com especiarias. Queria dançar,
beber e curtir a noite com meus amigos.
Miguel disse que ia pedir comida para nós. Eu, é claro, pedi um risoto
com filé mignon, especialidade dele. Enquanto esperávamos nossa comida,
bebíamos nossas bebidas ao som da música. Hoje não era apenas música
ambiente, o som estava alto e contagiando as pessoas que dançavam.
― Vou ali buscar uma coisa para animar a noite. ― Minha irmã se
levantou e seguiu em direção ao balcão, atraindo olhares dos homens do
bar. Eu e Madá sorrimos.
― O que aquela doida vai fazer? ― Madá perguntou. ― Ah, ela está
com tequila na mão! A noite vai ser boa! ― Disse animada, levantando os
braços.
― Com certeza! Eu adoro essa música, vamos nos levantar! ― Disse
para Madá, que já estava se levantando. Ficamos em volta da nossa mesa
dançando. Bea chegou com as tequilas e Miguel a seguia. Fizemos um
brinde os quatro, com os braços para cima e os mini copos juntos.
― Ao primeiro de muitas noites incríveis que Gaby vai ter, ao
recomeço! ― Bea disse alto, e nós repetimos.
― Ao recomeço! ― Viramos de uma vez o líquido transparente. Eu
estava tão feliz, a música nos contagiava ao som de Ocean Drive do Duke
Dumont e eu adorava essa música. As batidas acompanhavam as do meu
coração, e começamos a dançar.
Miguel me abraçou por trás e fazíamos passinhos no ritmo da música,
com as meninas ao nosso redor. Foi tão mágico! Todos olhavam para nós e
se animavam para dançar também. Com minha taça nas mãos, bebi mais do
meu gin. Minha irmã e Bea sumiram do meu campo de visão, eu e Miguel
dançando um de frente para o outro. Aliás, como Miguel dançava bem!

― Que caralhos aconteceu aqui? Porra! ― gritei em um fôlego só.


Luigi e Giovanni olhavam ao redor, não havia sobreviventes. O
restaurante da família estava em caos, tudo revirado, corpos espalhados
pelo chão e sangue por todos os lados. Esse lugar servia como ponto de
encontro para negócios entre os associados e os chefes das famílias que
vinham de fora. Era um lugar neutro, mas todos sabiam que tinham a minha
proteção. Um ataque assim não podia acontecer na minha cidade.
― Nenhum chefe importante foi morto. Quem fez isso sabia quem
estava aqui e quando saiu. Isso foi um aviso. Apenas soldados e
funcionários foram atacados. ― Luigi apontou o óbvio, passando por cima
dos corpos no chão.
― Vamos descobrir quem foi o mandante. Dê apoio às famílias dos
soldados que morreram no trabalho. Vamos para o escritório da boate.
Chame toda a nossa inteligência e os hackers. Quero isso para ontem!
Vamos antes que a polícia apareça. ― Eles estavam na minha folha de
pagamento, mas os curiosos não precisavam me ver aqui.
Seguimos para a boate, eu estava uma pilha de nervos. Entrei no meu
escritório, seguido de Luigi e Giovanni. Fui até o bar, peguei um copo de
uísque e tomei de uma só vez, repetindo o processo mais duas vezes. Na
terceira dose, levei o copo cheio até a mesa e me sentei. Olhei para os dois
na minha frente, quando ouvi uma batida na porta.
Meu melhor hacker entrou no escritório, pediu mais tempo para
descobrir o traidor e disse que estava próximo de descobrir. Segundo ele, o
ataque no restaurante foi obra dos russos, mas ele estava rastreando ligações
com a Itália.
Eu já estava tenso com a situação, tentei me acalmar enquanto os rapazes
faziam suas ligações. Decidi que era hora de fazer uma ligação importante,
garantir um aliado forte.
― Matteo, a que devo a honra? ― Romeo atendeu com um tom
entediado na voz.
― Quero garantir uma aliança. Uma guerra está prestes a começar, e eu
preciso de você e dos seus homens. ― Falei, engolindo o orgulho. Não seria
possível enfrentar os russos e mais um inimigo cuja força ainda não
conheço dentro da Itália, eu preciso estar um passo à frente.
― E por que eu te ajudaria? O preço da minha lealdade é alto, você sabe
disso. ― E como eu sabia. Não era à toa que ele era tão temido.
― Pode dizer o seu valor! ― Dinheiro para mim não era problema.
― Não preciso do seu dinheiro, tenho bastante, mas vou pensar em algo
que eu queira e você me dará. Vou levar em consideração o nosso tempo de
amizade. ― Ele disse com desdém. ― Você tem a minha lealdade.
― Não vai perguntar contra quem? ― Perguntei curioso e receoso. Seu
pagamento não seria barato.
― Não me importa. Se você precisa destruir, é porque é o certo. E não é
como se eu tivesse medo de alguém. ― O cara era destemido.
― Ok, vou enviar informações em breve.
― Estarei aí em Portugal semana que vem, para a nossa reunião sobre a
nova mercadoria. Conversamos melhor pessoalmente. ― Disse ele,
desligando, e eu pude respirar aliviado.
Já estava tarde e nem vi o tempo passar. Minha cabeça estava
estourando. Precisava de um banho e descanso. Ficar com as crianças não
era o ideal, mas como ainda não era noite, poderia ficar com eles por um
tempo. Chamei os rapazes para irmos, e eles me acompanharam até em
casa.
Chegando na mansão, um silêncio pairava no ar. Margô desceu as
escadas assim que fechei a porta. Desde a chegada de Gabriela, estava
acostumando a ter crianças animadas e alegres pela casa, e estranhei não as
ver por aqui.
― Aconteceu alguma coisa, Margô? ― Perguntei preocupado. ― Cadê
as crianças?
― Estão no quarto, senhor. Após o café da manhã, começaram a oscilar
com febre. Dei remédio, banho, mas nada passa. Chamei o médico da
família e ele já deve estar chegando. ― Margô disse apreensiva, e subimos
as escadas correndo.
Abri a porta e encontrei as camas juntas, com os meus dois pequeninos
debaixo das cobertas, bochechas vermelhas e suando bastante.
― Meus filhos, o que vocês estão sentindo? ― Perguntei na esperança
de conseguir resolver.
― Dói, papa, dói tudo. ― Dante reclamou choroso.
― Quero a tia Gaby. ― Nina pediu tremendo de frio.
― O tio Luigi não serve? ― Luigi se sentou ao lado da cama e a puxou
para o seu colo, deitada como um bebê. Giovanni se sentou na ponta da
cama, e eu peguei Dante da mesma forma, no meu colo. Ele tremia e
chorava.
― Não serve, tio. Só a Gaby sabe dar beijinho de amor. ― Luigi não
respondeu, só a abraçou mais forte.
― Tia Margô deu beijo de amor, mas não resolveu nada, papai. Só o da
tia Gaby que resolve. ― Dante falou triste. ― Ela foi embora, né, papai?
Ela não vai voltar mais! ― Meu coração apertou.
― Vai sim, pirralhos. Ela só foi descansar. Hoje é a folga dela, mas
segunda-feira ela estará de volta. ― Giovanni falou, tentando convencê-los.
― O médico chegou, senhor. ― Margô abriu a porta, e um senhor de
meia-idade entrou no quarto.
― Posso examinar esses anjinhos? Vamos descobrir o que eles têm? ―
O médico perguntou animado para as crianças.
Nós nos levantamos e ficamos no canto do quarto, aguardando. O
médico examinou os ouvidos, garganta, nariz e fez perguntas para Margô
sobre o dia delas e a alimentação. Após finalizar a consulta, e foi bem
franco.
― Senhor Rocatti, tudo indica que o que as crianças têm é uma crise de
febre emocional. É muito comum de acontecer nessa idade. Algum
acontecimento recente que possa ter desencadeado a crise? ― Ele quis
saber, sério.
― Eu imagino o que seja, mas vou conversar com elas. O que podemos
fazer? ― Já estava ansioso.
― Conversar com elas e medicar a febre intercaladamente. Tentem
descobrir a causa para solucionar o problema. Elas não podem ficar com
uma febre tão alta. Já medicamos, por enquanto é isso, me avisem se a febre
não abaixar. Levaremos elas ao hospital. ― Falou, preocupando-me ainda
mais.
― Obrigado, doutor. ― Agradeci, me despedindo dele e seguindo para a
cama das crianças.
― O que está deixando vocês tão tristes, meus amores? ― Perguntei, já
sabendo a resposta.
― Papai, pede para a tia Gaby não ir embora? Pede para ela voltar? ―
Dante implorou chorando.
― Ela... prometeu... que... não ia... embora... e ela foi! ― Nina falou
soluçando.
― Ela não foi embora, só foi para casa ficar com a irmã dela. Ela
também sente saudades. ― Margô tentou, mas sem sucesso.
― Vamos ligar para ela. Vocês vão ver que ela está só descansando. ―
Giovanni disse, pegando o celular e colocando a ligação em viva voz.
Ligamos até cair na caixa postal. Duas vezes. Na terceira, a ligação foi
direto para a caixa postal.
― Viram? Ela foi embora, abandonou a gente. ― Dante falou chorando,
e a febre não baixava.
― Calma, o papai vai encontrar a tia Gaby. Ela deve estar na casa dela.
Se eu trouxer ela, vocês prometem que vão comer alguma coisa? ―
Perguntei, sabendo que sim. Eu iria atrás de Gaby e a traria, nem que fosse
só para as crianças a verem.
― Sim, mas você jura de dedinho? ― Nina perguntou sentando-se na
cama, com a ajuda de Luigi.
― Sim, juro, de dedinho. ― Falei já cruzando nossos dedos.
A pergunta era onde eu encontraria Gaby a essa hora. Já estava tarde,
então ela só poderia estar em casa. Beijei as crianças e chamei os rapazes
para irem comigo ao apartamento dela.
Entramos no carro, ligando para ela novamente, mas sempre caía na
caixa postal. Por um momento, pensei: será que as crianças estão certas? E
se ela não gostou do abraço de ontem? Achou invasivo e quer ir embora?
Será que estraguei tudo? Afastando esse pensamento, paramos em frente ao
seu endereço. Era um prédio antigo, mas muito bonito. Subimos até o
terceiro andar e batemos na porta, mas ninguém atendeu. Estava ficando
nervoso, e Luigi balançou o celular na minha direção.
― No Instagram do restaurante do Miguel, está anunciando que tem um
DJ muito badalado hoje. Ela pode estar lá ― Luigi disse animado. ―
Vamos, é aqui perto.
Seguimos para o restaurante, que não ficava muito longe dali. A porta
estava cheia de pessoas animadas bebendo, e a música ultrapassava as
paredes do local. Descemos do carro, com meus seguranças atrás de mim, e
Luigi e Giovanni ao meu lado. Ao adentrar o local, tive uma surpresa.
Havia uma área aberta com aquecedores, um bar enorme em um dos lados e
mesas espalhadas pelo ambiente. Uma moça de avental preto se aproximou
de mim.
― Os senhores querem uma mesa? Aqui embaixo está lotado, mas no
restaurante devo conseguir uma mesa para vocês. ― A moça ofereceu
prestativa.
― Não precisa, querida. Estamos procurando o Miguel. Ele está aqui?
― Luigi perguntou, divertido.
― Ah, sim. Ele está sim. Ele tirou a noite para ficar com as amigas. A
mesa deles é perto do DJ. Podem ir lá. Querem beber alguma coisa? Levo
para vocês. ― A moça falou, já se afastando.
― Sim, três uísques duplos, sem gelo, por favor. ― Pedi, já caminhando
em direção à mesa que ela indicou, atravessando o mar de pessoas.
Nada me preparou para a visão de Gabriela naquele vestido preto curto e
salto alto. Seu cabelo estava solto, batendo na cintura. Nunca a vi com o
cabelo solto antes. Ela tinha uma taça na mão e bebia com a irmã e uma
amiga, enquanto Miguel dançava atrás dela, abraçando sua cintura e
fazendo uns passos no ritmo da música. Mesmo sabendo que ele era gay,
não gostei de vê-los tão próximos.
Paramos mais distantes deles, tínhamos uma visão perfeita. Nosso uísque
foi entregue, a música era boa e o lugar aconchegante. No entanto, algo
ainda me incomodava com a bunda de Gabriela encaixada na cintura de
Miguel. Logo Giovanni percebeu meu nervosismo.
― Relaxa, o cara é gay, esqueceu? Vamos beber esse uísque e chamar
por ela. ― Eu não queria estragar a noite de Gabriela, mas meus filhos
precisavam dela.
Decidi assistir a ela dançar um pouco mais antes de me aproximar.
A irmã e a amiga saíram em direção ao DJ, deixando apenas os dois.
Miguel girou Gabriela, e isso me deixou um pouco mais aliviado. O que
está acontecendo comigo? Por que estou reagindo assim?
Foi quando uma música começou a tocar e Gabriela olhou para Miguel,
que em seguida a abraçou. As amigas chegaram e a abraçaram por trás,
começando uma gritaria. Elas pulavam em círculos e começaram a apontar
para Gabriela enquanto cantavam uma música internacional muito animada.

That's my girl
Essa é minha garota
You've been down before
Voce já esteve pra baixo antes
You' vê been hurt before
Você já esteve ferido antes
You got UP before
Você se levantou antes
That' s my girl
Essa é minha garota
That's my girl

Ela levantou um braço para o alto, e seus amigos ao redor começaram a


pular e dançar na batida da música. Todos pararam para admirar a alegria
contagiante delas. Miguel dançava ao redor de Gabriela, e eu não conseguia
desviar os olhos de sua cintura se movendo. A emoção delas era palpável, e
aquela música tinha um significado especial para Gabriela, algo que todos
perceberam.
Foi bonito de ver. A música acabou, e elas se abraçaram, ficando assim
por um tempo, trocando palavras ao ouvido uma da outra. A relação entre
os quatro era realmente especial.
Miguel saiu, deixando as três amigas sozinhas. Elas continuaram
animadas, dançando uma música latina. Eu não estava preparado para ver
Gabriela dançando de forma tão provocante, mexendo a bunda até o chão
no ritmo das batidas do grave que tocava alto, então um pensamento
inadequado passou pela minha mente, mas fui despertado quando percebi
que outros homens também a olhavam com desejos lascivos.
― Limpa aqui. ― Giovanni falou, apontando para o canto da boca para
me indicar que eu estava babando por ela, assim como todos os outros
homens do local. Respondi com raiva, mandando-o se ferrar.
Foi quando um cara chegou por trás de Gabriela, segurando sua cintura e
puxando-a com força, e eu não consegui resistir e me aproximei
rapidamente e com passos pesados até o grupo de amigas.
Gabriela se virou e pediu para o cara se afastar, mas ele segurou o braço
dela e tentou puxá-la de volta. A irmã dela interveio – sei que é a irmã, pois
pesquisei tudo sobre sua vida -, colocando-se entre os dois. Gabriela estava
nervosa e tremendo, claramente abalada.
Antes que eu pudesse reagir, a outra moça do grupo deu um soco certeiro
no rosto dele, fazendo-o cair no chão. Ele se levantou, e foi aí que eu me
intrometi, ficando na frente dele, segurando-o pelo pescoço enquanto todos
nos encaravam, esperando minha reação.
― Estou apaixonado! ― Giovanni falou do nada olhando para moça que
socou o infeliz que está na minha frente, mas ela o respondeu mostrando o
dedo do meio.
― O que... Você... Está fazendo aqui? ― Grabriela perguntou,
gaguejando de nervoso, e sua irmã a abraçou de lado.
Miguel chegou no meio da confusão, perguntando o que tinha
acontecido. Virei para o cara que me encarava com ódio e dei um aviso em
um tom que só ele pudesse ouvir.
― Vou cortar a mão que segurou o braço dela, arrancar o seu pênis que
se animou ao vê-la dançar e, por último, vou estourar seus miolos por
imaginar possuí-la. ― Ele me encarou, pedindo desculpas.
Miguel já havia chamado os seguranças do restaurante e me pediu para
entregá-lo a eles. Eu queria brincar com ele, mas Luigi tocou meu ombro,
lembrando-me de que havia muitas pessoas ali. Contra minha vontade,
entreguei o desgraçado.
― Leva esse idiota daqui! Não quero você no meu estabelecimento
nunca mais! Desapareça! ― Miguel ordenou nervoso, voltando-se para
Gabriela e a abraçando, enquanto perguntava se ela estava bem.
Gabriela estava em choque e não tirava os olhos de mim.
― O que vocês estão fazendo aqui? ― Perguntou novamente, dessa vez
mais calma. Respirei fundo, afastando a névoa de raiva que me envolvia, e
me virei para ela.
― Boa noite, meninas. Boa noite, Miguel. ― Cumprimentei todos.
Miguel acenou com a cabeça, e as meninas me olhavam com
desconfiança.
― Vim procurar por você pois as crianças não estão bem, eu não queria
estragar sua noite. Fui até sua casa, mas você não estava lá. Então, Luigi
descobriu o restaurante e viemos na esperança de encontrá-la. ― Falei de
uma vez.
― O que há com as crianças? ― Gabriela perguntou, com as mãos na
boca e os olhos arregalados. Todos nos observavam.
― Podemos conversar em um lugar mais tranquilo? ― Perguntei, na
esperança de convencê-la a ir para a mansão.
― Não, vamos ver as crianças imediatamente. ― Gabriela respondeu,
me surpreendendo.
― Irmã, você está bem? De verdade? ― A irmã quis saber.
As duas se olharam por um momento, conversando apenas pelo olhar.
― Estou sim. Foi apenas um susto. As crianças precisam de mim. Vocês
não se importam se eu for? Podemos dançar outro dia. ― Gabriela
perguntou, receosa.
― Claro que não, irmã, e você nem comeu o seu risoto, bom que vou
comer por você. ― Ela brincou com a irmã.
― Não se preocupe com isso, Gaby. Amanhã faço um só para você, e ela
não vai comer. ― Miguel interveio, divertido, abraçando Gabriela.
― Vocês são incríveis. E Madá, sua mão está bem? ― Gabriela
perguntou, virando-se para a outra moça - provavelmente seja esse o
apelido de Madalena - e segurou sua mão para avaliar os danos.
― Está sim. A cara daquele idiota levou a pior. ― Madá respondeu com
uma expressão de raiva.
Ela era bonita e tinha uma atitude marrenta, Giovanni não tirava os olhos
dela.
― Você nunca muda, né? ― Gabriela falou rindo. ― Obrigada por me
defender. Amo vocês. ― Se despediu dos três com um abraço.
― Vamos então? ― Luigi perguntou, olhando ao redor.
As pessoas já estavam voltando sua atenção para a música novamente.
― Vamos. Amanhã irei em casa buscar minhas coisas, ok? ― Gabriela
avisou para a irmã.
― Tá bom, vou deixar tudo arrumado para você ― A irmã respondeu,
despedindo-se.
― Obrigada. Amo vocês!
― Vai lá. Amo você ainda mais!
Saímos em direção ao carro, e enquanto saíamos, todos os olhares se
voltavam para nós, mais especificamente para Gabriela, que estava
maravilhosa.
Abri a porta do carro para ela, que entrou primeiro. Em seguida, dei a
volta e entrei. Giovanni e Luigi foram em outro carro. O motorista deu
partida, e então Gabriela quebrou o silêncio.
― Obrigada por me defender hoje. ― Ela falou, timidamente.
― Odeio homens babacas, e não precisa agradecer, só fiz o mínimo. ―
Respondi.
― O que as crianças têm? Estou preocupada. ― Ela mudou de assunto
rapidamente.
― O médico disse que é febre emocional. Eles acham que você foi
embora. ― Falei, com o coração apertado.
― Meu Deus, coitadinhos. Eu deveria ter me despedido deles. A culpa
foi minha. ― Gabriela disse, se culpando.
― Não foi não. Eles que imaginaram isso, não foi culpa sua. Vamos
conversar com eles e explicar que você tem folga e precisa descansar nos
fins de semana. ― Tentei confortar seu coração. Ela tinha uma expressão
culpada no rosto.
― Sim, vamos.
― Desculpe por atrapalhar a sua noite. Eu não queria te tirar de lá, mas
não há outra forma. A febre não abaixa. ― Me desculpei.
― Eu sairia de qualquer lugar para ajudar as crianças. Não precisa se
desculpar. ― Ela disse sinceramente.
Eu concordei com a cabeça. Precisava parar de olhar para ela. Estava
ainda mais bonita de tão perto, e seu perfume enchia o interior do carro. Ela
virou para a janela e ficou admirando a paisagem lá fora. E eu finalmente
respirei aliviado por saber que meus filhos ficariam bem.
Chegamos na mansão e eu corri para o quarto das crianças. Meu salto
fazia barulho nos degraus enquanto subia. Abri a porta e lá estavam os dois
deitados, abraçados, e Margô ao lado da cama.
― Minha menina, que bom que você veio. A febre não abaixa ― disse
Margô, preocupada.
Eles estavam com os olhos fechados, dormindo, mas queimando de
febre.
― Tadinhos, Margô ― falei, triste. ― Vou acordá-los. ― Tirei os saltos,
e as tiras se embolaram, quase me fazendo cair para trás.
O senhor Matteo me observava com um olhar engraçado. Subi na cama e
me deitei atrás de Dante, abraçando sua cintura e de Nina ao mesmo tempo,
então sussurrei em seus ouvidos:
― Boa noite, príncipe. boa noite, princesa. ― Eles abriram os olhos
devagar, procurando a minha voz.
Meu coração se partiu em mil pedaços ao ver a expressão de Dante e
Nina ao me verem. Mesmo com febre, eles se viraram e pularam em cima
de mim.
― Calma, agora eu estou aqui. Vocês estão dodóis? ― Perguntei,
afastando seus rostos do meu pescoço para poder vê-los melhor. ― Contem
para tia Gaby o que está acontecendo.
― Você foi embora, nos abandonou ― disse Nina, com tristeza.
― Tio Giovanni ligou para você, e você não atendeu ― só agora lembrei
do meu celular, que estava dentro da bolsa.
― Eu não abandonei vocês, nunca faria isso. Só fui para casa. Precisava
ver a minha irmã. Ela também sentiu falta de mim. Hoje era minha folga, eu
voltaria segunda-feira ― tentei explicar.
― Você não atendeu a ligação ― abracei-os com mais força.
― O celular estava na bolsa, e eu estava em um lugar com muito
barulho, então não ouvi tocar. Vocês me desculpam? ― Perguntei, e eles
confirmaram com a cabeça. ― Eu prometo que, a partir de hoje, vou estar
sempre com o celular por perto e vou atender. Se não conseguir na hora, eu
retorno sempre que der, pode ser?
― Jura de dedinho? ― Nina perguntou.

― Juro de dedinho. ― Cruzamos os dedos.


Nos deitamos na cama novamente, e eu cobri minha perna que só agora
percebi que estava para fora. Margô me olhava com felicidade, e o senhor
Matteo apenas observava de longe.
Depois de um tempo, resolvemos dar um banho neles. A febre já estava
abaixando. Margô desceu e preparou uma sopa. Eu consegui dar na boca
deles, e eles comeram bem antes de deitarem novamente. Já era tarde
quando a febre cessou, Margô disse para eu descer, comer alguma coisa e
dormir. Ela ia dormir com as crianças e eu precisava trocar de roupa
mesmo. O senhor Matteo havia saído do quarto quando a febre já estava
controlada. Deveria estar em seu escritório.
Desci para a cozinha, ainda me sentindo alegre pelas tequilas que tinha
tomado. Não estava com fome, então fui para o quarto e fechei a porta,
encostando a cabeça nela.
Matteo estava realmente deslumbrante naquele terno hoje. Ele se
controlou para não bater no cara, e eu pude ver a força que ele teve que
fazer para conter sua raiva. Ele me defendeu. Quando presenciei aquela
cena, fiquei assustada com o que aconteceu, mas logo em seguida, senti
uma atração irresistível por aquele homem e admito que senti vontade de
me entregar a ele sem pensar duas vezes.
Será que eu conseguiria confiar em um homem novamente? A ponto de
me abrir completamente para ele?
A maneira como ele me olhava, eu sabia que ele também sentia algo.
Enquanto eu não descubro se vou ter coragem de me entregar, posso usar e
abusar de Alfredo.
Me virei, encarando a mesa de cabeceira.
Seria errado pensar nele? Ninguém vai saber, não é?
Caminhei até a minha cama, de costas para a janela. Abri a gaveta e
olhei para Alfredo ali, solitário. Para o inferno com tudo, peguei-o e me
deitei na cama.
Lembrei-me dos olhos de Matteo, do seu cheiro, de como ele andava
com altivez, como se fosse o dono do mundo. Levantei meu vestido até a
cintura, liguei Alfredo e o passei por cima da minha calcinha, que já estava
encharcada.
Dei um beijo nas minhas crianças, que como mágica já estavam quase
sem febre. Deixei Margô e Gabriela no quarto com eles e desci as escadas,
precisava de uma bebida. Ver Gabriela tirando as sandálias e se deitando na
cama com eles, suas pernas de fora, quase mostrando sua calcinha, foi
demais para mim. Não podia mais ficar naquele quarto.
Fui para o escritório e fui direto para o bar, servi uma dose e a virei de
uma única vez. Não consigo tirar Gabriela da minha cabeça, ela é uma
tentação, e estou tentado a me perder naquele corpo. Não posso misturar as
coisas, mas também não posso ficar desse jeito.
Preciso sentir o cheiro dela novamente, aquela mistura de doce e flores
que quase não sentia mais em mim, pois seu cheiro havia impregnado em
mim quando ela estava tão perto dentro do carro. Por impulso, me vi saindo
do escritório em direção ao seu quarto. Precisava do seu cheiro.
Entrei e estava tudo arrumado como sempre. Ela era muito organizada e
cuidadosa. Passei a mão na sua cama. Merda, estou parecendo um stalker
obcecado. Preciso sair logo daqui, então fui até o seu guarda-roupa, preciso
achar o seu perfume para dormir com o seu cheiro. Deve estar lá. Porém,
um barulho na cozinha chamou a minha atenção. Não posso acreditar, será
que é ela?
A maçaneta da porta virou. Não vi uma alternativa além de me esconder
em um vão entre o guarda-roupa e a parede, ao lado da janela que ficava de
frente para a sua cama e a cortina me cobria.
Agora só preciso esperar até ela dormir para poder sair daqui. Que
absurdo, o subchefe da máfia italiana escondido de uma garota. Se ela me
visse, ia achar que sou um psicopata.
Ela entrou e ficou de costas com a cabeça na porta por um tempo.
Depois, andou até a cama e ficou olhando para a mesa de cabeceira,
pensativa, abriu a gaveta e pegou algo, deitou na cama e achei que iria
dormir. Já estava aliviado.
Então, ouvi um barulho de algo vibrando. Pensei que fosse o meu
celular, mas lembrei que o deixei no escritório. Para a minha total agonia,
olhando pela cortina transparente, vi que ela estava com a saia do vestido
embolada na cintura e estava usando um vibrador em sua própria
intimidade, que eu já imaginava estar molhada. Não posso acreditar que
estou presenciando isso.
Gabriela levou uma mão ao seio e apertou o mamilo por cima do vestido,
o vibrador escorregava de cima para baixo, por cima da calcinha, minha
visão não era perfeita, mas conseguia ver o suficiente.
O primeiro gemido foi baixo e tímido. Comecei a imaginar como seria
os gritos dela embaixo de mim, e já estava duro como uma rocha. Grabriela
afastou a calcinha para o lado e usou a sua lubrificação para molhar o
vibrador, para então o penetrar até o fundo de sua boceta melada.
Ela arqueou as costas na cama e gemeu mais alto, e eu perdi totalmente o
controle quando a ouvi dizer baixinho: "Matteo". Porra! Ela estava se
tocando pensando em mim? Por Deus, essa mulher tem que ser minha.
Me controlei para não sair do meu esconderijo e cair de boca naquela
boceta toda exposta, para enfim sentir o seu gosto, mas não queria assustá-
la, então me contentei em ficar só observando.
Gabriela gemia enquanto tirava e colocava o vibrador em movimentos
certeiros, até que houve uma pausa, e ela abaixou a parte de cima do seu
vestido, me dando a visão dos seus belos seios pequenos e redondos. Ela
apertava o seio com uma mão e com a outra esfregava o vidrador pelo seu
clitóris, gemendo descontroladamente.
Não resistindo a tamanha tentação, e com muito cuidado para não fazer
barulho, tirei meu pau para fora e comecei a massagear todo o meu
cumprimento de cima para baixo, com um puta de um tesão que tomava o
meu corpo por inteiro, aumentei o ritmo quando vi que ela arqueava mais as
costas, enquanto seu vibrador trabalhava a todo vapor.
Minha mão seguia o mesmo ritmo da sua, pude sentir que ela estava
chegando ao seu ápice quando tirou a mão que estava apertando seu bico
entumecido, enfiou o vibrador em sua boceta com tudo e com a outra mão
começou a esfregar o seu clitóris de um lado para outro.
Eu me masturbava forte e firme, quando ela mais uma vez gritou o meu
nome e nós gozamos juntos – mas só eu sabia desse fato, é claro -, e eu
queria gemer o seu nome, mas me contive.
Ela tremia e se contorcia na cama, era sem dúvidas a cena mais linda que
já vi em toda a minha vida.
Após observá-la, meu olhar se voltou para a bagunça que eu havia feito
em minha calça e na minha mão, então coloquei meu pau para dentro sem
me importar com a sujeira, e, ofegante, fiquei ali, observando-a, enquanto
recuperava o fôlego. Gabriela desligou o vibrador, ajeitou a sua calcinha,
tirou seu vestido e o jogou no chão, e só de calcinha virou para o lado,
puxando o edredom e se enfiando de baixo dele. Não demorou muito até
que ela dormisse um sono pesado e profundo. Poderia ficar aqui a noite
toda a admirando, mas precisava de um banho, então saí devagar, fechei a
porta e segui para o meu quarto.
Acordei sentindo vergonha pelo que aconteceu na noite passada, não
pelo prazer que senti, mas por pensar no meu chefe para isso.
Levantei, tomei um banho e fui verificar as crianças, que ainda estavam
dormindo. Desci para fazer café e encontrei Matteo na cozinha, preparando
café e ovos.
― Bom dia ― ele falou com uma expressão relaxada. ― Parece que
você dormiu bem.
―Bom dia ― respondi, apenas.
― Café? Não sei fazer waffles, mas fiz ovos para você ― Ele informou,
oferecendo-me uma xícara de café e colocando os ovos em um prato para
mim.
― Não sei se o senhor sabe, mas eu deveria estar fazendo isso, não o
contrário ― comentei.
― Hoje você não é minha funcionária, hoje é supostamente seu dia de
folga, e é uma forma de agradecimento. Você faz nosso café todos os dias,
por que eu não posso retribuir? ― Ele respondeu.
― Sim, seria... Aliás, vou embora daqui a pouco. Só vou esperar as
crianças acordarem. Não vou cometer o mesmo erro de ontem ― falei,
sentindo-me envergonhada diante dele.
― Nós já conversamos sobre isso ontem. Você não teve culpa, e você me
fez muito feliz ontem à noite ― ele falou, pegando minha mão que estava
sobre o balcão.
Senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo até a nuca.
― Obrigada pelo café ― murmurei, sentindo-me idiota por não
conseguir dizer mais nada. ― Vou apenas pegar minhas coisas e voltar mais
tarde, é melhor do que voltar amanhã ― tentei mudar de assunto para que
ele parasse de me encarar com esses intensos olhos negros.
Ele é tão bonito!
― Coma antes que esfrie, e não se preocupe, vou mandar o motorista te
buscar quando você quiser voltar ― Ele me informou, pegando uma xícara
de café e sentando-se ao meu lado. ― Aliás, você estava linda ontem ―
completou, e o silêncio tomou conta da cozinha.
Não consegui responder.
Após o café, subi, conversei com as crianças e expliquei sobre minhas
folgas. Fiz um calendário para que eles pudessem marcar os dias da semana
com azul e os sábados e domingos com rosa, para que entendessem os dias
de folga sem problemas.
Brinquei um pouco com eles e fui para casa, pois tinha levado minhas
roupas para lavar lá já que a mansão, não havia muitas coisas minhas.
Cheguei em casa e todos ainda estavam dormindo, o que indicava que a
noite tinha sido boa. Aproveitei para ligar para Sofia.
― Estou morrendo de saudades de você! Deve ser do tamanho de todo o
Brasil, sua malandra. Você deveria me ligar mais ― ela já atendeu
brincando comigo.
― Desculpa amiga, lá na mansão estava uma correria essa semana, mais
prometo que ligarei mais, como estão as coisas por aí? Aliás a minha
saudade também é do tamanho do Brasil.
― Amiga, não quero te assustar, mas teve um cara, parecia um detetive,
fazendo perguntas sobre você lá no campus essa semana ― disse Sofia,
preocupada.
Eu já comecei a me apavorar pois no fundo, sabia que esse dia chegaria.
― Ele te perguntou algo?
― Não, ele sabe que eu não falaria nada, mas nem a tia Tereza da
cantina escapou dos questionamentos dele, a essa altura, seu ex já deve
saber que você lavava pratos ― disse ela, rindo, e eu me permiti rir
também.
― Já esperava por isso, amiga. Meu medo é você e Marta. Me prometam
que vão ficar longe dele?
― Prometo. Agora me conta como você está lidando com essa mudança
em sua vida?
― Estou bem, estou feliz. Os gêmeos me fazem bem e eu até fiz
amizade com Luigi e Giovanni na mansão, e meu patrão é o "Hugostoso",
né amiga? Não tenho do que reclamar ― caímos na gargalhada.
― E o coração?
― Amiga, você acha que seria errado eu me envolver com alguém?
Tipo, você acha que é muito cedo? ― Isso martelava na minha cabeça.
Será que eu seria considerada uma safada por querer um homem?
― Claro que não, amiga. Você está seguindo a sua vida e não está morta,
não foi você quem errou, você foi uma vítima ― comecei a chorar, esse
assunto ainda me magoava muito ― Não chora, e me conta por que dessa
pergunta? As brincadeiras com o chefe gostoso pararam de ser apenas
brincadeira?
― Amiga, eu sinto tesão só de olhar para o cara, o cheiro dele, o toque,
tudo me atrai.
― Espera aí, o toque? Vocês se pegaram? Me conta!
― Não, mas ele me abraçou aquele dia do susto, e hoje fez café pra mim
e segurou minha mão. Eu sei que foi porque eu ajudei com as crianças
ontem, mas sei lá... não quero me iludir, sabe? Só por ser tratada bem.
― Você só vai saber se tentar, se experimentar. Não estou falando para
se jogar no cara, mas se permita, se rolar, beleza; se não, tudo bem também.
― Sim, vou me permitir, abrir minha mente.
Nós nos despedimos.
É sempre bom conversar com Sofia. Não posso negar que fiquei
apreensiva com a revelação sobre o detetive, mas também não posso me
render ao medo.
Acabei dormindo novamente e, ao acordar, chamei Madá para irmos ao
supermercado comprar coisas gostosas para o jantar. No entanto,
resolvemos esperar Bea para irmos ao restaurante do Miguel comer o meu
risoto que não comi ontem.
No caminho para o restaurante, contei o que aconteceu com os gêmeos e
elas ficaram tristes com a situação das crianças, também contei para elas
sobre Carlos ter mandado o detetive para o campus. Miguel ficou
apreensivo e minha irmã não gostou, mas decidimos esperar antes de tentar
agir.
Passamos o resto do domingo juntos, de noite voltei para mansão, que
estava silenciosa, e eu pude dormir tranquilamente.
Dormi como há muito tempo não dormia. Acordei relaxado e decidido a
deixar meus sentimentos por Gabriela virem à tona. Eu sei que não vai ser
fácil pois ela foi vítima de violência doméstica e não deve confiar tão
facilmente nas pessoas, mas eu vou tentar. Não é certo trazê-la para o meu
mundo, mas eu não sou uma pessoa que segue os padrões de certo e errado.
Eu a quero e, se ela me quiser, ela será minha.
Fiz um café de agradecimento para ela. Não é porque sou um mafioso
assassino que não sei ser gentil, vou fazer o possível para não ser um
babaca.
Após me despedir, segui para o escritório, onde Giovanni e Luigi já
estavam me aguardando.
― Apareceu a margarida e bem feliz pelo visto ― Giovanni sempre
engraçadinho.
― Bom dia para vocês também.
― Passou pela cama da Ana? ― Luigi perguntou curioso.
Um homem não pode estar de bom humor, porra?
― Não, não passei, mas não posso negar que tive momentos excelentes.
― O que nos leva a deduzir que uma certa brasileira tem dedo nisso?
Até porque você não saiu de casa, pelo que consta no relatório de segurança
de ontem à noite ― Giovanni disse com o tablet na mão.
― Pode parar de vigiar meus passos?
― Não posso, meu trabalho é esse: te vigiar e te manter em segurança ―
respondeu sério.
― Tudo bem, tem a ver com Gabriela, mas só isso que vou dizer. E
vamos ao trabalho ― nunca iria expor a intimidade dela assim, mesmo em
conversas com amigos. Ela não merece isso, e quero os seus gemidos
apenas na minha imaginação.
― Vamos lá então. Ao que tudo indica, ou o informante foi algum dos
russos que matamos e não disseram nada, ou o informante do traidor não
está conseguindo mais informações. As cargas estão chegando normalmente
nos destinos, sem extravio, sem roubo ― Luigi nos comunicou sério,
enquanto analisava tudo no celular.
― Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, porque não vamos conseguir
saber os próximos passos deles, e não saber sobre quem devo me preparar
está me deixando nervoso.
― Por que não nos contou que fez um acordo com o Romeo? ―
Giovanni perguntou apreensivo.
― Porque não preciso contar, e de qualquer maneira vocês iam
descobrir. Não é esse o seu trabalho? ― disse divertido, mas com seriedade.
― Você fazendo piada? A Gabriela conquistou não só as crianças, o pai
também ― afirmou Luigi, encostando-se na poltrona em que estava
sentado.
― Falando em Gabriela, tenho notícias. O Cara contratou um detetive,
que andou fazendo perguntas na antiga faculdade dela. Ele já sabe sobre a
sua vinda para Portugal. O detetive é meia-boca, mas era óbvio que até o
advogado descobriria se ele procurasse direito ― Giovanni me contou
pensativo.
― Ele pode vir atrás dela, fique atento às movimentações dele. E o pai?
― queria humilhá-los, deixá-los na miséria.
― Está envolvido com políticos corruptos, contrabando envolvendo a
milícia brasileira, e pasmem, ela faz parte do esquema de tráfico de
mulheres. A polícia federal ainda não sabe do último, mas vão saber se você
quiser. Até agora, a investigação é sigilosa ― Que ótimo, não vou ter muito
trabalho com o pai. Agora o filho, vai ser meu brinquedinho particular.
― Excelente. Quero todos os passos dele daqui em diante. Coloque um
segurança à paisana na cola da Gabriela também. Não quero surpresas
desagradáveis.
― Sobre o traidor, está dentro do conselho, é confirmado. As ligações e
mensagens dos celulares dos russos vêm de lá. Só não conseguimos um
nome ainda porque o celular que usam é sempre descartável ― Luigi falou.
Eu sabia quem era a sua suspeita.
― Comecem a espalhar que estamos com uma nova carga três vezes
maior, mas falem para as pessoas certas. Vamos atrair esse informante.
O dia seguiu entre liberação de cargas e negociações. Romeo iria chegar
em Portugal essa semana. Nossa reunião seria muito produtiva para mim e
para ele. O armamento alemão é o melhor do mercado, e vou fazer muito
dinheiro com ele.
Meu pai me ligou querendo uma reunião de última hora, urgente, em seu
território. Marquei com ele em sua casa. Não é como se eu pudesse dizer
não ao meu Don.
E usaria isso para investigar as coisas por lá. Estar no olho do furacão
nem sempre é ruim.
Mandei preparar meu jatinho para partir de madrugada e avisei Margô e
Gabriela sobre a viagem de última hora. Giovanni aumentou a segurança
das crianças e Luigi ia ficar em casa, enquanto Giovanni me acompanhava.
Não gostava de deixar a casa sem proteção interna.

Papa e Mamma estavam na porta da mansão onde passei minha infância


e adolescência, na Itália, aqui era o meu lugar preferido. Tenho boas
recordações desse lugar.
― Buongiorno Papa, Buongiorno Mamma.
― Figlio mio ― Mamma disse, me abraçando, e papa em seguida.
― Que bom que conseguiu vir. Temos muito a conversar. Não trouxe
meus netos? ― Meu pai perguntou, olhando atrás de mim. Não iria trazer as
crianças para um lugar onde tenho um alvo na minha cabeça, mas ele ainda
não sabe.
― Não, as crianças estão bem, e não vou demorar. Tenho muito trabalho
em Portugal.
― Fiquei sabendo que sua nova babá está dando conta do recado, mas se
intrometendo na educação das crianças. Como você pode permitir isso,
filho?
― Ela não se intrometeu, mãe. Ela mudou a rotina deles com minha
permissão, e sim, ela está dando conta do recado muito bem. ― Não gostei
do tom que minha mãe usou para falar de Gabriela.
― Que bom. Assim você pode focar em outras coisas, sem preocupação,
meu filho.
― Podemos ir direto ao assunto, pai? ― Disse, já andando em direção
ao seu escritório.
Dentro do escritório do meu pai, fui até o seu bar, que é semelhante ao
meu. Servi uma dose de uísque e me sentei à sua frente. Ele estava
apreensivo e nervoso. Isso não era um bom sinal.
― Como vão as coisas com os russos? ― Não podia dizer que ainda não
resolvi. Se havia um traidor, ele tinha que pensar que eu estava desatento às
suas movimentações.
― Tudo resolvido, pai. As coisas não poderiam estar melhores. O mal
foi cortado pela raiz. ― Menti por um bem maior.
― Muito bom, meu filho. Nunca duvidei da sua capacidade. Vamos ao
próximo assunto então. Não gosto de rodeios, e você sabe disso.
― O dia da minha aposentadoria vai chegar, e a minha cadeira é sua.
Você não pode estar solteiro, sabe disso. Apesar de não concordar, o
conselho me exigiu uma posição. Você tem que se casar ainda este ano.
Como todas as moças da máfia que sua mãe apresentou tiveram sua recusa,
já firmei um acordo. E queria pedir para você não fazer um alarde com a
minha decisão. ― Eu esperava por isso, mas não nesse momento, não
agora.
― E quem seria o tal acordo, pai?
― O acordo é comigo, sobrinho. A solução perfeita para ficarmos entre
família e unir nossos territórios. Não é incrível? Serei tio e sogro. ―
Roberto entrou no escritório falando como se fosse o dono do lugar. Eu
sabia que ele tinha se casado de novo após a morte da mãe de Luigi e a
nova esposa tinha uma filha, mas era uma criança. Nem me lembro do seu
rosto.
― Não era pra ser assim, Roberto. Eu não te pedi um tempo para
conversar com Matteo? ― Meu pai perguntou para ele.
― Se já firmamos o acordo, não vejo por que esperar, irmão. ― Disse,
sentando-se na poltrona ao meu lado.
― Não vou me casar com uma criança. Já tenho duas em casa para
cuidar. Vocês estão ficando malucos? ― Já estava no meu limite, e ver
Roberto tão íntimo, na casa dos meus pais, me lembrou do risco que eles
correm aqui.
― Agatha não é mais uma criança, meu filho. É uma linda jovem de 18
anos agora. ― Meu pai disse, tentando me convencer.
A última vez que vi Agatha foi em meu casamento. Ela deveria ter o
quê? Uns 13 anos? Tenho que pensar com calma, como sair disso.
― E além de linda, é inteligente. Vamos poder unir nossos territórios.
Será um excelente negócio. Eu esperava esse momento há muito tempo.
Alguma coisa devia valer me casar com uma mulher que já tinha uma filha.
― Disse, sem nenhum pingo de afeto pela enteada.
Com sua fala, ele iluminou minha mente. Vou usar esse noivado para
atrair e pegar esse traidor. Só sinto muito por Agatha. Se ela estiver junto
com ele, não vai se livrar também.
― Entendo sua intenção. E sobre unir territórios? A felicidade de Agatha
não importa? ― Sondei para saber como era a relação deles.
― Agatha foi criada para ser uma esposa da máfia. Investi muito
dinheiro nela. É hora do retorno, não acha? ― Esse escroto de merda. Até
para os padrões da máfia, esse cara se supera.
Resolvi entrar na sua conversa.
― Sim, acho. Ela é muito nova pra mim, mas podemos superar isso. Vai
ser realmente bom unir território. Aliás, Luigi vai adorar a notícia. Tudo em
família, não? ― Luigi ia querer, na verdade, acabar com essa palhaçada.
Ele não tem contato com a madrasta nem com sua filha. Aliás, ela se
casou com Roberto só por obrigação. Por isso, na maioria das vezes que
venho à Itália, Luigi fica para trás. A relação dele não é boa com o pai, esse
escroto. Luigi deve ter visto Agatha menos do que eu.
― Perfeito, então, meu filho. Vamos agilizar um noivado e já dar
andamento. ― Meu pai disse.
― Vamos fazer uma festa de noivado. Toda a máfia irá saber sobre essa
união.
― Não, Roberto. Traga Agatha hoje à noite para o jantar. Irei fazer o
pedido. Vou partir de madrugada para Portugal. Não tenho tempo para essas
coisas. A data irei comunicar a vocês. ― Queria agilizar isso e ter um
tempo para conversar com Agatha. Precisava descobrir se ela seria minha
aliada ou minha adversária.
― Se quer assim, tudo bem. O importante é o negócio ser fechado. ―
Roberto disse, e meu estômago embrulhou.
Quero esse homem amarrado em minhas correntes.
Matteo viajou de madrugada, e o café da manhã sem ele não é a
mesma coisa. Sua ausência foi sentida durante o dia, e as crianças ficaram
mais agitadas. Felizmente, Margô e Luigi me ajudaram. Brincamos de
pique-esconde com elas, e Luigi animou e entrou na piscina aquecida com
as crianças. Eu não tive coragem de encarar o frio, e a minha menstruação
resolveu aparecer e enquanto eles estavam lá, pedi ao senhor Paulo para me
levar à farmácia. Eu não ia pedir para ele comprar absorventes para mim,
né?
À tarde, fizemos pipoca e assistimos a um filme. Fiz uma chamada
de vídeo com as meninas, e as crianças adoraram. Dante conquistou o
coração do Miguel, que prometeu fazer um bolo de chocolate para eles. O
jantar correu bem, e Carmen está fazendo comidas normais agora. Só não
abandonou o hábito de servir pratos prontos na mesa para cada pessoa. Eu
prefiro a comida em estilo familiar, mas vai entender esse povo rico, né?
Coloquei as crianças na cama e desci para a sala.
Luigi estava sentado no sofá, vestindo calças de moletom e uma
camiseta branca, com duas taças de vinho nas mãos. Ele me ofereceu uma e
fiquei na dúvida se aceitava, afinal, eu estava trabalhando, né?
― Toma, vai. Faça-me companhia. Estou carente sem aquelas
insuportáveis por perto. ― Ele disse com aquela carinha do Gato de Botas,
sabe? Como resistir?
― Grazie. ― Respondi em italiano.
― Olha só, temos uma brasileira arriscando o italiano. E o seu sotaque
está ótimo. Parabéns.
― Estou me esforçando. Já entendo bastante coisa, mas quero manter
segredo. Vou fazer uma surpresa para as crianças.
― Quando temos força de vontade, fazemos de tudo.
― Sim, acho a família italiana tão parecida com a brasileira. Sempre
falando alto, todos ao mesmo tempo, com alegria. Gosto disso. Sempre quis
ter uma família grande. ― Eu disse com um certo pesar, sentando-me no
sofá ao seu lado.
― Você quase não fala da sua família, e já somos praticamente amigos,
não é?
― Não tenho muito o que falar. Só tenho minha irmã, Miguel e Madá.
Eles são a minha família, e pronto. ― Disse, bebendo o meu vinho,
cruzando as pernas em posição de borboleta e me recostando no sofá. ― E
você? Como é a sua família?
― Fui criado pelo meu tio e tia, pais de Matteo. Eu costumava fugir para
a casa deles quando não aguentava mais apanhar do meu pai. Eles cuidaram
de mim até eu poder me virar sozinho. Minha mãe morreu de um aneurisma
cerebral e tristeza. Às vezes, acho que foi melhor assim para ela se livrar do
meu pai. Minha família é formada pelos meus tios, Matteo, Giovanni,
Margô, que praticamente nos criou, as crianças, e pronto. ― Ele disse
sorrindo, mas havia sofrimento em seus olhos. Eu podia ver isso.
― Nossa, Luigi, sinto muito.
― Não se preocupe, as coisas acontecem por um motivo e eu me agarro
a isso. ― Fomos interrompidos pelo som de seu celular recebendo uma
mensagem, e ele olhou curioso.
― Olha só, tem uma entrega para você lá na guarita. Vou pedir para
trazerem aqui. ― Ele disse digitando.
“Quem poderia me enviar uma entrega? E aqui?” – pensei.
― Tem certeza? Eu não estou esperando nenhuma encomenda. ― A
campainha tocou e Luigi se levantou para abrir a porta. Eu fiquei olhando
para ele, e quando ele se virou, estava segurando um enorme buquê de rosas
vermelhas e vinha em minha direção.
― Temos alguém apaixonado aqui. ― Ele disse, me entregando o
buquê.
Eu ri nervosamente, peguei o buquê e havia um bilhete dentro de um
envelope pequeno. Abri o bilhete sob o olhar curioso de Luigi, e meu
mundo desabou sobre meus ombros. O ar faltou em meus pulmões, e
minhas mãos não eram capazes de segurar o peso do buquê. Eu joguei o
buquê no chão e li o bilhete que dizia:

"Estava linda hoje, meu amor.


PS: Mal posso esperar para colocar minhas mãos em
você e terminar
a nossa conversa."

Luigi percebeu meu nervosismo, pegou o bilhete da minha mão e leu.


Ele me fez sentar no sofá e me perguntou:
― Você está bem? Você está pálida. ― Eu balancei a cabeça,
confirmando... eu não sei o que estava confirmando, pois não estava bem.
Ele percebeu que eu estava assustada. “Ele me achou” Isso é tudo que
eu conseguia imaginar.
― Gaby, olhe para mim, respire fundo e solte o ar pela boca. ― Eu
estava nervosa e não conseguia respirar corretamente.
― Ninguém vai se aproximar de você, não precisa ter medo. Você não
está sozinha.
― Ele sabe onde eu trabalho e onde moro agora... Oh meu Deus, ele já
sabe que Sofia e Marta me ajudaram. Ele vai atrás delas. ― Eu disse em
desespero, nem lembrando que Luigi não fazia ideia do que eu estava
falando.
Levantei e comecei a andar de um lado para o outro.
― Gaby, me ouça, respire e se acalme, primeiro...
― Eu não sou capaz, eu não consigo. Eu não sei respirar. ― Eu disse já
ofegante.
O ar não chegava, ele não existia. Eu estava em pânico.
― Você é capaz sim, você é forte pra caramba. Você não veio parar aqui
à toa. Você teve ajuda sim, mas sem a sua força, ninguém conseguiria te
ajudar. ― Ele disse gritando, segurando meus braços e olhando nos meus
olhos.
O que ele está dizendo? Como ele sabia?
― Co... co... como você sabe? ― Eu não conseguia raciocinar.
― Sabemos algumas coisas, Gaby, não tudo. Mas se você quiser se abrir,
eu estou aqui, e principalmente Matteo. Ele quer te ajudar, só precisa que
você se abra e permita.
― Permitir. ― Eu repeti a palavra que Sofia também havia dito.
Espera aí, "sabemos"? No plural?
― Luigi, como assim sabem? O que vocês sabem? Como sabem? Por
quê? ― Minha cabeça estava explodindo com muitas informações de uma
vez só.
― Calma, Ragazza, vou explicar. Mas antes, sente-se aqui e beba água.
Não beba mais vinho.
Virei minha taça de uma vez, peguei a dele na mesa de centro e virei
também. Ele estava digitando algo no celular e olhando para mim. Eu só
queria sumir, não aguentava mais.
― Matteo está a caminho. A única coisa que vou te dizer é que
investigamos todas as pessoas que trabalham na casa. Não podemos
permitir que qualquer pessoa trabalhe aqui. E, por acaso, nos deparamos
com a história do seu ex. Só isso. Relaxe. ― Só consegui focar no fato de
que Matteo está vindo.
― Como assim? Matteo está vindo? Ele terminou a tal reunião mais
cedo?
― Não, ele abandonou a reunião. ― Puta merda, por mim? Não, ele não
faria isso por mim, faria?
― Agora vamos acabar com essa garrafa de vinho, e depois pegamos
mais uma. E eu não vou sair do seu lado. Relaxe, você não está sozinha.
Vamos esperar Matteo e Giovanni chegarem e veremos o que fazer. ―
Luigi se sentou ao meu lado, me abraçou e encheu nossas taças.
Agatha entrou na sala de estar da casa dos meus pais ao lado de Roberto
e sua mãe. Ela estava usando uma maquiagem um pouco carregada, talvez
um pouco exagerada, mas estava bonita com um vestido rodado até o joelho
e mangas 3/4. Parecia uma virgem sendo vendida para seu dono. O roteiro
perfeito na cabeça de Roberto. Se ele acha que me engana, finjo que
acredito sem problemas.
― Buona notte. ― Agatha disse timidamente.
― Buona notte. ― Respondi pegando sua mão direita e dando um beijo.
Minha mãe estava animada, quase pulando de alegria. Meu pai tinha um
semblante indecifrável. Giovanni não expressava, mas parecia querer
arrancar a cabeça de Roberto ali mesmo. Eu também queria, mas precisava
de provas.
― Sem delongas, queria conversar com minha futura noiva em
particular. Vamos ao escritório. ― Eu me virei para sair quando Roberto
disse:
― Não é de bom tom o noivo ficar com a noiva sozinho antes do
casamento, sobrinho meu. ― Roberto disse sério. Seria de bom tom cortar
sua garganta agora? ― E sem contar que ela ainda não tem um anel no
dedo.
― Estou pouco me importando com o que é de bom tom. E se você quer
um anel, aqui está. ― Peguei a mão de Agatha, que até então estava parada
no mesmo lugar com uma expressão impassível, e coloquei o anel em seu
dedo.
Mandei Giovanni comprar qualquer anel. Eu tinha o da minha Nonna,
mas aquele era especial. Eu pensava em dar apenas para Dante presentear
sua futura noiva, mas nas últimas semanas, comecei a mudar de ideia. E não
seria Agatha a receber o anel.
― Não é como se você fosse dizer não, né? ― Olhei para Roberto. Não
queria magoar Agatha nem ser rude, mas não podia demonstrar respeito ou
empatia, pois estava lidando com um suposto traidor. ― Agora, vamos,
noiva. ― Eu disse enquanto caminhava e ouvia o barulho dos saltos dela
atrás de mim. Fechei a porta assim que ela passou.
― Não acredito que você queira esse casamento tanto quanto eu. Então
vou ser direta, eu sei de algo que pode te favorecer. Você quer um acordo?
― Agatha disse, me surpreendendo. Fiquei de boca aberta.
― Bem, você me surpreendeu. Estou sem palavras.
― Só diga sim. Você é minha última esperança. ― Ela disse, agora com
a voz falhando um pouco. Não sou facilmente enganado, mas essa moça
não está mentindo.
― E qual seria o acordo? ― perguntei.
― Eu te ajudo a desmascarar o Roberto, e você me ajuda a seguir em
frente com minha mãe. Me dê asilo em Portugal e não permita que o
Conselho nem ninguém nos mate, a mim ou a minha mãe. Só quero
recomeçar. ― Agatha propôs.
― Você sabe que quem nasce na máfia morre na máfia, não posso
simplesmente tirá-la dela. ― Respondi.
― Não quero sair, eu gosto do nosso mundo. Só quero fazer a diferença,
ser alguém, trabalhar, terminar a faculdade. Não me importo se tiver que
casar, mas não agora, não assim. ― Ela explicou.
― E por que eu te ajudaria? Quem me garante que você tem algo que
possa me ajudar? ― Questionei.
― Para a sua primeira pergunta, isso. ― Agatha abriu sua bolsa e pegou
um pedaço de algodão, passando-o sob os olhos. Imediatamente, as
manchas roxas apareceram.
Aquele filho da mãe, ele vai sofrer tanto nas minhas mãos.
― Tenho mais evidências, mas isso não importa agora. E para a sua
segunda pergunta, eu já o ouvi conversando em russo várias vezes no
escritório, durante a madrugada. Ele tem alguém em Portugal com quem ele
troca informações sobre seus passos. ― concluiu.
― Você já ouviu algo comprometedor? ― Perguntei.
― Sim, não consegui entender o russo porque, naquele dia, ele quase me
pegou espionando. Mas ouvi o nome Gabriela, crianças e algo relacionado a
uma empresa de cargas em contêineres. ― Agatha relatou, sentada em uma
poltrona enquanto refazia a maquiagem do lugar onde havia retirado.
― Filho da mãe, então o informante está mais próximo do que eu
esperava. ― Exclamei.
― E então, temos um acordo? ― Agatha indagou.
― Temos. Você me passará todas as informações que ouvir. Eu lhe
fornecerei um celular indetectável e dispositivos de escuta para camuflar no
escritório. Não se preocupe, se algo acontecer, estarei ao seu lado para
ajudar. E ele pagará por todas as suas marcas. ― Respondi determinado.
― E as marcas da minha mãe, também? ― Agatha perguntou com
esperança.
― Ele pagará por tudo, minha cara. Ele pagará muito caro. Não se
preocupe. Vamos lá, temos um show para dar para esse canalha. ― Disse,
caminhando em direção à porta e abrindo-a para que ela passasse.
A brincadeira vai começar!
Chegamos à sala onde todos estavam bebendo, porém o clima estava
mais tenso.
― Tudo bem, minha filha? ― Sua mãe perguntou com carinho.
― Sim, mamma, tudo bem. ― Ela respondeu.
Seguimos para a sala de jantar quando meu celular vibrou. Era uma
mensagem de Luigi. Imediatamente abri.

"O desgraçado teve a coragem de enviar um buquê de flores para a Gaby,


dizendo que ela estava linda hoje. Ela foi à farmácia com o Paulo mais
cedo. Ele está se aproximando dela, e ela está em pânico aqui."

Puta merda, como esse infeliz entrou no meu país sem que eu soubesse?
Gabriela deve estar arrasada. Preciso estar com ela e acabar com esse
cretino de uma vez.
― Giovanni, prepare o jatinho. Vamos embora agora. ― Disse enquanto
digitava uma resposta para Luigi.

"Descubra como esse idiota entrou no meu território sem que soubéssemos
e acalme a Gabriela, por favor. Não saia do lado dela até eu chegar!"

― Aconteceu algo com as crianças, meu filho? Você não está com uma
expressão boa. ― Mamãe perguntou preocupada.
― Problemas, mamma. Vou resolver rapidamente, não se preocupe.
― Precisa de ajuda, meu filho? ― Meu pai perguntou solícito, enquanto
meu celular vibrou novamente.

"Não sei acalmar ninguém sem bebida. Vamos beber, e quando você chegar,
ela estará mais calma. Nunca sairia do lado dela, irmão. Somos família,
lembra?"

"Nós três contra o mundo."

Respondi a Luigi e voltei minha atenção para as pessoas na sala.


Giovanni já havia saído para providenciar minha partida.
― Não, pai, obrigado. Foi um prazer estar com vocês, mas algo muito
mais importante precisa de minha atenção no momento. ― Me despedi, e
não houve tempo para ninguém responder.
Saí em direção ao heliponto que me levaria ao jatinho. Preciso chegar até
Gabriela em duas horas e meia e ao chegar em Portugal, esse aperto no meu
coração cessará.
Dentro do meu jatinho, sentado na poltrona de couro com meu copo de
uísque na mão, pensava em todas as formas possíveis de torturar o
desgraçado que achou que tinha o direito de pisar no meu território e se
apossar do que nunca foi e nunca será dele.
― Desse jeito, você vai quebrar o copo em sua mão. ― Giovanni me
alertou, observando as pontas dos meus dedos brancas devido à força que
eu exercia sobre eles.
― Descubra como ele entrou na minha cidade, onde ele está. Vou
pessoalmente buscar esse filho da puta para uma rodada de brincadeiras.
― Claro, estarei com você. Como ela está? ― Giovanni quis saber.
― Mal. Luigi estava com ela quando recebeu as flores, pelo que entendi.
Não quero nem pensar em como ela está se sentindo. Isso me incomoda pra
caramba.
A viagem parecia não ter fim. Após duas horas e meia, que mais
pareciam 20, cheguei à porta de casa. Giovanni já havia solicitado
informações sobre qual soldado recebeu a encomenda, para descobrir quem
a entregou, além das imagens das câmeras. Vou pegar esse idiota mais
rápido do que ele imagina.
Entrei na sala e vi um buquê de rosas vermelhas caído no chão, atrás do
sofá. Havia também três garrafas de vinho vazias e uma taça derrubada na
mesa de centro. Gabriela estava deitada, sonolenta, com uma coberta sobre
as pernas. Luigi estava em pé, olhando pela janela e mexendo no celular.
Sou muito grato por ter meu primo sempre aqui quando preciso.
― Como ela está? ― Perguntei.
― Agora? Bêbada e dormindo. Amanhã a ressaca será das piores. Pelo
menos ela não teve outra crise. Coitadinha, mal conseguia respirar. O dano
que aquele cara fez foi pior do que eu imaginava. ― Luigi respondeu sério
e pensativo.
― Vou ficar com ela. Giovanni já está no encalço dele. Quero pegá-lo o
mais rápido possível. ― Disse, indo em direção a Gabriela.
― Vamos pegar esse desgraçado. Vou ajudar o Giovanni também.
― Luigi, amanhã precisamos conversar. Eu fiz algo que, hoje, assinou
nossa sentença.
― Eu já sei, irmão. Eu confio minha vida a você. Não se esqueça: "Nós
três contra o mundo". ― Ele disse e saiu, subindo as escadas.
Peguei Gabriela no colo e a levei para o meu quarto. Ela estava vestindo
calça de moletom, uma blusa do mesmo tecido e meias. Coloquei-a na
minha cama, puxei o edredom e a cobri. Não sairia de perto dela. Meu
corpo não permitiria. Antes de me afastar, ela disse, com a voz enrolada.
― Fica comigo? Por favor.
― Eu já estou aqui, pequena. Não vou a lugar algum.
― Promete? Eu prometo permitir...
― Eu prometo. E se você permitir, vou ficar para sempre.
Ela fechou os olhos e voltou a dormir.
Fui para o banheiro, pensando em suas palavras embriagadas, mas reais.
Vesti uma calça de moletom e uma camisa, deitei ao seu lado, não resistindo
ao seu cheiro, e a puxei para mim. Nos aconchegamos em conchinha, e ela
encaixou seu pescoço no meu braço, abraçando-o como se fosse um
travesseiro, seu outro braço envolveu minha cintura fina, e nossas pernas
ficaram entrelaçadas, uma bagunça. Não era a posição mais confortável,
mas era gostosa, como se pudéssemos nos fundir um no outro. E assim, tive
a noite mais mágica e dolorida da minha vida, em ambos os sentidos.
Acordo, mas não abro os olhos pois uma dor de cabeça me abraça. Tive
um sonho, não um pesadelo, em que Carlos me encontrava e vinha atrás das
pessoas que amo. Espera aí, tem algo pesado em cima de mim. Mesmo
assim, estou tão confortável. Ai, meu Deus, é um braço na minha cintura?
Abro os olhos em pânico. Onde estou? Viro minha cabeça para trás e vejo
dois pares de olhos negros como a noite me encarando e me... admirando?
― Bom dia, pequena. Como está se sentindo? ― Matteo diz
calmamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo ele estar deitado
na mesma cama que eu, dormindo de conchinha.
Ai, meu Deus, minha cabeça vai explodir.
― Estou... enjoada? ― Na verdade, meu estômago está embrulhado.
Fazia tempo que não bebia assim. Três garrafas de vinho foram demais
para mim. Tudo bem que eu tinha um companheiro bem potente, mas não
foi bom.
― Isso é uma pergunta ou uma afirmação?
― Não estou pensando direito. Minha cabeça está explodindo. Ai, meu
Deus, o que estou fazendo na sua cama? Com você? Eu... nós...? Ai, Deus,
o que eu fiz? ― Digo, olhando para baixo do edredom.
Estou vestida, graças a Deus. Não fiz nada estúpido. Sento-me e tudo
gira. Acho que preciso vomitar.
― Calma, não se levante assim. Não vai te fazer bem. Sim, dormimos
juntos, mas só isso, tá? Não faria nada com você estando bêbada. Mas não
queria te deixar sozinha. ― Ele diz, esfregando minhas costas com carinho.
Ele não queria me deixar? Ai, meu Deus, vou vomitar. Levanto-me
correndo em direção ao banheiro, empurrando a porta com o pé. Levanto a
tampa do vaso e me ajoelho na frente dele, com o rosto dentro do vaso, e
coloco tudo que tenho no estômago para fora. Sinto meus cabelos sendo
presos no alto da minha cabeça e um carinho nas costas.
― Não, vá embora, por favor, não quero que veja isso. ― Digo,
morrendo de vergonha. Não queria que ele me visse assim.
― Não vou a lugar nenhum, pequena. ― Meu Deus, que vergonha.
Não tenho forças para argumentar com ele, mas me conforta saber que
ele está aqui. Volto a vomitar e tudo ao meu redor gira. Estou fraca, mesmo
assim tento me levantar. Baixo a tampa e dou descarga. Ele me segura pela
cintura e me leva até a pia.
― Você se sentirá melhor agora, mas precisa de um banho. Vem, eu te
ajudo. ― Encosto meu corpo na pia e me viro para ele.
Como assim ele vai me ajudar? Não, não. Humilhação tem limite. Fora o
meu bafo, que devo ter agora. Lendo meus pensamentos, ele se abaixa, pega
uma escova de dentes da embalagem dentro do armário, coloca pasta de
dente e me entrega.
― Eu imagino que você vá se sentir melhor para conversar comigo,
certo? Não precisa ter vergonha, pequena. Já passei por isso e ajudei os
rapazes muitas vezes nessa situação. Relaxa. ― Escovei os dentes olhando
para ele pelo reflexo do espelho.
Como vou inventar uma desculpa para o que aconteceu? Minha cabeça
não consegue trabalhar. Só posso tentar fugir do assunto agora. Finalizo,
enxugo a boca e me viro para ele, que está com o corpo colado no meu.
― Obrigada por tudo, mas eu preciso acordar as crianças. ― Digo,
tentando escapar do lado do seu corpo, mas ele me prende ainda mais. Eu
tento empurrá-lo, mas minha pressão cai e fico tonta e ele me segura.
― As crianças estão bem com a Margô. Você precisa de cuidados agora,
pequena. E eu não vou deixar você sair desse quarto enquanto não estiver
bem e enquanto não tivermos conversado tudo o que precisa ser dito. Por
enquanto, vou te dar um banho e te alimentar. Depois, você descansa e nós
conversamos. ― Ele fala tão sério que fico sem reação.
Aliás, como ele é lindo quando acorda. Ai, meu Deus, agora lembro que
pedi para ele ficar ontem. Que vergonha! Lembro disso e meus olhos se
arregalam.
― O quê? Vai vomitar de novo? ― Ele pergunta, preocupado.
― Não, eu me lembrei... ― Ele me interrompe.
― Tudo o que eu disse ontem é verdade. Não foi só da boca para fora.
Queria ter essa conversa com você depois, mas você não para de pensar
besteira, né? Eu estou do seu lado, sim, e não vou sair. Eu sei do seu ex, ele
não vai chegar perto de você nunca, entendeu? E não me diga que você não
está sentindo o mesmo que eu, porque isso entre nós é palpável. Eu te
quero, pequena, da forma que você quiser, na hora que você quiser. Espero
por você o tempo que quiser. ― Ele falou de uma vez, segurando os dois
lados do meu rosto e olhando dentro dos meus olhos.
As lágrimas já caem pela minha bochecha. Ninguém nunca disse isso
para mim com tanta intensidade.
― Eu... não... sei... se... consigo... novamente... Eu... não sou... boa o
suficiente... pra ninguém. ― Digo, entre soluços e lágrimas. Como dói
saber que nunca serei suficiente para alguém.
― Nunca mais diga isso! Você me entendeu? Você é tudo que eu
preciso. ― Ele falou bravo, eu não aguentava mais segurar e explodi,
gritando.
― Não sou não! ― Gritei, empurrando-o.
Não aguentava mais explicar que eu não o faria feliz, que eu era pouco,
que eu ia extrair o pior dele como eu fazia com Carlos. Não aguento mais
isso, não quero mais.
Me escorei novamente na pia, deixando meu corpo escorregar para o
chão. Abracei as minhas pernas e coloquei a cabeça nos joelhos, soluçando
a ponto de engasgar. Ele me olhava de cima, com os olhos arregalados. Ele
se abaixou e sentou ao meu lado, assustado.
― Aquele merda é um abusivo do caralho e não soube dar valor à
mulher que tinha. Você é forte da sua maneira, você é linda por dentro e por
fora. Você se preocupa com todos ao seu redor. Você é gostosa, você dança
bem, você é engraçada. Você vai ser um exemplo de mãe, para quando
quiser ser. Você é perfeita para mim. Então, não, não diga nunca que você
não é suficiente. Você é grande demais para se diminuir e caber na vida de
alguém. E eu, pequena grande mulher, quero você na minha vida da forma
que você quiser. ― Ele terminou de falar.
Virei o rosto para o seu lado e fiquei o olhando em silêncio. Sério que eu
era tudo isso aos olhos dele?
Ele se ajoelhou em minha frente. Os soluços não paravam, muito menos
as lágrimas, então ele segurou os dois lados da minha blusa e eu fiquei sem
entender.
― Posso? Eu posso cuidar de você? ― Disse em um tom que ele só
usava com Nina e Dante, com carinho e ternura.
Eu já não queria mais lutar, não tinha forças. Só confirmei com a cabeça.
Ele tirou a minha blusa até o peito e eu levantei os braços, estava só de
sutiã por baixo, Matteo me ajudou a levantar, encostei a minha bunda na pia
e ele se abaixou novamente, com o rosto no rumo da minha cintura, tirou a
minha calça de moletom e meias. Eu agora soluçava e tremia ao mesmo
tempo. Ele me olhou, pedindo permissão, e eu acenei com a cabeça. Ele
segurou dos dois lados da minha calcinha e a arrastou pelas minhas pernas
até tirá-las pelos meus pés. Sua respiração acelerou.
― Você é muito mais linda do que eu imaginava, e eu imaginei muito,
pequena grande mulher. ― Ele se levantou e tirou o meu sutiã.
Matteo afastou, sem desgrudar nossos corpos, e tirou a sua calça de
moletom. Só agora reparei nas tatuagens em seus braços e abdômen, e sim,
ele tinha os 6 gominhos e muito mais. Ele me admirou novamente. Seu
olhar não era escroto, não era nojento, apenas direcionado a sexo. Era de
admiração, veneração, respeito e desejo, eu sentia o mesmo.
Já estava mais calma, mas ainda ofegante. Ele me pegou no colo com um
impulso, passou minhas pernas ao redor da sua cintura, uma mão nas
minhas costas e a outra na minha coxa direita. Nossas testas estavam unidas
e eu fechei os olhos. Ele entrou no box e ligou o chuveiro. Nos colocou
debaixo dele, sem molhar a minha cabeça.
― Abra os olhos, Gabriela. Eu estou aqui com você. ― Eu nem tinha
percebido que estava fechando os olhos com força.
― Obrigada.
― Eu é que tenho que agradecer por você ter entrado na minha vida.
― Vem aqui. ― Ele colocou minhas pernas no chão e me virou de
costas para ele.
Com uma bucha, ele me ensaboou, lavou meus cabelos com seu
shampoo. Eu só conseguia imaginar que ficaria com o seu cheiro. Em
seguida, ele me virou novamente e me ensaboou, passando suas mãos pelos
meus seios, demorando-se neles, acariciando meus mamilos. Eu gemi
baixinho, olhando em seus olhos.
― Hummmm ― Eu poderia gozar só com esses toques.
― Você não pode gemer desse jeito, estou tentando me controlar aqui,
ser um cavalheiro, mas fica muito difícil manter o controle te ouvindo
assim. ― Ele falou com a voz rouca.
― Não se controle, então. ― As palavras escaparam da minha boca sem
que eu percebesse.
Então Matteo não resistiu e me segurou novamente, envolvendo suas
mãos ao redor das minhas pernas, passando-as pela sua cintura, e eu já
sentia o seu pau duro na minha barriga, porra, era muito grande, cheio de
veias e batia no seu umbigo. Nossa senhora das calcinhas molhadas, proteja
a minha “Larissinha”.
― Não se fala isso para um homem com tesão, pequena. ― Matteo
enfiou a mão na minha nuca e me puxou para o seu rosto, nossos lábios se
tocaram e ele mordeu o meu lábio inferior, depois chupou lentamente,
sentindo o meu gosto, e eu fiz o mesmo com o seu lábio superior. Sua
língua passou por todo o comprimento dos meus lábios e sem aviso algum
ele entrou em minha boca afoito, procurando a minha língua, sem pensar
duas vezes dei a ele o que procurava. Matteo explorava a minha boca e eu a
dele em um beijo tão gostoso, com tanto significado, com sentimento, e eu
queria mais, muito mais. Queria ele dentro de mim. Eu já estava muito
molhada e com muito tesão, e sem perceber, me esfregava nele, rebolando
naquele mastro grande e duro,
Ele segurava firme em minha bunda, e parou de me beijar
repentinamente.
― Se você começar, não sei se vou conseguir parar, e não quero te foder
embaixo do chuveiro. ― Usei toda força que eu tinha na bunda e continuei
a me esfregar nele, tenho certeza de que minha bunda ia ficar marcada com
a força que seus dedos estavam fazendo.
Matteo desfez o aperto e procurou a entrada da minha boceta com a
ponta dos dedos, me ajeitou em seu colo encostando minhas costas na
parede com firmeza, lambeu o meu seio direito, parando no meu mamilo
com a boca aberta, e seguiu com a língua até chegar em meu pescoço,
parando em meu ouvido.
― Você tem certeza disso, gostosa? ― Aí meu Deus, esse homem não
podia ser real.
― Me faz esquecer tudo só por hoje, por favor. ― Respondi ofegante.
Então ele voltou sua atenção para o meu seio, chupou o meu mamilo
com tanta força que eu gritei, lambeu e em seguida começou a me beijar,
um beijo ardente, enquanto me segurava pela bunda e com a outra mão o
meu bico entumecido. Eu comecei a me esfregar com mais intensidade em
seu pau que estava bem no meio dos meus grande lábios, o tesão era tanto
que estávamos nos movimentando no mesmo ritmo, meu clitóris doía de
desejo, e nós estávamos só nos masturbando. Eu me esfregava nele sem
vergonha, sem pudor. Matteo abandonou a minha boca, afastou só o tronco
e apertou o meu mamilo com força, enquanto eu rebolava em seu pau. Eu
segurava firme em sua nuca com uma mão e com a outra apalpava o seu
abdômen duro e forte, depois dei atenção para sua bunda durinha, e Matteo
não se importou quando eu a apartei, tentando nos aproximar mais. Ele
abandonou meu seio, e segurou minha nuca com força, ele me beijava com
gosto e eu me esfregava freneticamente em seu pau, e esse foi o nosso
ápice, ele gozou urrando tão alto que me assustei, meu gozo veio logo em
seguida, eu tremia e me contorcia em seu colo, ele imediatamente me
abraçou e beijou a minha cabeça.
― Esse foi o melhor amasso no estilo adolescente que você poderia ter
me proporcionado, não vejo a hora de estar dentro de você pequena ― Eu
me entreguei por completo em seus braços, sentindo-me quase desfalecer de
prazer.
Após o nosso momento intenso, ele cuidou de nós dois, nos lavando com
carinho e depois me envolvendo em um roupão quentinho. Ele me conduziu
até a cama, reconhecendo que eu precisava descansar, e eu realmente
precisava. Fechei os olhos, deitada em seu peito, e o sono veio como um
suave lembrete para relaxar e deixar todas as preocupações de lado.
Ver Gabriela se diminuindo e sentindo-se incapaz despertou em mim um
ódio multiplicado por aquele idiota do Carlos.
Ao longo dos anos, ele implantou em sua mente a ideia de que tudo era
culpa dela, fazendo-a se sentir insuficiente para qualquer pessoa. Mas eu
estava determinado a mostrar a ela o quão especial e forte ela era.
Essa mulher era uma verdadeira obra de arte, tão linda que eu não
conseguia parar de admirá-la dormindo em meu peito, lembrando de como
nossos corpos se encaixavam perfeitamente. Seus seios cabiam em minhas
mãos de forma ideal, sua boceta depilada era a coisa mais linda que já havia
visto, sua bunda grande e redonda me deixava sem fôlego. Seu cheiro, sua
entrega, ela me quis e permitiu que eu a tocasse, foi a segunda coisa mais
adolescente que fiz, depois de me masturbar ao observá-la secretamente.
Eu me tornava um bobo perto dela e não me importava com isso. Eu
queria me perder dentro dela, fazer amor até que ambos esquecêssemos
nossos nomes. Estava louco para provar o gosto dela, mas hoje não era o
momento. Ela estava frágil e carente, e eu não queria que pensasse que eu
estava aproveitando dela. Não iria tocá-la com desejo hoje, mas essa mulher
era um furacão.
Precisava descer e encontrar os rapazes, eles tinham novidades.
Precisava ver as crianças, que provavelmente estariam procurando por ela.
No entanto, meu corpo não queria se afastar. Não queria que ela acordasse
sozinha.
Eu vou caçar Carlos e eliminá-lo. Depois disso, vou resolver minha vida.
Não quero ficar longe de Gabriela, e não vou permitir que isso aconteça. Já
decidi. Eu a quero, e estou disposto a virar o mundo de cabeça para baixo,
se for preciso.
― Hum, eu dormi de novo? ― Gabriela esfregou os olhos, ainda
sonolenta.
Antes de dormir, dei a ela um remédio para dor de cabeça.
― Como um anjo. ― Dei um beijo em sua testa.
― Senhor Matteo, eu não queria... ― Interrompi-a. Não seria possível,
depois do que tivemos, ela me chamar de senhor Matteo.
― Gabriela, não me chame de senhor, não agora, não depois do que
vivemos. ― Ela se recostou na cabeceira da cama, cruzou as pernas e
abaixou a cabeça.
― Se você quiser me mandar embora, eu vou entender. Isso não deveria
ter acontecido. Somos patrão e funcionária. Meu Deus, que vergonha. Me
desculpa. ― Suas bochechas estavam coradas de vergonha.
Quem ainda cora em 2023?
― Nunca peça desculpas por ter me dado tanto prazer. E eu não vou te
afastar de mim. ― Ela me olhou surpresa e sorriu timidamente.
Eu a abracei, e suas costas repousaram em meu peito.
― Preciso sair desse quarto, as crianças devem estar me procurando. ―
E estavam mesmo, aposto. Mas ela não poderia sair daqui sem me dizer
exatamente o que aconteceu em sua vida.
― Sim, nós vamos. Mas eu preciso conversar com você, se estiver à
vontade, claro. Não quero te forçar a nada, mas preciso tomar algumas
providências. ― Ela pensou por um momento, se ajeitando em meu abraço,
e começou a falar, me surpreendendo.
― Resolvi terminar o relacionamento. No primeiro ano de namoro, ele
era um garoto lindo, estiloso e estudante de direito. Popular, amigo,
divertido. Mas depois que fomos morar juntos, fiquei sem meu celular, não
podia conversar com minha irmã, apenas perto dele no viva-voz. Tive que
largar meu emprego e ele quase me fez desistir da minha bolsa de estudos
na faculdade. A profissão que escolhi não era boa, segundo ele. Não podia
conversar com ninguém, não tinha amigos, apenas Sofia que me ajudava em
segredo. Ele nunca me bateu, mas me humilhava, gritava e dizia que tudo
de ruim que acontecia era minha culpa. Até mesmo a péssima nota dele no
exame da OAB era culpa minha. O pai dele, um escroto, pensava o mesmo.
Eu tirei meu passaporte escondido. Minha irmã, Madá e Miguel queriam
que eu viesse para cá de qualquer forma, mas eu queria juntar meu dinheiro
e comprar minha passagem, sabe? ― Ela disse com lágrimas nos olhos, e
eu me mantive calado, segurando sua mão e fazendo círculos com os
polegares.
― Até o dia em que o irmão da minha amiga estava na porta do campus
nos chamando para jantar com a esposa grávida e a mãe dele. Ele me puxou
para casa em silêncio, e quando chegamos lá...
― Não precisa contar se for te machucar mais.
― Eu nunca disse essas palavras em voz alta, eu quero dizer. ―
Concordei com a cabeça. Não queria deixá-la mais triste.
― Chegando em casa, ele jogou uma garrafa de cerveja em mim, e eu
consegui fugir para o quarto, pegar minhas coisas e tentei sair. Quando
achei que ele não estava, ele estava me esperando. Me bateu, tentou me
sufocar, deu socos e tentou me estuprar. ― Respirei fundo. Não queria que
ela visse o quanto eu estava perturbado com essa história.
― Eu consegui quebrar alguma coisa na cabeça dele, abri a porta e corri.
Marta, o meu anjo da guarda em forma de gente, me ajudou, me levando
para o seu apartamento, me escondeu e me ajudou a chegar até Sofia.
Minha irmã já estava aqui, desesperada, e Miguel comprou a minha
passagem. Com a ajuda de Sofia e Marta, consegui entrar naquele avião. O
resto você já sabe. Comecei a trabalhar aqui algumas semanas depois que
cheguei. ― Ela me disse, limpando o rosto com a palma da mão.
― Se sente melhor agora que disse em voz alta? ― Perguntei, puxando-
a para o meu colo de frente para mim. Eu tinha uma necessidade de estar
sempre tocando-a.
― Sim, eu me sinto mais segura perto de você. E não é só de hoje,
sempre foi assim. Não me pergunte o porquê. ― Ela disse, olhando para um
ponto fixo atrás de mim.
― É uma honra saber disso. Quero que saiba que ele não vai chegar
perto de você e que está segura aqui. Eu vou acabar com a reputação dele, e
pode confiar em mim.
― Não, eles são pessoas ruins. Eles podem fazer alguma coisa com
você, com as crianças. Meu Deus, preciso saber se Sofia e Marta estão bem.
E se ele for atrás delas? Minha irmã, Madá, Miguel... Eles são a única
família que eu tenho, Matteo. ― Ela disse, chorando novamente.
Ela não sabia que eu era pior do que eles, mil vezes pior, e eles não eram
páreo para mim.
― Gabriela, eles não são páreo para mim. E eu vou mover o mundo para
que ele nunca mais chegue perto de você. Você está segura comigo. ―
Mudei de posição, deitando-me sobre ela e acariciando seu rosto. Não
conseguia cansar de admirar sua beleza, seus olhos cor de mel quase
dourados, que me hipnotizavam.
― Eu sei que você deve ser muito influente, mas não vou me perdoar se
algo acontecer com vocês, com os rapazes. Já basta ter envolvido meus
amigos e minha irmã nessa confusão. ― Ela disse, novamente com
lágrimas nos olhos.
― Não vai acontecer nada, a não ser com eles. E a senhorita vai se
sentar e tomar um café que a Margô fez especialmente para você. ― Ela
sorriu, me abraçando e cheirando meu pescoço.
― Ah, que vergonha. O que vai acontecer agora? ― Me levantei, fui em
direção à cômoda e peguei a bandeja que Margô havia me entregado mais
cedo.
Ela se sentou na cama e encostou na cabeceira, e eu coloquei a bandeja
em seu colo.
― Nada vai mudar. Só quero que você se mantenha mais reservada até
eu saber onde esse merda está. Ele não vai entrar na minha cidade e achar
que pode fazer o que quiser. ― Ela me olhou desconfiada, segurando um
copo de suco próximo à boca.
Não deveria ter dito isso. Vou ter que medir minhas palavras daqui para
frente.
― Tudo bem, eu não tenho muitos lugares para ir mesmo. Bem, acho
que vou descer e ligar para as meninas. Estou preocupada, e não falo com
elas desde ontem à noite. ― Eu gosto da forma como elas se tratam.
― Depois que você comer, podemos descer. ― Disse em tom de ordem.
― Você é bem mandão, né? ― Ela falou, comendo uma uva e com ar de
diversão.
― Você não faz ideia, pequena. ― Falei, piscando para ela.
Desci assim que terminei o meu café. Matteo não me deixou descer
sozinha, então esperei ele tomar banho e se vestir. Ele queria que eu o
acompanhasse no banho, mas eu estava tão envergonhada que não aceitei.
O bom é que ele é respeitoso e atencioso, e não insistiu. É tão difícil para a
minha cabeça entender que ele é diferente, que ele não é o Carlos. Meu
coração já entendeu, mas minha cabeça ainda está lutando para assimilar.
Ele queria se despedir de mim com um beijo antes de ir para o escritório,
mas me esquivei. Não queria ser conhecida como a funcionária que está
tendo um caso com o chefe. Ele não gostou muito, mas me respeitou. Fui
para o quarto e mandei uma mensagem no grupo avisando que estava bem.
Não entraria em detalhes do que aconteceu, pois queria contar
pessoalmente. Ia me encontrar com eles essa semana e contar tudo.
Liguei para Sofia e contei o que aconteceu, e pedi para ela entrar em
contato com Marta. Estava muito preocupada com ela. Carlos não entrou
em contato com elas, o que me deixou mais aliviada.
Estava me vestindo para ir ver as crianças e pensando no que Matteo me
disse sobre Carlos entrar na cidade dele. Eu sei que ele é um homem
influente e possui recursos. A quantidade de seguranças que ele tem e anda
comprova isso. Mas dizer que não tem medo deles me deixou com uma
pulga atrás da orelha.
Encontrei as crianças no quarto. Elas estavam inquietas e queriam saber
onde eu estava. Não sei dizer ao certo, mas elas já me conhecem e sentem
quando algo está errado. Levei as crianças para brincar no jardim e me
sentei embaixo de uma árvore. Margô se aproximou, um pouco sem jeito.
― Tudo bem por aqui? ― Ela me perguntou, olhando para as crianças
que corriam uma atrás da outra.
― Está tudo bem. As crianças estão ótimas. ― Respondi.
― Eu não perguntei sobre elas, perguntei sobre você. Como você está?
― Ela olhou nos meus olhos, e eu pude ver a preocupação em seu olhar.
― A senhora sabe o que aconteceu?
― Eu sei de tudo o que acontece nessa casa, minha menina. Levei seu
café da manhã, esqueceu? ― Ela perguntou, me deixando ainda mais
envergonhada.
― Bem, na verdade um pouco confusa e com medo, mas estou melhor.
― Respondi a verdade. Não queria mentir, nem mesmo para mim mesma.
― Você não precisa ter medo do meu filho, Matteo é diferente dos
outros homens que foram criados com ele. A educação dele foi difícil, mas
com princípios. Você pode confiar nele, ele vai te ajudar. ― Margô falou
colocando a mão no peito.
― Como assim outros homens? E por que foi difícil? Eu não tenho
medo dele, tenho medo do meu ex! ― Eu estava ficando cada vez mais
confusa.
― Homens da família, você vai saber na hora certa. Ele é uma pessoa
muito importante, minha querida. Você vai entender. E seu ex não vai
chegar perto de você, pode ter certeza. ― "Importante" eu sei que ele é
muito rico, deve ser isso, pensei.
― Vou me agarrar a isso, Margô. Eu não sei se conseguiria passar por
tudo de novo.
― Se você quiser conversar, eu vou estar sempre aqui. ― Ela falou com
carinho. ― Agora vamos colocar essas crianças para dentro.
― Margô ― chamei antes que ela virasse as costas. ― Eu poderia sair
amanhã de manhã para encontrar minha irmã? Preciso conversar com ela
pessoalmente, não quero contar que Carlos está em Portugal por telefone.
― Não podia fazer isso. Minha irmã teria um ataque.
― Claro que sim. Eu fico com as crianças e você vai. Paulo te leva para
garantir sua segurança, ok?
― Combinado então. Vai ser rápido. Obrigada.
Ela se virou e seguiu para o interior da mansão, e eu fui chamar as
crianças, dar banho e colocá-las para dormir. Queria ir para o meu quarto,
tomar um banho e acalmar a mente. Não conseguia parar de pensar em
Matteo. Sentia uma vontade imensa de vê-lo, abraçá-lo, sentir seu cheiro.
O dia correu bem e eu esperei a noite chegar como uma criança
esperando a noite de Natal. Matteo não voltou para casa durante o dia, e
meu coração ansiava por vê-lo antes de dormir.
― Por que você está triste, Gabyzinha? ― Nina me perguntou, já
sentada em sua cama com seu pijama fofo de unicórnio.
― Eu não estou triste, minha princesa.
― Está sim. É feio mentir, lembra? ― Dante me repreendeu, indo se
sentar na cama da irmã.
― Tudo bem, desculpa. Estou um pouquinho só.
― Nós não fizemos nada de errado. Nós juramos de dedinho. ― Dante
disse, e Nina concordou.
― Não é com vocês, meus amores. Vocês são a minha felicidade, não o
motivo da minha tristeza. Estou magoada com uma pessoa que me fez mal.
― Tentei explicar sem entrar em detalhes, pois não queria preocupá-los.
Realmente passei o dia todo pensativa.
― Quer um beijinho que sara mágoa? Podemos te dar muitos beijos de
amor. ― Nina perguntou, apertando meu coração com sua doçura.
― Sim, sara sim. Vocês fariam isso por mim? ― Perguntei com ternura.
― Simmmmmm! ― Eles gritaram alto, pulando em cima de mim e me
enchendo de beijos. Fizemos uma farra na cama, cheia de risadas e
carinhos.
Deitei-me com eles para cantar um pouco até que adormecessem. Não
demorou muito para que o cansaço me envolvesse e eu acabei
adormecendo, abraçada a eles.
Eu realmente queria um beijo de despedida de Gabriela, mas percebi que
ela se esquivou, então não insisti. Não quero forçar nada, quero que ela se
sinta livre para fazer o que quiser. Imagino o que ela tenha passado, e não
quero que ela se sinta obrigada a fazer algo que não queira. Ainda não tive
tempo de pensar em como resolver a questão do noivado.
Fui direto para o carro, como sempre, Giovanni estava com a porta
aberta. Entrei e logo em seguida Luigi e Giovanni entraram também. Eles
me passaram o relatório, mas eu evitei olhar nos olhos deles, pois sabia que
estavam apenas esperando para fazer piadas e especulações.
― Falem logo. Quanto mais cedo começarem, mais cedo terminam.
― Passou todo esse tempo trancado no quarto com a Gaby e acha que
não temos nada para dizer? ― Luigi perguntou curioso, e Giovanni cruzou
os braços, esperando a resposta.
― Ela estava vulnerável, magoada, com medo e embriagada. Por que
você a embriagou? O que vocês acham que eu fiz? Eu a acalmei, conversei
com ela e a tranquilizei, e é só isso que tenho a dizer. Não vou entrar em
detalhes sobre o que aconteceu entre nós naquele quarto. Isso vai ficar
guardado na minha memória e na de Gabriela.
― Você está com uma expressão muito satisfeita. Será que foi apenas
isso? ― Giovanni perguntou, desconfiado.
― Você me pediu para acalmá-la, e eu não sei fazer isso sem envolver
sexo ou bebida. E acho que você não aprovaria a primeira opção ― Luigi
brincou, mas eu sabia que ninguém, além de mim iria tocar na minha
mulher. Droga, eu pensei "minha mulher"? Soou bom para mim.
― Primeiro, estou sim satisfeito. Ela confiou em mim e me contou o que
aquele idiota fez com ela e quais são os seus medos, que, aliás, envolvem
todos os amigos e a irmã. Segundo, nem você nem ninguém nunca vão
colocar as mãos nela ― Falei, nervoso só de pensar nessa possibilidade.
― Ok, não estamos falando sério, sabemos que você nunca a exporia
dessa forma. Você é um príncipe, um príncipe malvado, mas um príncipe.
Vamos ao que importa ― Luigi sugeriu, mudando de descontraído para
sério em um piscar de olhos.
― Esse idiota não entrou em Portugal pelos meios tradicionais. Ele não
usou o seu nome e seu passaporte não foi utilizado. Não sabemos como,
mas o cara está invisível ― disse Giovanni, pensativo.
― Como assim esse desgraçado está aqui e vocês não o encontraram?
Quem ele pensa que é?
― Ou ele é muito bom em se esconder, ou teve ajuda de alguém ―
Luigi falou.
― Vocês acham que ele sabe quem eu sou?
― Acredito que não. Ele deve ter feito algumas pesquisas e sabe que ela
trabalha para você, e no máximo, acha que você é um empresário bilionário
― respondeu Giovanni, e Luigi concordou.
― Ele não sabe sobre o nosso envolvimento, não há como ele saber.
― É melhor assim. Quando eu colocar minhas mãos nele, ele vai pagar
por todo o sofrimento que está fazendo ela passar. Quero toda a atenção
voltada para ele. Mandem nossos hackers encontrá-lo e descobrir quem está
ajudando-o. O traidor já foi revelado? Estou começando a duvidar de sua
competência, Giovanni ― Falei, já cansado dessa brincadeira de gato e
rato.
― Você me magoa, chefe. Eu confirmei que é ele, infelizmente todas as
pistas apontam para o seu tio Roberto. Ainda não temos como provar, mas
sim, é ele ― respondeu Giovanni, com cautela, olhando para Luigi.
Nós somos melhores amigos desde crianças e sabemos das feridas de
cada um.
― Não precisa ter tanto cuidado, Giovanni. Eu já imaginava e sei que
você não terá clemência com ele. Na vida, colhemos o que plantamos, e ele
vai colher ― Luigi falou, olhando a paisagem do lado de fora do carro, com
as pernas cruzadas.
― Não vou envolvê-lo no julgamento dele. Você não precisa participar
dos últimos suspiros dele ― falei.
Eu já tinha pensado nisso, não acho que Luigi vá querer testemunhar o
que farei com seu pai.
― Ok, agradeço, primo... só faça ele pagar pelo que fez com minha mãe
― Luigi pediu, não como futuro Consigliere, mas como primo.
Nós quase nunca nos tratamos como primos e amigos, e eu atenderia ao
seu pedido.
― Claro, primo. Por ela e por você.
― Bom, então vamos aos próximos tópicos ― começou Giovanni,
descendo do carro e abrindo a porta para mim, dando-me passagem.
Passamos pela entrada do prédio e subimos para a minha sala.
― Bom dia, senhores ― minha secretária estava me esperando do lado
de fora do elevador, com o meu café puro nas mãos.
― Bom dia ― peguei meu café e segui para minha sala.
― Agatha já recebeu as escutas e o celular escondido em uma caixa de
presente que enviei ontem mesmo para ela, em forma de desculpas por ter
abandonado o jantar de noivado ― disse Luigi, surpreendendo-me.
― E você está bem com isso? Quero dizer, eu estar noivo da sua irmã?
― perguntei, preocupado.
― Ela não é minha irmã, aliás, não é nada minha. Pode ficar tranquilo
― ele respondeu, dando de ombros.
― Tudo bem. Eu prometi dar asilo a ela e a mãe. O filho da puta bate
nas duas e está usando-a como mercadoria de troca. Não preciso te lembrar
onde elas vão parar quando for confirmada a traição do seu pai, né? ―
Contei, na esperança de que ele me ajudasse a encontrar um rumo para elas
quando tudo acabasse.
― Como é? Aquele idiota está fazendo tudo de novo? Agora com outra
criança, né? ― Luigi ficou de pé, puxando os cabelos, inconformado.
Seu pai estava repetindo o ciclo de tudo o que ele e sua mãe passaram.
― Calma, Luigi. Ela pediu ajuda para sair disso, assim como você pediu
ao tio e à tia, lembra? E vamos ajudá-las. Além disso, ela não é mais uma
criança ― interveio Giovanni, levantando-se e indo em direção a Luigi para
acalmá-lo.
― Ela me mostrou as marcas no rosto. Ela não quer sair da máfia, pois
sabe que não há saída, mas quer manter ela e a mãe em segurança, estudar,
quer um recomeço. E nós vamos ajudar nisso, certo? ― perguntei,
esperançoso.
― Certo. Elas podem vir para cá. Ela pode estudar e trabalhar conosco
na empresa. Aqueles velhos do conselho não podem colocar as mãos nela
― falou Luigi, planejando o futuro.
― Ótimo, pensei a mesma coisa. Com a saída do Roberto e de quem
mais estiver ajudando-o, vamos mudar muita coisa ― eu tinha esperança de
que sim, e sabia que meu pai ia me ajudar.
― Você vai ser um ótimo Don, chefe ― Luigi falou, sorrindo, mais
calmo.
― E vocês, meus braços direito e esquerdo.
― Nós três contra o mundo.
― Sempre ― concordou Giovanni.
― Agatha vai correr um grande perigo, temos que ficar atentos. Vamos
mandar homens de confiança para garantir a segurança dela. Se algo
acontecer, conseguiremos resgatá-la a tempo ― sugeriu Luigi.
― Para quem não se importava, não é? ― Giovanni provocou, rindo.
― Ok, tomem as providências necessárias. Vamos pegar esse idiota
antes que ele perceba. E Romeo, deu notícias? ― perguntei.
― Sim, ele chega amanhã cedo. Vamos marcar uma reunião aqui na
empresa? ― Giovanni perguntou.
― Não, podemos marcar em casa, após o almoço, no escritório. Depois
vamos para o galpão treinar no ringue. Preciso desestressar, e nada melhor
do que dar uma surra no Romeo para isso, vamos esquematizar um plano e
derramar muito sangue pelo caminho.
― Ok, vai ser divertido.
O dia passou rápido, a noite chegou, e entre cargas e projetos, só pensava
em Gabriela. Chegar em casa e vê-la antes de dormir, tocar em seu corpo,
ver as crianças. Eu a queria para mim, sem barreiras, sem problemas, sem
noivado falso. Só eu, ela e as crianças.
Meu pai me ligou para saber se eu tinha resolvido meu problema. Disse
que sim, mas não entrei em detalhes. Ele não podia saber dos meus planos
por enquanto. Minha mãe já estava eufórica, fazendo mil planos para o meu
casamento. Coitada, ela nem imaginava que tudo isso era uma farsa. Ela ia
ter que entender, afinal, era para um bem maior.
Tive que ir à boate resolver as entregas das mercadorias e sondar os
soldados sobre a aproximação dos russos. Não vimos o tempo passar,
quando dei por mim, já era quase de manhã.
Acordei assustada. Já era dia, e não havia fechado as cortinas, então o sol
entrava pela janela, diretamente em meu rosto. Acabei dormindo aqui na
cama com as crianças. Pelo jeito, Matteo não apareceu. Ele sumiu o dia
todo e nem ligou para as crianças durante o dia. Não passou no quarto à
noite, senão eu teria acordado. Meu coração está apertado. No fundo, queria
vê-lo. Será que ele está arrependido? Será que não quer mais se envolver?
Eu sabia que não deveria ter feito aquilo.
E pior, me abri completamente para ele. Contei tudo. Agora, ele deve
pensar que sou uma louca carente de atenção. Preciso conversar com as
meninas. Será que vou ter que sair daqui? Abandonar as crianças? Não
queria deixá-las. Já me apeguei tanto a elas. Eu sei que é pouco tempo, mas
não queria ficar sem elas. Mas sabia que não poderia confiar.
Me ajeitei na cama, peguei meu celular. Ainda era cedo. Dei um beijo
nas crianças e fui para o meu quarto tomar um banho e mandar uma
mensagem para minha irmã. Precisava contar tudo a eles e pensar um pouco
sobre tudo que aconteceu no dia anterior. Meu Deus, por que eu sou assim?
Mandei uma mensagem no grupo:

Gaby:
Preciso de vocês urgentemente, tenho que contar algumas coisas que
aconteceram!

Miguel:
Onde e quando?

Madá:
Bom dia, garotas, onde nos encontramos, amiga?

Bea:
Bom dia, irmã. Conta logo, senão vou ficar preocupada.

Gaby:
Não é nada sério, vou contar quando estivermos juntos.
Miguel:
Que tal no restaurante? Vou testar uma nova receita e vocês podem
comer enquanto conversamos.

Gaby:
Pode ser às 10:00?

Bea:
Ok, não temos clientes pela manhã.

Gaby:
Ótimo, amo vocês ❤️

Bea:
Eu amo você mais 💗

Não queria alarmá-los antes da hora. Se eu contasse que era sobre


Carlos, eles iriam surtar e viriam me buscar imediatamente. Por isso, adiei o
máximo possível o encontro com Matteo no café da manhã. Chamei Margô
na cozinha e avisei que iria encontrar minha irmã. Ela pediu ao senhor
Paulo para me acompanhar e eu aceitei. Ainda era cedo, então decidi
caminhar e pensar em uma maneira de me livrar de Carlos e pensar se
minhas paranoias sobre Matteo eram reais.
O senhor Paulo abriu a porta do carro para mim. Ele era um senhor
muito simpático e educado. Eu disse a ele que iria ao centro comercial e
depois encontraria minha irmã. Ele queria ficar comigo até o horário
combinado, mas eu não permiti. Pedi a ele para comprar alguns ingredientes
para fazer cookies com as crianças mais tarde, e ele aceitou a minha
desculpa.
Ele me deixou em frente ao centro comercial e nos despedimos. Prometi
a ele que ligaria para me buscar assim que terminasse, e jurei que não
perderia a carona. Caminhei por algumas lojas, olhando as vitrines.
Encontrei uma loja de pantufas e imediatamente imaginei as crianças
usando um par cada uma, eram tão adoráveis. Não resisti e comprei três
pares iguais para eles e um para mim.
Como aquelas crianças conseguiram dominar meus pensamentos em tão
pouco tempo? Andei tanto perdida em pensamentos que quando percebi, já
estava quase na hora de encontrar as meninas. Segui em direção à saída
com minha sacola de pantufas e fui andando até o restaurante, que ficava a
apenas duas quadras dali.
Cheguei à porta do restaurante, mas estava fechado. Coloquei a mão na
maçaneta para abrir, quando uma mão forte me impediu com um
movimento rápido. Um braço estava em volta do meu pescoço.

― Sentiu saudades de mim, sua vagabunda? ― Meu sangue congelou e


o ar não chegava aos meus pulmões. Era ele. ― Vim para terminar nossa
conversa, o que você acha? Sua puta. ― Eu não conseguia me mexer,
queria gritar por socorro, mas minha voz não saía.
Ele me puxou em direção a um carro preto estacionado na calçada.
Havia um homem careca no volante e outro com tatuagens no pescoço no
banco do carona. Tentei gritar, mas ele tapou minha boca. A rua estava
deserta, ainda não era horário de funcionamento do restaurante. Ele abriu a
porta e me jogou na parte de trás do carro. Eu só conseguia chorar. Como
fui estúpida em cair nas mãos dele novamente. Seria o meu fim.
― Ficou muda agora? Vamos dar uma voltinha, vou te levar a um lugar
que conheci com meus novos amigos. ― Ele falou, já sentado ao meu lado,
enquanto o homem careca dava partida no carro.
― Por favor, me deixe ir. Eu não vou contar para ninguém, eu juro. ―
Pedi misericórdia. Não podia ficar naquele carro. Tentei abrir a porta, mas
estava trancada.
― Você nunca mais vai embora, amor. Agora estamos juntos novamente,
mas eu não posso deixar passar em branco o que você fez, né? Vou te
ensinar a me obedecer e depois vamos voltar para o Brasil. ― Não, não. Eu
não quero voltar para o Brasil com ele.
― Vamos conversar direito. Eu não queria isso, por favor. ― Não tinha
argumentos contra ele. Não sabia como escapar. Dessa vez, não teria um
anjo da guarda.
― Não temos o que conversar, temos o que aprender, sua vagabunda.
Você nunca mais vai fugir de mim, NUNCA MAIS! ― Ele gritou, socando
o banco da frente, enquanto o homem mal-encarado acelerava e desviava
dos carros à nossa frente.
Carlos estava claramente alterado. Eu poderia tentar acalmá-lo, pegar
meu celular e enviar uma mensagem para o grupo.
Tentei pegar minha bolsa, mas ele foi mais rápido. Pegou a bolsa aos
meus pés, jogando-a em seu colo e pegando meu celular, guardando-o no
bolso.
― Você se acha muito esperta, não é mesmo? Sua puta. Mas você não é.
É muito burra em pensar que pode fugir de mim. ― O homem dirigiu por
pelo menos uma hora.
Eu só chorava. Não quis tentar conversar, pois ele ficava cada vez mais
alterado quando ouvia minha voz. Iria tentar correr quando ele abrisse a
porta do carro.
O carro parou nos fundos de um galpão aparentemente abandonado, mas
havia um grande portão eletrônico. Ele fechou o portão e o homem tatuado
abriu a porta para mim. Olhei em volta, tentando encontrar uma rota de
fuga. Não pensei em nada além de correr. Ele me puxou pelo braço e eu
tentei me soltar de seu aperto. Carlos me puxou para perto dele e me deu
um tapa no rosto. Minha bochecha ardeu instantaneamente, e as lágrimas
caíam livremente.
― Não tente fugir, vagabunda. Ainda não aprendeu? ― Ele me puxou
pelo braço e acabei caindo no chão sujo com poças de água.
Ele não tentou me ajudar a levantar, apenas segurou meu cabelo quando
tentei me sentar e me arrastou pelo chão como um saco de lixo. Meu couro
cabeludo ardia, minhas costas e pernas arranhavam com o atrito do chão, e
eu gritava de dor, tentando soltar suas mãos. Ouvia as risadas de seus
comparsas e o barulho de uma porta de aço se abrindo. Foi quando ele
passou por ela comigo.
― Bem-vinda ao nosso lar temporário, sua vagabunda fugitiva. ― Ele
soltou meu cabelo, e eu fiquei deitada no chão, olhando em volta.
Aquelas cenas de um filme de cativeiro se materializaram diante dos
meus olhos: um colchão sujo no chão, paredes pichadas e sujas, um balde e
uma pequena janela basculante que nem mesmo minha coxa passaria por
ela. Eu me sentei e levei um chute no estômago, o que me fez vomitar o
café da manhã. Ele não estava satisfeito e me obrigou a ficar de pé, cara a
cara com ele.
― Vou buscar algumas coisas para nossa estadia aqui, e você se
comporta como uma visita educada, entendeu? Você não vai querer que
nossos amigos entrem aqui, né? ― Ele cheirou meu pescoço e aproximou-
se do meu ouvido.
― Entendeu? ― Ele gritou tão alto que sua voz ecoou na minha mente.
Só consegui acenar que sim.
― Não ouvi a sua voz, sua puta! Ficou sem língua?
― S... Si... Sim, enten... entendi. ― Eu estava com tanto medo, tanta
dor.
― Você não deveria ter medo de mim, nem dos meus amigos. Não
somos piores que seus chefes, aliás, você já abriu as pernas para ele? Sua
maldita!
― Eu... Não, eu não tenho nada... ― Ele me deu um soco no maxilar
que doeu na minha alma.
― Não seja uma mentirosa, meu amigo tem informações muito boas
sobre a sua estadia naquela mansão. Sorte sua que vou te possuir tão
intensamente que você vai esquecer que se envolveu com aquele bandido.
― Não, não quero isso. Matteo não é um bandido. Como assim? Carlos está
ficando louco.
Ele me soltou, e eu caí no chão, sentada. Ele saiu pela porta de aço,
trancando-a. Abracei minha perna em posição fetal e chorei soluçando alto.
Por que, meu Deus? Por que tem que ser assim? Eu nunca fiz mal a
ninguém para estar passando por isso. Eu apenas amei esse homem e dei o
meu melhor, e agora recebo isso.
Estava conformada de que esse seria o meu fim. Não via uma saída, não
tinha como escapar dele com esses homens com cara de bandido me
vigiando. Ouvi o barulho do carro dele partindo e decidi rezar.
Não era muito religiosa, mas fazia a minha parte com Deus. Sempre
agradecia pelas graças concedidas e pedia por aqueles que amava. Hoje, só
iria agradecer. Levantei-me e sentei no colchão sujo, de costas para a
parede. Juntei as mãos, fiz o sinal da cruz e conversei com Deus.
"Oi, Deus, sou eu de novo. Não faz muito tempo que pedi ao Senhor por
mim, pedi para que me deixasse chegar em segurança nesta cidade, fugindo
do Carlos. Hoje, não quero pedir por mim. Sei que não tenho escapatória.
Quero pedir ao Senhor, se for possível, que conforte o coração da minha
irmã Beatriz, Madá, Miguel, Sofia e Marta. Traga paz e conforto aos
corações e mentes deles. Especialmente a Miguel, que sei que não vai se
conformar. Não deixe rancor no coração da minha irmã. Eu sei como ela
pode ser arisca quando está com raiva. Dê conforto e calma a ela, meu
Senhor. Não quero partir sabendo que eles vão estar aqui sofrendo por mim.
E as crianças, que já sinto como parte de mim, não deixe que elas imaginem
que eu as abandonei. Eu nunca faria isso. Ajude-as a crescerem com um
bom coração e a seguirem pelo caminho certo. E, se possível, faça com que
eles e minha irmã se encontrem. Eu sei que, juntos, seus corações iriam se
curar. Não sei como o coração de Matteo se sente em relação a mim, mas,
se houver carinho nele, que se torne uma saudade boa. E, se não for pedir
muito, se o Senhor puder - e eu sei que o Senhor tudo pode - de alguma
forma, faça com que eles sintam o tanto que os amei quando meu coração
ainda batia de amor. Porque é assim que quero ser lembrada: com amor e
por amor. Obrigada, meu Senhor, por toda a vida que vivi e por ter tido a
honra de conviver com pessoas tão especiais. Mais uma vez, muito obrigada
por me permitir viver uma vida na qual, mesmo por um curto tempo, fui
mais feliz do que jamais poderia imaginar."
Cheguei em casa já era madrugada, o dia estava clareando. Passei no
quarto das crianças e vi a cena mais linda da vida: Gabriela deitada no
meio, Nina deitada em sua barriga e Dante em seu braço. Me aproximei
sem fazer barulho e dei um beijo na testa dos três. Tentei imaginar uma
forma de tirar Gabriela dali sem acordar as crianças. Queria colocá-la na
minha cama, abraçada a mim, mas não havia possibilidade de fazer isso.
Eles eram um só. Admito que fiquei com inveja das crianças por tê-la tão
perto.
Fui para o meu quarto, tomei um banho e coloquei uma calça de
moletom. Antes de deitar na cama, fui novamente até a porta do quarto das
crianças e os admirei um pouco mais.
― Você sabe que está parecendo um stalker, né? ― Luigi perguntou
baixinho, parando ao meu lado.
Quem olha para ele inocente assim, com um copo de leite na mão, nem
imagina que bebeu uísque a noite toda, espancou um russo filho da puta e se
envolveu com uma prostituta no final da noite.
― Eu sei, já pensei nisso. Quer saber? Eu faço muitas coisas estranhas
quando estou perto dela. Pareço um adolescente cheio de hormônios. ―
Admiti.
― Nós percebemos isso. E posso dizer? Nunca te vi tão leve, só quando
as crianças dormiram em casa pela primeira vez. ― E era verdade.
A sensação de trazer os dois para casa depois do caos que foi no hospital
com a morte de Angelina me trouxe paz.
― Ela ajudou as crianças e, no fundo, a mim também.
― Você sabe que não vai ser fácil ficar com ela, né? Ela não é do nosso
mundo e pode não aceitar você como é. Além disso, você não pode se casar
com ela, e ela não vai aceitar ser sua amante. ― Ele disse apenas verdades.
Me incomoda saber que não vou poder ficar com ela da forma que eu
quero.
― Eu vou dar um jeito nisso. Não sei se consigo ficar longe dela por
muito tempo. A menos que ela não me aceite como sou, não vou deixá-la
escapar.
― Certo, e eu estou contigo. Agora vou dormir, o dia foi puxado.
― Vai lá, vou também. Daqui a pouco Romeo está por aí, e temos que
estar cem por cento para ele. ― Segui para o meu quarto com vontade de
levá-la comigo.
O dia não começou bem. Acordei atrasado para malhar. Não gosto de
perder horários, mas não deixei de ir. Passei no quarto de Gabriela, mas ela
não estava lá. Na volta do treino, ela ainda não estava na cozinha, nem com
seu café com waffles.
Carmen estava no fogão, peguei uma xícara de café, falando ao telefone,
e fui para o banho. Pensei em ir no quarto dela e lhe dar um bom dia, mas
Giovanni me interceptou no meio do caminho. Uma carga foi entregue
faltando mercadoria, e o cliente não está muito feliz. Tivemos que correr
para a boate para ver o que aconteceu. Tínhamos passado a noite anterior
toda lá, não conseguia deixar de sentir raiva por não ver Gabriela
novamente.
O soldado responsável pela conferência da carga no contêiner não foi
encontrado, o que me leva a crer que ele era mais um dos informantes de
Roberto. Ele podia até tentar fugir de mim, mas já era um defunto em pé.
Chegamos em casa na hora do almoço, e fiquei feliz porque ia conseguir
almoçar com as crianças e com Gabriela. Chegamos à sala de jantar e as
crianças estavam sozinhas na mesa, com Margô ao lado delas.
― Boa tarde, meus amores ― disse, me sentando na ponta da mesa.
Luigi e Giovanni me acompanharam.
― Boa tarde, papai.
― Boa tarde, tios.
― Margô, cadê Gabriela? ― perguntei curioso.
― Ela foi em um encontro, né tia Margô? ― Nina falou, e me engasguei
com a taça de água.
― Como é que é? Encontro? ― perguntei, olhando para Margô.
― Não é encontro, sua boba. Ela foi encontrar com a irmã dela e os
amigos ― Dante corrigiu a irmã.
― A menina pediu para sair e se encontrar com a irmã. Ela precisava
conversar sobre um assunto pessoalmente, se é que o senhor me entende ―
Margô disse em códigos, e eu entendi no mesmo instante.
Ela queria contar a eles sobre Carlos.
― Não precisa dizer palavras de adulto, tia Margô. Nós sabemos que a
Gabyzinha está triste, mas nós já demos beijos de amor. Ela vai melhorar,
papai ― Nina falou, achando que tudo seria consertado com beijos.
― Isso mesmo, pirralhos, vocês são demais ― Luigi falou, animando-
os.
― Ela foi sozinha? ― perguntei preocupado.
― Não, eu pedi para o Paulo levá-la. Ele a deixou no centro comercial, e
ela pediu para ele comprar ingredientes para fazer cookies com as crianças
mais tarde. Ela vai ligar para ele buscá-la quando terminar ― Margô
explicou.
Não gostei muito de saber que ela ficou sozinha, mas pelo menos o
Paulo ia buscá-la na volta.
― Assim que ela chegar, peça a ela para me encontrar, por favor, Margô.
O almoço correu bem, Margô subiu com as crianças, e segui para o
escritório.
Sentado na minha poltrona com o meu copo de uísque, Giovanni estava
no sofá e Luigi na cadeira em minha frente. Estávamos investigando o
soldado do início do dia quando Margô bateu na porta.
― Senhor, seu convidado chegou. Posso mandá-lo entrar? ― perguntou
Margô com os braços para trás.
― Claro, Margô. Obrigado ― respondi imediatamente enquanto me
levantava.
Romeo entrou no escritório com seu terno todo preto e seus sapatos
italianos lustrosos.
― Seja bem-vindo.
― Obrigado. Vamos ao que interessa. Quanto tempo até a sentença do
traidor?
― Não muito. Creio que até a próxima semana já tenha provas
suficientes para apresentar ao conselho. Infelizmente, não posso
simplesmente chegar e matá-lo sem evidências.
― E as provas, estão em andamento?
― Sim, temos uma aliada na casa dele. Vamos desmascarar esse
desgraçado.
― Meus soldados estão se preparando para vir para Portugal, só
esperando seu comando. Já faz tempo que não temos um banho de sangue
respeitável ― Romeo disse com um sorriso no rosto. Esse cara era um
lunático.
― Sim, vamos em frente. E não me importo de cortar algumas cabeças
no caminho. Nós vam... ― fui interrompido por uma batida na porta.
― Entre ― disse, observando pela janela.
Minha casa era uma fortaleza, mas eu nunca subestimava meus
adversários.
― Margô apareceu pálida na porta, com uma mão no peito e outra na
boca. Giovanni imediatamente se levantou para ampará-la, e Luigi e Romeo
também se levantaram em posição de ataque.
― O que aconteceu, Margô? ― perguntei, já olhando pela janela.
Meu sangue ardia em minhas veias. Eu já imaginava o que havia
acontecido para a irmã de Gabriela estar ali. Ele deveria ter voltado.
― A irmã da menina Gabriela está na cozinha, procurando por ela. Sinto
que aconteceu algo, mas ela não soube dizer o quê ― falou Margô.
Meus instintos se aguçaram. Eu já temia o pior.
― Luigi, vá à cozinha buscar Beatriz. Margô não está em condições. ―
Luigi saiu e Giovanni levou Margô para o sofá, pegando uma garrafa de
água no bar para ela.
Romeo observava tudo em silêncio, no canto da sala. Quando a porta se
abriu, uma Beatriz nervosa e irritada entrou.
― Qual é o problema, Beatriz? ― perguntei a ela, tentando descobrir o
quanto ela sabia.
― Minha irmã marcou um encontro conosco no restaurante do Miguel e
não apareceu. Ela enviou uma mensagem uma hora depois do horário
combinado, dizendo que não iria porque estava trabalhando, mas pelo jeito
não está ― disse firmemente, mas pude sentir o tremor em sua voz, o medo
pela irmã.
― Sim, ela não está. Ela não voltou depois que meu motorista a deixou
em um centro comercial ― afirmou Margô, com o olhar perdido.
― A senhora sabe o que ela queria conversar comigo? Ela disse que
gosta muito da senhora, ela deve ter lhe contado, não é? ― Beatriz se virou
e perguntou a Margô, que imediatamente olhou para mim.
― O que vocês sabem da minha irmã? Exijo que me contem ― Beatriz
gritou, perdendo a calma.
― Calma, senhorita. Como sabe que ela não pode estar passeando ou em
outro lugar? ― Romeo perguntou curioso.
― Pelo "OK", pelo maldito "OK" ― ela falou, já alterada e nervosa.
― Como assim, um "OK"? ― Giovanni perguntou.
― Nós sempre nos despedimos com um "ok, te amo", "ok, te amo mais".
Eu mandei "ok, te amo" e ele só disse "ok". Ela nunca faz isso. E eu achei
essa sacola na calçada do restaurante. Tem três pantufas dentro, duas
infantis e uma adulta. São a cara da Gabriela e das crianças ― ela mostrou
o celular e depois abriu uma sacola amassada com três pares de pantufas.
Realmente, pareciam pertencer a Gabriela e às crianças.
― Calma, o que você está pensando? Já ligou para ela? ― perguntei, me
aproximando dela.
― Muito inteligente da sua parte observar esse tipo de coisa. Se fosse
uma soldado minha, teria uma boa posição dentro da minha organização. ―
Romeo comentou.

― Acabei de ligar. Está dando fora de área ― Luigi respondeu, com o


celular no ouvido. Margô estava com as mãos no rosto, chorando.
― Eu sei quem foi. Tenho certeza. Ela disse que queria me contar algo.
Eu sei que foi ele ― Beatriz falou, tomando o copo da minha mão, que eu
nem me lembrava de estar segurando, e o virou de uma vez só.
― Foi aquele idiota do Carlos, o ex dela. Ela fugiu dele. Nós sabíamos
que uma hora ele ia aparecer, mas não imaginava isso. Tem mais disso
aqui? ― Ela perguntou, balançando o copo.
Luigi correu até o bar e serviu mais uma dose para ela.
― Ele mandou um buquê de flores e um bilhete para ela na noite
retrasada. Ela ia te contar isso. Eu prometi a ela que ele não ia chegar perto
dela ― disse Beatriz, passando as mãos em seus cabelos enquanto andava
de um lado para outro.
― Aquele desgraçado do Carlos vai se ver comigo. Vou arrancar aquele
pau pequeno na unha para ele deixar de ser covarde ― ela falou, nervosa,
me olhando de forma estranha.
Eu analisava o que tinha dito, virando o outro copo de uísque e pegando
a garrafa da mão de Luigi.
― Vou na polícia. Isso não vai ficar assim. ― Beatriz informou.
― A polícia não vai ajudar. Ele nem está no país para a polícia, entrou
aqui com um nome falso ― disse Giovanni, digitando algo em seu celular.
― Onde foi a última vez que ela foi vista? ― perguntou Luigi.
― Não sabemos. Fui à loja que está na sacola e mostrei uma foto dela.
Me disseram que ela esteve lá sozinha. Miguel está tentando obter as
filmagens das câmeras de segurança agora, mas eles não estão encontrando.
― Ou não querem encontrar. Ele não está sozinho nisso, garanto para
vocês ― afirmou Romeo, sem tirar os olhos de Beatriz.
Ela o olhou de volta e depois olhou para mim.
― Como assim não está sozinho? Esse cara é um idiota, um lambe-
botas. Ele só faz o que o pai manda. Ele não tem capacidade para fazer algo
assim ― afirmou Beatriz, virando mais uma dose.
― Calma aí, princesa, ou vai ficar bêbada antes de encontrarmos sua
irmã ― Romeo a repreendeu.
― Tenho uma ótima tolerância ao álcool, fica tranquilo. No máximo,
isso aqui vai me dar coragem para matar esse escroto de uma vez por todas
― Falou, decidida ― Por tudo que é mais sagrado nesse mundo, me ajuda a
encontrar minha irmã, por favor! ― Pediu a mim, e eu não pensei duas
vezes.
― Vamos acessar as câmeras dos três quarteirões ao redor do
restaurante. Peça aos hackers para se concentrarem nisso agora. Quero
todos os passos de Gabriela. Esse cara vai se arrepender de pisar na minha
cidade e de tocar em Gabriela. Monitore também o pai dele no Brasil e
traga-o aqui, não importa onde ele esteja. Quero os dois no meu porão antes
do amanhecer, juntamente com qualquer outra pessoa que esteja com eles
― Dei as ordens para eles.
― Como assim porão? ― perguntou Beatriz, com os olhos arregalados.
― Você não queria sangue, princesa? É sangue que você vai ter ―
respondeu Romeo.
Eu sabia que uma hora esse dia ia chegar. Gabriela vai descobrir que eu
sou o pior pesadelo que Carlos poderia ter.
― Você tem condições de cuidar de Margô? As crianças vão fazer
perguntas, e ela está muito abalada com tudo isso. Ela gosta muito de
Gabriela. Chame seus dois amigos para cá. Gabriela vai gostar de vê-los
aqui quando voltar ― pedi, na esperança de que Beatriz aceitasse.
Giovanni já tinha levado Margô para fora.
― Você promete que ela vai voltar para mim? ― perguntou Beatriz.
― Prometo. E prometo que pai e filho vão pagar por terem tirado ela de
nós.
― Ok, eu vou ligar para eles. Muito obrigada. Minha irmã estava certa
sobre você. Você é um homem bom ― disse ela, vindo em minha direção.
― Não sou bom. Não tenho uma gota de bondade em meu corpo, e
Carlos vai descobrir isso ― respondi e ela suspirou.
O silêncio pairava no ar, somente eu, ela e Romeo no escritório.
― Não sei o que vocês são, mas não me importo. Só quero minha irmã
bem e livre desse idiota ― disse ela, cruzando os braços em frente ao peito
e olhando para nós.
― Já sei o preço da minha lealdade a você ― disse Romeo, atraindo
minha atenção e a de Beatriz.
― E qual seria? ― perguntei, curioso.
― Sua cunhada ― respondeu ele, me surpreendendo.
O que esse louco iria querer com Beatriz?
― Não sabia que era casado ― disse Beatriz, olhando para mim de
baixo para cima.
― Não sou casado. Eu não tenho cunhada ― respondi, virando-me em
direção a Romeo.
― Mas vai ter. Você não vai acender a chama no Brasil e em Portugal
para deixar essa moça escapar e não se tornar sua rainha. ― Romeo
afirmou.
― Não, eu não vou deixá-la escapar. ― Concordei.
― Nós seremos cunhados e aliados, não é uma maravilha? ― Romeo
falou olhando para Beatriz, que se virou para nós, entendendo o teor da
conversa.
― Pera aí, vocês estão falando de mim? ― Perguntou, apontando o dedo
para si mesma.
― Sim, estamos ― Respondeu Romeo, olhando em seus olhos, e ela
levantou uma sobrancelha.
― Não é como se Beatriz fosse uma mulher da máfia, eu não tenho
poder sobre ela.
― Máfia? Como assim máfia? Tipo o Poderoso Chefão? Máfia italiana?
Que merda é essa? Vocês estão de brincadeira, né? ― Perguntou, alterando-
se e indo atrás da garrafa de uísque.
― Sim, querida, máfia. E você será minha ― Ela se virou tão rápido que
até eu fiquei abismado.
― Eu não estou à venda, não sou um saco de arroz para ser vendida ou
trocada, sabia? Quem você pensa que é? ― Beatriz retrucou.
― Sou o dono de Las Vegas, e você será minha rainha, simples assim ―
Falou Romeo, cruzando os braços.
― Eu já disse, Romeo, não tenho poder sobre ela. Não posso
simplesmente fazer um casamento arranjado para vocês dois ― Beatriz
estava sentada no sofá, olhando para nós, sem soltar a garrafa de uísque.
― Não, não tem, mas ela tem amor pela irmã, e eu só vou te ajudar a
recuperá-la com essa condição ― ele estava ficando louco.
― Não preciso da sua ajuda, vou desmembrar esse idiota com as minhas
próprias mãos.
― Precisa sim, porque ele e o pai tiveram ajuda da milícia brasileira com
os russos. Provavelmente, o pai do cara fez isso cobrando um favor por
advogar para aqueles filhos da puta ― Afirmou Giovanni, ofegante, ao
entrar no escritório como um furacão.
Que porra é essa?
― Como você ficou sabendo disso? ― Perguntei, nervoso.
A situação só piorava, Beatriz não falava nada, com os olhos
arregalados.
― Mandei o hacker rastrear o celular dos dois, e além das mensagens,
ele descobriu que o pai de Carlos está aqui em Portugal ― Giovanni falou,
nervoso com a situação.
― Meus homens mandaram uma mensagem agora há pouco, informando
uma movimentação estranha em um galpão, com os russos e um brasileiro,
andando pela cidade alugando carros e vans ― Luigi, que também tinha
retornado, compartilhou sua observação. ― Temos que correr. A fama dos
russos não é boa, não duvido nada que eles eliminem os dois para usar
Gabriela contra você, Matteo ― Luigi opinou, preocupado.
― Filhos da puta. Eu vou destruí-los. ― Esbravejei.
― Nós vamos. ― Romeo falou.
― Eu aceito ― Beatriz se intrometeu, virando o uísque no bico da
garrafa e estendendo a mão para Romeo, que aceitou o aperto. ― Mas eu
tenho minhas condições.
― Pode dizer. ― Ele a encarava seriamente.
― Você não vai encostar um dedo em mim, já que, para mim, você é um
tarado pervertido que precisa forçar moças a se casarem com você. E as
outras condições, eu penso depois.
― Não vou encostar em você sem a sua permissão, só quando você
implorar por isso. ― Mas que merda estava acontecendo aqui?
Após a conversa um tanto alterada no escritório, Beatriz saiu para
auxiliar Margô e me ajudar com as crianças, que já estavam fazendo
perguntas com a demora de Gabriela. Elas eram muito diferentes, mas com
qualidades iguais. Sempre prestativa, mesmo em um momento difícil para
ela.
Miguel e Madalena chegaram abatidos. Madalena juntou-se às mulheres
na cozinha, e Miguel nos seguiu para o escritório. Os soldados já estavam
em ronda pela cidade. Nosso hacker não conseguiu rastrear o celular de
Gabriela, pois estava desligado. Estávamos na esperança de conseguir
alguma pista de qual galpão eles estavam, e se não conseguíssemos, eu iria
bater de galpão em galpão até encontrá-la.
― Trouxe as imagens das câmeras do seu restaurante? ― Giovanni
perguntou, aproximando-se.
Miguel entregou um tablet para ele e sentou-se na cadeira em minha
frente.
― Sim, mostra um homem com capuz, mas pelos trejeitos é Carlos sim.
Dá para ver duas pessoas dentro do carro, e acho que dá para puxar a placa.
― Aposto uma garrafa de uísque que é uma placa falsa ― Romeo falou,
com o celular no ouvido.
― As câmeras da rua a empresa disse que não encontrou. Vou ser direto
com vocês, Beatriz me disse que são da máfia. Vocês conseguem achá-la,
não é? Carlos não pode ser tão esperto assim ― Miguel perguntou, olhando
para mim.
― Vamos trazê-la de volta, nem que eu tenha que queimar essa cidade. E
ele não está sozinho, ele teve ajuda dos russos. O que você sabe sobre o pai
dele?
― Apenas que ele é influente no Brasil, um advogado muito requisitado.
Pelo que sabemos, ele é tão mau-caráter quanto o filho. Ele o apoia em tudo
― Miguel explicou, pensativo.
― Alguma coisa sobre a milícia brasileira? ― Luigi perguntou.
― Não, só advogar para uns políticos duvidosos, nada além disso. Ele
não compartilhava nada com a Gaby. Pelo contrário, privava ela de tudo.
Nós tínhamos que ligar para ela escondido, para vocês terem ideia ― Esse
filho da puta ia sofrer em minhas mãos.
― Ele vai pagar por tudo, pode ficar tranquilo ― Afirmei, enchendo um
copo de uísque e pegando um cigarro. O dia ia ser longo, pelo visto.
― Aliás, obrigado pelo que está fazendo pela Gaby. Ela é como uma
irmã para mim. Nós não iríamos conseguir achá-la sem vocês ― Eu que
deveria agradecer a ele por ajudar a minha pequena a chegar até mim.
― Não me agradeça agora, só fique do meu lado quando ela descobrir
sobre mim, te garanto que vou fazê-la feliz.
― Ficarei sim, só não deixe seu estilo de vida respingar nela, essa garota
já sofreu de mais nessa vida.
― Vamos deixar de conversinha e passar um pente fino na cidade? Meus
soldados não conseguiram achar o tal galpão ― Romeo falou, guardando o
celular no bolso interno do paletó.
― Eu sei que não é o momento, e que ela não precisa ser defendida,
muito pelo contrário. Mas tenho essas meninas como minhas irmãs, e
espero que você não faça mal a Beatriz, apesar de achar que é você quem
vai ter dificuldades com ela ― Miguel falou, juntando as sobrancelhas, e
nós caímos na gargalhada.
Romeo estava se metendo em uma furada, isso sim.
― Eu admiro a sua coragem de me enfrentar, e obrigado pelo aviso. Vai
ser interessante ter Beatriz como minha ― Romeo terminou de falar, e meu
celular tocou.
― Alô? ― Atendi imediatamente.
― Chefe, conseguimos rastrear um galpão na saída da cidade. Tudo
indica que eles estão lá, há uma movimentação suspeita.
― Mande os drones para averiguar, mas sem serem percebidos. A vida
dela está em risco. Me envie o endereço, já estou indo.
― Sim, chefe.
― Acharam um galpão suspeito, vamos até lá.
― Não acha melhor esperar pelo reforço? ― Romeo perguntou, se
levantando.
― Vamos precisar deles de qualquer forma. Esses russos e o traidor não
vão escapar desta vez. Gabriela precisa ser resgatada agora.
― O que eu posso fazer para ajudar? ― Miguel perguntou.
― Você sabe atirar? ― Giovanni perguntou.
― Não.
― Vamos resolver isso. Quando a poeira baixar, se você vai entrar para a
família, tem que saber se defender. Por enquanto, fique aqui auxiliando as
mulheres e me informando de qualquer movimento estranho. Temos um
traidor e um informante próximo. Não confie em ninguém, exceto na Margô
― falei, dobrando as mangas da minha camisa social e saindo pela porta.
Os demais me acompanharam até o centro de treinamento nos fundos da
mansão.

Tínhamos um arsenal completo de armas, bombas e facas modernas no


mercado. Eu estava ansioso para usar essas belezinhas nos filhos da puta
que sequestraram Gabriela. Cada um de nós entrou na sala e pegou suas
armas preferidas. Eu já estava com minha Glock no coldre, peguei mais
uma Glock e uma faca borboleta. Também tinha a minha metralhadora
semiautomática favorita. Verifiquei os cartuchos e observei os outros.
Estávamos todos armados até os dentes, prontos para a guerra. Giovanni
trouxe comunicadores e os distribuiu, assim teríamos comunicação entre
nós e os operadores dos drones e hackers.
Seguimos em direção ao meu Cadillac. Deixei um número maior de
segurança na casa para proteger as mulheres e as crianças. O restante de nós
já estava nas ruas, a caminho do local. O hacker me chamou pelo ponto de
comunicação.
― Senhor, temos a confirmação de movimentação de três pessoas em
uma área aberta, próxima a uma sala. Há pouco tempo, um homem chegou
de carro acompanhado por um senhor mais velho. Também há homens
espalhados pelo exterior do galpão, de 12 a 15 pessoas fazendo a segurança.
― Entendido. Todo cuidado possível nesse resgate. Eu não quero
Gabriela ferida, entenderam? E quero o maior número possível de pessoas
vivas para o nosso interrogatório.
― Tudo indica que são realmente os russos ― disse Giovanni, ajeitando
sua arma no coldre.
― Sim, e eu não terei piedade deles.
Paramos o carro próximo ao galpão, a uma distância segura, e seguimos
pela mata. O plano era entrar pela frente, já que eles estavam focados nos
fundos do local. Com um número menor de guardas na entrada e sem
soldados nas guaritas, eles facilitaram nosso trabalho.
O drone enviou imagens para o meu celular de uma janela pequena, onde
eu podia ver Gabriela encostada na parede, abraçando as pernas e
claramente chorando muito. Meu sangue ferveu. Eu iria matá-los sem
piedade.
Paramos perto da cerca de aço. Um soldado nosso cortou um pedaço
com um alicate para criar uma passagem. Entramos um a um enquanto eu
falava pelo ponto de comunicação.
― A prioridade é manter Gabriela viva. Se necessário, atirem para matar
os demais.
― Sim, senhor ― todos responderam em uníssono.
Encerramos a comunicação por voz, passando a nos comunicar apenas
por sinais silenciosos. Nos dividimos, com Giovanni na minha retaguarda,
acompanhado por mais dois soldados. Luigi e Romeo deram a volta para
surpreendê-los por trás. Coloquei um silenciador em minha arma e atirei em
um russo que estava à nossa frente. Giovanni o segurou para evitar qualquer
barulho com a queda do corpo. Romeo chamou no ponto de comunicação.
― Estou vendo um senhor e um cara discutindo, parecem brasileiros, e
mais dois soldados russos no portão dos fundos. Permissão para atirar? ―
Romeo perguntou.
― Não, quero esses dois na minha mira. Eliminem os soldados primeiro
― respondi.
Aproveitei que os soldados estavam sob a mira de Romeo e dei a volta,
adentrando uma área coberta, suja e abandonada. Caminhava agachado
quando ouvi o primeiro tiro. Os soldados nos avistaram, então atirei em um
deles enquanto Giovanni cortava a garganta do outro com a faca.
Mais três soldados entraram, mas deixei nossos soldados lidarem com
eles e fui em busca de uma porta onde Gabriela pudesse estar.
Contornei o caminho onde Carlos estava. Não havia mais ninguém,
apenas soldados mortos no chão. Continuei adentrando e encontrei uma sala
vazia, com apenas um colchão e um balde. Olhei ao redor e ouvi passos se
aproximando da área externa. Corri e chamei todos pelo ponto de
comunicação para cercarem o local. Chegando à porta, vi Carlos puxando
Gabriela pelos braços, enquanto um senhor idoso corria atrás deles com
dificuldade, em direção a um carro preto. Apontei minha arma e gritei.
― Tira as mãos da minha mulher agora, seu merda! ― Ele se virou e me
olhou, sorrindo. Filho da puta!
Olhando para o vazio, com a mente distante e imaginando o que as
crianças estariam fazendo agora, ouvi o barulho de carro e portas batendo.
Ele saiu e voltou com mais pessoas? Não sei o que ele quer de mim com
tantos homens. Estou com tanto medo. Queria ser forte e corajosa como
minha irmã, mas não consigo. A porta se abriu e, sem coragem de olhar
para cima, ouvi outra voz que tanto temia, a do pai de Carlos.
― Então a sua puta de estimação veio dar a boceta para um mafioso
italiano aqui em Portugal? Que péssimo gosto para mulheres, meu filho ―
disse o pai de Carlos, me dando ânsia de vômito.
― Não é muito diferente do seu gosto, papai.
― Não posso negar que ela é gostosa. Para todo o trabalho que você me
deu para encontrar essa puta, vou ter que experimentar para ver o que tanto
você vê nessa boceta.
― Sua hora vai chegar, pai, mas antes vou mostrar a ela como se
obedece e a não fugir mais.
― Tive que cobrar muitos favores para encontrar essa aí. Espero que
valha a pena. Se até o mafioso já a comeu, por que eu não deveria
experimentar? ― Meu Deus, o que vai ser de mim? Por que eles chamam
Matteo de mafioso? Não entendo.
― Olha para mim, vagabunda. Olha nos meus olhos e me peça perdão.
― Eu não levantei a cabeça e ele puxou meu cabelo, forçando-me a olhar
para cima.
― Per... Perd... Perdão ― solucei quando a onda de medo e pavor
passou pelos meus olhos.
― Espero que esteja realmente arrependida, porque você vai ter que se
mostrar uma boa menina para mim e para meu pai. Tem gente grande
querendo você, e não sei se quero compartilhar você com o russo mandão,
amigo do meu pai. Será que devo? ― O pavor me consumiu. Comecei a
hiperventilar e ele gargalhou.
― Não, por favor, não faça isso. Eu imploro, qualquer coisa, menos isso.
Por favor ― supliquei. Ele me deu um tapa tão forte que caí de costas no
chão. Fiquei ali, abraçada às pernas, e ouvi o barulho deles saindo, rindo e
fechando a porta de aço.
Chorei tanto que minha cabeça doía. Meu corpo tremia e olhei para a lua
pela pequena janela, iluminando o quarto que agora estava escuro. Só
queria que isso acabasse logo. Se tivesse que ser o meu fim, que fosse
rápido.
Ouvi o barulho de passos rápidos, como se alguém estivesse correndo.
Meu coração se apertou com a possibilidade de ser a polícia ou alguém
atrás de mim. Não queria criar esperanças, mas não podia negar que
desejava ser salva. Estava molhada, com frio, suja e com fome. O pouco
que tinha no estômago tinha vomitado. O pior de tudo era o medo do meu
destino. Ouvi um barulho abafado, como se algo estivesse estourando,
seguido por passos correndo e, por fim, tiros altos.
Meu Deus, tiros! Era a polícia! Graças a Deus, minha irmã me
encontrou. Tentei levantar para fazer algum barulho na janela, mas estava
muito fraca e minha voz quase não saía. Foi quando a porta se abriu, e para
minha tristeza, Carlos entrou no quarto, me puxando pelo braço, junto com
seu pai.
― Olha só o que essa vagabunda fez, tudo isso por sua causa, sua puta!
― O pai de Carlos me deu um tapa no rosto, fazendo-me virar de lado. Ele
me puxou para fora, me obrigando a correr em direção a um carro. E então,
ouvi a voz do meu herói.
― Tira as mãos da minha mulher agora, seu merda! ― Era ele, Matteo!
Graças a Deus, era ele! Espere aí, "minha mulher"?
― Minha mulher? Você está se achando, né? Seu italiano de merda! Essa
vagabunda é minha e sempre vai ser. Diga para ele, sua putinha, de quem
você é! ― Ele me sacudiu e apontou uma arma para minha cabeça, que eu
nem tinha percebido que ele estava segurando.
Seu pai também apontava uma arma para Matteo, e várias armas estavam
apontadas em nossa direção. Luigi, Giovanni e os seguranças da mansão
estavam com ele. Havia também um homem bonito ao lado deles. Meu
Deus, eu estava alucinando.
― Eu... Eu...
― FALA, PORRA! AGORA! ― Ele gritou e me acertou na cabeça com
a coronha da arma.
Senti o sangue escorrendo pela testa e tudo ficou embaçado e escuro.
Não suportava mais o peso do meu corpo. Ouvi tiros, muitos tiros, e meu
corpo sendo abandonado, caindo em direção ao chão. Mas não senti o
impacto. Sentia braços fortes ao meu redor e um cheiro familiar, um cheiro
que eu amava tanto, que me acalmava. A última coisa que ouvi foi:
― Vai ficar tudo bem agora, amore mio.
Acordei em uma cama macia. Conheço essa cama. Será que estou
sonhando? Não poderia ser possível. Eu estava no cativeiro com Carlos.
Seria possível eu estar na cama de Matteo agora? Não queria abrir os olhos
e encarar a minha realidade. Seria terrível demais lembrar do meu fim e
perceber a presença de Matteo.
― Pode abrir os olhos, irmã. Você está bem. Você está salva. ― Ouvi a
voz de Beatriz e imediatamente abri os olhos.
― Está tudo bem agora, amiga. ― Madá disse. Eu tentei me sentar, mas
uma vertigem me atingiu e acabei deitando novamente.
― Calma, não se esforce desnecessariamente. ― Miguel pediu se
aproximando da cama.
Havia um batalhão de pessoas no quarto: meus amigos, Matteo, Luigi,
Giovanni, Margô, todos olhando para mim com expressões aliviadas.
― Eu... Por que... Como...? ― Não conseguia formar uma frase devido à
intensidade da emoção. Lágrimas já enchiam meus olhos.
― Beatriz percebeu que algo estava errado e veio me pedir ajuda.
Estávamos em uma força-tarefa desde que você foi levada. ― Matteo
explicou, cruzando os braços e encostando na parede em frente à cama.
― Carlos e seu pai, eles...?
― Estão mortos, irmã. Acabou. Você está livre. Aqueles monstros foram
arder no fogo do inferno.
― Como? Meu Deus, é verdade? Você tinha uma arma, todos vocês
tinham armas. Não foi uma alucinação minha, foi? ― Me esforcei, e dessa
vez Miguel me ajudou a sentar.
Queria olhar para eles, saber a verdade.
― Vocês não vão falar nada? Contem logo para ela. ― Bea pediu,
apontando para eles.
― Você sabe? ― Perguntei para Beatriz.
― Sim, eu soube hoje. Nós todos soubemos.
― Não se assuste, Gaby. O que você conheceu de nós é o que somos em
casa. As ações ficam do lado de fora dos portões. ― Luigi se explicou
carinhosamente, me dando um abraço cuidadoso, e eu retribuí.
Não sentia medo deles.
― Somos seus malvados preferidos, Gabyzinha. ― Giovanni brincou, e
Madá deu um tapa em seu braço.
― Você só fala besteira, seu idiota? ― Ela bufou impaciente e eu dei um
sorriso leve para os dois.
― Eu posso conversar com a Gabriela a sós? Claro, se você quiser. ―
Matteo pediu cautelosamente, olhando para mim.
― Quero sim.
― Minha menina, que bom que você está bem. Eu pedi tanto a Deus por
você. Não te disse que o meu menino ia te proteger? ― Ele falou, me
abraçando, e eu retribuí seu abraço com carinho.
― Obrigada, Margô. Cadê as crianças? ― Perguntei.
― Elas estão ansiosas para te ver. Depois eu as trago, agora vão
conversar, e eu vou fazer uma comidinha para você, que deve estar
morrendo de fome, né? ― Ela perguntou, já saindo do quarto.
Todos vieram me abraçar e saíram em seguida.
― Irmã, abra sua mente, tá? E não esqueça que está segura agora. Vou
estar lá embaixo com as crianças. ― Bea falou, saindo do quarto e fechando
a porta.
Matteo ficou olhando para mim, e eu desviei minha atenção da porta e
olhei para ele. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele puxou a
poltrona que ficava em frente à janela e a aproximou da cama. Sentou-se,
cruzou a perna esquerda sobre o joelho e apoiou os braços no braço da
poltrona.
― Não há uma forma fácil de dizer isso, mas sim, sou um mafioso. Sou
subchefe da máfia, o segundo na linha de comando. Meu pai é o Don da
máfia italiana. Todos nós somos mafiosos. ― Ele jogou essa bomba em
mim e esperou minha reação.
― Você mata pessoas? ― Perguntei, a única coisa que veio à minha
cabeça.
― Aquelas que merecem, sim.
― Você matou Carlos e seu pai?
― Sim, cada um com um tiro na cabeça. Queria prolongar o sofrimento
deles, fazê-los pagar por tudo que você sofreu. Mas você estava na mira
deles, você era minha prioridade.
― Eu sou?
― Sim, você é, e esse sou eu. Defendo os meus, dou amor e carinho
dentro de casa, mas lá fora sou um assassino, cruel e impiedoso. Nunca
faria mal a você, Gabriela, mas não posso mudar quem sou nem sair dessa
vida. O que você viu hoje sou eu. O que você conheceu de mim é apenas
uma parte. A outra parte, se você quiser e me aceitar, poderá conhecer com
o tempo.
― O que você quer dizer com isso?
― Quero dizer que sou um monstro, um assassino mafioso cruel. Você é
boa demais para o meu mundo.
― Não, você não é.
― Sou sim. Eu não te mereço. ― Ele falou, limpando o rosto com a
ponta do polegar. Ele estava chorando? Meu Deus, esse homem estava
chorando por mim. ― Mas eu sou egoísta, Gabriela, e não quero abrir mão
de você.
― Merece sim, e eu a você, não diz isso por favor, eu preciso de você,
você é meu herói.
― Não sou um herói, sou o vilão dessa história. ― Matteo disse.
― Para mim, você é o mocinho da minha história, pois o que eu achava
ser antes de você, me feriu e me humilhou, mas eu não preciso mais de um
herói. Eu aceito o vilão. ― Respondi.
― Não sou um mocinho! Sou o vilão. Posso te amar, te respeitar, cuidar
de você, te proteger, nunca mentir para você. Posso até destruir o mundo
por você, mas é só o que posso oferecer. Isso é suficiente? ― Ele falou com
desespero.
― Você é suficiente para mim. Sempre será. Eu te quero do jeito que
você é. Isso me basta. ― Afirmei.
― Então, minha pequena, eu sou seu. Todo seu! ― Matteo se levantou,
sentou ao meu lado na cama e me puxou com cuidado para um beijo
apaixonado e carinhoso.
Ele puxou meus lábios inferiores com os dentes, bem devagar, e sua
língua encontrou a minha. Eu me entreguei de corpo e alma ao seu beijo.
Quando me lembrei de que estava suja e fedida, o afastei, e ele me olhou
com cautela.
― Tudo bem? Está sentindo dor? O médico te examinou, disse que
estava bem, mas disse para te observar quando acordasse. ― Ele falou,
passando a mão no meu cabelo com carinho.
― Não é isso. É que eu preciso de um banho. Estou suja. ― Falei, e ele
me olhou aliviado. Estava realmente preocupado.
― Vem, eu te ajudo a tomar banho. ― Ele sugeriu, levantando os
lençóis.
― Eu posso chamar minha irmã. Não tem que me ajudar. ― Falei,
incerta.
― Eu não tenho que ajudar, eu quero ajudar. Então, mocinha, pare de
ficar com vergonha de mim e me deixe te ajudar. ― Ele respondeu.
― Você tem certeza? ― Perguntei.
― Gabriela. ― Ele afirmou.
― Tá bom, mandão. ― Ele tirou a agulha do soro que já tinha acabado
na minha veia e me levou no colo até o banheiro. Ligou o chuveiro e
começou a tirar minha roupa. Imediatamente, me veio à lembrança a nossa
última vez ali.
― O tom de vermelho que suas bochechas ficam quando você está com
vergonha ou com tesão é a minha cor preferida agora. ― Matteo comentou.
― Eu não... Para, ou vou ficar com mais vergonha. ― Respondi.
― Se você ficar com mais tesão, também não me importo. ― Ele
terminou de tirar minha roupa e foi tirar a dele. Ainda bem que eu estava
com a depilação em dia.
― Você estava lembrando da nossa última vez aqui, não é? ― Ele
perguntou, me abraçando por trás e pegando o sabonete para me ensaboar.
― Admito que sim. ― Respondi.
― Vamos repetir muitas vezes, não hoje, mas vamos. ― Ele ensaboava
minhas costas e bunda, me virou de frente e se abaixou, beijando minha
barriga que já tinha marcas dos socos que levei. Não vou negar, estava
doendo muito.
― Agora me arrependo de não ter feito o sofrimento daquele idiota durar
mais. Eu te prometo, minha querida, ninguém vai te machucar nunca mais.
― Ele se levantou e me beijou novamente.
Dessa vez, não me importei. Ele terminou de me lavar, lavou meus
cabelos e me enxugou, em seguida, me levou para a cama, tirou a toalha de
mim e me colocou debaixo do edredom. Eu não me importei de estar nua,
só queria abraçá-lo e ficar assim.
Ele se deitou ao meu lado, me puxando para seu peito. Ele também
estava nu e pude realmente apreciar a visão desse homem deitado, todo para
mim. Passei as mãos pelo seu peito malhado e senti seus músculos, o
volume já se fazia presente sob o edredom. Eu estava dolorida, mas queria
me permitir sentir esse homem. Não queria mais esperar, não depois de tudo
que passei. Corria o risco de não o ver novamente, e eu o quero para mim.
― Acho melhor você parar, querida. Não quero ter que me levantar e me
aliviar no banheiro com você aqui na cama. ― Ele disse com a respiração
pesada.
Eu desci a mão pelo seu corpo e parei em sua virilha.
― Não quero que você se alivie para mim. Quero você dentro de mim.
― Respondi, fazendo movimentos de baixo para cima com a minha mão
direita.
― Não, não posso ser irresponsável assim. ― Ele falou ofegante.
― Você vai me negar ter você dentro de mim? ― Questionei.
― Eu nunca, em nenhuma circunstância, negaria nada para você, minha
gostosa. ― Ele disse, virando o corpo e ficando em cima de mim.
Ele pegou um dos meus seios com a mão e o outro ele lambeu, chupando
em seguida. Depois, subiu o olhar e olhou fundo nos meus olhos.
― Quero que você entenda que eu gosto de comandar. Na cama, eu
mando e você obedece. Você vai ter os melhores orgasmos da sua vida, mas
fora dela, a partir de hoje, você manda e eu obedeço. ― Ele afirmou.
― Sim, eu concordo. ― Respondi ofegante, enquanto ele apertava meu
mamilo.
― Você entendeu que eu não quero te humilhar? Eu quero te dar prazer?
― Ele perguntou.
― S.. sim, sim, eu entendo. ― Respondi.
― Ótimo, agora aperte seus mamilos para mim, enquanto eu chupo sua
boceta e sinto seu gosto. ― Ele pediu, pegando minha mão e colocando-a
em meus seios.
Segui suas ordens, enquanto ele descia e abria minhas pernas, colocando
cada uma delas em seus ombros.
Sem aviso prévio, ele me lambeu de baixo para cima, sem chegar ao meu
clitóris. Ele repetiu isso várias vezes, até começar a me esfregar nele, sem
perceber. Ele sorriu com a boca aberta em minha boceta, e eu senti um
calafrio percorrer meu corpo. Quando ele concentrou sua atenção em meu
ponto de prazer, que já latejava de tesão, ele me chupou com força, como se
estivesse beijando minha boca.
Era molhado, era cru, era obsceno e era tão bom.
Eu já estava nas nuvens quando ele inseriu um dedo em minha entrada
encharcada. Olhando para mim, ele parou de me chupar, olhou para o dedo
dentro de mim e inseriu mais um. Voltando sua atenção para mim.
― Eu não mandei você parar de apertar seus seios. Você quer que eu
pare, pequena?
― Não, por favor, não pare. Por favor... ― Respondi rapidamente,
obedecendo e apertando meus dois mamilos, olhando para ele.
― Não pare. ― Ele ordenou, voltando a me chupar com toda devoção.
O quarto estava preenchido apenas pelo meu gemido e pelos sons que
sua língua fazia em contato com minha boceta molhada. Ele girou o dedo
dentro de mim em uma posição estranha, que me atingiu em cheio. Eu gemi
e o orgasmo veio com tanta força que vi tudo girar. Eu tremia e ainda sentia
as contrações em meu interior. Quando Matteo subiu em cima de mim, senti
seu pênis em minha entrada.
― Tudo em você é sempre melhor do que o imaginado, minha pequena
gostosa. Seu gosto é um néctar dos deuses e eu já me viciei nele. Agora,
quero me enfiar em você. Posso? ― Eu assenti com a cabeça.
― Não ouvi, quero ouvir da sua boca. ― Ele pediu, com nossas bocas
coladas uma na outra, e a cabeça de seu pênis em minha entrada.
― Pode.
― Posso o que? Diz.
― Pode me foder. Pode enfiar esse pau grande e grosso em mim. ― Eu
ri de desespero, porque eu queria muito, mas o medo também estava
presente.
Nunca transei com um pênis desse tamanho, mas se Deus fez, é porque
cabe, né?
― Você vai me matar um dia, Gabriela! ― Ele falou, rindo com um
sorriso cafajeste que me deixava molhada só de ver.
Ele foi devagar, entrando com calma. Senti-me sendo aberta por dentro,
mas não queria calma, queria tudo. Ele chegou até o fim e parou de se
movimentar. Ele estava me olhando agora, sério, esperando minha
confirmação.
― Matteo, me fode, duro e forte, por favor.
― Porra, Gabriela, você foi feita para mim. ― Ele saiu todo de dentro
de mim e voltou de uma vez só até o talo, em uma estocada tão forte que
meu corpo impulsionou para cima.
Ele segurou minha cintura e me fodeu tão intensamente que eu sentia
suas bolas batendo em minha bunda. Arranhei suas costas, querendo colar
seu corpo no meu. Ele me beijou firmemente, apertando meu seio, em
movimentos ritmados. Ele se afastou um pouco e encontrou meu clitóris
com o polegar, fazendo movimentos circulares nele. Eu estava sendo
estimulada em todos os pontos do meu corpo e queria mais. Ele nunca era
demais para mim. Um tremor percorreu meu corpo e contraí minha vagina
com seu pau dentro de mim. Minhas pernas estavam bambas e gemi dentro
de sua boca, experimentando o orgasmo mais magnífico que já tive em
minha vida.
Ele se afastou, olhou nos meus olhos, saiu de dentro de mim e me virou
de bruços com cuidado, para não me machucar. Ele penetrou novamente,
sem aviso prévio, segurando-me pela bunda, apertando minha carne. Eu
tentava rebolar, mas ele me segurava no lugar, metendo com força até o fim
e começando tudo de novo. Os movimentos foram ficando mais fortes e
mais rápidos, os sons de nossos corpos batendo um contra o outro. Eu sentia
uma leve dor em meu corpo, mas não queria parar, eu queria mais.
― Você é tão gostosa, porra de mulher gostosa. ― Ele deu um tapa em
minha bunda, o que foi o meu fim. Gozei intensamente novamente,
apertando seu pau dentro de mim.
― Porra, Gabriela, você vai me esmagar. ― E assim ele gozou, pulsando
dentro de mim, soltando um grito rouco e prazeroso em meu ouvido. Ele me
puxou, ficamos de joelhos juntos e nos beijamos de costas. Não consegui
suportar o peso do meu corpo e caí para frente. Não sabia que precisava
ouvir Matteo gozar até ouvir o som que saía de sua boca.
― Caralho, Gabriela, você é gostosa demais. ― Ele disse ofegante,
deitando de barriga para cima, enquanto eu estava na mesma posição, ainda
sem forças. Acho que minha pressão até caiu.
― Três vezes, eu gozei três vezes. ― Disse com a voz fraca, olhando
para o nada, de barriga para baixo.
― Sim, e da próxima vez será ainda melhor, preferencialmente a noite
toda. Vem cá, deite-se aqui. ― Pediu olhando para mim com um sorriso
satisfeito no rosto.
― Não tenho forças, deixa-me aqui só um pouquinho. ― Ele se sentou
rapidamente, afastando meu cabelo do rosto.
― Merda, sabia que não deveríamos ter feito isso hoje. Desculpa por te
deixar mais fraca, vou chamar o médico. ― Ele se levantou, mas segurei
seu braço.
― Para com isso, minha alma ainda não voltou totalmente para o meu
corpo. Estou bem, mas não vou negar a comida da Margô agora. ― Falei
rindo e me virando de barriga para cima.
Ele se sentou e me puxou para o seu peito.
― Nunca mais faça isso, não quero nem pensar em te perder, ouviu? ―
Por que esse homem é assim? Perfeito.
Ele pegou seu celular e mandou uma mensagem para a Margô trazer
minha comida.
― Olha, eu não perguntei se podia gozar dentro de você. Me perdoa, não
consegui me controlar. ― Disse se culpando.
― Não tem problema. Tenho um chip contraceptivo e estou saudável.
Fiz exames quando Miguel me levou à clínica assim que cheguei aqui.
― Eu também estou limpo. Quero que você me prometa que não
esconderá nada que te incomode de mim. Promete? ― Pediu passando a
mão na minha cabeça, fazendo carinho.
― Prometo. E você também promete?
― Eu prometo, minha pequena, sempre. ― Prometeu beijando minha
cabeça.
Nunca me senti tão segura como nos braços dele.
Gabriela estava comendo uma sopa feita por Miguel, pois segundo
Margô, ele não a deixou ficar no fogão e isso não agradou a Carmem, que
não gostava de mais alguém mexendo em sua cozinha.
Gabriela passou os lençóis pelos seios e estava sentada encostada na
cabeceira da cama, com a bandeja em seu colo. Mesmo com os cabelos
bagunçados, sem maquiagem e um semblante cansado, ela continuava
perfeita. Sentir o seu gosto, engolir seus gemidos era, de longe, a coisa mais
prazerosa que já fiz com uma mulher. Ela superava todas as outras que
passaram pela minha cama.
― Você se arrependeu? Quero dizer, depois do nosso primeiro encontro
no banheiro? ― Gaby perguntou enquanto levava uma colher à boca.
― Não, por que essa pergunta? ― Inquiri.
Ela abandonou a colher dentro do prato e pegou o copo de suco.
― Fiquei pensando nisso durante todo o tempo em que estive no
cativeiro. Tive medo de morrer sem saber a verdade, sem te ver novamente.
― Coloquei a bandeja no chão ao lado da cama, surpreso por ela ter
passado tanto tempo angustiada.
Nunca me arrependeria de nada relacionado a ela.
― Você ficou o dia todo sumido. Esperei para te ver à noite e você
nunca chegou. ― Ela terminou o suco e eu tirei a bandeja do seu colo,
colocando-a no chão.
― Está acontecendo uma investigação na minha organização e precisei
resolver algumas coisas. Passei o dia todo trabalhando. Cheguei em casa de
madrugada e você estava dormindo com as crianças. Dei beijos em vocês,
pensei em te tirar da cama e te levar para a minha, mas as crianças estavam
grudadas em você e não tive coragem de acordá-las.
― Sério? ― Ela parecia surpresa.
― Sim, sério. Nunca me arrependeria de nada relacionado a você. Minha
paz e minha felicidade vêm de você. Nosso destino é ficarmos juntos. ―
Coloquei-a em meu colo, com uma perna de cada lado da minha cintura, de
frente para mim.
Segurei seu rosto com as duas mãos para que ela olhasse nos meus olhos.
― Serei direto com você. Meu mundo é complicado, minha rotina é
irregular. Não tenho horários nem dias fixos para nada. Os negócios lícitos
e ilícitos ocupam meu tempo. Mas nos últimos dias, voltar para casa e te
ver, mesmo que seja de longe, é a melhor parte do meu dia. ― Ela franzia
as sobrancelhas e segurava meu rosto da mesma forma que eu segurava o
dela.
― Há quanto tempo você me vê dessa forma?
― Não faz muito tempo, mas desde o primeiro dia eu reparei em você.
― Eu também reparei, até te dei um apelido. ― Gaby soltou meu rosto e
eu soltei o dela, então ela passou os braços pelo meu pescoço, com um
semblante divertido.
Ah, é? E qual seria? ― Perguntei, curioso.
― Senhor "Hugo". ― Ela sorriu.
― Não entendi, meu nome não tem nada a ver com Hugo! ― Respondi,
achando graça.
― Tem sim, e muito. ― Ela insistiu.
― Me explique então, pequena.
― Você é o meu senhor... "Hugostoso". ― Olhei para ela, sem acreditar,
e ambos explodimos em uma gargalhada gostosa, algo que não acontecia há
muito tempo.
― Você é incrível, sabia? ― Falei, rindo, enquanto ela controlava sua
risada, a mais linda que já ouvi. Ela se ajeitou no meu colo e me olhou
séria.
― Você não acha que estamos indo rápido demais? Quero dizer, como
vai ser daqui para frente?
― Vai ser da forma que você quiser, sem pressa ou com pressa. Não me
importo, desde que você esteja aqui comigo. Isso é o que importa.
― Eu não sei nada sobre você, sobre a sua organização. E o que as
pessoas vão pensar?
― Sobre a organização, eu e os rapazes vamos te atualizar com o tempo.
Você não ficará no escuro comigo. E sobre o que as pessoas vão pensar, não
ligo. Ser chefe tem suas vantagens, e o resto eu resolvo.
― Sempre mandão, agora entendi o porquê.
― Eu já disse que com você eu sou mandão só aqui na cama. ― Ela
começou a se esfregar em mim, e se eu não tomasse uma atitude,
acabaríamos transando novamente.
No entanto, ela precisava descansar. Ela não negava sexo, e eu adorava
isso. Nós nos divertiríamos muito nessa cama.
― Eu te quero tanto, ou até mais que você, pequena. Mas vamos com
calma, sim? Você precisa descansar, eu tenho que resolver o massacre que
aconteceu agora há pouco, e você precisa conversar com sua irmã e seus
amigos. Eles devem querer ficar com você. ― Segurei sua cintura com
pesar, meu pau já doendo de tesão.
― Você falando assim, parece que sou uma maníaca por sexo, mas eu
imaginei tanto ter você assim. ― Ela tentou forçar os movimentos
novamente, e eu me mantive firme.
Adorava como ela falava abertamente sobre sexo.
― Eu sei que imaginou e até chamou meu nome enquanto gozava. ―
Sussurrei em seu ouvido, e todos os pelinhos do seu braço se arrepiaram.
― Como... você sabe? ― Gabriela se afastou e olhou nos meus olhos.
― Eu te ouvi e te vi, e não vou mentir, me masturbei te admirando. ―
Assumi, sabendo que estava completamente viciado nela.
― Não! Ai meu Deus, que vergonha! Você estava me observando? No
quarto? Aquela noite? ― Ela pulou do meu colo e se deitou de barriga para
cima.
― Sim, eu estava. Me desculpe, eu fui ao seu quarto e quando você
entrou, fiquei sem reação e tive que me esconder. E você me surpreendeu.
Não queria parecer um psicopata, então fiquei lá escondido. ― Deitei-me
ao seu lado, e ela virou o corpo ficando de frente para mim.
― Está parecendo um agora. ― Ela riu e passou a mão no meu rosto.
― Eu fico assim perto de você, faço coisas estranhas.
― Eu gosto disso, de saber que mexo com você. ― Ela sorriu e se
aconchegou no meu peito, e eu a abracei e beijei a sua cabeça.
― Você não está assustada com a situação? Com o que eu contei sobre te
observar ou sobre eu ser mafioso?
― Sobre a situação, estou feliz por estar viva. Eu já estava conformada
com a morte. Sobre me observar, é novo para mim. Assim como você
mandar e eu obedecer na cama, isso me deixa excitada. E sobre ser mafioso,
vou aprender a conviver com isso. Não sei se será fácil, mas estou com a
mente aberta. Só não apareça todo sujo de sangue perto de mim e das
crianças, como os mafiosos dos meus livros, por favor. ― Ela disse
seriamente, mas no final sorriu.
― Claro que nunca faria isso. Afinal, tenho banheiro e roupas na boate e
no escritório para isso. ― Sorri para ela, que já estava séria.
Ela se sentou na cama e olhou brava para mim.
― Boate? Tipo boate de mafioso com prostitutas? ― Puxei-a de volta
para a cama.
― Sim, com prostitutas, mas também com porão de tortura, depósito de
armamentos e um escritório. No entanto, não fico necessariamente com
prostitutas. Serei fiel a você sempre. Sou um homem de uma mulher só.
Não coloque coisas na sua cabeça, certo? Não sou um mafioso padrão. ―
Ela suavizou o olhar e me abraçou novamente.
― Certo, eu entendo e gosto disso, de você não ser 100% mal. Aliás,
obrigada por ajudar a minha irmã. Eu sei como ela pode ser brava e
insistente quando quer alguma coisa. ― Tenho muitos assuntos para
explicar e conversar com Gabriela, inclusive sobre a irmã, mas vou deixá-
las conversarem sobre isso.
― Sim, ela é. Eu iria te resgatar de qualquer forma. Ela só adiantou o
processo. Aliás, o que você acha de eles ficarem aqui na mansão até você se
recuperar totalmente? Não quero que você vá para sua casa, não quero que
fique longe de mim. ― Já tinha pensado na possibilidade de ela ir para casa
e não estava feliz com isso.
― Eu não quero dar mais trabalho para você, e estou bem, só um
pouquinho com o corpo doendo. Já posso voltar ao trabalho, só não vou
conseguir pegar as crianças no colo, eu acho.
― Nem pensar, pequena. Você vai se recuperar aqui neste quarto,
nesta cama. E não aceito um não como resposta. Você já sabe, né?
― Adoro quando me chama de pequena. ― Ela disse me beijando no
canto da boca.
― E eu adoro você. ― Pesquei seu lábio inferior com os dentes e o
lambi.
Que mulher gostosa da porra, não queria soltá-la, mas fomos
interrompidos com uma batida na porta.
― Eu estou pelada, Matteo.
― Fala de novo.
― Estou pelada.
― Não, o meu nome, assim descontraído.
― Matteo, Matteo, Matteo. ― Ela repetiu, me deixando ainda mais
excitado.
― Vou te foder por cada "Matteo" sexy que saiu da sua boca. ― Puxei
sua nuca e enfiei minha língua sem aviso, procurando a dela.
― Eu vou dizer muitas vezes durante o dia então. Posso anotar num
caderninho se o senhor "Hugo" quiser. ― Porra, esse senhor fica fora de
contexto na sua voz. ― Senhor “Hugostoso”.
― Porra, Gabriela, não brinca com fogo. ― Outra batida na porta
chamou nossa atenção.
Peguei o roupão que estava no chão e dei a ela para vestir. Coloquei uma
calça de moletom porque estava só de cueca e fui abrir a porta, me
surpreendendo com as duas razões da minha vida vestindo pijamas fofos e
suas pantufas de patinhas que Gabriela tinha perdido na porta do
restaurante.
― Acho que você tem visita. ― Falei abrindo a porta para eles entrarem.
― Oi, meus amores, eu estava com tantas saudades de vocês. ― Ela
falou batendo a mão no colchão para as crianças subirem, e elas não
pensaram duas vezes antes de pular nos braços dela.
― O moço mal fez isso no seu rosto? ― Dante perguntou passando a
mãozinha no hematoma de Gabriela.
― Fez sim, meu príncipe, mas eu já estou bem. Seu papai me salvou. ―
Ela contou, abraçando os dois.
― Quando eu crescer, vou ficar forte igual ao papai e ninguém vai
machucar você nem a minha irmã. Vou proteger as duas. Papai vai estar
velhinho, e eu vou protegê-lo também. ― Dante falou, arrancando risadas
de nós.
Eu não resisti àquela cena e me sentei ao lado deles.
― Eu pedi ao papai do céu para proteger você, tia Gabyzinha. Pedi
muito. ― Nina falou, indo se deitar na barriga de Gabriela, e Dante veio
para o meu colo.
― Eu também, pequena. Pedi muito a Deus para acalmar o coraçãozinho
de vocês dois. ― As lágrimas já desciam por sua bochecha. ― Onde vocês
acharam essas pantufas? ― Gabriela perguntou com um sorriso lindo no
rosto.
― A tia Bea trouxe para nós. Disse que foi presente seu e que
quando você voltasse, nós íamos usar os três iguais. Podemos comprar um
para o papai também? ― Nina perguntou inocente, sem perceber que a
inclusão de Gabriela em nossa pequena família já estava sendo feita.
― Claro, meu amor. Seu pai vai ficar lindo com a pantufa. ― Gaby
falou rindo e secando as lágrimas ao mesmo tempo.
Beatriz foi um alicerce muito importante para nós, e eu sempre vou ser
grato por isso. Vou ter uma conversa séria com Romeo a respeito do acordo.
― Tia Gabyzinha, podemos dormir aqui? Nós quatro? Não quero que
você saia de perto de nós nunca mais. ― Dante pediu se aconchegando em
meu braço, e nos deitamos os quatro, um abraçando os outros.
― Claro que podem. ― Falei me acomodando para abraçar os três.
Gabriela me agradeceu com o olhar, e assim tive a noite de sono mais
especial da minha vida. Eu iria querer isso todos os dias e iria lutar até o
último suspiro.
Acordar de manhã com o braço dormente nunca foi tão satisfatório como
hoje. Dante estava com a perna na minha barriga e a cabeça na barriga de
Gabriela, Nina com os bracinhos em volta do meu pescoço e as pernas na
barriga do irmão. Gabriela tinha uma mão nas costas de Nina e a outra
embaixo do braço de Dante, usando meu braço como travesseiro.
Era a bagunça mais gostosa de se ver. Não sabia onde começava um e
terminava o outro. Se no leito de minha morte eu tivesse apenas um
momento para lembrar, seria esse, com toda a certeza da minha existência.
Levantei-me com cuidado, tomei um banho e fiz minha higiene matinal.
Não queria sair desse quarto, mas o trabalho me chamava. Não queria
deixar Gabriela com pensamentos ruins, ela já estava abalada o suficiente
para achar que me arrependi, como da última vez. Então, peguei um bloco
de notas e deixei um bilhete para ela na mesa de cabeceira. Dei um beijo em
cada um deles e saí do quarto.
Antes de dormir, pedi para Margô acomodar nossos convidados nos
quartos de hóspedes. Imagino que Beatriz deva estar maluca para falar com
a irmã, já deve até ter acordado. Mas não podia perder tempo, tinha que ir
para a boate, entender como Carlos se envolveu com os russos.
Desci as escadas e cumprimentei Margô. Disse a ela que as visitas
poderiam ficar o tempo que quisessem e proibi Gabriela de fazer esforços.
Mandei levar um café da manhã para as três crianças que estavam na minha
cama e chamei o médico para examiná-la mais uma vez.
Giovanni estava com a porta do carro aberta, como sempre, fui seguido
por ele e Luigi para o interior do carro.
― Achei que não ia sair mais daquele quarto. Queria ser uma mosquinha
para saber o que vocês tanto fazem lá. ― Giovanni não ia me tirar do sério
hoje.
― Se você fosse uma mosca, já teria te esmagado.
― Como ela está? ― Luigi perguntou sério.
― Por incrível que pareça, bem. Apesar dos hematomas e uma dorzinha
aqui e ali, ela está bem. Como ela disse, está com a cabeça aberta. Aliás,
vocês dois têm autorização para contar a ela aos poucos como funciona
nosso mundo. Vou precisar de ajuda.
― Estou aqui para ajudar. ― Giovanni disse prestativo.
― Pode contar comigo também. A parte em que você está noivo, você já
contou para ela?
― Não, eu estava em outro mundo dentro daquele quarto e permiti-me
viver o momento. Não queria pensar em problemas, mas vou achar o
momento certo para explicar a situação a ela. Descobriram como o defunto
teve ajuda dos russos? E onde está Romeo?
― Romeo foi expulso da mansão pela sua futura cunhada ― respondeu
Luigi.
― Aquela ali tem a raiva de dois Pinschers na TPM. Ela não suporta
nem estar no mesmo ambiente que ele, imagina casar-se ― contou
Giovanni, e nós rimos da situação.
― Ela não tem um pingo de medo dele, mesmo sabendo quem ele é. Vai
ser divertido ver os dois se matarem ― Luigi riu, colocando a mão na
barriga.
― Romeo acha que fez um bom negócio, mas não sabe a enrascada em
que se meteu. Nunca é bom obrigar uma mulher a fazer algo que ela não
queira, ainda mais se casar.
― Mas não podemos negar que ali tem fumaça, e onde tem fumaça, tem
fogo. Vou assistir como se fossem os meus Doramas, comendo pipoca ―
Giovanni disse, referindo-se às novelas que ele adora assistir.
Fofoqueiro e noveleiro, quem olha para esse brutamontes cheio de
músculos não imagina isso.
― Vamos falar do que importa ― desci do carro e entrei na boate.
Estava tudo em silêncio, nada indicava que à noite aquilo ali era pura
putaria. Lembrei de Gabriela brava ontem por eu dizer que tomava banho
aqui antes de ir para casa. Eu sei que nem todos os dias são bons, mas será
que seria sempre assim? Acordar com essa sensação boa no peito?
Segui para meu escritório, sentei-me em minha cadeira, e Giovanni já
me entregou o relatório, explicando.
― Ele teve ajuda do pai, na verdade, o pai orquestrou tudo. A milícia
brasileira devia um favor a ele. Eles têm negócios com os russos, e foi fácil
juntar dois mais dois. Estão juntos no tráfico de mulheres, e o pai de Carlos
auxiliava-os. A investigação da Polícia Federal do Brasil era basicamente
sobre isso. Quando souberam que ela trabalhava para você, foi o ápice para
os russos. O plano era usá-la para te atingir também. Carlos e o pai seriam
descartáveis depois disso para eles.
― Eu imagino que eles eram merdas, mas ser tão baixos a ponto de fazer
tráfico de mulheres é demais ― Eu não suportava qualquer tipo de
violência contra a mulher.
― Eles tinham um plano, e os russos tinham outro. Agora eles vão
retaliar a perda dos seus soldados, você sabe, né? Foram pelo menos 16
soldados mortos ― Luigi falou pensativo.
― Sei, e estou esperando por eles. Não vejo a hora de tudo isso acabar.
Preciso apenas de uma prova, nada mais, e arranco o mal pela raiz.
― Você vai ter, Agatha vai conseguir alguma coisa, tenho certeza. Pelo
que você disse, ela está bem-motivada ― Giovanni ponderou.
― Ela vai conseguir, e temos que estar atentos para tirá-la daquela casa
antes da bomba estourar. Não posso envolver meus pais sem ter provas.
Papai vai ficar decepcionado quando souber de Roberto, mais uma vez
cometendo os mesmos erros ― comentei.
― Sim, mas esse vai ser o último ― Luigi falou, olhando nos meus
olhos, e ali eu vi a tristeza que passou como recordação.
― Você está realmente bem com isso? ― perguntei.
― Não se preocupe comigo. Eu estou mais que conformado ― eu
confiava a minha vida e a vida da minha família nas mãos desses dois à
minha frente.
Se por algum motivo Luigi me pedisse para não matar seu pai, eu daria o
pior castigo e tortura a ele, mas não o mataria. O fato é que ninguém foi tão
prejudicado nessa história quanto ele. As torturas nas mãos de Roberto, a
perda da mãe... Eu entendia meu primo e o apoiava.
― Certo, vamos agilizar as coisas por aqui. Tenho três motivos para
voltar para casa cedo ― Giovanni e Luigi me olharam com os olhos
arregalados.
― Está apaixonado mesmo, não é? Achei que ia demorar para assumir,
já que em seus olhos já víamos esse sentimento. Um mafioso italiano
abatido por uma brasileira, roteiro de novela, não vou negar ― Giovanni
comentou rindo.
― Eu sei que não vai ser fácil, mas não me importo. Já assumi: estou
apaixonado mesmo por ela, e quero tê-la comigo até meu último suspiro.
― E estaremos lá no altar com você, para assistir ao primeiro futuro Don
da Casa Nostra se casar por amor. Vai entrar para a história ― Luigi se
levantou e apertou minha mão.
― E eu desejo que vocês dois passem por essa experiência também.
Eu achava que não era possível amar alguém além dos meus filhos, e olha
eu aqui, doido para ir para casa.
― Você já falou sobre isso com ela? Afinal, agora não tem mais nada
que a prenda aqui em Portugal. Carlos está morto, ela pode voltar à vida
dela, continuar os estudos.
― Não falamos sobre isso. Vou conversar com ela, ser claro sobre o que
eu sinto e ver qual será a sua decisão ― Não tinha pensado sobre isso, ela ir
embora para o Brasil.
Será que ela me escolheria? Ela podia estudar aqui e ter uma vida nova,
um recomeço, quem sabe.
― Vamos parar com esses pensamentos. Tive uma informação sobre
onde os ratos dos russos se escondem. Além disso, eles têm uma carga de
armamento esperando para ser descarregada ao anoitecer ― Giovanni falou
sério.
― É a oportunidade de mandar um recado para Nikolai e tirar a sua
tropa do nosso território. Como você ficou sabendo disso? ― Luigi
perguntou.
― Tabata, a minha informante exclusiva, atendeu um cara ontem à
noite. Ela percebeu que ele era russo e seguiu as minhas instruções. Ele
estava morto de bêbado e contou a ela sobre o carregamento. Ela me avisou
e eu mandei um soldado seguir o sujeito, que nos entregou o local como um
bom menino ― contou orgulhoso.
― Vai ser excelente acabar com isso antes dele retaliar a noite de ontem.
Chame Romeo e reúna todos os soldados. Aumente a segurança na mansão.
Ninguém entra nem sai de lá até acabarmos ― Falei, já me encaminhando
para o setor de armamento. Teríamos um banho de sangue hoje.

Estávamos dentro de uma van com os vidros escuros, esperando o


momento certo para invadir. Romeo estava na segunda van com os seus
soldados. Usávamos escutas enquanto esperávamos o sinal dos operadores
dos drones.
― Vai poder gastar um pouco da sua raiva hoje, Romeo, já que Bea te
expulsou ontem e você não pode fazer nada ― Giovanni debochou.
Só nós quatro estávamos ativos no ponto de escuta nesse momento.
― Pra você é Beatriz, ela é minha noiva, então tenha mais respeito. E
espero que sirva mesmo para me desestressar.
― Não vai ser fácil conquistar aquele coração raivoso ― Luigi entrou na
brincadeira.
― Nada que é fácil vale a pena. Gosto de coisas difíceis.
― Vamos parar com papo furado, e Romeo, quero conversar com você
quando isso acabar. Não esqueça ― Falei, conferindo as minhas armas e
adagas nos coldres.
Recebemos o sinal e saímos da van, agachados e em silêncio, afinal,
ainda era dia e queríamos ter o elemento surpresa a nosso favor. Nós nos
dividimos e fomos para a porta dos fundos. Era uma casa antiga, mas bem
espaçosa, com vários carros no pátio, sinal de que tinha muita gente ali.
Entramos e, logo de cara, abatemos três soldados na cozinha. Com o
silenciador, acertei um que vinha por um corredor estreito com várias
portas. Um homem saiu do banheiro e eu passei a lâmina da minha adaga
em sua garganta. Luigi acertou um soco no homem que pulou uma escada
em nossa direção e, com um golpe, o desarmou, quebrando o seu braço.
Peguei minha Glock e atirei na sua cabeça. Não queria prolongar aquilo.
Giovanni e Romeo já faziam o seu trabalho na frente da casa. Subimos
as escadas e encontramos mulheres drogadas e nuas caídas por vários
cômodos da parte superior da casa. As ignoramos e seguimos para os
quartos. Chutei a primeira porta e atirei certeiro no russo. Peguei outro de
surpresa. Já estava todo sujo de sangue, e foi impossível não lembrar do
pedido de Gabriela. Sorrindo, saí do quarto.
Luigi estava de costas e um russo maldito o tinha na mira. Não pensei
duas vezes e entrei na sua frente, girando minha arma no ar e acertando uma
bala na barriga do desgraçado, que caiu no chão. Luigi se virou e mirou
bem entre seus olhos, eliminando-o. Senti algo quente escorrer pela minha
barriga e olhei para baixo, sabendo o que era.
― Porra, Matteo! Por que você fez isso? Eu estou aqui para proteger
você, não o contrário ― Luigi falou bravo, me apoiando pelo braço para me
sentar.
― Você é meu primo, eu te defendo. Nós três contra todos, lembra? ―
Falei, já sentindo uma vertigem me atingir.
― Você é louco. Agora vamos sair daqui.
― Mande alguém tirar essas mulheres daqui.
― Que diabos aconteceu aqui? ― Giovanni chegou correndo com
Romeo.
― Eu fui baleado, não está vendo? Como está lá embaixo?
― Todos eliminados, mas temos informações de que estão vindo mais
carros para cá. Já estamos prontos para terminar o trabalho, mas agora você
tem que sair daqui ― Romeo falou sério, ajudando Luigi a me erguer.
― Ok, mas não vou estar longe. Vou aguardar na van. Vocês acham que
estamos em um número bom para terminar isso?
― Sim, mais fácil do que Beatriz expulsando Romeo de casa ―
Giovanni falou rindo. Eu não aguentava esses dois se provocando.
― Deixem um vivo para mandar um recado para Nikolai, na Rússia.
Não aceito esses desgraçados no meu território ― ordenei.
Luigi me ajudou a chegar na van, pegou a caixa de primeiros socorros e
conferiu que a bala tinha saído, então era só suturar. Ele queria chamar um
médico, mas eu não tinha tempo, então mandei-o costurar sem anestesia
mesmo. Ele me deu uma garrafa de Vodka que achou na casa dos russos, a
única coisa de valor que aqueles malditos tinham. Jogou na ferida, peguei a
garrafa e virei direto na boca. Luigi costurou a entrada e saída da bala, e em
seguida ouvimos a troca de tiros. Eu me levantei e saí da van.
― Aonde você vai, seu louco? ― Luigi perguntou incrédulo.
― Lutar com os meus soldados, e você também vem ― falei
determinado.
Não ia deixar os meus soldados sozinhos. Sou um líder, não um covarde.
Acabei com o máximo de russos possível. Nossos corpos estavam
cobertos de sangue, e nossa cidade estava livre desses abutres. Mandei de
volta um russo bastante machucado, com um recado claro de que ele nunca
mais deveria colocar os pés no meu território. Além disso, o presente do
caminhão de armas dele iria para o meu acervo.
Acordei de manhã com dois anjinhos enrolados em mim, mas Matteo
não estava na cama. Imediatamente senti falta das suas mãos em mim. Ele
sempre encontra uma maneira de me tocar, e eu adoro esse lado possessivo
dele. Às vezes, me sinto uma doida varrida, porque Carlos costumava agir
assim e eu odiava. Mas a forma como Matteo lida comigo é diferente. Ele
tem cuidado, carinho, desejo bom. Ele não me oprime, não me diminui, ele
me respeita, e isso conquistou meu coração.
Meu corpo está doendo mais do que o normal. A adrenalina passou, o
sangue esfriou, e agora estou sentindo os efeitos colaterais dos socos e tapas
que levei. Além disso, há o lado emocional. Carlos e seu pai morreram, mas
não sinto muita pena, queria que eles pagassem pelo que fizeram comigo,
mas nunca imaginei um desfecho assim. Se foi assim, é porque Deus quis.
Tomei uma decisão: não ficarei remoendo o passado nem me culpando
como antes. Tenho uma nova história para escrever ao lado das pessoas que
me amam.
Olhei para o lado e encontrei um bilhete: "Bom dia, minha pequena
gostosa. Espero que o seu dia seja lindo e gostoso, assim como o seu corpo
é. PS: Me espere na cama. Para sempre seu, Matteo." Minha nossa senhora
das calcinhas molhadas, esse homem não existe!
Ele mexe comigo apenas com palavras, nem parece real. Tenho medo de
estar fazendo tudo errado, de ser enganada e acabar em outra situação ruim.
Não posso viver minha vida com medo. Não aceito isso. Se é para
recomeçar, que seja de forma diferente. Quero ser forte e corajosa.
Ainda estou confusa em relação à máfia. Gostar de literatura sobre o
tema é uma coisa, mas vivenciá-lo é bem diferente. Não quero viver com
medo sempre que Matteo ou os rapazes saírem de casa ou temer pela
segurança das crianças. Há muitas coisas para pensar. Preciso avaliar minha
situação com Matteo. Ele é mafioso, mas nunca me fez mal. Pelo contrário,
ele me salvou não apenas do perigo do cativeiro, mas também salvou minha
alma e meu coração. Se o que ele disse sobre ser um homem diferente
dentro de casa for verdade, não vou me privar de viver nossa história, seja
ela longa ou curta.
Sentei na cama com cuidado para não acordar as crianças. Esses anjinhos
já são parte do meu coração. Antes de pegar no sono, agradeci a Deus por
ter guiado todos que me salvaram e por me dar uma segunda chance. Fui
para o banho pensando na Sofia e na Marta. Preciso pedir a Bea para ligar
para elas, já que estou sem celular.
Tomei um banho digno de princesa e fiquei pensando em como minha
vida mudou. Esse banheiro, essa casa, tudo parece um sonho. Mas não
posso ficar dormindo aqui no quarto de Matteo. Afinal, ele é meu chefe, e
não vou abrir mão do meu emprego. Vamos ter que encontrar um meio-
termo.
As crianças ainda estão dormindo, então decidi descer e pedir para
Margô ligar para minha irmã vir me ver aqui, já que Matteo não quer que eu
saia. Acho que ele não vai se importar com a visita, né?
Ouvi barulho na sala de jantar. Será que Giovanni e Luigi estão em casa?
Ao passar pela porta, meu coração deu uma batida errada. Bea, Miguel,
Madá e Margô estão sentados em volta da mesa de jantar, que agora, com
tantas pessoas, não parece mais tão vazia. Minha mente viajou por um
segundo, imaginando as crianças, Matteo, Luigi e Giovanni. Seria a família
perfeita, sem cadeiras vazias. Sou muito sonhadora mesmo.
― Em que está pensando, minha querida? ― Bea perguntou, vindo me
abraçar com cuidado devido aos meus hematomas.
― Desci para pedir a Margô para ligar para vocês virem me ver, e vocês
já estão aqui! ― Falei sorrindo. ― Será que o senhor Matteo vai ficar
bravo? ― Perguntei, me virando para Margô.
― Por que ele ficaria bravo, minha menina? Ele mesmo me pediu para
arrumar os quartos de hóspedes para esses anjos que estão alegrando esta
casa. Eu sempre sonhei com esta casa cheia de gente. ― Margô comentou,
me surpreendendo tanto sobre Matteo quanto sobre a sua alegria com nossa
presença.
― Como assim? Vocês dormiram aqui? ― perguntei, olhando para os
quatro sentados à mesa.
― Sente-se aqui para comer. Margô preferiu não levar o café da manhã
para que vocês quatro pudessem dormir mais. Aliás, vocês quatro, hein? De
babá a senhora da casa. ― Madá brincou sorrindo e puxando uma cadeira
para mim.
― Nunca mais diga isso, sua doida! "Senhora da casa" não existe! Daqui
a pouco vão dizer que sou uma interesseira de verdade. ― Falei dando um
tapa no braço de Madá, e todos riram da minha expressão.
― E posso saber quem está dizendo que você é uma interesseira? ―
Miguel perguntou, cortando um pedaço do divino bolo de laranja que sei
que foi ele quem fez, e colocando no meu prato.
― Minha cabeça está dizendo.
― Então avise sua cabeça que quem manda aqui é meu menino Matteo e
que a palavra dele é lei, se é que você ainda não percebeu. ― Margô falou e
me serviu um copo de café.
Estão me paparicando muito. Vou acabar me acostumando.
― Desculpa, Margô, sou meio paranoica às vezes, mas não quero, em
momento algum, que pensem mal de mim. Ainda nem sei o que temos, mas
não quero abandonar meu emprego. ― Falei, tomando o suco que Margô
colocou na minha frente.
― Não pense assim, irmã. Vocês conversaram sobre o que está
acontecendo? Porque está acontecendo, né? Vocês não só dormiram essas
duas vezes que se deitaram juntos, né? Onde foi parar sua versão safada da
Gaby? ― Bea brincou, e meu rosto corou de vergonha diante de Margô.
Olhei para ela, pedindo socorro, e Margô sorriu.
― Não é porque sou uma solteirona que não sei o que acontece dentro
de um quarto, menina. Já fui casada. Não fique com vergonha de mim.
Aliás, vou subir e arrumar as crianças, e vocês podem ir ao jardim um
pouco. Sei que tem muito o que ser dito. ― beijou minha cabeça e seguiu
em direção às escadas.
― Credo, vocês me matam de vergonha.
― Para com isso, termina esse café e vamos ao jardim para você pegar
um pouco de sol. Apesar de estar frio, vai fazer bem para você. Daqui a
pouco, o médico chega para te examinar novamente. Seu "mafioso
preferido" mandou que ele viesse enquanto você não estiver 100%
recuperada. ― Bea me informou, já terminando seu café.
― Olha só que virada, hein? Quem diria que chegaria aqui fugindo
do Carlos e acabaria sendo a rainha da máfia italiana. ― Madá falou com
deboche, sorrindo.
― Parem com isso, já disse que não sou nada disso. Nem sei ainda se o
que temos vai para frente.
― Como assim, Gaby? O cara matou mais de 16 soldados russos e ainda
aqueles dois filhos da mãe. Você acha que ele fez isso porque é um mafioso
bonzinho? ― Miguel perguntou sério, já com uma manta na mão,
passando-a pelos meus ombros.
Eu estava usando uma calça de moletom do Matteo e uma camisa branca
lisa dele. Iria sentir frio se ficasse assim.
― Eu sei que ele não é bonzinho. Conversamos um pouco, e ele até
disse que não me merecia. Vocês acreditam? O homem chorou de verdade e
disse que ia me proteger. ― contei, caminhando em direção ao lado de fora
da mansão.
Carmem estava na sala esperando, presumo que seja para retirar a mesa.
Chegamos ao lado de fora e nos sentamos em um sofá confortável no
jardim, nós quatro. O sol banhava meu rosto.
― Chorou? De lágrimas mesmo? Tipo, chorar? ― Madá perguntou
incrédula, deitando-se com a cabeça no colo de Miguel.
― Chorou, amiga, sério. Não vou mentir, estou emocionalmente abalada
com tudo. Ia contar para vocês o que Carlos fez na noite anterior. Nunca
esperava aquilo dele.
― Como você está em relação à morte deles? ― Bea perguntou.
― Não sinto nada, acredita? Só alívio de saber que estou livre. Será que
tenho algum problema?
― Por que você teria um problema? Sua doida? ― Madá perguntou,
rindo.
― Juram que não vão me julgar?
― Claro que não. Os loucos se reconhecem, por isso estamos juntos e
somos uma família ― Bea disse, e caímos na gargalhada.
― É que ele gosta de comandar na cama, sabe? Tipo, ele manda, e eu
obedeço, com um tesão lá nas alturas. Ele é possessivo comigo, sempre me
quer por perto, sempre me tocando, e é mandão ao extremo. E eu gosto
disso, nele, só nele. Carlos era possessivo, e eu tinha nojo dele. ― disse,
com vergonha, olhando para as minhas unhas da mão.
― Não precisa ter vergonha, irmã. Em relação ao Carlos, ele era
abusivo, tóxico, filho da puta, controlador, um bosta, um merda. Enfim, ele
não te merecia, e mereceu o fim que teve. ― Bea disse, passando a mão em
meus cabelos.
― Em relação ao sexo, que aliás você não contou pra gente se já
fizeram, é outro cara, outra história que você vai começar a escrever. E se
você sente tesão e se sente bem, então não é errado. Errado seria se você
sentisse nojo, como sentia com o Carlos. ― Madá falou, olhando nos meus
olhos.
― E não tem nada de errado com você gostar de ser submissa a ele na
cama. Só não pode ser fora dela. Entre quatro paredes, vale o que vocês
quiserem. Mas fora delas, você tem que se impor. ― Miguel disse, sério.
― Ele disse que na cama ele manda, mas fora dela, eu mando, e ele
obedece. ― contei, rindo, e eles ficaram de boca aberta.
― Irmã, me ensina esse "chá de perereca" porque eu tô passada.
― Aliás, ensina mesmo, já que agora Bea está noiva e vai precisar, pois
o noivo dela é um deus grego, quem é o filho de Afrodite perto daquele
deus da beleza? ― Madá falou, com o olhar sonhador e safado de sempre.
Pera aí, noiva?
― Sua bocuda, não era pra contar agora. ― Bea repreendeu Madá, me
assustando.
― Como você tá noiva se nem estava namorando? E o "pega mais não
se apega"? Onde foi parar? ― perguntei, curiosa.
Bea nunca namorou. Para ela, sexo é sexo, sem sentimentos. Ela teve
seus ficantes premium, mas nunca passou disso.
― Conta de uma vez, gente. Assim, Gaby já vai se adaptando ao novo
mundo que ela vai fazer parte. ― Miguel pediu, me preocupando ainda
mais.
― Não surta, tá bem? Fiz e faria de novo.
― Ok.
― Pelo que eu entendi, o filho do capiroto do Carlos teve ajuda da máfia
russa. Matteo está tendo um problema com eles e já tinha feito uma aliança
com um parceiro de negócios dele, o pau no cu do Romeo. Ele é chefe da
máfia de Las Vegas. Tudo na máfia tem um preço, e o Zé Mané exigiu que
eu me casasse com ele para pôr fim na guerra e te resgatar também. Pronto,
tô leve. ― Beatriz falou de uma só vez.
Eu fiquei um tempo tentando assimilar tudo.
― Ele não pode fazer isso, te obrigar. Isso não existe.
― Existe sim, Gaby. Na máfia, pode tudo, e esses caras não brincam. ―
Miguel afirmou.
― Além do mais, casamento por contrato é normal na máfia, e ele não
vai encostar em mim, aquele merda. ― Bea falou, séria, olhando para o
horizonte.
― Meu Deus, que confusão. Me desculpa, irmã. Não precisava ter feito
isso por mim. Eu estraguei a sua vida.
― Eu faria qualquer coisa por você, e eu vou infernizar tanto a vida
desse cara que ele vai pedir o divórcio em um mês. ― Se os meus livros
estão certos, na máfia não existe divórcio, da mesma forma que não existe
casamento com alguém fora dela.
Vou conversar com Matteo e implorar para ele intervir nessa loucura.
― Mudando de assunto, agora você está livre. ― Miguel falou, sorrindo.
― Sim, estou. A ficha nem caiu ainda.
― Quais são os planos? Vai voltar para o Brasil? ― Miguel perguntou,
curioso.
― Não pensei nessa opção. Estou confusa. Tenho medo de não ter mais
a minha bolsa de estudos, e não sei se vou me adaptar novamente a um
lugar que me fez tão mal. Por outro lado, tenho medo de o lance com
Matteo ser passageiro e eu trocar tudo de novo por um relacionamento sem
futuro, sabe?
― O ideal é pesar os prós e contras. Eu realmente acho que o seu lugar
não é mais no Brasil. Não é porque eu quero você aqui conosco, mas acho
que o Brasil já deu pra você. Tirando Sofia e Marta, não tem nada que te
prenda lá. ― Minha irmã ponderou, séria, segurando minhas mãos.
― Mas você também não vai estar aqui, né, amiga? Em breve vai para
Las Vegas. ― Madá debochou.
― Vou enrolar esse noivado o máximo de tempo que puder e vou me
divorciar bem rápido. ― Eu tinha que tentar resolver essa situação.
Minha irmã não podia pagar tão caro por terem me resgatado. Não era
justo.
― Vou conversar com Matteo, quem sabe ele pode ajudar.
― Não adianta, Gaby. Na máfia é assim: o homem que tem palavra tem
honra. ― Miguel falou, convicto.
― O que podemos fazer daqui pra frente? Estamos envolvidos com a
máfia agora. Que enrascada que enfiei vocês em?
― Estava pensando em vocês treinarem autodefesa e tiro. Eu também
vou. Segundo Matteo, se estamos nesse meio, temos que saber defender os
nossos. E vocês, principalmente, Bea, que vai para outro país, longe de nós,
e se casar com um cara que tem a fama de cruel e impiedoso como Romeo.
Ela tem que saber se cuidar. ― Miguel está muito envolvido com isso.
― Você tá sabendo muito sobre o assunto. Tá interessado em ser
associado à máfia? ― Bea perguntou a Miguel.
Eu não fazia ideia de como isso iria acontecer, mas sabia que eles não
iriam me abandonar, nem eu a eles.
― Andei conversando com Luigi e Giovanni. Eles são uma figura. E
Matteo também é gente boa. ― Respondeu ele.
Eu sabia o quanto eles eram especiais.
― Humm, olha só. Será que sai um romance aí? ― Madá perguntou,
animada.
― Não, nada a ver. Apesar de eu não ter percebido preconceito neles,
eles são muito héteros. E eu já tenho alguém no meu coração. ― Alguém
que ele nunca nos apresentou, aliás.
Miguel tem razão, temos que nos adaptar agora à nossa nova realidade.
Vou me recuperar e vou começar a aprender a me defender.
― Gostei da ideia. Será que Luigi e Giovanni ajudam a gente? Você está
dentro, Madá? ― Perguntei a Madá, que olhou pensativa.
― Claro que sim. Nós quatro somos família. Onde vocês estão, eu
estarei. E eu adoraria ter uma arma. ― Meu Deus, não sei se isso é ruim ou
péssimo.
Bea e Madá são mais parecidas do que eu e minha irmã. Elas já são um
perigo para a sociedade, imagina portando uma arma.
― Vamos começar essa semana mesmo. Vou conversar com Matteo e
pedir ajuda a eles. Por enquanto, vou me permitir e viver o momento.
Apesar da noite passada, eu estou muito feliz. Vocês aqui, mais Matteo...
acho que agora é minha chance de ser feliz. Quanto à faculdade, eu penso
depois. Mas acho que não quero voltar. ― Já estava decidida, e sim, queria
ser feliz.
Ficamos até quase a hora do almoço conversando. As crianças
apareceram, e brincamos com elas. Eu estava sentada, claro. O médico me
examinou e disse que eu estava bem. Passou pomada para os hematomas
desaparecerem mais rápido e um remédio para dor mais forte.
Após o divino almoço que Miguel fez para nós, até Margô se sentou na
mesa para almoçar com a gente. Eu fui dormir um pouco, o remédio era
mais forte e me dava sono.
Mais tarde brincamos com as crianças de esconde-esconde na parte
superior da casa. As crianças mostraram as passagens secretas para eles. Eu
fiquei mais quietinha, queria guardar minhas energias para Matteo à noite.
Meus amigos e irmã foram embora depois do jantar. Segundo eles,
precisavam trabalhar, mas me prometeram vir me ver todos os dias, já que
Matteo liberou a entrada deles.
Coloquei as crianças para dormir e acabei cochilando com eles. Acordei
já passava da meia-noite. Fui ao meu quarto, peguei uma camisola preta de
seda e renda que minha irmã me deu. Era bem sexy e curtinha. Subi para o
quarto de Matteo e tomei um banho bem gostoso e me perfumei para ele.
Queria muito que ele chegasse logo. Meu coração estava apertado de
saudades.
Resolvi todos os pormenores da ação desta manhã. Enviei o russo para o
Nikolai bem machucado, com um bilhete no bolso. Espero que entenda o
recado. Também enviei um dos meus melhores soldados, bem treinado e
executor, para tentar se infiltrar no território do Nikolai.
Para minha alegria e não tanta surpresa, pois sei da competência dos
meus irmãos, Giovanni já o tinha enviado para a Rússia há algum tempo
com a intenção de tê-lo como informante. A parte relacionada à polícia foi
resolvida por Luigi. Como sempre, eles fizeram vista grossa e anunciaram
uma guerra de gangues de bairro, passando pano para a máfia. Eles ganham
muito bem para se manterem calados quando necessário.
Na boate, o médico da família que atendeu Gabriela veio me examinar a
pedido de Luigi e Giovanni, que não me deram sossego até eu aceitar. Ele
reafixou a sutura que Luigi havia feito anteriormente de forma correta e
pediu repouso para não abrir os pontos. Claro que concordei, mas não faria
isso.
Ele me passou um relatório sobre a situação da minha pequena. Segundo
ele, ela está bem, mas ainda sente dores no corpo. Ele prescreveu um
remédio mais forte. Com repouso, ela vai se recuperar completamente.
Nunca mais permitirei que nenhum desgraçado coloque as mãos nela. As
únicas marcas que aquela linda mulher terá serão as minhas de amor e
prazer.
Segui para a mansão já tarde da noite. Só queria ver as crianças e dormir
abraçado com a minha pequena. Passei pela guarita e entrei em casa. O
silêncio pairava no ar. Fui à cozinha beber água antes de subir e encontrei
Margô fazendo chá. Ela me informou que as visitas de Gabriela tinham ido
embora, mas prometeram voltar todos os dias. Eu não me importava, aliás,
eles faziam muito bem à minha pequena, e eu gostava deles. Segundo
Margô, eles também ganharam o coraçãozinho dos meus filhos, e ela
adorava a casa cheia. Não via a hora de tudo isso acabar para poder
aproveitar de verdade essa boa fase aqui dentro de casa.
Subi, passei pelo quarto dos meus filhos, dei um beijo de boa noite nos
dois anjos da minha vida e segui para o meu quarto com o coração batendo
mais forte. Seria isso que a paixão fazia com a gente?
Entrei no quarto sem fazer barulho, não queria acordar minha pequena.
Levei um susto ao ver que ela não estava na cama. Ouvi barulho no
banheiro, e meus olhos ficaram vermelhos de tesão. Gabriela saiu pela porta
vestindo uma camisola preta de seda com rendas em volta do seu busto
pequeno, mas redondo e perfeito. Era curtinha e mostrava suas coxas fartas
e definidas. Seus cabelos estavam soltos e, apesar dos hematomas no rosto,
ela era a mulher mais linda do universo.
― Você chegou, eu estava preocupada. ― Gabriela falou, vindo sem
jeito, sem saber se podia me abraçar.
Mais rápido do que nunca, a puxei para um abraço.
― Cheguei morto de saudades. ― Beijei seu pescoço e passei uma mão
em suas costas, descendo até sua bunda empinada que me enlouquecia.
― Matteo, seu cabelo está úmido. Aconteceu algo hoje? ― Perguntou
ela, visivelmente desconfortável.
Percebi que Gabriela estava receosa em relação a mim, quero que ela
entenda que pode perguntar e fazer o que quiser.
― Pequena, olhe para mim. ― Segurei seu queixo para que olhasse nos
meus olhos. ― Você pode me tocar, me abraçar e me beijar quando quiser.
Eu sou seu, e você é minha. Não tenho nada a esconder de você. Posso
deixar algumas coisas de fora porque não quero te assustar com o que faço
durante o dia e, às vezes, vou ter que fazer à noite. Mas nunca vou esconder
nada de você. Pode me perguntar o que quiser sem receio, ok?
― Ok, é que com o Carlos eu tinha que medir as palavras e nunca
perguntar nada. Não quero comparar vocês, é só que para mim é tudo muito
novo. Me desculpa. ― Falou, mostrando sua insegurança.
― Não peça desculpas, não precisa. Isso é novo para mim também. Eu
nunca fiquei assim, nunca me apaixonei. Vamos aprender juntos, certo?
― Vamos, juntos. ― Falou, rindo de felicidade e me abraçando.
Sem saber, apertou a lateral do meu corpo e eu não consegui conter um
gemido de dor.
― Hum... ― Grunhi e ela me olhou assustada e levantou a camisa onde
tinha passado a mão.
― O que aconteceu com você? Meu Deus, Matteo, foi um tiro? Porra,
você levou pontos. ― Falou, ajoelhando-se para examinar melhor a lateral,
analisando a entrada e saída da bala em minhas costas com as pontas dos
dedos delicados.
Não pude evitar imaginar outras coisas enquanto ela estava ajoelhada.
― Tivemos um confronto com os russos, os comparsas daqueles que
ajudaram o Carlos a te sequestrar. Luigi estava na mira de um deles e eu
não podia permitir que ele se ferisse. ― Ela tinha lágrimas nos olhos, e eu
não queria vê-la chorando.
― Isso acontece com frequência? Você se machuca muito? Não sei se
tenho coração para aguentar isso. Você está sentindo dor? Deixe-me cuidar
de você. ― Falou, ainda ajoelhada.
Passei a mão em seus cabelos, acariciando-os e aproximando sua cabeça
da minha barriga sem forçar.
― Não acontece com frequência, foi um caso isolado. Somos os
melhores no ramo, e o médico disse que estou bem. Só não posso forçar os
pontos para não estourarem. E você pode cuidar de mim, sim, de uma
maneira bem prazerosa. Deixe-me relaxar dentro de você. ― Fiz uma cara
carente para que ela aceitasse.
― Nem pense nisso, mafioso mandão. Você vai descansar, nada de
peraltagens hoje. Vamos deitar e dormir. Você não pode fazer esforço. ―
disse ela brava, e eu estava adorando essa versão dela também.
Continuei fazendo cafuné nela enquanto ela analisava meu ferimento.
― Eu não posso fazer esforço, e você também não, mas posso pensar em
uma forma de te dar prazer, sem precisar arrebentar os pontos. Não vou
perder a oportunidade de tirar essa camisola com os dentes. ― Brinquei, e
ela riu.
Porra, ela riu de um jeito safado, olhando de baixo para cima, com o
rosto bem na frente do meu pau. Eu já estava duro só de olhar para ela.
― E se o senhor "Hugostoso" relaxar e eu lhe der prazer, colocando seu
pau na minha boca até chegar na minha garganta, e eu engasgar com ele?
Acho que não farei tanto esforço. ― caralho, porra, filha da puta, essa
mulher foi feita sob medida para mim.
― Pequena, não brinca com fogo. Não diga que irá fazer algo assim se
não tiver realmente a intenção. ― Ela passou a mão por cima da minha
calça, e eu já podia sentir as contrações do meu pau sob a cueca.
― E quem disse que eu não tenho a intenção de fazer? É injusto eu não
ter sentido o seu gosto até hoje, não acha? ― Gabriela passava a mão
horizontalmente, modelando o formato do meu pau que pedia para ser
liberado da calça.
― Acho a maior injustiça desse mundo, pequena gostosa. Vamos
resolver isso? ― sugeri, pegando sua mão e a levando para a cama.
Ela caminhava como uma gata no cio. Sentei na beirada da cama, e ela
começou a desabotoar minha camisa social preta. A jogou longe, deu um
beijo casto em cima do meu ferimento, tirou meu sapato e meia, e
desabotoou meu cinto, tirando minha calça. Eu levantei levemente o quadril
para ajudar. Me arrastei até sentar na cama, encostado na cabeceira, e cruzei
os braços atrás da cabeça, admirando-a engatinhar até o meio das minhas
pernas, que estavam abertas, esperando por ela.
- Você disse que eu podia fazer o que quisesse com você, e acho válido,
depois de me resgatar, matar por mim, lutar por mim e depois de um dia tão
conturbado, acho que posso tentar relaxar meu homem fazendo o que eu
quero, né?
― Diz de novo? ― ela sorriu de lado, já sabendo o que eu queria ouvir.
― Meu homem... Você disse aquela noite que eu era sua mulher, acho
que posso dizer que você é meu homem. ― puxei-a, pouco me importando
com o repouso, e a sentei no meu colo, com as pernas de cada lado da
minha cintura. Passei a mão levantando a beirada da camisola, para sentir a
sua bunda.
― Porra, Gabriela, sem calcinha? Sua intenção é me matar do coração
hoje? ― gostosa do caralho.
Minha mão passeava pela sua bundona linda.
― Queria fazer surpresa, mas perdi o foco com o seu pau na minha cara.
― Estou adorando essa versão safada da Gabriela.
Ela começou a se esfregar no meu colo, e eu poderia me enfiar nela
nesse minuto que ela estaria preparada para mim. Eu sentia a umidade da
sua buceta na minha cueca.
-Você é a minha surpresa, gostosa. ― Falei, enfiando a mão na cueca
para enfiar meu pau nela.
Eu precisava sentir meu pau dentro dela. Gabriela segurou minha mão e
me deu um beijo quente e úmido. Sua língua procurava a minha, e ela
rebolava no meu pau.
― Nem pense nisso, nada de esforço, esqueceu? ― Ela foi engatinhando
de ré, sem cortar o nosso contato visual, retirou minha cueca, e meu pau
bateu continência para essa visão do paraíso que é Gabriela.
Após jogar a cueca no chão, ela ficou de joelhos e tirou a própria
camisola, jogando junto com as outras peças. Eu engoli seco. Que visão do
paraíso. Sua cintura fina, os seios no tamanho certo e naturais, a boceta
depilada que eu amava. Ela não tinha defeitos.
― Desculpe, pequena, mas não me torture, por favor. ― cruzei os braços
novamente atrás da cabeça.
― Só relaxe, gostoso. Deixe-me te dar prazer. ― Ela se abaixou com as
pernas juntas e deu um beijo no meu abdômen. Sua bunda fez um formato
de coração. Isso seria a minha perdição.
― Seu pau é o pau mais lindo que já vi na minha vida. Até as veias dele
são perfeitas. ― Ela segurou meu pau e lambeu das bolas até a cabeça,
passando a língua no pré-sêmen que já está acumulando na ponta.
― E será o último que verá em sua vida. Agradeço aos caras que
passaram em sua vida e fizeram errado, porque agora eu tenho a
oportunidade de fazer você feliz, e não vou desperdiçar. ― Ela sorriu em
uma mistura de carinho e safadeza que me conquistou.
― Espero que sim. Não preciso de outro pau para sentar, o seu me basta.
― Me masturbando sem pressa, ela colocou minhas bolas na boca e sugou
com delicadeza, voltando a lamber todo o meu comprimento.
Lambeu a cabeça do meu pau e, sem aviso, colocou o que conseguiu na
boca, até a metade, já passando a língua em minhas veias, que ela tanto
gostava. O que não conseguiu engolir, ela masturbava com destreza. Ela
tentou colocar o máximo na boca, se engasgando, e eu poderia gozar só
com esse ato. Ela voltou a me olhar com lágrimas no canto dos olhos. Me
segurei para não forçar meu quadril para cima e foder a boca dela como se
fosse sua boceta. Fiz um carinho com uma mão em sua cabeça, enquanto
ela me mamava com maestria. Segurei seu cabelo, fazendo um rabo de
cavalo com as mãos, para poder admirar o seu rosto.
Não quebramos o contato visual. Ela me olhava profundamente, usando
a língua, masturbando e sugando ao mesmo tempo. Com maestria, ela
massageava minhas bolas. Nunca recebi um boquete tão completo na minha
vida, e olha que já tive as melhores putas me mamando.
Eu não aguentei e firmei o aperto do seu cabelo, pedindo permissão com
o olhar. Ela entendeu e assentiu. Eu forcei meu quadril devagar, ela
engasgou mais uma vez, e eu a soltei em busca de ar. Ela respirou e, sem
pensar duas vezes, voltou ao mesmo movimento. Na terceira sugada, eu a
avisei.
― Vou gozar, pequena gostosa. Se não quiser engolir, tem que parar
agora. ― Ela parou o movimento, mas somente para me falar aquilo que eu
queria tanto ouvir.
― Goza na minha boca, gostoso. Quero sentir o seu gosto.
Isso foi o ápice para jorrar minha porra na sua boca. Ela engoliu tudo,
sem deixar uma gota, sugando e me masturbando ao mesmo tempo. A
peguei pela cintura, e ela deu um gritinho de susto.
― Senta na minha cara, gostosa. Rebola como você estava dançando
naquela noite, mas na minha boca. ― Ela deu um sorriso de lado.
Passei uma perna de cada lado do meu rosto, segurando-a pela bunda, e
dei a primeira lambida com a boca aberta, de baixo para cima, levantando-a
um pouco e ela rebolou no meu rosto.
Caralho, Matteo... Eu não vou aguentar muito tempo. ― Falou, se
engasgando e gemendo.
Ela segurou na cabeceira da cama e olhava o que eu fazia de cima para
baixo. Com a boca aberta, ela não segurava os gemidos.
Humm.... Haaaa, Matteo. ― Ela soltou um gemido alto, e eu dei um tapa
na sua bunda, massageando o local para aliviar em seguida.
Sugava seu clitóris, que já estava inchado e sensível, alternando com as
lambidas. Ela estava tão molhada, só por ter me chupado. Essa mulher foi
feita para mim. Eu peguei seu clitóris com cuidado entre os dentes e dei
uma sugada forte sem soltar. Em seguida, dei outra. Ela rebolou mais firme
quando eu dei outra sugada, fazendo círculos frenéticos sem parar. Eu não
parei, ela quase fazia o trabalho sozinha, se minha língua não estivesse ali.
Porra, essa mulher é gostosa pra caralho. Eu poderia morrer aqui
embaixo dessa boceta. Ela rebolou convulsionando, tremendo e apertando
minha cabeça com as pernas. Eu dei mais uma lambida, ela deu um pulinho,
e eu a segurei firme com as mãos. Com a boca aberta, dei um beijo
molhado, sugando todo o seu líquido de prazer, que agora se tornou o meu
gosto preferido.
Ela estava mole quando a tirei de cima de mim e a deitei em meu peito.
Eu queria fazer morada no seu corpo para sempre. Deitada em meu peito,
ela fazia círculos com a ponta dos dedos e olhava para um ponto fixo na
parede. Eu estava preocupado com seus pensamentos distantes.
― Aconteceu alguma coisa hoje? Por que você está assim pensativa? ―
Inquiri.
― Sim e não. ― Respondeu ela, vagamente.
― Explique, por favor. ― pedi.
― Conversei muito hoje com Bea, Miguel e Madá. Soube do noivado,
do motivo. Você não pode fazer nada a respeito disso? Tipo, eu faço
qualquer coisa que esse Romeo quiser para livrar a minha irmã.
― Nem pensar. Você não vai fazer nada, e eu não posso interferir. Foi
uma decisão dela aceitar. Eu nunca iria obrigar ela a fazer isso. Mas ela
aceitou, e uma palavra dada a Romeo é lei. Infelizmente, minha pequena.
Mas vou conversar com ele. Te garanto que ele não vai fazer mal à sua
irmã. Eu começo uma guerra, mas não permito, ok? ― Falei, tentando
acalmá-la.
― Sim, obrigada. Ela disse mesmo que está decidida. Tenho medo
porque ela se faz de durona, mas no fundo, seu coração é mole, e tenho
medo de ela se machucar.
― Não vai acontecer. Sua irmã é forte, mas não é só isso que está lhe
afligindo. Já sei ler você, pequena.
― Fui questionada sobre voltar ao Brasil, afinal, agora estou livre, né?
― Meu coração parou por um segundo e meu sangue gelou. Não quero
perder Gabriela. Ela continuou ― Acho que lá não é mais meu lugar, sabe?
Não quero ficar longe das crianças, nem de você. Mas fico com medo. Não
sei ainda o que esperar sobre nós dois, e não quero perder meu emprego.
Amo essas crianças, e não queria misturar as coisas. Não quero ser vista
como interesseira, dormindo na sua cama todos os dias. As pessoas falam.
― Posso lhe garantir, Gabriela, que nossa relação para mim é mais real
do que qualquer coisa nessa vida. Perto de você, eu me sinto vivo e pronto
para continuar a viver muito tempo ao seu lado. Por mim, eu te levaria ao
altar amanhã. Você pediu para irmos com calma, lembra? Eu não vou te
obrigar a me assumir como seu homem da noite para o dia, mas não aceito
não ter você na minha cama todas as noites e manhãs. Isso eu não abro mão.
― Expressei o que sentia de uma vez, assim ela nunca teria dúvidas.
― Você jura? Eu não vou me machucar mais uma vez? ― Perguntou,
sentando-se e encostando na cabeceira da cama, olhando para suas mãos em
seu colo.
― Juro de dedinho, como você ensinou as crianças. ― Dei o meu dedo
mindinho para ela, que entrelaçou o seu. ― Juro nunca lhe machucar, te
respeitar, sempre te dar prazer e lhe proporcionar os melhores orgasmos que
você poderia ter. ― Ela gargalhou alto e pulou em meu colo, ficando frente
a frente comigo.
― Às vezes penso que você não existe, sabia? Que é um sonho e que a
qualquer momento vou acordar naquele cativeiro. ― Porra, eu não queria
que ela tivesse esse medo.
― O que você acha de começar a fazer terapia? Com tudo o que passou,
sua cabeça também precisa estar bem. ― Queria que ela se recuperasse de
corpo e alma.
― Não tinha pensado nisso, mas gosto da ideia. Vou fazer sim. Agora,
eu queria mesmo é fazer aula de autodefesa e tiro. Seria possível, com você,
Luigi e Giovanni nos ajudando? Eu, minha irmã, Miguel e Madá? ― Ela
perguntou empolgada, e meu coração acelerou.
Queria muito ver Gabriela em posição de ataque, portando uma arma. Ia
ficar um tesão.
― Claro que sim! Que notícia maravilhosa. Fico muito feliz em saber
que você quer aprender a se defender.
― Não só a mim, mas também as crianças, meus amigos, minha irmã e
até você, que pelo visto vai precisar, né? Tá levando tiros por aí. ―
Debochou, e eu apertei sua cintura fingindo estar bravo.
― Minha pequena gostosa está achando que vai aprender a lutar e eu
vou simplesmente deixar você entrar em combate? Está muito enganada. ―
Aproximei meu rosto do seu, tocando nossas bocas.
-O senhor "Hugo" mafioso disse para mim que nunca iria me proibir
nem me privar de nada, lembra? ― Ela mordiscou meu lábio inferior.
― Tudo que coloque sua vida em risco, eu sempre vou interferir,
pequena. Você é muito preciosa para mim. Agora, sem brincadeiras, estou
muito feliz com essa notícia, acho que todas as mulheres, principalmente as
da máfia, deveriam ter aulas de autodefesa.
― E por que não têm? É normal no mundo de vocês armas e confronto,
deveria ser uma regra, não?
― Infelizmente, a máfia está parada no tempo, e muitos querem que
continue assim. Nunca priorizam as mulheres nem a tecnologia, não
entendem que o mundo mudou.
― Você não pensa assim, né?
― Não, e quando eu for Dom, vou fazer muitas mudanças e incluir mais
as mulheres, e você estará ao meu lado. ― Dei um beijo apaixonado e
profundo na minha pequena.
― Enquanto você quiser, estarei ao seu lado. ― Eu adorei ouvir isso.
Ela era a mulher que eu queria para mim, e eu faria dela a senhora
Rocatti.
As semanas passaram voando, meu italiano estava bom a ponto de
entender frases inteiras sem precisar repensar palavras, apesar da escrita
ainda não estava lá essas coisas.
Matteo concordou que não precisamos rotular nosso estado civil, mas ele
não abre mão de dormirmos juntos todas as noites.
Sempre me levanto cedo, antes das crianças, para que elas não me vejam
saindo do quarto do pai. Eu as preparo para o dia e nossa relação está cada
vez mais bonita, nós quatro. Matteo ficou três dias em casa em repouso e
passou bastante tempo no escritório com Luigi e Giovanni, que agora
considero meus amigos. Brincamos e assistimos a muitos filmes infantis, e
fizemos as refeições juntos. Miguel, Madá e Bea vieram jantar conosco
duas vezes e foi uma diversão. A mesa estava cheia, exatamente como no
meu sonho, e todos nós coubemos. A casa estava cheia de amor e alegria.
Sofia e Marta ficaram meia hora em silêncio durante uma ligação de
vídeo enquanto eu contava todos os detalhes, desde meu relacionamento
com Matteo até o sequestro e a morte. Elas estão felizes por mim, e já
combinamos que elas virão me visitar ou eu irei até elas. Será incrível.
Começamos a frequentar a academia na área de treinamento dos
soldados. Fazemos exercícios pela manhã e à noite praticamos luta e tiro no
estande que fica nos fundos do galpão. Nunca imaginei que encontraria
tudo isso aqui dentro. É tudo de primeira linha. Eu já havia frequentado
academias antes, mas aqui é diferente. Matteo não permite que nenhum
soldado entre nos horários em que estamos treinando, apenas Giovanni,
Luigi e ele têm permissão.
Matteo tenta esconder seu lado ciumento e possessivo, acredito que seja
para não me assustar ou passar uma imagem errada dele, mas eu adoro esse
lado dele.
Minha irmã e meus amigos vêm nos horários da manhã e da noite. Bea
está se saindo muito bem, Giovanni diz que, se ela continuar assim, poderá
arrancar as bolas de Romeo na noite de núpcias. Madá parece já ser uma
ninja, brigando com Giovanni a cada segundo. Miguel é super centrado e
está se saindo muito bem no alvo e no manuseio das adagas, que são suas
preferidas. Ele, Luigi e Giovanni estão construindo uma bela amizade.
Estou me saindo bem nas aulas de luta e defesa pessoal, mas o tiro está
me conquistando. A adrenalina de acertar o alvo bem no centro é incrível. O
cheiro da pólvora, o barulho... Estou fascinada.
Estávamos malhando e saí do galpão antes deles para preparar o café,
como sempre faço, e avistei Carmen conversando com um dos soldados. Eu
disse bom dia, como sempre, mas ela me ignorou. Apenas o soldado
respondeu. Sei que há conversas acontecendo e que não estou sendo bem-
vista. Acham que estou apenas "esquentando a cama do chefe", mas Margô
me tranquiliza e diz que não devo ligar para as conversas dos funcionários.
― Que cheiro bom. ― Giovanni e Miguel entraram na cozinha,
seguidos por Matteo, Luigi, Madá e Bea, todos suados e cansados.
― Tira a mão, seu enxerido. ― dei um tapa na mão de Giovanni, que
nunca aprende e sempre quer pegar um pedaço de bolo antes de estar
pronto.
― Bem, você está ficando fortinha, hein? Esses tapas estão doendo mais
do que o normal. ― falou ele, acariciando a mão que eu bati.
― Está ficando mais forte e ainda mais gostosa do que já é. ― Matteo
falou, me abraçando por trás e beijando meu pescoço.
― São 6 da manhã, daqui a pouco teremos funcionários aqui. Não quero
que nos vejam assim. ― Eu o afastei um pouco, mas ele apertou o abraço.
― Eu sou o dono desta casa, não ligo para eles, e sinto-me usado.
Quando você vai me assumir? Beatriz, me ajuda? ― Ele adorava fazer um
drama e todos entravam na onda.
― Acho que já passou da hora de casar. ― Bea falou, tomando um gole
de seu café.
― Vou tomar um banho, daqui a pouco tenho que acordar as crianças e
não vou ficar perdendo tempo com vocês. ― falei, bebendo o resto do café.
― Acho que você está sendo covarde. Assuma logo o seu "Hugo". ―
Bea brincou, e todos riram.
Eu adorava esse clima descontraído.
― Já conversamos sobre isso. Vamos esperar um pouco. Não quero ir
tão rápido e você sabe os meus motivos. ― Acho que esse assunto já foi
bem esclarecido.
― Calma, estamos apenas brincando, amiga. Não precisa ficar brava. ―
Madá tentou acalmar os ânimos.
― Nós[UC1] te entendemos, Gaby e concordamos. Só estamos
brincando. ― Luigi me surpreendeu, concordando.
― Eu só não quero que você pense que estou te enrolando. Só não me
sinto segura ainda. ― virei de frente para Matteo, abraçando seu pescoço e
lhe dando um selinho.
Eu sei disso, pequena. Não fique chateada, estamos brincando. ― Ele
me beijou carinhosamente e me abraçou. Ouvi vários "ounnn" e o som de
uma mensagem no celular de Giovanni chamou nossa atenção.
― Visita para você, Matteo. Acabei de liberar a entrada na guarita. Acho
que você vai querer recebê-la no escritório. ― Giovanni avisou, olhando
para o celular, e todos olhamos para ele.
― Vou embora logo, vai que é o Romeo, não quero estragar o meu dia,
que começou com um treino incrível. ― Bea se pronunciou, terminando seu
café.
Giovanni não a deixou levantar, e eu me afastei do abraço de Matteo
para pegar a segunda remessa de bolo da máquina.
― Não é ele não, pode ficar tranquila.
-Quem é Giovanni? ― Matteo perguntou.
-Sua mãe, e ela... ― antes de terminar de responder, a mãe de Matteo
entrou na cozinha com toda a elegância que uma mulher poderia ter.
Ela era bonita, bem arrumada e tinha um sorriso lindo.
― Está acompanhada, era o que eu queria dizer. Oi, tia Donatella. ―
Giovanni a cumprimentou.
Ela olhou para todos nós e parou seu olhar em mim, me analisando por
completo por um bom tempo, e depois direcionou seu olhar para Matteo,
que estava ao meu lado. Atrás dela, surgiu uma moça linda, com traços
marcantes e uma roupa impecável, mas seu olhar era triste e distante. Em
seguida, entrou Carmem com um sorriso no canto do rosto.
― Mãe, sabe que não gosto de visitas sem aviso. Por acaso é algo
urgente? Vamos para o escritório. ― Matteo perguntou bravo e muito
incomodado com alguma coisa.
Luigi estava pálido como um papel, e Giovanni parecia nitidamente
incomodado. Será que há algo errado com a mãe de Matteo? Sempre ouvi
os rapazes falarem muito bem dela.
― Me parece que isso mudou, não é mesmo? Fiquei sabendo que você
anda recebendo muitas visitas ultimamente, e pelo que vejo, não é mentira.
― falou, olhando para mim e meus amigos.
― A senhora não tem nada de importante para fazer na Itália além de
fiscalizar minhas visitas? ― Matteo perguntou sem paciência, cruzando os
braços no peito e se encostando na pia atrás de mim.
Bea, Madá e Miguel estavam com os olhos arregalados, segurando as
xícaras em frente aos seus rostos.
― Não estou fiscalizando nada, meu filho. Apenas fiquei curiosa para
ver com meus próprios olhos essa frequência de visitas de amigos. Nunca
teve amigos além de Giovanni e Luigi. Vim ver com os meus próprios
olhos. ― todos podíamos sentir o clima estranho, era palpável.
― Então a senhora voou de jatinho da Itália até aqui para ver meus
amigos? ― Nem respirávamos, para evitar fazer barulho.
― Filho, não é assim que se recebe sua mãe. Onde está a educação que
eu te dei? Se não fosse Carmem, eu ainda estaria lá na porta. ― Claro que
tinha que ser Carmem.
― Vamos conversar no escritório, mãe. ― Matteo pediu, já caminhando
em direção à porta, mas sua mãe não o acompanhou.
― E vocês, quem são? ― Donatella perguntou para meus amigos.
Miguel tomou a frente quando viu que nenhuma das meninas iria
responder.
― Meu nome é Miguel, e essas são Madalena e Beatriz. É um prazer
conhecer a senhora. ― ele estendeu a mão e Donatella a aceitou,
depositando um beijo no dorso de sua mão.
Giovanni e Luigi estavam inquietos, olhando de Matteo para a moça que
estava encolhida na entrada da cozinha. Alguma coisa muito errada estava
acontecendo aqui, e eu iria perguntar a Luigi assim que eles saíssem da
cozinha.
― O prazer é todo meu, crianças. Sou Donatella, mãe desse desnaturado,
e essa linda princesa é Agatha, a noiva de Matteo. Viemos fazer a primeira
prova do vestido de noiva, não é maravilhoso? ― Engasguei com o café e
acabei cuspindo tudo na ilha da cozinha.
Luigi e Miguel vieram correndo para me ajudar, batendo nas minhas
costas. Pude ver o pescoço de Madalena e Beatriz virar rapidamente, com
os olhos arregalados, olhando para Matteo.
― E você deve ser a babá brasileira, correto? ― Donatella me olhou
com desdém, e eu não entendia por que Matteo estava fazendo isso comigo.
Ele prometeu nunca mentir. Não sei de onde tirei forças, mas respirei fundo
e respondi.
― Co... correto, senhora. ― respondi em um único fôlego. Miguel
passava a mão nas minhas costas em apoio, e Luigi segurava minha mão.
Não tinha forças para olhar nos olhos de Matteo. Minha irmã já se
levantou, um claro sinal de nervosismo.
― Gabriela, o nome dela é Gabriela, mãe, e você sabe muito bem disso.
Vamos para o escritório. Temos muito o que conversar. ― antes de seguir
em frente, ele me olhou.
Eu sabia por que seu olhar estava me queimando, mas não respondi.
Estava destroçada, magoada e humilhada.
― Sim, me desculpe a indelicadeza, senhorita Gabriela. ― falou por
fim, já de costas para mim, saindo da cozinha.
Agatha me olhou com pesar misturado com desculpas. Não entendi, e
não queria entender também.
― Vamos, minha nora. ― Donatella chamou a moça, que foi andando
em seguida.
― O que diabos aconteceu aqui? Vocês podem explicar isso? ― Beatriz
perguntou, olhando para Giovanni e Luigi.
Levantei o olhar e percebi que todos estavam em volta de mim.
― Pode nos dar licença, dona Carmem? ― Giovanni perguntou para a
cozinheira, que só agora percebi estava encostada na pia onde Matteo
estava mais cedo.
Essa mulher gosta de ver a minha desgraça mesmo.
― Desembucha logo. ― Madá pediu, dando um murro no ombro de
Giovanni.
― Não há nada a ser dito, meninas. Matteo está noivo. Ele me usou, me
enganou, e essa é a história. ― Miguel me abraçou de lado, e Luigi segurou
meu rosto, chamando minha atenção para ele.
― Não fale assim. Matteo gosta de você como nunca gostou de
nenhuma outra mulher, nem mesmo da mãe das crianças, que lhe deu as
duas coisinhas mais importantes da vida dele, ele deu tanta importância
para ela como dá para você. ― Ele disse com tanta convicção que tive que
soltar um sorriso sem humor.
― Sério? Não parece. Eu vivi na pele e sei que quem gosta não
machuca. Neste momento, estou muito machucada. ― O ar me faltava.
Eu não acreditava no que estava acontecendo. Meu coração estava
destroçado. Eu me sentia pequena e insignificante. Mais uma vez, meu
Deus, por que eu não podia ser feliz?
― E vocês dois, estavam acobertando tudo isso? Vocês homens são
todos iguais, uns merdas. ― Beatriz estava inconsolável.
― Eles não têm culpa, irmã. Quem mentiu para mim foi Matteo. Mas
isso não significa que não esteja chateada com vocês dois. ― Me afastei
tanto de Luigi quanto de Miguel. ― Vou para o meu quarto tomar um
banho. Preciso ficar sozinha e pensar.
― Você não vai embora? Vamos embora daqui. Você não precisa disso.
― Madá disse, vindo me abraçar.
― Isso mesmo. Vamos embora. ― Bea também me abraçou do outro
lado.
― Meninas, não acham que Gaby precisa conversar com Matteo? ―
Miguel as questionou, mas olhando para mim com um olhar preocupado.
― Não preciso conversar com ele, e não vou embora e deixar as minhas
crianças tristes. Estou bem, só preciso pensar. ― Menti para eles.
Estava quebrada por dentro, mas não poderia ir embora sem conversar
com as crianças. Eu jurei de dedinho para eles que não iria embora.
― Podem ir. Eu vou ficar bem. Conversamos à noite no grupo.
― Tem certeza? Não quero te ver triste novamente, agora que está se
recuperando. ― Bea falou, me apertando em um abraço forte. ― Aliás,
posso arrebentar a cara dele, agora que estou treinando. O que acha dessa,
desgraçado? ― Ela gesticulou com um murrinho no ar.
― Vocês podem ir, nós cuidamos dela. ― Luigi disse envergonhado.
― Sim, nós cuidamos. ― Giovanni confirmou.
― Há quanto tempo eles estão noivos? ― Perguntei, com o soluço já
entalado na garganta e as lágrimas prontas nos meus olhos.
― Faz pouco tempo. Não é o que você está pensando, Gaby. Ele não te
traiu, mas também não podemos lhe contar, ele vai fazer isso. Você se
lembra do que conversamos? ― Giovanni se referia à investigação sobre
um traidor e seu informante, me lembrando de não confiar nem contar
coisas a ninguém, nem dentro nem fora de casa.
― Sim, lembro. Mas não anula o fato de ele estar noivo e ter mentido
para mim.
― Temos clientes agora cedo, mas se precisar de nós, é só ligar que
iremos te buscar, entendeu? ― Bea falou firme.
― E lembre-se, você não é obrigada a conversar ou estar perto dele, se
não quiser. Essa fase já acabou, entendeu? ― Madá disse séria, segurando
meu rosto com as duas mãos.
― Entendi, amiga. Obrigada mais uma vez por me darem apoio. Mas
estou bem, ou vou ficar bem. Preciso tomar um banho, as crianças já vão
acordar, e não quero que elas presenciem um clima ruim. ― Menti mais
uma vez.
― Ok, nós já vamos. Amo você. ― Bea se despediu.
― Ok, te amo mais. ― Respondi.
Miguel me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. Elas se despediram
dos rapazes e saíram pela porta da cozinha.
Olhei para os rapazes, e Luigi veio me abraçar.
― Não precisa ser forte o tempo todo, viu? Estamos aqui por você. Se
quiser, posso te levar para sua casa. Não precisa ficar aqui. ― Ele foi
solícito comigo.
― Não quero deixar as crianças. ― As lágrimas já estavam embaçando
minha visão, mas não ia deixá-las cair.
― Posso fazer um plano de segurança, e vamos com as crianças passear
em algum parque. Depois, vamos para sua casa, pelo menos até elas irem
embora e você colocar a cabeça no lugar para conversar com Matteo.
― E o coração? Quando coloco ele no lugar? E não quero conversar
com Matteo, mas aceito o passeio com as crianças. Margô vai autorizar?
― Vou pedir para ela cancelar as aulas das crianças hoje e avisar que
vamos sair. Ela já deve estar chegando. ― Giovanni falou, já digitando no
celular.
Provavelmente estava avisando os soldados e informando Matteo.
― Vou tomar um banho e me arrumar. Rapazes, obrigada. Eu sei que
não precisavam fazer isso por mim. ― Agradeci.
― Somos família, e família cuida, não é? ― Luigi disse carinhoso, e eu
concordei com a cabeça, mesmo sabendo que nunca faria parte dessa
família, não mais.
Segui para o meu quarto, retirei a roupa de academia e entrei no
banheiro. Encostei a porta, liguei o chuveiro e entrei completamente
debaixo dele, molhando o meu cabelo como se a água pudesse lavar a dor e
a angústia que tinha em mim.
Como pode o dia nem ter começado direito, e eu já estou nesse estado?
Por que Matteo não foi honesto comigo? Não entendo por que a vida para
mim é tão difícil e confusa. Céus, por que dói tanto? É como se tivessem
tirado um pedaço de mim. Eu só queria ser feliz, sem humilhar nem
prejudicar ninguém.
Meu Deus, eu fui amante? Eu fui a outra? Ele é noivo, e eu dormi com
ele. Não uma, mas várias vezes. Eu pensei em ter uma vida com ele, uma
família. Eu aceitei ser mafiosa, eu ia entrar nesse mundo por ele, pelas
crianças. E as promessas que ele fez para mim? Foi tudo em vão? Tudo
mentira?
Eu estava sentada embaixo do chuveiro, no chão, abraçada às minhas
pernas e nem vi a porta se abrir, senti um abraço delicado, mas firme ao
meu redor. Senti o perfume suave de Margô, e me permiti chorar. Não
levantei a cabeça, os soluços não permitiram. Eu estava arrasada, triste,
abatida. Não entendia como eu poderia ser tão azarada no amor.
Meus soluços estavam tão altos que eu não ouvia mais o barulho do
chuveiro. Margô continuava firme no abraço. Eu não queria sair dali e
enfrentar a realidade. O tempo passou, o que para mim pareceu horas. Ergui
a cabeça e olhei para Margô, que estava com uma expressão triste.
― De... desculpe... te molhei toda. ― Falei soluçando.
― Não tem por que se desculpar, minha menina. Estou aqui por você.
― Por que, Margô? Por que sou tão azarada? Nunca vou conseguir ser
feliz? ― As lágrimas caíam como cachoeira em meu rosto.
― Não diga isso, menina. Para tudo na vida tem um motivo, e tudo
acontece na hora e no momento certo.
― Quer dizer que eu não vou ser feliz com Matteo? ― Perguntei triste e
soluçando.
― Não, querida. Quer dizer que pode não ser a hora ainda, mas o seu
momento vai chegar. ― Eu duvidava disso.
― A dona Donatella não gosta de mim, Margô. ― Falei, lembrando dos
olhares dela para mim.
-Ela só não te conhece ainda, menina. E não sabe o bem que você faz
para nossas crianças e para o meu menino, mas ela terá a oportunidade de
conhecê-la ainda. ― Falou, levantando-se e passando a toalha ao meu
redor.
Seguimos para minha cama e nos sentamos.
― Não sei se quero que ela me conheça. Você já sabia, Margô? ―
Perguntei, na esperança de saber mais alguma coisa dessa história.
― Não, menina. Não sabia. E me surpreende muito o menino Matteo se
sujeitar a um noivado, tem algo estranho nessa história. Por isso, lhe peço,
imagino a sua dor, mas não desista do meu menino.
― Não posso lhe prometer isso, Margô. Não quando meu coração está
em jogo. ― Ela me entendeu.
Vesti uma legging preta, uma blusa de lã e um moletom largo por cima,
que Miguel tinha me dado de alguma fraternidade de faculdade. O frio
estava acabando, em breve teríamos um verão com muito sol. Calcei meu
tênis, prendi meu cabelo em um coque frouxo, pois não estava no clima de
me arrumar ou me preocupar com a minha imagem.
Sorri sem humor, imaginando como seria eu e a noiva de Matteo lado a
lado, a sogra iria rir de mim, ela com seu vestido de grife elegante, e eu com
um moletom de fraternidade que nem era meu. Eu realmente não faço parte
do mundo deles. Não ligo para maquiagens ou roupas de grife, eu nem sei
ser elegante. Se a mãe de Matteo me olhou com desdém, o pai dele, que é o
Don da máfia, me aniquilaria só com um olhar. Tenho que encontrar uma
saída dessa confusão sem machucar as minhas crianças. Pelo visto, meu
sonho de vê-las crescer de perto não vai se realizar. Fui muito inocente em
imaginar que teríamos um final feliz.
Margô foi até a cozinha preparar uma cesta de café da manhã para as
crianças. Vamos tomar café em um parque perto da minha casa, assim elas
podem brincar antes de irmos para o apartamento. Ela subiu para arrumar as
crianças também. Eu realmente não teria estrutura para encontrar a mãe e a
noiva de Matteo novamente.
― Para onde vamos, tia Gabyzinha? ― Nina perguntou, olhando a
paisagem fora do carro.
― Vamos tomar café em um lindo piquenique no parque, brincar e
depois vamos almoçar e passar a tarde na minha casa. ― Contei nossos
planos na esperança de animar as crianças e evitar que pedissem para voltar
para a mansão.
Margô queria vir, mas os rapazes acharam melhor que ela ficasse para
controlar qualquer problema que surgisse na mansão. Segundo Luigi,
Matteo estava trancado com sua mãe e noiva no escritório até o momento
em que saímos, e ninguém falou com ele. Ou seja, ele não sabe que saímos
com as crianças.
― Ebaaaaa! ― Dante gritou animado, batendo as mãozinhas no ar. Os
dois estavam em suas cadeirinhas no carro, e eu estava no meio deles.
Luigi e Giovanni estavam na frente. Havia mais três carros nos seguindo,
um à nossa frente e dois atrás. Ouvi Giovanni ordenar uma vistoria nas
redondezas do parque, e até um sniper estava em um dos prédios ao redor.
Parecia coisa de filme, mas a segurança das crianças vinha em primeiro
lugar. Estava nervosa com o que tinha acontecido, mas também por ser a
primeira vez que saía com as crianças da mansão. Era muita
responsabilidade.
― Tudo bem, Gaby? ― Luigi perguntou olhando para trás. Ele tinha um
coldre embaixo do paletó e um ponto no ouvido, assim como Giovanni.
― Sim, estou. Aliás, vocês vão entrar em apuros por essa saída? ―
Estava chateada com eles, mas não queria que brigassem por minha causa.
― Nada que uns socos no ringue não resolvam, não se preocupe. ―
Giovanni brincou, como sempre.
Eu já os vi lutando no ringue e não é brincadeira.
― Vamos poder conhecer a sua casa, tia Gaby? ― Dante perguntou,
alheio à conversa dos adultos.
― Sim, príncipe, vocês vão. Estão animados para o nosso primeiro
passeio juntos?
― Simmmmmm! ― responderam juntos, muito animados.
Mandei uma mensagem no grupo avisando dos planos do dia. Miguel
disse que iria lá para fazer o almoço para as crianças, e as meninas
desmarcaram seus compromissos da tarde para poder ficar conosco em
casa. Eu não poderia ter uma família melhor do que eles.
Chegamos ao parque e esperamos alguns minutos dentro do carro. Os
rapazes desceram e conversaram um pouco com os seguranças que já
estavam no local. As crianças já estavam agitadas, querendo sair do carro.
Luigi abriu a porta e elas saíram correndo na grama, felizes e pulando,
como se nunca tivessem visto grama na vida.
Luigi foi com elas e eu ajudei Giovanni a descarregar o porta-malas do
carro. Abrimos a toalha que Margô nos enviou na grama, colocamos a cesta
em cima e fomos arrumando as coisas. Nos sentamos e esperamos as
crianças se cansarem para virem comer.
Giovanni pegou uma maçã e começou a falar.
― Agatha é uma boa menina... ― Eu o interrompi. Não queria sofrer
mais nem falar sobre o assunto. Sentei, cruzando as pernas, e olhei para ele.
― Não quero falar sobre isso. Já me sinto culpada e baixa demais por ter
sido amante e magoado uma mulher, ainda mais uma menina como ela. Vi a
tristeza nos olhos dela e me senti um lixo. Por favor, não quero falar sobre
isso. Estou péssima.
― Não se sinta assim. Lá na frente você vai entender o motivo disso
tudo.
― O motivo de ter sido enganada e enganar outra mulher? Não,
obrigada.
― Tudo bem. Quem tem que te contar tudo é Matteo. Vamos curtir esse
dia, só Deus sabe qual será o humor de Matteo quando voltarmos. Este pode
ser meu último dia respirando. ― Falou, fazendo charme e deitando a
cabeça no meu colo. ― Faça cafuné, Gabyzinha. Posso ser um defunto
daqui a algumas horas. ― Não conseguia imaginar minha vida sem esses
rapazes. Eles eram a alegria, companheiros o tempo todo.
As crianças vieram com Luigi tomar café e acharam o máximo, nunca
tinham feito um piquenique. Também, o clima não ajuda. Não vejo a hora
do verão chegar. O frio estava mais suportável, mas ainda atrapalhava
algumas atividades com as crianças.
― Corremos e brincamos de pique com as crianças, fomos ao parquinho
com escorregador e balanço, tirei muitas fotos deles e mandei no grupo.
Todos morrem de amores pelos gêmeos. Por várias vezes, me peguei
imaginando como seria mandar uma foto desses momentos para Matteo ou
até mesmo tê-lo aqui. Mas isso não será mais possível.
Juntamos tudo quando as crianças já estavam dando sinal de cansaço e
seguimos para minha casa. Chegamos lá, já era quase meio-dia, e as
crianças dormiram. Luigi e Giovanni subiram com elas no elevador nos
braços e eu levei as mochilas.
Miguel abriu a porta antes mesmo de eu colocar a chave na fechadura. O
cheiro de comida pairava no ar, mas eu não queria nada. Só queria acabar
com esse dia para poder beber um pouco e tentar esquecer dos últimos
acontecimentos. Levei os rapazes até o meu quarto para colocar os dois
anjinhos na minha cama. Tirei seus calçados e eles se abraçaram,
adormecendo. Era a coisa mais linda desse mundo.
Voltamos para a cozinha e me sentei à mesa, nem percebi que as meninas
já estavam ali. Elas me abraçaram e eu retribuí o carinho. Os meninos se
sentaram na nossa humilde, mas linda mesa, com banquetas de formatos
diferentes, retrôs e encantadoras.
Miguel ofereceu uma bebida aos rapazes, mas só tínhamos vinho e
cerveja. Eu sabia que eles gostavam de uísque, mas decidimos abrir uma
garrafa de vinho, afinal, já era sexta-feira e eu não tinha planos de voltar
para a mansão hoje. Iria conversar com as crianças e explicar que era a
minha folga. Estava com saudades da minha casa, esse tempo todo estava
apenas na mansão.
― Como está essa cabecinha? E esse coração? ― Bea perguntou,
levando sua taça de vinho aos lábios.
Miguel estava em pé no fogão, Madá e minha irmã estavam ao meu lado,
e Luigi e Giovanni à minha frente.
― A cabeça está melhor, mas o coração está em pedaços. Mas vou me
curar, já fiz isso uma vez, não é mesmo? ― Bebi um gole do vinho,
olhando para eles.
O celular de Luigi vibrou e ele pediu um lugar para atender. Não era
como se não soubéssemos quem era, apenas pelo olhar que ele me deu. Bea
levou-o para atender no seu quarto.
― Já tomou uma decisão? ― Miguel perguntou assim que Bea se sentou
novamente.
― Já sim. Vou ficar com as crianças até ele se casar e ir preparando-as
aos poucos para a minha ausência, afinal, eles vão ter uma mãe agora, não
precisam mais de mim, e eu não vou conviver com o casal na mesma casa,
né? Não faz sentido.
― Não fala assim, as crianças e todos nós precisamos de você. Foi você
quem trouxe luz para aquela casa, aliás, eu acho que nunca houve luz lá,
você trouxe isso. ― Giovanni falou, carinhoso.
― Você está certa, não precisa passar por isso. ― Madá falou, olhando-
me atentamente.
― E se não houver casamento? Você fica? ― Giovanni perguntou, sério.
― O que você sabe que não está nos contando, hein? ― Bea quis saber,
e Miguel virou sua atenção para ouvir a resposta.
― Nada. Gaby e Matteo têm que conversar, é o que eu acho. ― Ele não
quis responder, e ficamos em silêncio.
Luigi voltou e conversou com Giovanni pelo olhar, e logo mudamos de
assunto. O almoço ficou pronto, as crianças acordaram e fizeram a festa,
conhecendo a casa e brincando. Miguel fez pudim de sobremesa. Comemos
e fomos para a sala. A todo momento, os rapazes respondiam mensagens,
mas estavam presentes nas conversas e brincadeiras.
Caímos no sono na sala após o segundo filme que assistimos. Os
meninos estavam no tapete e as meninas, no sofá, em uma bagunça gostosa.
Acordamos com a campainha tocando. Giovanni foi ver quem era, e antes
mesmo de abrir meus olhos, ouvi os gritos.
― Papaiiiiiiiiiiii! ― Nina pulou no colo do pai, e Dante correu para
abraçá-lo.
― Papai, foi muito legal o nosso dia. Da próxima vez, o senhor pode vir
com a gente? ― Dante perguntou animado.
Não tive coragem de olhar para ele novamente e aproveitei a confusão
das crianças contando sobre o dia que tivemos e saí discretamente para o
meu quarto, deitei na cama e coloquei um travesseiro sobre a cabeça.
Queria desaparecer, mas ao mesmo tempo, pensei se talvez esse não fosse
um sinal para eu voltar para o Brasil.
Ouvi uma batida na porta e me levantei. Abri a porta e voltei para a
cama, deitando com o travesseiro sobre a cabeça, de barriga para baixo.
Sabia que era minha irmã.
― Estou bem, irmã, ou vou ficar. Relaxa, quando ele for embora, me
avisa, por favor. ― Minha voz estava abafada por conta do travesseiro.
― Não vou embora sem conversar com você, deixe-me explicar. ―
Aquela voz rouca que eu amava ecoou pelo meu quarto.
― Vá embora daqui, Matteo. Não quero conversar com você, nem
agora, nem nunca. Por favor, saia da minha casa. ― Falei, levantando-me e
indo até a porta para abri-la para ele.
― Não vou a lugar nenhum sem você. ― Falou ele, decidido e mandão
como sempre.
― Ah é? E sem a sua noiva, você vai?
― Deixe-me explicar, por favor, pequena?
― Pequena é o caralho, e não quero a sua explicação. Vá embora. Você
me humilhou e usou duas mulheres como bem quis. Você não é o homem
que eu imaginei que fosse. ― Falei brava, mas sussurrando, pois não queria
assustar as crianças. Estava pouco me lixando se ele era mafioso ou algo do
tipo. ― Quando o casamento acontecer, vou embora da sua casa, mas vou
preparar as crianças. Não por você, mas para que não fiquem magoadas.
Pode já ir procurando outra babá.
― Não faça isso, não será necessário. Apenas me ouça. ― Eu abri a
porta e fiz sinal para que ele saísse.
― V.A.I. E.M.B.O.R.A ― Mandei, soletrando cada letra. Ele tentou
passar a mão no meu rosto, mas eu o afastei.
Antes que ele abrisse a boca, as crianças chegaram à porta do quarto.
― Vamos, tia Gabyzinha, para casa? ― Nina perguntou, apertando meu
coração.
― Princesa, hoje é a minha folga, lembra que conversamos? ―
Perguntei, me abaixando e segurando sua mãozinha de boneca.
― Sim, mas você não tira folga há muito tempo. Achei que já morava
com a gente para sempre. ― Dante falou, olhando-me curioso.
― Por isso mesmo, eu preciso ficar um pouco com a minha irmã.
― Traga eles, é muito legal quando todos estão juntos na nossa casa. ―
Nina deu a solução que, até um dia atrás, seria perfeita para mim. Todos
juntos.
― Vou a uma festa hoje, e só vão adultos. Vocês se importam se eu for?
― Inventei uma desculpa que não seria tão ruim, precisava sair e
espairecer, quem sabe.
― O papai vai com você? Se for, tudo bem, você precisa de alguém para
te proteger. ― Dante falou, todo homenzinho. Eu amo esse menino.
― Não vai, porque ele vai ficar com vocês. Mas o tio Miguel vai comigo
e me protege, ok?
― E Luigi e Giovanni também, eles vão proteger a Gabriela. ― Matteo
falou em um tom sério, bravo e ciumento.
Que ele enfiem os ciúmes no rabo. Ele é noivo, caramba.
― Ok, então pode ir. Você volta na segunda-feira, certo? Vou marcar no
nosso calendário. ― Nina falou, e eu confirmei.
Abracei, beijei e me despedi deles. Matteo estava nervoso e sério. Os
levei até a porta e não me despedi dele. Os rapazes me abraçaram e
partiram. Finalmente soltei o ar que nem percebi que estava prendendo.
― Acho que vamos sair para dançar! ― Anunciei para as meninas. Não
ia ficar em casa chorando pelo leite derramado.
― Assim que se fala, garota! ― Madá disse animada e Miguel e Bea se
olharam desconfiados.
A minha vida estava bem e, de repente, virou de cabeça para
baixo! Em um instante, tinha Gabriela em meus braços; no outro, senti o
vazio e a decepção em seu olhar. Ela estava magoada, machucada, e
justamente por minha causa. Eu prometi que ela não passaria por isso, e
agora precisava consertar essa situação.
Não era para ela descobrir sobre o falso noivado dessa forma. Eu tinha a
esperança de apresentar Agatha apenas como minha protegida, quando tudo
terminasse. Contava com a possibilidade de as duas se tornarem amigas e
de ter o apoio de Madalena e Beatriz para recomeçar com Agatha, que
estava desconcertada com toda a situação.
Minha mãe sabe ser inconveniente quando quer. Segurei-me ao máximo
para não revelar a verdade na cara dela: que Gabriela não é uma simples
funcionária, ela é minha mulher, a futura dona dessa casa e já dona do meu
coração. Lutei muito para tê-la em meus braços e não vou perdê-la agora.
Não vejo outra saída além de expor toda a verdade para minha mãe. Ela
pode colocar todo o plano em risco ao contar para meu pai, mas vou correr
o risco. Agatha precisa de uma aliada na Itália, e minha mãe pode ser essa
aliada.
― Mãe sente-se. ― Ordenei que se sentasse à minha frente na mesa do
meu escritório. Agatha estava em pé na porta, esperando ordens. ― Você
também.
― O que vieram fazer aqui sem me avisar? Essas visitas sem aviso estão
se tornando frequentes, e eu não estou gostando disso, mãe.
― Ouvi rumores sobre os seus novos amigos e achei estranho. Vim ver.
Além disso, você precisa ver a sua noiva, que você abandonou na Itália no
dia do noivado de vocês. Não te criei para ser um babaca, meu filho. ― Ela
estava brava, e com razão.
Não era assim que se tratava uma dama, ainda mais uma noiva. Mas nós
dois sabemos que não somos um casal.
― Mãe, escute com atenção e prometa ouvir tudo antes de expressar sua
opinião. Promete? Posso confiar em você? ― Agatha me olhava com os
olhos arregalados, querendo falar algo, mas, como foi bem treinada, as
mulheres nunca interrompiam homens da máfia.
Por esse e outros motivos, nunca me casaria novamente com uma mulher
da máfia. Amo ser desafiado todos os dias pela minha pequena.
― Deve ser um assunto muito sério para você querer compartilhar
comigo, mas sim, prometo. ― Ela se ajeitou na cadeira. Levantei-me e
servi um uísque, peguei um licor que sei que minha mãe gosta. Sei que é
cedo, mas as circunstâncias não são boas.
― A senhora vai precisar? ― Perguntei, entregando-lhe o licor. Em
seguida, virei-me para Agatha ― Aceita um licor também? ― Ela balançou
a cabeça negativamente.
― Aceito um uísque, por favor. ― Respondeu, surpreendendo-me.
Minha mãe olhou para ela, espantada.
― Não sabia que você bebia, querida, ainda mais uma bebida tão forte.
― Agatha ficou sem graça, e eu a defendi.
― Uma mulher pode beber o que quiser, mamãe. Ou agora, na máfia,
existem bebidas exclusivas para homens e mulheres? ― Mamãe arregalou
os olhos para mim.
― Não foi isso que quis dizer. Desculpe, querida, se fui invasiva. Você
pode beber o que quiser. Só achei estranho você ser tão novinha e já beber
assim.
― Tem muita coisa sobre mim que a senhora não sabe. Vamos esclarecer
algumas coisas, não é, Matteo? ― Agatha perguntou, olhando para mim
enquanto eu lhe entregava seu copo com o líquido âmbar.
― Sim, vamos. Escute com atenção tudo o que eu vou lhe contar desde o
início, e no fim você nos dirá se será nossa aliada ou não.
― Você está me assustando, meu filho. Comecem logo. ― E assim
contei tudo desde o início.
Sobre a desconfiança de termos um traidor na mesa do conselho, a
suspeita de que Roberto fosse o responsável, e sobre a vida decadente e
triste a qual Roberto submete Agatha e sua mãe. Expliquei meus motivos
para não contar ao meu pai e minha mãe ouviu tudo em silêncio, muitas
vezes olhando para Agatha com os olhos cheios de lágrimas.
Minha mãe era amiga da falecida mãe de Luigi e da mãe de Agatha. Não
deve ser fácil sentir que não pode ajudar nenhuma das duas. Mamãe chorou,
soluçando, mas no final foi acolhida por mim e por Agatha, que se mostrou
uma menina muito especial. Eu faria o que fosse preciso para proteger essa
menina. Ela precisava viver.
― Está mais calma agora? ― Perguntei, voltando a sentar em meu lugar.
― Na verdade, só estarei quando esse homem pagar por tudo que fez a
essas mulheres, a Luigi. Coitadinho do meu Luigi, e ele está querendo fazer
o mesmo com você e seu pai. Ele não vai ficar feliz em descobrir que eu
sabia de tudo, mas vocês podem contar comigo. ― Minha mãe despejou
tudo de uma vez.
Agatha estava feliz com a notícia. Era muito bom para ela ter alguém
além dos meus seguranças.
― A senhora não pode, em hipótese alguma, confiar em ninguém, nem
funcionários, nem amigas do clube do chá, ninguém. Lá na Itália serão
apenas vocês duas e meus seguranças. Entendeu? ― Minha mãe ainda
estava assustada, mas compreendia o recado. ― Para todos os efeitos,
estamos noivos. Vocês vieram e fizeram o que tinham que fazer, tudo bem?
Agatha só precisa de uma prova para que eu possa dar o castigo que
Roberto merece, e depois seguimos com a vida.
― Coitadinha da menina, meu filho. O que será dela? Você sabe o que
acontece com a família dos traidores. ― Mamãe segurava as mãos de
Agatha.
― Sabemos, e é por isso que preciso que a senhora esteja lá. Quando a
bomba estourar, quero que a senhora esteja pronta para levá-las em nosso
jatinho e trazê-las até mim.
― Sim, meu filho, podem contar comigo. Mas não poderia haver um
casamento entre vocês dois? Mesmo depois de tudo? ― Ela parecia
animada e esperançosa.
― Não, mãe. Agatha será uma boa amiga e minha protegida, nada mais.
Haverá um casamento, mas não será com ela. ― Mamãe arregalou os olhos
e sorriu.
― E eu conheço a felizarda?
― Sim, conhece sim. E gostaria que já se acostumasse com a ideia.
― E quem seria?
― Gabriela. Quer dizer, ela será minha noiva se ela me desculpar e
acreditar em mim depois do seu show na cozinha. ― Ela arregalou os olhos
e colocou a mão na boca, em seguida, se levantou e serviu-se de mais licor.
― A babá? Brasileira? Você está querendo me dizer que, com tantas
mulheres na máfia e no nosso meio social, você escolheu se casar com uma
funcionária sua? ― Eu já não conseguia mais me segurar de vontade de ir
atrás dela, e minha mãe estava me empatando.
― Sim, minha ex-funcionária, que, a partir de toda essa confusão, será
minha esposa, a dona desta casa e do meu coração. Eu a amo, mamãe, e
espero que entenda e aceite minha escolha. Não vou permitir que ninguém a
maltrate.
― Ela sabe quem você é? Sabe a verdade sobre você?
― Sabe sim. Ela ficou sabendo algumas semanas atrás. Não está sendo
fácil, mas ela vai entender como funciona a nossa comunidade. ― Mamãe
andava de um lado para o outro, pensativa.
― Ela é linda, Matteo, parabéns, mas senti que ela ficou triste ao
descobrir que você era noivo, deve estar se sentindo traída. ― Agatha falou,
fazendo-me imaginar o quanto ela deve estar triste comigo. Preciso ir atrás
dela o mais rápido possível.
― Sim, e eu ainda a humilhei. Que vergonha, meu filho. Devo pedir
desculpas a ela. Coitadinha, deve estar se sentindo traída. Meu Deus, que
vergonha. ― Mamãe estava inconsolável. ― Desculpe, meu filho. Eu achei
que ela fosse sua amante. Não imaginei que a amasse tanto a ponto de
enfrentar o Conselho para se casar com ela.
― Amo sim, mãe. E ela ainda não sabe disso, mas vai saber hoje. As
desculpas você pode pedir em outro momento. Agora, preciso que vocês
vão embora e coloquem o plano em prática. ― Avisei, ansioso para ir até o
quarto de minha amada e me declarar para ela. Eu a amo, e ela precisa
saber.
― Ok, nós vamos, e vamos fingir que está tudo em andamento para o
casamento. Fique com Deus, meu filho. Dê um beijo nos meus netinhos. Eu
os vejo por chamada de vídeo depois, porque vejo que você está ansioso.
Estou feliz por saber que vai se casar por amor, meu filho. ― Eu também,
pensei.
Agatha foi embora com a promessa de me enviar relatórios diários por
minha mãe, assim seria mais fácil para ela, com a desculpa de que estariam
planejando o casamento. Roberto não daria importância caso as duas
conversassem, pois ele proibia Agatha de sair de casa sem sua supervisão
ou a de seus soldados.
Estamos limitando o uso de celular, pois concluímos que ele possa ter
alguém por trás da camuflagem dos dados dele. Não encontramos nada em
seus aparelhos eletrônicos. Ele pode muito bem rastrear o celular de
Agatha, e a última coisa que quero é que ela se prejudique antes da hora.
Saí do escritório e estranhei a casa em silêncio. Será que estão no
jardim? Subi para o meu quarto. Meu banheiro ainda tinha o cheiro de
Gabriela. Tomei um banho e troquei de roupas pois ainda estava com as
roupas da academia. Como uma manhã virou de cabeça para baixo tão
rapidamente?
Desci as escadas correndo e passei pela cozinha, que estava a todo vapor,
com os funcionários trabalhando. No jardim, não havia ninguém. Estranhei
e voltei em direção ao quarto de Gabriela. Passei pela cozinha novamente e
Carmem veio ao meu encontro.
― O senhor precisa de alguma coisa? ― Ela me perguntou solícita.
― Cadê todo mundo? Gabriela e as crianças?
― Saíram de carro com uma cesta que Margô fez para eles. Parece que
ela autorizou a saída deles! ― Carmem disse tranquilamente, com uma
calma de dar inveja.
Eu estava com os nervos à flor da pele. Como assim saíram? E com
quem? Por que não fui avisado? Antes de abrir a minha boca, Margô nos
interrompeu.
― Sim, Carmem, com a minha autorização. Porque eu planejo o dia das
crianças juntamente com Gabriela. Agora, pode voltar ao seu trabalho. ―
Virei-me para Margô e a puxei para o quarto de Gabriela.
― Como assim saíram e não me avisaram? Deveria ter sido feita uma
força-tarefa para garantir a segurança das crianças. ― Eu não estava
entendendo como passaram por cima da minha palavra.
― A menina Gabriela não estava confortável com a situação em que sua
mãe e você a colocaram. Ela não queria ficar aqui com as duas no mesmo
teto. A irmã dela queria levá-la embora, mas, como sempre, ela colocou o
bem-estar das crianças na frente e decidiu ficar por eles. Luigi e Giovanni
tiveram a ideia e eu ajudei a organizar tudo. Está tudo sob controle. Eles
foram ao parque e vão almoçar na casa das meninas. ― Como assim vão
almoçar? Olhei para o meu relógio e percebi que já era quase hora do
almoço. Ficamos mais tempo no escritório do que eu imaginava.
― Por que não me avisaram? Não vi o tempo passar.
― Não quisemos incomodar, e os rapazes estão cuidando bem dela e das
crianças. O menino realmente está noivo? ― Apenas balancei a cabeça
negativamente.
Não sabia quem poderia estar ouvindo.
― Entendi. A menina está muito abalada. Ela nem se recuperou direito e
já acha que foi traída.
― Vou atrás deles, Margô. ― Avisei, seguindo para o meu escritório
para pegar meu celular que estava lá.
Havia mensagens de Luigi e Giovanni, avisando de todos os
procedimentos feitos para a saída dos meus três bens mais preciosos da
minha vida.
Eu estava furioso com a situação e com o sofrimento que Gabriela devia
estar passando, sem que eu estivesse lá para ampará-la e cuidar dela.
Liguei para Luigi, que atendeu falando baixo, ele me explicou a situação,
tudo o que fizeram e onde estavam. Eu estava com raiva deles, mas não
podia negar que não havia pessoas melhores para cuidar dos meus filhos e
de Gabriela do que eles.
Eu queria ir atrás dela imediatamente, mas Luigi me aconselhou a
esperar um pouco. Ele disse que as crianças estavam tirando uma soneca no
quarto de Gabriela, que ela não queria me ver nem pintado de ouro e que
Beatriz queria me matar, então decidi ir trabalhar um pouco no escritório,
revisar alguns relatórios da empresa.
Fiquei horas sentado em minha cadeira, mas a saudade era insuportável.
Foda-se o que Luigi disse, eu iria atrás dela e a traria de volta para nossa
casa, porque essa casa não é a mesma sem ela aqui.
Cumprimentei o soldado que fazia a segurança da porta do apartamento
e toquei a campainha. Um sonolento Giovanni abriu a porta para mim.
Entrei sem perguntar nada, só queria ver Gabriela e as crianças. Meus filhos
ficaram radiantes pulando em mim e gritando. Gabriela saiu de fininho e foi
para o seu quarto. Deixei as crianças com os rapazes, e as meninas me
olhavam como se pudessem me matar com o olhar.
Segui em direção ao quarto de Gabriela e nada me preparou para a cena
que vi. Gabriela deitada de bruços com o travesseiro na cabeça. Quando
percebeu minha presença, pediu para eu ir embora. A tristeza e a mágoa
estavam evidentes em seu olhar. Eu estava destroçado por dentro, não
queria ser eu o motivo de sua mágoa.
Tentei contar a verdade, argumentar, mas minha pequena estava nervosa
e muito brava. Nunca a vi assim. Se pudesse, a pegaria e a jogaria nessa
cama agora mesmo, pois ela fica linda até quando está brava. Tentei me
aproximar, mas as crianças chegaram chamando Gabriela para irmos
embora. Ela deu uma desculpa sobre sua folga, mas eu sabia que ela queria
ficar longe de mim.
Ela disse que iria sair com os amigos. Meu ciúme atingiu níveis
alarmantes, e eu avisei que os rapazes iriam com ela. Queria dizer em voz
alta, mas Gabriela despertava em mim um sentimento de posse e cuidado
fora do normal. Fui embora com as crianças, na esperança de ligar para ela
e fazê-la voltar para nossa cama.
As luzes coloridas, o cheiro de bebidas misturado com cigarro, as
pessoas lutando por um espaço para dançar, os drinks coloridos, shots de
tequila e o som grave pulsante da música. Se não fosse por isso, não sei
como conseguiria esquecer a traição que sofri. Uma noite brasileira em uma
boate badalada, ao som de funk, é tudo que quero esta noite para esquecer
Matteo.
A boate era incrível, com dois andares, pista de dança e um bar no andar
de baixo. Na parte de cima, havia uma área VIP de um lado e camarotes do
outro. Era um ambiente elegante e sensual, com muitas pessoas bonitas,
homens e mulheres.
O público aqui era seleto, e Miguel conseguiu ingressos para um
camarote reservado para nós, por meio de um cliente do restaurante que
trabalha como promoter aqui. Adorei a ideia, pois hoje teremos um DJ
brasileiro tocando funk, e eu e as meninas vamos nos divertir muito.
Nada melhor do que dançar sem se preocupar com as pessoas nos
observando, principalmente nós brasileiras, que adoramos mexer o corpo.
Eu estava usando um vestido tubinho vermelho, sandálias de tiras pretas,
cabelo solto em ondas, maquiagem marcante e um batom vermelho sangue,
combinando com a cor do vestido. Apesar de estar triste e magoada por
dentro, eu me sentia incrível. Não quero me lembrar desta manhã.
O segurança liberou nossa entrada, e ao passarmos pela porta, o som
grave arrepiou até os cabelos da minha nuca. O DJ estava a todo vapor,
tocando um remix do "Mega" do Akon, feito pelo DJ Jonatas Felipe.
Levantei a mão que Miguel não estava segurando e comecei a mexer o
corpo. Ele olhou para trás e me deu um sorriso satisfeito. As meninas
vinham atrás de nós, de mãos dadas também. Fomos em direção às escadas
e subimos para acessar o camarote.

“No baile de favela a tchuc, a tchuca brotou


Com as amigas perversa no mega embraçou
se envolveu com os maloca de Sc
e com a raba ela enfeitiçou
Não se a, não se assusta
É só mexer o bumbum
Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai,”

Chegamos à grade de proteção do camarote e nem olhamos para os


lados. Madá segurou minha cintura e Bea segurou a dela. Flexionamos os
joelhos e começamos a rebolar ao som da batida, subindo e descendo. Eu
coloquei a mão no joelho e comecei a rebolar.
Eu amava dançar funk, era o melhor ritmo. Miguel apareceu segurando
quatro shots de tequila. Eu queria me acabar hoje. Brindamos e viramos as
bebidas de uma vez, sentindo o líquido queimar e relaxar meu corpo ao
mesmo tempo.
Continuamos a dançar nós quatro dessa vez. Eu ficava de boca aberta
vendo como Miguel dançava bem. Já Madá, a Bea precisou dar algumas
aulas para ela, mas ela dançava magnificamente bem.
O camarote tinha um bar só para nós, o que eu achei incrível. Não
precisávamos descer para comprar bebidas, e eu nem queria ver o valor da
conta depois. Madá pediu drinks para nós e eu escolhi um Gin com
especiarias.
Estava animada até que vi quatro silhuetas conhecidas subindo as
escadas. Não posso acreditar nisso. Que droga! Olhei para as meninas e Bea
estava possuída pela raiva. Romeo estava com os rapazes e Matteo, que
droga! Ele estava lindo, e ficava esfregando sua beleza na cara de todos nós
meros mortais.
Ele era incrivelmente gostoso. Só de vê-lo, minha calcinha já estava
molhada. Não posso ser tão safada a ponto de sentir tesão por um homem
comprometido. Mas era sacanagem. Ele usava um jeans escuro com uma
camisa de botão preta aberta até o peitoral, que eu já lambi várias vezes, e
um paletó preto. O homem era divino. Ele foi direto cumprimentar Miguel,
que estava no bar.
Virei-me para as meninas e perguntei em voz alta para sobrepor a
música, que estava muito alta.
― Se isso tiver o dedo de Miguel, eu o mato ― falei em voz alta.
― Do jeito que eles estão amigos, não me surpreende. Se vocês
quiserem ir embora para outro lugar, eu topo. Não quero ficar aqui vendo a
cara de pau do Romeo ― Bea falou brava.
Ela estava linda com um rabo de cabelo alto, um top de alcinha cavado
que mostrava a lateral de seus lindos seios e uma saia de couro justa.
― Às vezes acho que vocês se fazem de burras. Por que vamos embora
se podemos provocar esses idiotas? Façam o que sabem fazer de melhor,
provoquem eles e depois vamos sair correndo, deixando-os babando ―
Madá nos aconselhou, como um capetinha querendo ver o inferno.
Eu adorei a ideia. Estava na hora de deixar de ser boazinha.
― Gostei da ideia. E aí, irmãs, bora? ― perguntei, já abraçando as duas
de costas para eles.
-Só se for agora. Vamos mostrar a esses idiotas como uma brasileira
mexe a raba ― Bea respondeu.
Não poderia ser um momento melhor para começar a tocar "Evoque
Prata" do DJ Escobar. Viramos nossas bebidas enquanto Madá foi buscar
mais três shots de tequila.
Brindamos e viramos tudo de uma vez. A bebida desceu queimando e eu
já estava relaxada com a moleza que o álcool causava em meu corpo.
Começamos a dançar, imitando as danças do TikTok.

“Dentro da evoque prata


tocando escobar as bitch
jogando na cara
Na mira do flash da fama nois mete marcha,
se pa, nois se tromba nas melhores revoadas
E se faz stories postando a minha glokada
só se faz de santa, mais eu sei que é safada
só se faz de santa, mais eu sei que é
safada”

Bea segurava minha cintura, se esfregando em mim, enquanto Madá


rebolava à nossa frente. Estávamos nos entregando completamente quando
senti um vazio atrás de mim. Olhei para trás e vi Romeo segurando o braço
de Bea, que imediatamente deu um chute em suas partes íntimas.
Madá olhava para os dois com um sorriso de quem já esperava por
aquilo. Miguel veio ver o que tinha acontecido e me virei para ele, já
perguntando.
― Tem dedo seu nisso? ― perguntei.
Ele me olhou com os olhos arregalados, negando com a cabeça.
― Claro que não. Eu ganhei as entradas e fiquei tão surpreso quanto
vocês ― respondeu Miguel.
Ele não era de mentir, então não vou ficar brava com ele à toa.
― Vamos beber. Esses dois vão se resolver em breve ― falei, seguindo
para o bar.
Matteo estava na outra ponta do balcão, tomando seu uísque de sempre.
Não reparei muito nele. Os rapazes vieram nos cumprimentar e tomei outro
Gin, dançando com Miguel próximo ao bar.
Sentia o olhar de Matteo queimar minhas costas. Sempre que dava uma
olhada, ele não desviava os olhos de mim. Avisei a Miguel que iria ao
banheiro. Já estava bem alegre com a quantidade de álcool que tinha
consumido.
Entrei no banheiro do camarote, abri a torneira e fiz um coque no cabelo,
segurando-o com uma mão. Passei um pouco de água na nuca e fechei os
olhos, sentindo um vento gostoso no local úmido. Me assustei quando senti
um beijo no meu pescoço. Virei-me e soltei o cabelo. Matteo estava parado
atrás de mim, segurando uma garrafa de água e me oferecendo.
― A sua noiva deve gostar de água, não eu. Vá oferecer a ela. Nenhum
homem vai me proibir de nada novamente ― falei brava, encostando a
bunda na pia, pois me encurralou nela.
― Estou querendo cuidar de você, te hidratar para evitar uma ressaca
amanhã. Nunca te proibiria de nada. E não tenho noiva ― Respondeu sério.
Eu até poderia acreditar, se não fosse sua mãe a me contar naquela
manhã.
― Não tem? Sou eu que tenho? O que você está fazendo aqui? Como
soube onde eu estava? ― questionei.
― Essa boate é minha, então posso estar aqui, não? E sei tudo que
acontece aqui dentro, quem entra e quem sai ― respondeu.
Por que esse desgraçado cheira tão bem?
― Eu não quero te ver ― afirmei.
― Você mente muito mal. Que tal uma aposta? ― provocou ele.
― Não estou mentindo. Eu não quero te ver, não quero mais você. Fui
clara? ― Merda, ele estava muito perto.
― Então prove. Aceita a aposta? ― Perguntou ele, desafiador.
― Aceito! ― Droga, deveria ter aceitado a água. Já estava bêbada.
― Vou passar meu dedo na sua parte íntima deliciosa, se ela estiver
molhada para mim, como eu sei que está, você vai me ouvir, e depois, eu
vou te chupar neste banheiro, sentada nesta pia, com meus dedos dentro de
você, até você gozar gostoso. Então, vamos para nossa casa, e eu vou te
foder deliciosamente. Entendido? ― Merda, merda, merda!
Ele sabia o efeito que suas palavras tinham sobre mim. Isso foi um golpe
baixo.
― Não saio com homens comprometidos ― avisei, com um sorriso
bobo no rosto.
― PUTA QUE PARIU, Gabriela, você está encharcada. Tudo isso por
mim, amor? ― Ele falou enquanto afastava minha calcinha e tocava minha
intimidade, e de fato, eu estava molhada.
Espera aí, amor?
― Não estou assim por você. Estou pensando no cara gostoso que está
na pista de dança me esperando, no tamanho que seu pau deve ser. E eu
posso fazer isso porque sou solteira ― esbravejei.
Eu estava usando uma calcinha de renda pequena, então, de forma
imperceptível fui desfazendo os laços dela, Matteo parou e segurou meu
rosto com as duas mãos, mas quando ele abriu a boca para discutir, antes
mesmo que qualquer som saísse, enfiei minha calcinha em sua boca aberta.
Empurrei-o e saí correndo.
Infantil, sim, mas não perderia a oportunidade.
Corri para o bar, onde Madá estava. Bea não estava no meu campo de
visão, então puxei Madá pelo braço e descemos as escadas correndo e
gritando como duas loucas. Uma das minhas músicas favoritas começou a
tocar, "Passe Livre" do Nilson Neto e nós encontramos um espaço na pista
de dança, em frente ao camarote onde estávamos, e começamos a dançar,
mexendo a bunda no ritmo da música.
Todos olhavam para nós: homens com desejo, mulheres com ciúmes e
desejo. Éramos o centro das atenções.

“Minha postura quebra, quando ela me olha assim


Quicando desse jeito, jogando divagarim
De um jeito carinhoso, ela pede mais
Pode deixar, que o pai satisfaz
Na hora que quiser não precisa nem marcar, você tem passe livre quando
quiser sentar de noite ou de madrugada, liga pra mim que em 2t eu já to aí
Então bota, bota, bota e pede mais”

Eu continuava dançando e olhando para cima, o olhar de Matteo era


cheio de fogo e raiva.
Um grupo de rapazes se aproximou e começou a dançar conosco.
Aceitamos suas investidas. Um rapaz envolveu minha cintura, outro chegou
por trás de Madá e nós dançamos juntos. Ele era bonito, mas não era o meu
Matteo, quer dizer, ele não era meu, era da noiva. Foda-se, vou aproveitar.
O rapaz dançava bem, mas estava me apertando demais. Tentei me virar
e não consegui. Já não estava gostando daquilo. Tentei me desvencilhar de
seu abraço e pedi educadamente para ele me soltar, mas ele não respondeu.
Em um momento, ele estava me apertando, no próximo, estava no chão com
Matteo estava em cima dele, desferindo socos em sequência. Ele estava
focado em quebrar a cara do rapaz. Giovanni se aproximou para separar a
briga, mas Matteo o afastou. Luigi chegou e me afastou da cena que se
desenrolava na minha frente.
Matteo continuou socando o rapaz, que estava desacordado. Saí do
abraço de Luigi e segurei o braço de Matteo no ar, pedindo para ele parar.
― Por favor, pare. Eu vou embora com você. ― Imediatamente ele
parou e saiu de cima do cara.
Todos os olhares estavam em nós. A boate ficou em silêncio, as luzes se
acenderam. Ele simplesmente me jogou em seus ombros, como uma
boneca, e seguiu comigo para o
estacionamento.
Vi o momento em que Madá tentou vir atrás de nós, mas Giovanni a
segurou e a impediu. Ele abriu a porta do carro e me jogou lá dentro. O
carro era espaçoso por dentro. Eu ficaria ajoelhada confortavelmente.
― Gosta de me desafiar, Gabriela? Vou te mostrar as consequências. ―
O medo me dominou.
Ele iria me bater? Não, não podia ser. Ele havia prometido nunca me
machucar.
Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Meus olhos se encheram de
lágrimas, mas eu não iria chorar. No momento, ele estava muito nervoso.
Ele me pegou no colo novamente, me virando de bruços em seu colo.
Fiquei com a cabeça pendurada perto de sua perna. Ele passou meus braços
para cima, deixando-me de bruços como uma criança prestes a receber uma
palmada. Ele alisou minha bunda e levantou meu vestido.
Não, ele não faria isso, faria? Ele passou a mão sobre minha bunda, sem
calcinha. Eu poderia jurar que ouvi um rosnado saindo de sua boca e, sem
aviso, desferiu um tapa que estalou no carro.
― Você gosta de dançar sem calcinha, Gabriela? ― Perguntou com a
voz rouca, cheio de raiva e tesão.
― Sim, eu gosto! ― Gritei de raiva e recebi outro tapa.
Tentei sair de seu colo, mas ele me segurou firmemente. Não havia como
lutar contra ele.
― Você gosta de pensar em outro pau, que não seja o meu, Gabriela? ―
Não pensei duas vezes e respondi.
― Gosto, gosto muito de pensar. E você, pensa na boceta da sua noiva?
― Gritei, usando todo o ar do meu pulmão.
Ele acariciou minha bunda e deu outro tapa. Ardida como o inferno,
minha boceta pulsava de tesão. O que estava acontecendo comigo? Eu só
podia estar doente.
― Já disse que não tenho noiva. E você, pensa em outros paus,
Gabriela? ― Outro tapa.
― Sim, muito. ― Outro tapa.
― Não me desafie, posso ficar aqui a noite toda. Você pensa em outro
pau? ― Outro tapa. Minhas lágrimas já estavam caindo, mas eram lágrimas
de tesão.
Eu só o queria dentro de mim. Não aguentava mais. Ele deu mais dois
tapas, e eu não aguentei. Eu queria senti-lo.
― Porra, Matteo, não, não penso em outro. Só penso em você, dia e
noite. Enfia esse pau em mim, por favor. ― Outro tapa, e mais outro, e
outro.
No quarto tapa, ele enfiou dois dedos em mim sem aviso, e eu gozei
apenas com esse movimento, tremendo e chorando ao mesmo tempo.
― O meu pau dentro de você, você terá mais tarde, na NOSSA cama. ―
Eu não pensava, não respirava. Só estava sobrevivendo nesse momento.
Matteo me levantou, virando-me de costas e colocou minhas mãos no
porta-malas do carro. Meus joelhos ficaram no banco. Ele abriu minhas
pernas, ajoelhou-se no chão do carro, ficando com o rosto na altura da
minha bunda, lambeu toda ela, um lado depois o outro, acalmando a
ardência. Sem eu perceber, ele passou a língua de baixo para cima, parou
em meu ânus e o lambeu com uma habilidade incrível. Senti um prazer
intenso se formar no meu ventre. Em seguida, voltou para minha vagina, me
chupando com a boca aberta, como se estivesse comendo uma fruta.
Enfiou a língua na minha entrada e eu fui ao céu e voltei. Continuou me
chupando, venerando e desejando, nua e crua. Assim, gozei mais uma vez,
ficando mole em seus braços. A bebida e os orgasmos me derrubaram.
Ele me pegou no colo, acariciando meu cabelo com carinho. Passou os
dedos pelo meu rosto, contornando-o, olhando-me com admiração.
Arrumou meu vestido e passou o paletó por cima do meu corpo. Digitou
algo no celular e, em poucos minutos, o motorista entrou no carro. Já estava
com os olhos fechados quando ouvi ele dizer:
― Vamos para casa, pequena, e lá nós vamos conversar.
Não precisei saber do paradeiro de Gabriela, como ela pensa que fiz,
pois fui informado, apenas. Ela não sabe, mas o segurança que coloquei
para protegê-la me avisou de todos os seus passos e descobrir a
coincidência de eles estarem na minha boate foi uma ajuda generosa do
destino. Eu iria trazer minha pequena para casa, mesmo que fosse como um
homem das cavernas, a carregando.
Chegar na boate e vê-la dançando e mexendo aquela bunda linda ativou
meu ciúme em um nível estrondoso. Romeo estava comigo em uma reunião
de última hora sobre um novo carregamento de armas, quando fui avisado
da saída das meninas por uma foto do segurança particular de Gabriela.
Romeo ficou possesso com a roupa que Beatriz estava usando. Nem
precisou dizer nada, ele apenas me seguiu.
Gabriela me desafiar, dizendo que pensava em outro pau que não fosse o
meu, me deixou com raiva e meu nível de brutalidade aumentou. Vê-la
dançando sem calcinha com um cara aleatório só me deixou mais nervoso.
Quando vi aquele idiota apertando-a e não permitindo que se soltasse,
fiquei cego de raiva e descontei toda a minha fúria nele. Somente o toque
delicado de Gabriela conseguiu me acalmar.
Eu a queria longe dali, longe de todos, só para mim em nossa cama.
Descobrir esse lado submisso de Gabriela na cama estava elevando ainda
mais o meu tesão por ela. Ela gozou em meus dedos com apenas uma
estocada naquela deliciosa boceta apertada. Os tapas foram como gasolina
para o fogo dela explodir.
Agora estamos na porta de casa, Gabriela dorme em meus braços e eu
admiro sua beleza. Saio com ela do carro e seguimos para nosso quarto.
Abro a porta e a coloco na cama. Retiro minha camisa e sapatos, ficando
apenas de calças. Sento na beirada da cama, aguardando-a acordar. Minutos
se passam e ela se mexe na cama, sonolenta, esfregando os olhos.
― Por que me trouxe para sua casa? ― perguntou, já sentando e
colocando os pés para fora da cama, prestes a levantar.
― Porque esta também é sua casa, e você perdeu a aposta, lembra? ―
Ela já estava de pé, caminhando em direção à porta.
― Eu estava bêbada, quer dizer, estou bêbada. A aposta não vale. ―
falou, apontando o dedo para mim, ela ficava tão linda quando estava brava.
― Vale sim, e você perdeu. Agora vai ter que me ouvir. Deixa-me
esclarecer as coisas para você. ― Ela estava em frente à porta, eu corri e a
virei para mim, encurralando-a com os dois braços ao lado de sua cabeça.
― Pare com isso, por que você me quer? Eu nunca serei sua amante,
nunca prejudicaria outra mulher. Além disso, não tenho nada a oferecer a
você. Olhe para mim, sou apenas uma garota normal, bêbada, que dança
sem calcinha, insegura e com traumas. Sou irrelevante para você. Sua noiva
é linda, elegante, usa roupas e sapatos de grife, foi treinada pela máfia. Eu
não sou nada disso. ― Ela falou tudo de uma vez, gritando, e eu já via
lágrimas no canto de seus olhos.
Aproximei nossos rostos e olhei nos olhos dela.
― Eu nunca faria de você minha amante, você será minha rainha, e
nunca se diminua perante outra mulher, ou quem quer que seja. Você é foda,
incrível, linda, inteligente, gostosa. Você me faz rir, me faz querer voltar
para casa todos os dias, você é a mãe que meus filhos precisam e dos que eu
quero ter com você também. Você trouxe luz para minha vida, e nem
vestidos de grife ou ensinamentos da máfia vão superar a mulher
maravilhosa que você é. Eu te amo do fundo do meu coração, que eu
achava que só existia para os meus filhos, mas agora também é seu. Por
favor, não vá embora. Me ouça, por favor? ― Meu coração doía com a
hipótese de ela dizer não. Se ela quisesse ir embora, eu não a seguraria aqui
à força.
― E... eu... tudo bem, mas eu só vou ouvir e não prometo nada. ― Ela
falou por fim, com as duas mãos em minha cintura.
Meu raciocínio estava lento com seu toque em mim. Me afastei dela
segurando sua mão e acomodando-a na cama. Ela se sentou e encostou-se
na cabeceira, linda como a rainha da minha vida.
― Lembra da história do traidor? Nossa desconfiança recaía sobre
Roberto, pai de Luigi.
― Sim, me lembro.
― Não estamos conseguindo provas, e na noite em que você recebeu o
bilhete do Carlos, surgiu a oportunidade de um noivado com Agatha,
enteada de Roberto. Quando fiquei sabendo do acontecido, larguei o jantar
no meio e vim ao seu encontro, ela não significa nada para mim, nós não
estamos realmente noivos, é apenas uma forma dela conseguir provas para
mim. ― Gabriela arregalou os olhos e colocou a mão na boca.
― E por que ela te ajudaria e aceitaria um noivado falso com você?
― Porque o desgraçado bate nela e na mãe. Elas vivem uma vida de
aparência, mas dentro de casa vivem um inferno, assim como Luigi e a mãe
dela viveram. Queremos o mesmo fim para o maldito do Roberto, e todos
têm que acreditar que estamos noivos para que nada dê errado. Por isso
minha mãe achou que era verdade, ela só soube hoje da farsa, quando eu
contei no escritório.
― Sua mãe não gosta de mim, e coitadinha... por isso o olhar de Agatha
era triste. Eu achei que ela estava chateada por nós dois, achando que
éramos amantes.
― Minha mãe já sabe sobre nós dois. Eu contei hoje e já disse que você
será minha futura esposa, se me aceitar de volta, claro. Ela está muito
envergonhada e disse que vai lhe pedir desculpas.
― Não precisa, e Agatha, como fica? Pelo que entendi sobre traição, ela
e a mãe vão pagar pelos erros de Roberto, não é?
― Precisa sim, ninguém vai te fazer chorar e não corrigir o erro com
você. Quanto a Agatha e sua mãe, é isso mesmo, mas não vou permitir. Vou
trazê-las como minhas protegidas e esperava contar tudo isso a você quando
terminasse, na esperança de que você as ajudasse na adaptação aqui. Quem
sabe as meninas e Miguel também possam ajudar?
― Claro que vou ajudar no que for preciso. Fui ajudada por mulheres
incríveis, e agora é minha vez de ajudar uma mulher que está tão
machucada quanto eu estava quando cheguei aqui, não é? E sinto muito
orgulho de você por estar ajudando-as.
― Isso quer dizer que você acredita em mim?
― Sim, me desculpe por não ter te ouvido quando você queria falar a
verdade. Eu estava tão machucada que não queria te ver e, ao mesmo
tempo, queria te ver. ― Ela se aproximou e eu a sentei em meu colo de
frente para mim, com as pernas uma de cada lado da minha cintura.
― Me desculpe por não ter contado antes sobre o plano. Prometo que
nunca mais deixarei nada de fora do nosso relacionamento. ― Passei as
mãos pelas suas costas, fazendo carinho e afastando o cabelo do seu
pescoço.
― Sim, eu perdoo você. E prometo ser mais flexível quando estiver com
raiva. ― Ela se ajeitou em meu colo, ficando em cima do meu pau.
― Falando nisso, eu adorei seu lado briguenta. Adoraria transar com
você quando estiver bem brava. ― Alisei suas coxas, levantando as laterais
do vestido.
― Eu também. Não quero que isso aconteça sempre, mas senti um tesão
danado quando você me defendeu. ― Ela rebolava em meu pau, e eu já
estava pronto para estar dentro dela.
― Aliás, você estava tão linda hoje. Só imaginava meu pau marcado por
esse batom vermelho.
― Posso realizar seu desejo agora, "Hugo"? ― Ela levantou a perna
para sair do meu colo, mas eu a segurei no lugar, abaixando a parte de cima
do vestido para chupar seus peitinhos deliciosos.

― Outro dia pequena gostosa, agora quero me afundar em você até o


talo. ― Gabriela desabotoava a minha calça enquanto eu colocava um seio
inteiro na boca e chupava, ela gemia e fazia o trabalho de retirar o meu pau
para fora.
― Hmmm... Aí Matteo me fode, por favor. ― Pediu manhosa,
rebolando e erguendo o quadril.
Mais que rápido, conferi se ela estava pronta para mim, e como sempre
ela não decepcionou, sua boceta estava encharcada.
― Quero você se sentando e rebolando no meu pau, igual estava
dançando mais cedo, você não imagina os pensamentos que passavam na
minha cabeça enquanto você dançava.
― Eu rebolo, mais para de falar e me fode. ― Ela desceu de uma vez no
meu pau, me deixando sem reação.
Sua boceta apertava o meu pau, e de repente Gabriela começou a rebolar,
só com as minhas bolas pra fora da sua boceta apertada, enquanto isso eu
chupava um mamilo e apartava outro.
― Quero saber mais sobre o eu te amo. ― Sua voz saiu mole pelo
desejo e pelo esforço que estava fazendo.
― O que a mulher da minha vida que saber? Eu te amo, cada dia mais,
meu coração e meu pau são seus, amo você mais ainda quando está nua por
cima de mim ― Ela me olhou com os olhos cheios de luxuria.
― Que romântico ― debochou ― eu aceito o seu coração e
principalmente o seu pau, eu te amo, Matteo Rocatti ― Porra, ouvi isso
enquanto ela rebolava era incrível.
Gabriela ergueu o quadril e eu enfiei meus dois braços por dentro das
suas pernas, peguei impulso e levantei o seu corpo até o a ponta do meu
pau, e a soltei de uma vez, ela arregalou os olhos, abriu a boca e gemeu
alto.
― Porra! Eu te amo, eu te amo. ― Caralho, que delícia.
Eu estocava cada vez mais forte e firme, essa mulher me levaria a
loucura.
Estávamos suados e ela estava descabelada, era a visão mais linda da
vida, sua bunda batia na minha perna e eu apertava a sua carne socando
firme naquela boceta melada. E nesse momento de luxuria, me declarei
mais uma vez.
― Te amo hoje e sempre ― Então ela gozou gemendo alto.
― HAAA... EU TE AMO! ― Gritou esmagando o meu pau e eu gozei
em sequência, com um sorriso no rosto de um homem satisfeito.
― Que bom que a recíproca é verdadeira ― falei, beijando a sua testa e
a deitando na cama, com ela descansando no meu peito.
― Nada disso, eu disse que amava o seu pau. ― Gargalhei alto,
abraçando-a com força, olhando nos seus olhos e sabendo que você era a
mulher da minha vida.
― Obrigado por ficar, meu amor.
― Obrigada por me fazer ficar. ― Nos beijamos com amor e carinho,
adormecendo em um sono tranquilo e calmo.
Desde o momento em que fui obrigada a aceitar a proposta de Romeo
para salvar minha irmã, tenho vivido um verdadeiro tormento interno.
Minha saúde mental nunca foi boa e sempre fui mais perturbada do que o
normal, mas agora está em uma espiral descendente, rumo ao abismo, sem
freio.
Não me entendam mal, eu morreria pela minha irmã e faria tudo de novo
sem pensar duas vezes. Romeo é atraente, bonito, cheiroso, tem um ar de
Bad Boy e é exatamente o tipo que minha mente perturbada gosta. No
entanto, basta ele abrir a boca para revelar sua arrogância, presunção e
achar que é o todo-poderoso, o dono do mundo. Ah, e gostoso! Ops, isso eu
já mencionei. Enfim, tenho um verdadeiro desprezo por ele e não vou
suportar passar nem mesmo da festa de casamento ao lado dele.
Sem contar que tenho aversão a relacionamentos. O maior tempo que já
passei com um cara foi até o café da manhã do dia seguinte, aliás, eu fui o
café da manhã. Não consigo nem imaginar como será viver na mesma casa
que esse idiota. Agora ele está no balcão do bar, de costas para mim, ao
lado de Matteo, como se fosse o dono do lugar, me deixando irritada só de
olhar para essa bunda perfeita que ele tem, então decidi seguir o conselho
da minha guru da safadeza, Madalena.
Vou dançar, beber e me acabar, além de levar um cara gostoso para a
minha cama. Afinal, tenho que aproveitar os dias que me restam como
solteira.
Estava dançando com minha irmã e Madá, fazendo passos ousados e
rebolando até o chão, quando senti uma mão pesada me puxando para trás.
Minhas costas bateram em um peito forte, firme e cheiroso. Virei-me e me
deparei com Romeo, com fúria nos olhos.
― Que diabos você pensa que está fazendo, dançando dessa forma? ―
perguntou, se achando meu dono.
Não pude resistir e dei um sorriso debochado.
― Não é da sua conta, mas estou procurando por um cara gostoso para
aquecer minha cama esta noite enquanto danço. Algum problema? ― Ele
levantou uma sobrancelha, tornando seu rosto quadrado ainda mais atraente.
― Vários problemas, começando pelo fato de você ser minha noiva ―
Falou, furioso, quase babando.
― Ainda não é nada oficial, então tenho tempo para aproveitar a vida
antes de me prender a você ― respondi.
Ele veio em minha direção como um Pitbull, segurando meu braço, mas,
mais rápido do que ele esperava, dei um chute certeiro entre suas pernas.
Luigi ficaria orgulhoso ao ver o golpe perfeito que executei, exatamente
como ele me ensinou. Romeo segurou suas partes baixas, olhou para cima e
respirou fundo. Fiquei um pouco receosa com sua reação, mas não vacilei e
me mantive firme e determinada.
― Você tem ideia de com quem está lidando? ― perguntou se
aproximando, segurando meu rosto.
― Você tem ideia de que o mundo não gira em torno do seu ego? ―
maldito homem cheiroso.
― Garota, não brinque com fogo se não está disposta a enfrentar as
consequências. ― Ele estava cada vez mais próximo da minha boca, mas eu
não ia ceder.
― Grande merda a suas consequências, não estou brincando com você.
Aliás... ― merda, essas veias saltando em suas mãos e percorrendo os
braços eram uma tentação. Merda, foco Beatriz.
― Tão linda e com uma boca tão suja, como pode soltar tantos
palavrões, sendo uma garota tão pequena? ― perguntou sério, mas com um
tom divertido.
― Não é da sua conta. Aliás, ainda dá tempo de você encontrar uma
mocinha recatada e caseira para obrigar a se casar com você. ― falei rindo,
com um olhar de deboche estampado no rosto.
― Uma mocinha recatada nunca estaria ao seu nível, minha diabinha, e
eu gosto do que é diferente. ― esse maldito está achando que é quem? Me
dando apelidos.
― O que é diferente para você, é só uma desculpa para ser um completo
imbecil. Se eu fosse você, desapareceria da minha frente, estou fazendo
aulas de tiro e adoraria usar sua cabeça como alvo. ― tentei me soltar do
seu aperto, mas não consegui.
― Estou ciente das suas aulas e mal posso esperar para treinarmos
juntos. Já mandei reformar a academia, só para você, em casa. ― meu
Deus, que tipo de doença esse homem tem? Parece que coei café na minha
calcinha e servi em uma xícara para ele beber.
― Será um prazer treinar com você e quebrar a sua cara. Agora me solta,
que eu tenho uma noite para aproveitar. ― ele me olhou indeciso.
― Talvez ainda não sejamos casados, mas se eu te vir dando mole para
outro cara, eu o mato e o desmembrado na sua frente. Fique avisada, minha
diabinha. ― a fúria transbordava dos meus olhos.
― Nem por um caralho gigante eu vou obedecer às suas ordens, seu
mafioso de merda. ― gritei, e ele saiu sorrindo, com uma expressão de
satisfação.
Esse idiota vai pagar, vou transformar a vida dele em um inferno na
Terra.
O meu jatinho cortava as nuvens com velocidade, enquanto meus olhos
fixavam no copo em minha mão, contendo meu uísque preferido. Estou
muito satisfeito, minha pequena está de volta em casa, retomando a nossa
rotina, embora isso não seja mais suficiente para mim. Eu quero torná-la
minha esposa, dona de tudo isso. No entanto, enquanto não resolver minha
situação com Roberto, não posso anunciar ao mundo que essa mulher
maravilhosa é toda minha.
Meu instinto possessivo anseia tê-la perto de mim, sempre ao meu lado.
Quero conhecer todos os seus passos, desejos, medos e sonhos. Quero tudo
o que ela puder me dar. No entanto, me controlo para não transparecer
minha possessividade, não quero assustá-la. Depois de tudo que ela passou,
não quero que se sinta reprimida ou encurralada por mim.
Vou passar uns dias em Las Vegas, mas antes faremos uma parada em
Nova York. Encontraremos meu soldado, que está infiltrado na máfia russa.
Ele tem novidades e recebemos um aviso dele. Marcamos um ponto de
encontro em um local neutro para evitar revelar sua identidade
prematuramente. Normalmente, esses encontros são feitos pessoalmente,
para evitar vazamentos por telefone, embora não seja o momento ideal para
me ausentar, é necessário conferir os carregamentos mais importantes.
Meus negócios com Romeo estão indo bem e, depois de tanto tempo,
sinto que posso confiar nele. Talvez não tanto quanto nos meus irmãos, mas
ele ganhou minha atenção. Vamos entrar em sociedade em alguns negócios
e preciso analisar de perto o rendimento desses empreendimentos. Nossa
intenção é expandir nossos territórios, trazendo vantagens para ambos os
lados.
O casamento de Romeo e Beatriz servirá para solidificar ainda mais
nossa aliança. Além disso, farei deles três associados da máfia, conforme o
desejo deles. Onde Gabriela estiver, eles estarão, e a lealdade tem um valor
inestimável em nosso meio.
Giovanni ficou em casa para garantir a segurança deles. Beatriz,
Madalena e Miguel irão dormir na mansão para cuidar de minha pequena e
meus anjos. Romeo está sentado à minha frente, e Luigi está ao meu lado.
Um silêncio perturbador se instalou desde que Romeo viu Agatha depois de
tantos anos, e não consigo tirar isso da minha cabeça. Aproveito a
oportunidade para ter a conversa que queria ter há algum tempo.
― Tem certeza de que a escolha do casamento é a mais correta? ―
prometi a Gabriela que conversaria com Romeo sobre a sua irmã.
― Por que tanta curiosidade? ― Romeo me rebateu, frio e pensativo.
― Porque ela será minha futura cunhada, e eu não posso permitir que
algo aconteça com Beatriz.
― Não é apenas você que tem princípios, Matteo. Eu não farei mal
àquela diaba. ― porra, ele já até deu um apelido a ela? Está mesmo
obcecado. ― Posso até assustá-la, mas nunca encostaria um dedo em uma
mulher, nem a forçaria a fazer algo contra a vontade. ― Isso era verdade,
quando ele precisava de informações de mulheres ou mesmo para matar
alguém, ele mandava seu executor fazer o trabalho.
Romeo não gostava de machucar mulheres, um dos motivos pelos quais
eu sentia afinidade com ele.
― Eu sei disso, mas prometi a Gabriela que conversaria com você para
deixá-la mais tranquila. Conheço elas há pouco tempo, mas não sou
facilmente enganado. Então, tome cuidado, pois elas são muito especiais.
― Ele me olhou com um sorriso de canto de boca.
Se fosse qualquer outra pessoa, estaria tremendo de medo.
― Elas realmente são especiais. Por isso, você tem uma irmã e eu tenho
a outra. Encerre esse assunto a partir de agora. Não quero que se preocupe
com a minha diaba. Eu cuido dela agora. Preocupe-se com a sua pequena.
― Concordei com a cabeça.
Luigi olhou curiosamente para mim e depois para Romeo, finalmente
reagindo, e então voltamos ao assunto de negócios e traidores.
Aterrissamos na cidade de Nova York e seguimos direto para o hotel em
que ficaríamos, apenas para não levantar suspeitas. Para todos os efeitos,
estaríamos ali a negócios, lícitos, é claro, pois aos olhos da população
normal eu ainda era um empresário de sucesso.
Aguardamos a mensagem do meu informante, indicando o local do
encontro. Tudo teria que ser feito com muito cuidado para não colocar em
risco a identidade do informante e a segurança das pessoas próximas a mim.
Recebemos o endereço do local de encontro uma hora após nossa chegada.
Luigi estava preocupado com minha segurança, mesmo com todos os
seguranças nos seguindo, tanto à paisana como uniformizados. Era um
risco, e para despertar ainda mais a atenção de nossos inimigos, ter Romeo
e eu, dois chefes de máfia importantes, no mesmo lugar, era um presente
para qualquer adversário.
Chegamos a uma rua deserta em um bairro periférico da grande cidade.
A única movimentação eram algumas prostitutas na rua, algumas batendo
no vidro do carro oferecendo seus serviços. Luigi as dispensou. Não
demorou muito para que meu executor cruzasse a esquina. Meus seguranças
o revistaram antes de deixá-lo entrar no carro. Luigi estava ao meu lado no
banco e Romeo na minha frente, enquanto o executor se sentou ao lado de
Romeo.
― Boa noite, chefe. ― Ele me cumprimentou, fazendo um aceno de
cabeça para os outros no carro.
― Vai depender da sua informação, se será realmente boa.
― Espero poder ajudar, senhor. Consegui me infiltrar na segurança da
casa, mas não consegui acessar a segurança pessoal. O cara não confia em
ninguém.
― Era de se imaginar. Esse idiota não dá ponto sem nó. ― Romeo falou
com desdém.
― Sim, faço compras para as empregadas e consegui colocar um
microfone em uma xícara de café que seria entregue a Nikolai. Foi um curto
período, mas deu para ouvi-lo confirmando com Roberto o território de
Portugal para a Rússia. Eles têm uma nova droga e planejam colocá-la nas
ruas de Portugal, aparentemente após derrubarem o senhor.
― Esse desgraçado nunca irá colocar nada em minhas ruas. Você
descobriu mais alguma coisa?
― Sim, senhor. A escuta é micro e não tem memória suficiente, mas
consegui captar a conversa sobre Roberto ir a um evento em Portugal nesta
semana, em busca de aliados do conselho que estarão presentes. Não sei
qual evento específico, mas é importante. Nikolai irá apoiá-lo. Não posso
confirmar mais, mas há movimentação para um ataque ao senhor.
― Se esse imbecil acha que vai nos pegar desprevenido, ele está muito
enganado. ― Luigi falou, com raiva nos olhos.
Seu pai não iria sair impune desta vez.
― Vou usar a própria emboscada dele contra ele.
― Vamos deixá-lo pensar que você está descuidado em relação a ele,
para que possamos pegá-los no momento certo. ― Romeo sugeriu, e eu
podia imaginar a cena que se passava em sua mente.
― Volte para a Rússia o quanto antes. Não seja pego e continue próximo
à casa. Você receberá explosivos de nossos aliados, e, sob o meu comando,
irá ativá-los no carro pessoal de Nikolai. Vamos acabar com os dois ao
mesmo tempo. ― Eu estava decidido a acabar com essa história de uma vez
por todas.
Queria viver minha vida com Gabriela sem esse problema para nos
afetar.
Após acertar os últimos detalhes com meu executor, fiz uma anotação
mental para dar uma bonificação pelo bom trabalho. Um bom líder sabe o
momento certo de reconhecer seus soldados.
Voltamos para o aeroporto particular onde havíamos pousado, e o jatinho
estava pronto para decolar. Seguiríamos para Las Vegas, minha próxima
parada. Eu queria que essa viagem acabasse logo, pois tinha três motivos
para voltar rapidamente para casa.
Acordar na cama de Matteo após ter adormecido em seu colo no carro
fez minha raiva por ele atingir níveis insuportáveis. Aquelas palmadas que
ele me deu, a sensação de submissão a ele, me deixaram excitada e irritada
ao mesmo tempo. Senti-me como Beatriz, com os nervos à flor da pele.
Quando acordei e ele me contou tudo em detalhes, seus planos, seus medos,
o fato de ele ter confiado em mim para compartilhar os próximos passos,
percebi que queria estar ao lado daquele homem até o fim dos meus dias.
Nosso sexo está cada vez melhor. Já nos conhecemos tão bem, eu nunca
imaginei que meu corpo pudesse sentir tanto prazer com o dele tão próximo
ao meu. Os toques, os cheiros, a forma como ele fala me excitam. Eu
raramente tinha orgasmos com Carlos, na verdade, quase nunca. Sempre
tive que buscar prazer por conta própria, ele só pensava nele mesmo. Não
quero pensar nele agora, estou muito feliz para isso.
Matteo teve que viajar, pois iria se encontrar com um informante e
seguiria para Las Vegas com Romeo. Agora eu sei de tudo e de todos os
seus passos. Amo saber que ele confia em mim e sente prazer em me contar
tudo.
Estamos na reta final do plano e estou ansiosa para poder ter uma vida
depois disso. Sei que a vida na máfia nunca é tranquila, mas quero fazer o
possível para ter paz, alegria e amor dentro da nossa casa. Às vezes, parece
que estou dentro de um dos meus livros favoritos no meu Kindle.
Deitada na cama, reúno coragem para me levantar, ela tem o cheiro de
Matteo e é tão confortável, mas tenho que acordar as crianças. Ainda tenho
obrigações que amo, aliás.
― Oi, dorminhoca. Achávamos que não iria mais acordar ― Bea falou
enquanto eu descia as escadas.
Já era tarde e as crianças não estavam mais em seus quartos. Ouvi os
gritos vindo do andar de baixo da casa e depois que Bea me cumprimentou,
já imaginava que todos os meus amigos estivessem aqui.
― Dormi como uma pedra. Desculpa, Matteo me avisou que vocês
viriam ficar aqui, mas o sono falou mais alto.
― Vocês tiveram um final de semana animado, é supernormal dormir até
mais tarde ― Miguel falou da sala com Dante em seu colo, sem tirar os
olhos da TV da sala.
Eles estavam jogando videogame.
― E o Sr. Certinho não ficou para trás, né? ― Madá falou dando de
ombros.
Ela estava colorindo com Nina na mesa de centro, e assim que percebeu
minha presença veio me abraçar.
― Tia Gabyzinha, eu queria ter te acordado, mas a tia Margô não
deixou. Ela disse que você estava cansada. Você está doente? ― Nina
perguntou toda preocupada, sem saber que eu estava com sono por causa do
pai dela, que não me deixava dormir.
― Não, princesa, estou apenas cansada mesmo. ― dei um beijo em sua
testa e ela voltou a colorir com Madá.
Sentei ao lado de Bea no sofá, e ela parecia estar com o olhar distante.
― O que está passando nessa cabecinha, irmã? ― Agora era minha vez
de fazer a pergunta de um milhão de dólares, aquela que ela sempre me faz.
― Estou pensando aqui. Romeo me encurralou na boate e disse umas
coisas absurdamente possessivas. Estou bolando um plano para infernizar
aquele idiota.
― Você sabe que ele não vai desistir de você, né? Ele está obcecado. ―
Miguel falou de costas para nós, concentrado em seu jogo, com Dante que
nem ligou para mim, apenas para o tio.
― Sei disso, por isso mesmo quero deixá-lo bem irritado.
― Não vimos vocês quando saímos. Aconteceu algo? ― perguntei
curiosa. A situação entre esses dois estava prestes a explodir.
― Claro que não, só minha mão que teria dado na cara dele. Aliás, vocês
foram embora não, né? Você foi carregada, conta tudo. ― Bea pediu,
encostando-se no sofá e colocando os pés no meu colo.
― Bem, o que aconteceu no carro não é assunto para contar aqui. ―
falei, olhando para as crianças, e elas concordaram. ― Mas quando
chegamos no quarto, ele me contou realmente o que aconteceu com a mãe e
tudo mais. Quando estivermos em um lugar mais seguro, eu conto tudo para
vocês. ― falei baixo, olhando para os lados, e todos fizeram o mesmo.
Nosso senso de perigo e cuidado estavam mais aguçados devido aos
treinamentos. Não aprendemos apenas luta e tiro, também aprendemos a ler
as pessoas e a ter noção de planejamento de ataque e segurança. Se não
fosse pelo Miguel, seríamos as "As Três Espiãs Demais” da Máfia.
Almoçamos e depois brincamos com as crianças. À tarde, elas dormiram
e nós quatro fomos para o jardim. Contei tudo para eles em tom baixo,
sempre verificando se não havia ninguém por perto. Atualizei-os sobre os
planos de Matteo, falei sobre a família dele, sobre Agatha e a mãe. Todos
ficaram chocados e prometeram me ajudar na adaptação delas. Também
prometemos que ficaríamos sempre juntos e atentos uns aos outros.
Miguel foi trabalhar no restaurante durante a noite. Agora ele não faz
mais dois turnos, está sempre tirando um para treinar e ficar conosco.
As meninas ficaram comigo e fomos treinar um pouco, já que elas
estavam gradualmente abandonando suas clientes e atendendo apenas as
mais fiéis. Bea vai se mudar para Las Vegas e Madá ainda não decidiu o
que fazer, mas Matteo garantiu que ela não ficará sem renda e trabalho. Eu
sei que ela deseja ficar perto de mim e do Miguel, então quanto mais tempo
ela ficar aqui, melhor para mim.
A noite chegou e a saudade já estava me consumindo. Tomei um banho
e, ao sair do banheiro, ouvi meu celular tocar. Era Matteo em uma chamada
de vídeo. Meu coração disparou e corri para atender, mesmo com o cabelo
molhado e embaraçado, envolta em uma toalha. Tudo o que eu queria era
ver o meu homem.
― Oi! ― atendi a chamada, segurando o celular virado para o meu
rosto.
― Porra, Gabriela, quer me matar do coração? ― ele falou sério,
passando as mãos pelo cabelo de um jeito sexy que só ele sabe fazer.
― O que eu fiz? Nem demorei para atender. ― estava confusa.
― E atender desse jeito? Sabendo que estou a milhares de quilômetros
de distância de você não é motivo suficiente? Como você está gostosa,
queria estar aí para tirar essa toalha de você. ― falou, acomodando-se em
um sofá.
― Não seja por isso, eu tiro para você! ― respondi com a expressão
mais safada que consegui, mas também um pouco envergonhada, e tenho
certeza de que estava corada.
― Porra! Não faz isso, pequena! Estou morrendo de saudades de você, e
não poder te tocar será como ser torturado.
― Se o meu homem quiser eu tiro essa toalha. Você está em um lugar
reservado?
― Estou pequena, nunca permitiria que qualquer filho da puta visse
você.
― Eu nunca fiz isso, e se você não gostar? ― Perguntei insegura.
― Não tem como não gostar de nada que você faça, agora coloca o
celular onde eu possa te observar direito. ― Apoiei o celular na ponta da
cama e fiquei em pé, onde conseguia me ver pela câmera frontal.
― Agora tire essa toalha minha pequena gostosa, mostra o que é meu,
porque estou morrendo de vontade de você. ― Pediu, me deixando com
muito tesão.
Ainda um pouco envergonhada, fiz o que ele mandou, tirei a toalha
devagar olhando em seus olhos.
― Caralho! ― Matteo externou o xingamento, passando a língua pelos
lábios.
Pude ouvir o barulho que ele fazia abrindo o cinto de sua calça social.
Ele estava de calça e camisa de botão aberta, com as mangas dobradas até
os cotovelos, lindo, gostoso e despojado, do jeitinho que eu amava.
― E agora? O que eu faço? ― Perguntei e ele apoiou o celular no que
me parece ser uma mesa de centro, retirou a camisa, abaixou sua calça e
colocou seu pau para fora da cueca, que já está a meio mastro, o pau mais
lindo que já vi.
― Agora você pode se deitar e me deixar ver o quanto está com
saudades de mim, deixe-me ver a sua boceta gostosa e exposta para mim.
― ele já estava fazendo movimentos de baixo para cima, com as mãos em
volta do seu pau e minha excitação já estava escorrendo pelas pernas.
― Acho justo o meu Senhor “Hugo” ficar nu também, não acha? ―
Não sei de onde sai essa Gaby safada, mas ela sempre aparece quanto o
assunto é Matteo Rocatti.
― Justíssimo, agora deite-se e abra as pernas pra mim. ― Ele ordenou,
se inclinou, retirou a calça e ficou nu, magnífico e somente meu.
Deitei-me na cama com as pernas bem abertas para o celular, bem no
meio delas, e me apoie nos cotovelos para ter a divina visão de Matteo se
masturbando.
― Como eu queria você agora, me tocando. ― Falei enquanto apertava
um mamilo quase ao nível de dor, como Matteo sempre fazia, mas por não
ser ele, não causava o mesmo efeito.
Ele percebeu a frustação em meu rosto.
― Calma pequena, essa viagem vai acabar antes do esperado, agora
deite-se, feche os olhos e me ouça, você pode fazer isso por mim? ―
Perguntou e eu fiz que sim com a cabeça, com o coração a mil segui a sua
ordem.
― Ouça a minha voz e me imagine aí deitado ao seu lado, apertando
seus seios, e chupando os seus mamilos. Agora apertes eles como se fosse
eu ― Ele parou de falar, enquanto eu ia seguindo o seus comandos ―
Deus, se você pudesse ter a visão que eu tenho da sua boceta escorrendo,
saberia o quanto estou excitado neste momento. ― Continuei seguindo o
seu comando, apertando meus seios com as duas mãos, e sua voz fez a
mágica que eu precisava, eu podia ficar aqui a noite toda.
― Humm... ― Gemi timidamente.
― Agora, desça uma mão e sinta a sua excitação em seus dedos, imagine
os meus aí, espalhando sua lubrificação, estou doido para sentir o seu gosto.
― Soltei um gemido mais forte.
― Ah, Matteo, por favor...
― Sim, pequena, estou aqui. Agora enfia um dedo na sua boceta
apertada e imagine o meu pau te abrindo e sentido o seu calor. ― Como
esse homem podia mexer tanto com a minha cabeça? ― Coloque as duas
mãos em sua boceta e faça movimentos circulares no seu clitóris com uma e
com a outra introduza um dedo em sua entrada apertada, enquanto me
imagina em cima de você, suado e falando em seu ouvido o quanto você é
gostosa e o quanto eu te amo, vai pequena, faz isso mais forte ― ordenou.
― Oh meu Deus... Matteo, quero você aqui e agora! ― Não aguentava
mais, precisava de alívio.
― Sente isso, gostosa? Como se eu estivesse dentro de você sentindo
como você é quente? ― concordei com um gemido alto ― Agora coloque
mais um dedo ― fiz o que ele mandou ― Que visão perfeita, não vou
aguentar muito tempo.
― Matteo, eu não aguento mais... por favor. ― eu nem sabia o que
estava pedindo, só queria gozar logo, meus dedos dos pés já estavam
contorcidos.
― Minha boca está no em seus seios, sugando gostoso, sem pausa, sem
carinho, sem delicadeza, enquanto eu a fodo, forte, firme e duro, nessa sua
boceta apertada. Nossos corpos se chocam, nosso suor se mistura, eu quero
você, como nunca quis mulher alguma na vida. ― Ele falava e eu ficava
cada vez mais ofegante, eu amo as suas palavras cruas e duras, amo ser a
única mulher que ele deseja.
― Goza para mim, goza gostoso para mim, Gabriela... Agora! ― Seu
pedido foi como uma ordem.
Eu estremeci da cabeça aos pés, fechando as pernas no impulso, com a
respiração ofegante, o ar me faltava, eu já não lembrava como respirar.
Após meu momento de luxúria, me sentei estranhando o silêncio e a
visão que eu tive ao olhar para o celular foi a mais linda e pornográfica do
mundo: Matteo, encostado no sofá, com uma mão em seu pau, seu abdômen
trincado todo sujo da própria porra, e a outra mão estava em seu cabelo, ele
havia acabado de puxar os fios escuros e sua cabeça estava jogada para trás.
― Você vai ser o meu fim, pequena. ― Então eu sorri, sabendo que ele
foi mesmo o meu recomeço.
Meus joelhos estão doloridos, quase em carne viva, e minha coluna está
curvada há pelo menos uma hora. Meu celular está no modo silencioso,
com o brilho no mínimo. Preciso ir ao banheiro, mas não posso sair daqui.
O segurança está parado como uma estátua, bloqueando a porta. Estou
escondida dentro do armário no escritório do Roberto. Eu estava instalando
um microfone e uma câmera quando o segurança chegou de surpresa. Não
tive tempo para mais nada, apenas me escondi.
Fiz um acordo com Matteo. Preciso encontrar algo concreto contra o
Roberto, para libertar minha mãe dessa vida de tormento. Eu sou jovem e
posso aguentar os golpes que ele me dá, mas ela não merece passar por isso.
Não posso permitir que minha mãe continue sofrendo, assim como a ex-
esposa desse maldito.
Tentei entrar em contato com Luigi, meu meio-irmão, segundo o
Roberto, mas nunca obtive resposta. Pensei que ele poderia me ajudar, já
que passou por situações semelhantes. Ele recebeu ajuda do irmão de
Roberto e sua esposa. Apesar de serem irmãos, Dom não apoia a violência.
Por isso, naquela noite terrível em que seria meu noivado, eu estava pronta
para pedir a ajuda de Luigi, no entanto, ele não estava lá. Arrisquei tudo
pedindo a Matteo, mesmo tendo minhas dúvidas sobre ele, pois na máfia
nem tudo é o que parece ser. Matteo prometeu me ajudar, mas eu preciso de
provas para convencê-lo.
Não tenho medo de ser pega tentando obter essas provas. Meu medo é o
que pode acontecer comigo e minha mãe se descobrirem que Roberto está
traindo a organização com os russos. Na máfia, as mulheres sofrem
simplesmente por serem mulheres. Somos criadas para sermos boas
esposas, dar à luz filhos homens para herdar cargos, suportar os abusos dos
maridos estressados e nos casar por contratos. Somos tratadas como meros
objetos, bonitas o suficiente para agradar, caladas o suficiente para não
questionar. Somos praticamente bonecas infláveis.
Claro, nem todos são assim. Existem casamentos por contrato que se
tornam por amor, outros casamentos por contrato onde nunca realmente se
olham, e há também aqueles que morrem por amor. Quando alguém trai a
organização, toda a família sofre. Os homens são mortos e as mulheres se
tornam servas ou são enviadas para os bordéis, onde são usadas até o último
dia de suas vidas, tornando-se a escória da máfia.
Eu não quero esse destino para minha mãe, nem para mim. Eu quero
estudar, fazer a diferença. O casamento por amor não é tão importante para
mim, desde que eu possa ser uma mulher independente. Será pedir demais?
Matteo vai me ajudar, e eu não me importo em me machucar no processo,
se isso significar salvar minha mãe, então estarei bem.
Ouvi um barulho e tentei ficar o mais imóvel possível. Pela fresta do
armário, consegui ver Roberto se sentar em sua cadeira e pegar alguns
papéis de uma gaveta que eu havia tentado abrir mais cedo sem sucesso,
estava trancada. Ele passou um tempo lendo, totalmente concentrado.
Meu pai era um chefe respeitado na máfia, muito próximo do Don, e
minha mãe e Donatella sempre foram amigas, quando meu pai foi morto em
uma emboscada planejada pelos russos, eu tinha apenas 10 anos. Roberto
propôs casamento à minha mãe, e ela aceitou por ser um pedido do Don e
porque não poderia cuidar sozinha da herança de meu pai.
Na máfia, uma mulher não é nada sem um marido. Achávamos que as
coisas melhorariam, mas estávamos enganados, ao contrário do meu pai,
que sempre foi cavalheiro com minha mãe, Roberto se tornou rude e
agressivo depois de apenas dois meses de casamento. Ele bateu em minha
mãe quando ela estava grávida de cinco meses e, após um ano de
casamento, começou a me agredir. Eu tinha tanto medo dele quando ele
bebia que trancava a porta do meu quarto e colocava um sofá na frente dela,
e faço isso até hoje.
Fui interrompida pelo som de um telefone tocando, percebi que era o
telefone de Roberto. Liguei o gravador do meu celular, já que não consegui
instalar as escutas. Quem sabe hoje era o meu dia de sorte?
― Já disse para você não me ligar assim, sem me avisar antes, porra! ―
Roberto atendeu a ligação irritado.
― Não me importo. Se ele te pegar e você abrir a boca, eu te mato antes
dele. ― Quem será?
― Como assim? Apaixonado? ― Roberto perguntou ao ouvir o que a
outra pessoa dizia. ― Aquela vadia brasileira? ― Concluiu. Meu Deus,
ajude Gabriela.
― Deve ser uma boceta muito boa para ele fazer dela uma amante.
Agora entendi. A hora está chegando, estou quase conseguindo o que quero,
nem vou precisar que Matteo se case com a inútil da Agatha para unir os
territórios, será ainda mais fácil. Vou eliminar meu irmão, minha cunhada e
depois o Matteo, junto com aquelas crianças irritantes. O casamento será
secundário, e ainda ficarei com a amante brasileira para torturá-la e fazer o
que quiser. ― Meu Deus, esse homem é um demônio em forma de gente.
― Essa parte vai ser boa, depois eu a eliminarei e me casarei com Agatha.
Uma boceta nova será muito melhor do que a velha da mãe dela. ― Não,
minha mãezinha, não. Não vou permitir.
― Está tudo pronto. Fique de olhos e ouvidos abertos, ter os russos
como aliados será excelente para quando eu assumir a posição do Don. O
evento beneficente é hoje e Nikolai quer tudo resolvido. Vou adiantar as
coisas e o plano segue o mesmo. ― Roberto concluiu e finalizou a ligação.
Rapidamente salvei a gravação. Deus, por favor, que o áudio tenha saído
limpo, Matteo não precisará de mais nada para provar que há uma traição
contra o Don depois dessa gravação.
Agora, finalmente, estarei livre. Só preciso que Matteo me tire viva
daqui.
Bateram na porta e Roberto mandou a pessoa entrar. Era um soldado,
avisando que havia alguém o esperando no galpão de treinamento da nossa
casa. Roberto guardou os papéis, trancou a gaveta e se levantou, saindo do
escritório.
Esperei um pouco, certificando-me de que não havia mais ninguém, e saí
do armário ainda agachada. Consegui sair sem ser vista e, no meu quarto,
fechei a porta imediatamente. Enviei a gravação para Matteo e, assim que vi
que ele visualizou, apaguei-a do meu celular. Não podia correr o risco de
ser descoberta com aquilo ali. Mandei uma mensagem.

“Por favor, ouça com atenção e salve essa gravação. Não tenho outra
cópia. Improvisei o que pude. Espero que ajude.”
Então finalmente pude respirar aliviada. Minha carta de liberdade estava
sendo escrita e eu estava cheia de esperança.
Minha estadia em Las Vegas havia se estendido por mais tempo, apesar
de estar com os nervos à flor da pele por descobrir a aliança e traição de
Roberto de forma tão clara e transparente como água, estava satisfeito com
os resultados.
Romeo foi enfático em nossa parceria: ele me forneceria drogas e
prostitutas com habilidades específicas para satisfazer os fetiches insanos de
nossos clientes em nossos estabelecimentos noturnos, e é importante
ressaltar que tudo ocorre com o consentimento das mulheres, que são
devidamente remuneradas pelo seu trabalho. Além disso, a proteção da
máfia é um diferencial valioso para elas. Trabalhar em um lugar seguro vale
mais do que ter bons clientes em seu mundo. Da minha parte, forneceria
armas, minha especialidade, e é claro, o dinheiro para investir em cassinos e
casas de entretenimento adulto. Agora somos sócios, e nossos territórios
estão interligados.
A cidade é linda, com restaurantes e boates frequentados por pessoas de
alto padrão. Mal posso esperar para trazer Gabriela para cá, ela vai adorar
passar a noite dançando como gosta e terminar em um luxuoso hotel de um
dos inúmeros cassinos dos quais sou sócio. Nossas chamadas de vídeo se
tornaram o ponto alto do meu dia. Fazemos todas as noites, e cada vez é
melhor do que a anterior. Nunca são iguais, sempre perfeitas.
Hoje embarquei para Portugal. O evento de Nikolai, mencionado por
meu executor, era um jantar beneficente que realizamos todos os anos com
membros da máfia, políticos importantes, pessoas da alta sociedade e
indivíduos poderosos em busca de visibilidade, além de arrecadar fundos e
fazer negócios.
Tudo indica que Roberto estará presente. Meu plano é ir direto para o
evento, sem assustar minha pequena, ela não sabe da surpresa que a espera
em casa ao final desta noite, livre de Roberto, pelo menos é o que eu
espero.
Estamos em dois aviões: um é meu e o outro pertence a Romeo, ambos
carregados com soldados bem armados e treinados. Estamos prontos para a
guerra, dispostos a eliminar cada filho da puta retrógrado que pensa que
pode me tirar do meu trono. Se não me querem em meu posto, serão
eliminados, assim como Roberto e Nikolai que cruzaram meu caminho.
Neste momento, meu celular apita com uma mensagem de áudio do
próprio celular de Agatha. É estranho ela estar usando seu próprio celular,
já que fomos bem claros sobre o rastreamento, então deve ser algo urgente.
― É Agatha ― falei para Romeo e Luigi, que estavam sentados à minha
frente. Luigi me olha com expressão preocupada.
― Será que ela descobriu algo? ― Luigi perguntou.
― Espero que sim ― Respondi, já abrindo a mensagem e lendo em voz
alta.

“Por favor, ouça com atenção e salve essa gravação. Não tenho outra
cópia. Improvisei o que pude. Espero que ajude.”
― Porra, a menina é corajosa ― Romeo falou sorrindo.
Coloquei o áudio para tocar e ficamos atentos. Luigi estava estranho,
nervoso, e sei que não é por causa do pai, mas sim por ela.
― Filho da puta! Juro que vou matar lentamente esse maldito. Ele nunca
chegará perto dos meus filhos e da minha mulher ― falei com ódio
transparecendo em meus olhos.
O monstro cruel dentro de mim queria sair para caçar, e minha presa
nem imaginava o perigo que corria. Sou capaz de qualquer coisa por eles.
― Nós vamos ― Romeo completou, amolando sua adaga e olhando
fixamente para ela.
― Ameaçar o próprio irmão, a cunhada, as crianças e Gaby? Nada que
venha desse desgraçado me surpreende, temos que tirar Agatha e sua mãe
de lá urgentemente ― Luigi falou, levantando-se e indo até o corredor do
avião.
Ele serviu-se de uísque e voltou a se sentar à minha frente, aguardando
minhas instruções.
― Não quero você envolvido na execução nem na emboscada contra seu
pai. Eu sei que o odeia, mas prometo que vou fazê-lo pagar por tudo que fez
a vocês. Quero que você se encarregue de resgatar Agatha e sua mãe na
Itália, sem levantar suspeitas. Não faça alarde e traga-as em segurança. Elas
não precisam de mais nada, apenas estar bem na mansão até o final do dia.
Você concorda? ― perguntei, já sabendo qual seria sua resposta.
― Sim, é tudo o que eu queria. Não tenho condições psicológicas para
lidar com aquele merda ― respondeu ele, visivelmente abalado.
Não iríamos entrar nesse assunto agora. Eu queria ocupar sua mente para
que ele não pensasse em ir atrás do pai. Sabia que, no futuro, isso não seria
bom para o meu primo-irmão.
― Vou avisar os soldados para se prepararem. Vamos manchar as ruas
com um pouco de sangue hoje ― Romeo falou, levantando-se.
A adrenalina já estava correndo em minhas veias. Avisei meu pai sobre o
ocorrido por meio de um telefone via satélite do avião. Ele não poderia ser
rastreado. Instruí que deixasse minha mãe em casa e fosse ao evento
sozinho, apenas com seus soldados de confiança. Ainda não sabíamos em
quem confiar, então teríamos que interrogar todos os soldados e eliminar os
corruptos de nosso meio.
Aterrissamos em uma pista clandestina, afastada da cidade. Não
queríamos que soubessem que chegamos, no fim da tarde o avião retornaria
para a pista usada por mim momentos antes do início do jantar. Queria que
Roberto ficasse tranquilo, pois o pegaria desprevenido.
Meus soldados já estavam em posições estratégicas. Todos os comparsas
de Roberto poderiam ser abatidos com apenas um tiro na cabeça, todos na
mira. Roberto já estava na cidade, junto com a elite da máfia. Meu pai
chegaria mais tarde, com mais reforços. A cidade iria parar hoje.
Giovanni estava acompanhando as crianças e Gabriela no parque.
Ordenei que os levassem em segurança para casa. Eu sabia que o alvo para
hoje seria eu, mas não queria arriscar a vida dos amores da minha vida,
depois Giovanni seguiria em nosso encontro.
De hoje essa situação não passaria. Eu acabaria com a vida desse
maldito.
A falta de Matteo estava me matando de saudades. As crianças já
estavam agitadas, choravam à toa e faziam birra na hora das refeições. Era
compreensível que se sentissem assim, já que fazia quase uma semana
desde que ele partiu. As ligações não eram suficientes para acalmar as
crianças. Eu segui com nossa rotina de sexo virtual, o que era bom, mas não
se comparava a tê-lo aqui, tocando em mim.
Pedi a Giovanni que nos levasse ao parque que visitamos da última vez.
Ele se recusou no início, dizendo que não era o momento de sair, mas no
fim o convenci. Seria apenas uma horinha, e as crianças ficariam mais leves
e menos irritadas. Minha irmã e Madá resolveram sair hoje à noite, dizendo
que iriam "à caça", como elas costumavam chamar. Elas estavam
aproveitando ao máximo antes de Beatriz se afastar de mim. Sinto um
aperto no coração só de pensar na sua partida.
No parque, tudo correu tranquilo, como sempre, com uma legião de
soldados ao redor. As crianças não se importaram, e para ser sincera, eu
também não me importo mais. Elas correram, pularam, rimos e brincamos
ao máximo. Voltamos para casa, e notei uma movimentação estranha dos
soldados, além de vários carros que, em vez de entrar, seguiram viagem.
― Algum problema, Giovanni? ― perguntei, segurando as perninhas
das crianças, uma de cada lado.
― Não, Gaby, apenas um contratempo em uma boate. Vamos resolver, já
volto para casa, ok? ― respondeu Giovanni, mas não senti segurança em
sua resposta.
Meu sexto sentido estava me alertando sobre algo.
― Você sabe se Matteo volta neste fim de semana? ― perguntei.
Ele nunca me dá uma data certa para voltar para casa, "nossa casa",
como ele diz. Sinto um aperto no coração só de lembrar.
― Quando você menos esperar, ele estará ao seu lado. Não se preocupe
― respondeu Giovanni seriamente, sem fazer piadas nem brincadeiras.
Alguma coisa estava errada. Talvez tenha sido coisa da minha cabeça.
Ele me deu um sorriso sem humor pelo retrovisor e desceu para abrir a
porta do carro na entrada de casa. Nem percebi quando entramos.
Levei as crianças para o quarto. Elas estavam cansadas das brincadeiras,
mas não queriam ceder ao sono. dei banho, troquei as roupas e assistimos a
um filme no quarto deles mesmo.
Desci para arrumar um lanche, já que não queriam jantar. Estranhei o
silêncio na casa. Margô não apareceu desde que cheguei com as crianças.
Não havia ninguém na cozinha. Devem estar descansando nos aposentos.
Levei o lanche para as crianças, não era muito tarde, mas a energia deles
já estava se esgotando. Contei histórias e os deixei dormindo juntos, como
sempre fazia. Desci para tomar um banho no meu quarto e aproveitar para
pegar os fones, pois queria estudar um pouco, já que meu italiano estava
muito bom, mas sempre há espaço para melhorias.
Vesti um pijama de cetim de mangas compridas, confortável e
comportado. Não estava com sono ainda, queria esperar Giovanni chegar.
Estava subindo para o quarto de Matteo, que agora também é meu,
quando ouvi Carmem, de costas para mim, encostada na ilha da cozinha,
olhando pela janela.
― Já está feito, todos adormeceram com o sonífero que coloquei no
café. ― Como assim? Eu devia estar ouvindo errado. Será que meu italiano
está uma droga?
― Reuni todas as informações que estudei e, sim, estava ouvindo
corretamente. Me abaixei atrás da ilha da cozinha e continuei ouvindo
atentamente.
― Sim, eu sei. Eu amarrei todos para evitar o risco de acordarem e
voltarem para casa antes de nos livrarmos desses insuportáveis aqui. Já
temos os carros preparados. ― Meu Deus!
Coloquei a mão na boca para evitar qualquer ruído. Quem era essa
mulher de verdade?
― Vou liberar a entrada para seus soldados e pegar as pestinhas de uma
vez. O que faço com a prostituta brasileira? ― Ela falava um italiano
impecável, e eu já estava tremendo.
― Claro, senhor. A levarei junto. Divirta-se na festa, nos encontraremos
no galpão. ― Eu não sabia o que fazer.
Estava tremendo, mas precisava ser forte para salvar minhas crianças.
Ela saiu pela porta dos fundos.
Imediatamente me levantei e fui até a janela com cuidado. Não havia
soldados no jardim, apenas um que ficava na guarita. Ele estava
caminhando em direção a Carmem, que lhe perguntou algo. Sem resposta,
ela apenas sacou uma arma de trás de sua calça e atirou na testa do soldado.
Seu corpo caiu para trás, simples assim. Ela continuou a andar sem olhar
para os lados, em direção ao portão.
Essa mulher... Ela era a informante! Droga, ela passava tudo de dentro de
casa para Roberto, aposto. Ela não tinha o hábito de levar pratos prontos e
ficar fingindo ser uma boa funcionária. Ficava em volta da mesa para ouvir
as conversas, essa mulher é uma cobra. Não vou deixá-la fazer mal às
crianças.
Estava apenas de meias, o que ajudou a não fazer barulho. Antes de subir
para o quarto, peguei uma faca menor e a escondi no cós da calça na frente
e corri para a escada.
Abri a porta do quarto e Dante acordou com o barulho. Nina dormia
profundamente, como um anjo. Olhei pela janela no momento exato em que
Carmem estava entrando na guarita, provavelmente para abrir o portão para
seus cúmplices.
Dante esfregava os olhinhos, e eu voltei a olhar pela janela, procurando
uma rota de fuga para as crianças. Não havia maneira de sairmos daqui sem
sermos vistos, então olhei ao redor do quarto, em busca de uma solução.
A não ser que elas não saiam, e apenas eu vá com essa desgraçada. Ou,
talvez, eu consiga enrolá-los aqui até que a ajuda chegue. Daria minha vida
por essas crianças, então lembrei-me do fundo falso, que ficava bem em
frente a nós. Chamei Dante, que veio até mim com passinhos curtos.
― Dante, o que você acha de a gente brincar um pouquinho? ―
Perguntei, agachando-me para olhar em seus olhos.
― Eu adoro brincar! Vamos sim! De quê? ― Ele respondeu, esfregando
as mãozinhas, ansioso.
― Vamos brincar de príncipe forte e corajoso que defende a princesa? ―
Perguntei, empurrando a cômoda que estava em frente ao fundo falso.
― Sim, tia Gabyzinha, eu sou forte, muito forte! Olha! ― O pequeno
falou mostrando o músculo por baixo do pijama de carrinho que vestia.
Meus olhos encheram-se de lágrimas.
― Isso mesmo. Quero que me ouça com atenção. Vou precisar de você
para proteger sua irmã da bruxa má. Você me ajuda? ― Peguei o colchão da
casinha de bonecas da Nina e estiquei-o no chão do fundo falso, então
peguei dois travesseiros e duas cobertas no closet, sem desfazer a cama
deles para não levantar suspeitas.
― Ajudo sim, tia Gaby. O que tenho que fazer? ― Meu menino era tão
corajoso.
Peguei-o no colo e falei com calma para que ele entendesse.
― A tia Gaby precisa que você fique aqui dentro com sua irmã. Coloque
os fones de ouvido nela e não deixe que ela os tire, entendeu? ― Não era
ideal colocar essa responsabilidade em uma criança tão pequena, mas não
tínhamos outra opção e eu precisava salvá-los.
― Você vai ficar também? ― Perguntou, olhando para a irmã deitada na
cama.
― Vou tentar despistar a bruxa até que a ajuda chegue. Não faça barulho
e não tire os fones de ouvido de jeito nenhum. Eles ajudam vocês a ficarem
invisíveis. Entendeu o que a tia Gaby disse? ― Ele balançou a cabeça,
confirmando.
― Ela não vai nos ver? ― Seus olhinhos estavam atentos ao que eu
fazia.
― Enquanto vocês estiverem com os fones, ela não poderá ver vocês. A
bruxa má está aqui, mas eu não vou deixá-la chegar perto de vocês.
Aconteça o que acontecer, não saiam do esconderijo. Vamos brincar, eu vou
ser o soldado do príncipe. Mesmo que ouçam barulho, não saiam,
entendeu? ― Ele estava com os olhos cheios de lágrimas e meu coração se
partia.
― Sim, tia Gaby, mas a brincadeira vai acabar rápido? Estou com medo.
― Como eu mentiria para ele, meu Deus?
― Sim, meu bem, vai acabar quando o papai ou seus tios os tirarem
daqui, tá bom? Você me ajuda a proteger a sua irmã? ― Ele confirmou.
Coloquei-o sentado no colchão, peguei a Nina e coloquei o fone de jogos
do Dante. Era grande e não sairia facilmente, coloquei música de ninar em
seu tablet. Antes de colocar meus fones no Dante, mandei uma mensagem
no grupo avisando a Bea, Madá e Miguel onde as crianças estavam e
pedindo socorro.
Enviei para o Matteo um "eu te amo para sempre" e as mesmas
coordenadas. A mensagem não chegou para ele, mas as meninas
visualizaram. Mandei outra dizendo que a traidora era a Carmem. Silenciei
o celular e não esperei por uma resposta. Coloquei um desenho para o
Dante e antes de colocar nos ouvidos dele, dei um último aviso.
― Não importa se você ouvir a tia Gaby gritar ou qualquer pessoa que
não seja o papai ou seus tios. Não saia daqui, jura de dedinho? ― Ele
derramou uma lágrima.
No fundo, sei que ele sabia o que estava acontecendo. Eu o abracei e
coloquei o fone. Beijei os dois e me despedi com o olhar. Sabia que poderia
ser a última vez que os via. Fechei o fundo falso, coloquei a cômoda no
lugar, corri e arrumei as camas e fingi estar dobrando umas roupas.
Ouvi passos no corredor. Sabia que meu fim, agora sim, poderia estar
próximo. Não morreria pelas mãos do Carlos, como imaginei várias vezes,
mas morreria feliz, sabendo que salvei as minhas crianças.
Carmem entrou no quarto, olhando ao redor em busca das crianças. Ela
estava vestida toda de preto, com o cabelo preso em um coque. Nem parecia
a cozinheira que estava há algumas horas antes trabalhando.
Ela me encarou com todo o ódio, tentando disfarçá-lo com um ar de
deboche.
― Onde estão aquelas pestes? ― perguntou, vindo em minha direção.
Eu arregalei os olhos, fingindo estar surpresa com suas palavras, mas eu
já sabia quem ela realmente era.
― O que está acontecendo, Carmem? O senhor Matteo não vai gostar de
ouvir você falando dessa forma ― ela pegou meu braço e me sacudiu.
― Escute aqui, sua vadia! Você já me atrapalhou demais. Onde estão as
crianças? ― ela olhou em volta, encontrando a cama intacta, sem nenhum
sinal delas.
― Elas estão com o Giovanni.
― Não estão! ― ela gritou, sem soltar meu braço.
― Ué, você está vendo-as aqui? ― perguntei com deboche. ― O que
você quer com elas?
― Vocês passaram pela guarita, fui informada de que o idiota do
Giovanni deixou vocês aqui ― seu rosto já estava vermelho de raiva.
― Foi uma informação errada, então, porque só eu fiquei aqui. As
crianças foram comprar um presente com o Giovanni para o meu
aniversário ― era uma mentira, mas foi a única coisa que me veio à mente.
― Não minta para mim, sua vadia! ― senti a dor do tapa em meu rosto e
caí sobre a cama, com a mão no rosto.
― Não estou mentindo, elas não estão aqui, você não vê? ― Eu queria
enfrentá-la, utilizar tudo o que aprendi, mas não podia fazer barulho. Não
queria assustar as crianças. Preciso atrasar a saída dela. ― O que você quer
com as crianças? Por que está fazendo isso?
― Estou apenas seguindo ordens do verdadeiro chefe da máfia italiana,
do futuro ― três homens com aparência de assassinos de aluguel entraram
no quarto. Tentei ganhar tempo, alguém tinha que chegar logo.
― Vocês acham que vão sair impunes? Matteo vai matar todos vocês.
― Não acho, tenho certeza. Quando Roberto conseguir o que é dele por
direito, tudo será como deve ser, não como um playboy metido a mafioso
faz. ― Ela sentia raiva de Matteo, mas por quê?
― Matteo sempre tratou você bem, ele é uma boa pessoa. Por que você
está fazendo isso? ― Ela ainda não tinha percebido que eu estava tentando
enrolar.
― Boa pessoa para quem ele quer, eu não o vejo como chefe, nem os
integrantes do conselho.
― Todos? Mas são 17 cadeiras no conselho ― só podia estar
entendendo errado. Uma organização inteira contra ele?
― Todo o conselho. O plano inicial era matar o Dom e Matteo em uma
emboscada que o conselho estava planejando, mas você entrou no nosso
caminho e aquele idiota do Rocatti parou de comparecer às reuniões, estava
muito ocupado trepando com você.
― Meu Deus! ― disse, colocando a mão no peito.
― Ele tinha que ser morto em território italiano, com a desculpa de ser
um ataque russo, por isso Roberto inventou o noivado, mas você chegou e
atrasou os planos. ― Céus, eu preciso contar isso a Matteo. Se eu morrer,
ele vai ficar em meio a um ninho de cobras.
― Fico feliz em saber que atrapalhei seus planos. O que você ganhará
com isso? Acha que Roberto lhe dará um lugar de destaque? Você é apenas
um peão para ele ― por dentro, estava cheia de medo, mas consegui o que
queria. Ela ficou extremamente brava.
― Cale a boca agora! Eu vou conquistá-lo, ele sabe que precisa de mim,
ele me prometeu que ficaria comigo, sou muito melhor do que aquelas duas
falsas que vivem em sua casa ― ela gritava, descontrolada.
Coitada, estava apaixonada e iludida. Na máfia, ela não teria nenhum
posto.
― Pelo que entendi, na máfia, amantes não têm posição alguma. E quem
trai a máfia faz todos ao seu redor pagarem por isso, não é? ― ela estava
furiosa comigo. Eu conseguia ver o ódio em seu rosto.
― CALE A BOCA! Vasculhem a casa. Essas pestes têm que estar aqui.
Não acredito nessa vagabunda ― eles vasculharam o quarto, o banheiro, o
closet.
Cada vez que passavam em frente à cômoda, meu corpo tremia. O
telefone dela tocou e prestei atenção no que ela falava em italiano.
― Elas não estão aqui. Só temos a vadia do Rocatti. O que faço? ―
senti um calafrio percorrer minha espinha. ― Sim, vou levar essa
vagabunda, o senhor Roberto ficará muito nervoso se não levarmos nada
depois de quase cinco anos de espera ― esses malucos estavam aqui há
muito tempo, meu Deus.
Ela desligou o celular, olhou para mim com desdém e nojo e chamou os
seus homens.
― Levem a puta para o carro, temos que sair daqui rapidamente, não
vamos chegar lá de mãos vazias. Mas antes, deem uma lição nela para
aprender ― ela se encostou na parede, cruzando os braços.
Um homem se aproximou de mim e me arrastou para trás, até meu corpo
encostar na parede. Ele me pegou pelo pescoço, me levantando, e olhando
nos meus olhos, falou em um italiano perfeito:
― Eu daria uma lição nessa belezinha de outra forma ― ele passou a
língua nos lábios, me deixando com nojo.
― Anda logo, só quero ter o prazer de ver essa vadia sangrar ― ele me
deu um soco no estômago e outro no rosto. Eu já tinha levado socos mais
fortes.
― Você bate como uma criança ― vi a fúria tomar conta de seu rosto.
Ele me deu soco atrás de soco, enquanto o outro homem me chutava. Eu
não fazia nada, não reagia, não gritava, não chorava. Só queria que isso
acabasse logo.
Meu corpo implorava por uma reação, quando um terceiro homem
entrou na briga eu não consegui me conter, dei uma rasteira em um deles,
fazendo-o cair para o lado. Subi em cima dele e, com a faca, cortei sua
garganta. Seus comparsas ficaram chocados.
Me levantei em silêncio, segurando a faca apontada para eles. O segundo
homem veio em minha direção.
― Então a vadia sabe reagir? Só derrubou ele porque não estava
esperando ― falou, vindo em minha direção.
Carmem ria, sem se abalar pela morte de seu cúmplice. Meu Deus, eu
matei uma pessoa. Mas não tenho tempo para pensar nisso agora.
― Duvido que em uma luta justa você vença ― avancei em sua direção
e enfiei a faca em seu estômago. Girei meu corpo e dei um chute certeiro
em seu estômago. Ele caiu para trás, com a mão na barriga.
Carmem me pegou desprevenida por trás e enfiou uma adaga em minha
costela. A dor se espalhou pelo meu corpo como brasa quente. Dei uma
cabeçada em seu nariz, fazendo-a chiar de dor, mas ela me deu um chute e
seu cúmplice me aplicou um golpe de mata-leão.
Eu tentava me soltar, como Matteo me ensinou, mas estava sem forças.
O outro homem veio me golpeando no estômago, sempre no mesmo lugar.
Carmem me dava chutes, o ar não entrava em meus pulmões. Eu não
gritava, não podia gritar. Não podia chorar. Meus filhos não podiam ouvir.
Senti meu corpo cair no chão. Carmem subiu em cima de mim e desferia
socos em meu rosto, enquanto o homem que eu acertei com a faca chutava
minhas costelas.
Eu não podia gritar...
Não podia fazer barulho...
O ar começou a faltar em meus pulmões, o único som que se ouvia no
quarto era o dos socos e chutes. Eu estava em uma realidade paralela e
percebi que ali era o fim da linha para mim. Lutei o quanto pude para
proteger meus filhos. Não gritei... então, tudo ficou escuro e me despedi
mentalmente.
Eu não chorei...
Eu não gritei...
Por eles.
Conferi a munição da minha Glock pela sétima vez, ajeitei as facas e
adagas no coldre. Nunca fiquei tão nervoso em uma missão, mas essa é
diferente. Tem um sabor de liberdade. Quero acabar com isso logo e poder
viver um pouco mais leve.
Na máfia, nunca há paz. Sempre há um contratempo. Podemos ter
períodos bons, mas nunca cem por cento tranquilos. Eu aceitaria qualquer
tempo extra com minha família e lutarei por isso hoje.
Giovanni chegou há algum tempo e já revisou todo o planejamento do
ataque. Vamos sequestrar Roberto antes de matá-lo. Quero os nomes de
todos os envolvidos, e não me importo com quanto tempo dure a tortura, ele
vai falar. Luigi já partiu para a Itália no mesmo avião em que chegamos.
Tudo está sendo feito com o máximo sigilo.
Romeo está no evento com um ponto de escuta, ele vai atrair Roberto
para o jardim da casa de eventos, fingindo se aliar a ele, sem levantar
suspeitas. Vamos invadir o local pelos fundos e sequestrá-lo.
― O filho da puta já foi avisado que eu quero um minuto a sós com ele
― Romeo falou pelo ponto de escuta.
― Ótimo, já estou em posição ― Giovanni respondeu.
Era possível ouvir os passos dos soldados correndo atrás dele.
― Ele não vai sozinho, estará acompanhado de soldados de confiança ―
avisei, pois sabia que ele não era tão burro assim.
― Eu não me importo. Protejam minha retaguarda, o resto é comigo ―
Romeo falou confiante. ― Ele está vindo, dois soldados à sua frente, três
atrás. Fiquem atentos.
― Atirem primeiro, perguntem depois. A prioridade é proteger Romeo e
levar Roberto vivo ― avisei ansioso, queria ter aquele rato em minhas
mãos.
― Não consigo imaginar a surpresa que tive ao saber, por meio do meu
soldado, que você queria um minuto comigo ― Roberto começou falando,
soprando a fumaça do charuto para cima, olhando fixamente para Romeo.
Estávamos acompanhando tudo em tempo real pelas câmeras e escutas
escondidas em seu smoking.
― Assuntos de negócios não podem ser discutidos no meio de uma
multidão ― os soldados de Roberto já estavam na mira dos atiradores
posicionados nos prédios.
― E que tipo de negócio seria esse? Pelo que sei, você já tem uma
aliança sólida com meu sobrinho e até mesmo um casamento acertado com
uma bela brasileira. Devem ser mulheres quentes, não é? Para vocês dois se
prenderem dessa forma ― Resposta errada.
Ele não deveria ter seguido por esse caminho. Tenho certeza de que o
receberei bastante machucado. Dei permissão aos atiradores. Estava atrás de
Romeo em um arbusto e Giovanni estava do outro lado, bem na minha
frente.
― Um negócio altamente vantajoso para mim, e não tanto para você ―
avisou Romeo friamente, calculista.
Eu podia imaginar a cena que se passava em sua cabeça. Roberto olhou
com uma expressão irritada.
― Não estou interessado nessa negociação se for para eu sair perdendo,
me desculpe, mas tenho que voltar para dentro ― Roberto se virou e, nesse
momento, Romeo o puxou pelo braço, passando sua faca afiada na mão em
que ele segurava o charuto, decepando sua mão bem no punho.
Os soldados se agitaram e entramos em ação. Três deles foram
eliminados pelos atiradores de elite e os outros dois por mim e Giovanni,
sem barulho, com tiros precisos e limpos. Romeo passou por trás de
Roberto, segurando-o e tampando sua boca para não chamar atenção para
nós.
― Sabe qual foi o seu erro? Referir-se à minha mulher. Ela é minha e
não aceito que qualquer filho da puta pense em tê-la. Nosso acordo é o
seguinte: eu vou te torturar e meu amigo Matteo vai te matar ― Romeo
sussurrou em seu ouvido, enquanto eu me mantinha à frente deles.
Roberto arregalou os olhos ao me ver.
― Oi, titio, vamos passear? ― perguntei sorrindo, enquanto ele gemia
de dor.
Seguimos para o meu galpão, onde eu costumava realizar torturas.
Estava todo preparado para receber meu ilustre convidado. Roberto estava
amordaçado e quase desfalecido devido à dor e à perda de sangue ao ter a
mão decepada.
Ordenei que o médico estivesse presente, pois eu queria me divertir com
Roberto e não queria que ele morresse rápido. Ele estava ali para mantê-lo
vivo, injetando a quantidade necessária de adrenalina.
O médico injetou adrenalina em sua veia e Roberto deu uma reação. Eu
queria que ele estivesse bem acordado para ver o que eu faria com ele.
Giovanni estava de pé, encostado na parede, Romeo sentado ao lado da
minha mesa de objetos de tortura. Quando o médico terminou o processo de
reanimar Roberto, ordenei que o amarrassem às correntes penduradas no
teto. Ele estava abrindo os olhos quando me viu, já amarrado pelos braços e
pernas.
Peguei um maçarico e acendi um cigarro, me permitindo fumar em
comemoração. Caminhei em sua direção, parando em frente ao seu rosto e
soltando a fumaça.
― Você realmente achou que poderia me trair e sair ileso? ― aumentei a
chama do maçarico ao máximo e cauterizei seu braço onde a mão não
existia mais.
Ele gritou de dor, urinando nas calças e tremendo.
― Seu desgraçado de merda! ― ele gritou, cuspindo sangue acumulado
em sua boca. Romeo deu uma surra nele até trazê-lo até aqui.
― Eu imaginava que ele fosse um rato, mas um rato fraco que mija nas
calças me surpreendeu ― Romeo falou rindo, enquanto me entregava um
copo de uísque que eu nem vi ele colocar. Bebi de um só gole.
― Vocês acham que acabou? Estão muito enganados. Pode me matar,
vou morrer feliz, sabendo que sua vida será infeliz pelo resto dos seus dias
― Roberto gritava a plenos pulmões.
― E por que eu seria infeliz? Se tenho tudo o que você sempre quis?
Uma família, filhos, uma mulher, um trono, um império... coisas que você
nunca terá. Então vamos agilizar nossa conversa. Quero os nomes dos
traidores que estavam com você nisso. Sua morte será rápida e indolor ou
será longa e agonizante ― sentei-me à mesa ao lado de Romeo, olhando
para Roberto.
― O trono e o império, você até pode ter, mas mulher e filhos... será que
ainda tem? ― ele disse sorrindo, ao mesmo tempo em que o celular de
Giovanni tocou.
Ele atendeu, franzindo a sobrancelha. Um sinal de alerta acendeu em
minha cabeça. Meu coração disparou. Roberto gargalhava alto como um
lunático. Olhei para Romeo, cujo olhar estava fixo em Giovanni, que olhou
para nós, gritando.
― Mas nem por um caralho! ― nesse momento, meu coração já sabia
que meus bens mais preciosos estavam em perigo.
― Beatriz, fale devagar! ― fui em direção a Giovanni e peguei o celular
de sua mão, exatamente quando Beatriz gritava entre soluços e choro. ―
...Esconderijo, ela disse algo sobre um informante e não responde às
mensagens. O telefone da mansão toca até cair. Pelo amor de Deus,
Giovanni! Cadê o Matteo, caralho? ― Beatriz estava histérica. Nem percebi
que havia caminhado em direção à parte externa do galpão, onde os carros
estavam.
Romeo e Giovanni me seguiram.
― Estou aqui. Me conte tudo desde o começo e envie sua localização
agora! ― nesse momento, lembrei que meu celular estava descarregado.
Não poderia agir com desespero, tinha que ser calmo e agir com frieza.
Roberto não iria me contar o que ele havia feito. Eu só perderia tempo com
ele, e tempo é algo que eu não tenho agora.
Aconteça o que acontecer, minha mulher e meus filhos serão salvos,
mesmo que eu precise queimar a cidade
Não esperei nem o motorista entrar no carro. Com o celular apoiado em
meu ombro, conversava com Beatriz, que estava a caminho da mansão com
Miguel e Madalena. Seguíamos a 120 km por hora, sem me importar com
semáforos ou pedestres. A única informação que chamou minha atenção foi
a confirmação de Beatriz de que eles estavam lá. Tudo estava como deveria
ser, sem nenhum alerta de invasão na mansão.
― Isso tudo é muito estranho. Não recebi nenhum alerta de invasão na
mansão, tudo está como deveria ser.
― A menos que a casa não tenha sido invadida. Eles já estavam lá
dentro ― Romeo constatou, sério, conferindo o pente de sua arma.
― Me passa o celular, Matteo. Deixe-me falar com Beatriz. Você está
em choque ― E eu realmente estava.
As informações que chegavam ao meu cérebro eram filtradas para que
apenas a parte deles estarem vivos me interessasse.
― Beatriz, leia a mensagem que Gabriela enviou, por favor, com calma
― ele colocou a chamada no viva-voz, e Beatriz leu a mensagem.
― Ela enviou em nosso grupo assim: “Estamos em perigo, por favor,
venham salvar as crianças. As escondi em um fundo falso no quarto. Dante
está assustado. Por favor, não demorem. Vou tentar atrasá-los, avisem ao
Matteo que Carmen é a informante, ela rendeu todos os funcionários da
casa. Amo vocês para sempre.” Ela... Meu Deus, minha irmãzinha. Por
favor, diga que vocês já chegaram ― eu soquei o volante.
Aquela maldita da Carmen. Eu vou torturá-la pessoalmente. Sua morte
será por minha conta. Beatriz tentou ser forte, mas sua voz embargou.
― Estamos na rua da mansão, e vocês? Porra! Carmen, sua desgraçada.
Sempre senti algo estranho sobre aquela mulher ― Giovanni respondeu
enfurecido, e Romeo se manteve calado.
― Já os vimos, estamos na porta. É estranho não ver nenhum soldado
aqui. Você retirou a segurança, Giovanni? Como aquela maldita fez isso? ―
Descemos do carro imediatamente.
Beatriz, Miguel e Madalena fizeram o mesmo e vieram até nós. Eles
estavam vestidos para sair, as duas com vestidos curtos e justos. Pude ouvir
o rosnado de Romeo atrás de mim, mas Beatriz pouco se importou, com os
olhos cheios de lágrimas.
― Vamos entrar. Nós sabemos onde as crianças estão. Já brincamos de
pique-esconde com eles pelos fundos falsos da casa ― Beatriz falou e
Romeo segurou o braço dela.
― Você fica aqui, nós vamos ― Romeo falou, achando que ela iria
obedecer.
― E quem vai me impedir? Você que não, né? Minha irmã está lá
dentro, caralho, e as crianças que ela ama, e nós também. Não vem com
esse papo machista pra cima de mim agora, não ― ela mostrou o dedo do
meio para ele.
― Vamos parar? Chega vocês dois. Como vamos entrar, Matteo? Parece
que tem movimento no jardim ― Madalena falou, ela estava se saindo um
ótimo soldado, pensando em estratégias.
― Vamos nos dividir. Eu vou sozinho para eles acharem que têm
chances ― eu estava conferindo meu pente de munição.
― Tem uma movimentação no quarto das crianças. Três pessoas em
movimento e duas no chão. No andar inferior da casa tem algumas pessoas,
e no jardim também ― Giovanni avisou, com o celular na mão.
Deus me ajude para que nenhuma pessoa no chão seja a minha pequena.
Ele já estava em comunicação com o nosso setor de inteligência. Drones
estavam captando a movimentação, já que as câmeras foram cortadas.
― Podemos descer de rapel, do telhado até a sacada no quarto das
crianças ― Beatriz falou pensativa, olhando para cima.
― Eu subo primeiro pela entrada principal. Se houver soldados, já os
elimino. ― avisei.
― Eu vou pelos fundos com Giovanni, e protegemos a sua retaguarda ―
Madalena falou, olhando para Giovanni, que estava com um sorriso
orgulhoso.
― Eu posso ir para os aposentos, verificar o que aconteceu com os
soldados que deveriam estar de plantão. Me encontro com os soldados de
Romeo e cercamos a mansão para nenhum filho da puta fugir ― Miguel
sugeriu, e eu acenei achando uma ótima ideia. ― Volto com ajuda para dar
suporte a vocês. ― concluiu ele.
― Vou com Beatriz, tome ― Romeo entregou uma Glock dourada para
Beatriz.
― Não sabia que você fazia rapel. E obrigada ― ela falou sem graça,
balançando a arma que combinava com seu vestido.
― Era um presente que lhe daria amanhã, mas acho que o momento é
mais apropriado. E sei sim, mesmo se não soubesse, eu iria com você em
qualquer lugar. E não sou machista, só queria proteger você ― os dois se
olharam, e por um milagre, Beatriz não o retrucou pela primeira vez.
― Puta merda, amiga, que irado! Agora você é uma mulher armada ―
Madalena comentou.
― Não sei se devo dizer, mas acho que você cometeu a maior burrada da
sua vida ― Miguel falou olhando para Romeo, que respirou fundo.
Tenho certeza de que ele concordava com Miguel.
― Vamos então, agora é a hora. Os equipamentos de rapel estão no
galpão de treinamento. Vamos em silêncio. Eu vou ditando os pontos cegos
para passarmos, pegamos equipamentos, armas e entramos. ― Dei a ordem.
Saindo do galpão, estávamos preparados para o combate. Olhei aquelas
cinco pessoas se colocando em risco pelos meus filhos, pela minha mulher,
e foi uma sensação boa saber que temos uma família que luta uns pelos
outros. Romeo segurou meu ombro, olhei para ele, agradecendo
silenciosamente. Ele já era parte integrante da nossa família. Estaremos
sempre juntos, somos uma unidade, uma família distorcida, mas uma
família unida.
Cada um foi para o seu posto. Aguardamos o sinal de Beatriz, pois só
entraríamos quando ela já estivesse descendo. O filho da puta colocou seus
mercenários dentro da minha casa. Sua morte vai ser longa e agonizante,
com toda certeza.
Entrei pela porta lateral, que dava acesso à cozinha. Passei pela sala de
jantar em silêncio, em posição de ataque, os braços esticados com a mira da
arma pronta para o primeiro tiro. Usava um silenciador, não queríamos
anunciar nossa chegada.
Encontrei dois homens de costas para mim. Atirei em um e com minha
adaga rasguei a garganta do outro. Eles nem viram a morte chegar.
Passei pela sala, aguardando um sinal de Madalena e Giovanni. A sala
tinha pelo menos seis indivíduos bem armados, aguardando alguma ordem.
Eles entraram atirando, com tiros limpos e certeiros. Aproveitei a distração
e subi as escadas em silêncio.
Um passo à frente do outro, com calma por fora, mas em um turbilhão de
sentimentos por dentro. Só iria me acalmar quando os três estivessem em
meus braços. O silêncio pairava no ar. Eu sabia que estavam no quarto das
crianças, mas não esperava ver a cena que partiu meu coração.
Pela porta, avistei Gabriela, minha pequena. Ela estava no chão, em
posição fetal, desacordada. Seu corpo estava coberto de sangue. Não era
possível ver seu rosto ou um pedaço de pele limpo do líquido vermelho.
Carmen estava de costas para a porta, com dois homens, e não viram minha
chegada. Havia um homem morto no chão. Eu estava em estado de choque,
imobilizado, olhando para minha pequena grande mulher no chão.
― E agora? O que vamos dizer ao chefe? ― Um homem que segurava a
barriga, sangrando, falou ofegante.
-Eu disse só um susto na puta, não era para matar a vagabunda ― Morta,
a minha mulher estava morta.
― Ela me feriu, caralho. Queria que eu deixasse passar? ― Eu não tinha
reação, eu não podia acreditar.
― Agora vocês irão lidar com a fúria de Roberto ― O homem que não
estava machucado falou, e por um minuto tirei os olhos da minha mulher e
olhei para suas mãos, que estavam com os nós dos dedos arrebentados e
sangrando.
― Os planos dele irão mudar um pouquinho, mas não será tão ruim. Ele
vai pegar o bosta do Matteo hoje ― Carmen falou, sorrindo e ainda olhando
para a minha mulher que estava morta no chão. Ela. Estava. Morta.
PORRA!
― Não vai, não. Eu vou estripar vocês junto com ele ― falei, mirando
minhas duas armas para eles.
Quando vi o movimento das sombras de Beatriz e Romeo entrando pela
varanda do quarto, chutando a porta e estourando os vidros, os estilhaços
voaram pelo quarto em cima dos três, que não tiveram reação além de
proteger seus rostos.
― Você está morto, Matteo, igual a sua puta. Só não caiu ainda ―
Carmen falou, mirando a arma para atirar em mim, mas Romeo acertou seu
ombro.
― Quero todos vivos ― falei a Romeo, que trocava tiros com os três.
Beatriz lutava com Carmen, que não desistia de tentar sair viva daqui.
Caminhei entre eles, pouco me importando com os tiros e com a luta
corporal. Os tiros passavam por mim como um zumbido em meus ouvidos.
Eu só queria chegar até ela, sentir o cheiro dela, a maciez de sua pele, o
calor de seu corpo próximo ao meu, ouvir sua voz.
Me agachei ao lado de seu corpo e a puxei para o meu colo. Ela estava
mole como uma boneca. Seu corpo não tinha calor. Sua pele só tinha o
cheiro do seu sangue. Seu rosto estava desfigurado. Eu a chamei, mas ela
não respondeu. Sua voz não estava ali. Não era a minha Gabriela. Não era a
minha doce e pequena mulher.
― GABRIELAAAAAAA ― Gritei com toda a minha alma, com toda a
minha dor, segurando-a em meus braços como uma criança, embalando-a e
alisando seus cabelos molhados de sangue. ― Por favor, não. Por favor,
volta pra mim. ― Eu pedia desesperado.
― Não, não, não, por favor, não me diga, por favor ― Beatriz falava ao
meu lado, abraçando a irmã que estava em meus braços e puxando-a para os
seus.
Eu deitei minha cabeça em sua barriga, chorando lágrimas de sangue
pela vida perdida da única mulher que amei na vida.
― Irmã, por favor, fale comigo. Por favor... Eu juro que vou me
comportar. Não vou mais te deixar preocupada. Acorda, por favor... Você é
minha família, esqueceu? Você me prometeu, Gabriela... Me prometeu que
nunca me deixaria... Uma pela outra, sempre, lembra? Por favor, irmã, volta
pra mim, por favor ― Beatriz soluçava e se engasgava, alisando o rosto da
irmã.
Meu coração estava em pedaços. Eu precisava encontrar meus filhos. Eu
tinha que encontrá-los, mas não conseguia largar o corpo da minha mulher.
Olhei para Beatriz e ela me abraçou e nós dois abraçamos o corpo de
Gabriela, sem vida, no chão daquele quarto onde vivemos tantos momentos
felizes. Hoje, vivo o pior momento da minha vida.
Um braço forte me tirou de cima do corpo da minha mulher. Ouvi
Beatriz espernear e gritar para soltá-la, mas não me importava com o que ou
quem era, só queria ficar o máximo possível com minha mulher.
Dei socos e chutes em alguém que não enxergava. Eu estava cego de
raiva, de ira, de tristeza. Eu queria matar alguém. Só queria matar alguém.
Ouvi meu nome ao longe, mas não me reconhecia naquele chamado.
― Matteo, Matteo, porra, sou eu ― uma voz falava.
― Matteo, para, volta pra nós ― outra pessoa pedia.
― Matteo, ouça a minha voz, irmão. ― Eu parei por um instante para
respirar.
Eu não sabia que precisava respirar até sentir a necessidade de ar em
meus pulmões.
― Calma, irmão. Olha para mim, respira fundo, olha nos meus olhos. ―
Minha visão estava embaçada pelas lágrimas, mas reconheci a voz de
Giovanni.
Eu estava fraco, pouco me importava quem estava ali me vendo nesse
estado. Eu mataria todos.
― Volta para nós, por favor ― Ouvi a voz de Madalena.
Olhei para o lado e vi as duas amigas ajoelhadas ao lado do corpo de
Gabriela, estendido no chão. Romeo estava em cima dela, fazendo
massagem cardíaca com as duas mãos, uma em cima da outra. O som da
força que ele aplicava sobre o coração de Gabriela era alto, ele suava.
Quando o médico chegou acompanhado de Miguel, jogando a maleta no
chão, ele foi para cima da minha mulher e continuou a massagem.
Eu estava deitado com três pessoas me segurando. Giovanni estava
sentado em minha barriga, segurando meu rosto, com as pernas prendendo
meus braços no chão. Olhei para ele e ele viu em meus olhos que eu havia
voltado à realidade.
― Irmão, calma, respira. Vou te soltar, tudo bem? Sua mulher ainda está
viva. Estamos tentando reanimá-la, mas precisamos nos acalmar. Me
garante que voltou a si? ― Apenas acenei com a cabeça.
Os soldados saíram de cima de mim. Eles estavam com os rostos
sangrando, e um deles tinha o nariz quebrado. Giovanni estava com a boca
e a sobrancelha machucadas.
― Calma, temos muito o que fazer ainda. Vou te soltar, mas você precisa
estar bem para ajudar Gabriela. Me promete? ― Ele perguntou novamente.
― Sim, porra, me solte. Não sou criança. ― Falei nervoso.
Queria ir até minha mulher. Ela estava viva.
― Não é criança, é um homem que precisou de quatro pessoas para te
segurar e ainda assim machucou as quatro e a si mesmo. ― Sua voz era de
pesar e repreensão ao mesmo tempo. ― Nunca te vi fora de si desse jeito.
― Giovanni estava saindo de cima de mim.
Eu não me levantei, apenas me arrastei até o corpo da minha mulher e
Romeo segurou meu ombro.
― Deixe o médico fazer o trabalho dele. Ela é sua pequena grande
mulher, lembra? Ela é forte e vai sobreviver a isso também. ― Olhei para
ele, que parecia exausto,
Eu precisava encontrar forças, ela merecia que eu fosse forte, meus
filhos também.
― Ela voltou, me ajudem a colocá-la na cama ― Levantei-me e fui em
direção a ela.
Peguei Gabriela no colo e ela parecia tão mais leve, tão frágil. Levei-a
para o meu quarto, em frente ao quarto das crianças, e a deitei na cama,
nossa cama.
― Preciso de espaço para examiná-la ― Antes que eu pudesse falar que
ficaria, três enfermeiras que trabalhavam com ele entraram no quarto e
foram em direção à minha mulher.
― Não adianta o senhor ficar. Ela voltou a respirar, mas está
desacordada. Preciso examiná-la e saber o que podemos fazer. Eu vou
cuidar dela, prometo ― Não respondi, mas senti Giovanni e Miguel me
puxaram para fora do quarto. Ainda estava atordoado.
― Eu sei o que está sentindo, acredite, eu estou sentindo em dobro. Ela é
uma parte minha. Mas temos que encontrar as crianças. Elas devem estar
assustadas ― Beatriz foi mais forte do que eu e me mostrou que sim, eu
tinha mais dois corações batendo fora do peito, que também precisavam de
mim.
Entramos no quarto e olhamos ao redor. Alguém havia retirado aqueles
vermes daqui e esperava que tivessem seguido as minhas ordens. Eles iriam
sofrer mortes violentas e lentas.
Começamos a gritar, chamando pelos nomes das crianças, mas elas não
respondiam. Beatriz não se lembrava em qual parede estava o fundo falso.
Tateamos as paredes em busca de uma brecha, pois essa casa tinha muitos
fundos falsos.
Romeo disse que buscaria uma marreta e eu quebraria essa merda até
encontrá-los, foi então que Miguel se lembrou de que Gabriela costumava
arrastar uma cômoda. Miguel e Giovanni a removeram, enquanto Beatriz e
Madalena apertaram um pequeno relevo na parede. A parede se abriu e o
que meus olhos viram partiu meu coração.
Dante estava sentado, encostado em um travesseiro, com fones de
ouvido. Nina estava em seu colo, também com fones nos ouvidos, enquanto
Dante a abraçava e fazia carinho em suas costas. Ele me olhou com os olhos
cheios de lágrimas, sorrindo e procurando alguém com os olhos.
― A brincadeira acabou? Cadê a tia Gaby? ― Lágrimas escorreram pelo
meu rosto. Agachei para abraçar os dois.
― Eu amo tanto vocês, Deus, como eu amo vocês. ― Falei, pegando os
dois no colo.
― Nós ganhamos a brincadeira. Vamos contar para a tia Gabyzinha que
a bruxa não nos achou. Nós não tiramos os fones em momento algum.
Ficamos invisíveis. ― Dante falou, e meu coração se partiu em milhões de
pedaços. ― E eu fui muito corajoso. Cuidei da minha irmã para ela não
tirar o fone dela, não é, Nina? Fui forte como vocês, papai. ― Dante
concluiu, terminando de acabar com a minha estrutura.
Ele só não sabia que o que Gabriela fez, salvou meus filhos e a levou à
beira da morte. Ouvi um soluço alto e vi Beatriz saindo pela porta.
― Estou muito orgulhoso de vocês, mas agora temos que prender a
bruxa, ok? Vamos sair daqui, mas quero que fechem os olhos. Só abram
quando eu pedir, pode ser? ― Eles não podiam ver a quantidade de sangue
e coisas quebradas que havia naquele quarto.
Giovanni pegou Dante do meu colo e deu um beijo em sua cabeça.
― A brincadeira não acabou, papai? ― Dante perguntou curioso.
― Só acaba quando chegarmos no quarto do tio. Vamos jogar
videogame, o que acha? ― Giovanni perguntou, e Dante concordou.
― Quero pintar com a tia Madá. ― Nina falou, pedindo colo.
Madalena a pegou rapidamente no colo, saíram pela porta com os olhos
fechados. Beatriz olhava para a mancha de sangue no chão onde Gabriela
estava, Romeo a abraçou de lado e ela não rejeitou o abraço. Ela chorava,
mas não soluçava. Era um choro de raiva.
― Você foi incrível. Ela vai ficar bem. É forte como você. ― Romeo
não tinha muito jeito com as palavras, mas acertou em cheio.
Ela o olhou, agradecendo, e depois se virou para mim.
― Quero que a tortura deles seja a pior da história da máfia. Todos eles.
Quero que sofram até o fim, até o último suspiro. ― Concordei com a
cabeça.
Estava orgulhoso dela, mas não sairia dessa casa até ter notícias de que
Gabriela estava bem.
― Essa é a minha garota. ― Romeo falou, orgulhoso.
― Sua o caralho. ― Beatriz falou e se afastou dele.
― Bom, eu não me importo de extravasar sua raiva em mim. Melhor
assim do que triste. ― Saí indo em direção ao meu quarto. Não sairia da
porta até ter notícias.
Sentei-me no corredor em frente à porta do meu quarto, com a cabeça
baixa e as mãos nos joelhos. Acendi um cigarro, deixando a nicotina tentar
acalmar o meu corpo, que ainda estava quente. E tive uma conversa com
Deus. Eu não era merecedor de nenhum pedido. Não havia pecado que eu
não tivesse cometido, eu era o maior pecador de todos, mas minha pequena
não, ela não. Ela era boa, doce, seu coração era bom. Pedi, com toda a
minha alma, que se houvesse um Deus, se houvesse realmente uma
entidade, que olhasse pelas pessoas boas no mundo, que olhasse para a
minha mulher nesse momento.
Eu cumpriria toda a minha cota de erros da minha vida quando fosse a
hora, mas agora não. Ainda tinha muito a viver. Prometi que a faria feliz.
Eu era um egoísta que a queria só para mim, e a envolvi nesse mundo, mas
nunca mais permitiria que alguém encostasse um dedo nela. A porta se
abriu e o médico saiu de lá com o olhar cansado.
― Senhor Rocatti, eu...
― Não, por favor, não me diga. ― O medo me atingiu novamente.
― Eu preciso olhar o seu ombro, parece que o senhor está machucado,
veja o sangue escorrendo. ― Olhei para o meu ombro, nem sentia a dor
nem o sangue, devo ter sido baleado no quarto.
― Não, me diga sobre ela primeiro, eu não sou importante.
― Tudo bem, ela está estável agora. Presumi que o senhor não queira ir
para o hospital, então pedi ao Giovanni que providenciasse o equipamento
necessário para a sua recuperação ― Meu Deus, ela estava viva. ― Ela vai
precisar de respiradores, pois o corpo entrou em choque devido à dor e aos
ferimentos, está viva, mas ainda não reage pois está em coma, senhor. ―
Meu mundo desmoronou novamente.
― Em coma? ― Era como se a terra se abrisse sob meus pés.
― Sim. O corpo entrou em choque e não voltou, é uma forma do seu
subconsciente de protegê-la. Agora vai depender dela, fiz tudo o que podia
fazer. Vamos monitorá-la 24 horas por dia. Ela é jovem e forte, vai se
recuperar.
― Me conte tudo o que ela sofreu. Eu farei em dobro com aqueles
infelizes, todos eles. ― Meu nível de ódio estava transbordando.
― Ela está com os dedos da mão direita quebrados, todos eles. Tive que
colocá-los de volta no lugar, junto com a perna esquerda, três costelas
quebradas, nariz e maxilar. Ela tem escoriações por todo o corpo, cortes nos
supercílios e um corte na lateral do abdômen, provavelmente feito por uma
faca. Ela foi espancada brutalmente, senhor. Ela aguentou coisas que muitos
soldados não aguentariam. ― Meu Deus, eu tinha tanto material para
trabalhar nesses desgraçados. Vou vingar você, minha pequena.
― Ela foi... ela foi est... ― Não consegui terminar a pergunta que tanto
temia.
― Não, senhor. Eu examinei e, graças a Deus, não, ela não foi
violentada sexualmente. ― O alívio me atingiu.
― Faça o que tiver que ser feito, contrate quem precisar. Minha mulher
precisa se recuperar bem.
― Claro, senhor. Agora deixe-me olhar o seu ombro. ― Permiti que ele
o fizesse. Em seguida, passaria a noite ao lado da minha mulher e meus
filhos.
Quando ela estivesse bem, eu iria me vingar daqueles malditos. Eles
despertaram a besta que vive dentro de mim, e isso nunca é bom.
Tomei um banho no quarto de hóspedes, não me deixaram entrar no
quarto para ver a minha pequena. Queria bater nos soldados que Giovanni
colocou para me impedir de entrar. Segundo ele, eu precisava me acalmar.
O médico estava fazendo os procedimentos e verificando tudo o que era
necessário para a recuperação da minha mulher. Eu entendi, mas não
aceitei. Eu sei que Gabriela precisa do melhor de mim neste momento, mas
não suporto essa distância.
A limpeza da casa já está em pleno andamento. Temos uma equipe de
soldados especializados na remoção de sangue, corpos e tudo o que possa
nos ligar a qualquer cena de crime. Não sei como será quando Gabriela
acordar, porque ela vai acordar. Se ela não quiser ficar aqui, eu comprarei
outra mansão para ela. Duas, três, quantas ela quiser. Meu propósito de vida
será fazer minha pequena feliz.
Os três infelizes que machucaram minha esposa já estão no galpão de
tortura, juntamente com Roberto e os soldados que tiveram a má sorte de
ainda não morrerem. Eles estão sob os cuidados de Romeo e meus
soldados, que já os deixaram amarrados, de pé e de braços, para
sobreviverem com pão e água até que minha esposa acorde. A tortura deles
começa hoje, tanto física quanto psicológica, que é a minha preferida.
Roberto não me viu, não me ouviu. Sua mente projetará mil e uma cenas de
como será o seu fim. A ordem é que ninguém pronuncie uma palavra para
eles.
― Filho, como estão meus netos? ― meu pai me perguntou assim que
entrei em meu escritório, um dos ambientes da casa que não foram afetados.
― Bem, dentro do possível. Estão com Margô e Madalena. ― segui para
o bar em busca de uma boa dose para aliviar meus músculos.
Aquela desgraçada da Carmem dopou todos com sonífero em café, água,
comida, tudo o que podia ser utilizado. Especialistas já testaram tudo que
havia na casa, e mesmo assim mandei jogar tudo fora, todo e qualquer
alimento que estivesse aqui. Margô não foi ferida, mas foi amarrada
juntamente com Paulo. Ela já está tranquila com a situação. Para quem vive
no nosso meio, situações como essas tornam-se um tanto mais fáceis de
lidar.
― E a Ragazza? ― a pergunta foi feita com um tom de pesar em sua
voz. ― Fiquei sabendo de tudo. Ela salvou meus netos. Tenho uma dívida
eterna com essa moça. ― sua afirmação era verdadeira. Meu pai é um
homem correto e vai me ajudar nesse momento.
― Sim, nós temos. E você pode começar a pagar sua dívida não criando
problemas com a nova Sra. Rocatti.
― Você tem certeza disso? Não será fácil inseri-la em nossa
organização. Nem todos vão aceitar, e uma guerra pode começar.
― A guerra já começou, papai, só o senhor ainda não percebeu. Vou
lavar as ruas de Portugal e Itália com o sangue dos traidores que estão na
organização, e os desgraçados que ousarem falar da minha mulher terão o
mesmo destino. ― Virei uma dose de uísque, peguei outra e trouxe a
garrafa para a minha mesa, acendi um cigarro, mesmo assim meus
músculos não relaxaram. Eu precisava estar com minha mulher antes de
tomar qualquer atitude.
― Eu te apoio, meu filho. Estarei ao seu lado sempre. ― Meu pai
respondeu com sinceridade em seu olhar. ― Não me conformo em não ter
percebido a traição de Roberto. Droga, ele é meu irmão. ― Ele se levantou
e pegou um copo, servindo-se da minha garrafa.
― Você não teve culpa, tio. Ele era um manipulador. - Luigi falou sobre
o pai, e eu lembrei da missão que o mandei.
― Me perdoe, meu sobrinho. Eu deveria ter sido mais firme com ele.
Assim você não teria sofrido tanto. ― Meu pai falou, segurando os dois
lados do rosto de Luigi.
― Não, meu tio. Tudo tinha que acontecer como tinha que acontecer,
certo? ― Eles se abraçaram, e o silêncio tomou conta do escritório.
― Sua missão foi concluída? ― Perguntei, tragando meu cigarro, que
queimava minha garganta com a fumaça. Eu estava apático e sem energia.
― Sim, senhor. Achei melhor deixá-las em segurança no meu
apartamento, até a poeira abaixar. ― Estranhei a medida tão drástica, mas
não falei nada, sua casa era seu templo, ele nunca levou mulher alguma lá.
― Matteo, elas estão muito machucadas. O filho da puta deu uma surra
nelas antes de virem para Portugal. Vou pedir para o médico vê-las.
― Claro, traga-as para a mansão, se quiser. ― Ele inclinou a cabeça para
o lado, como se estivesse testando o movimento.
― Não, elas são minha responsabilidade agora. Vão ficar comigo, claro,
se você permitir. ― Havia algo aí, mas não vou me aprofundar no assunto,
pelo menos não por enquanto.
― Ok, preciso de vocês. Hoje vamos caçar, meus irmãos. Faremos uma
faxina, não restará um traidor ou alguém contra o meu comando nas
próximas 72 horas. Giovanni, mande nossa inteligência hackear e localizar
todos os membros do conselho, aliados e soldados da máfia. Será fácil, a
maioria está na cidade para o evento. Ninguém entra e ninguém sai da
minha cidade. ― Ordenei, virando a dose.
― Considere feito, senhor. Eles não vão escapar. ― Giovanni
respondeu.
Olhei para o meu pai e antes mesmo de falar, ele já se levantou,
arrumando o terno de três peças.
― Não precisa dizer nada, meu filho. Limpe a casa daqui, e eu limparei
lá na Itália, e apesar de não ter me informado sobre minha cunhada e minha
sobrinha, eu estou ao seu lado. Vamos proteger as duas. ― Não esperava
menos do homem que me criou. ― E filho, tenho muito orgulho do homem
e líder que você se tornou. Vamos limpar nossa casa, eu ainda sigo os
métodos antigos, não tenho essas modernidades de vocês, então tenho que
correr. ― Ele se despediu e me deixou lidar com a situação à minha
maneira.
― Espalhem boatos sobre o meu casamento com Gabriela. Vamos ver
quem vai se colocar contra. Vou subir e ficar com a minha mulher. Quando
estiver tudo pronto para a caçada, me avisem. ― Saí deixando as ordens.
Eu caçaria à luz do dia, pouco me importando com qualquer um. Eu
tinha sede de vingança.
Subi as escadas com as pernas bambas. Nem me lembro da última vez
que me senti assim, ou se algum dia me senti. Tinha soldados de confiança
na porta, fazendo a segurança da minha mulher. Parei por um instante,
respirando fundo. O médico saiu junto com as enfermeiras, me passou um
relatório sobre o estado dela, e disse que só dependia da recuperação dela e
dos medicamentos agora. Uma enfermeira ficaria na casa para cuidar dela
quando eu não estivesse presente, mas quem iria cuidar seria eu. Respirei
fundo e me forcei a colocar a mão na maçaneta.
Fechei a porta nas minhas costas, encostando-me nela. Coloquei as mãos
nos bolsos e fiquei por bons minutos, que mais pareceram horas,
observando a minha mulher deitada naquela cama. Seus braços estavam
esticados para baixo, um lençol cobria seu corpo até os seios. Ela tinha uma
bolsa de soro e uma máscara de oxigênio em seu rosto. Uma máquina
emitindo um bip constante estava ao lado da cama. O quarto parecia uma
ala de hospital, não era mais o quarto onde passei os melhores momentos
com a minha pequena.
Me aproximei da cama, ajoelhando-me ao lado do seu corpo inerte, sem
o calor que exalava, sem a alegria que ela tinha. Percebi meus ombros
tremendo, meu peito doendo, minhas mãos tremiam e suavam frio. Meu
rosto estava molhado de lágrimas. Me permiti soluçar e chorar alto, como
uma criança. Seu rosto estava muito inchado, seus dedos da mão enfaixados
com talas para mantê-los no lugar. Havia pontos acima das sobrancelhas.
Não havia uma parte de sua pele sem um hematoma.
― Me perdoe, por favor, meu amor. Me perdoe por não conseguir
protegê-la, por não estar aqui por você. Volta pra mim, volta pra nós. ― Eu
não conseguia formular uma frase sem um soluço me atrapalhar, mas
precisava dizer a ela tudo, ela tinha que me ouvir. ― Você salvou as
crianças. Eles estão bem, estão procurando por você. Eles não aceitam que a
brincadeira acabe sem você aqui. Devo minha vida a você, meu amor. Por
favor... pequena... por... favor... ― Era mais forte do que eu. Como pode
doer tanto? Como posso não sentir minha alma?
Sem ela, eu não tinha alma, não teria vida.
― Deus! Se você existe, se você realmente olha por alguém neste
mundo, eu lhe peço, eu EXIJO, se existe um Deus, se você está aí em cima,
olhe por Gabriela. Ela não merece isso, ela é boa demais, já sofreu demais
sem merecer. Me responda, caralho, DEUSSSSSSSSSSS! ― Eu gritava e
soluçava. Quando dei por mim, estava com a cabeça na barriga de Gabriela,
abraçado ao seu corpo.
Um braço delicado me abraçou por trás, e senti mais mãos ao meu redor.
Quantas eram, eu não sei, mas posso afirmar que foi o abraço com mais
sentimentos que já recebi. Todos nós chorávamos, e no círculo que fizeram
ao meu redor, percebi que Deus pode não vir pessoalmente, mas enviou
pessoas que estariam aqui comigo e com Gabriela: nossa família. Torta,
distorcida, mas minha família. Beatriz e Madalena soluçavam alto, Miguel,
Giovanni e Luigi choravam sem se importar, Romeo olhou profundamente
nos meus olhos, limpou uma lágrima que desceu de seus olhos com o dorso
da mão e me consolou à sua maneira.
― Vamos caçar, meu amigo. Vamos extravasar esse ódio e arrancar
algumas cabeças. ― Ele deu um sorriso sanguinário e virou as costas em
direção à porta.
O peso do coldre era quase o dobro, todos os espaços onde eu poderia
colocar armas estavam cheios. O coldre na perna continha minhas facas e
adagas. Conferi o meu fuzil e a minha metralhadora semiautomática. Hoje,
não queria usar disfarces. Queria voltar com minha camisa branca
encharcada do líquido da vingança. O empresário respeitado e bem-
sucedido ficaria em casa, pois a besta estava indo para as ruas. Que todos
saiam da minha frente, pois eu passaria por cima de quem fosse necessário.
― Prontos? ― perguntou Romeo, girando sua faca karambit butterfly
entre os dedos. Antes que pudéssemos responder, ouvimos o barulho da
porta do galpão se abrir.
― Prontíssimas - Beatriz e Madalena entraram segurando um fuzil e
uma Glock cada uma.
Beatriz portava o presente de Romeo. Ambas estavam vestidas com
roupas pretas justas, cabelos presos em rabos de cavalo e coturnos. Não se
importavam em esconder os coldres que também continham armas e facas
nas costas e coxas. Giovanni suspirou alto, Luigi não disse nada, Romeo
rosnou alto e seguiu em direção à sua noiva.
― Pronta pra quê? Onde você pensa que vai? ― Romeo perguntou no
limite de sua paciência.
― Haja cu para eu tomar nesse caralho! Quem você pensa que é para
achar que te devo satisfação? ― ela perguntou apontando a Glock dourada
que brilhava em sua mão em direção a Romeo.
― A porra do seu noivo, caralho! ― Cada palavra era um passo à frente
que eles davam.
― FO-DA-SE! Você não manda em mim, nem quando eu me amarrar a
você, seu pau no cu. Eu vou e pronto ― Mais um passo, eles estavam quase
cara a cara.
― Você não tem treinamento suficiente para sair em uma caçada como
essa. Não permito que você se coloque em risco ― mais um passo.
Luigi percebeu um risco iminente que Romeo poderia correr e se
colocou em posição de ataque.
― Tenho sim, se bobear mais do que esses soldadinhos de chumbo seus
― Mais um passo.
― Você não vai, caralho! Eu já disse ― mais um passo.
Como em um jogo de tabuleiro, a próxima casa era de Beatriz, e eles
ficariam cara a cara.
― Não fode! Você está achando o quê? Que eu não sei me defender? ―
Mais um passo.
Os ânimos estavam exaltados, mas ninguém se mexia para interferir. Eu
conheço minha cunhada, ela pode ser um pouco agressiva.
― É isso que você quer ouvir? Sim, acho que pode se ferir ― Esse foi o
último grito de Romeo antes do caos se instalar dentro do galpão.
Beatriz colou o corpo em Romeo, respirando ofegante, apontou a arma
em sua têmpora, sem um pingo de medo. Pressionou tão forte que a pele ao
redor já estava ficando vermelha. Todos nos aproximamos, os soldados de
Romeo já estavam em posição de ataque, os dois não piscavam.
― Bea, por favor, estamos aqui por Gaby, vamos pensar nas nossas
prioridades ― Madalena pediu, segurando o braço da amiga, que estava
tenso.
― Talvez a minha prioridade seja ficar viúva antes do casamento. Você
está insinuando que não sou capaz de me defender? ― falou sem piscar,
direcionando seu olhar para Romeo e pressionando a Glock contra a sua
cabeça, que permanecia imóvel.
Os dois pareciam dois pitbulls prestes a atacar.
― Não! Estou dizendo que se alguém lhe ferir, eu faço essa cidade
explodir ― eles se encararam por alguns segundos.
Ela abaixou a arma e bateu a ponta do cano no peito dele.
― E não é isso que estamos prestes a fazer? ― ela falou, sorrindo.
Em seguida, segurou seu ombro e ficou na ponta dos pés, aproximando-
se de seu ouvido e sussurrou.
― E não existe um filho da puta que vá me impedir.
Romeo permaneceu imóvel e ofegante. Beatriz se virou para mim e
olhou nos meus olhos.
― Não é isso que a família de vocês faz? Explodem cidades para se
vingar? Vamos, cunhado, quero voltar logo para minha irmã ― Não havia
uma única pessoa no galpão que não estivesse prendendo a respiração. A
garota seguiu em direção à porta e virou-se.
― Estão esperando o quê, porra? ― Todos nós corremos em direção aos
carros.
Nos carros, dividimos as tarefas. Éramos um comboio de carros, todos
da minha coleção, meus favoritos. Mercedes-Benz Classe G, negros como a
noite. Destacaríamos em cada parada obrigatória. Alguns iriam para hotéis
da cidade, outros para boates, fóruns, laboratórios, consultórios, escritórios.
Todos os lugares onde nossos membros e aliados estivessem, inocentes ou
não. Descobriríamos hoje em quem ainda poderíamos confiar. Todos seriam
trazidos até mim. Reservei nosso maior galpão para receber meus
convidados, mas antes passaríamos pelas residências de luxo dos membros
do conselho que queriam me trair pelas costas. Velhos filhos da puta que
estavam com Roberto.
Em frente à casa de Marcos Bulgari, um antigo membro do conselho e
nosso contador direto, onde todo o dinheiro da máfia passava por ele, o
filho da puta trocava mensagens com relatórios meus e de todo o dinheiro
que eu ganhava.
Passando pela comunicação, eu podia ouvir as ordens de Giovannini.
Entramos pela lateral da mansão do desgraçado, neutralizando os soldados
no caminho. Pulamos um muro alto, com Romeo, Beatriz, Luigi e eu,
enquanto o restante do grupo se dividiu com Giovanni.
Beatriz estava excelente na mira, derrubando três soldados seguidos a
uma distância segura, com silenciador. Romeo protegia nossa retaguarda,
Luigi cobria a minha. Encontramos dois soldados e eu atirei na cabeça de
um deles, enquanto quebrei o pescoço do outro com um golpe limpo.
Entramos pela ala dos funcionários, deixando meus soldados do lado de
fora, enquanto eu passei por uma grande janela de vidro e admirei o
trabalho deles. A grama, antes verde, agora estava tingida de vermelho.
Chegando à biblioteca, ouvimos o soldado, o principal segurança de
Marcos, falando ao telefone.
― Precisamos de reforços, porra. Vou sair pela rota de emergência e
buscá-lo depois, sem que ninguém perceba onde ele está escondido ― ele
iria morrer junto com seu chefe.
Entrei em silêncio e me aproximei do soldado, que estava de costas.
Pressionei minha faca contra sua garganta.
― Onde está seu chefe? ― perguntei, pressionando a faca com mais
firmeza. Seu celular caiu no chão e ele engasgou.
― Você nunca o encontrará ― ele era um soldado leal ao chefe,
admirável. Eu lhe proporcionaria uma morte rápida.
― Eu vou encontrá-lo sim, e você vai me ajudar - os soldados leais
conheciam as senhas e os lugares estratégicos para proteger seus chefes, e
eu sabia onde procurar. ― Onde está o quarto do pânico? Não vou
perguntar de novo ― ele balançou a cabeça, se recusando a falar.
― Não há ninguém aqui, já disse, você nunca o encontrará ― estava na
hora de sua morte rápida.
Cortei sua garganta de forma rápida e profunda, seu sangue jorrou para
frente, me sujando ainda mais.
― Procurem um botão, um fundo falso, qualquer coisa que esconda um
quarto do pânico. Ele está aqui ― ordenei, passando a mão por baixo da
mesa.
Foi quando Luigi empurrou uma estante de livros, revelando uma porta
de aço com um painel escuro e nada mais.
― Esses filhos da puta não queriam a tecnologia que você apresentava,
mas em casa estavam cheios dela. Isso é um leitor de impressão digital, e
pelo que parece também reconhece a íris ― Luigi falou, sorrindo.
O maldito estava lá dentro, eu podia sentir. Olhei para o soldado morto
no chão. Ele abriria essa maldita porta. O barulho lá fora já não existia
mais, meus soldados já haviam eliminado todos. Giovanni, Madalena e
Miguel entraram pela porta, tão sujos quanto eu. Giovanni se aproximou da
porta, sorrindo, com o mesmo pensamento que Luigi. Hipócritas de merda.
― Como vamos abrir? ― Beatriz perguntou.
― Com a impressão digital e íris corretas. ― falei e me agachei ao lado
do soldado morto.
Peguei minha adaga do coldre na perna, estiquei a pele dos olhos dele e
com cuidado inseri a lâmina para não danificar os olhos. Por trás, arranquei
um olho e entreguei para Luigi, que estava ao meu lado. Em seguida, ergui
o braço dele e cortei sua mão na altura do pulso. Nos aproximamos do
painel, posicionei a mão do soldado no lugar certo e o painel foi acionado,
disparando raios para fazer a verificação da íris. Luigi colocou os olhos nas
pontas dos dedos e boom, a porta destravou.
― Não seria mais fácil pegar o corpo do cara e fazer isso? ― Madalena
perguntou.
― Sim, mas aí não teria emoção. ― Giovanni respondeu, sorrindo.
― Por favor, fui ameaçado, me obrigaram, por favor, chefe, não me
mate. ― Droga, eu odeio covardes.
― Vamos conversar. ― Entrei no quarto, onde havia uma cama de
solteiro, estantes com comida e armas, mas o covarde nem se preocupou em
pegar uma.
Peguei-o pelo pescoço e o levei para fora, sentando-o em sua poltrona
atrás da mesa. Ele foi amarrado pelas mãos nos braços da cadeira, e o
desgraçado já chorava de medo.
― Tem algo para me contar, Marcos? ― Perguntei, acendendo um
cigarro e soprando a fumaça em seu rosto. Peguei uma faca e fiz um corte
em sua barriga.
― Não, senhor, não sei de nada. ― ele tremia e chorava.
O maçarico já estava ao meu lado; queimei as pontas dos seus dedos que
estavam abertos nos braços da poltrona.
― Como não? O dinheiro que estava transferindo para Roberto não
significa nada? ― Eles realmente acharam que eu não descobriria?
― Fui ameaçado, senhor, me perdoe, peço clemência. ― Dei um tapa
em seu rosto, tão forte que ele virou o pescoço.
Voltei minha atenção para a faca.
― Seja um homem e aceite seu destino, seu maldito covarde. ― Sua
expressão mudou de medo para raiva; ele sabia que não havia saída.
― Roberto vai te matar e tomar seu trono, seu moleque, e seu pai com
aquele punho fraco também. ― Mal sabia ele que já tinha Roberto sob meu
controle.
― Infelizmente, seu desejo não será atendido. A situação dele no
momento é igual à sua. Vocês dois se encontrarão no inferno. ― Abri sua
barriga da garganta até a virilha, enfiei a mão que não segurava o cigarro lá
dentro e puxei suas tripas e órgãos para fora. Ele deu seu último suspiro e
eu soltei meu primeiro sorriso do dia.
Ouvi alguém vomitar atrás de mim. Era Madalena.
― Está tudo bem? Quer ir embora? Mando levarem você. ― Giovanni
perguntou, passando as mãos nas costas de Madalena. Ela negou, limpando
a boca com o dorso das mãos.
― Está tudo bem. ― ela acenou com a cabeça para mim, e senti orgulho
delas, estavam sendo fortes.
― Deixem o corpo e a casa assim, não mandem limpar. Quero que o
mundo saiba que ninguém deve mexer com minha família. ― avisei,
acendendo um cigarro.
Passamos um total de 48 horas fazendo visitas aos traidores ilustres. Ao
entardecer, Giovanni me avisou que não havia mais traidores, apenas
aliados esperando no galpão. Eu estava limpando a casa e não me
importaria de fazer isso a semana toda. Entre uma casa e outra, ligava para
a mansão para saber atualizações sobre minha futura esposa e meus filhos.
Tudo estava indo conforme o planejado.
Entrei no galpão seguido pelos rapazes e pelas duas mulheres, que não
fraquejaram em nenhum momento. Miguel se manteve firme na linha de
frente. Eles mereciam a iniciação, se assim desejassem, e eu daria a eles a
oportunidade de se tornarem meus protegidos na organização.
No interior do galpão, estavam advogados, juízes, médicos, engenheiros,
policiais, cientistas, políticos, o alto escalão estava presente, e eles sabiam o
porquê.
Os boatos se espalharam como pólvora pelo ar, alegando que fui
capturado essa tarde e que Roberto estava no poder. Um soldado de Romeo,
que ninguém conhecia na cidade, entrou na sala em que eles estavam.
Observávamos tudo de uma sala auxiliar através dos vidros de proteção.
― Estou aqui para informar que o senhor Roberto seguiu o plano. O
antigo subchefe foi capturado e ele aguarda os aliados para testemunharem
a execução de Matteo Rocatti. ― Imediatamente, 10 das 30 pessoas naquela
sala se animaram e deram um passo à frente. Como puderam cair em um
golpe tão infantil? Claro que os outros 20 passariam pelo soro da verdade.
Não quero ratos em minha casa.
Os 10 traidores seguiram o soldado para fora. Eu não queria conversar
nem ouvir pedidos de clemência. Estava com minha metralhadora apontada
para a porta. Quando todos passaram por ela, apertei o gatilho sem piedade.
Eles caíram no chão um por um. Quando me senti satisfeito, parei de atirar.
O soldado trouxe os outros aliados, que me olharam com os olhos
arregalados.
― Sintam-se lisonjeados. Hoje, a morte não quis nenhum de vocês.
Espero que entendam a mensagem. ― Virei-me e segui em direção ao meu
carro.
Era hora de ver meus três amores que deixei em casa.
Sentado no sofá preferido de Gabriela no jardim, com meu fiel
companheiro dos últimos tempos, meu copo de uísque, nos tornamos
inseparáveis há exatos 15 dias, desde aquela noite em que o chão se abriu
aos meus pés. Há exatos 15 dias não ouço a voz da minha pequena, não
sinto seus abraços e beijos. Ela não reage, não há previsão de que acorde. Já
pensei em matar pelo menos três médicos que estavam cuidando dela, todos
especialistas renomados, mas nenhum foi capaz de despertar minha esposa.
Todos têm a mesma resposta: depende unicamente dela sair de seu
subconsciente.
Não vejo Roberto, Carmen e seus comparsas desde aquela noite. Eles
estão presos no meu calabouço especial feito para traidores como eles,
vivendo há 15 dias com pão e água em uma cela que possui apenas um
balde e grades. Dormem no chão frio, sem aquecimento, sem claridade. Seu
único companheiro é a umidade, a escuridão e o silêncio. Apenas Roberto
recebeu atendimento médico por causa da mão decepada, pois não quero
que ele morra antes da hora. Eu direi quando poderá ir conhecer o inferno.
As crianças estão tristes, agitadas e nervosas. Elas vão ao quarto todas as
manhãs, dão um beijo de bom dia em Gabriela, contam histórias e, à noite,
cantam a música que ela costumava cantar para elas dormirem. Às vezes,
permito que durmam na cama com ela, pois os médicos dizem que seria
bom, pois Gabriela poderia ouvir. Minha vida está em pausa e continuará
assim até que minha mulher acorde. Meus negócios estão sendo
comandados por Luigi, as questões da máfia por Giovanni e Miguel, que
estão por dentro de tudo que possa ser útil. Minha única função é estar ao
lado de Gabriela, pois ela não vai acordar sozinha. Beatriz e Madalena estão
me auxiliando nessa jornada.
― Você vai passar o resto dos seus dias dentro dessa casa? ― Luigi
perguntou, sentando-se ao meu lado e pegando a garrafa de uísque que
estava aos meus pés.
― Se for preciso, sim. ― Respondi, decidido a não sair daqui até que
minha esposa esteja bem.
― Estou preocupado com você, você está sendo negligente. ― Ele
olhou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
― Você e Giovanni são meus braços direito e esquerdo, tenho certeza de
que estão se saindo bem. ― Respondi, tragando meu cigarro e vendo a
fumaça se dissipar no céu.
― Não estou falando dos negócios, estou preocupado com você. ― Ele
olhou nos meus olhos e pude ver a sinceridade neles. ― Estou aqui como
seu primo, não como seu futuro Consigliere. Você está descuidando de si
mesmo, está bebendo mais do que o normal, está fumando com frequência e
Margô me contou que não está se alimentando adequadamente. ― Porra,
eles acham que sou uma criança.
― Margô está se tornando uma fofoqueira como o Giovanni? ―
Perguntei com um humor ácido que tem me acompanhado nos últimos dias.
― Ela está preocupada com você, todos nós estamos. Beatriz tem te
visto passar a noite acordado na poltrona ao lado da cama de Gabriela. Há
quanto tempo você não dorme, irmão? ― Era a pergunta de um milhão de
dólares, nem eu mesmo sabia há quanto tempo não dormia uma noite
inteira.
― Não sei, só conseguirei ter uma noite de sono tranquila quando
Gabriela acordar. ― Eu não me permitiria perder nenhum momento ao lado
dela.
― E você acha que ela vai ficar feliz quando acordar e perceber que
você não cuidou de si mesmo? Que você está magro, com olheiras, com um
pé no alcoolismo, fumando como uma chaminé? ― Giovanni perguntou,
me surpreendendo ao se sentar na minha frente. Esses idiotas queriam me
encurralar? ― Aliás, pode continuar assim mesmo. Quando Gaby acordar,
eu estarei à disposição dela. Afinal, você estará feio, magro, alcoólatra. Ela
não vai te querer, e aí vai vir para o papai aqui. ― Ele riu e apontou o dedo
em sua direção.
Eu me levantei para dar um soco nele, mas uma tontura me derrubou de
volta no sofá e Luigi me segurou pelo braço.
― Chega, vamos subir. Você vai tomar um banho, comer e se deitar ao
lado de Gaby. Vamos cuidar de você. ― Não tive tempo de pensar antes dos
dois me carregarem escada acima.
― Não posso deitar na cama, não quero ferir Gabriela. ― Eu tinha um
medo irracional de encostar nela e machucá-la ainda mais.
― Você não vai feri-la, mas vai magoá-la se ela acordar e ver que você
não cuidou de si mesmo. Porra, Matteo, olha a quantidade de peso que você
perdeu. ― Giovanni falou, beirando o nervosismo.
Eles tinham razão, não poderia continuar daquele jeito.
― Vem, vamos para o banho. Não quero ver o seu pau, mas você não
pode ficar sozinho e fraco assim. ― Giovanni abriu a porta do quarto de
hóspedes.
Não queríamos fazer barulho no quarto principal. Luigi desceu para
pedir a Margô para preparar algo. Eu não me lembrava da última vez em
que me alimentei.
Entrei no banho, e Giovanni me esperou do outro lado do box, quando
terminei meu banho, a noite estava quase chegando, horário em que as
crianças cantavam para Gabriela. Queria ser forte o suficiente para aguentar
mais uma noite sem minha pequena abraçada em meu peito. A toalha foi
estendida para mim, enrolei-a na cintura e segui para o quarto. Luigi me
esperava com uma bandeja contendo sopa, suco e pães. Sentei-me na cama
e comi em silêncio. Tomei o suco e olhei para os dois brutamontes parados
em frente à porta, me vigiando.
― Obrigado por isso. ― Agradeci envergonhado. Não queria passar por
isso, mas ainda bem que os tinha ao meu lado.
― Somos irmãos, lembra? Sempre juntos um pelo outro. ― Luigi
respondeu, com os braços cruzados. Giovanni estava com as mãos nos
bolsos, sério, e se aproximou da cama.
― Tenho algo sério para te contar. Espero que esteja mais lúcido agora.
― Não era um bom sinal quando Giovanni falava sério assim.
― Diga logo. ― Coloquei a bandeja na mesa ao lado da cama e peguei
um cigarro para fumar. Luigi me olhou com uma expressão desaprovadora,
mas não disse nada. Ele sabia que era para aliviar a tensão.
― Um traidor do conselho conseguiu fugir do seu pai. Ninguém sabe
onde ele está, mas estamos mobilizando nossa inteligência para rastreá-lo.
Seu pai não gostou muito e disse que prefere a moda antiga, mas aceitou
nossa ajuda. Estou te contando para que você fique por dentro dos
movimentos. ― Aqueles desgraçados... eles parecem baratas, nunca
morrem, sempre sobram alguns perdidos.
― Faça o que for preciso e encontre-o. Quero a cabeça dele. Quanto ao
meu pai, ele não gosta, mas entende que a tecnologia é necessária. E quanto
a Roberto e Carmem, como está a estadia deles? ― Fazia dias que não via
aqueles malditos.
― Eles estão sendo tratados como os filhos da puta que são. ― Giovanni
riu.
― Roberto exige te ver todos os dias. Carmem e os dois soldados pedem
uma morte rápida todos os dias, depois das surras diárias que levam.
Roberto está até aguentando firme. ― Aquele desgraçado deve estar
pensando que vai me pedir perdão e continuar vivo. Engano dele.
― Ótimo, me mantenha informado. Vou me deitar agora. ― Falei,
apagando o cigarro no cinzeiro ao lado da cama.
Me dirigi à porta, mas antes de abri-la, olhei para eles.
― Obrigado mais uma vez. Vocês são meus irmãos e eu pagarei tudo
que fizerem por mim. ― Eu era grato por tê-los em minha vida.
― Vamos cobrar. ― Luigi respondeu com um sorriso triste. A situação
estava afetando todos nós.
― Com juros e correção, meu irmão. ― Giovanni brincou. Ele sempre
se mantinha forte quando os outros estavam desabando.
Acenei e segui para meu quarto. Bati na porta e entrei após a
confirmação de Beatriz.
― Boa noite. ― Falei entrando no meu closet e pegando uma cueca e
calça de moletom. Vesti uma camisa e voltei para o quarto.
― Boa noite. ― Beatriz estava de costas, trocando a bolsa de soro de
Gabriela.
Ela se virou para mim, com o olhar cansado. Temos turnos para cuidar
de Gabriela. Não queremos que fique apenas aos cuidados de enfermeiros.
Todos os dias os médicos vêm, e a enfermeira fica na casa 24 horas por dia,
mas quem cuida dela somos nós, Madalena, Beatriz e eu. Bem, eu até aceito
o turno das duas, mas não saio de casa. Sempre fico por perto. Elas me
expulsam do quarto sempre que podem.
― Como ela passou a tarde? ― Beatriz tinha olheiras sob os olhos, mas
se mantinha firme.
― Bem, da mesma forma que todos os dias. Nada mudou. E você,
Matteo? Quando vai dormir? Você precisa estar bem quando ela acordar. ―
Beatriz se aproximou de mim e eu a puxei para um abraço apertado.
Nós desenvolvemos um carinho um pelo outro, e eu nunca poderei
retribuir toda a força que essa mulher tão pequena e tão forte está me dando.
Ela e Madalena têm minha gratidão, e Miguel não sai perdendo também.
― Não se preocupe comigo, sou forte, e vou dormir agora, prometo. ―
Dei um beijo em sua cabeça, e ela se afastou um pouco, olhando em meus
olhos.
― Ela vai voltar para nós, eu tenho fé. ― Eu esperava que sim. ― Ela é
forte, só está descansando. ― Sorri sem humor. Espero que seja verdade.
― Deixei o banho para você, eu sei que gosta de dar você mesmo. Vou
treinar um pouco para extravasar, depois vou descansar. Quero participar do
"bom dia" dos seus prisioneiros. ― Beatriz e Madalena têm participado das
surras que os quatro miseráveis levam diariamente.
Não me importo, assim ela extravasa um pouco da raiva. Se essas
meninas tivessem nascido na máfia, não seriam tão perfeitas.
― Vai lá, eu vou ficar aqui tentando convencê-la a acordar. ― Beatriz
deu um beijo na testa da irmã e saiu pela porta.
Eu adorava dar banho na minha pequena. Sentia-me mais próximo dela,
em contato com sua pele. Conversava com ela, contava como foi o dia das
crianças, suas travessuras, que haviam voltado com força total e a deixava
cheirosa como sempre foi.
Peguei o pano e o molhei em água morna com os óleos que ela usava.
Passei em todo o seu corpo, com cuidado para não machucar. Alguns
hematomas já estavam sumindo, seu rosto estava menos inchado. Ela estava
mais magra, mas não menos linda. Coloquei seu pijama, penteei seus
cabelos, que estavam enormes como eu gostava. Uma batida na porta me
tirou dos meus pensamentos.
― Pode entrar. ― Meus anjinhos entraram no quarto, carregando a
pantufa de patinha de Gabriela nas mãos. Eles usavam as mesmas pantufas.
― Papai, às vezes a tia Gaby precisa usar a dela para lembrar de acordar.
― Conversamos com eles sobre como a Gabriela estava dormindo e que ela
precisava se lembrar de acordar.
Automaticamente, eles criaram na cabeça deles que a bruxa má tinha
lançado um feitiço nela por protegê-los. Deixamos assim. Não queria que
eles tivessem mais pensamentos ruins.
― Sim, vocês querem que eu coloque nela? ― Perguntei, pegando Nina
no colo e trazendo Dante pela mão, próximo da cama.
― Queremos! Vamos cantar para a tia Gaby, papai, para ela dormir sem
pesadelos. ― Dante falou triste.
Desde a noite do incidente, os pesadelos voltaram com força total. Nós
não os deixamos dormir sozinhos. Cada noite um de nós dorme com eles,
ou os levamos para nossos quartos. Não sei o que seria de mim sem essa
rede de apoio. Miguel, Madalena e Beatriz se mudaram para a mansão, e só
tenho a agradecer.
-Então vamos, porque vocês têm que dormir. Amanhã é um novo dia, e
quem sabe a tia Gaby acorda. ― Coloquei os dois na cama, cada um de um
lado de Gabriela.
Eles abraçaram sua barriga como sempre fazem. Coloquei as pantufas
em Gabriela, e eles começaram a cantar baixinho.

"Muito obrigado, meu Papai do Céu,


Pela tia Gabyzinha que o Senhor me deu.
Tanta tristeza que há no mundo,
Mas não há tristeza nos olhinhos seus."

A música de ninar tinha um significado muito especial para eles.


Gabriela costumava cantar em noites chuvosas, mesmo antes de dormir, e
todos esses dias, eles vinham e cantavam para ela.
― Boa noite, tia Gaby. Vamos esperar você acordar amanhã bem
cedinho ― Dante falou, dando um beijo em seu rosto antes de se levantar.
― Boa noite, tia Gabyzinha. Vou te esperar para o café da manhã. Deixa
de ser dorminhoca, já dormiu muito ― foi a vez de Nina se despedir,
beijando Gabriela e acariciando carinhosamente seu rosto.
― Ah, estava esquecendo, Nina! Você não disse! ― Dante voltou
correndo para a cama, abraçando Gabriela, e Nina fez o mesmo. ― Te
amamos, tia Gaby ― disseram em uníssono, dando mais um beijo em cada
lado do rosto.
― Também amo vocês, mais do que a mim mesmo ― respondi,
enquanto eles saíam correndo pela porta, onde Margô os aguardava do lado
de fora.
Retirei as pantufas dos pés de Gabriela e me preparei para deitar ao seu
lado. Fazia muito tempo que não me deitava nessa cama. Não me sentia
preparado para isso, tinha medo de machucá-la ou de não perceber o
momento em que ela abriria os olhos. No entanto, me deitei ao seu lado,
acariciando seu rosto e sussurrando em seu ouvido.
― Volta para mim, minha pequena. Estou aqui, te esperando. _ falei,
enquanto o cansaço tomava conta de mim.
Permiti-me fechar os olhos e dormir, mesmo que fosse por apenas
algumas horas.
O escritório da minha casa se tornou o segundo lugar mais frequentado
por mim. Ou estou aqui ou no meu quarto. Não tenho uma vida além dessas
paredes há exatamente 30 dias. Minha pequena não acorda, meus
prisioneiros continuam adiando sua sentença. Estamos em uma rotina
tranquila na mansão e chegamos à conclusão de que eu deveria voltar aos
meus afazeres na máfia.
Concordo em fazer o que for possível aqui dentro da mansão, mas não
saio mais de casa há um mês. O serviço externo está sendo liderado por
Giovanni. Luigi continua na empresa, fornecendo relatórios diários para
mim. Giovanni conta com a ajuda de Miguel, Beatriz e Madalena. Todos
concordam que não devo e não quero sair de perto de Gabriela e meus
pequenos. A notícia sobre a caçada se espalhou e meu nome é evitado por
todos. O medo se espalhou e a notícia de que sou cruel, impiedoso e
lunático já chegou até mim, e quero que continue assim.
― Espero que tenha boas notícias ― perguntei a Giovanni com um olhar
distante e claramente nervoso.
Ele entrou no escritório e foi direto para o bar.
― O que aconteceu? ― perguntei a Luigi, que entrou em seguida e
parou em frente à minha mesa.
Antes de me levantar, Giovanni me ofereceu um copo de uísque. Desde
aquela noite, em que meus irmãos tiveram que interceder por mim, diminuí
o consumo de uísque e cigarros. Mas aceitei desta vez, pois algo muito ruim
estava por vir.
― Irmão, encontraram o rato traidor que havia fugido ― Luigi começou
a contar. Um sentimento de alívio me tomou, mas ainda havia outras coisas,
posso sentir.
― Ele está morto, assim como sua família. Ele tinha apenas filhos
homens e todos estavam envolvidos em ligações com Roberto e aquele
merda do Nikolai estava ajudando-os a se esconder ― continuou Luigi.
O maldito russo. Eu queria resolver a situação pessoalmente, mas
precisaria resolver isso à distância.
― E a esposa? ― questionei. Não pretendia matá-la, mas também não
queria deixar pontas soltas. Já estava cansado desses imbecis na minha
organização.
-A esposa morreu há um ano ― respondeu Giovanni, ainda em pé na
minha frente ao lado de Luigi, que também segurava um copo de uísque.
― Mas é só isso, não é? ― perguntei, virando meu uísque de uma vez.
― Não, não é, irmão ― respondeu Giovanni.
Porra, eu já estava ficando inquieto.
― Seu pai foi quem encontrou os traidores e os matou durante o
confronto, como um bom Don que sempre foi ― disse Luigi com um olhar
triste, e eu já sabia o que viria a seguir.
― Ele foi alvejado na barriga, tentaram de tudo, mas os médicos não
conseguiram estancar a hemorragia. Sinto muito, irmão ― Giovanni estava
com lágrimas nos olhos prestes a cair.
― Sinto muito, irmão ― Luigi falou com a cabeça baixa.
Sim, eu também sentia, meus pais foram meus mentores, meu exemplo.
― Ele morreu com honra, como deve ser lembrado. Morreu lutando na
linha de frente junto com seus soldados, à moda antiga, como ele gostava de
falar ― abasteci nossos copos e me juntei aos meus irmãos.
― Ao meu pai, que morreu como um homem honrado ― estendi meu
copo e eles me acompanharam, brindando à vida e à morte do meu pai, o
Don da máfia italiana, meu exemplo.
― Eu sei que sua cabeça está cheia de problemas, mas você precisa
assumir imediatamente ― alertou Luigi, lembrando-me das minhas
responsabilidades.
― Sim, a organização não pode ficar sem um Don no comando, ainda
mais agora que o conselho tem apenas três cadeiras ocupadas ― Giovanni
estava certo, eu precisava resolver essa questão e fazer algumas mudanças.
― Quanto tempo eu tenho? ― perguntei, sentando-me e sentindo o peso
que o cargo traria para mim.
― Entre o velório de seu pai e sua posse, no máximo duas semanas. Não
podemos adiar por muito tempo ― Luigi mexia no celular enquanto falava.
― Eu não quero me ausentar de casa, vocês sabem ― eu não iria a lugar
nenhum enquanto minha pequena não acordasse.
― Sim, sabemos. Vamos adiar o tempo que você precisar, mas quanto
mais rápido você puder colocar membros do seu agrado no conselho,
melhor será, até que as coisas se resolvam aqui em Portugal ― droga, não
havia pensado na possibilidade de me mudar para a Itália.
― Eu queria esperar Gabriela acordar. Ela precisa decidir se quer ficar
comigo, se quer mudar para a Itália. Eu não quero fazer nada até que ela
acorde ― meu coração doía só de pensar nisso.
― Irmão, vamos fazer o seguinte, nós vamos ao velório, resolver tudo o
que precisa ser feito o mais rápido possível, deixar as coisas encaminhadas
lá e voltar. Assim, você pode ficar aqui e pensar melhor. O que acha? ―
Luigi sugeriu, sentando-se em minha frente.
― Pode ser. Tenho que estar com minha mãe também. Quem sabe ela
não queira vir para Portugal, pelo menos por enquanto ― não seria fácil
convencer Donattela, mas eu tentaria.
Ela veio visitar Gabriela três vezes e ficou inconsolável ao saber da
Carmem, mesmo sendo ela quem me indicou a cozinheira na época, por
recomendação do Roberto. Descobri isso depois do acontecido. Ela queria
ficar mais tempo, mas eu não permiti, já tínhamos gente demais por aqui.
― Vou preparar tudo. O velório será após o almoço ― segui para o
quarto, iria contar para minha pequena sobre os acontecimentos.
Criei o hábito de contar tudo para ela, inclusive os relatórios da empresa.
Com o tempo, ela se tornou minha melhor amiga também.

Na Itália, as coisas estavam de cabeça para baixo. Sem meu pai e a


maioria de seus soldados de confiança, aumentei a segurança da mansão da
minha mãe, agora que ela estaria sozinha. Ela não aceitou ir para Portugal
comigo, expliquei a situação para ela e ela concordou em me ajudar em
algumas questões. Fiquei muito feliz por ela se oferecer para ajudar.
O velório foi emocionante, muitas pessoas demonstraram respeito pelo
meu pai, que foi um excelente Don. Muitos vieram me parabenizar pelo
novo cargo e expressar suas condolências. Eu não estava feliz como pensei
que estaria quando o cargo fosse meu. Era para a cadeira ser passada para
mim por sua aposentadoria, não por sua morte. E era para eu ter minha
rainha ao meu lado, não deitada em uma cama.
Roberto pagaria muito caro por tudo isso.
― Meu filho, podemos conversar antes de seguir viagem? ― minha mãe
perguntou, com o braço enlaçado no meu.
― Claro, mãe ― falei, virando-me para ficar de frente para ela.
Estávamos no jardim, prestes a seguir para o jatinho. Eu não queria chegar
em casa tarde da noite. Era a primeira vez em 30 dias que eu saía de casa.
― Meu filho, você já pensou na possibilidade de Gabriela não acordar?
E se ela permanecer assim? Você vai viver recluso para sempre? ― Que
pergunta sem sentido da minha mãe. É claro que ela vai acordar.
― Não quero ser rude, mas não começa, mãe. Gabriela é minha mulher
― queria encerrar esse assunto de uma vez.
― Eu entendo, meu filho, e aceito que você a ame. Ela provou ser muito
mais honrada e forte do que muitas mulheres da máfia. O ponto não é esse,
agora você é um Dom e precisa estar focado em suas obrigações. Você está
magro, desatento e sempre com a cabeça nas nuvens ― eu entendia o ponto
de vista da minha mãe, mas não concordava.
― Ok, mãe, entendo a sua preocupação, mas não vou abrir mão da
mulher da minha vida.
― Claro que não, meu filho, mas você pode facilitar as coisas. Por que
você não vem para cá de uma vez? Eu posso ajudar daqui e vocês se
mudam. E tendo ela aqui, você pode seguir com seus compromissos como
Don. Seria realmente uma opção. ― Minha mãe propôs.
O que ninguém sabe é que eu não quero começar uma nova fase na
minha vida sem a minha mulher ao meu lado. Se ela não me quiser mais,
tudo bem, eu vou sofrer e entender, mas sabendo que tínhamos opções.
― Vou pensar, mãe. Faça o que eu pedi e apenas isso. Vamos nos
falando ― dei um forte abraço nela, que estava abatida. Ela e meu pai se
amavam, e imagino como será difícil para ela.
― Filho, te amo e sempre estarei aqui por você.
― Também te amo, mãe. Em breve nos veremos ― me despedi dela,
entrei no carro e segui para o jatinho. Em duas horas e meia estarei em casa.
Cheguei em Portugal com a cabeça a mil. Meus pensamentos estavam
embaraçados. A morte do meu pai, o novo cargo, a minha mudança que
teria que acontecer para a Itália, mas não farei isso sem dar uma opção de
escolha para Gabriela. Não queria mexer com a vida dela novamente. Ela já
perdeu tanto, já sofreu tanto.
Perder meu pai mexeu comigo, mas como Don, não poderia cair na
frente das pessoas. Me permiti chorar na viagem de volta, senti por ele. E
agora uma nova era se inicia em minha vida e na máfia.
Subi as escadas, olhando para os meus pés, pensando em como seria se
Gabriela estivesse ao meu lado. Giovanni e Luigi me acompanharam em
absoluto silêncio, cada um com sua dor. A perda foi grande para nós três.
Ouvi um grito e imediatamente tiramos nossas armas dos coldres e
ficamos em posição de ataque. Beatriz, responsável pelo turno da tarde com
Gabriela, saiu do quarto gritando e chorando.
― Chamem o médico, porra! Chamem o médico! ― ela voltou correndo
para o quarto. Luigi estava com o telefone na mão e Giovanni saiu correndo
para buscar a enfermeira no aposento dos funcionários.
Corri para o quarto com o coração batendo a mil por hora. O bip da
máquina ligada a Gabriela apitava sem parar. Ela estava se debatendo na
cama. Madalena tentava segurar seus braços e acalmá-la. Eu estava estático,
sem reação, sem saber o que fazer. Não conseguia me mover do lugar.
Beatriz gritou comigo e eu acordei do transe em que estava.
― Eu... não fiz... não eu não... fiz barulho ― Gabriela gaguejava, a voz
saindo fina como se ela forçasse a voz a sair.
― Calma, não fala, não faz esforço, só fica conosco ― Madalena falava
calma para que ela entendesse.
― As crianças... Ma...tteo ― eu reagi e fui até ela, me ajoelhei ao lado
da cama.
― Estou aqui, meu amor, me perdoe ― Falei, abraçando seu corpo,
tremendo de dentro para fora. Eu não podia acreditar.
― Vocês têm que salvar as crianças... elas... eu não fiz barulho, eu juro,
não fiz ― Eu não conseguia seguir sua linha de raciocínio.
― Elas estão bem, pequena. Você as salvou, estão bem, e agora você
também está. Fica calma e respira, ok? ― tentei acalmá-la.
Ela estava muito agitada, com o coração acelerado. O bip não parava, e
eu queria quebrar essa merda. Cadê esse médico?
― Jura pra mim? ― ela perguntou sobre as crianças.
― Juro, meu amor, juro de dedinho ― ela me deu um sorriso sereno, e
começou a se acalmar.
O bip diminuiu, e nossos olhares se cruzaram de verdade. Agora, sim,
olhando com calma, pude ver o brilho em seus olhos.
― Eu te amo tanto ― Foi a primeira frase com nexo que ela pronunciou,
com tanta verdade que meu coração começou a juntar os cacos nesse
momento.
― Eu te amo tanto, pequena guerreira ― A abracei com cuidado e dei
um beijo em seus lábios. Sentia tantas saudades que parecia nosso primeiro
beijo.
O bip ficou alto novamente, e o médico me afastou para examinar
Gabriela. Eu sorria como um adolescente apaixonado que vive o primeiro
amor. Todos no quarto estavam sorridentes e chorando ao mesmo tempo. Eu
entendia, por que nesse momento todos nós voltamos a respirar mais
aliviados.
Ouvia uma conversa distante, uma voz conhecida, mas tudo estava
escuro. Minha cabeça doía tanto que latejava. Uma dor atrás dos meus
olhos não me permitia abri-los. Eu queria mover meu corpo, mas não
conseguia. Tudo estava fora do meu alcance. Sentia-me presa no meu
próprio corpo. Como isso era possível?
As crianças, meu Deus, as crianças precisam sair do esconderijo. Preciso
avisar alguém. Tentei me mover, mas apenas os meus dedos das mãos se
levantaram. Tentei novamente e consegui abrir os olhos. Como uma tarefa
tão simples não podia ser realizada pelo meu próprio corpo?
Minha cabeça se moveu em direção à voz que eu conhecia de algum
lugar. Consegui abrir os olhos apenas o suficiente para ver minha irmã e
Madá, estáticas ao meu lado. A claridade da lâmpada acesa em meus olhos
me fez choramingar. Fiquei agitada, ouvindo um bip constante em meus
ouvidos. Madá segurou minha mão e ouvi a voz distante de Beatriz.
Queria gritar, queria que eles me ouvissem. As crianças estavam em
perigo. Não precisavam perder tempo comigo. Eu estava bem. Me agitei de
um lado para o outro, mas as palavras não saíam. Fiquei muito nervosa, mas
me forcei a falar.
― As crianças... Ma...tteo - consegui dizer com muito esforço.
― Estou aqui, meu amor, me perdoe ― ele respondeu. Perdoar o quê?
Eu não estava entendendo. Queria dizer que não fiz barulho, que não
assustei as crianças, mas ninguém me ouvia. Só choravam. Por que estavam
chorando tanto?
― Você tem que salvar as crianças... elas... eu não fiz barulho, eu juro,
não fiz ― eu queria que eles entendessem.
Esse bip não parava, e eu já estava nervosa. Queria sair daqui.
― Elas estão bem, pequena. Você as salvou, elas estão bem, e agora
você também está. Fica calma e respira, ok? ― Matteo tentou me acalmar.
Como as crianças estavam bem? Eles as encontraram? Meu Deus, será
verdade ou estão apenas tentando me acalmar?
― Jura pra mim? ― perguntei, porque sabia que Matteo nunca mentia.
― Juro, meu amor, juro de dedinho ― agora sim, acredito nele. Um
juramento desse nível não pode ser mentira.
― Eu te amo tanto ― queria dizer isso a ele, e nunca mais ficaria um dia
sem dizer.
― Eu te amo tanto, pequena guerreira ― ele me beijou, um beijo
carinhoso, cheio de saudade.
Eu também estava sentindo falta dele. Essa viagem para Las Vegas foi
um tormento. Não quero mais ficar longe dele.
O bip ficou mais forte novamente, e o médico afastou Matteo, que
chorava e sorria ao mesmo tempo. Meu coração estava disparado. Todos
estavam no quarto, até Margô apareceu pela porta, com a mão no coração.
Eu não entendia essa comoção.
Luigi saiu com o telefone no ouvido, enxugando as lágrimas. O médico
me examinou. Creio que as dores sejam consequência da luta que tive com
Carmem e seus comparsas. Tinha muito para contar a Matteo, mas preferia
esperar até que o médico saísse.
― Vai ser um caminho longo para sua recuperação, Gabriela, mas o mais
importante você já fez, que é acordar. Agora, com muita fisioterapia, logo
vai estar nova em folha ― disse o médico.
― Como assim acordar? ― perguntei, confusa.
Matteo e Beatriz vieram para o meu lado da cama. Olhando agora com
atenção, não lembrava de estar no quarto de Matteo e nem desses aparelhos
em mim.
― Calma, meu amor, vamos explicar tudo. Só fica calma ― Matteo
passava a mão em minha cabeça.
Eu estava calma, por que não estaria?
― O que aconteceu? ― perguntei, nervosa.
― Irmã, você lutou bravamente, mas eles eram três ― Beatriz falou,
respirando fundo.
― Quatro, eram quatro ― percebi, horrorizada. Eu tinha matado um
homem. Comecei a tremer sem nem mesmo perceber.
― Vamos conversar sobre isso depois, você ainda não está bem ―
Matteo falou, preocupado.
― Não, eu quero agora. O que aconteceu de ontem pra hoje? Por que
vocês estão nesses estados? Foram as crianças? ― eu queria me sentar, mas
eles não deixavam, e meu corpo não permitia.
― Não foi de ontem pra hoje, Gaby ― explicou Matteo. ― Pequena,
exatamente 30 dias se passaram desde que estávamos esperando você
acordar ― continuou ele, respirando fundo. ― Nós nunca desistimos de
você. Sempre acreditamos que voltaria para nós.
― Não é possível... ― murmurei, confusa. Minha cabeça doía.
― Você estava em coma todo esse tempo, amiga. Ficamos ao seu lado,
revezando em turnos ― disse Madá, se aproximando e sentando-se aos
meus pés.
Ela fazia carinho ali, e eu sentia um formigamento estranho.
― Mas agora você está aqui, meu amor. Está de volta e bem, não é,
doutor? ― Matteo se virou para o médico.
― Vai ser um processo, mas sim, ela está bem. Vai precisar de repouso e
fisioterapia. Os primeiros passos não serão fáceis, mas a senhora é forte. E
estarei aqui para dar todo o suporte necessário ― respondeu o médico.
― Meu Deus, como foi? Matteo, a Carmem... Você a pegou? Deus, você
tem que saber... os membros do conselho queriam sua cabeça. Eu a ouvi
falando com o Roberto também ― muitas coisas precisavam ser ditas.
― Calma, meu amor, está tudo sob controle. Ela já está onde merece
estar, assim como os outros. Vou te contar tudo, ok? Mas agora, se acalme.
Você precisa descansar ― Matteo pediu. Meu Deus, o que aconteceu
durante todo esse tempo?
― Descansei 30 dias, não preciso mais de descanso. E as crianças? Irmã,
você está bem? E Miguel, Madá? ― eu queria saber de tudo.
― Todos estão bem, irmã. As crianças vinham cantar pra você todas as
noites e esperam por você no café da manhã todos os dias. Eles acham que
a bruxa te colocou para dormir e agora você esqueceu de acordar.
"Dorminhoca" é o apelido deles ― Bea contava, sorrindo e chorando ao
mesmo tempo.
― Eu sonhei com a música de ninar que cantava pra eles, na voz dos
dois ― comentei, incrédula.
― Sim, era essa música mesmo. Todas as noites, sem faltar uma, eles
cantavam ― Matteo falou, beijando minhas mãos.
― Quero vê-los e saber de tudo ― estava ansiosa.
― É melhor se acalmar, ou o médico vai te dar um calmante. Você está
muito agitada, parece as crianças quando comem muito chocolate ―
Matteo falou sorrindo.
― Deus me livre, estou cansada, mas não quero dormir ― o cansaço
estava me abraçando e eu não fiz nada além de conversar.
― Vou autorizar um banho monitorado, acho que você vai querer.
Depois, pode se alimentar, mas em seguida, volta para a cama. O repouso é
absoluto até sair os resultados dos seus exames. Assim que tiver em mãos,
volto aqui, tudo bem? ― o médico tirou meu sangue e se despediu.
Ficamos no quarto, entre abraços e sorrisos. Eu estava tão feliz em ver
todos aqui bem. Luigi voltou para o quarto, ele e Giovanni quase deitaram
na cama em cima de mim. Matteo teve que tirar os dois, e eles brincaram
como se estivessem lutando contra Matteo para ficar perto de mim. Miguel
me abraçou forte e chorou muito em meu pescoço, como uma criança
pequena. Bea e Madá não me largaram nem um minuto, deitadas na cama
comigo. Por fim, elas foram embora dizendo que iriam ficar com as
crianças.
Luigi contou que já avisou Romeo que acordei, e Bea revirou os olhos.
Segundo eles, Romeo ficou desconsolado também, mas agora estava
ajudando Matteo em todo o processo de vingança. Romeo estava muito
feliz e já estava no jatinho a caminho de Portugal. Estou tão feliz por ter
uma família que me ama e se importa comigo. Achamos melhor esperar as
crianças virem cantar pra mim, assim finjo que estou acordando. Vai ser
incrível.
Matteo achou melhor encher a banheira, pois eu não iria conseguir ficar
em pé por muito tempo. Fiquei com vergonha dele. Queria pedir às meninas
ou à enfermeira para me ajudar no banho, mas ele me contou que quem me
banhava todos os dias era ele, sempre usando meus óleos e cremes para me
fazer sentir fresca e confortável. Esse homem não existe.
Ele me pegou no colo, tirou minhas roupas e me sentou na bancada do
banheiro. Ele também retirou as roupas dele, e, puta merda, como eu sentia
falta de ver esse homem lindo só para mim. Ele me ajudou a ficar em pé,
sempre me segurando pela cintura, em frente ao espelho. Ele estava mais
magro, com olheiras e o semblante cansado, mas eu... eu estava pior. Muito
magra. Era possível ver meus ossos. Minhas olheiras estavam muito roxas,
minha pele estava feia, sem vida. Eu estava muito envergonhada do meu
corpo.
― Não sinta vergonha, pequena. Conheço cada parte do seu corpo, e
amo todas elas ― ele leu meus pensamentos e disse com certeza.
― Meu corpo está tão diferente, feio... Eu não me sinto bonita, não me
sinto eu mesma ― uma lágrima teimosa escapou dos meus olhos.
― Ei, não chore. Não existe nessa vida mulher mais bonita do que você,
e só o que eu acho importa ― ele falou, virando-me de frente para ele e
sorrindo.
― O senhor mandão está fazendo uma piada? ― ele gargalhou, e só
então lembrei que fazia muito tempo que não o via tão leve. ― Agora é
sério, eu não quero ficar assim. Você deve estar me achando feia ― falei,
chorando sem perceber.
― Eu te amo. Você é linda pra mim de qualquer forma. Gorda, magra,
com cabelo, careca... Não importa. Os meus olhos te enxergam como meu
coração sente. Nunca, em hipótese alguma, se sinta assim. Você é a mulher
mais incrível que já conheci nessa vida. Eu te amo, pequena ― com um
beijo carinhoso, ele completou suas palavras.
Em seguida, me levou no colo até a banheira, com cuidado, e entrou
comigo, me sentando entre suas pernas.
― Sua opinião não vale. Você está apaixonado. Eu vou estar linda de
qualquer forma ― falei enquanto ele pegava o sabonete para me ensaboar.
― E essa não é a magia do amor, que todos falavam? Agora eu entendo.
Entendo o quanto o meu coração pode amar alguém. Entendo o quanto você
é realmente importante em minha vida ― ele me ensaboou com carinho,
com cuidado.
Não havia uma nota de desejo em seus toques, apenas cuidado. Ele me
virou de frente para ele, sentada em seu colo, com as pernas ao redor de sua
cintura.
― Eu achei que iria morrer quando te encontrei desacordada. Eu entrei
em desespero. Foi preciso quatro homens para me tirar de cima de você. Eu
me tornei a besta mais temida dessa cidade. Vinguei tudo o que você
passou. Matei cada homem que estava envolvido nessa traição que te levou
a se sacrificar pelas crianças. Eu devo minha vida a você. Eu não sabia que
precisava de você para respirar até quase te perder. Perdi minha alma nesse
último mês. Me afoguei na bebida, como se fosse um bote de salvação. Eu
já não tinha forças, e a única coisa que me manteve lúcido foi ter a certeza
de que você voltaria para mim. Eu te amo tanto que o ar que eu respiro
depende de você estar bem, ao meu lado. Minha felicidade depende de
você. Eu vivo por você, Gabriela, e nada nesse mundo me importa mais do
que você e as crianças. Eu iria até o inferno, se fosse preciso, para conversar
pessoalmente com o diabo, para que você voltasse para mim ― esse
homem é louco, e eu o amo assim como ele é.
― Eu te amo tanto que não consigo encontrar palavras à altura da sua
declaração de amor ― apenas o beijei com paixão e puro desejo que estava
dentro de mim.
Em meio às nossas lágrimas e juras de amor silenciosas, eu tive a certeza
de que agora sim, eu viveria um amor verdadeiro. Agora sim, eu teria a
minha família, distorcida, mas minha.
Após o banho, Matteo me ajudou a vestir um pijama. Como mágica, os
lençóis foram trocados. O maquinário hospitalar que estava aqui
desapareceu, e o cheiro de hospital deu lugar a um aroma gostoso de
limpeza.
Havia uma sopa bem-feita e cheirosa na cômoda, além de suco. Eu sabia
que era obra de Miguel. Matteo colocou a bandeja em meu colo, e comi
com calma, como o médico havia pedido. Depois, escovei os dentes, com a
ajuda de Matteo, que não saiu do meu lado em momento algum.
Ele me contou tudo que aconteceu em detalhes, a vingança, como todos
ajudaram. Também me falou sobre seu pai, e fiquei com o coração apertado
por ele. Fiquei feliz em saber que sua mãe me aceita e veio me visitar, e
principalmente que se ofereceu para ajudar a cuidar de mim na Itália. Meu
coração ficou aquecido ao saber que nós duas poderemos ter uma relação
boa.
Agora, eu sou a mulher do Dom da máfia. Estou com medo disso, mas
estarei ao seu lado sempre.
― Como você se sente com isso? ― ele estava perguntando sobre a
nossa mudança para a Itália.
― Não tenho muito o que dizer ― respondi, sendo sincera e ele fez uma
cara confusa.
― Se você quiser ficar em Portugal, eu vou entender. Não quero que se
sinta obrigada a nada por minha causa. Podemos dar um jeito. Você mora
aqui, e eu venho todos os dias. Não me importo de viver em Jet Lag ― ele
se sentou e encostou na cabeceira da cama.
― Matteo, não tenho muito a dizer, porque eu não me importo. Eu iria
para qualquer lugar do mundo onde você e as crianças estivessem ― ele
abriu um sorriso tão lindo, igual a uma criança em noite de Natal.
― Jura? Pequena, quase tive um infarto achando que você não me queria
mais ― ele pegou meu rosto com as duas mãos e me beijou com carinho.
― Nunca me afastaria de você, a não ser que você queira ― ele negou
com a cabeça.
― Isso nunca vai acontecer ― ouvimos uma batida na porta e imaginei
que fossem as minhas crianças.
Sorrimos, me deitei na cama como antes, Matteo correu e me cobriu,
arrumando tudo. Ele abriu a porta e as crianças entraram. Ouvi toda a
conversa de olhos fechados.
― Boa noite, papai ― disseram para Matteo.
― Boa noite, tia Gaby ― disseram para mim e vieram para a cama, cada
um de um lado.
― Papai, tivemos uma nova ideia para acordar a tia Gabyzinha ― Nina
falou animada.
― E qual seria? ― Matteo perguntou, segurando o sorriso.
― Pedimos para a tia Bea comprar pantufas iguais às nossas para você.
Acho que falta isso para o feitiço acabar ― Dante contou, com a voz
animada.
Ouvi palmas vindo do lado onde Nina estava e me segurei para não rir da
cena: Matteo com pantufas de patinhas.
― Vamos fazer o teste, então. O que acham? ― Matteo perguntou, como
se estivesse mostrando algo para eles.
As crianças riram e bateram palmas. Senti Matteo colocar as pantufas em
mim. Nina respirou fundo e Dante começou a falar.
― Agora só falta a música. Vamos, Nina? ― perguntou o irmão,
deitando-se em meu peito, com as mãozinhas na minha barriga.
Eles cantaram a canção de ninar que eu costumava cantar para eles
"Muito obrigado, meu papai do céu
Pela tia Gabyzinha, que o senhor me deu
Tanta tristeza há no mundo
Mas não há tristeza nos olhinhos seus."

O "bigado" mais lindo do mundo saía sem o "r", e a "tisteza" mais


sentida que já ouvi em toda a minha vida. Não tinha como não chorar. Eu
não consegui segurar o soluço alto, tremendo em um choro descontrolado.
Como as pessoas que eu tanto amo sofreram, meu Deus, eu não queria
passar por essa dor novamente. Abri os olhos para ver a imagem mais linda
da vida: os dois ajoelhados em minha frente, cada um de um lado, com as
mãozinhas na boca e os olhos arregalados.
Dante chorava e sorria ao mesmo tempo, Nina apenas deixava as
lágrimas caírem sem dizer nada. Eu não me aguentei e me sentei, abrindo os
braços. Os dois vieram em um pulo só para o meu colo. Como era bom
sentir o cheirinho de bebê que eles ainda tinham. Eu respirei fundo. Se eu
pudesse guardar esse momento em um potinho, eu guardaria.
― Funcionou, papai, funcionou! Tia Gaby acordou! ― Dante falou
pulando na cama.
― Tia Gabyzinha, dorminhoca, não faz mais isso, hein? ― Nina pediu
com a carinha brava, apontando o dedo para mim, como uma mãe dando
bronca.
― Nunca mais, meus amores, eu juro de dedinho. ― Falei, juntando
nossos dedos nos quatro, em um juramento que apenas nós entendíamos.
― Agora é a hora, papai, pode ser agora, não pode? ― Dante pediu,
pulando da cama e correndo para a cômoda.
Matteo confirmou com a cabeça, algo que eu não entendi.
― Sim, é agora, papai. ― Nina correu atrás do irmão.
Matteo se sentou ao meu lado, e parecia... nervoso? Ele estava meio
pálido. Não entendi, mas não conseguia parar de sorrir e tirar os olhos das
crianças.
― Fecha os olhos, tia. ― Nina pediu animada, e eu obedeci.
― Pode abrir. ― Os dois estavam ajoelhados em frente ao pé da cama.
Eu me encostei na cabeceira. Matteo estava agora realmente pálido, com
a respiração pesada. Eles estavam com uma caixinha verde-água nas mãos.
― Tia Gaby, você aceita ser nossa mamãe? De verdade? Para sempre?
― Disseram juntos, como um coro bem ensaiado.
Abriram a caixinha, os dois juntos, mostrando um anel delicado com um
diamante enorme, mas bem trabalhado, com detalhes por todo ele. Eu, em
compensação, abri a cachoeira de lágrimas, com os olhos embaçados olhei
para Matteo, que tremia de nervoso.
― Aceita, pequena? Ser o amor de nossas vidas? ― Matteo me
perguntou, com lágrimas que caíam sem parar em seus olhos.
Como esse homem ficava lindo até chorando?
― Sim, sim, sim, mil vezes sim. Sempre será sim, para vocês três. ―
Respondi, recebendo um abraço triplo e um beijo casto nos lábios.
― Hoje é o segundo dia mais feliz da minha vida. ― Matteo falou feliz,
as crianças pulavam de alegria.
― Agora temos uma mamãe de verdade. ― Dante falou animado, e eu
não podia estar mais feliz do que nesse momento.
Matteo colocou o anel em meu dedo, jurando ser sempre o meu porto
seguro e me prometendo que eu seria a mulher mais feliz do mundo. Foi
lindo o tempo que estávamos acordados. As crianças, depois de muita
bagunça na cama, dormiram abraçadas comigo, me fazendo prometer que
amanhã eu estaria acordada. Matteo se deitou ao nosso lado, nos cobrindo e
fazendo carinho em meus cabelos.
― Você tem que descansar um pouco, por que não dorme um
pouquinho? ― Sugeriu, com um sorriso no rosto.
― Quero ficar aqui admirando meus filhos. ― Meu sorriso era de orelha
a orelha, mas no fundo tinha um medinho que apertava meu coração.
― Não mente pra mim, pequena, eu te conheço, fale o que está te
deixando receosa.
― Vai me achar uma boba se eu disser que estou com medo de dormir e
quando acordar de novo, perceber que tudo isso foi um sonho? ― Não
queria chorar de novo, mas era impossível.
― Nada que venha de você vai me fazer te achar boba, bella mia. Seu
medo é compreensível, mas o médico garantiu que você está bem. ― Ele
falou, me acalmando, fazendo carinho no meu rosto. ― Se quiser, eu posso
ligar para o médico, se for te deixar tranquila.
― Não precisa, só fica aqui comigo. Não saia daqui, por favor ― Pedi
como uma súplica. Precisava dele para me sentir segura. Meu medo era
fechar os olhos e a escuridão me abraçar novamente.
― Nunca sairei do seu lado novamente. Eu prometo. ― Ele se
aconchegou ao meu lado, abraçando a mim e as crianças.
― Eu te amo. ― Ele veio em direção à minha boca, me dando um
selinho. ― Eu te amo, e sou o homem mais feliz deste mundo. ― E assim,
nós dormimos os quatro, em uma cama, dividindo sonhos de um futuro
feliz.
Queria guardar esse momento em minha memória para sempre. Gostaria de
ter a presença do meu pai aqui, e queria que as circunstâncias fossem
diferentes. Mas não podemos ter tudo o que queremos, por isso estou feliz.
Quase toda a organização está aqui para testemunhar a minha posse e a
iniciação dos meus aliados. Eles não serão apenas aliados, mas membros e
protegidos da minha máfia. Essas três pessoas nunca soltaram minha mão e da
minha mulher, e serei grato a eles para sempre.
Gabriela está linda em um vestido negro como a noite, seus cabelos que
tanto amo estão soltos, batendo em sua bunda, que hoje ela os usa lisos como
um véu, emoldurando seu lindo rosto. Ela está sentada à minha direita, como
a rainha que ela é, observando todos os seus súditos à nossa frente,
aguardando o comando.
Já se passaram 10 dias desde a noite em que ela acordou. Ela ainda está em
reabilitação, mas está firme e cada dia mais forte, animada para voltar a
treinar. Sua iniciação só acontecerá no dia do casamento, um casamento digno
de uma rainha como ela. Minha mãe está organizando tudo, a pedido de
Gabriela, e elas estão construindo uma bonita amizade.
― Estamos aqui hoje para a posse do nosso Dom, o CAPI DI TUTTI
CAPI. ― Me levantei quando o membro mais antigo da nossa organização me
anunciou.
Ele faria as honras da posse. Olhei para o salão oval de nossa sede na
Itália, onde quase toda a organização estava presente.
― Boa noite ― Falei, me ajoelhando e estendendo a mão.
O ancião pegou a adaga usada por meu pai, meu avô e bisavô, e em
seguida pegou minha mão, cortando a palma de uma extremidade a outra,
fazendo sangrar em nosso símbolo no chão.
― Sobre honra, sobre sangue, pela famiglia ― proclamou ele.
Gritos foram dados, pés batiam no chão. O barulho foi feito para anunciar
o novo Dom da Cosa Nostra. Me levantei e ergui minha cabeça, prestes a dar
o primeiro comando da minha jornada.
― Como Dom da maior organização do mundo, estou aqui para anunciar
que novos tempos virão. Uma nova era está prestes a começar. Mudanças
serão feitas. Nossa organização deixará o passado para trás e ingressará na era
moderna, com tecnologia, novas armas e novos membros. Manterei as leis e
as regras, mas modernizarei o que for possível. Portanto, estou dando a
oportunidade para aqueles que não concordarem com minha liderança saírem
pela porta da frente. Não aceitarei traidores. Não admitirei qualquer
movimento contra mim, minha família e meus protegidos. Aqueles que
quiserem sair, podem fazê-lo agora, em silêncio, e eu perdoarei sua retirada
definitiva da máfia italiana ― O silêncio reinou, seguido por todos se
ajoelhando e gritando em uma só voz:
― Sobre honra, sobre sangue, pela Famiglia.
Um arrepio percorreu minha nuca. Eu sabia que, de onde quer que meu pai
estivesse, ele estaria orgulhoso desse momento. E eu levo como minha meta
de vida honrar seu legado.
― Podem se levantar. Hoje, depois de décadas, teremos a iniciação de três
novos membros em nossa organização. Duas mulheres estão sendo iniciadas,
e exijo respeito e lealdade a elas, assim como qualquer membro da Famiglia.
Lembrando que esses três novos soldados são meus protegidos diretos. ― Fiz
um sinal e Miguel, Madalena e Beatriz, todos vestidos de preto com trajes de
batalha, se ajoelharam diante de mim.
― Com orgulho, honra e sangue, dou início a vocês aos primeiros de
muitos dias de suas vidas dentro da máfia. A partir de hoje, sua honra,
lealdade, tempo e sangue serão destinados à máfia. A partir de hoje, a
proteção e lealdade da máfia serão para vocês, em contrapartida. ― Os três
estenderam as mãos, e eu cortei a palma de uma extremidade à outra.
O sangue escorreu em nosso símbolo no chão. Todo membro da máfia tem
o símbolo tatuado em sua pele, é a marca da honra e da proteção, feita para
cada membro reconhecer o outro em qualquer lugar do mundo.
― Sobre a honra, sobre o sangue, pela Famiglia ― gritaram os três em
uníssono, animados e felizes.
Todos vieram nos cumprimentar e conhecer os novos membros. Todos
sabiam que eram meus protegidos e que, em hipótese alguma, seriam
prejudicados. Beatriz e Madalena são as primeiras mulheres a serem iniciadas
na máfia em anos de existência da organização. Elas enfrentarão muito
preconceito, mas sei que são fortes e corajosas.
Deixei todos em comemoração e puxei Gabriela para o carro. Mandei o
motorista seguir e fechei a porta. Meu coração estava acelerado de
antecipação, pois tenho uma surpresa para Gabriela, e espero que ela goste.
― Para onde estamos indo? Aconteceu algo com as crianças? Com sua
mãe? ― perguntou, curiosa e preocupada.
Ela tem estado assim desde que acordou do coma, sempre preocupada e
querendo proteger todos.
― Não, minha pequena. É apenas uma surpresa ― respondi, segurando
sua mão para lhe dar apoio.
O carro parou no mesmo condomínio fechado onde minha mãe e os
membros mais importantes vivem. Descemos em frente à última mansão.
― Que lugar lindo. Viemos visitar alguém? ― ela perguntou, descendo do
carro e aceitando minha mão.
― Sim, viemos visitar. ― Abracei-a por trás e entramos na escada da
enorme mansão.
O jardim era imenso, com uma fonte na frente. A porta ia até o teto da
entrada, com pilastras na frente, conferindo à mansão um estilo romano
antigo. Era toda branca, com grandes janelas de vidro. Abri a porta e ela me
olhava curiosa.
― Visitar quem? ― perguntou.
― Vem, vou te mostrar. ― Subi com ela as escadas.
Gabriela olhava para todos os cantos da casa, admirada com a beleza de
cada cômodo. Chegamos ao quarto principal e abri as portas. Uma claridade
nos envolveu. Gabriela só sorria. Levei-a para frente da enorme janela, que
cobria o chão ao teto, praticamente uma parede de vidro, proporcionando uma
vista de toda a propriedade e seu enorme lago ao fundo. O sol começava a se
pôr, mergulhando no lago.
― Isso é a vista mais linda que eu já vi em toda a minha vida ― comentou
Gabriela, admirada, com a mão no peito, suspirando fundo.
Passei a mão na lateral de seu corpo, subindo a barra de seu vestido.
Gabriela esfregou sua bunda no meu membro, que começou a responder.
Desde que Gabriela acordou, não tínhamos transado. Eu queria esperar o
momento certo, mas ela já estava quase me enlouquecendo, sentando-se em
mim.
― Você é a vista mais bonita que eu já vi, mas não vou negar que essa
também é linda. Queria que você visse daqui de cima ― ela gemeu baixinho
quando mordi seu pescoço e apertei um mamilo, que já implorava por minha
atenção.
Levantei o vestido, procurando pela calcinha.
― Porra Gabriela, você estava sem calcinha esse tempo todo? ― Passei a
mão por sua boceta que estava escorrendo, afastei suas pernas, e com o dedo
sequei cada gota de sua excitação, que escorria por sua perna, e então
coloquei meu dedo na boca e chupei.
― Que saudade desse gosto pequena. ― Chupei meus dois dedos,
ajoelhado atrás da sua bunda.
A abri o máximo que consegui e inseri dois dedos em sua boceta, apertada
e molhada, era muito sexy ver meus dedos entrando e saindo.
― Haaaa... Matteo... ― Minha pequena gostosa gemeu alto, tampando a
boca com a mão.
― Não esconda os seus gritos de mim, gostosa, eles são meus ― soquei os
dedos com mais força, acrescentando mais um a brincadeira, com a outra mão
eu massageava os seu ponto de prazer, que já estava pulsando de tanto tesão,
seu corpo fazia impulso para cima a cada estocada que eu dava, e meu pau
doía de vontade de preenchê-la.
― Alguém pode ouvir, amor, os donos da casa, você é louco. ― Ela falou
baixinho, ofegante, sem nem ao menos conseguir olhar para baixo.
Eu estava ajoelhado para minha rainha, e morreria assim se fosse preciso.
― Hum... assim... continua assim amor, não para. ― Me virei ficando de
joelhos em frente ao seu corpo e ela me olhou com desejo, não tirei os dedos
de dentro dela, me aproximei, e dei um beijo em sua boceta, com a boca
aberta a coloquei toda em minha boca, chupando seus grandes lábios, ergui
uma perna e coloquei em meu ombro, e chupei com vontade, de baixo para
cima, chegando em seu clitóris e sugando, sem tirar a boca, dei três estocadas
e Gabriela gozou lindamente em minha boca, bebi todo o seu prazer, enquanto
ela gritava.
― Matteo, haaa... porra, você quer me matar? ― Me ergui colocando os
três dedos, que estavam dentro dela na boca, lambendo-os com vontade.
― Só se for de prazer, meu amor. ― Fui para trás dela novamente, tirei
meu pau para fora, que implorava para estar dentro de Gabriela, a inclinei
para frente sobre a poltrona que ficava em frente a janela, deixando-a de
quatro pra mim ― Agora erga essa bunda para mim e aprecie o pôr do sol da
janela do seu quarto, enquanto eu te fodo duro, forte e gostoso ― Entrei em
Gabriela sem aviso, ela deu um grito e rebolou em meu pau pedindo mais, a
safada queria tudo de mim então ela teria.
― O... meu? Co... como, assim? Se explique Matteo, humm, mais forte. ―
Ela era uma gostosa, como eu amava essa Gabriela safada.
Em movimentos de vai e vem ritmados eu socava forte dentro da sua
boceta encharcada.
― Sua casa, pequena. ― Uma estocada. ― Seu palácio, minha rainha. ―
Outra estocada. ― Essa propriedade é sua, assim como o meu coração e meu
pau, tudo somente seu. ― Outra estocada e gozamos juntos.
A segurei pela cintura para ela não cair e a levei para cama, ainda
estávamos ofegantes.
― Gostou? ― Perguntei deitando-me em cima dela.
― Do sexo ou da casa? ― Ela respondeu com um sorriso sacana no rosto.
― Fiquei curioso agora. ― Eu beijava seu pescoço enquanto ela acariciava
minhas costas.
― Amei a casa e essa vista maravilhosa, vamos assistir ao pôr do sol,
todos os dia? ― gargalhei alto.
― Não estamos falando, de pôr do sol ne? ― Ela riu e me beijou
novamente.
― Não, não estamos, agora é sério “senhor Hugo”, não é muito grande?
― Claro que não, o projeto para outros aposentos individuas já estão sendo
preparados, a casa tem uma extensão enorme atrás do lago, mas é claro, se
você quiser, já viu a tamanho da nossa família? E vamos aumentar ela em
breve, não é? ― Eu queria uma família, gigante com Gabriela, queria tudo
com ela.
― Claro que eu quero, e de preferência, todos aqui, as crianças, meus
amigos, os rapazes, minha irmã, até Romeo, eu quero todos por perto. Para
quem só tinha uma irmã, agora tenho uma família linda e grande. ― Eu era
muito apaixonado, por essa mulher.
― Sim meu amor, tudo isso é seu para fazer o que quiser, minha mãe me
ajudou e mobiliou do jeito dela, mas você pode mudar o que quiser. ― Minha
mãe ficou muito feliz com o meu pedido de ajuda, queria que Gabriela
gostasse de tudo.
― Não sei, só conheci o quarto até agora, você podia me apresentar os
outros cômodos. ― Ela me lançou um sorriso safado, eu ia mostrar cada
cômodo a ela com o meu pau dentro dela.
― Não seja por isso, hoje a casa é toda nossa, vem, mas vem sem esse
vestido, quero ver quanto tempo meu pau aguenta ficar dentro dessa boceta
gostosa. ― Rasguei o vestido do seu corpo, que só estava me atrapalhando, a
peguei no colo, passando uma perna de cada lado do meu corpo e saí do
quarto com o pau dela dentro dela.
O odor de urina e o medo costumavam ser meus favoritos, junto com os
gritos de dor e o som de ossos se quebrando, era uma sinfonia perfeita aos
meus ouvidos.
Primeiro, cuidei do soldado que Gabriela feriu; ele teve uma morte lenta
e dolorosa. Em seguida, foi a vez do soldado que agrediu minha mulher,
quebrei cada dedo das suas mãos, depois cortei cada um com um alicate,
repetindo o processo em cada membro de seu corpo.
Carmem estava extremamente debilitada, mas não ficou sem um
tratamento especial. Mantida amarrada na mesma posição por quase 72
horas, ela recebeu mais de 20 chicotadas de um chicote com pontas de aço.
Em seus últimos suspiros, ela provou do próprio veneno quando ordenei
que dessem água a ela, uma água envenenada que corroeria seus órgãos de
dentro para fora, como ácido, determinando assim seu fim agonizante.
Estou dedicado a finalizar esse ciclo da minha vida, deixando em
Portugal tudo que fez mal à minha família. Já estamos morando na Itália há
uma semana; vim pessoalmente mandar esses indivíduos para o inferno.
Minha empresa continuará a dar lucro, e estarei de olho em cada passo do
novo CEO que contratei para cuidar dos negócios. Ele é um aliado nosso e
competente nos negócios, o que não impede minha intervenção quando eu
julgar necessário. Tudo seguirá como deve ser.
Adentrei a cela onde Roberto estava mantido, amarrado pelos pés e
braços em uma cruz de Santo André, minha forma preferida de tirar todos
os tipos de dor de um traidor.
― Ouvi dizer que queria falar comigo, titio? ― falei, erguendo a manga
da minha camisa.
― Tire-me daqui, seu moleque! ― Ele tentava balançar os braços, mas
só apertava ainda mais as correntes em seus punhos.
― Para você, sou DOM, meu nome é "DOM Matteo Rocatti". ― Ele
arregalou os olhos e tentou se soltar novamente, em vão.
― Como assim? ― Perguntou curioso.
― Não preciso, mas vou te explicar. Infelizmente, meu pai faleceu em
uma caçada, causada por sua traição e seus cúmplices ― comecei,
caminhando em direção à mesa de tortura. Estávamos apenas eu e ele na
cela. ― Mas fique tranquilo, ele morreu sabendo a pessoa desprezível que
você era.
― Seu bostinha, você vai se arrepender de não me soltar. Nikolai vai
vingar a minha morte! ― ele falou furioso, e eu fiz questão de acalmá-lo
com um soco no rosto, de baixo para cima, fazendo-o cuspir sangue.
― Vamos deixar as coisas claras aqui. ― Peguei o notebook que estava
em cima da mesa e o virei na direção dele. ― Assista a um filme antes de
sua execução. Quero que morra sabendo de tudo, que tudo que você fez foi
em vão.
Na tela, em tempo real, mostrava a frente da casa de Nikolai, na Rússia,
no exato momento em que ele entrava em seu carro com dois soldados e seu
filho. No momento em que é dada a partida no carro ele explode, deixando
apenas carcaças e a fumaça da explosão no ar.
― Viu? Tudo em vão. Sem aliados, sem parceiros, sem assento no
conselho, sem família. Era esse o fim que você queria? ― Abandonei o
computador na mesa e peguei minha faca favorita, com o maçarico.
― Me mate de uma vez, sou seu tio. Pelo menos me conceda esse
desejo. ― ele pediu sério.
Será que ele realmente acredita que eu teria clemencia só por ele ter meu
sangue?
― Não sou um gênio da lâmpada para conceder desejos, porra. ― Tenho
passado muito tempo com Giovanni, já estou fazendo piadas. ― Mas sabe,
tio, meu humor está ótimo há algumas semanas. ― ele balançou a cabeça
quando dei o primeiro corte profundo em sua barriga magra, que estava só
pele e ossos.
Trinta dias apenas com pão e água fizeram bastante efeito. Passei o
maçarico para conter o sangramento, e ele gritou de dor, já sem forças.
― Eu te dou os nomes. Vamos fazer uma troca: eu digo todos que me
ajudaram, e você me deixa vivo. Juro que desapareço do mundo. ―
coitado, não estava em plenas faculdades mentais.
― Não preciso disso. Todos eles estão mortos. Todos. Para você ter uma
ideia, até poucas semanas atrás, só tínhamos três cadeiras ocupadas no
conselho. Você não tem nada a me oferecer. ― repeti todos os cortes em seu
corpo, cauterizando em seguida.
Seus gritos já saíam sem força de sua garganta. Cansei dessa brincadeira
e peguei uma tesoura de jardinagem bem afiada. Chamei um soldado que
rasgou sua calça. O miserável já tinha urinado nas calças, mas não
precisaria mais do seu pênis mesmo. Abri a tesoura e cortei seu pênis com
os testículos e tudo. Ordenei ao soldado que pegasse. Roberto gritava como
uma mulher em trabalho de parto. Para silenciá-lo, mandei enfiar o pênis
em sua boca. Ele fez ânsia de vômito e quase desmaiou. Peguei uma
mangueira de pressão conectada e joguei água em seu corpo, que com a
pressão parecia fogo queimando em brasa. Ele conseguiu cuspir seu pênis e
pediu misericórdia. Eu já estava cansado da tortura, louco para voltar para
minha família, então resolvi seu problema.
― Te vejo no inferno, filho da puta. ― atirei em sua testa, acabando
com seu tormento.
Agora sim, mais leve e sem esses vermes, posso seguir adiante com
minha vida.
MESES DEPOIS

Sentada em uma mesa redonda, com um arranjo de tulipas brancas, ao


som de violinos e uma taça de vinho na mão, eu estava acompanhada das
minhas madrinhas de casamento. Meus pensamentos se voltaram para um
tempo não muito distante, quando eu acreditava que a felicidade era um
luxo muito caro para mim. Hoje, tenho dois filhos lindos, um marido
incrível que me deixa com as pernas bambas só de olhar para ele, amigos
leais que dariam a vida por mim, uma irmã forte, corajosa e teimosa, um
futuro cunhado que se tornou meu amigo e que, mesmo não sendo de
sangue, têm um lugar especial em meu coração. Minha sogra, que agora
admiro e amo, se tornou como uma mãe para mim, juntamente com Margô.
Para quem não tinha nenhuma, agora tenho duas mães de coração. Segundo
Margô, sou a filha que ela nunca teve, e ainda trouxe mais pessoas para
nossa família.
A única ausência foi a querida Ágatha, que não pôde comparecer ao
casamento, pois o ano letivo da faculdade em Nova York havia começado.
Matteo foi tranquilo em relação à escolha dela, apenas exigindo que,
quando ela terminasse os estudos, voltasse para a Itália conosco e
trabalhasse para a máfia. O difícil foi convencer Luigi de que ela estaria
segura lá com a mãe e com segurança particular.
Estou imensamente feliz, me sentindo linda em meu vestido de noiva
feito sob medida, casada com o homem mais lindo do mundo e com todas
as pessoas que são importantes para mim por perto. Marta e Sofia entraram
na igreja como minhas damas de honra, e as lágrimas começaram a rolar a
partir desse momento. Em seguida, meus dois filhos entraram, levando as
alianças. Matteo prometeu lealdade, fidelidade e, acima de tudo, amor.
― Mamãe, Dante puxou o meu braço. ― Nina me contou brava.
― Mentira, mamãe. Eu só a afastei dos meninos que estavam no
parquinho. Papai disse para proteger minha irmã, e tio Giovanni disse que
os meninos são malvados e só eu posso brincar com ela. ― Eu já disse que
ainda não me acostumei com esse "mamãe"? Me derreto toda vez que eles
me chamam assim.
― Tio Giovanni é um machista idiota. Vou lá falar umas verdades para
ele. ― Madá pegou as crianças antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
― É, ele é "mapista". O que é "mapista", tia Madá? ― Ouvi Nina
perguntar, já distante, e sorri como uma mãe coruja.

― Me concede a honra dessa dança, futura cunhada? ― Romeo


estendeu a mão para mim. Eu já tinha dançado com todos, exceto com ele,
pois eu estava descansando para dançar com o meu noivo.
― Claro que sim, meu futuro cunhado. ― Aceitei sua mão rindo,
enquanto ajeitava a enorme saia do meu vestido estilo princesa.
Tinha outra opção para a festa, mas Matteo pediu para que eu não
trocasse, pois ele queria tirar o vestido de mim pessoalmente.
Seguimos de mãos dadas para a pista de dança, com Matteo me
observando de longe, em uma roda de homens. Ele nunca tirava os olhos de
mim, e eu amava isso.
― Seu marido arrancaria minhas mãos se pudesse, sabia? ― Romeo
falou enquanto me rodeava a cintura e estendia uma mão para segurar.
Começamos a girar pela pista de dança.
― Sabia, e posso te confessar uma coisa? ― Perguntei olhando para
Matteo do outro lado da pista.
― O que a senhora Rocatti quiser. ― Respondeu ele com um lindo
sorriso que raramente eu via em seus lábios.
― Eu adoro isso nele, sabe? Ele está disposto a fazer qualquer coisa por
mim. ― Ele me olhou curioso.
― Sua irmã pensaria da mesma forma?
― Não sei, me diga você. Você realmente gosta dela? ― Queria ter
certeza de que eles ficariam bem. Cheguei a um ponto em que já confio em
Romeo, mas tenho medo de que ambos se machuquem.
― Eu a quero para mim. Ainda não sei o motivo, mas eu quero. ― Vi
sinceridade em sua afirmação.
― Apenas tome cuidado. ― Quis alertá-lo.
― Eu não vou machucá-la. ― Ele falou sério, como se eu estivesse
ofendendo-o.
― Não digo por ela, e sim por você. Cuide do seu coração. ― Ele
pensou por um momento, com o olhar perdido, e não disse nada.
Dei um beijo carinhoso em seu rosto quando vi que Matteo estava se
aproximando. Sabia que era hora de partir para a lua de mel.
― Largue minha mulher, seu filho da puta. ― Matteo falou sorrindo
para seu padrinho de casamento.
Era engraçado ver a expressão de medo do padre com todos aqueles
brutamontes no altar. Romeo, Luigi, Giovanni e Miguel eram os padrinhos,
lindos, com semblantes cruéis.
― Já a larguei. Boa viagem, senhora Rocatti. ― Romeo falou me dando
um abraço apertado.
― Não me chame assim, me sinto uma velha. ― Todos riram e nos
guiaram até o carro, que nos esperava na saída do salão de festas.
Já estávamos morando na Itália e já sentia que era meu verdadeiro lugar,
como se sempre tivesse pertencido àquele lugar.
― Cuidado, usem camisinha e não façam nada que eu não faria ―
Beatriz disse rindo, e todos gargalhamos. Eu amava minha irmã.
― Pode deixar, irmã. Amo você, se cuida ― respondi abraçando-a.
― Aliás, não usem camisinha. Quero mais um sobrinho, providencie
isso rápido ― ela pediu ansiosa. Ri da sua pressa, mas ainda não tínhamos
conversado sobre isso.
― Amiga, nós te amamos e estamos muito felizes por você ― Sofia
falou enquanto me abraçava junto com Marta.
Estava tão feliz que elas estavam ali. Matteo se afastou para conversar
com os rapazes.
― Estou muito orgulhosa da mulher forte que você se tornou ― Marta
me beijou e abraçou com força.
― Vocês quase me mataram do coração. Amo vocês, e me esperem.
Temos muito que conversar. Fiquem na mansão junto com as meninas até
eu voltar ― pedi.
Matteo mandou construir uma ala para cada um na mansão, uma
extensão dela, com entradas independentes para que cada um tivesse
privacidade como se fosse sua própria casa. Mas sempre estaríamos juntos,
principalmente durante as refeições, que fazíamos em torno de uma imensa
mesa cheia de amor.
― Vai ser um sacrifício ficar naquela mansão enorme, cheia de soldados
gatos. Que tristeza ― debochou Sofia rindo, e Madá concordou.
Elas eram umas safadas. Mal sabiam elas que Matteo as considerava
como irmãs. Ele morria de ciúmes delas e deu uma ordem para que nenhum
soldado se aproximasse delas. Eles fugiam de Madá e Beatriz como o diabo
foge da cruz.
― Amo vocês. Se cuidem e cuidem das crianças ― meus filhos iriam
ficar com minha sogra e Margô até voltarmos, mas na nossa casa, todos
estariam juntos.
Minha sogra concordou em ter uma casa, uma “mini mansão”, em nosso
terreno para ficar mais perto de nós.
Matteo se aproximou junto com os rapazes. Aposto que estava passando
ordens para eles. Ele é um mandão.
― Vamos? ― ele me beijou no pescoço, abraçando-me por trás. ―
Temos um jatinho para pegar.
― Não vai mesmo dizer para onde vamos? ― perguntei curiosa.
― É surpresa. Se bem me lembro, você amou a última ― ele falou em
meu ouvido, e eu sorri com a lembrança daquela tarde em nossa nova casa.
― Nos despedimos e seguimos para a pista de pouso da nossa mansão.
Antes, me despedi de Margô, minha sogra, e das crianças que já estavam
em casa. Esse jatinho era diferente, tinha menos poltronas e uma porta que
dava acesso a um quarto com uma cama redonda e um banheiro. Assim que
o avião levantou voo, fomos para o quarto.
Eu o empurrei na cama, queria muito estar com esse homem. Ele estava
perfeito, com seu cabelo alinhado perfeitamente para trás, sem um fio fora
do lugar. Vestindo um terno de três peças feito sob medida, abraçando seus
músculos. As calças apertavam suas coxas perfeitas, o sapato lustroso e o
relógio que ele nunca tirava, todo o conjunto era surrealmente lindo. Meu
homem, só meu.
― Marido, fica quietinho enquanto me sento em você ― pedi em seu
ouvido enquanto ele segurava minha cintura.
― Estou me sentindo usado, esposa. Vai abusar de mim assim? ― ele
gargalhou, olhando em meus olhos.
― O senhor “Hugo”, vulgo mandão, Dom da máfia italiana, está
fazendo uma piada? É o fim dos tempos mesmo ― tentei rebolar em seu
colo, mas o safado me segurou no lugar.
― Não vou aceitar que nossa primeira noite de casados seja assim. Onde
você enfiou o romantismo? Sinto-me ofendido, esposa ― ele falou.
Céus, esse homem está de brincadeira. Estou subindo pelas paredes.
― Você está brincando, Matteo? Eu preciso de você ― falei chorosa, na
esperança de que ele atendesse meu pedido.
― Não, já estamos chegando. Só não te dou um banho frio porque tenho
a intenção de tirar esse vestido em um lugar especial ― Matteo podia
deixar de ser tão fofo, né? Ele era literalmente meu mafioso preferido.
― Ok, eu espero ― concordei emburrada, cruzando os braços.
Ele riu, beijou minha boca e saiu do quarto.
Não demorou mais de 40 minutos para chegarmos ao nosso destino.
Pousamos em um aeroporto bem pequeno, exclusivo para aviões
particulares. Imediatamente entramos em um helicóptero e levantamos voo
novamente. Já fazia tempo que eu não me impressionava com a imensidão
da riqueza de Matteo, ou melhor, nossa riqueza, segundo ele. Sobrevoamos
o mar aberto e em pouco tempo pousamos em uma ilha. Fiquei intrigada,
pois não vi movimentação alguma.
― Onde estamos? ― perguntei curiosa.
― Bem-vinda à nossa lua de mel ― Matteo respondeu, abrindo os
braços como se fosse o Cristo Redentor.
― Isso eu entendi, amor. Quero dizer, onde exatamente? Não é meio
deserto aqui? ― Ele nos levou para um carrinho de golfe e dirigiu sobre
uma vasta área gramada.
Ao longe, podia-se ver uma casa enorme com um píer e um iate
atracado. Ele parou e nos levou em direção a um caminho iluminado por
tochas acesas, a única iluminação à beira da praia. Várias velas estavam
dentro de enormes recipientes de vidro, formando um caminho iluminado
até um enorme tapete com almofadas. Ao lado, havia uma mesa baixa cheia
de comidas, frutas, vinho, sua garrafa de uísque preferida, champanhe e
muitas flores.
― Vem, quero que veja de perto ― ele falou, se abaixando para tirar os
meus sapatos e os dele.
Me pegou no colo com o meu enorme vestido de noiva e seguiu pelo
caminho iluminado. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
― Amor, você pensou em tudo? ― Ele me colocou no tapete, e me
aconcheguei nas almofadas enquanto ele pegava duas taças de vinho e me
estendia uma.
― Em cada detalhe. Eu sonhei com cada vela, até com esse sorriso que
está em seu rosto ― respondeu.
Meu Deus, eu não estava mesmo sonhando?
― Eu amo tanto você, parece um sonho ― dei um gole no meu vinho e
me sentei em seu colo, com uma perna de cada lado. Era difícil com o
vestido, mas consegui com a ajuda de Matteo.
― Respondendo a sua pergunta, bem-vinda à Ilha Piccola. _ pensei por
um instante e arregalei os olhos. Não era possível.
― Pe... Pequena? A ilha se chama Pequena? ― Ele era louco, ele não
fez isso.
― Não se chamava antes, mas agora está registrada como Ilha Piccola, a
sua ilha, nosso refúgio particular ― respondeu ele, tomando um longo gole
em seu vinho.
Deus, não acredito nisso. Minha mão estava na minha boca, tentando
esconder a minha boca aberta.
― Você comprou uma ilha pra gente? ― Ele precisava me explicar
direito.

- Não comprei para nós, comprei para você. É um presente de


casamento. Espero que goste ― respondeu simplesmente, dando um longo
gole em seu vinho. ― Aliás, para você saber, a ilha é deserta. Somos apenas
eu e você, os soldados mais próximos estão a sete quilômetros de distância.
Tudo é monitorado por inteligência artificial.
Por que ele fez isso? Deve ter custado uma fortuna.
― Eu sonhei, quando você ainda estava em coma. Sonhei com uma ilha
parecida com essa. Sonhei em ter você em meus braços, tirando um vestido
de noiva branco como este. Só eu e você nessa praia, as tochas, as velas, os
tapetes, as almofadas, tudo igual ao meu sonho. Eu prometi a mim mesmo
que, se você aceitasse o meu pedido de casamento, esse seria o meu
presente, o nosso refúgio, quando quisermos fugir da bagunça que nossa
vida pode se tornar às vezes ― ele contou em uma naturalidade que me
impressionou, enquanto meu coração disparava e minhas vistas embaçavam
com as lágrimas não derramadas.
― Eu já disse que te amo hoje? ― Segurei seu rosto com as duas mãos.
― Sim, mas não importa dizer novamente ― ele falou, passando a mão
por minhas costas, fazendo um carinho gostoso.
― Eu te amo, hoje e sempre. Te amo desde o dia em que coloquei meus
olhos em você. Te amo desde o momento em que você me salvou pela
primeira vez, e pela segunda e terceira. Eu te amo por ter me dado dois
filhos lindos, uma família torta e distorcida, mas uma família amorosa. Eu
te amo pelo sexo, pelo carinho, por ser você ― Eu o beijei, sentindo as
lágrimas caírem e se misturarem com as dele.
Nos deitamos sobre o tapete, ele tirou seu terno, e eu o ajudei a tirar o
restante de sua roupa. Ele pegou uma adaga do paletó que já estava jogado
ao chão, rasgando as duas alças. Me virou de costas, cortando o decote até a
minha cintura, e me deitou de barriga para cima, se enfiando dentro da
minha saia, cortou os dois lados da minha calcinha, me deixando apenas
com cinta-liga e meias três quartos, no meio daquele emaranhado de tecidos
esvoaçantes. Ele me chupou, inserindo dois dedos e curvando-os em um
movimento delicioso. Sua língua passeava por toda a minha boceta, até o
meu primeiro orgasmo, me lambendo todinha. Ele retirou o que sobrou do
vestido, estávamos nus como viemos ao mundo.
Não me importava com mais nada além de estar ali, estar com ele. Me
ajoelhei sentindo o vento frio da maresia passar por mim, peguei seu pau
quando ele se levantou, fazendo movimentos de baixo para cima. Coloquei
suas bolas em minha boca, as sugando com cuidado. Ele gemia alto, como
eu amava os sons que saíam de sua boca.
― Hum... que boca gostosa, deixa eu foder ela hoje, pequena gostosa?
― Claro que eu deixaria qualquer coisa hoje.
Me afastei o masturbando enquanto ele segurava meus cabelos, dos dois
lados da minha cabeça, dando um sinal de confirmação, abri a boca e
coloquei a língua para fora, ele sorriu e colocou o pau em minha boca.
― Relaxa a garganta, e respira pelo nariz. ― Falou acariciando o meu
maxilar.
Eu segui suas ordens, e ele enfiou todo o seu comprimento em minha
garganta, me fazendo engasgar de primeira. Lágrimas rolavam em meus
olhos, mas eu queria ir até o fim.
― De novo ― Pedi com a voz embargada.
― Tem certeza? Não quero que seja ruim pra você. ― Matteo estava em
dúvida, mas então eu coloquei a língua para fora mais uma vez e ele
entendeu o recado.
Eu podia sentir seu pau no fundo da minha garganta, ele batia e voltava,
a ânsia era muito forte, mas eu queria dar prazer a ele assim, eu me sentia
bem, me sentia com tesão sabendo que se desmancharia em minha boca.
A excitação escorria por minhas pernas, quando ele segurou a minha
cabeça no lugar e socou forte o pau até o fundo da minha garganta por
várias e várias vezes, até gozar e eu engolir cada gota, como se fosse água
pura no deserto.
― Porra Gabriela, eu sou completamente rendido por você, minha
pequena gostosa ― Ele se deitou de costas no tapete ― Senta no rosto do
seu homem, senta? ― Pediu e eu não poderia negar, né?
Rapidamente me sentei em sua boca, com uma perna de cada lado de seu
rosto, não precisei de muito para me excitar ainda mais, pois os pelos da sua
barba já davam boas-vindas a minha boceta,
Ele abriu a boca, e com uma lambida só me fez estremecer. Pegou a taça
de vinho que estava ao seu lado, e entornou na minha boceta, e com a boca
aberta bebeu todo o conteúdo, me deixando com mais tesão ainda pela cena
erótica.
― Deixar o que já era bom melhor ainda. ― Falou sugando sem aviso o
meu clitóris.
Eu tremia enquanto rebolava em sua boca. Seus dedos trabalhavam em
minha entrada, espalhando a minha excitação, então ele passou o dedo
melado no meu cu, fazendo movimentos circulares, enquanto buscava
lubrificação e voltava.
Eu estava tão existida que não percebi quando ele inseriu um dedo no
meu cu, me trazendo uma enxurrada de sensações boas. Sem pensar duas
vezes, forcei a minha bunda pra trás, ele sorriu com a minha boceta em sua
boca, se afastando e trazendo dois dedos a boca os molhando bem, voltou
para o mesmo buraco, circulando ali e inserindo um após o outro, a sua
boca trabalhava em minha boceta sugando até a mina alma, e ele percebeu
que eu queria mais.
Forçando os dedos em estocadas fortes, em minha entrada até então
proibida, eu tremia de tesão, quando em um movimento só, me tirou de sua
boca, me sentando em seu pau sem aviso, eu gritei, alto e gemi com todo a
minha força. Sem tirar os dedos de dentro de mim ele me possuía em dois
lugares, ao mesmo tempo, com estocadas duras e fortes eu gozei, em um
grito só.
Ele me sentou em seu colo, olhou nos meus olhos, tocando a minha
alma, e entrou em mim com uma lentidão absurda, sem piscar, ou recuar,
ele me penetrou com tanta intensidade que eu estremecia enquanto ele me
fodia fundo e forte.
Em um segundo ele retirou os dedos do meu cu e o seu pau da minha
buceta, esfregou a ponta lubrificada do seu pau na entrada do meu
buraquinho de trás, e com o olhar me pediu permissão, e eu dei, eu daria
tudo que ele quisesse. Ele me penetrou devagar, com calma e habilidade, até
estar fundo dentro de mim. Nunca pensei que poderia sentir tanta tensão
assim, mais que rápido ele estimulou o meu clitóris novamente, que estava
supersensível, e aumentou a intensidade das estocadas. Eu sentia minha
alma sair do meu corpo, me abraçando forte nós dois gozamos juntos, e eu
pude sentir a sua porra escorrendo do meu cu, e sorri apaixonadamente.
Eu percebi que ali, nós fizemos amor pela primeira vez. Nos abraçamos
forte, ele encaixou a cabeça entre os meus seios e eu abracei sua cabeça. Foi
nesse momento que entendi que não se tratava apenas de tesão ou desejo,
mas de um amor puro e latente.
Passamos dias incríveis juntos. Descobri que o iate se chamava Gabriela
e que a casa estava preparada para receber nossa família no futuro.
Estávamos realmente sozinhos em uma ilha particular, era mágico. Nós
amamos intensamente, decidimos que queremos ter filhos, mas vamos
esperar um pouco até que as crianças cresçam. Sou a mulher mais feliz do
mundo.
Tivemos que voltar após esses quatro dias maravilhosos, pois Romeo
exigiu um noivado oficial e quer resolver rapidamente os preparativos do
casamento. Chegamos pela manhã e estou preparando a mesa de jantar
apenas para a família. Romeo irá formalizar o pedido com um anel e marcar
uma data.
― Oi, irmã. Cadê o seu marido? ― Bea perguntou calmamente enquanto
comia uma maçã.
― Ele está no escritório. Você não deveria estar se arrumando para o
jantar? Já é daqui a pouco ― respondi enquanto colocava os talheres sobre
os guardanapos de tecido que comprei para a ocasião.
― Levo apenas dez minutos para me arrumar. Não é como se eu não
soubesse o que vai acontecer ― ela respondeu.
Eu precisava conversar com Bea, não podia deixá-la pensar assim para
sempre.
― Bea, não seja assim. Abra sua mente. Se você realmente não quer esse
casamento, podemos tentar encontrar uma maneira de cancelá-lo ― A
alertei.
― Não, ele quer esse casamento e ele vai ter ― Bea seguiu em direção
ao escritório. Isso não vai terminar bem.
Subi para arrumar meus anjinhos e me arrumar também. Afinal, sou a
irmã da noiva.
A mesa estava linda, com arranjos de flores e todos os utensílios
dispostos com carinho e cuidado. Preparei uma mesa de petiscos e bebidas
para antes do jantar.
Estamos todos na sala, aguardando Beatriz descer. Madá, Sofia e Marta
estão sentadas com minha sogra e Margô no sofá. Giovanni e Luigi estão
bebendo uísque com Miguel e Matteo. Romeo está claramente ansioso, mas
mantém sua postura firme como sempre. Matteo parece distante desde a
conversa com Bea no escritório.
Romeo fixou o olhar no alto da escada e todos olhamos na direção em
que ele olhava. Bea descia com um olhar altivo, usando um vestido de seda
vermelho sangue, com alças finas que mal suportavam o peso de seus seios.
Uma fenda começava na altura da sua cintura e ia até o final do vestido. Ela
usava uma joia na coxa, que parecia uma liga com pedras reluzentes.
Conforme ela descia, a fenda do vestido se abria e a joia ficava visível.
Usava sandálias feitas do mesmo material da joia. Seus cabelos loiros
estavam em ondas definidas, presos de um lado só, chegando abaixo de seu
seio. Ela estava incrivelmente sexy, e um sorriso escapou dos meus lábios.
Se ela queria deixar Romeo sem fôlego, ela conseguiu. Matteo se
aproximou por trás de mim, segurando minha cintura.
― Boa noite - Bea falou firme, mas eu sabia que estava nervosa, apenas
pelo movimento incessante do seu dedo que batia na lateral do seu corpo.
― Boa noite, “Bella Mia” ― Romeo limpou a garganta e se aproximou,
depositando um beijo no dorso da mão dela.
― Você está linda, minha irmã ― falei, tentando aliviar o clima pesado.
Ninguém na sala parecia estar respirando, até mesmo as crianças
estavam tensas.
― Bom, vamos formalizar logo nosso noivado? ― Bea pediu apressada,
colocando-se à frente de Romeo, mesmo com a diferença significativa de
altura entre os dois.
― Sim, se é isso que você quer. Você prefere que seja em particular? ―
Romeo perguntou, todo atencioso.
― Não há nada que vamos fazer que as pessoas nesta sala não possam
testemunhar ― ela falou, e eu quase cuspi o vinho que estava bebendo.
― Beatriz, por favor, tente ser mais educada, está bem? ― pedi,
pegando o guardanapo que Matteo me estendia.
― Desculpe. Meu querido futuro noivo, podemos começar? ― ela
debochou, mas eu não podia fazer nada, Romeo sabia com quem estava se
casando.
― Aceita se casar comigo, Beatriz? ― Romeo pediu sem rodeios,
segurando a caixinha de veludo na mão.
― Não, assim não. Pelo menos se ajoelhe, né? Não sou romântica, mas
se tenho direito, quero. ― Eu segurei o sorriso e senti o peito de Matteo
tremer atrás de mim.
― Ok. ― Romeo revirou os olhos e se ajoelhou em frente a Beatriz, que
estendeu a mão para ele em um gesto teatral. ― Aceita se casar comigo,
Beatriz, e ser a rainha do meu império? ― Romeo perguntou, carinhoso
dentro de suas limitações.
Não sei qual dos dois era pior.
― Sim, eu aceito. ― Ela respondeu rapidamente.
Assim que ele colocou o anel em seu dedo anelar. Ela sorriu e ele se
ergueu novamente, e todos batemos palmas. O alívio era visível no rosto de
cada pessoa na sala, e as crianças gritaram animadas.
― Vamos nos casar daqui a 2 meses. É tempo suficiente para você
planejar o casamento como quiser. ― Romeo avisou de uma só vez, e
quando Bea respondeu, senti Matteo tenso atrás de mim.
― Não será tempo suficiente. Nosso noivado vai durar dois anos, se
você quiser se casar, é claro. ― Romeo olhou desacreditado para Beatriz,
que tinha um sorriso vitorioso no rosto.
― E o que te faz acreditar que eu aceitaria uma condição dessas? ― Ele
estava nervoso, fechando as mãos em punhos.
Margô pegou as crianças e as levou para a cozinha, ela sabia o que
estava por vir.
― Eu tenho um compromisso e não posso perder essa oportunidade.
Você vai entender, não é, noivo? ― Céus, a terra estava tremendo.
O que Beatriz aprontou agora?
― O que é mais importante do que nosso casamento, Beatriz? ― Ele
perguntou com os olhos vermelhos.
Giovanni entregou uma dose de uísque para ele, que virou de uma vez.
Beatriz olhava para suas unhas como se nada estivesse acontecendo.
― Me matriculei na Academia Militar de Artes e Guerra do Submundo,
e adivinha só? Fui aceita! ― Ela sorriu, juntou as mãos e deu pulinhos.
― E com a permissão de quem? ― Romeo quase cuspiu a pergunta de
tanta raiva ao falar.
Essa academia era da elite do submundo. Apenas os filhos dos maiores
chefes das maiores organizações poderiam entrar: máfia, cartel, milícia,
gangues, yakuza... Apenas a elite. Uma vez lá dentro, você só sai após dois
anos. Só Deus sabe o que acontece lá dentro. Se ela conseguiu entrar, teve
uma ajuda muito forte. Virando o rosto em nossa direção, com um sorriso
lunático brincando em seu rosto, não sei se entendi errado, mas Matteo está
se escondendo atrás de mim? O Don da máfia italiana está fugindo de
Beatriz.
― Do meu Don. ― E assim, o caos se espalhou pela minha sala de estar.

FIM
Que fique claro que sem essas pessoas, este livro não estaria em suas
mãos neste momento. Quero expressar meu agradecimento ao meu marido,
Franz. Sou eternamente grata por seu apoio, por ser meu primeiro leitor e
meu assistente de café durante as madrugadas. Obrigada por cuidar das
crianças muitas vezes, permitindo que eu pudesse escrever. Seu apoio e
incentivo foram essenciais.

Minha irmã, Geane, é minha fonte de inspiração. Ela sempre dizia que
nossa história daria um livro, e aqui está a minha metade. Obrigada por
nunca soltar minha mão.

Meu eterno agradecimento vai para minha primeira leitora beta, Jenifer.
Naquela tarde, enquanto eu tremia de nervoso na janela de sua casa, ela leu
os 10 primeiros capítulos, ainda no bloco de notas do meu celular. Quando
terminou, ela me mandou de volta para casa, ordenando que eu escrevesse
mais. Obrigada, amiga, por acreditar em mim, mesmo quando eu duvidava
de mim mesma. Agradeço também à minha amiga Lilian, que nunca me
abandonou, incentivando-me a não parar de escrever, e à minha amiga
Juliana, que junto com as outras, me apoiaram e animaram quando pensei
em desistir. Passamos noites em claro, esperando por capítulos novos em
tempo real, modificando cenas e aprimorando acontecimentos. Valeu a pena
cada ameaça que minhas betas me fizeram em troca de novos capítulos. A
pressão só aguentei porque vocês estavam ao meu lado. Amo vocês e com
toda certeza do mundo, este livro não estaria pronto se não fosse por vocês.
Sou eternamente grata pela ajuda e apoio que cada um me deu.

Agradeço também ao anjo que apareceu em minha vida na forma de


assessora literária, me dando direção quando eu não sabia por onde
começar. Minha gratidão a você, Dani.
INTAGRAM
TIKTOK
GRUPO DE LEITORAS

[UC1]o traço do dialogo saiu e nao consigo colocar igual aos outros

Você também pode gostar