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Tema 2

Metodologias de pesquisa científica

Uma palavrinha inicial

No presente tema, estudaremos o método científico como é conhecido atualmente; método


que surgiu na Idade Moderna, no século XVII. O Renascimento científico não constituiu uma
simples evolução do pensamento científico, mas uma verdadeira ruptura que supõe nova
concepção de saber. Assim, torna-se necessário, com o intuito de uma melhor compreensão
dos assuntos tratados, o estabelecimento de alguns conceitos dos termos utilizados neste
livro, em especial o método, a metodologia e as técnicas de investigação.

Ao fim deste estudo, você deverá:

•compreender o que é método e metodologia;

•conceituar os tipos de conhecimento;

•analisar as técnicas de investigação científica;

•classificar os diferentes métodos de pesquisa.

2.1Método, metodologia e técnicas de investigação científica

É perceptível que o contexto científico é variável, pois decorre do fato de receber interferência
do ambiente tanto local quanto global. Essas influências podem ser recebidas e entendidas de
diversas maneiras em um mesmo evento e por um mesmo observador. As revoluções
científicas que passaram por enfoques distintos em função do debate aprofundado e
prolongado entre Thomas Kuhn e Karl Popper, conforme abordado no Tema 1, é a melhor
explicação para essa afirmação.

O que é o método científico? Essa é uma pergunta complexa e contenciosa, já que o campo de
investigação conhecido como filosofia da ciência está comprometido em iluminar a natureza
do método científico.
É oportuno nesse debate, no rol dos autores que tratam do tema, destacar os conceitos
convergentes formulados por Galliano (1986), Trujillo Ferrari (1982), Lakatos e Marconi (2003),
e Matias-Pereira (2010a). Galliano (1986) define método como o conjunto de etapas,
ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma
ciência ou para alcançar determinado fim. Para Trujillo Ferrari (1982) método é o
procedimento racional arbitrário de como atingir determinados resultados. Para o autor, na
ciência os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento
em sistemas, traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um
percurso para alcançar um objetivo preestabelecido. Método, para Lakatos e Marconi (2003),
é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a
ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Por sua vez, Matias-Pereira
(2010a) define método como o roteiro ou os procedimentos e técnicas utilizados para se
alcançar um objetivo.

Deve-se ressaltar que não existe um método científico único. Dos inúmeros métodos da
ciência, por exemplo, alguns envolvem lógica, tirando conclusões ou deduções a partir de
hipóteses, ou decidindo as implicações lógicas de relações causais em termos de condições
necessárias ou suficientes. Desses diferentes métodos da ciência se observa que alguns são
métodos empíricos, como os de projetar experiências controladas, projetar instrumentos para
usar na coleta de dados ou fazer observações.

Para fazer ciência é essencial a utilização de métodos rigorosos, pois é dessa forma que se
atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo. Dessa forma, o método
científico pode ser entendido como percurso para alcançar um fim ou pelo qual se atinge um
objetivo, ou seja, é o caminho realizado pelo cientista quando focado na produção de
conhecimentos.

O método pode ser aceito como a sequência de operações realizadas pelo intelecto para
atingir certo resultado; trajeto intelectual; modo sistemático, ordenado, de pensar e
investigar; e conjunto de procedimentos que permitem alcançar a verdade científica. Os
métodos fundamentais são: a dedução e a indução.

Para Popper (1961, 2007), o homem carrega preconceitos na observação da realidade – não há
observação pura. A realidade depende dos interesses do observador e de seu ponto de vista;
enfim, de suas próprias ideias.

O princípio de explicação da ciência clássica, que ainda reina em nossos dias, baseia seu
postulado de objetividade na eliminação do observador da observação, do sujeito do
conhecimento científico.

O termo método é utilizado quando se pretende converter a simples especulação ideológica,


filosófica ou literária sobre a sociedade em intentos de compreensão ou explicação científica.
Ou seja, trata-se do critério para obtenção do conhecimento científico, que é a própria lógica
da investigação científica (GARCÍA FERRANDO et al., 2000).

O método pode ser aceito como um conjunto de procedimentos, regras e técnicas que devem
ser adotados na realização de uma pesquisa científica. Dessa forma, a definição do método
está relacionada à natureza da pesquisa que será desenvolvida. Assim, o método aplicado em
uma investigação pode ser indutivo (das observações à teoria) ou dedutivo (da teoria às
observações). O método científico empregado nas ciências sociais é empírico.

O conceito de técnica, para Galliano (1986), é o modo mais hábil, mais seguro e mais perfeito
de fazer algum tipo de atividade, arte ou ofício.

A metodologia é o emprego do conjunto dos métodos, procedimentos e técnicas que cada


ciência em particular põe em ação para alcançar os seus objetivos. A colaboração entre
demonstração lógica e experimentação, a interação entre ciência pura e tecnologia, é uma
característica do espírito científico contemporâneo.

Nele, a observação e a experimentação têm um papel essencial e combinam-se à abstração e à


generalização, com o objetivo de descrever, compreender e explicar a realidade social.

A metodologia é a lógica do procedimento científico e tem um caráter normativo, que se


diferencia claramente da teoria (substantiva). Mas os instrumentos e procedimentos usados
na investigação sociológica devem satisfazer aos critérios metodológicos, pressupondo,
logicamente, uma teoria substantiva. Por isso, na prática da investigação, é muito difícil
separar teoria e método. É inegável que uma investigação desprovida de premissas teóricas
não é só infrutífera, mas impossível.

Metodologia é o estudo dos métodos. A sua finalidade é ajudar o pesquisador a compreender


em termos mais amplos possíveis o processo de investigação científica.

A metodologia, para Bruyne et al. (1977, p. 29), é a lógica dos procedimentos científicos em
sua gênese e em seu desenvolvimento, não se reduz portanto a uma metrologia ou tecnologia
da medida dos fatos científicos. O autor sustenta que, para ser fiel a suas promessas, uma
metodologia deve abordar as ciências sob o ângulo do produto delas – como resultado em
forma de conhecimento científico – mas também como processo – como gênese desse próprio
conhecimento.

Ao tratar do tema, Kaplan (1999, p. 25) afirma:

[...] entenderei por metodologia o interesse por princípios e técnicas suficientemente gerais
para se tornarem comuns a todas as ciências ou a uma significativa parte delas.
Alternativamente, são princípios filosóficos ou lógicos suficientemente específicos a ponto de
poderem estar particularmente relacionados com a ciência, distinguida de outros afazeres
humanos. Assim, os métodos incluem procedimentos como os da formação de conceitos e de
hipóteses, os da observação e da medida, da realização de experimentos, construção de
modelos e de teorias, da elaboração de explicações e da predição.

A metodologia é o conjunto dos métodos que cada ciência particular põe em ação. A
colaboração entre demonstração lógica e experimentação, a interação entre ciência pura e
tecnologia, é uma característica do espírito científico contemporâneo.

Recorde-se que a lógica é a ciência positiva dos signos, das formas e do processo do
conhecimento. A metodologia, por sua vez, é o estudo dos diversos processos e técnicas que
disciplinam a pesquisa do real.

Logo, o conhecimento pode ser classificado como vulgar ou científico.

Conhecimento é o conjunto das relações conscientes entre as ideias e os respectivos objetos


(sejam eles concretos ou abstratos), formuladas mediante juízos subordinados à lógica. Você
consegue citar exemplos de um conhecimento vulgar e um científico?

•O conhecimento vulgar é individual, compõe-se de percepções, imagens e recordações. É


através dos sentidos que nos colocamos em contato com o mundo físico; do conhecimento
vulgar assim adquirido é que, por elaboração mental, torna-se possível alcançar o
conhecimento científico.

•O conhecimento científico é realizado por meio de investigação metódica, escrupulosa e


rigorosa e suprime tudo o que há de individual e particular no conhecimento vulgar; recolhe os
elementos comuns a uns tantos intelectos e que poderiam ser comuns a todos. É fato objetivo
e sociológico; conhecimento coletivo, obra humana, social. Resulta de constatar fatos e
raciocinar sobre os mesmos, visando à descoberta de relações invariáveis entre eles (leis da
natureza).

O conhecimento “vulgar” desconhece a causa (motivo, razão etc.) do fenômeno, o qual é


observado em todas as ciências. Exemplo: observamos que o leite ao ferver transborda do
recipiente; por esse motivo, ao praticar essa ação, ficamos alertas para não derramá-lo.
Conhecimento “científico” é quando seguimos um caminho certo de raciocínio, quando temos
o conhecimento das verdadeiras causas do fenômeno. Voltando ao exemplo do leite, usando o
conhecimento científico, podemos afirmar que o leite ferve por causa da lei da dilatação dos
corpos (Lei da Física). Disponível em:
<http://www.sociedadedigital.com.br/artigo.php?artigo=49&item=4>.

2.2Teoria e técnicas de investigação

Sabe-se que o conjunto das relações entre os elementos de um todo é a estrutura. Por sua vez,
conceito é a síntese das características comuns a diversas ideias, estruturada de modo igual
em todas as mentes. O processo de formação de um conceito chama-se conceituação. Em
qualquer ciência, a unidade estrutural é o conceito.

Uma teoria científica, por sua vez, pode ser aceita como um elenco unificado de princípios,
conhecimento e métodos para explicar o comportamento de algum conjunto específico de
fenômenos empíricos. Dessa forma, as teorias científicas procuram entender o mundo das
experiências observadas e sensoriais. Em síntese, buscam explicar como o mundo natural
funciona.

Teoria é o conjunto completo e logicamente estruturado das leis referentes a um setor de


conhecimento. É uma tentativa de unificar conhecimentos esparsos; nasce vaga e vai se
consolidando gradativamente à medida que encontra apoio cada vez mais amplo em fatos
científicos.

Em linguagem vulgar, teoria é algo duvidoso, desprovido de fundamento sólido. Em ciência


experimental, é algo muito sólido por ser alicerçada em fatos da natureza. Todavia, toda teoria
é perecível; nenhuma teoria é definitiva.

O que devemos fazer quando uma teoria é invalidada?

O teste definitivo da teoria é seu confronto com a realidade objetiva, que pode confirmar a
teoria ou invalidá-la, seja parte ou toda ela. Quando uma teoria falha no confronto com os
fenômenos observados, é a teoria que cede; os fatos simples persistem, mas os fatos
compostos precisam ser expurgados das falhas que a teoria moribunda lhes confere. Inicia-se
assim a busca de uma nova teoria mais satisfatória. Os critérios de valor de uma teoria são:
simplicidade, utilidade, alcance e fecundidade.
Técnicas de investigação são os procedimentos específicos por meio dos quais o pesquisador
reúne e ordena os dados antes de submetê-los a operações lógicas ou estatísticas. As técnicas
se referem aos elementos do método científico e não devem ser confundidas com o método
em si. São exemplos de técnicas: realização de entrevista, aplicação de questionários, análise
documental, entre outros.

Apesar de o ponto de vista tradicional distinguir teoria, metodologia e técnicas de


investigação, no processo científico de explicar e predizer fenômenos sociais, os três
elementos estão intimamente ligados entre si.

2.3Métodos de pesquisa

O método pode ser entendido como o roteiro, os procedimentos e as técnicas utilizados para
se alcançar um fim ou pelo qual se atinge um objetivo. O método científico é o conjunto de
procedimentos e técnicas utilizados de forma regular, passível de ser repetido, para alcançar
um objetivo material ou conceitual e compreender o processo de investigação. Ou seja, é o
roteiro apoiado em procedimentos lógicos para se alcançar uma verdade científica, ou seja, o
conjunto de procedimentos que ordenam o pensamento e esclarecem acerca dos meios
adequados para chegar-se ao conhecimento.

Os métodos científicos, conforme o esquema apresentado a seguir, podem ser de abordagem


ou de meios técnicos:

2.4Métodos de abordagem científica: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e


fenomenológico

No desenvolvimento de uma pesquisa, assinala Matias-Pereira (2010a), é comum o


pesquisador utilizar-se de mais de um método científico, com destaque para os métodos
experimental, observacional comparativo, estatístico, clínico, monográfico e fenomenológico.

Nesse sentido, explicita o autor o seu entendimento sobre cada um deles: o método
experimental está apoiado em experiências desenvolvidas em laboratórios, estufas ou campo,
ou seja, é aplicado em ciências naturais; o método observacional é a técnica de coleta de
dados que busca obter as informações por meio dos sentidos, enfocando aspectos da
realidade (é aplicado no campo das ciências sociais, em particular na psicologia); o método
comparativo necessita de um ou mais pontos comuns para tornar possível promover a
comparação entre os fatos ou fenômenos; o método estatístico apoia-se em princípios
matemáticos e trabalha com níveis de confiança de que os dados correspondem aos fatos,
com uma probabilidade de erro estabelecida; o método clínico possui relação entre
pesquisador e pesquisado; o método monográfico tem como objetivo estudar um assunto em
profundidade, com distintos focos de análise; o método fenomenológico (que não é dedutivo
nem indutivo) possui como foco a descrição direta da experiência assim como ela é.

Tema 3

Definição do foco do estudo científico

Uma palavrinha inicial

Neste Tema 3, discutiremos sobre o esforço para definição do foco de uma pesquisa científica,
sua importância e métodos de elaboração.

Ao fim deste estudo, você deverá:

• conseguir definir o foco da pesquisa;

• compreender a sua relevância enquanto pesquisador;

• distinguir os tópicos relevantes na estruturação de um projeto;

• descrever o desenvolvimento do projeto de pesquisa científica.

3.1O esforço para definir o foco da pesquisa científica

A pesquisa científica deve ser entendida como um procedimento racional e sistemático


(MATIAS-PEREIRA, 2001, 2010a). Para que a pesquisa seja concretizada torna-se essencial a
utilização de métodos e caminhos técnicos, escolhidos entre os chamados procedimentos
científicos. Dessa forma, a ciência é feita com seriedade, rigor, cuidado e parâmetros que
possam garantir segurança e legitimidade às informações descobertas. Para Booth, Colomb e
Williams (2000, p. 7), pesquisar é “reunir informações necessárias para encontrar resposta
para uma pergunta e assim chegar à solução de um problema”.

Para Ander-Egg (1978), a pesquisa científica pode ser aceita como um procedimento reflexivo
sistemático, controlado e crítico, que permita descobrir fatos ou dados, relações ou leis, em
qualquer campo do conhecimento. O resultado dessa busca reflexiva é conhecer verdades
parciais.

Pesquisar é o esforço desenvolvido pelo investigador para coletar informações e dados


essenciais a fim de responder a uma pergunta motivadora, e dessa forma alcançar os objetivos
da pesquisa (MATIAS-PEREIRA, 2007).

O processo de pesquisa está apoiado, em especial, na sistematização dos procedimentos,


revestida de um tratamento metodológico comumente denominado de científico. O ato de
pesquisa presume um cuidadoso processo de planejamento. Nesse contexto, para efetivar
esse planejamento, é necessário que se estabeleça como etapa inicial a elaboração do “projeto
de pesquisa”. Assim, cabe dizer que planejar é antecipar o futuro. Nesse sentido, o projeto
funciona como um instrumento de planejamento, numa ferramenta que delineia
procedimentos e ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa.

Severino (2008), por sua vez, destaca as principais funções de um projeto de pesquisa:

•definir e planejar os passos que serão seguidos pelo pesquisador, auxiliando-o na tarefa de
trabalho disciplinado e sistemático;

•cumprir uma exigência formal da realização de uma pesquisa;

•auxiliar no processo de orientação, fornecendo visão global do desenvolvimento do trabalho;

•subsidiar os trabalhos de avaliação da banca examinadora, nos exames de qualificação;


•subsidiar os pedidos de bolsa de estudos ou financiamentos de agências de pesquisa;

•fundamentar o processo de seleção em programas de pós-graduação, principalmente


doutorado.

Um projeto de pesquisa é responsável por delinear um caminho a ser trilhado ao longo da


investigação e, dessa forma, esclarecer o próprio investigador sobre os rumos do estudo.
Sabendo onde pretende chegar e como fará isso para lograr sucesso, certamente o
pesquisador não se desviará da sua trajetória.

Deslandes (2003) sustenta que, ao elaborar-se um projeto científico, desenvolvem-se de forma


simultânea as seguintes dimensões:

•técnica: trata das regras reconhecidas como científicas para construção de um projeto, ou
seja, como definir um objetivo, como abordá-lo e como escolher os instrumentos mais
adequados para a investigação;

•ideológica: está diretamente relacionada com as escolhas pessoais do pesquisador;

•científica: procura articular as duas dimensões anteriores, permitindo que a realidade social
seja reconstruída enquanto objeto do conhecimento, por meio de um processo de
categorização que une o teórico e o empírico.

O planejamento da pesquisa efetiva-se com a elaboração de um projeto – documento que


busca antecipar o futuro –, delineando as ações que serão realizadas ao longo do processo de
pesquisa. O projeto, nesse sentido, se apresenta como um roteiro para balizar as atividades de
todos os envolvidos na investigação, em especial, o pesquisador, orientador e avaliadores.
Cuidado! Os termos plano, planejamento, pesquisa e projeto costumam provocar uma
confusão de significados. Assim, os estudantes costumam confundir e definir o termo
“projeto” com o mesmo significado de “pesquisa”. Confunde-se, também, o projeto com o
plano de trabalho. Recorde-se que este último é apenas um roteiro preliminar, no qual se
indicam as ideias principais que serão abordadas na pesquisa (MATIAS-PEREIRA, 2010a).

Mas por que fazer um projeto de pesquisa científica? O debate sobre a relevância do projeto
de pesquisa, para Matias-Pereira (2010a), vai além de ser uma etapa obrigatória, na busca de
definir os procedimentos da pesquisa. Nesse esforço é essencial que se discuta a sua função
social. A esse respeito, veja o Anexo F deste livro: O projeto de pesquisa é essencial para o
sucesso da investigação científica?

Lembre-se que uma monografia, dissertação ou tese não deve se parecer com um projeto. Sua
composição e redação têm outro formato e estrutura lógica específica. Na verdade, o plano
inicia o trabalho que requer planejamento e projeto para, ao final, ser concluído com a
dissertação ou tese.

Eco (2010), ao referir-se ao projeto como algo que é realizado de forma superficial, destacou
que “parece que o projeto não passa de uma formalidade burocrática do cotidiano do
pesquisador e, portanto, de menor relevância”. Nesse sentido, sustenta o autor que um dos
objetivos da obra (projeto de pesquisa) é mostrar que se “pode preparar uma tese ‘digna’
mesmo que se esteja em situação difícil”.

3.2Projeto de pesquisa: em busca de antecipar o futuro

O projeto de pesquisa – como documento que busca antecipar o futuro – tem por finalidade
sinalizar e dar uma estrutura metodológica nas fases operacionais de um trabalho de pesquisa
científica. Por meio dele, o pesquisador irá definir os caminhos que deverão ser percorridos
para atingir os seus objetivos. O projeto é o documento básico que irá permitir que a
comunidade científica possa avaliar a sua consistência. Além de buscar a sua aprovação, o
projeto tem como propósito obter apoio e/ou financiamento para sua realização (MATIAS-
PEREIRA, 2007).

Um projeto deve trazer elementos que contemplem respostas às seguintes questões:


• O que será pesquisado? O que se vai fazer?

• Por que se deseja fazer a pesquisa?

• Para que se deseja fazer a pesquisa?

• Como será realizada a pesquisa?

• Quais recursos serão necessários para sua execução?

• Quanto vai custar, quanto tempo vai levar para executá-la e quem serão os responsáveis
pela sua execução?

O pesquisador deve lembrar que a estrutura para elaboração de um projeto de pesquisa não
tem uma fórmula única, bem como não existem normas rígidas para sua elaboração. Nesse
esforço, o pesquisador mostrará o que pretende fazer; que diferença a pesquisa trará para a
área a qual pertence, para a universidade, para o país e para o mundo; como está planejada a
execução; quanto tempo levará para a sua execução e quais as pessoas e os investimentos
necessários à viabilização da pesquisa proposta (BARROS; LEHFELD, 2000).

3.3Desenvolvimento do projeto

O projeto é uma etapa vital do processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa.


Por isso, deve ser planejada com o máximo rigor, com intuito de evitar que o pesquisador, em
determinado momento do trabalho, se depare com uma elevada quantidade de dados e
estudos que foram selecionados, sem saber como utilizá-los de forma adequada.

O projeto de pesquisa pode ser aceito como um plano do trabalho, no qual buscamos, ao
longo de sua realização, responder a diversas perguntas, tais como: o que iremos fazer, como,
quando, onde, entre outras indagações. O esforço do pesquisador para desenvolver um roteiro
que permita responder cientificamente a essas perguntas constitui a essência de um projeto
de pesquisa.
Na formulação de um projeto de pesquisa torna-se essencial atender a alguns requisitos
básicos. Embora não haja regra rígida sobre a sua formatação, em geral, um projeto de
pesquisa deve contemplar os seguintes itens:

•definição do tema;

•formulação do problema;

•construção de hipóteses;

•definição de metodologia com a identificação do tipo de pesquisa, tipo de amostragem,


coleta e levantamento de dados, análise e interpretação de resultados, entre outros
procedimentos;

•previsão de recursos (financeiros, físicos, humanos e materiais);

•cronograma de execução, prevendo todas as fases da pesquisa.

A realização de uma pesquisa científica é resultado das seguintes ações: preparação da


pesquisa, fases da pesquisa, execução da pesquisa e relatório. A estruturação de um projeto
de pesquisa é uma ação típica da etapa de preparação (MARCONI; LAKATOS, 2005).

Para alguns autores, como, por exemplo, Barros e Lehfeld (2001), é aconselhável iniciar a
elaboração do projeto de pesquisa após a definição do problema. Para tanto, um estudo
exploratório deverá ser efetivado, observando os elementos que evidenciam seu surgimento.
Assim, no período do estudo exploratório, a preocupação estará centrada na formulação e
delimitação do problema. Contudo, será durante a elaboração do projeto de pesquisa que se
poderá avaliar a viabilidade de investigação do problema formulado.
Argumenta Matias-Pereira (2007) que, para se proceder a uma elaboração adequada de um
projeto, é essencial que se defina o problema de forma bastante precisa. Somente após uma
definição clara do problema é que se torna possível estabelecer os rumos, fases e
procedimentos que se deseja realizar com a pesquisa. Nesse sentido, o autor ressalta que nem
todos os problemas que se pretende pesquisar são “problemas científicos”.

É preciso, nessa fase, atentar para a relevância do objeto da pesquisa. Para Vergara (1997, p.
31):

A relevância do estudo é a resposta que o autor do projeto dá à seguinte indagação do leitor:


em que o estudo é importante para a área na qual você está atuando, ou para a área na qual
busca formação acadêmica, ou para a sociedade em geral?

3.4Tópicos relevantes na estruturação de um projeto de pesquisa

É por meio da definição de um problema que se evidencia a área de interesse a ser


investigada, bem como se apontam os caminhos de aprofundamento do tema. Sua formulação
deve ser em forma de pergunta, clara e precisa, devendo ser delimitada em uma dimensão
variável.

“A hipótese é uma proposição antecipatória à comprovação de uma realidade existencial. É


uma espécie de pressuposição que antecede a constatação dos fatos. Por isso se diz também
que as hipóteses de trabalho são formulações provisórias do que se procura conhecer e, em
consequência, são supostas respostas para o problema ou assunto da pesquisa” (TRUJILLO
FERRARI, 1982, p. 181).

Sendero – palavra em espanhol que significa “caminho estreito”.

Tendo como propósito encontrar respostas para as inquietações que motivaram a realização
da pesquisa, o pesquisador estabelece um sendero para balizar o que se almeja atingir ao final
da investigação. Esse caminho é o que definimos por “objetivos”, que podem ter uma ação
mais abrangente ou específica.
Vale ressaltar que os “objetivos específicos” estabelecem os diferentes níveis intermediários
que deverão ser atingidos ao longo da realização da pesquisa. A soma dos objetivos específicos
dará o resultado geral esperado, ou seja, o objetivo geral.

Por sua vez, na metodologia ficam definidas quais as opções tomadas e a leitura operacional
que o pesquisador fez do quadro teórico, com a apresentação do detalhamento de todas as
etapas e procedimentos que serão necessários para a realização da pesquisa. Nessa fase,
definem-se a amostragem, a coleta e o levantamentos de dados, além de se esclarecer como
os dados encontrados serão organizados, analisados e interpretados.

O item “recursos” geralmente só aparece em pesquisas em que se pleiteia, para sua realização,
financiamento junto a agências de fomento à pesquisa ou congêneres.

Tema 3

Definição do foco do estudo científico

Uma palavrinha inicial

Neste Tema 3, discutiremos sobre o esforço para definição do foco de uma pesquisa científica,
sua importância e métodos de elaboração.

Ao fim deste estudo, você deverá:

• conseguir definir o foco da pesquisa;

• compreender a sua relevância enquanto pesquisador;

• distinguir os tópicos relevantes na estruturação de um projeto;

• descrever o desenvolvimento do projeto de pesquisa científica.


3.1O esforço para definir o foco da pesquisa científica

A pesquisa científica deve ser entendida como um procedimento racional e sistemático


(MATIAS-PEREIRA, 2001, 2010a). Para que a pesquisa seja concretizada torna-se essencial a
utilização de métodos e caminhos técnicos, escolhidos entre os chamados procedimentos
científicos. Dessa forma, a ciência é feita com seriedade, rigor, cuidado e parâmetros que
possam garantir segurança e legitimidade às informações descobertas. Para Booth, Colomb e
Williams (2000, p. 7), pesquisar é “reunir informações necessárias para encontrar resposta
para uma pergunta e assim chegar à solução de um problema”.

Para Ander-Egg (1978), a pesquisa científica pode ser aceita como um procedimento reflexivo
sistemático, controlado e crítico, que permita descobrir fatos ou dados, relações ou leis, em
qualquer campo do conhecimento. O resultado dessa busca reflexiva é conhecer verdades
parciais.

Pesquisar é o esforço desenvolvido pelo investigador para coletar informações e dados


essenciais a fim de responder a uma pergunta motivadora, e dessa forma alcançar os objetivos
da pesquisa (MATIAS-PEREIRA, 2007).

O processo de pesquisa está apoiado, em especial, na sistematização dos procedimentos,


revestida de um tratamento metodológico comumente denominado de científico. O ato de
pesquisa presume um cuidadoso processo de planejamento. Nesse contexto, para efetivar
esse planejamento, é necessário que se estabeleça como etapa inicial a elaboração do “projeto
de pesquisa”. Assim, cabe dizer que planejar é antecipar o futuro. Nesse sentido, o projeto
funciona como um instrumento de planejamento, numa ferramenta que delineia
procedimentos e ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa.

Severino (2008), por sua vez, destaca as principais funções de um projeto de pesquisa:

•definir e planejar os passos que serão seguidos pelo pesquisador, auxiliando-o na tarefa de
trabalho disciplinado e sistemático;

•cumprir uma exigência formal da realização de uma pesquisa;

•auxiliar no processo de orientação, fornecendo visão global do desenvolvimento do trabalho;


•subsidiar os trabalhos de avaliação da banca examinadora, nos exames de qualificação;

•subsidiar os pedidos de bolsa de estudos ou financiamentos de agências de pesquisa;

•fundamentar o processo de seleção em programas de pós-graduação, principalmente


doutorado.

Um projeto de pesquisa é responsável por delinear um caminho a ser trilhado ao longo da


investigação e, dessa forma, esclarecer o próprio investigador sobre os rumos do estudo.
Sabendo onde pretende chegar e como fará isso para lograr sucesso, certamente o
pesquisador não se desviará da sua trajetória.

Deslandes (2003) sustenta que, ao elaborar-se um projeto científico, desenvolvem-se de forma


simultânea as seguintes dimensões:

•técnica: trata das regras reconhecidas como científicas para construção de um projeto, ou
seja, como definir um objetivo, como abordá-lo e como escolher os instrumentos mais
adequados para a investigação;

•ideológica: está diretamente relacionada com as escolhas pessoais do pesquisador;

•científica: procura articular as duas dimensões anteriores, permitindo que a realidade social
seja reconstruída enquanto objeto do conhecimento, por meio de um processo de
categorização que une o teórico e o empírico.
O planejamento da pesquisa efetiva-se com a elaboração de um projeto – documento que
busca antecipar o futuro –, delineando as ações que serão realizadas ao longo do processo de
pesquisa. O projeto, nesse sentido, se apresenta como um roteiro para balizar as atividades de
todos os envolvidos na investigação, em especial, o pesquisador, orientador e avaliadores.

Cuidado! Os termos plano, planejamento, pesquisa e projeto costumam provocar uma


confusão de significados. Assim, os estudantes costumam confundir e definir o termo
“projeto” com o mesmo significado de “pesquisa”. Confunde-se, também, o projeto com o
plano de trabalho. Recorde-se que este último é apenas um roteiro preliminar, no qual se
indicam as ideias principais que serão abordadas na pesquisa (MATIAS-PEREIRA, 2010a).

Mas por que fazer um projeto de pesquisa científica? O debate sobre a relevância do projeto
de pesquisa, para Matias-Pereira (2010a), vai além de ser uma etapa obrigatória, na busca de
definir os procedimentos da pesquisa. Nesse esforço é essencial que se discuta a sua função
social. A esse respeito, veja o Anexo F deste livro: O projeto de pesquisa é essencial para o
sucesso da investigação científica?

Lembre-se que uma monografia, dissertação ou tese não deve se parecer com um projeto. Sua
composição e redação têm outro formato e estrutura lógica específica. Na verdade, o plano
inicia o trabalho que requer planejamento e projeto para, ao final, ser concluído com a
dissertação ou tese.

Eco (2010), ao referir-se ao projeto como algo que é realizado de forma superficial, destacou
que “parece que o projeto não passa de uma formalidade burocrática do cotidiano do
pesquisador e, portanto, de menor relevância”. Nesse sentido, sustenta o autor que um dos
objetivos da obra (projeto de pesquisa) é mostrar que se “pode preparar uma tese ‘digna’
mesmo que se esteja em situação difícil”.

3.2Projeto de pesquisa: em busca de antecipar o futuro

O projeto de pesquisa – como documento que busca antecipar o futuro – tem por finalidade
sinalizar e dar uma estrutura metodológica nas fases operacionais de um trabalho de pesquisa
científica. Por meio dele, o pesquisador irá definir os caminhos que deverão ser percorridos
para atingir os seus objetivos. O projeto é o documento básico que irá permitir que a
comunidade científica possa avaliar a sua consistência. Além de buscar a sua aprovação, o
projeto tem como propósito obter apoio e/ou financiamento para sua realização (MATIAS-
PEREIRA, 2007).

Um projeto deve trazer elementos que contemplem respostas às seguintes questões:

• O que será pesquisado? O que se vai fazer?

• Por que se deseja fazer a pesquisa?

• Para que se deseja fazer a pesquisa?

• Como será realizada a pesquisa?

• Quais recursos serão necessários para sua execução?

• Quanto vai custar, quanto tempo vai levar para executá-la e quem serão os responsáveis
pela sua execução?

O pesquisador deve lembrar que a estrutura para elaboração de um projeto de pesquisa não
tem uma fórmula única, bem como não existem normas rígidas para sua elaboração. Nesse
esforço, o pesquisador mostrará o que pretende fazer; que diferença a pesquisa trará para a
área a qual pertence, para a universidade, para o país e para o mundo; como está planejada a
execução; quanto tempo levará para a sua execução e quais as pessoas e os investimentos
necessários à viabilização da pesquisa proposta (BARROS; LEHFELD, 2000).

3.3Desenvolvimento do projeto

O projeto é uma etapa vital do processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa.


Por isso, deve ser planejada com o máximo rigor, com intuito de evitar que o pesquisador, em
determinado momento do trabalho, se depare com uma elevada quantidade de dados e
estudos que foram selecionados, sem saber como utilizá-los de forma adequada.
O projeto de pesquisa pode ser aceito como um plano do trabalho, no qual buscamos, ao
longo de sua realização, responder a diversas perguntas, tais como: o que iremos fazer, como,
quando, onde, entre outras indagações. O esforço do pesquisador para desenvolver um roteiro
que permita responder cientificamente a essas perguntas constitui a essência de um projeto
de pesquisa.

Na formulação de um projeto de pesquisa torna-se essencial atender a alguns requisitos


básicos. Embora não haja regra rígida sobre a sua formatação, em geral, um projeto de
pesquisa deve contemplar os seguintes itens:

•definição do tema;

•formulação do problema;

•construção de hipóteses;

•definição de metodologia com a identificação do tipo de pesquisa, tipo de amostragem,


coleta e levantamento de dados, análise e interpretação de resultados, entre outros
procedimentos;

•previsão de recursos (financeiros, físicos, humanos e materiais);

•cronograma de execução, prevendo todas as fases da pesquisa.

A realização de uma pesquisa científica é resultado das seguintes ações: preparação da


pesquisa, fases da pesquisa, execução da pesquisa e relatório. A estruturação de um projeto
de pesquisa é uma ação típica da etapa de preparação (MARCONI; LAKATOS, 2005).

Para alguns autores, como, por exemplo, Barros e Lehfeld (2001), é aconselhável iniciar a
elaboração do projeto de pesquisa após a definição do problema. Para tanto, um estudo
exploratório deverá ser efetivado, observando os elementos que evidenciam seu surgimento.
Assim, no período do estudo exploratório, a preocupação estará centrada na formulação e
delimitação do problema. Contudo, será durante a elaboração do projeto de pesquisa que se
poderá avaliar a viabilidade de investigação do problema formulado.

Argumenta Matias-Pereira (2007) que, para se proceder a uma elaboração adequada de um


projeto, é essencial que se defina o problema de forma bastante precisa. Somente após uma
definição clara do problema é que se torna possível estabelecer os rumos, fases e
procedimentos que se deseja realizar com a pesquisa. Nesse sentido, o autor ressalta que nem
todos os problemas que se pretende pesquisar são “problemas científicos”.

É preciso, nessa fase, atentar para a relevância do objeto da pesquisa. Para Vergara (1997, p.
31):

A relevância do estudo é a resposta que o autor do projeto dá à seguinte indagação do leitor:


em que o estudo é importante para a área na qual você está atuando, ou para a área na qual
busca formação acadêmica, ou para a sociedade em geral?

3.4Tópicos relevantes na estruturação de um projeto de pesquisa

É por meio da definição de um problema que se evidencia a área de interesse a ser


investigada, bem como se apontam os caminhos de aprofundamento do tema. Sua formulação
deve ser em forma de pergunta, clara e precisa, devendo ser delimitada em uma dimensão
variável.

“A hipótese é uma proposição antecipatória à comprovação de uma realidade existencial. É


uma espécie de pressuposição que antecede a constatação dos fatos. Por isso se diz também
que as hipóteses de trabalho são formulações provisórias do que se procura conhecer e, em
consequência, são supostas respostas para o problema ou assunto da pesquisa” (TRUJILLO
FERRARI, 1982, p. 181).

Sendero – palavra em espanhol que significa “caminho estreito”.


Tendo como propósito encontrar respostas para as inquietações que motivaram a realização
da pesquisa, o pesquisador estabelece um sendero para balizar o que se almeja atingir ao final
da investigação. Esse caminho é o que definimos por “objetivos”, que podem ter uma ação
mais abrangente ou específica.

Vale ressaltar que os “objetivos específicos” estabelecem os diferentes níveis intermediários


que deverão ser atingidos ao longo da realização da pesquisa. A soma dos objetivos específicos
dará o resultado geral esperado, ou seja, o objetivo geral.

Por sua vez, na metodologia ficam definidas quais as opções tomadas e a leitura operacional
que o pesquisador fez do quadro teórico, com a apresentação do detalhamento de todas as
etapas e procedimentos que serão necessários para a realização da pesquisa. Nessa fase,
definem-se a amostragem, a coleta e o levantamentos de dados, além de se esclarecer como
os dados encontrados serão organizados, analisados e interpretados.

O item “recursos” geralmente só aparece em pesquisas em que se pleiteia, para sua realização,
financiamento junto a agências de fomento à pesquisa ou congêneres.

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