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ISSN 2176-1876
Editorial
EDITORES
Prof. André Bueno [UERJ]
Prof. Dulceli Tonet Estacheski [UFMS]
Prof. Everton Crema [UNESPAR]
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Carla Fernanda da Silva [UFPR]
Prof. Carlos Eduardo Costa Campos [UFMS]
Prof. Gustavo Durão [UFRRJ]
Prof. José Maria Neto [UPE]
Prof. Leandro Hecko [UFMS]
Prof. Luis Filipe Bantim [UFRJ]
Prof. Maria Elizabeth Bueno de Godoy [UEAP]
Prof. Maytê R. Vieira [UFPR]
Prof. Nathália Junqueira [UFMS]
Prof. Rodrigo Otávio dos Santos [UNINTER]
Prof. Thiago Zardini [Saberes]
Prof. Vanessa Cristina Chucailo [UNIRIO]
Prof. Washington Santos Nascimento [UERJ]
COMISSÃO EDITORIAL
Prof. Aristides Leo Pardo [UNESPAR]
Prof. Caroline Antunes Martins Alamino [UFSC]
Prof. Jefferson Lima [UDESC]
Abstract: Music is a useful tool for the teaching of History, since it works
as a way to broadcast content through a fair harmony between sounds,
which in essence is treated efficiently in regards to the teaching field of
History. In order to provide teaching opportunities through music, this
work guides itself in the search and analysis of compositions of various
musical styles, based on the transfer of historical contents, implicitly or
explicitly. Throughout the text, there will be presented to the reader some
compositions in order to foster subjective discussions about possible
dialogues between music and history, aiming how these compositions can
be applied inside the educational system.
Keywords: teaching. school. history.
Por séculos a escola foi vista como um local de ensino estático, na
qual o poder sempre esteve centrado nas mãos do professor, este por vez,
convencionalmente, sempre estava posicionado “acima dos alunos”, como
um ser autoritário, munido de artifícios que o transformava em um
profissional provocador de exclusão do aluno em relação às aulas. Embora 2
Música: “Camelô”.
Compositor: Edson Gomes 6
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3.Ed.- Rio de Janeiro, RJ:
Editora FGV, 2005.
ALVES, Hilana Oliveira de; SANTOS Maele dos. O lúdico e o ensino de
história. XVII Simpósio nacional de história. Conhecimento histórico e
diálogo social, 2013.
DAVID, Célia Maria; FAGUNDES, Gustavo Henrique Godoy; JANUARIO,
André Alves. Música: uma ferramenta para o estudo da História. Franca -
SP: CAMINE, 2010.
DAVID, Célia Maria. Criação e interpretações musicais em França: palco e
plateia (1872-1964). São Paulo: Unesp, 2002 (Dissertações e teses, v.6).
DAVID, Célia Maria. Música e ensino de história: uma proposta.
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2009
GUIMARÃES, Márcia Noêmia. Os diferentes tempos e espaços do homem:
atividades de geografia e história para o ensino fundamental / Márcia
Noêmia Guimarães. – 2ed.- São Paulo: Cortez, 2006. 10
Resumo
O Presente artigo visa refletir sobre o ensino da História nas instituições
formais, tendo como base um processo lúdico e temporalmente
contemporâneo, o Role Playing Game (RPG), um jogo de interpretação
que propicia múltiplas interações, o qual tem sua aplicação incentivada
pelo MEC (Ministério da Educação). Para desenvolver tal tarefa
lançaremos mão de revisão bibliográfica relações sistêmicas, sob a luz da
teoria da complexidade de Edgar Morin.
Palavras Chave: RPG, Complexidade, Ensino
Resumen
Este artículo pretende reflexionar sobre la enseñanza de la historia en las
instituciones formales, basadas en un proceso lúdico y el tiempo
contemporáneo, papel jugar juego (RPG), un juego de la interpretación
que proporciona múltiples interacciones, que tiene su aplicación por el
MEC (Ministerio de educación). Para desarrollar tal tarea te suelte la mano
de la literatura revisar relaciones sistémicas, bajo la luz de la teoría de la
complejidad de Edgar Morin.
Palabras Chave: RPG, Complejidad, Enseñanza
1
Mestrando em Educação Ambiental, Bacharel em História com ênfase em Patrimônio Histórico e
Cultural, Prof. Designer Gráfico e Hardware. Universidade Federal do Rio Grande - FURG – Brasil;
http://lattes.cnpq.br/0556531449117799 / Graduanda em História Universidade Federal do Rio Grande
- FURG - Brasil
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios das atividades Humana, passando pelos
filósofos Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e Rousseau, as reflexões
promovidas tendo como base a compreensão do “ambiente”, do Ator
Social humano e das relações sistêmicas presente entre os mesmos se 2
Sistema D20. Sistema que tem como seu mais conhecido representante o
Dungeons and Dragons (D&D) (Schick, 1991, p.19), lançado em 1974.
O D&D trabalha com uma composição básica de 6 modelos de
poliedros, ou seja, figuras geométricas formadas por vértices, arestas e
faces, são os dados de RPG, chama-se esse sistema de D20 (dado de 20
faces, sendo os mais utilizados os D4, D6, D8, D10, D12 e D20, o ‘D’
correspondendo a palavra ‘dado’ e o número correspondendo a quantia
de faces que ele tem, sendo assim, por exemplo o D4 é um Dado de 4
faces). Onde a utilização de um dado de 20 lados possibilita uma escala
mais ampla numericamente, que quando relacionada aos demais dados,
traduz um número de possibilidades elevadas que controlam as ações do
jogador, com isso buscando uma representação cada vez mais próxima do
“real”.
É através do lance de dados, e tendo como quesito necessário as
fichas de personagens que são montadas antes de qualquer partida, com
características já pré-definidas pelos livros de regras, como os dois livros
básicos usados para esse jogo, que são “O Livro do Jogador”, onde
encontra-se todas as regras de jogo e de criação de personagem, forma de
jogar, materiais e roupas para utilizar e “O Livro do Mestre”, que é
utilizado pelo narrador da história, que será decidida se determinada
jogada irá ou não ser bem sucedida, ou seja, não dependendo apenas da
intenção do jogador, mas também do “rolar de dados” e regras do jogo.
Como é um jogo de mesa, além dos dados, consta-se também a ficha de
cada personagem, incluindo formas físicas, conhecimentos, ofícios (o que
ele faz de acordo com a época medieval, se é um ferreiro, um rei, um 6
Referências
MORIN, Edgar. O método 1. A natureza da Natureza. 3.ed. Trad. Maria
Gabriela de Bragança. Portugal: Publicações Europa-América Lda, 1997.
PIAGET, J. O juízo moral na criança. Tradução Elzon L. 2. ed. São Paulo:
Summus, 1994.
_________. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1982.
SCHMIT, Wagner Luiz. RPG e Educação: Alguns Apontamentos Teóricos.
Londrina: 2008.
Referências Digitais
http://www.rpgeduc.com/old/congressos.htm
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/buscaGeral.html?q=rpg
http://loja.devir.com.br/anais-do-1-simposio-rpg-educac-o.html
A DOCÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR
Ana Luiza de Vasconcelos Marques 1
Abstract: This article aims to reflect on the action of teaching, considering teaching as
a social practice, especially with respect to education and subjects of objects involved.
For this, I present as a starting point an experience report that aims to scrutinize the
Psychopedagogical Guidelines of a particular private institution of higher education in
order to show through methodologies, practices and rationale adopted by it, the limits
and criticism involving teachers and, consequently, the students in the exercise of
teaching. Thus, it is concluded that thinking in teacher education in Higher Education is
to consider the need for the creation of public and institutional policies that enable an
approach that, prior to endorse the marketing plan values the institutional character,
individual and collective of formation. Nevertheless, in addition to the teacher training
element, it is also expected that the Higher Education Institutions (HEIs) in line with
the pedagogical management and teachers of the course, together, commit
themselves for the construction of knowledge, whether in scope of planning
disciplines, is the prospect of choosing the methods or even the definition of the
evaluation criteria.
Keywords: Reporting. Teaching. Higher Education.
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
aniiinha@msn.com
Tem-se constatado que, independentemente da instituição em que
o aluno esteja vinculado, ainda é pouca a preparação dada ao estudante
na fase que compreende a sua transição para a profissão de professor.
Afinal de contas, não há uma fórmula prática para a socialização no
exercício de ensinar. Ao atravessar os portões de uma instituição de 2
mensalidades.
No que diz respeito ao considerado ensino de massa no Brasil, de
acordo com Rogerio Tineu (2010), pode-se afirmar que é um novo
paradigma segundo as concepções mais ortodoxas da educação. Para o
autor, é preciso levar em consideração que, no caso do Brasil, não houve
tempo hábil para a formação de novos professores bem qualificados para
atuarem em salas de aula lotadas. Portanto, pensar na formação do
professor no Ensino Superior é atentar para a necessidade da criação de
políticas públicas e institucionais que possibilitem uma abordagem que,
antes de se respaldar no plano mercadológico, valorize o caráter
institucional, individual e coletivo da formação. Logo, para além do
elemento da formação, espera-se também que as IES, em sintonia com a
gestão pedagógica e professores do curso, juntos, comprometam-se em
prol da construção do conhecimento, seja no âmbito de planejarem as
disciplinas, seja na perspectiva de escolher as metodologias ou mesmo na
definição dos critérios avaliativos.
REFERÊNCIAS
André Bueno1
Resumo
Neste breve ensaio, examinaremos algumas concepções historiográficas chinesas pós-
comunistas, na China contemporânea. Tentaremos entender as possibilidades
interpretativas na história chinesa atual, em relação aos métodos tradicionais e as
mudanças no panorama político e social.
Palavras-chave
China - Historiografia Chinesa - Teoria e Metodologia da História
Abstract
In this short essay, we will examine some post-communist Chinese historiographical
concepts in contemporary China. We will try to understand the interpretive
possibilities in the current Chinese history, compared to traditional methods and
changes in the political and the Social Panorama.
Keywords
China - Chinese Historiography - Theory and History of Methodology
Apresentação
1
Prof. Dr. André Bueno; Prof. Adjunto de História da UERJ, Rio de Janeiro.
Compreender a tradição histórica chinesa é um desafio para a
mente ocidental. A China é a única civilização cuja produção
historiográfica data – no mínimo – do século - 6 , quando o sábio Confúcio
fez a primeira edição organizada de seis antigos clássicos chineses, dos
quais dois – “O Tratado dos Livros” (Shujing) e as “Primaveras e Outonos” 2
2
RICHTER, Ursula. “La tradition de l’antitraditionalisme dans l’historiographie chinoise”
in Extreme Orient, Extreme Occident. V.9, n.9, 1987, p.55-89.
disciplina. O resultado disso é que até 1911, contava-se mais de cem mil
textos históricos (livros, capítulos, ensaios), o que caracteriza um
fenômeno único na história mundial. 3
Um fator decisivo para o enorme tamanho dessa produção foi a
continuidade lingüística. O chinês clássico se manteve essencialmente o 4
3
VANDERMEERSCH, Leon. “Vérité historique et language de l’histoire” en Chine in
Extreme Orient, Extreme Occident. V.9, n.9, 1987, p.13.
propostas de Marx encontravam ressonância em vários anseios chineses:
o respeito internacional, o avanço tecnológico, a sociedade comunal e
universal. Porém, dois pontos se destacavam nessa proposta: primeiro, a
questão do materialismo histórico, que se aproximava da ideia de
materialidade que os chineses possuíam em relação a sua própria história; 5
5
HERRMAN, Hans. “Aspects théoriques de l’historiographie chinoise des années 1980”
in Études chinoises, v.X, n. 1-2, Paris, 1991.
A durabilidade dessa visão é considerada uma prova substancial,
para os chineses, de sua eficácia como um meio de defesa e manutenção
da Cultura. Contudo, como não se atolar em versões arcaizantes de um
moralismo antigo e inadequado para enfrentar as várias questões sociais e
tecnológicas atuais? 7
a) A função da história
Desde a época de Confúcio, a história é considerada um dos pilares
da educação, sendo responsável pela manutenção das tradições culturais
e pela exemplificação dos desafios humanos. A revolução socialista de
Maozedong tentou destruir as estruturas culturais antigas presentes na
historiografia, mas reconheceu a importância fundamental que a História
tinha de operar as transformações necessárias na sociedade. Por conta
disso, a cientifização marxista da história chinesa tratou de incorporar
esse princípio interpretativo da história sob uma nova teoria,
apresentando-a como um roteiro da luta de classes que permeou a
humanidade ao longo de sua existência. O objetivo comunista era
reeducar a sociedade, mas o Confucionismo arraigado na cultura forçou, 9
7
ZHANG, Yanguo. “A crise da historiografia e a escolha da modernização” in Shehui
kexue pinglun, n. 11, 1986, p.16.
“Um esboço da História da China” de Bai Shouyi8, tentou congregar a
transição do esquema marxista “escravismo-feudalismo-mercatilismo...”
com as dinastias chinesas, afirmando que a revolução comunista
promoveu uma transição direta do “feudalismo escravagista” (um termo
absolutamente chinês) para o Comunismo, superando as etapas históricas. 10
Para além dessa construção pouco factível, a questão é que Bai não foi
capaz de superar o esquema dinástico da cronologia chinesa,
apresentando-o dentro das formas tradicionais. As obras mais recentes
não apenas resgataram a cronologia tradicional como ainda, tentam – por
meio da arqueologia – confirmá-la ou mesmo esticá-la cada vez mais em
direção ao passado.9
8
BAI, Shouyi. An outline History of China. Beijing: Foreign Language Press, 1986.
9
Como por exemplo, XIA, Nai (org.) New archeological finds in China: discoveries
during the Cultural Revolution. Beijing: Foreign Language Press, 1974.
10
Ver TUCKER, Marilyn. (org.) Confucianism and Ecology. Harvard: Harvard University
Press, 1998.
designava a função do soberano de promover esse estado de harmonia,
não era essencialmente um conceito transcendente, mas uma
interpretação formalizadora do papel do mesmo na administração da vida
pública e sua relação com o meio ambiente.
Essa ideia converteu-se, principalmente no período imperial, 11
durante a dinastia Qing (1644 a 1911), num preceito esotérico, com ajuda
significativa de um Budismo interessado em manter-se junto ao poder.
Com a proclamação da República, o conceito caiu em desuso e
praticamente desapareceu, só sendo retomado como uma teoria
interessante pelos ecologistas nas décadas de 80-90 do séc. 20. Contudo,
em 1984, Liu Qingfeng11, intelectual ligado a renovação histórica chinesa,
propôs um novo modelo de “harmonia universal” do sistema através de
uma interpretação sociológica cibernética. Segundo ele, o estudo da
história marxista chinesa mostrava, de fato, uma série de estados de
equilíbrio (Harmonia) manifestados no estabelecimento das dinastias,
períodos caracterizados por uma relação estável entre as forças
produtivas, a sociedade com o governo e com o meio ambiente. No
entanto, essas épocas foram submetidas, inexoravelmente, a ação das
“leis históricas” de ascensão e declínio, cabendo ao estudo histórico
evidenciar as causas de declínio e os possíveis modelos de ajuste para
compreensão sistêmica das transições. As “leis históricas”, portanto,
foram “ecologizadas” na teoria de Liu, e a sociedade humana é um
desdobramento da natureza. Embora Liu não tenha obtido um sucesso
significativo como teórico da história, ainda assim seu trabalho chamou a
11
Ver HERRMAN, Hans, ibid., p.176-78.
atenção das autoridades ao problema da relação humana com a poluição,
tratada agora na China como uma questão social, política e econômica. É
indubitável que o caráter do conceito de “Harmonia” transparece nesse
ideal de ajuste social.
12
d) O problema da dialética
Um dos motivos pelos quais os chineses ficaram vivamente
interessados na dialética marxista era a sua forte impressão de que essa
teoria era praticamente idêntica a teoria yin-yang de oposição
complementar, que caracteriza o pensamento chinês. Dominados pela
concepção de que a tensão dos opostos enseja o equilíbrio, a atração e a
repulsão, os intelectuais chineses entenderam que as descobertas
dialéticas de Marx eram significativas porque ele “teria compreendido” os
modos pelos quais a Natureza opera no contexto industrializado da
Europa, dando-lhe as vantagens tecnológicas e sociais na modernidade
que a China não possuía. O pensamento comunista tentou durante algum
tempo abandonar essas tradições, mas elas resistiram e hoje estão
presentes em diversos campos do conhecimento chinês, sendo a história
um deles. De fato, a interpretação em curso tende a inverter os
paradigmas: primeiro, colocou-se que os chineses teriam “aprendido”,
mas sem saber exatamente como, as leis da dialética, atrasando-se num
estado “pré-socialista” de pensamento dialético. No entanto, a distensão
do discurso comunista tem feito com que se retome a idéia original
chinesa, ou seja, de que foram os chineses que criaram realmente as leis
da dialética e que Marx, na verdade, teria compreendido-as estudando a
civilização chinesa e suas estratégias de permanência.
e) O Novo Confucionismo
Na incerteza sobre a continuidade do comunismo na China, alguns 13
12
JIANG, Qing. Zhengzhi ruxue. Yucheng: Harvard University press/Yusheng academy,
1991.
na visão da história tradicional. Não haverá volta do império, mas o
governo comunista marcará um período, um ciclo – tal como foram as
dinastias – cuja transformação política ensejará uma recolocação de sua
civilização no quadro político e intelectual do mundo contemporâneo.
14
Conclusão
Por esses breves apontamentos, vemos que a tendência
generalizada da atual historiografia chinesa é tentar sair de uma crise na
qual a mesma se instalou por conta das ficções do socialismo marxista.
Não houve a vitória do proletariado, nem o mundo converteu-se a
revolução como Marx previra; contudo, o comunismo chinês mostrou-se
um sistema eficaz de recuperação econômica, a partir do momento em
que criou um modelo próprio, conjugando planificação e economia de
mercado, principalmente depois de Deng Xiaoping. Como, portanto,
justificar a existência de um regime cuja teoria central era futurista? Nesse
ponto, a salvação para os chineses encontra-se na sua mentalidade
histórica adaptativa, que justifica as transformações do comunismo chinês
como sendo os ajustes necessários a sua sobrevivência. Posto diante de
sua oposição complementar, o sistema chinês conseguiu adaptar-se e
vencer seus desafios, lançando-se, porém, a reformulação de si mesmo.
A história chinesa acompanha esse movimento, e justifica então,
fantasticamente, que o marxismo só deu certo porque, de certo modo,
“sinizou-se”; que essa “sinização” é identificada pela cultura tradicional,
contada e discutida copiosamente pela historiografia pré-marxista; e que
o marxismo, embora necessário atualmente para a manutenção de uma
ordem pública, virá a ser superado, no futuro, pelo próprio passado! Tais
afirmativas parecem incríveis, ainda mais quando lembramos que há trinta
anos atrás, falar de Confúcio na China comunista era praticamente um
crime. Hoje, porém, o instituto de línguas e cultura chinesa com mais de
mil filiais espalhadas pelo mundo (incluso no Brasil), e com patrocínio 15
Bibliografia
BELL, Daniel A. China’s new Confucianism: politics and everyday life in a
changing society. Princeton: Princeton University Press, 2008.
CHEN, Yan. O despertar da China: as mudanças intelectuais pós-Mao.
1976-2002. Lisboa: Piaget, 2002.
HERRMAN, Hans. “Aspects théoriques de l’historiographie chinoise des
années 1980” in Études chinoises, v.X, n. 1-2, Paris, 1991.
JIANG, Qing. Zhengzhi ruxue (Confucionimo político). Yucheng: Harvard 16
Resumo
O construto apresenta os resultados da pesquisa sobre a formação do professor-
pedagogo que leciona história nos anos iniciais do ensino fundamental e do trabalho
de elaboração de arquétipos de programas curriculares para o ensino de história.
Considerando as diretrizes oficiais para o ensino da disciplina no Brasil e as demandas
sociais e culturais das escolas públicas e privadas da região metropolitana de Maceió, o
estudo foi desenvolvido no período de 2012 a 2013 e teve como coautores os
estudantes do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Palavras-chave: Ensino de História; Pedagogo; Ensino Fundamental.
Resumen
El texto presenta los resultados de la investigación sobre la formación del maestro-
educador que enseña la historia en los primeros años de la escuela primaria y del
trabajo de preparación de los arquetipos de los planes de estudio para la enseñanza de
la historia. Teniendo en cuenta las directrices oficiales para la enseñanza de la
disciplina en Brasil y las demandas sociales y culturales de las escuelas públicas y
privadas en el área metropolitana de Maceió, el estudio fue llevado a cabo en el
período 2012-2013 y tuvo como coautores a los estudiantes del curso de Pedagogía de
la Universidad Federal de Alagoas (UFAL).
Palabras clave: Enseñanza de la historia; Pedagogo; Enseñanza fundamental.
1
Mestre em Educação – UFAL
Introdução
O texto discorre sobre a experiência de formação e trabalho
desenvolvido com professores da Educação Básica, que eram graduandos
do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Apresenta os resultados do trabalho de elaboração e vivência de 2
seja, as disciplinas escolares “não são nem uma vulgarização nem uma
adaptação das ciências de referência, mas um produto específico da
escola, que põe em evidência o caráter eminentemente criativo do
sistema escolar” (JULIA, 2001, p. 33).
A ação docente é um ato coletivo delineado por contribuições
culturais, históricas, econômicas, políticas e pedagógicas. Como um
microssistema, funcionando dentro de um macrossistema (a sociedade), a
escola se estrutura por uma rede tensionada de relações que originam a
negociação de objetivos, sentidos e significados entre os sujeitos da escola
e os dispositivos oficiais (diretrizes curriculares oficiais).
Desse modo, mais que uma simplificação ou reprodução, os
conteúdos e práticas constitutivos do conhecimento histórico escolar são
recriações de sentidos e de significados, mediadas pelo mundo físico
(natural) e social (cultural) em que se inserem alunos e professores. Assim,
os conhecimentos disciplinares escolares distanciam-se do currículo
prescrito (oficial) e dos conhecimentos acadêmicos (ciências de
referência) porque sofrem a interferência de objetivos, necessidades,
interesses e posicionamentos políticos da comunidade escolar.
Destarte, as propostas curriculares prescritas constituem-se pela
idealização de um tipo específico de professor e de escola (BITTENCOURT,
2009), logo não abarca a pluralidade de contextos socioprodutivos,
culturais e étnicos da sociedade. Ainda, temáticas e práticas normatizadas,
usualmente, tomam como referência a existência e atuação de um corpo
docente com habilidades intelectivas e investigativas que não
correspondem ao tipo de instrumentalização recebida nos espaços de 7
Considerações Finais
Ao selecionar conteúdos conectados com as relações socioculturais
vividas pelos educandos e criar práticas pedagógicas que buscam o
desenvolvimento da “compreensão da realidade mais racional e
argumentativa, permanentemente submetida à reflexão a ao debate”
(SANTOMÉ, 2013, p. 11), os graduandos ampliam suas habilidades técnicas
e passam a refletir de forma mais sistemática sobre os interesses políticos
e valores sociais fundamentais ao trabalho docente. Assim, a criação dos
arquétipos curriculares como técnica pedagógica põe em movimento
processos formativos que: estimulam o estudo dos conhecimentos
específicos dos campos disciplinares; instigam a criatividade e a
participação do professor na constituição do currículo escolar; possibilitam
conhecer as reais demandas das escolas em relação à formação do 10
BRASIL. Lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei n.º 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 18 jan. 2003.
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar e discutir a experiência de concepção e
prática de uma aula oficina em uma escola pública na cidade de Vitória da Conquista –
BA. Discutir-se-á a prática metodológica da oficina e do desenvolvimento das
discussões e atividades que objetivaram observar alguns aspectos da colonização
europeia na América através de vários textos, incluindo a obra cinematográfica Avatar
(2009), de James Cameron, como uma alegoria do processo colonial ocorrido na
América portuguesa, a partir do século XVI. Através destas conexões a aula oficina
pretendeu estabelecer conexões entre as experiências pessoais dos alunos e o tema
proposto a fim de gerar debates e instigar a desconstrução de preconceitos e erros
sobre esse processo.
Palavras-chave: período colonial brasileiro; história indígena; aula-oficina.
Abstract: This paper has the purpose to analyze and discuss the design and practical
experience of a workshop class in a public school in the city of Vitória da Conquista -
BA. It point the methodological practice of the workshop and the develop of the
discussions and activities with the main motif of observe some aspects of the
European colonization in America through several texts, including the cinematographic
work Avatar (2009), from James Cameron, as an allegory of the colonization processes’
occurred in Portuguese America, starting from the XVI Century. Through these
connections the workshop intended to establish between the students' personal
experiences and the theme proposed to generate debates and to instigate the
deconstruction of prejudices and mistakes about that process.
Key-words: Brazilian colonial period; native history; workshop.
1
Licenciado em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e professor de História
do Ensino Fundamental II da rede privada em Vitória da Conquista – BA.
A experiência relatada e discutida aqui foi elaborada e executada na
cidade de Vitória da Conquista – BA em uma turma do 8º ano do Ensino
Fundamental de um colégio público, a saber, o Centro Integrado Navajo
de Brito. A atividade foi realizada num total de cinco aulas, cada uma com
50 minutos e consistiu no desenvolvimento de painéis considerando o 2
tema geral. Os alunos foram divididos em dois grandes grupos nos quais
orientados por eixos, tentaram identificar aspectos apresentados no filme
que podem ser relacionados ao processo histórico analisado na aula.
Seguindo o proposto, as ilustrações e colagens foram realizadas
obedecendo seus respectivos agrupamentos e micro temas. Em seguida
foram apresentados à turma. Dessa forma, obtivemos:
Europeus Nativos
Apontar os
interesses e as Apontar a relação dos
Grupo 01 Grupo 04
questões econômicas nativos com a terra
envolvidas
As formas de As formas de
Grupo 03 Grupo 06
violência resistência
depreciar. Além disso, trata-se de uma obra realizada por profissionais das
mais diversas áreas, o que pode criar um leque ainda maior de referências
e proposições na sua constituição. Sem dúvida, afirma Ferro,
Resumo
Este trabalho visa debater a histórica representação subalterna dos povos negros na
estrutura social brasileira, assim como o descaso que vitima a historiografia, os
conhecimentos e as expressões culturais do continente africano. Essa constatação é
confirmada pelas ideologias que categorizam o negro como uma raça inferior. À vista
disso, a escola também contribuiu com o processo de negação da identidade e cultura
afro-brasileira, permitindo, consciente ou inconscientemente, a presença do
preconceito e da discriminação racial no espaço escolar. Desse modo, o referido
trabalho, que é parte de uma pesquisa em andamento, desenvolve-se no terreno da
educação, alicerçado na perspectiva da pesquisa qualitativa de abordagem
autobiográfica. Trata-se de uma pesquisa-formação atravessada pelos princípios da
fenomenologia e da hermenêutica a fim de investigar, através das histórias de vida-
formação, de que maneira a cultura afro-brasileira emerge das narrativas e práticas
pedagógicas de professoras e professores de classes multisseriadas das escolas rurais
no município de Itiúba-BA.
1
Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza. Licenciado em História pela Faculdade de
Ciências da Bahia. Especialista em Desenvolvimento Sustentável no Semiárido com Ênfase em Recursos
Hídricos (IFbaiano/Senhor do Bonfim). Mestrando em Educação e Diversidade (Universidade do Estado
da Bahia). Professor da Educação Básica do município de Itiúba-BA. Integrante do Grupo de Pesquisa
DIVERSO - Docência, Narrativas e Diversidades e do Grupo de Pesquisa DIFEBA - Diversidade, Formação,
Educação Básica e Discursos. E-mail: tonnysouza@gmail.com.
2
Pós- Doutora em Educação. Professora Titular da Universidade do Estado da Bahia, no Departamento
de Educação - Campus I. Professora dos Programas de Pós-Graduação em Educação e
Contemporaneidade e Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade. E-mail:
jhanrios1@yahoo.com.br
2
Abstract
This work aims to discuss the historical subaltern representation of black people in
Brazilian social structure, as well as the indifference that victim historiography,
knowledge and cultural expressions of the African continent. This is confirmed by the
ideologies that categorize the Negro as an inferior race. In view of this, the school also
contributed to the process of denial of identity and african-Brazilian culture, allowing,
consciously or unconsciously, the presence of prejudice and racial discrimination at
school. Thus, the said work, which is part of an ongoing research, develops in the field
of education, based on the perspective of qualitative research autobiographical
approach. This is a research-formation traversed by the principles of phenomenology
and hermeneutics to investigate, through the stories of life-training, how the african-
Brazilian culture emerges from the narratives and pedagogical practices of teachers
and teachers of multigrade classes of rural schools in the municipality of Itiúba-BA.
Ariadne Marinho 1
1
RESUMO
Esta pesquisa visa compreender o discurso biopolítico por detrás da disciplinarização
do corpo empregada pelas políticas sanitaristas do estado brasileiro com relação à
lepra entre o final do século XIX e início do século XX. Buscando informações a partir
de documentação oficial, como decretos de lei e outros impressos da época, procura-
se identificar o tipo de tratamento que os doentes eram submetidos, tendo em conta o
estigma social existente contra o leproso e as vítimas de moléstias semelhantes. Nesse
sentido, percebeu-se que as instâncias político-administrativas adotaram diferentes
estratégias de controle da enfermidade ao implementar medidas profiláticas nos
espaços urbanos que previam a exclusão e o isolamento dos acometidos de lepra,
considerados “impuros”.
Palavras-chave: Lepra, Biopolítica, Cuiabá.
ABSTRACT
This research aims at understanding the bio-political speech behind the
disciplinarization of the body used by the sanitarian politics of the Brazilian state
towards leprosy between the late 19th century and early 20th century. By searching for
information in official documentation, such as law decrees and other print matters of
the time, it aims at identifying the kind of treatment through which the sick ones
underwent, taking into account the social stigma against lepers and other victims of
similar diseases. Hence, one should notice that the political and administrative
agencies adopted different strategies to control the illness by implementing
prophylactic touchstones in urban spaces that comprised the exclusion and isolation of
leprosy-stricken ones, who were considered to be unclean.
Keywords: Leprosy, Biopolitics, Cuiabá.
1
Autora possui graduação e mestrado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT.
Atualmente é graduanda no Curso Letras/Inglês pela Universidade do Estado de Mato Grosso-Unemat.
A hanseníase é amplamente conhecida como lepra, morphéia, mal de
Lázaro, mal de Hansen (“Morbus Hansen”) entre outros nomes. Trata-se
de uma doença infectocontagiosa, altamente incapacitante e deformante.
Sua origem é antiga, existem relatos em textos chineses que datam do 2
século VI a. C., e vestígios da doença foram encontrados no Egito Antigo.
Este país pode ser considerado o berço da enfermidade no continente
africano. Durante o medievo acometeu grande parte da Europa, e por ser
uma doença que desfigura o corpo com chagas purulentas e atrofias dos
nervos que putrefaz a carne com necroses dos membros periféricos – com
consequentes amputações –, criou-se em outrora um estigma muito forte,
atribuindo-lhe um caráter sobrenatural, de castigo divino e impureza.
Parcela desse estigma pode ser compreendida pelo desconhecimento das
pessoas não saberem de que maneira se dava o contágio e seu tratamento
correto. Atualmente a moléstia está em todo mundo, e tem cura.
No Brasil, supõe-se que a lepra tenha chegado por volta de 1600.
São deste período os primeiros registros de casos no país. Ao perceber sua
gravidade e a precária situação sanitária da então colônia portuguesa, a
Irmandade de Nossa Senhora da Candelária edificou o primeiro leprosário
do Brasil, em 1737, na cidade do Rio de Janeiro. Em Mato Grosso, nos
primeiros anos de sua colonização já havia registros da doença. O índice
era tão elevado que um morador de família abastada, Manoel Fernandes
Guimarães, deixou em testamento uma quantia significativa para a
construção do Hospital dos Lázaros, em Vila Bela da Santíssima Trindade,
na época capital da província. Mas apenas 24 anos depois, em 1816, é que
se inaugurou o hospital, não em Vila Bela, e sim em Cuiabá, devido ao
maior número de doentes nessa região.
Para realização desta pesquisa delimitamos o marco histórico entre
os anos de 1890 a 1900, e nos debruçamos na busca de informações de 3
como a lepra era vista e tratada pela sociedade mato-grossense, através
do censo do final do século XIX que descreve uma cidade repleta de
nuances e porosidade. Além disso, tentamos compreender o bojo da ideia
burguesa de “progresso”, que esquadrinha e disciplina uma urbe que se
queria asséptica de corpos dóceis e disciplinados, e estava florescendo no
imaginário dos governantes daquele período no Brasil e em Cuiabá.
De acordo com a historiadora Luiza Volpato (1993), embora as
condições de vida na Cuiabá Oitocentista fossem piores do que em boa
parte do Brasil, os conceitos Iluministas de progresso e modernização iam
adentrando pouco a pouco a mentalidade da classe dominante; ideias que
estavam em flagrante contraste com o modo de vida dos trabalhadores e
habitantes pobres da região. De acordo com a cientista política Massako
Iyda (1994), durante os períodos colonial e imperial, a saúde pública no
Brasil era uma questão de domínio privado, familiar e local. Em casos de
algumas doenças, como a lepra, eram requeridas medidas profiláticas de
isolamento, que era mantida com um caráter bastante precário e
deficiente, pois os recursos direcionados pelo poder público para o
exercício da função sanitária eram mínimos.
No último decênio do século XIX, a cidade de Cuiabá, já então
capital e epicentro político-administrativo de Mato Grosso, em detrimento
das relações econômicas e das manifestações socioculturais, estava
inserida no bojo conceitual que germinava nos ideais das urbes modernas
(importada da Europa, principalmente da “Grande Reforma Urbana
Francesa” de Georges Eugène Haussman entre os anos de 1852 a 1870) de 4
esquadrinhamento social, de progresso, de higienização, do discurso
médico-sanitário, do asséptico, da cientificidade, da segurança e da
moralização dos espaços urbanos em defesa do desenvolvimento e em
nome da modernidade. Tais lemas eram enaltecidos e tomados como
exemplos pelo poder instituído, o que representava a sociedade
disciplinar. Foram esses ideais que tentaram implementar nas sociedades
ocidentais ao longo do Oitocentos; e, particularmente no Brasil, entre o
final do período Imperial e o começo da República.
REFERÊNCIAS
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das letras,
1990.
1
Assis Daniel Gomes 1
1
Historiador e filósofo. Mestrando em História Social pela Universidade Federal do Ceará. Esta
pesquisa foi financiada pela Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa (FUNCAP).
A iluminação elétrica na década de 1920 simbolizava, para quem a
defendia, um estágio de grandeza, enaltecimento pessoal e coletivo. Tal
particularidade se construiu a partir de um modelo proveniente de fins do
século XIX e início do XX, cuja imagem da Belle Époque francesa era o
fermento para nutrir os anseios de progresso e modernização no estilo 2
2
Entendemos, segundo Le Goff (1996), que a relação tradição e modernidade não é
excludente, mas recomposição e criação de quem a maneja diante do sentimento movido pelo
novo e velho, como também do comportamento social conduzido pelas experiências da
aceleração cotidiana no século XX.
outro lado, não existiam melhorias nos serviços públicos e nem uma
encarnação simbólico de uma modernização em sua espacialidade
promovida pelos poderes públicos cratenses, por exemplo, não
empreenderam o calçamento das principais ruas de Juazeiro. Sabemos
também que outros interesses estavam fincados no projeto de 3
3
Segundo Silva Filho, “as ruas da cidade se definem pelas muitas vivências de tempo e
espaço que seus habitantes constroem no processo de interação social. Os poderes públicos,
em contrapartida, atuam na afirmação da ordem urbana e na perpetuação de heróis e valores
dos grupos dominantes” (2004, p.13).
destacamos as obras de calçamento, abastecimento de água e energia.
Empreenderam destruir, também, esta imagem que os assombravam e
manchava a figura de uma Juazeiro progressista: “cidade de fanáticos”.
Em defesa de Juazeiro e Padre Cícero, atacados, à época, pelos
discursos de Paulo de Moraes e Barros4, que visitou esse espaço urbano e 4
6
Segundo Ramos, o discurso feito pelo deputado federal Floro Bartolomeu da Costa procurava
divulgar um “Juazeiro civilizado”, em contraponto as imagens de terra de bandidos,
cangaceiros e fanáticos que assolavam no imaginário da elite política e econômica nacional e
estadual. Portanto, para Ramos, “fortificou-se, a partir de então, uma tradição discursiva em
nome da “modernidade de Juazeiro”. Tradição que seria exaustivamente recriada e repetida
em crônicas, livros de memórias e depoimentos de parte dos antigos moradores da cidade”
(2012, p.101).
7
Doutor, médico e político, por exemplo, exerceu o cargo de Deputado Federal. Nasceu em
1876 (Salvador) e morreu no dia 8 de março de 1926 (Rio de Janeiro). Chegou ao Ceará em
1908 e fixou moradia em Juazeiro do Norte, tornando-se o homem de confiança de Padre
Cícero Romão Batista.
Outro elemento importante era equipar Juazeiro com um sistema
de energia elétrica que pudesse favorecer o fornecimento de força para as
suas oficinas e seu comércio, como também patrocinar a iluminação de
seus espaços públicos. Para isso, criou-se em 1925 a “Empresa Elétrica de
Juazeiro”, de caráter privado e tendo como proprietário o Padre Cícero 6
O Juazeiro em trevas
7
9
O Jornal do Cariri nasceu em Juazeiro do Norte em 1950. Era vinculado ao Partido
Republicano do sul cearense. Tinha como slogan: Os arautos das aspirações caririenses.
Tendo como diretor superintendente o Dr. Conserva Feitosa (político, por exemplo, assumiu os
cargos de deputado estadual e prefeito da cidade de Juazeiro do Norte) e tinha uma tiragem de
2000 exemplares. Portanto, essa imprensa defendia os ideais do partido que a fundou e
procurava atacar discursivamente os que não lhe eram aliados, principalmente aqueles que
administravam Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Nele se incorporou as aspirações de
progresso e moderno desse grupo de caririense, que exaltava os projetos que comungavam
com os seus ideais.
planos para modernizar seus equipamentos técnicos. A compra dessa
empresa guardava duas, dentre outras, que conflitavam as posições dos
juazeirenses em relação a certa intervenção da prefeitura, especialmente
de seu executivo, nesse setor de serviço. Para os defensores, em primeiro
lugar, sendo ela propriedade da municipalidade, poder-se-ia melhorar os 8
14
ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE JUAZEIRO DO NORTE, 23 de dezembro de 1948, p.4b.
movimentação à noite em suas ruas e praças, tendo em vista o uso do
horário para as reuniões sociais, políticas e religiosas. Já o serviço de força
tinha outra tabela e se regulava de acordo com a solicitação das horas
demarcadas pelo contrato feito entre o usuário e a Empresa Elétrica Padre
Cícero. 16
Referências bibliográficas
Resumo: O presente artigo traz uma análise do filme Que horas dela volta?, de Anna
Muylaert a partir do conceito de cordialidade, proposto pelo historiador Sérgio Buarque
de Holanda em seu livro Raízes do Brasil. A partir da análise do filme, temos como
objetivo mostrar que o conceito de cordialidade defendido por Holanda, marcante no
caráter nacional brasileiro, e que, apesar de aparentemente ser positivo, serve para
ocultar uma série de violências, pode ser evidenciado no filme. Desta maneira, a partir
da análise conjunta das obras, pretendemos mostrar que a obra de Sérgio Buarque de
Holanda ainda se mostra como muito relevante para entendermos os problemas sociais
da atualidade.
Palavras-chave: Historiografia brasileira; Cinema Brasileiro; Sociedade Brasileira.
Resumen
En este artículo se presenta un análisis de la película Que Horas Elas Volta?, de Anna
Muylaert, a partir del concepto de cordialidad propuesto por el historiador Sergio
Buarque de Holanda en su libro Raízes do Brasil. A partir del análisis de la película,
nuestro objetivo es mostrar que el concepto de “cordialidade” adoptado por Holanda,
marcante el carácter nacional de Brasil, y que, a pesar de ser aparentemente positivo,
sirve para ocultar una gran cantidad de violencia, se puede evidenciar en la película.
Así, desde el análisis conjunto de las obras, pretendemos mostrar que la obra de Sérgio
Buarque de Holanda sigue cómo muy importante para comprender los problemas
sociales de los dias actuales.
Palabras clave: Historiografía Brasileña; Cine Brasileño; Sociedad Brasileña.
*
Instituto Federal do Triângulo Mineiro
1. Introdução
Lançado no Brasil em 2015, o longa Que horas ela volta?, dirigido
por Anna Muylaert, tem como personagem principal Val, uma empregada
doméstica nordestina, interpretada por Regina Casé, que em busca de uma
2
vida melhor, deixa sua filha em Perbambuco e vai morar em São Paulo. O
filme expõe uma tensão latente entre uma classe alta, no caso os patrões,
e uma classe mais baixa, que é a empregada doméstica, tudo isso
permeado por uma pretensa cordialidade que deixa essa tensa relação
ainda mais interessante, pois, mesmo a empregada sendo tratada como
“da família”, isso não altera a realidade em que ela é inferiorizada,
evidente em diversos momentos do filme.
O longa nos traz reflexões interessantes sobre a maneira como a
desigualdade social está permeada, e muitas vezes, naturalizada, na
sociedade brasileira. No entanto, o que mais nos chama a atenção ao
analisarmos o filme, é a maneira como as violências que Val sofre o tempo
todo estão ocultas pela cordialidade. Como já adiantamos, Val era “quase
da família”, mesmo tendo que viver em um quanto insalubre, comer um
sorvete diferente daqueles dos patrões ou servir, devidamente
uniformizada de empregada, os convidados dos patrões nos dias de festa,
entre outras violências constantes que muitas vezes passavam
despercebidas devido justamente a essa “cordialidade” existente nessa
relação patrões-empregada.
Desta maneira, essa cordialidade existente entre as classes sociais,
que oculta e neutraliza violências, além de mascarar opressões tão
presentes na história do Brasil, nos abre espaço para analisarmos o filme
de Muylaert em uma relação com o conceito de cordialidade presente na
obra de Sérgio Buarque de Holanda, que trata justamente desse aspecto
tão presente e importante para a formação do caráter nacional brasileiro
(BARBATO, 2010). 3
1956).
Nesse sentido, como nos trouxe Teresa Sales:
Sergio Buarque de Holanda apresenta a mediação de
classes sob uma outra óptica, embora as raízes de
ambos, Sergio e Gilberto, estejam apontando para
elementos que encobrem as desigualdades sociais por
uma espécie de fetiche. A óptica do autor de Raízes do
Brasil é á do "homem cordial", aquele cuja
característica é o horror às distâncias, que tem suas
raízes na esfera do íntimo, do familiar e do privado,
cujas origens, por sua vez, estão relacionadas antes
com a especificidade de nossa casa-grande que com
traços patrimoniais herdados da cultura portuguesa
(SALES, 1994).
cordialidade.
que seu filho não passou, mas Jéssica sim. Cordialidade essa revestida de
inveja e de ciúme pelo filho com sua empregada.
Logo, como na política temos as pessoas cordiais escolhendo seus
representantes, incluindo aquelas que não possuem chance de estudar
e/ou ingressar em uma universidade, acabamos voltando à familiaridade e
ao sentimento, por nossas sensações com relação a certo político, carente
de razão e imerso nesse universo paternalista e ineficiente.
Essa crise de representação dos interesses do povo também faz
parte do momento político atual, na qual os partidos não mostram a
opinião de seus eleitores. Estes certamente buscam novas soluções e
grupos políticos com relações mais estreitas com o povo e que saibam
identificar seus problemas e causas.
4. Conclusão
Em suma, é perceptível as semelhanças entre aspectos do longa Que
horas ela volta? com o conceito central de “O Homem Cordial” do livro
Raízes do Brasil. Quando Sérgio Buarque de Holanda busca explicar
motivos que torna o brasileiro cordial, vemos que o nosso passado
histórico foi determinante para nossas condições atuais. O fato de o
brasileiro ser menos objetivo e buscar sempre estabelecer relações
intimistas implica na sua pouca racionalidade, e acaba por tornar nossas
relações políticas menos eficientes, além de esconder uma série de
mazelas sociais, opressões e inferioridades, sempre ocultas pela aparente
cordialidade marcante do brasileiro. Essa ineficiência leva a diversas crises
sociais e políticas, e o cenário retratado no filme é a uma dessas crises, a 11
de desigualdade social.
Mas mais que isso, esse “homem cordial” de Holanda, além de
trazer a ineficiência administrativa, uma vez que não há razão na
governança e no trato com a coisa pública, em prol do benefício familiar,
essa cordialidade mascara relações de opressão e de violência, e é
justamente isso o que podemos notar no filme de Muylaert, no qual tal
opressão é deveras latente e muito visível até, mas se atenua pela
aparente intimidade existente entre opressor e oprimido.
Desta maneira, podemos concluir que o filme de Anna Muylaert é
uma interessante representação dessa sociedade descrita por Sérgio
Buarque de Holanda: personalista, egoísta e paternalista, herdada desde
tempos longínquos do Brasil colonial e que pode ser entendida como uma
das responsáveis pelas mazelas sociais que assolam o país, mas que, no
entanto, permanece dissimulada em traços cordiais, aparentemente
sensíveis, mas que, hipocritamente, servem para perpetuar essas relações
de violência, ao mesmo tempo tão visíveis e tão escondidas na sociedade
brasileira.
Val, Bárbara, Jéssica e todos os demais personagens de Que horas
ela volta? encarnam, portanto, esse universo descrito por Sérgio Buarque
de Holanda, no qual a violência e a desigualdade existem, mas por estarem
acomodadas sob uma capa expressa em trejeitos e palavras cordiais,
acabam por parecerem diminutas, ou de menor importância, quando na
verdade não o são.
Assim, podemos concluir que a obra de Sérgio Buarque de Holanda,
mesmo já passadas muitas décadas, ainda se mostra bastante atual para 12
4. Referências bibliográficas
DECCA, Edgar Salvadori de. “Tal pai, qual filho? Narrativas histórico-
literárias da identidade nacional”. In. Projeto História: Revista do Programa
de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, n° 24, 2002.
QUE horas ela volta? Direção: Anna Muylaert. Produção: Fabiano Gullane,
Caio Gullane, Débora Ivanov, Anna Muylaert. Globo Filmes e África Filmes,
13
2015. 144 min.
AS CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO DO PATRIMÔNIO PARA A
HISTÓRIA LOCAL E PARA O ENSINO DA HISTÓRIA
Maria Doralice Nepomuceno Barbosa1
Genilda Pereira Batista Lima2
Max Lanio Martins Pina3
1
Abstract: This article aims to awaken in history teachers the interest in local history
research, as a means of making their richer classes and meaningful to teenagers
elementary school. Considers the importance of the history to the integral formation
of the individual and how local history can contribute to the formation of
consciousness and cultural identity. Establishes a close relationship of cultural heritage
with the formation of social groups and their development, showing that the assets
can be taken as a primary source for the de/construction of this historical process,
especially when there are no written documents. Finally, we report a study of
experience of local history, which originated in the implementation of university
extension project - Heritage Education: educate to preserve.
Keywords: History teaching. Local history. Cultural heritage.
1
Especialista em História Econômica (Uni-Evangélica) e em Ciências Sociais (UFG). Docente efetiva da
Universidade Estadual de Goiás, Campus Porangatu. Coordenadora de Área do PIBID de História no
Campus Porangatu. E-mail: mdnepomuceno55@hotmail.com.
2
Especialista em Orientação Educacional (FACEN), em Aprendizagem e Diferença (UFG) e em
Metodologia do Ensino Superior (UEG). Docente efetiva da Universidade Estadual de Goiás, Campus
Porangatu. Coordenadora Pedagógica do Campus Porangatu. E-mail: genildapbl@gmailcom.
3
Mestre em História (PUC-Goiás). Docente efetivo da Universidade Estadual de Goiás, Campus
Porangatu. Coordenador Adjunto do Trabalho de Curso de História. Email: maxilanio@yahoo.com.br.
Introdução
As transformações que vem sofrendo o patrimônio cultural
material de Porangatu despertaram alguns docentes do curso de
licenciatura em História, da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus
Porangatu, para a necessidade de desenvolver um projeto de extensão, 2
Bandeira de João Leite. Esta criou o mito de que havia naquela bandeira
um jovem que se apaixonou pela índia Angatu, que era muito bela e
pertencia a uma sociedade indígena que vivia no local onde foi fundado o
povoado. O romance foi proibido pelo cacique, mas como eles
continuavam o namoro, o rapaz foi aprisionado e queimado na fogueira.
Ao morrer ele gritou “morro por Angatu”. O desconhecido criador da
lenda certamente quis valorizar a presença indígena na região e criar uma
representação para o nome atual da cidade: “Porangatu”. Esta
representação foi constante nos desfiles em comemoração ao aniversário
de emancipação política do município nas décadas de 1960 a 1980. No
entanto, acabou gerando a ideia confusa de que a cidade surgiu com a
índia Angatu e provocou um quase esquecimento quanto ao escravo
Negro Dunga e a descoberta do ouro.
O arraial do “Descoberto” passou por longo período de
estagnação, recebendo algumas correntes migratórias no final do século
XIX e primeiras décadas do XX. Com a chegada da Rodovia Belém Brasília,
que passava bem próximo ao povoado, muitas famílias pioneiras se
mudaram para as proximidades da rodovia, deixando um conjunto
arquitetônico de quase dois séculos, que passou a ser apenas um bairro da
cidade. É um casario numa praça em volta da Igreja Nossa Senhora da
Piedade com algumas ruas adjacentes e um beco. São construções de
adobe com alicerces de pedra em modelos coloniais, a maioria bastante
simples, que com o passar do tempo começaram a se transformar em
ruinas, sofrendo a demolição natural ou sendo demolidas pelos novos
proprietários para dar lugar a construções mais modernas. Outras 15
Este poço foi a única mina de água potável encontrada no local à época do
início do povoamento, pois as demais eram de água salobra. Conta-se que
foi considerado um milagre para que pudessem se estabelecer no local,
daí o seu nome. Atualmente está incompleta a restauração da antiga
pensão que sediará o Arquivo Histórico Municipal. O casario da praça
Santa Terezinha, do início dos anos 1900, também tombado como
patrimônio, praticamente desapareceu com a construção de novas casas,
e no lugar da praça foi erguida uma escola com muros altos e uma quadra
de esportes.
Nas visitas monitoradas tentamos recuperar, o quanto possível, o
que está na memória coletiva dos descendentes das famílias pioneiras,
relacionando cada ponto do sítio histórico com as informações orais
disponíveis e fazendo uma observação atenta das transformações, das
condições de preservação, das permanências, da convivência do moderno
com o tradicional, enfim, tentamos estabelecer uma ponte entre o
passado e o presente através da memória e do patrimônio. Assim, a
memória cumpre uma função social e histórica. É notável o interesse que
desperta, nos acadêmicos e nos adolescentes, esse novo olhar, o olhar
historicizado sobre o patrimônio, procurando o passado nele contido.
Numa terceira etapa realizamos oficinas nas escolas campos: em
2013 e 2014 trabalhamos na Escola Municipal Nossa Sra. da Piedade, que
está localizado no sítio histórico e a partir de 2015 direcionamos o projeto
para o Colégio Estadual Presidente Kennedy. A cada ano é escolhida uma
oficina diferente de acordo com a sugestão dos participantes, pois nesta 20
Referências
ALMEIDA, Maria Juliana de Freitas. O Sertão de Amaro Leite no século XIX.
Dissertação (Mestrado em Ciência Sociais e Humanidades).
TECCER/Universidade estadual de Goiás, Anápolis, 2016.
BOSCHI, Caio César. Por que estudar História?. São Paulo: Ática, 2007.
CAIMI, Flávia Eloisa. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo? In:
Oliveira, Margarida Maria Dias de. (Coord.). História: Ensino Fundamental.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
1
RESUMO
O artigo analisa experiências desenvolvidas nas disciplinas Prática de Ensino de História
e Estágio Supervisionado II e III, tendo como objetivo a motivação de estudantes
universitários à docência do ensino de história na educação básica. Tal prerrogativa
evidenciou a conexão entre escola e universidade, apontando para o fortalecimento da
profissão docente. O uso de projetos com eixos temáticos no ensino de história
potencializou a interdisciplinaridade do ensino nas escolas e fez notar o uso de novas
técnicas e linguagens na problematização das aulas de história. As atividades
realizadas no âmbito das escolas atenderam os objetivos iniciais, levando os
estudantes estagiários a testarem os conhecimentos adquiridos na academia nos
espaços escolares, levando-os a saborearem os primeiros momentos da docência.
Palavras-Chave: Docência, Projeto, Eixo-temático.
ABSTRACT
This article assays the experiences developed in the disciplines Practice of Education in
History and Supervised Internship II and III, which objective is to motivate the students
of universities to the teaching in the education of History in basic education. This
prerogative evidenced the connection between school and university, preparing
students to profession and teaching. The practice of the projects with thematic lines in
the education of History allowed the interdisciplinarity of the education this discipline
in the schools and as result was possible to perceive the use of new techniques and
languages in the questioning in History classes. The activities realized in the schools
served to initial objectives, which made intern students to test their know how
obtained in the university and in the school spaces, taking them to savor the first
moments of teaching.
Keywords: Teaching, Project, Thematic line.
1
Dr. em História – PUC/SP; Docente do curso de História da UFAL
Início de uma conversa...
que não queriam nada com a vida e que só iam para a escola infernizar
quem queria aprender e os professores que queriam ensinar”, fala esta
reproduzida na maioria das vezes pelos professores da educação básica,
marca da indignação dos docentes atualmente face as precárias condições
de trabalho.
Portanto, em alguns excertos de relatos dos estagiários emanaram
os desafios enfrentados por estes ao longo das atividades, mas se fizeram
presentes também alguns avanços e algumas possibilidades no que
concerne à proposta apresentada pelas disciplinas. Destaca-se que não é
pretensão do texto exaltar a proposta das atividades realizadas pelas
disciplinas de estágios, mas se faz necessário assinalar a importância de se
retomar a proposta em eleger eixos temáticos como possibilidades de
efetivar o ensino de história buscando descortinar caminhos que
promovam uma melhor compreensão do porquê estudar história?
11
Referências
PIMENTA, Selma G. & LIMA, Maria do S. L. Estágio e Docência. 7ª. Ed., SP,
Cortez, 2012.
SUMMARY: Considering the need for history to produce relevant discussions to society
from the reflections which is about the past, this text is intended to raise questions
concerning the use of the knowledge produced by the historiography in order to
produce concerns in society, that can produce real and needed changes. Thus, the
theme of environmental history, combined with the reflection on the construction of a
stereotypical image of the Indian in eight of Brazil, allows us to understand the social
function of history and its responsibility to promote the deconstruction of these
distorted images that came to the twenty-first century.
KEYWORD: Environmental History; Indigenous; XIX century.
1
Mestranda em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Licenciada em História pela
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, campus Unespar.
É de fundamental importância para nós compreendermos o alcance
de nossas pesquisas. Não é função da história construir cidadãos, ainda
que também o faça, mas não podemos negar que a história, ao refletir o
passado, nos proporciona a possibilidade de mudar o olhar sobre
determinadas posturas políticas, religiosas, sociais, culturais e tantas 2
outras que possuímos. Sim, a história tem relevância, tem sentido, tem
razão. Voltar ao passado permite compreender o hoje. Mas fiquemos
atentos, “não há pior desgaste que o da erudição, quando se exerce em
vão, nem arrogância mais deslocada que o orgulho da ferramenta que se
considera o meio em si” (BLOCH, 1993, p.79). O conhecimento pelo
conhecimento pode saciar a necessidade de alguns intelectuais e apenas
isso. Não pode ter relevância social e nem se preocupa em ter. Mas se o
conhecimento se destina a abrir discussões, caminhos e mentes e
proporcionar reflexão, transformação, mudança, aí sim tem sentido para a
vida da sociedade. É egoísmo demais produzir pesquisa apenas para
satisfazer nossa curiosidade e nosso ego sem que isso sirva pra alguma
coisa de fato.
Como defende Bloch, não pode “negar-se que uma ciência parece
sempre ter algo de incompleto se não for capaz, mais cedo ou mais tarde,
de nos ajudar a viver melhor” (BLOCH, 1993, p.16). Compreender o
passado nos permite nos posicionarmos perante o presente com firmeza e
nos abre um leque de novos horizontes. Rüsen também atesta que “o
passado oferece a experiência de que necessita para orientar-se no
presente e para desenvolver uma sólida perspectiva de futuro. Essa
experiência faz sentido quando pode ser utilizada para a configuração da
própria vida” (RÜSEN, 2001, p.10). É nesse sentido que pensamos o
grande valor que apresenta a história ambiental, que longe de ser
confundida com o ambientalismo, busca promover debates de relevância
para nossa sociedade que se encontra carente de discussões que
acarretem em verdadeiras e profundas transformações no campo 3
ambiental.
Referências:
RESUMO: O objetivo deste trabalho é realiza rum estudo das diferentes visões e
concepções imagéticas sobre os Xucuru-Kariri do município de Palmeira dos Índios,
analisando a utilização da imagem de um índio “exótico” como atrativo comercial e
turístico, ligado diretamente com a fundação da cidade, ou seja, fazendo referência
aos índios do “passado”, em contraste com a negação dos índios de hoje, bem como
discutir sobre a visão que a população não-indígena tem a respeito dos índios. Ainda,
propõe-se fazer um estudo das peças indígenas expostas no Museu Xucuru e da
estatuária existente em espaços públicos; como continuidades do imaginário local em
relação aos Xucuru-Kariri. Este trabalho será feito a partir de pesquisa de campo,
baseada em entrevistas com moradores da cidade e índios Xucuru-Kariri (aldeados e
desaldeados), Fundamentada em pressupostos teóricos como os de Laraia, Cancline,
Oliveira, Peixoto, Martins, Silva Júnior, Ribeiro, Da Matta, Barros e Silva, que norteiam
o percurso teórico e embasam o diálogo com o trabalho de campo sobre a imagem
que se tem dos índios pesquisados no município.
Palavras-chaves: Estereótipos. Imagem. Índio.
Abstract: The objective of this work is to conduct a study of the different visions and
imagistic concepts on Xucuru-Kariri the city of Palmeira dos Indios – AL (Brazil),
analyzing the use of the image of an Indian "exotic" as a commercial and tourist
attraction, directly connected with the foundation the city, ie, referring to the Indians
of the "past", in contrast to the denial of today's Indians, as well as discuss the view
that the non-indigenous population is about Indians. Still, it is proposed to conduct a
study of the indigenous exposed parts in Xucuru Museum and the existing statues in
public spaces; comocontinuidades local imagery in relation to Xucuru-Kariri. This work
will be done from field research, based on interviews with residents of the city and
* Graduando em História pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL Campus III – Palmeira dos
Índios, membro do Grupo de Estudos da História dos Povos Indígenas – GPI/AL.
E-mail: brunemberg@hotmail.com
**
Historiador e Antropólogo. Professor Assistente na Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL,
Campus III – Palmeira dos Índios. Coordenador do Grupo de Pesquisa da História dos Povos Indígenas de
Alagoas –GPHI/AL. E-mail: adelsonlopes@uneal.edu.br
Xucuru-Kariri Indians (aldeados and desaldeados) Based on theoretical assumptions
such as Laraia, Cancline, Oliveira, Peixoto, Martins, Silva Junior, Ribeiro, Da Matta,
Barros e Silva, who guide the theoretical route and base the dialogue with the field
work on the image that one has of the Indians surveyed in the county.
Keywords: Stereotypes. Exoticism. Image.
Considerações Iniciais
para a cidade.
O Museu Xucurus, tal como qualquer espaço de cultura e
representação social da cidade de Palmeira dos Índios, não foge do raio de
influência das posições ideológicas que envolvem a questão indígena no
município. Trazendo em sua nomenclatura uma referência ao povo
Xukuru-Kariri, o Museu torna-se um ponto indispensável no estudo da
imagem construída sobre os índios no referido município.
Analisando a consolidação das pesquisas sobre os índios do
Nordeste, debatendo sobre as dificuldades de definição do real caráter
desse índio, sobre qual imagem ele terá, e a forma como os povos
indígenas do Nordeste foram denominados, e representados
(principalmente em museus), João Pacheco de Oliveira afirma que mesmo
com a existência de núcleos de pesquisa sobre os povos indígenas do
Nordeste:
Considerações finais
Em vista do que foi discutido até aqui, acerca das concepções e da
utilização da imagem dos Xukuru-Kariri no município de Palmeira dos
Índios, podemos perceber o quanto tal debate é importante, uma vez que
contribui para um esclarecimento sobre a reformulação do conceito de
índio, que se faz urgente na atualidade. É preciso deixar claro que o índio 18
Referência bibliográfica
CHAVES, Julio Cézar. “Eu não queria que índio se tornasse peça de
museu” – polifonias dos Xukuru Kariri sobre museus. Maceió, 2014 (não
publicado).
LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006.
COLONIZAÇÃO BRASILEIRA:
ANTECEDENTES, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS
1
Graduando em História pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL Campus III – Palmeira dos
Índios, membro do Grupo de Estudos da História dos Povos Indígenas – GPI/AL.
E-mail: brunemberg@hotmail.com
Historiador e Antropólogo. Professor Assistente na Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, Campus
III – Palmeira dos Índios. Coordenador do Grupo de Pesquisa da História dos Povos Indígenas de Alagoas
–GPHI/AL. E-mail: adelsonlopes@hotmail.com
2
Abstract: The meeting between Portuguese navigators and Amerindian peoples of the
region that corresponds to the current Brazil, in 1500 (supposed discovery) was the
initial point of contact between two totally different cultures. It is known that the
invading people's culture stood out to the native peoples, by imposing. However, the
conqueror, even militarily superior, preferred to act cautiously and strategically in
order to create ways to impose their domination, preparing speeches that served to
justify their purposes. In view of this, this text proposes to make an analysis of the
proportions and dimensions that these discourses reached during the early years of
Brazilian colonization, serving as justification for various forms of exploitation. This
study was guided by literature on culture in the concepts of Roque de Barros Laraia,
the description of the new exposed earth in the letters of Nobrega and Anchieta
analyzed by Filipe Moreau and the discovery in Janote Pires, among others. Thus, we
discuss how these literatures contributed to change the indigenous tradition, reducing
complexity and the importance of culture by projecting an image contrary to real, and
expressed the essence of Portuguese colonialism in Brazil, picture this, that even
today, is accepted and played.
padres jesuítas às mais longínquas terras para salvar as almas dos nativos
que viviam na iniquidade. Esses padres, em sua maioria, foram apenas
adestradores, ora, sua missão baseava-se em anular a cultura desses
povos e instalar a sua no lugar, de modo que tal ação viesse a facilitar o
controle da metrópole sobre a colônia.
O Primeiro Discurso
Considerações finais
Em vista do que foi discutido, podemos perceber que o bem
articulado discurso dos europeus, seja ele religioso ou político, mostra-se
totalmente voltado para a busca pela posse de riquezas. A ideia de que é
justo apropriar-se das terras dos povos bárbaros e infiéis porque são eles
que a estão invadindo, uma vez que Deus é o verdadeiro dono destas,
traduz bem essa necessidade de legitimar, mesmo que da maneira mais
hipócrita, a invasão. É incrível como a simulação dos colonizadores, que
julgavam agir sobre os preceitos cristãos os cegou ao ponto de não os ter
deixado ver que quem praticava ações demoníacas eram eles próprios.
A força do discurso ideológico disseminado pela igreja católica
sobre os povos indígenas foi tão grande que até os padres jesuítas que
ajudavam a criá-lo, passaram a acreditar nele. Em vista da incapacidade
desses missionários em enxergar que eram os índios e não eles quem mais
se aproximavam dos preceitos cristãos, foi construída uma estratégia de
dominação e combate ao mal que julgavam permear o cotidiano nativo,
como a poligamia, a antropofagia e a nudez.
De fato andavam nus, alguns praticavam a antropofagia, tinham 15
Referências
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. São Paulo: Dominus,
1963. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br. Acesso em:
01/04/2015.
CARRARA, Douglas. Relatório Preliminar Circunstanciado de Verificação
e Delimitação Terra Indígena Xukuru-Kariri. Disponível em:
http://bchicomendes.com/cesamep/relatorio.htm. Acesso em
01/04/2015.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: Uma introdução a antropologia social. 17
Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
ABSTRACT - The text is resulted of research on the history of the course of History of
the Federal University of the Paraná aiming at to understand the separation researcher
and professional professor who constituted the institutional profile of the courses of
the History in Brazil, that they had turned in direction to a methodological treatment
of scientific nature lined up to the public politics of scientific and technological devel-
opment characteristic of the desenvolvimentist project of the military governments.
Mainly after the legal and programmatic measures that the courses had suffered occa-
sionally from the initiatives that, along years 1960, had emptied in the University Re-
formation in 1968. The course of Master's degree of the UFPR was an emblem of that
situation, for where it is possible to verify the huge valuation of the searching scientist
in respect to the depreciation of the professional professor of secondary education in
the trajectory of the Brazilian degrees of History.
Key-words - History, degree course, Higher Education
1
Doutor e Pós-doutorando – UFRJ; Professor adjunto da UNESPAR (Campus de Campo Mourão), no curso de Histó-
ria, e integrante do PPGSeD, Mestrado Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento.
A história de cursos de História é campo recente de pesquisa, não
por coincidência incrementado num momento em que muito do conheci-
mento histórico produzido pela ciência histórica sofre concorrência de
produções que configuram uma “cultura da memória”, da qual deriva
“desde a década de 1970”, segundo Huyssen (2004), a restauração histoci- 2
Referências Bibliográficas
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar reflexões teóricas acerca da História
do Tempo Presente, dissertando sobre as suas especificidades, bem como uma
discussão pautada no tempo histórico, a partir do conceito de Regime de
Historicidade. A problemática apresentada neste escrito utiliza da produção acadêmica
de alguns historiadores e historiadores que, de maneira instigante e buscando ampliar
a discussão, dissertam sobre o tema proposto, sendo iniciado com as possibilidades
desta perspectiva histórica que se aporta em um passado recente e, por segundo
momento, um debate sobre as relações com o tempo histórico que influenciaram
diretamente no campo científico da história.
Palavras-chave: História do Tempo Presente, Teoria da História, Regime de
Historicidade
ABSTRACT: This article aims to present theoretical reflections on the History of the
Present Time, expounding on their specificities as well as a discussion guided in
historical time, from the concept of historicity regime. The issue presented in this
writing use of academic production of some historians of thought-provoking way and
seeking to broaden the discussion, lecture on the theme, which started with the
possibilities of this historical perspective that brings in the recent past, and per second
moment a debate on relations with the historical time that influenced directly in the
scientific field of history.
Keywords: History of the Present Time, Theory of History, Historicity Regime
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina –
PPGH-UDESC.
INTRODUÇÃO
2
Entrevista realizada com o Henry Rousso acerca da “História do Tempo Presente” na revista Tempo e
Argumento (2009) do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa
Catarina (PPGH-UDESC) disponível em:
<http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/705/608>.
3
Para maior aprofundamento acerca do conceito conferir a obra HARTOG, François. Regimes de
historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Hartog, se é argumentado que, diferentemente do que fora acusado
sutilmente por Hartog, o historiador do tempo presente não encarna o
presentismo, pelo contrário, ela é uma reação a este processo, refletindo
acerca do tempo presente e seus aspectos, a partir de um recuo relativo
do pesquisador, possibilitando por assim, um olhar crítico sobre o próprio 3
tempo.
Partindo destas perspectivas introdutórias e munindo-se de
argumentos e debates com outras produções teóricas, o presente artigo
visa disponibilizar uma reflexão acerca da HTP (História do Tempo
Presente) e as suas especificidades enquanto campo de pesquisa, a partir
de historiadores como LAGROU (2009), HOBSBAWM (1998) e o próprio
ROUSSO (2007). Por outro lado, autores como REIS (2003) e HARTOG
(1997), são utilizados enquanto aporte para uma discussão acerca do
tempo histórico a partir do conceito Regime de Historicidade.
A vasta possibilidade de acesso a fontes, principalmente as
testemunhais ou a partir da memória do indivíduo, se faz uma ferramenta
extremamente valiosa ao historiador do tempo presente, principalmente
por intermédio da metodologia da História Oral e as suas possibilidades de
reflexão acerca da entrevista e do entrevistado, sendo assim, como
dissertado pela historiadora Verena Alberti, “Uma entrevista de história
oral pode reconstituir processos decisórios e revelar informações que de
outra forma se perderiam” (ALBERTI, 2000, p. 2), apresentando as
subjetividades e as experiências individuais que são valorizadas por
componentes de grupos sociais, ampliando a compreensão do passado,
disponibilizando uma análise crítica acerca da narrativa e de sua
representação do passado, possibilitando relacioná-la (a entrevista) com
outras fontes disponíveis. A História do Tempo Presente, munindo-se da
riqueza das fontes orais, possibilita ao pesquisador manter contato com o
testemunho vivo de seu objeto de estudo, tornando-se um adicional às
múltiplas aberturas desta perspectiva histórica. Marieta de M. Ferreira, de 4
OS REGIMES DE HISTORICIDADE
18
Neste sentindo, Ricoeur não atribui ao calendário uma referência
objetiva do tempo, mas o utiliza enquanto uma medida que, todavia, é
incapaz de ritmar os tempos heterogêneos, descontínuos e as lembranças
e esquecimentos históricos dentro desta medição. No ponto de vista do
historiador alemão Reinhart Koselleck, nos escritos de REIS (2003) datar e
observar o tempo do calendário (natural) e os vestígios, seriam os
primeiros passos do historiador em sua empreitada de investigação
histórica.
longo período de duração, tendo em vista que “(...) todas têm em comum
o fato de que suas constantes temporais ultrapassam o campo de
experiência cronologicamente registrável dos indivíduos envolvidos em
um evento (...)” (KOSELLECK. 2006; 136), ou seja, são contextos estruturais
que se tornam supraindividuais, extrapolando o tempo vivido do evento,
tornando-se um constante processo.
Para além da mobilização destes elementos de interpretação acerca
do tempo histórico e do viés adotado pelo historiador para entender e
interpretar a relação com o tempo em sua pesquisa, José Carlos Reis
apresenta aspectos concebidos nos Annales onde “(...) o homem não é só
sujeito, consciente livre, potente, criador da história; ele é também e, em
maior medida, resultado, objeto, feito pela própria história (...)” (REIS, J.C.
2003), mas que as estruturas de longa duração (sendo estas as que se
modificam de maneira lenta), no caso desta perspectiva, acabam por
encobrir as especificidades das experiências humanas, tendo em vista a
suas mudanças quase que “imperceptíveis” sob os olhares de um
pesquisador desatento (como em casos sociais, culturais e políticos).
Tendo em vista ser humano enquanto produtor de histórias, experiências
e expectativas, ele acaba por tornar-se o objeto de sua pesquisa,
sobretudo pelo princípio de que este se relaciona e vive determinado
tempo, interagindo de múltiplas formas com a sociedade na qual se
insere.
Munindo-se destas reflexões teóricas acerca da relação destes três
elementos com o tempo histórico e o tempo natural, se faz interessante
enfatizar, assim como o próprio José Carlos Reis fez em seu texto, a 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carolina do Amarante1
1
2
Patrícia Volk Schatz
Abstract: Florianópolis, capital of the State of Santa Catarina, stands out as a potential
national touristic destination. The developmental history of Florianopolis shows
political-institutional speeches and measures that explain the evident desire of
promoting Florianopolis as a tourist capital. As a consequence of its quick urban
development and media publicity of the island, the local real estate market started to
boom, provoking environmental, social, and cultural issues. Therefore, this article
intends to identify, within the city’s different development stages, the responsible
factors that contributed to this image of Florianopolis as a tourist destination, and how
its urban development is connected to economic and political interests.
Keywords: Urbanization. Expansion. City.
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade do Estado de
Santa Catarina (UDESC). Email: carolina_doamarante@hotmail.com
2
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Email: paty_schatz@yahoo.com.br
Introdução
Slogans como “Florianópolis capital turística” e “Florianópolis
capital turística do Mercosul” 3 fazem parte de uma trajetória de discursos
e políticas institucionais adotadas para a promoção da capital catarinense.
Historicamente verifica-se que as fases de urbanização de 2
3
A concepção para a cidade de Florianópolis como a “Capital Turística do Mercosul”
surge “com o acordo de criação do mercado comum entre o Brasil, a Argentina, o
Paraguai e o Uruguai, em 1991, Florianópolis passou a ser divulgada pelo governo local
como ‘A Capital Turística do Mercosul’, que deveria consagrá-la como polo turístico
internacional e, ainda, como a sede de um novo polo de investimentos e de indústrias
de alta tecnologia.”. (SUGAI, 2015, p. 27).
O texto divide-se em duas partes, sendo que a primeira procura
discutir a emergência dos discursos da vocação turística de Florianópolis
na conjuntura das transformações históricas da cidade. Já a segunda parte
apresenta evidências do papel da imprensa e da atividade imobiliária na
propagação de mensagens alusivas a “Florianópolis, capital turística do 3
4
A lei municipal, conhecida como Plano Diretor é elaborada pela prefeitura em
conjunto com a sociedade civil e encaminhada a Câmara de Vereadores para
aprovação. Este instrumento da política de desenvolvimento municipal tem como
finalidade determinar o que não pode e o que pode ser construído em cada parte do
mesmo. Com isso, visando estabelecer uma melhor qualidade de vida, buscando a
preservação dos bens ou áreas de referência urbana para a população da comunidade
estabelecida.
em infraestruturas para manutenção das atividades econômicas que
permitiram investimentos em abastecimento de água e energia.
A construção da ponte Hercílio Luz na década de 1920 pretendeu
afirmar a capital de Santa Catarina como uma cidade moderna que
valorizava o transporte rodoviário. Como consequência dessa obra de 4
5
Em 1974 a DEATUR e o BESC Empreendimentos e Turismo S/A formam a Empresa de
Turismo e Empreendimentos do Estado de Santa Catarina S/A (TURESC).
implementação da empresa Eletrosul Centrais Elétricas S.A., da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da BR 101.
Também é preciso ressaltar que as mudanças do cenário urbano
florianopolitano decorrentes do segundo Plano Diretor de 1976
permitiram que a cidade se tornasse mais dinâmica. Esta politica 7
6
Segundo dados do IBGE em 2004 a população de Florianópolis era de 369.102
pessoas e em 2015 esse número chegou a 469.690 habitantes. Fonte: IBGE (2015).
Segundo Fantin (2000) é possível identificar dois grupos distintos
nos debates relacionados acerca do crescimento da cidade de
Florianópolis. Para a autora a elite local e os grupos políticos dirigentes
projetavam a capital catarinense como uma metrópole, enquanto que
intelectuais defendiam a manutenção de um porte médio para a cidade. 8
7
No Plano Diretor dos Balneários e Interior da Ilha observa-se o interesse
especificamente na preservação das tradições “que, se por um lado o turismo é, na
verdade, uma das potencialidades mais concretas da Capital de Santa Catarina, ele
assume hoje uma característica predatória, desequilibrando o sistema natural e
desestruturando as comunidades tradicionais, não apresentando até então, resultados
econômicos com maior significado para a Região. As perspectivas futuras do litoral da
Ilha de Santa Catarina estão, no entanto, ligadas, sem dúvida, ao crescimento de seus
balneários como centros de turismo e lazer. A preservação dos recursos naturais e dos
núcleos, atividades e hábitos tradicionais (pesca, vilas, folclore, etc...) é, portanto,
condição fundamental, não só para a sobrevivência de importante segmento da
população e da cultura local, como, ainda que paradoxalmente, para a própria
sustentação destas áreas como polos privilegiados de atração turística.” (Diagnóstico
do Plano Diretor dos Balneários, 1984, p. 5-6).
Essas áreas, além do objetivo de propiciar a
continuidade das atividades tradicionais, foram
propostas visando também conter a expansão
“desordenada” dos usos urbanos e turísticos, processo
em franco andamento naquele momento. Com a
acessibilidade melhorada e sujeitas a enormes
pressões imobiliárias, a ocupação dessas áreas não foi 14
contida por esta estratégia, levando a sua ocupação
de forma clandestina a partir do loteamento sucessivo
das glebas coloniais. Este processo, que ocorreu por
toda a Ilha, foi particularmente violento nas grandes
planícies insulares, Campeche e Rio Vermelho. Apesar
de levantar algumas alternativas de incentivo à pesca
(criação de cooperativas) e à agricultura (incentivos
governamentais), o plano não apresenta nenhuma
especulação de como estas atividades poderiam ser
integradas ao desenvolvimento turístico. (REIS, 2012,
p. 180).
8
Grifo da autora.
Diante de uma conjuntura da cidade de Florianópolis que se volta
para o desenvolvimento, até mesmo o Campeche entra nesse contexto e
passa a ser alvo também de uma demanda de turismo que é muito
valorizada nos aspectos históricos, econômicos e sociais que explicam o
crescimento urbano do bairro. Dessa forma, além desta região, no mesmo 16
17
O capital imobiliário que também passou a investir no Sul da Ilha de
Santa Catarina promovendo o crescimento, por exemplo, do bairro
Campeche que se tornou destino turístico e residencial. Nesse sentido é
perceptível o boom imobiliário no local através da multiplicação de
condomínios fechados de alto padrão.
Desta forma, pode-se perceber que houve um interesse muito
grande no bairro durante a expansão urbana de Florianópolis e que isso é
notório diante da quantidade de propagandas de venda do bairro que
podem ser levantadas. Diante de uma conjuntura da cidade de
Florianópolis que se volta para o desenvolvimento com o emblema de
“Capital Turística do Mercosul”, até mesmo o Campeche entra nesse
contexto e passa a ser alvo também de uma demanda de turismo que é
muito valorizada no sentido de mercado, de movimentação econômica,
ou seja, d’A Cidade Nova do Campeche.
A planície litorânea do Campeche vem sofrendo, desde o início da
década de 1990, transformações em suas áreas de ocupação urbana e no
bairro como um todo, e é a partir dessas mudanças que permitem refletir
a quem deve servir o plano diretor da região do bairro do Campeche ou a
quem tem servido.
A partir da perspectiva d’A Cidade Nova do Campeche, muito
semelhante, por exemplo, da concepção da região industrial do Vale do
Silício nos Estados Unidos foi formulado o Plano Específico do Parque
Tecnológico do Campeche de 1992. Dessa maneira, torna-se compreensível
quais eram as propostas para o bairro, até então com aspectos rurais, que 18
Internacional que por ser constituírem em praias o uso que se faz dessas
localizações por parte dos empreendimentos imobiliários seria a boa vista,
ou seja, a espetacular natureza e a qualidade de vida, ou “A vista real do
melhor momento da sua vida” 9. (FILHO, 1992; SANTOS, 1990).
Segundo Márcia Fantin (2000), a grande parte das atrações
turísticas da Ilha de Santa Catarina são as suas belezas naturais. Se esta
procura por parte dos turistas seria a de apreciar e curtir a natureza
exuberante da capital catarinense é a especulação imobiliária que se
aproveita destes migrantes internos para negociar as paisagens
privilegiadas, fazer empreendimentos estratégicos rentáveis onde haja a
intervenção direta ao meio ambiente natural da cidade de Florianópolis.
Apesar, de este ser um cenário ameaçador que coloca em jogo o futuro e
as belezas naturais da cidade. Esta divulgação e promoção da Ilha de Santa
Catarina como uma cidade turística acontecem geralmente por meio das
propagandas, como se observa, por exemplo, em uma revista de grande
circulação no Brasil que seria a Revista Viagem e Turismo da editora Abril
cujo título é “Guia: 101 lugares para ser feliz” e classifica a cidade de
9
Título baseado na propaganda do panfleto do condomínio residencial Vila Itararé,
ver: Panfleto Vila Itararé.
“Florianópolis - Santa Catarina” como “Grandes Cidades” e a descreve da
seguinte maneira:
10
A respeito do crescimento da Ilha de Santa Catarina pela vinda de turistas o Plano de
Desenvolvimento Turístico com atualização em 1999 aponta que “As praias e as
belezas naturais são os maiores atrativos que motivam a vinda de turistas para a
Florianópolis na alta estação, segundo pesquisas realizadas em 1981 e 1997.” (Plano
de Desenvolvimento Turístico, 1999, p. 37).
grandes empreendedores imobiliários e pelos governos estadual e
municipal. Desta maneira, vários empreendimentos e condomínios são
construídos em conjunto com algum aspecto físico ou simbólico da
natureza para atrair investidores e compradores, ou seja, os migrantes
que acabam visitando por turismo a Ilha de Santa Catarina. (HENRIQUE, 22
2005).
Documentos jurídicos:
Diagnóstico do Plano Diretor dos Balneários, 1984.
Plano de Desenvolvimento Turístico, 1999.
O GUIA DO VIAJANTE NO TEMPO E NO ESPAÇO EM SALA
DE AULA: PRÁTICAS DE LEITURA E DE ESCRITA NA
APRENDIZAGEM HISTÓRICA
Carolina Corbellini Rovaris 1
1
INTRODUÇÃO
1
Professora de História. Graduada em Bacharelado e Licenciatura pela Universidade do Estado de Santa
Catarina – UDESC. E-mail: carolcrovaris@gmail.com
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de
atividade desenvolvida pelos alunos do curso de Bacharelado e
Licenciatura em História (Carolina Corbellini Rovaris, Claúdio Luiz Pacheco
e Jéssica Cristina Back Gamba), da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), durante a disciplina de Estágio Curricular 2
2
Enunciado elaborado pela autora e pelos colegas do grupo de estágio, Claúdio Luiz Pacheco Júnior e
Jéssica Cristina Back Gamba.
Para além do desenvolvimento da escrita e do processo criativo dos
alunos, a atividade tinha como objetivos abordar diferentes períodos
históricos, interpretando-os como um processo e desenvolver nos alunos
a capacidade de pensar o outro como sujeito do seu próprio tempo,
desconstruindo noções de hierarquia entre presente e passado. 5
3
Optou-se por dar nomes fictícios aos alunos, a fim de preservar a identidade dos mesmos.
R.: Ser cidadão hoje é ter direitos ter documentos,
opinião publica.
R.: Ser cidadão naquela época era ter 18 anos e ser um
homem livre, crianças mulheres e escravos não eram
considerados cidadãos.
7
O aluno não conseguiu desenvolver uma narrativa diferenciada
conforme solicitado pelos estagiários. Antes da resposta em si o aluno
inicia a frase com a letra “R.:”, anunciando que a resposta direta às
questões do enunciado virá em seguida. Cada pergunta foi respondida
separadamente, não havendo conexão entre as duas temporalidades.
Além disto, o aluno mobilizou na resposta, talvez para tentar deixá-la mais
satisfatória, informações que haviam sido trabalhadas anteriormente na
aula expositiva: “crianças mulheres e escravos não eram considerados
cidadãos.”. Não é evidente na resposta o porquê desta informação estar
ali presente e por que ela justifica ou não o próprio aluno ser considerado
cidadão. A tentativa de construir uma narrativa histórica com explicações
multidimensionais não foi alcançada. Diferentemente do que observamos
na resposta de Maurício:
Referências
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma
educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica.
Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) / Instituto de Educação
e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144.
Carolyne do Monte1 1
Resumo
Este trabalho apresenta um relato de experiência de uma prática de ensino voltada
para o ensino de história que valoriza um ensino multicultural contribuindo com o
processo de mudança apontado pela Lei 11.645/2008, realizada em uma escola de
ensino básico da cidade do Recife. Sendo assim visamos compartilhar uma experiência
vivida em sala de aula e seus resultados, sobre a leitura da obra literária de caráter
cosmológico sobre os nativos Tupinambá, Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa.
Por meio de uma perspectiva inovadora no sentido de adequar conteúdos as
realidades dos educandos, desenvolvemos com os educandos a produção de
imagens/desenhos a partir da leitura da obra, analisando-as é possível perceber o
processo de recepção da mesma, seguindo a ideia de Hans Robert Jauss de que o leitor
é protagonista no processo de leitura.
Palavras chaves: Lei 11.645/2008; Tupinamba; Recepção;
Abstract
This paper presents an experience report of a teaching practice focused on the
teaching of history that values a multicultural education contributing to the process of
change appointed by Law 11.645 / 2008, held in a primary school in the city of Recife.
So we aim to share a lived experience in the classroom and their results on the reading
of literary work of cosmological character of the natives Tupinambá, My destiny is to
be jaguar, Alberto Mussa. Through an innovative approach in order to adapt content
the realities of the students (FERREIRA; TORRES, 2014), developed with the students
producing pictures / drawings from the reading of the work, analyzing them you can
see the reception process the same, following the idea of Hans Robert Jauss that the
player is the protagonist in the reading process.
Key words: Law 11,645 / 2008; Tupinamba; Reception;
1
Carolyne do Monte De Paula, graduanda em História-UPE. Monitora do Laboratório de ensino de
História Mata Norte/UPE. Orientação: Profa. Dra. Maria do Carmo Barbosa de Melo.
Apresentação
para respeitar.
2
Dados apontados pela análise da aplicação do Projeto Hicon, pesquisa realizada com alunos e
professores de escolas de Portugal.
sempre atentando para como essa abordagem pode contribuir com o
processo de formação de consciência histórica entre os educandos. E são
com estes aspectos que esse trabalho visa contribuir e investigar em uma
prática de ensino desenvolvida no Laboratório de Ensino de História -
Campus Mata Norte da Universidade de Pernambuco, como foi 4
apresentado acima.
3
C.M. Porto; M.B.D.S.M. Porto. A evolução do pensamento cosmol´ogico e o nascimento da ciência
moderna (Evolution of the cosmological thought and the birth of Modern Scien) .Revista Brasileira de
Ensino de Física, v. 30, n. 4, 4601 (2008)Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000400015#no1b acesso em:
07/10/2015.
definitivamente a relação entre o cosmos e o homem. Explicar o cosmos a
partir daí torna-se cada vez mais cientifico e contestável.
4
ARMSTRONG,Karem.Breve história do mito.SP;Cia. das Letras,2005.p.1-39.
5
“ Momento mori significa: viva sua vida terrena de maneira a ganhar felicidade na vida após a
morte”(BAUMAN,2008,p.47)
segundo Bauman é uma característica inata 6 dos humanos, que logo
admiti suas fraquezas elegendo poderes maiores, é o medo, que dá nome
a nossa incerteza e alerta-nos do perigo. É a partir da criação de
significados que são ressignificados pelos contemporâneos, que o mito
pode explicar a realidade de um grupo social. 6
6
BAUMAN,Zygmunt.Medo Líquido.RJ:Zahar,Ed.,2008,p.45.
como também visamos contribuir com o processo de mudança instituído
pela Lei 11.645/2003, promovendo uma reflexão sobre a cultura dos
nativos brasileiros.
7
Alusão ao mito de Adão e Eva. A narrativa bíblica inicia-se com a criação do mundo por Deus, Javé, o
Deus dos Hebreus, e dentro dessa criação Ele cria o homem cheio de direitos e livre para desfrutar de
tudo do melhor da criação do seu criador exceto o fruto da árvore do conhecimento do bem e o do mal.
Nesse contexto Deus cria a mulher que surge num contexto totalmente diferente do homem.
Primeiramente a mulher não surge como fruto de uma inspiração de Deus, mas como fruto da
perspicácia de Deus que percebe que nãoé bom que o homem viva só, em vez de liberdade e soberania
na terra a mulher vem ao mundo subjugada marcada por uma funcionalidade, de auxiliar e
corresponder ao homem. ( Gênesis 2: 15-18)
lagartos em vez de crianças. Mas esse é só o começo, das violações para
com as mulheres nessa história. Outra cena marcante é a de um irmão
que estupra sua própria irmã grávida: “Certo dia aproveitando o momento
em que Ajuru saíra para a caça, Suaçu, irmão de Inambu, subiu sorrateiro
na rede da sua própria irmã que estava grávida, e violou a lei do incesto” 10
(MUSSA,2009,p.41).
8
Circe Bitencourt faz ao fazer uma abordagem sobre o ensino de história e seus métodos, observa que a
presença do ato de decorar é uma constante no ensino de história, porém a mesma esclarece que o
professor deve desenvolver no educando a capacidade de memoriza em contraposição a aprender de
cor.
mesmo valor e veracidade para esta sociedade quanto o mito da criação
do mundo em sete dias é para a maioria deles.
Capítulos selecionados
9
MUSSA, Alberto. Meu destino é ser Onça. Rio de Janeiro: Record,2009.p.67-69
leitura, percorre toda a história da teoria de recepção na literatura
iniciada com, a Poética de Aristóteles até chegar nas mais novas correntes
iniciadas no séc. XX, por Hans Robert Jauss, na Alemanha e Humberto Eco,
na Itália, expressa muito bem de maneira sucinta as ideias de Hans
Robert Jauss sobre recepção da leitura, “a partir dessa teoria o leitor 13
10
Considerando os estudos recentes que consideram o termo “nativo” o termo mais apropriado para
referir-se aos indivíduos que compunham as sociedades americanas antes da chegada dos europeus, o
termo índio aqui é usado propositalmente, para expressar a visão de índio como bom selvagem,
presente em relatos de cronistas.
Considerações finais
é ser onça despertou o interesse dos educandos pela leitura, assim como a
narrativa os envolveu, principalmente com os personagens. Conhecer a
profundidade da narrativa mitológica dos Tupinambas forneceu-lhes
subsídios para entender a lógica cultural da mesma, mudando a
concepção negativa que muitos educandos possuíam sobre o canibalismo.
A leitura de uma obra fantástica, assim como a escolha da produção de
imagens, como parte do processo avaliativo da prática, fez com que o
conteúdo se adequasse a realidade do educando, fazendo com que a
experiência assumisse uma característica inovadora segundo Ferreira e
Torres. Contudo ao final desta experiência, que foi realizada com alunos
do sexto ano do ensino fundamental de uma escola particular de pequeno
porte do município de Recife/PE, observamos que a representação
colonizadora sobre o índio, ainda se faz muito presente entre os
educandos, nos indicando uma nova perspectiva para intervir. Além disto,
algumas representações nos chamaram atenção, como cabelos loiros nos
nativos e roupas típicas da pré-história, que alguns educandos utilizaram
em seus desenhos. Esses elementos com certeza nos apontam novos
motivos para futuras análises.
ILUSTRAÇÕES
21
23
A LEI 11645/08 NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM ESTUDO DE
CASO NA ESCOLA ESTADUAL HUMBERTO MENDES EM
PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL
Cássio Júnio Ferreira da Silva*
Luan Moraes dos Santos** 1
Resumo: Em 2008, foi sancionada a lei 11645/08 que tornou obrigatório o ensino de
história dos povos indígenas nas escolas regidas pelo Ministério da Educação e Cultura.
Mesmo com essas prerrogativas estabelecidas, nem todas as escolas aplicam os
estudos sobre os povos indígenas de forma adequada; um ensino que não
corresponde a pluralidade dos povos indígenas do Brasil e que os retrata, nos livros
didáticos, como seres ainda puros e cuja presença só é notada nos primórdios da
história do Brasil. Assim, o artigo que segue é resultado de um estudo de caso, na
Escola Estadual Humberto Mendes, localizada no Município alagoano de Palmeira dos
Índios, que evidencia a segregação dos indígenas em uma região rodeada por suas
comunidades. O embasamento teórico, consiste nos estudos feitos sobre as
comemorações do dia do índio pelo professor Edson Silva (2015), nas obras de Maria
Teresa Nidelcoff (1979), Paulo Meksenas (1988) e Michael Pollak (1989).
Palavras-chave: Ensino. Formação. Pluralidade.
Abstract: In 2008, it was the law 11645/08 wich made compulsory the teaching of
history of indigenous people in school governed by the Ministry of Education and
Culture. Even wuth these established power, not all schools conduct studies on
indigenous peoples appropriately; An education that does not correspond to the
plurality of the indigenous peoples of brazil and portray, in textbooks, but also pure
beings whose presence is only noticed in the early history of Brazil. thus, the following
articles is the result of a case study, in the school Estadual Humberto Mendes, located
in the municipality of Alagoas, Palmeira dos Índios, which shous the segregation of
indians in a regions surrounded by their communities. The theoretical basis, consists of
studies of the celebration on the Indian by teacher Edson Silva (2015), the works of
Maria Teresa Nidelcoff (1979), Paulo Meksenas (1988), and Michael Pollak (1989).
Keywords: Teaching. Formation. Plurality.
*
Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL e membro do Grupo de
Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas - GPHI/AL vinculado ao Núcleo de Estudos Políticos
Estratégicos Filosóficos - NEPEF. E-mail: cassiojunio3@gmail.com.
**
Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, membro do Grupo de
Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas - GPHI/AL e pesquisador voluntário PIBIC/FAPEAL
vinculado ao Núcleo de Estudos Políticos Estratégicos Filosóficos - NEPEF. E-mail:
lmoraes2xm@gmail.com
Considerações iniciais: o campo da pesquisa
1
Referência a lenda, escrita pelo comerciante e historiador local Luiz B. Torres, que narra a fundação do
município de Palmeira dos Índios de forma romanceada e com forte apelo ao altruísmo do colonizador e
ao auto sacrifício de um casal de índios apaixonados.
encontram reflexos de sua realidade nas manifestações culturais e nas
demais festividades da cidade. Tampouco as escolas, que deveriam ser
lugares de intersecção cultural e de troca de conhecimentos, oferecem um
ambiente socialmente democrático para estes cidadãos, de vez que o
ensino é puramente unilateral e voltado aos costumes da elite, não 3
2
Ver:
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio. IN: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3,
1989, p. 3-15.
entra em disputa. Os objetos de pesquisa são escolhidos de
preferência onde existe conflito e competição entre
memórias concorrentes. (POLLAK, 1989, p. 4)
3
Todas as cinco transmissoras de Rádio FM e AM da Região de Palmeira dos Índios, pertencem a
posseiros e grileiros das terras indígenas visadas no processo de delimitação territorial. Vale lembrar
que a última proposta da FUNAI gira em torno de 7021 ha.
escolar e como os jovens indígenas lidam com problemas como o
preconceito e a aversão tão incentivados nesses tempos de conflito.
Referências
NIDELCOFF, María Teresa. Uma Escola Para o Povo. 1ª edição, 17ª edição.
São Paulo: Editora Brasiliense, 1978.
Resumo: Este artigo tem por objetivo desconstruir a visão estereotipada existente em
relação aos índios Xucuru-Kariri, povo que vive no município alagoano de Palmeira dos
Índios-AL, mostrando que apesar das transfigurações étnicas e anos de invisibilidade
perante a sociedade (por medo de represália), mantém como elementos principais a
resistência e a sua cultura fortemente personificada em seus rituais. Logo
apresentaremos o Toré, dança performática que simboliza a união e a construção de
sua identidade, além de reforçar a busca por reconhecimento, através da luta pelas
terras que são suas por direito. A metodologia parte basicamente de pesquisas de
campo, realizadas com a população local, e estudos bibliográficos nos escritos de
Aldemir B. da Silva Junior(2013), Darcy Ribeiro, João P. de Oliveira (1998), José Adelson
Lopes Peixoto, Júlio Cezar Mellati pesquisadores da história indígena.
Abstract: This article aims to desconstruct the stereotyped view related to Xucuru-
Kariri, indigenous people who live in Palmeira dos Índios, municipality in Alagoas,
Brazil, showing that despite the ethnical transfigurations and years of invisibility in
front of the local society (due to the fear of retaliations), those people still keep the
resistance and culture which is strongly personified in their rituals as their main
elements. Next, the Toré will be presented as well. It is a performative dance that
symbolizes the union and the identity construction of the Xukuru-Kariri’s, besides
increasing the efforts of being recognized through the fighting for the territories that
are theirs by right. The methodology is based basically on field researches made with
the local population and on bibliographical studies of written materials made by
Aldemir B. da Silva Junior (2013), Darcy Ribeiro, João P. de Oliveira (1998), José
Adelson Lopes Peixoto, and Júlio Cezar Mellati, researchers of indigenous history.
1
Graduanda em História, pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL, Campus III, Palmeira dos
Índios. E-mail: mayza_cl@hotmail.com
2
Graduanda em História, pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL, Campus III, Palmeira dos
Índios. E-mail: erica18olivet@gmail.com
3
Prof. Orientador UNEAL.
INTRODUÇÃO
4
Pajé Xucuru- Kariri da Fazenda Canto, em entrevista feita a Cássio Júnio Ferreira da Silva
sertanejos; tal acusação serve também para justificar
os salários baixos que dão aos índios ou, em outras
regiões onde há excesso de mão-de-obra, para
recusar-lhes trabalho. (MELATTI, 1980, p. 193-194)
Conclusões Possíveis
Vimos até agora como os Xukuru-Kariri, povo indígena do
município alagoano de Palmeira dos Índios tem uma história permeada
pelos conflitos territoriais e a épica luta contra os posseiros. Constatamos
ainda que os rituais e o sagrado desse povo são elementos importantes
em sua luta e que configuram seu motivo de ‘ser’. Também discorremos
sobre o que pesam os cidadãos sobre os índios, e percebemos que o
preconceito ainda é uma constante.
Atualmente os Xukuru-Kariri lutam pelo reconhecimento perante a 11
Resumo
O artigo tem como objetivo fornecer elementos ao professor para que ele possa
introduzir em suas aulas de História o ensino da História da Ciência. A perspectiva
desse trabalho está fundamentada na possibilidade de promover uma discussão
interdisciplinar tendo no seu núcleo a história, ciência e a filosofia. A compreensão
dessas diferentes áreas do conhecimento, vista pelo prisma da História da Ciência,
fornece um maior entendimento aos alunos sobre as condições históricas, políticas e
sociais nas quais se constrói o conhecimento científico.
Palavras-Chaves: História, História da Ciência e Ensino de História
Abstract
The article aims to provide information to the teacher and help this professional to
introduce in their History classes the teaching about the History of Science. The
prospect of this work is based on the possibility of promoting an interdisciplinary
discussion, and has at its core the history, science and philosophy. Understanding the
different areas of knowledge, seen through the prism of the History of Science,
provides a better understanding to students about the historical, political and social
conditions in which builds scientific knowledge.
Keywords: History, History of Science and History teaching
1
Mestre em História da Ciência pela PUC-SP.
A sociedade contemporânea cada vez mais tem como principal base de
desenvolvimento o binômio ciência e tecnologia, porém é importante
lembrar que esses elementos sempre estiveram presentes na história
humana. Isso pode ser analisado quando o homem do paleolítico lascou
2
uma pedra sobre a outra e criou o biface. Esse artefato feito de pedra
talhada foi produzido usando algo fundamental que está presente e é
essencial na ciência, isto é, a imaginação, além disso, foi também
necessário um processo técnico para sua confecção, fato que se
encontrava dentro da própria sociedade.
O objetivo desse artigo é fornecer subsídios ao professor para que
ele possa utilizar a História da Ciência nas suas aulas, de modo que o
estudante possua condições de ter maior conhecimento em relação aos
processos históricos a partir de questões que discutam a ciência no
contexto em que ela foi produzida; permitindo assim aos alunos
compreender que a ciência não pode ser vista simplesmente como um
processo evolutivo de algo “inferior para algo superior.”
A introdução do ensino da História da Ciência contribui para uma
discussão interdisciplinar do ensino dentro das escolas e permite aos
alunos interpretar o mundo de forma holística no sentido grego do termo,
ou seja, compreendê-lo como um todo, pois ciência, arte, filosofia,
religião, política, economia e mitologia pode ser analisada pelo prisma da
História da Ciência. Cabe ressaltar que essa interpretação não tem a
pretensão de fornecer uma única resposta para aquilo que é selecionado
pelo professor e estudado pelos alunos, mas sim de fomentar o debate
através da possibilidade de outras hipóteses (MARTINS, 2006, p.17).
Atualmente pesquisadores da ciência, educação e da história
acreditam que o ensino da história da ciência é um importante
3
instrumento no ensino como forma de facilitar a compreensão da própria
ciência e consequentemente da sociedade que a produz (MARTINS, 2000,
p.47).
É importante lembrar que os aspectos da ciência de uma
determinada época não podem ser desvinculados de seu contexto
histórico, social e político (ZATERKA, 2004, p.30).
Nesse sentido o uso da História da Ciência nas aulas de História ajuda
no cumprimento do Artigo 22 da LDB que diz: “A educação básica tem por
finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
indispensável para a cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos superiores.”
Para que ocorra o desenvolvimento pleno da cidadania no mundo
atual existe a necessidade de que os jovens tenham conhecimento
técnico-científico. Esse conhecimento fornece a juventude algumas
possibilidades de inserção no mundo do trabalho; vale lembrar aqui que
uma das orientações existentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais é o
de vincular a educação com o mundo do trabalho e a prática social.
Essa tríada cidadania, mundo do trabalho e prática social deve ser
encarada com um projeto interdisciplinar que é característica sine quo non
da História da Ciência, daí sua função crucial de estar presente nas aulas
de história.
O momento atual de integração global de determinados valores
políticos e morais estão cada vez mais contidos da difusão de um modelo
4
de ciência e técnica que é Ocidental.
A compreensão não só desse modelo de ciência como também de
outros através da história torna-se algo fundamental na proposta de um
ensino de História que priorize não uma, mas sim várias sociedades
humanas (BURKE, 2000, p. 12).
Bibliografia
ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria. O que é História da ciência? São Paulo:
Brasiliense, 1994.
BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: UNESP, 2000.
BRASIL/MEC. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: 20 de dezembro de 1996.
DEBUS, Allen G. El hombre y la natureza em el renacimiento. Trad. S.
Rendón. 2ª. Ed. México: Fundo de Cultura Económica, 1996.
FIGUERÔA, Silvia. Ciência e Tecnologia, in PISNKY, Carla. Novos temas nas
aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.
HILL, Christopher. Origens Intelectuais da Revolução Inglesa. São Paulo:
Martins Fontes, 1992.
KEYNES, JOHN MAYNARD. De “Newton, o homem”. In COHEN, I Bernard &
WESTFALL, Richard S. Newton – textos, antecedentes e comentários. Trad.
Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto/Editora UERJ, 2002.
MARTINS, Roberto de Andrade. Que tipo de história da ciência esperamos
10
ter nas próximas décadas? Episteme. Filosofia e História das Ciências em
Revista (10): 39-56, 2000.
______________A história das ciências e seus usos na educação. Pp. xxi-
xxxiv, in: SILVA, Cibelle Celestino (ed.). Estudos de história e filosofia das
ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física,
2006.
______________. “Como não escrever sobre História da Física” – Um
manifesto historiográfico. Revista Brasileira do Ensino de Física. 23, 2001:
p.113/129.
MENDES, Alexandre Claro. A História da Ciência como instrumento da
prática interdisciplinar nos cursos de graduação In: 1º Congresso de
Graduação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Anais. São
Paulo: USP, 2015.
ZATERKA, Luciana. A filosofia experimental na Inglaterra do século XVII:
Francis Bacon e Robert Boyle. São Paulo: FAPESP/ASSOCIAÇÃO EDITORIAL
HUMANITAS, 2004.
HISTÓRIA ANTIGA E LIVRO DIDÁTICO:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Resumo:
Através do problema enfrentado pelos professores sobre a transposição didática, do
ambiente acadêmico ao ensino básico, abordaremos nesse ensaio algumas
considerações sobre o ensino de História Antiga e o livro didático, mostrando algumas
dificuldades encontradas pelo docente e algumas sugestões para melhoria na
aprendizagem do aluno.
Palavras-chave: Transposição Didática; História Antiga; Livro Didático.
Abstract:
Through the problem faced by teachers on the didactic transposition , the academic
environment to basic education , we discuss in this paper some considerations on the
teaching of ancient history and the textbook , showing some difficulties encountered
by the teacher and some suggestions for improvement in student learning.
Keywords: Didactic Transposition; Ancient history; Textbook.
1
*Graduanda na Pontifícia Universidade Católica de Goiás; Bolsista do PIBIC/CNPQ
Um dos maiores desafios enfrentados pelos professores, ao deixarem o
meio acadêmico e entrarem em contato com o Ensino Básico é a chamada
"Transposição Didática" (Bittencourt, 2011, p. 35-37), que segundo
Bittencourt, é a forma pelo qual os professores irão passar para seus 2
forma simultânea. Segundo Andréa Lúcia D.O.C. Rossi (1998) o que tem
mais ocorrido é o de abrir capítulos para cada uma das civilizações. Como
por exemplo, o surgimento, desenvolvimento e crise da sociedade egípcia,
o surgimento, desenvolvimento e crise da sociedade mesopotâmica, o
surgimento, desenvolvimento e crise da sociedade grega, o surgimento,
desenvolvimento e crise da sociedade romana. Como se essas sociedades
não tivessem interagido entre si.
Um recurso metodológico extremamente necessário no ensino de
História Antiga são os mapas. O uso de filmes em sala de aula, desde que
trabalhados com uma metodologia própria, se faz extremamente válido.
Além dos filmes, imagens de monumentos da Antiguidade, de construções
e objetos do uso cotidiano e mesmo de documentação escrita, são
interessantes para o aluno visualizar mais de perto o que o professor fala.
Existe a necessidade de mostrar para os estudantes, a importância
de aprender a História Antiga. Pois, "de olhos voltados às origens do
espetáculo das ações humanas, e porque não, a seus antecedentes, a
História Antiga é capaz de orientar os mais diversos grupos sociais a
visualizar o mundo presente de maneira crítica e cidadã" (ROSSI,
RODRIGUES, s/d, p. 256).
Uma metodologia da aprendizagem eficaz para a disciplina que
lecionam é aquela que permite ao aluno desenvolver três habilidades
básicas: 1) compreender a realidade na qual se encontra inserido, a partir
da problematização entre o presente e o passado, não esquecendo de
evitar os erros mencionados anteriormente; 2) alcançar níveis mais 8
RESUMO
Os estilos de aprendizagem são diferentes formas de perceber e processar as
informações, é como nos comportamos durante o processo de aprendizagem, diante
disso há três formas perceptivas de aprendizagem que são: a visual, a cinestésica 2
(corpo, sensação e movimento) e a auditiva. O objetivo geral de nosso artigo é
conceituar o que são dos estilos de aprendizagem. A pesquisa foi desenvolvida a partir
de uma revisão bibliográfica, analisando o que foi produzido sobre o tema, onde seu
cunho é de uma pesquisa qualitativa em que utilizaremos o método de amostragem,
pois a partir da aplicação do teste de VAC (Visual, Auditivo e Cinestésico) baseado na
teoria dos 6 estilos de aprendizagem de Markova podemos mensurar e identificar os
estilos de aprendizagem predominantes da turma HID0167 de Licenciatura em História
(UNIASSELVI). Acreditamos que hoje em nossa prática pedagógica não devemos apenas
ensinar os nossos alunos a aprender, e sim, devemos é aprender as várias formas como
ensinar, além de entender como estes melhor aprendem, e a teoria dos estilos de
aprendizagem é uma excelente ferramenta se bem aplicada, para desenvolvermos
práticas que norteiam tais condutas
Palavras-chave: Estilos de aprendizagem. Conceitos. Teorias. Aprendizagem.
1
Graduado em Licenciatura em História (UNIASSELVI). Especialista em Ensino de História (FATREMIS).
Mestrando em História Social (UFAM). Professor do Centro Metropolitano de Ensino- CEMETRO.
2
RESUMEN
Los estilos de aprendizaje son diferentes maneras de percibir y procesar la informa-
ción, nuestro comportamiento durante el proceso de aprendizaje, teniendo en cuenta
que hay tres formas de percepción del aprendizaje que son: visual, cinético (cuerpo,
sensación y el movimiento) y el oído. El objetivo general de nuestro artículo es concep-
tualizar lo son los estilos de aprendizaje. La investigación se desarrolló a partir de una
revisión de la literatura, el análisis de lo que se producía en el tema, donde su natura-
leza es una investigación cualitativa que va a utilizar el método de muestreo, a partir
de la aplicación de la prueba de VAC (visual, auditiva y cinestésica) basado en la teoría
de 6 estilos de aprendizaje Markova puede medir e identificar los estilos de aprendiza-
je predominantes de Grado clase HID0167 en Historia (UNIASSELVI). Creemos que hoy
en nuestra práctica docente no sólo debe enseñar a los estudiantes a aprender, y sí,
estamos aprendiendo las diversas formas de enseñar y comprender cómo aprenden
mejor, y la teoría de los estilos de aprendizaje es una excelente herramienta bien apli-
cada para desarrollar prácticas que guían dicha conducta.
Palabras clave: Estilos de aprendizaje. Conceptos. Las teorías. El aprendizaje.
1 INTRODUÇÃO
O paper tem como tema o que são estilos de aprendizagem, onde os
analisaremos através de suas conceituações e principais teorias
elaboradas.
3
A escolha do tema é pelo fato de dentro do Curso de Licenciatura
em História do Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI) na
modalidade de Educação à Distância (EAD), haver o componente curricular
obrigatório denominado de prática, onde são formados grupos para
elaborarem e produzirem suas pesquisas a partir de temas que nos foram
propostos pelo professor tutor externo, onde estes estão relacionados as
disciplinas cursadas durante nosso segundo módulo, cabendo aos
discentes uma delimitação maior do objeto de pesquisa e a produção de
forma individual de um paper.
O objetivo geral de nosso artigo é conceituar o que são estilos de
aprendizagem, onde procuramos também entender o que é
aprendizagem, compreender suas principais teorias e analisar os estilos de
aprendizagem da turma HID0167 do curso de Licenciatura em História do
Centro Universitário Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI).
A relevância de nosso artigo encontramos no sentido de que com o
entendimento dos estilos de aprendizagem dos alunos e professores no
processo pedagógico, tal compreensão pode contribuir para que ocorra
uma melhor qualidade no processo de ensino e aprendizagem.
O referencial teórico, fundamenta-se nos artigos disponibilizados na
rede mundial de computadores, e com a contribuição destes autores
pesquisados e citados poderemos analisar e compreender, como os etilos
de aprendizagem podem contribuir no processo pedagógico.
3 ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Dentro do processo de aprendizagem uns aprendem melhor vendo,
outros lendo e alguns ouvindo e também fazendo, sendo assim, foi
desenvolvida a teoria dos estilos de aprendizagem que busca identificar
como os sujeitos melhor se apropriam das informações para transformá-
las em conhecimento.
No entendimento de Barros (2008) estilos de aprendizagem são: [...]
maneiras pessoais de processar informação, os sentimentos e
comportamentos em situações de aprendizagem.” (p. 15), ou seja, são
formas de identificar como os sujeitos aprendem de uma maneira mais
significativa, onde busca-se compreender qual o estilo predominante de 9
3
Este teste está disponível no site http://www.vark-learn.com/english/page.asp?p=helpsheets. Onde ao
respondê-lo o aprendiz para reconhecer seu estilo de aprendizagem dominante tem 45 questões que
deve qualificar as 3 respostas em cada uma representa um dos estilos com 0, 1 ou 2 pontos, sem repetir
a mesma nota na questão e depois somar para obter o resultado de cada estilo.
Diante disso, o quadro 1, pode exemplificar melhor os dados que
foram colhidos, então vejamos:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem é o processo de apropriação da cultura humana
através das relações interdependentes das quais os sujeitos participam em
sua interação com outros, e em seu processo histórico.
Os estilos de aprendizagem são as formas ou maneiras individuais
como cada sujeito prefere aprender no processo de ensino e 20
aprendizagem.
Acreditamos que hoje em nossa prática pedagógica não devemos
apenas ensinar os nossos alunos a aprender, e sim, devemos é aprender as
várias formas como ensinar, além de entender como estes melhor
aprendem, e a teoria dos estilos de aprendizagem é uma excelente
ferramenta se bem aplicada, para desenvolvermos práticas que norteiam
tais condutas.
Por fim, é de se salientar que não esgotamos o assunto e que muito
ainda deve ser pesquisado sobre o tema para uma melhor prática
educativa, e por conseguinte, uma melhoria na qualidade da educação
através do processo didático pedagógico de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Marina da Silveira Rodrigues. Estilos de Aprendizagem. 2007.
Disponível em http://www.smec.salvador.ba.gov.br. Acessado em:
09/09/2011.
SILVA, Élen Cristina Lopes da; SILVA, Walkíria Magno e. Investigação dos
dados sobre estilos de aprendizagem dos alunos frequentadores da base
de apoio ao aprendizado autônomo. 2007. Disponível em:
http://www.ufpa.br/rcientifica/artigos_cientificos/ed_08/pdf/elen_cristina
.pdf. Acessado em: 05/09/2011.
"RELATO DE UM CERTO ORIENTE": A TEMÁTICA
INDÍGENA COMO PROBLEMATIZADORA DA
DIVERSIDADE CULTURAL EM SALA DE AULA
Everton Demetrio1
1
1
Pesquisador Mestre; evertondemetriopb@gmail.com
2
ABSTRACT | Given the mandatory teaching of history and indigenous culture in
elementary schools throughout Brazil, as required by law 11,645, extending the
provisions of Law 10,639 / 2003, which established the compulsory teaching of history
and african-Brazilian culture and Africa, thereby contributing to the discussion of this
issue, allowing the disruption of Eurocentric education model and the construction of
an education geared to the exercise of otherness in Brazilian school. Indigenous
peoples have historically been the subject of multiple images and concepts by non-
Indians and, consequently, the Indians themselves, deeply marked by prejudice and
ignorance; The text will now present itself aims mainly to share experience
engendered within the public school system where we could discuss the reality of
indigenous people, their struggles and sociocultural and political invisibility, as well as
a space to promote dialogue between two worlds distinct cultural, allowing the
construction of a closer knowledge of the indigenous reality and the current studies on
it, valuing dialogue and the rethinking of the differences. In such a way, this text is the
record discussed a path that goes down in open teaching in the context of history and
indigenous issues.
Keywords: indigenous history, education, otherness.
INTRODUÇÃO
O filósofo Sartre disse certa vez que “o inferno são os outros”. Sem
querer atacar questões educacionais, o francês põe em evidência o outro
em nossas vidas. Quem são os Outros? Diluição das fronteiras, mobilidade 3
DA EXPERIÊNCIA EM CURSO
indígena.
Todas as atividades planejadas para o momento da aula puderam
ser executadas adequadamente, quero dizer, tiveram desenvolvimento
satisfatório. Na 1ª semana utilizamos música, imagens e depoimentos de
lideres indígenas para identificarmos as diferentes realidades dos grupos
indígenas de nosso território, tentando demonstrar a situação desses
povos “ontem e hoje” no que diz respeito a aspectos tais como: modos de
vida, legislação, diversidade cultural e relacionamento com a sociedade
dita branca (ou homem branco). Tentamos com isso, desmistificar a ideia
de que o povo índio representa um padrão sem alterações, como também
produzir conceitos a partir das experiências e debates em sala de aula
sobre o que significa “ser índio”. Esses debates foram amparados pela
audição da música “Chegança” dos compositores pernambucanos Antônio
Nóbrega e Wilson Freire, e pela leitura de depoimentos de líderes
indígenas e da Declaração Universal dos Direitos dos Povos; ouvimos a
música e lemos os documentos tentando em meio ao debate estabelecer
relações entre as falas dos lideres indígenas e as informações da música,
buscando compreensão mais apurada das ideias de povo nativo e índio.
Sistematizando os procedimentos, 1º momento: exposição de
transparências com imagens referentes à grande diversidade cultural
indígena no continente americano, onde em seguida os alunos exporiam
suas observações; 2º momento: audição da música “Chegança” (Antônio
Nóbrega e Wilson Freire) seguida de debate; 3º momento: elaboração de
conceitos sobre o que é “ser índio” a partir da leitura e discussão de
depoimentos de líderes indígenas e da Declaração Universal dos Direitos 14
dos Povos.
Apesar de todos os procedimentos destacados terem sido
realizados sem prejuízos, a participação dos alunos nas
discussões/debates em sala pode ser considerado um aspecto negativo
desse primeiro encontro, na medida em que somente uma parte da turma
se dispôs a externar suas opiniões, o que certamente causou dificuldades
no momento de avaliar o nível de compreensão dos assuntos abordados.
De toda forma, parecia estar havendo atenção e observação daquilo que
ocorria em sala de aula; este aspecto se refletiu no momento de
elaboração dos conceitos ao fim dos debates. De maneira geral, as
produções escritas apresentaram bom nível de compreensão e coerência,
embora, as manifestações orais tenham ocorrido em numero reduzido.
Na 2ª semana também utilizamos música, só que desta vez ao fim
das atividades, para o simples deleite e apreciação da música indígena.
Como já mencionado, desta feita, o tema era a antropofagia ritual entre
os Tupinambás, empreendendo uma discussão sobre a construção da
identidade cultural daquele povo através do ritual antropofágico. A
imagem dos povos ditos primitivos têm sido segregada e hostilizada ao
longo dos séculos, sobre tudo quando o tema é antropofagia – que muitos
associam comumente a canibalismo –, por isso nossa intenção neste
segundo encontro foi buscar esclarecer e causar uma reflexão sobre esse
ritual mitológico.
No ritual antropofágico se destaca o fato de um homem comer
outro homem, o que, porém é cercado de significados de modo que os
Tupinambás buscam sempre ter uma morte honrosa (ser degustado pelos 15
RESUMO
O presente trabalho trata-se de uma análise da mediação cultural na promoção de
diálogos referente a preservação patrimonial, fomentando à pesquisa e a valorização
dos acervos presentes em museus. Resulta-se de uma análise da preservação
patrimonial, da função social dos Patrimônios Históricos, e da importância de
profissionais especializados em promover o atendimento museal. A realização deste
trabalho ocorreu durante o curso de Pós-graduação em “Cultura e História dos Povos
Indígenas” da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Para isso, foram
realizadas observações no Museu de Arqueologia da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (MUARQ), sendo este o objeto de trabalho, além de pesquisas em
periódicos que embasaram o referencial teórico desta pesquisa. Pretende-se
promover a salvaguarda dos acervos, apresentando considerações sobre a educação
patrimonial. Verifica-se através de observações a importância da mediação cultural, da
gestão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e a
necessidade de atenção dos gestores e de toda comunidade para a valorização e
preservação dos patrimônios culturais brasileiros.
Palavras-chave: Cultura material; Museologia; Educação Patrimonial.
1
Pós-graduada em Cultura e História dos Povos Indígenas e graduanda em História pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: elainecristineluz@gmail.com
2
Orientadora; Mestra em Antropologia pela Universidade Federal de Grande Dourados. E-mail:
lilianricciufms@gmail.com
ABSTRACT 2
This work it is an analysis of cultural mediation in promoting dialogue concerning
heritage preservation, fostering research and exploitation of present collections in
museums. It follows is an analysis of heritage preservation, the social function of
Historical Heritage, and the importance of specialized professionals to promote the
service museum. This work took place during the course of postgraduate studies in
“Cultura e História dos Povos Indígenas” of Federal University of Mato Grosso do Sul.
For this, observations has made in the Archaeological Museum of the Federal
University of Mato Grosso do Sul (MUARQ), which is the object of work, as well as
research in journals that supported the theoretical framework of this research. It is
promote the protection of collections, presenting considerations of heritage
education. There is through observations the importance of cultural mediation,
management of the Heritage Institute for National Artistic (IPHAN), and the need for
management attention and the whole community for the enhancement and
preservation of Brazilian cultural heritage.
Keywords: Material Culture ; museology ; Heritage Education .
INTRODUÇÃO
É evidente a importância da acessibilidade em torno dos patrimônios
materiais que, geralmente, são selecionados por grupos sociais que
constroem a identidade de um povo a partir de seus acontecimentos.
Partindo desta perspectiva, o desafio do historiador é investigar e 3
CASAS DE PATRIMÔNIO
A MEDIAÇÃO CULTURAL
3
Doutor em Arqueologia (MAE/USP); Pesquisador Colaborador – FAPEC; E-mail: gilson.martins@ufms.br
4 Doutora e Livre-Docente em Arqueologia Brasileira (MAE/USP); Chefe de Divisão do MuArq.
125/2006, de 03/08/2006, e n° 184, de 06/10/2006, como
unidade com status de Divisão da UFMS, vinculada à Pró-
Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. O MuArq foi
implantado por meio da Resolução n° 53 de 27/09/2006,
do Conselho Universitário da UFMS.
17
A escolha desse museu como parte deste trabalho, justifica-se pela
amplitude em artefatos preservados que se enquadram nas perspectivas
deste artigo. Com isso, nota-se que o presente museu além de coletar e
analisar diferentes sistemas culturais neste espaço regional também
configura uma série de exposições didáticas que colaboram com o
intercâmbio entre o público e as diversas culturas materiais encontradas,
tal como “oferecer apoio a programas de pesquisa e extensão
universitária e a cursos de graduação e pós-graduação”.5
Para realização de sua função social, o museu possui uma equipe de
mediadores culturais e pesquisadores, composto por uma Técnica
Laboratório de Arqueologia (Laura Roseli Pael Duarte) 6 e Alunos bolsistas
UFMS, Fundação de Apoio à Cultura e Ensino (FAPEC) e Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que apresentam os
artefatos induzindo o visitante a pesquisa, como por exemplo a
arqueologia de contato, e como sanando dúvidas pertinentes. Tendo em
vista que “o desenvolvimento das atividades de divulgação científica no
MuArq, abrangendo apresentação de audiovisual no auditório do museu,
seguida de visita monitorada à exposição de longa duração abrangeram,
5
Disponível em: http://muarq.sites.ufms.br/?page_id=174. Acesso em junho de 2015.
6
Licenciada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: laura.duarte@ufms.br
até o ano de 2012, um total de 11.229 pessoas, predominantemente
grupos escolares.”7
O MuArq/UFMS realiza aulas expositivas referente a Educação
Patrimonial através de questionários, mostras de exemplares e bens
patrimoniais, palestras, e oficinas de confecção de peças cerâmicas em 18
7
Fonte: http://muarq.sites.ufms.br/ Acesso em junho/2015
textos e imagens, que explicitam as informações pertinentes para
entendimento dos visitantes com o apoio da mediação cultural.
19
Fonte: http://muarq.sites.ufms.br/?page_id=239
8
“As perspectivas interativas no local abrangem: uma área de escavação arqueológica (estrutura
preenchida com areia lavada, dentro da qual se encontram peças líticas, cerâmicas e carvões), além de
mesas e cadeiras para utilização de carimbos de grafismos rupestres e cerâmicos arqueológicos, para
pintura. A atração que o espaço exerce sobre o público infantil é visível e inquestionável, porém
observa-se que seria mais plenamente estimulador ao conhecimento científico se houvesse um vídeo
introdutório à atividade nessa área, inclusive com linguagem em libras, pois o MuArq também recebe
público com necessidades especiais. Tal demanda motivou a produção de um vídeo de animação com
libras apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”. Fonte:
http://muarq.sites.ufms.br/ Acesso em fevereiro de 2016
Figura 2 – Visita da Escola de Anastácio
22
Fonte: http://www.anastacio.ms.gov.br/galeria/285/escola-de-anastacio-
visita-muarq--museu-de-arqueologia
Fonte: http://muarq.sites.ufms.br/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, pode-se observar que a Educação Patrimonial tem
um posto decisivo no processo de promover o exercício da cidadania e
construir relações efetivas, sendo uma importante fonte histórica.
Também observa-se que a função social do Iphan propõe o despertar do
público em relação a história e memória através dos patrimônios. 24
SILVA, Frederico Barbosa da; VIEIRA, Marco Estevão de M.; ZIVIANI, Paula .
TURBAY; PEDRO; PASSOS, Renata. Encontros com o futuro: prospecções
do campo museal brasileiro no início do Século XXI. Instituto Brasileiro de
Museus, Brasília, 2013.
Resumo
Nesse texto abordamos a trajetória acadêmica dentro do projeto “Catadores Da
Margem Esquerda : Coleta sobrevivência no médio Iguaçu no inicio do século XXI”.
Este projeto foi proposto pelo departamento de História da Fafi-UV de União da
Vitória, em convénio com a Seti-PR, nos anos de 2009 e 2011 nesta cidade.
Basicamente o projeto vinha em busca de colher depoimentos de personagens
chamados “catadores” de material reciclável e que viviam nas áreas ribeirinhas do rio
Iguaçu e parte da região, e que muitas dessas histórias foram selecionadas para
produzir um documentário sobre os mesmos. Com relação ao trabalho proposto
comentamos no presente texto os avanços com relação ao projeto, as experiências
vívidas e o aprendizado técnico e profissional, que não ficou apenas na elaboração não
somente de um documentário, mas de vários outros que ampliou ainda mais o sucesso
do projeto e de toda a equipe de trabalho que participou do projeto. Enfim os relatos
descrevem não somente a trajetória do projeto, seus avanços e expectativas
alcançadas, mas também relata o experiência profissional atingida por nós, e a ideia
principal do aprendizado de se fazer história e também ensinar Historia,
principalmente no que se tange a História local e oral.
Palavras Chaves: Documentário -Catadores - História
2
Abstract
In this text we approach the academic career within the "Scavengers The Left Bank:
Collection survival in the middle Iguaçu at the beginning of the XXI century." This
project was proposed by the History Department of Fafi-UV Victory Union in
agreement with the Seti-PR, in 2009 and 2011 in this city. Basically the project was
seeking to reap characters testimonials called "scavengers" of recyclable material and
living in the riparian areas of the Iguaçu River and part of the region, and that many of
these stories have been selected to produce a documentary about them. Regarding
the proposed work commented in this text advances with the project, the vivid
experiences and technical and vocational learning, which was not only in the
development not only of a documentary, but several others who further expanded the
success of the project and the entire team that participated in the project. Anyway
reports describe not only the trajectory of the project, its achieved progress and
expectations, but also reports the experience attained by us, and the main idea of
learning to make history and also teach history, especially when it comes to local
history and oral.
Key Words : Documentary - scavengers - History
Com aquela frase de Glauber Rocha: “Uma câmera na mão e uma
ideia na cabeça”, queremos relatar aqui as experiências vividas durante o
percurso do projeto “Catadores da Margem Esquerda: Coleta
sobrevivência no médio Iguaçu no inicio do século XXI”. Projeto
apresentado pelo colegiado de História com incentivo da Universidade 3
11
Referências Bibliográficas
Resumo:
O presente trabalho objetiva traçar reflexões a respeito do confronto de narrativas
que se formou ao longo da Primeira República no Brasil, entre os intelectuais boêmios
e o discurso oficial perpetrado pelo Estado brasileiro. Refletiremos, pois, sobre a
intelectualidade boêmia, os espaços de sociabilidade em que viviam e brevemente
sobre a sua luta contra o discurso oficial que legitimava as ações governamentais. No
início do século XX o centro da vida intelectual e boêmia no Rio são os seus cafés,
sempre envolvidos numa rica vida cultural e artística, agitada cotidianamente – para o
temor das autoridades oficiais – com muita intelectualidade e boêmia. Os intelectuais
boêmios criavam com uma incrível capacidade criativa e artística textos literários,
música popular, teatro de revista e carnaval, entre outros, retratando com muita ironia
e humor satírico a sociedade brasileira, o governo e qualquer um que opusessem aos
seus ideais.
Palavras-chave: Discurso; Intelectuais boêmios; Primeira República.
Abstract:
This work aims to trace reflections on the narrative of confrontation that has formed
over the First Republic in Brazil, among bohemians and intellectuals official discourse
perpetrated by the Brazilian state. We reflect, therefore, on the bohemian
intelligentsia, the social areas in which they lived and briefly about his fight against
official way of legitimizing government actions. In the early twentieth century the
center of intellectual life and bohemian in Rio are its cafes, always involved a rich
cultural and artistic life, hectic daily - for fear of official authorities - with much
intellectuality and bohemian. The bohemian intellectuals created with an incredible
creative ability and artistic literary texts, popular music, vaudeville and carnival, among
others, depicting very ironic and satiric humor Brazilian society, the government and
anyone opposed to their ideals.
Keywords: Discourse; Intellectual bohemians; First Republic.
Introdução
1
Acadêmico do curso Licenciatura em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
E quando a arte perde espaço pro governo que quer passar
Passando por cima do povo na arte de alienar
Alegoria de um sistema que quer tudo dominar
Expulsa o povo pobre pro espetáculo começar
Quando a arte perde a vida pro governo que só quer matar
Coloca o rabo entre as pernas e cada qual no seu lugar 2
Criando na cidade uma ilusão total
Que tá tudo maravilhoso
Enquanto que o povo passa mal
Essa é pros artistas. Anarko Funk.
(2015)
Últimas palavras
Referências bibliográficas
RESUMO: Ao propor sexo e gênero como elementos não dissociáveis e que, uma vez
formados pela linguagem alcançam o poder de representação, Judith Butler em sua
obra ‘Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade’ de 2003 propõe
uma reflexão contundente sobre a categoria de análise Gênero. Alicerçada em uma
perspectiva pós estruturalista, a teórica abre um campo de análise e de reflexões
inerentes a essa teoria. Da mesma forma, os estudos sobre as relações de poder e de
subjetividades permitem uma abordagem cada vez mais ampla de estudos e reflexões
sobre essa categoria de análise. Compreender as interssecionalidades que cruzam
esses dois estudos é refletir sobre a importância de seus debates pela academia e
como seu poder de alcance pode auxiliar na execução de ações afirmativas de
combate a violência contra as mulheres, por exemplo. Assim sendo, o presente artigo
possui como objetivo compreender como a teoria de Judith Butler e os estudos de
relações de poder e subjetividades podem dialogar e fomentar propostas de combate
a violência contra as mulheres. Embasada pelos estudos feministas e pós
estruturalistas, a escrita possui como proposta contribuir e ampliar os debates acerca
das muitas violências sofridas pelas mulheres.
RESUMEN: Al proponer sexo y género como elementos no disociables y que, una vez
formados a través del lenguaje alcanzan el poder de representación, Judith Butler en
1
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina,
pela linha de pesquisa Relações de Poder e Subjetividades, com a orientação da Dra. Joana Maria Pedro.
E mail para contato: tgmhistoria@gmail.com
2
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina
pela linha de pesquisa Relações de Poder e Subjetividades, com a orientação da Dra. Cristina Scheibe
Wolff.
E mail para contato: dulce_tonet@yahoo.com.br
su obra Problemas de Género: feminismo y subversión de la identidad, de 2003,
propone una reflexión contundente sobre la categoría de análisis Género. Basada en
una perspectiva pos estructuralista, la teória abre un campo de análisis y de
reflexiones inherente a esa teoría. De la misma forma, los estudios sobre las relaciones
de poder y de subjetividades permiten un abordaje cada vez más amplio de estudios y
reflexiones sobre esa categoría de análisis. Comprender las interseccionalidades que
cruzan esos dos estudios es reflejar sobre la importancia de sus debates a través de la
academia y como su poder de alcance puede ayudar en la ejecución de acciones 2
afirmativas de combate a la violencia contra las mujeres, por ejemplo. Siendo así, el
presente artículo posee como objetivo comprender como la teoría de Judith Butler y
los estudios de relaciones de poder y subjetividades pueden conversar y fomentar
propuestas de combate a la violencia contra las mujeres. Apuntalarse por los estudios
feministas y pos estructuralistas, la escritura posee como propuestas contribuir y
ampliar los debates acerca de muchas violencias soportadas por las mujeres, sea en su
perspectiva social, cultural, económica, patrimonial, psicológica, física o simbólica.
4
A “virada afetiva” nos anos 90, “trata de focar o olhar nas emoções, afetos e sentimentos como parte
da experiência humana, de procurar uma compreensão do social que inclua essa dimensão nos estudos”,
conforme Cristina Wollf, 2015, p. 97.
Desta forma, compreender os significantes antes dos significados
como propõe a teoria pós estruturalista indicada por Judith Butler (2003)
pode ser um caminho a ser seguido. Da mesma forma, compreender com
a autora que as relações de sexo /gênero são ativadas por uma
representação e reforçadas por uma linguagem, nos possibilita e nos 13
REFERÊNCIAS
1, 2014.
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(2010), “Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais”.
Novos Estudos Cebrap, 86: 93-103. *Em francês, “Dynamique et
consubstantialité des rapports sociaux”. In: Dorlin,
WOLFF, Cristina Scheibe. Pedaços de alma: emoções e gênero nos
discursos da resistência. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 17
ABSTRACT: This article tries to present how the Educational Policies in Brazil, referring
to High School, were configured in the beginning of the 70, to the different possibilities
that this has presented itself today. With Neoliberalism as the determining factor in all
this configuration, it is intended to present a question about the role of the State in the
maintenance of Secondary School, and how the implementation of the “Young
Apprentice Program” can meet this neoliberal proposal.
INTRODUÇÃO
1
Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Educação pela
Universidade Estadual de Maringá. E-mail: profevelline2010@gmail.com.
Pode-se dizer segundo Moraes (2001) que, o neoliberalismo é a
ideologia do capitalismo, era da riqueza mais líquida e volátil. Uma
ideologia, ou seja, uma corrente de pensamento, uma forma de ver e
julgar o mundo social, buscando uma difusão de ideias por meio de um
movimento intelectual. 2
A escola passou a ser vista como uma instituição que deveria buscar
eficiência e eficácia para o mercado de trabalho, com um modelo de
currículo mais prático, reduzindo alguns conteúdos teóricos dispensáveis a
este novo profissional em formação. Este deveria ser autônomo e
independente (POPKEWITX, 1997).
15
Gohn (1997) caracteriza as ONGs, de acordo com sua atuação: o
“assistencialismo”, resultante da filantropia; o “desenvolvimentismo”, que
se dá pelos programas de cooperação internacional realizados entre ONGs
e agências públicas e privadas de fomento; e o “campo da cidadania”,
caracterizado pelas ONGs vinculadas aos movimentos sociais que lutam
pelos direitos da sociedade.
O Programa Jovem Aprendiz, é desenvolvido tanto pelas Instituições
do Sistema S como também pelas ONGs.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pode desconsiderar a importância da inserção do jovem no 19
REFERÊNCIAS
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Resumo: A América latina colonial foi palco de inúmeras relações sociais diversificadas, 1
que se iniciaram com um choque causado pelo contato entre sociedades nativas e
europeia. Essas relações foram conflituosas, de um lado os europeus, com sua
ganância por riquezas e poder, entre eles, os religiosos em busca de novas almas, e de
outro lado, os povos nativos, com sua cultura, com suas crenças, com sua organização
política. Nesse contexto, os colonizadores europeus construíram um sistema de justiça
e de punição em suas colônias para controlar e disciplinar a sociedade. O objetivo
desse trabalho é analisar alguns aspectos da prática de poder, de justiça e de punição
na América Latina colonial, tendo como objeto algumas obras historiográficas que
refletiram sobre os poderes locais e a justiça no período colonial no século XVII.
Especificamente analisamos duas obras de Antonio Manuel Hespanha (2006; 2001) e
duas de Rafael Ruiz (2001; 2010).
Palavras chave: América Latina, Antigo Regime, Justiça, Crime.
Abstract: The colonial Latin America was the scene of numerous diverse social
relations that began with a shock caused by contact between native and European
societies. These relations were conflictual, a European side, with their greed for wealth
and power, among them religious in search of new souls, and on the other hand, the
native people, their culture, their beliefs with your organization policy. In this context,
the European settlers built a system of justice and punishment in their colonies to
control and discipline society. The aim of this study is to analyze some aspects of the
practice of power, justice and punishment in colonial Latin America, with the object
some historiographical works that reflected on the local authorities and justice in the
colonial period in the seventeenth century. Specifically we analyze two works by
Antonio Manuel Hespanha (2006; 2001) and two of Rafael Ruiz (2001; 2010).
Keywords: Latin America, Old Regime, Justice, Crime.
1
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Estadual do Centro-
Oeste, Unicentro/PR. E-mail: denis-fiuza@hotmail.com
2
Graduado em História (UNICENTRO). Especialista em Educação do Campo (ESAP) e Docência do Ensino
Superior (UNOPAR). Mestre em História (UNICENTRO). Atualmente é professor substituto da
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/campus Laranjeiras do Sul.
E-mail: digao_santos9@hotmail.com
Introdução
3
Obras utilizadas: “As Estruturas Políticas em Portugal na Época Moderna” de 2001 e Direito comum e
direito colonial, 2006.
4
Obras utilizadas: Os Espaços da Ambiguidade: os poderes locais e a justiça na América Espanhola do
século XVII, e Hermenêutica e justiça na América do século XVII.
diversas investigações nas áreas de história do direito, história política, e
teoria do direito. Além disso, nas duas obras aqui utilizadas, o autor se
pautou tanto nos textos quanto na relação desses textos com as
instituições, com o poder local, com a cultura dos povos em questão,
enfim, com a realidade social. 3
pelos juristas estatais e pelos usos e práticas jurídicos locais, além disso,
os deveres políticos davam lugar para sentimentos religiosos e morais
como piedade, misericórdia, gratidão ou até mesmo, laços de amizade.
Sendo assim, no Antigo Regime, como aponta Hespanha (1998, p. 130),
não existiria, portanto, separação entre Estado e sociedade civil. Os
poderes das instituições, das classes superiores, da religião em especial
eram destinados a manter o equilíbrio natural da sociedade.
Mas como observou Hespanha (2001, p. 03), durante o período
colonial, tanto nos países ibéricos, quanto em suas colônias, o sistema
penal que vigorou foi aquele onde os poderes periféricos eram
orquestrados pelo poder real e o domínio da punição era exercido como
uma forma de disciplinar através de ações punitivas e cotidianas exercidas
pelos poderes locais, onde a intervenção real era apenas simbólica.
Hespanha (2001, p. 02), demonstra que na sociedade monárquica a
grande função do direito penal não é a de manter a ordem da sociedade,
pois, as organizações sem estado do Antigo Regime não possuíam meios
para tal atividade, a Espanha, detentora de várias colônias na América,
não tinha base institucional que desse conta de subsidiar possíveis
punições através de lugares que concentrassem os criminosos. Em muitas
colônias ela não possuía totalmente o domínio territorial, menos ainda o
domínio do aparelho judiciário que era então controlado pelos poderes
locais.
Com o surgimento e a expansão do iluminismo o direito criminal
tomou uma nova forma nos países europeus, principalmente Portugal e
Espanha e, e suas colônias consequentemente. O poder real se configurou 9
Conclusão
Abstract: The use of audiovisual materials in the learning process has been an ally of
teachers, helping in a valid way their classes. Understanding the fact that the
audiovisual production can be used as a source of concern of the past and the moment
of production it’s irrefutable. Its use is a way to reconcile the teaching with everyday
elements. Thus, this study aims to demonstrate the possibility of the audiovisual
resources approach in Ancient History lessons through the television series Rome.
ao mesmo tempo, pois tal diálogo consiste numa das ações mais
necessárias de serem realizadas.
Compartilhando o pensamento de que é tarefa do professor de
história, e dos demais educadores, promover o constante diálogo entre o
passado e o presente, procura-se aqui contribuir com esta questão que
deve ser prática constante na trajetória dos educadores.
Pode parecer simples já que o diálogo tem apontado que se trata de
um "objeto delicado" que requer extremo cuidado do educador em
diferentes aspectos. No decorrer processo deve-se atentar tanto para os
assuntos abordados como também para os instrumentos e as ferramentas
utilizadas no momento do processo de ensino-aprendizagem.
A difícil tarefa pedagógica é parte de uma ampla discussão que vem
sendo renovada à medida que os debates acalorados sobre o Ensino de
História têm cada vez mais ocorrido por todo o país. Um dos assuntos
debatidos envolvendo o papel do professor e o ensino de História diz
respeito ao uso de novas metodologias e ferramentas como forma de
facilitação e pluralidade do ensino na sala de aula. Tendo em vista este
importante diálogo, aqui abordaremos o uso da produção audiovisual no
Ensino de História, mais especificamente à História Antiga.
O uso de instrumentos audiovisuais nas aulas de História: cuidados a
serem tomados
Pensar sobre os modos de como trabalhar em sala de aula os
assuntos necessários para o desenvolvimento do pensamento crítico dos
alunos, decidir o que se deve priorizar em meio às dificuldades do 3
ele se centra? Por quê? etc.; além das respostas dessas perguntas, o
professor deve realizar ponderações sobre o conteúdo explicitado pela
produção, atentando sempre, no uso em sala de aula, para a faixa etária
de indicações da produção e para as cenas inapropriadas para seus alunos,
que não contribuem para o direcionamento dado a aula.
Portanto, após falarmos da viabilidade da utilização de produções
audiovisuais para o Ensino de História, como também da necessidade da
análise do material e preparação do professor para este modo
diversificado de ensino, salientamos que o audiovisual é uma boa
alternativa para tornar o ensino mais agradável, retirando o caráter
positivista, de uma história somente de grandes personagens e datas
marcantes. Por fim, atento para o fato de que o audiovisual é um recurso
auxiliador do professor, e não um substituto deste.
MATERIAL
- TÍTULO: Rome ( Roma)
- SINOPSE: Quatrocentos anos depois da formação da República, Roma é a cidade
mais abastada do mundo, uma metrópole cosmopolita com um milhão de habitantes,
o epicentro de um imenso império. Os valores sobre os quais a República foi fundada -
a partilha do poder e uma feroz competitividade entre indivíduos - impediram que um
só homem pudesse tomar o poder absoluto. Mas agora, a corrupção e os excessos
conseguiram corroer os mais nobres princípios. Após oito anos de guerra, os soldados
Lucius Vorenus e Titus Pullo são envolvidos, contra a sua vontade, nos movimentados
eventos históricos da Roma Antiga. Uma série dramática sobre o amor e a traição,
escravos e os seus mestres, maridos e mulheres, ROME retrata uma era turbulenta,
durante a qual se assistiu à morte de uma República e ao nascimento de um Império.
- PRODUÇÃO: HBO (Home Box Office), BBC (British Broadcasting Corporation) e RAI
Fiction (Radiotelevisione italiana S.p.A.)
1
Projeto coordenado pela Profª. Drª. Silvia Márcia Alves Siqueira (UECE), com participação dos
graduandos em História (UECE): Flaviano Oliveira dos Santos; Ruben Ryan Gomes de Oliveira; e José
Lucas Bastos Cruz Moura.
- FORMATO: Audiovisual Série para TV.
- GÊNERO: Histórico, dramático, ação.
- TEMPORADAS: Duas.
- EPISÓDIOS: 22 (primeira temporada com 12 episódios, segunda temporada com 10
episódios).
- DURAÇÃO: 50 minutos (média por episódio).
- IDIOMA ORIGINAL: inglês.
- IDEALIZADORES: Bruno Heller, John Milius, William J. Macdonald. 7
EPISÓDIO
- TÍTULO: The Stolen Eagle (A águia roubada)
- SINOPSE: Dois soldados romanos se vêem em meio a uma guerra pelo controle da
Roma antiga, durante uma turbulenta era em que a luta entre a cobiça e a honra
definirá a morte de uma república e o nascimento de um império.
- DATA DA PRIMEIRA EXIBIÇÃO DO EPISÓDIO: 28/08/2005.
- DURAÇÃO: 53 minutos
Conclusão
Finalizada a proposta, apresentamos nestas pequenas reflexões a
possibilidade da utilização do audiovisual nas aulas de História. As formas
e modos de análise mostram-se inúmeras, cabendo ao professor saber
explorá-las conscientemente, não de forma "despreocupada", visando
sempre o aprendizado do aluno. Mas sobretudo possibilitar que os alunos
verbalizem o seu aprendizado, inclusive proporcionando para ele outras
leituras que possam contribuir para pensar sobre o que é uma fonte
histórica.
Referências
Material:
ROMA (Rome). Idealizado por Bruno Heller, John Milius, William J.
Macdonald. Estados Unidos da América, Reino Unido, Itália: HBO, BBC, RAI
Fiction. 2005-2007. (Seriado televisivo) DVD.
Abstract: A new way to see the city waters came up during the official speeches and in the
press articles in the 1960’s. The waters from the urban area started to bother the public
power when they let the fragility of the city service evident or when they oppose to the
construction of and idealized city. This article discusses how the implementation of canalized
water in Criciúma/SC has been the target of discussions and practices td different historical
moments of the city. The man interventions made by the public power are highlighted as
well as the fight for achieving this improvement among the various social agents, and also
the idealized city by the press articulists, political and economic elites, and the efforts for the
viabilization of this dream, clean sanitated and provided with modern technology city. The
article also intended to clarify the relation of the population with this equipment, realizing
how it was historically implemented, and thus, revealing social differences and the various
city concepts.
1
Doutoranda em história pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC.
“A cidade é produto da “arte humana”, simboliza o poder criador do
tensão, uma vez que o conceito de cidade-artefato proposto por Bresciani nos
leva a refletir que a cidade é um objeto inacabado por definição e por isso
reconhecer que a cidade que temos e que, para nós, é real, na sua concretude
2
BRESCIANI, Maria Stella. Cidade, Cidadania e Imaginário. IN: Pesavento; Souza. Imagens Urbanas: Os
Diversos Olhares na Formação do Imaginário Urbano. Porto Alegre: Ed. Da Universidade/ UFRGS, 1997, p.14.
3
PESAVENTO, Sandra Jatahi. Entre Práticas e Representações: A Cidade do Possível e a Cidade do Desejo. In:
RIBEIRO, Luiz César de Queiroz e PECHMANN, Robert (organizadores). Cidade, Povo e Nação – Gênese do
Urbanismo Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. 377 - 396.
apresentar-se, que aspiram à universalidade e ao consenso, mas que são,
uma lembrança tal como ela cintila num instante de perigo” 5. Não espero aqui
4
GIOVANAZ, Marlise. Em Busca da Cidade ideal: O Planejamento Urbanístico como objeto da História
Cultural. In: Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul .
Anos 90. Porto Alegre: UFRGS, 2000, p.38-60.
5
BENJAMIM, Walter. Obras Escolhidas. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense.
6
VEYNE, Paul. Como se escreve a história. 3° ed. Brasília: UnB, 1995, p.43.
7
GINZBURG, Carlo. Raízes de uma Paradigma Indiciário. In: Ginzburg, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
darão inteligibilidade ao texto construído. Daí a noção de trama na narrativa
existe sem toda uma rede de estruturas e serviços, muitas vezes invisíveis aos
Criciúma retirava a água necessária para uso cotidiano de uma rede natural de
poços artesanais, rios, fontes e bicas que se espalhavam pela cidade. Esta
antiga rede natural, em sua maioria, encontra-se soterrada pela terra e pelo
natural.
8
VEYNE, Paul. Idem, Ibidem, p.45.
Na década de 1930, Criciúma então conheceu o conforto da água
encanada, ou pelo menos parte dela 9. Não significava apenas conforto, mas
antes um luxo, para uma época em que buscar a água era atividade diária para
5
a maioria dos criciumenses. Desse modo, as tradicionais famílias residentes no
9
Alguns residentes nos arredores da praça Nereu Ramos, entre eles, Abílio Paulo, Elias Angeloni, Frederico
Minatto, Pedro Benedet e Pedro Beneton tinham sua água canalizada por finos canos de ferro que vinha de
uma nascente próxima ao atual Hospital São João Batista, na época um bosque pertencente a Ângelo Benedet
In: FILHO, Archimedes Naspolini. Op. Cit, p.198.
10
CHARTIER, Roger. Op. Cit. p. 17.
11
CHARTIER, Roger. Idem, Ibidem, p.17.
ônus aos cofres públicos e iam sendo realizados aos poucos em áreas centrais
na “cidade do possível”.
eram instalados 13. A mudança de usos e costumes pelo uso da água encanada
fazer” 14, artes que se desdobram e se repetem dia após dia no espaço íntimo
12
Zenir de Bona Marchet, entrevista concedida em 01/01/2004.
13
Yolanda Motta de Andrade, entrevista concedida em 18/12/2002.
14
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: Morar, Cozinhar. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1996, p.203.
governo federal. Ademais, os que detinham o poder político e econômico
Criciúma começou a conhecer no limiar dos anos 40, quando então foi
e tratamento de água que utilizava as águas do rio Mãe Luzia para seu
abastecimento 15. Margeava este rio, uma área minerada a céu aberto, sendo
que as água residuais da lavra e da chuva arrastavam para o rio Mãe Luzia uma
água insuportável ao consumo pelo excesso de acidez e ferro 16. Como nos
coloca Volpato, “em cada enxurrada os rios recebem material contendo carvão,
pano fino para disfarçar o gosto ocre do ferro que causava graves prejuízos à
15
A água era captada através de uma usina situada à margem esquerda do rio. Mesmo clorada, a água do rio
Mãe Luzia continha enorme quantidade de ferro, sendo danosa ao consumo humano. Além disso, a incidência
de metais pesados provocava desgaste nos canos de ferro fundido, provocando depósitos de ferrugem não só
nos canos, mas também nas caixas individuais e até nas torneiras residenciais.
16
CAMPOS, Sebastião Netto. Uma Biografia com um pouco de História do Carvão Catarinense. Florianópolis:
Ed. Insular, 2001, p.33.
17
VOLPATO, Terezinha Gascho. OP. Cit, p.22.
saúde, colocando a qualidade da água em foco e com ela a falta de uma rede
Inicialmente ela se deu através dos discursos dos políticos e dos articulistas da
Também chegara em Criciúma no ano de 1944, e segundo ele Criciúma era uma
cidade que “tudo lhe minguava, a começar pelo saneamento básico. Não
18
BOA NOVA JR, Francisco de Paula. Problemas Médico-Sociais da Indústria Carbonífera Sul-Catarinense.
Boletim n. 95. Departamento Nacional de Produção Mineral, 1953, p.13.
possuía água canalizada, nem rede de esgotos. Poços e fossas sépticas supriam-
19
lhe as necessidades” . O quadro apresentado por Boa Nova Jr. e Manif
circunvizinhas 21. Além do tifo, haviam outras doenças transmitidas pelas águas,
19
ZACHARIAS, Manif. Minha Criciúma de Ontem. 2° edição.Criciúma: Ed. Do autor, 1999. p.11-12.
20
PESAVENTO, Sandra Jatahi. Entre Práticas e Representações: A Cidade do Possível e a Cidade do Desejo. In:
RIBEIRO, Luiz César de Queiroz e PECHMANN, Robert (organizadores). Cidade, Povo e Nação – Gênese do
Urbanismo Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. .382.
21
BELOLLI, Mário Et al. História do Carvão de Santa Catarina. Criciúma: Imprensa Oficial do Estado de Santa
Catarina, 2002, p. 269.
22
, foi difundida a partir do movimento em prol da assistência médica e social
23 10
relacionou-se com o aparecimento de doenças contagiosas . A intervenção
aquela de tal realidade objetiva. Sem com ela se confundir ou ser o seu reflexo,
seria algo como o seu “outro lado” 25. E os jornais eram grandes “pensadores”
22
Entre os anos de 1944-1948, muitas medidas profiláticas foram adotadas pelo serviço médico do DNPM
conforme relatório do médico sanitarista Francisco de Paula Boa Nova Jr.
23
BELOLLI, Mário. Op. Cit, p.263.
24
A imprensa criticava o uso do sistema anti-higiênico de poços onde a “água empregada na alimentação das
criancinhas provinha, quase sempre, de poços e cisternas enlameados, cheios de sapos, a maioria deles situada
nas vizinhanças das toscas patentes de madeira”. In: BOA NOVA JR, Francisco de Paula. Op Cit, p.22.
25
PESAVENTO, Sandra Jatahi. Op. Cit, p.378.
as mais diversas notícias, ele também se constitui em um instrumento
líquido potável.
carvão tributado pelo governo federal, (...) compete a ele tomar atitudes
31
necessário mesmo podendo trazer sérios prejuízos à população . Nesse caso
Rio São Bento para que não houvesse prejuízo no abastecimento da cidade e
32
que isto não afetaria a potabilidade da água . Enquanto isso as autoridades
contra esse iminente perigo, “o povo tem sobejos motivos para se alarmar,
28
“Serviços de Águas em Criciúma: Em estudos um novo plano de fornecimento do precioso líquido para a
população”. Folha do Povo, 06/10/1952 p.1.
29
“Roteiro”. Tribuna Criciumense, 02/05/1955, p.3.
30
“Água para nosso interior”. Tribuna Criciumense, 06/06/1955, p.6.
31
“Abastecimento D’água à população”. Tribuna Criciumense, 20/05/1957.
32
“O Abastecimento de água”. Tribuna Criciumense, 13/06/1955, p. 1.
33
“Prosseguimento do serviço d’água à cidade”. Tribuna Criciumense, 02/09/1957, p.1.
34
Entretanto os políticos locais consideravam à efetivação da medida contrária aos “interesses do município”.
Quando em 1958, o ministro da agricultura exonera o DNPM de oferecer o serviço da água à cidade de
Criciúma e região, a notícia é descrita como um verdadeiro “presente de grego”. In: O abastecimento de água
de Criciúma”. Tribuna Criciumense, 13/01/1958, p.1.
35
porque vai ficar sem água (...)” . A imprensa e os poderes políticos locais,
possibilidade de ficar sem água. Estas informações, uma vez assimiladas são
13
capazes de produzir novas formas de subjetividade permeadas pelas aflições
o “precioso líquido”.
pressões dos bairros adjacentes para ter a água canalizada e potável, os bairros
que já possuíam o serviço temiam ter que utilizar as águas ácidas do Rio Mãe
35
“A transferência do serviço de abastecimento d’água à prefeitura”. Tribuna Criciumense, 27/01/1958, p.1.
36
PESAVENTO, Sandra Jatahi. O Imaginário da Cidade: Visões Literárias do Urbano – Paris, Rio de Janeiro, Porto
Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999, p.8.
provinha do Rio Guarapari, um afluente do rio São Bento através de uma calha,
mas regularmente ela era arrancada pelas enxurradas, nos períodos de chuvas
37
e inundações, quando então os canos mestres estouravam . Nesses
14
momentos utilizavam-se as águas do Rio Mãe Luzia, águas sujas e altamente
38
.
não poderem arcar com o serviço de água devido a falta de verbas, mas então
acordo com a lei municipal votada pela maioria dos vereadores? Segundo ele,
41
o problema da água e esgoto também . A situação da água alarmava, até
37
“O abastecimento de água de Criciúma”. Tribuna Criciumense, 13/01/1958, p.1.
38
“Água Potável só brevemente”. Tribuna Criciumense, 07/04/1958, p.1.
39
“Nossa Opinião”. Tribuna Criciumense, 03/02/1958, p.8.
40
“Nery Rosa um prefeito que planifica”. Tribuna Criciumense, 12/06/1961, p.6.
41
“Rede de Esgotos”. Tribuna Criciumense, 27/03/1961, p.1.
42
tornar corriqueira, exceto à noite quando então o consumo diminuía . O
serviço oferecido pelo governo federal era gratuito e muitos consumiam água
43 15
que fazia diminuir a pressão da água na rede, provocando a sua falta . Até
44
mesmo as residências centrais começaram a sofrer com o problema , mas a
periferia era mesmo a mais atingida. Bairros da cidade como a “Vila Mauá, São
José reclamam que “nem parece para nossas autoridades, que existe o bairro
São José, pois o mesmo vive em constante desprezo. Sem água, luz é das piores
sanar o problema da água na cidade. 48 Assim que assume o serviço, uma das
42
“Esta água que bebemos, algumas explicações do diretor do serviço”. Tribuna Criciumense, 14/08/1961, p.1.
43
“O que é necessário saber sobre o abastecimento d’água na cidade”. Tribuna Criciumense, 31/10/1964, p.1.
44
“População prejudicada: Persiste a falta d’água”. Tribuna Criciumense, 26/02/1962 p.7.
45
“Água! Água! Água!” Tribuna Criciumense, 26/06/1961, p.8.
46
“Bairro São Cristóvão: Água Chegou!” Jornal Criciúma, 22/07/1962, p.1.
47
“E...a água continua saindo do cano!”. Tribuna Criciumense, 14 a 21/09/1963, p.1.
48
“Plano do Carvão tenta resolver um velho problema: Água em abundância para a população de Criciúma”.
Tribuna Criciumense, 13/11/1961, p.1.
primeiras medidas foi dotar os bairros isolados e em especial os de alto índice
52
energia elétrica e o próprio aumento populacional contribuía para fazer do
d’água, as pessoas voltavam a fazer uso dos poços, recorriam aos vizinhos ou
políticos, publicando notas como “sabe-se que certos políticos têm-se usado da
melhoria (...) para fazer campanha em seu favor” 54 ou ainda “hoje todos se
49
Devido a pressão popular, em 1962, os bairros São Cristóvão, Vila Operária do aeroporto, bem como as ruas
Santa Catarina, Santa Cecília e 13 de Maio haviam recebido o melhoramento. In: “Água para a cidade”. Jornal
Criciúma, 23/09/1962, p.3.
50
“As Torneiras gemem, num esforço de servir, e a água não aparece”. Tribuna Criciumense, 24/07/1961, p.1.
51
“Falta d’água recomeçou o martírio”. Tribuna Criciumense, 03 a 10/10/1964, p.1.
52
“Corte de Energia Elétrica Dificulta o abastecimento d’água”. Tribuna criciumense, 03/12/1966.
53
“Em Criciúma ainda existem filas para a água”. Tribuna Criciumense, 21/01/1967, p.1.
54
“Notas Soltas”. Jornal Criciúma, 23/09/1962, p.11.
55
dizem autores do serviço de água (...)” . A culpa pelo problema era em
56
instalação d’água canalizada em Criciúma . Isso porque, nos anos de 1959 e
da rede d’água a mais de 15.000 famílias que ainda não contavam com a água
Dessa forma, é possível perceber que até o final dos anos 60, Criciúma era
Pesavento nos coloca que “os produtores do espaço concebem uma maneira de
sonhavam com uma cidade moderna e saneada, a cidade sob a cidade, isto é, a
55
“Água”. Jornal Criciúma, 02/09/1962, p.1.
56
MILANEZ, Pedro. Fundamentos Históricos de Criciúma. Florianópolis: Ed. Do autor, 1991, p. 189.
57
“Água em Criciúma”. Jornal Criciúma, 15/07/1962, p.3
58
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito Além do Espaço: Por uma História Cultural do Urbano. Estudos
Históricos: Rio de Janeiro, CPDOC, vol. 8, n.16, 1995, p.279-290.
cidade subterrânea feita de canalização ia sendo corroída pela pirita, tornando
59
d’água ao poder público municipal . O assunto era esporadicamente
de famílias que ainda não possuíam o serviço e da própria falta d’água, quando
59
“O que vai pela Câmara”. Tribuna Criciumense, 02/05/1955, p.5.
60
“CPCAN propõe debate público sobre o problema do abastecimento d’água”. Tribuna Criciumense, 21 a
28/11/1964, p.1.
até o momento sob favoritismo recebendo água gratuitamente” 61. Taxas pagas
SAMAE – Serviço Municipal de Água e Esgotos 64. O órgão fora criado através da
lei n° 631 em 12/09/1966 pelo prefeito Ruy Hülse, mas estava somente no
61
“Criciúma pagará taxa de água”. Tribuna Criciumense, 01 a 08/05/1965, p.8.
62
“Após Conferenciar com o presidente da CPCAN o prefeito de Criciúma viajou para Florianópolis”. Tribuna
Criciumense, 05 a 12/12/1964, p.8.
63
“A transferência do serviço de abastecimento de água não será ônus para a prefeitura”. 22 a 29/05/1965,
p.3.
64
“SAMAE, vem aí”. Tribuna Criciumense, 31/12/1966, p.1.
65
DAES – Departamento Autônomo de Engenharia Sanitária, órgão estadual criado em 1962 para ajudar na
construção de sistemas de abastecimento de água. O DAES gerenciou por apenas um ano o serviço d’água em
Criciúma, elaborou o primeiro projeto de ampliação da canalização d’água para a cidade, nesse projeto a rede
ampliada passaria dos 60 litros, então a capacidade da rede, para 200 litros por segundo
Ao final dos anos 60 o governo federal instituiu políticas centralizadoras de
um fim aos impasses políticos entre prefeitura e CPCAN e o serviço pôde ser
passa a investir grandes somas nos serviços públicos: água, esgoto, iluminação,
vida social. Nas casas surgem às pias, os banheiros, as privadas, os bidês: novos
mais valorizadas do espaço urbano foram atendidas pela rede, significou antes
pôde ser servida pela rede. Até porque, o processo de urbanização de Criciúma
político de Criciúma.
com a captação da água por outros meios. Assim, na relação dos habitantes
espaço.
Uma nova forma de ver as águas da cidade emergiu nos discursos oficiais e
71
Sandra Jatahi Pesavento, Op. Cit.
72
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Op. Cit, p.297.
tinham ensaiado dar a cidade o título de “moderna”. Intervenções incipientes
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ZACHARIAS, Manif. Minha Criciúma de Ontem. 2ª edição.Criciúma: Ed. Do
autor, 1999.
O OFÍCIO DO HISTORIADOR, O ENSINO DE HISTÓRIA E AS
SUAS FERRAMENTAS
Vitor Angelo Cardozo Frasca1
1
RESUMO
O presente artigo visa, uma reflexão sobre as ferramentas de intervenção que podem
tornar o ensino de história e suas correlatas, uma tarefa mais produtiva e de grande
valia na formação do senso crítico. Ademais, flexionamos a responsabilidade do
historiador, quanto à sua teleologia que no que diz respeito tende a sugerir novos
olhares e trazer à luz o que se fez oculto e que se contrapõe diante uma história
tradicional, factual e que não aceita versões. Além do ofício do historiador, que pode
ser resumido a vislumbrar o interesse e a reflexão dos leitores aos diversos prismas
existentes sobre um determinado fato. O desafio desse artigo será relatar a
importância do uso de novas ferramentas, para instigar a curiosidade, o conhecimento
e aprofundar o senso crítico em sala de aula, buscando assim significantes na relação
ensino-aprendizagem, por fim, referenciando ao mito da caverna de Platão, o
professor deve regressar à “caverna” e avisar aos outros que existe luz, ideias e
conhecimentos novos do lado de fora.
Palavras-Chaves: história, ensino, desafios.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo hacer una reflexión sobre las herramientas de
intervención que pueden hacer con que la enseñanza de la historia y temas
relacionados, sea una tarea más productiva y de gran valor en la formación del
pensamiento crítico. Además, flexionamos sobre la responsabilidad del historiador, en
cuanto a su teleología que, con respecto a esto, tiende a sugerir nuevas perspectivas y
sacar a la luz lo que está oculto e que contrasta con una historia tradicional, que de
hecho no acepta versiones. Además de esto el oficio de historiador, se puede resumir
en vislumbrar el interés y la reflexión de los lectores entre varios prismas en un hecho
particular. El desafío de este trabajo es dar a conocer la importancia de utilizar nuevas
herramientas para instigar la curiosidad, el conocimiento y profundizar el pensamiento
crítico en el aula, buscando una significancia en la relación enseñanza-aprendizaje, por
último, en referencia al mito de la caverna de Platón el maestro debe volver a la
"caverna” y avisar a los otros que hay luz, ideas y nuevos conocimientos al lado de
afuera.
Palabras clave: historia, enseñanza, retos.
1
Especialista em História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira pela Universidade Luterana do Brasil -
ULBRA
A história do homem sempre esteve ligada ao choque e troca de
culturas, intercâmbio de experiências. Cada civilização diferente da outra,
quanto à linguagem, as técnicas, habilidades e costumes, tornando
possível o surgimento de novas interpretações e o nascer de novos
olhares. 2
7
Na vertente política, verificamos as formas como são retratados os
diferentes tipos de regimes que existem: os regimes comunista e socialista
priorizam pelas imagens e preferem idealizar enfoques relacionados à
defesa do trabalho, utilizando até de recursos físicos, como os próprios
trabalhadores.
Podemos dizer que o regime capitalista se apropria da imagem de
avanço e evolução baseado na capacidade de produção e consumo.
Ambas, mesclando sempre a necessidade, como a de produzir cada vez
mais em menos tempo e consequentemente criar a dependência de
consumo nas pessoas, como se esta fosse uma das atividades fisiológicas
do ser humano.
Quando nos deparamos, por exemplo, com o conceito do
Anarquismo, é hábito ver as pessoas equivocadamente produzirem uma
imagem de que esse trata um tipo de regime político que represente a
desorganização coletiva, uma verdadeira “bagunça social”, quando na
verdade o que esse tipo de regime apresenta é uma proposta de um
cooperativismo devidamente organizado, sem presença do Estado e
ampla liberdade religiosa, pensando sempre na sua eficácia e no equilíbrio
entre todas as partes que o compõem.
Ao me propor em realizar algo diferente nas aulas de história,
arrisquei-me utilizando a música, como ferramenta para despertar o
interesse, que em muitos é inexistente em nossa disciplina, tive
preferência em entrar munido de um instrumento não muito utilizado em
aulas comuns, afinal aquela aula tinha como objetividade, não ser uma 8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, T.W., HORKHEIMER, M. Indústria Cultural: o esclarecimento
como mistificação das massas. In ___,_____.Dialética do esclarecimento
2.ed. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1986.
COHEN, Bernanrd. The Press and Foreign Policy. Princeton, NJ: Princeton
University Press. 1963.
SARTRE, Jean-Paul. L’Éxistentialisme est un Humanisme. Paris: Nagel,
1946.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução de Vera
Maria Xavier dos Santos. Revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. Bauru:
Educs, 2004.
AGOSTINHO, Santo. As confissões. Trad. Frederico Ozanam Pessoa de
Barros. São Paulo: Edameris, 1964.
OS CAMINHOS DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Resumo
A organização do Ensino de História enquanto disciplina surgiu no cenário educacional
brasileiro em meados do século XIX, sob forte influência do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB) fundado em 1838. Nesse momento histórico a disciplina
se pautava na narrativa dos “grandes feitos” dos supostos heróis nacionais membros
da elite e do clero. Essa forma de ensino de História perdurou por um longo período na
Educação Brasileira e seguia os moldes do modelo europeu de Ensino de História. A
disciplina de História sofreu uma forte modificação a partir de 1930 quando com a
Reforma Francisco e sob influência de movimentos escolanovistas passaram a se
desenvolver um abordagem generalista de história, apresentando ainda outros
sujeitos históricos, passou também a se evidenciar nesse momento o apreço a adesão
aos estudos sociais. A partir da lei n° 5692/71, durante o Governo Militar, a História e a
Geografia foram definitivamente substituída pelos Estudos Sociais , houve então a
aplicação dessa disciplina ao lado da Moral e Cívica. Na década de 1990 com a
desanexação da disciplina de História dos Estudos Sociais, passaram a se desenvolver
novas reformulações no ensino de História, influenciados por diversas tendências
historiográficas como a História Cultural, Social e do Cotidiano.Os currículos de História
foram sendo analisados e desenvolvidos de acordo com o corpo discente e docente.
Palavras-chaves : Ensino de História, Disciplinas Escolares e Educação.
Abstract 2
The organization of the Teaching of History as a discipline emerged in the Brazilian
educational scene in the mid-nineteenth century, under the strong influence of the
Brazilian Historical and Geographical Institute (IHGB) founded in 1838. In this historic
moment discipline were based on the narrative of the "great achievements" of
supposed heroes national members of the elite and clergy. This form of history
teaching has lasted for a long period in the Brazilian Education and followed the lines
of the European model of history teaching. The discipline of history suffered a sharp
change from 1930 when the Reformation Francisco and under the influence of New
School movement began to develop a general approach to history, also featuring other
historical subjects, also went on to highlight that time appreciation membership social
studies. From the n ° 5692/71 law, during the Military Government, History and
Geography were definitely replaced by Social Studies, then there was the application
of the discipline side of the Civics and with the historical and geographical studies. In
the decade of 1990 with the detaching of the discipline of History of Social Studies,
began to develop new reformulations in teaching history, influenced by different
historiographical trends such as Cultural History, Social and Daily. The History curricula
were being analyzed and developed according to the student body and faculty
didáticos.
Referências
1
Graduado em História, pela Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNCENTRO. E-mail: denis-
fiuza@hotmail.com
2
Graduado em História (UNICENTRO). Especialista em Educação do Campo (ESAP) e Docência do Ensino
Superior (UNOPAR). Mestre em História (UNICENTRO). Atualmente é professor substituto da
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/campus Laranjeiras do Sul. E-mail:
digao_santos9@hotmail.com
Resumen: Varios historiadores han dedicado al estudio y construcción de obras sobre 2
la sociedad y la cultura de Sao Paulo del siglo XX. Entre ellos se encuentra Nicolau
Sevcenko, autor de Orfeu Estático na Metrópole: São Paulo sociedade e cultura nos
frementes anos 20. El propósito de este artículo es el análisis historiográfico de la obra
de Sevcenko, principalmente por sus investigaciones sobre el imaginario y la
mentalidad de la sociedad São Paulo en constante transformación en la década de
1920. con este fin, elabora una revisión historiográfica de esquema y un estudio de
caso de la obra Orfeu Estático na Metrópole. Comprobar la importancia de este trabajo
tanto en la literatura y en la historia, y la contribución a los conceptos que rodean la
modernidad. El trabajo estático Orfeu Estático na Metrópole disecciona el contexto
explosión de arte moderno y la transformación estructural de la ciudad de São Paulo
en la década de 1920, y de fuentes puramente literarias, Sevcenko realiza un extenso
análisis de la producción modernista, y cruza la escena urbanización de la ciudad, y el
desarraigo y la fragmentación de la vida cotidiana de Sao Paulo en el momento.
Palabras clave: Sao Paulo, modernidad, 1920.
Introdução
Essa vida moderna que nos leva a todos a toda parte,
todos os dias (e todas as noites!), leva-nos também a
novos hábitos e a novo espírito (Novos tempos, OESP,
19/06/1920, apud SEVCENKO, 1992, p. 3).
3
Foi sob a identificação do “novo” que Nicolau Sevcenko (1992)
pautou sua obra Orfeu Estático na Metrópole. Para o autor, o ineditismo
da experiência histórica que a cidade de São Paulo viveu nos anos 1920 é
fruto tanto de um caos avassalador, quanto de uma matriz de nova
vitalidade emancipadora. Novos tempos e ares, novos homens e
mulheres, e paisagens que se transformam incessantemente. A
modernidade chega à cidade de São Paulo destruindo suas antigas
estruturas.
Com base nisso, aborda-se ao longo dessa análise, algumas
características da trajetória de Sevcenko, faz-se uma contextualização
histórica, uma exposição do conteúdo e uma análise historiográfica de sua
obra. Orfeu Estático na Metrópole foi publicado pela primeira vez em 1952
pela editora Companhia das Letras. Segundo Dias (1992), autora do
prefácio da obra de Sevcenko, o tema central desse livro é a crítica da
modernidade e da vida urbana, além disso, seria uma narrativa com
múltiplos focos, sujeitos e temporalidades com interação constante.
Esse trabalho divide-se em três itens. No item “A cidade de São
Paulo, Sevcenko e os anos de 1920”, apresenta-se o espaço onde se
desenrola a trama de experiência de Sevcenko, algumas características da
trajetória do autor e adentra-se ao período histórico em questão. No
segundo item, intitulado “A cidade de São Paulo observada pela
literatura”, faz-se algumas reflexões sobre o uso de fontes literárias na
escrita da História. No terceiro item, denominado “Os anos de 1920 e o
florescimento da arte moderna”, aborda-se os efeitos da modernização da
cidade sobre os movimentos artísticos que chegam ao seu ápice na 4
década de 1920.
3
Segundo Certeau (1982, p. 66): “Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção
sócioeconômico, político e cultural. [...] É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se
delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se
organizam”. O lugar de produção de um pesquisador apresenta características que marcam sua obra,
por isso, o local de produção se torna igualmente relevante na análise.
Graduou-se em 1976, na Universidade de São Paulo, onde é professor
titular desde 1999. Hoje, circula entre São Paulo e Londres, onde é
membro do Centre for Latin American Cultural Studies (Centro de Estudos
Culturais da América Latina), da Universidade de Londres. É também
editor-associado de The Journal of Latin-American Cultural Studies (Jornal 5
4
O pesquisador Burke (2005, p. 68) apresenta uma tentativa de definição para a História Cultural,
perspectiva de história denominada em 1989 por Lynn Hunt. Esse tipo de História é a forma dominante
praticada na atualidade. Sua característica principal é a fragmentação de objetos e temas.
parecia ser um material particularmente adequado para um trabalho de
historiador (SEVCENKO, 2006).
Em entrevista concedida a Revista de História, Sevcenko (2006)
destaca o momento em que a obra recebeu uma boa qualificação.
Segundo ele, foi só depois que a banca de doutorado, preenchida por 6
5 Dentre as obras desses autores encontram-se de Ruy Coelho: Os Caraíbas Negros de Honduras, Tempo
de Clima e Dias em Trujillo: um antropólogo brasileiro em Honduras; Boris Schneiderman com a obra
Guerra em Surdina: histórias do Brasil na Segunda Guerra Mundial; e Maria Tereza Petroni com a obra O
Barão de Iguape e O imigrante e a pequena propriedade.
No século XX, Sevcenko conviveu, e sem dúvida foi influenciado, por
Eric Hobsbawm (1995), com quem dividiu uma sala na Universidade de
Londres. Percebe-se a influência de Hobsbawm (1995), na obra de
Sevcenko (1992) principalmente quando ele trata da “Grande Guerra 6”, ou
mesmo, da “Guerra Total” e de outras questões mundiais que envolvem o 7
6
Esse conceito encontra-se na obra: Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991 (HOBSBAWM,
1995).
7
Entre as obras de Sérgio Buarque de Holanda, encontram-se Visões do Paraíso e Raízes do Brasil.
transformações estruturais e o “boom” da industrialização paulista do
início do século XX e sua influência na cultura e na mentalidade do povo
eram similares àquela situação causada pelos efeitos da microeletrônica
na Inglaterra. O sentimento de estar em uma cidade onde “Tudo o que é
solido desmancha no ar” é a principal questão a ser respondida na obra. 8
Assim como fez Berman (1986), em sua obra “Tudo o que é solido
desmancha no ar”, o objetivo de Sevcenko (1992), foi compreender a
modernidade, e por consequência, os seus efeitos sobre a sociedade. Essa
modernidade é um sentimento compartilhado por homens e mulheres do
mundo todo, é um conjunto de experiências. Tanto o tempo, quanto o
espaço são palcos de constantes transformações, de aventura, de poder e
de crescimento, mas também um sentimento de ameaça, em que a
própria modernidade destrói tudo o que é sólido, ou seja, as posses, os
saberes e as existências.
A conhecida frase de Karl Marx “tudo o que é sólido desmancha no
ar” é utilizada por Berman (1986) e Sevcenko (1992) para elucidar o
contexto de desintegração do mundo moderno. Segundo Berman (1986),
a modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e
nacionalidade, de religião e ideologia, e nesse sentido pode-se dizer que a
modernidade une a espécie humana. Apesar disso, é uma unidade como
desunidade, porque ela nos despeja num turbilhão de permanente
desintegração, mudança, contradição e angústia. Nesse sentido, Berman
(1986, p. 15) afirma que “ser moderno é fazer parte de um universo no
qual, como disse Marx “tudo o que é sólido desmancha no ar”.
Outros elementos relevantes da obra de Sevcenko são, segundo
Dias (1992), a hermenêutica e a narrativa. O autor realiza a intersecção
entre dois polos, a hermenêutica dos processos culturais de forma
dialética, interpelando o cotidiano e as relações de poder entre os sujeitos
da década de vinte e de outros períodos. Já a narrativa de Sevcenko 9
8
A expressão “chá da tarde” é utilizada para fazer a alusão a tradição de ocupação feminina, que é
superada com a mudança dos hábitos e com o preenchimento dos lugares públicos também pelas
mulheres a partir de 1920 (SEVCENKO, 1992, p. 50).
o surgimento dessa “nova babilônia” com novas paisagens e
sensibilidades.
Conforme destaca Sevcenko (1992, p. 24),
9
A concepção de Campo Científico pode ser visualizada em Bourdieu (1983).
época. Sevcenko (1992, p. 25) destaca a opinião de um cronista do jornal
“O Estado de São Paulo”, considerado “cavalheiro de respeito”: “Desta vez
me diverti de uma maneira que me permitirei qualificar de imoderada”.
No relato percebe-se que até um “cavalheiro de respeito” tomou parte em
um evento relegado a outras classes sociais. A euforia e a comoção 13
10
Esse conceito foi mencionado quando se comentou da relação entre Sevcenko (1992) e Hobsbawm
(1995).
11
Alfred Jarry foi poeta, romancista e dramaturgo francês, inventando a ‘Patafísica’, considerada a
ciência das soluções imaginarias. Jarry foi também, um dos inspiradores do movimento artístico
Surrealismo.
período, e que servem também como ilustrações para instigar o leitor. Ao
analisar uma imagem que retrata uma cena de cinema, o autor afirma que
“música e dança se tornam as linguagens básicas dos anos [19]20”
destacando questões como o corpo e seu impacto físico e a exposição dos
sentimentos. 16
12
Os 18 do Forte de Copacabana’ (1922), aconteceu no Rio de Janeiro e foi a primeira revolta do
movimento tenentista, seu objetivo era o fim da República Velha e das oligarquias do poder.
por um narrador direto citado na obra de Sevcenko (1992, p. 305): “Assim
que por volta das 20 horas despontou o cortejo na várzea do Carmo, tive
um arrepio. Não era possível o que via! Caminhava não um cortejo, mas
uma imensa multidão”. Para o autor não restam dúvidas de que foi
Getúlio quem aproveitou de toda essa euforia para se promover. Ele 17
Considerações Finais
A obra de Nicolau Sevcenko (1992) é um referencial para estudos de
história e literatura. A linguagem é envolvente e ao mesmo tempo
profunda, a partir dela o leitor constrói sua própria análise do passado e
do presente. Além disso, a obra aqui apresentada contribui para uma
leitura mais ampla e profunda da literatura e da arte da década de 1920,
identificando os fios que a ligam a vida da metrópole paulista dessa
década.
Os conflitos mundiais após 1914 transportaram a arte francesa
para o resto do mundo e com uma velocidade jamais vista. Segundo
Sevcenko (1992), a Semana de Arte Moderna e a expansão de suas
produções nas grandes cidades brasileiras é um reflexo do processo de
desenvolvimento das comunicações a partir da Grande Guerra. O tempo
teria encurtado, definiu o autor, e o processo de desestabilização dos
sistemas de crenças e símbolos, construídos por séculos, estava por
desmoronar. 18
REFERÊNCIAS
RESUMO: Este artigo tem por objetivo debater acerca das interconexões possíveis entre a
categoria analítica de gênero e o espaço escolar. Neste sentido, a discussão aqui
problematizada abarca um debate conceitual sobre gênero bem como a analise do espaço
escolar destacando a educação infantil. Acredita-se que neste primeiro momento da
educação formal de crianças existe uma pluralidade de representações e práticas vinculadas
a categoria analítica de gênero. Tais representações acabam por influenciar ou até mesmo
moldar parte dos sujeitos que, desde a primeira infância, são induzidos a se comportar desta
ou daquela maneira, dependendo dos papéis de gênero que são atribuídos a seus sexos.
PALAVRAS- CHAVES- gênero, criança, escola.
ABSTRACT: This article aims to discuss about the possible interconnections between the
analytical category of gender and school space. In this sense, the discussion here covers a
problematic conceptual debate on gender as well as the analysis of the school highlighting
childhood education. It is believed that at this moment the formal education of children
there is a plurality of representations and practices linked to analytical category of gender.
Such representations end up influencing or even shaping the subjects that from early
childhood, are induced to behave this way or that, depending on the gender roles that are
assigned to their gender.
KEYWORDS-gender, child, school
1
Doutora em História da Universidade Federal do Paraná- nível Doutorado. Bolsista CAPES.
Notas preliminares
2
Sobre a temática dos corpos ver BUTLER, Judith. Cuerpos que importam: sobre los limites materiales y
discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paídos, 2002.
iniciam um processo de atribuição de gênero. Neste sentido, por exemplo, ao
nascer biologicamente com um aparelho genital de mulher ou de homem o
individuo é exposto e, muitas vezes até convencido, de que deve agir de
determinada maneira em virtude de seu órgão sexual.
3
É neste sentido que é feita a materialização dos corpos, pois a partir das
atribuições dos pesos dados para cada corpo é que paulatinamente vão se
formando os sujeitos sociais. Os corpos pesam, porque é por meio desta
articulada engrenagem de moldura de mulheres e homens que boa parte da
sociedade acaba por dar uma “identidade social” aos corpos e, é por meio
desta identidade que alguns são socialmente aceitos, enquanto outros são
marginais, corpos desviantes.(BUTLER, 2002, p.23.)
O feminismo e a criança
Após esta fase, chamada por alguns de feminismo radical, veio a pergunta:
será que as mulheres querem ser definidas sem a maternidade, e sem o
cuidado com as crianças? E a partir de então se estabelece um novo momento
na relação feminismo-criança.
Segundo Daniela Auad (2006) foi somente na metade dos anos de 1980
que os pesquisadores de educação no Brasil, iniciaram a crescente a
necessidade de saber como a escola, em suas atividades habituais e rotineiras,
está implicada nos processos de diferenciação e de desigualdade entre o
feminino e o masculino. Esse desejo de conhecer as relações de gênero na
escola originou-se, em grande parte, nos movimentos sociais, com destaque
para o movimento feminista, nas universidades e nos grupos de pesquisa, ou
seja, não partir necessariamente dos educadores e educadoras da educação
infantil ou do ensino fundamental. Assim, ao longo da década de 1990, já havia
algumas pesquisas educacionais que buscavam saber qual uso era feito das
relações de gênero para organizar o trabalho na escola e, em contrapartida,
como o trabalho escolar poderia influenciar as relações de gênero socialmente
18
vigentes. Porém, cabe destacar que mesmo nos dias de hoje, as pesquisas
vinculando as relações de gênero e o espaço escolar não são muito numerosas.
Assim como no caso dos gestos, as vestes, as operações que o corpo deve 24
efetuar no manuseio dos objetos requeridos pelo desenvolvimento da
atividade são submetidas a uma forma de poder, a “articulação corpo-objeto”.
Existe uma prática de controle apresentada por meio de uma relação entre o
corpo e o brinquedo, e nesta relação as representações e os estereótipos de
gênero marcam os corpos, moldando-os e classificando-os. A análise dessas
interações remete-nos a uma espécie de “vigilância hierárquica”; ao controle
sobre o corpo alheio, integrado por redes verticais de relações exercidas por
dispositivos que obrigam pelo olhar, pela visibilidade dos submetidos e
produzem efeitos de poder sobre os corpos, sejam eles infantis ou não. Tais
redes de vigilância com seus padrões de comportamentos e ações, acabam por
produzirem sujeitos...ou então, sujeitados.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abstract: It is not new that comic books are known as na object os study and reflection
of the society that produces it, however, its use as teaching material still has
restrictions, often not so clear. This work intends to follow the idea that comics can be
used as a source of a study/discussion of certain historical facts in elementary school
classes, suggesting the series Entre a Foice e o Martelo (2004), by Mark Millar, to
discuss the Cold War and its ideological role.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. Trad.
Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
1
Mestranda em História - Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências e Letras -
UNESP/Assis, Brasil. Bolsista CAPES. Email: fichamentoshistoria@gmail.com.
Introdução
Toda sociedade possui e articula representações do passado. A assertiva,
embora genérica, tem se mostrado eficiente ao evidenciar que os
2
agrupamentos humanos, mesmo operando a partir de distintas lógicas
culturais, relacionam-se de alguma maneira, com aquilo que lhes precede.2 No
ocidente, a partir do século XIX, essas representações de outros tempos
passaram a ocupar a agenda de uma ciência nascente: a História. O esforço em
sistematizar um método que orientasse a construção do passado, levado a
cabo por diversas gerações de historiadores não logrou, contudo, suprimir
outras formas de se referir ao passado. Para além da historiografia científica, a
literatura, a imprensa, o cinema, as músicas e outras tantas manifestações
culturais se ocupam de articular o passado, no presente.
Todas essas leituras do passado que constroem no presente um lugar
social e usos para os eventos, personagens e processos do pretérito são sinais
visíveis de uma cultura histórica. Neste artigo, tal noção conceitual é
mobilizada com a intenção de compreender as caracterizações do passado
construídas por sujeitos ligados ao projeto periódico A Divulgação. Para tanto,
a relação do periódico com as propostas paranistas, notadamente aquelas que
confluíam para a chamada História do Paraná, as filiações institucionais dos
2
A título de exemplo, é interessante citar as sociedades africanas, cuja história foi negada por muitos
pensadores ocidentais; entre elas, é possível encontrar formas de organizar o tempo e de narrar o passado.
Bobou Hama e Joseph Ki-Zerbo, em O lugar da história na sociedade africana, demonstram que diversas
formas de organizar o passado, o presente e o futuro permitem evidenciar que para as comunidades africanas
havia alguma noção sentido histórico. Reforçam, contudo, que apesar atribuir ao passado força considerável,
uma função modelar, diversas comunidades africanas não deixam de se reconhecer como agentes de seu
tempo. HAMA, Bobou. KI-ZERBO, Joseph. O lugar da história na sociedade africana. KI-ZERBO, Joseph. História
geral da África I: Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2010. pp. 23-35.
intelectuais responsáveis pelos pelas narrativas sobre o passado e os temas
privilegiados são postos em cena.
3
No Brasil, dois casos sugerem a resistência dos historiadores profissionais diante de outras vias
interpretativas do passado: a Coleção Terra Brasilis e 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e
uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil de autoria,
respectivamente, de Eduardo Bueno e Laurentino Gomes (ambos jornalistas) provocaram críticas
contundentes por parte dos profissionais da história. Algumas dessas reações que, se não reclamam o direito
de posse dos historiadores sobre o passado, procuram evidenciar os deméritos das narrativas não
historiográficas, podem ser encontradas em: BONALDO, Rodrigo Bragio. Presentismo e presentificação do
passado: a narrativa jornalística da História na coleção Terra Brasilis de Eduardo Bueno. Dissertação (Mestrado
em História), Porto Alegre: UFRGS, 2010.
4
Le Goff emprega o conceito baseado nas reflexões de Bernard Guenéé e alerta para o risco de unificar sob um
mesmo termo, as vastas e variadas representações do passado. Contudo, compreende que historiadores
“[...] a moda retro, o gosto pela história e pela arqueologia, o interesse pelo
folclore, o entusiasmo pela fotografia, criadora de memórias e recordações, o
prestígio da noção de patrimônio *...+” (LE GOFF, 1990, p. 228) seriam alguns
dos indícios da correspondência coletiva mantida com o passado.
5
No Brasil, as reflexões de Le Goff foram aproveitadas por Ângela Castro
Gomes e é válido destacar que, para a autora, a cultura histórica, além de não
ter como base exclusiva os conhecimentos produzidos por historiadores de
ofício, apresenta:
[...] diferenças evidentes de amplitude e de natureza entre
o que se pode considerar cultura histórica e o que se pode
entender por conhecimento/saber histórico produzido em
uma época, não havendo sincronia necessária entre os
dois. E, do mesmo modo como as culturas políticas são
plurais, pode-se pensar em mais de uma cultura histórica
convivendo, disputando, enfim, estabelecendo vários tipos
de interlocução entre si e com a produção historiográfica
em determinado período (GOMES, 2007, p. 48-49).
suma, qual é o lugar social do passado no presente? São algumas das questões
pertinentes à reflexão sobre a cultura histórica.
No caso paranaense, o final do século XIX e primeira metade do século
XX são períodos profícuos em arregimentação do passado. A publicação, em
1899, da obra A História do Paraná,5 de autoria de Romário Martins, pode ser
tratada como o marco fundante de uma determinada interpretação do
pretérito.6 Se outros analistas locais já haviam se dedicado a narrar eventos de
outros tempos, o mérito de Romário Martins reside na unificação dessas
diversas informações sob o dístico: História do Paraná. O texto, que
originalmente contava com pouco mais de 200 páginas, foi adotado pelo
Estado como obra oficial para o ensino de história. Além da fortuna intelectual
de Romário Martins, a iniciativa influenciou a formação de inúmeras gerações
de estudantes e construiu, de certa forma, uma relação com o pretérito que
adentra o século XX.
5
O livro teve origem na monografia apresentada por Romário Martins - que na época tinha 24 anos – para o
Ginásio Paranaense; depois da primeira edição, a obra foi publicada em outras três ocasiões: 1937, 1953 e
1995, sempre com auxílio financeiro do Estado.
6
Michel Foucault usa o termo “fundadores de discursividade” para referir-se a autores cuja produção textual
permitiu a emergência de outros textos que, ora complementavam a reflexão inicial, ora a negavam. Nas
palavras do autor: “Esses autores têm de particular o fato de que eles não são somente os autores de suas
obras, de seus livros. Eles produziram alguma coisa a mais: a possibilidade e a regra de formação de outros
textos. Nesse sentido, eles são bastante diferentes, por exemplo, de um autor de romances que, no fundo, é
sempre o autor do seu próprio texto. Pois [...] abriram o espaço para outra coisa diferente deles e que, no
entanto, pertence ao que eles fundaram.” FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Disponível em:
http://acervo.novacartografiasocial.com.br:8088/xmlui/bitstream/handle/738738/1772/FOUCAULT,%20Miche
l.%20O%20que%20%E9%20o%20autor.pdf?sequence=1 Acesso: 13 Set. 2016.
Martins se tornou o pai da História paranaense, e sua filha dileta, foi
importante instrumento de conformação identitária para o estado. Naquele
final do século XIX, a obra recorria ao modelo analítico então em voga e
proposto, sob os auspícios do IHGB, por Carl Friedrich Phillip von Martius.7 A
7
história paranaense - assim como a história brasileira - se desenvolvia na
perspectiva de von Martius, compartilhada por Martins, no imbricado das três
raças: brancos de origem europeia, negros e indígenas. A primeira fatalmente
suprimiria as outras em favor da civilização, dado o espírito desbravador e
conquistador desse “mais poderoso e essencial motor” (VON MARTIUS, 1845,
p. 31). A narrativa histórica, fundada a partir de documentos variados e oficiais,
cumpria a função de ordenar os eventos prescritos, colocando-os no seu
devido lugar, dentro desse modelo explicativo.
Ao postular a fraternidade entre os povos no Paraná, mesmo diante de
uma babel de raças (MARTINS, 1995, p. 352), ao construir uma narrativa
homogênea que unificava em linearidade, eventos contingentes, Martins fez
emergir um objeto de análise que encontrou frutíferos desdobramentos não
somente entre pesquisadores de História, mas também, contribuiu para a
fabricação de um certo sentido para os tempos pretéritos, uma cultura
histórica.
7
Trata-se do texto Como se deve escrever a História do Brasil, texto premiado pelo IHGB como melhor
programa para a escrita da História Nacional. O trabalho está disponível no link:
https://umhistoriador.files.wordpress.com/2012/03/martius-carl-friedrich_como-se-deve-escrever-a-
histc3b3ria-do-brasil.pdf e uma problematização pode ser encontrada em: GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado.
História e natureza em von Martius: esquadrinhando o Brasil para construir a nação. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702000000300008 Acesso: 24 Set. 2016.
Assim como outras regiões do país, o Paraná no início do século XX
conheceu notórios esforços de interpretação identitária. 8 Destaque-se o
movimento paranista, outro filho de Romário Martins que, com a colaboração
de demais sujeitos, estruturou nos anos finais de 1920 um programa
8
estruturado em manifestos, periódicos, atividades artísticas e ações na política
institucional; intelectuais, artistas, jornalistas, políticos, entre outros,
mobilizaram-se com o fito de identificar e valorizar as características do
Paraná. Diante do cadinho cultural que dificultava o estabelecimento de uma
identidade singular optou-se, ao invés de definir o paranaense, por caracterizar
os paranistas:
O neologismo fez com que todos muito folgassem. A
definição era tão vaga, tão abrangente, que a alcunha de
paranista podia ser distribuída, sem contradições, ao
criador de um bezerro-campeão, ao presidente da
República, às burguesas que espantavam o tédio em
associações beneficentes, aos operários mais comportados,
aos fabricantes de bolachas amanteigadas, aos
excelentíssimos senhores ministros e às demais
autoridades militares e civis. (DUDEQUE, 2001, p. 60).
8
Dois exemplos da historiografia analisam os esforços de interpretação identitária, para além do Paraná:
ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. O engenho anti-moderno: a invenção do nordeste e outras artes. Tese
(Doutorado em História). Campinas: Unicamp, 1994. FERREIRA, Antonio Celso. A epopeia bandeirante:
letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940). São Paulo: Editora UNESP, 2002.
frequentemente utilizados para a construção identitária, o apresso por esse
“torrão da pátria” ligava os habitantes da terra das araucárias.
Deflagrado em várias frentes, o movimento paranista também se ocupou
do passado e investiu na construção de heróis e narrativas épicas; diante de
9
um Estado jovem – afinal o Paraná havia se emancipado somente em 1853 –
recorreu-se ao recuo temporal que, aportado em estudos de arqueologia,
apontava a longevidade da organização social nos terras paranaense. O esforço
paranista em promover uma identidade viável para o Estado articulava-se na
tríplice temporalidade: o passado de origem comum, o presente de ação e
futuro de progresso.
Na leitura dos paranistas o passado da região era unificado, um bem
comum pertencente não somente aos nascidos no Paraná, mas a todos que
aqui construíram algo; tempo notório, contudo, negligenciado. Entretanto, os
paranistas viram seu projeto enfraquecer-se diante da ascensão, em 1930, de
um programa nacionalista capitaneado por Getúlio Vargas. Novos projetos de
nação foram paulatinamente construídos e, em seu bojo traziam a exigência
primordial de sacrificar a região em prol da unidade do país. Os tempos
pregressos foram recrutados para atender ao programa do governo federal
“enquanto realidade fundamental para a compreensão da nação. Um passado
que não podia, como tradição, coexistir com o presente, mas que, exatamente
por isso, era fonte de explicação para o novo” (GOMES, 2007, p. 57).
Na segunda metade da década de 1940, já findado o Estado Novo, o
paranismo foi reclamado por um periódico paranaense recém-inaugurado: A
Divulgação, projeto que encampou a complexa tarefa de (re)criar a região do
Paraná em meados do século XX; novamente, os impulsos do presentes foram
utilizados na urdidura do tecido histórico (ARRUDA, 2007, p. 27).
9
Arnauld Ferreira Velloso nasceu em Alagoinhas/BA, em 1904, em família de militares. Na década de 1920,
mudou-se para o Rio de Janeiro e formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras. Nos final de 1930, veio
residir no Paraná para atuar na 5ª Região Militar; aqui, casou-se com Isolda Maria Carnascialli Velloso, jovem
oriunda da elite local que mantinha contato direto com nomes como Romário Martins e David Carneiro. O
matrimônio aproximou Velloso das pautas do paranismo e foi importante para a captação de recursos
intelectuais para a revista que fundou e dirigiu, de 1947 a 1965.
10
As fases editoriais da revista A Divulgação foram estabelecidas a partir da análise minuciosa dos aspectos
materiais do periódico (capas, diagramação, disposição do conteúdo, presença e ausência de iconografia, entre
outros) e dos conteúdos publicados.
11
A análise do conteúdo publicado entre 1947 e 1954, revelou os seguintes dados: História, 70 artigos; Política
e ações governamentais, 45; Economia, 44; Comportamento e cotidiano, 39; Cultura, 29. Além dessas rubricas,
outras 21 foram mapeadas, mas em quantidades menores.
12
Publicaram na revista, entre outros: Raul Gomes, Francisco Leite, Alceu Chichôrro, Pedro Calmon, Rodolfo
Garcia, Serafim França, Temístocles Linhares, Homero Braga, Maria França, Rosy de Sá Cardoso, Osvaldo Piloto,
Vasco José Taborda, Helena Kolody, Malba Tahan.
temas, eram constantemente debatidos.13 Igualmente digno de nota foi o
intento, declarado já no primeiro número da publicação, de filiar-se à herança
intelectual do paranismo: “Nossa revista – A DIVULGAÇÃO – não alimenta a
veleidade de preencher lacunas ou suprir deficiências. Ela se propõe
11
simplesmente propagar as ideias e realizações “paranistas” por todo o Brasil
(VELLOSO, 1947, P. 01)”. Para cumprir tal objetivo, as narrativas sobre o
passado foram prioridade: 70, dos 391 artigos publicados, tinham como pauta
os eventos pretéritos.
A retomada do paranismo acompanhava ações do governo paranaense,
posto que no mesmo período, o então governador Moysés Lupion empenhou-
se em recuperar o conjunto simbólico construído na década de 1920 por obra,
principalmente de Romário Martins - autor da lei, enquanto deputado
estadual, que instituiu a bandeira e brasão de armas do Paraná. Como forma
de demonstrar seu apoio ao propósito governamental, A Divulgação publicou a
íntegra do Decreto 2.457, de 31 de março de 1947: 14
Considerando que a instituição desses símbolos em nada
concorre para o enfraquecimento da coesão nacional,
antes contribui para reforçar essa coesão pela emulação
que desperta entre as unidades federadas; considerando
que a Pátria não é uma criação abstrata, senão uma soma
de regiões, com suas peculiaridades, usos, episódios
históricos, lutas e sacrifícios isolados; considerando que do
espírito de um sadio regionalismo é que emerge, mais forte
e mais puro, o ideal cívico dessa grande alma que é a
Nação [...] decreta: Art. 1º :Ficam restabelecidos a
Bandeira, o Hino e Escudo do Estado do Paraná, conforme
13
Havia, além de artigos, reportagens e seções, espaço para produção literária e publicidade.
14
A publicação desse decreto oficial não foi um episódio singular na trajetória do periódico A Divulgação e
seria cansativo expor ao leitor a lista de textos oficiais editados naquelas páginas. Cabe destacar, no entanto,
que tal ato editorial sugere vínculos entre a revista de Velloso e as elites políticas do Paraná.
vigoram à época de sua extinção [...] (A Divulgação, 1948,
p. 21).
15
O depoimento de Romário Martins a respeito do lançamento da revista A Divulgação foi escrito em outubro
de 1947, portanto, antes do lançamento do periódico. No primeiro número da publicação uma fotografia do
texto foi reproduzida; valorizava-se, dessa maneira, a trajetória de Romário Martins que emprestava, de
próprio punho, valor ao periódico. O original desse documento foi preservado por Arnauld Ferreira Velloso e
cedido à autora desta pesquisa em 2014.
A legitimidade das narrativas provinha, sobremaneira, da trajetória e
vínculos institucionais de seus autores; sujeitos nascidos na virada do século
XIX para o XX, e que nutriam interesse diletante pelo passado, formados a
partir da perspectiva uniformizada da história do Paraná, conforme postulado
13
de Romário Martins. 16 Ademais, frequentavam as mesmas agremiações
intelectuais, com destaque inicial 17 para a Academia Paranaense de Letras e o
Centro de Letras do Paraná, instituições notadamente paranistas, que nutriam
interesse especial pela produção literária local. Além dessas, os articulistas do
periódico estavam envolvidos com Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
(IHGPR) e o Círculo de Estudos Bandeirantes (CEB), projetos intelectuais
relevantes no estado, principalmente, no que respeita ao fomento de
pesquisas sobre o passado. 18
O IHGPR congregava pesquisadores locais interessados em história e
seguia os moldes do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.19 Pertencer aos
16
O conjunto de colaboradores da revista A Divulgação foi pesquisado com a intenção de mapear as interações
desses autores para além do periódico. Idade, formação, profissão, atuação em associações intelectuais e
publicações foram utilizadas na construção de um perfil desse coletivo. Nesse texto, enfatiza-se brevemente,
as informações recolhidas sobre os articulistas da rubrica História.
17
A importância das sociabilidades intelectuais foi destacada por Jean-François Sirinelli, para quem elas “*...+
secretam, na verdade, microclimas à sombra das quais a atividade e o comportamento dos intelectuais
envolvidos frequentemente apresentam traços específicos”. As redes de sociabilidade evidenciam não
somente as relações sincrônicas entre intelectuais, mas também permitem, a partir da noção de microclima,
compreender o microcosmos intelectual, angariando para a análise relações de outros tempos, de admiração
ou recusa frente à posturas intelectuais e, que no objeto e tempo em analise, são perceptíveis. SIRINELLI, Jean-
François. Os intelectuais. In: REMOND, René. (org). Por uma história política. 2 ed. Rio de Janeiro. Editora FGV,
2003, p. 252.
18
Dentre os articulistas de História pertencentes ao quadro do IGHPR estavam: Aluizio França, Dulcídio Tavares
de Lacerda, Homero de Barros, Osvaldo Pilotto, Romário Martins, Serafim França, Vasco José Taborda; Aos
quadros do CEB pertenciam: Aluizio França, Arnauld Ferreira Velloso, Homero de Barros, Osvaldo Pilotto,
Romário Martins, Temistocles Linhares, Vasco José Taborda. Correspondências de outros autores, não
efetivamente associados às duas instituições, indicam trocas culturais não formalizadas e fluídas.
19
Sobre o IHGPR, ver: BELTRAMI, Rafael C. de C. Da Poesia na Ciência. Fundadores do Instituto Histórico e
Geográfico do Paraná, uma história de suas ideias. Dissertação (Mestrado em História). Curitiba: UFPR, 2002;
ROSEVICS, Larissa. O Instituto Histórico e Geographico Paranaense e a construção de um imaginário regional.
Dissertação (Mestrado em Sociologia). Curitiba: UFPR, 2009.
quadros do IHGPR (vinculado ao IHGB) garantia legitimidade aos autores que
se aventurassem a narrar eventos do passado, uma vez que ambas eram
instituições norteadoras da produção historiográfica nacional e regional. Já o
Círculo de Estudos Bandeirantes, por sua vez, apoiado em projetos de cunho
14
religioso, foi formado com o intuito de estimular atividades de pesquisa por
parte de seus integrantes e desenvolver a cultura local. Deve-se destacar,
ainda, o papel destacado do CEB na formação dos primeiros universitários de
História.20O grupo retomava, no nome da instituição, a figura dos
bandeirantes, sugestão da interpretação do passado que orientava proposta:
Aos que tomaram um dia a iniciativa de fundar em Curitiba
um Círculo de Estudos, espontaneamente lhes acudiu o
nome genérico daqueles vanguardeiros da civilização em
terras sul-americanas. Bandeirantes! pois não era, acaso, o
projetado Círculo uma nova “bandeira” sui generis, que se
arrojava para os sertões do saber, à cata das verdes
esmeraldas e das áureas pepitas da verdade; [...] Pois que
outro mais expressivo título poderia ajustar-se à projetada
fundação? [...] Aí está: – somos também Bandeirantes de
novo gênero, mas da velha estirpe que nos arrojamos, na
mais aventurada e na mais venturosa das conquistas à
conquista do saber! [...]. Núcleo – que como os
Bandeirantes de outrora – ao partir o companheiro
querido, aqui fica confiante na eficiência do teu valor
humano, mas volve os olhos para o magnífico céu do Brasil
invocando a proteção divina para quem sempre soube
honrar a cultura e tradição cristãs (FERRARINI, 2011. p. 84-
85).
20
A respeito, ver: FAGUNDES, Bruno Flávio Lontra. História, historiador e identidade profissional. Sobre a
história do Curso de História da Universidade Federal do Paraná. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 27, nº
54, p. 295-315, jul.-dez. 2014.
Se nos dizeres de Pollak, “a referência ao passado serve para manter a
coesão dos grupos e instituições que compõe uma sociedade, para definir seu
lugar respectivo, sua complementariedade[...]” (POLLAK, 1989, p. 09) é possível
compreender que como ponto de encontro, essas agremiações unificavam as
15
leituras e interpretações dos eventos precedentes e, a um só tempo,
construíam um lugar para o passado e a própria auto legitimidade narrativa.
Compenetrados em recolher os registros transatos, narrar os eventos e
personagens históricos de maneira positivada e vulgarizar tais interpretações
esses homens, e suas respectivas instituições, impulsionavam uma
caracterização do passado.
Hobsbawm (1997) defende que a consciência do passado, como aquilo
que antecedeu as memórias registradas do indivíduo, é uma dimensão
permanente e mutável da experiência humana. Nessa perspectiva, os
envolvidos com o projeto de A Divulgação procuram inscrever uma
determinada consciência do pretérito no imaginário coletivo. Recorria-se ao
passado, em primeiro lugar, para encontrar um antídoto aos males
contemporâneos:
Não há dúvida que é preciso opor alguma coisa a essa
debacle. Mas, o que opor, se o exemplo vem das
culminâncias e dos que tudo mandam e desmandam? Será
que, por vezes, a sugestão de uma leiturazinha a respeito
das nossas grandes figuras do passado, daria certo?
Poderá, o influxo dessas luzes, chocar proveitosamente?
Acreditamos e não acreditamos na eficiência do método.
[...] Urge, a despeito de tudo, irmos cooperando para o
término do festim de Baltazar. Sejamos renitentes e
cacetes. Falemos dos nossos valores do pretérito. Há de
resultar alguma coisa. Uma fraçãozinha de entusiasmo
providencial há de ficar [...]. (PILOTO, 1952, p. 41).
A característica de antídoto atribuída aos tempos idos relacionava-se ao
fato de que era à ausência de conhecimento sobre os feitos de antanho que se
creditavam os “problemas nacionais”. O passado era um dado referencial, nele
16
residiam os parâmetros orientadores que faltavam aos contemporâneos do
articulista. Diante da preocupação com os problemas nacionais, no entanto,
recorria-se a história paranaense, indício de que o antídoto tinha função
regional e os problemas que mobilizavam tal recurso eram locais.
A conjuntura paranaense, em meados do século XX, reclamante de
discernimento sobre o passado, envolvia os eventos comemorativos do
centenário de emancipação política do Estado -ocorrido em 1953 –, a que se
acrescentavam os projetos de remodelação urbana da capital paranaense
Curitiba,21 e a questão da entrada dos imigrantes no estado com o fim da 2ª
Guerra.22
Para comemorar o centenário, eventos distintos foram inventariados
como marcos fundadores do Paraná,23 ponto culminante de um processo em
que homens nobres e resistentes se debateram para a concretização de um
21
Os projetos de remodelação de Curitiba inspiraram múltiplos debates sobre quais modelos arquitetônicos
deveriam prevalecer, mas sobretudo, sobre o que deveria ser posto abaixo. Sobre o tema, ver: CAROLLO,
Bráulio. Alfredo Agache e sua visão de urbanismo. Dissertação (Mestrado em Arquitetura). Porto Alegre:
UFRGS, 2008.
22
A chegada de imigrantes sobreviventes do segundo conflito mundial e a consequente discussão na imprensa
paranaense ocupou as reflexões de STEIN, Marcos Nestor. “O oitavo dia”: produção de sentidos identitários na
colônia Entre Rios – PR (segunda metade do século XX). Tese (Doutorado em História) – Florianópolis: UFSC,
2008.
23
A emancipação do Paraná, na historiografia contemporânea, é interpretada a partir dos interesses
monárquicos frente à possível aliança entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Autores enfatizam, ainda, que a
elite local não tinha força política para articular a emancipação, versão diversa da difundida em A Divulgação,
na qual o fato é tomado como uma espécie de destino manifesto, no qual indivíduos e eventos do período
colonial figuram de forma a criar uma linha de ações que desembocou na separação. A respeito, ver: PRIORI,
Ângelo et al. História do Paraná: Séculos XIX e XX. Maringá: EDUEM, 2012. Disponível em:
http://books.scielo.org/id/k4vrh/pdf/priori-9788576285878-12.pdf. Acesso em: 19 Set.. 2016.
ideal político;24 as narrativas estabeleciam uma racionalidade etapista para
episódios contingentes e atribuíam marcas valorosas não só para os feitos, mas
também aos personagens daquele projeto político.
A estratégia de valorização de personagens pregressos foi fundamental
17
em A Divulgação e opunha-se a interpretação de Brasil Pinheiro Machado,
elaborada em 1930, que afirmava: “[...] O paranaense não existe, dentro do
complexo brasileiro (...). O Paraná é um estado sem relevo humano. Em toda
a história do Paraná nada houve que realmente impressionasse a
nacionalidade.” (MACHADO, 1930, p. 08-09). Para dotar o Paraná de relevo
humano mais da metade dos artigos publicados no periódico ocuparam-se de
avaliar trajetórias individuais na política,25 educação,26 literatura,27 atividades
militares,28 cultura e desenvolvimento geral do estado. 29
As narrativas voltadas para personagens com atuações distintas em
recortes temporais igualmente diversos (do século XVI ao XX) argumentavam
que tais indivíduos representavam a síntese histórica das características do
Paraná: resistência às condições geográficas, inciativa política e econômica, e
um inexorável destino rumo ao progresso. Frequentemente retomadas, essas
caracterizações formavam linhas de continuidade que exigiam dos
contemporâneos atitudes similares.
24
OSVALDO, Piloto. A criação da província do Paraná. A Divulgação, Ed. especial, p. 07-, Dez. 1953. BARROS,
Homero de. Centenário do Paraná. A Divulgação, Ed. Especial, p. 129-131, Dez. 1953.
25
CARNEIRO, David. Homens e palavras: as frases do general Carneiro para defini-lo. A Divulgação, Ano I, p. 07-
08, Ago.-Set.-Out. 1948.
26
LEITE, Francisco. João Batista Brandão de Proença: o 1º professor do Paraná. A Divulgação, Ano I, nº. 05-06,
p. 27-30, Abr.-Maio 1948.
27
BORGES, Durval; Icílio Saldanha. Pequenas notas biográficas. A Divulgação, Ano VIII, p. 44, Jan. 1954.
28
CARNEIRO, David. O Combate Cormorant. A Divulgação, nº. 14-15-16, p. 03-04, Jan.-Fev.-Mar. 1949
29
LACERDA, Dulcídio T. Histórico da Ligação Ferroviária Riozinho- Guarapuava. A Divulgação, Ano VIII, p. 14,
Set. 1954; Engenheiro Westermann. A Divulgação. Ed. Especial, p. 35, Dez. 1953; GOMES, Raul. Alfredo
Andersen, pai da pintura paranaense. A Divulgação. Ed. Especial, p.62-63, Dez. 1953.
Além disso, feitos da história de São Paulo foram apropriados e inseridos
na homogeneidade do passado paranaense. O foco, nesse caso, foram as
atividades de ocupação territorial e ações políticas, que na interpretação do
periódico, vaticinavam o futuro grandioso do Estado.
18
Hoje que somente Curitiba tem dez vezes mais população
do que ao tempo tinha a comarca inteira, hoje que não
temos índios bravios a perturbar nossa ação de indústria
ou de que seja, bem podemos imaginar a montanha de
dificuldades desse homem de ferro que se arvorara
governador do futuro Paraná [...] Foi um gigante! [...] há
duzentos anos, aquele português de fibra, de aço, de ouro
tornou possível o trabalho de outros. Devemos-lhe muito,
mais do muito, tudo! (CARNEIRO, 1947, p. 10).
30
David Carneiro assinou 23 artigos, dos 70 que foram identificados como relativos à história. Sobre a
trajetória deste autor, ver: MACHADO, Daiane Vaiz. O percurso intelectual de uma personalidade curitibana:
David Carneiro. Dissertação (Mestrado em História). Curitiba: UFPR, 2012.
evitar a formação de “quistos” cuja existência causa tanto
alarme aos que pouco confiam nas nossas organizações
policiais. E incorporando-se à família brasileira .para ela
trarão suas taras, suas deficiências e defeitos hereditários
[...] (BRAGA, 1950, p. 08).
20
A perspectiva diacrônica reclamada no artigo indicava preocupação com
futuro da sociedade paranaense e brasileira, mas, incluiu-se também, um olhar
para o espaço de experiência. David Carneiro argumentava contra a entrada de
imigrantes, pois a história já havia mostrado os equívocos dessa opção. O
ranço cultural dos imigrantes, comparável a “alimentos pesados”, havia sido
resistente a assimilação, razão pela qual se comprometeu a identidade local:
práticas culturais diversas sobreviviam na imprensa, em clubes, na língua, nos
projetos e formas de organização social dos imigrantes e comprometiam os
interesses do Estado:
É que o Paraná com as suas correntes imigratórias, perde
cada vez mais, o seu real civismo. Já não é mais o Paraná
do início do século, vibrando a todo instante por assuntos
vários da questão dos limites com Santa Catarina. Vai lhe
faltando o contato com seu próprio passado. Decrescem-
lhe[sic] as vibrações anímicas, consonantes e sincrônicas
aos grandes movimentos nacionais e locais. Perde em
profundidade, em coração, em ardor patriótico, tudo
aquilo que ganha em aparência. Cresce-lhe a hipocrisia e
tartufismo[sic] vence-o. Passa a ser um soldado de
paradas, bem vestido, muito garbo, com capacidade
duvidosa e bravura de interesse... Hoje falta nas famílias, o
relembrar de tradições. Falta nas escolas primárias, que as
mestras ensinem os nomes dos que derramaram seu
sangue, pelo bem coletivo, afim de que tais lições sejam
códigos de civismo (CARNEIRO, 1950, p. 03).
O passado, a partir de pesquisas e da proteção física dos registros de
outros tempos, deveria ser salvo naquele presente e ser usado como forma de
resistir ao encontro cultural que traria prejuízos à identidade. que se pretendia
estabelecida. Para levar a cabo essa nobre missão, os intelectuais do estado
21
deveriam ocupar-se de salvar os monumentos históricos, produzir narrativas
relevantes e vulgariza-las pelos mais diversos meios, combatendo assim o
maior mal paranaense: o “*...+ desprezo por *suas+ tradições históricas”
(CARNEIRO, 1951, p. 11).
Considerações finais
É que, onde a História semeia os seus prelecionamentos
[sic], aí ela nos deterá sempre, como se nos descerrasse
atualidade a mais presente. O indispensável do que é
exemplo. Mestra sempre será continuamente atual.
Coerente na diversidade, no anacronismo de fatos ou
fenômenos contidos em épocas desiguais. A
extemporaneidade das evocações desaparece ante a
crueza e a utilidade do que nos deixa em sabedoria. Os
recursos, os dias, os indivíduos, fica tudo como que
exatissimamente igual, a despeito dos giros, por vezes os
mais completos, do diferente (PILOTO, 1952, p. 39).
Referências bibliográficas
1
Resumo: O presente artigo traz reflexões acerca do ensino de História e o exercício
docente, levando em consideração que, hoje, os trabalhos neste campo são voltados
para a perspectiva da cognição histórica – ou seja, o ensino-aprendizagem de História
não pode ser trabalhado da mesma maneira que se trabalham as outras disciplinas.
Assim sendo, a famosa “decoreba”, que muitas vezes caracteriza o ensino da disciplina,
não é suficiente na realidade das salas de aula da atualidade, mesmo que muitos
professores ainda utilizem dela (cf. DIAS, 2007; SCHMIDT, CAINELLI, 2004). Para que
haja uma aprendizagem significativa, é necessário ter em mente que o aluno não é
tábula rasa, e sim, agente ativo do conhecimento, trazendo para a escola seus
conhecimentos prévios que devem ser levados em conta. Abordamos ainda o
cotidiano em sala de aula (RODRIGUES, 2007), bem como aspectos da psicologia da
criança e do adolescente (MATHEUS, 2002) e os desafios do fazer-se professor (PAIM,
2006), que são aspectos que permeiam o ensino e a aprendizagem de História.
Palavras-chave: Educação Histórica; Exercício Docente; Sala de aula
Abstract: This article brings reflections about History education and teacher practicing,
considering that, nowadays, the works on this field are based on the perspective of
historical cognition – that is, the teaching and the apprenticeship of History can’t be
worked the same way the other subjects are worked. Therefore, the famous
“memorization”, that most of the times portrays History teaching, is not enough on
today’s reality inside the classrooms, even if many teachers still use it (cf. DIAS, 2007;
SCHMIDT, CAINELLI, 2004). For the existence of a meaningful apprenticeship, it is
necessary to have in mind that the student is not a blank slate, and that he is, indeed,
an active agent of the knowledge, bringing to school his previous knowledges that
must be considered. We also talk about the classroom’s routine (RODRIGUES, 2007), as
well as the aspects of children and teenagers’ psychology (MATHEUS, 2002), and the
challenges of becoming a teacher (PAIM, 2006), that are aspects that permeate the
teaching and the learning of History.
Keywords: History Education, Teacher Practicing; Classroom
REFERÊNCIAS
BARCA, Isabel. Concepções de adolescentes sobre múltiplas explicações
em História. In: BARCA, Isabel. Perspectivas em Educação Histórica.
Braga: Universidade do Minho, 2001, p. 29-43
<http://www.curriculosemfronteiras.org/vol7iss1articles/dias.pdf>.
1
Resumo
O processo de ampliação da rede de ensino público no Brasil entre os anos de 1960 e
1980 atendeu a interesses específicos da conjuntura política e social do país. Um deles
foi a produção da identidade nacional a partir da afirmação de verdades instituídas
pelo governo. Um dos caminhos para inserir os discursos no meio educacional foi a
retomada da Educação Moral e Cívica, pautada em valores morais ligados à religião
cristã. Para a sua legitimação, execução e fiscalização foi criado um órgão, a Comissão
Nacional de Moral e Civismo (CNMC).
Palavras-chave: Comissão Nacional de Moral e Civismo, Identidade Nacional, Discursos.
Abstract
The process of expansion of the public school system in Brazil between the years 1960
and 1980 met the specific interests of the political and social situation of the country.
One of them was the production of national identity from the assertion of truths
imposed by the government. One way to enter the speeches in the educational
environment was the resumption of Moral and Civic Education, based on moral values
related to the Christian religion. For its legitimacy, enforcement and monitoring has
created a body, the National Commission of Moral and Civics (CNMC).
Keywords: National Commission for Moral and Civics, National Identity Discourses
1
Mestre em Educação – UFPE
A Comissão Nacional de Moral e Civismo (CNMC) surgiu no contexto do
regime militar brasileiro e perdurou mesmo depois de findo o governo
militar e a volta da democracia. Instituída pelo Decreto nº 68.065, de 14
de janeiro de 1971, possuía entre suas atribuições promover o
conhecimento do Decreto-lei nº 869, de 12 de setembro de 1969. Na 2
Referências Bibliográficas
BRASIL. Decreto-lei nº 869, de 12 de setembro de 1969. Dispõe sobre a
inclusão da Educação Moral e Cívica como disciplina obrigatória, nas
escolas de todos os graus e modalidades, dos sistemas de ensino no País,
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 15 set. 1969. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-869-
12-setembro-1969-375468-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 28
jan. 2016. 7
Resumo
O presente artigo pretende realizar uma discussão sobre o papel da mídia brasileira no
apoio à hegemonia governista, na ainda jovem democracia que tentava se estabelecer
na década de 1990 no país. Para tal, buscamos realizar uma discussão teórica
fundamentada em quatro conceitos basilares: “Poliarquia”, “Simbolismo”,
“Hegemonia” e “Vontade”. Além disso, buscaremos nos debruçar sobre a conjuntura a
qual esse trabalho se propõe a analisar, a fim de enrobustecer nosso diagnóstico final.
Frente a tais proposições, buscaremos realizar uma análise qualitativa dos fatos,
através de um método observacional das bibliografias pertinentes, como artigos e
livros que mostram o histórico da temática, além de dados coletado na época, como
desemprego, inflação e satisfação/insatisfação. Assim, o artigo levanta uma questão
estrutural: a participação da mídia na manutenção da governabilidade interferiu na
proeminência democrática de oposição organizada? Concluímos que ambos governos
terminaram extremamente fragilizados devido aos escândalos, e números de baixa
aprovação, nos levando a concluir que a participação de grupos opositores de cunho
social organizado, se fortaleceram frente ao descrédito desses governos, apesar da
oposição feita pela mídia a esses movimentos, nenhum consenso foi alcançado.
Palavras-chave: Poliarquia; Collor; FHC.
1
O autor é Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e Pós-
Graduando em Políticas Públicas pela Universidade Federal de Goiás. Contato:
guilherme.rel1404@gmail.com.
Abstract 2
This article intends to hold a discussion on the role of the Brazilian media in
supporting the government's hegemony in the still young democracy trying to
establish in the 1990s in the country. To this end, we made a theoretical discussion
based on four basic concepts: "Polyarchy", "Symbolism", "Hegemony" and "Desire". In
addition, we will seek dwell on the situation in which this work is to analyze in order to
make robust our final diagnosis. Faced with such propositions, we will seek to carry out
a qualitative analysis of the facts through an observational method of relevant
bibliographies, such as articles and books that show the History of the subject, as well
as data collected at the time, such as unemployment, inflation and satisfaction /
dissatisfaction. Thus, the article raises a structural issue: the media's interest in
maintaining the governance interfered in democratic prominence of organized
opposition? We concluded that both governments ended extremely fragile due to
scandals and low approval numbers, leading us to conclude that the participation of
opposition groups organized social, strengthened against the discredit of these
governments, despite opposition from the media to these movements, no consensus
has been reached.
Keywords: Polyarchy; Collor; FHC.
Introdução
O gradual retorno à democracia no Brasil levou a novos
questionamentos sobre a vida pública nacional. Foi encontrada nos anos
1980, uma manifestação de novos atores políticos e sociais, que há muito
estavam suprimidas. O surgimento de novos partidos, que tem suas
origens políticas ligadas à luta pela democracia, oportunidades de 3
2
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil. Brasília: Biblioteca Digital da Câmara dos
Deputados, 2012. p.20.
3
BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil. Brasília: Biblioteca Digital da Câmara dos
Deputados, 2012. p.13.
possibilidade política de privilegiar o mercado como princípio regulador da
sociedade, e ainda utilizou outro dispositivo da Constituição de 1988:
“Collor, em moldes marcantes e inovadores bem como uma política
configurada pela existência de um padrão midiático [...] acionou e
esbanjou marketing, sondagens de opinião, produção de imagem 5
pública”4.
O projeto social e econômico proposto pelo Partido dos
Trabalhadores – PT –, em 1989, denominado “Frente Brasil Popular”, que
fez com que houvesse a adesão do Partido Socialista Brasileiro – PSB –
integrando a aliança a partir do vice da chapa, Paulo Bisol. No segundo
turno das eleições, o candidato Luis Inácio da Silva, Lula, do PT, teve a
participação do Partido Comunista do Brasil – PCdoB5 –, também do
Partido do Movimento Democrático Nacional – PMDB6 –, assim como do
Partido Democrático Trabalhista – PDT7 – e do Partido Comunista
Brasileiro – PCB8 –, em sua rede de apoiadores. No segundo turno, porém,
a Frente Brasil Popular foi derrotada pelo candidato Fernando Collor de
Mello, do Partido da Reconstrução Nacional, que obteve 20.611.011, ou
30,47% dos votos, enquanto a Frente obteve 11.622.673 votos, ou 17,18%
dos votos, naquela ocasião.
4
RUBIM, A. A. C; COLLING, L. Mídia, cultura e eleições presidenciais no Brasil contemporâneo. In:
Correia, J. C. (org.). Comunicação e política. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2005. p.76.
5
O PCdoB já integrava a chapa desde o primeiro turno.
6
O PMDB nas eleições de 1989 ofereceu a candidatura do Deputado Ulysses Guimarães, que conseguiu
apenas 3.204.932 votos, ou 4,73% dos votos totais.
7
O PDT concorreu com o nome do Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, conseguindo o 3° lugar,
com 11.622.673, ou 16,51% dos votos totais.
8
O PCB teve como candidato o Deputado, Roberto Freire, que conseguiu 769.123, ou 1,13% dos votos.
As eleições de 1994 foram extremamente afetadas pela conjuntura
que o Plano Real construiu no Brasil, já em seu primeiro ano. A Frente
Brasil Popular mais uma vez apostou na candidatura de Lula, que contou
com Aloísio Mercadante, também do PT, como vice em sua chapa. A
Frente Brasil Popular, nessa ocasião, contou com a adesão de mais 6
9
Brizola havia sido 3° colocado em 1989, com 16,51% dos votos e 5° nas eleições de 1994, com apenas
3, 18% dos votos válidos. Brizola se destacou nesses anos, pelas intensas críticas tanto aos governos
como aos candidatos à Presidência, inclusive a Lula, candidato que em 1998, ele apoiou como cabeça de
sua chapa.
apoiaram as candidaturas de Lula à presidência da República. Houveram
também a participação do PCB, que desde 1992, havia se separado, dando
origem ao PPS, que por sua vez apostou na candidatura de Ciro Gomes à
Presidência e Roberto Freire à vice. O candidato à reeleição, fato que
havia sido aprovado em sua primeira gestão, FHC, retornava com PFL e 7
10
SARTORI, Giovanni. “Concept misformation in comparative politics.” American Political Science
Review. N°. 4, pp. 1033, Dec, 1970.
2 Poliarquia, seus simbolismos e vontades
Robert Alan Dahl na obra “Poliarquia: Participação e Oposição”
(1997) tem em sua obra a máxima análise sobre democracias recentes, e
que necessitam de alguns fatores básicos para constituírem democracias
robustas. Poliarquias para o autor, são “regimes que foram 8
11
DAHL, R. Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo: EDUSP, 1997.
12
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. — Rio de Janeiro: Editora Fundo de
Cultura, 1961.
culturais [...] manter as rédeas presas para que a massa e trabalhadores
sejam premente banidas do exercício do poder”13. A partir dessa discussão
que Fernandes realiza, a liberdade de expressão parece ser apenas mais
uma válvula da manutenção do equilíbrio entre a legitimação da minoria
elitizada e a sensação de contemplação da vontade da maioria por uma 9
13
FERNANDES, Florestan. Que tipo de república? 2° e.d. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1986. p.44.
14
DAHL, Robert A. A Preface to Democratic Theory. Reed. Chicago: University of Chicago Press, 2006.
p.63.
Figura 1: Requisitos para a existência de uma democracia
10
15
DAHL, R. Poliarquia: Participação e Oposição. São Paulo: EDUSP, 1997. p. 10-11.
a variedade de minorias cujas preferências têm de ser levadas em conta
pelos líderes quando fazem escolhas políticas”16. Nesse sentido, o autor
acredita que a participação das massas através das eleições é parte de um
processo decisório através da delegação. Axel Honneth (2009) entende a
busca por participação como sendo parte de uma luta pelo 11
16
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. — Rio de Janeiro: Editora Fundo de
Cultura, 1961.
17
HONETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2.ed. São Paulo:
Editora 34, 2009. p.113-114.
18
DAHL, Robert A. A Preface to Democratic Theory. Reed. Chicago: University of Chicago Press, 2006.
p.136.
conosco ao também nos oferecer uma definição própria para participação
política: “constitui o conjunto de esforços tendentes a participar da
divisão do poder, influenciando sua divisão, seja entre Estados, seja entre
grupos num Estado”19.
Para Marx e Engels em “A ideologia alemã” (1998), a ideologia faz 12
19
WEBER, Max. A política como vocação. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. p.9.
20
MARX, Karl; ENGELS, Friederich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.23.
21
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade para uma teoria geral da sociedade. Rio de Janeko:
Paz e Terra, 1987. p.39-40.
Seguindo a leitura da superestrutura marxiana, a sociedade civil se
apresenta como alicerce da sociedade política, e a ideologia se apresenta
como parte da matéria acumulada do desenvolvimento histórico.
Norberto Bóbbio em sua obra “Estado, Governo e Sociedade”, faz uma
releitura do conceito de superestrutura em Gramsci, e acaba se 13
22
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade para uma teoria geral da sociedade. Rio de Janeko:
Paz e Terra, 1987. p.40.
23
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Vol. 1, 1999.
autoconsciência e organização dos diferentes grupos, assim viabilizando a
formação de uma estrutura social que pode “conquistar” a superestrutura
através do aumento da coesão de uma ideia dentro da sociedade, pois os
grupos organizados criam estruturas sociais, lutam, e unificam-se um prol
de uma agenda de interesses, para então formar uma hegemonia. 14
24
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, Vol. 2, 2000.
p.48.
projetos políticos, econômicos e sociais dos dois governos aqui
pesquisados. Porém, o que mais chama a atenção, além do ainda muito
recente debate livre entre campos opostos, é que os discursos de ambos
parecem tentar dialogar com a sociedade, e talvez, em prol de obter um
consenso, por isso é necessário dialogar com o conceito de hegemonia. 15
25
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Editora DIFEL, 1989.
26
BAUMAN, Zygmunt. Por Uma Sociologia Crítica: Um ensaio sobre senso comum e emancipação. Rio
de Janeiro: Editora Zahar, 1977. p.25.
2.2 A tentativa da construção do consenso
A mídia desenvolve um papel fundamental na destinação e
enquadramento das vontades políticas, e que pode abrir espaço para um
consenso. Max Weber acredita que a mídia tem um papel fundamental na
criação de aliados e opositores dos projetos políticos. O autor define: 16
27
WEBER, Max. A política como vocação. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. p.47.
28
BOURDIEU, Pierre. A Economia Das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007. p.24.
Habermas (1997) acredita que a opinião pública tem um papel
importante na dinâmica de participação dos atores não elitizados nas
esferas decisórias, e isso é o que de fato exerce o controle sobre a mídia.
“A opinião pública gera influência, se transforma em “poder
comunicativo” através de eleições; este por sua vez, se torna “poder 17
29
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997. p.189-190.
30
BOHMAN, James. Public Deliberation: Pluralism, Complexity and Democracy. Cambridge: MIT Press,
1996. p.33.
profundamente conservador. A exigência de consenso, em especial,
paralisa a ação política preservando o status quo” 31. Assim, o consenso
pode obedecer tanto a parte que quer mudar, quanto à parte que quer
conservar algo.
18
31
MIGUEL, Luis F. Democracia e Representação: territórios em disputa. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
p.81.
32
AVELAR, Lúcia. As Eleições na Era da Televisão. Revista de Administração de Empresas, São Paulo,
32(4): 42-57, Set-Out. 1992. p.43.
na tentativa de conter o processo inflacionário. Além disso, o autor
destaca que os planos Collor I e II, foram apresentados pelo Presidente
como planos de reconstrução nacional, que na época já enfrentavam uma
inflação média de 80% ao dia, e uma taxa real de desemprego de 16,1%.
Frente aos crescentes números negativos, o partido de um dos 19
33
PARTIDO DOS TRABALHADORES. Comissão Executiva Nacional. Circ. CEN/007/92 – Informes e
decisões do Diretório Nacional (reunião de 31 jan., 1º e 2 fev. 1992). São Paulo, 4 fev. 1992. s.p.
(1992), o irmão do Presidente, Pedro Collor, deu uma entrevista à Revista
Veja, acenando um possível amplo esquema de corrupção liderado pelo
seu irmão, o Presidente. “Um dossiê, apontou o empresário Paulo César
Farias, antigo amigo e colaborador de Fernando Collor e responsável pela
coordenação financeira de sua campanha presidencial, como chefe de 20
34
FILHO, Calino P. Emprego e Salário: saldos do governo Collor. ZERO HORA, Porto Alegre, 1992. p.43
35
ROCHA, José Aparecido da S; LÚCIO, Antônio B. Protesto Social no Brasil: Os jovens nos movimentos
Diretas já e Fora Collor. Congresso Alas, Recife, vol.1, pp.1-9, 2010.
nos preparativos para a eleição de 1994, não foi diferente. Após
incansáveis planos econômicos, uma proposta em especial de combate à
inflação ganhou força. Essa proposta ocorreu durante o governo de Itamar
Franco, sucessor do ex-Presidente Collor, através do Plano Real: “a era do
Real teve o significado de uma “conjuntura crítica”, isto é, de uma grande 21
36
COUTO, Claudio G; ABRUCIO, Fernando. O segundo governo FHC: coalizões agendas e instituições.
Tempo Social, São Paulo, pp. 269-301, novembro de 2003. p.276.
37
FOLHA DE SÃO PAULO. Do PT ao próprio governo, Plano Real enfrentou resistência para a
aprovação. Visto em: < http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/06/1473092-do-pt-ao-proprio-
governo-plano-real-enfrentou-resistencia-para-aprovacao.shtml >. Acesso em: 19/12/15. s.p.
à inflação atingia grande popularidade já em 1994, e junto a ele, a
popularidade do novo Ministro da Fazenda também subia
gradativamente. “Para se ter uma ideia, em junho de 1993, o último mês
antes do real, a inflação foi de 50%. Um ano depois estava em torno de
2%. Fernando Henrique ficou conhecido como o “pai” do real, o Plano e a 22
moeda”38.
Claras mudanças econômicas pairavam no ar após a eleição de
1994 com a eleição do ex-Ministro da Fazenda, FHC, que tinha em tese o
intuito de garantir a preservação do ganho de estabilização do Plano Real.
Oliveira e Turola (2003) 39 sintetizam essas mudanças ordenando-as por
mandatos do novo Presidente: 1°mandato: introdução de medida de
controle das finanças dos governos estaduais e municipais; aumento do
déficit primário; aumento da despesa com juros; déficits crescentes em
conta corrente. 2° mandato: Ajuste fiscal voltado para a geração de
superávits primários, baseado em aumento de receitas e redução de
despesas; metas de inflação; reversão dos déficits em conta corrente.
Para Teixeira e Pinto (2012), dentre as tendências econômicas do
governo FHC, cabe ressaltar as aberturas comercial e financeira, uma
política extensiva de privatizações além de reformas favorecendo o
mercado. Houve assim uma condução de uma política econômica voltada
para juros altos e contenção de gastos correntes – gasto público –, além
disso, um aumento no desemprego real. “Em 1995, a taxa de desemprego
38
RENAULT, David. A construção da imagem de FHC na mídia impressa (1993 – 1994). Comunicação e
Espaço Público, Ano XI, nº 1 e 2, 2008. p.110.
39
OLIVEIRA, G; TUROLLA, F. Política econômica no segundo governo FHC: mudança em condições
adversas. Revista Tempo Social, v. 15, n. 2, nov. 2003.
real era de 4,6% a.a. [...] em 1998 se elevara para 7,6% [...] a segunda fase
do governo, por sua vez começou com uma taxa de 7,6% a.a. e encerrou
com 7,1% a.a. [...] o governo FHC apresentou um aumento de mais de 50%
no desemprego”40. Frente ao programa econômico e o governo de modo
geral, Castro (2009), ressalta que dentre as principais organizações 23
40
CHRISTO, Dirce Cristina. Evolução do desemprego no Brasil de 1995 a 2010: análise dos governos
FHC e Lula. 2013. Monografia (Graduação em Economia), Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre. p.20.
41
TRABALHADORES, Central Única. Resolução da 9° Plenária da CUT “Santos Dias”. São Paulo: Central
Única dos Trabalhadores, 1999. p.87.
desmistifiquem a propaganda difundida nos canais midiáticos liderados
pelo governo, que dizem que a precariedade dos serviços prestados nos
órgãos públicos é de responsabilidade dos trabalhadores.
Segundo Carvalho (2006) 42, no segundo mandato de FHC foram
promovidas ações pelo Fórum Nacional de Lutas que reuniram diversas 24
42
CARVALHO, Rodrigo. A imprensa escrita na era FHC: Análise dos editoriais dos jornais Folha de São
Paulo e O Globo no período 1995-2002. 2006. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Mercado) –
São Paulo, Faculdade Cásper Líbero.
43
VIEIRA, Fernando Antônio C; ROEDEL, Hiran. Rompendo o monopólio da mídia: o MST e a construção
de uma mídia alternativa. Magistratura Fluminense pela Democracia, Rio de Janeiro, Ano 1, outubro /
dezembro de 2003. p.8.
presidente [...] resultaram no apoio ao governo e às suas políticas
econômicas estampado nos principais jornais e revistas” 44. Além de apoio,
a mídia por diversas vezes se mostrou omissa à prática da vinculação de
notícias contrárias ao governo FHC. “Todas as denúncias de corrupção, do
caso SIVAM à “pasta rosa”, da compra de votos para reeleição ao caso do 25
4. Conclusão
A intensidade com a qual se deram os primeiros embates, sejam
entre classes econômicas ou classes políticas, fizeram com que, em certa
44
TAVARES, Michelle S. FHC e os Escândalos Políticos: Os ‘modos de dizer’ de Veja e Istoé sobre as
crises personalizadas. 2012. Dissertação (Dissertação em Comunicação e Cultura Contemporânea).
Salvador: UFBA. p.14.
medida, houvesse uma luta de classes mais consciente no Brasil. Essa
consciência se deu, por vezes, através das campanhas de seus
representantes durante as eleições e acabaram sendo correspondidas, em
parte, nas ruas, através de manifestações sociais, com plenas liberdades, e
em outra pela adesão da mídia ao projeto econômico e social, tendo 26
Resumo:
Nesse breve ensaio em quatro acordes, temos como objetivo visualizar possibilidades
do uso do Rock nas aulas de História, mostrando essa nova perspectiva temática no
ensino. Usaremos comunicações de quatro eventos acadêmicos internacionais
ocorridos no Paraná, com o intuito de dar exemplos dos locais em que a temática Rock
e Ensino de História estão sendo debatidas.
Palavras-chave
Rock – Ensino de História – Abordagens educacionais
Abstract
In this short essay in four chords, our objective is see possibilities for the use of the
Rock in lessons of History, showing this new thematic perspective in teaching. We will
use communications four international academic events in Paraná, aiming at give
examples of places where Rock and History Teaching theme are being debated.
Keywords
Rock - History teaching - Educational Approaches
Escola do Rock, onde se passando por Ned um professor passa a dar aulas
numa escola tradicional, mostrando a partir do filme uma música
considerada transgressora pela direção da escola, sendo que as aulas
realizadas fora dos olhos da direção da escola, sempre quando o diretor se
apresentava o professor maquiava sua abordagem, mas mesmo sem
formação especifica e somente com a paixão pelo rock os alunos
conseguiam assimilar os conteúdos programáticos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; CREMA, Everton. [organizadores]
Tecendo Amanhãs: o Ensino de História na Atualidade. Rio de
Janeiro/União da Vitória: Edição Especial Sobre Ontens, 2015.
FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: Uma história social. 7. Ed. Rio de
Janeiro: Record, 2012.
FILME:
Escola do Rock. Direção: Richard Linklater. Paramount Pictures, 2003. 1
DVD (109 min). Título original: School of Rock. 11
PÉS AMARRADOS - VIDAS EM LAÇOS
UMA REFLEXÃO SOBRE O RITUAL DOS PÉS DE LÓTUS E A
FORÇA DA AMIZADE ENTRE AS MULHERES DO SÉCULO
XIX, NA CHINA E A EDUCAÇÃO DAS MENINAS NO BRASIL
1
Helayne Cândido
Resumo
Nesse artigo, analisaremos o romance histórico "Flor de neve e o leque secreto", e
suas possíveis contribuições para o ensino de História. O Romance se passa na China
do século 19. Ele aborda os relacionamentos de amizade femininos, e suas formas
particulares de comunicação, como a escrita secreta Nushu. Trata, igualmente, das
questões de gênero na sociedade chinesa. A partir dessa análise, buscaremos mostrar
como romance pode ser usado como instrumento didático e pedagógico no ensino de
História brasileiro. Estabelecendo comparações, mostraremos como discutir questões
de gênero e igualdade em sala de aula.
Palavras Chave: China; Gênero, Ensino de História
Abstract
In this article, we analyze the historical novel "Snow Flower and the Secret Fan", and
their contributions to teaching History. The Romance is set in 19th century China. It
covers the female friendship relationships, and their particular forms of
communication, such as the secret writing Nushu. Our text also covers the gender
issues in Chinese society. From this analysis, We seek to show how the romance can be
used as a didactic and pedagogical tool in teaching of Brazilian history. Establishing
comparisons, We show how to discuss issues of gender and equality in the classroom.
Keywords: China; Gender; Teaching HIstory
O propósito deste texto é elaborar uma comparação e a reflexão sobre os
padrões de beleza impostos para as mulheres, a partir do caso chinês, e
relacionando-o com fins educativos ao caso brasileiro, tendo como base o
livro “Flor de Neve e o Leque Secreto” [2005], escrito pela autora
americana Lisa See. 2
E qual relação este acontecimento de uma cultura tão distante possui com
nosso país? Vejamos: vivemos em um país de mulheres exuberantes, com
corpos milimetricamente desenhados por cirurgiões plásticos, verdadeiras
esculturas, o que não me parece uma ideia diferente do processo dos Pés
de Lótus, dependendo do seu objetivo. Aqui saliento que a mulher é livre
para fazer o que bem entende com o seu corpo, desde que ela tenha
consciência disto, do seu lugar na história e porque de seu desejo. O que
se pretende observar são as cobranças pelas quais as mulheres passam
para se sentirem aceitas ou incluídas na sociedade.
futuro melhor. Essa dor, sentida por essas meninas de cinco ou seis anos,
até mesmo três, não era importante. Suas vontades, seus pensamentos,
seus sentimentos, não eram levados em consideração. Expressar tudo isso
era proibido.
laotong. Flor de Neve era a laotong de nossa Lisa See, a pequeno Lírio.
Mas qual a relação disso tudo com o Brasil e/ou com a educação? Ora,
vivemos em tempos em que as mulheres lutam por seus direitos e muito
foi avançado nesse sentido, graças à luta de nossas antepassadas. Em
contrapartida, muitas mulheres também não entenderam o que é de fato
o feminismo, e vivem como que presas a uma ideia de submissão aos
maridos, de falta de amor próprio, de não aceitação de seu corpo. Esses
fatores se apresentam nas escolas, e como muitas vezes a maneira de
pensar ou o despertar para uma outra visão acontece nela, nós como
professores e professoras temos que debater tais assuntos com nossos
alunos e alunas. Instigar a dúvida, essa é nossa missão. Como criticar
meninas que se submetiam a tal tortura, no século XIX, se em pleno século
1
http://www.lisasee.com/onwriting.htm
XXI, no ocidente, deste lado do mundo, mulheres repetem ou são
cobradas no mesmo sentido? E por quê?
Num país onde a taxa de meninas grávidas é precoce, onde ainda separam
brinquedos para serem de meninos ou meninas ou a cor da roupa é
escolhida de acordo com o sexo, ou onde se escuta meninas de quatro
anos dizerem que querem colocar silicone quando crescerem, ler este
livro traz uma certa proximidade, quando lemos por exemplo que [...] nem
todos os meninos se tornam imperadores, mas todas as meninas se
casam.” (p. 97) Percebemos aqui, um futuro já determinado pelo seu sexo
e em nossa cultura, se você não tiver um corpo esbelto e rebolar
direitinho, não será aceita no grupo, não terá nem casamento, nem status
ou nem aparecerá na tv. Por causa disso, estatísticas recentes mostram
que ao menos uma mulher morre, por mês, de operações plásticas mal
sucedidas2; do mesmo modo, o número de meninas grávidas só teu
aumentado, implicando no abandono da escola a na formação de famílias
desestruturadas3. Sim, as mulheres hoje alcançaram muitas conquistas,
2
http://noticias.r7.com/saude/ao-menos-uma-pessoa-morre-por-mes-em-cirurgias-plasticas-
no-brasil-25022013
3
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/no-brasil-75-das-adolescentes-que-tem-
filhos-estao-fora-da-escola.html
mas a preocupação precisa estar voltada a que consciência elas tem disso.
O porquê desejam fazer, o para quê e qual o objetivo?
0thalita%20gata%20moura%20de.pdf.pdf
Acesso em fevereiro de 2016
Revista da Unifebe. Violência doméstica contra a mulher: breve análise
sobre a igualdade entre homens e mulheres no decorrer de situações
históricas Diego Vinícius Mattos da Rocha Mariane Gonçalves Michele
Darossi Disponível em:
https://www.unifebe.edu.br/revistadaunifebe/2009/artigo030.pdf Acesso
em: fevereiro de 2016.
SEE, Lisa. Flor de Neve e o Leque Secreto / Lisa See; tradução de Léa
Viveiros de Castro. – Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
WOLF, Naomi. O Mito da Beleza. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
OS FENÍCIOS: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE
HISTÓRIA ANTIGA A PARTIR DA PERSPECTIVA HISTÓRICO
CULTURAL
Isaias Holowate1
1
Resumo:
Partindo do pressuposto da necessidade de compreensão do surgimento e das
especificidades do desenvolvimento da escrita no decorrer da História como uma das
possibilidades para a compreensão do desenvolvimento das culturas do Oriente
Próximo, o presente trabalho trata-se de uma reflexão sobre o Plano Didático aplicado
durante as atividades da Disciplina de Estágio I aos alunos de quatro turmas do 6º ano
do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Edison Pietrobelli, em Ponta Grossa, no
mês de agosto de 2014. O Projeto utilizou-se dos princípios da teoria cognitiva
histórico cultural, de Vygotsky, e teve por objetivos ensinar sobre o surgimento da
civilização Fenícia com enfoque em aspectos culturais buscando clarificar a influência
das características de seu sistemas de escrita para o desenvolvimento dessa sociedade.
A realização do projeto além de permitir a compreensão da escrita como uma prática
histórica, cuja historicidade influencia na forma com que ela é compreendida pela
sociedade, buscou também, atraindo a atenção do aluno para a aprendizagem de
História Antiga, possibilitar uma melhor compreensão das características da sociedade
Fenícia, da forma com que se relacionavam com o mundo, a sua religião, a sua
estrutura política, comercial e cultural.
Palavras-chave: Ensino; Escrita; História Antiga.
Abstract:
Following the necessity of comprehension about the start and specificities on the
development of the written word as one of the possibilities for the understanding of
the cultural development on the Near East, the following paper presents thoughts
about the Didactic Plan that was applied during the activities of the Subject of
Internship I to the students of classes of the 6th year of the Middle School of the State
High School Edison Pietrobelli, in Ponta Grossa, in August of 2014. The Plan used the
principles of the historical cultural cognitive theory, of Vygotsky, with the objective of
teaching about the appearance of the Phoenician civilization focusing on cultural
aspects trying to clarify the influence of the characteristics of its writing systems in the
development of this society. The accomplishment of the Project objectified to give a
better understanding of the characteristics of the Phoenician society and its
relationships with the world, its religion, political, commercial and cultural structure.
Keywords: Ancient History; Teaching; Written Word.
1
Graduando em História pela UEPG; Email: isaiasholowate@gmail.com
Introdução
A escrita na História
1971).
A civilização fenícia se baseou principalmente no comércio
marítimo. Seus barcos comercializavam com a Ilha de Chipre, Egito,
península Itálica e a Espanha. Foram também fundadores de importantes
colônias, das quais a principal foi Cartago, que dos séculos VI até o III A.C.
era uma das mais importantes potências navais do Mediterrâneo
Ocidental.
A grande revolução na arte da escrita introduzida pelos Fenícios foi
o alfabeto constituído de apenas 22 sinais, que representavam apenas as
consoantes, não havendo sinal para as vogais. Esses signos quando
combinados, podiam representar qualquer palavra na língua Fenícia,
enquanto que outros sistemas de escrita, como o hieroglífico, possuíam
centenas de signos.
Materiais e métodos
(FREIRE, 2002).
Na escolha pelo tema “Os Fenícios”, foi optado por trabalhar “a
escrita na História”, dando ênfase na revolução do alfabeto Fenício, com o
objetivo de ensinar a História partindo do presente para o estudo do
passado, situando o aluno no tempo e espaço, apreendendo o dinamismo
do processo histórico, em que as práticas históricas do presente
descendem de outras práticas surgidas no passado.
As aulas começaram com uma exposição sobre o tema. O objetivo
dessa exposição era permitir aos alunos reconhecer laços de identidade e
diferenças entre práticas culturais letradas do passado e do presente,
compreender o dinamismo da História e dimensionar a importância da
escrita no desenvolvimento das civilizações. A exposição partiu do
presente para estudar o surgimento da escrita na Mesopotâmia no quarto
milênio antes de Cristo, e passando pela escrita Hieroglífica egípcia, pelo
surgimento do alfabeto Fenício e pelo alfabeto grego.
Em seguida, foi realizada uma dinâmica com o objetivo de
possibilitar aos alunos compreender a importância das diferentes formas
de escrita nas sociedades antigas.
Na parte final das atividades, os alunos montaram com apoio do
professor, um quadro teórico sobre as estruturas sociais, políticas e
culturais da sociedade fenícia e a partir dos resultados dos quadros, foi
discutida as mudanças e continuidades dessa sociedade em relação à
sociedade brasileira atual.
Resultados 6
Considerações finais 7
REFERÊNCIAS
Abstract: Abstract: This article aim to analyze of the culture elements present in the
Brazilian African-Indian religiousness, in the city of Maracás, Bahia state, highlighting
peculiarities into their formation based on historical, economic and ethnic context of
the Bahia backwoods. Therefore, we resorted the ethnographic method of Cliffor
Geertz (2014) and the “candomblés do sertão” analysis category by Itamar P. Aguiar
(2012). Furthermore, we discussed substantiated of the workmanship of Eric
Hobsbawm (1997), Pierre Boudier (1998), Julio Braga (2015), Josildeth G. Consorte
(2009) and Erivaldo F. Neves (2011) among others, mainly, of which wrote about
Maracás.
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Especialista em
Antropologia com ênfase em Culturas Afro brasileiras (UESB). Mestranda no Programa de Pós-
Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidades (PPGREC-UESB). E-mail:
novaes.ivanakaroline@gmail.com
**
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (1979). Especialização em Metodologia do
ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1986). Mestrado em Ciências
Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1999), Doutorado em Ciências Sociais com
ênfase em Antropologia, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007) e Pós Doutorado em
Ciências Sociais, pela UNESP, campos de Marília – SP (2014). Professor Titular da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (UESB). E-mail: itamarpaguiar@hotmail.com
Introdução
O presente artigo trata da tradição religiosa afro, indígena, brasileira
da cidade de Maracás, no estado da Bahia. As relações étnicas ali
estabelecidas compõem as peculiaridades dos terreiros e dos filhos de
santo daquele Município. A atividade econômica centralizada na 2
agropecuária criou um cenário fundamental na invenção das tradições, na
qual a figura do boi, do boiadeiro e os elementos provenientes dessas
atividades influenciaram rituais e práticas do povo de santo daquela
cidade. Propomos investigá-las tomando como base as pesquisas de
Aguiar (1999, 2012) e Senna (1998), a fim de verificar, se as tradições
religiosas de matriz africanas, podem ser ali definidas como “Candomblés
do Sertão”.
Frederick Barth define que a etnicidade é uma forma de organização
social, baseada na atribuição categorial que, em sua concepção, classifica
as pessoas em função da sua origem, que se acha validada na interação
social pela dinâmica de signos culturais socialmente diferenciadores 1.
Nessa perspectiva, para entender e caracterizar essa formação
religiosa do sertão Nordestino, criou-se a categoria “Candomblés do
Sertão”, fenômenos culturais, essencialmente sincréticos e “suas
sincretudes foram construídas a partir do encontro entre negros, índios e
europeus no sertão”2. Em suas pesquisas sobre tradição local em Vitória
da Conquista - BA, Aguiar conclui: “em que pese às várias denominações
1
PHILIPPE, Poutignat; STREIFF-FERNART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade seguido de Gupos Étnicos e
suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.
2
Aguiar, Itamar Pereira de. Os candomblés do sertão: a diversidade religiosa afro-indígena-brasileira.
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queiros, ISSN 2179-9636, Ano 2, nº 5, março
de 2012.
de cultos de matriz africana naquela cidade, há em cada uma das casas,
guardando as especificidades, algo de semelhante ‘aos Jarês das Lavras
Diamantinas’” 3. Maracás se encontra próxima à Chapada Diamantina,
onde ocorre o Jarê, e à cidade de Vitória da Conquista distante, cerca de
250 km, onde foram realizados os primeiros estudos sobre os Candomblés 3
do Sertão4.
A atividade econômica de Maracás, baseada na pecuária e na
agricultura, estabeleceu as relações entre o gado, o vaqueiro, o boiadeiro,
o agricultor e a terra. Sem dúvidas, essas relações influenciaram a
realidade local de modo peculiar. Desta forma, criou-se uma tradição
religiosa, fundada na cultura de criação do gado. Aguiar 5 afirma que o boi
é o mito fundador do sertão da Bahia. Para onde foram levados escravos,
indivíduos africanos de diversas etnias, principalmente bantos e, dentre
estes, predominantemente, angolanos.
As relações econômicas e simbólicas amalgamaram os elementos
das principais culturas: a indígena (presente na memória local, ao que
tudo indica da etnia cariri), a europeia (composta por portugueses,
italianos e alemães) e a africana (principalmente por povos bantos).
Assim, dos elementos de tradição local que constituem os candomblés da
cidade, resultou cultos sincréticos6 e, da formação urbana e rural, os
hábitos e costumes dos seus cidadãos.
3
Idem. p. 13.
4
Ibidem.
5
Aguiar, Itamar Pereira de. Os candomblés do sertão: a diversidade religiosa afro-indígena-brasileira.
Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queiros, ISSN 2179-9636, Ano 2, nº 5, março
de 2012.
6
Sobre esta categoria de análise ver: Consorte, Josildeth Gomes. Sincretismo, anti-sincretismo e dupla
pertença em terreiros de Salvador.
Para melhor compreender as relações éticas elencadas acima,
precisamos reunir algumas informações acerca da história do município,
desde a sua formação até o século XX, apontando a presença de cada um
desses povos na corrente do tempo. Começaremos, contudo, por uma
breve explanação acerca de suas características geográficas e econômicas. 4
mandioca.
Por volta de 1651, segundo João Reis Novaes (2009), no local onde
hoje é situada Maracás, iniciou-se o seu povoamento. Este processo se
deu pelo governo da capitania da Bahia para tentar pôr fim aos constantes
ataques dos indígenas às vilas do Recôncavo, além de permitir a ligação
entre o sertão e o litoral. O governo incentivou e financiou a ação de
entradas e bandeiras que se dirigiam ao interior da Capitania. Contudo,
para atingir os seus objetivos, foi preciso enfrentar os nativos. Novaes
afirma que, dentre esses nativos, estavam os índios Maracás, os quais
eram guerreiros, valentes, pertinazes na luta e seguros no golpe 8, o que
motivou grande combate aos indígenas:
9
NASCIMENTO, Washington Santos. Africanos e negros na Região Sudoeste da Bahia: histórias, culturas
e influências. In: Santana, Marise de (org.). ODEERE: formação docente, linguagens visuais e legado
africano no sudoeste baiano. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2014, p. 29-59.
10
Silva, Marina Helena Chaves. E eis que chegam os Alemães! Alteridade e Memória em Maracás.
Dissertação (mestrado em memória social e documento) – Universidade do Rio de Janeiro e
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Jequié, 2001.
compõem suas sincretudes. Não podemos perder de vista que as tradições
vigentes foram inventadas e instaladas numa sociedade, a partir de
elementos culturais e marcos histórico. Em virtude disso, surgiram as que
hoje têm raízes remotas.
8
Por tradição inventada entende-se um conjunto de
práticas, normalmente regulada por regras tácita ou
abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual
ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas
de comportamento através da repetição, o que
implica, automaticamente, uma continuidade em
relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-
se estabelecer continuidade com o passado histórico
apropriado (HOBSBAWM; RANGER, 1997: p. 9).
12
Estes “quartos de santo” aos quais nos referimos, são, geralmente, pequenos cômodos, ou até mesmo
o próprio quarto residencial, onde há um altar, geralmente montado em uma pequena mesa, com uma
quantidade significativa de imagens de santos católicos, orixás e encantados comuns à tradição local.
Geralmente, são menores que os altares dos salões/barracões/aruandas dos terreiros no Município. Os
devotos desses santos, muitas vezes, oferecem bebidas, comidas, ervas e frutas, além do que, realizam
alguns trabalhos sobre e sob esses altares. Não raro, encontramos algumas imagens ou objetos trazidos
de Bom Jesus da Lapa, Bahia e depositados entre as imagens reunidas. São esses costumes, que
caracterizam os “quartos de santos” num universo simbólico do sagrado.
13
Os três tinham terreiros e trabalharam em Maracás por várias décadas do século XX. Não conseguimos
muitas informações sobre a precisão das datas ou a forma de seus cultos. Mas pudemos constatar que
Sifrone trabalhava na área da cidade hoje conhecida como Maracasinho, juntamente com famílias vindas
do Boqueirão, possivelmente, uma comunidade quilombola. A casa de Astero se localizava na Avenida
Brasília e tinha contato estreito com algumas famílias da Rua do Cuscuz. O pai Cirineu, por exemplo, que
era morador do Cuscuz até a adolescência, afirma que as primeiras experiências de transe, ainda na
infância, aconteceram na casa de Astero, que era ajudado por uma das tias biológica de Cirineu. Chico
desses, alguns também são muito citados, entre os mais importantes na
memória do povo de santo local, como por exemplo, seu Edízio 14,
Benedito Brazil15, Antônio Spínola 16 e Dona Alice17. É possível afirmar, com
base em dados empíricos, que todos estes sacerdotes citados cultuavam
ou cultuam o boiadeiro, conforme a tradição local de Maracás. 18
Dias, por sua vez, atendia algumas pessoas da zona urbana, mas seu trabalho se concentrava, sobretudo,
na zona rural, compreendendo desde as localidades próximas a Planaltino (ao norte da sede) até Pé de
Serra (a leste).
14
Ainda vivo, mas que no momento evita fazer festas públicas na zona urbana, devido, sobretudo, à
idade avançada. Na zona urbana, no fundo de sua residência particular, há um salão que já recebeu os
filhos de santo e realizou festas durante noites. Ele é filho do orixá Ogum (sincretizado com Santo
Antônio de Jesus) e tem o preto velho e o boiadeiro como entidades auxiliadoras de trabalhos. A sua
outra casa localiza-se na zona urbana do município de Iramaia, onde, segundo sua declaração, ainda há
festas, sambas e trabalhos.
15
Já falecido. Seus cultos têm continuidade hoje por meio de Benito Brazil, o seu filho, em uma fazenda
da família. Este afirma, categoricamente, ter acompanhado seu pai desde os nove anos de idade nesta
tradição religiosa.
16
Ainda tem pequeno terreiro na zona rural de Maracás.
17
Já falecida. Segundo familiar, Madrinha Alice tinha Oxalá como o santo de sua cabeça e realizava
trabalhos de cura com pessoas da região dos povoados de Capivaras, Caldeirão dos Mirandas e Morro do
Tatu, entre as décadas de 70 e 90.
as semelhanças e possíveis diferenças, acerca do verificado por ele que,
com as especificidades locais, decorrem diretamente da sincretização dos
símbolos e outros elementos das culturas desses povos trazidos para a
região, com a dos indígenas que nela habitava. Ainda segundo o mesmo
autor: 19
18
Chamam-se comumente de Aruanda, o espaço dentro de uma casa, salão ou centro religioso onde há
a representação dos mitos e a realização de ritos, tanto em atividades restritas, quanto em festas
públicas em Maracás-Ba.
Sincretismo: os legados indígena, africano e europeu em Maracás
Os povos bantos foram os primeiros a chegar ao país, trazidos como
escravos: “estudos mostram que foi através do Rio de Janeiro e de
Pernambuco que chegaram ao Brasil os maiores contingentes de povos
27
bantos” (AGUIAR, 1999: p. 28). Enquanto que os nagôs só chegaram entre
o final do século XVIII e durante o XIX. Assim, não é difícil encontrarmos
referências a essa primeira etnia nos sertões da Bahia. De acordo com
Aguiar, “o fato de ter sido a Bahia, a principal porta de entrada de
Sudaneses no Brasil, não exclui o ingresso pelo porto de Salvador, de
contingentes bantos levados para o Recôncavo.”19.
Segundo Nascimento (2014), por falta de uma pesquisa mais
sistemática a respeito do tráfico interno dos negros no sudoeste da Bahia,
não é fácil afirmar quais eram as etnias dos africanos desta localidade.
Porém, suas pesquisas demonstram uma predominância de escravos
bantos se deslocando para o sertão baiano. Segundo ele, há outros
fatores, que solidificam essa hipótese, as “práticas culturais e religiosas da
região ligadas ao terno de reis, a umbanda, ao samba da umbigada etc., o
que nos remete a tradições, também banto” (NASCIMENTO, 2014: p. 30).
Ele afirma ainda que “a própria maleabilidade cultural desses africanos em
suas relações com indígenas e europeus e o caráter igualmente maleável
do que chamaremos de cultura popular sertaneja, são fatores que só
fortalecem o que por hora é só uma hipótese” (NASCIMENTO, 2014: p.
30).
19
AGUIAR, 2009: p. 29
No entanto, ao remetermos à própria história da escravização dos
negros no Brasil, veremos estudos de alguns historiadores que apontam
dados nos quais há uma predominância de povos das etnias Angola e
Congo no sertão da Bahia. Como, por exemplo, Almeida e Pinto (2014)
que analisam, respectivamente, a população negra de Rio de Contas e no 28
médio São Francisco no século XIX. Além das análises dos estudos de
Erivaldo Fagundes Neves, realizados por Aguiar que diz:
20
NASCIMENTO, 2014, p.37
21
PRANDI, 2004: p. 125
22
Idem. p. 125
caso, os caboclos é que são os donos dos terreiros maracaenses,
sobretudo, o Boiadeiro.
As marcas de um legado europeu podem ser visualmente
percebidas em alguns monumentos históricos distribuídos pelo município,
por exemplo, a imagem da santa Nossa Senhora das Graças, no interior da 30
igreja matriz (a memória coletiva da cidade, afirma que ela foi esculpida
por mãos alemãs); a imagem da Senhora Sant'Ana (até hoje está erguida,
numa espécie de molde, ao fundo de um terreno, atualmente sem
morador, mas onde funcionava a sede do sindicato dos trabalhadores,
também foi construída por um alemão) e a própria Igreja Católica. Porém,
a influência religiosa da cultura católica, se manifesta na devoção dos seus
fieis, nas cantigas e objetos ditos sagrados. Esses e outros legados podem
ser observados nas práticas cotidianas do povo de santo em Maracás que,
também, se declaram católicos.
A fé católica não foi inteiramente abandonada pelos terreiros dessa
cidade. A devoção à figura da cruz e do cristo, aos terços, rosários, a bíblia
e as imagens dos santos católicos convivem com símbolos de outras
etnias, quando o objetivo é transmitir os elementos de cultura dos seus
antepassados. O sincretismo, a correspondência simbólica, a dupla
pertença, e a diversidade compartilhada expressam o universo de valores
vivenciados nessas tradições. Talvez, a busca pela legitimação dos
processos simbólicos tenha gerado esses sincretismos atuais:
Bahia.
27
O aparecimento dos Orixás nos terreiros de Maracás, não são como entidades espirituais
manifestadas, aqui, eles aparecem apenas discursivamente e sincretizados com caboclos e encantados.
Aquela figura manifestada dos orixás, comuns às nações keto, não foi possível encontrarmos nos cultos
da cidade.
demais orixás não foram encontrados nem mencionados nas casas que
visitamos.
Considerações finais
Na pesquisa bibliográfica encontramos uma afirmação de
37
Nascimento (2014) sobre o legado banto na cidade. Embora, ele não
confirme tal influência por falta de dados empíricos, o autor nos dá pistas
sobre essas culturas na religiosidade através de dados históricos. Para
isso, recorreu às pesquisas de Evans-Pritchard:
28
NASCIMENTO, 2014, p.50
deduzir a partir de algumas entrevistas aos sacerdotes, é que cada pai ou
mãe de santo segue uma tradição pautada em moldes particulares.
Observamos razões diversas para os ritos nos terreiros que se
diferenciavam uns dos outros no que tange a uma organização lógica
coletiva. Mas, obviamente, que a importância da presença do boiadeiro e 38
SILVA, Marina Helena Chaves; MOTA, Valeria Lessa. Festa de São João em
Maracás: as velhas tradições se mantêm. In: Lemos, Maria Teresa Toribio
Brittes; BAHIA, Luiz Henrique Nunes (orgs.) Percursos da Memória:
construções do imaginário Nacional. Rio de Janeiro: UERJ, NUSEG, 2000. p.
p. 175-180.
SILVA, Marina Helena Chaves. E eis que chegam os Alemães! Alteridade e
Memória em Maracás. Dissertação (mestrado em memória social e
documento) – Universidade do Rio de Janeiro e Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia. Jequié, 2001.
Resumo
Os documentos diplomáticos como fonte histórica proporcionam ao historiador
diversos caminhos para abordagem da pesquisa, sejam em temas sobre economia,
política, cultura ou estudos etnográficos. Este artigo irá analisar a partir de dois fatos
da Segunda Guerra Mundial (Anschluss e Anexação da Checoslováquia) como a
diplomacia atuou nos diversos fatores que marcaram o inicio do conflito, bem como
sua correlação com o teatro das operações, e ainda como tais fatores acabaram por
alterar a Geopolítica europeia.
Palavras-chave
Diplomacia, Geopolítica, Segunda Guerra Mundial.
Abstract
The diplomatic documents as historical source provide to the historian several roads
for approach of the research, whether on issues of about economy, politics, culture or
studies ethnographic. This article will analyze starting from two facts of the Second
World War (Anschluss and Annexation of Checoslováquia) as the diplomacy acted in
the several factors that marked the beginning of the conflict, as well as the
participation in the theater of the operations, and still as such factors ended for
altering the European Geopolitics.
Keywords
Diplomacy, Geopolitics, Second World War.
1
Graduando do curso de História da Universidade Estadual do Paraná – campus de União da Vitória.
Introdução
3
Yale University; The Avalon Project; 20th Century 1900 – 1999; President Woodrow Wilson's
Fourteen Points; in: http://avalon.law.yale.edu/20th_century/wilson14.asp
4
DAVIES, Norman. Europa na Guerra. tradução Vitor Paolozzi. Rio de Janeiro: Record, 2009,
p.158.
constituinte de auto regulação global por parte de
uma sociedade que se tornara mundial. 5
O jogo diplomático que pôs fim a Liga das Nações iniciou-se com as
articulações nazistas para a retomada de alguns territórios que foram
tirados dos alemães no Tratado de Versalhes, permitam me delinear aqui
os dois pontos que enfraqueceram a Liga das Nações: o Anschluss e o
Tratado de Munique ambos ocorridos em 1938, é importante frisar que tal
enfraquecimento foi provocado por países que nem sequer faziam parte
da Liga das Nações, que eram a URSS e a Alemanha, esses dois
5
WATSON, Adam. A evolução da sociedade internacional: uma analise histórica comparativa;
trad. Rene Loncan. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004, p. 391.
acontecimentos são o marco do fim da Liga, não obstante, os
acontecimentos que os precederam foram o golpe de misericórdia da
organização, Hitler usou da diplomacia para angariar esses territórios sem
que um tiro fosse disparado, as principais nações que compunham a Liga
das Nações como a França e o Reino Unido foram apáticas quanto às 5
7
Sudetos ou Sudetolândia: região noroeste da extinta Checoslováquia onde se localizava a
Boemia e a Moravia, a região era de etnia predominantemente germânica.
logo no primeiro de seus Quatorze Pontos, que a diplomacia secreta
deveria ser abolida, isso acontecia com frequência, principalmente nos
três anos que precederam a Segunda Guerra Mundial.
7
Primeiro passo: a Áustria
8
Chanceler austríaco assassinado pelos nazistas em junho de 1934.
9
Op. Cit. p. 77.
um lugar de posicionamento estratégico caso alguma agressão fosse feita
futuramente a Checoslováquia. Na perspectiva alemã ganhava-se livre
acesso a Itália caso precisasse deslocar rapidamente um exército para lá. A
Suíça seria um território considerado ganho, pois ficaria entre os dois
gigantes: Alemanha e Itália, e a Áustria seria uma primeira fonte de 8
10
Art. 88: A independência da Áustria é inalienável, exceto com o consentimento do Conselho
da Liga das Nações. Consequentemente Áustria compromete-se, na ausência de
consentimento do referido Conselho a abster-se de qualquer ato que pode, direta ou
indiretamente, ou por qualquer meio que seja comprometer a sua independência, em particular,
e até a sua admissão como membro da Liga das Nações, pela participação na assuntos de
outro poder.
devem ser revogados.”11. Não é de se espantar que a Áustria assim como a
Polônia e a Checoslováquia estivesse na mira dos Nazistas muito antes das
movimentações diplomáticas do agora Chanceler Alemão mostrando suas
intenções.
9
11
Segundo fundamento do Programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
Alemães in: http://avalon.law.yale.edu/imt/nsdappro.asp
Hess após o Anschluss, e segundo Shirer, Hitler teria resumido a reunião
com a seguinte frase: “Devemos continuar exigindo tanto, de modo a que
jamais possamos ser atendidos”, não era de se esperar essa atitude de um
hábil estrategista como era o chanceler alemão em que cada passo era
milimetricamente estudado. No caso de avanço sobre a Checoslováquia 10
12
Yale University; The Avalon Project; 20th Century 1900 – 1999; Munich Pact, September 29,
1938. in: http://avalon.law.yale.edu/imt/munich1.asp
de Munique” 13, vemos que a execução do tratado o mais rápido possível
também era um desejo dos Checos, visto que eles queriam assegurar o
que lhes restou do território, ficando também, a espera de uma possível
defesa por parte dos “traidores” caso alguma hostilidade fosse cometida
pela Alemanha, embora, é evidente que nem França nem o Reino Unido 12
interviriam.
15
Ata da Nona Reunião da Comissão Internacional, 21 de novembro de 1938.
16
Estreita faixa de terra (que explica a expressão “corredor”) situada ao noroeste da Polônia,
que foi tirada da posse da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, essa faixa de terra ligava
a Alemanha aos países Bálticos.
estimulando os conflitos, não obstante, a Alemanha tinha a sua frente um
homem que as pretensões iam além da justiça que se queria promover. A
capacidade da Alemanha e seu Führer de articular defesa e promover
ataques, tanto no âmbito militar quanto no diplomático era
surpreendente, todos esses aspectos, ligados aos erros do passado 14
17
TUCHMAN, Barbara W. A torre do orgulho: um retrato do mundo antes da Grande Guerra,
1890-1914; trad. João Pereira Bastos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 232.
Na diplomacia não há mocinhos nem bandidos, mais sim, pessoas
cujas ações levam em consideração os interesses de sua própria nação,
apropriar-me-ei das palavras de Norman Davies como forma de
interpretação da “paisagem moral” das ações diplomáticas:
16
18
DAVIES, op. cit. p. 81
Fontes:
Mutual Agreement Between the United States and the Union of Soviet
Socialist Republics : June 11, 1942. Retirado do endereço digital:
http://avalon.law.yale.edu/20th_century/wwii/amsov42.asp
Bibliografia
BOBBIO, Norberto, Dicionário de política I Norberto Bobbio, Nicola
Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C. Varriale et ai.; coord.
trad. João Ferreira; - Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1 la ed.,
1998.
18
BOBBIT, Philip. A guerra e a paz na historia moderna: o impacto dos
grandes conflitos e da política na formação das nações. Tradução de
Cristiana Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
KEEGAN, John. Uma historia da guerra. trad. Pedro Maia Soares. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Abstract: During our studies about Mesoamerica History, we were soon led to the
foundation myth that made this region join the western culture: the voyage of
Christopher Columbus in 1492 that formalized the discovery of the lands that
nowadays we know as America. In this sense, this brief presentation wants to
speculate about how the term “discovery” was consolidated in the historiography and,
thus, deconstruct this idea through the analysis of the books “The Conquest of
America: The Question of the Other” by Todorov (1998) and “The Invention of
America”, by O’Gorman (1992). Seeking to work with the conceptual perspectives of
“invention” and “conquest” demonstrating how the History of America was invented
by the Spanish using reports and manuscripts that, even self-contradictory, bring in
their literature the necessary elements to justify the Spanish actions in this historic
event. It is worth mentioning that, different than the other continents, America
inaugurates the notion of “discovery”, furthermore, it ends the imaginary and the fears
that prevailed in a society strongly influenced by religion, this fact can be observable
on the maps and discourses used at the time. In these terms, it is going to be
demonstrated how the idea of “conquest” is applied in the Mesoamerica context,
through the contact between the Spanish and the Native Americans, allowing to
discuss how myself and the other were understood by both civilizations. besides
O'Gorman (1992) and Todorov (1998), authors such as Gruizinski (2006) and Wolosky
(2012) are going to be employed on this debate.
INTRODUÇÃO
Ao refletir sobre os aspectos que a historiografia utilizou para
edificar o que se conhece como história da América, logo se remete a ideia
de “descobrimento”, bem como, a viagem rumo às Índias em 1492, tendo
como figura principal deste fato histórico Colombo. Nesta acepção,
baseando-se nos autores O’Gorman (1992) e Todorov (1998), pode-se
3
perceber que anseios e intenções particulares e exteriores à Colombo
fizeram com que ele lançar-se ao ultramar, todavia, constituem elementos
que não são apontados no que pode-se chamar de “descobrimento”,
“oficialização” ou “mito fundador” da América. Nesta acepção, fez-se a
leitura das obras “A Conquista da América: a questão do outro”, de
Todorov (1998) e “A Invenção da América”, de O’Gorman, (1992) em que,
cabe salientar que ambos os autores já superaram a concepção de
“descobrimento” da América e, portanto, não fazem uso deste termo.
O’Gorman (1992) tem em seu título a palavra “invenção”, extremamente
adequado à sua obra, pois ele discorre sobre como a América foi de fato
inventada pela historiografia espanhola. Ao passo que, em Todorov
(1998), observamos a “conquista”, portanto, o processo que a
Mesoamérica sofreu com a chegada dos espanhóis e as ações destes para
obter a supremacia desse “novo continente”, por isso o termo
“conquista”.
O objetivo deste trabalho é, portanto, realizar um estudo
comparativo entre O’Gorman (1992) e Todorov, para se analisar os dois
tipos de estruturalismo que podemos encontrar em suas obras. O’Gorman
(1992) se utiliza de uma forma de Estruturalismo “historicizado”, como
nos diz WOLOSKY (2012):
Este último estructuralismo “historizado” no se limita a
edificar estructuras inconscientes, sino que introduce, bajo
la sombra de Heidegger, una insinuación de la historicidad
del ser y del lenguaje. Es aquí donde reencontramos,
dentro del rompecabezas del saber, a Edmundo O’Gorman.
(WOSLOSKY, 2012, s/n )
4
A INVENÇÃO
Entre os vários relatos e manuscritos (também tipificados por
O’Gorman), sobre a “descoberta” da América, Todorov (1998) afirma que
diferente dos demais continentes – africano e asiático –, os mesmos não
possuíam uma “descoberta”, pois já estavam presentes em suas memórias
desde suas origens, portanto, a América inaugura a ideia de
descobrimento. Sob esse viés, ambos os autores revelam a forte influência
da mentalidade e religiosidade da época, bem como, os medos do mar,
cosmografia, a crença em monstros marinhos, sereias e outro seres
míticos, não podendo esquecer a imagem de que o oceano possuía um fim
e cairia em um grande abismo. Dessa forma, nem mesmo Colombo estava
isento deste imaginário, descreve Todorov. (1998). De acordo com o mapa
a seguir, pode-se ter uma percepção da mentalidade e dos medos que
envolviam tanto a sociedade quanto as suas produções:
A CONQUISTA
Chegando ao ponto do contato com os indígenas, cabe ressaltar que
esta é uma questão complexa, a qual Todorov (1998) nos dá um
panorama, enquanto O’Gorman (1992) se foca na discussão do imaginário
europeu. Os astecas foram de vital importância para essa conquista
realizada pelos espanhóis. Eles ocupavam a região onde hoje é o México,
sua capital se chamava Tenochtitlán, seu líder na época da chegada dos
espanhóis era Montezuma. Eles ocupavam um espaço que antes havia
pertencido aos toltecas, e de lá expandiram seu império, conquistando
outros povos e cobrando taxas destes. Como observa Todorov (1998), os
espanhóis pareceram aos povos dominados pelos astecas, primeiramente
como libertadores da tirania se aliando a eles para lutar contra os astecas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise destas duas obras, pode-se perceber como cada
autor trabalhou a questão da construção, conquista ou invenção, da
América pelos espanhóis, possibilitando perceber que, para além de uma
história do que se apresenta sobre a Mesoamérica, há elementos que
escapam ou foram deixados de lado pela historiografia.
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Runner (1492-2019). Trad. Rosa F. d’Aguiar. São Paulo: Companhia das
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IMPERIAL FAZENDA DE SUA MAJESTADE O IMPERADOR:
UM ESTUDO SOBRE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO
BRASIL IMPERIAL
João Batista Correa 1
1
Resumo
O objetivo deste artigo é analisar a história administrativa da Imperial Fazenda de
Santa Cruz através das gestões administrativas dos administradores e
superintendentes que passaram pela fazenda, buscando analisar suas possíveis
implicações na estrutura da fazenda e o impacto de suas medidas na população
escrava no decorrer do século XIX.
Abstract
The purpose of this article is to analyze the administrative history of the Imperial Farm
of Santa Cruz through the administrative steps of the managers and superintendents
who passed the farm, trying to analyze their possible implications for the structure of
the farm and the impact of its measures in the slave population during the century XIX.
1
Mestrando em História do Brasil na Universidade Salgado de Oliveira – Niterói RJ. Linha de Pesquisa:
Sociedade, Cultura e Trabalho. Orientador: Carlos Engemann. E-mail jobacorrea@gmail.com
Imperial Fazenda de Sua Majestade O Imperador: Um estudo sobre a
Administração Pública no Brasil Imperial
2
FREITAS, Benedito. Santa Cruz: Era Jesuítica 1567-1759, Volume 1. Rio de Janeiro: 1985.
3
FREITAS, Benedito. Santa Cruz: Vice-Reinado 1760-1821, Volume 2. Rio de Janeiro: 1986.
4
FREITAS, Benedito. Santa Cruz: Império 1822-1889, Volume 3. Rio de Janeiro: 1987.
espanhola e portuguesa, sendo que uma destas localizações mais
importantes da presença jesuítica foi na cidade do Rio de Janeiro, onde
fundaram o colégio de São Sebastião. A organização jesuítica funcionava a
partir de um tripé formado pelo colégio, entidade local de gerência e
controle, além de funcionar como casa dos padres e irmãos da 3
5
FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do Rei. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1999.p.15-30
6
ENGEMANN, Carlos. De laços e nós. Rio de Janeiro: Apicuri. 2008. p.61-62.
da fazenda totalmente formada e pertencente ao Colégio Jesuíta do Rio
de Janeiro em finais do século XVII.
A fazenda de Santa Cruz tinha uma grande importância para a
Companhia na Capitania do Rio de Janeiro. Mas além da importância para
a ordem, as terras de Santa Cruz também eram estratégicas para a cidade 4
7
FRIDMAN, 1999, p.186.
8
O Marques de Pombal, foi primeiro ministro no reinado de D. Jose I de 1750 a 1777.
9
Inventário dos Bens da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ, 1759. Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Portugal.
Outra riqueza deixada pelos padres ao Estado foram as grandes
extensões de pastos. Terras originalmente alagadiças converteram-se em
pastos secos graças às inúmeras obras hidráulicas projetadas pelos
jesuítas. Esses novos pastos também poderiam ser alugados a terceiros
para a engorda de rebanhos que vinham de várias regiões do Brasil, como 5
Minas Gerais e São Paulo, que aguardavam por um período de tempo até
conseguirem melhorias nos preços para serem vendidos na cidade do Rio
de Janeiro.10
Na agricultura, as terras eram utilizadas no cultivo do arroz
aproveitando as áreas alagadiças que ficavam próximas as valas, canais e
rios, onde se observa a grande engenhosidade dos inacianos, através das
construções hidráulicas existentes na fazenda. Cultivava-se também a
mandioca, algodão, feijão, milho, hortaliças, legumes e frutas, sendo a
fazenda auto- suficiente e ainda abastecendo o colégio e aldeamentos
próximos.
A sede da fazenda de Santa Cruz, consistia de uma igreja,
hospedaria de residências, senzalas, roças, oficinas e escravos. A igreja era
onde se realizavam as cerimônias religiosas para os habitantes da fazenda,
as residências eram formadas pelas celas dos padres e uma hospedaria
para os visitantes ou viajantes que estavam de passagem pelos caminhos
no interior de suas terras ou que levavam o gado para engordar nos
pastos da fazenda. As senzalas consistiam na habitação da escravaria,
sendo que a fazenda constava também de uma escola, hospital, botica e
uma biblioteca que ficava na residência dos padres.
10
ENGEMANN, 2008. p. 63.
Uma questão importante a ressaltar, durante o sequestro dos bens
da Companhia de Jesus na província do Rio de Janeiro, muitas das
fazendas jesuíticas foram divididas em lotes, e vendidas a terceiros; exceto
a fazenda de Santa Cruz, que permaneceu em seu tamanho original sendo
incorporada ao tesouro português. Entre 1759 a 1822, a fazenda passou a 6
ser chamada de Real Fazenda de Santa Cruz sendo agora ligada aos
interesses econômicos do Império Português.
Segundo Sonia Vianna 11, os anos de 1765 a 1781 a fazenda passou
pelo período de maior decadência econômica, que foi observado nas
áreas de produção agrícola e pastoril, as quais ficaram em péssimo estado,
as plantações e pastos estavam abandonados e os rebanhos bravios não
sendo mais possível domá-los. Em relação aos escravos, estes estavam
desorganizados e abandonados, ocasionando fugas e rebeliões sendo
necessário o uso das milícias para combater tal situação. No ano de 1791,
foram adotadas medidas para modificar tal situação em que se encontrava
a fazenda, buscando seu melhor aproveitamento econômico.
11
VIANNA, Sonia. “A fazenda de Santa Cruz e a crise no sistema colonial”. Revista de História da USP. N.
99. 1974, p. 67.
destruir os melhores e mais importantes ramos do
estabelecimento. 12
Já Sonia Vianna 13, nos mostra alguns fatores que originaram este
interesse por parte da coroa portuguesa no melhor aproveitamento de 7
12
REIS, Manoel Martins do C. “Memórias de Santa Cruz”. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Tomo V. 1843. p.130. Estas memórias foram escritas no final do século XVIII, possivelmente
como estudo prévio para que o autor assumisse o cargo de administrador.
13
VIANNA, 1974, p. 61-62.
entrega-lo nas mãos de tantos cobiçosos
pretendentes.14
14
REIS, op.cit., p. 166.
15
REIS, 1804, p.156-158.
para comprá-la inteira. Só ocorreram a venda dos 2 engenhos de açúcar
que existiam no interior da propriedade, que foram planejados e
construídos na administração do então Inspetor Geral Couto Reis 16.
A fazenda durante todo o período que esteve nas mãos do Estado
Português, e depois com o governo do Brasil possuiu um corpo 9
16
No período do vice-reinado o órgão público responsável pelas terras de Santa Cruz era a Junta Real,
sendo a Real Fazenda de Santa Cruz subordinada a este, que constituía do Desembargador, Inspetor e o
administrador, todos nomeados pela autoridade real, vale notar que Santa Cruz estava ligada
diretamente ao seu administrador, que na maioria das vezes não residia nesta, sendo dirigida pelo
ajudante, observa-se nisto também um dos fatores do abandono da fazenda.
17
VIANNA, 1974, p. 70.
colonial tais como: nobres, militares e apadrinhados. Percebe-se, no
decorrer da história administrativa da fazenda, que a maioria dos
ocupantes deste cargo era composta de militares ou membros da
pequena nobreza, que iriam aplicar seus conhecimentos técnicos
modificando ou aprimorando a estrutura administrativa da fazenda. Na 10
verdade, é possível dizer que a fazenda passou dos padres aos militares.
Acreditando a coroa que os conhecimentos destes contribuiriam para uma
melhor gestão administrativa das terras de Santa Cruz.
Nos anos de 1760, o vice-rei era o Gomes Freire de Andrade, Conde
de Bobadela, nomeando para o cargo de administrador da fazenda o
tenente José Correia Vasques, que permaneceu no cargo por 5 anos e 3
meses tendo o cabo de esquadra Domingos Furtado de Mendonça como
ajudante. Segundo Benedito de Freitas, esta administração foi de grande
produtividade, pois estavam se beneficiando das riquezas encontradas
após o sequestro da fazenda. 18 Com o falecimento do tenente Vasques,
em 1765, foi designado para o cargo seu antigo ajudante Furtado de
Mendonça, que também era sobrinho do Marquês de Pombal.
Segundo Freitas, na gestão de Furtado ocorreram grandes abusos
por parte da administração: os índios da aldeia de Itaguaí foram
perseguidos e expulsos de suas terras com o pretexto de estar
atrapalhando a ordem pública, a escravaria estava indisciplinada
executando furtos nas regiões próximas e fugas para lugares vizinhos. Sob
a ordem da corte, Furtado Mendonça foi destituído do cargo e preso,
sendo seus bens sequestrados.
18
FREITAS, 1986, p. 11.
Substituiu ao cargo Brás da Silva Rangel, cuja administração durou 2
anos e 4 meses saindo em 1770. Sua administração se incumbiu
unicamente no arrecadamento das rendas provenientes da fazenda. Os
problemas existentes permaneceram, e as feitorias, currais e valas ficaram
todos abandonados. O rebanho estava sendo roubado ou entrava mata à 11
19
FREITAS, 1986, p. 13.
tornando-se bravio, impedindo sua captura e
recondução. A indústria já reduzidíssima, anulava-se
gradativamente. Enfim, tudo fracassava e toda sorte
de falcatruas ocorria constantemente. 20
12
20
FREITAS, op.cit., p.14.
21
Plantas de fibras têxteis.
22
Infelizmente Benedito Freitas, que fornece diversas informações importantes sobre Santa Cruz não
revela a documentação usada para obtê-las. Resulta desta falha do seu trabalho a impossibilidade de
averiguarem-se certas afirmações como a motivação de Silva Rangel na incerteza quanto à ocupação do
cargo de administrador para usar os recursos da fazenda em seu próprio benefício.
trabalho de seus negócios sendo um desses o engenho que fora
construído na sesmaria de seu pai. Alugou escravos a particulares sendo
as contas não registradas para a fazenda, distribuiu as melhores terras aos
seus parentes e amigos, além de pôr a sua marca de propriedade no gado
da fazenda. Foi aberta uma devassa na fazenda e quando foram 13
23
FREITAS, 1986, p. 18.
volta das oficinas em produção. No ano de 1790, o vice-rei conde de
Resende nomeou como administrador da fazenda o sargento-mor Manoel
Rodrigues Silvano e como ajudante o Tenente José Caetano de Moraes.
Silvano foi do esquadrão da guarda do conde e fora promovido a coronel
do regimento de milícias do distrito da vila de Paraty em 1799, 14
24
Na sua gestão, Couto Reis ocupou os dois cargos relacionados a administração da fazenda.
Tentando com isso evitar possíveis roubos ou uso indevido dos recursos
da fazenda pelos administradores e funcionários. 25
Cargo Renda
Anual
Inspetor 800$000
Administrador 400$000
1º Ajudante 120$000
2º Ajudante 120$000
1º Escriturário 150$000
2º Escriturário 120$000
3º Escriturário 100$000
Fiel dos Armazéns 150$000
Feitor Maior 100$000
2º Feitor Maior 100$000
Feitor Maior 100$000
Feitor Menor 25$000
Outro de Menor 32$000
Dito 32$000
Campeiro Mor 150$000
Soma 2:499$000
Fontes: REYS, Manuel Martins do Couto. “Memórias de Santa Cruz”. Revista do IHGB.
Tomo V, 1804; e FREITAS, Benedito. Santa Cruz: Vice Reinado 1760-1821, Volume 2.
Rio de Janeiro: 1986.
25
REIS, 1804, p. 168.
Com base na análise de ordenados deixados por Couto Reis,
podemos construir um pouco de como funcionava a estrutura
administrativa da fazenda, sendo o cargo de inspetor responsável pela
supervisão administrativa de todas as terras de Santa Cruz tendo o
administrador como seu subordinado direto. Ao administrador cabia toda 16
26
FREITAS, 1986, p. 29.
27
REIS, 1804.
deveria fazer com as terras de Santa Cruz. De um lado estava Beltrão de
Gouveia, defensor da venda das terras da fazenda, que sairia vitorioso se
houvesse quem pudesse pagar pela grande extensão de terra, e do outro,
Couto Reis, partidário da sua manutenção e produtividade, que sofreu
uma derrota significativa com a venda dos engenhos que ele havia 17
28
CARVALHO, Marieta Pinheiro de. Um lugar modelo para o Império: abastecimento e agricultura na
Fazenda de Santa Cruz (1808-1812). In: ENGEMANN, Carlos. AMANTINO, Marcia. (Org.). Santa Cruz: de
legado dos jesuítas a pérola da Coroa. Rio de Janeiro: Ed. Eduerj, 2013. p. 273-290.
29
Coleção de Leis do Império do Brasil de 1808 a 1820. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/publicacoes/doimperio/colecao1.html
superintendente, dois administradores, um tesoureiro, um almoxarife e
dois escriturários. A partir desse documento, elaboramos uma tabela com
a relação dos ordenados e outros benefícios dos funcionários da fazenda.
Observa-se que os valores e os benefícios foram maiores em relação a
1804 e que será observado durante toda a história da fazenda provando a 19
30
Neste caso indústria não tem o mesmo sentido de hoje, refere-se ao fabrico de açúcar e cachaça,
tecelagem, olaria e outras atividades semelhantes desenvolvidas em Santa Cruz.
31
Coleção das Leis de 1808 a 1821.
renunciou ao cargo em 1815 por queixas sofridas contra sua
administração, acusado de estar deixando a fazenda em estado de
abandono, assumindo a função o Marquês de Aguiar até 1817. 32
Sobre a administração do Marques de Aguiar, não encontramos
fontes que dão detalhes acerca de suas medidas a frente da fazenda. Após 21
32
FREITAS, 1987, p. 76-78
FIGURA 3- Paisagem da fazenda de Santa Cruz por Debret
22
33
ENGEMANN, Carlos. Os Servos de Santo Inácio a Serviço do Imperador: Demografia e relações sociais
entre a escravaria da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ. (1790- 1820). 2002. Dissertação de Mestrado em
História Social. UFRJ, Rio de Janeiro, 2002. p. 105.
interferências. Apenas umas pequeninas construções no lado direito
fazem companhia para o palácio imperial.
34
Segundo a obra de Benedito de Freitas, este regulamento está fixado conforme a portaria de 8 de
maio de 1822, não nos sendo possível encontrar esta portaria nos anais das leis do império. No entanto,
regulamento que consistia em 40 artigos que norteavam as funções,
rotinas e salários dos funcionários, no qual podemos perceber novos
indícios da estrutura da fazenda através dos dados abaixo:
administração 1821-1822
Cargos Observações
Superintendente 1 ração
Administrador Geral 292$000 e uma ração
Capelão Eram dois capelães ambos escolhidos pelo
superintendente, ambos com soldo de 293$000 e uma
ração
Campeiro Mor 200$000
Ajudante do Campeiro Mor 100$000
Moço do Campo 116$800
Armazém 171$600
Feitor 153$600
Fonte: FREITAS, Benedito. Santa Cruz: Império 1822-1889, Volume 3. Rio de
Janeiro: 1987.
como foi reproduzido na integra na obra do autor, mesmo sendo ele a única referência a este
regulamento, o tomaremos como existente.
semanas e dias santos para a sua subsistência nas terras da fazenda 35.
Outro dado relevante abordado neste regulamento, citado por Freitas, é a
existência das funções de mestre da banda de música, sendo um indicio
da existência da prática musical nas terras de Santa Cruz desde o tempo
dos jesuítas que utilizavam a música como forma de evangelização e 25
civilização.
35
FREITAS, 1987, p.110-124.
36
FREITAS, 1987, p.122.
frente da fazenda o capitão de mar e guerra João da Cruz dos Reis, que
permaneceu de 1822 a 1824. Nesta época, a principal fonte de renda da
fazenda eram os foreiros. Reis, permitiu a permanência de intrusos nas
terras da fazenda, na qual deu títulos de foreiros aos que estavam sem
documentação. Estes eram do quantitativo de 59 famílias que pagavam 26
37
FRIDMAN, 1999, p.198.
38
FRIDMAN, 1999, p.198-200.
39
FRIDMAN, 1999, p. 200.
1840, analisaremos os dados contidos no relatório 40 elaborado pelo
deputado Rafael de Carvalho em sua visita a fazenda no ano de 1837, na
qual constam informações sobre a estrutura física e econômica da fazenda
e a comunidade escrava santa-cruzense.
Segundo Rafael de Carvalho, a sede administrativa da fazenda tinha 27
40
Resolução nº 144 de 1837, de autoria do Deputado Rafael de Carvalho membro da Comissão das
Contas do Tutor de S. M. e AA. Imperiais e tutor de S.M. e AA. II. (I-PAN-14.8.837-Car.rs - Arquivo do
Museu Imperial de Petrópolis - R. J.)
Observando este relatório do deputado Rafael de Carvalho,
percebemos que Santa Cruz continuava numa situação de abandono,
baixa lucratividade, não atendendo as suas reais capacidades de retorno
financeiro, sendo mais uma das propriedades públicas com os interesses
voltados a particulares, conforme atesta o deputado quando afirma no 28
41
FRIDMAN, 1999, p. 202.
42
CORREIO DA TARDE.
descreve as ações de Neimeyer relacionadas à construção e reforma das
senzalas dos escravos, fato importante este, pois o único resquício sobre a
estrutura das senzalas da fazenda foi a pintura de Debret do início do
século XIX:
29
43
CORREIO DA TARDE.
44
SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: Esperanças e recordações na formação da família escrava.
Campinas: Editora Unicamp, 2011. P. 149-180.
45
ENGEMANN, Carlos. 2002. P. 110-120.
Cruz, trabalho este muito importante, pois, segundo o jornal, tratava-se
em sua maioria de uma escravaria honesta e trabalhadora.
No tocante ao tamanho da escravaria, a nota do jornal nos diz que
era algo em torno de 2.200 escravos. Há também, referência a construção
de uma muralha em volta das senzalas, fato este que nos leva a 30
Quem se seguiu na direção das terras de Santa Cruz foi Inácio José
Garcia (1856-1867), conhecido como o “Carrasco do Cruzeiro” título este
recebido por ter retirado a cruz dos jesuítas de frente do palácio da
46
CORREIO DA TARDE.
fazenda, tendo colocado o pelourinho para aplicação de castigos físicos
aos escravos.
Garcia foi um dos administradores que mais usufruiu dos benefícios
e poderes que o cargo lhe conferia, através das fontes abordadas até o
momento. Além disso, deve-se a ele maus tratos à escravaria, o abandono 31
47
FRIDMAN, 1999, p. 203.
sonhada carta de alforria 48. Santa Cruz teve uma grande quantidade de
escravos enviados a guerra, gerando uma falta de mão de obra masculina
na fazenda49 ocasionando mudanças no cotidiano da fazenda.
Após este período conturbado da administração de Garcia, a
fazenda passou para as mãos do major João da Gama Lobo Bentes (1867- 32
48
PEREIRA, Júlio César Medeiros da Silva. Trabalho, folga e cuidados terapêuticos: a sociabilidade
escrava na Imperial Fazenda de Santa Cruz, na segunda metade do século XIX. Tese de Doutorado em
História das Ciências e da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2011.
49
SOUZA, Jorge Prata de. Escravidão ou Morte: os escravos brasileiros na Guerra do Paraguai. Mauad,
Rio de Janeiro, 1996.
Santa Cruz”, que tinha como finalidade dar assistência financeira aos
funcionários da fazenda.
Na sua administração aconteceu também a construção do
matadouro municipal para a compra e venda de carne verde e a criação de
uma escola primária. Saldanha criou um cadastro de foreiros para a 33
50
FRIDMAN, 1999, p. 204.
51
FRIDMAN, 1999, p. 204.
de leitos de ruas; nivelamento das praças, aberturas de bueiros; reformas
de prédios e aberturas de hotéis.52 O último administrador da Imperial
Fazenda de Santa Cruz foi o Comendador Major Manoel Gomes Archer de
1887à 1889.
Após a proclamação da república em 15 de novembro de 1889, a 34
52
FRIDMAN, 1999, p. 204.
hoje. Entre estes administradores podemos citar: Furtado de Mendonça,
Brás da Silva Rangel e Ignácio Jose Garcia.
Nota-se a grande permanência de nobres e, principalmente,
militares na administração da fazenda, os quais em muito contribuíram
para a administração de tão gigantesca fazenda e em alguns casos o uso 35
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Primeira Parte”. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
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sequestro dos bens da fazenda de Santa Cruz, Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, Portugal.
Inventário dos Bens da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ, 1759. Arquivo
Nacional. 36
Periódicos
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Ao dois de julho 6
A canção do africano
O escravo então foi deitar-se / Pois tinha de levantar-
se / Bem antes do sol nascer / E se tardasse, coitado, /
Teria de ser surrado, / Pois bastava escravo ser.
(ALVES, 2009, p. 37)
O navio negreiro
Ontem a Serra Leoa, / A guerra, a caça ao leão / O 7
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Mestranda em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP). Bolsista
Capes.
A presença do Oriente no Brasil colonial se faz perceptível na
culinária, na arquitetura de palacetes, nos móveis e artigos luxuosos de
casarões, nos modos de viver, de trajar e de transportar-se da época, até
mesmo, em espaços imagináveis, como na ornamentação de Igrejas
católicas, podemos encontrá-las. 2
Tal informação pode soar como algo inusitado, mas não é de hoje,
que curiosas decorações presentes na Capela Santo Antônio, Capela Nossa
Senhora do Ó, Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará;
na Igreja Sede de Nossa Senhora da Assunção, em Mariana; na Igreja
Matriz Nossa da Conceição, em Catas Altas; na Matriz de Santo Antônio,
em Ouro Branco; e nas Igrejas Nossa Senhora do Pilar e Santa Efigênia, em
Ouro Preto; saltam aos olhos dos visitantes. Entre os entalhes dourados e
as pinturas em tons vermelhos que encobrem os painéis contidos em
algumas paredes desses templos católicos; pagodes, alguns seres oníricos,
motivos de flora e faunas orientais, personagens bíblicos com feições
chinesas ou portando indumentárias orientais, se destacam e despertam
interesse.
Cientificamente, essas pinturas foram classificadas como chinesices
- gêneros artísticos ornamentais, que fazem referências diretas ou
adaptadas ao repertório visual das artes extremo-orientais (Japão, China,
Índia). Já a nomenclatura chinesices (como são chamadas em território
brasileiro) possivelmente veio do termo francês chinoiserie utilizado
desde, pelo menos, o século XVII na França (PIMENTEL, 1989, p. 118).
Conforme delineia Maria João Ferreira (2015), as chinesices teriam
surgido na Europa, quando a oferta de produtos orientais ofertados no
mercado não supria a procura. Percebendo a aura de raridade que
envolvia estes artigos, e o interesse que despertavam, assim como, o
avultado preço que aos mesmos se associava, iniciou-se o
desenvolvimento em larga escala, de uma indústria de imitação, na qual a
imaginação que se fazia sobre os povos orientais desempenhou um papel 3
8
A referência, de que as chinesices encontradas nessas igrejas fosse
uma reprodução da porcelana chinesa, também foi cogitada. Como
podemos observar no seguinte fragmento:
Referência bibliográfica 11
PEREIRA, Ana Luiza de Castro. Viver nos trópicos com bens do Império: a
circulação de pessoas e objectos no Império Português. Anais do XIV 12
Seminário sobre a Economia Mineira, 2010. Acessado em 14/10/2014 in:
http://ideas.repec.org/s/cdp/diam10.html
ANEXOS
13
Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo descrever fatos rotineiros da
comunidade indígena Xukuru-Kariri da Mata da Cafurna (Palmeira dos Índios-AL) em
contextos sociais decorrentes do processo de assimilação da cultura dos não índios.
Permeia os conceitos de memória e história oral, tendo como fontes metodológicas
principais, relatos colhidos durante pesquisa de campo na Aldeia Indígena Mata da
Cafurna. Pretende-se analisar de que forma o cotidiano da comunidade indígena vem
se relacionando com o desenvolvimento do Município de Palmeira dos Índios. A
pesquisa é fundamentada em pressupostos teóricos de Carrara (2003), Le Goff (1994),
Peixoto (2011), Silva (2007) e Silva Júnior (2013). Este estudo contribui com a discussão
sobre o cotidiano indígena na aldeia frente ao processo de demarcação territorial que
tramita na justiça e ocupa o centro das discussões na cidade de Palmeira dos Índios-AL.
Palavras-chave: Etnografia. História. Memória.
Resumen: Esto trabajo tiene Xukuru-Kariri del bosque de Cafurna (el árbol de Palmera
de índios - AL) como el objetivo principal de describir los hechos rutinarios de la
comunidad autóctona en contextos sociales en curso del proceso de la asimilación de
la cultura de los non indios. Se extienden por los conceptos de la memoria y la historia
oral, cuidan tan fuentes metodológicas principales, informes escogieron durante
investigación de campo en las matanzas de pueblo indígenas de Cafurna. Quiere que
analizar eso moldee el diario de la comunidad autóctona venir con el desarrollo del
distrito municipal del árbol de Palmera de los Índios si se relacionando. La
investigación es fundada hacia dentro presupuesto teórico de Carrara (2003), Le Goff
(1994), Peixoto (2011), Silva (2007) y Silva Júnior (2013). Este estudio contribuye con la
discusión sobre el diario autóctono del delantero de pueblo al proceso de
demarcación.
El Word-la tecla: Etnografía. Historia. Memoria.
*
Graduando do Curso de História da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL Campus III Palmeira dos
Índios, membro do Grupo de Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas – GPHI/AL e
pesquisador voluntário PIBIC/FAPEAL.
**
Graduado em História pela UNEAL. Mestre em Educação e Antropologia. Professor de História
Indígena no Curso de História da UNEAL Campus III Palmeira dos Índios e coordenador do Grupo de
Pesquisa em História dos Povos Indígenas de Alagoas – GPHI/AL.
Notas introdutórias: a necessidade de situar a pesquisa
Quando propomos no título a ideia de ‘memórias’, é porque a
pretensão desta pesquisa é formular discussões quanto ao que podemos
observar nos relatos deixados pelos mais velhos e como esses causos
podem se revelar como representativos de uma história de lutas e 2
lado, são usados de forma lucrativa, uma vez que seu etnônimo “Xucuru”
jaz estampado em vários estabelecimentos comerciais da cidade e são
referenciados em antigas lendas sobre a fundação e emancipação de
Palmeira dos Índios.
A história de Palmeira dos Índios é ancorada na história do povo
Xucuru-Kariri, mas este povo não é reconhecido como verdadeiro dono
desta terra, isso ocorre por causa do jogo político que, envolve a disputa
pela posse das suas terras, até então parceladas e ocupadas por pequenos
produtores, na sua maioria, manipulados pelos grandes oligarcas, com os
quais está a maior parcela de tal território, marcado pelos vestígios1
comprobatórios da posse imemorial dos indígenas.
1
A terra que compõe a área em litígio é marcada por cemitérios indígenas, como já foi comprovada por
achados arqueológicos de Clóvis Antunes (1973), Luiz B. Torres (1973) e Estevão Pinto. Alguns materiais
líticos e cacarias das escavações encontram-se expostos no Museu Xucurus de História, Artes e
Costumes, no centro da cidade de Palmeira dos Índios.
negadas e se viram cerceados no direito a vivência da sua cultura. “Nesse
caso, o silêncio tem razões bastante complexas.” (POLLAK, 1989, p. 6)
Emudeceram suas vozes e maracás, para garantir a sobrevivência de seu
grupo.
Não restaram muitas formas de sobreviver senão, formulando e 4
vocábulos restantes aos mais novos. Desta forma deve-se dar ênfase a
importância da escola no seio da Aldeia, como importante percussora da
cultura.
No entanto o Índio que é apresentado hoje é resultado das
sucessivas perseguições, do escravismo, da catequese, do preconceito e
da privação de sua terra e religião. E ainda, mesmo que a sociedade tente
permanecer relutante em aceita-lo não como uma simples parte da
História, mas como parte essencial, pois sua presença já não pode mais
ser simplesmente ignorada já que estão ganhando espaço nos vários
setores da sociedade e até mesmo na política. Pois a invisibilidade não
tem mais sentido, já que só se tem atenção quando ganha visibilidade,
deixando de ser uma lenda para confirmar sua presença na realidade.
Referências
CARDOSO, Heloisa Helena Pacheco. Os “anos dourados”: memória e
hegemonia. ArtCultura, Uberlândia, v. 9, n. 14, p. 169-184, jan.-jun. 2007
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1994 p.
419.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia
social; editado em inglês por Gerard Duveen; traduzido do inglês por
Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silencio. IN: Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
SILVA, Edson. História, memórias e identidade entre os Xukuru do
Ororubá. 2007.
SILVA, Tiago Barbosa da. Poder Sagrado: A Visibilidade e a Projeção da
Igreja
Católica em Palmeira dos Índios. Trabalho de Conclusão de Curso 12
apresentado ao Curso de História da Universidade Estadual de Alagas –
UNEAL Campus III Palmeira dos Índios, 2009.
SILVA JÚNIOR, Aldemir Barros da. Aldeando Sentidos: os xucuru-kariri e o
serviço de proteção aos índios no agreste alagoano. Maceió: EDUFAL
2013.
DAOISMO, CONFUCIONISMO E BUDISMO:
PENSAMENTOS DE UMA CHINA LONGÍNQUA
1
Resumo
Budismo, Confucionismo e Daoismo são as três correntes filosóficas mais conhecidas
na China, entretanto, muito pouco se sabe sobre elas no ocidente, sendo assim, torna-
se muito importante dá uma maior relevância para estas doutrinas, seja para entender
um pouco mais sobre a história chinesa, tal como para preencher o grande vácuo
histórico deixado pelo longo período sem um contanto formal entre China e o ocidente;
então, para que se tenha uma melhor compreensão é necessário também saber que
cada uma das doutrinas se desenvolveram de formas diferentes, cada uma possuíam
objetivos diferentes, todas tiveram bons e maus momentos ao longo da história. Será
também abordado um pouco sobre o objetivo de cada corrente e como elas foram
mudando ao longo do tempo, sendo assim, a dinastia Han servirá de periodização para
uma melhor análise, pois durante este período a China conseguiu unir muitas
doutrinas, formando novos pensadores e novas correntes de pensamento; entretanto,
esta mesma dinastia é cercada de mitos que acabam dificultando ainda mais o
entendimento da história chinesa. Também se torna importante analisar se existe ou
não religião na China, pois grande parte das doutrinas não segue uma divindade, para
tal torna-se muito importante saber a origem do termo “religião”.
Palavras-chave: Daoismo, Confucionismo, Budismo.
Abstract
Buddhism, Confucianism and Daoism are three philosophical currents better known in
China, however, western just know a little about them, therefore it’s very important
give more importance to these doctrines, be for understand a little more about the
history of China, such as fill the great historic vacuum left by the long time without a
formal contact between occident and China; so, to a better understanding is need to
know that each doctrine developed differently, each one had different objectives, by
having good and bad moments over the history. Will be discussed a little about the
objective of each philosophical current and their change over the time, thus, the Han
dynasty will be analyzed, because in this dynasty many new philosophical currents and
thinkers arose, but, this same dynasty is surrounded for many myths about the
Chinese history. It’s so important to analyze the Chinese religion, because there’s a
great difference between occident and orient about religion meaning.
Keywords: Daoism, Confucianism, Buddhism.
Daoismo
Ao falar de filosofia chinesa é muito comum lembrar-se de um
símbolo bastante curioso que consiste num círculo dividido em duas
partes, sendo um lado branco e o outro preto, cada lado ainda possui um
pequeno círculo com a cor do lado oposto, este é o símbolo do daoismo 2
1
ABREU, Antonio Graça. Lao Zi e o Taoismo. In: Bueno, André; NETO, José Maria.
Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União da Vitória: UNESPAR, 2014.
2
ROBERTS, J.A.G.. História da China. Lisboa: Texto e Grafia, 2012.
3
Idem.
pode ser tido como uma filosofia de caráter mais direto, pois condenava
os rituais, de qualquer natureza, inclusive a própria burocracia que era
tida por necessária para Confúcio, Lao considerava tudo isto supérfluo 4.
Hoje em dia quando pergunta-se a um chinês qual sua religião ele
responderá dizendo que não tem, mas provavelmente dirá que ele e sua 4
família são daoistas; talvez ele sequer saiba a origem disto tudo, mas,
como já abordado, durante a dinastia Han novas linhas de pensamento
deram caras novas para as antigas filosofias, porque como qualquer outra
filosofia, o daoismo também modificou-se ao longo do tempo, podendo
ser interpretado de diversas maneiras dependendo da situação em que a
China se encontrava.
Confucionismo
Durante a dinastia Zhou (周 – Zhōu), período em que a China estava
bastante dividida em pequenos reinos, sendo conhecido como período
dos estados combatentes, o país era sempre acometido por guerras
internas, é neste cenário que surge a figura de 孔子 (Kǒng Zǐ), ou Confúcio,
como é conhecido no ocidente, diferente de Lao, Confúcio vinha de uma
família nobre, mas não de uma alta nobreza 5, sendo assim, ele estudava
bastante para ter acesso a um emprego melhor em cargos públicos, as
provas exigiam muito dos participantes, devia-se saber escrever bem,
conhecer as leituras clássicas e também possuir um bom entendimento
dos rituais.
4
Idem.
5
Idem.
Confúcio não se mostrava feliz com o período em que seu país
passava, segundo ele todo mal que acometia o país era devido ao não
cumprimento dos rituais por parte dos governantes, os rituais consistiam
em: apreciar músicas, leitura dos clássicos, fazer honras funerárias dignas
de acordo com a hierarquia do falecido, tudo isto devia ser seguido 5
6
CHIN, Annping. O Autêntico Confúcio: uma vida de pensamento e política. São Paulo.
JSN, 2008.
interesse por elas; os ensinamentos de Confúcio também sofreram
modificações durante a dinastia Han, mas a essência original de seus
ensinamentos ainda persiste: o respeito, seja aos mais velhos, neste caso
podendo ser o mestre, pais ou professor, como também respeito às
tradições, sem nunca deixar os rituais de lado. 6
Budismo
O budismo já era conhecido pelos chineses, desde a época da rota
da seda7, mas foi a partir da dinastia Han que o budismo começou a ter
um papel mais importante no cenário chinês; de início o budismo sofria
uma forte resistência, tanto por parte dos daoistas como dos
confucionistas; a filosofia budista deixava todo e qualquer plano terreno
em segundo plano8, demorou um bom tempo para deixar de ser olhado
com desconfiança, mas até o final da dinastia Han o budismo já estava
espalhado pela China e muitos governantes aderiram ao budismo.
Mas por que abordar o budismo? Uma doutrina que sequer é
chinesa. Muitas pessoas se confundem com relação às origens do budismo,
muitos dirão que o budismo é chinês, ou seja, nota-se o quão a doutrina
conseguiu se inserir na China que chega até a ser confundida como algo
puramente chinês; a partir da dinastia Han muitas doutrinas sofreram
fortes mudanças, algumas chegando a mesclar-se entre si, e o budismo
não ficou de fora, muitos neoconfucionistas e neodaoistas converteram-se
7
ROBERTS, J.A.G, op. cit, loc. cit.
8
Idem.
ao budismo9, sendo assim, trazendo uma nova bagagem intelectual para o
budismo; mas certamente o budismo não perdeu seus objetivos iniciais
que são o desapego da vida terrena e a busca do nirvana.
9
Idem.
considerar a produção deste período como uma fase
significativa de sua história, sem que o tornam-se
impossíveis ou inoperantes quaisquer formas de
conectar o pensamento atual chinês com seu passado
fundador”10
8
Entretanto, não se pode cair no tão combatido anacronismo
histórico, sugerindo que os Han criaram tudo de forma independente e
inovadora, é necessário compreender que tal como os Zhou, os Han
também usufruíram de uma boa bagagem intelectual no decorrer do
tempo; a dinastia Zhou foi um terreno propício para o surgimento de
várias correntes filosóficas, esta dinastia foi marcada por fortes conflitos
internos, a China estava se destruindo aos poucos, muitos escritores
surgem neste período, seus escritos são bem variados, tem-se Sun Tzu
(Sūn Wǔ – 孙武) e sua obra “A Arte da Guerra” e os já conhecidos
Confúcio e Lao, seguidamente há a curta dinastia Qin, para só então surgir
a dinastia Han, lembrando ainda que a dinastia Zhou foi bastante
prolongada; conclui-se que os Han tiveram influência dos Qin, certamente
uma forte influência Zhou, sem contar com Shang e Xia.
O momento em que cada dinastia passava também era um fator
determinante na formação das ideologias de cada dinastia, comparando
os Han com os Zhou percebe-se que este passava por um período mais
tenso da história chinesa, Confúcio escrevia com pesar sobre os reis e as
guerras que maltratavam seu país; já os Han não tinham tanta
10
BUENO, André. O pensamento chinês durante a dinastia Han. In: Bueno, André;
NETO, José Maria. Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União da Vitória: UNESPAR,
2014.
instabilidade política, o terreno estava mais fértil para a propagação de
novos pensamentos e discussões filosóficas, neste período pensamentos
estrangeiros como o budismo já estavam sendo menos hostilizados.
Religião ou Filosofia? 9
11
BLUNDEN, Caroline; ELVIN, Mark. Grandes Civilizações do Passado: China Ontem e
Hoje. Apud.
12
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
13
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos.
São Paulo: Editora Contexto, 2005.
divindades, é o caso do budismo, confucionismo e daoismo, todas estas
três correntes diferem bastante do das religiões ocidentais, por vezes o
budismo é confundida como uma religião ocidental, pois os budistas se
inspiram em Buda, um homem que alcançou o estado de perfeição
máxima de uma pessoa, ou seja, os budistas não consideram o nirvana 10
como algo divino, mas sim como algo que pode ser alcançado pelo próprio
ser humano14.
Os rituais sempre estiveram presentes na vida do ser humano,
desde a pré-história eles seguem uma série de rituais para sua
sobrevivência, uma parte destes rituais receberam o termo “religião”,
sendo assim, o termo acabou sintetizando bastante o que poderia ser ou
não tido como religião, por isto muitas crenças não são reconhecidas
como religião, mas sim como seitas ou correntes filosóficas; mas cada
crença, seja entendida como religião ou não, tem o objetivo de levar seus
seguidores sempre a algo melhor, com exceção de algumas antigas
religiões mesoamericanas. O confucionismo sustenta que os costumes e o
respeito devem ser sempre preservados para que uma sociedade não caia
em desgraça; Lao ia contra a doutrina confuciana, dizia que os ritos eram
um perda de tempo e de certo modo afastava as pessoas da felicidade;
Buda deixava qualquer valor terreno sempre em segunda plano, pois
interesses terrenos afastavam as pessoas do estágio perfeito da
humanidade.
Certamente os ocidentais nunca entenderão de fato o pensamento
chinês, ambos possuem uma história e modo de ver as cosias bastante
14
Idem.
diferente; mas isto não impede com que se tenha um mínimo
entendimento do outro, talvez o maior erro seja tentar interpretar
totalmente o outro, entretanto, segundo o Geertz, não há como se ter
uma certeza total sobre o que uma cultura diferente pensa, o historiador,
neste caso, já possui seu modo de interpretar as coisas e SUS 11
interpretação, por melhor que seja, sempre será de segunda mão; deste
modo percebe-se que há religiões na China, mas quando o termo religião
é associado apenas cultos que veneram divindades ou seres sobrenaturais,
torna-se impossível estudar as religiões chinesas.
Considerações Finais
A China é repleta de doutrinas filosóficas, entretanto as três
abordadas são as mais conhecidas tanto fora como dentro do país; pode-
se imaginar que suas ideias continuam as mesmas desde o dia em que
foram criadas, mas é impossível uma ideia manter-se imutável ao longo do
tempo, uma ideia que imutável dificilmente acompanhará a natural
mudança da sociedade, todas estas correntes surgiram em contextos
diferentes. A dinastia Han mostrou bem como várias correntes de ideias
podem se mesclar e acabar fundando novas maneiras de enxergar a
realidade, certamente o budismo chinês e o indiano têm o mesmo
objetivo, mas usam diferentes meios para alcançá-lo, pois cada país possui
uma realidade diferente.
O presente trabalho não pretendeu se aprofundar muito em cada
uma das três formas de pensamento, mas sim mostrar o quanto cada uma
delas mudou ao longo do tempo e que o fato de a China possuir uma
cultura milenar não implica dizer que a mesma é imutável ou arcaica e não
se adapta às necessidades de cada período. Que o presente trabalho
aguce um pouco mais a curiosidade do leitor com relação ao oriente; e
que mostre que ocidente e oriente não são tão diferentes com relação à
formação e adaptação de suas ideias. 12
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
ABREU, Antonio Graça. Lao Zi e o Taoismo. In: Bueno, André; NETO, José
Maria. Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União da Vitória:
UNESPAR, 2014.
BUENO, André. O pensamento chinês durante a dinastia Han. In: Bueno,
André; NETO, José Maria. Antigas Leituras: Visões da China Antiga. União
da Vitória: UNESPAR, 2014.
CHIN, Annping. O Autêntico Confúcio: uma vida de pensamento e política.
São Paulo: JSN, 2008.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da
cultura. In: A interpretação das Culturas. Rio de Janeira:LTC, 2008.
ROSS, Stwart. Histórias da Antiguidade: China Antiga. São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2009.
ROBERTS, J.A.G.. História da China. Lisboa: Texto e Grafia, 2012.
SILVA, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos
Históricos. São Paulo: Editora Contexto, 2005.
ECOS DA RECLUSÃO: O ENSINO DE HISTÓRIA PARA
ADOLESCENTES EM ESPAÇOS DE PRIVAÇÃO DE
LIBERDADE
Resumo: Este artigo está centrado na experiência do ensino de história para jovens em
espaços de privação de liberdade na região da Grande Florianópolis, abordando a
situação dos jovens em reclusão, a conjuntura política quanto a questão da maioridade
penal e a vivência em sala de aula com os educandos. A experiência é vista a partir dos
conceitos de educação abordados por Paulo Freire (1987), das possibilidades da
História segundo Walter Benjamin (2005) e das visões de experiência de Jorge Larrosa
(2002).
Palavras-chave: reclusão, sistema socioeducativo, ressignificação.
1
Discente de mestrado do curso de pós-graduação em História na Universidade do Estado de Santa
Catarina (Udesc), professora licenciada em História pela Universidade de São Paulo (USP).
No ano de 2015 recebi a proposta de trabalhar como professora de
História para turmas formadas por adolescentes em conflito com a lei que
cumprem medidas socioeducativas privativas de liberdade no Centro de
Atendimento Socioeducativo (Case) da Grande Florianópolis. Esse não foi
o primeiro contato com adolescentes infratores que tive em minha vida 2
não pode ser unilateral: o presente ilumina o passado com todas as lutas
que se formam no contemporâneo e o passado iluminado torna-se uma
força no presente “Como flores que voltam suas corolas para o sol, assim
o que foi aspira, por um certo heliotropismo, a voltar-se para o sol que
está a se levantar no céu da história” (IN: LOWY, 2005, p. 58). Realizar a
abertura do passado com as experiências de guerra trabalhadas em sala
poderiam servir como estopim de outras possibilidades de presente e de
futuro para os adolescentes.
Trabalhamos com uma breve contextualização dos conflitos para
que os adolescentes pudessem entender em qual conjuntura a Guerra
Total estava se formando com o auxílio da história em quadrinhos. Nessa
etapa utilizamos também slides como ferramenta de trabalho e sugerimos
pequenos projetos de pesquisa entre os jovens com o apoio do material
presente na biblioteca. Depois de apresentado os resultados da pesquisa,
todos assistiram o filme Gloria Feita de Sangue, de Stanley Kubrick,
discutindo a banalização da vida durante a guerra como tema central. Os
professores de geografia, de português e de ciências começaram a
trabalhar em conjunto com o projeto, refletindo sobre a vida do indivíduo
em um processo de total violência, onde o sujeito se perde em benefício
2
www.capinaremos.com acesso: 22 de jan. 2016.
de algo que é considerado um bem maior. Nas conversas com os
adolescentes, a assimilação com as situações de violência vivida por eles
era inevitável e essa troca foi muito enriquecedora por possibilitar um
diálogo entre a realidade dos adolescentes e as vivências da guerra pelos
combatentes e os civis. O compromisso em ser o mais objetivo possível 7
Nas cartas há uma mescla do que eles aprenderam com o que eles estão
sentindo no momento. O adolescente M., de 16 anos, inicia sua carta
dizendo que sente muita falta de sua mãe agora que ele está longe, e
pede que ela não se afaste de sua mulher e de seu filho caso ele morra,
outro, A. de 15 anos pede que a família não se preocupe com ele porque
ele está lutando pelo o que ele acredita.
O encerramento da atividade foi uma exposição chamada Ecos das
Trincheiras, organizada no espaço da biblioteca com as cartas produzidas
pelos adolescentes. Nesse espaço a família dos jovens puderam ver os
trabalhos produzidos pelos educandos, o que foi emocionante para todos
e os estimulou positivamente a continuar produzindo materiais durante o
processo educativo. Outra troca interessante foi entre os adolescentes
que leram as cartas dos colegas e comentaram entre si, fazendo elogios e
sugerindo alterações.
*
Os nomes foram preservados em respeito aos adolescentes.
Com este processo, percebo que os estudantes do Case
conseguiram pensar historicamente e refletir sobre sua realidade,
questionando alguns lampejos do passado em sua contemporaneidade,
assim como afirma Walter Benjamin, analisando o passado eles não o
conheceram tal como ele foi, e sim buscaram um lampejo desse passado 9
Referências Bibliográficas
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência
IN: Revista Brasileira de Educação [online]. 2002, n.19, pp. 20-28.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003
acesso: 02 de fev.2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HOBSBAWN, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo, Companhia das Letras,
1995.
LOWY, Michael. Walter Benjamin. Aviso de Incêndio: Uma leitura das
teses “Sobre o Conceito de História”. Trad. Wanda N. C. Brant, Jeane M.
Gagnebin, Marcos L. Muller. São Paulo: Boitempo: 2005.
SILVA, Enid R. A., OLIVEIRA, Raissa M. O Adolescente em Conflito com a Lei
e o Debate sobre a Redução da Maioridade Penal: esclarecimentos
necessários IN: Nota técnica. Nº 20. Brasilia: Ipea, 2015.
O GRANDE LEVIATÃ:
Uma breve contextualização do conceito de Estado
Resumo: Este trabalho tem como escopo pesquisar o conceito de Estado nos principais
teórico-estudiosos da temática. O Estado que é um termo que passa por diversas
ressignificações no decorrer da História, compreende várias facetas. E isto, é o que
pretendemos demonstrar no transcorrer desta pesquisa, evidenciando os seus
principais aspectos, suas funções e caracterizações. Sendo assim, a principal fonte
metodológica utilizada nesta pesquisa, se refere à pesquisa bibliográfica, tomando
inicialmente como pressupostos teóricos os trabalhos de autores contratualistas como
Hobbes, Locke e Rousseau, e ainda autores como Engels, M. Florenzano, Marx,
Norberto Bobbio e Rothbard. Almeja-se tentar compreender o Estado através destas
bases teóricas, que perpassam o jargão da História, no decorrer do tempo.
Abstract: This article aims to search the concept of state based on the main
theorictians in the theme. The state is a term that goes through many resignifications
throughout History, and it envolves many facets. That is what we intend to
demonstrate in the course of this research, showing its main aspects, functions and
characterizations. Therefore, the main methodological source used in this article,
refers to the bibliographic research, taking the theorical concepts of the contractualist
authors such as Hobbes, Locke, Rousseau, and others like, Engels, M Florenzano, Marx,
Norberto Bobbio e Rothbard. It aims to try to understand the state through these
theoretical bases, which underlie the jargon of History over time.
1
Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas - (UNEAL), E-mail: jose-
anastacio27@hotmail.com
2
Graduando do curso de História da Universidade Estadual de Alagoas - (UNEAL) e voluntário do PIBIC, E-
mail: josenilson2030@hotmail.com
3
Professor assistente da Universidade Estadual de Alagoas e coordenador do Núcleo de Estudos Políticos
Estratégicos e Filosóficos - NEPEF. E-mail: luzmendes@hotmail.com
Considerações Iniciais
A escolha de destacar o conceito de Estado deve-se ao fato de sua
grande relevância na “sociedade civilizada” atual. Este Estado moderno
que conhecemos atualmente, outrora, nem sempre foi deste modo
concebido; ele passou e ainda passa por diversas interpretações e 2
4
Hobbes se refere a este monstro marinho esboçado em sua obra que se auto intitula: “Leviatã ou
Matéria, forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil”.
modo, lobo do próprio homem – é de fato ‘a guerra de todos contra
todos’.
Deste modo, para Hobbes, era necessário que existisse um Estado
dotado de espada, armado, para forçar os homens ao respeito mútuo,
pois “[...] os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para 4
5
Não desmerecendo os autores contratualistas, que foram de certa forma, fundamentais na construção
do conceito Estado.
aquisição de riquezas pelo roubo e pela violência. Só
faltava uma coisa: uma instituição que não só
protegesse as novas riquezas individuais contra as
tradições comunistas da constituição gentílica, que
não só consagrasse a propriedade privada, antes tão 12
Considerações Finais
Longe de concluir o debate, sobre o conceito aqui referido esta é
uma discussão que vai longe e abre múltiplas definições que inclusive
você, leitor que esta lendo este trabalho, pode interpreta-la(s) a seu
critério. Porém, indubitavelmente estes teóricos trabalhados nesta breve
pesquisa, deixaram marcas profundas sobre a posteridade; ainda mais,
estas ideias perpassam o nosso senso comum. E se tem algo que estes
estudiosos têm em comum, é a singularidade, que cada um aborda o
Estado, mostrando deste modo, uma tremenda heterogeneidade em
relação a este termo tão ambíguo.
Sem dúvida, vemos nestes autores uma característica
fundamental: o Estado não é neutro. Ele é imposto, criado e formado para
uma determinada finalidade, seja ela, para manter um governo/regime no
poder, seja para dominar as massas e usá-las a seu favor, como se fosse
um adestramento; mantendo a “ordem social”, cuja base teórico-filosófica 20
REFERÊNCIAS
Abstract: This article socialize a report of experience in the teaching of ancient Greece
in class of 5th grade / 6th grade of elementary school in the public schools of Pará
state, Brazil. When we discuss the Greek mythology theme, we use the cordel
literature that presents a language in verse rhymed, easy to understand for students.
We emphasize that the cordel literature can be an interesting educational resource to
the history teaching, to encourage reading and to allow past-present relationship.
Keywords: History teaching; Ancient Greece; Cordel Literature.
Introdução
1
Uma versão inicial deste trabalho foi apresentada no 2º Simpósio Eletrônico Internacional de Ensino de
História, organizado pela UNESPAR, realizado de forma online entre os dias 7 e 11 de março de 2016.
Agradeço ao Prof. Dr. André Bueno pelo convite para a publicação deste artigo.
2
Doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da
Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA) e da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC),
distrito Mosqueiro. E-mail: geraldoneto53@hotmail.com
Musas filhas de Apolo
Tragam-me inspiração
Para narrar uma guerra
De nação contra nação
Derramando sobre mim 2
A luz da imaginação. (VIANA, 2006, p. 1)
3
Mosqueiro é um distrito pertencente a Belém, localizado cerca de 70 km da capital paraense.
os chamados “folhetos de acontecido”, aqueles que tratam de informar
sobre os “últimos acontecimentos” como “a melhor opção para os
professores de História”. (LACERDA; MENEZES NETO, 2010, p. 226). Maria
Ângela Grillo aponta que “inúmeros são os eventos do século XX contidos
nos folhetos que relatam o cotidiano da nossa História e nos quais são 4
4
Além do folheto de Klévison Viana, há outros folhetos sobre a Antiguidade, a exemplo de A Ilíada em
cordel, A Odisséia em cordel e A Eneida em cordel, todos do poeta Stélio Torquato Lima, da editora
Queima-Bucha, do Rio Grande do Norte. Além disso, o poeta Gonçalo Ferreira da Silva produziu várias
biografias em cordel de personagens da Antiguidade, como Homero, Anaximandro de Mileto,
Arquimedes, Hipócrates, Pitágoras e Sócrates. Esses folhetos podem ser consultados no site da Casa de
Ruy Barbosa:
<http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=CordelFCRB&pasta=Goncalo%20Ferreira%20da
%20Silva&pesq=>
5
No breve texto Releituras da Ilíada: a Guerra de Tróia em versos de cordel, destacamos algumas
particularidades do folheto de Klévisson Viana. No folheto, o poeta valoriza a personagem Helena, que
dá nome ao título, além da sua imagem aparecer na capa do folheto ao lado do cavalo de madeira. No
folheto de Viana, os deuses não aparecem na história, o poeta foca nas ações humanas. Desse modo,
Viana explica que a origem da guerra de Tróia deve-se ao rapto de Helena por Páris. Os personagens
citados por Viana são Helena, Menelau, Homero (narrou a Ilíada), Páris, Aquiles, Ulisses. O poeta não faz
referências, por exemplo, a Agamenon, Heitor, Briseida (escrava de Aquiles) e Pátroclo. Há que se
mencionar também que Aquiles é apresentado apenas na página 5. Depois não é mais citado, não sabe
o que aconteceu com ele. O poeta valoriza mais os personagens Ulisses e Menelau. Podemos supor que
a opção do poeta em não fazer referência aos deuses e ao limitar o número de personagens deve-se ao
número de páginas da história, que são 14. Soma-se a isso o fato de Viana não ter o objetivo de
contar toda a guerra nos seus detalhes, mas sim valorizar o rapto de uma mulher como originária de
uma guerra, e a força do amor para recuperá-la. Assim, a história termina com o amor entre Helena e
Menelau. (MENEZES NETO, 2015).
tradição, Homero é um aedo cego que viveu na Jônia no final do século IX
ou no século VIII. A Ilíada, que contém cerca de 15 mil versos, narra a
cólera de Aquiles, ocorrida no décimo ano da guerra de Tróia. (LEFÈVRE,
2013, p. 93). Segundo Pedro Paulo Funari, “as cidades citadas por Homero,
escavadas pela Arqueologia, existiram realmente, mas os detalhes 5
pela historiografia, antes que uma História dada, acabada, a ser decorada
pelo aluno”, além do “relacionamento entre a Antiguidade e o mundo
contemporâneo em que vivemos.” (FUNARI, 2012, pp. 98-99).
6
Norberto Luiz Guarinello cita, por exemplo, Jonathan Hall, que em estudo de 1997 aponta que “a
unidade cultural dos gregos não existiu desde sempre. A identidade dos gregos foi o resultado de um
lento processo histórico de comunicação e conflito entre comunidades que falavam línguas
semelhantes. Foi apenas aos poucos, e no confronto com outros povos, que se criaram os mitos e
formas religiosas que produziram sua diferença identitária. Essa identidade nunca foi perfeita e mudou
ao longo dos séculos.” (GUARINELLO, 2014, pp. 40-41).
cultura e a natureza, na História de povos do mundo em diferentes
tempos”: mitos de origem do mundo e do homem; a natureza nos mitos,
ritos e na religião; religiosidade, deuses zoomorfos, divindades femininas e
masculinas e valores sobre a vida e a morte. (BRASIL, 1998, p. 59).
Cabe ressaltar que os alunos já tinham um conhecimento prévio de 8
7
http://brazil.kaspersky.com/internet-security-center/threats/trojans
8
http://www.mundotecnoweb.com.br/tecnologia/350-cavalo-de-troia-entenda-o-que-e-o-virus-de-
origem-grega-que-ataca-sua-maquina.html
serão muito melhores se conseguirem estabelecer um duplo
compromisso: com o passado e o presente”. (PINSKY; PINSKY, 2012, p. 23).
Após a leitura oral, realizamos um questionário sobre a história do
folheto para estimular a interpretação do texto. Perguntas como: Explique
os motivos para a guerra entre gregos e troianos; Quem era Helena? Qual 11
Sites:
http://brazil.kaspersky.com/internet-security-center/threats/trojans
Acesso em 5 fev. 2016.
http://www.mundotecnoweb.com.br/tecnologia/350-cavalo-de-troia-
entenda-o-que-e-o-virus-de-origem-grega-que-ataca-sua-maquina.html
Acesso em 5 fev. 2016.
Bibliografia
ABREU, Márcia. História de cordéis e folhetos. Campinas, SP: Mercado de
Letras/Associação de Leitura do Brasil, 1999.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: história. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de história: fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2004.
BUXTON, Richard. “Religião e mito”. In: CARTLEDGE, Paul. (org.). História
ilustrada da Grécia Antiga. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
CARTLEDGE, Paul. “Introdução: A glória que foi a Grécia”. In: CARTLEDGE,
Paul. (org.). História ilustrada da Grécia Antiga. Rio de Janeiro: Ediouro,
2002.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2011.
__________________. “A renovação da História Antiga”. In: KARNAL,
Leandro. (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.
São Paulo: Contexto, 2012.
GRILLO, Maria Ângela de Faria. História em verso e reverso. Revista de
História da Biblioteca Nacional. Ano 2, n. 13, outubro de 2006. 16
Resumo: Este estudo pretende fazer uma reflexão ao longo do processo histórico
sobre o índio brasileiro inserido no sistema colonial implantado no Brasil Colônia do 1
século XVI. Nesse sentido, o referido estudo analisa a ação dos colonizadores e o
processo de catequização dos indígenas, procurando apresentar os processos de
interação e suas possíveis consequências na vida e na cultura dos povos ameríndios.
Para a realização desse estudo se recorrerá a diversos autores, como Filipe Moreau;
Darcy Ribeiro; Agostinho Marques; Gilberto Azanha; Virginia Valadão, além de outros
teóricos. Portanto, constatou-se que o principal objetivo da catequização indígena era
impor o mercantilismo e a fé cristã em detrimento a crença indígena procurando
estabelecer a dominação ideológica e, sobretudo, mercadológica.
Abstract: This study aims to reflect along the historical process of the Brazilian Indian
inserted into the colonial system implanted in colonial Brazil the sixteenth century. In
this sense, this study analyzes the action of the colonizers and the indoctrination
process of the natives, trying to present the interaction process and its possible
consequences in the life and culture of the Amerindian peoples. To carry out this study
makes use of several authors such as Philip Moreau; Darcy Ribeiro; Agostinho
Marques; Gilberto Azanha; Virginia Valadão, and other theorists. Therefore, it was
found that the main objective of indigenous indoctrination was to impose
mercantilism and the Christian faith to the detriment of indigenous belief seeking to
establish ideological domination and especially marketing.
1
Graduando do 8º período em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual de Alagoas –
UNEAL, Campus III – Palmeira dos Índios - AL. E-mail: marcondesrocha07@hotmail.com
careciam de muitas riquezas para serem sustentados. Dessa forma, os
monarcas se associaram aos comerciantes que estavam obtendo altos
lucros com os produtos vindos do Oriente, as chamadas “especiarias”,
produtos como pimenta, noz moscada, tabaco, seda, etc. Esse rentável
negócio estava exclusivamente ligado as cidades Italianas da república de 2
A ação missionária
antropofágicas:
Considerações finais 19
REFERÊNCIAS
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a el-rei D. Manoel (1 de maio de 1500). In:
INÁCIO, Inês Conceição; LUCA, Tânia Regina de (orgs.). Documentos do
Brasil Colonial. São Paulo: Ática, 1993.
NEVES, Luiz Felipe Baêta. O combate dos soldados de Cristo na terra dos
papagaios: colonialismo e repressão cultural. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1978.
VOGT, Carlos; LEMOS, J.A.G., (ogs.). Cronistas e viajantes. São Paulo, Abril
Educação, 1982.
PORTO DA FOLHA: UMA INVESTIGAÇÃO DESCRITIVA E
HISTÓRICO-GEOGRÁFICA1
Marquessuel Dantas de Souza 2
RESUMO
O presente texto apresenta de forma sucinta um estudo histórico-geográfico sobre
Porto da Folha-SE e sobre o sertão no baixo São Francisco em Sergipe. Busca apontar 1
alguns aspectos da época da colonização e do período imperial com o propósito em
mostrar a importância de Porto da Folha no contexto histórico e geográfico de Sergipe
d’El Rei e do Brasil. Ao traçar ou cruzar as informações de outrora com as mais recentes
o texto possibilita uma espécie de contribuição para a história de Sergipe, da sede do
município e para a região estudada. Investigar a historiografia e a geografia regional de
Porto da Folha-SE dando ênfase a conhecer a cultura do povo local buscando
compreender o significado do lugar estudado.
ABSTRACT
This paper briefly presents a historical-geographical study of Porto da Folha UP and the
backwoods down in San Francisco in Sergipe. Seeks to identify some aspects of the era
of colonization and imperial period in order to show the importance of Porto da Folha
in historical and geographical context of Sergipe d'el Rei and Brazil. To trace or cross
checking of yesteryear with the latest text provides a kind of contribution to the
history of Sergipe, the seat of the municipality and the region studied. Investigate the
historiography and the regional geography of Porto da Folha UP emphasizing know the
culture of the local people seeking to understand the meaning of the place studied.
1
Antes de iniciarmos é digno de nota esclarecer ao leitor que manteremos - durante todo o
texto - as inscrições originais do material coletado. Quer dizer, em virtude de algumas
bibliografias utilizadas como referência fundamental para a elaboração da presente
investigação ser bastante antigas, usaremos as inscrições originais a fim de enriquecer nossa
pesquisa. Bem entendido, muitos datam do século XIX e outros do início do século XX.
Portanto, apesar da grafia dos originais estar fora de uso, optamos por mantê-las sem
alterações.
2
Graduado em Geografia. Faculdade de São Paulo. São Paulo-SP
INTRODUÇÃO
Quem não conhece a sua história não pode amar
suficientemente a sua terra e o seu povo, porque só se
ama o que se conhece.
Eufrásio Moreira Feitosa,
2009.
2
11
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 29. Consta “que a sesmaria de Burgos que dá
origem ao morgado é de 29-11-1669” PRADO, Ivo do. A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias:
memórias sobre questões de limites (Congresso de Bello Horizonte). Rio de Janeiro: Papelaria
Brazil, 1919, p. 254. O que reforça nosso argumento da origem de Porto da Folha como região
no século dezessete.
por ser a Caantiga de épocas remotas muito densas – no qual em toda a
planície da várzea da Ilha do Ouro tais folhagens ficavam acumuladas por
certo período de tempo dando ideia de ‘porto das folhas’. Conforme o
volume de águas do São Francisco ser superior ao do rio Capivara, essas
folhas demoravam dias e até meses para deixarem todo o vale da várzea.
O que denota ser toda essa área um ‘porto das folhagens’ que ali
chegavam. Do mesmo modo o termo Porto da Folha pode se referir, por
7
assim dizer, ao ‘porto da Ilha do Ouro’ por onde era escoada toda a
produção da região, pois este era a principal via de acesso. Neste
contexto, percebe-se que a localidade Ilha do Ouro é mais antiga do que a
localidade da cidade de Porto da Folha. - A outra explicação é algo
desconhecido da população local. Para tanto, mencionemos para
compreendermos, juntamente com a proposição anterior, o significado do
vocábulo.
Acredita-se que a denominação do lugar não ocorreu
no momento de sua emancipação político-
administrativo, mas conservou o nome de extensa
região de terras banhadas pelo rio São Francisco
desde as primeiras explorações de suas margens, do
lado de Sergipe, resgatando informações de toponímia
de mapas antigos12.
Figura 02. Antiga carta de Sergipe d’El Rei, s/d e 1807, respectivamente.
Fonte: Prado, 1919.
12
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 156.
13
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Idem, p. 30, grifo do autor.
razão disso observa-se que sua origem é remota e “o nome Porto da Folha
existe desde o começo da expansão territorial de sua região” 14, de modo
que se preservou. Conforme Souza (1944), na Vila Nova 15 achavam-se
riquezas do reino mineral, além de ouro. “Os lugares indicados consoantes
a cartografia acima citada, na época, pertenciam a esta vila. Assim, é
possível observar que o nome Ilha do Ouro tenha se originado por ter sido
apontada a existência de ouro em sua direção”16. Haja visto que “na
8
Capivara se achou – uma folheta de ouro que tinha 06 oitavas” 17. Com
efeito, “é possível observar que parte do nome da cidade tem relação com
a expressão folheta de ouro”18.
O termo Porto da Folha, bem como a expressão do território em si e
da região de mesmo nome é muito antigo como já fora apontado
anteriormente. Remonta ao século XVII, pois que “em 1623 já existia a
povoação de Porto da Folha”19. Por sua vez, a povoação da sede onde se
localiza a cidade remonta ao século XVIII. O vocábulo Porto da Folha
aparece oficialmente pela primeira vez representada numa carta
cartográfica elaborada em 1807 (conforme imagem acima – figura 02),
cuja mesma é uma reprodução da carta cartográfica de 1643 de Georg
Marcgraf, que, por sua vez, é o primeiro mapa de Sergipe. - A referida
carta de 1643 aponta como já existente o Curral de Pedras, ou seja,
Gararu-SE. Muito embora, o nome Porto da Folha não apareça nesta
representação, é possível identificar um fenômeno ou acidente geográfico
natural que aponta e fundamenta o nosso argumento de que a sede do
município em séculos passados já fora banhada pelo São Francisco. Isto
quer dizer que desde o século XVII já havia habitações familiares ou,
povoações na região onde hoje se encontra a cidade de Porto da Folha.
14
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Idem, p. 33.
15
Vila Nova (atual Neópolis), grande extensão de terras que se estendia desde a foz do São
Francisco ao rio Xingó. Nestas terras se localizavam várias povoações margeando o São
Francisco entre elas Ilha do Ouro, isto por volta do século XVII.
16
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Idem, p. 30.
17
SOUZA, Marcos Antonio de. Memoria sobre a Capitania de Serzipe: sua fundação,
população, productos e melhoramentos de que é capaz (1808). 2ª ed. Aracajú: Departamento
Estadual de Estatística, 1944, p. 41.
18
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 30, grifo do autor.
19
OLIVEIRA TELLES, Manoel dos Passos de. Limites de Sergipe (contra o 1º volume da
compilação do Dr. Braz do amaral, intitula Limites do Estado da Bahia). Aracaju: Imprensa
Oficial, 1919, pp. 44-45. Grifo do autor conforme o original. Devemos lembrar que este fato é
bastante duvidoso, porém, lúcido e emblemático para a nossa pesquisa de investigação.
Para tanto, Curral de Pedras (Gararu) e Ilha do Ouro constituíram-se
povoações antes mesmo da fundação da cidade.
20
MENEZES, Catarina Agudo. Alagoas de Marcgraf. 17p. In: I Simpósio Brasileiro de Cartografia
Histórica. Passado presente nos velhos mapas. CRCH/UFMG. Paraty: 2011, pp. 02-03.
21
“Este mapa se apresenta sob duas formas, a partir de quatro gravuras individuais que
consistem nos mapas propriamente ditos, utilizados por Gaspar Barléus, representando as
capitanias conquistadas; e como mapa mural, editado por Joan Blaeu, em 1647, confeccionado
a partir da sobreposição e colagem de onzes folhas e do acréscimo de textos em francês, latim
e holandês, e que recebe o título de Brasilia qua parte paret Beilgis” MENEZES, Catarina
Agudo. Alagoas de Marcgraf. 17p. In: I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica. Passado
presente nos velhos mapas. CRCH/UFMG. Paraty: 2011, p. 08. Esta obra abrange as capitanias
de Sergipe (Ciriii), Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande. Além de informar em
detalhes sobre acidentes geográficos, povoamentos, caminhos, engenhos entre outras coisas.
10
a b
Figura 04. Praefectura de Cirîlî, vel Seregippe del Rey cum Itàpuáma,
adaptação de Barléu, 1647. Fonte: Miceli, 2011. A imagem A é uma
adaptação da imagem da figura 03. A imagem B representa o círculo em
vermelho que está presente na imagem A, cuja seta indica que o círculo é
a imagem B.
Através desta gravura observa-se o primeiro mapa da capitania de Sergipe d’El Rei
representado na parte superior esquerda.
22
Georg Marcgraf, ou George Marcgrave chegou ao Brasil em 1638, “inicialmente como
auxiliar do naturalista Guilherme Piso, que veio a pedido de Nassau. Em 1644 partiu do Brasil
para Angola e lá faleceu precocemente, neste mesmo ano, vítima de uma febre tropical” HUIB
ZUIDERVAART apud in MENEZES, Catarina Agudo. Op. Cit., pp. 09-10.
23
FREIRE, Felisbelo Frmino de Oliveira. História de Sergipe (1575-1855). Rio de Janeiro:
Typographia Perseverança, 1891, p. 91.
24
BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil
(1647): o Brasil holandês sobre o Conde João Maurício de Nassau. (Tradução e anotações de
Cláudio Brandão) Rio de Janeiro: Ministério da Educação, 1940, p. 225.
por Cirigí”25, era uma porção de terras valiosas para o domínio holandês
avançar sobre a Bahia de Todos os Santos. Com efeito, a anexação de
Sergipe d’El Rei ao domínio holandês 26 ocorreu em 26 de Fevereiro de
1640, segundo Barléu. As imagens neste contexto falam por si.
11
Figura 05. Porto da Folha e o Rio São Francisco. Esta imagem de satélite
recente nos mostra perfeitamente a confluência representada no mapa
cartográfico de 1643, no qual aparece o rio da Porteira (seta central
superior), a Ilha dos Prazeres com a denominação de Ilha do Ouro e o rio
Ipanema, conforme a imagem B da figura 04. Fonte: Google Earth, 2008.
Acesso em 15 de setembro de 2013.
25
NIEUHOF, Joan. Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil (1682). (Trad. Moacir N.
Vasconcelos; confronto com a edição holandesa de 1682, introdução, notas, crítica
bibliográfica e bibliografia por José Honório Rodrigues) São Paulo: Livraria Martins, 1942, p. 14.
- Joan Nieuhof viveu nas terras do Brasil (Nordeste) de 1640 a 1649, quando o mesmo fora
enviado para acompanhar a colonização holandesa das Índias Ocidentais. Diante disso,
Nieuhof registrou minuciosamente aquilo que o mesmo presenciou durante o período que se
encontrava nas novas terras sob o domínio holandês.
25
Recordemos que devido à invasão holandesa em terras sergipanas, em particular nas
povoações às margens do São Francisco, o povo de Porto da Folha possui algo em particular.
Muitas pessoas apresentam aspectos de polaco, holandês, sendo assim chamados de ‘Galegos
de Porto da Folha’.
26
Recordemos que devido à invasão holandesa em terras sergipanas, em particular nas
povoações às margens do São Francisco, o povo de Porto da Folha possui algo em particular.
Muitas pessoas apresentam aspectos de polaco, holandês, sendo assim chamados de ‘Galegos
de Porto da Folha’.
quidem vulgo in quatuordecim. Quarum prima versus
Boream est Para, sequuntur dehinc ordine
Maranhaon, Ciara, Potiyi ve, Rio Grande, Paraiba,
Itamaraca, Pernambuco, Quirimure vel Bahia de Todos
los Santos, cujus metropolis S. Salvador, Nhoecombe
vel Ilheos; Pacatâ, vel Porto Seguro; Espiritu Santo;
Nheteroya, vel Rio de Jeneiro, quem Ganabara vulgo
12
vocant Brasilienses; & S. Vincente 27.
27
MARCGRAVI, Georgi. Historiae Rerum Naturalium Brasiliae (liber octavus). In: GUILIELMI
PISONIS, M. D.; LAET, Ioannes de; MARCGRAVI, Georgi (de Liebstad). Historia Naturalis
Brasiliae: auspicio et beneficio illustriss. I. Mauriti Com. Nassau illius provinciae et maris summi
praefecti adornata – in qua non tantum plantae et animália, sed et indigenarum morbi, ingenia
et mores describuntur et iconibus supra quingentas illustratur. Lugdun. Batavorum, apud
Franciscus Hackium et Amstelodami apud Lud. Amsterdam: Elzevirium,1648, p. 261. Grifos do
autor conforme o original. “O BRASIL dentro dêstes limites está dividido em três Prefeituras
determinadas (Capitanias chamam vulgarmente os Lusitanos) e na verdade em número de
quatorze. Das quais a primeira na direção Boreal é Para, seguem depois em ordem Maranhão,
Ceará, Potiyi ou Rio Grande, Paraíba, Itamaracá, Pernambuco, Quirimure ou Baía de Todos os
Santos, cuja capital S. Salvador, Nhoecombe ou Ilhéos; Pacatâ, ou Pôrto Seguro; Espirito Santo;
Niterói ou Rio de Jeneiro que os brasileiros vulgarmente chamavam Guanabara; e S. Vicente”
MARCGRAVE, Jorge. História Natural do Brasil (Oito livros). (Tradução de José Procopio de
Magalhães) São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1942, p. 261.
28
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 34.
29
Tanto na carta de Marcgraf de 1643 quanto nas cartas de Sergipe d’El Rei de 1807, *1809+
identifica-se o rio da Porteira. Na figura 04 B, a seta central indica o local do rio da Porteira (ver
imagem acima). O mesmo rio aparece com denominação de Ilha do Ouro em cartas
posteriores. Por sua vez, o rio com o nome Capivara não aparece em nenhuma carta. Acredita-
se, segundo a tradição oral portofolhense, que a denominação Capivara é devido ao fato de
haverem muitas capivaras nas imediações do referido rio. Isto, principalmente nas
proximidades da várzea da Ilha do Ouro. – A imagem B da figura 04 nos faz ver que o rio da
Porteira por ser um braço do Rio São Francisco - formando ao fundo um lago -, é possível
Sergipe (meados do século XVI). Ao mesmo tempo em
que a segunda denominação fluvial destacada
aparece, também se observava o nome da Ilha do
Ouro, atual povoado, o que pode apontar a origem da
Fazenda30 com essa denominação31.
inferir que: quando da fundação do povoamento de Porto da Folha ou Buraco, este, situava-se
às margens do grande Rio. Discussão que será vista doravante.
30
É curioso observarmos que a casa sede da Fazenda “ainda encontra-se erguida no povoado
Ilha do Ouro. Entretanto, sua estrutura não aparenta ter a duração que, cosoante à pesquisa,
pode ultrapassar os quatrocentos anos (isso, levando em consideração o início da exploração
do São Francisco)” SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 31.
31
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 29.
32
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 48.
33
SOUZA, Maria de Lourdes Lima. Informação verbal concedida em entrevista a Marquessuel
Dantas de Souza. Porto da Folha-SE, Julho de 2013.
ilha cortada pelas águas do São Francisco em todas as suas vertentes. Não
raro, isto é apontado de forma sucinta por Santos (2008). Segundo Pereira
(s/d, p. 82), “em 1863” fora construída a capela da Ilha do Ouro cuja
mesma denominaram Nossa Senhora da Conceição. Não obstante, “em
1745, Ilha do Ouro estava entre as 13 fazendas do sertão do São
Francisco”34. Sendo assim, isto demonstra a importância desta localidade
dentro do cenário regional. Principalmente para o comércio da época em
14
questão.
Como dito anteriormente, a partir do século vinte o rio São Francisco
começou a recuar e, por assim dizer, a distanciar suas águas do lugar onde
hoje se encontra a sede municipal. E isto se processou acentuadamente
conforme nos ilustra o seguinte relato.
Até meados do século XX, a sede municipal era
caracterizada como margem do rio São Francisco por
causa das cheias naturais sobre a grande extensão de
planície fluvial que se estende desde a beira desse rio
até atingir o local através do riacho Capivara em que
se formava um só35. A pequena cidade que ficava
banhada pelas águas do São Francisco em razão dos
grandes volumes da cíclica inundação sobre a extensa
planície fluvial, hoje em dia fica a cerca de 6 km
distante do espelho d’água são-franciscano devido à
extinção do ciclo de cheias desse rio36.
Mesmo assim, deve-se considerar que “até final do século XX, por
causa dos grandes volumes das cheias do Velho Chico, a zona urbana
ficava caracterizada à margem deste rio” 37. Posto que,
Todos os finais de ano, impreterivelmente a partir de
dezembro, devido às chuvas de verão em Minas
Gerais, o rio se agigantava e transbordava para os rios
temporários e lagoas, em todo o percurso do Baixo
são Francisco [...]. Da Ilha do Ouro à cidade de Porto
da Folha formava-se um lago só. O espelho d’água do
34
PEREIRA, Antônio Carlos. Porto da Folha - Terra de Buraqueiros: esboço histórico do
município. [Porto da Folha]: Edição do Autor, s/d, p. 83.
35
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 36.
36
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., pp. 26-27.
37
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 39.
enorme lago era como que a unificação da Várzea da
Ilha do Ouro com a Lagoa Comprida, o Estreito, a
Lagoa de Beber, os Carretéis, a Restinga e a Lagoa
Salgada. Às vezes, até as várzeas do Poço Fundo, do
Brocotó e das proximidades do cemitério novo
ficavam inundadas. O volume d’água era tal, que as
cercas ficavam submersas e até as canoas de tolda
15
ancoravam em Porto da Folha, no porto das Pedras.
Quando o porto das Pedras ficava submerso, o local
de embarque e desembarque se mudava para o Pé da
Ladeira e Lagoa Salgada 38.
38
SOUZA, Manoel Alves de. Porto da Folha: fragmentos da história e esboços biográficos.
Aracaju/Porto da Folha: Edição do autor, 2009, p. 277. (Coleção Lindolfo Alves de Souza)
Por sua vez, o Rio São Francisco em meados do século XX
apresentou-se cada vez mais escasso quando das grandes cheias, que
logo, o povo ribeirinho passou a perceber que o Mar do Sertão estava
secando. Deveras, “em Porto da Folha a última grande cheia do rio São
Francisco ocorreu em 1992, quando as embarcações da Ilha do Ouro
aportaram no pé da Ladeira, transportando seus moradores para realizar a
feira da cidade, entre outras coisas”39.
16
Aliado ao incremento dos transportes rodoviários na
Região sertaneja, outros fatores contribuíram para a
extinção da navegação fluvial no São Francisco: a
morte de muitas nascentes e o rápido assoreamento
do rio, por conta dos desmatamentos; a sucessiva
construção de barragens no rio, desde a Bahia, para a
produção de energia elétrica; e o rápido controle da
vazão do rio pela CHESF. A soma desses fatores, além
de tornar inviável a navegação, extinguiu a produção
de arroz e reduziu a piscosidade do rio,
comprometendo assim as condições de vida da
população.
O caudaloso e pujante São Francisco de antes foi se
transformando num rio enfermo, como se pode
comprovar pela sua baixa profundidade e pelas
inúmeras coroas de areia que surgem ao longo do
leito, repletas de vegetação. Como as cheias das
lagoas passaram a ocorrer muito esporadicamente, as
valorizadas lagoas de arroz de antes perderam o valor,
e as consequências foram danosas para a
sobrevivência da população ribeirinha e para a
economia da Região 40.
39
A referida Ladeira é a que dá início a Rodovia Porto da Folha/Ilha do Ouro. Informações estas
das recordações de infância do autor do texto quando na época contava 06 anos de idade.
40
SOUZA, Manoel Alves de. Op. Cit., p. 280.
cidade hoje é banhada em três vertentes apenas pelo rio Capivara que a
contorna e segue seu curso até sua foz no São Francisco. As imagens
seguintes mostram as curvas deste rio em torno da cidade e na várzea da
Ilha do Ouro ao encontro da foz no São Francisco.
17
“De forma diferente das demais, Porto da Folha não foi localizada nas
margens do rio São Francisco, mas na margem do rio Capivara, a uns
quatro ou cinco quilômetros do São Francisco, o que naquele tempo não
era comum, talvez a primeira naquelas condições” 43. A cidade de “Porto
da Folha teve sua origem no serrote Restinga” 44, berço de seu
povoamento, que, por sua vez fica há poucos metros do rio Capivara.
41
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 45.
42
MENEZES, Catarina Agudo. Op. Cit., p. 02.
43
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Histórias e Memórias: Porto da Folha e sua gente. Porto da
Folha: Edição do Autor, 2009, p. 15.
44
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., p. 17.
19
Figura 10. Porto da Folha e seu revelo. Fonte: Google Earth, 2008. Acesso
em 15 de setembro de 2013.
Nesta imagem é possível identificarmos todos os caminhos que fez Porto
da Folha surgir como povoamento. Algo que se consolida em todo o texto,
porém, para tal compreensão é necessário considerar todas as partes do
mesmo formando um todo. – Observe-se a topografia, principalmente no
que diz respeito à várzea (vale) da Ilha do Ouro e extensa faixa do elevado
relevo da serra da Lagoa Comprida (extensão aproximada de 18 km e
200m de altitude acima do nível do mar, no ponto mais alto). Este
acidente geográfico - serra da Lagoa Comprida - se estende desde Porto
da Folha ultrapassando a fronteira limítrofe com o município de Gararu.
20
Leonor Rodrigues Fraga” FEITOSA, Eufrásio Moreira. Inventários dos Primeiros Habitantes de
Porto da Folha-SE. [Porto da Folha]: Edição do Autor, s/d. a, p. 12. Com efeito, Leonor
Rodrigues Fraga era filho do casal Francisco Cardoso de Souza e Isabel de Barros Lima. No
acervo dos arquivos dos inventariados consta que “no dia 13/12/1753, deu entrada no cartório
de justiça o inventário de Francisco Cardoso de Souza” FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., s/d.
a, p. 10.
46
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., 2009, p. 56.
imagem da figura 11 nos mostra perfeitamente (em verde ao longo do rio)
toda a vasta extensão que esta freguesia (Vila Nova) ocupava, desde a foz
do São Francisco (leste) ao rio Xingó ou rio do Sal (oeste). Do mesmo
modo, Porto da Folha já pertenceu à Propriá. Pois que “em 18 de outubro
de 1718”, a Vila de Santo Antônio do Urubú de Baixo (Propriá) “foi
desmenbrada da Villa Nova” 47. Esta freguesia (Propriá) se estendia até o
riacho Xingó ou rio do Sal, onde se encontrava o morgado de Antonio
21
Gomes Ferrão Castelo Branco. Morgado de Porto da Folha. A partir de
1821 “a freguesia de Santo Antônio foi desfalcada da maior parte de sua
área territorial com a criação da freguesia de São Pedro do Porto da Folha,
com sede na Ilha de São Pedro” 48. Cujo território dessa freguesia
compreendia o morgado de Porto da Folha com 30 léguas de extensão
desde “a Serra da Tabanga, cuja baze he banhada pelo Rio de S. Francisco,
com o qual se prolonga” 49 até o rio xingó ou rio do Sal. Entementes, toda
esta área de trinta léguas fazia fronteira com o território da Bahia, o que
causou muitos conflitos entre o posseiros destas terras.
47
SOUZA, Marcos Antonio de. Op. Cit., p. 42.
48
FERREIRA, Jurandyr Pires. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (Sergipe e Alagoas) vol.
XIX. Rio de Janeiro: IBGE, 1959, p. 412.
49
CASAL, Manuel Ayres de. A Província de Sergipe d’El Rei. In: Corografia Brazilica ou Relação
historico-geografica do Reino do Brazil. Tomo II. Rio de Janeiro: Na Impressão Regia, 1817, p.
142, grifo do autor. A Serra da Tabanga está localizada nas imediações onde hoje é o município
de Nossa Senhora de Lourdes-SE.
O tombamento judicial do morgado de ou do Porto da Folha ocorreu
em 1745, “em cujos autos declarou-se que o morgado segue ao poente
pelo riacho grande do Xingó até suas cabeceiras, dividindo com as terras
da Bahia”50. Este assunto foi defendido/pronunciado por Coelho e Campos
em 1882 quando o mesmo falava dos limites territoriais entre Sergipe e
Bahia. Com efeito, “todos reconhecem que no oeste existem dois pontos
fóra de duvida [...] que são as vertentes do rio Real ao sudoeste, e o rio
22
Xingó até suas cabeceiras ao norte...” 51. A extensão e limites das terras do
morgado segundo o tombamento feito em “20 de dezembro de 1745” 52,
nos deixa uma ideia abrangente da importância da região quando da
divisão territorial entre Sergipe e Bahia. Entrementes, “a descrição do
vigário de Geremoabo, Januario José de Souza, em 1736” 53 declarando
que Jeremoabo se divide ao norte pelo sertão deserto com a freguesia do
Urubu de Baixo “até as primeiras fazendas do Porto da Folha do coronel
Alexandre Gomes Ferrão”54, nos faz ver que as terras orientais da antiga
freguesia de Jeremoabo e as terras ocidentais de Porto da Folha eram
questão de disputa diplomática entre os governos da Bahia e de Sergipe.
Ora, por Porto da Folha conhecia-se então a vasta
região que vai desde a serra da Tabanga em frente a
Traipu, até os confins do Município no sertão, na
distância de 30 léguas, primitivamente pertencente ao
50
LIMA JUNIOR, Carvalho. Limites entre Sergipe e Bahia (estudo histórico). In: Revista do
Instituto Histórico e Geographico de Sergipe. Aracaju, anno II, fascículo I, vol, II, pp. 09-48,
1914, p. 39.
51
OLIVEIRA CAMPOS, José de e VIANNA, Francisco Vicente. Estudo sobre a origem historica dos
limites entre Sergipe e Bahia. Salvador: Typographia do Diario da Bahia, 189, p. 10. É notório
citar a fala do Dr. Coelho e Campos: “é outro facto o do tombamento judicial do morgado do
Porto da Folha pelo ouvidor de Sergipe em 1745, a requerimento de seu terceiro
administrador, neto do instituidor do vinculo em terras que lhe foram dadas em sesmaria...”
COELHO E CAMPOS, José Luis. Sobre os limites entre a Bahia e Sergipe. In: CARVALHO, João de
Mattos. Sergipe e Bahia: questão de limites (ANEXOS). Aracaju: Empreza d’O Estado de
Sergipe, 1905, p. 12. - “Dr. José Luis Coelho e Campos – Discurso proferido como Deputado na
Assembléa Geral Legislativa em 14 de agosto de 1882, defendendo o seu projecto de Limites
com a Bahia” LIMA JUNIOR, Francisco A. de Carvalho. História dos limites entre Sergipe e Bahia
(estudo de litígio interestadual). Aracajú: Imprensa Oficial, 1918, pp. 663-664.
52
DANTAS, Beatriz Góis e DALLARI, Dalmo de Abreu. Op. Cit., p. 48.
53
LIMA JUNIOR, Francisco A. de Carvalho. Op. Cit., p. 37.
54
LIMA JUNIOR, Francisco A. de Carvalho. Idem e ibidem, grifo do autor.
termo e município de Villa-Nova, e depois de Propriá
(freguesia do Urubú de Baixo), de 1802 em diante 55.
Não obstante, “em novembro de 1807, o fidalgo Dr. Antonio Gomes
Ferrão Castelo Branco56, registrou os seus títulos imobiliários na câmara
de Propriá declarando ser de 30 léguas a extensão de suas terras” 57. Essas
terras partiam das imediações da serra da Tabanga até o rio Xingó, ou rio
do Sal como também era conhecido o limite territorial oeste. 23
Para Prado (1919, pp. 253-254, grifo do autor):
Isto ainda, em 1808. Ora, é sabido, todos conhecem, é
notório que o patrimônio de família, chamado Porto
da Folha, comprehendia as terras do município que
55
LIMA JUNIOR, Francisco A. de Carvalho. Idem, p. 81.
56
Nesta nota mencionemos cronologicamente a família Gomes que instituiu o morgado de
Porto da Folha.
“PEDRO GOMES. Alferes e Capitão em Sergipe del Rei, fundador do morgado de Porto da
Folha. Natural de Setúbal, passou ao Brasil em 1625, na armada de D. Fradique de Toledo.
Lutou bravamente na guerra contra os holandeses. Embarcou na frota do Conde da Torre e
retirou, com Luiz Barbalho, do porto de Touros do Rio Real, ajudando a desalojar os
holandeses do Rio S. Francisco. Foi governador interino da Capitania do Rio de Janeiro,
professor da Ordem de Cristo. Em 1683 é denunciado à inquisição pela prática do nefando
pecado de sodomia, sendo um de seus parceiros, um escravo de Luiz Gomes, espancado até à
morte em castigo por tal “crime”. Morreu em 1692” MOTT, Luiz R. B. A presença de Sergipe
Del Rei no Catálogo Genealógico das principais famílias, de Frei Joaboatão e Pedro Calmon. In:
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, nº 33, pp. 47-61, 2002, p. 55.
“ALEXANDRE GOMES FERRÃO CASTELO BRANCO. Morgado do Porto da Folha, neto do Capitão
Pedro Gomes, fidalgo da casa real, Coronel de Ordenanças dos distritos de Tabanga para cima,
preso em Sergipe em 1720 por ordem do Governador” MOTT, Luiz R. B. op. Cit., pp. 58-59.
“ANTÔNIO GOMES FERRÃO CASTELO BRANCO. Morgado do Porto da Folha, fidalgo cavaleiro
da Casa Real, Tenente Alcaide da Bahia, morou na vila de Penedo no fim da vida. Era natural da
freguesia de Bom Sucesso e Almas do rio S. Francisco, nascido em 1727. Seu filho Pedro Gomes
Ferrão Castelo Branco, nascido em 1763, o sucedeu no morgado a partir de 1794” MOTT, Luiz
R. B. op. Cit., p. 59.
PEDRO GOMES FERRÃO CASTELO BRANCO. “... nascido a 25 de novembro de 1763 *...+. Fidalgo
da Casa Real [...]. morgado do porto da Folha, em Penedo [...]. Faleceu a 09 de dezembro de
1814” CALMON, Pedro. Introdução e notas ao catálogo genealógico das principais famílias, de
Frei António de Santa Maria Jaboatão. Volume II. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1985,
pp. 573-574.
Em sua passagem de expedição pelo rio S. Francisco Vieira de Carvalho e Silva também deixou
sua impressão sobre esta família e o lugar. Em suas palavras: “o Sitio Porto da Folha que
principia o - morgado - pertencente a D. Maria Joaquina Gomes Castello Branco, mãi do Exm.
Barão da Cajaiba” (CARVALHO E SILVA, 1859, p. 248).
57
LIMA JUNIOR apud in PEREIRA, Antônio Carlos. Porto da Folha - Terra de Buraqueiros: esboço
histórico do município. [Porto da Folha]: Edição do Autor, s/d., p. 16.
hoje tem o mesmo nome e também partes de Curral
dos Bois, Massacará e Geremoabo, terminando, muito
acima do salto de Paulo Affonso, na margem do S.
Francisco.
64
FERREIRA, Jurandyr Pires. Op. Cit., p. 310.
65
FERREIRA, Jurandyr Pires. Idem e ibidem.
66
Neste trecho o autor fala da existência de haverem duas povoações com o mesmo nome.
Para ele um equívoco. Porto da Folha ou Traipu em Alagoas e Porto da Folha em Sergipe. No
exato momento em que o autor cita a passagem... “nesta Província”, o mesmo refere-se à
Província de Alagoas. – No mapa de Halfeld de 1860, Traipú aparece sob a denominação de
Villa do Traipú ou do Porto da Folha.
67
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Viagem às Caxoeiras de Paulo Affonso. In:
Revista trimestral do Instituto Historico, Geographico e Ethonografico do Brasil. Tomo XXII. Rio
de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. N. Garcia, 1859. pp. 201-301, p. 247.
A população da villa do Curral de Pedras é calculada
em cerca de 2.000 almas. Provêm o seu nome de
serem os curraes cercados de pedras, e não com
madeiras ou estacas. Sobre a rocha crescem os caruás
e caruatás, de que se extrahe um fio fortíssimo, com o
qual se prepara a melhor corda que existe entre nós.
Apresentão d'ahi por diante as ribanceiras do rio
27
cercas de pedras, banheiros naturaes, pequenas
furnas formadas pelos rochedos. Bandos de patos
banhando-se nos remansos, enxames de pombas
fendendo os ares, e sumindo-se além dos montes
ferruginosos, communicão a este sitio o mais aprazível
aspecto68.
Em 17 de outubro de 1859 o imperador do Brasil Dom Pedro II em
seu périplo pelo rio São Francisco também deixou sua impressão sobre
este lugar. Em suas palavras:
Às 10 ½ fui ao Curral de Pedra, vila de recente criação,
voltando às 11. É povoação muito pequena com
capela decente, muitos cactos de folha oblonga e de
arestas, e alguns de espalmadas, sendo o terreno de
pedra lameliforme xistosa [...].
A sede da freguesia está a 5 léguas, pelo rio, e mais 1
para o interior69.
68
SOUZA, Bernardo Xavier Pinto de. Assinada com as iniciais P. de S. (pseud.). Memorias da
viagem de Suas Magestades Imperiaes à provincia da Bahia. Tomo I. Rio de Janeiro:
Typographia Industria Nacional de Cotrim & Campos, 1867. p. 63-104, p. 81, grifos do autor.
69
PEDRO II, Dom. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe e Alagoas – 1859 (Diário). (Prefácio e
notas Lourenço Luiz Lacombe; Apresentação Renato Lemos) 2º ed. Rio de Janeiro: Bom
Texto/Letras & Expresões, 2003, pp. 120-121. Esta última descrição se refere à Vila de Porto da
Folha-SE.
Porto da Folha: terra de buraqueiro
Tradicionalmente o povo de Porto da Folha é chamado de
buraqueiro. No entanto, perguntemos: qual o motivo deste termo para
quem é natural desta cidade? Bem entendido, isto se direciona para
aqueles que nascem na sede do município. Curiosamente denota-se que o
nome “curral do Buraco se relaciona à topografia do acidentado relevo,
pois a área em que era localizado 70 se encontra cercado por íngremes 28
serras e colinas com ondulações desde pouco intensas até de difícil
acesso”71. Em realidade, na cidade observa-se que o planalto onde a
mesma está situada é, por assim dizer, cercado por serras. O que nos dá
uma ideia de buraco, muito embora a cidade atualmente não esteja
localizada sobre um vale e sim sobre um planalto. Em todo caso, esta
posição da cidade, considerando as serras em volta, nos fornece uma
impressão de que a cidade fica mesmo em um buraco. Do mesmo modo,
faz com que a mesma mantenha uma temperatura média de 26 ºC
durante todo ano. O que caracteriza ser Porto da Folha uma cidade muito
quente, principalmente na época de verão.
Para o Sr. Eufrásio Moreira Feitosa (2009), há outra versão para
entendermos o porquê da denominação Curral do Buraco. Haja visto,
Porto da Folha assim já fora conhecida.
Na verdade, o Curral do Buraco era uma fazenda que
pertenceu a Isabel de Barros (Moça), a filha mais nova
ou neta do casal Francisco Cardoso e Isabel de Barros.
Moça casou com Dionísio Eleotério de Sá (Diniz Loreto
de Sá), que veio de Itabaiana. Sendo ele um homem
muito caprichoso e arredio [...], não quis estabelecer-
se na margem da vale [...], indo se estabelecer a uns
quatro quilômetros no seio da floresta. Como fazia
parte da cultura da época chamarem buraco a
estabelecimentos desse tipo, situado em plena mata,
onde se abria uma clareira que visto de cima dava a
ideia de buraco, e este possuindo um bom e valioso
curral, mesmo que não tivesse um grande rebanho,
70
Quando o autor cita “era localizado”, na verdade o mesmo se refere ao local onde o curral se
situava, pois que hoje em dia não mais existe.
71
SANTOS, Regnaldo Gouveia dos. Op. Cit., p. 33.
passaram a chamar a propriedade de Curral do
Buraco72.
O nome BURACO, como aqui empregado, deriva-se da
cultura portuguesa da época. Os portugueses
costumavam chamar assim todo estabelecimento
fundado no seio da mata inóspita, longe do rio ou do
mar. Era um buraco na floresta...73.
29
75
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Idem e ibidem.
76
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., pp. 135-136.
a b c
Figura 12. Praça da Matriz em Porto da Folha, respectivamente em 1941,
1959 e 2008. Fonte: Imagem a, arquivo pessoal de Pedro Souza. Imagem 31
b, Jurandyr P. Ferreira. Imagem c, arquivo pessoal de Alexsandro Dantas
de Souza.
“Tempos depois extinguiram esse cemitério da avenida, mas
conservaram e melhoraram a igrejinha” 77 ou capela, que passou por
reformas e hoje é a Igreja Matriz da cidade. - A primeira reforma data de
1861, quando a Igreja foi ampliada e construíram o coro e a fachada; a
segunda em 1875; a terceira de 1878 a 1888, logo após de 1888 a 1889,
quando foram feitos pequenos reparos de manutenção. “Estando a vila de
Porto da Folha, em 1889, prestes a ser promovida a cidade [...], foi
construída, então, a parte lateral norte, paralela à nave central, e o
campanário (a torre dos sinos)” 78. Quase três décadas depois, em 1918, foi
feita outra grande reforma. No qual fora “construída a sacristia, a
abóboda, a ala lateral Sul e a base da segunda torre” 79. Em 1932 efetuou-
se outra grande reforma com a construção da segunda torre. Quase uma
década depois, foram construídas as platibandas norte e sul. Por
conseguinte, no início da década de 1970 houve a última grande reforma
quando “foi substituído o forro de madeira por forro de concreto” 80;
demolido o altar-mor e feito a exuberante pintura na parede do fundo do
altar, cuja mesma retrata de forma sucinta a vida do povo portofolhense.
77
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., p. 48.
78
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., p. 136.
79
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., p. 137.
80
FEITOSA, Eufrásio Moreira. Op. Cit., p. 138.
32
Figura 13. Representação do desenvolvimento cultural da comunidade
portofolhense estampada na parede do altar da Igreja Nossa Senhora da
Conceição, Porto da Folha-SE. Fonte: arquivo pessoal de Alexsandro
Dantas de Souza, 2008.
81
As referidas informações deste último parágrafo foram gentilmente cedidas por Antônio
Dantas de Souza em entrevista a Marquessuel Dantas de Souza. Porto da Folha-SE, Julho de
2013.
82
FREIRE, Felisbelo Frmino de Oliveira. Op. Cit., p. 179, grifo do autor.
83
FREIRE, Felisbelo Frmino de Oliveira. Idem e ibidem.
caracterizou-se inegavelmente como ponte para a formação do que é hoje
a cidade de Porto da Folha. A seguir, por meio de uma sucinta análise
histórico-geográfica, assim acreditamos, iremos discorrer sobre a origem e
a importância deste lugar para o surgimento da cidade sede do maior
festival de gibão do sertão de Sergipe (Festa dos vaqueiros de Porto da
Folha-SE). Tida como a Rainha da Vaquejada. E mais, “convém ressaltar
que essa festa é o maior evento dos vaqueiros do estado de Sergipe” 84.
34
Como já defendido, o termo Ilha do Ouro surge pela primeira vez em
uma representação cartográfica datada de 1643 (vide imagem b da figura
04)85. Com efeito, é possível que a região já fosse conhecida desde bem
antes, quando do descobrimento da foz do rio São Francisco que, a partir
de então passaram a explorar suas margens principalmente na faixa que
vai da embocadura às cachoeiras rio acima (trecho navegável nesta parte
do território das novas terras portuguesas - contextualizando). O baixo
São Francisco desde tempos remotos vem sendo explorado, daí o
surgimento, por exemplo, da povoação de Penedo no século XVI, da
povoação de Vila Nova (Neópolis) e Urubú de Baixo (Propriá) ambas no
século XVII.
- Um marco da região da várzea da Ilha do Ouro, assim como de
Curral de Pedras (Gararu) é a cerca de pedra, a que os mais antigos
chamavam de cerca de pedras secas e no qual “as tradições attribuem
este feito à invasão Hollandeza” 86. Nesses termos, acredita-se que Ilha do
Ouro como povoação exista desde a primeira metade do século XVII.
Nos relatos dos viajantes, Ilha do Ouro não se deixar esquecer. Quer
dizer, alguns dos navegantes que passaram defronte a povoação
registraram o que avistaram. O médico alemão Avé-Lallemant em 1859 ao
enfrentar uma tempestade no rio registra que este fato ocorreu “perto da
bonita povoação Boa Vista”87.
84
MENEZES, Sônia de Souza Mendonça e ALMEIDA, Maria Geralda de. Vaquejada: a pega de
boi na caatinga resiste do sertão sergipano. In: Revista Vivência. UFRN: Natal, nº 34, p. 181-
193, 2008, p. 191.
85
Bem entendido, no mapa de 1643 o vocábulo Ilha do Ouro mostra ser o que hoje é a Ilha N.
S. dos Prazeres. Este detalhe nos chama atenção por ser a povoação Ilha do Ouro defronte a
Ilha dos Prazeres. Portanto, perguntemos: não seria este fato um dos motivos para a origem
do nome do que é hoje a povoação Ilha do Ouro? Acreditamos que sim.
86
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Op. Cit., p. 249.
87
AVE-LALLEMANT, Robert. Viagens pelas Províncias da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe
(1859). (Tradução Eduardo de Lima Castro) Belo Horizonte/São Paulo: Editora Itatiaia/Editora
da Universidade de São Paulo, 1980, p. 307. (Coleção Reconquista do Brasil – nova série; vol.
Em 17 de Outubro de 1859 - quando o Imperador do Brasil Dom
Pedro II visitou as povoações às margens do rio São Francisco - a região
desde Gararu-SE à Ilha do Ouro foi tida como um cenário propício para
que o próprio Dom Pedro II contemplasse este fragmento de Natureza e
deixasse registrado em seu diário de bordo outros detalhes além daqueles
que até então o mesmo apenas havia lido ou ouvido falar. Segundo seus
escritos, Porto da Folha também aparece em registro. Em seu diário o
35
imperador escreve: “às 10 ½ fui ao Curral de Pedras [...]. 1 menos 7’ –
Passamos pelo porto da Folha 88, em Sergipe, onde finda a terra do
morgado pela banda de baixo, segundo creio” 89. - Vieira de Carvalho e
Silva em 1854 em seu périplo pelo São Francisco também registra algo
sobre a Ilha do Ouro, que, por sua vez, influenciou a expedição do
Imperador. Porém, os registros dessa expedição só foram publicados em
1859.
A Ilha do Ouro é pequeno povoado bem fronteiro ao
do Panema; conta menos de 50 casas: dizem que o
nome corresponde á riqueza do logar, porém a este
respeito não vos sei dizer certezas.
O Riacho que tem o mesmo nome e que nas
enchentes ilha a Povoação tem de notável dar assim
navegação para canoas até a Villa do Porto da Folha,
conhecida também pela do Buráco -, e suas varzeas
são campos de arroz que produzem milhares de
alqueires, e de medida maior ainda que a do
Penêdo90.
19). Boa Vista foi uma denominação no qual já chamaram assim a Ilha do Ouro. Isto porque o
rio a montante chamava-se rio da Porteira ou rio Ilha do Ouro. Do mesmo modo, defronte a
povoação também se acha a Ilha dos Prazeres. Assim, para diferenciar o nome da povoação da
do rio que deságua no povoado a chamaram de Boa Vista. Isto também se caracteriza pelo fato
do povoado situar-se em um morro íngreme. Daí o nome Boa Vista, pois quem estava em cima
deste morro tinha uma visão agradável do exuberante rio São Francisco.
88
É curioso observarmos que na primeira edição do diário (1959), no mesmo trecho citado, a
palavra Porto da Folha (1959, p. 115) aparece com as iniciais maiúsculas; o que aqui
percebemos é que o termo porto surge em minúsculo. – Não sabemos qual a razão.
89
PEDRO II, Dom. Op. Cit., pp. 120-121.
90
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Op. Cit., p. 251.
36
a
b c
Figura 15. Imagens aéreas da Ilha do Ouro e da foz do Rio Capivara e do
Rio Ipanema. Fonte: arquivo da Prefeitura de Porto da Folha-SE, 2008. Na
imagem ‘a’ é possível observar ao fundo a cidade de Porto da Folha e do
lado direito à várzea da Ilha do Ouro e a foz do rio Capivara.
93
OLIVEIRA TELLES, Manoel dos Passos de. Op. Cit., pp. 44-45, grifo do autor.
94
FERREIRA, Jurandyr Pires. Op. Cit., p. 412.
95
DANTAS, Beatriz Góis e DALLARI, Dalmo de Abreu. Op. Cit., p. 146.
Dentro deste disctrito desta Villa está a freguezia de S.
Pedro situada na margem do rio de S. Francisco, num
terreno plano, que fica sendo ilha, logo que aquelle
começa a encher. Consta de oito vizinhos, ou com
pouca differença: quazi geralmente Indios, para os
quaes exclusivamente foi fundada. A colônia compõe-
se de duas tribos: Romaris, que sam o resto dos
39
Indigenas, e Ceocóces, transplantados da vizinhança
da serra do Pão d’Assucar...96.
Este fato narrado por Casal merece menção. Pois que, “a missão de
São Pedro, organizada inicialmente entre os Aramurus, aparece no século
XIX habitada por dois grupos indígenas distintos: Romaris e Ceocoses [...].
Os Romaris são talvez os Aramurus do início da missão. Quanto os
Ceocoses são decerto os Xocó”97. Nos relatos dos viajantes do século XIX,
a descrição feita por eles é, inegavelmente, uma fonte única de
informações sobre este lugar às margens do Rio São Francisco. Para Souza
(assinava P de S) que em 1867 visitou a cachoeira de Paulo Afonso através
do rio S. Francisco, suas impressões aqui são referidas por serem bastante
detalhadas.
A aldêa de S. Pedro é situada em uma ilha do mesmo
nome, na província de Sergipe, onde ha um convento
habitado por um só frade capuchinho que alli vive ha
muitos annos, e cujo procedimento é muito elogiado.
Fôrão os missionários Jesuitas, que, embrenhados
n'estas mattas, poderão reunir alguns Índios das tribus
Choco e Romaris, e que lhess edificárão uma igreja
com a invocação de S. Pedro, a qual é parochia desde
16 de agosto de 1832, comquanto já assim a
considerassem aquelles habitantes a contar da
extincção da Companhia. Os Índios d’esta aldêa são
domesticados, mas não degenerárão ainda de seus
costumes primitivos. Vivem da caça e da pesca, e só as
mulheres trabalhão no fabrico da louça. Foi junto
d'esta aldêa que se encontrárão tambem muitos
96
CASAL, Manuel Ayres de. Op. Cit., pp. 149-150.
97
DANTAS, Beatriz Góis e DALLARI, Dalmo de Abreu. Op. Cit., p. 152.
ossos, que por seu grande tamanho foram julgados
(talvez sem muita razão) anudiluvianos 98.
105
É digo de nota observar que este viajante-autor com seus relatos influenciou
posteriormente alguns outros aventureiros, por assim dizer. Entre estes o Imperador do Brasil
Dom Pedro II, que também realizou uma viagem às cachoeiras de Paulo Afonso através do rio
São Francisco. E, nesta sua expedição visitou, tanto na ida quanto na volta várias povoações
em ambas as margens do rio.
106
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Op. Cit., pp. 253-254, grifo nosso.
107
GARDNER, George. Op. Cit., p. 69.
A Ilha de Nossa Senhora dos Prazeres divide o Rio 108
em dous braços, o mais profundo é aquelle que passa
ao lado occidental della; pela margem direita do Rio e
do dito braço entra o riacho da Ilha do Ouro, e sobre
ella, quasi no fim da legua, está a povoação da Boa
Vista109.
43
Figura 16. Mapeamento da Ilha dos Prazeres. Fonte: Halfeld, 1860. Nesta
imagem é possível observar a Ilha dos Prazeres e na margem Norte a Barra
do Ipanema pertencente à Lagoa Funda (atual Belo Monte-AL). Na
margem Sul identifica-se Boa Vista (atual Ilha do Ouro) pertencente a
Porto da Folha-SE. Grifamos em vermelho onde seria a localização da
cidade de Porto da Folha.
108
Referindo-se ao Rio São Francisco. Grifos do autor conforme o original.
109
HALFELD, Henrique Guilherme Fernando (Heinrich Wilhelm Ferdinand). Atlas e Relatório
Concernente à Exploração do Rio de São Francisco desde a cachoeira de Pirapóra até o Oceano
Atlantico. Rio de Janeiro: Lithographia Imperial/Typographia Moderna de Georges Bertrand,
1860, p. 48. Diante deste detalhe narrado por Halfeld, inferimos que nesta época, este ponto
do rio São Francisco media aproximadamente uma légua de largura (aproximadamente 6 km).
do Brasil Dom Pedro II quando de sua visita às povoações situadas às
margens do São Francisco. Assim como o atlas do engenheiro Halfeld.
Vieira de Carvalho e Silva conseguiu, por assim dizer, realizar algo
outro que culmina curiosamente com a origem da região de Porto da
Folha, qual seja, identificar a data de fundação da capela situada no alto
do morro dos Prazeres. Em outras palavras, de acordo com seu relato,
desde o século XVII, efetivamente, já existiam pessoas morando na região
44
onde hoje está Ilha do Ouro e Barra do Ipanema. O que confirma a
passagem citada por Felisbelo Freire quando o mesmo pronuncia que em
1682, alguém fundou um sítio, ou uma fazenda na Ilha do Ouro.
A Capella dos Prazeres dizem que foi edificada de
madeira, e cuberta de sóla por Maria Pereira - (não
sabendo se é a mesma do buraco) doou-lhe terras que
erão então pegadas ao montinho, porém não ha
vestigios d’isso: hoje possue a Capella a terra onde
está erecta, e a coroa [...]. Depois de Maria Pereira, o
primeiro Morgado que veio ao S. Francisco chamado
Castello Branco - fez o corpo, e capella Mór de pedra e
cal, de accordo com os habitantes da banda de
Pernambuco, e finalmente o Missionario - Corrêa, - fez
os corredores – tem a Capella a era de 1694 110.
110
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Op. Cit., pp. 253-254, grifo nosso.
Assucar. É uma vista soberba; talvez sem rival no
mundo!111.
Figura 17. Ilha de Nossa Senhora dos Prazeres com sua Igreja de mesmo
nome no alto da ilha. Nesta imagem o rio passa ao Sul da ilha. Fonte:
arquivo pessoal de Alexandro Dantas de Souza, 2008.
Fato curioso é que a Ilha dos Prazeres é a única penha elevada no Rio
São Francisco desde sua foz às cachoeiras de Paulo Afonso. Ou seja, desde
o pontal (foz) às quedas d’águas em Paulo Afonso-BA existem várias ilhas
no percurso do rio, porém, apenas a rochosa Ilha dos Prazeres é a que se
eleva acima do leito do rio. Todas as outras faixas de areias, por assim
dizer, não se elevam igualmente como a Ilha dos Prazeres. Com efeito,
esta ilha também é a única no qual possui uma obra de arquitetura sobre
si. Uma poética capelinha.
O viajante alemão Avé-Lallemant também em 1859 fez uma
expedição pelas águas do rio São Francisco e deixou em seus cadernos de
111
SOUZA, Bernardo Xavier Pinto de. Op. Cit., p. 81, grifos do autor.
112
CARVALHO E SILVA, José Vieira Rodrigues de. Op. Cit., p. 251.
anotações a seguinte passagem quando se aproximava da referida ilha:
“erguia-se aí no meio do rio uma grande penha arredondada, no cimo da
qual construíram uma bonita capelinha, sob a invocação de Nossa Senhora
dos Prazeres”113. Uma formosa ilha, chamado monte dos Prazeres.
Como já mencionado anteriormente, em sua passagem pela Ilha dos
Prazeres o Imperador do Brasil Dom Pedro II deixou sua impressão da
beleza da pequena penha comparando-a a do Rio. Sua observação feita
46
em 17 de outubro de 1859 chama bastante atenção: “neste lugar, às 2 e
10 encalhamos, avistando pela proa a bem situada capela de nossa
Senhora dos Prazeres, qual outra Penha do Rio de Janeiro” 114. - Durante
seu périplo por essas águas o imperador Dom Pedro II que também era
conhecido como filósofo, naturalista, pintor entre outras coisas registrou
em seu diário a imagem da ilha que o mesmo gravou em sua memória.
Efetuou ele uma gravura singular da pequena penha do Rio São Francisco,
imagem esta que data de 23 de outubro de 1859.
115
PEREIRA, Antônio Carlos. Op. Cit., p. 10.
116
PEREIRA, Antônio Carlos. Op. Cit., pp. 10-11.
afirmam alguns autores. Nasceu ali mesmo, nas
imediações do riacho das Araras, entre a fazenda Enxu
e a fazenda Lagoa da Volta (hoje povoada), aonde
Lampião, Maria Bonita e alguns cangaceiros chegaram
um mês antes do nascimento da menina e partiram
um mês depois, assim que terminou e resguardo da
Maria Bonita117.
48
Portanto, a filha de Lampião e Maria Bonita é portofolhense de raiz,
isto é, nasceu no território de Porto da Folha-SE, inegavelmente. E tudo
isso perante a história do Brasil não pode passar despercebido. Em
realidade, muito sobre Porto da Folha ainda permanece oculto.
CONSIDERAÇÕES
A rica literatura deixada por viajantes e ou estudiosos sobre o rio São
Francisco próximo a sua foz tornam-se uma fonte riquíssima de relatos
(narrativas) documentais sobre aquelas terras de outrora. A maneira como
essas pessoas descrevem as paisagens das margens do São Francisco, o
comportamento do povo, a cultura local, o clima, a vegetação entre outras
coisas é algo significativo do ponto de vista cultural. Os detalhes
paisagísticos bem como o comportamento das próprias pessoas desses e
nesses territórios formam um verdadeiro vislumbre da história e para a
história dos lugares visitados e mencionados.
Neste sentido, podemos dizer que o presente trabalho realizou
aquilo que almejou em primeiro plano: discernir sobre um lugar
implantado no mundo. Mostrar um pouco da cultura local; como as coisas
foram se constituindo e como tais estão hoje estabelecidas. Torna-se
digno dizer que Porto da Folha é uma cidade singular.
O material coletado nos ofereceu, sem embargo, uma oportunidade
única para estudarmos Porto da Folha no semiárido (sertão) sergipano. As
fontes consultadas simbolizam os fatos ocorridos em terras distantes do
envolvimento e do desenvolvimento do Brasil de outrora, a saber, fatos
que aconteceram distantes do litoral. Em lugares outros desconhecidos.
Em outros termos, ao lembrarmos-nos da bibliografia de outrora e ao
voltarmos no tempo histórico observamos que toda a vida do Brasil
117
SOUZA, Manoel Alves de. Op. Cit., p. 284.
colônia e do Brasil império se deram ou ocorriam na parte costeira.
Contudo, estudiosos esquecem que no interior do grande território
existiam povoações com pessoas vivendo e contribuindo, por assim dizer,
para o desenvolvimento do todo. Muito embora, algumas dessas
povoações jamais tivessem somados para o avanço econômico do país.
Por conseguinte, contribuíram e muito para com a história da cultura do
Brasil.
49
O presente texto conseguiu - assim consideramos - atingir a primeira
etapa daquilo que se pretende mais adiante, qual seja elaborar uma
pesquisa mais completa sobre a origem de Porto da Folha. Diante disso,
nestas últimas palavras evocamos consideravelmente que por ora é isso o
que compreendemos.
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54
AS MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS
E AS FILOSOFIAS DA HISTÓRIA
RESUMO
O artigo foi feito sob a orientação da professora mestre Maytê Vieira, dentro das aulas
de Teoria da História II, disciplina oferecida pela UEPG – Universidade Estadual de
Ponta Grossa. O presente trabalho visa discutir, através de revisão bibliográfica, as
mudanças paradigmáticas desde o início do século XVIII até a transição para as Teorias
Históricas, buscando evidenciar que o Historicismo e a Escola Metódica trouxeram a
História o staus de ciência, rompendo com as Filosofias da História, não desmerecendo
o papel desta quanto o desenvolver do pensamento histórico. A bibliografia utilizada
foram os textos sugeridos, utilizados em aulas e, também, bibliografia complementar.
ABSTRACT
The paper was made with the orientation of the teacher Maytê Vieira, in the classes of
Theory of History II, subject offered by the State University from Ponta Grossa. This
paper search discuss, through bibliography review, the paradigm shifts since the
beginning of the 18th century untill the transition to the Historic Theories, looking for
show that Historicism and the Methodical School brought to the History the status of
science, breaking with the Philosophies of History, without debunk its importance to
development of the historic thought. The bibliography used was the suggested texts,
discussed in the class and complement bibliography also.
1
Acadêmico do Curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG,
com experiência de trabalho na Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, na rede Estadual de Ensino
do Paraná e na rede particular da cidade de Ponta Grossa.
2
Possui Mestrado em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (2013) e
Graduação (Licenciatura Plena) em História pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de
União da Vitória - FAFIUV (2011). Experiência na área de História, com ênfase em Cinema e História,
atuando principalmente nos seguintes temas: cinema, sociedade contemporânea, cultura e imaginário.
Atualmente é professora colaboradora do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta
Grossa nos cursos de Bacharelado e Licenciatura.
1. INTRODUÇÃO
O texto a seguir começa fazendo uma discussão de trás pra frente,
ou seja, começamos por refletir sobre o Historicismo e a Escola Metódica,
escolas estas que trouxeram a História ao nível de ciência devido a sua
metoditização e mudança paradigmática de pensamento quanto aos 2
Pela citação anterior conseguimos ver alguns traços que são comuns
entre a Escola Metódica e a sua antecessora, o Historicismo Alemão. Esses
traços demonstram o quanto os ditos positivistas beberam das ideias
alemãs, afinal, embora sejam chamados de positivistas, os historiadores
da Escola Metódica baseiam-se em Ranke e não em Comte (REIS 1996,
15).
Antes de prosseguirmos com a discussão é importante explicar aqui
o porquê ficaram conhecidos como positivistas os historiadores da Escola
Metódica. Muito embora a tendência historiográfica não tivesse ligação
direta com as ideias positivistas comtianas, seus autores acabaram por
defender ideais positivistas, como a República, e iam contra o clericalismo,
sendo em sua maioria cristãos protestantes, embora a Revista Histórica,
maior divulgador desta Escola, não tivesse qualquer ligação religiosa
(BOURDÉ e MARTIN 1983, 98-100).
José Carlos Reis (1996, 21) também deixa bem claro que:
3. CAMINHO DA HISTÓRIA
Dentro do debate sobre a origem da História José Barros (2013a)
traz a discussão para a Grécia Antiga, debatendo se Heródoto seria
mesmo o pai da História, mostrando que, por exemplo, monarcas
acadianos já obrigavam seus escribas a escrever sua própria história. Ele
continua o debate elencando algumas características que a História
deveria ter como investigação, relato e testemunho ocular, isso para os
gregos. Deste modo, defende-se o papel importante de Heródoto e dos
primeiros historiadores gregos, o de poder escolher ser historiador e se
dedicar a busca da verdade e do relato do acontecido, dando maior valor
aos testemunhos orais de quem viveu o fato in loco, Pecoraro (2009, 9)
explica dizendo que “para os fundadores da historiografia ocidental,
Heródoto e Tucídides, um acontecimento é histórico apenas quando
narrado ou registrado por alguém que esteve presente, que o viu
pessoalmente”, embora aqui ainda não houvesse a valorização do
documento histórico e das fontes como a modernidade trouxe, toda a
credibilidade estava na pessoa do historiador.
Barros (2013a) continuará em seus escritos elucidando as questões
já antes debatidas sobre o surgimento da História como ciência,
demonstrando em alguns aspectos como o século XIX acaba por ser uma 12
4. FILOSOFIAS DA HISTÓRIA
Para que, enfim, tenhamos uma noção melhor da transformação
ocorrida com o advento do Historicismo e da Escola Metódica precisamos
compreender um pouco mais a fundo o que tanto falamos até aqui: as
Filosofias da História.
Com o movimento Iluminista firmou-se de vez as Filosofias da
História, ou seja, explicações metafísicas que visavam dar sentido a
história, ainda com muitos resquícios da teologia medieval, como a crença
num determinismo, não mais divino por certo, mas sob as forças do
espírito, como a maioria dos pensadores dessa época tratou, período este 15
tem seu início e seu fim, embora não muito aceito durante a sua vida
acadêmica ganhou força com a derrota da Alemanha durante a I Guerra,
sendo a teoria capaz de explicar a derrota e os acordos vexatórios
celebrados com o Tratado de Versalhes, deste modo amenizando assim a
dor no ego germânico.
Um dos aspectos interessantes da sua linha de pensamento é a
defesa feita contra a tendência da época de crer que a ciência não é
universal, como explica Bourdé e Martin (1983, 55): “Spengler anuncia,
num sentido, o estruturalismo. O seu postulado inicial é que a ciência não
é universal”.
Sepengler se assemelha a Hegel quando defende que o homem é
escravo da história, sendo uma espécie de fantoche que não toma
consciência do destino que está desenhando.
Toynbee é um ensaísta e historiador nascido na Grã-Bretanha no
final do século XIX e que produz durante o século XX. Para deixar claro a
abordagem desse autor queremos defender sua importância, embora o
seu recorte temporal seja mais recente do que os demais é significativo
que deixemos algumas coisas sobre ele ditas para que possamos
compreender melhor a profundidade das Filosofias da História.
O inglês se coloca contra a hierarquização entre o setor manual e o
setor intelectual, defendendo que este modelo é fruto da divisão social do
trabalho advindo da Revolução Industrial. Uma das principais ideias de
Toynbee é o modelo que se aparenta muito o de Spengler, que divide em
três estágios a vida das civilizações em nascimento, crescimento e 22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observar as mudanças ocorridas desde o século XVIII com as
Filosofias da História até o nascimento da História como ciência no século
XIX nos da a possibilidade de observar que a própria História é filha do seu
tempo, assim bem como as pessoas que dedicam-se a escrevê-la. Pode-se
observar isso no fato de Spengler e Toynbee serem aceitos apenas por
motivos óbvios de um descarrego do peso da derrota, Alemanha da guerra
e Inglaterra na perda do império colonial.
Discutir a dinâmica das ideias que acabaram por dar origem às
teorias da Escola Alemã, da Escola Metódica e, mais tarde, da Escola dos
Annales, nos permite refletir sobre as rupturas entre os séculos, é claro
que tendo em mente que ideias mudam com um processo e não
cronologicamente como o passar do dia de hoje para o de amanhã.
Por fim, analisar as Filosofias da História nos permite questionar o
nosso presente e perceber que não há certezas plenas em ciência e que os
paradigmas estão em eterno redirecionamento, sendo assim o que hoje é
considerado como óbvio daqui alguns anos a dinâmica dialética pode
empurrar para o desuso e passará a ser visto como um absurdo 24
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53-73. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2008.
REIS, José Carlos. A História entre a Filosofia e a Ciência. São Paulo, SP:
Editora Ática, 1996.
A DIDÁTICA DA HISTÓRIA ORIENTADA PELA VIRADA
PARADIGMÁTICA ALEMÃ DOS ANOS 60 E 701
Max Lanio Martins Pina 2
1
Resumo
Neste artigo apresentaremos a Didática da História com sua conceituação definida na
bibliografia alemã referente ao movimento que ficou conhecido como virada
paradigmática dos anos 60 e 70, bem como discutiremos as influências desse grupo na
ampliação desse conceito no Brasil a partir da última década. Contextualizaremos esse
movimento com suas características sociais e históricas peculiares, para mostrar como
essa disciplina foi expulsa e reintroduzida no campo da Ciência Histórica. Analisaremos
essa disciplina como subdisciplina da Ciência da História com o seu caráter
metateórico na reflexão da práxis historiográfica e por fim vamos expor os atuais
rumos dessa área no Brasil.
Palavras-chave: Didática da História. Virada Paradigmática. Anos 60 e 70.
Abstract
In this article we will present the didactics of history with its concept defined in the
German literature on the movement that became known as paradigmatic turn of the
60s and 70s, as well as discuss the influence of this group in the expansion of this
concept in Brazil in the last decade. Contextualize this movement with its peculiar
social and historical characteristics, to show how this discipline was expelled and re-
introduced in the field of Historical Science. We will analyze this discipline as a sub-
discipline of History of Science with its metatheoretical character in reflection
historiographical praxis and finally we will expose the current directions of this area in
Brazil.
Keywords: Didactics of History. Paradigmatic Turn. Years 60s and 70s.
1
Este artigo tem como finalidade sintetizar as ideias e reflexões realizadas nos últimos anos pelo
professor Dr. Rafael Saddi, o qual se tornou um dos principais intelectuais no Brasil a discutir e defender
a Didática da História como práxis metateórica na função historiográfica. Nesse sentido, consideramos
ser necessária a compreensão dessas discussões por parte daqueles que desejam efetuar investigações
relacionadas a esse campo, tendo em vista as mudanças ocorridas nessa área que foram provocadas
pela literatura alemã especializada.
2
Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Professor da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), Campus Porangatu. Endereço eletrônico: maxilanio@yahoo.com.br.
Nos últimos anos a área tradicionalmente conhecida na nação
brasileira como ensino de história vem passando por transformações
paradigmáticas no seu campo epistemológico. 3
3
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Cultura histórica e aprendizagem histórica. Revista
NUPEM, Campo Mourão, v. 6, n. 10, jan./jun. 2014, p. 32.
4
CAINELLI, Marlene Rosa; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Desafios teóricos e epistemológicos na pesquisa
em educação histórica. Antíteses, v. 5, n. 10, jul./dez. 2012, p. 509.
5
SADDI, Rafael. O parafuso da didática da história: o objeto de pesquisa e o campo de investigação de
uma didática da história ampliada. Acta Scientiarum. Education: Maringá, v. 34, n. 2, p. 211-220, July-
Dec., 2012, p. 212.
ideias, valores e rotinas que definem e delineiam a função
educativa da história. 6
6
SCHMIDT, 2006; URBAN, 2009 apud SADDI, 2012, op. cit., p. 212.
7
SADDI, Rafael. O parafuso da didática da história: o objeto de pesquisa e o campo de investigação de
uma didática da história ampliada. Acta Scientiarum. Education: Maringá, v. 34, n. 2, p. 211-220, July-
Dec., 2012, p. 212. Ver também: SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil:
considerações sobre o ambiente de surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da
nova didática da história no Brasil. OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, p. 133-147 - jul./dez. 2014, p. 140-141.
8
BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e EJA: investigações da consciência histórica de
alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2013, p. 31.
No “segundo lugar, a didática da história reduz-se ao ensino
‘escolar’ da história”. 9 Nesse caso, ela perde todo seu caráter de
ampliação, porque não pode ser usada para compreensão da consciência
histórica na sociedade, e muito menos para fazer a relação da História
com a vida prática humana e por causa disso, a Didática da História deixa 4
BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e EJA: investigações da consciência histórica de
alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2013, p. 31.
13
SADDI, 2012, op. cit., p. 212.
14
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez., 2014, p. 141.
15
CARDOSO, Oldimar. Para uma definição de Didática da História. Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 28, nº 55, 2008, p. 154.
disciplinar que estabeleceu de forma tradicional as normas, as ideias e a
rotinas do ensino de História. 16
Ancorado em autores alemães da Didática da História, como Klaus
Bergmann, Jörn Rüsen, Bernad Schönemann e Hans Jürgen Pandel, o
pesquisador Oldimar Cardoso justifica que a Didática da História 6
16
Como já havia sido citado anteriormente o código disciplinar da História que delineou de forma
tradicional e histórica as práticas e funções e também a rotina do ensino dessa disciplina na nação
brasileira. In: SCHMIDT, 2006; URBAN, 2009 apud SADDI, 2012, op. cit., p. 212.
17
CARDOSO, Oldimar. Para uma definição de Didática da História. Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 28, nº 55, 2008, p.158.
18
CARDOSO, 2008, op. cit., p. 158.
Os alemães e a Didática da História
Ao discorrer a respeito das influências da literatura alemã sobre a
Didática da História no Brasil é necessário primeiro expor uma série de
problemas que foram observados pelo professor Rafael Saddi19, o qual
percebeu a partir de seus estudos dos principais autores desse campo na 7
19
Vale ressaltar que o referido historiador, juntamente com outros como Luís Fernando Cerri, Maria
Auxiliadora Schimdt e Oldimar Cardoso, influenciados pela bibliografia alemã tem se destacado no Brasil
na tentativa de propor a ampliação do campo de investigação da Didática da História. Cf. SADDI, Rafael.
Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de surgimento da neu
geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil. OPSIS, Catalão-GO,
v. 14, n. 2, p. 133-147 - jul./dez. 2014.
20
Esses autores foram lidos por Rafael Saddi na língua original, e a partir de então ele detectou os
problemas que envolvem a Didática da História no Brasil que é orientada pela literatura alemã. In:
SADDI, 2014, op. cit.
21
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez., 2014, p. 134.
traduzido para o português, conhece-se pouco do que foi publicado
durante os anos que se seguiram as décadas de 60 e 70, momento de
ampla produção desses pensadores. Por isso, percebe-se que “o extenso e
profundo impacto da historiografia alemã na didática da história do Brasil
se contradiz com o baixo e estreito conhecimento sobre a enorme 8
22
SADDI, 2014, op. cit., p. 134.
23
SADDI, 2014, op. cit., p. 134.
24
Esses autores alemães fazem parte do grupo de pensadores da Didática da História, que foram os
responsáveis pela elaboração de uma nova reflexão sobre as influências da História para vida humana
prática no momento de crise de legitimação da História e também do ensino de história na Alemanha,
permitindo assim a ocorrência virada paradigmática dos anos de 60 e 70.
não se pode desprezar de todo a importância desse intelectual na
coautoria desse conceito, pois coube a ele o mérito de desenvolver de
uma forma profunda a visão sobre a consciência histórica. 25
Já o terceiro equívoco apontado por Saddi e que também é
proveniente do primeiro, é o fato de “pensar que a didática da história 9
25
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez., 2014, p. 134.
26
SADDI, 2014, op. cit., p. 135.
27
SADDI, 2014, op. cit., p. 135.
28
SADDI, 2014, op. cit., p. 135.
os conceitos de consciência histórica, aprendizagem histórica e cultura
histórica”. 29
Entretanto, é fundamental para compreensão das mudanças
ocorridas na Didática da História nos últimos anos, a análise de dois textos
divulgados por esse grupo de pesquisadores alemães que assimilaram e 10
29
SADDI, 2014, op. cit., p. 135.
30
Na dissertação de mestrado de Aline do Carmo Costa Barbosa, defendida em 2013, na Universidade
Federal de Goiás, na qual faz uma análise da consciência histórica de alunos da EJA, ela afirma que as
publicações das obras de Jörn Rüsen e o artigo de Klaus Bergmann, foram importantes para influenciar
as mudanças na Didática da História no Brasil. In: BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e
EJA: investigações da consciência histórica de alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em
História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2013, p. 33.
31
BERGMANN, Klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.9, n.9,
pp. 29-42, set.89/fev.90.
32
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa: Ponta Grossa. v. 01, n. 02, jul./dez., 2006, p. 07-16.
discussão/reflexão que visava aproximar e recolocar a Didática da História
no campo da Ciência Histórica.33
O historiador Luís Fernando Cerri acredita que do período em que
esses textos foram expostos ao público brasileiro até a presente data, já
são notórios os avanços nesse campo de conhecimento e não há como 11
33
SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência histórica. História & Ensino,
Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 61-80.
34
CERRI, Luís Fernando. O historiador na reflexão didática. História & Ensino, Londrina, v. 19, n. 1, p. 27-
47, jan./jun. 2013.
35
BERGMANN, Klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.9, n.9,
pp. 29-42, set.89/fev.90, p. 29.
36
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 29.
investigar o que é apreendido no ensino da História (é a
tarefa empírica da Didática da História), o que pode ser
apreendido (é a tarefa reflexiva da Didática da História) e o
que deveria ser apreendido (é a tarefa normativa da
Didática da História).37
12
Para Saddi os diferentes tipos de história, isto é, as histórias
assimiladas e experimentadas diretamente todos os dias pelo devir, ou as
que são recebidas e também assimiladas pela transmissão da Ciência
Histórica devem ser estudadas pela tarefa empírica da Didática da
História. Já a tarefa reflexiva, visa, portanto a análise do trabalho do
historiador, observando os seus métodos, seus procedimentos, a forma
como ele lida com a pesquisa, suas ideias, seus interesses, entre outros.
Por último, a tarefa normativa da Didática da História é quem vai “indicar
os caminhos para as funções de orientação da história” na vida prática
humana.38
Para o pesquisador Klaus Bergmann a Didática da História se
definia como “uma disciplina científica que, dirigida por interesses
práticos, indaga sobre o caráter efetivo, possível e necessário de processo
de ensino e aprendizagem e de processos formativos da História”. 39 Nesse
caso, as preocupações dessa disciplina seriam “com a formação, o
37
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 29.
38
SADDI, Rafael. Reflexões sobre o campo de investigação da didática da história. In: SILVA, Maria da
Conceição; MAGALHÃES, Sônia Maria de. O ensino de História: aprendizagens, políticas públicas e
materiais didáticos. Goiânia: Editora da PUC Goiás, 2012, p. 92.
39
BERGMANN, Klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.9, n.9,
pp. 29-42, set.89/fev.90, p. 29.
conteúdo e os efeitos da consciência histórica num dado contexto sócio-
histórico”.40
Segundo Cerri foi introduzido nas discussões brasileiras “a
expressão consciência histórica, que teria um papel decisivo nessa virada
paradigmática do da concepção e tratamento do ensino de história”. 41 13
40
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 9-10.
41
CERRI, Luís Fernando. O historiador na reflexão didática. História & Ensino, Londrina, v. 19, n. 1, p. 27-
47, jan./jun. 2013, p. 29.
42
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 31-32.
43
SADDI, Rafael. A Didática da História como meta-teoria. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos
Pesquisadores de História. 18, 19 e 20 de abril de 2011 – Florianópolis/SC. p. 4. Disponível em:
<http://abeh.org/trabalhos/GT07/tcompletorafael.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013.
44
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 31.
45
BERGMANN, 1990, op. cit., p. 32.
Por isso poderiam ser incluídos como objetos da pesquisa da Didática da
História, além do contexto escolar, “todos os veículos e meios de
comunicação que contribuem na formação da consciência histórica”. 46
Com essa visão a Didática da História trouxe para si um problema
metodológico para qual na sua reflexão ela ainda não tinha solução. 47 14
52
BERGAMAN, 1990, op. cit., p. 36.
53
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa: Ponta Grossa. v. 01, n. 02, jul./dez., 2006, p. 8.
54
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
55
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
trabalho da Didática da História possui simplesmente a função de traduzir
o conhecimento produzido cientificamente para às escolas. 56
Por isso que a Didática da História assume dois caráter, um
externo e o outro funcional.
16
56
SADDI, Rafael. Reflexões sobre o campo de investigação da didática da história. In: SILVA, Maria da
Conceição; MAGALHÃES, Sônia Maria de. O ensino de História: aprendizagens, políticas públicas e
materiais didáticos. Goiânia: Editora da PUC Goiás, 2012, p. 86-87.
57
SADDI, Rafael. A Didática da História como meta-teoria. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos
Pesquisadores de História. 18, 19 e 20 de abril de 2011 – Florianópolis/SC. Disponível em:
<http://abeh.org/trabalhos/GT07/tcompletorafael.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013, p. 1.
58
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa: Ponta Grossa. v. 01, n. 02, jul./dez., 2006, p. 8.
“como se pensa a história, quais são as origens da história na natureza
humana, e quais são seus usos para a vida humana”. 59
Além do mais a Didática da História já foi um dia preocupação dos
historiadores
17
59
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
60
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
61
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
62
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
63
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
64
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8.
da pesquisa histórica”.65 Esse processo permitiu que “a cientifização da
história excluí[sse] da competência da reflexão histórica racional aquelas
dimensões do pensamento histórico inseparavelmente combinadas com a
vida prática”. 66
Para Saddi o processo de cientifização e especialização da História 18
65
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 8-9.
66
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa: Ponta Grossa. v. 01, n. 02, jul./dez., 2006, p. 9.
67
SADDI, Rafael. A Didática da História como meta-teoria. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional dos
Pesquisadores de História. 18, 19 e 20 de abril de 2011 – Florianópolis/SC. Disponível em:
<http://abeh.org/trabalhos/GT07/tcompletorafael.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013, p. 2.
68
A matriz disciplina é uma expressão que Jörn Rüsen tomou emprestado de Thomas Kuhn, na qual ele
afirma não possuir “a intensão de meramente transpor as teses de Kuhn sobre a evolução histórica das
ciências naturais para a ciência da história e apenas aplicá-la a teoria da história. Meu objetivo consiste
em, com ajuda de sua concepção de paradigma ou de matriz, descrever o objeto específico da reflexão
de uma teoria da história”. Ver nota 5. In: RÜSEN, Jörn. Razão histórica - Teoria da História:
fundamentos da ciência histórica. Trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília: UnB, 2001, p. 29-35.
69
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 9.
Um era puramente pragmático e relacionava-se com os
métodos de ensino de história em sala de aula. O segundo
era teórico: ele se concentrava nas condições e nos
propósitos básicos do ensinar e aprender história. 70
19
Por isso “na melhor das hipóteses, a didática da história provia os
estatutos fundamentais da função educacional do conhecimento histórico
e dos objetivos correspondentes para o ensino de história nas escolas”. 71
Conforme os autores Rafael Saddi 72 e Jörn Rüsen73 esse cenário
descrito mudará nos anos de 1960 e 1970, motivados por novas
demandas de carências de orientação pelas quais os alemães irão passar e
que darão lugar a “uma grande reorientação cultural”. 74 Essa reorientação
levou a “uma crise de legitimidade no ensino de história”. 75 E isso
provocou a necessidade de mudança na Didática da História, que passou a
refletir essa reorientação da cultura geral e também as mudanças no
sistema de ensino.
76
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 11.
77
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 11.
78
RÜSEN, 2006, op. cit., p. 11.
79
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis
Educativa: Ponta Grossa. v. 01, n. 02, jul./dez., 2006, p. 13-16.
Esses são os dois principais textos que de uma maneira peculiar
contribuíram para despertar as transformações da Didática da História no
Brasil, provocando reflexões sobre as normas e funções do ensino de
história, e também permitindo aos historiadores brasileiros pensar sobre
as implicações da Ciência Histórica na vida humana prática, tanto 21
80
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez. 2014, p. 136.
81
SADDI, 2014, op. cit., p. 136.
82
HOBSBAWN, 2003 apud SADDI, 2014, op. cit., p. 136.
quase pleno emprego, tivesse uma atitude tão
descompromissada com o trabalho, estando disposto a
abandoná-lo para acompanhar turnês de bandas de rock ou
para fazer viagens ao universo místico do oriente.
Tampouco a juventude dos anos 1960, os chamados Sixty-
Eighters (geração de 68), poderia admitir os valores e as
condutas rígidas expressas pela geração de seus pais. 83 22
83
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez. 2014, p. 136.
84
SADDI, 2014, op. cit., p. 136.
85
SADDI, 2014, op. cit., p. 136.
86
SADDI, 2014, op. cit., p. 136.
refletindo sobre as origens do nazismo, de como tal
acontecimento foi possível. Queriam, portanto, resolver ou
aliviar de alguma forma o peso do passado e da memória
que o a nação alemã carregava consigo no presente. 87
87
BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e EJA: investigações da consciência histórica de
alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2013, p. 20.
88
BORRIES, 2001; SYWOTTEK, 1974; ELIAS, 1997 apud SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e
no Brasil: considerações sobre o ambiente de surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os
desafios da nova didática da história no Brasil. OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, jul./dez. 2014, p.136-137.
89
SADDI, 2014, op. cit., p. 137.
90
BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e EJA: investigações da consciência histórica de
alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2013, p. 21.
O pesquisador Rafael Saddi também chega a conclusão que foi a
partir desse contexto sócio histórico de crise de legitimação da Ciência
Histórica e também do Ensino de História, que os historiadores alemães
resolveram se lançar sobre o seu déficit teórico para fazer as pazes com o
seu passado recente, em específico o nazismo e assim demonstrar a 24
91
SADDI, 2014, op. cit., p. 137.
Gostaríamos quanto a esta questão, de resgatar a tese
formulada na Alemanha em meados dos anos 70, segundo
a qual a Didática da História é uma “sub-disciplina da
Ciência Histórica” (Unterdisziplin der
Geschichtswissenchaft) ou ainda uma “disciplina-parte da
Ciência Histórica” (Teildisziplin der
92 25
Geschichtswissenschaft).
Ainda de acordo com Saddi a visão que permanece nos dias atuais
é contrária a que prevaleceu até o século XVIII,
92
SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência histórica. História & Ensino,
Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 66.
93
RÜSEN, 2007, p. 88 apud SADDI, 2010, op. cit., p. 67.
Tucídides falava do mal que sucedeu quando, em Atenas,
decidiu-se imprimir papel-moeda em grande quantidade”.
“Essa é uma experiência de grande importância”, ele
retrucou em tom conciliador, deixando-se assim convencer,
para manter a aparência de erudição. 94
26
De acordo com Saddi “parecia ser, segundo Koselleck, desde a
antiguidade clássica, quando servia-se da ‘história como coleção de
exemplos’ a fim de que fosse possível ‘instruir por meio dela’”. 95 Nesse
caso, essa mentira interessada deixa claro que o historiógrafo sabia os
efeitos que uma história tinha sobre o presente.
Essa situação mudou ao longo dos anos nos quais a História foi
compreendia como mestra da vida, “dotada de uma essência didática
fundamental, escrita para ensinar os homens do presente e do futuro”. 96
Foi a partir do final do século XVIII, que se esvaziou o velho topos, e
iniciava-se a ideia de que a História não ensinava mais pelos exemplos,
porque passou-se a acreditar que os modelos e padrões do passado só
serviriam para aquele período, não sendo possível ou válido para os dias
atuais.
O século XIX, considerado o período de consolidação das ciências,
processou de uma forma mais violenta “as barreiras que separavam a
História da vida prática”,97 tudo isso ocorreu por causa do processo de
94
KOSELLEK, 2006, p. 41 apud SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência
histórica. História & Ensino, Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 67.
95
KOSELLEK, 2006, p. 43 apud SADDI, 2010, op. cit., p. 67. Ver também: SADDI, Rafael. Reflexões sobre o
campo de investigação da didática da história. In: SILVA, Maria da Conceição; MAGALHÃES, Sônia Maria
de. O ensino de História: aprendizagens, políticas públicas e materiais didáticos. Goiânia: Editora da PUC
Goiás, 2012, p. 84.
96
SADDI, 2010, op. cit., p. 68.
97
SADDI, 2010, op. cit., p. 69.
cientifização da História. Esse processo reduziu a Didática expulsando-a da
Ciência Histórica, no seu lugar ascendeu a metodologia da pesquisa
histórica.98 Conforme Saddi “*...+ a História deixou de responder às
necessidades práticas dos homens, perdendo a sua tarefa de ensino e
aprendizado, para se dirigir exclusivamente ao grupo de pesquisadores 27
especializados”. 99
Mas foi com a virada paradigmática dos anos de 60 e 70 que os
alemães começaram a questionar a separação entre a Didática da História
e a Ciência Histórica, tudo isso como já foi afirmado, deveu-se a crise de
legitimidade da História e do ensino de história. Nesse contexto a História
“precisava proporcionar à sociedade e aos homens que nela viviam ‘uma
identidade na mudança temporal e uma auto-compreensão orientadora
da ação dentro da sociedade’, mas estava abaixo destas tarefas”. 100
Porém, o caráter disciplinar da Didática da História não era
consensual na Alemanha. De um lado, era vista como subdisciplina da
Ciência Histórica e do outro, como subdisciplina das Ciências da
Educação.101 Foi a partir do final dos anos de 70 que essa primeira
compreensão passou a prevalecer e se tornar predominante entre os
alemães.102
De acordo com Saddi os historiadores Bergmann e Rüsen
demonstraram a fragilidade dessa concepção. Os que entendiam a
98
SADDI, 2010, op. cit., p. 69.
99
SADDI, 2010, op. cit., p. 70.
100
BERGMANN, 1998, p. 33, apud SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência
histórica. História & Ensino, Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 71.
101
BERGMANN e RÜSEN, 1978, p. 07 apud SADDI, 2010, op. cit., p. 72.
102
SCHÖNEMANN, 2009; SÜSSMUTH, 1980 apud SADDI, 2010, op. cit., p. 72.
Didática como subdisciplina da Ciência Histórica eram tendenciosos “a ver
todos os problemas didáticos gerais do ensino e da aprendizagem da
História como resolvidos pela práxis da pesquisa histórica e da
especificidade científica da escrita da História”.103 Em contrapartida
também viam com desconfiança a Didática da História como subdisciplina 28
103
BERGMANN e RÜSEN 1978, p. 07 apud SADDI, 2010, op. cit., p. 72.
104
SADDI, 2010, op. cit., p. 73.
105
SADDI, 2010, op. cit., p. 74.
106
JEISMANN, 1977 apud SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência histórica.
História & Ensino, Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 74.
107
SADDI, 2010, op. cit., p. 74.
Os elementos didáticos estão presente na própria composição da
produção pensamento histórico. Por isso Saddi defende que é preciso
entender a Didática da História a partir da função acima descrita, porque
“a Didática da História lida com a orientação produzida pelas histórias, e a 29
108
SADDI, 2010, op. cit., p. 74-75.
109
SADDI, Rafael. Reflexões sobre o campo de investigação da didática da história. In: SILVA, Maria da
Conceição; MAGALHÃES, Sônia Maria de. O ensino de História: aprendizagens, políticas públicas e
materiais didáticos. Goiânia: Editora da PUC Goiás, 2012, p. 99.
uma forma empírica pelos indivíduos fazem parte de estudos que
pertencem ao campo da Didática da História. 110
A metateoria
Com a recolocação da Didática da História no interior da Ciência 30
110
SADDI, Rafael. Didática da História como sub-disciplina da ciência histórica. História & Ensino,
Londrina, v. 16, n. 1, 2010, p. 74.
111
SADDI, Rafael. A Didática da História como meta-teoria. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional
dos Pesquisadores de História. 18, 19 e 20 de abril de 2011 – Florianópolis/SC. Disponível em:
<http://abeh.org/trabalhos/GT07/tcompletorafael.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013, p. 2.
112
SADDI, 2011, op. cit., p. 2.
113
RÜSEN, 2001 apud SADDI, 2011, op. cit., p. 3.
114
SADDI, 2011, op. cit., p. 3.
Seguindo os argumentos Saddi vai afirmar que a Didática da História
também é uma reflexão sobre a práxis historiográfica, porque ela visa
encontrar ou explicitar os pressupostos didáticos do fazer do historiador
com a intenção de que a Ciência da História torne isso aplicável ao 31
aprendizado histórico.
115
SADDI, Rafael. A Didática da História como meta-teoria. Anais Eletrônicos do IX Encontro Nacional
dos Pesquisadores de História. 18, 19 e 20 de abril de 2011 – Florianópolis/SC. Disponível em:
<http://abeh.org/trabalhos/GT07/tcompletorafael.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2013, p. 4-5.
116
Esta reflexão está ancorada na teoria de Jörn Rüsen sobre o conceito de consciência histórica, no
qual os indivíduos para se situarem no tempo precisam constantemente interpretar o passado, com
intensão de compreender o presente para então projetar um futuro. Ver. RÜSEN, Jörn. Razão histórica -
Teoria da História: fundamentos da ciência histórica. Trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília: UnB,
2001, p. 57-59.
tarefa da Didática da História a compreensão da consciência histórica em
todos os seus aspectos, porque é por meio dela que os indivíduos fazem
sua interpretação do tempo.
117
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, p. 133-147 - jul./dez., 2014, p. 141.
118
BARBOSA, Aline do Carmo Costa. Didática da História e EJA: investigações da consciência histórica de
alunos jovens e adultos. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2013, p. 34.
119
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, p. 133-147 - jul./dez., 2014, p. 141.
Para o segundo momento, “e decorrente da primeira, ela deixa de
estar centrada exclusivamente no ensino escolar da história”; 120 aprende-
se história em todas as esferas da sociedade e não apenas na escola.
Pode-se aprender história com o cinema, com a política, com a mídia, com
a internet e todos os outros veículos do mass media. Nos últimos anos 33
tem-se feito um largo uso público da História, e essa forma não científica,
mas presente na vida humana prática também ensina.
Em terceiro lugar “ocorre um questionamento da separação entre
didática da história e ciência histórica”; 121 como já foi afirmado
anteriormente existe uma compreensão na atualidade de que a Didática
da história é uma subdisciplina da Ciência Histórica, vinculada a ela de
uma forma visceral.
Por fim, “a didática da história tem se fortalecido como uma
disciplina científica específica, com objeto e campo de investigação
próprio”;122 este último tem permitido o desenvolvimento de um campo
abrangente no Brasil, admitindo aos cursos de pós-graduação a aceitarem
trabalhos sobre o Ensino de História e também sobre a Consciência
Histórica, como é o caso da Universidade Estadual de Goiás, que em seu
mestrado e doutorado em História possui uma linha de investigação
destinada a abrigar pesquisas na área da Didática da História e também de
Educação Histórica. 123
120
SADDI, 2014, op. cit., p. 141.
121
SADDI, 2014, op. cit., p. 141.
122
SADDI, 2014, op. cit., p. 141.
123
Conforme Linha de Pesquisa 2 - Fronteiras, Interculturalidades e Ensino de História. “Seus campos:
estudos de educação histórica e ensino de história em perspectiva intercultural, produção e
aprendizado histórico, metodologias de ensino em história da arte e imagem, etnohistórias e
identidades, relações étnicorraciais e história ambiental”. In: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
Apesar das mudanças e ampliações nesse campo no Brasil, os
principais pesquisadores dessa área ainda se deparam com algumas
indefinições. Segundo Saddi pode ser detectado três problemas com
relação às definições para a Didática da História. 124
A primeira imprecisão está relacionada ao conceito que define 34
Saddi não concorda com essa definição, porque a história científica ficaria
de fora desse conceito, o que para ele significa impossibilidade de
investigar também essa forma do pensamento histórico
128
CARDOSO, 2008; SADDI, 2010 apud SADDI, 2014, op. cit., p. 141.
129
CARDOSO, 2008, p. 158 apud SADDI, 2014, op. cit., p. 141.
130
SADDI, Rafael. Didática da História na Alemanha e no Brasil: considerações sobre o ambiente de
surgimento da neu geschichtsdidaktik na Alemanha e os desafios da nova didática da história no Brasil.
OPSIS, Catalão-GO, v. 14, n. 2, p. 133-147 - jul./dez., 2014, p. 141-142.
131
SADDI, 2014, op. cit., p. 142.
realidade”.132 A prova disso são os trabalhos desenvolvidos na
Universidade Federal do Paraná, na Universidade Estadual de Ponta
Grassa e na Universidade Estadual de Londrina onde os pensadores
alemães estão sendo dialogados com autores de outras nacionalidades,
como por exemplo, Paulo Freire, István Mészáros, e Raimundo Cuesta 36
Fernandez.
Sendo assim, a Didática da História precisa resolver os problemas de
carências de orientação temporal específicos do contexto brasileiro, da
mesma forma com que fizeram os didáticos dessa área na Alemanha com
o seu passado recente. Existem muitos problemas sociais no Brasil que são
de ordem histórica, negá-los ou evita-los não irá resolver as demandas das
novas gerações que buscam uma compreensão das realidades atuais na
perspectiva da relação existente entre passado, presente e futuro. Essa
lacuna só a Didática pode preencher.
Referências Bibliográficas
132
SADDI, 2014, op. cit., 142-143.
BERGMANN, Klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v.9, n.9, pp. 29-42, set.89/fev.90.
1
Licenciada em História – UFC; Especialista em Estudos Clássicos – UFC; Mestra em Filosofia –
UECE; Doutoranda em História e Cultura do Brasil – UL
Abstract: The Institute of Ceara, founded at the end of the 19 th century,
aimed to establish the local history through the investigation, gathering,
publication and analysis of a huge collection of official documents. The
Ceara Institute Journal was the main source of dissemination of its
intellectual production; however, it was restricted to a small portion of the
local population. The purpose of this article is to discuss how this
intellectual production of the Ceara Institute contributed to the
establishment of its traditional historiography, analyzing the approach
2
given to the indigenous people presented in the most popular works
produced by the authors linked to this institute. It was used the concepts
of History, Memory and Oblivion to analyze what it is considered a kind of
native oblivion; although at the same time it was took into account that
this was not necessarily an intentional positioning but part of the
development of an specific memory of that time and of an specific portion
of the population responsible by its diffusion. The present article is part of
the doctoral thesis which title is “Indigenous and Intellectuals: the
indigenous issue in the Institute of Ceará (1887 – 1938)” held in the
History and Culture of Brazil PhD Course belonging to the Faculty Arts of
the University of Lisbon – Portugal.
Keywords: Memory, indigenous, historiography of Ceara.
Os institutos históricos brasileiros, desde a fundação, tinham o intuito
claro de edificar a identidade nacional, partindo da construção da história
oficial que levasse o indivíduo a sentir-se membro de um grupo social mais
amplo e a identificar-se com a história local. Portanto, essas academias
eram, desde sua criação, moradas não apenas da história, mas também da
memória e do esquecimento da sociedade na qual estavam inseridas.
Compreendendo conceitos
Para Halbwachs a memória do indivíduo não é apenas dele, pois não
é possível compreender o homem desvinculando-o da sociedade. Deste
modo, para ele a memória seria um fato social (HALBWACHS, 2006, p. 43).
Na sua perspectiva a memória do indivíduo corresponderia à soma 3
aleatória das diversas memórias coletivas dos grupos com os quais o
indivíduo se relaciona.
O pensamento de Halbwachs parece mesmo ganhar eco nas ideias
defendidas por Paul Ricoeur que anotou ser “a partir de uma análise sutil
da experiência individual de pertencer a um grupo, e na base do ensino
recebido dos outros, que a memória individual toma posse de si mesma”
(RICOEUR, 2007, p. 130).
Marc Bloch, por seu turno, refletindo sobre a memória coletiva
definida por Halbwachs, entende que ela corresponde aos fatos da
comunicação entre indivíduos, sendo sustentada pela transmissão de
representações. Assim, para que a memória de um grupo social exista
para além da duração da vida humana “é também necessário que os
membros mais velhos cuidem de transmitir essas representações aos mais
jovens” (BLOCH, 1998, p. 229).
Para Marc Bloch, a história não pode se sustentar na imobilidade.
Da mesma forma que a memória, ela também é fruto da intervenção do
homem e da sociedade. Deste modo, as relações entre passado e presente
são bastante sutis e a história não pode ser vista como limitada ao
passado e distanciada do presente. A história, assim como a memória, é
fruto do presente, pois o ponto de partida de ambas está no presente, no
homem presente e na sociedade presente (BLOCH, 2001).
As críticas de Bloch à noção de memória coletiva elaborada por
Maurice Halbwachs influenciou uma nova geração de pensadores da
História fermentando a massa das ideias e alimentando novas 4
perspectivas. Segundo Pollak, por exemplo, é preciso entender a
existência de tentativa de dominação e solidificação da memória coletiva,
como também há a necessidade de perceber quem intervém nesse
processo. Outro aspecto importante, para Pollak, é a percepção das
chamadas memórias subterrâneas, aquelas memórias que resistem em
paralelo à memória coletiva nacional e que promovem uma resistência
silenciosa até o momento em que afloraram, saindo do seu estado de
latência.
É preciso ainda compreender onde se encontra a fronteira entre
história e memória. Para Ulpiano T. Bezerra de Meneses
Bibliografia
ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará. Fortaleza: Imprensa Oficial, 16
s/d.
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STUDART FILHO, Carlos. Páginas de História e Pré-História. Fortaleza:
17
Editora “Instituto do Ceará”, 1966.
CASAMENTO POR AMOR: UMA ANÁLISE DA OBRA
‘ORGULHO E PRECONCEITO’ DE JANE AUSTEN
Morgana Lourenço
1
Abstract: The marriage is a subject of great importance in the Jane Austen's work,
because this was an important matter in the society at that time. The marriage, the love
and the money were things that worried the women of British society in the 18th and 19th
centuries. The love also was something presented on the novels at that time, whatever led
young womem in age enough to get married in order to dream of it. The problem is just
not always was possible to unite these things, love and marriage, because the social
condition that the women were nearly always decided their future, making them marry
only to have some financial security in the future.
12
(…) Alguma de suas irmãs mais moças já foi apresentada
à sociedade, srta. Bennet?
– Sim, minha senhora, todas elas.
– Todas! Como assim, as cinco de uma vez? Que
esquisito! E você é só a segunda. Apresentar as mais
moças antes que as mais velhas estejam casadas! (…)
(…) Mas, na verdade, minha senhora, acho que seria duro
demais para as minhas irmãs mais novas não terem a sua
parte de vida social e diversão, pois talvez as mais velhas
não tenham meios ou inclinação para se casarem cedo.
(…) Acho que não é muito provável que isso promova a
afeição entre as irmãs ou a delicadeza de alma. (AUSTEN,
2012, p. 217).
14
Elizabeth se sentia envergonhada pela impressão que Darcy tinha de
sua família e que só agora ela conseguia ver. O comportamento de sua mãe e
irmãs e até mesmo de seu pai diante da sociedade era reprovável e esse
também foi um dos motivos pelos quais ele separou Bingley de Jane, pois
tinha a impressão que a mãe dela possuía grande interesse na fortuna do
amigo. É quando passa a se compreender que Elizabeth estava pronta para
amar Darcy, mas esse amor ainda teria muitos obstáculos pela frente, pois
quando Lydia fugiu com Wickham, todas as irmãs sabiam que estavam
perdidas e Elizabeth era a mais triste de todas, pois agora mais do que nunca
ela pensava que seria quase impossível que Darcy viesse a renovar o pedido
que lhe fizera anteriormente. “Mas agora um tal casamento feliz não mais
poderia ensinar à multidão o que realmente significa a felicidade conjugal.
Uma união de natureza diferente, que destruía a possibilidade da outra, logo
se formaria no seio da família.” (AUSTEN, 2012, p. 386). Elizabeth teve mais
certeza ainda sobre o caráter de Darcy quando descobriu que foi ele quem
pagou o dote de sua irmã Lydia e não seu tio como todos pensavam e que ele
teve de passar por cima de seu orgulho para dar a Wickham um posto melhor
na milícia mesmo depois de tudo o que ele fez para sua irmã. Elizabeth
estava com raiva de si mesma por ter recusado o pedido que Darcy lhe fizera
antes e também se achava tola por ter esperanças de que o seu amor
renascesse por ela. É atribuída a Elizabeth a frase que está em destaque no
início deste capítulo, ela acreditava que qualquer homem protestaria e
acharia indigno fazer novamente uma proposta de casamento para a mesma
mulher.
15
Quando Jane e Bingley finalmente ficaram noivos graças o auxílio de
Darcy que após descobrir por Elizabeth que Jane não era indiferente a
Bingley, tratou logo de aconselhar o amigo a pedir Jane em casamento para o
alívio da sra. Bennet que não escondeu nem um pouco a sua alegria. “– Ah!
Minha querida Jane, estou tão feliz! Tenho certeza de que não conseguirei
pregar os olhos esta noite. Mas eu sabia. Eu sempre disse que tinha de ser
assim, finalmente. Tinha certeza de que você não podia ser tão linda para
nada!” (AUSTEN, 2012, p. 428 – 429). Apesar de toda a alegria do casamento
entre Jane e Bingley alguns rumores de que Elizabeth poderia ficar noiva de
Darcy chegou aos ouvidos de Lady Catherine de Bourgh e isso fez com que
ela fosse até Elizabeth para saber a verdade. E ela insistiu de todas as formas
para saber se eles realmente estavam noivos e fez ela prometer que nunca
ficaria noiva dele, Elizabeth disse que não estavam noivos, mas que não faria
nenhuma promessa. Lady Catherine com todo seu ar insolente ficou com
mais raiva e só rebaixou Elizabeth ainda mais.
16
Notamos que Lady Catherine falou sobre as ligações que a família de
Elizabeth não possuía, o que era algo importante naquele período, além de
lembrar que sua família não era rica. Mais a frente ela disse a Elizabeth que
não ignorava o caso de sua irmã Lydia que fugiu e que seria ruim para o seu
sobrinho ter ligações com uma família desse tipo. Essa união entre seu
sobrinho e Elizabeth contrariava Lady Catherine, mas como informou a
autora Biguelini (2009), que a união de um homem rico com uma heroína de
Jane Austen não batia de frente com os costumes da sociedade, mas que se
uma moça se casasse com um homem de classe inferior a dela, ela seria
afastada da sociedade e amigos, pois quando a mulher se casava fosse rica
ou pobre ela passava automaticamente para a classe social do marido. Ou
seja, Darcy poderia pedir Elizabeth em casamento sem ir contra a sociedade,
além disso, era ele quem administrava os seus bens e não precisaria do
consentimento de ninguém.
Quando Darcy soube que Elizabeth não prometeu a sua tia que nunca
o aceitaria, surgiu um sentimento de esperança dentro dele e dessa forma
voltou a fazer o pedido de casamento, mas dessa vez ele era outro homem,
pois havia deixado o orgulho de lado e aprendeu a amar não só a Elizabeth,
mas tudo que fazia parte da vida dela. Jane Austen não nos mostra o que
Elizabeth diz ao aceitar o pedido de Darcy, e nos deixa por nossa própria
imaginação, ela apenas nos ajuda a compreender que o pedido foi aceito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
REFERÊNCIAS:
22
AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo:
Martin Claret, 2012.
LEIGH, James, Edward Austen. Uma Memória de Jane Austen. Trad. José
Loureiro; Stephanie Savalla. Editora: Pedra Azul, 2014.
REEF, Catherine. Jane Austen: Uma Vida Revelada. Trad. Kátia Hanna.
Barueri, SP: Novo Século Editora, 2014.
23
SOUSA, Dignamara Pereira de Almeida. Contexto da escrita de Jane Austen.
Anais eletrônicos do IV Seminário Nacional de Literatura e Cultura São
Cristóvão/SE: GELIC/UFS, v.4,3 e 4 de maio de 2012. Disponível em:
http://200.17.141.110/senalic/IV_senalic/textosHYPERLINK
"http://200.17.141.110/senalic/IV_senalic/textos_completos_IVSENALIC/TEX
TO_IV_SENALIC_191.pdf" _completos _IVSENALIC /
TEXTO_IV_SENALIC_191.pdf. Acessado em: 14/03/2014.
A IMPORTÂNCIA DA INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NO
COMBATE AO PRECONCEITO, RACISMO E
DISCRIMINAÇÃO
RESUMO
O presente trabalho é uma ação dos acadêmicos de História da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS) que compõem o Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à docência (PIBID), visando colaborar com o ensino e a aprendizagem dos
alunos da Escola Estadual Professor Emydio Campos Widal dos anos 7ºB, 8ºA e B e 9ºA
e B do ensino fundamental. Consiste na execução do projeto “Desconstruindo
paradigmas: racismo, preconceito e discriminação - uma abordagem histórica”,
visando promover a igualdade e diversidade sociocultural, demonstrando as lutas,
estratégias e resistências da população negra. Resultaram-se ações de inclusão e
reflexão por meio da confecção de cartazes elaborados pelos próprios alunos.
Palavras-chave: Racismo, preconceito, discriminação.
ABSTRACT
The present work is an action of the Academics of History of the Federal University of
Mato Grosso do Sul (UFMS) that make up the Institutional Program of Initiation to
Teaching Scholarship (PIBID), aiming to collaborate with the teaching and learning of
the students of the State School Teacher Emydio Campos Widal from 7ºB, 8ºA and B
and 9ºA and B from primary education. It consists of the implementation of the project
"Deconstructing paradigms: racism, prejudice and discrimination - a historical
approach", aiming to promote equality and socio-cultural diversity, demonstrating the
struggles, strategies and resistance of the black population. It resulted in actions of
inclusion and reflection through the production of posters prepared by the students
themselves.
Keywords: Racism, preconception, discrimination.
1
Bacharel em Ciências Contábeis pela União da Associação Educacional Sul Mato-grossense (UNAES).
Especialista em Cultura e História dos Povos Indígenas, aluna especial do Mestrado em Comunicação e
acadêmica de História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Bolsista do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Agência Financiadora: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
INTRODUÇÃO
preconceito.
A PRIMEIRA OFICINA
Para a execução do projeto, foram realizados planejamentos
para as quatro oficinas, que contavam com três bolsistas, visando
organizar e idealizar uma aula apropriada tanto para os acadêmicos
quantos para os estudantes. Partindo dessa perspectiva, as aulas foram
realizadas seguindo a estrutura, porém sempre intervindo conforme a
necessidade de cada aluno. Vale ressaltar que durante as três primeiras
oficinas, foi solicitado que os alunos se mantivessem em círculo,
objetivando uma aula diferenciada e mais dinâmica.
Assim, durante a primeira oficina, foi abordada análise
conjuntural do processo de escravidão no Brasil colonial ressaltando e
contextualizando os seguintes aspectos: África e o seu pluralismo cultural;
Processo de escravidão como uma forma de dominação étnica e de
contenção do dinamismo cultura; abolição dos escravos e o surgimento
das favelas.
Para isso a aula contou com os seguintes recursos: o uso de
mapa, imagens, música, datashow, bola, dicionário, giz e quadro negro.
A aula foi iniciada apresentando aos alunos as propostas do
projeto, demonstrando cronograma. Em seguida, foi realizado um debate
com os alunos com o intuito de conceituar os termos: escravo e salário.
Posteriormente, foi realizada uma dinâmica com os alunos, que
consistia em demonstrar qual é a diferença de uma mão de obra escrava e 7
A SEGUNDA OFICINA
A seguinte aula foi realizada com base no texto de Maria Helena
Machado intitulado “O plano e o pânico: movimentos sociais na década da
abolição” e o "Espetáculo das Raças" de Lilia Schwarz, e contará com o uso
de datashow, pinturas, jornal, giz e quadro negro.
Inicialmente, foi retomado o cronograma do projeto e a leitura
da letra (juntamente com a música) do Samba-Enredo 1988 da Escola de
Samba Mangueira “Cem anos de liberdade, realidade e ilusão”. Foram
indagados aos alunos quais foram às reflexões realizadas a partir da
música.
Também foi reapresentado aos alunos como se realizar a criação
do cartaz como atividade avaliativa do último encontro.
Foi retomada a questão dos surgimentos das favelas do Rio de
Janeiro, tendo como ênfase a Belle Epóque.
Pretendeu-se assim fomentar o reconhecimento da cultura
negra no cotidiano. E posteriormente contextualizar a história dos
movimentos sociais pela luta da igualdade, tendo como ênfase o
movimento “Frente Negra Brasileira”.
Ocorreu um debate referente a uma charge que trata sobre
questões raciais.
Também houve a realização uma reflexão sobre o jornal “A voz
da Raça”, sobre os primeiros filmes e teatros com protagonistas negros, e
um diálogo sobre o quadro "Redenção de Cam". 9
A TERCEIRA OFICINA
Foi realizada uma análise conjuntural do processo de escravidão
no Brasil, colonial ressaltando e contextualizando os seguintes aspectos:
- África e o seu pluralismo cultural
- Processo de escravidão como uma forma de dominação étnica
e de contenção do dinamismo cultural
- Movimentos de resistência negra contra a escravidão
Tendo como recurso a utilização de quadro negro, giz e
datashow, e como embasamento teórico o “Os jovens das camadas
populares na universidade pública: acesso e permanência” de Jovilles
Vitório Treviso que defende as cotas raciais.
Foi realizada uma dinâmica aonde serão escritas na lousa
palavras como “social, cultural, econômico, físico, gênero, étnico” e se
solicitando que os alunos que citassem a palavra que a eles representa
todas as elencadas na lousa nela, preconceito, e assim iniciar o debate.
Após a dinâmica, iniciou-se um debate com a seguinte pergunta:
“Quantos professores negros você já teve?”
Após o diálogo, será indagado:
“O que você entende por cota?”
Assim, a partir de dados estatísticos do IBGE que apresentam a
Bahia como um dos estados com maior população negra, foi apresentado 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendeu-se, pois, que as atividades são fundamentais para que
os alunos possam demonstrar como estão concebendo os saberes. Pois,
acredita-se que é de tendência individual a construção dos
conhecimentos, tendo em vista que cada aluno detém a sua própria
história, sua visão de mundo, sua ancestralidade e suas problemáticas
diárias, sendo este um complexo deve ser respeitado pelo professor.
Dessa maneira, o referente trabalho pretendeu-se estabelecer
com os alunos a valorização da diversidade, muitas vezes negadas,
estando à margem das conquistas sociais, trazendo como ênfase a história
do negro desde as suas origens ate é o cotidiano dos alunos, combatendo
a discriminação, o racismo e o preconceito.
Verificaram-se transformações de pensamento e
comportamento, por meio dos debates em sala de aula, e a promoção da
igualdade e diversidade sociocultural, demonstrando as lutas, estratégias
e resistências ao longo da história do Brasil. Com a confecção dos cartazes
os discentes também exercitaram sua criatividade e liberdade de
expressão acerca das temáticas trabalhadas, possibilitando uma nova
forma de percepção da realidade que os cerca e aguçando seu senso
crítico.
Este trabalho visou trazer aos estudantes novos prismas acerca
de questões cruciais e tão presentes em sua vivência e realidade, como
racismo, preconceito e discriminação. Buscou-se trabalhar de forma a
apresentar a fundamentação histórica dessas mazelas no Brasil e assim,
junto com os mesmos, procurar desconstruir “certezas” e “convicções” 15
REFERÊNCIAS
BASILE, Marcello Otávio N. de C. O Império Brasileiro: Panorama Político
In: LINHARES, Maria Yedda. Historia Geral do Brasil, Rio de Janeiro: Editora
Campus, 2000.
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1988. Disponível em
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Acesso em maio de 2016.
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raciais. Ministério da Educação. Brasília: SECAD, 2006. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/orientacoes_etnicoraciais.pdf>
Acesso em maio de 2016.
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Brasília, 1997. Disponível em
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maio de 2016.
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Papirus, 2008
GOULART, L. B., ANTUNES, M. F. O Território e as territorialidades. In:
Curso de Aperfeiçoamento Produção de Material Didático para 16
Diversidade – Porto Alegre, 2011 p. 109-116.
LAMOUNIER, M. L. Da escravidão ao trabalho livre: a lei de locação de
serviços de 1879. Campinas: Papirus, 1988.
MIGNOLO, W. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o
significado de identidade em política. Caderno de letras da UFF – dossiê:
literatura, língua e identidade, no 34, p. 287-324, 2008. Disponível em <
http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/34/artigo18.pdf> Acesso em maio
de 2016
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PIOVESAN, Flávia C. Temas de direitos humanos. São Paulo, Saraiva, 2013.
Disponível em < http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/56512>
Acesso em outubro de 2016.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. São Paulo. Companhia
das Letras, 1993.
TREVISOL, J. V. NIEROTKA, R. L. Os jovens das camadas populares na
universidade pública: acesso e permanência. Universidade Federal da
Fronteira Sul, Florianópolis, 2016. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802016000100022&lang=pt> Acesso em agosto de 2016.
O LÚDICO DIGITAL NAS AULAS DE HISTÓRIA: APLICAÇÃO
DO GAME CAESAR III COMO MATERIAL LÚDICO NAS
TURMAS DE SEXTO ANO DO CENTRO EDUCACIONAL SÃO
JOSÉ (MIRACEMA – RJ)
1
1
Ramon Mulin Lopes
RESUMO
O presente texto tem por desígnio relatar a experiência da utilização do game “Caesar
III” em turmas de ensino fundamental como parte do processo de ensino-
aprendizagem da disciplina de História. O objetivo desta aplicação propõe transformar
o game em uma ferramenta de interação entre alunos, contexto histórico e política do
antigo Império Romano em um ambiente lúdico e capaz de despertar o interesse dos
alunos, uma vez estes imersos em um cotidiano ligado às tecnologias digitais. O game
colaborou com a visualização das tecnologias do império romano e promoveu uma
profunda reflexão sobre as atitudes de cada aluno durante a construção de suas
atividades no jogo.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; Games; Tecnologias Digitais.
ABSTRACT
This paper aims to report the use of the game "Caesar III" in classes of elementary
school as part of the teaching-learning process of History class. The purpose of this
application was to turn the game in an interaction tool between students, historical
context and the old political Roman Empire in a playful environment and turn it able to
arouse the interest of students, once these are immersed in a connected daily to
digital technologies. The game helped with the visualization technology of the Roman
Empire and promoted a deep reflection on the attitudes of each student during the
construction of its activities in the game.
Key words: Teaching and learning; Games; Digital Technologies.
1
Historiador regional e professor de História licenciado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Macaé (FAFIMA-RJ). Atua nas redes de educação municipal e privada do município de Miracema, estado
do Rio de Janeiro.
1. Considerações iniciais
2. Considerações teóricas
4. Resultados
“Caesar III” tem uma falha grave no que tange aos interesses dos
cidadãos e a divisão de classes sociais em sua população. O game não
considera essas variáveis. Porém, justamente por isso, optou-se por esse
jogo levando em conta de que as turmas não têm maturidade em certos
âmbitos dos estudos sociais. Dessa forma, a adaptação e a simplificação
do trabalho ao nível de turmas de 6º ano foi considerada, pelo professor,
um sucesso.
9
6. Referências Bibliográficas
CUNHA, Maria Isabel da. O Bom Professor e Sua Prática. 2 ed. Campinas –
SP: Papirus Editora, 1992.
MICELI, Paulo. In MORAIS, Regis de (org.). Sala de Aula: que espaço é esse?
7 ed. Campinas – SP: Papirus, 1994.
SILVA, Edna Marta Oliveira da. Como aprende o nativo digital: reflexões
sob a luz do conectivismo. Revista Intersaberes, vol. 9, n.17, p.70-82.
UNINTER: jan. – jun. 2014.
Nadine Nogara1
1
Resumo: Temos como objetivo analisar o documento Kama sutra, escrito pelo poeta
indiano Mallanaga Vatsyayana, discutindo sobre as concepções que podem ser vistas
como idealizações de masculinidade e feminilidade para os homens e mulheres
indianos na visão do poeta, justificando que cada cultura tem seus diferentes padrões
de comportamentos, tanto individuais como em meio a sociedade. Utilizaremos para
isto dos estudos de gênero para evidenciar o ideal do “ser masculino” e do “ser
feminina”, descaracterizando o documento de sua ideia ocidental de um manual visual
de posições eróticas, expondo o modo comportamental idealizado por Vatsyayana.
Abstract: Our objective is to analyze the document “Kama Sutra”, written by the Indian
poet Mallanaga Vatsyayana, discussing about the conceptions that can be seen as
ideals of masculinity and femininity for Indian men and women in the poet’s vision.
While justifying that every culture has its different behavior standards, individually and
in society. For that we utilize gender studies to discriminate the ideals of “be
masculine” and “be feminine” to de-characterize the document of its occidental idea
of a visual manual of erotic sex positions, showing the behavioral way idealized by
Vatsyayana.
1
Acadêmica do curso de História da UNESPAR, campus de União da Vitória.
INTRODUÇÃO
sociedade em geral.
Percebemos que o Kama Sutra não é apenas um manual erótico
como tido ocidentalmente, mas um guia “comportamental” e sexual para
os homens e as mulheres indianos. Pretendemos focalizar neste trabalho
como as mulheres são vistas e quais são os comportamentos femininos e
masculinos compreendidos como ideais no Kama Sutra. Pois estes
aspectos comportamentais apresentam as concepções de representações
sociais, como nos apresenta Margaret Mead, “a natureza humana é quase
incrivelmente maleável, respondendo acurada e diferentemente a
condições culturais contrastantes” (MEAD, 1969, p. 268), ou seja, os
aspectos de feminino e masculino apresentam-se ligados ao sexo, mas
também as construções de comportamentos, as vestimentas e dentre
outros aspectos atribuídos aos diferentes sexos, variando com as distintas
formas culturais.
Na Índia os casamentos eram arranjados com o cuidado de
assegurar os objetivos maiores da família, e as mulheres deviam servir
fielmente ao pai e depois a seu marido. Como apresentado por Paulson
(2002) os homens indianos com maior poder socioeconômico têm o
“acesso” a muitas mulheres, com haréns de 3, 4 esposas ou com até mais
de 50 mulheres.
A compreensão dos papéis sociais, definidos como ideais, mas não
necessariamente desempenhados, no cotidiano dos homens e mulheres
na sociedade indiana, uma sociedade tradicional e religiosa, nos leva a
pensar na pluralidade e diversidade cultural no que diz respeito aos
valores tradicionais. Essa reflexão objetiva a promoção, a partir de 5
2
Tradução livre: As definições essencialistas costumam recolher uma característica definidora do núcleo
do masculino, e adicionar-lhe uma série de características de vida dos homens.
sociedade, com diferentes argumentos do que as mulheres e os homens
devem ou podem fazer. Estas concepções continuam em outras
sociedades e culturas, porém de maneira modificada, por isso, devemos
ao longo desta obra, reparar nas diferenças das características idealizadas
para os homens que se tem na visão do poeta indiano com as de nossa 17
3
Tradução livre: As definições de masculinidade, na sua maioria aceitam como verdadeiro o nosso
ponto de vista cultural, mas também adotaram estratégias diferentes para caracterizar o tipo de pessoa
que é considerado masculino.
No livro dedica-se um capítulo aos deveres dos homens (a vida do
citadino) neste ele nos apresenta como “deveria” ser um “citadino”, que
seria um homem social e culto, dentre outras definições que aparecem
durante a obra, os “citadinos”, eram os homens que estavam seguindo
todos os comportamentos de maneira ideal, tanto de maneira religiosa, 20
social e também sexual, por sua vez, Vatsyayana escreve para a leitura
destes homens, que estavam em contato com diversos lugares e que
frequentavam festas e haréns reais. E este “citadino” possui deveres
diferentes, que são especificados na obra:
4
Tradução livre: Reconhecer mais de um tipo de masculinidade é apenas um primeiro passo. Temos
para examinar as relações entre eles. Além disso, precisamos separar o contexto da classe e raça e
analisar as relações de gênero que operam dentro destes.
Vatsyayana descreve muitos detalhes sobre a conquista, “o
homem que viu e compreendeu os sentimentos de uma moça para com
ele, e que percebeu os sinais e movimentos exteriores pelos quais esses
sentimentos se expressam, deve fazer todo o possível para efetuar uma 22
união com ela” (VATSYAYANA, 2012, p.170), vê-se na obra que o homem
deve agir segundo as inclinações da mulher que quer conquistar, para
ganhar seu amor e confiança, mas, também deve adotar um
comportamento intermediário, pois não conseguiria um êxito completo
seguindo apenas as inclinações dela.
proporcionar prazeres sexuais a suas esposas, uma vez que através deste
prazer sexual conseguiria manter um estado de “dominação” sobre elas, e
também adquiriria o Kama religioso.
Contanto, “Nas questões de amor, os homens devem fazer aquilo
que for agradável às mulheres dos diferentes países” (VATSYAYANA, 2012,
p. 107), o poeta dedica-se a descrever como cada uma dessas mulheres
deveriam ser conquistadas:
5
Tradução livre: Em todas as culturas de um conjunto amplo de ideias, representações, práticas e
prescrições sociais sobre nossa condição sexual, nos jornais género e socialmente construído simbolizam
o que é próprio dos “homens” (Masculino) e o que é próprio das "mulheres” (feminino). Sexo – como
categoria relacionamento - age como um "dever ser social" que é gerado e, por sua vez, ele gera
discursos que contraem ações e estratégias pessoais. Este arranjo social não é apenas um artifício de
cultura que opera no sentido de reprodução das espécies, mas, basicamente, é um mecanismo que
estabelece as relações potência assimétrica em cada momento histórico, delimitar e definir posições de
temas de acordo com seu sexo. (BENLLOCH, 2005, p.105)
feminina do fechamento e do silêncio do corpo. Logo estes padrões tidos
ocidentalmente não fogem completamente de padrões idealizados
também no contexto oriental, veremos que Vatsyayana apresenta-nos em
seu manual, características de uma visão mais ampla quanto aos direitos
das mulheres, ao menos em relação ao ato sexual, quanto ao direito das 29
virtuosa”. “A mulher virtuosa, que tem afeição pelo marido, deve agir de
acordo com seus desejos, como se ele fosse um ser divino, e com seu
consentimento deve assumir o cuidado da família” (VATSYAYANA, 2012, p.
189), no manual continua-se explicando que esta mulher deve manter
sempre a casa bem limpa e organizada, deve cercar a casa com um jardim
e deve venerar o santuário dos deuses domésticos, pois nada atrai tanto o
coração do dono da casa para sua esposa quanto a observação cuidadosa
das coisas acima mencionadas. Estas mulheres também devem evitar a
companhia de mulheres que não lhe estão de acordo, como mulheres
devassas e grosseiras e mulheres que leem a sorte ou feiticeiras. E em
casos de ausência do marido deve seguir uma série de comportamentos
recomendados por Vatsysyana, como dormir perto de mulheres mais
velhas.
em cada caso diferente, assim como caso elas se casem novamente. São
diferenciadas as maneiras de comportamento dentro de um novo
casamento, chamando a viúva de “viúva casada em segunda núpcias”
(VATSYAYANA, 2012, p. 202). O poeta também menciona como as
mulheres mais jovens devem se comportar perante as mais velhas, caso o
marido possua várias esposas, e o que pode causar insatisfação dentro do
casamento que o leva a procurar outras mulheres para casar-se.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Kama Sutra é um livro milenar, escrito por Mallanaga
Vatsyayana originalmente em sânscrito, hoje o manual é mundialmente
conhecido. Mas ocidentalmente ele é tido, basicamente como um manual
erótico, enquanto isto não o define, pois a partir deste manual podemos
analisar comportamentos idealizados quanto aos homens e mulheres 38
6
Tradução livre: As definições de masculinidade, na sua maioria aceitam como verdadeiro o nosso
ponto de vista cultural, mas também adotaram estratégias diferentes para caracterizar o tipo de pessoa
que é considerado masculino.
uma maneira de impedir que suas esposas os deixem. E mesmo este
padrão do ideal masculino e feminino sendo consideravelmente diferente
do que temos ocidentalmente, muitas vezes confundindo ideais femininos
com os ideais masculinos, ele ainda confina homens e mulheres a agirem
de maneira determinada e limitadora. 40
REFERÊNCIAS
RENOU, Louis. Antologia de textos Hindus. Rio de janeiro: Ed. Jorge Zahar,
1969.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação
e Realidade. Porto Alegre, v.16, n.2, p. 5-22, jul/dez., 1990.
Resumo
O presente texto possui o objetivo de analisar, como os livros didáticos referentes ao
PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) de 2014, apresentaram as formas de governo
e suas concepções desenvolvidas em Atenas. Tendo ciência, que a História Antiga e seu
recorte espacial e temporal não pode ser visto como algo naturalizado, o livro didático
também reflete a interesses que são apontados no texto, discutidos em conjunto com
os dados obtidos que envolvem os conceitos de formas de governos; ostracismo;
definição do termo democracia; que são apresentados nos referentes livros. Todos
esses fatores implicam compreender a dimensão complexa do livro didático para o seu
principal utilizador: o estudante.
Palavras Chaves: História Antiga; Atenas; Formas de Governo; Ostracismo; Democracia.
Abstract
This text has to analyze, as the textbooks for the PNLD (National Plan Textbook) 2014,
presented the forms of government and their ideas developed in Athens.
Being aware that the ancient history and its spatial area and temporal cannot be seen
as naturalized, the textbook also reflects the interests that are mentioned in the text,
discussed together with the data obtained involving the concepts of forms of
government; ostracism; definition of democracy; which are presented in the related
books. All these factors imply understanding the complex dimension of the textbook
for your main user: the student.
Key Words: Ancient History; Athens; Forms of Government; Ostracism; Democracy.
forma uma sequência de: Rei, Aristocracia e Democracia, que pode ser
observada nos livros 1, 2, 3, 5, 6, 9. Já o segundo estabelece uma
sequência mais detalhada: Monarquia, Arcontado, Aristocracia,
Legisladores, Tiranos, Democracia, e ocorre nos livros 4 e 8. O livro 10 é o
único que apresenta sequência: Monarquia, Oligarquia, Legislador, Tirano
e Democracia, enquanto que o livro 11: Aristocracia e Democracia.
Finalmente, o livro 7 expõe: Monarquia, Oligarquia, Tirania e Democracia.
Em relação a democracia este conceito está presente em todas as 12
obras analisadas, mas somente os livros 2, 3, 6, 7, 9, 11, 12, se preocupam
em apresentar uma definição a respeito do conceito.
Desta forma temos:
N° Livro Dados Obtidos
2 Democracia: (do grego, demo que quer dizer ‘povo’ e cracia, ‘governo’.
(p.172)
3 Democracia: tem origem na palavra grega demos, nome dado pelos
atenienses tanto à população em geral quanto as divisões administrativas
de sua cidade. (p.104)
6 Democracia: A palavra democracia é a junção de demos (povo) e kratos
(poder), isto é poder do povo. (p.209)
7 Democracia: do grego demo = povo e cracia = governo, governo do povo.
(p.130)
9 Democracia: palavra de origem grega que significa “governo do povo”.
(p.199)
11 Democracia: Era a democracia, o governo do povo. (p. 110)
12 Democracia: democracia, isto é, o governo do demos, palavra grega que
significa tanto “povo”, quanto uma divisão territorial de Atenas. (p.168)
Assim, é possível perceber que os livros 9, 11, possuem grande
similitude na explicação dos conceitos. Os livros 2 e 7 também expressam
semelhanças. Temos por destaque os livros 3 e 12, que atrelam ao
conceito “demos” não apenas o sentido de povo, mas também uma
“divisão territorial de Atenas”. 7
Livros didáticos
Referências
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e
métodos. São Paulo: Cortez, 2011
BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional do Livro Didático – Guia
de Livro Didático. Brasília, 1999.p.461.
FUNARI, P.P.A.; SILVA, G.J. & MARTINS, A. L. (org.) História Antiga:
contribuições Brasileiras. São Paulo: Annablume Fapesp, 2008
GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.
REFLEXÕES EM TORNO DO ENSINO DE HISTÓRIA ANTIGA
NA GRADUAÇÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Resumo
Refletir sobre o ensino de História Antiga tanto na Educação Básica, quanto no Ensino
Superior, em tempos de reelaboração da Base Curricular Comum, assume, para muitos
historiadores, caráter de militância. Ainda que saibamos que esta designação seja
exagerada, ela sinaliza uma postura bastante comum no meio acadêmico, defendida
por muitos historiadores. Diante disso, este artigo pretende pensar a relevância dos
conteúdos de História Antiga na formação de professores a partir de um relato de
experiência. Objetiva-se, com isso, problematizar o lugar dos estudos sobre a
Antiguidade nos currículos de licenciatura em História, tendo em vista um cenário de
intensos debates acerca da renovação do ensino de História na Educação Básica.
Palavras-chave: Ensino de História – História Antiga – formação de professor
Abstract
Reflect on teaching of Ancient History in basic education or in higher education, in
times of Common Curricular Base reworking, assumes, for many historians, militant
character. Although we know that this designation is exaggerated, it signals a fairly
common attitude in academic community, defended by many historians. So this article
aims to think about the relevance of Ancient History contents in teacher training from
an experience account. The purpose is, therefore, question the place of Antiquity
studies in undergraduate curricula in history, considering a scenario of intense debate
about the renewal of history teaching in basic education.
Keywords: Teaching of History - Ancient History - Teacher training
1
Universidade Federal do Piauí/campus de Picos
compreensão do aluno sobre a história regional ou nacional em lugar de
períodos históricos mais recuados.
Estes posicionamentos, mais presentes nos últimos dias, por ocasião
das reflexões em torno da consolidação da Base Nacional Comum
Curricular, mobilizaram os historiadores de História Antiga, de todas as 2
RESUMO
A guerra é um tema muito discutido desde os primórdios da humanidade até os dias
atuais, isto por que ela está presente em todos os séculos, podemos ver como grandes
estrategistas de guerra ou mesmo historiadores veem este fenômeno que é extremista
por natureza, como afirma Clausewitz “a guerra é um ato de violência destinado a
obrigar o inimigo a fazer a nossa vontade”1. Podemos notar isto em todas as guerras
registradas, desde as do Peloponeso (431 a 404 a.C.) aos conflitos civis que estão
acontecendo no Oriente Médio (Guerra Civil na atualidade). Isto com grande influência
das multinacionais e Estados ricos que financiam as guerras com o interesse no lucro
posterior.
PALAVRAS CHAVES: Guerras, Política, Corrupção, Economia.
ABSTRACT
The war is a much discussed topic since the begin of humanity until the present day,
because it is present in every age, we can see how great strategists of war or even
historians see this phenomenon that is extremist in nature, as stated Clausewitz, "war
is an act of violence intended to compel the enemy to do our will." We may note that
in all recorded wars, from the Peloponnese (431-404 BC) to the civil conflicts that are
happening in the Middle East (Civil War today). This with great influence of
multinationals and rich states who finance the wars with interest in further profit.
KEYWORDS: War, Politics, Corruption, Economic.
Graduando 7° Período do Curso de Licenciatura em História pela Universidade de Pernambuco Campus
Mata Norte, integrante do Grupo História do Tempo Presente.
1
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra; Tradução para o inglês Michael Howard e Peter Paret e tradução do
inglês para o português CMG (RRm) Luiz Carlos Nascimento e Silva do Valle, pág.94.
Conflitos, guerras, destruição em massa, política, crescimento
tecnológico são grandes temas para serem discutidos a partir do olhar de
grandes estrategistas e historiadores que tiveram a sensibilidade de
estudar este tema. Sob um olhar crítico, é possível notar como homens
que escreveram sobre o que é a guerra e qual o objetivo dela, mesmo em 2
Guerras
Este fenômeno tão discutido pela humanidade traz alguns fatores
em comum: conflitos de religiões, tentativa de controle do poder, guerra
política, econômica e social. Duas grandes potências do mundo antigo,
Atenas e Esparta, disputavam por território e poder econômico, assim
como, o Império Romano, o Império Frances, Russo, E.U.A., entre outros.
Estas grandes potências lutavam pela conquista de território e
busca pelo poder, ou simplesmente para defender seu território já que
novas potências iam surgindo. Nas conquistas Mongóis o imperador
Gêngis Khan quando notava a existência de um Estado crescendo ou se
destacando perante os demais ele mostrava seu poder militar e agia 3
usando a força, a mesma estratégia foi usada nas guerras bárbaras, que
tiveram a violência como destaque principal dos exércitos.
Dentre as estratégias de guerra uma que ganhou destaque na
historiografia foi a que utilizou a religião para expansão de poder,
movimento muito forte nas cruzadas, este movimento foi uma forma da
igreja católica ganhar mais autonomia e poder, se expandindo ao mais
longínquo território suas crenças e domínios, entretanto houve uma
oscilação contrária dentro da própria igreja. O principal motivo para estas
cruzadas era a luta territorial, principalmente na Península Ibérica e a
imposição do cristianismo pela igreja católica. A “Guerra Santa” era a luta
contra o povo dito “infiel” (muçulmanos), mas ambos os lados a
chamavam desta forma, os líderes católicos pregavam que as pessoas que
fossem para as cruzadas seriam perdoados dos seus pecados. O maior
objetivo desta guerra foi à imposição da igreja para ganhar território,
poder e riqueza, isso ainda é utilizado por países contemporâneos, sob a
prerrogativa da imposição de uma religião para adquirir poder econômico
e militar, usando estratégias militares e política para poder atacar os
Estados que se apresentavam como uma “ameaça”, assim como a
desculpa da busca pela paz mundial, paz essa que os norte-americanos
pregam nos dias atuais e continuam invadindo países e matando pessoas.
Outra guerra que também ganhou destaque foi à guerra de secessão, este
conflito teve grande importância, pois a partir dele os E.U.A. se
consolidaram como grande potência mundial, esta guerra foi considerada
a primeira grande guerra de um povo comum, uma guerra civil. Foi nela
que começaram a aparecer as novas tecnologias que seriam testadas com 4
Enfim, nota-se que por mais que cada guerra apresentada tenha seu
contexto individual, por mais diversificado que seja cada conflito, elas têm
algumas coisas em comum, por exemplo: o pensamento de uma guerra
rápida com vitória para as grandes potências. Aconteceu com o exército
de Atenas, tendo sua superioridade militar, achava que iria vencer
facilmente os espartanos; com os E.U.A., quando guerrearam contra os
vietnamitas, achavam que seria uma guerra curta e fácil, porém saíram
derrotados, ou ainda quando invadiram o Talibã na busca do líder (Osama
Bin Laden) dos ataques terroristas do 11 de setembro, sua busca durou
muito mais tempo o que ocasionou mais despesa para os E.U.A. e ainda
acarretou uma futura crise econômica neste país.
2
História das Guerras. Demétrio Magnoli, organizador. 4. Ed., 1ª reimpressão. - São Paulo: Contexto,
2009. Págs. 355-388.
renomado general Carl Von Clausewitz escritor de um dos mais
importantes livros sobre história das guerras, “Da Guerra”.
Para Bonanate as guerras têm uma grande importância para o
equilíbrio da humanidade, ele comenta que a ameaça atômica fez com
que a população ficasse concentrada nas grandes guerras e que deixassem 6
potência mundial com certeza esse país seria esmagado, mas se ele invade
e consegue tocar no coração daquela potência, este pequeno Estado
conseguirá alcançar seu objetivo.
Bonanate fala o que é a guerra mostrando como ela era na
antiguidade e como são os novos modelos usados no mundo
contemporâneo, ele mostra um fator que elas têm em comum: o uso da
força, para alcançar um objetivo, como afirma Clausewitz “A guerra é
meramente a continuação da política por outros meios” 3. Outro
pensamento muito relevante de Clausewitz faz referência à utilização da
força para se alcançar objetivo, “o corpo da guerra é derrubar o
adversário, seja ao destruí-lo politicamente, seja ao impossibilitá-lo
simplesmente de se defender”4, mostrando assim que o principal objetivo
da guerra é impor poder ao inimigo.
Bonanate também expõe por que se faz a guerra, ele explana com
um exemplo prático, o comércio, pois nele a busca incessante pelo lucro
leva alguns a atacar seu adversário através de propagandas ou mesmo de
promoções que levem os clientes a aderirem ao seu produto, esta mesma
3
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra; Tradução para o inglês Michael Howard e Peter Paret e tradução do
inglês para o português CMG (RRm) Luiz Carlos Nascimento e Silva do Valle, pág. 91.
4
BONANATE, Luigi. A Guerra; tradução de Maria Tereza Buonafina e Afonso Texeira Filho. – São Paulo:
Estação Liberdade, 2001, pág. 32.
estratégia é usada na guerra, pois os Estados utilizam de todos os meios
possíveis para alcançar a vitória que sempre está ligada ao aumento de
poder. Para alcançar esses objetivos os Estados utilizam o terrorismo, a
democracia, o comércio, a religião, etc. Esse último foi defendido por
Bonanate como um dos principais motivos das guerras durante séculos. 8
5
Idem, pág. 167.
6
Idem, pág. 141.
Ignacio Ramonet também faz um levantamento sobre como o ser
humano vem destruindo seu habitat através de grandes queimadas,
exploração do solo de forma desordenada o que leva a graves problemas
ambientais como: escassez de água, poluição do ar, destruição da flora
etc. Mas, sobretudo a demonstração de poder através das guerras e 10
7
CIA. Central Intelligence Agency. (Uma unidade de inteligência militar dos Estados Unidos que na época
recrutava homens na área do Afeganistão para transformá-los em grandes combatentes).
que conseguiu entrar para a história mundial e usou isto de forma
estratégica; isto quer dizer que ele atacou os E.U.A. para conseguir três
coisas primordiais: atacar a hegemonia econômica, militar e política do
país e ainda usando a mídia para mostrar ao mundo esse acontecimento
“apocalíptico”. 11
8
RAMONET, Ignacio. Guerras no século XXI: novos temores e novas ameaças; tradução de Lucy
Magalhães. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, pág. 97.
Neste estopim da nova economia mundial muitos empreendedores
e países investiram pesado em bolsas de valores das principais empresas
(AOL, Yahoo!, Amazon AtHome, eBay) voltadas para a tecnologia, todavia
estes investimentos de forma desordenada geraram prejuízos enormes
para muitos Estados. A Argentina merece ênfase por ter entrado em uma 12
grande crise no fim de 2001 por ter investido nesta nova tecnologia e
seguindo à risca as normas do FMI, privatizando muitos órgãos públicos.
Isto beneficiou as grandes empresas internacionais que passaram a
comprar empresas públicas com preços abaixo do mercado e com
produtos que davam para continuar um bom tempo produzindo, muitas
estatais ainda receberam injeções financeiras para atrair compradores.
Assim como na Argentina, pode-se dar o exemplo do Sistema Telebrás no
Brasil que obteve R$ 23,5 bilhões em investimentos governamentais,
sendo vendido em seguida por um valor inferior (R$ 22,2 bilhões).
Outro tema muito relevante foi a Guerra de Kosovo, que Ramonet
Chama de Nova Ordem Mundial, esta guerra foi nada mais nada menos
que o início de um desmantelamento estrutural no que se refere à
soberania de um país; a OTAN em 1999 atacou a República Federativa da
Iugoslávia, mesmo sem a Iugoslávia ter cometido nenhum crime fora da
sua fronteira. Esse foi o pontapé para o começo de uma invasão de
território e desrespeito a supremacia de alguns países, os Estados Unidos
foram e continuam a ser um dos Estados que mais interferem na
soberania em nome de uma paz mundial. Durante a guerra de Kosovo a
mídia televisiva foi usada para inflamar a população e colocar um Estado
contra outro. A população de Kosovo era muito grande e pobre, tinha um
índice muito alto de pessoas jovens (cerca de 50% da população tinha até
20 anos), o que a tornava menos estruturada e despreparada para uma
guerra.
A OTAN, apoiada pelos Estados Unidos, atacou a Iugoslávia sem a
devida autorização da ONU, aí poderíamos nos perguntar, por que os 13
9
Jornal BBC, link:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150529_cuba_saida_oficial_lista_eua_fn
29/05/2015.
setembro de 2001 aos Estados Unidos e o posteriormente a resposta dos
americanos no Iraque, vivendo este clima de guerra entre os Estados
Unidos e Iraque. Soares faz uma análise sobre as guerras e o mercado
capitalista nos séculos XVI e XIX, nesta ocasião ele traz à tona um contexto
ainda ignorado ou não tão trabalhado por diversos estudiosos, as guerras 16
mundiais não como sendo apenas duas, mas sim diversas, desde a guerra
dos trinta anos até o Pós-Guerra Fria. Aí poderíamos nos perguntar por
que todas estas seriam guerras mundiais?
Partindo da ideia apresentada por Soares, estas guerras seriam
mundiais por elas afetarem diretamente a economia mundial, conflitos
que foram mesclados com um único objetivo, poder, seja ele obtido
através das religiões na “Guerra dos Trinta Anos” ou pelo uso da força e
destruição em massa (bombas atômicas que explodiram as cidades
japonesas, Hiroshima e Nagasaki) na “Segunda Guerra Mundial” ou ainda
pelo uso da tensão de destruição nuclear usado na “Guerra Fria” onde as
grandes potências mundiais E.U.A. e U.S. (Estados Unidos da América e
União Soviética, respectivamente) fizeram o mundo ficar tenso, a espera
de uma grande guerra e desta vez de maior proporção que a última
(Segunda Guerra Mundial), pois iria ser usado mais bombas atômicas e
armas químicas que deixariam uma destruição sem limites ao planeta.
Esta última guerra citada por Soares expõe o interesse político e
econômico destas duas potências de impor sua hegemonia mundial
através do poder militar, que estavam cada vez mais expandindo, mas
principalmente na África e Ásia que estavam passando por um processo
de descolonização, ampliar sua influência naquela região iria lhes
proporcionar vantagens econômicas, políticas e militar junto aos novos
Estados formados.
Durante a Segunda Guerra Mundial o Japão teve duas cidades
totalmente destruídas (Hiroshima e Nagasaki) por bombas atômicas e um
dos motivos apresentados por Soares é o expansionismo econômico e 17
10
SOARES, Luiz Carlos; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Reflexões sobre a guerra. Rio de Janeiro:
Letras: Faperj, 2010, pág. 63.
Vietnã, que trouxe resultados muito negativos para os norte-americanos,
ainda colocaria os Estados Unidos em uma posição mais forte no Oriente
Médio. “O sonho neoconservador, já anunciado desde 1998, implicava
numa reconstrução total do Oriente Médio, abrindo caminho para o
abastecimento barato do Ocidente e para um papel hegemônico de Israel 19
11
Idem, pág. 78.
12
Idem, pág. 81.
13
História das Guerras. Demétrio Magnoli, organizador. 4. Ed., 1ª reimpressão. - São Paulo: Contexto,
2009. Pág. 47.
14
Guerra Assimétrica é uma guerra em que os oponentes apresentam diversas diferenças, tais como:
nível de organização, objetivos, recursos financeiros, recursos militares. Em geral são guerras irregulares
(guerrilhas).
não bastavam para assegurar a vitória do poder superior num cenário
adverso”15. Ele faz menção também da forte resistência dos palestinos,
mesmo a população israelense sendo superior militarmente, tendo um
dos melhores serviços secretos do mundo não conseguem vencer os
palestinos. Os Estados Unidos saíram perdedores assim como no Vietnã, 20
15
SOARES, Luiz Carlos; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Reflexões sobre a guerra. Rio de Janeiro:
Letras: Faperj, 2010, pág. 86.
escândalos e manipulações financeiras, o Congresso americano nomeou
Stuart Bowen como inspetor especial para investigar os casos de
corrupção com fundos americanos aplicados no Iraque” 16.
Os iraquianos descobriram uma “nova” forma de combater os
Estados Unidos, mexer no bolso deles. “Este é um dos objetivos da 21
16
Idem, pág. 108.
17
Idem, pág. 91.
americanos estavam expondo os trabalhadores contratados para a
reconstrução do país, assim como, os soldados mercenários contratados
para guerrear em nome do povo norte-americano. Para expor o pânico
muitas vezes os reféns foram executados em frente às câmeras de TV, a
ideia seria que “o Iraque não vale à pena o risco”, isso levou muitas 22
18
BONANATE, Luigi. A Guerra; tradução de Maria Tereza Buonafina e Afonso Teixeira Filho. – São Paulo:
Estação Liberdade, 2001. Pág. 21.
formação de conhecimento adquiridos durante as guerras podemos
chegar a um patamar mais evoluído da nossa espécie, todavia vale a pena
frisar o quanto perdemos e o quanto podemos perder nestas batalhas,
desde familiares e amigos ao meio ambiente e o “futuro” da humanidade
(fato vivido durante a Guerra Fria com o suposto ataque nuclear). 23
Referências bibliográficas
A Arte da Guerra. Sun Tzun; tradução de SUELI BARROS CASSAL.
BONANATE, Luigi. A Guerra; tradução de Maria Tereza Buonafina e Afonso
Texeira Filho. – São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra; Tradução para o inglês Michael Howard
e Peter Paret e tradução do inglês para o português CMG (RRm) Luiz
Carlos Nascimento e Silva do Valle.
História das Guerras. Demétrio Magnoli, organizador. 4. Ed., 1ª
reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2009.
RAMONET, Ignacio. Guerras no século XXI: novos temores e novas
ameaças; tradução de Lucy Magalhães. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
SOARES, Luiz Carlos; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Reflexões sobre a 24
Resumo: Com a abertura da História para novos olhares por meio da revolução 1
documental, os filmes puderam entrar no arsenal de fontes históricas dos
historiadores. Os filmes históricos representam o passado, havendo, no entanto, uma
tensão entre evidência e representação, tendo em vista que os espectadores podem
considerar o que eles dizem sobre o passado como verdade histórica. A necessidade
humana de se orientar no tempo está ligada ao conceito de consciência histórica, de
maneira que, pelo conhecimento do passado, o ser humano se orienta no tempo e se
identifica com seus pares em seu espaço-tempo, podendo assim projetar suas ações
futuras de maneira crítica e autônoma. Na Educação Histórica os alunos podem
trabalhar como formadores do próprio conhecimento, valorizando sua bagagem
cultural. Tendo isto em vista, o cinema pode se agregar aos conhecimentos prévios dos
alunos. Nesse sentido, ao utilizar o cinema em sala de aula, o papel do professor é o de
problematizador. Para isso, deve realizar observações que os levem a pensar de forma
crítica em relação ao filme.
Abstract: With the opening of History to new looks through the documental revolution,
films were able to be a part of the arsenal of historians’ historical sources. Historical
films represent the past, though there is a tension between evidence and
representation, since the viewers might consider what the historical films say about
the past as historical evidence. The human need to orient itself in time is linked to the
concept of historical consciousness, in a way that by having knowledge of the past,
human beings are oriented in time, identified among their peers in their space-time
and can design their future actions critically and autonomously. In History Education,
students can work as makers of their own knowledge, valuing their cultural baggage.
With that in mind, the movies can be added to students' prior knowledge. In this
sense, by using films in the classroom, the teacher's role is to problematize. To do so,
he must make observations that lead them to think critically about the film.
1
Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina. Mestranda em Educação pela
Universidade Estadual de Londrina.
Por muito tempo os filmes ficaram à margem da pesquisa histórica
porque os historiadores não os consideravam fontes verídicas. Apesar de
por muito tempo ter sido renegado pelos historiadores, o filme, enquanto
produção humana, pode ser tratado como documento histórico. Kornis
(1992) lembra que foi na abertura da História para novos olhares que o 2
ideia da “busca por um ensino de História que tenha mais significado para
crianças e jovens alunos” (CAINELLI, SCHMIDT, 2011, p. 11).
A necessidade de orientação do tempo está ligada ao conceito de
consciência histórica que, conforme Rüsen (2007), é a “constituição de
sentido sobre a experiência do tempo, no modo de uma memória que vai
além dos limites de sua própria vida prática” (RÜSEN, 2007, p. 104). Desse
modo, a consciência histórica dá suporte à consciência social e, assim,
contém um sentido de identidade, ou seja, pelo conhecimento do passado
o ser humano se orienta no tempo e se identifica com seus pares em seu
espaço-tempo, podendo assim projetar suas ações futuras de maneira
crítica e autônoma.
Neste sentido, a Educação Histórica possibilita a formação dos
indivíduos para lidar com as mudanças da sociedade a partir do que Rüsen
(apud BARCA, 2011) denomina como consciência histórica genética, o que
quer dizer: as informações são gradativamente interiorizadas pelos
sujeitos, tornando-se parte de sua ferramenta mental para ser usada no
dia-a-dia como forma de orientação. Tendo isso em vista, conforme Barca
(2011), fornecer aos alunos uma narrativa singular da História ou uma
sequência cronológica seguindo o senso comum não supre as demandas
da Educação Histórica, pois esse tipo de conhecimento não é útil na lida
com a sociedade atual. É necessário exigir leituras críticas porém sempre
provisórias.
Ana Maria Monteiro (2013) ressalta a importância de se trabalhar
com a memória dos alunos através de uma exposição didática, esta que
envolve quem conhece, quem aprende e quem ensina. Para isso é 5
61-62).
Segundo Flávia Caimi (2008), o campo do Ensino de História
acompanhou as mudanças historiográficas da segunda metade do século
XX. Conforme esta autora, foi a partir daí que novas linguagens foram
incorporadas ao ensino e que houve a tentativa de substituição da
memorização pela reflexão histórica, além da ênfase na produção de
conhecimento através da apropriação dos procedimentos metodológicos
da pesquisa histórica (cf. CAIMI, 2008, p. 132).
Desta maneira, conforme Pereira e Seffner (2008), ao trabalhar
com fontes é preciso deixar claro que o que está sendo trabalhado são
representações do passado, sem compromisso com a realidade,
competindo com outras representações, como pode ser percebido na
literatura, filmes ou rede televisiva. É necessário que se tenha em mente
que todas essas maneiras de representar a História podem ser
encontradas dentro de casa, o que faz com que, por exemplo, um filme
histórico produza uma memória de um passado tanto quanto ou mais que
o aprendido na aula de História (cf. PEREIRA; SEFFNER, 2008, p. 117).
Lana Mara Siman (2004) defende o uso de mediadores culturais no
ensino de História, focalizando a ação mediadora do professor e a ação
mediada da linguagem para relacionar sujeito e objeto. Ou seja, a autora
argumenta que o professor de História deve buscar a historicidade da
fonte para mediar a construção do conhecimento, de modo que se aliem
intelecto, imaginação, intuição e sensibilidade, evidenciando que não é
possível recriar o real vivido, apenas reimaginá-lo, ou representá-lo. Siman
(2004) afirma que o trabalho com os mediadores culturais é considerado a 7
Referências
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n67/a04v2567.pdf.
BARCA, Isabel. O papel da Educação Histórica no desenvolvimento social
In: CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora (orgs).Educação
Histórica: teoria e pesquisa. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011.
RESUMO
O presente artigo propõe-se a discutir o advento, a presença e a forte influência do
transporte ferroviário na cidade de Sousa, localizada no Alto Sertão Paraibano, num
período que compreende o intervalo de quatro décadas (1925-1965). Sua influência
direta no escoamento de mercadorias e no transporte de pessoas permitiu um
conjunto de mudanças materiais e imateriais na região. Para desvelar esse passado
que trata das experiências com a denominada Maria Fumaça recorremos,
especialmente, a oralidade, o que nos permitiu percorrer por uma memória do
cotidiano. Contudo, outros documentos nos serviram também para a “invenção desse
passado”, como periódicos e memórias escritas.
PALAVRAS-CHAVE: Trem de Ferro; Memórias; Cotidiano.
RÉSUMÉ
Cet article a le but de contribuer avec la discution de l´événement, la présence et la
forte influence du transport ferroviaire dans la ville de Sousa, situé dans Alto Sertão
Paraibano, dans une période qui comprend la période de quatre décennies (1925-
1965). Sa influence est directe sur le flux de marchandises et du transport de gens a
permis une série de changements tangibles et intangibles dans cette région. Pour
dévoiler ce passé qui s´agit des expériences avec l´appelée Maria Fumaça , qui est
connue aussi comme « train de fer », nos recherchons en particulier l´ oralité, que
nous a permis d'aller pour une mémoire quotidienne. Cependant, aussi d'autres
documents que nous ont bien servi pour l' “invention ce passé" comme les revues et
mémoires.
1
Graduado em História pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Teoria e
Metodologia do Ensino de História pela Universidade Federal de Campina Grande e
Mestre em História por essa mesma instituição. Professor de história de educação
básica da rede pública de ensino do município de João Pessoa – PB.
Introdução
Este texto é resultado de uma pesquisa realizada durante o
mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal de Campina Grande, fazendo parte, parcialmente, do trabalho
final de dissertação. A intenção é discutir a importância do transporte 2
via férrea.
Na década de 1920 a RVC (Rede Ferroviária Cearense) estendeu
seus trilhos até a sede do município de Sousa, no Alto Sertão Paraibano.
Os trabalhos das construções dos açudes de Pilões, São Gonçalo e
Boqueirão de Piranhas (Engenheiro Ávidos) aceleraram o advento da
ferrovia no interior da Paraíba. A substituição dos velhos trilhos e o
enriquecimento do material rodante da Central Cearense, além da criação
dos ramais até as cidades de São João do Rio do Peixe, Cajazeiras e Sousa,
foram as primeiras medidas tomadas para a execução de tais obras
(MARIZ, 1978; pp. 51-52). A Maria Fumaça foi responsável pelo transporte
das usinas de força termoelétricas e outros maquinários pesados e
subsídios que seriam utilizados na construção das ditas barragens. Para o
acesso a estes, foram feitos ramais que posteriormente foram desativados
(SOUSA, 2005).
É precisamente no dia 22 de agosto de 1922 que a locomotiva
respira com seus “pulmões de aço” na cidade de Sousa. A imprensa oficial
declara e assegura como sendo o responsável desse “grande e louvável
empreendimento” o presidente da República: “folgamos de registrar mais
esse impulso à nossa organização econômica, exclusivamente devido a
iniciativa e descortino do Sr. Dr. Epitácio Pessoa, Presidente da República,
já com justíssima razão cognominado o Salvador do Nordeste” (A UNIÃO,
25.ago.1922, p. 1) (grifo nosso). Segundo o Jornal, “efetivamente, trata-se
de um inestimável melhoramento que rasga novos horizontes aos
destinos da Parahyba” (A UNIÃO, 24.ago.192, p. 2). O discurso, carregado
de certa eloqüência, acaba por preservar o mito do herói político na 4
3
O distrito de Aparecida, elevado à categoria de município pela Lei Estadual Nº 5896
de 29 de abril de 1994, dista oito quilômetros a leste da cidade de Sousa. Disponível
em:
http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=250077&search=||inf
ogr%E1ficos:-hist%F3rico. Acesso em: 27 Fev. 2016.
nesses sítios daqui da vizinhança, para ser embarcada
no trem para Mossoró, João Pessoa e Fortaleza
(LUCENA, 2011).
4
O bairro Jardim Brasília é localizado na área sudoeste da cidade. Ver: SOUSA – PB. Lei
nº2.080/2005. Estabelece as denominações e localizações de todos os bairros da
cidade de Sousa – PB. Prefeitura Municipal de Sousa.
municípios circunvizinhos que não eram favorecidos pelo traçado da
ferrovia. Na sua estação o fluxo de embarque e desembarque de
mercadorias e pessoas intensificou-se consideravelmente na década de
1950. O fato é que em final de dezembro de 1951 houve a inauguração da
rede ferroviária que ligava o sertão paraibano ao litoral potiguar (PASSOS, 11
1982)5. A cidade tornou-se palco de mais uma festa com essa novidade.
Exatamente, no dia 29 do mesmo mês, foi inaugurada a ferrovia que
interligava as cidades de Mossoró via Mombaco até Sousa (A UNIÃO, 10
jan.1952, p. 5).
Com a ligação desses dois trechos a possibilidade de transportes de
mercadorias e pessoas para a cidade de Campina Grande, João Pessoa e a
capital pernambucana aumentou para os sousenses que sofriam com os
empecilhos – poeira, durante o período de estiagem; e os lamaçais,
buracos e atoleiros na estação chuvosa - na única rodovia que ligava Sousa
a João Pessoa. Agora, com a rede feroviária cortando todo o Estado, Sousa
estaria mais comunicativa. Se em 1958 já se fazia mais de três décadas
que se chegava a Fortaleza em pouco tempo, nesse mesmo ano a capital
paraibana e a cidade do Recife também se aproxima muito mais do sertão.
Outro sinal de mudança promovida pela presença do trem de ferro
na cidade de Sousa foram os periódicos que muito influenciaram os
costumes da gente da urbe. No Sertão paraibano o jornal demorava mais
5
O traçado ferroviário ligando Mossoró, no Rio Grande do Norte, ao Estado da Paraíba
fora resultado do projeto de engenharia que estudou as possibilidades, inicialmente,
de dois traçados. O primeiro, ligando aquela cidade potiguar diretamente à cidade
paraibana de Pombal. O segundo traçado ligaria Mossoró à cidade de Sousa. Vigorando
este último por apresentar melhores condições estruturais.
de dez dias para chegar da capital cearense ou de Campina Grande, na
Paraíba. Antes da presença do transporte motorizado nas terras
interioranas, o trajeto entre as pequenas urbes e a grande cidade era feito
exclusivamente no lombo de burros. Os tropeiros eram, praticamente, os
únicos responsáveis pela comunicação das cidades com os centros de 12
8
A partir de 1952 os trens de ferro que circulavam na região do litoral da região
Nordeste, a R. F. N. (Rede Ferroviária do Nordeste) que interligava as regiões do estado
de Alagoas à Paraíba ganharam um carro restaurante, arrendados por particulares, que
oferecia todas as refeições do dia e alguns petiscos, além de bebidas diversas. Esses
serviços foram estendidos à grande parte da ferrovia do Nordeste por conta da
cobrança constante da imprensa, principalmente (A UNIÃO, 05 ago. 1952, p. 9).
Contudo, nos parece que o senhor Aniobel lembra dos anos de 1959-1960 em que fora
inaugurado uma linha de trem Recife-Fortaleza.
Tinha um trem que ia para o Ceará, passava no Cedro,
no Ceará. Uma vez eu fui e achei gostoso. Nunca quis
andar de trem, mais um dia eu fui e achei bom. (...)
Nesse tempo eu já era grandinho, não é? Já bebia um
negocinho. Aí tinha um conhaque. Só vendia
conhaque nesse tempo. (...). Tinha uns buracos nas
mesas para botar os copos. E eu fui essa viagem mais 16
um amigo meu, tomando um cunhaque... Só via a
zuada, ruuuu! Quando passava uma serra, um túnel.
Faz uma zuada danada. Aí, eu me espantava um
pouco, mas o resto fui e voltei e achei bom (2010)
Com isso, não teria como negar que o trem permitiu a muitos dos
que ali moravam a instituição de um cotidiano em torno da sua presença
na região como momentos de festa. O apito, a fumaça e a imagem do
trem de ferro em movimento marcou a vida de muitos que ali
experienciaram esses momentos, tornando-se lembranças inesquecíveis.
Considerações finais
Desde as espectativas de seu advento, perpassando pela
implantação dos trilhos ferroviários e confluindo nas suas permanentes
viagens, os discursos das autoridades políticas assinalam para o trem de
ferro como um projeto redentor que iria salvar uma população sertaneja
da miséria e das constantes secas, alavancando a economia dessa região.
Na verdade, a Maria Fumaça adentra as terras interioranas sob o
interesse das elites dominantes e é decantada por essa classe como sendo
um “instrumento civilizador”.
Na memória de alguns dos que vivenciaram as experiências com
esse considerado signo do moderno, não aparece aquele “instrumento
redentor” e/ou “civilizatório”, mas um espetáculo que fazia parte do
cotidiano da cidade e que a tornava moderna, ligada com todo o mundo.
Entre chegadas e partidas o trem atravessou a vida de muitos
daqueles que experimentaram a era do transporte ferroviário na região do
município de Sousa e adjacências. As viagens de trem ao Recife, à capital
cearense ou a qualquer outro centro urbano cortado por esse traçado
ferroviário vivenciadas por aquela gente sousense, tem muito a contar 24
Referências
Fontes:
A UNIÃO. João Pessoa, 1922, 1926 e 1952.
ALEXANDRE, Francisco Alves. Entrevista concedida ao autor. São João do
Rio do Peixe, 8 set. 2004
DIÁRIO DA BORBOREMA, Campina Grande, 1955
LEITÃO, Deusdedit. Inventário do tempo: memórias. João Pessoa:
Empório dos livros, 2000.
LUCENA, Jeander Batista de. Entrevista concedida ao autor. Sousa, 25 de
setembro de 2010.
MARQUES, Robson Araújo. Entrevista concedida ao autor. Sousa, 26 de
setembro de 2010.
MATOS, Eilzo Nogueira. Entrevista concedida ao autor. Sousa, 17 de
janeiro de 2011.
NÓBREGA, Maria Bernadete Mariz Melo. Entrevista concedida ao autor.
João Pessoa, 03 de novembro de 2010.
SOUSA – PB. Lei nº2.080/2005. Estabelece as denominações e localizações
de todos os bairros da cidade de Sousa – PB. Prefeitura Municipal de
Sousa.
SOUSA, Aniobel Vicente de. Entrevista concedida ao autor. Sousa, 25 de
setembro de 2010. 25
http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=251620. Acesso
em: 27 Fev. 2016.
http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=250077&
search=||infogr%E1ficos:-hist%F3rico. Acesso em: 27 Fev. 2016.
Bibliográficas
ARANHA, Gervácio Batista. Trem, modernidade e imaginário na Paraíba e
região: tramas político-econômicas e práticas culturais (1880-1925). Tese
(doutorado em história). Universidade Estadual de Capinas, Campinas –
SP, 2001.
ARANHA, Gervácio Batista. O trem de ferro em imagens literárias: advento
triunfal da mecânica moderna no Brasil na transição do século 19 para o
20? In: CITTADINO, Monique; GONÇALVES, Regina Célia (orgs.).
Historiografia em diversidade: ensaios de história e ensino de história.
Campina Grande-PB: EDUFCG, 2000. p. 145-146
CARTAXO, Otacílio. Os caminhos Geopolíticos da Ribeira do Rio do Peixe.
João Pessoa: A UNIÃO, 1964.
LUCA, Tânia Regina de. Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos
periódicos. In: PINSKY, Carla Bacellar (org.). Fontes históricas. São Paulo:
Contexto, 2005. pp. 111-153.
MARIZ, Celso. Evolução econômica da Paraíba. 2 ed. João Pessoa: União,
1978. 26
Resumo: O objetivo desse trabalho é discutir como a literatura pode ser utilizada para
a discussão da ideia de verdade histórica, utilizando como fonte o romance História do
cerco de Lisboa de José Saramago. Na primeira parte, examinamos a ideia de verdade
histórica. Na sequência, apresentamos o romance, abordando a questão da falsificação
da história e de como ela pode ser utilizada por professores para se trabalhar a
questão da verdade. Por fim, tratamos dos excluídos da história oficial.
Palavras-chave: José Saramago, História do cerco de Lisboa, Verdade Histórica.
Excluídos da História
1
Graduado em História (UNIFSJ). Especialista em História Militar (UNISUL).
Introdução
O que é a verdade dentro da História? Como lidar com as diferentes
versões de um determinado fato histórico em sala de aula? Como
trabalhar com o aluno essa questão. Com o surgimento da internet e a
facilidade de acesso a informação que ela nos dá o professor que se 2
falsificação da história.
Em primeiro lugar, é preciso destacar o fato de o "não" introduzido
pelo revisor não foi algo inventado, mas feito baseado em fontes
históricas como, por exemplo, a carta Conquista de Lisboa aos Mouros
(1147) de Osberno: "a informação é de boa origem, diz-se diretamente do
célebre Osberno" (Saramago, 1989, p. 124).Assim, o que temos são
diferentes versões do fato e essa divergência deve ser utilizada pelo
professor para se discutir a ideia de verdade. Incluímos nas referência uma
edição da carta que pode ser acessada na internet e trabalhada pelo
professor que pode propor aos alunos uma pesquisa para verificar até que
ponto a história oficial e o relato da carta são divergentes.
Conclusão
Como vimos, a questão da verdade na história, e dos excluídos, tem
sofrido importantes transformações ao longo do tempo. Acreditamos que
tais questionamentos não devem ficar restritos ao âmbito historiográfico,
mas devem ser levados para as salas de aula porque podem contribuir
para a formação de alunos críticos. A partir dos questionamentos
desenvolvidos ao longo do texto o professor tem uma base a partir da
qual possa trabalhar com os alunos e desenvolver novas problemáticas. 8
Referências
ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Sousa. Porto Alegre: Globo,
1966.
BRAWDSEY, Osberto de. A Conquista de Lisboa aos Mouros, 1147.
Disponível em:
<http://www.arqnet.pt/portal/pessoais/cruzado_lisboa.html>.
Acesso em: 13 dez. 2015.
GUTERRES, Tiago da costa. ‘Heródoto e a noção de verdade na
historiografia grega: um breve comentário’. Revista Historiador, Porto
Alegre, ano 04, n. 04, p. 15-22, 2011. Disponível em:
<http://www.historialivre.com/revistahistoriador/quatro/tiagog.pdf>.
MATIAS, Felipe dos Santos; ROANI, Gerson Luiz. ‘História do cerco de
Lisboa: as fontes medievais de José Saramago e a transfiguração literária
da história’. Revista Vertentes, São João Del-Rei, v. 32, p. 1-12, 2008.
Disponível em:
<http://intranet.ufsj.edu.br/rep_sysweb/File/vertentes/Vertentes_32/feli
pe_e_gerson.pdf>.
ROANI, Gerson Luiz. No limiar do texto: literatura e história em José 9
Saramago. São. Paulo: Annablume, 2002.
ROIZ, Diogo da Silva; SANTOS, Jonas Rafael. As transferências culturais na
historiografia brasileira: leituras e apropriações do movimento dos
Annales no Brasil. Jundiaí: Paco Editorial, 2012, 296 p.
A ATUAÇÃO DA COMUNIDADE EPISTÊMICA NA
FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS:
PROCESSOS DE SELEÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO DE
HISTÓRIA NO PNLD
1
Roper Pires de Carvalho Filho 1
Resumo
Esse trabalho objetiva refletir sobre o processo de circulação do livro didático de
História, e neste, o papel desempenhado por um ator – a comunidade epistêmica,
comunidade científica formada pelos historiadores – na avaliação e triagem dos livros
didáticos, via participação no PNLD, o Plano Nacional do Livro Didático. Para isso,
referenciado nas pesquisas desenvolvidas por Stephen Ball e Alice Casimiro Lopes,
estabeleço como itinerário apresentar o conceito de comunidade epistêmica, para
em seguida buscar estabelecer os nexos entre a produção acadêmica sobre o ensino
de História e os critérios adotados pelos historiadores para avaliar os livros didáticos
que compõem o catálogo do referido PNLD.
Abstract
The purpose of this paper is to think over the process of circulation of the History
textbooks, and in it, the role played by an actor – the epistemic community,
consisting of historians – in the assessment and screening of textbooks, through their
engagement in PNLD, the National Textbook Plan. For such, based on the studies
conducted by Stephen Ball and Alice Casimiro Lopes, my itinerary is to present the
concept of epistemic community and then I seek to establish the links between the
academic production about the teaching of History and the criteria adopted by
historians in order to assess the textbooks included in the catalogue by the PNLD
mentioned above.
1
Doutor em História pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo;
Camarada457@gmail.com
Introdução
2
No Brasil, a escolha do livro didático é uma atribuição do professor, com base em uma relação
fornecida pelo Programa Nacional do Livro Didático, um programa do Ministério da Educação. Portanto,
para conquistar a sua confiança quanto à utilidade desse material pedagógico para o processo ensino-
aprendizagem, as editoras lançam mão de estratégias agressivas: visitas dos representantes comerciais
às escolas e convite aos professores para participarem de palestras e workshops com os autores das
obras didáticas (Cassiano: 2004).
Quem são os avaliadores e como intervém nos processos de seleção das
coleções didáticas de História pelo PNLD? Tais processos repercutem as
pesquisas relacionadas à comunidade epistêmica em que esses avaliadores
estão inseridos? A intervenção da comunidade epistêmica se reflete na
produção de propostas curriculares da disciplina e nas práticas do 5
professor, para a educação básica, visto o peso que o livro didático assume
nas práticas escolares?
3
Os critérios acima mencionados estão disponibilizados nos “Guia do Livro Didático do PNLD/2011 e
2013”, publicados e mantidos em um sítio do Ministério da Educação ao fim de cada ciclo de avaliação
das coleções didáticas.
Conceito de comunidade epistêmica
4
Segundo Ball, os profissionais que atuam no contexto da prática desempenham um papel ativo no
processo de “tradução” desses discursos para as situações que se apresentam no cotidiano escolar.
ensino fundamental e médio com livros didáticos e acervos de obras
literárias, obras complementares e dicionários, sendo executado em ciclos
trienais alternados. Assim, a cada ano o FNDE adquire e distribui livros
para todos os alunos de determinada etapa de ensino e repõe e
complementa os livros reutilizáveis para outras etapas. Para evitar algum 9
5
Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-apresentacao.
experiências de vida e interesses muito diferentes (Portal
do FNDE: Guia do Livro Didático 2013, p. 8).
quanto no uso efetivo que o professor pode fazer destes livros, em suas
salas de aula” (idem, p. 29).
1
Resumo: Nosso interesse se desenvolve em torno da escrita autobiográfica. Este
trabalho levanta questões teóricas necessárias ao campo historiográfico acerca do
“historiador de si mesmo”, termo cunhado por Pierre Nora quando fala de um
processo “psicologização da memória”. Levamos em consideração em como o sujeito
autobiógrafo articula enquanto elemento essencial á sua narrativa autobiográfica uma
relação com a memória. Quando faz usos do passado, quando “escreve” a si mesmo do
passado por sua narrativa, não deixa de manter uma relação com uma noção temporal
ficcional na qual articula temporalmente suas experiências narrativas a ponto de se
fazer compreensível diante de outros. A escrita autobiográfica está ponderada na
relação como passado na experiência de narrar a própria experiência pela relação
entre memória, um “si mesmo” e narrativa.
Palavras-chave: autobiografia; memória; narrativa.
Abstract: Our interest is developed around the autobiographical writing. This work
raises theoretical questions necessary to historiography about the "historian of
himself," a term coined by Pierre Nora when he speaks of a process "memory
psychologizing." We take into account how the subject autobiographer articulated as
an essential element to his autobiographical narrative a relationship with the memory.
When you use the past, when "write" yourself from the past by his narrative, does not
cease to maintain a relationship with a fictional temporal notion in which temporally
articulates his narrative experiences about to make understandable before others.
Autobiographical writing is weighted in relation to past experience to narrate their
experience in the relationship between memory, one "himself" and narrative.
Keywords: autobiography; memory; narrative.
1
Mestrando em História pelo Mestrado Acadêmico em História e Culturas (MAHIS) da Universidade
Estadual do Ceará (UECE), graduado em História pela Faculdade de Educação,Ciências e Letras do Sertão
Central (FECLESC) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Bolsista CAPES. E-mail:
rycardo@bol.com.br
Debate preliminar
2
“A escrita de si, écriture de soi, termo cunhado por Michael Foucault e que se liga as suas pesquisas
sobre a “cultura de si”, compreende uma forma de manifestação discursiva na qual o sujeito se coloca
em relação consigo mesmo”. (SILVA, 2012, p. 42-43).
manipulados” (RICOEUR, 2007). A autobiografia também torna possível
uma história. Sua história não está desvinculada daquele que a projetou,
pois é possível entendê-la, também, enquanto uma maneira de refletir
como aquele sujeito compreende a si mesmo e os outros no tempo pela
memória por sua tessitura narrativa, entendidas aqui, enquanto ações 5
3
O debate em torno do “Si” e do “Mesmo” é proposto por Paul Ricoeur em sua obra O Si mesmo como
um outro. (1991). Paul Ricoeur estabelece a relação dialética entre a identidade idem e a identidade
ipse. Se a primeira constitui um si de relação, que é vinculado no/ao tempo pela ideia de mesmidade na
relação com o outro (Ex: “veja, aconteceu do mesmo modo ontem!”); a segunda diz de uma ipseidade,
entendida pelo seu caráter de unicidade e individualidade no tempo, caráter de permanência. Por essa
relação dialética implícita constitui-se a “identidade narrativa”. Nessa construção identitária de um
grupo ou de um eu que se interpreta por “si mesmo” no tempo, entendemos que a autobiografia se
coloca enquanto resultado da constituição de uma “identidade reflexiva” para a construção de um eu
narrado que muda, mas também permanece o mesmo ao longo de uma vida inteira. (RICOEUR, 1991.
p.167-198).
As variações são muitas e indefiníveis, de forma que se
torna impossível descrever o que de fato é tal escrita em
sua totalidade, pois ela é escrita da forma que cada vida
vive na ação de escrever e da maneira como a própria vida
se observa e busca se reproduzir e autoindentificar-se pela
escrita. Isso nos leva a creditar que, não há em sentido
mais amplo como definir a escrita de si, no caso específico 6
das autobiografias apenas como modelos subjetivos e
únicos de escrita, mas que estão em relação com as
vivências sociais de sua época, assim como frente a espaços
de conflitos que as tornam peculiares (NOGUEIRA, 2014 p.
165).
Memória
Deixando de lado o debate acerca do autor, narrador e personagem; em
torno da organização e dos aspectos internos e externos da autobiografia
pelos sujeitos narrativos atuantes possíveis; atentaremos para um
interesse que não pode ser negado por nós na relação do autobiógrafo e
sua escrita; sua inerente busca pela verdade. Esse é o chamariz para que o
papel da memória seja elucidado e justificado no seu interesse essencial
ao longo da tessitura autobiográfica. Acerca da verdade, Elizabeth Duque-
Estrada nos propõe uma questão essencial. É a partir dessa noção que
provocaremos o debate em torno da memória na escrita autobiográfica.
4
“Em latim, verdade se diz veritas, que se refere à precisão, ou seja, relaciona-se ao rigor e à exatidão
de um relato, no qual se diz, com detalhes, com pormenores e com fidelidade, o ocorrido” (GARCIA &
GOMES, 2001, p. 252).
Para além das peças, dos objetos, fotografias de família, cartas,
está também a memória, nos referimos aquela memória eidética, que
parte de uma imagem-significado do eu, e que nela compreende o que há
de confiável para que se trame uma narrativa bem articulada. A ela é
confiada organizar o que “restou” no presente em relação ao que se busca 19
atua, mas não acredita em sua própria atuação. “Quando o indivíduo não
crê em sua própria atuação e não se interessa em ultima análise pelo que
seu publico acredita, podemos chamá-lo de cínico” (GOFFMAN, 2009, p.
25). Algum autobiógrafo não acreditaria em suas próprias memórias
narradas? Algum deixaria de se importar com que os outros pensam
acerca de suas memórias narradas e se sentiriam à vontade mesmo diante
de um violento júri de leitores? Aí existe uma singularidade que não cabe
á teoria, mas sim como cada vida escreve a si mesma, no entanto, para
além de seus esforços em dizer o que os leitores desejam ou odeiam, algo
mais importante é configurado quando compreendemos que o
autobiógrafo também faz do seu espaço autobiográfico um lugar de
relações pela memória.
Em outra perspectiva, em termos de ilustração, ainda em relação à
verdade e memória, capitais ao historiador de si; entendemos que o caso
do autobiógrafo não seria o mesmo caso do profeta, daquele amante do
futuro, que prega incessantemente pelo caminho. O profeta conta o
futuro, antecipa o futuro por suas previsões. Nesse sentido, para elucidar
melhor, “em hebraico, verdade se diz emunah, e significa confiança, a
verdade é uma crença com raiz na esperança e na confiança, relacionadas
ao futuro, ao que será ou ao que virá.” (GARCIA, 2001, p. 252). A distinção
entre o profeta e autobiógrafo se aperfeiçoa quando o profeta poderá ser
refutado pela espera, refutação sua ou de outros que o sucederão,
enquanto o autobiógrafo poderá se sobressair sem necessariamente ter
por obrigação presenciar a materialização da prova, ele poderá refutar e
convocar testemunhas para que sua verdade se torne uma memória 23
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DIVERSIDADE CULTURAL NO ESPAÇO ESCOLAR
Bruno Sergio Scarpa Monteiro Guedes 1
Resumo
1
Este artigo visa analisar as relações que são estabelecidas nas esferas política,
econômica e social com o propósito de se discutir ações que possam privilegiar a
construção de um currículo multicultural nos espaços escolares. Neste sentido são
realizados apontamentos ao longo de nossa pesquisa sobre ações que possam
possibilitar uma educação voltada para a diversidade cultural abalizados na revisão
bibliográfica de educadores que se propuseram a discutir o tema e questão.
Palavras-chave: diversidade cultural; currículo; formação docente; contexto escolar.
Abstract
This article aims to analyze the relationships that are established in the political,
economic and social spheres in order to discuss actions that could favor the
construction of a multicultural curriculum in school spaces . In this regard notes are
held throughout our research on actions that may enable an education for cultural
diversity in the authoritative literature review of educators who proposed to discuss
the topic and question .
Keywords: cultural diversity; curriculum; teacher training ; school context.
1
Mestre em relações Étnico-raciais pelo Cefet/Rj. Pós-graduado em Educação pela
Universidade Federal Fluminense e graduado em História pelo Centro Universitário Abeu
(Uniabeu).
E-mail:bscarpaguedes@yahoo.com.br
Considerações iniciais
Considerações finais
RESUMO
Buscou-se analisar as condicionalidades empreendidas pelas medidas econômicas e
sociais dos governos Petistas no cenário da educação superior brasileira,
caracterizando as políticas e ações instituídas no interior do ensino superior. Para trato
metodológico, utilizou-se o materialismo histórico e dialético desenvolvido por Marx
(2008), buscando, dessa maneira, apreender a realidade em sua totalidade. Assim, no
cenário dos condicionantes atribuídos pelos organismos multilaterais a educação deixa
de ser um direito passando à ser um serviço comercializável. Os governos do PT
compreenderam, a partir das orientações do Banco Mundial, a educação como
promissor nicho mercadológico, o que levou a cabo um vasto processo de expansão e
privatização do ensino superior no Brasil.
Palavras-chave: Educação Superior. Capital. Governos Petistas. Mercantilização.
ABSTRACT
It sought to analyze conditionalities undertaken by economic and social measures of
PT governments in the Brazilian higher education scenario, characterizing the policies
and actions established within higher education. For methodological treatment, we
used the dialectical and historical materialism developed by Marx (2008), seeking in
this way to apprehend reality in its entirety. Thus, in setting the conditions given by
multilateral organizations education ceases to be a right going to be a marketable
service. Governments PT understood, from the World Bank guidelines, education as a
promising niche marketing, which has undertaken a broad process of expansion and
privatization of higher education in Brazil.
Keywords: Higher Education. Capital. PT governments. Commodification.
Introdução
O referido trabalho busca empreender uma análise acerca das
condicionalidades empreendidas pelas medidas sociais e econômicas dos
governos do PT no âmbito da educação superior brasileira. Para isto,
levamos em conta que os governos petistas trazem consigo uma
roupagem histórica distinta das precedentes, pois, pela primeira vez na
história do país se trata de um governo de frente popular, e que, por sua
vez, se comprometeu com as lutas da classe trabalhadora, como também
a realização da ruptura com o modelo neoliberal que estava sendo
instituído no Brasil desde o governo Collor de Mello. 2
“socialismo real”, que teve seu clímax no ano 1989, quando foi por baixo o
Muro de Berlim. Acrescentou-se a esse cenário a adesão das concepções
pós-modernas por expressiva fração dos intelectuais do campo da
esquerda. Esse conjunto determinador implicou à crise do movimento
sindical, além da flexibilização e giro à direita dos partidos de esquerda.
Este quadro atingiu o Brasil na década de 1990. No entanto, os
efeitos nocivos obtiveram uma extensão mais ampla, em decorrência da
condição sócio-histórica do país, isto é, as condições periféricas do
capitalismo dependente brasileiro. A Central Única dos Trabalhadores
(CUT) adotou o “sindicalismo de resultado” em contraposição ao
“sindicalismo de confronto”, dessa forma, alinhando-se ao que se
desdobrava em outras regiões do globo (ALVES, 2000). Isso se deu em
virtude da corrente majoritária da CUT priorizar um escopo sindical mais
participativo, como também cooperativo. Tal decisão diz respeito à tática
da burguesia internacional de adaptar o sindicalismo às suas premências
de produtividade e criação de consenso, buscando solapar os setores
sindicais mais combativos.
1
Referimo-nos, mais especificamente, à reestruturação produtiva (ver HARVEY, 1992) e ao neoli-
beralismo (ver ANDERSON, 1995).
O PT, assim como vários partidos de esquerda no globo, tolerou um
crescente processo de flexibilização, além da conformação à ordem,
“tanto no plano das formulações político-programáticas quanto na sua
relação com os movimentos sociais” (VIEIRA, 2012, p. 49). Na prática, isso
foi comprovado através das incessantes reformulações do programa 5
que, por seu turno, deu prioridade ao ajuste fiscal, pagamento da dívida
pública, estabilidade monetária, controle da inflação na contramão dos
investimentos para as áreas de saúde, educação, habitação e a
dependência mais ampla do Brasil aos imperativos do FMI e do BM.
2
Disponível em: <http://prouniportal.mec.gov.br>. Acesso em: 19 dez. 2015. As informações
apresentadas sobre o ProUni provêm dessa fonte.
fins lucrativos, 28% para comunitárias filantrópicas e
23% para entidades comunitárias sem fins lucrativos.
Tabela 6 – Gastos tributários da União com o ProUni (2005-2014) – Valores (R$ 1,00) a
preço de janeiro de 2015 (IPCA).
Ano ProUni
2005 177.086.854
2006 343.789.715
2007 535.882.639
2008 631.266.786
2009 735.511.137
2010 762.939.552
2011 698.659.132
2012 890.479.903
2013 830.190.930.
2014 625.001.269
Total 5.400.616.987
Fonte: Secretaria da Receita Federal. Demonstrativo dos Gastos Governamentais
Indiretos de Natureza Tributária (Gastos Tributários) – PLOA 2014.
3
Disponível em: <http://reuni.mec.gov.br>. Acesso em: 19 fev. 2016.
período de 2003-2006, oito IFES – que resultou em um total de 53 em
2006, ao passo que em 2003 se tratavam de 45 unidades.
De acordo com Trópia, no segundo mandato, o governo Lula
4
O Banco Mundial desde 1994 incentivava a diversificação da educação superior, pois criticava o
modelo de universidade de pesquisa que era considerada inadequada às necessidades e recursos dos
países mais pobres. Incentivava instituições de ensino e cursos superiores de curta duração. O
documento do Banco Mundial de 1999, por sua vez, além de também destacar a necessidade de
diversificação das instituições, defende que o sistema de educação superior dos países periféricos deve
contar com poucas universidades de pesquisa, seguidas por universidades de formação profissional de
quatro anos, institutos isolados e centros vocacionais e/ou de formação técnica com duração de dois
anos.
No que concerne o governo da presidenta Dilma Rousseff, este
instituiu o Plano Nacional de Educação (2011-2020), constituído por metas
e estratégias que levam as políticas de privatização e ampliação de
estabelecimentos de educação superior publicas, é simbólico a
centralidade da EaD no contexto da política educacional contemporânea e 24
Considerações Finais
Consideramos que é possível denotar os nexos causais intrínsecos
envolvendo os caminhos dos governos PT com a economia, bem como a
educação superior. No cenário dos condicionantes atribuídos pelos
organismos multilaterais a educação deixa de ser um direito para ser um
serviço, isto é, uma mercadoria. O governo Lula da Silva deu continuidades
nas políticas econômicas do governo Cardoso, e por conseguinte
compreendeu a educação como possível setor no mercado, o que
acarretou em um grande processo de expansão e privatização do ensino
superior no cenário da reforma universitária.
A ampliação acelerada da educação superior privada brasileira se
realiza doravante o discurso despótico de que o mercado se trata de um
excelente empreendedor e que a privatização deve adotada em sua
totalidade. A expansão em alta escala do ensino superior nos governos PT
possui enquanto um de seus aparatos cruciais para os próximos anos as
metas e estratégias que compõem o PNE (2011-2020). Tal desempenho é
resultado de um aglomerado de elementos, como: nova estrutura legal
que regulamenta e fomenta os estímulos financeiros transferidos para as
empresas educacionais.
Sendo assim, parece-nos que a educação passa por um processo de
devir, transformando-se em um grande “negócio” a ser comercializado no
interior da lógica do mercado capitalista e os estudantes se tornam em 27
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de jun. 2015.
ABSTRACT
The aim of this work was the village of Canoinhas-SC (1912-1917), trying to understand
the influence from the suffered attacks within the proximities of stronghold and the
surrender process, occurred during the Contestado War, over the local development.
As primary sources, the work had: Book of Tombo from Santa Cruz de Canoinhas
Parish, military reports, government correspondences. It was found the fight and
resistance strategies experienced by the rebel countrymen and local dwellers, added
to the governmental and military measurements adopted in the surrender process, left
their stain on aspects of economical development and the local socio-cultural
relations.
Key-words: countrymen attack; Canoinhas village; surrender.
1
Projeto de pesquisa financiado pela FAPESC.
2
Mestre em Geografia (UFPR); Especialista em História (FAFIUV). Docente da UnC – Universidade do
Contestado, Campus Porto União, SC. soelihistoria@gmail.com
3
Doutor em Historia Social -UFF; Mestre em História-UNESP; Docente da UNESPAR- Campus União da
Vitória-PR. eloy_tonon@yahoo.com.br
1. A modernidade na região de Contestado.
8
Em 1923, pela Lei n.º 1.424, a vila de Santa Cruz de Canoinhas passou à categoria de cidade, sob a
denominação de Ouro Verde. O Decreto n.º 1, de 27 de outubro de 1930, devolveu ao município o seu
primeiro topônimo de Canoinhas.
Mapa -01- Localização dos principais redutos
Em 15/09/1914,
O comerciante Antônio Tavares de Souza Junior, de
Canoinhas, por telegrama informou ao governador
Vidal José de Oliveira Ramos Junior, que em
companhia dos fazendeiros Aleixo Gonçalves de Lima
e Bonifácio José dos Santos, o ´Bonifácio Papudo´,
havia destruído postos fiscais instalados pelo Paraná
na região do Contestado. Essa data efetivamente
marcou a adesão de Tavares e seus companheiros ao
conflito, lutando ao lado dos revoltosos. (TOKARSKI,
s.d., p.169)
11
Expressão usada para referir-se aos sertanejos rebelados. (RELATÓRIO, 18/11/1914).
Revoltosos comandados pelo fazendeiro, Bonifácio
José dos Santos, o `Bonifácio Papudo´, e Inácio José de
Passos Lima, realizaram o penúltimo ataque efetivo à
cidade de Canoinhas. Foram rechaçados por soldados
do 16º Batalhão de Infantaria. O combate, que durou
40 minutos, foi desferido a partir da localidade de Boa
Vista, onde estava localizada a igreja matriz católica da 18
cidade. Os comandantes do ataque saíram feridos do
combate. (TOKARSKI, s.d., p. 263).
27
Ainda sobre o tratamento dados aos sertanejos, Queiroz (1966,
p.218) afirma que os prisioneiros “que pareciam mais inofensivos e por
isso escapavam à degola eram enviados a Rio Negro, onde permaneciam
em improvisados campos de concentração, sob a vigilância do coronel
Bley Neto, antes de serem distribuídos como trabalhadores pelas colônias
agrícolas do governo do Paraná”.
Os sertanejos foram rendendo-se e o governo precisou definir uma
forma de controle social entre os estabelecidos na região e o novo grupo
que ora havia se formado. Nas justificativas do governo o processo de
transferências dos sertanejos que se renderam se deu como garantia de
término do conflito armado, desestruturando os últimos integrantes da
guerra com a separação dos mesmos.
A decisão da capital brasileira foi de inserir os “fanáticos” presos nas
colônias de povoamento, em muitos casos isolando-os dos seus pares. O
telegrama de José Caetano de Faria a Setembrino de Carvalho confirma as
medidas adotadas.
28
Outro destino dado aos sertanejos foi descrito por Auras (1997,
p.149) “Grande parte do pessoal que se apresentou em Canoinhas, dias
30
depois foi deslocado para o litoral, a fim de trabalhar em colônias e, assim,
repor parcela dos prejuízos provocados (como dissera o General
Setembrino)”.
Com término da guerra iniciou o processo de inserção dos
sertanejos que ali permaneceram na sociedade local que estava do lado
oposto do movimento. Para os sobreviventes o calvário iniciara. Em
muitos casos o sentimento de vingança da parentela de muitos que foram
mortos em conflitos, saques, usurpações, estava presente. O
derramamento de sangue nos sertões foi intenso. As notícias circulavam
na região com informações das mais variadas. A relação entre os
estabelecidos com aqueles que retornavam da guerra produziam conflito
social.
Considerações finais
Referências :
ABSTRACT: This article will revisit briefly the literature regarding the possibilities of
using cinema as historical source. While discussing the inclusion of new sources for
historiography, I intended to include some of the main causes that led to a general
view of distrust towards using this type of source. Also, I included some notes on the
concept of representation and how useful it can be for audiovisual analysis and about
future possibilities of comprehending the filmic narrative as a document.
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História na Universidade do Estado de Santa Catarina,
na linha de pesquisa intitulada Culturas Políticas e Sociabilidades. Bolsista CAPES. email para contato:
nicolletaner@gmail.com
“A história se faz com documentos escritos,
sem dúvida. Quando eles existem. Mas ela
pode fazer-se, ela deve fazer-se sem
documentos escritos, se os não houver. Com
tudo o que o engenho do historiador pode
permitir-lhe utilizar para fabricar o seu mel,
à falta das flores habituais. Portanto, com 2
palavras. Com signos, com paisagens e
telhas. Com formas de cultivo e ervas
daninhas. Com eclipses da lua e cangas de
bois. Com exames de pedras por geólogos e
análises de espadas de metal por químicos.
Numa palavra, com tudo aquilo que,
pertencendo ao homem, depende do
homem, serve o homem, exprime o homem,
significa a presença, a atividade, os gostos e
as maneiras de ser do homem.” (...) “Se não
houver estatística, nem demografia, nem
nada: iremos responder com a resignação a
essa carência? Ser historiador é, pelo
contrário, nunca se resignar. É tentar tudo,
experimentar tudo para preencher as
lacunas da informação. É explorarmos todo
o nosso engenho, eis a verdadeira
expressão.” (FEBVRE, 1977, p. 213)
2
Para Reis, a principal renovação proposta pelos Annales foi a representação do tempo histórico.
Anterior a essa renovação, a história conhecia as mudanças humanas no tempo. A partir dessa revisão,
que se fez necessária quando ocorre a aproximação da história e das ciências sociais, o tempo é
encarado como uma abstração, uma construção necessária – é desconsiderada a sucessão de eventos e
assimilada a ideia de simultaneidade, que é a dominação da assimetria entre passado e futuro. É diante
desses debates que os Annales, e Braudel em particular, construíram o conceito de “longa duração”, a
superação do evento.
3
Reis afirma que é a partir da aproximação entre a História e as Ciências Sociais – e depois, Geografia,
Antropologia, Psicologia, etc - que se constitui o debate acerca da renovação do conceito do tempo.
Houve, também, uma revisão e reconstrução do conceito de homem, de humanidade. Para os Annales,
o homem não é só sujeito, potente criador da história, ele é também objeto, feito pela história. A partir
dessas renovações teórico-metodológicas, ocorre uma modificação no campo de análise da história: a
história tradicional privilegiava a “história acontecimental”, o homem aparecia na política, nos grandes
líderes; a nouvelle histoire enfatizará o “não acontecimental”, o campo econômico-social-mental.
fonte histórica, na definição de uma história-problema, em oposição à
narrativa.
Na História-problema, proposta por este movimento, é o problema
e não a documentação a origem da pesquisa. O fato histórico não é
“dado”, é o/a historiador/a que o constrói, a partir de seu presente, 4
O conceito de Representação.
Segundo Dominique dos Santos, (2011, p. 27) em seu artigo
“Acerca do conceito de representação”, o termo tem sido de uso
recorrente na historiografia brasileira e nos trabalhos acadêmicos em
geral. Sua crítica ocorre no sentido de que, para o autor, este conceito
tem sido usado discriminadamente e não tem sido debatido, sendo 11
4
Idem, 149.
Segundo Santos, (2011, p. 35) Denise Jodelet é a maior divulgadora
da obra de Serge Moscovici, um dois principais expoentes sobre este
conceito. Ela propõe que o conceito de representações sociais de
Moscovici seja utilizado como alternativa de análise dos fatos sociais.
Santos então, afirma que: 13
história, visto que o filme excede seu conteúdo. (KORNIS, 1992, p 243)
O autor defendeu então a ideia de que para se analisar o um filme
se deveria entender o elementos do filme (planos, temas, enredo)
juntamente do que não é o filme (autoria, produção, público, regime
político). Ferro estaria menos próximo então da semiologia, da história do
cinema, da estética: na busca do não-visível, ele quer compreender a
inserção do filme em uma determinada sociedade:
de reedições e remasterizações.
A linguagem cinematográfica – edição, montagem, fotografia,
sonoplastia, efeitos especiais – é o que, na narrativa fílmica, impacta,
contribui ou delimita a importância de um dado acontecimento ou fato.
Compreender quais temas e imagens estão sendo privilegiadas em
detrimentos de outras, através da análise destes recursos
cinematográficos, pode nos ajudar a entender o posicionamento de seus
autores, e da sociedade em que vivem e onde foi produzido o filme, visto
que
as imagens ali retratadas – e isso também é válido
tanto nos filmes de ficção quanto documentários –
foram construídas e, nesse sentido, serão sempre
parciais, direcionadas e interpretativas dos eventos e
épocas que descrevem (OLIVEIRA, 2010, p. 20)
Considerações Finais
A desconfiança dos filmes históricos por parte dos/as
historiadores/as por muito tempo se referiram ao fato de que os
audiovisuais romanceariam a História e não seriam tão contundentes e
verdadeiras como a história escrita nos livros. Realizei aqui uma breve
discussão sobre verdade, justamente para contrapor essas críticas e
problematizá-las. Apesar de algumas ponderações acerca dessa questão já
estarem se direcionando para a superação e da historiografia brasileira ter
debatido acerca do uso de fontes audiovisuais nos últimos anos com
bastante afinco, a discussão da legitimidade e de metodologias certas
fontes ainda são muito debatidas. 22
Referências Bibliográficas
Resumo:
O presente trabalho reflete sobre a trajetória da escrita da história sob a perspectiva
de alguns conceitos e métodos que mudaram ao longo do tempo e, sobretudo, na
contemporaneidade, refletindo sobre a influência do modo de produzir determinadas
escritas históricas. A maneira de historicizar e de analisar as experiências do sujeito ao
longo do tempo foi se modificando e a história pode pensar em ressignificar algumas
experiências do passado deslocando-se do presente. Pensando através dessa
perspectiva de se fazer história no tempo presente, as experiências das populações de
origem africana foram ponto de partida para ressignificados que ainda precisam ser
repensados, ou seja o presente apontou para o passado para reconstrução e
ressignificação histórica dessa experiências para o presente e futuro.
Palavras- chave: História do Tempo Presente- Experiências- Populações de origem
africana.
Abstract:
This work reflects on the writing of the history of history from the perspective of some
concepts and methods that have changed over time and especially in contemporary
thinking about the influence of the way of producing certain historical writings . The
way to historicize and analyze the experiences of the subject over time has been
changing and history can think of reframing some past experiences moving from the
present. Thinking from this perspective to make history in this time the experiences of
people of African origin were the starting point for new meanings that still need to be
rethought or is this pointed to the past historical reconstruction and reinterpretation
of that experience for the present and future.
Key words: History of the Present Time – Experiences- African origin populations.
1
Graduada em História pela UNESC (Universidade do extremo Sul Catarine). Mestranda do Programa de
Pós Graduação em História pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina).
Introdução
Mas essa é apenas uma das diferentes visões que a história do tempo
presente pode suscitar, seguindo a lógica de Walter Benjamin, que
acredita que repensar questões do passado são uma possibilidade de
poder reparar ou não repetir, de alguma maneira no presente, quase
como uma redenção. Diante de tantas considerações sobre como pensar a
História no Tempo Presente, é possível perceber que a maneira e as
possibilidades de pensar a história mudaram, se ampliaram. Um das
grandes considerações e inspirações para pensar na Historia do Tempo
Presente é pensar também que o futuro pode iluminar o passado e não
apenas isso, mas que a História tem urgência e pode agir, manifestar-se
em uma dimensão política mostrando sua importância. Eis um dos papeis
da História, segundo Benjamin: “ Articular o passado não significa aceitá-lo
6
‘do jeito que ele era.” Significa apropriar-se de uma memória que eclode
em um momento de perigo.” (p. 223).
Pensando na História Cultural é imprescindível não se utilizar dos
conceitos de autores que participaram da construção de uma nova
mentalidade para pensar a cultura, expondo uma concepção materialista
da mesma, Raymond Williams, Perry Anderson, E P Thompson, Eric
Hobsbawm, Stuart Hall fundadores da Nova Esquerda (New Left), um dos
mais importantes movimentos intelectuais e políticos do século passado,
são alguns dos autores de referência. Essas perspectiva de se pensar a
história em uma concepção materialista pode contribuir muito, desde a
construção do sujeito pós-moderno até o lugar dos grupos subalternos
nessa sociedade.
Uma concepção interessante para pensar a pesquisa historiográfica é
a micro- análise, rompendo em partes com a corrente dos Annales que se
fundamenta em uma macro-análise. Escolher a micro- análise é uma
questão de posicionamento, ou seja, que tipo de pesquisa o historiador se
propõe a fazer, um ponto de vista de conhecimento. Se um historiador
escolher esse método deve dar conta de fundamentar sua pesquisa. Pode-
se dizer que é uma escolha e uma forma de desconstruir os objetos e
revisar o papel das fontes. É uma escolha corajosa e arrojada.
É com base nesses referenciais, que se desenvolverá a pesquisa sobre
as experiências das populações de origem africana em Santa Catarina,
permeando os campos sobre cultura, sobre o papel da História na pós-
modernidade e sobre a relevância de se desenvolver pesquisa sobre essas
7
populações na pós-modernidade.
define que,
10
Utilizar Stuart Hall e suas considerações sobre as diferentes identificações
possibilita o reconhecimento das várias construções existentes num
contexto comum e dá oportunidade as diferenças, de reestabelecer o
sentido de pertença 2, mesmo que ele esteja em crise, a crise gera a
reflexão e a desestruturação de conceitos que até então eram intocáveis.
O processo de integração dos afrodescendentes na sociedade
dominadora e opressora branca foi muito difícil, mas suas intermináveis
formas de resistir a essa opressão sempre aconteceram, só que são pouco
evidenciadas colocando os afrodescendentes sempre como figurantes, em
quase todos os aspectos sociais. Antes de qualquer coisa, é preciso
compreender que a cultura racista quase sempre julga suas manifestações
como superficiais.
Essas referências citadas dão sustentação a essa pesquisa, quando
defendem a ressignificação da História e da historiografia, tanto na
importância de reconhecer as experiências cotidianas e interpretá-las
gerando novos conceitos históricos, quanto na defesa da construção de
uma identidade plural, e mais ainda quando desconstroem os
2
“ No contemporâneo é o pertencimento e não a autenticidade que constrói territórios.” CAMPOS,
Emerson César de. Territórios Deslizantes: recortes, miscelâneas e exibições na cidade
contemporânea – Criciúma (SC) (1980-2002). Florianópolis, 2003. 214 f. Tese (Doutorado em
História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis. p.159
pressupostos eurocêntricos e acreditam na possibilidade de dar outros
rumos às experiências e construções futuras. Diante dessa gama de novos
conceitos é imprescindível não discutir o conceito e a importância da
cultura e suas diferentes interpretações na modernidade.
11
Utilizando-se da ideia de que a cultura pode ser analisada, também,
através do enfrentamento da diferença - como a cultura do “branco” e a
do “negro”- essa análise é importante para compreender os espaços
reconfigurados, ou de contracultura como define o sociólogo Paul Gilroy
(2001). Quando se propõe um estudo sobre cultura é muito importante
abordar também o conceito de Multiculturalismo, pois ele propõe que
olhemos o “outro” como iguais e ao mesmo tempo como diferentes,
sendo o mais importante ver o “outro” a partir dos termos do “outro”,
não julgar a diferença, mas compreendê-la e respeitá-la. O conceito de
multiculturalismo deve ser emancipatório na compreensão de significados
e sentidos que são associados no cotidiano,
3
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis,
Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.p. 19.
sinal dessas diferentes representações. “ Cada vez mais, as culturas
“nacionais” estão sendo produzidas a partir da perspectiva de minorias
destituídas.”(p. 25).
Para perceber-se no além, na busca por identificações a negação é
14
importante, estar estranho ao lar, mas não sem casa, seja na divisão
familiar, social, em esfera pública ou privada. (BHABHA, 2008). Analisando
as estruturas culturais formadas no mundo pós-moderno Bhabha analisa
que se vive vidas duplas no mundo pós-colonial, que ele define como
“dois eus ”. Bhabha entra no conceito de raça, e de como sua presença é
vigiada no sentido de controle social. Os negros estão constantemente
sendo avaliados pelo olhar do branco e não a partir do seu próprio olhar
ficando a margem de ser objeto de análise e não protagonista de sua
própria história.
O autor utiliza de alguns pensamentos de Frantz Fanon para pensar
de onde se desloca e porque se desloca a ideia de negrura, analisando que
a própria negritude é plural e não pode colocar todos os negros num
mesmo lugar, pois partem de experiência e especificidades por vezes
comuns, mas não iguais. Bhabha pensa a modernidade como um espaço
para essa minorias sujeitadas, “ A modernidade que proponho , tem a ver
com a construção histórica de uma posição específica de enunciação e
interpelação histórica. Ela privilegia o que são sujeitados, historicamente
deslocados.”
Para compreender a diferença cultural e sua dinâmica, é preciso
reconhecê-la num primeiro momento, essa diferença cultural, pontuada
por Bhabha, é conflituosa e se entrelaça sempre, contudo jamais deve ser
negada socialmente, o próprio reconhecimento da diferença afirma o
reconhecimento dos novos signos.
O historiador Roger Chartier, também é relevante para pensar as
15
experiências das populações de origem africana em Santa Catarina através
dos conceitos que utiliza para analisar as representações de diferentes
culturas, de como são reproduzidas e representadas. O estudo das
experiências das populações de origem africana em Santa Catarina
permeia esses conceitos de Chartier, analisando os contextos de
representações culturais e das relações estabelecidas entre “branco” e
“negro”.
As contribuições de Lilia Moritz Schwarcz, sobre as teorias raciais são
importantes para a compreensão da formação e construção de uma
mentalidade racista no Brasil, de como o discurso difundido como
Darwinismo Social, implicou em naturalizar uma raça superior e outra raça
inferior. Segundo a autora,
Nesse sentido essa obra é um dos pontos de partida para pensar questões
raciais no mundo pós-moderno é mais que isso, Fanon inspira a pensar na
desconstrução e descolonização das mentalidades tanto de negros quanto
de brancos, mas para isso é preciso perceber-se como um resultado de
meios de produzir pensamentos a partir do sistema colonial, caraterizado
pelo opressor e pelo oprimido.
Na intenção de contribuir com a produção historiográfica sobre as
populações de origem africana, essa pesquisa traz possibilidades de
relatar as diferenças culturais existentes no Estado Catarinense, dando
oportunidade a essas diferenças, através das inúmeras experiências que
se estabeleceram no estado em diferentes regiões. Sendo assim pesquisar
sobre as populações de origem africana é também uma maneira de
problematizar as maneiras de historicizar, é dar visibilidade aqueles que
sempre sofreram a invisibilidade, mais que isso, é atentar para o fato de
que a historiografia Catarinense foi construída, e se perpetua ainda, tendo
18
como plano de fundo uma visão singular de cultura, de identidade, e
predominada por uma escrita de visão eurocêntrica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEVASCO, Maria Elisa. Dez lições sobre estudos culturais. São Paulo:
Boitempo, 2003. 188 p.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Rio de Janeiro: Fator, 1983.
194 p.
GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência / Paul
Gilroy; tradução de Cid Knipel Moreira.- São Paulo: Ed. 34; Rio de Janeiro:
Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
HALL, Suart. A identidade cultural na pós- modernidade / Stuart Hall;
tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. -Rio de Janeiro: 19
Ed. 5ª; DP&A, 2001.
SCHWARCZ, Lila Mortiz. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o Subalterno falar ? Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2010. 133 p.
1
Resumo: Este artigo tem como foco central historicizar o processo de formação da
Companhia Mate Laranjeira no final do século XIX e analisar a sua relação com o
processo de ocupação e colonização das terras no sul de Mato Grosso. Buscamos
compreender se a Mate Laranjeira realmente atrasou o processo de colonização da
região como é apontado por alguns estudos nas últimas décadas. Pensar que as
dificuldades de colonizar o território mato-grossense foi resultado exclusivo da
presença e força da CML é uma forma de isentar o Estado de sua responsabilidade,
pois percebemos que existiu uma rede de relações de poder para favorecer ambas as
partes.
Abstract: This article has as its central focus historicizing the process of formation of
the Company Mate Laranjeira in the late nineteenth century and analyze its
relationship with the process of occupation and colonization of the lands in the south
of Mato Grosso. We seek to understand the Mate Laranjeira actually delayed the
process of colonization of the region as pointed out by some studies in recent decades.
To think that the difficulties of colonizing the territory of Mato Grosso was the
exclusive result of the presence and strength CML is a way to exempt the state from its
responsibility because we realized that there was a network of power relations to favor
both parties.
1
Licenciado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Mestre em História,
Poder e Práticas Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). E-mail:
viniciusrajao@gmail.com
A história da Companhia Mate Laranjeira (CML) tem início nos anos finais
do século XIX. Com o fim da Guerra da Tríplice Aliança e a assinatura do
tratado de paz, foi organizada uma comissão de limites, que ficou
responsável pela demarcação das fronteiras entre os países envolvidos no
conflito. 2
12
Isso nos permite considerar, associado aos dados que obtivemos das
emissões de títulos de terra, que essa localidade não era tão desocupada
quanto afirmavam os discursos, bem como notou Guillen. Havia um fluxo
migratório e de procura por compra de terras, o que não agradava a CML,
pois representavam uma ameaça aos seus negócios da região.
Bertoldo Klinger, comandante da circunscrição militar de Mato
Grosso, ao narrar suas memórias, destaca as práticas aplicadas pelas CML
com relação aos pequenos produtores e posseiros,
Fonte: Organizado pelo autor com base no censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística em 1920.
2
Disponível em:
<http://pdba.georgetown.edu/Constitutions/Brazil/brazil37.html>. Acesso dia 20/01/2014
Fonte das imagens
Fonte: BIITAR. Marisa. Mato Grosso do Sul: a construção de um Estado.
2009. p. 63.
25
Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. O engenho anti-moderno: a
invenção do Nordeste e outras artes. Tese de doutorado. IFCH-UNICAMP.
Campinas, 1994.
_____. A luta pela terra nos sertões de Mato Grosso. Estudos sociedades e
agricultura, 12, abril 1999. p. 148-168.
SILVA, Jovam Vilela da. A divisão do Estado de Mato Grosso: uma visão
histórica (1892-1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996. 27
Abstract: The Haitian Republic is the result of the union of enslaved people who saw
the junction of ideas, ideals and strength, hope needed to reverse a vile fate of nearly
three centuries of European rule. Liberty, Equality and Fraternity, the French
Revolution convictions were paramount in the revolt and black Haitian revolution, and
culminated in bloody battles involving whites, blacks and mulattos. The country gained
its freedom and the title of First Black Republic in the world, but more than two
centuries later we can see that the dreamed ideal and that supported the revolt and
revolution have not been achieved and the country suffered from commercials,
violence locks, rise of criminal gangs, dictatorial periods and international military
interventions supported by the United Nations (UN).
1
Acadêmico do 4º ano do Curso de Licenciatura em História da UNESPAR de União da Vitória-PR.
INTRODUÇÃO
O Haiti tem seus problemas de ordem social, e político-econômico
desde 1492 quando de seu descobrimento pelos espanhóis, nesse período
se iniciou a primeira fase catastrófica daquele país, com a retirada de
riquezas e exploração do ouro provenientes da utilização da mão de obra 2
2
Acordo de paz celebrado entre os países europeus, após a guerra da Liga de Augsburgo, 1688-1697.
o sofrimento, altas jornadas de trabalho, higiene e alimentação precária e
a baixa expectativa de vida foram o estopim para uma organização
escrava que buscasse modificar sua realidade, a disseminação dos novos
ideais contribuiu para o aumento do já mau relacionamento entre
escravos, mulatos e brancos, já que não existia uma união entre eles. Mas, 3
3
MOYA PONS. Frank. La independencia de Haití y Santo Domingo. In: BETHEL, L. História de América
Latina. Independência. Barcelona: Editora Crítica, Cambridge University Press, 1991, v. 5, p. 124-153.
influência na figura do sacerdote Vudu Dutty Boukman que instigava “os
escravos se vingaram de seus senhores por meio de pilhagens, estupros,
torturas, mutilações e mortes. Esta situação levou a Assembleia Legislativa
francesa a reconhecer os direitos civis e políticos.” 4
O fato mais interessante da história do Haiti é sem dúvidas a 4
1 – GÊNESE HAITIANA
A República do Haiti ou Ahity na língua nativa está localizada na
América Central e faz fronteira com a República Dominicana, possui uma
população estimada em 9 milhões de habitantes espalhados em seus
76.192 km2, sua principal cidade e também capital é Porto Príncipe.
4
Ibidem, p. 1.
5
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p 19.
O atual território do Haiti “foi descoberto na primeira viagem do
navegador Cristóvão Colombo à América, em 1492” 6, uma ilha localizada
no centro do caribe ficou conhecida como Isla Hispaniola atualmente
dividida com a República Dominicana, “ocupa o lado ocidental da ilha
(27.750 km², território equivalente ao Estado de Alagoas), enquanto a 5
2 - COLONIZAÇÃO FRANCESA
A partir de 1520 a Espanha teve sua decadência na colonização
haitiana, com isso ainda no século XVI os franceses ocupariam a porção
6
KAWAGUTI, Luis. A República Negra: Histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no Haiti. São
Paulo: O Globo, 2006, p.23.
7
BONA. Marco Aurélio. loc. cit.
noroeste da ilha, alcançando um terço do território, conforme nos mostra
Bona (2011):
8
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil ... op. cit. p. 20.
9
KAWAGUTI, Luis. A República Negra: Histórias de um repórter sobre as tropas brasileiras no Haiti. São
Paulo: O Globo, 2006, p.23.
A presença de grupos étnicos originários da África
prepondera no Haiti (95% de negros), onde também
existe uma chamada "elite mulata" (5% de mulatos).
Já a população dominicana, pouco maior que a do
Haiti, é de expressão predominantemente
miscigenada (74% de mulatos), muito mais do que
propriamente africana (11% de negros) ou de origem 7
europeia (15% de brancos).10
10
Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI. Dissertação de
mestrado.Teresina. 2011. p 19.
africanos, oriundos de várias tribos, bem “o hábito da violência para a
solução de conflitos e da “marronage”, ou seja, dissimulação usada para
enganar os senhores franceses e os estrangeiros que se sucedem na
exploração do país”.11
Além de café, anil, cacau e algodão, o Haiti também produzia o 8
11
PEREIRA.A. H. R.O componente militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do
Haiti.Military Review. Jan/Fev 2007. P. 3.
12
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. p 295.
proprietários e seus auxiliares (feitores, técnicos, vigilantes etc.) 13, porém,
a forma cruel de tratamento dispensada aos escravos, aliado à má
alimentação, escassez médica e as torturas criavam um certo medo de
revoltar-se e sofrer as graves punições a que estavam impostos.
A vida desgastante de um escravo haitiano durava em média 24 9
3 - TOUSSAINT LOUVERTURE
Segundo Sodré16, Toussaint Louverture foi filho de um chefe tribal
africano que foi trazido para São Domingos como escravo, nasceu entre
1743 e 1746, “foi comprado por colonialista que dispunha de uma certa
13
Ibidem, p. 296.
14
Ibidem, p. 297.
15
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. p 297.
16
SODRÉ. C. A. Marcos. Luta em fogo e sangue a revolução haitiana e suas ligações com os ideias
jacobinos da Revolução Francesa (1791-1804). Universidade Veiga de Almeida. Cabo Frio. 2007. p. 25.
sensibilidade e que reconhecendo sua inteligência, permitiu-lhe uma
situação incomum, cedendo-lhe até cinco escravos para o cultivo de uma
horta própria” e lhe deu a condição de capataz, mais tarde ele se casou e
teve oito filhos, dos quais Toussaint foi o primogênito.
Da mesma maneira, o senhor de escravos percebeu que o filho 10
17
Idem.
condenação moral do regime escravista, afirmava que,
para a rebelião ter início, faltava apenas uma
liderança, o surgimento de um homem capaz de
chefiar os escravos no caminho da revolta. “Onde está
este homem?” – perguntava o Abade. E respondia
confiante: “ele, com certeza, surgirá”.18
11
18
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. p 298.
19
Idem.
[...] algumas coisas que a gente encontrava ou que os
militares comentavam na base era encontrar alguns
corpos sem cabeça na beira da rodovia, mais comum,
isso aconteceu umas três ou quatro vezes no período
de seis meses, mas isso era o que eles falavam que era
briga entre pessoas mesmo dentro do Haiti [...].20
12
4 – A REVOLTA
Segundo Gorender o estopim veio com a “Convenção, constituída
em Paris logo após a Revolução de 1789, proclamou a libertação dos
escravos nas colônias francesas. A notícia da proclamação se propagou
rapidamente em São Domingos” e em 1791 iniciou-se a rebelião dos
escravos no Haiti, onde os mesmos abandonaram as plantações,
destruíram engenhos e mataram vários brancos proprietários de terras.
20
GROSSKLAUS. Silvio Sidilei. Silvio Sidilei Grossklaus: depoimento [Jan. 2016]. Entrevistador:
Leanderson Cristiano Voznei. União da Vitória-PR: UNESPAR, 2015. 1 CD. Entrevista concedida para
monografia sobre a Participação dos Militares do 5º BE Cmb Bld de Porto União-SC na missão de
Estabilização do Haiti. p. 3.
21
CARPENTIER. Alejo, 2004 Apud GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos
Avançados 18. USP. São Paulo. 2004. p 297.
Porém, a rebelião dos escravos tomou direções individualizadas
sem uma liderança forte que estabeleceu na ilha uma situação
devastadora e caótica, que só cessaria três anos mais tarde em 1794,
quando “entra no processo rebelde um personagem com características
privilegiadas para o papel histórico que desempenhou: Toussaint Bréda 13
E a segunda:
14
24
Idem.
25
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. p 299.
Toussaint negou-lhe julgamento e o fuzilou sumariamente. Privado da
confiança dos trabalhadores negros, ficou debilitado para travar a batalha
decisiva, que logo se seguiria. 26
Segundo Gorender em 1801 o próprio Bonaparte iniciou uma
retomada sigilosa da Ilha Hispaniola, aproveitando-se da aproximação 15
26
Idem.
27
Idem.
sofreu tremenda devastação, reduzido a cinzas pelos
incêndios ateados pelos combatentes dos dois lados. 28
28
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. P.299.
29
Ibidem, p. 300.
30
Idem.
Dessalines, Christophe, Clairveaux, Maurepas, Pétion e
outros líderes negros prosseguiram o combate e
conseguiram derrotar e expulsar o exército francês.
No processo da luta, massacraram a maioria dos
brancos, que antes dominavam a colônia. Bonaparte
conseguiu restabelecer a escravidão em outras
possessões francesas, não, porém, na pátria de 17
Toussaint.31
31
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. p. 300.
32
Idem
33
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de Mestrado.Teresina. 2011. p 19.
34
MATIJASCIC. Vanessa Braga. Haiti: uma história de instabilidade política. ANPUH/SP – UNESP-Franca.
06 a 10 de setembro de 2010. p. 1.
Começou a governar com as bênçãos dos capitalistas
ingleses e americanos *...+” 35.
REFERÊNCIAS BIBLÍOGRAFICAS
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e
cooperação técnica. UFPI. Dissertação de mestrado. Teresina. 2011.
CARPENTIER. Alejo, 2004 Apud GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na
história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo. 2004.
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos
Avançados 18. USP. São Paulo. 2004.
GROSSKLAUS. Silvio Sidilei. Silvio Sidilei Grossklaus: depoimento [Jan.
2016]. Entrevistador: Leanderson Cristiano Voznei. União da Vitória-PR:
UNESPAR, 2015. 1 CD. Entrevista concedida para monografia sobre a
Participação dos Militares do 5º BE Cmb Bld de Porto União-SC na missão
de Estabilização do Haiti.
35
GORENDER. Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18. USP. São Paulo.
2004. P. 300.
36
Idem.
KAWAGUTI, Luis. A República Negra: Histórias de um repórter sobre as
tropas brasileiras no Haiti. São Paulo: O Globo, 2006.
MATIJASCIC. Vanessa Braga. Haiti: uma história de instabilidade política.
ANPUH/SP – UNESP-Franca. 06 a 10 de setembro de 2010.
MOYA PONS. Frank. La independencia de Haití y Santo Domingo. In:
BETHEL, L. História de América Latina. Independência. Barcelona: Editora
Crítica, Cambridge University Press, 1991, v. 5. 19
PEREIRA.A. H. R.O componente militar da Missão das Nações Unidas para
a Estabilização do Haiti.Military Review. Jan/Fev 2007.
SODRÉ. C. A. Marcos. Luta em fogo e sangue a revolução haitiana e suas
ligações com os ideias jacobinos da Revolução Francesa (1791-1804).
Universidade Veiga de Almeida. Cabo Frio. 2007.
A UTILIZAÇÃO DE QUADRINHOS NO ENSINO MÉDIO: O
APRENDIZADO DE CONCEITOS
Weber Abrahão Júnior 1
Resumo
O texto é uma sugestão de plano de aula para o Segundo Ano do Ensino Médio, como
resultado de produção de material didático para conclusão parcial de disciplina do
Mestrado Profissional em História, na Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão.
O tema escolhido foi Introdução às Revoluções Burguesas: o que é Revolução? O
conceito de Revolução é recorrente nas Ciências em geral, e nas Ciências Humanas em
particular, e especificamente na ciência histórica e em sua expressão didática, como
disciplina escolar. É um conceito essencial para a compreensão dos processos
históricos nas diferentes condições de mudança social, principalmente a partir do
estudo da Revolução Francesa como marco da contemporaneidade. O objetivo
principal da atividade é levar os alunos a compreensão das possíveis variações em
torno da construção do conceito de revolução, compreendendo inclusive sua
elaboração no tempo histórico. Além disso, viabilizar a comparação entre os diversos
sentidos do conceito, e suas dimensões sociológica e filosófica, bem como algumas de
suas manifestações históricas. Permitir ainda aos alunos a possibilidade do diálogo
entre o texto didático tradicional e a linguagem dos quadrinhos. E, enfim, possibilitar
aos alunos o acesso à percepção e compreensão de imagens através da leitura
orientada dos quadrinhos.
1
Graduado em História pela Universidade Federal de Uberlândia; pós-graduado em História do
Brasil Contemporâneo pela Universidade Federal de Uberlândia; graduado em Direito pela
Universidade Federal de Uberlândia; pós-graduado em Direito Civil pela Universidade Federal
de Uberlândia; professor do Ensino Médio na rede privada do estado de Minas Gerais;
participante do grupo de pesquisa NIESC - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos
Culturais, da Universidade Federal de Goiás como estudante; Mestrando em História na UFG,
Regional Catalão.
E-mail: advocaciaweber@gmail.com
Abstract 2
The text is a lesson plan suggestions for the second year of high school, as a result of
courseware production for partial completion of discipline Professional Masters in
History at the Federal University of Goiás, Catalan Regional. The theme was
Introduction Bourgeois Revolutions: What is Revolution? The concept of revolution
recurs in science in general and in the Humanities in particular, and specifically in
historical science and his didactic expression, as school discipline. It is an essential
concept to understand the historical processes in different conditions of social change,
especially from the French Revolution as a landmark study of contemporaneity. The
main objective of the activity is to get students to understand the possible variations
on the construction of the concept of revolution, including understanding their
development in historical time. Also, enable the comparison between the different
senses of the concept, and its sociological and philosophical dimensions, as well as
some of its historical manifestations. Allow even students the possibility of dialogue
between the traditional textbook and the language of comics. And finally, allow
students access to the perception and understanding of images through guided
reading comics.
ANEXO – AS PRANCHAS
7
Prancha 1
8
Prancha 2
9
Prancha 3
Referências
MARX, Karl. Onze Teses sobre Feuerbach. In: Fundação Lauro Campos.
Disponível em http://laurocampos.org.br/2008/03/onze-teses-sobre-
feuerbach/. Acesso em 07/01/2016.
MARX, Karl. Onze Teses sobre Feuerbach. In: Fundação Lauro Campos.
Disponível em http://laurocampos.org.br/2008/03/onze-teses-sobre-
feuerbach/. Acesso em 07/01/2016.
ABSTRACT: The various cultural events can be used as objects of analysis of history;
therefore, the article aims to understand and record the myths and legends that
permeate the collective imagination, with research focus on the enchanted gold, as
well as tracing a parallel between the ways of thinking of culture as a constitutive
element of people and the appreciation of orality as a methodological source. The
enchanted gold is part of the collective imagination of many regions of the country and
relates to the colonial past of auriferous extraction. Thus, the objective is to
understand the continuities and reinterpretation suffered by it throughout the ages,
from the colonial period to the contemporary.
1
- Mestrando em História, pela Universidade Federal do Goiás (UFG), Pós-graduado em História e
Cultura Afro-brasileira (UCAM/Prominas). Bolsista CAPES. Email para contato:
weversonsem@hotmail.com
EXPLANANDO OS CONCEITOS: CULTURA E CULTURA POPULAR
sentido, para que haja cultura é preciso antes que exista uma consciência
coletiva que, a partir da vida cotidiana, elabore os planos para o futuro da
comunidade, ressalta Silva & Silva (2009, p. 86). Todas as culturas têm uma
estrutura própria, suscetíveis a mudanças, pois são dinâmicas, trocas
culturais ocorrem por meio da interação entre uma cultura e outra; por
não existir culturas isoladas, as influências mútuas são recebidas em todas
as sociedades.
Interessa ainda a compreensão de cultura popular para
compreender as narrativas acerca do ouro encantado nas regiões
mencionadas. Para Renato Ortiz (1992, p. 66) a cultura popular é
compreendida como sinônimo de povo, por outro lado Noeci Messias
(2010, p. 33) assinala que a terminologia “popular” é, ainda, polêmica e
que normalmente costuma ser associada às classes sociais subalternas, ou
às pessoas que, na organização espacial de uma dada sociedade, ocupam
posição periférica, representando um caráter de certa forma pejorativo.
De maneira semelhante, Vovelle (2004, p. 154) analisa o “popular” como
um quadro de confronto dialético entre a cultura dominante e a cultura
dominada. A afirmação de Vovelle está em consonância com Marta Abreu
a partir da afirmação:
a cultura popular não é um conjunto fixo de práticas
ou textos, nem um conceito definido aplicável a
qualquer período histórico. Neste sentido, cultura
popular não se conceitua, enfrenta-se. É algo tecido
pelo historiador nas tramas sociais e documentais da
história; só encontra sentido, ou torna-se inteligível,
através de sua contextualização (não um conceito 4
estático e funcionalista que dá coerência a todas as
ações). O conceito emerge na própria busca do como
as pessoas comuns, as camadas pobres ou os
populares (ou pelo menos o que se considerou como
tal) criavam e viviam seus valores e, no caso, as
manifestações festivas, considerando sempre a relação
complexa, dinâmica, criativa e política mantida com os
diferentes segmentos da sociedade: seus próprios
pares, representantes do poder, setores eruditos e
reformadores. (ABREU, 1999, p. 28).
2
Agradeço aos depoentes que sem delongas dedicaram parte de seu tempo para que esta pesquisa
fosse realizada. As referências às funções desempenhadas pelas rezadeiras relaciona-se á prática local de
rezar terços em, latim nas comunidades. Como forma de gratidão, elenco os mesmos e a sua origem:
Aristides Oliveira de Jesus – 76 anos, lavrador aposentado, morador do município de Dianópolis – TO;
Custódia Ferreira – 61 anos – lavradora aposentada, moradora do município de Dianópolis – TO; Dinah
Cardoso de Jesus – 69 anos, lavradora aposenada, moradora do município de Dianópolis – TO; Dona Lelé
(Aurelina Rodrigues) – 75 anos, rezadeira, lavradora aposentada, moradora da zona rural de Dianópolis –
TO; Felisberta Pereira da Silva (Feliz) – 62 anos, rezadeira, benzedeira, dançarina de Sussa, funcionária
pública municipal, residente em Natividade – TO; Floracy Ribeiro Cardoso (Flora) – 53 anos, rezadeira,
professora, moradora do município de Dianópolis – TO.
espontâneo, de acordo com Oliveira (2010, p. 2). O trabalho realizado no
decorrer do ano de 2014 com a coleta de testemunho e levantamento
bibliográfico insere-se no contexto de cultura popular, uma vez que
perpassa pelo imaginário 3 das pessoas que cresceram e viveram uma
grande parte da sua vida na zona rural e que tiveram experiências com a 5
3
Imaginário refere-se o conjunto de imagens guardadas no inconsciente coletivo de uma sociedade ou
de um grupo social; é o depósito de imagens de memória e imaginação, abarca todas as representações
de uma sociedade, toda a experiência humana, coletiva ou individual, conforme SILVA & SILVA (2009, p.
213).
Ecléa Bosi (1994, p. 60) mostra que no estudo da memória dos velhos é
possível verificar uma história social bem desenvolvida, uma vez que elas
já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características
bem marcadas e conhecidas, pois viveram quadros de referência familiar e
cultural igualmente reconhecíveis. Desse modo, a partir da citação da 6
4
Ao referir-se aos sujeitos a-históricos estou referindo às sociedades que são consideradas por não
possuírem escrita ou registros, e ainda à sujeitos silenciados pela tradicionalidade da historiografia;
desse modo, não refere-se aos depoentes.
utilizadas como instrumento de favorecimento do diálogo a fim de que os
depoentes possam buscar em suas memórias lembranças de
acontecimentos que expressassem o significado das lendas transmitidas
de geração a geração.
A delimitação do recorte espacial inclui as cidades de Dianópolis e 7
10
por diferentes motivos, não é contado para os familiares onde este está
escondido; por meio de sonho é revelado o local onde está oculto para
desencantá-lo. Póvoa (1989, p. 43) expõe como as lendas transitavam no
imaginário ao assegurar que no tempo antigo, principalmente no interior,
os abastados enterravam suas fortunas – ouro, joias e patacões – para
deixá-las fora do alcance dos aventureiros, ladrões e jagunços. Inexistindo
bancos e cofres seguros, e sendo desconhecida a inflação, o seio da terra
era um esconderijo mais certo do que as burras e os baús. O sertão
tocantinense é pródigo dos casos de assombrações, pontua o referido
autor.
Sobre as diversas localidades de esconderijo do metal precioso, lê-se:
5
Assombração, fantasma, coisa de outro mundo.
narrativas e demonstra o processo:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
Prof.º Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Co-coordenador
dos Encontros Abertos da Cabanagem organizados em parceria com o Programa de
Antropologia/Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
ABSTRACT: This article has the simple assumption analyze the prospects for 2
production and use of textbooks didactic that include discussions about the regional
history of the Amazon and its interrelation with the formation social historical of Brazil,
in the context of the classroom in basic schools of city Santarém, Pará. That said, we
should understand that there is a hiatus between "want" and "make history", because
"making history and teach history" are not fields distinct of historical knowledge, both
are intertwined and should not be dissociated. In this sense, far from being a recipe or
rules of how to work with the theme of the Amazonia History teaching, and which
references to point, I refer precisely to this inherent difficulty to the school every day
of teacher, in having to perform the transposition didactic and then the didactic
mediation of content of Studies of the Amazonian - due to the difficulty of access to
didactic materials aimed at this theme, either by lack, did not updated and even not
existence of materials that address new approaches on history Amazonia, especially in
the perspective of the "Interdisciplinary" approach defended for Japiassu (1976) and
Barros (2011).
Bem mais recente temos outras duas coleções, que embora sejam
paradidáticas, tem sido apropriadas pelos professores das redes públicas e
particulares como didáticos em virtude da carência de livros para esta
finalidade, destaco:
Considerações Finais
2
ARRAIS, Cristiano Alencar. A filosofia da História de R. G. Collingwood: duas contribuições.
Vitória: Dimensões, vol. 24, 2010, p.44.
A interdisciplinaridade é uma prática que pode se
estabelecer no interior de certo campo do saber – no
nosso caso a História – com vistas às possibilidades de
incorporar metodologias ou aportes teóricos oriundos
de outras disciplinas, estabelecendo diálogos com 13
outros campos do saber (BARROS 2011, p. 394).
LEITE, Miriam M. Texto visual e texto verbal. In: BIANCO, Bela; LEITE,
Miriam M. (Orgs.). Desafios da Imagem. Campinas: Papirus, 1998.
<http: //www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/5-4.pdf>. 16
OLHARES PARA A HISTÓRIA:
ENTRE A FICÇÃO, TESTEMUNHO, HISTÓRIA E MEMÓRIA
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Estadual do
Centro Oeste – Unicentro. jorgezaluski@hotmail.com
Ao meu ver, a história enquanto disciplina vai mal
atualmente porque perdeu de vista as suas origens na
imaginação literária. No empenho de parecer
científica e objetiva, ela reprimiu e negou a si própria
sua maior fonte de vigor e renovação. (WHITE, 2001,
p. 116)
2
Com observações sobre um período em que o campo da história passou
por novas reformulações. A epígrafe acima faz referencia as conclusões de
Hayden White, em Trópicos do Discurso, em especial, as problemáticas
levantadas em, “O texto histórico como artefato literário”. Obra escrita entre
os anos de 1966 a 1976. Entre as provocações, o autor busca atender aos
questionamentos da história enquanto ciência. Uma ciência que conforme
White apresentava-se em crise, seja por seus métodos, objeto, formas de
escrita, dentre outros. Para o autor, um dos motivos é por a história ser vista
como uma “disciplina”, e, de que seus rigores acadêmicos estariam limitando a
produção científica. Seja em relação com a narrativa, ou, de como a história
vinha sendo produzida e conduzia suas relações com a literatura.
Por mais que a história e a ficção seja um tema que vem sido debatido
constantemente, as observações de White parecem ter influenciado
rapidamente as pesquisas. Não como uma história já superada e resolvida
sobre “suas crises”, mas devido a mudanças significativas que a produção
historiográfica passou a utilizar em fins do século XX. Conforme Georg
Iggers,“[...]as discussões dos anos setenta e oitenta chegaram à conclusão de
que não seria possível um entendimento dos desenvolvimentos político e
econômico sem que se considerassem fatores culturais, aí incluído o papel da
linguagem, desprezado pelas ciências sociais e pelo marxismo.” (IGGERS, 2010,
p, 109)
Assim como nas percepções de Iggers, de que a história estaria um tanto
limitada a determinadas padronizações. White faz críticas à produção histórica
que segue modelos ou sistemas dos quais acredita estarem fechados em suas
próprias reflexões. Ao estabelecer um diálogo com o literário Northrop Frye,
3
White corrobora com o pensamento do autor e afirma que muitas pesquisas
históricas acabaram se tornando e/ou criando um mito, algo que seria possível
de explicar diferentes fatos e períodos históricos. Para White a história não
deveria ser produzida de maneira unificadora, pois conforme a compreensão
dos autores, “em certo sentido, o histórico é o oposto do mítico, e dizer ao
historiador que aquilo que da forma ao seu livro é um mito lhe pareceria
vagamente acintoso”. (FRYE, apud WHITE, 2001, p, 98).
Com base nesta reflexão, a produção histórica não deve fomentar a
produção de mitos, mas sim, de instigar a diferentes observações sobre o
passado. Passado que é percebido de diferentes maneiras por corresponder
aos problemas do seu presente. Ou seja, o mesmo fato pode ser interpretado
de outras formas, com problemas, questionamentos e interesses da realidade
que busca aquela investigação. Diante disso, reiteramos as observações de
Iggers ao destacar a pesquisa, seja na análise das fontes, posicionamentos
teóricos, levantamento de problemas, dentre outros pontos que dão
sustentação ao trabalho. Para o autor, “[...] sem pesquisa não pode ser feita
nenhuma historiografia séria, e a pesquisa se baseia na pressuposição de uma
realidade histórica, mesmo quando ela leva em consideração a complexidade
do saber histórico, que permite apenas uma construção, e não uma
reprodução fiel do passado.” (IGGERS, 2010, p. 109)
Diante destes apontamentos, e a percepção sobre a necessidade de uma
história não fechada à rigidez de métodos, e como White destaca, a não
“criação de mitos”. Este texto busca fazer alguns apontamentos de como a
ficção, narrativa, memória e testemunho foram debatidos por alguns/as
autores/as que estudam sobre o tema. E, de como a memória enquanto fonte
histórica é utilizada para a produção historiográfica.
4
2
Compreendo aqui estas ciências com as noções de espaço praticado de Michel de Certeau.
Assim, estas ciências são percebidas como um lugar, resultante de uma estratégia. O/a
pesquisador/a na medida que dialoga com outras áreas transforma enquanto espaço de
conhecimento. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis:
Vozes, 1998.
história objetiva, ou então dos limites da história construídos e reconstruídos
ao decorrer do tempo.
Estabelecendo diálogo com vários autores, desde a história enquanto
positivista, da Escola dos Annales e suas várias mudanças até o inicio de 1980.
5
Costa Lima acredita que a história esta associada fortemente às questões de
seu tempo. Para o autor; “[...] a história trabalha com uma semantização
advinha de sua interlocução com a sociedade e o poder. Semantização no caso
significa temas e linhas de interesse, que demarcam, de um lado o possível de
indagação, de outro, o interdito ou sequer questionável.” (COSTA LIMA, 1989,
p. 37)
De tal maneira, a história que nos é apresentada por Costa Lima não se
desenvolve apenas no seu espaço enquanto ciência, mas sim, devido às
discussões que estão envolta da sociedade. O que pode ser dito e o não dito
não implicam apenas as limitações e reconhecimento enquanto pesquisa
científica, mas de que são estabelecidos através das relações de poder
existentes na sociedade. Costa Lima destaca ainda relações com o lugar do/a
historiador/a enquanto produtor/a da historiografia. Tais apontamentos
podem ser comparados com o que Michel de Certeau chama de lugar de
produção, para ele:
Diante disso, ao perceber que essa memória consiste não apenas nas
lembranças, mas do que essa pessoa vivenciou, e, devido aos fatos passados
existiu toda uma mudança no agir em sociedade, podem ser destacadas
também as relações do corpo. Seja com a violência, ou até mesmo o momento
em que é feito o relato. Segundo Stéphane Audoin-Rouzeau “[...] toda
experiência de guerra é, antes de tudo, experiência do corpo” (AUDOIN-
ROUZEAU, 2011, p. 365)
15
Assim, ao utilizar da memória, devem ser percebidas outras relações
entre a(s) memória(s) e o(s) sujeito(s). Com base nas análises de Elizabeth
Jelin, ao estabelecer algumas aproximações com Maurice Halbwachs, à
memória é social, faz parte da interação e relação das vivencias passadas com
o(s) grupo(s). Ao olhar sobre este passado o/a entrevistado/a irá através de
sua fala, gestos e demais expressões demostrar o que os fatos, as suas relações
representam no seu presente. Segundo Jelin, “[...] y también saberes, crencias,
patrones de comportamento, sentimentos y emociones que son transmitidos y
recebidos em la interacción social, em los processos de socialización, em las
prácticas culturales de um grupo” (JELIN, 2002, p. 18)
Desta maneira, investigar sobre e com a memória, além dos
apontamentos devem ser percebidas também as hierarquias sociais, geração,
etnia, gênero, dentre outros, pois estão presentes em meio a esta sociedade.
Jelin ainda aponta que; “[...]están también el como y el cuándo se recuerda y
se olvida. El passado que se rememora y se olvida es activado em um presente
y em función de expectativas futuras.” (JELIN, 2002, p. 18)
Diante disso podemos afirmar que a memória parte do presente para
olhar sobre o passado. Não simplesmente para um passado vazio, mas por um
corpo marcado por relações hierárquicas e de gênero. Um corpo traumatizado
que irá manifestar suas memórias através de gestos, expressões, sentimentos.
Ainda conforme Seligmann-Silva, nos apresenta que a historiografia
percebeu como necessário falar destes traumas, pois de alguma maneira traria
contribuições para as pessoas que vivenciaram tragédias por exemplo.
Segundo o autor:
REFERÊNCIAS
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mutações do olhar: o século XX. Vol III. 2. ed. Editora Vozes, 2008. pp. 365-416.
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20
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Fernando de Moraes; CALEGARI, Lizandro Carlos. (Orgs) Jundiaí, Paco Editorial:
2013. pp. 321-368.
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literatura: o testemunho na Era das catástrofes. Campinas, SP: Ed. da
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da diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução, São Paulo:
Editora 34, 2005. pp. 63-118
WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: Trópicos do
Discurso: Ensaios sobre a Crítica da cultura. 2° ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2001. pp. 97-116
MULHER INDEPENDENTE OU PROSTITUTA? UMA
ANÁLISE DO STATUS DE SIMAETA EM TEÓCRITO (SÉC. III
A.C.)1
Vinicius Moretti Zavalis2
1
Resumo
Sob o título Mulher independente ou prostituta? Uma análise do status de Simaeta em
Teócrito (séc. III a.C.), nosso trabalho tem por objetivo discutir o status da personagem
Simaeta (Σιμαίθα), a qual foi delineada pelo poeta Teócrito de Siracusa, no “mimo” A
feiticeira, ora como uma das prostitutas hetairai, conhecidas por sua postura
socialmente ativa, ora como uma mulher independente, característica das sociedades
cosmopolitas do período helenístico, como, por exemplo, a sociedade da ilha de Cós.
Escrito por volta dos anos de 270-260 a.C., especificamente no século III, no círculo
literário dos Ptolomeus do Egito, o poema de Teócrito combina profundidade
psicológica e um realismo credível sobre a vida cotidiana de uma jovem comum da ilha
de Cós, Simaeta, que recorre a magia, imprecações e autorreflexão para lidar com seus
sentimentos em relação ao abandono após o intercurso sexual com Delfis de Myndus.
Palavras-Chave: Simaeta; Teócrito; período helenístico.
Abstract
Under the heading Independent woman or prostitute? An analysis of Simaeta’s status
in Theocritus (third century BC), our work aims to discuss the Simaeta’s (Σιμαίθα)
status, which was outlined by Theocritus of Syracuse, in the "mime" The Sorceress, or
as one of hetairai prostitutes, known for his socially active stance, or as an
independent woman, characteristic of cosmopolitan societies of the Hellenistic period,
for example, the society of the island of Kos. Written around the years 270-260 BC,
specifically in the third century, on the literary circle of the Ptolemies of Egypt, the
Theocritus poem combines psychological depth and a credible realism about the daily
life of an ordinary young girl from the island of Kos, Simaeta, who uses magic,
imprecations and self-reflection to deal with their feelings about the abandonment
after sexual intercourse with Delphis of Myndus.
Keywords: Simaeta; Theocritus; Hellenistic period.
1
O presente trabalho constitui uma síntese da monografia de mesmo título,
desenvolvida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), como parte dos pré-
requisitos para obtenção do título de Bacharel em História, sob orientação da Prof.ª
Dr.ª Maria Regina Candido.
2
Bacharel em História pela UERJ e bolsista do Departamento de Numismática do
Museu Histórico Nacional (MHN). E-mail: viniciusmorettizavalis@gmail.com.
A questão feminina na ilha de Cós 3 durante o período helenístico
pode ser verificada no poema A Feiticeira, escrito entre 270-260 a.C. por
Teócrito de Siracusa, no auge da sua maturidade poética. Em seu poema,
o autor descreve as desventuras amorosas da jovem Simaeta, a qual
recorre às práticas mágicas dos katadesmos4 na tentativa de reaver a 2
Personage Estrutura
Idílio Ambiente Tema
ns enunciativa
Ambiente Samantha
urbano, recorre a
II. “A
provavelment práticas
feiticeira”
e em um Simaeta Monólogo mágicas para
(séc. III a.C.)
santuário; à recuperar o
noite. amor de
Delfis.
Tabela 1 Princípios estéticos de Teócrito. Fonte: Hélio Ramos da Silva
(2011)
No âmbito dos estudos literários gregos, segundo Maria Regina
Candido (2009, p. 2), o poema A feiticeira enquadra-se no gênero de
origem dórica denominado “mimo”, que designa uma peça dramático-
cômica na qual os atores, sem o uso da máscara, encenavam, em festivais
religiosos ou banquetes aristocráticos, temáticas relacionadas com a vida
cotidiana. Com o auxílio das observações de Maria Celeste Consolin
Dezotti, podemos complementar as informações de Candido, ao entender
que o poema em questão representa, especificamente, um “mimo
feminino”, devido ao conjunto dos seus personagens ser constituído
preponderante por mulheres, com exceção de quando a protagonista faz 4
menção aos encontros furtivos com Delfis, quem, ainda assim, não
participa da narrativa (DEZOTTI, 1993, p. 40-1).
O ímpeto de Teócrito em representar apenas mulheres pode ser
explicado pelas transformações psicológicas do seu contexto social de
produção, que permitiram aos poetas helenísticos perceberem suas
personagens sob uma nova luz, dando voz aos seus sentimentos, erotismo,
aspirações e vida privada. A historiadora social Sarah B. Pomeroy (1999, p.
163) entende esse interesse como uma consequência dos seguintes
fatores, a saber: (1) a influência dos filósofos 5, a exemplo dos movimentos
denominados epicurismo e cinismo; (2) a ação das mulheres da realeza; e
(3) o aumento do poder econômico/patrocínio6 feminino. Percebemos,
então, com base nas observações de Pomeroy, que as diversas
representações femininas na literatura são um indicador das mudanças no
âmbito público e privado.
Assim como muitos outros aspectos da vida helênica, os temas,
formas e métricas da literatura são influenciados pelas condições
5
O epicurismo e o cinismo estavam orientados à valorização da felicidade individual,
mas também do bem-estar familiar e do Estado. Nada mais natural, por exemplo, do
que Epicuro abrir as portas de seu Jardim às mulheres e, em igual medida, mulheres
filósofas viveram de acordo com os princípios cínicos (POMEROY, 199, p. 157).
6
Um público feminino educado influenciou a literatura como nunca antes, às vezes
pelo patrocínio, denominado eugenismo (GRIFFITHS, 1981, p. 251).
sociopolíticas que caracterizam cada momento histórico da Antiguidade
Ocidental. Nesse contexto, novos temas parecem permear a literatura e as
artes plásticas da época helenística, dentre os quais podemos destacar:
juventude versus velhice; o cotidiano bucólico dos pastores; a oposição
entre o belo e o feio; a escravidão; a pobreza; e o universo feminino 5
7
São considerados mimos os seguintes poemas de Teócrito: As Siracusanas, As Talisias
e A Feiticeira (REYES; ZUFIIGA, 1996, p. 24). Costuma-se agrupá-los como mimos
urbanos, pelo fato de todos se passarem em um ambiente citadino, já que as ações
decorrem em Alexandria e Cós.
mudanças podem desestabilizar as identidades sociais de gênero
(BURTON, 1995, p. 43).
Escrito em uma época com identidades sociais de gênero muito
fluidas, A feiticeira retoma8 a temática das personagens femininas que se
movem para fora do estado patriarcal e, por conseguinte, assumem o 7
8
Maria Regina Candido informa-nos que a presença das práticas mágicas para sedução
ou vingança junto ao repertório dos helenos pode ser percebida no período arcaico e
clássico, mas é retomada por Teócrito no período helenístico. Segundo a autora, temos
como exemplo: Hera na Ilíada, Circe na Odisseia, Dejanira em Sófocles e Medeia em
Eurípedes (CANDIDO, 2009, p. 2-3). Alguns autores, como Felipe Sanchez Reys e Pedro
C. Tapia Zuniga, sugerem que Teócrito teria baseado sua temática em um poema de
seu antecessor Sofron de Siracura, intitulado As Conjuradoras da Lua (REYS; ZUNIGA,
2009, p. 25).
Seguindo essa lógica, “Teócrito faz uso do motivo da magia 9 em
função dos seus objetivos poéticos, que passam, antes de mais nada, pela
construção do retrato da sua protagonista”, uma mulher que recorre às
artes mágicas a fim de reaver o amor do homem que a abandonou após
sua primeira relação sexual. A hipótese de Burton quanto à existência de 8
9
O poema é considerado, pela historiografia, um dos documentos mais importantes
para a compreensão das práticas mágico-religiosas do período helenístico, pelo fato de
Teócrito ter sido um dos primeiros autores a descrevê-las pormenorizadamente. O
ritual desenvolvido por Samaeta segue, de forma semelhante, as fórmulas mágicas
reais que circulavam comumente em meio à cosmópolis, cuja tradição chegou até nós
através dos Papiros Mágicos Gregos, PGM (SANTOS, 2012, passim).
tem nada a ver com a defesa dos valores heroicos do passado, que não
possuíam um compromisso com a “verdade”. Mediante o que foi dito e
pelo fato de Teócrito compor sua estética com aspectos cotidianos do
período helenístico, o poema pode fornecer informações importantes
sobre as mudanças e permanências nas identidades de gênero da época. 9
10
Segundo Fain, Alexandria não era apenas um importante centro econômico, mas
também um local de encontro de artistas, poetas e músicos, foco da vida cultural
durante o período helenístico. Seus imigrantes eram estudiosos e poetas, incluindo
Teócrito, Posidippus e Calli. Ademais, a ilha de Cós, a qual estava relacionada à vida
política de Alexandria, pois a ilha estabeleceu uma aliança com os Ptolomeus do Egito,
particularmente mais forte nos reinados de Ptolomeu Philadelphos (283-246 a.C.) e
Ptolomeu IV Philopator (222-204 a.C.), que a usaram como um posto naval avançado
para supervisionar o mar Egeu e, como resultado, estabeleceram seu Estado-Maior
(SAKULA, 1984, p. 682-3).
construção do saber histórico? As análises mais amplamente conhecidas
do texto evidenciam seus aspectos deterministas, já que a personagem
teria suas ações ora motivadas pela paixão efervescente, ora influenciadas
pelo ódio produzido pelo abandono. Por outro lado, um olhar mais
profundo sobre o poema permite aos historiadores analisar aspectos 10
11
Entender quem é Simaeta nos parece interessante não só pelo fato de
compreendermos as transformações no âmbito feminino em Cós, mas também para
identificar os responsáveis pelas práticas dos filtros e encantamentos para o amor no
período helenístico, tal como os motivos que os levam a empreendê-los.
12
DOVER, K.J. (1971) (ed.). Theocritus select poems, Bristol Classical Press; FARAONE,
C.A. (1999). Ancient Greek Love Magic, Harvard University Press.
13
TEJEIRO, M. Garcia. Il secondo Idilio di Teocrito. Quaderni Urbinati di Cultura Classica,
nº 61, 1999, pp. 71-86; GRIFFITHS, Frederick T.. Home before lunch: the emancipated
woman in Theocritus, in H.F. Foley (org.), Reflections of women in Antiquity. New York:
examinar a personagem sob os múltiplos aspectos do seu contexto social
de produção, sem com isso incorrer em uma análise determinista. De fato,
como propõem Teijeiro, Griffiths e Segal, se Simaeta existiu ou constitui
uma mimesis do real, Teócrito pode ter usado como recurso estilístico as
vicissitudes femininas do período helenístico, o que explicaria a liberdade 11
Routledge, 1981, pp. 247-273; C. Segal. Simaetha and the Iynx (Theocritus, Idyll 2).
Quaderni Urbinati di Cultura Classica, nº 15, 1973, pp. 32-43; C. Segal. Alphesiboeus’
song and Simaetha’s magic; Virgil’s Eighth Eclogue and Theocritus’ Second Idyll. GB, nº
14, 1987, pp. 167-185.
monólogo com a Lua, representação da deusa Selene ou da própria
Ártemis. A autorreflexão da personagem fornece-nos dados importantes
sobre seu status, a saber: a personagem possui uma escrava, Testiles (v.
20); vive sozinha, sem a presença de um kyrios; tem livre acesso ao âmbito
público e aos ambientes masculinos, como as palestras (v. 8-10); Clearista 12
lhe emprestou uma peça de roupa para ir ao festival de Ártemis (v. 73); e,
ao se ver apaixonada por Delfis, cedeu aos impulsos do rapaz e perdeu sua
virgindade (v. 138-144).
De fato, não existem informações no poema sobre os meios de
subsistência da jovem, mas, levando em consideração os aspectos
apresentados acima, compreendemos que, se Simaeta era dona de
Testiles (v. 20), não poderia, por conseguinte, ser uma serva ou pertencer
às camadas de poucos recursos, devido ao alto valor de compra dos
escravos no mercado 14. Legrand considera que Simaeta seria uma mulher
livre que vivia sozinha com sua escrava e talvez trabalhasse para obter seu
sustento, como as mulheres do seu período. No entanto, Legrand observa
que o deslumbramento da personagem a respeito dos simpósios e das
palestras, sua preocupação com eventos passageiros, o empréstimo de
uma peça de roupa por parte de Clearista, entre outros aspectos,
enquadram-na entre as mulheres das classes menos abastadas ou as
estrangeiras (LEGRAND, 1972, p. 96).
14
Segundo Catherine Salles, o preço de um escravo na sociedade grega poderia variar
segundo idade, sexo, raça, qualidades físicas ou intelectuais. A autora estima que 50
dracmas era o preço de uma criança não formada e 3.000 dracmas era o preço de um
adulto, cuja capacidade justifica o investimento (SALLES, 1987, p. 52-3).
F. Graf opta por um caminho diferente ao afirmar que o fato de
Simaeta apresentar uma ligação estreita com Anaxo, a canéfora 15 que lhe
convidou para o festival de Ártemis na ocasião em que conheceu Delfis,
indica que a personagem seria uma mulher “bem-nascida”, ou, pelo
menos, uma petite-bourgeoise, pois as canéforas eram sabidamente 13
15
É o título que recebiam as jovens donzelas que tinham a missão levar à cabeça os
açafates com as oferendas destinadas aos sacrifícios dedicados à divindade em cuja
honra se celebravam as festividades. Literalmente, καναφόρος significa “que
transporta um cesto” (SILVA, 2008, p. 68)
16
Vale lembrar que o empréstimo da roupa mencionada pode aludir também a uma
questão importante: a existência de redes de sociabilidade entre as mulheres no
período helenístico.
clientes. Ademais, a essa questão podem ser somadas outras
circunstâncias: a desinibição da personagem em ambientes masculinos, o
ambiente eminentemente feminino em que ela vivia, sua independência
financeira e liberdade, e o fato de o nome Simaeta 17 ser considerado
comum entre mulheres que exerciam a prostituição (FARAONE, 1999, p. 14
154).
A hipótese de Faraone baseia-se no fato de que a protagonista do
Idílio 2 seria uma cortesã, devido às prostitutas terem experiência na
prática de encantamentos amorosos para atrair clientes (FARAONE, 1999,
p. 154). No entanto, Faraone enfrenta certa dificuldade documental para
embasar sua hipótese, já que alguns versos do poema indicam que a
personagem não estaria segura quanto à eficácia de sua amarração, o que
nos leva a concluir que Simaeta não seria uma feiticeira convincente.
Dentre os versos que enunciam essa questão, podemos selecionar o
seguinte, no qual a personagem deseja a morte do amado, caso seus
procedimentos mágicos não funcionassem:
17
Faraone (1999, p. 154) observa que o nome de Simaeta (Σιμαίθα) é uma combinação
das palavras gregas para “macaco" e “bode”, tidos como apelidos pejorativos
atribuídos às prostitutas e também usados por Aristófanes para nomear uma cortesã
na obra Os Arcanianos.
Segundo Claudia Raquel Cravo da Silva, o verso supramencionado
enuncia que Simaeta não era uma feiticeira experiente, dado que não
conheceria as pharmakas que poderiam causar a morte de Delfis e, por
isso, teria que consultar um magoi proveniente da Assíria (SILVA, 2008, p.
59). Essa questão pode ser verificada em Heródoto (VIII, 98), que 15
18
Documentos greco-egípcios, datados entre os séculos II a.C. e V d.C., com inúmeras
fórmulas, rituais e mágicas que dão um testemunho importante da religião mágica
helenística (CHEVITARESE; CORNELI, 2007, p. 82). O surgimento de evidências escritas
da magia constitui um processo, sem dúvida, acelerado pelo aumento da alfabetização
no período clássico (SANTOS, 2012, p. 172).
considera que Simaeta não seria uma hetaira19, mas sim uma das
mulheres independentes da poesia helenística que aparentemente viviam
sem a supervisão do sexo masculino e se envolveram em casos de amor
com homens, sem, por isso, serem prostitutas (POMEROY, 1994, p. 169).
Assim, sem um homem para zelar por sua integridade moral e física, a 17
19
Gow (1992), Burton (1995), Séchan (1965, p. 78), Aguilar (1996, p. 90) e García
Teijeiro (1999, p. 77), entre outros, também veem claramente que Simaeta não era
uma cortesã, pois era virgem antes de conhecer Delfis.
de uma órfã infantil em seu primeiro amor 20. Para o autor, Simaeta não
seria uma hetaira, mas uma mulher independente ou emancipada, sem
parentes do sexo masculino, como poderia acontecer na primeira geração
de imigrantes para as cidades cosmopolitas, a exemplo de Alexandria e,
por extensão, Cós (GRIFFITHS, 1981, p. 264). 18
21
Das quais podemos destacar: alargamento dos direitos de cidadania,
institucionalização da educação, exercício de atividades no âmbito público, usufruto do
papel de chefe de família, realização de empréstimos/doações; e exercício da própria
liberdade, sem a presença de um homem com papel regulador (KATZ, 2013, p. 73).
Para as sociedades de matriz grega, a castidade era uma virtude
feminina (GALVÁN, 2003, p. 59). Sob essa óptica, a própria personagem
parecer ter a consciência de que teria cometido um miasma social ao se
deitar com o jovem atleta Delfis, como podemos observar no verso
número 41 da documentação, em que a personagem lamenta sua 20
22
A primeira documentação conhecida pela historiografia sobre a procissão em honra
de Ártemis em Cós foi o poema em questão. No entanto, muito recentemente, a
historiografia entrou em contato com uma inscrição de Cós, datável do século II a.C.,
que contém uma lei sagrada referente a uma grande festa em homenagem a Artêmis
(SILVA, 2008, p. 95-6).
e da iniciação do sexo feminino. Isso porque, em suas relações com os
seres humanos, Ártemis está envolvida principalmente com as fases de
desenvolvimento das mulheres, especialmente nos aspectos físicos de
seus ciclos de vida, inclusive para a menstruação, a virgindade, a primeira
relação sexual, a maternidade e a morte (POMEROY, 1999, p. 19-20). 21
23
Sem a existência de figuras masculinas, seus valores sociais derivam inteiramente de
um universo feminino, provenientes das relações com sua escrava e suas amigas; por
sua vez, seus pensamentos religiosos implicam um panteão exclusivamente feminino,
formado por Hekate, Ártemis e Selene, a Lua. As três deusas possuem arquétipos
semelhantes, relacionados aos ciclos femininos, à lua, à madrugada, aos partos, à cura
e à proteção. Vale lembrar também que Ártemis é o duplo de Hekate.
Nesse sentido, apesar das relações entre masculino e feminino
terem se tornado mais fluidas, perder a virgindade sem ser casada, em
uma sociedade eminentemente masculina, podia ser visto de forma
negativa, o que explica a opção de Simaeta em realizar os katadesmoi
amorosos para reaver ou prejudicar Délfis. Já que não possuiria um kyrios 22
26
Referências
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ÉSQUILO. Persas. Trad.: Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Edições 70,
1998.
TEÓCRITO. A Feiticeira. In : SILVA, C.R.C, Magia Erótica e Arte Poética no
Idílio 2 de Teócrito. Tese de Doutorado, Universidade de Coimbra, 2008,
pp. 109-113.
B – Historiografia
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XXVI, 1996, pp. 81-94.
ANDREWS, N.E. Narrative and allusion in Theocritus, Idyll 2. In Harder,
Annette (et all). Theocritus. Hellenistica Groningana II. Groningen: Egbert
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Vozes, 1991.
BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.
BURTON, Joan B. Theocritus’s Urban Mimes: Mobility, Gender, and
Patronage. Berkeley: University of California Press, 1995.
CANDIDO, Maria Regina. Teócrito e a imprecação amorosa no período
helenístico. In: XVII Congresso Nacional de Estudos Clássicos Amizade e
prazer no Mundo Antiga, 21 a 25 de setembro de 2009, Natal, RN, 2009.
CARVALHO, Elisa Costa Brandão de ; Tradição e Inovação: A Figura da
Mulher na Literatura Helenística. In: Telófases Mediterrâneas: Os limites
do literário sob a égide do Farol, 2009, Rio de Janeiro. Telófases
Mediterrâneas: Os limites do literário sob a égide do Farol. Rio de Janeiro:
Horus Educacional, 2009. v. 1. p. 93-105.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1982.
CHEVITARESE, A.; CORNELLI, G. Judaismo, Cristianismo e Helenismo.
Ensaios acerca das integrações culurais no Mediterrâneo Antigo. São
Paulo: Annablume, 2007.
DEZOTTI, M. C. C.. O Mimo Grego: uma apresentação. Itinerários (UNESP),
Araraquara, v. 6, p. 37-46, 1993. 27
DOVER, K.J. (ed.). Theocritus select poems, London: Macmillan, 1971.
ABSTRACT: The dialogue between history e photography has expanded the search
fields, thus enabling to investigate themes that, due to a traditional historiography,
had been ignored or little considered by the Social Sciences and Humanities. In this
1
Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
2
Mestranda em História, Cultura e Identidades pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Bolsista CAPES/Fundação Araucária.
3
Licenciada em História e Especialista em História, Cultura e Patrimônio pela UNESPAR, campus de
União da Vitória - PR. Mestranda em História, Cultura e Identidades pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG). Bolsista CAPES/Fundação Araucária.
context, this paper has the objective of discussing the relation between history and
photography based on the postcards made by Foto Bianchi Studio, which, today belong
to Casa do Divino Archive, located in Casa da Memória, in Ponta Grossa. Through
selection of materials that shall be analyzed, we have the possibility of discussing and
contextualizing the elements that visually compose the representation of family
arrangements, considering different aspects related to the photographic production.
Furthermore, another aspect that is closely related to these photos is the religion
sense assigned to them. This happens due the fact they are ex-votes, offers, promises 2
or thanks for blessings given by the Holy Spirit, as we can observe on the back of
photographs, where there are written registers left by the people as an act of faith and
hope. In this sense, family and religiosity shall be the central pillars to think the
representations present on the postcards from Foto Bianchi, having as temporal cut
the period of 1920 and 1930.
INTRODUÇÃO
4
A Casa da Memória Paraná possui o Acervo de Negativos do Foto Bianchi, com aproximadamente
45.000 negativos em chapa de vidro e celulose rígida, dentre os quais 2.300 já foram higienizados e
catalogados.
familiar e nas informações textuais do verso. Isso permitiu compreender
como elas adquiriram o caráter de agradecimentos ou pagamentos de
promessas por devotos ao Divino Espírito Santo, nas décadas de 1920 e
1930.
Partindo destas perspectivas, estruturamos o texto com o intuito 4
5
Segundo Meneses (2005), iconosfera é o conjunto de imagens, guia de um grupo social ou de uma
sociedade num dado momento e com o qual ela interage.
das pessoas sociais. Estes dois problemas incluem
integralmente as imagens (MENESES, 2005, p.7).
7
Segundo Santos (2012, p.58), o Foto Bianchi foi um dos estabelecimentos fotográficos tido como
referência durante o século XX em Ponta Grossa – Pr. O estabelecimento foi bastante requisitado por
ampla clientela. Durante mais de meio século ficou instalado na área central da cidade e permaneceu
boa parte desse tempo no mesmo endereço. O estabelecimento se tornou conhecido da população
citadina e ao longo do tempo adquiriu prestígio e a confiança de clientes provenientes até de outras
localidades. A família Bianchi, tornou-se sinônimo de propagadora da arte e técnica de fotografar, em
ambientes externos, mas principalmente no espaço do estúdio, fazendo dessa prática sua principal
fonte de renda.
[...] a fotografia é interpretada como resultado de um
trabalho social de produção de sentido, pautado sobre
códigos convencionalizados culturalmente. É uma
mensagem, que se processa através do tempo, cujas
unidades constituintes são culturais, mas assumem
funções sígnicas diferenciadas, de acordo tanto com o
contexto no qual a mensagem é veiculada, quanto 9
com o local que ocupam no interior da própria
mensagem (MAUAD, 1996).
da prática social.
8
Segundo De Pellegrin (2011, p.20) o que identificamos atualmente como a visualidade é muito mais a
trama de múltiplas aparências, de que a simples intersecção de aspectos de um ou outro meio. É esse
universo de hibridização - derivado dos diferentes meios de produção de imagem - que caracteriza a
pintura e a fotografia, configurando um panorama ainda em expansão, sem contornos definidos.
Para pensar estes “elementos”, temos primeiramente que estar
cientes que, tanto eles quanto a própria fotografia, não estão descolados
do seu contexto, tal como nos fala Kossoy (2001). Afinal, quando a
fotografia é composta, há todo um momento próprio da práxis do retrato
em que se integram pessoas, tema fotografado, cenário e representação. 12
fato de ser uma família menos abastada. Assim, supomos que ele
emprestou do estúdio algo que lhe pudesse servir, ou ainda, devido a sua
condição, era comum que ele usasse aquela roupa até sua mãe ter
dinheiro para comprar outras novas e adequadas ao seu tamanho.
Vale frisar que, no que tange as crianças retratadas nas fotografias,
se olharmos para o processo histórico, notamos que nem sempre houve
essa preocupação em representá-las. Conforme nos esclarece Ariès
(1981), os séculos XIX e XX, inauguram uma nova perspectiva em relação
às crianças, em que a família passa a se organizar, se preocupar e dar
importância à elas. Dessa forma, as crianças deixam de lado o antigo
anonimato (fruto dos séculos XVI e XVII), passando a ser reconhecidas e
notadas pela sociedade. Até porque, se trata de um momento de
reconfiguração, onde os pais passam a limitar o número de filhos,
tornando doloroso qualquer perda, modificando, assim, as formas de
tratamento. As crianças não são mais vistas como “mini adultos”, são
vistas enquanto sujeitos que precisam de cuidados.
Refletir sobre essa informação nos leva a duas percepções em
relação às fotografias selecionadas. Uma delas é esse novo olhar sobre as
crianças que interfere nos cuidados em arrumá-las e bem representá-las
esteticamente para o ato fotográfico. A segunda nos direciona para a
circulação e consumo das fotografias, onde as mães utilizam esse material
para oferecer e agradecer as bênçãos adquiridas através do Divino Espírito
Santo.
Mais do que meramente se ‘arrumar’ para a fotografia, os sujeitos
representados se preparavam para eternizar a condição de suas famílias, 23
mundo social é uma produção, assim como a realidade que, mesmo sob o
ópio da contradição, produz uma configuração intelectual múltipla. Cabe
salientar ainda, que esta perspectiva perpassa as práticas que possibilitam
conhecer e reconhecer uma identidade social, sua maneira de ser no
mundo e significar simbolicamente, ou seja, “marca de modo visível e
perpétuo a existência do grupo, da comunidade ou da classe” (CHARTIER,
1991, p. 183).
que Maria Benta Antunes da Rosa ofereceu seu “retrato ao Divino Espírito
Santo, em louvor de uma promessa”, no qual figura com seu filho,
Antoninho. Segundo inscrição no verso da imagem 02, Anna R. dos Santos,
ofereceu uma fotografia em que está retratada com seus filhos, “ao
milagroso Divino Espírito Santo”. No verso da imagem 03, Maria Reis e
Saul ofereceu ao Divino “em ação de graças e promessa”, uma fotografia
em que ela está retratada com seus filhos.
O oferecimento das fotografias e suas inscrições, feitas de próprio
punho pelos devotos, ou por pessoas próximas, exprimem a crença dos
sujeitos retratados no milagre, são objetos portadores de sentido. Esses
documentos revelam que uma intercessão divina foi alcançada pelo
devoto. Podemos destacar, com a ajuda de Debray (1994, p. 33), que elas
são testemunhas da coexistência entre o humano e o sagrado, pois a
imagem é na origem e por função, “mediadora entre os vivos e os mortos,
os seres humanos e os deuses; entre uma continuidade e uma cosmologia;
entre uma sociedade de sujeitos visíveis e a sociedade das forças invisíveis
que os subjugam”. Tanto é que em algumas inscrições é possível perceber
a demonstração de um vínculo entre o humano e o Divino, estabelecido
pelo devoto. Um exemplo disso é quando o devoto o denomina de
padrinho, como fez Julieta M. José Peixoto, moradora da cidade de Ponta
Grossa. Essa devota dedicou à fotografia, na qual figura com seus filhos,
com a seguinte inscrição: “Ao meu querido padrinho Divino Espírito Santo
eu offereço a minha photographia” (verso da imagem 04).
O oferecimento dessas oferendas é uma tradição amplamente
disseminada na sociedade. Abreu (2005) explica que essas práticas eram 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LIPINSKI, K.; JANZ Jr, D. C. História e arte nas fotografias do “Foto Bianchi”,
Revista Mídia e Contexto. Volume II – nº 03 (jan/jul 2015)