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ENSINAR HISTÓRIA:
MÍDIAS, NOVAS
LINGUAGENS E
TECNOLOGIAS
Reitor
Mario Sérgio Alves Carneiro
Chefe de Gabinete
Bruno Redondo
Direção
Pró-reitora de Extensão e Cultura
Cláudia Gonçalves de Lima
Produção
Obra produzida e vinculada pelo Projeto Orientalismo,
Proj. Extens. UERJ Reg. 6078, coordenado pelo Prof.
André Bueno [História] em associação com as Edições
Especiais Sobre Ontens.
Rede
www.revistasobreontens.blogspot.com
Organização do Volume
Ficha Catalográfica
2
Sumário
APRESENTAÇÃO por José Maria Gomes de Souza Neto e Ygor Klain Belchior ............................. 5
A SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO POSSIBILIDADE DE ENFRENTAMENTO ÀS DIFICULDADES DE
LEITURA E INTERPRETAÇÃO NAS AULAS SOBRE IDADE MÉDIA NO SEXTO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL por Adelidia Maria Rodrigues ........................................................................... 13
A ARTE E A TECNOLOGIA ATRELADAS AO ENSINO DE HISTÓRIA: OS MEMES COMO PRODUÇÃO
HISTÓRICA PARA O GRANDE PÚBLICO por Alvanir Ivaneide Alves da Silva ................................ 22
“JOGANDO” EM SALA DE AULA, HEIN? O ENSINO DA HISTÓRIA COM USO DE RPG por Antonio
Carlos Figueiredo Costa ............................................................................................................... 30
MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E LUDICIDADE: DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DE UM JOGO DE
HISTÓRIA LOCAL por Carlos Eduardo Ströher e Tatiane Kaspari ................................................ 39
HISTÓRIA PÚBLICA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE UM
PODCAST DE HISTÓRIA por Cesar Agenor Fernandes da Silva e Marcelo de Souza Silva ........... 55
O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE:
RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA DE MONITORIA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 por
Claudio K. Duarte e Victor Medeiros Garcia ............................................................................... 67
RPG NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DIDÁTICA DE HISTÓRIA E FOLCLORE BRASILEIRO PARA
TURMAS DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL por Clivya da Silveira Nobre e José R.
Paulo de Lima .............................................................................................................................. 79
DITADURA, EXÍLIO E RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA: PENSANDO O ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS
DA CANÇÃO “APESAR DE VOCÊ” DE CHICO BUARQUE por Daiane da Silva Vicente .................. 86
METAVERSO E REALIDADE VIRTUAL (R.V) IMERSIVA E NÃO-IMERSIVA APLICADA AO ENSINO DE
HISTÓRIA: POSSIBILIDADE E LIMITAÇÕES por Daniel da Silva Costa........................................... 93
A MODA NA SALA DE AULA: AS TRANSFORMAÇÕES DAS VESTIMENTAS NO TEMPO COM
ENFOQUE NO PERÍODO REPUBLICANO NO MARANHÃO ATRAVÉS DOS JORNAIS por Delfina R.
Vieira Brito e Jakson dos S. Ribeiro ........................................................................................... 100
ELFOS E DRAGÕES EM SALA DE AULA: O NEOMEDIEVALISMO COMO POSSIBILIDADE NO
ENSINO DE HISTÓRIA por Douglas Mota Xavier de Lima .......................................................... 109
O ANIME HADASHI NO GEN E A POSSIBILIDADE DO ENSINO SOBRE A GUERRA E A DOR EM
SALA por Douglas Pastrello ....................................................................................................... 118
STAR WARS E A FILOSOFIA por Felipe Lucas Fagundes ............................................................. 125
PATRIMÔNIO NA PALMA DA MÃO: A HISTÓRIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DE
CAXIAS/MA por Francisco Lucas Gonçalves dos Reis e Jakson dos Santos Ribeiro .................. 131
YOUTUBE E ENSINO DE HISTÓRIA: LINGUAGEM E ACELERAÇÃO DO TEMPO por Grazyelli
Cristina da Costa e Jean Carlos Moreno .................................................................................... 143
A CIDADE DOS PORCOS: O MITO DA IDADE MÉDIA EM GAME OF THRONES por Guilherme
Oliveira Claudino e Ygor Klain Belchior ..................................................................................... 149
3
MUSEUS DA ENERGIA EM SÃO PAULO: COMUNICAÇÃO, ENSINO DE HISTÓRIA E TECNOLOGIA
DIGITAL por Janaina Cardoso de Mello ..................................................................................... 156
PROCESSO DE APRENDIZAGEM E AUTONOMIA ATRAVÉS DE METODOLOGIAS ATIVAS E USO
DAS TDICS: EXPERIÊNCIA DIDÁTICA COM A MÍDIA PODCAST por João Paulo de Oliveira Farias
................................................................................................................................................... 166
O ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO CINEMA por Juliana Avila Pereira e Thalis Figueiredo
Sartorio ...................................................................................................................................... 174
ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DE PODCASTS por Luara Alencar Francisco ............................ 180
HISTÓRIA NO SITE, SITE COMO HISTÓRIA: ANÁLISES DO SIMPOHIS.BLOGSPOT.COM NO
MAXQDA por Luiz Gustavo Martins da Silva ............................................................................. 186
O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC’S) PARA O ENSINO DA
HISTÓRIA: PERCEPÇÕES CRÍTICAS SOBRE O USO DA CINEMATOGRAFIA E DA GAMIFICAÇÃO NA
DINÂMICA ESCOLAR por Maria Carleene Rufino Maciel........................................................... 197
REGÊNCIA REMOTA: “SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945): PROPAGANDAS NAZISTAS,
QUADRINHOS E MEMÓRIAS DE SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO” por Matheus Ongaro
Rodrigues Souza e Marisa Noda ................................................................................................ 205
UM PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO SOBRE O USO DO JOGO: REMEMORANDO OS
BIOGRAFADOS DA BALAIADA/MA (1838-1841), NO ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL por Maykon
Albuquerque Lacerda e Taylon Jefferson da Silva Machado .................................................... 213
“UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA”: EXPERIÊNCIAS DO USO DE FILMES COMO RECURSO
DIDÁTICO NO ENSINO REMOTO/HÍBRIDO DE HISTÓRIA por Miléia Santos Almeida ............... 224
ELES NÃO USAM BLACK TIE: O FILME E O ENSINO DE HISTÓRIA por Paulo Roberto de Azevedo
Maia........................................................................................................................................... 233
ENSINO DE HISTÓRIA FRENTE ÀS TECNOLOGIAS DIGITAIS: UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA
DOCENTE por Raimundo Denizar dos Santos Pires ................................................................... 240
TECNOLOGIA NO ENSINO: UMA AÇÃO QUE PRECISA SER IMPLEMENTADA por Roseli Ap. Zuli
Teixeira e Wagner P. de Souza .................................................................................................. 246
CONEXÕES DE EXPERIÊNCIAS NAS PLATAFORMAS ADAPTATIVAS DE ENSINO NA REDE PÚBLICA
DO ESTADO DE MATO GROSSO: DESAFIOS E AVANÇOS NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR
DJALMA GUILHERME DA SILVA por Simone Emi Kavasoko ...................................................... 253
OS MEMES NUMA AULA DE HISTÓRIA por Thiago Augusto dos Santos ................................... 259
DO UNIVERSO DOS QUADRINHOS A SALA DE AULA: MAFALDA À AULA DE HISTÓRIA por Vitória
D. Wingert e Jander F. Martins ................................................................................................. 264
4
APRESENTAÇÃO
José Maria Gomes de Souza Neto e Ygor Klain Belchior
Gostaríamos de iniciar esta apresentação com uma reflexão do pedagogo
espanhol Jorge Larrosa presente em seu livro Pedagogia Profana:
É possível perceber em muitos dos autores dos textos que se seguem, quando
não em todos, o tipo de inquietação de que fala Larrosa. Conquanto a história
contada nas escolas ainda tenha muito de repetição – ou por outra, da
rememoração de um passado que está lá, distante – cada vez mais os
profissionais de História têm percebido em sua prática didática o quão
fundamental é sair desse lugar de segurança. O passado não é o lugar de
coisas mortas, acabadas, que precisam ser somente repetidas tempo após
tempo, como as contas de um rosário. É, sim, terra estrangeira, com costumes
exóticos para onde nos deslocamos carregando a bagagem pesada dos
nossos próprios modos de vida contemporâneos. Nosso olhar para os diversos
passados, parece bobo repeti-lo, mas vamos lá, é profundamente instruído pelo
que somos, o que aprendemos e por onde estamos. Recorrer a eles para
encontrar exatamente o que sabemos, uma cópia amarelecida de nós mesmos,
não faz muito sentido, pois a vida vivida é sempre mais atraente.
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escolar. Logo, necessário se faz um esforço de tradução, esforço esse que
estende seus braços aos modos mais correntes e atuais de contar histórias.
Sem medo. Sem o temor que, ao fazermos, estaremos conspurcando, poluindo
a pureza ancestral, roubando do tempo visitado a pureza ou a particularidade
que supostamente o marcava. O uso de tecnologias de informação e
comunicação, dos recursos diversos de que dispomos, em si, não deturpa o
passado. Aliás, não raro as maiores deturpações vêm precisamente de
elementos que utilizam formas bem conservadoras de visita ao passado, e que
disfarçam de rigorismo certas agendas reacionárias.
Utilizar um jogo para ensinar história, por exemplo, não significa desmerecer o
passado, significa apenas o cuidado na escolha de uma nova linguagem, que
já é utilizada pelos próprios alunos, para ajudar na compreensão dos
conteúdos e na edificação de sua cultura história. Os recursos do audiovisual
como um todo, e o cinema em particular, podem representar os mais variados
papéis numa aula de história, ilustrando eventos passados, propondo
narrativas diversificadas, servindo de estímulo ao desenvolvimento crítico do
olhar, ou mesmo propondo conceitos históricos e filosóficos através das
imagens em movimento, sons, etc.
6
Imagem 1: Terra em Transe (Dir. Glauber Rocha, 1967).
7
de professores no ensino superior, buscando encorajar os docentes que atuam
no Ensino Básico a adotarem os jogos como prática na Escola.
Já, Delfina Rafaela Vieira Brito e Jakson dos Santos Ribeiro, em A moda na
sala de aula: as transformações das vestimentas no tempo com enfoque no
período republicano no Maranhão através dos jornais, demonstram como a
utilização dos jornais contribui para o Ensino de História. Partindo da reflexão
sobre a moda, os autores dissertam sobre como trabalhar a compreensão da
formação e organização da sociedade do final do século XIX e início do XX.
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Douglas Pastrello, em O anime Hadashi no gen e a possibilidade do ensino
sobre a guerra e a dor em sala, disserta sobre o uso do filme Hadashi no
gen como uma ferramenta didática para apresentar aos alunos costumes,
construções, tecnologias e visões de mundo diferentes do que estão
habituados, como o Japão no tempo da segunda guerra mundial.
9
para o ensino na escola, ressaltando as múltiplas possibilidades na prática
educativa que o seu uso traz, transformando as aulas de História.
Luiz Gustavo Martins da Silva, em História no site, site como História: análises
do simpohis.blogspot.com no MAXQDA, aborda o SIMPOHIS como fonte virtual
e investiga como os trabalhos submetidas às edições do site tematizam a
inserção das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação nas práticas
pedagógicas de Ensino de História.
10
Paulo Roberto de Azevedo Maia, em Eles não usam black tie: o filme e o
ensino de História, apresenta uma reflexão sobre aspectos do imaginário de
uma sociedade que está em processo de liberalização política pode ajudar na
construção de valores democráticos, a partir da análise fílmica feita junto ao
confronto com documentos oficiais do período da ditadura.
11
TEXTOS
12
A SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO POSSIBILIDADE
DE ENFRENTAMENTO ÀS DIFICULDADES DE
LEITURA E INTERPRETAÇÃO NAS AULAS
SOBRE IDADE MÉDIA NO SEXTO ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Adelidia Maria Rodrigues
Introdução
O presente trabalho destaca a realização da prática docente nas turmas dos
sextos anos do Ensino Fundamental – Anos finais, com foco na aula de
História, visando os desafios do professor em trabalhar de maneira efetiva os
conteúdos relativos à História Medieval tendo em vista as dificuldades de
leitura e escrita, agravadas ainda mais pelo contexto de ensino remoto ou
híbrido, do qual a maioria dos alunos que ingressam no sexto ano, vivenciaram
nos últimos dois anos. Estudantes que nesta fase passam por uma transição
importante dentro do Ensino Fundamental, momento no qual, segundo a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), nos Anos Finais serão ressignificados os
conhecimentos construídos nos Anos Iniciais (Brasil, 2017, p. 60). Ademais,
serão analisadas algumas das discussões atuais sobre a contribuição dos
estudos dos medievalistas para o ensino sobre a Idade Média e sua
contribuição na construção identitária brasileira e a possibilidade de agregar ao
trabalho pedagógico algumas das demandas contemporâneas. Na tentativa de
enfrentamento a tais dificuldades é apresentada uma proposta da construção
de Sequências Didáticas na perspectiva interdisciplinar visando a construção
de um trabalho colaborativo.
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anterior os alunos vivenciam uma realidade bem diferente, durante todo o
horário da aula o contato com um único professor, que por conseguinte tem a
possibilidade de observar as dificuldades de cada aluno de forma mais pontual.
Refletir sobre o ensino de História, pontualmente seu exercício nas turmas dos
sextos anos, oferece uma possibilidade de entender que as dificuldades de
aprendizagem destes alunos, quando não minimizadas, desempenham uma
reação em cadeia, chegando aos nonos anos com a aprendizagem muito
fragilizada, terão séria propensão a desistir, desistindo inclusive de cursar o
Ensino Médio, e ainda se conseguirem concluí-lo, poucos chegarão as
Universidades. Basta analisar o que destaca Neves et. al (2007, p. 131),
quando afirma que um dos fatores do não acesso ou da não permanência nas
Universidades tem relação com os números de alunos matriculados em cada
etapa, convertendo-se em uma pirâmide de exclusão, pois dos estudantes que
ingressam no Ensino Fundamental, uma parte muito pequena chega a concluir
o Ensino Médio e a Universidade.
14
Destacamos que em relação às questões aqui colocadas, não há a ideia de
oferecer uma receita pronta. Tal postura não seria legítima devido a uma
multiplicidade de fatores que envolvem o fazer docente diário e que
sedimentam a aula de História. Destaca-se apenas que as dificuldades de
leitura e escrita não serão solucionadas a partir de intervenção na aula de
História. Porém, esse professor, em colaboração com as demais áreas, pode
contribuir pontualmente nas turmas dos sextos anos no que lhe é possível.
Assim, a ideia neste texto é apresentar sugestões no sentido de enfrentamento
das dificuldades encaradas nestas turmas de realidade tão singular, como será
apontado no próximo tópico.
Dentre o vasto campo de temáticas que serão trabalhadas com as turmas dos
sextos anos, apresentadas na BNCC sob a forma de habilidades a serem
desenvolvidas (BRASIL, 2017, p. 384-385), destaca-se os conteúdos relativos
à História Medieval. É importante destacar que atualmente os estudos
acadêmicos e de grupos de pesquisas em medievalística têm contribuído muito
para que esses conteúdos tenham lugar nas discussões sobre a BNCC, como
destaca Lima (2019, p. 15).
15
Reitera-se a importância de compreender como destaca Lima (2019, p. 14), ou
seja, que as contribuições da medievalística brasileira se devem ao aumento
de estudos e pesquisas que tem representado muito na desconstrução de
conceitos equivocados sobre o que realmente significou a Idade Média. Estes
estudos reafirmam a importância de ampliar conceitos sobre o medievo fugindo
do conceito de “Idade das Trevas”. Há ainda a possibilidade de relacionar
acontecimentos deste período à construção histórica brasileira. Por exemplo,
Vianna (2021, p. 85) destaca que o rompimento com uma visão territorial
unicamente francesa, dando destaque ao território da Península Ibérica
medieval, possibilitaria, já na formação inicial, oferecer uma conexão sobre o
Medievo e a realidade dos estudantes brasileiros.
16
essa abordagem metodológica, Schneuwly e Dolz (2004, p. 107) destacam que
a construção do conjunto de atividades deve partir dos conteúdos que o
estudante tem maior dificuldades. As atividades precisam estar planejadas no
movimento onde o aluno é ativo, pois os textos trabalhados devem envolver
situações concretas de linguagem, ou seja, ao estudar sobre o gênero carta,
esses estudantes devem ler e produzir carta com interações reais de
comunicação.
17
importante destacar que o docente deve fazer uma pesquisa sobre o filme,
observando o que diz Pereira (2016, p.121), quando ressalta que as temáticas
sobre Idade Média no cinema apresentam uma grande influência
contemporânea. Assim, o professor deve optar pelo filme que ofereça maior
aproveitamento da temática e, a partir dele, dialogar com os alunos quais
aspectos do filme estariam distorcidos, apresentando uma possibilidade de
reflexão a luz da historiografia atual.
Considerações finais
Conforme a reflexão apresentada nas páginas anteriores, foi proposta uma
análise sobre a realidade dos estudantes das turmas dos sextos anos do
Ensino Fundamental – Anos Finais. Inicialmente buscou-se caracterizar os
estudantes destas turmas por se tratar de alunos em um processo significativo,
ou seja, localizados na transição dos anos iniciais para os anos finais. Dessa
forma, o estudante é apresentado à uma nova realidade, com um número
maior de professores e consequentemente de disciplinas. Foram destacadas
as dificuldades que estes alunos apresentam no que diz respeito à leitura e
interpretação impactadas pelo ensino remoto ou híbrido, que fora oferecido em
caráter emergencial em atendimento ao distanciamento social em decorrência
da pandemia do Covid-19.
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A partir das reflexões apresentadas, busca-se um entendimento de como a
Sequência Didática pode ser produzida a partir de uma perspectiva
interdisciplinar, envolvendo diversas áreas do conhecimento (UGALDE;
ROWEDER, 2020, p. 3). Na aula de História nas turmas de sextos anos,
incluiria na construção de seus módulos a diversidade textual e linguagens
apresentadas a partir das vivências reais dos estudantes. Tal construção
propõe um diálogo entre a necessidade de proporcionar um ensino de História
que auxilie os estudantes na reflexão e ressignificação de conteúdos históricos
e o fortalecimento diário de uma leitura e interpretação efetiva, tendo em vista
que os estudantes adotem uma atitude proativa na construção e ressignificação
de saberes.
Referências biográficas
Adelidia Maria Rodrigues é Pedagoga, Psicopedagoga, Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI) pela Universidade de Pernambuco/campus
Petrolina e integrante do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Medievalística (UPE/campus Petrolina). Atualmente desenvolve o projeto de
mestrado sob a orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna, cujo título
(provisório) é: “As sequências didáticas para o trabalho interdisciplinar sobre o
Medievo: possibilidades para a superação das dificuldades de aprendizagem
nas turmas do sexto ano do Ensino Fundamental – Anos finais.”
Referências bibliográficas
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base.
Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017.
19
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. e colaboradores. Gêneros orais e escritos da
escola. Tradução de Roxane Rojo e Glais Sales Cordeiro. Campinas: Mercado
de Letras, 2004. p. 81-108.
LIMA, Douglas Mota Xavier de. O novo já nasce velho: A Idade Média pós-
BNCC e a questão da Mulher Medieval nos livros didáticos de História do Guia
PNLD-2020. Brathair Grupos de Estudos Celtas e Germânicos. Universidade
do Oeste do Pará, vol. 21, p. 226-255, 2021.
LIMA, Douglas Mota Xavier de. Uma História contestada: a História Medieval
na Base Nacional Comum Curricular (2015-2017). Anos 90. Revista do
Programa de Pós-Graduação em História Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, vol. 26, p. 1-21, 2019.
20
VIANNA, Luciano José. A formação de professores para a educação básica:
reflexões e experiências sobre a prática docente e a interdisciplinaridade na
disciplina de História Medieval II. Ponta de Lança, v. 15 n. 28, p. 181-203, jan-
jun. 2021.
21
A ARTE E A TECNOLOGIA ATRELADAS AO
ENSINO DE HISTÓRIA: OS MEMES COMO
PRODUÇÃO HISTÓRICA PARA O GRANDE
PÚBLICO
Alvanir Ivaneide Alves da Silva
Como dado enfoque por Rodrigo Ferreira (2018, p. 29) onde aponta que “a
educação, seja ela escolar ou para além dos muros da escola, mantém uma
curva de projeção ascendente em meio aos debates sobre história pública”. E
“são múltiplas as práticas didáticas para ajudar os alunos a formular
conhecimento histórico escolar” (FERREIRA, 2018, p. 30), dentre elas, os
memes históricos que já vêm sendo usados na produção histórica e no ensino
de História, mas que continua presente nas mídias digitais e são curtidos e
compartilhados diariamente pelo grande público.
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Dessa forma: “os memes encontrados no ciberespaço podem ser utilizados
como um suporte pedagógico, é necessário nos situarmos em meio a um
debate um pouco mais amplo, referente a maneira a qual estudantes se
relacionam com os recursos digitais” (SILVA, 2019, p. 174).
Neste caso, produzir história para o público segue um caminho de mão dupla,
pois se faz necessário uma produção com uma linguagem mais simples e com
uma didática que seja mais atrativa, porém isso não é a mesma coisa de
perder a cientificidade, é necessário produzir materiais que mantenham uma
análise crítica e reflexiva, com o intuito de aproximar a História do seu público,
como é o caso dos memes, uma produção que chega até a geração digital,
levando em consideração que os memes dotados de humor devem ser
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produzidos cuidadosamente para não promulgarem visões excludentes,
preconceituosas ou intolerantes em nossa sociedade.
E como a internet tem sido acessada por um número cada vez maior de
usuários, principalmente por educandos, se torna um meio propicio também
para a produção e compartilhamento de saberes, pois quando espaços digitais
são atrelados as práticas de ensino aprendizagem, eles passam a integrar a
realidade dos nossos alunos, sendo assim, os memes podem ser usados como
uma ferramenta alternativa para o ensino de História.
Fonte: https://museudememes.com.br
Página inicial do Museu dos Memes. Acesso em: 19 de junho de 2022.
24
pois a mesma possui mais de 80 mil curtidas e seguidores. Podendo ser
acessada através do link: < https://www.facebook.com/memesd4histori4 >.
Fonte: https://www.facebook.com/memesd4histori4
Página inicial do Facebook Memes Históricos. Acesso em 19 de junho de 2022.
Nesta perspectiva, frisamos que apenas o simples acesso ao meme não quer
dizer que será produzindo uma ligação de saberes, é necessário a mediação
do docente, como defendido por Maria Souza (2019), onde ela frisa que para
que ocorra um entendimento e uma compreensão do meme é fundamental a
25
participação do professor, pois é ele quem irá previamente destacar o conteúdo
em sala, provocar questionamentos, a fim de criar meios onde os discentes
possam relacionar o significado com o significante, proporcionando que o aluno
estude o conteúdo exposto e interprete o contexto de informação desenvolvido.
Proposta de atividade
Além do nosso enfoque central na qual analisamos sites que produzem e
divulgam produções meméticas de forma digital como recurso propicio ao
ensino de história e a propagação do fazer história pública, também é proposto
a sugestão de uma atividade pedagógica, onde ao invés de os docentes
levarem para sala de aula apenas os memes já prontos, os quais são
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disponibilizados em rede, mas que eles proponham a própria produção digital
dos memes aos alunos.
27
O ensino de história desenvolvido de forma participativa, estimulando a
autonomia do estudante, alcança um público maior de pessoas e ainda
contribui como mais uma ferramenta para a mudança do (pré) julgamento de
que a história é uma disciplina pautada em memorização de datas e distante da
realidade. Mostrando as possibilidades de compreensão do mundo a partir do
conhecimento e reflexão histórica, em razão que, “uma sala de aula, assim
experenciada, implica em reconhecer os saberes envolvidos em contato e em
dialogo” (FERREIRA, 2018, p. 30).
Referências biográficas
Alvanir Ivaneide Alves da Silva, mestranda de História da Universidade Federal
Rural de Pernambuco.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Marciano Vieira de. A Evolução do Sistema Educacional Brasileiro e
seus Retrocessos. In: Revista Cientifica Multidisciplinar. Ano 2, ed. 1, v. 1,
2017. p. 55 – 62.
BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs). Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática. Penso Editora, Porto Alegre, 2018.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. História pública e redes sociais na internet:
elementos iniciais para um debate contemporâneo. Universidade Federal
28
Fluminense. Transversos: Revista de História. Rio de Janeiro, v. 07, n. 07,
2016. p. 35 – 53.
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“JOGANDO” EM SALA DE AULA, HEIN? O
ENSINO DA HISTÓRIA COM USO DE RPG
Antonio Carlos Figueiredo Costa
Contudo, e parafraseando Karl Marx, é sabido nas lides de Clio que ‘um
espectro ronda a história escolar’. Tal ameaça pode se apresentar sob diversas
formas: a constatação de um presente contínuo no qual vive grande parcela
dos jovens na contemporaneidade, denunciada por Eric J. Hobsbawm há
algumas décadas (HOBSBAWM,1995); a percepção de abordagens
antiquadas, mantidas geração após geração em nossas salas de aula, no caso
da História do Brasil ainda fortemente inspiradas nos chamados ‘Quadros de
Ferro’ de Varnhagen – ou seja, a matriz explicativa da história brasileira –
relatados por Capistrano de Abreu (ABREU apud. RODRIGUES,s.d.), e mais
recentemente problematizados por Arno Wehling (1999). E, conforme também
sabemos, há de se acrescer a insistente presença nos livros didáticos, espécie
de reflexo do resistente culto aos ídolos da ‘tribo dos historiadores’ – o ídolo
político; o ídolo cronológico; e, o ídolo individual – conforme denunciado há
mais de um século por François Simiand (SIMIAND, 2003), e que ainda hoje
encontramos no cotidiano das salas de aula de História.
30
Nada (havia) de novo no “front”
Nas disciplinas de Currículo Mínimo Comum de História (I e II) levadas a efeito
respectivamente no 5º e 6º Períodos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia
da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), costumo realizar
enquetes que procuram identificar o “estado da arte” das aulas de História em
nossas escolas. O público discente é constituído majoritariamente por
graduandos jovens, que realizaram suas caminhadas nos bancos escolares do
ensino fundamental há pouco mais de uma década. As perguntas versam
sobre suas experiências com a disciplina de História, e um dos meus objetivos
é que reflitam quanto à adoção de uma Didática voltada ao ensino da História,
bem como estimular o conhecimento de estratégias de ensino que mantenham
afinidade com a Teoria da Consciência Histórica.
31
Os relatos se repetiram nessa mesma toada. Com efeito, dessa forma,
acreditamos estar autorizados poder adiantar algumas observações, ainda que
provisórias: 1. Que a História pode ser fascinante aos ouvidos, mas
massacrante e cansativa se tornada objeto de “decorebas” em torno de datas,
nomes e locais; 2. Que apesar de todo um esforço editorial para tratar da
Didática da História, conforme podemos verificar em textos sobejamente
utilizados na formação de professores, como os assinados por Selva
Guimarães Fonseca (2003) e Circe Maria Fernandes Bittencourt (2008); ou
ainda organizados por Leandro Karnal (2010), e mais uma vez, Circe
Bittencourt (2009), o conhecimento que essas obras já clássicas procuram
divulgar, ao que parece, acaba não sendo posta sistemática e efetivamente em
prática nas salas de aula, face aos relatos que remetem às memorizações,
sabatinas e as temidas ‘provas’; e, 3. Que há uma certa disposição em nossos
futuros professores no sentido de adotar ‘métodos de ensino mais eficazes’,
com vistas a não repetir os mesmos erros de seus antigos professores,
tornando assim o processo de ensino-aprendizagem da História algo mais
prazeroso, e menos automático e decorativo. Em suma, face ao relato dos
profissionais em processo de formação, existe uma vontade sincera que o
aprendizado da História seja realmente um instrumento para a práxis vital
humana na sua travessia entre os tempos pretéritos e o horizonte de
expectativas.
32
qualitativa que se manifesta nos fatos e na qual o passado de modo geral pela
primeira vez adquire significado histórico” (RÜSEN, 2014, p. 186).
Daí a força da teoria da consciência histórica, conforme nos lembra Jörn Rüsen
(2011; 2015): 1. Realizar uma espécie de retomada da didática como centro de
reflexão dos historiadores, re-incluindo na paleta das competências acerca da
reflexão histórica racional – a dimensão científica ou da verdade – aproximando
com isso, a teoria da história da didática da História; 2. Incluir no âmbito dessas
reflexões a contribuição de uma historiografia que vai além da produção de
historiadores, e que aproveita os esforços de cineastas, romancistas,
chargistas, dramaturgos e designers de jogos. Tratemos especificamente
desses últimos. Cumpre observar que os jogos constituem, juntamente com a
fala e o culto, as grande atividades arquetípicas das sociedades humanas
(HUIZINGA, 2010) .
33
conhecidos. Assim, é possível aproveitar as memórias algo ‘afetivas’ dos jogos
familiares: respeito às regras; perseguição de interesses; desafios; conquistas
de objetivos; cooperação entre participantes; ‘punições’ com pagamento de
multas, etc...
34
Fig. 2. Miniatura para RPG de mesa. Fonte: acervo do autor.
Enfim, diríamos que na procura da forma, que ‘o chão não afunde sob os
nossos pés’, e que a expectativa de experiências de ensino aprioristicamente
tão relevantes, não sejam frustradas pelo descompasso entre o formato
pretendido e sua execução material.
35
Um aspecto a merecer cuidado especial seriam as fontes bibliográficas que nos
amparem na narrativa. No caso da expedição comandada por Cabral em 1500
é possível algumas indicações de fácil consulta: 1. A obra intitulada Lisboa
ultramarina: 1415 – 1580 (a invenção do mundo pelos navegadores
portugueses), organizada por Michel Chandeigne (CHANDEIGNE, 1992)
oferece uma visão que, embora geral, se afirma como incontornável para
pensarmos a filosofia que presidia as chamadas ‘grandes navegações’; 2. O
livro Formação do Brasil Colonial, da lavra de Arno Wehling e Maria José
Cavalleiro de Macedo Wehling (WEHLING; WEHLING,1994) propõe uma visão
bastante equilibrada do avanço português face à conjuntura dos séculos XV e
XVI, com a formação do Império Ultramarino Português; e, 3. O livro Brasil:
uma biografia, obra inovadora assinada por Lilia Moritz Schwarcz e Heloísa
Murgel Starling (SCHWARCZ; STARLING, 2015) oferece um convite
irrecusável para abordagem de temas relevantes, a começar pelo capítulo
intitulado ‘Primeiro veio o nome, depois uma terra chamada Brasil’.
Considerações finais
Levada à sala de aula, a Teoria da Consciência Histórica, com a Didática da
História, pode nos oferecer experimentos com grande probabilidade de êxito.
Como qualquer inovação, ela requer certa preparação intelectual, onde o
estudo dos textos teóricos articula-se à legislação educacional. Esse cuidado
oferecerá a segurança ao professorado que mais do que uma simples
inovação, procura despertar nos seus alunos um sincero interesse pela
História. O restante dependerá de certa dose de imaginação e criatividade. E
que Clio possa se orgulhar dos seus futuros e sinceros esforços.
Referências biográficas
Prof. Dr. Antonio Carlos Figueiredo Costa, professor da Universidade do
Estado de Minas Gerais (UEMG), unidade acadêmica Ibirité. Este trabalho
conta com uma bolsa de produtividade em pesquisa concedida pela UEMG,
entre os meses de Dezembro de 2021 e Dezembro de 2022. Aproveito para
agradecer a confiança, interesse, simpatia e paciência que tenho recebido, em
meus experimentos, da parte de minhas queridas Alunas e Alunos do Curso de
Pedagogia da unidade acadêmica Ibirité, a quem dedico esse trabalho.
Referências bibliográficas
BITTENCOURT,Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e
métodos. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2008.
36
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, s.d.
HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 6.ed. São
Paulo: Perspectiva, 2010.
37
RÜSEN, Jörn. Cultura faz sentido: orientações entre o ontem e o amanhã.
Petrópolis: Vozes, 2014.
RÜSEN, Jörn. Teoria da História: uma teoria da história como ciência. Curitiba:
UFPR, 2015.
38
MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E LUDICIDADE:
DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DE UM JOGO DE
HISTÓRIA LOCAL
Carlos Eduardo Ströher e Tatiane Kaspari
Fontes oficiais, como os sites dos municípios da região do Vale do Rio Caí,
ecoam um discurso enraizado na cultura local, que enaltece seu processo
histórico a partir da presença de imigrantes europeus, sem menções a outros
grupos. Exemplifica essa concepção o excerto que segue, divulgado pela
AMVARC (Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí):
39
“A história da colonização do Vale do Caí começa por volta de 1738,
quando imigrantes portugueses chegaram à região de Capela de Santana,
então Município de Triunfo. Deixando Porto Alegre, trouxeram as mudanças
pelo Rio dos Sinos e Rio Caí, cerca de quarenta quilômetros em direção norte.
[...]
Em 1824 chegaram a São Leopoldo os primeiros imigrantes alemães.
Rapidamente os colonizadores foram estabelecendo-se cada vez mais para o
interior, motivado pelo grande número de filhos por família e lotes iniciais de
apenas 48 hectares.
[...]
No Século XIX e início do Século XX, outras etnias europeias também vieram
somar-se ao tabuleiro social do Vale do Caí. Porém, não chegaram a formar
núcleos urbanos diferenciados.
(AMVARC, 2002, on-line. Grifos nossos.).
40
decorrente da imposição linguística - dupla, neste caso, pois transpassada
pelos idiomas alemão e português -, sobressalta a marca de posse impressa
pelo nome Winterschneiss, sinalizando que a terra - e, daí, a cultura nela
cultivada - pertence àqueles que a transformaram, modificando a paisagem
natural.
41
recomendado para quando você já tiver executado o jogo no nível básico”
(Jogo Bons Princípios, 2020).
42
O tabuleiro do jogo é constituído pela representação adaptada do território de
Bom Princípio, marcada por elementos naturais, como o túnel de pedra do
Paredão e as vias fluviais do Rio Caí e do Arroio Forromeco. O caminho central
representa a Rua Irmão Weibert, via centenária que foi a primeira aberta no
início da colonização da cidade pelos imigrantes alemães. Irmão Weibert foi um
religioso francês da Congregação dos Irmãos Maristas, que chegou em Bom
Princípio, em 1900, com o intuito de atuar na educação local. Devido a sua
importância, seu nome posteriormente foi colocado na rua em que ele e seus
colegas religiosos estabeleceram uma das primeiras escolas da região.
43
Exemplos de cartas-missão dos princípios Trabalho e Educação.
Fonte: Jogo Bons Princípios, 2020.
44
nas cartas-emblema, que simbolizam cada uma das metas das missões, por
meio de uma imagem em formato hexagonal. Cada carta-emblema é colocada
no tabuleiro assim que o jogador cumpre a meta correspondente. A localização
das casas que recebem os emblemas hexagonais não é aleatória, visto que
busca se aproximar da localização geográfica real de algumas construções
históricas significativas para a história de Bom Princípio, como a Igreja Matriz, o
Centro Marista, o Seminário católico e alguns casarões que funcionavam como
estabelecimentos comerciais na então “Vila de Bom Princípio”.
45
Exemplos de cartas-emblema, frente e verso, utilizando imagens históricas
locais.
Fonte: Jogo Bons Princípios, 2020.
46
Avatares dos princípios “cultura” e “educação”.
Fonte: Jogo Bons Princípios, 2020.
47
Percebe-se, na fisionomia dos avatares, a maior representatividade de gênero
e raça que se buscou construir na estruturação do jogo. Cada princípio possui
um par masculino/feminino, organizado no formato frente e verso da peça,
permitindo aos competidores a escolha do lado que desejarem no momento do
jogo. Inseriram-se também avatares com fenótipos característicos de pessoas
negras e indígenas, rompendo a hegemonia branca nas representações, a
despeito da população local se autodeclarar prioritariamente branca - conforme
dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, 94,8% dos munícipes são
brancos (Dados.gov, 2022, on-line).
48
Exemplos de cartas-acontecimento. Fonte: Jogo Bons Princípios, 2020.
49
50
Exemplos de cartas-descoberta e do gabarito das questões.
Fonte: Jogo Bons Princípios, 2020.
51
“A função do jogo [...] pode de maneira geral ser definida pelos dois aspectos
fundamentais que nele encontramos: uma luta por alguma coisa ou a
representação de alguma coisa. Estas duas funções podem também por vezes
confundir-se, de tal modo que o jogo passe a ‘representar’ uma luta, ou se
torne uma luta para melhor representação de alguma coisa” (HUIZINGA, 2000,
p. 14).
“Jogar na aula de História é um belo exercício amoroso. Uma vez que o jogo
pressupõe uma entrega ao movimento absoluto da brincadeira e que jogar
implica um deslocamento. Um deslocamento do espaço, da ordem, das
medidas, dos horários, das imposições disciplinares, da avaliação, das provas,
numa palavra, da obrigação.[...] Jogar é instalar-se na passagem, em um
intervalo do nosso cotidiano. Estar desobrigado a “estar” e comungar com um
eu que vai sendo outro, numa continuidade que não se mede, nem se
estabelece ordem, nem autor. Jogar consiste mesmo, então, em brincar. Uma
brincadeira com o tempo, numa instalação mesma no que divide passado e
futuro.” (PEREIRA; GIACOMONI, 2018, p. 14-15).
52
cidade e a estipulação do século XIX como o ponto inicial de sua existência.
Situações aparentemente simplórias, como estipular um indígena como avatar,
revelaram a complexidade das relações humanas ao evidenciar que seria um
anacronismo histórico inseri-lo, no jogo, em uma dinâmica de compra e venda
de terras. Os cenários fictícios foram, assim, revelando nuances do processo
histórico local, que contou com expressiva contribuição de imigrantes
europeus, mas que também silenciou e marginalizou outros grupos étnicos.
Referências biográficas
Carlos Eduardo Ströher. Mestre e Doutorando em Educação. Especialista em
Ensino de História e Geografia. Licenciado em História e em Geografia.
Professor das redes municipais de Bom Princípio e Tupandi/RS.
Referências bibliográficas
AMVARC. Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí/ Rio Grande do Sul.
Disponível em: http://amvarc.com.br/quem-somos/. Acesso em: 27 jul. 2022.
53
organizadores Marcello Paniz Giacomoni [e] Nilton Mullet Pereira ; coordenado
pelo SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2018. 129 p.
54
HISTÓRIA PÚBLICA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA A
PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE
UM PODCAST DE HISTÓRIA
Cesar Agenor Fernandes da Silva e Marcelo de
Souza Silva
55
diversos também possam ter maior familiaridade e interação com a produção
do saber histórico. Nesse sentido, um olhar mais atento às proposições e
possibilidades abertas pela História Pública é essencial para que novas
relações e significados sejam construídos em torno da nossa área do saber e,
inclusive, do seu ensino.
Deste passo inicial até os nossos dias foram publicadas mais de sete
coletâneas de livros organizadas por historiadores membros da Rede Brasileira
de História Pública. Uma característica interessante dessas obras é a da
dispersão geográfica dos vínculos institucionais e de formação no Brasil dos
autores dos capítulos. Enquanto coletâneas, o leitor não encontrará uma única
voz e tão pouco um único tom na abordagem teórica e nas temáticas
específicas em relação à história pública, muito pelo contrário, é possível
perceber a dinamicidade das reflexões e estudos produzidos, bem como
reflexões ou mesmo adaptações de trabalhos de pesquisa a temática central
discutida.
56
Observa-se também outras temáticas muito recorrentes como a da formulação
e aplicação de políticas públicas e de políticas culturais que levem em conta o
papel e os saberes históricos produzidos na academia e em parceria direta ou
indireta com os públicos da história, como na seara do patrimônio material e
imaterial. Profissionais que trabalham em arquivos históricos também têm
espaço de escrita nessas publicações, mostrando que o espírito público e a
publicidade das instituições de guarda da memória em suporte material estão
sendo incorporadas nas produções acadêmicas.
Obviamente que o trabalho dos historiadores nos espaços públicos virtuais não
deve estar direcionado apenas ao combate dos negacionismos, mas deve
incorporar os pressupostos da História Pública, que aproximam o fazer
historiográfico com todas as suas reflexões, problematizações e revisão dos
pares das diferentes audiências com as quais nos relacionamos (ROVAI,
2020), uma das ferramentas para isso é por meio da mídia Podcast.
57
produzidos e consumidos no Brasil desde 2004. Existe uma característica
muito importante que envolve os produtores e seus públicos que pode ser
resumida em uma palavra: proximidade. Alguns programas atendem demandas
de nichos específicos e outros de públicos muito amplos e diversos, mas é
comum que se criem comunidades virtuais que propiciem diferentes tipos de
interações entre os podcasters e seus ouvintes (SILVA & SILVA, 2017, p.263-
265).
58
No Fronteiras no Tempo, até julho de 2022, foram lançados 68 episódios que
abordam temáticas variadas, como os chamados “clássicos” do estudo e
ensino de história como “Independência do Brasil” (2015), “Revolução
Francesa”, “Revolução Industrial” (2015), “Reformas Protestantes” (2017), “O
Absolutismo” (2020), “Independências na América Espanhola” (2022). Ao tratar
desses temas clássicos são explicitadas as formas como a historiografia
aborda o tema, problematizando uma série de questões que são do dia a dia
do historiador, apresentada sempre em tom de conversa entre dois velhos
amigos. Também foram abordados temas de reflexão mais amplos como “Por
que estudar a História?” (2014) “Crime e Castigo na História” (2014), “História e
Cultura Pop” (2017), “Masculinidades no Cinema” (2019).
59
“Discursos que procuram construir representações sobre grupos vulneráveis no
processo histórico, culpabilizando os das injustiças sofridas, naturalizando e
simplificando relações sociais complexas num descompromisso com a
chamada ‘verdade’ ou ‘honestidade’ histórica” (2020, p.132).
60
que de fato significava do ponto de vista civilizacional a declaração e como
leituras mal intencionadas de diferentes origens e matizes acabavam
produzindo interpretações que buscavam minar os avanços e as defesas das
minorias de direito em nosso país. O texto do post do episódio diz:
“Se você nasceu em qualquer ponto do globo e está lendo esse texto,
parabéns! Você é um humano. O fato de ser um humano já lhe insere nos
princípios defendidos e assegurados na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, cujo septuagésimo aniversário de sua proclamação será completado
no dia 10 de dezembro. Em tempos de muita confusão conceitual, fake news,
revisões históricas não muito precisas e usos políticos variados do termo, é
importante que compreendamos o que são os Direitos Humanos e sua
construção ao longo da história, especialmente nos últimos dois séculos.
Embarque nessa viagem temporal com os historiadores C. A e Beraba. Nesse
episódio: Descubra o que são os chamados Direitos Humanos, compreenda a
trajetória histórica do Estado de Direito no Ocidente, entenda quais as bases
filosóficas que sustentam esses direitos, estabeleça conexões entre a Bill of
Rights, a Declaração de Independência dos EUA, a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, o nascimento da Organização das Nações Unidas e o
surgimento dos Direitos Humanos, e surpreenda-se com as contradições
jurídico-filosóficas e o porquê de defendermos a ampliação destes princípios
jurídicos e, sobretudo, a aplicação dos seus elementos fundamentais presentes
em nossa Constituição de 1988 (FRONTEIRAS NO TEMPO #29, 2018).”
Referências biográficas
Dr. Cesar Agenor Fernandes da Silva, professor de História da Universidade
Estadual do Centro-Oeste (UNCENTRO-PR)
Referências bibliográficas
ABPod - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PODCASTS. Podpesquisa:
produtores (2020-2021). Website. Disponível em: PodPesquisa – abPod,
61
ALMEIDA, Juniele Rabêlo De; SILVA, Marcia Regina Barros Da Silva;
SANTHIAGO, Santhiago; ALBIERI, Sara (Orgs.). ANAIS Do Simpósio
Internacional De História Pública: A História E Seus Públicos. São Paulo: Rede
Brasileira De História Pública, USP, 2012.
AVILA, Arthur Lima De. Qual passado escolher? Uma discussão sobre o
negacionismo histórico e o pluralismo historiográfico. Revista Brasileira De
História [Online]. 2021, v. 41, n. 87 [acessado 6 março 2022], p.161-184.
Disponível em: <Https://Doi.Org/10.1590/1806-93472021v42n87-09>. Epub 02
Jul 2021. ISSN 1806-9347
CARVALHO, Bruno Leal Pastor De. História Pública: uma breve bibliografia
comentada. (bibliografia comentada). In: Café História – História Feita Com
Cliques. Disponível Em: https://www.cafehistoria.com.br/historia-publica-biblio/.
Publicado Em: 6 Nov. 2017. Acesso: janeiro de 2020.
62
Disponível em:
https://www.deviante.com.br/podcasts/fronteirasnotempo/fronteiras-no-tempo-9-
independencia-do-brasil/
63
Fronteiras no Tempo #31: Revolta da Vacina. Locução: Cesar Agenor F. da
Silva, Marcelo de Souza Silva, Willian Spengler. S.l.] Portal Deviante,
04/07/2018. Podcast. Disponível em:
https://www.deviante.com.br/podcasts/fronteiras-no-tempo-31/
Fronteiras no Tempo apresenta: MeiaEntradaCast #124 The Mask You Live In.
Locução: Renan Fileto, Cesar Agenor F. da Silva e Marcelo de Souza Silva.
[S.l.] Portal Deviante, 18/06/2019. Podcast. Disponível em:
https://www.deviante.com.br/podcasts/fronteiras-no-tempo-apresenta-
meiaentradacast-124-the-mask-you-live-in/
64
Fronteiras no Tempo #53 Especial de Natal – A vida de Brian. Locução: Cesar
Agenor F. da Silva, Marcelo de Souza Silva, Thiago Meister Carneiro e Willian
Spengler [S.l.] Portal Deviante, 22/12/2020. Podcast. Disponível
em http://www.deviante.com.br/?p=43665&preview=true
65
SILVA, Marcelo de Souza; SILVA, Cesar Agenor Fernandes da. A divulgação
científica em história por meio de podcasts: possibilidades de educação
histórica pela internet. In: LARA, Renata Marcelle; CAMARGO, Hertz Wendel
de (org.). Conexões: mídia, cultura e sociedade. Londrina : Syntagma Editores,
2017, p.257-285.
66
O ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL E SUA
CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE:
RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA DE
MONITORIA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-
19
Claudio K. Duarte e Victor Medeiros Garcia
Introdução
O período entre os anos de 2020 e 2022 está marcado na história da
humanidade. A pandemia do Coronavírus (SARS Covid-19) significou não
apenas uma grande crise sanitária a nível global, com graves impactos
humanitários e socioeconômicos, mas também uma série de desafios de
adaptação em diversos aspectos de nossas vidas. No âmbito da educação,
tanto no Ensino Superior como no Básico, nos deparamos com a
impossibilidade da realização de aulas presenciais, em virtude da quarentena
para conter a rápida propagação do vírus.
Foi nesse contexto conturbado que nós, Victor Medeiros Garcia e Claudio
Kuievinny Duarte, graduandos em História pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), atuamos como monitores na disciplina “História Medieval I”,
67
no segundo semestre de 2021. O componente curricular foi lecionado pelo
Prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza, medievalista e professor adjunto do
departamento de História. Como de praxe nos projetos de monitoria, fomos
orientados por ele à criação de produtos didáticos que auxiliassem os discentes
da disciplina em seu aprendizado. Mediante às circunstâncias do ensino a
distância, desde o início ficou claro a nós o quanto o uso das plataformas
digitais teria significativa presença em nosso projeto, se quiséssemos
desenvolver uma monitoria ativa, de ensino dinâmico e acessível aos alunos.
De outro lado, pelas mídias sociais também vaga a “Idade Dourada”, um mito –
tão errôneo e fora da realidade quanto o mito da Idade das Trevas – que é
adotado principalmente por grupos católicos e/ou de extrema direita. Para eles,
a Idade Média foi uma época de populações exclusivamente europeias, do
auge da expressão e expansão da fé cristã e da Igreja (unicamente Católica),
de ausência de conflitos entre classes sociais; além de submissão feminina,
inexistência dos “males” do divórcio, do adultério e do aborto, inexistência de
homossexualidade, de resistência ao contato com os “malditos” sarracenos e
judeus, entre outros aspectos. Infelizmente tais “Idades Médias” continuam a
fazer parte dos conteúdos produzidos a respeito do período medieval dentro
das mídias digitais.
68
Segundo Umberto Eco: “1492 menos 476 é igual a 1016. Mil e dezesseis anos
são muitos anos, é difícil crer que o modo de viver e de pensar se tenha
mantido imutável ao longo de um período tão extenso e em que ocorreram
muitos fatos históricos hoje estudados nas escolas” (2014). Adotar os
estereótipos dos séculos XVIII e XIX – ou de qualquer outra época – como
definição e homogeneização do período medieval é cair na falácia da
generalização apressada. A Idade Média é antes de tudo um período muito
longo e diverso. Assim, deveras seria errôneo pressupor a existência de uma
única cultura, um único modo de vida, ou uma única forma de pensamento que
possa ser entendida como a síntese de toda a Idade Média.
Para Luis Fernando Cerri (2011), tratar da Idade Média na educação básica e
na graduação em história permite que os estudantes comparem seus
respectivos contextos históricos com temporalidades distantes (como o
medievo). José Rivair Macedo (2005) considera que um importante passo para
a “descolonização do ensino de História” é o foco em apresentar as
diversidades existentes no mundo medieval.
69
História Medieval I, ficando cada monitor responsável por acompanhar uma
delas. Entretanto, no caso dos produtos didáticos, estes foram elaborados em
conjunto pelos monitores e disponibilizados simultaneamente para as turmas.
Para estreitar o nosso contato com os discentes, cada turma criou um grupo na
plataforma WhatsApp, aparentemente destinado unicamente à disciplina de
História Medieval I. Lá foram adicionados os seus respectivos monitores. Esta
foi a principal ferramenta digital utilizada por nós para contato com os alunos.
Nos grupos, dávamos os informes necessários, disponibilizávamos links,
compartilhávamos bibliografias, vídeos, e também sanávamos dúvidas.
70
Imagem II: Print do grupo de WhatsApp da turma de História Medieval I
2021.1, turno noite. Novembro de 2021. Fonte: arquivo da monitoria.
A atuação dos monitores em aula foi algo sempre requisitado pelo Professor
Guilherme. Nossas intervenções se davam tanto por breves falas, com
microfone e câmeras ligados, como pelo chat do Google-Meet, o recurso da
plataforma mais utilizado pelos discentes em aula. Infelizmente, a maior parte
da turma permanecia de câmeras fechadas nos encontros; poucos alunos
ligavam os microfones para fazerem algum comentário ou questionamento.
Esta era a realidade do ensino remoto. No entanto, felizmente havia
considerável interação deles no chat da plataforma.
“A casa de Deus, que acreditam uma, está pois dividida em três: uns oram,
outros combatem, outros, enfim, trabalham. Estas três partes que coexistem
não suportam ser separadas; os serviços prestados por uma são a condição
das obras das outras duas; cada um por sua vez encarrega-se de aliviar o
conjunto. Por conseguinte, este triplo conjunto não deixa de ser um; e é assim
71
que a lei pode triunfar, e o mundo gozar da paz.” (ADALBÉRON DE LAON
Apud PEDRERO-SANCHEZ, 2000, p. 91).
Muitas fontes deixadas pela Idade Média contestam a percepção das “três
ordens” da sociedade feudal, como as de tipo iconográfico. É comum a arte
medieval representar grupos sociais que não necessariamente se enquadram
nas três ordens pressupostas por Adalbéron, como, por exemplo, os
universitários, os mercenários, os burgueses, os trovadores, entre outros.
Imagem III: Print do slide utilizado na intervenção sobre o imaginário das três
ordens. Setembro de 2021. Fonte: arquivo da monitoria.
Por volta do mês de outubro, teve início a Unidade II da disciplina. Para auxiliar
os alunos em seus estudos, a monitoria decidiu produzir fichamentos da nova
bibliografia que seria debatida em aula. Contudo, pensamos em tornar um
pouco mais dinâmica esta atividade, do que apenas elaborar resumos de
textos. E se produzíssemos fichamentos com uma linguagem mais cativante?
72
Surgiu então a ideia da criação de uma página na rede social Instagram
dedicada à disciplina de História Medieval I.
73
Imagem V: Print do resumo em vídeo feito pelo monitor Claudio Kuievinny
Duarte para a aula de migrações germânicas e mundo carolíngio, disponível no
Google-Drive da turma. Outubro de 2021. Fonte: arquivo da monitoria.
74
Imagem VI: Meme criado pelos monitores para o perfil do Instagram. Outubro
de 2021. Fonte: arquivo da monitoria.
75
singular em nossa formação, já que a metodologia das aulas deste nível do
ensino se diferencia bastante das do Ensino Básico, com as quais mais
lidamos na graduação por conta dos componentes dos estágios. Dos temas
sugeridos pelo professor, escolhemos o “Movimento monástico”. Entre
novembro e dezembro passamos a recolher a bibliografia que serviria de base
para a aula. As duas exposições realizadas foram um sucesso.
Imagem VIII: Registro da aula ministrada pelo monitor Victor Medeiros Garcia
sobre monasticismo. Dezembro de 2021. Fonte: arquivo da monitoria.
Considerações Finais
Atuar em um projeto de monitoria durante a graduação é sempre um grande
aprendizado, mas a experiência deste em particular foi algo singular em nossa
formação, pela necessidade que tivemos de exercer a docência em um
contexto cujo contato e convivência face a face entre os indivíduos quase não
existia. Em meio a pandemia de covid-19, para que a prática docente se
concretizasse, nos sobrou como alternativa o emprego das tecnologias digitais
no ensino. Em nosso tempo, a tecnologia oferece uma grande contribuição à
educação, e vale se munir dela e de uma educação a distância, mas deve-se
sempre saber que nada substitui a relação humana na educação, inerente a ela
(BRANDÃO, 2002).
76
Por fim, tratando-se do ensino de História Medieval, aprendemos que enquanto
professores, em hipótese alguma devemos prestar o conteúdo de nossas aulas
às concepções imaginadas da Idade Média, a “Idade das Trevas” ou a “Idade
Dourada”, que, como vimos, vagueiam tanto pelas mídias sociais. Há tempos
essas concepções foram abandonadas por pesquisadores sérios, cujos
trabalhos, vários com linguagens próximas, são de fácil acesso ao docente.
Atualizar o ensino de História medieval nos níveis do Ensino Básico e Superior,
é hoje, e sempre será, um dever.
Referências biográficas
Claudio Kuievinny Duarte, estudante do curso de História da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
Referências bibliográficas
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular na escola cidadã.
Petrópolis-RJ: Vozes, 2002.
ECO, Umberto. Introdução à Idade Média. In: Umberto Eco (org.) Idade Média.
bárbaros, cristãos e muçulmanos. Alfragide: Dom Quixote, 2014. Vol 1.
HARARI, Yuval Noah. Notas sobre a pandemia e breves lições para o mundo
pós coronavírus: Artigos e entrevistas. São Paulo: Companhia das Letras,
2020.
77
história feita com cliques. Disponível em: www.cafehistoria.com.br/usos-do-
passado-medieval-idade-média/ .Publicado em: 09 de setembro de 2019.
SILVEIRA, Aline Dias da. História global da Idade Média: estudos e propostas
epistemológicas. Roda da Fortuna, v. 8, n. 2, p. 210-236, 2019.
78
RPG NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DIDÁTICA
DE HISTÓRIA E FOLCLORE BRASILEIRO PARA
TURMAS DOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Clivya da Silveira Nobre e José R. Paulo de Lima
Outra habilidade trabalhada pelo RPG, citada por professores que o utilizaram,
foi a de desenvolvimento da alteridade. Carlos Costa (2017) identificou que o
alunado, diante dos desafios propostos no jogo, foram estimulados a refletir
sobre as diferenças entre o passado histórico imaginado e o presente real,
desenvolvendo de maneira prática a noção de historicidade, ou seja, de que
ideias, costumes e a sociedade atual não são cristalizadas, imutáveis, mas
passaram por inúmeras transformações no tempo.
Já Priscilla Pereira (2010) identificou uma relação entre o jogo e a História, que
foi pertinente para o ensino:
79
ficcional e elencando questões de teor no processo histórico, como a literatura
faz, tendo acesso ao imaginário de épocas passadas, pela metáfora e alegoria”
(PEREIRA, 2010, p. 100).
André Corrêa (2017) foi outro professor que utilizou o RPG na aula de História,
e concluiu que a prática do RPG em aula promoveu o desenvolvimento de duas
habilidades principais: a imersão e a resolução de problemas (CORRÊA, 2017,
p. 36). Deste modo, os alunos, para cumprir os objetivos das missões do jogo,
precisaram imergir no período histórico no qual a aventura estava ambientada,
ou seja, conhecer elementos das relações sociais, da economia e do cotidiano.
Isto leva a outra habilidade ligada a prática do RPG no ensino: o
desenvolvimento da pesquisa. Na experiência de Corrêa, o jogo estimulou os
alunos a pesquisarem mais informações sobre o período que ambientou a
narrativa jogada, buscando se apropriar destes dados para superar os desafios
propostos aos seus personagens. (CORRÊA, 2017, p. 37) Desta maneira, os
conhecimentos foram articulados para a resolução dos problemas encontrados.
Desta forma, o conhecimento abstrato foi refletido pelos alunos para o uso em
uma situação concreta, mesmo que no âmbito da imaginação. Isto está de
acordo com a teoria de sócio-histórico-cultural de Vygotsky (2011), na qual a
aprendizagem é um processo contínuo, reforçado pela utilização dos
conhecimentos em diferentes situações. Deste modo, o RPG permite que, por
meio da imaginação, os alunos se apropriem do que foi aprendido em
circunstâncias mais práticas. Victor Pessotti, que também utilizou o RPG como
ferramenta de ensino, explicou em seu trabalho de pós-graduação a vantagem
desta estratégia didática para que o aluno possa ser protagonista da
aprendizagem, por meio da interação. De acordo com ele
80
A nossa proposta foi pensada para as turmas dos anos finais do Ensino
Fundamental e para ser trabalhada em uma hora/aula. Mas o RPG pode ser
aplicado em todos os níveis de ensino, basta levar em consideração as suas
particularidades.
Então, despertamos o seu interesse? Esperamos que sim. Agora como todo
jogo precisa de regras, vamos conhecer o sistema escolhido. Nesta proposta
usamos o Lasers & Feelings (Lasers e Sentimentos), por sua simplicidade e
fácil assimilação.
A criação da proposta
É responsabilidade do professor. Ele poderá criar enredos dentro do seu
conteúdo, propor desafios, atuar a favor dos estudantes como facilitador para
que eles possam cumprir a missão. Para criar a sua história responda:
81
A criação de personagens
A seguir apresentaremos como criar um personagem no sistema L&F, não se
preocupe, é bem simples. Basta responder as perguntas:
Qual raça ou grupo étnico você faz parte? Quais são os principais traços de
sua personalidade? Qual sua classe, sua ocupação, sua profissão, o que você
sabe fazer? Qual seu número de atributo (será necessário escolher um número
entre dois e cinco)? Quantos pontos de vida ele tem (role 3D6, some os
números e o resultado será os pontos de vida do personagem)? Qual é o nome
do seu personagem? Vejamos um exemplo:
Para saber se você ou os jogadores foram bem sucedidos nos testes, deve-se
jogar o D6 e verificar o resultado. Se o jogador quer fazer um teste de ação,
força ou ataque ele precisa tirar o seu número de atributo ou os números
abaixo dele. Vejamos o exemplo:
O Roderick tem atributo 4, ele faz um teste de força e o dado cai no número 3.
Isso significa que ele passou. Se tivesse tirado um número acima de 4 ele
reprovaria no teste.
Dessa vez, Roderick com seu atributo 4, faz um teste de diplomacia para
convencer outro personagem a fazer suas vontades, ele joga o dado e cai o
número 2, ele falhou. Se Roderick tivesse tirado 4 ou mais ele passaria no
teste.
82
os personagens precisam tirar um número igual ou menor. No entanto, o RPG
tem uma regra de ouro que é a diversão, na dúvida improvise.
Introdução
Em meio ao caos ambiental e ao progresso desenfreado muito da essência
natural se perdeu, a natureza e seus habitantes sofrem com o desmatamento,
queimadas e o desrespeito causado por governantes sem escrúpulos. Os
antigos acreditavam na presença protetora de Anhangá, o grande veado
branco com olhos de fogo. Porém, é sabido que este ser desapareceu e por
isso as cidades, as fábricas e a fumaça subjugam tudo que é verde e vivo.
Os guerreiros folclóricos
Os seres fantásticos, que hoje habitam as regiões remotas do Brasil, foram
enfraquecidos pela descrença do povo e pelo desmatamento. Agora, é
chegada a hora deles se reerguerem. O Saci; A Caipora; O Curupira; O Boto; A
Yara; O Lobisomem; A Vitória - Régia; O Negrinho do pastoreio; A cuca; o
Capelobo; o Ipupiara; Jaci Jaterê entre muitos outros serão reunidos por Sumé,
uma divindade que representa a ordem e a sabedoria para os Tupis. E tomarão
conhecimento da missão de encontrar e libertar Anhangá.
Desafios
Primeiro desafio: Eles precisarão descobrir pistas de onde Anhangá está
aprisionado. O professor poderá guiar pesquisas sobre regiões do Brasil onde
possivelmente está a prisão fictícia de Anhangá. Nossa sugestão é o Vale do
Anhangabaú em São Paulo.
83
estudantes no meio do caminho (iremos deixar algumas criaturas listadas para
servir como desafio). Caso vençam, os estudantes seguirão a jornada e
chegarão ao destino.
Lista de criaturas
Todas as criaturas que serão listadas pertencem ao folclore brasileiro. Se for
de sua vontade, você poderá pesquisar imagens para apresentá-las ou apenas
narrar suas características.
Avaliação
Observe se os estudantes estão relacionando a narrativa com o que eles
conhecem sobre o folclore brasileiro, se eles estão bem no quesito resolução
de problemas, se conseguem identificar a presença dos diversos problemas
ambientais e climáticos existentes atualmente e a responsabilidade da falta de
projetos políticos eficientes para se combater essas mazelas. Se preferir, pode
propor uma pesquisa sobre a importância cultural do folclore, principais
elementos folclóricos de nossa região e causas dos problemas ambientais no
Brasil atual.
Considerações finais
Esse foi apenas um exemplo, pensado para ajudar nossos estudantes.
Podemos ir muito além, criar novas narrativas que possam englobar outros
conteúdos e reforçar esses já citados. Nossos estudantes possuem uma
infinidade de conhecimentos e habilidades, alguns deles ainda nem sabem
disso. Acredito que podemos despertá-los, fazê-los enxergarem seus
potenciais. Que tal ajudá-los? Os dados foram lançados, vamos ver qual será o
resultado, espero que consiga um acerto decisivo.
Referências biográficas
Clivya da Silveira Nobre, mestranda pela Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), bolsista CAPES, e
graduada em História pela UFRN.
84
José Ricardo Paulo de Lima, professor no Eficácia Colégio e Curso. Graduado
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e pós-graduando
em metodologias ativas e tecnologias pela Universidade Potiguar – UNP.
Referências bibliográficas
CORRÊA, André. Rolando dados, criando histórias, aprendendo História - o
uso do RPG como instrumento de iniciação científica no ensino de História.
Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) - Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 2017.
85
DITADURA, EXÍLIO E RESISTÊNCIA
DEMOCRÁTICA: PENSANDO O ENSINO DE
HISTÓRIA ATRAVÉS DA CANÇÃO “APESAR DE
VOCÊ” DE CHICO BUARQUE
Daiane da Silva Vicente
Este texto tem como proposta discutir o uso da música no ensino de história.
Compreende-se que a música pode ser usada como uma fonte histórica a ser
trabalhada em sala de aula, evidenciando a relação com o contexto de sua
composição e divulgação. Conduzir o estudante “para o estudo da história
através de diferentes tipos de documentos históricos enobrece o processo de
ensino-aprendizagem, além de aproximá-lo do fazer histórico” (SILVA, 2019, p.
180). Sendo assim, é importante que a professora e/ou professor de história,
ao escolher a música esteja ciente sobre o contexto de composição da canção
e também do procedimento que envolveu sua interpretação (KERBER, 2003).
86
Institucionais, o A-5, instalado em 1968, foi o mais severo, em comparação aos
atos anteriores, este não tinha prazo de vigência.
87
O período da ditadura também contribuiu para que outros cantores, de certa
maneira, modificassem as suas perspectivas, como é o caso de Chico
Buarque, que após o exílio na Itália, retornou para o Brasil com um
engajamento político musical mais forte. Portanto, acredita-se ser interessante
pensar como a ditadura causou modificações na vida e na carreira de Chico,
modificações ocasionadas no decorrer do exílio, que embora tenha ido por
vontade própria, quando estava fora do país, recebeu um aviso que seria
melhor continuar por lá (Portal Vermelho, 21 de mar. 2020).
“Àquela altura, 1972, Chico Buarque era um dos artistas mais vigiados pela
censura e pela “comunidade de informações” e qualquer evento que contasse
com a sua presença era digno de atenção. Se Chico Buarque já aparecia como
um “agente do grupo da MPB” desde os anos 60, o episódio envolvendo a
música Apesar de você, em 1970, quando a crítica ao ditador disfarçada em
uma querela amorosa acabou sendo liberada pela censura e vendendo cem mil
compactos, até ser cassada, piorou o grau de suspeita que recaía sobre suas
costas.” (NAPOLITANO, 2014, p. 113)
88
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
89
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. E tal
Lá lá lá lá laiá
“[..] Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros,
juro / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Este samba no escuro
[...]” Nesse outro trecho, observa-se o sentimento de revolta por causa de todo
o desconforto que a ditadura causou, que entre tantas coisas, também
podemos colocar o fato de ter motivado a permanência em outro país. Dando
continuidade a análise do trecho destacado anteriormente, trata-se também de
um tópico que remete ao sentimento de esperança, pois, o “Quando chegar o
momento / Esse meus sofrimento / Vou cobrar com Juros, juro” revela esse
aspecto de que a situação pode até ser ruim naquele momento, mas não
continuará assim, havendo a oportunidade de justica. A música por inteira é um
hino de protesto e resistência contra a repreensão da Ditadura “Apesar de você
/ Amanhã há de ser / Outro dia”.
“A música pode ser usada em uma aula de história porque pode ser apropriada
como fonte histórica para a aprendizagem histórica, cuja finalidade última serve
90
para a formação da consciência histórica e a constituição da identidade
histórica de alunos jovens e adultos.” (AZAMBUJA, 2014, p. 238)
Neste trabalho, coloquei como proposta uma música para ser trabalhada em
sala de aula (“apesar de você” de Chico Buarque), ou seja, uma canção que
poderia ser levada pela professora ou professor, mas isso não impede de
adotarmos outras metodologias de ensino com o uso de músicas. A proposta
da aula audição, também parece ser atraente, por permitir que as/os
estudantes possam optar pelas canções que chamem sua atenção. Segundo o
autor mencionado anteriormente:
Referência Biográfica
Daiane da Silva Vicente é graduada em Licenciatura em História pela
Universidade de Pernambuco. Especialista em Docência e Prática da História
do Brasil pela Faculdade Focus. Mestranda em História pelo Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Alagoas. E-mail:
daianesv567@gmail.com
Referências Bibliográficas
AZAMBUJA, Luciano de. Canções da Ditadura: aula audição, cultura histórica e
cultura juvenil. Revista de Teoria da História Ano 6, Número 12, Dez/2014
Universidade Federal de Goiás ISSN: 2175-5892. 2014, p. 230-249.
91
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2018.
NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica
dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História.
São Paulo, v. 24, nº 47, 2014, p.103-126.
92
METAVERSO E REALIDADE VIRTUAL (R.V)
IMERSIVA E NÃO-IMERSIVA APLICADA AO
ENSINO DE HISTÓRIA: POSSIBILIDADE E
LIMITAÇÕES
Daniel da Silva Costa
Para BRAGA (2011), isso ocorre pelo fato de que os recurso de Realidade
Virtual, como óculos, capacetes, fones e hoje luvas, proporcionam o
rompimento ou suavização de “[...] barreiras existentes entre a simulação e o
usuário que normalmente é provocada pelos mecanismos operacionais do
computador”.
93
recebendo estímulos do ambiente real, e passa a se sentir dentro do ambiente
virtual, haja vista que a percepção do ambiente real fica limitada graças ao uso
dos óculos, fones e outros recursos. Dessa forma, a Realidade Virtual se
distingue de outros recursos digitais, como por exemplo os vídeos, pelo fato de:
“[...] proporcionar a sensação de ‘estar lá’ oferecendo pelo menos ao olho o
que ele teria visto se estivesse lá e, mais importante do que isso, fazendo com
que a imagem mude instantaneamente de acordo com o ponto de vista. Nossa
percepção da realidade espacial é determinada por várias informações visuais
tais como o tamanho relativo, o brilho e o movimento angular. Uma das mais
importantes é a perspectiva, poderosa sobretudo por sua forma binocular, em
que cada olho vê uma imagem diferente. A fusão dessas imagens numa outra,
em três dimensões, é a base da estereovisão” (NEGROPONTE, 1995, p. 115).
Tal recurso tecnológico, apesar da recente popularização, não é algo tão novo,
haja vista que, como defende WUNSH, desde a criação do cinema que já se
registra tentativas de imersão em realidade virtual por parte de artista e
engenheiros; todavia, como aponta BRAGA (2001), é a partir do fim da 2º
guerra mundial que se verifica o uso dos recursos de tecnologia em realidade
virtual no âmbito das forças armadas que já a utilizavam para fins
educacionais, sendo aproveitada no treinamento de pilotos por meio de
simuladores de voos.
Esse uso, no entanto, era muito limitado, de modo que a R.V só vai de fato
começar a se popularizar no século começo dos anos 2000, sendo hoje
utilizada nos mais distintos contextos, indo desde games simples até
complexas pesquisas de neurociência.
Nesse contexto, a realidade virtual tem se tornado a pauta do dia, devido aos
debates em todo do metaverso. O termo metaverso foi cunhado pela primeira
vez, como mostra SOUZA (2012), em 1992, quando Neal Stephenson, em seu
romance Snow Crash, usou a palavra metaverso para se referir a um mundo
tridimensional no qual os seres humanos interagiam por meio de personas
virtuais chamadas de avatar. Seguindo essa lógica, hoje o termo metaverso,
pode ser entendido como sendo uma rede de mundos virtuais, que:
94
potencialidades e da natureza desses mundos, que não é física, mas sim digital
virtual.”
Por mais que isso pareça uma visão diatópica, já está ocorrendo na prática nas
mais distintas áreas da vida, hoje as grandes marcas de grifes já possuem
suas lojas no metaverso que oferecem tanto produtos físicos quando que
poderão ser usados apenas no mundo virtual; em alguns metaversos, como no
The SandBox, já é possível encontrar lotes de terra virtual; do mesmo modo, já
existem igrejas que atuam apenas nesse mundo virtual; ambientes corporativos
preparados para grandes empresas; laboratórios de pesquisa que podem
congregar pesquisadores de todo o mundo, manipulando objetos
tridimensionais e decidindo em conjunto
Essa ideia tem suscitado grandes debates em torno da realidade virtual e dos
metaversos, apontando e estudando tanto suas grandes potencialidades e
contribuições nos mais diversos ramos da vida - como na neurociência, onde a
realidade virtual já tem ajudado paciente a estimular áreas do cérebro que não
seriam estimuladas devido a algum tipo de limitação motora, por exemplo -,
mas discutindo também os possíveis problemas sociais decorrentes, como por
exemplo, a extrema dependência do usuário, que pode optar por preferir viver a
vida do metaverso à vida real ou problemas com a propagação de discursos de
ódio nesses ambientes.
Essa variedade é própria da realidade virtual, que pode variar de acordo com o
nível de imersão do usuário com o cenário, por exemplo, jogar um game de
frente para a tela de um computador recebendo estímulos do ambiente real é
muito diferente de jogar usando um óculos de realidade virtual, com fones e
controles que inibem totalmente os estímulos externos ao jogo; diante disso,
TORI, HAUNSELL e KIRNER (2018) fazem uma classificação dos recursos de
95
realidade virtual em dois tipos: realidade virtual não-imersiva e realidade virtual
imersiva.
Neste trabalho pretendemos usar os dois tipos, isso pelo fato de que partimos
do pressuposto de que nem todas as escolas possuem ferramentas que
proporcionem a R.V imersiva.
Ainda nesse aspecto dos valores, é importante destacar que hoje é possível
criar óculos de R.V de forma totalmente gratuita, utilizando materiais
recicláveis, como papelão e garrafa pet, haja vista que o próprio google
disponibiliza o modelo Google Cardboard, que originalmente requer apenas a
compra das lentes bifocais, no entanto, hoje já é possível substituí-las por
lentes feitas com garrafa pet preenchidas com água.
96
As imagens acima mostram os óculos de R.V “artesanal” em fase de
montagem e já montado; após a montagem, basta colocar o celular na parte de
trás e, graças as lentes, um aplicativo escolhido dividirá a imagem em duas,
isso dará o efeito de 3D e a ampliação do campo de visão do usuário, fazendo-
o se sentir parte do ambiente virtual.
97
Esse exemplo demonstra, para BRAGA (2001), uma das grandes contribuições
dos recursos de realidade virtual para com a educação, isto é:
Com base nisso, diversos autores, como BRAGA (2001), TORI, KIRNER e
SISCOUTO (2006) e DIZERÓ, VICENTIN e KIRNER (2016) apontam que o uso
dos recursos de realidade virtual podem contribuir indiscutivelmente para uma
maior motivação dos alunos, uma vez que ele passam da posição de
observadores/receptores para a de atores do contexto trabalhado, primeiro pelo
fato de que os recursos de R.V possuem um poder muito maior de ilustração
do que qualquer outra mídia, ou seja, enquanto em imagens ou vídeos o aluno
só pode observar, com a R.V ele pode decidir o que observar, quanto tempo
quer passar observando um elemento do cenário e entre outros.
Esse aspecto já conduz a outro ponto positivo elencado pelos autores, isto é, o
fato de que a realidade virtual estimula a participação ativa do aluno, fazendo
assim com que ele aprenda em seu próprio ritmo; este ponto, na visão de
BRAGA (2001), seria o aspecto mais importante da R.V na educação, uma vez
que cada indivíduo aprende em um ritmo e a partir de estímulos diferentes, ou
seja, enquanto uns aprende mais com o visual, outros mais com o auditivo,
para a autora, dentro do ambiente virtual todos esses estilos de aprendizagem
estão disponíveis ao estudante e este tem a liberdade de escolher.
98
de aprendizagem de forma imersiva” (BAKES, 2012, p. 50); esse sentimento de
proximidade acaba por aumentar o interesse do aluno para com o conteúdo e,
principalmente, construir de forma autônoma o conhecimento a cerca de um
conteúdo.
Diante de tudo o que expomos, está claro, portanto que as TDIC, incluindo a
realidade virtual e o metaverso, constituem-se em importante e necessário
aliado no processo de ensino aprendizagem, uma vez que promovem a
ampliação do mundo para além do real, permitem manipular e acessar
produtos e locais que seriam impossíveis fisicamente e favorecem a ampliação
a nível global das interações sociais; todavia, consideramos que a tecnologia
sozinha não consegue influenciar positivamente o processo educativo; diante
disso, concordamos com RABARDEL (1999), quando ele aponta que é preciso
entender as tecnologias como um instrumento que depende da ação humana
para adquirir significado e um objetivo de uso de acordo com a realidade em
que for utilizada.
Referências biográficas
Daniel da Silva Costa, estudante do Mestrado Profissional em Ensino de
História (ProfHistória) da Universidade Federal de Sergipe.
Referências bibliográficas
BRAGA, Marluci. Realidade Virtual e Educação. Revista De Biologia E Ciências
Da Terra. Volume 1 - N° 1, 2001.
99
A MODA NA SALA DE AULA: AS
TRANSFORMAÇÕES DAS VESTIMENTAS NO
TEMPO COM ENFOQUE NO PERÍODO
REPUBLICANO NO MARANHÃO ATRAVÉS DOS
JORNAIS
Delfina R. Vieira Brito e Jakson dos S. Ribeiro
100
Formando interligações entre o que é noticiado e absorvido pela sociedade,
associando-se assim ao que Marinalva Barbosa (1997, p. 90) enfatiza em
relação à importância da imprensa que possuía poder com suas publicações,
pois manifestava as suas ideias e acima de tudo influenciavam na opinião, seja
econômica, política ou mesmo na moda, pelo fato de construir nos grupos da
sociedade maranhense o interesse de se enquadrar nos padrões que os jornais
ditavam, pois o vestir mostrava traços de uma sociedade hegemônica, e ao
mesmo tempo era um divisor social. Sendo assim possível demonstrar através
dos anúncios ou imagem nos corpos dos jornais características de uma
república nos mais diversos aspectos como enquadramento dos grupos sociais
e com o os mesmo eram vistos no período.
Dessa forma, proporcionando que a moda incutida nos principais jornais que
circulavam no início do período republicano no maranhão possa apresentar
uma visão através de uma análise crítica no espaço da sala de aula,
apresentando assim uma individualidade na observação dos ”[...] acessórios e
modos de usar, a moda ligando não só o prazer de ver como o prazer de ser
visto, a moda e seus códigos de elegância convidam a adaptação das
novidades para cada corpo e personalidade” (FERNOCH, 2020, p. 824). Onde
a moda pode ser um campo de reconhecimento do período histórico em seus
detalhes, mas para isso necessita-se de uma metodologia consciente, pois os
jornais são documentos cheios de discursos que devem ser expostos para uma
análise e conhecimento dos alunos.
101
"[...] a indumentária de um determinado período revela muito sobre ele,
podemos trazer para as aulas e apresentar aos alunos documentos escritos ou
imagéticos para desvendar o vínculo entre as roupas e os acontecimentos
relevantes estudados de uma época, assim aproximamos os alunos das fontes
históricas e mostramos a eles uma nova vertente de estudo" (FERNOCH, 2020,
p. 823)
102
lugares, fazem parte da memória social e precisam ser preservados como
patrimônio da sociedade” (BITTENCOURT, 2008, p. 333).
Essa ação deve acontecer com uma descrição e identificação dos jornais
utilizados, sempre situando o contexto de quem o produz no tempo histórico e
explicando com os saberes já agregados na construção escolar para atingir os
resultados desejados através dos objetivos impostos por trás da didática e
metodologia aplicada pelo professor na formação do conhecimento com
linguagem expostas nos jornais que no contexto da moda é posta dentro e fora
das imagens propagandistas.
Mas devemos tomar cuidado com uso dos jornais que são usados muitas das
vezes até mesmo dentro do livro didático de forma displicente como meras
imagens ilustrativas, nessa ótica, Peter Burke (2004) coloca que a imagem é
muito valiosa na construção da história do vestuário, apesar de ser uma
testemunha muda, esta contém uma gama de explicações dependendo do
olhar de quem analisa, tornando o uso da mesma na sala de aula um campo de
possibilidades, pela imagem transpassar meras reflexões, sendo em sua
estrutura uma transposição dos seus contextos a qual foram representados.
103
A consolidação da República no Brasil no final do século XIX teve como
principais influenciadores o desgaste do Império e a abolição da escravidão
com a lei Áurea em 1888. No Maranhão, esse movimento Republicano já
existia antes mesmo do fim da escravidão, mas somente após esse evento
histórico, seja por insatisfação devido à falta de indenizações a quem perdeu
dinheiro com esse ato ou mesmo pela percepção da declinação do sistema
político vigente, aliado com o interesse de continuar no poder da elite, houve
um grande número de apoiadores durante e após a proclamação da República.
Entretanto, não é sobre as conturbações políticas que este trabalho enfoca,
mas como os jornais que circulavam no Maranhão no início da república
difundia a moda para os espaços sociais do período ditando o imaginário social
desta sociedade.
“Todo fato histórico – e, como tal, fato passado – têm uma existência
lingüística, embora o seu referente (o real) seja exterior ao discurso. Entretanto,
o passado já nos chega enquanto discurso, uma vez que não é possível
restaurar o já vivido em sua integridade. Neste sentido, tentar reconstituir o real
é reimaginar o imaginado, e caberia indagar se os historiadores, no seu resgate
do passado, podem chegar a algo que não seja uma representação”
(PESAVENTO, 1995, p 17).
104
indivíduos expostas nos impressos sejam eles diários, semanais ou mensais na
capital São Luiz ou no interior do Estado.
105
Figura 2: Imagem de um membro da alta sociedade maranhense.
Fonte: Jornal A Mocidade, 17 de junho de 1907.
Essa edição de 17 de julho de 1907 traz em sua primeira folha, como visto na
figura 2, somente a imagem de Nino Rodrigues. Com essa ótica Machado
(2007, p. 94), esclarece que dentro da sociedade "os homens com maior poder
aquisitivo podiam se distinguir da maioria da população masculina através do
corte, do tecido e do uso de acessórios, como gravatas, abotoaduras,
colarinhos, lenços”, ou seja, o modo como os indivíduos mais importantes da
sociedade se vestiam promovia o que chamamos de distinção social nas
camadas da sociedade maranhense.
Considerações finais
A moda nessa concepção não é só um ato de se vestir e uma forma de
compreender um espaço no tempo histórico, e a utilização da mesma na sala
de aula torna possível uma visão do aluno sobre conteúdos de uma forma que
os possibilita ter contato com uma fonte, e a partir disso traçar análises e
percepções próprias com ajuda do professor e a didática aplicada através dos
jornais.
106
organização da sociedade do final do século XIX e início do XX através da
moda contida nas propagandas e representações.
Em suma, percebemos que esse vasto período da nossa história pode e deve
ser estudado nas escolas dentro das folhas de jornais, publicado a luz de uma
República que foi constituída de várias questões sociais que podem ser
visualizadas com trabalhos em cima de propagandas das casas de modas
expressas nas colunas dos jornais maranhenses.
Referências biográficas
Delfina Rafaela Vieira Brito, estudante do curso de Licenciatura em História da
Universidade Estadual do Maranhão - CESC –UEMA, Campus Caxias.
Atualmente Bolsista PIBIC 2021/2022 em projeto de iniciação científica que
consiste em, mapia os jornais e as principais casas de moda nesses impressos
no Maranhão Republicano no recorte dos anos 1890 – 1940.
Referências bibliográficas
BARROS, José D’Assunção. O campo histórico. História e Metodologia. Rio de
Janeiro, 2002.
107
PRADO, Luís André do. Indústria do vestuário e moda no Brasil do século XIX
a 1960: da cópia e adaptação à autonomização subordinada. 2019, 433 p.
Tese (Doutorado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
108
ELFOS E DRAGÕES EM SALA DE AULA: O
NEOMEDIEVALISMO COMO POSSIBILIDADE NO
ENSINO DE HISTÓRIA
Douglas Mota Xavier de Lima
109
metamedievalismo, um universo alternativo de medievalismos mais
independentes da autenticidade do medievo histórico. (ROBINSON,
CLEMENTS, 2009) O neomedievalismo é, assim, um subconjunto funcional,
historicamente contingente ao próprio medievalismo, que encontra uma forma
de se agarrar ao passado rejeitando a história, o tempo e o espaço que o
separam de seu objeto desejado, trazendo-o ao presente. É um medievalismo
dobrado sobre si mesmo que distorce a Idade Média de maneira intencional,
expressando uma história maleável e pós-moderna que, por vezes,
homogeneíza o que seleciona do passado, fazendo com que o medievo seja
absorvido em tropos fragmentados e repetitivos. (KAUFMAN, 2010).
110
estabelecido por meio do distanciamento entre experiências atuais e
experiências narradas do mundo medieval.
Novelas
A telenovela ou apenas novela é um gênero popular da teledramaturgia,
produto artístico e cultural amplamente difundido na sociedade brasileira, que
aborda temas, atitudes, valores e comportamentos relacionados ao cotidiano
da sociedade, sendo ainda agente central do debate acerca da cultura
brasileira e da identidade do país. A novela caracteriza-se pelo
desenvolvimento de um enredo básico que “se subdivide em diversas estórias
paralelas e núcleos dramáticos que se articulam entre si, mantendo a tensão
narrativa que caminha para um desenlace” (NAPOLITANO, 2018, p. 88),
possibilitando diferentes problematizações na sala de aula.
111
criar um novo passado, à luz dos anseios da sociedade brasileira”. (2021, p.
202)
Desenhos animados
O desenho animado ou animação pode ser entendido como uma sequência de
imagens que cria a ilusão de movimento, distinguindo-se do cinema
convencional, do ponto de vista técnico, pelo fato de as imagens serem
registradas fotograma a fotograma, e não de forma contínua. Essa
característica faz com que o gênero se aproxime da noção de irrealidade,
abarcando temas como o sonho, a fantasia e outras abstrações, dando ainda
ânimo e vitalidade a entidades que não os possuem (NOGUEIRA, 2010).
112
animações e destaca, entre outros aspectos, a importância da investigação dos
desenhos para a compreensão das múltiplas camadas de temporalidades
presentes nas obras, as quais presentificam lugares simbólicos e históricos e
assimilam temporalidades (des)combinadas de formas anacrônicas.
Outra contribuição para o tema é o artigo acerca das animações Gato Félix e
Três Espiãs Demais no ensino de história (LIMA, 2021a). No referido texto,
assinalamos que os desenhos permitem ilustrar uma série de aspectos da vida
social e material do período medieval, criando referências por meio de uma
linguagem acessível e próxima da experiência dos estudantes do Ensino
Fundamental, além permitir ao professor estimular a percepção da passagem
do tempo, expressa no contraste entre o vestuário e a tecnologia. Ademais, ao
abordarem o tema da bruxaria e da magia, as animações em questão
estruturam-se em torno de um discurso enraizado no senso comum e na
cultura de massa, que é a referência da Idade Média como temporalidade
irracional, época do atraso, isto é, a Idade das Trevas. Nesse sentido,
possibilitam ao docente problematizar junto aos alunos os episódios como um
registro da época atual sobre o passado medieval, introduzindo a questão das
diferentes maneiras de representação e recepção da Idade Média.
Música
O uso de músicas, cantigas e canções no ensino de história não é recente, no
entanto, foi a partir dos anos 1990 que a temática ganhou maior destaque, com
a música sendo pensada como objeto de estudo e como fonte para a
aprendizagem e a construção de conhecimento histórico. Constata-se, no
entanto, que a maior parte das investigações se concentrou na música popular
brasileira para o trabalho com determinados contextos históricos, fatos e
personagens da história nacional. Ademais, a abordagem tem privilegiado a
construção de projetos de ensino a partir da identidade musical dos alunos,
explorando os gêneros musicais que eles mais gostam e relacionando o
conteúdo com a cultura e a vida cotidiana dos jovens. Como resultado dessa
predileção, outros gêneros musicais de menor inserção no Brasil e produções
de outras sociedades históricas foram subaproveitadas em suas expressões
musicais para o ensino de história. Essa constatação se acentua no que se
refere ao medievo, visto que pouquíssimos trabalhos se propuseram a refletir
sobra a música medieval na sala de aula. (LIMA, 2022)
113
utilização de instrumentos medievais com elementos do rock e da música
eletrônica. Se recriações eruditas tendem a estar distantes do universo dos
estudantes da educação básica brasileira, criando algumas resistências para a
elaboração de atividades de ensino, as produções neomedievais inserem-se
diretamente na dimensão da identidade/afetividade (DELL, 2019), eixo
frequentemente ressaltado pelos estudos acerca do uso da música nas salas
de aula; afinal, um conjunto considerável de jovens estudantes acessa canções
neomedievais em gravações de bandas nacionais e internacionais – Black
Sabbath é apenas um icônico exemplo – de diferentes gêneros musicais e em
jogos eletrônicos, filmes, séries de Tv, feiras e festas, redes sociais etc.
Ademais, é possível imaginar que em determinados casos, grupos de alunos
consumam mais tais músicas do que as obras do cancioneiro popular
brasileiro, por vezes o único escopo da escolha dos professores para projetos
didáticos.
Considerações finais
Os apontamentos apresentados almejaram provocar reflexões nos leitores a
fim de alterar a concepção de um ensino de história medieval associado
apenas às experiências históricas de parte da Europa entre os séculos V e XV
e ao modelo quadripartite de estruturação do conteúdo histórico. Infelizmente, a
Base Nacional Comum Curricular, na forma como preconiza a inserção da
História Medieval no 6º ano do Ensino Fundamental, pouco contribui para essa
mudança de perspectiva, limitando a incorporação da Idade Média fantástica
nas salas de aula e a relação entre a história medieval ensinada e a história
vivida no presente pelos estudantes. Contudo, a própria BNCC estabelece que
todo conhecimento sobre o passado é também um conhecimento do presente
elaborado por distintos sujeitos. Desta maneira, as reflexões acerca do
neomedievalismo mostram-se salutares para o redirecionamento das
114
abordagens da Idade Média na Educação Básica, demonstrando o potencial
pedagógico dos elfos e dragões.
Referências biográficas
Dr. Douglas Mota Xavier de Lima, professor da Universidade Federal do Oeste
do Pará (UFOPA), coordenador do Legatio - Grupo de Pesquisa, Ensino e
Extensão em História Medieval e Ensino de história. Doutor e Mestre em
História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
Referências bibliográficas
AMARAL, Clínio de Oliveira; BERRIEL, Marcelo Santiago; BIRRO, Renan
Marques (org.). Medievalismos em olhares e construções Narrativas.
Ananindeua: Itacaúnas, 2021, vol.1.
DELL, Helen. Music and the emotions of medievalism: The quest for identity.
Postmedieval, 10, 2019, p. 411-422.
LIMA, Douglas Mota Xavier de. Música medieval em sala de aula. In: REIS,
Jaime Estevão dos (org.). A Idade Média. Ensino e Aprendizagem. 2022 [no
prelo].
115
LIMA, Douglas Mota Xavier de; PORTO JÚNIOR, João Batista da Silva. Game
of Thrones, um sonho do medievalismo. In: VARGAS, Lorena da Silva. (org.).
Medievalismo. A Idade Média nos imaginários moderno e contemporâneo.
Curitiba: Appris, p. 283-302, 2021.
116
SILVA, Carolina Gual da. Relações de gênero e telenovelas: um estudo de
caso com abordagem de neomedievalismo. Revista Signum, v.22, n.1, 2021.
117
O ANIME HADASHI NO GEN E A POSSIBILIDADE
DO ENSINO SOBRE A GUERRA E A DOR EM
SALA
Douglas Pastrello
Introdução
O ensino de história tem passado por inúmeras revoluções em sua aplicação
desde o final do século XX. Entretanto, em síntese o seu fazer ainda não foi
complemente descoberto e permanece em uma eterna discussão. Logo, o
presente ensaio visa demonstrar uma possível metodologia de análise para
filmes em sala de aula, utilizando do anime “Gen pés descalços” (Hadashi no
Gen) e o contexto da Segunda Guerra Mundial. Para tal objetivo, será feito
uma rápida análise teórica dos conceitos de análise de cinema, compreensão
da linguagem cinematográfica, assim como de que forma o cinema pode ser
compreendido dentro do conceito “Lugar de memória” de Pierre Nora,
seguindo, ao fim, para elaboração de um método de aplicação em sala do filme
proposto.
118
deve permanecer atento para não cair no conto da “verdade histórica”
transparecida pelas lentes do filme.
Valim (2006. p.201), demonstra que o filme possui uma linguagem própria, tal
como Napolitano afirma, e que sua análise requer uma metodologia detalhada,
abordando plano a plano, suas sequencias e elementos de apoio. Não
obstante, a análise deve ser feita em conjunto, não é possível separar e
analisar os elementos do filme sem considerar todo o conjunto da obra.
Para isso, assim como Valim(2006) propõe em sua tese de doutorado a partir
de Ciro Flamarion Cardoso e Karsten Fledelius, a análise se insere em quatro
etapas: Contexto da produção, narrativa fílmica, níveis semânticos e as redes
temáticas ou representacionais. Porém, neste ensaio considero um quinto
elemento de análise fílmica: o cinema enquanto lugar de memória, seu caráter
de “agente histórico” capaz de reproduzir determinadas narrativas.
119
de Marc Ferro, o filme como objeto estético, Arte, capaz de proporcionar
interpretações inteligíveis e subjetivas aquém das capacidades de análise da
História, mas que não devem ser desconsideradas. A interação entre obra e
espectador, muito embora subjetiva, sempre é esperada de alguma forma
pelos responsáveis na produção do filme. O elemento catártico do filme muito
mais que passar uma mensagem, por meio de seu roteiro, ele é capaz de
ilustrar e criar notas mentais subjetivas a respeito de um determinado assunto.
Todavia, não é do feitio deste ensaio uma análise estética do filme.
A trama do filme nos apresenta a família de Gen e o contexto social sob o qual
estão inseridos. Na história, a família de Gen vive no Japão durante os
momentos finais da guerra e sofre uma perseguição social por conta das
opiniões políticas de seu pai sobre a guerra. Durante o filme conhecemos Gen,
seu irmão mais novo, sua mãe e seu pai. Sua mãe é vista como atenciosa e
amorosa, sempre próxima das crianças, enquanto o pai é visto como um
trabalhador árduo e que não tem medo de externalizar suas opiniões mesmo
que causem consequências negativas. As crianças, Gen e seu irmão Shinji,
são levados e brincam nas ruas.
120
As opiniões do pai são vistas como “traição”. Durante o Japão Imperial, era
esperado uma lealdade completa dos súditos que deveriam colocar as
necessidades da nação acima das próprias. Logo, o rechaço social sofrido pela
família de Gen, especialmente seu pai, é por conta da falta de lealdade ao
Império japonês. Essas opiniões eram consideradas atos de traição, mas a
repressão não vem somente dos órgãos do Estado, possuindo reverberações
sociais entre outros japoneses.
121
Em síntese, o anime relembra a questão da cultura da honra japonesa. Na
cultura da honra o “eu” não tinha espaço, priorizava-se o “nós”. O povo japonês
era visto a partir de uma mitologia sob a qual eram considerados divinos – a
partir de sua própria origem. Essa origem é muito bem descrita por Shuichi
Kato: “O kami solar Amaterasu fez descer no território japonês seu
descendente Nínigino Mikoto, e consta que o descendente dele é o primeiro
tennõ (Imperador) mitológico Jinmu Tennõ (que subiu ao trono em 660 a.C.)”
(KATO, 2012, p.45). A partir desta questão religiosa se configurava três pontos
da cultura da honra: a superioridade do povo japonês, a justificativa para o
imperialismo da nação e a divindade do Imperador. No Japão, a sociedade de
castas deixou de existir com o fim do xogunato, entretanto surgiu uma
sociedade vertical em que ao topo residia o Imperador. Durante o Império
japonês (1868-1945), a importância de determinadas classes mudou, até a
década de 1930 que trouxe os militares ao maior prestígio social, somente
abaixo do Imperador. Logo, a ingenuidade de Gen ao pedir que os soldados
voltassem para casa é vista como um terrível afronta aos valores morais de sua
nação e de seu professor. Esperava-se que os professores fossem tão duros
quanto instrutores militares com seus alunos.
122
diferentes do que estão habituados. Idealmente, a contextualização das nações
na Segunda Guerra Mundial trabalharia as grandes potências, com o Japão
incluso. Portanto, os alunos já possuiriam ideias prévias sobre o assunto. Após
a exibição, seria possível por meio do formato aula-oficina, proposto pela
educadora Isabel Barca (2002), uma discussão traçando paralelos entre os
alunos e as situações vividas pelos personagens do filme.
Considerações finais
Deste modo, percebe-se que o anime apresenta tópicos relevantes e densos
por trás de seus traços animados. A visualização deste em sala ajuda em dois
aspectos do ensino de história: o de confrontar as narrativas dominantes sobre
temas sensíveis e possibilita aos alunos um conhecimento mais aprofundado,
não maniqueísta.
Por fim, Marcos Napolitano (2011) é enfático ao afirmar que o cinema já é parte
do universo cotidiano dos alunos, logo evitar seu uso em sala não só distância
os alunos do conteúdo proposto, como gera uma apatia à disciplina de História.
Todavia, cabe ao professor a problematização e o vislumbre não passivo da
mídia, para que a proposta seja atingida.
123
Referências Biográficas
Ms. Douglas Pastrello, doutorando em História política pela Universidade
Estadual de Maringá (UEM).
Referências
Hadashi no Gen (Gen pés descalços). Direção: Mori Masaki. ProdutorTakanori
Yoshimuni, Yasutaka Iwase. Roteiro: Keiji Nakazawa Japão: Madhouse/Gen
Production. Distribuidora: Herald Enterprises. 1983. (85min): sonoro, cores,
animação.
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In: Para uma educação
de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de
Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia,
Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144.
124
STAR WARS E A FILOSOFIA
Felipe Lucas Fagundes
Introdução
A grande maioria das ficções, trazem suas próprias mitologias e filosofias,
porém é nítida a inspiração em nossa realidade e nossas sociedades. Isso é
representado, principalmente, na saga Star Wars, desde os filmes, como
também do universo expandido, canônico que o compreende.
Na saga apresentada por George Lucas em 1974, intitulada de Star Wars, teve
como seu grande lançamento, a história de um jovem envolto em filosofias e
crenças antigas, estamos falando de “Uma Nova Esperança" o quarto filme, em
ordem cronológica. É possível analisar e compreender, diversos aspectos,
sociais, políticos e tendo uma relevância maior para com este trabalho
filosófico.
Como uma das maiores obras de ficção científica, o Star Wars, em toda a sua
amplitude, consegue abordar temas filosóficos e incorporá-los, com tanta
complexidade de um jeito tão natural? E é possível aprender com isso?
Sendo assim nesse texto, será trabalhado, algumas das principais filosofias
que lidamos em nosso cotidiano, como também como as mesmas foram
empregadas na saga. Trabalharemos, com alguns pontos principais, para
concluir o nosso objetivo, dentre eles temos a necessidade de historicizar os
125
fatos e momentos que alicerçam na jornada do herói, de Joseph Campbell;
analisar as representações de diferentes filósofos e filosofias apresentadas nas
obras; Entender o que é e como funciona a filosofia jedi e sua antagônica, dos
Sith, refletida em pensamentos e ideias expressas na filosofia.
Star Wars
A franquia, de George Lucas, juntamente com seu universo expandido, teve
sua criação no ano de 1977, com o filme Uma Nova Esperança. Partindo desse
filme surgiram inúmeras expansões e enriquecimentos ao universo, desde
quadrinhos, livros, séries animadas, partindo da mão de diversos autores.
Conte, tentando criar uma vertente, que por sua vez, conseguisse abranger
diversas áreas do conhecimento humano, e assim possibilitando uma
variedade maior de ferramentas. Assim consequentemente o filósofo, busca,
deixar obsoletas as principais antigas vertentes da época, sendo a metafísica e
a teologia.
“(...) tentar criar um sistema que pudesse englobar todas as áreas da atividade
humana. Considerado como o pai do Positivismo, Comte procurou terminar
com as fases anteriores de conhecimento humano consideradas ultrapassadas,
a Teológica e a Metafísica, (...).”(FERNANDES, p.12, 2011).
126
“A Lei dos Três Estados é indissociável do Positivismo e constitui mesmo a
trave-mestra do sistema comteano. A Lei dos Três Estados identifica três
momentos da Humanidade, dos quais dois deles já terão sido percorridos pelo
Homem enquanto espécie, faltando completar o terceiro passo: Metafísica,
Teologia e Positivismo “(FERNANDES, p.11, 2011).
Sendo a Teologia, aquele estudo que reconhece tudo aquilo que não é
compreendido, como uma ação exclusivamente de seres cuja sua natureza, é
fora da compreensão humana, “A Teologia ou estado teológico é o momento
em que o Homem olha para a Natureza como se fosse criada miticamente e
procura a explicação dos fenómenos naturais através de seres
sobrenaturais.”(FERNANDES, p.12, 2011).
Por sua vez, o positivismo é uma teoria criada por Augusto Comte, divide-se na
questão dos conceitos e preceitos filosóficos, tirados de grandes pensadores
como Aristóteles. Como também no quesito dos termos e definições, trata-se
de definir o real e o surreal, ou seja o certo e o errado.
“Augusto Comte usa o termo filosofia na acepção geral que lhe davam os
antigos filósofos, particularmente Aristóteles, como definição do sistema geral
do conhecimento humano; e o termo positiva designa, segundo ele o real frente
ao quimérico, o útil frente ao inútil, o certo frente ao incerto, o preciso frente ao
vago, o relativo frente ao absoluto, o orgânico frente ao inorgânico, e o
simpático frente à intolerância.” (RIBEIRO, 1982, p.10).
127
através da experiência, não só dos sentidos mas também da sua verificação
através do trinómio Hipótese – Teste – Resultado.” (FERNANDES, p.11, 2011).
“Para além disso, acaba por ser um conceito que se encaixa no modelo de
Auguste Comte porque é o seu próprio prolongamento. A ideia de associar o
organismo, enquanto conjunto de características à sociedade, preenche
perfeitamente a teoria da evolução das civilizações concebida pelo filósofo
francês.“ (FERNANDES, p.18, 2011).
128
Sendo os Jedis, existe o livro de Daniel Wallace (2010), intitulado de “ Star
Wars O Caminho Jedi”, que objetiva ser um manuscrito ficcional, que descreve
o passado, a cultura e as crenças, de tal grupo. Dentro dele é possível
observar o código que os rege. Sendo ele:
Em contraponto, existe o código dos Siths. Que juntamente com suas idéias,
filosofias e história estão descritos no livro “Star Wars Livro dos Sith”, também
escrito por Daniel Wallace (2012):
“Paz é uma mentira, só existe paixão; Através da paixão, ganho força; Através
da força, ganho poder; Através do poder, ganho a vitória; Através da vitória,
minhas correntes se rompem; A Força me libertará. (WALLACE, p.47, 2012)”
Sendo a teoria mais adequada, para refletir, tal construção à realidade que nos
cerca, o Epicurismo. Pois essa filosofia, nos traz, que as emoções, como vistas
no fragmento acima, juntamente com a religião, também representada pela
“Força”, trará a liberdade ou seja o objetivo, a felicidade, a plenitude.
129
Sendo então os governos e a dualidade de pensamentos, a definição de heróis
e vilões, empregadas e embasadas na filosofia de Comte, o Positivismo e suas
sub vertentes posteriores. E aquilo que alicerça os pensamentos de nossos
heróis calçados no estoicismo e os seus antagônicos no epicurismo.
Referências biográficas
Felipe Lucas Fagundes, graduado em história pelo Centro Universitário da
Região da Campanha, especialista em História do Brasil pelo Instituto
Pedagógico de Minas Gerais e graduando em filosofia pelo Centro Universitário
Internacional. Escritor de dois livros, sendo o primeiro “Cemitério: Onde a
história repousa” e o segundo “Gaúcho: Seu surgimento e suas relações
culturais”.
Referências bibliográficas
CUNHA, Alexandre Sanches. Manual de filosofia do Direito. jusPODIVM. 2020.
DECKER. Kevin S.; EBERL, Jason T.. Star Wars e a filosofia. São Paulo/ SP:
Universo Geek. 2015.
WALLACE, Daniel. Star Wars O Livro dos Sith. São Paulo: Bertrand Brasil.
2012.
WALLACE, Daniel. Star Wars O Caminho do Jedi. São Paulo: Bertrand Brasil.
2010.
130
PATRIMÔNIO NA PALMA DA MÃO: A HISTÓRIA
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DE
CAXIAS/MA
Francisco Lucas Gonçalves dos Reis e Jakson
dos Santos Ribeiro
Introdução
Este artigo apresenta e discute a fase inicial do desenvolvimento da pesquisa
acadêmica de iniciação científica no âmbito do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação - PIBITI
2021/2022. O título do projeto consiste na proposta “O desenvolvimento de
aplicativo como auxílio na aprendizagem da educação patrimonial da cidade
Caxias/MA”; e o plano de trabalho em desenvolvimento é “PATRIMÔNIO NA
PALMA DA MÃO: a história do patrimônio histórico da cidade de Caxias/MA”.
131
ocorre quando eles percebem os esforços dos nossos antepassados para
chegarmos ao estágio atual.” (PINSKI, 2010, p.21 apud SOUZA, 2016, p. 42).
Metodologia
Para chegar ao produto final aqui pretendido (o aplicativo sobre o patrimônio
histórico da cidade de Caxias/MA), a presente pesquisa passará por algumas
etapas descritas adiante.
132
Patrimônio e Ensino de História
Em “A Alegoria do Patrimônio”, (2001) Françoise Choay destaca:
133
num processo contínuo de criação cultural.” (HORTA; GRUMBERG;
MONTEIRO; 1999, p. 4)
134
que vão para além do exposto ou do imaginável. Eis a razão pela qual a
memória faz parte do sujeito.” (Santos, 2018, p. 32)
Dessa forma,
“[...] sem memória não se pode situar na própria cidade, pois se perde o elo
afetivo que propicia a relação habitante-cidade, impossibilitando ao morador de
se reconhecer enquanto cidadão de direito e deveres e sujeito da história.” (LE
GOFF, 1996, p. 535).
Santos (2018, p. 54) nos lembra que o centro histórico da cidade de Caxias foi
tombado pela 3ª Superintendência do Estado do Maranhão como Centro
Histórico de Caxias, compreendido como núcleo inicial e originador da cidade,
assim como os locais contíguos que se consolidaram no final século XIX, de
acordo com a Lei Estadual nº. 3.999, de 6 de dezembro de 1978 e o Decreto
nº. 11.681, de 29 de novembro de 1990.
135
Fonte: SOUZA, 2016, p. 96. Ilustração de Joana Batista de Souza. - Limite de
tombamento - Centro Histórico de Caxias/MA.
136
introduzir novidades, como novos materiais, cores e formas.” (ALMEIDA, 2008,
p. 55)
Desenvolvimento do aplicativo
O aplicativo, produto final da presente pesquisa, está sendo desenvolvido na
plataforma de criação de app’s Kodular. A plataforma é uma ferramenta online
que permite a criação de aplicativos sem a necessidade de conhecimentos
aprofundados sobre linguagens de programação, uma vez que se baseia na
programação por blocos lógicos.
137
Fonte: Elaborada pelo autor, Relatório Parcial 2022.
138
Fonte: Elaborada pelo autor, Relatório Parcial 2022.
139
Fonte: Elaborada pelo autor, Relatório Parcial 2022.
A grande maioria das imagens que irão compor o aplicativo, foram obtidas a
partir do levantamento dos trabalhos sobre o patrimônio histórico da cidade de
Caxias/MA, onde podemos ver a história dos prédios históricos da cidade,
assim como a memória relacionada aos mesmos. Essas imagens foram
organizadas em uma planilha do google, com suas devidas referências. São
imagens que retratam os mais variados aspectos da cidade e que farão parte
do conteúdo do aplicativo.
Considerações finais
A partir das leituras realizadas, foi possível perceber a urgência das ações no
sentido da preservação do patrimônio histórico-cultural de Caxias, seja ele
material ou imaterial. E como estratégia, um dos pontos fundamentais reside na
educação do olhar dos estudantes para a história local, em especial a história
do patrimônio da cidade.
140
Com as discussões teóricas, foi possível constatar que os autores são
unânimes ao reconhecerem a importância da preservação e valorização do
patrimônio histórico da cidade, uma vez que se constitui num elemento
fundamental para a formação da identidade dos habitantes.
Referências biográficas
Francisco Lucas Gonçalves dos Reis é Graduando do Curso de História –
Licenciatura, da Universidade Estadual do Maranhão, campus Caxias (CESC-
UEMA).
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Eliane de Sousa. O patrimônio edificado no Centro de Caxias- MA:
entre a materialidade e a imaterialidade. Dissertação (Mestrado em Políticas
Públicas), Universidade Federal do Piauí, Curso de Pós-graduação em
Políticas Públicas do Centro de Ciências Humanas e Letras. Teresina- PI:
UFPI, 2008. 166fls.
141
HORTA, Maria de Lourdes P.; GRUMBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Q.
Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, Museu Imperial, 2006 [1999].
142
YOUTUBE E ENSINO DE HISTÓRIA: LINGUAGEM
E ACELERAÇÃO DO TEMPO
Grazyelli Cristina da Costa e Jean Carlos Moreno
Evidentemente que esta pesquisa, ainda em fase inicial, não surgiu como um
acaso. Ela está profundamente relacionada a aspectos pessoais e profissionais
da autora. Nesta sociedade da informação, na qual vivemos, é possível
perceber em nosso dia a dia – e também no de muitos alunos, provavelmente –
que o acesso ao saber já não se restringe aos muros da escola. As maneiras
de se obter e estruturar saberes e conhecimentos se transformam
constantemente, logo “a estrutura social da sociedade e a forma como a
aprendizagem está estruturada – o modo como passa de mãe para filha, de pai
para filho, de tio materno para sobrinho, de xamã para aprendiz, de
especialistas mitológicos para especialistas lógicos– determinam muito mais do
que o conteúdo real da aprendizagem, determinam como individualmente se
vai aprender a pensar e como o estoque de aprendizagens, a soma total de
peças separadas de habilidades e conhecimento [...] é compartilhada e usada.”
(MEAD, 1964, p.79 GOODSON, 2007, p.2 apud). Assim sendo, ensinar História
é ainda mais desafiador em pleno início de século XXI, pois as novas
tecnologias não transformam apenas a forma de aprender ou comunicar, mas
nos levam também a repensar o ensino de História propriamente dito e seus
objetivos nos dias de hoje.
143
O YouTube nasceu como uma plataforma cujo objetivo era facilitar o
compartilhamento de vídeos, pois o envio dos mesmos via e-mail muitas vezes
não era possível devido ao tamanho do arquivo. Logo percebeu-se seu
potencial para disseminação de informações e conteúdo, assim, muitos
entusiastas e também pesquisadores, passaram a utilizar a plataforma como
forma de divulgar seus conhecimentos, em diversos níveis, por meio da
linguagem audiovisual. A partir da pandemia da COVID-19, o uso desta
plataforma para a finalidade educacional ganhou ainda mais espaço e
escancarou como este recurso foi adentrando, de maneira orgânica, em nosso
cotidiano, incluindo aí para finalidade de ensino.
144
Apesar desta potencialidade, ainda dentro da cultura escolar, o trabalho em
sala de aula segue um modelo tradicional baseado apenas na leitura e nas
perguntas e respostas, o qual muitas vezes parece ser menos atraente aos
alunos em seu formato, do que os vídeos que podem ser acessados no
YouTube. Conforme Julia “uma disciplina escolar encontra-se presa entre os
objetivos que lhe são conferidos e o público ao qual se dirige: as mudanças
que intervêm no dispositivo pedagógico são frequentemente ligadas a
modificações das características do alunado.” (Julia, 2001, p. 60). A partir desta
afirmação podemos, então, acreditar que, possivelmente uma ferramenta como
o YouTube tem condição de alterar não apenas o que se ensina, mas como se
ensina. Eis aí o desafio aos professores, que podem se apropriar de diversas
formas, tanto consumindo o conteúdo, como produzindo-o no formato que
parece ser mais atraente para a mediação. Discordando de Julia, o termo
utilizado aqui é mediação e não transposição, uma vez que o saber escolar
advém de uma mediação, da interpelação, pois não estamos em sala de aula
apenas traduzindo para uma linguagem mais simples o saber acadêmico, mas
tentando mediar para que o aluno, a partir de suas próprias experiências,
construa significado e compreensão do objeto de estudo conforme seu próprio
contexto.
Este cenário nos leva a perceber que ensinar História tem sido mais desafiador
do que nunca. Neste início de século XXI, as informações chegam até nós de
forma vertiginosa, sem que consigamos de fato refletir sobre as mesmas,
filtrando aquilo que possa se traduzir, posteriormente, em conhecimento
construído de fato e não apenas em um aglomerado de dados que parecem ser
ou realmente sejam desconexos.
145
esteja equivocado, pois segundo JENKINS (2001) passado e História não são
a mesma coisa, sendo o passado tudo que se passou e a história aquilo que
fora escrito sobre o passado.
Desta forma, temos diante de nós uma realidade bastante complexa para o
ensino de História, na qual muitos profissionais que se encaixam na categoria
de migrantes digitais, precisam perceber e se adaptar às novas formas de
aprendizagem para poder fazer do ensino algo efetivo também. Cenário este
bastante complexo, uma vez que a sensação de aceleração do tempo é cada
vez mais constante em nosso dia a dia e é potencializada pelas novas
tecnologias para troca de informações, as quais ocorrem de maneira cada vez
mais intensa.
O tema histórico proposto para realizar esta análise com objetivo de criação de
critérios de validação é a Independência do Brasil, não apenas pelo momento
em que a questão está altamente em voga, devido à comemoração dos 200
anos de independência, mas justamente pela importância em pensarmos
nossas raízes e nossa identidade e, como já ressaltado anteriormente, hoje o
ensino de História abarca esta função, auxiliar na reflexão sobre as identidades
próprias e alheias. Esse processo de conscientização e valorização a respeito
das identidades e dos afetos sociais é tema que tem sido bastante debatido
nos estudos decoloniais.
146
construir estereótipos que dificilmente seriam descontruídos apenas dentro das
discussões do cotidiano escolar.
Referências biográficas
Grazyelli Cristina da Costa
Mestranda no programa do Mestrado Profissional em História (ProfHistória), na
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora da Educação Básica no
Colégio Sagrada Família – Ponta Grossa.
147
Referências bibliográficas
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Fazer defeitos nas memórias:
para que servem o ensino e a escrita da história? In: GONÇALVES, Márcia de
Almeida; ROCHA, Helenice; REZNIK, Luís, MONTEIRO, Ana Maria. (Org.).
Qual o valor da história hoje? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012, p. 21-39.
148
A CIDADE DOS PORCOS: O MITO DA IDADE
MÉDIA EM GAME OF THRONES
Guilherme Oliveira Claudino e Ygor Klain
Belchior
E por que tal escolha? Porque o nosso objeto neste estudo é o “mito da Idade
Média”. E o que seria isso? De acordo com Pernoud (1997), “o mito da Idade
Média” é uma visão construída pelos homens do Renascimento, a qual observa
o período sob a ótica de “idade das trevas”. Isto é, como marcada apenas por
coisas ruins, como massacres, cenas de violência, fomes e epidemias. Não há,
segundo a autora, “um dia em que [o medievalista] não ouça alguma reflexão
no gênero: ‘Nós já não estamos na Idade Média’, ou ‘Isto é o regresso à Idade
Média’, ou ‘É uma mentalidade medieval’" (PERNOUD, 1997, p. 5). E os
grandes culpados por isso, de acordo com Pernoud, são os professores de
História. Em suas aulas, os docentes sempre focam nos momentos ruins do
período, esquecendo das grandes transformações positivas. Em suas palavras:
“a Idade Média significa sempre: época de ignorância, de embrutecimento, de
subdesenvolvimento generalizado, muito embora tenha sido a única época de
subdesenvolvimento durante a qual se construíram catedrais!” (Idem, p. 13).
149
“uma profusão de novos produtores e de lugares de narrativas históricas que
para grandes audiências. A título de exemplo, podemos notar como o passado
tornou-se uma febre na produção midiática quando somente entre o ano de
2017 e o primeiro semestre de 2018, considerando novelas e minissérie
produzidas em canais abertos no Brasil, contabilizamos 11 programas
ambientados em outras temporalidades, desde o século XVI antes de Cristo,
passando pela Idade Média, até década de 1980. Além da Tv aberta, existem
outros canais especializados em narrativas que pretendem falar de um lugar
científico da produção histórica com fontes, especialistas e conteúdos frutos de
investigações diversas, como History, H2, Discovery Civilization e uma série de
outros produtos voltados ao tema.”
“uma questão crucial para a história da arte da Idade Média foi: como é que os
escultores puderam reaprender a esculpir? Partia-se do princípio de que a
escultura fora uma arte esquecida. Todas as vezes que se tenta fazê-lo são
desajeitados ensaios, dignos de uma criança (PERNOUD, 1997, p. 23).”
150
Vemos aqui que a cidade de Pirenne é menos presente no imaginário do que o
referido mito, que através de sua arquitetura “grotesca” compõem um certo
medievo imaginado.
A aula
Para uma aula sobre o mito da Idade Média, é importante escolher um material
atrativo aos alunos. Nesse sentido, a série Game of Thrones é um excelente
material porque oi uma das séries mais assistidas no mundo.
151
a oitava e última temporada estreou em 14 de abril de 2019, terminando em 19
de maio de 2019.
Como uma das séries mais famosas dos últimos tempos, podemos afirmar que
é uma das grandes responsáveis por apresentar ao público essa imagem
mitológica da Idade Média, vejamos.
152
Há outros aspectos importantes na ambientação do cartaz. A luz escura e a
neblina dialogam com o “mito da Idade Média”, uma vez que produzem a
sensação de que este período é de trevas. A “forma” feudal, por sua vez,
quando colocada em diálogo com o mito de Pernoud produz a seguinte
interpretação para os expectadores: “Então, havia [...] senhores feudais. Então
eles estavam sempre a fazer guerras e com os seus cavalos iam para os
campos dos camponeses e destruíam tudo” (PERNOUD, 1978, p. 6).
153
Figura 3: Winterfell.
Fonte: Episódio 2. Temporada 1 (19:27).
Contudo, tais cidades não são reais. Vejamos o exemplo de cidade de Ragusa,
atual Dubrovnik, localizada no sul da Croácia, na costa do Mar Adriático.
Escolhemos essa cidade por se tratar do modelo utilizado pelos roteiristas da
série para a representação de King’s Landing. Notem que a cidade não é um
chiqueiro:
154
Partimos, portanto, do princípio que Idade Média de Game of Thrones é a
mesma do “mito”, um “período de trevas”, e as cidades são uma evidência
importante. A ideia de que o mundo rural, das elites, é colorido, rico, em
contraposição à escuridão das cidades, a sujeira, enfim, uma cidade de porcos.
Assim, ao confrontar as evidências históricas com a série, o (a) professor (a)
poderá exercitar nos (as) estudantes como a estética dos cenários podem
colaborar para uma visão deturpada de uma Idade Média de trevas.
Referências biográficas
Dr. Ygor Klain Belchior, Professor da Universidade do Estado de Minas Gerais,
Coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em História Antiga,
Medieval e da Arte, bolsista de produtividade PAPq-UEMG.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Juniele Rabêlo; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira, (organização).
Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz,2011.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de; TEIXEIRA, Ana Paula Tavares. História
pública e divulgação de história. São Paulo, SP: Letra e VOZ,2019.
155
MUSEUS DA ENERGIA EM SÃO PAULO:
COMUNICAÇÃO, ENSINO DE HISTÓRIA E
TECNOLOGIA DIGITAL
Janaina Cardoso de Mello
156
imergissem nos museus. Assim foi nos museus de Chicago, Columbia britânica
e Paris. Ocorreram exposições presenciais em vagões aposentados,
reconstituição de túneis, experimentos científicos de Física e Química ou
dramatizações históricas.
Em 1990, “ser digital” não era uma opção e sim uma realidade das instituições
culturais europeias com a “[...] disseminação de ferramentas e práticas digitais
e pela conversão de todo o tipo de recursos culturais em bits e bytes”. A
Comissão Europeia no Bulletin of European Union, de 1994, já considerava o
uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no desenvolvimento
econômico de empregos, renda e qualidade de vida dos cidadãos ao
reconhecer o patrimônio cultural como vital em uma sociedade democrática. Os
museus europeus utilizaram exposições interativas digitais, a partir de 2000,
adotando programas de digitalização em larga escala e recursos substanciais
na criação e aquisição de equipamentos digitais visando um acesso mais
amplo e interessante ao público (MESSIAS, 2018, p. 17).
157
desenhos, fotografias e obras nativas digitais de 1960 a atualidade. Sob sua
guarda está uma ampla variedade de obras de arte físicas e digitais criadas
com código. Parry (2019), discorreu sobre a necessidade de pensar o acesso
digital nas plataformas dos museus como protagonismo do sujeito, para o
“usuário atuante”, ou seja, o “usuário digital” que além de ser parte do sistema
de tecnologia, passa a integrar o sistema externo, alterando sua capacidade
principal de automação para personalização e capacitação.
“[...] que [a] instituição elabore ou mantenha rotinas de interação com o público
através de redes sociais (Instagram, Twitter, Facebook etc.), seguindo um
planejamento de divulgação de seus acervos e estimulando a consulta e
pesquisa em bases de dados ou sites. Nesse período, produza material para
publicação digital (cartilhas de orientações técnicas; catálogo digital de
exposições realizadas etc.) com informações claras e diretas, acessíveis ao
público” (ICOM, 2020, p. 5-8).
158
contínua atualização e expansão de memória, financiamento e problemática
dos direitos autorais dentre outras complexidades (FREITAS; VALENTE, 2017,
p. 9-10).
Museus na internet
O início da Word Wide Web (www) na década de 1990 não era propício à
interatividade ou imersão digital. Embora tenha sido um avanço, as páginas
eram estáticas e seu acesso feito via computadores fixos com internet discada.
Somente nos anos 2000, com a evolução da banda larga, a criação de novas
modalidades de plataformas (blogs e videologs), chats (MSN, Gtalk, Skype),
redes sociais (Orkut, Twitter, Instagram, Facebook) e mais tarde os tablets e
smartphones cujo acesso online requeria aplicações e novos designs para telas
touchscreen. Saia-se da web 1.0 para a web 2.0 (MATOS; DEL VECHIO, 2020,
p. 57-58).
159
que a comunicação do conhecimento é dialógica (Maria Piacente,1996 apud
TRINDADE; RIBEIRO; MOREIRA, 2019, p. 198-201).
160
Alberto Santos Dumont e um dos homens mais ricos do Brasil no período
(FUNDAÇÃO ENERGIA E SANEAMENTO, 2021).
161
Fonte: ICOM, 2020, p. 9.
A abertura virtual esbarra nos limites do acesso aos meios digitais por milhões
de pessoas, principalmente em países emergentes, dificultando os museus
virtuais e as coleções online. A ausência de equipamentos tecnológicos e/ou
conexões nas casas inviabiliza a cultura digital. A União Internacional de
Telecomunicações informou que quase metade da população mundial não
possui Internet. Há uma lacuna de gênero nas tecnologias digitais. A OCDE
mostra que cerca de 327 milhões a menos de mulheres têm um smartphone e
acessam a Internet (UNESCO, 2020, p. 6).
162
paulistas (cerca de 7,5 milhões) declararam nunca ter acessado a internet
(SAEDE-SP/TIC, 2020, p. 1).
Os Museus da Energia de São Paulo não possuem imersão digital (RA, RV,
Walkthroughs ou rotação 360°), integrando o percentual de 46% de coleções
não digitalizadas e 30% fora da internet, diferentemente de espaços como o
Centro Cultural Banco do Brasil, o Museu da Pessoa ou o Itaú Cultural. O único
viés interativo digital são os games educativos, mas sem a narrativa
expográfica.
Considerações Finais
O investimento na mediação museológica participativa de usuários dos Museus
de Energia ocorre no espaço físico em Itu, Salesópolis e São Paulo. Por outro
lado, a tecnologia estática do site das unidades museais não viabiliza o acesso
do público ao acervo e narrativa das exposições tangíveis.
Referências biográficas
Dra. Janaina Cardoso de Mello, Professora do Departamento de História e do
Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de
Sergipe (UFS).
Referências bibliográficas
CHIOVATTO, M. In Defense of Museum Education. ICOFOM Study Series,
48(2), 2020. Disponível em: http://journals.openedition.org/iss/2337
163
DODDS, D. “Collecting, Documenting, and Exhibiting the Histories of Digital Art:
A V&A Perspective”. In GIANNINI, T.; BOWEN, J. (eds) Museums and Digital
Culture. Springer Series on Cultural Computing, 2019, p. 217-229. Disponível
em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-97457-6_10
164
PARRY, R. “How Museums Made (and Re-made) Their Digital User” in
GIANNINI, T.; BOWEN, J. (eds). Museums and Digital Culture. Springer Series
on Cultural Computing. Springer, 2019, p. 275-293. Disponível em:
https://doi.org/10.1007/978-3-319-97457-6_13
165
PROCESSO DE APRENDIZAGEM E AUTONOMIA
ATRAVÉS DE METODOLOGIAS ATIVAS E USO
DAS TDICS: EXPERIÊNCIA DIDÁTICA COM A
MÍDIA PODCAST
João Paulo de Oliveira Farias
Introdução
Nos últimos anos percebemos que o mundo passou por grandes
transformações em várias esferas e em todas as relações humanas. Uma das
características do século XXI é a dinamicidade das formas como adquirimos
informação e conhecimento. A propagação de informação e comunicação
incide em uma velocidade antes inimaginável. Tempo e espaço acabam sendo
vencidos pelas novas invenções tecnológicas que, a cada dia conquistam mais
adeptos, fazendo com que o mundo virtual cresça. Em nossas atividades
cotidianas, tanto profissionais quanto de entretenimento, recebemos o auxílio
das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs).
Os últimos anos, por exemplo, acabou por trazer maiores reflexões acerca do
tema, dadas as circunstâncias proporcionadas pela pandemia do novo
coronavírus (COVID-19) em vários setores sociais, incluindo a educação, que
teve sua rotina fortemente afetada. Com o processo de quarentena e
fechamento das instituições de ensino em todo o Brasil, no ano de 2020, a
dinamicidade das aulas teve que ser alterada, sendo intensamente marcada
pelo uso das tecnologias digitais e os Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVAS) para realização de suas atividades. As Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDICs) passaram a ser a principal aliada ao
ensino, que se deu em sua maior parte a distância e de forma remota durante o
decorrer daquele ano letivo e de parte significativa do ano de 2021.
166
“O uso criativo das tecnologias pode auxiliar os professores a transformar o
isolamento, a indiferença e a alienação com que costumeiramente os alunos
frequentam a sala de aula, em interesse e colaboração, por meio dos quais
eles aprendam a aprender, a respeitar, a serem pessoas melhores e cidadãos
participativos” (KENSKI apud FERREIRA, 2012, p. 103).
Metodologia
O estudo proposto, foi realizado como parte de um trabalho de pesquisa junto
ao Mestrado Profissional em Ensino de Hstória (PROFHISTÓRIA) e buscou
investigar as possíveis potencialidades e fragilidades de metodologias de
ensino que envolva a inserção das TDICs no ambiente escolar, em especial
através da ferramenta podcast, que se destaca atualmente no campo das
novas linguagens de comunicação, entre estas, aqueles referentes ao das
narrativas e da aprendizagem histórica.
167
ministro a disciplina de história. Assim a proposta de trabalho se deu através de
metodologias ativas, em que o aluno é instigado a participar, com o auxílio das
TDICS no processo de pesquisa e produção de conhecimento, usando como
apoio, os recursos da ferramenta podcast.
Através dos seus muitos programas que incluem do mesmo modo diferentes
temas, entre estes, aqueles relacionados ao contexto histórico, os formatos de
áudios distribuídos pela internet por meio da mídia podcast, tornam-se um
recurso bastante flexível, podendo ser explorado no processo de ensino e
aprendizagem. É possível que os docentes se utilizem de estratégias e
metodologias em que esse recurso seja averiguado, desde a utilização em sala
de aula das mídias já existentes, ou mesmo de um trabalho que envolva a
produção e criação de novos programas pelo professor e em parceria com os
estudantes, dando a mídia uma intencionalidade pedagógica, como foi
abordado através da pesquisa e no decorrer do trabalho desenvolvido junto aos
estudantes.
168
opções, tornando as pessoas mais sensíveis e comunicativas. Ao pensar o
processo pedagógico mediado pela tecnologia, não se pode esquecer que a
centralidade da ação deve estar nos sujeitos, e não nas técnicas” (RIBEIRO,
2011, p.94).
Desenvolvimento
Para a operacionalização da pesquisa e do trabalho junto aos estudantes,
foram realizadas leituras das principais referências bibliográficas,
estabelecendo um diálogo com os principais autores relacionados com as
temáticas discutidas no trabalho. Com a finalidade de buscar informações
sobre onde os alunos têm contato com conteúdos históricos, quais os recursos
que estes utilizam para fazer pesquisas e aprender história no ensino básico,
buscando perceber ainda, quais são as dificuldades encontradas por eles para
o uso dessas tecnologias, e quais são as temáticas históricas que os alunos
mais gostam de estudar, bem como procurando entender como os mesmos se
sentiram ao participar deste projeto, foi realizado questionários on-line através
do serviço da plataforma Google Forms, para uma maior agilidade na coleta de
dados. Portanto, foram usados métodos voltados para pesquisa qualitativa,
com o emprego de questionário com os alunos com questões objetivas e
descritivas, de modo a analisar melhor a realidade destes, sobretudo, no que
diz respeito ao ensino e aprendizagem da história.
169
Utilizei também durante o estudo, um “diário de campo”, instrumento de registro
empregado na técnica da observação participante, em que houve uma análise
das experiências com a metodologia que se utilizou da mídia podcast,
estabelecendo critérios sobre as possibilidades e os desafios em trabalhar com
essa ferramenta e se ela proporciona vivenciar práticas no ensino e no campo
historiográfico, bem como perceber suas contribuições em grupos de
aprendizagem, suas possibilidades de interação entre alunos e alunos, e entre
alunos e professor, sendo estes entendidos por suas habilidades e
competências.
170
realização das tarefas de pesquisa e produção de materiais, durante a
pesquisa:
Considerações Finais
É preciso entender os estudantes como agentes históricos, os quais são
partícipes em seus diferentes contextos. Para isso ressaltamos que o professor
deve procurar ser sempre inspirador, no sentido que leve os estudantes a
desenvolverem sua autonomia, como já nos evidenciava o mestre Paulo Freire
em suas obras, dentre elas a “Pedagogia da Autonomia” (FREIRE, 1996).
Portanto, é preciso valorizar o aluno como um sujeito capaz de produzir novos
171
olhares e novos conhecimentos, potencializados por um processo educativo
emancipador.
Referências Biográficas
João Paulo de Oliveira Farias, Professor de História da Rede Estadual
Cearense de Ensino, Mestre em Ensino de História pelo Programa de Pós-
Graduação em Ensino de História da Universidade Regional do Cariri/CE
(PROFHISTORIA-URCA).
Referências bibliográficas
BEHRENS, Maria Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num
paradigma emergente. In:MORAN, José Manuel. Novas tecnologias e
mediação pedagógica. 21ª ed.rev. e atual. Campinas –SP: Papirus, 2013.
172
LEITE, Lígia S. (Coord.). Tecnologia educacional. Descubra suas
possibilidades em sala de aula. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
173
O ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO CINEMA
Juliana Avila Pereira e Thalis Figueiredo Sartorio
174
medida em que permite aos alunos refletir sobre os conhecimentos construídos
no âmbito escolar em seu cotidiano.
Neste prisma, a partir dos novos temas propostos por Pinsky (2009), é possível
tencionar uma reflexão de novos sentidos para o ensino de História, através de
novos temas para serem abordados e explorados no contexto de sala de aula,
tendo em vista que “a sala de aula não é apenas um espaço onde transmite
informações, mas onde uma relação de interlocutores constrói sentidos”
(BITTENCOURT, 2004, p.57). Unir as diversas metodologias pertencentes ao
campo da História com o âmbito da sala de aula permite a travessia dos
saberes de educando a pesquisador, diminuindo as fronteiras entre o oficio do
historiador com os estudantes, os aproximando da pesquisa e abrindo um
leque de perspectivas de estudo sob a História, por meio de fontes históricas
variadas, visando grupos culturais exclusos e aos novos agentes históricos que
emergem. Neste caminho, Caimi (2015) defende a concepção de:
“potencializar nas crianças e adolescentes um sentido de identidade e
175
contribuir para o conhecimento e a compreensão de outros países e culturas do
mundo atual” (CAIMI, 2015, p.108 apud PRATS, 2006;2007). Construir o
conhecimento mutuo em sala de aula, por novos caminhos para o ensino de
história permite o desenvolvimento a identidade histórica e social, por meio da
identificação com o passado pelo presente, deste modo, Circe Bittencourt
(2004) afirma em seu livro O Saber Histórico em Sala de Aula que: “Ensinar
História passa a ser, então, dar condições para que o aluno possa participar do
processo do fazer, do construir a História” (p.57).
176
Dito isso, estas tecnologias cinematográficas não demoraram a chegar à sala
de aula, tornando-se mecanismos eficientes para auxiliar os professores. O
cinema é uma ferramenta que, se usado de forma crítica, reflexiva e construtiva
pelo professor, pode ser explorado de múltiplas formas para auxiliar no
percurso pedagógico. Além de ser um instrumento que permite usar do lúdico
de forma explicativa, ele também serve de base para fomentar discussões
acerca de variados temas históricos, como questionar o que é representado? o
que não é representado? qual a intenção do filme? quais personagens e
processos históricos são representados pela obra? como eles são
representados? Entre outras inúmeras questões discutíveis que podem ser
dimensionadas com os alunos.
177
tempo e espaço. É preciso conhecer os detalhes e a circunstâncias em que
foram produzidos e de que forma as condições foram influenciadas pela
conjuntura que se vivia no período de produção da fonte” (OLIVEIRA; JOÃO,
2019, p.13).
Ainda que a prática educativa que vise tencionar filmes em aula demande uma
série de cuidados por parte do professor, ela é muito rica em sua proposta
tanto para o professor quanto para os alunos. Através dos filmes
(compreendendo-os como uma forma de representação e não retrato fidedigno
do passado) o Ensino de História torna-se mais lúdico, bem como aproxima os
alunos de um passado longínquo e, por vezes, difícil de se compreender,
através das tecnologias cinematográficas, possibilitando debates, críticas,
comparações com base no conteúdo estudado, além de servir como motriz a
criatividade e imaginação. A integração do cinema em sala de aula resulta em
uma importante interação entre o campo escolar e o dia a dia, para Lucia Prado
(2010):
Referências biográficas
Juliana Avila Pereira, mestranda no PPG História da Universidade Federal de
Pelotas – UFPel.
Referências bibliográficas
BARCA, Isabel. A educação histórica numa sociedade aberta. Currículo sem
Fronteiras, Universidade do Minho, Portugal. v.7, n.1, p. 5 - 9, Jan/Jun. 2007.
178
BITTENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico na sala de aula. 9.ed –
São Paulo: Contexto, 2004.
CAIMI, Flávia Eloisa. O que precisa saber um professor de história?. História &
Ensino. Londrina, PR. v. 21, n. 2, p. 105 - 124, jul./dez. 2015.
NAPOLITANO, Marco. Como usar o cinema na sala de aula. 4. ed. São Paulo:
Editora Contexto, 2010.
PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas aulas de história. – São
Paulo: Contexto, 2009.
VALIM, Alexandre Busko. História e Cinema. in: CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS,
Ronaldo (org.). Novos domínios da história. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
179
ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DE PODCASTS
Luara Alencar Francisco
Introdução
A priori, vivenciamos um momento da História em que as tecnologias e seus
desdobramentos impactam diariamente e diretamente nossa vida. Nesse
contexto, diferentes esferas da sociedade recebem influências da era digital,
seja o lazer, trabalho, política ou comunicação. Em vista disso, a educação, por
ser um elemento importante da coletividade, sofre impactos das mudanças e
imposições tecnológicas vigentes. Dessa maneira, as relações no ambiente
escolar são transformadas, adentrando novos itens na prática pedagógica,
como computadores com internet, datashow, televisão, smartphones e tablets,
como também, a escola passa a não ter mais domínio total no processo de
aprendizagem, uma vez que os discentes podem construir conhecimentos com
a variedade de materiais online. Segundo Selva Fonseca:
180
e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2018. p.
9). Dessa maneira, a BNCC impõe uma relevância de se pensar a docência
com as mudanças tecnológicas e suas novidades.
Dito isto, esse artigo propõe discutir o uso de podcasts no ensino de História,
indicando as vantagens e desafios para colocá-los em prática. Para isso,
pautou-se nas pesquisas e análises feitas pela Iniciação Científica
Metodologias Ativas e Tecnologias no Ensino de História, da Universidade
Federal da Paraíba, que em 2020 e 2021 realizou levantamentos sobre o uso
de recursos tecnológicos, sobretudo podcasts, com professores e alunos de
escolas da rede pública e privada de João Pessoa, Paraíba.
181
História e Historiografia com base científica e compromissada. A título de
exemplo, temos os podcasts: História em Meia Hora; História FM; Estudos
Medievais; Senta que lá vem História; PodHistória, PETcast História e HH
Magazine: Humanidades em Rede.
.
Dito isso, aliado ao acervo de programas sobre o conteúdo histórico,
encontram-se as vantagens de seu uso em sala de aula. A princípio, os
podcasts são encontrados nas maiores plataformas da internet, como Spotify,
Youtube e/ou Deezer, apesar destas conterem opções para pagantes, os
episódios podem ser escutados gratuitamente. Assim, verifica-se o fácil acesso
para utilizar a ferramenta, uma vez que basta ter um aparelho com internet
para escutá-lo, por outro lado, os podcasts também podem ser acessados por
arquivo de áudio, não necessariamente dependendo da rede, dessa maneira o
professor pode encaminhar o documento diretamente para os alunos. Em
síntese, é uma tecnologia de fácil manuseio e que se populariza cada vez mais,
podendo ser acessada via arquivo ou streaming.
182
discentes já utilizam desses aparatos para aprender. Em concordância, 78%
dos educandos declararam procurar conteúdos por conta própria na internet
com o intuito de estudar.
183
do ensino fundamental escutaram o Cangaço - História em Meia Hora. Ambas
as gravações foram do programa História em Meia Hora, do historiador Vítor
Soares.
Para explicitar com mais satisfação, foi requerido que os alunos escrevessem
em pequenas palavras o que eles achavam da experiência. De resposta,
obtivemos relatos como: “mais atrativa, porque eu acho que essa forma de
atividade consegue atrair mais alunos”; “Algo incrível porque envolve algo q
agente [sic] gosta parece mais fácil o assunto”; “Nas aulas de história não é
muito comum jogos e podcasts, mas sempre que a professora traz para a aula
é uma experiência muito boa!”; “Acho bem mais interativos e acaba nos
fazendo entender e compreender melhor o assunto”. Para além dos relatos dos
alunos, através desse levantamento identificamos o potencial educativo dos
podcasts e a carência e o desejo do uso de recursos tecnológicos na prática
pedagógica. Assim, conseguimos perceber que as TDIC no ensino são
consideradas importantes e atrativas pelos alunos e que a baixa adesão ao
processo podcasting em aula não provém da falta de potencial deste e sim do
desconhecimento da ferramenta e dos problemas estruturais.
Conclusão
As transformações sociais ocorridas pela tecnologia afetam diretamente a
esfera educacional, na medida em que impactam o cotidiano dos professores e
alunos e por meio dos recursos que são criados, nos quais podem auxiliar no
processo de aprendizagem. Tendo em vista esses aspectos, o docente conta
com diversos materiais de apoio, sejam vídeos, podcasts, filmes/séries, games,
Google Maps ou museus digitais; contudo, essas novas tecnologias não devem
ser definidas como substitutas do papel do educador, mas sim como
ferramentas, amparando a transmissão do conteúdo.
184
Projeto, vimos que o uso de podcast pode ser uma ferramenta auxiliar na
produção do conhecimento e do aprendizado.
Referências biográficas
Luara Alencar Francisco, estudante de História da Universidade Federal da
Paraíba.
Referências bibliográficas
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2018.
185
HISTÓRIA NO SITE, SITE COMO HISTÓRIA:
ANÁLISES DO SIMPOHIS.BLOGSPOT.COM NO
MAXQDA
Luiz Gustavo Martins da Silva
No Encontro da ANPUH-RJ (2019), José D’Assunção Barros (2019, p. 1) define
fontes históricas como “tudo aquilo que, por ter sido produzido pelos seres
humanos ou por trazer vestígios de suas ações e interferência, pode nos
proporcionar um acesso significativo à compreensão do passado humano e de
seus desdobramentos no Presente”.
Além dos “documentos textuais” citados acima, Barros (2019, p. 15) entende
que “quando um site expõe virtualmente um texto, estamos diante da fonte
virtual, mas também da fonte textual”. Trata-se de um trânsito entre o virtual e o
impresso, e vice-versa, o qual se dá por um processo tecnológico: o
escaneamento.
Este texto aborda o SIMPOHIS como fonte virtual primária e investiga como os
trabalhos submetidas às edições do site tematizam a inserção das Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação nas práticas pedagógicas de Ensino de
História. As análises feitas pelo MAXQDA indicam que o uso das TDIC se
associa majoritariamente ao nível da substituição da metodologia SAMR.
186
Por essa razão, defendemos a formação de um novo profissional de forma que
tais práticas possam se equilibrar para o nível da redefinição desse método, ou
seja, a passagem mais avançada da apropriação das TDIC no fazer docente e
na aprendizagem histórica.
187
edições realizadas. Usando as tecnologias digitais, a comunicação interativa no
SIMPOHIS “acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o
saber” (LÉVY, 1999, p. 172).
188
A imagem 1 evidencia que o SIMPOHIS possui um percentual de
acessibilidade acima da média (73.64%), com exceção do avaliador de sintaxe
(palavras). As seções multimídia e formulários não apresentaram erros e
avisos, porém não se verifica no site mídias como audiodescrição e programas
de comando de voz para cegos. De todo modo, é possível afirmar que o site
cumpre uma função social, tecnológica e científica na formação e orientação
para o exercício da aprendizagem histórica.
189
Imagem 2 – Interfaces MAXDA com documentos e códigos ativados
Fonte: MAXQDA, arquivo pessoal
190
transformação/transformation, que envolve os níveis Modificação (modification)
e Redefinição (redefinition).
Nesse caso, tem-se uma mudança substancial ao alterar aquilo que os alunos
fariam individual para uma ação coletiva, em que, na prática, eles agem como
“mentores” uns dos outros envolvendo-se com a descoberta e exploração de
novas áreas. Segundo Puentedura, nesse ponto encontra-se a inserção da
TDIC nos níveis da modificação para a redefinição. Em outras palavras, em vez
do docente só levar para a sala de aula um vídeo do YouTube, uma HQ, a sua
proposta aos estudantes para produzirem uma playlist colaborativa no Spotify
adquire outra dimensão pedagógica.
191
De que forma os alunos podem entender como os historiadores pensam em um
nível mais profundo, com as ferramentas digitais? Como podem pesquisar
dados experimentais e fazer alguma análise real com base no que eles
entenderam? A redefinição é o nível mais avançado do método SAMR, visto
que a prática pedagógica tem como parâmetro a apropriação das TDIC com o
objetivo de romper com as concepções de tempo e espaço. Sobre isso,
Puentedura explica que:
“Umas das coisas que vejo na sala de aula que são muito bem sucedidas na
incorporação de ferramentas nos níveis de Modificação para Redefinição, é
que vejo alunos se encarregando de sua educação. São aulas em que os
alunos não fiquem apenas esperando que algo aconteça. São as salas de aula
onde os alunos estão dizendo – oh espere. Estamos fazendo isso, mas
também quero fazer outra coisa. E eu posso ver uma maneira de fazer isso!”
(PUENTEDURA, 2017).
Ao passo que o nível mais alto da integração das TDIC no ensino, o código
REDEFINIÇÃO, apresenta um percentual muito baixo: 3,7%. São 10 trabalhos
que apontam de forma direta para essa perspectiva. Eles foram identificados a
partir da mesa temática “Mídias, Tecnologias e Fontes” promovida em abril de
2017. Logo, nesse ano os objetos de estudos desses trabalhos ligaram-se mais
ao nível da redefinição da metodologia de Puentedura.
Não significa dizer que determinado trabalho não se adequa a outro conceito.
Por isso, é importante a análise da combinação simples de códigos, isto é,
192
como os objetos de estudos dos trabalhos combinam entre si. Na imagem 5, o
programa aponta 4 combinações de um total de 16 possíveis. Todas as
categorias (substituição + aumento + modificação + redefinição) combinam-se
em 55,6%, o que representa 5 frequências de combinações. Outras
combinações são: substituição + modificação (22,2%); substituição + aumento
(11,1%); substituição + aumento + modificação (11,1%).
Por que esse tema não foi abordado nas edições do evento? Como o termo
tem sido alvo de procura na Internet? Pelo Google Trends, tem-se um aumento
(tímido) de interesse de pesquisa e popularidade da cultura digital nos últimos 5
cinco anos no Brasil. O gráfico da imagem 6 mostra o interesse relativo ao
ponto mais alto no país entre julho de 2017 e julho de 2022. O valor de 100 é o
pico de popularidade do conceito cultura digital. A pontuação de 50 significa
que o termo teve metade da popularidade.
193
Imagem 6 – Interesse da cultura digital no Brasil (2017-2022)
Fonte: https://trends.google.com.br/trends/explore?date=today%205-
y&geo=BR&q=Cultura%20Digital
194
competências e habilidades conectadas aos desafios do mundo real, e centram
nos estudantes a construção do conhecimento, do protagonismo e da autoria.
Referências biográficas
Ms. Luiz Gustavo Martins da Silva, historiador, doutorando do Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto, e
professor pesquisador no projeto CNPq Mídias, Tecnologias e História
(MITECHIS) da Universidade Federal do Tocantins.
Referências bibliográficas
ASESWEB. Disponível em: https://asesweb.governoeletronico.gov.br/avaliar.
Acesso em: 09 jul. 2022.
KENSKI, Vani M. Verbete Cultura Digital. In: MILL, Daniel (org.). Dicionário
Crítico de Educação e Tecnologias e de educação a distância. Campinas:
Editora Papirus, 2018.
195
MAXQDA. Disponível em: https://www.maxqda.com/brasil/software-analise-
qualitativa. Acesso em: 09 jul. 2022.
COELHO, George; SILVA, Luiz Gustavo da; SILVA, Thálita da. Tecnologias
digitais, formação e ensino: uma análise dos PPCS de licenciatura em história
no Estado de Minas Gerais. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica (Recife.
Online), vol. 40, Jan-Jun, 2022. DOI: https://doi.org/10.22264/clio.issn2525-
5649.2022.40.1.4. Acesso em: 31 março 2022.
196
O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC’S) PARA O ENSINO DA
HISTÓRIA: PERCEPÇÕES CRÍTICAS SOBRE O
USO DA CINEMATOGRAFIA E DA GAMIFICAÇÃO
NA DINÂMICA ESCOLAR
Maria Carleene Rufino Maciel
Introdução
O aluno contemporâneo não é o mesmo de décadas passadas. Trata-se de um
sujeito com relações fortemente mediadas por tecnologias digitais em rede.
Não por acaso, é denominado estudante multitarefas ou conectado. A
educação, nesse diapasão, precisa se atualizar e adequar aos novos cenários
e essa dinamização é imprescindível ao ensino da história.
197
Estas novas gerações de estudantes tendem a revelar-se muitas vezes
altamente capazes de atuar com as tecnologias, revelando hábitos de vivência
digital muito superiores (amplos, diversificados e regulares) do que os seus
professores. Essa literacia informática tem de chegar também à sala de aula e
contribuir para o ensino desta disciplina tantas vezes apelidada de “difícil”,
“complicada” e “sem relação com o presente” (TRINDADE, 2011, p.1726).
Nesse sentido, importante é debater, até que ponto o uso do cinema e dos
jogos podem ser importantes aliados do professor de história para dinamizar a
transmissão de conteúdo, de maneira a criar uma conexão entre a realidade do
aluno e da temática?
198
Segundo Trindade (2011), novas tecnologias potencializam a consciência
crítica, permitindo aos alunos fazer uma ponte entre o passado e o presente. A
utilização do jogo garante, a partir da resolução de problemas, a construção
emocional do jogador, sendo uma forma de motivação à aprendizagem
(BUSARELLO,FADEL, ULBRICHT, 2014). Nesse sentido, o termo gamificação
aborda muito mais que a utilização de jogos em sala de aula, trata-se, pois, de
“um processo de melhoria de serviços, objetos ou ambientes com base em
experiências de elementos de jogos e comportamento dos indivíduos”
(BUSARELLO, FADEL, ULBRICHT, 2014, p. 15)
É preciso estar ciente que um filme ou qualquer outro recurso didático não
resolve os problemas no processo de ensino/aprendizagem por si só, mas
pode ser um material que se bem organizado e trabalhado pelo professor, pode
contribuir para bons resultados.
“Ensinar História é ir muito além dos fatos, das datas comemorativas ou até
mesmo do uso de questionário. O uso de uma personagem da história ou de
um tema ligado a ela não quer dizer que aquelas imagens sejam um retrato fiel
da verdade. Logo, o uso do cinema só é válido quando inteirado com a leitura e
contextualizado com a sociedade atual e o conhecimento da historiografia
corrente, propiciando o entendimento das entrelinhas, ou seja, decifrando o que
está implícito no filme” (NASCIMENTO, 2008, p.96).
199
auxiliam no processo de ensino/aprendizagem, pelo fato de ser uma mídia que
está presente no cotidiano dos alunos, e com isso, através dos cuidados
metodológicos em sua utilização, possa fomentar discussões a partir dos
conteúdos trabalhados e vivenciados pelos educandos, de forma que o
processo informativo possua uma velocidade muito maior através das mídias
disponíveis.
De acordo com Prestes (2004, p.100) “as imagens que o cinema produz,
portanto, podem ser utilizadas como recursos a um dado estudo sobre
questões históricas, desde que possa fomentar discussões, a partir do ponto de
vista histórico e social”.
200
inglesa chamada Conundra para explicar a mistura de entretenimento com
experiência de compra, alcançando, a partir daí, a significação da
aprendizagem por meio de jogos.
201
assuntos narrados, sendo preciso realizações de análises obedecendo
regimentos.
Considerações finais
Trabalhar o conteúdo de História apropriando-se de recursos cinematográficos
e diferentes modalidades de jogos, como fomentador de questionamentos e o
pensamento crítico, leva para os alunos ao desenvolvimento de uma história
viva, de maneira a promover uma construção social significativa, estudando o
passado buscando compreender e estruturar o presente.
O uso dos filmes e jogos devem ser incentivados não como substitutos de
aulas ou do livro didático, assim como este não deve ser substituto de qualquer
outro recurso didático, mas sim entendido como instrumento pedagógico eficaz,
onde através do cinema e da gamificação o professor-historiador pode mostrar
aos alunos a ideia de uma história como um processo vivo que é construído no
dia a dia de seus sujeitos sociais. Igualmente, devem ser analisados como uma
fonte de revitalização do ensino e da aprendizagem da História, diante de um
ensino tradicional, marcado pela utilização massante e exclusiva do livro
didático, bem como a transmissão unilateral do conhecimento, focada
unicamente no passado.
Referências biográficas
Maria Carleene Rufino Maciel é mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina e integrante do Spatio Serti –
Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina).
Atualmente está produzindo a dissertação intitulada provisoriamente “O ensino
de história medieval em duas escolas públicas de Petrolina-PE: percepções
202
críticas sobre a representação da mulher no medievo” no PPGFPPI sob a
orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna.
Referências bibliográficas
ARANHA, Gláucio. O processo de Consolidação dos Jogos Eletrônicos Como
Instrumento de Comunicação e de Construção de Conhecimento. Revista
Ciências & Cognição, vol 03, 2004, p. 21-62.
LIMA, Daniel Rodrigues de. Cinema e História: O filme como recurso didático
no ensino/aprendizagem da História. Revista Historiador, n. 7, 2015.
203
Centro universitário do Norte-UNINORTE/LAURETE. Manaus, 2004, p. 37.
204
REGÊNCIA REMOTA: “SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL (1939-1945): PROPAGANDAS
NAZISTAS, QUADRINHOS E MEMÓRIAS DE
SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO”
Matheus Ongaro Rodrigues Souza e Marisa Noda
205
a recente ideia de que ambos não existiram; objetivamos construir
conhecimentos sobre o contexto focando os antecedentes políticos, sociais e
econômicos do conflito de 1939, também o antissemitismo e a escala do
nazismo e a perseguição aos judeus antes e durante o holocausto.
206
Analisamos outras experiências e relatos com o uso da fonte em sala de aula,
como no artigo intitulado “Uso da História em Quadrinhos Maus como Recurso
Didático no Ensino de História”, de Viviane Carneiro de Oliveira e Jaqueline
Oliveira de Araújo (2016); do artigo intitulado “Sangrando História: Os
Quadrinhos Maus e uma Narrativa do Holocausto a Contrapelo”, de Danilo
Nagib Queiroz, Débora El-Jaick e Márcio José de Melo (2017); e,
consequentemente, a própria obra em quadrinhos, selecionando trechos para
serem utilizados e analisados em sala, publicado pela Companhia das Letras
em 2009.
207
governo nazista; em um segundo momento, dedicado ao estudo da
perseguição aos judeus, nomeado como holocausto, seu início e
desenvolvimento, os atingidos e as memórias de sobreviventes, assim como a
apresentação e análise de fontes diferenciadas relacionadas à temática:
Histórias em Quadrinhos e propagandas antissemitas.
208
questionavam e auxiliavam a análise dos aspectos tratados pelo quadrinho,
com os temas e informações da aula até então. Os alunos observaram a
temática retratada na obra e a maneira que o autor constrói e apresenta a
narrativa dos fatos, através da perspectiva de uma vítima do holocausto judia,
pai do quadrinista e jornalista.
209
A “Atividade de Conhecimentos Prévios” obteve um número de respostas
baixo, quando observado por meio da ferramenta de coleta de dados do
Google Forms: ao todo, foram coletadas 3 respostas, das quais pudemos
observar certa dificuldade no tema na primeira parte da regência, um
conhecimento básico sobre o tema da segunda parte e uma grande percepção
sobre as produções literárias e cinematográficas com a temática da aula. Com
o objetivo de auxiliar os residentes na construção da regência, esta atividade
não obteve respostas suficientes para que pudéssemos modificar os conteúdos
em vista das dificuldades que surgiriam com o formulário.
210
o ensino pode apresentar. Além dessa prerrogativa, devemos memorar a
importância de uma formação que incorpore ao currículo do educador os
conhecimentos e habilidades para o trabalho com diversas fontes, ferramentas
e plataformas, sejam elas remotas e virtuais, síncronas ou assíncronas que
estejam ligadas à prática docente.
Referências biográficas
Matheus Ongaro Rodrigues Souza, graduado em História pela Universidade
Estadual do Norte do Paraná.
Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O Que Resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha.
Tradução Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Trad. Alves Calado. Rio de Janeiro:
Editora Record, 2015. 48ª ed.
211
GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o
mundo. Tradução Ana Luísa Faria, Miguel Serra Pereira. 1. Ed. Rio de Janeiro:
Casa da Palavra, 2014.
REES, Laurence. O holocausto: uma nova história. São Paulo: Vestígio, 2018.
212
UM PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO
SOBRE O USO DO JOGO: REMEMORANDO OS
BIOGRAFADOS DA BALAIADA/MA (1838-1841),
NO ENSINO DE HISTÓRIA LOCAL
Maykon Albuquerque Lacerda e Taylon Jefferson
da Silva Machado
Introdução
O presente texto visa ensejar algumas considerações pertinentes sobre o uso
do jogo de memória no ensino de História, bem como relatar o percurso
teórico-metodológico, do projeto-ação, intitulado: Rememorando os
Biografados da Balaiada/MA (1838-1841). Sendo este último, apresentado à
disciplina acadêmica de Prática na Dimensão Curricular no Ensino Médio,
ministrada no semestre 2019.1, e vinculada ao Curso de História/Licenciatura
da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA/Campus Caxias, como pré-
requisito para a construção de um jogo didático-pedagógico no ensino de
história local.
213
contribuindo pra com concepções errôneas constantemente reproduzidas pela
memória escrita e pelas disputas da tradição oral.
Percurso teórico
Dando prosseguimento, um dos grandes questionamentos do professor de
História da educação básica, sobretudo, do ensino médio é: como fazer com
que nosso alunado goste e se envolva com a história? Uma tentativa trivial de
resposta a esta problemática em voga, é o distanciamento temporal e espacial
dos conteúdos da área de História. Por exemplo:
214
resultados positivos. Assim, é salutar pensar em história local, com possíveis
conteúdos negligenciados pelo livro didático de História do Ensino Médio, pois
o ensino de história não pode estar preso a um livro didático meramente, e sim,
estar conectado constantemente com as demandas do tempo presente, ou
melhor dizendo: “Este ensino precisa trazer também a marca de intensa
autonomia intelectual do professor, que elabora atividades e vai com isso
montando seu programa, o que significa que vai expressando seu modo de
entender a história” (GIACOMONI; PEREIRA, 2013, p. 32).
Com isso, infere afirmar-se que o jogo de memória tem como função maior,
justamente, aproximar a historicidade da Balaiada, como fato ocorrido, à
realidade do alunado do ensino médio de Caxias, Maranhão. Tendo
consequentemente, a forma de expressão e comunicação entre aluno-
professor a ser mais valorizado, e quando inserido adequadamente na aula de
História, tornar-se-á um belo exercício prazeroso. É claro, para isso é
imprescindível a aceitação do discente escolar, visto que:
215
E com esses efeitos e exposições acima, é salutar indagar-se o seguinte: mas,
afinal o que é um jogo? Conforme, o sociólogo holandês Johan Huizinga
(1990):
216
participantes em determinados momentos conseguiam relembrarem onde
encontrava-se a foto com relação à pergunta sobre o personagem histórico. E
isso infere compreender que a valorização do ensino de história local é fruto de
um pretenso rompimento de uma tradição escolar de cunho positivista ainda
vigente (COUTINHO, 2002). Pois de fato, em outros termos:
“[...] durante muito tempo o ensino de história não deu relevo as vivências dos
estudantes e, muito menos, promoveu a valorização de outros sujeitos nas
construções das histórias e isso, certamente, configurou um dos reforços – que
permeiam a História do ensino de história – de que a disciplina é algo
demasiadamente abstrato e, porque não, sem valor para a vida prática dos
educandos. Uma narrativa linear de fatos seletos, marcada por personagens
(heróis) e acontecimentos simbólicos, com causa e consequência e sem
relações de utilidade na vida cotidiana dos alunos, foi o que predominou nas
aulas de História [...]” (LAVILLE, 1999, p. 125).
Com base nisso, fora primordial levar a temática local para o espaço escolar,
instigando a participação e contribuição do alunado caxiense numa postura
crítico-reflexiva sobre o ensino de História e suas propostas de intervenções
em sala de aula, apesar da ausência e descaso por parte do Poder Público, em
não repensar a introdução da História de Caxias nos livros didáticos escolares
locais. Portanto, ainda é vigente no espaço escolar o discurso historiográfico
construído e aceitável, que se refere aos motivos que levaram grande parte da
população pobre do estado, numa conjuntura desigual e excludente, a
contrapor-se ao monopólio político da classe dominante no século XIX.
217
dimensão aos sujeitos tidos enquanto “pessoas comuns” (oriundos das
camadas populares). Para reforçar isso, cabe destacar que, no que tange ao
uso de biografias em sala de aula:
Percurso metodológico
Adiante, o projeto-ação abordado, tendo como proposta o jogo de memória:
Rememorando os biografados da Balaiada/MA (1838-1841) no ensino de
história local, se desenvolveu a partir do aporte teórico de escritores referentes
a construção de jogos didáticos no ensino de história em sala de aula, que
direcionam seus estudos e pesquisas para o campo da História Local, no que
tange aos sujeitos biografados de cunho regional, sendo tanto os “sujeitos
ilustres”, quanto os ditos “sujeitos comuns” (BOTELHO, 2018).
218
219
Figura 1: Perfis e questionários sobre os biografados da Balaiada/MA.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores (2019).
Caso o líder sorteado acerte a pergunta, o mesmo terá que virar uma carta
referente ao biografado retratado. Posteriormente, o representante deverá abrir
outro envelope, e o mesmo procedimento ocorrerá, assim por diante, até o
término do último envelope. No entanto, se por ventura, o mesmo errar uma
pergunta contida no envelope sorteado, passará a vez ao próximo,
respectivamente. Adiante, com o término do último envelope abordado, aquele
líder grupal que detiver o maior número de questões acertadas, será tido
enquanto o vencedor do jogo de memória.
220
Considerações finais
Em suma, este jogo de memória ao ser aplicado no ensino de História local
possibilitará um ambiente de formação e aprendizagem histórica e, que
acolherá à diversidade de questionamentos, saberes e percepções, de modo
especial, a fomentar o respeito à pessoa humana, e aos seus direitos e
deveres garantidos pela cidadania plena e pelo Estado Democrático de Direito
(BRASIL, 2018), tal como o protagonismo dos/as alunos/as do ensino médio na
realidade escolar, reconhecendo-os como interlocutores legítimos sobre a
estrutura curricular, e às competências e habilidades especificas da área de
História, como um contributo para com o processo de ensino-aprendizagem.
Referências biográficas
Maykon Albuquerque Lacerda é mestrando em História pelo Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Estadual do Maranhão
(PPGHIST/UEMA), na linha de pesquisa memórias e saberes históricos. Pós-
graduando Lato Sensu (Especialização) em Ensino de História do Brasil:
Cultura e Sociedade pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano (IESF).
Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA). E membro do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão
sobre África e o Sul Global - NEÁFRICA (UEMA/Campus Caxias).
Referências bibliográficas
ANTONI, E.; ZALLA, J. O que o jogo ensina: práticas de construção e avaliação
de aprendizagens em História. In: GIACOMONI, M. P.; PEREIRA, N. M.
(Orgs.). Jogos e ensino de História. 1. ed., 2. reimpr. Porto Alegre: Evangraf,
2013. v. 1, p. 147-165.
221
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base.
Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofin
al_site.pdf. Acesso em: 02 jul. 2019.
DOMINGUES, Joelza Ester. Jogos para dinamizar suas aulas de História (ou
outra disciplina). Ensinar História, 2022. Disponível em:
https://ensinarhistoria.com.br/jogos-para-dinamizar-aulas-de-historia/. Acesso
em: 26 jul. 2022.
ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Uma Caixa de História Local nas mãos do
professor. In: GABRIEL, Carmem Teresa et al. Narrativas do Rio de Janeiro
nas aulas de História. Rio de Janeiro, Mauad X, 2016, p. 129-148.
222
SILVA, Kalina V. Biografias. In: PINSKY. Carla B. (orgs.). Novos Temas nas
aulas de História. 1. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2009.
223
“UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA”:
EXPERIÊNCIAS DO USO DE FILMES COMO
RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO
REMOTO/HÍBRIDO DE HISTÓRIA
Miléia Santos Almeida
“Viver sem conhecer o passado é andar no escuro” é uma das muitas lições
que abrem e fecham o enredo do filme “Uma história de amor e fúria”,
animação de 2013, escrita e dirigida por Luis Bolognesi, cujo protagonista
imortal atravessa seiscentos anos de história do Brasil, do passado colonial de
resistência indígena a um futuro distópico em 2096, perpassando contextos
históricos como a revolta da balaiada e a resistência à ditadura militar
brasileira. Essa fórmula, por si só, já torna a obra mais do que indicada como
material de apoio didático nas aulas da educação básica, sobretudo, durante a
implementação do modelo de ensino remoto emergencial, que se impôs a
comunidade escolar como alternativa possível durante a pandemia de covid19,
e que demandou de professoras e professores o aprendizado de ferramentas
tecnológicas que diminuíssem a distância entre os/as estudantes e as salas de
aula.
224
Fonte: Cena do filme Uma História de Amor e Fúria (2013). Reprodução.
225
comunica necessariamente”. (FERRO, 2010, p. 32). Dessa forma, “Uma
história de amor e fúria”, lançado no turbulento ano de 2013 no Brasil, nasceu
em uma década onde inúmeros direitos sociais baseados na necessidade de
reparação histórica foram reivindicados e a criação de políticas públicas
afirmativas, ainda que tímidas e limitadas, permitiu a ocupação de espaços
outrora inacessíveis por populações historicamente excluídas e marginalizadas.
Nesse sentido, o uso de diferentes linguagens no ensino de história permite
aos/as docentes e discentes nas aulas a oportunidade não apenas de
incorporar metodologias ativas que ofereçam maior protagonismo estudantil,
mas a possibilidade de romper com “o perigo de uma história única” e com as
lacunas presentes nos livros didáticos, e o cinema em si exige de nós uma
postura crítica e problematizadora, como em relação às demais fontes
históricas”. (FONSECA, 2009, p. 157).
226
abordadas pelo filme, além de suas condições de produção. Formulários online
representam uma alternativa viável para realização de entrevistas, enquetes,
gamificação, testes, questionários, com retorno imediato. Analisaremos
algumas respostas oferecidas por meio desse questionário. Em função da
proposta sintética do texto, optamos por selecionar algumas declarações
somente de estudantes do 2º e 3º ano, que se repetiram ou se destacaram por
meio de uma análise qualitativa de conteúdo (BARDIN, 2011) e não
quantitativa. Observemos:
227
Fonte: Cena do filme Uma História de Amor e Fúria. Reprodução.
“Nossos heróis não viraram estátua, morreram lutando contra quem virou”.
Essa frase, bastante citada pelos/as estudantes ao destacar momentos
marcantes da obra, abre uma série de possibilidades para a abordagem da
invisibilização de vários sujeitos e eventos históricos, assim como a validade
das homenagens feitas a nomes contraditórios como bandeirantes, militares,
políticos coronelistas, entre outros, presentes em monumentos, nomes de ruas,
praças e escolas. Inclusive, a escola estadual onde a atividade foi realizada
havia passado recentemente pela mobilização para substituição do nome de
seu patrono, anteriormente um dos generais presidentes na ditadura militar
brasileira: Presidente Médici e, agora carrega o nome de um ex professor e
membro da comunidade em que se localiza a escola. A ideia de uma “história
vista de baixo”, que rompe silêncios e apresenta sujeitos históricos
insubordinados, perpassa assim toda a produção e provoca a reflexão de quem
acompanha o enredo. No formulário, observamos que as cenas mais evocadas
pelos/as estudantes remetem aos processos de exclusão, opressão e
desigualdade que marcaram a história do país.
228
Fonte: Questionário em Formulário Google aplicado com estudantes do 2º e 3º
ano do Colégio Estadual Professor Manoel Macedo Cirilo (São Desidério-BA)
229
perseguição ideológica nas escolas que foi imposta pelo avanço do
neoconservadorismo. No que se refere a esse processo no formulário aplicado,
destacamos que os posicionamentos encontrados nas respostas são de
compreensão da situação política do país e elaboração de uma consciência
histórica.
Por sua vez, vale a pena ressaltar os conflitos que o tema ainda provocado,
como podemos visualizar nas declarações abaixo. Apenas uma voz dissonante
demonstra discordância em relação a cena da “retomada revolucionária” em
um assalto a banco organizado por um movimento de guerrilha e resistência ao
governo ditatorial, revelando um tom de julgamento moral das ações dos
sujeitos do passado. Enquanto isso, na mesma turma, outro estudante observa
a mesma cena sob outra perspectiva, o que poderia gerar um debate
interessante em sala de aula.
230
mesma cena em que inicia, que naquele momento foi utilizada como elemento
de suporte para introduzir a história, mas também como forma de “conectar” as
ações humanas do passado e do futuro/presente e revelar suas continuidades.
Como afirma Marc Bloch, “tempo humano, em resumo, permanecerá sempre
rebelde tanto à implacável uniformidade como ao seccionamento rígido do
tempo do relógio” (BLOCH, 2002 p. 153). Nas respostas do questionário, essa
relação foi exemplificada.
“Ninguém pode ser feliz enquanto o seu povo caminha para o abismo” é mais
uma das frases que abrem e encerram a produção fílmica e, ao definir a
narrativa da obra também nos oferta a possibilidade de uma linguagem/fonte
para a educação histórica que não seja somente uma ilustração do passado,
mas uma ferramenta de desenvolvimento de uma consciência histórica que é
também emancipadora. Afinal, “Uma história de amor e fúria” aborda
abertamente o papel das ações humanas na transformação das estruturas,
entre vitórias e derrotas nas lutas dos/as marginalizados. E, ainda que um certo
pessimismo racional transpareça nas possíveis lições do filme, a sua principal
lição pode ter sido traduzida pelo educador Paulo Freire:
231
Em tempos tão difíceis para sonhadores/as e, entre eles/as, professores/as e
estudantes de história, obras como “Uma história de amor e fúria” não são
apenas recursos didáticos ou documentos/monumetos, mas aliadas políticas
no processo de ensino. Devem ser problematizadas, contextualizadas e
ressignificadas, mas sobretudo, tem o poder de encantar, de incomodar e de
despertar o sentido da aprendizagem histórica como ferramenta de
interpretação e transformação do mundo em que vivemos e das relações
humanos nele. Afinal, a única forma de vencer Anhangá é não desistir do futuro
do nosso povo.
Referências biográficas
Msa. Miléia Santos Almeida, professora da Universidade Federal do Oeste da
Bahia (UFOB) e Secretaria de Educação da Bahia (SEC BA). Doutoranda em
História pelo PPGHis da Universidade de Brasília (UnB).
Referências bibliográficas
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
FERRO, Marc. Cinema e História. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
232
ELES NÃO USAM BLACK TIE: O FILME E O
ENSINO DE HISTÓRIA
Paulo Roberto de Azevedo Maia
233
governo de propor a abertura e da sociedade através das manifestações contra
o regime. Dessa forma, a atuação desses veículos na manipulação de
símbolos pode ser vista como faz Bazco:
234
naquele período, no entanto, não avançam na compreensão das relações
desses filmes com o Estado e a mídia impressa já que não enfatiza a ação da
censura e a dos jornais e revistas o que é o objetivo desse trabalho.
Analisando documentos
O interesse em levar adiante a proposta de pensar sobre um filme que tem
como tema os trabalhadores e suas lutas políticas e que foi lançado no período
de abertura política está em resgatar uma parte da história do imaginário
político da época que mantém, de forma pouco sistemática, viva na memória
daqueles que viveram os últimos anos da ditadura civil-militar. Trata-se,
portanto, de fazer um trabalho de leitura de fontes diversas que vão da escrita
a fílmica até a análise de documentos oficiais e publicações da grande
imprensa.
235
a carga de valores da época de sua produção, assim como da atualidade, mas
evitando a sacralização de seus conteúdos. Dessa forma, a análise de
documentos oficiais como é o caso dos pareceres da divisão de censura
federal, bem como outras fontes são de fundamental importância. Para tal é
necessário à utilização da documentação da sobre o cinema brasileiro
disponível na internet. O site “Memória da Censura Brasileira" disponibiliza
mais de cinco mil documentos que incluem processos de censura, material de
imprensa e relatórios do DEOPS de 175 filmes brasileiros e pode ser acessado
pelos alunos.
236
A preocupação com o tema do operariado, no período da Abertura Política,
está presente em filmes documentários como ABC da greve (1979) de Leon
Hirszman; Braços Cruzados, Máquinas Paradas de Roberto Gervitz e Sérgio
Toledo; Linha de Montagem (1982) de Renato Tapajós e o curta metragem
Greve de Joaquim Pedro de Andrade. Mas os trabalhadores não são
preocupação exclusiva da produção documentária, mas também nas obras de
ficção que trazem o tema do operariado como foco central. Eles não usam
Black Tie, sucesso do teatro de Arena no final da década de 50 e com roteiro
adaptado para o cinema pelo próprio autor da peça, Gianfrancesco Guarnieri,
trouxe de volta o tema das greves e os conflitos entre patrão e empregados,
trabalhadores conscientes e manipulados pelos patrões e o problema da falta
de consciência de classe dentro do âmbito familiar ao discutir a relação do filho
“pelego”, com o pai sindicalista. O tema do filme tinha um conteúdo explosivo
e progressista, principalmente se levarmos em conta o período, pois o país
ainda vivia uma ditadura, mas ele foi liberado pela censura federal que
considerava:
Considerações finais
O estudo do período da abertura política do regime civil-militar no Brasil é
importante devido ao momento que começa a estabelecer as bases do regime
democrático que estava por vir. Os alunos do ensino fundamental ou médio
237
podem, a partir da análise fílmica e de documentação, confrontar vários olhares
sobre o período e compreender as formas de articulação da luta pela volta da
democracia ao Brasil, mas também perceber como os discursos tem sua
relevância na medida que ameaçam a ordem estabelecida e, como podemos
perceber na narrativa do parecer da censura federal em relação a liberação do
filme Eles Não Usam Black Tie a publicidade disso pode ser avaliada como
mais perigosa do que a própria mensagem, uma vez que mais pessoas teriam
contato com a narrativa.
Referências biográficas
Dr. Paulo Roberto de Azevedo Maia – Professor da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB)
Referências bibliográficas
AQUINO, Maria Aparecido de. Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968-
1978), Bauru: EDUSC,1999.
238
2002.
_____________; HOLLANDA, Heloísa Buarque de; Ventura, Zuanir. Cultura
em Trânsito: da repressão a abertura, Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2000.
239
ENSINO DE HISTÓRIA FRENTE ÀS
TECNOLOGIAS DIGITAIS: UM OLHAR SOBRE A
PRÁTICA DOCENTE
Raimundo Denizar dos Santos Pires
240
podcasts, dentre outros recursos digitais, constitui-se em estratégia de estímulo
à aprendizagem de forma lúdica, na qual o professor deve atuar como
mediador do ensino/aprendizagem.
241
afirma que em sua evolução, a História procurou interpretar todo o contexto
social, político, cultural e econômico dentro das relações humanas. Bem como
o tempo (temporalidades históricas), os sujeitos históricos, o trabalho, o poder,
a cultura, a memória e a cidadania. É a ocasião de revisar mecanismos do
perceber e do agir.
Com isso, ensinar História passa a ser, então, dar condições para que o aluno
possa participar do processo do fazer, do construir a História. A História se
torna a disciplina que busca agrupar as mais diversas singularidades nas ações
do homem e com o resultado desse processo ela dá um sentido a esses fatos,
demonstrando-os com as suas interligações com o resto dos eventos que
fazem parte da vida humana.
242
características da realidade do seu entorno, de estabelecer algumas relações e
confrontações entre informações atuais e históricas, de datar e localizar as
suas ações e as de outras pessoas no tempo e no espaço e, em certa medida,
poder relativizar questões específicas de sua época. (PCNs - Ensino de
História, 1998, In: FONSECA, 2008, p. 89).
Nóvoa (1996, p. 17) diz que “[...] a inovação só tem sentido se passar por
dentro de cada um, se for objeto de reflexão e de apropriação pessoal”. Daí a
necessidade de buscar alternativas para utilizarmos as tecnologias como meio
para fazer o sujeito pensar, educar-se e aprender com os outros nas múltiplas
possibilidades de interação com o conhecimento.
Moran (2007, p.21) afirma que há um ganho para a educação com a inovação
tecnológica em sala de aula para fins didáticos: aumento da concentração,
engajamento, afetividade entre os pares, a socialização de estratégias de
pensamento, fortalecimento da memória de longo prazo, entre outras
possibilidades pedagógicas mais dinâmicas e criativa. “A educação precisa
encantar, entusiasmar, seduzir, apontar possibilidades e realizar novos
conhecimentos e práticas”.
As TICs são ferramentas que se forem bem planejadas são ferramentas que
podem ser muito úteis nos processos de ensino e aprendizagem dos alunos,
levando em consideração que o sujeito é um ser histórico, político e social que
já possui uma bagagem de conhecimentos trazidos do seu convívio familiar.
Para isso a escola desafia seus alunos a construírem seus conhecimentos e
habilidades e que possam se integrar junto com a sociedade, com seus
professores, seus colegas de sala e com sua própria família.
O professor que leciona História pode trazer jogos eletrônicos conhecidos dos
alunos para explicar conteúdos curriculares. Por exemplo, no jogo Assassin's
Creed os jogadores conseguem aprender sobre as sociedades secretas como
os templários, as Cruzadas, Roma Antiga e o Império Bizantino. No game Call
of Duty um fator que torna o jogo um dos mais indicados para quem deseja
aprender História é a passagem por cenários históricos como a Praça
Vermelha, o Palácio de Reichstag, Stalingrado e Berlim. E o jogo Europa
Universalis traz temas históricos relevantes da Idade Média, como as
expansões marítimas, conquistas e administração de impérios e o
desenvolvimento da Igreja Católica.
243
Em relação ao uso de filmes temos uma variedade enorme de produções que
abordam todos os períodos e acontecimentos históricos. Temos A Lista de
Schindler, um clássico do cinema que aborda o Holocausto; Adeus Lênin que
fala sobre a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha; 300 que
retrata a conhecida batalha de Termópilas, uma das várias travadas entre
gregos e persas durante as chamadas Guerras Médicas; o filme 1492: A
conquista do Paraíso conta as viagens de Cristóvão Colombo para a América
no contexto da expansão marítima e comercial dos séculos XV e XVI; o filme a
Guerra do Fogo retrata a vida do homem na pré-história, dando ênfase para a
descoberta do fogo; entre outras produções.
244
Referências biográficas
Raimundo Denizar dos Santos Pires, graduado em História pela Universidade
Estadual do Ceará (UVA), especialista em Metodologia do Ensino de História
pela Faculdade Padre Dourado, especialista em Metodologia do Ensino de
Filosofia e Sociologia pela UniVitória.
Referências bibliográficas
BITTENCOURT, Circe (org). O Saber histórico na sala de aula. 11. Ed., 3ª
reimpressão – São Paulo: Contexto, 2009 – (Repensando o ensino). Pp. 11-27.
245
TECNOLOGIA NO ENSINO: UMA AÇÃO QUE
PRECISA SER IMPLEMENTADA
Roseli Ap. Zuli Teixeira e Wagner P. de Souza
Introdução
O trabalho com a disciplina de história pode ser realizado de diversas
maneiras, ainda mais, como nos dias atuais em que a área tecnológica é um
fator marcante para se difundir o ensino. Pensando nisso, é que este trabalho
reflete sobre algumas questões de implementações do ensino em sala de aula
e que pode ser efetivado em qualquer área do conhecimento, inclusive, na
disciplina de história que é o foco temático da macrodiscussão.
246
ambiente colaborativo que possibilite a personalização do ensino, imbuído de
contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências que
ofereçam maior possibilidade de sucesso a nível pessoal e profissional dos
estudantes.
247
como base para a formação de um cidadão com conhecimentos, habilidades e
atitudes que atendam as diretrizes recém implementadas.
248
aprendizagem personalizada que adapta, inteligentemente, as etapas de
ensino em resposta ao progresso do aluno.” (COSTA, 2022, p.03)
249
É importante salientar que o professor deve promover um aprofundamento dos
conteúdos disponibilizados na plataforma, levando para a sala de aula material
complementar com o propósito de oferecer aos alunos que ainda apresentam
alguma dificuldade de entendimento uma nova abordagem para uma
aprendizagem mais direcionada. Os dados obtidos através das interações do
aluno servem como base para a abordagem de novos conteúdos, apoiados nas
experiências anteriores. A evolução da aprendizagem do aluno vai ocorrendo
conforme suas interações na plataforma, que vai dando complexidade ao
conteúdo. Esses ambientes virtuais de aprendizagem são alicerçados na
inteligência artificial, o que possibilita o armazenamento de informações e
grande volume de dados e acesso e intercâmbio a diversas mídias, garantindo
um ensino diferenciado.
Sob o ponto de vista de Ferreira (2014) como citado em Aires, J. P., & Pilatti, L.
A. (2016). “[...] a personalização do ensino tem sido apontada como uma das
formas mais eficientes de garantir o aprendizado dos alunos.”
Considerações Finais
A escola precisa se adaptar e fazer jus à chamada “sociedade da informação”,
se desapegando das metodologias tradicionais, incorporando novas propostas
com as atuais exigências e demandas da sociedade. Falamos aqui de um
ensino voltado para a nova cultura digital, integrada à resolução de problemas,
a aprendizagem colaborativa, ao desenvolvimento de competências e
habilidades necessários e indispensáveis à prática da cidadania, a flexibilidade,
a tomada de decisões, ao desenvolvimento das relações interpessoais. Esse é
um grande desafio, porém inadiável à demanda da educação do Século XXI.
250
Referências Biográficas
Roseli Aparecida Zuli Teixeira – Mestranda em Tecnologias Emergentes da
Educação pela Must University, Graduação em Licenciatura Plena em
Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Pós-
Graduação Lato Sensu em Ciências da Educação com Habilitação Infantil e
Alfabetização pela Faculdade Equipe Darwin – FTD, Professora na rede
estadual de ensino do estado de Mato Grosso.
Wagner Pereira de Souza é licenciado em Letras (Português/Literatura) pela
Universidade Federal de Rondônia/UNIR; Especialista em Língua Portuguesa,
Redação e Oratória pela Faculdade Estadual da Lapa/FAEL. Atualmente,
professor efetivo de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado de Educação de
Mato Grosso/SEDUC MT e mestrando pelo PPGLetras – Programa de Pós-
Graduação em Letras da UNEMAT.
Referências Bibliográficas
AIRES, J. P., & PILATTI, L. A. (2016). Aprendizagem significativa por meio do
ensino adaptativo. Revista ESPACIOS| Vol. 37 (Nº 29) Año 2016. Disponível
em: https://www.revistaespacios.com/a16v37n29/16372918.html/ - acesso em:
24 de abr. de 2022.
251
SILVA, Andressa Agnes de Assis. Plataforma adaptativa khan academy:
análise de estudo de caso. (2021) In Anais do Encontro Virtual de Documentação
em Software Livre e Congresso Internacional de Linguagem e Tecnologia Online
(Vol. 10, No. 1). Disponível em:
https://nasnuv.com/ojs2/index.php/CILTecOnline/article/view/780/267 - acesso
em: 22 de abr. de 2022.
252
CONEXÕES DE EXPERIÊNCIAS NAS
PLATAFORMAS ADAPTATIVAS DE ENSINO NA
REDE PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO:
DESAFIOS E AVANÇOS NA ESCOLA ESTADUAL
PROFESSOR DJALMA GUILHERME DA SILVA
Simone Emi Kavasoko
Introdução
O presente artigo visa discutir a utilização da tecnologia da informação e
comunicação (TIC) em tempos atuais, sabemos que os nativos digitais com
toda a facilidade em obter as informações via internet possuem protagonismo,
são autodidatas e imediatistas. Com toda essa necessidade em atender esses
estudantes e suas demandas faz-se necessário a implementação de
equipamentos tecnológicos nas escolas. Contudo, a maior dificuldade nas
escolas são a política pública brasileira que ainda não fazem o investimento
necessário para atender a demanda na Educação.
253
Nessa perspectiva, merece destaque o que afirmam alguns pensadores da
educação ao esclarecer que,
254
aos nossos estudantes meios para o desenvolvimento cognitivo através de
plataformas adaptativas. O primeiro passo enquanto instituição escolar foi
enviar um projeto à Secretaria de Educação de Estado de Mato Grosso
solicitando televisores valendo-se do Projeto Conecta mais MT que a
Secretaria de Educação enviou para as escolas estaduais que desejassem
participar. Seguimos as orientações do guia para a elaboração do plano de
demandas de nossa escola e assim esperamos sermos comtemplados com
este projeto.
255
produzindo conhecimentos, as experiências devem ser estimulantes para que
as trocas se construam naturalmente, e só assim, com condições para a
progressão de suas habilidades, sem punições ou preconceitos que o
estudante terá sucesso em seu desenvolvimento.
256
E sabemos da dificuldade em sermos escola piloto no estado do Mato Grosso.
O desafio no momento é a implementação de computadores em nossa unidade
escolar, mas possuímos o acesso à internet, sendo possível utilizar dispositivo
móvel dos educandos em determinados momentos de aprendizagem. Dessa
forma, Freire (2017) fomenta que a Educação é para todos, independentes de
classe social ou posição geográfica, acreditando que ela transforma, cria
possiblidades de escolhas e modifica o ambiente em que vive. Mesmo vivendo
em época distante de toda tecnologia que vivenciamos no momento, ele já
dizia que a tecnologia jamais provocaria a desescolarização.
Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo descrever as possibilidades de acesso à
plataforma adaptativa na Escola Estadual Professor Djalma Guilherme da Silva.
Acreditamos na Educação de qualidade para todos em nossa instituição
escolar. Visualizamos que em breve faremos uso de plataformas online de
ensino, deixando aos poucos as aulas expositivas e introduzindo aulas
adaptativas aos nossos educandos. Vale ressaltar que as mudanças assustam,
o medo e a insegurança são adjetivos presentes diante do novo. Percebe-se a
aflição dos professores tratando-se de metodologias adaptativas utilizando a
tecnologia ao nosso cotidiano escolar.
257
preocupação maior ainda é a falta de investimento, ou a falta de autonomia
orçamentária para que os gestores possam utilizar a verba diante de seus reais
problemas, e a intencionalidade (do Estado) é em assumir as possibilidades
que este investimento pode proporcionar aos educandos de nosso estado.
Referências biográfica
Simone Emi Kavasoko possui Graduação em Licenciatura Plena em
Pedagogia. Especialização em Educação de Jovens e Adultos e
Psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial. Mestranda em
Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University.
simoneyitino@hotmail.com
Referências Bibliográficas
COSTA, Deborah. (2022). Future Minds: como a era digital está mudando
nossas mentes, por que isso é importante e o que podemos fazer a respeito.
[e-book] Flórida: Must University.
FREIRE, Paulo. (2017). Do pensamento de Paulo Freire: para uma ação mais
humanizada do professor na educação à distância. [e-book] Flórida: Must
University. Paraná, PR: Editora Intersaberes.
258
OS MEMES NUMA AULA DE HISTÓRIA
Thiago Augusto dos Santos
Nesse sentido, os memes foram dispostos como uma ferramenta cultural capaz
de mobilizar a aprendizagem e o conhecimento histórico dos alunos, conforme
destacou a pesquisadora Irene Nakou no texto “Educação Histórica: o uso de
ferramentas culturais relacionadas com a diversidade de experiências e atitude
259
dos estudantes”, o uso que o público em geral faz da História por meio de
diferentes objetos e espaços que abordam o passado e possibilitam
experiências significativas, as quais, pelas diferentes ferramentas tanto
formalmente quanto informalmente, não suscitam por si só o desenvolvimento
da literacia histórica. Assim, faz-se importante perceber o uso que a sociedade
faz desse(s) material(is) e de que modo eles permitem lançar o olhar ao
passado e obter experiências de consciência histórica (NAKOU, 2007).
Dessa maneira, o uso dos memes na aula de História procurou trazer para o
ambiente a articulação entre passado e presente mediado pela temática
estudada. Como recurso didático, foi selecionado pelo professor dez imagens
de memes que são vistos e compartilhados no dia a dia, impressas e entregues
aos alunos em grupos de três ou quatro pessoas, solicitando-os criarem a partir
da imagem um meme relacionado aos temas estudados até o momento.
Optou-se pela impressão, devido às dificuldades com questões tecnológicas e
a gestão do tempo da aula, mas usando laboratório de informática ou os alunos
conseguindo acessar com celular um documento compartilhado, a atividade
poderia ser feita por meio de ferramentas digitais.
Para a aula, foi dividido os grupos e entregue um meme diferente para cada
grupo e um igual para todos. Foi reservado o tempo de 30 minutos para a
produção dos memes e 15 minutos para as explicações dos grupos. Os memes
utilizados continham como personagens: Willy Wonka da primeira versão do
filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, Nazaré Tedesco, Chico Buarque,
Joelma, Sandra Annenberg, esse último também, foi compartilhado com todos
os grupos.
260
Desse modo, a atividade proposta colocava os alunos na posição de
produtores de um discurso dando um sentido para aquelas imagens de acordo
com os temas estudados. Houve evidentemente alunos que não conheciam
alguns personagens, porém a atuação em pequenos grupos ajudava a resolver
essa situação.
Com a imagem de Willy Wonka e a frase “fale mais sobre isso” foi usada a
seguinte frase: “Quer dizer que se não fosse a princesa Isabel a escravidão
não acabaria no Brasil”. O meme usava da ironia para evidenciar que grupos
sociais, a resistência à escravidão e o movimento abolicionista foram
importantes para a liberdade. Em outra imagem cuja personagem colocava a
mão na boca como lamento foi lembrado pelo grupo que no pós-abolição o
Estado não concedeu direitos e inclusão social à população liberta e seus
descendentes, além disso, limitava o exercício da cidadania, pois na Primeira
República tinha o direito a voto apenas homens alfabetizados maiores de 21
anos, ademais o Estado também não era obrigado a fornecer educação pública
à população na época.
261
análise de experiências em diferentes períodos de tempo, o diálogo passado e
presente.
“Os memes não são somente reproduzidos, mas sim reelaborados de acordo
com a situação e o contexto social vivido pelo sujeito. É um processo criativo
de receber e dar sentido a essas formas contextualizando-as, ou seja, cada
indivíduo utiliza o sentido do meme e o ressignifica continuamente em cada
262
replicação a fim de compartilhar novos enunciados e adquirir um determinado
capital social” (ARAÚJO, 2012, p. 17).
Referências biográficas
Me. Thiago Augusto dos Santos, professor de História da rede estadual de
educação do Paraná.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Juliana Xavier. Memes. A linguagem da diversão na internet. Análise
dos aspectos simbólicos e sociais dos Rage Comics. 2012. 86 f. Monografia
(Graduação em Comunicação Social/Jornalismo - UFRJ, Rio de Janeiro, 2012.
DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
263
DO UNIVERSO DOS QUADRINHOS A SALA DE
AULA: MAFALDA À AULA DE HISTÓRIA
Vitória D. Wingert e Jander F. Martins
Introdução
As histórias em quadrinho fazem parte do universo infantil há alguns anos,
normalmente as crianças são introduzidas a esse tipo de leitura, através dos
gibis da Turma da Mônica de Maurício de Souza e até mesmo os mangás
japoneses, e outros quadrinhos com temáticas infantis e juvenis, também
permeando o cotidiano do aluno, pois são presentes nos livros didáticos de
português, nas tiras publicadas em jornais, entre outros meios de divulgação
em massa. Conforme os anos escolares vão passando a metodologia de
ensino e os conteúdos vão mudando e o mundo das HQs, vai ficando
relacionado apenas como passatempo ou divertimento, sendo desassociado do
conhecimento escolar, principalmente nas disciplinas mais específicas, como
no caso da História, pois dão lugar ao conteúdo mais teórico e específico das
matérias.
Sendo assim, nesta pesquisa iremos propor o uso das tiras da personagem
Mafalda, criada por Quino, como forma de estimular a reflexão dentro da aula
de história, uma vez que o ensino com as histórias em quadrinhos justifica-se
pelo fato deste material estar presente no cotidiano dos alunos. As HQs visam
despertar a criatividade, provocar a sensibilidade, a sociabilidade, o senso
crítico e a imaginação criadora, pois possui uma linguagem simples, curta e é
apresentada em quadros coloridos. (OLIVEIRA, 2007). Além do mais, as HQs
constituem um valioso meio de comunicação em massa no qual reflete
questões relacionadas desde um simples cotidiano a valores morais, sociais,
culturais e éticos, não restringindo-se apenas ao âmbito da comicidade, mas
também configurando discursos do social, do político e do econômico.
264
História? Uma vez que, entendemos que o conhecimento histórico não está
restrito ao espaço acadêmico ou científico, e sim inserido nas mais diversas
práticas sociais cotidianas, como na escola, nas vivências familiares, nas
práticas religiosas, no conteúdo dos meios de comunicação, cinema e na
literatura.
265
que não sabem ler e escrever a aprenderem a ler e escrever a partir de
imagens, ou seja, estavam se alfabetizando visualmente.
Vergueiro (2010), em suas pesquisas afirma que as HQs são válidos recursos
metodológicos, que podem enriquecer a prática pedagógica, pois as auxiliam
os alunos a ampliar a compreensão de conceitos e enriquecer vocabulário,
obrigando-os a pensar na informação e contextualizá-la, tem caráter
globalizador e também podem ser utilizadas em qualquer nível escolar. Ainda
segundo Vergueiro (2010), o professor ao selecionar o material a ser utilizado
em sala de aula, deve levar em conta os objetivos, a temática, a linguagem e o
desenvolvimento intelectual do aluno. De uma maneira geral, o importante
desta seleção é considerar as características dos diversos ciclos escolares. É
imprescindível, também, que o professor se familiarize com a linguagem deste
meio, conhecendo seu devido valor, para conseguir aproveitá-lo em sua
totalidade.
266
número limitado de trabalhos sérios envolvendo-os (EISNER,1999). É um dado
preocupante, pois acaba relegando alguns estudos ao campo amador, intenção
esta que não seria muito rica para o mundo da arte sequencial. Além disto
Gaiarsa aborda que : “Os acadêmicos dizem que os desenhos famosos das
cavernas pré-históricas [...] que foram a primeira história em quadrinhos que já
se fez, eram um ensaio de controlar magicamente o mundo‟. Ora . . . estes
desenhos controlavam... a realidade e eram mágicos – sem mais.” (GAIARSA,
1970, p. 115).
Mafalda foi criada por Quino no ano de 1963, para uma campanha de
publicidade de uma marca local de eletrodomésticos, e seu nome faz alusão a
marca para atender um pedido publicitário de uma empresa de
eletrodomésticos chamada Mansfield, com a especificação de que todos os
personagens deveriam ter o nome começado com a letra “M”. Quino lembra-se
de um filme chamado Dar la cara, baseado no romance de David Viñas, onde
aparece um bebê chamado Mafalda, e acha esse nome simpático e expressivo,
adotado-o para sua personagem principal. O cliente da marca, porém, recusa a
ideia e Mafalda é arquivada, retornando apenas em setembro 1964, no
semanário argentino Primera Plana , a partir daí continuou fazendo um enorme
sucesso e até hoje continua sendo a história em quadrinhos latino-americana
mais vendida do mundo. Em 1965, Mafalda começou a ser publicada no jornal
El Mundo e posteriormente na revista Siete Días Ilustrados''. Por decisão de
Quino, a última tirinha da Mafalda foi impressa em 25 de junho de 1973.
(QUINO, 2010).
267
São várias as publicações de Mafalda em português do Brasil: os gibis
“Mafalda” volumes 1 ao 10, o livro “Mafalda inédita”, o compilado de todas as
tirinhas “Toda Mafalda”, entre outros. Em Portugal, o compilado foi lançado
como “Toda a Mafalda” em comemoração aos seus 50 anos. Atualmente, as
histórias da Mafalda também estão disponíveis em formato digital (em
espanhol). (QUINO, 2010).
Note-se aqui o recurso usado por Quino, a ausência de fala (no 3° quadrinho),
sugerindo sentido ao silêncio da garota que, no caso, remete o leitor ao grau de
estupefação diante a apresentação da Liberdade. Nesse caso, o silêncio não é
vazio (ORLANDI, 2007), mas carregado de sentidos. Para o quadrinho, a
ausência do traço característico da expressão oral, circunstância o não dito
268
como o silêncio que significa, deixando ao leitor o deleite de adivinhá-lo, no
conjunto dos demais traços expressivos do rosto de Mafalda. Somente um
gênero como as HQ, pode valer-se de um discurso com tal eloquência e
singularidade.
Mafalda critica, ironiza e ridiculariza esse papel que ela não quer assumir. A
ironia é um instrumento que o autor utiliza para compor o humor que ultrapassa
a comicidade, leva a refletir sobre esse discurso aberto, no qual há uma
mensagem de contestação, revolta e que clama por mudanças.
269
Fonte: Quino, 2010
270
dependendo de diversos fatores. (PATLAGEAN, 1998). Para Assunção (2004),
o imaginário é tão verdadeiro e real que ele utiliza o termo “vida concreta”. O
interessante das contestações de Mafalda é que elas não são apenas relativas
a Argentina, mas também sobre todo o contexto em que a América-latina está
envolvida, que é reflexo do cenário global.
Considerações finais
Este artigo se propôs refletir sobre a importância das Histórias em Quadrinhos
(HQs) como recurso didático nas aulas de História, bem como as
possibilidades de utilização desse recurso, no que diz respeito à personagem
Mafalda criada pelo cartunista Quino.
271
discursos e ideologias. Tanto os sujeitos alunos como o sujeito professor
alternam-se nesse posicionar axiologicamente.
Referências biográficas
Vitória Duarte Wingert: Mestra em Processos e manifestações Culturais;
Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social; Especialista em Mídias
na Educação; Historiadora e Professora.
Jander Fernandes Martins: Doutor em Processos e Manifestações Culturais;
Mestre em Processos e Manifestações Culturais; Especialista em TIC-EDU;
Pedagogo e Professor.
Referências bibliográficas
ARAÚJO, Gustavo Cunho; COSTA, Mauricio Alves; COSTA, Evânio Bezerra.
As historias em quadrinhos na educação: possibilidades de um recurso
DidáticoPedagógico. Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Uberlândia, n. 2, p. 26-27. Julho/dezembro 2008.
272
http://www.rj.anpuh.org/resources/rj/Anais/2006/conferencias/Thiago%20Montei
ro%20Bern ardo.pdf – acessado em: 9 de maio de 2017
BURKE, Peter. O que é história cultural? 2º ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2008.
HAYDT, Regina Célia C. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2008.
273
OLIVEIRA, Ronilço Cruz. O papel do gibi no processo de aprendizagem, na
afetividade e nas emoções. 2007. Disponível em:
http://www.ucdb.br/gibiteca/experiencia.php Acesso em: 12 março de 2017.
274
UM FUTURO MELHOR: É O QUE BUSCAMOS, É O QUE QUEREMOS!
275