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DEPARTAMENTO DE MÚSICA
Ribeirão Preto
2021
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
Ribeirão Preto
2021
RESUMO
Introdução ......................................................................................................... 5
Conclusão ....................................................................................................... 13
Isso nos leva a entender que não podemos mais observar o fazer musical como
unicamente o fazer musical dentro de uma lógica de “música ‘artística’ ocidental”
(Cook, 2004), perpetuando um conceito estanque de uma cultura. Damos voz à fala
crítica de Canevacci:
Aceno somente para o fato de que tal conceito de cultura permanece clássico,
unificado e homogêneo para cada grupo humano, enquanto há muito as
vertentes mais interessantes da pesquisa antropológica já sublinharam a
importância de posicionar as culturas sobre um trato plural, descentrado,
fluido, sempre em movimento. (Cavennacci, 2009)
e que novos conceitos, dentro desse entendimento tradicional, sobre o que compõe a
música, devem contemplar novos parâmetros musicais e expandir os já estabelecidos,
afirmando as relações da música, e do fazer musical, com o espaço social e
geopolítico onde ela se situa.
Por não terem familiaridade com essa música, falta-lhes o gesto rítmico
necessário para uma interpretação que realce a brasilidade das composições
de Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Radamés Gnatalli e outros compositores
brasileiros da música de concerto. (Carrasqueira, 2018)
MATRIZ AFRO-BRASILEIRA
“Na realidade, toda música brasileira é AfroBrasileira. Toda ela. Quer falar de
frevo é afro-brasileira, quer falar de bossa nova, afro-brasileira, quer falar de
samba, afro-brasileira, então toda ela. Todas saem da mesma árvore e as
raízes dessa árvore são as nações do candomblé.” (Leite, 2020)
(...) os povos nativos não eram homogêneos, ou seja, existia uma imensa
quantidade de indígenas que possuíam suas próprias formas de viver,
tradições e governo. (Schwartz & Lockhart apud Lima, 2016)
Fazia-se, então, mais eficiente o genocídio dos povos originários do que sua
escravatura. Têm-se noticiado de que os povos indígenas somavam cerca de cinco
milhões de habitantes originários das terras, hoje, brasileiras quando da chegada dos
portugueses. Com um século de colonização das terras, a população indígena já teria
sido reduzida a quatro milhões de habitantes, e posteriormente a apenas um milhão
nos séculos subsequentes para então haver o “controle” dos portugueses sobre os
povos indígenas, conforme afirma Ricardo Alexino Ferreira em sua coluna
“Diversidades” na Rádio USP (Diversidades, 2016). Por consequência, a cultura
indígena causou um impacto cultural menor se em comparado com a cultura africana.
É nesse sentido que, — orientados pela teoria dos Campos de Bourdieu que
segundo Scott (2019) define de maneira muito evidente a ação, o papel e o espaço
social estruturado e conflitual dos agentes —, a máxima de Letieres Leite se faz
verídica: “Na verdade, toda música brasileira é afroBrasileira.”
CLAVE RÍTMICA
(1) a divisiva, que parte do maior valor, o tactus, ou tempo, dividido em valores
menores simetricamente e hierarquicamente agrupados; (2) a aditiva, que é
construída a partir do menor valor, o pulso, ou pulsação elementar, agrupados
em múltiplos de 2 ou 3, frequentemente gerando imparidades rítmicas e
motivos rítmicos assimétricos. (Idem)
Leite apud Scott afirma que as músicas criadas nas américas no período pós-
colonial descendem diretamente da música africana, tendo em seu “DNA as claves
rítmicas como fundamento” (2019). Segundo Ari Colares dos Santos, o uso da palavra
“clave” em espanhol traz, além do significado óbvio de “chave”, também uma intenção
de “código”, “segredo”. Santos também fala sobre alguns autores que tentaram definir
essas claves rítmicas, como Kubik, Kwabena Nketia, e Sandroni, sendo que esse
último propõe uma tradução para o termo “timeline” de Nketia para “linhas-guias”,
“uma boa descrição da função dessas levadas, pelo sentido horizontal das mesmas,
direcionando o fraseado rítmico em sua divisão característica.” (Santos, 2018)
Tomando então como base a rítmica aditiva como regra para essa organização
da duração e da articulação sonoras começamos a ter o conceito de “levadas
rítmicas”, ou “timelines” segundo Bianca Ribeiro (2017). Ou seja, a clave rítmica —
esses agrupamentos não isócronos que assumem essa caraterística de rítmica aditiva
com formatos irregulares de agrupamentos —, dentro de um contexto de música
grafocentrada, passa a imprimir uma peculiaridade: a síncopa. “En el contexto de esta
teoría, los ritmos de la clave se describen como sincopados, donde algunos tiempos
fuertes quedan suspendidos y algunos débiles, se acentúan” conforme afirmam
Valles, Pérez e Martínez (2018).
Sobre a síncopa cabe dar voz à Ari Colares dos Santos (2018):
Ari Colares dos Santos (2018) afirma ainda que em relação à síncopa devemos
salientar mais um conceito importante, o de articulação rítmica cométrica e
contramétrica, que seria a “relação de aproximação e afastamento do ritmo em relação
a sua métrica”, tornando a síncopa uma espécie de contradição a um “fundo métrico”,
ou seja, o pulso. O autor então complementa que
Toda essa abstração incide numa estrutura rítmica funcional que Ari Colares
do Santos (2018) chama de “grade estrutural mínima” onde há a presença de uma
“marcação” e um uma “clave”, sendo possível ainda subdividir, denominada como
“condução”, a função de pulso da “marcação” em unidades menores que conduzem
unidades figuras menores de tempo proporcionando uma melhor interrelação entre
“marcação” e “clave”, resultando em uma “grade estrutural completa”.
In the arts, music everywhere is based upon complex rhythmic and metric
devices, rather than upon harmonic elaborations as in our own musical
system. The essence of music is rhythmic and percussive, and this is
expressed through the use of dynamic vocal expression, drums, percussion
instruments of a wide variety, and other devices. Dance is found every where
as an important part of the cultures, and oral literature characteristically
includes myth, tale, proverb and riddle. (Merriam, 1961)