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Encetado o ensino de música e canto orfeônico nas escolas do Distrito Federal, o primeiro trabalho foi
apresentar ao público em geral e aos pais dos alunos, em particular, as razões comprovantes da utilidade desse
ensino, para que, no conceito de cada um, a música se apresentasse e se impusesse como necessidade
imprescindível a educação e mais amplamente à vida.
Embora a mocidade tivesse recebido novo ensino com naturais demonstrações de entusiasmo, certos
elementos derrotistas surgiram, empregando todos os recursos possíveis para estabelecer a confusão e o
desanimo no espírito dos que tão patriótica e abnegadamente se haviam proposto a pugnar peto levantamento do
nível artístico do nosso povo.
O que de mais curioso se me apresentou no decorrer dessa campanha foi a transformação, ante a
realidade dos fatos, desses elementos que se mostravam descrentes dos resultados que proporcionaria a difusão
do canto orfeónico, em fervorosos defensores e tenazes propagandistas desse ensino.
Deparavam-se-me ainda outros elementos que, sob pretextos fúteis ou subterfúgios bem disfarçados
(geralmente músicos vencidos na carreira), que procuravam estabelecer confusões entre canto coral, canto lírico
e canto orfeónico, que são bem diversos uns dos outros.
O ensino do canto coral (expressão genérica), destina-se ao preparo de conjuntos para a execução de
músicas de qualquer gênero inclusive as clássicas e canônicas, desde a música escolástica profana até as das
regras litúrgicas.
O ensino do canto lírico, é o mais procurado, não só por ser de fácil assimilação e extremamente
accessível aos ouvintes, como também porque o sucesso profissional principal fito do cantor, lhe está mais ou
menos assegurado, logo que ele disponha de algum repertório de músicas preferidas pelos ouvintes.
O canto orfeónico é o elemento educativo destinado a apurar o bom gosto musical, formando elites,
concorrendo para o levantamento do nível popular e desenvolvendo o interesse pelos factos artísticos nacionais.
É o melhor fator de educação cívica, moral e artística. O canto orfeónico nas escolas tem como principal
finalidade, colaborar com os educadores, para obter-se a disciplina espontânea e voluntária dos alunos,
despertando ao mesmo tempo, na mocidade um são interesse pelas artes em geral e pelos grandes artistas.
Conclui-se, pois, de tudo isso, que tanto o canto coral, como o lírico e o orfeônico, apesar de diferentes
entre si, não são mais do que ramos de um tronco único: o canto em conjunto.
Não resta dúvida que todas as lutas, opiniões e críticas contrarias ao ensino do canto orfeónico nas
escolas, se originam mais do pouco conhecimento dos críticos e opinadores, a respeito da grande utilidade desse
ensino, já positivamente comprovada em meios mais adiantados, do que da oposição sistemática, muito embora
tenhamos a lastimar que mentalidades retrógradas, vaidosos tardígrados e medíocres falidos aproveitem a
discussão que se deveria manter em plano muito elevado, para dar vasa ao seu despeito e querer justificar a sua
incapacidade. O tempo, porém, aliado ao desenrolar dos factos, já começou a provar e a convencer da utilidade
do ensino do canto em conjunto, como um dos elementos mais importantes para educar o povo — inclinando-o
para as ideias puras e elevadas, esclarecendo-o para uma melhor compreensão do Belo e do Artístico.
Nenhuma outra arte exerce sobre as camadas populares, influência tão poderosa como a música, que
interessa até aos espíritos mais retardados, estendendo o seu domínio até aos irracionais.
Em contraposição a isso, nenhuma outra arte tira do povo, maior soma dos elementos de que necessita
como matéria prima. Muitas belas obras corais, profanas e litúrgicas, têm como fonte única de inspiração — o
povo.
O movimento em favor do levantamento do nível artístico e da independência da Arte no Brasil, foi
iniciado por meio do canto orfeónico, sendo distribuídos prospectos, nos quais a finalidade prático-cívico-
artística do orfeão era apresentada em frases curtas, incisivas e exortativas, em linguagem clara e accessível.
Com o fim de despertar interesse, essas exortações eram dirigidas mais ao civismo do povo brasileiro de
que propriamente à sua cultura artística atendendo não só ao nível ainda pouco elevado em que ela se encontra,
como ao indiferentismo que envolve e entorpece o nosso meio especial, excetuando-se apenas pequenas elites
que, ainda assim; consideram a música como simples passa tempo ou agradável divertimento.
Na verdade, a Música só poderá ocupar o lugar que o seu valor lhe confere, quando for devidamente
apreciada a sua inestimável cooperação para a educação social-cívico-artística e considerada indispensável à vida
e progresso de um povo.
Não foi senão com o objetivo de semear o gosto pela música pura que, em 1930 organizei uma excursão
por mais de sessenta cidades do interior de S. Paulo, fazendo conferências com piano, violoncelo, violino,
violão, coros e orquestra.
Em cada cidade, auxiliado pelas autoridades administrativas, antes da chegada da caravana artística,
fazia distribuir, aos céticos e descrentes dessas grandes idealizações, cuja realização se esteia muna força de
vontade tenaz e num profundo espírito de sacrifício, folhetos com as seguintes ponderações;
‘‘Quem não sente orgulho de ser brasileiro, sobretudo neste momento em que todas as nações se
voltam, com ardor e interesse incontidos para todos os fatos e coisas originais, nascidos dos magnos recursos de
suas próprias civilizações”.
“Dar concertos nas capitais e cidades do interior de todos os Estudos do Brasil, num momento em que
todas as crises – social, econômica. política e até mesmo artística – chegam quais ao extremo, para ter lucros
pecuniários?
“Não. Tal não é possível.
“Qual outro fim, então, além do de semear o gosto pela música pura, pela verdadeira arte, senão
elevadas intenções cívicas e patrióticas, poderia nos animar a vir, numa abnegação incalculável, visitar cidades e
capitais do Estados do Brasil?”
“É impossível conceber-se qualquer ideia especulativa, principalmente se se atender à acessibilidade do
preço estipulado para o ingresso, que não pode, de forma nenhuma, compensar a enorme despesa de propaganda
e a de transporte de quatro pessoas, um grande piano de cauda, bagagens, etc.”
“A mais pura verdade e a única justificação desse acontecimento é, pois o gesto nobre e altruístico de
patriotas de verdadeira ação, destes que, sem temer obstáculos, realizam suas ideias úteis à coletividade
brasileira, traçadas premeditadamente para elevar o Brasil no conceito das grandes nações, e talvez quem sabe
para despertar o triste letárgo de uma raça sonambula”.
Não fui fazer alarde de minha obra, nem tampouco obrigar a compreenderem minha orientação artística,
mas apenas entusiasmar a nossa gente, com o flamejo do nosso sol e a reverberação do nosso solo, mostrando-
lhes aquilo que sabemos que vive conosco, mas que nunca vemos porque, vivemos ensimesmados, diante da
exuberância e da riqueza com que a nossa terra foi dotada pela natureza.
Fui, em companhia de diversos “virtuoses” patrícios, proclamar a força de vontade artística brasileira e
arregimentar soldados e operários da arte nacional - dessa arte que paira dispersa na imensidade do nosso
território, para formar um bloco resistente, e soltar um grito estrondoso capaz de ecoar em todos os recantos do
Brasil - um grito - trovão, formidável, uníssono e espantoso: INDEPENDÊNCIA ARTÍSTICA BRASILEIRA.
Com o fim de tornar conhecido de todos que a maneira mais elevada de expressar e cultivar os
sentimentos cívicos é cantar canções e hinos patrióticos, lancei em 1931, um insistente apelo à força de vontade
brasileira, usando do mesmo processo anterior: fiz distribuir ao povo, prospectos sobre o grande concerto vocal
de mais 10.000 vozes, realizado em S. Paulo, sob o patrocínio do Coronel João Alberto, então interventor do
Estado.
Reproduzo, aqui, um destes prospectos:
“No estrangeiro, onde o Brasil é pouco conhecido, ouvi muitas vezes, referências pouco elogiosas ao
nosso povo. Diziam, entre outras coisas, que os brasileiros são desprovidos de força de vontade e do espírito de
cooperação, e que por isso vivem dispersos, sem unidade de ação, desagregados para a obra de construção de
uma nacionalidade grande, num país de enormes possibilidades econômicas e um dos possuidores da mais bela
natureza.
— Não é verdade!..., gritei eu. O brasileiro é capaz dos mais formidáveis empreendimentos.
Quereis a prova?
No dia 3 de maio do corrente ano, para mais de 10.000 almas, num ímpeto espontâneo de civismo e
provando a realidade da força de vontade brasileira, reunir-se-ão para entoar hinos e canções patrióticas, como a
mais fervorosa manifestação da alma de um povo jovem e livre que só deseja - irmanando aos seus filhos os
bons estrangeiros, hospedes do coração do Brasil - a felicidade, a, liberdade e o progresso desta Pátria generosa.
Caberá assim a S. Paulo, o grande Estado do Brasil, dar o primeiro grito de alarma, que, semelhante ao
formidável estrúgido de 10.000 trovões, ecoará no universo inteiro, como prova insofismável da força de
vontade brasileira.
Soldados do Brasil! Mocidade Acadêmica, Comércio, Indústria! Lavoura!
Sus! Avante!
Cantemos os hinos elevados e as canções sublimadas, numa esplendorosa e- xortação de civismo, de
fraternidade e de confiança no futuro do nosso Brasil”.
A propaganda por meio de prospéctos e folhetos exortativos, lançadas por aviões e distribuídos
largamente nas escolas, academias, fabricas e jornais, provo¬cando o movimento da imprensa, parecendo-me o
meio mais eficiente de tornar con¬hecida a campanha orfeônica, foi também empregada por ocasião das
demonstrações e concertos do Orfeão de Professores realizados no Rio de Janeiro, tendo sido dis¬tribuídas as
seguintes considerações de Roquette Pinto, quando se realizou a primei¬ra demonstração orfeônica:
“Todos os povos fortes devem saber cantar em côro.
Nas horas tristes e nos momentos felizes, unem-se as vozes nas canções da Patria, onde resôa a
lembrança dos maiores, sublimando o júbilo, espantando das almas, o mal do desespero.
O canto coral fortalece corpo e espirito. Amplia o folego dos fracos, disci¬plina suavemente os
impacientes e os tardios.
A massa coral é um simbolo da sociedade moderna, em que os interesses humanos se confundem.
Todos nela figuram: velhos, moços, crianças, homens, mu¬lheres, operários, camponêses, soldados, sábios,
poetas e artistas.
Só a educação resolverá os problemas brasileiros. O canto orfeônico prati¬cado na infancia e propagado
pelas crianças nos lares, dará gerações renovadas na disciplina dos hábitos da vida social, homens e mulheres
que saibam pelo bem da terra, cantando trabalhar, e por ela, cantando, dar a vida.
Acompanhando estas palavras do grande pioneiro da educação, Dr. Roquette Pinto, foi também
distribuída a seguinte exortação por mim lançada aò povo bra¬sileiro:
“Soldados do Brasil, Homens do Mar, Operários, Mocidade Acadêmica, In¬telectuais, Educadores,
Artistas, Almas Femininas, Juventude Brasileira, Classes Conservadoras e Progressistas do Comercio, Industria
e Lavoura!
Avante!
Confiantes no futuro da nossa terra, sigamos avante, unidos todos, coesos, sem hesitar!
Nesta cruzada de ressurgimento da nossa Pátria, atravessando a grande crise de evolução econômica,
social e moral que abala o mundo inteiro, tenham por pioneiro, a mais poderosa e encantadora manifestação de
todas as artes - a Música, a mais perfeita expressão da vida!
Música, que por meio de sons une almas, purifica sentimentos humanos, enobrecendo o caráter e
levando o espírito a um ideal mais completo.
Como indicar este guia à Nação Brasileira do futuro?
— Pela voz humana, pelo Canto Orfeônico!!
Propagado pelas Escolas Públicas, o Canto Orfeônico irradia entusiasmo e alegria nas crianças, desperta
na mocidade a disciplina espontânea, o interesse sadio pela vida, amor à Pátria e à Humanidade!
Não será um povo inculto que irá julgar as Artes e sim as Artes que mostram a cultura de um povo.
A nação que não tem ideia exata de arte, não tem cultura nem opinião própria, por conseguinte não tem
sensibilidade para poder definir as mais raras manifestações da alma do povo”.
Para provar que o Povo Brasileiro deve cantar, foram feitas as seguintes considerações:
“Considerando que o Brasil é um dos países mais privilegiados do mundo, cuja natureza concentra
todas as artes, possuindo um povo de absoluta musicalidade, que vive cantando inconscientemente com a sua
passarada, seus ventos, seus mares, seus rios;
— que na teoria do aproveitamento das coisas e dos fatos, o cantar de um povo é o desabafo da Alma,
das Dores, da Alegria;
— que entoar canções e hinos elevados de sua terra, é dar prova de civismo e força de vontade para a
agregação das massas, estimulando a disciplina instintiva que cria o respeito que deve haver entre os povos
civilizados;
— que enquanto a mocidade canta não pensa na miséria, na maldade e nos destinos da vida;
— que um povo que sabe cantar os cânticos da sua terra, sabe formar as elites que irão julgar os grandes
empreendimentos sociais, desde as artes populares até as transcendentes e sabe mostrar ao estrangeiro, o alto
grau de cultura do seu país;
— Conclui-se que o Brasil precisa de crescer, instruir-se e caminhar para a frente, afim de justificar a
grandeza do seu território, o valor de sua gente e a exuberância da sua natureza”.
Todas as ideias e considerações expostas até hoje nesse sentido, foram talvez de muita utilidade sob o
ponto de vista erudito e teórico, porém o mais importante neste momento, para o ensino prático e de resultado
positivo, é a boa, tenaz e oportuna instrução dos mestres, com provas visíveis e argumentos irrefutáveis aos
alunos que se vão formando moralmente, diante da evidencia dos fatos.
Ê necessária, pois, uma ação decisiva, muita força de vontade, prestigiadas por sólida competência e
abnegação patriótica.
A minha participação no ensino da música no Distrito Federal, tem sido e continua a ser: AÇÃO E
REALIZAÇÃO, traçando e executando um programa que visa a Educação Cívica e Artística da coletividade,
promovendo a elevação da mentalidade pública em relação às nossas Artes e nossos Artistas.
Executando esse programa, dentro dos primeiros cinco meses de orientação e direção do ensino de
Música e Canto Orfeônico, fiz uma demonstração pública com uma massa coral de 18.000 vozes, constituída de
alunos de escolas primárias, técnicas secundárias, Instituto de Educação e Orfeão de Professores.
O ensino de Música e Canto Orfeônico — tendo por finalidade a disciplina, a educação cívica, moral e
artística dos alunos das escolas municipais, inicia-se em março de 1932, com o seguinte plano geral de
orientação;
Com o fim de preparar terreno para o ensino do canto orfeônico dentro de uma orientação pré-
estabelecida, foi aberto, de acordo com o Sr. Diretor Geral, em princípios de 1932, o Curso de Pedagogia de
Música e Canto Orfeônico, por mim ministrado, no qual se matricularam professores do magistério municipal e
ouvintes estranhos ao mesmo, sem compromisso para o Departamento de Educação.
Os resultados obtidos logo no início desse Curso foram ótimos, e a sua ampla repercussão despertou
enorme interesse, atingindo a 200 o número de requerimentos dos candidatos à inscrição.
Foram tratados neste Curso, entre outros, os seguintes pontos:
Em maio de 1932, foi fundado, sob os auspícios do Departamento de Educação, o Orfeão de Professores
o qual encontrou sempre decidido apoio do Sr. Diretor Geral, Dr. Anísio S. Teixeira.
O Orfeão de Professores do Distrito Federal — congregação profissional registrada oficialmente, nasceu
do Curso de Pedagogia da Música e Canto Orfeônico e tem fins cívico artísticos educacionais.
Por intermédio dessa sociedade coral, foi iniciada de modo prático e eficaz a campanha de educação
para o levantamento do nível artístico brasileiro.
Foram escolhidos para fazer parte do seu repertório, trechos de músicas de autores clássicos já
conhecidos em peças para piano, violino, canto, etc, para que dessa forma tivesse oportunidade de apreciar a
mesma música por meio de instrumentos e vozes a seco, despertando-lhes assim o gosto pelo gênero de coros
que é justamente o mais necessário para a disciplina coletiva do povo.
O livro de compromisso do Orfeão foi aberto com as seguintes palavras de Roquette Pinto: “Prometo de
coração servir à Arte, para que o Brasil, possa na disciplina trabalhar cantando”.
Não se pensava que o Orfeão pudesse nesse mesmo ano dar algum concerto com perfeição, mas o
esforço dos orfeonistas, vencendo com boa vontade as dificuldades surgidas, surpreendeu-me, sendo possível a
realização de várias demonstrações às autoridades, e alguns concertos, entre estes o realizado a 14 de setembro,
em homenagem à grande artista francesa Margueritte Long, que teve, em relação a ele as seguintes expressões:
“Na França não existe um orfeão que tenha conseguido tão rapidamente o progresso do Orfeão de Professores,
cantando com tanta perfeição.
Em 28 de novembro, realizou, contratado pela Universidade do Rio de Janeiro, o 11º Concerto da série
oficial, no Instituto Nacional de Música, no encerramento da temporada.
Em 1933, realizou uma série de 8 concertos cívico artísticos educativos em assinatura entre os quais se
destacaram a execução das célebres Missa Solene de Beethoven e a Missa de Palestrina.
Apesar da grande dificuldade técnica dos coros, cujos registros vão além dos recursos vocais,
sobrepujando em dificuldades à Nona Sinfonia, foi executada brilhantemente a missa de Beethoven, encerrando
essa temporada.
Continuando a sua missão artística educativa, organizou em 1º de julho de 1933, uma noite de arte
brasileira, constando do programa oficial de turismo; tomou parte no espetáculo da Feira de Amostras e na
demonstração de canto orfeônico da Escola Argentina, festas essas realizadas por ocasião da visita do Presidente
da República Argentina.
O espetáculo da Feira de Amostras, constou dos bailados “Amazonas’’ e “Pedra Bonita”, que
obedeceram ao plano da organização, com o fim de ser criada a forma artística dos bailados, desde os populares
aos mais elevados.
O Orfeão de Professores, que tem como finalidade a educação cívico artística musical do povo, iniciou
o sistema de audições gratuitas aos operários, proporcionando programas de músicas accessíveis, antecedidos
de explicações e comentários sobre as músicas e suas significações, seus autores e sobre instrumentos musicais.
Antecipando os concertos, foram lançados prospectos com as seguintes expressões:
Com o fim de propaganda da arte nacional e beneficência pública, foram promovidos pelo IV
Congresso Teosofico Sul Americano, sob o patrocínio do Exmo. Sr. Prefeito do Distrito Federal — Dr. Pedro
Ernesto, dois grandes Concertos Históricos de Música Brasileira, realizados nos dias 18 de junho e 2 de julho,
em 1933, no Teatro João Caetano, o primeiro com o concurso da orquestra do Teatro Municipal e c segundo com
o concurso do Orfeão de Professores e Bateria. Nestes concertos foram executadas músicas brasileiras, desde as
indígenas, litúrgicas, populares, ambientadas e estilizadas, até a música típica.
O Orfeão de Professores tomou parte ainda na audição promovida pela Associação Brasileira de
Educação, a 3 de abril de 1934, irradiada para todo o mundo, pela '‘Radio Difusão do Rio de Janeiro”.
Possuindo um vasto repertório de músicas sacras, tem tomado parte em diversas missas solenes,
salientando-se entre estas as que foram cantadas em ação de graças pelo aniversário do Dr. Pedro Ernesto.
Em 1935 foi muito dilatada e profícua, a atuação do Orfeão — Tomou parte em várias missas; em
concertos para operários; na inauguração da temporada de concertos do Instituto Nacional de Música (Dia Pan
Americano); três audições para o VII Congresso de Educação; na inauguração da Escola Argentina e da Radio
Tupí; Comemoração do Centenário Farroupilha e do Dia da Pátria; em dois concertos em homenagem ao
Congresso Inter-Americano de Higiene Mental; Nº 6º, 7º e 8º concertos sinfônicos culturais da Secretária Geral
de Educação e Cultura executando nos dois últimos, obras máximas de J. S. Bach e Beethoven; nas conferências
ilustradas das missas de Bach e Beethoven, realizadas pelo Frei Pedro Sinzig e Dr. Andrade Muricí: no concerto
comemorativo ao aniversário do nascimento de Bach promovido pela “Cultura Artística”, com a repetição da
Missa em Si menor, de Bach.
Esta missa, executada pela primeira vez na América do Sul, — com encenação majestosa, transformado
o palco em suntuosa catedral, com os coros escalonados até o fundo, com vestimenta adequada, — teve diversos
cantos executados em coro a seco,- com solenidade nunca vista em todo o mundo. Ao fundo da catedral,
fechando a cena e dando rara severidade litúrgica ao ambiente, via-se em destaque, o cálice de Graal.
Os cantores, com seus hábitos talares, foram distribuídos pelos patamares sucessivos que ladeavam o
altar. Por traz, deste, na profundidade do corredor, sob as arcárias, os solistas surgiam, como apóstolos, para
virem lentamente à boca de cena elevar o seu canto.
Para a celebração da Missa Solene de Beethoven, foi improvisado no palco um ambiente de Golgotha,
— um circuito de montanhas partidas por um precipício, com elevações lembrando o Jardim das Oliveiras, o
Monte do Calvário, caminhos invocando a Estrada de Damasco e outros detalhes relativos aos factos históricos-
sagrados que a Santa Missa relembra.
Os coros, postados nas montanhas, representavam o povo cristão, invocando proteção aos céus,
entoando hinos e preces.
Os solistas representavam os Apóstolos.
Com os elementos femininos do Orfeão de Professores, foi organizada uma Orquestra de Cordas que
realizou o seu primeiro concerto, no dia 12 de Janeiro de 1933, no Teatro João Caetano, em benefício da Liga de
Proteção aos Cegos do Brasil, com o concurso da Banda do Corpo de Bombeiros e solistas do Orfeão.
Além das demonstrações, missas e concertos discriminados o Orfeão de Professores prestou o seu
valioso concurso em um sem número de festividades públicas e escolares.
Entre os trabalhos da S.E.M.A., no ano de 1933, destacam-se:
Para maior difusão do ensino de música e canto orfeônico nas escolas primárias e para interessar de
modo especial o magistério em geral, foi deliberado, de acordo com o Snr. Diretor Geral do Departamento de
Educação, que o ensino de música do 1º ao 3º anos das escolas elementares, fosse incluído entre outras
disciplinas pelos respectivos professores, sem prejuízo de turma, sob a orientação de uma professora
especializada, a qual, independentemente do ensino de música nos 4º e 5º anos da escola-sede da Circunscrição,
em reuniões aí realizadas, em dias determinados, deveria explicar ás demais professoras dos lº e 3º anos, a
orientação a ser seguida, visitando ainda as escolas, dando aulas-modelos, responsabilizando-se, enfim, pelo
serviço da Circunscrição.
Não era de admirar que essas determinações fossem recebidas com uma certa antipatia, pela sobrecarga
de serviços que acarretava, principalmente tendo-se em conta o descaso até então verificado a respeito do ensino
de música, e sobretudo pela má compreensão das altas finalidades artístico-educativas de tais determinações. Em
algumas circunscrições, porém, as professoras especializadas desempenharam com muito entusiasmo os seus
encargos, conseguindo despertar o interesse do professorado.
Essa nova organização, que tinha em vista a maior difusão do ensino de música, infelizmente não
começou logo a dar o resultado desejado, em virtude de serem poucas as professoras especializadas, em relação
ao grande número de escolas, o que importou na redução do número e tempo de aula, sendo que em algumas
escolas o tempo máximo conseguido para a aula coletiva foi de meia hora por semana.
O ensino de música do 1º ao 3º ano, visava principalmente despertar nas crianças, o gosto pela música,
criando-lhes a noção do Belo e do Artístico, ministrando-lhes conhecimentos preliminares que servirão de base
para conhecimentos futuros mais completos, para desenvolvimento de uma solida educação artístico-musical.
A fim de que o programa educativo da SEMA se tornasse eficiente e proveitoso, foi feita,
posteriormente, uma modificação, ditada pela observação das falhas apontadas. Para isso fiz convocações
periódicas do professorado, para ouvir sugestões e organizei fichários por onde se pudesse verificar a marcha do
ensino, as falhas a corrigir, as dificuldades a contornar e finalmente a solução a dar em cada caso especial.
Como consequência disso, passou-se a fazer o ensino em algumas escolas quase que só por audição,
ficando as crianças sem os rudimentos teóricos que a orientação traçada exige e que era um dos seus pontos
capitais, uma vez que para a solidez do ensino, faz-se mister que as músicas a ensaiar, sejam previamente
conhecidas pelos alunos, por meio de uma análise teórica.
Em Agosto desse ano, atendendo à difusão do ensino de música e canto orfeônico, foi aberta inscrição
para frequência aos Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico — cursos-
conferências por mim ministrados às quintas-feiras:
O Curso de Declamação Rítmica e Califasia para os professores das escolas elementares, destina-se a
dar aos mesmos, o preparo necessário para a iniciação do ensino de música nas escolas, bem como ministrar-lhes
os princípios da disciplina do treino da voz (falada ou entoada), necessários ao ensino.
O Curso de Preparação ao Ensino de Música e Canto Orfeônico, para os professores das escolas
elementares que lecionam turmas de lº, 2º e 3º anos, tem por fim preparar os professores para o ensino de canto
orfeônico, dentro, da orientação reconhecida pela SEMA.
O Curso Especializado do Ensino de Música e Cante Orfeônico, para os professores das escolas
elementares, técnicas secundarias e membros do Orfeão de Professores, tem por objetivo estudar a música na sua
evolução e nos seus aspectos atuais, bem como desenvolver o programa e quaisquer outras questões de caráter
técnico ou artístico.
O Curso de Prática Orfeônica, para os professores das escolas elementares, técnicas secundarias e
membros do Orfeão de Professores, dará oportunidade aos professores especializados da continuarem a
conhecer, praticamente os novos e principais métodos de realização dos grandes e pequenos conjuntos vocais,
sob vários aspectos.
Muito contribuiu para reforçar o trabalho dos professores especializados, dando-lhes estímulo, as
minhas frequentes visitas e dos meus auxiliares, as quais não foram feitas com maior regularidade devido à falta
de condução.
O serviço nas escolas ressentiu-se da falta de professores especializados e de instalações adequadas para
ensaios em conjunto, lutando-se até contra a falta de carteiras, quadros convenientemente pautados, cadernos de
música, etc.
Alguns professores especializados foram designados para diversas comissões continuando, porém, com
o mesmo interesse pelo ensino, a responsabilizar-se por essa disciplina, nas escolas que dirigiam.
Organizaram-se jogos musicais para os lº, 2º e 3º anos.
Foi aberta inscrição para o exame de obtenção de diplomas de música e canto orfeônico e regulamento
de provas.
Os exames foram prestados perante uma Comissão constituída de cinco membros, designados pelo Snr.
Diretor Geral: Maestros Francisco Braga, Francisco Mignone e Souza Lima, contratados especialmente para esse
fim, em S. Paulo; Frei Pedro Sinzig e o Professor Carlos Teixeira.
Para a inscrição dos candidatos a estes exames e respectivos certificados, foram exigidas as seguintes
condições:
Foram dispensados das exigências das letras a, b e c, os professores municipais. Os pedidos de inscrição
eram feitos mediante requerimento dirigido ao Snr. Diretor Geral.
Aos portadores de Certificados, aprovados em Música e Canto Orfeônico ficou assegurado o direito ao
registro permanente a que se refere o Nº 15 da letra a das Instruções sobre o ensino particular, de 25 de maio de
1932, de acordo com os arts. 27 e 28 do decr. Nº 3.763, de lº de Fevereiro de 1932.
As provas de exame constaram de duas partes: teórica e prática.
Na primeira — dissertação sobre qualquer dos pontos do programa feito pela Comissão examinadora,
para demonstração de conhecimentos técnicos, estéticos e históricos relativos à matéria, constante do ponto
sorteado.
Na última — aulas a turmas de alunos, sendo três de escolas elementares, uma de escola profissional e
outra de escola secundaria, para demonstração de qualidade pedagógica.
As turmas de alunos foram constituídas da seguinte forma:
a) disciplina
b) civismo
c) educação artística
Sob esse tríplice aspecto é que a Superintendência de Educação Musical e Artística em que se
transformou o Serviço de Música e Canto Orfeônico instituído em 1932, desenvolve sua atuação sobre todos os
setores educacionais do Distrito Federal.
O objetivo que se tem em vista, ao realizar este trabalho, é permitir que as novas gerações se formem
dentro dos bons sentimentos estéticos e cívicos e que a nossa pátria, como sucede às nacionalidades vigorosas,
possa ter arte digna grandeza e vitalidade de seu povo.
Para resolver este importante programa educacional, o Departamento de Educação organizou o Curso
de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico, dentro de uma única orientação, condição esta imprescindível para
maior homogeneidade nesse sentido e concedeu diplomas ás professoras do magistério e estranhas a ele as quais
estão aptas a exercer perfeitamente, o ensino especializado dessa disciplina, em qualquer parte do Brasil.
a) H. Villa-Lobos.
Por deliberação do Sr. Diretor Geral, a frequência regular aos lº, 2º, 3º e 4º Curso, dariam direito a
Certificados Acontece, porém, que os Cursos conferências não foram realizados todos às quintas-feiras, devido
aos feriados.
Os dois primeiros cursos rudimentos de música e canto orfeônico, — têm por principal finalidade,
conseguir-se a disciplina coletiva dos alunos.
Em virtude de só terem sido realizadas 13 aulas dos mesmos, não tendo sido possível o cumprimento
integral do programa traçado, ficou deliberado que os respectivos certificados só seriam distribuídos no ano
seguinte.
No 3º Curso, como um prolongamento do programa delineado, foram entabuladas palestras, para troca
de ideias sobre o ensino, sendo expostas as vantagens e desvantagens das diretrizes adotadas, os resultados
obtidos e meios cada vez mais práticos e eficientes a serem postos em uso.
O 4º Curso constou de ensaios para concertos, missas demonstrações, nos quais tomou parte o Orfeão
de Professores.
Esses ensaios foram tratados de uma maneira especial, mostrando-se em cada um deles, com exemplos,
como se deve ensaiar as crianças, ficando assim cumprido o programa deliberado.
Nas primeiras aulas práticas dadas pelas professoras especializadas, notou- se que as mesmas não
tinham o necessário desembaraço, constrangidas pela falta de hábito de exibição mais ou menos públicas,
constrangimento esse que foi a pouco e pouco desaparecendo, até extinguir-se por completo.
Logo no início dos Cursos, foi feita uma aula demonstração de canto orfeônico os alunos da Escola Pré-
Vocacional Ferreira Viana, sob a direção da professora especializada da escola. Dirigi, depois, pessoalmente,
uma Aula demonstração, na qual foram apresentados, praticamente, às professoras inscritas nos Cursos, os
processos de organização e direção de um grande conjunto vocal. Além das práticas já conhecidas pelas escolas
que constituíram o grande conjunto, fiz, na hora da demonstração, diversas inovações, como: efeitos orfeônicos,
saudações com frases improvisadas, improvisações de manosolfa, etc. O programa foi executado a contento,
tendo alcançado, junto aos professores, o merecido sucesso.
Constituiu uma esplendida vitória, o interesse tomado por grande parte do professorado que havia
recebido com indiferentismo e até mesmo com certa antipatia, a implantação do ensino de música, e que hoje
vem prestando nas escolas, auxílio apreciável, sem prejuízos das outras disciplinas.
Infelizmente, porém, a música não teve, em algumas escolas, a aceitação que merece, sendo lembrada
apenas por ocasião das festas, e considerada mais um divertimento do que como valioso elemento educativo que
é.
Foram fornecidos ás escolas primárias e secundárias, os seguintes hinos e canções, cujos autores
figuram no catalogo de músicas existentes no fim deste relatório: Hino Nacional Brasileiro, Hino à Bandeira,
Hino da Independência, Hino da Proclamação da República, Hino ao Trabalho, Hino ao sol do Brasil, P’ra frente
ó Brasil, O contrabaixo, Cantarolando, Tarde, Canção popular, Canon sem palavras, Férias, Sinos da Igrejinha,
Nosso recreio, Sempre a cantar, Despertar, Vamos-crianças, Estudai, Sinos, Juventude, Ferreiro, 0 Rio,
Acalentando, Senhora D. Sancha, Costureiras e Paz.
Em princípios de 1933 foi organizada a Orquestra Villa-Lobos, tendo, como o Orfeão de iProfessores,
finalidade educativa cívico-artístico-cultural.
Era composta de um punhado de professores brasileiros que se uniram num formidável esforço em prol
da Arte, num intenso desejo de divulgá-la e torná-la independente no Brasil, concorrendo para a elevação do
nosso nível artístico.
A Orquestra Villa-Lobos, como o Orfeão de Professores, teve um sentido social, pelo espírito de
cooperação, de renúncia, de disciplina e de harmonia, fazendo parte dela os melhores artistas brasileiros.
Antecedeu à sua organização, o seguinte abaixo-assinado:
Nas escolas técnicas secundárias onde havia banda de música recreativa, foi criado o ensino
especializado de músico de banda, a fim de formar profissionais, futuros elementos das Bandas Sinfônicas
Municipais.
Para aproveitamento dos alunos que terminassem o curso profissional de músico de banda, foi planejada
desde logo a organização de Bandas Sinfônicas para que foi apresentada a seguinte
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
a) Cada Escola Técnica Secundária que tiver essa especialização, formará duas bandas de música
— uma a título recreativo, com o efetivo de 27 a 30 alunos e a outra profissional, com o efetivo de 40 a 50
alunos.
A recreativa terá um estudo “ad-libitum”, seguindo um curso prático e reduzido de música, com curtas
lições de instrumentos e pouco tempo de exercício de conjunto instrumental.
b) O aluno que for destinado a seguir a profissão de músico de banda, fará dois ou três anos do
Curso Geral, incluindo o estudo obrigatório de Música e Canto Orfeônico e a incorporação na Banda Recreativa.
No 3º ou 4º ano, começará o estudo profissional, que se estenderá por três ou quatro anos.
c) Só será admitido para a Banda Profissional, o aluno que tiver provado bom comportamento;
aptidão física e moral; e franca inclinação para a música, comprovada durante os dois anos do Curso Geral.
ASPECTO ECONOMICO
Sendo o Rio de Janeiro uma capital culta e se impondo, como necessidade imprescindível a criação de
uma Banda Municipal, à altura do seu adiantamento, para divertir, deliciar e aprimorar a educação artística do
povo, a exemplo do que fazem todas as grandes capitais do mundo urgem os preparativos necessários para isso,
com elementos nacionais, por motivos diversos, principalmente por conveniências de ordem econômica-
financeiras.
A criação dessa Banda Municipal, como finalidade principal da organização planejada e acima exposta,
será feita princípio sem despesas e estas, uma vez definitivamente organizada, com elementos estrangeiros ou
mesmo trazidos dos Estados. Nesta última hipótese seria necessário contratar pelo menos 100 bons músicos, com
ordenados mensais em média de 800$000, o que daria um gasto mensal de 80:000$000, num importe total, no
primeiro ano, de 960:000$000, que somados aos 60:000$000 das despesas iniciais de organização, dariam o total
geral de 1.020:000$000.
Mesmo com este dispêndio, relativamente vultoso, a Banda poderia ser ótima pelo lado técnico, mas se
ressentiria da falta de um cunho nacionalista, manifestando-se, inevitavelmente nos seus programas, a influência
estrangeira.
Seria preciso muito tempo para preparar elementos nacionais que contrabalançassem essa influência,
havendo ainda a inconveniência de se tornarem mais ou menos burocratizados os seus serviços, concorrendo
tudo isso para dificultar à perfeita execução dos programas artísticos educativos, com o risco, de falhar o fim
colimado.
Pela organização nacionalista planejada, pode-se preparar, dentro de 4 a 5 anos, uma Banda de 90 a 100
alunos, com mentalidade moldada, de acordo com os nossos sentimentos e inclinações, os quais, iriam sendo
contratados a medida que fossem completando os seus estudos profissionais, estimulados por prêmios
proporcionais aos seus méritos para o que seria suficiente um dispêndio anual assim calculado:
Dessa despesa se poderá deduzir a receita apurada com concertos privados e contratos especiais, que
poderão ser estimados, sem grande otimismo em 240:000$ anuais, ficando, portanto, a despesa real da Prefeitura,
orçada em 340:000$000 anuais, assim:
Esta banda, com um efetivo de 99 figuras (executantes), poderá ser organizada de maneira a se dividir
em duas secções, ou melhor em duas bandas pequenas, com o seguinte horário semanal:
Ensaios diários, de preferência de 8 às 12 horas com dois intervalos de 30 minutos cada um, (3 horas de
ensaio efetivo), assim distribuídos:
Segunda feira - ensaios simultâneos, em três salas afastadas, uma das outras, do seguinte modo:
1ª - sala - Naipe de instrumentos de madeira
2 ª - sala - Naipe de instrumentos de metal
3 ª - sala - Naipe de instrumentos de percussão
Terça feira – igual ao dia anterior.
Quarta feira - ensaio de conjunto da l ª seção.
Quinta feira - ensaio de conjunto da 2ª seção.
À noite ret.rêta de uma das secções, alternativamente, de acordo com designação superior.
Sexta feira — ensaio do conjunto coral Sábado — igual do dia anterior
Domingo — retrêta de dia ou de noite, de toda a Banda de acordo com designação superior
Durante as temporadas do Teatro Municipal, de segunda a sexta-feira, funcionarão os horários
habituais, mas sem a presença de 34 elementos da Banda, que ensaiarão na orquestra do Teatro.
Estes 34 elementos ensaiarão na Banda às sextas feiras e sábados, às 14 horas sem prejuízo dos ensaios
pela manhã, no Teatro.
Das seis às oito horas da manhã, o estudo individual do instrumento, poderá ser feito à sombra de uma
arvore, ficando os alunos bem distantes um dos outros.
Das oito às 13 horas deverão ser dispensados para o ensino das outras disciplinas, segundo
determinação dos Srs. Diretores das escolas.
Das 13 às 17 horas — tempo destinado ao ensino da matéria especializada.
Das 17 horas em diante — plena liberdade de recreio.
Criou-se uma banda recreativa na Escola Pré-Vocacional Ferreira Viana, a fim de descobrir vocações e
encaminhar os alunos para o estudo profissional nas escolas técnicas secundárias.
Foi feita a relação de um instrumental novo necessário para as bandas das escolas técnicas secundárias,
e aberta concorrência para o respectivo fornecimento, e encarregou-se a Casa Guarani, especialista na fabricação
de instrumentos de música, de fazer os concertos de que necessitasse o instrumental usado, das escolas João
Alfredo e Vde. Mauá.
Os professores especializados em música e canto orfeônico, organizaram um programa de
demonstrações nas circunscrições que, embora deficiente, foi aprovado, atendendo-se à impossibilidade de se
fazer no momento, organização mais perfeita, em virtude da falta de professores em número suficiente.
Por esse motivo, algumas das demonstrações realizadas nas circunscrições não produziram pleno
resultado apesar dos esforços verdadeiramente abnegados dos professores, dispendidos durante este ano com
grande intensidade.
Algumas destas demonstrações, porém, impressionaram otimamente, sob o ponto de vista disciplinar,
pela excelência do programa organizado, pela meticulosidade do lado artístico, pela cordialidade e entusiasmo
reinante, principalmente nas 12ª e 14ª circunscrições.
Convém salientar a interpretação pessoal e interessante que as professoras deram ao ensino coletivo de
saudações e efeitos plásticos orfeônicos, sem se afastarem da orientação traçada, dando colorido e caráter novo a
esta parte do programa, pela diversidade com que foram apresentadas.
Atingiu a 31.324, o Nº de alunos das escolas municipais que tomaram parte nas demonstrações
realizadas nas circunscrições, campo do Russel, Estádio do Fluminense Foot-Ball Club e Teatro Municipal, o
que representa uma grande promessa para a educação cívico-musical das gerações futuras.
Entre os trabalhos e jogos municipais apresentados à SEMA, pelas circunscrições, merece menção
especial, os da 8ª Circunscrição, merecendo também referência especial os trabalhos da direção do Orfeão
Artístico Ferreira Viana, confiados a alunos regentes de seis a onze anos de idade.
Planejei o aproveitamento da Escola de Música Archangelo Corelli, dando maior amplitude à sua boa
organização e transformando-a num Instituto de Educação Musical Popular, para o que apresentei ao Sr. Diretor
Geral, os necessários esclarecimentos, consubstanciados num projeto, sob a forma de decreto.
Com a organização deste Instituto entre outros fins elevados a SEMA colimava o de lançar as bases da
educação popular, fazendo passar pelo crivo de um julgamento imparcial e idôneo, as produções dos
compositores populares, desde os de cultura média, até os dos morros, classificando-as e orientando-as para
fugirem da encruzilhada escura em que se encontram, influenciados pelo “folclore” estrangeiros e mais
notadamente pelo “Yankee”.
Constando do programa de educação popular, não só a educação musical como a artística em geral, e
atendendo a que a Dança (gênero Diaghilew) é um dos elementos mais importantes dessa educação e a que tem
maiores afinidades com a música, era intuito meu, cuidar, com muito interesse, no Instituto, desse importante
ramo da arte.
Para esse fim, tracei e apresentei ao Sr. Diretor Geral, o plano de organização de uma Seção dedicada
exclusivamente à Dança, que criaria uma nova forma de bailados tipicamente brasileiros, desde os populares até
os mais elevados.
Nesta nova Seção seriam aproveitados não só os bailarinos revelados pelo ensino da educação física e
recreativa, como os estudantes de desenho, que mostrassem tendências para cenógrafos, e ainda os que
apresentassem vocação para a modelagem.
Assim, essa Secção faria um aproveitamento geral de todos os elementos dos diversos ramos do
Departamento de Educação, que revelassem aptidões artísticas especiais, criando um ambiente novo, tipicamente
brasileiro.
Obedecendo aos intuitos da SEMA, de pugnar pela educação do bom gosto artístico dos escolares,
sugeri aos professores, a apresentação aos alunos, de música selecionadas, em discos por mim escolhidos
conforme relação apresentada.
O trabalho da SEMA no ano 1934, constou do seguinte:
Frequentaram com regularidade os lº e 2º cursos, tendo apresentado relatório exigido, 282 professores.
Segundo edital do Sr. Diretor Geral, de 19 de maio de 1934, foi aberta nova inscrição para os Cursos de
Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico, para os professores de classes
elementares que não tinham ainda recebido as primeiras noções para o ensino de canto orfeônico e ainda para os
professores especializados e membros do Orfeão de Professores.
Foram recebidos ofícios dos Srs. Superintendentes, de Educação Elementar e Diretores de escolas,
sobre designação de professores para frequência aos 1º e 2º cursos, tendo-se facultado também a matricula
espontânea, que permitiu a inscrição de grande número de professores não designados.
As matrículas dos 1º, 2º, 3º e 4º Cursos, atingiram, respectivamente a 507, 482, 137 e 139.
Grande foi o interesse despertado por esses cursos, como se pode verificar na segunda aula do 2º curso,
na qual os professores inscritos fizeram exercícios de manosolfa, cantando a duas vozes, com muita afinação e
perfeita sonoridade.
No 3º curso — cuja principal finalidade é congregar os professores para discussão e aperfeiçoamento
dos métodos de ensino e revisões nos programas do música nas escolas, — foram ventilados diversos assuntos
importantes, tais como: implantação do ensino de música nas escolas, estudo dos hinos e canções, classificação
de vozes, o ritmo como base da disciplina, leitura à primeira vista, músicas a serem ensinadas nas escolas,
Reparação do Oratório Vidapura e os meio t de aplica-lo nas escolas técnicas secundárias e Pré-Vocacional
Ferreira Viana.
No 4º curso, cuidou-se do estudo pratico das marchas canções a serem ensinadas nas escolas, tendo-se
em vista à necessidade dos alunos aprenderem a cantar, com igual correção a primeira e segunda voz. Esta
última é, geralmente, menosprezada, não só por exigir maior pratica de solfejo, tornando-se mais difícil como
porque o aluno a quem é atribuída, julga-se, erradamente, no desempenho de uma função secundária e ainda e
principalmente porque o aluno só í podendo cantar em conjunto, não toma gosto por ela, retendo-a na memória
para sua recreação intima. Para obviar estes inconvenientes, escrevi e adaptei marchas-canções especiais em que
a parte melódica aparece igualmente nas lª e 2ª vozes.
Para a primeira Demonstração Artística do Departamento de Educação foram feitos diversos ensaios
preliminares e tomadas diversas providencias preparatórias para remover dificuldades de diversas ordens,
lutando a SEMA com obstáculos vários como dificuldades de transporte e outros embaraços financeiros,
harmonização de horários, etc.
As dificuldades a contornar foram de tal vulto que a Demonstração foi precedida de um único ensaio
geral, feito no dia da Demonstração, poucas horas antes.
Apesar de tudo, porém, a Demonstração se realizou em boa ordem, dando resultado satisfatório,
podendo ser citada como um dos primeiros dos bons frutos colhidos pela SEMA, com a implantação do ensino
de música nas escolas.
Foi contratado para a SEMA, o gravador de músicas Mario Braz da Cunha que apresentou nesse mesmo
ano, vinte e um trabalhos de gravação.
Realizaram-se ensaios de conjunto nas escolas técnicas secundárias, tendo- se insistido sobre a
preparação dos Hinos Nacional e à Bandeira, e das marchas- canções “Dia de Alegria”, “Cantar para viver” e
“Canto do Pajé”.
Os professores das escolas masculinas, além das naturais dificuldades que se encontram para a
realização de uma obra vasta como a que tem em vista a SEMA - lutando contra a falta de local apropriado para
as aulas, com a amplitude e outras condições indispensáveis tiveram ainda de dispender muita energia para
impor disciplina uns cursos e imprimir orientação adequada, por serem eles constituídos de rapazes com caráter
já formado, sem a desejável plasticidade.
Houve ainda, para maior dificuldade, transferências de professores fora da época, impostas pela falta
dos mesmos em número suficiente para um distribuição que atendesse I todas as conveniências do ensino.
Não foram, porém, inúteis os esforços feitos. Os alunos da Escola Técnica Secundária Vde. Cairú,
deram prova disso numa visita de confraternização feita, om conjunto com outras escolas, ao Instituto de
Educação e deram elementos suficientes para, no fim do ano, por ocasião do encerramento das aulas, organizar-
se um Orfeão Artístico, o qual executou, a contento, um bom programa. Este mesmo Órfão realizou ainda a
contento, duas irradiações pelas estações P. R. D. 5 do Departamento de Educação o pela P. R. A. 2 Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro.
Os resultados colhidos nas escolas femininas, foram mais animadores, por encontrarem os professores
mais entusiasmo e mais gosto pelo ensino da música, entre alunos do sexo feminino.
Na escola Técnica Secundária Paulo de Frontin aproveitando-se o ensino preparatório realizado em
1933, como divulgação da cultura musical, foi feito, pelos professores de música e canto orfeônico um concurso
idêntico ao realizado anteriormente, no mesmo ano de 1933, para avaliar o grau de aproveitamento dos alunos,
para apreciação das músicas estudadas e para conhecer as preferencias e predileção dos alunos.
Procurou-se estender ao lar dos alunos, o interesse pelo canto orfeônico solicitando-se dos membros das
respectivas famílias, suas opiniões a respeito do assunto: sobre músicas aprendidas, sobre a influência do canto
nos hábitos e inclinações dos alunos, etc.
Está-se cogitando de organizar nessa Escola — Paulo de Frontin, — um conjunto orfeônico,
permitindo-se a inclusão de elementos estranhos a ela, pertencentes às famílias dos alunos, sendo admitidos
também os alunos do Curso Secundário noturno da mesma Escola.
Foram realizadas reuniões e visitas escolares, com o fim de promover a confraternização entre os alunos
das escolas técnicas secundárias, primárias e federais, por meio do canto orfeônico. Nessas reuniões eram
executados programas organizados pela SEMA, designando-se na ocasião, um aluno de cada escola presente
para, sem preparo prévio, fazer uma dissertação, expondo a impressão colhida. Estas reuniões tinham sempre a
presença dos professores inscritos nos Cursos de professores, e alunos do Externato Pedro II. Estes últimos, a
princípio não se interessavam pelo assunto, tendo mesmo manifestado na primeira reunião, atitudes pouco
agradáveis. Posteriormente, porém, diante de admoestações e exortações, modificaram-se, portando-se de
maneira elogiável, tornando-se frequentadores assíduos das reuniões, sendo também designados para as
costumeiras dissertações sobre as impressões colhidas.
Foram escolhidas, para todas as escolas, marchas-canções próprias para serem cantadas com evoluções,
tendo sido necessária, em algumas escolas, uma pequena fase preparatória, de exercícios de ritmo-base
indispensável para o completo êxito dessas demonstrações. Estendeu-se essa fase preparatória a todas as escolas,
primárias e secundárias, para maior uniformidade da aprendizagem, não se fizeram esperar muito, os resultados
almejados.
Em comemoração a, Tiradentes, o Orfeão Artístico da escola Pré-Vocacional Ferreira Viana tomou
parte na irradiação realizada na' Estação P. R. D. 5, no Instituto de Educação, tendo tido ótima execução o
programa organizado.
Um pequeno orfeão da escola José de Alencar tomou parte numa “Hora Infantil” da P. R. D. 5, com um
programa de irradiação de canto orfeônico que não teve melhor execução em virtude de ser muito exíguo o
espaço de estudo, não comportando, da maneira conveniente, a totalidade dos pequenos orfeonistas.
Em virtude de ser muito grande o número de professores a quem deveriam ser fornecidos os certificados
de frequência aos Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico, a D. P. A.
E., mediante modelo apresentado pela SEMA, fez a impressão dos mesmos em quantidade suficiente.
Pela D. P. A. E., foram impressos também, de acordo com os modelos dados pela SEMA, os cadernos
necessários para o ensino, dos quais sequiam anexos exemplares, que se destinam:
De acordo com o dec. Nº 4281, de 30 de Maio de 1934, foram nomeados 8 professores auxiliares da
SEMA, para as escolas técnicas secundárias. Para a especialização do ensino de Música e Canto Orfeônico,
foram designados para a SEMA, 12 professores primários, tendo sido dispensados 3.
Para maior desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino instrumental, foram contratados, na França,
os serviços do professor Edmond Dutro, especialista em instrumentos de madeira, e no Rio de Janeiro, do
professor Alvibar Nelson de Vasconcellos, especialista em instrumentos de metal.
Ficou assentada também, a realização de um curso especial aos professores, de música instrumental
dessas escolas, em dias e horas marcadas com a devida antecipação, sem prejuízo para os demais cursos.
O ensino de música instrumental nas escolas técnicas secundárias João Alfredo, Visconde Mauá e Pré-
Vocacional Ferreira Viana, sob a orientação dos professores contratados, está baseado em ótimos princípios e os
seus resultados foram os mais auspiciosos, apesar do curto espaço de tempo e outras circunstâncias
desfavoráveis.
Pelos professores contratados foram dadas aulas sobre “ataque de som” e para suprir a falta de métodos
apropriados para o ensino da técnica instrumental, foi escrita uma série, de exercícios adequados a esse fim, os
quais se destinavam também a despertar, por parte dos alunos, o interesse pela aprendizagem.
De acordo com o Sr. Diretor de Pesquisas Educacionais do Departamento de Educação, foi organizado
pela SEMA, um mapa de discos, selecionados por ordem de aplicação, para servir à educação do bom gosto
artístico dos que se interessam pelo progresso da arte musical.
Este desideratum poderá ser atingido, por meio de confronto entre as músicas tocadas, com a distinção
dos diversos gêneros — popular, clássico, etc.
A música popular entra na coleção de discos escolhidos, apenas para prender a atenção dos ouvintes e
servir-lhes de orientação, pois sem essa gradação dificilmente se consegue despertar interesse pelas músicas
sérias.
Seguem anexos, os mapas a que me refiro.
Desejando a SEMA, que não sejam executados nas escolas, programas que se desviem da orientação
educativa previamente traçada, como já vinha acontecendo em algumas escolas, está se cogitando da confecção
de três ou quatro peças pequenas, para Teatro Infantil, num gênero entre a “zarzuela” e a “opereta”, dentro da
psicologia, temperamento e mentalidade das nossas crianças. Estas peças compostas de músicas de temas
populares infantis, serão ilustradas com cenografia e bailados:
Como meio prático e preciso para se organizar qualquer demonstração orfeônico, será definitivamente
organizado um Mapa Geral das Circunscrições e Escolas Técnicas, no qual os professores especializados- e
orientadores discriminarão o número de alunos classificados, pertencentes ao orfeão artístico de cada escola,
repertório e observações feitas. Depois de preenchido esse Mapa, serão as escolas visitadas e julgadas por mim
ou por auxiliares. Desse modo poderá a SEMA congregar, de uma hora para outra, bons elementos para uma
concentração, sem grande trabalho e sem prejudicar a organização normal das escolas.
Aos Interventores e Diretores de Instrução de todos os Estados do Brasil, foi enviado o seguinte apelo:
“No momento atual, em que o problema de educação do nosso povo ganha um apreço de tão grande
expressão em todo o Brasil, a propagação do ensino de música e canto orfeônico, em todos os Estados, como
fator de capital importância na disciplina coletiva indispensável ao progresso de qualquer povo, tem um sentido
altamente fecundo.
Ouso, pois, apelar para V. Ex., para que seja incluído, ao lado das oportunas providencias que têm feito
avançar, nesse Estado, a solução do problema educacional — o ensino de música e a organização de orfeões
escolares e extra-escolares, solicitação que me animo a fazer sobre tudo pela convicção que tenho, da existência,
no magistério local, de elementos capazes de realizar, brilhantemente, obra de tanta relevância social.
Para essa tarefa que nunca será demasiado cedo para iniciar nesse Estado, que sempre tem
acompanhado, com entusiasmo, na vanguarda, os movimentos culturais que, como o sugerido, tão
patrioticamente se propõem a colocar a mentalidade artística da gente brasileira, a altura da dos grandes centros
de cultura mundiais — poderia ser organizada uma caravana de professores que possuam diploma do Instituto
Nacional de Música ou documentos idôneos, comprovante da pratica do ensino de música, pelo menos por três
anos, — condição indispensável para que os mesmos disponham dos necessários conhecimentos especializados,
dentro da orientação dada pela Superintendência de Educação Musical e Artística do Departamento de Educação
do Distrito Federal, — para uma conscienciosa execução dos nossos hinos e canções, na mais bela e fervorosa
demonstração coletiva de civismo.
Para essa fase de preparação a esse movimento de tão nobres ideais, remeto a V. Ex., prospectos de
apela à espontânea sensibilidade da nossa raça — característico inconfundível da nossa gente, que a torna
musical por excelência, mas infelizmente até agora tão mal aproveitada.
Esperando de V. Ex. a acolhida que merece tão grandioso empreendimento, cumprimenta o admirador e
patrício”.
a) H. Villa-Lobos — Superintendente
A SEMA recebeu, de vários Estados, a resposta a este apelo e teve a satisfação de se certificar de que já
em diversos Estados, como por exemplo Pernambuco, Minas, Paraíba, do Norte, vem sendo implantado o ensino
do canto orfeônico com apreciáveis resultados.
Atendendo ao convite do Exmo. Snr. Interventor do Estado de Pernambuco e o Exmo. Snr. Comandante
da 7ª Região Militar — convite este transmitido por intermédio do Snr. Cap. Laurentino Lopes Honorino, chefe
da Educação Física da 7ª Região Militar, — fui, de acordo com o Snr. Diretor Geral, a Recife, onde estive de 4 a
18 de julho.
A minha ida a Recife teve por principal escopo, dar orientação numa demonstração orfeônica planejada,
com o concurso das bandas militares da 7ª Região Militar - Pará, R. Gde. do Norte, Paraíba do Norte e
Pernambuco, as quais constituíram um imponente torneio, musical em que a do Ceará foi classificada em
primeiro lugar, sendo as demais contempladas com valiosos prêmios — medalhas de ouro com menção honrosa,
pela disciplina, pelo grau de adiantamento, pelo entusiasmo e pela perfeita execução do programa a cada uma
atribuída.
A fim de serem feitos os últimos ensaios de apuro dos Orfeões Artísticos, foi designado, segundo
autorização do Snr. Diretor Geral, o professor Silvio Salema, Garção Ribeiro, que desempenhou perfeitamente
bem a sua missão, orientando os belíssimos espetáculos aí realizados.
Visitei várias escolas, das quais colhi ótimas impressões.
Por intermédio do Exmo. Snr. Ramón Cárcano, Embaixador da República Argentina, foi enviado para o
Conselho Nacional de Educação de Buenos Aires, o programa do ensino musical organizado pela SEMA.
Ainda por intermédio e distinção dessa autoridade diplomática aquele Conselho agradeceu a remessa da
SEMA, enviando um ofício.
Por ocasião da visita que o Professor Francisco Curt Lange, diretor da Seção de Investigações musicais
do Instituto de Estudos Superiores do Uruguai, fez ao Brasil quando realizava uma série de conferências sobre o
ensino de música na América do Sul, teve oportunidade para expender os seguintes conceitos:
“Quem conhecer o ensino musical no mundo inteiro, ficará certamente surpreendido, sentindo que
Villa-Lobos, impôs espontaneamente, como uma necessidade íntima, uma renovação do ensino musical ativo.
Villa-Lobos não está somente criando um público passivo ante as manifestações musicais, de cujo seio mais
tarde, surgirão profissionais e, talvez artistas criadores — gênios; este futuro público saberá então, ouvir,
discernir e criticar a música — fenômeno primário, manifestação indispensável, parte integrante de todas as
atividades da vida”.
O trabalho da SEMA no ano de 1935, foi muito mais intenso do que nos anos anteriores, não só por ter
de completar empreendimentos iniciados no ano anterior como porque o seu campo de ação vai se tornando cada
vez mais amplo.
Realizaram-se em 1935:
Nas aulas dos lº e 2º cursos, o programa foi aumentado de muita matéria nova sugerida pela experiência,
graças ao entusiasmo e boa vontade dos professores inscritos.
Os 3º e 4º cursos constaram de ensaios do Orfeão de Professores, estudo dos hinos, canções escolares e
missas executadas pelos professores especializados e membros do Orfeão.
Foram realizados ensaios nas escolas que tomaram parte nas demonstrações realizadas no Auditorium
do Instituto de Educação, Campo do Club de Regatas Vasco da Gama, na Esplanada do Castelo, 3ª Conferência
Pan-Americana e Centenário Farroupilha.
Foram também realizadas, duas reuniões de confraternização dos professores especialistas em
instrumento de sopro, com a solenidade da implantação do Diapasão modelo (“la” padrão) do Departamento de
Educação.
Em março foi determinado, de acordo com o Snr. Diretor Geral que, no período de matricula nas
escolas, fosse feita a primeira classificação e seleção provisória dos alunos matriculados, tendo sido feitos na D.
P. A. E., mapas, apropriados, cujo modelo se encontra no fim deste relatório.
Tendo sido contratado pelo Teatro Colon de Buenos Aires, para dirigir uma série de concertos e
espetáculos de gala, realizados por ocasião da visita do Exmo. Snr. Dr. Getúlio Vargas á Capital platina, designei
para dar as aulas nos cursos, durante a minha ausência, diversos professores, os quais deram desempenho
brilhante á sua incumbência. As minhas instruções foram cumpridas com a deseja pontualidade, tendo sido
realizados ensaios parciais e de conjunto reco- mentados e demais serviços da SEMA, graças aos esforços dos
meus substitutos temporários.
Desejando dar uma demonstração pública da eficiência dos, métodos de ensino da SEMA por ocasião
do 7º Congresso de Educação, fiz incluir no programa a executar, além da parte musical propriamente dita, feita
improvisadamente por meio do manosolfa, sem ensaio prévio, — uma difícil alegoria — EVOCAÇÃO À ARTE
E A CIÊNCIA, para a qual foram ensaiados antes, apenas os efeitos rítmicos. A ciência foi representada pela
máquina, imitada pelos efeitos plásticos, rítmicos e de timbres, e a Arte pelo manosolfa cantado
interpretativamente, a uma e duas vozes — vogal e boca fechada.
Foram tomadas providencias para a Demonstração de 7 de julho com o concurso de 30.000 vozes
escolares.
Organizei a planta da concentração a qual foi reproduzida em diversos jornais.
Foram realizados 6 Concertos Educativos, sob a minha orientação cujos programas foram entregados à
Banda do Corpo de Bombeiros.
Por ocasião dos concertos, fiz ligeiras conferências a respeito das músicas executadas e respectivos
autores, com complicações sobre o seu sentido e sobre os instrumentos utilizados na execução e com apologia da
arte musical.
De ordem do Snr. Diretor Geral, as escolas secundárias tomaram parlo na comemoração do Dia da
Pátria, na Esplanada do Castelo, tendo sido incorporada às escolas federais e particulares e às Bandas que
tomaram parte no encerramento do VII Congresso de Educação.
O Dia da Pátria foi também comemorado polo Orfeão de Professores, em espetáculo realizado no
Teatro Municipal.
O Centenário Farroupilha foi comemorado por festividades realizada, nas escolas Getúlio Vargas, com a
participação da escola Venezuela, e no Teatro Municipal pelo Orfeão de Professores.
Por ocasião da IIIª Conferência Pan-Americana da Cruz Vermelha, no Teatro Municipal, foi executado
um programa pelas escolas técnicas secundárias.
Ao encerrar-se esta Conferência, foi realizada uma festa escolar de despedida aos Delegados à mesma.
Finalizando a festividade, foram feitas saudações com bandeiras verdes e amarelas, formando-se na plateia uma
cruz, simbolizando a Cruz Vermelha Brasileira.
Por deliberação da Secretária Geral de Educação e Cultura, a SEMA realizou 2 concertos em
homenagem à IIIª, Conferência de Higiene Mental, o primeiro executado pelo Orfeão de Professores e Orquestra
do Teatro Municipal, e o segundo pelo Orfeão de Professores (coro a seco).
Por ocasião da visita do ilustre intelectual Kerridge, conferencista e professor do “Trinity College”, de
Londres, — grande autoridade europeia sobre assuntos musicais, foi organizada uma audição especial no
Instituto de Educação, com escolas primárias e secundárias.
Referindo-se ao que ouvira no Instituto de Educação, disse o professor Kerridge: “Trago dali uma
impressão deslumbrante. Não pensava encontrar o ensino comum da música, tão bem organizado num país novo.
Admitiria esse programa na Alemanha. Mas me surpreendeu verdadeiramente, o que ouvi naquela escola
brasileira”.
A sua crítica altamente valiosa, foi definida nestes termos brilhantes: “Além do lado artístico, que é
relevante, notei, nos orfeões que ouvi, um grau surpreendente de disciplina que se refletirá, certamente, há
coesão que o povo deve manter para a formação de uma grande nacionalidade”.
A SEMA deliberou que em todas as escolas fossem organizados orfeões artísticos com 70 alunos, no
máximo, cabendo a direção dos mesmos aos respectivos alunos regentes, como já vem sendo feito, na escola pré-
vocacional Ferreira Viana desde o início da implantação do ensino do canto orfeônico.
O corpo discente da escola “José de Alencar”, composto de 1.200 alunos, constitui um campo excelente
para o ensino de música e canto orfeônico, não só pelo apreciável adiantamento que apresenta, graças ao
ininterrupto de quatro anos como pelos exemplos não raro de precocidade artística que nele se encontram.
Entre estes merece citação especial, uma menina de 9 anos de idade que já é notável pianista, com
aptidões especiais para a composição, e um menino de 10 anos que sem ter tido anteriormente qualquer iniciação
artístico-musical, revelou-se, nas aulas de canto orfeônico, um ótimo regente, com absoluta noção de ritmo,
consciência do som e domínio sobre o conjunto, sendo dotado ainda de regular capacidade organizadora e de
trabalho. É o primeiro regente do orfeão artístico da escola e, com a autorização da Diretora da escola, onde é
professora uma senhora de sua família, formou um orfeão, ensinando-lhe vários hinos e canções que foram
cantados sob a sua regência, na Festa da Bandeira.
A sua capacidade de organização e de direção se torna mais notável, atendendo-se à circunstância de
haver entre os alunos subordinados a ele, muitos de idade superior, sobre os quais mantém autoridade, conforme
constatação feita pelas Orientação da Circunscrição.
Merece também referência especial, uma outra aluna que, além de se ter revelado uma boa regente, com
personalidade própria, revelou-se também na composição, escrevendo uma música por ela mesma ensaiada na
escola, a qual é a- presentada, sob a sua regência, sempre que a escola realiza qualquer festividade.
Esta música é a duas vozes, notando-se que a sua autora ao fazê-la, influenciou-se pela marcha-canção
“Cantar para viver”.
A festividade de encerramento de uma escola, foi entregue aos cuidados dos alunos, tendo sido nessa
ocasião inaugurada a sala de música “Carlos Gomes”.
Está sendo ultimado o primeiro volume do “Guia Prático” para educação musical e artística do
Departamento de Educação. Essa obra está dividida em seis volumes:
1º Volume — Recreativo - Musical: Cantigas infantis populares cantadas pelas crianças brasileiras;
2º Volume — Cívico - Musical: Hinos Brasileiros, estrangeiros e escolares e canções patrióticas;
3º Volume — Recreativo - Artístico: Canções escolares, nacionais e estrangeiras;
4º Volume — Folclórico - Musical: Temas dos nossos índios; temas mestiços; temas africanos; temas
americanos e temas comuns populares;
5º Volume — Livre escolha dos alunos: músicas selecionadas com o fim de permitir a observação do
progresso do temperamento e do gosto artístico revelados na escolha feita pelo aluno, das músicas adotadas para
esse gênero de educação.
6º Volume — Artístico - Musical: Músicas litúrgicas, clássicas e profanas, nacionais e estrangeiras.
Gêneros accessíveis.
A parte literária do lº volume já foi inteiramente revista e corrigida pelo Dr. Afrânio Peixoto.
Com a criação da Universidade do Distrito Federal, fui contratado pelo Snr. Reitor, por intermédio do
Instituto de Artes Dr. Celso Kelly para o cargo de chefe do sector musical.
Os exames de admissão ao curso de professor secundário de música, constaram dos seguintes pontos
organizados pela SEMA:
Em Buenos Aires dirigi oito concertos e cinco espetáculos de bailado. Foi levado em primeira audição o
meu bailado brasileiro “Uirapurú” (lenda do pássaro encantado), cujo assunto foi inspirado numa lenda paraense
desse mesmo nome.
Este bailado foi por mim dirigido no espetáculo de gala realizado no Teatro Colón de Buenos Aires, por
ocasião da visita do Exmo. Sr. Presidente da Republica, Dr. Getúlio Vargas, à nação argentina.
Nas vésperas de minha partida para o Rio de Janeiro, fiz duas Conferências para todo o magistério e
alunos das escolas secundarias, dissertando na primeira sobre - “A música na escola primaria e a tarefa que
incumbe ao mestre, para despertar o sentimento estético da criança. Esta Conferência teve a presença do Inspetor
Técnico Geral das escolas da Capital, que dirigiu um convite a todos os diretores e pessoal docente das escolas
da Capital, tornando obrigatória a concorrência dos professores à mesma.
Na segunda Conferência, dissertei sobre — A Música como veículo de Paz Universal, assunto oportuno,
pois nessa época se tratava da paz entre o Paraguai e a Bolívia.
Para esta Conferência organizei os seguintes itens:
De acordo com o Snr. Diretor do Departamento de Educação, foi aberta a inscrição para a frequência
dos Cursos de Orientação e Aperfeiçoamento do Ensino de Música e Canto Orfeônico.
Foram enviados à SEMA pelos Srs. Superintendentes de Educação Elementar e Srs. Diretores de
Escolas, ofícios, designando professores para frequentarem os
1º e 2º Cursos, tendo-se facultado a matricula espontânea que desse modo permitiu, como já se vinha
realizando anteriormente, a inscrição de grande número de professores. As matrículas atingiram a 320 (lº e 2º
cursos) e 139 (3º e 4º).
Frequentaram com regularidade os 1º e 2º cursos, tendo cumprido as exigências da SEMA 254
professores, aos quais foram conferidos certificados.
Tem sido crescente o entusiasmo, interesse e aproveitamento por parte dos Srs. Professores cujos
relatórios apresentados têm demonstrado de modo eficiente os resultados colhidos.
Em combinação com o Snr. Secretário Geral de Educação e Cultura e o Snr. Diretor da Escola de
Educação Física do Exército, foi, no mês de Marco, inaugurada a Colônia de Férias na mesma Escola, que teve a
duração de 21 dias.
As crianças que constituíam a Colônia, em número de 100, eram filhos de famílias pobres, residentes
nos Morros do Pinto e Pedra do Sal.
Por ocasião do ato de inauguração implantei o ensino do canto orfeônico tendo confiado os trabalhos
regulares aos professores: Silvio Salema Garção, Orlando Frederico, Gumercindo Jaulino e Canuto Roque Regis.
Embora essas crianças desconhecessem o ensino desta disciplina, foi o mesmo, no entretanto, desde
logo, recebido por elas com o máximo interesse e carinho.
Foi organizado o horário de aulas, sendo içada, diariamente, às 7 horas da manhã, a bandeira e entoados
os hinos Nacional e à Bandeira. Às 14 horas eram as crianças divididas em turmas, sendo-lhes aplicado o ensino
regular, por audição.
A pedido do Snr. Comandante da Fortaleza de S. João, foi, também, nessa ocasião, ministrado o ensino
dos hinos e canções aos soldados, os quais, conjuntamente com as crianças e as bandas de música da mesma
Fortaleza e da Policia Municipal, encerraram os trabalhos executando, a contento, um programa, que mereceu
das autoridades e pessoas presentes os mais entusiásticos aplausos.
Ao regressarem os alunos às suas residências, repetiram o mesmo programa no Morro do Pinto, a fim de
que os moradores assistissem e julgassem do trabalho realizado em tão pouco tempo e a sua influência na atitude
e disciplina dos mesmos, de meio e idades tão diferentes.
Por ocasião da inauguração das escolas Baía. Rio Grande do Sul e Mato Grosso, foram, por esta
Superintendência, organizados e dirigidos os programas de canto orfeônico. tendo sido os mesmos impressos na
D. P. A. E.
Merece ser destacada neste relato rio a D. P. A. E. pela valiosa colaboração que presta sempre a esta
Superintendência, imprimindo programas, instalando arquibancadas e palanques para as demonstrações,
inaugurações de escolas e etc.
Atendendo à conveniência do serviço foram feitas várias transferências, dispensas e designações de
professores especializados.
Desejou a SEMA que a sua ação se estendesse com todo o interesse à 14ª Circunscrição, o que aliás não
pode ser levado a efeito, atendendo a que os professores para lá designados, eram contratados e além de
perceberem apenas 300$000 não tinham direito à gratificação e nem ao auxílio para locomoção, razão pela qual
não puderam ser continuados os trabalhos já iniciados. Assim mesmo, na Semana Rural, foram apresentados, em
muitas escolas, programas' de canto orfeônico, com grande resultado. Para os alunos dessa Circunscrição,
realizou a SEMA um Concerto Educativo, com o concurso da Banda do Corpo de Bombeiros inaugurando a
Semana acima referida.
Em Março, foi por mim apresentada ao Exmo. Snr. Prefeito do Distrito Federal, uma proposta sobre a
construção do Teatro da Floresta.
À Biblioteca Central de Educação foi enviada uma coleção de músicas e relação de livros sobre
assuntos musicais.
Tendo sido designado pelo Exmo. Snr. Presidente da República para representar o Brasil no Congresso
de Educação Musical em Praga, e recebendo um convite de Viena para fazer parte do Júri Internacional de
melodias, ficou respondendo pelo expediente desta Superintendência de 2 de Abril a 12 de Junho, a 4.o oficial,
secretaria da SEMA, Arminda Neves d’Almeida, que desempenhou muito a contento as atribuições que lhe
foram confiadas por ocasião da minha partida.
Foram por mim designados para realizarem aulas-conferências, nos 3º e 4º Cursos, maestro Lorenzo
Fernandez, Dr. Andrade Muricy e Frei Pedro Sinzig, os quais desempenharam perfeitamente as suas funções.
Ficou encarregado da parte relativa a ensaios do Orfeão de Professores, o professor auxiliar da Sema, José Vieira
Brandão.
Realizaram aulas nos 1º e 2º Cursos, os professores, Arminda Neves d’ Almeida, Silvio Salema, Garção
Ribeiro e José Vieira Brandão.
De acordo com o que ficou determinado, foi pelo 4.o oficial realizado o seguinte trabalho:
a) designação de comissões;
b) instalação da arquibancada e palanque pela Diretoria de obras do Ministério de Educação;
c) impressão de prospectos e programas na D.P.A.E.;
d) confecção de bandeiras na SE MA;
e) requisição de condução para os alunos;
f) designação de professores da SEMA para preparo dos alunos do Externato Pedro II e Fundação
Osorio que se incorporaram às escolas municipais;
g) copias de músicas para as escolas e bandas;
h) ensaios parciais e em conjunto;
i) ensaio de conjunto das bandas;
j) instalação de autos-falantes que, como sempre, tem prejudicado a realização das
demonstrações ao ar livre pela sua deficiência.
Essa concentração, embora não tivesse sido realizada num local apropriado e ainda mais, com a má
instalação de autos-falantes, realizou-se muito a contento e com sucesso, salientando-se do programa as
saudações orfeônicas feitas com bandeirinhas, o que demonstrou o progresso sempre crescente da disciplina
orfeônica implantada nas escolas.
Desejando a Coligação Católica homenagear o Sr. Secretário de Educação pela obrigatoriedade do
ensino religioso, realizando uma missa campal, foi a SEMA encarregada de organizar é dirigir o programa.
Para esse fim foram convocadas e preparadas as escolas técnicas secundárias João Alfredo, Rivadavia
Corrêa, Tiradentes e Orfeão de Professores.
Representando diversas escolas compareceram várias escolas técnicas secundárias e elementares, as
quais ao terminar a missa se incorporarem às outras, tendo desfilado cantando diante do palanque-chefe, fazendo
saudações com bandeirinhas.
Por solicitação da Superintendência de Educação Física, Recreação e Jogos foram instrumentadas
músicas para banda.
Com a autorização do Sr. Diretor de Educação foi deliberado que os alunos do Curso de Música da
Universidade do Distrito Federal praticassem nas escolas com os orientadores da SEMA.
Foi apresentado ao Sr. Diretor um estudo sobre programa mínimo a fim de ser acomodado nos horários
das escolas.
Organizaram-se programas de ensino para serem aplicados nas escolas elementares e secundarias
Por solicitação da Sra. Diretora da Escola Noturna que funciona no Edifício da Escola José de Alencar,
cuja frequência é constituída na maioria de adultos empregados domésticos e no comercio, foram ensinados pela
orientadora da 2ª Circunscrição, os hinos Nacional e à Bandeira, procedido de uma pequena exortação cívica e
explicação da letra e história desses hinos.
Esse ensino foi recebido com grande entusiasmo pelos alunos e no dia da Bandeira fizeram a
comemoração entoando os hinos aprendidos.
Tendo o Governador de Sergipe solicitado ao Sr. Prefeito um professor da SEMA para implantar
naquele Estado a orientação traçada por esta Superintendência, foi designado o professor auxiliar da SEMA, José
vieira Brandão, que vem desempenhando cabalmente as suas funções, tendo mesmo, realizado uma grande
demonstração e organizado um Orfeão Artístico que várias vezes tem se presentado em público.
O professor do Estado da Paraíba que esteve em comissão de estudos na SEMA. durante um ano
conseguiu realizar, em pouco tempo, demonstrações e trabalhos inteiramente de acordo com a orientação traçada
por esta Superintendência.
No Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, o ensino de canto orfeônico, cujo professor vem desde
o início recebendo da SEMA, orientação e instruções quanto á aplicação do mesmo, teve este ano um movimento
mais intensivo e eficiente, tendo sido demonstrados no Estádio “Otacílio Negrão”, por 4.000 escolares,
conjuntamente com bandas de música, os resultados dos trabalhos realizados, executando programas de músicas
adotadas pela SEMA.
Havendo também, o Sr. Secretário Geral de Educação do Estado do Pará, solicitado a designação de um
professor da SEMA para implantar o ensino de canto orfeônico no mesmo Estado, e não sendo possível no
momento retirar da SEMA mais nenhum professor, devido ao cumulo de trabalho, sugeri, fosse enviado do
Estado. oficialmente, um professor afim de frequentar os Cursos e se orientar no serviço interno e externo da
SEMA. Atendendo à sugestão desta Superintendência. foi designada uma professora que não só assistiu a todos
os Cursos, mas também trabalhou nas escolas e na sede da SEMA.
Ainda por solicitação do Diretor do Departamento de Cultura e Recreação do Estado de S. Paulo, foram
enviados programas e músicas adotadas pela SEMA.
De acordo com o Sr. Diretor de Educação realizou-se uma Audição Educativa de intercâmbio entre os
“meninos cantores de Viena” e os nossos escolares.
Esta audição teve por fim proporcionar aos nossos escolares a oportunidade de assistirem a um
programa puramente artístico, e apresentarem, na mais perfeita execução, um programa de hinos e canções
adotados nas nossas escolas demonstrando, assim, o grau de adiantamento em que está a nossa educação cívica-
artística, embora não seja a sua aplicação o ponto principal abordado pela SEMA.
A SEMA cogita em primeiro lugar da educação da disciplina coletiva e cívica, mas a artística já é digna
de ser elogiada, principalmente em algumas escolas nas quais os Orfeões Artísticos podem ser apresentados sem
o menor constrangimento.
Foi organizado da seguinte maneira a localização geral para essa audição, no Teatro Municipal:
Palco — meninos cantores de Viena; Plateia — escolas que tomaram parte na execução do programa;
Balcões e Galerias — comissões de alunos de várias escolas (espectadores).
Foi adotado o seguinte critério na seleção dessas comissões: 10 alunos como “prêmio” de
comportamento e aproveitamento e 10 alunos “ouvintes” (não anormais) como estímulo.
A disciplina foi a mais perfeita possível merecendo também ser louvada a execução do programa dos
nossos escolares que, segundo opiniões, não ficaram aquém dos meninos cantores, profissionais e que somente
se dedicam ao apuro e preparo dos seus programas, o que não se verifica com as nossas crianças que, além das
muitas obrigações escolares, lutam com a má vontade de (salvo algumas exceções) das nossas autoridades de
ensino que julgam nulidade o ensino de canto orfeônico visando o mesmo, apenas, o valor recreativo.
A comemoração do Dia da Bandeira realizada na Esplanada do Castelo, teve a sua organização
prejudicada pela falta de antecedência na comunicação para o preparo da mesma; sendo julgada, no ponto de
vista da SEMA, a pior demonstração realizada até então. Merece ser destacada a execução dos hinos pelas
escolas, que foi perfeita, verificando-se, o desequilíbrio das bandas de música.
Foram comemorados o centenário de Pereira Passos e Quintino Bocaiúva nas respectivas escolas, tendo
sido preparado um programa de canto orfeônico.
Atendendo a solicitação do Sr. Prefeito foi também pelo Orfeão de Professores executado um programa
no Teatro Municipal.
Prosseguiu nesse ano, a Série de Concertos Sinfônicos Culturais realizados, sob a minha organização e
direção, constando de 4 concertos, tendo sido o último dedicado ao magistério e funcionários municipais. Nesse
concerto foi executado, pela primeira vez na América do Sul o grande oratório de Haendel - “Judas Maccabeus”.
Por solicitação de uma comissão do Ministério de Justiça, encarregada da Semana da Criança, realizei a
sua inauguração, no Teatro João Caetano, com um programa de canto orfeônico. De acordo com o Sr. Diretor
foram convocadas as escolas elementares Tiradentes, Vicente Licínio, Minas Gerais, Deodoro, Celestino Silva e
Estados Unidos, as quais se localizaram na plateia e balcões. Não houve tempo para preparo de um novo
programa, pois esta providência foi tomada em dois dias apenas, constituindo apesar disso, um sucesso, a
execução do programa, pelo qual se manifestaram entusiasmadas as autoridades presentes.
Por solicitação do Diretor da Escola de Polícia, foi designado o professor Homero Dornelas para
ministrar os ensinamentos sobre a execução dos hinos Nacional e da Bandeira a uma turma de guardas da
Diretoria de Segurança, desempenhando o referido professor com absoluta eficiência as suas funções.
Atendendo a solicitação do Snr. Ministro das Relações Exteriores e de acordo com o Sr. Prefeito do
Distrito Federal, foi a SEMA encarregada de organizar e dirigir um programa, no Cais Mauá, por ocasião da
chegada do Presidente dos Estados Unidos: Mr. F. Roosevelt.
Tomaram parte as escolas elementares Tiradentes, Vicente Licínio, Francisco Cabrita, República do
Peru e Estados Unidos e técnicas secundarias João Alfredo, Visconde Cayrú, Souza Aguiar, Bento Ribeiro,
Orsina da Fonseca, Paulo de Frontin, Rivadavia Corrêa e as escolas federais: Externato e Internato Pedro II.
Foram confeccionadas na SEMA as bandeiras das cores americanas, tendo sido feitas pelos alunos
saudações com as mesmas, formando a bandeira americana.
Constituiu uma vitória para a SEMA, o interesse tomado pelos Doutorandos em Direito e Química
Industrial, de 1936, solicitando a esta Superintendência professores para o preparo do Hino Nacional, por
ocasião da colação de grau.
É esta a síntese dos trabalhos realizados pela SEMA no decorrer do ano de 1932 a 1936 e das sugestões
apresentadas para maior eficiência desta Superintendência, nos anos subsequentes.
Os trabalhos realizados pela SEMA talvez ainda não tenham o vulto desejado, mas representam, fora de
qualquer dúvida, o grande esforço empregado pela SEMA, exercendo, com boa vontade, estoicismo e abnegação
o verdadeiro sacerdócio que lhe foi confiado.