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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS CORNÉLIO PROCOPIO


CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO

BRUNA CAROLINA BATISTA

Resumo Expandido

Resumo expandido desenvolvido para especialização, da


Universidade Estadual do Norte do Paraná, como
requisito parcial da disciplina.
Professora da Disciplina: Profª Carla Holanda

CORNÉLIO PROCÓPIO - PR
2019
DESCOLONIZAÇÃO DA IDENTIDADE AFRICANA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA

Fernando Botto Lamóglia

Resumo
O trabalho apresenta reflexões que permitem instituições de ensino e corpo
docente, assim contribui com as lutas dos movimentos sociais negros, também no
exercício do papel enquanto educador que auxilia para uma construção de uma
identidade angolana, e corrobora para que cuja Lei 10.639/2003 seja estabelecida. A
questão da língua portuguesa também é discutida no relato, que traz nas
considerações finais o papel que o docente tem frente ao desafio de contribuir
enquanto educador para uma (re)construção da identidade angolana pós-
independência.

Palavras-chaves: Identidade angolana. Educação. Colonização

Introdução

A relevância do tema trabalhado é de mui importância na Lei 10.639/2003,


cujo estabelece a obrigatoriedade do Ensino da História da África e dos africanos no
Brasil. Por ainda se discutir pouco o tema e apresentar escassez de relatos de
experiência voltados à temática tornam se favoráveis a criação de estereótipos.
Lamóglia
Reis e Cruz (2013) apontam que a Lei ainda permite que as instituições de
ensino e educadores possam refletir e contribuir com as lutas dos movimentos
sociais negros, desse modo prontifica para o fortalecimento de uma educação anti-
racista; algo que manifestado ainda no cotidiano escolar é o racismo; portanto a
urgente compreensão da questão racial no Brasil se faz necessário, e a influência
que as linguagens escolares possuem podem sim findar a reprodução de
preconceitos raciais e extinguir a histórica orientação eurocêntrica da educação
brasileira; caminhando nessa direção, estaremos também construindo uma
educação voltada para a descolonialidade.
Refletir sobre a relação étnico- racial enquanto um processo de valorização e
(re)educação possibilita reconhecer a formação da cultura brasileira, como também
sua nacionalidade, de fato a cultura africana é uma das matrizes identitárias do
brasileiro, porém é desqualificada, marginalizada e negada por paradigmas
eurocêntricos, cujo são fomentadas por vezes mediante a práticas pedagógicas,
livros e professores que ainda não aderiram um movimento de descolonização9.
(REIS; CRUZ, 2013)
O autor Lamóglia (2015, p. 2) deixa uma fala interessante quando diz que
“quanto mais distante de algo um míope estiver, mais distorcida será a sua visão”.
Essa asserção deixa a tona um erro constante de percepção referente à África
enquanto continente, pois o limita e homogeneíza; contudo “a África é um encontro
de paradoxos, de multiplicidades culturais, geográficas e sociais, de extremos e de
limitações” (p. 3).
A composição da formação da história e identidade brasileira em relação à
África é vaga, ausente e distorcida em livros didáticos, também desvaloriza o negro;
nesse sentido o brasileiro de ascendência africana se privou ao longo
dos tempos a memória de seus ancestrais, porém as outras ascendências étnicas
que compõem brasileiros também devem se interessar pela cultura africana, pois
Munanga aponta que:

[...] tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos


quotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar
das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram
cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e
da identidade nacional. (MUNANGA, 2005, p.16)

Dentro deste contexto, o espaço escolar, as práticas pedagógicas podem ser


um dos caminhos para que outras culturas e linguagens possam ser abordadas, e
ganhar conotação, bem como outros valores. Que o quadro histórico africano possa
também ser conhecido, respeitado e vinculado a outras culturas existentes no país,
para que assim constitua um espaço de promoção e vivência de diálogos entre as
múltiplas culturas da sociedade brasileira e enfim que a escola busque e tenha um
papel relevante na difusão e formação de cidadãos que reconhecem e valorizam sua
identidade histórica.

Metodologia

A pesquisa e o relato produzido pelo autor foram possíveis por meio de uma
de suas práticas docentes em Angola, pelo período de cinco anos. Parte dessa
prática se deu em cursos de pós graduação presencial ocorrida na Capital Luanda.
Como referenciais teóricos foram utilizados citações a exemplo de Paulo Freire
(1979, 1992); Mesquida, Peroza e Akkari (2014) e dados da UNESCO (2010) e do
IBGE Países.
O autor destaca que a curiosidade insaciável voltada à cultura e pessoas o
instigou e trouxe oportunidades de autoconhecimento e ampla visão de mundo,
desse modo houve contato com a comunidade por meio de atividades educacionais
cujo foram voluntárias juntamente as Pastorais da Família e da Criança de Angola,
no que corroborou para pesquisa. (LAMÓGLIA, 2015)

Resultados e Discussão

Como descreve Marcelino (2018) a ideia de raça foi um dos elementos


usados pelos colonizadores para constituir, e fundamentar as relações de
dominação que a conquista colonial exigia. Por meio de sua invenção, foi plausível
assim a racionalização das relações entre os colonizadores e seus colonizados, afim
de que identidades históricas tornassem dominadas e, portanto se fundasse como
algo naturalizado.
“Vale lembrar que a colonialidade do poder é o princípio organizador que
estrutura as múltiplas hierarquias do sistema-mundo-moderno/colonial a partir de
centros de poder e de regiões subalternas”. (MARCELINO; 2018, p. 7)
Por meio da expansão colonial Grosfoguel (2008) afirma que todo patriarcado
europeu e suas noções como sexualidade, epistemologia e religiosidade foram
transportadas para outros povos, no que de fato esses critérios tornaram- se
hegemônicos e se racionalizaram como único e relevante modelo a ser seguido
mundialmente.
Ao inserir e abordar a temática das relações raciais na afirmação da
modernidade-colonialidade possibilita não só travar uma discussão sobre a
conformação da totalidade-mundo atual, mas assim empreender a desconstrução
desse sistema que deixam o negro a margem, provocado pela colonialidade.
(MARCELINO,2018)
Sabe se que o processo de colonização resultou em grandes conseqüências
como violência física e epistemológica, portanto forçou o apagamento dos saberes
dos povos colonizados e também acarretou um processo de “branqueamento” das
suas culturas, das suas epistemes, e das suas organizações de vida.
(MARCELINO,2018)
Ficou evidente no artigo de Lamóglia (2015) que a língua portuguesa é um
dos fatores ainda predominante sobre a identidade angolana, e é um resquício da
opressão que parte de países africanos sofreram por seus colonizadores, e que faz
com que esses descolonizados em seus livros e história criem vínculos ao
colonizador como algo benévolo, no qual sabe se que de fato foram cinco séculos de
agreção e dominação e, portanto desencadearam efeitos profundos na identidade
afroangolana.
A descolonização da identidade surge como algo a ser
construído, o que exige do excolonizado um exercício de
reconstrução de seus laços sócio-culturais, algo que exige um
posicionamento crítico de valorização daquilo que durante quase
cinco séculos permaneceu escamoteado. Além disso, a identificação
com aquilo que se tem por referência - a cultura do ex-colonizador-
acaba por ocupar uma posição de valoração em detrimento daquilo
que poderia ser identitário. (LAMÓGLIA; 2015, p. 8)

O colonialismo deixa resquícios por longos anos, pois como é dito por Oliveira e
Candau (2010) não é uma mera imposição política, militar, jurídica ou administrativa,
este é algo marcante que sobrevive a gerações e por mais que um povo emancipe
ou se descolonize, tem mostrado ser resistente e requerem uma longa jornada para
uma decolonialidade, práticas com ações sociais, espitêmicas e políticas.

Considerações Finais

O professor tem uma longa jornada e desafio em relação ao resgate da


cultura africana em nosso país, contudo apresentar esse debate possibilita o
empoderamento de tal cultura, e proporciona ao educador uma conscientização de
que práticas que reforcem a identidade negra são necessárias, já que esses foram
oprimidos por séculos em uma lógica de extinção de suas raízes.
Nos vários textos lidos torna-se premente e necessário também a construção
de uma ciência geográfica que possa combater o patriarcado eurocêntrico que se
estabeleceu com primazia, ofuscando outras culturas como se fossem atrasadas ou
incertas. Assim buscar trabalhos que busquem outra perspectiva, reforça a ação de
descolonizar e interromper com ideologias hegemônicas.
Assim, ao ler essa obra que destaca a exclusão de uma identidade histórica
de determinado grupo étnico-racial em sua episteme, cultura, religiosidade e afins,
permite repensarmos no ensino escolar brasileiro, bem como do ensino da História
da África e da Cultura Afro-Brasileira no seu currículo escolar. Portanto devemos
assegurar que mais educadores, pais, alunos, e instituição escolar estejam atentos
para um novo caminho que pode sim se instituir, a escola é um dos ambientes que
possibilita isso de maneira mais ampla, as leis governamentais também, assim a luta
de um rompimento de dominação espistêmica e eurocêntrica será possível.
Referências

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ESCOLA. 2. ed. Brasília: Mec/secad, 2005. 204 p. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf>. Acesso em: 12
maio 2019.

LAMÓGLIA, Fernando Botto. descolonização da identidade africana: um


relato de experiência. 2015. Parte dos anais do XII EDUCERE. Disponível em:
<http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/21879_10992.pdf>. Acesso em: 07
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MARCELINO, Jonathan. Por uma geografia decolonial – as dimensões


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 GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política


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