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A PRESENÇA DA CULTURA NO MATERIAL DIDÁTICO DE PORTUGUÊS

COMO LÍNGUA MATERNA E ESTRANGEIRA: UMA PESQUISA


ANALÍTICA DE MATERIAL DIDÁTICO SOB A PERSPECTIVA
DECOLONIAL E ANTIRRACISTA

ALUNO: DANILLO DOMINGUES FIGUEREDO

PROFESSOR ORIENTADOR: ALICE CASIMIRO LOPES

LINHA DE PESQUISA: CURRÍCULO: SUJEITOS,


CONHECIMENTO E CULTURA.

Rio de Janeiro

2023
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INTRODUÇÃO

O interesse pela realização desta inicialização ao mestrado surgiu a partir de


minha vivência nos estudos de graduação em Letras Português/Inglês na instituição
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) fornecida pela Faculdade de
Formação de Professores FFP.
Por consequente, no aprendizado obtido durante minha formação na FFP, pude
perceber o quanto é importante a inserção cultural na aquisição dos saberes, dos
letramentos e da construção de identidade dos alunos. Junto disto, pude perceber
também que a inserção e compreensão cultural no ensino de língua portuguesa, ou
demais áreas do conhecimento, se tornam cruciais para melhor prática didática e de
aprendizagem, como mencionada por Kramsch (2017, p.148): “Cultura nos estudos
linguísticos tem de ser compreendida como uma forma de produção de sentido que é
relacional, histórica e que é sempre mediada pela língua e outros sistemas simbólicos.”
Movido por esse desafio multicultural e muito interessado nas trocas culturais,
as quais sabia que me trariam muitas experiências, riquezas, lições de vida, novos
olhares e perspectivas no ensino de língua portuguesa. Pude perceber também, que o
ensino intercultural dialoga com questões de pedagogia decolonial e antirracista,
assuntos urgentes e complexos que me remeteram também às implicações do conceito
de cultura para o ensino de língua portuguesa e identificar o peso que se atribui a cada
um desses fenômenos, como já estudado por Candau (2010):

Os referenciais presentes na nova legislação possibilitam a abertura a uma crítica decolonial, na medida
em que expõem a colonialidade do saber e, ao mesmo tempo, propiciam a explicitação da colonialidade
do ser, ou seja, possibilitam a mobilização em torno das questões veladas do racismo presente nas práticas
sociais e educacionais no nosso país.

Por consequente, focado nesses estudos, pretendo dar continuidade na minha


formação profissional através dessa oportunidade de mestrado calçado nesse assunto
recorrente e fundamental, cujo foco e objeto de estudo é demonstrar, através de
análises com perspectiva decolonial e antirracista, o material didático de língua
portuguesa no ensino médio que tem sido oferecidos pela ação governamental da
Base Nacional Comum Curricular BNCC e propagados nas escolas pelos materiais
didáticos do Programa Nacional do livro e do Material Didático (PNLD. Com isso,
busco demonstrar possíveis propostas para os demasiados problemas comunicativos
sociais através da linguística, como abordado por Moita Lopes, 2006, cujo trabalho
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assume um papel ímpar de humanização, com princípios e valores que vão a encontro
dos direitos humanos, da justiça, da paz e da dignidade, aplicando suas ações para o
bem estar social.

JUSTIFICATIVA

Amparado nos assuntos supracitados, tomando como escolha a linha de pesquisa


Currículo: Sujeitos, Conhecimento e Cultura, por motivos de afinidade, compatibilidade
e interesses de continuidade estudantil. Venho junto dessa oportunidade de mestrado,
ampliar meus conhecimentos e estudos. Ademais, busco junto da professora orientadora
Alice Casimiro Lopes, cuja pesquisa tem como foco problematizar as estruturalizações
do novo ensino médio, atrelar minhas ideias e estudos sobre cultura e perspectiva
decolonial e antirracista à uma análise de material didático advindo da estruturalização
BNCC. Tendo como foco as inconsistências educativas presentes no material didático
utilizados em sala de aula no ensino médio com livro didático pressuposto pelo PNLD.

OBJETIVOS DA PESQUISA E PROPOSTA DE ANÁLISE

Levando em consideração o referencial teórico tenho como objetivos de pesquisa


salientar:

 Qual o espaço dado pelo livro didático (PNLD) para o tratamento de questões
socioculturais por meio do ensino de língua portuguesa materna ou estrangeira?

Com isso, entender de que forma o livro didático (PNLD) aborda questões
socioculturais (coloniais, geográficas, raciais, etc.) por meio do ensino de língua
portuguesa. Como procedimento de análise, minha atuação seria a de um olhar mais
crítico para com o material didático e seus respectivos: textos, imagens, atividades,
diálogos, propostas de discussão, etc. a partir das perspectivas do referencial teórico e
demais autores à sugestão da professora orientadora.

 Demonstrar como o conteúdo sociocultural abordado no livro didático, às


normas BNCC, tem perpetuado ações colonizadoras, neoliberais e racistas.
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O objetivo específico atrelado a essa pergunta é: propor alternativas de abordagem


do conteúdo sociocultural de modo a adotar uma perspectiva decolonial. Como
procedimento de análise, proponho uma tentativa à adaptação dos materiais analisados
de forma a contemplar as perspectivas propostas pelo referencial teórico, que propõem
um material didático que promova pedagogia decolonial e antirracista.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ensino de português como língua materna ou estrangeira tem um forte impacto


social, uma vez que objetiva atuar como uma das formas de inserção do aluno no
contexto social materno ou, inclusive, da cidade e do país para estrangeiros, através não
somente do ensino-aprendizagem da língua, como também para colaborar para o
conhecimento e compreensão do contexto sócio-histórico e cultural. Visto isso, com
base em alguns autores, optei por trazer os que tratam de estudos objetivados na
inserção cultural como: Kramsch (2017) e Candau (2010), assim como, tais estudos
promovem a descontinuidade racista e corroboram para o desmonte colonizador vigente
nos materiais didáticos utilizados em sala de aula

I – DECOLONIALIDADE E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

No que tange os estudos sobre decolonialidade e pensamento crítico no ensino


de PLE, Walsh (2013) afirma que: “implica partir da desumanização e considerar as
lutas dos povos historicamente subalternizados pela existência, para a construção de
outros modos de viver, de poder e de saber”. Portanto, decolonialidade é visibilizar as
lutas contra a colonialidade a partir das pessoas, das suas práticas sociais, epistêmicas e
políticas. A decolonialidade representa uma estratégia que vai além da transformação da
descolonização, ou seja, supõe também construção e criação. Sua meta é a reconstrução
radical do ser, do poder e do saber. Quanto ao “posicionamento crítico de fronteira” na
diferença colonial, ou seja, um processo em que o fim não é uma sociedade ideal, como
abstrato universal, mas o questionamento e a transformação da colonialidade do poder,
do saber e do ser, sempre tendo consciência de que estas relações de poder não
desaparecem, mas que podem ser reconstruídas ou transformadas, conformando-se de
outra maneira. O pensamento de fronteira significa tornar visíveis outras lógicas e
formas de pensar, diferentes da lógica eurocêntrica dominante.
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Walsh (2013) considera essa perspectiva como componente de um projeto


intercultural e decolonizador, permitindo uma nova relação entre conhecimento útil e
necessário na luta pela decolonização epistêmica.

III- ESTEREÓTIPOS E MATERIAIS DIDÁTICOS

Ao transitarem de uma cultura para a outra, os sujeitos deixam marcas de sua


cultura na do outro. (KRAMSCH, 2017). Esse intercâmbio de culturas vai pouco a
pouco transformando a face das diversas culturas, fazendo com que surjam
características comuns verificáveis em quase todas elas.
Assim, resta a nós, professores, garantirmos que a sala de aula seja um lugar de
trânsito livre para toda e qualquer manifestação cultural, permitindo aos alunos
experimentarem posições identitárias diversificadas, e ainda, com a proposta de um
material didático imerso culturalmente, rompendo barreiras de educação coloniais e
propondo uma pedagogia livre de estereótipos ou manifestações racistas e
preconceituosas, onde o negro tenha sua representatividade devidamente proposta,
como nos estudos de Moraes Bezerra, 2017:

(...) trabalhamos para construir e partilhar uma possibilidade de abordagem


não fechada e acabada de ensino a partir do diálogo entre Prática
Exploratória, letramento crítico e letramento visual. No que concerne ao foco
de nossa reflexão – a representação de pessoas negras em um livro didático.

Preconizo também que, ao escolher o livro didático em detrimento da cultura e


do contexto no qual professor e aluno estão inseridos, é de suma importância uma
escolha bem apropriada, pois a motivação do aluno é diretamente influenciada pela
conexão que ele faz com o conteúdo apresentado; quando não há conexão, a motivação
é reduzida e, consequentemente, a aprendizagem é afetada. (MORAES BEZERRA,
2017)
Com isso, professores devem também, reconhecer a diversidade e abrir espaço
durante as aulas para a problematização das diferenças, o que é fundamental para que os
alunos não sejam privados dos recursos linguísticos necessários à livre escolha e
negociação de suas identidades. Esse processo é fundamental também no âmbito da
educação não estereotipada, uma vez que, possibilita um espaço aberto para troca de
opiniões e recolhimento de informações pertinentes à cultura, compartilhadas
mutuamente na sala de aula, certo de que, o material didático, por vezes, em sua
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maioria, delimita fronteiras hermenêuticas estereotipadas, nas quais as interações


‘simplistas’ e ‘estereotipadas’ ilustradas nos livros didáticos podem influenciar e, por
vezes, até moldar a motivação dos alunos, o grau de envolvimento com a língua e
cultura alvo, e o desenvolvimento de sua competência intercultural. (MORAES
BEZERRA, 2017)

3. METODOLOGIA

Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa


qualitativa/interpretativa, mais especificamente, um estudo de caso na modalidade de
análise documental, a saber, análise crítica de materiais didáticos no ensino de língua
portuguesa materna ou como segunda língua.
A origem de dados e os registros interpretativos para aplicação da análise foram
coletados e construídos com o suporte do referencial teórico.
Os objetos de estudo tratam-se de materiais didáticos, e as questões e categorias
de análise cobrem os seguintes temas: traços característicos de abordagem das unidades,
atividades e insumo nos materiais, abordagem dos autores, papéis implícitos de alunos e
professores no livro didático e conceitos de língua, linguagem, aprender e ensinar uma
língua materna ou estrangeira levando-se em conta a cultura e as particularidades
individuais dos falantes sobre a luz da linguística aplicada indisciplinar.
Os resultados obtidos nas recentes pesquisas apontam para a predominância da
perspectiva eurocêntrica, no que tange às imagens e atividades presentes na maioria dos
materiais didáticos produzido e utilizados no Brasil. Com isso, como hipótese central,
pressuponho amparado no referencial teórico, que seria possível apontar as concepções
através da contextualização cultural que norteiam a atividade de ensino de Língua
Portuguesa para estrangeiros.

4. CRONOGRAMA
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Períodos 1°Período 2°Período 3°Período 4°Período


Janeiro-Junho Julho-dezembro Janeiro-Junho Julho-dezembro
Revisão e leitura
Bibliográfica X X X X
Coleta e
formatação do X X
corpus
Análise
qualitativa do X X X
material
Organização e
interpretação X X X X
dos resultados
Redação da
pesquisa X X X

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CANDAU, VERA MARIA FERRÃO. Pedagogia decolonial e educação antirracista e


intercultural no Brasil, 2010.
KRAMSCH, CLAIRE. Culture in Foreign Language Teaching, 2017.
MOITA LOPES, L.P. (org) 2006. Por Uma Linguìstica Aplicada Indisciplinar, 2006.
MORAES BEZERRA, ISABEL CRISTINA RANGEL. Um livro didático de inglês e a
representação de pessoas negras: desenhando uma abordagem de ensino-
aprendizagem crítica, 2017.
WALSH, H. Introcucción - lo pedagógico y lo decolanial: entretejiendo caminhos,
2013.

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