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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

INSTITUTO DE LETRAS
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

DANILLO DOMINGUES FIGUEREDO

EDUCAÇÃO DECOLONIAL À LUZ DO LETRAMENTO SOCIOINTERACIONAL


CRÍTICO: UMA ANÁLISE DO MATERIAL DIDÁTICO DE LÍNGUA
PORTUGUESA NO NOVO ENSINO MÉDIO COM PERSPECTIVA À
VALORIZAÇÃO DAS INTERSECCIONALIDADES

RIO DE JANEIRO
2023
DANILLO DOMINGUES FIGUEREDO

LINHA DE PESQUISA 2:
TEORIAS DO TEXTO, DO DISCURSO E DA TRADUÇÃO

RIO DE JANEIRO
2023
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INTRODUÇÃO

Como plano de estudos, no presente concurso de mestrado, intento discorrer sob a


temática de execução da educação decolonial pelo letramento sociointeracional crítico como
forma de: questionar, debater, refletir e confrontar as narrativas linguísticas eurocêntricas,
desiguais e estereotipadas no material didático MD de língua portuguesa LP no novo ensino
médio.
Como justificativa, trago como motivação a continuidade estudantil e o compromisso
social como professor. Movido pelo inconformismo em relação à desigualdade social que é
amplificada pela atual estrutura de poder dominante no sistema educacional Estatal. Assim,
pretendo contribuir com ideias e propostas que corroborem para uma criticidade social a fim
de reconhecer e enfrentar as estruturas de poder coloniais e opressivas atuais. (LAVAL,
2016).
No âmbito da fundamentação teórica, procurarei demonstrar a representação e
valorização das Interseccionalidades pelos estudos de alguns autores como: (Muniz, 2021;
Pinto & Nascimento, 2021 e Melo, 2021) e outros à indicação do(a) orientador(a), inclusive,
me apropriarei dos estudos de letramento sociointeracional crítico (TILIO, 2021) e (LOPES,
2006), como uma das medidas de análise de material e suas abordagens decolonizadoras de
educação.
Em continuidade, o objetivo geral deste trabalho é de promover um projeto de
educação decolonial e de valorização interseccional, por meio do letramento sociointeracional
crítico. Elucidando assim, o quanto o atual modelo hegemônico/colonialista silencia a voz dos
alunos, ignorando sua autonomia. Ademais, silencia seu protagonismo, identidade, cultura,
gênero, etnia, cor, etc. por meio de uma educação que promove falsa ideia de autonomia,
perpetuando desigualdades e subalternidades opressoras. (MOITA LOPES, 2006).
Como perguntas especificas de pesquisa, entendamos que não são meramente aspectos
técnicos ou metodológicos de um estudo, mas estão profundamente entrelaçadas com os
contextos sociais, culturais e intelectuais em que surgem’’ (Rapley, T, 2022). Assim, destaco
como as metodologias abraçam a complexidade e a fluidez das identidades e tem o poder de
reverberar as interseccionalidades quando examinadas e como essas metodologias podem ser
aplicadas em pesquisa qualitativa, a fim de fomentar uma sociabilidade mais respeitosa e
inclusiva. (Milani, T.; Bora, R., 2022)
Para tanto, trago a este projeto as seguintes perguntas específicas de pesquisa e seus
respectivos objetivos específicos:
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 Qual o espaço dado pelo livro didático nas questões de educação decolonial e valorização
interseccional dos alunos por meio do ensino de língua portuguesa?
O objetivo específico atrelado a essa pergunta é: entender de que forma o livro
didático aborda suas atividades no trato das questões decoloniais, que devem ser inclusivas e
representativas das inúmeras identidades em sala de aula. Tem como finalidade, salientar para
o leitor a falsa ideia de autonomia e inclusão trazida no MD, no qual é perpetuada uma
educação eurocêntrica e mercadológica, desigual e preconceituosa, em que o aluno é visto
como um produto e a escola como uma empresa.
 De que modo o material didático promove o letramento sociointeracional crítico para uma
educação que reflita à necessidade de romper com as amarras das estruturas hegemônicas de
poder?
O objetivo específico atrelado a essa pergunta é: expor através da análise do MD o quanto
seu objetivo é de uma educação tecnicista/mercadológica e de controle e alienação social.
Assim, salientar pela perspectiva de letramento sociointeracional crítico, o quanto a educação
atual domina sobre sua educação e constrói uma falsa ideia de autonomia, escolha e
legitimidade.
Como metodologia, o estudo proposto se concentra na análise de material didático de
língua portuguesa usado no ensino médio em relação às diretrizes da BNCC e do PNLD. O
objetivo é identificar abordagens eurocêntricas e sugerir melhorias à luz das teorias decolonial
e interseccional. Será realizada uma análise documental detalhada de unidades específicas do
livro a ser escolhido junto do(a) orientador(a), destacando problemas e propondo soluções
com base em uma abordagem intrínseca à linguística aplicada e o letramento sociointeracional
crítico. Com isso, elucidar que é possível melhorar as concepções de linguagem,
representatividade e cultura no ensino de língua portuguesa, dadas as tendências eurocêntricas
prevalecentes na educação brasileira.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em meus estudos, percebi que as reverberações linguísticas sob o letramento


sociointeracional crítico das atividades no MD, são uma forte ferramenta em salientar a
importância da educação decolonial. Inclusive, de como orientar os estudantes na sala de aula
a uma prática social interacional transformadora, construindo indivíduos com identidade e
mentalidade, respeitosa, inclusiva e crítica. (TILIO, 2021, p. 39)

“A linguagem serve às interações sociais, pois não se interage sem


linguagem. Da mesma forma que não há interação sem linguagem nem
linguagem sem interação, não há aprendizagem sem a necessidade de os
alunos interagirem socialmente.”

Com isto, no que tange os estudos de “letramento sociointeracional crítico”, (TILIO,


Rogério; SZUNDY e Paula, 2006), destacam como os estudos de letramento estão
relacionados à compreensão de como as pessoas adquirem e usam a leitura e a escrita em
contextos sociais específicos. Trazendo novos desafios às normas e estruturas linguísticas
tradicionais, reverberando como a linguagem e o letramento podem ser usados como
ferramentas para promover a resistência, a transformação social e a conscientização crítica em
contextos e identidades diversas.

“Ao invés de oferecer soluções, o intuito do desenvolvimento de letramentos


críticos deve ser o de problematizar as diferenças, em um eterno
questionamento ético do conhecimento e do reconhecimento do caráter
ideológico resultante de sua construção subjetiva. É por meio dos
letramentos críticos que se pode contribuir para a construção de cidadãos
críticos, capazes de utilizarem o conhecimento para exercerem protagonismo
na transformação social.” (TILIO, Rogério; SZUNDY, Paula, 2006, p. 67)

Neste quesito, nota-se que é intrínseca sua relação com as Ciências Sociais e
Humanidades. (MOITA LOPES. 2006). Neste conceito, o programa proporciona uma base
sólida na pesquisa em teoria do discurso, fornecendo uma compreensão abrangente de seus
fundamentos teóricos, metodológicos e éticos.
Visto isto, inserindo os estudos supracitados ao projeto, salientamos que o ensino de
língua portuguesa tem um forte impacto social, uma vez que objetiva atuar como uma das
formas de inserção do aluno no contexto social, através não somente do ensino-aprendizagem
da língua, como também para colaborar com o conhecimento e compreensão do contexto
sócio-histórico e cultural.
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Ademais, trazemos ao estudo e análise do corpus desse projeto, as abordagens das


relações étnico-raciais, questões de gênero e sexualidade, classe, etc. sob à luz conceitual de
“Interseccionalidade”. Termo este que foi cunhado pela professora norte-americana Kimberlé
Crenshaw, especialista e pesquisadora em teoria crítico-racial, e diz respeito à análise das
opressões que se sobrepõem a partir dos marcadores sociais de classe, gênero, raça,
sexualidade e outros. Ela afirma que “tanto os aspectos de gênero da discriminação racial
quanto os aspectos raciais da discriminação de gênero não são totalmente apreendidos pelos
discursos dos direitos humanos” (CRENSHAW, 2002).
Assim, justaposto aos estudos de teoria do discurso, os estudos de Interseccionalidade
são uma ferramenta poderosa para entender as complexidades da opressão e da desigualdade
em nossa sociedade, porque reconhece que as pessoas não são definidas por uma única
identidade, mas sim, por uma combinação delas. Isso pode ajudar a promover uma
compreensão mais completa das experiências das pessoas e a identificar formas mais eficazes
de combater a discriminação e a injustiça social, como abordado por (Milani, T.; Bora, R.,
2022).
EM consideração a estes aparatos, o estudo de Moita Lopes salienta que a
“proximidade crítica” na aprendizagem de uma língua está fortemente ligada às interações
sociais e a interculturalidade, e que uma definição simplista e apenas rígida (estrutural) da
Língua não traduz, satisfatoriamente, o conhecimento:

“é fundamental abraçar uma '‘proximidade crítica’' que nos permita


desvendar as camadas de significado por trás das interações linguísticas.
Somente através dessa proximidade podemos compreender verdadeiramente
como a linguagem molda e é moldada pelas complexidades sociais e
culturais que permeiam nossa sociedade.” (MOITA LOPES, 2006)

Por fim, trago ao projeto os conceitos supracitados, destacando como essas ideologias
influenciam a forma como as línguas, incluindo o português, são percebidas e ensinadas,
especialmente por meio de materiais didáticos. (MOITA LOPES, L. P., 2015).
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METODOLOGIA

Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa qualitativa/interpretativa,


mais especificamente, um estudo de caso na modalidade de análise documental.
Visto isto, tenho como objeto de estudo o material didático. Mais especificamente, o
livro de língua portuguesa usado no novo ensino médio às normas da BNCC sob a luz do
PNLD.
Para tanto, pretendo demonstrar através da análise do MD, as abordagens presentes no
livro a luz das problemáticas trazidas pelo presente referencial teórico. Reverberando os
assuntos da importância na decolonização da educação e na valorização interseccional dos
alunos. No intuito de demonstrar, possíveis soluções para os problemas encontrados pela
análise através de uma abordagem intrínseca à linguística aplicada indisciplinar.
Com isso, pretendo exemplificar em algumas unidades do livro, algumas atividades e
textos. Atribuindo à análise as abordagens dos autores estudados no curso, salientando assim,
qual a narrativa proposta pelo PNLD na construção de identidade dos alunos através dos
conceitos de língua/linguagem, corroborando para a valorização individual do aluno e as
particularidades individuais dos falantes sobre a luz da linguística aplicada indisciplinar.
Em detrimento a isto, como visto nos estudos acima, os resultados obtidos nas recentes
pesquisas apontam para a predominância da perspectiva eurocêntrica, racista, pejorativa,
desigual e preconceituosa, na educação brasileira. Não obstante, perpetuadas nas imagens e
atividades presentes na maioria dos materiais didáticos. Com isso, como hipótese central,
pressuponho com relação ao referencial teórico, que seria possível aperfeiçoar as concepções
de linguagem, língua, discurso, texto e gramática, etc. através dos estudos propostos pela
presente pesquisa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black


Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics.
The University of Chicago Legal Forum. n. 140 p.139-167, 1989.

LAVAL, Christian. A escola não é uma empresa. O neoliberalismo em ataque ao ensino


público. São Paulo: Boitempo, 2019

MELO, G. Roda de conversa entre mulheres negras: performatividade de raça, gênero e


sexualidade. In: JESUS, Danie; MELO, Glenda (orgs.), Linguística aplicada, raça e
Interseccionalidade, vol. 1. Rio de Janeiro: Morula, p. 74-94.

MILANI, T; BORA, R. Queer(ing) methodologies. FLICK, U. (eds.), The SAGE Handbook


of Qualitative Research Design, vol. 2. London: SAGE, 2022, p. 194-209.

MOITA LOPES, L. P. Da aplicação de Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In:


PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Orgs.) Linguística aplicada: um caminho com diferentes
acessos. São Paulo: Contexto, 2009, p. 11-24.

MOITA LOPES, L.P. (org) 2006. Por Uma Linguìstica Aplicada Indisciplinar, 2006.

MOITA LOPES, L. P. Introduction: Linguistic ideology: how Portuguese is being


discursively constructed in late modernity. In Moita Lopes, L. P. (Org.) Global Portuguese:
Linguistic ideologies in late modernity. Nova York: Routledge, 2015.

MUNIZ, K. Ainda sobre a possibilidade de uma linguística crítica: performatividade, política


e identificação racial no Brasil. In: JESUS, Danie; MELO, Glenda (orgs.), Linguística
aplicada, raça e interseccionalidade, vol. 1. Rio de Janeiro: Morula, p. 53-73.

TILIO, Rogério; SZUNDY, Paula. Criticidade como prática de resistência: interseções entre
os estudos de letramento e a LA indisciplinar. In: TANZI NETO, Adolfo (org.), Linguística
aplicada de resistência: transgressões, discursos e política. São Paulo: Pontes, 2021, p. 47-70.

TILIO, R. Ensino crítico de língua: afinal, o que é ensinar criticamente? In: JESUS, D. M.;
ZOLIN-VESZ, F.; CARBONIERI, D. (Orgs.) Perspectivas críticas no ensino de línguas:
novos sentidos para a escola. Campinas: Pontes, 2017. p. 19-31.

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