Você está na página 1de 6

CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte imperial.

São

Colonização
Paulo: Companhia das Letras, 1999.
FARIA, Ricardo Moura. As revoluções do século XX. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2001.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Ciências Humanas, 1982.
MESGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi. 2. ed. O Brasil que os europeus
encontraram. São Paulo: Contexto, 2002.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo:
Contexto, 2003.
REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil
escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

COLONIZAÇÃO
O conceito de colonização está bastante presente em nossa sociedade, seja na
sala de aula, nos livros didáticos, na mídia ou na produção científica. E desde as
comemorações dos 500 anos de descoberta da América, na década de 1990, as ideias
de conquista e colonização vêm cada vez mais sendo alvo dos olhares acadêmicos
e do grande público.
Colonização, mais do que um conceito, é uma categoria histórica, porque
diz respeito a diferentes sociedades e momentos ao longo do tempo. A ideia de
colonização ultrapassa as fronteiras do Novo Mundo: é um fenômeno de expansão
humana pelo planeta, que desenvolve a ocupação e o povoamento de novas regiões.
Portanto, colonizar está intimamente associado a cultivar e ocupar uma área nova,
instalando nela uma cultura preexistente em outro espaço. Assim sendo, a colonização
em determinadas épocas históricas foi realizada sobre espaços vazios, como é o
caso das migrações pré-históricas que trouxeram a espécie humana ao continente
americano. Mas, desde que a humanidade se espalhou pelo mundo, diminuindo
significativamente os vazios geográficos, o tipo de colonização mais comum tem
sido mesmo aquele executado sobre áreas já habitadas, como a colonização grega do
Mediterrâneo, na Antiguidade, e a colonização do Novo Mundo, na Idade Moderna.
A palavra colônia e suas variantes coloniais, colonização, colonizador vieram do
verbo latino colo, que, segundo Alfredo Bosi, significa “eu moro, eu ocupo a terra, eu
cultivo”. Dessa matriz, o termo colônia adquiriu sentido de espaço que está sendo
ocupado. A mesma matriz gerou ainda as palavras e os conceitos de culto e cultura:

67
Cultus, o particípio passado de colo, e culturus, o particípio futuro. Assim, para
Colonização

Bosi, uma colonização é um projeto que engloba todas as forças envolvidas nos
significados do verbo colo. Ou seja, colonizar significa ocupar um novo chão, trazer
a memória da terra antiga (o culto) e transmitir práticas e significados às novas
gerações (a cultura). Mas, se o significado de colo é cuidar, também é mandar, e o
autor ressalta que dominar, explorar e submeter os nativos também são sentidos
inerentes à colonização. Nesse contexto, colonizar está sempre associado a conquistar.
No caso do processo colonizador movido pela Europa Moderna na América,
esse foi realizado em um conjunto específico de relações de dependência e controle
político e econômico que as metrópoles impuseram a suas colônias. Conjunto
denominado sistema colonial.
Visto a amplitude da ideia de colonização, muitos são os autores que procuraram
classificá-la, como Marc Ferro e Antonio Robert Moraes. O primeiro estabeleceu o
imperialismo como uma forma de colonização, sendo a principal distinção entre
ambos o fato de que o imperialismo não precisa necessariamente do controle político
direto sobre os territórios explorados, enquanto a colonização é um processo em
que existe sempre o controle político da colônia pela metrópole. Robert Moraes,
por sua vez, observou, na própria expansão europeia dos tempos modernos, que a
colonização era apenas uma das formas de contato com outros espaços, coexistindo
com o comércio, o escambo e a pilhagem. Moraes definiu então a colonização
americana como uma exploração contínua e sistemática da terra, com a apropriação
do espaço pela metrópole e com a formação de territórios coloniais. Não seria, assim,
uma relação simplesmente baseada no comércio, mas no controle.
No Brasil, a historiografia desde seus primórdios sempre se preocupou com o
processo colonizador do país, desde a História produzida nos institutos históricos da
segunda metade do século XIX, da qual Varnhagen foi o principal expoente. E a partir
da Revolução de 30, a preocupação com a modernização do Brasil e com o caráter
nacional levou vários pesquisadores a buscarem na colonização a explicação para
a realidade brasileira. Foi dessa preocupação que surgiram algumas das principais
obras que definiram a forma como pensamos a colonização do Brasil. Dentre elas,
Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, foi um primeiro marco, contestando as
teorias de superioridade racial branca, e vendo com olhar benevolente o processo
colonizador. Também Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, procurou
estabelecer o caráter nacional, considerando a cordialidade do homem brasileiro fruto
da colonização realizada por um povo, os portugueses, acostumado à miscigenação
e sem preocupações racistas. Outra abordagem, entretanto, presente na obra de Caio
Prado, A formação do Brasil contemporâneo, considerava a colonização o fundamento
para explicar os problemas sociais e as desigualdades do país.

68
No entanto, a partir do último quartel do século XX, com a influência da Nova

Colonização
História francesa e do materialismo histórico inglês, mais preocupados com a cultura
e as relações sociais do que com explicações de caráter nacional, a forma como a
historiografia brasileira pensava a colonização ganhou novos rumos. Estudos sobre
escravidão, religiosidade, história indígena, história da família e das mulheres deram
novos significados ao processo de colonização do Brasil, abandonando a ambição
de buscar nesse processo as explicações para um suposto caráter nacional ou para
todos os males do país.
Essas considerações nos levam a perceber que o conceito de colonização
tem tanto o caráter de ocupação e cultivo de novos territórios como de domínio,
exploração e instalação cultural, pois a cultura do colonizador é transposta para
o novo território. Na maioria dos casos, entretanto, o território colonizado já está
ocupado, com habitantes que possuem cultura e estruturas sociais próprias, o
que pode dar margem a diferentes formas de contato e ao nascimento de novas
sociedades. Não esquecendo, ainda, que a violência e o conflito estão, em geral,
presentes na maioria dos processos de colonização, pois a fixação de uma cultura em
território já ocupado gera não apenas a imposição de valores culturais, mas também
o controle físico sobre os dominados e a resistência por parte desses.
Para o professor brasileiro, as questões em torno da ideia de colonização estão
no primeiro plano de importância, tanto pela própria relevância histórica do
período, que em seus trezentos anos de duração gestou a maior parte das estruturas
contemporâneas quanto pela visibilidade que esse momento histórico tem na mídia.
Tendo em vista sua presença nos programas de História dos níveis Fundamental e
Médio, a colonização é um tema trabalhado por todos os professores da disciplina.
Usualmente, tanto os conteúdos programáticos como os livros didáticos se
preocupam sobretudo em abordar o processo de estabelecimento da colonização
do Brasil e suas estruturas. Mas seria interessante, antes de adentrar a especificidade
desse processo no Brasil, que professores trabalhassem com seus alunos a
colonização como um fenômeno geral da história da humanidade, enfatizando-a
como expansão de uma sociedade que, em geral, produz conflitos culturais. Além
disso, uma estratégia didática que pode ser útil é observar criticamente as visões
benevolentes e pitorescas da colonização do Brasil que predominam na sociedade
atual, por meio da televisão, do cinema.

VER TAMBÉM
Aculturação; Barroco; Descobrimentos; Escravidão; Etnocentrismo; Imperialismo;
Índio; Inquisição; Latifúndio/Propriedade; Mercantilismo; Miscigenação; Pirataria.

69
Noção concisa de decolonialidade/decolonialismo

• por Jornalistas Livres


• 04/03/2022

Por: Felipe Labruna


O levante da decolonialidade/decolonialismo não se pauta somente em superar a ordenação
colonialista de nosso passado e em procurar emancipar os locais colonizados, mas também em
assumir uma postura de luta permanente para apontar outro relato dos explorados como sujeitos
sociais participantes do meio e não como meras figuras subjugadas e submissas.
No continente latino-americano os episódios e práticas de colonização marcaram a supremacia
econômica, institucional e cultural das nações europeias, forçando a relutância anticolonialista a
tecer estratégias de embate
em face da subjugação dos povos originários. Sob este paradigma, o psiquiatra e filósofo político
Frantz Fanon concebeu o festejado livro Peau noire, masques blancs (Pele negra, máscaras
brancas), datado de 1952 e que aborda como jovens antilhanos, ao emigrarem para a França,
retornavam figuradamente embranquecidos e transformados em franceses, sucumbindo à
sujeição de sua cultura. Deste modo, o colonialismo não se baseou meramente no poderio militar
e econômico das nações europeias sobre os colonizados, mas também em diferenciação de
raças (FANON, 2008).

Desde o “descobrimento” da América pelos europeus até os dias de hoje, pela colonização foi
engendrado um relato que decidiu por desabonar e discriminar as populações originárias de sua
vivência realística alicerçada na
terra. Tal sistemática foi erigida partindo do desdém daquilo que não é europeu desde o início do
século XVI, ao passo que as Metrópoles assumiam posicionamentos de não reconhecimento das
particularidades etnológicas nativas e de seu extermínio de modo sistematizado. Assim, o modus
operandi do colonizador europeu caracterizou-se pela marginalização e pela interdição das vozes
distintas das suas (LEDA, 2014).

O sociólogo peruano Aníbal Quijano apresentou no final dos anos 80 a noção de colonialidade,
oferecendo um novo sentido ao verbete “colonialismo”, sobretudo como até então havia sido
estabelecido. Tal concepção logo a seguir
foi aperfeiçoada pelo semiólogo argentino Walter Mignolo através do aclamado livro “Historias
locais / projetos globais – colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar” e de outros
artigos científicos subsequentes. De maneira sucinta, a colonialidade foi tratada por Mignolo
como o traço mais sombrio da Modernidade: mesmo após o reconhecimento da independência
das ex- colônias, subsistiu no tecido social de maneira institucional e atuante a discriminação
étnica e cultural (MIGNOLO, 2017).

A colonialidade instituiu uma política de vidas descartáveis, herdando a concepção de mundo


que a Europa definiu no século XVI e que continuamente foi reafirmada através do canhão, da
pluma de escrever, da fé religiosa, da chibata, do flagelo, da intimidação, da legislação, da
Literatura, da pintura e, mais tardiamente, da fotografia e do cinema. Então, a semântica do
vocábulo em francês décolonial resulta da confrontação à colonialidade e na França tal termo
frequentemente é relacionado à corrente contra o racismo e/ou xenofobismo, ressaltando-se a
salvaguarda aos imigrantes advindos de antigas colônias e seus sucessores (VERGÈS, 2019).

O raciocínio decolonial cuida de um método que propõe o desfazimento das heranças históricas
da colonização e que ostenta um amplo objetivo de superação do modelo herdado de arbítrio
colonial. Assim, nas ocasiões em que fizermos menção especificamente aos processos histórico-
administrativos de desembaraço das Metrópoles de suas ex-colônias, é preferível a utilização dos
termos “descolonial”, “descolonizar” e “descolonização”. Em oposição, quando a intenção for
fazer apontamentos sobre movimentos contínuos pelo desfazimento pleno da colonialidade,
sugere-se o emprego dos vocábulos “decolonial” e “decolonialismo”, removendo-se a consoante
“s”. Tal cuidado pretende enfatizar que os processos histórico-formais de descolonização de um
local não asseguram que os fundamentos que orbitam sobre eles tenham superado a lógica
colonial (GONZAGA, 2021).

Como o agente colonizador impôs modos de vida e valores em prol de grupos privilegiados,
cujas etnias eram vistas como superiores, os novos Estados latino-americanos foram erguidos
pelas elites brancas e não pelas urgências das classes e raças em situação de vulnerabilidade.
Isto faz com que até os dias de hoje sejam encontradas heranças de discriminação e de exclusão
em todas as searas do tecido social. Desta maneira, descolonização é o evento/episódio
histórico de emancipação política/institucional das ex- colônias perante as Metrópoles, enquanto
decolonizar-se é desfazer-se dos vínculos culturais e/ou discriminatórios que vigoram mesmo
após a descolonização.

Felipe Labruna é Mestre e graduado em Direito pela PUC-SP. Especialista em Ciência Política e
em Direito Processual Civil. Pesquisador. Co-autor do livro “Faltam pais no Brasil”.
SUGESTÕES DE LEITURA
Comunismo

ANDRADE, Manuel Correia de. A trajetória do Brasil: de 1500 a 2000. São Paulo:
Contexto, 2000.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às independências, séculos
XIII a XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o


regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994.
MAESTRI, Mário. Uma história do Brasil colônia. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2002
MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História contemporânea
através de textos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
______. História moderna através de textos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
MESGRAVIS, Laima; PINSKY, Carla Bassanezi. 2. ed. O Brasil que os europeus
encontraram. São Paulo: Contexto, 2002.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil: o
território colonial do Brasil no “longo” século XVI. São Paulo: Hucitec, 2000.
PESTANA, Fábio. No tempo das especiarias. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. São Paulo: Contexto, 1993.
PINSKY, Jaime (org.). História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 1994.

COMUNISMO
O Comunismo é uma ideia que se incorporou ao imaginário do Ocidente
contemporâneo, sempre colocada em oposição ao Capitalismo. Tal ideia, no entanto,
tem se tornado pouco compreendida pelas novas gerações, depois da queda do bloco
de países socialistas, a partir da 1989, e com a ascensão da pós-modernidade e da
globalização. Embora, para muitos, o Comunismo tenha sido um projeto político que
morreu com o século XX, sua importância para a História do mundo contemporâneo
ainda faz dele um tema atual.
O Dicionário do pensamento marxista oferece duas definições para Comunismo:
primeiro, ele seria o movimento político da classe operária dentro da sociedade
capitalista, iniciado com a Revolução Industrial. Esse sentido do termo surgiu
na década de 1830, com o crescimento da classe operária na Europa Ocidental.

70

Você também pode gostar