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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
PROJETO DE TESE
1. ALUNO(A): Jair Alcindo Lobo de Melo

2. ORIENTADOR)A):_ Jane Quintiliano Guimaraes Silva_

3. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS 4. NÍVEL: DOUTORADO_

5. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Linhas da Área Linguística e Língua Portuguesa

6. LINHA DE PESQUISA: Linguagem e Enunciação: Interações Sociais e Práticas Discursivas_

7. TÍTULO DA TESE: VALORES ÉTNICO-RACIAIS E OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO NOS LIVROS AVALIADOS


NO PLANO NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO

8. ANEXOS:

Belo Horizonte, 13 de agosto 2020.

___________________________________________________
Candidato(a)
ANUÊNCIA DO ORIENTADOR:

Concordo em orientar o(a) candidato(a) na elaboração de seu trabalho e declaro ter disponibilidade de
tempo para fazê-lo.

Data:______/______/______
_________________________________________________________________

Assinatura
1

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho, intitulado VALORES ÉTNICO-RACIAIS E OS PROCESSOS DE


SUBJETIVAÇÃO NOS LIVROS AVALIADOS NO PLANO NACIONAL DO LIVRO
DIDÁTICO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DE TEXTOS ICÔNICO-VERBAIS,
vinculado à Linha de Pesquisa LINGUAGEM E ENUNCIAÇÃO: INTERAÇÕES
SOCIAIS E PRÁTICAS DISCURSIVAS, objetiva analisar discursos que produzem
sentidos na composição de textos icônico-verbais, que compõem os livros didáticos
avaliados no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) à luz da Análise do Discurso
(AD), de linha francesa.
Para isso, objetiva-se investigar, por meio dos textos icônico-verbais, o
funcionamento discursivo dos textos na composição dos livros didáticos, buscando
compreender os discursos implicados. Se eles reafirmam estigmas e estereótipos
cristalizados em nossa cultura sobre determinados papéis do negro na sociedade, e que,
consequentemente, podem contribuir para a representação negativa do negro e a
representação positiva do branco.
A pesquisa será realizada nos livros didáticos do Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD) que circulam no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Pará (IFPA), campus Belém, onde serão analisados os textos icônico-verbais
relacionados à questão étnico-racial, sendo este o foco do trabalho.
Além disso, serão examinados os possíveis efeitos de sentido de exclusão dos
negros, que permeiam as práticas discursivas nesses textos, com o propósito de, não só
compreender em que medida textos icônico-verbais presentes em livros didáticos podem
reforçar visões rotuladas do papel do negro na sociedade, mas também desvelar se os
textos utilizados nos livros didáticos do PNLD podem contribuir para a legitimação de
um discurso construído por meio de um conjunto de imagens preconceituosas acerca
desse grupo na sociedade.
Assim, ao considerar o contexto da pesquisa, foram definidas para este estudo as
seguintes perguntas: quais as condições de saber e poder possibilitaram o surgimento
desses discursos sobre o negro no Livro Didático do PNLD? Como as identidades desse
grupo são constituídas atualmente? Qual o papel do Livro didático do PNLD nessa
produção discursiva? Quais efeitos de sentidos são produzidos nessa produção
discursiva identitária? De que modo os sujeitos são posicionados nesse discurso?
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2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
• Analisar discursos que produzem sentidos na composição dos livros didáticos
que constituem a mobilização de valores étnico-raciais.

2.2 ESPECÍFICOS
• Discutir o lugar simbólico do livro didático na instituição escolar.
• Identificar as práticas discursivas relacionadas a questões étnico-raciais nos
livros didáticos do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD).
• Descrever em que medida os textos icônico-verbais, presentes em livros
didáticos do PNLD, podem reforçar estereótipos cristalizados em nossa cultura
sobre determinados papéis do negro na sociedade.
• Depreender se os discursos constituídos por meio de um conjunto de textos
utilizados nesses livros contribuem para a legitimação de estereótipos acerca do
negro na sociedade.

3 JUSTIFICATIVA

O campo da Análise do Discurso de linha francesa (AD) busca as significações


discursivas que podem ser apreendidas, a partir da materialidade do texto, e são afetadas
por condições sócio-históricas de significação. Assim, ao entender que o discurso
constitui um cenário em que estão envolvidos a língua, o sujeito e o espaço histórico-
social e cultural, este trabalho objetiva analisar discursos que produzem sentidos sobre o
negro nos livros didáticos do PNLD. Se esses discursos constroem ou desconstroem a
imagem estereotipada desse grupo como selvagens, animalizados, marginalizados, entre
outras. Como superfície de emergência para práticas discursivas identitárias, pretende-
se investigar, por meio da identificação do emprego de estratégias linguísticas e
imagéticas, se os elementos discursivos concorrem para essa visão excludente e
idealizada.
O objeto deste estudo poderá permitir que se analise os livros didáticos do PNLD
para compreender que discursos os definem sobre a questão étnico-racial, compreender
as concepções que os orientam e os fundamentos que os sustentam, tendo como
referência a produção teórica do campo da Análise do Discurso, verificando, nos livros
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do PNLD, como o processo discursivo e as estratégias discursivas dos textos icônico-


verbais exploram questões Étnico-raciais, de identidade, sobre os negros. Se esse grupo
ainda é visto de forma, mesmo que inconscientemente, depreciativa e estereotipada,
apesar de a sociedade ter passado por mudanças significativas na esfera política, social,
e ética, por exemplo.
Por isso, esta pesquisa pretende cooperar para a formação de futuros professores
em análise do discurso para que se obtenha a capacidade de identificar os discursos
presente nos textos icônico-verbais e observar os processos de subjetivação dos sujeitos
e dos meios pelos quais ele significa seu dizer. Compreender as representações
identitárias contidas nesses processos discursivos, ao observar como estes sujeitos se
veem, como eles veem o outro (seus pares e o branco) e como os outros os veem,
contribuindo, dessa forma, para a reflexão sobre exclusão, invizibilização e preconceito.
Assim, com essa formação, os professores estarão ajudando a desconstruir esses
estereótipos encontrados nesses textos e estarão favorecendo os alunos a trabalharem
sua visão crítica sobre o que eles possam encontrar nos livros didáticos, visto que os
discursos são influenciados histórica e ideologicamente.
Além disso, este estudo justifica-se em razão da necessidade de se reconhecer a
importância da AD para as práticas pedagógicas desenvolvidas no âmbito da Educação
das Relações Étnico-Raciais, como contribuição teórica essencial para identificar
práticas discursivas por meio dos discursos presentes nos livros didáticos do PNLD.

4 QUADRO TEÓRICO

Focados em um viés epistemológico que compreenda o marginalizado, o


invizibilizado, o excluído, pautamo-nos, transdisciplinarmente, na perspectiva da
Análise do Discurso de linha francesa (PÊCHEUX, 1988), dos conceitos de sujeito,
discurso e interdiscurso a partir de Foucault (1990; 1997; 1999; 2007); Althier-Revuz
(1990, 1998); Coracini (2003, 2007, 2011); Subjetivação Bernardes (2004), Hall (1998),
Rose (1998); do artifício metodológico foucaultiano (1988, 1997, 2013),
especificamente o arquegenealógico.
Busca-se a identificação dos discursos, mais especificamente, a compreensão das
práticas discursivas relacionadas a questões étnico-raciais nos livros didáticos do Plano
Nacional do Livro Didático, adentrando nessa rede discursiva, presente nesses manuais,
com o propósito de descortinar as imagens construídas a respeitos do negro, de sua
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cultura perante a sociedade, por intermédio dos interdiscursos constitutivos dos


sentidos.
Parte-se da hipótese de que o livro didático delineia modos de subjetivação dos
traços identitário-culturais do negro. O aspecto icônico-verbal dos textos presentes
nesse suporte subjetiva tal sujeito, (re)legando-lhe o entre-lugar no bojo da sociedade
contemporânea.
Para Bhabha (1998), o que é teoricamente inovador e politicamente crucial é a
necessidade de pensar além das narrativas de subjetividades originárias e inicias e de
focalizar aqueles momentos ou processos que são produzidos na articulação de
diferenças culturais. Esses “entre-lugares” fornecem o terreno para a elaboração de
estratégias de subjetivação- singular ou coletiva- que dão início a novos signos de
identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, no ato de definir a própria
ideia de sociedade.
Butler (2015) assevera que existe uma capacidade corporificadora daquilo que se
quer expor e moldar. Os discursos preparam as ferramentas para a instrumentalização
subjetiva. Por isso os sujeitos são construídos de acordo com normalizações repetidas e
consumidas. São condições específicas para o entendimento do indivíduo como “ser”. A
contingência desse processo de subjetivação envolve forças específicas de produção das
identidades. No entanto, não são deterministas. Para o autor, “os esquemas normativos
são interrompidos um pelo outro, emergem e desaparecem dependendo das operações
mais amplas de poder, e com muita frequência se deparam com versões espectrais
daquilo que alegam conhecer”.
Para Gregolin (2005), certos discursos que circulam na mídia contemporânea
produzem uma rede simbólica que forja identidades a partir de uma “estética de si”
(FOUCAULT, 1994; 1995). São práticas discursivas que constituem verdadeiros
dispositivos identitários e produzem subjetividades como singularidades históricas a
partir do agenciamento de trajetos e rede de memórias. Nesse contexto, Os Livros
Didáticos do PNLD, que circulam nas escolas públicas, constituem importante
instituição agenciadora de trajetos de sentidos e redes de memórias por mobilizar
“certos discursos”. Para a autora, essas Redes de memórias se tornam “verdadeiros
dispositivos identitários e produzem subjetividades como singularidades históricas”.
A Análise do corpus desta pesquisa considerará a construção de discursos
materializados na comunhão das práticas verbais e não-verbais, portanto, ocupa-se das
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visualidades, aqui analisadas à luz dos teóricos dos estudos da análise do discurso de
vertente foucaultiana.
Relativamente ao negro, nossa sociedade vive o mito da democracia e igualdade
racial, daí a insistência na negação da discriminação, do preconceito e do racismo que
está presente no discurso. Silva (2011) afirma que a discriminação seria como um
tratamento diferencial conferido a alguns membros de certos grupos, dessa forma, as
práticas discriminatórias seriam um meio para evitar que um grupo perca certos
privilégios. Assim, essa negação visa, na verdade, “[...] desconstruir a ação política do
povo negro, tendo como referência a sua identidade étnico-cultural e racial entre outras,
numa sociedade desigual” (SILVA, 2011, p.76).
Na perspectiva de Sousa (1983), a sociedade escravista, ao transformar o africano
em escravo, definiu o negro como raça e criou uma suposta ideia de inferioridade do
negro, estipulando uma hierarquia, com o branco no topo, como dominante, e o negro
na base, como dominado, emergindo estereótipos interpelados por essa suposta ideia
que o deprecie e desvalorize. Dessa forma, o discurso racista passa a ser veiculado de
forma velada, pois se tornou algo comum, inconsciente, propagando atributos que o
desumanizem e inferiorizem e, para esse discurso ser “desconstruído”, o negro passa a
querer igualar-se ao branco. Sousa (1983) assevera que para afirmar-se ou para negar-
se, o negro toma o branco como marco referencial.
Para Theodoro (2008), é fato conhecido no panorama das desigualdades
brasileiras que há essa desigualdade racial considerável no país, uma das mais perversas
inclusive, configurando-se como um fenômeno complexo. Trata-se ainda de uma
desigualdade particularmente detestável dado que, como tem sido comprovada em
diversos estudos, parte significativa dela não é atribuível a nenhuma medida de
mérito ou esforço, sendo puramente resultado de discriminações passadas ou
presentes. Assim,
[...] A discriminação nega ao discriminado os direitos de cidadania e
os bens econômicos e de prestígio na sociedade. Delega esses direitos
e bens aos grupos que são representados positivamente, aos quais são
conferidos, em grande parte, a humanidade e direitos de cidadania.
(SILVA, 2011, p.75).

Nesse contexto, o livro didático pode contribuir para a forma como o negro é
representado para sociedade, tanto positiva quanto negativamente. Dessa modo, a
maneira como esse grupo aparece nos livros pode influenciar para um estereótipo
depreciativo e inferiorizado por meio de conjuntos de imagens preconceituosas a
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respeito dele na sociedade, veiculando, assim, um discurso segregacionista, fazendo


com que os professores que utilizam esses livros não percebam a discriminação contida
em forma de estereótipos.
Silva (2011) enfatiza que a internalização de uma representação inferiorizada
pode produzir a autorejeição e a rejeição ao seu Outro assemelhado, bem como para o
reconhecimento e respeito do negro por parte dos indivíduos de outras raças/etnias. A
autora afirma que a leitura não é o único meio de formação da criança e, portanto, não é
a única forma de poder ideológico pelo qual reforçará o discurso do racismo e, sim, que
a realidade que cerca este aluno possui grande influência na sua formação ideológica,
pois está atrelado ao seu cotidiano.
Dessa forma, é preciso analisar a circulação desses discursos para se compreender
a produção dos sentidos por meio dos discursos presentes na materialidade discursiva
observada nos textos icônico-verbais, que são influenciados por questões históricas,
sociais e culturais, encontradas nos livros didáticos.
É verdade que os textos não têm um efeito automático sobre as opiniões dos
leitores – principalmente porque muitos leitores podem resistir às interpretações
sugeridas pelo discurso subjacente –, mas, em condições especiais, essa influência pode
ser penetrante. Portanto, se a representação negativa do papel das minorias dominadas
(e, em alguns países, maiorias) for consistente com os interesses dos grupos dominantes
e se os membros dos grupos dominantes não possuírem muitos contatos étnicos
alternativos ou informações a representação negativa de acontecimentos étnicos e de
pessoas pode facilmente influenciar as mentes dos receptores.
Por isso, cabe aos profissionais da área promover situações de problematização e
debate a respeito das questões étnico-raciais, pois de acordo com Voese (2004, p.15),
“[...] as instituições de ensino são lugar de dialética” e a Análise do Discurso pode sim
se apresentar como uma disciplina que venha a servir de base para a formação de alunos
dotados de consciência, capazes de discernir entre o que reproduzir e o que transformar
na realidade que os cerca, pois:

[...] A esfera educacional é um espaço estratégico para a construção de


uma sociedade mais dinâmica, igualitária e integrada. Além da
imprescindível função formativa, a educação, como geradora de
oportunidades. (THEODORO 2008, p 151).
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É preciso analisar as estruturas do discurso pedagógico (currículos, livros


didáticos, aulas, interação em sala de aula), assim como também se fazer uma análise
contextual para descrever e explicar como esses discursos podem contribuir
fundamentalmente para a reprodução de preconceito. É dessa forma que muitas
crianças, pela primeira vez, recebem informações sobre os povos de outras partes do
mundo, sobre imigração e imigrantes ou sobre negros de outra parte da cidade, do país e
do continente. Nos livros didáticos da América Latina, é possível ler a história da
escravidão desse grupo no país. Embora essa informação não seja sucinta nem
tendenciosa (às vezes, também é positiva), em geral limita-se ao passado:
Segundo Theodoro (2008), frente a esse conjunto cada vez mais evidente de
desigualdades e discriminações, temos o debate público e as iniciativas no campo das
políticas de governo que tem se intensificado, as Leis 10.639/03 e 11.645/2008 são
exemplos. Nessa perspectiva reside também a relevância da pesquisa, uma vez que irá
trazer à baila recentes discussões sobre essas Leis, que versam sobre a obrigatoriedade
do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, e a importância da cultura
negra na formação da sociedade brasileira.

5 METODOLOGIA
Para esta pesquisa, optou-se pelos pressupostos do método arqueogenealógico.
Por conseguinte, a busca pelos enunciados que retratam o negro e o índio no livro didático
não objetivam identificar o surgimento dos discursos que abordavam esse tema. Busca-se
um ponto na história que pode revelar mais claramente a recorrência de tais discursos.
Buscamos a recorrência dos discursos nos textos analisados no livro didático e o fato de
estarem sendo comentados, deslocados, discutidos. Por esta forma, a metodologia de
trabalho vai se pautar na busca pela regularidade que possa evidenciar o negro em
situações que possam levá-lo, mais especificamente, ao discurso contemporâneo. Com esse
procedimento procuraremos identificar séries enunciativas, trajetos temáticos em torno do
tema proposto, que serão discutidos adiante.
Decidiu-se analisar a constituição identitária do negro, por ser formadora de
relações políticas, culturais e econômicas, além de estar presente nos livros didáticos em
forma de representações verbo-visuais.
Sobre o método, cabe definir o recorte, como assevera Ruiz (2011):
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“Se a genealogia é o método filosófico que mostra a historicidade


constitutiva dos valores, a arqueologia procura reconstruir as
singularidades históricas, as rupturas e desvios das práticas”.

Foucault adotou em suas pesquisas o método genealógico para delinear a


historicidade das verdades. Porém, também se preocupou em apontar não só as
continuidades históricas da genealogia, mas as rupturas epistêmicas dos conceitos numa
determinada época”. Para captar as rupturas, desvios ou inversões de sentido que os
conceitos, as verdades e os valores tiveram, Foucault criou o que denominou de método
arqueológico. Sem a consciência crítica da arqueo-genealogia de nossas crenças e
práticas, seremos facilmente levados pela inércia do status quo e pela reprodução da
mesmidade estabelecida, afirma o autor.
Ruiz (2011), a genealogia como método filosófico mostra que a historicidade
perfaz o lado oculto dos valores e das práticas. Nossas crenças e práticas estão
ancoradas na historicidade dos conceitos que utilizamos e dos valores que praticamos. A
história contém uma parte significativa da verdade de nossas práticas. A genealogia
possibilita ter consciência crítica de nosso presente. Conseguimos compreender a
historicidade implícita nas verdades que acreditamos e nas práticas que valoramos.
Como método filosófico, reconstrói as evoluções históricas dos valores, o
desenvolvimento social e conceitual das verdades, a configuração histórica das práticas.
Se a genealogia é o método filosófico que mostra a historicidade constitutiva dos
valores, a arqueologia procura reconstruir as singularidades históricas, as rupturas e
desvios das práticas. A arqueologia preocupa-se por reconstruir um momento histórico a
partir dos restos deixados pela história. A arqueologia mostra a arché (o começo)
histórico de nossos valores e práticas. Como método filosófico, a arqueologia procura
recolher os indícios deixados pelas práticas históricas para recompor o modo como os
sujeitos de uma determinada época validaram sua forma de agir, seu modo de crer, seu
estilo de viver. Embora os discursos, valores e verdades estejam atravessados
(genealogicamente) pela continuidade histórica, cada cultura e sociedade os recria de
forma (arqueologicamente) circunstancial. Essas recriações de sentido implicam
rupturas, desvios ou inversões significativas a respeito do que historicamente se
acreditava.
Segundo o autor, a arqueologia explora esse campo meta-semântico em que
opera a validação dos valores, verdades e práticas de uma cultura. Os sujeitos nem
sempre são conscientes dos marcos epistêmicos através dos quais se validam ou
desconstroem os discursos. A arqueologia pretende reconstruir o discurso como
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acontecimento que se articula com o não discursivo que constitui a sua validação. Tenta
captar o feixe de relações que criam o discurso como acontecimento e o validam como
verdade. Diz Foucault na Arqueologia do Saber: “Fazer aparecer na sua pureza o espaço
em que se desenvolvem os acontecimentos discursivos não é tentar restabelecê-lo em
um isolamento que nada poderia superar; não é fechá-lo em si mesmo; é tornar-se livre
para descrever nele o fora dele jogos e relações”.
A arqueologia reconstitui o jogo de forças entre as verdades e seus efeitos de
poder, e o poder e seus jogos de verdade. Toda verdade produz efeitos de poder sobre os
sujeitos que as aceitam, e todo poder se sustenta através de verdades que o legitimam.
Os discursos produzem efeitos de poder e o poder se consolida pelos seus discursos
verdadeiros. Essa circularidade aberta entre discurso e verdade constitui o campo meta-
semântico da arqueologia, que visa mostrar como as verdades e os discursos são
validados por efeitos de poder meta-discursivos. A arqueologia se propõe a recompor
esses campos de forças que validam as verdades e os discursos de uma sociedade numa
determinada época. São os jogos de poder e sua produção de verdade assim como as
verdades e seus efeitos de poder.
O corpus utilizado para as análises, neste estudo, será constituído de recortes de
entrevistas a serem realizadas com os alunos leitores dos livros didáticos pertencentes
ao PNLD e dos textos icônicos verbais selecionados como corpus desta pesquisa que,
mediante a utilização do método arqueogenealógico foucaultiano deseja observar os
processos de subjetivação dos sujeitos e dos meios pelos quais ele significa seu dizer.
Dessa forma, será por meio do arcabouço teórico da perspectiva transdisciplinar da
Análise do Discurso de linha francesa, o ponto de vista teórico-metodológico
foucaultiano.
CRONOGRAMA
2021
Atividades Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Levantamento bibliográfico X X
Reformulação do projeto X X
Elaboração do referencial teórico X X X
Elaboração de instrumentos da X X
pesquisa
Elaboração de artigo para X X X X X
apresentação em eventos científicos
Elaboração de tese X X X X X
2022
Atividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Levantamento X X X
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Estatístico
Análise e X X
sistematização de
material
Trabalho de X X
campo
Trabalho de X X X
campo no lócus
da pesquisa
Elaboração de X X X X X X X X X
artigo para
apresentação em
eventos
científicos
Reelaboração de X X X X X X X X X X
tese
2023
Atividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Análise do X X X
material e
observação de
campo
Realização de X X X
entrevistas
Análise e X X X
sistematização dos
dados obtidos nas
entrevistas
Elaboração de X X X X X X X X X
artigo para
apresentação em
eventos científicos
Qualificação X X
Reelaboração de X X X X X X X
tese
2024
Atividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Elaboração da tese X X X X X
Revisão final de X X X X X
tese
Defesa X X

REFERÊNCIAS
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