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O Projeto de Pesquisa
Em linhas gerais, o Projeto de Pesquisa “Formação de Comunidades Leitoras na
Periferia: A articulação da dimensão pedagógica e política no acesso a leitura” foi
desenvolvido através da ação conjunta da universidade (Universidade do Estado do Rio de
Janeiro\Faculdade de Educação da Baixada Fluminense\ UERJ – FEBF) e a escola básica
(Escola Municipal Barro Branco ), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A finalidade foi investigar as práticas de leitura
presente num bairro da periferia. Buscou-se contribuir com a formação de comunidades
leitoras favorecendo o acesso de famílias de classe popular ao patrimônio literário em seus
variados aportes textuais. A outra finalidade do projeto foi garantir o contato com as
práticas de construção do conhecimento científico fora do espaço acadêmico, contribuindo
para nosso processo de formação.
A Escola
A EMBB, é uma escola da rede pública de ensino está localizada no Jardim Barro
Branco, periferia do município de Duque de Caxias/RJ.que apresenta uma opção política e
pedagógica diferenciada. Investe no trabalho coletivo, na parceria com a comunidade, a
universidade, o sindicato; no processo de gestão democrática, assim como, na formação
continuada dos professores. A Escola, ainda, sustenta uma visão crítica da realidade e das
relações e condições sociais, políticas e econômicas que atravessam as práticas educativas.
A leitura em seus diferentes aportes, naquela unidade escolar recebe atenção
especifica constituindo-se como prática que atravessa todas as atividades ali realizadas e
está presente desde a sua entrada.
Segundo documentos da escola, o intuito do trabalho educativo tem sido o
de estabelecer ações, metas, projetos de trabalho, buscando
permanentemente conhecer as possibilidades locais a fim de superar o
processo de ensino e de aprendizagem através da elaboração de um
Projeto-Político-Pedagógico (PPP) voltado para a transformação da
realidade social, antagônico a qualquer proposta excludente conformada
com o paradigma produtivo que promove, ao invés da emancipação do
pensamento, a coisificação dos sujeitos. (Idem, p.03)
O locus da pesquisa
O espaço físico e social onde a escola está inserida – Jardim Barro Branco –
caracteriza-se pela falta de quase tudo e pela sobra do descaso do poder público. A maioria
das famílias sobrevive do trabalho informal e de programas de assistência subsidiados pelo
governo federal. A média salarial não ultrapassa dois salários mínimos.
Em nossas visitas aos pais, quando da aplicação do questionário que buscou
investigar suas práticas leitoras e suas relações com a leitura, foi possível observar que a
comunidade é um retrato cruel da completa ausência de políticas públicas de toda ordem.
Falta água encanada, depara-se com esgoto a céu aberto, ruas que estão parcialmente
asfaltadas e sem placas que indiquem seus nomes, etc. Não há posto de saúde nem qualquer
espaço de lazer.
Nas casas, a pobreza esbarrava na miséria e a insalubridade apresentava-se nas
roupas que vestiam as pessoas das famílias; no quintal e na presença do valão no portão das
casas.
Para está comunidade, a leitura está mais no campo do desejo do que na prática. O
desejo é alimentado pelo reconhecimento daquilo que ela representa, mas o fosso alarga-se
quando a falta de acesso aos bens culturais é uma realidade. Não há biblioteca pública no
bairro, nem mesmo banca de jornal; os livros são muito caros e a realidade econômica desta
comunidade é precária. Os pontos de cultura/leitura do município não são conhecidos pelos
moradores, menos pela falta de interesse e mais pela falta de divulgação.
A Escola Municipal Barro Branco é reconhecida em seu trabalho pedagógico por
aquelas que foram entrevistadas e constitui-se como única referencia da presença do poder
público.
A materialidade do discurso
A primeira parte deste artigo é estruturada a partir da análise crítica de discurso, formulada
por Fairclough (2001), objetivando o discurso como prática social indissociável das demais.
Não se confundindo com "atividade puramente individual ou reflexo de variáveis
situacionais" (p. 90), o discurso é pensado como modo de ação que, por sua relação
dialética com a estrutura social, permite "investigar as práticas discursivas como formas
materiais de ideologia" (p. 116).
Sendo dialética a relação entre discurso e estrutura social, não pode ser simplificada por
leituras mecanicistas ou deterministas. Fairclough (2005) sublinha que há mudanças na vida
social que são, em parte, mudanças no discurso sem serem apenas discursivas, ao mesmo
tempo em que há mudanças discursivas que podem não apontar para mudanças sociais,
como as de motivação retórica. Portanto, adverte que evitar a redução da mudança social ao
discurso é tão importante quanto reconhecer o último como um elemento ou "momento"
dialético da primeira.