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RESUMO
Mais do que buscar conceber quais relações sociais constituem seu objeto, a um
estudo da linguagem em funcionamento nas práticas sociais interessa
questionar o que seu objeto constitui como relação social, quais as
consequências da produção do seu conhecimento, de seu posicionamento
teórico para as realidades sociais em que as pesquisas são produzidas
(RAJAGOPALAN, 2007). Pois, se concebemos que os conhecimentos e a
própria linguagem são incompletos, eles precisam ser mutuamente
complementados, questionados em um exercício de autorreflexão sobre as
práticas cristalizadas na pesquisa, bem como sobre limitações e possibilidades
de se conhecer o que constitui a língua por meio da própria língua, a qual está
na história, e é relativa ao lugar de onde se enuncia. É por este viés crítico que
se abre caminho para a reflexão sobre os problemas socioculturais atravessados
pela linguagem.
Uma teoria linguística, segundo Moita Lopes (2006, p. 18), “pode fornecer uma
descrição mais acurada de um aspecto linguístico do que outra, mas ser
completamente ineficiente do ponto de vista do processo de ensinar/aprender
línguas”. A crítica do pesquisador vai na direção do simplismo, da falta de
reflexão dos próprios pressupostos que levaram a crer, em muitas pesquisas na
área da Linguística, que as teorias linguísticas poderiam, por si mesmas,
“apresentar respostas para a problemática do ensinar/aprender línguas em sala
de aula”. Uma teoria linguística, sozinha, não é capaz de explicar as
contingências sociais, culturais e anímicas que intervêm no aprendizado.
Construtos, tais como o Letramento, são uma categoria restritiva quando se trata
de culturas locais com características específicas, tais como são as
comunidades quilombolas (SITO, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme apontado por Rajagopalan (2003), por Celani (1992) e por Halliday
(1996), as experiências da Linguística Aplicada com um viés crítico refletiram
profundamente sobre a autorreflexão e os limites da teoria. Sabendo que a língua
não é neutra, várias definições e diferentes abordagens podem ser feitas dentro
desse campo. A esse respeito, Moita Lopes (2006) explica que a linguística
sozinha não consegue desvendar os acontecimentos sociais, culturais e
anímicos que se relacionam à linguagem. Por esse motivo, faz-se necessário o
intercruzamento das diversas áreas da humanidade, contribuindo, assim, para
uma ciência autônoma a qual integra diversos saberes. Nesse sentido, Kaplan
(1980) metaforiza LA comparando-a com o teatro:
As reflexões aqui tecidas nos permitem pôr ênfase na relatividade das assim
chamadas “ciências da linguagem”, haja vista o fato de que, se as diferenças
culturais não são levadas em conta ao se estudar a linguagem/discurso, a
pesquisa corre o risco de endossar práticas coloniais e etnocêntricas.
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RESUMO BIOGRÁFICO