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LINGUÍSTICA

APLICADA AO
ENSINO DO INGLÊS

Dayse Cristina
A relevância da
Linguística Aplicada
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Relacionar a Linguística Aplicada a outras áreas.


 Identificar os aspectos mais relevantes da Linguística Aplicada.
 Pontuar a relevância da Linguística Aplicada nos contextos de ensino.

Introdução
A Linguística Aplicada, campo de estudo que identifica e estuda proble-
mas relacionados à linguagem, também se relaciona com outras áreas.
Neste capítulo, você verá o percurso da Linguística Aplicada como ciência
e sua relação com outras áreas de conhecimento, observando sua atuação
com diferentes tipos de pesquisa e sua aplicação ao ensino.

A Linguística Aplicada e as outras áreas


John Langshaw Austin (1911-1960) foi um filósofo britânico que estudou
a linguagem. Principal defensor da filosofia da linguagem comum, ficou
conhecido por desenvolver a teoria dos atos de fala. Para Austin, usamos a
linguagem para declararmos alguma coisa, como prometer fazer algo. Por
causa dessa afirmação, uma de suas obras mais conhecidas, How to do things
with words (1962) (em português, “Quando dizer é fazer”), mostra sua teoria
sobre os atos de fala e sugere que toda fala e todo enunciado é o fazer de algo
com palavras e signos. A influência de J. L. Austin é significativa sobre os
rumos que a Linguística contemporânea tem apresentado em suas pesquisas,
principalmente na área da Pragmática, com marcas relevantes do pensamento
desse filósofo inglês (RAJAGOPALAN, 1996).
Austin não é o pioneiro nos estudos sobre pragmática e, como filósofo,
distanciou-se dos estudos rotulados como o movimento pragmático. A questão
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pragmática, como afirma Rajagopalan (1996), surgiu na Linguística. No en-


tanto, há uma divisão separando a Linguística que se interessa pelo significado
e a Filosofia que se interessa pela linguagem. A Pragmática foi abordada como
uma subárea de investigação na qual a referência feita é explícita ao falante,
ao usuário da língua (RAJAGOPALAN, 1996). A Linguística também se
encarrega de estudar a semântica e a sintaxe: a semântica no significado das
expressões e a sintaxe na relação que tais expressões têm entre si. Estudar a
semântica e a sintaxe de uma língua não pode ser entendido como um estudo
focado somente na utilização da língua, seja essa língua inglesa, portuguesa,
etc., o falante é determinante ao designar o uso da língua.
Em seu artigo, Rajagopalan (1996) afirma que o centro de estudo da lingua-
gem pode ser a lógica. A Pragmática, enquanto área de estudo, é menos formal
se comparada aos estudos semânticos de uma língua. A já mencionada obra
de Austin, How to do things with words, influenciou os rumos da Linguística
nos últimos tempos. “Atos de fala” é um termo associado aos estudos desse
filósofo e um conceito utilizado também na área da Linguística e em outras
áreas como a Psicologia, a Sociologia, a Teoria Literária, a Filosofia, o Direito,
e até a Economia (RAJAGOPALAN, 1996).
Os estudos de Austin são associados ao estudo dirigido à Filosofia Linguís-
tica. A Filosofia Linguística direciona sua pesquisa a problemas da filosofia.
Esses problemas podem ser resolvidos a partir de uma análise atenta das
palavras, destacando o tipo de linguagem usada, como a linguagem corriqueira.
Existe também a pesquisa realizada pela Filosofia da Linguística, que tem
como foco a Filosofia da Linguagem, destacando a linguagem como o objeto
de estudo filosófico (RAJAGOPALAN, 1996). É fundamental afirmar que
os estudos linguísticos não se confundem com os estudos filosóficos, sendo
esses, recém-mencionados, pesquisas que diferentes estudiosos se dedicaram
a fazer, considerando seu objeto de estudo. Rajagopalan (1996, p. 112) traz,
em seu artigo, que,

[...] no entender de Austin, a filosofia havia de se contentar com o estudo


minucioso do comportamento de palavras que se encontram na linguagem
ordinária, porque esta se constitui em um verdadeiro depósito de todo um
pensar filosófico que o ser humano vem desenvolvendo desde os primórdios
dos tempos, um depósito que abriga todas as distinções que, em algum mo-
mento histórico, serviu a propósitos específicos.

A Filosofia se mostra, por esse viés, envolvida com os estudos da linguagem


humana, o que significa que é impossível pensar o mundo sem a interferência
da linguagem — isso deu início à virada linguística.
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A linguagem transparente é a conexão que se tem com um mundo real e sem


distorções. Limitar a utilização da linguagem a redações escolares, a estilos
de poetas e a distorções da própria linguagem não é o rumo que a Linguística
deve tomar; é preciso atribuir essas manifestações a suas pesquisas porque
“A linguagem, em outras palavras, não é mais um simples instrumento, mas
um fenômeno poderoso em si, alheio à vontade humana e, frequentemente, às
suas intenções (e pretensões) conscientes” (RAJAGOPALAN, 1996, p. 113).
Há indícios de que os pensamentos de Austin tenham despertado interesses
em áreas variadas do conhecimento, especulação que se considera nos estudos
futuros da Linguística, mostrando, como aponta Rajagopalan (1996), que a
linguagem que Austin sonhou poderá ser traduzida em sua realidade com
esforços de filósofos, gramáticos, linguistas e demais estudiosos da linguagem.
A Linguística não pode abandonar sua pesquisa como uma ciência da
linguagem, mesmo que tenha enfrentado questões muito amplas nesse sentido,
dialogando com outras áreas do conhecimento. Noam Chomsky trouxe ques-
tões diversas, dialogando com campos como Psicologia, Biologia, Filosofia,
Teoria da Informação, etc. A Linguística é considerada um modelo de ciências
humanas e, em suas pesquisas, há uma análise metodológica e que influencia
outras áreas, como a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, etc. Há, ainda,
contribuições à Linguística nas áreas de Análise do Discurso, Letramento e
Ensino que abordam a dimensão sociodiscursiva dos gêneros textuais pela
Filosofia da Linguagem, trazendo diferentes filósofos para o cerne dessa
discussão (BANDEIRA, 2016). Essa discussão traz como proposta uma nova
perspectiva de aplicação de teorias usadas no ensino com um papel social
de promover o gênero discursivo em sala de aula, com práticas de leitura e
escrita. Os gêneros discursivos, segundo Bandeira (2016), fazem parte de
nossa vida cotidiana e nos permitem comunicar e interagir com as demais
pessoas, integrando nossas práticas sociais, regendo as relações humanas e
modificando-as, ou seja, a sociedade se organiza com as práticas e as atividades
comunicativas de acordo com determinadas regras sociais. A organização dos
gêneros discursivos acontece de maneira indissociável, tendo tema, forma e
estilo. Contudo, as transformações e a globalização que vêm acontecendo
no mundo pedem outras formas de interação social ao produzir enunciados
e textos, isto é, ao se comunicar, ao usar a linguagem. A interação social e
a maneira como as pessoas se comunicam já passam por transformações
influenciadas pela tecnologia digital, pela cultura em rede – traços revelados
pela hipermodernidade e pelo multiletramento (BANDEIRA, 2016).
O termo “múltiplos letramentos”, segundo Bandeira (2016), é entendido
diferentemente de um modelo de letramento que se refere à escrita como uma
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tecnologia independente de um contexto de produção e de uso, ou seja, a escrita


está ligada a habilidades cognitivas e individuais, e não a uma prática social.
Logo, os múltiplos letramentos são referentes a canais diversos de comunicação,
acontecendo de forma visual, computacional, etc. O termo multiletramento é
associado a canais de comunicação ligados à noção de letramento porque se
entende que “[...] as práticas sociais da leitura e da escrita estão atreladas ao uso
e ao significado, a partir dos contextos socioculturais em que os enunciados
são produzidos, compreendendo-os como facetas indissociáveis da produção
dos discursos” (BANDEIRA, 2016, p. 412).
Considera-se, então, que o letramento no Brasil merece uma abordagem
teórica de gêneros discursivos que desafiem um ambiente escolar com acesso
aos múltiplos letramentos, ao conhecimento e à informação.

Acesse o link a seguir e leia o artigo sobre atividades


referentes a práticas linguísticas.

https://goo.gl/feccLI

Aspectos da Linguística Aplicada


Definir o papel da Linguística Aplicada é uma tarefa que exige muita atenção
no que se refere ao ensino de línguas maternas e estrangeiras, ao compor-
tamento dos falantes nativos e não nativos de um determinado idioma, aos
problemas ocasionados pelo ensino/aprendizagem de uma língua, à utilização
de diferentes linguagens e à própria abordagem e aos questionamentos da
Linguística Aplicada para tais assuntos.
Segundo Hooks (1994), os professores podem e devem transgredir os limites da
sala de aula para que mudanças e intervenções necessárias no ensino de idiomas
aconteçam e para que haja troca de experiências e conhecimento. A proposta
de mudança ocasiona um ensino de língua estrangeira, por exemplo, que não
busque apenas fins comunicativos, mas que considere os valores da língua que
se está estudando porque os valores aprendidos dessa língua causam efeitos na
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sociedade. Atividades lúdicas e a transmissão de informação sobre o ensino de um


idioma são exercícios que resumem a aprendizagem desse idioma. A proposta é
repensar as formas de se ensinar uma língua estrangeira (PENNYCOOK, 1998).
Isso significa considerar a cultura ao se trabalhar línguas estrangeiras.
Pennycook (1998) afirma que se o ensino de línguas seguir sem prestar atenção
nos aspectos políticos e culturais da aprendizagem dessa língua estrangeira, o
idioma estudado estará estagnado à acomodação, ou seja, a língua não se de-
senvolverá como uma língua comunicativa que mostra o poder de se comunicar.
Os professores e pesquisadores, além disso, devem estar atentos às possíveis
conexões entre o trabalho que desempenham ligados a questões sociais também.
As questões nesse campo, então, se direcionam a responder, por exemplo, como
o ensino de uma língua estrangeira (aqui usaremos a língua inglesa) deve ser?
Qual o papel da Linguística Aplicada nesse contexto de ensino/aprendizagem?
Quais são as consequências desse ensino na e para a sociedade? O quão críticos
os professores devem ser sobre ensinar inglês, por exemplo? Que tipo de reflexões
devem fazer? Refletir sobre esse ensino é fundamental, uma vez que tais perguntas
motivam a compartilhar o ensino em sala de aula, os objetivos de se ensinar um
idioma, o comportamento que se reflete na sociedade e a habilidade de agir.
Vemos, então, um apelo ao ensino crítico de línguas feito com base em
aspectos da Linguística Aplicada, que, em uma de suas frentes, estabelece uma
relação entre os trabalhos realizados em sala de aula, as traduções feitas de um
idioma para outro, a motivação para a realização de conversações, as interpre-
tações de texto e questões mais gerais da sociedade (PENNYCOOK, 2001).
Quando um professor ensina inglês, por exemplo, além de ensinar voca-
bulário e praticar as estruturas desse idioma com os estudantes, é necessário
fazê-los aprender a utilizar a língua-alvo para refletir. Essa reflexão deve ser
treinada com temas que se refiram a questões sociais, políticas e econômicas,
como sugere Ferreira (2006). Ainda, segundo a autora, essa é uma proposta de
repensar o mundo de estudantes e professores como uma nova forma de agir
de maneira transformadora que possibilite uma mudança social. Entretanto,
trata-se de uma mudança cuidadosa que deve focar nas questões que precisam
ser apresentadas como dificuldades, problemas inerentes à transformação
do mundo, já que os estudantes se modificam no e com o mundo, expostos a
tais problemas que são de âmbito social também. A problematização deve ser
vista de maneira ampla, sem desconsiderar sua complexidade. No entanto, a
problematização não pode ser apenas um reconhecimento da existência de
um problema, mas um questionamento mais profundo.
A escola, e principalmente a sala de aula, é um espaço multicultural, com-
posto por diferentes experiências de vida, e deve exigir que o ato de educar,
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mesmo em uma língua estrangeira, ou segunda língua, aconteça para permitir


uma melhor compreensão dessa diversidade cultural, com questionamentos e
interações. Isso é valorizar as trocas no modo como ensinamos e aprendemos
(HOOKS, 1994). Esse estudo reflete algumas características que dão suporte à
Linguística Aplicada, para a qual um desafio é encontrar meios de compreender
a relação entre os conceitos da sociedade com interesses relacionados a seu
campo de estudo (veja mais sobre isso no Quadro 1 a seguir).

Quadro 1. Interesses e aspectos centrais da Linguística Aplicada Crítica

Interesses Aspectos centrais

Sólida visão da Linguística Aplicada Interdisciplinaridade e autonomia

Visão praxiológica Pensamento, desejo e ação


integrados como práxis

Campo de trabalho crítico Trabalho voltado para a


transformação social

Cobertura de relações micro e macro Relação dos aspectos da Linguística


Aplicada com domínios sociais,
culturais e políticos mais amplos

Questionamento social crítico Questões de acesso, poder, disparidade,


desejo, diferença e resistência

Diálogo com a Teoria Crítica Questões de desigualdade,


justiça, direitos e compaixão

Problematização de Constante problematização


práticas naturalizadas de práticas naturalizadas

Autoquestionamento Constante questionamento de seus


próprios interesses e domínios

Fonte: Urzêda-Freitas (2012, p. 82).

Cabe ao professor traçar sua linha de interesse quanto às alternativas


que esboçam o contexto ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira.
Propor uma nova forma de pensar a produção de conhecimento é uma forma
de problematizar o papel da Linguística Aplicada no seu campo de pesquisa
em um cenário social de mudanças pragmáticas relevantes. Os professores
também devem se preparar teoricamente, estudando os temas que devam ser
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trabalhados em sala de aula. Assuntos originários da internet, por apresenta-


rem muitas opções de discussões, não devem ser trabalhados aleatoriamente,
mas condicionados a serem refletidos criticamente na língua que se está
aprendendo; reconhece-se, assim, a necessidade de transformar o ensino, mais
especificamente, o ensino de línguas estrangeiras.
As leituras são uma forma de trabalhar a reflexão crítica, fazendo com
que cidadãos críticos sejam formados e se tornem, dessa forma, cidadãos
autônomos. Trabalhar o ensino de inglês voltado à crítica não é a salvação.
Trata-se de uma abordagem que apresenta pontos positivos e negativos, depen-
dendo da discussão proposta pelo professor, sendo o papel desse profissional
expor os questionamentos que fazem os estudantes dialogarem e criticarem,
ultrapassando as fronteiras necessárias para proporcionar cada vez mais co-
nhecimento. É também uma questão de promover um ensino como uma prática
que liberta. Como implementar esse comportamento ao ensinarmos a Língua
Inglesa aos estudantes que são cidadãos sendo treinados para o mercado de
trabalho e, principalmente, para a vida em sociedade? Essa investigação é
mais um desafio para a Linguística Aplicada.

A Linguística Aplicada já ganhou espaço no Brasil. Muitas são as tarefas com as quais
a Linguística Aplicada está envolvida, mas a mais importante é divulgar sua área
de investigação, principalmente no Brasil. As muitas pesquisas realizadas mostram
questões relativas à aprendizagem de uma língua em sala de aula. É fundamental
ressaltar que a Linguística Aplicada não pode ser vista como uma área que direciona
seus estudos a apenas um aspecto, relacionado à sala de aula, pois há fronteiras que
essa área atravessa, além das práticas de ensinar e aprender uma língua em sala de
aula. Há propostas de estudo que abrangem a pesquisa voltada para:
1. Transculturalidade, linguagem e educação;
2. Português como L2/LE;
3. Formação de professores de línguas;
4. Teorias de gênero em práticas sociais;
5. Ensino e aprendizagem de línguas.
Essas linhas de pesquisa contribuem para uma nova produção, fazendo com que a
Linguística seja desafiada pela interdisciplinaridade de seu campo e pelos conceitos
com que já trabalha e, acima de tudo, pela precondição de aprendizagem, ou seja, o
reconhecimento, a explicitação e a implementação dos direitos dos aprendizes de línguas.
Fonte: Costa (2015).
8 A relevância da Linguística Aplicada

A Linguística Aplicada e o ensino


A Linguística Aplicada vem sendo mais estudada e discutida pela relevância
de suas pesquisas, que não se limitam a investigar um idioma apenas, mas se
fazem presentes em estudos de meios comunicativos sobre todos os cidadãos
e regiões do planeta. A Linguística Aplicada também vem mostrando a im-
portância que uma língua tem na sua cultura para se comunicar, seja com um
público maior ou para direcionar seus estudos a conhecer e entender melhor
seus costumes.
Analisando o surgimento da Linguística Aplicada como área de conheci-
mento explícito, objetivo e sistemático, sua origem está relacionada à evolução
do ensino de línguas nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial
(ALMEIDA FILHO, 2007). Naquela época, havia a necessidade de se co-
municar com aliados e inimigos, e os linguistas se dedicaram a esse estudo,
fazendo com que, desde então, o campo de estudo crescesse, tornando-se de
interesse para muitas universidades explorarem mais o campo da Linguística
Aplicada (SÃO JOSÉ; AMORIM, 2011).
Tanto a Linguística quanto a Linguística Aplicada relacionam seus es-
tudos com a linguagem. A Linguística Aplicada, como dito anteriormente,
revela-se pela importância que demonstra com estudos relacionados à língua
estrangeira, ou o processo de comunicação dessa língua estrangeira, em um
momento em que foi necessário descobrir uma melhor forma de estudar e de
aprender a se comunicar em uma outra língua, principalmente na época da
guerra, segundo afirmam São José e Amorim (2011), o que nos leva a explorar
mais a abordagem comunicativa.
“A abordagem comunicativa desenvolveu-se nas duas últimas décadas
do século XX e resultou de uma alteração ocorrida ao nível da concepção e
formulação do conceito de ‘Língua – Teoria da língua’” (ROQUE, 2010 apud
SÃO JOSÉ; AMORIM, 2011, p. 03). Então, a língua passa a ser entendida
como um “[...] veículo de comunicação de significados e de interação social”
(ROQUE, 2010 apud SÃO JOSÉ, AMORIM, 2011, p. 03) e não mais como uma
estrutura, uma hierarquia organizada de elementos e unidades linguísticas.
Esse é o processo de ensino/aprendizagem pelo qual a Linguística Aplicada
começa a ser entendida, analisando a língua como um fator social e cultural,
o tipo de material utilizado para se aprender uma língua estrangeira e os
problemas que essa área de estudos enfrenta no Brasil.
A língua é entendida como um fator social e cultural, tendo a linguagem
como um produto social, já que seria impossível existir comunicação sem um
interlocutor e um receptor. É comum encontrarmos pessoas que falem mais
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de um idioma no mundo globalizado em que vivemos, não é? Falar mais de


um idioma ajuda o indivíduo a desenvolver e expandir seu nível cultural,
influenciando-o pelo conhecimento e pela cultura de outros povos (SÃO
JOSÉ; AMORIM, 2011). A responsabilidade de aprender um idioma é de
responsabilidade do estudante, pois, quanto mais ele estuda, mais informação
sobre dados culturais ele recebe sobre a língua estudada. Mesmo sem conhecer
uma língua fluentemente, como a língua inglesa, as pessoas sabem que on, em
inglês, significa que um aparelho está ligado e off significa que um aparelho
está desligado. On e off são preposições da língua inglesa, podem assumir
também a função de advérbios e, dessa forma, serem traduzidos de maneira
diferente, conforme o contexto e o acompanhamento, sejam acompanhando
substantivos ou verbos. No contexto aqui utilizado, a tradução em português
para on é ligado e para off é desligado. Muitas pessoas já se acostumaram
com os “importados” que compram e que contêm as palavras on e off. Esse
é um exemplo da cultura inglesa presente no dia a dia das pessoas que falam
outro idioma, como no caso do Brasil.
Um estudante adquire habilidades linguísticas e competências em relação à
interação que estudar um idioma proporciona. Uma língua depende de vários
indivíduos, pois não há interação com apenas um indivíduo. De acordo com
o Parâmetro Curricular Nacional (PCN), “A aprendizagem de uma língua
estrangeira, juntamente com a língua materna, é um direito de todo cidadão”
(BRASIL, 1998, p. 19).

E o que pode ajudar ao professor de inglês, por exemplo, é sua experiência em


ensinar esse idioma e ver qual a melhor metodologia a aplicar naquela turma
naquele momento. Então, a Linguística Aplicada entra em cena para observar
os meios em que esse ensino ocorre para ajudar estudantes e professores a
terem bons resultados em seus trabalhos (SÃO JOSÉ E AMORIM, 2011, p. 05).

O livro didático é conhecido como um poderoso instrumento de auxílio


no ensino de idiomas. A Linguística Aplicada investiga e tem um trabalho
direcionado a essa produção, tornando esse material mais instrutivo, com
práticas que habilitam quem está estudando a desenvolver a audição, a fala, a
leitura e a escrita. A Linguística Aplicada se interessa pela produção de livros
didáticos porque, por meio deles, é possível trabalhar conteúdos e realizar
atividades com propostas diversas, com finalidades específicas de linguagem.
São José e Amorim (2011, p. 06) dizem que “Muitos livros ensinam a falar
outro idioma usando a técnica da reprodução dos sons do nativo da língua que
se quer aprender, e isso tem sido eficaz em alguns casos”.
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O estudante observa como uma língua estrangeira funciona e, depois, tenta


repetir os sons, desenvolvendo sua audição e a fala. O processo é parecido com
o de uma criança quando está aprendendo a falar. Como há sons particulares,
próprios em cada língua, é muito provável que o estudante tenha problemas ao
pronunciar certos fonemas diferentes de sua língua nativa. Isso pode ser uma
armadilha, fazendo com que esse estudante troque os sons comuns à língua,
aproximando-os de sons “parecidos na sua língua materna”.
A Linguística Aplicada enfrenta problemas relacionados a aspectos de
competência linguística e comunicativa, por exemplo, à aquisição da primeira
língua, da segunda, ao letramento, etc. Há uma imensa variação entre os
problemas de linguagem e de comunicação nas sociedades que vão desde a
variação linguística até a discriminação que se tem em relação a um determi-
nado idioma (MENEZES; SILVA; GOMES, 2009). A Linguística Aplicada
tem que inovar sempre, “[...] buscando melhores meios de facilitar os meios de
ensino/aprendizagem de uma língua” (SÃO JOSÉ E AMORIM, 2011, p. 08).
Felizmente, o trabalho realizado pela Linguística Aplicada, até agora,
mostrou-se comprometido em investigar, discutir e solucionar diversos aspectos
que envolvam o ensino/aprendizagem de um idioma. Atualmente, é possível
estudar um idioma utilizando não apenas um livro didático, mas a internet,
entre vários outros instrumentos que podem facilitar a aprendizagem, que já
se tornou mais fácil e mais rápida se comparada a outros anos. Como trazem
São José e Amorin (2011, p. 09), “[...] é possível aprender até mesmo sem a
necessidade de um professor presente, pois há aulas de idiomas à distância, e
tudo isso é possível graças aos avanços tecnológicos e ao avanço nas pesquisas
em Linguística Aplicada, permitindo que estudantes estudem um idioma em
seus próprios lares ou em outro ambiente que não seja a escola – e o melhor
de tudo, eles também terão um ótimo resultado, basta dedicação e interesse”.
Mesmo que a Linguística Aplicada tenha emergido como uma área que se
preocupa com o estudo de uma língua estrangeira, atualmente, essa Linguística
abrange diversas áreas devido à sua pesquisa transdisciplinar. É fundamen-
tal a consciência crítica no processo de ensino/aprendizagem de inglês, por
exemplo, com o objetivo de transformar (BRASIL, 1998), e é gratificante
reconhecer que a Linguística Aplicada se faz essencial no que se refere ao
ensino/aprendizagem de línguas maternas ou estrangeiras, garantindo melhores
desempenhos nas aulas de língua (SÃO JOSÉ; AMORIM, 2011) e explicando
como problemas de método no que se refere ao ensino/aprendizagem podem
ser melhor resolvidos.
A relevância da Linguística Aplicada 11

No site da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, há muitos artigos de estudos e


pesquisas realizados na área da Linguística Aplicada. O link a seguir direciona a uma
área da Linguística estudada a partir da semântica e da pragmática.

https://goo.gl/pPBVLt

1. A pragmática refere-se: a) os professores são responsáveis


a) ao ensino da língua inglesa, se um estudante não
considerando a gramática. aprende o idioma.
b) ao estudo da linguagem, b) a melhor idade para se
considerando seu contexto. aprender uma língua
c) ao ensino da língua portuguesa, estrangeira é até os 22 anos.
considerando a gramática. c) o processo de ensino/
d) aos estudos linguísticos aprendizagem é diferente
das línguas europeias. para cada indivíduo.
e) aos estudos pragmáticos, d) a melhor maneira de aprender
considerando a linguística. uma língua estrangeira é
2. Na sala de aula, a Linguística morando no exterior.
Aplicada auxilia o/a e) o estudo de uma língua
professor/a a desenvolver: estrangeira não é aconselhável
a) os conhecimentos para crianças não alfabetizadas.
gramaticais de uma língua. 4. O desafio da Linguística Aplicada é:
b) o pensamento crítico em a) Trabalhar a língua portuguesa
relação à linguagem e a sua no contexto social.
funcionalidade no mundo. b) Trabalhar as diferentes
c) ações que modifiquem o linguagens para o mundo
contexto social dos alunos. do trabalho na sociedade.
d) exercícios de lógica de c) Trabalhar a língua inglesa
viés linguístico. no contexto pragmático.
e) as melhores alternativas de d) Trabalhar o planejamento
alfabetização infantil. das línguas estrangeiras.
3. Quando aprendemos uma e) Trabalhar a linguagem para
língua estrangeira: a transformação social.
12 A relevância da Linguística Aplicada

5. Marque a única alternativa correta. c) A Linguística Aplicada produz


a) A Linguística Aplicada produz o conhecimento necessário
o conhecimento necessário para se aprender português.
para se aprender inglês. d) A Linguística Aplicada se
b) A Pragmática é um ramo da ocupa da investigação de livros
Linguística Aplicada que se didáticos de língua estrangeira.
interessa pelo planejamento e) A Linguística Aplicada soluciona
de aulas de inglês. problemas pragmáticos, sociais,
psicológicos e antropológicos.

ALMEIDA FILHO, J. C. Linguística aplicada: ensino de línguas e comunicação. São


Paulo: Pontes, 2007.
BANDEIRA, E. F. Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos. Entre-
palavras, Fortaleza, v. 6, n. 2, p. 408-413, 2016. Disponível em: <http://repositorio.
ufc.br/bitstream/riufc/24379/1/2016_art_efbandeira.pdf >. Acesso em: 22 jun. 2018.
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terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental Língua Estrangeira. Brasília: MEC/SEF,
1998. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_estrangeira.
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FERREIRA, A. J. Formação de professores: raça/etnia. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.
HOOKS, B. Teaching to transgress: education as the practice of freedom. New York:
Routledge, 1994.
MENEZES, V.; SILVA, M. M.; GOMES, I. F. Sessenta anos de Lingüística Aplicada: de onde
viemos e para onde vamos. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. (Org.). Linguística Aplicada: um
caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009.
PENNYCOOK, A. A lingüística aplicada dos anos 90: em defesa de uma abordagem
crítica. In: SIGNORINI, I; CAVALCANTI, M. C. (Org.). Linguística aplicada e transdiscipli-
naridade. Campinas: Mercado de Letras, 1998.
PENNYCOOK, A. Critical Applied Linguistics: a critical introduction. Mahwah: Lawrence
Erlbaum Associates, 2001.
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guística com a qual Austin sonhou. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 30, p. 105-115,
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ppec_8637045-6786-1-PB.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2018.
A relevância da Linguística Aplicada 13

SÃO JOSÉ, E. S.; AMORIM, S. S. Linguística Aplicada: um breve relato sobre a sua im-
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COLÓQUIO INTERNACIONAL “EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE”. 5. São Cristóvão,
2011. Artigos... São Cristóvão: EDUCON, 2011. Disponível em: <http://paginapessoal.
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URZÊDA-FREITAS, M. T. Educando para transgredir: reflexões sobre o ensino crí-
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Leituras recomendadas
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COSTA, G. S. Breve histórico da linguística aplicada. 2015. Disponível em: <http://www.
giseldacosta.com/wordpress/wp-content/uploads/2015/04/2184332-Breve-historico-
-da-linguistica-aplicada.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2018.
MANINI, D. Eixo da reflexão, conhecimentos linguísticos, análise linguística ou... ensino
de gramática: o que propõe os PCNS e o que trazem os LDPS. 2006. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/e00013.htm>. Acesso
em: 22 jun. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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