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Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo - SP)

R696l Rodrigues, Isabel Cristina França dos Santos; Ohuschi, Márcia Cristina Greco (org.).
As interfaces possíveis no processo de ensino e aprendizagem de línguas e culturas/
Organizadoras: Isabel Cristina França dos Santos Rodrigues e Márcia Cristina Greco Ohuschi;
– 1. ed.– Campinas, SP : Pontes Editores, 2021.
il.; tabs.; quadros; fotografias.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-313-3.

1. Educação. 2. Ensino de Línguas. 3. Prática Pedagógica. I. Título. II. Assunto. III. Organizadoras.

Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846

Índices para catálogo sistemático:

1. Didática - Métodos de ensino, instrução e estudo. 371.3


2. Linguagem, Línguas – Estudo e ensino. 418.007
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

ANÁLISE LINGUÍSTICA EM PERSPECTIVA DIALÓGICA NO


TRABALHO COM O GÊNERO DISCURSIVO POEMA

Márcia Cristina Greco Ohuschi


Mayara Klenida Amorim da Silva

1. Introdução

A partir do trabalho com o gênero discursivo poema, elaboramos


uma proposta teórico-metodológica de análise linguística a partir do
viés dialógico da linguagem, voltada ao 6º ano do Ensino Fundamental,
a contemplar atividades epilinguísticas e metalinguísticas, para que se-
jam compreendidos os aspectos valorativos inerentes ao discurso. Essa
compreensão envolve o entendimento valorado da relação indissociável
estilo-gramática, para que assim seja alcançada a velocidade e a quali-
dade nas respostas ativas construídas na cadeia discursiva, a conceber
sujeitos coautores-criadores com discurso e estilo próprios (POLATO;
MENEGASSI, 2017a, 2017b, 2019a, 2019b, 2020).
Nesse viés, à luz da Linguística Aplicada, a pesquisa pauta-se no
dialogismo do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2016 [1979]; VOLÓ-
CHINOV, 2018 [1929], 2019 [1926]), a envolver aspectos linguístico-
textuais, enunciativos e discursivos do enunciado em uma abordagem
sociológica e valorativa da linguagem. Alinha-se ao viés qualitativo-inter-
pretativo, uma vez que buscamos compreender e interpretar o fenômeno
investigado, ao elaborarmos atividades de análise linguística em prisma
dialógico, a partir da abordagem dos aspectos linguístico-enunciativos

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contemplados no poema “Tem tudo a ver”, de autoria de Elias José, a fim


de contribuir para a construção de sentidos e de valores nas atividades
de leitura e na produção textual escrita.
Optamos pelo trabalho com o gênero poema, uma vez que o corpus é
de natureza literária e constitui a amostra tensionada de aspectos linguís-
ticos e extralinguísticos na escrita poética, além de remeter às escolhas
linguístico-enunciativas e discursivas do autor-criador. Apresentamos o
trabalho com substantivos, pois, além de fazer parte do conteúdo pro-
gramático do 6º ano, integram o estilo verbal do enunciado “Tem tudo
a ver” como dialógico e pluridiscursivo.
O diálogo responsivo ativo desenvolvido ao longo deste capítulo
parte de uma Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC-UFPA), vinculada
ao Projeto de Pesquisa “As práticas de linguagem a partir da concep-
ção dialógica de língua(gem) e sua abordagem sociológica, valorativa
e ideológica” (UFPA-Castanhal) e aos Grupos de Pesquisa “Interação
e Escrita” (UEM/CNPq) e “Dialogismo e ensino de línguas” (UFPA/
CNPq). O capítulo inicia-se com uma breve reflexão sobre a análise
linguística em perspectiva dialógica e, na sequência, apresenta e discute
a proposta teórico-metodológica elaborada.

2. Análise linguística em perspectiva dialógica

A análise linguística em perspectiva dialógica é sistematizada


em caracterização teórico-pedagógica (POLATO, 2017; POLATO;
MENEGASSI, 2017a, 2017b, 2019a, 2019b, 2020; OHUSCHI,
2019; OHUSCHI; FUZA; STRIQUER, 2020; POLATO; OHUSCHI;
MENEGASSI, 2020), verticalmente ancorada nos pressupostos te-
óricos do Círculo de Bakhtin, nos estudos dialógicos da linguagem
e emergente do desenvolvimento da própria análise linguística, em
Linguística Aplicada no Brasil, a saber: os textos fundantes (GE-
RALDI, 1984, 1992; FRANCHI, 1987); a publicação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998); o trabalho de diversos

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pesquisadores brasileiros (MENDONÇA, 2006; PERFEITO, 2005,


2007; BEZERRA; REINALDO, 2013, entre outros); os estudos da
corrente linguística denominada Análise Dialógica do Discurso
(RODRIGUES, 2005; BRAIT, 2008, 2017; ACOSTA-PEREIRA;
RODRIGUES, 2010; SOBRAL; GIACOMELLI, 2016; FRANCO;
ACOSTA PEREIRA; COSTA-HÜBES, 2019).
A análise linguística em viés dialógico é definida como uma

abordagem pedagógica de aspectos linguístico-textuais,


enunciativos e discursivos em materialidades textuais mo-
bilizadas em gêneros discursivos, com mira à compreensão
e à produção valorada de discursos éticos, a partir de uma
abordagem valorativa da língua, que se efetiva na análise
da relação indissociável estilo-gramática, materializada
em enunciados concretos […] (POLATO; OHUSCHI;
MENEGASSI, 2020, p. 131).

Nesse sentido, a proposta objetiva contribuir ativamente (no sentido


dialógico/social do termo, conforme empregado pelo Círculo de Bakhtin)
para a compreensão dos aspectos valorativos compartilhados no discurso
e materializados no enunciado, a partir da relação estilístico-gramatical.
Assim, objetiva à formação de um sujeito sócio-histórico e ideológico,
situado cronotopicamente, que vai à escola não apenas como interlocutor,
mas também como um locutor ativo que aprende a tornar-se autor de sua
linguagem e, consequentemente, autor de sua própria vida. Esse sujeito
passa a operar, conscientemente, com e sobre a linguagem, a constituir
seu discurso e estilo próprios, livre de ideologias de opressão e com
essência de estilo próprio de vida.
Conforme Ohuschi (2019), a análise linguística em perspectiva
dialógica se constitui a partir de uma abordagem sociológica e valorativa
da linguagem, com foco nas valorações sociais inerentes à enunciação,
conduzindo os estudantes a compreendê-las, e assim, produzirem respos-
tas ativas, sejam de concordância, refutação, crítica etc., aos discursos

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aprendizagem de línguas e culturas

constituídos na cadeia ininterrupta da comunicação verbo-social. Nessa


perspectiva, trabalhamos os aspectos valorativos inerentes ao enunciado
“Tem tudo a ver”.
A dimensão linguística é intimamente ligada às relações sociais,
históricas, culturais e ideológicas que permeiam o enunciado que é traba-
lhado em sala de aula, o que abarca na compreensão e produção valorada
do discurso a relação irremediável estilístico-gramatical, a envolver não
apenas o domínio das técnicas e formas linguísticas, mas também o estilo
do gênero e o estilo do autor-criador perante o tema tratado diante de
seus interlocutores específicos. Assim, os valores sociais são refletidos
e refratados no estilo verbal do gênero (POLATO; MEGASSI, 2017b).
O estilo verbal do gênero é compreendido como um lugar dialó-
gico e pluridiscursivo das relações sociais (POLATO; MENEGASSI,
2017b). Além disso, de acordo com Bakhtin (2016 [1979], p. 21), “onde
há estilo há gênero”, haja vista que esses dois aspectos estão vinculados
em uma relação intrínseca. Ademais, “[…] o estilo próprio surge de
uma compreensão social, a qual, necessariamente, passa pelo gênero”
(OHUSCHI, 2019, p. 33). Conforme sistematizado por Ohuschi (2019),
a partir de Brait (2010), há uma diferença estabelecida entre o “estilo
individual”, aquele que reflete e refrata a individualidade do locutor, e o
“estilo do gênero”, visto que “[…] cada gênero já possui determinados
estilos, de acordo com as especificidades da esfera de circulação […]”.
(OHUSCHI, 2019, p. 18).
Conforme comprovou Bakhtin-professor (2013 [1940-1960]), o tra-
balho reflexivo e sistematizado com os elementos estilístico-gramaticais,
em uma abordagem valorativa da linguagem, é propício a avanços signi-
ficativos na produção de enunciados, principalmente no que contempla a
entonação e o estilo próprio. A entonação abrange aspectos como: quem
fala o quê, para quem, onde e quando. É nesse sentido que agrada ou
desagrada, tornando-se um ponto chave para a resposta ao meio social,
histórico, cultural e ideológico.

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aprendizagem de línguas e culturas

Em seu aspecto pedagógico, a análise linguística em viés dialógico


inclui práticas epilinguísticas e metalinguísticas, uma vez que se propõe
a enriquecer valorativamente a linguagem dos sujeitos-alunos. Nessas
práticas,

as primeiras [são] as principais responsáveis pela ampliação


da consciência socioidelógica dos sujeitos-alunos que assu-
mem o papel de coautores de textos mobilizados em gêneros.
Em ordem metodológica, as práticas metalinguísticas devem
suceder às epilinguísticas (FRANCHI, 1987; GERALDI,
1991), porque ALD é, primordialmente, sociológica e menos
tradicional em todos os seus domínios, sejam eles teóricos,
conceituais ou metodológicos, pois visa ao desenvolvimento
de habilidades à compreensão/produção valorada do discurso
(POLATO, 2017, p. 198).

Desse modo, observamos a necessidade de se abordar as valorações


sociais intrínsecas à enunciação, as quais se refletem no material verbal
que compõe o enunciado. Nesse sentido, construímos uma proposta teó-
rico-metodológica para o trabalho com o gênero poema, especificamente
o enunciado “Tem tudo a ver”, de autoria de Elias José. A proposta tem
foco no trabalho com os substantivos, em razão de sua importância na
construção de sentidos e de valor desse enunciado, a fim de propiciar a
formação de coautores-criadores, que operam com e sobre a linguagem,
dotados de consciência social, a partir de uma determinada posição axio-
lógica e, por decorrência, dotados de um estilo próprio na vida.

3. Proposta de análise linguística em perspectiva dialógica ao substantivo


a partir do gênero discursivo poema

Apresentamos a proposta teórico-metodológica de atividades de


análise linguística em prisma dialógico abordando os substantivos. O
intuito é corroborar para a formação de coautores-criadores críticos
para agirem socialmente por meio da linguagem, de modo que falem
suas palavras carregadas de valores, a refratarem e refletirem o modo de

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vida social nos textos que interpretam e produzem. Salientamos que esta
proposta precisa ser inserida em um trabalho maior com o gênero poema
(um projeto de leitura e escrita, ou uma sequência didática, por exemplo).
Para elaborar a proposta, partimos da análise1 do enunciado “Tem
tudo a ver”, de Elias José, a qual contemplou seu contexto de produção,
conteúdo temático, construção composicional e estilo, para a seleção
do elemento linguístico-textual, enunciativo e discursivo substantivo,
selecionado em razão da sua importância para a compreensão dos efeitos
de sentido e de valor no enunciado em questão.
O poema “Tem tudo a ver” foi lançado inicialmente em 1991, no
livro Segredinhos de amor, também de autoria de Elias José. No poema,
de caráter predominantemente descritivo, o enunciador definiu a poesia
como viva e dinâmica, visto que está ligada a tudo, a manifestar as mais
diversas experiências e sentimentos, sejam eles bons ou maus, que cer-
cam a vida dos seres.
Antes da leitura do poema, sugerimos que o professor apresente
seu suporte original, isto é, o livro em que o poema se insere, para que
os alunos tenham contato com a obra, possam manusear as páginas e
demais poemas, distribuídos entre versos livres, com rimas, sem rimas
etc., com diversificadas temáticas, o que os instigará para a leitura do
enunciado em foco. Caso não haja possibilidade de levar o livro em seu
suporte original, há a versão on-line do poema, disponível em: https://
www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/caderno/poema/.

1 Esta análise poderá ser consultada no artigo “Análise linguística dialógica: vieses para uma
formação crítica e reflexiva”, de Silva e Ohuschi (2021 no prelo).

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TEM TUDO A VER

A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o voo,
e o canto dos pássaros,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
– é só abrir os olhos e ver –
tem tudo a ver
com tudo.

JOSÉ, E. In: Segredinhos de amor. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2002

Após a leitura, indicamos ao docente o trabalho com a compreen-


são textual, a contemplar, seja na discussão oral, seja na elaboração de
perguntas de leitura, aspectos como:

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aprendizagem de línguas e culturas

– O porquê do título;
– Que elementos contribuem para a confirmação do título;
– Que opiniões (valores) o autor apresentou ao escrever o poema;
– Que recorte da vida cotidiana o poema apresenta;
– Que elementos caracterizam a poesia ter tudo a ver com tudo, na sociedade
em que vivemos;
– Qual poderia ser a razão de o poeta ter afirmado que a poesia “é só abrir
os olhos e ver”.

3.1. As relações sociais: o contexto de produção do enunciado

No poema “Tem tudo a ver”, as relações sociais vinculam-se à


definição da poesia como expressão dos mais diversos sentimentos que
permeiam a vida dos seres, como algo inexorável ao ser, que vive não
apenas momentos bons, mas também em situações desagradáveis. Outros
aspectos são imprescindíveis para a compreensão das relações sociais e
do contexto de produção presentes no enunciado em análise, são eles:
papel social do autor, interlocutores, finalidade discursiva, esfera de
comunicação e suporte de veiculação do texto. Para melhor compreendê-
los, elaboramos as seguintes atividades:

1) As relações sociais
a) Elias José foi professor, poeta e especialista em literatura infantojuvenil.
Escreveu vários livros, contos e poemas, e esses foram traduzidos e publica-
dos em vários países, logo, não era um autor de todo desconhecido. Realize
pesquisas, na internet, sobre a vida e as obras no autor. Em seguida, responda:
Ao considerar o percurso profissional de Elias José, assinale a(s) alternativa(s)
que aponta(m) o papel social que ele desempenhava, ou seja, qual a sua im-
portância para a sociedade ao escrever seus textos:
( ) Promover a disseminação do conhecimento às pessoas.
( ) Incentivar a troca de ideias e o diálogo entre autor e leitor como um passo
para a criação.
( ) Apresentar a literatura infantojuvenil como uma brincadeira com as pa-
lavras, versos e sentidos.
( ) Colaborar para o crescimento da esfera de comunicação literária.

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b) Quais seriam os prováveis leitores do poema “Tem tudo a ver”?

c) Que intenção(ões) o autor poderia manifestar ao escrever o poema “Tem


tudo a ver”?
( ) Mostrar a necessidade de abrir os olhos e perceber que a poesia está
presente em tudo.
( ) Apresentar a poesia como representação do belo.
( ) Definir a poesia como expressão dos mais diversos sentimentos que en-
volvem a vida dos seres, pois ela é viva e dinâmica.
( ) Demostrar que a poesia não tem nenhuma ligação com a realidade.

d) Considerando os leitores do contexto escolar, qual(is) seria(m) a(s)


intenção(ões) do autor no texto?
( ) Orientar sobre os processos de leitura e compreensão no gênero poema.
( ) Ensinar que a poesia está presente em cada momento da vida, sejam eles
bons ou maus.
( ) Instruir sobre o ensino da Língua Portuguesa.
( ) Ensinar o gênero poema.

e) Em qual(is) esfera(s) de comunicação o texto se insere?


( ) Religiosa.
( ) Literária.
( ) Escolar.
( ) Jurídica.

f) Qual(is) o(s) suporte(s) de divulgação em que o texto foi publicado (livro


impresso, internet, revista, jornal)? Qual é a sua relevância? Esse(s) suporte(s)
alcança(m) um grande número de pessoas? Faça um comentário por escrito
sobre a importância de se conhecer o suporte textual do poema lido, de modo
a demonstrar sua opinião. Após escrever, sublinhe os substantivos que você
usou em seu texto e observe o valor que eles exercem em seu comentário. O
intuito aqui é exercitar sua escrita para a elaboração de um poema, que será
produzido posteriormente.

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Os aspectos sociais presentes no enunciado conectam-se à desig-


nação da poesia como manifestação dos diversificados sentimentos e
emoções que perpassam a vida realmente vivida e experimentada dos
seres, sobretudo ao apresentá-la como pertencente ao ser, que vive não
apenas momentos bons, como as alegrias, sabores e músicas, mas também
situações desagradáveis, como as dores e o momento da morte, logo, a
poesia “tem tudo a ver / com tudo”.
A solicitação para destacarem os substantivos utilizados nos comen-
tários que foram escritos propõe o início do processo de construção da
escrita, ou seja, instiga os alunos a pensarem sobre os efeitos valorativos
da linguagem, que serão desenvolvidos ao longo das atividades de estudo
dos substantivos. Além do mais, ao final de um trabalho maior com o
gênero poema (um projeto de leitura e escrita ou uma sequência didática),
o aluno será direcionado à elaboração de um poema.

3.2 Aa relações históricas

Faz-se necessária, também, a compreensão do contexto histórico


que permeia o enunciado, ao assinalar: a) o momento histórico em que
o texto foi produzido – nesse período o Brasil passava por uma enorme
crise econômica advinda da corrupção; b) momento histórico atual, em
que o texto está sendo lido, estabelecendo uma comparação com a época
anterior.

2) As relações históricas
a) O poema “Tem tudo a ver” integra o livro “Segredinhos de amor”, do
mesmo autor, lançado inicialmente em 1991. Em pequenos grupos, realize
pesquisas sobre o que estava acontecendo, no Brasil, nessa época, qual a
situação político-econômica e qual poderia ser a influência desse momento
histórico para a escolha da temática do poema, logo, para sua escrita?

b) Atualmente, qual momento histórico se vive? Quais as vivências e ex-


periências, sejam boas ou más, que envolvem as atividades dos seres, suas

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

organizações sociais, históricas, ideológicas, culturais etc.? Compare as se-


melhanças e diferenças do tempo em que o texto foi publicado com o tempo
atual (em que o estamos lendo).

Com base nas relações históricas, o enunciado “Tem tudo a ver”


integra o livro Segredinhos de amor, também de Elias José, lançado ini-
cialmente em 1991, conforme já mencionado. Na obra, o autor-criador,
ao brincar de forma livre com as palavras, versos e sentidos, aborda
várias temáticas, como o amor, o medo, a liberdade etc. Essas temáticas,
em clara relação com a situação social mediata e imediata de interação,
abordam que a poesia não é apenas o amor, a liberdade e os momentos
eufóricos de vida, mas que também contempla o medo, o temor, logo,
os momentos difíceis pelos quais os indivíduos sócio-históricos, cultu-
rais e ideológicos estão sujeitos a presenciarem, como por exemplo, a
crise econômica pela qual o Brasil passava nesse período, advinda da
corrupção, que posteriormente levou Collor à renúncia da presidência.

3.3 As relações ideológicas

É fundamental, ainda, uma reflexão sobre relações ideológicas,


levando em consideração as pesquisas que foram realizadas referentes
ao período histórico e as limitações de faixa etária dos alunos que estão
trabalhando a atividade, a abordar: i) As ideologias e pensamentos mani-
festados a partir das relações históricas e sociais estabelecidas no período
em que a obra foi publicada: ideais pautados na ideologia Capitalista,
uma vez que houve a queda do muro de Berlim, principal representante
material da Guerra Fria, e consequentemente, da dissolução da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS; ii) As valorações sócio-
histórico-ideológicas específicas do contexto de comunicação do texto,
dialogando com outras dimensões valorativas já existentes (a criatividade
e a brincadeira com as palavras, versos e sentidos; a definição da poesia
como expressão dos mais diversificados sentimentos; a poesia como
constituinte da vida dos seres), relacionando com a sociedade atual.

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

3) As relações ideológicas
a. Com base nas pesquisas que foram realizadas referentes ao período his-
tórico do texto, e com o auxílio do professor, assinale a(s) alternativa(s) que
apresente(m) as ideias ou pensamentos que estavam presentes no período de
publicação da obra (1991):
( ) Pensamentos pautados na ideologia capitalista.
( ) Ideias revolucionárias pela qual passava a arte.
( ) Democracia, pela qual todos os cidadãos tinham participação ativa na
vida política.
( ) Ideias relacionadas à vitória do bloco capitalista, e consequentemente, a
dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS.

b.Em pequenos grupos, comente sobre os valores apresentados no texto (a


criatividade e a brincadeira com as palavras, versos e sentidos; a definição
da poesia como expressão dos mais diversificados sentimentos; a poesia
como constituinte da vida dos seres), relacionando-os com a sociedade atual.

Com fundamento nas relações ideológicas presentes no período


histórico-social que marca a publicação da obra, percebemos os ideais
e pensamentos pautados na ideologia Capitalista, uma vez que houve a
queda do muro de Berlim, principal representante material da Guerra Fria,
e consequentemente, a dissolução da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas – URSS.
A compreensão das relações sociais, históricas e ideológicas, alia-
da à construção de sentidos, amplia a consciência socioideológica dos
sujeitos-alunos, propiciando a qualidade e a velocidade das respostas
ativas construídas na cadeia ininterrupta da linguagem, podendo levá-los
a compreender os efeitos valorativos a partir do uso dos substantivos no
enunciado, conforme abordaremos nas próximas atividades da proposta
teórico-metodológica.

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
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3.4 O trabalho com substantivos

No poema “Tem tudo a ver”, Elias José optou maioritariamente pelo


uso dos substantivos, uma vez que a poesia está presente em todos os
seres, sejam eles comuns, concretos ou abstratos: a) “[…] com tua dor e
alegrias”; b) “[…] o diálogo dos namorados”; c) “[…] as lágrimas diante
da morte”; d) “[…] os olhos pedindo pão”; e) “[…] o sorriso da criança”.
Além disso, a linguagem, como via de interpretação do funcionamento
das relações sociais, transcende a materialidade do discurso em uma
“expressão da atividade criativa, determinada axiologicamente, de um
sujeito estético ativo” (BAKHTIN, 1988 [1975], p. 57).
O autor-criador, como bem aborda Bakhtin (1988 [1975]) ao tratar
do cronotopo, abarcou em seu poema as relações extralinguísticas, in-
seridas a partir das categorias espaciais e temporais, visto que elas são
imprescindíveis à compreensão do discurso, haja vista que “cada tema
possui seu próprio cronotopo” (BAKHTIN, 1988, p. 357). A partir de
então, o enunciador apresentou a poesia, que “tem tudo a ver / com
tudo”, como ponto chave para a compreensão dos acontecimentos que
existem no mundo, sejam eles bons ou maus. Daí a importância que os
substantivos desempenham na construção dos efeitos de sentido e de
valor no poema.

4) Releia o poema “Tem tudo a ver”, agora para verificar a presença dos
substantivos. De modo geral, substantivo é o elemento que designa/nomeia
seres em geral, entidades reais ou imagináveis, objetos materiais, ações,
sentimentos etc.

Retorne ao poema e circule todos os substantivos. Após, escolha dois deles e


responda à seguinte questão: Quais substantivos você escolheu e por que os
destacou do texto? Em sua resposta, circule todos os substantivos utilizados
e perceba os valores que eles exercem em seu comentário.

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

Depois disso, reescreva sua resposta trocando os substantivos por outros


existentes em seu dia a dia, em seguida também os circule. Agora, compare
o que mudou nas duas respostas escritas, com os diferentes substantivos, e
escolha qual delas mais lhe agradou.

A identificação dos substantivos que nomeiam seres em geral no


poema é importante, pois permite que o educando inicie o processo de
atribuição de valores às palavras utilizadas. Além disso, a atividade con-
duz o aluno a construir uma resposta escrita discursivo-argumentativa
(gênero escolar), utilizando duas formas discursivas: uma sobre o porquê
de ter utilizado tais substantivos em sua resposta, outra substituindo os
substantivos por outros presentes em seu cotidiano, para que, assim,
possa efetuar a comparação. Outrossim, a escolha pela produção escrita
que mais o agradou promove o processo de atribuição de valores ao uso
da linguagem.

5) Conforme observado na atividade anterior, o autor utiliza muitos substan-


tivos no poema. Por que ele nomeia tantas coisas? Quais os efeitos de sentido
e de valor interligados a esse uso?

6) O elemento linguístico responsável por nomeações é denominado


substantivo (como você observou ao circulá-los na atividade 4). Há dife-
rentes classificações de substantivos, por exemplo, no aspecto semântico:
comuns, próprios, concretos, abstratos; no aspecto morfológico: simples,
composto, primitivo, derivado. Será estudado, nas atividades, o primeiro
aspecto, o semântico, o qual reflete o significado e a interpretação das
palavras de acordo com o contexto em que estão inseridas, o que contribui
para a construção de sentidos e de valor do poema “Tem tudo a ver”. No
quadro a seguir, enfatizamos a classificação dos substantivos com foco no
aspecto semântico.

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

a) Retorne aos substantivos circulados na atividade 4 e os pinte de diversi-


ficadas cores:
– Vermelho para substantivos comuns.
– Azul para substantivos concretos.
– Verde para substantivos abstratos.
b) Como observamos na tabela, há algumas frases para exemplificar cada
classificação dos substantivos em seu aspecto semântico. Agora, é a sua vez
de criar outras frases para exemplificar as classificações apresentadas. Elas
podem abordar a expressão dos mais diversos sentimentos que são marcantes
em sua vida. Considere, também, os valores que os substantivos exercem em
seus exemplos e perceba quais os efeitos de sentido são construídos em suas
frases. Ao final dessa atividade, discuta os resultados com a turma e com o
professor.

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

Na atividade 5, o aluno é conduzido a refletir, a datar dos valores


e sentidos atribuídos o porquê da utilização de tantos substantivos no
enunciado. A partir então, perceberá que o autor realizou essas escolhas
estilístico-gramaticais justamente para enunciar que a poesia “tem tudo
a ver / com tudo”.
A atividade 6, por sua vez, tem o intuito de apresentar as diver-
sas classificações dos substantivos que estão presentes no enunciado
e preconiza, na questão “a”, as suas identificações, proporcionando o
desenvolvimento de atribuição de valores às palavras, sempre a partir de
um tema demarcado, aqui, a temática do poema. A questão “b” promove
o uso gradativo dos substantivos em expressões escritas de menor am-
plitude, a fim de contribuir para o desenvolvimento da produção escrita
final de um poema, que como já supracitado, precisa ser inserida em um
trabalho maior com o gênero. Tendo acesso a isso, a proposta agrega
a concepção de escrita como trabalho, pois ao tornar-se crítico de seu
próprio texto, os alunos “[…] passam a considerar o texto escrito como
resultado de um trabalho consciente, deliberado, planejado, repensado”
(FIAD; MAYRIKN-SABINSON, 1994, p. 62).

7) Na segunda e na terceira estrofes, observa-se o uso de substantivos co-


muns. De acordo com os aspectos discutidos nas atividades sobre as relações
sociais, históricas e ideológicas, explique os efeitos de sentido do uso desses
substantivos no texto (O que eles representam? Em que eles contribuem para
a construção de sentidos e de valor?).

8) Retome o terceiro verso da primeira estrofe do poema e observe que o autor


utiliza um substantivo no singular e outro no plural: “Com tua dor e alegrias”.

a) Por que, nesse momento do poema, há essa mudança? O que ela indica?
Qual a importância do uso desses substantivos para a construção de sentidos
e de valor no texto?

b) Agora, atente para a posição em que foi empregado o substantivo “alegrias”.


Se você estivesse definindo a poesia como expressão dos mais variados sen-

336
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

timentos, e a partir de então, falasse de sentimentos no singular e no plural,


em qual ordem empregaria esse substantivo? Ele viria antes ou depois do
substantivo no singular? As duas maneiras estariam adequadas? Por quê?
Quais efeitos de sentido estão agregados nessa ordem?

9)Retorne ao texto, e em seguida responda as questões:

a) Observe que o autor utiliza variados substantivos. Por que alguns substan-
tivos são masculinos e outros femininos? Atente para todos os substantivos
masculinos e femininos presentes no texto. Em seguida, elabore outros exem-
plos relacionados aos mais diversos sentimentos que permeiam sua vida, sejam
eles bons ou maus, e verifique como os substantivos se comportam quanto
à concordância em gênero (masculino e feminino). Logo após, produza uma
resposta sobre o que você concluiu em relação à concordância em gênero dos
substantivos, refletindo sobre a atribuição de sentidos e de valor dos seus usos
nos contextos em que estão inseridos.

b) Agora, observe estes exemplos do texto: “Com as cores, as formas, os


cheiros” e “ Com a plumagem, o voo”. Nesses contextos, alguns substantivos
estão no plural e outros no singular, respectivamente. Retorne ao texto e cite
um exemplo em que os substantivos aparecem no singular e um em que eles
aparecem no plural. Produza uma resposta a respeito do que você concluiu
sobre a concordância em número (singular e plural) dos substantivos, refle-
tindo sobre a atribuição de sentidos e de valor dos seus usos nos contextos
em que estão inseridos.

Contemplamos, primeiramente, o aspecto epilinguístico (atividades


7 e 8, na questão “a”). A atividade 7 possibilita a reflexão sobre os efei-
tos de sentido dos substantivos comuns no enunciado. Nessa atividade,
mais uma vez, os educandos necessitarão interligar as relações sociais,
históricas e ideológicas para apreender os efeitos de sentido e de valor do
conjunto de seres que compartilham características comuns no enunciado.
A atividade 8, questão “a”, possibilita que os alunos atentem para o
uso de um substantivo no singular, anteposto a um substantivo no plural,
e observem sua importância nesse momento do poema, em que “dor”,

337
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

possivelmente foi empregada no singular pelo autor com o intuito de


minimizá-la diante das alegrias no plural. Desse modo, as questões epilin-
guísticas promovem a reflexão sobre os efeitos de sentido e de valor dos
substantivos no enunciado. A questão “b”, da atividade 8, contemplada
como metalinguística, promove a reflexão sobre o funcionamento da
língua, especialmente sobre a posição do substantivo no plural (anteposto
ou posposto ao substantivo no singular) e, também, oportuniza a análise
sobre os efeitos de sentido e de valor que esse posicionamento exerce,
bem como o ato da adequação à situação de interação.
A atividade 9, no que lhe concerne, proporciona a reflexão sobre a
estrutura da língua (OHUSCHI; PAIVA, 2020). As questões conduzem
os alunos à compreensão por intermédio da análise, dos valores do uso
no enunciado e na elaboração de outros exemplos, que os substantivos
subordinam em gênero e número os termos que o acompanham.

10) Observe, agora, os versos iniciais das três primeiras estrofes. Todas elas
se iniciam da mesma forma “A poesia / tem tudo a ver […]”.

a) Retome o contexto de produção do texto (Quem escreveu? Para quem?


Com qual finalidade? Onde foi publicado?) e responda: Qual é a contribuição
do substantivo “poesia”, ao iniciar a maioria das estrofes? Quais sentidos e
valores ele agrega ao poema?
b) Explique a classificação semântica do substantivo “poesia”, considerando
o contexto em que ele está inserido, bem como os valores que ele implica
no texto.

11) Releia, novamente, todo o poema e observe todos os substantivos. Em


seguida, analise-os e responda: qual classificação de substantivos predomina
no texto? Por que ocorre essa predominância? Quais os efeitos de sentido e
de valor estão atribuídos a esse uso?

12) No poema em foco, o autor não utiliza substantivos próprios, que são
aqueles que particularizam os seres, entidades, cidades etc., os quais, quando
escritos, iniciam com letra maiúscula. Entretanto, eles também estão presentes

338
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

na vida dos seres. Diante do exposto, responda de acordo com o comando


das questões:

a) Reescreva as frases a seguir, substituindo, em cada uma delas, um subs-


tantivo comum por um substantivo próprio, de preferência por aqueles que
estejam presentes em sua vida. Em seguida, perceba quais os efeitos de sentido
e de valor estão agregados a essa mudança:
– A beleza da cidade reflete poesias.
– Os olhos do menino veem poemas em tudo.
– A criança brincava com as palavras da poesia.
– A menina afirma que a poesia tem tudo a ver com a dor e a alegria.
– O sorriso da mulher daria uma bela poesia.
– O País precisa entender que a poesia tem tudo a ver com a vida.

b) Produza uma resposta referente ao que você concluiu sobre os substan-
tivos próprios, refletindo sobre a atribuição de sentidos e de valor dos seus
usos nos contextos em que estão inseridos. Atente para a concordância em
gênero e número.

Na atividade 10, mais uma vez, a questão epilinguística precede a


questão metalinguística. A questão “a” propõe que os educandos anali-
sem os efeitos de sentido e de valor do substantivo “poesia”, bem como
sua contribuição e importância para o poema ao iniciar a maioria das
estrofes e, para isso, terão de correlacioná-lo às relações sócio-histórico-
ideológicas. Em decorrência, perceberão que o substantivo “poesia” inicia
a maioria das estrofes com o intuito de frisar a ideia de que a poesia, tema
do enunciado, está presente em todos os âmbitos da vida dos seres, pois
é viva e dinâmica, e “tem tudo a ver / com tudo”.
A questão “b”, metalinguística, confere a reflexão sobre a estrutura
da língua (OHUSCHI; PAIVA, 2020), levando os alunos a entenderem,
a partir dos estudos realizados ao longo da proposta e da percepção dos
efeitos de sentido e de valor do uso no enunciado, que a classificação
semântica de “poesia” é de substantivo abstrato, pois só ocorre quando
alguém o produz, o que caracteriza, mais uma vez, a poesia como intrín-

339
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

seca aos seres, ações e sentimentos por eles produzidos. Desse modo, a
atividade metalinguística, assim como a epilinguística, é desenvolvida
a partir de um trabalho contextualizado em um enunciado específico.
Doravante, o aluno é direcionado a falar da própria língua de modo cons-
ciente, criativo e deliberado, agindo com e sobre ela (FRANCHI, 1998).
Na atividade 11, o aluno é conduzido a perceber o predomínio dos
substantivos abstratos, pois a poesia está presente desde os mais variados
sentimentos e ações produzidas e realizadas pelos seres. Dessa maneira,
as valorações sociais são inexoráveis à enunciação e se refletem e refra-
tam no material verbal – palavra, fenômeno ideológico por excelência,
a qual constitui o modo mais puro e sensível das relações sociais (VO-
LÓCHINOV, 2018 [1929]), conforme preconiza a análise linguística em
perspectiva dialógica (POLATO, 2017).
A atividade 12 propõe uma reflexão sobre os substantivos próprios
em outras situações de comunicação, haja vista que o autor não aborda
essa classificação no poema em análise. A atividade está inserida na
temática do poema, conforme propõe a análise linguística em concepção
dialógica, com o intuito na ampliação da consciência socioideológica
dos alunos e a qualidade e velocidade das respostas ativas construídas
no discurso, a partir das relações dialógicas estabelecidas.

13) Com relação aos substantivos abstratos, responda de acordo com os


comandos das questões:
a) Observe, a seguir, alguns dos substantivos abstratos que estão presentes
no poema:
– “[…] com tua dor e alegrias”
– “[…] as lágrimas diante da morte”
– “[…]a veloz acrobacia […]”

De acordo com o contexto de produção do texto (Quem escreveu? Para quem?


Com qual finalidade? etc.), qual é a importância dessa classe de substantivos
(abstratos) para construção de sentidos no poema? Que valores eles agregam
ao texto?

340
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

b) Em pequenos grupos, elabore exemplos relacionados com o texto utilizando


substantivos abstratos, e discuta com os colegas sobre os efeitos de sentido
e de valor que eles agregam nos exemplos produzidos. Após, discuta com o
professor e a turma suas conclusões sobre os substantivos abstratos.

c) Os substantivos abstratos estão presentes na vida dos seres a partir das


mais diversificadas experiências de vida. Desse modo, a partir dos estudos
realizados, analise os exemplos a seguir, presentes no dia a dia, e assinale
aqueles que apresentam substantivos abstratos. Após, discuta com o professor
e com a turma sobre os substantivos abstratos presentes na vida e os contextos
em que são empregados.
( ) A poesia faz parte das nossas vidas.
( ) Os pássaros cantam nas árvores.
( ) Viver entre a beleza dos sentimentos de amar e desamar.
( ) O medo e a coragem percorrem as experiências da vida.
( ) As águas dos rios e cachoeiras expressam melodias.
( ) Um jardim cheio de flores tem tudo a ver com a vida.

d) Após as discussões realizadas referentes aos substantivos abstratos, produza


um relato por escrito sobre o trabalho realizado com eles, em que explicite
suas conclusões sobre essa classe de substantivos, efeitos de sentido e de
valor agregados aos seus usos, a partir de seu ponto de vista.

14) Observe, a seguir, alguns dos substantivos concretos que estão presentes
no poema, e responda:
– “[…] os olhos pedindo pão”
– “[…] da lua, do sol e das estrelas”

a) Essa categoria de substantivos (concretos) é importante para a constru-


ção de sentidos no texto, logo, para que o autor atingisse seus objetivos ao
escrevê-lo? Por quê?

b) Em pequenos grupos, escreva outros exemplos relacionados com o texto


utilizando substantivos concretos, e discuta com os colegas os efeitos de
sentidos e de valor que eles exercem nos exemplos elaborados. Após, discuta
com o professor e a turma suas conclusões sobre os substantivos concretos.

341
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

c) Após as discussões realizadas no trabalho com os substantivos concretos,


produza um relato por escrito em que demonstre suas conclusões sobre essa
classe de substantivos, efeitos de sentido e de valor agregados aos seus usos,
a datar do seu ponto de vista.

As atividades 13 e 14 possibilitam que os alunos atentem para o


uso dos substantivos abstratos e concretos, e percebam a importância
que eles exercem no poema, ao designar sentimentos, ações, sensações
etc., e também aqueles seres que não necessitam de outros para subsistir,
respectivamente. As atividades inserem-se como epilinguísticas, em razão
de possibilitarem a apreensão sobre os efeitos de sentido e de valores
desses substantivos.
Além disso, propiciamos a percepção dos efeitos de sentido e de
valores agregados aos usos no texto. As questões “b” das atividades, ao
solicitarem a elaboração de exemplos, conduzem os alunos à compre-
ensão de que os substantivos também fazem parte da vida concreta, do
dia a dia de cada pessoa. Além do mais, oportunizamos a percepção dos
substantivos em outras situações de comunicação, conforme foi abor-
dada na questão “c” da atividade 13, do mesmo modo, advindos da vida
realmente vivida e experimentada.
Após isso, é proporcionada uma discussão com a turma referente
às conclusões obtidas sobre as classes de substantivos estudadas nas
atividades, haja vista que a discussão sobre os assuntos trabalhados
em sala de aula, em contexto de ensino e aprendizagem, enseja novos
espaços de interação e, assim, novos conhecimentos são compartilhados
a partir da relação eu-outro, de modo a uma (re)construção da iden-
tidade do aluno (VYGOTSKY, 1988), potencializando sua formação
em um ser responsivo ativo, coautor-criador, com discurso e estilo
próprio. Ademais, a produção escrita de um relato sobre as conclusões
alcançadas referentes aos respectivos substantivos estudados prepara o
aluno para o desenvolvimento da produção escrita final, em que essa
proposta, ao ser inserida em um trabalho maior com o gênero poema

342
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

(um projeto de leitura e escrita ou uma sequência didática), solicitará


a produção de um poema.

4. Discussão da proposta elaborada

As atividades elaboradas estão articuladas de maneira a propiciar o


desenvolvimento ético-cognitivo do aluno, contribuindo ativamente para
torná-lo um sujeito crítico, dotado de consciência social e mergulhado
no plurilinguismo real, de modo que assuma uma posição axiológica
que o permita ser e viver, e viver sem ideologias de opressão, mas com
estilo próprio de vida. Nessa orientação, para que ocorra a ampliação
da consciência socioideológica dos alunos e a qualidade e velocidade
das respostas ativas construídas na cadeia ininterrupta da interação
verbo-social, é imprescindível a compreensão por parte dos educandos,
primeiramente, das relações sócio-histórico-ideológicas que permeiam o
enunciado, pois estas, configuradas em textos e mobilizadas por meio dos
gêneros discursivos, “são delineadas a partir dos níveis de consciência
socioideológica acerca da interação verbo-social” (POLATO, 2017, p.
198). Outrossim, “A situação social mais próxima e o meio social mais
amplo determinam completamente e, por assim dizer, de dentro, a estru-
tura do enunciado” (VOLÓCHINOV, 2018 [1929], p. 206).
Consoante Polato (2017), é a partir da compreensão das relações
sociais configuradas em textos e mobilizadas por meio de gêneros
discursivos que o sujeito apresentará a ampliação de sua consciência
socioideológica, e a partir dela, elaborará respostas ativas na cadeia con-
tínua da interação verbo-social. Ademais, toda compreensão de discurso
ocasionará a responsividade ativa, e “[…] cedo ou tarde, o que foi ouvido
e ativamente entendido responde nos discursos subsequentes ou no com-
portamento do ouvinte” (BAKHTIN, 2016 [1979], p. 25), uma vez que
toda palavra se constitui como uma resposta a discursos anteriores, do
mesmo modo que ocasionará futuras respostas, pois, conforme Bakhtin
(1988 [1975], p. 89),

343
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

O discurso vivo e corrente está imediata e diretamente de-


terminado pelo discurso-resposta futuro: Ao se constituir na
atmosfera do “já dito”, o discurso é orientado ao mesmo tem-
po para o discurso-resposta que ainda não foi dito, discurso,
porém que foi solicitado a surgir e que era esperado. Assim é
todo diálogo vivo.

A análise linguística em perspectiva dialógica, em sua abordagem


pedagógica, envolve aspectos linguístico-textuais, enunciativos e dis-
cursivos (POLATO, 2017). Nesse mesmo viés, a proposta inicia pela
identificação dos substantivos que nomeiam seres em geral no poema
(tarefa que possibilitará ao aluno iniciar o processo de atribuição de
valor às palavras), e reflexão sobre os efeitos de sentido do uso desses
substantivos. Na sequência, é trabalhada a metalinguagem, necessária ao
processo de ensino, ao ser abordada a classificação dos substantivos em
seu aspecto semântico. Ressaltamos que esse trabalho não se encontra
isolado e nem privilegiado em relação aos demais, mas está inserido em
um projeto maior, em um trabalho com um gênero discursivo específico,
em que se analisam, primeiramente, seus aspectos sociais (contexto de
produção), históricos e ideológicos, além de partir de um texto singular
desse gênero para a percepção do uso dos substantivos na construção de
sentidos e de valor.
Nas atividades desenvolvidas, apresentamos questões epilinguísticas
e metalinguísticas (FRANCHI, 1991; GERALDI, 1997) sobre cada um
dos substantivos em suas classificações estudadas (comum, concreto,
abstrato), além de abordar, em outras situações de comunicação, aspec-
tos relevantes dessa classe gramatical, e que não foram abordados no
enunciado em análise, para que, assim, o aluno tenha uma maior com-
preensão desse elemento linguístico-textual, enunciativo e discursivo.
A partir das atividades epilinguísticas são desenvolvidas e elaboradas
as metalinguísticas, por isso, é consenso entre os pesquisadores em Lin-
guística Aplicada que as atividades epilinguísticas devem preceder as
atividades metalinguísticas, pois a análise linguística em viés dialógico

344
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

é, principalmente sociológica e valorativa em todos os seus domínios,


“pois visa ao desenvolvimento de habilidades à compreensão/produção
valorada do discurso (POLATO, 2017, p. 198).
As atividades epilinguísticas propiciam a ampliação da consciência
socioideológica dos sujeitos-alunos, haja vista que iniciam a reflexão pe-
los aspectos sócio-histórico-históricos (OHUSCHI, 2019). No que tange
à reflexão desses aspectos, retomamos a atividade 7 da proposta: “De
acordo com os aspectos discutidos nas atividades sobre as relações sociais,
históricas e ideológicas” (Q7). Essa reflexão conduz à compreensão dos
efeitos de sentido e atribuição de valores ao uso desses substantivos no
texto: “explique os efeitos de sentido do uso desses substantivos no texto
(O que eles representam? Em que eles contribuem para a construção de
sentidos e de valor?)” (Q7). Desse modo, os sujeitos-alunos serão coau-
tores de discursos alheios, a partir da relação eu-outro, pois “trata-se de
dizer ‘Eu sou eu’ na linguagem de outrem; e de dizer, na minha lingua-
gem, ‘Eu sou outro’” (FARACO, 2018, p. 41); e criadores, ao refratarem
seus modos de vida a partir da interação verbo-social.
Além disso, na atividade 5, o aluno é conduzido a refletir a essên-
cia do poema. O autor-criador, para afirmar que poesia tem “tudo a ver
/ com tudo”, passa a nomear tantas coisas presentes no mundo, e para
isso mobiliza vários substantivos desse mundo e simplesmente justifica
o porquê de a poesia ter tudo a ver com o infinito de seres que nos cer-
cam. Além do mais, percebe-se o valor dos substantivos no poema, que
em uma relação estilístico-gramatical intimamente ligadas, apresentam
a linguagem em sua integridade concreta e viva.
As atividades metalinguísticas possibilitam, por sua vez, “[…] a
reflexão analítica sobre os recursos expressivos, que levam à constru-
ção de noções com as quais se torna possível categorizar tais recursos”
(GERALDI, 1997, p. 190-191). Em outras palavras, as atividades
metalinguísticas conduzem os alunos à compreensão e interpretação a
respeito da estrutura e/ou funcionamento da língua (PAIVA; OHUSCHI,

345
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

2016), e ao desenvolvimento de diferentes processos aos quais atuam


linguisticamente de forma consciente e criativa, agindo com e sobre a
língua, a constituir seu discurso e estilo próprios. Ao retomarmos a ati-
vidade 9, as questões “a” e “b” propiciam que os educandos concluam,
por intermédio da análise, dos valores agregados ao uso do elemento no
texto e em outras situações de comunicação, e na formulação de outros
exemplos, que os substantivos subordinam em gênero e número os termos
que o acompanham.
Frisamos que a atividade 8 trabalha, de modo paralelo, a prática
epilinguística e metalinguística, haja vista que, ao oportunizar a refle-
xão sobre o funcionamento da língua – posição do substantivo no plural
(anteposto ou posposto ao substantivo no singular) – propicia também a
reflexão dos efeitos de sentido e de valor que esse posicionamento exer-
ce. Dessa maneira, a questão encontra-se com a proposição de Bakhtin
(2013 [1940-1960], ao possibilitar reflexões acerca do “[…] modo como
a ordem das palavras altera o significado, a estrutura, ou o peso da en-
tonação” (OHUSCHI, 2019, p. 115).
Além das reflexões em relação aos valores que os usos dos substan-
tivos promovem no enunciado, as questões 8, 9, 12, 13 e 14 oportunizam
ao sujeito-aluno a atribuição de valores e construção de sentidos ao uso
desse elemento em outras situações de comunicação, ou seja, fora do
enunciado em análise. Nessa perspectiva, o aluno poderá vislumbrar os
valores atribuídos ao uso dos substantivos também em outros contextos
(PAIVA; OHUSCHI, 2016).
Desse modo, os substantivos não são trabalhados de forma descon-
textualizada e estanque, como um simples elemento gramatical, mas a
partir do viés dialógico da linguagem como um elemento linguístico-
textual, enunciativo e discursivo, o qual conduz os alunos ao entendi-
mento de que a prática da diversidade que os fatos gramaticais de uma
língua possibilitam, “são fatos de um trabalho efetivo e não exemplos
deslocados da vida” (FRANCHI, 1991, p. 24).

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as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

Com o intuito de propiciar aos sujeitos-alunos a compreensão da


temática exaurida no enunciado (BAKHTIN, 2016 [1979]) em estudo, a
partir das relações dialógicas que envolvem o dizer posicionado (VOLÓ-
CHINOV, 2018 [1929]; FRANCHI, 1991; GERALDI, 1997), a envolver
a relação estilístico-gramatical (BAKHTIN, 2016 [1979], 2013 [1940-
1960]), a temática do enunciado em foco abarca exercícios de produção
escrita, mesmo que presentes em outras situações de comunicação, as
quais extrapolam o enunciado em análise, como a atividade 6-b, que
postula a criação de outros enunciados para exemplificar as classificações
dos substantivos estudados. Não é trabalhada, pois, a elaboração de novos
exemplos com temáticas arbitrárias, mas interligadas às expressões dos
mais diversos sentimentos e experiências que permeiam a vida dos alunos,
o que converge à temática do enunciado, em que é abordada a definição
da poesia como tal, presente na vida de todos os seres.
Nos exercícios de escrita, as instruções abordam o contexto de
produção do enunciado “Tem tudo a ver”, forma típica de enunciado que
estamos trabalhando na proposta. Desse modo, os mecanismos sociais
e interativos (VOLÓCHINOV, 2018 [1929]) são contemplados com o
intuito de ampliar a consciência socioideológica do sujeito-aluno, a fim
de que se torne um ser responsivo ativo, pois conforme Ohuschi (2019),
a responsividade advém da compreensão da configuração valorativa pre-
sente no enunciado. Destarte, há a delimitação do gênero discursivo a ser
produzido (comentário, resposta discursivo-argumentativa, relato), no-
ções sobre o que dizer e como dizer, assim como a finalidade demarcada.
Na sequência dos exercícios de elaborações escritas, variados gê-
neros discursivos são mobilizados, um interligando o outro (OHUSCHI,
2019). A partir de Ohuschi (2019), elencamos os gêneros que se estabe-
leceram em nossa proposta:

Comentário → resposta discursivo-argumentativa → relato → poema

347
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

Conforme Sercundes (1997, p. 96), “cada trabalho escrito serve de


ponto de partida para novas produções”, o que evidencia a perspectiva
de escrita como trabalho (MENEGASSI, 2016) presente na elaboração
das atividades dessa proposta. O educando inicia com a produção de um
comentário, prosseguindo para a construção de respostas discursivo-
argumentativas, em que terá de desenvolver sua opinião, concluir,
elucidar, em seguida, parte para a produção de um relato escrito sobre o
trabalho explanado com os substantivos, para, ao final do trabalho maior
com o gênero poema (um projeto de leitura e escrita ou uma sequência
didática), produzir um poema, o qual se constitui como um enunciado-elo
na cadeia do discurso, como todos os gêneros já trabalhados, a manifes-
tar, via projeto temático de dizer posicionado (VOLÓCHINOV, 2018
[1929]; FRANCHI, 1991; GERALDI, 1997), sua produção discursiva, a
envolver, inexoravelmente, a relação estilístico-gramatical (BAKHTIN,
2016 [1979], 2013 [1940-1960]).
Em um processo constante, a partir do plano axiológico, a envolver
os juízos de valor compartilhados, a entonação, as valorações apreciativas
que remetem às vozes sociais participantes da constituição dialógica e
valorada do discurso, o educando utiliza os substantivos, já atribuindo
juízos de valor ao poder escolher a forma que mais lhe agrada, conforme
a atividade Q-4, que contribui para a produção escrita final do gênero
poema. Desse modo, o educando poderá operar com e sobre a linguagem,
constituindo seu discurso e estilo próprios, atribuindo sentidos e valores
de acordo com as valorações sociais inerentes à interação verbo-social.

5. Considerações finais

A proposta evidencia o trabalho dialógico e valorativo realizado


com a linguagem. Por meio das atividades, os alunos são levados a
compreender o estilo verbal do gênero como dialógico e pluridiscursivo
(POLATO; MENEGASSI, 2017b), o qual reflete e refrata os aspectos
valorativos compartilhados por meio da interação verbo-social, dado

348
as interfaces possíveis no processo de ensino e
aprendizagem de línguas e culturas

o campo valorativo de atuação discursiva. Dessa forma, concebe um


sujeito que saiba apreender os valores dos discursos que interpreta e
produz e, consequentemente, o valor da vida concreta, realmente vivida
e experimentada.
A elaboração da proposta teórico-metodológica vai ao encontro
dos pressupostos do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1988 [1975], 2016
[1979], 2013 [1940-1960]), de que as escolhas vocabulares e sintáticas
valoradas são direcionadas ao todo acabado do enunciado como uma
atuação discursiva. Destarte, os substantivos integram índices valorativos
ao poema, em que as escolhas vocabulares e sintáticas estão todas orien-
tadas por ligações semântico-objetais. O autor escolheu os substantivos
para o tratamento do tema da poesia com intenção de apresentá-la não
apenas como representação do belo, mas também do grotesco no reverso
do sublime, o que constitui algo intrínseco à vida, logo, “tem tudo a ver/
com tudo”.

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