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Socioletramento
Experiência da formação docente da Licenciatura em Educação do Campo
Rosineide Magalhães de Sousa (UnB) e Angela Kleiman (Unicamp)
1. Introdução
As políticas de inclusão criam, de certa forma, acesso a uma população que não
se imaginava estudar em uma universidade pública em outros tempos. Os campesinos,
quilombolas, indígenas e demais grupos trazem consigo sua forma de pensar o mundo,
sua cultura, identidade, variedade linguística que, muitas vezes, entram em conflito com
a cultura acadêmica da universidade. O conflito faz com que possamos refletir como a
universidade pode se apropriar da diversidade e transformar essa riqueza em pesquisa,
mudança social e outros bens sociais. E, ainda, essa diversidade nos levar a refletir sobre
o letramento acadêmico que antes era tão direcionado e agora é balançado por uma
realidade social que é a cara do Brasil, um país culturalmente e sociolinguisticamente
diverso.
Para isso, recordemos o trabalho de Shirley Brice Heath (1983) que traz uma
pesquisa etnográfica de nove anos, que foi realizada entre 1969 e 1978, nas
comunidades de Trackton e Roadville, região próxima de Piedmont na Carolina, Estado
Unidos. Nessas comunidades, Heath exerceu o papel de etnógrafa da comunicação e
também de professora formadora. O trabalho de Heath nos serve de inspiração para a
discussão desta pesquisa, principalmente nos motivando a ler como as pessoas lidam
com leitura e a escrita em perspectivas bem peculiares.
2.1.1 Autoetnografia
Esses temas antes não eram lidos por eles, porque certamente faltam-lhes
letramento acadêmico suficiente para enxergar uma realidade que estava naturalizada,
escamoteada ou simplesmente passava despercebida. Mas, na elaboração de suas
monografias, que não foi somente um processo de produção de um gênero acadêmico
específico, verificamos a preocupação deles em pesquisar um tema que poderia, de
certa forma, contribuir para resolver problemas, tais como: de variedade linguística, de
letramento, de metodologia de ensino, de contato linguístico, enfim, tratar de um tema
que trouxesse contribuição para a formação docente e para vida, à reflexão sobre
problemas de letramento ou de sociolinguística na escola e/ou na comunidade
campesina ou quilombola.
2.1.3 A monografia na percepção da pesquisa
1. O letramento é uma atividade social que pode ser descrita em forma de práticas
coletivas que podem nortear os eventos de letramento.
2. As pessoas têm diferentes letramentos dos quais fazem uso em diferentes
domínios sociais da vida. E quando se têm contato com diferentes culturas ou
histórias, mais letramentos são incorporados a esses domínios.
3. As práticas de letramentos são situadas nas relações sociais.
4. O letramento tem como base um sistema de símbolos. Isto é, um sistema
simbólico usado para a comunicação. Esse modo de representação estabelece a
interação entre os pares.
5. O letramento é um sistema simbólico usado para representar a própria visão de
mundo. Ele é parte de nosso pensamento.
6. Nós temos consciência, atitudes e valores com respeito ao letramento e essas
atitudes e valores direcionam nossas ações.
7. O letramento tem uma história. A história de vida das pessoas envolve muitos
letramentos, que são construídos do passado ao presente, visto que ao longo da
vida ocorrem, constantemente, novos aprendizados, novos letramentos.
8. Um evento de letramento tem uma história social. Novas práticas de
letramentos são criadas a partir de conhecimentos do passado.
É interessante observar que o próprio Barton faz referência a Hymes (1974) para
justificar que os eventos de letramento têm raízes na concepção de eventos de fala
cunhada na Sociolinguística.
3.1 Quadro sintético dos temas e pontos da análise de monografias: da visão macro
a micro
O quadro acima identifica, de uma forma bem sintética, temas que foram
pesquisados no trabalho de conclusão de egressos da LEdoC, apresentados no gênero
monografia. De temas bem específicos, como por exemplo: “Sustentabilidade e meio
ambiente” a temas mais pesquisados, porém, cobrindo contextos diferentes, como por
exemplo: “Variedade linguística campesina ou quilombola” revelam cultura, identidade,
variedade linguística, o modo de viver de pessoas que, geralmente, não têm a
visibilidade que deveriam ter na sociedade. De leituras, que antes do letramento
acadêmico multidisciplinar da LEdoC eram naturalizações sem importância ou
problematização, durante e depois da LEdoC, passam a ser percebidas com olhar de “ O
que está acontecendo aqui e agora” (ERICKSON, 1990).
Para descrever a LEdoC, começamos pelos enquadres de Sousa, visto que pelos
diários, ela contextualiza o que é a LEdoC e a interação com os estudantes e suas
comunidades de origem, o que mostra que a interação com os estudantes não se
restringe ao conhecimento que brota na sala de aula, mas que vai além desse contexto,
na busca de um letramento acadêmico mais interativo com o propósito do
socioletramento.
Enquadre 3.2A
Sempre pratiquei etnografia de sala de aula, observando os estudantes em minhas aulas, ensino básico,
graduação e pós-graduação, procurando conhecer sobre a história, a cultura, o processo de letramento e
as interações sociais deles. Há 24 anos, trabalho com estudantes de diferentes grupos sociais, em grande
parte, com a conhecida “minoria”: negros, índios e pobres, isto é, a diversidade e inclusão. Na Licenciatura
em Educação do Campo (LEdoC), onde estou há quase 9 anos, tenho vivência mais intensa com os
estudantes por causa da configuração do curso que garante que possamos conhecer e conviver com eles
em sala de aula no Tempo Universidade (TU). Sou da área de Linguagem: Linguística e trabalho com outro
linguista com quem divido os componentes curriculares: Introdução à Linguística (Sociolinguística),
Fonética e fonologia, morfossintaxe, Sintaxe, Semântica, Gêneros Textuais, Ecolinguística, Linguística
Avançada, Estágio e Prática Pedagógica, voltadas para área de Linguagem, Leitura e Produção de Texto e
Projetos de Letramentos Múltiplos, para os quais contamos com a colaboração de professores voluntários
(mestrandos e doutorandos da área de Linguística e de Educação). Além disso, ainda temos a orientação
de Trabalho de Conclusão de Curso. A LEdoC nos proporciona a oportunidade de ficarmos mais tempo com
os estudantes em formação docente, durante os 4 anos do curso. Assim, temos oportunidade de fazer a
leitura etnográfica de nosso contexto de formação docente inicial. Isso, fez-me buscar assumir, muitas
vezes, a pedagogia culturalmente sensível (ERICKSON, 1990). Os alunos, que orientei para a elaboração
de monografias, a partir de 2010, que começam a defender seus trabalhos em 2013, fizeram parte do
contexto etnográfico de sala de aula, porque passamos quatro anos com cada turma, e, ainda, depois de
terminar o curso, ainda mantemos contato com parte deles, agora egressos, por causa da configuração
da Licenciatura em Educação do Campo que tem como pedagogia a Alternância. Nesse modelo
pedagógico, o estudante permanece sessenta dias por semestre na Universidade, cumprindo suas
atividades pedagógicas em tempo integral, o que é chamado de Tempo Universidade. Nesse tempo, por
exemplo, um professor pode interagir com os estudantes oito horas por dia, dependendo de sua
distribuição de aulas, durante duas semanas, considerando que, às vezes, esse mesmo professor participa
de reunião com estudantes no enquadre de organicidade, momentos de reunião sobre problemas que
ocorrem no curso e em outros enquadres. Além disso, o professor tem mais contato com os estudantes
que são seus orientandos, porque são três semestres do Componente Trabalho de Conclusão de Curso
durante a formação docente. E, ainda, há o Tempo Comunidade (TC) dos estudantes, quando eles voltam
para suas comunidades e permanecem lá de dois a cinco meses. Nesse ínterim, desenvolvem atividades
na escola e na comunidade. Essas atividades são fundamentadas nas teorias que os discentes estudaram
no Tempo Universidade. Nesse tempo, alguns professores do curso realizam atividades nas comunidades
e nas escolas campesinas. Eu mesma já participei de várias delas, durante o tempo que estou como
docente na LEdoC. Na oportunidade, entramos em contato com as famílias dos estudantes, conhecemos
as escolas onde atuam, e atualmente, com os egressos, que estão na docência. Fazemos uma imersão que
parte da sala de aula para as comunidades. Vejo que isso é muito importante, porque, de certa forma, há
uma interação próxima de professores da LEdoC o que permite a minha inserção nesse contexto, com as
comunidades desses estudantes. No tempo em que estou na LEdoC, considero ter leituras etnográficas da
sala de aula da LEdoC e de algumas comunidades, mesmo que seja uma visão ética, que, nos termos
etnográficos, é um conhecimento mais de fora do povo. Há pessoas em formação docente, que vêm com
uma leitura etnográfica de sua realidade social e da escola, aprimorada na produção das monografias de
final de curso. Isso interage com minha leitura etnográfica êmica de professora-pesquisadora (BORTONI-
RICARDO, 2008) e de orientadora de monografia, que conhece um pouco da realidade social dos
estudantes da LEdoC. (SOUSA, 2017).
Com essa organização, o curso proporciona a práxis por ser dividido em Tempo
Universidade (TU) e Tempo Comunidade (TC). No TU, os estudantes ficam de 45 a 60
dias, em tempo integral, 8 horas por dia na universidade, participando das atividades
acadêmicas, orientadas pelo cronograma de aulas e de outras atividades pedagógicas.
No TC, os estudantes estão em suas comunidades, realizando atividades de inserção na
escola e na comunidade, por exemplo, estágio em diferentes fases nas escolas, desde a
observação com inventário da escola do campo até a regência. Conforme Molina e Haje
(2016, p. 815-816):
A LEdoC tem como objetivo formar professores que possam atuar em escola
rurais e urbanas que conheçam a realidade de que vivem no campo e em comunidades
quilombolas ou na cidade que recebem crianças e jovens oriundos dessa região.
O Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade de Brasília, que
fez 11 anos em 2018, é uma das 40 dessas licenciaturas que estão em universidades
federais e estaduais e institutos federais, nas 5 regiões do Brasil, ofertando o curso em
alternância, nas áreas de linguagem, ciências da natureza, matemática e ciências sociais.
Esse curso é uma política de formação docente afirmativa que visa:
Enquadre 3.2B
Naquele início de trabalho na Faculdade UnB Planaltina (FUP), no primeiro semestre de 2010, na
Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), na turma 2, no Componente de Leitura e Produção de Texto
1, estava eu como professora, interagindo com pessoas oriundas de diferentes partes do Brasil. Na
apresentação do primeiro dia de aula, ficamos 4 horas só nas apresentações dos estudantes e das
estudantes. Os falares das pessoas eram diferentes. Usavam léxicos distintos, alguns, eu perguntava para
eles o que significava tal palavra. E a variação fonética: percebi pelos menos 4 variantes da pronúncia do
R. Percebi, ainda, que alguns estudantes falaram apenas o nome e sobre o local de onde vieram, não
quiseram falar mais nada sobre sua vida e por que escolheram a Licenciatura em Educação do Campo para
cursar. Depois dessa aula, fui para minha casa, pensando como trabalhar com aquela diversidade cultural
e linguística. Havia na turma pessoas de assentamentos, movimentos sociais, da agricultura familiar e
com histórias muito ricas. Pensei sou sociolinguista, agora tenho a grande oportunidade e o grande desafio
de colocar em prática a teoria que aprendi no mestrado e no doutorado. (Diário de Campo, SOUSA, 2010).
Enquadre 3.2C
Este trabalho pretende analisar a variedade linguística da comunidade Nova Conquista, localizada no
município de Cáceres, Mato Grosso. Além disso, será observada como está estruturada a formação
linguística da comunidade através do processo migratório que se deu há 16 anos nessa localidade. O
processo histórico dessa comunidade se deu pela conquista da terra, trazendo vários povos de diversas
regiões mato-grossenses com sotaque mineiro, paulista, baiano e encontrando também os povos
cuiabanos e pantaneiros, perfazendo uma mistura de linguajares e com o passar do tempo, uma variedade
foi se sobrepondo a outra, às vezes, de forma natural ou não. Apresentam-se nesta pesquisa os modos de
falar da população da comunidade Nova Conquista, no intuito de analisar os fenômenos micro da
fonologia, morfologia, do léxico e a relação semântica da fala dos povos nativos que são oriundos da
região cacerense e baixada cuiabana. Com seus dialetos próprios, os mesmos apresentam uma riqueza
imensa ao comunicarem uns com os outros da mesma família, com a sabedoria de seu povo trazido de pai
para filho, com seu jeito peculiar de tratar as coisas, cantando canções mato-grossenses. Principalmente,
desde contar os causos e ao cumprimentar as pessoas de forma humilde, não preocupados com regras
padrão estabelecidos na sociedade. Diante disso, esse trabalho aborda a sociolinguística, vislumbrando a
interação e também o comportamento da pessoa na perspectiva da integração do indivíduo em seu meio
social. Utiliza o uso da língua dentro de uma determinada cultura, no espaço social e identificando sua
identidade. Contudo, trabalha com os conhecimentos de outras áreas estabelecendo uma variedade
multidisciplinar. Uma das motivações que provocou o interesse por este assunto foi a partir, do
conhecimento do tema, o estudo da disciplina de sociolinguística, com a professora R., no curso de
Licenciatura em Educação do Campo, na Faculdade de Planaltina, em Brasília. Principalmente, quando se
estuda o linguista Marcos Bagno, em seu livro “Nada na Língua é por Acaso”, que aborda a
sociolinguística, cuja teoria fomenta a todo instante a necessidade de estarmos atentos a valorizar o
sujeito falante com suas diversidades linguísticas. Dessa forma, este trabalho de pesquisa, também, é
decorrente das observações durante o período de estágio que foram realizados em Tempo Comunidade
(TC). O presente trabalho será desenvolvido por meio da metodologia qualitativa que tem como objetivo
identificar os traços linguísticos (BORTONI-RICARDO, 2008. p.49) e “valem de procedimentos etnográficos
para geração de registros”. E também desvelar o que está sendo invisível diante da rotina em que os
falantes vivem estruturalmente na respectiva comunidade pesquisada. Para Bortoni-Ricardo (2008), as
pessoas acostumam com as rotinas, e no entanto, não percebem a riqueza que tem em seu vocabulário,
nas relações sociais que são vivenciadas no seu cotidiano. Neste sentido, há uma expectativa deste
trabalho de identificar por meio de entrevistas, observações, dos causos e canções, em que apresentam
diversos sotaques, variações, não só na fala, bem como nos costumes e na atividade cultural. Este trabalho
procura compreender melhor como os diversos falares que circulam no meio em que há falantes que
veiculam a linguagem falada, ou seja, a expressão sonora que caracteriza uma particularidade herdada
de sua origem. É por isso que a sociolinguística busca por meio da análise linguística identificar a fala em
uma comunidade de uso. Neste sentido realiza-se uma análise da variedade linguística que acontece no
âmbito social, no nível diatópico, em que busca se investigar a variação decorrente da origem geográfica,
principalmente os falares de origem nativa que são os cacerenses. No entanto, propõe-se identificar os
níveis fonético-fonológicas, morfológicos, semânticos e lexicais de variação linguística, utilizada pelos
falantes entrevistados, por meio dos causos e canções tradicionais da comunidade Nova Conquista
Cáceres- Mato Grosso. Este trabalho tem como objetivos específicos identificar como: 1º as variedades
linguísticas utilizadas pelos falantes interagem com outras variedades existentes; 2º- investigar, entre os
falantes, qual a compreensão que têm em relação à língua. E também os conceitos que foram formados
durante sua formação humana; 3º- ajudar na valorização das canções da comunidade que já não são mais
cantadas pela população jovem desta localidade. 4º- sugerir ainda estratégias pedagógicas para escola
municipal Paulo Freire. Em suma, a variedade linguística dessa comunidade compreende um leque, da
língua falada do português brasileiro, isto é, estabelece um aspecto positivo na fala. Por isso, o trabalho
discorre trazendo contribuições que são possíveis de compreender, aceitar e respeitar as variações da
língua falada, sem causar nenhum choque linguístico em que nos deparamos na sociedade como um
preconceito linguístico. Ainda, será abordada a luta pela Educação Básica do Campo no Brasil, através dos
movimentos sociais com a participação ativa de seus sujeitos (as) que desencadearam uma discussão a
nível nacional, e repercutindo no município de Cáceres, no qual é localizado o assentamento Nova
Conquista que é mais um fruto da luta de inúmeros e inúmeras guerreiras e guerreiros, que tombaram
pelo caminho na esperança de conquistarem um pedacinho de terra e uma garantia de vida digna para
suas famílias, o que constitui o contexto de pesquisa. Este trabalho é composto de introdução que
apresenta as motivações que me levam a realizar este trabalho. Já no primeiro capítulo, fala-se da
metodologia que irá dar sustentabilidade para a pesquisadora percorrer todo o trabalho, seja na base
escrita ou em trabalho de campo. No segundo capítulo, está a discussão do referencial teórico que aborda
as lutas sociais em busca de uma Educação Básica para o Campo. Apresenta também no terceiro capítulo
um breve caminho que percorre a linguística e seguindo a linha da sociolinguística com sua vertente com
níveis de variação linguística, refletindo sobre o ensino da norma padrão e a língua materna. Quanto ao
quarto capítulo, apresenta as análises de dados que foram coletados na pesquisa de campo na perspectiva
de visualizar certos questionamentos que são: Como e por que os causos foram aplicados na escola local?
Como são esses causos abordados? Como a escola recebeu os ensinamentos tradicionais típicos da
comunidade? Para finalizar conta-se com as considerações finais e os referenciais que deram
embasamento teórico para a construção desse Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Também serão
abordadas as análises de algumas falas espontâneas, e de falas mediadas por canções e por causos. Para
isso, será apresentado um quadro com transcrições fonético-fonológicas. E também será utilizado o
alfabeto IPA (Internacional Phonectic Association) nas transcrições de falas que são consideradas
especificidades da comunidade. Este trabalho de pesquisa aponta alguns teóricos como: Bagno (2007),
Carbone (2008), Bortoni-Ricardo (2008), Sousa e Velasco (2007), Caldart (2000, 2008), Freire (1996) entre
outros, que fundamentaram seus estudos de pesquisa com o objetivo de proporcionar melhor
entendimento do ensino da língua e sociedade dentro do universo educacional.
Boa noite professora R. [...]. Considerando não estar em sala de aula. Desenvolvo minha pesquisa trazendo
a sociolinguística na vertente da variação linguística, na formação de professores no momento da
formação continuada, contribuindo com a construção do planejamento docente. Em desenvolvimento de
oficinas de língua portuguesa, Artes e Educação Física. Com análise, movimentos e canto. Um novo jeito
pedagógico de tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas. Este ano de 2018, conseguimos ir além, com
análise, com interdisciplinaridade em que todas as áreas se comunicaram e se articularam com resultado
final. Concluindo com aula de campo, envolvendo a semana da árvore: com teoria e prática através dos
gêneros textuais. Confecção de faixas, cartazes, abrangendo relações sociais e políticas. Como marca o
plantio de árvores frutíferas e nativa. Estudando o científico e o empírico.
Enquadre 3.2D
Variedades linguísticas na Gleba Ribeirão Grande e identidade cultural camponesa,
2013. (P. – MT)
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não
faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes
pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio”. (Carlos Drummond de
Andrade).
Se tentássemos transcrever o fragmento acima, de acordo com o vocabulário falado nos dias de hoje,
evidentemente muitas palavras seriam substituídas, registrando-se uma linguagem mais coloquial.
Percebemos, assim, que a língua é dinâmica, ela sofre transformações com o passar do tempo em virtude
de diversos fatores, assim como a sociedade também é totalmente mutável. No entanto, cada grupo social
adquire uma maneira própria de se comunicar, e por que não dizer, se identificar. Assim, a Variação
Linguística se dá pelo fato de que a língua, num determinado grupo social, em um dado lugar e uma dada
época varia em relação a outro grupo social, outro lugar ou outra época. A intenção desta pesquisa se
materializou após aprofundamentos dos estudos sobre a Sociolinguística, na Universidade de Brasília,
dialogando com as Inserções Orientadas na Escola Municipal do Campo São José, através das experiências
de observação e estágio supervisionado e do conhecimento prévio das famílias da Gleba Ribeirão Grande.
Há tempo percebi que existem diversas formas de falar na comunidade. Me senti instigada a investigar e
analisar as variedades linguísticas existentes na Gleba Ribeirão Grande, onde moro e se essas variedades
são estigmatizadas ou valorizadas pelos próprios falantes, e ainda, como estas variações linguísticas se
relacionam com a identidade camponesa desses jovens falantes. Para o levantamento dos dados
necessários para este trabalho, realizamos entrevistas utilizando a metodologia de grupo focal com os
jovens e diálogos abertos com os pais. As quatro famílias que foram escolhidas devido à miscigenação
observada em cada uma delas. São todas moradoras da Gleba Ribeirão Grande e têm filhos matriculados
nessa escola. As conversas foram gravadas e posteriormente sistematizadas, para isso, utilizamos a
pesquisa qualitativa, pois este método se preocupa, em especial, com o mundo das relações sociais,
resumido nos processos das representações e da intencionalidade, que dificilmente pode ser traduzido em
números e indicadores quantitativos. Sabemos que a formação de um Assentamento da Reforma Agrária
se dá pela migração de famílias oriundas de diferentes regiões do Brasil e que, ao migrar de seu local de
origem esse camponês vai perdendo a sua herança cultural, que vai mesclando com outras, de acordo com
os locais por onde passam. Em meio a um duplo movimento: o de partida e o de chegada, as famílias são
tomadas pelo sonho e pela ilusão de melhorar a vida, pois lhe é imposta uma nova realidade, em um lugar
antes desconhecido. No capítulo primeiro, abordamos sobre os métodos da pesquisa utilizados neste
trabalho, além de localizar o lugar de onde falo, a Gleba Ribeirão Grande e a escola Municipal do Campo
São José, que são lugares frequentados pelos colaboradores da pesquisa[...] E por fim, apresentamos
nossas considerações, às quais aproveitamos para propor formas de ensino da língua portuguesa em que
as variedades sejam consideradas e valorizadas, utilizando os próprios falantes como exemplos na sala de
aula.
Desculpa a demora. Estamos com problemas no sinal da internet. Vou escrever porque não carrega áudio
tá. Após o término do curso, enfrentei muita dificuldade por causa dos gestores, tanto na esfera estadual
[...] por falta de portarias específicas para o campo, como também na gestão da escola que nos via como
uma espécie de ameaça porque eles não tinham o conhecimento e a visão que abrangia o campo. No
primeiro ano após a formação, consegui apenas 12 horas/aula. Após isso fiquei 3 anos sem lecionar. Voltei
ano passado com 30 horas após muita discussão. Mas ainda estou fora da minha área de formação. Tenho
aulas picadas, as sobras dos professores de área. Sobre o tema da minha monografia, uso muito e contínuo
observando e me encantando com as variedades linguísticas. Por esta ser uma região de grandes fazendas,
há uma rotatividade de famílias que vem a trabalho. E as crianças entram na escola, algumas ficam mais
tempo, outras ficam menos tempo, e a variedade linguística, a cultura que cada uma carrega é notória,
encantadora e agradável de ser ver. Trabalho muito com essas questões com meus alunos, mesmo não
sendo a minha área de atuação.
Oi R. Desculpa, muita coisa acontecendo aqui...eu trabalho as aulas que sobram dos professores de área.
No caso, cada ano são diferentes. Como aqui é interior, a comunidade onde fica a escola é pouco
desenvolvida, os profissionais não ficam por muito tempo. Daí existe a rotatividade de professores
também. 2018, eu trabalhei com as disciplinas de Inglês e Filosofia nas turmas de 1º, 2º e 3º anos do
Ensino Médio. Inglês e Artes na turma de 9º ano. Inglês, Artes e Geografia na turma do 8º ano e, Português
e Geografia na turma do 7º ano.
As famílias que “transitam” vêm dos mais diversos lugares do Brasil. Grande parte do Nordeste. Os que
fixaram residência por aqui, na maioria, vêm do Sul.
A idade dos alunos varia de 12 anos, no 7º ano até 18 ou 19 anos no Ensino Médio.
Enquadre 3.2E
Este trabalho investiga as fábulas na Comunidade Kalunga Vão de Almas, onde podemos perceber a
importância delas a partir da realidade local. O intuito foi, à luz da sociolinguistica, analisar algumas
fábulas antigas, bem como, algumas novas, de acordo com as variações linguísticas da Comunidade
Kalunga Vão de Almas. Devido à importância que as fábulas têm para a comunidade quilombola Kalunga,
fui motivada a realizar essa pesquisa, a qual irá contribuir para maiores informações sobre a comunidade
Vão de almas, além de ajudar a mim e aos meus alunos a obtermos novos conhecimentos. Meu interesse
pela temática está baseado no texto que estudei nas aulas de linguagem na Licenciatura em Educação do
Campo LEdoC/FUP/UNB de Planaltina, quando li no texto que Língua e Gramática não são a mesma coisa,
pois, segundo Luiz Antônio Marcuschi (2011). Existe uma grande variedade de gêneros de teorias de
gêneros no momento atual, mas pode – se dizer que as teorias de gênero que privilegiam a forma ou a
estrutura estão hoje em crise, tendo em vista que o gênero é essencialmente flexível, tal como seu
comportamento crucial, a linguagem. Pois, assim como a língua varia, também os gêneros variam,
adaptam-se, removam-se e multiplicam - se. Em suma, hoje a tendência é observar os gêneros pelo seu
lado dinâmico, processual, social interativo, cognitivo, evitando a classificação a postura e a estrutura
(MARCUSCHI, 2011, p. 19). Nesse sentido, o trabalho explora a dinamicidade, a situacionalidade, a
historicidade e a plasticidade dos gêneros, mostrando que eles não são classificáveis como formas puras,
nem podem ser catalogados de maneira rígida. Devem ser vistos na relação com as práticas sociais, os
aspectos cognitivos, os interesses, as relações de poder, as tecnologias, as atividades discursivas
considerando cada cultura. Os gêneros textuais fundem-se e misturam-se para manter sua identidade
funcional com inovação organizacional. Em suma, os gêneros não são superestruturas canônicas e
deterministas, mas também não amorfos e simplesmente determinados por pressões externas. São
formações interativas, multimodalizadas e flexivas de organização social e de produção de sentidos.
Assim, um aspecto importante na análise do gênero é o fato de ele não ser estático nem puro. Quando
ensinamos a operar com um gênero, ensinamos um modo de atuação sociodiscursiva numa cultura e não
um simples modo de produção textual. Em essência, os gêneros são formas de ação tática, como dizia
Bhatia (1993), ou seja, a ação com gêneros é sempre uma seleção tática de ferramentas adequadas a
algum objetivo (MARCUSCHI, 2011, p. 20). Os gêneros textuais que circulam na Comunidade Kalunga Vão
de Almas são aqueles que as pessoas mais usam para as necessidades comunicativas cotidianas. São
inúmeros: bilhetes, revistas, livros, bula de remédio, rádio, telefone, receita médica, receita de bolo, lista
de compras, receitas culinárias, cartas, etc. Ao tomar conhecimento da existência dessa realidade, resolvi
pesquisar na Escola Dona Joana Pereira das Virgens na Comunidade KALUNGA Vão de Almas os tipos de
gênero utilizados pela professora, e constatei que as fábulas se configuram como um gênero trabalhado
em sala de aula com os alunos. Portanto, percebi que as fábulas são um gênero textual que é trabalhado
nessa escola. Segundo Marcuschi (2011), [...] Na realidade, os estudos dos gêneros textuais é uma fértil
área interdisciplinar, com atenção especial para o funcionamento da língua e para as atividades culturais
sociais. Desde não concebemos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas
como, formas culturais e cognitivas de ação social. corporificadas de modo particular na linguagem,
veremos os gêneros entidades dinâmicas. Mas, é claro que os gêneros têm uma identidade e eles são
entidades poderosas que, na produção textual, nos condicionam a escolhas que não podem ser totalmente
livres nem aleatórias, sejam sobre a ponte de vista do léxico, do grau de formalidade ou da natureza dos
temas, como bem lembra Bronckart (2001). Os gêneros como linguagem limitam nossa ação na escrita.
Isto faz com que Amy Devitt (1997) identifique os gêneros como linguagem estânder, o que, por um lado,
impõe restrições e padronizações, mas, por outro, é um convite a escolhas, estilos, criatividade e variação
(MARCUSCHI, 2011, p. 18). De acordo com a citação acima, percebe-se que os gêneros são formas de
aprender, gerando novos conhecimentos, inclusive de variações linguísticas, que buscam a criatividade da
linguagem e das identidades do ser humano. Portanto, compreende a leitura e a escrita através de discurso
oral direto e indireto com as mais variadas linguagens do nosso dia-a-dia. Esta exposição traz a temática
tratada neste trabalho, que está dividido em três capítulos, além desta introdução e das considerações
finais. O primeiro capítulo trata da metodologia, o segundo, da fundamentação teórica e o terceiro
registra a análise de dados.
A pesquisa de J. foi realizada com 12 adultos, com idade entre 22 a 83 anos. Dos
adultos, ela transcreve da língua falada 14 fábulas, conservando a variação linguística
dessas pessoas. Não é o foco do trabalho dela, mas percebemos nessas transcrições
variedades linguísticas intergeracionais, que revela o português quilombola (RIBEIRO,
2017). Assim, como ocorre em outras monografias pesquisadas, o letramento
acadêmico proporcionou para egressos da LEdoC a oportunidade de transformar os
conhecimentos de sua comunidade em conhecimentos agora letrados, divulgados por
meio do gênero discursivo monografia.
Oi professora...estou retornando sua ligação...não mandei mensagem...porque não tenho Zap. Tudo bem
Josina...Josina estou fazendo uma pesquisa para o meu pós-doutorado e estou analisando as monografias
que orientei...porque penso que é muito importante valorizar e divulgar o trabalho de vocês...a cultura e
a identidade das comunidades campesinas e quilombolas..por isso..estou entrando em contato com
algumas pessoas para fazer uma entrevista...Tá certo professora...Como você está? Bem...estou bem..
Como está sendo sua vida profissional depois do término da LEdoC? Se você utiliza na sua vida cotidiana
e na vida profissional o tema que você desenvolveu na sua monografia e de que forma? Sim
professora...Estou trabalhando na Escola Dona Joana Pereira das Virgens...com classe multisseriada...do
primeiro ao quinto ano do ensino fundamental...no Vão de Almas..sou professora do
município...[...]Trabalho muito as fábulas que pesquisei na minha monografia...e com muita produção de
texto na alfabetização...e com a variação linguística o tempo todo...vejo muita diferença de quando era
professora leiga e agora com a formação da LEdoC..
Em poucas palavras J. informou para R. o que está fazendo com o tema que
pesquisou no seu trabalho de conclusão de curso, na configuração de monografia. A
professora J. continua trabalhando as fábulas kalungas, no ensino fundamental,
primeira fase, da escola onde está trabalhando. Ela afirma que trabalha com muita
produção de texto na alfabetização e com a variação sempre. Ressalta a diferença entre
o antes e o depois da LEdoC.
Esta pesquisa visa investigar e analisar as variações linguísticas de pessoas quilombolas da Fazenda Coco,
integradas à Comunidade Kalunga Vão de Almas, ou seja, pretende-se investigar as diferentes maneiras
que as pessoas pronunciam as palavras. Essa pesquisa é importante, porque muitos falam que nós, da
comunidade, não sabemos falar de acordo com a dita “norma padrão”. Este tema teve origem durante
minhas aulas de Sociolinguística. Antes de estudar variação linguística, pensávamos que, nós da
comunidade Fazenda Coco, falávamos errado. Ao estudar, aprendi que nós da comunidade não falamos
errado, apenas falamos diferente. Nós, moradores, da comunidade Kalunga Vão de Almas, sofremos muito
com esse tipo de preconceito linguístico. Por ser uma comunidade de difícil acesso, não temos escola com
Ensino Médio. Assim, os jovens são obrigados a deixar a comunidade para concluir os estudos. Ao
chegarem às escolas urbanas, eles são identificados como caipiras ou roceiros. Tudo isso porque falam
diferente dos outros alunos. Éramos obrigados a aceitar as críticas, pois pensávamos que eles estavam
certos. Após estudar Sociolinguística na universidade, com a professora R., tive a ideia de pesquisar sobre
variação linguística para mostrar às pessoas da comunidade do Vão de Almas que não falamos errado,
que esse nosso modo diferente de pronunciar as palavras é apenas variação linguística. E há na sociedade
pessoas que apoiam e defendem esse modo diferente de falar. E, ainda, esta pesquisa é produto do projeto
da Área de Linguagens, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID-Diversidade,
que fortalece a formação docente inicial, além de formar pesquisadores iniciantes, isto é, etnógrafos.
Também, insere-se nos trabalhos de pesquisa do Grupo Sociolinguística, Letramentos Múltiplos e
Educação. Esta monografia, além da introdução e das considerações finais, está dividida em quatro
capítulos, que serão desenvolvidos no decorrer do trabalho. Vale ressaltar que ora utilizamos o discurso
deste texto na primeira pessoa do plural, ora na primeira pessoa do singular.
Outras monografias, assim como a G., analisadas por nós, trazem temáticas que
convergem a discussão sobre variedades estigmatizadas, que de certa forma, é um
problema que influencia negativamente na vida das pessoas que comunidades mais
isoladas, com as quilombolas e indígenas, principalmente ao acesso ao letramento
escolar e acadêmico.
Boa tarde..Agradeço muito meus professores da Educação do Campo, em especial vc. Nunca imaginava
que existia um campo que estudava algo que para a sociedade é condenado como algo impróprio para
nos comunicarmos. Baseado nos fundamentos da sociolinguística, levo para minha vida profissional
conceitos de autores que defendem o modo diferente de falar. Como diz Bagno, nada na língua é por
acaso. Enquanto professor de língua portuguesa, procuro ensinar para meus alunos que nosso modo
diferente de falar não é errado, apenas faz parte de um conjunto de variações linguísticas existentes no
país. E que não podemos exclui-la por causa do preconceito sofrido, mas sim, ter o conhecimento de
quando e como usá-la. Na vida social, faço questão de abordar o mesmo tema que trato com frequência
na sala de aula.
Enquadre 3.2G
Na comunidade Kalunga Vão de Almas há várias riquezas que fortalecem a comunidade, tornando o
ambiente cultural cada vez melhor, tendo suas vantagens e desvantagens. Há muito tempo, na
comunidade não houve pessoas letradas com conhecimentos científicos e hoje há pessoas letradas. Há
cerca de quatro rios grandes que fornecem suas riquezas naturais para as pessoas que ali vivem e para os
animais que também necessitam de água. Vão de Almas é uma comunidade que há vários eventos
culturais, entre eles podemos destacar as festas tradicionais. Esses eventos estão ajudando cada vez mais
a divulgar a comunidade, suas belezas e, também, os modos que as pessoas vivem, pessoas que mesmo
sem estudar têm suas sabedorias que foram aprendidas durante sua longa jornada de vida. A comunidade
kalunga do Vão de Almas está localizada a 80 km da cidade de Cavalcante – GO e possui cerca de 350
famílias, todas vivem da agricultura familiar. É uma comunidade de difícil acesso, porque a estrada foi
construída atravessando uma grande serra que, muitas vezes, impede alguns veículos de subi-la, tornando
um trajeto difícil. Na época de chuva, por causa das erosões causadas pelas águas, fica ainda mais
complicado o aceso à comunidade. O acesso só é possível em carro com tração nas quatro rodas ou de
motocicleta. Há muitos rios que cortam a comunidade fornecendo suas riquezas, o cerrado é nativo e
possui vários tipos de vegetação. As casas são construídas com materiais da comunidade. Além de toda
essa descrição geográfica da localidade, a comunidade tem muita riqueza cultural, da qual, podemos
contemplar as Folias, que cada vez mais vêm trazendo alegrias para os moradores e todos que ali vivem.
É uma comunidade que não tem energia elétrica e nem água encanada, essas pessoas vivem da
agricultura para o próprio sustento. O presente trabalho tem o intuito de analisar os gêneros discursivos
Folias na Comunidade Kalunga Vão de Almas, em especial a Folia de Reis, no ano de 2015, analisar as
organizações das folias no território. O que me motivou a fazer esta pesquisa foram as aulas de linguagens,
formação por área de conhecimento, do Curso Licenciatura em Educação do 11 Campo (LEdoC), que
tivemos durante o Tempo Universidade (TU). A partir dessas aulas, optei por fazer meu trabalho sobre
gêneros discursivos. Vi muita importância em desenvolver um tema sobre a realidade de minha
comunidade, principalmente por ser um gênero discursivo que se manifesta na oralidade e que exige muito
talento. Normalmente, pessoas não alfabetizadas fazem essas reflexões relevantes. Este cenário,
portanto, motivou-me a realizar esta pesquisa, que está organizada da seguinte forma: Introdução, quatro
capítulos e considerações finais. O primeiro capítulo tratará da metodologia de pesquisa, pesquisa
qualitativa, contexto de pesquisa, objetivo geral, específicos, perguntas da pesquisa, pessoas pesquisadas
e perfil dos pesquisados. O segundo capítulo tratará da Educação do Campo e suas Conquistas, Educação
do Campo, formação de educadores do campo, Licenciatura em Educação do Campo, formação por área
de conhecimentos, breve relato sobre a experiência na Licenciatura em Educação do Campo. O terceiro
aborda os gêneros discursivos, cultura, memória, identidade coletiva e Folia de Reis. O quarto e último
tratará da análise de dados. Posteriormente, registramos as considerações finais e referências. Esta
pesquisa é produto do projeto da área de linguagens do Programa Institucional de Bolsa a Iniciação à
Docência (PIBID).
E. destaca na introdução de sua monografia, característica da geografia, da flora
e fala sobre os rios, as pessoas da comunidade kalunga Vão de Almas. A mesma
comunidade onde está localizada a Fazenda Coco, onde G. mora. Pela descrição de E. ,
Vão de Almas tem o meio ambiente preservado, onde os seus moradores vivem da
agricultura familiar. Em meio as essas informações, E. pontua que antes não existiam
pessoas letradas na comunidade, mas existem pessoas com muita sabedoria. Agora, há
pessoas letradas na comunidade. Podemos inferir que G. e E., assim como outros
estudantes da LEdoC, que são de Vão de Almas, são as pessoas letradas. Depois da
descrição de Vão de Almas na leitura de E. , identificamos qual é o objetivo de sua
pesquisa: analisar os gêneros discursivos Folias na Comunidade Kalunga Vão de Almas,
em especial a Folia de Reis, no ano de 2015, analisar as organizações das folias no
território.
Essa visão faz com que pessoas quilombolas, em formação docente, se valendo
de estratégias que foram apreendidas na LEdoC, valorizem sua cultura e sua identidade,
sua variedade linguística que talvez com outro olhar isso não acontecesse, até por que
poderiam estar tomados pela naturalização de discursos e ações dominantes.
Os mais velhos veem a Folia como parte importante para a comunidade e para
as pessoas que moram ali, já os mais jovens veem a folia como parte dos mais
velhos e não se sentem parte desse processo. Alguns jovens falam como se
não fosse da comunidade, tentando se distanciar da realidade. O trabalho
apresenta dados concretos que a folia é um gênero discursivo que se
manifesta na oralidade, tendo grande relevância na sociedade, construindo
memórias e identidade nos territórios (p. 44)
Boa tarde professora...É um prazer participar da sua entrevista..e indo direto ao assunto..a minha vida
profissional.. depois que saí da Educação do Campo...digamos que continuou porque tive a sorte..né.. de
apenas três meses que eu tinha concluído..colado grau..fui chamado para trabalhar na escola Kalunga da
minha comunidade..que fica bem pertinho de casa..né..E...o melhor que foi a escola que eu trabalhei..que
eu::..comecei a estudar e::a escola que eu estagiei nela..então..já..já..tinha um certo..uma certa relação
com os alunos dessa escola..né.. que são alunos da própria comunidade..né..trabalho do sexto/.../ao
terceiro ano do ensino médio..com as disciplinas..até agora no final do ano... de 2018..estava
com..É::artes..no sexto...Educação Física..no sexto...Geografia..no sétimo.../.../Artes no sétimo...História
no oitavo..Educação Física no oitavo...É::Português no nono...Artes...primeira série..Português e
Geografia...segunda série..Português e história...terceira série..Português e Inglês..Essas eram as
disciplinas que estava trabalhando em 2018...Provavelmente..para o ano de 2019..devou..assim..se
houver mudanças...são bem pequinininhas../.../.Sobre os tópicos da minha
monografia..letramento.../.../algumas coisas eu ( ) coloquei isso em prática..por causa que a demanda é
bem maior...por causa que exige um pouco mais de tempo..de planejamento..de como abordar esses
temas...de como tá levando esses temas pra escola..e às vezes..eu devo confessar que fico mais preso a
matriz..não totalmente a matriz..mas vou pra fatos da comunidade...mas tenho me restringido mais a
matriz..e quando toco no assunto..É de maneira mais superficial/.../de certa forma trabalho
sim..praticamente não só em português..como em outras disciplinas..todos os dias...fazendo...a leitura de
textos de diferentes::tipologias... digamos..e trabalho sim...a questão da escrita...praticamente quase
todos os dias.../.../produção textual..reescrita de texto...né/.../Também a questão da cultura...da
identidade...trabalho com eles..não algo muito profundo...um pouco superficial.../.../Ah sim...sobre a
questão da norma padrão...trabalho com eles também..até porque o livro da Especialização...Porque a
escola não ensina gramática assim...me ajudou bastante...porque...estou trabalhando o elo com os
estudantes /.../ porque no livro fala que o papel do professor..ou seja..do professor é fazer com que o
aluno se sinta à vontade a fazer o uso da modalidade ...de acordo..com... o momento inserido.../.../não
trabalho::ou seja...eu trabalho com eles a questão da norma padrão e depois...trabalhamos a questão da
oralidade...e explico para eles/.../em alguns momentos quando se tratar da escrita...principalmente
quando for escrever..que ele não vai escrever só pra eles...mas para outras pessoas...a fazer o uso da
norma padrão...né..que há um padrão a seguir por todos os falantes do português brasileiro...e quando
eles tiverem em uma conversa espontânea...com amigos familiares..né..que eles possam estar fazendo o
uso de uma linguagem mais coloquial.
Enquadre 3.2 H
A temática da presente monografia aborda as contribuições dos gêneros textuais através da Pesquisa-
ação, para leitura e escrita dos alunos do Ensino Fundamental Séries Finais. A escolha do tema é pertinente
ao problema encontrado durante as observações realizadas nas disciplinas de estágio ofertadas no curso
de Licenciatura em Educação no Campo. A pesquisa-ação desenvolvida na escola é um tipo de pesquisa
utilizada e elaborada como meio de contribuir com algumas mudanças para melhoria dos problemas
verificados durante a pesquisa-ação. Na pesquisa-ação o pesquisador intervém de modo quase militante
no processo, em função de uma mudança cujos fins ele define como a estratégia. Mas a mudança visada
não é imposta de fora pelos pesquisadores. Resulta de uma atividade de pesquisa na qual os atores se
debruçam sobre eles mesmos. A ação parece prioritária nesse tipo de pesquisa, mas as consequências da
ação permitem aos pesquisadores explorá-las com fins de pesquisa mais acadêmica. Com este intuito o
trabalho foi desenvolvido através da pesquisa-ação. O Colégio Estadual E. J. C. é considerado uma Escola
do Campo, por atender em sua maioria alunos vindos de comunidades rurais, foi o local escolhido para o
desenvolvimento da pesquisa- ação. A instituição apresenta problemas como baixa escolaridade da
comunidade rural e evasão escolar. Foi diagnosticado que os alunos, das séries finais, do Ensino
Fundamental apresentavam grande dificuldade ortográfica e linguística. A partir daí levantou-se a
seguinte problemática, a saber: o estudo dos gêneros textuais pode ser uma estratégia de ensino capaz
de auxiliar os alunos a superar suas dificuldades na leitura e escrita? O foco do problema está na questão
da mudança. A pesquisa-ação propõe sempre uma mudança. A mudança segundo Barbier é concebida
como uma socioterapia, uma análise da organização, com finalidades dificilmente previsíveis e não se
traduzindo forçosamente num progresso ou numa melhora do bem estar [...]. Durante a análise constatou-
se que o currículo já preconiza que os gêneros textuais devem, durante o seu estudo, levar o aluno a ler,
comparar e associar os gêneros observando forma, conteúdo, estilo e função social. (SEDUC, 2013, p. 32).
Diante disso, o educador fica restrito ao currículo referência, desempenhando assim uma prática
pedagógica tradicionalista, em que os estudantes do campo, não são contemplados de acordo com suas
necessidades e especificidades, conforme esclarece Sousa (2006) "além dos gêneros mais padronizados da
escrita, convivemos com gêneros da conversação, que são muito mais dinâmicos e que representam
inúmeras situações de interação social" O professor de Língua Portuguesa tem um papel fundamental na
escola, o desenvolvimento do letramento possibilita o acesso a outros conhecimentos. A partir da
conscientização por uma educação diferenciada, oferecida pela Licenciatura em Educação do Campo,
percebe-se uma grande necessidade de mecanismos que beneficiem e facilitem o aprendizado da Língua
Portuguesa nas Escolas do Campo. Como os gêneros textuais apresentam uma grande variedade de textos
a serem trabalhados, podem ser utilizados como uma importante ferramenta de aprendizagem. Existe
uma grande variedade de Gêneros Textuais que podem ser utilizados como incentivo à leitura e à escrita,
como: anúncios, convites, avisos, bulas, cartas, cartazes, contos de fadas, crônicas, entrevistas, letras de
músicas, leis, mensagens, notícias, entre outros [...]. A Pesquisa-ação dentro da escola permitiu identificar
o desenvolvimento dos alunos na leitura e escrita, a partir da aplicação de estratégias envolvendo os
variados gêneros textuais existentes. Esta pesquisa foi realizada com alunos participantes do Projeto de
intervenção Letramentos Múltiplos, oportunizado pelo PIBID Diversidade - Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência - institucionalizado na Faculdade UnB Planaltina. O projeto de intervenção foi
realizado a partir do PIBID Diversidade, sobre a coordenação da professora R.. [...] O Projeto de
intervenção Letramentos Múltiplos aplicado, propôs estimular o hábito da leitura e a melhoria na escrita,
a partir da aplicação de estratégias envolvendo variados gêneros textuais. [...].Buscou-se ampliar o
desenvolvimento linguístico e ortográfico dos estudantes proporcionando pelo contato com os gêneros
textuais não apenas a compreensão das ideias contidas nos textos, mas também procurando despertar o
gosto pela leitura, o que traria sem dúvida melhorias na escrita. A escola incentiva a leitura, mas os
estudantes não têm acesso a revistas e jornais, que não são comercializados na cidade, além de não terem
uma biblioteca atualizada. Todos estes fatores influenciam na desenvoltura dos estudantes em relação ao
gosto pela leitura e escrita. Foram realizadas avaliações periódicas para confirmar se os objetivos do
projeto estavam sendo minimamente alcançados [...]. O trabalho em questão tem a seguinte organização:
introdução contextualizando a proposta da monografia; capítulo 1, chamado de horizonte teórico que traz
os principais autores utilizados como subsídio para proporcionar o diálogo realizado na análise e discussão
dos resultados. Em seguida, no capítulo 2, apresenta-se a metodologia empregada bem como todo o
delineamento do estudo e as ações realizadas para alcançar os objetivos propostos; e, o capítulo 3
apresenta os resultados alcançados e as discussões realizadas com base nos autores elencados no capítulo
1. Finalizando a pesquisa, temos as considerações finais que trazem as reflexões feitas pela autora durante
todo o desenvolvimento da monografia, bem como as referências.
Aspecto que deve ser discutido da pesquisa de RI, o qual ela ressalta no seu texto
monográfico, é a dificuldade ortográfica e linguísticas (de variedade linguística) dos estudantes
oriundos do campo. Fato que foi pontuado em outras monografias que compõe os dados da
pesquisa deste artigo. Outros dados que comprovam isso, vêm dos bolsistas do Pibid
Diversidade da LEdoC, que atuaram nas escolas do Campo do período entre 2012 e 2018. E,
ainda, sobre essa mesma temática, temos as pesquisas do grupo Sociolinguística, Letramentos
Múltiplos e Educação (SOLEDUC).
Normalmente os erros presentes na escrita dos alunos são ligados a ortografia
e a acentuação gráfica, erros que são motivados pela oralidade de cada um.
As formas linguísticas da oralidade são confundidas com as variedades não
padrão da língua das quais os alunos utilizam e são vistas como erros de
português pelos professores [...] ( p.50).
Até hoje, os professores não sabem muito bem como agir diante dos
chamados “erros de português”. Estamos colocando as expressão “erros de
português” entre aspas porque a consideramos inadequada e
preconceituosa. Erros de português são simplesmente diferenças entre
variedade da língua. Com frequência , essas diferenças se apresentam entre
a variedade usada no domínio do lar, onde predomina uma cultura de
oralidade, em relações permeadas pelo afeto e informalidade, [...] e cultura
de letramento, com a que é cultivada na escola.
Por meio dos princípios da pesquisa- ação, realizei o estudo buscando formas
para que pudesse intervir na problemática da escola, através de observações
e do estágio em sala de aula, tive a possibilidade de estar inserida dentro da
escola e poder analisar todo o contexto escolar, pude verificar que a
problemática mais evidente está na leitura e escrita dos alunos das séries finas
do Ensino Fundamental, o que seria inaceitável nas séries finais, pois a leitura
e a escrita são portas de acesso para que esses alunos sejam incluídos dentro
da sociedade. (p. 56).
Enquadre 3.2I
A oralidade é um aspecto fundamental da tradição cultural do povo Kalunga. Durante muitos séculos os
registros da trajetória histórica do povo Kalunga foram feitos por meio da oralidade, da memória
individual e coletiva que narravam suas práticas culturais, origem e identidade enquanto descendentes de
pessoas escravizadas. Cotidianamente nos deparamos com diversas práticas sociais que envolvem o uso
da língua com objetivos e contextos distintos que por meio da oralidade, leitura e escrita atribuem sentido
e significado diante dos saberes maternos e das informações que circulam em nosso meio social. A leitura
e a escrita fazem parte das estratégias de autonomia e de igualdade social para o povo Kalunga, tendo o
ensino escolar um forte aliado nas lutas por melhores condições de vida, mas que ao mesmo tempo vem
desestruturando as práticas de oralidade ao desconsiderá-las como fruto da cultura e tradições de nosso
povo – constituam-se em parte do letramento adquiridos pelos sujeitos Kalunga em diferentes e diversos
contextos, em detrimento dos saberes locais que estão sendo perdidos. Atualmente, percebemos que a
conscientização e o interesse por parte dos jovens quanto à importância da preservação da cultura
quilombola tem sido um desafio a ser cumprido, tendo em vista o crescente desinteresse pelas tradições e
identidade cultural da comunidade Kalunga, desse modo se faz necessário conscientizar os jovens e
moradores das comunidades quilombolas Kalunga, para que eles tenham interesse, na preservação da sua
cultura, não somente na escola como também na comunidade e na sociedade em geral sendo uma
autoafirmação de sua cultura e de sua identidade. De acordo com as diretrizes para a Educação Escolar
Quilombola (EEQ) os sistemas de ensino em terras quilombolas deveriam adotar uma postura didática em
conformidade com a valorização da cultura local, tendo como objetivo maior o fortalecimento dessa
cultura presente na vida dos alunos. Com isso, os professores deveriam utilizar em suas práticas
pedagógicas atividades múltiplas que englobem temáticas voltadas ao contexto histórico sociocultural da
comunidade. Tais como seus saberes autóctones, festividades, crenças, costumes e valores identitários
que são transmitidos via processos de oralidade. A abordagem dos letramentos, em consonância com a
tradição oral estabelecidos no âmbito sociocomunicativo do povo Kalunga, possibilita percebermos que
nenhuma ação comunicativa se dá em um processo individual, sem que haja uma dinamicidade de saberes
e sujeitos envolvidos, seja ele letrado ou não, todos fazem parte de um só processo de interação social.
Sendo assim, o sentido de letramentos na comunidade Kalunga se faz muito mais amplo e profundo, vai
além do que a escrita convencional pode descrever. A relação entre letramento, oralidade e saberes
tradicionais Kalunga e saberes acadêmicos se justifica pelo fato de tanto um quanto o outro, constitui-se
em um processo de letramento dinâmico, através de dinâmicas de socialização, em que os mesmos
abrangem, sob as mais diversas formas, todos os sujeitos e visam transmitir- lhes conhecimento, através
da vivencia, relações e experiências individuais, coletivas e sociais, de modo a possibilitar-lhes a interação
entre si e ao meio em que vive, e entre si e a sociedade em geral. A oralidade em seu núcleo constitutivo
configura-se como uma produção coletiva que a torna raiz central e patrimônio de todos, bem como uma
relação entre ação e reflexão de modo que suas práticas sociais de letramentos, simultaneamente são
seus saberes representados e autointerpretado no seu fazer. Assim, a socialização do conhecimento
enquanto tal (dos seus códigos, normas, regras, representações e signos) opera sobre os sujeitos
individualmente e socialmente na construção da identidade acerca de si próprio e de outros sujeitos. A
problemática desta pesquisa surge da realidade situacional quilombola acerca da falta de uma perspectiva
de ensino capaz de incluir o povo quilombola enquanto grupo social com especificidades próprias na
cultura, nas relações sociais, econômicas e educacionais. Como já mencionado, a Pesquisa em foco trata
da Oralidade e Letramento em uma Perspectiva de Inclusão Social do Povo Kalunga. Ao tratar da
Oralidade, letramentos múltiplos, compreensão de letramento em comunidades tradicionais,
contextualizando educação quilombola, pretende-se questionar de forma crítica e construtiva a realidade
atual, mas propondo um diálogo e reflexão acerca do papel do educador nas escolas quilombolas. Diante
do exposto, o objetivo principal é investigar as práticas de ensino na comunidade quilombola, propondo
aos educadores reflexão acerca do papel da escola em relação à cultural local, favorecendo assim que a
oralidade e os letramentos comuns desse grupo social sejam inseridos nas práticas de ensino. É comum
nas escolas atuais os discursos de contextualização do ensino, porém esta realidade na prática ainda é
muito distante, pois a maioria dos responsáveis pelo ensino nas salas de aulas ainda seguem o currículo
referencial na risca sem se preocupar com as especificidades de cada educando em seu contexto de vida
social, cultural e econômico. Desse modo, a educação não atende os requisitos de uma prática dialógica
do conhecimento, ou seja, o que é ensinado nas escolas não tem significados algum ao público atendido.
A pesquisa cujo tema geral: Oralidade e Letramento em uma Perspectiva de Inclusão Social do Povo
Kalunga terá como foco a compreensão sistemática e contextualizada, seja pelos autores apresentados,
como pelas considerações e argumentações expostas em cada subtema, para que se tenha plena
consciência crítica do que é proposto pelo objetivo geral e pelos específicos. Objetivos: Geral: Investigar e
analisar: Oralidade e Letramento em uma perspectiva de inclusão social do Povo Kalunga, da comunidade
Tinguizal. Específicos: a) Investigar como funcionam historicamente os processos de oralidade na
comunidade Tinguizal; b) Mapear e relacionar discursos representativos de letramentos tradicionais
Kalunga; c) Identificar que influências o contexto sociocultural exerce na comunidade e na escola; d)
Investigar em que medida a formação de professores contribui para o reconhecimento dos múltiplos
letramentos da comunidade e o fortalecimento dos mesmos. Portanto, este trabalho apresenta os
resultados de uma pesquisa que vem sendo realizada com a comunidade Tinguizal situada em Território
Quilombola Kalunga no município de Monte Alegre de Goiás (GO), mais precisamente com a comunidade
escolar da Escola Municipal Tinguizal, onde são investigadas, discutidas, analisadas e caracterizadas a
relação entre a cultura local, oralidade e as possibilidades de multiletramento que os sujeitos dessa
comunidade podem protagonizar.
Enquadre 3.2J
A Folia de São Sebastião no Povoado São José em Cavalcante – Goiás: uma experiência
em letramentos múltiplos, 2017. (M – GO)
Esta pesquisa tem como objetivo registrar os gêneros discursivos que circulam na folia de São Sebastião,
por meio da escrita e audiovisual. Tais registros apresentam e relatam a história e memória do Povoado
São José. Nós, da região do povoado São José, conceituamos folia como um grupo de pessoas que se
reúnem para visitar as casas das famílias em nome de um santo, fazendo os cantos religiosos e pedindo
uma esmola. Faz parte deste grupo o que chamamos de encarregado é o dono da folia e geralmente
também é o arfele, este é a pessoa que carrega a bandeira; têm o guia, pessoa que toca a viola; o caixeiro,
pessoa que toca a caixa; os outros foliões são os que batem o pandeiro; os bagageiros são as pessoas que
carregam os alimentos para fazer a comida para os foliões. O período em que a folia passa visitando as
casas é denominado de giro. Acrescenta-se a este Trabalho de Conclusão de Curso um documentário
audiovisual de dez minutos, produzido no giro da folia de São Sebastião em 2017. O interesse pela pesquisa
surgiu a partir da minha inserção na comunidade e da realização do estágio docente na Escola João de
Deus Coutinho - Extensão da Escola Estadual Kalunga I do Povoado São José. Durante esse período pude
perceber a falta de material didático na escola condizente com a realidade dos educandos. As minhas
efetivas participações nas manifestações culturais da região influenciaram nesta escolha, e também fui
participante na oficina de audiovisual “Como se faz um documentário?” que foi ministrada pela cineasta
Dácia Ibiapina da Silva e pelo professor W. D., realizado na Faculdade UnB/Planaltina-DF, em 2014.
Durante o curso, realizei algumas pesquisas de história, memória e identidade no povoado sob a
orientação da professora Regina C., responsável pela disciplina de Pesquisa, História e Memória do curso
da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), que foram fundamentais para que eu despertasse o meu
interesse nesse campo de pesquisa. Tive dificuldade em realizar algumas atividades por não haver
registros escritos e em audiovisual que relatassem a história da comunidade e suas manifestações
culturais tradicionais que acontecem durante todo ano em datas diferentes, como por exemplo: as folias
de São Sebastião, São José e Santo Reis e também uma festa denominada de “Reinado”. O reinado
também acontece em algumas comunidades quilombolas da região de Cavalcante de Goiás, assim como
as Novenas de São Sebastião (novena significa para nós rezarmos durante nove dias seguidos) e a reza em
homenagem a Nossa Senhora Aparecida, que abordaremos adiante. As novenas e a reza acontecem no
festejo na região vizinha chamada Araras (o festejo é um local onde tem uma pequena igreja, um barracão
comunitário, uma cozinha e vários barracos), o maior fluxo de pessoas acontecem em janeiro durante as
novenas de São Sebastião. Ao desenvolver os trabalhos da disciplina de Pesquisa, História e Memória
mediante entrevistas com moradores da comunidade, percebi a riqueza cultural que temos e a
importância de registrá-la, por esses motivos despertou-me a necessidade de fazer um registro da história
e da memória da minha comunidade, para o fortalecimento cultural da origem do povo quilombola. Em
razão disso, fiz registro dos gêneros discursivos que circulam na folia de São Sebastião colocando em
prática a linguagem escrita, linguagem oral e a linguagem audiovisual. Em uma perspectiva
interdisciplinar procurarmos aproximar os conhecimentos abordados nas aulas de Linguística da
linguagem do audiovisual, em um trabalho que tenta articular as diferentes linguagens. Para isso,
sistematizei o conhecimento adquirido nas disciplinas de Linguística, Pesquisa, História e Memória e
Audiovisual, que foram de suma importância para a realização desse trabalho. A escolha de incorporar a
este trabalho monográfico um documentário com os registros dos cantos da folia, as imagens do povoado,
e as entrevistas realizadas com alguns moradores justifica-se pela necessidade de fortalecer a cultura e a
identidade da comunidade, e assim evitar que ela se perca. Almejamos que este material sirva de base e
incentivo para futuras pesquisas, sejam elas para fins acadêmicos ou não, bem como material para os
futuros foliões que queiram aprender os cantos da folia e também sirva de material didático para a escola
da comunidade, por se tratar do registro de uma manifestação cultural da região na linguagem, escrita,
oral e audiovisual, fazendo com que os alunos conheçam e valorizem suas origens. Outro motivo que levou
a fazer o documentário é que pela linguagem audiovisual torna-se possível a leitura deste trabalho pelas
pessoas que não foram alfabetizadas, inclusive alguns foliões que dominam parcialmente a linguagem
escrita, mas conseguem aprender os cantos através da linguagem oral. Além disso, o audiovisual tem o
poder de proximidade com a realidade e acreditamos que ao assistirem o documentário as pessoas
possam sentir a emoção e refletirem sobre a mensagem que os cantos transmitem, bem como conhecer
sobre a história da folia de São Sebastião do povoado São José. Pois o documentário sobre a folia eu o
almejava há muito tempo, só não sabia como fazê-lo. A pesquisa está fundamentada em Marcuschi
(2008), Rojo (2009), Santoro (1989), Penafria (1999), Terra (2009), Nichols (2012), Sousa (2009), Araújo
(2014), Gil (2008), Bagno (2007), Nicolau et al. (2010), e outros. Antes de abordar a metodologia,
registramos primeiramente os objetivos e as perguntas exploratórias, elementos fundamentais para
nortear a nossa pesquisa. Assumimos como objetivo geral do trabalho o registro na forma escrita e em
audiovisual dos gêneros discursivos que circulam na cultura da folia de São Sebastião, gerando como
resultado da pesquisa um texto acadêmico e um documentário com os registros em audiovisual de
moradores da comunidade narrando o quanto essa manifestação cultural é importante para eles. Entendo
estes produtos como material pedagógico na escola da comunidade por ser um registro da cultura,
história, memória e identidade da região e um incentivo em trabalhar os letramentos multissemióticos na
sala de aula. A partir deste objetivo geral, traçamos como objetivos específicos a investigação do histórico
da comunidade Povoado São José, com os moradores anciões, por meio de entrevista oral e audiovisual,
bem como compreender a importância da folia de São Sebastião para os moradores da comunidade. Para
tanto, propomos perguntas exploratórias, utilizando um roteiro semiestruturado para nortear as
entrevistas, com três perguntas para conduzir a pesquisa, as mesmas encontram-se a seguir. O que as
pessoas revelam por meio de entrevistas e gravações audiovisuais sobre a memória da comunidade
Povoado São José e regiões vizinhas? 2. Quais são os gêneros discursivos que circulam na folia de São
Sebastião? 3. Qual a importância a comunidade atribui à folia de São Sebastião, em relação à cultura, à
identidade e à memória histórica? É importante ressaltar que este trabalho de conclusão de curso tem
relação direta com minha trajetória pessoal e acadêmica. Quando iniciei o curso de Licenciatura em
Educação do Campo, o curso oferecia duas áreas de conhecimentos: Linguagens (Língua portuguesa, Artes
e Sociedade, Teatro e Sociedade, Literatura Audiovisual e Espanhol Instrumental), e a área de Ciências da
Natureza e Matemática (Química, Física, Biologia e Matemática). Escolhi a área de Linguagens por me
identificar com as disciplinas que seriam ministradas. Esse curso mudou muito a minha vida e o meu modo
de pensar e ver o mundo, sobretudo, na 2º etapa da turma em que meus colegas me escolheram como
coordenadora da turma. Eu era uma pessoa muito tímida e conduzir o processo de organicidade da turma
foi um desafio muito grande para mim e também muito importante para a minha formação. Além disso,
participei de todos os setores de trabalhos propostos pela organicidade do curso. Eu sempre encarei os
desafios que me foram postos com muita garra, os que surgiram durante o curso e na minha vida em
geral. A disciplina de Teatro e Sociedade da LEdoC contribuiu muito nesse sentido, pois trabalhamos o
Teatro do Oprimido que me fez perder o medo de me expressar nos diversos espaços de debates e nos
relacionamentos do dia a dia. Durante o curso, tive oportunidade de participar de vários projetos de
extensão coordenados pelos meus professores. Em 2013, comecei a participar e, ainda, participo do
Coletivo Terra em Cena, Programa de Extensão da FUP/UnB que promove uma ação articulada entre as
dimensões do ensino, extensão e pesquisa, no âmbito da linguagem teatral e audiovisual em comunidades
de acampamento, assentamento e no território quilombola dos Kalunga. Também fui bolsista da Capes
no período de abril a setembro de 2017 no Projeto Diálogos e Saberes Interculturais Brasil-Suriname,
modalidade graduação sanduíche entre Universidade de Brasília e a Universidade Anton de Kom –
Suriname. O objetivo do intercâmbio era propor ações de aproximação acadêmica entre as duas
instituições em ações de ensino, pesquisa e extensão nas seguintes áreas temáticas: estudo e valorização
das especificidades socioculturais e linguísticas de povos indígenas e quilombolas; e difusão do
conhecimento da História e Cultura Indígena e Afro – Brasileira, num contexto de cooperação internacional
solidária. Eu e mais dois colegas fomos os primeiros estudantes do Brasil a realizar um intercâmbio no
Suriname, sendo que fui uma das primeiras intercambistas da Licenciatura em Educação do Campo do
Brasil. Creio que foi um momento histórico para a UnB, LEdoC e para a Universidade Anton de Kom em
Suriname, e sem contar para mim e minha família. Fui bolsista do CNPq na modalidade ITI - Iniciação
Tecnológica e Industrial no período de agosto 2015 a fevereiro de 2017, atuando no Projeto Residência
Agrária Jovem – Chamada MCTI/MDA-INCRA/CNPq N° 19/2014 – Fortalecimento da Juventude Rural na
ação “Educação do Campo e Juventude Rural: Formação profissional e social a partir das matrizes
formativas, associativas, cooperativas, artístico-cultural e da comunicação no campo”. Nesse projeto,
participei como membro da coordenação pedagógica, na qual planejávamos coletivamente as atividades
desenvolvidas nos quatro núcleos territoriais que o projeto atendia: NT – Planaltina, NT- Nordeste Goiano,
NT – DF Sul e o NT – Kalunga, no qual atuei como uma das coordenadoras. Minha atuação envolvia a
condução de algumas oficinas, a escrita de capítulo de livros, a construção do projeto de intervenção
juntamente 17 com a coordenadora S. e os jovens em formação. Fui uma das que coordenou o processo
de formação em audiovisual para os jovens em formação dos núcleos territoriais. As oficinas foram
ministradas pelo professor F. C., e foram de suma importância para a produção e a edição dos dois
documentários propostos pelo projeto. Posso afirmar que a Licenciatura em Educação do Campo mudou
completamente a minha vida, me deu a oportunidade de ir além da formação em sala de aula, sendo que
pude contribuir com a minha comunidade e com a região em que moro, me inserindo como membros das
associações locais, contribuindo na organização e tomada de decisões. Estou muito feliz de ter feito a
LEdoC. Voltando à organização deste trabalho, além da introdução, apêndice I e II e as considerações
finais, a monografia está estruturada em três capítulos: o primeiro faz uma abordagem do processo
metodológico utilizado para a pesquisa, sendo ela de cunho qualitativo numa concepção etnográfica, e
ainda apresenta os instrumentos de geração de dados, colaboradores e o contexto da pesquisa. No
segundo capítulo, explanamos os conceitos fundamentais do referencial teórico desta pesquisa
monográfica, tais como letramentos múltiplos, letramentos multissemióticos, gêneros discursivos,
gêneros da oralidade, variação linguística e seus níveis de variação, audiovisual, produção de vídeos e
documentários. Finalizando o trabalho, no terceiro capítulo, analisamos as diferentes linguagens dos
letramentos múltiplos e saberes da oralidade a partir da folia de São Sebastião, evidenciando as diferentes
práticas das linguagens.
A forma como M. dá corpo aos gêneros discursivos folias, tratados por ela na
monografia e no documentário é muito dinâmica, plástica e cheia de dialogicidade
(BAKHTIN, 2003). Essa dialogicidade nos direciona para os letramentos múltiplos (ROJO,
2009, SOUSA et al. , 2016), aqui, interpretado de uma maneira bastante abrangente, no
sentido, de unir as diferentes nomenclaturas dadas aos letramentos: acadêmico,
científico, multissemiótico, etc., os quais são realizados no trabalho de conclusão de
curso, dividido no gênero monografia e documentário, em que ela revela os gêneros
discursivos que circulam na folia de São Sebastião, que ocorre no mês de janeiro. Alguns
são: cantos, rezas, promessas, novenas, memória, bendito de mesa.
Boa tarde professora R... vou tentar fazer um resumo do que estou fazendo e como está sendo a minha
vida pós a LEdoC...então..o que eu estou fazendo com a minha pesquisa..né..como você sabe foi produzido
um trabalho escrito e um documentário...esse documentário...ele tem sido utilizado em... esse
documentário...eu tenho apresentado em vários espaços de formação...inclusive nas aulas de práticas
pedagógicas com o professor R.F...que é um professor da LEdoC...assim...foi a minha primeira
apresentação depois do retorno que eu apresentei para a comunidade...um convite...apresentei para a
turma...fiz um debate..né...Ele foi apresentado nos espaços culturais...na primeira mostra de teatro...que
foi a Mostra Afrocena que aconteceu em julho de 2018...aqui em Cavalcante...Eu falei um pouquinho da
importância porque eu fiz a pesquisa e produzi um documentário../.../que o objetivo é fortalecer a cultura
e incentivar os mais jovens a participarem do evento...o documentário foi apresentado também no
seminário de Tempo Comunidade no mês de setembro que aconteceu em Cavalcante..Isso na noite
cultural...Ele foi apresentado na Semana Universitária na Amostra do Terra em Cena..Mostra de Vídeo..eu
não me lembro do dia...mas foi no espaço da amostra..né... eu apresentei ele na sexta semana Camponesa
do PADEF...[...] me convidaram para apresentar e estar fazendo um debate...com a turma do EJA
especialmente..foi um convite da professora A. I...[...] parceira da LEdoC e...Assim foi muito
importante...porque eles têm essa cultura da Folia...Eles ficaram comparando...foi muito importante o
debate...curiosidade deles de saber como é organizada...e tal...Foi um pouco disso do documentário..E o
que tem mais sido apresentando assim...Eu também falo da parte escrita da pesquisa...É claro que eu
comento...mas como a linguagem áudio-visual é bem mais prática...as pessoas preferem assistir o
documentário a ler a pesquisa...só mesmo quem é estudante...quem é professor...que tem mais
curiosidade de ler a pesquisa...E assim a minha pesquisa escrita...ela foi citada ...que eu sei...por duas
estudantes da LEdoC.[...]. Inclusive orientadas do professor F.C...uma é de minha comunidade e a outra é
de Flores...o trabalho tem contribuído muito na formação... e como fortalecimento da cultura local
[...].Depois que eu terminei o TCC. Já iniciei logo a Especialização...que eu fiz o processo seletivo e eu fui
aprovada antes de defender o TCC...graças a Deus eu tive a oportunidade de continuar...dar a
sequência...que é uma Especialização feita pelo grupo SOLEDUC que é um grupo de pesquisa na área de
sociolinguística e letramento...e eu pretendo... utilizar a minha pesquisa de TCC na produção de material
didático[...].Eu quero fazer um cartilha com os cantos da folia e quero incluir as rezas fazer um
documentário e a parte escrita das rezas dos festejos de São Sebastião...né...porque é um novena que
tem...tem as rezas...tem a folia todos os dias...do dia 11 ao dia 19 de janeiro..então eu quero registrar essa
cultura....muitas das pessoas mais velhas já se foram...e assim a gente não tem o registro
delas..rezando..deles repassando...eu já conversei com algumas pessoas para a gente fazer as oficinas de
reza...as rezadeiras...elas toparam...então..eu tenho como objetivo fazer esse registro das rezas e
principalmente dar continuidade dessa minha pesquisa de conclusão de curso... como material
didático...vejo assim como algo muito importante para a comunidade. Então é isso.
O destaque da entrevista de M. é como ela tem divulgado sua pesquisa em
diferentes locais e eventos, utilizando o documentário que faz parte do seu trabalho de
conclusão de curso, além da monografia. Isso demonstra a praticidade da linguagem
audiovisual, a qual atinge quem não é alfabetizado, como muitas pessoas das
comunidades quilombolas.
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