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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CEDERJ – Licenciatura em História

DISCIPLINA: Historiografia do Brasil II – 2020.2

Nome: Leonardo Dangelo


Matrícula: 16216090149
Polo: Duque de Caxias

Avaliação à Distância 1 – AD1

Resenha crítica do artigo intitulado "Luzes a quem está nas trevas: a linguagem
política radical nos primórdios do Império" de Marcelo Basile.

O artigo indicado para resenha possui quarenta páginas, foi publicado


sob autoria de Marcelo Basile, no ano de 2001 no periódico Topoi. Revista de
História. Seu objetivo principal é discutir as linguagens políticas, como
instrumento de análise para os projetos políticos ocorridos no Brasil no período
da primeira metade do século XIX. Nesta época, mais precisamente no final do
Primeiro Reinado, houve a formação de um grupo de liberais denominados
liberais exaltados cuja obra envolvida na análise foi uma série de cento e oito
conceitos publicados no jornal Nova Luz Brasileira. Todos estes conceitos
tinham significado político, no sentido liberal.

A temática está centrada na área das histórias das ideias, cujo campo é
brevemente descrito, possibilitando uma interessante introdução ao assunto em
questão. Conforme Basile, este campo de estudo vêm sofrendo modificações
significativas nas últimas três décadas (leiam-se cinco, pois já se passaram
quase vinte anos desde a publicação do artigo) e podemos dizer que,
metodologicamente, divide-se em dois. A primeira, ligada à uma “escola” mais
tradicional e a segunda, onde o artigo de Basile se insere conforme trabalhos
de John Pocock e Quentin Skinner, dois importantes historiadores.

Seguindo os conceitos e métodos desta segunda forma de abordagem,


o autor do artigo traça o processo histórico que levou à constituição do dito
grupo liberal exaltado no bojo das mudanças ocorridas nos últimos anos do
Primeiro Reinado no Brasil. Seu estudo foi realizado com atenção a um tema,
praticamente ignorado pela perspectiva tradicional, que é a linguagem política.
Outros temas podem ser elencados neste rol de temas ignorados, segundo o
próprio texto de Basile, como recursos de argumentação, apropriação de ideias
e mecanismos de mediação.

De acordo com o autor, a crise política desenrolada na primeira metade


do séc. XIX foi o pano de fundo para o surgimento dos liberais exaltados.
Entretanto, antes mesmo da formação deste grupo, havia um movimento
português responsável por divulgar as ideias liberais, por ocasião de um
grande crescimento de jornais e panfletos circulando no Brasil e em Portugal.
As discussões foram, então, sustentadas por um novo discurso (liberal) e
novas questões como o constitucionalismo monárquico, direitos do cidadão e
divisão de poderes. As características da linguagem inseridas neste momento
histórico e analisadas no artigo de Basile, evidenciam sua condição de
pertencimento ao grupo de estudos que buscam, segundo Carvalho (2000)
“descobrir e caracterizar linguagens particulares, como a da ideologia de
Estado.”

Focando no contexto, em termos de modo de produção de linguagem, o


autor expõe que o grupo de liberais atuantes (moderados), antes do
aparecimento do grupo dos exaltados, ainda defendia uma certa manutenção
do status monárquico sem aderir aos princípios mais enérgicos do liberalismo
francês e americano. Uma linguagem liberal mais radical surge, exatamente,
com o grupo exaltado defendendo medidas mais drásticas do ponto de vista
liberal, a partir da utilização da imprensa, ainda antes da queda do Imperador
D. Pedro I.

O jornal Nova Luz Brasileira (1929-1931), instrumento empregado na


disseminação dos conceitos liberais, como elemento central na estratégia dos
exaltados foi o documento central de análise do artigo em questão. Buscar a
linguagem historicamente construída e transmitida ao longo de períodos
históricos é uma maneira explicita de trabalho do estilo de novas abordagens
das história das ideias.

A linha argumentativa que Basile percorre segue no intuito de expor


como este documento foi importante para a disseminação de conceitos e ideias
liberais que pautaram debates posteriores. Isto foi claramente descrito na
medida em que são manifestas as diferenças entre os moderados e os
exaltados e considerada a divulgação dos conceitos liberais no jornal Nova Luz
Brasileira. Diferindo da abordagem tradicional, a argumentação de Basile não
cai em um mero determinismo contextual. É necessário analisar a construção
desta linguagem atrelada ao interesse dos exaltados.

A despeito da falta de homogeneidade dos exaltados e do rompimento


da aliança liberal, por ocasião da subida destes ao poder, a Nova Luz Brasileira
foi produzido sob quarenta e nove edições e seus cento e oitenta números
regulares. Basile afirma que esta estratégia tinha por objetivo alcançar, e
promover a formação liberal, até dos não alfabetizados, devido à forte
característica de oralidade daquela sociedade. Esta busca de entendimento de
como as inovações da linguagem atingem as pessoas é fundamental para
compreender o projeto político em curso.

Basile destaca inúmeros conceitos da Nova Luz Brasileira, sempre


confrontando-os com o comportamento e intenções dos exaltados e
destacando suas peculiaridades. O ponto importante das análises produzidas
destes conceitos é como se estruturaram perante o momento político e suas
aspirações. Procurando examinar a organização dos conceitos, foram
identificados os princípios de, por exemplo, constitucionalismo,
representatividade e pacto social. Alguns conceitos foram escritos de maneira
dúbia pra driblar a repressão do governo, podendo parecer óbvios, atualmente,
se não contextualizados e problematizados.

Por fim, o artigo de Basile traça um panorama do dicionário doutrinário


da Nova Luz Brasileira com seus mais de uma centena de conceitos,
construindo sua análise na identificação da linguagem dos exaltados. Esta
metodologia foi fundamental para revelar o esforço dos exaltados na tentativa
de formação política liberal do cidadão. Diante do aqui exposto, conclui-se que
Basile, adepto de um estudo com ênfase no contexto e não no pensador,
conforme a abordagem tradicional, consegue demonstrar de maneira clara que
a linguagem desenvolvida pelos exaltados permite um entendimento da
identidade política do grupo.

REFERÊNCIAS

BASILE, Marcello. Luzes a quem está nas trevas: a linguagem política radical
nos primórdios do Império. Topoi: Revista de história, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3,
p. 91-130, 2001.

CARVALHO, José Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como


chave de leitura. Topoi: Revista de história, Rio de Janeiro: 7 Letras, n. 1, p.
123-152, 2000.

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