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Atividade: Resenha crítica do texto ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios no
tempo da corte: reflexões sobre política indigenista e cultura política indígena no Rio de
Janeiro oitocentista. Revista USP, São Paulo, n.79, p. 94-105, setembro/novembro 2008.
O presente texto foco desta atividade trata-se de uma obra que discute a situação da política
indigenista no Rio de Janeiro durante os oitocentos. A autora estruturou sua obra fazendo uma
introdução com um trecho da Carta Régia de 1º de abril de 1809 (REFERÊNCIA) já para
trazer uma ideia de qual era o discurso oficial, na palavras do príncipe regente, D. João VI.
Esta estratégia proporcionou uma discussão já a partir de uma fonte oficial do período em
questão. O objetivo de tal obra é de refletir sobre estas políticas, procurando perceber
possíveis influências da presença da corte sobe elas, segundo a própria autora.
Pensar, hoje, que o tratamento oferecido aos indígenas em um território tão vasto como este
fosse homogêneo, seria ingenuidade. Ele diferia conforme as diferenças regionais de cada
ajuntamento dos indígenas. Como pode-se notar pelo trecho da referida Carta Régia, a política
indigenista da Coroa portuguesa era ambivalente, ou seja, havia duas formas, gerais de
tratamento. Apesar de alguns disfrutarem de certos benefícios, outros eram mortos em
guerras, principalmente em torno de suas terras.
Outro ponto importante a se pensar nesta questão é a forma como os indígenas produziam
seus acordos com o “outro”, sendo ele um nativo destas terras ou um europeu. Segundo
Almeida, nos oitocentos, os indígenas já tinham ampliado sua cultura de acordos para com as
autoridades e, até mesmo, o rei, que não se furtava do contato, como poderia se esperar, em
um primeiro momento. Este ponto é bem abordado no texto, onde a autora discorre acerca das
estratégias diferenciadas, dando exemplo de resoluções dadas pelo rei ao ser interpelado por
indígena provindo de uma aldeia no Piauí.
Mesmo com leis, o que a Coroa aspirava era assimilar os índios ao Império português
(Diretório dos Índios – 1757), o que vai além da assimilação religiosa, já constante desde a
carta de Pero Vaz de Caminha em 1500 (CORTESÃO, 1994) e passa, também pela
mestiçagem com casamentos mistos entre índios e portugueses, conforme concorda Moreira
(2015).
Apesar de findo o Diretório dos Índios, a política não se alterou substancialmente, com os
índios procurando proteção no governo. De maneira a buscar sua sobrevivência e a não
extinção, os índios se amparavam em alianças fiéis que garantiam terras, tratamento brando,
outros auxílios e proteção em geral. A contrapartida esperada pelos portugueses foi
exatamente assegurar suas fronteiras e obter mão de obra, sendo zelosos no serviço ao
monarca português. O texto dá alguns exemplos sobre esta relação, mas não indica quais
“tribos” eram as chamadas de índios bravos. Almeida afirma que esta relação não assim tão
amistosa na diversidade de territórios e na linha do tempo, com muitas reivindicações pelas
terras dadas aos índios em algumas localidades.
Almeida utiliza uma fonte (MALHEIROS, 2007) como estratégia para ilustrar os conflitos
existentes entre os índios que se sentiam injustiçados e o governo. Neste ponto, sua fonte cita
passagem que mostra esta relação, com os índios indignados com a invasão de suas terras e
ameaçando trocar de soberano, caso o governo não os acuda, estratégia elaborada pelos padres
em diversas localidades do Brasil.
Como bem interpreta Almeida, não é possível entender os índios como ignorantes e inocentes,
pois, apesar dos pesares, eles também agiam com interesses próprios. A rede de sociabilidade
criada por eles era extensa, como bem aponta o texto, indo de batismo e permanências nas
fazendas a caciques com padrinhos proprietários de terras e escravos. A autora ainda utiliza
Lemos para salientar a complexidade da questão e os ambíguos e contraditórios interesses dos
diferentes atores envolvidos.
Por fim, apesar da Provisão Régia de D. João VI, dando ganho de causa aos índios, sua
situação não foi muito melhor, e podemos concluir, conforme a autora e corroborado por
Sposito (2009), que eles foram os grandes perdedores deste processo. As aldeias foram sendo
extintas, principalmente após a chegada da família real.
Como considerações finais, Almeida aponta que, apesar da chegada da corte ter
proporcionado um contato com os índios, em que eles puderam reivindicar diretamente seus
direitos ao rei, não houve uma melhora em suas vidas. A extinção de suas terras coletivas e
aldeias foi um fenômeno que perpassou o que se entendeu como “guerra justa”, decretada
pelo próprio príncipe regente com fins à política assimilacionista. A citação feita à Carta
Régia, no início do trabalho, já dava indícios deste tipo de tratamento na política indigenista
adotada no Rio de Janeiro nos oitocentos.
REFERÊNCIAS:
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Territorialidade, casamentos mistos e política entre índios e
portugueses. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 35, n. 70, p. 17-39, 2015.
SPOSITO, Fernanda. As guerras justas na crise do antigo regime português análise da política
indigenista de D. João VI. Revista de História, n. 161, p. 85-112, 2009.