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“Terreno Proibido”: Conquista, Contrabando, e Resistência Indígena em Minas

Gerais, Brasil, de 1760 a 1808.

por Hal Langfur

da Universidade do Texas

Preparado para ser distribuído no encontro da Associação de Estudos Latino-


Americanos de 1998 pela Palmer... (etc.).

Como em outras regiões ao sul da bacia amazônica, os índios brasileiros todos,


simplesmente desaparecem dos relatos da história de Minas Gerais no momento em
que não se prestam mais para servir como pano de fundo das expedições dos
bandeirantes, caçadores de escravos que os buscavam implacavelmente antes das
descobertas de ouro do século dezessete e começo do século dezoito. (1). A corrida
do ouro daí decorrente em Minas Gerais, que dependia da mão-de-obra dos índios
antes de serem substituídos por escravos africanos, e que culminou com a destruição
definitiva de muitos grupos, se desdobra em relatos históricos inteiramente
destituídos da presença de povos indígenas. (2) Por volta da terceira década do século
dezoito, como registra recentemente um historiador que procura montar uma hipótese
geral que dê conta desta lacuna acadêmica, os caçadores de ouro já tinham penetrado
praticamente a totalidade das florestas e sertões, expulsando e/ou dizimando a maior
parte da população indígena” de Minas Gerais. (3) Combine-se esta afirmação com
um desvio acadêmico focado no eixo da opulência da economia do ouro, acrescente-
se a presença avassaladora da Inconfidência Mineira, e a ausência dos índios, e o
resto torna-se compreensível, se não, menos enganoso.

Os habitantes da Minas Gerais colonial que migraram para o oeste, sul, e leste
partindo do núcleo urbano de mineração do ouro, à medida que o declínio que se
seguiu à corrida do ouro tornou-se mais pronunciado, depois da metade do século 18
tinham outra visão. Para sua grande decepção, eles sabiam que os índios de fato
tinham sobrevivido no sertão, muito embora não estivessem fadados a fazê-lo como é
ressaltado em monografias históricas posteriores. A oeste do Rio São Francisco,
através da fértil região que se transformaria no Triângulo Mineiro, os caiapós se
espalhavam livremente, formando uma barreira ao povoamento lusófono mesmo
dentro do século XIX. Um funcionário descreveu em 1807 essa área entre Minas
Gerais e Goiás, dizendo que compreendia “os sertões despovoados, habitados
unicamente pelos caiapós, selvagens ferozes que causavam grande dano aos viajantes
que passam por aquelas terras” (4). Ao sul e sudoeste do distrito minerador, viviam
os coropós e coroados. Perseguidos pelos bandeirantes durante o século dezessete,
lutavam para manter suas terras nativas fazendo oposição aos colonizadores ao longo
da maior parte da segunda metade do século dezoito. (5).

Mas era especialmente no sertão à leste que os índios continuavam a se impor sem
contestação. Os puris mantinham resolutamente os limites ao sul da floresta tropical e
subtropical que separa Minas Gerais da costa atlântica. Seu domínio estendia-se do
Rio Paraíba às Montanhas da Mantiqueira até às margens superiores do Rio Doce.
Os maxacalis (incluindo os subgrupos macuní, cumanaxó, capoxó, panhame, e
monoxó) e os camacã, habitavam as colinas cobertas de florestas que dividem Minas
Gerais do litoral da Bahia, incluindo partes dos vales dos rios Pardo, Jequitinhonha, e
Mucuri. Entre e sobrepondo-se à essas zonas, os pataxós e malalí ocupavam terras
que iam dos vales dos Rio Pardo aos vales do Rio Doce. (6) E sobretudo, cobiçando o
território destes e de outros grupos, dominando uma vasta extensão de terreno
montanhoso cobrindo cerca de 7200 quilômetros quadrados do Rio Pomba ao norte
do Rio Pardo e além, os aimorés ou botocudos, que ficaram cada vez mais
conhecidos depois da metade do século dezoito, bloqueavam o povoament e a
exploração de novos depósitos de ouro e diamante.

Os portugueses empregavam o nome Botocudo para designar de modo genérico uma


série de grupos que se acreditava, sem dúvida erroneamente em certos casos, serem
os descendentes comuns dos aimoré, nativos do interior que durante dois séculos
atacaram povoações costeiras em Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo antes de
procurarem refúgio dos portugueses embrenhando-se cada vez mais no interior. Esses
grupos geralmente (mas nem sempre, porque os portugueses às vezes os
classificavam com imprecisão) falavam a mesma linguagem, Macro-Gê, ou um de
seus dialetos (dos quais os estudiosos reconhecem agora mais de trinta). Por vezes,
grupos inteiramente distintos como os pataxós, os maxacalis, e os macunis foram
agrupados como sendo botocudos, muito embora estudos históricos subsequentes
tenham provado que são distintos. Que o nome botocudo, conquanto ainda
empregado pelos antropólogos – como é o caso aqui, já que as fontes coloniais
deixam ao historiador pouca escolha – tinham uma base etimológica limitada parece
claro a partir da sua origem: deriva de botoque ou batoque, palavra portuguesa para
peça arredondada de madeira, pedra ou concha, usada como enfeite pelos botocudos,
parecida com os discos de madeira que diversos, se não todos, os índios usavam,
introduzindo-a nos lobos das orelhas e lábios inferiores. (7) Em geral, quando os
colonizadores usavam o termo botocudo, referiam-se especificamente apenas à
qualquer um dos numerosos grupos nômades ao leste do sertão, que recusavam-se a
submeter-se à dominação portuguesa. Botocudo, em outras palavras, era sinônimo de
inimigo. (8)

O botocudo transformou-se na grande vingança dos colonizadores de Minas


interessados em descobrir novas terras e fontes de riqueza as quais esperavam de iria
restaurar duas fortunas pessoais em decadência ou simplesmente prover-lhes à
própria subsistência. À medida que os colonizadores tanto ricos quanto pobres
avançavam para novas áreas na corrida do ouro, invadiam terras controladas pelos
botocudos e outros grupos, provocando confrontos violentos e até guerra total.
Convencidos de que essas terras devolveriam à capitan ia sua prosperidade e
proeminência anteriores, os funcionários do governo, estavam unanimemente
determinados a neutralizar a resistência dos botocudos. No exemplo mais dramático
da agressão portuguesa, que se seguiu à chegada no Rio de Janeiro da corte real
fugindo da invasão de Portugal pelos exércitos de Napoleão, o Principe Regente Dom
João declarou guerra aberta aos botocudos em 13 de maio de 1808. Ao fazê-lo, ele
proclamou que a política da coroa era a de “guerra ofensiva”, e deu sanção oficial ao
massacre e escravização dos botocudos.

Em contraste gritante com relatos convencionais, no entanto, a guerra contra os


botocudos em Minas Gerais começou meio século mais tarde. Virtualmente, todo
governador de capitania, começando com Luís Diogo Lobo da Silva (1763-8) seguiu
uma política violenta de conquista dos índios, apesar de que nenhum deles dispunha
dos recursos necessários ou possuísse a imparcialidade imperturbável do príncipe.
Em outra pesquisa eu descrevo a história da conquista violenta e prolongada e a
resposta indígena. Aqui, minha preocupação é reexaminar o conflito de fronteira em
Minas Gerais em função do reconhecimento de que a guerra contra os índios
começou na metade do século dezoito e não no princípio do século dezenove.
Procuro definir a conformação geográfica, e mais ainda, quais as razões que levaram
à dominação dos índios ao leste do sertão e examinar a maneira com que o
governador Silva chamou a si a política da coroa quanto aos índios brasileiros
estabelecidos nas aldeias, tomando-a como base para a feitura de leis que
possibilitassem a conquista desta fronteira que então estava se ampliando.

Mais especificamente, quero propor a presença de uma mentalidade cambiante, de


um contexto conceitual fluido, de um concurso ideológico e cultural dentro do qual as
posições irreconciliáveis relativas ao significado do leste do sertão dirigiam-se para a
o predomínio, e para as quais os fins mutuamente divergentes da política da coroa
mostraram ser adaptáveis à universalidade. Antes da conquista tornar-se legítima, a
política que proibia a atividade dos colonizadores do leste do sertão tinha que ser
desafiada. Assim foi feito com a política da monarquia portuguesa então existente
para os indígenas – sua posição oficial de paternalismo benevolente aplicava-se
especialmente aos índios estabelecidos em aldeias. O próprio espaço geográfico tinha
de ser reconstituído culturalmente, o sertão transformado de uma selva primitiva em
uma fronteira atraente, de uma barreira geográfica que providencialmente barrava a
passagem dos contrabandistas de ouro e diamante em uma cornucópia fértil,
carregada de ouro, um Éden ou Eldorado, com promessa de sustentação e de riquezas
àqueles que ousassem apossar-se dele. Esta transformação, tal como a conquista que
ela engendrou, ocorreu intermitentemente, com a noção de fronteira fecunda presente
já em 1760 e a noção de fronteira defensiva continuando a persistir até a primeira
década do século XIX.

Com o transcorrer dos acontecimentos, é claro, estas mudanças pareciam muito


diferentes a partir da perspectiva do índio. Existe muita confirmação sobre o fato de
que os nativos tiraram partido das proibições da coroa sobre o povoamento
desordenado e, de modo mais geral, das contradições da política da coroa e da
capitania. Resistiram à invasão da periferia dos seus domínios; simultaneamente,
criaram refúgio para si mesmos em territórios cada vez mais remotos, por muito
inseguro que esse refúgio possa ter sido. Em ambos os casos, lutaram para prolongar
sua própria sobrevivência e o fizeram com notável sucesso – mas também com um
custo alto em terras e vidas.

*****

No rude e verdejante sertão separando o núcleo urbano de Minas Gerais da costa


atlântica, a colonização estacou e os índios, especialmente os nômadas, puris,
botocudos e pataxós, permaneceram dominantes ao longo da segunda metade do
século dezoito. Em parte, sua presença persistente foi resultado da política da coroa.
Logo depois das primeiras descobertas de riqueza mineral em 1690, a coroa isolou o
leste do sertão para prevenir o contrabando de ouro e diamantes para barcos
mercantis, que escapavam da pesada taxação da coroa. Pelo menos em teoria, o
comércio e outros tráfegos por terra entre a capitania e a costa ficaram restritos a
somente três estradas patrulhadas por soldados: uma indo para o sul para São Paulo:
um, a assim chamada Caminho Novo, para o sudeste em direção ao Rio de Janeiro; e
uma indo para o norte, para a Bahia e Pernambuco. A topografia ditava em lara
medida a localização dessas rotas. Tentativas de penetrar o sertão em outros pontos,
particularmente por meio da rota mais direta atravessando o Espirito Santo a partir da
costa atlântica, mostraram ser impraticáveis por causa da inacessibilidade das
montanhas, a vastidão das florestas, a falta de rios facilmente navegáveis, e a
ausência – tirando o medo que tinham dos índios hostis – de colonizadores para
armarem expedições. Este é, em todo o caso, o modo como um dos contemporâneos
descreveu o problema do acesso às minas na virada do século dezoito. (10) Mas a
determinação da coroa em controlar o contrabando, monitorar o fluxo do ouro que
saía das minas, recolher a quinta parte da coroa sobre a produção do ouro, e impostos
sobre importações (incluindo os escravos) e sobre as exportações significavam que as
barreiras naturais rapidamente se transformavam em proibições legais. (11)

Exatamente porque a descoberta de ouro determinou quais regiões da capitania se


tornariam densamente povoadas, a ausência de descobertas deixou outras áreas
totalmente intocadas pelos colonos, pois a exploração inicial fracassou na descoberta
de riqueza mineral acessível. Como o padrão de colonização tomou forma nas águas
da corrida do ouro, a coroa voltou-se para uma política de proibir acesso às zonas
não ocupadas com o fim de impedir a prospecção sem supervisão e portanto, sem
taxação, e de refrear o fluxo do contrabando. As zonas desocupadas que cercavam o
núcleo minerador urbano passaram a ser conhecidas como “Áreas Proibidas”, uma
designação usada mais frequentemente em referência aos limites do sul e sudeste da
capitania, onde as rotas muito viajadas para o Rio de Janeiro e São Paulo e a pressão
constante dos colonizadores para abrir novas terras provocavam restrições ao
movimento imperativo em vista de uma coroa propensa à vigilância. Mas era ao leste
e nordeste, território inóspito coberto por densas florestas, onde a conexão entre a
proibição sobre a presença de colonos, por um lado, e a presença e resistência dos
índios, do outro, que ela era mais fortemente sentida. Este “sertão de áreas ao leste”,
explicou o Governador Luís da Cunha Menezes, futuro conde de Lumiares (1783-88),
tinha sido isolado e considerado como “Terras Proibidas com a idéia de que os
citados sertões servem como barreira natural que protege esta capitania contra o
contrabando.” (12)

A suscetibilidade desse sertão verdejante à qualquer quantidade de atividades ~sem


supervisão incompatíveis com os ditames da supervisão colonial estrita significava
que a região estava entre as primeiras a serem isoladas depois que o ouro surgisse.
Em 1700, como as notícias da descoberta do ouro se espalharam rapidamente, a
construção de uma estrada ligando as minas à costa do Espírito Santo teve início e
depois, dois anos mais tarde, foi abruptamente interrompida por ordens da coroa. De
certo ponto de vista, a construção da estrada fazia sentido. Com a promessa de ser a
rota mais direta para as minas, atravessando uma distância de meros 240 quilômetros,
a estrada podia ter servido de único acesso a e de regresso das minas, todo o tráfego
sendo monitorado uma vez que passava pelo escoadouro fortificado, o porto de Vila
Nova do Espírito Santo (Vitória). Mas a visão oposta, que prevaleceu no final, foi a
de que abrir um acesso a mais para as minas tornaria a supervisão de todas as rotas
mais difícil. (13). Que a coroa tinha alguma dificuldade em fazer parar o que tinha
começado é natural: com relação ao fluxo de ouro de Minas Gerais para a costa, o
governador do Espírito Santo foi forçado em 1710 a reafirmar a suspensão de toda a
exploração ou construção de estrada na região. (14) Foi só após passar um século
inteiro, mais tarde, que a coroa mudou de posição e finalmente permitiu a construção
de uma série de estradas cortando através do leste do sertão em direção à costa,
incluindo uma rota descendente para a bacia do Rio Doce, passando por Vila Rica até
Vitória no coração do território indígena. (15) Durante este período, proibições
similares foram estendidas ao resto da capitania. Um decreto de 1733, reconfirmado
em 1750, proibia a abertura de novas estradas para as minas partindo de qualquer
direção, não só para o leste, punindo como contrabandistas aqueles que ignorassem
a ordem ou viajassem por estradas não autorizadas. Os transgressores tinham suas
posses confiscadas com presunção de contrabando e as mesmas eram divididas de
modo igual entre o tesouro real e quaisquer informantes cuja colaboração tivesse
levado a efetuar o arresto. (16)

O perímetro de um território tão vasto como o leste do sertão era impossível de


patrulhar, mas as autoridades coloniais fizeram o que puderam para aplicar a
proibição. Em 1761, por exemplo, Gomes Freire de Andrada, o conde de Bobadela
(1735-63), soube da descoberta de ouro em Cuieté, um povoado remoto localizado
no coração desse território. O ouro tinha sido desenterrado por um explorador
chamado Domingos José Soares e um número indeterminado de companheiros que
tinham formado uma bandeira e descido o Rio Doce. Indo em direção ao leste rumo à
costa, onde apresentaram uma quantidade de pó de ouro às autoridades em Vitória,
Soares e parte do seu bando foram imediatamente aprisionados por se aventurarem
por estradas conhecidas para praticar mineração em zonas proibidas. Cinco outros
companheiros chegando depois souberam da prisão e fugiram para norte para o
povoado litorâneo de São Mateus, descrito por seu acusador como um reduto de
fugitivos, contrabandistas, e assassinos, dentre os quais esses homens deviam ser
incluídos por se atreverem a cruzar o leste do sertão. (17) Casos similares
presumivelmente ocorreram com alguma regularidade. Outro caso que deixou traços
documentários ocorreu em 1778, quando o governador Antônio de Noronha (1775-
80) soube que um dos seus comandantes militares regionais tinha autorizado um certo
número de homens para formar e armar uma bandeira para entrar nas florestas
ocupadas pelos índios em uma região montanhosa entre os rios Doce e Paraíba.
Implicados na ação ilegal estavam o capitão Francisco Pires Farinho e seu filho
Manoel Pires Farinho, e possívelmente o próprio comandante do distrito, José Leme
da Silva. Encarregado de um grupo de índios coropó e Coroado assendados em uma
paróquia estabelecida de há pouco em São Manuel da Pomba (Rio Pomba), os
Farinhos tiveram seu poder aumentado devido a um afluxo de colonos para uma área
até recentemente dominada por esses índios, bem como pelos Puri. Encorajados,
procuraram explorar as zonas do entorno, inclusive aquelas estabelecidas fora dos
limites devido a proibições oficiais. Noronha reagiu depois do Farinho mais jovem
ter conduzido uma bandeira, provavelmente dirigida pelos colonos índios, em busca
de “uma faixa ampla de terras devolutas que se supunha conterem riquezas” minerais.
O governador puniu seu comandante local e o farinho mais velho tambném por
permitirem a expedição e assim arriscarem que fosse aberta uma rota para o
contrabando. Somente com a permissão expressa de Noronha é que foi permitido às
bandeiras que “penetrassem a floresta daquele sertão,”, pelo que o governador
chamou a atenção do seu comandante quanto a “servirem de muralha” separando
Minas Gerais do Rio de Janeiro e o litoral. Qualquer outro que insistisse em tal
atividade deveria ser considerado criminoso, aprisionado, e severamente castigado.
(18)

Desta forma, ao longo do tempo, a base geográfica das rotas de acesso ao distrito
minerador e ao padrão de colonização confundiam-se com o exercício do poder
colonial para delimitar os limites daquelas terras ocupadas pelos colonos e,
inversamente, aquelas terras que serviam de refúgio para os índios que continuavam
donos da situação. Ao leste, em Ilhéus, Porto Seguro, e Espírito Santo – quase toda a
distância, em outras palavras, entre as cidades do Rio de Janeiro e Salvador – o
povoamento estava restrito a uma estreita faixa ao longo da costa marítima,
principalmente em razão da presença dos indígenas. A coroa procurou
conscienciosamente transformar a área entre a costa e o distrito minerador no interior
em uma espécie de terra de ninguém florestal, habitada por antagonistas nativos, cuja
inimizade, cultivada no decurdso de dois séculos de conflito com os colonizadores
portugueses, impediria o acesso não autorizado às minas e o contrabando do seu
produto para o litoral. (19)

A legislação da coroa e o empenho dos governantes locais, portanto, foi só até ao


ponto de serem capazes de construir uma barreira desse tipo. A melhor defesa contra
o contrabando era a própria vegetação não desbravada e seus habitantes naturais
sabidamente selvagens. Muito embora a preocupação oficial que dizia respeito à
atividade ilícita nunca viesse a desaparecer inteiramente, as autoridades coloniais
continuavam convencidas de que suas proibições eram muito bem eficazes,
indubitavelmente muito mais do que as providências tomadas para frear o
contrabando em toda a extensão das rotas autorizadas. Quanto à questão do
contrabando para o Espírito Santo, o governador Noronha, por exemplo, chegou a
declarar que “através das florestas (orientais) o contrabando de ouro é impraticável
dado à natureza das mesmas, à distância, e aos índios bravios que habitam ditas
florestas tornam impossível a intenção criminosa dos contrabandistas naquelas
regiões.” (20)

Mapas da região fornecem outro aferidor da eficácia dessa barreira e o status que o
sertão ganhou de território indígena. Traçado em meados do século dezesseis, antes
da incorporação do conhecimento geográfico resultante da corrida do ouro, o mapa
do cartógrafo holandês Joan Blaeu representava o interior do Brasil virtualmente
vazio mas dividido em diversas regiões identificadas pelos grupos indígenas que nele
habitavam. A zona que separava as capitanias litorâneas de Ilhéus, Porto Seguro,
Espírito Santo, e Rio de Janeiro da região que mais tarde evoluiria para ser um
distrito minerador – a zona que veio a ser conhecida em Minas Gerais como o leste
do sertão – trazia os nomes das seguintes tribos indígenas de norte a sul: os
guaymorés (a oeste de Ilhéus); os aimorés (a oeste de Porto Seguro); os apiapetangs,
os tapuias, e Margaias (a oeste do Espírito Santo); e os molopaques e tupinambauti (a
oeste do Rio de Janeiro). Um mapa posterior de Blaen representa as bacias fluviais do
interior com um pouco mais de detalhe e altera os nomes de alguns grupos indígenas.
Do norte para o sul incluem os tupinachins (a oeste de Ilhéus); os aimorés, gaymorés,
e apiapetangas (a oeste de Porto Seguro); o tomonymeno, margayas, e tapuyas (a
oeste do Espírito Santo); e os tupinambautis (a oeste do Rio de Janeiro). O território
controlado pelos aymorés, aos quais os porgugueses chamariam mais tarde de
botocudos, estende-se pelo lado oeste do Rio São Francisco, emborar não haja razão
para acreditar que Blaeu baseasse o tamanho do seu território em qualquer coisa que
não fosse especulação. Os puri (no mapa seu nome é transcrito como Pories), que
também ocuparam o leste do sertão, similarmente aparecem mais ao oeste, além do
Rio Paraná. (21)

Esta exploração, apesar das proibições, continuando na bacia do Rio Doce (e por
inferência em outras bacias do leste do sertão) do tempo de Blaeu indo para meados
do século dezoito está confirmado por um mapa datado de 1750, quando as grandes
descobertas do ciclo do ouro eram coisa do passado, e seu ouro de aluvião estava
virtualmente esgotado. Mesmo neste estágio inicial da crise econômica que se
seguiria, a atenção estava focalizada no leste do sertão. Este mapa, cujo autor
permanece desconhecido, mostra muitos dos numerosos afluentes do Rio Doce. Rio
abaixo, a partir de Mariana, algumas poucas cidades e paróquias marcam agora a
paisagem, incluindo Furquim, Piranga, e Antônio Dias (Abaixo?). E ao norte,
Peçanha (no mapa chamada de Santo Antônio do Bom Sucesso) aparece às margens
do Suaçuí Grande, um dos numerosos tributários do Rio Doce. O cartógrafo chamou
a atenção para uma parte específica do sertão, observando a existência de “campos de
esmerada com várias jazidas ainda por serem descobertas.” Curiosamente, no entanto,
ele esqueceu-se de fazer qualquer menção aos indígenas, como se a barreira que eles
representavam às descobertas que esperavam ser feitas não tivessem ainda se
transformado no problema claramente definido que viria a ser por volta de 1760. É
este também o caso de um mapa que descreve a expedição de 1764 do Governador
Silva pelo sertão ao sul e ao oeste de Vila Rica, um mapa que também inclui o leste
do sertão para o qual Silva viria a dirigir diretamente sua atenção ao elaborar sua
agressiva política indígena. (22)

Apesar desses indicativos de conhecimento cartográfico cada vez mais acentuado,


amplas porções do leste do sertão restam sem demarcação, literal e figurativamente,
designadas simplesmente como “terra incognita” em um mapa não datado,
aparentemente feito não muito depois de 1760. Ao menos na mente do seu cartógrafo
anônimo, a maior parte da região tinha sido tão bem isolada que só poderia ser
representada como desconhecida, nada mais revelando de seus segredos, como
também acontecera nos primeiros mapas do Brasil. Outro mapa anônimo da capitania
completado em 1767 mostra povoações espalhadas ao longo do Caminho Novo para
o Rio de Janeiro. Agora, entretanto, o território outrora vazio, situado entre o núcleo
minerador e o litoral, traz sinais de aldeias indígenas pontilhando aqui e ali o sertão.
Como o interesse voltou-se para para essa zona proibida, a presença e localização
específica dos indígenas ali, tornou-se um assunto de interesse cada vez maior e
também maçante. Plantada no centro de um sertão quase peculiaridades, uma
observação do cartógrafo descreve os botocudos da área como “animais selvagens”
que estavam impedindo as tentativas de se assegurar o povoamento de Cuieté. Onze
anos mais tarde o engenheiro militar e cartógrafo José Joaquim da Rocha completou
o mapa mais detalhado de Minas Gerais até àquela data, descrevendo novamente a
quase ausência de colonização nos limnites ao sudeste e a leste da capitania, salvo as
cidades alinhadas como contas de um rosário ao longo da estrada para o Rio de
Janeiro. As aldeias indígenas permaneciam ainda como características básicas que
eram representadas nesse território não colonizado, tirando as florestas representadas
por meio de esboços, cadeias de montanhas, e rios. Aldeias similares aparecem nos
mapas mais detalhados de Rocha representando determinadas comarcas (distritos
judiciais), mapas cujas próprias legendas mostravam os indígenas em diversos
estágios de nudez. No sertão a leste da comarca de Serro do Rio, Rocha desenhou
uma série de pontos vermelhos para indicar a existência dessas aldeias, descrevendo
uma dessas aldeias como o local de residência dos “selvagens Panhame que devoram
outras nações.” (23)

Após a virada do século dezenove, a presença indígena preocupada cava vez mais os
cartógrafos. Um mapa comparativamente detalhado que inclui o sertão separando
Minas Gerais de Ilhéus e Porto Seguro é comprovação não apenas da sobrevivência
tenaz dos indígenas na região protegida contra contrabandistas, e pressão crescente
dos colonizadores, mas também do modo pelo qual os indígenas eram sem sombra de
dúvida, mais do que nunca, representados como uma barreira para uma colonização
desse tipo. Esse mapa menciona a saga das fazendas próximas à Peçanha sujeitas à
“invasão de numerosos selvagens da nação tocoió” (outro subgrupo botocudo), que
habitava as margens do Rio Araçuaí. Em algum lugar estavam as áreas nas quais
“uma multidão de botocudos selvagens e outros perambulam,” bem como aquelas
ocupadas pelos “ferozes e selvagens pataxós” e as em que “os selvagens Amburés
costumeiramente assaltam fazendas.” Também são descritas as as aldeias dos
Tupinambás e Camacãs, ambos taxados de “fugitivos”, sugerindo que eles haviam
anteriormente ocupado terras vizinhas aos núcleos colonizadores portugueses mas
que tinham então se retirado para o centro do sertão, procurando refúgio em áreas
mais remotas à medida que a relação com os colonizadores se tornava mais
dificultosa. Já em 1810, outros cartógrafos anônimos descreveram o leste do sertão
como um território “no qual perambulam os selvagens botocudos”. Ao sul desse
território estão um sertão “povoado pelos ferozes e selvagens puris” e “dominado
pelos selvagens guarulhos,” que tinham de modo similar buscado refúgio nas
florestas remotas, subindo os rios Pomba e Muraié a partir do Rio de Janeiro rumo a
Minas Gerais, onde se transformaram, de acordo com o cartógrafo, nos “únicos
adversários dos botocudos.” (24)

Todos esses mapas mostram ainda que não foi estabelecida nenhuma fronteira
política entre Minas Gerais e Espírito Santo, de tão inexplorado e desconhecimento
que era o território em questão. Em 1780, tendo completado seu mapeamento
ambicioso, Rocha escreveu que “entre a capitania de Minas Gerais e a do Espírito
Santo não existe divisória conhecida salvo a da Ilha da Esperança,” uma pequena ilha
no Rio Doce. Nenhuma outra fronteira foi estabelecia, pois aqueles eram “sertões
escassamente penetrados, povoados por selvagens de várias nações.”(25) A legislação
que se destinava a delimitar a fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo, editada
em 1800 e confirmada pelo édito real em 1816, fracassou na resolução do que iria se
desenvolver em acirrada disputa fronteiriça e que permaneceu em litígio até o século
vinte. A região disputada reteve sua designação de “Território Aimoré” até no século
vinte.

A conexão entre índios e fronteiras não existiu por acaso. A divisão de limites que
faltava para as capitanias, a ausência de uma linha imaginária diferenciando uma
jurisdição colonial de outra, eram testemunho tanto do vácuo do poder colonial
quanto do predomínio do índio. A fronteira ocidental da capitania, também, não tinha
linha bem definida, mas “os sertões despovoados” continuaram vazios sem colonos
por causa dos caiapós. O mesmo era verdadeiro quanto a parcelas da fronteira ao sul
com São Paulo, onde os caiapós impediram a exploração e a colonização pelo menos
até a chegada do ano de 1760.(27) Mesmo as divisões de limites entre comarcas
específicas, especialmente nos casos em que coincidiam com a área de floresta ao
leste, eram “imprecisas,” queixava-se o governador Noronha em 1779, dizendo que
sido estabelecidas em uma época em que essas terras eram “despovoadas,
desconhecidas, e habitadas por índios selvagens, e apenas uma parte delas ainda
sobram”.(28) Mas era acima de tudo as terras entre Minas Gerais e as capiutanias a
leste que constituíam “um deserto,” no dizer de um contemporâneo. (29) Ali, em
lugar de uma fronteira formal, a coroa e, quando lhes convinha, os donatários de
capitanias criaram outro tipo de autoridade jurisdicional – a da ausência forçada. Para
tanto, traçavam linhas imaginárias que tinham um significado que não ia além de
representarem fronteiras políticas, linhas que separavam o território minerador
estabelecido do território dominado pelos indígenas da costa litorânea. Essas linhas
dividiam e definiam as identidades coloniais de acordo com padrões tão antigos
quanto os da colonização portuguesa do próprio Brasil. A fronteira entre as
sociedades de colonos e as sociedades nômadas, entre a economia mercantil e a
economia baseada em laços de sangue, entre, para usar o termo empregado pelos
colonizadores, o cristão e o pagão, o civilizado e o selvagem, tinha suas linhas
divisórias que emergiam de um ou outro desses modos de vida que reforçava depois
as oposições instaladas no centro dessa dinâmica fluida de contenção de fronteiras e
conquista da periferia do núcleo minerador urbano. (30) O território desde há muito
destinado a ser terra incógnita assumia desta forma um significado que ia bem além
das fronteiras geográficas, que deu surgimento a um padrão de colonização rarefeito e
a preocupações quanto ao contrabando e vigilância que prolongaram seu status como
fronteira.

Não importando o quê haja determinado a política de isolamento da região, não


importando ainda, quão indiscutíveis sejam as declarações dos funcionários nas
fontes que as documentam, existe uma boa razão para sermos céticos quanto à
suposta impenetrabilidade dessa avultante expansão da floresta e dos índios.
Historiadores têm sido mais restritos em seus relatos do passado quanto à divisão
feita pelos funcionários coloniais que a administravam com sucesso apenas parcial
ao procurar pô-la em prática.(31) Com isto não sugerimos que a divisão fosse
totalmente, ou mesmo, basicamente imaginária, criação ficcional de cartógrafos ou
governadores de capitanias ávidos de tranquilizar uma coroa obcecada com a
prevenção do contrabando. Mas como em todas as definições de fronteiras, esses
limites geográficos e especialmente culturais tornaram extraordinariamente difícil
sua consolidação e manutenção. As linhas separando o colonizador do índio no leste
do sertão mostrou ser extremamente instáveis, e o veto oficial à travessia do território
indígena teve um papel de não pequena importância na criação de condições para sua
própria violação. Isto foi porque tanto o veto e as clivagens culturais que foram sua
contrapartida, acentuaram, de um lado, a mais amedrontadora descrição do indígena
e, de outro, a mais fascinante imagem da selva.

Quanto mais os portugueses tinham êxito na criação de uma zona – ou até a idéia de
uma zona como essa – fora dos limites para a sociedade instalada, “civilizada”, tanto
mais os índios que viviam ali podiam ser tipificados como “não-civilizados.” Até o
ponto em que os índios eram identificados referenciando-os com o “interior dos
sertões” impenetrável, eles eram vistos como sendo parte da natureza selvagem,
como “ferozes” e “desumanos”, como “bestas irracionais” ou até como “mais
ameaçadores do que as próprias bestas.” (32) Tornou-se cada vez mais difícil
diferenciar a ameaça rotineira que eles constituíam para os renegados
contrabandistas, em função do impedimento intolerável que representavam para os
colonos. No dizer de um sacerdote, os índios que ocupavam o leste do sertão eram
“bandidos perversos”, “inimigos”, ou então “malfeitores” que “insistem de modo
escandaloso em serem nossos carrascos e inimigos exponenciais do contrato social
civil e humano.” (33) Ele não atentou para o fato de que, naturalmente, isto acontecia
porque eram precisamente essas as características que se supunha fossem de
utilidade para os propósitos do governo. Mas tais propósitos não faziam exclusão do
concomitante insulto experimentado diante da presença do índio. Ao contrário, os
próprios funcionários passaram a ver os índios como indomesticáveis não porque o
eram, mas precisamente por causa das proibições destinadas a isolar o seu território.
E quanto mais os índios pareciam exercer controle indiscutível sobre o seu território,
mais eles inspiravam terror nas mentes dos colonos, inclusive dos funcionários. Uma
política destinada a criar barreira para o contrabando, criava medo, ódio racial, e um
ímpeto irreprimível de conquista.

Outra consequência do veto à entrada no leste do sertão, e uma outra maneira pela
qual este veio a ser solapado, foi o status que a região ganhou, pouco distante do
mítico, que é o de um lugar de fecundidade sem paralelos. Enquanto parcelas
substanciais da região permanecessem como terra incógnita, inexploradas e
desconhecidas, e agressivamente retratadas como tais, os colonos podiam manter os
mesmos sonhos e fantasias que tinham levado à conquista das Américas desde o
princípio, inscrevendo-os por sobre as montanhas ainda não conquistadas, florestas, e
vales de rios separando o distrito minerador do mar. Os colonos passaram a valorizar
a região em proporção direta com a impenetrabilidade da barreira, tanto real quando
suposta, criada por seus ocupantes originais. Assim esse sertão podia ser descrito
como “salubre” e carregado de “riqueza escondida”, mantendo a promessa de futuro
povoamento e abundância, e simultaneamente, podia ser ainda descrito como um
lugar “infestado pelos puris”, como se eles fossem uma porção de formigas ou
moscas, ou corrompidos por um difuso “temor dos índios ferozes da nação dos
botocudos,” e, consequentemente, inabitável.

Elogiando o potencial da região em 1798, José Eloi Ottoni profetizou a descoberta de


riquezas que sobrepujavam todo o ouro e diamantes anteriormente extraídos das
Minas Gerais. “Os maiores tesouros estão ainda por ser descobertos,” escreveu. Os
próprios índios tinham passado a notícia dessa riqueza escondida, não apenas mineral
mas também agrícola, cuja existência tinha sido confirmado pelos sertanistas que
tinham visitados os índios em suas aldeias. “A fertilidade do solo é tal que a maior
parte de nossas colheitas crescem espontâneamente sem cultivo, requerendo apenas
os efeitos providenciais da natureza sábia, a qual, talvez antevendo a inércia dos
índios, conserva para o benefício da humanidade a raiz e a semente. Depositada na
terra, a semente produz na época própria, na estação própria. Que incomparáveis
riquezas para a Agricultura nos promete esta terra!” Se a mera presença dos índios
era suficiente para liberar a indignação, a possibilidade de que eles estivessem
impedindo os portugueses de obter as riquezas escondidas, os levou a ultrapassar
qualquer resquício de tolerância. Para justificar o insustentável, Ottoni pediu à coroa
que promovesse uma nova etapa de bandeiras, encorajando uma nova geração de
exploradores a entrar nas florestas em busca do ouro: “Eu estaria a favor de se
estimular os bandeiristas (sic), encorajando o projeto de se fazer novas descobertas
por meio de favores, privilégios, e fundos assegurados àqueles que, inflamados por
zelo patriótico, entrem nas florestas.” O resultado seria a posse definitiva pelos
portugueses do leste do sertão e a entrada de uma era de prosperidade sem
precedentes em Minas Gerais.(35)

As dificuldades da economia após a corrida do ouro no distrito minerador


contribuíram consideravelmente para o surgimento de propostas como a de Ottoni,
que preconizava o abandono daquilo que, no seu tempo, era uma politica centenária
i.e., o isolamento da região leste do sertão. Que ele identificava os índios que
controlavam o território não como cúmplices involuntários dos esforços da coroa de
controlar o contrabando, mas sim como povos atrasados que bloqueavam a
descoberta de novas fontes de riqueza pode ser atribuída diretamente ao problema
premente de restauração da capitania à sua antiga prosperidade. A decadência das
minas tornou cada vez mais difícil para os colonos, quer fossem eles colonizadores
individuais ou autoridades da capitania, obedecerem às restrições estabelecidas pela
coroa. (36) Arrastados para o sertão pelas imagens de riqueza por descobrir, foram
também nele forçados a suportar condições econômicas precárias.

Mas existe também uma incongruência marcante entre o chamamento de Ottoni para
a conquista e os eventos que o precederam. A conquista militar do leste do sertão
começou em torno de 1760. Ottoni fez suas propostas expansionistas um quarto de
século mais tarde. Fez referência ao fato de que os habitantes de Minas Gerais já
estavam despachando bandeiras para procurar ouro e pedras preciosas. (37) Mas ele
não percebeu o significado desse fato, e o mesmo pode ser dito dos historiadores.
Focados na política da coroa em vez da efetiva incorporação da fronteira da forma
como foi concebida e executada tanto formalmente pelos donatários de capitanias e
informalmente pelos colonizadores, todos simplesmente ignoraram a importância do
avanço dos militares e dos colonizadores rumo ao leste do sertão, que era
basicamente uma resposta ao declínio da economia mineradora. Similarmente, não
levaram em consideração o destino dos índios da região. O avanço para o leste do
sertão – de fato, uma era nova para as bandeiras reclamada por Ottoni – começou
para valer após a posse do governador Silva. Continuou inegavelmente tempos depois
em cada mandato dos governadores que o sucederam até o fim do século e seguiu,
após, sem contestação, entrando no século dezenove. Em alguns casos os soldados
lideraram a marcha, em outros, os colonizadores o fizeram e depois chamaram os
militares para defender o novo território recentemente colonizado e exposto ao ataque
dos índios. No tempo de Ottoni, um sem número de expedições tinham já penetrado
profundamente nas florestas ao leste à procura de novas riquezas, ou para combater
os índios que se pusessem em seu caminho, ou ambos, em atitude contrária à todas as
medidas tomadas para resguardar a região fora-dos-limites. (ver tabela 4.1). A
política da coroa de manter o sertão como uma barreira ao contrabando continuou
em vigência até o começo do século dezenove, mas as autoridades locais,
respondendo às pressões de um número crescente de mineiros empobrecidos,
fazendeiros e granjeiros, forjou, simultaneamente, uma política incompatível de
abertura do território à exploração e colonização. Toda atividade na região, toda
faceta das relações entre estado, colonizadores, e índios, teria seus indícios revelados
graças às contradições inevitáveis e específicas entre esses objetivos opostos entre si.

ENTRA TABELA (Falar com Márcio)

A mesma inconsistência da ordem imperial relaciona-se, de toda a forma, com o


papel desempenhado pela declaração de guerra feita em 1808 pelo príncipe regente.
O naturalista alemão Maximilian, príncipe de Wied-Neuwied, que viajou entre 1815 e
1817 todo o perímetro do território botocudo observou que o decreto significava que
“nenhuma trégua se dava aos botocudos, que continuavam a ser exterminados onde
quer que se encontrassem, sem distinção de idade ou sexo.” Essa “guerra de
extermínio”, escreveu ele, “foi sustentada com a maior das perseveranças e
crueldade, já que se acreditava firmemente que (os botocudos) matavam e devoravam
todo o inimigo que caísse em suas mãos.”(38) Para os poucos historiadores que têm
refletido sobre o assunto, essa ação militar traz a marca de um divisor de águas,
evento ocorrido no momento em que as relações entre o estado e o remanescente dos
índios outrora numerosos do Brasil não-amazônico se tornaram inapelavelmente
inflexíveis (?), em que as tensões presumivelmente de há muito esquecidas
repentinamente, e de modo inexplicável, reacenderam e provocaram a ira da
autoridade mais alta da colonia, que reagiu invocando o princípio da “guerra justa”,
que não tinha sido aplicado no Brasil desde 1730. (39)

Mas a guerra contra os botocudos – ampliada oficialmente em novembro de 1808


para combate aos Kaingáng de São Paulo (que abrangia então o Paraná) e não-
oficialmente aos vizinhos puris em Minas Gerais e a outros grupos em Goiás, Piauí, e
Maranhão – não era nenhuma anomalia. (40) Ao contrário, ela assinalava a
legitimação real de uma política com uma longa história em Minas Gerais. Em 1764
o governador Silva começou a preparação e no ano seguinte despachou uma série de
expedições armadas para assegurar a posse do estado sobre o leste do sertão. O
motivo declarado para essa ação era o de “impedir o saque” dos “ferozes selvagens” ,
que “ano após ano” e em diversos localidades tinham atacado fazendas e outras terras
concedidas aos colonos pela coroa. Os índios tinham cometido “hostilidades tais
como assassinato e destruição de gado, colheitas, e das próprias fazendas.” Eles
passaram a saquear e incendiar, queimando os campos e as casas dos colonos. Não
apenas tinham prejudicado os donos de propriedades e outros na região, mas também
– conquanto seus ataques não tivessem sido verificados de perto – ameaçavam fazer
sobrevir “a ruína” das áreas vizinhas que estivessem perigosamente próximas das
zonas colonizadas centrais. No entanto, corria perigo, em especial, o remoto povoado
do Cuieté, onde os ataques dos índios tinham forçado os colonos a fugir de
promissores empreendimentos de mineração do ouro em diversas ocasiões. (41)
Respondendo violentamente às incursões dos colonos, os botocudos tinham, no dizer
de fazendeiros e garimpeiros, “infestado” trechos substanciais do leste do sertão,
lutaram bravamente, e ganharam, pelo menos temporariamente, primeiro atacando
Cuieté e depois avançando em direção à própria Mariana, um dos mais importantes
centros urbanos do distrito de mineração.

Impelidos por proprietários indignados sujeitos ao que chamavam de perdas de


propriedade “notórias” e “constantes”, incluindo prédios inteiros (fábricas), Silva
ordenou a cerca de 150 homens armados que marchassem para Cuieté e suas
vizinhanças, onde eles iriam repelir os índios, pôr um fim às hostilidades deles, e
anular suas vitórias. Esperava assim o governador tornar a fronteira – ou ao menos
valiosas partes dela – segura para o povoamento, não apenas para benefício dos
próprios colonos, mas também do tesouro real, pois a riqueza mineral e o “comércio”
que resultaria de uma fronteira segura geraria lucros sob a forma do quinto real
estimado sobre a produção aurífera e taxas exorbitantes impostas sobre outros
empreendimentos rentáveis. (42) Considerando que o seu predecessor, o conde de
Bobadela, tinha limitado suas ações em Cuieté à uma postura defensiva de proteger
os colonos de ataques dos índios habitantes das matas circunvizinhas, Silva adotou
uma posição explicitamente agressiva destinada não só a submeter a resistência
indígena mas também, como descreveu um dos seus sucessores, destinada a
“converter aqueles índios por meio de expedições militares à religião católica romana
e a torná-los aptos para a sociedade e úteis para o estado.”(43).

Silva nomeou o capitão Antônio Cardozo de Souza comandante de uma série de


expedições militares cujo objetivo declarado era o de repelir os “avanços e abusos”
(44) dos “ferozes botocudos e outras nações bárbaras e selvagens e “compelí-los à
paz e conformidade civil”, de acordo, afirmava Silva, com as ordens reais. Souza e
seu amigo e subordinado capitão Antônio Pereira da Silva liderariam bandeiras
separadas, que avançariam sobre o território indígena. Iriam enfrentar os botocudos e
todos os índios tidos como responsáveis por ataques aos colonos. No caso em que
meios pacíficos fossem não convincentes a quaisquer desses índios, o governador
silva autorizava Souza a “submetê-los à obediência da ordem estabelecida por meio
da força”. Tais palavras sugerem a qualidade eufemística, se não oximorônica,
daquilo que o governador descreveu como sendo uma política de “guerra defensiva”,
expressão pela qual ele queria dizer que era uma guerra justificada pelas atrocidades
dos índios, especialmente atos incendiários, roubo, e assassinato. (45) Recorrendo à
noção de ação defensiva dessa forma, Silva estabeleceu um continuum em relação às
políticas de seu predecessor mas, tão importante quanto isto, tornou aquilo que na
realidade era um ponto de partida agressivo dessa política, em algo mais aceitável
tanto para a coroa quanto para os colonos que seriam pesadamente taxados para
financiar a mobilização das tropas da capitania.(46) Quaisquer que tenham sido os
destemperos verbais praticados na capital, Vila Rica, os soldados lá estacionados
reconheciam a natureza flagrantemente belicosa de sua missão. Durante os anos em
que o capitão Souza permaneceu no leste do sertão perseguindo índios, não apenas
sob as ordens de Silva mas também do seu sucessor, José Luis de Menezes
Abranches, conde de Valadares (1768-73), e compreendeu que seu objetivo milita
nada mais era do que “extirpar os bárbaros botocudos”.”(47) Uma vez que esses
nômades escolheram não se submeter pacificamente à obediência exigida pelas
autoridades, Souza e seus comandados dedicaram-se a “envolvê-los em violenta
guerra e submetê-los por meio do fogo e da espada.”(48) A ação resultou em nada
menos do que guerra declarada, pelo governador, ratificada por seus subordinados, e
repetidamente reafirmada pela conduta dos seus sucessores e, depois, pelo próprio
príncipe regente.

Para legitimar a ocupação do leste do sertão, os donatários das capitanias


encontraram na política indígena determinada pela coroa um corpus de legislação
absolutamente flexível para apoiar seus movimentos. O governador Silva interpretou
essas leis e éditos como parte integrante do que ele chamou de suas “ordens reais”
para marchar rumo às florestas não-desbravadas. A política indígena em vigor à
época tinha sido formulado no decurso da década anterior, começando em abril de
1755, com um edito real que objetivava, dentro do espírito contraditório do
despotismo iluminado português, a acabar com a perseguição racial dos povos
nativos da bacia amazônica, acelerando simultaneamente sua assimilação. O édito
proibia o uso do termo caboclo pejorativo (mestiço de branco com índio), encorajava
a miscigenação entre índios e brancos, e procurava eliminar o estigma lançado aos
filhos desses casamentos inter-raciais, prometendo-lhes tratamento preferencial na
obtenção de favores do rei e igualdade social e habilitando-os a obtenção de
“qualquer emprego, honra ou dignidade.” Em 6 de junho de 1755, D. José I, rei,
promulgou uma segunda lei, a assim chamada Lei da Liberdade, que “devolvia aos
índios (da bacia amazônica) a liberdade de suas pessoas físicas, posses, e
comércio.”(50) A lei varreu, pelo menos no papel, práticas abusivas, incluindo o
trabalho forçado e a escravidão, às quais aqueles índios, especialmente aqueles que
viviam nas aldeias controladas pelos jesuítas, tinham estado sujeitos por dois séculos.
Sendo lhes concedida a autonomia política e a propriedade das terras em que estavam
estabelecidas as suas aldeias, eles podiam agora, em teoria, escolher trabalhar para
quem quer que desejassem e com remuneração justa. Então, em 7 de junho a agenda
oculta da reforma tornou-se clara, pois o rei destituiu os jesuítas de todos os poderes
temporais que exerciam sobre as aldeias indígenas, limitando sua autoridade às
atividades eclesiásticas apenas, e escancarando as entradas das aldeias indígenas ao
comércio com o mundo exterior. (51) Para os índios, como observou um historiador
da Amazônia, essa “emancipação” representou pouco mais que um artifício legal para
acelerar à época sua “integração forçada” à sociedade colonial.”(52)

O trabalho de Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro marquês de Pombal), de


libertação dos índios era destinado a testar o poder e a riqueza dos jesuítas, a
impulsionar a economia enfraquecida do norte do Brasil, e a assegurar vantagem
geopolítica contra os espanhóis na estratégica bacia amazônica no que se seguiu ao
Tratado de Madrid (1750). Porém Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
governador do Grão-Pará e Maranhão e irmão de Carvalho e Melo, também
desejavam garantir aos colonizadores o acesso à mão-de-obra indígena. Deste modo,
em maio de 1757, ele emitiu seu próprio e extenso conjunto de políticas conhecido
como “Diretório dos índios”, anulando a autonomia indígena na prática ao colocar
“diretores leigos”, de fora, encarregando-os da vida da aldeia em lugar dos jesuítas,
aos quais ele acusara de fazerem de si mesmos “os donos do sertão.” Julgados como
não tendo a “aptidão necessária requerida para governarem a si mesmos”, os índios
estariam agora sujeitos aos ditames dos diretores nomeados pelo próprio governador.
Os diretores “cristianizariam e civilizariam esses até então, povos infelizes e
desgraçados”, ensinando-lhes os rudimentos básicos do comércio e da agricultura que
apressaria a transição para o governo secular e lhes permitiria largar a “ignorância e
rusticidade às quais encontram-se reduzidos”. No fim, os índios se tornariam “úteis a
si mesmos, aos colonizadores, e ao estado.” Sob o disfarce de ação humanitária,
Furtado procurou através do Diretório erradicar o isolamento dos índios das aldeias
da Amazônia e aproveitá-los como força de trabalho tão rapidamente quanto possível.
O sistema acabou em um sistema ainda mais repressivo do que aquele com que os
índios tinham se defrontado sob o domínio dos jesuítas, que foram finalmente
expulsos do Brasil em 3 de setembro de 1759. (53)

Pouco se tem escrito sobre as implicações dessa legislação para o Brasil não-
amazônico. (54) Formalmente instituída pela coroa e estendida ao restante da
América portuguesa por édito de agosto de 1758 e também na assim chamada
Direção, legislação de maio de 1759, o Diretório permaneceu como ossatura da
política indígena até ser abolido em 1798, e em várias regiões do Brasil seu preceitos
continuaram em vigor até a chegada do século dezenove, nele permanecendo. (55)
Entretanto os historiadores não acompanharam seus efeitos, sujeitos talvez a
equívocos, como o de Capistrano de Abreu, influente e estudioso de envergadura
intelectual que se expressou dizendo que “no resto do Brasil, os assuntos indígenas
não eram mais objeto de preocupação, e que a violência contra eles não foi tão grande
como o que aconteceu no extremo norte.”(56)

Em Minas Gerais a Lei da Liberdade, o Diretorio, e a Direção tiveram profundas


consequências e mostraram serem causadores de violências incessantes. Em nenhuma
outra parte as implicações dessa legislação - concebida tendo em mente os índios de
aldeias civilizadas – para a sujeição dos índios ainda nômades, foram mais evidentes
do que em Minas Gerais. Na época da extensão dessa legislação para o resto do
Brasil, Silva, que viria a assumir seu cargo de governador de Minas Gerais cinco anos
depois em 1763, estava servindo ainda como governador de Pernambuco, onde
recebeu a Direção e supervisionou a conversão para o sistema do Diretório em
cinquenta e quatro aldeias indígenas. (57) Em Minas Gerais, todavia, onde o
problema básico que ele iria enfrentar envolvia não índios de aldeia mas nômades que
ocupavam o sertão despovoado, ele resolutamente adaptou a política da coroa às
condições locais.

No registro oficial do seu governo delineando as bases para suas ações, Silva
estabeleceu a legitimação de uma política de conquista militar citando três
documentos. O primeiro foi a ordem que ele recebeu como governador de
Pernambuco em 1758 na qual a coroa o instruía a tomar medidas, de acordo com seus
decretos anteriores, para devolver a liberdade aos índios nas aldeias de Pernambuco ,
colocando-os, ao mesmo tempo sob a autoridade civil dos diretores brancos. Os
funcionários tinham que dar aos índios das aldeias “todo o apoio e proteção de que
eles necessitavam até que eles estivessem inteiramente na posse mansa e pacífica
dessas liberdades.” O solo da aldeia seria protegido sob a forma de uma concessão do
rei (sesmaria) e seria entregue aos índios para se beneficiarem com atividade agrícola
e comércio. As aldeias seriam ser convertidas oficialmente em cidades com nomes
portugueses em vez de “nomes bárbaros” atribuídos pelos nativos. A autoridade
secular em vez da religiosa governaria esse núcleos colonizadores. O segundo
documento reafirmava o fim do domínio dos missionários em todas as aldeias
indígenas às vésperas da expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759. O terceiro
documento, uma carta de Furtado, agora em Portugal, datada de 12 de fevereiro de
1765, dois anos após Silva ter assumido a liderança de Minas Gerais, comunicava
sobre a permissão do monarca para continuar com uma tentativa começada no ano
anterior de distribuir mercadorias entre certos índios do leste do sertão com o fim de
“estabelecer algum comércio” na margem de seus rios, especificamente dos rios Doce
e Piracicaba. Furtado disse a Silva que o rei pagaria as despesas decorrentes do
esforço. Ele conclamou o governador a “trabalhar o quanto mais possível para
estabelecer núcleos urbanos civis entre os mesmos índios, utilizando todos os meios
que fossem julgados necessários.” O rei, asseverou Furtado, estava convencido de
que além dos possíveis lucros em acréscimo vindos do comércio na região, haviam
outros benefícios “ainda mais importante, tanto temporais como espirituais, que se
seguirão na medida que nos familiarizarmos e nos associarmos com esses infelizes
povos que, por causa da tirania com a qual sempre têm sido tratados, encontram-se
no estado de ignorância no qual nasceram.” Condenados a esse destino, esses índios
tinham se degradado transformando-se para os portugueses em “inimigos mortais,
almas perdidas, privando o estado das grandes vantagens que podiam ser tiradas
deles”. (58) Até a própria coroa, parece, dobrava-se às contradições da questão dos
índios do leste do sertão, sobre se deviam serem deixados à sua própria sorte e sobre
se as atividades ali deviam ou não serem completamente proibidas.

Furtado não se estendeu em detalhes quanto ao que ele queria dizer com a expressão
“todos os meios que se fossem julgados necessários.” Entretanto, com base nas frases
seguintes ele queria dizer algo diferente de um confronto militar. Sua advertência
para se concentrarem em “familiarizar-se e associar-se com esses, até o presente,
infelizes povos” sugere que ele tinha métodos mais moderados em mente. Isto é
apoiado, também, pelo teor da política indígena em outras regiões da colônia. Uma
compilação recente da legislação pertinente relaciona ordens destinadas somente aos
índios das aldeias em 1760: o pagamento dos salários dos índios por parte dos
contratadores de seus serviços de mão-de-obra em Pernambuco e na Paraíba do
Norte, restrições sobre a sua movimentação ao longo das rotas comerciais em São
Paulo: a distribuição da terra nas suas aldeias e a transformação dessas aldeias em
núcleos urbanos civis, também em São Paulo. De acordo com a lista, somente após
1770 as ordens foram novamente dadas, agora para sancionar a conquista violenta,
mas elas eram dadas pelos donatários das capitanias, não pela coroa. (59) O
precedente real mais imediato foi o da Lei da Liberdade de 1755, a qual, embora
objetivasse os índios estabelecidos em aldeias, continha provisões para incorporar os
nativos que “vivem nas trevas da ignorância” no “interior dos sertões” bem distante
das missões jesuítas e dos núcleos urbanos civis do Amazonas. A lei conclamava
esses índios a se estabelecerem em aldeias, serem cristianizados pelos missionários, e
encorajados a se ocupar da agricultura e comércio. Mas ela também estipulava que as
autoridades garantissem que esses nativos, como aqueles que já estavam
estabelecidos, tivessem “preservadas a liberdade de suas pessoas físicas, posses, e
comércio,” e proibia que tais direitos fossem “suspensos ou usurpados a qualquer
título ou pretexto.” Qualquer indivíduo que perpetrasse ato de violência contra índios
recentemente colonizados receberia imediato castigo.(60)

Silva não hesitou em ignorar tais sutilezas. Baseando suas ações nos três documentos
citados, aproveitando-se vantajosamente das nebulosas instruções de Furtado,
imaginando que a tarefa que tinha em mãos diferia pouco das ordens que ele tinha
imposto anteriormente aos índios de aldeias, o governador pôs-se a “continuar o
cumprimento das ordens (reais),” repetindo o que ele “tinha feito em Pernambuco”
com o fim de assegurar, de maneira conseqüente a “submissão dos ferozes índios que
infestam” Minas Gerais. Deste modo, ele seguiu o que imaginou serem os desejos da
monarquia portuguesa que buscava “levar a Lei de Deus às nações bárbaras, submetê-
los à fé católica e ao verdadeiro conhecimento do Seu Santo Nome.” (61) Já que a
política em vigor ditada pelo Diretório Índio tinha sido elaborada para os índios
estabelecidos em aldeias, os nômadas de Minas Gerais, pensou Silva, teriam que ser
antes estabelecidos em aldeias com o fim de implementar essa política. Teriam que
ser reunidos em aldeias, à força se necessário, submetendo-se àquilo que o
governador e seus contemporâneos chamavam abertamente de “conquista”, de forma
que a liberdade deles pudesse então ser restaurada, de acordo com lei de 1755.
Porém, em manifesto desafio àquela lei, ele ordenou às tropas da capitania que
“barrassem a liberdade” exercida pelos índios das florestas, enfrentando sua
resistência com força militar. (62) Embora recorrendo às ordens imperiais, Silva
revelou sua tendência de agir contrariamente à intenção declarada da política
indigenista da coroa, e de ultrapassar o aparente alcance das instruções diretas de
Furtado. Os índios do leste do sertão, acreditava o governador, tinham mostrado
serem absolutamente indóceis. A liberdade deles, segundo deixou claro, não devia ser
entendida como liberdade para manter uma existência nômade, tradicional, mas devia
simplesmente ser o direito – ou, mais exatamente, a obrigação – de contribuir para a
sociedade colonial como trabalhadores cristãos, leais e sedentários. Esta era a base da
política de conquista violenta que, de uma forma ou de outra, permaneceu em vigor
no decorrer da segunda metade do século dezoito, indo até a declaração de guerra de
1808, inclusive.

Essa espécie de nuance local, a natureza maleável da política da coroa com relação ao
leste do sertão e seus ocupantes nativos, e, mais basicamente, a presença
surpreendentemente difusa do índio em fontes de arquivo durante um período no qual
se imaginava que eles eram uma preocupação de há muito esquecida, nos faz pensar
que esses fenômenos exigem uma análise bem mais aprofundada do que a que
mereceram na escassa historiografia sobre as relações entre o estado colonia d os
índios das zonas interiores atravessadas pela corrida do ouro. Uma série de
afirmações comuns requerem revisão em particular. Primeiro, dada à preocupação
oficial com a resistência nativa, deve-se rejeitar a noção de que os índios
desapareceram como elemento ativo da história da região. O ato de “expulsar e/ou
dizimar a vasta maioria da polpulação indígena” antes e durante a corrida do ouro
deveria nos levar a ignorar os índios mas voltar a nossa atenção para as florestas
isoladas e vales de rios onde encontraram refúgio.

Além disso, dada à intensificação do conflito violento e premeditado entre o governo


da capitania e os índios com início por volta de 1760, devemos descartar a ênfase
imerecida posta sobre 1808 como um ano que foi um divisor de águas nas relações
entre o estado e o remanescente dos outrora incontáveis índios do sudeste brasileiro.
(63) Uma política de guerra declarada entrou em vigor muito antes do príncipe
regente transformá-la em política oficial da coroa. A declaração de guerra é
significativa por uma série de razões – uma das mais importantes é o seu papel na
extinção final do impulso colonial para conter a colonização da fronteira – mas
dentre elas não está o seu status suposto de fator desencadeador de um novo tipo de
violência oficial contra os índios. O conflito entre os portugueses e os botocudos,
característica permanente dos séculos dezesseis e dezessete, não desapareceu em
1808 e então ressurgiu a partir do nada; ao contrário, começou a crescer em
intensidade meio século mais cedo como consequência da colonização interna
ressurgente ligada ao declínio do distrito minerador central.

Declarando guerra, finalmente, o príncipe regente assumiu a responsabilidade da


coroa por uma política de conquista violenta que já estava em vigor a nível regional.
Mas existe algo mais básico em jogo. A declaração de guerra aponta para a luta por
estabelecer um poder centralizado para se sobrepor à autoridade regional
característica da formação do estado brasileiro no começo do século dezenove. (64)
Como aconteceu com outras tarefas administrativas na colônia distante, a
responsabilidade de interpretar, implementar, e mesmo de forjar uma política de
estado tanto para as relações indígenas e questões territoriais internas foram
transferidas em sua maior parte para os governadores de cada uma das capitanias em
vez o serem para o vice-rei no Rio de Janeiro ou para a coroa antes dela transferir
sua residência para o Brasil. Somente já adentrando bem no século dezenove é que
essas regiões, autônomas em sua maioria, submetem-se de forma unificada à
autoridade central, e mesmo então os governos locais continuaram a estabelecer o
curso da política indígena. Fixada com base nas maquinas legislativas da corte,
primeiro em Lisboa e depois no Rio de Janeiro, fracassando em ver além das leis,
decretos, e ideologia oficial elaborada e promulgada pela coroa e seus poderosos
ministros, os historiadores normalmente esquecem-se da origem local da política do
índio e da política de fronteira. (65) Eles falham na percepção do papel corporificado
por essa política que é o de ter forjado identidades regionais e culturais. Fracassam
ainda no reconhecimento da importância crucial da conquista da fronteira e da
resistência nativa para a história de uma região que até à atualidade tem sido estudada
quase que de modo exclusivo como um mero “habitat” urbano. Em Minas Gerais,
onde os índios quase que desaparecem da historiografia após o século dezessete, é
somente a nível regional e, onde permitem as fontes, a nível de núcleos colonizadores
remotos e guarnições militares no sertão, que nós nos encontramos face à face com a
persistência quotidiana da violência de fronteira inter-étnica.

NOTAS DE PÉ-DE-PÁGINA

As excepções mais importantes são as obras do historiador regional Oiliam José,


Marlière, o Civilizador (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1958 e Indígenas de Minas
Gerais (Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1965). Para uma breve discussão sobre a
historiografia e a etnografia dos índios em Minas Gerais, ver José, Historiografia
mineira, 2a. ed. (Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987), 336-8. Estudos de Judy
Bieber e Maria Hilda B. Paraíso a serem publicados sobre os índios botocudos
prometem ajudar no preenchimento desta lacuna, assim como o trabalho em
andamento de Laura de Mello e Souza, relativo à fronteira no século dezoito em
Minas Gerais. Sobre a ausência dos índios na historiografia do Brasil dos séculos
dezoito e dezenove, ver B. J. Barickman, “Índios Domesticados”, “Feras Selvagens”
e Colonos no sul da Bahia no final do século dezoito e começo do século dezenove,”
The Americas 51.3 (Jan. 1995): 326-7

Fontes sobre as investidas dos bandeirantes sobre os povos indígenas em Minas


Gerais, bem como sobre os primórdios da exploração e ocupação da região em geral,
includem Augusto de Lima Júnior, A capitania das Minas Gerais, rev. ed. (Belo
Horizonte: Ed. Itatiaia, 1978); Afonso de Escragnolle Taunay, História geral das
bandeiras paulistas, vols. 9-10 (São Paulo: Typ. Ideal e Imprensa Oficial, 1924-50), e
Ralatos sertanistas (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1981); Diogo (Luís de Almeida
Pereira) de Vasconcelos, História antiga de Minas Gerais, 4a. ed. (Belo Horizonte:
Ed. Itatiaia, 1974).

John Monteiro observa a falta de um único estudo de utilidade sobre o papel das
populações nativas durante os primeiros anos da corida do ouro. John M. Monteiro,
Negros da terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo (São Paulo:
Companhia das Letras, 1994), 210, n. 3.

Carla Maria Junho Anastasia, introdução à Breve descrição geográfica, física e


política da capitania de Minas Gerais, por Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos,
editada por Anastasia de 1870 ms. (Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994),
15.

Diogo P. R. De Vasconcelos, Breve descrição, 51, Robert H. Lowie, “The Southern


Cayapó”, in Handbook of South American Indians, ed. Julian H. Steward (New York:
Cooper Square, 1963) 1:519-20
Alfred Métraux, “The Puri-Coroado Linguistic Family,” in Handbook 1: 523-30.

Métraux e Curt Nimuendajú, “The Mashacalí, Patashó, and Malali Linguistic


Families,” e Métraux, “The Puri-Coroado Linguistic Family,” in Handbook 1: 541-5
e 523-30, respectivamente.

Ver José, Indígenas 13-37; Nelson de Senna, “Principaes povos selvagens que
tiveram o seo 'habitat' em território das Minas Geraes,” Revista do Arquivo Público
Mineiro (aqui RAPM) 25:1 (1937); 337-55; Maximilian Wied, Prinz von, Viagem ao
Brasil, trad. Edgar Süssekind de Mendonça e Flávio Poppe de Figueiredo (Belo
Horizonte: Ed. Itatiaia, 1989), 283-4; originalmente publicado como Reise nach
Brasilien (Frankfürt: H. L. Brönner, 1820). Ver também Auguste de Saint-Hilaire,
Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, trad. Vivaldi Moreira
(Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1975, 251-3; originalmente publicado como Voyage
dans les provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes (Paris: Grimbert et Dorez,
1830). Para uma discussão mais atual, ver Métraux, “The Botocudo,” in Handbook 1:
531-40; in José Ribamar Bessa Freire e Márcia Fernanda Malheiros, Aldeamentos
indígenas do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Programa de Estudos dos Povos
Indígenas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1997), 6-8.

Recentemente, B. J. Barickman ressuscitou um debate antigo sobre se os botocudos


descendiam de fato dos aimorés. O vínculo, observa, está baseado em escassa
evidência linguística. Barickman, “Índios Domados,” 335, n. 29. Uma questão mais
fundamental é a de que ambos os nomes, Botocudo e Aimoré, foram usados
indistintamente em documentos portugueses a partir dos meados do século dezoito
para a frente, porém nenhum dos dois com precisão exata. A última designação, que
também surge nas fontes como Aimboré, Amburé, e Imburé, teve uma aplicação
genérica semelhante à de Botocudo, Nenhum termo foi usado, como os estudiosos de
há muito reconheceram, pelos índios para identificar a si próprios. Em lugar deste,
usaram Kren, Cracmun, Nacnenuc, Pejaurum, e outros nomes, referindo-se a
subgrupos particulares. Empreguei esses termos mais específicos sempre que
aparecem nas fontes mas sou forçado na maioria dos casos a optar por Botocudo, pois
os portugueses raramente se preocupavam com a a preferência nativa, ou, no tocante
à questão, com as diferenças, às vezes menores, às vezes consideráveis, entre um
subgrupo e outro. Desencorajado, apesar do contato direto com os mesmos, pela
dificuldade de distinguir de modo sistemático as diversas “tribos” dos botocudos com
seus “costumes diversos,” Saint-Hilaire (p. 25) n. 360) escreveu, “na verdade, não
existe vínculo algum entre esses (grupos) que constituem, como um todo, a nação
(Botocudo).”

A exceção básica ocorreu quando os colonizadores procuraram focalizar a atenção


sobre um grupo específico dos botocudos, identificando-os como inimigos, por
exemplo, não apenas dos portugueses mas também de outros grupos indigenas.
Assim, em 1800, o padre Francisco da Silva Campos pediu à coroa maior ajuda no
esforço de cristianização dos índios, expressando horror pelo fato dos botocudos tem
“destruído pela guerra” as seguintes “nações” com o fim de “devorá-las”: “Mandali,
Maxaculi, Pendi, Capoxi, Panhami, ... Manaxó, Pataxó.” Pedido do Padre Francisco
da Silva Campos ao rei, (1800), in RAPM 2:4 (1897): 692.

Para a declaração de guerra do príncipe regente contra os botocudos, ver carta arégia,
13 de maio de 1808, in Legislação indigenista no século XIX: Uma compilação
(1808-1889), ed. Manuela Carneiro da Cunha (São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 1992), 57-60.

“Informação sobre as Minas do Brasil,” ca. 1700, in Anais da Biblioteca Nacional,


Rio de Janeiro, aqui ABNRJ0 57 (1935): 167-8.

Para estatísticas sobre a produção do ouro, receitas da cxoroa, o quinto real, e outras
taxas e impostos em Minas Gerais, ver C. R. Boxer, The Golden Age of Brazil, 1695-
1750: Growing Pains of a Colonial Society (Berkeley: University of California Press,
1969), 333-50; Laura de Mello e Souza, Desclassificados do Ouro: A pobreza
mineira no século XVIII, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Graal, 1990), 43-9; Kenneth R.
Maxwell, Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808 (Cambridge,
Eng.: Cambridge University Press, 1973), 245-54.

Citado in Diogo (Luís de A P.) de Vasconcelos, História média, 275.

João de Lencastre à coroa, Salvador da Bahia, 12 de Janeiro de 1701, in Os


manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval respeitantes ao Brasil, eds. Virginia Rau
e Maria Fernandes Gomes da Silva (Coimbra: Atlântida, 1955-8) 2:14-7; C. R.
Boxer, Golden Age, 43.

Maria Beatriz Nizza da Silva, ed., Dicionário da história da colonização portuguesa


no Brasil (Lisboa: Verbo, 1994), 309.

Wilhelm Ludwig von Eschwege, Pluto brasiliensis, trad. Domício de Figueiredo


Murta (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1979), 1:117; originalmente publicado em
alemão com o mesmo título Pluto brasiliensis (Berlim, 1833). A estrada que desce o
rio Doce aparece primeiro no “Mapa da capitania de Minas Geraes,” 1810, Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro, Seção de Iconografia (aqui BNRJ e SI), ARC. 32, 4, 20. O
ao de 18'0 marcou o começo de um surto de atividade de construção de estradas mais
ao norte, como também, inclusive a construção de uma estrada da cidade de Ilhéus no
interior às margens do rio Pardo, uma estrada entre as cidades de Belmonte em Porto
Seguro e Minas Novas. Ao sul, a situação não era diferente, porque a coroa aprovou
uma construção adicional de estrada relacionada com o abastecimento da corte no
Rio de Janeiro. Ver Barickman, “Tame Indians,” 355, Tabela 2, “Attempts do
Improve Communications Between the Coast and the Interior in Southern Bahia,
1777-1818!; Caio Prado Júnior, Formação do Brasil contemporâneo, 20a. ed. (São
Paulo: Brasiliense, 1987), 243-7; Alcir Lenharo, As tropas da moderação: (O
abastecimento da Corte na formação política do Brasil, 1808-1842) (São Paulo:
Símbolo, 1979), cap. 2.

Raimundo José da Cunha Matos, Corografia histórica da província de Minas Gerais


(1837) (reimpressão, São Paulo: Ed. Itatiaia, 1981) 2:42; Maxwell, Conflicts and
Conspiracies, 13.

Francisco (de Sales) Ribeiro ao governador, n. p., 24 de julho de 1761, AN, cód. 807,
vol. 5, fls. 81,85.

Governador para Jozé Leme da Silva, Vila Rica, 27 de Julho de 1778, e para
Francisco Pires Farinho, Vila Rica, 27 de julho de 1778, BNRJ), Seção de
Manuscritos (aqui SM), CÓD. 2,2,24, FLS. 164-5v. Ver também Waldemar de
Almeida Barbosa, Dicionário histórico geográfico de Minas Gerais (Belo Horizonte:
Itatiaia Limitada, 1995), 286-7. Celso Falabella de Figueiredo Castro, Os sertões de
leste, achegas para a história da Zona da Mata (Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1987), 11-5.

Maria Hilda B. Paraíso, “O Botocudos e sua trajetória histórica,” in História dos


índios do Brasil, ed. Manuela Carneiro da Cunha (São Paulo: Companhia das Letras,
FAPESP/SMC, 1992) 415.

Governador, “Plano Secreto paa a nova Conquista do Cuieté,” (ca. Agosto. 1779,
Vila Rica) BNRJ, SM, cód. 2,2,24, fl. 230v.

Johannes (Joan) Blaeu, “Brasilia,” 1657, Rare Books Room, Benson Latin American
Collection (aqui BLAC0, University of Texas, Austin, Joanne Blaev (Joan Blaeu),
“Nova et Accurata Brasiliae,” 1670?, ibid.

“Mapa da região banhada pelo Rio Doce e seus afluentes, na Capitania de Minas
Gerais,” ca. 1758, in Mapa: Imagens da formação territorial brasileira ed. Isa Adonias
(Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht, 1993), 223, pl. 152, “Carta geographica
que comprehende toda a Comarca do Rio das Mortes, Villa Rica, e parte da Cidade
de Mariana do Governo de Minas Geraes,” ca. 1764, in ibid., 224, pl. 153.

O primeiro desses mapas, sem título, BNRJ, SI, arq. 9,2,7A, está catalogado
erradamente como cópia do “Mappa da Capitania de Minas Geraes...,” de Rocha,
1777, BNRJ, SI, arq. 1,2,28, do qual na verdade difere. O segundo mapa é “Carta
geographica da capitania de Minas Gerais e partes confinantes,” 1767, BNRJ, SI, ar.
17,5,12. Os mapas de Rocha de 1778 incluem “Mapa da Capitania de Minas Geraes
com a deviza de suas comarcas,” “Mappa da Comarca do Serro Frio,” “Mappa da
Comarca da Villa Rica,” “Mappa da Comarca do Rio das Mortes,” e “Maappa da
Comarca do Sabara.” O Arquivo Histórico do Exército no Rio de Janeiro tem os
orginais, facsímiles que foram publicados recentemente como inserções de folha
solta em Geografia histórica da Capitania de Minas Gerais de José Joaquim da
Rocha, editado por Maria Efigênia Lage de Resende a partir de ms (manuscritos?) de
1780. (Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1995).

“Comarcas de Porto Seguro e de Ilhéus,” ca. 1807, in Mapa, ed. Isa Adonias, 207, pl.
145, “Mapa da capitania de Minas Geraes,” 1810, BNRJ, SI, arq. 32,4,20. Sobre as
origens de Guarulho, ver José, “indígenas”, 28-9. Apesar da afirmação do cartógrafo,
sabemos que os puri, coroados, e coropós também se bateram contra os botocudos na
mesma zona.

Rocha, Geografia histórica, 77-8.

Dicionário geográfico brasileiro (Pôrto Alegre: Ed. Globo, 1972), 192.

Sobre a resistência caiapó ao longo da fronteira de São Paulo, ver Jerônimo Dias
Ribeiro para Morgado de Mateus, Registro de Itupeva, 11 de Jan. 1766, 29 de Nov.
1768, BNRJ, SM, Arquivo Morgado de Mateus (aqui MM), I-30,16,9 docs. 1,9.

Governador, “Bando para a devizão das Comarcas,” Vila Rica, 5. out. 1779, BNRJ,
cód. 2,2,24, fls. 223v-4v. Neste decreto, Noronha estabeleceu novas fronteiras entre
o que era então as quatro comarcas da capitania: Vila Rica, Sabará, Rio das Mortes, e
Serro Frio. O decreto está publicado em Theophilo Feu de Carvalho, Comarcas e
termos: Creações, suppressões, restaurações, encorporações e desmembramentos de
comarcas e termos, em Minas Geraes (1709-1915) (Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1922), 64-6.

A citação é tirada do título do manuscrito de Manoel José Pires da Silva Pontes,


“Extractos das viagens feitas no deserto, que separa as povoações da província de
Minas Geraes, e as povoações do littoral nas províncias do Rio de Janeiro, Espírito
Santo, e Bahia,” n.d., BNRJ, SM, cód. 5,3,40.

Sobre a definição de fronteiras como parte essencial da história social, política, e


cultural do povoamento de fronteiras, cf. William Cronon, George Miles, e Jay Titlin,
“Becoming West: Toward a New Meaning for Western History” em Under an Open
Sky: Rethinking America's Western Past, eds. William Cronon, George Miles, e Jay
Gitlin (New York: W. W. Norton & Co., 1992), 15; Jill Lepore, The Name of War:
King Philip's War and the Origins of American Identity (New York: Alfred A Knopf,
1998), xiii, 74.

Maxwell, por exemplo, escreve que “O vale do Rio Doce era o território
inquestionável dos ferozes índios aimorés...” Na mesma linha, Prado Júnior escreve
que além do distrito diamantífero ao norte das bacias dos rios Jequitinhona-Araçuaí
instalado em Minas Novas, e mais ao sul, alguma atividade de mineração de ouro de
menor importância na bacia do Rio Doce nas vizinhanças de Peçanha, o restante do
leste do sertão permanecia como “um deserto.” A coroa “tinha isolado
completamente a região” para impedir o contrabando. Ao norte do vale do rio
Paraibuna e do Caminho Novo, “as florestas permaneciam intactas, ocupadas
unicamente por tribos de índios selvagens.” Somente no final do século dezoito, de
acordo com Prado Júnior, ocorreu algum avanço significativo no leste do sertão de
Minas Novas, embora expansão similar na região do rio Doce tenha começado
somente após a virada do século. Maxwell, Conflicts and Conspiracies, 85; Prado
Júnior, Formação do Brasil contemporâneo, 76-8.

Do governador para Jozé do Valle Vieira, Vila Rica, 4 de mar. 17777, BNRJ, SM,
cód. 2,2,24, fl. 88; do governador para o comandante da terceira divisão, Vila Rica, 7
de mar. De 1812, BNRJ, SM, cód. 1,4,5, doc. 271; Paulo Mendes Ferreira Campelo
para o governador, Cuiteé, 4 de abr. 1770, BNRJ, SM, Arquivo Conde de Valadares
(aqui CV), cód. 18,2,6, doc 237; Pedro Afonso Galvão de São Martinho para o conde
de Linhares, Vila Rica, 29 de jan. 1811, BNRJ, SM, I-33,30,22, doc. 1.

(Manoel Vieyra Nunes,) “Termo de reunião de conselho,” Barra das Larangeiras, 5


de ulho de 1769, BNRJ, SM, CV, cód. 18,2,6, doc. 192.

Pontes, “Extractos,” BNRJ, SM, cód. 5,3,40, fls. 19V; “Ordens sôbre arrecadação e
despesas, 1768 (-1771),” 30 de maio de 1770, BNRJ, SM, Arquivo Casa dos Contos
(aqui CC), GAVETA I-10-7, doc. 55; “Petição que fizerão e assignarão os moradores
das freguesias ostilizadas,” ca. Maio 1865, Arquivo Público Mineiro (aqui APM), cc,
CÓD. 1156, FL. 9. Ver também Ricardo de Bastos Cambraia e Fábio Faria Mendes,
“A colonização dos sertões do leste mineiro; Políticas de ocupação territorial num
regime escravista (1780-1836),” Revista do Departamento de História –
FAFICH/UFMG, 6 (julho de 1988): 137-50.

Jozé Eloi Ottoni, “Memoria sobre o estado actual da Capitania de Minas Gerais,”
Lisboa, 1789, em ABNRJ 30 (1908): 313. A imagem de Ottoni do leste do sertão
espelha mitos centrais que desde o início povoaram o espírito europeu na conquista
do Novo Mundo: o da existência e consequente busca de um paraíso terrestre, um
Éden perdido, especialmente um cuja fecundidade tornava desnecessário o labor
humano. Ver Sérgio Buarque de Holanda, Visão do paraíso: Os motivos edênicos no
descobrimento e colonização do Brasil, 4a. ed. (São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1985). Para o equivalente do mito na América do Norte no qual a fronteira
do oeste era representada como o “jardim do mundo,” ver Henry Nash Smith, Virgin
Land: The American West in Symbol and Myth (New York: Vintage Books, 1957).

Para uma análise do declínio ou decadência que se seguiu ao ciclo do ouro durante a
segunda metade do século dezoito, ver Souza, Desclassificados, cap. 1. Sobre a
grande crise econômica colonial da qual o declínio damineração foi apenas uma
parte, ver Fernando ª Novais, “Brazil in the Old Colonial System,” trad. Richard
Graham e Hank Phillips, in Brazil and the World System, ed. Richard Graham
(Austin: University of Texas Press, 1991), 11-55; Novais, Portugal e Brasil na crise
do antigo systema colonial (1777-1808), 2a. ed. (São Paulo: Ed. HUCITEC, 1981);
José Jobson de A Arruda, O Brasil no comércio colonial (São Paulo: Editora Ática,
1980), esp. 115-20, 317-8, 655-62. Ver também Kenneth Maxwell, Pombal: Paradox
of the Enlightenment (Cambridge, Eng.: Cambridge University Press, 1995), 131-6, e
Conflicts and Conspiracies, esp. Cap. 2.

Jozé Eloi Ottoni, “Memoria,” 317.

Wied, Viagem ao Brasil, 153.

Sobre as origens históricas e aplicação frequente pelos portugueses do princípio da


“guerra justa” aos índios da América portuguesa, ver Beatriz Perrone-Moisés, “Índios
livres e índios escravos: Os princípios da legislação indigenista do período colonial
(séculos XVI a XVIII),” e “Inventário da legislação indigenista, 1500-1800,! ambos
na História dos Índios, 115-32 e 529-66, respectivamente. Para uma análise recente
das noções dos ingleses e espanhóis quanto ao mesmo princípio na conquista dos
ameríndios, ver Lepore, Name of War, 106-13. Uma história igualmente longa
estabeleceu um modelo para as acções militares portuguesas nas quais as distinções
da coroa entre fazerataque ao inimigo enquanto poupava índios amistos foram
desconsideradas na prática. Ver, por exemplo, Mathias C. Kemen, The Indian Policy
of Portugal in the Amazon Region, 1614-1693 (New York: Octagon Books, 1973),
22.

Sobre a extensão da guerra a esses outros grupos,s ver Oliveira Lima, Dom João VI
no Brasil, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Topbooks, 1996), 487; John Hemming, Amazon
Frontier: The Defeat of the Brazilian Indians (Cambridge, Mass.: Harvard University
Press, 1987), 93, 112-3. Para a declaração de guerra real contra os Kaingáng, ver
carta régia, 5 de nov. 1808, em Legislação indigenista, 62-4.

“Lista das pessoas que devem e tem obrigação de concorrerem para embaraçar o
corso com que o gentio Sylvestre está todos os annos entrando pelas fazendas e
sesmarias da Beira do Rio Doce...,” Vila Rica, 9 de maio de 1765, APM, CC, cód.
1156, fl. 4.

“Petição que fizerão e assignarão os moradores das freguesias ostilizadas,” ca. Maio
de 1765, APM, CC, cód. 1156, fls. 9-10.

Governador (Antônio de Noronha), “Conta que foi inclusa nas ditas cartas do sr.
Marquês de Pombal e Martinho de Mello sobre a extinção das duas companhias de
pedestres do Cuieté,” Vila Rica, 25 de julho 1775, APM, Seção Colonial (aqui SC),
cód. 212, fls. 72-3.

Este português aqui se lê “entradas e insultos.” Entrada ou penetração, junto com a


bandeira e expedição, era o termo comumente usado para descrever a expedição
montada pelos portugueses para entrar e conquistar o sertão. Aplicada aos ataques
dos índios às colônias, a palavra é curiosa e sugere uma entrada ou, como traduzi, um
avanço dentro do território que os portugueses consideravam seu.
Governador, “Instrução que há de seguir o Cap. Antônio Cardozo de Souza,” (Vila
Rica, ca. 1767,) BNRJ, SM, CV, cód. 18,2,6, doc. 293.

Os registros de impostos estão contidos no codex manuscrito “Províncias tomadas


para a catechese dos Índios no Rio Doce e Piracicaba, Vila Rica, 1764-1767,” APM,
CC, cód. 1156, fls. 2-3v.

Antônio Cardozo de Souza ao Governador, Vitoria, 15 de setembro de 1769, BNRJ,


SM, CV, cód. 18,2,6, doc. 301.

(Manoel Vieyra Nunes), “Termo de reunião de conselho,” Barra das Larangeiras, 5


de julho de 1769, BNRJ, SM, CV, cód. 18,2,6, doc. 192.

Alvará (carta real), 4 de abril de 1755, citado em John Hemming, Amazon Frontier,
1-2.

“Lei por V. Magestade há por bem restituir aos Índios do Grão Pará, e Maranhão a
liberdade das suas pessoas, bens, e commercio na forma que nella se declara,”
Lisboa, 6 de junho de 1755, facsímile reimpressa em Carlos de Araújo Moreira Neto,
Índios da Amazônia: De maioria a minoria (1750-1850) (Petrópolis: Editora Vozes,
1988), 152-63.

John Hemming, Amazon Frontier, 1-2.

Moreira Neto, Índios da Amazônia, 164.

Para o texto completo do Diretório, ver “Directorio que se deve observar nas
Povoaçoens dos Índios do Pará, e Maranhão em quanto Sua Magestade não mandar o
contrario,” (Pará, 1757), facsímile reimpresso em Moreira Neto, Índios da Amazônia,
165-203, citaçõs 166-8. A acusação de Furtado é citada em Colin MacLachlan, “The
Indian Labor Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800,” em Colonial Roots of
Modern Brazil, ed. Dauril Alden (Berkeley: University of California Press, 1973),
209. Trabalhos de estudiosos no Directório incluem Hemming, Amazon Frontier, 4-7,
11-6, cap. 3; Barickman, “Tame Indians,” 337-51; Maxwell, Pombal, 58-9; Beatriz
Perrone-Moisés, “Índios livres e índios escravos: Os princípios da legislação
indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII),” em História dos índios, 115-
32; Colin MachLachlan, “The Indian Directorate: Forced Acculturation in Portuguese
America (1757-1799),” The Americas 28:4 (Abril 1972); 357-87 e “The Indian Labor
Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800,” em Colonial Roots of Modern
Brazil, ed. Dauril Alden (Berkeley: University of California Press, 1973), 209-22; e
João Capistrano de Abreu, Chapters of Brazil's Colonial History, 1500-1800, trad.
Arthur Brakel (New York: Oxford University Press, 1997), 155-65; tradução baseada
em Capítulos de história colonial, 1500-1800, 3a. ed. (Rio de Janeiro: Ed. Briguiet,
1954). Sobre a emancipação dos índios e a expulsão dos jesuítas, ver também
Maxwell, Conflicts and Conspiracies, 17,30. Para um índice útil por ano, assunto, e
grupo étnico da legislação pertinente aos índios brasileiros, ver Beatriz Perrone-
Moisés, “Inventário da legislação indigenistas, 1500-1800,” em História dos índios,
529-66. Sobre o século dezenove, ver M. Cunha, Legislação indigenista.

Exceções recentes incluem Barickman, “Tame Indians,” 337-51; e Mary Karasch,


“Catequese e cativeiro: Política indigenista em Goiás, 1780-1889,! em História dos
índios, 397-412.

O primeiro desses documentos é um alvará, de 17 de agosto de 1758, facsímile


reproduzido em Moreira Neto, Índios da Amazônia, 165-203, citações 166-8. Para o
texto integral da Direção, ver “Direção com que se interinamente se devem regular os
índios das novas villas e lugares erectos nas aldeias da Capitania de Pernambuco e
suas annexas,” Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (aqui RIHGB)
46:1 (1883): 121-69.

Abreu, Chapters, 156.

As aldeias estão listadas em Abreu, Chapters, 164-5.

Na ordem, esses três documentos são dois decretos reais (cartas régias), ambas
datadas de 14 de setembro de 1758, e Francisco Xavier de Mendonça Furtado para o
Governador, Salvaterra de Magos, 12 de fevereiro de 1765. Eles ocupam as primeiras
páginas do códice manuscrito, o último dos quais con^tém documentos relacionados
com a tentativa de conquista dos índios do leste do sertão feita pelo governador Silva
. Ver “Providencias tomadas para a catechese dos Indios no Rio Doce e Piracicaba,
Vila Rica, 1764-1767,” APM, CC, cód. 1156, fls. 2-3v.

Perrone-Moisés, “Inventário,” História dos índios, 558. Para a legislação específica


pertinente a Pernambuco e Paraíba do Norte, Consultação do Conselho Ultramarino,
11 de outubro de 1764, Documentos Históricos, 92 (1951): 75-6. Para São Paulo, ver
“Portaria para que nenhú Soldado q'estiver de Guarda nos Reg.(os) desta Cap.(nia)
deixe passar Indio algum com cargas,” São Paulo, 15 de jan. 1767; “Ordem p.(a) o
Director da Aldea dos Pinhr.(os) mandar medir as terras pertencentes à d.(a) Aldea,”
São Paulo, 17 de julho de 1767; “Ordem p.(a) se mediem as terras pertencentes à
Aldea de S. Miguel,” São Paulo, 29 de julho de 1767; “Ordem para se formar Villa da
Aldea de Nossa Snr.(a) da Escada,” São Paulo, 14 de agosto de 1767, Documentos
interessantes para a história e costumes de São Paulo (aqui DI) 65 (1940): 148, 172,
172,, 175-6. As ordens sancionando novas conquistas também se originaram em São
Paulo, onde em 1771 o governador Luís Antônio de Sousa Botelho, o morgado de
Mateus, armou sessenta soldados mobilizados para submeter os índios ao longo da
fronteira entre São Paulo e Rio de Janeiro, e em uma ação separada concedeu
isenções especiais aos membros de uma expedição montada para combater os índios
ao longo da fronteira entre São Paulo e Minas Gerais. “Ordem mandando municiar
aos Soldados que vão conquistar os Indios da Piedade,” São Paulo, 6 de junho de
1771, e “(ordem) dando izenções aos que forem combater contra os Indios, nas
divisas com Minas Geraes,” São Paulo, 6 de junho de 1771, DI 33 (1901): 10-1.

“Ley porque V. Magestade há por bem restituir aos Indios do Grão Pará, e Maranhão
a liberdade das suas pessoas, bens, e commercio na forma que nella se declara,”
Lisboa, 6 de junho de 1755, Índios da Amazônia, 161-2.

“Providências tomadas para a catechese dos Índios no Rio Doce e Piracicaba, Vila
Rica, 1764-1767,” APM, CC, cód. 1156, fls. 1-1, 4.

Governador, “Orden para a entrada dos corpos de gente para a civilização dos gentios
silvestres puris e buticudos,” Vila Rica, 21 de abril de 1766, APM, SC, cód. 118, fls.
148-50v; governador para Antônio Pereira da Silva, Vila Rica, 28 de junho de 1766,
APM, SC, cód. 118, fls. 171v-2.

Exemplo representativo é a formulação da antropóloga Manauela Carneiro da Cunha,


que, deveria ser notado, merece tanto crédito como qualquer “scholar” isolado pelo
seu crescente interesse na história dos índios brasileiros. Cunha escreve que a
declaração de guerra inaugurou uma era de “franqueza sem precedentes a respeito da
luta com os índios.” Manuela Carneiro da Cunha, “Política indigenista no século
XIX,” em História dos índios, 136-7. Moreira Neto, de sua parte, atribui a chegada
em 1808 da corte portuguesa no Brasil a consolidação de uma “nova política de
opressão” que reverteu para o século dezesseis e dezessete o tratamento dos índios.
Moreira Neto, Índios da Amazônia, 32. Outros exemplos do tratamento dos
“scholars” é o decr4eto e a guerra que se seguiu, conforme inclui Maria Hilda B.
Paraíso, “Os botocudos e sua trajetória histórica,” em História dos índios, 416-8;
Barickman, “Tame Indians,” “Wild Heathens,” e colonizadores no sul da Bahia ao
final do século dezoito e começo do século dezenove,” The Americas 51:3 (Jan.
1995): 359-62; Lima, Dom João VI, 487-93; Hemming, Amazon Frontier, 91-3, 99-
100.

A respeito da ascensão tardia da autoridade centralizada no Rio de Janeiro durante a


transição de colônia para nação, ver esp. Roderick J. Barman, Brazil: The Forging of
a Nation, 1798-1852 (Stanford, CA: Stanford Univeresity Press, 1988).

Outra vez, Karasch, “Catequese e cativeiro,” e Barickman, “Tame Indians,” fornecem


exceções típicas para os casos de Goiás e o sul da Bahia, respectivamente.

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