Você está na página 1de 6

Texto Fichado: MEIRELES, Denise Maldi. Guardiães da fronteira: rio Guaporé século XVIII.

Petrópolis: Vozes, 1989. p. 119-152.

“O Guaporé lusitano Começa a tomar corpo depois da primeira visita a Exaltación - quando
os estadistas compreendem a importância estratégica da região - e se desestrutura por volta de
1820 Quando as mudanças irreversíveis tornam insustentável o modelo colonial de ocupação.
Ao final, sucumbindo à decadência, as duas margens do rio são parecidas. Mas só ao final. No
início do século XVIII são absolutamente contrastantes, como se um fosso profundo as
separasse.” (P. 121)

“A palavra "ltenez" que, como foi visto, designou o rio Guaporé para os espanhóis, deriva do
vocábulo i te, que significa "pai" na língua moré.” (P. 121)

“Cau ta yó é também uma palavra moré: o nome que davam a um grupo de índios que
habitava uma região na margem direita do Guaporé, próximo ao local onde seria construído o
Forte Príncipe da Beira, pela- mata adentro.” (P. 121)

“De algum povo tupi os portugueses ouviram a palavra muquem, a mesma que daria origem
ao verbo moquear - assar na labareda.” (P. 122)

“Todas essas palavras, com diferentes grafias, converteram-se em etnômios empregados para
designar as diferentes sociedades que habita vara os vastos territórios que se estendiam ao
longo da margem direita do Guaporé e dos seus afluentes orientais.” (P. 122)

“Os primeiros povos do Guaporé que travaram cantata com os portugueses foram, sem
dúvida, os Moré, No início do século XVIII, indiferentes à dicotomia esquerda/direita,
localizavam-se em diferentes áreas ao longo do rio, além da sua confluência com o Mamoré.
Eram canoeiros e incursionavam pelo rio Baures, indo até o Machupo.” (P. 122)

“A capitania de Mato Grosso, desmembrada de São Paulo, foi oficialmente criada em 1748.
Abrangia uma região imensa: limitava-se ao norte com a capitania do Grão-Pará e Rio Negro;
ao sul, com as capitanias de Goiás e São Paulo; ao ocidente, com os governos de Chiquitos,
Mojos e Paraguai, totalizando 48 mil léguas quadradas. Para governá-la, foi escolhido O.
Rolim de Moura, ele seria o primeiro Conde de Azambuja, mais tarde governador e capitão-
general da· Bahia e vice-rei do Brasil. Tratava-se de um homem da mais alta estirpe da
nobreza portuguesa, com uma formação cultural e científica excepcionalmente requintada.
Sua escolha não foi, por isso mesmo, simplesmente política, mas decorreu de pressões do
Conselho Ultramarino que, frisando importância estratégica da nova capitania, recomendava
que fosse dirigida por governador "distinto e inteligente''.” (P. 128/129)
“Embora os jesuítas contassem, em muitos casos, com o apoio da Coroa, a situação de tensão
era vivida pelas missões de diferentes formas, fosse através dos portugueses, fosse através dos
colonos espanhóis, que disputavam o monopólio da mão-de-obra indígena. É verdade que os
colonos sempre tiveram índios para explorar, mas essas populações, uma vez submetidas,
exterminavam-se rapidamente. As missões eram vistas como reservatórios de mão-de-obra, já
que mantinham - a despeito das epidemias que não raro as assolavam - um equilíbrio
mínimo.” (P. 141)

“Os jesuítas acabaram se convencendo que tinham de armar os índios. Após sucessivos
ataques sofridos nas reduções, conseguiram, em 1640, autorização para os Guarani utilizarem
armas de fogo. Por outro lado, os padres haviam se comprometido a fazerem os índios
entender que o único meio de ter assegurada a sua liberdade era declarando-se súditos ou
vassalos da Coroa de Espanha” (P. 141)

“Por outro lado, a conquista do índio e a sua transformação em vassalo fez com que os
lusitanos vissem nos povos indígenas da margem esquerda do Guaporé "súditos e tributários
do rei de Castela" e vice-versa. Esta concepção refletia as inúmeras contradições que
envolviam à visão do índio: os portugueses estimularam o traslado de grupos inteiros para a
margem direita. Nesse caso, havia não somente o desejo de povoar o território lusitano, mas a
sua consequência: o de esvaziar o território espanhol, tornando-o mais vulnerável. O
deslocamento desses índios diminuiria, portanto, os súditos de um rei para aumentar os de
outro.” (P. 149)

“O índio como guardião natural da fronteira é, sem dúvida, a visão que melhor caracteriza a
mentalidade da elite do Guaporé setecentista. Nesse sentido, os governantes procuraram
formar alianças e firmar acordos que, de fato, foram fundamentais para dificultar ou favorecer
os movimentos expansionistas na fronteira.” (P. 149)
Texto Fichado: FONSECA, Dante Ribeiro da. Das bandeiras às fronteiras: São Paulo, Belém
e a expansão a oeste de Tordesilhas. A defesa nacional: revista de assuntos militares e estudo
de problemas brasileiros. Ano CV, Nº 834, p. 40-55, 3º quadrimestre de 2017.
Autor da Resenha: José Borges dos Santos Júnior

“A abordagem do processo de conquista e colonização portuguesa do Brasil, tendo como


ênfase a ação militar, impõe a observação de dois outros aspectos relevantes. São eles: o
religioso e o econômico.” (P. 40)

“Quanto ao aspecto religioso, podemos destacar a mentalidade de cruzada, que presidiu


inicialmente a conquista da terra. Foi esse aspecto ideológico norteador da ação missionária e
também militar.” (P. 40)

“Quanto ao recorte econômico, sabemos que a conquista da América também representou


uma obstinada busca de riquezas pela Europa. Por isso, o avanço pelo território segue a rota
da instalação de sistemas de produção ou das descobertas das riquezas naturais.” (P. 40)

“Devemos alertar, porém, que aquilo que consideramos atividade militar terrestre nos séculos
iniciais da colonização não era atributo exclusivo do exército regular. Era responsabilidade
também do colono civil, através de vários mecanismos legais, instituídos ao longo da
formação do Estado Nacional Português. Entre esses mecanismos está a bandeira, cujas
patentes eram atribuídas ao colono pelas autoridades metropolitanas e coloniais.” (P. 41)

“O caráter expansionista atribuído às bandeiras foi mais praticado nas áreas periféricas aos
centros políticos e econômicos coloniais. São Paulo e Belém do Pará foram os núcleos
irradiadores das ações que vieram a romper com os limites de Tordesilhas. É por essa via de
entendimento que podemos considerar que a ação de indivíduos como Raposo Tavares e
Francisco de Melo Palheta, assim como de Ricardo Franco de Almeida Serra, revestia-se do
caráter militar, embora os dois primeiros não integrassem o exército regular da época, como
foi o caso do último.” (P. 41/42)

“Mesmo antes da chegada dos europeus à América, as nações ibéricas pugnavam pela divisão
das terras encontradas e conquistadas na busca do caminho marítimo para as Índias.
Inicialmente as bulas e tratados relativos ao tema concentravam maior precisão na costa da
África e ilhas adjacentes. Com o passar do tempo, passaram a dividir, entre Portugal e
Espanha, as terras supostamente ao Oeste” (P. 42)
“O rompimento da linha de Tordesilhas no Brasil e a resultante consolidação territorial
portuguesa, sobre o espaço antes convencionado como pertencente à coroa de Espanha, foi
obra dos bandeirantes de Piratininga. Essa vinculação é tão forte que a palavra bandeirante
passou mesmo a ser sinônimo de paulista. Normalmente a palavra é vinculada
automaticamente ao movimento de expansão e ocupação das fronteiras brasileiras a partir do
planalto de São Paulo durante o período colonial.” (P. 42/43)

“Na Amazônia, não houve o Ciclo do Ouro, e, no entanto, a região participou de forma
primordial, importante e decisiva no processo de ocupação da região a oeste de Tordesilhas,
em período mesmo anterior a esse ciclo. Aduzimos, ainda, que a ocupação ocorreu
inicialmente na Amazônia mais em função da defesa do território que em razão do Ciclo das
Drogas do Sertão, também um ciclo ambulante e inicialmente não fixador de população no
sertão. Sem a constituição de núcleos de colonização portuguesa a oeste de Tordesilhas, não
haveria consolidação da expansão da fronteira que seria legitimada pelos tratados de limites.”
(P. 46/47)

“Todo esse movimento incrementa a navegação de súditos portugueses por aqueles rios
fronteiriços em expedições de cunho político/militar ou comercial. Determinado a impedir a
evasão do metal pelo contrabando, o governo de Portugal proíbe a navegação do rio Madeira
em 1733. Tal incremento populacional em região de mineração provocou, como era de se
esperar, o surgimento de um lucrativo comércio. As monções, nome pelo qual eram
conhecidas essas expedições comerciais, saíam inicialmente de São Paulo com destino às
regiões mineradoras (Monções do Sul). Paralelamente, buscavam-se outras rotas de
abastecimento pelos rios que se dirigiam ao norte, intentando uma ligação comercial com
Belém (PA), transgredindo a proibição real.” (P. 51/52)

“por ordem do rei de Portugal, partiu de Belém uma expedição chefiada pelo sargento-mor
Luiz Fagundes Machado, tendo como astrônomo o mestre de campo José Gonçalves da
Fonseca, que tinha por objetivos observar os núcleos de colonização espanhóis na região
guaporeana e fazer o mapeamento mais detalhado dos rios da região.” (P. 53)

“na década em cujo último ano se assina o Tratado de Madri (1750), consolidando
juridicamente os resultados da ação bandeirante sobre o oeste brasileiro, intensifi ca-se a
penetração lusa no território fronteiriço do Madeira-Guaporé.” (P. 53)

“A nova fronteira seguiu pelo rio Guaporé até o ponto médio do rio Madeira, de onde, em
linha reta, seguiria para a nascente do rio Javari.” (P. 53)
“Em 1752 chega ao Guaporé o primeiro capitão-general do Mato Grosso, D. Antônio Rolim
de Moura que instala sua primeira capital, Vila Bela da Santíssima Trindade.” (P. 53)

Texto Fichado: PERRONE-MOISÉS, Beatiz. Índios livres e índios escravos: Os princípios da


legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela
Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 115-132.
Autor do Fichamento: José Borges dos Santos Júnior

“As leis coloniais relativas aos índios parecem constituir o locus de um debate que envolve as
principais forças políticas da colónia. No Brasil colonial, a questão da liberdade dos índios
ocupa um lugar central: João Francisco Lisboa caracteriza-a como "questão abrasadora" do
período” (P. 115)

“Aos índios aldeados e aliados, é garantida a liberdade ao longo de toda a colonização.


Afirma-se, desde o início, que, livres, são senhores de suas terras nas aldeias, passíveis de
serem requisitados para trabalharem para os moradores mediante pagamento de salário e
devem ser muito bem tratados” (P. 117)

“A localização dos aldeamentos obedece a considerações de várias ordens. Para incentivar o


contato com os portugueses, facilitando assim tanto a civilização dos índios quanto a
utilização de seus serviços, são em geral situados próximo das povoações coloniais” (P. 118)

“Da administração das aldeias são inicialmente encarregados os jesuítas, responsáveis,


portanto, não apenas pela catequese ("governo espiritual") como também pela organização
das aldeias e repartição dos trabalhadores indígenas pelos serviços, tanto da aldeia, quanto
para moradores e para a Coroa” (P. 119)

“A Lei de 1611 mantém a jurisdição espiritual dos jesuítas, estabelecendo, porém, a criação
de um capitão de aldeia, morador, encarregado do governo temporal.” (P. 119)

“à Lei de 1755, mas o Diretório de 1757 e a Direção de 1759, considerando os índios


incapazes de se autogovernarem, instituirão os diretores das povoações de índios. O governo
temporal voltará às mãos dos jesuítas quando se entende que a conversão, intento primordial
do aldeamento, só pode ser feita desse modo.” (P. 119)
“O trabalho dos índios das aldeias é, desde o início, remunerado, já que são homens livres.
Sejam as aldeias administradas por missionários ou por moradores, as leis preveem o
estabelecimento de uma taxa, os modos de pagamento e o tempo de serviço.” (P.120)

“Uma das principais funções atribuídas aos índios aldeados é a de lutar nas guerras movidas
pelos portugueses contra índios hostis e estrangeiros. Além dos índios das aldeias, são
também chamadas a lutar nessas guerras "nações aliadas" cuja aliança deve ser reafirmada nos
momentos em que há necessidade de grandes contingentes de guerreiros, o que nem sempre as
aldeias podiam fornecer.” (P. 121)

“Dada a evidente tendência dos colonizadores a desrespeitar as condições de utilização da


mão-de-obra aldeada, um procurador dos índios é nomeado já em assento de 1566.
Mencionado sempre como alguém encarregado de requerer a justiça por quem não a pode
requerer por si, deve ser, e alguns documentos dizem-no expressamente, alguém que não
possua nenhuma espécie de interesse a ser protegido, para que isso não interfira em seu
julgamento. O procurador dos índios é mencionado no Abará de 26/7/1596, na Lei de
9/4/1655 e no Regimento das Missões de 1686. Na tentativa de garantir a observância das leis
favoráveis aos índios.” (P. 121)

“O tratamento preferencial é recomendado para trazer os índios à conversão e aldeamento, e


para garantir as alianças. As razões apontadas para justificar os bons tratos são variadas, indo
desde os mais básicos princípios de direito até uma alegada inconstância dos índios, que pode
levá-los a retornar aos matos e à "gentilidade", se forem maltratados.” (P. 122)

“Se a liberdade é sempre garantida aos aliados e aldeados, a escravidão é, por outro lado, o
destino dos índios inimigos. Os direitos de guerra são objeto de grande elaboração,
reconhecidos mesmo nos momentos em que se declara a liberdade de homens que, segundo
princípios assentes de direito, seriam justamente escravizados” (P. 123)

Você também pode gostar