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CULTURA AFRICANA,
AFRO-BRASILEIRA E
INDÍGENA
Introdução
A diversidade cultural caracteriza a história do Brasil. O território nacional
originalmente foi povoado por grupos indígenas distintos que possu-
íam sistemas sociais, culturais e linguísticos heterogêneos. Quando os
portugueses chegaram por aqui, de acordo com Cunha (1992), estima-
-se que havia 6 milhões de pessoas segmentadas em mil diferentes
grupos indígenas. Ou seja, a recorrente contraposição entre descoberta
e ocupação deixa de ter sentido e abre espaço para uma história mais
integrativa, que considera os múltiplos agentes que contribuíram para
a formação de um país gigante pela própria natureza territorial, cultural
e social.
Neste capítulo, você vai conhecer os aspectos gerais do processo de
ocupação e colonização portuguesa no Brasil e o impacto de tal processo
no desenvolvimento colonial. Além disso, você vai estudar o choque
cultural entre os habitantes nativos do Brasil e os portugueses. Por fim,
vai ver um panorama do processo de tráfico e escravidão africana em
terras brasileiras.
2 A escravidão no Brasil: indígena e africana
Já em 1504 são assinaladas suas incursões. Nesse ano, com efeito, o navio
Espoir, sob o mando do capitão Paulmier de Gonneville, de Honfleur, al-
cançou nosso litoral, à altura, segundo parece, de Santa Catarina, onde seus
homens permaneceram por um semestre. Durante a viagem de regresso, o
navio ainda escalou em outro ponto, provavelmente na região de Porto Seguro
(HOLANDA, 2003, p. 106).
Leia o artigo de Renato Pereira Brandão “As Relações Étnicas na Conquista da Guanabara:
índios e o domínio do Atlântico Sul”, disponível no link a seguir.
https://qrgo.page.link/QS2oF
A escravidão no Brasil: indígena e africana 5
A presença constante dos franceses no litoral brasileiro fez com que Portugal
organizasse duas expedições guarda-costas, ambas comandadas por Cristóvão
Jacques, uma em 1516 e a outra em 1526. As duas expedições tinham como
objetivo expulsar os invasores franceses. As expedições, no entanto, não
conseguiram impedir o avanço dos estrangeiros, pois a costa litorânea era
muito extensa para ser patrulhada. “O remédio para tal situação estaria em
povoar a terra do Brasil. O próprio Cristóvão Jaques propusera-se a trazer mil
colonos” (HOLANDA, 2003, p. 107).
A ameaça estrangeira fez com que a coroa portuguesa se conscientizasse
de que era preciso iniciar o processo de colonização caso não quisesse
perder o domínio do território. No entanto, a presença dos franceses no
litoral brasileiro não foi o único motivo que fez Portugal decidir pela
colonização. A entrada da França, da Inglaterra e da Holanda no comércio
marítimo colocou Portugal numa situação de desvantagem, já que o país
perdeu o monopólio do comércio com as Índias. Portugal buscava então
uma nova fonte de riqueza.
Nesse período, notícias de que os espanhóis tinham encontrado ouro na
América corriam pela Europa, aumentando o interesse de Portugal em iniciar
a colonização. O rei de Portugal, D. João III, organizou então uma expedição
colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza. Em 1530, Martim
Afonso chegou ao Brasil com cinco navios e cerca de 400 homens, além de
animais, plantas e peças para montar um engenho.
Dali [da praia] avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou
oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então
lançamos fora os batéis e esquifes [pequenas embarcações], e vieram logo todos
os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. [...] E o
Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio.
E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando
aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio,
já ali havia dezoito ou vinte homens. [...] Eram pardos, todos nus, sem coisa
alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas
setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que
pousassem os arcos. E eles os pousaram (BRASIL, [201-?], documento on-line).
No dia 26 de abril de 1500, Cabral mandou rezar uma missa para celebrar a
chegada e simbolizar a incorporação daquelas terras aos domínios portugueses. Os
portugueses não levaram em consideração que as terras descobertas já eram habi-
tadas por outros povos. Para os conquistadores europeus, os indígenas faziam parte
da natureza e poderiam ser “humanizados” por meio da conversão e do batismo.
Você pode acessar a carta escrita por Pero Vaz de Caminha nos links a seguir.
Versão manuscrita
https://qrgo.page.link/Xu4mo
Versão transcrita
https://qrgo.page.link/aKNVm
algumas dessas línguas têm uma origem comum, ou seja, fazem parte de um
mesmo tronco linguístico. Os quatro troncos linguísticos a que pertence a
maioria das línguas faladas pelos indígenas no Brasil são: arawak, karib, tupi
e jê. Existem também grupos menores, com distribuição mais compacta, além
de línguas isoladas, desligadas de famílias (URBAN, 1992).
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) realizado em 2010, existem cerca de 274 línguas indígenas faladas
no Brasil (SEGUNDO..., 2012). As demais línguas se perderam ao longo dos
mais de 500 anos desde a chegada dos portugueses. Afinal, grande parte
dos povos indígenas desapareceu por conta de “[...] epidemias, extermínio,
escravização, falta de condições para sobrevivência e aculturação forçada”
(GASPAR, 2012, documento on-line).
Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de escravos sem levar
em consideração a combinação de interesses entre europeus e africanos. É bem
verdade que as nações europeias tentaram manter o controle sobre as regiões
12 A escravidão no Brasil: indígena e africana
Houve quilombos no Brasil durante todo o período de escravidão, que durou até
1888. Muitos dos descendentes quilombolas, na atualidade, ainda vivem nos locais
construídos por seus antepassados e lutam para garantir o direito à posse de suas terras.
De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (Conaq), não há um consenso acerca do número preciso de comunidades
quilombolas no País. Dados oficiais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial (Seppir) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) estimam que atualmente existam 2.847 comunidades certificadas no Brasil.
Leituras recomendadas
BRANDÃO, R. As relações étnicas na conquista da Guanabara: índios e o domínio
do Atlântico Sul. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005. Anais [...]. Londrina,
2005. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-
01/1548206569_d931a0643cc18fc2534c4e2d18b9211d.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020.
BRASIL. Fundação Biblioteca Nacional. [Carta de Pero Vaz de Caminha: manuscrito].
Brasília: Fundação Biblioteca Nacional, [201-?]. Disponível em: http://objdigital.bn.br/
acervo_digital/div_manuscritos/mss1277755/mss1277755.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020.
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