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PLANEJAMENTO REGIONAL

Fichamento
Aluno: Vitória Reginna dos Santos Silva
Professor: Lúcia Hidaka
Data:21/11/2023
Autor: Manuel Correia de Andrade
Título do livro: A questão do Território no Brasil

ANDRADE, Manuel C. de. A questão do território. In:___________. A Questão


do Território no Brasil. São Paulo. Hucitec; Recife: Ipespe,1995. P.19-28.

“A expressão território tem uso antigo nas ciências sociais e naturais;


recentemente, porém, com a retomada dos estudos de geografia política e de
geopolítica, ela voltou a ser utilizada, e hoje concorre com termos tradicionais,
como espaço e região.” (Andrade,1995, p.19)

“Nas ciências naturais, o território seria a área de influência e predomínio de


uma espécie animal que exerce o domínio dela, de forma mais intensa no
centro, perdendo esta intensidade ao aproximar-se da periferia, onde passa a
concorrer com domínios de outras espécies”. (Andrade, 1995.p.19)

“Os especialistas em Teoria do Estado costumam afirmar que o Estado se


caracteriza por possuir três elementos essenciais: o território, o povo e o
governo, ao passo que a nação é caracterizada pela coexistência do território e
do povo, mesmo inexistindo governo e, consequentemente, o Estado”
(Andrade, 1995, p.19)

“O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar,


estando muito ligado à ideia de domínio ou de gestão de determinada área.
Assim, deve-se ligar sempre a ideia de território à ideia de poder, quer se faça
referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas que
estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as
fronteiras políticas. (Andrade, 1995, p.19)

“A formação de um território dá às pessoas que nele habitam a consciência de


sua participação, provocando o sentido da territorialidade que, de forma

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subjetiva, cria uma consciência de confraternização entre elas.” (Andrade,1995,


p.20)

“Admitimos que a expressão territorialidade possa vir a ser encarada tanto


como o que se encontra no território, estando sujeita à sua gestão, como, ao
mesmo tempo, o processo subjetivo de conscientização da população e fazer
parte de um território, de integra-se em um Estado.” (Andrade,1995, p.20)

“Para se refletir sobre o problema do território no Brasil, tem-se que levar em


conta as relações existentes entre o espaço delimitado geográfica e
administrativamente pelas fronteiras e o território verdadeiramente ocupado.”
Andrade,1995, p.20)

“Daí, a grande extensão de terras consideradas como reservas indígenas e o


processo de penetração violento que é feito com apoio ou à revelia dos
governos, pelos métodos mais bárbaros e primitivos”. (Andrade, 1995. p.20-
21).

“[...] a expropriação da população nativa e a devastação da floresta iniciaram-


se no século XVI, com povoamento e a colonização” (Andrade,1995. p.21).

“Passadas as primeiras décadas, Portugal, que tinha o direito à terra, iniciou o


povoamento, fazendo que grandes áreas fossem desmatadas a fim de que os
colonos desenvolvessem a agricultura, sobretudo da cana-de-açúcar. Para
cultivá-la e produzir o açúcar necessitavam apresar os indígenas e reduzi-los à
escravidão, importar escravos negros da África, trazer da Europa animais de
tração e destruir a floresta, de vez que necessitavam de madeira para as
construções e para a fabricação de caixas de açúcar e de móveis para o
próprio uso.” (Andrade, 1995, p.21)

“Inicialmente, havia dificuldade de penetração, limitando-se à ocupação da


porção litorânea. O processo colonial, porém, era de expansão capitalista em
que eram empregados vultosos capitais que necessitavam multiplicar-se; para
isso, restauraram formas de acumulação primitiva, como a escravidão, em vista
da falta de disponibilidade de reservas populacionais pobres que pudessem ser
proletarizadas”. (Andrade, 1995, p. 21-22)

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“Na penetração no território, utilizavam a navegação fluvial, muito limitada em


numerosos rios, mas com condições de penetração expressiva em rios mais
caudalosos, como o São Francisco, o Paraguaçu e outros”. (Andrade, 1995,
p.22)

“No Sudeste do Brasil e na Bahia, a penetração foi bem mais expressiva, nos
fins do século XVI, quando os bandeirantes avançaram para o interior à
procura de metais preciosos, de pedras e de índios para escravizar; eles
trouxeram tal quantidade de escravos para Piratininga e para o litoral, que se
pode admitir que as bandeiras tenham tido uma dupla consequência: a
expansão territorial e o despovoamento do interior”. (Andrade, 1995, p.22)

“Na Bahia, a penetração foi feita, sobretudo, por fazendeiros à procura de


terras para desenvolver a pecuária e reduzir os indígenas que resistiam a este
avanço e ameaçavam vilas e fazendas próximas ao litoral. (Andrade, 1995,
p.22)

“No século XVII, a penetração já se fizera de forma expressiva, [...], em certas


áreas, como a bacia do São Francisco e o Sertão setentrional nordestino, com
o estabelecimento de grandes latifúndios onde a terra era explorada tanto
diretamente pelos sesmeiros, como por sitiantes que se estabeleciam e
criavam bovinos, caprinos, ovinos, suínos e equinos, pagando um foro ao
proprietário. Geralmente, eram os sitiantes que ocuparam a região, mas, sem
terem acesso às autoridades coloniais, não conseguiam obter as cartas de
sesmarias e se submetiam à tutela dos grandes senhores das Casas da Torre
e da Ponte.” (Andrade, 1995, p.22)

“O avanço paulista provocou o descobrimento de minas de outro e de pedras


preciosas, além de um grande afluxo populacional para o interior e a formação
de arraiais de garimpeiros. O povoamento não era contínuo, ele se adensava
em torno dos garimpos, dando origem a vilas que se situavam, muitas vezes, a
grande distância uma das outras, [...]. (Andrade, 1995, p.22-23)

“No Sul do Brasil, houve inexpressivo povoamento litorâneo, ao passo que no


interior, na porção ocidental, se desenvolveu um Estado teocrático indígena,
organizado pelos jesuítas, com a formação de aglomerados --- as missões --- e
onde desenvolviam a pecuária e a agricultura de subsistência. Esta civilização,

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com obras de arte monumentais, como a igreja de São Miguel, provocou


suspeitas entre as coroas de Espanha e de Portugal e despertou a cobiça dos
bandeirantes que, em sucessivas incursões, destruíram vários dos núcleos
missioneiros, escravizando indígenas, roubando o gado e desorganizando a
estrutura de povoamento; estrutura que possibilitaria a formação de um Estado
indígena nas margens dos rios tributários do Prata.” (Andrade, 1995, p.23)

“Com a destruição das missões, concluída pelos exércitos reais, desenvolveu-


se, na área, uma civilização de pecuaristas que fornecia animais de corte e de
trabalho aos paulistas e mineiros, durante o período áureo, no século XVIII.
(Andrade, 1995, p.23)

“A ocupação da Amazônia foi muito lenta, apesar da facilidade de navegação;


as distâncias eram enormes, o clima muito quente e úmido, os indígenas hostis
e as mais variadas moléstias atingiam os navegadores e aventureiros.”
(Andrade, 1995, p.23)

“O rio e seus afluentes foram perlustrados por navegadores portugueses e


espanhóis desde o século XVI, e os lusitanos levaram vantagem porque se
estabeleceram na foz do grande rio, com a instalação de Belém, e passaram a
fazer expedições de caça aos indígenas, muito utilizados como escravos, e a
procura das drogas do sertão” (Andrade, 1995, p.23)

“No século XVIII, definidas em grandes linhas as fronteiras entre a colônia


portuguesa e as espanholas, tratou o Governo português de estabelecer uma
estrutura de ocupação permanente, utilizando, inicialmente, missões religiosas
e, em seguida, estabelecimentos governamentais para reter o indígena e fazê-
lo passar a produzir para o mercado.”. (Andrade, 1995, p.23-24)

“A grande região entrou em estagnação e em decadência, até a segunda


metade do século XX, quando foi intensificado o povoamento, mediante a
construção de rodovias e o desenvolvimento da mineração e da pecuária, por
capitais oriundos do Sudeste, do Nordeste, do Sul e do exterior.” (Andrade,
1995, p.24)

“O processo de ocupação da Amazônia, desenvolvido a partir dos anos 30,


com a Fundação Central, e o projeto de transferência da capital para o Planalto

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Central, foram feitos por etapas, desenvolvidas ora com maior ora com menor
intensidade.” (Andrade, 1995, p.24)

“No período Vargas, observou-se que, de forma um pouco tímida, o Governo


promoveu a criação da Fundação Brasil Central, que desenvolveu projetos de
colonização agrícola no chamado Mato Grosso de Goiás e no próprio Estado
de Mato Grosso e criou cinco territórios federais, visando dinamizar
economicamente as áreas de fronteiras desenvolvendo atividades em trechos
distantes e pouco povoados.” (Andrade, 1995, p.25)

“No período de Juscelino Kubitschek foi realizada, em tempo recorde, a


construção de Brasília, no Planalto Central, tornando a área, que antes era
formada por grandes fazendas de criação e por terras devolutas e quase
despovoadas, ocupada por cidades, formando, nas proximidades, núcleos
urbanos que viviam por causa da capital.” (Andrade, 1995, p.25)

“Os militares, que ocuparam o poder, diretamente, de 1964 a 1985,


preocupados em construir um Brasil-potência, desenvolveram, em ritmo
acelerado, uma política de expansão no Norte e no Centro-Oeste. Desse modo,
concluíram a construção de estradas que ligaram o Centro-Sul às principais
cidades da Amazônia, fazendo com que o processo de ocupação, na região
Norte, passasse a ser feito do Sul para o Norte e não do Norte para o Sul,
como era feito anteriormente, utilizando as vias de navegação.” (Andrade,
1995, p.25)

“Uma análise desses projetos e de outros de menor expressão, como o da


exploração de cassiterita na Rondônia, no Amazonas, no Pará, poderia, do
ponto de vista geopolítico, ser feita, visando caracterizar as formas de
produção do território em função dos interesses do país ou de grupos
econômicos transnacionais”. (Andrade, 1995, p.26)

“Na verdade, esta política foi profundamente prejudicial ao país, de vez que
desmatou grandes áreas, intensificou a erosão dos solos, poluiu os rios---caso
do uso de mercúrio na lavagem de ouro dos garimpos --- desorganizou as
sociedades indígenas, os agrupamentos de seringalistas e apanhadores de
castanha que viviam na área há várias gerações, além de estimular a formação
de imensos latifúndios improdutivos, mas bastante poderosos, politicamente,

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para impedir qualquer política de reforma agrária ou de simples reestruturação


fundiária.” (Andrade, 1995, p.26-27)

“O vazio demográfico existente em áreas de fronteira, onde os grupos


indígenas s movimentam sem tomar conhecimento delas, implantadas que
foram pelos “ brancos”, sem consulta prévia a eles, o crescimento do
narcotráfico que utiliza o Brasil como ponto de passagem das áreas produtoras
de cocaína --- Peru, Colômbia e Bolívia --- para as grandes áreas
consumidoras --- Estados Unidos e Europa --- e a penetração de garimpeiros
além-fronteira, provocando problemas do Brasil com os seus vizinhos, levaram
o Exército a formular um projeto de ocupação da fronteira, o Calha Norte, que
vem sendo muito discutido.” (Andrade, 1995, p.27)

“Todos estes problemas que vêm sendo discutidos por cientistas que estudam
a Amazônia e as questões fronteiriças na bacia platina, são demonstrações de
que a produção do território, e a sua integração política a um país, dependem
da ideologia política dominante, do momento histórico vivido e das
disponibilidades de capital e de tecnologia. Não se pode esquecer que esta
transformação nem sempre é comandada pelo país que detém a soberania do
espaço em transformação, havendo, naturalmente, grande interferência
internacional.” (Andrade, 1995, p.27)

“Daí a necessidade de se conhecer bem o processo de produção do território


brasileiro desde o início da sua colonização, e a sua continuação, quando se
desenvolve uma política de internacionalização da economia e de
esvaziamento da noção de fronteiras.” (Andrade, 1995, p.28)

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