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Colatina
2018
ANA CAROLINA DINIZ BERNARDO
Colatina
2018
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Instituto Federal do Espírito Santo – Biblioteca do campus Colatina)
145 f. : il. ; 30 cm
CDD 721.0462
Agradeço a Deus pela minha trajetória e por mais essa vitória. É Ele que me guia, me
conforta e torna tudo possível.
As minhas orientadoras por toda paciência, dedicação e carinho. Cada momento que
compartilhamos foi de muito conhecimento. Eu não teria seguido em frente, nesse
trabalho, sem a ajuda de vocês.
Aos meus professores sou grata pelos ensinamentos, pelo companheirismo e pelo
“colo” nos momentos difíceis. Quando pensei em desistir vocês me incentivaram a
seguir.
As minhas amigas de faculdade, sou imensamente grata por estarem comigo nos
momentos bons e nos ruins. Vocês são incríveis!
Aos meus amigos e familiares, a distância aumenta a saudade, mas não diminui o
sentimento que tenho por vocês.
Por último e não menos importante, a minha mãe e ao meu pai, que sempre me
apoiaram e acreditaram no meu potencial, mesmo quando eu não acreditava mais.
Amo vocês!
Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas
transformam o mundo. (FREIRE, 2018)
In Brazil, the Federal Constitution of 1988 guarantees the right to come and go to
everyone, though disabled persons or persons with reduced mobility have to deal with
the disrespect of these rights every day. In heritage-listed buildings, the lack of
accessibility is often justified by the need to preserve the construction. The present
research focuses on The Solar Monjardim Museum, the first building preserved and
protected by Brazil’s National Institute of Historic and Artistic Heritage (Iphan), in order
to propose interventions to make it accessible to all visitors. For this purpose, a
theoretical review of the heritage and accessibility concepts was performed and the
building was examined in order to check its state of conservation and its compliance
with the accessibility standards. Thus, despite the extensive Brazilian legislation
guaranteeing access and full use of public buildings by everyone, it was found that the
place is not fully accessible to disabled persons or persons with reduced mobility. It
was also realized that it is difficult to make a historical heritage reacheable, but this
task is not impossible. Therefore, this work presents specific solutions for the Solar
Monjardim Museum, through an intervention proposal to make it accessible and
inclusive.
Ilustração 5 – Portas com sensores que se abrem sem exigir força física ou alcance
das mãos de usuário de alturas variadas ......................................................................32
Ilustração 39 – Planta baixa do porão, com destaque para parte de suas esquadrias 55
Ilustração 43 – Planta baixa do museu, com destaque para o tipo de acesso .............58
Ilustração 74 – Administrativo........................................................................................82
Ilustração 75 – Copa e banheiros ..................................................................................82
Ilustração 80 – Varanda.................................................................................................85
Ilustração 105 – Zona de acesso visual de objeto exibido na vertical para pessoas com
diferentes estaturas .....................................................................................................110
3.1 DIAGNÓSTICO.................................................................................................50
3.1.1 Análise do Edifício..........................................................................................50
3.1.2 Análise da Acessibilidade .............................................................................63
4 PROPOSTAS PARA CONSERVAÇÃO E ACESSIBILIDADE.......................88
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................115
1 INTRODUÇÃO
Compreende-se que tornar uma construção histórica acessível a qualquer cidadão vai
além do respeito às diferenças, faz parte da interação social, da valorização da
memória e do sentido de pertencimento.
O Museu Solar Monjardim (Ilustração 2) foi escolhido para esse estudo, por ser o
primeiro edifício histórico do Espírito Santo a ser tombado nacionalmente, em 1940, e
o “único exemplar da arquitetura rural do final do século XVIII” (IPHAN, acesso em 2
jun. 2018) inserido na capital Vitória. Além disso, em setembro de 2018 foi registrado o
maior número de visitantes de toda história do museu, quatro vezes mais que no
mesmo período do ano anterior (PORTELA, 2018). Sendo assim, é de suma
importância que o local atenda à diversidade de pessoas que o frequentam.
20
Esse estudo tem como objetivo propor intervenções para tornar o Museu Solar
Monjardim acessível e baseia-se nos conceitos de acessibilidade e patrimônio
histórico, feitos a partir da análise de legislações e normas vigentes. Em seguida são
identificados os problemas relacionados a conservação e a acessibilidade, com o
intuito de dar suporte para a proposta.
Inicialmente foi feita uma revisão bibliográfica referente aos seguintes assuntos:
arquitetura, acessibilidade e patrimônio histórico, por meio do levantamento e leitura
de normas, leis, artigos técnicos e científicos e dissertações, para fornecer suporte
teórico ao estudo. Buscou-se essas informações a partir da biblioteca da Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes), da biblioteca da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) no Espírito Santo e de sites da internet.
Com a análise dos dados coletados foi possível compreender os desafios das
pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida em acessar ou percorrer o museu,
fazendo uso de todos os seus ambientes.
Em seguida foi feito o cruzamento de dados entre a parte teórica que foi estudada e
os resultados obtidos. Todas essas informações deram suporte para o
desenvolvimento de um estudo preliminar para proposta de intervenção no Museu
Solar Monjardim.
22
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A Declaração do México (1985, p. 4), afirma que “qualquer povo tem o direito e o
dever de defender e preservar o patrimônio cultural, já que as sociedades se
reconhecem a si mesmas através dos valores em que encontram fontes de inspiração
criadora”. A Carta de Cracóvia (2000) complementa declarando a importância da
preservação do patrimônio como forma de proteger a memória coletiva, pois cada
comunidade tem que ter consciência do seu passado.
Portanto, um bem (móvel, imóvel ou natural) para ser considerado histórico deve
possuir um valor para a sociedade, fazer parte da história e da memória de uma
população, podendo ser local ou a nível global.
antigos que estavam sendo ameaçados pela era industrial. A legislação francesa foi
referência primeiramente na Europa e posteriormente para os demais países
(CHOAY, 2006).
Nesse período, entre meados dos séculos XIX e XX, surgiram as primeiras teorias
sobre o restauro, a princípio com Viollet-le-Duc e Ruskin, e posteriormente com Boito,
Brandi.
Que um arquiteto se recuse a fazer com que tubos de gás passem dentro de
uma igreja a fim de evitar mutilações e acidentes é compreensível [...] mas
que ele não consinta na instalação de um calorífero, por exemplo, sob o
pretexto de que a Idade Média não havia adotado esse sistema de
aquecimento nos edifícios religiosos, que ele obrigue assim os fiéis a se
resfriar por causa da arqueologia, isso cai no ridículo (VIOLLET-LE-DUC,
2007, p. 66).
Para Ruskin a restauração “significa a mais total destruição que um edifício pode
sofrer: uma destruição da qual não se salva nenhum vestígio: uma destruição
24
acompanhada pela falsa descrição da coisa destruída” (RUSKIN, 2008, p. 79). Sendo
assim, entende-se que ele não aceita o acréscimo de novos itens, mesmo que seja
para trazer conforto ou segurança ao usuário.
Dessa forma entende-se que ele aceita as adições do tempo presente, mas defende
que deva existir diferença entre os materiais e os estilos. Além disso, deve-se “colocar
uma lápide com inscrições para apontar a data e as obras de restauro realizadas”
(KÜHL, 2008, p. 22).
Cesare Brandi (1906 – 1988), italiano formado em direito e letras, dedicou-se, entre
outras funções, à restauração e à história da arte (CARBONARA, 2008). Ele define
restauração como “o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na
sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à
sua transmissão para o futuro” (BRANDI, 2008, p. 30), afirma também que a
“restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte,
desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e
25
sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (BRANDI, 2008,
p. 30), o que remete a Viollet-le-Duc.
Sobre adições, Brandi (2008, p.73) diz que “pode completar, ou pode desenvolver,
sobretudo na arquitetura, funções diversas das iniciais; na adição, não se recalca,
antes, se desenvolve ou enxerta”. Com isso entende-se que ele é a favor de
acréscimos, sendo eles necessários e de fácil distinção com o original, assim como
Boito e Le-Duc.
Vale ressaltar que Brandi propôs uma reelaboração teórica, onde desenvolveu o
restauro crítico que enaltece a individualidade de cada obra:
Além dos teóricos do restauro, existem outros documentos que podem nos guiar com
relação ao tema, como por exemplo, as Cartas Patrimoniais, desenvolvidas a partir de
discussões ocorridas em eventos de caráter científico, que acontecem devido o
estímulo de pessoas e instituições que prezam pela conservação e preservação do
patrimônio. Elas são de cunho indicativo e abordam diretrizes e conceitos para
orientar as decisões sobre preservação, manutenção e reparo do patrimônio, sendo
ele histórico, cultural e/ou artístico (USP apud REIS, 2015).
Já em 1972 foi divulgada a Carta de Restauração, que possui normas para serem
seguidas durante o processo de restauro. O seu oitavo artigo diz que
toda intervenção na obra, ou mesmo na área a ela contígua [...] deve ser
executada de tal modo, e com tais técnicas e materiais, que possa ficar
assegurado que, no futuro, não tornará impossível uma nova eventual
intervenção de salvaguarda ou restauração. Além disso, toda intervenção
deve ser previamente estudada e justificada por escrito [...] (BRANDI, 2008, p.
232).
A Carta de Burra (2013, p. 2, tradução nossa), define o termo conservação como “[...]
todos os processos de cuidar de um lugar para manter seu significado cultural”. O
Artigo 14º declara que a conservação deve ser feita de acordo com as circunstâncias
e deve abranger alguns processos como manutenção, preservação, restauração,
adaptação ou interpretação, sendo comum ocorrer uma combinação dessas técnicas.
(2013, p. 6, tradução nossa).
Sendo assim, entende-se que pequenas mudanças podem ocorrer para atualizar um
local e ajustá-lo as necessidades vigentes, apenas deve ser observada qual a
dimensão do impacto que essas alterações podem causar.
e no mesmo ano, o Artigo 46 da Lei 378 (BRASIL, 1937) permitiu a criação do Serviço
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) que substituiu o IMN.
Esses imóveis, muitas vezes, são tombados e isso ocorre como forma de “[...] impedir
sua destruição ou mutilação, mantendo-o preservado para as gerações futuras”
(IPHAN, acesso 8 maio 2018).
Hoje o Espírito Santo possuiu autonomia para suas atuações, pois em 2004, o então
Escritório Técnico que era vinculado a Regional do Rio de Janeiro e foi instalado em
1965, foi elevado a 21ª Superintendência do Iphan (IPHAN, 2018). Este fato,
teoricamente, simplifica a fiscalização e o gerenciamento dos técnicos na atuação dos
processos de preservação e restauração dos bens tombados no Estado, dentre eles o
Museu Solar Monjardim.
2.2 ACESSIBILIDADE
Dentre os artigos desta Convenção, dois são de maior relevância para esse estudo, o
Artigo 9º, que descreve a importância de fornecer acesso de forma igual as demais
pessoas, e o Artigo 30º que reconhece “o direito das pessoas com deficiência de
30
O Artigo 42, da referida lei, trata sobre o direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao
lazer. E o parágrafo segundo desse artigo menciona o acesso ao patrimônio cultural,
afirmando que
Já no Artigo 55, a LBI reafirma a necessidade de que todos os projetos atendam aos
princípios do desenho universal, tendo como referência as normas de acessibilidade.
Apesar de ter dado maior relevância e destaque para o desenho universal, a LBI
reconhece que “nas hipóteses em que comprovadamente o desenho universal não
possa ser empreendido, deve ser adotada adaptação razoável” (BRASIL, 2015, p. 14).
Ilustração 3 – Diversidade
O desenho universal possui sete princípios básicos, que são adotados mundialmente.
A NBR 9050:2015 (ABNT, 2015) explica cada um deles e para alguns fornece
sugestões de aplicação:
32
1. Uso equitativo: quando o ambiente ou o objeto pode ser usado por diversas
pessoas com diferentes capacidades (ilustração 5);
2. Uso flexível: o produto ou o lugar atende pessoas com diferentes habilidades e
preferências, sendo adaptável (ilustração 6);
Dessa forma entende-se que o desenho universal vai além da acessibilidade, pois
procura atender a diversidade humana de forma inclusiva. Tratando–se de edifícios,
reformas de edificações existentes são mais complexas para implantação do desenho
universal se comparadas aos projetos de novas construções. Seguindo esse
raciocínio, quando se trata de um imóvel tombado, pensar modificações ou
adaptações para fazê-lo seguir os princípios do desenho universal é ainda mais
complexo. Esses imóveis encaixam-se, na maioria dos casos, nas exceções da LBI,
sendo permitida a realização de adaptações razoáveis para torná-lo acessível.
Em 1985 foi criada a primeira Norma Técnica referente à acessibilidade, a NBR 9050,
que hoje se encontra em sua terceira revisão. A norma
A NBR 16537 foi implementada no ano de 2016 visando completar algumas lacunas
da NBR 9050:2015, tratando especificamente sobre a elaboração de projetos e
instalação de sinalização tátil no piso. Esse recurso é utilizado para promover a
segurança e ajudar na orientação para mobilidade das pessoas, principalmente
aquelas com deficiência visual ou surdo-cegueira (ABNT, 2016).
Assim como a anterior, a NBR 15599 também está em sua primeira e única edição.
Implementada no ano de 2008, foi desenvolvida com base nos preceitos do desenho
universal e fornece diretrizes para promover a acessibilidade na prestação de serviços
de comunicação (ABNT, 2008). Inclusive, por destacar o que deve estar disponível e
ofertado em museus, espaços de exposição e exposições culturais, esta NBR recebeu
uma atenção especial neste trabalho.
Andrade e Bins Ely (2012, p.76) afirmam que “As cidades brasileiras surgiram em uma
época em que não havia a preocupação em incluir as pessoas com deficiências na
sociedade”, a implantação da Vila de Vitória (atual capital do Espírito Santo) em 1551,
não foi diferente. Porém, hoje
Entende-se então que a NBR 15599, com sua única edição em 2008, a NBR 9050,
com sua última atualização em 2015, a NBR 16537, com sua primeira edição em 2016
e a Lei Federal nº 13.146 de 2015 (LBI), estão incorporadas à normativa.
Além disso, o item 3 da Instrução Normativa (IPHAN, 2003), discorre sobre os critérios
que deverão ser atendidos nas propostas de intervenção, que vão desde a realização
36
Em suma, ao tratar cada caso como único, a Normativa do Iphan torna-se pouco clara
em suas resoluções, porém vale notar que ela é um marco sobre a acessibilidade em
edifícios históricos.
De acordo com o site do museu (acesso em 25 nov. 2018, tradução nossa), torná-lo
acessível é uma prioridade, pois querem garantir que todos tenham uma visita
confortável. Dessa forma, garante-se a todas as pessoas o acesso ao museu
(ilustração 13), bem como ao auditório e a todas as galerias. Os banheiros são
acessíveis e existem alguns recursos de acessibilidade disponíveis, como:
empréstimo de cadeira de rodas, bengalas com ponta de borracha e assentos
dobráveis, mapas para orientação, réplica de obras, maquetes e dispositivos táteis,
para melhor compreensão dos mesmos.
As visitas podem ser programadas para serem guiadas a partir da Língua Francesa de
Sinais, leitura labial ou visitas descritivas. O aplicativo pago “My visit to the Louvre”,
disponível em sete idiomas, ajuda o usuário a se guiar pelo museu, fornece
informações detalhadas sobre eventos culturais, como exposições e workshops e
possui descrições sobre seiscentas obras e partes do palácio do Louvre. Todas as
informações sobre acessibilidade e serviços existentes no museu, estão disponíveis
no Registro Público de Acessibilidade (LOUVRE, acesso em 25 nov. 2018, tradução
nossa).
38
O site do museu (acesso em 12 fev. 2019) informa que o mesmo é acessível para
pessoas com mobilidade reduzida (ilustração 15), deficientes visuais, intelectuais e
auditivos. É recomendado que visitas personalizadas e em grupo sejam agendadas,
para melhor apreciação do lugar. Visitas guiadas ocorrem durante o ano para grupo
de deficientes auditivos, onde a visita é ministrada a partir da linguagem francesa de
sinais e para grupos de deficientes intelectuais, onde se propõe uma abordagem
voltada a aguçar a curiosidade e a reflexão.
bengala com ponta. Assim como o museu do Louvre, o d’Orsay também possui o
Registro Público de Acessibilidade (MUSÉE D’ORSAY, acesso em 12 fev. 2019).
Nos anos 90, o edifício passou por uma refuncionalização para converter-se em
museu artístico. O projeto de intervenção é de autoria do arquiteto Paulo Mendes da
Rocha, que dotou o local com a infraestrutura necessária para seu melhor
funcionamento, como elevadores, passarelas, novos sanitários, ampliação de áreas
para depósito e acervo, laboratório de restauro, biblioteca, entre outros (VITRUVIUS,
acesso em 7 fev. 2019).
O museu possui diferentes ações para atender a diversos públicos, dentre eles o
Programa Educativo para Públicos Especiais (PEPE) que promove o acesso de
pessoas com deficiência através de visitas realizadas em Língua Brasileira de Sinais
(Libras) e videoguias para o público surdo. A galeria tátil de esculturas brasileira foi
desenvolvida para pessoas com deficiência visual, que podem fazer o reconhecimento
das obras através do toque e são guiadas pelo espaço através do piso tátil direcional
(ilustração 16). Além disso, todos os andares do edifício são acessíveis, por meio de
elevadores e passarelas (ilustração 17) instalados na década de 1990 (MUSEU PARA
TODOS, acesso em 24 nov. 2018).
41
1
É um sistema de leitura e escrita tátil destinado a pessoas cegas ou com baixa visão (FUNDAÇÃO
DORINA NOWILL PARA CEGOS, acesso em 12 fev. 2018).
42
O único item que torna o local acessível, para pessoas com mobilidade reduzida, é a
rampa na lateral da igreja (ilustração 23) instalada em 2016, mesmo ano em que foi
restaurada. A calçada do entorno é de pedra portuguesa e não possui sinalização tátil,
como mostra a ilustração abaixo.
A rampa está com grande parte dos itens de acordo com a NBR 9050:2015, levando
em consideração a situação para o caso de reforma, entretanto, não possui
sinalização tátil ou de alerta como recomendado pela NBR 16537:2016. As alturas dos
corrimãos estão corretas, mas a rampa não possui guia de balizamento como exigido
na NBR 9050:2015. A mesma norma dita inclinação máxima de 8,33%, a inclinação
do primeiro segmento de rampa é de aproximadamente 6,43% e do segundo 9,76%,
mas o limite máximo estabelecido em casos de reformas é de 12,5%. Com relação a
largura da rampa, foi encontrada um variação entre 112 cm e 117 cm, que é menor
que o mínimo admissível (120 cm), mas está acima do mínimo aceitável para
edificações existentes (90 cm).
Como pode ser observado na ilustração 24, o encontro feito entre a rampa e a entrada
da igreja criou um vão de 3 cm e um desnível, o que pode dificultar o acesso do
usuário.
A Igreja (capela) de Santa Luzia está situada na cidade de Vitória, no Espírito Santo. É
uma construção do século XVI, considerada a mais antiga da cidade, tombada pelo
Iphan em 1946. Como mostra a ilustração 25, o que permite o acesso das pessoas
com mobilidade reduzida é a plataforma elevatória instalada em 2010 (IPHAN, 2018).
Observa-se também, que a calçada está degradada e não possui sinalização tátil.
O Museu Capixaba do Negro (Mucane), situado na cidade de Vitória, foi criado a partir
do decreto nº 15.078 de 4 de julho de 2011 e integra a estrutura organizacional da
Secretaria Municipal de Cultura (VITÓRIA, 2011).
Após as reformas ocorridas em 2006, o museu passou a possuir alguns itens que
promovem a acessibilidade interna, para a pessoa com mobilidade reduzida, dentre
eles a instalação do elevador que leva ao segundo pavimento (ilustração 26) e da
47
Sua construção é do período colonial, tendo provável início no final do século XVIII e
término em 1805, ano em que o capitão-mor Francisco Pinto Homem foi residir no
casarão. O imóvel passou a pertencer a família Monjardim em 1816, após o
casamento, da única filha de Francisco Pinto Homem de Azevedo, Ana Francisca
Maria da Penha Homem de Azevedo, com José Francisco de Andrade e Almeida
Monjardim. Entre 1816 até 1940, foi residência rural (permanente ou temporária) da
família Monjardim, até ser tombada (GOMES, 2006; DINIZ, 2018).
Antes de se tornar o Museu Solar Monjardim, em 1980, a edificação foi alugada pelo
governo do estado nos anos 40, abrigando o Museu Capixaba entre 1944 e 1964. Em
seguida o imóvel ficou sob gestão da Ufes, entre 1964 e 1969, que o renomeou para
Museu de Arte e História, que era a junção do Museu de Arte Sacra com o Museu
Capixaba (MUSEUS BR, acesso em 30 out. 2018).
Em 1980 foi inaugurado com o atual conceito de recriar uma residência rural de
família abastada do século XIX. Em dezembro de 2003 foi fechado para a realização
de obras, que visavam a proteção da área tombada. Foram realizados restauros e
reparos na edificação, implantados o sistema de drenagem e para-raios, além da
implantação de banheiros públicos. Foi reinaugurado em 31 de outubro de 2006,
sendo aberto para visitação pública apenas no dia seguinte (IPHAN, 2018).
Para compreender mais facilmente todos os fatos que ocorreram no Solar Monjardim,
desde o início de sua construção até os dias atuais, foi elaborada uma breve
cronologia (ilustração 30) listando os principais acontecimentos e seu respectivo
período.
50
Fonte: Gomes (2006); Diniz (2018); Iphan (acesso em 30 out. 2018); Museus BR (acesso em 30 out.
2018)
3.1 DIAGNÓSTICO
fiscalização da produção quanto a defesa do local. Dessa forma foram erguidos dois
pavimentos no formato retangular, com telhado composto por quatro águas, de telhas
de canal com beiral encachorrado (GOMES, 2006).
2
“Diminutivo de câmara aplicado para designar dormitórios ou alcovas. [...] Foi costume, em nossa
arquitetura particular antiga, a construção de pequenos aposentos superiores, acima do último
pavimento normal, como se fossem pequenos torreões engasgados na cobertura que, longe de
representar um aproveitamento do desvão do telhado, constituíam mais um minúsculo andar,
geralmente servindo de dormitório [...].” (Corona e Lemos, 2017, p.100)
52
A fachada posterior (ilustração 35) é composta, em seu pavimento inferior, por seis
janelas, sendo duas delas geminadas, três portas, um pórtico e um “pequeno alpendre
com forro em saia-camisa e piso em tábua corrida” (GOMES, 2006, p. 78). Já o
pavimento superior (camarinha) possui apenas duas janelas.
A partir das fachadas laterais podemos perceber o desnível existente entre o primeiro
e o segundo pavimento, e como ele foi aproveitado para a construção do porão. A
fachada lateral direita (ilustração 36) possui uma porta e duas janelas com guarda-
-corpo em madeira, no andar do museu e duas janelas tipo guilhotina na camarinha.
54
Já a fachada lateral esquerda (ilustração 37) é a mais simples das quatro, pois possui
três janelas no segundo pavimento e apenas uma no andar superior.
a) Porão – 1º Pavimento
O pavimento inferior, aqui denominado porão, é um local longo e estreito, que abriga a
administração do museu, banheiros, copa e um depósito, como mostra a ilustração
38. O depósito possui entrada própria, enquanto as demais áreas são acessadas
apenas por duas portas (indicadas na ilustração abaixo).
As esquadrias, nesse pavimento, “[...] são todas em madeira, encaixe macho fêmea,
possuindo algumas peças de madeira que impossibilitam a passagem (destacadas na
imagem 39), inseridos quando o Iphan se instalou no local” (GOMES, 2006, p. 73).
Dentre todas as portas, a defronte ao banheiro fica permanentemente fechada.
Ilustração 39 – Planta baixa do porão, com destaque para parte de suas esquadrias
cimento e atualmente encontra-se sem forro (ilustração 41). Esses ambientes foram
instalados quando o Iphan ficava sediado no local (GOMES, 2006).
b) Museu – 2º Pavimento
A entrada para o segundo pavimento, aqui chamado museu, é feita pela lateral da
edificação, por uma porta após o final da escada, indicada na ilustração 42. Nessa
mesma ilustração, pode-se observar a atual divisão interna do museu, sabe-se que
ele foi alterado com o passar do tempo para atender as necessidades de seus
habitantes.
57
Na ilustração 43, temos os cômodos do museu divididos por cores, de acordo com o
tipo de acesso. Em cinza são os ambientes que não podem ser acessados, apenas
observados, pois são utilizadas cordas para impedir a passagem do visitante. Em
laranja temos os cômodos onde a entrada é permitida apenas para os funcionários, já
os demais (branco) são de livre acesso.
58
[...] é constituído por pilares de pedra com argamassa de cal sendo uma
estrutura independente. Os fechamentos são em pau-a-pique nos
compartimentos internos e tijolo maciço cerâmico na varanda e na periferia da
construção. As esquadrias são de madeira com trabalhos de encaixe macho e
fêmea bem diferenciados um dos outros.
Foi observado que o único cômodo em que o assoalho não é de madeira é a cozinha,
onde o piso é em tijoleira. Já a varanda é o único ambiente que não possui forro,
deixando a estrutura da cobertura e as telhas aparentes.
c) Camarinha – 3º Pavimento
59
Hoje o acesso para a camarinha está impossibilitado para o visitante, pois a escada é
estreita (98 cm) e íngreme (com 17 degraus e espelho de 21 cm). Dessa forma usa-se
o local como reserva técnica (ilustração 44), para guardar parte do acervo não
exposto e outros objetos.
Gomes (2006, p. 129) relata que o Solar possui influência, principalmente da “[...]
arquitetura (rural) paulista e mineira, sobretudo a mineira da segunda fase3 [...]”.
Devido ao longo tempo de existência do casarão, o mesmo sofreu,
comprovadamente, alterações internas e construtivas, anteriores ao tombamento
(GOMES, 2006).
3
“As fazendas (mineiras) da segunda fase se desenvolveram [...] na primeira metade do século XVIII.
[...] Essa fase marca diversas mudanças na casa rural mineira, principalmente a alteração do partido.
[...] há uma busca por uma arquitetura que se adaptasse a região” (GOMES, 2006, p. 46).
60
Giovana Golçalves Achiamé e Genildo Coelo Hauequestt Filho (2017), com o objetivo
de facilitar a detecção das patologias. Um resumo do que foi encontrado segue na
tabela abaixo (tabela 1):
Ilustração 45 – Planta baixa do porão indicando seus respectivos danos Ilustração 46 – Planta baixa da camarinha com seus
respectivos danos
O diagnóstico a seguir foi baseado no checklist (Apêndice A), e foi o suporte para a
análise da edificação e de seu entorno em relação à acessibilidade. Sua elaboração
foi baseada nas três normas técnicas abordadas no referencial teórico: NBR
15559:2008, NBR 9050:2015 e NBR 16537:2016.
As tabelas a seguir resumem a situação que foi encontrada nos passeios do entorno
do museu. A tabela 2 se refere à calçada voltada para a Av. Paulino Muller, enquanto
a tabela 3 refere-se à calçada da Rua Professor Carlos Mattos.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Para ter acesso ao museu existem duas formas (ilustração 55): caminhando apenas
pela rampa de carro (setas azuis) ou parcialmente pela rampa e na sequência,
subindo as escadas (setas verdes). Nenhuma dessas opções é acessível, devido à
71
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
O patamar de acesso ao museu também é feito de pedras, que possuem frestas entre
elas e podem se tornar escorregadias quando molhadas. Ainda, existe um tapete na
porta de entrada (ilustração 57), que, segundo a NBR 9050:2015 (ABNT, 2015) deve
ser evitado e, quando existente, deve ser fixado ao piso, sem nenhum tipo de
enrugamento.
73
Entre a entrada do museu e o efetivo acesso a ele, existe um caminho (ao lado direito
da rampa) que leva aos canhões e ao anfiteatro (ilustração 61). Ele também é feito de
paralelepípedos que, como citado anteriormente, são irregulares e apresentam
espaçamento entre eles, o que ajuda a tornar o caminho trepidante, além de existirem
degraus que dificultam o acesso aos canhões expostos. Outro problema observado é
a chegada ao anfiteatro, como há mudança de piso e a junção entre eles não foi
realizada com o devido esmero, criou-se um desnível (ilustração 62).
Na parte superior do terreno, por trás do casarão, existem duas áreas que são usadas
como estacionamento, ao final da rampa de carros (ilustração 65) e defronte a
fachada de fundos do imóvel (ilustração 66). Em sua maioria, os veículos ali
estacionados são de funcionários do museu, sugerindo que o estacionamento próximo
a entrada seja destinado apenas aos visitantes.
76
Largura portão
Mínimo 80 cm 114 cm
para pedestre
Altura livre
portão para Mínimo 210 cm Não possui barreira
pedestre
Piso de acesso a Regular, não trepidante e Paralelepípedo e pedras
edificação antiderrapante (seco ou molhado) irregulares
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Como a área em frente ao anexo é usada como estacionamento, e não há uma rota
acessível até o mesmo, os automóveis podem acabar obstruindo a passagem,
dificultando a chegada até os banheiros, como mostra a ilustração 68.
A porta de entrada para o banheiro (ilustração 70) tem 78 cm de largura, abre para
dentro do ambiente (não totalmente, pois está emperrando) e não possui barra
horizontal na parte interna da porta, que auxilia na abertura e fechamento da mesma.
Além desses três itens que estão em desacordo com a NBR 9050:2015, a maçaneta,
apesar de ser de alavanca, está quebrada, sendo assim, para se trancar a porta usa-
se o trinco tipo ferrolho.
Internamente (ilustração 71) verificou-se que as barras de apoio da bacia sanitária não
estão posicionadas da maneira correta, e optou-se equivocadamente, por um lavatório
com coluna (não recomendado pela norma), além de não existirem barras de apoio
próximas ao mesmo. Ademais, as lixeiras dificultam o giro no interior do banheiro, e as
áreas de aproximação para bacia sanitária e pia.
Entrada independente ou
individual de acordo com o Entrada independente Sim
sexo
Existente, mas não
Símbolo para indicar Usar Símbolo Internacional de
está de acordo com a
acessibilidade Acesso (SIA)
norma
Faixa de alcance entre 120 cm e
160 cm em plano vertical ou entre
Sinalização informativa em
90 cm e 120 cm, quando Inexistente
Braille
instalada na parede ao lado da
maçaneta
Largura da porta Mínimo 80 cm 78 cm
Direção de abertura da Não e está
Lado externo
porta emperrando
Tipo de maçaneta Alavanca Sim, porém quebrada
Altura da maçaneta 90 a 110 cm 107 cm
Porta com puxador
Lado interno da porta Não possui
horizontal
Barra de apoio Auxiliar uso do lavatório Não
Existente, porém
Barra de apoio Auxiliar uso da bacia sanitária
incorreta
Comprimento e altura das
barras de apoio Comprimento mínimo 80 cm Comprimento 62 cm
(posicionada
horizontalmente na parede Altura 75 cm do piso acabado Altura 89 cm
lateral)
Comprimento e altura da Comprimento mínimo 70 cm
barra de apoio (posicionada
Inexistente
verticalmente na parede Altura 10 cm acima da barra
lateral) horizontal
Comprimento e altura da Comprimento mínimo 80 cm Comprimento 61,5 cm
barra de apoio (posicionada
horizontalmente na parede Altura 75 cm do piso acabado ou Altura 89 cm (caixa
de fundos) 89 cm quando caixa acoplada acoplada)
Borda frontal da bacia com Aproximadamente 30
50 cm
relação a face da barra* cm
80
(conclusão)
O espaço da copa e banheiro é de uso exclusivo dos funcionários, o que não legitima
a sua falta de acessibilidade. Com uma área total inferior a 16 m² comporta dois
lavabos (feminino e masculino), um balcão para refeições, um pequeno armário, uma
pia, uma mesa de suporte para o micro-ondas e uma geladeira (ilustração 75). As
82
Como atualmente as visitas não são guiadas, o usuário recebe uma ficha (ilustração
76) na recepção e faz a visitação por conta própria. Percebeu-se que as opções para
a pessoa com deficiência são praticamente inexistentes, pois não há fichas em Braille,
alguns objetos do acervo não estão em altura adequada para serem visualizados, não
há objetos táteis ou réplicas em relevo, nem audiodescrição, uma forma de traduzir
em palavras tudo o vidente pode enxergar, por exemplo, como são os cômodos, quais
os mobiliários que os compõem, entre outras informações.
83
Como pode ser observado na ilustração 77, não são todos os cômodos que permitem
acesso ao visitante (ilustração 78). Para a pessoa com mobilidade reduzida o acesso
por quase todos os ambientes permitidos é feito tranquilamente, pois todas as portas
possuem largura maior que 80 cm e também existe espaçamento adequado para
circulação entre os mobiliários. Apenas na capela (ilustração 79), devido à disposição
dos móveis, não existe espaço suficiente para a passagem e nem para manobra da
cadeira de rodas. O mesmo aconteceria com a Sacristia, caso a entrada fosse
permitida.
84
É também na varanda que se encontram todas as portas de folha dupla com guarda
corpo de 101 cm, em madeira, voltados para a maior parte do terreno do museu.
Porém como não existe recuo no guarda corpo (ilustração 81), a aproximação do
cadeirante torna-se difícil.
Na maioria dos cômodos a iluminação não é suficiente (ilustração 82), porém devido a
quantidade de aberturas para o meio externo, a iluminação natural acaba
complementando, mas em dias nublados o local é escuro. Percebe-se também, que
não existe iluminação pontual sobre grande parte dos objetos expostos, apenas luzes
para o cômodo como todo.
86
Cohen, Duarte e Brasileiro, afirmam que a iluminação deve ser constante e “bem
tratada, evitando-se reflexos ou áreas com sombra” (2012, p. 105), nada de ambientes
exageradamente iluminados ou com penumbra.
O acesso para a Camarinha é feito apenas por uma escada (ilustração 83), que tem
98 cm de largura, é íngreme e possui dezessete degraus com espelho de 21 cm,
porém o máximo permitido são 18 cm. Além disso, não possui patamar, estando em
desacordo com a NBR 9050:2015 (ABNT, 2015, p. 62), que afirma que “as escadas
devem ter no mínimo um patamar a cada 320 cm de desnível”, sendo que o
encontrado são 357 cm. Todas essas irregularidades impediriam a visitação segura ao
cômodo, entretanto, como atualmente o local é utilizado como reserva técnica, apenas
os funcionários têm acesso.
87
Após essas análises, constatou-se que o museu não oferece acessibilidade aos
usuários e precisa ser restaurado. Dessa forma, inúmeras modificações devem ser
feitas para torná-lo seguro e acessível.
88
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
90
Para tornar o entorno do museu acessível, propõe-se as modificações que podem ser
observadas na ilustração 85: elevação das faixas de pedestres existentes (mancha
amarela e vermelha), com a instalação de semáforo visual e/ou sonoro para pedestre
(como indicado na legenda); criação de uma faixa elevada próxima ao museu;
elevação da Rua Professor Carlos Mattos lateral ao solar; e o deslocamento do ponto
de ônibus na calçada do museu.
Para a faixa de pedestre elevada criada próximo ao museu será instalada uma
sinalização diferenciada, sem os semáforos comuns aos automóveis (ilustração 86).
Quando o pedestre pressionar o botão solicitando a travessia, avisos luminosos
alertarão aos carros que devem parar e avisos sonoros serão acionados avisando
sobre a travessia.
O ponto de ônibus será deslocado (ilustração 87), poucos metros à frente do atual,
para dar maior fluidez ao trânsito. Esse novo local já possui um recuo na calçada para
estacionamento de veículos, dessa forma o estacionamento será retirado para a
implementação do novo ponto.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Propõe-se um novo estacionamento com dez vagas para automóveis e quatro para
bicicletas (ilustração 89), além da retirada da arquibancada que fica ao lado dos
veículos estacionados. Nesse local, que antes era subutilizado, será implantada uma
pequena praça, de forma a incentivar os moradores do entorno a usufruírem e se
apropriarem do espaço onde está compreendido o museu. Ambos os lugares terão
piso drenante4, que é uma pavimentação acessível e pouco trepidante quando
assentado de maneira correta.
4
É um piso por onde a água é ‘drenada’ até atingir o solo, por isso o nome. Pode ser conhecido como
piso permeável ou placa drenante (MASTER PLATE, acesso em 26 nov. 2018).
94
A guarita será trocada de lugar (ilustração 89) e terá uma cancela recuada do portão,
dessa forma o carro já adentra ao terreno sem impedir o fluxo de pedestre na calçada.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018); Jablonovski (2017); modificado pela autora
Para que todos os usuários consigam ter acesso, de forma autônoma, ao museu, foi
pensada uma rampa (ilustração 90), que inicia próximo a guarita e dá acesso a praça
dos canhões, anfiteatro, os dois pavimentos do museu e toda a área que foi criada
aos fundos do mesmo. Todo esse percurso é sombreado, devido ao grande número
95
Seguindo a NBR 9050:2015 (ABNT, 2015), a rampa foi projetada com inclinação de
8%, largura de 150 cm, patamares, corrimãos, guarda-corpo e áreas para descanso.
Terá sinalização tátil e de alerta, com contraste de luminância, de acordo com a NBR
16537:2016.
A rampa proposta será em estrutura metálica (ilustração 91), para fácil diferenciação
entre as tecnologias construtivas usadas, sendo possível perceber que é uma adição
do tempo presente (ilustração 90), como pontua o item 1.1.a da Normativa 01 (IPHAN,
2003, p.1). Entretanto, antes de ser realizada qualquer intervenção no solo próximo a
um bem tombado, o Iphan determina que seja executada uma prospecção
arqueológica, em busca de artefatos que ali possam existir.
96
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
onde a rampa será executada, e outras, no lado oposto, teriam seu acesso realizado
através da rampa de carros, causando insegurança ao pedestre.
Além disso, serão utilizados, nas áreas de descanso, mapas e/ou maquetes táteis
(ilustração 93), para auxiliar a pessoa com deficiência visual na descrição e orientação
no local. Totens informativos contarão histórias da região e da edificação, fazendo o
visitante interagir com o museu desde o início do passeio.
Com a criação da nova rampa, o acesso aos canhões a ao anfiteatro também foi
repensado para ocorrer durante o percurso (ilustração 94). As pedras que serviam
como calçamento dessa área serão trocadas por piso drenante e o caminho de
acesso ao anfiteatro será alargado para 150 cm. Com essa configuração, ampliou-se
o espaço onde ficam expostos os canhões, denominando esse novo ambiente como
Praça dos Canhões, criando assim um espaço de descanso e contemplação que será
nivelado e possuirá mobiliário de acordo com os preceitos do desenho universal.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
99
Para ter acesso ao primeiro e segundo pavimento do imóvel, foram criados deques
metálicos para vencer os desníveis (ilustração 95), seguindo a mesma linha de
raciocínio da rampa, buscando a fácil diferenciação entre as técnicas construtivas
usadas e fornecendo uma chegada comum a todos os usuários.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Essa nova edificação (ilustração 96), será implantada na antiga área de piquenique e
deverá ser completamente acessível, seguindo os princípios do desenho universal e
as NBR’s 9050/2015 e 16537/2016. O programa de necessidades deverá contemplar:
Biblioteca;
Sanitários;
Copa/cozinha, para funcionários;
Área de serviço;
Depósito.
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Com a retirada do setor administrativo do porão, optou-se por usar essa área como o
local para a biblioteca, dessa forma o ambiente não fica em desuso e retira-se uma
das solicitações para o novo anexo.
Como foi constatado que o banheiro público existente não é totalmente acessível, ele
será demolido e outro será construído no novo anexo. Ele continuará sendo
101
independente dos demais, conforme exigência normativa. Além disso, sua construção
será baseada na NBR 9050:2015 (ilustração 97).
Como o antigo espaço para piquenique foi substituído pelo novo anexo, uma nova
área foi criada defronte a fachada de fundos, como pode ser observado na ilustração
99. Esse local será feito com piso drenante e todos os caminhos que levam até ele e
até o anexo usaram do mesmo material para a pavimentação.
103
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
Fonte: Santos (2017); Prefeitura Municipal de Vitória (2018) modificado pela autora
105
Problema Proposta
4.3 Edifício
Sabe-se que toda e qualquer edificação sofre com a ação das intempéries, de agentes
externos, com a falta de manutenção, com reparo feito de forma inadequada e com o
abandono (ACHIAMÉ e HAUTEQUESTT FILHO, 2017). Sendo assim, após a
identificação das patologias, junto do fichamento das mesmas (anexo A), recomenda-
se que sejam feitas intervenções no imóvel para recuperar a integridade do bem.
de algumas tábuas do piso, do qual não se sabe a real causa. Apenas sabendo o
porquê daquele problema é que se conseguirá chegar a uma solução eficaz.
Entende-se que os danos relatados no item diagnóstico, serão sanados antes das
adequações descritas a seguir. Essas mudanças serão realizadas para tornar o
espaço museal atrativo e acessível para todos os usuários.
Foi constatado que o balcão na entrada do museu não é acessível, pois possui 110
cm de altura e não tem área de aproximação para a cadeira de rodas. Será, então,
instalado um novo balcão, seguindo a NBR 9050:2015, como mostra a ilustração 101.
Além disso, a iluminação deve assegurar que a face do atendente fique
uniformemente clareada.
A ficha que o usuário recebe ao chegar, deve ser apresentada em Braille e escrita
ampliada, assim como todas as demais informações referentes a exposição.
Para auxiliar a pessoa com dislexia, deficiência visual ou intelectual será adotada a
audiodescrição. Outro recurso adotado para dar suporte ao deficiente visual e
amparar analfabetos e estrangeiros é o audioguia, que reproduz informações sobre o
local e suas obras, ele deverá ser em português e em pelo menos um outro idioma,
comumente usa-se o inglês. Todo material informativo deve possuir mensagem clara
e breve, com frases simples e curtas para facilitar a comunicação e o entendimento
(COHEN, DUARTE e BRASILEIRO, 2012).
Ilustração 102 – Pintura Ilustração 103 – Maquete tátil da Pinacoteca de São Paulo
em relevo no Museu do – Brasil
Padro – Espanha
a) para acesso visual a uma distância de 100 cm, situa-se o objeto verticalmente entre
90 cm e 140 cm do piso. É nessa área que os suportes de informação devem ser
colocados, por exemplo, pois, para além da distância de 120 cm alguns visitantes
podem ter dificuldade para fazer a leitura;
b) para objetos maiores ou que precisem ultrapassar a zona confortável de acesso
visual, recomenda-se inclinação aproximada de 30° para o item que ultrapassar
190 cm de altura ou estiver abaixo de 75 cm, dessa forma atenua-se parcialmente
a dificuldade;
110
Fonte: Ministère de Culture Francophonie (1994) apud Cohen, Duarte e Brasileiro (2012, p. 135 e 136)
No terceiro pavimento, houve necessidade de retirar parte de uma parede para dar
acesso da plataforma ao cômodo. Como pode ser observado na ilustração 108 e
comparado com as ilustrações 109 e 110, o cadeirante não teria condições de fazer
uma manobra com deslocamento para adentrar ao recinto.
Optou-se por usar a plataforma elevatória fabricada pela San Martin Tecnologia,
modelo PL250 (ilustração 111), pelo baixo impacto visual com relação a edificação e
por atender às necessidades do museu (altura percorrida, dimensão e número de
passageiros).
Por fim, propõe-se o treinamento dos funcionários do museu para uma maior
conscientização com relação aos visitantes, como forma de tornar o atendimento
inclusivo. Sugere-se também a inserção de pessoas com mobilidade reduzida ou
deficiência como parte da equipe, esses podem ajudar na melhoria do atendimento e
ajustes com relação às exposições.
114
5 CONCLUSÕES
Este estudo demonstrou que existem soluções para tornar o edifício histórico
realmente acessível, e apesar da dificuldade, essa tarefa não é impossível, apenas
trabalhosa. Mas é importante destacar que o que foi apresentado nesta pesquisa é um
estudo preliminar. Para a implantação do mesmo, outros estudos devem ser
realizados, como a prospecção arqueológica, além de um georrefenciamento de todo
o terreno, com suas respectivas construções e árvores, localizadas corretamente.
Porém essa não é uma receita pronta para sanar todos os problemas, cada edifício
tem suas especificidades que precisam de soluções. A proposta aqui apresentada
voltou-se à resolução dos problemas encontrados no Museu Solar Monjardim, sendo
aplicável somente a ele.
Por fim, vale ressaltar que a acessibilidade vai além de uma rampa e um piso tátil,
quando se é feita corretamente, seguindo as normas, gera a inclusão e traz autonomia
ao usuário. A pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, muitas vezes é
impedida de ter acesso à cultura pelo local não ser acessível, dessa forma seus
direitos garantidos por leis e pela constituição são desrespeitados. Sendo pública ou
privada, a edificação histórica deve ser utilizada por todos, sem discriminação.
115
REFERÊNCIAS
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preservadas: intervir para torna-las acessíveis. Ação Ergonômica, Florianópolis, v.7,
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Disponível em: < http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/946/920> Acesso
em: 17 abr. 2018.
Data:
PASSEIO PÚBLICO
Data:
ACESSO
Data:
ÁREA EXTERNA
Data:
CIRCULAÇÃO VERTICAL
Data:
BANHEIRO
24. Caso exista parede na lateral da bacia sanitária a distância mínima é de 40 cm?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
25. Caso exista parede na lateral da bacia sanitária infantil a distância mínima é de
25 cm?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
26. O acionamento da válvula de parede está a 100 cm do piso acabado?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
27. O acionamento da válvula de caixa acoplada e por alavanca, sensores
eletrônicos ou dispositivos equivalentes?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
28. As torneiras dos lavatórios são acionadas por alavancas, sensores eletrônicos
ou dispositivos equivalentes?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
29. Os lavatórios possuem a área de aproximação de uma pessoa em cadeira de
rodas?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
30. Os acessórios tem sua área de utilização dentro da faixa de alcance (Entre 80
cm e 120 cm do chão)?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
31. Existe nos conjuntos de sanitários uma bacia infantil e um lavatório para uso de
pessoas com baixa estatura e de crianças?
Sim ( ) Não( ) Não aplica ( )
Obs.:
133
Data:
ÁREA INTERNA