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CAMPUS ARAPIRACA
ARQUITETURA E URBANISMO - BACHARELADO
ARAPIRACA
2022
Rubyan Matos dos Santos Melo
Arapiraca
2022
Rubyan Matos dos Santos Melo
Banca Examinadora
_________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Elisabeth de Albuquerque Cavalcanti Duarte Gonçalves
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Campus Arapiraca
(Orientadora)
_________________________________________________
Prof. Me. Edler Oliveira Santos
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Campus Arapiraca
(Examinador)
_________________________________________________
Prof.ª Ma. Anny Jessyca Garcia Silva
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Campus Arapiraca
(Examinadora)
_________________________________________________
Ingrid Mayara R. Barbosa
Arquiteta e Urbanista
(Examinadora)
“O essencial é invisível aos olhos”.
Antoine de Saint-Exupéry
AGRADECIMENTOS
Art and culture are rights guaranteed in the Federal Constitution and provided for in
the National Culture Plan but it is known that in practice there is still a very large gap
between individuals with visual impairments and their full exercise as citizens in the
enjoyment of this right. In art exhibition spaces this reality is no different the exhibitions
and works in almost their entirety are designed solely to stimulate only the sense of
vision making evident the lack of initiatives that promote accessibility tools for this
audience. That said the general objective of this monograph is to propose the project
of an itinerant art exhibitor for the blind. The foundation of this project as well as the
typological referential occurs through a bibliographic review of themes that guide and
support such as: Concept and right to art and culture; Definition of visual impairment;
Sensory Architecture and the Guidelines and Regulations of the current NBR's and
related to the theme. As a result the project proposal of an accessible Art Exhibitor was
obtained making use of the modular coordination through container and following some
principles considered primordial such as: accessibility, flexibility, comfort, sustainability
and constructive technology that allows easy assembly, disassembly and transport.
With this work we intend to broaden the discussion on the use of Sensory Architecture
as an accessibility tool for people with visual impairments.
Figura 1 – Arte rupestre retratava a vida cotidiana do homem das cavernas. .......... 17
Figura 2 - Porcentagem da população, por tipo e grau de dificuldade e deficiência. 23
Figura 3 - Centro cultural House, Dinamarca. ........................................................... 26
Figura 4 - Sonic Pavilion, Inhotim. ............................................................................. 27
Figura 5 - Rainforest Coff, Orlando. .......................................................................... 29
Figura 6 - Exemplo de jardim sensorial. .................................................................... 31
Figura 7 - Centro de Arte Contemporânea Inhotim. .................................................. 31
Figura 8 - Sala de exposição CC4 Nocagion............................................................. 32
Figura 9 - Sala de exposição CC5 Hendrix-War........................................................ 33
Figura 10 - Museu Sensorial do Lajeado. .................................................................. 34
Figura 11 - Museu Sensorial do Lajeado: acesso. .................................................... 34
Figura 12 - Aplicação dos sentidos por ambiente de exposição................................ 35
Figura 13 - Módulo expositivo: exposição "Sentir pra ver". ....................................... 40
Figura 14 - Obra reproduzida em relevo de resina: exposição "Sentir pra ver". ........ 41
Figura 15 - Obra reproduzida em alto contraste: exposição "Sentir pra ver". ............ 41
Figura 16 - Reprodução de uma obra em argila. ....................................................... 42
Figura 17 - Obra reproduzida em argila. ................................................................... 42
Figura 18 - Dimensionamento dos relevos do piso tátil de alerta. ............................. 45
Figura 19 - Detalhe do piso tátil integrado ao piso. ................................................... 45
Figura 20 - Dimensionamento dos relevos do piso tátil de alerta. ............................. 46
Figura 21 - Dimensionamento dos relevos do piso tátil direcional............................. 46
Figura 22 - Contrastas recomendados para piso táteis. ............................................ 47
Figura 23 - Encontro de duas faixas direcionais........................................................ 47
Figura 24 - Encontro de três faixas direcionais. ........................................................ 48
Figura 25 - Encontro de quatro faixas direcionais. .................................................... 49
Figura 26 - Máquinas de autoatendimento: direcionamento para seu eixo. .............. 50
Figura 27 - Máquinas de autoatendimento: distâncias mínimas e máximas. ............ 50
Figura 28 – Arranjo geométrico dos pontos em Braille. ............................................. 53
Figura 29 - Sinalização portas de correr envidraçadas. ............................................ 54
Figura 30 - Obra residencial executada em container. .............................................. 57
Figura 31 - Restaurante Giraffas executado em container. ....................................... 57
Figura 32 - “Container Art”: exposição de arte urbana. ............................................. 59
Figura 33 - Projeto “Contém Cultura”. ....................................................................... 59
Figura 34 - Construção modular de container. .......................................................... 61
Figura 35 - Logo Contato. ......................................................................................... 63
Figura 36 - Container 20 pés: retiradas dos fechamentos. ........................................ 65
Figura 37 - Vista superior: Composição da forma. .................................................... 66
Figura 38 - Vista superior: Volume final. ................................................................... 66
Figura 39 - Perspectiva isométrica: composição volumétrica com 4 módulos........... 67
Figura 40 - Perspectiva isométrica: composição volumétrica com 4 módulos e
plataforma. ................................................................................................................ 67
Figura 41 - Perspectiva isométrica: disposição dos ambientes e fluxos.................... 68
Figura 42 - Proposta 01: Planta baixa com layout. .................................................... 70
Figura 43 - Proposta 02: Planta baixa com layout. .................................................... 72
Figura 44 - Volumetria final CONTATO. .................................................................... 73
Figura 45 - Perspectiva explodida CONTATO........................................................... 74
Figura 46 - Placa térmica 3TC................................................................................... 75
Figura 47 - Composição estrutura da placa térmica 3TC. ......................................... 76
Figura 48 - Composição estrutura da placa térmica 3TC. ......................................... 78
Figura 49 - Camadas de isolamento térmico, acústico e acabamento das paredes
internas separadas. ................................................................................................... 79
Figura 50 - Camadas de isolamento térmico, acústico e acabamento das paredes
internas. .................................................................................................................... 79
Figura 51 - Dimensão final da parede. ...................................................................... 80
Figura 52 - Módulo brise horizontal em madeira. ...................................................... 81
Figura 53 - Planta baixa humanizada: brises móveis. ............................................... 82
Figura 54 - Corte esquemático: entrada da luz solar na edificação........................... 83
Figura 55 - Esquema da entrada e saída dos ventos na edificação. ......................... 84
Figura 56 - Exemplo de iluminação e temperatura em uma exposição de arte. ........ 85
Figura 57 - Trilho de metal com spots. ...................................................................... 87
Figura 58 - Planta baixa humanizada: disposição dos trilhos/pontos de iluminação. 88
Figura 59 - Coberta em estrutura metálica de metalon galvanizado. ................ 89
Figura 60 - Telha fotovoltaica. ................................................................................... 90
Figura 61 - Estrutura interna da telha fotovoltaica. .................................................... 91
Figura 62 - Telha translúcida de policarbonato. ........................................................ 92
Figura 63 - Estrutura beiral/pergolado – vista superior.............................................. 92
Figura 64 - Jardineiras: vista isométrica. ................................................................... 93
Figura 65 - Vista superior da coberta. ....................................................................... 93
Figura 66 - Rampa de acesso e corrimão. ................................................................ 94
Figura 67 - Porta de entrada com quatro folhas – fechadas. .................................... 95
Figura 68 - Porta de entrada com quatro folhas – aberta. ......................................... 95
Figura 69 - Tipos de pisos internos. .......................................................................... 96
Figura 70 - Contrastas recomendados para piso táteis e adjacentes – interno. ........ 97
Figura 71 - Piso vinílico amadeirado. ........................................................................ 97
Figura 72 - Contrastas recomendados para piso táteis e adjacentes - externo......... 98
Figura 73 - Planta baixa layout com piso tátil. ........................................................... 99
Figura 74 - Malha modular do piso. ......................................................................... 100
Figura 75 - Detalhe 01: Malha modular do piso....................................................... 100
Figura 76 - Estrutura dos pisos. .............................................................................. 101
Figura 77 - Encaixe dos pisos na malha. ................................................................ 102
Figura 78 - Pisos encaixados na malha. ................................................................. 102
Figura 79 - Distribuição das malhas de piso............................................................ 103
Figura 80 - Projeto de sinalização proposto. ........................................................... 105
Figura 81 - Posicionamento do mapa tátil. .............................................................. 106
Figura 82 - Aplicação da sinalização nas portas. .................................................... 106
Figura 83 - Planta sensorial..................................................................................... 108
Figura 84 - Fachada Frontal. ................................................................................... 110
Figura 85 - Fachada lateral direita........................................................................... 110
Figura 86 - Fachada lateral esquerda. .................................................................... 111
Figura 87 – Fachada posterior. ............................................................................... 111
Figura 88 - Lounge. ................................................................................................. 112
Figura 89 - Recepção/Administração. ..................................................................... 113
Figura 90 - Vista geral interna. ................................................................................ 114
Figura 91 - Área de exposição 01. .......................................................................... 114
Figura 92 - Área de exposição 02. .......................................................................... 115
Figura 93 - Área de exposição 03. .......................................................................... 115
Figura 94 - Jardim sensorial proposto– vista frontal. ............................................... 116
Figura 95 - Jardim sensorial proposto – vista lateral direita. ................................... 116
Figura 96 - Estrutura Jardim sensorial. ................................................................... 117
Figura 97 - Processo de vedação do container. ...................................................... 119
Figura 98 - Quatro módulos vedados e prontos para o transporte. ......................... 120
Figura 99 - Transporte dos módulos. ...................................................................... 121
Figura 100 - Implantação em praça pública: fachada frontal. .................................. 122
Figura 101 - Implantação em praça pública: volumetria linear direita. .................... 123
Figura 102 - Implantação em praça pública: volumetria linear esquerda. ............... 123
Figura 103 - Implantação em praça pública: fachada frontal noturna. ..................... 124
Figura 104 - Implantação em um shopping: fachada frontal. .................................. 124
Figura 105 - Vista aérea: Implantação do Expositor de arte CONTATO na Praça Luiz
Pereira Lima, Arapiraca-AL. .................................................................................... 125
Figura 106 - Vista térrea: Implantação do expositor de arte CONTATO na Praça Luiz
Pereira Lima, Arapiraca-AL. .................................................................................... 126
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo dos sentidos humanos: audição, olfato, paladar e tato. ............. 38
Tabela 2 - Tipos de sinalização obrigatória por categoria. ........................................ 51
Tabela 3 - Tipos de containers e suas medidas. ....................................................... 56
Tabela 4 - Arranjos de composição volumétrica........................................................ 64
Tabela 5 - Ambientes, equipamentos, usuários e área. ............................................ 71
Tabela 6 - Espessuras de placas recomendadas...................................................... 77
Tabela 7 - Valores de iluminância para museus........................................................ 86
Tabela 8 - Iluminação geral: valores de lumens x whats para cada ambiente. ......... 86
Tabela 9 - Iluminação de destaque: valores de lumens x whats para cada ambiente.
.................................................................................................................................. 86
Tabela 10 - Tipos de sinalizações obrigatórias. ...................................................... 104
Tabela 11 - Especificação de vegetação e estímulos. ............................................ 118
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
2 AS DEFINIÇÕES E FUNÇÕES DA ARTE ................................................... 17
2.1 DIREITO À ARTE E À CULTURA................................................................. 20
2.2 CONCEITO DE DEFICIÊNCIA ..................................................................... 22
2.3 DEFICIENTE VISUAL E A PROBLEMÁTICA DA NÃO-INCLUSÃO ............. 22
3 ARQUITETURA SENSORIAL ...................................................................... 25
3.1 VISÃO........................................................................................................... 25
3.2 AUDIÇÃO ..................................................................................................... 26
3.3 TATO ............................................................................................................ 28
3.4 OLFATO ....................................................................................................... 29
3.5 PALADAR ..................................................................................................... 30
3.6 GALERIA COSMOCOCA ............................................................................. 31
3.7 MUSEU SENSORIAL DO LAJEADO ........................................................... 33
4 DIRETRIZES E NORMATIVAS .................................................................... 36
4.1 DIRETRIZES DE EXPOSITORES E ARTE PARA DEFICIENTES VISUAIS36
4.2 NORMATIVAS DE ACESSIBILIDADE.......................................................... 43
4.3 NORMATIVAS PARA PISO TÁTIL ............................................................... 44
4.3.1 Piso tátil de alerta ......................................................................................... 45
4.3.2 Piso tátil direcional ........................................................................................ 46
4.3.3 Contraste de Luminância .............................................................................. 46
4.3.4 Regras para mudança de direção................................................................. 47
4.3.4.1 Encontro de duas faixas direcionais ........................................................ 47
4.3.4.2 Encontro de três faixas direcionais .......................................................... 48
4.3.4.3 Encontro de quatro faixas direcionais ...................................................... 48
4.3.5 Padrões para equipamentos ......................................................................... 49
4.4 NORMATIVAS PARA PLACAS E SINALIZAÇÃO ........................................ 50
5 CONDICIONANTES E SOLUÇÕES PROJETUAIS ..................................... 55
5.1 USO DO CONTAINER NA ARQUITETURA ................................................. 55
5.2 COORDENAÇÃO MODULAR ...................................................................... 60
5.3 PROJETO EXPOSITOR DE ARTES ITINERANTE ...................................... 62
5.3.1 Público alvo .................................................................................................. 62
5.3.2 Conceito e partido arquitetônico ................................................................... 63
5.3.3 Programa de necessidades e fluxograma .................................................... 68
5.3.4 Planta baixa .................................................................................................. 69
5.3.5 Volumetria e soluções projetuais .................................................................. 73
5.3.6 Vedações...................................................................................................... 75
5.3.6.1 Isolamento térmico e acústico .................................................................. 75
5.3.6.2 Iluminação natural ...................................................................................... 80
5.3.6.3 Ventilação natural ....................................................................................... 83
5.3.6.4 Iluminação artificial .................................................................................... 85
5.4 COBERTA .................................................................................................... 89
5.4.1 Telha Fotovoltaica ........................................................................................ 89
5.4.2 Telha Translúcida ......................................................................................... 91
5.4.3 Beiral / Pergolado ......................................................................................... 92
5.5 ACESSIBILIDADE APLICADA AO PROJETO ............................................. 94
5.5.1 Rampas e acessos ....................................................................................... 94
5.5.2 Padrões de pisos utilizados .......................................................................... 96
5.5.2.1 Projeto de piso tátil proposto ..................................................................... 98
5.5.2.2 Malha modular .......................................................................................... 100
5.5.3 Projeto de placas e sinalizações ................................................................ 104
5.6 APLICAÇÃO DA ARQUITETURA SENSORIAL ......................................... 107
5.8 AMBIENTES ............................................................................................... 112
5.8.1 Lounge........................................................................................................ 112
5.8.2 Recepção/Administração ............................................................................ 112
5.8.3 Espaços de exposição ................................................................................ 114
5.8.4 Jardim sensorial.......................................................................................... 115
5.9 MONTAGEM, DESMONTAGEM E TRANSPORTE ................................... 119
5.7 PROPOSTAS DE IMPLANTAÇÕES .......................................................... 121
6 CONCLUSÃO............................................................................................. 127
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 129
14
1 INTRODUÇÃO
A escolha desse tema surgiu para o autor desta monografia de forma bastante
natural. Envolvido com artes, desenhos e pinturas desde os 7 anos de idade, sua
paixão por desenhar sempre foi eminente e ao longo dos anos, através da prática, foi
adquirindo habilidades, se especializando em desenhos realistas em grafite. No ano
de 2017 surgiu o convite e a oportunidade de expor os seus trabalhos no Arapiraca
Garden Shopping, período este que coincidiu com seu ingresso no curso de
Arquitetura e Urbanismo, o que o tornou mais crítico diante do seu papel perante a
sociedade. E em determinado dia, vendo seus quadros na parede expostos, se
questionou quanto artista e ser humano e percebeu o quanto que àquelas artes
expostas eram restritas a pessoas que têm o sentido da visão em perfeito estado.
Portanto, surge o seguinte questionamento: é possível tornar um espaço de artes
acessível, a fim de proporcionar que pessoas com deficiência visual vivenciem
experiências de engajamento, interação e pertencimento ao grupo?
Em outubro de 2019 a OMS relatou que cerca de 2,2 bilhões de pessoas no
mundo sofrem com algum tipo de deficiência visual ou cegueira (OMS, 2019). No
Brasil faltam dados atualizados do número de pessoas com deficiências visuais, os
últimos dados são do censo de 2010 destaca que 3,4% da população brasileira tem
grande dificuldade de enxergar ou algum tipo de cegueira, isso equivale a 6,5 milhões
de pessoas que têm a visão limitada, enquanto mais de 528 mil têm cegueira total e a
perspectiva seria que em 2020 esse número chegasse a 1,1 milhão.
Atualmente, a compreensão popular acerca das capacidades e do valor social
dos deficientes visuais vem melhorando, já é possível se ver diversas adaptações para
esse determinado grupo e a aplicação das diretrizes da NBR9050 (2020), no entanto
essas adaptações deveriam ser muito além de um piso tátil, rampas ou o braile.
Espaços de apreciação de artes são drasticamente limitados à visão, independo e
usurpando o direito desses indivíduos se sentirem inseridos nesse meio.
O direito à cultura e à arte passou a ter destaque jurídico e social a partir da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948 pela Assembleia
Geral da ONU, que trouxe em seu artigo 27, que “todo ser humano tem direito de
participar da vida cultural da comunidade, de fruir as artes [...]”, assim, houve o
reconhecimento e a consolidação deste direito como fundamental para a sociedade.
Além dessa, também é estabelecido esse direito na Constituição Federal Brasileira de
15
1988, que estabelece em seu artigo 215: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício
dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Sendo assim, espaços de exposições artísticas deveriam proporcionar também
aos deficientes visuais a leitura, entendimento, pertencimento e reconhecimento da
arte ali exposta e da sua edificação como um todo.
Nessa perspectiva, mesmo diante do que está assegurado em leis, é notória a
falta de iniciativas tanto públicas, quanto privadas com o intuito de inserirem as
pessoas com deficiência visual em manifestações e apreciações de arte.
Assim, o objetivo geral desse trabalho consiste em propor o projeto de um
expositor de artes itinerante, para cegos, seguindo os preceitos da percepção do
espaço através da manifestação sensorial na arquitetura. Para tanto, foram
delineados os seguintes objetivos específicos:
Muito se discute sobre como a arte pode ser conceituada, mas não há como
fazer isso de maneira singular, pois ela é a junção de princípios, idealizações,
reprodução e preservação da existência da natureza humana (COLI, 2017). A arte é
tão antiga quanto o homem e não existe uma definição simples para determinar o que
é a arte em si. Cabe aos seus admiradores apenas apreciá-las sem tentar explicá-las
ou compreendê-las (CUNHA FILHO e ALMEIDA, 2012). Para Coli (2017) a arte pode
ser entendida como uma expressão da ação do homem, onde existe um sentimento
admirativo.
A arte faz parte da expressão da vida cotidiana, os primeiros relatos de arte já
registrados são as imagens gravadas pelos homens das cavernas, a chamada arte
rupestre (Figura 1), onde o homem tentava retratar sua vida cotidiana, principalmente
as atividades que envolviam caça (JUSTAMAND et al., 2017).
O homem e a arte evoluíram juntos, pois a arte é o retrato daquilo que ele vive.
Hegel (2008) afirma que a arte é a reprodução de um pensamento do homem, sendo
uma forma de representar sua linguagem e seus sentimentos através da sua obra de
arte, assim, toda a forma de representação artística acontece em um ambiente em
que o homem pode expressar-se por meio de suas produções.
18
É importante destacar que a arte deve ser acessível a todos os públicos, idades
e classe social. Pois, a arte é uma das formas de humanização e, por esse motivo, ela
é de suma importância dentro da sociedade como um todo. Humanizar é dar a
oportunidade de as pessoas terem muito mais que condições de sobrevivência, é lhes
proporcionar ser quem são, em todas as suas peculiaridades (SOARES, 2007).
20
É direito de todos ter acesso à cultura e à arte, como requisito essencial para
que haja o pleno exercício da cidadania, bem como para o fortalecimento dos valores
sociais e da formação da subjetividade dos brasileiros.
O PNC também determina que é preciso aumentar o contato da população
brasileira com os princípios culturais do passado e do presente, por meio de várias
fontes de informações. Para tanto, é necessário que haja uma maior qualificação dos
21
Dessa maneira, a pessoa com deficiência é aquela que tem alguma restrição
ou a ausência de alguma estrutura física ou psicológica, seja ela de ordem física,
sensorial, mental ou intelectual, que possa ocasionar desigualdades.
3 ARQUITETURA SENSORIAL
3.1 VISÃO
3.2 AUDIÇÃO
3.3 TATO
De acordo com Pallasmaa (2012) todos os sentidos, até mesmo a visão, são
extensões do tato. Os sentidos são particularizações da pele, e todas as experiências
sensoriais são decorrentes e variantes do tato, estando diretamente relacionadas à
tatilidade. Sendo considerado o maior órgão do corpo humano, a pele em todos os
seus pontos tem a capacidade de sentir.
As texturas dos materiais de um edifício podem guiar pessoas portadoras de
necessidades especiais, podem instigar ao toque, podem guiar um caminho cheio de
surpresas, assim como podem mostrar diferentes possibilidades e texturas. O tato é
contato direto do edifício com a pele do usuário, é a forma com que a arquitetura se
torna palpável (PALLASMAA, 2012).
Um exemplo de aplicação sensorial tátil é o Rainforest Coff (Figura 5),
localizado na Disney Wold em Orlando, Flórida. Em sua concepção foi atribuída a
alteração da unidade do ar como artifício de apoio para demonstrar aos visitantes a
mudança de um ambiente para o outro, trazendo a sensação de se estar adentrando
em uma floresta, através de uma cascata localizada logo na entrada que propaga
29
gotículas de água no ar, com isso a umidade interna do restaurante se torna muito
maior do que a da rua e a noção de exterior e interior é bem demarcada (NEVES,
2017).
3.4 OLFATO
3.5 PALADAR
1
Jardim Sensorial, é um ambiente composto por boa variedade de plantas e estruturado com o
propósito de oferecer, aos visitantes, estímulo aos cinco sentidos (tato, visão, olfato, paladar e
audição), uma vez que permite às pessoas tocarem nas plantas para sentir suas texturas, formas,
aromas e sabores, oferecendo sobretudo, bem-estar e lazer (XAVIER, 2021).
31
4 DIRETRIZES E NORMATIVAS
[...] essas instituições e seus acervos não são mais “repositório de tesouros”
ou “depósitos de curiosidades”, mas adquirem novos significados, numa
crescente interação entre o acervo, o público e o espaço construído. Nos
tempos hodiernos, os museus enumeram uma variedade de funções não
imaginadas em décadas anteriores. Os acervos passam, cada vez mais, a
interagir com o ambiente construído, configurando uma narrativa que desafia
os códigos convencionais de percepção (MERKEL 2002, apud VEIGA 2014,
p.02).
2
Movimento de larga abrangência teórica e metodológica, que surgiu em 1968, em Paris, por um
grupo de profissionais que consideravam essas instituições como burguesas (DUARTE, 2013).
37
Além do exemplo citado, uma outra iniciativa voltada a esse público é o projeto
“Arte pra cego ver”, do curso de Artes visuais do Instituto Federal de Pernambuco, no
qual tem como objetivo a reprodução de obras modeladas e traduzidas em relevos
bidimensionais com o uso de argila, que podem ser sentidas pelos deficientes visuais.
“Queremos que o deficiente visual, auxiliado pela audiodescrição da peça, tateie o
objeto para poder sentir a imagem. Queremos ajudar a ver a imagem que está num
quadro ou numa gravura”, explica a professora Luciene Pontes, idealizadora do
projeto.
42
Ainda segundo a NBR 16537 (2016), a sinalização tátil deve considerar todos
os aspectos do projeto que envolvam o deslocamento de pessoas com algum grau de
deficiência visual, bem como os fluxos de circulação e os pontos de interesse, que
devem ser claros, fluidos e sem barreiras.
Outros pontos exigidos em norma estabelecem que:
• A largura e a cor das faixas que compõem uma sinalização tátil direcional
devem ser constantes;
• A sinalização tátil de alerta utilizada nas mudanças de direção deve possuir
a mesma cor da sinalização tátil direcional;
• Se houver variação de cor do piso adjacente nos diferentes ambientes pelos
quais passa a sinalização tátil direcional, deve ser utilizada uma única cor
que contraste com todas elas ao mesmo tempo;
• Em degraus, escadas e rampas a sinalização tátil de alerta deve ser
instalada no início e no término de cada elemento de circulação;
• Orientar o posicionamento adequado da pessoa com deficiência visual para
o uso de equipamentos como elevadores, equipamentos de
autoatendimento ou serviços;
45
Para cada encontro de duas ou mais faixas direcionais a NBR 16537 (2016)
estabelece parâmetros de angulações e dimensões da sinalização tátil de alerta
correspondente.
Dessa forma, esse padrão se assemelha com obras alocadas nas paredes,
podendo ser aplicadas as mesmas dimensões, uma vez que não existe na norma
nada específico para quadros e exposições.
A Norma 9050 (2020) ainda recomenda evitar letras com serifa, fontes itálicas,
decoradas, manuscritas, com sombra, com aparência tridimensional ou distorcidas.
Deve ser evitado também peças de sinalização de materiais brilhantes e de alta
reflexão, e ter contraste de luminância. Para letras e números táteis, os caracteres em
relevo devem atender as seguintes condições:
Já no que diz respeito a símbolos táteis, a Norma 9050 (2020) determina seja
utilizado o padrão internacional e que devem ter:
Para a utilização do Braille3 algumas diretrizes também são impostas pela NBR
9050 (2020), como:
3
Sistema de escrita em alto relevo, desenvolvida por Louis Braille no século XIX, foi desenvolvido para
que pessoas com deficiência visual consigam ler utilizando a sensibilidade da ponta de seus dedos
(FRANCO, 2020).
53
4
A palavra container deriva do inglês e pode ser conceituado como “aquilo que contém”, contentor, ou
seja, serve como um recipiente que tem a função de embalar o produto que será transportado
(ALMEIDA, 2010). Malcolm Purcell McLean foi o criador do container, na década de 30, nos Estados
Unidos da América, ele queria melhorar a eficiência no transporte de cargas de algodão, por essa
razão criou caixas metálicas para facilitar esse processo (MENDES, 2007).
56
5
A Arquitetura Efêmera surgiu no período do Barroco e seus primeiros exemplares datam do século
XVI, ela se baseia na temporalidade, ou seja, trata-se de um estilo que tem como base construções
passageiras e transitórias que duram pouco tempo. Todavia esse termo não se restringe somente
a edificações, ele também pode ser empregado em exposições, vitrines, desfiles, dentre outros
(LAART, 2020).
59
Segundo Ferreira (2008), a Coordenação modular pode ser definida como uma
técnica de racionalização de projeto industrializado (ou não-industrializado), a partir
da pré-fabricação dos componentes construtivos, nos quais são dimensionados
seguindo uma unidade de medida proporcional, essa unidade é denominada de
módulo e ele é responsável por determinar os fatores de dimensões dos elementos.
Regida pela NBR 15873 (2010), esta norma estabelece como padrão a medida
mínima de 100mm para módulos básicos, além de definir os termos e os princípios do
seu uso para as edificações, podendo ser empregada em todos os tipos de materiais
construtivos, tornando a construção mais racionalizada e com alto índice de
produtividade. Além disso, diminui problemas de interface entre os componentes,
elementos e subsistemas, reduzindo desperdícios e erros de mão de obra.
Complementando tal assertiva, Castelo (2008) afirma que a Coordenação
modular pode ser conceituada como a criação de uma padronização dimensional, que
vise racionalizar a construção e concepção dos edifícios, permitindo com isso um certo
nível de industrialização dentro da construção civil, conservando ainda a liberdade
arquitetônica existente. Logo, as construções executadas a partir de containers são
classificadas como modulares, pois cada container é classificado como um módulo,
61
visual e a arte; e também faz analogia ao “com o tato” que é um dos sentidos que será
explorado para a percepção da edificação e da própria arte no referido projeto.
Para a concepção volumétrica do CONTATO a escolha foi a utilização de
containers de 20 pés como unidade de forma, utilizando-os como módulos, com
medidas já apresentadas na Tabela 03 do tópico 5.1 – Uso de container na
Arquitetura, pois além de todos os benefícios já mencionados, o uso dos módulos
permite a flexibilidade da forma, se adaptando ao tipo e tamanho das exposições
implantadas. A tabela 4 apresenta alguns arranjos que o volume pode assumir a
depender da demanda da exposição e definição da quantidade de módulos, todos
mantendo a forma quadrada/retangular e com vazios/núcleos centrais que são
importantes para as estratégias de iluminação e ventilação naturais.
• Lounge;
• Recepção/Administração;
• Área de exposição 01;
• Área de exposição 02;
• Área de exposição 03; e
• Jardim sensorial.
É evidente nesse projeto a relevância da circulação e como ela pode ser uma
articuladora da edificação como um todo e um dos principais pontos para isso foi o de
inserir o Jardim sensorial, de modo que este fique em contato e integrado às áreas de
exposição.
limitar ou restringir o caráter dinâmico que a planta pode exercer, a depender do tipo
de obra exposta.
A seguir a Tabela 5 sintetiza os ambientes, equipamentos dispostos, tipos de
usuário e área de cada espaço.
Para continuidade deste projeto a escolha da planta baixa para referência foi a
proposta de planta 01, como já apresentado na Figura 42.
73
74
5.3.6 Vedações
A placa de 3TC (Figura 47) é composta por um núcleo de EPS (isopor), capaz
de reduzir a condução de calor de forma mais eficiente em comparação a outros tipos
de materiais, segundo estudos do Protolab (Laboratório de Propriedades Termofísicas
e Prototipação), esse material tem o coeficiente de condutibilidade em 0,033, o mais
baixo em comparação a outros tipos de isolantes, como concreto, lã de rocha e
espuma sintética; esse núcleo de EPS é envolto por duas películas altamente
reflexivas, compostas de mylar: uma espécie de filme de poliéster, na qual suas fibras
de alta tecnologia formam um polímero estirado, capaz de refletir cerca de 97% da
radiação, inspirada no funcionamento das garrafas térmicas e também nos trajes de
astronautas, pois consegue controlar a temperatura de forma eficiente quando
exposta a altas temperaturas. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção
Sustentável (2014), o uso de materiais refletivos, como o 3TC, são apontados como
soluções mais eficazes para o conforto térmico e eficiência energética (3TC
ISOLAMENTOS, 2021).
de ser um composto que não acumula água, não alterando sua estrutura física caso
seja exposto à água.
Como isolante acústico, sua organização fibrosa tem uma taxa elevada de
absorção acústica, o que possibilita a redução da passagem de sons entre ambientes,
atendendo de maneira eficaz como alternativa de tratamento acústico superpotente,
com excelentes atributos de performance, leveza, e custo-benefício, garantindo
variável entre 42 e 60 decibéis (AMPLITUDE SOLUCÕES ACÚSTICAS LTDA, 2018).
O isolamento acústico para o Expositor de artes é de suma importância, pois
devido ao ambiente ser sensorial, ele também possuirá alguns equipamentos de
audiodescrição nas obras, então qualquer barulho externo pode atrapalhar e não
permitir que a experiência seja completa. Para isso, a escolha foi de placas de Lã de
rocha de 50mm, onde são instaladas entre os montantes do drywall, seguido por
gesso acartonado e o acabamento, conforme a Figura 49 e Figura 50.
79
Figura 49 - Camadas de isolamento térmico, acústico e acabamento das paredes internas separadas.
54), atendendo ao critério de as obras de arte não receberem a radiação direta sobre
elas.
Apesar da visão não ser o sentido mais importante dessa proposta de Expositor
de Arte, a iluminação artificial também exerce um papel fundamental em uma
exposição de arte, seja ela para iluminação geral ou de destaque. Porém, o maior
cuidado que deve ser tomado é quanto ao tipo e temperatura da iluminação incidente
sobre as obras de arte, a fim de não distorcer as tonalidades naturais e deixá-las as
mais fieis possíveis.
Como já dito anteriormente, a temperatura de cor da luz do sol varia entre
5.200K e 6.400K e é importante que a temperatura da iluminação artificial fique entre
esses valores, como no exemplo da Figura 56, onde é perceptível a iluminação
predominantemente branca e neutra, semelhante a luz solar; isso é tão importante,
que muitos artistas produzem suas obras utilizando lâmpadas com essas
temperaturas, pois quanto mais próximo da realidade da luz solar, mais fieis as cores
da obra serão. Sendo essas as temperaturas mais adequadas para a iluminação de
espaços de exposição.
Caso o layout fosse readequado, um novo cálculo deveria ser refeito, levando
em consideração a quantidade de obras e disposição das mesmas.
87
Já no que diz respeito aos tipos de lâmpadas, para ambas, foram escolhidas
as de lâmpadas de LED, pois elas se assemelham às propriedades da luz solar,
especificamente o IRC e a temperatura da cor da luz, além de outros benefícios como:
menor consumo de energia e redução de 80% do calor em relação às lâmpadas
halógenas (COPEL, 2021).
Um outro fator importante e também levado em consideração nesse item é o
caráter dinâmico do layout do projeto, logo, para permitir que a iluminação se adeque
junto ao tipo e quantidade de obras expostas, são propostos trilhos de metal fixos ao
teto dos containers (Figura 57), onde os spots de iluminação geral e de destaque
podem ser deslocados e reajustados conforme a necessidade.
5.4 COBERTA
Uma das principais preocupações, pelo fato de o Expositor de arte Contato ser
itinerante, foi idealizar de que forma se daria o seu consumo de energia, e atrelado a
90
isso, manter o perfil sustentável dos materiais, logo optou-se pela escolha da Telha
Fotovoltaica (Figura 60) para cobertura de toda a parte que corresponde à
recepção/administração e às três áreas de exposições, na qual seu principal
diferencial é ter acoplada à sua própria estrutura painéis fotovoltaicos que produzem
energia limpa e sustentável, através da luz solar.
Já para a cobertura do pátio central que fica no núcleo da edificação, onde está
situado o Jardim sensorial, utilizou-se a telha translúcida de policarbonato (Figura 62),
a fim de permitir a entrada de iluminação natural direta ao jardim sensorial e
iluminação natural indireta à toda área de exposição. Além disso essa coberta fica
92
Inc=10%
Inc=5%
Inc=10%
A estrutura de piso dos containers, é feita de aço e coberta por uma camada
de compensado naval, com espessura total de 0,10m, onde após a aplicação dos
revestimentos propostos essa espessura aumentará para 0,13m, ou seja, todos os
ambientes estarão a essa altura em relação ao nível do solo. Como no projeto os
containers serão encaixados um ao outro, todos os níveis se manterão iguais,
facilitando o deslocamento dos seus visitantes e o tornando fluido, sem desníveis
internos. Assim, o único desnível se concentrará na própria entrada para o Longe,
onde será inserida uma rampa de acesso, com inclinação de 8,33%, com corrimão em
suas laterais com 0,70m e 0,92m de altura, devendo ser prolongados por, no mínimo,
0,30m nas suas extremidades, conforme exigido na NBR 9050 (2020) e apresentado
na Figura 66.
Figura 66 - Rampa de acesso e corrimão.
Ainda segundo a NBR 9050 (2020), no que diz respeito a acessos, ela
determina que as portas, quando abertas, devem permitir um vão livre maior ou igual
a 0,80m de largura e 2,10m de altura. O acesso à área interna do Expositor de arte se
dará por meio de uma única porta central, de abertura automática, com quatro folhas,
de dimensões e materiais apresentados conforme a Figura 67.
Sendo duas folhas fixas e duas folhas centrais móveis que, quando abertas,
permite um vão de passagem com 1,70m, conforme mostra a Figura 68.
A escolha das cores não foi aleatória, elas seguem o contraste de luminância
exigida na NBR 16537 (2016), que no caso proposto, os pisos táteis de alerta e
direcional foram definidos na cor amarela e o piso adjacente na cor cinza escuro, em
concordância com a Figura 70, demarcado na cor vermelha.
97
Quanto à estrutura física das placas de piso, o material escolhido para ambos,
foi a borracha. Seguindo o caráter sustentável, os pisos emborrachados são
compostos por placas de borracha de alta durabilidade e resistência, dentre as formas
mais comuns de fabricação está a reciclável, através das raspas ou grânulos de
pneus. A principal vantagem dos pisos emborrachados, determinante para sua
escolha ao referido projeto, é a resistência uniforme de absorção de impactos, ideal
para o fluxo do público alvo que se pretende atender, permitindo ao usuário o uso de
cadeira de rodas, muletas, ou bengalas de forma segura. Além disso esse material é
antiderrapante, absorve ruídos, não promove a proliferação de mofos e bolor
(MABART, 2021).
Já para o piso externo, a escolha foi do piso vinílico com textura amadeirada e
dimensões de 1,35mx0,20m (Figura 71), uma vez que a cor marrom do piso adjacente
segue o contraste de luminância exigida pela NBR 16537 em concordância com a cor
amarela dos pisos táteis, como mostra a Figura 72, demarcada na cor azul.
DET. 01
Dessa maneira, para tornar viável essa fixação dos pisos à malha, são
acoplados aos pisos táteis e adjacente da área interna uma base de estrutura em
metal, na qual têm quatro pinos de encaixa nos seus vértices, permitindo o encaixe
na malha de metalon, além disso, são colocadas entre o piso e a estrutura de metal
uma manta natura de cortiça (Figura 76), que oferece uma alta capacidade de
isolamento acústico, pois cria o abafamento dos ruídos (DOMINGOS, 2014 apud
RODRIGUES, 2015).
Figura 76 - Estrutura dos pisos.
64 unidades de pisos independentes e no total são 768 placas de pisos que podem
ser realocadas conforme a necessidade da mostra.
Vale destacar que as placas informativas das obras de arte e também das
espécies de plantas do jardim sensorial são posicionadas de forma individual e
sempre com as transcrições em Braille (executadas através do site: atractor.com)
posicionadas ao lado esquerdo do texto base, conforme exigência da NBR 9050
(2020). Além disso, para as obras de arte também ficarão posicionados fones de
ouvido para a transcrição através de audiodescrição, ferramenta não-obrigatória, mas
que com certeza auxilia de forma significativa a pessoa com deficiência visual.
Para garantir mais autonomia e reconhecimento do posicionamento dos
ambientes no CONTATO, foi posicionado na recepção um mapa tátil (Figura 81), que
segundo definição da NBR 9050 (2020), são representações visuais, táteis e/ou
sonoras que servem para orientação e localização de lugares e rotas, permitindo o
acesso, alcance visual e manual à pessoa com deficiência visual.
106
A partir das Figuras 84, 85, 86 e 87, serão apresentadas as fachadas frontal,
lateral direita, lateral esquerda e posterior, bem como as especificações de materiais,
equipamentos e cores.
110
5.8 AMBIENTES
5.8.1 Lounge
Esse espaço foi idealizado para propor a convivência dos visitantes, nele é
possível sentar-se, apreciar a vista externa e interagir com outras pessoas (Figura 88).
Ele também pode ser usado como ambiente de espera, caso seja delimitado
quantidade máxima de visitantes dentro do Expositor de arte.
Figura 88 - Lounge.
5.8.2 Recepção/Administração
Figura 89 - Recepção/Administração.
Além disso, é neste espaço onde ocorrerá a preparação das pessoas antes de
adentrarem nas exposições. Como as pessoas terão contato direto com as obras de
arte, uma série de cuidados deverão ser tomados como: instruções, entrega de
materiais, a retirada de qualquer adorno que possa danificar ou fazer barulho no
interior da edificação e a indicação de um guia (se necessário). Caso o visitante opte,
pode apreciar a exposição com os olhos vendados, tendo também à sua disposição
um guarda-volumes alocado na bancada da recepção, onde poderá acomodar os seus
sapatos e adentrar com os pés descalços, para a experiência ser ainda mais completa
e empática.
Será também permitida a entrada na edificação de cães guias, assim como
determina a lei 11.1266, de junho de 2005.
6
“É assegurado à pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de
permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público,
de uso público e privados” (BRASIL, 2005, Art. 1°).
114
Nesse espaço os materiais presentes são neutros, tal como as paredes com
acabamento em pintura branca, e teto na própria estrutura do container também na
mesma cor, formando uma grande “tela em branco”, para toda a evidência ser o
destaque para as obras expostas. Para o layout adotado, o Contato dispõe de três
espaços de exposições, que no total somam 44,72m² e integrados e dispostos de
forma fluida, sem barreiras. O piso e a iluminação possibilitam um layout flexível e
alternativo, que pode alterar o posicionamento das obras a depender do seu tipo e
tamanho. No layout adotado foram dispostas 11 obras nas três áreas de exposição,
com o distanciamento médio entre elas de 1,10m (Figuras 90, 91, 92 e 93).
forma em si dessa arquitetura, mas um experimento de todo o espaço no qual ela está
inserida” (BARBOSA, 2018 p.55).
Os processos facilitados de montagem, desmontagem e transporte, atrelados
à produção de sua própria energia, são condicionantes atenuantes que permitem
viabilizar sua implantação nas mais diversas localidades.
Abaixo segue a implantação do expositor de arte CONTATO em uma praça
pública (Figuras 100, 101, 102 e 103).
Figura 105 - Vista aérea: Implantação do Expositor de arte CONTATO na Praça Luiz Pereira Lima, Arapiraca-AL.
Figura 106 - Vista térrea: Implantação do expositor de arte CONTATO na Praça Luiz Pereira Lima, Arapiraca-AL.
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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http://arteinclusao.com.br/sentir-pra-ver/. Acesso em: 15 setembro 2021.
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Jornal do Comércio, Porto Alegre, 2015. Disponível em:
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2015/10/cadernos/panorama/460343-
cultura-como-direito.html. Acesso em: 03 jan. 2022.
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