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coletânea

mural sensorial
espaço construído
na amazônia
cybelle salvador miranda (Org.)
coletânea mural sensorial espaço construído na amazônia
Universidade Federal do Pará

Reitor
Emmanuel Zaguary Tourinho

Vice-reitor
Gilmar Pereira da Silva

Pró-reitora de Ensino e Graduação


Marília de Nazaré Ferreira

Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação


Maria Iracilda da Cunha Sampaio

Pró-reitor de Extensão
Nelson José de Souza Júnior

Pró-reitor de Relações Internacionais


Edmar Tavares da Costa

Pró-reitor de Administração
Raimundo da Costa Almeida

Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional


Cristina Kazumi Nakata Yoshino

Pró-reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal


Ícaro Duarte Pastana

Prefeito Multicampi
Eliomar Azevedo do Carmos

Secretário-geral da Reitoria
Marcelo Galvão Baptista

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo


Cybelle Salvador Miranda

Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo


José Júlio Ferreira Lima
cybelle salvador miranda (Org.)

Coletânea mural sensorial


espaço construído na Amazônia
Prefácio de Prof. Dr. José Julio Ferreira Lima

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo


Universidade Federal do Pará
Belém – 2022
Copyright © 2022 Autores

Direitos reservados e protegidos pela lei. 9.610 de 19.2.1988. É proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização por escrito dos detentores dos direitos autorais.

Coordenação Editorial
Cybelle Salvador Miranda

Diagramação
Pedro Henrique Lobato

Fotografia da Capa
Arthur Queiroz

Revisão
Talita Bastos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Semias Araújo - Bibliotecário - CRB-2/1225

C694 Coletânea mural sensorial espaço construído na Amazônia


/ Cybelle Salvador Miranda (Org.) ; prefácio de Prof. Dr. José Júlio
Ferreira Lima. – Belém: PPGAU - UFPA, 2022.

98 p. il.

ISBN: 978-65-86640-50-2

1. Arquitetura. 2. Arquitetura - mural sensorial. 3. Mural


sensorial – reflexões. I. Miranda, Cybelle Salvador (org.). II. Lima, José
Júlio Ferreira (pref.).

CDD: Ed. 23 – 720

Livro editado com recursos PROAP 2022 da


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - CAPES.
Universidade Federal do Pará
Rua Augusto Corrêa, 01
Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto
Belém-Pará-Brasil
Setor Profissional
CEP: 66075-110
Secretaria: 55 (91) 3201-8860
www.ppgau.propesp.ufpa.br
ppgau@ufpa.br
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Equipe Organização do Workshop Mural sensorial:

Professora Cybelle S. Miranda

Doutorandos
Euler Arruda Junior
Izabella de Melo
Laura Costa
Tainá Menezes
Wagner Ferreira
Mestrandos
Érika Evangelista
Júlia Moraes
Natielly Miranda
Simone Diniz

Equipe Execução Mural Sensorial:

Arthur Queiroz
Bernadeth Beltrão
Camyla Torres
Érika Evangelista
Euler Arruda Junior
Felipe Moreira
Francianny Moraes
Hugo Souza
Izabella de Melo
Izabelle Lima
Júlia Moraes
Laura Costa
Paula Flores
Ronaldo Moraes
Simone Diniz
Tainá Menezes
Wagner Ferreira
Foto: Arthur Queiroz
CONTEÚDO
SUMÁRIO

prefácio....................................................................................13
José Julio Ferreira Lima

mural sensorial e as ambiências arquitetônicas do ppgau.. 16


Cybelle Salvador Miranda

mural sensorial colaborativo do ppgau-ufpa: representar,


identificar e valorar..............................................................29
Wagner José Ferreira da Costa e Julia Helena Santa Maria Moraes Gomes

belém em mosaico: a experiência do raio que o parta no mural


sensorial...................................................................................40
Laura Caroline de Carvalho da Costa

as representações do habitat amazônico em mural sensorial


no ppgau-ufpa...........................................................................48
Tainá Marçal dos Santos Menezes e Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão

visibilização do patrimônio moderno e experimentações


cartográficas de belém...........................................................58
Izabella de Melo e Celma Chaves
mobiliário urbano em ferro: um relógio e muitas memórias...71
Simone Cristina Castro Diniz e Renata de Godoy

placas texturizadas.................................................................80
Érika Lima Evangelista, Euler Santos Arruda Junior e Márcio Santos Barata

conselho editorial........................................................................... 89

autores............................................................................................... 94
PREFÁCIO

E sta coletânea de textos de docentes e discentes do Programa


de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universi-
dade Federal do Pará (PPGAU UFPA) reúne informações e reflexões
que serviram de base para a concepção, execução e como guia para a
percepção do mural sensorial que se situa no corredor de acesso do
prédio onde estão localizadas as salas de aula do programa. O livro
indica ainda, em associação com o próprio mural, desdobramentos
para pesquisa e extensão a partir da experiência empreendida.
A iniciativa e a execução trazem em conjunto questões de pes-
quisa sobre arquitetura e cidade na Amazônia Oriental, pautadas
pelos docentes e discentes do PPGAU UFPA desde 2010, quando
se estabeleceu a primeira turma de mestrandos.
O mural produzido é a culminância de um processo de autoco-
nhecimento e revelações acerca da construção e representação imagé-
ticas integrantes da atuação do conjunto de pesquisas comprometido
com a Amazônia. Em que pese o caráter acadêmico, há de se destacar
o posicionamento das diferentes áreas de pesquisa que compõem a

13
pós-graduação, ao trazer para o mural as possibilidades de comunicação
e descobertas àqueles que do mural se aproximarem.
Os desenhos, cores e superfícies com aplicações em relevo criam
um fluxo visual que sinaliza tratar-se do ‘corredor’ da arquitetura em
meio ao ambiente homogêneo da construção funcionalista. Enquanto
composição, os autores exploram as possibilidades que a representação
das imagens evoca: edifícios, história, percepção e materialidades em
diferentes escalas, desde o mobiliário urbano até a região, passando
pela alusão ao urbano e periurbano.
No que se refere aos edifícios, o leitor terá a oportunidade de to-
mar conhecimento do habitat amazônico que tem sido estudado, bem
como da ocorrência da arquitetura eclética e modernista, tanto como
referência à história, como a valorização detectada pelos estudos de
cunho antropológico. O livro informa ainda que, quando do exercício
de execução do mural, por seu turno, houve oportunidade para integrar
percepção e materialidades na forma da colaboração com a pesquisa de
tecnologia de materiais, por meio da aplicação de placas confeccionadas
especialmente para compor ritmo no desenho.
Acredito que, em seu conjunto, livro e mural oportunizam expe-
riências cognitivas e perceptivas indissociáveis. Enquanto obra aberta,
o mural é a base para possibilidades múltiplas de impressões e conhe-
cimento para os usuários do prédio. O livro, por sua vez, mais que o
registro do processo, cumpre o papel de indicar replicações onde for
possível associar conhecimento, técnica e ação, numa leitura própria do
tripé ensino, pesquisa e extensão, base da universidade pública brasileira.

Professor Doutor Titular José Julio Ferreira Lima


Vice coordenador do Programa de Pós-graduação
em Arquitetura e Urbanismo da UFPA

14
Foto: Arthur Queiroz
MURAL SENSORIAL
E AS AMBIÊNCIAS
ARQUITETÔNICAS
DO PPGAU
Cybelle Salvador Miranda

o ponto de partida

A identidade visual é fator importante para a localização dos usuá-


rios de um ambiente ou instituição, e confere também ligação afetiva
ao espaço tornado lugar. Assim, as ambiências arquitetônicas são “a
interação mútua e recíproca entre o ambiente sensível e as atividades
humanas nele correntes” (DUARTE et al, 2022). As ambiências só
podem ser compreendidas pela experiência do corpo no lugar. E é a
esse intuito que se propõe a criação do mural sensorial.
Ao longo da existência do Programa de Pós-graduação em Ar-
quitetura e Urbanismo da UFPA, cujo funcionamento iniciou em
2010 em salas cedidas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
e, em 2014, passou a ocupar 4 salas no prédio das Pós-graduações
do Instituto de Tecnologia (PGITEC), não houve tratamento visual
alusivo às atividades do Programa. Tal lacuna foi sentida quando, ao
enviar notícia para o Portal da UFPA, percebi que não havia referência
imagética que pudesse ser usada para remeter ao PPGAU. Assim,

16
durante o primeiro semestre de 2022, fiz o convite aos discentes
para que participassem da organização de uma atividade de extensão
voltada a execução de um Mural nas paredes do corredor de acesso
às salas do Programa.
Nas reuniões do grupo, composto por 8 discentes de Mestrado e
Doutorado do PPGAU, houve intensa troca de informações acerca
das pesquisas de cada um, de modo que o ambiente se tornou uma
oportunidade fortemente estimulante para a interação entre as in-
vestigações em curso. Um brainstorming de ideias conduziu ao desejo
de nele aplicar diversas técnicas, além da pintura com tinta à base
d’agua, considerada de fácil manuseio por pessoas pouco habilitadas.
Do trabalho dos alunos da linha de Tecnologia, veio a sugestão de
aplicar placas texturizadas de concreto colorido, sendo que a equipe
pode visualizar o mostruário existente no Labtec e sugerir novo di-
mensionamento das mesmas e as cores a serem aplicadas. Com base
na pesquisa sobre Arquitetura Raio que o parta, foi proposta a adoção
do mosaico de cacos cerâmicos coloridos como trabalho em relevo.
Outra sugestão foi o emprego do estêncil, para simular padrões.
Diante desta variedade de texturas, emergiu o conceito de Mural
sensorial colaborativo, uma vez que o emprego de materiais com di-
ferentes texturas e temperaturas cria a possibilidade de ser percebido
não apenas pela visão, mas também pelo tato, de modo a torná-lo
atraente também para pessoas com baixa visão.
Estabelecemos o final de junho como período ideal para a rea-
lização do Workshop, que contou com o tema: Espaço Construído
na Amazônia. A atividade foi proposta a partir da necessidade de
criar e promover uma identidade visual no espaço que, atualmente,
encontra-se padronizado - o que dificulta sua diferenciação dos demais
cursos e o acesso por visitantes e recém-admitidos à pós-graduação.

17
Para tanto, a Pintura Mural foi escolhida devido ser uma arte pictórica
diretamente ligada à Arquitetura através de suas técnicas de represen-
tação e cuja forma de expressão artística e comunicativa se integra ao
espaço, gerando reconhecimento e valorização do local em que se aplica.
No caso do Mural sensorial, foram evidenciados trabalhos resultantes
de pesquisas em andamento nos Laboratórios ligados ao PPGAU,
dando visibilidade às investigações desenvolvidas na Pós-graduação
em Arquitetura, fortalecendo o trabalho em equipe e a visão integrada
entre as três linhas de pesquisa que compõem o Programa.
A atividade foi registrada junto a Pró-reitoria de Extensão
(PROEX) como atividade extensionista, reforçando a necessidade
de planejar e executar ações que ampliem a visibilidade e o impacto
social do PPGAU.

O processo de execução

Inscreveram-se 17 alunos, dentre os quais um é bolsista de ini-


ciação científica do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultu-
ral (LAMEMO). O Workshop iniciou com apresentações sobre as
técnicas de pintura mural, incluindo o Mosaico, bem como com
uma seleção de imagens coletadas nas dissertações defendidas no
Programa, a fim de fornecer um repertório a ser selecionado pelos
participantes da atividade. Ao final do turno, o grupo deslocou-se
até o prédio da Reitoria da UFPA para visualizar o mural vencedor
do Concurso Cultural “Ulysses 100 pelos olhos brasileiros”, promo-
vido pela Embaixada da Irlanda1 , em homenagem ao escritor James
Joyce. O mural foi coordenado pelos professores da Faculdade de
1. REITOR DA UFPA E EMBAIXADOR DA IRLANDA...Disponível em: https://
portal.ufpa.br/index.php/ultimas-noticias2/13740-reitor-da-ufpa-e-embaixador-da-irlanda-
inauguram-mural-vencedor-do-concurso-cultural-ulysses-100-pelos-olhos-brasileiros. Acesso
1.

em 12 set. 2022.
18
Artes Visuais Neder Charone, Rosângela Brito, Sandro Almeida e
Sávio Stoco e José Dênis Bezerra, do PPGArtes. A execução ficou a
cargo de 22 alunos, sendo a criadora a estudante do curso de Artes
Visuais Andreza dos Santos.

Figura 1: Exposição teórica acerca das técnicas murais

Foto: Arthur Queiroz, 2022.

Figura 2: Participantes do Workshop em visita ao Mural Ulysses 100


pelos olhos brasileiros

Foto: Arthur Queiroz, 2022

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No segundo dia, grupos se formaram para definir as imagens a
serem representadas, bem como executar desenhos no tamanho que
seria aplicado nas paredes, as quais receberam previamente uma base
de tinta para regularização das superfícies.
Paralelamente, um grupo se reuniu na oficina do Laboratório de
Tecnologia das Construções (LABTEC) para acompanhar e participar
da execução das placas de concreto colorido, de modo que a técnica
passou a ser socializada entre os participantes do Workshop.
A seguir, a parede foi demarcada para delimitar os espaços a
serem ocupados pelas placas, e as áreas disponíveis para desenho das
arquiteturas selecionadas pelos participantes.

Figuras 3 a 5: Atividade de concepção, desenho e execução das placas


para o Mural

20
Fotos: Arthur Queiroz e Tainá Menezes, 2022.

No terceiro e quarto dia se iniciou a produção do Mapa de Belém


usando a técnica do mosaico. Nesta fase, houve grande descontração
na quebra das lajotas, momento em que as tensões puderam ser des-
contraídas e resultaram em caixas repletas de cacos. Os fragmentos
foram aplicados na parede lateral da sala da coordenação do PPGAU,
e, ao lado, foi desenhado o mapa da Região Norte, simbolizando a
área de atuação do Programa.

21
Figura 6: Participantes executando mapa de Belém na técnica do mosaico

Foto: Arthur Queiroz, 2022

O trabalho foi exaustivo, mas recompensador, uma vez que mo-


bilizou, desde sua execução, a atenção de todos os usuários do Prédio
do PGITEC, pois o mural tem visibilidade de vários corredores e
do pátio interno do prédio. Na inauguração, os autores puderam
registrar sua assinatura logo abaixo da faixa composta pelas placas
de concreto colorido.

22
Figuras 7 e 8: Vista do mural em execução e
assinatura do mural pelos autores

Fotos: Tainá Menezes e Cybelle Miranda, 2022

repercussões e valorização da atividade

O emprego da arte urbana como meio de valorizar e criar laços


afetivos entre os sujeitos e os espaços é algo de grande impacto nas
duas primeiras décadas do segundo milênio. A atitude de registrar
imagens em paredes remonta às cavernas pré-históricas, sendo com-
ponente fundamental nas arquiteturas civis e principalmente nos
templos religiosos, com destaque para a arte cristã, na qual a pintura
mural com a técnica do afresco e os famosos mosaicos bizantinos
conferiram ambiências transcendentes aos interiores da arquitetura.
No século XX, sob inspiração das vanguardas modernas, surge
uma expressão denominada muralismo que, na Enciclopédia Itaú
Cultural é conceituada:

23
O termo refere-se à pintura mexicana da primeira
metade do século XX, de feitio realista e caráter
monumental. A adesão dos pintores aos murais
de grandes dimensões está diretamente ligada ao
contexto social e político do país, marcado pela
Revolução Mexicana de 1910-1920. Após 30 anos
de ditadura militar, o movimento revolucionário
- ancorado na aliança entre camponeses e setores
urbanos, entre eles, intelectuais e artistas - projeta
uma nação moderna e democrática, cujos alicerces
repousam no legado das antigas civilizações pré-
-colombianas e na instituição de um Ministério da
Cultura, dirigido pelo escritor José Vasconcelos. A
política cultural do novo ministério tem como eixo
o combate ao analfabetismo e a renovação cultu-
ral. O programa de pinturas de murais, narrando a
história do país e exaltando o fervor revolucionário
do povo, adquire lugar destacado no projeto edu-
cativo e cultural do período. Nos termos de Diego
Rivera (1886-1957), um dos principais expoentes
do muralismo mexicano, a arte “é uma arma”, um
instrumento revolucionário de luta contra a opressão
(MURALISMO, s.d.).

O muralismo se caracteriza pela síntese entre as influências das


vanguardas europeias, as culturas antigas, a arte popular e o folclore
mexicano, tendo papel educativo ao representar de modo acessível
eventos históricos e críticas sociais. Deste modo, contribuiu para
aproximar a arte das pessoas, uma vez que os artistas trocaram as
galerias e os museus por muros em espaços públicos, locais onde suas
obras passaram a ser vistas por todos os passantes.
O Pará tem grupos consolidados em arte mural, sendo utilizada
principalmente a técnica do grafite, material usual para aplicação em

24
paredes externas, de grande durabilidade e colorido. Em março de
2022, houve em Belém a Semana de Arte e Muralismo, quando 16
artistas locais pintaram paredes da Fundação Cultural do Pará, com
referências a cultura popular e ao protagonismo feminino. Quatro
deles pintaram o maior mural a céu aberto da capital e os demais
trabalharam nas pinturas laterais do muro do prédio (SEMANA DE
ARTE E MURALISMO, 2022).
Figura 9: Mural executado no prédio
da Fundação Cultural do Pará

Foto: Cybelle Miranda, 2022.

Diversas universidades vêm desenvolvendo atividades de extensão


visando promover esta expressão estética, como o Campus Marco
Zero da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) (2016), o projeto
Arte dusCâmpus da Universidade Federal de Roraima (2015-2017),
e mais recentemente pela Universidade do Oeste do Pará (UFOPA),
que abriu edital aos interessados em aplicar sua arte no projeto Mu-
ralismo no Campus (2022).

25
Figura 10: Arte de inspiração ribeirinha em espaços de convivência da UNIFAP

Foto: Cybelle Miranda, 2016.

Como repercussões da criação, o Mural sensorial foi noticiado


pelo Portal da UFPA e foi objeto de reportagem pelo Jornal do SBT
Pará. Foram muitas as visitas feitas por alunos e registros de selfies
postados em redes sociais, enfatizando o orgulho dos alunos e egressos
do Programa em ter uma imagem de referência para a qual remeter
quanto se refere ao PPGAU.
Segundo Sonia Schulz, “somente através de suas dimensões artís-
ticas a cidade é capaz de resgatar o mundo sensível, a estética urbana
passa a atuar como uma prática de resistência às frustradas tentativas
de ordenar e controlar o ambiente construído” (SCHULZ, 2008. p.
205). Assim, as ambiências arquitetônicas se vestem e revestem de
arte para criar narrativas, que impactam no cotidiano de seus usuá-
rios, geram reflexões e contribuem para a empatia espacial. Viva o
mural do PPGAU, viva a Arte e suas infinitas formas de nos ligar
com o mundo.

26
referências

BAPTAGLIN, Leila Adriana; RIBEIRO, Rhafael Porto. Muralismo


e intervenções contemporâneas: um projeto de incentivo à arte.
Revista Compartilhar, v. 2 n. 1, 2017. p. 41- 46. Disponível em:
https://ojs.ifsp.edu.br/index.php/compartilhar/article/view/567.
Acesso em 20 set. 2022.

DUARTE, Cristiane Rose; MIRANDA, Cybelle Salvador; SANTA-


NA, Ethel Pinheiro; SILVA, Luiz de Jesus dias da. Experiência do
lugar arquitetônico: dimensões subjetivas e sensoriais das ambiências.
Rio de Janeiro: Riobooks, 2022 (no prelo).

MURALISMO. Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em: https://


enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3190/muralismo#:~:text=-
No%20Brasil%2C%20influ%C3%AAncias%20do%20muralis-
mo,Lavrador%20de%20Caf%C3%A9%2C%20em%201939. Aces-
so em: 13 ago. 2022.

MURAL SENSORIAL ....Disponível em: https://portal.ufpa.br/


index.php/ultimas-noticias2/13744-mural-sensorial-desenvolvido-
-noo-ppgau-explora-diferentes-texturas-e-temperaturas. Acesso em
10 set 2022.

SCHULZ, Sonia. Estéticas urbanas: da pólis grega à metrópole


contemporânea. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

27
SEMANA DE ARTE E MURALISMO. Disponível em: https://
g1.globo.com/pa/para/e-do-para/noticia/2022/03/26/semana-de-ar-
te-e-muralismo-artistas-pintam-maior-mural-a-ceu-aberto-de-belem.
ghtml. Acesso em: 13 ago. 2022.

28
MURAL SENSORIAL
COLABORATIVO
DO PPGAU-UFPA:
Representar, identificar e valorar
Wagner José Ferreira da Costa
Júlia Helena Santa Maria Moraes Gomes

motivações

A cidade pode ser entendida como um intercruzamento de


temporalidades coexistentes (PEIXOTO, 1996) representadas pelas
produções arquitetônicas que ajudamos a construir coletivamente.
Algumas obras destacam-se pela carga imagética que imprimem na
malha do ambiente citadino, fazendo com que seus habitantes reco-
nheçam estes exemplares enquanto representâmens de sua cultura e
tradições, constituindo o que chamamos de patrimônio (POULOT,
2009). Em Belém do Pará, a identificação das obras que podem ser
entendidas enquanto participantes da modalidade patrimonial é dada
pela força cultural que um objeto arquitetônico ostenta, ou seja, sua
importância na vida social, não somente por sua materialidade, mas
também pelos fatores estético-simbólico e afetivos que os mesmos
guardam (MIRANDA, 2012).

29
Figura 1: Mural Sensorial Colaborativo no PPGA no prédio do PPGITEC UFPA.

Fonte: Ronaldo Marques de Carvalho, 2022.

A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré teve o início


de suas construções em 24 de outubro de 1909 (SCHIENA, 1978),
construída com a ajuda do povo paraense sob supervisão dos Padres
Barnabitas, atuais “guardiões” do templo. Ao mesmo foi conferido
o título de Basílica em 1923, pelo Papa Pio XI, tombada como pa-
trimônio em 1992 pela SECULT/DHPAC-PA em 2006. O bem
figura como joia da cultura religiosa católica paraense, em torno do
qual ocorre a festa religiosa do Círio de Nazaré.
Por outro lado, o Hospital Universitário João de Barros Barreto
(HUJBB) surgiu, à priori, como Sanatório Domingos Freire para
tratar tuberculose e febre amarela, contudo suas dependências, con-
sideradas obsoletas, foram substituídas por um modelo pavilhonar
(MIRANDA E ABREU JR., 2014). Em 20 de Agosto de 1956 a
construção mudou de nome para o título que conhecemos hoje,

30
sendo concluído em 1959, dando maior atenção aos doentes de
tuberculose. Na atualidade, o HUJBB é referência no tratamento
de doenças infectocontagiosas, participando do ensino, pesquisa e
extensão da UFPA.
Neste sentido, pretendemos com este ensaio entender como a
representação imagética da Basílica Santuário de Nossa Senhora de
Nazaré e do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB)
que constam na pintura do Mural Sensorial Colaborativo executado
pelos discentes do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Pará (PPGAU-ITEC) podem
reforçar a valoração destes objetos no sentido de identificá-los ou não
enquanto patrimônios.

entre a basílica santuário de nazaré e o hospital


universitário joão de barros barreto (hujbb): imagem,
construção e significação cultural

As estruturas arquitetônicas são construídas pela coletividade


que a elas dá significado, tornando-se verdadeiros símbolos culturais.
Enquanto imagens materialmente visíveis, os edifícios funcionam tal
qual um ente animado, “um lugar de um processo vivo” (SAMAIN,
2012), participando de uma rede de pensamentos interconectados,
que ajudam a tecer as tramas da cidade que habitamos. Esta, por
sua vez, pode ser lida como geradora de subjetividades, onde os
espaços adquirem importância na medida em que nos sentimos em
consonância ou não com os mesmos, como no conceito de Empatia
Espacial abordado por Cristiane Duarte (2015, p. 5).
Partindo do contexto amazônico de Belém do Pará, destacamos

31
os objetos da Basílica de Nazaré e do Hospital Barros Barreto, para
evidenciar a identificação, ou não, destes edifícios pela população
na obra do Mural Sensorial Colaborativo do PPGAU/UFPA e quais
os fatores que permitem entendê-los como bens de herança, ou seja,
patrimônios.

Figuras 2 e 3: Basílica Santuário de Nazaré (à esquerda) e Hospital João de


Barros Barreto (à direita)

Fonte: Wagner Costa, 2022/ Acervo fotográfico da Biblioteca do HUJBB. S/D.

A construção da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré


teve início em 1909, com a chegada do Padre Luiz Zóia, representante
Barnabita vindo da Itália, que sugeriu erguer um templo equivalente
em forma à força do culto em honra a Virgem de Nazaré (aqui vigo-
rando desde 1700), contratando arquitetos italianos para projetar o
templo. Com a ajuda do povo paraense, a construção rapidamente
ganhou tônus, fazendo com que tesouras, caibros e arcabouço estru-
tural já estivessem prontos desde 1916 (SCHIENA, 1978). Dando
prosseguimento às obras em seu embelezamento, o Padre Afonso de
Di Giorgio pediu ajuda a empresas e aos fiéis católicos das variadas

32
classes do Estado que contribuíam com somas de dinheiro capazes
de concretizar um exemplar suntuoso da arquitetura sacra paraense
(COSTA, 2016).
É nítida a identificação e reconhecimento do povo paraense com
o templo enquanto símbolo de identidade, principalmente na época
do Círio de Nazaré, ocorrendo no segundo domingo de outubro, em
que a população enche as ruas de Belém do Pará com homenagens
à Santa, fazendo com que a cidade se enfeite por inteiro, tendo na
Basílica um espaço onde o sagrado pode se manifestar, clímax da
procissão que se desenvolve pelas ruas. A Basílica é um patrimônio
do nosso povo, e representa nossas práticas espirituais, que ano após
ano se renova e atualiza (ALVES, 1980).
Vemos, assim, como o principal valor do edifício é a represen-
tatividade que o mesmo exerce para a sociedade, e dessa forma, o
imaginário popular que envolve determinada edificação pode ser um
fator determinante para a valorização desse edifício ou a causa do
não reconhecimento. Esta consideração faz enxergar o motivo pelo
qual o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) não
é entendido como patrimônio pela população, pois carrega consigo
o estigma de hospital morredouro, dado o entendimento popular
do que seria na época um sanatório, bem como por seu histórico de
abrigar epidemias e doenças infectocontagiosas2.
A palavra Sanatório, para o imaginário popular, tem seu significa-
do atrelado a doenças psiquiátricas e a características manicomiais: um
lugar que abriga pessoas “indesejadas pela sociedade” e que precisam
viver em exílio, em áreas afastadas do centro urbano. Entretanto, a

2 Informação derivada de um documento disponibilizado pela biblioteca do Hospital


Universitário João de Barros Barreto, que consiste em um histórico com informações sobre o
hospital, desde a sua concepção até reformas ocorridas nos anos 90, a emissão do documento
está datada no ano de 1994.

33
palavra sanatório se refere ao tratamento de doenças que necessitam
de isolamento: o objetivo do isolamento do antigo Sanatório Barros
Barreto envolvia a necessidade de evitar o contágio e a proliferação
das doenças que assolavam a comunidade belemense na época e
seguiam as regras higienistas vigentes, de acordo com Larissa Leal &
Cybelle Miranda (2020).
Neste sentido, muito se discute atualmente sobre a valorização
do patrimônio cultural da saúde e dos desafios intrínsecos a esse as-
sunto. O HUJBB é enquadrado por Leal & Miranda (2020) como
exemplar da arquitetura moderna da saúde na região Norte devido
a sua história, impacto na cultura local, contribuição para a expan-
são da cidade de Belém, principalmente no Bairro do Guamá onde
está situado o edifício, além de sua significativa colaboração para os
habitantes da cidade. Muito embora, esbarre nos fatores apontados,
embaraçando sua classificação como um bem de herança.

visitar, identificar e valorar: uma experiência de campo

Na tarde da terça-feira do dia 6 de setembro de 2022, convidamos


30 transeuntes do PPGITEC/UFPA, para visitarem o Mural Sensorial
Colaborativo do PPGAU, a fim de entender quais das representa-
ções arquitetônicas tinham maior impacto imagético na mente dos
mesmos. Dissemos aos participantes que se tratava apenas de uma
atividade lúdica, uma espécie de “jogo de identificação”, onde deve-
riam escrever no verso da folha do Termo de Consentimento Livre e
esclarecido os objetos por eles conhecidos. Atentamos principalmente
para as respostas relativas à Basílica de Nazaré e ao HUJBB.
A representação da Basílica foi uma das primeiras a serem

34
identificadas pelos participantes de nossa atividade, fazendo com
que a coletividade também o entendesse como um bem de herança,
dada a importância que o mesmo possui no panorama citadino na
época de outubro. Os entrevistados, em sua maioria, também não se
equivocaram em relacionar o espaço sacro ao epíteto de patrimônio,
pois entenderam-no como um representante das práticas culturais
belemenses.

Figuras 4,5 e 6: Mural do PPGAU- Basílica de Nazaré e Hospital Universitário


João de Barros Barreto/ Discentes da UFPA

Fonte: Júlia Moraes, 2022.

Entretanto, o mesmo não ocorreu com a representação do Hos-


pital Universitário João de Barros Barreto, devido a dificuldade na
identificação, por parte dos entrevistados, das edificações modernas. A
representação do HUJBB revelou-se desafiadora para os participantes,
alguns poucos discentes conseguiram identificar as formas de um
hospital, as vezes confundindo-o com outros exemplares de mesmo
gênero como a Santa Casa de Misericórdia, contudo, parcela seleta
reconheceu o edifício, nomeando-o corretamente.
Foram entrevistados 31 estudantes, de faixa etária entre 17 e 25
anos, dos respectivos cursos de graduação da Universidade Federal do

35
Estado do Pará: Engenharia Civil, Engenharia mecânica e teatro, do
Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo (PPGAU)
e do cursinho preparatório para o Enem oferecido pela UFPA. A
representação da basílica foi reconhecida oralmente pela maioria dos
entrevistados, porém no termo de consentimento, 19 entrevistados
anotaram seu nome de identificação, já o Hospital Barros Barreto foi
identificado e anotado por 11 dos entrevistados, apenas um entre-
vistado não identificou e anotou nenhuma das duas representações.
Instigamos os entrevistados a formularem a sua opinião própria
sobre as edificações e perguntamos o que eles entendiam como patri-
mônio e quais as características presentes nas representações arquitetô-
nicas do mural serviam como parâmetro para identificá-las enquanto
bens de herança. As respostas foram diversas e se aproximavam do
conceito de bem patrimonial, contudo, após as manifestações, foi
possível formular uma síntese do conceito. Após o pequeno esclareci-
mento, muitos discentes apontaram características neoclássicas como
critério, outros valeram-se do “valor de antiguidade” (RIEGL, 2013),
dando a entender que há uma dificuldade de relacionar edificações
modernas a figura do patrimônio.
Contamos um pouco da história do HUJBB, objetivo de cons-
trução, de sua importância e contribuição para a cidade de Belém.
Diante dessas informações e tendo em conta o conceito de patrimô-
nio explicado, os alunos passaram a considerar que o HUJBB seria
classificado como patrimônio cultural da saúde e passaram a olhá-lo
de uma outra forma, como local de significância cultural.

36
reflexões finais

Intentamos com este ensaio enxergar como a imagem de edifícios


de nossa realidade amazônica representados no Mural do PPGAU-
-UFPA, povoada pelo imaginário, podem ou não reforçar o sentido
de identidade, e, portanto, valoração dos bens por sua identificação,
entendendo-os enquanto patrimônios. Através das figuras da Basílica
Santuário de Nossa Senhora de Nazaré e do Hospital Universitário
João de Barros Barreto, pertencentes ao Mural, bem como pelas en-
trevistas com os transeuntes do espaço do PPGITEC-UFPA, trazemos
à tona considerações dignas de nota.
A primeira é a questão relativa ao imaginário atribuído às edifica-
ções, como fator vital para sua valoração, visto de maneira facilitada
na Basílica de Nazaré, contudo de forma cautelosa quanto ao HUJBB,
este último ainda percebido como um lugar de morte, muito embora
a cura também se processe. A segunda questão é da dificuldade de
entender um ente arquitetônico de formas modernas e, que se atualiza
constantemente, como patrimônio, o que sinaliza o longo caminho
que o HUJBB, assim como outros edifícios de mesmo gênero, tem
a seguir no sentido de seu reconhecimento em direção a patrimonia-
lidade, pelo papel que desempenhou e ainda o faz.

referências

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a Festa de Nazaré, em Belém/Isidoro Maria da Silva Alves. – Petró-
polis, 1980.

37
COSTA, Wagner José Ferreira da. Basílica Santuário de Nazaré:
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Pará, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Be-
lém, 2019.

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(Belém-Pa): arquitetura como testemunho científico. Revista CPC,
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CPC (USP), v.15, p.109 - 136, 2012.

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séculos XVIIIXXI: do monumento aos valores. São Paulo: Estação
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cionais: preservação de um saber fazer. In: RIBEIRO, Nelson Pôrto
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de Janeiro: Pod Editora, 2013. p. 127-139.

RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos e outros ensaios


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SCHIENA, P. V. M. Guia da Basílica de Nazaré, em comemoração


a 25 anos da coroação pontifícia da imagem de Nossa Senhora de
Nazaré. Belém: Pará, 1978.

39
BELÉM EM MOSAICO:
A EXPERIÊNCIA DO RAIO QUE
O PARTA NO MURAL SENSORIAL
Laura Caroline de Carvalho da Costa

as origens da pesquisa

A ideia de aplicar mosaicos no mural sensorial veio de duas expe-


riências vividas durante a pós-graduação. A primeira diz respeito ao
início de minha pesquisa sobre a arquitetura Raio que o parta (RQP)
durante o mestrado (COSTA, 2015), quando identifiquei fachadas
com essas características em três bairros da cidade de Belém (PA). O
Raio que o parta combina elementos da arquitetura moderna – pla-
nos inclinados, cobogós coloridos, marquises de concreto armado e
outros – com painéis que formam desenhos abstratos na platibanda,
sendo o mais marcante deles o de raio. Associando esse símbolo
a uma expressão originalmente pejorativa, os primeiros arquitetos
formados na região entre os anos 50 e 60 do século 20 apelidaram as
casinhas modernosas em sinal de desapreço às construções feitas por
não arquitetos (como engenheiros, desenhistas e mestres de obra).
Os primeiros estudos sobre o assunto remontam ao início dos

40
anos 90, sendo levados em consideração durante minha dissertação
de mestrado para ampliar o entendimento acerca dessa manifestação
em Belém, no que diz respeito à sua permanência e apagamento nos
bairros selecionados. A pesquisa teve por base o levantamento das
fachadas e entrevistas com moradores e proprietários, aos quais eram
solicitadas informações a respeito da época e autoria da construção,
bem como o apreço pela casa, no intuito de verificar as motivações
para manter ou retirar os elementos característicos.
Os resultados obtidos permitiram compreender a forma como o
RQP é visto por essas pessoas, além de suscitar outras inquietações
que aludem a um processo de ressignificação observada no âmbito
acadêmico nos últimos dez anos, motivando discentes e profissionais
de arquitetura, artes e design a valorizar o Raio que o parta como
patrimônio arquitetônico paraense em trabalhos acadêmicos, inter-
venções artísticas, tatuagens e designs de produto (acessórios, móveis e
roupas). É nesse contexto que se insere a minha segunda experiência,
agora como doutoranda no PPGAU e discutindo a ressignificação do
RQP que ultrapassa os limites do espaço construído.

divulgando o mosaico como estética e técnica

Uma vez que a investigação atual observa a tendência de apro-


priação da estética dos raios com fins de consumo, uma das primeiras
atividades realizadas durante o doutorado para verificar esse compor-
tamento foi elaborada em parceria com o Laboratório de Memória e
Patrimônio Cultural (LAMEMO) e a Empresa Júnior de Arquitetura
Tekoá: a “Oficina do Caqueado” (fevereiro de 2020), tendo como
público-alvo os estudantes de arquitetura e áreas afins. Buscamos

41
transmitir aos participantes a história e aplicação de mosaicos ce-
râmicos usando a estética RQP, no sentido de que os inscritos se
apropriassem da técnica e dos desenhos aplicados nas fachadas para
criar pequenos painéis ou reformar objetos de decoração. Os resul-
tados alcançados demonstram um impacto positivo na percepção
dos envolvidos, passando a valorizar o trabalho minucioso de artistas
anônimos, de cuja imaginação surgiram painéis que resistem até hoje.

Figura 1: Trabalhos produzidos durante a Oficina de Caqueado

Fonte: Cristhian Cabral, 2020

O Workshop “Mural Sensorial” acontece dois anos após a pri-


meira experiência com a criação de mosaicos. Inicialmente concebido
como tarefa avaliativa proposta pela coordenadora do PPGAU aos
discentes de pós-graduação, o mural concretizaria a identidade visual
do programa, facilitando seu reconhecimento ao mesmo tempo que
oferece mais de uma forma de percepção. Uma vez que, durante a

42
primeira reunião organizativa do evento, reforçou-se a importância
de haver referências às linhas de pesquisa integrantes do programa,
sugeri que fosse incluído no mural alguma alusão ao Raio que o parta
em forma de mosaico, contribuindo para uma experiência tátil que
ao mesmo tempo caracteriza uma das pesquisas realizadas.
No primeiro dia de workshop, apresentamos as técnicas e referên-
cias dos temas de pesquisa para orientar os participantes na criação
dos desenhos que ilustrariam a temática “Espaço Construído na
Amazônia”. Duas apresentações foram direcionadas para a história e
origem do mosaico e do Raio que o parta no Pará, ministradas por
mim e pela Profª Drª Cybelle Salvador Miranda, que orienta minha
pesquisa. O desenho que receberia o revestimento em mosaico e sua
execução foram definidos a partir do terceiro dia, devido à dificuldade
de obtenção do material adequado para o trabalho, que exigia peças
cerâmicas coloridas e sem estampas – o mais próximo da aparência
dos cacos usados nos painéis RQP, considerando a impossibilidade
de obter os mesmos azulejos comercializados há 70 anos. Parte doado
por alunos e parte adquirido em loja de materiais de construção, con-
seguimos reunir o material necessário, porém somente na cor branca.
Sobre o desenho, decidimos representar o mapa da cidade de
Belém incluindo algumas de suas ilhas, como forma de indicar um
dos recortes espaciais em que se concentram algumas das pesquisas
do PPGAU. Durante a execução, percebi que os participantes mos-
travam interesse não somente em realizar as pinturas e contornos do
mural, mas na confecção dos mosaicos. Por ocupar uma área mais
extensa, a maioria dos alunos esteve envolvida com a pintura, mas
ocasionalmente alguns deles se aproximavam para colar pelo menos
dois ou três cacos, sem a necessidade de serem solicitados a colabo-
rar. Tanto na quebra das placas quanto na aplicação à parede, havia

43
motivação e compromisso; um dos momentos que chamou minha
atenção foi o comentário de um dos alunos que quebrava os cacos,
o qual afirmou ser aquele trabalho uma forma de aliviar o estresse.
Durante a colagem, outro participante disse que naquele momento
ele até se esquecia dos problemas. Ao comentar sobre a “Oficina do
Caqueado” que trouxe a prática dos mosaicos RQP, muitos pediram
a sua reedição.

Figura 2: Participantes durante a confecção do mosaico

Fonte: Arthur Moreira, 2022

44
Figura 3: O resultado

Fonte: Laura Costa, 2022


45
reflexões perspectivas para a formação do arquiteto

Ver o empenho e a vontade em fazer parte daquela experiência


trouxe a lembrança dos relatos de moradores entrevistados para a
monografia de Ivana Santos (1995, p. 90), intitulada “Raio-que-o-
-parta – Um fragmento entre cultura e sociedade”:

O Sr. Wagner [proprietário da residência] era eletri-


cista, e isto refletiu-se diretamente na casa, generosa-
mente iluminada, interna e externamente. Espelhos
e mosaicos de cacos de azulejos – quebrados e fixados
pela própria família – também eram encontrados
por toda a residência.
Os desenhos executados em mosaicos, que podem
ser observados na fachada, são todos de autoria do
Sr. Wagner.

Outra reflexão que o workshop estimulou, traz à tona a neces-


sidade de haver mais oportunidades de prática construtiva durante
a graduação. Muitos estudantes costumam adquirir essa experiência
durante o estágio em escritórios de arquitetura, porém, quando o
saber fazer é requisito fundamental para ingressar no mercado, a
sala de aula e os projetos de pesquisa e extensão devem atuar como
laboratórios para explorar essas vivências, e assim o discente ganha
autonomia que une teoria e prática.
Da mesma forma, essas atividades são ponte entre a academia e a
comunidade através de serviços prestados com acompanhamento de
arquitetos em formação. Importa ressaltar que o Raio que o parta se
dissemina num período de escassez de arquitetos locais, problema que
veio a ser amenizado em março de 1964, com a criação do primeiro
Curso de Arquitetura na Região Norte (MIRANDA; CARVALHO;

46
TUTYIA, 2015). Por isso, coube aos engenheiros e mestres de obra a
tarefa de modernização do espaço construído em Belém e no interior
do Pará, ocasião na qual os proprietários também tinham participação
na obra, seja criando os desenhos ou quebrando azulejos.
Assim, quando se questiona o motivo pelo qual as pessoas se
interessam tanto pelo tema da arquitetura RQP e seus mosaicos,
uma possível resposta aponta para o potencial criativo que essa ma-
nifestação estimula e o sentimento de pertencimento ao processo
construtivo que é um esforço de muitas mãos. E, de caco em caco,
Belém se transformou em um grande mosaico Raio que o parta...

referências

COSTA, Laura Caroline de C. Raio que o parta! Assimilações da


arquitetura moderna paraense nos anos 50 e 60 do século XX e seu
apagamento em Belém-PA. Dissertação (Mestrado em Arquitetura
e Urbanismo) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Ur-
banismo, Universidade Federal do Pará, 2015.

MIRANDA, Cybelle Salvador; CARVALHO, Ronaldo Marques


de; TUTYIA, Dinah Reiko. Uma formação em curso: esboços da
graduação em Arquitetura e Urbanismo. Belém: UFPA, 2015.

SANTOS, Ivana B. T. Raio-que-o-parta – Um fragmento entre


cultura e sociedade. Monografia (Especialização). Núcleo de Altos
Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará. Belém, 1995.

47
AS REPRESENTAÇÕES
DO HABITAT AMAZÔNICO
EM MURAL SENSORIAL
NO PPGAU-UFPA
Tainá Marçal dos Santos Menezes
Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão

introdução

A elaboração de identidade ao Programa de Pós-graduação em


Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal do
Pará (UFPA) foi o foco da coordenação do programa para a criação
de estratégias relacionadas ao campo da Arquitetura e Urbanismo
que implicassem em esforço coletivo, de docentes e discentes, em
proporcionar o reconhecimento e acesso do PPGAU através de ele-
mento visual marcante no prédio da Pós-graduação do Instituto de
Tecnologia (PGITEC).
Para tanto, o Workshop Mural Sensorial Espaço Construído na
Amazônia foi uma atividade de extensão que cumpriu esse papel insti-
tucional ao oferecer destaque e divulgação às pesquisas desenvolvidas
nos laboratórios vinculados ao programa: o Laboratório Cidades na
Amazônia (LABCAM), coordenado pelo professor Dr. José Júlio
Lima; o Laboratório de Tecnologia das Construções (LABTEC),

48
coordenado pelo professor Dr. Márcio Santos Barata; o Laboratório
de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAH-
CA), coordenado pela professora Dra. Celma Chaves Pont Vidal;
o Laboratório de Conservação e Restauro (LACORE), coordenado
pela professora Dra. Thais A. Bastos Caminha Sanjad; o Laboratório
de Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO), coordenado pela
professora Dra. Cybelle Salvador Miranda; o Laboratório Ambiências
Subjetividade e Sustentabilidade na Amazônia (LASSAM), coorde-
nado pelo Professor Dr. Luiz de Jesus Dias da Silva e o Laboratório
Espaço e Desenvolvimento Humano (LEDH), coordenado pela
professora Dra. Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão, ao qual se
vincula a pesquisa de tese em curso.
A organização do Workshop teve participação de discentes da
pós-graduação, estimulando a interação entre os alunos de mestrado
e doutorado, os quais se dividiram entre as demandas necessárias
para realização do evento entre os dias 27 de junho a 01 de julho
de 2022. A programação foi dividida em três momentos distintos:
Palestra sobre técnicas de representação gráfica em mural; Workshop
de Concepção formal e aplicação de técnicas e Execução do mural.
A execução das atividades contou com diferentes técnicas e tex-
turas, desde o desenho e a pintura, à aplicação de placas em argamassa
colorida armada e de cacos cerâmicos, o que motivou a escolha por
um mural sensorial que representasse a visão integrada entre as três
linhas de pesquisa do PPGAU. Logo, a etapa de concepção artística
contou com a elaboração cuidadosa dos discentes envolvidos e, assim,
os diferentes desenhos de exemplares da arquitetura amazônica mos-
tram-se como representações das pesquisas desenvolvidas no PPGAU.
No que tange aos trabalhos desenvolvidos no LEDH, procurou-se
destacar no mural sensorial as pesquisas sobre o habitat amazônico

49
através da representação de desenhos de tipologias em palafitas e flu-
tuantes da região amazônica e de obras do Arquiteto Milton Monte,
como a Casa Onda Amarela e seu beiral quebrado, além de suas prin-
cipais influências, como a casa indígena e o barracão seringalista. Essas
representações se mostram como importantes exemplares da arquitetura
vernacular e erudita na Amazônia e revelam a integração entre os co-
nhecimentos formal e informal, cumprindo-se o objetivo da pesquisa
em projeto no LEDH através de contribuições nos últimos 15 anos
resultantes das atividades da graduação e da pós-graduação na UFPA.

o habitat amazônico como objeto de pesquisa em


projeto no ledh-ufpa

As pesquisas em projeto de arquitetura cada vez mais tem se pauta-


do no espaço da concepção e não do espaço arquitetural (BOUDON,
2007), demonstrando que o processo de projeto pode ser submetido
a um procedimento investigativo, evidenciando etapas importantes da
elaboração da proposta arquitetônica para atender requisitos técnicos
- aspectos funcionais e tecnológicos da construção, capazes de criar
lugares adequados ao uso - e não técnicos – os simbólicos, próprios
do ser humano no ambiente construído (MALARD, 2006).
Nessa direção, as pesquisas desenvolvidas no LEDH têm investido
na construção de uma base epistemológica voltada para produção de
conhecimento operativo sobre o projeto, contextualizado pelo habitat
amazônico. Um dos eixos visa à instrumentalização do projeto e tem
se dedicado ao desenvolvimento teórico-metodológico da relação
entre ser humano e espaço construído a fim de preencher lacunas no
conhecimento sobre o ponto de partida da concepção arquitetônica
através das representações espaciais (PERDIGÃO; BRUNA, 2009).

50
O desenvolvimento de categorias analíticas sobre a configuração
do espaço visa repertórios que ultrapassem as representações geométri-
cas ao incluir as representações topológicas durante a concepção arqui-
tetônica. Para tanto, as investigações procuram compreender o espaço
da existência humana através da busca de relações que aproximem o
homem amazônico de seu habitat, tornando crescente a abordagem
do habitar ribeirinho a partir de um pensamento humanista e do
respeito ao lugar amazônico na produção de conhecimento científico.
A abordagem do tipo e seu uso em projeto de arquitetura (PER-
DIGÃO, 2009) registra o início dessa série de investigações que hoje
se fortalece através dos estudos tipológicos (PERDIGÃO, 2016). Os
estudos buscam a construção de categorias que, por um lado, ofereçam
consistência para pontos de partida na concepção arquitetônica, entre
geométricos e não geométricos – pelo ponto de vista do projetista – e,
por outro lado, possam também abranger as relações estabelecidas
entre o ser humano e seu entorno construído, pelo ponto de vista
do usuário de modo a impulsionar a assimilação do saber popular
pelo conhecimento formal, além de validar instrumental para apoio
à prática arquitetônica que possa ser ensinável e transmissível (PER-
DIGÃO, 2019).
Desse modo, os estudos tipológicos em palafitas amazônicas proces-
sam e investigam categorias que permitem a caracterização das particu-
laridades locais, destacando o protagonismo de soluções produzidas por
saberes locais e que passam a funcionar como indicador da manifestação
cultural no ambiente construído pelos nativos da região, que a pesquisa
científica transporta para o conhecimento formal da arquitetura, como
ocorreu com a sistematização do tipo palafita amazônico (MENEZES,
2015; MENEZES; PERDIGÃO, 2021).
A ampliação dos estudos tipológicos tem procurado oferecer uma

51
maior compreensão sobre a recorrência e as particularidades do tipo
palafita amazônico (PERDIGÃO; MENEZES, 2021). A observação
e posterior sistematização de elementos do vocabulário ribeirinho
vêm se mostrando como um importante passo para compreender as
relações que ocorrem entre o ser humano e o lugar, a partir das quais
seria possível transformá-los em parâmetros de projeto que, posterior-
mente podem ser adotados na concepção arquitetônica de projetos
inseridos nas especificidades da realidade amazônica, especialmente
na escala habitacional.
Para o campo da arquitetura, esse pensamento representa a incor-
poração de registros importantes ao conhecimento formal, ampliando
o olhar dos estudantes e jovens arquitetos a respeito de um material
genuíno para referências projetuais locais. O que se torna desafiador
nos ateliês de projeto ao enfrentar o conflito entre o pensamento
hegemônico da arquitetura e os modos de morar próprios de um
padrão cultural da região amazônica (PERDIGÃO, 2019), visto que
o conhecimento sobre a arquitetura vernacular (OLIVER, 2006;
BARDA, 2009) dessas comunidades mostra-se disperso na escala
do projeto de arquitetura.
Dessa maneira, as representações do habitat amazônico no Mural
Sensorial Espaço Construído na Amazônia (Figura 1), como objeto
de pesquisa do LEDH no PPGAU-UFPA, busca registrar como a
produção de conhecimento sobre arquitetura na escala do projeto tem
se dedicado a contribuir com a construção de repertórios tradicionais
e não tradicionais para permitir uma melhor compreensão do interior
da prática como apoio ao processo de concepção arquitetônica para a
região amazônica onde, via de regra, o habitar ribeirinho amazônico
possa se tornar uma importante referência de projeto, inspirando e
valorizando a cultura local.

52
Figura 1: Registros Fotográficos da habitação ribeirinha amazônica no
Mural Sensorial Espaço Construído na Amazônia do PPGAU-UFPA

Foto: Tainá Menezes, 2022.

As diferentes ilustrações da arquitetura amazônica presentes no


mural (Figura 2) ressalta aos olhos a diversidade cultural presente
no espaço construído na Amazônia, evidenciando um importante
diálogo entre as três linhas de pesquisa do PPGAU-UFPA, no qual
as representações sobre o habitat amazônico refletem um olhar atento
às manifestações culturais de uma arquitetura espontânea, construída
sem arquitetos (RUDOFSKY, 1964), mas que se apresenta marcante
no bioma Amazônia da região Norte do Brasil.

53
Figura 2: Registro Fotográfico do Mural Sensorial Espaço
Construído na Amazônia do PPGAU-UFPA

Foto: Tainá Menezes, 2022.

considerações finais

A arquitetura na Amazônia dialoga com diversos cenários e ato-


res que dotam esse espaço de uma singularidade e complexidade
que merecem inúmeras investigações, conforme ficou explícito no
resultado final do Mural Sensorial Espaço Construído na Amazônia,
através da representação de diferentes exemplares dessa arquitetura.
Reconhecer a importância do habitat ribeirinho amazônico como
uma arquitetura vernacular, uma tradição de comunidades que con-
vivem e resistem à dinâmica das cidades amazônicas no que se refere
à produção do ambiente construído é um passo mediante ao cenário
de imposições, o que tem nos levado cada vez mais ao compromisso
com as investigações que respeitem o lugar amazônico.

54
O ensino de projeto nas escolas de Arquitetura e Urbanismo da
Amazônia, via de regra, ainda prioriza tendências importadas e ampla
utilização de textos e teorias hegemônicas que não condizem com as
questões locais. Foi importante trazer as representações do habitat
amazônico articulado a tantas outras representações da arquitetura
local. Desse modo, criam-se oportunidades para a valorização de um
saber cultural que atenderia de maneira mais adequada as problemá-
ticas projetuais da região, com uma lógica produzida socialmente e
manifestada como cultura ribeirinha amazônica e que agora cada vez
mais tem feito parte da formação do arquiteto e urbanista na UFPA
com as pesquisas do LEDH.
Os desenhos das habitações em palafitas registram a importância
de elementos do vocabulário ribeirinho amazônico recorrente na des-
crição do ambienta natural e construído da Amazônia, em conjunto
com obras do arquiteto Milton Monte buscam privilegiar a formação
de um pensamento projetual que resguarda a cultura amazônica pela
valorização da arquitetura, tanto erudita quanto vernacular, mas sem
dúvida a produção é enriquecida pelo compartilhamento de saberes
que valorizam o ambiente construído da Amazônia e seu povo.
Observa-se que a atividade de extensão do Workshop Mural
Sensorial Espaço Construído na Amazônia atendeu aos seus objetivos.
Os resultados demonstraram a rica interação entre discentes e seus
objetos de investigação, quando apareceu um olhar mais ampliado
sobre as contribuições do PPGAU em suas respectivas linhas de pes-
quisa. Com isso, revigora, no prédio da Pós-graduação do Instituto de
Tecnologia, uma manifestação explícita sobre a aparência e a essência
da Arquitetura.

55
referências

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rânea. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.

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56
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RUDOFSKY, Bernard. Architects without architects: a short in-


troduction to nonpedigreed architecture. Nova Iorque: Museum of
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57
VISIBILIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO
MODERNO E EXPERIMENTAÇÕES
CARTOGRÁFICAS DE BELÉM
IZABELLA MELO
CELMA CHAVES

introdução

O desenvolvimento do Mural Sensorial do Programa de Pós-Gra-


duação em Arquitetura e Urbanismo foi uma iniciativa que permitiu
aos discentes do Programa e aos bolsistas de Iniciação Científica atua-
rem em atividades diferentes das que habitualmente são desenvolvidas
em suas pesquisas. Interessava ao grupo representar a diversidade
de temas que caracterizam o Programa, suas linhas de pesquisa e as
arquiteturas que retratam a diversidade amazônica.
Entre os temas representados no Mural, dois são o foco deste
capítulo: a Arquitetura Moderna produzida em Belém e a Carto-
grafia, pensada a partir de uma perspectiva diferente das que nor-
malmente são utilizadas, propondo novas formas de representações.
Tais questões fazem parte de projetos de pesquisa desenvolvidos no
Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica
(LAHCA-UFPA).

58
Desta forma, o capítulo se divide em dois tópicos principais. O
primeiro salienta a importância de atividades como o Mural Senso-
rial, que busca incluir e dar visibilidade a diversidade de expressões
estudadas no Programa, entre elas, o Patrimônio Moderno, ainda
invisível a parte da sociedade que não o reconhece como detentor
de valor. O segundo tópico tem como foco a experimentação car-
tográfica desenvolvida durante a execução do Mural, bem como os
questionamentos e percepções possibilitados por ela.

expressões do moderno no mural sensorial

Entre as décadas de 1940 e 1970, Belém experimentou uma série


de transformações que modificam sua paisagem. É neste período
que a cidade passa pelo que Vidal (2016) denomina de “experiências
do moderno”, em três momentos diferentes: o da construção, não
apenas de edifícios, mas também de discursos e de um ideário de
modernidade; o da recepção, quando os novos hábitos de morar e
conceber os espaços começaram a ser mais amplamente aceitos por
uma parcela da população, especialmente a que detinha maior poder
econômico; e o da destruição, quando se inicia um processo – que
ainda segue em curso – de apagamento dos exemplares modernos
edificados na cidade, sobretudo, pelas mudanças impostas pelas “novas
modernidades” (VIDAL, 2016, s.p).
Entender os processos de modernização pelos quais a capital
paraense passou, a arquitetura moderna produzida na cidade, as
tramas e atores que estiveram por detrás das transformações de seu
espaço físico, é fundamental para a compreensão de um importante
período da história urbana de Belém, que não apenas contribuiu com

59
transformações que ainda se fazem presentes na atualidade, como
também ressonaram em processos observados após a década de 1970
(VIDAL, 2016). À vista disso, o Laboratório de Historiografia da
Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA-UFPA) desenvolve,
desde 2010, pesquisas sobre estes temas, buscando aprofundar dis-
cussões e novas perspectivas.
As pesquisas voltadas à Arquitetura Moderna em específico visam
identificar o valor dos edifícios modernos construídos em Belém,
possibilitando que estes sejam conhecidos e reconhecidos como parte
do patrimônio arquitetônico da cidade que merece ser protegido.
Especialmente quando se observa que os exemplares modernos da
cidade possuem a dupla condição de serem, assim como afirmam
Chaves, Beltrão e Dias (2020), “presente-invisível”, uma vez que
apesar de serem percebidos materialmente, não são reconhecidos como
detentores de valor. As autoras reiteram a importância de investir em
um tipo de educação patrimonial que insira no debate não apenas
olhares técnicos, mas a população em geral.
Neste sentido, o LAHCA, além das habituais atividades da pes-
quisa científica, vem desenvolvendo ações de educação patrimonial
que já revelam interessantes resultados, como visitas a espaços de
modernidade arquitetônica da cidade, circuitos criativos aos mercados
públicos, aulas ao ar livre e a criação do website Morar Moderno3,
uma plataforma colaborativa que busca divulgar informações sobre
residências e edifícios residenciais modernos construídos na Região
Metropolitana de Belém entre as década de 40 e 80.
De certa forma, a participação de integrantes do Laboratório
na execução do Mural Sensorial do PPGAU também funcionou
como outra atividade de educação patrimonial, uma vez que houve a

3 O Website Morar Moderno pode ser acessado em: https://morarmoderno.com.br/

60
preocupação em representar três exemplares da Arquitetura Moderna
produzida na cidade, testemunhas de suas transformações arquitetô-
nicas e que entendemos que merecem ser valorizados.
As duas residências modernas apresentadas no Mural foram pro-
jetadas na década de 50 pelo engenheiro-arquiteto Camillo Porto
de Oliveira, importante nome da construção civil paraense. Cons-
truídas na Avenida Almirante Barroso, ambas apresentam soluções
arquitetônicas típicas da Arquitetura Moderna, como marquises,
brise-soleil, cobogós, telhado mariposa e planta-livre, combinadas
com soluções inovadoras que lhes conferem um caráter marcante na
paisagem belenense.
A residência Belisário Dias, atualmente com uso de clínica mé-
dica, embora tenha sido razoavelmente modificada com o passar
do tempo, possui manutenção satisfatória. Sua localização em uma
esquina da cidade, seus arcos e, sobretudo, sua linguagem que con-
trasta com o entorno, ainda despertam curiosidade dos que passam
pela casa. Por outro lado, a residência Bittencourt encontra-se sem
uso há alguns anos e seu terreno, dividido e reduzido neste período,
ocasiona preocupação de pesquisadores, situação que motivou os
participantes do III Seminário de Arquitetura Moderna na Amazô-
nia (III SAMA) a elaborar, em 2018, uma Carta aberta aos órgãos
competentes solicitando ações de proteção da casa e a abertura de um
novo processo de tombamento para salvaguardá-la (CARTA, 2018).
O edifício vertical representado no Mural foi o Edifício Manuel
Pinto da Silva, um dos marcos da construção civil de Belém. A escolha
em desenhá-lo foi motivada pela importância, formas e dimensões
que causam admiração no imaginário popular desde a sua inaugu-
ração (CHAVES; BELTRÃO; MELO, 2021). Sua localização, na
confluência de importantes vias de Belém que não por coincidência

61
marcam os percursos que a modernização tomou na cidade, contri-
bui para que o mesmo continue a ser um dos mais emblemáticos
edifícios paraenses.
A representação destas obras foi um processo colaborativo e de
trocas intensas. Nenhum dos três desenhos foi realizado exclusiva-
mente por uma pessoa, mas foram vários os responsáveis por rabiscar,
traçar linhas, desenhar e corrigir as perspectivas dos mesmos. Houve
uma imersão dos participantes desde a fase de pesquisa de referências
até o momento da conclusão do trabalho e as várias horas dedicadas
à atividade permitiram descobrir novos detalhes das obras retratadas
e elementos que antes passavam despercebidos (figura 01).

Figura 1: Momento da execução e resultado das obras modernas representadas no Mural Sensorial

62 Fonte: Izabella Melo, 2022


Ainda que a maioria dos participantes afirmasse não possuir ha-
bilidades com desenho, o resultado final se mostrou satisfatório e
revelou que o processo de entender cada obra e a melhor forma de
representá-la era mais importante do que tentar realizar representa-
ções fidedignas. Percebemos, assim como afirma Kuschnir (2014,
p.27-28), que o processo era mais significativo do que os resultados,
e também que era “mais importante aprender uma nova forma de
olhar o mundo do que “desenhar bem””.

belém em raio que o parta: mapa tangível de uma


cidade fragmentada

Desde as primeiras reuniões em equipe para decidir o que deveria


ser desenhado no Mural Sensorial, houve o consenso de que era indis-
pensável haver um mapa para representar as pesquisas do Programa
que tem como foco o urbano e que utilizam cartografias como fonte
ou objeto de estudo. No entanto, uma série de dúvidas sobre qual
mapa representar e como fazê-lo surgiram. O foco deveria ser apenas
a Primeira Légua de Belém ou o mapa completo do município, com
suas ilhas e distritos? Deveria ser uma cartografia mais “objetiva” ou
artística? Que técnica seria utilizada? Pintura? Colagem?
Após diversas conversas e análise do tempo e espaço que havia no
Mural para o trabalho, o grupo decidiu desenvolver duas cartografias:
um mapa pintado para representar a Amazônia Legal brasileira, uma
vez que a área de concentração do Programa denomina-se “análise e
concepção do espaço construído na Amazônia”; e outro para repre-
sentar a cidade de Belém (Figura 2).

63
Figura 2: Cartografias do Mural Sensorial

Fonte: Izabella Melo, 2022

Buscando ir além, o grupo decidiu unir ainda mais as diversas


linhas e pesquisas do Programa e criou uma nova representação da
cidade de Belém, uma cartografia utilizando a técnica de Raio que
o Parta4. Ninguém da equipe havia visto um mapa assim antes, não

4 Sobre a manifestação estética Raio que o Parta, ver entre outros: COSTA, Laura; MIRAN-
DA, Cybelle. A efemeridade do moderno e o valor de novidade nas fachadas de residências
“Raio que o parta” em Belém PA. Arquitextos, São Paulo, ano 19, n. 228.03, Vitruvius, maio
2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/19.228/7306>

64
sabíamos que aspecto ele teria e se daria certo, mas ficou claro durante
a experimentação cartográfica que estávamos fazendo uma reversão
metodológica. Segundo Passos, Kastrup e Escóssia (2009, p.10-11)
“a cartografia propõe uma reversão metodológica: transformar o
metá-hódos em hódos-metá [que] consiste numa aposta na experi-
mentação do pensamento – um método não para ser aplicado, mas
para ser experimentado e assumido como atitude”.
Ainda que não soubéssemos como seria o resultado final da nossa
aposta cartográfica, algumas etapas de produção foram estabelecidas,
entretanto, à medida que o trabalho avançava houve a necessidade de
definir novas metas e redefinir várias vezes o percurso. De certa forma,
ao mesmo tempo que inventávamos uma cartografia, ela também
definia seus próprios termos durante o processo (Figura 2).

Figura 3: Processo de produção da cartografia de Belém em Raio que o parta

Fonte: Arthur Moreira e Izabella Melo, 2022

Enquanto uma das integrantes desenhou à lápis o contorno da


cidade de Belém e suas fronteiras, outra parte da equipe ficou res-
ponsável por coletar e quebrar os revestimentos cerâmicos em uma
centena de pedaços, posteriormente os cacos foram colados um a um
dentro do espaço delimitado pelo contorno. Ainda que à primeira
vista possa parecer que os fragmentos de cerâmica foram fixados

65
aleatoriamente, é importante mencionar como cada peça foi selecio-
nada para ocupar o lugar em que se encontra no mapa. Como em
um quebra-cabeça ou jogo de montar, as peças foram dispostas com
base nas que já haviam sido coladas anteriormente.
Originalmente a estética “Raio que o parta” faz uso de cacos co-
loridos de cerâmica e no início da atividade o grupo objetivava fazer
o mesmo, havia a vontade de indicar as divisões da cidade através
do uso de cores. No entanto, após dificuldade em obter cerâmicas
coloridas, optou-se por deixar (em) branco o mapa de Belém, uma
vez que percebemos que a cartografia sem cores e sem divisões em
bairros ou distritos instigava outros olhares e comportamentos do
público. Uma das primeiras atitudes dos visitantes do Mural ao se
posicionarem em frente ao mapa em Raio que o Parta era se questio-
nar onde estavam e tentar indicar com a ponta dos dedos o lugar em
que poderiam estar: “eu devo estar por aqui”, “onde está a UFPA?”,
“é aqui que fica a ilha do Combu?”.
A construção do mapa “Belém em Raio que o parta” pode ser
encarada como uma prática contracartográfica à medida que ao criar-
mos uma nova cartografia da cidade desafiamos “percepções espaciais
estabelecidas” (KIMINAMI, 2018, p.31) e nos reapropriamos critica-
mente do mapa (MESQUITA, 2013, p.178). Ao mesmo tempo que
a cartografia nos fala de uma Belém que conhecemos, ela também
nos instiga a direcionar novos olhares a esta cidade e questionar a
forma com que a mesma é produzida e mapeada.
Autores como Harley (2005) já discutem há algum tempo sobre
a não neutralidade dos mapas, e a importância de “desconstruí-los”
para tentar entender as intenções, os silêncios e visões de mundo
que estão por trás de suas representações. Sperling (2016, p.83), a
partir da definição de cartografia exposta por Deleuze e Guattari no

66
primeiro volume de Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, afirma
que “o mapa é um agenciamento em processo, que não é visto como
uma representação do real, próxima do mito cientificista, mas uma
cartografia embasada na experiência e com múltiplas entradas”. Ao
diferenciarem mapa de decalque, os filósofos ampliaram o conceito
do primeiro afirmando que:

Se o mapa se opõe ao decalque é por estar inteira-


mente voltado para uma experimentação ancorada
no real. O mapa não reproduz um inconsciente fe-
chado sobre ele mesmo, ele o constrói. [...]. O mapa
é aberto, é conectável em todas as suas dimensões,
desmontável, reversível, suscetível de receber modifi-
cações constantemente. Ele pode ser rasgado, rever-
tido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza,
ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma
formação social. Pode-se desenhá-lo numa parede,
concebê-lo como obra de arte, construí-lo como
uma ação política ou como uma meditação. [...]
Um mapa é uma questão de performance, enquan-
to o decalque remente sempre a uma presumida
“competência”. (DELEUZE E GUATTARI, 1995,
p.14-15, grifo nosso)

Belém em Raio que o Parta é uma cartografia tangível da capital


paraense, não é puramente visual, induz o toque, transforma o ob-
servador em participante de uma performance e o faz questionar sua
localização. Esta cartografia instiga a ler cada um dos seus fragmentos
para entender uma cidade verdadeiramente híbrida e fragmentada,
que combina em seu tecido urbano os mais diversos tempos e an-
seios, o passado ao lado do futuro e a cultura amazônida ao lado de
arquiteturas com traços europeizados.

67
considerações finais

Com frequência, as atividades da Pós-Graduação tais como pes-


quisa, leitura e escrita, bem como os prazos curtos, limitam as trocas
entre discentes das diferentes linhas de pesquisa, mesmo quando os
temas das mesmas são afins. Neste sentido, a proposta do Mural
Sensorial do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urba-
nismo revelou-se bastante significativa, à medida que permitiu aos
pesquisadores envolvidos conhecerem as pesquisas desenvolvidas pelos
colegas, trocarem experiências e conhecimento. Assim, foi possível
criar um trabalho colaborativo que valorizou e potencializou as di-
versas pesquisas desenvolvidas no Programa.
Os exemplares da Arquitetura Moderna representados no Mural
ilustram parte de um período histórico que ainda precisa ser melhor
compreendido e valorizado pela sociedade paraense. Ao desenhar estas
arquiteturas, apostamos em um método de fazer com que elas sejam
vistas e reconhecidas, que a presença delas instigue curiosidade e que
possam ser asseguradas ações de proteção de suas integridades físicas.
O desenvolvimento da cartografia “Belém em Raio que o parta”
também foi uma experiência de grande relevância. O trabalho colabo-
rativo provocou novas ideias e formas de conceber um mapeamento,
cujo foco estava no processo e leituras que a cartografia poderia pro-
vocar, mais do que em uma tentativa de representar o real. O mapa
resultante permite sentir com a ponta dos dedos um território que
acolhe histórias, deslocamentos e afetos.
Por fim, espera-se que este tipo de atividade se multiplique e que,
futuramente, novos desenhos e experimentações cartográficas possam
ser inseridos no Mural Sensorial.

68
referências

CARTA aberta do III SAMA: Pela proteção e tombamento da


“Residência Bittencourt”. Revista Amazônia Moderna, Palmas,
v. 2, n. 1, p. 143-144, abril-set. 2018 Disponível em: https://sis-
temas.uft.edu.br/periodicos/index.php/amazoniamoderna/article/
view/6202/14466. Acesso em: 12 set. 2022.

CHAVES, Celma; BELTRÃO, Bernadeth; DIAS, Rebeca. A arquite-


tura moderna em Belém como objeto e documento de investigação:
da invisibilidade ao reconhecimento. Labor e Engenho, Campinas,
v. 14, p.1-16, 2020

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tências e resistências: reflexões sobre usos, reusos e transformações
dos edifícios Bern e Manuel Pinto da Silva, patrimônios modernos
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2021, Belém. Anais do XIV Seminário Docomomo Brasil. Belém:
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DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e


esquizofrenia. São Paulo: 34, 1995.

HARLEY, J. Brian. Hacia una deconstrucción del mapa. La nueva


naturaleza de los mapas. México: Fondo de Cultura Económica,
2005. P.185-207.

69
KIMINAMI, C. A. G. Contracartografias: práticas críticas em um
mundo hipermapeado. 2018. 201 f. Dissertação (Mestrado em Ar-
quitetura e Urbanismo) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2018.

KUSCHNIR, Karina. Ensinando Antropólogos a desenhar: uma


experiência didática e de pesquisa. Cadernos de Arte e Antropologia,
vol. 3, nº 2/2014.

MESQUITA, A. Mapas Dissidentes: Proposições sobre um mundo


em crise (1960-2010). 2013. Tese (Doutorado em História Social)
– Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
2013.

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da.


Apresentação. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓS-
SIA, Liliana da. Pistas do método da cartografia: pesquisa-interven-
ção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009. p. 7-16.

SPERLING, D. M. Você (não) está aqui: convergências no campo


ampliado das práticas cartográficas. Indisciplinar, v. 2, n. 2, p. 77-
92, 2016.

VIDAL, Celma. Experiências do Moderno em Belém: construção, re-


cepção e destruição. V!RUS, São Carlos, n. 12, 2016. Disponível em:
<http://www.nomads.usp.br/virus/virus12/?sec=4&item=11&lan-
g=pt>. Acesso em: 08 de set. 2022

70
MOBILIÁRIO URBANO EM FERRO:
UM RELÓGIO
E MUITAS MEMÓRIAS
Simone Cristina Diniz
Renata de Godoy

motivações iniciais

Fazer um ‘aparentemente’ simples desenho em alusão à Praça


do Relógio de Belém no Mural Sensorial do PPGAU/UFPA provo-
cou um efeito inesperado. Não apenas representou a imagem deste
monumento, como também evocou a memória de todo um espaço
construído em seu entorno. Percebeu-se a grande importância da
história no ambiente urbano construído, não só através da memória
em si, mas da apropriação dos elementos que compõem essa paisa-
gem. Um elemento urbano parece ser capaz de reportar ao período da
intervenção urbanística, um mobiliário urbano capaz de representar
a modernização que a cidade passou a ostentar desde início do século
XX. A presença deste símbolo na paisagem remete memórias e ajuda
a criar uma identidade com o lugar.
Dizem na arqueologia que a cultura material é a própria repre-
sentação das relações sociais (ANDRADE LIMA, 2011). O que

71
Figura 1: Imagem atual do relógio
podemos dizer então de objetos
que assumem o caráter de mar-
cadores de memórias coletivas,
como edifícios e paisagens? A par-
tir das emoções evocadas sobre
um mobiliário urbano em ferro,
este pequeno ensaio sugere ao lei-
tor que remeta às suas próprias
memórias, sobre esta paisagem
que tanto representa a cidade de
Belém/PA.
A confecção do Mural Sen-
sorial, obra coletiva de discentes
inspirados, recebeu a representa-
ção deste bem cultural da cidade.
Mas por que este objeto merece
tanta atenção? O Relógio repre-
sentado no mural foi fabricado
pela relojoaria inglesa JW. Benson
Ltd. de Londres, uma gigante no
ramo de exportação de relógios de
todos os formatos. Para o relógio
foi encomendada uma torre de
12m em ferro fundido, da esco-
cesa Saracen Foundry de Walter
MacFarlane&Cº, também umas
das maiores fabricantes de produ- Fonte: Simone Diniz, 2022
tos em ferro fundido do mundo
da época (COSTA, 2011).

72
Figura 2: Mural Sensorial e o relógio

Fonte: Simone Diniz, 2022

Essa fábrica vendia os mais diversos produtos, desde equipa-


mentos para banheiros, móveis, peças e acessórios da construção
civil, luminárias, coretos, edifícios inteiros que vinham prontos para
serem montados aqui no Brasil. Em Belém, além da torre do relógio
em questão, também foram encomendados vários gradis para resi-
dências e o mais notável é o mercado de carne da cidade, construído
integralmente em ferro fundido.
Esses produtos eram pedidos através de catálogos luxuosamente
ilustrados com os desenhos dos detalhamentos e das peças a serem
montadas, se destacavam também pela qualidade das impressões. Tais
catálogos eram um caso a parte, pois tinham um poder de atração
para o consumidor, a beleza dos desenhos encantava, o que colocava
o preço e a questão arquitetônica em segundo plano.

73
arquitetura em ferro em belém/pa

A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, na Inglaterra,


foi uma transformação tão radical que afetou praticamente todos os
povos do mundo, direta e indiretamente. E um de seus resultados
mais visíveis é a produção dos mais diversificados produtos, desde
utensílios em geral, a vários componentes da construção civil como
chapas, perfis, tubos; também maquinários, veículos; e até edifícios
inteiros; e por fim, os mobiliários públicos. Todos passaram a ser em
ferro forjado ou fundido, pré-fabricados na Europa e exportados para
todos os países que pudessem comprar, inclusive o Brasil.
A partir da segunda metade do século XIX, inicia-se no Brasil um
processo de transformação que atinge muitas cidades brasileiras, como
São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, e Belém/PA, dentre
outras, que passam por um processo de urbanização bastante rápido e
um tanto drástico, em que ruas são alargadas, são construídos novos
edifícios públicos, passeios, praças e jardins e belos palacetes residenciais.
Tudo isso justificado por uma preocupação com o embelezamento da
cidade, mesclado com uma ideia de higienização e de modernização.
A primeira década do século XX é o apogeu desse processo e nos
anos posteriores, entra numa certa decadência. Mas, a partir de 1930,
surge um outro período em que se busca uma modernização, eivada
de uma nova concepção, uma urbanização mais ligada ao mercado de
trabalho atrelado a um processo de industrialização, nesse contexto
que se dá a construção da Praça do Relógio.
A torre do relógio é oferecida no catálogo MacFarlane’s Examples
of Architectural Ironwork de 1911. Observe o título do catálogo que
está muito ligado a questões práticas, próprias de uma empresa há mais
de 60 anos no mercado. Para esse fabricante, a peça é mais um produto

74
de centenas de seu acervo. Talvez esse caráter de uma arquitetura im-
portada provoque uma certa rejeição por parte da historiografia, como
algo apenas fruto do consumo de uma elite belemense que tinha em
seus anseios pessoais, o de expor seu poder via o embelezamento de
suas residências e da paisagem da cidade amazônica.
Por outro lado, ao se observar o contexto da iniciativa e da cons-
trução da praça e da implantação do relógio, veremos que tem um
significado totalmente diferente. Em primeiro lugar, a praça que
abriga o relógio se localiza no complexo paisagístico do Ver-o-Peso,
precisamente contígua a doca e ao cais, cercada por um casario oito-
centista ou até anterior, e outras praças. Note-se que já na descrição
de sua localização não tem como não fazer referência à paisagem
que pertence.

Figura 3: A Praça do Relógio, Belém/PA

Fonte: Simone Diniz, 2022

75
O terreno onde se implanta a Praça do Relógio é fruto de um
aterramento do antigo Igarapé do Piri, que separava a Cidade Velha
do bairro da Campina. Durante as grandes intervenções feitas por
Lemos na cidade na primeira década do séc. XX, a praça era apenas
um jardim público e o caminho das pessoas que vinham para o Ver-
-o-Peso. Em 1930, o intendente municipal Antônio Facíola, em seu
relatório anual vai dizer:

Um relogio monumental, um verdadeiro regulador


do movimento e da vida urbana vae ser montado na
Praça Pedro II (largo de Palacio), ou mais precisa-
mente, no quadrilatero limitado pela avenida 16 de
Novembro, ruas Pedro Rayol, Marquez de Pombal
e docca do Ver-o-Peso.
Esse relogio será montado sobre uma elegante torre
de ferro com 12 metros de altura, terá medalhões
com figuras alusivas ás 4 estações do anno, será pro-
vido de sirena electrica para apitar fortemente três
vezes ao dia: ás 6, 12 e 18 horas, e os seus mostra-
dores serão illuminados á noite.
A fornecedora d’esse relógio é a conceituada firma
inglesa Walters Macfarlane & Cia (BELÉM, 1930).

Os discursos do intendente ao longo de todo o relatório trazem


ideia de grandes transformações e modernização que a cidade vai
passando, agora de uma certa forma ligada ao mercado de trabalho.
Portanto, prevalece uma ideia de modernização a partir de utilização
de novas técnicas e equipamentos mais modernos, e não somente para
embelezamento, mas de uma utilidade para a cidade. Nesse sentido, o
relógio, já em sua implantação, é entendido como um trunfo, como
um equipamento que vai trazer benefício para o espaço urbano.

76
o relógio no mural

É claro que, através dos anos, a ideia de um relógio em uma praça


para servir de sirene perdeu o sentido, principalmente em nossa época;
entretanto, desde sua implantação ele está imbricado na paisagem,
muito menos devido a sua utilidade prática ou a uma harmonia de
estilos, do que a percepção de uma memória afetiva em relação ao
que representa para as pessoas a trajetória histórica do Ver-o-Peso.
Pois o mobiliário urbano pode até perder sua função, mas nunca sua
imagem nesta paisagem urbana.
A perspectiva de analisar o relógio inserido em uma paisagem e
integrado a ela, surgiu após ter desenhado o relógio no Mural Sensorial
com objetivo de trazer, ao mesmo tempo, algo da história arquitetô-
nica de Belém, ou da Amazônia, então se pensou no relógio. A partir
do momento que ele estava pronto, houve uma receptividade positiva
das pessoas, e então observou-se que foi porque ele traz consigo uma
memória afetiva do conjunto todo de sua paisagem, isto é, o Centro
Histórico de Belém.
Como o Centro Histórico de Belém é percebido por seus usuários?
Esta é a pergunta que Silva (2019) vai fazer e, a partir daí, realiza
um levantamento histórico para verificar como a percepção desse
ambiente se dá das formas mais variadas e imprevisíveis, dependendo
do momento histórico. A partir da análise de várias percepções, as
conclusões do autor convergem para um “apreço identitário” dos
usuários com esse conjunto arquitetônico e histórico. E que há uma
expectativa de melhorar a segurança e a necessidade de reformas,
além de uma valorização do patrimônio histórico.
Ao visualizar o relógio no mural, ele traz consigo todo um conjun-
to de espaços, nos quais está inserido, como a Feira do açaí, a Pedra

77
do Peixe, o Ver-o-Peso, o rio, os urubus, etc. Portanto, a praça e o
relógio não estão isolados, dessa paisagem, que é espaço muito caro
a população, pois ali está a identidade de um povo frequentemente
exaltada através de poemas, músicas, prosas, estórias e concretizado
por seu conjunto arquitetônico, considerado propriedade do povo
de Belém.

referências

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concreta das relações sociais. Boletim do Museu Paraense Emilio
Goeldi. Ciências Humanas. 1: (6). 11-23.

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lho Municipal de Belém por Antonio Almeida Faciola. Belém, 1930.

COELHO, Geraldo Mártires. Na Belém da belle époque da borracha


(1890-1910): dirigindo os olhares. Revista Escritos, ano 5; nº 5,
2011. http://www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/imagens/numero05/
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de Ferro no Brasil, São Paulo, Edusp, 2001.

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78
SILVA, Luiz de Jesus Dias da. Centro Histórico de Belém do Pará:
múltiplos olhares sobre paisagens, dinâmicas sociais e história em
uma metrópole da Amazônia no século XXI, in: SILVA, Luiz; MI-
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Belém, vivências e temporalidades. Belém: Editora do NAEA, 2019

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SOARES, Elizabeth Nelo. Largos, coretos e praças de Belém – PA.


Brasília, DF: Iphan/ Programa Monumenta, 2009.1

79
PLACAS TEXTURIZADAS
Érika Lima Evangelista
Euler Santos Arruda Junior
Márcio Santos Barata

introdução

Os materiais cimentícios são os mais empregados na construção


civil devido as suas características de durabilidade, resistência, dis-
ponibilidade de insumos, baixo custo de produção e facilidade no
manuseio, podendo ser utilizados em construções formais e informais.
Estes materiais são fundamentais para as obras de infraestrutura e
habitação em países emergentes como o Brasil. Contudo, os materiais
cimentícios são responsáveis por cerca de 7% das emissões globais
de CO2. Estes números impulsionam as pesquisas acerca de meios
que possam diminuir os impactos ambientais da construção civil.
Entre as alternativas pesquisadas estão a substituição do clínquer,
principal constituinte do cimento e maior causador das emissões,
por adições minerais de menor impacto ambiental como o meta-
caulim e o calcário. O uso destas adições também contribui para a
maior alvura do cimento e consequentemente dos concretos e arga-
massas, que podem ser utilizados de forma aparente promovendo a

80
desmaterialização da construção, uma vez que reduz o consumo de
materiais de acabamento.
Além do uso com aparência natural, podem ser incorporados
pigmentos na pasta cimentícia aliados a técnicas de cofragem, con-
tribuindo com maior apelo estético do concreto aparente. A croma-
ticidade do concreto foi amplamente explorada com a disseminação
do cimento branco, na década de 1980 nos Estado Unidos, tendo sua
gama de cores bem diversificada a partir da combinação dos pigmen-
tos disponíveis no mercado atual. A superfície do concreto também
passa por experimentações, desde técnicas sofisticadas de cofragem,
como o concreto fotogravado, até processos manuais explorados por
Paul Rudolph, a exemplo da obra do edifício Art and Architecture
Building, para a Universidade de Yale. Pensando nas formas singulares
que o concreto aparente pode admitir, uma combinação de cores e
texturas foi formulada com inspirações na Amazônia, simulando a
aparência de elementos naturais encontrados na região.

placas texturizadas

O concreto aparente cinza ganhou força com o Brutalismo,


uma vertente do modernismo, explorada por diversos arquitetos
como Le Corbusier, João Filgueiras Lima (Lelé) e Lina Bo Bardi.
Nos anos 1970, essa vertente perdeu força, dando lugar para os re-
vestimentos com diversas texturas e cores. No entanto, na década
de 1980 o cimento branco passou a ser amplamente explorado nos
EUA, permitindo o uso de pigmentos na mistura. E desde então o
concreto cromático passou a ser aplicado por arquitetos renomados
como Álvaro Siza, Ruy Ohtake, Santiago Calatrava, Richard Meyer

81
e Zaha Hadid. No Brasil, o concreto cromático é mais utilizado em
pavimentos, revestimentos e projetos de grande porte, como a Praça
das Artes, em São Paulo, projetada pelo Escritório Brasil Arquitetura
(COELHO, 2001).
A produção do concreto cromático é bastante delicada, exigin-
do alto grau de rigorosidade na seleção dos materiais, sendo menos
desejado quando produzidos com cimento cinza, uma vez que esse
tipo de cimento resulta em tonalidades menos nítidas. Quando são
produzidos com cimento branco permitem maior controle das to-
nalidades do concreto, podendo produzir concretos em tons pasteis
ou com tons mais vivos. No entanto, como o cimento branco exige
matérias-primas mais puras para ter uma cor mais clara e não é pro-
duzido no Brasil, acaba implicando em custos mais elevados (HART-
MANN; BENINI, 2011; KIRCHHEIM; PASSUELO; MOLIN;
SILVA FILHO, 2011).
Tendo em vista o alto custo do cimento branco e a baixa satisfação
colorimétrica do cimento e os altos impactos ambientais decorrentes
da produção de cimento Portland, a Linha 3 (Tecnologias Constru-
tivas, Conservação e Restauro) do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) visa investigar a produção de
um cimento com menor custo, resistência e durabilidade adequa-
das, menor impacto ambiental e melhor estabilidade cromática do
concreto colorido.
O cimento de baixo carbono (CBC) é produzido a partir da
substituição do clínquer por adições minerais. Essa substituição é de
extrema importância, já que a produção de clínquer é um dos prin-
cipais fatores de emissão de dióxido de carbono no mundo. Sendo o
cimento (clínquer) o segundo produto mais consumido no mundo
em massa, apenas perdendo para água, é sozinho responsável por certa

82
de 7% das emissões de CO2 antropogênicas. No Brasil, a produção
de cimento aumentou 277% no período de 1990 a 2014, mas as
emissões reduziram em 18%. Sendo que estes números podem ser
reduzidos em 33% até 2050, tendo o uso de substitutos do clínquer
uma contribuição de 69%, cerca de 290 megatoneladas de dióxido
de carbono mitigados (SNIC, 2019).
A substituição do clínquer por argila calcinada e fíler calcário é
bastante promissora, principalmente na região Amazônica, a qual
possui diversos depósitos de caulim e de resíduos do beneficiamento
do caulim, que ainda não possuem um valor agregado. Estes resíduos
são constituídos de 90% de caulinita extremamente fina, possibilitan-
do a substituição de 50% do clínquer, com uma proporção de 2:1 de
metacaulim e calcário, alcançando uma resistência de 62 MPa contra
46 MPa do CPII F 40 (ARRUDA JUNIOR, 2020). Estas adições
também proporcionam ao cimento de baixo carbono uma cor mais
clara que o cimento cinza convencional, possibilitando a produção do
concreto cromático em tons mais claros. O uso das adições minerais
também auxilia na redução da eflorescência, o metacaulim reage com
hidróxido de cálcio causando a diminuição da alcalinidade da pasta
e refinamento dos poros, dificultando a difusão de água e agentes
agressivos no interior do concreto (BARATA, 2007).

seleção e execução das placas aplicadas no mural

Após os testes realizados com CBC e a averiguação de sua boa


resistência e durabilidade, além de maior alvura, foram iniciados
testes com adição de pigmentação e texturas nas pastas de cimento.
Os resultados alcançados foram avaliados pela equipe responsável pela
organização e execução do Mural Sensorial. Dentre as combinações

83
de cores e texturas, foram escolhidos os tons de amarelo, verde e
laranja com textura de “Bambu” para compor o Mural e torná-lo
mais inclusivo (Figura 1).
A seleção foi baseada nas tonalidades e textura presentes na pai-
sagem natural da região Amazônica, que constituem traços fortes
da cultura nortista intensamente vinculada a cultura indígena. A
tonalidade amarela, proveniente da mistura dos pigmentos marrom
e amarelo, remete aos rios da baía do Guajará que banha Belém, a
capital paraense e sede do PPGAU. O verde, derivado da combinação
dos pigmentos preto e amarelo, faz alusão a flora Amazônica, raiz da
cultura nortista. E o laranja, produzido a partir da combinação dos
pigmentos amarelo e vermelho, designa o solo argiloso da região,
exposto principalmente em ilhas que compõe a Região Metropolitana
de Belém, como a Ilha de Cotijuba.

Figura 1: Placas texturizadas de “Bambu” nos tons de amarelo, verde e laranja


(da esquerda para a direita).

Fonte: Érika Lima Evangelista.

Foram produzidas placas de argamassa armada nas dimensões


de 12,5 x12,5 cm, com 1 cm de espessura, para que tivessem menor
peso, facilitando seu manuseio e aplicação na parede. Para a pro-
dução das placas foram utilizados materiais de cor clara evitando o

84
sombreamento e escurecimento do produto final. Foi empregada uma
substituição de 50% do cimento Portland por uma mistura de 2:1
de metacaulim e calcário, sendo a maior porção de metacaulim. O
metacaulim utilizado era proveniente do processo de beneficiamento
do caulim, armazenado em Ipixuna do Pará. O caulim passou pelo
processo de moagem e queima à 800°C para atingir a reatividade
adequada em forma de metacaulim. Já o calcário foi o mesmo usado
pelas cimenteiras, provenientes da região nordeste do Pará, que passou
pelo processo de moagem.
As placas foram produzidas pelos integrantes da equipe de execu-
ção do Mural Sensorial, com a orientação dos integrantes do Labora-
tório de Tecnologia das Construções (LABTEC), Euler Arruda Junior
e Érika Evangelista. O trabalho consistiu na mistura dos materiais de
partida: cimento, metacaulim, calcário e pigmentos - para obtenção
de cimentos ecoeficientes pigmentados. Cada um dos três tipos de
cimentos, foram misturados com areia da região amazônica, água
e aditivo plastificante para confecção de argamassas coloridas, que
posteriormente foram dispostas em formas com armação em aço e
imprimadas com textura de “Bambu” (Figura 2).

Figura 2: Produção das placas texturizadas.

Fonte: Érika Lima Evangelista.

85
Após o processo de secagem do material (cura) por 48 horas,
as placas foram fixadas na parede do mural com argamassa colante
(Figura 3). Desta forma, os alunos integrantes da equipe de execução
do Mural Sensorial puderam apreender de forma ativa o processo de
pigmentação e texturização das argamassas de cimento.

Figura 3: Instalação das placas texturizadas.

Fonte: Érika Lima Evangelista.

referências

ARRUDA JUNIOR, E.S. Cimentos de baixo impacto ambiental


(LC³) a partir dos resíduos cauliníticos da Amazônia. 2020. Dis-
sertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal
do Pará, Belém, 2020.

86
BARATA, M. S. Aproveitamento dos resíduos cauliníticos das
indústrias e de beneficiamento de caulim da região Amazônica
como matéria-prima para fabricação de um material de constru-
ção (pozolanas). 2007. 396 f. Tese de Doutorado em Geoquímica,
Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geologia
e Geoquímica, Universidade Federal do Pará, Belém, 2007.

COELHO, F.C.A. Variación del color y textura de hormigones


vistos com adcion de pigmentos inorgânicos, sometidos a distintos
estados de exposión ambiental. Tese (Doutorado em Ingeniero de
Caminos Canales y Puertos). Universidad Politécnica de Madrid, U.
P. MADRID. Espanha, 2001.

HARTMANN, C.; BENINI, H. Concreto Arquitetônico e Decora-


tivo. In: ISAIA, G.C. (Org.). Concreto: Ciência e Tecnologia. 1.ed.
São Paulo, IBRACON, 2011. 2v. p.1645-1681.

KIRCHHEIM, A. P.; PASSUELO, A.; MOLIN, D. C. C. D.; SILVA


FILHO, L. C. P. Concreto Branco. In: ISAIA, G.C. (Org.). Con-
creto: Ciência e Tecnologia. 1.ed. São Paulo, IBRACON, 2011.
2v. p.1683-1730.

SNIC - SINDICATO NACIONAL DAS INDÚSTRIAS DE CI-


MENTO. SNIC - ROADMAP tecnológico do cimento: potencial
de redução das emissões de carbono da indústria do cimento
brasileira até 2050. Coordenado por Gonzalo Visedo e Marcelo
Pecchio. Rio de Janeiro: SNIC, 2019 64 p. Disponível: <http://snic.
org.br/noticias-ver.php?id=29>. Acesso em: 26 mar. 2021.

87
Fotos: Arthur Queiroz
88
CONSELHO EDITORIAL

Alcilia Afonso de Albuquerque Melo


Possui doutorado em Projetos Arquitetônicos pela ETSAB/ UPC
na Espanha (2006), convalidado no Brasil pela UFRGS, mestrado em
História pela Universidade Federal de Pernambuco / UFPE (2000),
sendo especialista em Arte e Cultura Barroca pela UFOP/ MG (1986),
em Conservação Urbana pelo CECI/MDU/ UFPE (1998), e gradua-
da em Arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco/ UFPE
(1983). Obteve o DEA/ Diploma de Investigadora Europeia em
2004, pela ETSAB/ UPC, tendo experiência na área de Arquitetura
e Urbanismo, com ênfase em Projetos arquitetônicos e História da
Arquitetura e Urbanismo, atuando, principalmente, nos seguintes
temas: projetos arquitetônicos, tectônica e patrimônio arquitetôni-
co do século XX. Professora visitante durante duas estadias (2010
e 2011), no programa de doutorado em projetos arquitetônicos na
ETSAB/ UPC de Barcelona, realizando investigação pós-doutoral
sobre “Projetos de habitação econômicos modernos brasileiros” com

89
bolsa da Fundación Carolina, Governo Espanhol. É professora Ad-
junta da Universidade Federal de Campina Grande/ UFCG, Paraíba,
desde 2015- onde leciona na graduação de Arquitetura e Urbanismo,
e na pós-graduação em História, na linha História e Cidade, sendo
ainda, coordenadora do Grupo de pesquisas Arquitetura e Lugar/
GRUPAL, investigando sobre história da arquitetura e da cidade,
projetos arquitetônicos, tectônica, patrimônio moderno e industrial.
Coordenadora geral do DOCOMOMO Brasil na gestão 2022/2023.

Ethel Pinheiro Santana


Arquiteta e Urbanista, Professora Associada da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo/UFRJ, concursada desde 2006, docente
permanente do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro - PROARQ/UFRJ e docente
colaboradora do Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio -
MPPP/UFRJ. Jovem Cientista do Nosso Estado - FAPERJ (Edital
FAPERJ 2020). Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) - tendo se graduado
com Magna Cum Laude - mestrado em Arquitetura (2004) e dou-
torado em Arquitetura (2010), ambos pelo Proarq/UFRJ. É atual
Coordenadora do Proarq/UFRJ (2020-2024), além de atuar como
Editora-chefe do Periódico CADERNOS PROARQ desde 2014.
Membro Titular do Conselho de Ensino para Graduados da UFRJ
- CEPG (desde 2019), membro da Direção da ANPARQ (gestão
2021-22), coordenadora de Projeto CAPES PRINT (2019-2023).
É associada ao Cresson AAU/ENSA-Grenoble através de acordo de
cooperação técnico-científica celebrado entre UFRJ e ENSAG. Atua
como parecerista Ad hoc em órgãos de fomento (Mackenzie, FAPESP,

90
FAPERJ), além de ser membro de Comitês Científicos e Conselho
Editorial em diversas revistas indexadas.

José Alberto Tostes


Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universi-
dade Federal do Pará (1988), Especialização em Padrões e Técnicas
de Conforto Ambiental pela Universidade Federal de São Carlos
(1988-89), Especialização em Planejamento Educacional pela Uni-
versidade Salgado de Oliveira (1994), Mestrado em História e Teoria
da Arquitetura pelo Instituto Superior de Artes (2000), Doutorado
em História e Teoria da Arquitetura pelo Instituto Superior de Artes
(2003) de Havana-Cuba. Curso de Aperfeiçoamento em Arquitetura
Sustentável pela Twenty International da Alemanha (2006). É profes-
sor Titular da Universidade Federal do Amapá. Tem experiência na
área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em História da Arqui-
tetura e Urbanismo, Urbanismo I, II, Projetos Urbanos I e II. Estágio
de Pós-Doutorado em Estudos Urbanos Regionais da Universidade
de Coimbra e Salamanca na Espanha (2011), e em Arquitetura pela
Universidade do Porto (2012). Professor do Curso de Mestrado em
Desenvolvimento Regional na área de Planejamento Urbano Regional
desde a criação, no ano de 2006. Atualmente coordena o Grupo de
Pesquisa Arquitetura e Urbanismo na Amazônia, o Grupo de Pesquisa
da Rede Amazônia de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo; membro
do Observatório das Fronteiras do Platô das Guianas e membro da
CLACSO - Conselho Latino americano de Ciências Sociais.

91
Marluci Menezes
Possui graduação em Geografia pelo Centro de Ensino Unificado
de Brasília (1985), equivalência à graduação em Geografia e Planeja-
mento Regional (1991) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
(FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), especialização em
Antropologia do Espaço pela Facoltá di Architettura da Universitá
di Firenze, mestrado em Antropologia Social e Cultural pela Univer-
sidade Nova de Lisboa (1996) e doutorado em Antropologia Social
e Cultural pela Universidade Nova de Lisboa (2002). Investigadora
no Laboratório Nacional de Engenharia Civil -LNEC, onde, desde
1991 estuda as culturas urbanas de uso/apropriação do espaço e de
conservação e reabilitação do património. Foi Coordenadora do Nú-
cleo de Ecologia Social/LNEC (2009/2013), Professora convidada
no Instituto de Pesquisa e Tecnologia/IPT São Paulo (2010) e na
UNICAEN/Baixa Normandia (2012), tendo ainda realizado vários
Seminários temáticos integrados em Planos Curriculares Acadêmicos
de Mestrado e Doutoramento de Universidades Portuguesas e Bra-
sileiras. Presentemente estuda as questões socioculturais associadas à
relação entre património material e imaterial na conservação do patri-
mônio arquitetônico, ao uso e conservação de recursos patrimoniais
e às dinâmicas de adaptação aos processos de transformação urbana.

Renato da Gama-Rosa Costa


Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade
Federal Fluminense (1987), Mestrado em Arquitetura pela Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (1998), Doutorado em Urbanismo
Prourb/Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006), Doutorado
Sanduiche no Institut d’Urbanisme de Paris (2004) e Pós-Doutorado

92
pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (2014). É
tecnologista sênior e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, onde é
Chefe do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo
Cruz. Docente permanente do curso de Mestrado Profissional em
Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz. Professor da subárea Saneamento
Ambiental do Curso de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola
Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Professor convidado do
Curso de Especialização em Arquitetura para a Saúde da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Líder do Grupo de Pesqui-
sa no CNPq Saúde e Cidade. Coordenador do Docomomo Brasil
(2018-2021). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo,
com ênfase em História da Arquitetura e Urbanismo, atuando prin-
cipalmente nos seguintes temas: Rio de Janeiro, história, arquitetu-
ra e urbanismo, patrimônio cultural, arquitetura de instituições de
saúde-história e saúde urbana.

93
AUTORES

Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão


Professora Titular da UFPA. Doutorado FAUUSP (2006),
Mestrado EESC-USP (1994), Graduação em Arquitetura na UFPA
(1989). Docente do quadro permanente do PPGAU e FAU da UFPA.
Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq Espaço Vernacular Amazônico.

Celma Chaves
Arquiteta e Urbanista, Doutora em Teoria e História da Ar-
quitetura pela Universidade Politécnica da Cataluña. Professora da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Gra-
duação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do
Pará, Coordenadora o Laboratório de Historiografia da Arquitetura
e Cultura Arquitetônica (LAHCA-UFPA) e do Núcleo Docomo-
mo PA. Desenvolve pesquisas na área de Arquitetura e Urbanismo,
atuando principalmente nos seguintes temas: Arquitetura Moderna,

94
Historiografia da Modernidade; Mercados públicos na cidade con-
temporânea, Cidade, Arquitetura e Modernização na Amazônia.
ORCID <https://orcid.org/0000-0003-3437-3844>.

Cybelle Salvador Miranda


Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Progra-
ma de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Pará e pesquisadora associada ao CLEPUL / Universidade
de Lisboa e a Universidade Aberta (Portugal). Arquiteta e Urbanista,
Doutora em Antropologia, com Pós-doutoramento em História da
Arte pela Universidade de Lisboa. Lidera o Grupo de pesquisa Arqui-
tetura, Memória e Etnografia, com os temas Memória e Patrimônio
Cultural, Estética da Arquitetura Amazônia, Arquitetura assistencial
e saúde e coordena o Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural
(LAMEMO). Coordenadora do Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo (2021-2022). Em 2018, publicou o livro
Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal,
em parceria com o professor Renato da Gama-Rosa Costa, Menção
Honrosa no Prêmio ANPARQ 2020.

Érika Lima Evangelista


Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Pará (UFPA),
graduada em 2019. Mestranda em Tecnologias Construtivas no Pro-
grama de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Pará (PPGAU/UFPA). Atualmente atua no desenvolvi-
mento de projetos arquitetônicos e de interiores e na pesquisa de
materiais construtivos ecoeficientes.

95
Euler Arruda Junior
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Pará, Mestre em
Tecnologias Construtivas Conservação e Restauro (PPGAU/UFPA)
e Doutorando em Tecnologias Construtivas Conservação e Restau-
ro (PPGAU/UFPA). Atualmente, atua na construção civil como
projetista e executor de obras residenciais e hospitalares, nas áreas:
Geotécnica, estrutural, elétrica, hidrossanitária e proteção e combate
a incêndio. Como consultor, atua nas áreas: geotécnica, estrutural e
conservação e restauro.

Izabella de Melo
Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Univer-
sidade Federal do Pará, Pesquisadora do Laboratório de Historiografia
da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA-UFPA), no qual
contribui em pesquisas sobre História Urbana, Arquitetura Moderna
e Modernização. ORCID <https://orcid.org/0000-0001-8997-2866>

Julia Moraes
Arquiteta e urbanista, Mestranda na linha 1: Arquitetura, cultura
e espacialidades na Amazônia, pelo PPGAU- UFPA. Pesquisadora
integrante do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (LA-
MEMO FAU - UFPA). Integrante da equipe do projeto de Pesquisa
Arquitetura Hospitalar: paradigmas para sustentabilidade e humani-
zação na Contemporaneidade pós-pandêmica.

96
Laura Caroline de Carvalho da Costa
Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Pará (UFPA),
Bacharel em Design de Produto pela Universidade do Estado do
Pará (UEPA), Mestre e Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo
(PPGAU-UFPA), Professora EBTT no Instituto Federal do Pará
(IFPA) e Pesquisadora do Laboratório de Memória e Patrimônio
Cultural (LAMEMO-UFPA).

Marcio Santos Barata


Professor Associado I da Universidade Federal do Pará. Lotado na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Membro do corpo docente
permanente do Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urba-
nismo da UFPA. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade
Federal do Pará (1992), mestre em Engenharia Civil pela Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e doutor em Geologia e
Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (2007). Coordenada o
Laboratório de Tecnologia das Construções (LABTEC) da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da UFPA. Pesquisa o desempenho de
materiais, componentes e sistemas construtivos inovadores e tradicio-
nais em Habitações e Infraestrutura Urbana, materiais ecoeficientes
e o aproveitamento de resíduos e subprodutos gerados na Amazônia.

Renata de Godoy
Professora adjunta da Universidade Federal do Pará. É PhD em
Antropologia (UF/EUA), mestra em gestão do patrimônio cultural
e arquiteta e urbanista pela PUC/GO. É professora permanente dos
Programas de Pós-graduação em Antropologia e em Arquitetura e
Urbanismo (PPGA e PPGAU).

97
Simone Castro Diniz
Arquiteta e Urbanista pela Universidade da Amazônia, mestranda
no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFPA.
Bacharel e Licenciada em História pela UFPA.

Tainá Marçal dos Santos Menezes


Doutoranda no PPGAU-UFPA. Mestre em Arquitetura e Urba-
nismo pelo PPGAU-UFPA (2015), graduada em Arquitetura e Ur-
banismo pela FAU-UFPA (2012). Atua em pesquisas sobre processo
projetual e habitação ribeirinha na Amazônia.

Wagner José Ferreira da Costa


Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Pará (PPGAU-UFPA) (2020-
2024). Mestre em Arquitetura pelo PPGAU-UFPA (2019). Possui
graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFPA (2016). Tem
experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com enfoque em
Memória e Patrimônio Cultural e Linguagem e Simbologia ligado
à Arquitetura Sacra. Pesquisador e colaborador no Laboratório de
Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO-UFPA). Atualmente
integra o grupo de pesquisa Arquitetura Memória e Etnografia (AME).

98

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