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Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História das Artes Visuais

Volume 3

Madalena Zaccara

Recife, 2014
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Moacyr Cunha Filho
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Maria Ângela Vasconcelos de Almeida
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Maria Madalena Pessoa Guerra
Pró-Reitor de Planejamento: Luiz Flávio Arreguy Maia Filho
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretora: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenador Geral da UAB: Domingos Sávio Pereira Salazar
Coordenadora Geral de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em
Tecnologia e Gestão em Educação a Distância: Marizete Silva Santos
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Hayhallyson Santos
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Arlinda Torres

ZACCARA, Madalena.
História das Artes Visuais / Madalena de Fátima Zaccara Pekala – Recife: Unidade Acadêmica de
Educação a Distância e Tecnologia, UFRPE, 2011. 1ª edição.
ISBN
1. História. 2. Artes Visuais. 3. Educação a Distância. I. Título.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
A expressão como linguagem: o Fauvismo e o Expressionismo................................ 7
Sobre o Fauvismo: a explosão da cor......................................................................... 7
O Expressionismo Alemão e a explosão da angústia de viver................................. 11
Sobre o grupo A Ponte.............................................................................................. 12
Sobre O Cavaleiro Azul............................................................................................. 15
Sobre os artistas citados no capítulo........................................................................ 19
Pesquisando as formas: o Cubismo............................................................................. 29
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 33
O elogio da máquina: o Futurismo................................................................................ 39
Sobre os artistas citados no capítulo........................................................................ 44
Tudo é arte, nada é arte: o Dadaísmo............................................................................ 47
Sobre os artistas citados no capítulo........................................................................ 51
Subvertendo a realidade: o Surrealismo...................................................................... 55
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 60
O reinado das cores e das formas: momentos abstracionistas................................. 67
Sobre movimentos que adotam a linguagem abstrata informal ou
lírica........................................................................................................................... 69
Arte informal.....................................................................................................................69
Expressionismo abstrato..................................................................................................70
Sobre movimentos que adotam a linguagem geométrica: o
abstracionismo formal............................................................................................... 72
O Suprematismo...............................................................................................................72
Sobre o Construtivismo Russo.................................................................................. 73
Sobre o Neoplasticismo Holandês............................................................................ 76
Sobre a arte concreta................................................................................................ 79
Sobre os artistas citados........................................................................................... 82
Referências...................................................................................................................... 92
Sobre a Autora................................................................................................................. 93
Apresentação
Chegamos enfim no século XX. Uma longa caminhada. Entretanto, se
pensarmos em termos de Artes Visuais, até agora encontramos certa
uniformidade nos meios utilizados pelos artistas. As Artes Visuais
permaneciam circunscritas em uma expressão tradicional com poucas
tentativas de mudança. O que torna, então, o século, que iniciamos a
estudar agora, diferente?

Para podermos compreender o comportamento das Artes Visuais na


contemporaneidade é preciso levar em conta as profundas alterações
e desafios pelos quais passou o século XX em todos os seus aspectos.
Foi, antes de qualquer coisa, um período marcado por duas grandes
guerras que envolveram e abalaram o mundo ocidental. A emergência
do comunismo, com a Revolução Russa de 1917, contribuiu também
para essas mudanças uma vez que significou certo remanejamento
político na Europa: o que se refletiu, posteriormente, nas relações com
os Estados Unidos, um dos vitoriosos do segundo conflito em escala
mundial. O processo de industrialização, por outro lado, se acelerou,
cada vez mais, ajudando a concentrar a renda na mão de poucos. Na
esteira das guerras, as conquistas científicas e tecnológicas também
chegaram, impactando a vida naquele século.

As Artes Visuais, naturalmente, refletiram essa situação política,


econômica e social. Os artistas que vivenciaram essas mudanças
radicais redirecionaram seus projetos para uma expressão que
Saiba Mais
1
A Bauhaus, uma escola
refletisse o seu tempo. O novo tornou-se, assim, a palavra de de artes alemã, foi criada
ordem e se manifestou sob as mais diversas formas e pesquisas. em 1919. Ela traz em sua
A arquitetura, por exemplo, empenhou-se em discutir sua função origem seu perfil: articular
arte e artesanato. Ao
a partir de novas técnicas e materiais. Nesse sentido surgiram ideal do artista artesão
instituições, como é o caso da Bauhaus1, que pretendiam rever as defendido por Walter
Gropius, seu fundador,
formas de criação utilizando como referencial essa nova sociedade e soma-se a defesa da
suas necessidades. Assim, projetar um edifício ou uma cadeira tinha complementaridade das
diferentes artes sob a
importância equivalente na busca pela harmonia com as múltiplas
égide do design e da
transformações. arquitetura. O espírito
que conduz o programa
Para o artista, de uma forma geral, foi necessário afirmar sua liberdade da escola fala da ideia
de que o aprendizado e
de criar e, mesmo, para através dela tentar reformular a sociedade. O
o objetivo da arte ligam-
desafio aos padrões estabelecidos passou a ser uma causa pessoal. se ao fazer artístico.
Essas pesquisas experimentais levaram aos chamados movimentos A Bauhaus teve várias
sedes e, finalmente, foi
de vanguarda que subentende uma postura de se estar à frente de fechada pelo nazismo.
seu tempo. Novos horizontes eram necessários e, nessa busca,

5
parecia não ter muita importância o que ficou para trás.

Nesse processo de adequação aos novos tempos e de renovação da


linguagem das Artes Visuais, segundo Jason (1971), três correntes
principais fizeram a cena. Inspiradas nos pós-impressionistas
encontramos essas tendências marcantes: a expressão, a abstração
e a fantasia.

A primeira enfatiza a atitude emocional do artista para como mundo e


com ele próprio e vai aparecer em alguns movimentos de vanguarda:
o Fauvismo e o Expressionismo Alemão. Na segunda corrente
a pesquisa se volta para a estrutura formal da obra de arte o que
encontramos no Cubismo, no Futurismo e na Abstração. A terceira
vertente diz respeito às características espontâneas da imaginação
que podemos observar no Dadaísmo e no Surrealismo. Todos esses
movimentos e conceitos serão objeto de nosso estudo e análise no
presente volume.

O mais importante é que, sob todos esses conceitos, para o artista


do século XX é imperioso inovar. Uma atitude que é quase o Santo
Graal de sua época. Nessa missão, eles tentaram compreender e
definir e, mesmo, reformar a nova sociedade que se apresenta e que
o cercava.

6
C a p í t u l o 12

A expressão como
linguagem: o Fauvismo e
o Expressionismo

Objetivos do Capítulo
Estudar, analisar e compreender o movimento expressionista que dá início às vanguardas
europeias no século XX. Vamos estudar o Fauvismo que prioriza a cor como reforço
emocional sem qualquer conotação política ou social e o Expressionismo que enfatiza
a atitude emocional do artista no sentido de expressar seu próprio mundo interior em
relação ao que o cerca.

Sobre o Fauvismo: a explosão da cor


Alguns artistas que antecederam o movimento que recebeu o nome
de Fauvismo contribuíram muito para esse momento, que se iniciou
na França, em 1905. As experimentações de Gauguin, Van Gogh
(Figura 1), Munch e mesmo as pesquisas de Seurat e Signac foram
decisivas para a liberação da cor nesse momento da História da Arte.

Figura 1. Vincent Van Gogh. Autorretrato com chapéu de feltro. 1887. Fonte: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Self-portrait_with_Felt_Hat_by_Vincent_van_Gogh.jpg

7
Mas, vamos por partes. Inicialmente vamos tentar compreender o
que significa “Fauvismo” ou “Fovismo”, aportuguesando-se o termo
francês? A designação foi tirada de uma crítica feita por Louis
Vauxcelles sobre o Salão de Outono de 1905, realizado no Grand
Palais, em Paris. Ela se referia ao trabalho de um grupo de jovens
artistas que se voltavam para a representação pictórica de paisagens
e outros temas desprovidos de grandiosidade utilizando cores
primárias e contrastantes de acordo com a vontade do autor.

O crítico francês, comparando essas pinturas (para ele chocantes


por suas cores intensas, a espontaneidade da técnica e a banalidade
dos temas) com uma escultura de Donatello que se encontrava
no mesmo espaço, batizou o grupo de “fauves”, ou seja, feras em
português. A designação visava desmerecer o grupo. Entretanto, este
a acolheu como apropriada para descrever seus objetivos e o termo
se transformou em um rótulo para o movimento: o Fauvismo.

Os fauves se constituíram no primeiro grupo de vanguarda do século


XX. Porém, eles nunca se destacaram pela organização em torno de
um programa ou um manifesto. Era bem mais uma associação de
artistas que partilhavam os mesmos objetivos, hábitos de vida e um
trabalho em comum. Eles tinham Henri Matisse, o mais velho entre
Pesquise... eles, como líder. Cada um deles tem uma obra diferente, mas todos
Harmonia em vermelho. têm um elo em comum: o impacto da cor.
Henri Matisse.
Entre os artistas denominados de fauvistas destacaram-se: Henri
Matisse, André Derain e Maurice de Vlaminck. Outros artistas
partilhavam os mesmos objetivos como Albert Marquet, Charles
Camoin, Henri Charles Manguin, Othon Friesz, Jean Puy, Louis Valtat,
Pesquise... Georges Rouault e Georges Braque, entre outros.
Collioure. André Derain.
1905. Henri Matisse, o mais conhecido artista do grupo e o seu mais fiel
defensor resume o espírito fauve em um trabalho emblemático: A
alegria de viver.

Pesquise... Saiba Mais


Tugboat on the Seine.
Maurice de Vlaminck. Grandes manchas de cor envolvidas por contornos marcados e fortes conferem,
1906. juntamente com seu tema, um caráter primitivo, tão buscado por Paul Gauguin em suas
andanças e registros, o que naturalmente inspirou Matisse nessa pintura.

O prazer sensorial da volta à natureza remete a uma espécie de paganismo prazeroso


bem de acordo com a busca daqueles artistas franceses naquele começo de século. A
simplicidade das poses dos personagens que parecem retirados de um hipotético éden

8
não escondem o olhar e a técnica do autor treinado na Academia. Entretanto, o artista
se compraz com a insinuação desses conhecimentos. A espontaneidade do traço e a
fantasia das cores são mais importantes e revolucionários.

Diante da composição compreendem-se os novos princípios da imaginação, da cor e


da simplicidade de uma expressão que tinha em mente o descanso e o prazer do olhar
do espectador. É uma superfície decorativa mais do que uma cena descritiva. Uma
abordagem extremamente positiva da vida.

Com suas cores vibrantes e pouco naturais e pinceladas frenéticas,


outro artista marcou o escândalo produzido no Salão de Outono no
qual se delinearam as propostas do grupo. Trata-se de Maurice de
Vlaminck que recebeu uma influência poderosa de Vincent Van Gogh
que ele, Vlaminck, viu pela primeira vez em uma exposição em 1901.

Vlaminck aplicava, espremia a cor diretamente do tubo sobre o


suporte tornando físico o material utilizado e levava as cores ao seu
ponto máximo de apelo visual. Ele não se preocupava muito com o
desenho dos contornos; para ele o importante era a pintura em si.
Suas pinceladas poderiam ser verticais, horizontais, diagonais ou
onduladas, em função da sensação que desejava transmitir.

Para compreender melhor o impacto da cor em sua temática de canas


simples do campo francês vamos observar seu trabalho intitulado
Pesquise...
Restaurante em Marly.
Restaurante em Marly.
Maurice de Vlaminck.
1905.

Saiba Mais
São verdes, vermelhos, azuis e amarelos intensos que atraem o olhar do espectador
para essa cena, aparentemente prosaica, de um pequeno restaurante dessa cidade
francesa. Um crítico do Le Fígaro, jornal francês, escreveu sobre a obra do artista na
época que “um pote de tinta inteiro foi derrubado na cara do público”.

Para além dos comentários depreciativos daquele momento, para o olhar do nosso
século, o que vale, porém, é a expressão maior da cor e da beleza de uma primavera
cheia de promessas para um jovem artista que queria mudar o mundo.

Seus sentimentos intensos se voltam para a ação de pintar. O pote de tinta nos bate
na cara cheio também da emoção e da alegria de se estar vivo, sentir o calor do sol na
pele depois do inverno vagabundeando pelo campo pleno de tons e cheiros. Podemos
quase cheirar as flores, sentir o sol na pele e o prazer do autor (em todo a sua força e
imediatismo) que nos contamina com a paixão que ele sentiu naquele momento e tentou
passar.

André Derain também nos confronta com mais um coquetel molotof de


sensações. Juntamente com Matisse, ele estudou a obra de Gauguin

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e Van Gogh e o seu emprego da cor e esquemas compositivos. Como
seus companheiros de pesquisa, Derain abandonou o superficialismo
habilidoso e foi direto e franco em suas formas e esquemas de cores.
Fez intensas e audaciosas harmonias, bárbaras para uns e sensíveis
para outros.

Desprezou as formas da natureza em função da expressão maior


e deleitou-se com o emprego das cores violentas e com suas
experimentações. Seu trabalho A Ponte de Charing Cross, pintado
Pesquise... (em uma estadia do artista) na Inglaterra, é um exemplo da sua
A Ponte de Charing construção de campos de cor e de sua representação sintética do
Cross. André Derain. mundo.
1906.

Saiba Mais
A tela nos remete a uma nítida primazia das cores sobre as formas. Grandes manchas
coloridas delimitam planos bidimensionais. A terceira dimensão é somente sugerida pela
superposição dos elementos da paisagem registrados pelo artista.

Ela, a cor, aparece pura, sem sombreados, salientando os contrastes. Não importa a
aparência do objeto, mas, sim a que o artista quer conferir a ele. Uma consequência dos
conselhos de Gauguin, seguidos por Deraine pelos fauvistas em geral

Vemos também na tela uma recorrência às influências divisionistas de Seurat e Signac


expressas nas pinceladas soltas e repetidas que tentam captar o estado de mutação das
águas do rio Tâmisa.

A temática, por sua vez, não é relevante. Mesmo que essas cenas tenham sido pintadas
em resposta às inglesas pintadas por Monet, durante o Impressionismo e que serviram
como contraponto para o artista fauve. Ela é sempre uma cena urbana de Londres.
Daquelas pelas quais passamos sem prestar muita atenção quando se encontram em
nosso roteiro do dia a dia.

Por volta de 1906 os fauves foram vistos como os pintores de


expressão mais avançada em Paris. Entretanto essa notoriedade
foi breve. Cada artista seguiu seu próprio caminho posteriormente.
Exceção para Matisse que permaneceu um fauve e foi um dos artistas
mais cultuados do século XX: um século rápido em seus avanços
tecnológicos e transformações sociais e que também o foi em relação
aos seus movimentos artísticos. Os fauves, por exemplo, rapidamente
deram lugar à experiência cubista.

No Brasil não existiu um movimento organizado como na França


embora alguns artistas desse movimento pudessem ter sido vistos
na exposição de arte francesa realizada em São Paulo, em 1913, no

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Liceu de Artes e Ofícios. Mesmo a exposição de 1914 de Anita Malfatti,
realizada também em São Paulo, não chamou tanto a atenção apesar
de seu conteúdo fauve. Vai ser a exposição de 1917 desta artista
brasileira que vai chamar a atenção do público para uma linguagem
ainda desconhecida no país (inclusive provocou certo escândalo com
a matéria publicada pelo escritor Monteiro Lobato usando como título
Paranoia ou mistificação: a propósito da exposição Malfatti). Uma das
reações a essa crítica foi a Semana de Arte Moderna de 1922 que
teve como propósito atualizar a arte brasileira com as vanguardas Pesquise...
europeias. Na tela A Boba, de Malfatti, entre outras poucas obras da A boba. Anita Malfatti.
artista, podemos encontrar traços do fauvismo francês. 1915-16.

Saiba Mais
A tela foi feita durante a estadia de Anita nos Estados Unidos. Ela utilizava modelos que
posavam na Independent School of Art em troca de alguns dólares. Na composição além
do seu interesse em retratar o estado psicológico de seus modelos – o que a diferencia
dos fauvistas – ela recorre ao uso de cores fortes próprias daquele movimento.

A tela recebe um grande reforço da cor em uma palheta de tons fortes de amarelos,
laranjas, azuis e verdes, em um plano bidimensional, cujo fundo de cores contrastantes
em rápidas pinceladas serve de contraponto à figura.
Saiba Mais
2
O Simbolismo foi uma
corrente artística que se
manifestou na Europa
O Expressionismo Alemão e a explosão a partir de 1855 em
reação ao Naturalismo
da angústia de viver e ao Impressionismo.
Seus membros viam
Os artistas expressionistas faziam (e fazem) uso simbólico e emotivo
na imaginação a mais
da cor e da linha para imprimir e passar sua própria visão sobre importante fonte da
o mundo que os cerca. Suas raízes, no sentido de poéticas que o criatividade. Aconteceu
na literatura e nas Artes
antecederam, se encontram na obra de alguns artistas tais como visuais.
Vincent Van Gogh, Edward Munch, James Ensor e de movimentos
como o Simbolismo2 e o Nabis3.

Entretanto, enquanto os fauves na França davam livre expressão


a um estado de espírito libertário e descontraído, na Alemanha ele
Saiba Mais
estava mais ligado á uma postura ideológica e expressava um estado 3
Les Nabis, ou
de espírito individual e subjetivo que sofria grande influência de um simplesmente Nabis,
período pré-bélico pelo qual passava aquele país. foi um grupo de jovens
artistas da última década
Com suas cores violentas, suas linhas agudas e agressivas e do século XX. A palavra
Nabi deriva do hebraico,
sua temática de solidão e de miséria o expressionismo, nas artes da palavra profeta.
visuais, propunha transformar a vida, buscar novas dimensões para

11
a imaginação e renovar as linguagens artísticas. Esses objetivos
se refletem nas suas várias linguagens através das quais ele se
expressa. Ou seja: na arquitetura, pintura, escultura e cinema.

Ele defende a liberdade individual, a expressão subjetiva, o


irracionalismo, o arrebatamento e os temas conflituosos tais como o
demoníaco, a sexualidade, a fantasia ou a perversão. Enfim aquilo
que colocasse para fora as angústias da alma humana.

No trabalho de Edward Munch, precursor do expressionismo que


se desenvolveu na Alemanha e que veremos a seguir, essas
características se concentram gerando uma empatia correspondente
no espectador.

O Expressionismo Alemão nasceu da atividade de dois grupos com


contextos semelhantes e propostas diferentes: A Ponte e O Cavaleiro
Azul.

Pesquise... Saiba Mais


O Grito. Edward Munch. Em O grito, de Munch, ele combina ritmos dinâmicos e cores dramáticas para expressar
1893. o clima emocional do personagem principal. Ao fundo um céu de cores avermelhadas se
opõe ao rio em tons azuis.

O clima é de desespero e solidão. Para obter a representação de um estado de angústia


em sua expressão máxima (que derivaria em um grito), o artista deforma figura e
cenário até que a dor se expresse no elemento humano que atravessa uma ponte que
não se sabe para onde o transporta. O espaço parece se amoldar ao estado de espírito
do personagem. Em consonância com ele, toma a forma ondulante de sua boca onde
se concentra toda a mensagem do quadro. Munch imortalizou o seu desespero nesta
composição que passa para o espectador a ideia de um homem dominado por suas
emoções e impotente em relação à propria vida.

Sobre o grupo A Ponte


Em Dresden, quatro estudantes de arquitetura fundaram um
movimento que intitularam de Die Brucke (A Ponte) onde cada um
deles trabalhava com uma técnica escolhida.

Esses artistas (Ernst-Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff, Fritz


Pesquise... Bleyl e Erich Heckel) queriam expressar as verdades maiores do ser
Bauernhof mit Bäumen. humano, de uma forma ousada, com influências da arte africana e
Karl Schmidt-Rottluff. da Oceania. A Ponte, nome escolhido por Rottluff, metaforicamente,
1910.
queria expressar a ideia de uma passagem para o futuro. O grupo

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expôs seus trabalhos inicialmente numa fábrica de lâmpadas na
Berlinstrasse, em Dresden. Em 1906, ingressaram no movimento Emil
Nolde e o suíço Cuno Amiet. Depois, no mesmo ano, Max Pechstein e
o finlandês Axel Gallén. O último a tomar parte foi Otto Mueller (Figura
2), que aderiu em 1910, um pouco antes de o grupo transferir suas Pesquise...
instalações para Berlim. The Head of Christ. Emil
Nolde. 1909.

Figura 2. Otto Mueller. Ato no sofá. 1919. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Otto_


Mueller_-_Akt_auf_dem_Sofa_liegend_-_ca1920_-_after_1925.jpeg

Os componentes do Die Brucke trabalharam seus temas a partir da


emoção. Figurativos, fizeram opção pelas cores puras e violentas
além de linhas agudas e expressivas para representar uma temática
de crítica social e sobre a angústia da condição humana. Eles
acreditavam que, por meio da arte, poderiam criar um mundo que
fosse melhor para todos. O primeiro “Manifesto” do grupo foi intitulado
Programm e publicado em 1906. Nele, um de seus membros, Kirchner,
dizia:

Conclamamos todos os jovens a se unirem e como Saiba Mais


jovens que carregam o futuro em si, desejamos 4
Ernst Ludwig Kirchner
arrebatar das forças mais velhas, confortavelmente apud Amy Dempsey
in Estilos, Escolas
estabelecidas, a liberdade para nossas ações e
& Movimentos: guia
nossas vidas4. enciclopédico da arte
moderna. São Paulo:
A partir desse trecho do manifesto podemos ver o quanto eles Cosac Naify, 2003. p. 74.
encarnaram o papel de revolucionários e como as vanguardas

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queriam o novo, e que nessa busca, radicalizou-se o esquecimento
do passado em nome do futuro. Kirchner sintetizou a proposta do
grupo (e nos deu uma visão imagética de seus membros) no trabalho
Os pintores de A Ponte (Figura 3) que comentaremos a seguir.

Figura 3. Ernst Ludwig Kirchner. Os pintores de A Ponte. 1926. Fonte: http://commons.


wikimedia.org/wiki/File:EineK%C3%BCnstlergemeinschaft.jpg?uselang=pt

Saiba Mais
Trata-se de um retrato do grupo mostrando alguns de seus fundadores. Da direita
para a esquerda podemos ver Otto Mueller, Kirchner, Heckel e Schmidt Rottluff. Eles
organizaram uma oficina em Dresden, Alemanha, na qual eles pintavam, esculpiam a
madeira, faziam xilogravuras e discutiam projetos comuns.

Na composição podemos ver as características da pintura do grupo: o desenho


simplificado, as formas exageradas e agressivas, as cores ousadas e contrastantes e
uma temática baseada no mundo contemporâneo.

Através da visão dos membros fundadores do movimento podemos considerar que a


oposição entre a “juventude” e as “velhas forças”, por sua vez, pode ser entendida de
forma literal: estes artistas d’A Ponte tinham, à época, entre vinte e dois e vinte e cinco
anos; e as mudanças que desejavam promover diziam respeito, a sua própria vida e a
arte de seu tempo.

14
Fugindo da rotina de estudos promovida pelas instituições de ensino
de arte, os membros do grupo pintavam ao ar livre e, às vezes,
em colônias de nudismo. A proposta era a oposição aos valores
burgueses em busca de uma liberdade inclusive existencial. Apesar
dessa plataforma o grupo durou pouco tempo. Por volta de 1911
todos os membros haviam se mudado para Berlim e haviam seguido
trajetórias distintas.

O estilo particular que eles deram à produção do grupo fez com que
o expressionismo fosse particularizado como um produto alemão,
porém ele se processou, de maneira isolada, em vários países e foi
revisitado por indivíduos ou grupos na pós-modernidade. Em paralelo
à separação do grupo surgiu na Alemanha outro grupo importante do
qual trataremos a seguir: O cavaleiro Azul.

Sobre O Cavaleiro Azul


O Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) foi um grupo de artistas
que apareceu e aconteceu em Munique. Foi um dos dois maiores
movimentos do Expressionismo Alemão juntamente com aquele
que estudamos: A Ponte. Apesar de conter um maior número de
membros ele tinha as atividades menos coesas do que o outro grupo.
O seu nome foi escolhido por Frans Marc (Figura 4) e Kandinsky
que juntamente com Paul Klee (Figura 5), Gabriele Munter, Auguste
Macke e Alfred Kubin compunham aquela associação de artistas. A
explicação dada por Kandinsky é que Marc gostava de cavalos, ele
de cavaleiros e ambos gostavam da cor azul. Então: O Cavaleiro Azul.

Figura 4. Franz Marc. Red and Blue Horses. 1912. Fonte: http://et.wikipedia.org/wiki/Pilt:Marc-
red_and_blue_horses.jpg

15
Figura 5. Paul Klee. Parque perto de Lucerna. 1938. Fundação Paulo Klee. Berna. Fonte:
http://www.wikipaintings.org/en/paul-klee/park-bei-lu-1938#close

A vontade maior dos artistas do grupo (que se destacou principalmente


em dois de seus mais notórios membros, Vassily Kandinsky e Paul
Klee), era buscar uma maneira de fugir, cada vez mais, da velha e
detestada realidade. Suas ações nesse sentido impactaram ainda
mais a chamada vanguarda internacional. Dessa vez, eles não
buscavam só a liberação da ditadura das cores, mas também da
própria forma. Kandinsky, mais especialmente, buscava já há certo
tempo, fugir das formas reconhecíveis da natureza e, seu trabalho era
cada vez mais abstrato.

Ao contrário dos integrantes de A Ponte, os artistas de O Cavaleiro


Azul tinham um interesse místico e um olhar que se voltava para a
arte primitiva, popular e dos doentes mentais. Mas, acima de tudo,
eles buscavam a simbologia das formas abstratas. Essa plataforma
deu também lugar para uma revista publicada por Kandinsky, entre
1912 e 1913, com o mesmo nome do movimento: O Cavaleiro Azul.

Kandinsky também publicou um ensaio intitulado Sobre o problema


da forma e um livro Do espiritual na arte. Ambos falam de seus

16
interesses artísticos. No primeiro ele coloca que a arte deveria ser
um signo exterior de uma força interior e no segundo ele desenvolve
o conceito de arte como uma comunicação espiritual que tornaria
possível ao artista expressar seu estado interior e ao espectador
entrar em contato com sua própria espiritualidade.

A propósito da segunda exposição do grupo, realizada na Galeria


Goltz em 1912 (a primeira aconteceu na Galeria Thannhauser, em Saiba Mais
Munique, 1911) Kandinsky assim se expressa:
5
Vassily Kandinsky apud
Dempsey op cit p. 97
Um dos nossos objetivos – na minha opinião, Octavio Paz. Marcel
um dos principais – dificilmente foi atingido. Duchamp ou o Castelo
da Pureza. São Paulo:
Consistia em demonstrar, por meio de exemplos, Perspectiva, 1977. p. 7.
da justaposição prática e da demonstração teórica,
que a questão da forma na arte é secundária,
que na arte a questão é algo que diz respeito
predominantemente ao conteúdo (...)5.

É esse processo teórico que Kandinsky expressa em seu trabalho


Improvisação de 1914 que comentaremos a seguir: Pesquise...
Improvisação. Vassily
Kandinsky. Klamm, 1914.

Saiba Mais
Nesse momento da trajetória do artista já notamos uma preocupação maior em
representar formas e linhas do que objetos reconhecíveis. Entretanto, nesse momento
ele ainda não é totalmente abstrato. Algumas formas ainda podem ser identificadas.
Mesmo assim o seu estilo pode ser considerado desde então como não objetivo e se
manifesta o seu objetivo de dotar a forma e a cor de um significante espiritual eliminando
a semelhança com o mundo físico.

A sensação de vitalidade e sentimentos que nos transmite essa obra passa na frente de
qualquer tentativa de leitura ou de definição. Talvez por isso, Kandinsky evitou nomes
descritivos e adotou nomes tão intuitivos e abstratos quanto às formas que pintou.
Fantasias em tornos de uma escala cromática associadas às formas instintivas traduzem
sentimentos inconscientes: é esse o propósito do artista.

Com a chegada da Primeira Guerra Mundial o grupo se desfez.


Kandinsky regressou a sua terra natal, a Rússia, e Marc, que com
ele formavam a espinha dorsal do grupo, morreu na luta. Entretanto,
a mensagem ficou e sobrevive, passando por vários movimentos,
inclusive o Expressionismo Abstrato que vai se consolidar nos
Estados Unidos após o segundo conflito mundial. Kandinsky, com o
fim da guerra foi ensinar na Bauhaus colocando em prática sua fé
na premissa particular de que todo artista deveria ser também um
educador.

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No Brasil a abstração chegou a encontrar grande resistência por parte
dos próprios modernistas que, anteriormente, foram discriminados,
pelos acadêmicos. As pesquisas informais no Brasil tiveram início
a partir do final dos anos 1940 com a atuação de Arpad Szenes e
Samson Flexor. Entre os artistas representantes de uma abstração
informal, lírica como a introduzida por Kandinsky, destaca-se o
cearense Antonio Bandeira autor da obra Flora Noturna de 1959.
Pesquise...
Flora Noturna. Antônio
Bandeira. 1959.
Saiba Mais
O artista da Abstração Informal entendia a arte como uma expressão sensível intuitiva.
Valorizava mais o gesto do que o resultado. Em seus primeiros contatos com o movimento
artístico de Paris no período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial, Antonio
Bandeira ainda se mostrava ligado à arte figurativa, mas, logo se sentiu atraído pela
abstração, que passara a crescer consideravelmente, empolgando os meios artísticos.

A pintura, para o artista, é um estado de alma que ele passa para o espectador tentando
comunicar um sentimento, uma emoção, uma lembrança. Esse trabalho que ora
observamos não é comprometido com o mundo – suas lutas e tensões. Ele transcende
o mundo material. Está ligado ao mundo espiritual de Bandeira, a suas lembranças e a
suas vivências.

Manchas, respingos, escorrimentos, pequenos toques do pincel, aparecem contra um


fundo negro. O artista insinua, sugere, esboça cores. Elas pairam, por alguns instantes,
no escuro como se fossem sumir no próximo instante.

Você Sabia?
●● Santo Graal é uma expressão da Idade Média que designa um cálice que teria sido
usado por Jesus Cristo na Última Ceia e no qual José de Arimateia teria colhido seu
sangue no processo da crucificação. A procura desse cálice, que teria se perdido,
representava uma missão para um cavaleiro no sentido de, através dela, alcançar a
perfeição. Com o tempo a busca do Santo Graal passou a significar, metaforicamente,
um ideal a ser conquistado.

●● O Grand Palais des Beaux Arts, conhecido popularmente como Grand Palais
começou a ser construído em 1897 para abrigar a Exposição Universal de 1900.
Destacado pelo estilo eclético de sua arquitetura, o edifício reflecte o gosto pela rica
decoração e ornamentação nas suas fachadas de pedra.

●● Le Figaro, fundado em 1826 é um importante jornal francês. É o mais antigo jornal


publicado naquele país. Ele recebeu o nome do personagem de Beaumarchais da
sua obra: As Bodas de Fígaro.

●● A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o marco oficial da introdução do modernismo


no Brasil. Ela foi o momento culminante e espetacular, de uma não menos ruidosa

18
e provocativa tomada de posição de jovens intelectuais paulistas contra as práticas
artísticas dominantes no país. Uma atualização com a arte de vanguarda que já
acontecia na Europa referencial. O contexto político e social em que ocorreu a semana
foi, também, de agitação e mudanças. Foi feito de crises na economia cafeeira que
era o sustentáculo da vida republicana. Em paralelo expandiu-se à industrialização
com uma consequente urbanização e uma maior mobilidade social. A pequena
burguesia, que subira à cena política no início da República começou a se inquietar.
O grupo modernista foi formado pelos poetas e literatos Oswald de Andrade, Mário
de Andrade, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa, Plínio
Salgado, Cândido Motta Filho e Sérgio Milliet e pelos artistas plásticos Anita Malfatti,
Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, John Graz, Victor Brecheret, Antonio Moya
e George Przirembel.

●● Expressionismo abstrato é um termo que foi utilizado pela primeira vez em 1952
pelo crítico H. Rosenberg. Ele refere-se a um movimento artístico que aconteceu em
Nova York, no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Foi o primeiro
estilo pictórico norte-americano a obter reconhecimento internacional. Os Estados
Unidos surgiam, então, como uma nova potência mundial e um centro artístico
emergente, A recusa dos estilos e técnicas artísticas tradicionais, assim como a
postura crítica em relação à sociedade americana, aproximou um grupo bastante
heterogêneo de pintores e escultores, entre os quais se destacaram Jackson Pollock,
Mark Rothko, Adolph Gottlieb e, Willem de Kooning.

Saiba Mais
Vamos dar um grande passo. Vamos ler o livro de Vassily Kandinsky, Do Espiritual na
Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Sobre os artistas citados no capítulo


●● Paul Gauguin: Eugène Henri Paul Gauguin. Nasceu em Paris, no
ano de 1848, e faleceu em Atuona, nas ilhas Marquesas, em 1903.
Pintor pós-impressionista, suas cores exuberantes e suas formas
planas, bidimensionais, e sua temática peculiar contribuíram
para dar forma ao fauvismo que contribuiu, por sua vez, para a
revolução da modernidade. Ele nasceu em Paris, mas passou parte
da infância com a mãe, peruana, em Lima. Quando jovem foi para
a marinha mercante e depois se tornou um bem sucedido corretor
de ações. Deixou família e profissão para pintar. Logo depois
querendo locais não contaminados pela civilização ocidental foi
inicialmente para a Bretanha e depois para o Taiti, terminando na
Polinésia francesa onde morreu.

19
●● Vincent Van Gogh: O artista nasceu em 30 de março de 1853, na
Holanda, e morreu em 29 de julho de 1890, em Auvers-sur-Oise, na
França. Antes de se tornar artista foi missionário. Decidiu ser pintor
e mudou-se para Paris contando sempre com a ajuda de seu irmão
marchand Theo. Iniciou seu processo pictórico com uma temática
social. Ligou-se, posteriormente, aos impressionistas. Cansado
da cidade foi para a Provence, no sul da França. Profundamente
angustiado, sentimento que passa para a sua pintura, ele se matou
na pequena cidade de Auvers-sur-Oise, perto de Paris.

●● Edward Munch: O artista nasceu em dezembro de 1863 em


Adalsbruck, na Noruega e faleceu em janeiro de 1944 em Oslo,
naquele país. Estudou arte na Academia Real de Arte e Desenho
sob a orientação do pintor Christian Krohg. Foi influenciado pelo
impressionismo e pelo simbolismo bem como pelas poéticas de
Vincent Van Gogh, Henri de Toulouse Lautrec e Gauguin. Suas
pinturas parecem dominadas pelo medo e pela angústia. O Grito é
considerado um ícone desses sentimentos.

●● Georges Seurat: Nasceu em dezembro de 1859, em Paris, onde


morreu em março de 1891. No começo da sua carreira, o artista
começou a estudar as teorias das cores com Michel Chevreul e
Charles Blanc; teorias essas que exploravam o entendimento dos
efeitos óticos. Exímio desenhista ele aplicou em seu trabalho a
teoria das cores aprendida através da técnica do pontilhismo ou
divisionismo. Foi um artista Neo-Impressionista.

●● Paul Signac: O artista nasceu em Paris em novembro de 1863 e


morreu naquela cidade em 1935. Era filho de um comerciante e
inscreveu-se, jovem, na Escola de Artes Decorativas juntamente
com Seurat com quem compartilhou o neo-impressionismo com
sua técnica do pontilhismo.

●● Henri Matisse: Nasceu em 1869 em Cateau-Cambrésis, França,


e faleceu em Nice, também naquele país em 1954. Só descobriu
sua paixão pelas artes aos 19 anos, enquanto trabalhava em um
escritório de advocacia. Desistiu do direito e se mudou para Paris
onde foi aluno de Bouguereau. Matriculou-se nas Beaux Arts onde
estudou com o simbolista Moreau. Encantou-se com o trabalho
dos impressionistas e, em 1905, ligou-se à Derain e foi para o sul
da França para estudar a luz. Foi um dos fundadores do fauvismo
e permaneceu fiel ao movimento até o fim.

●● André Derain: Nasceu em 1880 em Chateau na França e faleceu


em 1954, em Garches, também naquele país. Ele foi um dos

20
fundadores do fauvismo e um de seus integrantes mais convictos.
Embora seja conhecido por suas paisagens fauves, enveredou por
vários caminhos em sua trajetória artística.

●● Maurice de Vlaminck: Vlaminck nasceu em Paris em 1876 e


faleceu em 1958 também naquela cidade. Na sua juventude
estudou violino antes de se tornar un ciclista profissional.
Encontrou-se com André Derain, com quem começou a pintar,
em Paris, onde manteve contato com diversos pintores incluindo
Matisse. O artista tornou-se conhecido como um pintor fauvista. O
seu trabalho foi influenciado por Van Gogh.

●● Albert Marquet: O artista nasceu em Bordéus, França, em 1875


e faleceu em Paris em 1947. Mudou-se para Paris em 1890
ingressando na Escola de Artes Decorativas onde se tornou amigo
de Henri Matisse. Em 1895 foi para a École des Beaux-Arts onde
estudou com Gustave Moreau. Expôs várias vezes no Salão dos
Independentes. Notabilizou-se como um artista fauve.

●● Charles Camoin: O pintor francês nasceu em 1879 e faleceu em


1965. Como a maioria dos fauvistas, estudou na École des Beaux-
Arts com Gustave Moreau. Foi um dos fundadores do movimento
fauve.

●● Henri Manguin: O pintor francês notabilizou-se por sua


participação no grupo fauvista. Nasceu em 1874 e faleceu em
1949. Como seus companheiros, ele tambem estudou na Escola
de Belas Artes de Paris, com Moreau, onde fez amizade com
Matisse, Rouault e Marquet. De tempos em tempos ia pintar em
Saint-Tropez que tinha sido descoberto por Signac. Caracterizou-
se por sua palheta de cores intensas.

●● Othon Friesz: O artista nasceu em Le Havre, França, em 1879 e


faleceu em Paris em 1949. Filho de um capitão, ele não esperava
vir a ser um dos grandes nomes da vanguarda do século XX.
Ingressou na Beaux-Arts de Le Havre antes de partir para Paris
onde conheceu os componentes do grupo do qual iria participar: os
fauves.

●● Jean Puy: O artista francês nasceu em 1876 e morreu em 1960.


Fez parte do grupo fauvista sendo um dos que participaram de
sua primeira exposição. Com dezenove anos ingressou na Escola
de Belas Artes de Lyon de onde partiu para Paris onde conheceu
artistas que o acompanharam em sua trajetória como Marquet e
Matisse.

21
●● Louis Valtat: Nasceu em 8 de agosto de 1869 e morreu em 1952.
Foi um pintor francês e foi um dos fundadores do movimento
fauvista tendo participado da célebre exposição inaugural no Salão
de Outono.

●● Georges Henri Rouault: O artista asceu em Paris, em maio de


1871, e morreu naquela cidade em fevereiro de 1958. Era fiilho
de um marceneiro e seus primeiros contatos artísticos se deram
na Escola de Artes Decorativas que frequentava nas horas vagas.
Em 1890 matriculou-se na Beaux Arts de Paris onde estudou
com Delaunay e Gustave Moreau que também ensinou Matisse e
Marquet. Fez parte do grupo de artistas fauvistas.

●● Georges Braque: O pintor nasceu em Argenteuil, na França,


em 1882 e faleceu em Paris em 1963. A maior parte de sua
adolescência foi passada na cidade portuária Le Havre, mas no
ano de 1899 mudou-se para Paris onde, estudou com Bonnat. Em
1906, ele expôs no Salão dos Independentes suas primeiras obras
em estilo fauvista. Em 1907 conheceu Picasso e até 1914 eles
colaboraram na construção do Cubismo.

●● Anita Malfatti: A artista nasceu na cidade de São Paulo, em 1889,


filha de pai italiano e mãe norte-americana, que foi sua primeira
professora de pintura. Com a ajuda de um tio e padrinho, Anita
pôde viajar para a Europa e Estados Unidos, desenvolvendo ali sua
técnica pictórica de acordo com as tendências contemporâneas
que eram, principalmente, cubistas e expressionistas. Sua primeira
mostra individual no Brasil aconteceu em 1914, teve pouca
repercussão. A segunda teve lugar em 1917. Por conta dela Malfatti
foi duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato. Participou
da Semana de 22. Seu trabalho apresenta traços fauvistas,
principalmente os exibidos na exposição de 1914.

●● James Ensor: O artista nasceu em Ostende, Bélgica, em 1860 e


faleceu em 1949. Era filho de James Frederic Ensor, um engenheiro
de origem unglesa e modesta. Estudou em Bruxelas Foi ao longo
de toda a sua vida um ser solitário e sua obra se caracteriza pela
complexidade e pela sensação de estranhamento que passa para
o espectador. Utilizou seus trabalhos como vaículo para a crítica
social. Influenciou o expressionismo Alemão.

●● Ernest Ludwig Kirchner: O artista nasceu na Alemanha em


1880 e morreu na Suiça em 1938. Foi um pintor e gravurista
expressionista com um trabalho caracterizado por cores intensas
e traços agudos e agressivos. Foi um dos cinco membros originais

22
do grupo A Ponte. Seu trabalho e o do grupo se inspiraram em Van
Gogh e Edward Munch além dos fauves franceses.

●● Karl Schmidt-Rottluff: O artista nasceu na Alemanha em


dezembro de 1884 e faleceu em 1976. Matriculou-se no curso
de arquitetura na Universidade Técnica de Dresden e passou a
compor o grupo de artistas intitulado A Ponte. Ele é considerado
um dos maiores nomes do Expressionismo Alemão. Em 1937
sua obra foi considerada arte degenerada, termo utilizado pelo
regime nazista para descrever toda a arte moderna. Com o fim da
guerra e a vitoria dos aliados ele passou a ocupar uma cadeira na
Universidade de Artes Plásticas de Berlim.

●● Fritz Bleyl: O artista nasceu na Alemanha em outubro de 1880 e


faleceu em 1966. Foi um artista da escola expressionista alemã
e participou do grupo A Ponte. Ele trabalhou como design gráfico
para o grupo e foi o autor do cartaz da primeira exposição do grupo.

●● Erich Heckel: Nasceu em 1883, na Alemanha e morreu em 1970.


Depois de estudar arquitetura em Dresden, Heckel fundou, em
1905, juntamente com outros expressionistas, o grupo Die Brücke,
ao qual pertenceu até 1913. Assumindo o estilo do grupo, as
paisagens, nus e motivos religiosos de sua autoria o revelaram
como um romântico entre os mestres do expressionismo. Proscrito
pelos nazistas, que o consideraram degenerado, sua obra foi
retirada dos museus em 1937. Depois da guerra, entre 1949 e
1955, foi professor na Universidade de Karlsruhe.

●● Emil Nolde: Nasceu em agosto de 1867, em Nolde na Dinamarca


(cidade da qual adotou seu nome) e morreu na Alemanha em
1956. Foi estudar arte em Munique e Paris. Sua obra se voltou,
desde o início, para uma tendência em relação às cores vivas e
traços violentos. Em 1906 ele aceitou um convite para se juntar ao
grupo A Ponte então baseado em Dresden. Entretanto a ligação
foi passageira e ele voltou a trabalhar individualmente. Nolde
foi proibido de pintar pelos nazistas. Pouco antes de morrer ele
recebeu a ordem do Mérito Alemã, a mais alta condecoração
civil de seu país. Seu trabalho apresenta paisagens vastas e um
imaginário religioso e violento expresso em xilogravuras, aquarelas
e litografias.

●● Cuno Amiet: Nasceu na Suíça, em 1868, e morreu em 1961. Foi


artista gráfico, pintor, ilustrador e escultor. Estudou na Academia de
Artes de Munique e continuou seus estudos em Paris na Academie
Julian. Insatisfeito com a Academia ele partiu para a Pont-Aven

23
School onde estudou como Emile Bernard e Paul Serusier. Foi um
pioneiro do modernismo na Suíça.

●● Max Pechstein: Nasceu na Alemanha em 1881 e faleceu em


1955. Foi um expressionista. Trabalhou com pintura e gravura e
foi membro do grupo A Ponte. Foi influenciado por Van Gogh e
teve educação artística formal. Ganhou reconhecimento pelo seu
colorido e pinturas decorativas que foram inspiradas nas ideias de
Van Gogh, Matisse e dos fauves.

●● Axel Gallen: Artista finlandês, ele nasceu em 1866 e faleceu em


1931. Em 1884 se mudou para Paris para estudar na Academie
Julian Em dezembro de 1894, mudou-se para Berlim para
acompanhar a exposição conjunta de suas obras com as obras do
pintor norueguês Munch. Lá ele se familiarizou com os simbolistas.

●● Otto Mueller: O artista nasceu em outubro de 1874 na Alemanha


e morreu naquele país em 1930. Foi um pintor e gravurista, de
estilo expressionista e fez parte do grupo A Ponte. A partir de 1894
(até 1896), estudou na Academia de Belas Artes em Dresden e
continuou seu estudo em Munique. Otto abandonou a Academia de
Belas Artes de Munique por ter sido considerado por um professor
como desprovido de talento.

●● Franz Marc: O artista nasceu em fevereiro de 1880 em Munique,


Alemanha, e morreu na França, em Verdum, em 1916. Sua carreira
de artista durou apenas dezesseis anos (do início de sua formação,
em 1900, até sua morte na Primeira Guerra Mundial). Começou a
trabalhar com paisagens tradicionais em Munique, mas em 1903
foi para Paris onde conheceu a obra de Van Gogh e Gauguin.
Desenvolveu então o uso intenso da cor e se espiritualizou. Em
1910 ele conheceu o artista Auguste Macke e um ano depois
Kandinsky de quem se tornou amigo. Juntos fundaram o grupo que
batizaram de O Cavaleiro Azul.

●● Wassily Kandinsky: Kandinsky nasceu em Moscou, Rússia, em


1866 e faleceu na França em 1944. É considerado o pai da pintura
abstrata e durante toda a sua vida demonstrou interesse nas artes
visuais e música além de uma forte espiritualidade. Foi teórico
das artes visuais publicando ensaios e livros. Estudou Direito e
economia na Universidade de Moscou antes de se decidir pela
arte. Mudou-se para a Alemanha e passou a estudar na Academia
de Artes de Munique. Em 1911 ele fundou o grupo vanguardista O
Cavaleiro Azul com o artista Franz Marc. Foi professor da Bauhaus
até ela ser fechada, em 1933, quando ele se exilou em Paris.

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●● Gabrielle Munter: A artista alemã nasceu em 1877 e faleceu em
1962. Associou-se ao Expressionismo Alemão no início do século
XX. Seu proposito era usar a pintura para acabar com a alienação
da sociedade.

●● August Macke: O pintor expressionista alemão nasceu em 1887


e morreu em 1914. Em Paris, onde esteve pela primeira vez em
1907, Macke pôde conhecer a obra dos Impressionistas. Logo
depois mudou-se para Berlim. Foi influenciado pelo fauvismo. Em
1910, graças à amizade com Franz Marc, ele encontrou Kandinsky
e compartilhou por um tempo de sua abstração e participou do
grupo O Cavaleiro Azul. Morreu na Primeira Guerra Mundial.

●● Alfred Kubin: Pintor austríaco, expressionista, Kubin nasceu em


1877 e faleceu em 1959. Em 1898 ele começou um período de
estudos artísticos e, um ano depois, se matriculou na Academia de
Artes de Munique onde descobriu os trabalhos de Odilon Redon,
Munch e Ensor sendo bastante influenciado por eles. Em 1911 ele
associou-se ao grupo O Cavaleiro Azul.

●● Arpad Szenes: O artista nasceu em Budapeste em 1897 e morreu


em Paris em 1985. Foi pintor, gravurista, ilustrador e desenhista.
Ele estudou na Academia de Budapeste, onde apresentou um
especial interesse pela prática do desenho e da pintura. Procurou
então conhecer e estudar as correntes artísticas de vanguarda
no contexto europeu, abordando vários interesses: desde as
artes plásticas à música. Mais tarde viajou por vários países
europeus, instalando-se em Paris em 1925. Dedicou-se à pintura
e ao desenho, produzindo um conjunto de trabalhos figurativos de
influência surrealista. Em 1940 ele refugiou-se no Rio de Janeiro
por conta da Segunda Guerra Mundial e de sua ascendência
judaica.

●● Samson Flexor: O artista nasceu na Romênia em 1907 e morreu


em São Paulo em 1971. Mudou-se para a França em 1924 e
estudou na Beaux Arts. Veio para o Brasil em 1948. Adotou o
Abstracionismo como linguagem e participou de várias bienais no
Brasil e fora dele.

●● Antônio Bandeira: Antônio Bandeira nasceu em Fortaleza, Ceará,


em 1922, e faleceu em París, em 1967. Bem cedo percebeu-se o
talento de Bandeira. Saiu de Fortaleza para o Rio onde ganhou
uma bolsa de estudos para Paris. Em 1946, viajou para aquela
cidade, matriculando-se na Escola Superior de Belas Artes e,
posteriormente, na Academia da Grande Chaumière. Pouco afeito

25
à disciplina, com ideias próprias que ele tencionava desenvolver,
ele rompeu com o ensino tradicional, juntando-se a Wols um artista
expressionista com inclinação para a abstração. Desenvolveu um
abstracionismo lírico, informal, sendo um dos artistas brasileiros
pioneiros nesta linguagem.

Revisão
Os fauves se constituíram no primeiro grupo de vanguarda do século XX. Porém, eles
nunca se destacaram pela organização em torno de um programa ou um manifesto. Era
bem mais uma associação de artistas que partilhavam os mesmos objetivos, hábitos de
vida e um trabalho em comum e que tinham Henri Matisse, o mais velho entre eles,
como líder. Cada um deles tem uma obra diferente, mas todos têm um elo em comum: o
impacto da cor.

Entre os artistas denominados de fauvistas destacaram-se: Henri Matisse André Derain


e Maurice de Vlaminck. Outros artistas partilhavam os mesmos objetivos como Albert
Marquet, Charles Camoin, Henri Charles Manguin, Othon Friesz, Jean Puy, Louis Valtat,
Georges Rouault e Georges Braque entre outros.

Por volta de 1906 os fauves foram vistos como os pintores de expressão mais avançada
em Paris. Entretanto, essa notoriedade foi breve. Cada artista seguiu seu próprio
caminho posteriormente.

No Brasil não existiu um movimento organizado como na França embora alguns artistas
isolados apresentem características próprias desse movimento, caso da pintora Anita
Malfatti em alguns de seus trabalhos iniciais.

Enquanto os fauves na França davam livre expressão a um estado de espírito libertário


e descontraído, na Alemanha ele estava mais ligado á uma postura ideológica e
expressava um estado de espírito individual e subjetivo que sofria grande influência de
um período pré-bélico pelo qual passava aquele país.

Com suas cores violentas, suas linhas agudas e agressivas e sua temática de solidão
e de miséria o expressionismo nas artes visuais propunha transformar a vida, buscar
novas dimensões para a imaginação e renovar as linguagens artísticas

O Expressionismo Alemão nasceu da atividade de dois grupos com contextos


semelhantes e propostas diferentes: A Ponte e O Cavaleiro Azul.

Em Dresden, quatro estudantes de arquitetura fundaram um movimento que intitularam


de Die Brucke (A Ponte) onde cada um deles trabalhava com uma técnica escolhida. Eles
eram Ernst-Ludwig Kirchner, Karl Schmidt- Rottluff, Fritz Bleyl e Erich Heckel e queriam
expressar as verdades maiores do ser humano, de uma forma ousada, com influências
da arte africana e da Oceania. A Ponte, nome escolhido por Rottluff, metaforicamente,
queria expressar a ideia de uma passagem para o futuro.

Apesar dessa plataforma o grupo durou pouco tempo. Por volta de 1911 todos os
membros haviam se mudado para Berlim e haviam seguido trajetórias distintas. Em
paralelo à separação do grupo surgia na Alemanha outro grupo importante do qual
trataremos a seguir: o Cavaleiro Azul.

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O Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) foi um grupo de artistas que aconteceu em
Munique e um dos dois maiores movimentos do Expressionismo Alemão juntamente com
aquele que estudamos anteriormente: A Ponte. Apesar de conter um maior número de
membros ele tinha as atividades menos coesas do que o outro grupo.

Eles não buscavam só a liberação da ditadura das cores, mas também da própria forma:
fugir das formas reconhecíveis da natureza em um trabalho cada vez mais abstrato.

O nome do grupo foi escolhido por Frans Marc e Kandinsky que juntamente com Paul
Klee, Gabriele Munter, Auguste Macke e Alfred Kubin compunham aquela associação
de artistas. A explicação dada por Kandinsky, é que Marc gostava de cavalos, ele de
cavaleiros e ambos gostavam da cor azul. Então: O Cavaleiro Azul. Com a chegada da
Primeira Guerra Mundial o grupo se desfez.

Atividades
A partir da frase de Kandinsky, “A cor é uma força poderosa que influencia diretamente a
alma... e nela provoca vibrações”, elabore um texto que fale sobre a pesquisa fauvista e
a do Expressionismo Alemão.

27
C a p í t u l o 13

Pesquisando as formas: o
Cubismo

Objetivos do Capítulo
Compreender causas e efeitos de uma das pesquisas em Artes Visuais mais radicais do
século XX e de como ele mudou radicalmente as suas formas de representação.

O objetivo principal do projeto cubista era uma nova construção para


a forma. As pesquisas cubistas não tinham ligação com aspectos
emocionais ou espirituais, mas sim um olhar, curioso e analítico, sobre
a desconstrução da imagem. Eles queriam quebrar sua aparência
estática e enfocá-la sob múltiplos pontos de vista. Como se qualquer
coisa pudesse ser vista de todos os lados e ao mesmo tempo.

A proposta cubista teve início a partir do trabalho de dois artistas:


Pablo Picasso e Georges Braque. Picasso, artista espanhol, se
interessou pelo trabalho de Cézanne juntamente com Braque. Após
uma fase expressionista, o artista espanhol produziu uma tela que
foi marco dessa pesquisa formal. Trata-se do trabalho intitulado As
Senhoritas de Avignon sobre o qual falaremos em seguida.

Saiba Mais Pesquise...


A tela refere-se não a cidade de Avignon, na França, mas a um bairro suspeito de As Senhoritas de
Barcelona. O que deveria ser uma cena de bordel se transformou em uma composição Avignon. Pablo Picasso.
reunindo cinco figuras femininas e uma natureza morta. 1907.

O artista distorceu, propositalmente, os nus em formas angulares com características


inspiradas na arte primitiva africana que atraía, já há algum tempo, a atenção da Europa.
A proposta era, a partir de elementos de outras culturas, ir de encontro a concepção
ocidental clássica de beleza.

Ao lado dessas intenções, Picasso fragmentou o corpo humano representado em


múltiplas facetas angulares. Dessa forma, as mulheres pintadas pelo artista deixam de
pertencer ao mundo real. Elas passam a fazer parte do mundo da arte, da intenção do
artista enquanto criador.

Simultaneamente à Picasso, Braque mergulhou na aventura


revolucionária que gerou o cubismo. Ele também estava interessado

29
na proposta de Cézanne para quem a pintura deveria tratar as
formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Para
Cézanne, a pintura não podia desvincular-se da natureza. Porém ele
não copiava a natureza; de fato, ele a transformava. As “Paisagens
de L’Estaque”, uma cidade francesa, feita em 1908, ilustram esse
interesse de Braque pelo mestre pos-impressionista.

O nome dado à pesquisa, Cubismo, foi autoria do crítico de arte Louis


Vauxcelles que, observando as paisagens de Braque, declarou que
elas não passavam de pequenos cubos. A partir desse fato o cubismo
tornou-se o nome oficial do movimento e de cubistas foram chamados
os seus membros.

A colaboração entre os dois artistas tornou-se intensa e de tal forma


marcante que durante a experiência cubista, principalmente em sua
primeira fase denominada de Cubismo Analítico tornou-se difícil a
distinção da autoria das obras produzidas: e era de Picasso ou de
Braque.

Dividiremos a pesquisa cubista em duas fases: a analítica e a


sintética, embora alguns autores incluam uma fase cezaniana nessa
cronologia. No momento do Cubismo Analítico a proposta já estava
bem consolidada e outros artistas se uniram ao movimento.

Nesse Cubismo Analítico, que aconteceu entre 1910 e 1912, os


artistas priorizavam a forma ao máximo. Ela era decomposta e
recomposta novamente sobre um mesmo plano. O monocromatismo
imperava. Era necessário abandonar a pluralidade de cores em nome
da pesquisa formal. Naquele momento, a forma foi tão distorcida que
se chegou quase à abstração. Picasso, Braque e seus companheiros
pensaram e analisaram as possibilidades de representar a forma
de todas as maneiras, inclusive através da sobreposição. É desse
momento a tela de Georges Braque Violino e Pitcher, feita em 1910,
que representa muito bem essa fase da investigação cubista.

Pesquise... Saiba Mais


Violino e Pitcher. Na tela em questão os objetos são fragmentados a partir de múltiplos pontos de
Georges Braque. 1910.
vista. Esses fragmentos estão organizados em uma estrutura compacta e quase
monocromática. A imagem é composta a partir dos dois objetos vistos de uma variedade
de ângulos que tornam o sujeito mais sugerido do que descritos. Assim, as figuras,
quebradas em facetas angulares, mal deixam perceber formas reconhecíveis da natureza

30
e chegam a uma quase abstração.

É um flerte com a não objetividade e uma maneira de fazer o espectador usar mais a
sua própria imaginação a partir da possibilidade de uma percepção em estado de fluxo
contínuo, sem descansos ou paradas.

A fase seguinte da pesquisa foi ainda mais ousada. Foi nomeada de


Cubismo Sintético. Os artistas partiram para um modo de expressão
que tinha um assunto mais reconhecível. Além disso, eles passaram
a incorporar materiais estranhos ao universo da pintura: as colagens
cubistas.

Foi nesse momento, em que Juan Gris (Figura 6) também se juntou


ao grupo, que Picasso incorporou um pedaço de oleado à sua pintura
Natureza morta com cadeira de palha. O fato foi uma revolução que
abriu espaço para as muitas pesquisas que se sucederam em outros
Pesquise...
momentos da História da Arte. A partir daquele momento, quando
Natureza morta com
elementos tirados (por exemplo) da cesta do lixo foram incorporados cadeira de palha. Pablo
à pintura, a distinção entre a profundidade pintada e a profundidade Picasso. 1911-1912.
real deixou de existir. Conseguiu-se a verdadeira tridimensionalidade.

Figura 6. Juan Gris. Retrato de Pablo Picasso. 1912. Fonte: http://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Juan_Gris_-_Portrait_of_Pablo_Picasso_-_Google_Art_Project.jpg?uselang=pt

31
Saiba Mais
Em 1912, Picasso realizou essa sua primeira colagem, Natureza morta com cadeira de
palha. A técnica utilizada pelo artista assinala a transição da pesquisa efetuada por ele e
Braque do Cubismo Analítico para o Sintético.

Nessa obra, objetos fragmentados, planos e perspectivas se associam a jogos ilusionistas


em duas e três dimensões. A tela de palhinha que faz o fundo do que se assemelha a
uma bandeja é uma colagem (papier collé). É um material real assim como a corda que
envolve essa natureza morta.

A obra é muito mais nítida no que se refere ao tema, cores e texturas. A introdução de
textos na composição também abriu uma nova perspectiva para as Artes Visuais no
sentido da interdisciplinaridade das linguagens.

Pesquise...
Mulher com gato. Embora a união dos dois artistas, Pablo Picasso e Georges Braque,
Fernand Léger. tenha sido bem cultivada pelos dois, no sentido de uma pesquisa a
duas mãos, a experiência cubista evoluiu passando a adquirir ares
de movimento com novos artistas respondendo às suas propostas e
se integrando às suas diretrizes mesmo interpretando-as de forma
pessoal.
Pesquise... Nesse momento juntaram-se Fernand Léger, Francis Picabia, Marcel
A Gare. Tarsila do Amaral. Duchamp, Jacques Villon, Andre Lothe e Albert Gleizes entre outros
1925.
artistas europeus.

No Brasil o movimento só foi repercutir após a Semana de Arte Moderna


de 1922, mesmo sem se constituir em uma proposta organizada.
Pesquise... Alguns artistas brasileiros foram influenciados pela pesquisa formal
Ave Maria (Anjos no cubista. Entre eles Tarsila do Amaral. Essa influência aparece na sua
túmulo da Família
Scuracchio). Victor
composição A Gare, de 1925. Outros artistas brasileiros influenciados
Brecheret. por este estilo foram Victor Brecheret e Vicente do Rego Monteiro.

Saiba Mais
Aluna de Fernand Léger, um dos seguidores do movimento cubista, Tarsila absorveu do
Pesquise... mestre sua característica síntese geométrica. Ela também foi próxima de outro cubista,
Menino. Vicente do Rego este mais militante, Gleizes. Com ele a pintora paulista aprendeu a estruturar suas
Monteiro. 1920. formas no suporte. De volta do Brasil, em dezembro de 1923, deu entrevista ao Correio
da Manhã na qual ela se autodenomina uma pintora cubista.

Na tela A Gare, nós podemos observar que ela herda as formas arredondadas de
seu mestre Léger bem como uma fase de sua temática voltada para cenas urbanas e
operárias. Junto a essas influências, Tarsila junta suas cores contrastantes que remetem
ao interior de sua São Paulo natal.

32
Saiba Mais
Vamos ler esse artigo de Paula Cristina Guidelli dos Santos e de Adalberto de
Oliveira Souza intitulado As vanguardas europeias e o modernismo brasileiro e a
correspondência entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira. O texto está disponível
em http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_literarios/pdf_literario/083.pdf

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● Pablo Picasso: O artista espanhol nasceu em 25 de outubro de
1881 em Málaga e faleceu em 8 de abril de 1973 em Mougins, na
França. Foi escultor, gravurista, ceramista; fez colagem, inventou
junto com Braque o Cubismo e transitou pelos mais diversos
estilos ao longo de sua trajetória. Foi um talento sem medidas que
se destacou no século XX. Influenciou seus contemporâneos e
até hoje serve de referência para as Artes Visuais. Sua primeira
experiência no aprendizado artístico foi na Escola de Artes de la
Coruña aos 11 anos. Em 1904 ele se fixou em Paris onde passou a
fazer parte da notória École de Paris.

●● Georges Braque: O pintor nasceu em Argenteuil, na França,


em 1882 e faleceu em Paris em 1963. A maior parte de sua
adolescência foi passada na cidade portuária Le Havre, mas no
ano de 1899 mudou-se para Paris onde, estudou com Bonnat. Em
1906, ele expôs no Salão dos Independentes suas primeiras obras
em estilo fauvista. Em 1907 conheceu Picasso e até 1914 eles
colaboraram na construção do Cubismo.

●● Paul Cézanne: O pintor nasceu em Aix-en-Provence, França, em


1839 e faleceu naquela mesma cidade francesa em 1906. Ele
era filho ilegítimo de um rico banqueiro e quis ser artista desde
criança. Foi por uma temporada à Paris com 22 anos, mas voltou
à cidade natal logo depois. Porém, em 1862, resolveu se fixar na
capital francesa. Suas obras foram recusadas no Salon de Paris
e ele expôs ao lado dos outros rejeitados como Manet, Pissarro
e Fantin-Latour. Não se considerava um Impressionista apesar de
expor com o grupo. Ele queria que a sua obra fosse mais sólida.
Caracterizou-se pela ousadia da cor e pela preocupação com
formas geométricas. Foi um dos inspiradores do cubismo.

●● Juan Gris: O artista espanhol nasceu em 1887 em Madri e morreu

33
em Paris em 1927. Foi um pintor de retratos e de naturezas mortas
e adquiriu notoriedade por sua participação no movimento cubista.
Mudou-se para Paris, jovem, onde se envolveu com Picasso e
Braque e passou a explorar os princípios do cubismo. Entre suas
contribuições está a abordagem de um tema de todos os ângulos
possíveis.

●● Fernand Leger: O artista francês nasceu em 1881 e faleceu em


1955. Iniciou sua formação artística aos 14 anos como aprendiz
de um arquiteto. Em 1900 foi para Paris onde ingressou na Escola
de Artes Decorativas. A partir de 1911 conheceu Picasso e Braque
de quem recebeu influências cubistas que lhe acompanharam
durante toda a sua trajetória. A partir de 1920 passou a investir
em uma temática onde predomina a figura humana enquadrada
por elementos industriais. Foi dessa época seu contato com Tarsila
do Amaral a que muito influenciou em determinada fase de sua
carreira.

●● Francis Picabia: O artista nasceu em Paris em 1879 e morreu


também naquela cidade, em 1953. Cresceu na capital da França e
estudou na Escola de Belas Artes de Paris bem como na Escola de
Artes Decorativas. Viveu uma fase impressionista e se interessou
pelo Cubismo, mas foi influenciado, principalmente, pelo trabalho
de Marcel Duchamp. Em 1921 se afastou do dadaísmo e voltou-se
para o surrealismo.

●● Marcel Duchamp: O polivalente Duchamp nasceu na França em


1887 e faleceu naquele país em 1968. Foi escultor, pintor, performer,
cubista, dadaísta, enfim: um transgressor e um transformador. Na
juventude ele foi simbolista sofrendo influência de Odilon Redon.
Passou pelo fauvismo e pelo cubismo, mas também pela Academie
Julian. A partir de 1911 ele se ligou a um grupo denominado de
Puteaux juntamente com Picabia, Robert Delaunay e Juan Gris.
O grupo tinha influências cubistas. Foi o criador do ready-made
que subverteu mais ainda a arte no modernismo. Um iconoclasta.
Ligado aos movimentos cubista, dadaísta e surrealista, ele também
se interessou pelo Pop Art e o conceitual. Sua maneira de viver e
sua obra influenciaram gerações.

●● Jacques Villon: O artista nasceu na França em 1875 e faleceu


naquele país em 1963. Foi um artista que se notabilizou pela
participação no movimento cubista. Irmão de Marcel Duchamp,
do escultor Raymond Duchamp Villon e da pintora Suzanne
Duchamp-Crotti, ele teve suas primeiras aulas de arte com seu avô

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materno, Emile Nicolle, também artista. Em 1894 mudou-se para
Paris, Montmartre, e se entregou às artes. Estudou na Academie
Julian e se juntou aos cubistas posteriormente.

●● André Lothe: Nasceu na França em 1885 e morreu naquele


país em 1962. Frequentou o curso na Escola de Belas Artes de
Bordeaux e entrou no mundo profissional. Foi atraído pelo cubismo.
Abriu uma Academia e foi um professor influente e frequentado.

●● Albert Gleizes: Nasceu em Paris em 1881 e faleceu naquela


cidade em 1953. Foi iniciado nas artes por seu pai, um bem-
sucedido designer industrial. Depois de trabalhar como designer,
Gleizes começou a pintar seriamente enquanto servia o exército no
norte da França. Entre 1909 e 1910, conheceu Robert Delaunay e
Picasso. Publicou, juntamente com Metzinger, o livro Do Cubismo.
A partir de 1914, sua obra foi se tornando cada vez menos
figurativa; e, em 1915, fez seus primeiros trabalhos influenciados
pela abstração. Foi professor de Tarsila do Amaral.

●● Tarsila do Amaral: Nasceu em 1886, na Fazenda São Bernardo,


em São Paulo, e faleceu em São Paulo no dia 17 de Janeiro de
1973. Estudou no Colégio Sion, e completou seus Estudos em
Barcelona, na Espanha. Começou a estudar escultura em 1916
com Zadig e Mantovani em São Paulo. Em 1920 embarcou para a
Europa e frequentou a Academie Julien e também o ateliê de Emile
Renard. Em 1922, teve uma tela sua admitida no Salão Oficial
dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressou ao Brasil
e se integrou com intelectuais do grupo modernista e faz parte
do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de
Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Em 1923 Tarsila
voltou à Europa e começou a ter contato com os modernistas:
Albert Gleizes, Fernand Léger e Blaise Cendrars, que visita o Brasil
no ano de 1924. A artista viveu diversos estilos, entre os quais o
cubismo e o surrealismo.

●● Victor Brecheret: Nasceu em Farnese, Itália, em 1894 e faleceu


em São Paulo, Brasil em 1988. Escultor, considerado como o
responsável pela introdução do vocabulário moderno no Brasil.
Frequentou as aulas de entalhe em gesso e mármore do Liceu de
Artes e Ofícios da capital paulista. Estudou na Europa. Ligou-se
aos que compuseram a semana de 1922 da qual tomou parte.

●● Vicente do Rego Monteiro: Nasceu em Recife, Pernambuco,


em 1899 e faleceu naquela cidade brasileira em 1970. Foi pintor,
escultor, desenhista, ilustrador e artista gráfico. Iniciou seus

35
estudos artísticos em 1908, na Escola Nacional de Belas Artes
- Enba, no Rio de Janeiro. Em 1911, viajou com a família para
França, onde ele frequentou as Academias Colarossi, Julian e de
La Grande Chaumière. Participou do Salon des Indépendants, em
1913. Em Paris manteve contato com os membros da conhecida
Ecole de Paris. No início da Segunda Guerra Mundial deixou a
França. Voltou ao Brasil e entrou em contato com aqueles que
fizeram a Semana de 1922 da qual foi um dos participantes.

Revisão
O objetivo principal do projeto cubista era uma nova construção para a forma. As
pesquisas cubistas não tinham ligação com aspectos emocionais ou espirituais, mas sim
um olhar curioso e analítico sobre a desconstrução da imagem. Eles queriam quebrar
sua aparência estática e enfocá-la sob múltiplos pontos de vista. Como se qualquer coisa
pudesse ser vista de todos os lados e ao mesmo tempo. A proposta cubista teve início a
partir do trabalho de dois artistas: Pablo Picasso e Georges Braque.

Dividiremos a pesquisa cubista em duas fases: a analítica e a sintética, embora alguns


autores incluam uma fase cezaniana nessa cronologia. No Cubismo Analítico, que
aconteceu entre 1910 e 1912, os artistas priorizavam a forma ao máximo. Ela era
decomposta e recomposta novamente sobre um mesmo plano. O monocromatismo
impera. Era necessário abandonar a pluralidade de cores em nome da pesquisa formal.
Naquele momento a forma foi tão distorcida que chegou quase à abstração.

No Cubismo Sintético, os artistas partiram para um modo de expressão que tinha um


assunto mais reconhecível. Além disso, eles passaram a incorporar materiais estranhos
ao universo da pintura: as colagens cubistas.

No Brasil o movimento só repercutiu após a semana de Arte Moderna de 1922.


Entretanto, sem se constituir em uma proposta organizada. Alguns artistas brasileiros
vão ser influenciados pela pesquisa formal cubista.

Atividades
Vamos ler o artigo Mário de Andrade e a busca pela arte brasileira: a pesquisa estética,
a inteligência artística brasileira e a consciência criadora nacional de Raquel Medeiros
e refletir e interpretar a fala de Mario de Andrade, dele destacado, em relação às
vanguardas artísticas europeias.

Quanto ao direito de pesquisa estética e atualização


universal da criação artística, é incontestável que todos
os movimentos históricos das nossas artes... sempre
se basearam no academismo. Com alguma exceção
individual rara, sem a menor repercussão coletiva, os
artistas brasileiros jogaram sempre colonialmente no

36
certo. Repetindo e afeiçoando estéticas já consagradas,
se eliminava assim o direito de pesquisa, e
consequentemente de atualidade. [...] Ora o nosso
individualismo entorpecente se esperdiçava no mais
desprezível dos lemas modernistas, ‘Não há escolas!’, e
isso terá por certo prejudicado muito a eficiência criadora
do movimento. E si não prejudicou a sua ação espiritual
sobre o país, é porque o espírito paira sempre acima
dos preceitos como das próprias ideias... Já é tempo
de observar, não o que um Augusto Meyer, um Tasso
da Silveira e um Carlos Drummond de Andrade têm de
diferente, mas o que tem de igual. (ANDRADE, 1942, p.
479).

37
C a p í t u l o 14

O elogio da máquina: o
Futurismo

Objetivos do Capítulo
Estudar e compreender mais uma vanguarda europeia do início do século XX a partir de
suas causas e buscando suas respostas estéticas para a realidade que se apresentava
então.

Embora o movimento denominado de Futurismo tenha sido iniciado


nas letras pelo poeta italiano Filippo Marinetti, com a intenção de
lançar a Itália no contexto vanguardista europeu de seu tempo; a
proposta logo se espalhou de forma interdisciplinar. Ou seja: envolveu
outras expressões tais como a música e aquela que realmente nos
interessa mais: as Artes Visuais.

O princípio comum era a celebração da nova sociedade industrial e


suas manifestações: a velocidade, a máquina, as novas tecnologias,
o dinamismo e, mesmo o poder da conquista.

O Futurismo foi um movimento que envolveu múltiplos manifestos.


O primeiro foi lançado por Marinetti no jornal parisiense Le Figaro.
Mas, por que um jornal francês se o movimento partiu da Itália?
Acontece que Paris era, então, o centro do mundo cultural. Para
obter uma maior visibilidade por parte de seus pares, o poeta italiano,
necessitava publicar em um periódico que era lido por todo aquele
que interessava.

O Manifesto Futurista, violento e um tanto quanto fascista e misógino,


rejeitava qualquer conceito de tradição histórica na arte. Vamos
analisar só alguns itens desse manifesto que em seu programa
conclamava:

Declaramos que a magnificência do mundo se


enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da
velocidade. Um carro de corrida com a carroceria
enfeitada por grandes tubos de escape como
serpentes de respiração explosiva… um carro
tonitruante que parece correr entre a metralha é
mais belo do que a Vitória de Samotrácia.

39
É nítido, nessas palavras de ordem, o fascínio que as conquistas
científicas e tecnológicas exerciam naquele início do século XX.
Além disso, o próprio modernismo desprezava o passado, a história
e queria o novo como sinônimo de conquista e transformação da
humanidade. A metáfora utilizada de que um carro (conquista da
tecnologia moderna) seria mais belo de que uma escultura grega do
período helenístico (a Vitória de Samotrácia) ilustra essa necessidade
de deixar o passado, a história de lado e buscar novos objetos de
respeito e mesmo de culto. A possibilidade de renovação através da
destruição também está implícita no item que se segue:

Nós queremos glorificar a guerra, o militarismo, o


patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as
belas ideias por que se morre e o desprezo da
mulher.

O macho alfa, através da luta glorificada, não estava preocupado


com o útero, a continuidade ou a herança simbolizada pela mulher,
que deveria ficar em segundo plano, nesses ideais de conquista e
destruição. Talvez isso tenha relação com o fato de que o movimento
teve origem na Itália, tradicionalmente conservadora em relação ao
gênero, mas com uma idolatria equivalente pela figura da mãe.

No que diz respeito às Artes Visuais o Futurismo contou com a


participação de Umberto Boccioni, pintor e escultor; Gino Severini,
Giacomo Balla e Carlos Carrà, pintores; com o pintor e compositor
Luigi Russolo e com o arquiteto Antonio Sant Elia. Foi lançado
Pesquise... também um “Manifesto dos Pintores Futuristas” datado de fevereiro
O funeral do anarquista
de 1910, entre os vários do movimento.
Galli. Carlos Carrà. 1911.
Essa adaptação do ideário futurista para a pintura foi mostrada ao
público em uma exposição realizada em Milão, em 1911, e em uma
grande mostra realizada em Paris, em 1912, que teve forma itinerante
e viajou por vários países da Europa. Nessas mostras compareceram
os artistas do movimento. É desse momento o trabalho Cão na
Coleira, de Giacomo Balla, que detalharemos a seguir.

Pesquise... Saiba Mais


Cão na Coleira. Giacomo Em sua obra o pintor italiano tentou endeusar os novos avanços científicos e técnicos
Balla. 1912. por meio de suas várias representações. Mostrou grande preocupação com o dinamismo
das formas, com a situação da luz e a integração do espectro cromático. Para o pintor, a
ideia de movimento e o sentido moderno de velocidade, fundamental na poética futurista,
eram dados pelo uso repetido de detalhes.

40
Nesse trabalho, que representa uma senhora passeando com seu cão, ele nos dá,
(para imprimir a ideia de movimento), a impressão de que, tanto dona como animal,
têm incontáveis pés. A própria corrente da coleira também tem a sua forma repetida de
maneira a imprimir essa ideia de dinamismo, de movimento às figuras. Pernas, rabo e
coleira perdem-se no redemoinho de camadas imprecisas. Umas são representadas de
forma mais sólida, outras se perdem no espaço.

O mais interessante neste trabalho de Giacomo Balla é que ele aproveita uma cena
banal de rua para aplicar as regras impressionistas de dinamismo e velocidade. Para
isso ele se atém em detalhes da própria cena cotidiana: os pés das duas figuras.

O futurismo, em sua interdisciplinaridade, também teve alguns de


seus membros que se dedicaram (em paralelo ou ao mesmo tempo)
a outras disciplinas. Boccioni, por exemplo, publicou o seu “Manifesto
futurista da escultura”. Nele, o artista defendia o emprego de materiais
não tradicionais e abria a figura em formas superpostas com o intuito
de imprimir ideia de velocidade, força e movimento. É desse momento
o trabalho de Boccioni, Formas únicas de continuidade no espaço,
datada de 1913 (Figura 7).

Figura 7. Umbero Boccioni. Formas únicas de continuidade no espaço. 1913. Museu de


Arte Contemporãnea da UFP. São Paulo. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:%27Unique_
Forms_of_Continuity_in_Space%27,_1913_bronze_by_Umberto_Boccioni.jpg

41
Saiba Mais
A escultura teve versão original em gesso. Com ela Boccioni tentou, explorar a impressão
de movimento e velocidade em uma expressão artística tradicionalmente imóvel. Ela se
assemelha a uma bandeira a esvoaçar com o vento. Parece que o corpo representado
luta, movimenta-se, se jogar para frente em busca desse mundo novo que está sendo
construido.

O gesso original feito em 1913 foi adquirido por Ciccillo Matarazzo em 1952. Quatro
exemplares foram fundidos em bronze a partir do gesso original, após a morte do artista.
Um encontra-se no MOMA e outro no Metropolitan Museum of Art em Nova York. A
terceira versão, em bronze, se encontra na coleção do MAC-USP. O quarto está na Tate
Gallery, em Londres.

Na arquitetura o Futurismo também teve ressonância. Antonio


Sant’Elia queria fazer uma nova proposta arquitetônica para os novos
tempos que surgiam. No “Manifesto da arquitetura futurista”, de 1914,
Sant’Elia prega a necessidade de materiais novos e de tecnologias
recem descobertas.

Ele criou desenhos para uma cidade do futuro que, entretanto nunca
saiu da prancheta. Porém, essa cidade de usos polivalentes, concebida
pelo arquiteto engajado no Futurismo inspirou as edificações de
múltiplas funções das grandes cidades contemporâneas. Ele também
introduziu as fantasias futuristas, no que diz reseito à arquitetura, na
imaginação popular. A imagem de um futuro utópico em sua época se
encontra no seu projeto para A cidade futurista (Figura 8).

Figura 8. Antonio Sant’Elia. A cidade futurista. Manifesto da arquitetura futurista. 1914.


Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Santelia01.jpg

42
Saiba Mais
O arquiteto produziu desenhos de grande impacto, em escala monumental de
megalópoles; com arranha-céus, passarelas e vias suspensas para veículos. Seus
projetos são exemplos da crescente actividade industrial e do aparecimento de novas
tecnologias e materiais, utilizados nos seus discursos e desenhos.

As suas obras influenciaram arquitectos contemporâneos e anteciparam as cidades


e o urbanismo modernos. Ele previu urbes, com elevada densidade populacional
que, naturalmente, necessitariam um ordenamento de acordo com o seu crescimento
galopante que já se projetava naquele início do século XX.

A música, no projeto futurista também teve sua cota de experimentação.


Russolo, um pintor e compositor filiado ao movimento, foi o criador
do bruitismo, que recorria aos barulhos da cidade como forma de
harmonia musical. São os ritmos e ruídos urbanos captados que
contribuíram para os fundamentos de uma teoria da música nova que
influenciou várias tendências da música contemporânea.

A grande contribuição da música futurista residiu na criação de novos


instrumentos, na invenção de verdadeiras máquinas denominadas
intonaruniri (máquinas de barulho) cuja mecanicidade eliminava o
toque humano e a subjetividade. A máquina tornava o ruído um valor
em si.

A morte dos principais expoentes do movimento marcou o fim de


sua fase mais criativa. A associação com a política, que impregnou
o Futurismo, foi a partir de então canalizada por Marinetti para um
estreitamento de suas relações com o fascismo de Mussolini. À
medida que a guerra gerava a morte tornou-se, entretanto, cada vez
mais difícil sustentar a plataforma teórica futurista. Em meados da
Primeira Guerra Mundial, a vivência inicial já havia chegado ao fim.

No Brasil, o Futurismo, enquanto premissa estética nas Artes Visuais,


não encontrou adeptos apesar da Semana de Arte Moderna de 1922
ter tido seu nome associado a esse movimento e mesmo ter existido
contato de alguns de seus participantes com o teórico Marinetti.

Você Sabia?
O fascista é aquele que aderiu ao fascismo, doutrina totalitária desenvolvida por Benito
Mussolini na Itália a partir de 1919. A palavra “fascismo” deriva de fascio nome dado a
militantes que surgiram na Itália entre fins do século XIX do XX. Os fascistas italianos

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também ficaram conhecidos pela expressão “camisas negras” em virtude do uniforme
que utilizavam.

Misoginia é uma atitude ou movimento de aversão ao que é feminino. O indivíduo


misógino busca expurgar a mulher e torná-la abjeta.

Saiba Mais
Vamos ler o artigo do professor Victor Andrade de Melo, Esporte, Futurismo e
Modernidade, disponível no link que se segue: http://www.scielo.br/pdf/his/v26n2/a11v26n2.
pdf

Sobre os artistas citados no capítulo


●● Umberto Boccioni: O artista futurista nasceu na Itália em 1882
e faleceu também naquele país em 1916. Foi considerado o
principal teórico do movimento. Estudou desenho em Roma
onde foi aluno de Giacomo Balla, um futuro companheiro. Foi co-
autor do Manifesto dos Pintores Futuristas, feito em 1910, e do
Manifesto Técnico da Pintura Futurista também naquele ano. Sua
obra sintetiza as ideias do Futurismo sobre dinamismo, velocidade,
violência, tecnologia e vida moderna. Ele foi pintor e escultor e
apresentou, em seu trabalho, imagens estilhaçadas sobre temas
contemporâneos.

●● Gino Severini: Gino Severini nasceu em Cortona em 7 de abril


de 1883 e morreu em Paris em 1966. Em 1899 o pintor, artista
gráfico e escultor italiano foi para Roma, a fim de frequentar aulas
noturnas na Villa Medici. Depois de um encontro decisivo com
Giacomo Balla e Umberto Boccioni, ele começou a trabalhar como
artista em 1901. Marinetti e Boccioni convidaram-no a juntar-se
ao Movimento Futurista. Em 11 de fevereiro de 1910, Severini
assinou o Manifesto do Futurismo, tornando-se assim um dos
co-fundadores deste estilo. Severini participou das exposições
Futuristas em Paris, Londres e Berlim e desenvolveu relações
entre Itália e França, tornando-se um dos principais canais entre
seus colegas italianos e os novos acontecimentos artísticos.

●● Giacomo Balla: O artista nasceu em Turim, na Itália em 1871 e


faleceu em Roma em 1958. Ele deu uma importante contribuição
para o desenvolvimento da arte moderna. Explorou as teorias
científicas a respeito da luz e buscou expressar em seu trabalho

44
a velocidade e o movimento inerentes à sua pesquisa e parte
do vocabulário futurista. Autodidata, ele foi para Roma jovem
pensando em ganhar a vida como retratista. Juntou-se aos
futuristas e desenvolveu sua obra na área da escultura e da pintura
além de projetar cenários.

●● Carlos Carrà: Carlo Carrà, nasceu em Quargnento, Itália, em 1881


e faleceu em Milão em 1966. Foi um pintor italiano do futurismo
e um dos signatários do movimento. Trabalhou em suas bases
estéticas de dinamismo e velocidade. Em 1917 Carrà conheceu De
Chirico e passou para a experimentação da pintura metafísica.

●● Luigi Russolo: O artista italiano nasceu em 1885 e faleceu aos


61 anos em 1947. Foi um pintor e compositor que se destacou
no movimento futurista. Ele acreditava que a vida contemporânea
era demasiadamente ruidosa e que esses sons deveriam ser
aproveitados na música. Em 1913, publicou o tratado A Arte de
ruídos. Ele é considerado o primeiro teórico da música eletrônica.
Russolo inventou e construiu instrumentos para criar ruídos.
Infelizmente, nenhum de seus originais sobreviveu a Segunda
Guerra Mundial.

●● Antonio Sant’Elia: O arquiteto nasceu em 1888 e faleceu em


1916, na Itália. Em 1912, produziu desenhos de grande impacto
de megalópoles cheias de arranha-céus, passarelas e vias
suspensas para veículos. Seus projetos revelam a preocupação
com a crescente atividade industrial e com o aparecimento de
novas tecnologias e materiais. As suas obras influenciaram
arquitetos contemporâneos e anteciparam edificações e urbanismo
modernos.

Revisão
O Futurismo foi um movimento que envolveu múltiplos manifestos. O primeiro foi lançado
por Marinetti no jornal parisiense Le Figaro. Paris era, então, o centro do mundo cultural
e ele queria uma maior visibilidade para suas ideias.

O Futurismo contou com a participação de vários artistas de linguagens variadas tais


como: Umberto Boccioni, pintor e escultor; Gino Severini; Giacomo Balla e Carlos Carra
pintores; Luigi Russolo, pintor e músico, e Antonio Sant’Elia, arquiteto.

A morte dos principais expoentes do movimento marcou o fim de sua fase mais criativa.
Marinetti estreitou suas relações com o fascismo de Mussolini. À medida que a guerra
gerava a morte, tornou-se mais difícil sustentar a plataforma futurista. Em meados da
Primeira Guerra Mundial, o futurismo inicial já havia chegado ao fim.

45
Atividades
A partir dessa imagem de Giacomo Balla estabeleça relações com as características do
movimento futurista em um texto sintético de aproximadamente vinte linhas.

46
C a p í t u l o 15

Tudo é arte, nada é arte: o


Dadaísmo

Objetivos do Capítulo
Estudar e compreender o fenômeno em que se constituiu o Dadaísmo, internacional e
multidisciplinar, que investiu contra todos os valores estabelecidos modificando conceitos
e olhares até a contemporaneidade.

O que vem a ser o Dadaísmo? Como aconteceu o movimento? Qual


o seu raio de ação? São perguntas que nos ocorrem quando paramos
para analisar um movimento que interferiu de maneira tão marcante,
no universo das artes e que revolucionou o modo de encaramos e
aceitarmos o objeto e o fazer artístico.

É importante que se pare para pensar que quando ele se iniciou a


Europa estava envolvida no primeiro conflito em escala mundial
e que, após seu final, deixou o continente destruído. Nessas
circunstâncias, todos os valores considerados tradicionais passaram
a ser questionados. Na arte os fatos não se processaram de forma
diferente.

A história do Dadaísmo começou em Zurique, Suíça, onde jovens


artistas se reuniam numa casa noturna chamada Cabaré Voltaire que
ficava numa região degradada daquela cidade. Eram eles o pintor e
músico Hugo Ball e sua esposa, a cantora Emmy Hennings; o poeta,
de origem romena, Tristan Tzara; o poeta e escultor Marcel Janco; o
pintor e cineasta alemão Hans Richter; a dançarina Sophie Tauber e
Hans Arp.

A denominação dada à proposta desse grupo, irreverente e


apavorado com um mundo que estava sendo destruído à sua volta,
nasceu também em Zurique, em 1916. São vários os relatos sobre a
sua origem. O acaso, porém está presente em todas as narrativas. O
termo parece ter sido encontrado em um dicionário francês-alemão
por Hugo Ball e tinha múltiplos significados em cada língua em que
foi pesquisado pelos integrantes do grupo. Em francês, por exemplo,
significava um brinquedo de criança: um cavalinho de pau. Em romeno
significava Sim... Sim. E por aí seguia.

47
A proposta Dada, que depois se espalhou por Nova York, Berlim,
Paris Hanover, Colônia e Barcelona, era expressar sua indignação
pelo conflito e seus horrores. A guerra provava a irracionalidade e a
hipocrisia da sociedade burguesa que a provocara.

Os dadaístas recorriam a táticas ruidosas para denunciar as tradições


consagradas naquele contexto de caos. E o faziam através de
exposições, manifestos, leituras de poesias em acontecimentos de
caráter intimista. Eles queriam liquidar o antigo e assim abrir caminho
para o novo que significaria um mundo melhor.

No que diz respeito às Artes Visuais, por exemplo, o uso do acaso


provocou as colagens de Hans Arp que a elas recorreu para aniquilar
o passado. Em seu trabalho Colagem com quadrados dispostos
segundo as leis do acaso, é essa a mensagem que o artista quer
Pesquise... passar.
Colagem com
quadrados dispostos
segundo as leis do
acaso. Hans Arp. 1916-
17. Saiba Mais
Essa colagem foi feita com pedaços de papel de cor rasgados (e não cortados) que
foram dispostos “segundo as leis do acaso”. Arp começava estas composições deixando
cair os pedacinhos de papel sobre uma folha maior e depois ajustava cautelosamente
essa configuração. A finalidade era recorrer ao acaso para assim eliminar o planejamento
e, portanto, o passado.

O princípio seguido (e demonstrado com a irreverência dadaísta) é o de que a criação


artística não depende de regras estabelecidas, nem da habilidade manual. Criar obras
aleatórias implica em assumir que apenas ele, o acaso, acompanhado da ironia poderia
fazer face aos absurdos de um mundo em guerra.

Também durante a guerra, um grupo de dadaístas (o movimento


Pesquise... já tinha transposto fronteiras) foi para Nova York. Entre seus
Love Parade. Francis componentes estava os franceses Marcel Duchamp e Francis Picabia.
Picabia. 1917. Lá, encontraram o americano Man Ray. Foi uma fase extremamente
criativa e irreverente. A personalidade de Duchamp começou, cada
vez mais, a se impor e, podemos dizer que a arte jamais foi igual
depois de suas ações e intervenções. Foi daquele momento o
processo de dessacralização impingido por ele a um dos maiores
ícones da História da Arte. O artista inseriu, de forma provocativa e
Pesquise... iconoclasta, barba, bigode e texto irreverente na cultuada Monalisa de
Leonardo da Vinci que podemos visualizar a seguir.
LHOOQ. Marcel
Duchamp. 1919.

48
Saiba Mais
Um gesto simples, mas até então não executado, esse feito por Duchamp de
dessacralizar um ícone do mundo da arte. Ele gerou reflexões fundamentais, tais como:
o que faz com que consideremos um objeto arte? Qual a importância do gesto do artista
na obra de arte?

A ironia duchampiana colocando barba e bigodes na Monalisa além das iniciais


L.H.O.O.Q. (sigla que, lida em francês, assemelha-se ao som da frase “Elle a chaud
au cul”, que, traduzida para o português, significa “Ela tem fogo no rabo”) traduz a
proposta dadaísta de recorrer à táticas escandalosas e atacar com violência as tradições
consagradas.

Foi um ataque provocativo que recorreu à piada obscena e ao vandalismo, o que mostra
a violência gerada pela violência maior da morte provocada pela guerra em escala
mundial que se estava vivendo.

Marcel Duchamp realmente mudou o ritmo e o rumo da arte moderna.


Foi dele a proposta do readymade que é o nome que ele inventou
para designar objetos encontrados ao acaso, do qual o artista se
apropria e dá o status de arte. Esse conceito, que se tornou dadaísta,
de retirar objetos de seu contexto familiar e apresentá-los como arte
alterou radicalmente as convenções artísticas. Segundo Octavio Paz:

Talvez os dois pintores que maior influência


exerceram em nosso século sejam Pablo Picasso
e Marcel Duchamp. O primeiro pelas suas obras, o
segundo por uma obra que é a própria negação da
moderna noção de obra.6 Saiba Mais
6
Louis Aragon, citado por
A atividade dos dadaístas tornou-se mais intensa após a Primeira Kátia Canton in Retrato
Guerra Mundial. Seus membros se dispersaram pela Europa, da Arte Moderna: uma
história no Brasil e no
principalmente Alemanha e França. Na música destacou-se Erik Satie,
Mundo Ocidental. São
compositor francês que se tornou cult entre os vanguardistas pela Paulo: Martins Fontes.
dissonância de suas melodias e pelos nomes, criativos e irreverentes, 2002. p. 74.

dados às suas composições.

Após um período de ações em Berlim, Colônia e Paris muitos


dadaístas voltaram-se para o Surrealismo que emergia tendo à sua
frente André Breton. A influência do movimento revelou-se duradoura.
Sua abordagem, irreverente e irônica da vida e da arte, influenciou
gerações de artistas e, na pós-modernidade, vários movimentos foram
inspirados pelas suas ideias. Suas ações inegavelmente modificaram
a trajetória da arte.

No Brasil o dadaísmo não teve eco nas Artes Visuais. Só alguns

49
poemas de Mário de Andrade e atitudes de Oswald de Andrade
caracterizam qualquer influência desse movimento vanguardista
europeu.

Para melhor compreendermos a essência do Dada vamos recorrer ao


poeta francês Louis Aragon através de um pequeno texto seu. Diz ele:

Nada de pintores, nada de literatos, nada de


músicos, nada de escultores, nada de religiões,
nada de republicanos, nada de realistas, nada
de imperialistas, nada de anarquistas, nada
de socialistas, nada de bolcheviques, nada de
políticos, nada de proletários, nada de burgueses,
nada de aristocratas, nada de exércitos, nada de
polícia, nada de pátrias, enfim, basta de todas
essas imbecilidades, nada mais, nada mais. Nada,
Saiba Mais nada, nada.7
7
André Breton. Primeiro
Manifesto Surrealista.
1924.
Você Sabia?
●● Manifesto é um texto de natureza dissertativa e persuasiva, uma declaração pública
de princípios e intenções, que objetiva alertar para um problema ou fazer a denúncia
pública de um fato que está ocorrendo, normalmente de cunho político. Ele pode
querer também declarar um ponto de vista, denunciar uma situação ou convocar uma
comunidade (ou um segmento dela) para uma determinada ação.

●● Uma dessacralização de um objeto de arte significa fazê-lo perder seu caráter


sagrado, intocável, tornando-o próximo ou atingindo-o de alguma maneira. O
dadaísmo tendeu a dessacralizar os valores e manifestações artísticas de uma
sociedade burguesa que ele desafiava.

●● Um readymade é uma estratégia utilizada inicialmente por Marcel Duchamp no que


diz respeito à utilização de objetos industrializados no âmbito da arte, desprezando
noções históricas como estilo ou manufatura do objeto de arte. Trata-se de apropriar-
se de algo que já está feito. De acolher produtos industriais, realizados com finalidade
prática e não artística, e os elevar à categoria de obra de arte.

●● Cult é uma denominação dada aos produtos da cultura popular que têm uma grande
receptividade na sociedade. Geralmente, algo cult tem admiradores e consumidores
mesmo após não estar mais em evidência.

Saiba Mais
Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre o Dadaísmo e seu representante mais
controvertido, Marcel Duchamp, lendo atentamente o texto de Polyana Zappa O feminino

50
em Duchamp: Étant donnés e o erotismo na arte que você pode encontrar seguindo o
link: http://www.fatea.br/seer/index.php/eccom/article/viewFile/423/276

Sobre os artistas citados no capítulo


●● Hugo Ball: O poeta, escritor e filósofo alemão, nasceu em 1886
e faleceu em 1927. Foi um dos principais artistas do Dadaísmo e
autor do Manifesto Dadaísta. Exilado na Suíça (fugiu do serviço
militar) ele participou ativamente das noitadas dadaístas.

●● Emmy Hennings: A performer, escritora, poeta e romancista


alemã nasceu em 1855 e faleceu em 1948. Foi membro original
do grupo que frequentou o Cabaré Voltaire em Zurique. Casou-se
com Hugo Ball e participou ativamente das seratas dadaístas com
suas performances.

●● Tristan Tzara: O artista nasceu em 1896, na Romênia, e morreu


em Paris em 1963. Foi um poeta e participou como membro
fundador do grupo dadaísta de Zurique em 1916. Proclamou a
sua vontade de destruir a sociedade e os seus valores através da
linguagem em suas obras. Após o declínio do movimento dadá,
Tzara envolveu-se com o Surrealismo.

●● Marcel Janco: Poeta e pintor nasceu em Bucareste em 1895 e


morreu em Tel-Aviv em 1984. Ilustrou os três primeiros números da
Revista Dada.

●● Hans Richter: O pintor, artista gráfico, pesquisador de cinema e


produtor nasceu em Berlim em 1888 e faleceu em 1976. Os seus
primeiros contatos com a arte moderna foram feitos através do
grupo expressionista O Cavaleiro Azul. Em 1914 foi influenciado
pelo Cubismo e em 1916 juntou-se ao movimento Dadaísta. Ele
acreditava que um artista deveria ser ativamente político, fazer
oposição à guerra e apoiar transformações. Foi considerado um
dos primeiros cineastas de vanguarda.

●● Sophie Tauber: A artista nasceu na Suíça em 1889 e faleceu em


1943. Desatacou-se por uma produção abstrata e teve importante
participação no movimento Dadaísta. Ela era formada em artes
pela Escola de Artes Aplicadas de Hamburgo, e foi professora na
Escola de Artes e Ofícios em Zurique antes de entrar no movimento.
Casou-se com Hans Arp também dadaísta.

●● Hans Peter Wilhem Arp: Nasceu em Estraburgo em 1886 e faleceu

51
em 1966. Naturalizou-se francês. O pai de Arp era um empresário
de origem alemã, dono de uma fábrica de cigarros e a sua mãe era
de origem francesa, motivo pelo qual ele, desde muito cedo, falava
fluentemente as duas línguas. Em 1900 inscreveu-se na Escola de
Artes e Ofícios em Estrasburgo. Em 1907 na Academie Julian. Em
1915 foi viver em Zurique. Nesse ano casou com Sophie Taeuber e
passaram a fazer parte do grupo dadaísta.

●● Marcel Duchamp: O polivalente Duchamp nasceu na França em


1887 e faleceu naquele país em 1968. Foi escultor, pintor, performer,
cubista, dadaísta, enfim: um transgressor e um transformador. Na
juventude ele foi simbolista sofrendo influência de Odilon Redon.
Passou pelo fauvismo e pelo cubismo, mas também pela Academie
Julian. A partir de 1911 ele se ligou a um grupo denominado de
Puteaux juntamente com Picabia, Robert Delaunay e Juan Gris.
O grupo tinha influências cubistas. Foi o criador do ready-made
que subverteu mais ainda a arte no modernismo. Um iconoclasta.
Ligado aos movimentos cubista, dadaísta e surrealista, ele também
se interessou pelo Pop Art e o conceitual. Sua maneira de viver e
sua obra influenciaram gerações.

●● Francis Picabia: O artista nasceu em Paris em 1879 e morreu


também naquela cidade, em 1953. Cresceu na capital da França e
estudou na Escola de Belas Artes de Paris bem como na Escola de
Artes Decorativas. Viveu uma fase impressionista e se interessou
pelo Cubismomas foi influenciado, principalmente, pelo trabalho de
Marcel Duchamp. Em 1921 se afastou do dadaísmo e voltou-se
para o surrealismo.

●● Man Ray: O artista nasceu nos EUA em 1890 e morreu em Paris


em 1976. Foi fotógrafo e pintor. Man Ray foi responsável por
inovações artísticas na fotografia. Mudou-se na infância para
Nova York onde estudou arquitetura e artes plásticas. Em 1915
conheceu o artista Marcel Duchamp e com ele participou do
movimento Dadaísta em Nova York. Em 1921 travou contato com
o Surrealismo. Desenvolveu a raiografia, ou fotograma, criando
imagens abstratas obtidas sem o auxílio da câmara.

●● Eric Satie: Naceu em Honfleur em 1866 e faleceu em Paris em


1925. Foi um compositor e pianista de vanguarda e criou uma
música onde a dissonância mantinha contato com a proposta
iconoclasta Dadaísta.

●● André Breton: Nasceu na França em 1896 e morreu naquele país


em 1966. Foi poeta, escritor e teórico. Em 1913 entrou em contato

52
com o Dadaísmo. Em 1919 ele funda com o poeta Louis Aragon,
a revista Litterature e em 1924 publicou o Primeiro Manifesto
Surrealista.

●● Mário de Andrade: Poeta e escritor brasileiro nasceu em São


Paulo em 1893 e morreu em 1945. Foi professor de História da
Arte. Pertenceu à Sociedade de Cultura Artística. Esteve presente
no lançamento do Modernismo no banquete do Trianon. Foi
apresentado ao público por Oswald de Andrade através do artigo
“Meu poeta futurista”. Participou da Semana de Arte Moderna em
São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal. Fez parte
da revista Klaxon, publicando poemas e críticas de literatura, artes
plásticas, música e cinema.

●● Oswald de Andrade: Poeta e escritor paulista nasceu em 1890


e morreu em 1954. Em 1912, viajou à Europa onde visitou vários
países: Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, França, Espanha.
Em 1917, conheceu Mário de Andrade. Defendeu a pintora Anita
Malfatti das críticas violentas feitas por Monteiro Lobato. Em 1922,
participou da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São
Paulo. Foi um dos participantes do grupo da revista “Klaxon”, onde
colaborou. Integrou o grupo dos cinco com Mário de Andrade, Anita
Malfatti, Tarsila do Amaral e Menotti del Picchia.

Revisão
A história do Dadaísmo começou em Zurique, Suíça, onde jovens artistas se reuniam
numa casa noturna chamada Cabaré Voltaire que ficava numa região degradada daquela
cidade. Eram eles o pintor e músico Hugo Ball e sua esposa, a cantora Emmy Hennings;
o poeta, de origem romena, Tristan Tzara; o poeta e escultor Marcel Janco; o pintor e
cineasta alemão Hans Richter; a dançarina Sophie Tauber e Hans Arp.

O termo “dada” foi encontrado em um dicionário francês-alemão por Hugo Ball e tinha
múltiplos significados em cada língua em que foi pesquisado pelos integrantes do grupo.

A proposta Dada, que depois se espalhou por Nova York, Berlim, Paris Hanover, Colônia
e Barcelona era expressar sua indignação pela guerra e seus horrores. Ela (a guerra)
provava a irracionalidade e a hipocrisia da sociedade burguesa que a provocara.

Atividades
A partir das informações sobre o readymade na poética dadaísta e de suas próprias
pesquisas, escreva um pequeno texto sobre uma das mais notórias criações de Marcel
Duchamp.

53
C a p í t u l o 16

Subvertendo a realidade:
o Surrealismo

Objetivos do Capítulo
Estudar as bases, origens e consequências de um movimento que expressa o sonho e
a fantasia (dentro do leque de investigações a que se propôs a modernidade) bem como
as características desse momento da História da Arte e os artistas que tomaram parte do
movimento.

A busca da liberdade da imaginação foi a premissa principal de um


movimento cuja plataforma foi lançada pelo poeta francês André
Breton em 1924. Tanto seu principal teórico (Breton), quanto diversos
dos seus membros e simpatizantes vieram de contatos estreitos
ou, mesmo, de uma participação no Dadaísmo que, através de sua
irreverência, também desprezou os limites da razão. Os artistas
surrealistas, porém basearam suas investigações em aspectos menos
visíveis do comportamento humano: no subconsciente.

O termo Surrealismo foi empregado inicialmente (em 1917) pelo crítico


francês Guillaume Apollinaire que, através dele, queria descrever
alguma coisa que estava além da realidade. Que a ultrapassava.
Breton se apropriou dele para utilizá-lo em seu manifesto de 1924: o
Primeiro Manifesto do Surrealismo.

Entre as várias considerações expressas por André Breton a realidade


parece ser o motivo de preocupação maior. Qual seria o mérito da
realidade? Parece ser essa a dúvida quando ele discorre sobre a sua
inutilidade em seu manifesto:

Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem


de mais precário, bem entendido, a vida real,
que afinal esta crença se perde. O homem, esse
sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com
seu destino, a custo repara nos objetos de seu uso
habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou
quase sempre por seu esforço (...)8 Saiba Mais
8
André Breton. Op cit.
Essas considerações de Breton já vinham sendo discutidas pelos
artistas (que se interrogavam sobre o sentido da uma realidade que

55
provocava guerras além de desencanto com o dia a dia) quando
o médico vienense, Sigmund Freud, trouxe para a comunidade
científica notícias sobre o subconsciente que seria responsável por
característica, ainda inexploradas, na personalidade dos indivíduos.

A psicanálise e o ocultismo foram influências importantes para


as ideias de Breton bem como a poesia contestadora dos padrões
estabelecidos de Lautreamont e Rimbaud. O seu manifesto trouxe
a público o interesse de esquecer o real que teria como objetivo
“reduzir a imaginação à servidão, fosse mesmo o caso de ganhar o
Saiba Mais que vulgarmente se chama a felicidade9” em nome da investigação
9
André Breton. Op cit. e exploração daquilo que não é lógico nem racional e que estaria
contido no subconsciente.

Contrastando com a postura caótica do Dadaísmo (do qual Breton


fez parte em momentos posteriores ao núcleo original de Zurique),
o Surrealismo foi organizado, teve teorias doutrinárias e popularizou
a proposta de derrubar barreiras entre mundo exterior e interior. Ele
libertaria o inconsciente reconciliando este com o consciente, pois,
afinal: “o sonho, ao que tudo indica, é contínuo, e possui traços de
Saiba Mais organização. A memória arroga-se o direito de nele fazer cortes10”.
10
René Magritte in
Stephen Farthing Uma das características buscadas pelos surrealistas, que se adequam
(Coordenação Geral) a essa busca pelo inconsciente como referência para suas obras é
Grandes Artistas. Rio de
o chamado automatismo psíquico mediante o qual os membros do
Janeiro: Sextante, 2009.
p. 387. grupo se propunham a transmitir verbalmente, por escrito, ou por
qualquer outro meio o funcionamento do pensamento. Um pensar
alheio a qualquer preocupação estética ou moral. Nesse momento, a
ação de, por exemplo, despejar um material (areia ou outro qualquer),
tendo como regra o acaso, em um suporte traduziu essa necessidade
de investigar um estágio da ação humana não dominado pela razão.

Muitos dos surrealistas, como dissemos anteriormente, foram


recrutados das fileiras do Dada (que também buscava o aleatório em
suas realizações) como é o caso de Max Ernest, Hans Arp e Man
Ray. Novos participantes foram recrutados e as fileiras surreais foram
engrossadas com nomes como: Antonin Artaud, André Masson, Joan
Miró e Yves Tanguy, entre outros. Ao longo dos anos 20 (e dos anos
Pesquise... 30), novos artistas afiliaram-se ou tangenciaram o movimento. Entre
Indefititive Divisibility. eles: Salvador Dali, Alberto Giacometti e René Magritte. Alguns foram,
Yves Tanguy. 1942. mesmo, reivindicados pelo movimento como é o caso da mexicana
Frida Kahlo que não acreditava registrar imagens surreais, mas a sua
própria realidade.

56
Dali, um dos mais conhecidos artistas associados ao movimento,
trabalhou com vários meios (escultura, pintura, design, cinema,
cenários), mas o traço comum em sua obra é a capacidade de operar
associações inesperadas, de criar estranheza em relação ao que é
familiar. É o caso de seu objeto Telefone Lagosta. Pesquise...
Telefone Lagosta.
Salvador Dali. 1938.

Saiba Mais
Poucos artistas impactaram tanto o século XX quanto o espanhol Salvador Dali. Sua obra
associa sua fantasia, suas excentricidades e sua própria maneira de viver. Seus trabalhos
mostram um mundo onírico no qual objetos banais se transmutam no indecifrável, o que
provoca, constantemente, uma sensação de estranhamento.

A associação de um telefone e de uma lagosta (que seria segundo ele “um método
espontâneo de conhecimento irracional”) é um dos exemplos de uma série de telas,
filmes, esculturas e objetos de aspectos e associações insólitas.

Desse objeto de design surrealista foram produzidas apenas quatro peças. Uma delas
encontra-se na Tate Gallery, em Londres, a segunda está no Museu do Telefone alemão,
em Frankfurt; a terceira pode ser encontrada na Fundação Edward James e a quarta
está na National Gallery of Australia.

Embora René Magritte não tenha pertencido oficialmente ao


movimento Surrealista sua obra, juntamente com a de Dali,
popularizou-o. O artista era fascinado por desafiar o espectador
com suas pinturas. Embora elas possam conter objetos comuns
e costumeiros, ele faz com que eles sejam dispostos em contextos
Saiba Mais
11
Jean-Paul Sartre, citado
inesperados adquirindo, dessa forma, novos significados. Segundo por Dempsey. Op Cit p.
Magritte: “eu não pinto aquela mesa exatamente, e sim a emoção que 186.
ela produz em mim11”.

Um dos exemplos dos enigmas visuais de Magritte pode ser


encontrado na obra A traição da imagem.

Pesquise...
Saiba Mais A traição das Imagens.
René Magritte. 1928.
Trata-se da representação de um cachimbo embaixo do qual o artista escreveu as
palavras Ceci n’est pas une pipe (Isso não é um cachimbo). As palavras dizem a verdade:
a pintura não é um cachimbo.

Magritte desafia, assim, o espectador na sua fé de acreditar que, está de fato na presença
de um cachimbo quando na verdade está em frente da imagem de um cachimbo. Ou
seja, que por mais realista que seja uma pintura, ela é sempre uma representação
daquilo que foi retratado, do real.

57
Outro jogo de palavras que o artista usa diz respeito ao domínio da lingua francesa. Pipe
é um nome vulgar usado para designar o falo masculino. Magritte faz um trocadilho entre
pipe (falo) e pipe (cachimbo) e, de fato, também nesse sentido o cachimbo representado
não é o falo sugerido, ou vice-versa.

Man Ray foi o primeiro fotógrafo surrealista. Por meio de justaposições


e de manipulações efetuadas na câmara escura, ele criou um veículo
para revelar aquilo que não vemos, as imagens surreais presentes no
mundo. Para ele (e para os surrealistas em geral), o mundo é repleto
de símbolos e de momentos indefiníveis para uma tradução realista.
Ele priorizou o acaso como dadaísta engajado que foi e o encontrou
em suas “raiografias” e em suas fotografias. Buscou o ambíguo como
forma de provocação da mente do espectador para situações de
estranheza quanto ao que, aparentemente, é familiar. Como cineasta
Man Ray também desenvolveu um trabalho baseado no surreal com
uma técnica chamada de solarização. L’Etoile de Mer, (A estrela
do mar), produzido em 1928, representa essa incursão do artista
surrealista na sétima arte.

Um exemplo dessa perturbadora ambiguidade na fase surrealista do


Pesquise... artista é Anatomias, uma série de trabalhos que explora o corpo, de
Anatomias. Man Ray. forma lúdica.
1929. Fotografia.

Saiba Mais
A foto, através do ângulo em que foi tomada, tem como objetivo mostrar a ambiguidade
entre o masculino e o feminino. O pescoço e o queixo do modelo permitem outra
interpretação para o olhar. Transforma-se em um falo.

Nesse momento Man Ray está recorrendo não só às teorias da psicanálise freudiana
onde o sexo representa papel importante, mas também brinca com a realidade das
imagens. Ou seja: o que olhamos pode sempre adquirir uma conotação nova, inesperada.

O Surrealismo se popularizou no cenário internacional e tornou-se


um fenômeno mundial voltando-se para as mais diversas formas de
expressão. Seu imaginário extravagante atraiu a atenção do público
e o encantou. Todas as expressões da criação artística utilizaram
essas referências ao desconhecido, ao inconsciente, como parâmetro
referencial. Da moda ao design a proposta surrealista foi aplicada.

No Brasil as ideias surrealistas chegaram na década de 1930 e foram


absorvidas pelo movimento modernista. A pintora Tarsila do Amaral

58
e o escritor Ismael Nery (Figura 9) foram os mais influenciados
naquele momento. Posteriormente, a escultora Maria Martins, o pintor
pernambucano Cícero Dias e o paraibano Ivan Freitas acrescentaram
elementos surrealistas em suas obras ou em fases delas.

Considerado um dos mais importantes artistas brasileiros do século


20, o pernambucano Cícero Dias foi um dos pioneiros do surrealismo
no Brasil. Artista de múltiplas linguagens ele fez incursões no
movimento surreal que nós podemos observar no trabalho Descanso
dos anos trinta.
Figura 9. Ismael Nery.
Composição surrealista.
1928. Óleo sobre tela. Coleção
Saiba Mais particular. Fonte: http://
commons.wikimedia.org/wiki/
A pintura do artista pernambucano apresenta, nessa fase modernista do artista, File:Nery_surealista_1928.jpg
características que remetem ao vocabulário surrealista. Figuras gigantescas provocam
o espectador para uma viagem rumo a um mundo fantástico no qual o cenário parece
uma Olinda surreal onde o casario e as igrejas coloniais espreitam o sono das mulheres
gigantescas que dominam a paisagem.

Peixes azuis jazem ao lado das figuras deitadas nessa paisagem onírica onde uma lua
imensa produz uma sensação de magia, encantamento e estranhamento no espectador.
Pesquise...
Tudo parece minúsculo e estático. Um universo deserto, onde estranhas figuras Descanso. Cícero Dias.
“descansam” na paisagem. Óleo sobre tela. Cerca de
1930.

No pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), o Surrealismo perdeu


espaço e passou a ser atacado, inclusive por antigos participantes.
O mundo entrava em uma fase existencialista depois dos massacres
da guerra e o aqui e agora era vital para enfrentar a efemeridade da
vida e Jean Paul Sartre carregava a bandeira que gerou uma arte
existencialista.

Mas a investigação do inconsciente marcou sua passagem e aparece


em gerações e movimentos que aconteceram bem posteriormente.
Talvez a resposta por essa necessidade do insólito esteja no próprio
texto do Manifesto Surrealista. Afinal: “O sonho não pode ser também
aplicado à solução das questões fundamentais da vida?”

Você Sabia?
●● O subconsciente registra e arquiva minuciosamente todos os pormenores de fatos
ocorridos na vida do indivíduo, deixando-os armazenados para aproveitamento
ulterior. Ele é utilizado em psicologia para descrever o conteúdo da mente fora do
estado de consciência.

59
●● Ocultismo é um conjunto de teorias e práticas cujo objetivo seria desvendar os
segredos da natureza, do universo e da própria humanidade. O ocultismo trata de
um tipo de conhecimento que está além da esfera do conhecimento empírico e que é
sobrenatural e secreto.

●● O termo onírico se refere aos sonhos, ou está relacionado a eles.

●● A câmara escura é um tipo de aparelho ótico que esteve na base da invenção da


fotografia, no início do século XIX. Seu princípio (que evoluiu para quartos escuros)
continuou a ser utilizado nos séculos seguintes como apoio para o registro das
imagens.

●● Na raiografia, processo utilizado pelo fotografo Man Ray, são produzidos fotogramas,
que são imagens obtidas através do posicionamento de objetos diretamente sobre o
papel fotográfico, produzindo um registro direto e único da forma deste objeto, assim
como de sua própria sombra.

●● A solarização consiste na inversão dos valores tonais de algumas áreas da imagem


fotográfica. Ela pode ser obtida basicamente através da rápida exposição à luz da
imagem durante seu processamento. Foi o norte-americano radicado em Paris
Man Ray quem melhor empregou a solarização com finalidades artísticas durante a
década de 1930.

Saiba Mais
Vamos ler um pouco sobre o trabalho de Ivan Freitas, um dos poucos pintores
nordestinos que investiu no Surrealismo em A busca pela essência do espaço através
de um universo metafísico na obra de Ivan Freitas da prof. Dra. Madalena Zaccara
e do graduado em Educação Artística Janilson Lopes de Lima. Siga o link: http://www.
anpap.org.br/anais/2008/artigos/040.pdf

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● André Breton: Nasceu na França em 1896 e morreu naquele país
em 1966. Foi poeta, escritor e teórico. Em 1913 entrou em contato
com o Dadaísmo. Em 1919 ele fundou com o poeta Louis Aragon,
a revista Litterature e em 1924 publicou o Primeiro Manifesto
Surrealista. Foi o teórico do movimento e acompanhou-o em seus
relacionamentos internacionais.

●● Guillaume Apollinaire: Escritor e crítico de arte, ele nasceu em


Roma (em 1880) e faleceu em Paris em 1918. Foi possivelmente o
mais importante ativista cultural das vanguardas do início do século

60
XX; conhecido, particularmente, por sua poesia e por ter escrito
manifestos importantes para as vanguradas francesas, além de ser
o criador da palavra Surrealismo.

●● Max Ernest: Nasceu na Alemanha em 1891 e faleceu em Paris


em 1976. Foi um dos primeiros pintores surrealistas. Aprendeu a
pintar copiando paisagens de Van Gogh. Passou por uma breve
fase cubista após a guerra. No ano seguinte, 1919, fundou o
grupo Dadaísta em sua terra natal (Colônia) e se propôs a destruir
todos os valores estéticos de então. Foi uma tentativa de ruptura,
uma reação contra uma sociedade falida e destruída moralmente
pela Primeira Guerra Mundial. O Surrealismo o levou às últimas
consequências em suas investigações.

●● Hans Peter Wilhem Arp: Nasceu em Estraburgo em 1886 e faleceu


em 1966. Naturalizou-se francês. O pai de Arp era um empresário
de origem alemã, dono de uma fábrica de cigarros e a sua mãe era
de origem francesa, motivo pelo qual ele, desde muito cedo, falava
fluentemente as duas línguas. Em 1900 inscreveu-se na Escola de
Artes e Ofícios em Estrasburgo. Em 1907 na Academie Julian. Em
1915 foi viver em Zurique. Nesse ano casou com Sophie Tauber e
passaram a fazer parte do grupo dadaísta. Posteriormente o artista
aderiu ao Surrealismo.

●● Man Ray: O artista nasceu nos EUA em 1890 e morreu em Paris


em 1976. Foi fotógrafo e pintor. Man Ray foi responsável por
inovações artísticas na fotografia. Mudou-se na infância para
Nova York onde estudou arquitetura e artes plásticas. Em 1915
conheceu o artista Marcel Duchamp e com ele participou do
movimento Dadaísta em Nova York. Em 1921 travou contato com
o Surrealismo. Desenvolveu a raiografia, ou fotograma, criando
imagens abstratas obtidas sem o auxílio da câmara.

●● Antonin Artaud: Antoine Marie Joseph Artaud, conhecido como


Artaud nasceu em Marselha, França, em 1896 e morreu em
Paris em 1948. Foi um poeta, ator, escritor e dramaturgo ligado
fortemente ao Surrealismo.

●● André Masson: O artista nasceu na França em 1896 e faleceu


naquele país, em Paris, em 1987. Seu nome é quase sinônimo de
surrealismo e ele utilizou (como veículo para expressar-se) temas
mitológicos. Aos 11 anos entrou para a Academia Real de Belas
Artes de Bruxelas, mas a guerra interrompeu esse aprendizado.
Voltou a pintar somente em 1919 com tendências iniciais cubistas.
No seu momento surrealista ele adotou uma grande variedade

61
de técnicas para criar obras que fossem manifestações do
inconsciente.

●● Joan Miró: O artista nasceu em Barcelona em 1863 e morreu


em Palmas de Mallorca, também na Espanha. Foi pintor, escultor
e ceramista. Seu trabalho caracterizou-se por suas cores vivas e
formas fantasiosas, objetos flutuantes e caligrafias. Foi um dos
mais respeitados artistas espanhóis. Estudou na Academia de
Artes Francesco Gali em Barcelona, mas na década de 20 mudou-
se para Paris, onde participou do movimento surrealista.

●● Yves Tanguy: Artista francês, ele nasceu em 1900 e faleceu nos


EUA em 1955. Seu trabalho, de essência surrealista, compõe-se de
paisagens fantasiosas. Tanguy foi marinheiro mercante e começou
a pintar quando conheceu a obra de De Chirico, um dos “pais” da
Pintura Metafísica. Suas pinturas expressam o insconsciente na
forma de paisagens vastas cheias de formas biomórficas. Durante
a guerra ele foi para os EUA onde, em Nova York, se reuniu a um
grupo de artistas surrealistas exilados.

●● Salvador Dali: Dali nasceu em Figueras, na Espanha, em 1904


e lá faleceu em 1989. Poucos artistas impactaram tanto o seu
século como ele. Além de sua pintura, que se caracteriza pela
exploração do subconsciente e do amplo uso de simbolismos,
estranhas paisagens, erotismo e temas religiosos, Dali tornou-se
notório por suas performances e excentricidades. Frequentou a
Real Academia de Belas Artes de San Fernando em Madri e de lá
foi para Paris onde se juntou aos artistas do movimento surrealista.
Para ter acesso às imagens do subconsciente ele usava métodos
alucinógenos. Suas atividades artísticas induzem o espectador a
entrar em um mundo onírico no qual objetos banais se transmutam
em visões improváveis. Em 1940, após ser excluído do Movimento
Surrealista, ele foi para os Estados Unidos onde ficou grande parte
de sua vida.

●● Alberto Giacometti: O artista nasceu na Suiça em 1901 e faleceu


em 1966. Distinguiu-se por suas esculturas expressionistas. Iniciou
a sua formação em Genebra de onde foi para Paris, Nessa época
ele conheceu alguns dos principais pintores dadaístas, cubistas e
surrealistas que influenciaram o seu início de carreira. Aderiu ao
movimento surrealista entre 1930 e 1934, período em que produziu
algumas obras fundamentais para a caracterização da escultura
surrealista.

●● René Magritte: Nasceu em Lessines, Bélgica, em 1898 e faleceu

62
em Bruxelas em 1967. Pintor surrealista, produziu imagens
divertidas e com duplo sentido além de arranjos inusitados a
partir de objetos do cotidiano. Estudou por dois anos na Académie
Royale des Beaux-Arts,em Bruxelas. Após ter trabalhado como
designer (entre outras ações) fez da pintura sua principal atividade.
René Magritte praticava o surrealismo ou “realismo mágico” em
uma linguagem poética que teve influência da pintura metafísica
de De Chirico. Ao lado dessa busca surreal existiu a brincadeira
em sua obra. A nitidez realista é uma de suas características.

●● Frida Kahlo: A pintora mexicana nasceu em 1907 e faleceu em


1954. Com seis anos, Frida contrai poliomelite, sendo esta a
primeira de uma série de doenças, acidentes, lesões e operações
que sofreu ao longo de sua vida. Ao contrário de muitos artistas,
Kahlo não começou a pintar cedo. Entre 1922 e 1925 frequentou
a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México.
Durante uma longa convalescença de um acidente gravíssimo,
começou a pintar com uma caixa de tintas que pertenciam ao seu
pai, e com um cavalete adaptado à cama. Em 1928 entrou para o
Partido Comunista Mexicano e conheceu o muralista Diego Rivera
com quem se casou. Procurou na sua arte afirmar a identidade
nacional mexicana. Em 1938 André Breton qualifica sua obra como
surrealista em um ensaio que escreve para a exposição de Kahlo
na galeria Julien Levy em Nova Iorque.

●● Jean-Paul Sartre: Nasceu em Paris em 1905 e faleceu naquela


cidade em 1980. Foi filósofo, escritor, crítico e conhecido
representante do existencialismo. Era militante e apoiou causas
políticas de esquerda.

●● Tarsila do Amaral: Nasceu, em 1886, na Fazenda São Bernardo,


em São Paulo, e faleceu em São Paulo no dia 17 de Janeiro de
1973. Estudou no Colégio Sion, e completou seus estudos em
Barcelona, na Espanha. Começou a estudar escultura em 1916
com Zadig e Mantovani em São Paulo. Em 1920 embarcou para
a Europa e frequentou a Academie Julien e tambem o ateliê de
Emile Renard. Em 1922 regressou ao Brasil e se integrou com
intelectuais do grupo modernista e fez parte do “grupo dos cinco”
juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de
Andrade e Menotti del Picchia. Em 1923 Tarsila voltou à Europa
e começou a ter contato com os modernistas: Albert Gleizes,
Fernand Léger e Blaise Cendrars. A artista viveu diversos estilos,
entre os quais o cubismo e o surrealismo.

63
●● Cícero Dias: Cícero dos Santos Dias nasceu em Escada,
Pernambuco, em 1907 e faleceu em Paris em 2003. Foi um
pintor, gravador, desenhista, ilustrador, cenógrafo e professor.
Iniciou seus estudos de desenho em Pernambuco, mas mudou-
se para o Rio de Janeiro em 1920 e matriculou-se, em 1925, nos
cursos de arquitetura e pintura da Escola Nacional de Belas Artes.
Entrou em contato com o grupo modernista. Em 1931, no Salão
Revolucionário, expõe o painel Eu Vi o Mundo... Ele Começava
no Recife, um marco de sua trajetória artística. Viajou para Paris
onde conheceu Georges Braque, Henri Matisse, Fernand Léger e
Pablo Picasso, de quem se tornou amigo. Artista de múltiplas fases
ele incursionou por vários vocabulários artísticos entre os quais o
Surrealismo.

●● Maria Martins: Escultora surrealista brasileira nasceu em 1894


no Rio de Janeiro e faleceu naquela cidade em 1973. Foi mais
conhecida na Europa e nos Estados Unidos do que em sua terra
natal. Inicialmente, interessou-se pela música. Depois, estudou
pintura em Paris mas decidiu-se pela escultura. Suas esculturas
apresentam formas orgânicas, contorcidas, sensuais, que evocam
culturas arcaicas, inspiradas em lendas e na natureza amazônica.

●● Ivan Freitas: Nasceu em João Pessoa em 1932 e faleceu naquela


cidade em 2006. Começou na pintura como autodidata. Foi para
o Rio de Janeiro onde conheceu a obra de Dali e Magritte que o
influenciaram bem como a pintura metafísica de De Chirico. Sua
obra pictórica apresenta mundos estranhos onde não detectamos
a presença humana.

Revisão
A busca de uma liberdade de imaginação foi a premissa principal do movimento cuja
plataforma foi lançada pelo poeta francês André Breton em 1924: o Surrealismo.

O termo Surrealismo foi empregado inicialmente pelo crítico, também francês, Guillaume
Apollinaire que, através dele, queria descrever alguma coisa que estava além da
realidade.

A psicanálise e o ocultismo foram influências importantes para as ideias de Breton bem


como a poesia contestadora dos padrões estabelecidos de Lautreamont e Rimbaud. O
Surrealismo teve teorias doutrinárias que popularizaram a proposta de derrubar barreiras
entre o mundo exterior e o interior. Ele libertaria o inconsciente reconciliando este com o
consciente.

Muitos dos surrealistas foram recrutados das fileiras do dadá como é o caso de Max
Ernest, Hans Arp e Man Ray Novos participantes foram recrutados e as fileiras surreais

64
foram engrossadas com nomes como: Antonin Artaud, André Masson Joan Miró e Yves
Tanguy, entre outros.

O Surrealismo se popularizou no cenário internacional e tornou-se um fenômeno mundial


voltando-se para as mais diversas formas de expressão. Seu imaginário extravagante
atraiu a atenção do público e o encantou. No Brasil as ideias surrealistas chegaram na
década de 1930 e foram absorvidas pelo movimento Modernista. A pintora Tarsila do
Amaral e o escritor Ismael Nery foram os artistas mais influenciados naquele momento.
Posteriormente, a escultora Maria Martins, o pintor pernambucano Cícero Dias e o
paraibano Ivan Freitas acrescentaram elementos surrealistas em suas obras ou em fases
delas. No pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) o Surrealismo perdeu espaço e passa
a ser atacado, inclusive por antigos participantes, mas suas ideias inspiram a busca da
fantasia e do inconsciente até a contemporaneidade.

Atividades
A pintora mexicana Frida Kahlo sempre afirmou que não era surrealista. No trabalho O
Veado Ferido procure identificar os elementos pelos quais André Breton afirmou que o
vocabulário da artista mexicana era surrealista.
Pesquise...
O Veado Ferido. Frida
Kahlo. Óleo sobre tela.
1943.

65
C a p í t u l o 17

O reinado das cores e


das formas: momentos
abstracionistas

Objetivos do Capítulo
Estudar a proposta artística que descartou (como tema) as formas reconhecíveis
da natureza investindo na pesquisa das formas e das cores como forma de transmitir
emoção ou razão.

O que é abstração no universo das Artes Visuais? Quando começou?


Como se expressa? Essas são perguntas que ainda escutamos
frequentemente apesar da arte abstrata não ser propriamente uma
novidade. Então vamos tentar resolver essas questões por partes e
buscar exemplificar suas várias formas de comportamento, uma vez
que é bem vasto o seu universo de manifestações.

Primeiramente vamos definir o que é arte abstrata: ela é uma forma


de expressão que não busca referências no mundo que está ao
nosso redor. São obras que não têm como objetivo a representação
de formas reconhecíveis. Em sentido amplo, portanto, abstracionismo
refere-se às formas de arte não regidas pela figuração e pela imitação
do mundo.

A proposta abstracionista pode ser dividida em duas tendências: o


abstracionismo informal (lírico) e o geométrico, ou seja: a abstração
formal. Por exemplo: Kandinsky pintou abstrato informal e Mondrian
pintou arte concreta. Inúmeros movimentos e artistas aderiram à
abstração, que se torna, a partir da década de 1930, um dos eixos
centrais da produção artística no século XX.

A Arte Abstrata (ou informal) surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela


se inclina para a emoção, o ritmo, a cor e a expressão. Kandinsky
foi o pioneiro dessa abstração, com Primeira Aquarela Abstrata
(1910) e a série Improvisações (1909/1914). Ele retirou da pintura
(e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais)
a obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o
processo abstracionista.

67
O artista russo, radicado na Alemanha, depois de incursões na
figuração voltou-se para as cores, linhas e formas em sua pintura
desde seu ingresso no grupo alemão O Cavaleiro Azul, do qual
já falamos no primeiro capítulo desse volume. Nesse momento,
ele passou a suprimir toda a relação entre a realidade em suas
representações.

Um exemplo desse momento, que foi um marco da arte abstrata, é o


quadro de Kandinsky sobre o qual nos deteremos a seguir, intitulado
Composição IV. Nele, o artista deixa bem claro o seu postulado de
que a arte deveria expressar uma realidade interior de quem faz e de
quem frui.

Pesquise... Saiba Mais


Composição IV. A composição do artista revela suas preocupações com a cor e a forma. O desenrolar
Vassily Kandinsky. dos planos é abstrato. Algumas formas se sobrepõem às outras e são cruzadas por
Kunstsammlung linhas retas ou curvas. Essa sobreposição de planos é incessante em movimentos
Nordrhein-Westfallen,
bruscos organizando, assim sua profundidade.
Duseldorf.
As linhas e os planos, as cores e a significação que esses elementos podem sugerir ao
espírito tornam a leitura do quadro extremamente subjetiva. Seu significado diz respeito
ao observador e ao diálogo estabelecido por ele com relação à obra.

Um clima de alegria perpassa o conjunto de cores, formas e linhas estabelecendo, sob


essa forma, a interação com o espectador.

Para compreendermos o abstracionismo formal ou geométrico vamos


partir do princípio de que as formas e as cores devem ser organizadas
de tal maneira que a composição resultante seja apenas a expressão
de uma concepção geométrica: uma construção. Muitos são os
artistas e grupos que se envolveram com esse tipo de representação,
sobre o que falaremos posteriormente.

Para exemplificarmos essa forma de abstrair o mundo visível vamos


Pesquise... recorrer a um expoente do Neoplasticismo Holandês, Piet Mondrian,
Composição com cuja produção artística abandonou o figurativismo e buscou o mais
Vermelho, Amarelo e
Azul. Piet Mondrian. essencial da realidade visual. Em sua obra abstrata as cores e as
1927. formas são organizadas de maneira que a composição resulte apenas
na expressão de uma concepção geométrica.

68
Saiba Mais
Depois de haver participado da arte cubista, Mondrian continuou simplificando suas
formas até conseguir um resultado, baseado nas proporções matemáticas ideais, que
traduzia as relações formais de um espaço estudado.

O artista utilizou nesse trabalho, como elemento de base, uma superfície plana,
retangular e três cores primárias (esquematizadas em retângulos menores) que são, por
sua vez, uma parte de um universo de retângulos maiores criados pelas linhas pretas.
Essas superfícies coloridas e neutras, junto com as linhas, são distribuídas no suporte
buscando uma arte pura.

Enquanto a pura emoção norteia a abstração lírica ou informal, na abstração geométrica


de Mondrian a razão passa por cima da emoção e busca nas formas geométricas
organizadas a expressão intencionada.

Sobre movimentos que adotam a


linguagem abstrata informal ou lírica

Arte informal
O termo designa certo tipo de pintura abstrata e gestual que dominou
o panorama internacional das Artes Visuais a partir de meados da
década de 40 e até o fim da década de 50 do século XX. A autoria da
designação é do artista francês Michel Tapié. Essa definição teve que
competir com outros termos que buscavam designar essa produção
tais como: abstração lírica, pintura matérica ou tachismo.

Influenciados pelo existencialismo do pós-guerra, os artistas da


abstração informal buscavam a individualidade, autenticidade, Saiba Mais
espontaneidade em um processo de criar imagens que retratariam o 12
Clement Greenberg.
interior, a alma do criador. Arte e Cultura: ensaios
críticos. São Paulo: Ática
O principal representante foi Wols que, inclusive, inspirou essas 1967. p. 233.

palavras ao escritor existencialista francês Jean-Paul Sartre: “Wols,


ao mesmo tempo humano e marciano, se aplica em ver a terra com
olhos inumanos: ele pensa que é a única maneira de universalizar
nossa experiência12”.

Ele foi o catalisador dessa abstração informal, lírica e explosiva. Seu


trabalho exemplifica essa tendência abstrata que envolve artistas
como Hans Hartung, Henri Michaux e Antoni Tàpies, entre outros.

Para compreendermos o trabalho desse artista, Wols, que encarna

69
a representação da angustia do pós-guerra vamos observar um de
seus mais conhecidos trabalhos: O fantasma azul.
Pesquise...
O fantasma azul. Wols.
1951. Museu Ludwig.
Colônia. Alemanha. Saiba Mais
Em sua pintura Wols tem a capacidade de nos transmitir imagens inquietantes e
misteriosas. A imagem na tela em questão se assemelha a uma aparição, um ectoplasma.
Um espectro que rasga o azul intenso da tela, levitando em um espaço sem ponto de
referência.

Não se trata de uma figura, mas de uma forma à qual o próprio título dado pelo seu autor
nos faz associar com o desconhecido que tememos, mas do qual tentamos sempre nos
aproximar conferindo forma ao amorfo, ao inexistente.

Expressionismo abstrato
Embora essa nomenclatura tenha sido usada já no inicio do século XX
para designar e descrever as primeiras abstrações de Kandinsky, ela
é mais conhecida como referência a um grupo de artistas americanos
ou residentes naquele país que se destacaram, na década de 50, em
Nova York. O grupo de expressionistas abstratos apareceu em um
momento em que os Estados Unidos passavam pelo processo de
construção de um novo polo artístico. Ele seria o resultado da vitória
no conflito mundial e no processo de imigração de artistas europeus
por conta dessa guerra. Sobre esse momento nos fala Clement
Greenberg um dos principais teóricos do movimento:

Quando começaram, os “expressionistas


abstratos” tinham a timidez tradicional dos artistas
americanos. Eles estavam bem conscientes do
destino provinciano que espreitava a sua volta. Os
Estados Unidos ainda não haviam dado uma única
contribuição à tendência dominante da pintura
e da escultura. O que unia os “expressionistas
abstratos”, mais do que qualquer outra coisa, era
Saiba Mais sua resolução de romper com essa situação13.
13
Kasimir Malievitch
citado por Dempsey. Op. Eles acreditavam que o que interessava à arte eram as emoções
Cit. p. 103. humanas que seriam expressas através do gesto, da cor, da forma
e da textura no processo pictórico. O grupo, que foi contemporâneo
dos artistas informais europeus, também acreditava como eles que
o artista era alguém comprometido com a criação de um tipo de arte
que desafiasse um mundo absurdo e irracional.

O termo deveu-se ao crítico de arte Robert Coates que o usou em

70
1946 para se referir a obra dos principais artistas do movimento:
Pollock, Gorky e De Kooning, os quais, mesmo com estilos diversos,
tinham experiências e crenças em comum. Também foi chamado Pesquise...
de Action Painting (pintura de ação), termo criado em 1952 por H. Pink Angels. Willem de
Kooning. 1945.
Rosenberg. Ele abrange artistas que engajavam o próprio corpo na
ação de pintar. O automatismo, conceito forte no Surrealismo, foi uma
das características principais desse processo pictórico junto com a
liberdade e a espontaneidade.

Pollock, um dos artistas diretamente relacionados com o termo


“pintura de ação” retirou a tela do cavalete, colocando-a no solo.
Sobre ela, a tinta era gotejada e (ou então) atirada ao ritmo do gesto
do artista, que girava sobre o quadro ou se postava sobre ele. A obra
de arte passa a ser o fruto de uma relação corporal do artista com a
pintura bem como da sua intuição e do seu inconsciente.

Na obra Lavender Mist, de 1950, ele literalmente executa uma Pesquise...


espécie de dança sobre a tela jogando pigmentos de várias cores Lavender Mist. Jackson
Pollock. 1950.
sobre ela. É o princípio da “pintura de ação”.

Saiba Mais
Nos anos 50 Pollock operou uma renovação radical na ação de pintar quando colocou
telas no chão e passou a gotejar tinta sobre elas diretamente da lata ou por meio de uma
vareta ou uma espátula criando formas labirínticas.

O trabalho em questão mostra um sentido de harmonia e ritmo e rompe com a


imagem do pintor contemplativo que realiza seu trabalho obedecendo a um projeto. Os
emaranhados de linhas e cores que explodem nas telas de Pollock afastam qualquer
ideia de mensagem a ser decifrada. A obra tem que ser sentida.

No Brasil, não tivemos nenhum movimento organizado na abstração


informal. Entretanto, as obras de alguns artistas representam essa
tendência nas artes visuais brasileiras como, por exemplo: Manabu
Mabe, Tomie Ohtake, Antonio Bandeira e, nos anos 80, as obras de
Jorge Guinle.

71
Sobre movimentos que adotam
a linguagem geométrica: o
abstracionismo formal

O Suprematismo
“Para os suprematistas, os fenômenos visuais do mundo objetivo
são em si desprovidos de significados; o que contém significado é
Saiba Mais o sentimento14”. Essa é uma definição do movimento dada por seu
Piet Mondrian citado por
14
principal expoente, o artista russo Kasimir Malevitch.
Dempsey Op. Cit. p. 122´.
O Suprematismo se expressou em uma pintura com base nas formas
geométricas planas, sem qualquer preocupação de representação.
Os elementos principais são: retângulo, círculo, triângulo e a cruz.
As formas geométricas expressavam, para Malevitch, a supremacia
de um mundo acima daquele das aparências. O quadrado, para ele
o livrava do peso das representações e fazia da arte uma atividade
espiritual divorciada de quaisquer objetivos, políticos ou utilitários. O
famoso Quadrado negro sobre fundo branco (Figura 10), de 1915,
sintetiza esses conceitos.

Figura 10. Kasimir Malevitch. O quadrado negro sobre fundo branco. 1915. Óleo sobre
tela. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Malevich.black-square.jpg

72
Saiba Mais
A crença na teosofia sempre esteve do lado oposto do racionalismo e superficialidade do
mundo positivo e cientista. A arte representaria uma possibilidade de acesso ao que se
apresentava como intraduzível.

Esse mundo não objetivo, uma espécie de energia espiritual abstrata, é o que o artista
tenta mostrar na pureza da forma. O zero da forma, segundo ele. O caráter esotérico é o
aspecto mais importante de sua pintura que busca um mundo perfeito para quem ousa
sonhar.

O suprematismo surge por volta de 1913, mas sua sistematização


teórica data de 1925, do manifesto “Do Cubismo ao Futurismo ao
Suprematismo: o Novo Realismo na Pintura”, escrito por Kazimir
Malevich em colaboração com o poeta Vladimir Maiakóvski que
defendia a supremacia da sensibilidade sobre o objeto. Inspirado pelo
místico russo Ouspensky que, por sua vez, acreditava que havia, por
trás do mundo visível, outro mundo (espécie de quarta dimensão,
além das três a que os sentidos humanos têm acesso). Malievitch e
o seu Suprematismo representariam esse mundo não objetivo, uma
espécie de energia espiritual abstrata.

Na Rússia pré-revolucionária o Suprematismo teve seguidores entre


os quais Liubov Popova e Olga Rozanova. O movimento foi, porém,
superado pelo Construtivismo que pregava que a arte tinha que ter
um propósito social. Esse movimento, por sua vez, com a ascensão
de Stalin ao poder foi banido pelo Realismo Socialista.

Sobre o Construtivismo Russo


Opondo-se ao caráter místico do Suprematismo, por volta de 1914,
nasce um novo movimento, também na Rússia que, inicialmente, foi
denominado de Produtivismo e posteriormente de Construtivismo.
Tanto o Suprematismo quanto o Construtivismo inspiraram-se no
Cubismo, porém enquanto Malievitch se atinha ao caráter esotérico
da arte, para Vladimir Tatlin, o principal teórico do Construtivismo, a
arte deveria ter um fim social. Esse conflito separou as correntes não
objetivas que aconteciam paralelamente no mesmo país e acabou por
dividir os membros dos movimentos.

A Revolução Bolchevique utilizou o vocabulário construtivista que,


através de seus membros entusiasmados com a possibilidade de

73
construir uma nova sociedade apregoada, se colocara à disposição
do novo regime. Assim, o grupo formado por Tatlin, Naun Gabo
(Figura 11), Anton Pevsner e Aleksandr Rodtchenko, entre outros,
trabalharam ligados ao sistema entregues ao debate em torno do
papel da arte e do artista na nova sociedade comunista.

Para o construtivismo, a pintura e a escultura são pensadas como


construções e não como representações, guardando uma proximidade
com a arquitetura em termos de materiais, procedimentos e objetivos.
O propósito utilitário e político, portanto, está presente em todas
as manifestações do movimento: arquitetura, escultura, pintura ou
design.
Figura 11. Naum Gabo.
Kinetic Construction. 1919- O monumento encomendado pelo partido comunista em 1919,
20. Metal, painted wood intitulado Monumento à Terceira Internacional (Figura 12), de Tatlin,
and electrical mechanism.
Fonte: http://wikieducator.org/ é um exemplo do engajamento do artista. Ele, entretanto, só ficou na
File:Kuspit3-27-2.jpg maquete pois a União Soviética tecnologicamente atrasada não teve
condições de realizá-lo.

Figura 12. Vladimir Tatlin. Monumento à Terceira Internacional. 1919. Maquete, Madeira.
Royal Academy of Arts, Londres. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Tatlin%27s_Tower_
maket_1919_year.jpg

74
Saiba Mais
De ferro e vidro, a gigantesca espiral giraria sobre si mesma e foi concebida para ser
também uma antena de transmissão radiofônica. Ela foi descrita pelo artista como a
união de formas puramente plásticas para um propósito utilitário.

Projeto audacioso e visionário, a torre, porém, jamais saiu da prancheta em virtude


das condições financeiras e tecnológicas da Rússia pós-revolucionária. No entanto, as
suas dimensões grandiosas e formas arrojadas demonstram a euforia e entusiasmo dos
construtivistas com a Revolução Russa.

A produção ligada ao partido se processou em múltiplas dimensões.


Desde as linguagens artísticas tradicionais até à publicidade e
desenho. A nova sociedade, projetada no contexto revolucionário,
mobilizou os artistas em torno de uma arte nova, que se colocava
a serviço da revolução e de produções concretas para a vida do
povo. O conhecido cartaz de propaganda da guerra civil criado por El
Lissitski (Figura 13), exemplo desse atrelamento da arte e do Estado,
transmite sua mensagem por meio de símbolos gráficos em vez de
recorrer a palavras e imagens.

Figura 13. El Lissitski. Derrotem os brancos com a cunha vermelha. 1919-20. Cartaz.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Redwedge.jpg

75
Saiba Mais
O cartaz faz referência aos dois exércitos opositores. O grande círculo branco representa
o exército branco (os aliados czaristas) que estaria sendo atingido pela força simbolizada
pela seta vermelha representando o exército bolchevique.

Contrários a uma arte considerada como arte elitista, os artistas do Construtivismo


adaptaram seu vocabulário, eliminando conceitos que pudessem ter caráter
hierarquizante. O artista seria o construtor, o propositor, o operário trabalhando em
conjunto com o arquiteto e o engenheiro, não mais criando e sim construindo arte.

O caráter publicitário dessa construção fica patente no pôster em questão. Entretanto,


não é uma linguagem que encontrasse eco nas massas e isso, certamente, contribuiu
para que o Construtivismo cedesse lugar ao popular Realismo Socialista.

Esse direcionamento político não contentou a todos os participantes


do movimento. O resultado dessa divergência foi a ruptura entre as
duas facções. Os que apoiavam uma arte “pura” que não deveria
ser contaminada pela ideologia partidária partiram da Rússia. Foi o
caso de Gabo e Pevsner que emigraram da Rússia e divulgaram os
princípios construtivistas na Europa Ocidental.

Entretanto, o reinado do Construtivismo Russo engajado chegou ao


fim no encerramento dos anos 20 quando Stalin implantou, como
linguagem artística oficial, o Realismo Socialista. O vocabulário
construtivista com suas formas geométricas, porém, já tinha
impactado as diversas expressões artísticas no mundo inteiro.

Sobre o Neoplasticismo Holandês


Talvez pelo fato da Holanda ter sido neutra na Primeira Guerra Mundial
e, portanto, nada ter sofrido durante o conflito, o grupo de arquitetos,
pintores escultores e designers holandeses que se associaram em
um grupo objetivando a criação de uma arte nova e internacional tinha
como plataforma um espírito de paz e de harmonia.

Seus membros, Piet Mondrian, Theo Van Doesburg, Vantongerloo e


Van der Leck, trabalharam juntos no sentido de criar um vocabulário
visual que pudesse ser aplicado a objetivos práticos. O movimento se
organizou em torno da necessidade de “clareza, certeza e ordem” e
teve como propósito central encontrar uma nova forma de expressão
plástica, liberta de sugestões representativas e composta a partir de
elementos mínimos: a linha reta, o retângulo e as cores primárias

76
azul, vermelho e amarelo, além do preto, branco e cinza.

Foi Mondrian quem criou o termo Neoplasticismo que teve como


canal de divulgação o periódico De Stijl (O Estilo) ao qual aderiram
arquitetos e projetistas tais como Pieter Oud e, Gerrit Thomas Rietveld.
O ângulo reto foi o símbolo do movimento, sendo rigorosamente
aplicado a todas as suas formas expressivas. Os princípios do grupo
foram colocados em um manifesto, publicado nessa revista, em 1918.

A arquitetura produzida pelo grupo tem a clareza e ordem, além


de um vocabulário comum como postulado. O resultado foi um
idioma arquitetônico de tetos planos e paredes lisas que pode ser
exemplificado através da Casa Schroder (Figura 14) de Rietveld que
projetou a pintura de Mondrian e do De Stijl em três dimensões.

Figura 14. Gerrit Rietveld. Casa Schroder. 1924. User:Husky. Fonte: http://en.wikipedia.org/
wiki/File:Rietveld_Schr%C3%B6derhuis_HayKranen-20.JPG

Saiba Mais
Uma das principais características da Casa Schroder é a sua flexibilidade. A escolha
das cores mostra sua clara influência do movimento neoplasticista e das obras de Piet
Mondrian. Nas áreas internas o arquiteto utilizou tons cinza nas paredes e nos tetos
e nos elementos rebatíveis e, nas estruturas metálicas, a cor preta. Na parte externa
utilizou-se a cor branca para ressaltar a intersecção dos elementos metálicos pretos,
além de alguns detalhes nas cores vermelha, amarela e azul.

Apoiada no princípio básico da redução da expressão plástica a traços essenciais, a cor


pura se projeta no plano, encontrando seu oposto na não-cor: no cinza, no branco e no
preto.

77
Nessa construção o objetivo do De Stjil foi alcançado no sentido de criar um ambiente
residencial onde o efeito dos planos, linhas e cores proporcionam a sensação de se
entrar em uma pintura de um dos membros do movimento. Uma composição abstrata
funcional.

Mondrian, o principal teórico do grupo, queria usar a arte como agente


de mudança social. Dedicava-se à desvalorização da tradição (que
havia possibilitado uma guerra em escala mundial) e à denúncia do
sentimentalismo na arte. O meio de alcançar esse objetivo seria a
redução das artes visuais ao básico: forma, linha e cor.

Baseado nas proporções matemáticas ideais, entre as relações


formais de um espaço estudado, o artista utilizou, como elemento
de base, uma superfície plana, retangular e as três cores primárias
com um pouco de preto e branco. Essas superfícies coloridas são
distribuídas buscando a harmonia matemática da pretendida arte
pura. Para Mondrian a nova plástica “precisa ser expressa por meio
da linha reta e de cores primárias definidas”. É o que se vê em seu
trabalho intitulado Composição em vermelho, amarelo e azul, de
1927.

Saiba Mais
Apoiado no princípio básico da redução da expressão plástica a traços essenciais, o
artista rejeita a ideia de arte como representação. Prioriza as linhas retas os retângulos e
as cores primárias, abolindo a linha curva, a modelagem e as texturas.

A cor pura se projeta no plano, encontrando seu oposto, no branco e no preto. As


composições se estruturam num jogo de relações assimétricas entre linhas horizontais e
verticais dispostas sobre um plano único.

No transcorrer dos anos 20 o grupo fundador do Neoplasticismo


tornou sua linguagem internacional. Ele exerceu um grande impacto
sobre a Bauhaus. Posteriormente, a introdução por parte de Van
Doesburg da linha diagonal levou Mondrian a abandonar o grupo.
Ele continuou suas pesquisas e escritos tornando-se um importante
teórico da abstração.

Van Doesburg, por sua vez, publicou em 1930, um manifesto intitulado


A base da arte concreta, da qual foi o fundador e que se desenvolveria
após sua morte. O derradeiro número da revista De Stijl foi publicado
em 1932 em sua homenagem.

78
Sobre a arte concreta
O termo arte concreta foi usado por Theo van Doesburg, o teórico
holandês, no seu manifesto As bases da arte concreta publicado no
primeiro (e único) número da revista Art Concret em 1930.

A arte concreta propõe abandonar qualquer aspecto nacional ou


regional e se afasta inteiramente da representação da natureza.
Negando as correntes artísticas abstratas subjetivas e líricas, recusa
a expressão de sentimentos. Ela prega, mesmo, uma oposição
à abstração lírica que poderia trazer vestígios simbólicos da
representação do mundo.

O Concretismo é herdeiro das pesquisas do grupo De Stijl que


buscava a pureza e o rigor formal. Além disso, também teve base
nos ideais da Bauhaus, através dos quais a racionalidade deveria
estar presente em todas as conquistas da arte e democratizada pela
indústria.

Figura 15. Max Bill. Escultura pública. Zurique. Suiça. by RI. Fonte: http://en.wikipedia.org/
wiki/File:2005_zurich_bahnhofstrasse_max_bill.jpg

79
Nos anos 50, o artista suíço Max Bill com a Escola Superior da Forma,
em Ulm, Alemanha, tenta levar adiante esse projeto. Para Bill, um dos
principais responsáveis pela divulgação da arte concreta na América
Latina, a matemática é o meio mais eficiente para o conhecimento
da realidade objetiva. Assim uma obra plástica deve ser ordenada
pela geometria e pela clareza da forma. O trabalho de Bill foi uma
tentativa constante de equilibrar a ação de criar arte livremente com a
arte utilitária, aplicada a fins funcionais. O trabalho que abordaremos
a seguir (Figura 15) é um exemplo de sua aplicação prática.

Saiba Mais
A ênfase nos conceitos científicos e fórmulas matemáticas estão presentes nas formas
rigorosamente abstratas executadas em materiais reais para espaços reais. É o triunfo
do homem sobre o caos.

Para Max Bill uma obra plástica deve ser ordenada pela geometria e pela clareza da
forma e a estética científica substituiria a milenar estética especulativa e idealista.
Por outro lado, sua aplicação prática também seria desejável e a arte pública satisfaz
plenamente os ideais do artista suíço.

Após a Segunda Guerra Mundial, a América Latina passou por um


forte surto desenvolvimentista e industrial. O Brasil encontrava-se em
momento similar. No rastro dessa nova economia (que implicava na
necessidade de uma arte com fins práticos) o vocabulário concreto
foi introduzido no país por Max Bill e da delegação suíça na I Bienal
de São Paulo. O concretismo, a partir daí, ganhou densidade.
Principalmente nas grandes cidades industrializadas como Rio de
Janeiro e São Paulo.

Nessas cidades formaram-se, como consequência da adoção do


vocabulário concretista e dessa nova realidade econômica, os grupos
Ruptura (São Paulo) e Frente (Rio de Janeiro). Em São Paulo, o
grupo, de princípios mais ortodoxos foi formado por artistas liderados
por Waldemar Cordeiro. Dele fizeram parte Lothar Charoux, Geraldo
de Barros e Luis Sacilotto entre outros. O grupo Ruptura realizou
exposição no MAM/SP e redigiu manifesto onde afirmou seu conteúdo
objetivo. Como teóricos do grupo, encontramos os poetas Haroldo de
Pesquise... Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.
Movimento. Waldemar
Cordeiro. 1951. Waldemar Cordeiro (pintor, escultor, gravador, desenhista e ilustrador)
nos dá o exemplo desse vocabulário na obra Movimento, de 1951.

80
Saiba Mais
Cordeiro transformou cada obra sua em um manifesto, cada exposição em uma defesa
do concretismo e cada título de uma obra na ilustração de uma teoria.

A geometria presente na pintura, expressa em linhas de maior e menor tamanho e de


cores variadas. O artista conseguiu, através da dinâmica de prolongamentos e reduções,
passar a noção de movimento que o título explicita.

De certa forma, a sequência de linhas e cores se comporta como uma paisagem em


outro contingente de comunicação autor/espectador. Este (o espectador) deve avaliá-lo
simplesmente pela exatidão formal e pela plasticidade de seus elementos geométricos.

No Rio de Janeiro, em torno da figura de Ivan Serpa, reuniram-se


Abrahan Palatinik, Helio Oiticica, Lygia Pape, Mary Vieira, Aluizio
Carvão, Lygia Clark, Amilcar de Castro, Hercules Barsotti entre outros.

O Grupo Frente, entretanto, não tinha a mesma preocupação


formalista rigorosa do Grupo Ruptura e começou a cultivar
características próprias tendo como teórico o crítico e escritor Ferreira
Gullar. Desse momento temos a obra de Ivan Serpa Formas que foi Pesquise...
premiada na I Bienal de São Paulo, em 1951. Formas. Ivan Serpa.
1951.

Saiba Mais
Em 1951, Ivan Serpa fez a pintura construtiva Formas, onde demonstra seu interesse
crescente pela abstração geométrica. O contato com as obras de artistas concretos
como Sophie Tauber e Max Bill reforçou essa postura.

Com Formas, ele ganha o título de Melhor Pintor Jovem nessa primeira Bienal. Ele adere
ao concretismo e ao Grupo Frente no mesmo ano. Afinal, essa premiação correspondia à
aceitação oficial do vocabulário abstrato geométrico no país.

Na tela desaparecem referências ao mundo real, bem como a relação harmoniosa entre
figura e fundo. Formas circulares coloridas brincam com as cores neutras do fundo. É
apenas isso: formas, sem qualquer elemento emocional, feitas bidimensionalmente e
organizadas matematicamente.

Você Sabia?
●● O existencialismo é uma doutrina ético-filosófica e literária que destaca a liberdade
individual, do ser humano. Essa abordagem filosófica da vida considera cada homem
como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino. Ele afirma a
prioridade da existência sobre a essência. Existencialista é aquele que comunga
desse pensamento.

81
●● Na Action Painting, o trabalho é concebido como fruto de uma relação corporal do
artista com a pintura. Um resultado do encontro entre o gesto do autor e o material
utilizado. Ela descarta também a noção de composição, ancorada na identificação de
pontos focais na tela e de partes relacionadas.

●● A Teosofia é um corpo de conhecimento que sintetiza fiosofia, religião e ciência.


Tanto hoje como na antiguidade, a Teosofia se constitui na sabedoria universal e
eterna presente nas grandes religiões, filosofias e nas principais ciências da
humanidade. Só a emoção e o acaso têm significado.

●● Esoterismo é o nome genérico que designa um conjunto de tradições e


interpretações filosóficas de doutrinas e religiões. Ele busca desvendar o sentido
do oculto. Refere-se às doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem ou
não devem ser vulgarizados e permanecem restritos a um número de discípulos
escolhidos.

●● O Realismo Socialista diz respeito a uma arte imposta pelo Partido Comunista
russo e, teoricamente, feita para servir aos interesses do povo. Os temas desta
arte deveriam ser soviéticos: os feitos dos heróis militares e civis, cenas de uma
sociedade feliz e vitoriosa e imagens de seus líderes. Estes temas deveriam ser
expostos de forma acessível à compreensão das massas populares e servir, assim,
como veículo de doutrinação.

●● A Bauhaus, uma escola de artes alemã, foi criada em 1919. Ela traz em sua origem
seu perfil: articular arte e artesanato. Ao ideal do artista artesão defendido por Walter
Gropius, seu fundador, soma-se a defesa da complementaridade das diferentes artes
sob a égide do design e da arquitetura. O espírito que conduz o programa da escola
fala da ideia de que o aprendizado e o objetivo da arte ligam-se ao fazer artístico. A
Bauhaus teve várias sedes e, finalmente, foi fechada pelo nazismo.

●● A Bienal Internacional de São Paulo, foi criada pelo empresário Francisco


Matarazzo Sobrinho conhecido por Ciccillo Matarazzo, em 1951, quando aconteceu
a sua primeira versão. É a primeira exposição de Arte Moderna de grande porte
realizada fora dos centros culturais europeus e norte-americanos.

Saiba Mais
Vamos ler um livro básico para compreendermos a abstração. Trata-se de Do Espiritual
na Arte: e na pintura em particular, de Wassily Kandinsky, publicado pela editora Martins
Fontes, 2000.

Sobre os artistas citados


●● Wassily Kandinsky: Kandinsky nasceu em Moscou, Rússia,
em 1866 e faleceu na França em 1944. É considerado o pai da

82
pintura abstrata e durante toda a sua vida demonstrou interesse
nas Artes Visuais e música além de uma forte espiritualidade. Foi
um teórico publicando ensaios e livros. Estudou Direito e economia
na Universidade de Moscou antes de se decidir pela arte. Mudou-
se para a Alemanha e passou a estudar na Academia de Artes de
Munique. Em 1911 ele fundou o grupo vanguardista O Cavaleiro
Azul com o artista Franz Marc. Foi professor da Bauhaus até ela
ser fechada, em 1933, quando se exilou em Paris.

●● Mondrian: O artista nasceu em 1872, na Holanda, e faleceu em


Nova York em 1944. Após entrar em contato com a Teosofia ele
passou por um breve período simbolista caminhando depois para a
abstração. A partir de 1917 ele desenvolveu sua obra neoplástica,
caracterizada por pinturas cujas estruturas são definidas por linhas
pretas que definem espaços que se relacionam de diferentes
modos com os limites do suporte e que podem ou não serem
preenchidos com uma cor primária: amarelo, azul e vermelho.

●● Wols: O pintor alemão nasceu em Berlim em 1913 e faleceu em


Paris em 1951. Estudou com Mies Van der Rohe e se radicou
em Paris. Começou a pintar, e a ilustrar textos de Sartre e Kafka.
Depois de 1945, agrupou ao seu redor inúmeros pintores, de
tendência abstrata informal. Misturam-se em suas criações
elementos surrealistas, expressionistas e simbolistas.

●● Jean-Paul Sartre: Filósofo, escritor e crítico francês, nasceu em


Paris em 1905 e faleceu naquela cidade em 1980. Conhecido
representante do existencialismo ele acreditava que os intelectuais
têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista
militante, e apoiou causas políticas de esquerda.

●● Hans Hartung: Pintor alemão, nascido em 1904, faleceu em 1989.


Desenvolveu a gestualidade e a linguagem do inconsciente no
abstracionismo lírico ou informal. Estudou em academias de arte
de Leipzig e Dresden e, desde cedo, se mostrou comprometido
com a pintura não figurativa, com o gestualismo. Deixou uma obra
que demonstra uma liberdade interior cheia de intensidade gestual.

●● Henri Michaux: Naceu em Naumur, Bélgica, em 1899 e faleceu em


Paris em 1984. Foi escritor, poeta e pintor. Explorou o eu interior e
o sofrimento humano através de sonhos, fantasias e experiências
com drogas. Quando começou a pintar – tornou-se especialmente
interessado nos trabalhos de Paul Klee, Marx Ernest, Chirico e
Dali. Publicou os seus escritos em publicações de vanguarda.

83
●● Antoni Tàpies: Nascido em Barcelona, em 1923, Antoni Tàpies
é autodidata. Embora desde muito jovem demonstrasse interesse
pela arte, foi estimulado pela família a estudar Direito. Começou
a estudar a arte através de livros e revistas catalães do início dos
anos 30. Em 1946, alugou seu primeiro ateliê em Barcelona e
passou a dedicar-se à arte. Voltou-se para a literatura surrealista
de André Breton e para a pintura de Juan Miró – de quem se tornou
amigo para o resto da vida. Sua obra é considerada, em sua maior
parte, como pertencente ao informalismo.

●● Jackson Pollock: O artista nasceu em 1912 nos EUA e faleceu


naquele país em 1956. Expoente do Expressionismo Abstrato,
ele foi um dos primeiros americanos a ser equiparado, em vida,
aos mestres europeus modernos. Matriculou-se, após se mudar
para Nova York, na Art Students League. Desenvolveu uma
técnica de pintura, o ‘dripping’ (gotejamento), na qual respingava
a tinta sobre suas imensas telas. Os pingos escorriam formando
traços harmoniosos e pareciam entrelaçar-se na superfície da
tela. Desenvolveu também a Action Painting (pintura de ação),
colocando o corpo do artista em contato com a obra.

●● Arshile Gorky: Nasceu em 1904 no leste da Armênia e faleceu


em 1948. Foi um pintor expressionista ativo no século XX, nos
EUA. Em 1909 começou a desenhar e pintar. Em 1920 frequentou
a Technical High School de Providence. Depois estudou no New
School of Design, em Boston, Em 1925 mudou-se para Nova York,
adquirindo o seu primeiro atelier. Pintor abstrato, com paisagens
e retratos de inspiração cubista e surrealista, fez parte do
Expressionismo Abstrato americano.

●● Willem de Kooning: Nasceu em 1904 e faleceu em 1997. De


Kooning, artista do expressionismo abstrato, revolucionou a arte
norte-americana depois da Segunda Guerra Mundial. Suas obras
mais importantes, influenciadas pela Action Painting de Jackson
Pollock e de Arshile Gorky, são composições abstratas de grande
formato, em associações paisagísticas.

●● Manabu Mabe: O artista nasceu em Kumamoto, Japão, em 1924


e faleceu em São Paulo, Brasil, em 1997. Foi pintor, gravador,
ilustrador. De Kobe, Japão, emigrou com a família para o Brasil em
1934, para dedicar-se ao trabalho na lavoura de café no interior
do Estado de São Paulo. Interessado em pintura, começou a
pesquisar, como autodidata, em revistas japonesas e livros sobre
arte. Em 1945, na cidade de Lins, aprendeu a preparar a tela e a

84
diluir tintas com o pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka. Em 1957
vendeu seu cafezal em Lins e mudou-se para São Paulo para
dedicar-se exclusivamente à pintura. No ano seguinte, recebeu o
Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Daí por diante tornou-se
um dos maiores pintores abstratos líricos que trabalharam no país.

●● Tomie Ohtake: A artista nasceu em Kyoto, Japão, 1913. Pintora,


gravadora e escultora. Veio para o Brasil em 1936, fixando-se em
São Paulo. Em 1952, iniciou-se em pintura com o artista Keisuke
Sugano. Após um breve período figurativo ela definiu-se pela
abstração. Surgiram em suas obras formas orgânicas e sugestão
de paisagens numa gama cromática intensa e contrastante.
Dedicou-se também à escultura. Em 2000, foi criado o Instituto
Tomie Ohtake, em São Paulo.

●● Antônio Bandeira: Antônio Bandeira nasceu em Fortaleza, Ceará,


em 1922, e faleceu em París, em 1967. Bem cedo percebeu-se o
talento de Bandeira. Saiu de Fortaleza para o Rio onde ganhou
uma bolsa de estudos para Paris. Em 1946, viajou para aquela
cidade, matriculando-se na Escola Superior de Belas Artes e,
posteriormente, na Academia da Grande Chaumière. Pouco afeito
à disciplina, com ideias próprias que ele tencionava desenvolver,
rompeu com o ensino tradicional, juntando-se a Wols um artista
expressionista com inclinação para a abstração. Desenvolveu um
abstracionismo lírico, informal, sendo um dos artistas brasileiros
pioneiros nesta linguagem.

●● Jorge Guinle Filho: O artista nasceu em Nova York, Estados


Unidos, em 1947 e faleceu naquele país em 1987. Pintor,
desenhista e gravador. Mudou-se com a família para o Brasil ainda
no ano do seu nascimento e permaneceu no Rio de Janeiro até
1955. A partir desse ano até 1962, acompanhando a mãe, morou
em Paris e, em seguida, em Nova York, onde residiu até 1965.
Na França, em paralelo a sua formação regular, iniciou, como
autodidata, estudos de pintura e frequentou museus e galerias de
arte, prática que manteve quando se transfere para os Estados
Unidos. Foi influenciado, de forma especial, pelas obras do pintor
francês Henri Matisse, pela Action Painting e pela Pop Art. Seu
trabalho ganha repercussão na década de 1980. A produção do
artista foi dedicada, sobretudo, à pintura: vigorosa e expressionista.

●● Kasimir Malievitch: O pintor (e projetista) russo nasceu em 1878


e faleceu em 1935. É reconhecido como um dos precursores da
arte abstrata geométrica. Estudou pintura em Kiev, cidade onde

85
nasceu. Inaugurou em 1913 o movimento Suprematista. Ele
acreditava que a arte não deveria estar ligada a qualquer função
social, mas à espiritualidade do homem.

●● Piotr Demianovitch Ouspensky: Nasceu em Moscou em 1878 e


faleceu em Londres em 1947. Foi filósofo, psicólogo e envolvido
com o esoterismo. Seus trabalhos se concentraram na discussão
da existência de dimensões mais elevadas que a terceira, a partir
de análises tanto do ponto de vista geométrico quanto psicológico.

●● Lyubov Popova: A artista nasceu em 1889 e faleceu em 1924. Foi


uma vanguardista russa (pintor e design) ligada ao Suprematismo.
Ela cresceu com um forte interesse na arte, especialmente pintura.
Aos onze anos de idade, começou a ter aulas em casa. Com
18 anos ela foi estudar com Stanislav Zhukovsky. Ligou-se ao
Suprematismo a partir de uma experiência cubista.

●● Olga Vladimirovna Rosanova: Nasceu na Rússia em 1886


e faleceu também naquele país em 1918. Foi uma artista
suprematista. Nasceu em Melenki, uma pequena cidade russa.
Partiu para Moscou para estudar artes plásticas. Em 1916 se liga
ao movimento liderado por Kasimir Malievitch.

●● Vladimir Tatlin: O artista russo nasceu em Moscou em 1885


e lá faleceu em 1953. Foi o primeiro teórico do Construtivismo.
Acreditava que a arte deveria servir à sociedade. Com a Revolução
Soviética ele trabalhou junto com seu grupo para o partido até
que, com o stalinismo, a proposta do grupo do qual fazia parte
foi considerada de linguagem hermética, para os propósitos do
regime, e substituída pelo realismo Socialista. Trabalhou como
arquiteto e pintor, mas a maioria de suas grandes propostas não
saiu da prancheta por conta da situação técnica e econômica da
Rússia pós-revolução.

●● Naum Gabo: O artista nasceu em 1890, na Rússia, e morreu


nos EUA em 1977. Escultor construtivista ele foi mais conhecido
pelo uso que fez de materiais transparentes como o plástico. Uma
inovação na década de 20. Criou também esculturas cinéticas
sendo mais uma vez um pioneiro. Em 1922, quando o regime
autoritário da União Soviética condenou o Construtivismo ele fugiu
para Berlim. Seus princípios influenciaram o De Stijl e a Bauhaus.

●● Antoine Pevsner: O artista nasceu em 1886 e faleceu em Paris


em 1962. Escultor russo construtivista foi considerado um pioneiro
da escultura abstrata juntamente com Gabo seu compatriota.

86
Como Gabo, ele também saiu da Rússia e passou a influenciar as
vanguardas europeias.

●● Alexander Rodtchenko: Foi um dos mais ecléticos artistas que


surgiram na Rússia pós-revolucionária. Nasceu em 1891 e faleceu
em 1956. Expoente da fotografia, da pintura, do design e do
desenho publicitário ele fundou, com Tatlin, o Construtivismo.

●● El Lissitski: Foi uma figura importante no panorama da arte


russa na modernidade. Nasceu em 1890 e faleceu em 1941.
Multidisciplinar, ele foi fotógrafo, designer e arquiteto. Depois de
uma fase suprematista ele aderiu ao Construtivismo e produziu
cartazes de propaganda para o regime comunista. Ele acreditava
que o artista poderia ser um agente de mudança social.

●● Theo van Doesburg: Nasceu na Holanda em 1883 e faleceu na


Suiça em 1931. Foi um pintor, arquiteto, teórico e designer. Foi um
dos fundadores do Neoplasticismo Holandês (De Stjil). Foi também
professor da Bauhaus. A revista De Stijl foi uma publicação iniciada
por ele em 1927.

●● Georges Vantongerloo: Nasceu em 1886 na Antuérpia e faleceu


em 1965 em Paris. Foi um escultor abstrato belga e um dos
fundadores do De Stjil. De 1905 a 1909 Vantongerloo estudou na
Academia de Belas Artes em Antuérpia. Durante 1916 ele conheceu
Theo Van Doesburg e no ano seguinte, ele foi co-signatário do
primeiro manifesto do grupo.

●● Bart van der Leck: Nasceu na Holanda em 1876 e morreu em


1958 naquele país. Foi pintor, desenhista e ceramista. Com
Van Doesburg e Piet Mondrian fundou o Neoplasticismo. Seu
estilo abstrato e marcou suas realizações em todos os campos
multidisciplinares onde atuou como artista.

●● Pieter Oud: O arquiteto holandês nasceu em 1890 e faleceu em


1963. Como um jovem arquiteto, ele foi influenciado por Berlage
e estudou com Fischer em Munique por um tempo. Conheceu
Van Doesburg e se envolveu com o movimento neoplasticista. Ele
trabalhou principalmente em projetos residenciais socialmente
progressistas de construção de baixo custo em relação às
necessidades psicológicas e expectativas estéticas dos usuários.

●● Gerrit Thomas Rietveld: Nasceu na Holanda em 1888 e ali faleceu


em 1964. Foi um arquiteto e designer. Ainda estudante, Rietveld
trabalhava com marcenaria e produção de mobiliário. Em 1917,
influenciado pelo Neoplasticismo, desenhou a Cadeira Vermelha

87
e azul. Foi um membro importante do movimento, contribuindo
para a revista De Stjil. Em 1924 projetou a Residência Schröder,
localizada em sua cidade natal – um marco da arquitetura moderna.

●● Max Bill: O artista suiço nasceu em 1908 e faleceu em 1994.


Foi muitidisciplinar: arquiteto, pintor, designer, escultor professor
e teórico. Tendo uma atuação especial na área de educação do
design. Sua atuação como professor na Escola de Ulm influenciou
a Escola Superior de Desenho Industrial, no Brasil. Cursou a
Arts and Crafts Academy de Zurique e a Bauhaus do qual foi um
seguidor em termos de princípios. Abraçou o conceito universalista
de Arte Concreta de Van Doesburg. Influenciou a introdução do
Concretismono Brasil.

●● Waldemar Cordeiro: Nasceu em 1925 e faleceu em 1976. Artista


visual, designer, paisagista e crítico de arte, Cordeiro estudou na
Academia de Belas-Artes de Roma. Em 1948, veio para o Brasil,
fixando-se em São Paulo. Foi um dos precursores da Arte Concreta
no Brasil e seu teórico em São Paulo. Em 1952, organizou o Grupo
Ruptura. Dirigiu a primeira pesquisa em computador no Brasil, em
1968, à frente de uma equipe de matemáticos, físicos, artistas e
engenheiros, utilizando-se de meios eletrônicos para programação
de arte.

●● Lothar Charoux: Pintor e desenhista, nascido em Viena, Áustria,


em 1912. Morre em 1987 em São Paulo, Brasil. Mudou-se jovem
para o Brasil, fixando-se em São Paulo. A partir de 1940, estudou
no Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo. Em 1948 faz seus
primeiros desenhos com uma composição geométrica rigorosa.
Participou da fundação do Grupo Ruptura e da I Exposição
Nacional de Arte Concreta, no MAM-SP.

●● Geraldo de Barros: Nasceu em 1928 em São Paulo, Brasil, e


lá faleceu em 1998. Fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico,
designer de móveis e desenhista, ele estudou pintura, a partir de
1945. Em 1951, com bolsa do governo francês foi para Paris, onde
estudou na École National Superiéure des Beaux-Arts. Frequentou
a escola de Ulm na Alemanha e conhece Max Bill. Participou do
Grupo Ruptura. É um dos referenciais do concretismo no Brasil.

●● Luis Sacilotto: O artista é considerado uma das maipres


expressões do concretismo no Brasil. Nasceu em Santo André,
São Paulo, em 1924 e faleceu em São Bernardo do Campo
em 2003. Foi pintor, escultor e desenhista. Os contatos com o
Construtivismo encaminharam-no rumo à abstração construída

88
com princípios geométricos. Faz parte do Grupo Ruptura e
participou da I Exposição Nacional de Arte Concreta no MAM-SP,
MEC-Rio de Janeiro.

●● Ivan Serpa: O artista nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu


naquela cidade brasileira em 1973. Pintor, gravador, desenhista
e professor. Ele estudou pintura, gravura e desenho no Rio de
Janeiro. Em 1949, ministrou suas primeiras aulas no MAM/RJ. Em
1954 ao lado de Ferreira Gullar e Mário Pedrosa, criou o Grupo
Frente de tendências abstratas concretistas, mas sem a ortodoxia
do Grupo Ruptura, paulista.

●● Abrahan Palatinik: Abraham Palatnik nasceu em Natal, Rio


Grande do Norte em 1928. É um artista cinético, pintor e
desenhista. Em 1932, mudou-se com a família para a região onde,
atualmente, se localiza o Estado de Israel. Estudou em Tel Aviv. O
contato com os artistas concretistas e com o teórico Mário Pedrosa
fez Palatnik romper com os critérios convencionais de composição,
abandonar o pincel e o estilo figurativo e partir para relações mais
livres entre forma e cor. Por volta de 1949, inicia estudos no campo
da luz e do movimento, que resultaram no Aparelho Cinecromático,
exposto, em 1951, na I Bienal Internacional de São Paulo onde
recebe menção honrosa. Em 1954, integra o Grupo Frente. É um
dos poucos artistas cinéticos brasileiros.

●● Helio Oiticica: Hélio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e


faleceu naquela cidade em 1980. Foi um artista performático, pintor
e escultor. Participou do Grupo Frente em 1955 e 1956 e, em 1959,
passou a integrar o Grupo Neoconcreto, que revia as posturas
concretas ortodoxas. Abandonou os trabalhos bidimensionais
e cria relevos espaciais, bólides, capas, estandartes, tendas e
penetráveis. Em 1964, começou a fazer Manifestações Ambientais.
Na abertura da mostra Opinião 65. Trabalhou toda sua vida na
experimentação e na teoria das Artes Visuais.

●● Lygia Pape: A artista carioca nasceu em 1927 e faleceu em 2004.


Escultora, gravadora e cineasta. Aproxima-se do Concretismo
e, em 1957, depois de integrar-se ao Grupo Frente, foi uma das
signatárias do Manifesto Neoconcreto. Multidisciplinar, a artista
trabalhou em várias áreas e inclusive concebe com o poeta
Reynaldo Jardim o Balé Neoconcreto I, apresentado no Teatro
Copacabana.

●● Mary Vieira: A artista nasceu em São Paulo em 1927 e faleceu


na Suíça em 2001. Escultora e professora, ela estudou desenho e

89
pintura com Guignard na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte.
Estudou escultura com Weissmann e Amilcar de Castro. Realiza
pesquisas sobre o movimento e a dinâmica das formas e produz,
em 1948, suas primeiras esculturas eletromecânicas. Fez parte do
Grupo Frente. Mudou-se, em 1951, para a Suíça, onde realizou
curso de aperfeiçoamento com Max Bill. A partir de 1966, tornou-se
professora da Escola Superior de Arte, Técnicas de Planejamento
Gráfico e Desenho Industrial, da Universidade da Basileia, Suíça.

●● Aluisio Carvão: O artista nasceu em Belém, Pará, em 1920 e


morreu em Minas Gerais em 2001. Pintor, escultor, ilustrador, ator,
cenógrafo, professor. Iniciou sua atividade artística como ilustrador,
no Pará. Atuou também como escultor e cenógrafo. Passou a
dedicar-se à pintura em 1946. Mudou-se para o Rio de Janeiro.
Ingressou no curso livre de pintura de Ivan Serpa e integrou o
Grupo Frente.

●● Lygia Clark: A artista nasceu em Minas Gerais em 1920 e faleceu


em 1988 no Rio de Janeiro. Foi pintora e escultora. Iniciou seus
estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação
de Burle Marx. Foi para Paris onde estudou com Arpad Szènes e
Leger. Foi uma das fundadoras do Grupo Frente.

●● Amilcar de Castro: Nasceu em Minas Gerais em 1920 e morreu


em Belo Horizonte em 2002. Foi um escultor de linguagem
abstrata. Participou do Grupo Neoconcreto no Rio de Janeiro e
como programador visual elaborou a reforma gráfica do Jornal do
Brasil.

●● Hercules Barsotti: Nasceu em São Paulo em 1914 e faleceu


naquela cidade em 2010. Pintor, desenhista, programador visual,
gravador. Iniciou sua formação artística em 1926 e começou a
pintar em 1940. Na década seguinte, realizou as primeiras pinturas
concretas, além de trabalhar como desenhista têxtil e projetar
figurino para o teatro. Viajou a estudo para a Europa em 1958, onde
conheceu Max Bill, teórico do concretismo. Na década de 1960, foi
convidado por Ferreira Gullar integra-se ao Grupo Neoconcreto.

Revisão
Arte abstrata é uma forma de expressão que não busca referências no mundo que
está ao nosso redor. São obras que não têm como objetivo a representação de formas
reconhecíveis. A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se
inclina para a emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky foi o pioneiro dessa

90
forma de abstração. A proposta abstracionista pode ser dividida em duas tendências: o
abstracionismo informal (lírico) e o geométrico, ou seja: a abstração formal.

O abstracionismo informal (ou lírico) baseia-se na emoção, na espontaneidade e na


expressão das formas, cores ou linhas representadas. Já para compreendermos o
abstracionismo formal (ou geométrico) vamos ter que partir do princípio de que as formas
e as cores devem ser organizadas de tal maneira que a composição resultante seja
apenas a expressão de uma concepção geométrica: uma construção.

Muitos são os artistas e grupos que se envolveram com os dois tios de representação
abstrata. Arte Informal e Expressionismo Abstrato são dois momentos dessa informalidade
na abstração. Já o Suprematismo Russo, o Construtivismo, o Neoplasticismo Holandês
e o Concretismo representam a razão abstrata embasada na geometria. No Brasil temos
representantes das duas tendências, mas só o Concretismo teve grupos organizados.

Atividades
Construa um texto breve sobre um dos momentos da abstração que mais o(a) fascinou e
tente expressar isso fazendo uma pintura, um objeto, uma escultura que reforce as suas
ideias sobre o assunto.

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Referências
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Civilização Brasileira, 1970.

COLI, JORGE. O que é Arte. São Paulo: Editora Brasiliense,


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Editora, 1997.

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Sobre a Autora

Madalena Zaccara
Madalena Zaccara possui graduação em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), bacharelado
em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
mestrado (DEA) em História e Civilizações - Université Toulouse
II, Toulouse, França e doutorado em História da Arte - Université
Toulouse II, também em Toulouse, França, como bolsista Capes.
Tem pós-doutorado pela Escola de Belas Artes da Universidade
de Porto, Portugal, também como bolsista Capes. Atualmente é
professor associado III da Universidade Federal de Pernambuco.
Ensina no Programa Interinstitucional de Pós-graduação em Artes
Visuais UFPE-UFPB. Lidera o grupo de pesquisa cadastrado no
CNPq intitulado “Arte, Cultura e Memória” que se volta para a
pesquisa da História e Teoria das Artes Visuais no Brasil com ênfase
para o Nordeste. Atua principalmente nos seguintes temas: História
da Arte e Crítica de Arte. É membro da Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP), da FAEB (Federação dos
Arte Educadores Brasileiros) e do Instituto de Investigação em Arte,
Design e Sociedade I2ADS (Porto, Portugal). É representante regional
da ANPAP-Pernambuco (Associação Nacional dos Pesquisadores
de Artes Plásticas). Tem vários livros, capítulos de livros e artigos
publicados. Endereço eletrônico: madazaccara@gmail.com

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