Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasileira
Material Teórico
A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Revisão Textual:
Profa. Ms. Natalia Conti
A Arte Contemporânea – Das Novas
Possibilidades ao Futuro
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os elementos sociais e estéticos que levaram às rupturas
formais e conceituais da arte brasileira.
· Visualizar os movimentos artísticos e poéticos individuais do pós-
guerra ao final do século XX.
· Conhecer as novas linguagens, procedimentos e conceitos artísticos
da atualidade.
· Valorizar os novos artistas e propostas artísticas como reflexo de um
novo momento histórico e como referência do porvir.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
8
O manifesto neoconcreto, redigido por Ferreira Gullar e assinado por diversos artistas, foi
Explor
publicado pelo Jornal do Brasil, no antigo Suplemento dominical, em março de 1959. Serviu
como abertura da 1ª Exposição de Arte Neoconcreta, no MAM/RJ. Seguem alguns trechos:
A expressão neoconcreto é uma tomada de posição em face da arte não-
figurativa “geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, Escola
de Ulm) e particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa
exacerbação racionalista. (...)
Propomos uma reinterpretação do neoplasticismo, do construtivismo e dos
demais movimentos afins, na base de suas conquistas de expressão e dando
prevalência à obra sobre a teoria. Se pretendermos entender a pintura de
Mondrian pelas suas teorias, seremos obrigados a escolher entre as duas. Ou
bem a profecia de uma total integração da arte na vida cotidiana parece-nos
possível e vemos na obra de Mondrian os primeiros passos nesse sentido ou essa
integração nos parece cada vez mais remota e a sua obra se nos mostra frustrada.
Ou bem a vertical e a horizontal são mesmo os ritmos fundamentais do universo
e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é
falho e sua obra se revela fundada sobre uma ilusão. Mas a verdade é que a
obra de Mondrian aí está, viva e fecunda, acima dessas contradições teóricas. De
nada nos servirá ver em Mondrian o destrutor da superfície, do plano e da linha,
se não atentamos para o novo espaço que essa destruição construiu. (...)
O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade
do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica, nega a
validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e repõe o problema da
expressão, incorporando as novas dimensões “verbais” criadas pela arte não-
figurativa construtiva. O racionalismo rouba à arte toda a autonomia e substitui
as qualidades intransferíveis da obra de arte por noções da objetividade
científica: assim os conceitos de forma, espaço, tempo, estrutura - que na
linguagem das artes estão ligados a uma significação existencial, emotiva,
afetiva - são confundidos com a aplicação teórica que deles faz a ciência. Na
verdade, em nome de preconceitos que hoje a filosofia denuncia (M. Merleau-
Ponty, E. Cassirer, S. Langer) - e que ruem em todos os campos, a começar
pela biologia moderna, que supera o mecanismo pavloviano - os concretos
racionalistas ainda veem o homem como uma máquina entre máquinas e
procuram limitar a arte à expressão dessa realidade teórica. (...)
É assim que, na pintura como na poesia, na prosa como na escultura e na
gravura, a arte neoconcreta reafirma a independência da criação artística em
face do conhecimento prático (moral, política, indústria etc). Os participantes
desta I Exposição Neoconcreta não constituem um “grupo”. Não os ligam
princípios dogmáticos. A afinidade evidente das pesquisas que realizam em
vários campos os aproximou e os reuniu aqui. O compromisso que os prende,
prende-os primeiramente cada um à sua experiência, e eles estarão juntos
enquanto dure a afinidade profunda que os aproximou.
(Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann,
Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim, Theon Spanúdis)
9
9
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 1 – AMILCAR DE CASTRO. Carranca. 1970, aço corten. 195 x 200 cm.
Coleção MAM – SP
Fonte: mam.org.br
Uma das fundadoras do Grupo Frente, Lygia Clark está entre as artistas que
mais longe chegam à questão experimental (chegando à terapêutica e fim do limite
entre arte e vida nas décadas de 70 e 80). Das experiências de suas Superfícies
Moduladas (fig. 27, do capítulo V), nas quais a artista rompe com a moldura e “cria”
um espaço que participa da realidade, Lygia Clark produz a série Bichos (fig. 2),
nos anos 60. É um novo olhar sobre a figura do espectador, que agora é convidado
a participar da obra: os Bichos são esculturas, feitas de placas de alumínio com
dobradiças entre si, que possibilitam novas formas através da manipulação das
placas. Uma escultura, passível de transformação visual, com a participação ativa
do público já sugere o que virá desta artista.
10
Figura 2 – LYGIA CLARK, Bicho: caranguejo duplo. 1960. alumínio, 59x53.
Coleção Pinacoteca do Estado. SP
Fonte: pinacoteca.org.br
Explor
Figura 3 – LYGIA PAPE. Livro da Criação. 1959. Guache s/ papelão. 30,5 x 30,5 cada folha.
Coleção Museu Reina Sofia, Madri. Coleção Inhotim, Brumadinho. MG
Fonte: museoreinasofia.es
11
11
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 5 – MANABU MABE. Sem título. 1958, laca sobre Duratex. 50 x 61 cm. Coleção Banco Itaú
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br
12
Figura 6 – TOMIE OHTAKE. Sem título. 1967, óleo sobre tela, 135,1 x 100,2 cm.
Coleção Museu de Arte Moderna de São Paulo. Coleção Banco Itaú
Fonte: mam.org.br
Action painting: ponto máximo do expressionismo abstrato que também reúne a influência
Explor
13
13
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 7 – CARLOS FAJARDO. Sem título (série Fórmicas). 1969, fórmica, 70 x 220 cm. Coleção Particular de Dudi
Maia Rosa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br
Minimal art: tendência artística que se opõe ao expressionismo abstrato, buscando uma sín-
Explor
14
Figura 8 – DANIEL SENISE. Sem título. 1985, acrílica sobre tela, 230 x 190 cm
Fonte: danielsenise.com
Em 1985, a XVIII Bienal Internacional de São Paulo apresentou uma polêmica exposição de
Explor
15
15
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Wesley Duke Lee aproxima-se da Pop Art, mas a supera, assim como toda
uma geração de artistas brasileiros. Lee faz, em 1963, o considerado primeiro
happening no João Sebastião Bar. Em um ambiente escuro, as pessoas olhavam
os desenhos (série Ligas, de forte comoção erótica) com o auxílio de lanternas,
da tela em que era exibindo um filme de uma atriz, irrompe a mesma atriz fazen-
do um streap-tease.
A Pop Art foi a tendência mais forte dos anos 60 no Brasil. Resgatou mitos
cotidianos e, assim, a simples Lindoneia – jovem suburbana retratada por
Rubens Gershman na obra A Bela Lindoneia ou A Gioconda do Subúrbio (fig.
9), de 1966. Mais objeto do que quadro, apresenta um retrato ao centro de um
espelho coberto por vidro jateado de relevos que lembram cristaleiras antigas. Traz
como um enunciado ou: Um amor impossível. A bela Lindoneia de 18 anos
morreu instantaneamente. Se a Pop Art eterniza mitos da cultura de massa, aqui
Gershman coloca em vitrine a infelicidade suburbana.
Figura 9 – RUBENS GERSHMAN. A Bela Lindoneia ou A Gioconda do Subúrbio. 1966, acrílica, vidro bisotê e
colagem sobre madeira, 90.00 x 90.00 cm. Acervo Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM RJ In: ENCICLOPÉDIA
Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br
16
A Pop Art brasileira se redefine e vai além da Americana. A análise é precisa
em Paula Braga:
Para quem lê a arte pop norte-americana como um cínico
concluio com a cultura do consumo, é bastante fácil salientar a
especificidade da linguagem pop desenvolvida no Brasil: aqui a
crítica é quase sempre mordaz, aberta, claramente negativista.
(...) A Pop norte-americana é, no entanto, apesar de sua aparente
superficialidade, uma dolorosa constatação de um vazio intolerável
(...). A Nova Figuração de certa forma é então mais pop do que o
Pop, pois é intelectualmente acessível, rápida e direta (...). (BRAGA;
BARCINSKY, 2015. P. 308)
17
17
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 11 – HÉLIO OITICICA. Parangolé (em performance com passista Nilo da Mangueira)
Fonte: OITICICA, Helio
18
Figura 12 – ARTUR BARRIO, Situação T/T,1 (1ª, 2ª, 3ª partes) ou 140 movimentos. 1970,
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017
Fonte: enciclopedia2017.i-nove.org
Figura 13 – LYGIA PAPE. Caixa de Baratas. 1967, técnica mista. Coleção da artista.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017
Fonte: enciclopedia2017.i-nove.org
19
19
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 14 – LYGIA CLARCK. Água e conchas (Objetos relacionais). 1966, técnica mista, 40 x 20 cm
Fonte: lygiaclark.org.br
E, finalmente, a obra Tropicália (fig. 15), que pode ser descrita como um am-
biente labiríntico que convida a ser percorrido, sentido e ouvido. Areia, araras,
plantas, chita estampada, poemas-objetos e finalmente, um aparelho de televisão.
Dois penetráveis do artista compunham a obra: Imagético e A pureza é um mito
e o artista quis efetivamente descondicionar o imaginário sobre um país dos tró-
picos. Meses depois, Caetano Veloso utiliza o nome para uma música e o termo
tropicalismo torna-se emblema da época.
Figura 15 – HÉLIO OITICICA. Tropicália. 1967, plantas, areia, pedras, araras, aparelho
de televisão, tecido e madeira. Acervo Projeto Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, RJ)
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br
20
Explor
“Sempre em frente - Lygia Clark”: https://goo.gl/HPBZLq
21
21
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 17 – HENRIQUE OLIVEIRA. Transarquitetônica. 2014, madeira, tijolos, taipa, PVC e múltiplos materiais.
5x18x73 metros. Coleção Museu de Arte contemporânea. São Paulo, SP
Fonte: henriqueoliveira.com
22
Figura 18 – TUNGA. Lézart. 1989, cobre, aço e ímã. Coleção Inhotim, brumadinho, MG
Fonte: inhotim.org.br
23
23
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 20 – ALEXANDRE ORION. Ossário 2006. 360 metros de extensão. Túnel Max Feffer. São Paulo. Brasil
Fonte: alexandreorion.com
Explor
24
Explor
Intervenção: procedimentos ou projetos artísticos que acontecem fora de locais tradicionais
de arte, criando um elemento de surpresa ou interferência cotidiana no público.
Site-specific: obra produzida em local específico, em ambiente determinado e determinante
ao seu resultado. O diálogo é feito entre o espaço e a obra final.
Graffiti: manifestação de arte de rua, intervenção urbana feita normalmente em muros
usando pintura.
25
25
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Figura 22 – COLETIVO COLETORES. Graffiti, Light Painting. Praça Wi-Fi Vila Mara
Fonte: Coletivo Coletores
Explor
26
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Arte do século XX e XXI
Navegue pela arte do século XX e XXI em templates elaborados por uma equipe de
bolsistas da FAPESP ligados ao Museu de Arte contemporânea de São Paulo
https://goo.gl/bG2r4
Visite
Inhotim, em Brumadinho, MG
www.inhotim.org.br
Museu de Arte Contemporânea da USP, em são Paulo – SP
www.mac.usp.br
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em Niterói, RJ
http://culturaniteroi.com.br/macniteroi/
Museu de Arte Moderna, em são Paulo-SP
http://mam.org.br
Instituto Itaú Cultural
www.itaucultural.org.br/
27
27
UNIDADE A Arte Contemporânea – Das Novas Possibilidades ao Futuro
Referências
BARCINSKI, Fabiana Werneck. Sobre a Arte Brasileira. São Paulo: Martins
Fontes, 2015
GONÇALVES, Lisbeth Rebollo (org.). Arte brasileira no século XX. São Paulo:
ABCA: MAC USP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
28