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SÃO PAULO
2018
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SÃO PAULO
2018
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RESUMO: A presente pesquisa trata de retratar a arte mural nas ruas de São
Paulo, tendo como foco de estudo as obras do artista Eduardo Kobra, mostrando a
importância que esse estilo artístico agrega à sociedade, visto se tratar de um estilo
que não está restrito ao ambiente de um museu e também identificar as motivações
do artista pela escolha da arte muralista e fazer uma breve análise da repercussão
que as obras do autor exercem no contexto cultural e social.
ABSTRACT: The present research tries to portray the mural art in the streets of
São Paulo, having as a study focus the works of the artist Eduardo Kobra, showing
the importance that this artistic style adds to the society, since it is a style that is not
restricted to the environment of a museum and also to identify the motivations of the
artist for the choice of mural art and to make a brief analysis of the repercussion that
the works of the author exert in the cultural and social context.
INTRODUÇÃO
ASPECTOS CONCEITUAIS
CONTEXTO HISTÓRICO
A arte mural foi concebida com o entendimento de que deveria ser disponível
a todos, exposta em locais abertos para que todos tivessem acesso a ela,
independentemente de classe social. Nessa perspectiva, podemos considerá-la
como Arte Pública, na conotação de que “público” está relacionado a um espaço
onde todos podem estar juntos compartilhando experiências (AREND, 2010, p. 51-
60). Sua característica principal é necessidade de se levar a arte para além das
estruturas dos museus, onde pudesse estar exposta a céu aberto, em muros e
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fachadas de prédio. Ela é uma pintura que está diretamente vinculada à arquitetura,
já que é realizada nas ruas das cidades, que se tornam galerias de arte ao ar livre.
Ao longo da História, a arte tem sido utilizada pelo homem como forma de
linguagem e de expressão, inclusive como forma de expressar ideais filosóficos,
políticios e sociais.
Existe um diálogo nesse tipo de arte com o público que a vê, geralmente
representando momentos e fatos significativos na história da cidade e da cultura
dessa região. Um lembrete daquilo que deveríamos estar conscientes, mas que no
decorrer da evolução da sociedade se perdeu no esquecimento. São um farol
indicando o árduo caminho percorrido para chegarmos nesse momento presente,
todas as lutas e conquistas sociais, ou até mesmo derrotas que não tiveram
qualquer fruto no descaso com a situação vivenciada. É uma forma de comunicação
totalmente voltada a um número bem maior de pessoas, interligando a arte e seu
público.
[...] ao dialogar com o espaço, passamos da simples exposição ao
integrar o conjunto das emoções presentes no espaço urbano, seja
uma manifestação política, um encontro de amigos, o brincar na
praça, o caminhar, o festejar. O artista se funde como luz, imagens,
ruínas, natureza, viabilizando um diálogo interativo e plural com o
público. Há um envolvimento com o entorno, um respeito à demanda
local, ao mesmo tempo em que a obra criada tem uma força de
comunicação universal. (SILVA, 2005, p.30).
A arte mural busca através da arte expressar uma reflexão crítica, social e
política e também por ser pública oferece às pessoas a oportunidade de aumentar
sua percepção estética e cultural, sendo uma forma de expressão que interage com
o espectador. Sant’Anna (2009) descreve que “a arte representa a memória cultural
das cidades”.
Para Klintowitz (1988), “[...] o mural pode ser entendido, em sua trajetória,
como o registro da vida, como uma exposição de caráter didático, como cenário
sacro de experiências transcendentais [...]”.
Se formos analisar o contexto histórico das pinturas pictóricas em seus
primórdios, como a pintura rupestre, ela também tinha um sentido de informação e
de expressão de sentimentos e desejos, eram uma forma de comunicação. Eram
pintadas nas paredes das cavernas, já que naquela época o ambiente protegido
servia como moradia ou descanso em suas andanças. Assim surgiu a arte de se
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trabalhar sobre paredes, deixando impresso nela traços que se perpetuaram pelo
tempo.
A pintura mural tem por característica ser executada de forma a que tenha
maior durabilidade, utilizando materiais que não se deteriorem com o tempo como,
por exemplo, o cimento ou cerâmica de alta queima para murais externos, ou no
caso de projetos internos, a madeira ou tela forte.
Bonomi (2007) se refere a esse fator em sua tese de mestrado na USP como
“[...] ele se torna referência: não pode ser frívolo [...] é um referencial fixo, local de
alguma certeza, apesar do tumulto geral que é a cidade”.
Existem indicações da passagem de diversos povos da antiguidade por
cavernas pré-históricas e em ruínas, como na China, Mesopotâmia e Índia, as quais
demonstram que conforme o progresso tecnológico avançava as técnicas de pintura
também variavam conforme a característica de cada povo e cultura.
Foram diversas as técnicas empregadas, desde pigmentos naturais nas
pinturas nas cavernas, os afrescos pelos povos egípcios, romanos e medievais da
Itália, bem como a têmpera (gema do ovo e pigmento) e a encáustica (cera de
abelha quente e pigmento). Utilizaram também a técnica do mosaico e da cerâmica
de alta queima no decorrer do tempo, conforme adquiriam conhecimento de
materiais diversos.
Historicamente, podemos verificar que egípcios, romanos, góticos e
renascentistas a utilizaram de diversas formas e com diversos materiais, a fim de
cobrirem suas edificações, com o intuito de afirmar seu poder político ou para
assegurar suas crenças ou até como força na revolução, como foi o marco dos
murais mexicanos.
Como diz Klintowitz (1988, p.180), [...] “a tradição brasileira, ainda que
repensada em razão das novas funções do mural e das cidades, está mantida esta
tradição de nossa arte, extensiva aos murais, é de ser memorialística, emocional ou
descritiva [...]”.
No Brasil, na segunda metade do séc. XX eclodiu uma série de manifestações
populares nas ruas, desde a música, a dança e o grafite. Esse último possibilitou
uma ligação maior com a população gerando um maior sincretismo cultural.
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EDUARDO KOBRA
plataformas para seu desenho, como a calçada, uma tela, lona de caminhão ou até
mesmo objetos, tais como uma geladeira, um carro, seja com pincel ou aerógrafo.
Nenhuma superfície, tamanho ou forma poderia deter seu desenho, que evoluía à
medida que seu trabalho se tornava notório. Aos 27 anos Kobra entrou pela primeira
vez em uma galeria de arte. Ele nunca imaginou que alguém pudesse pagar pelo o
que fazia.
Em 1995 abre seu estúdio, o Studio Kobra, onde passou a recrutar, ensinar e
trabalhar com outros artistas. Artistas que tiveram uma vida simples como Kobra ou
que enfrentaram dificuldades e carências; até ex-presidiários receberam uma nova
chance através da arte. Mas segundo Kobra, “Ninguém entra para o Studio Kobra
simplesmente porque foi bonzinho. Pelo contrário, entram porque são ótimos artistas
e em muitos aspectos sabem mais que eu, contribuindo demais para os trabalhos.”
Em certo momento seu trabalho cai nas graças do arquiteto Sig Bergamin,
reconhecido pelos seus projetos refinados e rebuscados, que cria um projeto em
parceria para a loja Les Lis Blanc, reduto da refinada classe A.
É justamente com seus trabalhos para grandes empresas como Coca-Cola,
Nestlé, Samsung, Chevrolet, Ford, Johnnie Walker, Iódice que ele arrecada dinheiro
para bancar a grande parte de seus murais de rua, que, não são patrocinados.
Kobra diz fazer por amor à cidade de São Paulo. São Paulo é e sempre será sua
musa inspiradora. Mesmo conhecendo outros lugares ao redor do mundo e abrindo
o ateliê em Los Angeles, Kobra não quer deixar a capital paulista: “Aqui será sempre
o meu centro e o local que preciso para reciclar, para encontrar meu eixo.”
Na Capital é possível ver grandes nomes da música brasileira retratados,
como Carmen Miranda, Chico Buarque e Adoniram Barbosa. Ou então uma
homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer, em plena Avenida Paulista.
O ponto de partida para os murais de temática tipicamente paulistana surgiu
quando Kobra leu sobre os últimos casarões ainda em pé da Avenida Paulista.
Surgiu assim uma imensa vontade de resgatar a arquitetura que estava pouco a
pouco desaparecendo. Para ele, esses murais são, na verdade, portais que levam o
espectador a uma cidade que não existe mais. É a possibilidade de trazer vida a
imagens que ficam guardadas dentro de bibliotecas: “Queremos despertar a noção
da importância do patrimônio histórico nas pessoas”, diz o artista que, se o tempo
não apagar, também terá criado seu próprio patrimônio histórico-artístico.
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Figura 2: Eduardo Kobra, Muros da Memória, 2009, 1000m², Avenida 23 de Maio, SP.
Fonte: Imagem extraída do site EduardoKobra.com. 2
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Endereço eletrônico da imagem: http://www.eduardokobra.com/projetos/#
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Endereço eletrônico da imagem: http://www.eduardokobra.com/projetos/#
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Figura 4: Eduardo Kobra, A Lenda do Brasil, 2015, grafite, Av. Paulista x Rua da Consolação
Mural, SP.
Fonte: Imagem extraída do site EduardoKobra.com. 4
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Endereço eletrônico da imagem: http://www.eduardokobra.com/projetos/#
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Endereço eletrônico da imagem: http://www.eduardokobra.com/projetos/#
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Figura 5: Eduardo Kobra, Oscar Niemyer, 2012, 52x16, parede lateral do edifício
Ragi, na Praça Oswaldo Cruz, próximo ao início da Avenida Paulista, SP.
Fonte: Imagem extraída do site EduardoKobra.com. 5
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Endereço eletrônico da imagem: http://www.eduardokobra.com/projetos/#
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No seu caminhar diário estão cegos ao que acontece ao seu redor, não
sentem o vento, não veem as cores, muito menos prestam atenção às pessoas ao
seu redor. Tornamo-nos seres anestesiados perante a vida.
Assim, a arte não mais se coloca como uma mera transmissora dos apegos
religiosos, éticos, morais e sociais da sociedade. A arte deseja mais, deseja uma
comunicação direta e criativa com o seu público. Uma experiência de diálogos mais
íntimos e reais, mais estéticos e fiéis pelo momento presente, em que o público tem
a liberdade em formatar seu repertório de opinião e o seu julgamento de realidade e
liberdade.
Para ele, esses murais são, na verdade, portais que levam o espectador a
uma cidade que não existe mais. É a possibilidade de trazer vida a imagens que
ficam guardadas dentro de bibliotecas. Diz ainda (KOBRA, 2017): “Queremos
despertar a noção da importância do patrimônio histórico nas pessoas, que, se o
tempo não apagar, também terá criado seu próprio patrimônio histórico-artístico”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AREND, Hannah. Tradução: Roberto Raposo. A condição humana. 11ª Ed. Rio de
Janeiro: Forense universitária, 2010.