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Teresa Cristina de Freitas Alves

ARTE E CULTURA NO BRASIL: RESENHA CRÍTICA


ARACY DO AMARAL – HISTÓRIA DA ARTE MODERNA NA
AMÉRICA LATINA

São Paulo
2017
Teresa Cristina de Freitas Alves

ARTE E CULTURA NO BRASIL: RESENHA CRÍTICA


ARACY DO AMARAL – HISTÓRIA DA ARTE MODERNA NA
AMÉRICA LATINA

Trabalho apresentado ao Programa de Pós-


Graduação em Arteterapia do Instituto de Artes da
UNESP – Universidade Estadual Paulista como
exigência parcial para a disciplina de Arte e
Cultura no Brasil ministrada pela Profª. Dra.
Claudia Fazzolari.

São Paulo
2017
SUMÁRIO

RESENHA CRÍTICA ......................................................................................................4


1 QUALIFICAÇÃO DA AUTORA..............................................................................4
2 RESUMO DA OBRA...............................................................................................5
3 CONCLUSÃO DA RESENHISTA...........................................................................9
4 CRÍTICA DA RESENHISTA....................................................................................9
5 INDICAÇÕES DA RESENHISTA............................................................................9
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RESENHA CRÍTICA

AMARAL, Aracy. História da arte moderna na América Latina (1780 -1990). IN:
AMARAL, Aracy. Textos do Trópico de Capricórnio – Artigos e ensaios (1980 – 2005).
Vol.2: Circuitos de arte na América Latina e no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2006, p.128-
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1 QUALIFICAÇÃO DA AUTORA

Aracy Abreu Amaral (São Paulo, 1930), renomada profissional no mundo das artes,
com mais de cinquenta anos de atuação em uma trajetória profissional extensa e
diversificada ela soube dialogar com as atividades de crítica, historiadora, professora,
curadora e diretora de museus. Graduou-se Bacharel em Jornalismo pela Pontífica
Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo e
Doutora em Artes pela Universidade de São Paulo. Seus exames de Livre Docência e de
Titular foram realizados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. Recebeu Título de Mestre em História da Arte na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP) com o trabalho As Artes Plásticas na
Semana de 22, publicado em 1970. Nas décadas seguintes, lança outros títulos, como
Blaise Cendrars no Brasil e os Modernistas (1970) e Tarsila – Sua Obra e Seu Tempo
(1975). O último é resultado da pesquisa para o doutorado, concluído no mesmo ano na
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Recebe bolsa
de fomento à pesquisa da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, e da Fundação John
Simon Guggenheim, de Nova York.

Ao longo da trajetória profissional, realiza importantes curadorias de exposições,


como Tarsila – 50 Anos de Pintura, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1969);
Alfredo Volpi 1914-1972 (1972); Projeto Construtivo Brasileiro na Arte, no MAM-RJ
(1977); Modernidade: Arte Brasileira do Século XX (1987-1988), no Musée d'Art Moderne
de la Ville de Paris (França); Panorama, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, edições
de 1999 e de 2015. Também é a curadora da 1ª Trienal do Chile, em Santiago (2009), e da
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8ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2011).

Sua pesquisa sobre o modernismo brasileiro é referência pelo singularismo e


dedicação. Há mais de 40 anos, Aracy dedica-se à pesquisa sobre o tema e é a maior
especialista em Tarsila do Amaral (1886-1973). É consultora para a pesquisa que origina o
website e catálogo raisonné, com cerca de mil obras da artista, publicado em 2008.

Outro exemplo de como sua pesquisa historiográfica contribui para a formação da


identidade brasileira é A Hispanidade em São Paulo. A obra demonstra, com documentação
iconográfica, como a arte e a arquitetura brasileira recebem influência espanhola, até então
nunca percebida e catalogada. O livro também assinala a importância de a historiografia
artística brasileira ser mais vinculada à América Latina.

Além das aulas de história e estética do projeto na FAU/USP, a pesquisadora


leciona historiografia artística na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP/SP), em
1968, e na Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) entre 1972 e 1974. Recebe a gestão
da Pinacoteca nos anos de 1970, onde conduz política de renovação das atividades do
museu ao propor maior vínculo com instituições e profissionais da América Latina.
Observa no acervo quais são as lacunas a suprir e desenvolve um programa para aquisição
sistemática de obras de arte. Também monta cursos de história da arte e de desenho com
modelo vivo, além de formar um coral com funcionários e moradores da região. Confere
importância do registro das performances que acontecem no museu para que tenham
“perenidade e que possam permanecer como registro estável”.  

Como crítica de arte, além da sólida formação teórica, Aracy é uma profissional
atuante e reconhecida. Para ela, o trabalho do curador é vinculado à pesquisa histórica e à
crítica, o que permite objetivar determinado enfoque com seleção de obras e de tema
específico. Também acredita que o papel do curador é o de acompanhar ativamente, do
início ao fim, a realização da exposição.
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2 RESUMO DA OBRA

Da reunião de Oaxaca, México, em janeiro/fevereiro de 1996, à qual Amaral foi


convidada pelo Instituto de Investigaciones Estéticas dirigido por Rita Eder surgiu o
presente texto. O encontro possuía como objetivo a reflexão sobre a produção da história da
arte latino-americana. Ela buscou revisar a historiografia da arte produzida no continente
entre as décadas de 1960 a 1990, ponderando sobre os problemas da construção de uma
história da arte que englobe todo o continente e propondo soluções para essa questão.

No início do texto é questionada a forma de produção historiográfica no continente.


Para a autora, foram produzidos dois tipos de bibliografias sobre a América Latina: as
resultantes de estudos de pesquisadores independentes e universidades de todo continente; e
as produções originadas majoritariamente de exposições realizadas por europeus e norte-
americanos a partir da década de 1970.

Ao final da introdução, a autora reflete sobre a produção historiográfica no


continente, focando em publicações que possuam como objetivo a formulação de uma
história da arte da América Latina moderna e contemporânea. Nesse momento, ela resgat a
busca de uma identidade coletiva, citada por Leopoldo Castedo na introdução de seu livro
“History of Latin American Art and Architecture” (1969); e passa para a crítica de Damian
Bayon a “moda” latinoamericana que atraía europeus e norte-americanos, discutida em sua
obra “Aventura Plástica de Hispanoamérica” (1974). Para o historiador argentino, o
interesse é fruto de três questões: as ditaduras civil-militares que assolavam a região, a
música popular do continente e a literatura contemporânea que ganhava o mundo. Para
Amaral o interesse externo pela região advém desde 1966 com a Conferência Geral da
UNESCO em Paris e seu projeto de estudar a cultura latino- americana através de suas artes
e literatura.

É importante entender como produzir uma história da arte do continente,


suscitando-se uma outra questão: existe uma arte Latino-americana ou devemos pensar
como é a arte na América Latina? Seria, a produção poética abaixo do Rio Grande
homogênea? Com esse questionamento, Amaral tece uma genealogia da ideia de América
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Latina, lembrando que para Bayon no livro “Arte Moderno en América Latina” (1985), a
alcunha era uma expressão convencionada pela Europa, com objetivo de incluir todos os
países do continente. O autor rememora Charles Wagley, que afirmou em seu livro “The
Latin America Tradition” (1968), que os países latino-americanos em um primeiro
momento possuem em comum apenas a religião católica e as duas línguas impostas. No
entanto, Amaral retoma outra ideia de Wagley: os pontos de contato do continente são
maiores que as diferenças.

A autora acredita que existe uma escassez de estudos sobre a América Latina e
grande desinteresse em realizá-lo, visto a dimensão da produção poética do continente. A
culpa em parte é a percepção de não nos entendermos como um continente homogêneo, -
coisa que a autora também não enxerga que sejamos -, mas esse dado quando enraizado nos
pesquisadores é limitador. Outro problema, é que parece existir uma tendência – e desejo –
dos pesquisadores em primeiro dar conta da história da arte da sua própria região antes de
pensar a poética continental.

Contra esses impedimentos, são citados os trabalhos de Juan Acha e Nestor Garcia
Canclini. Este último, com sua viagem da Argentina ao México, onde teve a oportunidade
de refletir e compreender a produção artística na América Latina, em suas diferenças e
semelhanças. Um contraponto as publicações externas, vinda da Europa e Estados Unidos,
que se impõe aos pesquisadores do continente, sem que os escritores dessas obras tenham
colocados os pés aqui.

Amaral pondera que realmente conhecer a produção poética do continente e


escrever sobre ela, não é das tarefas mais fáceis. O Brasil é um exemplo de diversidade, sua
extensão territorial abrange diferenças climáticas, étnicas e culturais diversas. Além da
influência afro, indígena e europeia, alia-se a vinda de imigrantes de todos os cantos do
mundo – desde árabes até japoneses – tornando a ideia de uma cultura única ou pura
impossível, assim como em qualquer outro país da América Latina.

Esses dados são inseridos pela autora para tentar chegar à resolução dessa questão
da produção de uma história da arte da América Latina. Ainda que para Amaral não
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sejamos homogêneos em nossas produções artísticas, existem pontos de encontro muito


importantes. Como as tendências Construtivas que ocorreram na Argentina, Brasil,
Uruguai, Venezuela, e mais tardiamente no México. Assim como a figuração metafórica,
saída dos artistas nas décadas de 1960 e 1970, para fugir da censura impostas pelas
ditaduras militares em países como Argentina, Brasil, Chile e até mesmo Cuba décadas
depois. A influência do México e o seu muralismo na América Latina, durante as décadas
de 1930 e 1940, é outro desse momento de afinidade. Outro ponto de contato é a produção
e a criatividade do povo, entendida como o fenômeno da arte popular.

Existe deficiência de estudos sobre o continente, o que gera possibilidades de


pesquisar que viabilizem analisar a cultura através de algumas regiões, como o Caribe, tida
como região isolada; depois México e os demais países da América Central; a Colômbia e
Venezuela formando outro núcleo; os Países Andinos, uma região formada pelo Peru,
Equador e Bolívia; a região do Cone Sul com Argentina, Paraguai, Uruguai e sul do Brasil
(até o Rio de Janeiro); e por fim, separadamente, o Chile e o restante do Brasil.

Entretanto, o problema se apresenta logo na região do Caribe, onde a diversidade da


produção artística faria com que os pesquisadores buscassem metodologias para dar conta
de produções populares, arte urbana e suburbana e as manifestações religiosas como formas
artísticas. O fluxo de artistas por todo continente é grande, o que influencia diretamente nas
poéticas, sem contar as contribuições externas de orientais, africanos e europeus - para
lembrar que a arte na América Latina vai além da produção indígena – são elementos que
impossibilitariam essa divisão por regiões. Amaral cita o autor japonês Yotani Toshio
(1995), para afirmar que nenhuma cultura é pura e como essa ilusão é problemática, pois
nos focamos nela, ao invés de assumir o caráter híbrido de qualquer produção – até mesmo
a japonesa, entendida como isolada e livre de influências externas durante anos.

Ao final do artigo, é levantada a questão da falta de uma disciplina de História da


Arte da América Latina nas universidades do continente como forma de incentivo à
pesquisa acadêmica. Sua crítica volta-se também à falta de incentivos econômicos que
possibilitem a constante atualização bibliográfica do curso em questão, com diapositivos
(os famosos slides do período) e viagens dos professores aos países do continente. Uma
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situação que na atualidade permanece semelhante ao cenário encarado por Amaral na


década de 1990.

3 CONCLUSÃO DA RESENHISTA

   A leitura do texto de Aracy Amaral, nos mostra como os estudos sobre a história
da arte na América Latina são insuficientes. Não há nas universidades uma disciplina
voltada para esses estudos e durante a discussão foi possível perceber que vários autores,
críticos e historiadores de arte latino-americanos, em especial cubanos, são desconhecidos
pela academia brasileira. Percebe-se, que Amaral neste artigo dedicou-se a um projeto de
compreensão maior da arte na América Latina.

4 CRÍTICA DA RESENHISTA

A obra fornece subsídios à que se tome frente a um projeto de pesquisa onde se faça
uma leitura historiográfica da América Latina, visto não termos pesquisas que aprofundem
esse tema.  Com profundo conhecimento acerca do desenrolar histórico, a autora empenha-
se em apresentar clara e detalhadamente as circunstâncias e características da diversidade
de culturas e consequentemente de produções artísticas que são inspiradas nessa
diversidade, o que nos coloca no papel de desbravadores desses registros para mostrarmos
ao mundo o universo da arte na América Latina . É uma leitura que exige conhecimentos
prévios para ser entendida, além de diversas releituras e pesquisas quanto a conceitos,
autores e contextos apresentados, uma vez que as conclusões emergem a partir de
esclarecimentos e posições de diversos estudiosos das artes.

5 INDICAÇOES DA RESENHISTA

A obra tem por objetivo abrir possibilidades e oferecer sugestões para estudantes
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universitários e pesquisadores, a fim de que possam realizar, planejar e desenvolver


pesquisas, na graduação e pós-graduação sobre a arte na América Latina. É de grande
auxilio, principalmente, àqueles que desenvolvem trabalhos acadêmicos no campo de Artes
e Educação.

Não se trata de um simples estudo, com passos a serem seguidos, mas um estudo
minucioso sobre a grande diversidade cultural, regional, social que apresentam um universo
ímpar de belezas puras que nascem dessa miscigenação de povos e que mostram o grande
potencial da arte na América Latina.

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