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Pintura rupestre no Peruaçu (MG) subverte conceito

de evolução artística
Desenhos mais simples no parque nacional foram feitos depois dos mais complexos

Pinturas rupestres no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu - Sue Ann Galrão

21.nov.2018 às 16h04

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/11/22/)

Marcelo Leite

ITACARAMBI (MG) As pinturas rupestres do Parque Nacional Cavernas de


(https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2018/11/pouco-visitadas-cavernas-do-peruacu-em-minas-guardam-patrimonio-

arqueologico.shtml)Peruaçu (https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2018/11/pouco-visitadas-cavernas-do-peruacu-

em-minas-guardam-patrimonio-arqueologico.shtml) foram feitas entre 500 e até 9.000 anos


atrás. Em intervalo tão largo, é certo que passaram por lá povos muito
diversos, na cultura e no modo de vida.

A arqueóloga Alenice Baeta participou de escavações na lapa do Boquete, em


que se encontraram instrumentos de pedra com 12 mil anos de idade. Para
ela, a rica sucessão de desenhos nos abrigos do parque não enche só os
olhos, mas é também útil para ensinar aos estudantes que a história da arte
nada tem de linear.

Como há muita superposição de figuras, além de umas poucas datações


indiretas, dá para saber o que foi pintado antes e depois. No abrigo junto ao
Janelão, por exemplo, a arqueóloga aponta figuras amarelas simples da
tradição Nordeste por cima das mais complexas formas geométricas, com
duas e até três cores, da tradição São Francisco.

Ou seja, não se progride sempre e necessariamente do simples para o


complexo. “Dá para ver a cronologia [na pedra]”, diz a arqueóloga. “As mais
recentes são as mais toscas.”

Baeta também ressalta o equívoco de atribuir um propósito utilitário à arte


desses povos desconhecidos.

Pelos vestígios encontrados nos sítios, sabe-se que alguns eram caçadores-
coletores e outros, agricultores.

No entanto, os primeiros ocupantes, que habitaram a área começando mais


de 8.000 anos atrás, não desenhavam muitos animais e cenas de caça,
comuns na arte rupestre das mais antigas cavernas da Europa. Bichos, como
peixes e tartarugas, são mais encontrados, no Peruaçu, na arte deixada pelos
povos agrícolas de 2.500 anos atrás.

“Esse lugar era inspirador para muitos povos”, diz Baeta. Construíam
andaimes e subiam nas estalagmites para alcançar as partes altas. “Queriam
deixar aquilo ali [para ser visto].”

A hipótese é que esses símbolos fizessem parte de algum ritual. Aqueles


homens pintavam uma superfície que sabiam ser propícia para preservação,
livre de chuva e de sol, mas com luz bastante para serem admiradas por
vários outros homens, por muito tempo —ainda hoje, inclusive.

Espeleotema em formato de cogumelo na gruta do Janelão, no Parque Nacional Peruaçu, em


Minas Gerais - Marcelo Leite/Folhapress

Como chegar
O aeroporto mais próximo do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu que
recebe voos comerciais é o de Montes Claros (MG). Dali recomenda-se alugar
um carro para chegar a Januária, a 169 km, na beira do rio São Francisco.

A infraestrutura de hotéis e restaurantes em Januária é melhor do que em


Itacarambi. Mas quem preferir não ter de dirigir todos os dias de estadia até
a entrada do parque pode hospedar-se em pousadas no povoado de Fabião 2,
como a Recanto das Pedras.

A visitação é gratuita, mas precisa ser agendada no ICMBio (Instituto Chico


Mendes de Conservação da Biodiversidade). Isso pode ser feito por correio
eletrônico (cavernas.peruacu@icmbio.gov.br).

As estradas de terra do parque são bem conservadas, e chove pouco na


região (1.400 mm/ano). Dificilmente será preciso alugar um veículo 4x4.
Veem-se vários carros de passeio circulando entre as vias que vão de uma
porteira a outra para os oito roteiros do Peruaçu.

A infraestrutura das sedes é boa, mas um tanto vazia. Há banheiros, mas não
há locais de alimentação (recomenda-se levar petiscos e água nas trilhas).
Numa lojinha improvisada podem-se adquirir camisetas, livros e uns poucos
suvenires.

A renda reverte para o Fundo Peruaçu, administrado pelo


Instituto Ekos Brasil, que dá consultoria ao ICMBio. A ONG participou da
confecção do plano de manejo do parque e gerenciou a construção das sedes,
a reforma das estradas e a estruturação das trilhas —há escadas e passarelas
de madeira e metal em vários pontos.

Com a ajuda (obrigatória) dos guias, ali chamados de condutores, é possível


cobrir dois roteiros num mesmo dia, com exceção do Arco do André,
caminhada mais puxada que demanda um dia inteiro. Com alguma
negociação pode-se contratar um pacote de sete roteiros com um guia
experiente por menos de R$ 500.

ENDEREÇO DA PÁGINA
https://www1.folha.uol.com.br/turismo/2018/11/pintura-rupestre-no-
peruacu-mg-subverte-conceito-de-evolucao-artistica.shtml

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