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HISTÓRIA
Desenhos rupestres no sítio arqueológico da Pedra Preta de Paranaíta, em Mato Grosso. Antes da
construção de novas hidrelétricas, as empresas são obrigadas a escavar a área para evitar que vestígios
arqueológicos sejam destruídos. Além de suscitar o debate sobre o respeito à cultura tradicional dos
povos originários, as descobertas têm ajudado a reescrever a história de ocupação da Amazônia.
Dois ou 12 mil anos? Não há datação certa para esse sítio arqueológico de 200
m de extensão. “Sabemos que se trata de um local único, um complexo de arte
rupestre, com sítios cerâmicos e líticos”, explica Erika Marion Robrahn-
Gonzáles, pesquisadora da Universidade de São Paulo responsável pelo
componente de arqueologia dos estudos para a construção da Usina
Hidrelétrica (UHE) Teles Pires.
Relíquias arquelógicas
O número de sítios encontrados nos levantamentos das quatro hidrelétricas
comprova a importância e vulnerabilidade local. Durante os estudos da UHE
p p
Uma
Teles ponta de flecha
Pires foram está entre
coletados 297os mais
mil importantes.
artefatos “Possivelmente
entre fragmentos pertence
cerâmicos e
aos povoslítico.
material caçadores e coletores,
Os estudos da UHE os São
maisManoel
antigos,detectou
que chegaram aqui
mais 200 há uns
mil
dez mil anos, ou mais, de uma ocupação do pleistoceno ou holoceno inicial”,
artefatos.
explica Robrahn-Gonzáles. “A característica do solo não nos possibilitou fazer
a datação, o que nos daria mais certezas.”
MAIS POPULARES
As pesquisas na UHE Colíder, a 300 km de Pedra Preta, geraram dados mais
precisos. O arqueólogo e geólogo Marco
H I S TAurélio
ÓRIA Nadal De Masi encontrou 171
sítios e datações finais de 11 períodosConheça
cronológicos.
as cinco
pandemias mais mortais da
história da humanidade
“As datas das cerâmicas mostram a intensificação da chegada de povos na
região. Os dados permitem inferir que o vale do rio Teles Pires, além de ter
ANIMAIS
uma ocupação continuada por milênios, foi um corredor migratório para os
Cobra-real
grupos proto-jês do Brasil Central vindos da Amazônia Central”, afirmou
Marco De Masi. As amostras de carvão foram analisadas na empresa Beta
Analytic, de Miami, EUA.
MEIO AMBIENTE
VO C Ê TA M B É M P O D E S E I N T E R E S SA R
História indígena
Os povos kayabi, apiká e munduruku são remanescentes dessa primeira
ocupação. Eruíde Kayabi, 52 anos, cacique da aldeia São Benedito, em
Jacareacanga (PA) relembra o extenso território de seu povo. “Nasci no
parque do Xingu. Meus pais foram levados pra lá de avião. Antes, nós e os
parentes apiaká e munduruku vivíamos caçando por todo rio Teles Pires”,
D E S C U B R A N AT G E O
recorda-se. A aldeia fica a apenas 700 m da UHE São Manoel.
Animais
Meio ambiente
Eruíde é filho da Operação Kayabi. Coordenada pelos sertanistas Orlando e
Claudio
História Villas-Bôas (1960 e 1966), a ação retirou os indígenas de seu território
original, onde eram ameaçados por seringalistas, e os deslocou para o Parque
Ciência
Indígena do Xingu. Em 1987, Eruíde e um grupo de kayabi retornaram ao Alto
Viagem
Tapajós. As marcas culturais e conflitos territoriais ainda não foram
superados.
Fotografia
Espaço
As ações de etnoarqueologia reviveram parte da história perdida. “Fizemos
Vídeo
um mapa de memórias de locais sagrados e de caça. As narrativas dos mais
velhos viraram cartilhas para crianças kayabi e apiaká. Eles optaram por não
divulgar
S O B R E NoÓconteúdo”,
S explica Erika Marion-Gonzales.
g , p
IANcachoeira
S C R I Ç Ã O de Sete Quedas, do rio Teles Pires, seria o mais importante desses
territórios. Alagada para formação do reservatório da primeira hidrelétrica, a
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destruição dos saltos revoltou os indígenas. “Era a morada do espírito dos
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peixes. Para os mundurukus, ali era a casa da mãe Karobixexe e Dekokaía.
Jamais foi apenas uma cachoeira. Meus avós, os antigos, todos nós sofremos
S I GA- N O S
com a perda de Sete Quedas”, conta Darlison Apiaká, 33 anos, que
acompanhou as escavações no sítio arqueológico Cadeado, hoje tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por ser um sítio
cemitério, possível ponto de sepultamento de xamãs e lideranças indígenas.
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l d i l ã i dí i di i d d
Revoltados com a violação, os indígenas invadiram o canteiro de uma das
hidrelétricas em 2017. Para minimizar os danos, as urnas funerárias
encontradas no local foram levadas ao Museu de História Natural de Alta
Floresta (MT).
Alguns indígenas defendem algo mais respeitoso aos que antes estavam
sepultados. “Precisam voltar aos lugares sagrados. Enterrar em Ka’iuu kwat,
onde ficam os espíritos, no Morro dos Macacos, lá nas curvas do rio Teles
Pires”, afirma o cacique Eruíde Kayabi.