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LIÇÕES DA PRÉ-HISTÓRIA
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Central: O nível inferior deste sítio tem datação de 10.400, mais ou
menos 130 anos AP (Até o Presente), registrados pelo Smithsonian
Institute, e segundo Luiz Moreira, o clima seria então mais frio do que
atualmente e com umidade mediana. A caça de pequenos e médios
animais era o componente mais importante da alimentação. Répteis e
moluscos não eram importantes nos cardápios e os peixes estavam
praticamente ausentes. Depois, entre 9.000 e 7.500 anos AP, com a
elevação da temperatura e da umidade relativa, o homem pré-histórico
do Brasil Central começou a alimentar-se com um cardápio
fundamentado na coleta de moluscos, répteis e pequenos animais. A caça
torna-se mais rara.
As condições climáticas influíam poderosamente na dieta alimentar dos
grupos indígenas. Para se ter uma ideia dessas influências – não mais do
que num curto intervalo de 300 anos, de 7.500 a 7.200 anos AP – a região
do abrigo de Serranópolis aparece estando submetida a um período
muito seco, sendo que a caça deixou de influir significativamente na
alimentação e apenas a coleta de moluscos, principalmente, e de
pequenos répteis manteve importância.
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A Pré-História no Planalto Central
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Eurico Teófilo Miller in Relatório de Pesquisa (ENGEA) – Arquivo da 14° Coordenação do IBPC. Agradecemos à
museóloga Célia Corsino e ao Dr. Miller pelas informações obtidas.
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Teve o Dr. Miller a gentileza de nos adiantar pessoalmente os resultados
inéditos de suas últimas pesquisas.
Em princípios de 1993, vieram a lume em Taguatinga, na área do córrego
Melchior, cinco sítios pré-cerâmicos, com características de
acampamentos de caça, talvez reocupados de tanto em tanto por
pequenos grupos.
Já a nesse do ano 1994 foi abundante: nada menos do que 16 sítios
arqueológicos na área do rio Descoberto. Destes, nove eram de grupos
pré-cerâmicos, dois de cerâmicos, e cinco eram “taperas” de fazendas
coloniais. Há um detalhe curioso: uma das ruínas de fazenda assentava-se
exatamente sobre um sítio indígena pré-cerâmico.
Insistindo com o Dr. Miller, adiantou-nos – com muita precaução e em
caráter de hipótese que alguns desses sítios pré-cerâmicos poderiam
datar de 7.000 a 7.500 anos de idade, desde a instauração do atual ótimo
climático, chegando porém, eis a surpresa, até aos tempos históricos da
colonização.
Em outros termos: poderiam ter convivido no Distrito Federal duas
culturas indígenas distintas.
Aquela antiquíssima de caçadores pré-cerâmicos, e outra, novíssima, de
apenas mil anos, de agricultores ceramistas, e ambas chegando até a
invasão colonizadora...
Joseph de Mello Álvares escrevia, em fins do Século XIX, que os
remanescentes indígenas do Distrito Federal – então prudentemente
escondidos nas brenhas do rio Maranhão – eram das nações Crixá,
Xavante e Pedra Branca. Os Crixás, hoje extintos, eram agricultores e
ceramistas, como adiante veremos. Os Xavantes são exímios caçadores,
mas a moderna etnografia não os considera pré-cerâmicos. Resta o
mistério dos índios Pedra Branca, que deviam ser muito arredios, pois a
sua designação portuguesa denuncia poucos contatos com o colonizador.
Seriam os tais caçadores pré-cerâmicos?
Mas como responder a estas questões, sem fazer as escavações
necessárias, os exames precisos?
Estamos todos a dever ao Dr. Eurico Miller, pai da arqueologia do Distrito
Federal, as condições mínimas para que passe ao estágio das escavações,
restituindo-nos – quem sabe se em um museu – esses fragmentos da
história indígena regional.