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Povoamentos na América do Sul

anteriores à barreira Clóvis


Agueda Vilhena Vialou e Denis Vialou

As preocupações ecológicas ligadas ao meio-ambiente fizeram com que se


privilegiassem os estudos da pré-história humana analisando as origens do Ho-
mem, seus primeiros povoamentos, territórios de ocupação, comportamentos de
subsistência e simbólicos assim como as alterações na paisagem causadas pelos
habitantes em várias épocas. Com os meios técnicos e metodológicos atuais houve
um enriquecimento significativo no registro de sítios arqueológicos no território
brasileiro onde, até a década de 1970, tudo estava praticamente para ser descober-
to, mas que nos dias de hoje oferece um vasto inventário de sítios arqueológicos
contendo informações preciosas sobre as ocupações do Holoceno antigo.
O continente sul-americano é foco de atenção no estudo da Arqueolo-
gia Americana por ter, de maneira recorrente em suas pesquisas, vestígios
em sítios com datações que recuariam a presença humana dos primeiros
povoamentos, bem anteriores aos sítios reconhecidos do hemisfério norte.
Considerando também os Andes e o extremo sul como barreiras das épocas
glaciais, as descobertas na América do Sul, algumas anteriores enquanto
pesquisas em relação às na América do Norte, puderam se alinhar nesse
mesmo quadro cronológico, ou seja, a partir da passagem Pleistoceno e Ho-
loceno. Constata-se assim que os povoamentos ocorreram ao mesmo tempo
e em territórios distintos e distantes, espalhados pelas Américas. Desta ma-
neira, algumas questões se tornam evidentes, como e quais foram as rotas
migratórias e qual o tempo para se dar essa distribuição populacional em
todo continente. O estudo de alguns sítios pode testemunhar a presença
humana em período pleistocênico em áreas ainda distantes e isoladas umas
das outras e são provas de que já haviam ocupações anteriores a 12000 anos,
ao último pleniglacial, ou seja à “barreira cultural Clóvis”.

Beríngia e a barreira Clóvis

Os povoamentos pré-históricos do continente americano podiam ter


sido feitos por via terrestre e/ou por via marítima, opção que é própria da
América, alternativa essa ainda discutida. Somente, o continente australiano
(a Grande Austrália) foi atingido, faz mais ou menos cinquenta/sessenta
mil anos, por navegação (cabotagem na região das ilhas Celebes), durante a
última grande regressão dos níveis marinhos.
Até hoje, as hipóteses de vias marítimas para as mais antigas penetra-
ções de homens pré-históricos nas Américas não têm qualquer fundamento
a partir de dados arqueológicos e paleo-ambientais. As colonizações efetu-
adas por navegação no Pacífico e no Atlântico estão situadas no Holoceno,
quer dizer desde que o continente se tornou, mais uma vez, uma imensa ilha,
separada da Ásia pelo estreito de Béring.
Os mais antigos povoamentos humanos, como os povoamentos dos animais
(a fauna glacial – bisões, mamutes, renas, cavalos etc. – amplamente caçadas pe-
los Paleolíticos da Eurásia), efetuaram –se todos pela Beríngia. Vasto território
emergido durante as regressões marítimas que pontuam todo o quaternário,
a Beríngia estava povoada de animais e de plantas durante os milênios da sua
formação. O desenvolvimento das massas polares correspondia a essa regressão
do mar: a calota glacial (inlandsis) do pólo norte se estendia consideravelmente
na direção do sul (até a latitude de Nova York, por exemplo) e fazia coalescência
com as geleiras, também dilatadas sobre as Montanhas Rochosas (Rocky Moun-
tains). Uma barreira gelada intransponível nos Montes Brooks (na atual frontei-
ra entre Alaska e Canadá) impedia as migrações do oeste para leste. A Beríngia,
então povoada, era uma península extremo oriental da Ásia. O derretimento das
geleiras e do inlandsis provocou paralelamente o aumento das águas fazendo
com que os níveis marítimos subissem de novo (até o estreito voltar a existir
finalmente) e abriu uma passagem (free corridor) entre as montanhas e a massa
de retração progressiva do inlandsis. De novo, bloqueada no sentido oeste, a

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fauna (e a flora) terrestre migrou neste free corridor e atingiu as grandes planícies
norte americanas que vai povoando, misturando-se com a fauna lá já existente.
As flutuações paleoclimáticas marcadas pelas transgressões e regressões mari-
nhas regularizaram os povoamentos em várias etapas para as espécies animais e
vegetais da América setentrional. Elas se refletem nos ecossistemas dessas vastas
regiões abertas. Bisões e mamutes (dentre outros) marcam de forma espetacular
as paisagens e os climas frios. É aí que se desenvolvem sociedades de caçado-
res dos grandes mamíferos das regiões frias que os pesquisadores americanos,
na primeira metade do século XX designaram com o termo de Paleoíndio. Os
reaquecimentos e as mudanças dos regimes pluviométricos, desde os primeiros
milênios de Holoceno, configuraram outros ecossistemas, modificando as eco-
nomias das sociedades de caçadores.

Uma Pré-História bem conhecida do período de transição


Pleistoceno-Holoceno

A – Territórios ocupados

Nesses últimos trinta anos, pelos estudos realizados nas Américas a res-
peito dos povoamentos pré-históricos, nunca ficou tão evidente que ocupações
humanas ocorreram ao mesmo tempo já há 12000 anos atrás em diferentes
pontos, estando assim espalhadas por todas as regiões dos continentes ame-
ricanos e podendo se apresentar dispersas ou concentradas em determinadas
localidades, sendo esse um indício de uma relativa densidade populacional.
Apenas para citar algumas regiões como a Amazônia, o Pantanal, o Planalto
Central, áreas até então sem pesquisas ou com pesquisas que privilegiavam as
grandes culturas ceramistas, como as da Amazônia, se tornaram pontos chaves
para explicar os povoamentos através das migrações e as instalações do homem
pré-histórico, nesses vastos territórios ainda ignorados pelas pesquisas, e que vão
se revelar indispensáveis para o conhecimento da Pré-História dos primeiros
americanos, até então forjado a partir das áreas Andinas, da Patagônia e do
litoral Pacífico. Exceção feita às pesquisas do paleontólogo dinamarquês P. W.
Lund entre 1835 e 1844, em Lagoa Santa, Minas Gerais, Brasil, que já forneciam
elementos quanto à possibilidade de uma contemporaneidade do homem (o
Homem de Lagoa Santa) à fauna extinta, devido ao importante achado de nu-
merosos esqueletos humanos de morfologia diferente do indígena americano,

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dos utensílios em pedra, dos abrigos rupestres evidenciados juntamente com
uma riqueza e diversidade de esqueletos de animais fósseis pleistocênicos.
De fato, foram as pesquisas no extremo sul da América, do final do sécu-
lo XIX e início do século XX, com a descoberta de ossos de Glossotério na
Cueva del Mylodon, Ultima Esperanza, Chile, mas também na região de La
Plata, Argentina, que levantaram questões polêmicas onde F. Ameghino se
empenhou nesse debate sobre a antiguidade do Homem Americano. Poste-
riormente, as pesquisas de J. Bird nas grutas Fell e Palli Aike e as de O. Men-
ghin, em Los Toldos, confirmam a presença do Homem em período onde
ele é contemporâneo a uma fauna que não existe no Holoceno, como foi o
caso de diferentes tipos de Mylodontinae (Desdentado – preguiça gigante),
de Parahipparium, Hipparium, Hippidion saldiasi - Equídeos (espécies de
cavalo americano) e de Camelídeos (guanaco, vicunha).
A retomada das pesquisas em muitos desses sítios arqueológicos feitas
por J. Bird, J. Emperaire, A. L. Emperaire e H. Reichlen, A. Cardich, H.
Walter e O. Blasi, por exemplo, permitiu a comprovação da antiguidade das
ocupações humanas pelas datações radiocarbônicas recentemente criadas
por Libby, em 1950, e confirmar a coexistência do homem pré-histórico com
a fauna extinta, exceto para os sítios brasileiros até então pesquisados. As
idades obtidas para o hemisfério sul, entre 11500 e 10000 anos atrás são en-
tão equivalentes às idades da cultura Clóvis que se tornaram dados indiscu-
tíveis durante boa parte do século XX para os primeiros povos americanos.
Se até os anos 1970 do século passado tratava-se de uma proposta de pro-
gressão dessas migrações provindas do continente norte-americano trazendo
com elas as culturas das pontas de projéteis, os hábitats eram nessa ocasião pou-
co numerosos e se encontravam ligeiramente agrupados e ao mesmo tempo
localizados em pontos distantes entre eles, no cone sul, Patagônia. Tal como
na América do Norte, criou-se a barreira cronológica sul-americana, a partir
dos 11500 anos e de suas culturas definidas pelas pontas bifacias em rabo de
peixe (fishtail), assim denominadas pelo seu pedúnculo largo, tendo seus lados
côncavos e a base mais ampla. Tudo estava aí reunido: datações, lascamentos
diversificados com boa escolha das matérias primas em silex e quarzo, restos
faunísticos e alguns esqueletos humanos. Esses foram os mais antigos sítios até
então descobertos na América com as culturas das peças bifaciais (Figura 1).
A intensificação das pesquisas por todo território fez com que muitos
novos sítios fossem evidenciados, preenchendo os espaços vazios de implan-

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tações pré-históricas. As descobertas reunidas vão reforçar a caracterização
da presença humana nesses territórios e em um período ainda inusitado,
final do Pleistoceno e início do Holoceno, chamado paleoíndio por todas
as Américas. Tudo está igualmente reunido para estabelecer um limite cro-
nológico aos primeiros povoamentos nas Américas.
A abundância dos novos dados relativos a sítios pré-históricos da passagem
Pleistoceno-Holoceno é por si só um fato que revoluciona as ideias préconcebidas
e faz com que se pense que sem mesmo ter dados de ocupações pleistocênicas, é
praticamente impossível que o Homem tenha se deslocado e ocupado esses ter-
ritórios em um mesmo lapso de tempo e tenha se espalhado em diversos lugares.

B – Culturas pré-históricas

Num mesmo período cronológico e em diferentes áreas geográficas perce-


be-se que os grupos humanos elaboraram culturas materiais baseadas nos meios
de subsistência local. Numerosas cavernas foram encontradas e intensamente
pesquisadas na Patagonia, como Fell e Palli Aike por J. Bird, Cueva Lago Sofia
por A. Prieto, Tres Arroyos por M. Massone, Cueva del Médio por H. Nami,
Los Toldos por O. Menghin e A. Cardich e Piedra Museo por L. Miotti e M.
Salemme. Elas têm em comum ocupações pré-históricas datadas entre 12000 e
10000 anos AP com um instrumental lítico de peças bifaciais e em particular as
pontas de projétil rabo de peixe, fishtail, típicas do cone sul-americano atingindo
as áreas dos Pampas argentinos, uruguaios e do extremo sul do Brasil. (Figura
1- Ponta de projétil rabo de peixe - Gruta Fell, Chile (desenho R. Humbert).

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Manifestamente caçaram e consumiram a fauna que lhes era contem-
porânea: Milodonte, Cavalo americano e Camelídeo (guanaco), fauna hoje
extinta. Na região dos pampas, as pesquisas no sítio a céu aberto Paso Otero
5 feitas por G. Martinez e M. Gutierrez têm resultados similares para a
mesma faixa cronológica, correspondente ao paleoíndio, com presença das
pontas fishtail e abundância de ossos queimados de fauna pleistocênica. Isso
leva esses pesquisadores a pensar em sítio de caça e da utilização dos ossos
como combustível de fogueira. As grutas de Tagua Tagua e Quereo Los Villos,
situadas no centro e no norte do Chile, pesquisadas por J. Montané e L.
Nuñez contêm as mesmas associações, porém com presença suplementar de
Mastodontes. Por outro lado, pesquisas efetuadas por N. Flegenheimer na
área pampeana na região da serra Tandilia, em um conjunto de sítios a céu
aberto e abrigo, cerro El Sombrero e cerro La China, pôde ser identificada uma
bela relação entre sítio oficina da lascamento, de preparação e de restauro
de pontas fishtail com os acampamentos. Sem preservação de ossos, mas a
presença de uma placa dérmica de Tatu gigante revela a associação desses
caçadores com a fauna extinta (Politis e col. 2008).
De fato, as pontas bifaciais fishtail estão sempre presentes e mesmo se
em geral seu número não ultrapassa vinte exemplares por sítio, a presença de
apenas uma delas já é considerada como referência cultural.
Como no Cone Sul, os povoamentos da Costa Pacífica e da região An-
dina, mais setentrional também foram muito favoráveis à elaboração de
artefatos bifaciais com uma diversidade de tipos de pontas de projéteis e
que também se modificam nos mesmos hábitats ao longo do tempo. Entre
outras pontas, destacam-se a ponta El Jobo, na Venezuela, bem alongadas e
de forma lanceolada, e a ponta de Paiján, no Peru, típica da cultura Paija-
niana, um notável caso de escolha pela fineza de concepção e de realização,
prevendo um preparo anterior, conceptual e de pré-forma: a ponta de Paiján
é longa, cerca de 13cm, bifacial e pedunculada. Sua extremidade distal tem
a forma de uma agulha e seus bordos começam côncavos na porção distal e
tornam-se convexos junto ao pedúnculo, que por sua vez é estreito, longo,
com base retilínea ou convexa. As aletas laterais voltadas para a extremidade
proximal são agudas. Figura 2 – Ponta Paiján, Peru (desenho C. Chauchat).

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Essa cultura bem presente na costa desértica norte peruana, área de
Cupisnique, está perfeitamente situada cronológicamente. Dois sepulta-
mentos primários em covas foram encontrados, o de uma criança e outro de
uma mulher adulta, sendo esse repousado sobre uma camada de cinzas e de
carvões datada de 10200±anos AP (GIF 3781). Correspondem aos vestígios
humanos mais antigos da América do Sul e apresentam similitudes aos de
Lagoa Santa por serem dolicocéfalos. A desertificação dessa área fez com
que os vestígios se encontrem na superfície das areias, sem estratigrafia, per-
mitindo o reconhecimento fácil dos numerosos acampamentos, espalhados
e a identificação de áreas de aprovisionamento e exploração das matérias
primas, de áreas de confecções dos utensílios e de áreas de habitação. Os
restos de fauna consumida ligada ao mar denotam que esses artefatos, ar-
mas finas e ponteagudas, estejam voltados às atividades de pesca (Chauchat
1992). Sem ter vestígios anteriores a 10000 anos AP, tratam-se dos primei-
ros testemunhos da ocupação humana nesse local, região entre os Andes e o
litoral, hoje totalmente árida. Por outro lado achados importantes de fauna
fóssil ocorreram na mesma região, daí seu nome local de Pampa de los fós-
siles. Entretanto todos os numerosos ossos de animais pleistocênicos, entre
18000 a 12000 anos atrás, referem-se a um período anterior, precedendo a

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chegada iminente dos ocupantes de cultura Paiján que nunca coexistiram e
nem foram contemporâneos à fauna fóssil desse local (Falguères e col. 1994).
Bem ao sul da costa peruana, em região desértica, pesquisas atuais com-
provam que haviam ocupações a partir de 10000 anos atrás no sítio Quebra-
da de Los Burros (Lavallée e col. 1999). E também em continuidade a essa
costa árida e semi-árida, o norte chileno contem testemunhos dos primeiros
povoamentos da costa do Pacífico como o complexo cultural de Huente-
lauquén que utiliza recursos marinhos variados e desenvolve uma tradição
tecnológica de líticos geométricos e de pontas de projétil lanceoladas com
pedúnculo ( Jackson e col. 2011).
Abrigos ou pequenas grutas dos Andes, situados em altitude, apresentam
culturas do Holoceno Antigo extremamente ricas de informações tecnológi-
cas pelas confecções diversificadas de peças líticas bifacias, pontas de projétil,
de inovações de caça e de criação de animais, onde o consumo de camelídeo
(guanaco, vicunha) torna-se cada vez mais importante que o do cervídeo. En-
contram-se as primeiras plantas domesticadas: feijão, pimenta, cucurbitáce-
as... Tal é o caso nos altiplanos de Junin a mais de 4300 m de altitude, em Te-
larmachay, para a fauna, pesquisado por D. Lavallée e em Pachamachay, para
as plantas, pesquisado por J.Rick. Essas informações ocorrem em outros sítios
ao redor 2800 metros de altitude como Guitarrero, pesquisas de T. Lynch e
Pikimachay de R. MacNeish. É interessante notar que todos esses sítios pos-
suem datações também da passagem Pleistoceno-Holoceno, mas que foram
relegadas por serem isoladas e não definirem bem um nível de ocupação pré-
histórica: em Telarmachay a data de 12040±120 anos AP não foi considerada,
por ser isolada e muito antiga. Nesse mesmo sítio é a partir de 8810± 65 anos
AP que uma sequência bem consistente de ocupações é estabelecida (Lavallée
85). Em Pachamachay pontas bifaciais foliáceas, triangulares ocorrem entre as
datações de 11800± 930 e 9010±285 anos AP (Rick 1980). Para Guitarrero a
datação de 12560±360 está muito recuada em relação às demais datações desse
sítio a partir de 10000 anos atrás (Lynch 1980).
E enfim, nessa restrita escolha de sítios, convém lembrar que na gruta de
Pikimachay, vale de Ayacucho, houve uma queda do teto que separa as ocu-
pações pleistocênicas das holocênicas. Essas, datadas a partir de 8860±125
anos AP, contêm pontas de projétil e as datadas ao redor de 7000 anos atrás
contêm vestígios ósseos de cervídeos, camelídeos e roedores. Nos níveis com
várias datações que remetem a antiguidade do sítio arqueológico ao Pleisto-

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ceno, o período chamado Pacaicasa, datado de 20200±1500 anos AP, foi alvo
de muitas críticas por ter um material lítico rudimentar e ser proveniente da
própria rocha do abrigo. Já o nível Ayacucho, datado de 14150±180 anos AP,
vide infra, parece mais fiável (MacNeish e col. 1980-83).
Muitos outros sítios notáveis da parte setentrional do continente sul-
americano, na região da Sábana de Bogotá, Colômbia, merecem ser men-
cionados sobre a presença humana no período de transição Pleistoceno ao
Holoceno sendo que não haja necessariamente peças bifaciais ou fauna fós-
sil: El Abra, abrigos sem megafauna e sem ponta de projétil, Tequendama
abrigo sem fauna fóssil, mas com ponta de projétil e peça bifacial, e Tibito
1, sítio a céu aberto estratificado, local de caça e esquartejamento de fauna
fóssil - mastodonte, equídeo e cervo. (Hurt, Van der Hammen e Correal
Urrego 1976, Correal Urrego e Van der Hamen 1977, Van der Hamen 1978).
Voltando ao cone Sul, pesquisas em outros sítios dos pampas argentinos
revelaram uma presença tardia da fauna fóssil, exemplo de La Moderna e
Campo Laborde (Politis 2007, 2008, Politis e Messineo 2008), onde a mega-
fauna encontrada, Gliptodonte e Preguiça gigante terrestre, está associada
a vestígios líticos, poucos artefatos e apenas uma centena de lascas e de
estilhas em cada sítio, ao redor de 8000-7000 anos atrás. Esse fato surpre-
endente ocorrendo especificamente em uma única região faz com que várias
questões possam ser levantadas sobre as causas dessa presença de megafauna
no Holoceno Antigo já avançado, sendo sua extinção total após 7000 anos
AP como: preservação pela localização nessa região pampeana como refugo
relictual; extinção posterior enfim em função do grande evento do ótimo
climático; eventuais fatores que poderiam rejuvenecer as datações...
A outra grande parte tropical e oriental da América do Sul está subme-
tida a pesquisas feitas em território brasileiro. Os tipos dos meios-ambien-
tes e as metodologias das pesquisas empregadas vão ser diferentes das que
acabamos de analisar e seu desenvolvimento é globalmente mais recente.
Levantamentos atualizados por A. S. Dias registram cerca de 67 sítios em
diferentes ecosistemas de norte a sul e de leste a oeste, pertencentes ao perí-
odo 12000-8000 anos AP (Dias 2004).
A costa atlântica do Brasil meridional foi e é intensamente pesquisada
através dos sítios monumentais, os sambaquis, construções à base de molus-
cos feita por povos que viviam da pesca. As datações até agora obtidas para
os povoamentos dessa região litorânea não ultrapassam 8000 anos atrás.

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Sempre foram levantadas hipóteses relativas ao nível do mar que teria enco-
berto os eventuais acampamentos da orla. Surpreendemente pesquisas bem
recentes realizadas por L. Figuti em sambaquis fluviais próximas ao litoral,
mas não junto ao oceano, trazem informações únicas quanto ao relaciona-
mento existente entre moradores de áreas montanhosas e o mar. Isso foi
verificado pela utilização dos recursos marinhos distantes de uma centena
de quilômetros. Essas instalações pré- históricas possuem uma boa conser-
vação de sepultamentos, de vestígios líticos compostos de uma produção de
uma centena de pontas de projéteis (uma quantidade excepcional na região
do litoral paulista). As datações dos sítios, como o sambaqui fluvial Cape-
linha, vale do Ribeira, sul do Estado de São Paulo, atingem 9000 a 10000
anos atrás, recuando e confirmando ocupações humanas costeiras no início
do Holoceno Antigo (Figuti 2011, Penin 2005).
As descobertas referentes à fauna extinta se fazem paralelamente aos sí-
tios de ocupação humana, como nos sítios da Serra da Capivara, Piauí, e não
conjuntamente, quer dizer os sítios que possuem uma longa sequência estra-
tigráfica atingindo o período de passagem Pleistoceno e Holoceno não têm
presentes de maneira concomitante a megafauna, e se ela existe no sítio, ela
não está associada aos vestígios humanos: a megafauna é anterior, exemplo
Lapa Vermelha IV, Minas Gerais. A megafauna pode estar totalmente ine-
xistente, em sítios onde outros restos faunísticos estão bem preservados como
nos abrigos de Serranópolis, em Goiás, Lapa dos Bichos, Santana do Riacho
e Boquete, em Minas Gerais. Evidentemente, ficam excluídos dessa conside-
ração os sítios onde vestígios ósseos não se conservam, como os sítios da área
do Tocantins, Miracema do Tocantins e Lajeado 18, por exemplo.
Os sitios a céu aberto dos rios Uruguai e Ibicuí, Arroio dos Fósseis e
Arroio Touro Passo foram por muito tempo considerados como exemplos
do período de transição Pleistoceno-Holoceno, não só pela cronolologia
com datações entre 12770+- 220 e 8585+-15 anos AP como pela proximidade
aos sítios pampeanos com pontas de projétil, do Uruguai e pela presença
da fauna extinta, como os da Argentina. Foram assim associados o material
lítico com pontas de projétil aos restos ósseos de glossotério, Glossotherium
Robustum (Bombin e Bryan 1978, Miller 1987). Uma revisão feita no po-
sicionamento estratigráfico desses materiais, onde de fato a dispersão dos
ossos de megafauna não estaria em associação direta com os vestígios cultu-
rais, conduziu à retração das conclusões anteriores (Milder 2000).

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No estado atual das pesquisas brasileiras, uma única exceção nesse vasto
território confirma a coexistência da megafauna com ocupações humanas.
Exatamente na passagem Pleistoceno-Holoceno o abrigo rupestre Santa
Elina, Jangada, Mato Grosso, já denso de ocupações holocênicas, contém
vestígios de fauna extinta, ossos dianteiros de um único animal, o Glossothe-
rium lettsomi, associados a material lítico de confecção simples, mas diver-
sificado na escolha da matéria prima - calcário, arenito e silex. As fogueiras
desse nível foram datadas entre 9320±20 e 10120±60 anos BP (Vialou et al.
1995, Vilhena Vialou 2005). Ocorre também em outro nível, no Pleistoceno,
tendo associação de vestígios culturais com a fauna extinta, conforme infra
(Vilhena Vialou 2011).
Na região amazônica, as grutas paraenses de Pedra Pintada, em Monte
Alegre, (Roosevelt e col. 1996) e do Gavião (Magalhães 1994, Hilbert 1998)
testemunham a presença humana por volta de 11000 anos e 8000 anos AP
com confecção de peças bifaciais e de pontas de projétil. As pesquisas atuais
ao longo do médio-Amazonas têm evidenciado que a região foi densamente
ocupada por povos préceramistas (Neves E. G. 1999, 2006).
A região de Lagoa Santa bastante conhecida através de pesquisas efe-
tuadas por Lund, Walter & Blasi, Emperaire e recentemente pesquisada
(Araújo e Neves 2011) e suas proximidades, em Santana do Riacho (Prous
1980-81) e os abrigos Boquete e Lapa dos Bichos situados na região do vale
do Peruaçu, ao norte de Minas Gerais (Prous 1991, Kipnis 2002) confirmam
um povoamento por volta de 11000 anos AP.
Recentes pesquisas voltadas à tecnologia lítica efetuadas em sítios do
Planalto Central, - Minas Gerais (Rodet 2006), Tocantins (Bueno 2007) e
a retomada do estudo lítico para o sítio GO JA 01 – Serranópolis, Goiás, e
Pedra Furada, Piauí (Lourdeau 2010), trazem uma contribuição valiosa para
o conhecimento dos povoamentos nesses espaços do planalto, caracterizado
pelo Cerrado, mas também pela Caatinga, ocupados por povos moradores
seja em abrigos como em sítios a céu aberto, entre 12000 e 8000 anos AP
e que criaram uma modalidade de elaboração de instrumentos líticos que
é típica e singular para o período estudado: as peças plano-convexas com
retoques unifaciais.
Embora sua expressão tecnológica esteja ligada ao Cerrado e ao Pla-
nalto Central brasileiro, trata-se de uma manifestação temporal e espacial
extremamente ampla: uma uniformidade na confecção de utensílios ligada

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a um período circunscrito a 3000 anos. A presença desse tipo de utensílio
baseado em uma tecnologia em parte standartizada implica numa adaptação
ao meio-ambiente quase que homogeneizada para obtenção de seus recur-
sos básicos de subsistência (caça, esquartejamento) e de instalação (abate de
árvores, construções de cabanas, de jiraus) tanto para os moradores de sítios
a céu aberto como em abrigos.
Essa tecnologia hoje bem caracterizada, e que já havia sido em parte
distinguida nos estudos precedentes com o nome de Itaparica, revela uma
concepção e uma utilização particular dos utensílios líticos e reforça a argu-
mentação de que não foram todos os povos pré-históricos que confecciona-
ram peças bifaciais e as pontas de projétil, mesmo em tempos holocênicos.
A. Lourdeau fez um levantamento de cerca de setenta sitios que continham
específicamente esses tipos de utensílios, sendo de uma mesma faixa crono-
lógica e da região do Planalto Central.
A cultura dos povos que produziram peças plano convexas retocadas
unifacialmente no Holoceno Antigo e na passagem Pleistoceno-Holoceno
dispensou e praticamente ignorou a concepção, através da rocha, de peças
bifaciais e de pontas de projétil.

Sítios do Pleistoceno – Parâmetros de análise para estabelecer


uma seleção operatória: estratigrafia, vestígios, restos faunísticos,
datações

Observa-se supra uma grande diversidade de adaptações ambientais no


período de grandes mudanças climáticas que distingue o Pleistoceno do
Holoceno. As instalações pré-históricas nas Américas nesse período são cla-
ramente bem estabelecidas. O que fica a ser elucidado refere-se às ocupações
anteriores a esse período. Qual seria a faixa cronológica do Pleistoceno su-
perior abrangida na América? O limite mais recente tem sido considerado
a data de 12000 anos AP, válido tanto pelos dados geológicos-climáticos
como pelos vestígios arqueológicos abundantemente encontrados. Mas até
quando podem ser recuadas as idades dos primeiros povos na América?
As primeiras datações de ocupações do Paleoíndio, feitas durante a se-
gunda metade do século XX, forneceram a primeira grade cronológica e ao
mesmo tempo conduziram os pré-historiadores norte-americanos a decidir
que se tratava dos inícios da pré-história no continente. Era ignorar a des-

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coberta de outros sítios antigos na América do Sul, alguns sendo jà datados
do fim do Pleistoceno (como os sitios Clóvis do Paleoindio), e localizados
no cône sul como Fell no Chile e Los Toldos na Argentina. Em seguida, a
obstinação de alguns cientistas, na verdade ideológica na falta de uma ver-
dadeira argumentação científica, apesar da multiplicação de descobertas de
sítios objetivamente mais antigos que estes da cronocultura do Paleoíndio,
provocou a ereção da famosa “barreira Clovis”, felizmente abandonada pela
comunidade atual dos pré-historiadores. Assim, nas últimas décadas, o sitio
Monte Verde (Chile), escavado pelo reconhecido pesquisador norte-ame-
ricano T. Dillehay, serviu para romper claramente com a “barreira”, como
paradoxalmente, as escavações da Toca do Boqueirão da Pedra Furada es-
cavada por N. Guidon e F. Parenti, graças às controvérsias que suscitaram
(e suscitam ainda). As numerosas datações obtidas no abrigo Santa Elina
(Mato Grosso) colocam os povoamentos desta região central da América do
Sul bem antes do fim do Pleistoceno, pois, elas confirmam definitivamente
a antiguidade dos povoamentos da América. Por outro lado, as descobertas
de ocupações datadas ao redor de 12000-11000 anos tornam-se numerosas.
As discussões, por vêzes controversas ou mesmo polêmicas, no assunto
dos mais antigos sítios, derivam geralmente de uma má articulação cientí-
fica (ou mesmo da ausência) dos diferentes parâmetros preponderantes a
serem tomados em conta para definir uma identidade (ou atribuição) cro-
nocultural ou para confirmar sua (ou suas) datação.
O parâmetro fundamental, na base da argumentação arqueológica, é a
sequência estratigráfica na qual a ocupação arqueológica a ser definida e
datada deve estar inscrita em condições sedimentológicas perfeitas. Sem um
conhecimento rigoroso da posição estratigráfica de uma ocupação, quaisquer
considerações cronólogicas enunciadas ficam frágeis, não baseadas em uma
cronologia relativa que seja de fato relacionada aos paleoambientes (origem,
natureza e dinâmica dos depósitos, suas relações com os dados geológicos
regionaís e geomorfológicos locais). Por exemplo, é possível perguntar sobre
a ausência de correlação estragratigráfica real do que foi datado no sítio Alice
Boër (São Paulo) ao redor de 15000 anos. E é isso que impede de retê-lo na
lista das ocupações pleistocênicas. Alice Boër, sítio a céu aberto localizado às
margens de um ribeirão da cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo, foi
um dos primeiros a ser assinalado no Brasil como ocupação pleistocênica, já
em 1964-65 (Beltrão 1974). Além de uma sequência de ocupações holocê-

27
nicas com pontas de projéteis e peças bifaciais, os resultados de vários estu-
dos sobre esse sítio a partir de antigas escavações e de análises de datações
por termoluminescência do material lítico em silex aquecido (Cunha 1994)
foram decepcionantes por não poderem situar exatamente os vestígios em
estratigrafia e as datações mais antigas foram obtidas por 14C de 14200±1150
e por TL de 10950±1020 anos AP se encontram fora de uma ordem crono-
-estratigráfica.
As mesmas reservas impedem de conceder uma validade arqueológica
para a datação ao redor de 15000 anos no Abrigo do Sol, Vila Bela, Mato
Grosso (Miller 1987). É um abrigo arenítico rupestre cujas quedas de gran-
des blocos perturbaram a estratigrafia, contendo evidências de ocupações
humanas, datadas entre 14700±195 anos AP e 5760±60 anos AP, sendo que
algumas datações se encontram em posição inadequada estratigraficamen-
te e os objetos líticos pertencentes ao período do Pleistoceno não foram
apresentados na publicação de maneira convincente, não há descrição do
material e a qualidade das fotos reproduzidas não permite a identificação
tecnológica das peças.
No abrigo rupestre calcário Morro Furado, Santa Maria da Vitória,
Bahia, as datações mais antigas e mais profundas, entre 190 e 100 cm de
profundidade estavam em sedimentos perturbados e sem vestígios culturais:
43000 anos, a idade mais antiga da base do corte, seguida pela de 26600±620
anos AP feitas com moluscos e a de 21090±420 anos AP datação por car-
vões. Enquanto que em níveis superiores a sequência arqueológica holocê-
nica começa somente a partir de 9000 anos atrás (Bitencourt 1998, Schmitz
e col. 1996).
O segundo parámetro, igualmente fundador, é aquele da identidade
arquelógica de ocupação considerada pré-histórica pelos pesquisadores.
Existem exemplos de séries de objetos de pedra registrados como artefa-
tos manufaturados e que, na verdade, eram somente pedras geologicamente
quebradas: foi o caso de coletas fora de depôsitos estratificados (ou em es-
tratigrafias perturbadas), por exemplo, nos Estados Unidos, antes dos anos
1950 (Calico hills). Essa questão é colocada ainda para séries líticas achadas
em níveis inferiores das sequências contendo autênticas ocupações pré-his-
tóricas da Pedra Furada.
O sítio Pedra Furada (Toca do Boqueirão da Pedra Furada – Serra da
Capivara, São Raimundo Nonato, Piauí), é o abrigo rupestre em uma for-

28
mação rochosa conglomerática de arenito, quartzo e quartzito onde foram
efetuadas escavações atingindo a base rochosa (Parenti 2001). Além de uma
sequência e cronologia bem estabelecida para os períodos holocênicos, a
longa sequência proposta para o Pleistoceno final de 14000 e até mais de
50000 anos atrás contém muitas incertezas quanto às origens tanto dos lí-
ticos lascados como de fogueiras. Vários debates acadêmicos, sendo alguns
violentos, ocorreram (Guidon e Delibrias 1986, Meltzer et al 1994), e, ainda
hoje, apesar de novos estudos tecnológicos do material feitos pelo pesqui-
sador E. Boëda, as dúvidas persistem. Análises das indústrias líticas e as
verificações do posicionamento estratigráfico desses materiais e de suas fo-
gueiras remetem a questões ainda não resolvidas: o material lítico, compos-
to de seixos de quartzito e de quarzo locais, questiona-se ainda se se trata
de confecção humana ou natural pelos choques evidentes dos seixos caídos
verticalmente e abruptamente do alto do abrigo; a estratigrafia não está bem
definida; e, enquanto que as datações dos carvões pelo carbono 14 poderia
ser arqueológica, em relação à sequência estabelecida, as datações por ter-
moluminescência das fogueiras compostas de pedras aquecidas revelaram
uma grande disparidade na composição desses “fogos” e mostram que para
cada uma delas não se trata de fogueira organizada porque as pedras que
a compõe têm idades diferentes, sendo que o conjunto pode ter 160000 e
80000 anos BP (Michab 1999).
Essas restrições científicas não autorizam, pelo momento e serenamen-
te, considerar esses sítios plenamente pleistocênicos.
Quanto ao sítio Monte Verde, Chile, no que se refere ao nível mais
antigo, Monte Verde I (MVI), datado de 33370±530 anos AP, localizado a
2 metros de profundidade e não em sequência direta com Monte Verde II
(MVII) e a 1 metro mais profundo deste em estratigrafia, a representati-
vidade arqueológica fraca em vestígios encontrados (carvões esparsos e 26
pedras fraturadas sendo dessas apenas 11 com marcas de percussão ou uti-
lização) explica provalvelmente a prudência interpretativa do pesquisador
T. Dillehay, e conduz claramente a não inscrever esse nível no conjunto das
ocupações muito antigas do Pleistoceno.
Alguns autores mantém ainda reservas à inclusão dos sítios Taima-Tai-
ma e Pikimachay (Borrero 2009) dentre as ocupações pré-históricas pleisto-
cênicas. As reticências levantadas, falta de estudo arqueozoológico para um
e qualidade dos utensílios feitos, com a mesma rocha vulcânica que constitui

29
o abrigo para outro, devem ser consideradas mas, não são, a nosso ver, tão
relevantes em relação ao valor dos testemunhos neles encontrados, sabendo
que se tratam de níveis com datações ao redor de 14000 anos atrás.
Taima-Taima, situado na beira de uma mina d’água em uma pequena
elevação na costa venezuelana, é um local onde a megafauna - glos-
sotério, mastodonte, gliptodonte, cavalo americano – dessedentava-se.
Um lugar ideal para caçar e esquartejar os animais como testemunha
uma ponta de projétil de estilo El Jobo encravada na pélvis de um jovem
mastodonte. A ausência de partes do animal, ainda em conexão revela a
interação com o homem. Associado ao mastodonte havia também uma
lasca de jaspe com marcas de uso. Essa unidade estratigráfica teve 15 da-
tações entre 13390 ±130 e 12580±150 anos AP. (Bryan et al. 1978, Gruhn
e Bryan 1989).
Pikimachay, a 2850m de altitude nos Andes peruanos, é um abrigo
que possui uma longa sequência de ocupações holocênicas e também
várias datações que reportam ao Pleistoceno. Essas contêm muitos res-
tos ósseos de megafauna o que levou a ser considerado como sítio de
matança e de esquartejamento dos animais. Embora tenha datações que
vão à 19000 anos AP com um material lítico constituido de fragmentos
de rochas do próprio abrigo sem preparo nem de lascamento nem de re-
toque, é o nível de 14000 anos AP, designado como fase Ayacucho (nome
do vale onde se encontra o abrigo) que, pelos utensílios líticos e fauna
selecionada, tem as melhores condições para que seja considerado fiável
(MacNeish e col 1980-83).
Incontestavelmente Monte Verde II, Puerto Montt, Chile, sítio a céu
aberto localizado em uma enseada, Chinchihuapi, a 50 km do oceano
Pacífico e escavado por Tom Dillehay de 1977 a 1985, é considerado o
sítio demonstrativo e comprovador do povoamento da América, e par-
ticularmente do cone sul da América do Sul, anterior a Clóvis. De fato,
várias vezes datado de mais de 11790±200 anos AP a 13568±250 anos
AP, esse hábitat possui uma conservação de vestígios ósseos e vegetais
extraordinária. O depósito arenoso, estratigraficamente designado como
MV II, a 100 cm da superfície foi recoberto por turfas que protegeram
os testemunhos de uma importante área de ocupação com 600 m2, onde
foram evidenciados 11 a 12 restos de cabanas feitas de ossos de Mas-
todonte ainda com a pele. Há marcas de buracos de esteio onde estão

30
in loco, além dos grandes ossos, pedaços de madeira, para os alicerces
das habitações. Foram preservadas nesse solo recoberto de sedimento
mole e úmido pegadas humanas; coprólitos humanos foram encontrados
em um buraco, e também concentrações de conchas, contas, elementos
de alimentação baseado na pesca. Várias fogueiras e as análises do solo
constataram uma composição de cinzas, elementos orgânicos, de cozi-
nha, tanto ossos como plantas.
O material lítico provém em grande parte do local, mas algumas peças
são de rochas exógenas. Destacam-se duas peças bifaciais, pontas de projé-
teis lanceoladas e as bolas “de boleadeira” (Dillehay 1997).
No abrigo calcário rupestre de Santa Elina, Jangada, Mato Grosso,
Brasil, as pesquisas recentes de 1984 a 2004 efetuadas conjuntamente en-
tre o Museu Nacional de História Natural de Paris (MNHN) e o Museu
de Arqueologia e Etnologia da USP, São Paulo (MAEUSP), decelaram
em continuidade a uma sequência de ocupações do holoceno médio e an-
tigo, ocupações da transição Pleistoceno-Holoceno, datadas entre 9000 e
10000 anos AP (Vilhena Vialou e Vialou 1994, 2009, Vilhena Vialou e col.
1995, 1999).
O nível com a idade de 10120±40 ans AP possui fogueiras e organização
espacial onde estão presentes utensílios líticos confecionados em rocha local
e exógena, calcário, silex e arenito, plaquetas de hematita trazidas ao sítio
possuindo marcas de desgaste e restos ósseos da parte dianteira de um indi-
víduo de fauna extinta, Glossotherium lettsomi. É o único sítio arqueológico
brasileiro onde no mesmo local - no mesmo nível arqueológico e no mesmo
espaço habitacional - a megafauna coexiste com vestígios culturais.
Não é apenas essa informação que interessa o presente artigo, mas
sim, a que diz respeito a vestígios encontrados 1 metro abaixo na mes-
ma sequência estratigráfica do nível de 10000 anos atrás. No sedi-
mento arenoso intercalado de blocos de calcário que separa os dois
níveis não foram encontrados carvões, nem faunas e o material lítico é
escasso. Enquanto que a 3 m de profundidade, um nível arqueológico
se destaca, ele é caracterizado pela presença de vários ossos, fragmen-
tos de costela, vértebras, semi-mandíbula e milhares de osteodermos,
todos provenientes da parte dianteira do Glossotherium lettsomi, mesma
espécie fóssil, a de Preguiça terrestre, e distribuídos não em conexão
mas não muito dispersos, limitados sobre 12 metros quadrados. Nesse

31
mesmo solo ligeiramente acinzentado composto de cinzas e de par-
tículas de carvões onde se dispõe a megafauna, ocorrem materiais lí-
ticos lascados e retocados em calcário detrítico, diferente do calcário
do abrigo e algumas plaquetas de silícia retocadas. Nesse solo onde
estão em associação os restos ósseos do glossotério e cerca de duzen-
tas peças líticas, foram encontrados dois osteodermos trabalhados, um
com as faces abrasadas, planas, provocando um destaque à simetria
de orifícios nas extremidades opostas, outro osteodermo foi abrasado
de forma que as faces se convergessem a um mesmo bordo e na parte
mais espessa do osteodermo foi acentuado um orifício central. Esses
vestígios excepcionais encontrados já em nível pleistocênico puderam
ser datados por tres métodos, a) Radiocarbono em Espectrometria de
Massa por Acelerador (SMA), na França, laboratório de Gif/Yvette,
b) Urânio-Tório (U-Th), na França, laboratório do Muséum National
d’Histoire Naturelle de Paris e c) Luminescência Óptica Estimulada
(OSL), nos Estados Unidos, laboratório da Universidade de Washing-
ton em Seatle. Consequentemente, foram datados três materiais dife-
rentes: partículas de carvão, osteodermo do glossotério e os quartzos
contidos nos sedimentos. Com os sigmas das margens de êrro dando
alguns milênios a mais para um e a menos para outro método, todos
concordam na idade ao redor de 25000 anos BP: 23120±260 anos AP
por SMA, 27000±2000anos AP prr UTh, 27860 ±1800 anos AP por
OSL (Vilhena Vialou 2003, 2007 e Vilhena Vialou org. 2005).

32
Figura 3 – Escavação do Abrigo Santa Elina, Mato Grosso, Brasil. Sítio
e corte estratigráfico (Foto Agueda e Denis Vialou).

Figura 4 – Abrigo Santa Elina, Mato Grosso, Brasil. Nível de 25.000 anos.
Solo com megafauna (Foto Agueda e Denis Vialou).

33
Figura 5 – Abrigo Santa Elina, Mato Gros-
so, Brasil. Nível 25.000 anos – osteodermo
trabalhado (Foto J. P. Kauffmann).

Figura 6 – Abrigo Santa Elina, Mato Grosso, Brasil. Osteodermos de


Glossotherium em laboratório. Nível 25.000 anos (Foto J. P. Kauffmann).

34
Figura 7 – Abrigo Santa Elina, Mato Grosso, Brasil. Plaqueta retocada em calcário no nível
25.000 anos (Desenho L. Chiotti).

A identidade arqueológica tem de ser definida a partir de critérios dis-


tintos, complementares e estritamente correlados. Um fragmento de cerâ-
mica achado isolado, em estratigrafía ou em superficie é apenas o testemu-
nho do uso de potes ou da atividade de ceramistas, tão como uma fogueira
achada nas mesmas condições está testemunhando uma presença, efêmera,
e nada mais. Na verdade, uma identidade arqueológica é adquirida quando
os testemunhos, as estruturas espaciais de ocupação e os diversos traços es-
tão evidenciados em boas condições estratigráficas, excluindo, por exemplo,
palimpsestos em reocupações mal diferenciadas durante a escavação ou na-
turalmente perturbadas por fenômenos de origem geológica ou climática
(escorregamentos, por exemplo) ou biológica (toca). As estruturas espaciais
e os vestígios do conjunto arqueológico são os elementos constitutivos da
sua identidade cultural e crono-cultural, quando jà existem dados compara-
tivos regionais.
Os vestígios (e eventualmente pegadas) de fauna (conchas, dentes, ossos,
chifres, peles, pêlos) e de flora (pólens, fitólitos, macro restos, carvões), as
determinações sedimentológicas das camadas ou ainda as análises de es-
peleotemas em meio cárstico em ligação com os dados arqueológicos estão
constituindo um precioso conjunto de parâmetros para a caraterização dos
contextos paleoambientais, paleoclimáticos e algumas vezes bio-estratigrá-
ficos dos conjuntos arqueológicos ao qual pertencem. Os mais espetaculares
exemplos dessas interferências entre as ocupações e os meios são fornecidos

35
pela coexistência no interior de uma mesma ocupação de testemunhos de
estruturas ou de traços antrópicos e de vestígios ósseos de uma megafau-
na fóssil (Monte Verde, Santa Elina, Taima Taima) ou ainda pelas boas
correlações, na escala regional, entre várias ocupações (em diferentes sítios)
incluindo separadamente restos de megafauna e vestígios antrópicos da
mesma identidade cultural.
O inventário dos parâmetros associados, e que são essenciais para evi-
denciar identidades culturais nos seus quadros cronológicos, torna-se con-
clusivo com as datações absolutas (qualquer que seja o método utilizado).
Geralmente, as tentativas de caracterização cronológicas pelas datações es-
tão feitas em primeiro, antes mesmo das caraterizações arqueológicas e de
suas calagens cronoestratigráfícas, e isso traz incertezas insolúveis e algumas
vezes erros ainda mais difíceis de serem corrigidos que uma propaganda
mediática quando divulga muitas vezes uma datação que parece perturbar
as grades cronológicas conhecidas. Uma datação de um carvão (ou micro-
carvão, conforme o método) desligado de qualquer contexto arqueológico
direto (uma estrutura espacial atestada ou uma ocupação antrópica compro-
vada) não tem sentido arqueológico e ainda menos cronocultural. Pode ser,
por exemplo, um vestígio de incêndio natural.
A fascinação para as datações absolutas invadiu o estudo e a carateriza-
ção das representações parietais (arte rupestre). Faz cerca de dez anos que
graças a um novo método (AMS), tornou-se possível datar micro-amostras
de materiais orgânicas deixando intacto os traços analizados. Essas datações
diretas são de fato pontuais, o que impede de extrapolar a datação obtida
para a totalidade do dispositivo parietal de onde pertence o traço que deu a
micro-amostra. Como para as datações de ocupações, as datações têm que
ser arqueologicamente contextualizadas por ser cronologicamente significa-
tivas e validadas. Nos últimos anos, tentativas de datação das calcitas ou de
outros tipos de depósitos superficiais cobrindo representações se desenvol-
veram na América (e no mundo): os resultados obtidos ficam incertos ou
várias vezes contraditórios (como recentemente na serra da Capivara, Piauí).
A arte rupestre americana, bem densa nas zonas de afloramentos rocho-
sos não se beneficiou de fato dessas datações diretas. Na realidade, as atri-
buições crono-culturais de representações parietais propostas se repousam
frequentemente em considerações técnicas ou temáticas geralmente sobre
bases arqueológicas sérias. As representações de animais fósseis não supor-

36
tam a análise objetiva das formas, ao inverso do que se passa para as repre-
sentações paleolíticas da Europa: desenhos bem atestados e identificáveis
de mamutes, megaceros etc. As únicas, atribuições cronoculturais aceitáveis,
quando estão bem estabelecidas, são essas que dependem de relações diretas
entre uma parede (ou um fragmento de parede) ornamentada e uma (ou
várias) ocupação por si bem identificada e datada: por exemplo, uma escama
de descamação da parede contendo uma representação no meio duma ocu-
pação, ou também o contato entre uma camada com um conjunto arqueoló-
gico em contato direto com uma (várias) representação feita sobre a parede
do abrigo (então, anteriormente à ocupação). Situações iguais foram eviden-
ciadas, raramente na América do Sul e do Norte: forneceram atribuições
culturais situadas no Holoceno (por exemplo, o sítio Santana do Riacho,
Minas Gerais, Brasil) e não no Pleistoceno. O paralelismo das dificultades
das datações e do uso delas para estabelecer as redes cronológicas das socie-
dades e culturas fica nítido entre arte rupestre e os habitats pré-históricos.
A datação de um carvão coletado quando proveniente de uma fogueira
estruturada e claramente associada a outros vestígios arqueológicos (indús-
trias líticas ou ósseas, restos de fauna consumida, etc.) numa camada bem
in loco está perfeitamente válida para enriquecer – ou iniciar – um quadro
cronológico. Uma datação isolada, mas válida, servirá eventualmente de re-
ferência para outras datações em relação com a identidade cultural inicial-
mente datada: suas confrontações propiciam o afinamento da grade crono-
lógica. Contradições podem surgir, onde as diferenças cronológicas podem
não conduzir a uma média cronológica razoável. Então, as caraterizações
crono-culturais propostas devem ser retomadas com novas bases: a validade
física de uma datação pode ser interrogada em consideração às numero-
sas causas de contaminação, desde a amostragem in situ até o preparo da
amostra em laboratório. A validade das relações estabelecidas ou imaginadas
entre a(as) amostra datada e o(os) conjunto arqueológico estudado precisa
ser revisada. Observa-se muitas vezes que a origem dos problemas cronoló-
gicos vem da multiplicação de datações aplicadas a um conjunto específico
espacial-cultural.
A convergência dos parâmetros tomados para definir e datar identida-
des crono-culturais evidenciadas por escavações metodologicamente bem
conduzidas permite então registrar com uma segurança científica suficiente

37
uma quantidade significativa de sítios pleistocênicos na América do Sul,
paralelamente ao que acontece na América do Norte.

Conclusões

A pré-história na América do Sul está diretamente ligada à pré-história


da América do Norte no que se trata de suas origens, os mais antigos povo-
amentos pela Beríngia e as sucessivas vias de migração no continente até a
extremidade austral durante o Pleistoceno. A eventualidade de povoamen-
tos a partir dos oceanos no Pleistoceno fica sem espessura arqueológica,
mas não pode ser excluida. Por outro lado, o povoamento da Beríngia e em
seguida as migrações na direção do sul dos pioneiros americanos (todos
sapiens) são dados definitivamente estabelecidos. Os pré-históricos que po-
voaram a América do sul dividem com os Paleoíndios e os pré-Paleoíndios
da América do Norte as origens comuns beringianas.
O ponto comum, e fundamental, entre todos eles é a coexistência, so-
bre a totalidade das terras livres das chapas geladas do Pleistoceno, desses
primeiros povos com espécies animais (dentre elas a megafauna) que se ex-
tinguiram no fim do Pleistoceno e no início do Holoceno. A fauna fóssil da
América do Norte está ligada às condições climáticas do último pleniglacial
no hemisfério setentrional. Está composta de espécies que foram caçadas
pelos Euroasiáticos durante o Pleistoceno. Os homens que penetraram pela
primeira vez na América do Sul encontraram uma fauna que nunca tinha
sido caçada antes; essa fauna onde várias espécies tornaram-se fósseis du-
rante o mesmo período do grande balanço climático estava tão diversificada
como os meios-ambientes e climas do continente austral: de paisagens de
altitudes ainda bem frias dos Andes durante o fim do Pleniglacial a partir
do pólo sul às zonas litorais em climas tropicais.
A seleção aqui feita de sítios pleistocênicos baseada em critérios cru-
zados a fim de caraterizá-los nos seus paleoambientes evidencia uma vasta
repartição geográfica: ela concerne os principais ecossistemas, montanhas e
piemontes dos Andes, como o cone sul, então submetidos aos climas frios de
origem glacial, litoral Pacífico, sua costa estreita, recebendo fortes e diversas
influências marítimas, grandes bacias hidrográficas impondo uma articula-
ção pensada de espaços aquáticos e terrestres para serem povoados, imen-
sos espaços abertos de Pampas, litoral atlântico com um mosaico climático

38
da região meso-americana a espinha montanhosa terminal do continente.
Nessa importante variedade ambiental e climática, os povos caçadores do
Pleistoceno mostraram fortes aptidões adaptativas e em seguida desenvol-
veram economias e assim culturas singulares. É isso que os sítios mais anti-
gos selecionados estão atualmente mostrando: indústrias líticas não padro-
nizadas, comportamentos domésticos e econômicos (fauna, eventualmente
flora) próprios. O número crescente desses sítios permite, levando em conta
essa distribuição geo-ambiental reveladora de adaptações conseguidas, de já
entender melhor as modalidades de povoamentos articuladas com as paisa-
gens e assim entrever, pouco a pouco, de um lado rotas de migrações ou de
deslocamentos, de outro lado territórios econômico-culturais.
Essas localizações espalhadas dos sítios do Pleistoceno indicam clara-
mente que a atual faixa cronológica reconhecida de 25000-20000 anos vai
ser recuada de vários milênios quando serão descobertos sítios relacionados
com as rotas prováveis da penetração na América do Sul e em seguida das
dispersões. As dificuldades de identificação desses traços etnoarqueológicos
em grandes escalas vêm do fato de que os hábitats e os materiais arqueoló-
gicos não estão suficientemente caraterizados como acontece mais tarde na
pré-história durante o Holoceno. De fato, povoamentos e vias mi-
gratórias estão em parte perceptíveis quando é possível se apoiar em teste-
munhos carregados de valor cultural. É o caso das famosas pontas de projétil
como as pontas com rabo de peixe de vários sitios das regiões pampaneas
e também do sul do Brasil: elas mostram hábitos técnicos e econômicos
para caça compartilhados entre diversas populações, num prazo de tempo
relativamente curto; isso faz lembrar das pontas acaneladas do Paleoíndio
da América do Norte. Na segunda metade do Holoceno, como no Velho
Mundo, as cerâmicas têm um papel decisivo na identificação de todos esses
movimentos culturais, graças às suas formas e decorações. As representações
rupestres são igualmente indicadores originais dessas identidades e difu-
sões culturais (o que traduz a noção de Tradição). Entretanto, suas inserções
muito insuficientes na cronologia limitam seriamente sua dimensão crono-
cultural e, diferentemente da arte paleolítica na Europa, não interessa as
culturas anteriores do fim do Pleistoceno.
Os sítios com idades próximas do paleoíndio do final do Pleistoceno, ao
redor de 13000 anos atrás, como Monte Verde II e Taima Taima, possuem
um material lítico com peças bifaciais e uma diversidade de artefatos que

39
implica um conhecimento tecnológico aprimorado do lascamento, formata-
gem e de retoques por pressão. No entanto, os sítios Monte Verde I, Santa
Elina, Pikimachay e eventualmente Pedra Furada, apesar de seu pequeno
número e sem elementos representativos de uma tecnologia lítica elaborada,
ficam relevantes de povoamentos anteriores.
Convém ressaltar que alguns sítios norte-americanos, como Bluefish,
Meadowcroft e Cactus Hill, com datações entre 15000 e 20000 fazem parte
também dos primeiros povoamentos da América em correspondência assim
com a antiguidade dos sítios sul-americanos.
Enfim, deve ser frisada a escassez de sítios e a ausência de esqueletos
humanos em todo Pleistoceno americano.
A vitalidade das pesquisas arqueológicas na América do Sul transfor-
mou rapidamente e profundamente o conhecimento das sociedades pré-
históricas do Pleistoceno (e posteriores, claramente), a compreensão de suas
implantações geo-econômicas, a pertinência dos referênciais crono-cultu-
rais. Nesse âmbito, a pré-história brasileira se enriqueceu muito e de uma
bela maneira.

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