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Fundamentos da

Arqueologia e Pré-
história no Brasil
Material Teórico
A Pré-HIstória na América

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elisabete Guilherme

Revisão Textual:
PProfa. Dra. Kátia Rodrigues Mello Miranda
A Pré-HIstória na América

· A pré-história na América
· A chegada do homem na América
· Principais sítios arqueológicos no Brasil
· Os primeiros brasileiros
· Algumas descobertas recentes

Nesta unidade, veremos quais os passos que os estudos arqueológicos estão


dando na América e no Brasil.
O principal objetivo desta unidade é estudar a pré-história do continente
americano. Iremos verificar as hipóteses de como o homem alcançou o
território e se expandiu por toda a região. E as importantes contribuições
brasileiras no campo da arqueologia.
Em materiais didáticos, você encontrará o conteúdo e as atividades
propostas para aprofundar seus conhecimentos sobre a pré-história do
nosso continente e do nosso país.

Leia atentamente o conteúdo desta unidade, que irá tratar dos estudos sobre a pré-história
do homem na América e no Brasil.
Você também encontrará nesta unidade uma atividade composta por questões de múltipla
escolha, relacionadas com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar
conhecimentos e debater questões no fórum de discussão.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em
informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.

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Unidade: A Pré-HIstória na América

Contextualização

Fonte: proec.ufpr.br

A imagem reproduzida acima traz um esqueleto humano encontrado num sítio arqueológico
chamado de sambaqui.
Leia com atenção os textos, pesquise e avalie seus conhecimentos sobre os estudos
arqueológicos na América e no Brasil. Considere a importância que esses estudos têm para
o conhecimento da pré-história do continente e quais os impactos dessas descobertas para as
gerações futuras.

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A pré-história na América

Há consenso entre os pesquisadores das várias áreas que estudam o homem, nos seus
mais diferentes e diversos aspectos, que a vida humana não teve suas origens no continente
americano. O que podem afirmar é que, em algum momento do Pleistoceno* final, o homem
penetrou na América. As vias, as formas e o tempo decorrido para que todo o continente
fosse habitado por uma mesma espécie ainda são objetos de pesquisas, hipóteses e frutíferas
discussões entre os acadêmicos.

*!Pleistoceno final é o período geológico que se estende entre 2 milhões e 10 mil anos AP, ao qual
sucede o período atual, o Holoceno.

A chegada do homem na América


Uma vez que todos os estudos apontam para o início da vida no continente africano e para
que, entre 6 milhões e 150 mil anos atrás, o Homo Erectus tenha abandonado o continente
africano em direção à Europa, Ásia e Oceania, é possível questionar em que momento, por
quais meios e com a utilização de quais técnicas o homem alcançou a América.
As várias dúvidas pairavam também sobre o tipo de homem que chegou à América, já que
até o início do século XX, “acreditava-se que antepassados dos asiáticos atuais teriam penetrado
recentemente (há poucos milênios) na América do Norte, justificando o aspecto mongoloide*
da maioria dos indígenas americanos” (PROUS, 2007, p. 13). Entretanto, os estudos nos sítios
arqueológicos de Lagoa Santa, Minas Gerais, liderados pelo francês Paul Rivet, já identificavam
a conformação craniana dos ossos encontrados, mais semelhantes à dos australianos.
A hipótese de uma migração que tivesse como rota a América do Sul a partir da Austrália foi
logo abandonada, pois a presença de seres humanos nas ilhas do Pacífico era muito recente.
Os estudiosos concluíram que era necessário analisar outras hipóteses e teorias.

*! Para a biologia, existem três tipos de humanos: o europoide, o negroide e o mongoloide.


As características dos últimos são faces amplas e altas, crânios mais largos do que longos e bases
amplas, órbitas e cavidades nasais mais altas do que largas.

A primeira hipótese para explicar a presença do homem na América foi a de um argentino,


o paleontólogo Florentino Ameghino, que defendia a autoctonia do homem americano. Para
ele, o homem havia surgido na Argentina e de lá se espalhado pelo mundo. Ameghino era
herdeiro da visão de muitos autores que defendiam a opinião de que a vida havia surgido de
forma espontânea e independente nas várias regiões da Eurásia e da África. Hoje, os estudiosos
partilham a opinião de uma origem comum para toda a espécie humana e que esta tenha
surgido no continente africano.

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Unidade: A Pré-HIstória na América

No início do século XX, essa teoria de Ameghino já havia sido descartada e “estabeleceu-se
uma visão predominante de que o homem chegou à América, por meio da transposição do
Estreito de Bering em algum dos três últimos períodos de glaciação (40 mil, 25 mil, 14-9 mil
AP)” (FUNARI, 2014, p. 30).
Fonte: historiajaragua.com.br

Os vestígios de populações humanas encontrados no sítio de Clóvis, localizado no estado do


Novo México, nos Estados Unidos, eram considerados como os mais antigos sinais da presença
humana na América, desde cerca de 11.500 anos atrás. Nesse período, de temperaturas inferiores
às atuais, houve um período de glaciação que teria permitido a migração de um continente ao outro.
Nos sítios, foram encontrados, junto com as ossadas de grandes animais – o que sugere um
local de matança –, “artefatos de pedra, tais como lascas cortantes e pontas de dardo muito
sofisticadas” (PROUS, 2007, p. 13). A pesquisa e o estudo do material encontrado sugere que
esses povos tenham sido habilidosos caçadores, especializados em matar animais de grande
porte em zonas abertas. Os últimos anos deram a possibilidade de descobrir outras características
desses primeiros habitantes da América: estavam adaptados a ambientes variados, viviam da
coleta de vegetais e da caça de animais de pequeno e médio porte. Os diferentes grupos de
Clóvis desenvolveram técnicas originais, como, por exemplo, de lascamento da pedra para
extrair dos blocos de sílex ou obsidiana longas lâminas usadas para a fabricação de pontas.
As populações de Clóvis tinham características diferentes das apresentadas pelas de Folsom
(segundo grupo de populações encontradas na América). Enquanto os primeiros perseguiam
os animais com lanças manuais e varas, feitas com material da melhor qualidade, os segundos
atiravam dardos, a certa distância, com a ajuda de um propulsor (PROUS, 2007).
Durante muito tempo, os arqueólogos acreditavam que esses tinham sido os primeiros
habitantes do continente e que haviam imigrado da Sibéria para o Alasca pelo Estreito de Bering,
cuja passagem, devido às alterações climáticas, estaria hoje abaixo do nível do mar, portanto
fora do alcance dos arqueólogos. Esses primeiros habitantes são chamados de paleoíndios*.

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!*paleoíndios – o prefixo vem do grego palaios, que significa “velho”, e é usado para designar os
habitantes mais antigos da América do Norte. Eram caçadores e conviviam com mamíferos de
grande porte. O termo também foi adotado para as populações das demais regiões da América.

Os sítios descobertos nos últimos anos lançaram dúvidas sobre as datações das populações
de Clóvis, inclusive com questionamentos acerca da antiguidade de sua presença no continente.
Na América do Sul, os sítios de Monte Verde, no Chile, possuem datações que apontam para
a presença humana com cerca de 12.500 e 33 mil anos. No Brasil central, a Lapa do Boquete,
em Minas Gerais, e Santa Elina, no Mato Grosso, ou os sítios do nordeste e da Amazônia,
apresentaram artefatos com datações mais antigas que as encontradas em Clovis, entre 11.500
e 13 mil anos.
O sítio mais discutido, entretanto, está no Brasil; é o abrigo sob a rocha de Pedra Furada, no
Parque Nacional da Serra da Capivara* no Piauí. Sobre a liderança da arqueóloga brasileira
Niède Guidon, os pesquisadores encontraram vestígios de fogueiras que foram datadas com até
50 mil anos. Pesquisas posteriores e testes com outras técnicas de datação revelaram que alguns
artefatos têm datação mais recente e que outros, como restos de fogueira feita, supostamente, por
humanos, são resultados de fenômenos naturais, sem a interferência de qualquer ação do homem.

PARA SABER MAIS sobre o sítio da Pedra Furada e as pesquisas e estudos


desenvolvidos, acesse o site da Fundação Museu do Homem Americano, estabelecido
por Niède Guidon: http://www.fumdham.org.br/parque.asp

Principais sítios arqueológicos no Brasil

Fonte: Ítau Cultural Arqueologia

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Unidade: A Pré-HIstória na América

Nos últimos anos, o refino nas técnicas de escavação, o auxílio de outras ciências e os novos
recursos de datação têm auxiliado na comprovação da presença do homem em território
brasileiro já por volta de 12 e 5 mil AP. As áreas sem evidências de ocupação são aquelas
que ainda não foram pesquisadas e isso reforça a hipótese de ocupações em lugares e formas
diferentes em quase todo o Brasil.

Partindo da hipótese mais aceita da chegada do homem pelo estreito de Bering, os


pesquisadores se debruçam nos estudos de como e em qual espaço de tempo, as demais regiões
do continente foram ocupadas e densamente povoadas.

A hipótese de que a entrada do homem na América do Sul deu-se pelo istmo do Panamá
há, pelo menos, 12 mil anos é aceita por boa parte dos estudiosos. Para Funari (2014, p. 47):

Segundo a visão tradicional, haveria duas frentes de expansão: uma caçadora,


que penetrou pouco a pouco, pelo interior do continente; e outra, mais rápida,
de pescadores-coletores, que avançou pelas costas do Atlântico e do Pacífico.

Na visão tradicional, a ocupação do Brasil se deu, portanto, da costa para o interior (no
leste) e dos Andes para o centro-sul, pois os paleoíndios que avançaram pelo centro da América
do Norte e desceram pelos Andes estavam em busca de climas mais temperados e à caça
de grandes animais terrestres. A menor dimensão na extensão da floresta amazônica naquele
período justificaria o clima mais temperado em boa parte do Brasil.

Os questionamentos e críticas acerca dessas hipóteses de ocupação são motivados por novas
descobertas e evidências da presença humana em locais que eram considerados inóspitos. Mas,

[...] a ideia de que os povos procuram climas temperados e evitam os trópicos


liga-se claramente a uma visão etnocêntrica baseada na experiência dos norte-
americanos e europeus burgueses, que tem sido considerada por demais
subjetiva. (FUNARI, 2014, p. 48.)

Existem outras ideias que defendem a diferença entre culturas, organizações e desenvolvimento
de técnicas das sociedades paleoíndias, partindo do pressuposto que os climas temperados nem
sempre “teriam tido as mais precoces manifestações de estratificação social e do desenvolvimento
de técnicas” (FUNARI, 2014, p. 48). O modelo explicativo utilizado pelos defensores dessas
ideias é o determinismo ecológico*. Segundo esse modelo, a vida de populações humanas em
regiões como a da floresta amazônica seria inviável.

*! O determinismo ecológico defende que é o meio ambiente que determina a cultura.


O homem se adapta e não transforma o meio. Daí serem os trópicos regiões inóspitas para a vida
humana e inadequadas para o desenvolvimento cultural.

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Os primeiros brasileiros

O que tem se tornado cada vez mais evidente é a antiguidade da presença humana em
território brasileiro. Uma característica comum aos sítios arqueológicos no Brasil é que, em
sua maioria, eles estão sob o abrigo de rochas ou em grutas. “Não porque os homens neles
morassem normalmente, mas porque preservaram melhor os vestígios e são mais facilmente
localizados pelos arqueólogos” (PROUS, 2007, p. 16). A localização protegida possibilitou a
preservação de grande número de artefatos.
Os ocupantes mais famosos e antigos do Brasil foram localizados
um pouco ao norte de Belo Horizonte. A região de calcário e a encosta da serra
do Cipó forneceram a maior coleção de esqueletos disponíveis para o estudo
biológico das primeiras populações americanas. Muito parecidos entre si, formam
a chamada “raça de Lagoa Santa”. O mais antigo esqueleto, popularizado sob
o nome de Luzia, foi encontrado no abrigo nº IV da Lapa Vermelha (PROUS,
2007, p. 16.)

As mais recentes datações acerca das populações de Lagoa Santa apontam para um período
entre 10 e 8 mil anos atrás, e seu modo de vida é bastante conhecido pelas diversas escavações.
Em Santana do Riacho (MG), parte do espaço disponível era utilizada para trabalhar. As lascas
de quartzo, de diferentes tamanhos, tinham várias utilidades, assim como as plaquetas de
quartzo utilizadas para a confecção de instrumentos cortantes. Tais técnicas de polimento foram
encontradas na mesma época no Piauí, mas não nos demais sítios brasileiros (PROUS, 2007).
E ainda, no sítio de Santana do Riacho, utilizado também como cemitério entre 11 mil e 8 mil
anos atrás, foram encontrados
[...] esqueletos fletidos, depositados em redes, às vezes salpicados com pó
vermelho e adornados por colares de contas vegetais. Entre os restos de
alimentos, há cascas de pequi e jatobá, coquinhos de licuri e ossos de animais.
Constatou-se que os homens usavam utensílios líticos e ósseos. Deviam praticar
caça de porco-do-mato, tatus e roedores, com abundância de alimentação
vegetal que levava à cárie dentária, rara em época tão recuada. Pelo estudo dos
ossos humanos, foi possível saber também que havia falta de alimentos e até
fome no período de crescimento corporal de crianças e adolescentes, além da
presença de doenças inflamatórias. (FUNARI, 2014, p. 57-58.)

Ainda em Minas Gerais, porém no extremo norte do Estado, foi localizado outro sítio, mas
nele não havia esqueletos humanos. O terreno no vale do rio Peruaçu – região do Alto-Médio
do rio São Francisco, preservava vários pisos de ocupação. No abrigo da Lapa do Boquete, os
vestígios de instrumentos de pedra feitos de sílex, os restos de fogueira e de alimentos apontam
para ocupação num período entre 9 e 12 mil anos atrás.
Os sítios no Nordeste, embora com datações antigas, como no Piauí e na Bahia, não
apresentam características claras e aceitas com unanimidade pelos pesquisadores. A hipótese
levantada em Pedra Furada sobre a chegada do homem na América, com pouca credibilidade
por parte dos demais estudiosos e das correções nas datações dos artefatos encontrados,
carregam de dúvidas os dados das pesquisas mais recentes.

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Unidade: A Pré-HIstória na América

Por outro lado, o maior conjunto de pinturas rupestres do mundo encontra-se nos sítios da
região de São Raimundo Nonato (PI), e o conjunto de estilo considerado como mais antigo é
o da Serra da Capivara. Segundo os pesquisadores locais, os grafismos teriam se desenvolvido
entre 12 mil e 6 mil anos atrás. Nas figuras da Serra da Capivara,
[...] as representações humanas mostram cabeças por vezes ornadas com cocar,
isoladas, e às vezes figuras aparecem assexuadas. Quando estão em grupo,
o sexo é indicado de maneira convencional (um traço para o pênis, sempre
erguido, e um círculo para a vulva). As personagens são geralmente muito
dinâmicas. Formam cenas familiares [...], relações sexuais [...], caça ao tatu [...]
ou ao veado. (PROUS, 2007, p. 52.)
Fonte: turismo.ig.com.br

Com datação entre 15 e 22 mil AP em alguns sítios do Mato Grosso, a ocupação na região
Centro-Oeste é bastante antiga. A chamada “tradição Paranaíba”, em Goiás, registra as mais
antigas ocupações, entre 10.700 e 9 mil AP. Os autores apontam para alterações nas ocupações
dos sítios localizados, tanto no nordeste, como na região central do Brasil:
[...] diminuição quantitativa de vestígios de instrumentos e, muitas vezes,
dos vestígios alimentares encontrados nos abrigos, sugerindo que estes eram
pouco frequentados na vida cotidiana. No entanto, continuam utilizados, pelo
menos para finalidades rituais: decoração dos paredões (“arte rupestre”), por
exemplo, às vezes, sepultamentos. Cada região, no entanto, desenvolve algumas
peculiaridades, seja no modo de sepultar os mortos, seja nos temas pintados
ou gravados nos suportes rochosos, seja, ainda, na forma de representá-los.
(PROUS, 2007, p. 42.)

As escavações dos sítios no centro-oeste revelam que esses caçadores-coletores “estariam


organizados em pequenos grupos de apenas algumas famílias” (FUNARI, 2014, p. 59).
O território brasileiro possui muitos sítios antigos. O estudo da ocupação no litoral encontra-
se prejudicado pelas mudanças no nível do mar e nos limites da costa. O interior de São
Paulo, na região de Rio Claro, abriga o sítio Alice Böer, que atesta a ocupação há 14.200
AP. Diferentemente do que ocorre no nordeste ou na região central, as paisagens do Brasil
meridional não abrigam formações rochosas que, em suas grutas, podem preservar vestígios
de ocupações. A maioria dos sítios está a céu aberto, portanto muito mais difíceis de serem
localizados. Por isso, segundo Prous (2007, p. 31):

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A consequência é que a maioria dos sítios conhecidos no interior apresenta apenas vestígios
de superfície que são extremamente difíceis de se datar e que muitas vezes correspondem a uma
mistura de várias ocupações, eventualmente separadas por longo lapso de tempo.
Nessa região, foram identificadas, ainda, dois tipos de tradição: a Umbu e a Humaitá, que
têm como característica comum o não aparecimento de cerâmica em seus níveis arqueológicos.
Os primeiros teriam ocupado as regiões de campos dos atuais estados de São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e seus sítios mais antigos foram datados de 12 mil AP. Eles
confeccionavam artefatos de pedra e elaboravam pontas de flecha lítica. Os segundos teriam
ocupado os grandes ambientes de floresta entre 9 e mil AP e se destacaram na produção de
grandes artefatos bifaciais. A relação entre o local de ocupação e o instrumento criado foi o fator
determinante para a classificação dos grupos. Atualmente, muitos estudiosos questionam tal
distinção, uma vez que consideram que ambas as tradições possuem grandes semelhanças em
termos tecnológicos (FUNARI, 2014).
A descoberta de sítios com construções edificadas com valvas de moluscos, chamados de
sambaquis e encontrados no litoral do Brasil meridional, desde o Rio de Janeiro até o Rio
Grande do Sul, é importante achado arqueológico na tentativa de compreender como viviam os
primeiros habitantes do litoral do meridional do Brasil. As datações apontam para construções
em torno de 7 mil e 5 mil anos atrás, pelo menos.

Fonte: Museu da lingua portuguesa

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Unidade: A Pré-HIstória na América

A região amazônica foi pouco explorada, uma vez que havia hipóteses que sustentavam a
impossibilidade de vida numa região com aquelas condições climáticas. Entretanto, recentes
escavações encontraram vestígios de uma densa ocupação de caçadores, pescadores e coletores,
que deixaram vários instrumentos de pedra lascada no abrigo da Pedra Pintada de Monte Alegre,
no Pará. Também foram encontrados restos alimentares de várias espécies vegetais, inclusive
castanha-do-pará e numerosos coquinhos.
Como afirma Funari (2014, p. 61), apesar dos dados disponíveis e das explicações sobre a
diversidade da ocupação do território brasileiro, muitas vezes hipotéticas e de caráter genérico, “o
estudo da nossa história pré-colonial, antes da chegada dos descobridores portugueses, tem avançado
muito nos últimos anos e [...] já podemos reconstruir as grandes linhas dessa trajetória histórica.”

Algumas descobertas recentes


As descobertas mais recentes estão relacionadas aos campos de especialização da arqueologia
no Brasil. Desde a confirmação, em 1998, do crânio de Luzia como o mais antigo encontrado
na América, várias outras descobertas aconteceram.
Nem todas, entretanto, tiveram a importância e receberam destaque como aconteceu com
Luzia. Assim, em 2004, a Universidade Federal de Pernambuco deu início aos trabalhos de
escavações na cidade de Mazagão Velho, no Amapá, que, por ordem de D. José I, havia sido
transferida do Marrocos para a então província brasileira do Grão Pará; o objetivo era protegê-
la da invasão dos mouros, em 1769.
A arqueologia subaquática, com seus pesquisadores especializados em mergulho, descobriu em
2011, na costa de Santa Catarina, os restos de 11 submarinos alemães afundados na costa brasileira
durante a Segunda Guerra. Também foi localizado o U513, que chegou a afundar um navio mercante
brasileiro. A Univali e o Instituto Kar Schurmann gravaram os trabalhos de busca que farão parte
de um documentário. Nesse mesmo ano, os historiadores e a arqueóloga Cláudia Inês Parellada
anunciaram a descoberta do sítio arqueológico da Missão Jesuítica San Joseph, fundada em 1625
na cidade de Cambé, no Paraná, e destruída, provavelmente, pelos bandeirantes por volta de 1631.
Uma das mais recentes descobertas arqueológicas
aconteceu na ilha de Páscoa, no Chile. As escavações
revelaram que as grandes cabeças, conhecidas como
moais, têm corpos e inscrições. Porém, tal descoberta
aumenta as dúvidas sobre as técnicas de construção e
eventuais meios de transporte das gigantescas cabeças,
agora com corpos, para uma ilha no meio do Pacífico.
Fonte: Aurbina/Wikimedia Commons

No que diz respeito à atuação, a legislação federal


exige a presença de profissionais, entre os quais um
arqueólogo, para investigar os impactos em áreas que
serão objetos de grandes construções, como: “barragens,
estradas, linhas de transmissão ou mesmo, no caso das
cidades, quando da construção de edifícios” (FUNARI,

14
2012, p. 115). Tal medida, que deve ser observada também por estados e municípios, além
de proteger o patrimônio arqueológico nacional, abre novas perspectivas de ação e atuação
do arqueólogo. Nessas ocasiões acontecem novas descobertas, como a recente descoberta de,
aproximadamente, 70 sítios arqueológicos na obra da criação do Arco Metropolitano, apenas
no trecho de 71 km, que ligará, na Baixada Fluminense, os municípios de Duque de Caxias e
Itaguaí, no Rio de Janeiro.
Também no campo de preservação do patrimônio, a presença de arqueólogos na gestão
turística do patrimônio seria de fundamental importância, pois como afirma Funari (2012, p. 116):
O Brasil conta com um imenso manancial de sítios arqueológicos de potencial
turístico, a começar pelos sítios históricos como as cidades coloniais em Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo ou Goiás [...] Os sítios pré-históricos do
território nacional constituem outro imenso manancial, pouquíssimo explorado
como fator turístico-cultural.

Todos esses aspectos justificam o estudo de arqueologia no Brasil, pois é imenso o campo
para pesquisa e atuação desse profissional. Como também se justifica a busca por respostas de
quem somos, enquanto povo e nação, e de onde vieram os nossos ancestrais. O conhecimento
do passado é fundamental para avaliar e compreender o presente e planejar o futuro.
Fonte: groups.google.com

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Unidade: A Pré-HIstória na América

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, leia o artigo indicado abaixo
e visite os sites sugeridos.

• REVISTA DE HISTÓRIA. Cada um no seu quadrado. Confira os campos de estudo da


arqueologia, além de algumas das mais importantes descobertas. Seção Capa – 02 ago.
2011. Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/cada-um-no-seu-
quadrado>. Acesso em: 22 dez. 2014.

• Sugestões de alguns sites sobre arqueologia:


www.unicamp.br/nee/arqueologia
http://www.arqueologiasubaquatica.org.br/
http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/

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Referências

FUNARI, P.P. Arqueologia. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2012. (Repensando a História)

FUNARI, P.P.; NOELI F. S. Pré-história do Brasil. As origens do homem brasileiro. O Brasil antes
de Cabral. Descobertas arqueológicas. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2014. (Repensando a História)

PROUS, A. O Brasil antes dos brasileiros. A pré-história do nosso país. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 2007. (disponível versão para download)

REVISTA DE HISTÓRIA. Cada um no seu quadrado. Confira os campos de estudo da


arqueologia, além de algumas das mais importantes descobertas. Seção Capa – 02 ago. 2011.
Disponível em <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/cada-um-no-seu-quadrado>.
Acesso em: 22 dez. 2014.

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Unidade: A Pré-HIstória na América

Anotações

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