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ARTIGO 10.20396/td.v15i0.

8655009
Terræ Didatica

O conceito de equilíbrio em Geomorfologia


The concept of equilibrium of Geomorphology

William Zanete Bertolini


Prof. Adjunto da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapecó, SC. E-mail: william.bertolini@uffs.edu.br

Abstract: The concept of equilibrium has been frequently used in geomorphological Manuscrito:
studies in different contexts of drivers, processes and relief shapes. It is a concept Recebido: 27/03/2019
with different meanings, which entail various underlying theoretical approaches to the Corrigido: 10/09/2019
definition. Nevertheless seem to converge towards an equivalence of forces manifest Aceito: 27/09/2019
in a given geomorphological system. In this paper, which is part of the author’s doctoral
thesis, the main approaches given to the concept of equilibrium by different authors have
Citação: Bertolini, W. Z. (2019). O concei­
been characterized from the 19th to the early 21st century. Among the conclusions of
to de equilíbrio em Geomorfologia. Terræ
this review include: (i) the concept of equilibrium in geomorphology is derived from the
Didatica, 15, 1-17, e19038. doi: 10.20396/
Newtonian conception of equality (balance) of forces; (ii) such a Newtonian conception
td.v15i0.8655009
is common to many authors from the 19th century to now in the metodological terms
although there is different treatment on how to assess equilibrium condition of the relief; Palavras-chave: Equilíbrio. Relevo. Teorias
(iii) the challenging issue around the relief equilibrium analysis and its operationalization geomorfológicas.
in terms of shapes, materials and processes.

Introdução endido como uma relação entre força e resistên-


O vocábulo equilíbrio tem origem latina e, na cia (Dury, 1966). A ideia foi retomada por Surell
acepção física, diz respeito às seguintes situações: (1) (1841) que representa a concepção de equilíbrio
condição de um sistema físico no qual as grandezas em sistemas naturais antes das concepções clássi-
que sobre ele atuam se compõem para não provo- cas implícitas nos estudos de Grove Karl Gilbert
car nenhuma mudança em seu estado; (2) posição em 1877 e no ciclo de erosão de William Morris
estável de um corpo, sem oscilações ou desvios; Davis em 1899. Surell, ao estudar as torrentes dos
(3) igualdade de força entre duas ou mais coisas altos Alpes franceses, concebeu as ideias de nível
ou pessoas, grupos etc., em oposição; (4) estado do de base, erosão remontante e perfil de equilíbrio
que está submetido a duas forças opostas iguais; (courbe de lit) que mais tarde influenciaram Powell,
(5) igualdade quantitativa (Houaiss & Villar, 2001). Gilbert, Davis e Hack (Abreu, 1980). Surell enten-
Guardadas as devidas ressalvas, o emprego do dia o equilíbrio das torrentes e dos cursos fluviais
termo equilíbrio no sentido geomorfológico mantém como uma harmonia entre as formas do relevo nas
vínculos estreitos com seu(s) significado(s) na Física diferentes porções da bacia de drenagem e os pro-
embora seja aplicado de acordo com a natureza dos cessos que aí operam, atingindo uma condição na
fenômenos característicos das geociências. Ou seja, qual não haveria mais incisão vertical no canal de
aplicado a materiais, processos e formas que são cate- escoamento (Abreu, 1980). Ele entendia o equilí-
gorias de raciocínio próprias no fazer geocientífico e brio como um jogo dinâmico de forças no qual o
que se referem a objetos variados na realidade. perfil longitudinal dos canais
As origens da ideia de equilíbrio no estudo da
(...) tendia a se ajustar segundo uma geometria
superfície terrestre não são recentes e remontam
[declividade] comandada pelos mecanismos
ao século XVII quando Domenico Guglielmini já
que presidiam o escoamento do fluxo, nos quais
considerava que os canais fluviais ajustavam sua combinavam-se variáveis de natureza estrutural
declividade até alcançarem um equilíbrio, compre- e processual (Abreu, 1980, p.6).
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Embora o conceito de equilíbrio em geomor- princípio regulativo) que subsiste em muitos
fologia tenha sido alvo de várias nuances e reinter- conceitos e ideias geomorfológicas; mais do que
pretações, a abordagem tradicional desse conceito como um estado concreto ou conjunto de proces-
implicitamente oferece a hipótese de que, após sos (Bracken & Wainwright, 2006, p. 176). Esses
certo tempo, o sistema geomorfológico alcança autores afirmam ainda que “o equilíbrio não é algo
um estado de equilíbrio dinamicamente estável que possa ser medido ou mensurado. Entretanto,
(Gilbert, 1877; Hack, 1960; Ahnert, 1987; Phillips, esta dificuldade não significa que a condição de
1992a). O estado de equilíbrio dinâmico é mantido equilíbrio necessariamente não exista” (Bracken &
pelo ajuste mútuo entre os processos de agradação Wainwright, 2006, p. 176). Os autores afirmam que
e degradação do relevo, caracterizado pelo balanço a suposição de equilíbrio ou uma tendência a isto,
dos fluxos de matéria e energia que entram e saem implicitamente incrustada no pensamento geomor-
do sistema, o que equivale dizer que os processos fológico, leva a uma abordagem que é inerentemen-
morfogenéticos se encontram balanceados com te estática e linear (Bracken & Wainwright, 2006).
as condições características do meio como, por Longe de ser um tema e um conceito de con-
exemplo, a resistência litológica (Hack, 1960; 1975). senso na geomorfologia, existem diferentes ter-
O caráter dinâmico, próprio de sistemas aber- minologias para caracterizar o estado de equilíbrio
tos como o relevo, não é revelado pelas ideias de geomorfológico como equilíbrio meta-estável,
Hack e já aparecia nos escritos de Gilbert (1877) dinâmico, quase-dinâmico, steady state, o que reflete
e na geomorfologia francesa, adjetivado com o um desenvolvimento teórico-conceitual significa-
termo móvel. Destaca-se nesse sentido o trabalho tivo e muitas vezes confuso sobre o tema. Todavia,
de Klein que afirma que “os equilíbrios morfoló- o esclarecimento e a explicitação do que é e do que
gicos são, por natureza, equilíbrios móveis” (Klein, há por trás do emprego desse conceito parece ser
1959, p.304). um modo útil de tornar seu emprego junto ao meio
Thorn & Welford (1994) afirmam ser uma geocientífico adequado e minimamente efetivo
lástima que o conceito de equilíbrio que tenha se como ferramenta de investigação. Afinal, de um
disseminado na geomorfologia seja o de equilíbrio ponto de vista epistemológico, a transformação de
dinâmico de Hack (1960). Segundo eles, Hack dados em conhecimento requer um emprego ade-
misturou um conceito de origem estritamente quado de teorias, conceitos, hipóteses e modelos
geomorfológico e baseado na dinâmica como foi o (Gregory & Lewin, 2018). Nesse sentido, o obje-
desenvolvido por Gilbert (1877) com o conceito de tivo deste texto é o de fazer um resgate histórico
equilíbrio da Termodinâmica (Thorn & Welford, de como a ideia de equilíbrio foi sendo empregada
1994, p.682). Além disso, Hack propagou a confu- e foi se transformando no campo geomorfológico.
são entre os termos equilíbrio dinâmico e steady state Com vistas a contribuir para uma maior elucidação
cuja distinção fez unicamente no seu texto de 1975. do debate sobre como esse conceito pode ser opera-
Assim, o desenvolvimento teórico feito a partir de cionalizado em termos de sua serventia à avaliação
Hack tem não só mantido um equilíbrio dinâmico do relevo e da sua transformação e evolução.
como equivalente ao steady state mas também ao
conceito de quase-equilíbrio, todos empiricamente A noção de equilíbrio de Grove Karl Gilbert
derivados de uma condição de média (Thorn &
Welford, 1994, p.682). A crítica mais contundente Gilbert tratou a questão do equilíbrio de forma
desses autores em relação ao equilíbrio dinâmico vinculada sobretudo aos aspectos do trabalho fluvial
de Hack é a de que tal conceito é utilizado por ele nas paisagens continentais. Nesse sentido, em, 1877
como um “princípio regulativo”, usado a priori aplicou a noção de equilíbrio como uma igualda-
na interpretação do modelado e independente da de de forças que se anulam ou, uma igualdade ou
escala (Thorn & Welford, 1994, p.690). equilíbrio de ação. A tendência à igualdade de ação
Outras abordagens afirmam que o equilíbrio é é o que esse autor chama de equilíbrio dinâmico
uma propriedade relevante somente para relações (Gilbert, 1877, p.123).
específicas entre os componentes de um sistema, e
não aplicável ao sistema como um todo (Howard, ... a capacidade de corrasão é, por toda parte, pro-
porcional à resistência até que haja um equilíbrio
1988). A opinião de Bracken & Wainwright (2006)
de ação. Em geral, nós podemos dizer que um rio
é, ainda, diferente, afirmando-se que seria melhor
tende a equalizar seu trabalho em todas as partes
tratar o equilíbrio como uma metáfora (ou um do seu curso (Gilbert, 1877, p.113).
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Outro aspecto da sua ideia de equilíbrio parece Os dois aspectos mais importantes da contri-
repousar em “taxas iguais de degradação em todas buição de Gilbert foram o estabelecimento de
as partes de uma vertente”, condição que ele aplica retroalimentação negativa e a utilização da massa
à caracterização de uma topografia madura. Nessa como medida. Sob esse ponto de vista, equilíbrio
dinâmico é um conceito unicamente geomor-
condição, a evolução das vertentes manteria um
fológico fundado na dinâmica; e não pode ser
perfil constante (Gilbert, 1909, p.345).
equacionado como os conceitos da termodinâ-
Sua abordagem da questão do equilíbrio alcan- mica (Thorn & Welford, 1994, p.685).
çado nas paisagens continentais passa pela análise
das relações de parâmetros ditos, atualmente, mor-
fométricos. Assim, por exemplo, Gilbert diz que as
bacias fluviais contidas em áreas de igual resistência A noção de equilíbrio de William Morris Davis
litológica e que alcançaram uma condição de equi- A classificação genética das formas da super-
líbrio têm as declividades dos afluentes de menor fície terrestre foi um empreendimento de grande
porte sempre maiores que aqueles cursos de porte importância que sistematizou o estudo do relevo
maior (Gilbert, 1877, p. 114). Afirma ainda que, terrestre por William Morris Davis em termos de
partindo-se do princípio de que a erosão é mais sua estrutura, processos e tempo, no que ele cha-
rápida onde a resistência litológica é menor, mou de O Ciclo Geográfico. A inserção do tempo
na organização de processos responsáveis pela
as variações topográficas decorrentes das diferen-
modelação do relevo é, aliás, apontada por alguns
ças de resistências oferecidas ao trabalho erosivo
autores como grande novidade que alavancou o
progridem até que um equilíbrio seja alcançado
através da lei das declividades. Quando a razão da
desenvolvimento da ciência geomorfológica (Bau-
ação erosiva – entendida como algo dependente lig, 1950; Klein, 1985; Giusti, 2004). Nas palavras
da declividade – se torna igual à razão das resis- do próprio Davis, o “processo não pode completar
tências – oriundas da natureza litológica – haverá seu trabalho instantaneamente, e o conjunto de
uma igualdade de ação (Gilbert, 1877, p.116). mudanças a partir de uma forma inicial é, portanto,
uma função do tempo” (Davis, 1899, p.482).
Em termos da estabilidade dos divisores de Evidentemente as formas não são uma função
drenagem, Gilbert associa essa condição ao fato exclusiva do tempo, tendo a estrutura geológica e
de que ao longo dessas linhas de drenagem a água a altitude, por exemplo, papéis fundamentais na
da chuva não possui efeito de transporte, perma- evolução do modelado. Nesse sentido, as mudanças
necendo assim como as porções altimetricamente de nível de base exercem função importante sobre
mais elevadas (Gilbert, 1877, p.139). No entanto, as taxas de mudanças na paisagem, afinal de con-
opostas a essa tendência estão aquelas que levam à tas “as forças destrutivas não podem, ao longo do
instabilidade dos divisores. Trata-se de mecanismos tempo, erodir as paisagens continentais abaixo do
de transformação do relevo relacionados ao sistema ultimo nível de base de sua ação”, o nível de mar
de drenagem e denominados pelo autor de ponding, (Davis, 1899, p.483). No que se refere à taxa das
planation e alluviation (Gilbert, 1877, p.139). Esses mudanças na evolução das paisagens, Davis afirma:
mecanismos estão relacionados, respectivamente,
aos processos de soerguimento e/ou rebaixamento A taxa de mudança sob condições processuais
de porções da superfície, à movimentação lateral normais (…) é, em princípio, relativamente
dos canais e à construção de cones aluviais e deltas. moderada; então avança rapidamente até um
máximo e, posteriormente, decresce indefini-
Na opinião de Thorn & Welford (1994) o con-
damente até um mínimo (Davis, 1899, p.483).
ceito de equilíbrio de Gilbert (1877) além de ser
entendido como uma igualdade de forças sujeitas
A forma como considera as mudanças no
a diferentes níveis de resistências constitui e des-
desenvolvimento e evolução das paisagens con-
creve um processo e uma condição de um sistema
tinentais está estreitamente associada a uma visão
(a bacia de drenagem). Também é um conceito
cíclica na qual o equilíbrio ou condição de grade é
que depende da escala, foca-se na transferência
alcançado na fase de senilidade da paisagem.
de massa mais do que de energia e é expresso pela
Davis explica tal evolução em função do tra-
declividade (Thorn & Welford, 1994, p.682). Estes
balho fluvial que acontece de maneira distinta
autores afirmam ainda que:
conforme a fase de desenvolvimento das paisagens.
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Em cada fase – que não precisa ter a mesma dura- Há uma sequência dessas fases e a cada uma
ção em relação às outras – existe um determinado delas associam-se mudanças na textura e quantida-
vigor altimétrico e uma certa variedade de formas, de dos detritos que compõem a carga fluvial. Nas
em função da velocidade com que os processos palavras do autor:
acontecem.
Considerando um evento de soerguimento A carga é pequena no início, e rapidamente
como ponto de partida de um ciclo, Davis afirma aumenta em quantidade e granulometria durante
que numa primeira fase há um rápido aprofunda- a juventude quando a região tem seus vales esca-
vados; a carga continua a aumentar em quantida-
mento dos principais vales, com um aumento do
de, mas provavelmente não na sua granulometria
vigor altimétrico do relevo. Esse vigor altimétri-
durante o início da maturidade, quando a ramifi-
co é máximo em uma segunda fase quando uma cação dos vales acontece por erosão remontante,
variedade de formas aparece em função do recuo aumentando-se então a área de exposição aos
das cabeceiras de drenagem. Em uma terceira fase processos erosivos; após a completa maturidade,
o decréscimo do vigor altimétrico acontece mais a carga continuamente decresce em quantidade
rapidamente, em comparação às outras fases e as e granulometria; e durante a senilidade a baixa
vertentes tornam-se mais suaves; entretanto, essas quantidade de carga que é transportada deve ser
mudanças avançam muito mais lentamente do que de textura muito fina ou mesmo ser somente
na primeira e segunda fase. A partir da última fase, carga em solução (Davis, 1899, p. 488).
o relevo é gradualmente reduzido a medidas cada
vez menores e as vertentes tornam-se tão suaves À medida que a velocidade dos processos e a
que algum tempo após o último estágio mostrado declividade vão diminuindo a capacidade de realizar
na Figura 1 a região é somente uma extensa planura trabalho de um rio se torna menor. Quando uma
ou peneplano (Davis, 1899). igualdade entre a capacidade de realizar trabalho
Vale a pena lembrar que Davis nunca deixou e o trabalho executado é alcançada, então um rio
de considerar que os processos erosivos pudessem atinge sua condição de grade, termo este sugerido
atuar concomitantemente ao soerguimento, ao con- por Gilbert e usado para substituir a expressão
trário do que fazem parecer alguns críticos menos de perfil de equilíbrio dos engenheiros franceses
cautelosos. “Não há implicação de que pelo fato (Davis, 1899). No contexto davisiano, a capacida-
das forças de soerguimento ou deformação atuarem de de um rio trabalhar significa a capacidade para
rapidamente não ocorram mudanças destrutivas transportar e para entalhar, enquanto o trabalho
durante sua operação” (Davis, 1899, p.487). executado se relaciona com o transporte da carga
Comparativamente ao ciclo de vida, Davis detrítica que lhe é fornecida e com a ultrapassagem
afirma que, sobre as forças de resistência exercidas pelo leito
e margens (Christofoletti, 1981). O termo grade
haverá uma breve juventude com um aumento deve ser empregado para a condição de balanço
do vigor altimétrico, uma maturidade em que há entre erosão e deposição de um rio maduro ou
um máximo de vigor ou desnível altimétrico com senil (Davis, 1954). “Quando a condição de grade
uma grande variedade de formas, um periodo de é atingida, a alteração da declividade só acontece
transição em que mais rapidamente se processa o com a mudança na relação entre volume e carga;
rebaixamento do relevo e uma senilidade indefi- e mudanças desse tipo são muito lentas” (Davis,
nidamente longa quando um relevo plano passa 1899, p.489). Vale ressaltar que um rio em equi-
por mudanças excessivamente lentas (Davis,
líbrio (graded river) não mantém uma declividade
1899, p. 487).

Figura 1. Ilustração das fases de desenvolvimento da paisagem segundo Davis (1899), adaptada
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constante e que as declividades podem variar sig- do material que sofre os efeitos do intemperismo
nificativamente em dois sistemas fluviais vizinhos físico e químico, de movimentos vertente abai-
considerando-se tal condição (Davis, 1954). A xo, das plantas, etc. Comparando este elemento
litologia é um fator que faz com que declividades da paisagem com os rios, o autor afirma que um
diferentes se estabeleçam no processo de alcance lençol de intemperismo também move-se mais
do equilíbrio por um curso fluvial. rapidamente na superfície e mais vagarosamente
Segundo o autor há dois modos pelos quais em profundidade.
um rio alcança a condição de grade: por incisão Associando a ideia de grade aos mantos de
(degradação) e por sedimentação (agradação). No intemperismo, Davis afirma que, da mesma forma
primeiro caso o grade é primeiramente atingido no como nos canais fluviais, um manto de intem-
baixo curso fluvial e se propaga retrogressivamente perismo na condição de grade é “aquele no qual
em direção ao médio e alto curso. A presença de a habilidade das forças de transporte em realizar
rochas mais e menos resistentes condicionam o o seu trabalho é igual ao trabalho que elas têm a
processo (Davis, 1899, p.489). No segundo caso, se fazer” (Davis, 1899, p.495). As vertentes nessas
condições são aquelas que os engenheiros diriam
por qualquer motivo um rio é incompetente estar em ângulo de repouso, devido à condição
para transportar a carga que chega até ele, não aparentemente estável do manto de intemperismo
conseguirá aprofundar seu leito mas, ao contrá- em relação ao movimento de reptação ou creeping
rio, irá preenchê-lo (agradação). Assim um rio do solo. Davis define esse ângulo como o ângulo
desse tipo deposita a parte mais grossa da sua inicial de grade (angle of first-developed grade) (Davis,
carga formando um alargamento da sua várzea 1899, p.495).
e aumentando seu declive até ganhar velocida-
de suficiente para prosseguir com seu trabalho Uma concavidade inicial em uma vertente será
(Davis, 1899, p. 489). preenchida até o seu ângulo de grade, pelo mate-
rial vindo de montante; esse material irá se acu-
Admitindo-se que em porções de rochas mais mular até alcançar o ponto mais baixo da borda
friáveis um rio alcançará o estado de grade em um da convidade quando, então, o fluxo de saída
tempo diferente do seu segmento em rochas menos de material irá ficar balanceado com o fluxo de
friáveis, Davis afirma que a condição de grade não entrada (Davis, 1899, p. 496).
é atingida de uma só vez, como um todo. Ela é
estendida a partir da foz em direção às cabeceiras Da mesma maneira que nos cursos fluviais, a
(Davis, 1899; 1954). Em termos de bacia hidro- condição de grade nas vertentes é alcançada grada-
gráfica, os rios de maior amplitude são os que pri- tivamente da base para o topo e do baixo vale para
meiramente alcançam a condição, sendo seguidos o alto vale. A influência da resistência rochosa
pelos rios menores tão rapidamente quanto possí- também se manifesta no alcance da condição de
vel. “Quando a condição de grade é atingida pelo grade pelas vertentes, à exceção dos morros teste-
rio, a incisão na porção jusante praticamente cessa, munhos e esporões que conseguem permanecer
mas a incisão a montante continua; uma planície fora desse alcance.
de inundação é então formada quando o canal se
distancia e vagueia a partir da vertente mais suave Assim como os rios em grade degradam lenta-
do vale” (Davis, 1899, p.493). À medida que o rio mente seus cursos após o período de máxima
carga, os lençóis de intemperismo adotam
serpenteia o seu vale, aumenta seu comprimento,
declividades cada vez mais suaves quando as
o que tende a causar uma diminuição dos enca-
porções mais altas da superfície são consumidas
choeiramentos, e torná-lo menos competente do e o material grosseiro não é mais perdido para as
que antes (Davis, 1899). Associada a esse processo vertentes abaixo. Uma mudança das mais deli-
acontece a migração dos divisores de drenagem fru- cadas no ajuste aparece. Inicialmente, quando as
to do trabalho erosivo fluvial e dos vários processos vertentes graded se desenvolvem, elas são íngre-
atuantes nas vertentes. mes, e o lençol de intemperismo que as recobre
Davis denomina o material que é transportado é de material grosseiro e espessura moderada;
e sofre as influências dos processos intempéricos (…). Em uma fase mais avançada do ciclo, as
nas vertentes como waste-sheet, algo como lençol vertentes graded são moderadas e o material de
de intemperismo, se traduzido ao pé da letra, e recobrimento torna-se mais fino texturalmente
e com maior espessura do que antes; nessa fase,
equivalente ao manto de intemperismo. Trata-se
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os fracos agentes de remoção são favorecidos alcançada, seja eterna. Mudanças de um clima ári-
por um menor intemperismo das rochas sob o do para um clima úmido ou vice-versa e alterações
manto de intemperismo e pela redução à uma na carga fluvial fazem com que um novo nível de
fina textura do material perdido durante sua lenta base se estabeleça levando o sistema a reajustes e
jornada. Em uma fase senil, quando todas as ver-
a um progresso na direção de um novo equilíbrio
tentes são muito suaves, os agentes de remoção
(Davis, 1954). Além disso, Davis admite pequenas
devem ser fracos por toda parte e sua igualdade
com os processos de fornecimento de material
variações nas formas sob a condição de grade. Isto
podem ser mantidos somente pela redução desses fica claro na seguinte citação:
processos a baixos valores (Davis, 1899, p.497).
Em virtude das contínuas, embora pequenas,
variações de volume e carga do canal ao longo do
Quando os topos e as vertentes, assim como
ciclo normal, a condição de balanço de qualquer
os fundos de vale, encontram-se na condição de
rio só pode ser mantida por uma igualmente con-
grade, a maturidade passou e a senilidade está ins- tínua, embora pequena, mudança na declividade
talada. Não aparecem aí feições novas. Quaisquer do rio, por meio da qual a capacidade de realizar
que tenham sido os soerguimentos, as estruturas trabalho e o trabalho a ser feito se mantêm iguais.
e durezas das rochas, surge uma superfície plana – (…). Há forte probabilidade de que, após a con-
um peneplano –, sendo controlada somente pelo dição de grade ser alcançada em um ciclo normal,
nível de base. Esta é a penúltima fase de um ciclo não perturbado, um rio possa, por um tempo,
ininterrupto ou ideal. A última fase seria um plano realizar a agradação do seu fundo de vale até que a
sem relevo (Davis, 1899, p.497). máxima carga seja alcançada; e somente após essa
Embora tenha sido um aspecto frequentemente máxima carga e seu decréscimo é que pode haver
ignorado por alguns autores que se reportaram à um lento e continuo decréscimo da declividade
fluvial que continua ao longo da maturidade
teoria de Davis, a concepção de que o Ciclo Geó-
tardia e da senilidade (Davis, 1954, p.398-399).
grafico é mais um esquema ideal de interpretação
da evolução das paisagens continentais do que um
Segundo o autor, a concepção de grade deve
ciclo real, já que a crosta terrestre é frequentemen-
incluir a consideração de “declividades diferen-
te submetida a movimentos que interrompem a
ciadas e mutáveis em grandes e pequenos rios, em
sucessão de fases do ciclo, não o torna uma mera
rios maduros e senis, em rios que cortam rochas
abstração teórica. Ao contrário, o próprio Davis
duras e friáveis e em rios de regiões áridas e úmidas”
afirma que o ciclo é capaz de acomodar toda a sor-
(Davis, 1954, p.400). Assim, sua concepção leva em
te de movimentos crustais que “determinam uma
conta as condições e a organização dos materiais,
maior ou menor quebra nos processos previamente
processos e formas da superfície.
em operação, começando uma nova série de proces-
sos com relação a um novo nível de base” (Davis,
1899, p.499). O próprio termo rejuvenescimento, A noção de equilíbrio de Walther Penck
de inspiração davisiana e recorrentemente levan- Penck reconheceu que o modelado da super-
tado por geomorfólogos contemporâneos, vem se fície terrestre era resultado do jogo de forças entre
ajustar à ideia de interrupção de um suposto ciclo os agentes endogenéticos e exogenéticos que se
ideal. E não é este termo contraditório a outras opunham. E que a efetividade dos processos exó-
abordagens teóricas da geomorfologia. O próprio genos dependia da atividade dos processos endó-
Davis reconhece que tal interrupção pode acontecer genos, fato pelo qual, inclusive, o autor reconhecia
a qualquer momento do ciclo sem que haja algo de a importância do gradiente altimétrico na análise
anormal nisso. morfológica das formas do relevo. Sobre isso o
A ideia de equilíbrio preconizada por Davis é a autor afirma:
de um balanço de forças, com tendência crescen-
te à medida que o ciclo progride e é plenamente Em todas as superfícies sob a ação dessas forças
manifestado na fase senil do relevo. Ele acontece mutuamente dependentes e opostas, há uma
mediante o alcance do equilíbrio (ou condição de tendência de que um equilíbrio físico venha
grade) dos cursos fluviais e do manto de intem- se estabelecer. Isso é obtido quando as forças
perismo (vertentes) como um todo na paisagem. endogenéticas e exogenéticas realizam a mesma
Contudo, vale lembrar que Davis não afirma que a quantidade de trabalho por unidade de tempo,
condição geral de grade de uma paisagem, uma vez isto é, quando elas trabalham a uma mesma taxa
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ou têm a mesma intensidade. Assim, há um equi- entropia por unidade de massa é constante na
líbrio na superfície terrestre quando os processos porção jusante do canal (Leopold & Langbein,
exógenos e endógenos, quando soerguimento e 1962, p.A1).
desnudação, subsidência e deposição, acontecem
sob uma mesma taxa; e não somente quando – Os autores afirmam que o desenvolvimento da
como geralmente se assume – ambos processos paisagem envolve a disponibilidade e a distribuição
se anulam e sua intensidade é consequentemente de energia, um fator que pode ser descrito apropria-
zero (Penck, 1953, p. 3). damente como entropia, adaptando-se o termo da
termodinâmica (Leopold & Lanbgein, 1962, p.A2).
Penck desenvolveu uma perspectiva de análise Aliás, afirmam que a entropia de um sistema é fun-
das formas do relevo em que deduziu que for- ção não da sua energia total, mas da disponibilidade
mas típicas de vertente são indicativas de como a de energia para alimentar os processos naturais.
intensidade da erosão se processou a longo prazo. E que, no caso dos sistemas geomorfológicos, a
Segundo seu raciocínio, perfis de vertente côncavos principal forma de energia atuante é a mecânica,
e rupturas de declive na forma côncava são indi- principalmente em função da energia que a chuva
cativos de uma morfodinâmica caracterizada pelo introduz no sistema relevo.
decréscimo na intensidade erosiva e diminuição
relativa das altitudes – waning development – (Penck, A distribuição de energia em um sistema geo-
1953, p.153). Os perfis convexos e a ocorrência de morfológico é um modo de expressar a elevação
quebras ou rupturas convexas são representativos relativa das partículas de água e sedimento que
de uma morfodinâmica marcada pelo aumento gradualmente irão, nos processos de evolução
na intensidade erosiva e um aumento relativo nas da paisagem, mover-se para baixo na direção do
altitudes – waxing development (Penck, 1953, p.156). nível de base. O perfil longitudinal de um rio,
Vertentes retilíneas caracterizam um estágio de por exemplo, é um modo de se afirmar sobre
desenvolvimento do relevo marcado por taxas ero- a distribuição espacial dos materiais do fundo
do leito com relação à sua elevação e, portanto,
sivas constantes, incisão fluvial uniforme e perma-
com respeito a sua energia potencial (Leopold &
nência das altitudes do relevo (Penck, 1953, p.156).
Langbein,, 1962, p.A2/A3).
Considerando que as vertentes côncavas são
as formas típicas do relevo, ele afirma, no entanto, Os autores afirmam ainda que “diversas formas
que “cada vertente côncava pressupõe uma fase de do relevo parecem ser explicadas de maneira geral
desenvolvimento durante a qual a erosão avança como condições da mais provável distribuição
a um máximo antes de chegar a um fim” (Penck, de energia” (Leopold & Langbein, 1962, p.17). A
1953, p.181). Em resumo: o waning development distribuição da energia do sistema pode ser defi-
implica waxing development prévio. Assim, vertentes nida em termos da probabilidade da ocorrência
côncavas devem gradar a montante para perfis con- da distribuição das partículas do sistema (Leopold
vexos, como é típico nas terras altas da Alemanha & Langbein,, 1962). No caso de um sistema que
(Penck, 1953, p.181). inclua vários estados alternativos, com as probabi-
lidades individuais de ocorrência sendo p1, p2, p3 ...
A noção de equilíbrio de Leopold e Langbein pn, a entropia do sistema é definida como a soma
dos logaritmos dessas probabilidades (Leopold &
A abordagem do equilíbrio preconizado por
Langbein,, 1962, p.A3).
Leopold & Langbein (1962) passa pelo conceito de
entropia na evolução da paisagem. Ø = cΣ log p
O conceito de entropia é expresso em termos da De acordo com os princípios da termodinâ-
probabilidade de vários estados. Entropia trata mica, a entropia de um sistema é máxima quando
da distribuição de energia. O princípio introduz a somatória dos logaritmos das probabilidades é
o fato de que a condição mais provável existe
máxima. No entanto, para que o sistema consiga
quando a energia é uniformemente distribuída
atingir a condição de uma distribuição de energia
no sistema fluvial, de acordo com as restrições
físicas impostas pelo meio. (...). O perfil fluvial
equivalente a uma entropia máxima isso depen-
mais provável de ocorrer é aquele que se apro- de das interferências e restrições dos fatores do
xima da condição na qual a taxa de produção de meio sobre a distribuição de energia (Leopold &
Langbein, 1962), o que vem a ser uma dificuldade
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para a aplicação do cálculo da entropia em termos mico dos sistemas fechados.
matemáticos e estatísticos. Um aspecto importante ressaltado por Leopold
Um aspecto conceitual importante a ser res- & Langbein com relação a este princípio é o de que:
saltado no desenvolvimento teórico desses autores
é que: um rio, por exemplo, pode ajustar sua profundi-
dade, largura ou velocidade sob um dado declive
o steady state possível em um sistema aberto de muitas maneiras. Portanto, há muitas possibi-
difere do estado estacionário (stationary state) do lidades de a condição de máxima probabilidade,
equilíbrio estático dos sistemas fechados. Assim, correspondente à máxima entropia, ser satisfeita.
deve-se igualar os termos steady state e equilíbrio Nesse sentido, a inferência intuitiva dos geomor-
dinâmico, em geomorfologia, como definido por fólogos de que um rio em equilíbrio encontra-se
Hack (1960) (Leopold & Langbein, 1962, p. A4). na condição de trabalho mínimo não é completa
(Leopold & Langbein,, 1962, p.A7).

Segundo Prigogine (1955 p. 82) e Denbigh


(1951 p.86), em um sistema aberto em equilíbrio De acordo com os autores, “a evolução da
dinâmico, a taxa de aumento de entropia no sistema paisagem é uma evolução na natureza dos fatores
é zero. No entanto, “na evolução do estado esta- limitantes no tempo, mantendo ao longo e atra-
cionário de um sistema aberto a taxa de produção vés do tempo um equilíbrio dinâmico ou quase-
de entropia por unidade de volume corresponde a -equilíbrio” (Leopold & Langbein, 1962, p. A19).
um mínimo compatível com os fatores limitantes
do sistema” (Prigogine, 1955, p.84). A condição de A noção de equilíbrio de John Hack
estabilidade (steady state) é caracterizada nos sistemas
abertos por uma produção de entropia mínima por Um dos grandes expoentes no desenvolvimen-
unidade de volume compatível com as restrições to do conceito de equilíbrio em geomorfologia foi
impostas pelo meio. Aparece aí, então, a noção de John Hack que estudou o relevo do vale do Rio
fatores limites (thresholds) ou resistência, ou inércia Shenandoah na região dos Apalaches nos Estados
do sistema que Howard (1965), em consonância Unidos. Hack levou em consideração as caracterís-
com Langbein e Leopold (1964), afirma ser funda- ticas da rede de drenagem, da estrutura geológica
mental para o estudo do equilíbrio e da dinâmica e da topografia em consonância com as ideias de
de um sistema. Gilbert (1877). Do ponto de vista metodológico, o
A ideia de entropia mínima é correspondente estudo do equilíbrio dinâmico do relevo é o estudo
àquela do menor esforço ou do trabalho mínimo das relações areais, ou seja, como ocorrem no espa-
realizado pelos agentes do sistema. Tal situação, de ço, entre processos e formas para a interpretação da
mínimo trabalho, é suportada por uma dinâmica sua história passada (Hack,, 1960).
do sistema mantida por uma entropia mínima A concepção preconizada por ele, denominada
(Leopold & Langbein, 1962; Zdenkovic & Scheide- de equilíbrio dinâmico, sustenta que o equilíbrio de
gger, 1989; Nanson & Huang, 2018). No entanto, uma paisagem é resultante de um estado de balanço
reconhecendo-se que um sistema aberto, como o entre forças que se opõem de tal forma que elas
relevo, implica o recebimento contínuo de inputs operam sob taxas iguais e seus efeitos se cancelam
de energia, sempre o afastando de um mínimo mutuamente, produzindo assim um estado estável
energético ou de equilíbrio, a condição de equi- (steady state) no qual a energia está continuamente
líbrio dinâmico como preconizada nos sistemas entrando e saindo do sistema (Hack, 1960; 1965;
fechados é inaplicável. Dessa maneira, Leopold & 1975; 1982). “Quando a topografia encontra-se
Langbein (1962) consideram que o equilíbrio não é em equilíbrio e a energia erosiva é a mesma, todos
atingido em um sistema como um todo, já que este os elementos da topografia são erodidos à mesma
está continuamente sofrendo perturbações. Nessa taxa” (Hack, 1960, p.80). Quando o sistema geo-
perspectiva, do ponto de vista termodinâmico, o morfológico atinge o estado de equilíbrio dinâmico
sistema alcançaria um estado estável ou estacioná- há um ajustamento das formas ou geometria do
rio (steady state) ou de quase-equilíbrio na situação relevo com a entrada e saída de energia e maté-
de balanço ou ajuste de forças e não um estado de ria do sistema. Assim, cada vertente e cada canal
equilíbrio dinâmico do ponto de vista termodinâ- em um sistema erosivo encontram-se ajustados a
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todos os demais canais e vertentes. Vale ressaltar atingido de modo quase imediato [na opinião
que, embora Hack diga que taxas iguais de erosão de Hack], e não está relacionado a um estágio
caracterizam um sistema geomorfológico em estado particular na evolução do canal. O conceito de
de equilíbrio, ele reconhece também que a ener- Davis implicaria que algumas partes do sistema
de drenagem estariam em equilíbrio enquanto
gia erosiva muda espacial e temporalmente e que
outras, ao mesmo tempo, não estariam, e que a
o relevo desenvolve-se segundo essas mudanças.
condição de equilíbrio se estende gradativamen-
Taxas iguais de erosão não significam que as formas te, através do tempo, de jusante para montante
permaneçam imutáveis. Só não haverá mudança se em todo o sistema de drenagem. Mais do que
as taxas de soerguimento e erosão permanecerem no conceito de balanço entre a carga fluvial e a
constantes em uma área onde as rochas expostas à capacidade do rio em movimentá-la, é mais útil
superfície sejam similares. na análise topográfica considerar o equilíbrio de
uma paisagem envolvendo um balanço entre os
Desde que as forças diastróficas operem gradual- processos de erosão e a resistência das rochas,
mente de maneira que um balanço se mantenha assim como se estão submetidas ao soerguimento
pelos processos erosivos, a topografia permane- ou adernamento pelos movimentos diastróficos
cerá em um estado de balanço, embora possa (Hack, 1960, p.86).
evoluir de uma forma a outra. Se, entretanto,
movimentos diastróficos repentinos ocorrerem, Outro aspecto do princípio de equilíbrio dinâ-
formas relictuais podem ser preservadas na topo- mico defendido por Hack se refere à abordagem do
grafia até que um novo steady state seja alcançado tempo em seu modelo. Diferentemente da noção
(Hack, 1960, p.86).
cíclica de Davis, Hack não via o desenvolvimento
do relevo como preso a ciclos em que determinada
Reconhecendo o caráter isotrópico da crosta
sequência de formas corresponderia a determinada
terrestre, a concepção de equilíbrio dinâmico de
idade do relevo – juventude, maturidade e senili-
Hack considera que as formas do relevo nesta con-
dade conforme Davis.
dição diferem segundo os tipos de rocha.
A ideia de Hack é a de que o relevo é explicado
Uma área composta por micaxistos ou outra não por ciclos de soerguimento, calmaria tectônica
rocha ígnea ou metamórfica submetida a uma e rejuvenescimento mas por uma erosão mais ou
rápida desnudação química, tem mais diviso- menos contínua em uma clara concepção acíclica
res arredondados do que uma área composta de transformação morfológica da paisagem. Seu
de quartzitos, se ambas estão em equilíbrio conceito de equilíbrio admite a continuidade dos
no mesmo sistema dinâmico, porque o xisto é processos diastróficos da crosta no estabelecimento
fragmentado pelo intemperismo em partículas da condição de equilíbrio erosivo do relevo. Hack
siltosas e argilosas que são rapidamente removi- afirma que as formas em equilíbrio dinâmico não
das dos topos para as baixas vertentes. Por outro precisam ser explicadas vinculadas a determinadas
lado, para remover o quartzito dos divisores à
fases temporais como o fazia Davis do ponto de
mesma taxa, vertentes muito mais íngremes e
vista genético. “As formas e processos estão num
cristas acentuadas são necessárias tendo em vista
que a rocha deve ser movida na forma de grandes
estado estável de balanço (steady state) e podem
fragmentos (Hack, 1960, p.87). ser consideradas como independentes do tempo”
(Hack, 1960, p.85).
Esta noção de equilíbrio difere daquela apre- Um aspecto interessante do princípio do equi-
sentada por Davis em, 1899. Segundo palavras do líbrio dinâmico adotado por Hack é que o equilí-
próprio Hack (1960 p.86): brio pode ocorrer sob os mais variados panoramas
topográficos (Christofoletti, 1973). Portanto, o
No conceito de ciclo de erosão de Davis, o equi- equilíbrio de Hack não equivale ao estágio de
líbrio é atingido em alguma parte da bacia de senilidade do relevo identificado por Davis, em
drenagem quando há um balanço entre a carga que o relevo se encontraria arrasado (peneplano).
fornecida a um rio a partir das suas cabeceiras Sua concepção de equilíbrio é a de um balanço de
e a habilidade do rio em transportá-la, ou, em forças entre os processos de erosão, soerguimento
outras palavras, quando a declividade do canal e resistência das rochas. Uma perspectiva muito
reduz-se apenas ao suficiente para que a corrente
mais concordante com a de Penck do que com a de
possa transportar o material de montante com
Davis, como reconhece o próprio Hack em 1960.
a descarga existente. Esse tipo de equilíbrio é
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Tal balanço é reflexo da entrada e saída de energia mudanças mediante a atuação de agentes ou forças
do sistema, independente de qual seja a fase em externas a ele. Segundo Phillips (1992), um fator
que o relevo se encontre. limite pode ser expresso na forma de força (F)
dividida pela resistência (R). Na perspectiva de
balanço de massa, se F/R > 1 há erosão e transporte
A noção de equilíbrio nos estudos de massa. Se F/R < 1 há deposição ou acúmulo. A
geomorfológicos da segunda metade do mudança de um sistema de um estado A para um
século XX e início do século XXI estado B pode acontecer como uma mudança de
um equilíbrio estável para um equilíbrio instável
A partir da metade do século XX, alguns auto- ou vice-versa, desde que sejam ultrapassados cer-
res, tratando em maior ou menor medida da noção tos limites de resistência do sistema. A questão dos
de equilíbrio do relevo, parecem introduzir certas fatores-limite é também adotada por Bull (1991) na
nuances e ideias, ou, ao menos, uma maior clareza descrição das mudanças na paisagem. Segundo este
em torno do conceito de equilíbrio em geomorfo- autor quando um sistema é perturbado ele somente
logia a partir de suas interpretações. reage à perturbação se os seus fatores-limites são
A concepção de Chorley (1962) é a mesma de ultrapassados. Quando um fator-limite é ultrapas-
Hack, considerando como sinônimos os termos de sado, acontece uma mudança no modo de operação
steady state e equilíbrio dinâmico. No entanto, sua do sistema (Bull, 1991).
definição em termos da equivalência entre força Vale destacar a diferenciação feita por Phillips
e resistência introduz algo além da perspectiva de com relação aos termos instabilidade dinâmica, caos
Hack. e suas relações com o equilíbrio. Instabilidade dinâ-
mica é diferente do estado de equilíbrio (Phillips,
A tendência para, e o desenvolvimento do, steady
state não demanda uma igualdade entre força e a
2006). A instabilidade dinâmica ou não-equilíbrio
resistência sobre a paisagem, mas que as formas implica modos variados de ajuste no sistema e a
dentro da paisagem sejam reguladas de tal manei- possibilidade de resultados diferentes para mudan-
ra que a resistência apresentada pela superfície, ças ou distúrbios idênticos ou similares. Um novo
em qualquer ponto, seja proporcional à tensão estado de equilíbrio (steady state equilibrium), por
(stress) nela aplicada (Chorley, 1971, p.10). sua vez, implica uma resposta consistente em todo
o sistema e uma previsibilidade (Phillips, 2006,
p.111), ao contrário da instabilidade dinâmica.

Os sistemas geomorfológicos podem ter respos-


No steady state do desenvolvimento da paisagem, a tas múltiplas ou múltiplos modos de ajustamento
força e a resistência não estão equalizadas (o que às mudanças, uma vez que na ausência de uma
não precisa implicar alteração da forma absoluta), isotropia perfeita, as condições iniciais variam
mas se encontram balanceadas em sentido are- localmente. Por isso a sensitividade às condições
al, de tal modo que a força possa até exceder a iniciais torna possíveis respostas divergentes
resistência e causar remoção da massa. Todavia, (Phillips, 2006, p.111).
como já assinalamos, a remoção da massa sob
condições de steady state pode implicar alteração Tal situação diz respeito a uma não-linearidade
progressiva em algumas propriedades geométri-
que admite a possibilidade de instabilidade dinâ-
cas da paisagem, notadamente um decréscimo do
mica e caos (Phillips, 2006). Todavia, vale destacar
relevo médio, mas isso não significa que todas as
propriedades necessitam responder desta manei-
que “instabilidade e caos não excluem a existência
ra simples à progressiva remoção de matéria de um equilíbrio estável. Já se tem notado que
(Chorley, 1971, p.11). entre pequenos períodos de tempo [entre limiares]
estabilidade pode existir” (Phillips, 1992, p.228).
A proporcionalidade da resistência dos mate- As ideias mais recentes de Phillips sobre o equi-
riais em relação à tensão ou força aplicada parece líbrio do relevo parecem levar à afirmativa de que
estar em consonância com a ideia dos fatores limites tal estado não é a “finalidade” deste tipo de sistema.
na geomorfologia (thresholds) discutida por Phillips Pelo contrário. Em alguns sistemas geomorfológi-
(1992). Um fator limite ou threshold diz respeito cos steady state equilibrium não existe ou é irrelevante
a um ponto do sistema a partir do qual este sofre (Phillips, 2011, p.320). Existem muitas maneiras

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de o sistema se desenvolver e o equilíbrio não é, Quando alcança o estado de equilíbrio, a corrente
necessariamente, a finalidade do relevo. segue escavando a parte côncava das margens.
Não pode continuar realizando a incisão vertical
As mudanças ambientais qualitativas da paisagem sem que destrua a condição de equilíbrio, mas a
podem representar: (i) uma nova configuração de erosão lateral não afeta materialmente o equilí-
equilíbrio em resposta a um novo quadro de con- brio (Strahler, 1974, p.483).
dições limites; (ii) a evolução gradual em busca e
em torno de um limiar ou; (iii) a persistência ou Acrescenta ainda que em um sistema de drena-
crescimento de pequenos distúrbios em um sis- gem em steady state há o desenvolvimento de formas
tema dinamicamente instável. A diferença entre topográficas características que, quando alcançadas,
esses tipos de mudanças de estado pode depender encontram-se em uma condição de independência
da escala espacial ou temporal e de quem avalia em relação ao tempo (Strahler, 1950). Sua concep-
(Phillips, 2006, p.111). ção de equilíbrio ou steady state inclui as ideias de
Bertalanffy sobre a energia nos sistemas abertos.
Segundo Chorley, “na prática, o steady state
raramente é caracterizado por um exato equilíbrio, “Sistemas abertos consomem energia para man-
mas simplesmente pela tendência em atingi-lo” ter o steady state (...) além de que qualquer distúr-
(Chorley, 1971, p.12). Nesse sentido sua concep- bio no fluxo de materiais e energia causará um
ção é muito semelhante à de Leopold & Langbein reajustamento até que um novo steady state seja
(1962), ou seja, um quasi-equilibrium. reestabelecido” (Strahler, 1950, p.676).
Strahler (1950; 1974) admite uma condição de
equilíbrio alcançada pelos rios como do mesmo A concepção de equilíbrio de Strahler é mui-
modo feito por Davis em seu conceito de grade. to próxima à de Davis, incluindo, entretanto, as
Em outras palavras, a capacidade de carga do rio noções de energia nos sistemas abertos. Quando
é igual à quantidade média de materiais que che- a topografia encontra-se no estágio de maturidade
ga a ele para ser transportada (Strahler, 1974). “a vertente é a manifestação do steady state no qual
Nesse sentido, na década de 1950 ele utilizou a as forças desnudacionais são ajustadas aos fatores
correlação entre gradientes de canal e declives de resistência da superfície de modo a fornecer
de vertente para afirmar sobre relações de equi- uma quantidade ajustada de detritos aos cursos
líbrio na paisagem; em função de que vertentes d’água” (Strahler, 1950, p.677). Contudo, parece
declivosas deveriam estar associadas a canais com não concordar com a afirmativa de que alterações
elevados gradientes, enquanto vertentes com na altimetria do relevo implicam necessariamente
baixos declives deveriam estar associadas com mudanças de estado de equilíbrio, já que isso não
canais também de baixo declive ou gradiente. Ou implica necessariamente uma alteração de todos os
seja, deveria haver uma correlação positiva entre demais componentes do sistema.
essas duas variáveis nos casos em que houvesse Na perspectiva de um conceito testável, Ahnert
uma condição de equilíbrio. Mais recentemente, (1994) afirma que dentre os muitos termos relativos
Bertolini (2015) aplicou essa ideia à análise dos ao equilíbrio em geomorfologia somente dois são
cursos d’água da alta bacia do rio Piranga, em necessários: o de equilíbrio dinâmico no sentido
Minas Gerais, concluindo não haver uma corre- original de Gilbert (1877) e o de steady state (esta-
lação entre os gradientes de canal e os gradientes cionário). “O primeiro refere-se à relação entre os
de vertente, caracterizando-se assim uma situação processos componentes de um sistema, e o segundo
morfológica de desequilíbrio do sistema geo- ao sistema como um todo” (Ahnert, 1994, p.125).
morfológico da área. Importante salientar que tal Para esse autor, equilíbrio significa uma igualdade
falta de correlação não significa necessariamente de forças que, aplicada ao sistema geomorfológico,
a causa da falta de equilíbrio mas apenas indica a denota uma relação de paridade entre os processos
condição do sistema como não equilibrada. acarretados por essas forças. Sua concepção susten-
Strahler também concorda com Leopold & ta ainda que os mecanismos de retroalimentação
Langbein (1962) na medida em que afirma que “o inerentes aos sistemas geomorfológicos criam uma
equilíbrio entre a capacidade de carga da corrente tendência geral ao estabelecimento do equilíbrio
e a carga total transportada acontece somente como dinâmico, caracterizado por um estado constante
uma condição média ao largo de muito tempo” do relevo, da forma das vertentes e das propriedades
(Strahler, 1974, p.483). do manto de intemperismo (Ahnert, 1987, p.13). O
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caráter dinâmico ao equilíbrio é mantido pelo jogo tes não processuais ou componentes que são
de forças autorreguladoras que atuam no sistema dimensionalmente heterogêneos. Por exemplo,
(Ahnert, 1994). não há equilíbrio entre gradiente de declividade
e gradiente de canal, entre gradiente e tamanho
A autoregulação resulta dos mecanismos de das partículas ou entre tamanho das partículas
retroalimentação negativa entre os processos e taxa de transporte. (...). Steady state pode se
componentes, ou seja, taxas de processos que referir a todos os componentes de um sistema
estão aptas a se compensarem entre si. Por isso, de processo-resposta, incluindo os processos,
uma tendência ao equilíbrio dinâmico é inerente enquanto equilíbrio dinâmico somente pode se
em todos os sistemas de processo-resposta cujos referir às relações entre as taxas dos vários pro-
processos componentes são ligados por um vín- cessos (Ahnert, 1994, p.126).
culo suficientemente forte de retroalimentação
negativa. Tal ligação significa que a mudança na A aplicação do saldo de massa à verificação da
taxa de um processo causará mudanças em outros condição de equilíbrio, segundo Ahnert, passa pela
processos que por sua vez tendem a contornar os mensuração de taxas aplicáveis sobretudo ao manto
efeitos da mudança inicial (Ahnert, 1994, p.126). de intemperismo e pode ser resumida através de
uma equação bastante simples:
A concepção do saldo de massa, termo preferido
pelo autor em relação ao de balanço de massa, ganha Dc = C – C’ = W + A – R
destaque como indicador da condição de equilíbrio
geomorfológico. Segundo ele, em que Dc é a mudança da espessura do man-
to de intemperismo por unidade de tempo; C é
O saldo de massa é mais relevante do que o saldo a espessura do manto de intemperismo ao fim
de energia porque a evolução das formas do relevo da unidade de tempo; C’ é a espessura do manto
é a expressão direta da remoção ou adição, espa- de intemperismo no início da unidade de tem-
cial e temporalmente diferenciadas, do material
po; W é o incremento da espessura do manto de
intemperizado. Em contraste, somente uma parte
intemperismo localmente, por unidade de tempo,
da energia disponível na superfície é usada no
trabalho geomorfológico; uma parte que é, acima pelo intemperismo da rocha (em resumo: taxa de
de tudo, difícil de se medir (Ahnert, 1994, p.126). intemperismo); A é a taxa local de fornecimento
de material, ou seja, do aumento da espessura do
Quando existe o equilíbrio o saldo de massa manto de intemperismo por unidade de tempo, por
de uma determinada área não muda. E, nesse caso, transporte de montante; e R é a taxa local de retirada
a quantidade de material removido dessa área é de material, ou seja, de diminuição da espessura do
igual à quantidade de material que lhe é fornecido, manto de intemperismo, por unidade de tempo,
dentro de um determinado tempo (Ahnert, 1994). pelos processos de transporte em direção a jusante.
De forma semelhante à concepção da Hack, “um Dc, W, A e R têm uma dimensão temporal e por
sistema encontra-se estacionário ou em steady sta- isso são componentes processuais, enquanto C e
te, quando é independente do tempo (cf Strahler, C’ são componentes “materiais” estáticos que têm
1950) de forma que não há nenhuma mudança a dimensão espessura.
em seus componentes, embora os processos este- Não está identificada em separado na equação
jam ativos (Ahnert, 1994, p.126)”. A diferenciação anterior a remoção das substâncias em solução da
entre equilíbrio dinâmico e steady state por parte de rocha ou do manto de intemperismo, principal-
Ahnert parece se referir muito mais a uma opera- mente porque sua magnitude varia muito em fun-
cionalização semântica do que ao comportamento ção da composição do substrato rochoso. Para um
do sistema geomorfológico, embora haja momen- modelo relacionado a uma litologia específica, este
tos em que ele se refere a um estado de steady state processo é facilmente incorporado a essa equação,
correspondente ao de um estado de equilíbrio dinâ- se necessário (Ahnert, 1994). Os mecanismos de
mico (Ahnert, 1994, p. 139). Nas palavras do autor: retroalimentação então criados entre eles levam a
um equilíbrio dinâmico entre o fornecimento de
O termo equilíbrio dinâmico aplica-se estrita- material W + A e a retirada de material R. Um
mente ao equilíbrio entre taxas de processos. O ponto chave para essa tendência é a relação entre a
termo está semanticamente fora de lugar quando taxa de intemperismo W e a taxa de remoção R, por
aplicado às relações envolvendo componen- meio da espessura do manto de intemperismo C,
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sendo W controlado por C (Ahnert, 1994). mic equilibrium), condição na qual existe energia
Em um modelo matemático criado para verifi- excedente circulando e o sistema varia em torno
car o desenvolvimento do sistema vertente, Ahnert de uma condição média determinada pelo estado
(1987) emprega os parâmetros anteriormente estacionário com uma tendência a um estado de
mencionados e afirma que o desenvolvimento do energia mínima de equilíbrio estacionário (Nan-
sistema vertente só alcança um equilíbrio dinâmico son & Huang, 2018, p.9). Ou seja, a definição de
entre seus componentes quando a taxa de intempe- equilíbrio dinâmico permite que seja equivalente
rismo torna-se igual à taxa de desnudação e, assim, a à de equilíbrio estacionário e esta por sua vez com
espessura do regolito torna-se uniforme e constante a de equilíbrio instável. Em seguida esses autores
em todo o perfil da vertente (Ahnert, 1987, p.8). afirmam que, para evitar confusão, usam o termo
A verificação da condição de equilíbrio no sistema equilíbrio dinâmico principalmente onde os níveis
vertente pode ser vista quando este é caracterizado de energia são maiores que aqueles do equilíbrio
por taxas de processos constantes e por um relevo estacionário (Nanson & Huang, 2018, p.9). Em
constante, na constância da forma da vertente e relação ao termo steady state afirmam que somente
um manto de intemperismo também uniforme e deve ser utilizado quando um sistema possui pro-
constante (Ahnert, 1987, p.8). Este estado somente priedades que são essencialmente imutáveis com
pode ser alcançado se os parâmetros endogéneticos o tempo. Diferentemente da concepção de saldo
e exogenéticos de entrada de energia no sistema (balanço) de massa de Ahnert (1987; 1994) aplicada
permanecerem razoavelmente constantes, a des- ao regolito, Nanson & Huang (2018) afirmam que
peito de pequenas oscilações (Ahnert, 1987, p.8). para o sistema fluvial a dificuldade de se mensurar
Inkpen (2005) afirma que um equilíbrio dinâ- adequada e precisamente um balanço de massa faz
mico se refere à mudança progressiva do sistema em com que a abordagem baseada na mensuração da
torno de um estado flutuante médio. Tal afirmação energia (balanço de energia) que percorre o sistema
implica, inevitavelmente, mudança. No entanto seja mais útil analiticamente em geomorfologia pois
não especifica a natureza de tais mudanças embora pode ser mensurada mais rapidamente (Nanson &
diga que “o que altera é a taxa do movimento (das Huang, 2018, p.7).
variáveis) e não a natureza do movimento” (Inkpen,
2005, p.120). O “equilíbrio dinâmico sublinha que
a mudança pode ocorrer no sistema, mas que a esta-
Considerações Finais
bilidade é também preservada em como o sistema O conceito de equilíbrio em Geomorfologia
funciona” (Inkpen, 2005, p.120). nasce da apropriação da ideia de equilíbrio da Física
Nanson & Huang (2018) discorrendo sobre a e é aplicado ao relevo como um balanço/igualdade
condição de equilíbrio na perspectiva da geomor- de forças/energias cuja decorrência, em termos de
fologia fluvial diferenciam entre equilíbrio instá- morfologia, vai depender da magnitude das forças
vel e estável. Apesar de esclarecerem que o termo operantes e do conjunto de interações e características
estabilidade significa apenas uma tendência de um do espaço considerado, incluindo-se aí o contingen-
sistema a não sofrer mudanças, tal distinção entre as cial histórico do relevo em consideração. Tal concep-
ideias de equilíbrio instável e estável não parece cla- ção comum a vários autores, embora diversamente
ra na contraposição dos conceitos em si. Vejamos: tratada em termos metodológicos, é claramente uma
equilíbrio instável (ou condicional) ocorre quando concepção newtoniana aplicada à geomorfologia. A
qualquer força adicional cria um feedback moven- questão desafiadora em torno dela é a operacionali-
do o sistema na direção da instabilidade, mesmo zação do equilíbrio em termos de formas, materiais
que estivesse temporariamente estável (Nanson & e processos no que se refere à sua avaliação. Tal
Huang, 2018, p.9). No caso do equilíbrio estável, operacionalização vem sendo tentada por diferentes
mesmo sob efeito de uma força perturbadora, o sis- abordagens, mais ou menos integradas. Talvez se
tema se autorregula de modo a manter uma condi- possa definir duas grandes linhas de abordagem do
ção relativamente estável e de homeostase (Nanson problema: aquela de caráter mais dedutivo baseada
& Huang, 2018, p.9). Os autores distinguem dois em modelagem estatística e simulações computacio-
tipos de equilíbrio estável: (i) equilíbrio estacio- nais e aquela mais indutiva e tradicional de análise,
nário (stationary equilibrium) em que não há energia empiricamente baseada em observações de campo.
excedente e no qual a soma de energia potencial e Vale destacar que muitas vezes o emprego do
cinética é mínima; (ii) equilíbrio dinâmico (dyna- termo equilíbrio na literatura geomorfológica não
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se refere ao funcionamento do sistema geomor- to, poucos fazem a distinção entre steady state e
fológico como um todo ao longo do tempo, mas equilíbrio dinâmico atualmente. Entre estes estão
refere-se apenas a relações de quantidade entre Schumm & Lichty (1965), Abrahams (1968) e
diferentes fatores como vazão e carga sedimentar Ahnert (1987; 1994), segundo Thorn & Welford
ou como uma característica intrínseca a materiais (1994). Com os trabalhos de Leopold e Langbein
que compõem o relevo, a exemplo do declive de (1962), o equilíbrio dinâmico de Hack passou a
equilíbrio de uma rocha ou de uma escarpa. Tal ser equiparado com o de quasi-equilibrium proposto
concepção aparece presente na obra de Birot (1958) por esses autores. Vale a pena ressaltar ainda, con-
e Ab’Sáber no Brasil. Tal concepção tende a indi- forme Renwick (1992), que o contrário do equi-
car mais um uso postulado e até finalista da ideia líbrio não é o desequilíbrio mas o não-equilíbrio
de equilíbrio na explicação da evolução do relevo (nonequilibrium) embora tal distinção possa ser tida
do que um conceito que se pergunta pelo próprio como mero preciosismo conceitual, pouco útil na
estabelecimento e viabilidade ou não dessa condi- avaliação das transformações que configuram a
ção na investigação geomorfológica. condição atual de um sistema geomorfológico. Algo
Diversos autores afirmam que houve certas que se encontra em desequilíbrio pode apresentar
confusões e mal entendidos no emprego dos ter- tendência a alcançar o equilíbrio, ao contrário do
mos relativos à questão do equilíbrio do relevo, ao que acontece quando não há equilíbrio algum nem
longo do desenvolvimento do pensamento geo- uma tendência do sistema a essa situação. Confor-
morfológico. Perdas semânticas acometeram mui- me Renwick (1992):
tas definições e aplicações de termos e conceitos,
particularmente aqueles relativos ao equilíbrio (no As formas em desequilíbrio são aquelas que
sentido de comportamento sistêmico) e à evolução tendem a um equilíbrio, mas não tiveram tempo
do sistema (Montgomery, 1989). Uma boa síntese suficiente para alcançar essa condição. (...) mui-
tas formas parecem não tender a um equilíbrio
dessas ideias encontra-se em Abrahams (1968) e
apesar dos longos e relativos períodos de estabi-
Montgomery (1989). A grande variedade de nuan-
lidade. Estas formas de não equilíbrio passam por
ças, da qual se pode ter uma ideia pela Tabela 1, no mudanças substancias e muitas vezes repentinas
tratamento do conceito de equilíbrio em geomor- ou apresentam variações de modo que é difícil
fologia, torna necessária a distinção de detalhes ou impossível identificar alguma regularidade ou
fundamentais relativos ao significado do que vem condição característica (Renwick, 1992, p.266).
a ser equilíbrio nos sistemas geomorfológicos con-
siderados em cada caso. Entende-se que as diversas Um dos principais meios utilizados para a ava-
concepções autorais de equilíbrio geomorfológico liação da condição de equilíbrio do relevo tem sido
compartilham a mesma noção comum de balanço o sistema fluvial e suas respostas sobre as vertentes
de forças/energias sem necessariamente utilizarem deduzidas da organização de materiais e formas.
a mesma terminologia, o que por si só é fonte de Mudanças nos sistemas fluviais tais como impactos
confusão. No amparo a esta concepção de balan- humanos, mudança climática, ou deformação tec-
ço de forças e/ou energias aparecem outras ideias tônica são frequentemente assumidos como fatores
como por exemplo a de autorregulação ou autoa- que afastam os rios do equilíbrio (Phillips, 2010).
justamento entre os componentes do relevo como No entanto, distinguir a ação individual de tais
consequência da interação entre processos e formas. causas na complexidade multicausal dos sistemas
Tal ideia está presente em Gilbert (1877), Birot geomorfológicos é um desafio a ser continuamente
(1958), Hack (1960; 1965), Leopold & Langbein enfrentado no trabalho de investigação científica.
(1962) e Nanson & Huang (2018), por exemplo. Dada a natureza multicausal de qualquer siste-
A título de uma síntese conceitual na história ma geomorfológico ao longo do tempo, o desafio da
do pensamento geomorfológico é possível afirmar avaliação da condição de equilíbrio do relevo parece
que os termos grade e equilíbrio são sinônimos passar pelo levantamento de formas e processos
para Davis. A condição de equilíbrio do relevo é inter-relacionados em um dado tempo que sejam
inseparável do termo equilíbrio dinâmico pro- capazes de demonstrar, ainda que parcialmente, a
posto por Gilbert (1877) e retomado por Hack evolução ou condição atual da paisagem. Convém
(1960). Hack considera steady state como sinônimo considerar inclusive: (i) que não existem formas
de equilíbrio dinâmico em seu texto de 1960, mas típicas; (ii) que não há um estágio pré-definido para
os distingue posteriormente em 1975. No entan- o qual a paisagem tenha que se direcionar; e por
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Tabela 1. Definições-chave de equilíbrio e diferenças entre elas
Termo Proponente Forma ou processo?
Equilíbrio Dinâmico Gilbert (1877) Forma constante, processos mantêm balanço
(Dynamic equilibrium) Ahnert (1994)
Chorley e Kennedy (1971)
Mudanças nos processos reatingem balanço
Schumm (1973)
Ahnert (1994)
Equilíbrio Dinâmico Metaestável Schumm (1975) Fatores-limite do sistema (treshold) variam
muito dependendo da forma e do processo
(Dynamic metastable equilibrium) Tricart (1965)

Pitty (1971)
Equilíbrio estável Mackin (1948) Forma constante, não necessariamente estática
(Steady state equilibrium) Rubey (1952)
Hack (1960)
Schumm e Lichty (1965)
Richards (1982) Balanço de processos e forma na escala do
Ahnert (1994) sistema
Quase-equilíbrio Petts e Foster (1985) Oscilações em torno de uma média, termo
(Quasi-equilibrium) alternativo para equilíbrio estável
Desequilíbrio Renwick (1992) Mudanças na forma e processos na tentativa
(Disequilibrium) Ahnert (1994) de reatingir um balanço, todavia ainda não em
balanço
Thorn e Welford (1994)
Não-equilíbrio Renwick (1992) Ausência de equilíbrio, apesar dos períodos de
(Non-equilibrium) Ahnert (1994) estabilidade
Thorn e Welford (1994)
Tooth e Nanson (2000)
Fonte: Bracken e Wainwright (2006).

fim, (iii) que se leve em consideração os limites de implica a consideração de propriedades relativas
resistência frente às forças envolvidas nos processos às formas no tempo e no espaço.
modeladores do sistema considerado.
Na pesquisa geomorfológica, a avaliação do
equilíbrio, ou não, de um sistema morfológico pode
Agradecimentos
ser alcançada mediante uma análise decorrente de O autor agradece a concessão de bolsa do
suas condições atuais com base em seus proces- CNPQ entre 2011 e 2013 que resultou na elabo-
sos, formas, materiais, condições e taxas com que ração deste trabalho.
a energia se movimenta pelo sistema comparadas
às condições desses materiais, processos e formas
Referências
em tempos passados que, de alguma forma, possam
ser conhecidos através do registro dos materiais Abrahams, A. D. (1968). Distinguishing between the
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166.
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