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Carlos Alberto Stechhahn da Silva é doutor em física pela Universidade de São Paulo (USP) e
professor das Faculdades Integradas Campos Salles. E-mail: stecphysics@gmail.com
Simone Seixas Picarelli é doutora em física pela Universidade de São Paulo (USP) e
professora das Faculdades Integradas Campos Salles. E-mail: simone.picarelli@gmail.com
RESUMO
Neste trabalho apresenta a relatividade restrita ou especial de Einstein. Iniciamos com as
transformações de coordenadas de Galileu e seu apoio nos conceitos de espaço e tempo
absoluto. Mostramos que estas transformações não são apropriadas para descrição dos
fenômenos relativísticos, no entanto, elas não podem ser completamente descartadas, pois, no
limite de baixas velocidades elas continuam sendo válidas. A seguir, mostramos como dois
observadores em movimento de translação uniforme (um em relação ao outro) descrevem os
fenômenos físicos com o uso dos postulados de Einstein da relatividade restrita. Nesse
contexto, as transformações de Lorentz são obtidas. Com a relatividade de Einstein temos a
destruição do conceito de espaço e tempo absolutos e criação de apenas uma entidade, o
espaçotempo, altamente plástico (se curva, oscila, deforma o tempo, etc). Concluímos este
trabalho com uma aplicação da contração do espaço e da dilatação do tempo aplicada ao caso
do decaimento de múons produzidos nas colisões de raios cósmicos com os núcleos atômicos
na alta atmosfera.
ABSTRACT
In this work we present the Einstein’s special relativity. We started with the coordinate
transformations of Galileo and your support on the concepts of absolute space and time. We
show that these transformations are not suitable for description of relativistic phenomena,
however, they cannot be completely discarded, because, in the limit of low speeds they
remain valid. Next, we show how two observers in translational motion (in relation to each
other) describe the physical phenomena with the use of Einstein's postulates of special
relativity. In this context, the Lorentz transformations are obtained. With Einstein's relativity
we have the destruction of the concept of absolute time and space and creating only one
entity, spacetime, highly plastic (bends, dangles, warps time, etc). We conclude this paper
with a contraction of space and time dilation applied to the case of the decay of muons
produced in collisions of cosmic rays with atomic nuclei in the upper atmosphere.
INTRODUÇÃO
Há pelo menos dois ramos da física onde nosso senso comum falha ao tentar descrever
os fenômenos naturais. Um deles, repousa no mundo microscópico das moléculas, átomos e
partículas elementares (ABDALLA, 2004). O outro, envolve a descrição do movimento de
partículas com velocidades próximas a da luz (EISBERG;LERNER, 1983). Tais estudos
envolvem, portanto, numa certa escala de energia, a mecânica quântica e a relatividade
especial de Einstein. A dificuldade, neste sentido, reside no fato de não estarmos acostumados
a lidar com escalas de distâncias atômicas, ou menores, bem como velocidades extremamente
altas (relativísticas) para a formulação de nosso entendimento e de nossas teorias.
“O movimento é uma mudança de lugar e exige sempre uma causa, o repouso e o movimento
são dois fenômenos físicos totalmente distintos, o primeiro sendo irredutível a um caso
particular do segundo” Aristóteles (384-322 a.C.).
Cerca de três séculos antes de Cristo, o filósofo Aristóteles, discípulo de Platão,
acreditava que abandonando dois corpos de massas diferentes, de uma mesma altura e em
qualquer condição inicial, o corpo mais pesado chegaria primeiro ao solo. Este resultado, em
experiências de queda-livre, só iria mudar no século XVII com Galileu Galilei. Segundo ele,
corpos de massas diferentes quando lançados de uma mesma altura e ao mesmo tempo
chegam ao solo no mesmo instante. Tal resultado é obtido desde que a experiência seja feita
em ambiente idealizado onde seja desprezível a resistência do ar. Temos, portanto, que a
teoria aristotélica, em grande confronto com a experiência, perdurou por séculos.
𝑥 ′ = 𝑥 − 𝑣𝑡 ; 𝑦 ′ = 𝑦 ; 𝑧 ′ = 𝑧 ; 𝑡 ′ = 𝑡 (1)
Analogamente para a velocidade e aceleração, temos, respectivamente:
𝑢′ = 𝑢 − 𝑣 (2)
𝑎𝑥′ = 𝑎𝑥
Se observar apenas o contexto Newtoniano, temos que, na Eq. (1), as três primeiras
equações já seriam suficientes para relacionar as posições medidas pelos observadores desses
sistemas de referência. Isto se deve ao fato que o tempo é absoluto na mecânica Newtoniana.
“O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si só, e por sua própria natureza, flui de
forma equitativa sem relação com nada externo. ” (Newton's Principia, Book I, Scholium
after Definitions).
i.e., ela representa a força sobre o corpo 2 devido ao corpo 1. Dessa forma, para um
observador num referencial 𝑆 a equação de movimento para o corpo 2 é dada por
′
𝐹12 = 𝑓 (𝑥2′ − 𝑥1′ ) = 𝑚2 ′ 𝑎2 ′. (5)
′
𝐹12 = 𝐹12. (7)
Uma fonte de luz emite um feixe monocromático que atinge um espelho inclinado, o
qual reflete cerca de metade da luz que sobre ele incide e transmite a outra metade. Os braços
são perpendiculares e de mesmo tamanho. No final de cada braço há espelhos que refletem o
feixe de luz de volta para o ponto de partida. O aparato todo pode sofrer rotação no plano dos
braços. Esta experiência foi construída para encontrar alguma mudança na figura de
interferência. Dessa forma, se a Terra (ou o espelho) está se movendo na mesma direção e
sentido do feixe de luz a velocidade relativa é dada pela diferença 𝑐 − 𝑣. No entanto, se a
Terra está se movendo na direção e sentido contrário ao pulso de luz (na volta do feixe de luz
ilustrado no desenho do Gráfico) a velocidade relativa será 𝑐 + 𝑣. Portanto, o tempo de ida e
volta do feixe de luz há horizontal 𝑇1 e na vertical 𝑇2 será dado pelas seguintes equações:
𝐿1 𝐿1 𝐿1 (8)
𝑇1 = + =
𝑐 + 𝑣 𝑐 − 𝑣 𝑐(1 − 𝑣 2/𝑐 2 )
e
2𝐿2 𝐿2 (9)
𝑇2 = =
(𝑐 2 −𝑣 )
2 1/2 𝑐 (1 − 𝑣 /𝑐 2 )1/2
2
onde 𝐿1 e 𝐿2 são os comprimentos dos braços. O que se observou nesta experiência é que os
feixes de luz partiam da fonte e retornavam até a mesma em tempos iguais, ou seja, 𝑇1 =
𝑇2 . Não foram produzidas defasagens nas figuras de interferência. Isto parecia implicar que
𝑣 = 0. O interferômetro mostrou como resultado desse experimento que independente do
movimento do observador a velocidade da luz era a mesma. Na teoria que Einstein iria
implantar certamente esse resultado era esperado.
2.1 Os dois postulados de Einstein da Relatividade Especial
3. AS TRANSFORMAÇÕES DE LORENTZ
Será usado neste contexto um sistema de referência (um par de eixos cartesianos) onde
iremos medir as distâncias entre dois pontos do espaço e um sistema de relógios para medir os
intervalos de tempo. Essas duas características devem sempre estar presentes na configuração
ou montagem dos problemas. Assim, teremos uma grade espacial (que pode ser em três
dimensões) que nos fornecerá a possibilidade de marcar cada ponto do espaço 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) e
associado a cada um desses pontos teremos um relógio para medir os intervalos de tempo.
Teremos em nossas considerações, analogamente ao Gráfico 1, um referencial 𝑆 em repouso,
e outro 𝑆′ que se move com velocidade constante, 𝑣. No entanto, cada ponto do espaço no
referencial 𝑆′ terá um relógio sincronizado com os relógios de 𝑆. Para a sincronização dos
relógios num mesmo referencial o procedimento é mais simples. Devemos usar o segundo
postulado da Relatividade Restrita e um conjunto de réguas e relógios.
Para que os observadores possam fazer suas medidas é necessário que seus relógios
estejam sincronizados. Para tal, emite-se um pulso de luz da origem e, como sabemos as
coordenadas do ponto de chegada da luz (que dista 𝑟 da origem) o tempo será dado por 𝑡 =
𝑟/𝑐. Dessa forma, o observador num ponto 𝑟 da origem saberá, em face da luz viajar com
velocidade constante 𝑐, o tempo que a luz levou para chegar até ele.
𝑆 ≡ 𝑆′ 𝑆 𝑆′
𝑣
𝑃
𝒙 ≡ 𝒙′ 𝒙 𝑥′ 𝒙′
Fonte: elaborado pelos autores.
As grandezas medidas pelo observador no referencial 𝑆′, quais sejam, 𝑥′, 𝑦 ′, 𝑧 ′ , 𝑡′,
vamos supor conhecidas, bem como, a velocidade 𝑣 do sistema de coordenadas. Quando este
feixe alcançar certo ponto 𝑃 do espaço, o conjunto de equações que relacionam as posições
medidas pelo observador em 𝑆 em termos da posição medida pelo observador em 𝑆′ são:
𝛾𝑡′(𝑐 + 𝑣 ) (12)
𝑐𝑡 = 𝛾𝑡′(𝑐 + 𝑣 ) ⇒ 𝑡 =
e 𝑐
𝛾𝑡(𝑐 − 𝑣 ) (13)
𝑐𝑡 ′ = 𝛾𝑡(𝑐 − 𝑣 ) ⇒ 𝑡 ′ =
𝑐
𝑣𝑥 ′ (16)
𝑡 = 𝛾(𝑡 ′ + ).
𝑐2
Sendo 𝑣 < 𝑐, o fator de Lorentz 𝛾 é maior que 1. Disso resulta que o intervalo de
tempo num referencial qualquer Δ𝑡 é sempre maior que o intervalo de tempo próprio, Δ𝑡0 .
Assim, o tempo para um observador que se move com 𝑆′, para um observador O que está em
S, funciona a um ritmo mais lento que o medido em S. Tal efeito é chamado de dilatação
temporal que nos leva ao paradoxo dos gêmeos ou de Langevin. Trata-se de uma
consequência do tempo não ser absoluto na relatividade restrita. Numa situação idealizada,
irmãos gêmeos podem vir a se encontrar e se apresentarem com uma grande diferença entre
suas idades, após uma viagem relativística de um deles. Como resultado, o que retorna da
viagem, estando mais novo que o irmão gêmeo que ficou na Terra, poderá dizer que foi para o
futuro. Tal efeito é possível e medido por meio da Eq. (17).
Supondo uma barra que esteja em repouso no sistema 𝑆′ e com suas extremidades
fixas em 𝑥1′ e 𝑥2′ . Instalamos na extremidade esquerda da barra uma fonte de luz cujo feixe
produzido deve atingir um espelho instalado na outra extremidade. O tempo de ida e volta,
tendo em vista a constância da velocidade da luz, será dado por
2𝐿0 (17)
Δ𝑡0 =
𝑐
A diferença entre esses dois pontos nos fornece o comprimento da barra no referencial em
repouso, ou seja, o comprimento próprio
E no referencial 𝑆 a barra se move para a direita com velocidade 𝑣 durante o pulso de luz. O
comprimento da barra em 𝑆 é 𝐿 e o tempo que a luz percorre de 𝑥1 a 𝑥2 é Δ𝑡1. Neste intervalo
de tempo a barra percorre a distância 𝑣Δ1. A distância total 𝑑 da fonte de luz ao espelho tem
um termo adicional sobre o 𝐿
𝑑 = 𝐿 + 𝑢Δ𝑡1 (20)
Esta equação nos mostra que a distância que o pulso percorre no referencial 𝑆 é maior
que 𝐿. Analogamente podemos mostrar que o tempo, Δ𝑡2 , de retorno da luz do espelho para a
posição da fonte, pode ser calculado como
𝐿 (202)
Δ𝑡2 =
𝑐+𝑢
Por meio de uma mudança no sinal da velocidade 𝑢 na Eq. (19). O tempo total para a luz ir da
fonte ao espelho e voltar, para um observador em 𝑆, é
2𝐿 2𝛾 2𝐿 (213)
𝛥𝑡 = 𝛥𝑡1 + 𝛥𝑡2 = =
𝑐[1 − (𝑣 2 /𝑐 2 )] 𝑐
Contudo, das Eqs. (17) e (18) temos a seguinte equação para Δ𝑡:
2𝛾𝐿0 (22)
Δ𝑡 = 𝛾Δ𝑡0 =
𝑐
𝐿0 (23)
𝐿=
𝛾
𝜋 + → 𝜇 + + 𝜈𝜇
𝜋 − → 𝜇 − + 𝜈̅𝜇 .
Fonte: https://portal.ifi.unicamp.br/a-instituicao/21-portal/portugues/pesquisas/grupos-de-pesquisa -
adaptado pelos autores.
2,2.10−6 𝑠 2,2
Δ𝑡 = 𝛾Δ𝑡0 = = . 10−6 𝑠 = 5,5.10−6
√1 − (0,84𝑐 2 /𝑐 2 ) 0,4
Pode-se calcular agora a distância máxima que o múon pode percorrer antes de decair
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho se mostrou a formulação de duas teorias que possuem visões diferentes
dos conceitos de espaço e tempo. Na primeira, na cinemática newtoniana, encontramos a ideia
de espaço e tempo absoluto. O Princípio da Relatividade segundo Galileu e Newton foi
apresentado. Vê-se que, neste contexto, eventos que são simultâneos num dado referencial
estacionário 𝑆 serão também simultâneos num outro 𝑆′ que se move em relação a este num
movimento de translação uniforme. A segunda teoria apresentada, a teoria da relatividade
especial de Albert Einstein (1905), diz respeito ao movimento de corpos relativísticos, ou
seja, os que se movem com velocidade da ordem da velocidade da luz. A mecânica
newtoniana, tão firmemente estabelecida até então, é inteiramente varrida pela relatividade
restrita e conceitos como força, ação e reação, espaço e tempo absoluto e simultaneidade
perdem o sentido. No entanto, apesar das transformações de coordenadas de Galileu não ser
as transformações apropriadas para descrição dos fenômenos relativísticos, elas não podem
ser completamente descartadas, pois, no limite de baixas velocidades elas continuam sendo
válidas.
O papel de Einstein com a relatividade restrita, portanto, foi o de mostrar uma nova
construção coerente para a física que abarcasse todos estes fatos teóricos e que não violavam a
causalidade.
REFERÊNCIAS
<http://nead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-
bloco_1/uni_extincao/material_apoio/texto-a_caminho_de_uma_extincao_em_massa.pdf>
Acesso em 20 jun. 2017.
Disponível em:
RAHAMAN, F. The Special Theory of Relativity, Springer India (2014), DOI 10.1007/978-
81-322-2080-0_2.
Disponível em: