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http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/fisica/0004.html
O primeiro desses artigos, em março, mostra que o efeito fotoelétrico pode ser muito
bem explicado se se admitir que a luz é feita de "grãos" de energia bem definida,
os fótons. O segundo artigo, em maio, explica um efeito, que se mantinha misterioso
nos oitenta anos anteriores, o movimento browniano - levando à aceitação da realidade
das moléculas e de sua agitação. O terceiro, que apareceu em junho, é o mais célebre;
nele, Einstein, admitindo ao mesmo tempo o princípio da relatividade e a invariança da
velocidade da luz, coloca triunfalmente as bases de uma nova mecânica, da qual a
mecânica de Galileu a Newton é uma aproximação válida para velocidades pequenas
(em relação à velocidade da luz).
Em cada um desses artigos Einstein ataca, pagando o preço de uma mudança radical de
pontos de vista, uma questão que estava no centro de uma controvérsia importante ou
no terreno de uma contradição: controvérsia entre os partidários e os adversários da
realidade das moléculas (e dos átomos), contradição entre um efeito da luz e sua
natureza, bem estabelecida, de onda eletromagnética, contradição, enfim, entre Newton
e Maxwell, sobre os próprios fundamentos da física.
Apresentamos, a seguir, um apanhado das soluções que Einstein traz, em 1905, nessas
três frentes. Ao lado disso, traduzimos alguns trechos dos artigos originais de Einstein.
Sugerimos fortemente que sejam lidos, por inteiro, esses três artigos. Com certeza não
se esquecerão dessa leitura e aprenderão muita física, além de adquirirem uma melhor
visão da história das criações e das descobertas científïcas. Acrescentamos também
uma síntese muito rápida das ideias da relatividade geral, teoria da gravitação proposta
por Einstein em 1915.
A. A RELATIVIDADE ESPECIAL
1. Introdução
A teoria da relatividade especial (ou relatividade restrita) foi criada por Einstein, em
1905, com a finalidade de resolver as divergências existentes entre a mecânica e o
eletromagnetismo clássicos. Ele introduziu a hipótese revolucionária de que a velocidade
da luz é a mesma para todos os observadores, independentemente do movimento da
fonte luminosa. Manteve também a ideia, proveniente de Galileu, de que as leis da
mecânica devem ter a mesma forma para todos os observadores inerciais (não
acelerados) e a estendeu para toda física, incluindo o eletromagnetismo.
Várias consequências cinemáticas decorrem daí, como a dilatação temporal dos relógios
e a contração dos comprimentos dos objetos em movimento, uma nova lei de soma das
velocidades e variação da massa (inércia) do objeto com a velocidade. Esses resultados
são perceptíveis apenas para velocidades muito grandes, próximas à velocidade da luz
(c = 300.000 km/s). Em 1905, Einstein deduziu também a famosa expressão de sua
lei da conservação da massa e da energia: E = mc². Os resultados previstos pela
teoria da relatividade especial foram amplamente confirmados por diversos
experimentos realizados a partir de 1908.
2. A contribuição de Einstein
Vamos ler o próprio Einstein, no início de seu clássico artigo, explicando suas hipóteses
básicas, suas razões e suas consequências:
No mesmo ano de 1905, no artigo "Ist die Trägheit eines Körpers von seinem
Energiegehalt abhägig?" ["A inércia de um corpo depende do seu conteúdo
energético?"], publicado no Annalen der Physik número 18, p. 639 , Einstein deduz de
maneira bem simples e direta a famosa expressão E = mc2, mostrando que as duas
leis de conservação já conhecidas, a lei da conservação da massa e a lei da conservação
da energia, fundem-se em uma lei mais geral de conservação da massa-energia. Eis as
últimas palavras de Einstein, neste artigo:
1.Introdução
O título do artigo de Einstein era: "Über einen die Erzeugung und Verwandlung des
Lichtes betreffeden heuristichen Gesichtspunkt" ["Um ponto de vista heurístico sobre a
produção e a transformação da luz"], publicado no Annalen der Physik, número XVII,
pp. 132 a 148.
Nada melhor do que ler as palavras de Einstein, na introdução de seu artigo original,
onde justifica e apresenta sua hipótese heurística:
2. A história do fóton
Após vários anos de estudo sobre as frequências das ondas eletromagnéticas emitidas
por um corpo negro [isto é, as frequências da radiação existente dentro de uma caixa
fechada, com paredes absorventes, mantida a uma temperatura constante, e que podia
ser medida através da radiação emitida através de um pequeno furo feito na caixa],
Planck descobriu, em 1900, uma lei que correspondia bem aos resultados experimentais
obtidos par Wien, em 1896. No entanto, na demonstração de sua fórmula, que fornecia
a distribuição das frequências da radiação emitida por um corpo negro em função da
temperatura, Planck utilizou o expediente matemático de supor que a energia trocada
entre a radiação e a matéria (as paredes da cavidade) ocorria de forma discreta e não
contínua. Esta ideia, introduzida após muitas tentativas de se chegar a uma expressão
que correspondesse aos dados experimentais, não agradava nem a Planck. Ele disse:
"[foi] um ato de desespero... Eu tinha que obter um resultado positivo, de qualquer
modo e a qualquer preço".
Enquanto Planck via em sua dedução apenas um artifício matemático que deveria ser
superado, Einstein supôs que a quantização era um fato físico concreto (ele denomina
sua hipótese de princípio heurístico). A partir deste princípio, Einstein analisa várias
consequências físicas dele decorrentes. Em particular, mostra como pode ser entendido
o chamado efeito fotoelétrico, que havia sido descoberto por Hertz muitos anos antes, e
que ainda não encontrara explicação dentro da teoria ondulatória da luz. Vejamos o que
diz Einstein sobre este efeito:
A concepção segundo a qual a luz excitadora é constituída de quanta de energia (hv) permite
conceber a produção de raios catódicos [elétrons] pela luz da maneira seguinte. Quanta de luz
penetram na camada superficial do corpo; sua energia é transformada, pelo menos em parte, em
energia cinética dos elétrons. A representação mais simples que se pode fazer é aquela de um
quantum de luz cedendo sua energia a um só elétron; vamos supor que é assim que se passa.
Não fica excluído, no entanto, que os elétrons tomem apenas uma parte da energia dos quanta de
luz. Um elétron, no qual a energia cinética tenha sido fornecida no interior do corpo, chega à
superfície tendo perdido uma parte de sua energia cinética. Vamos supor, além disso, que todo
elétron deve, para poder deixar um corpo, fornecer uma certa quantidade de trabalho P
(característica do corpo). Os elétrons que deixam o corpo com a velocidade normal mais elevada
são aqueles que se encontram imediatamente na superfície e que são excitados normalmente a
esta. A energia cinética desses elétrons é:
E = hv - W .
[onde E é a energia cinética do elétron emitido da placa metálica, h é a chamada constante de
Planck, v é a frequência da luz monocromática incidente sobre a placa e W a energia que deve
ser fornecida ao elétron para arrancá-lo da placa]
(R/N) βν - P.
πε = (R/N) βν - P ,
πE = R βν - P',
Se E for igualado a 9,6 x 103, então π x 10-8 é o potencial em volts que o corpo
assumirá quando irradiado no vácuo. Para ver se a relação derivada está de acordo, em
ordem de grandeza, com as observações, tomamos P' = 0, ν = 1,03 x 1015 (o que
-
corresponde ao limite do espectro solar na direção do ultravioleta) e β = 4,866 x 10
11 -8
. Obtemos, então, π x 10 = 4,3 volts , que, em ordem de grandeza, concorda
bastante bem com os resultados de Lenard (2).
Tanto quanto sei nossas ideias não são contrárias às observações de Lenard sobre o
efeito fotoelétrico. Se cada quantum de luz fornecesse sua energia aos elétrons
independentemente de todos os outros, então a distribuição de velocidades, isto é, a
qualidade dos raios catódicos produzidos, será independente da intensidade da radiação
excitadora; por outro lado, o número de elétrons que deixam o corpo sob condições
iguais será diretamente proporcional à intensidade da radiação incidente.
No que precedeu, foi suposto que a energia de pelo menos alguns dos quanta da luz
incidente foi completamente transferida aos elétrons individuais. Se essa hipótese
plausível não tivesse sido feita, então teríamos obtido, ao invés da equação acima, a
seguinte desigualdade:
πE + P' ≤ R βν.
πE + P' ≥ R βν.
Rβν = ζ.
Um limite superior para o potencial de ionização pode ser obtido das voltagens de
ionização em gases rarefeitos. De acordo com J.Stark (4), a menor voltagem de
ionização medida no ar vale aproximadamente 10 volts (para ânodos de platina) e,
portanto, o limite superior para ζ é 9,6 x 1012, o que é bastante próximo do valor
encontrado. Há uma outra consequência cuja verificação experimental me parece de
grande importância. Se cada quantum absorvido ioniza uma molécula, então deve
existir uma relação entre a quantidade de luz absorvida L e o número j de pesos
moleculares (grama) ionizados com isso:
j = L/(Rβν).
Essa relação deve, se nosso conceito corresponde à realidade, ser válida para cada gás
que (como frequentemente considerado) não mostra absorção sem ionização
correspondente.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que, com a teoria ondulatória da luz, na sua
forma eletromagnética, tivéssemos adquirido um conhecimento definitivo sobre a
natureza da radiação. No entanto, sabemos, há cerca de 25 anos, que essa teoria não
permite explicar as propriedades térmicas e energéticas da radiação, embora descreva
com precisão as propriedades geométricas de luz (refração, difração, interferência etc).
Uma nova concepção teórica, a teoria quântica da luz, semelhante à teoria da emissão
de Newton, surgiu ao lado da teoria ondulatória da luz e adquiriu uma posição bem
estabelecida na ciência devido a seu poder explicativo (explicação da fórmula da
radiação de Planck, dos fenômenos fotoquímicos, teoria atômica de Bohr). Entretanto,
apesar de todos os esforços dos físicos, não se conseguiu, até hoje, uma síntese lógica
da teoria quântica e da teoria ondulatória. É, por essa razão, muito discutida a questão
da realidade dos quanta de luz de forma corpuscular.
Há pouco tempo, Bohr, juntamente com Cramers e Slater, tentou explicar teoricamente
as propriedades energéticas da luz, sem lançar mão da hipótese de que a radiação é
constituída de quanta análogos a corpúsculos. Segundo a opinião desses pesquisadores,
devemos continuar a imaginar a radiação como constituída de ondas que se propagam
em todas as direções. Essas ondas, embora absorvidas pela matéria de modo contínuo,
como quer a teoria ondulatória, produzem, de acordo com leis puramente estatísticas,
efeitos quânticos em átomos individuais como se a radiação fosse constituída de quanta
de energia hn e de momento hn/c. Com essa concepção, esses autores abandonaram a
validade exata dos teoremas da conservação da energia e do momento, substituindo-os
por uma relação que possui apenas um valor estatístico.
Para que se possa compreender o "efeito Compton" pela teoria de Bohr, Cramers e
Slater, é necessário conceber a difusão da radiação como um processo contínuo em que
tomam parte todos os átomos da substância que difunde aquela radiação, enquanto que
a emissão dos elétrons tem apenas o caráter de acontecimentos isolados que obedecem
a leis estatísticas. Por outro lado, de acordo com a teoria dos quanta de luz, também a
difusão da luz deve possuir o caráter de acontecimentos isolados e, sempre que um
efeito secundário for produzido na difusão da radiação pela matéria, um elétron deve
ser emitido em uma direção determinada. Por essa teoria, existe, assim, uma correlação
estatística entre a radiação difundida, no sentido de Compton, e a emissão de elétrons,
correlação esta que não deve existir na concepção teórica dos autores citados acima.
Para verificar o que ocorre realmente, é necessário que se utilize um aparelho capaz de
registrar um único processo elementar de absorção e a emissão respectiva de um único
elétron. Esse dispositivo existe numa ponta eletrizada, onde um único elétron por ela
apreendido gera, pela formação secundária de íons, uma descarga momentânea
susceptível de ser medida. Com duas dessas pontas convenientemente dispostas,
Geiger e Bothe conseguem responder à importante questão da existência da correlação
estatística dos fenômenos secundários mencionados acima.
Por ocasião de minha partida da Europa, as experiências não estavam ainda concluídas.
No entanto, os resultados até agora obtidos parecem mostrar a existência daquela
correlação. Se essa correlação for verificada de fato, tem-se um novo argumento de
valor em favor da realidade dos quanta de luz.
E. O MOVIMENTO BROWNIANO
1. Introdução
Os trabalhos feitos por Einstein, entre 1905 e 1908, sobre o chamado movimento
browniano, foram decisivos para a aceitação definitiva da ideia de que a matéria é
constituída de átomos (teoria atômica da matéria). O primeiro trabalho da série,
publicado em 1905, tomou-se o ponto de partida para a confirmação experimental
dessa hipótese. A verificação das previsões de Einstein, deduzidas por ele a partir da
suposição da existência dos átomos, foi feita pelo físico francês Jean Perrin (1870-1942)
através de uma série de experiências minuciosas, difíceis e de grande precisão.
O título do trabalho original de Einstein era: "Über die von der molekularkinetisehen
Theorie der Wärme gefordete Bewegung von in ruhenden Flüssigkeiten suspendierten
Teilchen" ["Movimento de partículas em suspensão em um fluido em repouso, como
consequência da teoria cinética molecular do calor"], publicado no Annalen der Physik,
XVII, 549-560 (1905).
A ideia de que toda a matéria é composta por um número reduzido de tipos de átomos
(ou moléculas), que seriam os constituintes últimos que preservam as propriedades
físicas das substâncias, é muito antiga. Os filósofos materialistas gregos, alguns séculos
antes de Cristo, já defendiam a ideia da discretização da matéria. Até o início deste
século, no entanto, apesar de muitas evidências indiretas provenientes da química e do
estudo do comportamento dos gases e de trabalhos importantes de Dalton, Maxwell e
Boltzmann, não havia uma confirmação inequívoca da existência dos átomos e muitos
cientistas de mérito reconhecido não os aceitavam. Os energeticistas, liderados por
Ostwald e Mach, preferiam uma imagem continuista da matéria e dos fenômenos
físicos.
Qual foi, então, a contribuição de Einstein a esse respeito? Seguindo uma ideia já
esboçada por Boltzmann, imaginou que se poderia medir as flutuações moleculares que
deveriam estar ocorrendo dentro da matéria pela agitação térmica das moléculas
constituintes. Sendo assim, tomou um movimento já conhecido, o movimento
browniano, assim chamado em homenagem a um de seus observadores, o botânico
Robert Brown (1828), onde um pequeníssimo grão de pólen, quando mergulhado na
água e visto ao microscópio, apresenta movimentos irregulares. A originalidade e o
avanço de Einstein, em relação aos que o antecederam no estudo desse movimento, foi
analisar o deslocamento quadrático médio da partícula dentro do fluido (ou seja, a
flutuação na sua posição em torno de uma posição média) em função do tempo.
D = (RT / N) / 6πkP,
F. A RELATIVIDADE GERAL
Sua teoria possui um conjunto de equações (as equações do campo gravitacional) que
estabelecem a conexão entre o conteúdo de matéria do universo e sua geometria
espacial e temporal. A matéria do universo (e sua distribuição) determina a geometria
do espaço-tempo. Por outro lado, a matéria se move nesse espaço-tempo curvo
seguindo as linhas geodésicas (linhas de distância mínima neste espaço
quadridimensional). Assim a matéria diz ao espaço-tempo como se curvar (estabelece
sua geometria) e a geometria do espaço-tempo diz como a matéria deve se
mover: Curvatura = Matéria.
Comparemos a descrição do movimento da Terra em torno do Sol nas teorias de
gravitação de Newton e de Einstein. Na teoria de Newton, a Terra se move em um
movimento aproximadamente circular em torno do Sol, devido à atração gravitacional
existente entre ambos. Trata-se de uma força que age à distância, sem intermediários e
de maneira estranha, obrigando a Terra a se desviar de uma trajetória em linha reta
(que seria seguida se não existisse a atração do Sol). Já na teoria de Einstein não é
necessária a introdução dessa estranha noção de força que atua à distância. Nela, a
massa do Sol produz uma alteração da geometria do espaço-tempo, curvando-o, e a
Terra segue o caminho mais curto neste espaço encurvado pela presença do Sol.
Einstein, em seus artigos originais, previu três testes experimentais para sua teoria. O
primeiro deles explicava uma pequena diferença - já medida por Le Verrier desde 1850,
e que a teoria de Newton não conseguia prever - na taxa de rotação secular do eixo da
órbita de Mercúrio, a chamada precessão do periélio de Mercúrio.
O terceiro fenômeno previsto era a deflexão que o trajeto da luz de estrelas sofreria ao
passar perto do Sol (as trajetórias luminosas seguem a curvatura do espaço-tempo).
Um eclipse total do Sol seria uma ocasião ideal para se observar tal efeito. Foi o que foi
feito na expedição a Sobral no Ceará, em 1919. Os resultados experimentais
confirmaram a previsão de Einstein.
Referências