Você está na página 1de 59

JERUSALÉM POR FLÁVIO JOSEFO

JERUSALÉM ANTES DA REMODELAÇÃO DE HERODES


(C. Ap.)

(Hecateu de Abdera) dá informações sobre a extensão da região que nós habitamos e


sobre a sua beleza: «Eles cultivam – diz ele – cerca de 3 000 000 de aruras da melhor
terra e mais fértil em todas as espécies de frutos; porque tal é a superfície da Judeia.»

Por outro lado, sobre a grande beleza e extensão considerável da própria cidade de
Jerusalém, que nós habitamos desde os tempos mais remotos, sobre a sua numerosa
população e sobre a disposição do templo (neós), eis os detalhes que dá este mesmo
autor: «Os Judeus têm numerosas fortalezas e numerosas aldeias espalhadas pelo país,
mas só uma cidade é fortificada, com cerca de 50 estádios de perímetro. (1) Tem uma
população de cerca de 120 000 pessoas, e chamam-na Jerusalém.

Mais ou menos no meio da cidade, ergue-se um períbolo de pedra com o comprimento


de cerca de 5 plectros e a largura de 100 côvados (2), tendo portas duplas. Encerra um
altar quadrado, formado de uma reunião de pedras brutas, não talhadas, (3) que tem 20
côvados de cada lado e 10 de altura. (4) Ao lado, encontra-se um grande edifício, (5)que
contém um altar e um candelabro, os dois em ouro e pesando 2 talentos. O seu fogo
nunca se apaga nem de noite nem de dia. Nem a menor estátua, nem o menor
monumento votivo. Absolutamente nenhuma planta, como arbustos sagrados ou outros
semelhantes. Sacerdotes aí passam as noites e os dias a fazer certas purificações e
abstêm-se completamente de vinho no santuário (6) (hierón).»

(C. Ap. I, 195 - 199)

1) Os 27 estádios indicados por Xenofonte (cerca de 5 km) (Textes, Op. cit., p. 54)
parecem-se mais com a realidade. O número de 120 000 habitantes é outro exagero.

2) Ez 40, 47. 41, 13-15: Dois quadrados de 100 CV de lado (200 CV de comprimento).
(Cf. Ex 27, 9-19. 38, 9-20: 100 CV por 50 CV). Todavia, os côvados de Ezequiel são de
7 mãos (côvados filitarianos). «Cerca de 5 plectros» (= cerca de 500 pés) são cerca de
333, 3 CV (= 100 CV + 200 CV + 33,3 CV). Conclui-se, pois, que o átrio, frente ao
templo, media 100 CV de largura e, pelo menos, 200 CV de comprimento.

O comprimento aqui indicado sugere que o templo lendariamente descrito


pela Mishnáh era o que existia antes da remodelação de Herodes. De facto, o
tratadoMiddot da Mishnáh atribui 176 CV ao átrio dos sacerdotes, 11 CV ao átrio dos
homens e 135 CV ao átrio das mulheres (Mid 2, 5-6; 5, 1-2). Somando estas 3 medidas,
obtém-se 322 CV, a que se acrescenta a largura (desconhecida) dos compartimentos
orientais (Mid 1, 4; 2, 6). Contudo, a Mishnáh atribui 135 CV de largura a todo o átrio
interior e fala em 3 ou 4 portas a norte e 3 ou 4 portas a sul. (Mid 1, 4-5; 2, 6).

3) Ex, 20, 25; Dt 27, 5-6.


4) 2Cr 4, 1. A Mishnáh descreve o altar como tendo 32 CV por 32 CV na base, mas
encolhendo-se em degraus de um côvado de largura em toda a volta. (Mid 3, 1-4)
(Cf.: Ez 43, 13-17). De qualquer modo, a descrição da Mishnáh, que parece inspirar-se
em Ez 43, 13-17, não combina com esta.

5) Esd 6, 1-5.

6) Lv, 10, 9-10; Ez 44, 21.

O TEMPLO DE JERUSALÉM DEPOIS DA REMODELAÇÃO DE HERODES


O Templo e a Fortaleza Antônia
(B. J.)

Foi assim que, no 15.º ano do seu reinado (1), (Herodes) restaurou o templo (naós), e
elevou em volta uma esplanada 2 vezes maior que a anteriormente existente. (2)

Ele consagrou-lhe somas prodigiosas com uma magnificência inigualável. Testemunhos


são os grandes pórticos que cercam o santuário e a fortaleza que o flanqueia a norte. Ele
reconstruiu estes pórticos a partir das fundações.

Quanto à fortaleza, ele fê-la restaurar com um luxo que nada diferia do de um palácio.
Chamou-lhe Antônia, em honra de Antônio.

(B. J. I, 401)

1) Segundo A. J. 15, 380, provavelmente mais exato, no 18.º ano do reino de Herodes
(20-19 a. C.). Os 46 anos de Jo 2, 20 situam a 1.ª expulsão dos vendilhões no ano 28. O
átrio exterior só foi terminado em 64 d. C.

2) Se o átrio interior que existia anteriormente media 100 CV de largura (Supra), então
o novo passou a medir 200 CV de largura e, provavelmente, 400 CV de comprimento: o
dobro da largura e do comprimento indicados por Ezequiel e o quádruplo da largura e
do comprimento do átrio do templo portátil de Moisés.

A Águia de Ouro
(B. J.)

Estava interdito que houvesse em algum lugar do templo quer imagens (eikónas), quer
bustos, quer obra que evocasse qualquer ser vivo, fosse qual fosse.

Ora, o rei tinha mandado executar, por cima da grande porta, uma águia de ouro. (...)

Os jovens, (...) ao meio de um dia, (...) a uma hora em que muita gente ia e vinha, no
santuário, fizeram-se descer do teto por grossas cordas e partiram a águia de ouro a
golpes de machado. (1)

(B. J. I, 650-651)
A Águia de Ouro
(A. J.)

Com efeito, Herodes cometera certas infrações à Lei. (...) Assim, por cima da grande
porta do templo (naós), o rei tinha colocado uma oferta muito custosa: uma grande
águia de ouro, enquanto a Lei proíbe construir imagens e consagrar formas de seres
vivos a quem quer levar uma vida conforme as suas prescrições. (1)

(A. J. XVII, Cap. VI, 2. 151)

1) A águia de ouro, segundo se pode entender, esteve colocada sobre a cornija da porta
do naós (o templo propriamente dito) desde a conclusão deste até ao ano da morte de
Herodes (4 a. C.).

Os Ângulos do Santuário

(B. J.)

Simão passou ao assalto do santuário com a ajuda do povo. Os Zelotes, tendo tomado
posição sobre os pórticos e nas ameias, reprimiam as suas investidas. (...) Já favorecidos
pelo lugar, tinham, além disso, instalado quatro altíssimas torres (1) para efetuar o tiro
de mais alto: a primeira no ângulo nordeste; a segunda dominando o Xisto; a terceira
num outro ângulo, frente à cidade baixa; a última tinha sido disposta sobre o teto dos
pastofórios (=os aposentos dos sacerdotes), no sítio, onde, segundo o uso, se colocava
um dos sacerdotes para anunciar, por um toque de trombeta, de tarde, a chegada de cada
sétimo dia, e, de novo, ao anoitecer, o seu fim; a primeira vez, para anunciar ao povo a
paragem do trabalho, e, a segunda vez, o retomar dos trabalhos. (2)

(B. J. IV, 578. 580-582)

1) Estas torres foram instaladas durante a guerra contra os Romanos. Nada leva a
concluir que anteriormente existissem torres nos ângulos dos pórticos do templo. O
único ângulo que tinha torre era o ângulo noroeste, porque tinha a torre Antónia (Infra).
O tratado Middot da Mishnáh também não fala de nenhuma torre nos ângulos.

A descrição do Pórtico Régio (Infra) sugere que, para além das 162 colunas desse
pórtico (basílica), os ângulos não teriam colunas nem pilastras, o que quebrava a
monotonia das intermináveis paredes rematadas por pilastras esculpidas. O muro do
Túmulo dos Patriarcas, em Hebron, que tem pilastras esculpidas na parte superior,
também tem os ângulos lisos.

2) Entre os restos de uma rua estreita, que ladeava o templo a ocidente, foi encontrada
uma lápide, em hebraico, com a seguinte inscrição: «Em direção ao lugar do toque da
trompete (para os anúncios)». Tinha caído do ângulo SO.

Tentativa de Elevar o Templo em 20 Côvados


João, para a fabricação das suas máquinas de guerra, ousou desviar do seu uso a
madeira sagrada.

Efetivamente, um dia em que o povo e os sumos sacerdotes tinham decidido altear o


templo, para o sobrelevar 20 côvados, (1) o rei Agripa fez trazer do Líbano,
laboriosamente e com grandes custos, a madeira necessária: vigas que mereciam serem
vistas, de tal forma elas eram bem direitas e de grande dimensão.

Tendo a guerra interrompido os trabalhos, João, achando-as com o comprimento que era
necessário para chegar ao nível dos que combatiam do alto do santuário, mandou-as
talhar e, com elas, construiu torres, que trouxe e ergueu atrás do períbolo sagrado, frente
à êxedra virada para o ocidente, (2) único sítio propício, estando as outras partes
mantidas à distância por lanços de degraus.

(B. J. V, 36-38)

1) Vd. Infra.

2) Concluímos que seria uma êxedra do períbolo exterior, situada atrás do períbolo
interior. Certamente, seria a entrada da ponte da qual há vestígios do Arco de Wilson.
Também concluímos que o períbolo interior não tinha degraus no lado ocidental.

O Templo

O santuário era construído, (...) sobre uma colina fortificada.

Na origem, o planalto do cume mal chegava para o edifício do templo (naós) e para o
altar: é que todo o contorno era abrupto e escarpado. Depois que o rei Salomão, o
verdadeiro fundador do templo (naós), construiu um muro no lado oriental, um único
pórtico foi localizado sobre o terraço. (1) Nos outros lados, o templo era descoberto. No
decurso das idades seguintes, trazendo aí a população sem cessar algum novo aterro,
nivelando o seu nível, a colina alargava-se. Abatendo-se, além disso, a muralha do lado
do norte, ganhou-se todo o espaço que ocupou, em seguida, o períbolo do santuário.

Quando se acabou de cercar com um muro a colina, na sua base, em 3 lados, e de


cumprir, assim, uma obra, ultrapassando todas as previsões (foram-lhes necessários
longos séculos e gastaram nisso todos os seus tesouros sagrados, que as contribuições
enviadas a Deus do mundo inteiro alimentavam), construiu-se sobre o contorno (da
colina) os recintos fechados superiores e a parte inferior do santuário. No sítio em que
os alicerces desta última são os mais baixos, levantou-se o muro de 300 côvados de
profundidade e mesmo mais em certos pontos, sem que seja aparente, no entanto, a
profundidade dos alicerces, porque se tinha preenchido as ravinas com enormes aterros,
com vista de os colocar ao nível das pequenas ruas da cidade. Os blocos de
infraestrutura mediam 40 côvados, porque a abundância de recursos e de zelo de que o
povo dava prova levavam a empreendimentos incríveis; e aquilo de que não se esperava
mesmo ver o fim, à força de perseverança e de tempo, chegou ao seu acabamento.
1) 1Rs 5, 15-32; 6-7; 2Cr 1, 18; 2-4; 2Rs 21, 5; 23, 11-12; Ez 8, 7. 14. 16. Cf. Ez 40-44;
46, 19-24. Em apêndice a este opúsculo, encontra-se o tratado Middot da Mishnáh, para
confronto.

F. Josefo foi sacerdote do templo de Jerusalém e a sua descrição concorda com as


características arquitetônicas greco-romanas.

O Átrio dos Gentios – As construções que se elevou por cima (da plataforma) foram
dignas de semelhantes fundações.

Todos os pórticos eram duplos e as colunas que os sustentavam mediam 25 côvados de


altura; (1) eram monolíticas, de mármore muito branco. Os tetos eram apainelados de
cedro.

A sua alta qualidade do material, a perfeição do polimento e a harmonia de conjunto


ofereciam um espetáculo notável, sem adição de algum ornamento embutido, de pintura
ou de escultura. (2)

Estes pórticos tinham uma largura de 30 côvados (3) e o seu desenvolvimento completo,
compreendendo a (torre) Antônia, formava um circuito (kúklos) de cerca de 6
estádios. (4) Toda a parte a céu aberto era ornada de toda a espécie de mosaicos de cores
variadas.

1) 25 CV (= 37,5 pés) são, pois, apenas a altura das colunas. F. Josefo diz que a altura
das naves laterais do Pórtico Régio (situado a sul) era de «mais de 50 pés»(Infra). É
lógico aceitar que os pórticos circundantes tivessem todos a mesma altura. Ora, a
diferença exata entre 50 P e 37,5 P é de 1/4 da altura. Essa diferença poderia ser
ocupada por um entablamento arcaizante, compreensível na ordem dórica; todavia, na
ordem coríntia, espera-se que o entablamento ocupe 1/5 da altura, para o que é
necessário atribuir 40 P de altura às colunas (= 37,5 P + 2,5 P). É inverosímil que as
bases ou os capitéis fizessem parte do mesmo bloco que o fuste das colunas, portanto os
2,5 P de diferença facilmente se encontrariam numa base quadrada das colunas ou nos
capitéis dóricos (ou toscanos).

2) Daqui se pode concluir que os pórticos exteriores, excetuando o Pórtico Régio, eram
arquitetonicamente da ordem toscana (ou dórica-romana). O Pórtico Régio era da ordem
coríntia.

3) A estes 30 CV (13,32 m) é necessário somar a espessura do muro exterior, a qual não


mediria menos de 6 CV. (Ez 40, 5 ss).

O muro do períbolo do Túmulo dos Patriarcas, em Hebron, que nos parece dar uma
ideia do que seriam os muros do templo, mede, com efeito, 2,65 m de espessura (6 CV).

4) I. e. um retângulo formado por dois quadrados de 1 estádio de lado (1+2+1+2


estádios). O períbolo exterior que antes existia seria um quadrado com cerca de 1
estádio de lado (Infra 9. 3). Ez 42, 15-20 e Mid 2, 1 falam de 500 CV de lado.
Subtraindo-lhe 50 CV em torno para os pórticos (Ez 40) = 400 CV de lado = 1 estádio
de lado.

Na realidade, a plataforma retangular do templo, tal como a conhecemos, mede muito


mais do que 6 estádios, formando um retângulo irregular. As portas também não se
encontram alinhadas umas com as outras nem com as faces da esplanada, nem
centradas. Para tal irregularidade, só conseguimos encontrar uma explicação:
possivelmente, os pórticos do átrio exterior (Átrio dos Gentios) foram construídos sobre
o traçado das muralhas que antes existiam em torno dos dois pátios do templo, e as
novas portas foram construídas no lugar das anteriores. Com efeito, há uma «emenda»
visível próximo do canto do sul da parede oriental, a 32 m desse ângulo. Deve querer
dizer que o muro herodiano aproveitou alguma parte da muralha existente e que foi
prolongado para sul. Essa muralha não seria o muro exterior do períbolo exterior, mas
uma muralha construída fora desse muro, provavelmente a muralha construída pelos
Asmoneus (1Mc 4, 60-61). Note-se que a Carta de Aristeu diz que o templo pré-
herodiano «foi cercado por 3 paredes de mais de 70 CV de altura e correspondendo à
estrutura do edifício em comprimento e largura.» (1Sm 5, 9; 1Rs 9, 15; 2Rs 14,
13 ss; Ne 3, 1-32; 12, 31-39; 1Mc 4, 36-61; 6, 7; 12, 35-37; 13, 52; Jr 31, 38-40; Jo 5, 2;
etc.). Note-se, em todo o caso, o alinhamento da Porta Dupla com a rocha sagrada
(situada no centro da Cúpula do Rochedo).

Os Átrios Interiores – Atravessando este espaço para avançar em direção ao


segundo (átrio do) santuário, encontrava-se uma barreira de pedra, de 3 côvados de
altura, que o cercava e que era de um trabalho muito fino. Sobre esta barreira, erguiam-
se, a intervalos regulares, (1) estelas prevenindo a respeito da pureza legal, umas em
grego, outras em latim, proibindo a qualquer estrangeiro a entrada no períbolo do
santuário, (2) porque o segundo átrio era qualificado de santo. (3)

Do primeiro átrio, subia-se para lá por uma escada de 14 degraus. No cimo, encontrava-
se um átrio quadrangular, isolado por um muro próprio, cuja altura, vista do exterior,
apesar dos seus 40 côvados, (4) era dissimulada pelas escadas, enquanto no interior ela
era de 25 côvados. (5) Estando a escada adossada a um átrio mais elevado, não se podia
mais ver toda a extensão deste átrio interior, disfarçado pela elevação do terreno.

Após os 14 degraus, o espaço até ao muro era de 10 côvados e era todo plano. Depois,
novas escadas de 5 degraus conduziam às portas, que eram em número de 8 dos lados
norte e sul, 4 em cada um dos lados. (6)

1) É lógico pensar que as portas do períbolo interior estivessem alinhadas com as


aberturas dessa barreira. Cada uma das aberturas teria um aviso em grego de um lado e
outro em latim do outro. Para a Mishnáh, essa barreira teria 13 aberturas (Mid 2, 3; 2,
6). Não sabemos a distância entre elas e os degraus.

2) (Ez 44, 6-9; At 21, 27-30). Foram encontradas duas pedras com avisos desses, em
grego, dizendo o seguinte:
«Nenhum estrangeiro entrará no interior da balaustrada e do períbolo que cercam o
santuário. Porém, aquele que vier a ser apanhado para si próprio será causa [de
condenação], através da morte, que virá a seguir».

3) Cf. Ex 25-28; 30; 36, 8-38; 37-39.

4) 8 vezes os 5 CV de Ex 26, 9-19; 38, 9-20. Esta muralha de 40 CV de altura era


munida de ameias (Ex.: B. J. V, 102: Os Zelotes «abandonando a guarda das portas, e,
saltando das ameias, (...) refugiaram-se nos subterrâneos do templo»).

5) Entre os 40 CV exteriores e os 25 CV interiores havia, portanto, uma diferença de


altura de 15 CV. Podem ser colocadas 3 hipóteses:

a) O muro exterior era 15 CV mais alto do que as colunatas interiores e as salas do


Tesouro, resguardando terraços sobre estas, que funcionariam como galerias superiores.
Cf.: «E [o átrio das mulheres] era, inicialmente, nivelado, mas depois cercaram-no com
uma galeria, para que as mulheres olhassem de cima enquanto os homens estavam em
baixo, e não se devem misturar.» (Mid 2, 5).

b) O muro exterior era 15 CV mais alto do que as colunatas interiores, sendo a diferença
de altura preenchida por um telhado inclinado.

c) O muro exterior atingiria a mesma altura das colunatas interiores, sendo a diferença
de altura preenchida na base pelos 14 degraus exteriores. Mas os degraus seriam
demasiadamente altos para serem usados por seres humanos: 15 CV / 14 = 1,07…CV.
(Mais de 0,47 m por cada degrau!) Mesmo preenchendo a altura com os 19 degraus (14
+ 5), a altura de cada degrau seria muito elevada. A Mishnáh (Mid 2,3) diz que esses
degraus mediam 0,5 côvado de altura e de largura (0,222 m). Além disto, as êxedras
interiores, de 40 CV de altura, ficariam desniveladas do muro exterior. De qualquer
modo, por cima dos batentes das portas, de 30 CV de altura, o muro teria de ter 40 CV
de altura, acima dos degraus, para formar a parte externa das êxedras!

6) O períbolo anterior tinha portas duplas (Supra). O novo passou a ter portas
quadruplas.

Era natural que as portas setentrionais e meridionais estivessem a intervalos iguais entre
elas. É a ideia com que se fica da descrição de Josefo, principalmente se imaginarmos
estas portas alinhadas com as aberturas da barreira da separação legal, e nada leva a
pensar o contrário.
Josefo fala em escadas de 5 degraus para as 9 portas do períbolo, o que era
esteticamente natural. Como também havia degraus do átrio das mulheres para o átrio
dos homens, depois de subir 5 degraus para as portas do átrio das mulheres, dentro, era
preciso descer de novo, depois de atravessar as êxedras. Como Josefo não diz que
houvesse degraus depois de atravessar as êxedras para dentro, resta admitir que o
pavimento deste átrio abaixava em direção ao meio e à Porta Coríntia, a fim de escoar a
água para algum canal. O Pseudo-Aristeu, fazendo a descrição do templo anterior, diz
que a esplanada, calçada, baixava em direção ao altar, para se lavar e escoar o sangue
das vítimas, através de um canal, o que era muito necessário, sobretudo em dias de
festa. (Cf.: Mid 3, 2). Certamente, todo o pavimento do átrio interior seria ligeiramente
inclinado para dentro.

O Átrio das Mulheres – Havia, forçosamente, 2 (portas) a oriente; porque, deste lado,
tendo sido construído um muro para reservar um lugar de culto particular às mulheres,
era precisa uma segunda porta; esta foi construída frente à primeira.(1)

Nos outros lados, havia uma porta a sul e outra a norte, que davam acesso ao «átrio das
mulheres». Elas não podiam, com efeito, entrar pelas outras portas,(2) nem transpor o
muro de separação que ladeava o seu próprio átrio. Este espaço, de resto, estava aberto
ao culto às judias do país e igualmente às mulheres da mesma raça, mas que viessem de
outros lados.

1) F. Josefo sugere, assim, que o períbolo interior foi construído primeiramente todo
seguido, e só depois é que nele se construiu um muro para fazer a separação entre as
mulheres e os homens. A ideia de o construir deve ter sido posterior à construção do
períbolo, até porque não existe, no Antigo Testamento, nenhuma referência a tal
separação. Sendo assim, o mais lógico é que fosse construído a ligar duas êxedras, uma
do norte com outra do sul do períbolo. (Cf. Infra). A altura deste muro não é indicada, o
que leva a pensar que era a mesma do muro que circundava o períbolo, dos batentes da
Porta Coríntia e das êxedras: 40 CV. A afirmação de Mid 2, 4 não se aplica ao templo
de Herodes, porque à frente da porta do naós ficava uma êxedra de 50 CV de altura e
uma torre, segundo F. Josefo.

Cf.: «E [o átrio das mulheres] era, inicialmente, nivelado, e cercaram-no com uma
galeria, para que as mulheres olhassem de cima e os homens de baixo, com a finalidade
de não se misturarem.» (Mid 2, 5).

2) Quer dizer que os homens podiam entrar pelas restantes portas do períbolo.

Todo o períbolo interior mediria 200 CV no sentido norte – sul, o dobro do anterior, o
quer dizer que o átrio das mulheres media 200 CV de comprimento por cerca de 135 CV
de largura. (Cf.: Mid 2, 5).

As salas do átrio das mulheres eram salas do Tesouro, pois a viúva que deitou a esmola
no Tesouro do templo só tinha acesso ao átrio das mulheres ( Mc 12, 41-44; Lc 21, 1-4).
As Portas e os Pórticos dos Átrios Interiores – A parte ocidental não tinha porta mas,
deste lado, o muro tinha sido construído todo seguido. (1)

Os pórticos que se estendiam entre as portas, no interior do muro do períbolo, diante das
salas do Tesouro (gazophulakíon), eram suportados por belíssimas e altíssimas
colunas. (2) Eram simples (=tinham uma única fila de colunas) e, exceto na dimensão,
nada cediam aos pórticos de baixo. (3)

9 das portas eram inteiramente revestidas de placas de ouro e de prata, incluindo as


pilastras e os lintéis. (A porta exterior ao templo, feita de bronze coríntio, era de um
valor bem maior que as que estavam revestidas de prata e de ouro).

Cada portal compreendia 2 batentes, cada um de 30 côvados de altura e 15 côvados de


largura. (4)

Após a entrada, estes portais alargavam-se, no interior, de um lado e do outro (par'


hekáteron), em êxedras com o comprimento e a largura de 30 côvados, com aspeto de
torres, com a sua altura de mais de 40 côvados. 2 colunas de 12 côvados de perímetro
sustentavam cada uma das êxedras. (5) As dimensões dos outros portais eram as
mesmas, mas o que permitia passar do átrio das mulheres para lá da Porta de Corinto, e
que se abria a oriente, frente à porta do templo, era muito maior, com os seus 50
côvados de altura, os seus batentes de 40 côvados (6) e a sua sumptuosa ornamentação,
onde se havia prodigalizado espessos revestimentos de prata e de ouro. Ouro,
Alexandre, pai de Tibério, espalhou-o sobre as outras 9 portas. 15 degraus (7) mais
baixos que os 5 degraus dos outros portais conduziam do períbolo do átrio das mulheres
a esta porta maior.

1) Do lado ocidental, o muro foi «construído todo seguido» = «construído sem


interrupção», porque não tinha porta. As interrupções do muro do períbolo interior
eram, portanto, as portas, com as pilastras destas. (Supra). Talvez as pilastras das portas
fossem as únicas pilastras deste muro.

Como Josefo fala dos «pórticos entre as portas, frente às salas do Tesouro», e como o
espaço entre o muro ocidental e a Rocha Sagrada não permite construções muito largas,
é de supor que, deste lado, o períbolo interior apenas tivesse um muro, sem pórticos
nem salas.

2) Vd. Supra 5. 4. Cf. Jo 8, 20: «[Jesus] disse estas palavras no Tesouro, ensinando no
templo». Este capítulo 8 do Evangelho de S. João inclui o episódio da mulher adúltera,
que não seria levada para além do átrio das mulheres. Em todo o caso, o átrio dos
homens não devia ser muito prático para discutir o que quer que fosse.

A Mishnáh situa 3 salas a norte e 3 salas a sul do átrio dos sacerdotes, mais 4 nas
extremidades do átrio das mulheres e mais uma de cada lado da Porta de Nicanor (porta
oriental), num total de 12 salas (Uma por cada tribo de Israel?) (Mid 1, 4; 2, 5; 5, 3-
4). Trata-se, em grande parte, de extrapolações de Ez 40, 38-46; 42, 1-14 e 44, 15-19. O
número de 12 salas encaixadas entre as êxedras é o que se obtém, ao traçar a planta do
períbolo interior com os dados de Josefo, mas a Mishnáhatribui-lhes funções rituais, que
nada têm a ver com as de salas do Tesouro, o que já o contradiz e aos Evangelhos.
Chega ao ponto de situar aí a sala do Sinédrio, sem lhe atribuir medidas que lhe
permitam tal função. Josefo, com efeito, situa as salas dos sacerdotes (os pastofórios)
no(s) ângulo(s) sul do átrio exterior (Supra).

Convém confrontar esta descrição com os planos do Heródion, dos «Túmulos dos Reis»
no vale do Cédron, do Panteão de Roma, do templo do Sol em Baalbec, de pórticos
diversos de ágora (fórum), etc.

3) As colunas do períbolo de baixo mediam 25 CV (Supra). A altura interior do períbolo


superior era de 25 CV (Supra). Descontando a altura do entablamento a estes 25 CV, as
colunas do períbolo superior só podiam medir 20 CV (= 4/5 X 25 CV); por isso, eram
inferiores nas dimensões às dos pórticos de baixo. Se os pórticos do períbolo superior só
eram diferentes dos do períbolo de baixo nas dimensões, deduz-se que também eram
arquitetonicamente da ordem toscana (ou dórica-romana).

4) 15 CV só podem ser a largura dos dois batentes em conjunto, por 2 motivos:

a) Se cada batente medisse 15 CV de largura, as portas mediriam 30 CV de largura, o


que não é possível, pois elas «alargavam-se, no interior, de um lado e do outro, em
êxedras com o comprimento e a largura de 30 côvados».

b) Se as portas medissem 30 CV de largura (13,32 m), teriam de ter um pilar no meio e


seriam portas duplas. Como as êxedras mediam 30 CV de comprimento e de largura, o
pilar tinha de ser descontado à largura dos batentes; o que torna impossível cada batente
medir 15 CV de largura.

Os batentes destas portas mediam 30 CV de altura e o muro media 40 CV (sem contar


com as ameias). Os 10 CV de diferença (1/4 da altura) não equivalem à altura clássica
do entablamento romano (1/5 da altura). Os lintéis e as pilastras (ou os montantes) das
portas eram destacados do resto do muro, por serem revestidos de ouro e de prata, tal
como os batentes. Há 2 hipóteses alternativas, das quais nos inclinamos para a primeira,
por estar mais em conformidade com a lógica da arte greco-romana:

a) O muro teria um entablamento de 8 CV de altura (1/5 X 40 CV), tal como as êxedras


do interior. Os lintéis das portas seriam troços salientes do entablamento do muro,
suportados por 2 pilastras por cada porta. Essas pilastras talvez tivessem capitéis
coríntios. Por cima e dos lados dos batentes das portas, haveria ombreiras e montantes,
que não ultrapassariam os 2 CV de largura (em cima e dos lados). Um vestígio de uma
ombreira ou de um montante, descoberto entre as ruínas do templo, encaixa nessa
medida, já que mede cerca de 50 cm de largura, embora não tenha a largura completa.

b) O muro seria rematado apenas por uma cornija de 2,5 CV de altura, e as portas teriam
lintéis de 7,5 CV de altura, com ombreiras salientes lateralmente no topo, em forma de
T. Em antigas sinagogas e em antigos túmulos judaicos, são vulgares essas portas. Junto
ao ângulo sudoeste do templo, foi encontrado um fragmento de uma ombreira como
essas, de uma porta do períbolo exterior, mas nada nos garante que as portas do períbolo
interior eram assim, até porque o outro fragmento, anteriormente citado, é
demasiadamente estreito, mesmo não incluindo a largura total. Admitindo esta hipótese,
o muro teria um aspeto demasiadamente maciço para fazer parte da obra mais
importante dos Judeus.

Em todo o caso, é habitual monumentos da Palestina da época greco-romana não


obedecerem a grande rigor clássico, nomeadamente nas proporções, sendo habituais
entablamentos que ocupam muito mais do que 1/5 da altura.

5) As êxedras, compartimentos normalmente semicirculares, com assentos construídos


em torno, eram frequentíssimas nos edifícios greco-romanos. Tinham, habitualmente,
duas colunas. O Heródion também tinha 2 êxedras semicirculares, cada uma delas com
2 colunas. Também os túmulos do vale do Cédron têm 2 colunas em cada face e
pilastras de ângulo.

Josefo diz que todas as 10 portas deste períbolo tinham êxedras, como é lógico.
A Mishnáh só fala de uma, a norte do átrio dos sacerdotes. (Mid 1, 5-8; 2, 5; 5, 3-4).
(Cf.: Ez 40, 44-46) A única êxedra que Josefo diz ter tido uma torre por cima (= uma
câmara alta) é a êxedra oriental do átrio das mulheres (Infra).

Ao dizer «com aspeto de torres, com a sua altura de mais de 40 CV», talvez Josefo se
refira ao parapeito sobre a cornija, porque é difícil imaginar as cornijas das êxedras
desniveladas dos 40 CV da altura da muralha. É plausível a existência dum telhado
pouco inclinado sobre as êxedras, em vez dum terraço suportado por traves de madeira,
cobrindo uma extensão de 30 CV por 30 CV (13,32 m por 13,32 m). Esse telhado sobre
as êxedras seria, muito possivelmente, em 4 vertentes, como era próprio de torres.
(Conf. com os túmulos do vale do Cédron). Os guardas das portas do templo poderiam,
mesmo assim, caminhar em torno desse telhado, sobre o muro, provido de um parapeito
em torno, como é próprio de muitos castelos. O acesso ao cimo seria por escadas
redondas inseridas na espessura das paredes. (Cf.: Mid 2, 9; 5, 3).

6) A versão latina diz: «de 40 côvados de largura, com batentes de medidas


iguais (a esta)». A largura dos batentes não é referida, talvez por terem a mesma largura
dos restantes: 15 CV para os dois batentes em conjunto. A diferença de altura entre 50
CV e 40 era, evidentemente, a altura do entablamento (1/5 X 50 CV).

Tem interesse confrontar o plano do templo de Jerusalém com os planos dos templos
egípcios: nestes, aparece uma porta muito alta de entrada, mais alta que os pórticos
interiores que cercam o átrio, orientado para um muro com uma porta ao centro, frente à
anterior. Para além deste muro e desta segunda porta, fica a fachada dos
compartimentos interiores, reservados aos sacerdotes. Estes compartimentos interiores,
são, por vezes, alinhados em forma de T.

7) Segundo a Mishnáh, os 15 degraus seriam arredondados (Mid 2, 5).


Se os 5 degraus que conduziam às 9 portas do períbolo tivessem 0,5 CV ( =1 palmo) de
altura (Mid 2, 3; 3, 6), os 15 degraus da Porta Coríntia teriam 1 mão de altura (= 1/3 X 1
palmo).

Se estes 15 degraus ocupavam uma altura equivalente às dos 5 degraus das restantes
portas (5 X 0,5 CV = 2,5 CV = 1,11 m), não é de acreditar que o templo de Herodes
tivesse os compartimentos que a Mishnáh situa por baixo do átrio dos homens, que nem
sequer eram lugares apropriados para guardar instrumentos musicais. (Mid 2, 5-
6) Sabemos, no entanto, que o templo tinha subterrâneos.

Diz o apócrifo Livro do Nascimento da Bem-aventurada Maria e da Infância do


Salvador (Evangelho do Pseudo-Mateus), IV: «Cumpridos 9 meses, Ana deu ao mundo
uma filha e chamou-a com o nome Maria. Quando a desmamou, ao 3.º ano, Joaquim e
ela dirigiram-se ao templo do Senhor, e, tendo oferecido vítimas ao Senhor,
apresentaram-lhe a sua filhinha Maria, para que ela habitasse com as virgens que, noite
e dia, cem cessar, louvavam a Deus. Quando foi conduzida diante do templo do Senhor,
Maria subiu a correr os 15 degraus, sem olhar para trás e sem reclamar os seus pais,
como fazem todas as criancinhas. E isso tocou de espanto toda a assistência, a tal ponto
que até os sacerdotes do templo estavam admirados».

A Fachada do Templo Propriamente Dito – O próprio templo (naós), o santuário


sagrado, situado no meio (katà méson keímenos), era acessível por 12 degraus. (1)

Em altura e em largura, a sua fachada media 100 côvados.

Por trás, ele era 40 côvados mais estreito: à frente, era como ombros, ultrapassando 20
côvados de um lado e (20 côvados) do outro (par' hekáteron). (2)

A sua primeira porta, com a altura de 70 côvados e com a largura de 25, não tinha
batentes: exprimia, com efeito, o caráter boquiaberto do céu que não seria capaz de se
fechar.(3)

Toda a sua fachada era revestida de ouro, e, pela abertura, de fora, podia-se ver quanto
era vasto o primeiro compartimento (o vestíbulo); e todo o brilhante dourado que
enquadrava a porta do fundo prendia o olhar.

Compreendendo o templo 2 tetos no interior, não se tinha diante de si senão o primeiro


compartimento (o vestíbulo): erguia-se de um só impulso a uma altura de 90 côvados;
tinha 50 de comprimento e 20 de largura. (4)

A porta manejada na construção era inteiramente revestida de ouro, como acabo de


dizer, tal como todo o muro que a enquadrava. Era sobrepujada de parras de ouro donde
pendiam cachos do tamanho de um homem, [tendo o templo 2 tetos, no interior o
compartimento mostrava-se menos elevado que a sua vista exterior] (5) e ela tinha
batentes dourados de 55 côvados de altura e 16 de largura. (6)
1) Há quem pretende situar o naós mais a norte ou mais a sul do centro da esplanada. F.
Josefo, que certamente o conhecia muito bem, situa-o no centro.

O 12.º degrau talvez fosse o próprio limiar da entrada, com 5 CV de largura (Mid 4, 7).
Segundo F. Josefo, o templo começou por ter uma base de 20 CV de altura (Infra), a
qual teria sido reduzida para 6 CV (Mid 4, 6). Por isso, inicialmente, cada degrau
ocuparia, apenas, uma largura e uma altura de 0,5 CV. No início, seriam 40 degraus (=
20 CV X 0,5 CV). Talvez mais tarde se tivesse alterado os degraus, para a maior parte
deles medir 1 CV de largura e alguns medirem 3 CV de largura(Mid 3, 6). De facto,
escadas de degraus em grupos são frequentes nas construções herodianas. Parece ser um
bom motivo para que os compiladores da Mishnáh se lembrassem que os degraus eram
12, mais de um século depois da destruição do templo.

2) Em altura, media 100 CV mais a altura dos degraus. Se cada um dos 12 degraus
medisse 0,5 CV de altura, formando uma «sólida base de 6 côvados» (Mid 4, 6), o
templo mediria 106 CV de altura. Na planta, o templo tinha a forma de um T, medindo,
por trás, 60 CV de largura (100 - 40 = 60; 60 + 20 + 20 =100). (Cf. Esd 6, 1-5). Como o
interior do novo vestíbulo do templo media 20 CV de largura, é de crer que a largura
exterior da fachada fosse de 32 CV. (Vd. Infra).

3) Certamente uma abertura em arco, entre 4 colunas (ou pilastras), como se vê em


moedas judaicas de 135 d. C. O naós teria, assim, uma fachada semelhante a um arco de
triunfo sem ático. Alguns entendem que não se deve interpretar literalmente a
representação do templo que essa moeda representa, afirmando que entre as 4 colunas se
vê a Arca da Aliança. Segundo essa interpretação, o que parece um arco seriam os 2
querubins e as 2 bolinhas seriam as varas de transporte da arca. No entanto, em antigas
sinagogas, existem representações de uma porta ladeada de colunas, podendo ter um véu
à frente, e com um elemento decorativo arqueado sobre ela.(Uma pintura da sinagoga de
Dura Europus (séc. III) é particularmente inequívoca, não lhe faltando, mesmo, os 2
pequenos círculos decorativos).

4) O primeiro compartimento, o vestíbulo ou Ulam, media o dobro da largura do


anterior, que era de 10 CV (1Rs 6, 3). A altura interior de 90 CV implica 10 CV para a
cobertura (100 CV - 90). Os tetos do templo eram todos planos, de madeira de cedro. É
difícil imaginar uma cobertura tradicional em terraço com 10 CV de espessura (4, 44
m). Mais fácil é imaginar um telhado inserido dentro desse espaço, com chapas
metálicas ou com telhas, escondido pela parte superior das paredes.

5) Estas palavras entre [ ] são uma ditografia.

6) Como o naós tinha 100 CV de altura, seria esteticamente lógico que a sua porta
tivesse 50 CV de altura. Ora, como o andar inferior tinha 60 CV de altura, 55 CV são
uma medida de consenso entre 50 CV e 60. Estes 55 CV de altura incluíam,
evidentemente, o lintel (Vd. infra), o que quer dizer que os batentes mediam 44 CV de
altura (4/5 X 55).
É possível que esta porta de 16 CV de largura tivesse 2 batentes dobráveis (4 + 4) + (4 +
4). (Cf.: 1Rs 6, 34; Ez 41, 23; Mid 4, 1). Se assim fosse, só seria necessário abrir os
batentes centrais, porque só por lá passava um sacerdote de cada vez.

O Primeiro Véu do Templo – Diante destes batentes e com as mesmas dimensões (=55
côvados por 16), havia um véu pendente, (1) em tecido babilónio de diversas cores,
tecido de violeta, de linho fino, de escarlate e de púrpura, admiravelmente executado,
não sem apresentar nesta harmonia de preparos uma vista profunda e como que uma
imagem do Universo.

Pelo escarlate, com efeito, oferecia uma alusão ao fogo; pelo linho fino, à terra; pelo
violeta, ao ar; e pela púrpura, ao mar. Nos dois primeiros casos, a similitude vinha da
cor, enquanto pelo linho e pela púrpura era por causa da sua origem, sendo um produto
da terra e outro do mar. Este tecido reproduzia na sua tapeçaria todo o espetáculo do
céu,(2) com exceção dos signos do Zodíaco.

1) Cf. 1Cr 3, 14; Ex 26, 1-14.31-37; 36, 8-18. 35-38. Mt 27, 51; Mc 15, 38; Lc 23, 45.

2) As duas bolinhas que se veem no centro da moeda da 2.ª Revolta Judaica, de 135 d.
C., podem muito bem querer representar o Sol e a Lua, «os dois luzeiros maiores» (Gn.
1, 16).

O Interior do Templo – Quem penetrava no interior, acedia ao solo do templo, o qual


media 60 côvados de altura, outros tantos de comprimento e 20 côvados de largura.

Além disso, este edifício de 60 côvados era dividido. O primeiro compartimento (o


Santo), com o comprimento de 40 côvados, continha 3 obras de arte maravilhosas e
célebres no mundo inteiro: um candelabro, uma mesa e um altar para queimar
incenso. (1) As 7 lâmpadas figuravam os planetas, (2) porque era o número de braços
que partiam do candelabro. Os 12 pães postos sobre a mesa representavam o ciclo do
Zodíaco e o (dos meses) do ano. Quanto ao altar para o incenso, pelos 13 perfumes de
que se guarnecia e que provinham do mar e da terra, tanto não habitada como
habitada (oikouménê), significava que tudo pertence a Deus e que tudo apela para Deus.

A parte mais recuada tinha uma largura (e um comprimento) de 20 côvados. Era,


igualmente, separada do exterior por um véu pendente. (3) Não se encontrava
absolutamente nada nesta sala; era, para todo o mundo, inacessível, inviolável,
resguardada dos olhares. Era chamada «Santo do Santo» (hagíou hágion). (4)

Nos flancos do templo, no rés do chão, havia muitos compartimentos de 3 tetos,


comunicando entre eles, com corredores, de um lado e do outro, que para aí conduziam
desde a porta. (5)

O andar superior, sendo mais estreito, não tinha mais este género de compartimentos,
mas elevava-se mais alto, até 40 côvados, e era de uma apresentação mais simples que o
de baixo. Desta forma, acrescentando-lhe os 60 côvados do rés do chão, a altura total é
de 100 côvados. (6)
1) Ex 25, 23-40; 27, 20-21; 30, 1-10; 37, 10-29. São este candelabro e esta mesa que
figuram entre os despojos do templo de Jerusalém, num relevo do Arco de Tito, em
Roma.

2) Os 7 «planetas» eram Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno, a Lua e o próprio


Sol. A Terra não era incluída no número dos planetas. Urano, Neptuno e Plutão não são
visíveis a olho nu e não eram conhecidos naquela época.

3) Não sabemos se o véu que «se rasgou em dois, de alto a baixo» (Mt 27, 51; Mc 15,
38; Lc 23, 45), quando Jesus morreu, foi este, se foi o da porta, ou se foram ambos.

O véu interior media, forçosamente, 20 CV de largura. Podia medir 55 CV de altura,


como o véu exterior, se atribuirmos 5 CV à altura do teto do andar inferior(Mid IV, 6).

4) O primeiro compartimento, o Santo, teria pouca luminosidade; o segundo


compartimento, o Santo dos Santos, situado para lá do véu, estaria na escuridão. No
templo de Salomão, no Santo dos Santos encontravam-se a Arca da Aliança e os
querubins sobre ela. Como esta desapareceu durante o cativeiro da Babilónia, passou a
estar vazio.

O naós foi construído por sacerdotes, porque só eles lá tinham acesso, e só o sumo
sacerdote podia entrar no Santo dos Santos.

5) A descrição que F. Josefo faz das celas do templo de Salomão ajuda a completar
esta: «O rei edificou, em torno do templo, 30 pequenas celas, que deviam, pela seu
aperto e pelo seu número, formar uma cerca exterior contínua. Além disso, organizou as
entradas, de forma que se tivesse acesso de uma para outra. Cada uma destas pequenas
celas media 5 côvados de largura, outro tanto de comprimento e 20 de altura. Sobre elas
sobrepunham-se outros alojamentos e ainda outros sobre estes, com as mesmas
dimensões e com o mesmo número, de forma que, na totalidade, tinham a mesma altura
que o edifício principal (60 CV); porque o andar superior não era cercado de celas.
Todo o edifício tinha um teto de cedro. As celas tinham cada uma o seu próprio teto,
sem ligação com as vizinhas, mas o resto do templo tinha um teto comum, construído
com vigas muito longas que atravessavam todas as partes (?), de forma que os muros
intermédios eram mantidos conjuntamente pelas mesmas peças de madeira, o que
reforçava a sua solidez. Quanto ao teto sob as vigas da cobertura, fê-lo da mesma
matéria, perfurada para formar caixotões e receber aplicações de ouro. Os muros,
guarnecidos de madeira de cedro, foram, igualmente, incrustados de ouro. [...] O rei
mandou fazer, para subir ao andar de cima, uma escada na espessura do muro, porque
este andar não tinha uma grande porta a leste, como o de baixo; era pelos lados que se
tinha acesso a ele por meio de portas muito pequenas. (A. J. Liv. VIII, 3, 2). O muro
exterior das celas tinha de medir, também, 5 CV de espessura (Mid 3, 7) (1Rs 6, 5-8; Ez
41, 6. 9). É evidente que F. Josefo descreve aqui, não o templo de Salomão, mas o de
Herodes!
«A grande porta (do templo) tinha 2 pequenas portas: uma a norte e outra a sul» (Mid 4,
2). Trata-se das entradas para as celas inferiores. Ao contrário do que diz aMishnáh, as
2 «escadas redondas» de acesso aos pisos superiores e ao cimo do templo (Mid 4, 5.
7) não podiam ficar paralelas às celas, mas no interior das partes salientes da fachada, a
norte e a sul do vestíbulo.

6) Este andar superior talvez tivesse janelas (1Rs 6, 4; Ez 41, 16; Mid 4, 5).

Aspeto Exterior do Templo – Quanto ao aspeto exterior, nada do que pôde impressionar
o espírito e os olhos aí faltava.

Este edifício, recoberto de todos os lados de espessas placas de ouro, com os primeiros
raios do sol nascente cintilava de reflexos de fogo, e, se se teimasse em olhá-lo, fazia
desviar os olhos, como raios solares.

Em todo o caso, para os estrangeiros que chegavam, parecia ao longe uma montanha
coberta de neve, porque onde não era coberto de ouro, brilhava de brancura.

Sobre o seu topo (koruphé), erguia agulhas de ouro muito afiadas, para impedir que
algum pássaro viesse aí pousar e sujá-lo. (1)

Alguns blocos que entraram na sua construção eram de 45 côvados de comprimento, 5


de altura e 6 de largura.

1) Seg. a Mishnáh, sobre o templo, devíamos contar 3 (ou 4?) CV para a balaustrada e 1
CV para o espantador de corvos (Mid 4, 6).

Estaria o cimo do templo coberto de «escovas» de agulhas, para os pássaros não


pousarem lá as patas? Em todo o caso, essas agulhas não precisavam de medir 1 CV de
altura (44,4 cm).

O Altar dos Holocaustos – Diante deste edifício, elevava-se o altar (bômós), com 15
côvados de altura e ocupando um espaço de 50 côvados de comprimento e de largura,
formando um quadrado. (1) Erguia nos ângulos uma espécie de chifres. Subia-se lá do
lado do sul por uma rampa em declive pouco acentuado. Tinha sido construído sem
fazer uso do ferro e nunca o ferro o tocava. (2)

1) O altar herodiano media, portanto, 10 vezes o comprimento e a largura e 5 vezes a


altura do altar do templo portátil de Moisés. (Ex 27, 1-8; 38, 1-7).

O altar estaria situado sobre a Rocha Sagrada da atual Cúpula do Rochedo, porque os
cálculos assim o exigem (1Sm 24, 18-25; 1Cr 21, 18-30; 22). Esta rocha (17, 70 m X
13, 50 m = ±40 CV X 30 CV) é considerada, pela tradição, aquela sobre a qual Abraão
iria sacrificar Isaac (Gn 22, 1-19). Sob ela existe uma caverna, conhecida como Caverna
dos Espíritos. Talvez fizesse parte do canal para escoar o sangue para o vale do
Cédron (Mid 3, 2).
É possível que o altar, medindo 50 CV por 50 CV na base, se encolhesse em degraus de
um côvado de largura em torno (Ez 43, 13- 27; Mid 3, 1).

2) Ex 20, 24-26; Dt 27, 1-7; Js 8, 30-32. As pedras do altar seriam revestidas de reboco.

O Pátio dos Sacerdotes – Um gracioso parapeito de belas pedras, com cerca de um


côvado de altura, cercava (periéstephe) o templo (naós) e o altar, e mantinha o povo
afastado, separando-o dos sacerdotes. (1)

Com efeito, se toda a cidade era interdita aos homens atingidos de gonorreia e aos
leprosos, os pátios do templo também o eram para as mulheres no tempo da
menstruação; por outro lado, mesmo quando estavam purificadas, não lhes era
permitido transpor o limite de que falámos mais acima. Os homens que não estavam
absolutamente em estado de pureza eram excluídos do pátio interior, e, igualmente, os
sacerdotes no decurso da purificação ritual.

Os homens que, mesmo sendo de família sacerdotal, não exerciam função litúrgica (ouk
eleitoúrgoun), por causa de uma enfermidade, mantinham-se com os sacerdotes válidos
no interior do parapeito e recebiam as partes dos sacrifícios que lhes competiam por
direito de nascimento, mas não usavam o traje de todos, porque só o que presidia usava
o traje sagrado. (2)

1) Cf.: Mid 2, 6; 5, 1-2; Ez 42, 13-14; 44, 17-19; 2Cr 4, 9.

Isto quer dizer, claramente, que o átrio dos sacerdotes era cercado pelo átrio dos (outros)
homens. (Cf.: infra). O espaço entre a êxedra da Porta Coríntia e o átrio dos sacerdotes
poderia ser de 11 CV, mas o átrio dos homens mediria 200 CV no sentido N – S. O átrio
dos sacerdotes poderia medir 135 CV de largura no sentido N – S; todavia 176 CV de
comprimento são inconciliáveis com os dados de Josefo. O átrio dos sacerdotes não
ocuparia um espaço inferior ao átrio interior que antes existia (200 CV), porque o
Antigo Testamento chama «átrio dos sacerdotes» ao átrio interior. (2Cr 4, 9; Ez 44, 15-
19). Se seguirmos o argumento da harmonia clássica, o átrio dos sacerdotes teria 215
CV de comprimento: os 200 CV de comprimento do átrio anterior + 15 CV atrás do
templo, para que este último estivesse alinhado com as êxedras.

É impensável que, no centro de uma esplanada muito maior do que F. Josefo diz, se
situassem átrios tão acanhados como os descritos pela Mishnáh!

2) Lv 21, 17-23.

Os Paramentos Sacerdotais – Ao altar e ao templo, os sacerdotes em estado de pureza


subiam vestidos de linho fino. Abstinham-se rigorosamente de vinho puro, por
escrúpulo religioso para não se exporem a transgredir a mais pequena prescrição da
liturgia (leitourgía). (1)
O sumo sacerdote subia com eles; não todos os dias, mas só nos sétimos dias, nas
neoménias e em todas as festas nacionais ou solenidades em que, cada ano, todo povo se
junta.

Quando ele presidia, escondia as suas coxas até ao baixo ventre por um calção. Usava
uma roupa interior de linho e, por cima, uma túnica violeta descendo até aos pés, roupa
tapada e guarnecida de franjas, no fundo das quais estavam suspensas campainhas de
ouro que alternavam com romãs, simbolizando as campainhas o trovão e as romãs o
relâmpago.

A presilha de tecido que servia para fixar esta vestimenta ao peito consistia em 5 faixas
de tapeçaria de cor diferente: ouro, púrpura, escarlate, com linho fino e violeta, de que
eram tecidos, como vimos, os véus do templo.

Trazia um efod, apresentando este mesmo jogo de cores, com mais ouro ainda. Esta
peça tinha a forma de uma couraça, agrafada por 2 fíbulas de ouro, entre as quais
estavam engastadas grandes e belas sardónicas gravadas com os nomes dos epónimos
das tribos da nação. Do outro lado, estavam fixadas 12 outras pedras, dispostas em 4
filas de 3: sardónica, topázio, esmeralda, rubi, jaspe, safira, ágata, ametista, rubelite,
ónix, berílio, crisólito, em cada uma das quais estava escrito, igualmente, o nome de um
epónimo.

O sumo sacerdote tinha a cabeça coberta com uma tiara (tiára) de linho fino, bordada
com uma risca violeta, e cercada com uma outra coroa, em ouro, que trazia, em relevo,
as letras sagradas: são 4 vogais (phônêenta).(2) Não trazia este paramento
constantemente (usava um mais simples), mas somente cada vez que ele tinha de
penetrar no ádito(=o inacessível). (3) Ora, ele não entrava lá senão uma vez por ano,
sozinho, no dia em que é uso todos os Judeus jejuarem em honra de Deus. (4)

A respeito da cidade, do templo, dos usos e das leis que se relacionam, falaremos com
mais precisão um vez mais, porque resta ainda muito a dizer sobre estes assuntos.

1) Supra.

2) YHWH (Yahwéh). Para um ouvido grego, esta palavra soaria como se só


tivesse vogais.

3) Ex 28; 39, 1-31.

4) No Dia das Expiações (Lv 16).

A Fortaleza Antónia – A torre Antónia estava situada no ângulo de dois pórticos do


primeiro pátio do templo, o pórtico de oeste e o pórtico do norte.

Estava construída sobre um rochedo (pétra) de 50 côvados de altura, a pique de todos os


lados. (1) Era uma construção do rei Herodes, onde ele mostrou particularmente a
magnificência natural do seu génio.
Para começar, o rochedo, desde a sua base, foi recoberto de placas de pedras lisas, para
embelezar, mas também para que, escorregasse quem quer que tentasse escalá-lo ou
descê-lo.

Além disso, havia à frente do próprio edifício da torre um muro de 3 côvados, e era no
interior deste muro que se elevava, até uma altura de 40 côvados, toda a superestrutura
da Antónia.

No interior, apresentava o espaço e a disposição de um palácio régio (basíleion).


Dividia-se em toda a espécie de salas para todos os usos: peristilos e banhos, com vastos
salões; de tal forma que, tendo todas as comodidades, se assemelhava a uma cidade,
mas, pela sua riqueza, era um palácio.

No conjunto, apresentava o aspeto de uma torre, mas nos ângulos destacavam-se 4


outras torres, 3 das quais mediam 50 côvados de altura; mas a que, ao sul, estava situada
no ângulo oriental, media 70, (2) de maneira que, da sua altura, se podia ter uma visão
de conjunto do santuário.

No sítio em que ela se ligava aos pórticos do santuário, tinha, para atingir cada um
deles, escadas por onde os guardas desciam; (3) porque uma coorte romana montava
guarda permanente na Antónia e, nos dias de festa, os soldados, armados em torno dos
pórticos, vigiavam o povo para prevenir qualquer desordem. (4)

Com efeito, se o templo dominava a cidade como uma fortaleza, a Antónia, por sua vez,
dominava o templo, e era nela que se encontravam os guardiães dos três ao mesmo
tempo. Quanto à cidade alta, a sua própria fortaleza era o palácio de Herodes.

A colina de Bezetha era separada da Antónia, como disse. A mais alta de todas as
colinas era contígua a uma parte da cidade nova e, do lado do norte, a única a esconder a
vista do templo.

(B. J. V, 184 - 246)

1) O rochedo sobre o qual assentava a torre Antónia é em forma de bota (L), com o
comprimento O - E de 115 m, as larguras de 35 m a O e de 42 m a E, e a altura de 9 m
(11 m no máximo). A norte deste rochedo encontra-se a piscina Struthion (andorinha).
Existem vestígios do fosso que cercava a fortaleza junto ao muro de 3 CV.

O rochedo pode ter tido 50 CV de altura (22,2 m), ou ter sido completado com pedras
até essa altura. O ângulo interno desse rochedo em forma de bota (L), alinhado com o
ângulo NO do recinto do templo, não é um ângulo reto. John Wilkinson (Jerusalém
Anno Domini, Op. cit., p. 58-63) é da opinião de que o lado norte da fortaleza Antónia
estaria ligado ao ângulo NE do templo por um muro paralelo ao muro do sul do templo.
Baseia-se em dois argumentos: Josefo diz, ao falar do períbolo exterior do templo, «o
seu desenvolvimento completo, compreendendo a (torre) Antónia, formava um circuito
de cerca de 6 estádios» (Supra); e existe uma rua nesse local, paralela ao muro do sul do
templo, a qual não existia nessa época.
A torre mais alta, no ângulo SE da fortaleza, não estaria sobre o rochedo, mas sobre
uma plataforma, intercetando o pórtico N do templo, porque Herodes construiu um
passagem subterrânea desde a torre Antónia até à porta oriental do períbolo interior do
templo. (Infra; Cf.: Mid 1, 9) Foi, todavia, encontrado um túnel, conhecido como canal
asmoneu, desde a piscina Struthion, mas que não deve ser aquele de que Josefo fala.

A função da piscina Struthion poderia ser a de intercetar a passagem para uma porta a N
da fortaleza, através de uma ponte levadiça, mas parece demasiadamente longa para tal
efeito (53 m X 15 m). Foi pelo meio desta piscina que os Romanos atacaram e
destruíram a fortaleza, o que sugere a existência da tal porta com uma ponte levadiça
(B. J. 5, 467).

Josefo não diz se a torre Antónia tinha ameias e merlões. Por paralelismo com outras
fortificações por ele descritas, é natural que existissem e que se devessem somar à altura
que ele indica para este castelo e para as 4 torres dos ângulos. (Cf. Infra)

2) O Heródion também tinha uma torre mais alta que as outras 3. (Infra)

3) Foi destas escadas que S. Paulo, acabado de ser preso pelo tribuno, falou aos Judeus
(At 21, 34-40).

4) Há quem duvide da expulsão dos vendilhões do templo (Mt 21, 12-13; 26, 61; Mc
11, 15-17; 14, 58; Lc 19, 45-46; Jo 2, 13-25), com o pretexto de que os soldados que
rodeavam os pórticos exteriores não permitiriam que Jesus causasse tal distúrbio.
(Ressuscitar mortos é muito mais complicado!) Convém, no entanto, não esquecer que
os pórticos exteriores só foram terminados em 64 d. C. O único pórtico exterior referido
nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, dando a entender que estava concluído, é o
pórtico oriental, chamado «Pórtico de Salomão» (Infra).

Espessura do Muro do Templo. As Salas do Tesouro

Alguns dos sacerdotes (...) refugiaram-se sobre o muro (do templo), de 8 côvados de
largura, aí permaneceram. (...)

...as salas do Tesouro (gazophulákia), onde estavam guardadas riquezas imensas,


inúmeras vestes e todos os tipos de ornamentos e, para ser breve, toda a opulência da
nação judaica, porque os ricos tinham transportado para aí os objetos preciosos de suas
casas. (1)

(B. J. VI, Cap. V, 1-2)

1) A Mishnáh fala de 12 (ou 14?) salas, em torno do templo (naós), mas com funções
diferentes.

A Corrente de Ouro de Agripa


(A. J.)
A corrente de ouro que Caio lhe tinha dado e que pesava tanto como a de ferro com que
tinham sido presas as suas mãos régias, monumento do seu triste infortúnio e ao mesmo
tempo testemunho da sua melhor sorte, foi suspensa no interior dos períbolos sagrados,
por cima da caixa das esmolas (gazophulákion). (1)

(A. J. XIX, Cap. VI, 1)

1) A Mishnáh fala de 13 caixas de esmolas em forma de trombetas, (estreitas por cima e


largas por baixo,) colocadas no átrio das mulheres. Se assim eram, só poderiam estar
debaixo dos pórticos deste átrio, frente às respetivas salas do Tesouro. (Mc 12, 41-44;
Lc 21, 1-4: o óbolo da viuva). Cf.: «Quando deres esmola, nãotrombeteies (mê
salpisês) em público, nas sinagogas e nas ruas, como fazem os hipócritas para serem
glorificados pelos homens» (Mt 6, 2).

A Porta Coríntia
(B. J.)

A porta oriental do interior (do santuário) era de bronze e tão pesada que 20 homens
tinham grande dificuldade em fechá-la ao anoitecer. Era fechada por ferrolhos de ferro e
munida de fechos muito profundos que entravam num limiar de uma única pedra. (1)

(B. J. VI, Cap. 5, 3)

1) A Porta do Cântico da Mishnáh (Mid 2, 6)? A Porta Bela de At 3, 1-3 ss? (Supra)

O Templo
(A. J.)

No 18.º ano do seu reino, (1) após ter feito tudo o que precede, Herodes abordou uma
empresa considerável: a reconstrução do templo de Deus. Queria aumentar o períbolo e
a altura do edifício para o tornar mais imponente. Pensava, com razão, que esta obra
seria a mais notável de todas aquelas em que ele tivesse trabalhado e que seria suficiente
para lhe assegurar uma glória eterna. (...) Convocou, pois, os habitantes e falou-lhes
nestes termos: -«(...) O nosso templo atual foi elevado em honra do Deus Omnipotente
pelos nossos pais, no seu retorno da Babilónia, mas faltam-lhe em altura 60 côvados
para atingir as dimensões que tinha o primeiro templo, o que foi construído por Salomão
(...)» (2)

(Herodes) mandou preparar 1000 carroças para transportar as pedras; escolheu 10 000
operários dos mais experientes; comprou para 1000 sacerdotes paramentos sacerdotais
(?) (3), ensinou a uns a profissão de pedreiro, a outros a de carpinteiro; e com todos
estes preparativos assim cuidadosamente acabados, pôs mãos à obra.

(A. J. XV. 12, 1-2)

1) 20 ou 19 a. C.

2) Vd. Apêndice.
3) Talvez se deva corrigir para «trajes de trabalho».(?)

O Templo Propriamente Dito (Naós) – Após ter demolido as antigas fundações, lançou
novas, sobre as quais elevou o templo, que media 100 côvados de comprimento (e de
largura), (1) e mais 20 em altura (= 120 côvados), excedente que desapareceu mais tarde
em consequência de um afundamento das fundações, com o tempo; tinha-se decidido,
no tempo de Nero, reerguê-lo.

O templo foi construído em pedra branca muito dura, medindo cada bloco 25 côvados
de comprimento, 8 de altura e cerca de 12 de espessura.

Tanto no templo como no Pórtico Régio (basíleion stoê), as partes laterais eram menos
altas e a construção do meio mais elevada. Era visível a muitos estádios de distância,
pelos habitantes do campo, sobretudo pelos que estavam à frente ou avançavam nesta
direção.

As portas de entrada (do templo), juntamente com o lintel, tão altas como o próprio
templo, foram ornadas de cortinas coloridas, oferecendo à vista flores tingidas de
púrpura e colunas inseridas. Por cima das portas, até aos cimos (=arquitraves) do muro,
havia uma vinha de ouro, com cachos pendentes, maravilha de grandeza e de arte, e na
qual a fineza do trabalho disputava a riqueza do material. (2)

(A. J. XV. 12, 3

1) Cf.: Ez 41, 13-15. Mid 4, 6.

Como o novo vestíbulo (Ulam) passou a medir 20 CV de largura, o dobro do anterior,


nos 100 de comprimento do novo templo (naós) não se pode contar a largura das celas
de trás. O comprimento total, contando com estas, seria, muito provavelmente, de 112
CV, segundo os nossos cálculos, da seguinte forma: 1 CV para a espessura das pilastras
da fachada, 5 CV para a espessura do muro oriental do vestíbulo, 20 CV para a largura
do vestíbulo, 6 CV para a espessura do muro da porta, 60 CV para o comprimento
interior do naós (Hekal e Debir), 8 CV para a espessura do respetivo muro, 2 para os
suportes das traves das celas laterais, 5 CV para a largura das mesmas celas e 5 CV para
a espessura do respetivo muro exterior. Os 32 CV que a Mishnáh atribui ao altar nada
mais podem ser do que as medidas da largura da fachada: como Josefo diz que o muro
do templo media 8 CV de espessura, 100 - 8 (largura do muro) - 60 = 32!

De acordo com a descrição de F. Josefo, a altura do templo herodiano era, inicialmente,


de 120 CV, mas parte da base de 20 CV foi encoberta «mais tarde em consequência de
um afundamento das fundações, com o tempo». O que quer que tenha acontecido só se
explica se admitirmos que o templo não estava situado sobre a atual rocha sagrada, mas
a ocidente desta.

2) Segundo B. J. V, o véu tinha as mesmas medidas que a porta (55 CV por 16 CV).
(Supra, supra). Dentro da lógica da arte greco-romana, os 55 CV incluíam o lintel
(entablamento) da porta, cujos batentes em conjunto mediriam 44 CV de altura (= 4/5 X
55 CV) e 16 CV de largura. O véu media 55 CV por 16 CV, cobrindo a parte central do
lintel. As «colunas tecidas» (adossadas) seriam duas colunas (ou pilastras) esculpidas na
parede, uma de cada lado da porta, suportando o entablamento desta, conforme se vê em
antigas representações do templo.

«A primeira abertura», que não tinha batentes (Supra), de 70 CV de altura por 25 CV de


largura, teria um remate em arco ligeiramente alteado, preenchendo o espaço entre 55
CV e 70 CV, conforme sugerem a lógica da arte romana, as medidas fornecida por F.
Josefo e as moedas que representam a fachada do templo, emitidas em 135 d. C. (60
anos após a destruição deste). Estas últimas moedas também apresentam 4 colunas (ou
pilastras) na fachada do templo, 2 de cada lado de uma abertura em arco, e seria difícil
imaginar a sua fachada de outra maneira, perante os dados aqui apresentados.

A vinha de ouro é situada, por F. Josefo, acima da porta (Supra, supra) e debaixo das
arquitraves do interior do primeiro compartimento, aberto, o vestíbulo ou Ulam, o qual
tinha 90 CV de altura, 50 CV de comprimento e de 20 CV de largura. Esta vinha talvez
fosse em forma de arabescos, situados nas quatro paredes interiores desse primeiro
compartimento, desde os 55 CV da porta para cima. A vinha de ouro teria, pois, 25 CV
de altura (= 4/5 X 100 CV, das arquitraves para baixo, -55 CV da altura da porta). (Cf.:
Mid 3, 8).

Os Pórticos Circundantes – Herodes circundou o templo com espaçosos pórticos,


cuidadosamente proporcionados às dimensões do edifício e muito mais ricos que os de
outrora.(1) Ninguém, ao que parece, tinha ornado tão magnificamente o templo.

Os dois pórticos estavam apoiados a um potente muro, e este muro era ele mesmo a
obra mais colossal de que se tinha ouvido falar.

A localização do templo é, com efeito, uma colina rochosa, escarpada, que sobe, no
entanto, em pouca inclinação, do lado dos bairros a leste da cidade até ao cume. O nosso
primeiro rei Salomão, sob a inspiração divina, executou lá trabalhos consideráveis. No
cume, fortificou com um muro todo o planalto; em baixo, elevou, a partir do próprio
sopé da colina, que cerca a sudoeste uma profunda ravina, uma segunda muralha de
pedras ligadas por chumbo. Ao avançar, a muralha abraçava gradualmente um bocado
da colina e elevava-se cada vez mais.

Toda esta construção, de plano quadrado, era de um tamanho e de uma altura


inimagináveis. Exteriormente, a vista não parava senão nas largas superfícies das
pedras. Interiormente, grampos de ferro mantinham o aparelho e asseguravam-lhe uma
solidez a toda a prova.

Uma vez erguido este trabalho até ao nível do topo da colina, aplanou-se este
cuidadosamente, depois preencheu-se em torno a cavidade compreendida entre o muro e
o flanco da colina, até que estivesse ao mesmo nível do planalto e se nivelou a
superfície da terraplanagem. Este conjunto constituiu o períbolo, que tinha 4 estádios de
perímetro, tendo cada lado 1 estádio de comprimento. (2) Dentro deste muro do
períbolo, um outro muro de pedra seguiu o próprio topo.

1) 1Rs 6, 36. 7, 12 fala apenas de muros «com 3 fileiras de pedra talhada e 1 fileira de
traves de cedro», em torno dos 2 átrios do templo. 2Cr 4, 9 fala do «átrio dos
sacerdotes (= o átrio interior), grande pátio e suas portas, que (Salomão) mandou
revestir de bronze». Possivelmente, as traves de cedro estariam erguidas, com tábuas
pregadas, formando paredes de madeira acima das 3 fileiras de pedra, delimitando os
átrios. Talvez esta simplicidade explique o facto de estes limites dos átrios serem apenas
referidos. Em Meguido, também existem átrios de cerca de 50 m de lado (cerca de 100
CV), apenas cercados por muros. O átrio do templo provisório de Moisés era cercado
apenas por uma cortina de pano suportada por colunas. O «templo futuro» de Ezequiel,
que nunca foi construído, é descrito como tendo pórticos de 50 CV de largura, em torno
do átrio interior, fazendo lembrar vagamente um zigurate (Ez 40 - 42).

O tratado Middot da Mishnáh também não fala de colunatas em torno do períbolo


exterior.

2) Supra. Trata-se do períbolo anterior. O novo era retangular (Mid 2, 1; 1, 3).

O «Pórtico de Salomão» – Ao longo da aresta oriental, apoia-se um pórtico duplo, de


dimensões iguais ao muro, e abre-se para as portas do templo, situado no meio. Muitos
dos nossos antigos reis embelezaram este pórtico, e em torno do santuário estavam
dependurados despojos bárbaros. O rei Herodes consagrou-os todos (de novo), depois
de aí ter acrescentado os que ele retirara aos Árabes. (1)

1) (Jo 10, 22-23 ss; At 3, 11 ss). Deste lado, situava-se, segundo a Mishnáh, a porta de
Shushan (Susa) (Mid 1, 3). Por essa porta, situada no lugar da atual Porta Dourada e
virada para o Jardim das Oliveiras, teria Jesus entrado, segundo a tradição, no Domingo
de Ramos (Cf.: Ez 46,2). Presumimos que essa porta fosse semelhante às restantes,
abertas no muro da plataforma do templo, rematadas em lintel e arco de descarga.
Davam acesso ao átrio exterior por túneis pelos quais se subia, passando por baixo dos
pórticos. A atual Porta Dourada é dupla, e é muito provável a porta herodiana também o
fosse, a julgar por 2 pedras herodianas situadas a 8,5 m (quase 20 CV) uma da outra,
uma da cada lado da entrada, que restam no atual edifício da porta.

O Pórtico do Norte e a Fortaleza Antónia – Do lado norte, construíra-se, no ângulo do


períbolo, uma cidadela, admiravelmente fortificada e provida de excelentes meios de
defesa. Foi construída pelos reis - pontífices da raça dos Asmoneus, (1) predecessores
de Herodes, que a chamaram Báris e a destinaram a abrigar o paramento sacerdotal que
o sumo sacerdote não veste senão quando deve oferecer um sacrifício. Herodes deixou o
paramento no mesmo sítio, mas, após a sua morte, esteve sob a guarda dos Romanos.
(...) Antes, o paramento encontrava-se sob o selo do sumo sacerdote e dos guardiães do
tesouro. Na vigília da festa, os guardiães do tesouro dirigiam-se ao chefe da guarnição
romana, e depois de terem verificado o seu selo, levavam o paramento. Depois, passada
a festa, voltavam a trazê-lo ao mesmo sítio e aí o depunham, após ter mostrado ao
comandante da guarnição que o selo era exatamente o mesmo. (...) Herodes fortificou
ainda mais esta torre Báris, a fim de assegurar a segurança e a defesa do templo, e, em
recordação de António, seu amigo e chefe dos Romanos, deu-lhe o nome de Antónia.

1) Antes dos Asmoneus, já este castelo existia, com o nome de Torre de Hananeel ou de
cidadela do templo (Ne 2, 8; 3, 1; 7, 2; 12, 39; etc.). Estes limitaram-se a restaurá-lo e a
fortificá-lo mais. Este passado justifica a sua forma irregular, em L.

Perto da torre Antónia, situava-se a Porta das Ovelhas (Jo 5, 2), a que a Mishnáh chama
Porta Tadi (Mid 1, 3).

O Pórtico Ocidental – Do lado do ocidente, o muro do períbolo do templo tinha 4


portas: uma conduzia ao palácio por um caminho que transpunha a ravina
intermédia, (1)duas outras conduziam ao subúrbio; (2) a terceira aos outros bairros da
cidade por uma longa escada que descia até ao fundo da ravina, donde ela subia em
seguida;(3) porque a cidade encontrava-se à frente do templo, construída em anfiteatro e
cercada em todo o lado sul numa profunda ravina.

1) Dessa ponte, de 15,8 m de largura, foram encontrados restos de um largo arco,


conhecido como arco de Wilson.

2) São conhecidas como porta de Barclay, a sul do arco de Wilson, e porta de Warren, a
norte do mesmo arco.

3) Dessa escada existem restos de um arco de 12,8 m de largura, conhecido como arco
de Robinson, no ângulo SO.

O «Pórtico Régio» – Na quarta fronte do muro do períbolo, a sul, havia, também, portas
no meio, (1) e, além disso, o «Pórtico Régio», que se estende em comprimento, com a
sua ala tripla, da ravina este à ravina oeste: não se teria podido prolongá-lo mais.

Era a obra mais admirável que existiu debaixo do Sol. Tal era já a profundidade da
ravina que, curvando-se para ver o fundo, não se poderia suportar a vista. Herodes, no
entanto, construiu, no próprio bordo, um pórtico de dimensões imensas, a ponto de, se
se tentasse, do cimo do teto, sondar esta dupla profundidade, ficar-se-ia atacado de
vertigens, não conseguido a vista medir mesmo o abismo.

As colunas foram dispostas simetricamente em 4 filas, a quarta das quais estava


embebida no muro de pedra. (2) A espessura das colunas era tal que eram precisos 3
homens, unindo os braços estendidos em torno, para as abraçar. O perímetro da base era
de 27 pés, com uma spira dupla (na base). (3) Havia, ao todo, 162 colunas. (4) Os
capitéis esculpidos eram à maneira de Corinto, e tudo era de uma magnificência
impressionante.

Entre estas 4 filas de colunas, havia 3 naves cobertas. As 2 laterais, que eram feitas em
conjunto e dispostas da mesma maneira, tinham cada uma 30 pés de largura, 1 estádio
de comprimento, (5) e mais de 50 pés de altura. A nave do meio tinha uma largura de
uma vez e meia (= 45 pés) e uma altura dupla (= 100 pés); (6) esta nave ultrapassava,
portanto, muito as duas vizinhas.

O teto era ornado de esculturas em madeira, representando todas as espécies de


desenhos. Era elevado no meio e sustentado por um muro formando cornija, que
repousava sobre o entablamento do andar inferior. Este muro era decorado com colunas
embebidas, e tudo era polido «à régua». Quem não viu este trabalho não pode fazer
nenhuma ideia dele, e os que o viram ficavam tomados de admiração.

1) A porta dupla [«as 2 portas de Huldah» (Mid 1, 3)] e a porta tripla. A porta dupla é
acessível por 30 degraus, de cerca de 64 m de comprimento. Os degraus são agrupados
2 a 2, e terminam num grupo de 4, no cimo.

2) Mais provavelmente, pilastras.

3) 27 pés só podem ser o perímetro das colunas, não em torno do fuste, mas de uma
base quadrada. Com efeito, se «a espessura das colunas era tal que eram precisos 3
homens, unindo os braços estendidos em torno, para as abraçar», o fuste tinha de ter um
perímetro muito inferior a 27 P. Um fuste de 27 P de diâmetro (7,992 m) só seria
abraçado por 3 homens, se medissem, cada um deles, 2,664 m de uma mão à outra! O
que é credível é uma base quadrada, por baixo da spira dupla, com 6,75 P de lado (2 m).
O fuste era mais estreito, não medindo, com certeza, mais de 5 P de diâmetro (1,48 m)
(1/8 da altura total das colunas). Um fuste com 5 P de diâmetro (15,7075 P de
perímetro) seria facilmente abraçado por 3 homens.

4) 162 não é divisível por 4; 160 é que é o número mais próximo divisível por 4 e que
dá 4 filas de 40 colunas cada uma. As 2 últimas colunas só poderiam estar na nave
central, ou na extremidade oriental, ou na extremidade ocidental. Inclinamo-nos para a
primeira hipótese, por estar muito mais em conformidade com a arquitetura greco-
romana. Provavelmente, a nave central teria um remate oriental semicircular, em
êxedra, com as 2 últimas colunas, visto que a extremidade ocidental já tinha uma porta.
Este é o plano mais habitual das basílicas e aparece em escavações de edifícios
herodianos. Aceitando esta hipótese, resta admitir 2 portas a ocidente, uma à frente da
outra, delimitando um vestíbulo (nártex). Este não poderia ser mais largo que nave
central, por causa dos pastofórios (Supra).

5) Na realidade, o espaço que essa basílica ocupava mede 281 m (=1,58 estádio) de
comprimento. Descontando, em cada uma das extremidades, a largura dos
compartimentos dos ângulos SO e SE (os pastofórios), continuamos a ter um
comprimento muito superior a um estádio: 281 m - 16 m(?) - 16 m(?) = 249 m(?).

6) «Mais de 50 pés de altura» deve, possivelmente, incluir o parapeito sobre a cornija.


Também não está excluída a existência de um telhado sobre as naves laterais, para além
do parapeito. Os 100 P da altura da nave central incluem, logicamente, a respetiva
inclinação do telhado, em duas vertentes. A nave central, sendo mais alta, teria janelas
alternadas com «colunas embebidas» (meias colunas). Os tetos eram todos de madeira
de cedro, planos, em caixotões.

Tratar-se-ia de uma basílica semelhante a muitas outras, com a diferença de a nave


lateral do lado norte não ter parede exterior, mas apenas colunas. Temos toda a
legitimidade de pensar que ela não estivesse concluída no tempo de Jesus, porque o
átrio exterior do templo só foi terminado no ano 64 d. C., 34 anos depois. Também não
existem motivos para situar na extremidade oriental desta basílica o «pináculo do
templo» (Mt 4, 5-7; Lc 4, 9-12). É melhor situá-lo na fachada do naós, que era, de facto,
o lugar mais alto do templo. Mais verosímil é, no entanto, que as tentações de Jesus não
tivessem implicado nenhuma deslocação física ao pináculo do templo, nem a nenhum
monte.

O(s) Pátio(s) Interior(es) – Tal era o primeiro pátio. Encerrava um segundo, muito
pouco afastado, ao qual se tinha acesso por alguns degraus, e que uma barreira de pedra
cercava. Uma inscrição interditava a entrada aos estrangeiros, sob pena de morte.

O pátio interior tinha ao sul e ao norte 3 portais (1) distantes entre si, e, ao nascente, um,
a grande porta, pela qual nós, Judeus, com a condição de estarmos purificados,
entrávamos com as nossas mulheres. Para lá deste períbolo, era proibido às mulheres
passarem. (2)

Um terceiro pátio estava contido no precedente, (3) onde só os sacerdotes podiam


entrar. Ele encerrava o templo e, diante deste, o altar sobre o qual oferecíamos os nossos
holocaustos a Deus.

O rei Herodes não teve acesso a nenhuma destas três últimas partes do edifício, (4) de
que era excluído por não ser sacerdote. Mas ocupou-se ativamente dos trabalhos dos
pórticos e dos pátios exteriores, e acabou-os em oito anos.

O santuário foi construído pelos sacerdotes num ano e 6 meses. Todo o povo ficou
repleto de alegria por este pronto acabamento da obra e deu graças primeiramente a
Deus, e depois ao zelo do rei. A reconstrução foi celebrada por festas e bênçãos. O rei
ofereceu em sacrifício a Deus 300 bois; quanto aos outros, cada um fez segundo os seus
próprios recursos, e é impossível dizer o número de vítimas, porque não se seria capaz
de se aproximar da verdade. Aconteceu, com efeito, que o dia do acabamento do templo
coincidiu com o aniversário da chegada do rei, que se celebrava habitualmente, e esta
coincidência deu à festa o maior brilho.

O rei fez, também, cavar uma passagem subterrânea, conduzindo da torre Antónia
ao (átrio do) santuário interior, do lado da porta oriental. (5) Por cima desta porta,
mandou, igualmente, construir uma torre, (6) de que ele queria, assim, ter acesso por
subterrâneos, para se abrigar, em caso de sublevação popular contra a realeza.

Diz-se que todo o tempo que durou a construção do templo, nunca choveu durante o
dia; não houve chuvadas senão de noite, de maneira que os trabalhos não foram
interrompidos. Esta tradição foi-nos transmitida pelos nossos pais, e nada tem de
incrível, se se considera tantas outras manifestações de Deus.

Foi assim que o templo foi reconstruído.

(A. J. XV, Cap. XI)

1) Em B. J. V. (Supra), são referidas 4 portas. Talvez aqui não se fale das portas N. e S.
do átrio das mulheres. (Cf.: Mid 1, 4-5).

O templo de Herodes tinha, pelo menos, 22 ou 23 portas grandes: 11 ou 12 do períbolo


exterior (= 2+3 a S, 4 a O, 1 a N e 1 ou 2 a E), 9 do períbolo interior, a Porta Coríntia e
a porta do Santo.

2) Em B. J. V, Josefo chama de «grande porta» à Porta Coríntia (Supra).

3) Supra.

4) O átrio dos sacerdotes, o altar e o naós.

5) A Porta de Nicanor? (Mid 1, 4; 2, 6).

6) Tratar-se-ia de uma câmara alta com janelas, situada sobre a êxedra dessa porta. Para
ficar alinhada com o cimo da Porta Coríntia e por paralelismo com a torre Antónia, esta
câmara alta não mediria mais de 10 CV de altura, a somar aos 40 de altura da êxedra.
(Cf:: Mid 1, 5. 9).

Construção de um Muro para Tapar, a Agripa, a Vista do Interior do Templo

Naquele mesmo tempo, o rei Agripa construiu um edifício de notável dimensão, junto
do Xisto, no palácio de Jerusalém, que fora outrora o palácio dos Asmoneus. Como este
lugar estivesse num lugar elevado, daí se apresentava um ameníssimo espetáculo aos
quisessem ver a cidade. Desejoso disso, a partir do triclínio, quando aí se reclinava, via
o que quer que se passasse no templo.

Quando os principais dos Hierosolimitanos viram aquilo, irritaram-se veementemente,


porque nem o costume dos antepassados nem a nossa Lei permitiam que se visse o que
se passava no templo, e, particularmente, os sacrifícios. Por isso, ergueram uma alta
parede sobre a êxedra que estava no interior do santuário, virada para o
ocidente. (1) Porém, edificada esta (parede), não só foi intercetava a vista desde o
triclínio régio, mas também desde o pórtico ocidental situado no exterior do
santuário, onde os Romanos montavam guarda ao templo nos dias das festas.

(A. J. XX, Cap. VIII, 11. 189 - 196)

1) É difícil saber de que êxedra se trata. Pelo contexto, pode ser a êxedra SO do períbolo
interior, ou uma possível êxedra situada no períbolo exterior, na entrada da porta da
ponte que vinha da Cidade Alta. Nenhuma destas 2 êxedras estava, todavia, virada para
o ocidente.
Os Pórticos do Templo e as Separações Legais
(C. Ap.)

Todos os que viram a construção no nosso templo sabem de que tipo era e a
intransponível integridade da sua purificação. De facto, tinha quatro pórticos em
circuito e, de cada um deles, tinha uma guarda própria, segundo a Lei.

Assim, no (pórtico) exterior, era permitido entrar a todos, mesmo aos estrangeiros; só as
mulheres na época da menstruação eram proibidas de passar. No segundo pórtico,
entravam os Judeus com as esposas, desde que estivessem purificadas de toda a
impureza; no terceiro, os Judeus machos existentes, limpos e purificados; no quarto,
porém, os sacerdotes vestidos com os paramentos sacerdotais; no ádito, na verdade, só
os sumos sacerdotes revestidos com o próprio paramento.

Tanta é, na verdade, a providência acerca da piedade, que se marcou certas horas para a
entrada dos sacerdotes: de manhã, aberto o templo, era o momento oportuno de entrar
para fazer os sacrifícios tradicionais; novamente ao meio dia, até o templo ser
encerrado. (1)

Enfim, nem um vaso era permitido transportar no templo, mas nele só estavam
colocados um altar, uma mesa, um turíbulo e um candelabro, que foram todos prescritos
na Lei. Não há mais nada, nem se passam nenhuns mistérios inefáveis, nem se
ministram refeições dentro, pois as coisas que foram ditas têm o testemunho de todo o
povo e aparecem nos feitos.

Pois, embora houvesse 4 tribos de sacerdotes, e cada um dos tribos tivesse mais do que
5000 homens, todavia oficiavam em frações, em dias determinados. (2) Passados estes,
vêm outros para os sacrifícios e, juntando-se no templo ao meio dia, recebem dos
precedentes as chaves do templo e o número de todos os vasos, não surgindo no templo
nenhuma coisa que sirva para comer ou beber, porque é proibido oferecer para o altar
tais objetos, a não ser os que são preparados para os sacrifícios.

(C. Ap. II, 102 - 109)

1) Ex 29, 38-42; etc.

2) Lc 1, 5-25.

As Portas do Templo

As portas do templo (naós) eram de 60 côvados de altura e de 20 de


largura, (1) totalmente douradas e quase de ouro maciço. Eram fechadas todos os dias
por 200 homens, (2) pelo menos, e era proibido deixá-las abertas.

(C. Ap. II, IX. 119)

1) 55 CV por 16, segundo B. J. V. (Supra, supra).

2) 20 homens para abrir e fechar cada uma das 10 portas do períbolo interior? (Supra).
O CASTELO HERÓDION, PERTO DE BELÉM
Os Dois Heródions
(B. J)

Mas, se ele assim fez passar à eternidade os seus próximos e os seus amigos, também
não negligenciou o cuidado da sua própria memória: restaurou as fortificações de um
lugar situado na montanha do lado da Arábia, e chamou-o com o seu próprio nome,
Heródion, (1) enquanto a colina artificial, (2) em forma de mama, (3) a 60 estádios de
Jerusalém, recebeu dele o mesmo nome, mas ele pôs mais requinte a embelezá-lo. Foi
assim que ele cingiu o cume com torres redondas e guarneceu toda a cerca com
luxuosos apartamentos régios; de tal forma que não somente os edifícios ofereciam um
espetáculo magnífico, por dentro, mas também a riqueza estava espalhada em profusão
em revestimentos exteriores dos muros, em ameias e em coberturas.

Fez vir de longe, com grandes despesas, toda a água necessária. Arranjou o acesso do
palácio por uma escada de 200 degraus de um mármore muito branco, porque a
elevação era considerável e inteiramente artificial.

Ao pé da colina, construiu outros edifícios régios, aptos à intendência e ao alojamento


dos seus amigos; de tal forma que este reduto, pelo facto de ser provido de tudo, dava a
impressão de uma cidade, mas pelo seu perímetro restrito, a de um palácio.

(B. J. Liv. I, 419 - 421)

1) Este Heródion, situado nos confins da Arábia, continua não identificado.

2) Construído como recordação da sua vitória sobre os Judeus aliados dos partos, a
alguns quilómetros a SE de Belém, e bem visível desta mesma cidade. Herodes foi
sepultado neste Heródion.

A gruta tradicionalmente considerada como sendo o local do nascimento de Jesus situa-


se na extremidade oriental do topo de uma colina virada para o Heródion. É uma gruta
cavada na rocha, medindo 12 m de comprimento no sentido E-O, 4 de largura e 3 de
altura. A manjedoura é assinalada a SE, numa pequena reentrância.

3) O Heródion, segundo o que as escavações mostram, era um castelo redondo, situado


no topo de uma montanha redonda. Consistia em duas muralhas paralelas, uma dentro
de outra, circulares, ligadas entre elas por vários andares de dependências, e 4 torres
redondas em torno, orientadas para os 4 pontos cardeais. Das 4 torres, 3 eram baixas,
talvez da altura das muralhas duplas, e semicirculares, enquanto a torre oriental,
circular, era alta. No interior do castelo, havia mais dependências, incluindo uma sala de
4 colunas, um balneário e um peristilo retangular, de 27 m de comprimento (= 60 CV)
no sentido N -- S, encostado à torre oriental, provido de 2 êxedras, uma em cada
extremidade, com 2 colunas cada uma. Supõe-se que as muralhas duplas e as três torres
semicirculares tivessem 4 ou 5 andares, 3 deles metidos dentro da colina artificial; e que
a torre circular, a E, tivesse mais 3 ou 4 andares acima dos 4 ou 5 do resto do castelo.
Os compartimentos interiores certamente não ultrapassavam a altura do andar inferior.

(A. J.)

Após o seu casamento, construiu uma nova fortaleza no lugar onde tinha vencido os
Judeus, que ele tinha expulso enquanto Antígono se encontrava no poder.

Este lugar é distante de Jerusalém cerca de 60 estádios; é naturalmente forte e presta-se


admiravelmente a tal destino. É, com efeito, uma colina muito alta, erguida
artificialmente e apresentando, no seu conjunto, a forma de uma mama. De intervalo a
intervalo encontram-se torres redondas. Sobe-se até lá por uma escada íngreme,
contando cerca de 200 degraus de pedra polida. No interior, encontram-se apartamentos
régios luxuosos, tão bem organizados para a defesa como para a beleza. No sopé da
colina, foram executados trabalhos notáveis, nomeadamente pela conduta da água, de
que o lugar era desprovido, e que foi trazida de longe com grandes custos. As
construções erguidas no sopé da colina, que lhe servia de acrópole, não eram menores
em importância a nenhuma cidade.

(A. J. Liv. XV, IX. 323 - 325)

A GALILEIA
As Duas Galileias
(B. J.)

Há 2 Galileias, chamadas, respetivamente, a Alta e a Baixa. São cercadas pela Fenícia e


pela Síria. A ocidente, são delimitadas pelos confins do território de Ptolemaide e pelo
Carmelo, montanha que pertencia outrora aos Galileus e agora aos habitantes de Tiro.
No Carmelo confina-se Gaba, «Cidade dos Cavaleiros», assim denominada pelo facto
de os cavaleiros licenciados pelo rei Herodes se terem estabelecido aí.

A sul, o seu limite é a Samaria e Sitópolis, até às águas do Jordão.

A oriente, é limitada pelos territórios de Hipos, de Gadara e da Gaulanítide. Deste lado,


é a fronteira do reino de Agripa.

A norte, a Galileia é limitada por Tiro e pelo território dos habitantes de Tiro.

O que se chama a «Baixa Galileia» estende-se em comprimento de Tiberíades a


Zabulão, de que é vizinha Ptolemaide no litoral. Em largura, estende-se desde a aldeia
chamada Xalot, situada na Grande Planície, até Bersabeia, onde começa a Alta Galileia,
que se estende em largura até à aldeia de Baka. (1) Esta aldeia limita o território dos
habitantes de Tiro. Em comprimento, a Alta Galileia vai de Tela, (2) aldeia próxima do
Jordão, até Merot. (3)

Com uma extensão tão limitada, e cercadas de tantas nações estrangeiras, as duas
Galileias resistiram a toda um série de agressões, porque os Galileus foram sempre
valentes no combate, desde a infância, e sempre numerosos. A cobardia nunca afetou os
homens, nem a falta de homens ao país.

O solo é, por todo o lado, tão fértil, tão rico em pastagens, todo plantado de árvores tão
variadas, que o homem que não tivesse o menor gosto pelo trabalho da terra seria
incitado a ele por estas facilidades. Da mesma forma, o solo tem sido explorado pelos
seus habitantes em toda a sua extensão, sem que alguma parcela ficasse em pousio. Por
outro lado, aí as cidades são próximas e a população das aldeias é, por todo o lado, de
uma densidade elevada, devida à fertilidade do solo, de tal forma que a mais pequena
cidade conta mais de 15 000 habitantes. (4) (5)

(B. J. III, 35 - 43)

1) Baka – Hoje, el Buqei´a.

2) Tela – Hoje, et-Teleil.

3) Melon fica a cerca de 5 km a sul de Giscala.

4) Exagero evidente!

5) Nazaré não é referida nos escritos de Josefo, nem no Antigo Testamento, nem
no Talmud, o que indica tratar-se de uma povoação muito insignificante naquela época,
(Jo 1, 46) com a sua sinagoga (Mt 13, 53-58; Mc 6, 1-6; Lc 4, 16-30).

O Reino de Agripa

O território deste reino começa na cordilheira do Líbano e nas fontes do Jordão para se
estender em largura até ao lago de Tiberíades, e, em comprimento, da aldeia chamada
Arfas até Júlias.(1) É habitado por uma população mesclada de Judeus e de Sírios.

Fizemos, assim, conhecer, o mais brevemente possível, a configuração do país dos


Judeus e das regiões circundantes.

(B. J. III, 57 - 58)

1) A localização de Arfas é incerta. Júlias situava-se a norte do lago de Tiberíades.

PANEIAS
(Cesareia de Filipe)
(A. J.)

Depois de ter acompanhado César até ao mar, Herodes, de volta, elevou-lhe, nas terras
de Zenodoro, um templo magnífico (1) em mármore branco, perto do lugar que se
chama Paneias. (2)
Existe, neste lugar da montanha, uma gruta encantadora, por cima da qual se abre um
precipício e um abismo inacessível, cheio de água parada. Por cima, ergue-se uma alta
montanha. É nesta gruta que o Jordão tem a sua nascente.

Herodes quis acrescentar a este admirável sítio o ornamento de um templo, que dedicou
a César. (1)

(A. J. XV, Cap. X, 3. 363 - 364)

1) É o templo que figura, com um frontão sobre quatro colunas, nas moedas do tetrarca
Filipe, filho de Herodes.

2) Mt 16, 13 e Mc 8, 27 chamam a esta cidade Cesareia de Filipe.

CRIAÇÃO DE CIDADES PELOS TETRARCAS HERODES E FILIPE

Depois de ter liquidado os bens de Arquelau e terminado o recenseamento, que teve


lugar no trigésimo sétimo ano após a derrota de António por César, em Áccio, Quirino
despojou da sua dignidade Joazar, o grande pontífice, contra quem o povo se tinha
revoltado, e substituiu-o por Anás, filho de Set.

Herodes (Antipas) e Filipe tinham tomado posse das suas tetrarquias.

Herodes (Antipas) fortificou Séforis, adorno de toda a Galileia, e chamou-


a Autocratóris (Imperial). Da mesma forma, após ter cercado de muralhas Betaranfta,
outra cidade, chamou-a de Júlias, segundo o nome da imperatriz.

Por seu lado, Filipe, tendo reorganizado Paneias, na fonte do Jordão, chamou-a de
Cesareia (de Filipe), enquanto a vila de Betsaida, situada perto do lago de Genesaré, foi
elevada por ele à dignidade de cidade, por causa do número dos seus habitantes, e
recebeu o mesmo nome de Júlias, em honra da filha do imperador.

(A. J. XVIII, Cap. II, 1. 26 - 28)

O LAGO DE GENESARÉ E O RIO JORDÃO


(B. J.)

O lago de Genesaré deve o seu nome ao território que o torna vizinho. Mede 40 estádios
de largura e 140 de comprimento. (1) É, no entanto, um lago de água doce e muito boa
para beber. Tem uma água mais leve que a água espessa das lagoas.

É um lago limpo, cercado de todos os lados por praias e areia. Além disso, a água que se
colhe dele é temperada, mais agradável que a de um ribeiro ou de uma fonte, mas
continua sempre mais fresca do que seria de esperar com a extensão deste lago.

Esta água não é inferior à neve, quando exposta à corrente de ar, como têm costume de
fazer, no verão, durante a noite, as pessoas do país.
As variedades de peixes que aí se encontram diferem das de qualquer outro lado, tanto
no gosto como na forma.

O lago é cortado ao meio pelo Jordão, que, aparentemente, tem a sua nascente no
Paneias, (2) mas é conduzido até aí, escondido debaixo da terra, desde a fonte chamada
Fialé. Esta fonte está situada a cento e vinte estádios de Cesareia, (2) quando de sobe na
direção da Traconítide, a pouca distância do caminho, do lado direito. Segundo a
etimologia, tira o seu nome de Fialé da sua configuração, porque é um lago em forma de
roda. (3) A água enche-o sempre até ao cimo, sem nunca baixar nem transbordar.

Até aqui, ignorava-se que o Jordão partia de lá, e foi Filipe, tetrarca da Traconítide, que
forneceu a prova: tendo deitado bocados de palha no lago de Fialé, encontrou-os
restituídos no Paneias, onde os antigos achavam que o rio tinha a nascente.

A beleza natural de Paneias foi realçada pela munificência régia, tendo-o Agripa ornado
às suas custas. O Jordão começa o seu curso visível a partir desta gruta, depois quebra
os pântanos e as águas estagnadas do lago Semeconítide, (4) percorre ainda 120
estádios, e, após a cidade de Júlias, passa no meio do lago de Genesaré, donde, após
ladear um grande deserto, desemboca no lago Asfaltite. (5)

Ao longo do lago de Genesaré, estende-se uma campina com o mesmo nome, admirável
pela sua beleza natural. Graças à sua fertilidade, este solo não recusa nenhuma
plantação. Os agricultores fazem lá brotar de tudo e a feliz composição do ar convém
mesmo às espécies mais diferentes. Assim, as nogueiras, essência que tolera melhor os
climas rigorosos, prosperam infinitamente neste país de palmeiras, que vivem do grande
calor, a figueiras e a oliveiras, que se conciliam mais com ele, para as quais se prescreve
um clima mais doce. Dir-se-ia que a Natureza colocou o seu ponto de honra neste
alternar de forças de juntar num único lugar as essências incompatíveis e de provocar as
estações numa bela rivalidade, onda cada uma faz valer os seus direitos sobre este
território. De facto, a região não só produz, contra toda a esperança, os frutos mais
diversos, mas fá-los durar. Assim, estes reis dos frutos, as uvas e os figos, ela fornece-os
durante 10 meses sem interrupção; os outros frutos, durante todo o ano, amadurecem lá
sobre a árvore. É que, além do seu ar temperado, é regada por uma fonte muito
fertilizante. (6) As pessoas do sítio dão-lhe o nome de Cafarnaum. (7) Alguns pensaram
que era uma ramificação do Nilo, já que produz uma espécie de peixes análoga ao
coracim (8) do lago de Alexandria. (9) Este território estende-se na margem do lago do
mesmo nome, num comprimento de 30 estádios e numa largura de 20.

Tal é a natureza destas paragens.

(B. J. III, 506 - 521)

1) Na realidade, o lago de Genesaré (lago de Tiberíades ou mar da Galileia) mede tem


21 km de comprimento por 11 km de largura e 45 m de profundidade. O seu perímetro é
de 52 km e a sua superfície de 212 km2. A sua superfície está a 212 m abaixo do nível
do mar. Todo o vale do Jordão fica abaixo do nível do mar.
2) Paneias e Cesareia de Filipe: Supra V e VI.

3) Phialé, em grego, significa «taça».

4) Lago Semeconítis ou lago de Huleh.

5) Mar Morto.

6) 'Ain-el-Tabgha, local tradicional da multiplicação dos pães, perto de Cafarnaum (se


bem que a primeira multiplicação dos pães teve lugar perto de Betsaida, segundo Lc 9,
10). Conserva o nome de Heptapégon (sete fontes).

7) Kephar Nahum (aldeia de Naum) é a terra natal de S. Pedro e a pátria adotiva de


Jesus.

8) Clarias lacera, um peixe sem escamas, por isso «animal impuro», segundo Lv 11, 9-
10.

9) O lago Mareotis.

O Vale do Jordão

Além disso, quando César lhe presenteou novos territórios, Herodes fez-lhe elevar um
templo de mármore branco perto das fontes do Jordão, num lugar chamado Paneias.

Aí se ergue um pico de uma altura infinita que entreabre nas cavidades do seu flanco
uma caverna obscura, onde se cruza o abismo sem fundo de um imenso precipício.
Nenhuma sonda, por mais longa que fosse, chega a tocar o fundo da sua massa de água
tranquila. Em baixo, as fontes brotam fora desta caverna e seria, segundo alguns, a
origem do Jordão, mas nós diremos mais adiante o que é exatamente.

Ainda em Jericó, entre a fortaleza de Cipro (1) e o antigo palácio régio, o rei construiu
um novo, mais belo e mais apropriado à receção dos hóspedes, às construções do qual
ele deu os nomes dos seus próprios dois amigos.

Em suma, não se saberia dizer que lugar do seu reino que lhe fosse propício ele deixou
desprovido de um monumento em honra de César. Quando ele acabou de preencher de
templos os eu próprio território, fez transbordar para o domínio do imperador os
monumentos honoríficos e elevou templos de César em muitas cidades.

(B. J. I, 404 - 407)

1) Assim designada, em honra da mãe de Herodes.

As Cercanias de Jericó e do Vale do Jordão

(J ericó) era uma cidade (...) situada na planície, mas dominada por uma longuíssima
cordilheira de montanhas áridas, que se prolonga ao norte, até ao território de Sitópolis
e, ao sul, até ao país de Sodoma e à extremidade do algo Asfaltite.
Toda esta cordilheira é de um relevo atormentado, e desabitada por causa da sua
esterilidade. Frente a ela estende-se a cordilheira que ladeia o Jordão; começa a norte,
em Júlias, e prolonga-se, ao sul, até Sodoma, à fronteira de Petra, na Arábia.

Nesta região encontra-se, encontra-se, igualmente, o que se chama «Montanha de


Ferro», que se alonga até ao país de Moab.

A região situada entre as 2 cordilheiras de montanhas é chamada «a Grande Planície», e


estende-se do pequeno burgo de Senábris até ao lago Asfaltite. O seu comprimento é de
1200 estádios, a sua largura de 120, e é dividida ao meio pelo Jordão. Possui 2 lagos, o
de Asfaltite e o de Tiberíades, com propriedades naturais opostas: o primeiro, com
efeito, é desagradável e estéril, enquanto o de Tiberíades é um lago de água doce cheio
de peixes. A planície é abrasadora durante o verão; por excesso de seca, contém um ar
maligno. Porque todo o país é privado de água, exceto o Jordão, cujas palmeiras que
crescem nas margens são mais floridas e dão mais frutos que as que estão situadas mais
longe.

(B. J. IV, 452 - 458)

A «Fonte de Eliseu»
(2Rs 2, 18-22)

Muito perto de Jericó, existe uma fonte abundante muito vantajosa para a
irrigação. (1) Jorra próximo da cidade antiga, que foi a primeira do país dos Cananeus
da qual Josué, filho de Nun, general dos hebreus, se apoderou pelas armas. (2)

A tradição pretende que, originalmente, esta fonte não só impedia a eclosão dos frutos
da terra e das árvores, mas também fazia abortar as mulheres, em suma, que era maligna
e prejudicial para todo o uso, mas que foi adoçando e tornando-se, pelo contrário, muito
salutar e muito fecundante, por intervenção de um certo profeta Eliseu (Ele era discípulo
e sucessor de Elias). Tendo sido o hóspede dos habitantes de Jericó, como as pessoas
lhe tinham testemunhado muita simpatia, ele gratificou-as, em troca, a eles e à região,
com um benefício para sempre. Aproximou-se da fonte, lançou na corrente uma bilha de
terra cozida cheia de sal, depois, erguendo ao Céu a sua mão direita de justo, e
espalhando no solo libações propiciatórias, pediu à terra que adoçasse a corrente e que
abrisse veios mais doces, e ao Céu que misturasse a estas ondas um ar mais fecundante,
que concedesse às pessoas do país a abundância de colheitas e de filhos para lhes
sucederem, sem que alguma vez venha a secar para eles esta água fecundante, tanto
tempo quanto eles permanecessem justos. Juntando a estas súplicas muitos gestos com
as mãos que ele sabia, mudou a natureza da fonte. E a água, que até aqui lhes tinha
causado privação de filhos e a fome, foi, a partir deste momento, o que lhes trouxe
fecundidade e abundância.

Possui, em todo o caso, tais qualidades para a irrigação que, mesmo que não faça mais
do que aflorar uma terra, o rendimento é melhor do que com águas que ficam lá até à
saturação. É por isso que, enquanto o rendimento destes últimos, que sendo
prodigalizado, continua fraco, o rendimento daquela água, ainda que seja em pequena
dose, é considerável.

Esta fonte irriga uma superfície maior que todas as outras. Espalha-se por uma planície
de setenta estádios de comprimento por vinte, e sustenta uma quantidade de jardins
decorativos belíssimos e luxuriantes.

As palmeiras assim irrigadas são de muitas qualidades e os seus frutos têm sabores e
virtudes medicinais variadas. As qualidades mais férteis, se forem pisadas com o pé dão
em abundância um mel que não é muito inferior a outro.

A região alimenta grandes quantidades de abelhas; (3) produz também o bálsamo, cujo
fruto é o mais estimado de todos os do país; o cipreste e o mirobalão, (4) de tal modo
que uma pessoa não se enganaria, qualificando de divina esta região, onde surgem em
abundância os produtos da terra mais raros e melhores. Seria, igualmente, penoso
comparar-lhe, pela fertilidade, qualquer outra região do mundo, de tal forma as
sementes que aí se laçam produzem abundantemente.

A causa é, na minha opinião, o calor do ar e a propriedade tonificante da água. O ar


excita e faz desabrochar as plantas; a humidade enraíza solidamente cada uma delas e
dispensa-lhes o vigor no verão, enquanto a região é tão ardente que ninguém sai por
vontade.

Colhe-se a água antes do nascer do sol. Se em seguida se expõe à corrente de ar, ela
torna-se muito fria e torna, assim, um caráter oposto ao meio ambiente que a cerca. No
inverno, pelo contrário, fica tépida e é muito agradável para os que se molham nela.

A atmosfera é tão doce que os habitantes usam roupas de pano fino, enquanto neva no
resto da Judeia.

Jericó fica a 150 estádios de Jerusalém e a 60 do Jordão. (5) De lá até Jerusalém, a


campina é deserta e rochosa; e, de lá até ao Jordão e ao lago Asfaltite, o terreno é mais
baixo, mas igualmente desértico e estéril. Mas já falei bastante das vantagens
excecionais de Jericó.

(B. J. IV, 459 - 475)

1) Esta fonte é identificada com a Fonte do Sultão, a norte da rota para Jerusalém.

2) Js 6, 1-21.

3) Por isso é que João Batista, vivendo no deserto da Judeia, perto de Jericó, se
alimentava de «gafanhotos e de mel silvestre» (Mt. 3, 4).

4) Balanites aegyptiaca.

5) Na realidade, de Jericó a Jerusalém são 35 km e de Jericó ao Jordão são 8 km.


O Mar Morto
(O lago Asfaltite)

Vale a pena descrever, também, a natureza do lago Asfaltite.

Ele é, como já disse, salgado e estéril; mas, em virtude de uma força descarregadora, a
sua água faz boiar os objetos, mesmo muito pesados, que aí se lança, e não é fácil
mergulhar muito fundo, mesmo esforçando-se. Quando Vespasiano se dirigiu lá para se
informar, ordenou que se lançasse ao fundo, com as mãos ligadas atrás das costas,
homens que não sabiam nadar; o resultado foi que todos boiaram como se um sopro de
ar os tivesse puxado com força para cima.

Há, além disso, a sua curiosa mudança de cor: 3 vezes por dia a sua superfície muda de
aspeto e debaixo dos raios do sol ela cintila com mil cores.

Em bastantes lugares, este lago rejeita blocos negros de betume; enquanto nadam, a sua
forma e as suas dimensões fazem-nos parecer touros sem cabeça. Os trabalhadores que
trabalham no lago fazem avançar as suas barcas, retiram este betume coagulado e içam-
no a bordo. Uma vez embarcada a massa, não é fácil destacá-la do barco, porque, por
causa da sua viscosidade, ela adere a ele com todas as suas fibras enquanto não se
destaca com ajuda de sangue menstrual e de urina de mulheres, únicos meios aos quais
cede. (1) O betume serve não só para calafetagem dos barcos, mas também em
medicina. O que é certo é que ele entra na composição de um grande número de
medicamentos.

O comprimento deste lago é de 580 estádios e estende-se assim até à cidade da Arábia,
Zoara; a sua largura é de 150 estádios. (2)

Na sua vizinhança encontra-se a região de Sodoma, (3) território outrora próspero pelas
suas colheitas e pela riqueza das suas diversas cidades, mas agora inteiramente
queimado. Diz-se que a impiedade dos seus habitantes lhes valeu serem abrasados pelo
raio. Em todo o caso, ainda lá existem traços do fogo divino e pode-se ver os vestígios
de cinco cidades e, além disso, nos frutos uma cinza que reaparece: estes frutos são de
uma cor semelhante à dos frutos comestíveis, mas, no momento em que a mão os colhe,
reduzem-se a fumo e a cinza. A narração lendária sobre a região de Sodoma é assim
confirmada por aquilo que se vê.

(B. J. IV, 476 - 485)

1) Tácito é mais racionalista (Vide).

2) Na realidade, o Mar Morto atinge 85 km de comprimento por 15,7 km de largura. O


nível das suas águas encontra-se a 390 m abaixo do nível do mar e o seu fundo a 788 m
desse mesmo nível. É o local mais baixo do planeta. As suas águas têm 25 % de sal, 6
vezes mais que as dos oceanos.

3) Gn 19, 1-30.
Para uns, Sodoma e Gomorra estariam situadas no lugar que agora é ocupado pela parte
meridional do Mar Morto, a qual teria sido formada por abaixamento do solo, e que
atinge de 1 a 10 m de profundidade (ao contrário da parte setentrional, que mede de 300
a 400 m de profundidade). Para outros, Sodoma seria identificada com as ruínas de Bab
Edh Dhra, e Gomorra com as ruínas de Numeira. A primeira hipótese parece, no
entanto, já estar abandonada.

A SAMARIA E A JUDEIA
Sebaste
(B. J.)

Por outro lado, ele não se limitou a ligar o nome e a recordação deles a edifícios: a sua
generosidade espalhou-se na criação de cidades inteiras.

Assim, na região da Samaria (1), ele construiu uma cidade que ele cercou de uma
magnífica muralha com 20 estádios de comprimento. Instalou lá 6 000 colonos,
atribuiu-lhes um território muito fértil e, no centro desta fundação, fez elevar um templo
de grandíssimas dimensões, tendo em volta, com um estádio e meio de comprimento,
um períbolo sagrado dedicado a César. Deu à cidade o nome de Sebaste e outorgou aos
seus habitante uma lei privilegiada.

(B. J. I, 403)

1) Destruída por Hircano (A. J. 13, 254 - 258), foi reconstruída por Gabínio. Subsistem,
ainda, vestígios do templo elevado por Herodes em honra de Octaviano que tinha
recebido do senado o título de Augusto (janeiro de 27).

Fortalezas de Herodes. Reconstrução da Samaria - Sebaste


(A. J.)

Dirigia já a cidade (de Jerusalém) pelo palácio onde habitava e o templo pela fortaleza
chamada Antónia, que fora construída por ele.

Lembrou-se de fazer da Samaria uma terceira muralha contra a população inteira. Deu-
lhe o nome de Sebaste e pensou que este lugar lhe poderia servir de fortaleza contra a
região tão utilmente como as outras. Fortificou, pois, este pequeno burgo, distante de
Jerusalém um dia de caminho, e tão bem localizado para manter com respeito tanto a
capital como o campo.

Para a defesa do reino inteiro, ergueu a fortaleza chamada outrora Torre de Estratão, à
qual deu o nome de Cesareia.

Na grande planície, na fronteira da Galileia, fundou uma colónia militar povoada de


cavaleiros de elite da sua guarda, chamada Gaba.

Colonizou, igualmente, o território de Hesbon, na Pereia.


Estas fundações fizeram-se sucessivamente; assim, pouco a pouco, vigiava a sua
segurança, encerrando o povo num cinto de praças fortes, para lhe retirar, o mais
possível, toda a facilidade de se deixar arrastar para perturbações, como tinha hábito à
mínima agitação, e fazer-lhe compreender que, na primeira tentativa de revolta, haveria
sempre, nas proximidades, tropas capazes de ter conhecimento dela e de a reprimir.

(...) Desejoso de fortificar a Samaria, ocupou se de lhe dar uma população, composta
por muitos dos seus antigos companheiros de armas e de numerosos habitantes dos
territórios vizinhos. A sua ambição era de aí elevar um templo e, graças a ele, dar
importância a uma cidade que antes não tinha; mas sobretudo queria assegurar a sua
segurança pela magnificência. Mudou o nome da cidade e chamou-lhe Sebaste;
distribuiu o território vizinho, cujas terras eram excelentes, aos colonos, a fim de que,
logo que chegassem, se encontrassem já prósperas; cercou a cidade com uma forte
muralha, utilizando para defesa a situação escarpada do lugar, e traçando uma cerca, não
da dimensão da antiga, mas tal que não fosse nada inferior à das cidades mais famosas:
tinha, com efeito, 20 estádios. No interior, no meio da cidade, traçou um períbolo
sagrado de estádio e meio, ornado com muito esmero, e no qual elevou um templo
igualando os mais célebres pelas suas dimensões e pela sua beleza. Pouco a pouco,
prodigalizou embelezamentos na cidade, considerando, por um lado as necessidades da
sua defesa pessoal e fazendo deste lugar pela solidez da sua muralha uma fortaleza de
primeira ordem, desejoso, por outro lado, de passar por amar as coisas belas e de passar
à posteridade monumentos da sua munificência.

(A. J. XV, Cap. VIII, 5)

A Samaria e a Judeia
(B. J.)

A província da Samaria é situada entre a Galileia e a Judeia. Começa, com efeito, na


Grande Planície, na aldeia chamada Genea (1) e acaba na toparquia de Acrabatene. (2)

Do ponto de vista das características naturais, não difere em nada da Judeia. Uma e
outra, com efeito, comportam montanhas e planícies, têm uma terra arável para a
agricultura, são férteis, arborizadas, regurgitam tanto frutos de montanha como frutos
cultivados. Quase em nenhuma parte são naturalmente sujeitas à seca; pelo contrário,
recebem chuvas abundantes.

A água tem, por todo o lado, um sabor delicado e a abundância de excelentes pastagens
faz que os rebanhos deem mais leito do que noutros lados. A melhor prova, em todo o
caso, da sua excelência e da sua prosperidade é a densidade da sua respetiva população.

Na fronteira dos dois países encontra-se a aldeia chamada Anuat Borceos. (3) Constitui
o limite setentrional da Judeia, cuja fronteira meridional, medindo o país no seu
comprimento, é constituída por uma aldeia confinando com a fronteira do Árabes e que
os Judeus do sítio chamam Jardan. (4)
Em largura, a Judeia desdobra-se do rio Jordão a Jope. A cidade de Jerusalém fica
situada exatamente no centro. É por isso que alguns chamam, não sem razão, a esta
cidade o umbigo do país. (5)

A Judeia também não é privada das vantagens do mar, já que se prolonga no litoral até
Ptolemaide. (6) Divide-se em onze toparquias; à cabeça a circunscrição régia de
Jerusalém, que domina todo o país circundante, tal como a cabeça domina o corpo.

As outras cidades, depois dela, partilham entre si as diferentes toparquias: Gofna na


segunda fila; depois dela, Acrabeta; Tamna; após as quais, Lida, Emaús, depois Pela,
Idumeia, Engadi, Heródion e Jericó; em seguida, Jâmnia e Jope, que governam as
localidades circundantes; depois a Gamalítica, a Gaulanítide, a Bataneia e a Traconítide,
que são, além disso, as divisões do reino de Agripa.

(B. J. III, 48 - 56)

1) Genea é atualmente identificada com Dschenin, a sul da grande Planície de Esdrelon.

2) Acrabatene – a SE de Siquém-Napluse,

3) Anuat Borceos – atualmente 'Ain-Berkit, a 19 km a sul de Napluse.

4) Jardan – talvez Tell-Arad, a 30 km a sul de Hebron e a oeste de Masada.

5) A ideia de que Jerusalém é o centro do mundo baseia-se, possivelmente, em Ez 38,


12. É um motivo típico dos mapas medievais.

6) Politicamente, a Judeia não chegava ao litoral.

A PEREIA
(B. J.)

Em suma, mesmo reconhecendo que a Galileia é inferior em extensão à Pereia, (1) será
preferível a esta última pelos seus recursos, porque está toda inteira em exploração e por
todo o lado igualmente fértil, enquanto a Pereia, bem mais vasta, é na maior parte
deserta e pedregosa, demasiado selvagem para lá fazer prosperar frutos cultivados (no
entanto, onde a terra é móvel, é muito fértil; as suas planícies são plantadas com árvores
diversas; cultiva-se lá sobretudo a oliveira, a vinha e a palmeira). É regada pelas
torrentes que descem das montanhas e pelas fontes perenes, que chegam no caso de que
estas torrentes serem secas pela canícula.

O seu comprimento estende-se de Maqueronte (2) até Pela; a sua largura, de Filadélfia
ao Jordão.

A norte, é limitado por Pela, (...) e a Nascente pelo Jordão. A sua fronteira meridional é
o país de Moab. A oriente, é limitada pela Arábia e pela Hesbonítide, (3) e depois por
Filadélfia e Gerasa.

(B. J. III, 44 - 47)


1) Afirmação inexata.

2) Maqueronte ainda faz parte da Pereia. Pela e Filadélfia já fazem parte da Decápole.

3) O território de Hesbon.

MAQUERONTE
(Lugar da execução de João Batista)
(B. J.)

A natureza dos lugares era muito própria para inspirar toda a confiança nos ocupantes,
como hesitação e medo aos assaltantes. A parte cercada de muros é um cume rochoso,
elevando-se a uma altura considerável e por isso de um acesso difícil. A este obstáculo
acrescentavam-se os que a natureza tinha multiplicado, porque a colina é de todas as
partes cercada de ravinas, verdadeiros abismos insondáveis à vista, difíceis de atravessar
e que é impossível preencher em nenhum ponto.

O vale lateral, face ao Ocidente, estende-se num comprimento de 60 estádios e tem


como limite o lago Asphaltite; é nesta direção que o próprio Maqueronte ergue o seu
cume dominante. Os vales a norte e a sul, embora inferiores em profundidade ao
precedente, estão igualmente defendidos contra qualquer ataque. Constata-se que o do
Oriente não se fixa em menos de 100 côvados; é delimitado por uma montanha que se
ergue face a Maqueronte.

Impressionado pela forte localização deste lugar, Alexandre, rei dos Judeus, foi o
primeiro que lá construiu uma fortaleza; mais tarde, Gabínio tomou-a na guerra contra
Aristóbulo. Mas, quando Herodes foi rei, julgou que este lugar merecia mais que
nenhum outro os seus cuidados e a construção de obras sólidas, sobretudo por causa da
proximidade dos Árabes, porque está virada muito vantajosamente para o seu território.
Cercou, pois, de muralhas e de torres um vasto espaço e construiu lá uma cidade com
um caminho subindo em direção ao cimo do cume. Sobre a altura, em torno do próprio
cimo, construiu uma muralha, defendida nos ângulos por torres elevando-se cada uma a
60 côvados. No meio da cerca, construiu um palácio magnífico pela sua grandeza e a
beleza dos seus apartamentos: arranjou lá, para receber a água da chuva e a fornecer em
abundância, numerosos reservatórios nos lugares mais apropriados; pareceu, assim,
rivalizar com a natureza, esforçando-se por ultrapassar, por fortificações elevadas pela
mão do homem, a força inexpugnável de que tinha sido dotada esta posição. Colocou lá
também uma grande quantidade de armas e de máquinas, e não esqueceu nenhum
preparativo que pudesse permitir aos habitantes aguentar o mais longo assédio.

Plantas de Maqueronte

Uma planta chamada arruda, de um tamanho espantoso, brotara no palácio; não era
inferior a nenhuma figueira, nem na altura nem na espessura. Contava-se que existia lá
desde o tempo de Herodes, e teria talvez durado ainda muito tempo se não tivesse sido
cortada pelos Judeus que ocuparam este lugar.
No vale que cerca a cidade do lado norte, há um sítio chamado Baaras, que produz uma
raiz do mesmo nome. Esta planta é de uma cor parecida com a do fogo. À noite, os raios
que emite sobre os que avançam para a apanhar tornam a colheita difícil; ela esconde-
se, todavia, às capturas e não para de mexer senão se se espalhar sobre ela urina de
mulher ou sangue menstrual. Mesmo então, o que a tocar arrisca a morte imediata, a não
ser traga suspenso da sua mão um bocado desta raiz. Apanha-se, ainda, sem perigo por
um outro processo, que é assim: cava-se o solo em torno da planta, de modo que uma
porção muito fraca continue ainda enterrada; depois ata-se-lhe um cão, e enquanto este
lança para seguir o homem que o atou, esta parte da raiz é facilmente extraída; mas o
cão morre imediatamente, como se desse a sua vida em vez do que devia retirar a planta.
De facto, quando se a apanhou, depois desta operação, não se tem nada a temer. Apesar
de tantos perigos, é procurada por uma propriedade que a torna preciosa: os seres
chamados demónios - espíritos dos homens maus que entram no corpo dos vivos e
podem matá-los quando estes têm falta de socorro - são rapidamente expulsos por esta
raiz, mesmo se se contentar em aproximá-la dos doentes. (1)

1) O caráter lendário é mais que evidente.

Propriedades de Certas Águas de Maqueronte

Neste lugar, correm também fontes de águas quentes muito diferentes no gosto, porque
algumas são amargas, as outras perfeitamente doces. Há, também, numerosas fontes
frias, alinhadas paralelamente no terreno mais baixo, mas - coisa mais espantosa - vê-se
na vizinhança uma caverna, de profundidade média e recoberta por um rochedo que
desalinha; na parte superior deste rochedo saem como que duas mamas, pouco afastadas
uma da outra, das quais uma deita uma água muito fria e a outra uma água muito
quente; a mistura destas duas fontes produz um banho muito agradável e eficaz contra
as doenças, particularmente as dos nervos.

Esta região possui, além disso, minas de enxofre e de alumínio.

(B. J. VII, Cap. VI , 1 - 3)

JERUSALÉM
O Palácio de Herodes, em Jerusalém
(Pretório de Pilatos)
(B. J.)

Naturalmente, existe lá o seu próprio palácio régio (basíleion) (1), que ele fez construir
na cidade alta, e que compreendia 2 imensos edifícios (oíkoi) muito belos, com os quais
um templo (2), realmente, não suportaria a comparação, a que ele deu o nome dos seus
amigos, respetivamente Cesareion e Agripeion.

(B. J. I, 402)

1) O palácio de Herodes, na extremidade NO da cidade foi construído por volta de 24 a.


C.
2) Não, evidentemente, o templo de Jerusalém!

Estes dois edifícios seriam as duas maiores salas do palácio, certamente com o teto
suportado por colunas em três ou quatro lados, no interior, como se pode imaginar pelos
vestígios do palácio de inverno de Jericó e do Heródion. Talvez se deva situar numa
destas salas o encontro dos Magos do Oriente com Herodes. (Mt 2)

O Palácio de Herodes, em Jerusalém


(A. J.)

Depois, como a sua prosperidade tinha retomado um novo impulso, (Herodes) construiu
para si um palácio na cidade alta. Construiu imensas salas, que receberam a mais rica
decoração, ouro, mármores, revestimentos preciosos. Cada uma delas continha leitos de
mesa, podendo receber um grande número de convivas, e tinha as suas dimensões e
designações particulares; uma chamava-se, com efeito, de César, e a outra de Agripa.

(A. J. XV, Cap. IX, 3)

O Mercado da Cidade Alta, em Jerusalém

Floro, por enquanto, passou a noite no palácio (de Herodes).

No dia seguinte, fez erguer diante do palácio um estrado (bêma), onde se sentou. Os
sumos sacerdotes, as personalidades influentes e os notáveis da cidade aproximaram-se
e mantiveram-se diante do estrado. (1) (...)

Floro grita aos seus soldados que pilhem o mercado (agorá) dito «de cima» (ánô) (2) e
que matem os que encontrem. Os soldados, (...) não só pilharam o lugar aonde tinham
sido enviados, mas precipitaram-se em todas as casas e degolaram os ocupantes.

Era a debandada no desembocar das ruelas...

(B. J. II, 301, 305 - 306)

1) Cf.: Jo 19, 13-14: Pilatos, pois, ouvindo estas palavras, trouxe Jesus para fora (do
Pretório) e sentou [-se] no tribunal (ekathisen epi bêmatos), no lugar chamado
Lithóstrotos (=pavimento, lajedo), em hebraico, porém,
Gabbathá (=altura?, eminência?, corcunda?). Era, porém, a preparação da Páscoa, cerca
da hora sexta. E diz aos Judeus: «Eis o vosso rei!»

2) Imediatamente à frente do palácio de Herodes (um castelo comprido, situado na parte


mais alta da cidade), ficaria uma ágora (um fórum), praça de mercado com colunatas em
torno (menos, neste caso, do lado do palácio). Os pórticos dos mercados consistiam em
lojas sucessivas com colunatas ligadas à frente, em torno de uma praça. Era, pois, à
frente do palácio, certamente tendo uma porta entre torres voltada para a praça, que se
realizavam os julgamentos, com a multidão reunida nessa praça. No Antigo Testamento
diz-se que os julgamentos e os negócios eram à frente das portas fortificadas: Dt 21, 18-
21; 22, 13-18; Rt 4, 1-11; Sl 127 (126), 5.
Desde a sua chegada, Céstio incendeia Bezeta, também chamada «Cidade
Nova» (Kainópolis), e o lugar chamado «Mercado das Vigas» (Dokôn Agorá). Dirige-
se, em seguida, em direção à cidade alta (ánô pólis), e estabelece o seu campo militar
frente ao palácio régio. (3)

(B. J. II, 530)

3) Se à frente do palácio régio não existisse um espaço amplo, «a ágora de cima», seria
pouco provável estabelecer lá um campo militar!

A Praça do Xisto, Frente ao Palácio dos Asmoneus


(Palácio de Herodes Agripa)

Agripa (...) convocou (...) o povo ao Xisto (xustón), (1) colocou perto dele, bem à vista,
a sua irmã Berenice sobre o terraço da residência dos Asmoneus. Esta residência
dominava o Xisto, frente à cidade alta, e uma ponte (2) ligava o santuário ao Xisto.
Agripa falou...

(B. J. II, 344)

1) Xustón – lit. aplanado; alisado (para a caminhada ou para a corrida). Aqui, trata-se de
uma praça, e, segundo parece por este texto, ligada ao palácio dos Asmoneus e situada
num nível inferior. Situava-se a oeste do templo, no vale do Tiropeion, ou justamente
acima. Seria este o ginásio mandado construir pelo sumo sacerdote Jasão, no tempo dos
Macabeus? (1Mc 1, 14-15; 2Mc 4, 12-14ss).

O palácio dos Asmoneus devia estar encostado ao Xisto, mas num nível mais elevado.

2) Vd. Supra.

DESCRIÇÃO DE JERUSALÉM
(B. J.)

A cidade era fortificada por 3 muralhas do lado em que não era cercada de ravinas
intransponíveis; porque aí, não havia senão uma única muralha. A própria cidade estava
construída frente a frente, sobre 2 colinas separadas por uma ravina média, perto da qual
as casas cessam de se empilhar umas sobre as outras.

Destas colinas, aquela em que se elevava a cidade alta era muito mais elevada e
alongava-se segundo um eixo mais retilíneo. Também, em razão desta posição
fortificada, tinha recebido do rei David o nome de Fortaleza (Este rei era o pai de
Salomão, que foi o primeiro construtor do templo); chamamo-la agora «a Ágora de
Cima». (1)

A outra colina, chamada Acra, carrega a cidade baixa, como sobre uma corcunda dupla.

Frente a esta última colina, uma terceira altura, naturalmente menos elevada que a Acra
e que, na origem, era separada dela por uma outra larga ravina. Mais tarde, na época em
que reinavam os Asmoneus, preencheu-se a ravina com vista de reunir a cidade ao
templo: por trabalhos de nivelamento, abaixou-se a altura da Acra, para que, deste lado,
se pudesse ver adiante erguer-se o templo.

Quanto à ravina dita «dos Queijeiros», que dissemos que separava a colina da cidade
alta da colina inferior, desce até Siloé; porque era assim que nós chamávamos esta
abundante fonte de água doce. (2)

Em direção ao exterior, as 2 colinas da cidade são cercadas de profundas ravinas e, por


causa dos precipícios de um lado e do outro, o acesso não era possível em nenhum
ponto.

1) A cidadela de David é atualmente localizada a sul da esplanada do templo, na colina


Ofel (2Sm 5, 7).

2) A piscina de Siloé não é, na realidade, uma nascente de água: o rei Ezequias (em 700
a. C.) mandou escavar até lá um túnel de 520 m de comprimento, em forma de S, na
rocha, desde a fonte de Gion, que, por ficar fora das muralhas, foi escondida (2Rs 20,
20; Jo 9, 6-7).

As 3 Muralhas

Das 3 muralhas, a mais antiga, por causa das ravinas e da colina em inclinação onde ela
tinha sido construída, era difícil de tomar. Além da vantagem da sua localização, ela
tinha sido solidamente construída por David e por Salomão e pelos reis que depois deles
rivalizaram nesta construção. (1) No entanto, do norte, da Torre dita Hípicos, estendia-
se até ao Xisto, (2) tocando, em seguida, a Sala do Conselho (Boulê), (3) e terminava no
pórtico ocidental do templo. Na outra direção, a oeste, partindo do mesmo ponto (da
torre Hípicos), atingia, através do lugar denominado Bethso, a Porta dos
Essénios. (4) Daí, a sul, curvava-se até para lá da fonte de Siloé, após a qual, a este,
obliquava na direção da Piscina de Salomão, (5) continuava até um lugar
chamado Ophlas, onde se juntava ao pórtico oriental do templo.

A segunda muralha começava na porta que se chamava Porta de Gennath, que fazia
parte da primeira muralha. Não cercava senão o bairro norte e subia até
à (torre)Antónia.

A terceira muralha começava na torre Hípicos. Daí, ela atingia, em direção ao norte, a
torre Pséphinos. Em seguida, descia em frente do monumento de Helena, rainha de
Adiabene, filha do rei Izatés. Mergulhava entre as grutas reais, curvando-se até à torre
de ângulo junto do túmulo denominado «do Pisão». Por fim, ligando à antiga trincheira,
chegava ao vale chamado do Cédron. Esta última muralha foi construída por Agripa
para cercar a excrescência da cidade que se encontrava então a descoberto, porque a
cidade, devido ao excesso da sua população, tinha pouco a pouco transbordado das suas
muralhas. Os habitantes, reunindo o bairro situado a norte do templo à colina,
avançaram até bastante longe e cobriram com as suas habitações uma quarta colina,
chamada Bezetha, situada frente à Antónia, mas separada dela por uma concavidade
profunda. Este fosso foi cavado de propósito, para evitar que os alicerces da Antónia, se
continuassem ligados à colina, se tornassem acessíveis e não fossem mais erguidos. Por
este facto, a profundidade do fosso deu a estas torres uma grandíssima altura. O bairro
recentemente construído foi chamado no país Bezetha, (6) que traduzido em grego se
diria Kainópolis.

Como os habitantes deste bairro necessitavam de defesa, o pai do atual rei e do mesmo
nome que ele, Agripa, (7) começou a muralha de que acabámos de falar; mas temendo
que Cláudio César, pela importância do empreendimento, desconfiasse de algum
espírito de revolução e de sedição, parou o trabalho no momento em que se acabava
somente de lançar os alicerces. Efetivamente, a cidade teria sido invencível se esta
muralha tivesse progredido com se tinha começado, porque ela era construída de blocos
de 20 côvados de comprimento por 10 de largura, e não se teria podido facilmente miná-
la com o ferro ou derrubá-la com máquinas de guerra. O próprio muro tinha uma
espessura de 10 côvados; a sua altura teria sido verosimilmente mais elevada se a
ambição do que a tinha começado não tivesse sido travada. Mais tarde, porém, ainda
que fosse à pressa, foi erguida pelos Judeus até 20 côvados, com merlões de 2 côvados e
parapeitos (=ameias) de 3 côvados, de tal maneira que a altura total atingia 25 côvados.

1) Esta primeira muralha é a única cujo traçado oferece poucas dúvidas. A parte norte
desta muralha, que ia desde o palácio de Herodes até ao muro ocidental do templo, deve
ter sido parcialmente substituída por uma ponte larga (de 15 m de largura) e comprida,
da qual fazia parte o chamado arco de Wilson (Supra). É natural que esta substituição
fosse consequência da construção da segunda muralha, a qual tornava desnecessária esta
parte da primeira.

O traçado da segunda muralha é muito discutido na parte ocidental, onde se ligava à


primeira muralha, porque neste espaço há muitos restos de muralhas. O próprio local da
Porta de Gennath é desconhecido.

A terceira muralha, cujo traçado é muito discutido, incluía o local do Calvário, que
antes ficava «do lado de fora da porta» (Hb 13, 11-12).

2) Vide Supra.

3) A sala do Sinédrio, o «Tribunal dos 71».

A Mishnáh situa a sala do Sinédrio a sul do átrio dos sacerdotes, sem lhe atribuir
medidas que lhe permitissem tal função (Mid 5, 4). Dá a essa sala o nome de «Sala da
Pedra Talhada» (Lishkat-ha-Gazith), como se não fosse normal as construções
herodianas serem de pedra talhada! Diz, também, o Talmud, que 40 anos antes da
destruição do templo (por volta de 30 d. C.), o Sinédrio foi expulso da Sala da Pedra
Talhada para um local de comércio. (?!) A respeito da disposição interna, diz:«Os
assentos estavam dispostos em hemiciclo, podendo cada membro ver todos os outros. O
presidente (o sumo sacerdote) sentava-se no centro e os anciãos à sua direita e à sua
esquerda» (Tosifta Sanh. 8, 1).«Dois secretários dos juízes mantinham-se frente a eles,
um à direita e outro à esquerda. Recolhiam os votos dos que se pronunciavam por uma
absolvição e dos que condenavam. O rabi Judá diz que eram três: além dos dois
referidos, um terceiro recolhia a totalidade dos votos. Três filas de discípulos dos sábios
estavam à frente deles, tendo cada um o seu lugar pessoal. Se fosse preciso
designar (um deles para completar o número dos juizes presentes), o Sinédrio escolhia
um dos da primeira fila. O seu próprio lugar tornava-se o de um dos da segunda fila,
substituído, por seu lado, por um dos da terceira. Por fim, os juízes designavam um dos
assistentes para vir sentar-se na terceira fila, sem substituir o que tinha passado para a
segunda, mas guardando o seu estatuto pessoal.» (Sanh. 4, 3 s).

É mais credível, no entanto, que os juízes estivessem dispostos em U do que em


semicírculo, o que não exigia uma largura tão grande. Mesmo assim, não podemos
acreditar que o Sinédrio alguma vez tenha funcionado numa sala do períbolo interior do
templo. A localização do Sinédrio no templo deve ser extrapolação de Dt 17, 8-13.

A boulê, segundo os dados de Josefo, ficaria perto do atual recinto do Muro das
Lamentações, fora do templo, por conseguinte. Quanto à forma e ao aspeto dessa sala,
nada sabemos; apenas podemos imaginá-los. Uma boulê (ou bouleutérion) grega era,
normalmente, um edifício (ligeiramente) retangular. Tinha os assentos em semicírculo
como num teatro, ou direitos e em 3 lados, e um teto de madeira suportado ou não por
colunas. Neste caso, resta, também, imaginar as paredes de«pedras talhadas» com as
bossagens típicas dos edifícios herodianos. Naturalmente, a cadeira do sumo sacerdote,
ao fundo, seria mais saliente.

Talvez esta sala deve ser identificada com o chamado Átrio dos Capitéis ou Átrio
Maçónico. É uma sala de 25 m por 18 m, coberta com abóbada de berço lisa e tendo
pilastras nas paredes.

Como é de esperar, também a descrição que a Mishnáh faz do funcionamento do


Sinédrio não condiz com o desenrolar da paixão de Jesus.

4) Nem esse lugar, nem a porta dos Essénios foram ainda atualmente identificados.

5) A «piscina do rei», seg. Ne 2, 14.

6) «Existe, porém, em Jerusalém, próximo à [porta] Probática, uma piscina, chamada


em hebraico Bezata, tendo cinco pórticos.» (Jo 5, 2-4). Esta piscina, situada a norte do
templo, era formada por dois tanques de uns 13 m de profundidade, formando um
quadrado irregular de cerca de 100 m de comprimento por 80 m e 62 m de largura. O
tanque meridional é maior que o tanque setentrional. Cercando estes tanques, havia
quatro pórticos e havia ainda um 5.º pórtico no espaço entre os dois tanques. Em torno
destes tanques, encontram-se restos de várias banheiras individuais, com alguns
degraus. É natural que os paralíticos se atirassem, não à piscina, com 13 m de
profundidade, mas a estas banheiras. O tanque setentrional ficava a um nível superior,
donde se pode supor que, de tempos a tempos, poderia jorrar daí água para o tanque
meridional.

7) Herodes Agripa I (41-43 d. C.).


As Torres das Muralhas

As torres ultrapassavam o muro em 20 côvados de largura e em 20 côvados de altura.


Eram quadradas e maciças como o próprio muro. Pelo ajuste e beleza das pedras, elas
nada diferiam de um templo.

Por cima da parte maciça das torres, que perfazia 20 côvados, havia salas magníficas, e,
por cima, cisternas para captar as águas da chuva. (1) Cada torre tinha largas escadas
redondas.

A terceira muralha tinha 90 torres deste género, e as cortinas (= muralhas) entre elas
estendiam-se por 200 côvados.

A muralha intermédia era marcada com cerca de 14 torres e a antiga com 60.

O perímetro total da cidade era de 33 estádios. (2)

Por mais admirável que fosse o conjunto da terceira muralha, mais maravilhosa ainda de
erguia no ângulo noroeste da torre Pséphinos, perto da qual Tito acampou. Com a altura
de 70 côvados, (esta torre) permitia vislumbrar, ao nascer do sol, a Arábia e os últimos
limites do território dos hebreus até ao mar. Era uma torre octogonal. (3)

(B. J. V, 142 - 160)

1) As torres poderiam ter telhados, donde a água da chuva seria recolhida para cisternas
interiores. (Cisternas a céu aberto no topo delas fariam evaporar facilmente a água
recolhida!) Talvez Josefo queira referir-se a ameias e a merlões, que, encobrindo, em
torno, os telhados das torres, podiam dar a ideia de tanques. (Cf.: infra e Tácito).

Sobre os 20 CV da base maciça, haveria 2 andares de 10 CV de altura cada um, para


perfazer os 60 pés de altura (= 40 CV) que Tácito indica. As escadas em
caracolestariam inseridas dentro das paredes das torres.

2) Supra.

3) Não se conhecem vestígios de nenhuma torre octogonal, neste ângulo; contudo, a sua
base poderia ser quadrada.

Juntamente com a terceira muralha, a torre Pséphinos foi construída em época posterior
à dos Evangelhos.

O Palácio de Herodes
(Pretório de Pilatos)

Frente a ela, a torre Hípicos, perto da qual 2 outras foram construídas pelo rei Herodes
na antiga muralha. Pelas suas dimensões, pela sua beleza e pela sua solidez,
ultrapassavam as torres do mundo inteiro. É que, com efeito, além do seu temperamento
levado para a magnificência e para as suas ambições pela cidade, este rei procurava
satisfazer, pela excelência das suas construções, afetos pessoais. Foi assim que ele
consagrou, dando os seus nomes a estas torres, a memória das 3 pessoas que lhe foram
mais caras: um irmão, um amigo e uma esposa. Se ele matou esta, (...) foi por amor.
Perdeu os 2 últimos na guerra, onde tinham combatido valentemente.

A torre Hípicos, com o nome do seu amigo, era quadrada. Tinha de comprimento e de
largura, para cada dimensão, 25 côvados, e 30 de altura, sem nenhuma cavidade no
interior. Por cima desta massa de pedras, não formando mais do que um só bloco, havia
uma cisterna de 20 côvados de profundidade para recolher as águas da chuva, e, por
cima, uma construção de 2 andares, com a altura de 25 côvados, dividida em
compartimentos, ornados de forma diversa, e sobrepujada em torno com
torrinhas (=merlões) de 2 côvados e parapeitos (=ameias) de 3 côvados, de tal forma
que a altura total se cifrava em 80 côvados.

A segunda torre, ele denominou-a com o nome do seu irmão, Fasael. Era tão longa
como larga, com 40 côvados em cada dimensão, (1) e também 40 côvados de altura na
parte maciça. Por cima, corria um pórtico de 10 côvados de altura, protegido por
parapeitos e por saliências (?). A meio comprimento deste pórtico, elevava-se uma outra
torre, compreendendo sumptuosos apartamentos e até banhos, de tal maneira que nada
faltava a esta torre que lhe pudesse dar o aspeto de um palácio. O cume era ornado de
parapeitos (=ameias) e de torrinhas (=merlões). A altura total era de cerca de 90
côvados. A sua silhueta assemelhava-se à da torre da ilha de Faros, (2) cujos fogos
iluminam os navegadores que singram em direção a Alexandria. (...)

A terceira torre, Mariame, porque a rainha usava este nome, era uma construção maciça
que atingia vinte côvados (de altura) e ultrapassava 20 côvados tanto em largura comoe
em comprimento. Todavia, a parte habitável, em cima, era ordenada de forma muito
mais sumptuosa e variada que nas outras; pensando o rei que uma habitação tendo o
nome de uma mulher devia ser mais ornada que as que as que tinham nomes de homens,
da mesma forma que estas últimas deviam ser mais potentes que a da mulher. A altura
total desta torre era de 55 côvados. (3)

Com semelhantes dimensões, estas 3 torres pareciam ainda maiores, por causa da sua
localização. Com efeito, a antiga muralha, sobre a qual elas se encontravam, tinha,
também ela, sido construída sobre uma alta colina. Formava, como que a crista, muito
mais elevada, desta colina, até uma altura de 30 côvados. E as torres elevando-se sobre
esta crista, faziam ainda maior a elevação.

A dimensão das pedras era, também ela, admirável, porque não era de pedras banais ou
de pedras transportáveis em braços de homens que estas torres tinham sido constituídas:
tinha-se talhado em mármore branco. Cada um dos blocos media 20 côvados de
comprimento por 10 de largura e 5 de espessura, tão ajustados entre eles que nenhuma
das torres parecia ser senão um único rochedo surgido naturalmente e polido em seguida
pela mão das pessoas da profissão para lhe dar a sua forma e as suas arestas. É que em
nenhuma parte se notavam as juntas da alvenaria.
A estas torres, situadas a norte, era contíguo, no interior, o palácio do rei (hê toû
basiléôs aulê), ultrapassando toda a descrição. Não lhe faltava nada, com efeito, da mais
extrema magnificência e da mais perfeita organização. Era completamente cercado de
muros de 30 côvados de altura, e, a intervalos iguais, marcado com torres ornamentais,
vastas salas de banquetes e perto de uma centena de quartos de hóspedes. Continham
uma indescritível variedade de pedras, porque aí se encontrava junto o que, em todo o
lado, havia de mais raro. Havia tetos admiráveis pelo comprimento das vigas e pelo
esplendor dos apainelados; e uma multidão de alojamentos, com formas infinitamente
variadas e todos guarnecidos de mobília completa, onde dominavam, para cada um, os
artigos de prata e de ouro.

(Havia) muitos peristilos (perístoa) em circuito (en kúklôi) uns após outros, com
colunas diferentes para cada um. Todas as partes a céu aberto destas construções eram
espaços verdes, com bosquezinhos de árvores de essências variadas, atravessados por
longas alas, elas próprias cercadas de riachos profundos. Por todo o
lado, (havia)reservatórios ornados em torno com figuras de bronze pelas quais brotava a
água, e, em torno dos planos de água, numerosos pombais para pombos domésticos. (4)

Mas é impossível dar deste palácio a descrição que ele merece. Ainda por cima, lembrá-
lo traz um verdadeiro tormento, porque isso evoca as devastações causadas pelo
incêndio que os salteadores acenderam. Não foram os Romanos que queimaram estas
maravilhas, mas é a obra dos facciosos da cidade no início da insurreição. (...) Foi pela
torre Antónia que o fogo começou; ganhou, em seguida, o palácio e devorou os tetos
das 3 torres.

(B. J. V, 136 - 183)

1) Esta torre estava situada no ângulo NE do palácio. Chegou até nós parte da base dela,
cujas medidas se aproximam das que Josefo indica. As suas paredes são reconhecíveis
pelas típicas bossagens das pedras, como acontece nas construções herodianas. A base é
ligeiramente retangular.

Junto desta torre haveria uma porta virada para norte, à saída da qual Jesus foi ajudado
pelo cireneu (Mt 27, 31-32; Mc 15, 20-21; Lc 23, 25-32).

2) O célebre farol de Alexandria, considerado uma das 7 maravilhas do mundo de então.

3) Estes 55 CV de altura distribuem-se da seguinte forma: 20 CV para a base, que era


10 CV mais baixa que a muralha do palácio; 1 piso de 10 CV de altura até ao cimo da
muralha; 2 pisos de 10 CV de altura cada um, desde a muralha até às ameias da torre; e
5 CV (3 + 2) para as ameias com os merlões.

4) Como o Heródion, também este palácio de Herodes, em Jerusalém, seria um castelo


de muralhas duplas paralelas, ligadas por muitos compartimentos e providas de torres
salientes para o exterior. Ocupava uma extensão de cerca de 300 m por 60 m, formando
um retângulo no sentido N - S. A parte NO, onde se encontravam as 3 torres que Josefo
descreve, não era angular, mas arredondada. No centro desta cinta de muralhas com
compartimentos, situar-se-iam vários peristilos ajardinados, ligados uns aos outros e aos
compartimentos das muralhas. Nesse espaço interior situar-se-iam, talvez um de cada
lado da entrada virada a oriente, os dois triclínios, Agripeion e Cesareion, de que Josefo
fala (Supra), que seriam, certamente, duas grandes salas com tetos suportados por
colunas, como a do palácio de inverno em Jericó ou como a do Heródion. Tendo em
conta a altura de 30 CV da muralha do castelo, os compartimentos em torno, entre as
muralhas duplas, estariam divididos em 3 pisos (de 10 CV de altura cada um) ou 2 pisos
(o piso inferior podia ser mais alto). Os tetos eram planos, de madeira de cedro, e
trabalhados. As paredes estariam revestidas com mármores de diversas cores, ou
pintadas em diversas formas geométricas, como noutras construções herodianas. Os
peristilos teriam altura equivalente à do piso inferior (de 10 a 15 CV). Os dois triclínios
seriam mais altos que os peristilos, sobre os quais teriam as janelas dos lados. A porta
oriental daria para o centro da ágora da «Cidade Alta», a praça empedrada conhecida
como Gabbathá ou Lithóstrotos (Supra). Esta porta seria em arco, com torres de um
lado e do outro, ao longo da muralha. No interior do palácio, essa mesma porta daria
acesso imediato a um átrio, no qual devem ser localizados os diálogos entre Jesus e
Pilatos, a flagelação (numa das colunas) e a coroação de espinhos.

(Confrontar com o Heródion, com o palácio de inverno de Jericó, com Massada


(Masada), com o palácio de Diocleciano em Spalato, etc.).

Enquanto o Heródion e a Antónia tinham uma torre mais alta que as outras, este palácio
de Herodes tinha 3 torres mais altas que as outras.

O Teatro de Jerusalém
(A. J.)

(Herodes) instituiu, em honra de César, jogos que deviam ser celebrados de 4 em 4


anos.

Fez construir, em Jerusalém, um teatro e na planície um vasto anfiteatro, edifícios


notáveis pela sua magnificência, mas contrários aos hábitos dos Judeus. (...) Em torno
do teatro, foram dispostas inscrições em honra de César, trofeus lembrando os povos
que vencera e conquistara, tudo executado em ouro puro e em prata.

(A. J. XV, Cap. VIII, 1)

Conclusão das Obras do Templo


Pavimentação das Ruas com Mármore Branco
(A. J.)

Naquele momento, o santuário (hierón) estava terminado. (1) O povo via, pois, que os
operários, em número de mais de 18 000, ficavam no desemprego e tinham necessidade
de salários, porque até então ganhavam a vida trabalhando no santuário. Não queria
poupar o dinheiro, com medo dos Romanos, mas, preocupando-se com os operários,
queria dispensar o tesouro em favor deles. Com efeito, se um operário tivesse
trabalhado não mais que uma hora por dia, era imediatamente pago por ela. (2) O povo
exorta e persuade o rei para restaurar o pórtico oriental. Era este um pórtico exterior do
templo, dando sobre um vale profundo, com muros de 400 côvados de comprimento, de
blocos quadrangulares de mármore branco, sendo o comprimento de cada um de 20
côvados e a altura de 6. Era obra do rei Salomão, que foi o primeiro que construiu todo
o santuário (hierón). (3)

Mas o rei, a quem o imperador Cláudio tinha confiado o cuidado de se ocupar do


templo, refletiu que trabalho mais fácil era demolir, ao passo que construir era difícil,
sobretudo tratando-se deste pórtico, porque isso exigia muito tempo e dinheiro. Afastou,
pois, este pedido, mas sem se opor a que a cidade fosse pavimentada de mármore
branco.

(A. J. XX, Cap. IX, 7. 219 - 222)

1) Em 64 d. C., vindo a ser destruído pelos Romanos no ano 70.

2) Cf.: Mt 20, 8.

3) Uma parte do muro oriental parece ser anterior a Herodes e até pode remontar aos
tempos de Salomão. Essa parte do muro é que teria 400 CV ou talvez 500 CV de
comprimento.

CESAREIA (MARÍTIMA)
Cesareia
(B. J.)

Tendo notado, na costa, uma cidade então em plena decadência – chamava-se Torre de
Estratão – mas que, em razão da sua localização favorável, era bem feita para beneficiar
das suas larguezas (1), ele reconstruiu-a inteiramente de pedra branca, ornou-a de
palácios magníficos e foi lá, mais do que qualquer outro lado, que desdobrou a grandeza
do seu génio.

De Dora a Jope, das quais esta cidade é equidistante, a costa, com efeito, encontrava-se
desprovida de porto, de tal forma que qualquer viajante que seguisse a costa desde a
Fenícia em direção ao Egito lançava a âncora ao largo por causa da ameaça do vento do
sudoeste; porque mesmo quando sopra moderadamente, a ondulação eleva-se a tal altura
contra os rochedos que o seu refluxo torna o mar perigoso até uma grande distância.

Mas o rei, à força de larguezas e de magnificência, conseguiu vencer a natureza:


construiu um porto maior que o Pireu, e, nos seus reforços, ainda mais ancoradouros
profundos.

Chocando, por todo o lado, contra a hostilidade do terreno, desafiou a dificuldade,


fazendo que a solidez da construção fosse à prova dos ataques do mar, e que, pela
beleza, ela fosse adornada como se não tivesse havido nenhum obstáculo.

Como se tinha fixado para as dimensões deste porto o termo de comparação que
acabamos de indicar, fez imergir em plenas águas, até uma profundidade de 20 braças,
blocos de pedra, a maior parte das quais media 50 pés de comprimento, 9 de altura e 10
de largura e por vezes mais.

Uma vez preenchido o fundo, o dique por cima do nível do mar apresentava uma largura
de 200 pés, 100 dos quais de avanço contra o assalto das ondas, donde o seu nome de
«quebra-mar», e o resto subjacente ao parapeito de pedra que corria em torno do porto.
Este dique era marcado com torres muito altas, das quais a mais avançada e mais
magnífica foi chamada Drúsio, segundo nome do enteado de César. (2) Havia lá uma
multidão de câmaras abobadadas onde se pudessem abrigar os que acabavam de lançar a
âncora. Todo o terrapleno circular que corria diante destas câmaras formava um largo
passeio para quem desembarcava. A entrada do porto era a norte, porque nesta região é
o vento do norte o mais calmo. Na entrada estreita, de cada lado, 3 colossos adossados a
colunas: os da esquerda quando se entra são suportados por uma torre maciça, e os da
direita por 2 blocos de pedra levantados e ligados entre eles, cuja altura ultrapassa a da
torre que se eleva no outro lado.

As residências vizinhas do porto são, também elas, de pedra branca. As artérias da


cidade convergem para o porto e são traçadas a intervalos iguais uns aos outros. Frente à
entrada estreita, numa plataforma, um templo de César, notável pela sua beleza e pelas
suas dimensões, tendo no interior um estátua de César maior que o natural, que não é
inferior à de Zeus de Olímpia, em que se inspira, e uma estátua de
Roma, (3) semelhante à de Hera de Argos.

Herodes dedicou a cidade à província romana, o porto aos que navegam nestas
paragens, e a César a glória desta fundação, que, por este facto, ele chamou de
Cesareia. (4)

Quanto ao resto dos edifícios, anfiteatro, teatro, (5) praças públicas, fê-los construir
dignos deste nome.

Instituiu, também, concursos quinquenais, aos quais ele deu um nome tirado, também,
do nome de César, e que ele inaugurou, fornecendo pessoalmente prémios magníficos,
na 192.ª olimpíada, (6) concursos nos quais não somente os vencedores, mas também os
que vinham em segundo e mesmo os que vinham em terceiro lugar recebiam a sua parte
da munificência real.

(B. J. I, 408 - 415)

1) A construção de Cesareia exigiu mais de 12 anos. Terminou por volta de 10 ou 9 a.


C.

2) Este enteado de Augusto é Nero Claudius Drusus (38 - 9 a. C.), pai de Germânico e
filho de Lívia, casada em segundas núpcias com Augusto.

3) Quer dizer que este templo era dedicado conjuntamente a Augusto e a Roma,
segundo as exigências do próprio Augusto: Em nenhuma província aceitou templos, a
não ser que tivessem em comum com o seu o nome de Roma (Suetónio, Aug. 52).
4) Cesareia tornou-se uma cidade tão importante que foi escolhida para residência dos
representantes do imperador. Tácito (Hist. 2, 78, 10) faz dela a capital da Judeia, com o
mesmo título com que Antioquia da Síria. A população era maioritariamente pagã, mas
compreendia, também, Judeus, que foram massacrados durante os tumultos de 66 (B. J.
2, 457).

5) Um teatro e um anfiteatro são edifícios característicos da civilização greco-romana.


Foi nesse teatro de Cesareia, precisamente, que os Atos dos Apóstolos (12, 21 - 23) e F.
Josefo (A. J. 19, 343 - 350) situam a cena em que Herodes Agripa I discursou à
multidão e aceitou as lisonjas sacrílegas.

6) (12 - 9 a. C.).

Cesareia
(A. J)

Ele tinha notado à beira-mar, um lugar totalmente próprio para a fundação de uma
cidade: era um lugar outrora chamado Torre de Estratão.

Ergueu um grandioso plano da própria cidade e dos seus edifícios e construiu-a


inteiramente, não de quaisquer materiais, mas de pedra branca. Ornou-a de palácios
sumptuosos e de monumentos para uso do público; e, que foi o mais importante e exigiu
mais trabalho, proveu-a de um porto, perfeitamente abrigado, tão grande como o Pireu,
com margens de desembarque no interior e uma segunda doca.

O mais notável na construção desta obra foi que Herodes não encontrou nos próprios
lugares nenhuma facilidade para o levar avante, e que não pôde ser acabado senão com
materiais levados de fora, com grandes custos.

A cidade, com efeito, situa-se na Fenícia, na rota marítima do Egito, entre Jope e Dora,
pequenas marinas, de acesso difícil por causa do regime dos ventos de sudoeste, que
chegam de longe carregados de areia de que cobrem a costa, entravam o desembarque,
de tal forma que o mais frequentemente os mercadores são obrigados a lançar a âncora
em pleno mar. Herodes remediou os inconvenientes deste regime: traçou o porto de
forma circular, de forma que grandes frotas possam ancorar muito perto da costa,
imergindo, para este efeito, rochedos enormes até a uma profundidade de 20 braças.
Estes rochedos tinham na maior parte 50 pés de comprimento, pelo menos 18 de largura
e 9 de espessura, alguns mais, outros menos. O dique, construído sobre estes
fundamentos, que ele projetou no mar, tinha um comprimento de 200 pés. Metade dele,
verdadeira muralha contra o mar alto, era destinada a sustentar o assalto das ondas que
aí se vinham partir de todos os lados; chamou-se, pois, quebra-mar. O resto sustentava
um muro de pedra cortado de intervalo a intervalo por torres, a maior das quais se
chama Druso, belíssima obra, que tirou o seu nome de Druso, enteado de César, morto
jovem. Construiu-se uma série de abrigos abobadados para servir de refúgio aos
marinheiros. À frente, traçou-se uma larga margem de desembarque, envolvendo no seu
contorno todo o porto e oferecendo um passeio encantador. A entrada e a abertura do
porto encontravam-se expostas ao vento do norte, que é o mais favorável.

Na extremidade do quebra-mar, à esquerda da entrada, elevava-se uma torre bem


cheia (de pedras?), podendo opor uma forte resistência. À direita erguiam-se, ligados
entre eles, 2 enormes pedestais, maiores que a torre à frente.

Todo o circuito do porto é uma sucessão ininterrupta de construções feitas de pedra


cuidadosamente polida. No centro fica uma colina, sobre a qual se construiu o templo de
César, visível de longe pelos navegadores e que encerrava as estátuas de Roma e de
César.

A própria cidade recebeu o nome de Cesareia. É notável pela qualidade dos materiais
empregados e pelo cuidado aplicado na construção.

Os subterrâneos e os esgotos construídos sob a cidade não foram menos cuidados que os
edifícios construídos por cima deles. Uns, espaçados a intervalos regulares, chegavam
ao porto e ao mar; outro, transversal, reuniu-os todos de forma a levar facilmente as
chuvas e as imundícies, e a permitir ao mar, quando é empurrado pelo vento de longe, a
estender-se e a lavar por baixo a cidade inteira.

Herodes construiu, também, um teatro de pedra e, a sul do porto e atrás, um anfiteatro


que podia conter um grande número de espetadores e que era perfeitamente situado,
com vista para o mar.

A cidade foi terminada em 12 anos, porque o rei não sofreu nenhuma interrupção nos
trabalhos e não poupou nenhuma despesa.

(A. J. XV, Cap. IX, 6. 331 - 341)

Outras Construções de Herodes


(B. J.)

Ele reergueu, também, Antédon, (1) cidade do litoral que tinha sido destruída pela
guerra, e deu-lhe o nome de Agripeio.

A ligação sem limite que ele tinha a este mesmo amigo levou-o a fazer gravar-lhe o
nome sobre a porta do templo (naós), restaurada por ele próprio. (2)

Herodes, evidentemente, amava os seus pais como ninguém no mundo. O facto é que
dedicou uma cidade à memória do seu pai: fundou na mais bela planície do seu reino
esta cidade rica de cursos de água e arborizada, que ele chamou de Antipátrida. (3) Na
inclinação de Jericó, dotou de muralhas um lugar notável pela sua posição fortificada e
pela beleza do sítio e consagrou-o à sua mãe, sob o nome de Cipro. Ao seu irmão
Fasael, dedicou, em Jerusalém, a torre do mesmo nome. (Detalharemos, mais adiante, a
sua arquitetura e as suas opulentas dimensões). (4) Fundou, ainda, uma outra cidade no
vale (do Jordão), a norte de Jericó, que ele chamou de Fasael. (5)
(B. J. I, 416 - 418)

1) Antédon é situada perto do mar, a NO de Gaza.

2) A porta do naós (o templo propriamente dito) teria, no seu friso, este nome, além do
nome de Herodes. Era natural os templos greco-romanos terem, no friso, o nome das
divindades a quem eram dedicados, bem como os nomes das pessoas a favor de quem
eram dedicados e de quem as dedicava. No templo de Jerusalém não havia necessidade
de escrever o nome da Divindade, logo, se a inscrição fosse em grego, como convinha a
um edifício de estilo greco-romano, deveria, talvez, ser assim: Hupèr Agríppa.

Hêrôdês: .

3) Antipátrida, assim chamado em honra do pai de Herodes, é situada a NE de Jope, na


encruzilhada das rotas de Jope em direção ao interior e de Lida em direção ao norte.

4) Supra.

5) Fundada por Herodes, a norte de Jericó.

Outras Construções de Herodes


(A. J.)

Fundou uma outra cidade na planície chamada Cafarsaba, depois de ter escolhido um
lugar bem irrigado e uma terra muito própria à vegetação, porque um rio corria em torno
da própria cidade e esta era cercada por uma belíssima floresta de grandes árvores.
Chamou esta cidade Antipátrida, em honra do seu pai Antipáter.

Fundou, também, para além de Jericó, uma localidade com o nome da sua mãe, Cipro,
notável pela força da sua posição e pelo embelezamento das habitações.

Edificou ao seu irmão Fasael, um belíssimo monumento em recordação do seu afeto,


elevando, no cimo da sua capital, uma torre igual à de Faros, e que chamou de Fasael.
Ela devia contribuir para a segurança da cidade, e o seu nome lembrar a recordação do
defunto. (1)

Fundou, ainda, uma cidade que tinha o nome do seu irmão, no vale de Jericó, na direção
do norte, de maneira que a região circundante, outrora deserta, tornou-se mais fértil pelo
trabalho dos habitantes. Chamou a esta cidade Fasael.

(A. J. XVI, Cap. V, 2. 142 - 145)

1) Supra.

JOTAPATA
(B. J.)

Jotapata está construída quase completamente sobre uma altura escarpada. Nos outros
lados, pende, por todos os lados, sobre ravinas insondáveis onde, se se tentasse ver o
fundo, a vista desfalecia antes de lá chegar. É, somente, do lado do norte que ela é
acessível. Foi edificada obliquamente nos últimos contrafortes da montanha.
Ora, (Flávio)Josefo, fortificando a cidade, tinha incluído também aquele lado, para que
a altura que a domina não pudesse ser tomada pelos inimigos. Escondida por um círculo
de outras montanhas, era absolutamente invisível, enquanto se não chegasse lá. Tal era a
forte posição de Jotapata. (1)

(B. J. III, 158 - 160)

1) Jotapata não é referida na Bíblia.

MASSADA (MASADA)
(B. J.)

Um rochedo de um contorno bastante vasto e de uma grande altura está isolado de todas
as partes por profundas ravinas, cujo fundo não se vê. São escarpadas e inacessíveis aos
pés de qualquer ser vivo, exceto em dois sítios, onde a rocha se presta a uma subida
penível. Destes dois caminhos, um parte do lago Asfaltite na direção do Oriente; o outro
fica a Ocidente e oferece mais facilidade à caminhada. Chama-se o primeiro
«Serpente», por causa da sua estreiteza e das suas inúmeras curvas: porque é cortado
onde as escarpas sobressaem, volta frequentemente sobre si próprio, alongando-se,
depois, pouco apouco, prossegue com grande dificuldade a sua progressão. Qualquer
homem que siga este caminho tem de se apoiar alternadamente sobre cada pé, porque a
morte vigia-o; de cada lado abrem-se abismos que podem gelar de medo o mais bravo.
Quando se seguiu o caminho no espaço de 30 estádios, só se tem diante de si um cimo
sem ponta terminal, que forma no cume uma superfície plana.

Foi sobre este planalto que o Sumo Sacerdote Jónatas construiu inicialmente uma
fortaleza, que ele denominou Massada (Masada); em seguida, o rei Herodes ocupou-se
como grande zelo em preparar este lugar.

Elevou em torno do cume, num comprimento de 7 estádios, uma muralha de pedras


brancas, com 12 côvados de altura, com a espessura de 8 (côvados). Sobre ela, erguiam-
se 37 torres com 50 côvados de altura, donde se podia passar para habitações
construídas em toda a face interior do muro. O rei tinha reservado o cume para a cultura,
que é fértil e de uma terra mais móvel que todas as planícies; deste modo, se houvesse
escassez de provisões de fora, a fome pouparia os que tivessem confiado a salvação
deles à fortaleza.

Construiu também um palácio na vertente ocidental, sob as muralhas da cidadela e


voltado para o Norte. O muro deste palácio era alto e sólido; era flanqueado nos ângulos
por 4 torres de 60 côvados de altura. No interior, a disposição dos apartamentos,
pórticos e banhos ofereciam muita variedade e luxo; por todo o lado se erguiam colunas
monolíticas; os muros e o pavimento dos apartamentos eram revestidos de mosaicos de
cores variadas.
Perto de cada um dos sítios habitados, tanto na altura como em torno do palácio e diante
da muralha, tinha mandado escavar muitas grandes cisternas na rocha, para fornecer
água com a mesma abundância como se lá houvesse fontes.

Um caminho escavado, invisível de fora, conduzia do palácio ao cimo da colina. De


resto, era difícil aos inimigos fazer uso mesmo dos caminhos que se viam, porque o do
Oriente é, como dissemos, naturalmente inacessível, e Herodes fortificara o do
Ocidente, na sua parte mais estreita, com uma forte torre, que uma distância de pelo
menos 1000 côvados separava do cimo, e não era possível voltar nem fácil de tomar.
Mesmo para viajantes nada tendo a temer, a saída era árdua. Assim, a natureza e a mão
dos homens tinham fortificado este lugar contra os ataques dos inimigos.

Admirava-se ainda mais a riqueza e o bom estado dos aprovisionamentos acumulados;


de facto, mantinha-se em reserva trigo em quantidade suficiente para um longo tempo,
muito vinho e azeite, legumes secos de variadas espécies e montes de tâmaras. (1)

(B. J. VII, Cap. VIII , 3 - 4)

1) Massada (Masada) não é referida na Bíblia, contudo pareceu-nos conveniente a sua


descrição, para podermos confrontar com ela a descrição de outros lugares e de outras
construções. É, todavia, um dos lugares do castigo dos Judeus (Mt 27, 25; Lc 23, 28-
31; etc.).

Você também pode gostar