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Universidade do Algarve

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Departamento de Artes e Humanidades
Licenciatura em Património Cultural
Unidade Curricular: Arte Islâmica
2.º Semestre
2011/2012

Tema.

Cúpula do Rochedo – Jerusalém

Docente: Prof. Doutor Francisco Teixeira


Discente: Marco Miguel T. Figueiredo nº. 42005
Faro, Junho de 2012
Introdução

O nome de mausoléu – martyrium1 (Fig.1) provém do túmulo monumental.


Supõe-se que este edifício era de planta quadrangular, com uma base sobre a qual se
elevava uma pirâmide coroada por uma quadriga e pelas estátuas dos monarcas.
De planta octogonal, apresentava, no centro do pavimento ornamentado com
ricos mosaicos, uma grande abertura circular elevada. O mausoléu – martyrium, devia
ser iluminado por uma abertura praticada no tecto piramidal.
A planta do edifício reflectia as funções das partes principais. O antepátio
exterior destinava-se ao repouso dos peregrinos e serva de lugar de transacções aos
mercadores.
O mausoléu adoptava muitas vezes um plano centrado, dentro do qual existiam
inúmeras variantes funções, designadamente, das tradições de utilização a que se
reportava cada monumento. Dai, resultavam, diferentes planos, a estrutura octogonal era
muitas vezes escolhida para os prestigiosos mausoléus imperiais da Antiguidade tardia.
De um modo geral, os grandes mausoléus da Antiguidade tardia não eram
exclusivamente túmulos. Comportavam muitas vezes dois níveis, o nível inferior
acolhia o túmulo, quando este não estava colocado numa cripta, o superior servia de
lugar de recolhimento e de culto. Por vezes, o mausoléu ou martyrium 2 era
comemorativo, à imagem de um héroon (templo ou santuário de um herói).

1
TESCHEN- “A Alta Idade Media da Antiguidade Tardia ao Ano Mil" p.39
2
TESCHEN- “A Alta Idade Media da Antiguidade Tardia ao Ano Mil" p.39
Cúpula do Rochedo

Situa-se no Monte Moriah 3 (Fig.2) em Jerusalém, no lado Este da Cidade Santa.


A Cúpula do Rochedo é encomendada três anos antes e foi construída em 691-
92, e é um dos monumentos mais extraordinários do islão primitivo. Teve como
pretensão realizar uma obra estética importante, tendo sido mandado construir pelo
califa Omiada Abd-Malik 4 .
Todos os escritores afirmam que há duas razões para a construção deste Templo,
uma deve-se ao anti-califa chamado Ibn al- Zubair em posse de Meca (o califa al-Malik),
que mandou construir um Santuário em Jerusalém com o objectivo de abrigar os
peregrinos da Arabia, instituindo na cidade de Palestina um centro religioso do Islão.
Também se assegurou que a planta da Cúpula do Rochedo, com dois deambulatórios,
em torno do rochedo, tinha sua origem nos requerimentos litúrgicos.
A segunda razão da construção da Cúpula do Rochedo é a mais aceite pelos
crentes muçulmanos, e está relacionada com uma completa passagem do versículo 17/1
do Corão “ Glorificado seja Ele, que de Noite transportou o seu servo, Maomé, desde
Meca até ao lugar de veneração mais longe. “ Ibn Ishap 5 afirma que este lugar mais
longe que é referido nesta passagem do Versículo 17/1 do Corão é Jerusalém.
A Cúpula do Rochedo foi construída como uma espécie de martyirum para um
momento específico da vida de Maomé 6 , ou seja, a sua elevação aos céus. Este
argumento vê-se reforçado pelo facto da arquitectura da Cúpula do Rochedo estar
claramente dentro da linha tradicional dos grandes martírios cristãos e estreitamente
relacionada com a arquitectura dos santuários cristãos de Jerusalém e seus redores, um
dos quais comemora a ascensão de cristo.

3
Desde sempr e este monte esteve ligado a grande simbolismo. Desde logo era importante para os
cristãos, pois naquele lugar teria já existido um tempo, o templo de Santa Sofia e entendiam também
que o rochedo teria sido onde, Poncio Pilatos teria condenado Jesus a Crucificação. Por outro lado os
Judeus veneravam o local, por entender que teria sido ali o local onde se situava o lendário Templo de
Salomão.
4
Construiu em Jerusalém a Cúpula do Rochedo e Mesquita de Al Aqsa . Levou a conexão religiosa
muçulmana entre Jerusalém e Meca, onde ele reparou o Kaaba e instituiu a tradição de tecer uma
cobertura de seda em Damasco.
5
Biógrafo do Profeta Mohamed.
6
GRABAR, Oleg, La Formación del Arte Islá mico, Cátedra, 8ºedição, 2000, p. 66
A Cúpula do Rochedo era rica e inscrições, e quase todas as inscrições eram
religiosas, excepto o nome do construtor da fachada. Estas inscrições eram citações do
Corão.

A Planta (Fig.3) da Cúpula do Rochedo é estritamente octogonal em linhas


gerais, com quatro portas em seus dois eixos principais que se abrem para a praça do
Templo. A grande Cúpula (Fig.4) é suportada por quatro pilares, com quatro arcos
sobre três colunas estabelecidos entre cada par de pilares.

A Cúpula é um relicário sobre um lugar sagrado, segundo um modelo que era


bastante corrente nos martírios cristãos que estava magnificamente representado nas
igrejas de Jerusalém. A arquitectura confirma a qualidade simbólica do lugar de
comemoração, que tem a Cúpula do Rochedo, embora não nos proporciona nenhuma
informação sobre o significado da época de Abd al-Malik.

No Interior da Cúpula do Rochedo, o desenho octogonal foi colocado para fora


em duas aulas em torno da rocha sagrada (Fig.5) no centro do edifício. As barras de
apoio acima das colunas que dividem esses deambulatórios ainda têm o revestimento de
bronze original, ornamentada com motivos da antiguidade clássica 7 e a parede arqueada
acima das barras é coberta com mosaico dourado, sendo a decoração do tecto datada do
Mameluco e período Ottamn.

A maioria dos temas decorativos dos mosaicos são elementos vegetais,


entrelaçados com jarrões e jóias. Todos os elementos, excepto as jóias, são bastantes
correntes e a sua importância na arte do Séc. VII é principalmente estilística (Fig.6).

A decoração das jóias aparece quase exclusivamente no interior do peristilo


octogonal e do Tambor, onde existe uma variedade de conchas, broches e brincos, quase
todos adornados com pedras preciosas incrustadas ou pingentes. Estes ornamentos
podem ser identificados como ornamentos reais e imperiais dos príncipes bizantinos e
persas.

7
Refere-se a um longo período da História da Europa que se estende aproximadamente do séc. VIII a.C.,
com o surgimento da poesia de Homero, à queda do império romano do ocidente no século V d. C., mais
precisamente no ano 476. Estão os factores culturais mais marcantes das suas civilizações mais
marcantes, a Grécia e a Roma Antiga.
Já as conchas e as jóias serviam para realçar a santidade ou a riqueza de um
santuário a uma personalidade 8 .

A cúpula do rochedo em termos de simbologia, tinha como ponto de vista


Muçulmano uma resposta ao atractivo Cristão e a sua inscrição proporcionou aos
crentes, argumentos que podiam utilizar contra a atitude cristã. Em primeiro lugar a sua
construção devia de ser compreendida, pois obtinha algumas crenças que estariam
associadas àquele lugar sagrado, porque o Islão representava uma fé totalmente nova e
traduzia-se como o primeiro produto mais importante da arquitectura muçulmana.

As inscrições são uma declaração de unitarismo muçulmano e ao mesmo tempo


uma proclamação diante dos cristãos e dos judeus, especialmente perante os primeiros, e
da verdade definitiva do Islão. Estas inscrições tinham um significado mágico e
simbólico de onde encontramos a ideia principal implicada na edificação da Cúpula do
Rochedo.

Abd al – Malik quis afirmar a superioridade e o triunfo do Islão naquela que, no


séc. VII, era a cidade cristã por excelência e estava também afirmando uma certa
prioridade de Palestina e Jerusalém9 sobre Meca, não como uma substituição de
Kasbah, mas sim como um símbolo de oposição a antiquada aristocracia de Meca 10 .

8
GRABAR, Oleg, La Formación del Arte Islámico, Cátedra, 8ºedição, 2000, pp.72 -73
9
GRABAR, Oleg, La Formación del Arte Islámico, Cátedra, 8ºedição, 2000, p.70
10
É uma cidade da Arábia Saudita, considerada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos, situada
na província homónima. A tradição islâmica atribui a sua fundação aos descendentes de Ismael.
Anexos

Fig. 1

M ausoléu de Santa Constança, Roma, 354

Fig.2

M onte M ariah, Jerusalém

Fig. 3

Planta da cúpula do Rochedo


Fig. 4

Cúpula do Rochedo

Fig.5

Rochedo Sagrado

Fig.7

Interior da Cúpula do Rochedo


Fig. 8

Detalhe da Entrada da Cúpula do Rochedo

Fig.9

Cúpula do Rochedo

Fig. 10

Interior da Cúpula do Rochedo


Bibliografia
 VV. AA (s.d) - “Islam – Art And Architecture”, in Volkmor Enderlein.
Architecture, ed, Konemann. pp. 64-66;

 GRABAR, Oleg (2000) – “La Formación del Arte Islámico”. Cátedra. 8º Ed.
pp. 59-85;

 GRABAR, Oleg (s.d) - “The Meaning of the Dome of the Rock in Jerusalem”.
Chapter IX. pp. 143 – 158;

 TESCHEN- “A Alta Idade Media da Antiguidade Tardia ao Ano Mil" p.39

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