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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

FACULDADE DE ARQUITETURA

Antiguidade
Clássica
ARQUITETURA GREGA
Aula 01

Salvador
2019

Rafael Câmara
Gráfico comparativo mostrando a duração das
sucessivas culturas ocidentais e períodos culturais
discutidos. As partes mais escuras de cada linha
mostra o período ou períodos mais intensos de
atividade e desenvolvimento; as partes mais claras
representam períodos de surgimento ou declínio.
GRÉCIA CLÁSSICA

◼ A história do homem moderno começa, de


fato, quando os gregos “entraram pela
primeira vez no palco das civilizações”;
◼ A natureza e a sociedade começaram a ser
analisadas e compreendidas, pelos filósofos,
através de explicações racionais e organizadas.
Demócrito de Abdera (c.460 a.C.
– c.370 a.C.): maior expoente da
teoria atômica
GRÉCIA CLÁSSICA

◼ A aversão à hubris – o excesso – e o princípio


“conhece-te a ti mesmo” (inscrito em um dos
pórticos de Delfos) tornaram-se os axiomas do
pensamento grego, que tinha por ideal uma mente
equilibrada, “nada desmedido”;
◼ Avanços na geometria (Thales, Pitágoras, Euclides,
Arquimedes), na medicina (Hípócrates) etc.: busca
pela racionalidade em lugar da superstição e do
sobrenatural.

Ruínas do Santuário de Apolo em Delfos, recinto


do famoso Oráculo (1.500 a.C.)
A GEOGRAFIA

◼ As comunidades gregas ficavam separadas umas das outras por altas


montanhas. Por essa razão, cada grupo tinha um forte sentimento de sua
própria independência.
A GEOGRAFIA

◼ A Grécia é um país de penínsulas e ilhas. Os barcos sempre foram um meio


de transporte vital para o povo grego e seus bens. No continente
montanhoso, muitas vezes era mais fácil navegar de uma parte à outra do
que ir por terra.
A GEOGRAFIA

◼ Os próprios gregos tinham consciência do aspecto notável de sua paisagem.


Eles muitas vezes construíam seus templos em lugares (locus) escolhidos
justamente pela beleza natural.
◼ A importância do genius loci (ou “espírito do lugar”)
O CLIMA

◼ Na maior parte do ano, a Grécia é quente e


seca; os invernos também costumam ser muito
rigorosos. Assim sendo, para os antigos
gregos, era difícil tirar o seu sustento apenas da
terra.
O CLIMA
◼ O clima quente, por outro lado, dava a eles um grande benefício: a maior
parte de sua vida diária podia ser passada ao ar livre.
POLÍTICA: AS CIDADES-ESTADO

◼ A Grécia antiga era formada por cerca de 100 cidades-estado – ou polis -


e todo grego era membro de uma delas;
◼ As cidades-estado eram bem diferentes umas das outras e seus habitantes
faziam questão de preservar sua identidade;
◼ Destaque: Atenas, Esparta, Olímpia, Corinto, Micenas, Delfos etc.
POLÍTICA: AS CIDADES-ESTADO
POLÍTICA: AS CIDADES-ESTADO

◼ Todos os homens adultos nascidos numa polis


classificavam-se como cidadãos daquela cidade-
estado em particular;
◼ Curiosidade: uma cidade-estado de 10 mil cidadãos
teria, na verdade, uma população total de quase 100
mil: cerca de 40 mil mulheres, crianças e
estrangeiros e talvez até 50 mil escravos.
POLÍTICA: AS CIDADES-ESTADO
◼ A maior parte das antigas cidades-estado gregas, de fato, era pequena,
contando com menos de 10 mil cidadãos;
◼ Atenas, por exemplo, era considerada grande, com cerca de 40 mil
cidadãos;
◼ Esparta, por outro lado, tinha apenas 9 mil cidadãos (embora os escravos
chegassem aos 60 mil).
POLÍTICA: AS CIDADES-ESTADO

◼ Uma intensa rivalidade entre diversas cidades-estado, particularmente


Atenas e Esparta, é uma questão chave na história da Grécia.
A EXPANSÃO GREGA

◼ O grande crescimento demográfico verificado a partir


do século VIII a.C. e o sistema hereditário de partilha
de terras levou os gregos a ocupar novos territórios;

◼ O grande domínio naval permitiu aos gregos a


fundação de pequenas colônias em diversos locais ao
redor do Mediterrâneo e na costa do Mar Negro:
litoral da Turquia, costa da Líbia, oeste da Itália, sul
da França e até mesmo na Espanha.

Chersonesus Taurica: colônia fundada no século


VI a.C. na Criméia.
A EXPANSÃO GREGA
A EXPANSÃO GREGA

◼ As colônias gregas eram cidades-estado


independentes, embora ainda permanecessem
intimamente ligadas à sua cidade de origem.
Foi assim que as idéias e a influência grega
propagaram-se por toda a região
mediterrânea;
◼ Exemplo: cidades como Nápoles, Nice,
Mônaco e Marselha foram originalmente
fundadas por gregos.
Ruínas gregas da
antiga colônia de Side
(litoral da Turquia)
A EXPANSÃO GREGA

◼ Além de ser um povo muito inventivo, os gregos foram rápidos em valorizar o


alfabeto dos fenícios, a matemática dos babilônicos e a extraordinária escultura
dos egípcios – idéias que eles “tomaram emprestadas” para enriquecer a sua
própria cultura.
Ruínas de Ikaros, na Turquia

Ruínas de Olvia, na Ucrânia


Conjunto escultórico egípcio
(c.2480 a.C.)
Conjunto escultórico egípcio Estátuas gregas arcaicas (c.650
(c.2480 a.C.) a.C. – c.600 a.C.)
A ECONOMIA

◼ A escravidão intensiva;
◼ Apesar das dificuldades para obter boas safras, a terra tinha suas riquezas naturais:
mármore fino para construção, boa argila para cerâmica e alguns minerais – as
minas de prata perto de Atenas e as minas de ferro perto de Esparta, por exemplo,
traziam riquezas a ambas as cidades;
◼ O comércio marítimo, portanto, era vital para cidades como Atenas. Navios
partiam carregados de óleo de oliva, cerâmica e prata, e navegavam por todo o
Mediterrâneo; traziam de volta trigo, cobre, ferro, madeira e escravos.
A PAISAGEM HUMANA

◼ Os gregos levavam uma vida ativa, passando boa parte de seu tempo ao ar
livre e participando de várias atividades físicas;
◼ Detalhe: só os cidadãos (homens) participavam da vida pública; as mulheres
normalmente ficavam em casa.
A PAISAGEM HUMANA

◼ A educação era rica para os meninos e incluía a leitura de épicos como a


Odisséia e a Ilíada, além de muitas atividades físicas.
A PAISAGEM HUMANA

◼ Os homens, além de suas atividades profissionais, também eram obrigados a


participar das atividades públicas (e políticas).
A PAISAGEM HUMANA

◼ Os gregos adoravam conversar e debater. Discutiam todos os aspectos do


mundo ao seu redor – o modo como ele funcionava, o sentido da vida e a
natureza do comportamento humano. Chamavam esse estudo de filosofia,
que quer dizer “amor à sabedoria”.
A PAISAGEM HUMANA

⚫ Platão e o conceito de mimesis: recriação da realidade / imitação da natureza;


segundo os preceitos platônicos, o artista, ao dar forma à matéria, estaria apenas
imitando o “mundo das idéias”.

⚫ “Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo.”


⚫ “São muitos os que usam as réguas, mas poucos os inspirados.”
⚫ “A necessidade (...) é a mãe da invenção.”
A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO

◼ Os gregos, extremamente religiosos,


concebiam os deuses do Olimpo não apenas
como personificação dos poderes da
Natureza, mas também como seres
anatomicamente perfeitos, ainda que
possuidores de várias fraquezas humanas;

Exemplo: o mito de Medusa Zeus


(na versão de Ovídio).
A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO

◼ Porém, eles superam “a imperfeição básica de sua


religião” materializando as divindades em esculturas
soberbas, idealizando o próprio corpo humano e
“eternizando, na poesia, no mito, na arte dramática e na
arquitetura, toda a hierarquia olímpica”;
◼ De forma a agradá-los, os gregos então fizeram estátuas
de seus deuses e construíram santuários para a sua
moradia: os famosos templos gregos.

Ares (Marte)
A ARQUITETURA GREGA

◼ A arquitetura grega era mais urbana que nacional. Foi a partir das obras
públicas de Atenas que o Século de Péricles (século V a.C.) viu florescer o seu
gênio, caracterizado pela “virtude do perfeccionismo”;
◼ Á semelhança do que aconteceu na escultura, no teatro, nas leis e na filosofia,
também na arquitetura se procurou a perfeição absoluta, mas dentro de limites
claramente definidos;
◼ Os gregos nunca foram engenheiros. Com isso, suas obras, do ponto de vista
estrutural, eram bastante simples, com a adoção das soluções trilíticas.
MÉTODO DE PROJETAÇÃO

Modulação e proporção.
◼ Sistema de modulações e proporções baseado no corpo humano.

Metodologia:
◼ Módulo: unidade estabelecida a partir de medida humana (pé)
◼ Modulação: relação das partes a partir de uma unidade.
◼ Proporção: relação das partes entre si e com a totalidade.
A SEÇÃO ÁUREA

◼ Busca da beleza, da perfeição – harmonia e proporção

◼ Busca das relações numéricas que refletiriam a harmonia


do universo

◼ Relação numérica descoberta pelos gregos na natureza do


corpo humano

◼ Um segmento de reta ABC (AB = b e BC = a) está


dividido de acordo com a Seção Áurea quando: a/b =
b/(a+b) sendo que a é menor que b

Retângulos áureos
A ARQUITETURA GREGA

◼ O enorme talento do trabalho em pedra (cantaria), a devoção pela


matemática, uma forte religiosidade, a veneração pelo corpo humano e a
consequente elevação da escultura à categoria de arte dominante: tais
foram os elementos em função dos quais se organizou a arquitetura grega.
OS TEMPLOS GREGOS

◼ De acordo com Vitrúvio (27 a.C.), que buscou preservar as tradições da


arquitetura grega em sua obra, o projeto de um templo deveria observar
dois princípios básicos: o da simetria e o da proporção;
◼ Vitrúvio: “…sem a simetria e a proporção não existe princípio algum no
projeto de um templo; isto é, se não houver uma relação precisa entre as
diferentes partes, assim como observamos no caso de um homem bem
formado”. (Livro III – Capítulo I)
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Vitrúvio: “Portanto, uma vez que a Natureza desenhou o corpo humano de


forma a que os membros fossem devidamente proporcionais ao todo, parece
que os antigos tinham uma boa razão para estabelecer a regra de que, em
edifícios perfeitos, os diferentes elementos deveriam ter uma relação simétrica
precisa com relação ao esquema geral. Daí, ao nos transmitir os arranjos
apropriados para todos os tipos de edificações, eles foram particularmente
cuidadosos (…) no caso dos templos para os deuses, edifícios nos quais os
méritos e as falhas normalmente duram para sempre.” (Livro III – Capítulo I)
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Vitrúvio: “Além disso, foi a partir dos membros do corpo humano que eles
derivaram os conceitos fundamentais das medidas, que, obviamente, são
necessárias a todas as obras, tais como a polegada, o palmo, o pé e o cúbito.”
◼ “Portanto, (…) não podemos ter nada além de respeito por aqueles que, ao
construirem templos para os deuses imortais, dispuseram os elementos
construtivos de forma a que tanto as partes em separado quanto o edifício em
sua totalidade podem harmonizar-se em suas proporções e simetria.” (Livro III –
Capítulo I)

cúbito
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Acreditava-se que cada templo era uma morada terrena para o deus (ou deusa)
a quem era dedicado. Os gregos, portanto, esperavam que os deuses os
visitassem ali;
◼ Os templos eram projetados para serem vistos do lado de fora (os principais
rituais aconteciam na área externa) e num local isolado, separado das ruas
principais da cidade.
OS TEMPLOS GREGOS

◼ N. Pevsner: “O templo grego é o exemplo mais perfeito já alcançado de


uma arquitetura que se realiza na beleza plástica”;
◼ “Seu interior importava infinitamente menos do que seu exterior. (...) Os
fiéis não entravam no templo para ficar horas em comunicação com a
divindade (...). Nossa concepção ocidental do espaço teria parecido tão
ininteligível para um homem do século de Péricles quanto nossa
religião”. (N. Pevsner)
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Origem provável: megaron (casa do chefe micênico);


◼ Primeiros templos em madeira;
◼ Sistema arquitravado (trilítico).
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Templos inicialmente menores e mais simples


OS TEMPLOS GREGOS

◼ Mais tarde, o templo retangular, com o teto ligeiramente inclinado e rodeado de


colunas (o estilo períptero) passou a ser o paradigma do templo grego.
OS TEMPLOS GREGOS

◼ Crepidoma (plataforma), geralmente com três degraus (ou mais): estilóbato


◼ Peristilo (fileira de colunas coberta)
◼ Pronave (pórtico) ou pronaos
◼ Opistódomo
◼ Antas
◼ Nave (ou naos)
AS ORDENS DAS COLUNAS

◼ Uma “ordem” consiste na unidade “coluna-


superestrutura” que compõe a colunata de um
templo;
◼ Não precisa ter pedestal – e muitas vezes não tem –
mas precisa ter um entablamento (colunas só têm
sentido se suportam alguma coisa).
AS ORDENS E SEUS ELEMENTOS

◼ Cada coluna era composta de três partes principais: base (opcional


na dórica), fuste e capitel.
◼ Acima do capitel, ficava o entablamento.
Coluna
◼ Base
◼ Fuste
◼ Capitel: ábaco e équino / volutas / folhas de acanto

Entablamento
◼ Arquitrave
◼ Friso: tríglifos e métopas / liso ou decorado
AS ORDENS DAS COLUNAS

◼ J. Summerson: “O fato é que as ordens eram


escolhidas principalmente em função do gosto, em
função de circunstâncias e, inúmeras vezes, em
função dos meios disponíveis, já que uma
construção em que é empregada a ordem (...) dórica
é, obviamente, mais barata do que aquela onde
aparece a escultórica ordem coríntia. Por outro
lado, existem casos em que a escolha de uma
determinada ordem foi feita em função de seu
significado simbólico”.
AS TRÊS ORDENS
DAS COLUNAS GREGAS

◼ Os gregos consideravam-se uma mistura de duas raças: a dórica e a jônica;


◼ Os Dórios – trabalhadores, fortes e pragmáticos – eram uma tribo de pastores vindos
do norte. Os Jônios – orientais, “sensuais” – atravessaram o mar, provenientes da
Ásia Menor (Turquia etc.);
◼ Como não podia deixar de ser, o caráter refletiu-se na arquitetura. Ao conjugarem na
maioria de seus templos estas duas ordens arquitetônicas – a dórica, simples e robusta,
e a jônica, elegante e ornamentada – os gregos tinham a convicção de estarem, deste
modo, refletindo os dois extremos da sua natureza: o requinte e a moderação.
AS TRÊS ORDENS
DAS COLUNAS GREGAS

◼ As colunas gregas eram então produzidas de acordo com uma série de


características que definem as três ordens clássicas: dórica, jônica e a
coríntia.
A ORDEM DÓRICA

◼ “De acordo com Vitrúvio, quando olhamos para


uma ordem dórica feita de pedra, estamos
vendo, na verdade, uma representação esculpida
em pedra de uma ordem dórica construída em
madeira; não uma representação literal, claro,
mas um equivalente escultórico”. (J.
Summerson)
A ORDEM DÓRICA

◼ Normalmente sem qualquer base sob o fuste;


◼ Fuste composto geralmente de 20 caneluras, que normalmente se
interceptam em extremidades bem pronunciadas ou cantos vivos;
◼ O fuste apresenta um adelgamento no sentido da base para cima e
esse, freqüentemente, assume a forma de uma curva muito
delicada: a êntase;
◼ Entablamento bastante detalhado.
O ENTABLAMENTO DÓRICO

◼ Sobre o ábaco repousa a arquitrave,


a principal viga em pedra ou
mármore a correr de coluna a coluna;
na ordem dórica esta arquitrave é
normalmente lisa.
Ábaco

Equino
O ENTABLAMENTO DÓRICO

◼ Acima da arquitrave vem o friso. Este


consiste, na parte frontal, de tríglifos e
métopas alternados;
◼ Os tríglifos são blocos delgados,
maiores na altura que na largura,
divididos em 3 listras verticais lisas;
◼ Existe normalmente um tríglifo para
cada coluna e outro para cada
intercolúnio.
O ENTABLAMENTO DÓRICO

◼ Acima do friso vem a cornija, uma série


de pesados blocos salientes de modo a
formar uma espécie de beiral contínuo
de pedra;
◼ Acima da cornija, porém, era grande a
variação dos elementos utilizados
(simas, antefixas etc.).
Templo da Concórdia em Agrigento (Sicília)
Templo de Hera em Olímpia (Grécia)
A ORDEM JÔNICA

◼ As colunas repousam sobre bases emolduradas


que, por sua vez, erguem-se normalmente sobre
plintos quadrados que se assemelham ao ábaco
dórico;
◼ Fuste com 24 caneluras (número habitual) e as
concavidades quase invariavelmente são
separadas por listras estreitas de superfície.

plinto
A ORDEM JÔNICA

◼ Capitel decorado com volutas (espirais);


◼ O capitel jônico, ao contrário do dórico,
apresenta vistas frontais e laterais muito
diversas e destina-se a ser contemplado
sobretudo a partir da parte frontal ou posterior;
◼ O ábaco tem geralmente o perfil em gola
reversa.
O ENTABLAMENTO JÔNICO

◼ a arquitrave geralmente divide-se em três faixas,


de alturas diferentes, cada qual a salientar-se
ligeiramente em relação à inferior;
◼ Acima da faixa superior, o friso às vezes é
decorado com uma moldura em “óvalo e dardo”;
◼ Acima desta moldura, vem os dentículos, uma
fileira de pequenos elementos retangulares
projetados, ligados à parte saliente da cornija.
Templo de Niké Apteros, na Acrópole (Atenas)
Templo de Atenia Polia, em Priene
A ORDEM CORÍNTIO

◼ Segundo D. S. Robertson, foi em um templo


dórico, o Templo de Apolo Epicuro, em Basse
(Grécia), que registrou-se, pela primeira vez
um capitel que pudesse receber a denominação
de “coríntio”.

Representação artística do interior do


templo de Apolo Epicuro em Basse
Planta baixa (Bassae, Grécia)
Vista atual das ruínas do templo de Apolo Epicuro em Bassea (Grécia)
A ORDEM CORÍNTIO

⚫ O nome teria sido dado em honra à cidade de Corinto,


onde supostamente o escultor Calímaco teria inventado
esta ordem no final do século V a.C.;
⚫ Uso pelos gregos, contudo, foi pequeno (ao contrário dos
romanos!).
A ORDEM CORÍNTIO

◼ O capitel era tratado livremente. Com o passar


do tempo, assistiu-se ao desenvolvimento de
diversas escolas locais;
◼ Base, coluna e entablamento semelhantes aos
da ordem jônica;
◼ Capitel decorado com folhas de acanto.
Acanthus mollis, planta típica do
Mediterrâneo
COBERTURA DOS TEMPLOS

◼ Ao que tudo indica, usava-se uma estrutura em


madeira recoberta com telhas cerâmicas ou em
mármore (peças bem finas, quase translúcidas);
◼ Muitos templos aparentemente possuíam forros
internos em madeira (tipo caixote), o que
dificultava a iluminação natural (lembrando que
os templos não tinham janelas).
Concepção artística da construção
do telhado do Partenon
OS FRONTÕES
◼ Normalmente eram ricamente decorados com esculturas em relevo;
◼ Da mesma forma, estes relevos, de acordo com recentes pesquisas, eram bastante coloridos, de forma a
serem percebidos a grande distância.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA
FACULDADE DE ARQUITETURA

Antiguidade
Clássica
ARQUITETURA GREGA
Aula 02

Salvador
2019

Rafael Câmara
O PARTENON

◼ Situado na Acrópole (“cidade alta”), em


Atenas, era dedicado à deusa Partenos
Atenas, protetora da cidade.
O PARTENON

◼ Círculo, elipse e parábola: eis os elementos que compõem este edifício


“ilusoriamente retangular”: este é o ponto de vista do escultor, mais do que do
arquiteto;
◼ Todas as linhas horizontais – degraus, cornijas etc. – são imperceptivelmente
curvas, como se fossem o arco de uma circunferência com um raio de mais de
3.000 metros;
◼ As colunas, além da êntase (correção ótica), estão ligeiramente inclinadas para
dentro, de modo que os eixos centrais, se prolongados para cima, encontrar-se-iam
a mais de 1.600 metros acima do solo.
O PARTENON
O PARTENON

◼ As paredes internas foram feitas em mármore, com blocos de formato retangular, unidos por tiras de ferro do tipo
“duplo T” revestidas em chumbo;
◼ Em outros templos, os blocos podiam ser unidos por sistemas diferentes.
O PARTENON
Concepção artística
da construção do
Partenon

Concepção artística
da vista da frisa
decorada do Partenon
1 – Frente leste
2 – Dupla fileira de colunas
formando o pórtico (pronave)
3 – Métopas e Tríglifos
4 – Frisa decorada
5 - Frontão com esculturas

Partenon em 483 a.C.


O PARTENON
No início do século XIX, uma grande parte das esculturas do frontão do Partenon
foi levada para a Inglaterra e hoje pode ser vista no Museu Britânico (“Elgin
Marbles”).
O PARTENON

Vista atual
O PARTENON

Diagrama 1: o aspecto do templo


com a correção ótica;

Diagrama 2 : o aspecto do templo


sem a correção ótica;

Diagrama 3 : a maneira como o


templo foi construído com a
correção ótica;
ARQUITETURA

◼ Principal preocupação: plástica dos corpos – busca da perfeição

◼ Produção das formas baseada na mímesi

◼ Principais edificações / tipologias:


◼ Templos
◼ Casas
◼ Teatros
◼ Stoas / Ágoras
ARQUITETURA GREGA
ELEMENTOS EM
DESTAQUE
A ÁGORA
◼ O grande espaço aberto conhecido como ágora era o lugar central de encontro público numa cidade
grega;
◼ Cuidadosamente protegido, não era permitido a ninguém ocupar o espaço aberto com casas ou qualquer
outro tipo de edificação;
◼ A esplêndida ágora ateniense, por exemplo, era uma grande praça de mercado ao ar livre, onde
agricultores e artesãos podiam vender seus produtos. Barracas eram, por vezes, montadas nas áreas
abertas, assim como dentro das longas construções em colunata chamadas stoas.
A ÁGORA

◼ “A ágora (...) compreendia todas as funções e instituições importantes da sociedade


antiga: o parlamento, um tipo de proto-prefeitura, o tribunal, vários templos, a casa da
moeda, escolas, a primeira universidade (...). Servia como lugar de muitos eventos
sociais, para cerimônias religiosas, procissões, celebrações e festivais de todas as
sortes, como um palco para contadores de histórias e aqueles que traziam as últimas
notícias e (...) como um antepassado da praça do mercado. A ágora era a
representação espacial da transformação da economia palaciana (rural e de
subsistência) para a economia civil (urbana e de mercado), simbolizando então a
economia de mercado emergente”. (Dieter Hassenplug)
O TEATRO GREGO

◼ Na visão de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), um dos primeiros a estudar o


impacto dos espetáculos teatrais, a tragédia seria "uma representação imitadora
de uma ação séria, concreta, de certa grandeza, representada, e não narrada, por
atores em linguagem elegante, empregando um estilo diferente para cada uma
das partes, e que, por meio da compaixão e do horror provoca o
desencadeamento liberador de tais afetos”.
O TEATRO GREGO

◼ Encenar peças era outro modo dos gregos honrarem seus deuses;
◼ Os gregos não tinham um teatro coberto. Teria ultrapassado seus
conhecimentos estruturais construir um telhado de tão grande
envergadura;
◼ Também não tentaram construir um auditório com os lugares
dispostos em degraus, como numa subestrutura de arcos e
abóbodas, como fizeram os romanos. Em vez disso, os gregos
escolheram um lugar com um declive natural.
O TEATRO GREGO

◼ Ou seja, uma vez mais, tal como aconteceu com os templos, os


gregos buscavam a perfeição dentro de seus próprios limites;
◼ E mais: à exceção do cenário, todas as características essenciais do
teatro, tal como hoje o conhecemos, já estavam presentes no
antigo teatro grego.
O TEATRO GREGO

◼ Ao ar livre, sem palco e cortinas, a cena muda e a iluminação é muito limitada;


◼ Compunham o cenário lonas pintadas penduradas sobre a construção do palco de
madeira, ou skene. A representação acontecia na orquestra circular, ou numa
plataforma na frente da skene, chamada proskenion.
O TEATRO GREGO

1 – Orquestra
2 – Skene
4 – Proskenion
5 – Painel móvel
6 – Cenário
7 – Theatron (platéia)
8 – Assentos dos juízes
PRIENE
TEATRO
320 A.C.
DODONA
TEATRO
250 A.C.
DELFOS
TEATRO
330 A.C.
ACRÓPOLE DE ATENAS
TEATRO DE DIONÍSIO
330 A.C.
EPIDAURO
TEATRO
332-330 A.C.
A STOA

◼ As stoas eram longos edifícios abertos por colunatas, ao


longo de um lado que forneciam abrigo para artesãos
venderem seus produtos.
◼ Talvez seja o edifício público mais importante em impacto
e função, uma vez que ladeavam e definiam as ágoras.
Atenas
Stoa de Atallos
Reconstituição - 1956
UMA ANTIGA RESIDÊNCIA GREGA

◼ Fossem no campo ou na cidade, as casas gregas não


eram luxuosas;
◼ A água era tirada do poço (quando possível) ou
então trazida de fontes públicas. Em ambos os
casos, esta era uma responsabilidade dos escravos;
◼ Frase de Xenofonte: “A casa contém pouca
decoração elaborada. Os quartos são projetados de
modo simples, para fornecer um lugar adequado
para coisas que os preencham, e assim cada quarto
pede somente aquilo que se adapte a ele”.
UMA ANTIGA RESIDÊNCIA GREGA

1 – Despensa
2 – Cozinha
3 – Área dos homens (andron)
4 – Área das mulheres (gynaikon)
5 – Oficina
7 - Banheiro
8 – Dormitório
ARQUITETURA GREGA
A POLIS GREGA
PLANEJAMENTO URBANO GREGO

◼ É provável que, ao menos até os


séculos VII ou VI a.C., a maior
parte das cidades existentes na
Grécia fossem desenvolvimentos
irregulares, com poucas
características fixas, exceto uma
ágora ou mercado aberto.

Matera (Sicília), uma das cidades que faziam parte da antiga Magna Grécia
A PÓLIS

◼ A pólis grega - novo tipo de organização social e política baseada na


participação e cooperação cidadã. Forma de governo e de gestão pública
baseada em:

◼ estabelecimento de governantes por meio de apoio popular;


◼ derrubada de divisões em casta e ocupações;
◼ aperfeiçoamento democrático dos hábitos da aldeia.
CONDIÇÕES CULTURAIS QUE PERMITIRAM O SURGIMENTO DA
PÓLIS GREGA:

◼ ascensão da aldeia a um grau inédito de consciência própria.


◼ deuses com escala humana.
◼ libertação das pretensões dos monarcas quase divinos.
◼ economia de abundância do espírito no lugar da abundância agrícola.
◼ introdução do alfabeto e invenção da moeda cunhada.
A ACRÓPOLE

- Toma forma no século V no lugar do monte sagrado


Componentes:
• Templos

• Paço municipal e mercado, em geral, localizados na base da elevação.

Funções:
• Religiosa: lugar do sagrado.

• Institucional: centro das atividades urbanas políticas e de representação.

• Social: centro cívico e de vida social


A ACRÓPOLE

O espaço:
• situação elevada.

• edifícios dispostos conforme o terreno com exploração de plataformas e degraus.

• traçado resultante do acúmulo de relações tradicionais, sem criação de simetrias,


eixos ou progressões visuais.
• Edifícios como estruturas auto-suficientes sem ordem hierárquica, exceto quanto ao
templo principal
• presença dominante na cena urbana
ACRÓPOLE DE ATENAS
TEMPLO DE ATHENA NIKE
487 A.C.
A ÁGORA

Expressão da pólis grega, centro dinâmico, elemento vital e distintivo da cidade.

Funções:
◼ governo e política
◼ direito
◼ Comércio
◼ Religião
◼ lugar de sociabilidade – função herdada pelas praças latinas.
A ÁGORA

O espaço:

◼ Espaço de propriedade pública não necessariamente fechado;


◼ Forma irregular, podendo corresponder ao alargamento da rua principal;
◼ Ordem irregular dos edifícios em volta e carência de unidade formal;
◼ Função política espacialmente marcada pelo prytaneion – o Paço Municipal.
Ágora de Atenas
Sítio arqueológico
Planta da ágora helênica
ÁGORA DE ASSOS
AS ÁREAS RESIDENCIAIS

◼ Inexistência de sistema coerente de ruas que consistem de caminhos sem calçamento.


◼ Inexistência de jardins ou outras amenidades.
◼ Falta de sistema de orientação (defesa).
◼ Casas com um pavimento, construídas com madeira leve e barro seco ao sol, com
tetos de telha, palha ou de argila e bambu, sem caiação.
◼ Casas ricas e pobres localizadas lado a lado, com diferenças apenas de tamanho e no
interior.
◼ Facilidades higiênicas precárias.
A cidade de Atenas – séc. II d.C.
Reconstituição - maquete
A cidade de Atenas
Reconstituição - maquete
ARQUITETURA GREGA
OS CONJUNTOS
MONUMENTAIS
SANTUÁRIO DE DELFOS
Templo de Apollo, Delfos
Tesouro de Atenas, Delfos
Ruínas do tolo de Delfo
SANTUÁRIO DE OLIMPIA

Plano de Olímpia
Templo de Zeus
Templo de Zeus
Ginásio de Olímpia
Ginásio de Olímpia
ARQUITETURA GREGA
A EXPANSÃO
A EXPANSÃO HELENÍSTICA SÉCULO IV AO III a.C.

◼ O período tem início com a morte de Alexandre em 323 a. C. e termina com a


anexação da península grega e das ilhas a Roma em 146 a.C.
◼ Expansão da cultura grega pela Ásia Menor e norte da África.
◼ Expansão mercantil e colonização de territórios com tomada ou fundação de novas
cidades, seguindo o modelo da pólis e de suas instituições.
O URBANISMO DE MILETO E A CIDADE HELENÍSTICA
A cidade como unidade dotada de espaços e estruturas

públicas necessárias ao seu funcionamento.
Novos elementos:
• ruas de largura uniforme
• quarteirões urbanos de dimensões mais ou menos uniformes.
• traçado em quadrícula.
• ágora projetada por Hipódamo de Mileto: retângulo formal rodeado de
“muralha” de lojas em, pelo menos, três lados – as stoas
• sentido de ordem e continuidade visual.
A CIDADE HELENÍSTICA

◼ Estruturas urbanas:
• Construções maiores e mais imponentes, atingindo três andares.
• Atenção para com a circulação de pessoas, mercadorias e exércitos.
• Preocupação com eixos e efeitos de perspectiva.
• Acúmulo de templos, santuários, fontes e oferendas votivas.
• Efeitos estéticos imponentes e monumentalismo como efeito principal do urbanismo helenista.
• Plantio de árvores .
PRIENE
Bouleuterion de Priene
Mileto
Reconstituição – planta geral
Urbanismo milésiio
ágora

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