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A ANTIGUIDADE DOS SÍMBOLOS

Ir. João Nery Guimarães

A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da


liturgia maçônica é a da antiguidade dos seus Símbolos, de suas alegorias.

Remontam as origens dos Símbolos Maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. Daí
terem alguns observadores apressados concluído que a Franco-Maçonaria é tão
antiga quanto o mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a
Franco-Maçonaria, com as suas características atuais, data do século XVIII, ou
melhor, do ano de 1717, ponto de partida da Franco-Maçonaria moderna. Foi nesta
data que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria especulativa sobre a
operativa.

Mas, anteriormente à memorável reunião das quatro Lojas franco-maçônicas de


Londres, existiam várias Lojas por toda Inglaterra, Alemanha, França e Itália,
formada por pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos
próprios, Sinais de reconhecimento, Símbolos litúrgicos, e se tratando por
Irmãos.

Guardavam ciosamente a sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou


profanos. A par desses conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods,
Bruderschaften, Confrèries), constituídas por verdadeiros artistas (foram os
construtores das grandes catedrais européias e os criadores da arte gótica),
reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes
confundidas com as tradições mais novas do cristianismo.

Compreende-se, assim, o respeito que os príncipes tiveram por essas corporações


de artesãos, às quais dotaram de regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons,
maurerei) foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte
também as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em
símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século XVIII e a


mais remota Antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar
a Franco-Maçonaria coeva da vinda do homem sobre a face da terra. A verdade,
contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os legítimos Símbolos Maçônicos
é que se perdem na noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos,
data de pouco mais de dois séculos, ou por outra, a Instituição é nova e a sua
essência antiga.

Tão antigos são os Símbolos adotados e conservados zelosamente pela


Franco-Maçonaria, que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de
data posterior ao ano um da era cristã. Tal afirmativa se reveste de tanta
importância que o poder mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as
vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições antigas.

Existem Símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a fase operativa, cujo


significado foi inteiramente estranho aos homens da época, não Iniciados nos
Mistérios Maçônicos, quando não foram completamente desconhecidos.

Pois bem, quando teve o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos


verificados no século XIX, constataram os Franco-Maçons que muitos de seus
Símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes a civilizações já
desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contato, anteriores ao
advento do cristianismo.

É forçoso admitir que os Franco-Maçons não inventaram, por coincidência, tais


Símbolos, pois muitos deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje. Alguns,
por exemplo, são tão evidentes, que não permitem margem a dúvidas. Existiu,
portanto, um misterioso fio que preservou a tradição antiga, fio esses que não
trepidamos em declarar, o segredo dos Iniciados.

A Sabedoria Antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre


determinado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, pôde,
assim, chegar até nós. Só dessa forma compreende-se o mistério que a muitos
pareceu indecifrável.

Ensinam a História, a Sociologia e a Literatura que as obras Homéricas foram


guardadas pela tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma
escrita. O mesmo processo sofreram quase todas as lendas dos primórdios da
civilização. Se assim aconteceu em relação a obras literárias e narrativas
históricas, porque não sucederia o mesmo com uma tradição iniciática, perpetuada
através de Símbolos?

Sobre o poder conservador dos Símbolos, já disse o nosso Irm.: MICHA que "se a
verdade sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão
sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o
simbolismo é por sua vez como uma espécie de revestimento, de meio de
conservação ideal dessa verdade e uma linguagem ideográfica que a iniciação
entrega à nossa meditação, e que só os Iniciados podem traduzir sem deformar-lhe
o sentido." (A. Micha — "Le Temple de la Veritè ou La Franc-Maçonnerie dans sa
Véritable Doctrine", Anvers, 2ª édition, pág. 63).

A longevidade das práticas maçônicas repousa tranquilamente na imutabilidade de


seus Símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas.

E o que é a liturgia senão o conjunto desses Símbolos realizados sob determinada


forma em determinadas circunstâncias?
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Texto extraído do livro A MAÇONARIA E A LITURGIA — UMA POLIANTÉIA MAÇÔNICA, de
João Nery Guimarães.

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