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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Copyright © Outubro de 2021

Organização/Revisão de Conteúdo/
Diagramação/Coordenação Editorial:
Celso Ricardo de Almeida (MTB N.º 0021802/MG)

Capa: Ricardo Leite

Revisão de Texto: (Correção de linguagem e conteúdo):


Newton Agrella C

A447 Maçons em Reflexão – Volume III – Maçonaria e


Religião/Organização Celso Ricardo de Almeida;
Prefácio Vanderlei Geraldo de Assis.
Fervedouro: Almeida Editorial, 2021
263 p.;14x21 cm

Obra composta por 54 autores.


ISBN: 978-65-00-31070-2

1. Literatura brasileira. 2. Maçonaria. 3. Antologia


literária. 4. Religião. I. Almeida, Celso Ricardo de (org)

CDD-366.1
CDU-82.8

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida sem que
se efetue o crédito aos autores.

Contatos:
Celso Ricardo de Almeida – Organizador
celso.ricatdo@gmail.com
celsoricardo-almeida.online.com

Realizado pela Confraria Maçons em Reflexão

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PREFÁCIO

Vanderlei Geraldo de Assis


Grão Mestre do Grande Oriente de Minas Gerais

“A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil;


e o escrever dá-lhe precisão”. (Francis Bacon)

Orgulho e satisfação imensa em ter a honra de prefaciar uma obra


que nos remete ao exato momento em que recebemos a verdadeira luz
na Ordem Maçônica.
Muitos anos se passaram, contudo o Maçom está sempre em
reflexão, e neste Livro nosso interior está sendo tocado com as mãos
divinas daqueles homens, cujo pensamento e palavra traduz o que cada
um de nós precisamos manter viva, a Fé.
Exatamente quando a humanidade passa por momentos de aflição
e dor, Maçons em Reflexão aborda um assunto palpitante e que aguça

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

nossa vontade de conhecer, entender e aplicar a arte da Maçonaria e a


Religião.
O Ser humano, não importa sua religião, sempre se aproxima mais
de sua Fé justamente nos momentos mais dolorosos de sua jornada.
Na Maçonaria obviamente todos os homens são livres para
praticar a sua religião, desde que este tenha crença no Ser criador que
para nós é o GADU, portanto convergimos para um mesmo plano
espiritual de religiosidade.
Nos brilhantes textos trazidos ao bojo deste livro, seus autores
servindo-se daquela centelha de luz que aflora em nossa busca, nos
apresentam trabalhos robustos de profunda pesquisa e saber.
Nesta busca constante do conhecimento a que todos nós
necessitamos para adquirir sabedoria e assim praticarmos a tolerância, a
fraternidade e a caridade, a religiosidade caminha ao nosso lado, caso
contrário seríamos Seres ignorantes e avarentos.
O Maçom carrega em seu peito o desejo de servir, de abraçar e
defender os injustiçados, é neste ambiente de união fraternal que nos
reunimos para agregar valores que raramente encontramos no mundo
profano.
Valores estes que passam indubitavelmente por nossa formação
religiosa no seio de nossa família.
Desejo assim que os irmãos possam degustar o néctar que será
extraído deste magnifico trabalho, e que este conhecimento seja
assimilado, divulgado e praticado por cada um de nós.
Meu carinhoso e fraterno abraço a todos os autores, e rogo ao
GADU que continue iluminando vossas vidas.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

DEDICATÓRIA:

Dedicamos esse livro a memória de nosso saudoso Irmão e


Confrade Ivo Reinaldo Christ (faleceu no dia 06/05/2021) que no ano
de 2020 começou a fazer parte desta confraria oficialmente
ocupando a cadeira de número 29, porém ele já se dedicava a
divulgação da Cultura Maçônica muito antes desta confraria existir,
pois essa foi sua missão: “divulgar e estimular a cultura maçônica”.
E assim ele o fez até os últimos minutos de sua vida terrena.

A Confraria Maçons em Reflexão homenageia este ilustre Maçom


que dedicou toda a sua vida a cultura Maçônica com um soneto do
Irmão e Confrade Adilson Zotovici cadeira 15.

GRATOS CONFRADE IVO!!!

Seguiu o nobre cavaleiro


Livre pedreiro superno
Do mundo fez seu canteiro
Qual verso profundo e terno

Serviu esse raro obreiro


Pela cultura obstinado
Gratos... Mestre verdadeiro
Nos deixou rico legado

Por Grande Arquiteto chamado


Ao seu caminho sempiterno
Decerto à obrar a Seu Lado

Vai em paz irmão, fraterno


Saudoso o grupo prostrado
Em festa o Oriente Eterno!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

SUMÁRIO

Adélfio Mendonça de Moura .................................................................... 11


Adilson Zotovici.......................................................................................... 15
Adriano de Amorim Fernandes ................................................................ 18
Alexandre Amarante Gomes Pinto Coelho ............................................ 21
Anderson Rangel Jorge de Souza ............................................................. 24
Andre Vale Ladeira da Silveira .................................................................. 29
Anestor Porfírio da Silva ............................................................................ 33
Arlindo Feliciano Amora Coelho ............................................................. 37
Artêmio G. Hoffmann ............................................................................... 44
Carlos Magno Adães de Araújo ................................................................ 50
Celso Ricardo de Almeida.......................................................................... 55
Cleveland Davis Rocha Santos.................................................................. 62
Cremilton Silva ............................................................................................ 68
Daniel Ruwer ............................................................................................... 74
Dilson Gomes de Andrade ........................................................................ 77
Douglas Eduardo de Freitas ...................................................................... 80
Elias Júnior Diniz ........................................................................................ 84
Ezio Leonardo Melo Marques .................................................................. 90
Felipe Bittioli Rodrigues Gomes............................................................... 98
Gil Ferreira de Mesquita ..........................................................................102
Gilson Luis Rigoli......................................................................................109
Haylton Ary Novaes Junior .....................................................................115
Helder Vinhal de Carvalho ......................................................................118
Isac Macedo ...............................................................................................123
Ivo Reinaldo Christ – In Memoriam......................................................127
José de Oliveira Mendes...........................................................................130
José Vicente Daniel ...................................................................................136
Leonardo Lima Simões ............................................................................140
Luís Fernando Mallmann Scozziero ......................................................143
Maicow Evaristo Benini de Souza ..........................................................147
Marcelo de Camargo Barros Ribeiro......................................................149
Marco Antônio Perottoni ........................................................................153
Marcos Miguel da Silva.............................................................................157
Mário Azevedo Alexandre .......................................................................163
Michael Winetzki .......................................................................................166
Natalino da Silva de Oliveira ...................................................................170
Newton Agrella..........................................................................................175
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Noberto Pardelhas Barcellos ...................................................................178


Osvaldo Novaes ........................................................................................182
Paulo Nilson Rodrigues Simão ...............................................................188
Paulo Henrique de Melo Rabelo .............................................................192
Paulo Vicente Vieira Junior .....................................................................197
Pedro Jorge de Alcantara Albani ............................................................202
Reyber Baltazar Almeida Rosa ................................................................206
Rhonan Moreira Neto ..............................................................................209
Roberto Ribeiro Reis ................................................................................212
Robson Jorge do Rosário Rangel............................................................216
Rodrigo Paulino .........................................................................................219
Rogério Luciano de Oliveira....................................................................222
Thales Alves Aguiar ..................................................................................227
Thales Ferreira Bianchini .........................................................................232
Tiago Rafael dos Santos Alves ................................................................239
Valter Cardoso Junior ...............................................................................243
Victor Pessamiglio.....................................................................................250
Walter Alves ...............................................................................................255

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Os textos transcritos nesse livro refletem a opinião exclusiva de seus


autores, sendo que os conteúdos expostos não reproduzem
necessariamente a ideia ou posição de nenhum grupo, cargo ou
entidade Maçônica.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ADÉLFIO MENDONÇA DE MOURA

Adélfio Mendonça de Moura é obreiro da Loja Maçônica “Labor a


Deus”, do Oriente de Formiga-MG. Mestre Instalado, Grau 33 do Rito
Brasileiro, Venerável Mestre por dois mandatos, Deputado à Assembleia
Legislativa do GOMG por dois mandatos, Presidente do Conselho
Consultivo do Capítulo Areias Brancas da Ordem DeMolay e estudante
Rosacruz. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO
TÃO PRÓXIMAS E TÃO DISTANTES

A distância entre a maçonaria e a religião é ao mesmo tempo


muito longa como também muito próxima, depende da visão que
pretendemos analisar.
Partindo do princípio que a maçonaria é teísta, afirma a crença em
um Deus Criador, proclama a Glória do Supremo Arquiteto do Universo
e a fraternidade dos homens, filhos do mesmo Pai, a religiosidade está
muito próxima da maçonaria.
Partindo da visão de alguns profanos de que a maçonaria é uma
religião, nesta ótica ela se encontra muito distante.
Como o importante é a visão correta, não a de quem não tem
conhecimento de causa e faz interpretações errôneas, acredito que Igreja
e Maçonaria se completam. A maçonaria procura desbastar a pedra bruta
através dos preceitos morais e a religião orienta seus fiéis pela fé, que
também tem suas regras e busca o aprimoramento do homem.
Simbolicamente a maçonaria é religiosa, uma das primeiras
exigências na seleção de seus membros é que ele acredite em Deus.
Quando de sua iniciação exige-se que se faça um juramento no livro
sagrado, normalmente a bíblia, mas ela pode ser substituída pelo livro
sagrado de sua crença religiosa. Várias passagens dos rituais, e alguns
símbolos, têm citações ou fundamentações bíblicas.
A simbologia tem grande importância nos rituais e nos
ensinamentos maçônicos. O iniciado precisa interpretar corretamente os
símbolos, que são compostos de beleza, significados e conhecimentos,
para conseguir sua evolução espiritual e moral como se propõe os rituais
iniciaticos. A simbologia maçônica passa por uma correlação com a
engenharia, construção e arquitetura, como também por tradições
cabalísticas, helenísticas, cristãs e judaicas.
Buscando os símbolos maçônicos com ligação à religião podemos
destacar: o olho que tudo vê que é originalmente um símbolo cristão; o
livro da lei, que é a bíblia, aberto em todas nossas sessões, a leitura de
passagens bíblicas na sua abertura; a construção do Templo de Salomão,
uma mistura de lenda e verdade, que tem uma importante marca nos
graus maçônicos. Como bem define Macnulty, W.Kirk, em A Maçonaria:
símbolos, segredos e significados, Ed. Martins Fontes, S.Paulo, 2007,
pag. 101, “Embora não seja uma religião, é certo que a maçonaria se vale da
história e da filosofia religiosa”.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Apesar da proximidade com a religião, a maçonaria não exige de


seus membros assiduidade nos trabalhos religiosos de sua preferência,
exigindo, unicamente, a crença em Deus como condição para ser
iniciado.
A ligação entre a maçonaria e a religião está explicita, apesar disso
existem diferenças quando se passa a analisar o reconhecimento dos
membros da maçonaria pelos membros das igrejas. Historicamente a
religião católica, no nosso caso a de maior número de fiéis, não
reconhece a maçonaria e até impede seus membros que são maçons de
participarem de determinados ritos e sacramentos. Isso teoricamente,
visto que na prática a maioria dos Padres são mais tolerantes e
permissivos, tendo maçons exercendo cargos nas comunidades católicas.
O que diferencia os dois lados nesta visão é que a maçonaria não
impede qualquer de seus membros de praticarem a religião de sua
preferência e de sua crença, são todos bem-vindos, enquanto a religião
católica impõe a restrição de que seus membros não podem iniciar na
maçonaria, sob pena de receberem punições.
Uma afinidade entre as duas linhas de pensamento é o
desenvolvimento pessoal em busca da transformação da pedra bruta em
pedra polida. O aprimoramento moral, a prática do amor ao próximo,
uma sociedade onde impera a liberdade, igualdade e fraternidade é um
caminho comum entre a maçonaria e a religião. As divergências surgem
quando os homens entram em ação, principalmente do lado da religião,
representada pelas Igrejas. Já existiram situações piores em épocas
passadas e nos apresenta perspectivas melhores para o futuro.
O Brasil é um país extremamente religioso, historicamente
formado em bases religiosas. A questão da religiosidade de um povo é
também cultural, reunindo grupos de pessoas em manifestações comuns
que passam a fazer parte de uma sociedade e constroem valores. Somos
parte de uma sociedade que vive múltiplas formas religiosas, a
religiosidade está presente em nosso dia a dia. Ela tem sua importância
na formação de nossos costumes, de nossa moral, difícil desassociar o
brasileiro da religiosidade, ele é religioso em menor ou maior grau.
Não vejo motivo para disputa de espaço entre maçonaria e
religião. Elas caminham no mesmo propósito e podem unir forças em
prol de um mundo melhor, mais fraterno e com redução de
desigualdades. As divergências não estão na maçonaria ou na religião,
mas nos homens, que ainda estão em fase de desenvolvimento espiritual
e moral, aparando as arestas da pedra bruta sem condições ainda de
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

praticarem, em sua totalidade, os ensinamentos dos rituais e do livro


sagrado. É um passo de cada vez, um desenvolvimento gradual e
contínuo, uma luta diária em busca do objetivo maior de nos tornarmos
responsáveis por uma sociedade livre, igualitária e fraterna. O fato de
estarmos em busca da perfeição nos credencia a acreditarmos que nossa
luta não será em vão, que o futuro nos trará boas novas no
relacionamento humano e por consequência na superação de
divergências pessoais criadas pela vaidade. As bases dos ensinamentos
para uma vida que atenda aos princípios de respeito e dignidade estão à
nossa disposição, o caminho é difícil, mas não podemos nos abater.
Precisamos entender, maçonaria e religião, que o objetivo maior é a
formação moral e espiritual da humanidade para atingir o plano de
criação do GADU, de vivermos unidos como Irmãos!

Referências Bibliográficas:
▪ https://www.scielo.br/j/inter/a/5D44rZBWRJ5d8YCpX4GP83H/
?lang=pt
▪ https://opontodentrocirculo.com/2018/03/01/o-novo-desafio-da-
maconaria/
▪ https://www.bbc.com/portuguese/geral-55407029
▪ https://www.freemason.pt/a-interpretacao-e-o-entendimento-dos-
simbolos/
▪ Estudo sobre simbologia maçônica nas logotipias de documentos do
Museu Maçônico Rocco Felippe
▪ Microsoft Word - 6A religiosidade brasileira (uel.br)

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ADILSON ZOTOVICI

Adílson Zotovici, pequeno empresário da área de Terraplanagem.


Escritor de Poemas em livros e informativos eletrônicos, cerimoniais e
programas Maçônicos. Maçom Emérito membro da Augusta e
Respeitável Loja Simbólica “Chequer Nassif” número 169 – Grande
Loja do Estado de São Paulo do Oriente de São Bernardo do Campos-
SP; onde ocupou o cargo de Venerável Mestre nas gestões de 1999/2000
e 2007/2008. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ARTE REAL E O APOIO VITAL

Muito se tem abordado


Explorado à exaustão
Até mesmo conflitado
Um assunto de exatidão

Faz-se até afirmação


Que a Sublime irmandade
Em verdade é religião
Por pregação de fraternidade

Mas, nada prega à sociedade


Além de amor e civismo
Em prol da humanidade
Nem deísmo ou teísmo

Seja pelo cristianismo


Em nome dum padroeiro
Islamismo, judaísmo,
Labuta sim, em seu canteiro

E cada livre pedreiro


Com sua crença e respeito
Às crenças de cada obreiro
Em nome do PAI, obras tem feito

Um só Altar sem preconceito


A um Único Criador Incriado
A todos Justo, Perfeito,
Que alguns, nomes tem dado

Essa a razão de orado


Sob a Luz do Inefável
E sob Ela labutado
Pela Fé inquebrantável

Oh, quão bom, quão agradável


Diz o Salmo da União
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Que independe, de tão afável,


Da Crença e Fé de cada irmão

Decerto há uma relação


De apoio, como guia,
Pelo estudo, pela oração
Com o Arquiteto que Vigia

Vez que a maçonaria


Preserva qual relicário
“Crescer pela filosofia”
Não estudo sectário

Abrangente em seu ternário


Seja por simbologia
Desde recipiendário
Cultiva a sabedoria

“Busca com amor, alegria”


Com a benção do Criador
Para encontrar algum dia
“Seu próprio Ser interior”

Quiçá aí o seu clamor?!


Que emana do coração
Frente ao Inefável Senhor
Em busca da perfeição
Que lhe dá a “religação”
Com o Grande Arquiteto Universal
Dádiva chamada “Religião”

Crucial à Arte Real!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ADRIANO DE AMORIM FERNANDES

Adriano de Amorim Fernandes – CIM: 23.404, é obreiro filiado à


Augusta e Respeitável Loja Simbólica Montanheses Livres – nº 009, do
Oriente de Juiz de Fora – MG, Rito Brasileiro – GOMG, onde foi
Iniciado em 12/11/2018, Elevado em 15/07/2019 e Exaltado em
24/10/2020 e atualmente ocupa o cargo de secretário. Possui
Licenciatura Plena em Geografia e Especialização em Educação
Ambiental pela Universidade Federal de Juiz de Fora e é Técnico em
Segurança do Trabalho. Atuou como professor em escolas municipal e
estadual e em Curso Técnico de Segurança do Trabalho. É membro da
ONG Grupo Brasil Verde, sendo Coordenador Seccional de Juiz de
Fora, Conselheiro do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Preto e
Paraibuna e confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de
Fora.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA E A RELIGIÃO

O Brasil em seu contexto republicano é palco de um processo de


transformações e modernização liberalizando-se a prática pública das
diversas crenças e denominações religiosas – Decreto 119A, de 1890 e
Constituição de 1891 – dá-se a expansão das práticas religiosas no espaço
público em condição de igualdade jurídica com o culto católico, até
àquele momento o único de caráter público e oficial. Contexto esse que
não apenas põe em questão a visão teleológica da secularização como
irremediável “desencantamento do mundo”, restringindo a religião cada
vez mais ao âmbito privado; como, por sua vez, estabelece
caracteristicamente um processo jurídico-político de definição,
legitimação e alocação social do que deveria ser uma “religião”.
Produziu-se, segundo Paula Montero (2006), “um intenso conflito em
torno da autonomia de certas manifestações culturais de matriz não-
cristã, ou da sua legitimidade para expressar-se publicamente”. Assim, na
primeira metade do século XX, por exemplo, manifestações variadas de
“feitiçaria”, “curandeirismo” e “batuques”, nos quais se incluía o
Espiritismo, de origem francesa, “só puderam ser descriminalizadas
quando, em nome do direito à liberdade de culto, passaram a se
constituir como religiões”.
A frase de Ribaldo Tatarana, do Grande sertão: veredas, de João
Guimarães Rosa, ilustra muito bem essa afirmação. Ao dizer que a
religião é necessária para “desendoidecer, desdoidar”, ele está apontando
para uma das funções sociais da religião: fornecer sentido para a
existência individual e coletiva e organizar, do ponto de vista das
representações humanas, o mundo e a sociedade onde as pessoas vivem.
Ao “desendoidecer, desdoidar”, a religião possibilita às pessoas e aos
grupos sociais organizar a realidade de forma ordenada, tanto do ponto
de vista pessoal quanto do social.
O Maçom do passado era um pedreiro construtor e no presente
um livre pensador, dessa forma, na construção do Edifício Íntimo, é uma
pedra bruta que anseia por se tornar uma pedra cúbica e polida, para
posteriormente traçar obras edificantes e construtivas em prol da
humanidade. Pois a Ordem prega a eterna busca pela perfeição moral,
ética, espiritual e intelectual, de maneira que a humanidade deva sempre
procurar se livrar de suas vicissitudes e imperfeições.
Traçando um paralelo com a antiguidade, em parte do panteão
egípcio, observaremos que no Tribunal de Osíris o coração do morto
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

representava a sua alma, ou seja, tudo de construtivo ou destrutivo que


havia realizado na sua vida presente, sendo colocado em um prato sob
uma balança. No outro prato era depositada uma pena da Deusa da
verdade e da retidão chamada Maat, que havia anotado tudo o que a
imortal alma viveu enquanto encarnada, desde sua primeira vida até a
última. Se houvesse equilíbrio a alma viveria em glória reintegrando-se à
perfeição. Se não houvesse equilíbrio, seria condenado a uma segunda
morte.
Assim, a alma, após atingir a plena evolução, receberá o seu
merecido descanso nos céus conforme é ensinado na Ordem Maçônica,
deixando a condição de alma para integrar-se em definitivo com o
Criador na qualidade de puro espírito se integrando a Ele, formando
único corpo em glória e esplendor, retornando em definitivo à casa do
Pai.

Referências bibliográficas
▪ DICKIE M. A. S. “Todos os caminhos levam a Deus” - o
CONER e o Ensino Religioso em Sta. Catarina, Brasil. 2003. 26
f. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Antropologia Social)
- Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
Disponível em: https://www.anpocs.com/index.php/papers-27-
encontro-2/gt-24/gt18-20/4274-mdickie-todos/file/. Acesso em: 22
jul. 2021.
▪ SANTOS, Paulo. Maçonaria e Espiritismo. São Paulo: Fonte
Editorial, 2019. 198 p.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ALEXANDRE AMARANTE GOMES PINTO COELHO

Alexandre Amarante Gomes Pinto Coelho é advogado, casado, portador


do CIM 308713, residente e domiciliado em Rio Casca-MG. Iniciado em
20/10/2016, Elevado em 28/06/2018 e Exaltado em 25/04/2019.
Atualmente ocupa o cargo de 2º Vigilante da Augusta e Respeitada Loja
Simbólica “Esperança e União” do Oriente de Rio Casca/MG. Autor do
Livro “Essências, o Lapidar da Pedra Interior”. Participou do Volume II
da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA E A RELIGIÃO

Em que pese a complexidade do tema, me atrevo, humildemente


discorrer sobre o tema que do meu ponto de vista existencial e
emocional, a maçonaria apesar de não ser uma religião, e acolher todos
os que creem em um único Criador, tem em si, e, em seus ensinamentos,
princípios e práticas que se absorvidos de forma cientifica, tanto literal,
como exata, e comportamental, trará sem dúvida, alguma hábitos e
exemplos à humanidade de dar inveja a qualquer religião.
A Maçonaria no seu artigo 1º a define como: Art. 1º: ser uma
instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e
evolucionista e seus fins supremos são a liberdade, igualdade e a
fraternidade.
Estamos habituados a ouvirmos dos profanos, muitos adjetivos
negativos do que exercem os maçons em suas reuniões, nos atribuindo
rituais macabros assemelhados a magias e alguns comportamentos
bizarros, que sequer tem alguma relação com os maçons e ou com a
maçonaria.
No meu entendimento, enquanto a Religião é definida como as
crenças e hábitos sociais que o ser humano atribui a uma situação
sagrada, a Maçonaria aceita em seus quadros, homens que acreditam em
DEUS, com diversidade de crenças, diversidade de pensamento,
hábitos, costumes, posições social, e procuram aperfeiçoar-se através
do estudo, da observação emocional e comportamental, entendimento
necessário para que o homem reconhecendo a si, e as coisas e pessoas a
sua volta, possa encontrar a cada dia o equilíbrio para lhe garantir a
prática dos bons costumes, no sentido ético e moral, e principalmente no
comportamental.
Pois bem, neste sentido, entendo que a Maçonaria contém em
seus dogmas e seus princípios e comportamentos, todos os demais
dogmas contidos nas religiões cristãs, com uma situação bem atípica,
especial e salutar.
Enquanto em diversas religiões, é prometido ao homem, a
absolvição, e o Paraíso através do arrependimento, no ato da auto
avaliação em religiões evangélicas, por exemplo, e no Catolicismo esse
arrependimento é um poder atribuído ao Padre por Delegação divina
que perdoa o Pecador no Confessionário, e no Espiritismo a absolvição
seria que um misto de arrependimento do auto julgamento e reavaliação
de seus atos diariamente, na MAÇONARIA, o que vejo, é que estamos
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

sempre na procura constante e diária de melhorarmos nossos atos, com


fim único de libertar o ser dos conceitos e pré-conceitos que fazem de
nós humanos, que acertamos e erramos constantemente, porém com o
auxilio de um único corpo formado por milhares de Irmãos, cada qual
com a sua capacidade intelectual, emocional, cultural, com o objetivo de
expressar a religiosidade de cada membro em um sentido único e
coletivo em busca do equilíbrio das relações humanas.
Pois bem, acredito que a religião como dogma, quase sempre é
utilizada como verdade absoluta por inúmeras instituições religiosas com
intuito de dominação e poder sobre a massa, enquanto os princípios
Maçônicos, de cunho filosófico e cientifico, sempre estão a transformar e
emoldurar o homem maçom na prática do bem, da caridade, da
solidariedade, e que por isso, pode ser considerado a maior expressão de
uma “religião” por muitos que não tem a oportunidade de aprender com
os ensinamentos da Ordem Maçônica.
Por fim, salvo e com todo o respeito a Nossa Ordem, é que
entendo que o homem maçom, quando se sobressai com os
aprendizados a ele repassados e segue os princípios maçônicos, torna-se
ele um templo em si mesmo, e desta forma sua conduta poder ser
considerada como uma religião em si.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ANDERSON RANGEL JORGE DE SOUZA

Anderson Rangel Jorge de Souza é Mestre Maçom da Augusta e


Respeitável Loja Simbólica “Monte das Oliveiras” número 163, Grande
Loja do Estado da Bahia do Oriente de Oliveira dos Brejinhos – BA.
Residente no oriente de Seabra, região da Chapada Diamantina na Bahia,
onde é membro ativo da Loja de Perfeição União da Chapada. Casado.
Pai de 04 filhos, leitor ávido, vê na escrita a melhor forma de expressão e
na leitura a melhor forma de educação. Participou do Volume II da Série
Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MINHA MÃE SABE DAS COISAS!

O sol nem havia despontado direito e Laurindo já estava sentado à


mesa da cozinha, apreciando seu café da manhã tipicamente nordestino,
composto de cuscuz e ovos. Precisava de força, pois o dia não seria fácil
no seu trabalho. Sua esposa, que lhe fazia companhia, questionava: “Por
que sair tão cedo assim hoje?” Laurindo, com a calma que lhe era
peculiar, disse: “Essa madrugada, um carro bateu em um poste no
Povoado de Canabrava. Temos que trocá-lo e religar a energia para a
população. Devemos ficar lá o dia todo”. Sem mais delongas, Laurindo
pegou o carro da companhia de energia elétrica, onde trabalhava, e foi ao
encontro do seu colega de plantão. Chegando na casa do colega Manoel,
este já o esperava em sua porta. “Bom dia, Bruxa! Como passou a noite?
Tomou um café de sustança?”, disse Laurindo. “Dormi bem e comi
muito, Tõe!”, respondeu Manoel sorrindo.
No trajeto para o povoado, Manoel – ou Bruxa, como era
conhecido pelos amigos comentou:
- Lembra aquela vez que eu disse ter interesse de ingressar na
Maçonaria? Eu conversei com meu pai, mas ele é contra. Você sabe que
ele é evangélico e insiste em dizer que Maçonaria é a religião do Diabo.
Laurindo – ou Tõe, apelido originado por seu prenome Antônio –, que
era Maçom, sorriu e disse:
- E você acha que eu sou servo do capeta?
- Ah, Tõe! Você sabe que eu não penso isso. Pesquiso muito
sobre a Maçonaria, mas meu pai não aceita meus argumentos.
- Pois eu vou te apresentar uma pessoa hoje que vai te dar vários
argumentos para você usar com seu pai – obtemperou Laurindo.
Os olhos de Manoel se encheram de esperança diante da ajuda do
amigo. E durante todo o dia de trabalho, crivou Laurindo de perguntas
sobre quem era a pessoa que lhe daria os tais argumentos. Laurindo,
como bom Maçom, fez certo mistério, mas garantiu que Bruxa teria o
necessário para que pudesse tocar o coração do seu pai.
O sol ia alto ainda quando o trabalho terminou e Laurindo pôde
pegar a estrada de volta para casa, juntamente com Manoel. No trajeto,
Laurindo disse que, como o trabalho do dia já havia terminado, antes de
irem para suas casas, iriam passar na casa da pessoa que ele havia
prometido apresentar para Manoel.
Pararam em frente à casa da mãe de Laurindo, desceram do carro
e adentraram a residência. Manoel, sem entender o que estavam fazendo
25
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ali, foi recebido por Dona Francisca com um sonoro: “Bruxa, meu filho,
que milagre é esse?”. “Dona Francisca, minha querida, como está a
senhora?”, disse Manoel. Laurindo, interrompendo os cumprimentos,
falou: “Bruxa, essa é minha mãe”!
Os dois, sem entender nada, entreolharam-se e Manoel falou:
- Mas eu já conheço sua mãe! Tá ficando doido, Tõe?!
- Que é isso, gente? Que prosa esquisita é essa?! – Dona Francisca
franziu a testa.
- Brincadeira! Mas ela é a pessoa que te falei que iria te dar os
argumentos para convencer seu pai a te deixar ingressar na Maçonaria –
completou Laurindo.
Dona Francisca olhou pra Manoel e perguntou “Você quer ser
Maçom, meu filho?
Qual é a sua dúvida?”. Manoel falou:
- Meu pai, como a senhora sabe, é evangélico, Dona Francisca.
Ele diz que Maçonaria não é coisa de Deus, que vai de encontro à Bíblia.
Mas, eu já andei pesquisando sobre o assunto e tenho Tõe, que é meu
amigo há anos... Como Tõe, um dos caras mais legais que conheço, pai
exemplar, marido fiel e filho amoroso, poderia ser alguém com pacto
com o diabo?
Dona Francisca rompeu em gargalhadas e disse:
- Meu filho, vou te dizer uma coisa a respeito da Maçonaria.
Quando Tõe chegou me dizendo que ia ser Maçom, no início eu fiquei
meio cabreira. Tenho que confessar! Mas ele já era homem feito e eu
confiava nele. Na verdade, confiava na educação que eu tinha dado a ele,
e sei que ele não iria se embrenhar em coisa ruim.
“Todos aqui conhecem Tõe! Você conhece Tõe! Acha que ele
estaria em um lugar do mal, ou mesmo que ele seria ingênuo o suficiente
para, após tanto tempo, ainda não ter tirado uma conclusão se a
Maçonaria é do bem ou do mal? E talvez, para você, eu seja suspeita em
falar do meu filho, da sua índole. Mas olhe à sua volta, olhe para todos
os Maçons da nossa cidade e analise se eles estão fazendo algo de ruim
na sociedade. Caso você investigue, vai descobrir que os Maçons daqui
são homens do bem, ligados à família, à igreja, aos templos, à sociedade;
são trabalhadores honestos, comprometidos e comportados; são pessoas
– e, quando eu falo pessoas, englobo suas famílias, mulheres e filhos -
que seguem um caminho de retidão. E antes que conteste algo, eu
respondo: Sim! Há maçons ruins! Como em qualquer sociedade

26
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

organizada há também; na igreja há pessoas ruins; nos templos há


pessoas ruins; na nossa sociedade há muitas pessoas ruins.”
“Eu acho que Tõe já te disse que a primeira coisa que um homem
deve ter para ser Maçom é a crença em Deus, não é? Se uma confraria
exige isso, já podemos perceber que, a princípio, é algo bom. Como crer
em Deus pode ser algo ruim? Seu pai é um homem de fé, não é? Alguém
vai ao culto sem crer em Deus? E no seu culto, as pessoas que ali
congregam são pessoas que estão em busca do mau? É questão de lógica,
meu filho!”
Enquanto Dona Francisca falava, Manoel prestava atenção como
o aluno mais aplicado da escola, tentando entender tudo, para poder
reproduzir para seu pai. Dona Francisca continuou:
- Deixe-me te contar uma história, meu filho! A minha turma da
terceira idade se reunia em um imóvel alugado pela prefeitura da cidade.
Lá, fazíamos nossas reuniões, nossos trabalhos... Mas, por razões alheias
à nossa compreensão, tivemos que deixar o imóvel, já que a prefeitura
não pôde mais pagar o aluguel. Ficamos desamparadas! O Venerável
Mestre da Loja Maçônica à época, o nosso amigo João Zoada, nos
ofereceu o salão de festas da loja maçônica. Inclusive, comentamos com
o Padre da nossa igreja e ele concordou plenamente em sermos acolhidas
pela Maçonaria. Nos instalamos, então, no dito salão e lá passamos a nos
reunir e dar continuidade aos nossos trabalhos. O que é isso? Caridade
Cristã, meu filho! A Loja Maçônica acolheu um bando de velhinhas e
deu abrigo.
Laurindo, que também prestava atenção na fala de sua mãe, estava
com um sorriso enigmático no rosto. Algo tipo “minha mãe sabe das
coisas!”. E, sem pestanejar, Dona Francisca continuou com sua aula de
Maçonaria e Religião, dizendo:
- E vou mais além... Você sabia que a primeira Igreja Batista do
Brasil foi fundada por maçons? Você sabia que os primeiros cultos
protestantes do Brasil foram realizados dentro de templos maçônicos?
“Você sabia disso, Tõe?”, perguntou Bruxa surpreso. Tõe assentiu
com a cabeça e Dona Francisca não perdeu tempo em sua fala:
- Manoel, meu filho, a Maçonaria pode não escancarar suas portas,
mas o que é feito lá dentro – mesmo que não saibamos e, inclusive, nem
quero saber mesmo – transcende as paredes dos seus templos através das
ações dos maçons em sociedade, na família, no trabalho. Não falo apenas
por meu filho Tõe, falo também pelos irmãos da loja daqui, que são
pessoas de boa índole e cada um professa sua fé. Ah, e sabe qual o nome
27
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

da loja daqui? Loja Maçônica Deus, Família e União. Será que preciso
dizer mais alguma coisa? Conheço seu pai. Ele é um homem temente a
Deus e está apenas preocupado com você.
Nesse momento, Manoel olhou para Tõe e comentou: “Tua mãe é
muito sabida!”. E para Dona Francisca: “Deus lhe pague! Eu sempre
soube que a Maçonaria não é coisa do diabo – como pensa meu pai – e
Tõe é um grande exemplo pra mim. Agora tenho mais argumentos para
que eu me torne maçom e meu pai aceite de bom grado.”, completou
Bruxa.
Despediram-se de Dona Francisca e, ao entrarem no carro para
irem embora, ela ainda perguntou, à distância:
- Ô, Manoel! Por que seu apelido é Bruxa, meu filho?

28
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ANDRÉ VALE LADEIRA DA SILVEIRA

André Vale Ladeira da Silveira tem formação em Direito, Teologia e em


Administração. É Pós-Graduado em Maçonologia: História e Filosofia,
Democracia e Pensamento Contemporâneo e a Maçonaria, Engenharia
clínica e Pedagogia Empresarial. Fundador e Past Venerável Mestre da
Loja Maçônica “Templários de Laranjal”, foi membro da Escola
Maçônica “Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida” e é Delegado
Litúrgico da 15ª Região do Supremo Conselho do Grau 33. Membro
Fundador da Academia de Estudos Maçônicos “Sapere Aude”. Membro
Correspondente da Loja de Estudos e Pesquisas “Dom Bosco” nº 33 -
Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. Participou do Volume II da
Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A CRUZ E A TROLHA: SÍNTESE DOS DESENCONTROS


ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A MAÇONARIA

É de conhecimento de todos os irmãos o desserviço prestado pela


falta de pesquisa dentro dos nossos Augustos Mistérios. Assim que
recebemos a Luz, o que deveria ser um balizador da busca pela Verdade,
somos bombardeados de informações desencontradas e sem
fundamentação, o que prejudica sobejamente a caminhada do Aprendiz
pela senda do progresso.
Um dos assuntos mais desencontrados dentro das nossas Oficinas
é a relação da Ordem com a Igreja Católica. Sou testemunha de textos
mentirosos, creditados à Santa Sé, onde a Igreja pede perdão a
perseguição imposta à Maçonaria e já recebi instrução de Mestres
experientes que afirmam que Jesus foi o primeiro Maçom.
Esse pequeno texto tem como objetivo ajudar ao Maçom com
dados, fatos e referências históricas para o melhor entendimento da
relação tempestuosa da Igreja Católica com a Ordem Maçônica. Longe
de esgotar o assunto, o interesse maior é de provocar o leitor a fazer suas
próprias pesquisas e elucidar o assunto através do estudo da nossa
história. Vamos a um breve compilado dos fatos mais relevantes:
No dia 28 de abril de 1738, o Papa Clemente XII promulgou a
bula In eminenti apostolatus specula, a primeira condenação pontifícia da
Maçonaria. Esse registro foi divulgado após 21 anos da fundação da
Maçonaria como conhecemos. Trata-se de um documento pouco
elucidativo em seus motivos o que vem a ser mais compreendido com a
bula Providas Romanorum Pontificum, promulgada pelo Papa Bento XIV aos
18 de maio de 1751. Podemos sublinhar os motivos da condenação:
• A primeira é: que nas tais sociedades e assembléias secretas,
estão filiados indistintamente homens de todos os credos; daí ser
evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião
católica;
• A segunda é: a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo
qual se oculta tudo que se passa nas assembleias secretas, às quais com
razão se pode aplicar o provérbio (do qual se serviu Caecilius Natalis, em
causa de caráter diverso, contra Minúcius Félix): “As coisas honestas
gozam da publicidade; as criminosas, do segredo”;
• A terceira é: o juramento pelo qual se comprometem a guardar
inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se
numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar
30
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

declarações ao legítimo poder, que investiga se em tais assembleias


secretas não se maquina algo contra o Estado, contra a Religião e contra
as Leis;
• A quarta é: que tais sociedades são reconhecidamente contrárias
às sanções civis e canônicas; o direito civil proíbe ajuntamentos e
sodalícios, como se pode conferir no XLVII livro de Pandectas, tit. 22 de
Collegüs et Corporibus illicitis e na célebre carta de Plinius Caecilius II,
que é a XCVII, livro 10, na qual diz ser proibida pelo Imperador a
existência de “Hetérias”: isto é, sociedade alguma ou reunião podia
existir e constituir-se sem a devida autorização do príncipe;
• A quinta é: que em muitos países as ditas sociedades e
agregações foram proscritas e eliminadas por leis de príncipes seculares;
• A última enfim é: que as tais sociedades e agregações são
reprovadas por homens prudentes e honestos e, no pensar deles, quem
quer que se inscreva nelas merece o ferrete da depravação e
perversidade.
Podemos verificar que o Papa Clemente XII não acusa
diretamente de heresia, mas apenas de suspeita vigorosa dela. O que não
impede o clero de perseguir os Obreiros da Arte Real de maneira
impetuosa.
No século XVIII, não há outro documento pontifício de
condenação, mas ao chegarmos no século XIX tivemos diversas
publicações onde a Igreja Católica passa a considerar a Maçonaria como
a mais importante sociedade secreta.
Em setembro de 1821, o Papa Pio VII condena a Carbonária na
Constituição Apostólica Ecclesiam a Jesu Christo, que muitos interpretam
como uma acusação indireta à Maçonaria. Já em 1825, na Constituição
Apostólica Quo graviora o Papa Leão XII condena todas as sociedades
secretas e onde a Maçonaria passa a ser considerada uma organização
que tem como finalidade maquinar contra a Igreja e os legítimos poderes
do Estado.
Essa afirmativa é facilmente justificada pelo refúgio que os
Iluministas encontraram em nossas Lojas. Descobriram em nossos
Templos um ambiente seguro e intelectualmente livre e neutro, quando
os ideais de liberdade e igualdade sofriam, e muito, com restrições
impostas por grande parte dos poderes absolutistas na Europa.
A Igreja realizou aproximadamente 350 intervenções contra a
Maçonaria entre Pio IX e Leão XIII, onde em sua maioria absoluta a

31
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Santa Sé condena a maçonaria por conspirar contra a monarquia e a


Igreja.
Duzentos e quarenta e cinco anos após aquela primeira
condenação, a posição da Igreja não mudou, já que em novembro de
1983 o Sumo Pontífice João Paulo II, em Audiência ao Cardeal Prefeito
da Doutrina da Fé Joseph Ratzinger, aprovou uma Declaração sobre a
Maçonaria ratificando a desaprovação dos fiéis que pertencem às
associações maçônicas, afirmando a condição de pecadores graves e
impedidos de aproximarem-se da Sagrada Comunhão.
A Maçonaria não é uma religião nem substituta da religião e nunca
conspirou para a queda da Igreja Católica. Ela proclama como sempre
proclamou desde a sua origem, a existência de um Princípio Criador, sob
o nome de Grande Arquiteto do Universo, todavia não oferece uma
doutrina de fé.
Jamais teve o intuito de assumir o poder de nenhuma nação. A
Maçonaria é um movimento do espírito humano, dentro do qual cabem
todas as tendências e convicções favoráveis ao melhoramento moral e
intelectual do gênero humano. E em nossa história temos diversos
exemplos onde à maçonaria lutou contra o os governantes que
trabalharam em desacordo com os sãos princípios da moral e da razão e
encontraram na Maçonaria um atento e zeloso adversário.

32
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ANESTOR PORFÍRIO DA SILVA

Anestor Porfírio Da Silva, nasceu em Hidrolândia-GO, em 03-11-1942.


É aposentado como Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil.
Graduado em Direito e Ciências Contábeis pela PUC/GO, tendo
exercido ambas as profissões por mais de 10 anos. Professor
universitário por 14 anos ininterruptos. Escritor articulista. Iniciado na
maçonaria em 29-09-1985, tendo ocupado os cargos de 2ºvig., 1ºvig.,
Orador, Venerável por dois mandatos consecutivos, Mestre Instalado.
Atuou como representante do Grão-Mestre do GOB/GO por 4 anos.
Atualmente, ocupa o cargo de Conselheiro Estadual do GOB/GO onde
permanece há 12 anos. É membro da Academia Goiana Maçônica de
Letras, ocupante da cadeira nº 32.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA: ESPIRITUALISMO, SIM.


RELIGIÃO, NÃO (REAA)

Incontáveis são as pessoas que fazem parte do universo das


diversas religiões espalhadas pelo mundo, que já devem ter ouvido o
falso e enganoso atributo que qualifica a maçonaria como religião.
Como se trata de instituição surgida a mais de 300 anos, uma
resposta satisfatória a indagações ou afirmações de natureza subjetiva
como essa, carecem de uma volta aos primórdios tempos do
aparecimento da mencionada entidade para, de lá, podermos tirar
conclusões seguras à luz da verdade sobre os motivos que justificaram a
sua concepção e quais deveriam ser as suas finalidades, ou seja, que causa
motivou o seu surgimento e para que surgiu. Dessa forma pode-se
chegar a explicações convincentes, destituindo-se de vez o mito secular
sobre essa questão que sempre se manteve em voga como certeza
absoluta para o clero do catolicismo, para altos dignitários de quase todas
as demais religiões do mundo, e desfazendo dúvidas que podem estar
inquietando as mentes de muitos cristãos e curiosos em geral, tudo isso
se verificando por culpa de um juízo de valores sustentado por
inverdades maliciosas que apontam a maçonaria, dentre tantos
pejorativos, como organização secreta que maquina contra a Igreja e
cujos templos, segundo tais inverdades, se destinam à realização de
cultos voltados à prática do mal.
Essa crença, que tenta qualificá-la como religião fundamentada no
satanismo ainda existe nos dias atuais, mas perdeu grande parte de sua
força de convencimento a partir do momento em que a maçonaria
deixou de ser, como até então vinha sendo, uma organização sigilosa e
insondável, tornando públicas as justas razões da sua existência e das
suas finalidades, através das redes sociais e de obras literárias de
escritores compromissados com a verdade. Há algum tempo ela vem
exibindo a sua identidade de modo claro e insofismável aos olhos dos
curiosos, realizando sessões públicas em seus templos, isto é, com a
presença de convidados não maçons, bem como, trazendo à luz o
conteúdo de arquivos que no passado eram tidos como sigilosos e
mantidos em absoluto segredo, os quais revelam não ter ela pacto com o
demônio, não ser religião, não ser anticlerical, não ser deísta e nem serem
seus templos lugares onde se praticam rituais de magia negra.
Portanto, não se trata de religião, nem de seita, nem de
organização irregular com atividades ilícitas e sim, uma instituição que
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

tem responsabilidades, deveres e obrigações legais a cumprir e um dos


seus mais sublimes objetivos é a prática desinteressada do bem.
Ela, para poder funcionar tem, antes, que adquirir personalidade,
de fato e de direito, de forma documentada e oficializada através de
registros públicos de acordo com as leis civis de cada país.
No Brasil, é nos cartórios oficiais que são feitos os registros e
arquivos de tais documentos. Neles, acha-se definida a personalidade
jurídica de cada entidade (lojas maçônicas e seus poderes centrais), com a
religião não fazendo parte do rol de suas respectivas atividades, nem de
suas finalidades, tudo escrito, assinado por quem de direito e arquivado
de maneira aberta, com acesso livre, inclusive aos não maçons, sem
exigência de qualquer formalidade.
Essas indiscutíveis evidências são provas que demonstram, de
modo claro e inequívoco, não ser a maçonaria mera obra do acaso. Seu
surgimento teve como principais causas o segredo profissional e a
necessidade de preservação dos valores morais e culturais da época que
vinham perdendo a sua importância diante da escalada, sem freio, da
intemperança na bebida e dos prazeres licenciosos, cujo resultado
demonstrava que o bom relacionamento humano já não era mais tão
importante à prática de uma convivência saudável entre as pessoas.
Hoje, ao compararmos aquela maçonaria embrionária de mais de
três séculos atrás, que foi construída levando-se em conta os costumes,
valores morais e religiosos da época, notaremos que muitos deles ainda
prevalecem com a mesma importância para a maçonaria atual, embora
esta não seja mais a mesma em decorrência das alterações e das
transformações sociais ocorridas como se verá adiante. Suas colunas
ainda encontram sustentação na crença em Deus, no amor ao próximo,
na caridade, na honestidade, na fraternidade, na solidariedade, na
fidelidade, na tolerância, na moral, nos bons costumes, no respeito à lei e
à Justiça etc.
A crença em Deus sempre foi, e continua sendo, um dos mais
importantes princípios da Maçonaria Universal. No entanto, não é de
hoje que detratores oportunistas se aproveitam do comprometimento
maçônico acima, interpretando-o de maneira distorcida, unicamente para
fazer surgir nas mentes de muitos o ledo engano de que a maçonaria seja
religião e isto não se confirma, pois religião não se identifica apenas pela
crença em um ente supremo criador dos mundos, mas pela manifestação
dessa crença por meio de um conjunto de doutrinas, dogmas, cultos e
rituais próprios, o que, se comparado com o que a maçonaria faz,
35
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

qualquer um perceberá, ao menor esforço, a enorme diferença que há


entre uma coisa e a outra.
No século XVII, como é sabido, a maçonaria até então existente
passou por profunda transformação, deixando de ser instituição
“operativa”, isto é, uma confraria fechada, que permitia o ingresso em
seus quadros apenas de trabalhadores de determinadas categorias
profissionais, para se destacar como instituição de caráter especulativo,
ou seja, aberta a um universo mais abrangente de pessoas, bem maior do
que o de antes, com ingresso permitido a membros da nobreza, do clero
anglicano, pastores, pintores, seguidores de quaisquer religiões, músicos,
poetas, escritores, advogados, militares, enfim, praticantes de toda e
qualquer atividade lícita, não importando o credo religioso do candidato,
fato que lhe propiciou o caráter de Ordem Universal dado ao seu
vertiginoso crescimento e à sua rápida expansão por todos os
continentes.
Desde então, em seus postulados normas e rituais, a maçonaria se
declarou como instituição espiritualista, e não como religião, ao afirmar a
crença em um ser supremo como princípio criador dos mundos, na
continuação da vida após a morte e por adotar o compasso como
símbolo do espírito humano. E, como era de se esperar, daí decorreu a
congregação em seus templos, de iniciados fiéis oriundos de diversas
religiões como católica, muçulmana, protestante, anglicana etc., cada um
professando a fé no mesmo Criador, porém este com designações
diferentes dentre elas: Deus, Alá, Jeová etc.).
Para evitar melindres entre a irmandade, acerca de qual
denominação ao Criador deveria prevalecer, ela buscou alternativa,
encontrando em “Grande Arquiteto do Universo” a expressão ideal para
sair do embaraço surgido, sem afetar a união e o bom relacionamento
que devem reinar entre seus filiados, o mesmo acontecendo com o
conjunto das leis divinas de expressão máxima de cada religião ou credo,
como é a Bíblia Sagrada para o cristianismo, o Alcorão para o islamismo,
Vedas para o hinduísmo, o Torá para o judaísmo, enfim, em todos os
lugares onde é permitida a presença da maçonaria, tais expressões
religiosas máximas são denominadas de “Livro da Lei” sendo esse um
símbolo maçônico que deve estar presente em todas as sessões que
forem realizadas.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ARLINDO FELICIANO AMORA COELHO

Arlindo Feliciano Amora Coelho. Mestre Maçom. - GOB – MG - CIM:


236155 - Graus Simbólicos: Iniciação em 06 junho de 2006. Elevação em
07 de agosto de 2007. Exaltação em 09 de agosto de 2008, na Augusta e
Respeitável Loja Simbólica Confidentes do Vale nº 2364 Oriente de
Ponte Nova–MG. Graus Filosóficos: Grau 33 – Pat: 2089 - Supremo
Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil Rito Escocês
Antigo e Aceito – Belo Horizonte–MG. E-mail:
arlindoamora@gmail.com.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO: FÉ ECUMENISMO RELIGIOSO


E RESPEITO ÀS DIFERENÇAS

INTRODUÇÃO:
Não existe a pretensão de mostrar nenhuma originalidade nesta
obra, pois seu conteúdo não será novidade, somente trata-se de uma
dissertação de compilação coordenada. Este trabalho é uma proposta de
reflexão sobre a visão ecumênica da Maçonaria no que tange o respeito e
a tolerância e apresentar novas cosmovisões que se abrem diante da
necessidade de união e encontro de todos os seres humanos para a
construção de uma coletividade justa e perfeita.
A Constituição de Anderson estabelece:

I - CONCERNENTE A DEUS E A RELIGIÃO

“Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a


Lei Moral; e se ele compreende corretamente a Arte, nunca
será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso. Muito
embora em tempos antigos os Maçons fossem obrigados
em cada País a adotar a religião daquele País ou nação,
qualquer que ela fosse, hoje pensa-se mais acertado
somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual
todos os homens concordam, guardando suas opiniões
particulares para si próprios, isto é, serem homens bons e
leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja
a denominação ou convicção que os possam distinguir;
por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um
meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas
que de outra forma permaneceriam em perpétua
distância.”

Baseado nestes princípios fica claro que a Maçonaria é uma


sociedade que tem por objetivo unir os homens entre si. União
recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo. E nesse seu
esforço de união dos homens, admite em seu seio pessoas de todos os
credos religiosos sem nenhuma distinção e segundo a Constituição do
Grande Oriente do Brasil, 2009 – em seus artigos: “I - Proclama a
prevalência do espírito sobre a matéria. III – Proclama que os homens
são livres em direitos e que a tolerância constitui o princípio cardeal nas
38
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

relações humana, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade


de cada um. IV. Defende a plena liberdade de expressão do pensamento,
direito fundamental do ser humano, observada a correlata
responsabilidade. VI. Considera irmãos todos, quaisquer que sejam sua
raça, nacionalidade, convicções ou crenças.” Sendo assim, a Franco-
Maçonaria luta contra as tiranias espirituais, temporais. Crê que a alma
humana deve ser diariamente e avidamente defendida de todo o tipo de
intolerância religiosa e política. Ela reconhece a existência de um
Princípio Criador, mas deixa que cada um defina Deus de acordo com a
concepção de sua consciência, pois é convicta que em todos os tempos e
lugares, o homem tentou definir Deus: nos templos e nas sinagogas, sob
a cúpula das mesquitas, sob o esplendor das abóbodas das catedrais, e
nesse instante o ser humano aos milhares esboçam os mesmos gestos
rituais, se prosternando diante de um Deus que considera comum a
todos os mortais, e , entretanto, existem tantos deuses, quantos crentes:
de Brama quanto Hinduístas, de Buda quanto Budistas, de Javé quanto
Hebreus, de Alá quanto Mulçumanos, que em uma palavra sintetizam o
mesmo pensamento: O Deus que pensam.
O ser humano tem inerente o desejo de Deus e muitos de forma
imatura criam antropomorfismo, deuses que apenas traduzem
concepções imperfeitas e limitadas. A Maçonaria defende que cada um
tem o direito de reger, ditar a sua consciência, buscando uma relação
com DEUS, conduzindo a sua conduta para o Bem, entendendo que
toda a crença que liberta das masmorras e do vício é digna do respeito.
A Franco-Maçonaria não impõe nenhum dogma: ela não limita a
procura da Verdade, mas ela exige de todos a Tolerância para com
aqueles que encontram nas religiões uma consolação suprema, como
também para com aqueles que encontram seu Deus em um ideal mais
abstrato e colocam as suas ações sob o signo do amor ao próximo e da
humanidade. Para o maçom, viver é agir, sentir a beleza, é procurar a
Verdade, esclarecendo os seres humanos de todas as crenças “Quem é
igual a ti entre os deuses, Ó Senhor?” (Ex.15,11).
Numa vivência revolucionária do espírito e da crença maçônica no
que tange a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, duas lideranças de
peso da atualidade se encontraram e assinaram em Abu Dhabi, no dia 4
de fevereiro de 2019 um documento sobre a fraternidade humana e a
paz. Ao final desta dissertação revelarei seus nomes. Faço agora este “ar”
de mistério para que o leitor intrépido veja, sinta e nas entrelinhas, o

39
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

idealismo e a filosofia maçônica da Tolerância e do Respeito as


diferenças e do Combate ao Fanatismo. A seguir cito o documento:

“A fé leva o crente a ver no outro um irmão ou irmã a ser


apoiado e amado. Pela fé em Deus, que criou o universo, as
criaturas e todos os seres humanos (iguais por sua
misericórdia), os fiéis são chamados a expressar esta
fraternidade humana salvaguardando a criação e todo o
universo e apoiando todas as pessoas. Deus que criou todos
os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade, e
que os chamou a viver juntos como irmãos, para encher a
terra e tornar conhecidos os valores do bem, do amor e da
paz. Este Documento defende o seguinte: trabalhar
arduamente para difundir a cultura da Tolerância e da
Convivência em Paz; intervir na primeira oportunidade para
impedir o derramamento de sangue inocente e pôr fim às
guerras, conflitos, decadência ambiental e declínio moral e
cultural que o mundo está experimentando atualmente. O
PLURALISMO E A DIVERSIDADE DE RELIGIÕES,
COR, SEXO, RAÇA E LÍNGUA SÃO DESEJADOS
POR DEUS EM SUA SABEDORIA, por meio da qual
criou os seres humanos. Esta sabedoria divina é a fonte da
qual deriva o direito à liberdade de crença e a liberdade de
ser diferente. Portanto, o fato de que as pessoas são
forçadas a aderir a uma determinada religião ou cultura
deve ser rejeitado, como também a imposição de um modo
de vida cultural que outros não aceitam; · A justiça baseada
na misericórdia é o caminho a seguir para alcançar uma vida
digna à qual todo ser humano tem direito; · O diálogo, a
compreensão e a ampla promoção de uma cultura de
tolerância, aceitação dos outros e de convivência
pacífica contribuiriam significativamente para a
redução de muitos problemas econômicos, sociais,
políticos e ambientais que pesam tanto sobre grande
parte da humanidade; O diálogo entre os crentes significa
reunir-se no vasto espaço dos valores espirituais, humanos
e sociais compartilhados e, a partir daqui, transmitir as mais
altas virtudes morais que as religiões almejam. Também
significa evitar discussões improdutivas; · A proteção dos
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

locais de culto - sinagogas, igrejas e mesquitas é um dever


garantido pelas religiões, valores humanos, leis e acordos
internacionais. Cada tentativa de atacar locais de culto ou
ameaçá-los com ataques violentos, bombardeios ou
destruição, é um desvio dos ensinamentos das religiões,
bem como uma clara violação do direito internacional· O
terrorismo é deplorável e ameaça a segurança das pessoas,
seja no Oriente ou no Ocidente, no Norte ou no Sul, e
dissemina o pânico, o terror e o pessimismo, mas isso não
se deve à religião, mesmo quando os terroristas a
instrumentalizam. Deve-se, antes, a um acúmulo de
interpretações incorretas de textos religiosos e a
políticas ligadas à fome, pobreza, injustiça, opressão e
orgulho. É por isso que é tão necessário parar de apoiar
movimentos terroristas alimentados por financiamento,
fornecimento de armas e estratégia, e por tentativas de
justificar esses movimentos até mesmo usando a mídia.
Boas relações entre o Oriente e o Ocidente são
indiscutivelmente necessárias para ambos. Eles não devem
ser negligenciados, para que cada um se enriqueça pela
cultura do outro, por meio de intercâmbios e diálogos
fecundos. O Ocidente pode descobrir no Oriente
remédios para as doenças espirituais e religiosas que
são causadas por um materialismo prevalecente. E o
Oriente pode encontrar no Ocidente muitos elementos
que podem ajudar a libertá-lo de fraquezas, divisões,
conflitos e declínio científico, técnico e cultural. É
importante prestar atenção às diferenças religiosas, culturais
e históricas que são um componente vital na formação do
caráter, cultura e civilização do Oriente. É igualmente
importante reforçar o vínculo dos direitos humanos
fundamentais para ajudar a garantir uma vida digna
para todos os homens e mulheres do Oriente e do
Ocidente, evitando a política de dois pesos e duas
medidas; Em conclusão, nossa aspiração é: Que esta
Declaração pode constituir um convite à reconciliação e
fraternidade entre todos os crentes, na verdade entre
os crentes e não crentes, e entre todas as pessoas de
boa vontade; esta Declaração pode ser um apelo a todas
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

as consciências íntegras que rejeitam a violência


deplorável e o extremismo cego; um apelo a quem
valoriza os valores da tolerância e da fraternidade
promovidos e incentivados pelas religiões; esta
Declaração pode ser um testemunho da grandeza da fé em
Deus que une corações divididos e eleva a alma humana;
esta Declaração pode ser um sinal da proximidade entre o
Oriente e o Ocidente, entre o Norte e o Sul, e entre todos
os que acreditam que Deus nos criou para nos
compreendermos, cooperarmos uns com os outros e
vivermos como irmãos e irmãs que se amam. É isso que
esperamos e procuramos alcançar com o objetivo de
encontrar uma paz universal que todos possam desfrutar
nesta vida. Para este fim, por cooperação mútua, a Igreja
Católica e Al-Azhar anunciam e prometem transmitir este
Documento às autoridades, líderes influentes, pessoas de
religião em todo o mundo, organizações regionais e
internacionais apropriadas, organizações dentro da
sociedade civil, instituições religiosas e principais
pensadores.” (Viaggio Apostolico di Sua Santità Francesco
negli Emirati Arabi Uniti (3-5 febbraio, 2019).

Para o historiador Roberto de Mattei, o documento e as recentes


declarações do Papa Francisco junto com o Grand Imam de Al-Azhar,
Ahmed el-Tayeb, reforça a ideia de fraternidade, nova palavra de ordem
do atual pontificado, se alinham aos ideais da Franco- Maçonaria.

CONCLUSÃO:
Há uma querela teológica no entendimento, dos princípios da
Franco- Maçonaria que vem perpassando os tempos e estabelecendo
discussões, se o discurso da Ordem é Teísta ou Deísta, no que tange a
compreensão do Sagrado e as religiões. Sabemos que a Maçonaria é
ecumênica, exigindo apenas o reconhecimento do Grande Arquiteto do
Universo. Para o Professor emérito da Universidade de Roma, Roberto
de Mattei o documento assinado pelo Papa em Abu Dhabi aproxima o
pensamento da Igreja Católica com o da Maçonaria. O Documento sobre a
Fraternidade convida “todas as pessoas que têm fé em Deus e fé na
fraternidade humana a unirem-se e trabalharem juntas para que sirvam

42
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

de guia às futuras gerações para promover uma cultura de respeito


mútuo na consciência da grande graça divina”.
Somos convocados pela Ordem a inclinarmos nossas inteligências,
esforços perante Deus, poder desconhecido e misterioso que a razão
humana é impotente em definir e nosso Rito reconhece e proclama sob a
invocação de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, por isso o
altar está preparado para receber o "Livro da Lei", que de acordo com as
tradições e cultura geográfica pode ser: "A Bíblia", "O Alcorão", "A
Torá", "O Bhagavad Gita", entre outros. Porque esses são um símbolo
de um ideal abstrato do espírito da lei e são proposições de que o
Sagrado se relaciona com os seres humanos, respeitando o seu livre-
arbítrio, agindo na história de maneira discreta, velada e se faz existir
como um princípio de ordem no individual, coletivo e universal.

Referências Bibliográficas:
▪ A BÍBLIA DE JERUSALÉM – Edições Paulinas,1985.
▪ Grande Oriente do Brasil, Constituições do GOB – 2009.
▪ Constituição de Anderson, 1723.
▪ Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa Do
Brasil, R.E.A.A., BELO HORIZONTE, 2007.
▪ Documento sobre a Fraternidade Humana, 2019. Emirados Árabes
Unidos - Papa Francisco e Grão-Imã de al-Azhar, Ahmed al-Tayeb.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ARTÊMIO G. HOFFMANN

Artêmio Gelci Hoffmann, esposa Ângela Maria Correa Hoffmann, filhos


Camila Correa Hoffmann e Luciano Correa Hoffmann. Profissão: Militar
EB – Capitão Reformado - Bacharel em Economia, Especialização em
Psicopedagogia e Pós-Graduação em Maçonologia – História e Filosofia.
Residência: Rua Olímpio Leal, 527 - Cachoeira do Sul - RS. Obreiro
GORGS - Loja “União Fraternal nº 318” - Membro Efetivo - Loja
"Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas nº 424" (Chico da
Botica) - Grau 33 - Grande Inspetor Geral da Ordem - SCRGS dos
Graus 4 ao 33 do REAA. Participou do Volume II da Série Maçons em
Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA X RELIGIÃO - O FIM DO PODER

1. INTRODUÇÃO:
“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada
um, se resume no tamanho do seu saber.” Albert Einstein

O conhecimento da humanidade, considerando o Ocidente,


esteve (ou está) "atrelado e ou a cavaleiro", - expressão que se deduz:
parte integrante, de três pilares que lhe dão as formas fundamentais no
seu estudo e aplicação: a ética e a moral judaico-cristã, as leis do
direito romano e a ciência ou filosofia grega.
A religião, mesmo em suas diversas acepções, não se desprende
do vínculo bíblico manifestada na história nos livros que compõem a
Bíblia, calcada na forma dogmática do saber, da fé ou da crença
impositiva implícita.
O Império romano em luta para expandir seu domínio, ditou
suas ordens, impôs leis e regulamentos nos mais diversos cantos do
planeta, modificando e transformando o pensamento local, com
consequências, ainda vigentes.
Este aparato só foi possível por um fio condutor herdado dos
filósofos gregos, que permearam condutas nas hostes, principados e
potestades da moral judaico-cristã e foram transmitidas através da língua
latina, no relevo dos costumes e das leis ditadas. Não é de se estranhar
que o conhecimento da humanidade assim se desenvolveu e vige por
séculos.
A Maçonaria herdou este corredor do conhecimento e se fez
presente em todo o seu andar tanto na sua forma primitiva, ferramental
operativa ou simbólica especulativa desvelando o lado explícito da raiz
do saber pela construção constante do móvel proposto pelo Criador
Maior.
Não pode haver confusão, na pretensão de equidade entre
Maçonaria e Religião. São figuras distantes na sua forma, convergentes
no seu conteúdo e com objetivos priorizados desde o início dos tempos.
Razão e fé são os timoneiros desta similaridade.
É nesta linha de pensamento que o título do texto pretende
sinalizar para questionamentos: a extinção da humanidade? - ou, o fim
do poder? - que poder?

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

2. DESENVOLVIMENTO
Definição de maçonaria; (há tantas): - "um estado de espírito"...
Definição de religião; (há tantas): - "de religare, reler, unir". Mas o que
vem a ser Poder?
Poder revela-se na possibilidade de ter ou fazer algo pela
vontade imanente da posse natural de que é feito. Esta faculdade de
perceber este poder, ao longo dos tempos, resulta de fatores externos
que vão se somando em suas diversas formas sintetizadas como poder
econômico, político, ideológico, social e outros variantes, como, temos
hoje, o poder das mídias, em seus algoritmos e consequências, nem
sempre ideais para a humanidade.
Estudiosos já se debruçaram e traçaram suas considerações,
análises e conclusões sobre a ideia de poder e se constituem o substrato
do pensamento dos bancos escolares. Cabe lembrar o seu surgimento de
forma natural em todas as sociedades civilizadas, bárbaras ou selvagens e,
mesmo que de forma rudimentar, no indivíduo e sua criação, é
permanente em sua essência de domínio, posse ou atributo de influência
ou de obediência.
O homem primitivo nas versões criacionistas, evolucionistas, ou
uma experiência genética dos deuses, exilado na terra para sofrer,
purificar-se e retornar ao seio dos céus estelares... são questionamentos
que resultam na pergunta sempre feita: "quem sou?"
A resposta das religiões tradicionais conduz aos escritos bíblicos.
A Bíblia, constitui o cordão umbilical do conhecimento humano e, nada
foge ao que foi traçado na fé inconteste da palavra do Criador como no
Judaísmo, que dá origem ao Cristianismo e ao Islamismo.
O Deus único é o único Criador de todas as coisas. A ordem
sobre o caos. “Tudo era alfa e ômega" ...o princípio e o fim! e a Ordem
se fez no Caos! "Ordo Ab Chao".
Religião? – Pensadores já aquilataram ao longo das eras o tema
religião a miúde. Seria difícil enumerar, senão, apenas, retirar pedaços de
algumas ideias para o intento do tema destas linhas. Pedaços esses em
resposta a: - como nasceu a religião ou qual a sua origem ou o seu
objetivo? Além de inúmeras postulações sobre a Maçonaria e sobre o
Poder.
(1) Édouad Schuré em os "GRANDES INICIADOS - Esboço
da História Secreta das Religiões”, - responde que a religião nasceu "do
temor do homem primitivo diante da natureza." e continua: - "Enquanto o homem
não fez senão tremer diante da natureza, ele não foi homem. Tornou-se homem no dia
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

em que percebeu o liame que o prendia ao passado e ao futuro, a algo de superior e


benigno e passou a adorar esse mistério desconhecido”.
Este é o ponto de partida, reconhecer e respeitar a natureza que
lhe impunha conforto ao seu bem viver, mas também, severas mazelas
no seu desenvolvimento. Tornar o visível ao invisível e divinizá-lo foi o
segundo passo. E, o primeiro reconhecimento do seu Poder.
O dicionário (on line) ensina que Religião é a crença na existência
de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o
destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência. - Ou que
é uma postura intelectual e moral que resulta dessa crença.
A palavra Religião derivada do latim religare, significa religar, o
ser humano a Deus. A tradução direta para o português é "gravata". Por
definição, tem-se que é também um conjunto de princípios e crenças
norteadas por práticas de doutrinas, e, aqui entram os livros sagrados,
que orientam, determinam e unem seus seguidores numa mesma
comunidade, normalmente em torno do que chamam, de forma física
e/ou espiritual, de Igreja.
A resposta ao questionamento de qual o objetivo da religião está
implícito no relacionamento dos seres humanos com o ser divino de
quem dependem como salvador ou que vai amenizar suas angústias, seu
sofrimento, suprir suas necessidades além de ser uma forma íntima de
reconhecer sua função em suas múltiplas interações com a sociedade.
(2) Annie Besant, em "O Cristianismo Esotérico ou Os Mistérios
Menores”, no seu dizer, as religiões: - são dadas ao mundo por homens mais
sábios do que as massas do povo ao qual são outorgadas, e têm o propósito de
estimular a evolução humana.
O estímulo a evolução humana, sempre teve, pois nas escrituras
e escolas do saber, muito embora envolta em mistérios, mitos e lendas
mitológicas, este sentido de ao desvelar-se, conduzir o homem a evoluir,
deixar de "tremer frente a natureza", buscar classes de verdades,
promulgar o conhecimento. "Conhecimento é poder", frase comumente
encontrada, denota a simplicidade do processo evolutivo.
(3) Albert Einstein - o pai da "Teoria da Relatividade", em 1953,
em ensaio com o título “Como vejo o mundo"; - relativo à Religião e
Ciência diz: Todas as ações e todas as imaginações humanas têm em vista satisfazer
as necessidades dos homens e trazer lenitivo a suas dores. Recusar esta evidência é não
compreender a vida do espírito e seu progresso.
A origem criacionista conduz o homem ao "Paraíso"... No
experimento Adâmico, antes de sua criação havia o vazio... "No
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PRINCÍPIO era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito..." A
história, bem conhecida, diz que ao criar o homem o seu Criador deu-lhe
a centelha divina da sua imagem ao mesmo tempo em que o tornava
semelhante à sua divindade eterna, podendo usufruir de todas as coisas
ao seu redor.
Este primeiro homem, Adão, das origens da humanidade
simboliza o surgimento (a imagem) do espírito na matéria. A semelhança
não significa idêntico, igual ao que é ou de que é uma imagem. A simetria
da unidade estava no estado natural de pureza divina de que foi dotado,
além do domínio da inteligência. São configurações externas apenas
análogas.
Sob outro contexto simbólico, esta experiência genética dos
deuses com o homem exilado na terra, alude-se a imposição de que seu
cérebro só detivesse e detém até hoje, segundo a ciência, apenas dez por
cento da sua capacidade. Para tanto colocaram a "árvore da sabedoria" cujo
fruto não deveria ser provado. Mas o homem queria mais.
A primeira queda do homem no site (4) SCA - Sociedade das
Ciências Antigas, com o título: INICIAÇÃO, O REMÉDIO DA
QUEDA, nos conta que o mal e a morte são uma consequência da queda do
Homem Primitivo e que nós somos seus legítimos herdeiros.
Este Adão, matéria, tinha a consciência, a autonomia, a
inteligência, o equilíbrio, a perfeição, era a própria encarnação do Verbo,
mas segundo a doutrina cristã cometeu o "pecado original", querendo
igualar-se a Deus. Reconheceu seu poder, (estar nu).
Na Maçonaria o Poder se revela no martelar da “pedra bruta”, o
material sendo polido nos desbastes dos vícios e o aprimoramento das
virtudes. Da matéria à construção do seu templo interior espiritual. Não
há queda, mas evolução. Uma verdadeira transformação. Diz-se: "O
Espírito se sobrepôs a Matéria".
Do site (4) SCA temos: se foi da queda do Homem Primitivo, do
descenso do espiritual até o material, da Involução, que apareceu para o homem a
necessidade, a limitação, a escravidão e todos seus efeitos, tais como o erro, o vício, a
obscuridade e a morte, é necessário admitir que essa queda trouxe em si mesma, e
potencialmente, o remédio capaz de reparar o mal.

3. CONCLUSÃO
As origens da maçonaria sempre estiveram ligadas ao poder da
religião. Do caminhar no estudo das escrituras, veja-se pela construção
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

dos templos, foram se desfazendo e contrapondo-se pelo conhecimento


auferido. São séculos de obscurantismo. Sábios, gênios, profetas
pontuavam saberes, quem sabe, seus cérebros detinham mais do que os
dez por cento da sua capacidade e eram afeitos a poucos. A Maçonaria
detinha tanto poder e conhecimento, que foi estigmatizada, perseguida e
até excomungada pela Igreja.
Os deuses que sempre estiveram monitorando o conhecimento
humano, como a história subliminarmente conta os exemplos da Torre
de Babel, o Dilúvio, o continente de Atlântida, as epidemias, a peste
negra, as grandes guerras, e outros, foram indícios de que algo estava
saindo fora do eixo predestinado. Hoje, causalidade ou espiritualidade o
homem busca saber o que há no lado oculta da lua (ou sempre soube!) e,
intenta chegar a Marte e colonizá-lo. Chega a hora da grande pandemia.
Sem respeitar limites, de tempo e espaço, atinge todos os seres de forma
surda, invisível e mortal. Seria o fim do poder do ser humano?

Referências Bibliográficas:
▪ Bíblia Sagrada;
▪ Dicionário online; Itens (1); (2); (3) e (4) citados no texto.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

CARLOS MAGNO ADÃES DE ARAUJO

Carlos Magno Adães de Araujo é obreiro ativo e regular da Loja


Maçônica Montanheses Livres n° 09, Oriente de Juiz de Fora-MG, Rito
Brasileiro. Membro efetivo da Academia Maçônica de Letras de Juiz de
Fora e Região, onde ocupa a cadeira de n° 02. Membro correspondente
da Loja Maçônica Fraternidade Brazileira de Estudos e Pesquisas, do
Oriente de Juiz de Fora. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Juiz de Fora e membro da Academia Granberyense de Letras, Artes e
Ciências. Especialista em Maçonologia. Professor, Especialista em
Educação Ambiental e Mestre em Geografia.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA E A IGREJA CATÓLICA:


DA ENCÍCLICA IN EMINENTI AO PAPA BERGOGLIO

Introdução
A relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica é marcada por uma
série de mal entendidos, erros de interpretação e mitos que, desde a
fundação convencionada como oficial da Ordem em 1717, chegaram aos
nossos dias. De fato, houve condenações à Maçonaria por parte da Igreja
de Roma, mas o teor dos documentos condenatórios de organizações
que “maquinam” contra a Igreja mudou ao longo do tempo, até omitir
completamente o vocábulo Maçonaria.
O contexto geo-histórico da Europa à época das primeiras
condenações diz muito sobre a ameaça que sociedades secretas como a
Maçonaria e a Carbonária representavam ao poder da Igreja, bem como
o arrefecimento dessas ameaças no século XX refletiu na redução das
publicações condenatórias, seja na forma de bulas ou mesmo do Novo
Código de Direito Canônico.
O objetivo desta peça de arquitetura, de caráter introdutório, é
apresentar os motivos das condenações pela Igreja da Maçonaria, os
principais documentos condenatórios e a situação atual. Para isso, o
trabalho está estruturado em duas partes. Na primeira discorremos sobre
as origens da Ordem Maçônica e o contexto das condenações. Na
segunda, apresentamos as principais condenações, descortinamos o
panorama atual e especulamos sobre o futuro.

Nossas origens
A criação da Maçonaria especulativa remonta ao século XVI, na
Escócia, embora a fundação da Grande Loja de Londres, no século
XVIII, seja um marco fundamental por ter se tornado, por convenção, o
ano oficial do surgimento da Ordem em sua modalidade especulativa. A
Revolução científica, sob os gênios de Copérnico, Galileu, Newton e
Kepler, dentre tantos outros, contrasta com a assimilação simbólica dos
instrumentos de construção por homens que, a princípio, não tinham
relação com a arquitetura ou a engenharia. Obviamente, nesse período a
fronteira entre a ciência e a especulação filosófica não estava definida.
Prova disso é que homens da ciência praticavam a alquimia, o ocultismo
e o esoterismo. Sir Robert Moray e Elias Ashmole estão entre os
primeiros maçons especulativos e, pasmem, foram fundadores de uma

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

das academias de ciência mais prestigiadas do mundo, ainda nos dias de


hoje, inclusive. Estamos falando da Royal Society, de Londres.
Assim como Stevenson (2009), somos levados a especular que, na
medida em que a razão começa a sobrepujar a fé como matriz de
racionalidade predominante, homens ilustrados resistiram em abandonar
as raízes de uma tradição milenar, na qual as respostas para os dramas
humanos e da natureza eram buscadas na transcendência. A maçonaria
especulativa emerge desse caldo de cultura, em que o misticismo, a fé
religiosa, a ciência e o esoterismo se mesclam para dar forma a uma nova
ordem, cuja estrutura básica, velada em símbolos e alegorias, atravessaria
os séculos e chegaria até nós. O resgate das “Old Charges” ou antigos
costumes, compilados pelo Reverendo James Anderson nas
Constituições da Maçonaria e os “Landmarks”, ou limites da ordem,
formaram o arcabouço sobre o qual se desenvolveram ritos e rituais, os
mais variados. A fundação da Grande Loja de Londres, oriunda da fusão
de quatro lojas que se reuniam em tavernas, é considerada a pedra
fundamental sobre a qual se erigiu a Maçonaria especulativa, que tão bem
se apropriou da simbologia impregnada nas antigas guildas (corporações
de ofício) de construtores medievais.
A metáfora da construção do templo interior, que constitui o
verdadeiro segredo da maçonaria e que só pode ser desvelado individual
e introspectivamente, estava pronta para ser desenvolvida em nossos
templos físicos, que buscam retratar o templo da lenda do Rei Salomão.
Em meio a cisões, (como a que dividiu a Grande Loja de Londres
entre modernos e antigos, e as que ocorreram no Brasil nos séculos XIX
e XX), conciliações (como a que criou da Grande Loja Unida da
Inglaterra no século XIX), expansões (como as do período colonial
imperialista europeu), fundação de novos ritos e potências, criação de
rituais e adaptações a diferentes realidades e culturas, a Maçonaria
sobreviveu e cresceu até chegar ao século XXI, quando passa por um
processo de declínio numérico de adeptos.

As condenações
Em 1738 é publicada a Encíclica em forma de Bula In Eminenti,
pelo Papa Clemente XII, que assevera a pena de excomunhão (pena
máxima dada pela Igreja a um católico) a qualquer católico que fizer
parte de organizações que maquinam contra a Igreja, inclusive a
Maçonaria. É importante ressaltar que a Europa experimentara a pouco
tempo as guerras de religião e era formada por uma colcha de retalhos de
52
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

reinos, ducados, principados, terras da Igreja etc, disputados com unhas


e dentes, além dos ameaçadores projetos de unificação, que ameaçavam a
Igreja com a perda de terras, à época o patrimônio mais valioso que se
podia ter. Sociedades secretas como a Maçonaria eram vistas com
desconfiança, pois além da suspeita da usurpação das terras pontifícias,
havia também a questão da aceitação em seu seio de homens de
diferentes crenças religiosas. Isso em uma época em que católicos eram
proibidos de sequer dirigir a palavra a um protestante, e vice-versa. Sem
falar nas reuniões sigilosas, consideradas uma afronta a reis e à Igreja, e
por isso motivo do surgimento de teorias da conspiração.
Em 1751 Bento XIV lança a Constituição apostólica Providas,
também condenando católicos egressos ou postulantes a ingressar na
Maçonaria. Outras condenações se sucederam: Pio VII (1821), Leão XII
(1825) e Leão XIII (1884). As condenações não visavam somente à
maçonaria e tinham cunho político, não somente teológico. De 1738 a
1846, sucederam-se na cátedra de São Pedro, nove papas, que
produziram 14 documentos relativos à maçonaria. Entre 1846 e 1903 são
publicados 342 documentos contra a Maçonaria, sob o pontificado de
apenas dois papas (Pio IX e Leão XIII).
De 1903 a 1980, oito papas se ocuparam com a maçonaria cerca
de 15 vezes. Assim, a doutrina acerca da maçonaria compendiada no
Código de Direito Canônico é fruto de documentos que Pio IX e Leão
XIII publicaram, bem como as congregações romanas.
Publicado em 1917, o Código de Direito Canônico possui 14
cânones referentes à maçonaria ou aos maçons, sendo o mais célebre, o
cânon 2335, que assevera a pena de excomunhão aos católicos que
fizeram parte da Maçonaria. Realizado de 1962 a 1965, o Concílio
Vaticano II deu esperanças aos maçons católicos de que pudessem se
reconciliar com a igreja, pois “o Concílio não falou da maçonaria, mas
que se falou nela no concílio”(D. Méndez Arceo). Pela primeira vez,
desde 1738, a Santa Sé admite a existência de tipos de maçonaria isentas
de conteúdo contrário à igreja (católicos podem ingressar...).
A carta do cardeal Seper foi endereçada aos presidentes de
algumas conferências episcopais diretamente interessados no assunto, e
procurava abrir as portas para um debate e a revisão da postura dos
membros da Igreja em ralação à Maçonaria.
O Novo Código de Direito Canônico foi publicado em 1983.
Nele, desaparecem os cânones que condenam a maçonaria. O cânon
2335 é substituído pelo 1374, que condena as associações que maquinam
53
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

contra a igreja (a palavra maçonaria não aparece sequer uma vez).


Todavia, em declaração às vésperas da entrada em vigor do novo código,
o prefeito da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, Joseph
Ratsinger (futuro Papa Bento XVI), escreve que permanece imutável o
parecer da igreja com relação à maçonaria, o que gerou a confusão que
vemos hoje quando questionamos se católicos podem ou não ser
maçons. A declaração do ex-cardeal e atual Papa Emérito não tem valor
de lei, mas confundiu muitos, dada a sua autoridade.
A questão permanece em aberto, pois o Papa Francisco, que
mantém audiências com o papa emérito Bento XVI, se mostra ambíguo
no que tange à Maçonaria, ora ensaiando uma aproximação, ora
condenando-a. Assim, é na consciência de cada católico que o
posicionamento dissonante da igreja deve ser interpretado no que tange
ao seu ingresso e/ou permanência na Arte Real.

Referências Bibliográficas:

▪ BENIMELI, J. A. F., CAPRILE, G., ALBERTON, V. Maçonaria e


Igreja Católica: ontem, hoje e amanhã. São Paulo: Paulus, 2010.
▪ STEVENSON, D. As origens da maçonaria: o século da Escócia
(1590-1710). São Paulo: Madras, 2009.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

CELSO RICARDO DE ALMEIDA

Celso Ricardo de Almeida é servidor público, professor, pesquisador,


escritor e poeta. Formado em Administração de Empresas com
especializações em Filosofia da Religião; Maçonologia – História e
Filosofia; Psicanálise Clínica; Acupuntura; Gestão Pública; Gestão
Ambiental e MBA em Gestão Empresarial. É Dr. h. c. em Administração
pela Logos University e Dr. h. c. em Educação pela FABIG. É Mestre
Instalado pela GLMMG. Ex Venerável Mestre pela Augusta e
Respeitável Loja Simbólica “Casa do Caminho” do Oriente de
Fervedouro-MG. Atualmente está no Grau 18 do Rito Escocês Antigo e
Aceiro e no Grau 12 do Rito Adonhiramita. É Past Master do Real Arco.
Ocupa o cargo de Delegado Regional do Grão Mestre da GLMMG. Foi
o fundador e o idealizador da Confraria Maçons em Reflexão.
Participou do primeiro e segundo Volume da série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA É RELIGIÃO?

Iniciando a nossa argumentação, deleitar-me-íamos, partir do


princípio de que, tudo ligado à maçonaria ou a religião é passível de
controvérsia, polêmica e muitas opiniões, sem, contudo, haver uma
literatura correta ou uma normatização sobre o assunto. Assim cabe-
nos adiantar que, o que aqui se transcreve pode ser apoiado por alguns
e exortado por outros, tudo por causa das controvérsias e polemicas
que envolvem esses dois assuntos. E o motivo de a religião ser um
tema tão polêmico, tão discutível 1, é que não há provas concretas para
nada do que é discutido em religião, como por exemplo: “Deus criou
o mundo? O universo começou a partir do Big Bang? Caso uma
pessoa não siga as normas impostas, ela irá para o inferno? Tudo é
composto por átomos, impossíveis de se ver? As pessoas podem
renascer? O que acontece após a morte?”.
Talqualmente, a maçonaria é um ponto de interrogação e uma
fonte de dúvidas e curiosidade para os não iniciados nessa ordem, e não
é rara as interpretações equivocadas de seus símbolos e sinais,
transformando tudo em um terreno propicio para teorias conspiratórias,
como pactos com o diabo e outros.
Mas deixando de lado as teorias conspiratórias, polêmicas, as
contradições e as conversas sem fundamentação científica e partindo
para uma inquirição mais detalhada, ei-lo que a pregunta persiste,
MAÇONARIA É OU NÃO UMA RELIGIÃO?
Partindo do princípio de que apenas quem é dá maçonaria pode
dizer o que é, ou o que acontece na maçonaria, e embasado no que
expressou o Grande Oriente do Brasil, que é uma potencia/obediência
maçônica, somo forçados a admitir que A MAÇONARIA NÃO É UMA
RELIGIÃO, ela é uma sociedade que tem por objetivo unir os homens
entre si2”.
Toda via, conduzindo-se pelo princípio da isonomia, somos
obrigados a analisar todos os fatos, para posteriormente manifestar
nossas conclusões.
E partindo deste ínterim, somos conduzidos a analisar o que a
Igreja Católica Apostólica Romana manifesta sobre a maçonaria, já que a

1 LOBO, Marina. Por que a religião virou um tabu? 2015. Disponível em:
<http://www.colegiostockler-blog.com/?p=13432>. Acesso em: 11 nov. 2017.
2 https://www.gob.org.br/o-que-e-a-maconaria/

56
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

igreja católica foi a responsável por uma série de pronunciamentos e


documentos combatendo a maçonaria, como por exemplo:

Em 24 de abril de 1738, o papa Clemente XII escreve a


encíclica IN EMINENTI, em que condenou abertamente
pela primeira vez a maçonaria. A partir dessa palavra oficial
da Igreja foi proibido aos católicos pertencer á maçonaria.
Nos séculos seguintes inúmeros papas confirmaram essa
mesma posição por meio de diferentes documentos:
Benedicto XIV, Providas, 18 de maio de1751. Pio VII,
Ecclesiam a Jesu Chisto, 13 de setembro de 1821. LeãoXII,
Quo Graviora, 13 de março de 1825. Pio VIII, Traditi
Humilitati, 24 de maio de 1829. Gregório XVI, Mirari Vos,
encíclica, 15 de agosto de 1832. Pio IX, Qui Pluribus,
encíclica, 9 de novembro de 1846. Leão XIII, Humanum
Genus, encíclica, 20 de abril de 1884. Leão XIII, Dall Alto
Dell Apostólico, Seggio, encíclica, de 15 de outubro de
1890. A encíclica Humanum Genus, escrita por Leão XIII,
é um das mais fortes e extensas no que diz respeito a
indicar os erros da maçonaria e sua incompatibilidade com
a doutrina cristã. O papa ensina, nessa encíclica, que a
Igreja católica e a maçonaria são como dois reinos em
guerra3.

Apreciaria analisar mais profundamente a Bula Providas


Romanorum Pontificum, promulga pelo Papa Bento XIV em 18 de maio
de 1751. Neste documento ele enumera seis razões para a condenação a
maçonaria:

A primeira é que, nas tais sociedades e assembleias secretas,


estão filiados indistintamente homens de todos os credos;
daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a
pureza da religião católica. A segunda é a obrigação estrita
do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se
passa nas assembleias secretas. A terceira é o juramento

3PADRE REGINALDO MANZOTTI. Igreja Católica e Maçonaria. Disponível em:


<https://www.padrereginaldomanzotti.o rg.br/artigo/igreja-catolica-e-maconaria/>.
Acesso em: 06 dez. 2017.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

pelo qual os maçons se comprometem a guardar inviolável


segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se
numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a
prestar declarações ao legitimo poder. A quarta é que tais
sociedades são reconhecidamente contrárias às sanções
civis e canônicas. A quinta é que em muitos países as ditas
sociedades e agremiações foram proscritas e eliminadas por
leis de príncipes seculares. E a última é que as tais
sociedades e agremiações são reprovadas por homens
prudentes e honestos.

Após a devida análise, inferimos que em nenhum momento a


maçonaria é citada ou denominada como religião, ao contrário, quando a
maçonaria é citada no referido documento, é utilizado as denominações
“sociedades ou agremiações”, e nunca RELIGIÃO.
Mais recentemente em 26 de novembro de 1983, publicou em
L’Osservatore Romano uma “Declaração sobre as associações
maçônicas”, com o seguinte teor4:

“Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da


maçonaria, pelo fato de que no novo Código de Direito
Canônico ela não vem expressamente mencionada como
no código anterior. Esta Sagrada Congregação quer
responder que tal circunstância é devida a um critério
redacional, seguido também quanto às outras associações
igualmente não mencionadas, uma vez que estão
compreendidas em categorias mais amplas. Permanece
portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito
das associações maçônicas, pois os seus princípios foram
sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da
Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os
fiéis que pertencem às associações maçônicas, estão em
estado de pecado grave e não podem aproximar-se da
Sagrada Comunhão. Não compete às autoridades
eclesiásticas locas pronunciar-se sobre a natureza das

4 PRESPÍTEROS (São Paulo). A Maçonaria e a Igreja. 2011. Disponível em:


<http://www.presbiteros.org.br/a-maconaria-e-a-igreja/>. Acesso em: 29 nov. 2017.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

associações maçônicas com um juízo que implique


derrogação de quanto acima estabelecido, e isto segundo a
mente da Declaração, desta Sagrada Congregação, de 17 de
fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, p. 240-241)”.

Semelhante ao documento anterior, a maçonaria é denominada


como “ASSOCIAÇÃO” e não como “RELIGIÃO”.
Partindo desses documentos emitidos pela Igreja Católica
Apostólica Romana, surge a dúvida: Será que se a maçonaria fosse uma
religião, esse fato não seria motivo de uma bula papal? Ou melhor, caso a
maçonaria fosse uma religião essa denominação não entraria nesses
documentos emitidos pela igreja? Onde ao invés de constar “associação
ou sociedade” constaria A RELIGIÃO MAÇONICA?
Com a devida vênia, e analisando os fatos sob a ótica dos
documentos emitidos pela Igreja Católica Apostólica Romana, só vem
intensificar a interpretação de que a MAÇONARIA NÃO É UMA
RELIGIÃO.
Da mesma maneira, analisando as diversas citações de igrejas
evangélicas ou pastores, que conforme foi exposto, afirmam que a
maçonaria é uma religião, podemos relatar que essas manifestações são
muitas das vezes fantasiosas ou proferidas mediante fortes apelos
religiosos, com a intensão de trasmudar a ideologia religiosa de leitores.
No entanto, Barros (2011)5 diz que: “[...] Para a maior parte dos
evangélicos, a maçonaria é vista como uma entidade esotérica, idólatra e
carregada de simbologias pagãs”. Diante dessa afirmação, toda a
manifestação feita por evangélico sobre a maçonaria é colocada em
descredito.
Por fim, analisamos o parecer emitido pelo supremo tribunal
federal ao emitir o acordão número STF - RE: 562351 RS, cujo relator da
ação, o ministro Ricardo Lewandowski, entendeu que a maçonaria é uma
ideologia de vida, e não uma religião.
Para tanto, cumpri-nos determinar se um juiz tem o pode de
regular o que é ou não religião?
Para responder essa indagação, é necessário analisar inicialmente
qual é o papel do Juiz. Sendo que inquerindo sobre sua conceituação

5BARROS, Marcelo. Considerada pagã pela maioria dos evangélicos, entidade abriga muitos
crentes em suas fileiras.2011. Disponível em: <http://prcarloselias.blogspot.com.br/2011
/03/uma-polemica-chamada-maconaria.html >. Acesso em: 06 dez. 2017.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

percebemos que o “juiz (do latim iudex, "juiz", "aquele que julga", de ius,
"direito", "lei", e dicere, "dizer") é um cidadão investido de autoridade
pública com o poder e dever para exercer a atividade jurisdicional,
julgando, em regra, os conflitos de interesse que são submetidas à sua
apreciação”.
Em síntese, toda vez que há um conflito, cabe ao magistrado o
dever de solucioná-lo sobre a luz de leis. Na hipótese de não haver uma
lei, segundo Ferreira (2011)6, “o juiz irá produzir uma norma sentencial a
partir de outras fontes”.
Foi o que ocorreu na questão envolvendo a maçonaria e a religião,
sendo que na ausência de uma lei que determinasse o que é religião, o
relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski, utilizou para proferir sua
sentença a declaração da própria maçonaria e sentenciou que:

[...] Verifico, então, que a própria entidade declara


enfaticamente não ser uma religião e, por tal razão, parece-
me irretocável a decisão a quo, a qual, quanto ao tema
consignou: “A prática Maçom é uma ideologia de vida. Não
é uma religião. Não tem dogmas. Não é um credo. É uma
grande família apenas [...].

Concluindo, e baseando-se nas várias análises realizadas, podemos


asseverar que a MAÇONARIA NÃO É UMA RELIGIÃO, e o que
contribui para essa conclusão, além dos fatos analisados acima, e sua
própria definição, pois a Maçonaria é: “uma organização mundial,
milenar, essencialmente filosófica, filantrópica e educativa, formada por
homens sábios e virtuosos que unidos por estima, confiança e amizade
recíproca, se consideram irmãos entre si e trabalham voluntariamente
para o propósito comum de se aperfeiçoarem, através de uma filosofia
moral, velada por símbolos e alegorias.
Ou como sentenciou o ministro Ricardo Lewandowski: “maçonaria é
uma ideologia de vida não uma religião”.
Contudo, para eximir toda e qualquer dúvida a respeito deste assunto,
arrematamos essa dissertação com uma declaração oficial feita pela Grande Loja
Unida da Inglaterra que assim proclamou: “Maçonaria não é uma religião ou
um substituto de religião”.

6 FERREIRA, Adriano. Integração do Direito. 2011. Disponível em:


<http://introducaoaodireito.info /wp/?p=620>. Acesso em: 06 dez. 2017.

60
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Assim sendo, e mediante o que aqui foi exposto, concluímos que


MAÇONARIA NÃO É RELIGIÃO É UMA FILOSOFIA OU
IDEOLOGIA DE VIDA.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

CLEVELAND DAVIS ROCHA SANTOS

Cleveland Davis Rocha Santos, brasileiro, natural de Santo Amaro–BA,


casado, formado em Administração de Empresas pela Faculdade de
Administração de Candeias-BA, bancário, Mestre Maçom iniciado na
Loja Fraternidade, Amor e Justiça – Oriente de Barra e atualmente
membro da Loja Maçônica União e Harmonia Casanovense em Casa
Nova-BA.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

O tema Maçonaria e Religião nos faz refletir sobre diversos


fatores, que nos permitem realizar diferentes análises e que com certeza
não chegaremos a respostas definitivas, pois a cada pesquisa existe uma
nova descoberta, existe uma informação nova percebida por críticos e
estudiosos, assim elencamos as suas particularidades e as semelhanças
entre a Maçonaria e a religião, cada qual com sua característica, rito,
símbolos, livros, manuais e alegorias. Passemos a fazer uma análise
adotando uma reflexão de semelhanças sobre o tema abordado.
No principio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma
e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre
as aguas. Deus disse: “Que exista a luz!”. Assim está descrito no primeiro
livro da Bíblia Sagrada, o livro do Gênesis. Diante fato marcante para a
história da humanidade, na crença dos cristãos, Deus criou o mundo e o
livro de gênesis retrata esse fato carregado de símbolos.
Os símbolos céu e terra aparecem na história da criação por Deus
e sua representação nos faz analisar diversas características e
interrogações sobre o momento da criação, como surgiu realmente,
como se deu o ato da criação do mundo. O céu, para os cristãos vem a
ser o lugar mais perfeito que existe, o lugar onde Deus habita o lugar
onde as pessoas “boas”, as que realizaram boas obras na terra vão, após
cumprirem a sua missão na terra. A terra, o firmamento, criada por Deus
é o lugar onde o homem habita, é onde o homem nasce, cresce,
amadurece, envelhece e morre. O chamado ciclo da vida que
corresponde à série de mudanças onde os indivíduos de uma mesma
espécie passam desde o nascimento até sua morte.
Historicamente conhecemos diversas narrativas, principalmente
oriundas da Bíblia que a terra foi habitada inicialmente por Adão e Eva e
gerações seguintes até o nascimento de Jesus, nascido do ventre de Maria
por uma ação do Espirito Santo anunciada pelo anjo Gabriel. O Filho de
Deus, que se fez homem e habitou entre nós e após a sua morte
ressuscita no terceiro dia e retorna em espirito para o Pai (Deus) que está
no céu. Os cristãos conhecem Deus, Jesus e o Espírito Santo como a
Santíssima Trindade. O que os sacerdotes e religiosos da Igreja católica
relatam ser o grande mistério da Fé.
Analisando a religião, e aqui quero tomar, por exemplo, o
catolicismo, encontramos simbolismos e alegorias em quase sua
totalidade para existir. Tomemos por base a constituição assim tratada da
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Igreja católica, quando Jesus chama Simão e muda seu nome para Pedro
que significa pedra, “e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão”(Mt.16:18). Analisemos a partir desse
versículo extraído da Bíblia católica que já temos uma simbologia
representativa na mudança do nome para dar um significado. Para
justificar o seu nome a constituir-se a edificação da Igreja, e Pedro vem a
se tornar depois o primeiro Papa da Igreja católica tendo em
Roma(cidade do vaticano) a sua Cátedra-uma relíquia católica conservada
na Basílica de São Pedro em Roma dentro de um compartimento de
bronze, o assento de São Pedro. Notamos sempre símbolos em todos os
livros da Bíblia e nos diversos ritos religiosos. A escolha do Papa é uma
dessas simbologias marcantes, que denota de um rito onde Bispos se
reúnem de portas fechadas em reunião secreta, para decidir quem será o
novo Pontífice. Após essa escolha as pessoas que acompanham do lado
de fora do Vaticano tomam ciência a partir de uma fumaça escura se não
houver ainda uma definição e de uma fumaça clara se assim já estiver
escolhido o novo Pontífice. A partir daí tudo é simbólico, inclusive a
mudança do nome para honrar a tradição iniciada ainda com o primeiro
líder da igreja católica segundo a historiografia cristã. Tudo tem um
significado litúrgico, a exemplo de suas vestes, do sapato, do anel, do uso
da mitra (cobertura da cabeça do Papa) e outros símbolos.
Assim a maçonaria, que é conhecida, ou citada “pelos que não a
conhecem”, pelos seus símbolos, que nada mais são que representações
ou analogias de entendimento dos maçons. Desde a sua estrutura
arquitetônica aos seus graus, tudo tem um significado. Porém a forma
pela qual é, qual o seu significado? Significa GADU? Geômetra? Gnose?
Gênese? Qual o seu verdadeiro significado? E o Olho que tudo ver? É
maligno? É benigno? Qual o seu significado? Porque os maçons se
vestem de preto? Existe bode na maçonaria? E o juramento? Realmente
tem que ser dado um filho para o demônio para entrar na maçonaria? E
quando entra na maçonaria fica realmente rico? Para todas essas
perguntas temos respostas, mas essas respostas não são reveladas
tempestivamente como em um filme de ficção, ou em um programa de
perguntas e respostas. Elas veem com o conhecimento, com o estudo,
pois para cada símbolo temos um significado, uma representatividade
lógica, sendo que outros questionamentos são extremamente sem
fundamento que reservamo-nos a não responde-los diante falta de lógica
nas indagações mencionadas.

64
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

E de onde encontramos analogias entre a religião e a maçonaria.


Para ser maçom qual o primeiro requisito? Muitos podem se surpreender
com a resposta, mas é ter religião. Mas como assim ter religião? Ela não é
demoníaca? Claro que não. É puramente o desconhecer, que levam a tais
julgamentos. Em todo momento estamos energizados e conectados a
uma força suprema, chamada de Grande Arquiteto do Universo, aquele
que criou tudo o que conhecemos tudo o que é natural, o céu, a terra, o
mar, os animais, o homem. De maneira tão perfeita como um verdadeiro
arquiteto que antes de executar sua criação, planeja, estuda, executa e
realiza as mais belas obras. Não se torna maçom, não tendo religião. É
preciso acreditar em uma força superior, uma força que nos impulsiona
que nos faz acreditar diariamente que somos criaturas em eterna
aprendizagem.
Diariamente aprendemos algo novo, somos assim eternos
aprendizes. O aprendiz é aquele que está sempre disposto a aprender,
que está sempre valorizando seus mestres e fazendo dos seus irmãos
verdadeiros companheiros.
Citei a criação, o Criador e a criatura, assim podemos analisar que
existe uma conjuntura tanto na religião quanto na maçonaria onde passo
a descrever a partir de agora. A premissa básica para ser maçom é crer
em um Ser Superior, logo ateu não pode ser maçon. Para tanto é preciso
ser escolhido, e o processo de escolha não é aleatório, é um processo
complexo e bastante elaborado, é preciso ser livre e de bons costumes, é
preciso ser patriota, é preciso respeitar seus familiares, ter boa conduta, é
preciso ser fiel, é preciso estar em dias com suas obrigações cívicas,
politicas, sociais, e familiares.
Mas, porque tudo isso? Não poderia colocar qualquer um na
maçonaria? Poderia, mas quem instituiu a organização Maçonaria,
pensou em um projeto de melhoria humana, onde reunisse pessoas
dispostas, diante de suas qualidades, tentarem tornar a humanidade
melhor, por isso esse processo de escolha é tão sofisticado.
Mas mesmo assim, acontecem falhas? Sim acontecem, pois a
ordem está pronta, seus membros não. É uma eterna aprendizagem. É o
que chamamos de desbastar da pedra bruta intrinsecamente baseada no
conhecimento. Os símbolos utilizados pelos maçons nas oficinas são
assim representados para o melhoramento, cada um com seu significado
para o engrandecimento e autoconhecimento do homem em sua
essência.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A falta de conhecimento de algumas pessoas leva a conceitos


equivocados acerca dos fatos reais e se não forem bem observados levam
a ignorância. É preciso estar atento e pesquisar antes de comentar ou
formar conceitos de forma a julgar.
Imaginemos um convite a uma determinada pessoa da seguinte
forma: Em um domingo você irá para um local fechado, onde
juntamente com outras pessoas seguirão alguns ritos onde ficarão em pé,
entrarão pessoas com trajes específicos para o dia, será feito um sinal
individualmente que tocará a testa, o peito, o ombro esquerdo e o
direito, ficarão em silencio, pode acontecer de bater palmas, depois vão
sentar, ouvirão leituras, irão ajoelhar, farão ofertas e em determinado
momento serão reunidos em volta de uma mesa e será apresentado um
cordeiro em sacrifício e após falas proferidas pelo sacerdote será
distribuído o corpo e o sangue do cordeiro imolado, e todos irão comer
e beber em torno da mesa. Seria estranho? Apresentado dessa maneira
sim. Mas estou falando da Missa. Através de símbolos, seguem ritos que
para quem não conhece do que está sendo mencionado achará que se
tratava de algo negativo, algo obscuro, um ritual sangrento. Mas tudo
parte do contexto do conhecimento e de como é anunciado. Logo o
conhecimento é a chave para o entendimento. Sem o devido
conhecimento você estará fadado a ser um preconceituoso.
Assim chegamos a análise profícua que sem o conhecimento,
seremos ignorantes, sem o conhecimento seja da maçonaria ou de
qualquer religião, seremos levados a preconceitos, que submetem ao
desrespeito. Ouvimos muito citar sobre a intolerância religiosa, que parte
justamente dessa falta de conhecimento e achar que a religião que cada
um escolhe e professa a sua fé é a melhor. Essa ideia de ser o melhor, de
ter o melhor é totalmente inversa ao que o criador preparou para a
humanidade, ele deixou uma ideia de que somos irmãos, de que devemos
aceitar o outro, que devemos respeitar o outro independente da sua
religião, cor da pele, sexo, e infelizmente não vivemos essa realidade.
Mas nem tudo é negativo, conhecemos um lugar que homens se
tratam como irmãos, se respeitam como irmãos, respeitam o outro
independente da sua religião, posição partidária e assumem laços
familiares de respeito a todos que compõem a família, esse local é a
Maçonaria. Tao criticada, mas que partindo de uma análise profunda é a
que se aproxima melhor do proposito do criador, o qual chamamos
Grande Arquiteto do Universo.

66
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A ideia de liberdade, igualdade e fraternidade vão além de uma


frase de efeito. É uma realidade que deve ser seguida e praticada por
todos os maçons e não maçons se quiserem um mundo mais justo em
busca da perfeição.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

CREMILTON SILVA

Cremilton Silva, Mestre Maçom, Placet número 9915, Iniciado em


10/10/1984, Remido em 29/05/2015, Filiado em 08/2011 à Augusta e
Respeitável Loja Simbólica “Deus e Fraternidade” número 292 do
Oriente de Cristina-MG Sob os Auspícios da Grande Loja Maçônica de
Minas Gerais – GLMMG. Palestra em 22/08/1997, na Augusta e
Respeitável Loja Simbólica “União Sertaneja” número 8 do Oriente de
Sete Lagoas-MG pelos 100 anos de Fundação. Prêmio Literário no IV
Concurso Literário GOB-MG- “Obreiros em Tempo de Articulação
IV”. Participação no Livro “Maçons em Reflexão: Qual é o Segredo da
Maçonaria?” – Volume II – Ano 2020.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO, UMA LIGAÇÃO INDISSOLÚVEL

Caminham de Forma, Propósitos e Objetivos diferentes,


mas na mesma direção visando o Bem-estar dos humanos.

O tema em questão por si só é instigante. Pois, estamos aqui


abordando duas instituições de tradição milenar que trazem semelhanças,
cujo foco é direcionado para o bem-estar do Ser humano. Ambas
pregam o amor, a liberdade, a solidariedade, fraternidade e, sobretudo,
crença em Deus. Porém, a grande diferença e geradora de muitas
controvérsias decorrem no entendimento do que é Maçonaria e do que é
Religião.
Primeiramente, vale ressaltar que o descompasso da Religião em
relação à Maçonaria sempre existiu e existirá, uma vez que cada uma
delas tem objetivos e propósitos distintos. Somando-se a isso, o fato da
Religião ser aberta e a Maçonaria, fechada, abre-se espaço para que no
mundo profano surjam achismos, distorções, e ideias equivocadas em
relação à Maçonaria.
O Ser humano por natureza é essencialmente espiritual e o seu
instinto é buscar a completude em Deus. Ao perceber a intensa
necessidade de Deus, busca na Religião (Re-ligare) a razão existencial e o
sentido real de viver. Com isso, de modo geral em qualquer cultura, ao
nascer o Ser humano já é levado a acreditar em um Deus.
As Religiões com o tempo se multiplicaram, mas seja ela qual for
conduz o Ser humano para Deus e esse é o seu papel. Por ser uma
instituição aberta, recebe o fiel que se propõe a seguir a sua doutrina.
Tanto é que ao procurarmos o conceito ou significado de religião vamos
confirmar essa afirmação, ou seja: “É a crença na existência de um poder
sobrenatural, do qual depende o destino do Ser humano” ou “É um
conjunto de símbolos e rituais que possui significados amparados pela
crença de fiéis que se identificam com a organização religiosa”.
Para estudar e definir DEUS foi criada uma ciência, a Teologia,
que estuda DEUS e suas manifestações através de deduções intrínsecas
de cada um, tornando, por conseguinte o teólogo, um iluminado. Ele
procura explicar tudo pelos esquemas religiosos que possui. Portanto, a
preocupação com os mistérios da vida e da morte são comprovados pela
extensa variedade de cultos e religiões, onde se busca a necessidade
básica da fé, atributo imprescindível para se acreditar nas verdades
religiosas.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Em relação à Maçonaria, é diferente. Para bem definir, entender e


opinar sobre Maçonaria não há outra maneira senão dela fazer parte,
sabendo ainda que para ser iniciado na Maçonaria, não basta
simplesmente querer, mas ser convidado por um Mestre Maçom. Desde
iniciado, o que o Maçom mais ouve é o verdadeiro conceito do que é
Maçonaria. É através do ritual que esse entendimento começa a se
consolidar e ao mesmo tempo fazê-lo sentir que para bem entender a
Maçonaria fazem-se necessários, comprometimento, dedicação, muita
leitura e pesquisa.
Um profano pode perfeitamente ter uma ideia do que vem a ser
Maçonaria, embora uma enciclopédia inteira não seja suficiente para
explicar as origens, os rituais e a simbologia maçônica. A sua definição
clássica e resumida é: “Maçonaria é uma Instituição que tem por
objetivo tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo
aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade,
pelo respeito a autoridade e à religião de cada um”. É uma
instituição DISCRETA SIM, SECRETA NÃO. As reuniões são
exclusivas para seus membros. Embora seja vista por muitos como uma
sociedade secreta, há realmente, uma grande diferença entre estes dois
conceitos. Como secreta dever-se-ia entender que se encobre na
Maçonaria algo que não pode ser revelado, quando por discreta, entende-
se que se trata de ação reservada e que interessa exclusivamente àqueles
que dela participam. Essa ação reservada, que pode ser interpretada
como segredo é impossível ser explicado e comunicado ao mundo
profano. Dela fazem parte, por exemplo, o simbolismo dos ritos, dos
sinais, toques e de palavras. Esse simbolismo pode ser revelado e
explicado, mas só os iniciados conseguem verdadeiramente compreendê-
lo. Por outro lado, o segredo maçônico não é material, é um sentimento
e o resultado do processo de aperfeiçoamento pessoal. Por ser íntimo,
individual e do domínio do transcendente e do sentir, considera-se que é
um mistério incomunicável, interior.
A Maçonaria se reveste de seis características básicas que a
diferenciam de qualquer outra instituição. É uma ordem iniciática
(porque só entra quem se sujeitar a uma cerimônia de iniciação),
ritualística (porque assenta em ritos e simbolismo), universal e fraterna (o
objetivo último é o estabelecimento de uma fraternidade universal),
filosófica (por procurar responder as interrogações profundas do Ser
humano) e progressista (porque visa o progresso da humanidade). Todos
estes princípios assentam no livre pensamento e na tolerância,
70
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

permitindo o aperfeiçoamento do homem, a edificação de uma sociedade


justa e igualitária e o progresso da humanidade através da elevação moral
e espiritual. Suas raízes são antigas. A Maçonaria é herdeira das
associações de artistas do mundo antigo, especialmente do Egito, Grécia
e Roma; estando também ligada as corporações de pedreiros da Idade
Média. Porém, o movimento que deu origem a Maçonaria moderna
recua a 1717, quando quatro Lojas de Londres se juntaram numa especial
de federação: Grande Loja de Londres.
Historicamente, as lojas maçônicas foram palcos de conspirações,
tanto pelo lado político como também religioso. Ainda que a Maçonaria
descenda da tradição Judaico-Cristã, os pensamentos são
substancialmente distintos. A Igreja Católica é dogmática, enquanto na
Maçonaria vale o livre pensamento. Coube ao Papa João XXIII eliminar
do direito canônico a norma que determinava a excomunhão direta dos
membros da “seita maçônica”. E a maioria dos templos maçônicos o
livro sagrado adotado é a Bíblia, que para os Maçons são o Livro da Lei.
A influência da Bíblia reflete-se em várias situações e tem inspirações por
analogia simbólica no Tabernáculo Hebreu e no Templo de Jerusalém,
mesmo que indiretamente. Esta associação de imagens tem reflexos das
raízes operativas da Maçonaria agrupadas na visão dos construtores de
catedrais da Idade Média, cuja corporação era uma das mais organizadas
e fechadas da época. O Livro da Lei ou o Livro Sagrado utilizado em
determinadas sessões é aquele representativo da orientação religiosa do
obreiro, podendo optar-se, nos casos de juramentos iniciáticos, quando o
candidato faz a promessa da sua obrigação, pelo uso do Alcorão ou da
Torá, quando se tratar de mulçumanos ou judeus, respectivamente,
dentre outros livros básicos de natureza religiosa. Não oferecer esta
alternativa seria negar a universalidade da Maçonaria.
A história nos mostra que Maçonaria e Igreja Católica são as duas
instituições mais antigas da humanidade e trazem muitas semelhanças
(atos, gestos, ritos, cargos, etc...). Qualquer Maçom, que seja da Religião
Católica pode afirmar de forma inconteste as semelhanças entre uma
sessão maçônica e a santa missa. E aqui não há nenhuma pretensão de
igualar uma à outra, mas sim ilustrar a LIGAÇÃO INDISSOLÚVEL
entre estas instituições. Vejamos então onde estão tais semelhanças:
• O último grau do Rito Escocês é a mesma idade de Cristo quando
crucificado;
• Tanto uma missa solene, como numa sessão maçônica usa-se: velas,
incensos, altares;
71
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

• O ritual de abertura dos trabalhos (Maçonaria) e da missa (Igreja) se


faz, com o Livro da Lei (Bíblia);
• O Tronco de Solidariedade (sessão) e as doações na hora do
ofertório (missa);
• Ambas pregam a libertação dos vícios e a busca da virtude, além da
crença inabalável num Ser Supremo;
• O Livro da Lei está posto nos altares das duas instituições.
Poderíamos destacar outras mais, a lista é extensa. Porém,
necessário se faz destacar também os pontos conflitantes, ou seja, as
fronteiras que as delimitam, bem como, os princípios Maçônicos
incompatíveis com a doutrina da Igreja.
A *RELIGIÃO* crê em Deus e nos dogmas, estabelece uma
conexão divinal entre o Homem e DEUS no sentido transcendental,
místico, divinal e revelador e a sua natureza é a de um amortecedor para
os sofrimentos, vicissitudes e necessidades. A essa doutrina dá-se o nome
de TEÍSMO. A *MAÇONARIA* estabelece uma conexão que busca
entender a relação entre o Homem e o UNIVERSO a partir do exercício
contínuo da ESPECULAÇÃO e do PENSAMENTO e a sua natureza é
antropocêntrica, hominal e intelectual. Admite a existência de um Deus
criador, mas questiona a ideia da revelação divina ou dogmas, não
considera ou crê em intervenções sobrenaturais. Considera a razão como
paradigma para assegurar a existência de Deus, como princípio criador
do Universo. A essa corrente filosófica dá-se o nome de DEÍSMO.
Ao aprofundarmos nessa linha de comparação, vamos deparar
com dezenas de princípios Maçônicos incompatíveis com a doutrina da
Igreja. Apenas como ilustração vale destacar alguns mais relevantes:
• O conceito maçônico de Religião em que todas elas, em última
análise, são tentativas entre si competitivas, de enunciar a verdade
divina, a qual é relativa, não pode conciliar-se com a convicção
cristã, que pretende ter a exclusividade da verdade divina;
• O conceito maçônico de Deus – o Grande Arquiteto do Universo –
é uma concepção Deísta, ou seja, um “Ser” neutro, indefinido e
aberto a toda compreensão possível e impessoal, quando a
concepção da Igreja é Teísta, de um Deus bem definido, que a todos
interpreta e julga;
• A Religião busca o aperfeiçoamento visando o Além, enquanto a
Maçonaria busca o aperfeiçoamento do Aqui e o Agora;

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

• A Maçonaria coloca-se imparcial entre todas as crenças religiosas e


teorias filosóficas, e acima de tudo as suas controvérsias, para fazer
da liberdade de pensamento, o seu fundamento;
• No seio da Maçonaria, os homens de todas as Religiões podem
reunir-se sem se hostilizarem e, numa atmosfera de paz e serenidade,
trocar as suas ideias em busca do aperfeiçoamento moral da
humanidade;
• A Maçonaria é a única associação que reúne, sob todas as abóbadas,
os adeptos de todos os cultos para glorificarem, em comum, o
Grande Arquiteto do Universo que é Deus, ideia que encerra: na
ordem física, a expressão do Equilíbrio Universal; na ordem
intelectual, a Suprema Inteligência que tudo rege e prevê; e na ordem
moral, a Justiça Imanente;
• A Maçonaria não tolera a hipocrisia;
• A Maçonaria condena o fanatismo e a obsessão religiosa.
Concluindo, podemos afirmar que apesar das incompatibilidades
entre as duas instituições, ambas sempre tiveram e terão uma ligação
indissolúvel. Caminham de forma, propósitos e objetivos diferentes, mas
na mesma direção visando o bem-estar dos humanos.
Quanto a nós Maçons, devemos nos concentrar e continuar nossa
missão. Nosso trabalho é de consolidação na luta de preparar homens,
combater a ignorância em todas as suas manifestações. É uma escola
mútua que impõe este programa: obedecer às leis do país, viver segundo
os ditames da honra, praticar a justiça, amar o próximo, trabalhar
incessantemente pela felicidade do gênero humano e para conseguir a
sua emancipação progressiva e pacífica. Este é o nosso Norte!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

DANIEL RUWER

Daniel Ruwer, 43 anos, Psicólogo, com Pós-Graduação em


Psicooncologia, Mestrado em Educação nas Ciências, Professor
Universitário entre 2010-2018. Mestre Maçom, iniciado em 29/08/2016
na Loja Harmonia e Trabalho nº 211, Oriente de Ijuí – RS. Filiada a
Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul. Rito Schröder.
Contato: (55) 99652-3982 – phronesispsicologia@gmail.com. Participou
do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

LAICIDADE

Maçonaria e religião possuem uma vasta história de aproximações,


encontros e desencontros, muitas vezes conflituosos e quase sempre
repletos de entendimentos equivocados. Qual o real vínculo entre nossa
fraternidade e as religiões? Seria a própria maçonaria uma religião? Se
opõe ela à religião? Possivelmente esse seja um dos campos mais repletos
de mistificação no que concerne a maçonaria.
Não é novidade que muito se especula acerca das características
ditas misteriosas de nossa sublime Ordem. Muito se supõe sobre o fazer
maçônico e fundamentalmente sobre seus rituais. Nesse ponto, talvez, se
coloque uma das mais significativas construções imaginárias e
obviamente falsas no que tange a maçonaria. O termo ritual é facilmente
confundido com caráter religioso, assim ao referirmos a ritualística
maçônica, comumente se acredita que se trate de algum ritual daquele
campo, possivelmente, pelo curto conceito que se faz do termo, que não
fica restrito à religião.
Segundo Rigoli (2016) ritual pode ser definido como a forma de
agir e fazer padronizado dentro de um Rito Maçônico (p.157). Esse
último, “é uma espécie de ‘sistema de ensino’ composto de um conjunto
de regras disposto nos ‘Rituais” (p.157). Refere-se à condução do
cerimonial maçônico durante uma sessão e não possui o caráter de uma
celebração religiosa. Nesse sentido, ritual concerne estritamente às
práticas desenvolvidas durante a sessão maçônica que possuem caráter
simbólico e que visam especificamente o aprendizado e o
aperfeiçoamento do homem.
A fantasia corrente, no entanto, considera que nosso ritual é
religioso e ainda, engenhosamente, o qualifica como sendo de ordem
maligna, diabólica - ou seja, como uma ‘religião’ do mal. Imagina-se que
o ritual envolva práticas mágicas e inclusive sacrifícios. Tal construção é
fruto do desconhecimento e da constituição de narrativas inverídicas,
muitas vezes intencionais, que objetivaram denegrir e atacar a ordem
maçônica em vários momentos da história.
Esse ponto encontra-se no centro dos vínculos, por vezes
conflituosos, entre a religião e a maçonaria. Várias instituições religiosas
já declararam sua contrariedade relativa à Ordem, justamente por supor
se tratar de uma organização que cultua divindades malignas e contrárias
aos princípios religiosos. É sabido que várias Igrejas ainda mantêm

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

restrições aos seus membros no que tange a sua participação na


maçonaria.
Se por vezes a maçonaria foi colocada como aliada das inúmeras
religiões, inclusive em seu período operativo, na própria construção dos
templos físicos de igrejas medievais, na maior parte do tempo a relação
entre as instituições foi conflituosa. Desmistificar a crença e o imaginário
corrente, esclarecendo qual o caráter ritualístico e os objetivos de uma
reunião maçônica podem contribuir para a desconstrução desse tipo de
relação negativa.
Nossa indagação, no entanto, vai para além da relação da
maçonaria com as religiões oficiais. Direciona-se ao caráter da própria
maçonaria. Seria ela religiosa?
Reiteramos, seus rituais possuem caráter estritamente simbólico e
não religioso. Não se pratica qualquer tipo de culto na maçonaria. Não
somos uma instituição voltada para a (RE)ligação do homem a Deus.
Mas, uma fraternidade humanista que visa o aperfeiçoamento do
indivíduo e, por conseguinte, da sociedade. Essa é a função essencial dos
Ritos – vivenciar tradições simbólicas que esclarecem e auxiliam no
aprendizado e crescimento do maçom.
Seria o maçom, então, ateu? De forma alguma. É condição para o
ingresso na maçonaria que o candidato seja um homem livre, de bons
costumes e que acredite em Deus. Assim, mesmo que não se pratique
qualquer religião na maçonaria, é critério acreditar em um ser superior.
Isso se deve ao caráter laico da maçonaria. Instituição
fundamentalmente republicana, mantem os valores pétreos desta
concepção, dentre eles a laicidade. Isto é, a não adesão a nenhuma
religião internamente, deixando livre aos seus membros a crença e a
prática religiosa. Assim, há maçons cristãos, muçulmanos, budistas,
judeus, espiritas e de qualquer outra denominação. A maçonaria não se
opõe a qualquer organização religiosa, ao contrário, exige que seus
membros possuam crença em Deus, não determinando qual seja. Ao
preço de não atentar contra o caráter de liberdade inerente a fraternidade
e de cada irmão.

Referências Bibliográficas:
▪ RIGOLI, Gilson. Fragmentos da história de Friedrich Ludwig
Schröder e o Rito Schröder. Gráfica e Editora GD: Ijuí /RS, 2016.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

DILSON GOMES DE ANDRADE

Dilson Gomes de Andrade é formado em Técnicas Agrícolas pela Escola


Agrotécnica Federal de Catu-Bahia. Formado em Administração de
Empresas pela faculdade EAD UNOPAR Polo de Barra-Bahia. Micro
Empresário, proprietário da Empresa Recarga & Cia desde o ano de
2010. É obreiro da Loja “Fraternidade, Amor e Justiça” nº 24 – Grande
Loja Maçônica do Estado da Bahia - GLEB - REAA do Oriente de
Barra – Bahia. Iniciou em 27/04/2013. Cargos em Loja: Primeiro
Diácono (um ano), Chanceler (um ano), Secretário (três anos), Primeiro
Vigilante e atualmente é o Venerável Mestre. Altos Corpos: Atualmente
no Grau 27 (Grande Comendador do Templo). Já atuou no Conselho
Consultivo da Ordem DeMolay pelo período de um Ano. Atualmente é
Guardião Associado da Ordem Filha de Jó do Bethel Jemima nº 006 de
Barra-Ba. Participou também de Conclaves da mesma Ordem. Foi
Guardião das Abelhinhas da Colmeia Néctar de Acácia, nº 09 pelo
período de dois anos. Participou do Volume II da Série Maçons em
Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Tema bastante recorrente, sempre atual e com muitas divergências


por parte daqueles incultos que geralmente confundem a nossa Sublime
Ordem como sendo uma Religião.
Segundo o dicionário, Religião deriva da palavra latina religio, que
significa "prestar culto a uma divindade", “ligar novamente", ou
simplesmente "religar".
Na definição do termo religião poderemos encontrar muitas
crenças, valores e filosofias diferentes. Diversas religiões do mundo são
de fato muito diferentes entre si. Porém, ainda assim, é possível
estabelecer uma característica em comum entre todas elas. É fato que
toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente
envolvendo divindades ou deuses e neste caso comprovadamente a
Maçonaria não se encaixa como religião.
O que acontece é que diversas religiões com suas crenças
introduziram princípios religiosos em diversas organizações,
principalmente a destinada a filantropia, quando ai se confunde uma das
nossas premissas.
Como sabemos, nos é exigido que para adentrarmos na Maçonaria
não é exigido que professemos uma religião e sim crermos num principio
criador o qual chamamos de Grande Arquiteto do Universo, daí pois o
objetivo fundamental de toda sociedade religiosa é o culto a divindade.
A maçonaria tem como principio professar as mais diversas
religiões. O nosso Brasil possui na sua maioria a religião católica e adota-
se a Bíblia como livro da lei. Em outras nações, outros livros podem
ocupar lugar de destaque nos Templos Sagrados como por exemplo: O
Alcorão, a Tora, o Livro de Maomé, os Vedas etc., de acordo com a
religião de seus membros.
Aqui no Brasil a Maçonaria até certo tempo atrás mantinha um
bom relacionamento com a igreja protestante, visto que como sabemos
os primeiros cultos deles foram realizados dentro dos nossos templos
sagrados como, por exemplo, até aqui em nossa querida Bahia.
Particularmente em nossa cidade de Barra-Bahia, temos muitos
irmãos maçons que são ligados diretamente com a igreja católica e
muitos fazendo parte diretamente de projetos da referida igreja. O nosso
bispo Dom Frei Luiz Cappio (ficou muito conhecido em todo o Brasil
por fazer duas greves de fome para defender o Rio São Francisco da
transposição, pois entende que um anêmico não pode doar sangue) em
78
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

suas palavras diárias sempre menciona o nome dos maçons como sendo
“ há se não fosse os maçons” como estaria a nossa igreja e a nossa
comunidade, afirmando assim que os maçons fazem a diferença na vida
da comunidade, pois ele conhece profundamente o coração de cada um
de nós que prima sempre pelo bem comum, ajudando a todos
independente de qual religião professam.
Diante de todos os fatos apresentados acima posso afirmar que a
Maçonaria não é uma religião, e quem discorda de tal afirmação é por
que não a conhece por dentro ou não foi iniciado ( se não for nunca irá
conhecer ) e exatamente por não a ser é que ela a Maçonaria mantem
total respeito as diversas religiões existentes no Orbe Terrestre, inclusive
a minha que pertenço e sou de família católica e também a vossa.
E por exatamente tudo isso é que para sermos felizes e é o que
nos importa nessa vida e nesse Orbe que o essencial é vivermos
respeitando todas as religiões existentes.
Portanto, a Maçonaria apresenta-se como uma religião natural do
homem e é por isso que se afirma ter sua origem no começo da história
da humanidade.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

DOUGLAS EDUARDO DE FREITAS

Douglas de Freitas CIM 21329, 52 anos, é formado em Administração


com Pós-Graduação em Marketing, Gestão Empresarial e Especialista
em Televisão com passagens na TV Alterosa (SBT) e TV Integração
(REDE GLOBO) (atualmente) – Entrou na Maçonaria em 2014 na Loja
Cataguazense, 052 – Oriente de Cataguases – MG. Escreveu vários
textos e poesias maçônicas ficando em 3º lugar no Concurso Nacional da
ACADEMIA MAÇÔNICA DE CIÊNCIAS LETRAS E ARTES DA
COMAB em 2020. Tema: “Maçonaria: ontem, hoje e amanhã”.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

- “Isso deve ser coisa do Capeta!” Era o que se ouvia de duas


carolas saídas da missa, ao virem dois cidadãos de meia idade,
elegantemente trajando preto, apontando pela curva da esquina da
Matriz.
- Olha lá! Devem estar indo para aquela seita maldita...
- Na certa, vão sacrificar outro bode hoje, por isso a roupa de
velório.
Com passos firmes, porém, tão suaves quanto suas consciências,
se dirigiam a um local muito conhecido pela fachada, mas muito
desconhecido pelo pouco que se sabia sobre o que abrigavam aquelas
suntuosas colunas.
Quase sempre se reuniam e tudo saía no mais justo e perfeito
estado de ordem e euforia, nunca antes registrado nas poucas reuniões
daquela cidade do interior de Minas. Dotada de forte religiosidade, as
poucas aglomerações ocorriam na Câmara Municipal, na Igreja do
Rosário e na praça da Matriz. Localizada a poucos passos dali, a Loja
Maçônica era um local discreto e muitos evitavam trafegar por aquela
calçada. Ao final, já no andar da noite, as portas se abriam e, aos poucos,
e ainda bem-dispostos, todos saiam elegantemente daquele local
sombrio, que provocava desconforto em grande parte da cidade. Muitos
se misturavam aos poucos que ainda restavam pelas ruas com destino
aos seus descansos. E outros, ainda tinham assuntos, já então ditos
normais, por aqueles que se atreviam a escutar a conversa.
Já com idade suficiente de discernimento, morria de medo e
curiosidade para saber o que se fazia lá dentro e qual era aquela
famigerada religião. Se tinham um bode de bronze como seu Deus, e por
que não podíamos entrar e matar de vez a minha curiosidade? Assim,
diante desse enredo “desaforento”, fui ter com o Sr. Paulo, dono da
venda, já que se misturava com essa turma de homens secretos, e que
vestiam luto, para suas noites de terror. Peguei um crucifixo, que ficava
na parede do quarto, banhei de água benta retirada da entrada da igreja,
escondi no rego da calça e pensei:
- Qualquer coisa eu queimo ele com esse crucifixo.
Me dirigi até a sua residência, e recebido por ele, olhei bem em
seus olhos a fim de descobrir, de uma vez por todas, quais os segredos
que envolviam essa “religião dos infernos”, que ninguém sabia dizer
nada e causava tanta curiosidade e medo.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Com olhar sereno, voz firme e com palavras bem pronunciadas se


dirigiu a mim:
- Em que posso ajudar meu filho?
Isso foi muito forte e tudo o que eu queria ou pensava em fazer
caiu naquele momento. Foi como se toda a coragem do mundo se
“esvaidecesse”. Inseguro para fazer a pergunta, já não sabia se queria
continuar ali, ainda mais com a ponta do crucifixo que começou a me
incomodar. Pensei o que poderia dizer naquele momento e a
espontaneidade de minha pouca idade me ajudou.
- É verdade que na casa da maçonaria vocês praticam a religião do
“Coisa-Ruim”?
Sua expressão mudou. Olhou para mim com um olhar paterno e
disse: - venha aqui comigo no meu escritório que vou lhe explicar essa
história.
Se ajeitando numa cadeira de dois lugares e com uma bondade
expressa nos olhos, sorriu... E começou...
- Maçonaria não é religião... e nós nos reunimos para o nosso
crescimento moral e a prática do AMOR entre os Irmãos. Buscamos
sempre o melhor para nós, nossa sociedade e nossa nação. Em nossos
encontros, praticamos um ritual muito antigo, em nome de nossos
antepassados e, principalmente, para nosso aprendizado. Toda nossa
Loja, como chamamos nosso Templo, é repleta de ensinamentos através
de suas alegorias e de sua organização. Combatemos os vícios e as
paixões, e praticamos o respeito às diversidades. Lá somos todos iguais,
Irmãos... não tem pobre nem rico, não tem cor, credo, idioma, origem,
nada... nenhum tipo de classificação ou preconceito, apenas somos
Irmãos que se amam, se respeitam e queremos sempre ajudar a quem
mais precisa.
- Nossa! Não tinha ideia que era assim... quer dizer que não tem
nada com o “Coisa-Ruim”?
Com uma gargalhada suave continuou.
- Não! Claro que não! A maçonaria não é religião. E não
praticamos nenhum ritual satânico. Apenas trabalhamos em segredo. E
nossas obras não necessitam de divulgação. Apenas fazemos e pronto.
Não esperamos recompensa e nem precisamos de agradecimento.
Apenas realizamos com muito amor. – Sabia que qualquer pessoa pode
ser um maçom? – Basta que acredite num Ser Criador. Você pode ser
devoto e pertencer a qualquer religião e se tiver um Deus, não importa

82
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

qual seja, será sempre bem-vindo... Todas as religiões são muito


importantes para cada um dos seus fiéis, por isso, respeitamos todas.
- Muitas igrejas, templos, centros e clubes que trabalham causas
humanitárias, como Lions e Rotary, já conhecem um pouco sobre
maçonaria e assim como eles, também praticamos o bem, sob o lema:
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Naquele final de tarde a conversa rendeu bastante. O crucifixo
voltou pro seu lugar... E cada vez mais me dava conta do quanto estava
errado pelo julgamento que fiz a uma ordem tão bela, de pessoas
afetuosas, que praticam a caridade e que sabem que também erram, e por
isso, se classificam como “eternos aprendizes”. Buscam seu
aperfeiçoamento moral através de seus princípios, filosofia e
ensinamentos que são passados de acordo com seu crescimento e
aperfeiçoamento.
Nunca me esqueci daquela tarde, e daquela conversa agradável que
tive com aquele distinto senhor, que acabei chamando de Irmão Paulo. E
dessa Ordem me tornando um de seus trabalhadores, e mais ainda,
apaixonado pelos princípios e ensinamentos da Maçonaria.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ELIAS JUNIOR DINIZ

Elias Junior Diniz, Nascido aos nove dias do mês de agosto de 1974,
natural de Abadia dos Dourados, estado de Minas Gerais, casado com
Telma Marques Ramos Diniz, filho de Sônia Maria Diniz e Elias
Machado Diniz. Iniciou-se no dia 23 de outubro de 2010 a vida
Maçônica na Augusta e Respeitável Loja Simbólica Vigilantes do Rio
Dourados - 253, oriente de Abadia dos Dourados-MG, sendo os
primeiros trabalhos não publicados, intitulados: Aprendendo a Aprender com
a Arte Real, Tempo de Estudos Maçônicos, Era Vulgar, O Vigilante e a
participação no Livro Maçons em Reflexão – Qual o Segredo da Maçonaria? –
Volume II. Atualmente, ocupa o cargo de Orador, Grau 33°- Grande
Inspetor Geral (REAA), Membro efetivo número 25 da Confraria de
Maçons em Reflexão. Exerce a função de Diretor Administrativo na
empresa Indústria Cerâmica BONSUCESSO & CBS. Atuou como
professor na Instituição de Ensino SENAC – Coromandel. Cursou MBA
em Gestão de Pessoas e Marketing, Ciências Contábeis, Tecnologia em
Segurança do Trabalho e Técnico em Contabilidade.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PROFANO, PADRE E O PEDREIRO

Numa tranquila cidadezinha do interior das Minas Gerais, aos


onze dias do mês de janeiro do ano de um mil novecentos e setenta e
cinco, nascia uma criança, filho de um casal de família modesta, sua mãe
uma trabalhadora do lar e seu pai um funcionário público. Ambos
batizados na Religião Católica Apostólica Romana, sua mãe desde cedo
uma católica fervorosa nas missões da igreja, já seu pai não muito
assíduo e atuante. Sendo assim, os pais, alguns meses após o nascimento
do herdeiro, preocuparam em sacramentar o seu batismo e, a partir daí,
ensinar a cumprir todos os ensinamentos congruentes ao catolicismo.
Na data marcada ocorreu o batizado. O garoto recebeu então o
sacramento através da confirmação. Tal cerimônia exprime o significado
de que o ser foi salvo, gerado e confirmado para uma vida nova. O
menino, seguindo os passos dos pais, frequentava o santuário
assiduamente. Propôs, então, a se dedicar e executar todos os requisitos
exigidos pela igreja católica para se tornar um ajudante do Padre como
“coroinha” nas missas, gesto que proporcionou à sua mãe uma felicidade
imensurável por vê-lo no altar junto ao Padre, o “missionário” de Deus.
O garoto tornou-se um adolescente, e como quase todos os
demais nessa idade, começou a sentir a pressão dos padrões impostos
pela sociedade deixando a religiosidade sempre em segundo plano.
Mesmo assim, continuou agindo de forma respeitosa em relação a todos
os ensinamentos que foram oferecidos pelos pais.
Na fase adulta conheceu a sua esposa, ela também uma católica
muito religiosa, com a qual pactuou o sacramento do matrimônio, tendo
a cerimônia acontecido sob as bênçãos do padre na mesma igreja. Ele
sempre a acompanhava nas missas aos domingos. O casal era muito
requisitado pelos membros da sociedade para batizar os filhos, serem
padrinhos de casamento, crisma, etc.
Numa nova etapa estabeleceu uma convivência com outras
pessoas de diferentes religiões oportunizando-o a ter mais consciência.
Até então ele vivia no âmago do catolicismo e ao mesmo tempo não
dava abertura para um melhor entendimento sobre as demais religiões.
Assim, começou a pesquisar, munir-se de informações e conhecimento
sobre a religião católica, a doutrina espírita, evangélicos, etc. Conforme
foi aprofundando nos seus estudos, bem como a vivência com diferentes
seguidores religiosos, dispôs de um melhor discernimento, chegando a

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

uma conclusão que todas as religiões são boas e, portanto, devemos


respeitá-las.
No entanto, como bem disse Madre Tereza de Calcutá, “mas vale
uma mão que faz do que uma boca que ora”. Ser cristão vai além de
cultos externos, de rótulos religiosos, de declarações de amor vazias sem
a prática dos ensinamentos de Cristo, enfim, que a fé sem obras é morta
(São Tiago 2: 26).
Partindo desse pressuposto, começou a agir de forma diferente
em relação à sua conduta neste plano terreno uma vez que a “salvação”
não depende de religião, mas da prática da solidariedade conosco e com
o próximo.
Sustentado pela lisura e retidão esse homem profano começou a
ser observado de perto pelos denominados irmãos maçons. Daí por
diante surgiram boatos de que aquele indivíduo seria convidado para
ingressar na maçonaria. Como se sabe, as famílias em cidades pequenas
têm muitos parentes e a maioria são conhecidos e, consequentemente, é
muito difícil ficar alguma coisa encoberta, de modo que tais falas
chegaram aos ouvidos de seus pais. Os boatos foram se tornando cada
vez mais fartos, as pessoas sequer sabiam se era verdade ou não, mas
insistiam em comentar uns com os outros, ainda mais se tratando de um
conteúdo o qual instigava a curiosidade.
Dessa forma os boatos chegaram até sua mãe e esta ficou
preocupada e muito apavorada, sendo ela uma “Carola” que auxiliava
com presteza as pastorais e outros movimentos dentro da igreja.
Sentindo muito desconfortável com a situação, intimou seu filho até à
sua casa para uma reunião a três: pai, filho e mãe cuja pauta principal e
única era o buchicho duma religião nova na cidade, uma tal ordem
maçônica. A mãe começou a indagá-lo a respeito do assunto que o povo
estava falando na rua, que ele tinha sido convocado para entrar para essa
religião: - o quê que é isso, meu filho, maçonaria? O pai quieto no canto
dele, só ouvia.
O filho fez de desentendido e respondeu que o referido buchicho
era besteira, nem ele sabia do que se tratava, aquilo era fuxico de gente
desocupada. Mesmo com “a pulga atrás da orelha” a mãe aparentemente
acalmou-se e cessou por ora com o assunto. Após alguns meses, o quê
era “somente boato”, tinha se concretizado em fato e ‘o convite’ para
iniciar na ordem e tornar-se “Um Pedreiro da Arte Real”.
Para desespero da mãe, a partir de então, nenhum dos dois
tiveram mais paz. A mãe lutando com “unhas e dentes” como uma leoa
86
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

para não deixar que o fato se consumasse e o filho deslumbrado com o


ensejo de poder ser um membro da maçonaria.
Nesse meio tempo, a mãe atormentada procura o pároco da
cidade para conversar a respeito do que estava acontecendo com o seu
progênito que tinha sido chamado para entrar para a ‘outra religião’.
Nesta primeira conversa o padre somente comentou que maçonaria não
era coisa boa aos olhos da igreja católica e de Deus e que devia conversar
com ele e pedir para deixar de participar disso! O padre findou a
conversa dizendo que ia orar para ele.
Aquilo não saía da cabeça da mãe durante os dias que se seguiram
e quando esta se encontrava com o filho arrumava um pretexto para
tocar no assunto e tentar persuadi-lo a desistir. Mas as suas tentativas
foram em vão. Ele estava mesmo determinado a seguir o caminho da luz.
Coisas inusitadas começaram a acontecer após esse período, tais
como: aparecer debaixo da porta da sua residência cartas e artigos
difamando, denegrindo a imagem da maçonaria, telefonemas anônimos.
Além disso, a pedido do Padre e da mãe, muitas pessoas próximas e nem
tão próximas davam “conselhos” para ele não aceitar.
Após toda essa movimentação para destituir a vontade do
profano, de nada adiantou, pois manteve obstinado no seu propósito.
Então, entra em cena mais uma vez a figura do Padre. Após o término
de uma missa dominical, pediu que a mãe fosse à casa paroquial, no dia
seguinte, para tratar de um assunto de interesse dela e gravíssimo!
A mãe, muito ansiosa, nas primeiras horas do dia se fez presente e
de imediato o Padre foi lhe dizendo num tom descortês: estou a par de
toda a situação em relação ao seu filho, a igreja católica tendo eu como
representante legal e pároco desta comunidade, e você sendo de dentro
da igreja, componente de pastorais, Irmã Apóstola do Sagrado Coração de
Jesus, é sua obrigação intervir imediatamente, abomino essa instituição
secreta e os seus adeptos, sou totalmente antagonista a essa aberração,
para mim é uma heresia!!! A partir do momento que o seu filho vincular
com essa laia, não mais será reconhecido como um católico, vai ser
“excomungado”, não, não deixe entrar para essa ordem de bodes, ateus e
pecadores, salve-o enquanto é tempo, faça o possível e o impossível para
salvá-lo das garras desses “anticristãos, libertários e humanistas”.
A mãe ficou perplexa e psicologicamente abalada com as
horripilantes palavras ditas pelo sacerdote. Por conseguinte, ela tentou
embargar a todo custo tal acontecimento durante todo o período que
antecedeu, mas de nada adiantou e no fim da primeira década do
87
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

segundo milênio a data tão sonhada e aguardada chegou para a quebra de


paradigma e felicidade segundo a sua percepção. A “Luz Recebida”
mudaria a sua existência para sempre a partir daquele instante: não mais
um profano e sim um Aprendiz Maçom Pedreiro da Ordem.
Nesse dia tão importante para ele, faz-se necessário ressaltar que a
única pessoa da família que não esteve presente na cerimônia de entrega
das luvas e na festa de confraternização foi a mãe, indignada e totalmente
contra aquela conjuntura, mas o filho assimilou o seu posicionamento e a
respeitou! A partir desse momento, o pedreiro empenhou-se em
trabalhar dia a dia incansavelmente do meio dia à meia noite no
“desbaste e polimento da pedra bruta” para evoluir como Ser humano
Homem Maçom. Juntamente com os demais irmãos maçons entabulou a
labutar em prol de uma sociedade mais fraterna, justa e perfeita.
Passados alguns anos, realizou no templo maçônico uma sessão
pública do dia das mães, onde seus familiares e amigos estavam presentes
tendo como homenageada “a mãe” que no passado era totalmente
contra a inserção do filho naquele ambiente. Porém, ela já tinha uma
melhor compreensão, estava mais flexível e ponderada, pois havia
percebido que o filho progredia com uma vida digna dentro dos preceitos
morais e éticos.
Nessa época, o pároco da comunidade tinha sido transferido, e o
atual tinha mais aceitação em relação à maçonaria. Um dia de domingo
os pais do maçom convidaram o novo padre para almoçar em sua
residência. O maçom que estava presente aproveitou a oportunidade e
puxou uma conversa sobre igreja e maçonaria, o padre ficou muito
satisfeito com aquele bate-papo, confidenciando que sabia muito pouco
sobre a ordem, ou quase nada, e que o alto clero não dava muita abertura
para esse tipo de conversação. Por isso não podia dizer nada a respeito e
preferia manter a sua postura de silenciar mediante certos fatos em
relação às instituições.
A igreja matriz estava passando por uma reforma e com o
consentimento do padre os pedreiros da ordem contribuíram com
benfeitorias. Após o término da mencionada reforma, com um gesto
louvável, o sacerdote fez questão de endereçar a todos uma carta
de agradecimento.
Tendo em vista os fatos narrados, a sua mãe teve uma melhor
aceitação, porém ainda ficava com um “pé-atrás” em relação à ordem e
sempre questiona: _ por que as mulheres não participam das reuniões?

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Acrescentava ainda que o casal tem que dividir as experiências e serem


companheiros em todas as situações. Por que na maçonaria é diferente?
Em mais de dez anos de irmandade o maçom foi explicando e
demostrando com atitudes para que a mãe pudesse absorver e
compreender da melhor forma possível que a ordem não é uma religião.
E a mulher é de suma importância para a maçonaria. Os maçons jamais
esquecem das esposas identificadas como cunhadas que apoiam e
incentivam no intuito de manter a maçonaria sempre forte e atuante.
A maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica,
filantrópica, educativa e progressista.
Tem como objetivo ajudar os homens a reforçar o seu caráter,
melhorar sua bagagem moral e espiritual e aumentar seus horizontes
culturais.
Indubitavelmente com o tempo a Mãe irá admirar mais e mais seu
filho e a maçonaria!!!
Mesmo diante de todos os infortúnios, aquele ser humano não
permitiu que dogmas ou coisa alguma mudasse a sua trajetória, outrora
homem profano e neste momento Maçom, Mestre, Grau 33°- Grande
Inspetor Geral e Membro da Confraria dos Maçons em Reflexão.
Mediante tudo isso, este Maçom tem eterna gratidão ao Grande
Arquiteto do Universo e àqueles que o acompanharam nessa jornada, em
especial aos notáveis irmãos maçons verdadeiros Pedreiros da Ordem.

Nos dias que correm...

A sua mãe católica...

Mãe de um Maçom,

Pedreiro da Sublime Arte Real.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

EZIO LEONARDO DE MELO MARQUES

Ezio Leonardo de Melo Marques, Administrador, formado na SOECS –


Sociedade Educacional e Cultural de Sabará, mantenedora da Faculdade
de Sabará e MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade
Pitágoras de Belo Horizonte. Além dessas profissões, usa sua bela voz
(só com um pouquinho de modéstia!) numa empresa própria de
publicidade e propaganda para gravações de comerciais para rádio e
afins, além de contar a todos as boas notícias por ai através de seus
carros de som e outdoors. Casado com a cunhada Ana Eliza Barroso
Duarte, com quem tem o herdeiro Roberto e o Henrique (que está na
forma...) pretende, com essa breve leitura, mostrar o que pensa sobre um
assunto relativamente polêmico: A eterna discussão sobre a Maçonaria e
a Religião. Até aqui, nesse breve histórico de vida, me permitiram fazer e
falar o que penso... que beleza! Espero que continue assim...! Participou
do Volume II da Série Maçons em Reflexão. Boa Leitura!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A PERGUNTA COMPARATIVA:
ÁGUA E ÓLEO SE MISTURAM?

Calma!! Vamos responder até o fim do texto!


Embora há quem sustente que a Maçonaria é religião, na realidade
ela não é. Se colocarmos frente aos principais fundamentos que as
regem, já posso garantir que a “água e o óleo” comparando as duas
instituições, se assim podemos definir, não se misturam. Porém até o fim
do texto, talvez isso mude.
Os órgãos oficiais da Ordem Maçônica são unânimes em declarar
que a Maçonaria não é religião por uma série de fatores que poderia
dissertar facilmente por aqui, mas para evitar uma leitura muito técnica,
ficaremos nas nuances que norteiam o assunto. Se a maçonaria tem
regimento as Igrejas, por sua vez, não têm definidas os seus estatutos,
suas posições, etc. Ela prefere deixar a questão sob o exame de
consciência de seus adeptos. Paralelo a isso e, como consequência da
falta de parâmetros estabelecidos para avaliação de ambas, há padres,
pastores e até mesmo maçons, que consideram a Maçonaria uma religião
e outros, por sua vez, não enxergam como seus pares.
Mas, para enriquecer nosso estudo, de onde vem essa
comparação? Quanto tempo tem essa discussão? quem são os principais
questionadores? Vamos às respostas:
Há tempos que essa discussão ocupa os espaços das sacristias e
átrios. Esse, até então, eterno confronto de posições, seja de estudiosos
ou adeptos de ambos os lados sobre se a Maçonaria é ou não uma
religião vem de longe. A instituição maçônica declara oficialmente que
não é religião, enquanto alguns não maçons e mesmo aqueles, de
confissão religiosa declarados cristãos, que, por sua vez estão ativos ou já
se desligaram da Ordem, afirmam que sim. Diante do desencontro de
afirmações precisaremos aprofundar nas questões traçando uma
cronologia. Daqui a pouco faremos isso, porém sem antes citar que
torna-se até curioso saber que a questão já caminhou para o âmbito das
discussões em simpósios universitários onde têm sido realizados o
desvendamento desta questão, criando, assim, os “maçonólogos” (se
assim podemos definir...) que passam a se tornar “cientistas” da questão.
Maçons e não maçons também têm aprofundado este tema
substancialmente, embora por proselitismo ou paixões as posições
assumidas não tenham se modificado de forma significativa, ou seja, a
água e o óleo (título desse texto...) se mantém sem misturas.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Mas é a cronologia? Calma!!! Nesse texto, o propósito principal é


apresentar as posições particulares sobre a questão da ordem maçônica
ser ou não uma religião. As defesas seja ela feitas por maçons, padres e
pastores protestantes ficam a cargo da interpretação do leitor. Há entre
essas categorias aqueles que afirmam positiva e negativamente,
indiferentes ao que a Ordem Maçônica estipula. Para tanto antagonismo
seria prudente ouvir o que pensam os maçons (evidentemente...) e
também pastores de igrejas evangélicas, padres da igreja católica,
Rabinos, Monges e por aí vai, para, em seguida, continuarmos com as
posições não antagônicas desses mesmos personagens e, dessa forma,
delinearmos a posição primordial que deve ser retirada desses confrontos
quanto ao “problema” aqui levantado.
Se começando a dissertação pelo lado dos questionados, ou seja,
da Maçonaria, teremos que antes, cumprir em primeiro lugar, declarar
que a Maçonaria é uma instituição que não dispõe, em sua organização,
de um sistema único, universal, pelo qual todas as suas potências
(grandes lojas e grandes orientes) e obediências (lojas) estejam
submetidas a um governo central mundial. Daí você pode me questionar:
a religião também não é assim? Vejamos o exemplo do Papa e sua
hierarquia... acredito que não, pois, o catolicismo é uma das religiões
dentre tantas outras que até pode ter um poder central e hierarquias,
mas, não sabemos ao certo se esse padrão, encontrado na Maçonaria
mundial, também é. Continuando a lógica: os grandes orientes dispõem
de um sistema unitário de governo em que há um Grão Mestre Geral
como autoridade máxima daquela potência, cuja jurisdição se dá no
âmbito de cada país sendo, pois, cada Grande Oriente soberano,
autônomo e independente. É o caso, no Brasil, do Grande Oriente do
Brasil, em que os Grandes Orientes Estaduais são subordinados ao
Poder Central. Os Grãos Mestres desses Grandes Orientes Estaduais,
mesmo eleito pelo povo maçônico daquele Estado, guardam obediência
ao Grão Mestre Geral da Ordem, cuja sede encontra-se em Brasília-DF.
Os Grãos Mestres Estaduais são autoridades máximas nos seus
respectivos territórios e, mesmo pelo cargo que ocupam, não tem
gerência em outro Estado da Federação (bem como em outra potência),
ao passo que, o Grão Mestre Geral é a autoridade máxima nacional.
Há, porém, grandes orientes que não adotam um sistema unitário
de governo, mas um sistema federativo, pelo qual cada estado ou
província num país tem um grande oriente estadual ou provincial filiado
a uma confederação nacional. Por este sistema, cada grande oriente é
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

soberano, autônomo e independente e tem um Grão Mestre como


autoridade máxima, mas nenhum se subordina ao órgão colegiado
confederativo. É o caso, no Brasil, dos Grandes Orientes Estaduais,
filiados à Congregação da Maçonaria Simbólica do Brasil - COMAB.
As Grandes Lojas, outra potência maçônica regular reconhecida
nacional e internacionalmente, adotam um sistema também federativo.
Tal sistema, por exemplo, é regido no Brasil e nos Estados Unidos da
América do Norte. No Brasil, as Grandes Lojas estão filiadas à
Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – CMSB, que, embora
seja um colegiado constituído por todas as Grandes Lojas Estaduais,
nenhuma destas guarda obediência a esse colegiado, sendo
individualmente soberanas, autônomas e independentes e tendo o Grão
Mestre Estadual como sua autoridade máxima em cada uma das
jurisdições .
Embora todas essas potências maçônicas sejam soberanas,
autônomas e independentes, não importando qual o sistema organizativo
em que se aglutina, nenhuma delas podendo interferir nas outras, há
entre elas, porém, os liames das leis maçônicas universais que as unem
numa só filosofia – a filosofia da fraternidade universal. Todas são
regidas pelas leis imemoriais, os antigos deveres e os LandMark’s
universais, cada uma com suas constituições ou estatutos e leis
regimentais próprias, adotando ritos diferentes, tanto de natureza teísta
como deísta.
Portanto, não há uma autoridade única que responda pela
Maçonaria como instituição universal. Entre as potências nacionais pode
haver divergências em pontos específicos, mas os princípios e postulados
fundamentais são comuns a todas elas, o que garante a unidade maçônica
na diversidade dos corpos simbólicos e filosóficos da Instituição.
É preciso, pois, que isto fique aqui ressaltado, para que se entenda
“ab initio” de que a Maçonaria diz, por todas as potências e obediências,
que ela não é uma religião. Imprime em seus documentos, rituais e
declarações oficiais esta posição.
Há pelo menos 03 parágrafos que vamos iniciar uma cronologia,
como promessa é dívida, vamos a ela:
A História da Maçonaria é dividida em dois períodos chamados
operativo e especulativo. O divisor de águas entre eles é o ano de 1723
com a promulgação das Constituições de Anderson. Em 1717 havia sido
criada a Grande Loja de Londres, posteriormente Grande Loja Unida da
Inglaterra com a união dos chamados maçons antigos e modernos.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

As corporações medievais cristãs dos talhadores de pedras


(freemasons) do primeiro período estão na origem da Maçonaria da
atualidade. Esses talhadores foram os construtores das catedrais, não
havendo mais dúvidas de que a Maçonaria surgiu no seio da Igreja
Católica.
Os Antigos Deveres ou Old Charges dessas corporações –
regulamentos que existiam naquele período operativo – sempre iniciam
com invocações a Deus, como o Estatuto dos Talhadores de Pedra de
Ratisbona, de 1459, que começa assim: “Em nome do Pai, do Filho, do
Espírito Santo, da bem aventurada Virgem Maria, como também de seus
bem aventurados servos, os Quatro Santos Coroados, à sua eterna
memória”.
O Poema Regius, de 1390, dispõe que: “Quem conheça este ofício
e adquira dignidade, amará sempre a Deus e à Santa Igreja”. O
Manuscrito de Harley, de 1670, começa assim: “O Pai onipotente do céu,
com a sabedoria do glorioso Filho e pela bondade do Espírito Santo, três
pessoas em um só Deus, estejam conosco e nos dêem graça para dirigir a
nossa conduta a fim de alcançar a duradoura felicidade. Amém”.
Opa! Mas essas orações seguidas desse “amém” vem do
vocabulário religioso... então é religião? Calma.... vamos usar você
mesmo como base: por vezes se abençoa quando está chegando no
trabalho, ou indo fechar um negócio, ou até mesmo oferecendo bênção a
alguém? E você não precisa ser padre, pastor, monge, maçom, etc para
abençoar ninguém... não é mesmo? Então a bênção, nesse caso, é a
mesma que usamos até hoje.
Falar sobre o tema, nos remete a época das inquisições. Ela teve
duas versões: a medieval, nos séculos XIII e XIV, e a
feroz Inquisição Moderna, concentrada em Portugal e Espanha, que
durou do século XV ao XIX. Nessa época, dizer que era maçom a
chance de perder a vida, simplesmente por ter se declarado era enorme,
fato que levou centenas de maçons para as diversas formas de morte
possíveis de se imaginar. Outros fatores também levavam a morte, mas,
não é tema dessa dissertação. Muito se atribui que o Clero (segundo
poder ficando atrás apenas da nobreza...) não queria alguém ou alguma
coisa que fosse seu “concorrente”. Logo, tratava de impor sua condição
de poder para não perder espaço. Ao fim desse período inquisitório (ou,
se assim podemos definir, perda de força...) alguns oficiais religiosos
começaram a observar que sua postura não estava correta e enxergaram
que a severidade como estavam tratando a questão não só não acabava
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

com a maçonaria, como também, dava a ela força para mostrar que
poderia ser feito algo parecido porém sem ser religioso.
Vejamos, de forma sucinta, alguns posicionamentos, pois, a Igreja
Católica, apesar dessa época não considerar a Maçonaria uma religião
tenha imposto sua condenação desde 1738. Os motivos inicialmente
foram de natureza política (como dito anteriormente), como se
depreende das disposições contidas nas Encíclicas de diversos papas
(mais de 20...) e dos Papas Clemente XII e Leão XIII especificamente
(esses eram, entre todos, os mais ferozes contra a instituição secreta).
As igrejas protestantes, via de regra, não têm assumido
oficialmente posição de contrariedade à Maçonaria, admitindo-a como
uma religião, não obstante as discussões que realizam em seus conselhos
ou seja, encaram a Ordem maçônica como religião e pronto. Discutam
vocês do contrário, fato que, também percebemos com os monges,
Rabinos entre outros.
Sobre os pastores evangélicos, cabe aqui uma menção: não há
como provar, mas, sabe-se que, muito do apoio a origem dessas
manifestações religiosas, vem dos templos maçônicos onde havia, nos
tempos de sua fundação, a organização que a Ordem Maçônica adota em
seus regimentos e controles. Mas, opiniões são sempre controversas e
expressadas como se fosse únicas. Exemplo, podemos citar desses que,
após receber apoio na constituição de sua doutrina religiosas (novamente
sem comprovação...) se viraram contra e, ainda hoje, podemos ver
diversos relatos de pastores que se dizem “ex maçom” e garante ter visto
imagens, atos ou menções satânicas nos templos... tudo, você já sabe,
receita adotada lá atrás para manter o “fiel” sob suas vistas, afinal de
contas, mais um “concorrente” será difícil de combater...
Mas, e aí? Quais são suas ações para com o próximo ou afins? Na
maçonaria, pratica-se o ato de fazer o bem à humanidade sem ter limites
nem restrições, e tudo o que for justo, bom e recomendável para os
irmãos de Cristo deve ser realizado. Não é porque uma pessoa precisa de
ajuda que os maçons (mesmo não sendo maçom) não deva receber, pelo
contrário: faz-se o que deve ser feito, indistintamente, e,
preferencialmente, sem ser dado o crédito por tal ato. A prática do bem,
vista pelo lado dos maçons, não precisa ter divulgação.
Não me consta, pelos Evangelhos, que o Cristo tenha estabelecido
fronteiras para a prática do bem, nem tão pouco que tenha delimitado
suas práticas exclusivamente aos seus seguidores. Até, pelo contrário, Ele
demonstrou, em certa ocasião, que o bem é louvável e deve ser
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

permitido a quem quer que o queira praticar, porque ninguém que o


realiza, pode ser caracterizado como inimigo.
Por fim podemos concluir que a Maçonaria, de fato, não é uma
religião. Religião é um esforço espiritual desenvolvido pelo homem, para
se ligar a Deus, visando alcançar a vida eterna. Maçonaria é um esforço
material e social desenvolvido pelo homem, para se unir aos seus
semelhantes, procurando criar uma sociedade mais livre, igualitária e
fraterna. A primeira visa unir o homem a Deus e, para isso, ocupa-se da
teologia e trabalha a parte espiritual; já a segunda busca unir o homem ao
seu próximo e, dessa forma, aplica-se o trabalho de lapidar a pedra bruta
interior de forma mais humanística e atém-se predominantemente ao
social e material.
A Maçonaria nasceu na construção do Templo do Salomão,
portanto, dentro das páginas da Bíblia Sagrada, foi regulamentada por
um pastor presbiteriano reformado, James Anderson, tem sua maior
aceitação nos países reconhecidamente protestantes e apesar de não ser
religião, já prestou grandes e relevantes serviços à difusão do Evangelho
de Jesus Cristo.
No âmbito político, já tivemos (e ainda tem...) diversos homens
praticantes de sua filosofia, que governaram grandes nações e os fazem
até hoje. Podendo citar alguns famosos: Abraham Lincoln – D. Pedro II
– Afonso Pena – Júlio Prestes passando por músicos, dentre eles um dos
mais conhecidos foi Luiz Gonzaga e até religiosos como Padre Diogo
Feijó (que, depois, se tornou padrinho de D. Pedro II na Ordem após a
sua maioridade...).
Por fim, inegavelmente a Maçonaria é a organização mais antiga
do mundo e uma das mais sérias que existem. Ela nada tem de
paganismo, nada de ocultismo e, muito menos, de bruxaria ou satanismo.
Quando alguém disser o contrário disto, fica como uma “dica”
para você: essa pessoa não conhece a Maçonaria e, muito menos, a sua
maravilhosa história já escrita pelos seus membros, por isso mesmo não
deve merecer crédito. Apesar de não ser uma religião, é essencialmente
religiosa. Muitas de suas lendas e alegorias são de natureza sagrada; a
maior parte delas tecida na estrutura do Cristianismo.
Aprendemos a considerar nossa própria religião como a única
inspirada, e isso provavelmente é a causa da falta de entendimento, no
mundo atual, a respeito do lugar ocupado pela Maçonaria na ética
espiritual de nossa raça.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A Maçonaria é uma filosofia essencialmente destituída de credo. E


é a mais verdadeira por isso. Seus Irmãos curvam-se à verdade,
independentemente de seu condutor; eles servem luz, em vez de disputa
a quem a traz. Desta maneira, provam que estão procurando conhecer
melhor a vontade e os ditames do “Um Invencível”, ou seja, você
mesmo. Não existe nenhuma religião mais verdadeira do que aquela da
camaradagem e fraternidade mundial, com o propósito de glorificar a
Deus e construir para Ele um templo de atitude construtiva e caráter
nobre.
Contudo vamos a resposta ao título: então: Água e óleo se
misturam? Podemos, diante do que lemos até agora que “sim” porém
com suas nuances e diferenças sempre em prol da verdade sobre todas as
coisas, ética, moral, princípios e valores que os deixarão diferenciados
dos demais.
Até a próxima!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

FELIPE BITTIOLI RODRIGUES GOMES

Felipe Bittioli Rodrigues Gomes é biólogo, MSc. e Dr. em Ecologia,


professor da Universidade Federal do Pará, Altamira. É Mestre
Instalado, Venerável Mestre na Templários do Xingu, 96 (Rito de York),
e 2º Vig. na Estrela da Amazônia, 35 (REAA), GLEPA. É MRA, ME, e
OCV no Rito de York, e Companheiro do Sagrado Arco Real de
Jerusalém.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO:
CONVERGÊNCIA, DIVERGÊNCIA OU SINERGIA?

Mais do que uma simples instituição dentre tantas outras, a


Maçonaria universal pode ser considerada um fenômeno social, visto
suas proporções e reflexos na história da civilização moderna. Ao longo
de sua história, seus fundadores e obreiros, muito construíram e
contribuíram para o engrandecimento da sociedade como um todo,
assim como a própria sociedade externa muito criou e inculcou sobre a
maçonaria. De acordo com umas das mais respeitadas literaturas
específicas, a Enciclopédia Maçônica de Coil (COIL & BROW, 1961), a
maçonaria é uma Ordem Fraternal de homens que se uniram a ela
livremente, e por meio de um juramento, prometeram e
comprometeram-se a respeitar os princípios do amor fraternal, igualdade,
ajuda mútua e assistência, exaltando ainda a confiança e o sigilo sobre os
seus ensinamentos e peculiaridades. Incialmente, no período medieval,
estes segredos tinham a principal função de prover reconhecimento e
auxílio aos pedreiros operativos durante viagens entre diferentes obras
físicas, mas hoje, tem a principal função de instruir e orientar os
pedreiros especulativos, que buscam a construção pessoal, sua obra
espiritual.
O sistema de ensino da maçonaria baseia-se em lendas e alegorias,
principalmente bíblicas, além de se utilizar de instrumentos e ferramentas
da construção civil, e de forma simbólica, com estes, apresentar
ensinamentos morais (COIL & BROW, 1961). De uma maneira ainda
mais condensada, e uma das mais divulgadas e conhecidas, a maçonaria
seria “... um belo e profundo sistema de moralidade velado em alegorias
e ilustrado por símbolos”, e que busca tornar “homens bons em homens
melhores” (GUNN, 2008), e consequentemente, “tornar feliz a
humanidade”.
Desde sua criação, a maçonaria é uma Ordem espiritualizada, e de
portas abertas a todas crenças e credos, exigida unicamente a crença na
existência de um Ser Superior, e na vida após a morte. As Constituições
de Anderson vetam “estúpidos ateus” e “libertinos irreligiosos”
(Anderson, 1723), enquanto os Landmarks de Mackey complementam
que é impedimento “absoluto” e “insuperável” a iniciação de um
candidato que negue a existência do GADU (Grande Arquiteto do
Universo) e da crença na vida após a morte (Mackey, 1782), exigências
corroboradas posteriormente nos Landmarks de Pike (Pike, 1871). Apesar
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

destas duas exigências, a maçonaria não se constitui numa religião, visto


que não exige a crença em um determinado e específico “deus” (Deus,
Alá, Javé ou Krishna) ou ainda nas especificidades da religiosidade
dogmática (como a ressurreição versus a reencarnação, ou ainda na
existência ou inexistências de santos). Quanto ao dogmatismo, apesar de
a maçonaria não assim proceder, encontramos recorrentemente o termo
“dogmas maçônicos” de forma contraditória, em livros e rituais,
provavelmente devido a erros de tradução ou de interpretação.
Independentemente de ser uma religião ou não, é indiscutível
entre seus membros (claro, há exceções) de que a maçonaria, além de
ensinamento morais e civilizatórios, possui uma grande espiritualidade, e
que pode trazer muito “conforto”, aos moldes do sistema religioso.
Poderíamos inclusive, devanear e sugerir de que este conforto tem mais
relação com a fraternidade quando bem vivida entre os maçons, visto
que logo após a iniciação o neófito é instantaneamente acolhido (via de
regra) como um parente de sangue, que só esteve distante por algum
tempo.
Apesar de ter surgido no período medieval de forma mais parecida
à de um sindicato de trabalhadores, visando facilitar e organizar o
trabalho e as guildas de prestação de serviço, as viagens, o
reconhecimento intraguildas (entre graus) interguildas (entre prestadores
de serviço do mesmo ramo), e a segurança de filhos e esposas dos
trabalhadores, provendo uma mínima assistência em caso de viuvez (vide
Costa, 2014; Rodrigues, 2014; Spoladore, 2017), a maçonaria passou a
adotar parte da ritualística e hábitos da igreja do período. Não podemos
deixar de reforçar que a igreja sempre foi influente, social e
politicamente, assim como reconhecer que sua ritualística traz certa
beleza aos mais diferentes momentos da vida cotidiana, como em
batizados, casamentos e funerais. Ainda hoje são comuns em nossas
reuniões uma ritualística elaboradíssima, solene e saudosa, que em alguns
momentos lembram cultos católicos. Em outros momentos, os
ensinamentos ritualísticos deixam brechas de entendimento sobre a
ressurreição ou a reencarnação. Diversos autores partem para os estudos
e embasamentos místicos, esotéricos, incluindo até a cabala judaica em
parte dos ensinamentos, ou ainda há aqueles que cultuam a tal egrégora
das sessões, havendo inclusive livros e dissertações sobre todos estes
temas ditos maçônicos.
Visto o processo ecológico e evolutivo da sociedade humana, e
das sociedades internas à esta sociedade, e agregando ainda na análise
100
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

nossa relação com o meio em que vivemos, podemos resgatar alguns


termos interessantes, completamente aplicáveis ao contexto. Seria a
relação entre a maçonaria e a religião uma forma de convergência,
divergência ou uma sinergia? Estariam, ao longo do tempo e da
influência da história, a maçonaria e a religião convergindo em uma única
instituição, cada vez mais fechada, dominadora e dogmática, exclusiva
aos “especiais” e excludente aos “fora da caixinha”. Talvez uma
convergência saudável, mantendo hábitos e costumes, valorizando a
tradição. Ou estaríamos, cada vez mais divergido em ideias e ideais,
caminhando para um maior distanciamento, num movimento divergente,
deixando para trás os preceitos e leis da sua fundação, abrindo ainda
mais as portas aos novos movimentos e realidades, atualizando nosso
jeito de agir. Talvez uma divergência saudável, se adequando a
diversidade da sociedade atual. Ou estaríamos, nós maçons e a
maçonaria, rumando numa jornada sinergética, lado a lado, baseada na
adequação, adaptação, mesclando o velho com o novo, permitindo o
aconchego religioso, a fraternidade divina e a igualdade de direitos e
pensamentos, mantendo o que é importante, rearranjando o necessário, e
abrindo portas ao novo, pois como diria Belchior, o novo sempre vem,
mesmo que acreditemos piamente ainda sermos como nossos pais.

Referências Bibliográficas:
▪ PIKE, Albert (1871). Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish
Rite of Freemasonry (Charleston, SC: The Supreme Council of the Thirty-Third
Degree, Southern Jurisdiction of the United States, 1871/1944).
▪ ANDERSON, James (1723). Constitutions of the Freemasons, London.
▪ COIL, Henry Wilson; BROWN, William M. (1961). Coil’s Masonic
Encyclopedia. New York: Ed. Macoy.
▪ COSTA, Luis Mário Ferreira (2014). A Maçonaria Operativa e Especulativa: Uma
discussão em torno das origens da Ordem. Revista Ciência & Maçonaria,
Brasília, Vol. 2, n.1, p. 65-72, jan/jun.
▪ GUNN, Joshua (2008). Death by Publicity: U. S. Freemasonry and the Public
Drama of Secrecy. Rhetoric & Public Affairs, Vol. 11, No. 2, pp. 243-277.
▪ MACKEY, Albert G. (1872). Masonic Jurisprudence. New York: Clark &
Maynard, Publishers.
▪ RODRIGUES, Marcel Henrique (2014). Maçonaria Operativa: um estudo sobre as
possíveis origens da maçonaria. Revista Contemplação (9): 30-50
▪ SPOLADORE, Hercule (2017). Maçonaria: passado, presente e futuro: o Maçom
dentro do contexto histórico. Revista Busca, Ano 2 N° 2 pags. 38 – 44 jul/dez.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

GIL FERREIRA DE MESQUITA

Mestre Maçom, membro fundador e atualmente 2º Vigilante da ARLS de


Estudos e Pesquisas Ciência e Progresso nº 4.645, do Oriente de
Uberlândia (MG), federada ao Grande Oriente do Brasil – GOB. Foi
elevado ao Grau 16 do Rito Escocês Antigo e Aceito. É advogado,
mestre em Direito, professor universitário e avaliador de cursos do
Ministério da Educação (MEC/INEP). E-mail:
contato@gilmesquita.com. Participou do Volume II da Série Maçons em
Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

BREVES NOTAS SOBRE A COMPLEXA RELAÇÃO ENTRE


MAÇONARIA E IGREJA CATÓLICA

A Ordem Maçônica não é instituição simpática a muitas religiões e


seus seguidores, notadamente a Igreja Católica, como se verá neste
ensaio. Todavia, circula no meio maçônico a notícia de que pastores
evangélicos condenam ou pelo menos não são simpáticos à participação
de seus fiéis na Ordem em razão de certa “incompatibilidade de
princípios”.
À falta de bibliografia que possibilite uma análise segura e mais
aprofundada, este ensaio versará sobre a evolução das “condenações”
que a Igreja Católica dirigiu à Maçonaria e uma interpretação dos
motivos que atualmente ainda prevalecem para justificar este
afastamento, embora seja possível afirmar que a maioria dos maçons
brasileiros muito provavelmente professem a religião católica e não
compactuem com as proibições vindas de sua Igreja7.
Historicamente a antipatia dirigida por alguns governos e pela
Igreja à Maçonaria surge sob a justificativa de que o dever de guardar
sigilo a respeito dos seus ritos e principalmente do que se discute em
suas reuniões seria incompatível com a fé cristã. Para alguns, ao se
comportar desta maneira, a Igreja Católica estaria exercendo seu papel de
mãe e mestra da verdade.8”.
Tendo esta ideia como pano de fundo foi editada a “Constituição
Apostólica In eminenti”, do Papa Clemente XII, em 1738, proibindo os
católicos de participarem da Maçonaria sob pena de exclusão, pois seus
membros estariam “obrigados ao silêncio inviolável sobre tudo o que
praticam nas sombras do segredo”.
Não custa lembrar que à época desta primeira condenação
explodiam revoltas e revoluções na Europa, com a participação de
muitos nobres e intelectuais que pertenciam às fileiras das Lojas
Maçônicas de então, sendo natural que muitas destas ações fossem

7 Esta é uma afirmação que leva em consideração que a Maçonaria brasileira exige do
candidato a crença em um ente superior e, sendo a maioria da população brasileira ainda
formada por católicos, é possível concluir, ainda que exista risco de erro, que boa parte
dos maçons em nosso país sejam católicos. Em 2010 o censo do IBGE apontou a
existência de 123 milhões de católicos no Brasil (homens e mulheres), atingindo algo em
torno dos 62,75% da população total de 196 milhões de habitantes.
8 Expressão encontrada na obra do pisco auxiliar da Arquidiocese de Brasília: TERRA,

João Evangelista Martins. Maçonaria e Igreja Católica. Aparecida: São Paulo, 1996. p.
65.
103
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

discutidas em reuniões sigilosas e as questões ali tratadas deveriam


permanecer em sigilo para a segurança não só dos projetos, mas também
dos participantes.
Dois outros documentos seguintes confirmaram esta proibição,
com discretas mudanças de redação: a “Constituição Apostólica
Providas”, de Bento XIV (1751) e a “Constituição Ecclesiam a Jesu Christo”,
de Pio VII (1821), condenando também os carbonários9.
Um novo argumento surge com a “Constituição Apostólica Quo
graviora”, de Leão XII (1825), condenando toda e qualquer sociedade
secreta, presente ou futura, cujo objetivo fosse “conspirar em detrimento
da Igreja e dos poderes do Estado”, veredito vago e amplo,
demonstrando uma preocupação forte da Igreja com a liberdade de
pensamento que corria entre os maçons e, claro, com a hegemonia de
seu grande poder e influência até então indiscutíveis.
O Papa Pio IX, que comandou a Igreja de 1848 a 1875, editou ao
menos quatro documentos condenando as sociedades secretas, ainda que
em certos países fossem aceitas pela autoridade civil. Mais
especificamente na “Constituição Apostolicae sedis” (1869) incluiu a
excomunhão automática (latae sententiae) contra todos que participassem
da “seita dos maçons ou carbonários”, bem como contra qualquer um
que favoreça tais seitas, inclusive aqueles que não denunciassem os seus
líderes, que o documento chamou de “ocultos corifeus”.
Durante o pontificado de Leão XIII, que foi de 1878 a 1903,
foram publicados mais de duzentos documentos condenando a
Maçonaria e organizando um verdadeiro movimento antimaçônico até
então inexistente no mundo10.

9 Os Carbonários ou “A Carbonária” surgem na Itália, na cidade de Nápoles, em 1810,


no contexto das guerras napoleônicas. Era uma sociedade secreta cuja ideologia
assentava-se em valores patrióticos e liberais, marcada também por um forte sentimento
anticlerical. Seus integrantes, os Carbonários (do italiano “carbonaro”, que significa
"carvoeiro") atuavam em toda a Itália, tendo importante ação durante a Unificação
Italiana e nas revoluções que a antecederam. Reuniam-se secretamente nas cabanas dos
carvoeiros, derivando daí seu nome. Não se confunde com a Maçonaria.
10 Há um famoso caso do francês Léo Taxil, que em 1890 publicou “Os mistérios da

Franco-Maçonaria”, revelando implicações gravíssimas da Maçonaria e seus membros


com práticas que agradavam as proibições implementadas pela Igreja. Posteriormente
(1897), o próprio Taxil confessou que as informações contidas no livro não eram
verdadeiras e o fez como uma “brincadeira amigável”, visto que foi expulso da Maçonaria
em 1882 em razão da publicação de uma obra plagiada. Desde então muitas obras, não
somente livros, chegaram ao grande público na tentativa de ligar a Maçonaria a cultos
satânicos, tramas políticas, assassinatos e toda espécie de conspirações, infelizmente.
104
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Caminhando um pouco mais, já no Século XX, as restrições


continuam nas disposições do Código de Direito Canônico, de 1917. Em
síntese, a legislação católica prevê em tais cânones: a) que os fiéis deverão
fugir de associações secretas condenadas, sediciosas ou suspeitas que
procuram substrair-se à “legítima vigilância da Igreja”; b) que devem
sofrer excomunhão os que dão seu próprio nome à “seita maçônica ou a
outras associações do mesmo gênero”, que maquinam contra a Igreja ou
contra os legítimos poderes civis; c) que os clérigos que de alguma forma
participam das “seitas maçônicas” devem perder seus cargos na Igreja e
serem denunciados à Sagrada Congregação do Santo Ofício; e d) que são
proibidos os livros que tratam das “seitas maçônicas” ou outras
associações análogas, pretendendo provar não são perniciosas, mas úteis
à Igreja e à sociedade civil.
Assim, para o Código Canônico de 1917, todos que são iniciados
na Maçonaria incorrem na pena de excomunhão; devem ser afastados
dos sacramentos da Igreja, não podem assistir aos ofícios divinos (missas
e procissões litúrgicas, por exemplo); não podem ser padrinhos de
batismo ou crisma; as fiéis são desaconselhadas a contrair matrimônio
com maçons; o maçom falecido deve ser privado da sepultura
eclesiástica, salvo se demonstrar arrependimento; aos maçons devem ser
negados quaisquer ofícios fúnebres públicos, dentre outras reprimendas.
Em 27 de novembro de 1983 entra em vigor um novo Código
Canônico, contendo apenas um dispositivo que podemos relacionar à
Maçonaria, embora não exista menção expressa a ela. O Cânon 1374
possui a seguinte redação: “Quem se inscreve em alguma associação que
maquina contra a Igreja seja punido com pena justa; e quem promove ou
dirige uma dessas associações, seja punido com interdito.”
A redação, em que pese a omissão expressa à Maçonaria, não
mudou o relacionamento entre as duas instituições, apenas inclui a
Ordem em um grupo amplo daquelas associações que possam “maquinar
contra a Igreja”. A afirmação está na Declaração da Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé, inclusive mencionando a aprovação integral do
texto pelo Papa João Paulo II, marcando como inconciliáveis os
princípios maçônicos com a doutrina da Igreja11.
Vê-se que há um abrandamento textual, mas não houve real
mudança na intenção da Igreja em tornar estranhos à fé católica àqueles
que participam ou venham a participar dos quadros da Maçonaria. Pelo

11 TERRA, op. cit., p. 100-101.


105
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

contrário, inúmeros textos e documentos contendo interpretações


posteriores tornaram pública e reafirmaram a opinião imutável da Igreja
a respeito da histórica incompatibilidade.
Em síntese conclusiva, parece aceitável afirmarmos que essa
incompatibilidade entre Maçonaria e Igreja Católica, que já existe em
termos formais há mais de 280 anos, ainda permanece entre nós pela
insistência desta última em não alterar sua postura firmada ainda na
Idade Média. Enquanto a Maçonaria acolhe em seus quadros homens de
todas as religiões – inclusive uma maioria de católicos, como no caso
brasileiro – a Igreja insiste em manter um distanciamento que, a bem da
verdade, não interessa a muitos. Vejamos, então, porque os atuais
argumentos não se justificam:

a) Maçonaria e religião não se confundem. Ainda que a Maçonaria se


valha de ritos e até mesmo utilize a Bíblia ou outro livro sagrado em suas
reuniões, não é ela uma doutrina que envolva a salvação do homem pela
fé, não propõe uma “religação” com Deus (ou deuses) 12 , mas um
aprimoramento do homem realizado pelo esforço pessoal de cada um,
não impedindo que cada maçom tenha sua própria religião, nem se
propondo a tornar-se substituta de qualquer uma delas.

b) O Grande Arquiteto do Universo não é um “Deus vago”. Há uma


grande restrição por parte da Igreja quanto a esta denominação, tratada
como sendo relativa a um “Deus deísta”, vago, indefinido, impessoal,
uma força construtora ordenadora e evolutiva 13 . A esse respeito 14 a
Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1985, lançou documento
esclarecedor informando que a utilização das expressões “Grande
Arquiteto do Universo” ou “Supremo Arquiteto do Universo” permitem
que homens de diferentes fés possam se reunir sem que o conteúdo de
suas orações ou de sua fé possam causar discórdia. Afirma que “não
existe um Deus maçônico. O Deus do maçom é o próprio da religião

12 Lembrando da etimologia da palavra religião, ela vem do latim “re-ligare”, qus significa
“ligar com” ou “ligar novamente”. Assim, “pode ser definida como um conjunto de
crenças (a fé) relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural,
divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que
derivam dessas crenças.” (LIMA, Walter Celso de. Ensaios sobre filosofia e cultura
maçônica. São Paulo: Madras, 2012. p.71).
13 TERRA, op. cit., p. 103.
14 BERNARDO, Giuliano Di. Filosofia da Maçonaria. Uberlândia: Royal Arch, 1997.

p. 86.
106
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

que ele professa”. Para a Igreja Católica, no entanto, o único Deus aceito
é aquele da revelação cristã, o que excluiria a divindade dos muçulmanos,
cujo profeta é Maomé, ou dos Judeus, para quem o Novo Testamento
tem pouca ou nenhuma importância enquanto texto sagrado.

c) Reuniões secretas não são exclusividade da Maçonaria. Um argumento


antigo diz respeito às reuniões secretas das Lojas maçônicas, o que era
plenamente compreendido em tempos de grandes revoluções, discussões
por independência de países, prática adotada para a preservação dos
assuntos e da identidade de seus participantes. Ora, o argumento é falho
ao imaginarmos que governos, empresas e a própria Igreja se reúnem
secretamente para tomada de importantes decisões, mantendo-se o sigilo
do que ali é discutido, bastando lembrar-se do Conclave para escolha de
um novo Papa.

d) A Maçonaria não “maquina” contra a Igreja Católica. Este


argumento parece lembrar fantasiosas teorias da conspiração,
especialmente se nos voltarmos aos tempos em que a Igreja era
detentora de poder e influência em grande parte do mundo, mormente
na Europa, norteando as mais importantes decisões tomadas pelos mais
diversos soberanos. A Maçonaria esteve presente em vários movimentos
contra o poder absoluto e a tirania e se a Igreja estivesse do lado
contrário, certamente é possível afirmar que foram adversários em algum
momento histórico. Em tempos modernos, no entanto, a história é
outra!

A Maçonaria defende a liberdade de consciência, de pensamento e


religião. Tem entre seus pilares a tolerância para com o próximo, a busca
pela verdade baseada na razão. A crença cega e irrazoável, bem como a
intolerância para com aqueles que pensam de maneira diferente não é da
essência da Maçonaria, que busca ter em seus quadros “homens livres e
de bons costumes”, isto é, não somente homens cujos preceitos éticos
sejam firmes, mas especialmente aqueles que não sejam escravos de
paixões, preconceituosos nefastos, defensores de dogmas imutáveis ou
fanáticos incorrigíveis.
Essa liberdade de pensamento talvez seja o que mais incomoda a
Igreja, que ao se intitular mãe e mestra da verdade impõe a todos os seus
fiéis um comportamento que é incompatível com a liberdade defendida
pela Maçonaria. Este posicionamento foi fixado especialmente na Idade
107
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Média quando a Teologia se sobrepunha à Filosofia, que ocupava plano


secundário, juntamente com as Ciências, deixando claro que a verdade
revelada pela Igreja não suporta qualquer questionamento15.
Ainda que existam esforços isolados em algumas localidades,
como se tem conhecimento no Brasil, não haverá mudança neste
distanciamento, pois o que a Igreja exige para que isso aconteça é que se
mude a “essência da Maçonaria”, ou seja, a liberdade de pensamento que
defende tão veementemente. Como diz um autor citado neste ensaio, “os
católicos não precisam pedir que a Igreja reveja sua relação com a
Maçonaria. A Igreja já fez oficialmente esta revisão. A incompatibilidade
no nível doutrinal é total e insuperável16”.
Dito de forma tão categórica, não há como vislumbrar no
horizonte uma aproximação institucional. Enquanto isso, católicos
continuarão sendo bem recebidos nas Lojas maçônicas, exigindo-lhes
apenas a crença em um Ser supremo e que trabalhe na construção de seu
templo interior.

15 “É missão da Igreja anunciar ao mundo a verdade revelada. Sendo essa a sua missão,
não admite que se atente contra o ensinamento divino. Ela respeita a liberdade da Ciência
e da Filosofia, até e enquanto os cientistas e filósofos não se ponham em oposição às
verdades que ela sabe reveladas por Deus e, por conseguinte, indubitavelmente
verdadeiras” (MERCIER; DE WULF; NYS, Apud REALE, Miguel. Introdução à
Filosofia. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 11.).
16 TERRA, op cit., p. 106.

108
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

GILSON LUIS RIGOLI

Gilson Luis Rigoli, 60 anos, Cartorário aposentado, Músico e Escritor,


Bacharel em Direito(UNIJUÍ), com Pós Graduação em Moçonologia-
História e Filosofia(UNINTER). Mestre-Maçom iniciado em 04/09/2008.
Ex-Venerável Mestre da ARLS Harmonia e Trabalho nº 211. Possui 4
obras editadas: “Fragmentos da História de Friedrich Ludwig Schröder e o
Rito Schröder” (2016); “Parte da História dos 10 Anos da Loja Harmonia
e Trabalho nº 211”(2017); “O Simbolismo Maçônico e a Ritualística no
Rito Schröder”(2019) e “A Construção do Homem/Maçom no Rito
Schröder”(2020).

109
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA E RELIGIÃO

Ao contrário do que a maioria dos leigos imaginam a Maçonaria


não é uma religião e nem uma seita ou coisa do gênero, muito menos
uma Igreja. A Maçonaria não é uma religião, nem quer ser algo que
substitua a religião. Jamais teve a ambição de tomar o lugar de qualquer
das religiões existentes. Um dos vários requisitos exigidos para que um
indivíduo possa tornar-se Maçom, além de possuir uma conduta ilibada e
primar pela moral e pelos bons costumes, é a crença em um Ser
Supremo, a quem a Maçonaria denomina de Grande Arquiteto do
Universo (GADU). A Maçonaria mesmo não sendo uma religião,
defende a existência de um Ser Supremo (Deus) ou Princípio Criador.
Consta dessa forma na Constituição de Anderson de 1723:
“I - CONCERNENTE A DEUS E A RELIGIÃO - Um Maçom
é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele
compreende corretamente a Arte, nunca será um estúpido ateu nem um
libertino irreligioso. Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem
obrigados em cada País a adotar a religião daquele País ou nação,
qualquer que ela fosse, hoje pensa-se mais acertado somente obrigá-los a
adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam,
guardando suas opiniões particulares para si próprios, isto é, serem
homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que
seja a denominação ou convicção que os possam distinguir; por isso a
Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma
verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em
perpétua distância”.
A existência e a aceitação de um Princípio Criador denominado de
Grande Arquiteto do Universo representa o símbolo abrangente da
Maçonaria como fraternidade e deve ser respeitado como tal pelo
Maçom, porque do ponto de vista maçônico, a ação orientada eticamente
requer o reconhecimento de um princípio significativo e predominante
que é responsável pela manutenção da ética e a moral do Maçom. Com
base nisso, o maçom deve se comprometer ética e moralmente, não
religiosamente.
O termo “Religião” é derivado do latim “religio - onis” que significa
um conjunto de sistemas culturais e de crenças e visões de mundo, que
designa os símbolos que conectam os seres humanos com a
espiritualidade e seus próprios valores morais. O termo “religião” também
significa “religação” com o divino (Deus).
110
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

São muitas as religiões existentes, e cada uma delas possui suas


próprias narrativas, tradições e histórias que visam dar sentido à vida
humana ou explicar a sua origem e do universo. O indivíduo deve ter o
livre arbítrio de poder escolher qual religião irá seguir. A Maçonaria não
impede à livre investigação da verdade, motivo pelo qual exige de todos
seus membros maior tolerância. Desde o princípio o homem necessita
acreditar que existe uma força suprema e criadora de tudo que existe,
capaz de ajudá-lo e até mesmo transformá-lo em um ser melhor, e para
grande parte da população esse Ser Supremo é denominado de Deus.
Existem dois elementos que diferenciam a Maçonaria de quase
todas as outras organizações sociais, com exceção das Igrejas, que é a
utilização de um Templo e um ritual para o desenvolvimento da sua
ritualística. O Templo é para a realização da ritualística contida nos
rituais. Estes dois elementos são os que contribuem para criar confusão
nos leigos, que geralmente relacionam Templo e ritual com religião.
A Maçonaria representada por seus ritos não demonstra nenhum
caráter revelador, não transmite nenhuma doutrina de salvação e não
possui qualidades mágicas. Não estabelece e nem reafirma uma religião e
também não deve e não pode assumir quaisquer funções religiosas
substitutas. O ritual é um meio específico de comunicação e de
transmissão dos atos ritualísticos em uma sessão ou cerimônia maçônica.
Para o autor Elias Mansur Neto no livro “O que você precisa
saber sobre Maçonaria” em relação se a maçonaria é uma religião:
“Comparação entre Maçonaria e Religião. Não se encontra na
Maçonaria nenhum elemento constitutivo de religião. A Maçonaria está
muito longe de ser uma religião e é, totalmente, diferente. Sem interferir
nas práticas religiosas, espera que seus adeptos sigam a própria fé e que
ponham seus próprios deveres com Deus (em todos os nomes mediante
os quais é Deus conhecido), acima dos demais. Os ensinamentos morais
da Maçonaria são aceitos por todas as religiões. Desta forma, a
Maçonaria favorece a religião”.
Religião é algo mais complexo e profundo do que a religiosidade
trabalhada na Maçonaria. Uma religião possui muitos mais detalhes,
como por exemplo, a existência de um plano para salvação ou um
caminho para que o fiel possa alcançar uma redenção ou recompensa
pós-morte. Uma religião deve possuir um sistema teológico que consiga
descrever a natureza de Deus, além de divulgar toda descrição e formas
ou práticas pelas quais seus fiéis possam buscar um meio de comunicar-
se com Ele. A Maçonaria não transmite um sistema de crenças. Não
111
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

conhece dogma, teologia e sacramentos. A Maçonaria não efetua


nenhuma dessas práticas, portanto, não se enquadra como religião. A
Maçonaria se encontra aberta a pessoas de todos os credos e visões de
mundo, se estas estiverem de acordo com as convicções éticas e os
princípios morais da Maçonaria. De acordo com esses preceitos
Constitucionais o maçom deve ser um homem bom e honesto, honrado
e decente, independentemente de credo ou convicção. Devendo possuir
sua crença e religião. Estes requisitos podem ser complementados por
sua crença e por suas convicções religiosas.
Conforme consta no site da Grande Loja Maçônica do Estado do
Rio Grande do Sul em relação à Maçonaria:
“A Maçonaria é uma Ordem Iniciática mundial. É apresentada
como uma comunidade fraternal hierarquizada, constituída de homens
que se consideram e se tratam como irmãos, livremente aceitos pelo voto
e unidos em pequenos grupos, denominados Lojas ou Oficinas, para
cumprirem missão a serviço de um ideal. Não é religião com teologia,
mas adota templos onde desenvolve conjunto variável de cerimônias,
que se assemelha a um culto, dando feições a diferentes ritos. Esses
visam despertar no Maçom o desejo de penetrar no significado profundo
dos símbolos e das alegorias, de modo que os pensamentos velados neles
contidos sejam decifrados e elaborados. Fomenta sentimentos de
tolerância, de caridade e de amor fraterno. Como associação privada e
discreta ensina a busca da Verdade e da Justiça”. (Grifo nosso).
A Maçonaria possui um caráter laico, por isto é aceita homens de
qualquer religião, católicos, protestantes, judeus, espíritas, maometanos,
hindus, budistas e tantas outras. É uma associação de pessoas que tem
por objetivo unir os homens entre si em torno de um ideal. Em seu
quadro social reúne homens de várias etnias, profissões, credos,
consciência de valores, e com visão de mundo diferenciada, unidos em
um único objetivo, ou seja, aprimorar-se para crescer como ser humano
e assim poder trabalhar para um mundo melhor. A Maçonaria propõe
apenas que cada indivíduo deve procurar as respostas certas para seus
questionamentos no que se refere a sua própria fé, na sua religião ou em
seu Templo Religioso.
A Maçonaria especulativa/moderna para se manter viva e atuante
nestes três séculos de existência, proíbe seus adeptos de discutir dentro
dos Templos assuntos como religião e política que historicamente são
matérias que geralmente causam divisão e incompatibilidade dentro da
fraternidade.
112
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A Maçonaria Especulativa/Moderna é essencialmente laica e


tolerante, por ter recebido muita influência do iluminismo e
principalmente do humanismo. Com o advento do Iluminismo, o
pensamento humanista inaugurou sua era moderna, repousando
notadamente na razão e na ciência, em contraposição às superstições. O
humanismo foi um paradoxo em relação ao teocentrismo, portanto,
contrariando os princípios básicos e gerais da Igreja que orientavam o
pensamento humano naquele século, desafiando também a opinião geral,
na crença compartilhada pela maioria. A doutrina da Igreja entra em
choque com a evolução científica, que passa a considerar o homem
como o centro do universo. A Igreja tem como dogma como sendo
Deus como centro de tudo, o seja o (teocentrismo), homem (ser
humano) como o centro de tudo (antropocentrismo). Com as ideias
trazidas pelo humanismo, passa-se a valorizar o homem, trazendo-o a
um novo patamar da condição humana, além de exaltar o pensamento
baseado na razão (racionalismo). Em um sentido lato, significa valorizar
o ser humano e a condição humana e as suas realizações mais do que de
tudo o resto. Para o humanismo, o ser humano e a essência de tudo no
universo, e essa essência é o atributo de cada indivíduo.
Na Maçonaria a grande maioria dos ensinamentos e aprendizados
dizem respeito as coisas intangíveis. A moral, ética e a virtude, são coisas
abstratas e invisíveis que não podem ser tocadas por isso intangíveis. A
Maçonaria encoraja o homem a ser religioso, sem defender uma religião
em particular, tanto quanto incentiva que ele seja ativo na comunidade,
sem defender um sistema ou partido político em particular.
Por tudo que foi exposto e pessoalmente prefiro sempre colocar a
Maçonaria separada da religião, uma vez que existem diferenças
fundamentais para que se possa comparar Maçonaria com qualquer tipo
de religião. Entretanto, não podemos esquecer que a Maçonaria propicia
aos seus membros a condição de praticar qualquer que seja sua crença
religiosa. As preferencias individuais de seus membros são aceitas
visando a unidade e o bom funcionamento da Fraternidade. Além disso,
a Maçonaria leva muito a sério a responsabilidade ético/moral de cada
indivíduo, tendo por finalidade o bom funcionamento do todo. A
Fraternidade Maçônica sabe que, para manter o que foi conquistado
nestes trezentos anos de existência, é necessário que cada um de seus
membros se conscientize de que é sagrado o princípio da
responsabilidade individual e isto é tanto mais necessário se tivermos em
mente que cada membro participe das ações em comum, o que faz com
113
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

que se possa atribuir a cada Maçom, em particular, sua própria porção na


participação do êxito ou do fracasso. A Maçonaria é composta por
pessoas e como tal suas ações positivas ou negativas refletem e são
associadas à condição de maçom.

Referências Bibliográficas:
▪ Constituição de Anderson de 1723.
▪ MANSUR Neto, Elias. O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE
MAÇONARIA.. IeEditora – 2002 – São Paulo-SP - ISBN 85-87916-
43-2
▪ Site da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul
▪ Site na Web do Grande Oriente do Brasil

114
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

HAYLTON ARY NOVAES JUNIOR

Haylton Ary Novaes Junior, Empreendedor, Consultor Empresarial e


Jurídico Autônomo, Graduado em Direito pela FDSM, Pós Graduado
MBA em Gestão Executiva de Negócios pela PUC Minas e Especialista
em Gestão Educacional pela UNIVAS, Mestre Instalado fundador da
Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Atalaia Sul Mineira” N.º 360 do
Oriente de Pouso Alegre - MG, filiada à GLMMG. Grande Inspetor
Geral, Grau 33, membro do Supremo Conselho do Grau 33 REAA da
COMAB em Belo Horizonte - MG. Participou do Volume II da Série
Maçons em Reflexão.

115
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO, UM “AQUÁRIO NO OCEANO”

A nossa Arte Real é uma Instituição onde a tolerância é cultuada


como uma das principais virtudes, o que também deveria acontecer com
as Religiões. No Brasil aprendemos que somos um Estado Laico, ou seja,
não existe uma religião oficial, todos podem praticar livremente suas
crenças espirituais.
Entendo a Maçonaria como uma Escola e não como uma
Religião, podemos inclusive estudar todas as linhas espirituais e conviver
harmonicamente.
Religião no sentido de religar com um DEUS, uma energia pura e
criadora pode ser entendida como uma forma muito útil para a vida das
pessoas.
A cultura e os costumes de cada local e grupos pode influenciar na
escolha de sua religião, mas deveria também orientar para o respeito as
pessoas que possuem opções diferentes e até mesmo com aquelas que
preferem não seguirem nenhuma linha organizada de religião.
Somos questionados, para fins estatísticos, ao propor nosso
ingresso na Maçonaria a nossa religião, entendo que isso ocorre apenas
para confirmar que temos uma crença verdadeira em um princípio
criador que posteriormente aprendemos chamar de Grande Arquiteto do
Universo.
Nessa nossa Escola, que é a Maçonaria, estudamos de tudo,
inclusive sobre assuntos que também são muito valorizados pelas
religiões, as virtudes são exaltadas.
Aprendi com um Mestre, que se diz agnóstico, que a religião é
“como um aquário”; refleti e compreendi que o sentido que Ele quis me
passar era desegurança, mas com limitações.
Neste nosso “oceano de conhecimentos” que são proporcionados
a cada grau de evolução maçônica, muitas vezes nos deparamos com
“dogmas” religiosos que nos fazem refletir, interpretar mediante nossa
cultura, costumes e formação de formas discordantes, mas reafirmo que
quando há a tolerância e o respeito podemos conviver harmonicamente.
Fazemos diversos juramentos em nossa caminhada maçônica, e
particularmente Eu busco honrá-los; não juraria se não concordasse;
somos livres e devemos sempre valorizar esse pilar fundamental da
Maçonaria, a Liberdade.
Líderes religiosos iluminados, normalmente buscam disseminar
suas ideias livremente, sem restringir a ninguém a possibilidade de
116
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

conhecer melhor e participar junto com Eles desse processo de


desenvolvimento espiritual proporcionado por sua religião, desde que
concordem com seus preceitos.
Penso que na Maçonaria isso é possível também aos buscadores
sinceros, que podem ser membros de nossa ordem, desde que
preencham os requisitos necessários e aceitem nossas Leis e Costumes,
também nas religiões existem processos de admissão e regras a serem
seguidas.
Mas como já enfatizei anteriormente, vejo a Maçonaria como
Escola, assim fica mais fácil de explicar e compreender, pois na Escola é
necessário cumprir certos requisitos e atingimos certos níveis onde
alguns não se enquadram.
Exemplificando por comparação, ninguém nasce Médico, Militar
ou Engenheiro... É necessário que você tenha um perfil adequado,
vocação, faça os estudos necessários, para poder exercer a função e
frequentar os ambientes dessas atividades.
Todos podem entrar em uma reunião maçônica? Fui questionado
uma vez por uma pessoa religiosa, respondi: “Depende... Todos podem
entrar em um Centro Cirúrgico?” Ela respondeu da mesma forma:
“Depende...”.
Se você estiver preparado e fizer parte daquele grupo, a resposta
será sim.
Mesmo nas religiões, nem todas as reuniões são abertas, quando
vão escolher um novo Papa Católico, por exemplo, apenas um grupo de
Cardeais, do mais alto nível do Clero dessa religião é que pode participar
desse ritual no Conclave; também em outras religiões existem momentos
especiais para apenas os membros, como em determinados momentos
de estudos espíritas por exemplo. Até os Evangélicos em alguns casos só
líderes anciões participam de reuniões especiais, acredito que isso
aconteça em todas religiões, cada uma com suas particularidades de
costumes, leis, épocas, locais...
O pensamento é esse “vento” que entra no “aquário das religiões”
e também viaja pelo “oceano da maçonaria”; com a liberdade que tanto
valorizamos.
É assim que PENSO sobre religião como um caminho para religar
com DEUS e a Maçonaria como uma Escola que estuda de tudo,
inclusive sobre religiões.
Eu não me limito nesse “aquário” prefiro estar no “oceano”.

117
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

HELDER VINHAL DE CARVALHO

Helder Vinhal de Carvalho, 53 anos, nasceu na cidade de Goiânia GO,


secretário de ofício e Mestre Maçom da Loja Mahatma João Racy Nº 28,
jurisdicionada à Grande Loja do Estado de Goiás. Graduado em
Administração e Pós graduado em Negócios para Executivo pela
EAESP/FGV. Finalista Antologia de Contos de Amor e Dor pela UBE
São Paulo (2018). Finalista Coletânea de Crônicas do Concurso J. Veiga
pela UBE Goiás (2018).

118
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E A RELIGIÃO
TUDO PARA A MAIOR GLÓRIA DE NOSSO SENHOR

Pablo saiu logo cedo com sua mochila para conectar-se com a
natureza junto à um grupo de amigos da maçonaria em que faz parte. Ele
os chama de Irmãos com "I" maiúsculo mesmo, pois a fraternidade é
conduzida como se protege um verdadeiro amigo. Sete anos se passou
desde sua iniciação maçônica e está feliz por tudo que viu e ouviu ao
som da harmonia e conexão consigo mesmo. Reiniciou seus
pensamentos e sentimentos, tudo que tem e possui no afeto ordenado na
batuta de que se Deus está conosco quem será contra nós? Algo como
ter a ideia de ser filho de Deus, que instiga a tê-lo no que somos e que
habita no interior a verdadeira fortaleza.
Para um Maçom não existe a conversão do indivíduo e sim o
resgate do Deus que habita em cada um. Quando ele entra para
Maçonaria é questionado: Se acredita em Deus e na imortalidade da
alma. O indivíduo entrou na Maçonaria mentindo, com o objetivo de
interesses, ou disse a verdade e está buscando no trabalho de desbastar a
pedra bruta com o objetivo de alcançar a maior Glória de Nosso Senhor?
A iniciação maçônica revitaliza suas intenções e faz coisas que traz
descobertas da experiência com Deus. Um verdadeiro "religare" das boas
intenções e veja se não parece como uma religião. Assertivamente não é
uma religião tradicional como o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo
entre tantas outras que cada qual tem a supremacia com seus dogmas e
condutas de sempre "religare". Espera um pouco, está dizendo que a
maçonaria conecta o homem a Deus e dá liberdade para seguir a sua
religião à qual foi descoberta desde sua infância? Sim! O indivíduo tem
liberdade de escolha, de ter o livre arbítrio e, sobretudo corrigir suas
arestas crespas para a lapidação perfeita.
Pablo chegou ao sítio com seus amigos Maçons. Ele abraçou,
beijou; do mesmo jeito que se beija em ósculo. Alegria à tona! Piadinhas,
histórias e tudo o que os verdadeiros amigos fazem.
– Como somos iguais! E não percebeu que toda essa euforia de
alegria entre amigos é o sentido de igualdade entre todos que um dia
viram a luz. E ver a luz é algo muito forte, pois antes de tudo de mover o
indivíduo se via na escuridão. Pare aí! Quer dizer que entrei acreditando
em Deus, mas só isso não basta? (Risos). Não! Acreditar em Deus é a
pedra bruta, ter fé, olhar a sua criação e se conduzir em viagens o
conecta com os quatro elementos da natureza: Fogo, Água, Ar e Terra.
119
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

– Bora para cachoeira, dizia Fábio. E todos responderam:


-Bora! Animação contagiante, essa dos jovens Maçons. Colocar o
pé na terra, respirar o ar puro e ver o céu limpo com o sol protegendo
em raios penetrantes. A água gelada da cachoeira com sua força
arrancava a pele e também arrepios e ele dizia em voz alta:
- Está gelada!
- Pablo, cuidado com o buraco, você pode se afogar. Um
protegendo o outro e conduzindo para o melhor caminho na retidão.
Pablo sai da água tremendo e eles acendem uma fogueira, no qual os
aquece e assim o perfume da madeira queimada invade o sítio como um
incenso. À noite, todos em volta da fogueira dando gargalhadas por dizer
o quanto Pablo estava tremendo de frio. Daí parece que rir é o melhor
remédio, deixando que a tolerância seja um modo de protege-se contra o
“bullying” ou qualquer discórdia de pensamento. O som do violão e da
taça de vinho bom, o fazia sentir-se diante de um céu estrelado e, ele
queria muito tudo aquilo, a Paz. Inspirar e expirar Deus em seus poros,
que fossem de arrepios pelo frio ou pelo suor do calor. Pablo percebeu
que Deus estava presente e que a união de todos o fazia completo. Feliz
com a Maçonaria. Feliz com a família. Feliz com sua religião e, sobretudo
pronto para tornar a humanidade feliz.
Um chamado de Deus? Uma descoberta ou redescoberta da fé? E
agora? Lapidado e pronto, o que fazer? Hora da escolha do livre arbítrio.
Posso continuar a ser apenas Maçom ou posso desviar-me da conduta e
aproveitar essa amizade para benefícios próprios. Ele está diante da
incógnita de muitos Maçons, de seguir o caminho do bem ou do
caminho do mal. E quanto mais se distancia, mais ele descobre o
caminho do Bem, continuando nas fileiras da Ordem Maçônica.
Descobre que a caridade não é um gesto simples, é despojar-se por
completo na essência de buscar a maior Glória do Nosso Senhor na
busca por ajudar o mais necessitado. Jesus Cristo fez isso e com muitas
renúncias. Isso o dignifica, retém bênçãos, lapida o justo e o perfeito.
Virtudes que são edificadas e jogando para fora todos seus vícios mais
inconscientes.
Está na hora de despedir-se do sítio e de todos os Irmãos e cada
vez mais Amigos, agora com "A" maiúsculo. Livre para suas escolhas e
para a busca de uma forma digna de igualdade entre as pessoas da
humanidade. Pablo percebeu que sozinho seria impossível fazer algo. E
se há leis que impedem a Ordem e o Progresso de torna-se devoto a
Deus, também há à pátria mãe que acolhe a cachoeira.
120
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Pablo segue seus estudos e descobre que a vida não é feita de


palavras ou de condecorações e sim do essencial de “religare” sempre
com Deus, escutando os anseios das dores e sofrimentos dos
semelhantes. Será que assim faziam os Cavalheiros da Ordem do Templo
conhecidos como Os Templários? Protegiam com suas espadas às
virgens dos estupradores, protegiam às viúvas nas aldeias de saqueadores
e até mesmo protegiam a fé dos peregrinos que viajavam para a Terra
Santa?
Parece que o Amor é a palavra chave. Buscar a Deus em todas as
coisas sejam dos pilares às virtudes, na condução para a grandiosidade do
projeto de vida. No altar está a Bíblia Sagrada, protegendo todos no
templo, que nos inspiram sempre nas viagens pelo mundo, na
contemplação não mais do templo, mas agora das ações. Uma pandemia
ou peste poderá acabar com tudo, mas jamais deixará de edificar o
templo às virtudes. Escolha o seu caminho, à luz desse Grande Arquiteto
do Universo. Temos um Deus e uma missão de tornar feliz a
humanidade, sendo o verdadeiro Maçom a que foi chamado. Escute o
seu coração e faça da fé um instrumento de Paz. Reina o silêncio? Ainda
não!
Pablo grita:
– Cheguei! Lar doce lar! Sua família o acolhe sabendo que havia
esse compromisso com seus melhores amigos, sua filha menor diz:
– Papai, está todo molhado!
Ele respondeu:
– É água cristalina! Da cachoeira que dá a vida. Mais tarde, vou
levar todos vocês para um piquenique e então tomaremos banho nela!
Ela disse:
– Oba! Saímos do castigo. E deram gargalhadas de alegria. Nessa
noite ele percebeu o verdadeiro valor da família e que a água cristalina o
fez o melhor homem livre e de bons costumes. Dormir um sono
tranquilo, pensando em fazer algo para si, para sua família, para seus
amigos e, sobretudo para os mais necessitados. Naquela noite, percebeu
o valor dos gomos de romã à luz presente de Deus.
Pablo prosperou. Seus amigos estavam cada vez mais próximos e
então ele conduziu sua esposa e seus filhos para junto da família
Maçônica. Sua esposa resistia em participar das festas e das viagens, logo
encontrou-se junto das outras em um formato de colmeia de abelhas, a
qual denominavam Colmeia da Amizade. Perceberam que a fé e o amor
na caridade juntos podia fazê-las mais felizes. O casal de filhos, o maior
121
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

entrou para um capítulo da Ordem DeMolay, uma instituição


Paramaçônica que valoriza virtudes, uma delas é a reverência pelas coisas
sagradas.
Dessa forma, observei que a instituição fundada por Maçons
estava dizendo algo mais para si mesmo. Como ensinar aos jovens
valores tão profundos? Eles podem se ajoelhar e orar em todo lugar
como o fazem na Maçonaria. Logo, percebi que poderia ser no futuro
um homem livre e de bons costumes prontos para entrar nas fileiras. A
outra, entrou para um Bethel das Filhas de Jó. Ela encantada com tantas
lições, se fez melhor como mulher na sociedade.
Descobriu a essência da felicidade com doses de amor. E tudo que
agora faziam é para alcançar esse amor verdadeiro, esse amor na
verdadeira presença de Deus que liga o homem à busca da misericórdia e
à busca do afeto com o próximo. O Deus, que carinhosamente chamam
de Grande Arquiteto do Universo, a qual teve origem no Jardim do
Éden e que criou tudo no Paraíso, mostrou outrora os caminhos do bem
e do mal. Retornar ao Paraíso depois da expulsão não é tarefa fácil para
um Maçom, a qual encontra na união com as pessoas de bem a maior
Glória no qual nos referimos. Não temos mais que colocar cordeiros
inocentes na fogueira, o avental do cordeiro é a expressão maior do
contato e intimidade com Deus.
Agora Pablo é Sereníssimo Grão-Mestre de uma potência
Maçônica reconhecida. Ele comanda como líder as lojas Maçônicas que a
compõem. Ele vê o significado da união que leva ao estado de
consciência Maçônica de cada um e eleva as preces para que eles com a
luz; a mesma luz dos Irmãos que o receberam, a luz da descoberta do
“religare” com Deus, Grande Arquiteto do Universo, possam fazer a
humanidade feliz. Com a mesma sabedoria que teve o Rei Salomão, teve
Pablo o afeto interior com Deus.
Assim sendo, a Maçonaria completa uma filosofia que se aplica à
espiritualidade religiosa da religião do Maçom. Isso não se discute, pois
demonstra se suas escolhas são do bem como fez Abel ou diferente
como fez Caim. Escolhas essas sublimes, a qual conduzem o indivíduo
para a luz até mesmo quando alcançar o descanso eterno ao lado do Pai
Celestial, Grande Arquiteto do Universo.

122
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ISAQUE MACEDO

Isaque Macedo, brasileiro, 51 anos, casado e três filhos. Micro


empresário e auditor fiscal. Bacharel em Administração de empresas pela
Universidade Luterana do Brasil, Bacharel em Ciências Contábeis pela
Faculdade SENAC-SP, Bacharel em Teologia pela Escola Superior de
Teologia do estado do Espírito Santo. Músico formado pelo
Conservatório Villa Lobos – Osasco-SP. Professor de música e técnica
vocal. Músico ativo na Orquestra Jazz Sinfônica de Guarulhos-SP como
trombonista. Cantor, violonista, compositor e poeta. Capelão voluntário
no Hospital Cruz Azul-SP. Membro do Grande Oriente Paulista, ativo
na Loja XV de Novembro, nº 101 em Carapicuíba-SP. REAA. Iniciado
no dia 24 de setembro de 2016, elevado no dia 17 de abril de 2018 e
exaltado no dia 17 de setembro de 2018.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA

A história da Maçonaria no mundo se confunde com as grandes


construções através dos séculos e até mesmo milênios. A Maçonaria
procurou nas civilizações antigas suas inspirações e conhecimentos,
utilizando símbolos com muitas interpretações.
Há os que defendem que os mistérios tem sua origem no Egito
antigo num panorama de monumentos, imagens e textos com cerimônias
em sociedades iniciáticas. Arqueologicamente, há fragmentos que
comprovam que havia trabalhadores detentores do conhecimento na
construção das grandes pirâmides egípcias, c. 2325 a.C. Esses
conhecimentos eram segredos guardados e só eram passados de mestre
para mestre. Os aprendizes passavam por provas, depois de um bom
tempo, reclusos em câmaras, meditando sobre a vida e a morte. Após
esse período o aprendiz era aceito como mestre, detentor da palavra de
passe.
Há os que defendem a origem da Maçonaria na construção do
templo de Salomão em Jerusalém c. de 832 anos a.C. Esse
empreendimento levou muitos anos para ser construído e demandou o
emprego de muitos homens em sua construção. É bem provável que
Hirão Abiff, o filho da viúva (1º Reis 7.13 e 14), que comandou toda a
construção do templo, tenha organizado os trabalhadores
hierarquicamente, pelo menos com aprendizes e mestres da obra. A
lenda do 3º grau começa a partir desse texto no livro dos Reis de Israel.
Há os que acreditam que o surgimento da Maçonaria aconteceu na
construção das catedrais medievais. Aqui temos uma razão mais
acentuada diante de fatos históricos e documentais, uma vez que as
construções citadas amalgamaram no corpo das guildas dos construtores.
Acredita-se que durante a idade média por volta do séc. X, já havia essas
guildas que eram organizações de construtores. Essas organizações
espalharam-se pela Europa, preservando símbolos e ritos antigos. Porém,
já no séc. XVI começaram a perder força na Inglaterra e Escócia,
buscando novos membros para serem iniciados, advindos de outras
profissões.
A Maçonaria, finalmente é organizada por quatro lojas em
Londres, exatamente no dia 24 de junho de 1717, dia de São João
Batista, próximo ao solstício de verão, formando a Grande Loja da
Inglaterra. Seis anos depois em 1723, antigas cartas e regras dos
construtores medievais são reunidas formando a conhecida
124
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

“Constituição de Anderson”, um pastor presbiteriano. Nascia assim a


Maçonaria especulativa.

A RELIGIÃO
Desde os primórdios, o homem sente em seu âmago que é um ser
criado, portando, a ideia de um ser Superior e Criador sempre existiu em
sua imaginação, criando uma expectativa do contato “criatura x Criador”,
transformada em necessidade.
Essa necessidade chamada de “re-ligare”, do latim tornou-se hoje
o que chamamos de religião. Dessa maneira o homem cria princípios
morais, sacerdotais, filosóficos e até mesmo místicos transformados em
leis, dentro de sua crença, para exclusivamente satisfazê-lo. Esses
princípios surgem do relacionamento entre o homem, Deus, o universo e
o porvir.
No decorrer dos séculos surgiram grandes religiões as quais
subsistem até os dias de hoje tais como o Budismo, o Cristianismo, o
Hinduísmo, o Islamismo, e o Xintoísmo e todas as pequenas religiões,
chamadas de seitas.
Em princípio, as religiões têm fundamentos benéficos à
humanidade, como encontrar a si mesmo, libertações de opressões dos
vícios e restauração de casamentos falidos, e tantos outros. Por outro
lado, foram causadoras de grandes guerras, com perdas inestimáveis de
vidas humanas causando sofrimento em todo o planeta. O fanatismo
desenfreado e desequilibrado de homens perversos que alcançaram
lideranças, persuadiram multidões com o ódio e a intolerância racial,
cultural e religiosa.
Hoje em dia, infelizmente, pouca coisa mudou. O ego exacerbado
e a gana pelo poder através do dinheiro têm sustentado e alimentado esse
“câncer” no seio das instituições.

MAÇONARIA E RELIGIÃO
A Maçonaria sempre esteve envolvida de alguma forma com a
religião, por fatos históricos ou por lendas. A lenda do 3º grau, por
exemplo, deixa evidente que por trás dela há uma história verídica
descrita no Livro Sagrado, 1º Reis 5 a 8.
Muitos símbolos fazem parte da decoração dos templos
maçônicos, presentes, por exemplo, no altar dos juramentos tais, como a
Bíblia, o Talmude, o Alcorão e o Vedas. Importante observar que uma
sessão maçônica não pode ter início sem a leitura de um texto do Livro
125
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

da Lei. Obviamente que isso dependerá do Rito (Liturgias). Vemos aqui


que há uma relação forte entre a Maçonaria e Religião.
Muitos outros símbolos e figuras estão presentes tais como o olho
que tudo vê (presença material de Deus), as colunas J e B (presentes no
templo de Salomão – 1º Reis 7.15-22 e 2º Crônicas 3.15-17), Oriente
(Santos dos Santos 1º Reis 6.14-22), a escada de Jacó (Gênesis 28.12), o
Salmo 133, Deus (GADU), a luz (Hórus), o pavimento mosaico
(dualismo), o altar (o espiritual se materializa), o delta luminoso (a Tríade
divina e sua presença), os planetas (a criação), o esquadro (o Espírito de
Deus), a estrela de Davi (o mundo físico e espiritual), o arco-íris (aliança
de Deus com os homens), a cruz (imortalidade e ressurreição - número 4
- ar, água, fogo e terra) e os ensinamentos do mestre Jesus.

CONCLUSÃO
Embora se diga que a Maçonaria seja uma entidade filantrópica e
filosófica, o fato de se pregar o amor fraternal, o bem estar social, a
espiritualidade do homem e fazê-lo um ser elevado, moral, de bons
costumes, crente em um ser Criador espiritual e pessoal, ter dogmas, faz
dela uma entidade que “religa” seu membro (criatura) a Deus (Criador),
independentemente da religião de seus membros. Não há dogmas.
Deve-se lembrar, portanto, que o lema maior da Maçonaria é:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Referências Bibliográficas:
▪ Gest, Kevin L. Os segredos do Templo de Salomão –– Madras
▪ DuQuette, Lon Milo. A chave de Salomão – Pensamento
▪ Lima, Walter Celso de. Ensaios sobre Filosofia e Cultura Maçônica –
Madras

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

IVO REINALDO CHRIST

Ivo Reinaldo Christ, Membro da Loja Maçônica “Theodórica”, da


Academia de Letras Maçônicas de Juiz de Fora e Região e da Academia
de Estudos Maçônicos do Vale do Baixo do Paraíba. Nascido no dia 14
de maio de 1932 no município de São Sebastião do Caí-RS. Formou em
Pedagogia na PUC de Porto Alegre, que naquele tempo habilitava para
ser professor de Matemática, História e Pedagogia. Em fevereiro de 1967
fixou-se na cidade de Pequeri-MG. Em 1980 formou, juntamente com a
esposa Teresa Regina, em Direito pela Faculdade Vianna Júnior de Juiz
de Fora-MG. Fez parte do Lions Clube de Bicas, onde foi presidente por
quatro vezes e mantinha o informativo do Clube com o sugestivo nome
de “O LEÃO BICUDO”, com enorme aceitação no meio leonístico e
premiado várias vezes como o melhor boletim. Em 26 de maio de 1986
começou a fazer parte da Loja Maçônica “Caridade e Luz IV”, da cidade
de Bicas. Redator do informativo “O ESPIRRO DO BODE” que foi
fundado em janeiro de 1990. Participou do Volume II da Série Maçons
em Reflexão – Qual o Segredo da Maçonaria?. Faleceu em 06 de maio de
2021 aos 89 anos, no auge de sua produção literária.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Maçonaria e Religião são duas palavras, dois conceitos, dois


vocábulos ou expressões que produzem discussões, bate bocas,
contendas, arranca rabos que afligem a humanidade deste os tempos
mais remotos. Isto porque expressam um mundo de conceitos
doutrinários, que podemos dizer, quase infinitos. Além do mais, muitas
vezes, sem entender nada da muita filosofia que trazem à inteligência
humana, as pessoas apegam-se a opiniões que passam longe de seu
verdadeiro sentido e na maioria das vezes, são discutidas periferias e
circunstâncias bem longe dos conceitos essenciais que dão força e
firmeza ao que é verdadeiro ou fantasia.
Difícil encontrar alguém que está por dentro da doutrina e
filosofia maçônicas, saber o que exige de seus adeptos que deveriam estar
no caminho da procura da verdade.
Para entendermos com mais facilidade cada um dos conceitos
aqui citados, vamos começar com duas considerações. Em qualquer
dicionário ou enciclopédia encontramos a definição, ou melhor, as
definições e objetivos de cada um. Vamos procurar entender o que é
Maçonaria e/ou Religião, por definições que encontramos na Wikipédia:

Maçonaria é uma sociedade discreta, em que as ações são reservadas


apenas àqueles que dela participam, ou uma sociedade universal, cujos
membros cultivam aclassismo, humanismo, os princípios de liberdade,
democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual”.

“Religião (do latim religio-onis) é um conjunto de sistemas culturais


e de crenças, além de visões do mundo, que estabelecem os símbolos que
relacionam a humanidade com a espiritualidade de seus próprios
valores morais. Muitas religiões com narrativas, símbolos, tradições e
histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar
sua origem e do Universo”.

Isto para começar se continuarmos em outros livros ou


enciclopédias encontraremos uma variedade enorme de definições ou
conceitos, alguns de alto valor esotérico, outras simples fantasias que
nada acrescentam para termos de um bom entendimento.
Maçonaria e Religião deveriam andar de mãos juntas, pela
finalidade que pregam em seus princípios, que são unir o homem com
128
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

seu Criador. Tanto uma como a outra podem viver juntas ou separadas.
Podem ser vividas isoladamente se para tanto o homem tenha a
compreensão das finalidades de cada uma. Viver maçonaria ou religião
significa cultivar as virtudes, a compreensão entre seres humanos,
oferecer suporte para uma vida dedicada ao bem e à verdade.
“Vivemos num mundo onde tudo tem preço, quase nada tem valor. E as
poucas coisas que tem valor, poucos sabem valorizar”. Desconheço quem
escreveu, mas este conceito pode ser aplicado tanto na maçonaria como
na religião. Se soubermos encontrar a importância do que representa
cada uma, estaremos construindo o edifício espiritual interior, que é um
dos tópicos de maior relevância que cada uma exige de seus adeptos.
Nenhuma das duas nos impedem de compararmos os conceitos e
doutrina de uma com a outra, mas seguramente nos levam a melhorar, a
conseguir estados de alma onde todos se compreendem e respeitam. São
Tomás, um dos maiores filósofos da religião crista, nos adverte: “de que
nada adianta discutir o sexo dos anjos, se não vivermos a caridade, o
amor entre nós”.
As duas Instituições se baseiam no objetivo da vida humana.
Apontam que a razão da existência humana é a união, a amizade com o
Criador. O ser humano experimenta a felicidade perfeita somente após
se encontrar com o infinito, que só é possível se a vontade dirigir -se às
coisas apropriadas, como a caridade e a paz. O caminho para a felicidade
estrutura nossas ideias sobre a vida moral e a ética de nossos
relacionamentos.
Um ponto essencial não é procurar as semelhanças ou diferenças
entre maçonaria e religião, mas sim ver o que cada uma tem de bom para
o desenvolvimento da vida interior, encontrar o bem que se pode fazer,
por isso a maçonaria aconselha polir cada dia a sua pedra bruta e a
religião, para quem tem fé autêntica, nenhuma explicação é necessária e
nenhum esclarecimento é mister. Para quem é maçom e tem religião, é
ser amigo, é amar as mesmas coisas e rejeitar as diferenças que podem
ser encontradas uma na outra.
• Interessante descobrir que uma boa parte dos seres humanos,
fala, aponta e explica que cada uma tem objetivos diferentes uma da
outra que em muitos pontos são irreconciliáveis. Aplica-se aqui a
sentença seguinte, cujo autor desconheço: “Não preciso que aprovem
minhas escolhas, só quero que as respeitem”.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

JOSÉ DE OLIVEIRA MENDES

José de Oliveira Mendes, Fora da Ordem é economista pela UFMT –


Mestre em Administração Financeira pela Universidade de Extremadura
ES – Educador Físico (Curta Duração) pela ESEFPE, Recife PE –
Psicanalista Clínico pela SPOB RJ. Na Ordem foi Iniciado em
10/11/1984, Elevado em 01/08/1985, Exaltado em 21/06/1986,
Instalado em 14/06/1991, Grau 33 em 16/10.1996 – Potencia Maçônica
GOB – Ritos REAA, RER e Brasileiro – CIM 145.385. Títulos
Maçônicos: Ordem do Mérito Estadual Maçônico – Benemérito da
Ordem – Grande Benemérito da Ordem – Estrela da Distinção. Cargos
exercidos no GOB MT – PAEL MT Deputado Estadual – Secr.’. Adj.’.
de Finanças – Membro do Conselho de Administração – Secr.’. Adj.’. de
Or.’. Rit.’. para o REAA – Atualmente Secretário Adjunto de
Orientação Ritualística para o RER. Participou do Volume II da Série
Maçons em Reflexão.

130
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA, RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE

A curiosidade das pessoas da sociedade, como um todo, não tem


limites. Aliás isso é próprio do homem, sem o que não se concebe as
grandes descobertas, os grandes inventos, os grandes pensadores,
filósofos, praticantes de várias artes e que desenvolveram suas criações e
concepções, mediante algum grau de curiosidade.
Tendo em vista que a Maçonaria é uma sociedade discreta e não
secreta, hoje em dia, é dado conhecimento à população de todo o
interior dos Templos Maçônicos. Decorrente disso, as pessoas vendo
uma Bíblia em local de destaque nas Lojas cujos ritos a adotam, já
cogitam de que a Maçonaria é uma religião. Emite alguma suposição que
a “boca pequena” transitará nos meios profanos como uma verdade
supostamente comprovada.
Por outro lado, existe, na história da Maçonaria, mais motivos para
suspeita de que procede a afirmação anterior. Muitos historiadores
afirmam que ela teve origem com os antigos construtores de igrejas e
catedrais. Esses, com objetivo de defender o conhecimento de suas artes,
ainda na Idade Média, reuniam-se em associações fechadas e como seus
maiores clientes era o clero católico, foram, portanto, influenciados por
estes.
Assim, em suas reuniões faziam as preces, principalmente no
início dos trabalhos, até mesmo por hábito, decorrente da fé que
professavam.
Entretanto, com certeza, o clero da época, não aceitaria que
houvesse, trabalhando nos adros (átrios ou períbolos) das igrejas, ao seu
lado, portanto, uma religião concorrente, vistos que algumas associações
de Pedreiros, ali se reuniam.
Por outro lado, a Maçonaria adotou princípios sadios e filosofias
milenares, já conhecidos e abraçados por instituições que existiram muito
antes da existência das associações formadas por esses grupos de
trabalho que se eternizaram, através da história como Maçonaria
Operativa ou Maçonaria de Ofício.
Modernamente, já com a instituição da Maçonaria Especulativa
que foi realmente oficializada em 24 de junho de 1717, com a fundação
da Grande Loja de Londres é que foi construído o primeiro Templo
Maçônico, cuja planta baixa se embasou nos moldes do Parlamento
Inglês.

131
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Entretanto, como já dissemos, a Maçonaria, sabiamente e por ser


uma melhor forma para se ter um aprendizado e uma memorização
duradoura, transmite conhecimentos, dando-lhes correspondência a um
símbolo para cada ensinamento ministrado aos seus membros.
Lembrando-se da adoção, pela Maçonaria, daquilo que pudesse
enriquecer seu simbolismo, obtidos de outras religiões ou filosofias,
pode-se fazer as seguintes citações: Designação de seu Templo como
“Templo de Salomão” e, deste, adotou as duas colunas cujos nomes são
gravados com as iniciais “B” e “J”, a denominação de “Santos dos
Santos”, o “Trono de Salomão” (o Trono da Sabedoria), o “Mar de
Bronze”, etc. Para muitos, mesmo Maçons praticantes, porém não muito
afeitos à leitura, ficam confusos quando se diz que a arquitetura do
Templo Maçônico, segue o layout do Parlamento Inglês e não do Templo
de Salomão.
Por mais essa confusão, por falta de conhecimentos, surge
também especulações de que a Maçonaria é uma Religião.
Para, então, esclarecer qualquer equívoco, discorre-se, abaixo,
sobre o que é Maçonaria, com respaldo de grandes instituições
maçônicas.
O nome “Maçonaria”, originado no francês, Maçonnerie, por sua
vez tem o significado de “cantaria, alvenaria, construção”. Já no idioma
inglês é escrito como Masonry e tem significado de “construção”. As
duas formas têm um significado etimológico muito relacionado entre si e
denotam que podem ter um emprego equalizado. Com fundamento
nesse significado comum, os Maçons da atualidade utilizam essa
nomenclatura ou simplesmente o nome Maçonaria para significar a
construção, em si próprio, de um homem melhor, útil e dedicado à
sociedade em que vive.
A palavra “Maçonaria”, se origina, na verdade, da expressão copta,
ou seja, dos cristãos do antigo Egito, notadamente do século IV a VII,
que denominavam de “Phree Messen” (ou Franco-maçom), a aqueles
portadores de Conhecimento e de Sabedoria e que tinham a
denominação de “filhos da luz” (Luz cujo significado é Conhecimento).
Conceituando, portanto, a Maçonaria, cita-se Arnaut, António -
Imprensa da Universidade de Coimbra – Portugal, que afirma ser a
Maçonaria uma Ordem iniciática e ritualista, universal e fraterna,
filosófica e progressista, baseada no livre pensamento e na tolerância,
que tem por objetivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista
à edificação de uma sociedade mais livre, justa e igualitária.
132
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Outro conceito foi-nos dado pelo escritor Lourivaldo Perez Baçan,


em sua obra “O Livro Secreto da Maçonaria”, que com sua simplicidade
de conteúdo, brinda a todos com o seguinte conceito: A Maçonaria é
uma ordem cujas doutrinas básicas são amor fraterno, auxílio mútuo,
filantropia e busca constante da verdade.
Ultimando com uma instituição oficial da Ordem, cita-se o
Grande Oriente do Brasil - GOB, em sua Constituição, no Capítulo 1,
Art. 1.º: “A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática,
filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, cujos fins supremos
são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Comparando o que foi descrito acima, com o que se pensa de
Religião, verifica-se que em todas as entidades religiosas há uma crença e
uma adoração a uma ou mais entidades superiores cujo nome pode ser
Deus ou deuses ou ainda outras entidades com nomes variados, podendo
ser até mesmo a crença e a veneração por satã, como é o caso da Igreja
de Satã e sua Bíblia Satânica.
Buscando algumas informações na coleção: “As Grandes ideias de
Todos os tempos”, no volume “O Livro das Religiões”, com a
coordenação editorial de Carla Fortino – Editora Globo, a Religião
surgiu no período em que o homem se tornou um sedentário. A caverna
já não cabia mais toda a sua família e teve que construir um lar ou lares
para abrigar a todos, dando início aí a um pequeno aglomerado humano.
Isso se deu no período Paleolítico e Neolítico.
As primeiras manifestações religiosas se devem a falta de
conhecimento acerca dos fenômenos naturais e, a cada manifestação de
um desses fenômenos, era tido como se uma divindade estivesse se
manifestando. O culto aos animais também ganhou notoriedade em
algum tempo, como o caso dos antigos egípcios terem muitos dos seus
deuses, com cabeça de animais, os hebreus, no êxodo, fizeram bezerro de
ouro para adorarem, etc.
É notório ainda que o temor pelo poder das forças da Natureza,
imputava a cada fenômeno ou objeto astral observado, a figura de um
deus (o trovão, o Sol e a Lua são exemplos), assim como glorificavam e
atribuíam poderes divinos também a heróis de um passado remoto. Estas
razões foram motivos para o início da formação da mitologia grega.
Na mitologia nórdica (Norte da Europa – Dinamarca, Finlândia,
Islândia, Noruega e Suécia), o deus Odin precisava de um filho que
tivesse poderes tanto na Terra (Midgard, Gaia – Mundo Físico, reino dos
humanos) como nos Céus (Asgard - Mundo superior, reino dos deuses),
133
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

então ele procurou a personificação feminina da deusa Terra, criando


uma caverna na Noruega, onde nasceu Thor.
O culto aos animais e as forças da Natureza, foram, portanto, as
primeiras manifestações religiosas do homem e estas, foram realizadas
por diversos povos, dependendo da necessidade que sentia de agradar a
uma divindade que julgavam responsável por um fenômeno e que
julgavam capaz de dar-lhes proteção. Também passavam a adorar tudo
aquilo que representava, a seu ver, beleza e que não sabia explicar a sua
existência, além de erigir estátuas de animais para representação de um
deus o qual não sabia dar outra forma.
Reportando à religião hindu, a vaca é ainda considerada sagrada e
recebe o nome de Devi, ou seja, a mãe nutridora do ser humano, cuja
responsabilidade principal é sustentar todas as criaturas existentes na
Terra. Existe ainda a crença em kamadhenu, uma divindade que possui a
cabeça de mulher e o corpo de uma vaca. Seus enormes seios indicam o
fornecimento do leite, considerado pelos fiéis como um dos alimentos
mais puros da Índia.
Atualmente, com o desenvolvimento científico e tecnológico
foram anuladas muitas crenças e uma das ainda persistentes, cooptada
pelas religiões, em geral, é a de que existe vida após a morte, apesar de
não poder demonstrar, mas tão somente utilizar de silogismos no qual se
dá crédito e ter um axioma e como uma crível ocorrência.
A adoração na Pré-História de potestades (Potência, força, poder
e que por extensão pode-se denominar de divindade, ou poder supremo),
deu lugar às religiões das civilizações mais recentes e, aquelas são hoje
vistas até com certo desprezo nos dias de hoje. Se for verídica a
reencarnação, é possível que até alguém que vive no presente, já tenha se
utilizado dessas crenças, no passado (em outras vidas), assim como, no
futuro, por certo estará discriminando as crenças da atualidade.
A Maçonaria, conforme enfoque feito na sua conceituação
anterior, não é religião, mas tem em seu bojo, irmãos de diversas religiões
e cada Loja deve, portanto, ter o livro sagrado de cada uma delas,
utilizados na grande maioria dos ritos. Algum rito que possui um
procedimento laico, ainda não significa que isto seja um procedimento
ateu.
A Ordem Maçônica, tem ensinamentos de moral, bons costumes
e de fraternidade na sociedade e entre os povos, além da crença em um
Deus Criador, cuja denominação maçônica particular é o Grande ou
Soberano Arquiteto do Universo. Por outro lado, existe, na Maçonaria,
134
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ritos que tendem para a laicidade, preferindo que a Ordem tenda a ser
uma pura escola de conhecimentos, que ao ver deste autor, chegará, por
certo, em um estágio de Consciência Cósmica em que não se poderá, de
nenhuma forma deixar de lado a figura de uma Força e Capacidade
Criadora, cujas abstrações sobre a mesma não se tem palavras suficientes
que a descreva em seu todo.
Toda prática religiosa, gera seu nível de Religiosidade, conhecida
como “fervor religioso” que se acredita levar o crente, mais rapidamente
à comunhão com a entidade superior de sua devoção. É uma prática
executada através de uma ritualística religiosa própria desenvolvida de
conformidade com o nível de conhecimento acerca de uma Religião
constituída, obedecendo a um Ritual que fica sendo a legislação que
orienta essa prática. Aborda sentimentos religiosos, assiduidade das
pessoas ao culto e frequente referência, pelos seus integrantes às coisas
de sua Religião.
Geralmente pode-se depreender da religiosidade, ações com
determinadas frequências no tempo que objetivam a reflexão sobre
valores éticos e morais existentes nos atos e na dedicação de alguém, por
uma coisa em que coloca crédito. Psicologicamente há ainda influência
da Religiosidade na forma constante de refletir de uma pessoa,
deduzindo sempre daí sobre o que é ou não correto. Mostra ainda um
conhecimento que difere do racional quando coloca a fé como um valor
verdadeiro, constituindo-se os dogmas.
Conclusivamente, a Maçonaria não é Religião, mas se encararmos
o fervor nos estudos das ciências liberais, da prática da ritualística que
motiva aos irmãos a se concentrarem nos trabalhos, nas pesquisas
necessárias para angariar conhecimentos, pode-se afirmar que a
Maçonaria tem Religiosidade.
Como as citadas ciências liberais que nos ensinam a existência de
diversos tipos de fenômenos naturais, de matéria, de fatores e
acontecimentos históricos, estudados cada qual de per si (de forma
separada) para melhor entendimento do detalhamento necessário para
aprofundar o conhecimento, analisando ainda a forma de variação da
Natureza, nas diversas estações do ano, por exemplo, e a metódica
ocorrência de cada uma delas, chega-se à conclusão de que há uma
instância maior que define isso, ou seja, a necessidade da existência de
uma Força Criadora que deu origem a tudo e definiu como seria o seu
desenvolvimento. A essa força, a Maçonaria dá a denominação própria,
de Grande (Supremo) Arquiteto do Universo.
135
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

JOSÉ VICENTE DANIEL

José Vicente Daniel, casado com Ilma Coelho Daniel, natural de


Pequeri-MG. Técnico Orçamentário Municipal aposentado. Foi Prefeito,
Presidente da Câmara Municipal e Vereador do município de
Pequeri/MG e Juiz de Paz de Bicas/MG. Escritor cronista, Articulista,
palestrante e Poeta. Mestre Maçom Grau 33 - Membro e fundador da
Loja Theodórica Oriente de Pequeri-MG, onde exerceu vários cargos.
Membro da Academia Maçônica de Letras de Juiz de Fora e Região;
Membro da Real Academia de Letras de Porto Alegre/RS. Fundador e
Editor do Informativo “ESPIRRO DO BODE” há 31 anos. Possui
quatro Livros e trabalhos publicados em Jornais e revistos em todo o
país e Diversos diplomas maçônicos e profanos e ganhador de vários
prêmios literários;

136
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E ESPIRITUALIDADE

Doutrinariamente e filosoficamente, a maçonaria é uma verdadeira


escola de formulações, pensamentos e ensinamentos espiritualizados que
transcendem à todos os princípios e conceitos da materialidade. É por
isto que a Maçonaria prega a “prevalência do espírito sobre a matéria”.
Através das virtudes ali convidadas a uma prática sempre constante, o
homem consegue ter as condições necessárias para que possa ir em
busca de retidão, da perfeição, ter seus passos direcionados aos caminhos
dobem, da honra, da sensatez e da justiça, bastando que se disponha a
assimilar tudo que lhe for apresentado, ministrado e estudado.
Porém, e todos os momentos tudo que a sublime instituição
coloca à disposição do homem maçom, o obriga a ser participativo.
Obrigando-o a não esmorecer nos estudos e nas pesquisas, sempre
procurando absorver os pontos éticos, orais e espirituais,
desvencilhando-se dos vícios frontalmente oposto às virtudes e aos
ditames da Arte Real. Procura facilitar sua interatividade com a essência
dos mais puros significados de sua doutrina e de sua filosofia. Para tanto,
é fundamental que ele tenha determinação, perseverança e que nunca as
afaste dos caminhos da verdade, não importando se esta é relativa ou
absoluta, dependendo de seus mais fortes argumentos;
“Perseverança é o fator que poderá levar o homem a ter êxito
e seus projetos e sucesso na sua realização” JVD
O maçom precisa ter ampla compreensão de suas mais
contundentes convicções, sem subjetividade. Para tanto, o estudo é
fundamental. O ciclo de estudos, seminários, encontros culturais
maçônicos, participado com elevada espiritualidade, são fundamentos
básicos para que possa ter conhecimentos mais amplos e abrangentes.
Os sagrados Mistérios da ordem, que surgiram com o advento da
criação e dos primórdios da maçonaria foram fundamentados e
revelados na crença de suas verdades. Para que sejam desvendados, há de
se passar por obstáculos que, às vezes nos parecem intransponíveis. Os
desafios terão de ser enfrentados com segurança serenidade e força de
vontade constante, sem medo e sem receio. O fim precípuo é atingir as
metas e os ideais projetados, elaborados na certeza de suas
concretizações.
Não se pode negar que tais Mistérios integram todas as
concepções que se faz das lendas, dos símbolos e das alegorias que, com

137
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

surgimento da Maçonaria Especulativa, passaram a despertar o grande


interesse dos estudiosos e altamente especializados no assunto.
O homem Maçom, compreendido como um “Ser Especial”
passando uma única vez e infinitamente concreto, pelo cerimonial da
iniciação, já não é o mesmo homem de antes. Aquele homem
acomodado com as suas situações meramente materializadas. Passa a ser
um “SER” que traz dentro de si a verdadeira fibra de um sentimento que
não pode ser abalada. Traz, no âmago de seu interior, a luz da iniciação e
o brilho da ESTRELA FLAMEJANTE. É por isto que ele passa a ser
um “SER ESPECIAL”.
Não podemos nos esquecer, sempre que “espiritualista é aquele
que segue a doutrina filosófica que tem por base a existência de DESS na
alma”. A existência de DEUS na alma. A existência que traz paz e
harmonia ao coração. É bom lembrarmos: “Maçonaria não é uma
religião e não possui dogma”. Admite, porém, princípios doutrinários
que são a sua base filosófica. Ensina a crença no GADU e na
imortalidade da alma.
As três virtudes teologais – Fé, Esperança e Caridade – deverão
fazer parte intrínseca de sua personalidade. A Trilogia sobre a qual se
assenta a essência da Maçonaria – Liberdade, Igualdade e Fraternidade –
deverá acompanha-lo por todos os caminhos que vier e trilhá-los.
Deverá estar sempre em busca da “Palavra Perdida” que é a busca
interminável da verdade. É a incessante busca no desbaste da “Pedra
Bruta”, transformando a na “Pedra Polida” que será empregada na
construção do “Edifício Social”, fortalecendo as estruturas da sociedade.
Cada maçom, depois de passar pela Iniciação, pela Elevação e pela
Exaltação, (Maçonaria Simbólica) obriga-se a ter consciência da real
importância do seu papal no seio da Instituição, da Família e da
Comunidade. Assim, haverá de se firmar nas fileiras d exercício
constituído pelos homens de bem.
Acreditamos na LUZ recebida em nossa iniciação. Acreditamos
que esta LUZ permaneça para sempre dentro do nosso coração. Que ela
possa iluminar nossos passos, abençoar nossa caminhada e enriquecer
nossa alma com a sua divindade. Que nossa vida – de Maçons ou de
profanos na sociedade – seja sempre uma vida que receba os esplendores
Divinos.
Acreditamos na firmeza a ne perseverança de todos os MAÇONS.
Acreditamos na conscientização do quanto podemos e devemos fazer
para que a luta de uma sociedade mais justa, mais perfeita e mais
138
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

humana, venha transformar cada um e, consequentemente, transformar a


sociedade. Nós somos uma centelha viva da criação de nosso DEUS
Onipotente e fomos criados à sua imagem e semelhança.
“De nada adianta se não cremos neste Deus Onipotente,
Onividente e Onisciente, pois assim, nossa fé seria vã”. Este DEUS
verdadeiro é a bussola que norteia nossos passos e nossa vida”.
É necessário, então, que creiamos no DEUS que crio o homem e
todas as coisas e não nos desses – falsos – criados pelo homem.
Certamente é nisso que se consiste a Espiritualidade.
Não podemos nos esquecer. “Só transformaremos o mundo a
partir das transformações que fizermos dentro de nós” Temos de ser,
cada um de nós, responsáveis pelo nosso “Livre Arbítrio”. Estamos
sempre alertas e temos sob nossa mira a trilogia Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
“Não podemos ter a pretensão da perfeição. O que podemos é
usar nosso livre arbítrio para seguir o caminho da verdade e das
virtudes” JVD
Peçamos ao Grande Arquiteto do Universo que proteja nosso
passos, ilumine nosso caminho e os guie pelas estadas da LUZ e das
virtudes, livres de todos os vícios. Que ELE abençoe nossas autoridades
constituídas para que possam trabalhar em favor do homem comum, dos
humildes, dos desamparados e dos excluídos da sociedade. Não
podemos nos esquecer de que o BRASIL e dos brasileiros e que povo
não pode continuar sofrendo desta forma. Que DEUS nos Salve!
AMEM!

PARA REFLETIR
“Se a crença se fundamenta na revelação de uma verdade oculta,
nós jamais estaremos sozinhos. Onde estivermos DEUS estará
conosco.” JVD
“Sempre que houver uma indecisão em nossa vida, devemos nos
lembrar que temos em Guia Fiel ao nosso lado – DEUS – que nunca nos
desampara.” JVD

139
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

LEONARDO LIMA SIMÕES

Leonardo Lima Simões é Médico Pós-Graduado em Cardiologia,


Geriatra & Gerontologia. Diretor Clínico da CenterClin (Centro Clinico
Integrado), Médico do Corpo Clinico do Hospital de Espera Feliz.
Mestre Instalado pelo Grande Oriente do Brasil. Ex-Venerável Mestre
pela Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Fraternidade Prudência e
Luz” 1296. Ex-Deputado Federal pela Augusta e Respeitável Loja
Simbólica “Fraternidade Prudência e Luz 1296”. Servidor da Ordem da
Pátria e da Humanidade para o Rito Brasileiro (Grau 33). Comendador
do Supremo Conselho do Brasil para o REAA (Grau 33). Cavaleiro de
Malta do Grande Priorado do Brasil. Cavaleiro Templário do Grande
Priorado do Brasil. Companheiro do Supremo Grande Capítulo do Arco
Real do Brasil. Mestre Maçom do Antigo e Honrosa Fraternidade de
Nautas da Arca Real do Brasil. Mestre Maçom da Grande Loja de Marca
do Brasil. Participou do primeiro volume da Série Maçons em Reflexão.

140
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA – REGILIÃO – ESPIRITUALIDADE

Nosso primeiro desafio será conceituarmos os três elementos


principais deste estudo: maçonaria, religião e espiritualidade. Considero
um desafio por compreender que se tratam de estruturas complexas,
multifacetadas, influenciadas pelo meio e pelos objetivos a que se
prestam.
Simplificando, diríamos:
1) Maçonaria é um conjunto de símbolos e ritos que objetivam o
despertar da Consciência humana para bem viver em sociedade,
desenvolvendo o espírito de Fraternidade, Liberdade e Igualdade entre
os homens;
2) Religião também seria um conjunto de símbolos, ritos e
dogmas, cujo objetivo é despertar da Consciência humana para a vida
eterna, na presença de Deus, o Criador;
3) Espiritualidade seria a crença na vida eterna, na existência de
um princípio humano que transcende a matéria, integrado ao Todo,
associado ao perfeito estado de Plenitude, seja junto à natureza ou
consigo mesmo.
A crença em um Ser Supremo estimula indivíduos a participarem
de uma religião ou culto específico. Porém, se tomássemos apenas o
elemento Fé como princípio das religiões, ficaríamos perplexos em saber
que existem religiões e cultos que não creem em um Ser Supremo, como
o ateísmo e o agnosticismo, e ainda existem religiões que se alicerçam
sobre o culto a personalidades próprias, como a controversa religião
Juche da Coréia do Norte.
Esta mesma Fé está presente na Maçonaria, quando elevamos
nossos trabalhos à observância do Grande Arquiteto do Universo. Se
buscássemos as origens desta crença no âmbito da Ordem Maçônica
recuaríamos às antigas Guildas de Pedreiros. Nossos Irmãos Operativos
estavam intimamente relacionados à Igreja e a seus costumes. Muitos
eram contratados pelo clero para erguer as mais belas Catedrais da época.
Foi assim que incluíram nos seus Rituais elementos como o Livro da Lei,
as Orações, o GADU e vários outros elementos contidos no Antigo
Testamento. Mesmo nos dias de hoje, se verificarmos nossos Rituais,
constataremos a presença de personagens e alegorias Bíblia.
Com a Maçonaria Especulativa vieram os elementos esotéricos,
incluindo símbolos como a Estrela Flamejante, que representa a presença

141
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

de Deus nos trabalhos da Ordem, e o Olho que Tudo Vê, que representa
o GADU nos conduzindo a atitudes Justas e Perfeitas.
Ainda mais interessante, por volta do século XVII, Martinez
Pasqually e seus adeptos desenvolveram um sistema de trabalho
maçônico altamente espiritual, a Order of Knight Masons Elect Priests of the
Universe, ou simplesmente, a Ordem dos Cavaleiros Elus Cohen do Universo,
que evocava a presença do Grande Incógnito em suas reuniões, uma
Consciência metafísica que se manifestava nas Sessões e orientava os
Irmãos sobre questões maiores.
Verificamos que tanto as religiões quanto a maçonaria creem em
um Ser Supremo, assim como possuem um complexo sistema
ritualístico, com símbolos, rituais, paramentos e alegorias que ajudariam a
compor seus ensinamentos. Poderíamos pensar que a maçonaria muito
se assemelha a uma religião, porém, analisando estas duas ordens com
relação ao seu propósito maior, verificaríamos que se tratam de
estruturas muito distintas.
Nossos rituais não se prendem a explicações metafísicas sobre a
origem do Universo, ou da regência dos Anjos. Estamos mais focados
no aperfeiçoamento moral do maçom, em sua Reforma Íntima, no
Lapidar da Pedra Bruta, reconhecendo que este é o único caminho para a
Perfeição: a busca de si mesmo e a Exaltação do Espírito sobre a Matéria.
A maçonaria promove uma mudança da Consciência, buscando a
Essência Divina no íntimo de cada Ser, nos relacionamentos, nos
tornando mais solidários e benevolentes, amáveis e respeitosos, amigos e
Irmãos.
Percebemos que estas duas organizações, maçonaria e religiões,
ocupam, cada qual, um perfeito espaço na evolução psíquica humana,
complementando-se mutuamente e permitindo a ascensão espiritual do
maçom. Daí que, ao se solicitar o ingresso na Ordem Maçônica, o
primeiro questionamento que se faz ao Profano é: você crê em um Ser
Supremo? Se a resposta for não, encerra-se o processo de Sindicância, pois
não haveria propósito em ingressar um Profano Ateu em uma Ordem
que é eminentemente espiritualista.
Sob o prisma desta mesma Espiritualidade constatamos que,
tanto a maçonaria quanto as religiões se alicerçam na crença da
imortalidade da alma e na existência de um Ser Supremo. Porém, a
maçonaria prepara o Maçom para a vida física e social, enquanto as
religiões o prepara para a vida eterna e espiritual.

142
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

LUÍS FERNANDO MALLMANN SCOZZIERO

Luís Fernando Mallmann Scozziero, obreiro da Augusta e Respeitável


Comunitária Loja Simbólica “Delta do Norte”, Oriente de
Florianópolis/SC, filiada ao Grande Oriente do Brasil/SC. Mestre
Instalado agraciado com título de Mérito da Maçonaria Catarinense,
iniciado em 27/10/1999 na Grande Loja Maçônica do Rio Grande do
Sul onde permaneceu até o Grau de Mestre Maçom, tendo sido
homenageado pelos Irmãos de sua Loja Mãe – Benemérita Augusta e
Respeitável Loja Simbólica “Gusmão Fortunato”, GLMERGS, Oriente
de Poa/RS, com o título distintivo de Membro Honorário. Atualmente
ocupo o cargo de Deputado Federal da Soberana Assembleia Federal
Legislativa/GOB. Tem 64 anos, casado a 40 anos com Ângela, pai de
Eduardo e Fernanda, avô da Rebecca e Théo. Servidor Público Federal
aposentado, Graduado Bacharel em Ciências Contábeis pela PUC/RGS,
Perito Judicial, Contábil e Trabalhista, participante do Congresso
Brasileiro de Engenharia (COBENGE) apresentando o tema: “A
Estatística Aplicada a Engenharia”, Professor e Instrutor de diversos
cursos junto aos órgãos públicos federais na área da Segurança das
Comunicações.
143
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Parece-me oportuno, ao falar do tema Maçonaria e Religião que a


primeira coisa a se ter em mente é que esse assunto não será jamais
novidade, portanto, entendo que a minha, ou qualquer outra
contribuição sobre ele, esteja mais afeto ao nosso entendimento acerca
daquilo tudo que se leu, ouviu ou viu.
Escrever sobre o tema na verdade é um desafio que surgiu antes
mesmo dos nossos primeiros passos na Instituição Maçonaria, mas para
tal pretensão gostaria de iniciar citando o filósofo René Descartes 1592-
1650:

“A VERDADE – Daria tudo o que sei em


troca da metade daquilo que ignoro”

A Maçonaria é, e sempre foi, a Fraternidade Universal, um


movimento de espírito humano na busca pelo aprimoramento moral e
material da nossa espécie. Lembro como se fosse hoje dos meus
primeiros contatos com os Maçons, a história (ou estória?) me fazia crer
que este era um assunto secreto, compartimentado, sigiloso, mas, para
mim, tudo ligado a Maçonaria estaria vinculado a uma seita, sociedade
secreta ou religião.
Quando fui “sondado/indicado” para conversar sobre o assunto
Maçonaria o interlocutor foi taxativo em afirmar que havia na Maçonaria
dois temas que não se discutiam; Religião e Política. Isso me causou
espanto por conta daquilo que acreditava e havia estudado na história do
mundo e do Brasil, mas, quase que imediatamente me foi perguntado......
“Você acredita em um ser Supremo?” “Você pratica alguma religião?”.
Quase que de imediato pensei; isso pode não ser religião, mas, com
certeza é uma pergunta sobre FÉ, e fé nos conduz a.....
Bem, o que tem uma coisa a ver com a outra perguntei? Disse-me
o interlocutor que “A Maçonaria não é uma religião, ela proclama a
liberdade absoluta de consciência, crê num Ente Supremo, o Grande
Arquiteto do Universo, que é Deus”. Ora Deus? A Primeira Pessoa da
Trindade e aquele que acredito ter sido o responsável pela Criação do
Universo? Como assim me perguntei? E aí começou a confusão mental!
Vamos lá. Em Loja, em frente ao trono do Venerável (a
configuração difere em alguns ritos e potencias), encontramos um “altar”
de forma triangular, sobre o qual estão colocados um “Livro”, um
144
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

esquadro e um Compasso. Este Livro foi objeto de muitas discussões no


passar dos tempos, para alguns chamados de Bíblia Sagrada, para outros
o Corão, e outros tantos livros reverenciados como sagrados. A bem da
verdade, o Livro que deve ser aberto é o livro sagrado de qualquer
religião, no Brasil, habitualmente, a Bíblia cristão, posto que a maioria
dos brasileiros são professantes ou originários desta fé.
Meus irmãos, já é possível avaliar que se trata de um tema não
muito fácil de ser entendido, muito menos diante desta “aparente”
contradição ou dicotomia, ainda mais se levarmos em consideração
Maçons ilustres definindo em suas obras a Maçonaria como religião, ao
mesmo tempo em que alguns lhe negam a qualidade de religião. Isso por
sua vez não nos impede imaginar que muitos Maçons tenham escolhido
à própria Instituição Maçonaria como sendo a sua religião, de uma forma
interior ou metafórica. Sabemos que a Maçonaria pode vir a ter o
suficiente para satisfazer homens justos e evoluídos, capazes de perceber
a essência das religiões através da Fé; sim, porque inegável o vínculo da
Religião com a Fé, mas, por outro lado, temos o vínculo da Maçonaria
com a Razão. A Maçonaria não é o lugar da prática de uma religião
específica, mas, sim uma Instituição em que podem coexistir homens de
todas as religiões, na medida em que se mantenham dentro do princípio
de respeito à todas elas e que não venham a impor a todos o mesmo
pensamento.
A Maçonaria não impõe nenhum dogma religioso, até mesmo
porque os Maçons coexistem nas relações humanas, de tal forma que nas
sessões magnas sempre é um dos objetivos despertar os potenciais de
cada um, de maneira que o “iniciado” possa realizar suas “caminhadas”
seguro de que sempre haverá “alguém” ao seu lado, mas, ele sempre será
livre para decidir seu caminho.
Em uma das bibliografias lidas nessa minha caminhada da vida,
uma delas me foi doada com muito carinho por um irmão da minha
Loja, Irmão Valter Cardoso Júnior – Mestre Maçom denominada de
“ARTE REAL” – Reflexões Históricas e Filosóficas, cujos autores
foram os Ilustres Irmãos Eleutério Nicolau da Conceição e Walter Celso
de Lima, na qual, com todo meu respeito e admiração, cito o trecho
abaixo (item 6. Pág. 141):
- “A maçonaria respeita a religião: A maçonaria não é, de modo algum,
indiferente à religião. Sem interferir com a prática religiosa, ela incentiva seus adeptos
a seguirem sua fé particular, pondo seus deveres em relação a Deus (em todos os nomes
mediante os quais ele seja conhecido) acima de todos os outros. Os ensinamentos
145
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

morais da maçonaria são aceitáveis por todas as religiões. Desta maneira, a


Maçonaria respeita as religiões”.
Muitos foram os experimentos onde comprovado foi que dentre
as pessoas que veem, nem todas veem a mesma coisa, e que vários
podem ver melhor do que um homem só. Ler sobre Maçonaria e
Religião é nos servirmos de boas obras literárias escritas por outras
pessoas, esses nos permitem ler seus pensamentos, porém, é importante
que se tenha compreensão de que esse conhecimento recebido pode vir a
sofrer influência a partir dos estudos e pesquisas daqueles que nos
sucedem, desta forma criando novos conceitos. Por sermos pessoas
capazes, a todo o momento podemos discernir o verdadeiro do falso,
então não podemos nos contentar somente com as opiniões dos outros;
precisamos ser investigativos sem perdermos a razão para alcançarmos a
novos conhecimentos, e, a Maçonaria, essa deve sempre nos estimular na
busca da verdade sem limitar nossa atuação, permitindo que pensemos
livremente.
Assim meus irmãos penso que o assunto está dentro de cada um
que até aqui chegou; alguns entendem que a Maçonaria e a Religião são a
mesma coisa, outros imaginam que caminham juntas, existem aqueles
que acreditam que não. Enfim, o mais importante disso tudo é que
SOMOS HOMENS LIVRES E DE BONS COSTUMES PARA
PENSAR!
Decididamente a Maçonaria não é o lugar adequado para se levar
assuntos de religião, pois, o livre pensamento deve sempre ser
privilegiado e dogmas religiosos são, na grande maioria das vezes,
conflitantes com a filosofia maçônica.
O assunto religião, por se tratar de um tema altamente polêmico, é
preocupante tratá-lo em nosso meio. Não devemos ser contra nenhuma
religião, precisamos sim respeitar à todas elas.
Meu Fraterno abraço a todos os Maçons e não Maçons que
materializam suas ideias e experiências, nos aguçando e instigando ao
estudo mais aprofundado, e, permitindo-nos não somente crescer, mas,
que cheguemos o mais próximo possível da verdade.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAICOW EVARISTO BENINI DE SOUZA

Maicow Evaristo Benini de Souza é agricultor, pecuarista, consultor e


organizador de eventos relacionados à cavalgada e country em geral.
Proprietário da empresa L & M Consultoria Rural e Imobiliária e do Sítio
Recanto da Saudade. É membro da Augusta e Respeitável Loja Simbólica
“Casa do Caminho” – 302 do oriente de Fervedouro-MG; onde foi
iniciado no ano de 2009, sendo Venerável Mestre da Loja no biênio
2018/2020. Participou do primeiro e do segundo Volume da série
Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Quando entrei na maçonaria, não tinha noção do que era a


instituição, por isso ressalto que não é incomum o leigo achar que a
maçonaria é uma religião, mas ela não é, todavia seus rituais tem muito
haver com a espiritualidade. A maçonaria exige de seus adeptos a crença
em um Ser Supremo, sendo aberta a homens de todas as religiões.
Não existe um Deus maçônico, o Deus do maçom é aquele da
religião que ele professa, pois os maçons mantém respeito recíproco pelo
Ser Supremo definido como tal em sua respectiva religião. Pois não é
nosso objetivo procurar unificar religiões, não existe, portanto, qualquer
Deus maçônico.
Os maçons assumem o compromisso jurando sobre o Livro da
Lei Sagrada, eles se empenham em manter sob sigilo os sinais de
reconhecimento e seguir os princípios da ordem. Todavia a maçonaria
não é, de modo algum, indiferente à religião, sem interferir com a prática
religiosa, ela incentiva seus adeptos a seguirem sua fé particular, pondo
seus deveres em relação a Deus, em todos os nomes mediante os quais
ele seja conhecido, acima de todos os outros.
No que tange a sua definição, a maçonaria pode ser definida como
uma fraternidade, iniciática, evolucionista e racionalista, pautada no
respeito à diversidade de ideias e crenças de seus membros, exigindo dos
mesmos a reverência a um Ser Superior, por este motivo é que a religião
se transforma em algo de importância em nossa vida, pois todos nos
temos Deus no nosso coração.
Por outro lado as igrejas, às vezes, tem um pouco de preconceito
com nossa instituição, pois existem muitos lideres religioso que
condenam a maçonaria, particularmente penso muito a respeito de tais
pessoas, pois com tantas informações no mundo de hoje, como pode ter
religiosos que falam sem conhecimento da maçonaria, se todas as
religiões seguissem os preceitos maçônicos o mundo seria outro, pois os
ensinamentos da nossa instituição são belíssimos, pena que nem todos os
irmãos sigam, assim como também raros são os religiosos que seguem a
risca as doutrinas pregadas por sua religião.
Por outro lado, a maçonaria e a religião são temas muito
complexos, portanto merecem ser mais aprofundados, pois os dois lados
tem sua beleza, assim como suas mazelas, o que importa é que tudo em
nossa vida existe algo que nos guia e nos orienta para seguirmos um
caminho mais justo e perfeito.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MARCELO DE CAMARGO BARROS RIBEIRO

Marcelo de Camargo Barros Ribeiro, filho de Lincoln Marques Ribeiro e


Deise Camargo Barros Ribeiro, os quais sempre cita, pois foram seu
passe para que chegasse a este entendimento e interesse filosófico.
Natural de São Paulo – SP. É Engenheiro Mecânico pela UNIP, pós-
graduado em Administração de Empresas pela FGV e em Maçonologia,
História e Filosofia pela Uniacácia. Past Master da Augusta e Respeitável
Loja Simbólica “Chequer Nassif” – 169 do Oriente de São Bernardo do
Campo – SP onde foi iniciado em 27/05/2012. Atualmente cursando os
Graus Filosóficos na ARLS 21 de Abril – Oriente de São Paulo. Amante
e estudioso da nossa sublime Ordem.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA NÃO É RELIGIÃO!!! NÃO?

Toda vez que me deparei com este tema e ouvia, literalmente


doutores da nossa Ordem falando a respeito, sempre foi algo que me
intrigou e instigou bastante. Isto que realmente amo cada dia mais na
nossa Ordem, a oportunidade de estudar e abrir as janelas da mente.
Em uma das definições sobre religião achei que: “Manifestação de tal
crença por meio de doutrina e rituais próprios, que envolvem em geral, preceitos éticos.”
Nossa parece que já vi isso em outro lugar...
Bom me deixa ver aqui então... Neste outro lugar que citei, vi
pessoas que se reúnem em um templo ou local específico, crentes em um
ser superior, vão para uma antessala e... oram. Durante a abertura de sua
reunião, pedem ao seu Patrono e ao Grande Arquiteto que abençoe sua
sessão. Prostrado diante do Livro Sagrado onde “iguais” ali se reúnem, é
lido um salmo para que agradeçamos estarmos ali em união, e
finalizando logo após, o líder da sessão em mais um momento de fé, faz
uma oração ao "nosso Deus" e pede para que os trabalhos sejam justos e
perfeitos... Usem sua imparcialidade... Visualizem esta cena de fora...
Expliquem para uma pessoa que o que acontece ali não se assemelha
nada a uma “religião”.
Então deixe-me entender melhor, pois estou ficando um tanto
quanto confuso... Estamos todos, dentro de um templo sagrado
independentemente de seu nome, crentes em um ser superior e todos ali
buscando se desbastar segundo as premissas do seu Deus independente
qual seja ele, mas que ali chama-se Grande Arquiteto do Universo.
Cerimônia ecumênica então? Segue-se então um ritual... Ah... Vamos
fazer analogia com uma.... Como posso chamar? Missa? Não!!!
Maçonaria não é religião!!!
Ahhh entendi... Na religião existe radicalismo, egoísmo, ira... Nós
da Maçonaria não! Nascemos perfeitos!!! Ahhhh entendi. GOSP,
GLESP, GOB e tantas outras por qual motivo? Você não pode visitar
este ou aquele... Estranho... Vaidade? “Guerras internas?”
Tudo isso meus amigos e Irmãos só foi para jogar um pouco de
lenha na fogueira deste assunto tão polêmico. Qual é a VERDADE?
Lembram de conceito de verdade?
Sempre fomos discriminados pela Igreja desde nossa oficialização
em 1.717. Igreja a qual monopolizava o que a população deveria saber ou
não. Desde já é bom deixar outra coisa muito clara: Religião é uma coisa
e a Igreja é outra.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Maçonaria não é religião, mas, por nos mantermos “discretos” em


nossas reuniões, isto trouxe muita inquietude e medo a quem por anos,
senão séculos dominou sempre a “fé” humana e seu conhecimento, a
“Santa Igreja”. Na Idade média ou Idade das Trevas precursoras do
Iluminismo, onde a responsabilidade disso seria em boa parte, da Igreja
Católica, que dominou política, econômica e culturalmente a Europa no
período. A dominação religiosa teria impedido ali o desenvolvimento da
razão, criando uma era de atraso e primitivismo.
Será que desde lá, na nossa criação começamos “ameaçar” através
de nossa descrição os que dominavam a situação? Será que outras
“ceitas” estariam tentando tirar o domínio da Igreja? Parece que esta era
a “VERDADE” para a Igreja.
Pessoas com grande conhecimento (“Livres Pedreiros” com
conhecimento em “G”eometria, Filósofos e todas as outras artes)
tentando Iluminar um pouco as mentes que eram abafadas pela Igreja.
Imaginem então se a tudo isso fosse adicionado alguma menção a crença
à um ser superior que não fosse o deles?
Faço agora uma pergunta: Maçonaria não é religião, mas se a
fosse?
Vamos à um pouco mais de lenha... Religião Católica preciso ser
Batizado, no Budismo tem a “ordenação leiga”, no Candomblé o
Ikomojádê, no Espiritismo não há um “batismo”, mas uma justiça
divina. Islamismo tem seus preceitos com o pai falando no ouvido do
filho logo após seu nascimento, com uma semana seu cabelo é raspado e
por aí afora, Judaísmo, Protestantismo, Testemunha de Jeová, Umbanda
e tem “uns outros aí” que são Iniciados!
Em uma palestra de um letrado amigo aqui, que está no nosso
livro também, um Irmão disse que acabou sendo não aceito em uma
Ordem XYZ, pois ele deveria dizer que acreditava em ABC... Na
sindicância faz-se o que mesmo? Ahhhh tá, entendi. Mas eu não posso
entrar, se não acredito em um “Ser Superior”? Ah não posso entrar se
não acredito numa vida pós morte? Ahhh... entendi.
Mas religião X não é formada por pessoas que creem num mesmo
“ser”? Buda, Jeová, Adonai, Deus, Elohim, Kyrios, entre outros e que
frequentam um templo e seguem um ritual? Ahhh entendi.
Frisando novamente e sempre bom relembrar... Igreja e Religião,
como dizem os profundos filósofos: “Uma coisa é uma coisa... Outra
coisa é outra coisa.”

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Será que “fugimos” deste rótulo, pela perseguição do passado ou


pelo ecumenismo que gostaríamos e gostamos de ter? Maçonaria não é
religião!!! Mas se a fosse...
Nós como “Livres Pedreiros” temos liberdade de expressão e
pensamentos, diferentes interpretações da vida, berços, fé, crenças e
arestas que não acabam mais, agora diante de tantas similitudes a uma
religião, fica difícil explicar para um leigo isso ou até para a própria Igreja
que nos condenou no passado. Negamos veementemente esta ligação,
mas que existem inúmeras similaridades... para mim é indiscutível.
Maçonaria, não é religião! Mas se fosse seria formada de homens
de bem e de bons costumes que buscam se lapidar no dia a dia sendo um
construtor social por excelência. Nosso dia a dia é de “catequese”, seja
em casa ou na sociedade, se religião a fosse... seria linda!!! Formada de
seres humanos falhos que somos. Mesmo que formada de pessoas
imperfeitas, estas vivem buscando um aprimoramento dos seus ou pelo
menos deveriam.
Temos a sorte (ou azar) de estarmos participando de mais uma
página que será virada pós-pandemia e existe uma grande dúvida que
paira no ar. O que fazer para que a nossa “Escola Filosófica” consiga
acompanhar esta evolução que todas as escolas e religiões vem passando?
Acabamos, embora tendo mais tempo, não tendo que nos deslocar,
ficando mais preguiçosos? Depois do catecismo ou qualquer iniciação
por qual tenhamos passado, aconteceu o mesmo com alguns de nós?

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MARCO ANTÔNIO PEROTTONI

Marco Antônio Perottoni, nascido em Farroupilha-RS, em 3 de maio de


1950. Contador e Advogado, aposentado e atualmente exercendo
trabalho voluntário como Presidente do Conselho de Administração da
Casa do Menino Jesus de Praga. Iniciado em 1983, na Loja “Cônego
Antônio das Mercês” em Porto Alegre – RS, filiada ao Grande Oriente
do Rio Grande do Sul GORGS - COMAB, onde ocupou todos os
cargos em Loja, sendo instalado e empossado Venerável Mestre nos anos
de 2001-2003, 2019-2021 e 2021-2023. Membro Efetivo da Loja
Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas, a Chico da Botica, de
Porto Alegre – RS, filiada ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul –
GORGS - COMAB, onde faz parte da editoração e divulgação do
Boletim “Chico da Botica”, de circulação mensal, cujo objetivo é a
divulgação da Cultura Maçônica. Por seis anos foi Juiz do Tribunal
Eleitoral Maçônico do GORGS, ocupando os cargos de Vice-Presidente
e Presidente, por duas oportunidades. Membro Correspondente da
Academia Paraibana de Letras Maçônicas desde 2008. Membro
Correspondente da Academia Maçônica Fluminense de Letras desde
2016. Membro Correspondente da Loja Fraternidade Brazileira de
Pesquisa Maçônicas do Oriente de Juiz de Fora – MG. Participou do
Volume II da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Muito se discute sobre a origem de nossa Ordem, vindos de


tempos Bíblicos até nossos dias, mas são fatos e histórias de difícil
comprovação. O que se tem de mais palpável atualmente, no nosso
entendimento, é o coloca Harry Carr, “tudo começou em Londres, Inglaterra,
no ano de 1356, uma data muito importante e começou como resultado de uma boa,
antiquada, grande disputa acontecendo em Londres entre maçons talhadores, os
homens que cortavam a pedra e os maçons assentadores e ajustadores, os homens que
na verdade construíam paredes. Os exatos detalhes da rixa não são conhecidos, mas
como resultado dessa disputa, 12 hábeis Mestres Maçons, com alguns homens famosos
entre eles, se apresentaram ao prefeito e vereadores na Câmara Municipal de Londres,
e com permissão oficial, esboçaram um simples código de regulamentos da profissão”.
Esses trabalhadores se uniram para regulamentar a profissão para
igualar a outras profissões já reconhecidas sem que este documento
possa ser tido como a primeira tentativa de organização e padronização
do que, no futuro se transformaria em ritual. Este ato tornou-se, em
vinte anos, a Companhia dos Maçons de Londres (London Masons
Company), a primeira guilda de ofício de maçons e um dos ancestrais
diretos da Franco Maçonaria de hoje. Era uma guilda de ofício e não
uma Loja.
A primeira real informação sobre Lojas se torna conhecida através
de uma coleção de documentos que são conhecidos como “Antigas
Obrigações” (Old Charges) ou as “Constituições Manuscritas” da
Maçonaria que começam com o Manuscrito Régius de 1390; seguido
pelo Manuscrito Cooke datado de 1410, que apresentaram 130 versões
que circularam no século XVIII.
A nossa maçonaria, chamada especulativa, foi instituída em 24 de
junho de 1717, como a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Surgiu da
iniciativa dos pastores protestantes ingleses James Anderson e J. T.
Desaguliers. No ano de 1723, Anderson elabora a primeira Constituição
maçônica. Durante o século XVIII surgiram Lojas na Europa e na
América. Com o tempo os maçons tornaram-se anticlericais, sendo por
isso, excomungados pela Igreja Católica (1738). Em 24 de abril de 1738,
o papa Clemente XII escreve a encíclica IN EMINENTI, em que
condenou abertamente pela primeira vez a maçonaria. A partir dessa
palavra oficial da Igreja foi proibido aos católicos pertencerem a
maçonaria. Nos séculos seguintes inúmeros papas confirmaram essa
mesma posição por meio de diferentes documentos:
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

- Benedicto XIV, Providas, 18 de maio de1751.


- Pio VII, Ecclesiam a Jesu Chisto, 13 de setembro de 1821.
- LeãoXII, Quo Graviora, 13 de março de 1825.
- Pio VIII, Traditi Humilitati, 24 de maio de 1829.
- Gregório XVI, Mirari Vos, encíclica, 15 de agosto de 1832.
- Pio IX, Qui Pluribus, encíclica, 9 de novembro de 1846.
- Leão XIII, Humanum Genus, encíclica, 20 de abril de 1884.
- Leão XIII, Dall Alto Dell Apostólico, Seggio, encíclica, de 15 de
outubro de 1890.
- Em 1917, no antigo CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO,
no CÂNON 2.335: Pessoas que entram em associações da seita
maçônica, ou outra do mesmo tipo que conspire contra a Igreja e a
autoridade civil legítima, recebem excomunhão
- Em 17 de fevereiro de 1981, a Sagrada Congregação para a
doutrina da fé divulgou uma orientação para os católicos sobre a
maçonaria, em que reafirma a posição tradicional da Igreja.
- O Código de Direito Canônico atual, publicado em 25 de
janeiro de 1983, não fala de modo explícito da maçonaria, somente dá
uma orientação geral contra esse tipo de associação, no CÂNON
1.374: Quem der nome ou dirigir a uma associação, que maquine
contra a igreja, será punido com interdito (proibido de frequentar a
Igreja). Como ficaram dúvidas e como não falava em maçonaria,
muitos interpretaram que esse cânon não se aplicasse a ela, mas em 26
de novembro de 1983, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
publicou a Declaração QUAESITUM EST, mantém a posição de da
redação anterior, ou seja a proibição de católicos pertencerem a
maçonaria.
A partir deste histórico outras religiões e seitas, principalmente,
tomaram o mesmo rumo de combate ferrenho a nossa Ordem. Portanto
vemos que está conciliação, por parte exclusiva das religiões e seitas, se
torna um objetivo ainda muito distante.
Atualmente vemos um movimento das diversas Igrejas, com
iniciativa do atual Papa Francisco, buscando uma união entre os Cristão,
mas ainda não sabemos qual será o tratamento dados aos maçons.
Torcemos pelo melhor.
E nós o que pensamos e agimos?
Entendo que, como outras situações, o problema a ser resolvido
está dentro da Maçonaria onde muitos de seus Membros insistem em
levar nossa ritualística para o lado religioso, defendendo este aspecto e o
155
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

divulgando publicamente, causando mais confusão de interpretações e


possibilidade de um amplo entendimento.
Entendemos que a maçonaria é espiritualizada, mas não uma
religião, uns poderão afirmar como religiosa, pois reconhece a existência
de um único princípio criador, supremo e infinito que é o Grande
Arquiteto do Universo, Deus, e na reencarnação. É uma sociedade que
tem por objetivo unir os homens entre si, tornar feliz a humanidade e
trabalhar para o progresso humano, por isso admite como seus Membros
pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção, desde que
acreditem em um Ser Criador. Abriga em seu seio homens de qualquer
credo.
Nossos conceitos diferem do entendimento religioso. Embora a
maçonaria tenha um aspecto religioso ou esotérico ela propugna a
existência de um princípio criador. A Maçonaria Universal, regular ou
tradicional, independentemente do seu credo religioso, trabalha na sua
Loja sob a invocação do Grande Arquiteto do Universo, sobre o livro
sagrado, o esquadro e o compasso. A tolerada presença de mais do que
um livro sagrado no altar de juramento, reflete exatamente o espírito
tolerante da maçonaria universal e regular, a qual defende que pode
participar homens de qualquer religião (Mauro Ferreira).
Como afirma Albert Mackey (Macoy Publishing. USA – 1966,
Vol. II, p. 847), ”É impossível que um franco-maçom seja ‘leal e fiel’ à Ordem
sem que seja um respeitador da religião e um cumpridor do princípio religioso”.
Como vimos no texto a Maçonaria Especulativa foi fundada em
1717, na Inglaterra por pastores protestantes e temos inúmeros ilustres
religiosos fazendo parte de nossos quadros e prestando grandes
trabalhos para nossa evolução.
Como somos livres e de bons costumes pensemos em unificar
nossas posições e ajudarmos a, se não findar esta discussão, minimizá-la
ao máximo e colocar nossa Ordem no lugar de destaque que ele merece.

Referências Bibliográficas:
▪ CARR, Harry - palestra realizada em 7 de maio de 1976, na Victoria Lodge of
Research and Education - Texto traduzido e cedido pelo Ir. Paulo Daniel Monteiro.
▪ CARR, Harry – O Ofício do Maçom – Madras - 2007 – São Paulo – SP –
atualmente editado por Karg, Barb e Young, John K.
▪ FERREIRA, Mauro - Maçonaria e religião – 1ª. Edição – São Paulo: Editora
Connection – 2019
▪ http://www.gobms.org.br/a-maconaria/o-que-e-a-maconaria.html
▪ https://www.megacurioso.com.br/misterios/112131-13-curiosidades-sobre-o-
mundo-da-maconaria.htm
156
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MARCOS MIGUEL DA SILVA

Marcos Miguel da Silva é Advogado, escritor, historiador e poeta; natural


de Teófilo Otoni-MG e radicado em Itaipé-MG, membro da Augusta e
Respeitável Loja Simbólica Universitária Cristal dos Três Vales – Nº
3.822 do oriente de Teófilo Otoni-MG. Membro titular da Cadeira nº 15
da Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO; membro titular da
Cadeira nº 13 da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas –
AMLM; membro efetivo nº 31 da Confraria Maçons em Reflexão. Autor
dos livros “RIO DAS PEDRAS – ITAIPÉ 50 ANOS” e “EU E A
VIDA AOS OLHOS DA LUZ” e coautor em diversas antologias. Em
Teófilo Otoni foi radialista (Sistema Itaoca de Rádio: Rádio Mucuri AM
e Rádio Itaoca FM), foi colunista do Jornal Tribuna do Mucuri e
Diretor/Fundador do Jornal Tribuna Popular. Em Itaipé criou o Jornal
“O Pioneiro”, foi Secretário de Administração e Planejamento por duas
vezes, foi vereador e é Cidadão Honorário do Município por força do
Decreto Legislativo 069/2006. Participou do Volume II da Série Maçons
em Reflexão – Qual o Segredo da Maçonaria?.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A MAÇONARIA AOS OLHOS DAS RELIGIÕES

Muitas vezes o proselitismo desmensurado ofusca ou dificulta


uma visão democratizada da maçonaria sob a ótica da sua cristalina
realidade existencial, razão pela qual torna-se imperiosa a conceituação,
ainda que sucinta, tanto da Sublime Ordem quanto de religião.
Quanto à maçonaria, uníssonas são as definições de que trata-se
de uma sociedade fraternal que admite em seus quadros “homens livres e
de bons costumes”, sem distinção de raça, posição social, ideário político e
religioso, porém exigindo, como um dos requisitos fundamentais, que o
candidato à iniciação tenha fé e acredite na existência de um Ser
Supremo e Criador de todas as coisas - Deus.
Ouve-se muito que Maçonaria é uma ordem iniciática, ritualística,
universal, filosófica, progressista, teista e fraterna, fundamentada na
tolerância e no livre pensamento do homem, objetivando desenvolvê-lo
espiritualmente em prol da construção de uma sociedade mais justa, livre,
igualitária e fraternal, na qual se vislumbra o amor e o respeito ao
próximo, à família, às leis e à Pátria. E de fato o é.
Ao longo de sua existência a maçonaria sempre se mostrou avessa
a dogmas, contudo mantém hasteada a bandeira do combate ao
totalitarismo, a opressão, ao terrorismo, a miséria, a ignorância e ao
sectarismo, primando pela prática da moral como regra e pelo respeito à
personalidade individual, evidenciando-se meritória ao enaltecer todas as
formas de trabalho, quer seja manual e ou de cunho intelectual. O
próprio significado da palavra maçom = pedreiro, por si só demonstra o
quanto a Ordem valoriza o trabalho.
Focando na Ordem Maçônica sob a ótica das religiões, urge
salientar que ainda que não se enquadre como religião, é teísta pelo fato
de aceitar a existência de Deus, que é o Ser Supremo e Criador de todas
as coisas, a quem os maçons reverenciam e chamam de Grande
Arquiteto do Universo – GADU.
É de bom alvitre mencionar a existência nos quadros da Ordem
de membros que professam as mais diversas religiões: são Católicos,
Evangélicos, Mulçumanos, Judeus, Budistas, Hindus, etc., razão pela qual
entre os maçons não se discute religião, como forma de respeitar o livre
arbítrio e a tão decantada liberdade de pensamento, sendo, todavia,
inaceitável o extremismo, o fanatismo, as superstições descabidas e o
fundamentalismo religioso.

158
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Cumpre salientar que desde os seus primórdios a Maçonaria se


posiciona como não sendo uma religião, podendo compulsar o seu
conjunto de normas imemoriais, os chamados Landmarks, nos quais se
depara com definições irrefutáveis à cerca de sua crença em Deus, sem,
contudo, se enquadrar como religião, a exemplo dos números 1 e 2 da
classificação de Joaquim Gervásio de Figueiredo, que assim define a
obrigatoriedade da fé em Deus como primeira regra a ser observada,
senão vejamos: o nº 1 - “O primeiro e fundamental Landmark é a crença em
Deus como sendo o Grande Arquiteto do Universo, o Ser que poderosa e suavemente
ordena todas as coisas, e que de seu elevado plano governa o seu Universo e lhe infunde
a Sua Vida”. Já o nº 2 diz: “A crença de que Deus se expressa em seu universo
como Sabedoria, Força e Beleza”; valendo lembrar que no simbolismo
maçônico, sabedoria, força e beleza são representadas, respectivamente,
pelo Venerável Mestre (Livro da Lei), pelo Primeiro Vigilante (Esquadro) e
pelo Segundo Vigilante (Compasso), constituindo, assim, as “luzes” de uma
loja maçônica.
Tais regras, ainda que incisivas com relação à necessidade de
crença em um Ser Criador para iniciação na Sublime Ordem, não fazem
qualquer alusão a religião.
Por outro lado, nota-se a inexistência de um sistema central único,
aos quais todas as potências e ou obediências estariam subordinadas,
como ocorre nas religiões, a exemplo da Católica que tem no Papa a
figura de um líder universal.
Entretanto, mesmo não tendo esse sistema centralizador,
subsistem as normas imemoriais, que são observadas pela maçonaria
universal – os Landmarks, que norteiam e direcionam a dinâmica
maçônica.
Existem os Grandes Orientes (potências ou obediências) que são
autônomos em seus respectivos países. No Brasil, por exemplo, existe o
GOB – Grande Oriente do Brasil, que é o poder central, ao qual os
Grandes Orientes Estaduais são subordinados; existem também os
Grandes Orientes estaduais ou federativos, que não são subordinados a
um poder central confederativo, mas que são filiados à Congregação da
Maçonaria Simbólica do Brasil – COMAB e existem ainda as Grandes
Lojas, que também adotam um sistema federativo e que são filiadas à
CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil. Entretanto,
ainda que todas essas potências maçônicas sejam independentes e
soberanas, reinam entre elas os liames das leis maçônicas universais, que

159
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

as fazem comungar de princípios basilares, a exemplo da secular filosofia


da fraternidade universal, além, é claro, da liberdade e da igualdade.
No que tange às religiões, podem ser conceituadas em poucas
palavras como sendo a convergência dos sentimentos norteadores da
relação entre o homem e Deus, através dos quais são definidas doutrinas,
dogmas e princípios que regulam o culto, a reverência, a devoção e a
subordinação da criatura em relação ao Criador, respeitadas as
especificidades, peculiaridades, convicções e regras de vida adotadas por
essa ou aquela religião, através de seus respectivos códigos canônicos,
conjunto de normas ou regulamentos.
Muitas são as religiões, e cada uma delas possui seu estilo próprio
de doutrinar seus seguidores e simpatizantes para o culto à fé,
alimentando a crença que professam por meio da reverência a uma
Divindade. Normalmente seguem os ensinamentos capitulados em seus
respectivos Livros Sagrados: Bíblia, Alcorão, Torá, Tanach, Livro de
Maomé, Veda, etc.
Na seara da Arte Real, pugna-se pela supremacia do espírito sobre
a matéria, eis que com esse sentimento torna-se possível a conquista do
aperfeiçoamento do homem através do seu crescimento interior, o qual,
compreendendo sua pequenez diante da grandiosidade do Universo,
tornar-se-á um templo vivo de virtudes, capaz de se permitir ser uma
espécie de guardião da tolerância, da amabilidade, do respeito ao
próximo e da solidariedade.
Mas o antagonismo religioso de outrora em face da maçonaria,
inegavelmente, contribuiu para a existência de capítulos nebulosos na
relação entre as organizações maçônicas e as religiosas, custando
intolerância, condenação e até excomunhão aos que adentrassem para a
Sublime Ordem, a qual o antigo Código de Direito Canônico (1917) da
Igreja Católica chamava de ”associações da seita maçônica”.
Aos olhos da Igreja Católica de períodos pretéritos, a maçonaria
conspirava contra a igreja e as autoridades civis legítimas, contudo, nos
dias atuais, as religiões e a maçonaria ostentam relações harmônicas,
ainda que possa existir uma gama de tabus a serem paulatinamente
quebrados, sobretudo aqueles que nutrem o imaginário e a curiosidade
do mundo profano, sem que possuam qualquer nexo de realismo. E os
avanços são irrefutáveis e demasiadamente salutares para a humanidade.
Mesmo que na atualidade possa existir alguma nação que ainda
não permita a prática maçônica em seu território, há de se ressaltar a
universalidade maçônica, que com sua singular sapiência acata e preserva
160
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

o respeito e devoção de cada um às divindades, de acordo com as


convicções ou religião que professa. Tal condição possibilita a pacífica
diversidade religiosa dentro de um mesmo Templo Maçônico, laborando
em prol de objetivos comuns, inclusive com mais de um Livro da Lei
sobre o Altar dos Juramentos: Bíblia, Torá, Alcorão, etc., conforme as
religiões ali representadas pelos irmãos que compõem a Oficina.
No protestantismo, salvo aqueles que integram grupos
fundamentalistas, é notória a boa relação entre evangélicos e maçons,
inclusive não é demais salientar que nos Estados Unidos e diversos
países de língua inglesa, a maçonaria é constituída em sua maioria por
protestantes anglo-saxônicos. E quando emergem rumores discordantes,
esses decorrem do radicalismo daqueles que, com poder de liderança,
doutrinam seus membros para manifestarem sua fé a qualquer tempo e
em qualquer local, o que é inconcebível numa Loja Maçônica, onde não
se permite manifestações de cunho religioso.
No Brasil, especialmente nas pequenas cidades interioranas, ainda
que existam evangélicos que defendam a incompatibilidade de
participação de seus membros na Sublime Ordem, é gratificante saber
que referida relação está longe de qualquer hostilidade, e esse convívio,
ainda que não chegue a ser estreito como desejado, também não
ultrapassa os limites do bom senso e do respeito mútuos.
Evidentemente que existe uma lacuna ainda considerável que
limita a relação entre alguns Cristãos católicos ou evangélicos e a
maçonaria, porém os avanços minimizadores desse indesejável
distanciamento já são bem contumazes e sinalizam grande positivismo. É
de se imaginar que todo bom maçom, em Loja, sonha em ver formada
uma egrégora com a convergência de energias advindas de irmãos que
professam religiões diferentes, cristãs ou não cristãs, mas que igualmente
nutrem o propósito da construção de uma sociedade justa e perfeita.
Seria a efetiva materialização do Salmo 133: “Ó quão bom e quão suave é
viverem os irmãos em união...”.
Fazendo alusão ao Espiritismo, urge dizer que não é conflitante
também a relação entre iniciados na Sublime Ordem e os espíritas, os
quais acreditam na vida após a morte, que de alguma forma converge
com o entendimento maçônico quanto à supremacia do espírito sobre a
matéria. A história nos remete a ideais liberais e heterodoxos defendidos
por Allan Kardec, pseudônimo do professor Hippolyte Rivail, quando
esse estudava medicina em Lyon, na França, não sendo raros os registros
versando sobre a Franco Maçonaria e o Martinismo.
161
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Em curtas pinceladas sobre o Budismo, nota-se a comunhão de


idéias entre os adeptos dos ensinamentos de Buda e a Maçonaria,
contudo é imperioso observar certa discrepância quanto a permanência
de budistas na Sublime Ordem, uma vez que , ao contrario dos maçons,
não acreditam em um Ser Supremo e Criador de todas as coisas. Para os
budistas, Deus, o Grande Arquiteto do Universo não existe, ainda assim
não se consideram ateístas.
Por último, há de se considerar a boa relação entre o Judaísmo e a
Maçonaria. Quanto aos judeus, após tempos de aflição pela repulsa por
parte da sociedade européia pelos idos do século XVIII, se viram
acolhidos e revestidos da sensação da plena igualdade e da liberdade ao
serem aceitos em Lojas Maçônicas. E segundo registros, em São Paulo
existe uma Loja formada quase que em sua totalidade por judeus.
Cingindo sobre o islamismo, inexiste qualquer tipo de conflito
com a maçonaria, todavia vale salientar que apenas três nações
muçulmanas aceitam lojas maçônicas em seus territórios - Turquia,
Líbano e Marrocos, sendo de bom alvitre frisar que em alguns países de
cultura islâmica se declarar maçom é algo abominável.
Respaldando, a universalidade maçônica se faz imperar em sua
essência pelos quatro cantos do mundo, com trânsito livre pelas mais
diversas religiões, sendo um instrumento de singular valia para o
polimento do homem, que ao iniciar como pedra bruta passa a ser
desbastado, moldado e polido cotidianamente pelos ensinamentos
recebidos em Loja.
Nessa meteórica viagem, sucintamente se compilou o que existe
de real, ainda que por caminhos estreitos e sinuosos, sobre a relação
entre a maçonaria e as religiões, eis que mesmo não sendo uma, cultua
princípios basilares para a construção de uma humanidade livre,
igualitária e fraterna, onde se combate toda forma de opressão e
desigualdades, cavando-se masmorras ao vício e edificando templos à
virtude. Um bom maçom é, indubitavelmente, um templo vivo de
virtudes.
Referências Bibliográficas:
▪ Curso de Formação de aprendizes do R.E.A.A. - Paulo Antonio Outeiro Hernandes – Editora
Maçônica A Trolha Ltda – 2015.
▪ Comparações, Verdades, Lendas e Superstições sobre a Ordem – Nelson Brito Rodrigues -
Editora Maçônica A Trolha Ltda - 2015
▪ Padres na Maçonaria – Porque um Padre se torna Maçom? – Hailton Meira da Silva –
Editora Maçônica a Trolha Ltda – 2016.
▪ Bíblia Sagrada – Edição comemorativa da visita do Papa João Paulo II ao Brasil – GAMMA
Editora e Gráfica Ltda - 1981.

162
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MÁRIO AZEVEDO ALEXANDRE

Mário Azevedo Alexandre – ARLS AMOR E SILÊNCIO N. 340 –


SANTOS/SP. Natural de São Vicente/SP, onde reside, contador,
escritor, jornalista, bel em Direito e Comunicação Social. Maçon
Emérito, autor da letra do hino da Loja e de outras Lojas, Diretor da
Academia Paulistana Maçônica de Letras (SP), no mundo profano
membro da Academia Santista de Letras, Academia Vicentina de Letras e
Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, autor de cinco livros,
detentor de uma centena de prêmios e condecorações, tem trabalhos
publicados em jornais e revistas no Brasil e Exterior.

163
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

AS DIFERENÇAS ENTRE MAÇONARIA E RELIGIÃO

A maioria das pessoas, quando se fala de Maçonaria, no mundo


profano, costuma ligar nossa Ordem com a religião, devido a tantas que
se proliferam pelo universo, entretanto, são duas coisas distintas, no
âmbito geral de um conhecimento mais aprofundado e as suas
características.
Para nosso conhecimento, a Maçonaria, aceita todas as religiões
do mundo, um profano ao entrar na Ordem, deve acreditar em um Ser
superior, independente de suas convicções religiosas, dai a primeira
diferença, que nos leva a crer, que a Maçonaria nunca pretendeu ser uma
seita ou religião.
Um detalhe importante a Maçonaria não fundamenta a salvação
de seus membros e nem apregoa a fé, mas sim através de seus
ensinamentos, propaga a elevação do ser humano, na sua plenitude, não
considerando a salvação através de sua fé, ela não relaciona a fé que uma
pessoa tenha em sua religião, com a espiritualidade, que a principio todo
maçon deva ter.
As religiões propagam a fé e a promessa de salvação de seus
adeptos, a Maçonaria procura libertar o homem de seus vícios da
Sociedade profana, lapidando para um ser melhor na sua espiritualidade e
fraternidade, ela é considerada libertária nos seus rituais.
Na Maçonaria o principio Criador é o Grande Arquiteto do
Universo, que nos rege e orienta em nossos caminhos, com sabedoria e
prudência, já a religião embora procure, também transformar o ser
humano para melhor, algumas vezes, o próprio fanatismo, acaba
afastando-o, mudando seus adeptos para outra religião ou credo, que
atenda as suas necessidades.
Em nossa Ordem, nenhuma verdade é absoluta ou definitiva,
entretanto, sempre novas perguntas, vão abrindo caminhos e novas
tendências que buscam o ser humano no seu aperfeiçoamento como ser
humano, cada dia, lapidando mais a sua pedra bruta no seu interior.
Não desprezamos a fé, todos devem crer em um Ser Superior, que
nos leva, em momentos difíceis de incertezas e tragédias, em pedir ajuda
espiritual, principalmente nestes tempos de pandemia que assola nosso
País e o mundo.
A Maçonaria e a religião têm caminhos opostos, porém com a
finalidade de manter o ser humano, convicto de sua melhora espiritual,
quer através de seus ensinamentos, elas não são rivais, porém seus
164
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

objetivos, tem caminhos que nos levam a uma vida melhor, não
prometendo a salvação, mas sim, acreditar na sua espiritualidade, que
todo maçon deva ter na sua convicção.
No mundo material assim como nas atitudes morais do ser
humano, observa que a fé e a razão caminham com a espiritualidade e a
ciência, sendo que uma depende da outra para o equilíbrio espiritual e
das atitudes que o ser humano necessita, perante a sociedade, quer seja
secreta ou discreta.

165
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MICHAEL WINETZKI

Michael Winetzki é historiador, escritor e palestrante. Foi executivo de


empresas de alta tecnologia médica, na área de telemedicina, da qual é
um dos pioneiros no Brasil. Atualmente é diretor comercial da trading
Brasil Global Importação e Exportação e dá consultoria a pequenas e
médias empresas. Foi iniciado na Maçonaria em 1981, em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, na ARLS “Estrela do Sul” n° 3 e atingiu o
grau 33° do filosofismo em 1989. É membro da ARLS “Tríplice
Aliança” n. 341 de Mongaguá-SP, vinculada a Grande Loja Maçônica do
Estado de São Paulo. Também faz parte do Rotary Eclub do Distrito
4420 do qual é o presidente eleito para 2020/2021. Há mais de 15 anos
faz palestras beneficentes gratuitas em todo o Brasil, tendo arrecadado
para doação mais de 200 toneladas de alimentos, 800 cobertores e uma
infinidade de agasalhos e de material escolar. É autor de sete livros e
coautor de um manual de comércio exterior editado pela USP e o título
de seu mais recente livro é Maçonaria de Isaac Newton a Internet. Tem cinco
filhos, doze netos e três bisnetos espalhados pelo Brasil e, quando não
está viajando com a sua esposa Alice para fazer palestras, vive em
companhia de cinco cachorros na sua casa de praia, em Mongaguá-SP.
Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.
166
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

Os primitivos habitantes de nosso planeta, anteriores mesmo


ao homo sapiens sapiens, compartilhavam as mesmas dúvidas existenciais
que ainda vivemos em nossos dias: “quem sou”; “o que é a vida”; “o que
é a morte”; “existe vida depois da morte” e ainda tantas outras dúvidas e
questões que afligem o ser humano.
Não compreendiam ainda a natureza e eram impotentes diante das
mudanças desta, das estações, das tempestades, das secas. Sentiam-se
seguros durante o dia e indefesos a noite e por esta razão o primeiro de
seus deuses foi o sol, que durante milhares de anos representou a
divindade protetora.
Com o passar do tempo e a evolução do conhecimento
apareceram deuses antropomórficos, com a mesma natureza, defeitos e
qualidades dos homens, mas com poderes especiais que poderiam ser
acessados através de cultos e sacrifícios. Assim a eles eram solicitadas as
benesses das fartas colheitas, da saúde, da vitória nas batalhas e outros
tantos pedidos. Muitas vezes a natureza, por coincidência, atendia a estes
desejos e isto reforçava a característica divina daquelas entidades.
Aqui e ali surgiram grandes mentes, avatares como Zoroastro,
Confúcio, Sidarta Gautama, o Buda, até o advento daquele que
representa a mais importante religião do mundo nestes últimos dois
milênios, Jesus Cristo. Eles trouxeram ensinamentos que buscavam
valorizar os aspectos espirituais de seus fiéis e criar comportamentos
éticos e morais em benefício da sociedade.
Para estabelecer o culto a estas divindades foram criadas religiões
com igrejas, cânones, ritos, templos e estabelecidos sacerdócios. Cânone
é a normatização ou padronização de um rito. Assim as religiões
normatizaram seus procedimentos ritualísticos, quase todos em torno de
ensinamentos expressos em livros tidos como sagrados, como a Torá, a
Bíblia cristã, o Alcorão, os Vedas e outros. Estes livros são utilizados na
maior parte dos ritos maçônicos de acordo com a religião majoritária
praticada no país. No Brasil, de maioria cristã, é a Bíblia, em Israel, tem-
se o costume de expor simultaneamente a Bíblia, a Torah e o Alcorão.
A religião é definida como a crença em um poder ou princípio
superior, sobrenatural, do qual depende o destino dos seres humanos e
ao qual se deve respeito e obediência. Ela é representada por um
conjunto de regras, símbolos e rituais denominados sacramentos, que

167
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

possuem significados morais e comportamentais e essas regras e


comportamentos são mandatórios para os seus fiéis.
Algumas interpretações da etimologia da palavra religião, que tem
origem no latim “relógio”, fornecem diversos entendimentos. A que tem
sido mais aceita é a do filósofo Lactâncio, que foi conselheiro do
imperador Constantino e que significa - “re-ligare”- o liame que nos une,
religa, ao Criador. Esta definição foi adotada mais tarde por Santo
Agostinho e se tornou comum no cristianismo.
A intenção de todas as religiões é a de oferecer aos seus adeptos
não apenas uma resposta àquelas questões colocadas no início, como
também proporcionar uma doutrina teológica que lhes ofereça a
salvação, ou seja, a possibilidade de uma vida após a vida e de
recompensas ou castigos pelo comportamento nesta existência. Todas as
grandes religiões monoteístas têm visão semelhante e embora com
algumas diferenças, as religiões orientais também trazem em si estes
códigos.
Outro ponto em comum das religiões é o sectarismo que exclui da
“salvação” e pune com rigor os fiéis de outras denominações. Esse
sectarismo deu origem, ao longo da história, a terríveis aberrações como
as Cruzadas, o holocausto, os conflitos entre protestantes e católicos na
Irlanda, o extermínio das correntes discordantes do cânone oficial como
aconteceu com o catolicismo romano, a Jihad maometana e outros
incontáveis conflitos, guerras e torturas, todos em nome de seu Deus.
A maçonaria, por sua vez, é definida como uma instituição
iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista cujos fins
supremos são a liberdade, igualdade e a fraternidade, que pugna pelo
aperfeiçoamento moral e ético, pelo respeito à família, às leis e à Pátria,
pelo exercício dos bons costumes e a prevalência do espírito sobre a
matéria.
Mas devido ao sectarismo ainda hoje várias religiões enxergam a
maçonaria de forma equivocada, talvez até como “concorrente”,
atribuindo-lhe comportamentos imorais ou “pecaminosos” por
desconhecimento, fanatismo e intolerância. Mas a Maçonaria combate
qualquer sectarismo, materialismo e autoritarismo e as suas convicções e
atuação são diferentes dos das religiões. O que ela oferece aos seus
membros não é a expectativa das vidas vindouras, mas o livre pensar, a
fraternidade, a liberdade, a tolerância e a busca do crescimento interior.
Embora a Ordem Maçônica utilize instalações chamadas de
templos, possua rituais padronizados e uma estrutura hierárquica ela não
168
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

é uma religião e nem substituta da religião. Não tem uma doutrina


teológica, não oferece sacramentos, não promete salvação alguma, aliás
nem permite discussões de caráter religioso em seus trabalhos. Exige de
seus membros, qualquer que seja a fé professada por eles, a crença em
um Ser Supremo e em respeito a todas as crenças o denomina de Grande
Arquiteto do Universo.
Existe uma sutil diferença entre ter religião e ser religioso. Ter
religião significa pertencer formalmente a uma Igreja, seguir seus dogmas
e praticar os seus sacramentos. Ser religioso significa encaminhar a sua
vida no sentido da prática constante das virtudes, regulando os costumes pelos
eternos princípios da moral e estimulando a feitura do bem, como reza o nosso
ritual de iniciação. O maçom será religioso ao viver de acordo com estes
ensinamentos, qualquer que seja o nome do GADU a quem preste sua
reverência.
Assim como muitas outras organizações, assim como as próprias
igrejas, preserva os seus segredos ritualísticos bem como os sinais de
identificação apenas para os seus iniciados, que podem compreender
através das instruções que recebem o completo significado dos símbolos
e alegorias. Trabalha em silêncio e realiza uma grande obra na construção
de uma sociedade mais justa e mais perfeita através do aperfeiçoamento
de seus membros, homens íntegros e fraternos e tementes da Deus, cada
um à sua maneira. E que o GADU traga paz e bênçãos a cada dos
irmãos espalhados pela superfície da Terra.

169
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

NATALINO DA SILVA DE OLIVEIRA

Natalino da Silva de Oliveira, Graduação em Letras (UFMG); Mestrado


em Teoria da Literatura (UFMG); Doutorado em Literatura Comparada
(UFMG) e Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa (PUC
Minas). Pesquisador da Área de Literatura, História e Memória Cultural,
Literatura Negra Brasileira, Periferia e Libras. Pesquisador do Núcleo Walter
Benjamin. Professor do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Sudeste de
Minas Gerais, ministrando as disciplinas: Língua Portuguesa, Literatura, Libras,
Língua Espanhola. Trabalha no EJA, Cursos Técnicos e Superiores. Membro da
Academia Muriaeense de Letras (AMLE), ocupando a cadeira de nº 30
cujo patrono é Machado de Assis. É autor dos livros: Fio de Contas
(Poesia); Rareza (Poesia); Estética da dissimulação na literatura de
Machado de Assis (Crítica e Teoria Literária). É Maçom membro da Loja
Maçônica “Seareiros da Paz” do oriente de Muriaé-MG. Participou do primeiro
e segundo Volumes da série Maçons em Reflexão

170
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

SERIA A MAÇONARIA UMA RELIGIÃO?

Seria a Maçonaria uma religião? A pergunta surge e em alguns


casos toma quase que a entonação de uma afirmativa. Contudo, a
resposta é muito simples para todos que a praticam; a Maçonaria não é
uma religião, não no sentido mais restrito do vocábulo. Caso a
Maçonaria se estabelecesse como um saber religioso, ela já teria deixado
de existir tal como a conhecemos. Ela até poderia alcançar outros
patamares, ela poderia passar a possuir um número maior de membros
(fiéis, seguidores). Contudo, ela perderia sua identidade.
Pensando na definição do termo religião – a palavra surge de
religare; é possível perceber que há a intenção, nas mais diversas
denominações religiosas, de re-ligação com um Ser Supremo – Deus
(assumindo aqui uma nomeação mais genérica). Deste modo, já se
observa que nenhum maçom precisa se religar com Deus, pois a todo o
momento já estará a Seu serviço. É fato conhecido também que temos
Irmãos que são crentes das mais diversas instituições religiosas – sendo
que a única obrigação exigida pela Maçonaria, em relação à crença, é a de
que para ser maçom - é fundamental acreditar em um Ser Supremo – um
único princípio criador e regulador. E nesse ponto reside a realidade
maravilhosa que se manifesta em Lojas Maçônicas – a pluralidade, a
alteridade, a empatia. São homens das mais diversas cores de pele, das
mais diversas opiniões políticas, das mais diversas construções
identitárias e das mais diversas religiões – que se unem e se reconhecem
como Irmãos.
Além disso, é fundamental levar em consideração que a maioria
das manifestações religiosas acaba por aniquilar qualquer determinação
individual – o indivíduo é suplantado por uma instância coletiva que se
autodenomina como fiel. E o inverso é que ocorre ou deveria ocorrer na
Maçonaria – ali há um agrupamento de homens e suas famílias que
mantêm suas diferenças; mas que se reúnem para a realização de um
único trabalho. É a labuta que une os diferentes atores sociais e que gera
essa organização social.
A Maçonaria, portanto, se concentra em torno de um fazer, de
uma técnica. Dentro do conjunto lições práticas, há o objetivo de
aprimoramento. Como consequência, o ato de aprimorar-se parte da
existência individual. Sendo assim, o objetivo da Ordem Maçônica não é
algo, a princípio, mirabolante; e não se instaura em torno de uma Fé
(pensando aqui o conceito mais superficial de Fé – acreditar que apenas a
171
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

crença sem ações poderá ser instrumento de transformação social). O


que se faz em Templos Maçônicos é o exercício pleno de melhoramento
do indivíduo, um a um. Assim, o serviço maçônico consegue transformar
a sociedade, pois cada indivíduo (maçom) se torna um agente
transformador e multiplicador. E o mais interessante desse processo é
que o maçom não sai pelo mundo a buscar novos membros para sua
instituição – também não há qualquer meio de publicidade (ou não
deveria existir), nenhum panfleto, nenhuma promessa, nenhum milagre
que seja utilizado como meio de convencimento para buscar pessoas.
Aliás, as transformações positivas que ocorrem nos maçons não devem
nem mesmo ser propagadas – afinal, o que ocorre dentro do templo é
considerado segredo e só deve ser do conhecimento dos irmãos que
estavam presentes naquela sessão. Porém, a sociedade percebe as
transformações, pois a evolução humana é visível aos olhos. Todo
verdadeiro maçom passa por alterações morais, intelectuais e espirituais
com o constante labutar maçônico. Contudo, isso não se deve a um
milagre (tal como superficialmente conhecemos este termo) – as
mudanças que ocorrem são frutos do trabalho em que um irmão instrui
o outro em suas tarefas.
O tema da religião também faz com que nos lembremos de
diversos momentos em que a Maçonaria foi profundamente injustiçada.
A própria Igreja Católica em alguns momentos se refere à Maçonaria
como seita sendo que as pessoas que a ela se associam são
automaticamente excomungados (é só pesquisar o Código de Direito
Canônico em seu cânon 2.335). Claro que esse cânon 2.335 foi
substituído pelo cânon 1.734 que, por sua vez, não faz qualquer
referência à Ordem Maçônica e nem mesmo aos maçons de forma
direta. Porém, ainda é possível ouvir em alguns sermões cristãos ataques
diretos à Maçonaria. Contudo, já é de conhecimento público que
qualquer ausência de saber pode gerar visões deturpadas e
preconceituosas sobre qualquer pessoa, assunto ou instituição. Isso não
afeta o trabalho maçônico e as benesses sociais advindas de sua
existência. A Maçonaria, em papel completamente diverso ao que
pregam os preconceituosos, valoriza toda e qualquer organização
religiosa que promova o bem-estar social e o aprimoramento humano –
e só se posiciona contra o que aprisiona os seres às correntes da
irracionalidade, das ambições ditatoriais, das misérias físicas e espirituais.
Alguém poderá afirmar que aponto aqui apenas aspectos
religiosos que poderiam ser considerados mais tradicionais. Mas, até
172
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

mesmo partindo de posicionamentos mais inovadores em relação à


religião, a Maçonaria não poderia de forma alguma ser comparada a uma
função existencial que se ampare em princípios ancorados em qualquer
religiosidade de forma particular. Afinal, o que serviço executado em
nossas Lojas não se equipara a nenhuma prática religiosa. Temos
profundo respeito por elementos sagrados, pelas religiões, exigimos a
crença em Deus – mas, não exigimos de nossos irmãos qualquer credo;
posto que isso enfraqueceria demasiadamente os nossos laços de união.
A Maçonaria pode ser denominada como uma Ética. É um modo
de existir que faz com que um maçom se distinga entre outras pessoas. E
isso se consegue muito mais no exercício de trabalho maçônico com o
auxílio de outros irmãos. Além disso, há o amparo em toda nossa
simbologia que se compreende e se assimila no fazer muito mais do que
apenas lendo e memorizando conceitos meramente teóricos. Todo
maçom sabe que a sua existência enquanto membro da Maçonaria é
efêmera e se coloca à prova todos os dias em seus passos, em suas ações
– muito mais do que em suas palavras ou dos símbolos e graus que
ostenta. Já repararam que em muitas religiões, ou nas que buscam
realmente a construção de algo bom, existe algo que se apresenta como
comum? O que surge de comum é a prática do Bem sem qualquer
discriminação. É essa prática que a Maçonaria pratica 24 horas, todos os
dias, todas as semanas, todos os anos.
Agora, retomando a origem do termo religião, o maçom não busca
uma religação com o Deus de seu coração – ele está em comunhão
constante com Ele. E isso não é algo complexo – surge do fazer diário. Já
ouviu falar de automatismos, sabe quando você dirige um carro e precisa
fazer coisas com os pés, com as mãos, com os olhos para poder fazer
determinadas manobras? – É a isso que denominamos automatismos –
ações que parecem involuntárias, mas que são pensadas e realizadas de
forma tão rápida e natural que aparentemente são consideradas
automáticas. Quando nos acostumamos com o fazer o Bem, todos os dias,
ininterruptamente, automatizamos nossas atitudes - é isso que se dá
conosco. O exercício de dominar seus próprios vícios e de fortalecer
suas virtudes, no maçom mais experiente, ocorre com tamanha
naturalidade que aparentemente passa a visão de que dentro de si não há
qualquer tentação ou qualquer conflito. Entre o parecer, o ser, o crer e o
conhecer; a Maçonaria entende que o fazer é o que há de mais
importante.

173
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A Maçonaria é a Luz. A Luz não se doutrina. Aprendemos apenas


a iluminarmos nosso interior com ela. Para isso, o único preço que
pagamos é o de auxiliar outras pessoas a alcançá-la; assumimos a função
de portadores de archotes. Não indicamos caminhos ou credos. Cada um
que adentre os mistérios em si e que retorne mais forte, mais esclarecido,
mais iluminado – caminhando, assim, para a verdadeira maioridade. Um
Irmão ajuda outro Irmão – porém, os passos precisam ser dados por
aquele que caminha. Não entregamos folhetos, não fazemos propaganda
– e ao mesmo tempo, nossas portas seguem abertas. Mas, apenas
adentram por nossos umbrais aqueles que conseguem passar.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

NEWTON AGRELLA

Newton Agrella C. CIM 199.172. Mestre Instalado. Grau 33. Iniciado na


Augusta Respeitável Loja Simbólica “Luiz Gama” N.º 0464 -
GOSP/GOB do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). Iniciado em
03/02/1999, Elevado em 29/03/2000, Exaltado em 27/09/2000 e
Instalado em 27/06/07. Venerável Mestre da Loja “Luiz Gama” na
Gestão 2007/2009. Atualmente é membro da Augusta e Respeitável Loja
Simbólica “Estrela do Brasil” N.º 3214 (GOSP) - REAA. Venerável
Mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “15 de Setembro
Paulista”, Primaz do Rito N.º 7012 - (GOSP) - Rito de York Americano.
Profissionalmente é Tradutor & Intérprete. Professor (Idiomas). E-mail:
newagrella@gmail.com. Participou do Volume II da Série Maçons em
Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

FRONTEIRAS QUE DELIMITAM MAÇONARIA E RELIGIÃO

Uma parcela significativa de maçons ainda não se deu conta que


na Maçonaria não se ora, não se faz prece, não se reza, não se exaltam e
nem se cultuam Deuses, Santos, Apóstolos, Imagens, ou seja, lá o que
for.
Nela não se fazem pedidos a Divindades e tão pouco se prestam
cultos, reverências ou saudações a qualquer elemento transcendental.
Num ambiente maçônico trabalha-se, tal qual numa Oficina ou
num canteiro de Obras.
Nesse trabalho os Obreiros utilizam-se de várias ferramentas da
construção (como referência às suas origens operativas), bem como de
Símbolos e de Alegorias que servem para dar liga, sustentação, força e
beleza ao processo de elaboração do Caráter, da Moral, e da Ética, que
devem moldar o Ser Humano.
A crença num "Princípio Criador e Incriado" a que os Maçons se
referem como G.'.A.'.D.'.U.'. (Grande Arquiteto do Universo) trata-se
de um princípio que explica as origens de nossa Existência e do próprio
Universo que nos cerca.
A Maçonaria constitui-se numa instituição basicamente filosófica,
cuja simbologia se manifesta no processo de aprimoramento do templo
interior humano.
A natureza especulativa da Ordem se configura através de seu
caráter antropocêntrico, histórico, lendário e cultural, onde a busca da
verdade se instaura por meio do Estudo, da Pesquisa e da Simbologia.
A Maçonaria se reveste de uma essência Adogmática, onde cabe
ao Homem, explorar suas propriedades intelectuais e trabalhar
fundamentalmente através de seu Pensamento e Consciência.
Vale-se de ritos como processo de construção por meio de uma
extensa Simbologia.
Os ritos possuem características próprias para explicar o processo
de construção e de relação do Homem para com o Universo. Exemplos
dessas características são:
O DEÍSMO: que é uma corrente filosófica que admite a
existência de um Deus criador, mas questiona a ideia de revelação divina.
Considera a razão como um paradigma para assegurar a existência
de Deus, como o princípio criador do Universo, sem, contudo impor ou
considerar a prática de alguma religião.

176
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

O Deismo não considera ou crê em intervenções sobrenaturais,


em revelações divinas ou dogmas.
O TEÍSMO por sua vez, crê em Deus, na revelação e nos
dogmas.
Trata-se de uma linha doutrinária que adota a crença na existência
de um Deus supremo, divinal, revelador que não somente pode intervir
diretamente (e habitualmente de forma sobrenatural) nos eventos da
existência humana, como também pode transmitir revelações e segredos
através de profecias, sonhos e experiências religiosas em geral. O Teísmo
admite a Religião como legítimo instrumento de ligação entre o Homem
e o Deus Divino.
O AGNOSTICISMO, palavra advinda do grego GNOSIS que
significa "Conhecimento". Porém com o prefixo A significa
"Desconhecimento".
Nessa linha da Maçonaria há Rito como, por exemplo, o Rito
Moderno ou Francês,
que por entender que a atitude filosófica da Sublime Ordem é a
pesquisa constante da verdade, e por outro lado, ao atestar que a
verdade, para que seja considerada em todo o seu sentido, deve
ser absoluta e infinita, abraça a corrente de pensamento que reconhece a
impossibilidade do conhecimento do Absoluto pelo homem em seus
postulados.
Adota, portanto uma posição de humildade perante o Absoluto.
O marco demarcatório que registra a distinção entre as duas
instituições pode ser divisada sob a seguinte perspectiva:
A MAÇONARIA estabelece uma conexão que busca entender o
Homem e o Universo a partir do exercício contínuo da Especulação e do
Pensamento.
Sua natureza é antropocêntrica, hominal e intelectual e seu
instrumento de apoio é protagonizado pela Consciência.
A RELIGIÃO por sua vez, proclama uma conexão espiritual
entre o Homem e Deus no sentido divinal e revelador.
Sua natureza é solenemente a de um "amortecedor" para aliviar a
dor e de algum modo blindar os sofrimentos, percalços vicissitudes e
necessidades da alma humana. A Religião é um agente consolador, cuja
importância inequívoca reside nas suas propriedades terapêuticas
espirituais. Seu instrumento de apoio é protagonizado pela Fé.

177
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

NORBERTO PARDELHAS DE BARCELLOS

Norberto Pardelhas de Barcellos é residente na cidade Bento Gonçalves-


RS. Empresário, proprietário da empresa Barcellos Marcas e Patentes.
Casado com a cunhada Sonia Maria Rinaldi de Barcellos e pai da
sobrinha Nicole Rinaldi de Barcellos. Foi Iniciado em 28/04/2006,
Elevado em 24/11/2006 e Exeltado em 18/05/2007. Iniciou os Graus
filosófico, grau 4 em 07/05/2009, chegando ao grau 33 em 17/12/2019
no Supremo Conselho do Rio Grande do Sul, matrícula SCRS 08770.
Atividades Exercidas: Diversas Gestões como Membro das Comissões
de Liturgia e Instrução; Deputado em diversos Mandatos; Membro
Correspondente do Informativo da Loja Francisco Xavier Ferreira de
Pesquisas Maçônicas, a Chico da Botica. E 1ª Vigilante da Loja
“Resistência”. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

178
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

RELIGIÃO, SEITA OU IRMANDADE?

A Maçonaria objetiva a união de todos apesar das diferenças


existentes. Podemos, em outras palavras, chamá-la de ordem
essencialmente ecumênica, palavra de origem grega que significa mundo
habitado, pois acolhe pessoas de todas as religiões e tem por princípio a
evolução do ser humano pelo bem comum da humanidade. Ou seja: unir
homens de todos os credos religiosos na prática da lapidação moral e
social.
A sua base está centrada na crença de um Ser Superior, que em
respeito às diversas reverências que cada religião dá ao seu CRIADOR,
chamamos de Grande Arquiteto do Universo. Assim, de forma única, a
irmandade sempre mantém harmonia entre os seus membros,
preservando união e fraternidade ao louvarem o SER SUPERIOR,
independente da religião que praticam.
Apesar da evolução natural que rege o mundo, ainda para muitas
pessoas a Maçonaria é vista com certa desconfiança. É comum que,
aqueles desprovidos de conhecimento, intitulem a Arte Real como
religião, seita, entre outras definições que povoam o imaginário dos
curiosos. Acrescento: como as reuniões maçônicas são feitas em lugares
fechados e nada do que se passa no seu interior é revelado, suscita e
fertiliza a imaginação de muitos com fantasiosos comentários. Não raras
vezes escutamos que o maçom exercita a prática do mal, bebe sangue de
animais e visa ascensão material através de cultos escusos. É uma
inverdade que, embora menos, até os dias de hoje ainda nos persegue.
Estranhos homens que usam roupa preta, escondem mistérios e que se
identificam através de sinais, toques e palavras. Utilizam símbolos
enigmáticos, alegorias, e, nada comentam. Afinal, o que escondem de tão
grave? Pessoalmente, muitas vezes precisei omitir a minha condição de
maçom. Fato que, inevitavelmente, fez com que eu recordasse as
primeiras vezes que folhei o meu Ritual de Aprendiz, deparando-me
interrogativo diante da abreviatura que marcou para sempre a minha
trajetória ao dizer MM IIr C T M RR.
Acontece que sempre evitei qualquer espécie de desnecessária
exposição, para não ser alvo de conceitos maldosos a respeito da missão
que pratico para a minha edificação.
Ora, ao contrário de secreta, é a Maçonaria uma Ordem discreta.
No passado foi perseguida e muitos maçons pagaram com a
própria vida. Deram margem para diversas teorias da conspiração, mas
179
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

nem por isso desistiram, pois com os olhos voltados para a fraternidade,
para o estudo do aprimoramento individual e bem coletivo,
permaneceram convictos no caminho da justiça, da equidade, erguendo
templos a virtude e cavando masmorras ao vício - expressão que
seguidamente repetimos, mas nem sempre nos detemos na prática do seu
real valor e significado.
Tendo com princípio Liberdade, Igualdade e Fraternidade, é a
Maçonaria uma sociedade, desvinculada de qualquer religião. E aqui
insisto: não podemos confundir religião com religiosidade. Sentar no
primeiro banco da igreja todos os dias não nos traz religiosidade, mas
sim o que praticamos na nossa vida. O que nos habita é fruto do
permanente exercício da incansável lapidação. É a convivência
harmoniosa com a nossa própria consciência. É a coragem de
reconhecer o “mea culpa”. Trabalhando os defeitos para transforma-los
em algo que nos traga paz e a satisfação de termos contribuído
anonimamente para o bem.
Acredito que uma virtude, quando vangloriada pelo seu portador,
virtude deixa de ser e dá lugar para os passos claudicantes da vaidade,
fato que vai contra os princípios da ordem, assim como o orgulho, a
soberba e tantas outras fraquezas que podem se alojar no íntimo do ser
humano.
Não praticamos o bem para dar brilho ao nosso ego, para o
reconhecimento alheio ou público, mas sim para atuarmos
anonimamente na construção de um mundo melhor, motivo pelo qual,
só mesmo com muita dedicação podemos realmente entender o
verdadeiro sentido dessa inefável missão que acalenta o grande íntimo
das nossas vidas.
Desvinculados de qualquer religião, mas jamais da religiosidade,
temos na presença de um SER SUPERIOR as nossas mãos abertas para
a colheita dos seus ensinamentos, pois somente com sabedoria
conseguiremos almejar os nossos propósitos quando do juramento que
um dia fizemos junto ao Livro Sagrado.
A Maçonaria desafia o tempo, porém mantêm inabalável e
preservados os princípios éticos, acolhendo homens livres e de bons
costumes.
Assim, através de dedicados estudos, vamos absorvendo e
praticando o necessário conhecimento para lapidar as imperfeitas arestas
da nossa pedra bruta. Afinal, nada buscamos além do objetivo de trazer a
verdade amparada pela sabedoria, pois a grandiosidade não está na
180
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

riqueza material, mas nas ações, no caráter, na tolerância, na infinita


soma de respeito e amor pelos sentimentos mais nobres do ser humano,
entendendo que fazer o bem é a única forma de darmos Glória ao
GRANDE PAI.
A Ordem Maçônica, repito, não é religião.
E também não aceita dogmas, uma vez que, caso observado pelo
ângulo da teologia, se traduz como ponto fundamental de uma doutrina,
quando tudo é visto como certo e indiscutível.
Não é o caso da maçonaria, pois acata todas as verdades, desde
que concebidas e embasadas pelo bom senso, entendendo que de
imutável e preciso somente à crença no GRANDE ARQUITETO DO
UNIVERSO.

181
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

OSVALDO NOVAES

Osvaldo Novaes é Advogado. Aposentado. Casado com Norma de


Albuquerque Novaes. Três filhos, quatro netos. Espírita militante.
Rosacruz. Escritor. Membro Academia Maçônica Sergipana de Artes,
Ciências e Letras. Grau 33°, Mestre Instalado. Três livros, vários artigos
maçônicos publicados. Obreiro das Lojas Fraternidade Sergipense, nº 11
do Oriente de Aracaju-Se e Aquidaban, nº 52-A do Oriente de Salvador-
Ba. Faz palestras espíritas e maçônicas. Reside em Salvador-Bahia.

182
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

RIVAIS OU ALIADAS?

“Religião – conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o


homem e a divindade.” Bueno, Silveira – Minidicionário da Língua
Portuguesa, Editora FTD 2000.
“Maçonaria – Uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a
Humanidade pelo Amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela
igualdade e pelo respeito à autoridade e à religião.” Da Camino, Rizzardo –
Dicionário Maçônico – Edit MADRAS, 2001.
Em alguns rituais lemos: “pelo respeito à autoridade e à crença de cada
um”, o que nos parece mais adequado ao posicionamento da Maçonaria
face às religiões, pois, na verdade, existem tantas religiões que algumas
chegam a se confrontarem no afã de ser considerada a número um frente
aos adeptos e perante o Senhor dos Mundos e dos Exércitos. Para tanto
conseguir, apelam nem sempre para a renovação do entendimento entre
os homens e mulheres, adoção de bons costumes, prática constante da
caridade e do amor ao próximo, mas encenando reuniões que são
verdadeiros espetáculos onde o personagem mais em cena (e execrado) é
Satanás, ou Maligno, ou Satã, ou Encarnação do Mal...
Das instituições mais conhecidas na Terra, a Maçonaria e a Igreja
Católica estão à frente, o que não significa serem detentoras de poderes
extraordinários ou de segredos sobrenaturais, como apregoam seus
adversários e detratores, e no caso da Maçonaria, notadamente aqueles
que se dizem católicos ou ligados à Igreja Católica. Digamos, en passant,
que Igreja Católica tornou-se perseguidora da Maçonaria até ao ponto de
excomungar Maçons (Papa Clemente XII, na bula In Eminenti Apostolatus
Specula, 1738), não celebrando casamento de Maçom, não aceitando sua
filiação no seio de suas irmandades religiosas.
No Brasil, em 1872, a Questão Religiosa ocorrida entre a
Maçonaria e a Igreja Católica, levou à prisão os Bispos Dom Vital de
Oliveira, de Olinda, e Dom Antonio Macedo Costa, de Belém. Na
Europa, em 1886, sob o patrocínio do Papa Leão XIII, surgiu uma “Liga
Anti-Maçônica” visando a destruição da Maçonaria. Mulheres eram
orientadas a impedir que suas filhas desposassem Maçons, ou que o
futuro marido se comprometesse a jamais ingressar na Ordem Maçônica.
A Maçonaria não teve prejuízos, continuou impávida e laboriosa,
ensinando, servindo, transformando.
No âmbito da Maçonaria, em especial nos seus Templos, são
vedadas as discussões sobre política e religião. Há prescrições taxativas
183
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

nesse sentido. Claro que não há impedimento quanto à escolha política


ou religiosa dos Maçons, ficando eles livres em suas opções, mas com
absoluta obrigação de defender sempre os preceitos maçônicos de
Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Quanto à liberdade religiosa, o Maçom DEVE crer no Grande
Arquiteto do Universo. Sem essa crença não permanecerá na Maçonaria.
Sua escolha do credo e da agremiação religiosa à qual quer pertencer é
liberada. Algumas denominações têm representantes na Maçonaria:
protestantes, budistas, presbiterianos, batistas, católicos, umbandistas,
espíritas, todos se respeitando, trabalhando nos propósitos de tornar a
Humanidade Feliz, Próspera e Realizada.
“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.” Salmo
133:1
Convivência pacífica e edificadora é desideratum da Maçonaria em
todos os tempos e lugares onde existam sociedades humanas. A soma
dos esforços políticos, religiosos, econômicos deve ser dirigida para
benefício social amplo, com inclusão de todas as camadas sociais.
Qualquer discriminação que seja imposta, em especial religiosa, é
duramente combatida no âmbito da Ordem Maçônica.
Reconhecendo que nem todos podem ser igualmente ricos ou
pobres, a Ordem Maçônica combateu sempre as desigualdades e os
privilégios, o que não acontecia com certos segmentos religiosos que se
colocavam ao lado dos poderosos buscando isenções, riquezas, poder,
benefícios de ocasião. A Igreja Católica sendo a mais conhecida e
poderosa religião ao longo de séculos, terminou cúmplice de desmandos.
A prisão, condenação e execução de Cavaleiros Templários, inclusive do
seu Grão-Mestre Jacques De Molay, em 1313, foi obra do rei Felipe, o
Belo, associado à Igreja Católica. Lado a lado com a Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, a Ordem Maçônica atuou em prol da
sociedade, combatendo honrarias e benesses auferidas por poucos em
detrimento de milhares, denunciando aquelas instituições políticas e
religiosas que colocavam seus interesses acima do bem-estar social.
Patrocinou em várias localidades movimentos contra tirania, luxo de
condes, duques, marqueses e, notadamente, contra igrejas aliadas de
déspotas condenando populações a viver na miséria. Nesses casos, a
religião era flagrantemente associada à realeza, ao poderoso mais em
evidência. NUNCA se poderá dizer o mesmo da Maçonaria!
Sendo a Igreja Católica um destaque no assunto religião, não
significa que outras ‘religiões’ também não se oponham à Maçonaria,
184
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

sendo comum a todas elas uma certa ojeriza aos Maçons e à Maçonaria,
especialmente quanto às prescrições divulgadas e abraçadas em todos os
países, tornando a Maçonaria um arauto da defesa ampla da Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. O farol com as luzes desses postulados tem
iluminado caminhos de milhões de pessoas mundo afora.
Se todos querem Liberdade, que haja Igualdade, que prevaleça a
Fraternidade no meio social, por que combatem a Maçonaria? Por que
homens poderosos, ‘religiões’ que atraem milhões de fieis disputando a
primazia do amor e proteção de Deus, ainda olham de través a
Maçonaria dizendo-a secreta, sinistra, associada a Satã, corruptora de
costumes? Se a Maçonaria enseja aos homens seu aperfeiçoamento como
construtor social, desbastando seus maus costumes, orientando-os nos
caminhos da Paz, do Amor, da Tolerância, da Harmonia, onde sua face
nociva?
Vemos conveniência, má-fé, ânsia por adeptos que lhes entreguem
milhões em dinheiro e bens, sem honesta justificativa. Na Maçonaria
arrecadam-se valores cuja destinação beneficia os desafortunados, os
Maçons e seus familiares vivendo em dificuldades; às vezes, tais recursos
vão para socorro de pessoas nos casos de calamidade, guerra, desastres
naturais. A Maçonaria não é e jamais foi milionária, não fez voto de
pobreza (valha-nos são Francisco!), porque ela pensa primeiro no
necessitado. As religiões também fazem caridade, o que não duvidamos.
Então, por que não podemos estar juntos? Será possível esta união após
séculos de desentendimentos? Sim, acreditamos possível. A Maçonaria
está com Platão (427-348 a.C) que ensinava e a instituição procura
aplicar:
“Só a prática da justiça na vida individual e na vida social pode assegurar a
salvação de uns e de outros.”
Ou ainda com o amigo Sócrates (469-399 a.C):
“Não há mal possível contra o homem de bem, nem nesta vida, nem depois da
morte, e os deuses não são indiferentes á sua sorte.”
Se cada religião quer o homem submetido aos seus preceitos, a
Maçonaria apela aos ditames da consciência do ser humano, adequando-
o à Liberdade, à moral e aos bons costumes, para viver em Igualdade
com seus semelhantes, propiciando ampla Fraternidade em busca da
edificação da Humanidade Feliz.
A Maçonaria se defendeu de muitas investidas e condenações
assacadas contra ela. Permaneceu firme buscando o homem
transformado, no ensinamento de Paulo, apóstolo, em Romanos, 12:2 :
185
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

“E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação de


vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus.”
Não criamos/alimentamos com torturas e mortes, a famigerada
Inquisição! Muitos Maçons foram vítimas da maléfica criação religiosa
que vigorou por muito tempo, servindo aos interesses de minoria
religiosa.
Para Karl Marx (1818-1883), a religião seria “o ópio do povo”,
considerando a pregação religiosa em especial da Igreja Católica,
mantendo o povo entorpecido, sustentando o luxo, a vaidade, a riqueza
sem trabalho, os vícios e festanças que grassavam em palácios e sedes
religiosas. A universalidade da Maçonaria, com seus preceitos sendo
acatados livremente, nunca impôs uma crença ou religião, mostrando
sempre caminhos de libertação pelo trabalho, pelo apuro nos costumes,
pela edificação social.
Alguma vez Maçonaria e religião, aqui a Igreja Católica, estiveram
juntas? E tudo correu bem para ambas as partes? Sim. Daí acreditarmos
nessa aliança.
1 - Em 11.6.1976, em Salvador, Bahia, o Arcebispo Primaz do
Brasil Dom Avelar Brandão Vilela, visitou a Loja Maçônica Liberdade, nº
1, da Grande Loja Maçônica da Bahia, a convite do então Venerável
Mestre Antônio Carlos Portela, aniversariante na data. O Arcebispo foi
recebido sob Abóbada de Aço, no Salão Nobre da GLEB.
Posteriormente, uma missa pela Maçonaria aconteceu na Catedral
Basílica do Salvador. O clima de conciliação, de fraternidade imperou em
todos os momentos;
2 – O Bispo Diocesano de Estância, em Sergipe, D. Marcos
Eugênio Galrão, proferiu palestra no Templo da Loja Maçônica Luzes da
Piedade, nº 5, em Lagarto, convidado pelo então Grão-Mestre Antônio
Fontes Freitas. Estavam presentes diversos sacerdotes das igrejas
jurisdicionadas à Diocese;
3 – Em 1973, a união da Maçonaria e da Igreja Católica em
Sergipe ensejou a aquisição de terras para famílias pobres de
comunidades rurais. Participaram os Maçons de Sergipe, especialmente
da Loja Cotinguiba. nº 235, por seu Venerável Mestre Carlos Teles
Sattler; a Igreja Católica esteve representada pelo Arcebispo de Sergipe,
Dom Luciano José Cabral Duarte. O pagamento da compra se fez com
cada instituição pagando cinquenta por cento (50%) do valor total. Daí
nasceu a Fazenda Comunitária Reconciliação de Divina Pastora.
186
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Em Sergipe, alguns padres proferiram palestras em Lojas


Maçônicas, sendo exemplos padre Arnóbio Patrício de Melo, e padre
Aloisio Guerra, este um irmão Maçom. Aliás, foram Maçons e sacerdotes
católicos Diogo Antônio Feijó; padre Mororó (Gonçalo Inácio de
Loiola); cônego Januário Barbosa: padre Agostinho Gomes; padre
Arruda Câmara; Frei Antônio do Monte Carmelo; Frei Joaquim do
Amor Divino Caneca; Padre Francisco José de Azevedo, dito inventor
da primeira máquina de escrever. A lista alcança dezenas de religiosos
católicos.
Nunca ocorreu desarmonia entre suas crenças e suas atividades
católicas e/ou maçônicas.

187
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PAULO NILSON RODRIGUES SIMÃO

Paulo Nilson Rodrigues Simão, bancário aposentado e advogado.


Iniciado em 20/11/1991 na Loja Maçônica Seareiros da Paz nº 211 em
Muriaé – MG, Venerável Mestre de 1996 a 1998 e 1998 a 2000. Grau 33
– Grande Inspetor Geral, investido em 04/11/2017 pelo Rito Escocês
Antigo e Aceito. Grau 33 – Servidor da Ordem e da Pátria, investido em
02/12/2017 pelo Rito Brasileiro. Pós-Graduado Latu Senso em
Maçonologia, História e Filosofia. Presidente da Academia de Estudos
Maçônicos Sapere Aude. Participou do Volume II da Série Maçons em
Reflexão.

188
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA: RELIGIÃO NÃO, RELIGIOSA SIM.

A maçonaria não é religião.


Ela é uma sociedade cujo objetivo é unir os homens entre si,
união esta, no sentido mais amplo e elevado da palavra, admitindo,
portanto, em seu seio pessoas de todos os credos religiosos sem
distinção.
A Maçonaria é religiosa.
Embora não seja uma religião, a Maçonaria é religiosa sim, porque
reconhece a existência de um princípio criador, supremo e infinito ao
qual denomina GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.
É uma instituição espiritualista que, logicamente se contrapõe ao
predomínio do materialismo. Fatores essenciais e indispensáveis para a
verdadeira interpretação religiosa e lógica do universo. É essa base o
sustentáculo e também a grande diretriz da ideologia maçônica.
Um maçom não precisa renunciar à religião a qual pertence, muito
pelo contrário, deve praticá-la e honrá-la, vez que a Maçonaria abriga em
seu seio homens de todas as religiões, desde que acreditem em um só
Criador, o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, que é Deus.
É por esse motivo que nenhum Maçom se empenha em um
trabalho, sem primeiro invocar o Seu auxilio.
Assim sendo, antes de iniciarmos os nossos trabalhos,
procedemos à abertura da Santa Bíblia e ali lemos um trecho da mesma.
Utilizamos a Bíblia porque estamos num país predominantemente
cristão, mas também poderia ser outro livro sagrado, tal como a Torá ou
o Corão, por exemplo, de acordo com a predominância religiosa do local
onde a Loja Maçônica está instalada.
No entanto, nada impede que seja adotado mais de um livro
sagrado.
Na seara jurídica, já está pacificado que a Maçonaria não é uma
religião.
Foi com esse entendimento que o Supremo Tribunal Federal
rejeitou o recurso extraordinário número 562.351 em 13/04/2010.
O argumento se baseou no artigo 150 da Constituição Federal,
inciso I, alínea b, onde menciona que é vedado instituir impostos sobre
"templos de qualquer culto".

189
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Tal decisão do Supremo Tribunal Federal rejeitou o pedido de


imunidade tributária que considerou a maçonaria uma “ideologia de
vida” e não uma religião.
Portanto, quando a Constituição conferiu imunidade tributária aos
“templos de qualquer culto”, este benefício fiscal ficou circunscrito aos
“cultos religiosos".
A Maçonaria não é religião, todavia adota templos onde realiza
suas cerimônias, semelhantes a um culto, sob diferentes ritos, o que não
deve ser confundido com um culto religioso.
Ela respeita todas as religiões escolhidas por cada um de seus
associados e não tolera a discriminação motivada pela religião, até
porque, a lei pune com multa e até prisão quem zombar ou ofender
outra pessoa por causa do credo religioso. Tal crime é inafiançável e
imprescritível.
A liberdade religiosa é um direito fundamental insculpido nas
cláusulas de cerne inviolável da Carta Magna, portanto, a liberdade de
consciência e de crença não podem ser agredidas e a Maçonaria respeita
muito essa liberdade proibindo o proselitismo, ou predileção a essa ou
aquela religião, por respeitar a todas elas.
A Maçonaria é aberta a homens de todas as religiões, porém,
candidatos ateus não são aceitos, pois, para fazer parte dela é necessário
crer em Deus. Mesmo que os ateus tenham conduta ética e honesta,
ainda assim, não serão admitidos.
O nome maçom vem do francês maçon, que significa pedreiro. Os
pedreiros, na Idade Média guardavam suas técnicas sob absoluto
segredo, só revelando, aos poucos, a quem se dedicasse com esmero no
exercício da profissão.
Pela necessidade de viajarem muito a trabalho, os pedreiros
gozavam de certa liberdade, ao contrário dos servos, que deviam
obediência aos senhores.
Além do ofício de construir, dos pedreiros também era exigida a
crença no Princípio Criador.
Portanto, há que se concluir que desde seus primórdios, a
Maçonaria se estabeleceu como uma instituição respeitadora da
religiosidade, o que não deve ser confundido com religião, pois outras
religiões foram sendo conhecidas ao longo dos anos e igualmente aceitas
pela Ordem Maçônica.
Nos templos maçônicos não são celebrados cultos religiosos, mas
cerimônias ritualísticas e litúrgicas organizadas e bem estruturadas, de
190
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

maneira que num mesmo ambiente podemos contar com a presença de


cristãos católicos, protestantes, espíritas, ou mesmo adeptos de religiões
não cristãs, respeitando a vontade religiosa de cada um, sem portanto,
privilegiar essa ou aquela religião específica.
Sabiamente, a Maçonaria não admite discussões de caráter
religioso em suas reuniões, mas respeita e incentiva a livre escolha
individual de cada um de seus associados para que possam louvar e
respeitar a Deus, cada um à sua maneira.

191
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PAULO HENRIQUE DE MELO RABELO

Paulo Henrique de Melo Rabelo, Mestre Maçom, membro fundador e


atualmente 1º Vigilante da Augusta e Respeitável Loja Simbólica de
Estudos e Pesquisas Ciência e Progresso nº 4.645, do Oriente de
Uberlândia (MG), federada ao Grande Oriente do Brasil – GOB. Foi
elevado ao Grau 16 do Rito Escocês Antigo e Aceito. É advogado e
professor universitário. E-mail: paulo@paulorabeloadvogados.com.br

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

O CATOLICISMO E A MAÇONARIA:
UMA CONVIVÊNCIA NADA CONFORTÁVEL

O nascimento de Jesus Cristo veio para abalar os adeptos da


religião de Davi de forma definitiva. O maior dos judeus, filho de Deus e
feito homem, condenou veementemente o domínio do Judaísmo em
razão das mentiras e crueldades de seus adeptos mais rigorosos.
O Cristo pregou aos povos os princípios que se deveriam ser a
base da regeneração humana, e, por consequência, exigia a transformação
do estado de coisas existentes. Teve contra si os romanos e os judeus,
mas nunca, jamais, abriu mão de pregar os princípios Divinos – o que
acabou por leva-lo ao extremo da sua morte. Após isso, deu-se início ao
Cristianismo.
Adeptos do naufragado judaísmo se lançaram à Igreja Cristã, que
abriu suas portas ao mundo.
Desligando-se definitivamente dos princípios judaicos, mas
mantendo seus profetas e alguns de seus valores, especialmente
estabelecidos no Velho Testamento, estabeleceu-se o Catolicismo.
Paralelamente ao Cristianismo, o catolicismo construiu suas bases
em um grave pessimismo, distribuindo a ideia de que o homem é
miserável e pecador, o que também divergia do judaísmo e do próprio
paganismo apregoado na Grécia (e até em Roma), que se
fundamentavam na vedação a sedução de poderes celestiais para obter
grandezas terrenas. Neste sentido, Santo Agostinho, São Tomás de
Aquino e Inácio de Loyola, ávidos em confirmar, no mesmo sentido do
catolicismo, a necessidade de se desprezar os bens do mundo, pois a
matéria apenas conduz ao pecado e o pecador jamais alcançará a
suprema felicidade dos céus. Esse fanatismo, construído à base de
negação do direito de pensamento e análise, conduziu o alicerce do
Catolicismo em ideias de intolerância em nome de Deus, levando a Idade
Média e a Renascença a uma noite tenebrosa.
A Igreja Católica adotava a doutrina do “crê ou morre”, levando à
fogueira aqueles que desacreditavam dos dogmas não sujeitos a
investigação. Pelo simbolismo do fogo, o espírito estaria livre do pecado
da heresia e poderia comparecer frente ao Pai Celestial.
Esse abandono às questões morais – especialmente ao se
condenar o fruto da criação divina à fogueira, acabou por originar uma
corrente paralela, um novo golpe ao catolicismo – o protestantismo, por
intermédia da “Reforma”, capitaneada por Calvino e Lutero.
193
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

O rumo da Igreja Católica estava seriamente ameaçado. O perdão


pelos pecados não traria ao pecador sua absolvição, senão através da
fogueira. Nas palavras do Marquês de Condorcet e do historiador Henry
Hallam (História da Europa na Idade Média) e, depois, de William
Robertson, no livro História de Carlos V, a Igreja Católica passou a lançar
mão de um novo meio para que os pecadores obtivessem a liberação de
seus erros, sem a morte: o pagamento.
Disse Robertson, “A corte papal, sempre atenta aos meios de acrescer suas
rendas, concedia perdões a todos os culpados que pudessem compra-los. (...) os oficiais
de chancelaria papal publicaram um livro que continha uma tarifa exata das somas
necessárias para o perdão dos pecados. Um diácono, culpado de morte, era absolvido
por vinte escudos; um bispo e um abade poderiam assassinar por trezentas libras.
Qualquer eclesiástico podia entregar-se aos excessos da impureza, mesmo com
circunstâncias mais agravantes, por trinta libras”.
Paralelamente ou em direção diametralmente oposta, caminhava e
caminha a Maçonaria.
Fiel aos seus basilares princípios separa-se, de modo absoluto, de
qualquer dogmatismo religioso, muito embora resguarde aos seus
adeptos a livre escolha da fé religiosa, liberdade de culto, reconhecendo e
respeitando a existência de um Ser Supremo, o Grande Arquiteto do
Universo.
Aliás, muito mais que permitir a liberdade de culto, exige dos seus
adeptos a profissão de alguma fé, pois nela não se pode estar na
condição de ateu. Interessante ressaltar que um dos tópicos mais
propagados pela Igreja em relação à Maçonaria, é que esta é ateísta.
Meras falácias de quem nada sabe sobre os mistérios maçônicos.
Também diferentemente da Igreja Católica, a Maçonaria permite
aos seus adeptos a livre investigação e conclusão acerca da grandeza da
obra Divina, o que contrasta fortemente com a inflexibilidade e
intolerância do catolicismo, ao obrigar ao credo da Divindade como
tabu, inalcançável à análise e livre pensamento de seu adepto.
De registrar-se que a Maçonaria não tem o menor interesse de
contender com o catolicismo ou com qualquer outra religião ou
religiosidade. Avessamente, aceita os adeptos de toda e qualquer fé.
O que dizer-se da perseguição ávida do Papa Leão XIII à
Maçonaria, notabilizado pelas diversas encíclicas e posicionamentos
fortes? Assim era a Humanum Genus: “(...) Nesta época, entretanto,
os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo, e estar combatendo com
veemência unida, liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada
194
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

e difundida chamada os Maçons. Não mais fazendo qualquer segredo de seus


propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Eles
estão planejando a destruição da santa Igreja publicamente e abertamente, e isso com o
propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade, se isso
fosse possível, das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso Salvador.
(...)”
A Maçonaria vive a vida, respeitando a dignidade do homem e
buscando nos ideais da liberdade, o ponto que mais se aproxima da
perfeição.
Um dia há de chegar que a narrativa do Padre Aloísio Guerra,
prevaleça: “Cresci ouvindo falar da maldade da Maçonaria. Mutatis mutandis,
mais ou menos como se dizia que os comunistas comiam criancinhas. (...) Um certo
Monsenhor que aderira à Maçonaria, vendo a morte se aproximar, pediu para receber
os últimos sacramentos. O Arcebispo da época disse que só daria se ele “abjurasse” a
Maçonaria. O coerente Monsenhor não o fez e morreu sem absolvição do Arcebispo.
Mas não sem a absolvição de Deus! Não sou Maçom, mas ostento com alegria, como
uma honra, a “Medalha do Mérito Maçônico de Pernambuco”, com que fu agraciado
em 1998 pelo Grão Mestre, Dr. Antônio do Carmo, uma das maiores expressões
maçônicas do Brasil. (...) E, notem, apesar das campanhas difamatórias, não existe
Maçom ateu e a Igreja se serviu e se serve da Maçonaria, que nunca negou
colaboração. E a recíproca não é verdadeira.”
O dia do Padre Aloísio Guerra chegou: ele se tornou Maçom. Já a
perseguição da Maçonaria pela Igreja Católica... talvez não estejamos
vivos para testemunhar este momento.

Referências Bibliográficas:

▪ CARVALHO, William Almeida de. Pequena história da Maçonaria no Brasil.


Revista de Estudios Historicos de La Masoneria Latinoamericana y
Caribeña, vol. 2, n. 1, maio-nov. 2010, p. 30-58, ISSN 1659-4223.
▪ CONDON, Ed. A verdadeira razão pela qual católicos não podem ser
maçons. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/blog/a-verdadeira-razao-
pela-qual-catolicos-nao-podem-ser-macons. Acesso em: 15 mar. 2021.
▪ GUERRA, Aloísio. Religiosidade e Maçonaria. Londrina: Editora Maçônica “A
Trolha”, 2006.
▪ PORTO. A. Campos. A Igreja Católica e a Maçonaria. 3. ed. Rio de Janeiro:
Aurora, 1957.
▪ SILVA, Cristiano Luiz da Costa e. O reinado do Papa Leão XIII: doutrina
social da Igreja e capitalismo (1878-1903). Disponível em:
https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/o-reinado-do-papa-leao-xiii-doutrina-
social-da-igreja-e-capitalismo-1878-1903. Acesso em: 15 mar. 2021.

195
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

▪ VATICANO. Carta Encíclica Humanun Genus, do Sumo Pontífice Papa Leão XIII
a todos os nossos Veneráveis Irmãos, os Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos
do Orbe Católico, em graça e comunhão com a Sé Apostólica, em 24 de abril de
1738. Disponível em: https://www.vatican.va/content/leo-
xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_18840420_humanum-genus.html.
Acesso em 15 mar. 2021.
▪ VELASCO, Giovani. Os papas maçons através da história. Disponível em:
http://afasrj.blogspot.com/2014/06/os-papas-macons-atraves-da-historia.html.
Acesso em: 15 mar. 2021.

196
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PAULO VICENTE VIEIRA JUNIOR

Paulo Vicente Vieira Junior, nascido em 1966, formado em farmácia e


bioquímica pela UFJF em 1991, pós-graduado em Análises Clínicas em
2001 pela UFJF, pós-graduado em Gestão de Saúde Pública e Meio
Ambiente em 2020 pela universidade Candido Mendes. Iniciado na
Augusta e Respeitável Loja Simbólica Seareiros da Paz em 12 de
Novembro de 1997, atuou como conselheiro do Conselho Consultivo do
Capítulo DeMolay de Muriaé, e já exerceu como oficial os cargos
Hospitaleiro, Secretário, Orador, Segundo Vigilante, Primeiro Vigilante e
Venerável Mestre no biênio 2020/2022. Possui pós-graduação em
Maçonologia História e Filosofia pela Uniacácia/Uninter.

197
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

O que dizer sobre maçonaria e religião? Elas se completam? Se


divergem? São interligadas? Afinal, têm entre si alguma relação?
Eis o que precisamos analisar e tentar tirar cada um sua conclusão.
Antes, porém, precisamos saber a definição de cada uma no
dicionário.
Segundo o Dicio (dicionário de português online) Maçonaria é “a
Arte, ofício, trabalho do pedreiro; Sociedade secreta, de origem remota,
espalhada por todo o mundo, cujos membros professam os princípios de
igualdade e fraternidade; adota como emblema os apetrechos de
pedreiros (esquadro, compasso, fio de prumo), e se divide em grupos
regionais chamados Lojas.”
Neste mesmo dicionário Religião é “a crença de que existem
forças superiores (sobrenaturais), sendo estas responsáveis pela criação
do universo; crença de que essas forças sobrenaturais regem o destino do
ser humano e, por isso, devem ser respeitadas; Comportamento moral e
intelectual que é resultado dessa crença; Reunião dos princípios, crenças
e/ou rituais particulares a um grupo social, determinado de acordo com
certos parâmetros, concebidos a partir do pensamento de uma divindade
e de sua relação com o indivíduo.”
Pois bem, independente do que diz o dicionário, já que as
informações são resumidas, podemos numa análise primária perceber
semelhanças entre ambas as instituições, pois possuem princípios
filosóficos e morais, rituais e símbolos, se reúnem em sociedades ou
grupos, possuem uma hierarquia e seus adeptos creem num princípio
criador. E se existe tal semelhança, nós maçons sabemos muito bem que
a Maçonaria foi e ainda é mal vista por algumas religiões.
Aí neste ponto crucial é que tentamos entender o porquê? Se essas
instituições buscam a melhoria do ser humano e se existem algumas
semelhanças dentre as inúmeras religiões, principalmente com a Igreja
católica, porque a Maçonaria foi, e ainda é (em menor grau hoje), tão
perseguida por estas instituições religiosas?
São inúmeras as encíclicas e códigos do direito canônico da igreja
Católica Apostólica Romana, que rechaçam a Maçonaria, mas
entendemos que isso são regras e normas antigas que se não
prescreveram em seu conteúdo, pelo menos na forma já diminuiu
bastante. Fato este provado pela boa convivência entre ambas a nível de
seus adeptos na sociedade em geral.
198
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

É uma questão política que vem de longa data, quando o clero e a


monarquia resolveram se unir e criar normas, regras de conduta, sem
esclarecimento, apenas com dogmas e legislações para conduzir seu povo
pelo temor. Época de trevas em que viveu a humanidade, pois quanto
menos esclarecimento, mais dependência e submissão. Não é nossa
intenção aqui fazer qualquer crítica as igrejas tradicionais, mas apenas
relatar os fatos que são visíveis e históricos.
Embora já se perceba uma evolução em termos de tolerância por
parte das religiões relativo aos irmãos maçons, sempre existe a tentativa
de repudiar a Sublime Ordem, tentando afastar do seio das igrejas a
participação dos maçons, seja por desconhecer nossos princípios, seja
por alguns líderes religiosos ou “falsos profetas” da atualidade que
trazem para seu rebanho interpretações equivocadas dos ensinamentos
bíblicos, se apegando muitas das vezes apenas ao Velho Testamento,
cuja base é uma Lei repressiva de um Deus vingativo, que julga e pune
o ser humano, um Deus ao qual devemos temer.
Diferentemente dos ensinamentos de Jesus que traz a Lei de
Amor, Justiça e Caridade, nos ensinando a fazer o bem ao próximo, a
perdoar nossos inimigos, um Deus de justiça sim, mas de imensa
misericórdia, pois o amor cobre uma multidão de pecados, e podemos
assim corrigir o mal que fizemos no passado através do bem que faremos
de agora em diante.
Mas diante de tudo isso, a Maçonaria, que é progressista, mantém
sua força e seus princípios assumidos para com a Humanidade, e ainda
assim porque é perseguida?
Fácil explicar após nossa análise anterior das religiões tradicionais.
Enquanto elas querem manter o ser humano no obscurantismo (estado
de quem se encontra na escuridão, de quem está privado de luz, falta de
instrução; ignorância) e no erro.
Sabemos que quanto mais privado de conhecimento mais fácil de
ser conduzido ao caminho do mal.
Mas qual seria o interesse delas (as religiões) em nos manter
assim? Pelo simples fato de que sendo elas as detentoras da nossa
salvação, o interesse dessas instituições religiosas em nos manter em suas
fileiras, principalmente pelo apelo financeiro, mais difícil se torna pra nós
o crescimento moral, intelectual e até religioso, pois estas virtudes
dependem de conhecimento.
Somos escravizados por dogmas, induzidos por reformas
“exteriores”, verdadeiros sepulcros caiados, formosos e limpos por fora,
199
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

mas cheios de podridão por dentro, hipócritas como dizia o grande


Mestre Jesus.
A maçonaria não é uma religião e nem exige que tenhamos uma.
Ela apenas exige de nós crer num Princípio Criador.
A Maçonaria através de sua filosofia moral, baseada em
simbolismos, suas alegorias e rituais, procura instruir o ser iniciado na
busca do conhecimento, na investigação da Verdade que está em nossa
consciência, cujo véu espesso da ignorância se desvenda enquanto
evoluímos, e pouco a pouco crescemos intelectualmente e moralmente.
Enfim, ela nos ensina a trabalhar na Pedra bruta de nosso íntimo,
extirpando os vícios e paixões mundanas até encontrarmos a Essência
Divina dentro de nós.
Os ensinamentos maçônicos através de símbolos, explicados
claramente em nossos rituais nos levam a sair dessa heteronomia social,
política e religiosa para seguir uma moral autônoma, através do
raciocínio, do questionamento, não aceitando dogmas impostos por
quem quer que se diga representante do GADU.
A Maçonaria nos leva constantemente a ser “Maçons em
reflexão”, a sair para pensar “fora da caixa”, a fugir da “Caverna de
Platão”, enfim a desvendar nossos olhos para enxergar a Verdadeira Luz.
Trago aqui um trecho da música de Zé Ramalho que todos
conhecem:
“Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa dos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer.”
Não queremos fazer parte dessa massa, pois não somos gado e
temos projetos a realizar em nós mesmos. Quanto antes começarmos,
melhor para nós e para a sociedade em que vivemos.
E se fomos convidados a usar o maço e o cinzel neste trabalho
interior de crescimento filosófico, moral e espiritual, árduo, porém
necessário, não podemos fugir ao nosso compromisso, pois o
conhecimento nos deixa moldáveis ao trabalho, e porque “A acácia me é
conhecida”.

200
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Não podemos mais ficar inertes assistindo a ferrugem comer os


duros metais dessa engrenagem chamada ignorância, e que por séculos
esses inimigos da sociedade vem tentando manter.
Sem liberdade de pensar a agir com responsabilidade e dentro de
certos princípios morais não haverá igualdade entre os seres humanos, e,
por conseguinte não se conseguirá a fraternidade universal, onde todos
saberão os seus direitos e deveres para com o próximo.
É um caminho rumo ao progresso, que pode ser mais longo,
difícil e doloroso pelas pedras que encontraremos por este caminho, ou
podemos escolher o caminho do meio, mais fácil, sem desvios, menos
doloroso, menos cansativo e mais prazeroso.

201
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

PEDRO JORGE DE ALCANTARA ALBANI

Pedro Jorge de Alcantara Albani é Polícial Militar Reformado, na


graduação de Sub Tenente PM, no 27º BPM. Tecnólogo em Meio
Ambiente e Produtos Químicos pela Universidade Presidente Antônio
Carlos (UNIPAC) e Pós-Graduação pela UNITER em
MAÇONOLOGIA HISTÓRIA E FILOSOFIA, em 2018. É Obreiro da
Loja Maçônica “Montanheses Livres” do Oriente de Juiz de Fora, CIM:
16923 – GOMG. Sendo Iniciado em 04/12/2003 na Loja Maçônica
“Joaquim Gonçalves Ledo”; onde também foi Elevado em 06/05/2004
e Exaltado em 07/10/2004. Filiou a Loja Maçônica “Montanheses
Livres” em 19/09/2011. Nos Graus Filosóficos, foi iniciado no Grau 4
em 29/09/2014, no Grau 9 em 05/05/2015; no Grau 14 em
28/03/2016. É Membro da Academia Maçônica de Letras de Juiz de
Fora e Região, cadeira número 08, onde ocupa a função de Diretor
Secretário da Academia (2019 a 2020). Em 14 de novembro de 2015, foi
Presidente do Conselho Constutivo do Capítulo 33 da Ordem Demolay
(2017 a 2018); Membro do Conselho Constutivo do Capítulo 33 da
Ordem Demolay período (2018 a 2019). Foi membro da bancada de
avaliação de textos produzidos, do concurso promovido pela GOMG;
Coordenador da Comissão do concurso de poesia Antônio Carlos
Furtado. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

202
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

SOMOS TODOS IRMÃOS

As sessões maçônicas são como a vida, uma caixinha de surpresa,


com conteúdos de ensinamentos que só os atentos podem perceber,
cada Assembleia é única, mesmo que o tema seja repetido. E uma boa
sessão começa com a chegada dos Irmãos à Loja.
Sempre fui uma pessoa atenta que busca conhecimento, não só
através da leitura, mais nos ensinamentos do teatro da vida, que são ricos
em conteúdo, mas que em muitos casos nunca foram escritos, e se
perdem no sopro da linha do tempo.
Atualmente exerço a função de Chanceler, dentro do quadro da
maçonaria, que tem como uma das funções colher as assinaturas dos
presentes, “ne varietur” e preencher os cartões dos visitantes, que vêm
reforçar as colunas da Loja.
Em uma dessas reuniões, lá estava executando minhas funções,
porém atento aos acontecimentos, e à chegada dos Irmãos. Alguns
maldosos diriam que eu estava bisbilhotando, porém reforço somente
atento ao que estava a minha volta.
Um Irmão visitante, que professa a religião Judaica, após assinar o
livro de presença e receber seu certificado dirigiu-se a outros dois irmãos
da minha Loja e os saudou Shalom Aleichem “que a paz seja convosco”.
Os Irmãos com um enorme sorriso retribuíram, porém um que era
mulçumano cordialmente o saudou As-Salam Aleikum “que a paz esteja
entre vós”. Esta diferença religiosa despertou a minha atenção.
Na maçonaria praticamos a tolerância, nos seus mais diversos
direcionamentos, dentre eles o religioso, pois temos Irmãos Evangélicos,
Católicos, judeus, espíritas e vários religiões de origem Africana, etc. Pois
para sermos maçons não se exige uma religião específica, e sim a crença
no Deus criador do Universo e como consequência acreditar na
imortalidade da alma. Não somos uma instituição religiosa, mas seus
membros são todos religiosos;
Entre uma boa noite de irmãos e outros que chegavam e
assinavam a lista, dava uma espiada na conversa que transcorria. O
Irmão Judeu perguntou ao Mulçumano como estavam os preparativos
do Ramadã “mês dedicado ao recolhimento espiritual onde se devem
enfatizar as cinco salats (cinco orações) diárias, devendo abster-se de
alimentos temperados, fumo, bebida alcoólica, sexo e jejuar do nascer ao
por do sol, porém por necessidade tiver que alimentar, autorizado pelo
Xeique (líder espiritual) deve priorizar alimentos frugais”; Disse que
203
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

estava realizando preparativos junto a família e que Allah “único Deus”


estaria acompanhando a todos, porém depois do por do sol, saciaria a
necessidade do corpo, mas antes alimentaria a necessidade da alma, com
jejum.
E você meu Irmão. Como foi o seu yom kippur “dia do perdão”
(décimo dia após o ano novo Judaico, não pode ter relação sexual,
utilizar produtos de couro, cosméticos e comer somente após o por do
sol). Disse que esta ação religiosa que pratica fortalece ainda mais sua fé
no criador (Yhwh);
Um Irmão interrompe minhas observações, pois havia preenchido
o cartão de visita como o nome errado da Loja. Peço desculpa e corrijo.
Mas assim que o momento permitir volto a acompanhar a conversa. O
nosso Irmão Mulçumano pergunta, tem praticado o tsedaca “justiça
social”. Sim, respondeu o Irmão Judeu. O Rabino da minha Sinagoga
iniciou uma campanha de arrecadação de donativos para pessoas
carentes na semana passada, como está escrito no Torá (livro sagrado do
judaísmo). E você já praticou a Zakat “não tem uma tradução para o
português, o mais próximo é aumentar, Zakat é o terceiro pilar do Islã,
dos cinco existentes). Sim, já fiz a minha contribuição, como consta no
Alcorão (livro sagrado dos Mulçumanos);
A conversa é interrompida por uma pancada com o bastão ao
solo. É o nosso prestativo Mestre de Cerimônia, convocando os Irmãos
a formarem o cortejo de entrada. Pede ao Irmão Mulçumano para fazer a
leitura do minuto de sabedoria, ele o faz e encerra citando o Supremo
Arquiteto do Universo;
A Assembleia, reforçada pelos irmãos visitantes transborda de
energia positiva na formação da egrégora, os trabalhos transcorreram
com muita força e vigor. Ao dar a palavra nas colunas o Irmão Judeu
saudou a todos e ao Supremo Arquiteto do Universo. Após isto, foram
encerrados os trabalhos.
Confesso saí dali extasiado, pois em muitos lugares do mundo,
fora dos templos maçônicos, onde o ódio é alimentado pela diferença de
cultura e religião, que na realidade pouco existe. Pois todos fazem seus
jejuns, suas orações, suas caridades, frequentam casas de orações, tem
seus livros sagrados e o mais positivo, tem um patriarca, Abrãao em
comum, origens das religiões ocidentais;
Esta relação de irmandade dificilmente ocorreria no mundo
profano. Somente a Maçonaria para mostrar a todos, que as religiões
divergem somente na forma de orar. Que o Criador é único, que pode
204
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ter vários nomes, mas em respeito a todas as religiões, nós maçons, o


chamamos Supremo Arquiteto do Universo.

205
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

REYBER BALTAZAR ALMEIDA ROSA

Reyber Baltazar Almeida Rosa, brasileiro, advogado, Placet n. 31.764,


iniciado em 23/02/2019, pertencente à Loja Maçônica Deus e
Fraternidade n. 292, Oriente de Cristina, Minas Gerais, filiada a
GLMMG. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

206
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

A Maçonaria é uma escola filosófica de preceitos culturais e


filantrópica representada através de rituais e símbolos, que tem o intuito
de permanecer discreta.
A Religião é a prática de um dogma representado por imagens,
festividades, danças e até mesmo rituais que se demonstram diferentes
em suas diversas práticas.
A Maçonaria é uma ideologia de vida e não é uma religião nem
substituta da religião ou um culto. Aliás, pessoas de diversas religiões são
aceitas na Ordem sem nenhuma distinção, basta acreditar em Deus. Ela
exige de seus adeptos a crença em um Ser Supremo o qual, todavia, não
oferece uma doutrina de fé. Nos trabalhos de Loja é proibido se discutir
religião. O deus do maçom é aquele da religião que ele professa.
A Maçonaria é religiosa porque todo maçom deve acreditar em
Deus, conhecido como o Grande Arquiteto do Universo, é um dos
principais pilares da filosofia dos maçons, não formando uma religião,
mas um grupo de pessoas religiosas.
A Maçonaria não tem o intuito de unificar as religiões, através de
um deus criado pelos maçons, ela incentiva que seus membros
professem a sua fé particular dentro de uma moral universal, tendo Deus
como acima de todos.
A Maçonaria respeita a religião e seus preceitos morais muitas
vezes são encontrados nas diversas religiões existentes em suas diferentes
culturas.
A Maçonaria não traz consigo a promessa de salvação e sim
estudos filosóficos através de símbolos e instrumentos que buscam esse
entendimento interior dilapidando as arestas do ser humano petrificado
que existe dentro de cada um com o auto aperfeiçoamento transmórfico
para a construção do maçom que o membro pretende ser.
A Maçonaria utiliza o Livro Sagrado, a Bíblia, na abertura de seus
trabalhos em Loja, cabendo a cada um de seus membros, em unidade
uníssona, o juramento aos seus segredos e os princípios da Maçonaria.
A prática maçônica não tem dogmas, credos, é uma grande
família, ajudando-se mutuamente aceitando e pregando a idéia de que o
homem e a humanidade são passíveis de melhoria, não é uma religião
com teologia, mas adota templo onde se desenvolve conjunto variável de
cerimônias que se assemelham ao culto, dando feições a diferentes ritos.

207
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

A nossa Carta Magna prevê em seu preâmbulo um Estado laico,


onde não há religião mais a crença em Deus, e a Maçonaria prevê o
exercício dessa fé no culto interior da religião professada por cada um de
nós, tendo como norte sempre um Deus único e Supremo.
A Maçonaria é uma corrente religiosa que uniu todas as religiões
em práticas ritualísticas tendo o seu entendimento num conceito mais
abrangente de religiosidade.
A Maçonaria é um exercício regular da fé em valores e princípios
morais, onde se observa a religiosidade na explicação de um conceito
mais amplo do que seja “O Grande Arquiteto do Universo”.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

RHONAN MOREIRA NETO

Rhonan Moreira Neto é graduado em Letras e em Jornalismo pela


Universidade Federal de São João del-Rei/MG. Iniciado na Loja
Maçônica Estrela de Barroso nº 186 do Oriente de Barroso/MG, em 14
de novembro de 2018. No ano de 2019, teve um trabalho como
vencedor do Concurso Literário, na Categoria Aprendiz Maçom,
promovido pelo Grande Oriente de Minas Gerais em comemoração aos
75 anos da Instituição.

209
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

JÁ FALARAM DA MAÇONARIA LÁ NA IGREJA

Na fila do banco, dois homens conversam:


- Ei, vi quando estávamos chegando aqui ao banco que seu carro
tem um adesivo da Maçonaria. Você é maçom? – perguntou o curioso.
- Ah, sim... Não escondo isso de ninguém. Tenho orgulho de ser
maçom e é por isso que tenho o adesivo no meu carro – respondeu o
iniciado.
- Verdade que vocês bebem sangue de bode?
- Hahaha! Não! Nada disso... Isso é conversa de gente sem
informação...
- E tem pacto de morte se você sair da Maçonaria? Eles matam
você? Vocês já mataram alguém?
- Lhe asseguro que não tem nada disso. E não... Nunca matei
ninguém – completou o interrogado.
- Que coisa mais esquisita essa de ser maçom. Vocês ficam se
reunindo às escuras e sabe Deus o que aprontam. Já até nos alertaram
sobre isso lá na igreja...
- Sério? Então vocês sabem o que fazemos em nossas reuniões e
atividades?
- É... Na verdade, lá na nossa igreja, disseram pra gente não tentar
saber de nada desse negócio de Maçonaria e focar nos nossos trabalhos,
sem se importar com a vida dos outros.
- Interessante! Conte-me mais um pouco sobre os trabalhos na
sua igreja... – falou o maçom.
- Ah, lá a gente faz o bem. Lá a gente quer ajudar os outros...
Buscamos oferecer apoio a pessoas que estejam em dificuldade. Também
colaboramos com algumas entidades da nossa comunidade, como o
hospital e associações de amparo a idosos e portadores de necessidades
especiais, por exemplo.
- Mas que maravilha é isso! – destacou o iniciado.
- Pois é! – empolgou-se o sujeito – E nós temos a preocupação de
acompanhar e dar suporte aos próprios membros da nossa igreja. Porque
a gente sabe que às vezes as dificuldades podem chegar, até mesmo para
quem aparentemente não precisa, né?!?
- É... De fato isso é muito importante. Nós lá na Maçonaria...
- Ah! E tem mais! – falou o homem, interrompendo o maçom –
Nós damos uma contribuição em cada celebração, além de pagar o
dízimo mensalmente. Tudo isso para promovermos a caridade.
210
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

- Como eu ia dizendo, na Maçonaria a gente...


- É, eu sei... - antecipou-se novamente o sujeito – Vocês na
Maçonaria são muito fechados, têm essas regras e códigos secretos e
querem dominar o mundo. Também já foi tratado sobre isso numa
reunião lá na igreja.
E, já desistindo de argumentar, o maçom foi todo ouvidos e
deixou que o rapaz continuasse:
- Sabe, vocês maçons deveriam se ater mais a essas coisas. Família,
por exemplo... Família é a nossa base, nosso porto seguro. É preciso
valorizar, se preocupar e dar amor. Não pode ser só entre vocês.
E o profano continuou:
- Lá na igreja a gente preza também pelo social, pelo cumprimento
das leis, pelo respeito à nossa sociedade e pelo crescimento de todos que
estão juntos de nós... Mas isso tudo que te expliquei só é possível porque
a nossa religião nos direciona e incentiva a sermos assim...
Nisso o maçom é chamado ao atendimento:
- É, meu amigo. O papo foi bom, mas preciso ir. É minha vez de
conversar com o gerente – falou o paciente maçom.
- Ah, vai lá... E, se quiser, passa lá na minha igreja qualquer dia
desses. Tenho certeza de que você vai gostar muito mais da gente do que
da Maçonaria. Porque lá a gente crê em Deus e tem o propósito de
crescer e de ajudar ao próximo...
- Tá bom. Agradeço seu convite...
- Olha, só te peço uma coisa: se aparecer por lá, só não diga que
você é um maçom. A gente sabe que esse negócio de Maçonaria e
religião não tem nada a ver...

211
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ROBERTO RIBEIRO REIS

Roberto Ribeiro Reis, brasileiro, advogado, união estável, 41 anos de


idade. Atualmente é o Orador da Loja Maçônica Esperança e União n.º
2358, Oriente de Rio Casca-MG. Grau 13. Presidente da Câmara
Municipal de Rio Casca, pelo terceiro biênio consecutivo. Está em seu
segundo mandato nesta Casa Legislativa.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

UM ASSUNTO EMBLEMÁTICO E O “ÓBVIO ULULANTE”

Um assunto emblemático
E deveras intrigante:
Maçonaria, Religião
E o óbvio ululante.

De caráter iniciático,
A nossa Ordem é empolgante;
Considera a todos seus Irmãos,
E sua laicidade é relevante.

Católicos, judeus,
Evangélicos ou protestantes;
É imperioso acreditar em Deus,
E por Ele sermos simpatizantes.

No altar dos juramentos,


Pode ser a Torá ou o Alcorão,
A Bíblia e todos os seus ensinamentos,
Aptos a formar uma Cadeia de União.

Somos contra a intolerância


Bem como a obsessão pelo proselitismo;
Imprescindível nos é a observância
Ao Ritual e ao seu esoterismo.

Ao se invocar a proteção
Do Maior Arquiteto do Universo,
Lembramo-nos da sabedoria de Salomão,
Nosso grande prócer, o incontroverso.

Ainda assim, há quem muito queira


Manter sua conduta beligerante;
Esconder-se atrás do véu da cegueira,
E continuar na estrada do que é errante.

213
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Maçonaria, sagrada Oficina,


De composição religiosa eclética;
Nela o Profeta Maior vaticina
O constante estudo e melhor dialética.

Pra toda forma de conhecimento


Há o preconceito recalcitrante;
É necessário nosso engajamento
No combate à postura ignorante.

Maçonaria, instituição iniciática,


Filosófica e que traduz o homem pensante;
A religião ajuda-nos a pôr a fé em prática
E a fazer da vida algo mais edificante.

Não importa a crença por nós adotada,


Tampouco o fanatismo que no mundo reverbera;
O que vale é nossa Oficina empenhada
No Bem, na União e na Amizade sincera.

Que desfaçamos esse cruel nó,


Que solapemos o sectarismo religioso;
Que saibamos galgar a Escada de Jacó
E que o Bem nos seja o vírus contagioso.

A Religião é liame indispensável,


Capaz de conectar a Criatura ao Criador;
A Maçonaria é escola de vida inefável,
“Doutrina” de paz, de progresso e de amor.

A Maçonaria, sobejamente inebriante,


É cirúrgica no desbaste de nossa pedra bruta;
Não se confunde com Religião (eis o óbvio ululante),
E a verdadeira paz promove e perscruta.

O ponto nevrálgico da situação


É nosso caráter esotérico;
Que deixa o curioso na insinuação,
Julgando-nos de modo bastante bélico.
214
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Maçonaria é liberdade de pensamento,


É corolário lógico do progresso,
Manifestação inequívoca da Luz Infinita;
Pugna pelo total comprometimento,
E para que nela haja o ingresso
É preciso crer em Deus (você ainda não acredita?).

Religião, que une o homem ao Divino,


Que traduz conexão com o Pai Eterno,
(Esperamos que ela não possua a verdade absoluta);
Religião, que conduz o ser humano a um destino,
Provavelmente ao céu, não ao inferno,
Se nossa postura for reta e quase impoluta.

Maçonaria, escola gradual e paulatina,


Com trinta e três níveis de graduações,
Que nos ensejam a reforma de nosso Templo Interior;
É fraternal, aconchegante, honrosa rotina,
Que nos traz paz aos corações,
Ensinando-nos a prática desinteressada do Amor.

Maçonaria, Religião e o “óbvio ululante”:


Ambas simbolizam união e fraternidade,
Caráter espiritual e humanizante;
Que permaneçam com o propósito incessante,
De promover o bem-estar à humanidade,
Assim como o amor, em sua forma mais pujante.

215
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ROBSON JORGE DO ROSÁRIO RANGEL

Robson Jorge do Rosário Rangel é advogado e pós-graduado, atua no


ramo de tecnologia da informação e de comunicação. É palestrante e
estuda Ciência da Religião na Universidade Federal de Juiz de Fora -
MG. É maçom filiado à Augusta e Respeitável Loja Simbólica
Universitária Acácia do Paraibuna nº 3469 - GOB-MG, Rito
Adonhiramita, do Oriente de Juiz de Fora - MG. Participou do Volume
II da Série Maçons em Reflexão.

216
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

EXISTE LIGAÇÃO ENTRE A MAÇONARIA E A RELIGIÃO?

Esta possivelmente é uma das perguntas mais direcionadas aos


homens que usam ternos pretos e religiosamente comparecem em
determinado dia e horário da semana ao Templo Maçônico para realizar
as suas reuniões.
Muitos pensamentos perpassam o imaginário dos indivíduos e
comumente os deixam desolados quando recebem de forma simples e
direta a resposta de que a maçonaria não é uma religião.
Mas, afinal, existe ligação entre Maçonaria e Religião?
É cediço entre os maçons que a maçonaria não é uma religião,
sendo que nem mesmo a filosofia maçônica admite dentro de suas Lojas
ocorra sectarismo religioso, nem mesmo sejam feitos proselitismos.
Porém, inegavelmente é forte a ligação entre a maçonaria e a
religião, visto que a própria origem daquela teve início dentro dos
Templos religiosos, uma vez que a Maçonaria Operativa (dos pedreiros
construtores), começou a ganhar forma dentro das igrejas e das catedrais,
o que deixou a sua marca nas magníficas construções e na própria
história.
Com a crença de que todos somos iguais e filhos de um Pai
Criador, a maçonaria aceita em suas fileiras homens de todos os credos,
sendo o primeiro e fundamental preceito informado aos candidatos a
maçom: a necessidade de se crer em um uma força Suprema, Criadora.
Isto está, inclusive, insculpido no 19º Landmark da Maçonaria (os
princípios basilares da Ordem), a saber: “a negação da crença no
G.A.D.U é impedimento absoluto e insuperável para a iniciação”.
Vê-se, neste ínterim, que mesmo a maçonaria não sendo uma
religião, guarda pontos de interseção com a própria religião, ou seja, pois
ambas estão assentadas nas mais antigas obrigações, nos usos, nos
costumes e nas tradições. Ademais, dentre outras coisas, ambas
demandam de seus membros a obrigatoriedade de crença em um Ser
Superior e o objetivo de seus membros é da busca de seu
aperfeiçoamento.
A Maçonaria, bem como a religião estão ligadas com as questões
fundamentais do homem, como a crença em uma Divindade e em se
questionar: quem sou? Por que e para que eu vivo? O que devo fazer?
Verifica-se, portanto, que a Maçonaria não é religião, muito
embora autores maçônicos a classifiquem como uma religião em sentido

217
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

estrito, como é o caso de Rizzardo da Camino, ao definir religião em seu


Dicionário Maçônico:

“A Maçonaria é uma Religião no sentido estrito do


vocábulo, isto é, na “Harmonização”, da criatura ao
Criador. É a religião Maior e Universal, o contato com a
parte Divina; é a comunhão com o Grande Arquiteto do
Universo; é o culto diante do Altar dentro de uma Loja, ou
no Templo Interior de cada maçom”.

É inegável, meus amados irmãos, que tanto a religião quanto a


Maçonaria comunguem do princípio da crença em uma Divindade, como
único caminho para o autoconhecimento, para se vencer os vícios, no
intuito de construir Tempos à virtude (crescimento espiritual de seus
membros), e, por fim, o ponto determinante dos seus integrantes, que é
alcançar a perfeição.

218
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

RODRIGO PAULINO

Rodrigo Paulino, natural de Mococa-SP, residente em Alfenas-MG,


cidade na qual exerce a profissão na área de Logística. Nascido em 1981,
casado e pai do Lucas, atualmente com 05 anos. Aprendiz Maçom,
iniciado em 13/02/2020, na Augusta e Respeitável Loja Simbólica
Cavaleiros de York, nº 4641 no Oriente de Machado – MG, pertencente
ao Grande Oriente do Brasil.

219
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

A maçonaria ao longo dos anos, sempre despertou um olhar


curioso ao redor das pessoas, até mesmo nos dias de hoje, sendo assim, o
que pensar em séculos anteriores?
Sabemos das nossas origens, sendo ela primitiva, operativa,
quando mestres artesãos transferiam seus conhecimentos para pedreiros
efetivos e estes, continuavam com seus aprendizados de forma constante
e evolutiva. E a especulativa, que devido às mudanças sociais da Europa
e o surgimento do Iluminismo, junto com o recuo das grandes obras que
favoreciam o ofício de pedreiro, as lojas maçônicas começou a aceitar
membros que não eram operativos e sim eruditos que fossem
considerados atraentes para a Maçonaria.
Tempo depois, com o surgimento da Grande Loja da Inglaterra
e posteriormente, o surgimento do livro de regras, criado por James
Anderson, um pastor presbiteriano, sendo aclamado até os dias de hoje e
conhecido por nós como a Constituição de Anderson, um dos pontos
únicos e mais interessantes apresentados na publicação, dizia respeito à
religião, onde as palavras de Anderson deixavam claro que, embora os
maçons fossem obrigados a crer em Deus, ou pelo menos num “Ser
Supremo” para integrar à irmandade, eles eram livres para seguir a
religião que desejassem.
Esta crença em um ser superior, Albert G. Mackey reforça nos
landmarks:
19 – Que uma crença na existência de Deus seja um requisito para
a adesão;
20 – Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura e
na imortalidade da alma;
21 – Que um “Livro da Lei” constituirá uma parte indispensável
do mobiliário de cada Loja.
Diante disso, os antigos maçons do período especulativo
passaram, dentro das lojas, particularmente nos séculos 17 e 18, a adotar
os ritos e adereços de antigas ordens religiosas, trabalhando o lado
filosófico dos obreiros, que até então, proclamavam e mantinham, uma
ideia operativa, voltado para a construção de grandes catedrais.
Partindo deste fato, os maçons começaram a chamar atenção das
religiões que não aceitavam o fato de outra entidade proclamar o nome
de Deus, muito menos que a Ordem fosse secreta e não aberta aos olhos
da igreja, seguindo um ritual próprio e desconhecido por parte desta.
220
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Neste momento, a Maçonaria encontrou considerável oposição


da religião organizada. Desta forma, temos que a Maçonaria não é uma
instituição cristã, tida como religião, embora muitas vezes tenha sido
confundida com tal, justamente, porque a Maçonaria contém
religiosidade em seus ensinamentos, pois prescrevem moralidade,
caridade e obediência às leis do país.
Da perseguição aos maçons daqueles séculos, onde muitos se
arriscavam, reunindo-se em lugares secretos para que pudessem manter
os rituais e as tradições maçônicas de forma Justa e Perfeita, mesmo que
isso custasse suas vidas, todos já sabemos, inclusive, das difamações a
respeito da Ordem nos tempos contemporâneos, mas o que nunca foi
entendido completamente pela sociedade, é que a Religião e Maçonaria,
seguem o mesmo princípio básico.
Por definição, temos que a palavra religião, consiste na crença da
existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual
depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e
obediência. Na maçonaria, temos também como princípio básico e mais
importante, a crença em um Ser Superior, o qual denominamos o
Grande Arquiteto do Universo. Sendo este princípio de acreditar num
Ser Supremo obrigatório na Maçonaria e nos rituais a utilização do Livro
Sagrado, em sua grande maioria, a Bíblia Sagrada, somente intensifica a
proximidade que ambas possuem em nossas vidas.
Por esse entendimento, temos que ambos acreditam num Ser
Supremo, por isso enxergamos que a Religião e a Maçonaria, são
bastantes similares, devendo ser homens de bem, respeitosos, honestos,
pai de família, aliados a uma sociedade promissora, organizada por leis de
homens livres, mas temente a Deus.
Esta proximidade entre estas duas importantes palavras dentro
da maçonaria, precisa transcender na sociedade atual, pois sabemos que
este agrupamento de pessoas que habitam um certo período e espaço de
tempo na história da humanidade, precisa construir um mundo melhor,
mais fraterno para as gerações futuras, justamente para vivermos em
harmonia, evolução continua e tementes a Deus.
Por fim, o maçom regular que segue os ensinamentos propostos
pela Ordem, que tanto enriquece nossos corações e nossas almas,
acreditando e buscando a cada dia o conhecimento infinito, sempre
estará desbastando sua pedra bruta, aumentando seu conhecimento, seu
lado fraterno e, principalmente, reforçando sua espiritualidade para com
Deus e levando toda sua experiência para a sociedade em que vive.
221
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ROGÉRIO LUCIANO DE OLIVEIRA

Rogério Luciano de Oliveira, casado 2 filhos, 53 anos. Formado em


Gestão Comercial pelo Unipam, MBA em Gestão de Empresas pela
Fundação Getúlio Vargas do RJ. Diretor proprietário do Moderno
Supermercados em Patos de Minas há 30 anos - Vpr regional da Amis -
associação mineira de supermercados. Agente cidadão GLMMG,
Primeiro Vigilante Loja Paz & Harmonia Patos de Minas MG.
Pesquisador, escritor.

222
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO E A BUSCA PELA REDENÇÃO

Desde a queda do paraíso vivemos numa constante busca da


redenção onde nos esforçamos ao máximo para nosso retorno, mas, não
encontramos a porta de saída, o caminho de volta para lá. “Contudo,
vivemos numa ilusão de que a mente é que governa tudo, uma espécie de
homem deus que o mundo moderno criou e nos sujeitou e que o
príncipe da terra (opositor) projeta isto para nos enganar e termos a
sensação de que o espírito está subordinado a matéria, desorientando
assim nossa percepção existencial”.
Há séculos as religiões a seu modo, vem tentando nos orientar
através de suas escrituras, liturgias, rituais etc. O problema é que o
indivíduo veio se contaminando com as sensações do mundo profano
que não consegue encontrar apenas na religião um meio, ou um caminho
para suas realizações, sua redenção ou seu retorno, pois o opositor, que é
um obstáculo para promover seu mérito, o impede de sair desta
condição colocando-o numa espécie de anestesia, envolvendo-o nos
prazeres materiais como elemento fim da felicidade. Seja qual for à
religião não tem melhor nem pior, a melhor é a que nos deixa mais leves,
mais compassivos, desapegados, sem esta carga pesada do mundo
profano e no final com ética nas ações. Porém estas ainda não são
suficientes, a linguagem, a mensagem não conseguem chegar clara,
atravessar esta cortina de fumaça que anestesia os indivíduos e quebrar
esta crosta á qual fomos aprisionados pelas sensações terrestres.
As pessoas foram contaminadas, anestesiadas e aprisionadas de tal
modo que têm a sensação de imobilidade, de às vezes se sentirem como
pedras brutas pesadas sem forma, e não terem a força do maço e nem do
cinzel maçônico para se libertar. “Os pecados” que o homem comete
geralmente são em razão da busca dos prazeres ilegítimos e sensações
imediatas do corpo como compensação das angustias diárias, estas
provocadas pela ilusão da busca do corpo perfeito, da quantidade de
dinheiro e das posses esperando que estes irão trazer a felicidade e a
qualidade mas acabam aprisionados.
Porém a qualidade é diferente de quantidade, o mundo material é
regido pela quantidade e o espiritual pela qualidade, então quanto melhor
for nossas escolhas mais nos aproximaremos do criador, é como na
representação da pirâmide que para cima nos une (qualidade) e para
baixo nos dispersamos (quantidade). Assim vivemos nesta tencionalidade
permanente com um pedaço de nós querendo a paz de espirito e a outra
223
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

os prazeres, as riquezas materiais e sensações. Ou seja, a natureza nos


manda ter prazeres e o espirito e a consciência nos “impõe” viver com
regras, moral e virtudes, e somente com vigilância e acuidade
percebemos as manifestações naturais, para tentar conte-las, ou dar-lhes
legitimidade com a ponderação do espirito que as colocarão em seu
devido lugar.
A maior parte dos indivíduos não compreendem que a riqueza é o
resultado de outras coisas que advém antes, ou seja, precisamos
enriquecer nosso espirito lapidando-o permanentemente, assim um
espirito sábio iluminará a mente para que esta crie as condições morais
para o caminho das coisas materiais legitimas. Este fará como um exímio
construtor seguindo o projeto arquitetônico e fincando os pilares na
rocha mais profunda para que sua obra tenha sustentação e beleza. Os
prazeres, os desejos e as sensações não podem de modo algum ser o
objetivo fim do ser humano, somente os animais vivem assim, pois eles
não compreendem - que existe um Deus criador que espera de nós
aprimoramento – “e vivem somente para o prazer”!
Esta condição era explicada pelos gregos como se estivéssemos
cavalgando todo o tempo e o espírito fosse um cavalo bom e o corpo o
cavalo mau, aonde cada um quer ir para um lado, e se o auriga não for
habilidoso com o tempo o cavalo mal contamina o bom, ou seja, a
matéria passa a governar o espirito que é mais ou menos o que temos
hoje. E isto não tem solução, pois vivemos neste mundo precisamos nos
manter vivos e o percebemos com mais intensidade (no caso o “cavalo
mal”), e ao mesmo tempo também somos espirito que nos cobra o
aprimoramento (“cavalo bom”). Com isso, se o cavalo mal estiver no
comando, podemos agir intempestivamente causando prejuízos, ou seja,
cada esquina levamos um grande susto com as situações novas sem saber
o que fazer, pois não temos domínio dela e das emoções que se
precipitam, e estas na maioria não conseguimos resolver e vamos sem
perceber escondendo-as no subconsciente.
Alguns filósofos existencialistas e materialistas afirmam que o
homem é um ente independente e que governa a si mesmo, ou seja,
retiraram o espírito e assim alteraram a natureza das coisas criada pelo
Gadu. Ao alterar esta condição se cria uma desordem (o cavalo mal
assume) e com o tempo tudo vai ficando insuportável e descartável, pois
pensamos apenas em quantidade, mais dinheiro, mais sensações,
procuramos desejos cada vez mais exóticos para atender as exigências
dos sentidos. O indivíduo passa a basear a felicidade apenas em objetos
224
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

materiais e sensações. E agora fica feliz só quando compra um celular


novo ou um carro do ano e assim chega a um ponto que objetos já não
atendem mais, porque quando ele adquire o objeto do desejo aparece seu
vizinho com um mais novo e melhor que o dele. Com isso a vida fica
vazia, pois aquele seu objeto já não serve mais, abrindo assim uma janela
para a depressão e as neuroses que juntando com as situações mal
resolvidas acumuladas no subconsciente, irão se abrir em momentos de
tensões nos colocando em situações embaraçosas.
Os indivíduos vão acumulando esta quantidade enorme de objetos
materiais e situações mal resolvidas, como um escultor sem habilidade
estivesse juntando, empilhando um monte de argila para esculpir uma
estátua. Assim ficam pesados, sem forma, carregando um fardo enorme
que os consome muita energia feito uma obra desordenada que não tem
fim, sem rumo e sem proposito. Na condição de maçom o indivíduo vê
que esta antiga lei do mundo profano já não faz mais sentido e começa
um processo continuo de observar, entender e utilizar de ferramentas
alegóricas e simbólicas para retirar, desbastar este excesso de asperezas,
esta "carapaça" ou pedra bruta a qual fomos aprisionados por vícios,
paixões e sensações legítimas profanas.
Como a religião não foi feita para santos, a maçonaria também
não, é uma busca pela santidade, pela redenção. Contudo, o indivíduo ao
ingressar ou iniciar nos mistérios maçônicos tem o privilégio que o
profano não tem, de ir um pouco mais além da religião, onde nos
manuais, nos símbolos, na ritualística, nas artes liberais e demais estudos
complementares, encontra mananciais riquíssimos que o ajudam a cavar
mais fundo no conhecimento passado rumo a esta busca. Assim tem a
oportunidade de aprender com nossos antecessores, como lidar melhor
com a estrutura da realidade não acumulando situações mal resolvidas,
não neurotiza, vai adquirindo sabedoria, “fica vacinado” contra os
modismos porque aprende com o Sócrates, com o Platão com os
escolásticos etc. Identifica logo onde estão os erros, como resolve-los e
sair destas armadilhas e obstáculos que o mundo contemporâneo nos
colocou. Com isso evita estresse, depressão e a neurotização, ou seja,
“vai à fonte beber agua limpa, sem a contaminação do percurso do rio”.
Ao longo de séculos ou talvez milênios, a sociedade em sua ânsia
de evolução se preocupou muito com a parte material e o ganho a
qualquer custo, criando assim mecanismos linguísticos, retóricos,
econômicos e politicamente corretos para atingir este fim, mas que
acabaram lhes afastando dos propósitos mais elevados, provocando uma
225
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

decadência moral e espiritual. Como explicar as crises politicas, morais e


sociais que vivemos hoje a não ser como decadência moral e espiritual?
Não resolveremos os problemas da pobreza só doando dinheiro e cesta
básica, precisamos ensinar as pessoas a cultivar o espirito como se cultiva
o campo, como dizia o filosofo romano Cicero, por isto se chama
cultura. Assim voltarão a compreender que roubar, matar, trapacear, é
errado e com isso buscarão melhores condições materiais por méritos
pessoais, não precisarão ser tutelados pelo estado, entenderão que ser
livres e de bons costumes trás o progresso material legitimo.
As ferramentas alegóricas, simbólicas e os conhecimentos
complementares aos quais o maçom é exposto funcionam como uma
espécie de mão invisível do habilidoso escultor. Irá medir com a régua o
tempo e as palavras, usará a força do maço para retirar os excessos e
melhorar as atitudes e o caráter com o cinzel, com isso devolve a beleza,
perfeição e o poder ao espírito. Se o Gadu é perfeito, precisamos nos
esforçar para nos aproximarmos da perfeição, libertar o homem bom
que o mundo profano aprisionou com os vícios e as paixões que
retiraram o espirito do poder. Como podemos conceber a hipótese de
voltar ao paraíso celeste e nos encontrarmos com o Gadu sendo
imperfeitos, sendo que a queda foi justamente em razão da soberba e
imperfeição?
Como o escultor exigente com todos os detalhes demora a chegar
a uma obra prima, também o homem de boa intenção no coração poderá
cometer pequenos erros em sua jornada e em sua obra, errando a mão
aqui ou ali, mas o Gadu irá perdoa-lo, assim faz seus ajustes, mas a obra
final sairá perfeita, porque agora o comando não é mais da matéria e sim
do espirito, e um espirito bem formado irá iluminar e comandará a
mente que dará forma á matéria para que sua obra final saia com
perfeição e beleza.
Roguemos ao Gadu que ilumine nossas mentes para que
tenhamos fé, esperança e que nossa jornada terrena possa ser de grande
sabedoria nesta busca. Que ela venha em conjunto da arte maçônica e
todas as crenças religiosas numa “agenda única” combatendo com
coragem o maior dos inimigos do homem, a criatura abominável que
vive aprisionada no fundo de nosso ser, o ego. Somente assim
poderemos ter a possibilidade de evoluirmos a um patamar espiritual
capaz de almejar nosso retorno merecido á casa do pai celestial, ou seja, a
nossa redenção, nosso retorno ao paraíso!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

THALES ALVES AGUIAR

Thales Alves Aguiar é Mestre Maçom. Jornalista, Escritor e


Administrador. Especialista em Gestão financeira, controladoria e
auditoria. Especialista em Gestão Pública e especialista em Maçonologia:
História e Filosofia. Membro e atual secretário da Augusta e Respeitável
Loja Simbólica Mestres do Vale. N.1.065 do Oriente de Governador
Valadares-MG e-mail: thalesbento@hotmail.com. Participou do Volume
II da Série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS


DA MAÇONARIA E SUA INFLUÊNCIA NA INSERÇÃO DO
PROTESTANTISMO NO BRASIL

Meus irmãos, o presente trabalho busca elucidar não a


historicidade dos fatos e acontecimentos que trouxeram a tona os
episódios e os eventos da influência da maçonaria na inserção do
protestantismo no Brasil que se condicionaram em pontos importantes
para a separação do estado e religião (laicismo) registrados nos anais do
antigo império colonial do país. Acredito que esse é um assunto já bem
explorado tanto pela ordem como também por historiadores que se
interessam por religião.
O objetivo desse trabalho é entender os motivos pelos quais a
maçonaria adotou e ainda adota determinadas ações e atitudes
controversas a questionamentos nos quais em determinados momentos,
muitos dizem ser a maçonaria uma religião ou até mesmo uma
associação sincretista. Uma visão popularmente equivocada diante de
todo um contexto nacional do qual a maçonaria pôde influenciar (na
Inconfidência Mineira, na Abolição, na Independência do Brasil, na
Proclamação da República, etc) e continua influenciando em toda orbe
terrestre. Uma instituição que sempre logrou êxito e progresso na
construção de um mundo melhor para todos. É perceptível que este é
um ponto de vista pessoal enquanto acadêmico e membro maçônico.
Busco então, assim como todos os outros irmãos, o lapidar da pedra
bruta. Entender os caminhos nos quais estamos passando, um processo
transcendental de uma consciência iluminada através do exercício
sapiencial do autoconhecimento.
Do ponto de vista enquanto instituição, a maçonaria nunca foi e
nunca será uma organização religiosa. Mesmo apresentando símbolos,
pensamento “religioso”, locais e rituais a seus membros, a maçonaria
como está bem descrito no site do Grande Oriente do Brasil: “...é uma
instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista”. Adiante a
essência filosófica: “ela trata da essência, propriedades e efeitos das causas
naturais. Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da
ética pura”. O filantropismo: “....suas arrecadações e seus recursos se destinam ao
bem-estar do gênero humano, sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça.
Procura conseguir a felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela
tranquilidade da consciência”. E fundamentalmente educativa e progressista,
“porque partindo do princípio da imortalidade e da crença em um princípio
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

criador regular e infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não


põe nenhum obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade, nem
reconhece outro limite nessa busca senão o da razão com base na ciência”.
Portanto, nesse aspecto, enquanto instituição universal, não se
permite admitir conotação religiosa em suas bases doutrinárias. Mas a
pergunta que vem a tona é a seguinte: “Por que a maçonaria apoiou e
patrocinou o movimento do protestantismo no Brasil?”. Esta é uma
pergunta de fácil entendimento que também tem uma resposta não tão
difícil assim. Vejamos a dissolução: “hegemonia do catolicismo, religião oficial do
país no período da monarquia, viam na implantação da República a possibilidade
concreta de liberdade religiosa e separação entre Igreja e Estado. Assim, durante
muito tempo, protestante e maçons foram aliados. Vários pastores protestantes e
membros de igrejas eram maçons”. Vale lembrar que nessa época estado e
religião se misturavam, seus membros religiosos eram guardas e
servidores do Estado. Por consequência disso, contrariar a única religião
instituída naquele tempo era também desrespeitar as leis do país. William
Buck Bagby foi missionário cristão pioneiro na implantação das missões
batistas no Brasil e um dos principais colaboradores na luta pela
liberdade religiosa em nosso país. A Igreja em Santa Bárbara que insistiu
e conseguiu que a “Junta de Richmond” nomeasse missionários para o
Brasil, estabelecendo-se, então, em Santa Bárbara, a “Missão Batista no
Brasil”. O primeiro missionário foi o Pastor Quillin, em 1878, com
sustento próprio. Seguiram-se, sustentados pela Junta, sendo todos
maçons: William Buck Bagby (1855-1939), em 1880; Zachary Clay Taylor
(1851-1919), em 1882; Edwin Herbert Soper (1859-1948), em 1885;
Edward Allen Puthuff (1850-1932), em 1885; e outros, sendo que Bagby,
Soper e Puthuff foram pastores da Igreja em Santa Bárbara, que tinha,
entre seus membros, um expressivo grupo de maçons.
Penso que de todas as más heranças deixadas pelos nossos
colonizadores portugueses, talvez a que mais tenha castigado a
população brasileira foi o modelo de sociedade patriarcal advinda do
monarquismo. Manteve o monopólio territorial e ao invés de romper
com o tradicionalismo, preservou as características portuguesas
conservadoristas quanto à forma de comando e autoridade. Durante
praticamente todo o século 19 o Brasil foi à única monarquia da América
Latina dividida em várias províncias. O Brasil foi também o único país a
manter o regime monárquico mesmo depois da tão sonhada e
proclamada república em 1889. Entendamos que a figura de um rei
simbolicamente é ainda hoje uma espécie de soberano, ele é considerado
229
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

reinante em sua dignidade e supremo em suas decisões. Atuando na


infalibilidade de um poder consagrado por “Deus” interferindo
diretamente na vida política e religiosa de toda uma população. Em face
da tardia e velha república, os seus herdeiros absolveram a personalidade
do monarquismo e a família patriarcal era, portanto, a linha direta de
uma sociedade que encarregava de praticar os deveres de reprodução,
controle financeiro, além de decisões micro e macro políticas. Nos
latifúndios, a prole patriarcal, planejavam os destinos de suas posses e
educavam-se para a perpetuação do modelo tradicionalista imperial.
Hoje, depois de mais de um século de muitos conflitos e de muita
influência sobre a república do Brasil, temos uma garantia de liberdade
de culto a religião e a livre manifestação cultural. A intolerância da
diversidade e da discriminação religiosa atualmente é crime como
preconiza a lei federal nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei
nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera crime a prática de
discriminação ou preconceito contra religiões. Promoção de incitações a
violência, como agressões, por motivos religiosos, estão previstos
no Código Penal brasileiro. Sobre o protestantismo, no momento
presente o que se vê são contrainformações de muitos de seus membros
e lideranças que desconhecem a verdadeira história dos reformadores
(pastores/presbíteros/diáconos, etc) do passado que também foram
maçons e autênticos heróis nacionalistas.
A atuação da maçonaria universal enquanto ação externa e
interna no qual podemos dizer, ser no campo “educacional”, tem a tal
influência em seus membros que se estabeleça uma questão importante
para a construção de pressupostos laicos, seculares e científicos no
desenvolvimento de políticas sociais, regulatórias e constitutivas. Esses
pressupostos se confrontaram e ainda confrontam diretamente em razão
de um mundo que se baseia em processos discriminatórios e ilusórios,
em fundamentos de organizações excludentes, que se respaldam em
parâmetros fora da lógica científica, afastado do campo dos estudos e da
investigação analítica, dos meios de observação e do experimento
necessário para fundamentar as bases sólidas de uma sociedade mais
equilibrada e fraterna. Questões essas que não estão conectadas e
dispostas a “tornar a humanidade feliz”. Termino minha reflexão com
esse belíssimo poema de Fernando Pessoa em homenagem ao espaço do
templo maçônico onde congregam todos os irmãos dessa grande ordem
Universal:

230
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Fernando Pessoa
Oscila o incensório antigo

Oscila o incensório antigo


Em fendas e ouro ornamental.
Sem atenção, absorto sigo
Os passos lentos do ritual.
Mas são os braços invisíveis
E são os cantos que não são
E os incensórios de outros níveis
Que vê e ouve o coração.
Ah, sempre que o ritual acerta
Seus passos e seus ritmos bem,
O ritual que não há desperta
E a alma é o que é, não o que tem.
Oscila o incensório visto,
Ouvidos cantos estão no ar,
Mas o ritual a que eu assisto
É um ritual de relembrar.
No grande Templo antenatal,
Antes de vida e alma e Deus...
E o xadrez do chão ritual
É o que é hoje a terra e os céus...
22-9-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de


Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

Referências Bibliográficas:
▪ HARISSON, Helena Bagby (2001). O Gigante que dorme. [S.l.]: UFMBB
▪ https://www.gob.org.br/o-que-e-maconaria/
▪ https://martinlutherking63.mvu.com.br/site/maconaria-e-os-batistas-no-
brasil/JfZt-1hMffRI-3/atr.aspx
▪ http://www.metodista.org.br/historia-da-maconaria
▪ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9459.htm
▪ https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/13644/1/ABS09102018.p
df
▪ http://static.sapucaia.ifsul.edu.br/professores/bianca/1%20ano%20SOCIOLOGI
A/A%20INSTITUI%C3%87%C3%83O%20RELIGIOSA%201p.pdf

231
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

THALES FERREIRA BIANCHINI

Thales Ferreira Bianchini é nascido em Sacramento-MG. Licenciado em


Letras (Português, Inglês e respectivas literaturas); Bacharel em Letras,
com ênfase em Tradutor e Intérprete de Língua Inglesa; Advogado;
Especialista em Direito Processual Civil e Especialista em Maçonologia:
História e Filosofia da Maçonaria. Iniciado na Loja Maçônica General
Sodré 41, Oriente de Sacramento-MG, filiada à GLMMG. É Mestre
Instalado e atualmente encontra-se no grau 9 do REAA, na Loja Vale
das Oliveiras.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

O PARADOXO DO NAVIO DE TESEU É METÁFORA


PARA A DICOTOMIA MAÇONARIA E RELIGIÃO

O presente texto tem por objetivo trazer a lume reflexões sobre a relação
entre Maçonaria e Religião, indicando aspectos que aproximem, que afastem e
que coexistam. Certo é que essa discussão é tão ampla quanto profunda e o que
se pretende aqui nada mais é indicar alguns poucos aspectos. Sabe-se de ritos
maçônicos mais ligados à religião e outros menos, porém ressalta-se que o Rito
Escocês Antigo e Aceito, praticado e ritualizado pela Grande Loja Maçônica de
Minas Gerais, é a bússola indicadora dessa apresentação. É, portanto, por esse
prisma que essa peça deve ser lida.
Antes de discorrer a respeito é preciso conceituar os elementos da
temática “Maçonaria e Religião”. Segundo uma definição dicionarizada,
Maçonaria é uma: “sociedade semi-secreta que pratica a fraternidade e a
filantropia entre seus membros.” (sic.) (HOUAISS, 2004). Essa definição é
bastante objetiva e auxilia no que tange à não propagação de misticismos.
É uma sociedade, pois é um agrupamento de pessoas, convivendo sobre
determinadas regras; de forma semissecreta, porque o conhecimento da
existência da entidade é público, porém seu funcionamento, seu regimento e
conhecimento é revelado somente a seus iniciados. Como os membros se tratam
por Irmãos, existe, por conseguinte, a prática da fraternidade e filantropia entre
si. No entanto, uma definição mais abrangente, vinda de um Maçom faz-se
necessária. Veja-se definição de Maçonaria dada pelo Irmão João Dias no
princípio de sua obra Aprendiz Maçom Pleno:
Não é fácil definir Maçonaria. Ela não é uma religião, nem uma
associação dogmática, muito menos uma teoria política. Também não é
uma corrente filosófica ou sistema individualista. Mas não exclui a
religião, a política ou a filosofia. Seu conceito fica como o de uma
sociedade que tem seu conceito próprio, baseado em símbolos, palavras
e alegorias, com finalidade educativa e filantrópica, destinada a reunir
homens de boa vontade que se proponham a debater e equacionar os
grandes problemas da humanidade, do seu tempo, de sua Pátria e de sua
comunidade, lutando pela realização das soluções. Cultua valores básicos
e imutáveis, como a existência de um Princípio Criador, a filosofia
liberal, o patriotismo, a liberdade de pensamento e a intangibilidade da
família. [...] (DIAS, 2016, p. 13.)

Bem mais completa e complexa, essa definição mostra aspectos que


poderiam ser dicotômicos, entretanto coexistem em dualidade não exclusora,
como: a universalidade e o patriotismo, o tradicionalismo e a evolução, o
respeito à autoridade e à lei e o exercício da liberdade são exemplos de
dualidades que se completam, entrelaçam e até fundem-se dentro da Ordem.
Outros aspectos são filosofia, educação, filantropia, política e religião, que,

233
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

mesmo a Maçonaria não sendo nenhuma dessas áreas per si, não deixa de ser
todas simultaneamente.
No sítio eletrônico do Grande Oriente do Brasil tem-se: “O que é a
Maçonaria? – A Maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica,
filantrópica, educativa e progressista.” Na página virtual da Grande Loja
Maçônica de Minas Gerais, há uma definição bem detalhada, que ocuparia aqui
mais de uma lauda ao ser reproduzida. Cita-se abaixo apenas o trecho inicial:
É uma fraternidade Universal, de cunho iniciático, cujos membros
congregam-se em locais denominados "Lojas Maçônicas", nas quais
buscam, através do trabalho, o crescimento do homem, para que ele
possa ajudar a Humanidade a ser mais Feliz, construindo uma sociedade
mais Justa e Igualitária. [...] A Maçonaria não é uma religião, mas exige de
seus membros a crença em um único princípio criador, regulador,
absoluto, supremo e infinito ao qual denomina Grande Arquiteto do
universo. (GRANDE LOJA MAÇÔNICA DE MINAS GERAIS)

Ressalte-se que, embora essa definição afirme não ser a Maçonaria uma
religião, exige dos seus membros a crença em um “princípio criador, regulador,
absoluto, supremo e infinito”; um ser superior aos homens que recebe a
denominação de Grande Arquiteto do Universo. Ainda recorrendo ao
dicionário, vejam-se transcritas as definições de religião e religiosidade:
religião [pl. –ões] s.f. 1. crença na existência de uma força ou de forças
sobrenaturais 2. conjunto de dogmas e práticas que ger. envolvem tal
crença 3. observação aos princípios religiosos; devoção (praticar a r.).
religiosidade s.f. 1. conjunto de valores éticos de certo teor religioso 2.
tendência ou fato de incorporar ensinamentos religiosos à forma de
pensar. (HOUAISS, 2004).

O dicionário evita a filosofia, mas mostra um ponto essencial que é a


crença em uma (ou mais) força sobrenatural, em outras palavras, a crença um
princípio ou ser superior, criador, que está além da capacidade humana. O
conjunto de valores éticos que pautam a vida das pessoas que creem nesse
princípio ou força sobrenatural é, sem dúvidas, algo que diferencia as pessoas
que assim agem, das demais que não creem. O comportamento social das
pessoas que agem pautadas na religiosidade é distinto daquelas a quem se pode
denominar ateias, ou seja, que não creem em nenhuma divindade.
Outra definição é trazida de um dicionário de termos, conceitos e ideias
sobre religião, a obra Religiões de Michel Reeber:
RELIGIÃO Vem do latim religare (“reunir”) ou religere (“religar”). Entende-se por religião seja
o conjunto dos fenômenos ligados ao sentimento religioso, seja um sistema de crenças em
poderes sobrenaturais, em divindades ou em um Deus pessoal, seja uma das tradições
instituídas em torno dessas crenças. A religião natural pretende alcançar o conhecimento de
Deus só por intermédio da razão (deísmo), sem recorrer a uma revelação. Encontra-se, em
todas as religiões, uma tradição herdada do carisma de um fundador, ele mesmo inspirado por

234
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

uma revelação de origem sobrenatural. As crenças e as práticas religiosas são a sua memória
viva. (REEBER, 2002, p. 216)

A definição de religião baseada na etimologia da palavra é bastante


utilizada e muito interessa a essa discussão. A religião tem um papel importante
na religação do ser humano com seu princípio divino, reunindo criatura e
criador. No conceito acima, vê-se novamente o elemento sobrenatural, que está
acima da condição humana. Pode-se perceber que, quando se pretender
entender a definição de religião, sempre haverá menção a um princípio superior
e sobrenatural, ou seja, a uma divindade.
Os primeiros aspectos que aproximam a Maçonaria de religião
encontram-se entre os vinte e cinco Landmarks colacionados pelo Irmão Albert
Gallatin Mackey, mais especificamente nos de números: 19 (que afirma a
obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto do Universo, sob pena de
indeferimento à iniciação); 20 (que exige a crença em uma vida futura, em uma
vida além-túmulo, proporcionada, obviamente, pela crença em uma divindade
que assim o permita) e 21 (que torna indispensável a existência sobre um Altar
de um “Livro da Lei”, o qual se supõe contenha a verdade revelada pelo Grande
Arquiteto do Universo).
Na apresentação da obra Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito da
Maçonaria, do Irmão Albert Pike, os editores expõem o seguinte: “Albert Pike
recompilou e estabeleceu as bases filosóficas, sociológicas, históricas, políticas,
simbólicas e religiosas de todo o Rito Escocês Antigo e Aceito em seu livro de
1871, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry.”
(PIKE, 2002, p. 4.) Segundo a nota de apresentação da obra, a Maçonaria,
expressa pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, tem bases religiosas que foram
identificadas e estabelecidas por Albert Pike. Mais adiante na mesma obra
encontra-se um trecho que ratifica isso.
Apesar de a Maçonaria nem usurpar o lugar nem imitar a religião, a
oração é parte essencial de nossas cerimônias. É a aspiração da alma em
direção à Inteligência Absoluta e Infinita, que é a Suprema Divindade
Única, mais delicada e equivocadamente caracterizada como um
“ARQUITETO”. Certas faculdades das pessoas são dirigidas para o
Desconhecido – pensamento, meditação, oração. [...] É um magnetismo
espiritual que assim conecta a alma humana das pessoas à Divindade. [...]
É um escárnio superficial dizer que a oração é absurda, porque não seria
possível para nós, por meio da oração, persuadir Deus a mudar Seus
planos. (PIKE, 2002, p. 32.)

Pelo trecho entende-se que a oração nas cerimônias maçônicas visa a


conectar o ser humano com sua divindade criadora. Esse entendimento apoia-se
perfeitamente na definição de religião baseada na etimologia da palavra. A
oração na atmosfera maçônica religa, reúne o Maçom ao Grande Arquiteto do
Universo, que arquitetou os mundos e a vida que sobre eles possa existir. Pike
considera que oração tem tamanha força a ponto de convencer a Divindade a
235
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

alterar Seus planos em relação aos homens. Inegável a constatação do caráter de


religião propriamente entendido como instituição na qual se reúne e se professa
a fé em um princípio supremo que governa e tem planos para a humanidade. O
Irmão Albert Pike discorre sobre o teor do Landmark 21:
O compromisso mais solene e mais compromissado do candidato
sempre deve ser tomado sobre o livro sagrado, ou sobre os livros
sagrados de sua religião, na qual ele crer; e é apenas por isso que
perguntaram a você qual era a sua religião. Não temos nenhuma outra
preocupação quanto a seu credo religioso. (PIKE, 2002, p. 17.)

Tem-se aí o entendimento de que, ao se prestar um juramento de solene


compromisso sobre o livro de moral religiosa, o candidato liga-se ao que
acredita ser o desejo moral do princípio divino em que crê. A ligação com a
Divindade impele o candidato a frustrar os desejos de descumprir o
compromisso feito. “Deus é o inominado que mais nomes possui” (ZANINI,
1988, p. 11), por isso cada crente o vê de um modo e presta seu compromisso
sobre o livro que julga trazer a verdade divina. Interessam a esse ponto de
proximidade as palavras de Frederico Macé: “Ser supremo em que se alicerçam
todas as religiões e cuja denominação varia em cada povo, seita e instituição. A
Maçonaria o designa sob o sugestivo título de ‘O Grande Arquiteto do
Universo’, ‘o Grande Geômetra’ e ‘O Altíssimo’”. (Sic.) (MACÉ, 1998, p. 29.)
Há nesse trecho uma explícita comparação da Maçonaria com a religião ao se
afirmar que o “Ser Supremo” alicerça “todas as religiões” e na sequência expor o
“sugestivo título” com o qual a Maçonaria o nomeia.
Existem ainda muitos outros aspectos que levam a Ordem a se equiparar
a uma religião, como: a oração proferida pelo Venerável Mestre na abertura dos
trabalhos; a oração conduzida pelo Segundo Vigilante durante a cerimônia de
Iniciação, a representação do Grande Arquiteto do Universo ou de Sua Luz no
Delta e na Estrela; a apropriação de um Santo católico (ou mais de um, como
alguns estudiosos defendem) como patrono; os aspectos cabalísticos estudados
nas Instruções.
Ao lado dos Landmarks do Irmão Mackey, a Constituição de Anderson é
um dos textos basilares com princípios norteadores da Maçonaria. O Irmão
James Anderson reformulou as antigas Constituições Góticas e a Maçonaria
assim conhece e vive sob a égide dessas obrigações legais desde 1721.
O art. 1º tem o seguinte título: “O que se refere a Deus e à Religião”.
Logo de início traz que o Maçom tem obrigação vocacional de praticar a moral
e, compreendendo seus deveres, nunca se converterá em “um estúpido ateu,
nem em irreligioso libertino”. Relata ainda que na antiguidade os Maçons eram
obrigados a praticar a religião observada no país em que habitavam e que não
era mais conveniente fazer tal imposição, tendo o Maçom completa liberdade
para suas opiniões particulares.

236
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Seguindo esse novo entendimento, a Maçonaria não teria ligação com


uma religião, no sentido de instituição religiosa, tornando-se um centro de
unidade capaz de estabelecer relações amistosas entre os membros, que, se não
fosse pela Ordem, não se veriam unidos. De maneira simplificada, esse primeiro
artigo da Constituição de Anderson reforça a distinção entre Maçonaria e
religião, sem desincumbir o Maçom da prática da moral. Seguindo esse
pensamento, Immanuel Kant demonstra em sua obra A Religião nos Limites da
Simples Razão, que o princípio moral independe de demonstração, inclusive
religiosa:
Há um princípio moral que não tem necessidade de nenhuma
demonstração, ou seja, “Não se deve ousar nada que possa ser injusto
(Quod dubitas, ne feceris! – Plínio). Saber, portanto, que uma ação que quero
empreender é justa, esse é um dever incondicional. É o entendimento
que julga se, de uma maneira geral, uma ação é justa ou injusta, não a
consciência. (KANT, 2008, p. 215)

Não se impõe, por religião ou outro meio, o entendimento de que uma


ação seja ou não justa, moral, benéfica; isso ocorre pelo próprio entendimento
do indivíduo. Mesmo respeitando a religião, Kant demonstra que razão não
depende nem se regula pelas coisas, mas o contrário dessa ideia; portanto, não é
o sentimento religioso que leva, por exemplo, à prática da moral, e sim a razão.
Há ainda as palavras do Irmão Jorge Buarque de Lira:
[...] a Ord.ˑ. não é religião e que nem tãopouco apresenta “um Evangelho
diferente”. O fato de ela apresentar alguns princípios evangélicos – como
sejam: a moral, a virtude, o bem, a igualdade, a liberdade, a fraternidade,
a tolerância, o dever, o direito, a razão, a justiça – e invocar o nome de
Deus será acaso apresentar “um Evangelho diferente” outro Salvador ou
salvadores e outra doutrina para a expiação do pecado. (Sic.) (LIRA,
1949, p. 152).

Jorge de Lira não nega os elementos basilares da religião evangélica


dentro da Ordem Maçônica, porém não considera que a presença dos mesmos
torna a Maçonaria uma religião por se prestar de tais princípios. Fosse isso, seria
a Ordem a pregadora de um novo evangelho.
No curso de suas viagens, a madeira se rompia ou apodrecia, e tinha que ser
substituída. Quando Teseu voltou para casa, o navio que atracou no porto não
tinha mais nenhuma peça do navio que tinha, um dia, saído dali. Mesmo
assim, a tripulação não duvidava de que se tratava da mesma embarcação. (A
MENTE É MARAVILHOSA.)

A citação acima refere-se ao chamado “paradoxo do navio de Teseu”, o


qual trata da questão da identidade e sua reflexão filosófica pode alcançar a
Maçonaria, de forma metafórica. Tirando-se o aspecto religioso da Maçonaria e

237
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

o substituindo por outro qualquer (filosófico, racional, geométrico, cabalístico),


ainda assim será Maçonaria. Após um vislumbre sobre as proximidades e
distanciamentos entre Maçonaria e Religião, importa trazer as palavras do Irmão
Maçom Johann Gottlieb Fichte, em um interessante capítulo da obra Filosofia da
Maçonaria, cujo título: “Pode valer a Maçonaria com fim a si mesma?”, já vale
como reflexão:
Chegaste a essa ideia, como tu mesmo o percebes, comparando a
Maçonaria à religião. Pode-se perguntar qual a finalidade da Igreja. Será a
propagação da religião? Sem dúvida, trata-se exatamente disso [...] Do
mesmo modo, a ORDEM dos maçons livres existe para manter, para
conservar a MAÇONARIA. Também ela não é destinada a servir a
qualquer outro fim. Vale em si e para si, e não como meio para qualquer
finalidade. A que mais deve ainda aspirar? Aquilo que ela opera e pode
operar, aquilo que ela criou nesse maçom e também em outros deve
criar, tudo isso deve saber o verdadeiro maçom: e isso é a Maçonaria.
(FICHTE, 1984, p. 73.)

De maneira direta, Fichte diz claramente que a Maçonaria não se presta à


religião. Sua finalidade está em si mesma – que pode ser a instrução, a
moralidade, a espiritualidade, a fraternidade, a beneficência, o convívio social –,
contudo não o de pregar a religião, já que essa é a finalidade da Igreja. Recorre-
se mais uma vez ao Irmão Albert Pike:
A melhor dádiva que podemos legar às pessoas é humanismo. É o que a
Maçonaria recebeu de Deus como obrigação de entregar às pessoas: não
sectarismo ou dogma religioso; não uma moralidade rudimentar que
possa ser encontrada nos escritos de Confúcio, Zoroastro, Sêneca e dos
Rabinos, nos Provérbios e em Eclesiastes; mas humanismo, ciência e
filosofia. (PIKE, 2002, p. 25)

No mesmo sentido de Fichte, Pike ressalta o distanciamento da


Maçonaria com o dogmatismo da religião. A união entre o humanismo, a ciência
e a filosofia são nortes da Ordem Maçônica; é uma obrigação divina para com a
humanidade e o desenvolvimento humano. A Maçonaria não é dogmática, como
religião, entretanto liga novamente o indivíduo a seu Princípio Criador; um Ser
Superior que arquitetou desde a biologia humana ao todo universal.
A Maçonaria não evangeliza e faz oração, exortação, saudação. Usa
como Livro da Lei, o livro da religião do candidato e também ensina filosofia.
Paradoxalmente é humana e espiritual. O paradoxo do navio de Teseu é se ele
continua sendo o próprio navio, se mantém sua identidade mesmo com peças
diferentes; o paradoxo da Maçonaria é que mesmo não sendo, ela é e mesmo
sendo, ela não é religião.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

TIAGO RAFAEL DOS SANTOS ALVES

Tiago Rafael dos Santos Alves. Professor, Historiador e Gestor


Ambiental. Membro Correspondente da Academia Caratinguense de
Letras – ACL. Membro Correspondente da Academia Maçônica de
Letras de Juiz de Fora – AMLJF. Membro Correspondente da Augusta e
Respeitável Loja Simbólica Virtual “Lux in Tenebris” – Nº 47 –
GLOMARON. Membro Correspondente Fundador da Augusta e
Respeitável Loja Simbólica Virtual “Luz e Conhecimento” – Nº 103 –
GLEPA. Mestre Instalado e Membro da Augusta e Respeitável Loja
Simbólica “Estrela Adamantina” - Nº 1340 - GOB/GOBSP – CIM -
263695. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

239
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE MAÇONARIA E RELIGIÃO

Ao longo da história a relação Maçonaria x Religião sempre foi


alvo de inúmeros textos e estudos. No entanto, até hoje esta situação
ainda é bem controversa e continua gerando inúmeras polêmicas e em
alguns casos situações bem desagradáveis aos seus membros e familiares,
como já aconteceu comigo.
Como já destacado em seus sites e documentos oficiais, a
Maçonaria não é uma Religião e nem pretende ser uma. Mas, nestas
singelas linhas, pretendo expor o que a própria Ordem diz sobre isso.
Assim, inicialmente transcrevo os dizeres disponíveis no site do Grande
Oriente do Brasil (GOB):

A Maçonaria não é uma religião. É uma sociedade que


tem por objetivo unir os homens entre si. União recíproca,
no sentido mais amplo e elevado do termo. E nesse seu
esforço de união dos homens, admite em seu seio
pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma
distinção. (Negrito nosso)

Deste modo, também é importante salientar que para ser Maçom,


não há a necessidade de se renunciar a religião que se pertence. Ou seja,
ela aceita pessoas de todos os credos religiosos, assim como mencionado
na referida página:

[...] a Maçonaria abriga em seu seio homens de


qualquer religião, desde que acreditem em um só Criador,
o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, que é
Deus. Geralmente existe essa crença entre os católicos, mas
ilustres prelados têm pertencido à Ordem Maçônica; entre
outros, o Cura Hidalgo, Paladino da Liberdade Mexicana; o
Padre Calvo, fundador da Maçonaria na América Central; o
Arcebispo da Venezuela, Don Ramon Ignácio Mendez;
Padre Diogo Antonio Feijó; Cônegos Luiz Vieira, José da
Silva de Oliveira Rolin, da Inconfidência Mineira, Frei
Miguelino, Frei Caneca e muitos outros.

Assim, é interessante notar que mesmo com tais informações


“públicas” e disponíveis “para todos”, ainda temos muita desinformação
240
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

quanto a isso. Teorias e mais teorias de conspiração surgem a todo


momento em sites, livros e afins, desde a menos a mais absurda possível.
Basta conferir!

Por outro lado, é importante salientar que, acerca do “Criador”


mencionado acima como “Grande Arquiteto do Universo”, também
denominado por meio da abreviação “GADU”, que em nada se relaciona
a um “Deus” específico dos maçons, mas apenas a uma “denominação
comum” para as divindades relativas a cada religião adotada pelos
diversos maçons de cada loja e/ou potência.
Ou seja, o que quero dizer é que, independentemente da religião
que a pessoa adote, seja ela cristã, umbandista, candomblecista, hinduísta,
budista ou outra qualquer, na Maçonaria nos referiremos à divindade
como, Grande Arquiteto do Universo. Apenas isso!
Nesse sentido, tal condição também gera outras inúmeras
confusões, pois a Maçonaria não é uma religião, mas é religiosa. É
comum perceber inúmeros símbolos, alegorias e menções a esta ou
aquela religião em uma simples reunião, no entanto são apenas parte de
toda a sua simbologia ritualística. Sobre isso, relata o Grande Oriente do
Brasil (GOB) em seu site:

[...] é religiosa, porque reconhece a existência de um


único princípio criador, regulador, absoluto, supremo
e infinito ao qual se dá, o nome de GRANDE
ARQUITETO DO UNIVERSO, porque é uma entidade
espiritualista em contraposição ao predomínio do
materialismo. Estes fatores que são essenciais e
indispensáveis para a interpretação verdadeiramente
religiosa e lógica do UNIVERSO, formam a base de
sustentação e as grandes diretrizes de toda ideologia e
atividade maçônicas.

Por fim, conforme o que fora exposto, aqui cabem,


resumidamente, algumas considerações: A Maçonaria não é uma religião,
mas se considera religiosa, pois reconhece um princípio criador, ao qual
denomina de Grande Arquiteto do Universo, também chamado de
GADU. Este princípio criador se refere às divindades adotadas por cada
um de seus membros, conforme a sua religião adotada. Pessoas das mais
diferentes religiões podem integrá-la, desde que professem a crença em
241
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

um princípio criador. A Maçonaria traz em seus templos e rituais


inúmeras simbologias religiosas, que integram a sua vasta ritualística, mas
que em nada “zomba ou menospreza” desta ou daquela religião.
Ah... Mas caso tenha visto algo neste ou naquele site e/ou livro,
nesta ou naquela fala de determinados líderes religiosos
fundamentalistas... Desconfie! Pergunte! Pesquise! É sempre melhor
entender a discriminar!

242
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

VALTER CARDOSO JUNIOR

Mestre Maçom, Grau 24, Valter Cardoso Júnior, nascido em


Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina, em 05.03.1947,
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) em 1971, Bacharel em Ciências da Religião e Licenciado
Pleno em Ensino Religioso, pelo Centro Universitário Municipal de São
José/SC (USJ) em 2012, Cursos de Extensão: “Universidade para a
Maturidade” na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de
Santa Catarina (UDESC) em 2003 e “A Universidade Aberta a
Maturidade” na Faculdade Estácio de Sá em São José (SC) em 2005 e
Especialista em Maçonologia, curso de Pós-graduação pelo Centro
Universitário Internacional (UNINTER)/ Faculdade Acácia / Curitiba-
PR. em 2019. Participou do Volume II da Série Maçons em Reflexão.

243
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇÔNARIA E RELIGIÃO

A humanidade, ao longo do tempo, tem buscado encontrar


respostas para suas mais antigas questões quais sejam, por que nascemos,
vivemos e um dia temos que partir para o Oriente Eterno.
Entender nosso passado remoto e quem são nossos primeiros
antepassados tornou-se necessário para que saibamos quais as originais
preocupações do ser humano, suas visões iniciais de vida e de mundo e o
que seria aquela força divina que, desde cedo, nos oferecia a natureza
perfeita, o ar que respiramos, nossa alimentação e o aquecimento de
nossos corpos pelos raios do SOL e a luz da LUA, fatores necessários ao
nosso caminhar.
Quando iniciei minha vida maçônica e recebi a Luz que me abriu
novos caminhos para o entendimento das orientações basilares de minha
visão evolutiva espiritual, naquele momento já ouvi uma leitura feita pelo
Venerável Mestre (Ritual do Aprendiz) – página 115 que diz:

Esta crença (em um ser supremo), que honra e enobrece o


vosso coração, não é exclusivo patrimônio do filósofo;
também o é do selvagem. – Desde que o selvagem percebe
que não existe por si mesmo, interroga a Natureza e faz
render tosco, mas sincero culto a um Ente Supremo, que é
o Criador do Mundo.

Assim a Maçonaria, desde cedo, nos mostra que não é uma


religião, mas tem a crença na força suprema denominada Grande
Arquiteto do Universo.
O foco central de nossa Instituição é o homem e sua evolução
alicerçada na busca constante pela Verdade e, não sendo uma religião,
mesmo assim possui sua religiosidade, esta mesma força que existe de
forma intrínseca em cada ser desde a criação e nos oferece mecanismos
que nos possibilitam seguir sempre em frente com Liberdade com
Igualdade e com Fraternidade.
Estaríamos enganando a nós mesmos se afirmássemos não haver,
desde cedo, no pensamento do ser humano, à certeza da existência de
uma força maior, que nos criou e nos orienta sempre. Por isso a
Maçonaria nos ensina que precisamos estudar e estudar continuamente,
como o caminho mais curto para alcançarmos nossos objetivos.

244
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Como deixou dito o grande historiador Dan Brown, não maçom:


“Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é
como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros”.
A cada novo degrau conquistado na Escada de Jacó, novos
aprendizados absorvemos e assim, como aprendiz evoluímos
moralmente, como companheiro evoluímos intelectualmente e alcançado
o Mestrado, temos nossa evolução espiritual, caracterizando que a
Maçonaria não tem como meta primeira mudar o mundo e sim mudar o
homem, centro de seus objetivos, pois assim fazendo, estará auxiliando
na mudança do Mundo.
Nós maçons somos conscientes de que vivemos em um mundo
DUAL, onde o Grande Arquiteto do Universo nos possibilita a liberdade
do pensar e do escolher entre os caminhos do bem e do mal e de que o
nível de consciência é que determina nossas escolhas, por isso
precisamos estudar e estudar sempre.
Acreditamos que somente o Grande Arquiteto do Universo é
UNO, portanto, também a sua verdade é única e dessa forma
percebemos que buscar essa verdade tão importante é fazer uma
introspecção para sentirmos que é dentro de cada um de nós que surgem
as melhores oportunidades de alcançarmos este caminho do meio, que
nos levará ao encontro tão sonhado.
A maçonaria não é uma religião, mas reafirmamos que ela tem a
religiosidade sempre viva em sua filosofia, tornando-se o óleo que
lubrifica constantemente nossas engrenagens na busca das razões de
nossa existência, focando e respeitando sempre as responsabilidades fora
no mundo profano e, seguramente, alimentando o templo interior
individual e sagrado.
Existem várias religiões, todas com data de fundação determinada
e são inspiradas pelas histórias de cada povo, por suas artes, suas
políticas e filosofias, criando suas próprias identidades e, com certeza, se
todas tivessem respeitado suas próprias limitações, se tivessem parado
em tempo hábil para o que chamo de break para reequilíbrio de ideias,
teriam entendido a mais tempo que a Verdade não é propriedade de
ninguém, é sim a natureza de toda criação divina do Grande Arquiteto
do Universo.
Como deixou dito o Grande Antropólogo Georg Simell: “A
religião não cria a Religiosidade, é a religiosidade que engendra a
Religião”, assim, filosoficamente, nós maçons entendemos a religiosidade
como um fenômeno que nos acompanha desde o princípio e que habita
245
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

nas profundezas de nossas almas e a religião, por sua vez, foi criação do
homem buscando encontrar mecanismos de evitar o caos ou como
dizemos, modernamente, a crise existencial.
Apesar de ser atribuída a história maçônica, uma data de
nascimento no ano de 1.717, acreditamos que exista a bem mais tempo,
nos aperfeiçoando e bebendo de todas as culturas e pensamentos
existentes, reaprendendo e reinventando conhecimentos relativos à
existência humana, o que nos permitiu alicerçar nossa força
vanguardeira.
O grande professor e, estudioso cientista da Religião, Mircea
Eliade, deixou dito que: “[...] o Sagrado passou a ser conhecido pelo
homem desde o momento em que ele, sentiu a sua manifestação,
absolutamente, diferente do profano [...]”, o que me permite fortalecer
esta visão de que a Religiosidade está internalizada dentro de cada um de
nós desde nossos primeiros momentos.
Como maçons, ouvimos tal diferença ao prestar atenção em nossa
voz interior, que ecoa de nosso Templo individual, o local de encontro
conosco mesmo e onde formatamos o ponto de equilíbrio entre as
energias da terra e dos céus e que alguns chamam de energia vital.
Nossa Maçonaria não é uma religião, mas não podemos negar que
ela está impregnada de Religiosidade, que como citei, se encontra na
natureza humana desde sempre ou pelo menos como afirmou Mircea
Eliade: [...] “Religiosidade ao que tudo indica (a posteriori) está
empiricamente presente pelo menos desde o Neandertal, bem antes do
Neolítico (40.000 anos A.C.)”.
Não temos como negar a história, quando tomamos
conhecimento de que nossos primeiros irmãos fremaçons conviveram,
diretamente, com os membros da Igreja Católica, á época grande
detentora do poderio econômico e dessa forma tornou-se a principal
empregadora de mão de obra daqueles irmãos.
Portanto, a aproximação com a Igreja Católica era necessária para
que fosse facilitada sua busca por trabalho e renda, para seu sustento e
de suas famílias, todavia, isso não os impediu nunca de viajar por um
universo, onde Religiosidade era marca para um projeto maior do que
aquele que a Igreja lhes oferecia.
Maçonaria não é uma religião, é uma sociedade que busca unir os
homens sustentados pelo respeito mútuo, que permite a cada um
professar sua religião, de maneira livre, fomentando, constantemente,
Egrégoras de muito amor e união.
246
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Buscamos construir sempre uma base sólida que permita a junção


de todas as consciências religiosas ou não, na constante investigação da
Verdade, utilizando a moral e os bons costumes, praticando as grandes
virtudes, de amor ao próximo, respeito as diferenças, e tantas outras.
A religião estabelece a possibilidade de uma conexão entre o ser
humano e o Grande Arquiteto do Universo, em um sentido mais
transcendental, que acaba como amenizador do sofrimento e das suas
necessidades, já nossa Maçonaria estabelece essa relação, por meio da
conexão do homem com o universo e da continua viagem em busca do
conhecimento e da Verdade.
A cada momento nos é oferecido a liberdade de professarmos
qualquer religião, desde que, tenhamos consciência de tirar o véu das
letras de cada livro sagrado, pois todos tem as suas próprias verdades, o
que significa dizer que ninguém é dono da Grande Verdade.
Não somos uma religião e prova clara existente é que quando nos
encontramos em nosso Templo Sagrado, reunidos com nossos irmãos
das mais diversas religiões, formatamos nossa Egrégora maçônica,
fortalecendo o ambiente por momentos singulares justos e perfeitos, sem
que ninguém perca o direito individual de suas escolhas.
Infelizmente, a religião sempre acaba gerando a separatividade,
advindo daí os sentimentos ruins, a competição e a discórdia entre
irmãos. Já a religiosidade promove a diversidade e a união lembrando
sempre que não somos uma religião e, nem nos propomos a substituir
uma delas, não somos catequéticos e, aceitamos um ser superior criador
e orientador, mantendo nossa fé raciocinada, permitindo-nos estar em
união com irmãos de todas as religiões, igrejas e seitas e o grande
entendimento em uma força Divina Criadora e na prevalência do espirito
sobre a matéria.
A religião nos obriga a seguir ideologias e regras, punindo-nos
caso assim não agirmos, já na religiosidade, aprendemos a valorizar
exatamente o caminho entre a busca e o encontro, quando deixamos
fluir de dentro para fora de nós mesmos as energias intrínsecas que nos
fortalece, destarte, me aproprio de um fragmento do documento
aprovado pela Grande Loja Unida da Inglaterra, datado de 21 de junho
de 1985, para reforçar esta certeza:

A Maçonaria sem interferir nas práticas religiosas, espera


que seus adeptos sigam a sua própria fé e que ponham seus
próprios deveres para com DEUS (em todos os nomes
247
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

mediante os quais Deus é conhecido), acima dos demais.


Os ensinamentos morais da maçonaria são aceitos por
todas as religiões.

Precisamos evoluir e aprender a equilibrar nossos corpos físico,


mental e espiritual, para atingir nossa tão necessária reforma íntima, para
como homens de bem e de bons costumes, burilarmos continuadamente
nossa Pedra Bruta utilizando as investigações feitas pela Maçonaria ao
longo dos tempos em todas as áreas do conhecimento do que é justo e
perfeito. Para corroborar esse movimento, encontrei este fragmento em
um blog chamado “Vamos falar de história” que diz o seguinte:

[...] Por possuir um conhecimento eclético, a Maçonaria


busca nas mais diversas vertentes suas verdades e
experiências, dando um caráter universal a sua doutrina. [...]
A Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação
da Verdade, e é para garantir a todos essa liberdade que ela
de todos exige tolerância; a Maçonaria é, portanto, acessível
aos homens de todas as raças e de todas as crenças
religiosas e políticas [...].

Não ser uma religião, facilitou a Maçonaria a nunca adotar


qualquer prática contrária a qualquer religião, estabelecendo sempre
liberdade para que possamos escolher nossos valores e crenças, nunca
tomando partido em defesa de qualquer uma delas mas, permitindo de
forma igualitária que todos nós IIr∴ Maçons tenhamos o direito da livre
manifestação, sustentando sua base na Igualdade com Liberdade e
Fraternidade sempre.
O grande Albert Einstein deixou dito em determinado momento
de sua vida que: “Todas as religiões, todas as artes e todas as ciências são
ramos de uma mesma árvore e, todas essas inspirações visam ao
enobrecimento da vida humana, elevando-a acima da esfera da existência
puramente material e conduzindo o indivíduo para a liberdade”, isso me
faz entender que nossa Maçonaria reforça de forma continuada a
necessidade que temos em buscar o crescimento espiritual com esta
Religiosidade, que é parte intrínseca ao ser humano e que encontramos
ao nos aproximarmos de forma harmônica do Grande Arquiteto do
Universo.

248
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Finalmente reafirmo Maçonaria não é uma religião e como deixou


dito nosso grande Pensador e Escritor Ir∴ Newton Agrella, membro de
nossa Confraria Maçons em Reflexão:

A Maçonaria garante e estimula o Obreiro a agir na


liberdade plena de sua consciência para o aperfeiçoamento
de sua construção interior. O livre arbítrio das crenças, das
ideias políticas e do próprio bem estar, é algo subjetivo e
que deve ser respeitado em qualquer circunstância.
(NEWTON AGRELLA).

249
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

VICTOR PESSAMIGLIO

Victor Rocha Pessamiglio é Mestre Maçom da ARLS Cruz da Distinção


Maçônica Caridade e Firmeza, n°0518, Rito Moderno, filiada ao GOB-
MG, Federado ao GOB. Atual Segundo Vigilante da Loja. Pós
Graduado em Maçonologia: História e Filosofia, pela Uniacácia. Sênior
Demolay do Capítulo Juiz de Fora, ex Mestre Conselheiro Estadual de
Minas Gerais. Natural de Juiz de Fora, MG, casado e Corretor de
Imóveis. Graduado em Administração, com MBA em Gestão Estratégica
de Pessoas.

250
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

RITO MODERNO E O EFETIVO RESPEITO ÀS RELIGIÕES

Pejorativamente chamado de Rito Ateu por alguns irmãos que não


o conhecem, o Rito Moderno, também chamado de Rito Francês,
apresenta um efetivo respeito à liberdade religiosa de seus praticantes.
Primeiro, é importante explicar que o correto é chamá-lo de Rito
Moderno, pois existem outros Ritos Franceses, com pequenas diferenças
ritualísticas/filosóficas. O Rito Francês conhecido no mundo e no Brasil,
utilizado por grande parte das obediências brasileiras, é o Rito da
Reforma de Amiable, de 1887, que foi chamado de Rito Moderno.
Mas afinal, o Rito Moderno é ateu? Antes de responder essa
pergunta, vamos analisar alguns conceitos inerentes aos ritos e suas
relações com Deus. Os Ritos Maçônicos dividem-se em Teístas e
Deístas.
Teísmo é um conceito que consiste, em resumo, na crença em um
Deus Criador e Revelado, que não só criou tudo, como também
continua agindo na vida das pessoas. No caso da Maçonaria, os Ritos
Teístas apresentam GADU como esse Deus, prestando reverência a ele e
possuem em suas cerimônias orações e evocações em seu nome. Temos
como exemplo os ritos: Adonhiramita, Escocês Retificado e o Brasileiro.
Já o Deísmo é um conceito que, também em resumo, crê num
Principio Criador e num universo regido por leis fixas e racionais, mas
não aborda a questão da interferência de Deus na vida das pessoas. No
caso da Maçonaria, os Ritos Deístas apresentam GADU como esse
Princípio Criador, seus rituais têm referências a ele, no entanto, orações e
evocações são menos comuns. Temos como exemplo os seguintes ritos:
York, Emulação e Schroeder.
Alguns autores apontam que o Rito Escocês Antigo e Aceito
original é Deísta, porém, quando foi inserido no Brasil, sofreu um
processo de mudança ao se “misturar” com os maçons brasileiros, que
possuem tendência mais Católica/Teísta, e acabou tornando-se Teísta.
Ressalto que as citações se referem aos ritos praticados no Brasil,
pois existem diversas variações desses ritos pelo mundo, assim como
diferenças de nomenclaturas, mas não entraremos nesse assunto.
Esclareço também que os conceitos de Teísmo e Deísmo são complexos
pois possuem variações e subdivisões, mas também não entraremos
nesse mérito no presente texto. O que nos importa é a ideia geral destes
conceitos.

251
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

O Rito Moderno não se encaixa em nenhuma dessas definições,


pois não apresenta em sua filosofia ou em suas cerimônias nenhuma
referência à Deus, ao Grande Arquiteto do Universo ou algum termo
similar, seja apenas como Princípio Criador, ou como um Deus Revelado
e que possa vir a interferir da vida das pessoas. A palavra GADU não é
mencionada nenhuma vez durante nenhuma cerimônia. Por este motivo,
foi chamado por alguns irmãos de Rito Ateu ou Rito Agnóstico. Mas
afinal, o Rito Moderno é Ateu ou Agnóstico?
Ateísmo é um termo que significa negação (prefixo a) à existência
de Deus (teísmo). Baseando-se na dificuldade, ou impossibilidade, em se
provar a existência de Deus, ou algo semelhante a este, o ateísmo conclui
que Deus não existe. No caso da Maçonaria, se o Rito Moderno fosse
ateu, ele concluiria que o Grande Arquiteto do Universo não existe.
Já o agnosticismo é um termo, em resumo, utilizado para
descrever um padrão de se duvidar de determinado fato a menos que o
mesmo seja provado. No caso da relação do Rito com Deus, caso o Rito
Moderno fosse Agnóstico, implicaria no fato de que ele não admitiria
que Deus exista pelo fato de não se poder provar sua existência sob uma
ótica científica. Por outro lado, utilizando o mesmo princípio, não se
poderia também provar que Deus não exista, logo, caso o Rito Moderno
fosse Agnóstico, ele não admitiria a existência, nem a não existência, do
Grande Arquiteto do Universo.
Então o Rito Moderno é Ateu ou Agnóstico?
Para entender essa resposta, devemos voltar à França do final do
século XIX. Nesse período, existiam muitos debates acerca de Deus e
das religiões dentro da maçonaria. Correntes Teístas, Deístas, Anglicanas,
Católicas, Calvinistas e Luteranas disputavam espaço dentro da ordem.
Não somente dentro da maçonaria, mas também dentro dos países. Os
ideais iluministas defendiam, dentre outras coisas, a separação entre o
estado e as religiões, de forma que reinasse o absoluto respeito religioso
e liberdade de crença entre a população, tudo garantido pelo estado. Mas
para isso, o estado não deveria estar ligado a nenhuma doutrina ou
religião específica, ou seja, o estado deveria ser Laico. Utilizando a
mesma lógica, o Grande Oriente de França, também inspirado nos ideais
iluministas, entendeu que a maçonaria também deveria ser laica, nem
Católica nem Anglicana, nem Teísta nem Deísta, nem Ateia nem
Agnóstica, deixando essa escolha por conta de seus membros. Foi neste
contexto, em 1877, que o Grande Oriente de França promoveu uma

252
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

reforma nos seus rituais, chamada de Reforma de Amiable, criando o


Rito Moderno como conhecemos hoje.
Logo, concluímos que por óbvio, a reforma de Amiable evitou
que o Rito Moderno fosse Teísta ou Deísta, mas para isto, ela não o
transformou em Agnóstico ou Ateu, ela simplesmente preferiu não
abordar este tema dentro da maçonaria, adotando uma PRUDENTE
NEUTRALIDADE, transformando-o em um Rito Laico.
O Rito Moderno buscou suprimir toda e qualquer menção ao
Cristianismo de seus rituais. Mais uma vez, o Rito não é contra o
Cristianismo, no entanto, ele entende que a maçonaria foi criada em um
contexto cristão, por cristãos, e acabou absorvendo várias referências
cristãs em suas cerimônias, como as lendas bíblicas, as leituras dos
salmos, o uso da bíblia como Livro da Lei e até mesmo o próprio
conceito básico de GADU, que num primeiro momento representa o
Deus de qualquer religião, mas acaba se assemelhando muito ao conceito
do Deus Cristão.
Será que um não cristão se sentiria completamente à vontade
numa cerimônia do Rito Escocês Antigo e Aceito? Apesar de ele poder
solicitar que a loja providencie seu livro sagrado para prestar juramentos,
o Livro da Lei “oficial” do rito praticado no Brasil é a Bíblia. Durante a
abertura dos trabalhos, a bíblia é aberta. Durante a abertura dos
trabalhos, é lido um salmo bíblico. Toda ritualística e simbologia
possuem referências bíblicas. Um cristão pode até não ver problema
nisso, pelo contrário, enxerga essas questões como um complemento da
sua fé, mas por outro lado, um não cristão certamente não se sentiria à
vontade. Será que um não Teísta e cético com assuntos místicos se
sentiria à vontade numa sessão Adonhiramita? As orações e uso de
incenso não lhe seria natural, certamente.
O Rito Moderno substituiu o livro da Lei, no lugar da bíblia que
representava a Lei de Deus, passou a ser usado o livro da Constituição
do país, simbolizando a Lei dos Homens. Também pode ser usado a
constituição da potência, Constituições de Anderson ou qualquer outro
livro semelhante. Desta forma, o Livro da Lei de Deus passa a ser
substituído pelo Livro da Lei dos Homens, reforçando o caráter laico da
maçonaria praticada no Rito.
O Rito Moderno também tirou todas as orações e evocações de
seus rituais. Tirou grande parte do simbolismo bíblico e as referências ao
GADU.

253
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Concluindo, apesar de um Cristão Teísta se sentir absolutamente a


vontade numa reunião de um Rito Teísta cheia de símbolos e referências
cristãs, ou um Anglicano Deísta se sentir a vontade praticando um Craft
Inglês, estes Ritos acabam não sendo receptivos, e de certa forma
respeitosos, com irmãos que acreditem em outras coisas. Ressaltando, o
Rito Moderno não é Ateu, nem Agnóstico, ele apenas entende que os
assuntos Deus e Religião não devem ser tratados dentro da maçonaria,
tornando-se efetivamente respeitoso com todos os irmãos que pensam
diferente.

Referências Bibliográficas:
▪ BAETA, José. Liberdade de Pensar: estudos à luz do Rito Moderno.
1ª ed. Poços de Caldas: Edição Própria, 2020.
▪ CASTELLANI, José; COSTA, Frederico Guilherme. Manual do
Rito Moderno: grau de aprendiz. 1ª ed. São Paulo: A Gazeta
Maçônica, 1991.
▪ LIMA, Walter Celso de. Rito Moderno: origens, instruções,
simbologia. 1ª ed. Londrina: A Trolha, 2019
▪ MUNIZ, André Otávio Assis. Novo Manual do Rito Moderno:
Grau de Aprendiz (completo). 1ª ed. São Paulo: A Gazeta Maçônica,
2007.
▪ VILLALTA, Joaquim. Em Ouro e Azul: reflexões, estudos e ensaios
sobre o rito moderno e francês. Tradução de José Filardo. 2ª ed.
Londrina: A Trolha, 2018.

254
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

WALTER ALVES

Walter Alves é formado em Direito pela Universidade Federal do


Espírito Santo, já tendo exercido a advocacia para diversas empresas do
Brasil. Também é pecuarista proprietário do Sítio Boa Sorte. Na
Maçonaria foi iniciado no dia 09/11/2007 na Augusta e Respeitável
Grande Benemérita da Ordem Loja Maçônica “Harmonia e
Fraternidade” N.º 9 do Oriente de Belém-PA. Em junho de 2010 filiou-
se a Loja Maçônica “Passos do Mestre” do Oriente de Carangola-MG.
Em 2012 foi condecorado com a Grande Medalha de Honra ao Mérito
“Manoel dos Reis Corrêa”, instituída pela GLMMG para ser concedida
ao Maçom que comprovadamente tenha-se destacado no trabalho
incessante pelo bem estar da pátria e da humanidade. É autor do livro
“Convite ao Estudo da União Maçônica SALMO 133”, e de diversos
trabalhos e estudos de cunho Maçônico. Participou do primeiro e do
segundo Volume da série Maçons em Reflexão.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

MAÇONARIA E RELIGIÃO

A proposta que dá Nascimento ao título é na verdade um desafio


é certamente irá fustigar o meu acanhado conhecimento, mesmo e até
porque sou conhecedor de minhas severas limitações, por ainda infante
nos ensinamentos maçônicos, notadamente quanto o ao apropriar-se do
manejo dos inebriantes cristais da luz espargida pelos encantadores
ensinamentos da milenar instituição. Quero em ênfase ressalvar que, esse
adjetivo “milenar” ofertado a maçonaria não que dizer decrepitude, pelo
reverso, tanto a maçonaria quanto a religião, navegam nas remansas
águas da atualidade.
E meus claudicantes passos até aqui efusiasticamente
conquistados, no seio dos augustos mistérios, me outorgam a confessar
dificuldades em fazer uma espécie de divisor de águas entre uma e outra,
isentas de qualquer compromisso com a tese, para marca qual ou quais
suas semelhanças e divergências.
Não obstante por isso, quem se atreve à defesa de temas que
desafiam a logica, bons costumes, a crença, politica, futebol e etc; corre o
risco ao expor ou impor sua ideia de invariavelmente cair na vala da
incompreensão, ou ainda, se dissolver seu raciocínio pelas ausências de
bom senso e conhecimento, e se fixar na esterilidade do vazio.
Ainda nesse prolegômeno estou submisso que, entre a sociedade
que é a humanidade no espaço, é a história que é a humanidade no
tempo, a maçonaria se movimenta silenciosa e tranquila, quase sem ser
percebida por tantos quantos a desconhecem.
Por vertente, é verdade que a mesma não só tem sido objeto de
explorações diversas, como também vitima de especulações infundadas,
baseadas em crendices populares que, em nada contribui e certamente
em nada contribuíram para modificar a trajetória retilínea dessa sublime
instituição. E talvez por isso, a busca da verdade feita pela Maçonaria se
ver mais das vezes perturbada por empedernidos espíritos a ela
insubmissos.
Dai, considerando que no contexto “Maçonaria e religião” há
existência de um alagamento de horizontes, que se espraiam.
Embrenhando-se até o infinito e mais das vezes embora, até podendo
extratar-se, semelhar-se porem se perdem na independência de seus
incomunicantes lateralidades. O que vale dizer que apesar de guardarem
similitudes na crença em Deus seus propósitos se espraiam no horizonte
de seus paralelos.
256
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Considerável, pois que, o projeto desse breve estudo, tem âncoras


na crença em Deus, e este, como sabença rasa é um ser perfeito, e por
isso, razões agregadas a identificação dessa perfeição existem desde
distantes tempos, como se ver pelo derrame de sabedoria fluida não só,
pela tradição oral pendurada pelo varal dos tempos, bem assim pelas
escrituras dos profetas esparramadas em nosso livro da lei; querendo
dizer com isso que o ser humano busca respostas para tudo que faz parte
de seu mundo.
Arredando esse aspecto religioso da maçonaria, tem-se por outro
lado, ela não é especificamente um movimento filosófico embora tenha a
crer que Deus seja um ser perfeito, a esse sentir, busco o que nos ensina
o filósofo PLATÃO. “Deus ao fazer o homem o fez imperfeito; se o
tivesse feito perfeito; teria feito ele (Deus); e o homem não existiria.”
Na orla dessa discussão, a complexidade do tema não é deveras
confortável iniciando pelo antagonismo da maçonaria não sendo religião,
mesmo assim professa a crença em Deus; ademais, na via de séculos até
a qualidade, tanto na prática quanto em seus princípios a maçonaria não
pode ser rotulada como uma religião.
Porém, nessa toada, a historia nos revela, citando como exemplo a
França século XVIII, que quase todos os maçons professavam a religião
católica; e não só na França, bem como em outros países.
No Brasil, a liberdade religiosa dos maçons navega ao sabor de
suas escolhas, apesar de teia miscível de credos, ritos, usos e costumes;
justificando esse conjunto de coisas distintas, valho-me de uma
manifestação da Grande Loja unida da Inglaterra em carta a grande loja
do Uruguai de 08/11/80.

“A maçonaria Não É Um Movimento Filosófico, que


admite qualquer orientação ou opinião. A verdadeira
maçonaria é um culto para conservar e estender a crença na
existência de Deus para ajudar os maçons a regular a
própria vida e a própria conduta segundo os princípios da
própria religião monoteísta que exige em Deus como um
Ser Supremo, e seja religião que tenha um livro sagado sob
o qual o iniciado possa prestar juramento a ordem.” (Cfe
M. Lapage-Im l’ondre Et Les Obediences, Histore Et
Doctrine Dela Franc-Maçoneri’e 2° Ed Lyon 1955 Pg 108).

257
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Nestas circunstâncias vale observar que o aspecto religioso na


maçonaria é sem dúvida inegável e isso tem um viés coadjuvante na
circunstância de que o autor de nossa constituição “James Anderson”
nascido na cidade de Aberdeen, Escócia em 1684/ 1739 era filho de um
pastor presbiteriano.
A esse propósito narro ainda a história que se Anderson era
presbiteriano seu possível coadjuvante John Thephile Desagulier por seu
lado, era filho de um pastor Francês protestante e por que consta era da
religião anglicana.
Lado outro e por bom alvitre não pode ser despiciente fatos
históricos de intolerância religiosa que intermediaram até exagerados
conflitos onde os maçons foram combatidos, precisamente por aquilo
que ela não é, ou exatamente aquilo que ela não deveria ser.
Todavia, apraz-me o conforto de que apesar de que esse cipoal de
incompreensões, ataques de mal compreendidos intolerâncias que
gravitaram ou que ainda possam perdurar, não os repouso na autentica
maçonaria. Não se pode esquecer os que ateiam difamações por questões
religiosas ou outras, que até porque não tem consciência de que o
maçom em seu genuíno significado terá, que para seguir o caminho da
virtude, exercer a busca do aperfeiçoamento do homem as lições de
discrição sigilo e fidelidade, o que vale dizer: “conheça a ti mesmo”.
Também no enfoque “religião” deve-se por cuidado não confundi
com aspecto religioso da maçonaria, pois, assim como o cristianismo tem
como base o judaísmo (posto que Jesus era judeu) porém ambos adotam
textos usados pela tradição hebraica, sendo certa a evidencia que os
hebreus foram o primeiro povo a conceber uma noção embora abstrata
de Deus, passando este, com o desenvolvimento da religião serviste
como um ser transcendente onipotente é onipresente salvador da
humanidade por meio do perdão dos pecados.
Ao passo que noutra vereda razoes coabitam na distorçam entre
maçonaria religião/igreja, sendo certo, porém que as duas ultimas estão
alojadas em seus objetivos de: a primeira em salvação de almas; a
segundo na acolhida da comunidade. Ao passo que a maçonaria tem O
SABER em seu aspecto “lato sensu” como meio eficaz para se combater
a ignorância os vícios, os preconceitos e os vícios.
Neste caldeirão aonde há ebulição de uma sociedade moderna
temperada em wattsapp, face book, televisão, jornais, revistas e etc. com
difusão instantânea com tudo que acontece com todo mundo, vezes
outra incitando um sabor de um convívio humano informal e cada vez
258
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

mais superficial com os elos de interesse e afinidades cada vez mais


informais, as uniões menos duradoras, o “FICAR” sobrepondo o
“AMAR”, o sexo sobrepondo a essência do companheirismo.
Para que essa efervescência esboroe carece a dissipação do
ORGULHO da VAIDADE e INSENSATEZ MORAL, com toda sua
gama de defeitos incluído nessa o fruto do fanatismo, da intransigência e
intolerância. Sendo certo porém que a insolvência desses defeitos dera
decretada na medida em eu o maçom em sua incansável busca pela
verdade for sensível ao bem, orientado por meio de símbolos e alegorias,
que o conduz a exerce um trabalho de melhoria da humanidade.
Graças a seus conhecimento e sabedoria e na crença da existência
de Deus como GADU na medida em que o universo os fenômenos da
matéria e os princípios da vida que são e leis imensuráveis e de precisão
matemática e por isso a maçonaria não é uma instituição religiosa; ate
porque desde suas origens, a nutrir projetos de erguer tempos a virtude e
escavar calabouços para os vícios mostra preocupação com retidão da
conduta do homem em sua convivência ETICO/MORAL.
É a maçonaria ao emparelha o homem na retidão, na verdade e na
moral, não conferindo-lhe entretanto a salvação; porém lhe provendo de
força necessária para animar o zelo fortificando a alma na luta das
paixões é aquecendo o coração em amor a virtude.
Não de soslaio importa observar que o homem é escracho do
vicio lhe falta condição de ser livre e de bons costumes, motivo também
favorável em se definir que a ordem maçônica não e religião. Nessa
toada me vem a memoria conversa com minha caduca imaginação
consistente no seguinte: por que maçonaria ao usar a Bíblia como livro
da lei em seus trabalhos principiando com o grau de aprendiz com salmo
133; não seria ela uma religião?
No que tange a este questionamento e atrelado a minha pequena
cátedra professo mais uma vez que maçonaria não é religião, buscando a
meu socorro que a bíblia deriva de deus para o homem como infalível
padrão de verdade e justiça e sobre tudo tem em seu bojo quadrupla
propriedades: a ANTIGUIDADE a HITORIA a INSPIRAÇAO e a
ADAPTABILIDADE.
Enquanto a adoção da leitura do salmo minha memoria insiste em
não esquecer este eloquente distinção de amor fraternal que no Brasil
quando na cisão de 1927, Grande Loja foi que ocorreu a introdução da
leitura do salmo 133 na loja de aprendiz e me parece que este fato foi
posteriormente adotado por outras potencias.
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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Por outra escola, o sentido religiosos da maçonaria conquanto


salutar e sob tudo desafiador e surpreendente bastando uma visita a
maçonaria do sec. XVIII, sob tudo na obra de “JOSÉ FERRER
BELIMELI - im arquivo secreto do vaticano” aonde a parecença da
religião e crê-lo se intermearão na nossa ordem, que só para tanto, até
hoje este, não benfazejo entendimento ou suposição de ser a maçonaria
uma religião.
Ainda mais quando se ver registrado pelo celebrado escritor que
nos livros de 1763 1771, havia no regulamento da Grande Loja da
França o seguinte “...que todo ano o dia de São João fosse celebrado a
custa da Grande Loja com missa solene a qual seriam convidados todos
o maçons de lojas regulares.
Ademais, narra ainda o escritor que os estatutos de 1776 da loja “a
verdadeira virtude” de annonay especificam que: “se mandariam cantar a
missa solene no dia de São João Batista, patrono Ordem, e que todos os
irmãos que pudessem, deveriam dela participar. Na saída eles iriam para a
Loja para trabalhar e festejar.”
Mesmo com esse modelo de conduta da época não vejo que o
maçom com essa postura de ser religioso e cumprindo seus deveres e
obrigações junto à Ordem seja um outro SER, até porque existem na
face da Terra milhões de pessoas desejando posturas diferentes, todavia,
não se dispõem a pagar o preço da mudança.
Aqui no Brasil este intermeio de religião/maçonaria não ficou
ausente aos olhos daqueles que não receberam a luz. Neste, essa
miscigenação mais se avoluma quando se permite em um ligeiro galope
ao tempo recém passado constatar-se que a bússola do século XIV
contem também, situações que deixam aqueles que não são F da V
perplexos ao depararem-se com a assertiva de que em Belém capital do
estado do Pará, um padre foi fundador de um loja maçônica.
Na conta do escritor e historiador paraense, o Irmão Elson Luiz
Rocha Monteiro em sua obra: “A maçonaria e a campanha abolicionista
no Pará” nos mostra que nos idos de 1850 chegou ao Pará, o padre
Eutiquio Pereira da Rocha, nascido na Bahia para assumir o mosteiro
carmelita. Em Belém foi iniciado na loja Capitular HARMONIA,
exercendo com grande participação nos meios maçônicos sendo
inclusive fundador da Loja Maçônica HARMONIA N°8. Morreu
impenitente, em razão de não se abdicar da sua condição de maçom fato
ocorrido em 1880.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Narra ainda o escritor que o mesmo fora enterrado no cemitério


de santa Isabel, porém posteriormente, em 1943 os maçons retomaram
posse dos seus retos mortais. E a Ordem, realizando um grande
procissão todos com seu trajes a rigor transportaram a urna contendo
seus retos para loja que ele fundou, ela estando até hoje, a época a rua era
denominada São Matheus que passou a ser chamado rua PADRE
EOTIQUIO.
Sobre a loja maçônica HARMONIA 8, me atrevo “ad
referendum” ao prezado irmão leitor, abrir uma ligeira secção de
continuidade ao tema, dizendo que quando obreiro Augusta Respeitada
Grande Benemérita Loja Maçônica Harmonia e Fraternidade N°9
oriente de Belém (minha loja mãe) tive o privilegio não só de visitá-la,
bem como, ouvir dos irmãos o nobre trabalho do padre Eutiquio no
estado do Pará.
Em regresso ao tema a maçonaria diferente das religiões é
considerando e atento o seu contexto instrucional, em que as praticas
iniciáticas são exercícios na dimensão e no especulativo maçônico para
buscar a sabedoria na livre manifestação de sua luz refletida no
cumprimento inflexivo do dever, coadjuvado pela prática da beneficência
e na investigação constante da verdade.

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

HOMEGAGEM AO CONFRADE E IRMÃO


IVO REINALDO CHRIST

SAUDOSO IRMÃO IVO REINALDO CHRIST


UM TRISTE ADEUS.
UMA GRANDE SAUDADE.
UMA AUSÊNCIA SENTIDA

Foi assim que nos despedimos do querido Irmão IVO CHRIST,


uma lacuna irreparável, com a passagem para o Oriente Eterno desde
nosso amigo, Irmão e Companheiro, na tarde-noite do dia seis de maio
de dois mil e vinte e um. Outras palavras não existem para nos expressar,
neste momento de dor, de sofrimento, de tristezas, de sentimento e de
pesar. Mais de um mês sem sua presença entre nós.
Um companheiro, um irmão e Amigo de vida em comum por
mais de cinquenta anos, quase que diariamente. Amigo fiel e verdadeiro.
Batalhador pelas causas abraçadas. Espírito Altruístico, Solidário,
Fraterno e disponível em todos os momentos e circunstâncias. Quantas
saudades.
Trabalhamos juntos no magistério por mais de trinta anos,
convivemos harmoniosamente por trinta e seis anos na Maçonaria.
Enfrentamos, passo a passo, todas as lutas em prol da Sublime Ordem
em nossa Loja Theodórica, em todos os Graus (Simbólicos, de perfeição,
Capitular, Kadosch e Administrativos Consistório e Supremo Conselho),
até o Grau de Grande Inspetor da Ordem. Sempre estivemos juntos.
Hoje a distância entre nós é a eternidade (até quando não sabemos).
Todos os ideais, objetivos, projetos e realizações sempre estiveram
juntos, no mesmo barco, sempre com o auxílio de alguns outros
abnegados e prestimosos irmãos.
Nosso convívio consistia em visitas quase todos os dias, com
reciprocidade, várias ligações telefônicas e mais tarde mensagens
constantes através do celular, todos os dias.
Ainda caia bem alto, dentro de nossa alma e de nosso coração, a
sua imagem de humildade, de virtuosidade, de disponibilidades em todos
os instantes. Sempre pronto a servir sem interesses.
Nas visitas em Lojas da Região tínhamos a hora marcada para
apanhá-lo em casa. Estava sempre à nossa espera no portão de sua
residência. Quanta saudade! Quanto sentimento de sua ausência!

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

Juntos, elaboramos rituais para os mais variados tipos de Sessões


Especiais, nos mais distintos graus, festas cívicas, aniversários de Lojas,
pacto da amizade, entre outros tantos.
Nosso Boletim “O ESPIRRO DO BODE” já, com quase trinta e
um anos de circulação, nos últimos vinte seis anos sempre teve sua ativa,
efetiva e desprendida participação. Companheiro de verdade, Irmão de
alto quilate. O tempo de disponibilidade para ele não existia. Era o
momento! Era a circunstância!
Hoje, quando ouvimos alguém dizer que ninguém é insubstituível,
é porque não conheceu mais profundamente este valoroso irmão, amigo
e companheiro. Sua perda é LASTIMÁVEL! É de fato, uma perda
IRREPARÁVEL! Uma lacuna que jamais será preenchida! Abriu mão
de sua vida profana para se entregar de corpo, alma e espírito a causa da
maçonaria e de ajuda aos necessitados.
Quantas viagens! Quantos encontros! Nunca deixou de nos
acompanhar nas palestras que fazíamos, sempre ao nosso lado, nos
dando forças, aplaudindo e estimulando nosso trabalho.
Com a debilidade de sua saúde, quase sem poder sair de casa, nos
últimos tempos, estávamos sempre o visitando. Em várias
oportunidades, duas, ou mais vezes por dia.
Muitas coisas, ainda, pretendemos publicar sobre nosso trabalho
juntamente com este Baluarte da Maçonaria. Uma história de amizade
produtiva, fraterna, sincera, desinteressada, sempre buscando o que
melhor podíamos dar em favor da nossa LOJA, de outras Lojas e da
Instituição. Vale relembrar. Não importa que a saudade machuque. Não
imposta que sua ausência seja mais sentida. Não importa que o coração
sita um aperte mais agudo. Mas não podemos nos esquecer deste
AMIGO FIEL, LEAL E VERDADEIRO IRMÃO E
COMPANHEIRO.
Ainda agora sua imagem reflete em nossa mente. Até a próxima
crônica. Dependerá de nosso estrado de espírito.

JOSÉ VICENTE DANIEL


LOJA THEODÓRICA - PEQUERI /MG

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

LIVROS PRODUZIDOS PELA


CONFRARIA MAÇONS EM REFLEXÃO:

Maçons em Reflexão – Volume I


O que é Maçonaria?
Publicado em 2019

Maçons em Reflexão – Volume I


Qual o Segredo da Maçonaria?
Publicado em 2020

Poesias Maçônicas – Volume I


Publicado em Março de 2021

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MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

265
MAÇONS EM REFLEXÃO – VOLUME III – MAÇONARIA E RELIGIÃO

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