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Edição 03 - Ano 1
FEVEREIRO 2022
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·- •
Academia Maçônica de Letras, Artes eOfícios do GOB·BA

Artigos Inéditos
Poesia
Livros Publicados
Editorial
Este volume da Revista MAGISTER MAGISTRORUM tem em seu bojo 01
Poesia e 08 Artigos com temas variados. A Poesia traduz uma
homenagem a toaos às mulheres por meio daquela que recebeu a
maior graça divina, a de ser a mãe de nosso senhor. Os artigos versam
sobre: 1) - A solidariedade, uma das virtudes mais bonitas dos seres
humanos, exemplo máximo de amor fraternal apregoado pela
Ma~onaria, 2) -A rivalidade entre as duas Grande Lojas da Inglaterra,
quais sejam: a dos Antigos e dos Modernos mostrada sob o ponto de
vista dos Modernos, pois o dos Antigos já foi bastante discutido na
literatura pertinente, o que demonstra o caráter inovador deste texto,
3) - As peculiaridades de um rito que, além de ser o mais novo
praticado, é totalmente nacional, 4) - Um dos aspectos simbólicos
mais importante de um grau pouco compreendido, mas que é um dos
mais importante da Orâem, 5) - A perspectiva diferenciada entre
Maçonaria e Religião, um tema que sempre gerou discussão
acaforada, 6) - Uma proposta de distinção entre docilidade e
subserviência, evidenciando seus limites, 7) - A participação de um
grande ideólogo como figura ilustre no processo da Inconfidência
Nlineira e, finalmente, 8) - A maior representação simbólica da
personalidade do maçom em sua loja. Os textos supracitados nos
aguçam à leitura em profundidade. Vida longa e próspera à
Academia!!! Saudações Acadêmicas Fraternais. Conf. Cfáudio Lúcio
Fernandes Amaral, Patrono: Rui Barbosa/ Cad . N°03.

Nesta Edi ão !!!


Sumário
Mulher Mãe Maria (Poesia) ....... .... .. ....... 03
Solida·riedade ... ...... ... .......... ... .......... ... 05
Grande Loja dos Modernos: De culpada pelos
antigos, à injustiçada na
Academia Maçônica de letras, Anes e Ofícios
do Grande Oriente do Brasil-Bahia contemporaneidade; a verdade sobre os
fatos .................................................... 08
Presidente Características do Rito Brasileiro ...... ... ... 17
Gilney Campodonio de Abreu Nas veredas do companheiro maçom: A
escada em caracol. ............................... 21
coordenação Editorial
Maçonaria e Religião: por uma perspectiva
Glauber Santos Soares
Rafael Gama Moreira diferenciada ........................................ 25
Cláudio Lúcio Fernandes Amaral Dócil Vs Subserviente ........................... .31
As opiniões contidas neste A inconfidência e o inconfidente Cônego Luís
periódico são de inteira Vieira da Silva .......................................33
responsabilidade dos autores, não
A Pedra Bruta .. .......... ................. .......... 40
refletindo necessariamente a
opinião do Corpo Editorial.
Cor1tato: academia.gobbahia@gma i1.tom
Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022

Mulher Mãe Maria


por Carlos Roberto Santos Ferreira
A.R.L.S. Monteiro Lobato, Nº 4009, GOB-BA/GOB
Salvador - BA, Brasil

Maria mãe mulher


Muitas qualidades nesse ser
Que Deus abençoou para a vida
A maternidade concebida seja qual for a maneira
Nunca deixarás de ser mãe
Em casa, na rua ou no trabalho
Terás sempre meu respeito
Mulher tenho de sua costela
O sopro de vida de minha existência
De minha mãe tenho seu amor incondicional
De minha amada, ser e ter seu amor
Sempre será uma dádiva
Por séculos até a eternidade
Sobreviveremos graças à mulher
Por tua graça divina
Tu és a diva graciosa
Que serpenteia não como pecado
Mas como o fruto de Deus
Que alegra a vida e o homem
Em todas perspectivas
O mundo precisa de ti
Mulher.....para todo o sempre
Amor para sempre.....MULHER

Revista Magister Magistrorum • Página 03


Edição 03 • Ano 1• Fevereiro 2022

Academia Maçônica de Letras do GOB-BA


é destaque em concurso literário
BALUARTES DA MAÇONARIA BAIANA- ln Memoriam
~ ,
J> E com imensa satisfação que o Grande Oriente da
r-
c: Bahia, GOB-BA, através da sua Secretaria de Educação
J> e Cultura, lança a coletânea de biografias BALUARTES
~
m DA MAÇONARIA BAIANA - ln Memoriam. São os
~ maçons da atualidade se inspirando e homenageando
o os maçons do passado que dedicaram a sua vida na
~
construção de uma sociedade melhor.
s:J>
.n Bernardo Spector - Glauber Santos Soares
o
z Castro Alves-Hugo Pires Júnior
J> Elias Ocké - Rafael Gama Moreira
~ José Amaro Rocha -José Angelito Alves da Silva
...:J
J>
Kleber Alessandro Pinto Macêdo - Rafael Gama
Moreira
3~
Luís Gama - Ney Jorge Campello
,
3 Osmar Ramos - Carlos Atila Lima de Santana
.,o

AI
Rafael Briglia - Raimundo Garcia dos Santos
Rui Barbosa - Cláudio Lúcio Fernandes Amaral
3
Zé Rodrix - Cláudio Nogueira

Organizador: Grande Oriente da Bahia - Secretaria Estadual de Educação e Cultura -


GOB/ BA
Autor: Coletânea (vários autores)
Páginas: 106
Editora: Religare
Tamanho: 14x21
ISBN: 978-65-995029-3-4

Dos dez textos selecionados seis deles são de membros da Academia


Maçônica de Letras do GOB-BA. O projeto BALUARTES DA MAÇONARIA
BAIANA - ln Memoriam foi idealizado pelo irmão Glauber Soares
enquanto estava a frente da Secretaria de Educação.

Revista Magister Magistrorum • Página 04


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

SOLIDARIEDADE
Luiz Roberto Albuquerque Rodrigues Maia (llhéus-BA. 1952). Engenheiro eletricista e
eletrônico. A.R.L.S. Sabedoria, Equilíbrio e Poder, nº 4.407, Ilhéus, GOB-BA, Mestre
Instalado, Grau 33 - Rito Escocês Antigo e Aceito. Deputado Estadual Maçônico.
Coautor do livro R.E.E.A. Graus Simbólicos e R.E.E.A. Graus Filosóficos. luizroberto-
maia@uol.com.br

Recorrendo ao dicionário, encontramos algumas definições para a


palavra que intitula o trabalho, dentre as quais a mais que se
harmoniza com o escopo deste é a seguinte: "dependência mútua
entre pessoas, que obsta a que umas possam conseguir certas
vantagens sem que as outras consigam também."

Em termos maçônicos, a Solidariedade passa ser um atributo natural e incondicional a todos que,
desde quando receberam a Luz e por consequência foram iniciados. A partir daquele instante, a
Solidariedade constituiu-se um elemento vital para o Maçom, porque ela é a base primordial da
fraternidade. Um dos fins supremos da Sublime Ordem.

Como elemento vital à Maçonaria, podemos comparar a Solidariedade ao ar que respiramos, uma
vez que sua falta levá-la-á à morte.

Desta forma devemos exercitar-nos espiritualmente a fim de criarmos meios no sentido de que
diminuamos ou eliminemos a influência do nosso ego escravizador de molde que a Saúde Fraterna
da Maçonaria seja intensificada continuamente e a Solidariedade viceje em nosso meio.

Sabemos, sobejamente, que há nos seres humanos profanos uma guerra constante entre o "SER" e
o "TER". Guerra esta, em que o segundo elemento, aparentemente, quase sempre sai vencedor.
Entretanto, nós, iniciados, sabemos que a vitória ilusória é finita e por mais que perdure neste plano
sucumbirá se seus louros não se transformarem em ações em prol da Pátria e da Humanidade.
Sabemos ainda que a nossa trajetória maçônica caminha no sentido de que cheguemos a um ponto,
onde, o espírito prevaleça sobre a matéria. Para tanto, reiteramos, a prática da Solidariedade
Maçônica faz-se imprescindível, da mesma forma que o ar puro é essencial (vital) para a vida
humana. Quando atingimos o Grau de Evolução em que o Espírito sobrepõe-se à matéria, neste
estágio a Solidariedade também alcançou o seu ápice e, por consequência, o "SER" torna-se o
Vencedor e o Fruto da sua Vitória é partilhado com todos.
,
E mister que se diga que a Solidariedade não só se resume, como muitos pensam, à ajuda financeira.
Mas, também, ao cuidado que devemos devotar a todos aqueles que fazem parte da Maçonaria, bem
como aos que lhes são ligados. Ou seja, seus familiares e amigos. Assim sendo, saber como estão os
irmãos e os seus afetos não é dever apenas do Irmão Hospitaleiro, mas, de todos que fazem parte do
quadro da Sublime Ordem.

Contemporaneamente, em tempo de pandemia que, para sobrevivermos, fomos submetidos ao


isolamento social, é imperativo que façamos uso dos recursos que nos foram disponibilizados pela
tecnologia da informação e comunicação (TIC) e estreitemos nossos laços fraternais e
solidariamente vibremos com os ganhos auferidos ou lamentemos as perdas sofridas de alguma
forma por todos. As vitórias celebradas entre muitos empoderam-se, são mais retumbantes e vão
mais longe. Os sofrimentos solidários são divididos, suavizados e tornam-se mais suportáveis.
Continua.••

Revista Magister Magistrorum - Página os


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

Aludindo ao excelente trabalho da sessão anterior, apresentado pelo Irmão João Luís Almeida (ARLS
SABEDORIA, EQUILiBRIO E PODER-4407/ILHÉUS-BA), sobre o Taoísmo, que estimula sua prática
em busca do equilíbrio, eis aqui, por meio da Solidariedade, uma maneira de convergirmos para o
ponto central. Ou seja , alcançarmos o reconfortante equilíbrio ansiado.

Com efeito, como agentes responsáveis por dar à Maçonaria vida e proporcionar-lhe condições para
que sejam concretizados seus fins supremos, devemos nos compenetrar de que em todos os
momentos e, neste em particular, os mais aquinhoados de saúde, de espiritualidade, de paz e, finanças
devem sacrificarem-se (fazer o Sagrado) no sentido de, através de gestos nobres, destinar uma parte
ínfima de sua riqueza em prol daqueles menos favorecidos, momentaneamente, pela sorte a fim de
que o Equilíbrio se (r)estabeleça e a paz, a harmonia, a concórdia e o Amor Fraternal reinem entre nós
(homens livres e de bons costumes). Tal estado paradisíaco (edênico) é possível pelo despojo e,
sobretudo, pela Solidariedade.

ESTÁ AO NOSSO ALCANCE!

VENÇAMOS O NOSSO EGO ESCRAVIZADOR!

SOLIDARIZEMO-NOS!

MÃOS À OBRA!

Revista Magister Magistrorum - Página 06


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Edição,_~3 - Ano 1 - Fevereiro 2022

• ~

assas 1ca oes ...

de Letras, Ciências, Artes e Ofícios do GOB·BA


Edição 03 - Ano 1- Fevereiro 2022
GRANDE LOJA DOS MODERNOS: DE CULPADA PELOS ANTIGOS,
À INJUSTIÇADA NA CONTEMPORANEIDADE: A VERDADE SOBRE
OS FATOS HISTÓRICOS
c ·láudio Lúcio Fernandes Amaral, Professor Universitário (UESB), D.Se./ Pos - doe,
Loja Cavaleiros da Arte Real, Nº 4.309, Mestre Instalado, Membro Fundador da
Academia Maçônica de Letras, Ciências, Artes e Ofícios do GOB - BA (ACADGOB -
BA) e da Brazilian Internet Masonic Academy (BRAIN - ACAD).

Resumo: Por ter alteràdo seus rituais, a Grande Loja dos Modernos (GLdM) foi severamente
criticada pela Grande Loja dos Antigos (GL.A). O principal iuotivo alegado para isto foi
negligenciado por u1na potência ("Os Antigos") e1n detrimento da outra ("Os Modernos") e
criou ambiente hostiJ por longo te1upo na Inglaterra entre grupos rivais. Raz.ões de natureza
política, social, econôn1ica e ideológica ta1nbé1n encontra1n-se entre as possíveis causas deste
conflito. É preciso dissipar o mito sobre a natureza a politicamente neutra da Maçonaria, pois a
ordem é feita de homens e estes são frutos do meio e do contexto espaço - te1uporaJ que estão
inseridos. A Orden1 pode até ter sido oficialn1ente neutra e1n relação à política, religião, classe social e ideologia, tuas seus
111e111bros, certamente, não o fora111. O fato é que no jogo de interesses que se estabeleceu entre a GLdA e a OL.M, não bavia
grupo culpado ou inocente, tau1pouco, vítuna ou vilão; porém, apenas e tão somente honJens que, sabendo-se que não erau1
pe1feitos, deveriarn buscar constanten1ente se aperfeiçoaren1; por iste eram n1açons.
Palavras- chave: Maçonaria Inglesa, Conflito e União.
Abstract: For altering its rituais, lhe " Modern" Grand Lodge (MGL) was severely criticized by The "Antient" Grand
Lodge (AGL). The n1ain reason alleged for this was neglected by one power ("The Antients'') to the detri1nent of the other
("The Moderns") and created a hostile environment for a long tiine in England betv.,reen rival groups. Political, social,
econoniic and ideological reasons are also a1nong the possible causes ofthis conflict. The n1yth aboutthe apolitically neutral
nature ofFreen1asonry 111ust be dispelled. As the order is n1ade up ofn1en and these are fruits oftbe environn1ent and the
space-tin1e contextthat are inserted. the order may even have been officially neutral wil"h regard to politics, rei igion, social
class and ideology, but its n1e1nbers certainly \vere not. The fact is that in the ga1ne of interests that was established between
GLdA and GL~M, there was no guiJty or i1111ocent group, neither victun nor villain; but only 1nen who, knowing that they
\Vere notperfect, should const!ll1tly seek to itnprove theinselves; that's why they wereFreemasons .
.Key\vords: Englisb Freen1asonry, Rivalry and Union.
l ntroduçào:
Uma vez que, a gênese dos grandes sisten1as maçónicos desenvolveu-se, fu11da1nent:ahnente, no decurso do sécUlo
XVIII (SANTOS, 2019), tetn-se que de toda a história da Maçonaria, se1n dúvida algun1a, tnna das mais intrigantes, foi o
surgi1nento da l" Grande Loja do Mundo ou a M.ãe de Todas, em Londres, na Inglaterra, em 1717 (24/06/ 1717 - a ·M:
Anthony Sayer) (HOYWOOD, 1924a) ou 1721 (24/06/ 1721 - GM: Jhon Montagu) (FREEMASONRY TODAY, 2021 ;
PRESCOTT & SOMMERS, 2018).
Não n1enos relevante, obviamente, fo i a ciiação de sua rival en1 175 J ( 17/07/1 75 l - Assen1bleia) / 53 (GM: Robert
Turner - 1753 / 54) (HOYWOOD, l 924b), pois a1nbas influenciaran1 a criação dos rituais de, direta e/ou indfretan1ente,
praticamente todos os ritos vigentes.
Na Inglaten·a, a Grande Loja de Londres e Westininster foi apelidada ("Ahunan Rezoo"/ Laurence Dermott, 1764)
de Grande Loja dos Modernos pela Grande Loja deAtholl (Liderança do Duke deAtholJ: 1771 -1781 J 1791- 1813) que se
auto - denominou Grande Lojas dos Antigos ( 1751 -53) (T RE GRANO LODGE OF IOWA, 2021), uma propaganda de
1narketing que deu certo.
Ten1-se que, a nova potência, a Grande Loja dosAntigos (GLdA) teria se originado da, velha potência, a Grande Loja
dos Modernos (GL,M) (DACHEZ, 202 1a). Poré1n, a tendência atual é considerar que a GL.A não se originou, por
separação da GL.,M ("O Cisma" ou "A Secessão"), mas sin1, por conseguinte, de lojas irlandesas e escocesas (FrLARDO,
202 l c). Por outro lado, é inegável a p!U·ticipação de algu1nas loj.as ingleses independentes ou não vincuJadas
(MAS'f ERMASON.COM, 2021). En1 sendo assi1n, portanto, A formação da GL.A foi revolução e não, rebeUão contra a
GL.M (GAGES,2021), porque wna potência não se originou da outra.

Continua...

Revista Magister Magistrorum - Página 08


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

A ocorrência das alterações de natureza litúrgico - ritualísticas i1npostas pelos Mode111os en1 detrin1ento dos
Antigos gerou u1na histórica rivalidade institucional por parte de a1nbas (FILARDO, 2021 b). Decorre desta fato que a
"Pre1nier Grand Lodge" foi severamente criticada por seus detratores (HEfRON, 2021a).
Porém, as mudanças teriam sido realizadas apenas e tão somente pelo bel prazer da l" Grande Loja do Mundo? Este
é o ponto de vista dos Antigos, mas qual seria o dos Modernos? É possível se inferir alguma coisa sob isto?
2) - Desenvolvimento:
Pelo que foi exposto, tem-se que a GL6M foi considerada culpada por inovações inseridas no siste111a 1naçônico
vigente naquela época pela GL6A e, sobre1naneira, esta i1nputaçào de ilegalidade teria ocorrido fundarnentahnente por
mudanças de caráter 1itúrgico e aspecto ritual ístico.
a)-A acusação oferecida pelos Antigos:
Os Antigos alegam que os Modernos cometerain as seguintes infrações, quais sejam (ARNOLD, 2021 , PlSANl,
2021; SHARITT, 2021ab; WE BB, 2021):
.,._ Modificação da Forma Correta de Organizara Sala das Reuniões (Por Volta de 1739);
.,._ Alteração do Modo de Preparo dos Candidatos (Por Volta de 1739);
.,._ Não Recitação das Antigas Obrigações nas iniciações (Por Volta de 1739);
.,._ Transposição dos 1nodos de reconheciJnento do primeiro para o segundo grau e vice -versa (Por Volta de 1739);
.,._ Abreviação dos Rituais pela Exclusão das Preleções ou Catecismos em Todos os Graus (Por Volta de 1739);
.,.. Não Realização da Ceri1nônia Esotérica de Instalação e Posse do Mestre da Loja (Provaveln1ente de 1760 a 1809/ 1O);
.,.. Descristianização dos rituais ( 1723): 01nitir as Orações nas Cerin1ônias, Ignorar ou Negligenciar a Ocorrência dos
Festivais nos Dias de São João Batista e São João Evangelista ( 1730 a 1753), Ausência de Diáconos (Aproxin1adan1ente
até 1810), etc;
.,._ Não Valorização do Sagrado Arco Real (Aproxünadamente de 1743 a 1760).
b) -A defesa proposta para os Modernos:
O tnotivo causador desta briga ( 1751 - 1813) que te1n sido alegado pelos Antigos (Concepção Esotérica) e1n
detrimentos dos Modernos (Visão Racional) foi, naquela época (Por volta de 1739), a alteração nos rituais (FILARDO,
202le), co1no tnedida protetiva ton1ada pelos Maçons de Londres e Westtninster athn de evitarem a entrada de itnpostores
na Maçonaria com o advento da exposição pública de seus segredos (Exemplo: Masonry Dissecated, Samuel Prichard,
20/ l 0/ 1730).
De acordo cotn os Antigos isto feriria os Landmarks da Ordem, descaracterizando seu caráter universal
(DACtlEZ, 202lb), o que seria u1n "ato crin1inoso" dos M.odernos. E1n sendo assiin, por esta atitude a GL..M foi
severa1nente con1batida por sua rival, a GL6A. A divergência de ainbas potências tem iu(nneras causas, 1nas o que se pode
destacar é que se deu en1 diferentes li-entes, quais seja111:
• Nível Político:
a) - Antigos: Dinastia dos Stuarts -Associação aos Tories (Monarquia por Direito Divino): Apoiadores da Derrotada Casa
dos Stuarts no Levante Jacobita de 1745 ("Jacobitas"). Apoio: Escócia, Irlanda e França (SCHUCHARD, 2021a).
Rei Ja111es III - Poder é Direito Divino I Tories = Partido Político Conservador!! ! (STOLOVlTZ, 2021). De certa
forma, a prosperidade da Maçonaria Atnericana e Francesa se deve aos Antigos, rnais que os Modernos
(TREBUCHET, 2021).

Continua...

Revista Magister Magistrorum - Página 09


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

b) - Modernos: Dinastia dos Hanovers (En1ancipação dos Dissidentes Protestantes): Associação aos Whigs
(Parlan1entarisn10): Ascensão ao Poder 1714 (Rei George l): Guardiões da Herança de 1688-89 I Revolução
Gloriosa. Subordinação à Autoridade Legítima!!! Apoiadores da Vitoriosa Casa de Hanover no Levante Jacobita de
1745 ("Anti - Jacobitas"). Wbjgs = Partido Político Liberal!!! (BERMAN, 20 14).
A GL4A foi por um longo período governada por Grão - Mestres Irlandeses e Escoceses, o que evidencia a
ínti1na co1uunhão entre Maçons Escoceses e Irlandeses coLn ela e não coru sua rival, a GL.M (MASTERMASON.COM,
2021).
• Nível Religioso (Católicos - Stuarts x Protestantes - t:lanovers):
A Inglaterra passa de un1 país católico, sob o comando dos Stuarts (Antigos) para unia nação protestante, liderado
pelos Hanovers (Modernos) (FILARDO, 202ta). Os Antigos eran1 teístas (Constituição Ahiman Rezon, 1756), já os
Modernos, deístas (Constituições de Anderson, 1723 e 1738) (RODR IGUES, 2021). Naquela época, un1a declaração de
direito dava proteção aos protestantes e não aos católicos, excluindo o ateísmo (KRYKUNOV, 2021).
• Nível Social (Aristocracia/ Nobreza - Modernos x Plebe -Antigos?):
A representação dos Antigos se dava pela plebe (Maioria Analfabetos) con1postas por Irlandeses (Maioria) e
Escoceses (Minoria) e a dos Modernos se fazia pela aristocracia I nobreza (Maioria Alfabetizados), compostas por
lngleses, inclusive 1ne1nbros da Royal Society ofLondon (WEUTE, 2021). Algu1uas associações ("a", "b" e "c") co111 seus
respectivos questiona1nentos (" l ", "2" e "3"):
a) - Migração de Pessoas da Irlanda para a Inglaterra - Motivo: Crise na Agricultura - A Grande Fo1ne - Frio / Chuva e1n
1740- 174 1. 1)- Disputa por Trabalho entre Ingleses e Irlandeses (ENCYCLOPEDl.A MASONICA, 2021). Reserva
de Mercado???
b) - Não Aceitação de Antigos/Irlandeses pelos Modernos/Ingleses. 2) - Laurence Dermott (Origem: irlanda - Principal
Defensor da GL.A): fil iação na lnglate1Ta (1748): primeiraruente aos Modernos, secundaria1nente aos Antigos
(WHITE, 2021). Note que Laurence Dennott foi o 1nais intrépido defensor dos Antigos e fervoroso coLnbatente dos
Modernos.

c) -Antigos: Busca por Membro da Aristocracia como Grão - Mestre Igual aos Moderuos. 3) - Tentativas: l" - (175 l Fase
lnicial da Fonnação da Potência): Lord George Sackville (RECUSOU), 2ª - Conde de Jnchiquin(SEM.SUCESSO), 3ª
- Conde de Chesterfield (NÃO ACEITOU) e 4" - (1756 Etapa Final da Forn1ação da Potência): Co11de de Blessington.
- ,
(FOI PERSUADIDO, ACEITOU, MAS NAO ASSUMIU NA PRA TlCA, SO NA TEORIA) (SCHUCRARD,
,

2021b).
• Nível Militar(lnglaterra x França e Estados Unidos x Inglaterra):
Na guerra entre Ingleses e Franceses, os Antigos apoiados por Irlandeses e Escoceses ficara1n do lado da França, já
os Modernos do lado da Inglaterra (FLLARDO, 202l c). Na revolução Americana ( 1765 - 1783) e na Independência dos
Estados Unidos ( 1775 - 1781 ), os Antigos apoiaram os colonos, os Modernos; os imperialistas, o que contribuí,
sobrernaneira, naquela época para a niarginalízação dos Modernos e não dos Antigos en1 solo a1nericano
(ENCYCLOPEDIA MASONICA, 2021). A França ficou do lado dos Estados Unidos contra à Inglaterra (FlLARDO,
202lg).
Esta rivalidade entre as duas organizações persistiria até as Guerras Napoleônicas. Foi graças a Napoleão e à sua
intenção de invadir a Inglaterra que a Grande Loja "Unida" da Inglaterra viu a luz, porque ela pôs fin1 à rivalidade
entre ambas instituições.

Conlinua .. .

Revista Magister Magistrorum - Página 10


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

Antigos e Moden1os cerra1n novamente fileiras durante a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas,
apoiando a monarquia britânica contra qualquer ameaça refonnista. Ao mesn10 tempo, a aristocracia e a burguesia ciia1n
uma frente para erradicar qualquer an1eaça revolucionária. É por isso que nenhuma "Revolução do Tipo Francesa" teve
lugar en1 solo britânico. Posterionnente, houve un1 compromisso entre a aristocracia e a burguesia junto com a classe
média, dando acesso ao parlamento aos dissidentes, pois ela ti nha, até então 1nonopolizado todas as posições de deputados.
Por conseguinte, os pobres saira1n perdendo sendo amplamente excluídos das lojas por razões econô1nicas, sociais e
cul turais (FILARDO, 202 lc).
O Rei exigiu a "União Sagrada" de todas as forças vivas da Inglaterra para derrubar Napoleão, o que foi facilitado,
pois os Grão - Mestres eratn innãos de sangue e seus filhos. É inegável que os Modernos foran1 os sustentadores fi nnes e
persistentes da "Reconciliação", mes1no quando os Antigos recusaran1 a n1ão direita da con1unhão (HUGHAN, 2021).
Portanto, se eles erraram, procura1n corrigir os erros. Esta atitude só foi reconhecida pelos Antigos n1uito te1npo depois,
culn1inando na união (27/ 12/1813).
c)-Aanálise d e provas e s ua interpretação:
A GLdA sempre alegou que a GLdM representasse a elite e ela a plebe, porém ambas tiveram Grão-Mestres da
nobreza/aristocracia, sendo que os Modernos trocaram os segredos e1n seus rituais por causa da exposição inconsequente
dos 1nistérios da ordetn, levando-a a situações de ridicularização institucional en1 público por profanos se passando de
maçons, pois é inadmissível a entrada e pennanência do início ao fim de i111postores nas sessões maçônicas
(M ASTERMASON.COM, 2021), fato este conhecido pelos Antigos.
Por outro lado, diferenças sociais existiam e são inegáveis, nlas não se pode deixar de n1encionar que Laurence
Den11orlt que, oão era inglês, 1nas sim irlandês, foi fi liado en1 un1a loja dos Modernos de livre e espontânea escolha sua
( 1748) para, posterionnente, ser regularizado en1 uma oficina dos Antigos (HELRON, 2021 b). Sua defesa quase cega dos
Antigos com ataq ues desrespeitosos e jocosos aos Modernos não correspondiam a atitudes 1naçônicas fraternais
exetnplares.
Todavia, escoceses também foran1 aceitos pelos Modernos e não só pelos Antigos, a exeLnplo de um dos mais
ilustres co1no JamesAnderson (MCINTOSH, 2021). Alé1n disto, é bastante divulgado que o Grão Mestre dos Modernos,
Sir Lord Byron era 1nuito ausente, chegando até ser tido corno negtigente ern sua gestão (l 747 - 1752), porém de acordo
co1nanálise profunda de docuinentação da época, isto não foi comprovado (FILARDO, 2021t).
Entretanto, o Conde de Blessington, Grão - Mestres dos Antigos, não participou ativa1nente de sua gestão, pois na
época nen1 na Inglaterra ficava, estando pertnanenten1ente na Irlanda ( 1756- 1763) (WHlTE, 2021). Fato notável é que no
interior da Tnglaten·a e não na capital, extraoficialmente n1açons de u1n lado visitaran1 os de outro lado e vice-versa
(ENCYC LOPEDIA MASONlCA, 2021 ) .
Há relatos de Maçons que, ao n1es1no ten1po, fazia111 parte tanto de "Lojas Antigas", quanto de "Modernas"
(WEBB, 2021) , como exe1nplo te1n-se o caso de Thomas Harper (Antigos: .1785, Modernos, 1787) (FREEMASONRY
TODAY, 2021b). Ele foi um dos assessores que preparou os "Artigos da União" e, posterionnente, ton1ou-se um de seus
signatários e1n 1813 (AUSTIN, 2021).
Contudo, no que se refere ao Sagrado Arco Real, tem-se que a história trunbé1n não é diferente, pois este era
praticado, tanto por "Lojas dos Antigos", quanto por "Oficinas dos Modernos" ( 1750) (THE PROVINCIAL GRANO
LODGE..., 2021).

Continua...

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Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

Cabe destacar que o Grande Capítulo dos Modernos e não o dos Antigos é que foi considerado como o" 1° Grande
Capítulo do Mltndo" (TffE PROVJNCLALGRAND LODGE..., 2021). Na verdade, o Grande Capítulo dos Antigos não
existia como estrutura dissociada da GLdA, ao contrário daquele da GLdM, portanto ele representava apenas e tão so1nente
um comitê de potência (THE SUPREME GRA~ CHAPTER..., 2021). Houve época (1790s) que existiam mais
"Maçons do Arco Real" dos Modernos do que dos Antigos (SHARITT, 2021 b).
d) - O veredito:
Com o tempo (1791 ), a GL.M viu que as mudanças executadas previa1nente para proteger os segredos e mistérios
da orde1njá não fazian11nais sentido e aceitou a reverter esta situação, co1no era desejado pela GL.A (HEJRON, 2021 ab).
O Grão - Mestre dos Modernos é escolhido con10 Grão-Mestre da Escócia, deste modo a Grande Loja da Escócia
recolhe a GL"M ( 1806). Por conseguinte, indiretan1ente, este 1novi1nento fez a Grande Loja da 1ri anda també1n reconhecer
,
os Modernos (RODRIGUEZ, 202.1). Este duplo reconhecin1ento dos Modernos desn1oralizou os Antigos, que não tinha
mais controle efetivo sobre suas lojas e que sem nenhun1 problema co1neçaram a estabelecer comunicações com seus

rivais (RODRIGUEZ, 2021).
Após algumas décadas de sua fonnação, a GL.A constituída por, especialmente Irlandeses, tomou-se tão Inglesa
quanto a GL.M. Assiin sendo, po1tanto, a união resultou em apenas e tão so1nentede ajustes (1809), pois de fato, nada mais
separava estas potências (DACHEZ, 2021 e).
En1 sendo assi1n, co1n a união ( 1813), os proceditnentos litúi:gico - ritualísticos dos Antigos suposta1nente
prevaleceran1 sobre os dos Modernos. Entretanto, aco1nodações e adaptações que se fizera1n necessárias para dar lógica e
coerência aos ri tuais foran1 obvian1ente feitas ( 1813 - 1816); salientando-se aqui que em co1num acordo entre ambas.
Decorre que as atividades de pós - ttnião rornperan1, de certa fonna, com os trabalhos de pré- união.
Todavia, na prática, acredita-se que o Grau de Mestre e a Orden1 do Sagrado Arco .Real eram inovações feitas,
respectivamente, pela GLdM e a GLdA, apesar de que, em teoria, afirmava-se que foi devolvido aos novos rituais da época
seus elen1entos tradicionais, despojando-os das inovações (CARVAJALe outros, 2021).
,
E certo que, se antes, a Grande Loja de AthoUvalorizava 1nais o Sagrado Arco Real do que a Grande Loja de
Londres e West111inster, porén1, depois, independente desta não ter reconhecido de i1nediato esta Orde1n; seus 1ue1nbros
certa1nente a praticavan1.
Provavelmente, isto se deve, ao fato de que a rivalidade entre potências era be1n nlaior que entre oficinas.
NovaLnente, é preciso enfatizar que o "1° Grande Capitulo" (Excelen1e Grande e Real Capítulo do Arco Real de
Jerusalétn) foi dos Moden1os e não, dos Antigos. Portanto, estas potências favorecian1 diferentes práticas e trabal.hos, 1nas
que co1n o ten1po, contudo, foran1 se apr0Kin1ando, ern alguns pontos específicos que outrora, todavia, causara1n
significativa divergência e rival idade.
Contudo, não se pode deixar de admitir que co1n relação ao iitual, os "Moden1os" tivera1n que renunciar
pratica1nente algun1as de suas modificações e1n favor dos "Antigos", pois só assim conseguiriam a aprovação da Grande
Loja da Escócia e Grande Loja da h·landa e a ratificação deste-s no tocante a união. Entretanto, em uma análise crítica, tem-
se que, atualmente, há ritos baseados en1 u1n, outro ou a combinação de ambos.
Por conseguinte, os "Modernos" aceitaram a Cerin1ônia de Instalação dotada de beleza litúrgica e inaravilhosa
ritualística inerentes (algu111as de suas lojas a praticava1n) beru co1uo as pompas en11Juridas no Sagrado Arco Real, ao passo
que os "Antigos", por conseguinte, a descristianização dos rituais, penuitido a universalização. Enquanto, aqueles
ganbara1n "status", cha1na11do a atenção pelo fascínio proporcionado pela atratividade gerada, estes; sob.revivência e
prosperidade pela potencial capacidade organizacional de expansão produzida.

Continua ...

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Edição 03 - Ano 1- Fevereiro 2022

A união não foi fácil, pois ao longo do processo, co111pron1issos foram assun1idos pelos Antigos e
Modernos, porém havia entre a111bos membros desgostosos e insatisfeitos con1 este acordo, principalmente imiãos de
Lojas em Liverpool, Wigan e Bath (FORKEN, 2021). Entretanto, os rebeldes não lograran1 êxito, por conseguinte, se
rendera1n a Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE).
Então, não houve este ou aquele vencedor ou perdedor, mas inegáveis conveniências de ambos os lados.
Tanto um, quanto o outro foi importante para a Maçonaria Universal, não apenas e tão sornente por suas influências nos
ritos e rituais vigentes, 1nas por ter ofertado a orde1n seu sisten1a organizacional estn1tural e funcional, sob a fonna de
potência congregando lojas.
Se por um lado, pode-se dizer que os Antigos criaram, dispersara111 e popularizaran1 os altos corpos e que sen1 eles a
"Maçonaria Atual", poderia nunca ter aconteci.do (MOORE, 2014), por outro lado, a organização adn1inistrativa
estrutural e func ional da Orden1 en1 potências foi inspirada nos M.odernos (PETERS, 2019), por conseguinte de igual
fonua, sem eles também, a "Maçonaria Vigente", não seria, o que é.
Por fim , a uuportância desta união se verifica, inequivocan1ente, na mais alta relevância que a Grande Loja Unida
da Inglaterra (UGLE) assume no nlundo contemporâneo.
Conclusões:
É preciso dissipar o 111ito sobre a natureza apoliticamente neutra da Maçonaria, pois a Ordem é feita de ho1nens
e estes são frutos do 111eio e do contexto espaço - te1nporal que estrão inseridos. A "Arte Real" pode até ter sido
oficialmente neutra em relação à política, religião, classe social e ideologia, mas seus nie111bros, certan1ente, não o fora111.
O fato é que no jogo de interesses que se estabeleceu entre a GL.A e a GL.M, não havia grupo culpado ou
inocente, tampouco, vítin1a ou vilão; porén1, apenas e tão son1ente homens que, sabendo-se que não eram perfeitos,
deverian1 buscar constantemente se aperfeiçoare1n; por isto eran1 1naçons.
Tanto Antigos, quanto Modernos contribuíran1 para a formação contemporânea da Ordem, apesar da grande
hostilidade por parte de ambos, esta foi sabian1ente diri1nida pela reconciliação que culn1inou na união com o advento da
criação da UGLE. Não se esperava 1nenos daqueles que pro1uulgan1 a fraternidade sob a paternidade de Deus, o Grande
Arquiteto do Universo. A UGLE obteve grande êxito ao superar a a111eaça da igreja, pro111over a de1nocracia e estilnular a
ciência aberta, sendo que co111 isto, pôde-se expandir, exercendo enorme influência e111 n.íveI internacional, tornando-se
referência niundial.
A liberdade de expressão calcada 110 direito do contraditório, se e1nbasada, deve prevalecer, portanto, deste 1nodo
foi que estabeleceu-se este trabalho. Por conseguinte, espera-se ter contribuído para elucidar a ten1ática proposta,
resultando-se na valorização de urna potência, se111 de1nérito da outra.

Agradecimentos:
Ao Grupo de Pesquisa da Ciências Maçônicas (UESB/CNPq), Loja Cavaleiros da Arte Real (CAR - GOB / GOB -
BA) e Loja de Instrução "Peter Willia1n Gilkes" (LI - CAR "PWG").
Referências:
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Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022

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tAhUSHbkGHZt6B4QQ6AEwD3oECBIQAg#v=onepage&q=union%20gran%201ogia%20modernos%20antiguos%20pro%20contras
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Continua ...

Revista Magister Magistrorum • Página 14


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

1
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Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

Características do Rito Brasileiro


Glauber Samos Soares, Mestre Instalado filiado a Loja Maçônica Filadélfia Nº 2783 - Grande Oriente
do Brasil - Bahia. Licenciado em História. Ciências Sociais e Bacharel e Segurança Pública com Pós-
Graduação em Políticas Públicas em Gênero e Raça e Maçonologia História e Filosofia.

In trodução

O Rito Brasileiro é atualmente o 1nais novo rito praticado dentre os ritos


adotados pelo Grande Oriente do Brasil, ele nasce através do decreto 500 datado de
23 de Dezen1bro de 1914 pelo então Grão Mestre Lauro Sodré. Entretanto a
fonnatação litúrgica e doutrinária do rito o qual conhece1nos hoje é datada do início
da década de 70 do século passado.

Foi o então Grão Mestre AIvaro Pahneira que se prontificou a desenhar toda a
formatação do Rito Brasileiro, desde o soerguin1ento em 1968 até a década de 90 con1
o seu falecin1ento Palmeira se dedicou a direcionar os ca1ninl1os doutrinários do Rito
Brasileiro, foi ele nomeado pelo Supre1no Conclave do Brasil cotno o Grande instrutor.

Desenvolvimento

Ao longo das décadas o Rito Brasileiro veio se n1odificando e criando uma fonnatação própria do que fora
apresentado en1 1968. Até então o ritual muito se aproximava do Rito Escocês Antigo e Aceito, desde a formatação do
ten1plo até os procedin1entos ritualísticos. Entretanto o innão Palrneira buscou inserir ele1nentos de vários ritos na liturgia do
recé1n nascido Rito Brasileiro.

Podemos encontrar esses elementos e1n alguns procedimentos ritualísticos que passarei a relacionar:
Inicialmente a co1nposição do te1nplo confonne infonnado acin1a tTás herança dos te1nplos de ascendência latina (Escocês
Antigo e Aceito, Adonhiramita e Moderno) le1nbrando que até a década de 60 as colunas iniciaticas (B e J) do REAA (Rito
Escocês Antigo e Aceito) do Grande Oriente do Brasil tinham a 1nesma disposição que é adotado atualmente pelo Rito
Brasileiro.

O ascendimento e an1ortização das luzes contidas no altar dos jura1nentos que evocan1 os três atributos da divindade:
Onisciência, onipresença e onipotência se assemellia ao procedi1nento utilizado no Rito Schroder entretanto no Rito
Alemão: "As Três Pequenas Luzes, cujo símbolo são as velas colocadas no Oriente, no Ocidente e no Sul, de11ominamos: o
Sol, que ilun1ina o dia; a Lua, que ilun1ina a noite e o Venerável Mestre, que deve ilun1inar o can1inho dos hmãos con1 seu
conheci1nento". As Três Pequenas Luzes, cujo sín1bolo são as velas, denon1inan1os: o Sol, que ilun1ina o dia; a Lua, que
ilumina a noi.tee o Venerável Mestre, que deve ilu1ninar o caminho dos Irmãos co1n seu conhecimento.

A fon11ação do Pálio é original do Rito Adoniramita, no qual o Pálio é feito pelo cruzan1ento das espadas do M.'.
Cerilnônias e dos dois Diáconos. Copiado do Rito Ado11irarnita, o Pálio foi introduzido no Rito Brasileiro já nos prilneiros
rituais onde os Diáconos e o M.'. de Ceri1nônias fazem o procedin1ento utilizando bastões. Já estes bastões te1n sua origen1 do
Ritual de Ernulação, cuja origeLn é 1nais aceita.

No Rito Brasileii·o o Pálio é formado pelos bastões dos Diáconos e do Mestre de Cerimônias sobre o Altar dos
Jura1nentos nos mo1nentos e1n que se abre e se fecha o Livro da Lei pelo im1ão Orador.

A Circulação em loja se faz no sentido horário, confonne ressalva expressa no iten1 35, página 59 do Ritual de
Aprendiz. Tal 1novin1ento reflete o sentido da trajetória solar e1n seu cortejo diário confonne explicação anterior e se
fundan1enta nos estudos astronô1nicos pré-copemicos, em que o a Terra era o centTO do universo. Assin1a1novin1entação e1n
loja seria reflexo da 1novi1nentação dos den1ais astros en1 torno deste centro universal, portanto em sentido horário.

Conlinua ...

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Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022

Aqui cabe a ressalva de que outros ritos ou Hierarquias Maçônicas pode1n eleger n1ovimentação no sentido anti-
horário, sein que necessaria1nente uma seja nlais pura ou correta que outra, ficando a critério de seguir u1na concepção
clássica e tradicional do cortejo dos astros no universo, ou por uma correlação mais científica, ou 1nesmo por razões sem
ligação astronôtnica, com explicações que não seriam tema do presente trabalho.

Quanto à posição do assento dos aprendizes e companheiros no Rito Brasileiro, transcreve1nos abaixo a explicação
mais aceita nos R.E.E.A. e que de maneira reversa fundan1enta a do Rito de nossos trabalhos:

A Loja possui 03 Luzes que a governarn: Venerável Mestre, Prirneiro Vigilante e Segundo Vigilante.
Essas 03 Luzesficarn localizadas em 03 lados do te1nplo: Oriente (VM), Ocidente(/ 0 Vig) e Sul (2 °
Vig). Ora, o ternplo possui 04 lados, ent.ão u1n não possui Luz: o Norte! Por esse 11·1otivo, a Coluna do
Norte é considerada o "lado escuro do ternplo ".
O Aprendiz até pouco tempo atrás era um candidato na escuridão, desejoso de receber a Luz. Seu
lugar é no lado mais escuro do templo onde, simbolican1ente, sua visão poderá se acostu111ar com a
Luz que lhe é dada aos poucos. O Aprendiz está no he1nisjerio norte, enquanto o Sol estájàzendo seu
giro do Oriente para o Ocidente inclinado ao Sul, o que indica que o Aprendiz está no inverno do
hemisfério norte, quando as noites são 1naiores que os dias, ou seja, a escuridão ainda prevalece
sobre a luz do dia.
Isso está muito bem registrado nas instruções dos rituais mais antigos, 1nas se perdeu na evolução
de 1nuitos ritos e na constante "revisão" que quase todos sofre1n constante111ente. -Kennyo fs111ail

Assin1 fazendo a devida correção quanto ao hemisfério em que é praticado o Rito Brasileiro, entende-se porque os
aprendizes ton1a1n lugar ao Sul do Te111plo, u1na vez que eles estão iniciando sua exposição à luz do Conhecin1ento e da
Verdade, seria ofuscante à suas vistas virgens o contato co111 luz mais intensa do Sol da Verdade que transita pelo norte em
sua trajetória diária de ilu1ninação da Terra.

Conclusão

O Rito Brasileiro está em constante n1utação a fi1n de chegar o ápice de sua liturgia. En1 busca de sua identidade busca
inserir vários elernentos na sua fonnatação ritualística cujo objetivo é transfonnar a cerimônia mais dinâmica e simbólica,
onde cada procediinento executado esteja associado diretamente aos ensinamentos maçônicos.

Referências Bibliográficas:

1. Ritual de Aprendiz Maço1n - Rito Brasileiro (Edição 2009)


2. Ri tual de Aprendiz Maçom - Ri to Schroder (Edição 2009)
http:Uwww.noesguadro.eom.br/2011/01/por-gue-os-aprendizes-se-sentam-no.html
3.
4. Jornal o Semeador Edição 20 - Datado de 1990 (Supremo Conclave do Brasil para Maçons Livres Antigos e
Aceitos
5. Cartilha Jovem Aprendiz - O Rito Brasileiro (Edição 2017)

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NAS VEREDAS DO COMPANHEIRO


MAÇOM: A ESCADA EM CARACOL
Adenilson Souza Cunha Jr, Doutor em Educação pela UFMG, Professor
Universitário. Membro da Loja Maçônica Acadêmica Guardiões da Alpha Crucis n.,.
4469, Vitória da Conquista - BA. Mestre Instalado, Grau 32, Rito Brasileiro.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo do silnbolisn10 1naçônico, tendo en1 vista a sua


complexidade, nos apresenta luna difícil tarefa en1 discorrer sobre
determinadas ten1áticas. A própria literatura produzida no meio maçônico
não é uníssona e1n diversos pontos, en1bora existatn entre elas algumas
convergências que serve1n de l.imiar e poden1 ser tomadas cotno referencias
confiáveis para nortearen1 os estl.!dos e pesquisas da área. DYER (201 O, p.
29), ao discutir sobre a especulação dos sín1bolos na 1naçona1ia, argu1ne11ta
que "11e11hu1na época em especial tem o monopólio do conceito original ou
profundo, sendo apropriado que as sucessivas geraç.ões de 111açons
reconsidere1n aqueles sín1bolos originais".

U1na das te1náticas que se insere rie.ssa condição, objeto de e.studo e1n análise, é a escada e111 caracol. Elemento
alegórico que constitui o simbolismo do Grau de Con1panheiro M.açon1, sua doutrina está relacionada à passage1n bíblica
citada no Primeiro Livro dos Reis 6, versículo 8 "Aporta da câ1nara do n1eio estava ao lado direito da casa, e por caracóis se
subia à do meio, eda do meio à terceira" e inspira diversas interpretações a seu respeito.

E1nbora inserida na imagen1 que representa a alegoria outros ele1nentos como a divisão dos lances da escada em 3, 5
e 7 degraus e a inscrição de substantivos atribuídos a cada um, na passagen1 bíblica essas infonnações são inex.istentes,
sendo que diversos autores se apropriaran1 da citação bíblica para atribuir e especular relações entre a nles1na e as outras
si111bologias do segundo grau maçônico, gerando assim diversas tendências interpretativas, o que foi se constit1iindo co1110
sendo "a lenda do segw1do grau". O fato é que a escada en1 caracol da fo1ma a qual conhecen1os, ou seja, sendo luna parte
con1positiva do Templo de Salon1ão, está recheada de elementos que estabelecem relações com o conjunto de informações
relativas ao segundo grau.

AESCADAEM CARACOL

A itinerância niaçõnica que con1eça pela Iniciação e prossegue através da Elevação ten1 o intuito de preparar o
M·açom para o apogeu dos ensinan1entos sin1bólicos, e a escada em caracol alinJenta uo1 solo fértil para compreender essa
relação.

.
Espera-se que o Con1panhei.ro Maçom, para progredi.r
.
em seu avança1nento, tenJ1a construido e1n seu interior os
ensina1nentos do Grau de Aprendiz. A medida que ele foi utilizando a régua, o 1naço e o cinzel, tornou-se apto paraex.ercer a
sua arte e, consequentemente progredir. Os ensi11an1entos do segundo grau orientam na perspectiva de que o trabalho
manual do Aprendiz foi concluído, ainda que essa conclusão seja provisória, visto que o trabalho do 111aço1n é inconclusivo
do ponto de vista da perfeição. O can1inho agora por fazer acontecerá através de seus passos pela estrutura helicoide. O
co111panheiro, si111bolica1nente, não 1nais arrasta seus pés, ele já consegue desenvolver seus passos con11naiorfirmeza, e faz
desse cami11ho tortuoso da escada seu objeto de superação. Nessa escalada, o Companheiro Maçom deverá se dedicar ao
trabalho moral e intelectual.

(DYER apud WILMSCH URST, 201 O, p. 160) afin11a que este últi:n10 "vê un1 in1portante significado na Escada do
Segundo Grau. Ele considerava que, simbolicamente, o progresso, nutn sentido moral, deve ser para cima". Assiu1, a
escada representa uma filosofia de significações.que deve ser compreendida pelo Maçom e1n un1 sentido a1uplo, en1 todos
os seus aspectos e totalidadés.
Continua ...

Revista Magister Magistrorum • Página 21


Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022
Os três degraus que co1npõe o pruneiro lance de escadas nos remete a w11a polisse1nia de interpretações, sobretudo
porque na image1n é possível visualizar a irnage1n do pnuno, do uivei e do esquadro, sendo que esses objetos poden1
assu1nir representações que podem variar desde a ideia de que representan1 as joias fixas de u1na Loja, cada qual com seu
aspecto sin1bólico específico, até os aspectos mais filosóficos e especulativos possíveis.

O segundo lance da escada, composto por cinco degraus, també1n não foge a diversidade de interpretações e, tendo
em vista o quanto o número cinco é significativo para a doutrinado Grau, toma-se elemento central das análises que se tem
feito sobre a escada em caracol na produção literária niaçônica.

Cinco são as viagens iniciáticas, cinco são sentidos buu1auos, cii1co é o "te1npo" do Con1panbeiro Maçon1. A.
nun1erologia, tão presente no 1uisticismo n1açônico, atribui a o nún1ero cinco ao quinário·no hon1en1, representando a v ida,
entre tantas outras analogias a este nú1nero.

O apogeu da subida até o quinto degrau descortina a Estrela Flamejante, vivencia a sua intensidade luminosa e
revela a letra G centralizada e1n seu 1neio. O con1panheiro encontra-se no n1eio da escada e1u caracol.

O te1npo do con1panheiro é a juventude, fase de transição entre a infância do aprendiz e a idade adulta do 1nestre. E'
nesta etapa que a força ).atente e o vigor se acentuan1 para a maturidade, pois sendo u1n período de transição, procura e
adquire conhecimentos diversos, obtendo assim o 1nelhor resultado de suas experiências.

A construção intelectual do co1npanheiro pennite o avanço na escada em caracol com vistas ao donúnio das sete
artes liberais da antiguidade ou as sete artes liberais ciássicas, representada pelos sete últimos degraus. Eles são
correspo.ndentes à Grau1ática, a Retórica e a Lógica (triviu111) e a Arit1nética, a Geo1netria, a Música e Astronon1ia
(quadriviu111) fazendo co1n que o Con1panheiro Maçon1 seja "o Obreiro reconhecido apto para exercer sua arte, e consciente
de sua energia de trabalho, cujo dever é realizarpraticamente o plano teórico traçado pelos Mestres" (GAIGA, 2012, p. 3).

Completada a.subida pelos 15 degraus da escada, o Co1npanheiro Maço1n está diante da porta da Câ1nara do Meio,
onde receberá o seu Aun1ento de Salário, prosseguindo nas tarefas que lhes são exigidas. Nas palavras de (DYER, 201 O,
p.158), "Por tudo isso, o Segundo Grau te111 un1 especial significado próprio e 1nostra o candidato con10 um artífice na
metade do seu ca1ni nho".

É importante salientar aqui que apesar dos indícios que possivelmente daria1n coerência a tnna possível relação
existente entre a educação rnedieval (Alta Idade Média) e a maçonaria operativa, tais elementos que constituern o
si.1nbohsmo do Grau de Companheiro Maço111 forrun introduzidos somente na fase especulativa da Ordem.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUE ILUSTRAM A LENDA

A Lenda da escada no fonnato de caracol é um exen.1plo de como se funda.menta ben1 a adoção de símbolos e
alegorias como estratégia pedagógica para os ensinamentos maçônicos.

.Por exe1nplo, considerando que as sete artes liberais (trivium e quadrivi1un) fazia parte do currículo das escolas
1nedievais, cujo acesso era apenas das camadas privilegiadas, ou seja, para aqueles que 11ão erarn servos e, portanto livres,
na estória, poderia-se dizer que os Maçons Operativos, que estavan1 a serviço da lgreja e co1n ela 1nanti11ha estreita relação
para a construção das grandes catedrais, tinl1a1n acesso sob os auspícios desta os conteúdos dos estudos ensinados e111
escolas 1nedievais. Outra questão a ser colocada é a de que o acesso a esse tipo de conheciJne11to poderia ter sido adquirido
através de mestres livres, e1n urna proposta de educação não "institucionalizada", que ocorria fora dos muros das
instituições de ensino.

Outra ocorrência que ilustra o debate é o fato de que os ho1ne11s 1nedievais valiam-se muito mais da expressão oral
para a transn1issão do conhecimento do que da palavra escrita tal con10 entenden1os, o que sinaliza para a possibilidade de
alguns "segredos" relativos a esse conbecin1ento adquirido fosse transmitido co1no falan1os no jargão n1açônico "de boca e
ouvido".

Conlinua...

Revista Magister Magistrorum - Página 22


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022
EM (JN) CONCLUSÃO
,
E sabido que a introdução do grau de Mestre Maçom se deu na Maçonaria especulativa e, pottanto, na Maçonaria
operativa ex istia apenas os Graus de Aprendiz e Compan beiro.

Assim, o Grau de Companheiro tem uma itnportância histórica significativa, tendo em vista que nele se desenvolvia
a maior parte dos estudos simbólicos e filosóficos.

No conjunto desses eletnentos, a escada em caracol é de fato u1na rica alegoria a ser explorada e (re) visitada a todo
ten1po pelos 111embros da Orden1, e especiahnente os que se encontra1n neste Grau.

Corroborando com a fala de (DYER, 201 O, p. 31 ), "O estudo dos símbolos, sem a aplicação prática em sua vida, não
passará de um mero exercício intelectual: e se você tentar, simplesn1ente entendê-los se1n vivenciá-los, o resultado será
mais problemas do que proveitos".

Portanto, façan1os nas veredas do Companheiro Maço1n, um te1npo de estudos e reflexões e1n busca no nosso
melhor aperfeiçoa1nento moral e intelectual.

REFERÊNCIAS

ADOUM, Jorge. Grau do Companheiro e Seus Mistérios. São Paulo: Pensa1nento, 201 O.
DYER, Colin. O sitnbolismo na Maçonaria. São Paulo: Madras, 201 O.
GAIGA, Luís Antonio . Instruções Básicas do Companheiro Maço1n. No Prelo, 2012. Disponível e111:
https://pt.scribd.com/doc/141500366/lnstrucoes-Basicas-doCompanheiro-Macom-LAG Acesso em l O1nar 2015.
GOB. Ritual do 2° Grau - Aprendiz Maçom R:.E:.A:.A:. Grande Oriente do Brasil. Brasília, 2009.

Revista Magister Magistrorum - Página 23


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

GOB lança Concurso de Produção Literária


''PROSA E POESIA''
Estimular as atividades Culturais e GRANDE ORIENTE DO BRASIL
Educacionais no Grande Oriente do Brasil é LANÇA CONCURSO DE PRODUÇÃO LITERÁRIA
prioridade nas atividades das
Comemorações do Bicentenário. A inclusão f/Jw.ra e f/Joesia
cultural com foco na produção literária no 1
calendário dos 200 anos, foi introduzida
através do Concurso de Produção Literária
do Grande Oriente do Brasil "Prosa e
Poesia.

Esse Concurso irá pertn itir a troca de


experiências literárias e cu l turais,
fomentando a difusão e registros do '.
~' 1

,_-'< '(' -
-•
·•
patrimônio cultural da maçonaria. '

As Inscrições e o Decreto 2035, de 17 de E o GOB junto d e você no ano do blcentenárío!.

Janeiro de 2022, estão disponíveis através • 11 ,. 1 1 ., 1r.f ! r i

do link:

https ://www.gob.org. br/ concurso-nacional-de-producao-1 iteraria-200-anos-do-gob/ .

As inscrições estarão liberadas de 20/01 /2022 à 30/04/2022 e a l a avaliação e seleção dos


trabalhos serão no período de O1/05 a 30/07/2022.

Leiatn o Decreto no link disponibilizado aqui na chamada e saibam como participar desta
importante oportunidade de fomentar a produção literária no ano do Bicentenário do Grande
Oriente do Brasil.

Revista Magister Magistrorum - Página 24


Maçonaria e Religião:
por uma perspectiva diferenciada.
Mestre Maçom dos Quadros da ARLS Mário Juarez de Oliveira, 4.547, GOB-RS; da LEP
Uníversum 147, GLMERS; da Loja de MESA Victor Meirell.e s; e, M embro Correspond.e nte da
Academia Maçônica de Letras, Ciências, Artes e do Ofício do GOB - BA. O autor não expressa o
ponto de vista das .Lojas, Obediências, Potências e Instituições das quais participa, m as tão
somente exerce a sua liberdade de pensamento e expressão, razão pela qual o discurso,
também por se tratar de um ensaio, por vezes se manifesta na primei ra pessoa do singular.
Agradeço a leitu ra prévia e as contribuições dos Irmãos João G. M . Gobo, da ARLS
Guatimozim, 68, GLESP; Gustavo V. Patuto, da ARLS Renovaçã0 da Luz, 155, GOPR; e, Jorge F.
Perpétuo, da ARLS Compassos de Lu z, 201, GLMER5; todavia, declaro-me responsável pelas
opiniões e eventuais erros rem.anescentes. E-mail: ivan.pinhejro@ufrgs.br.

Resumo: Maçonaria e Religião são temas que geram acalorada discussão e, não raro, com alguma polêmica.
Em meio a tanto, o tema ganha novas dimensões, reduz as áreas de atrito e tem enriquecida as perspectivas
de análise quando é redirecionado: ao invés de abordado como religião, apreciado no contexto da
"espiritualidade", como aliás já é habitual na Maçonaria. Destarte, iluminar a relação Maçonaria e Religião a
partir de uma nova perspectiva, a da espiritualidade material, noção desenvolvida por Comte-Sponville, é o
objetivo deste trabalho. Escrito na forma de um ensaio bibliográfico, o texto recorre ainda à contribuição de
diversos pesquisadores atuantes no campo das neuroclências. Não obstante a cautela da maioria dos
estudiosos, a busca pela identificação do lugar de Deus no cérebro já acumula resultados que têm levado
alguns à euforia. O certo é que a ciência e a transcendência, à margem dos preconceitos, cada vez mais
trabalham juntas. em torno da noção de espiritualidade, para a promoção da qualidade de vida e das relações
humanas.
Palavras-chave: maçonaria, religião, ciência e espiritualidade.

Abstract: Freemasonry and Religion are themes thatgenerate a lot of discussion and, not rarely, with some
controversy. However, the theme gains new dimensions, reduces areas of friction and has enriched the
perspectives of analysis when it is redirected: instead of being approached as a religion, appreciated in th·e
context of "spirituality", as is usually in Freemasonry. Thus, to illuminate the relationship between Freemasonry
and Religion from a new perspective, that of material spirituality, a notion developed by Comte-Sponville, is the
aim bf this work. Written as biblíographlcal essay, the text also d.raws on the contribution of several
neuroscience researchers. Despite the caution of most scholars, the search for identifying the place of God in
lhe brain has already garnered results that have led some to euphoria. What is certain is that science and
transcendence, outside of prejudice, increasingly work together, around the notion of spirituality, to promote
quality of life and human relationships.
Keywords: freemasonry, religion, science and spirituality

INTRODUÇÃO .
Combinados, Maçonaria & Religião são temas que, como se diz, têm "dado muito pano para manga" e,
não raro, com alguma polêmica. Todavia, penso que desde há tempos a matéria já está devidamente
esclarecida pois, como também afirma o dito popular, "quando um não quer, dois não brigam". O tema, como
visto no artigo antecedente, contempla o que ora se denomina de abordagem clássica que se traduz por:
• do ponto de vista da igreja católica prevalece o estabelecido na Bula ln Eminentí mediante a qual o Papa
Clemente XII, em 28.09.1738, excomungou a Maçonaria. E desde então, "[ .. .]sucessivamente, em
1848, 1864, 1865, 1869, 1873 e 1973, os Papas Pio IX e Leão XIII produziram, respectivamente, 350 e
600 documentos contra a Maçonaria e a Carbonária" (GOMES, 2004, p. 90). A mais recente, a
"Declaração Sobre a Maçonaria", expedida pelo à época (novembro/1983) Prefeito da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger (atual Papa Emérito), estabelece:

Continua ...

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Penilanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus
princípios foram sempre conside.Fados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece·proibida a inscrição
nelas, Os fiêis que pertencem às associações maçó.nicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se
da Sagrada Com'unhão;
• de outro lado, a Maçonaria se apresenta como instftuição aberta e "acessivel aos homens de todas as
classes e de todas as crenças religiosas e políticas• {RITUAL, 2007, p.8), o que esclarece o acolhimento
também de clérigos de todos os credos.
Eis pois, o estado da arte: de um lado, o firme p·osicionamento da Igreja Católica , muito ciosa dos
princípios fundamentais que levam às contradições entre o cristianismo e a Maçonaria ela não abre espaço às
concessões que facilitariam a aproximação institucional; do outro, a multiplicidade de origens que caracterizam
a história e a formação doutrinária da Maçonaria a tornam propensa à elasticidade conceituai e às diferentes
perspectivas - substratos da tolerância - que. favorecem a convivência dos diferentes, aproximahdo e
harmonizando: "[...] assim a maçonaria se torna o centro de união e o meio de conciliação da verdadeira
amizade entre as pessoas que poderiam de outra forma ter permanecido perpetuamente afastadas.
(ANDERSON, 2012, p. 149)
Embora o tema seja amplo, o leitor perspicaz já terá percebido que o debate está circunscrito: de um
lado a Maçonaria; e, do outro, a Igreja (Religião) Católica. Em parte isto se explica, afinal, em que pese o
sincretismo que caracteriza a popula_ ção, o Brasil também é considerado o maior país católico do mundo.
Contudo, nem o primeiro polo (Maçonaria) é um construto homogêneo, uniforme e institucionalmente unitário,
e tampouco o segundo (Religião), o que impede o reconhecimento de qualquer manifestação generalizante
como sendo verdadeira, eis que sempre haverá não apenas uma, m·as várias exceções "à regra''. Assim é, que
o tema comporta múltiplas perspectivas numa sehda sem fim e sem que se possa, em cada ponto desta
multiplicidade, distinguir com clareza e definitivamente, o lado certo do lado errado_, pois ambos,
simultaneamente e no reco.rte da sua perspectiva, se consideram corretos e percebem os outros como
errados. O tema avança por outros domínibs, a exemplo da geopolítica internacional, mais especificamente, os
debates (e embates) sobre a Nova Ordem Mundial, na qual a Maçonaria e a Igreja Católica estariam no
epicentro dos mais recentes. e importantes acontecimentos, o que, se lhe confere permanente atualidade, não
reduz a polêmica, justo o contrário.
Em meio a tanto, o tema ganha novas dimensões, reduz as áreas de atrito e tem enriquecida as
perspectivas de análise quando é redirecionado: ao invés de abordado como religião, apreciado no contexto da
"espiritualidade", como aliás já é habitual na Maçonaria. Desse modo, não apenas se afasta do domínio
institucional e dogmático das religiões (e das tensões, sobretudo quando a figura de Deus é trazida ao centro
dos debates) como ganha espaço enquanto objeto de estudo e pesquisa dos acadêmicos, dos maçons, e
também maior objetividade, razão pela qual se constituiu como foco deste trabalho.
Ademais, essa postura conduz à essência do que realmente importa à Maçonaria,
afastando-se da polêmica se ela é ou não uma religião, da discussão em Loja aberta de matérias
de natureza eminentemente religiosas (RITUAL, op. clt.) - tema que, de sorte, já está pacificado na
maioria dos landmarks (ISMAIL, 2011 ), bem como esclarecido por Anderson (2012, p. 157) quando
prescreve o "comportamento depois do fechamento da Loja e antes da saída dos Irmãos".
Tampouco se admite proselitismos (antessala de atritos) pois, conforme observa Levi (1977, p. 57),
ressaltando que os juízos se altera(ra)m ao longo dos tempos:
[ ...) os entusiasmos religiosos conduzem apenas a outros numeroso.s excessos [ ...) os Cristãos são cães para os
Muçulmanos, os Judeus são criaturas obscenas· para os Cristãos, os Protestantes são Hereges, os ·Católicos são
Papistas ... Onde [estão) os homens razoáveis?
Destarte, iluminar a relação Maçonaria & Religião a partir de uma nova perspectiva - a da espiritualidade
material - é o objetivo deste trabalho.

DESENVOLVIMENTO
Embora para alguns, a e.xemplo de Ankerberg e Weldo.n (1995) e vários por i;iles citados, a
Maçonaria seja efetivamente .uma religião, em última. análise o foco da ação ·da Ordem é o homem
considerado em perspectiva holística, noetico, isto é, nas suas dimensões física, psíquica e
espiritual, esclarecendo que espiritual não implica, necessariamente, em ser religioso e tampouco
crer em Deus(es). A título de exemplo, entre outros, como Gleiser (1997), Comte-Sponville (2016,
p. 12) chama a atenção que "Buda, Lao-tsé ou Confúncio não são deuses, nem invocam nenhuma
divindade, nenhuma revelação, nenhum Criador pessoal ou transcendente. São apenas homens
livres, ou lib'ertados: são apenas sábios ou mestres espirituais", aos quais pode-se ain'da acrescer
os adeptos da tradição Jainista.
Continua..•
.
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Revista Mag
L •

•• '~\j ·~·1,···'
Dada essa premissa, a Fraternidade, entãô, recbrre a variados instrumento.s pata ajudar os seus
Iniciados - designados buscadores da verdade - a responder as chamadas questões fundamenta is porque
relac.ionadas à existen·cia em si mesma: de onde eu vim; para aônde eu vou; e, qual o sentido da vida? Aquele
que se dedicar a essa$ reflexões inexoravelmente enfrentará: 1) a questão dos valores (bem, mal, verdade,
justiça, beleza, etc.) que em "estado puro", para muitos, só existe no plano da transcendência; 2) a dos
universais versus particulares; 3) a distinção entre substancial versus acidental; assim como, entre outras, 4) q
que Frank! (2019) denominou de "tríade trágica" - o sofrimento, a culpa, e a morte. E serão as reflexões
motivadas a partir desses questionamentos que possibilitarão não apenas o ~maior) autoconhecimento de
quem as elabora, mas também o estabelecimento do conjunto de valores-referências (princípios) que
orientarão as suas condutas morais, tanto no cotidiano como em ordem à transcendência, projeto este do qual
muitos se ocupam.
Considere-se pois que;
A.espiritualidade pode ser definida como uma "prope.nsão· humana a buscar significadô para a vida por meio de
conceitos que transeendem o .tangível, â procura de um sentido de con·exão eom algo maior que si próprio". A
espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência relfgiosa . Segundo diversas confissões religiosas, a
espiritu.alidade traduz o modo de viyercaracterlstico deum crente que busca alcanç.a r a plenitude da sua relação com o
transcendental. Cada doutrina religiosa con1porta uma dimensão especifica a esta descrição geral; mas, no aspecto
religioso, pode-se traduzir a espiritualidade tomo uma, "dlmens~o do homem", como ser naturalmente religioso, e que
constitui, de modo temâtieoou implícito, a sua mais prof4nda essência e aspiração.Alguns autores, porêm, defene::Jem a
exis(ência de uma espiritualidade inclusive em meio ao ateísmo. André Comte-Sponville fala de uma "espiritualidade
s~m Deus" no s.e nlido de uma abertura para o ilimitado, um reconhecimento de sermos seres relativos, mas.abertos
para o absoluto. Seria o reconhecimento da dimensão misteriosa e ilimitada da existência, que não precisaria passar por
alguma explicação religiosa; uma e.xp:eriêheia que vai alêm do intelecto.
Conforme se verifica, o construto "espiritualidade" é ainda mais amplo do que "religião'', mas isto,
contrário ao senso, não traz dificuldade.s adicionais aos objetivos or-a prêtendidos, pois sem desprezar a
espiritualidade que se confunde mesmo com a religião em determinados aspectos, este tr<:)balho tem o seu
foco dirigido para a dimensão material da espiritualidade. Ademais, como já revela a citaÇão, qualquer tentativa
de definir espiritualidade não escapa de relacioná-la nã·o apen.as com a religião, mas também com outros
construtos a exemplo da transcendência, misticismo, metafísica, ocultismo, esoterismo e outros de semântica
análoga ou afim, alérn, é claro, do recurso às expressões como fé, crenÇqs, oração, meditação, alma, etc.
Todavia, em razão dos limites editoriais estabelecidos, neste texto não será possível adentrar em detalhes e
rigores conceituais que em outros contextos se imporiam. E para que.se tenha mais clara .a mult.icolínearidade
exjstente, tome-se, por exemplo, outro entendimento acerca da ''espiritualidade":
Entre as caracteristicas medidas estava a chamada "transcendência", que abrange três pontos: capacidade de
esquec~r de si mesmo (ou de éntregar-se de maneira Intensa e profunda a uma experiência); identificação
transpessoal (ou sentimento de estar interligado com o universo); .e, misticismo (predisposição para crer em fatos não
demonstráveis). Juntos, os três aspectos constituern o qu.e mais se <:iproxima de uma definição padronizável de
espiritualidade. (OVADIA, s.d., p. 11 )
Paralelamente, observa-se um campo crescêrite de estudos: o das chamadas neurociências,
denominação considerada um ramo da biologia dedicada ao estudo do funcionamento da mente e do cérebro
(M&C) que reúne saberes provenientes de inúmeras áreas do conhecimento: genética, antropologia,
psicologia, anatômofisiologia, qulmica, físJca, matemática (redes, grafos), computação, entre outras. A
diversidade dos saberes indispensáveis ao conhecimento da M&C indica.a complexidade do objeto em estudo,
prenuncia as dificuldades e recomenda cautela frente aos resultados.
O advento das teçnologias de imageamento (ultrassono_grafia, raio X contrastado, tomografia,
ressonância magnética e outras) aplicadas ao diagnóstico ampliou consideravelmente as possibilidades de
conhecer o funcionamento da M&C, cujo estudo até então era limitado às ocasionais autópsias ou à ocorrência
de acidentes graves combinados à análise dos comportamentos - anteriores ou posteriores ao sinistro ou a
eventos específicos. As novas. tecnologias permitiram, então, obs.e rvar o cotidiano do cérebro em
funcionamento tanto no seu estado normal (saudável), quanto quando alterado por alguma patologia ou
elétroquimicamente estimulad0. Entenda-se por "observar o cérebro em funcionamento": (1) a identificação
das áreas (módulos cerebrais) com maior irrigação sanguínea concomitantes à maior intensidade sináptica
pelo efeito dos neurotransmissores; em simultaneidade (2) á realização de determinadas tarefas, o que
permite que se estat:ieleça uma associação, quiçá correlação entre os çtois fenômenos (1 e 2): alimentar-se, ler,
dormir, escrever, assistir a um filme, participar de uma audição, etc., bem como sob diferentes estados
emocionais (tranquilidade, irritação, ansie.dade, receio, etc.).

Continua..
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No eas0 em tela Importa destacar os estados correspondentes à oração, .à meditação. ao sonho lúcido, à
invocação e também aos momentos de epifania, todas práticas associadas àterc.eira dimensão do homem - a
espiritualidade em diferentes niveis, assim como o pensamento concentrado no sentido a (re)estabelecer em
algum grau a (re)ligação com um elo perdido e só encontrável em nível transcendental, para além da razão
lógica e do estado de consciência.
Passado algum tempo e Incontáveis e)(perimentos com públicos de diferentes perfis Govens, adultos.
laicos, clérigos - freiras, monges, rabinos, etc. -, com ou sem estímulos - vigília, repouso ou consciência
alterada-, com ou sem de.terminadas patologias, com ou sém grupos de controle. etc.) torna-se então possível
identificar a existência (ou não) de padrões de comportamento cerebral - a constituição do substrato (eu base)
neural (r.ede de neurônios e módulos envolv.idos) asso.clad0 às atividades desempenhadas vis-à-vis as
condições da sua realização. Complementa a primeira etapa do estudo, a narrativa dos participante·s no que
tange às emoções·e aos sentimentos antes, durante e após os experimentos: angústia ou tranquilidade, bem-
estar, "paz.de espírito", alegria efusiva, pr.azer, estím.ulo, etc.
A essas associações de primeiro nivel outras tantas podem ser agregadas mediante cruzamentos de
dados (à e)(emplo dos relacionados às condições de saúde) para, gradualmente, completar a paisagem do
conhecimento acerca do funcionamento da M&C. Em outrçi linha de análise os estudos são enriquecidos a
pârtir das correlações que se e.stabelecem entre: 1) as áreas estimuladas no exercício das atividades
relacionadas á espiritualidade; e, 2) as mesmas áreas porém em resposta à realização de outras atividades.
Há pois uma gama enorme de associações que podem revelar (ou não) desde a existência de efeitos indiretos
até mesmo relações de causa-efeito entre as inúmeras variáveis intervenientes.
Os pesquisadores buscam não só compreender o que ocorre em termos de transformações físicas no
cérebro (a base neural : módulos e redes ativadas) durante.uma vivência espiritual e as condições sob as quais
se verificam, mas tam.bém os even~uais efeitos destas sobre a realização (ou percepção) de outras atividades
ou "estados de espirita". A "imposição das mãos", assim como a oração intercessória, esta última habitual em
certos Ritos ma_çônicos, por e~emplo, podem estar relaci.onadas à "imagem neural do nosso e.u" de que nos
fala Nicolelis (2011, p. 355).
e
Contudo, tratand0-se de um campo de estudo ainda incipiente, preciso, conforme já salientado,
redobrada cautela com as conclusões e inferências.
Atualmente são inúmeros os grupos de pesquisa e Instituições distribuídas pelo mundo que têm se
dedicado ao tema, Já existindo um razoável consenso de que Independentemente da crença, as áreas
estimuladas no cérebro são praticamente as mesmas quando postas em prática as atividades que provocam
estados de consciência alterada, a exemplo da meditação, da prece, das invocações teúrgicas, da ascese
continuada, entre outras, inclusive com estimulantes químicos (a exemplo de chás e incensos). Nesse sentido,
por curios.o que seja, o.s primeiros reguladores da Maçonaria Moderna, ainda que por motivos diferenciados
parecem ter acertado: não cabe a dls.crlminação por crenças, els que, senão todas, quase todas guardam
semelhanças tanto nos objetivos pretendidos como também no que refere aos meios.
O mesmo se observa com as sensações experimentadas: os depoimentos, quase que unanimemente
remetem à sensação de paz e aos sentimentos positivos orientados à construçãd; assim, independentemente
da religião, as práticas a_ ssociadas à espiritua.lidad_e não só fazem bem a quem as pratlca, com se tem a
expectativa de que, por indução, gerem uma reação em cadeia nó seio da com.unidade. Algumas pesquisas
apontam que aqueles que se dedicam ao des·envolvimento dc:i espiritualid_a'de, de regra apresentam melhor
qualidade de vida e saúde objetivamente aferida, no que implica em um estado ampliado de. felicidade lato
sensu. Em estudo mais focado, Pinheiro (2014), baseado em Zak (2012), mostra que muitas práticas
maçônicas só dadas a saber aos que frequentam com regularidade as Lojas, mesmo sem o conhecimento
prévio do devido·lastro cientifico, hoje se sabe que contribuem para o bem-estar, o desenvolvimento do espirita
fraterno, o aumento do sentimento de segurança ti pico dos participantes de coletivos, entre outros aspectos.
No momento subsequente, como por efeito de reação em cadeia, repercutem nas relações familiares,
profissionais e de amiz:ade, portanto, para muito além do perímetro das Lojas. De outro lado, na linha de cautela
já observada, a priori não se.pode descartar a hipótese de que, para muitos (a exemplo dos solitàrios, dos mais
sensíveis âs pressões profissionais e do cotidiano em geral), b mero convfvio com os Irmãos em Loj;:i,
independentemente de qualquer prática, per se já poderia dar causa aos referidos sentimentos positivos.
Reitera-se: embora se vislumbre um novo caminho, há ainda muito a ser estudado.
Prevavelmente em razão d0 grande ac.e.rv0 de conheéimento já acumulado, mas a,inda censiderado
insuficiente fr€nte às necessárias e indispensáveis evidências empíricas, o que leva á cautela dos
pesquisadores, os mais precipitados e tomados por um otimismo anteciparam em apontar para a descoberta,
ne cérebro, do lugar da divindade.
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A rigor trata-se de comportamento de difícil compreensão, pois tanto no domínio da ciência quanto no da
metafísica a existência de Deus está fora do entendimento humano. Senão vejamos: no que tange ás
exigências oa ciência moderna e à luz dos paradigmas vigentes não há como submetê-Lo à prqva, assim
como a outros tantos fenômenos (POPPER, 1989; WEINBERG, 1996; LASZLO, 2008; COMTE-SPONVILLE,
2016), e no que concerne á metafisica, a abordagem apofática, de Dionísio Pseudo-Areopagita (2015) tem
sido largamente adotada, inclusive pela própria Maçonaria, no seio da qual é habitual referi-Lo como o
inefável (ou o incognóscivel), razão pela qual, quando muito e para os que creem, d' Ele só é possível
aproximar-se a partir de práticas teúrgicas e com a mediação das entidades angelicais (DIONISIO Pseu.do-
Areopai;iita, 2015a; PASQUALLY, 2008).
E fato, infelizmente, que em qualc;iuer domínio, os excessos, tanto dos "homens de ciênçia" quanto dos
"homens de fé", tendem à intransigência, ao fanatismo, ao obscurantismo e daí às tragédias, até mesmo
quando se trata do amor, como bem revela Lewis (2009) em seu tratado sobre o tema. Ademais, para alguns,
muitos dos exageros atribuídos ás crenças (e religiões) não podem ser atribuídos a estas propriamente ditas,
pois resultam, antes de tudo, da sua instrumentalização operada à luz dos interesses do poder secular, sendo
esta, entre outras, uma das razões porque a Maçonaria também proíbe nos seus corpos o .debate político
sectário.
Ao lado das tecnologias de imageamento os cientistas têm recorrido a outras fontes para melhor
conhecer, explicar e avaliar as relações do homem com a sua transcendência, como é o caso de Hamer
(2005) e Collins (2007), que recorrem ao mapeamento genético na expectativa de, com larga licença,
identificar o Gene de Deus. Partindo oa constatação de que as manifestações de fé e que determinadas
práticas sugerem que o senso de espiritualidade datam da pré-História da humanidade, Hamer (op. cit. , p. 20)
levanta a hipótese de. que "a espiritualidade é uma das heranças genétícas humanas fundamentais",
enquanto que Behe (1997), a partir de casos pontuais, aponta os entraves do darwinismo e discute as
tensões, mas também os encontros entre "ciência, filosofia e religião" (op. cit., cap. 11 ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tanto os experimentos alavancados pelas tecnologias de imageamento, como os lastreados na
codificação genética não estão livres da rigorosa contestação dos pares; ademais, insiste-se que tudo ainda é
muito recente e também abala as convicções dos próprios pesquisadores; entretanto é sem dúvida, têm
aberto e pavimentado um largo caminho para o conhecimento mais aprofundado acerca da natureza
humana, em especial da M&C, que é, afinal e em última instância, o objeto de interesse e estudo tamb·ém da
Maçonaria.
Finalmente, conforme prenunciado no subtítulo ("por uma perspectiva diferenciada"), para a
Maçonaria avançar no debate sobre .a espiritualidade e suas repercussões no cotidiano, tendo assim
melhores condições de preparar os Irmãos, não se faz necessário adentrar e conflitar nos domínios próprios
das religiões, alimentando indefinidamente a velha querela entre Maçonaria versus Religião. Há caminhos e
reflexões, senão alternativas, complementares acerca da espiritualidade e que trazem respostas mais
objetivas e tempestivas às demandas e aos problemas cotidianamente enfrentados pelos Irmãos de Ordem.
Que a Maçonaria passe da teoria à prática - da potência ao ato.
REFERÊNCIAS
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ANKERBERG, John; WELDON, John. Os Fatos sobre a Maçonaria: a maçonaria entre em conflito com a fé
cristã? São Paulo: Vida Nova, 1995.
BEHE, Michael. A Caixa Preta de Darwin: o desafio da bioqu ímica à teoria da evolução. Rio de Janeiro:
Zahar, 1997.
COLLINS, Francis S. A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe. São
Paulo: Gente, 2007.
COMTE-SPONVILLE, André. O Espírito do Ateísmo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016.
DIONISIO Pseudo-Areopagita. A Teologia Mística. São Paulo: Polar, 2015.
DIONISIO Pseudo-Areopagita. A Hierarquia Celeste. São Paulo: Polar, 2015a.
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. 46ª Ed. São Leopoldo - RS: Sinodal; Petrópolis - RJ: Vozes, 201 9.
GLEISER, Marcelo. A Dança do Universo: dos mitos de criação ao big-bang. São Paulo: Cia. das Letras,
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GOMES, Valdir. Igrej a Católica & Maçonaria: verdadeiras razões da divergência. Porto. Alegre: Literalis,
2004.

Continua ..•
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HAMER, Dean. O Gene de Deus: como a herança genética pode determinar a fé. São Paulo: Mercuryo, 2005.
ISMAIL, Kennyo. O que é "landmark"? No Esquadro, publicado em 16.09.11. Disponível e m:
https://www.noesguadro.eom.br/termos-e-expressoes/o-gue-e-landmark/. Acesso em: 28.05.21.
LASZLO, Ervin. A Ciência e o Campo Akás hico ; uma teoria integral de tudo. São Paulo: Cultrix, 2008.
LEVI, Eliphas. Os Paradoxos da Sabedoria Oculta. São Paulo: Pensamento, 1977.
LEWIS, C. S. Os Quatro Amores. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
NICOLELIS, Miguel. Muito Além do Nosso Eu: a nova neurociência que une cérebro e máquinas - e como ela
pode mudar nossas vidas. São Paulo: Cia. das Letras, 201 1.
OVADIA, Daniela. Em busca do gene divino. ln: Mente & Cérebro. Ed. n~ 1. São Paulo: Duetto, s.d. Grandes
Temas: Fé- o lugar da divindade no cérebro, p. 6-11.
PASQUALLY, Martines. O Tratado da Reintegração dos Seres. Curitiba: AMORC, Gr. Lj. da Jurisdição de
Língua Portuguesa, 2008.
PINHEIRO, !.Antônio. Maçonaria & Neurociência. Disponível: e-mail: ivan.pinheiro@ufrgs.br.
POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix. 1989.
RITUAL. Ritual do Grau de Aprendiz Maçom - REAA. Porto Alegre: GLMERGS, 2007.
WEINBERG. Steven. Sonhos de uma Teoria Final: a busca das leis fundamentais da natureza. Rio de
Janeiro: Rocco. 1996.
ZAK. Paul. A Molécula da Moralidade. Rio de Janeiro: Elsevier. 2012.

RevistaMag
Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022

Dócil Vs Subserviente
Jáber Correia Campos, Técnico em Logística e escritor. A.R.L.S. Francisco de Assis nº 170, Grande Loja
Maçônica do Estado da Bahia - GLEB, Rito Escocês Antigo e Aceito, Mestre Maçom. Detentor do blog
Jaber em boas companhias.j aberc69@gmail.com

Qual o que separa a docilidade da subserviência?

Quando se busca o significado da palavra dócil, temos que:

• Dócil é o ser que de1nonstra brandura ou afeto.

No rol dos sinôniinos desta palavra, encontramos, também, que é o ser subserviente.
Apesar da relação ínti1na entre esses dois vocábulos, docilidade denota o carinho em servir o outro. Un1a ação que lembra
o adágio popular de "Quem não vive para servir, não serve para viver". E mais, nos Evangelhos do Cristianismo
encontramos a orientação de que devemos amar o nosso próxi1no co1no a nós 1nes1nos. De forma bem singular, o que seria
isso senão fazer ao outro o beLn que desejamos que nos façam? Isso, então, seria docilidade, brandura, amor, afeto?

A hun1anidade, carregada de egoísmo, e 1nais ou menos etnbrutecida co1110 bá mais de 2.000 anos, parece ainda estar
longe de compreender as sugestões presentes nas Escrituras Sagradas. Muitas pessoas deixa1n claro que não entende1n o
que ve1n a ser docilidade e a diferença entre esta qualidade e a hu1nilhante situação de subserviência. Esta traz consigo
uma conotação desn1oralizante que subjuga o outro, colocando-o numa condição de submissão, erroneamente. Isto
produz uin efeito tóxico nas relações humanas e, por isso, precisa ser repensado, já que, enquanto construtores sociais,
nos dispo1nos a pertencer e viver numa sociedade justa.

Então, fica a pergunta: qual o Ji111ite entre a docilidade e subserviência, se chegarmos ao senso coLnum de que a primeira é
u1na virtude e a segunda um "defeito de fabricação"? Quais os sinais emitidos para que se perceba que a interpretação
dada ao serviço prestado não passa de unia 1nansidão exacerbada?

Mes1no para os que se dedican1 a transforn1ar a sociedade en1 u1n lugar 1nelhor, deve-se 1nanter ligado o alarme do brio e
do an1or próprio. Ora, aqueles que só enxergam o sublime co1nportan1ento do amor como ato de subn1issão, não são
dignos desse movi1nento. Co1no se diz que se ten1 lhnite para tudo, retoman1os a pergunta: Qual o li1nite que separa a
docilidade da subserviência?

Há várias frases que podem esclarecer esta questão, senão vejamos: "Dai à César o que é de César e à Deus o que é de
Deus."; "Não se deve dar pérolas aos porcos." ou, ainda, "Quem 1nuito se abaixa deixa mostrar sua nudez.". Em outras
palavras, sendo os seres humanos diferentes no tocante a capacidade cognitiva, cada pessoa perceberá seu próprio lirnite,
de uma fonna ou de outra. Isto será traduzido na 1nudança comportamental em relação àquele para quem o limite fora
alcançado, ou correrá o sério risco de perder sua dignidade para um inundo que ainda não está pronto para ser servido
porque não consegue servir.

Revista Magister Magistrorum - Página 31


Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022

A Biblioteca Virtual do Grande


Oriente do Brasil é um serviço de
informação ao maçom e á família
maçônica para o armazenamento,
preservação e disseminação da
produção intelectual relacionada a
maçonaria. O seu conteúdo está
disponível publicamente, proporcionando maior visibilidade e impacto da produção
histórica e cultural maçônica.

O objetivo da Biblioteca Virtual é preservar o conhecimento e sabedoria acumulados


da Maçonaria para que possa ser útil para aqueles que possam considerá-la útil ou mesmo
necessária. Nossa intenção é preservar grandes obras em um formato online de fácil
consulta, para que o conhecimento coletado nunca seja perdido para aqueles que os
procuram.

A Biblioteca pretende ser um valioso recurso para pesquisas maçônicas, fornecendo


conteúdo em um esforço para avançar nosso conhecimento e compreensão da maçonaria,
seus significados e seu lugar na história.

Para acessar o Acervo Digital acesse: https://www.gob.org.br/biblioteca-virtual/

A Biblioteca Virtual do GOB-BA foi


criada a partir do Projeto de Lei
Apresentado pelo Deputado Estadual
Glauber Soares na PAEL-BA.

Foi na gestão do então Grão Mestre


Luciano Sepúlveda que a Biblioteca
Virtual foi criada , seu lançamento fora
realizado juntamente com o Concurso
Literário que o GOB-BA promoveu no
anode2020.

São centenas de arquivos, desde as


obras maçônicas mais clássicas até os
artigos acadêmicos mais atuais
relacionados à Maçonaria, disponíveis
Biblioteca Virtual GOB-BA
gratuitamente para leitura. Navegue por nossas galerias virtuais divididas por temas.

Para acessar o Acervo digital acesse:


http://biblioteca.gob-bahia.com.br/#page-content

Revista Magister Magistrorum • Página 32


Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022
,..
A INCONFIDENCIA
,.. , & O INCONFIDENTE
CONEGO LUIS VIEIRA DA SILVA
JoséAmânciode Lima, Cadeira 28,Academia Mineira ~1açônica de Le1111s.

Trabalho sobre o patrono da cadeira n• 28 da Academia Mineira Maçônica de Letras - AMML, corno
elogio ao Cônego Luís Vieira da Silva.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende trazer para os dignos Confrades uma visão do


movi1nento da Inconfidência Mineira, um tanto quanto compendiada, até porque o
objeto proposto, todos o do111inam con1 galhardia.

A Inconfidência Mjneira, e1n sua história, apresenta um grande leque de infonnações e


cabe ao pesquisador eleger aquelas que 1nais se aproxin1a1n da real idade dos episódios
ocorridos nas Minas das Gerais.

E' neste arcabouço da história política niineira que se busca descrever con1 atenção os passos de un1 Inconfidente que teve
papel relevante na construção do movi1nento da Inconfidência. Ele estava inserido em seu tempo, 1notivo pelo qual
interpretar as atitudes de sua vida à luz de sua época nos permite compreender nielhor detern1inados posicionamentos de
certos autores.

Antes de nie aprofundar no principal relato procurarei perpassar pela l-listória da Inconfidência Mineira, niarcando este
trabalho con1registros do 1novimento e sucinto histórico do seu mártir principal.

A l'NCONFIDÊNClA MINEIRA

A Inconfidência Mineira foi unia tentativa de revolta de natureza separatista, abortada pela Coroa portuguesa en1 1789, na
então capitania de Minas Gerais, contra, entre outros 1notivos, a execução da Derrama e o domínio português.

Na segunda nietade do século XVUI a Coroa portuguesa intensificou o seu controle fiscal sobre a suacolôrua na An1érica do
Sul, proibindo as atividades fabris e artesanais na Colônja e taxando severa1nente os produtos vindos da Metrópole.

E1n 1783 foi nomeado, para governador da Capitania de Minas Gerais, Dom Luís da Cunha Pacheco e Meneses. Exerceu
um governo de uma administração definida por corrupção. As jazidas de ouro e1n Minas Gerais co1neçavam a esgotar,
evento que ajudou na decisão da Coroa de instin1ir a cobrança da Derran1a na região, u1na taxação co1npulsória en1 que a
população deveria coD1pletar o que faltasse da cota imposta por lei de 100 arrobas de ouro ( 1.500 kg) aDuais, quando esta
não era atingida.

A Derra1na atingiria expressivaLnente a classe mais opulenta de Minas Gerais, ou seja, proprietários rurais, intelectuais,
clérigos, 1nilitares, quase todos 1nineradores que, descontentes, co1neçaran1 a conspirar. Entre esses descontentes
destacavam-se José de Resende Costa, José de Resende Costa FiU10, Cláudio Manuel da Costa, To1nás Antônio Gonzaga,
Don1ingos de Abreu Vieira, Joaqui1n José dos Reis, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, José da Sjlva de OliveiJa Roli1n,
Manuel Rodrigues da Costa, Carlos Correia de Toledo e Melo, Cônego Luís Vieira da Silva, Luís Vaz de Toledo Piza, Inácio
José de Alvarenga Peixoto e o alferes Joaquim José da Silva Xavier.

A conjuração pretendia elin1inar a dominação portuguesa das Minas Gerais, estabelecendo ali um país livre. Não havia
intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois naquele 1no1nentoun1a identidade nacional ainda não havia se fon11ado. A
fonna de governo escolhida pelos inconfidentes foi o estabeleci.menta de uma república, inspirados pelas idéias ilu1ninistas
da França e da recente independência norte-a111ericana.

O governador da Capitania das Minas Gerais, desde l 788, Luís Antôruo Furtado de Castro do Rjo de Mendonça e Faro,
Visconde de Barbacena, resolveu lançar a Derra1na. P.or isso, os co11spiradores ace11aran1 que a revolução deveria irro1nper
no d.ia e1n que fossem cobrados esses i1npostos. Nesse 1nomento, co1n o apoio do povo descontente e da tropa rebelada, o
movimento poderia ser vitorioso.
Continua ...

Revista Magister Magistrorum • Página 33


Edição 03 • Ano 1 • Fevereiro 2022
No entanto, a De1Tan1a não aconteceu. O rnovi111ento foi delatado pelos portugueses Coronel Joaquim Silvério dos Reis,
tenente-coronel Basilio de Brito Malheiro do Lago e o açoriano [nácio Correia de Pamplona, em troca do perdão de suas
dívidas com a Fazenda Real.

Diante das acusações, o Visconde de Barbacena procedeu às investigações, decretou a prisão dos lideres do n1ovin1ento,
transferindo-os para o Rio de Janeiro, onde responderam pelo crin1e de traição à Coroa Po11uguesa.

Antes do destecho do n1ovimento, 1nerece destaque a 1norte de Cláudio Mai1oel da Costa, e1n Vila Rica. Na constituição do
inquérito judicial, todos negara1u a sua participação, n1enos o alferes Joaquin1 José da Silva Xavier, que assun1iu a
responsabilidade co1no cabeça do 1novin1ento.

Finalizando esta sinopse da Inconfidência Mineira: en1 J8 de abril de J 792 ocorreu a leitura da sentença no Rio de Janeiro,
doze dos inconfidentes foran1condenadosà1norte. Porén1, en1 audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria 1pelo
qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para expatrio nas colônias portuguesas da África.

TIRADENTES

Joaq ui1n José da Silva Xavier ( 1746 - 1792) é considerado o grande 1nártir da h1dependência do Brasil. Nasceu na Fazenda
Pon1bal, às nlargens do Rio das Mortes, entre São José (atual Tiradentes) e São João Dei Rei, Minas Gerais, filho do
fazendeiro português Domingos da Silva Santos e da brasileira Maria Antonia da Encarnação Xavier. Ficou órfão aos onze
anos e foi criado pelo padrinho portu.guês Sebastião Ferreira Leitão, dentista. E co1n este aprendeu a profissão de dentista
prático a qual lhe rendeu a alctmha de "Tiradentes".

Trabalhou con10 nlascate e niinerador. Co1n noções .en1 n1ineração, tornou-se técnico en1 reconhecimento de terrenos e na
exploração dos seus recursos, chegando a trabal.har para o governo no reconheci1nento e levanta1nento do sertão brasileiro.

E1n 1780 ingressou na vida militar, assentando praça na 6ª Companhia de Dragões da Capitania de Minas Gerais, no posto
de Alferes, que corresponde, na atualidade, a segundo-tenente. Co1no niilitar sen1pre se destacou pela correção e corage1n,
na aplicação das tarefas que lhes eran1 confiadas. Entretanto, pela sua altivez às opressôes do governo colonial, que
condenava à pobreza e à ignorância os brasileiros natos, constante1nente fazia críticas pungentes e jamais consei,ruiu
promoção a posto superior a alferes.

Foi nomeado pela rainha D. Maria J, comandante da PatruU1a do Catninbo Novo, estrada que conduzia ao Rio de Janeiro,
con1 a função de garantir o transporte do ouro e dos dian1antes extraídos da Capitania.

Discutia junto aos conte1Tâneos o feitio da exploração do Brasil pela n1etrópole, evidenciada pelo volume de riquezas
to1uadas pelos portugueses e a pobreza e1n que o povo pennanecia.

Insatisfeito con1 todo o descalabro dos gove.111os da Capitania das Minas Gerais e pela pron1oção niilitar que não se
concretizava, pediu licença das atividade.s n1ilitares e seguiu para o Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro pe1ma11eceu por 1na.is de um ano, desenvolveu projetos in1portantes con10 a canalização dos rios Andaraí
e Maracanã, para 1nelhoria do abasteci1nento de água. Poréin estes não foram deferidos para conclusões das obras.
Novan1ente sentindo-se desprotegido, voltou à Minas Gerais.

Na ocasião, a Capitania de Minas Gerais não possuía urna boa situação econôn1ica, já não se produzia nuiito ouro e o
paga1nento dos impostos da Cora era cada vez mais dificil.

Surgiu o anúncio da Derr<1n1a e a conjuração cotneçou a ser preparada. Contudo, o desfecho foi a suspensão da cobrança dos
impostos pelo Visconde de Barbacena, diante da delação do movimento. Os incon:fidentes foram presos, julgados, um
enforcado e os demais expatriados.

E1112 l de abril de 1792, Tiradentes percorreu en1 procissão as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, no trajeto entre a
cadeia pública e o largo da La1npadosa, atual "Praça Tiradentes", onde fora annado o patíbulo. Executado e esquart~jado,
lavrou-se a certidão de que estava cu1nprida a sentença, e foi declarada infa111e sua 111ernória. Sua cabeça foi ergu.ida etn um
poste em Vila Rica, os restos 1nortais fora1n distribuídos ao longo do Ca1ninho Novo, arrasaran1 a casa en1 que 1norav· e
declararan1 infa1nes os seus descendentes.
Conlinua ...

Revista Magister Magistrorum • Página 34


Edição 03 - Ano 1 - Fevereiro 2022
LUÍS VIEIRA DA SILVA

Luís Vieira da Silva nasceu e1n Soledade (Lobo Leite, Distrito de Congonbas), lugarejo da Freguesia de Ouro Branco,
adjacência de Vila Rica, sendo batizado no dia 20 de fevere iro de 1735. Era filho de Luís Vieira Passos e Josefa Maria do
Espírito Santo. O pai natural de São Miguel de Vilela, do lugar cha1nado Passos e a mãe natural da Freguesia de Santo
Ildefonso, Porto- Portugal.

Os pais de Luís Vieira da Silva chegaran1 às ten·as do Brasil seu1 vínculo de 111atrimônio e se conhecera1u, provavehnente,
no Arraial das Congonhas do Can1po. O enlace 111atrimonial aconteceu, aos 18 de nove1nbro de 1733, na capela de Nossa
Se11hora da Soledade.

Sua mãe, em 1789, viúva, n1orava na fazenda denominada "do Guido", em Soledade, lugar conhecido també111 por
Passagem do Ouro Branco

Antes de descrever o ca1ninbo brilhante de Luís Vieira da Silva, vale registrar que a diocese de Mariana foi criada pelo Papa
'
Bento XIV pela bula Candor Lucis Eterne, no ano de 1745. Epoca e1n que a região das Minas de Ouro se desvi nculou
oficiahnentedajurisdição religiosa da d.iocese do Rio de Janeiro.

O pri1neiro bispo a tomar posse foi Dom Manoel da Cruz que veio do Maranhão para ad1ninistrar a catedral, chegando a
Mariana e1n 28 de nove1nbro de 1748. Coino Bispo de Mariana, a sua pri111eira atitude foi criar urna Instituição de ensino
que fosse lugar para a forn1ação do Clero de seu bispado. E1n dezembro de 1750 fundou o Se1ninário de Mariana,
dedicando-o à proteção de Nossa Senhora da Boa Morte.

Voltando-se para Luís Vieira da Silva, descreven1 os historiadores que ainda joven1, con1 quinze anos, entrou para o
Se1ninário de Mariana- onde estudou co1n óti1no aproveitatnento, até dezeinbro/ 1752.

Para continuar os estudos, foi transferido para o Colégio dos Jesuítas, e1n São Paulo, com apresentação do Padre José
Nogueira, da Con1panhia de Jesus. Lá cursou Filosofia e Teologia Moral, de 1753 a 1757.

Concluídos os estudos, voltou à Mariana e assumiu a regência da cadeira de Filosofia do Seminário, e perdurou co1no
educador dessa matéria até a data de sua prisão e1n 1789.

En1 21 de n1arço de J759, co1D vinte e quatro anos, foi ordenado Padre pelo Bispo de Mariana, Do111Manuel da Cruz, e, no
exercício do seu sacerdócio, foi vigário interino de São José Dei Rei I MG, passando o cargo ao efetivo, Padre Carlos
Correia de Toledo, ern 1777. També1n exerceu o cargo de Co111issário da Orde1u Terceira de São Fra11cisco de Assis, em Vila
Rica, de 1770 a 1773.

Tendo u111a notável trajetória corno padre, orador sacro e professor de filosofia há niais de vinte anos, era natural candidato à
vaga de cônego da Sé de Mariana, disponível en1 04 de j ulho de 1780. Posto este para trabalho diferente das rotinas con10
padre, já que um vigário recebia tributos obrigatórios e o cônego não. Este Liderava o cabido, e tinha realce e1n Mariana,
in1portante sede de bispado.Apesar do vasto predicado, o padre Luís Vieira da Silva sofreu oposição- porciú1ne da faina de
sua oratória, dos inún1eros convites para pregar nas grandes ceriinônias e por disseminar idéias liberais. E, j unto a tudo
isto, o Vigário Geral de Mariana, futuro Cônego Santa Apolônia - padre João Ferreira Soares, criou sérias dificuldades ao
padre Luís Vieira da Silva, acusando-o de ser réu etn u1n processo, en1 Sabará, por ter favorecido com pontos a un1
candidato de uni concurso paroquial, prática de corrupção denon1inada simonia e punida com excoinunhão.

Diante da acusação, en1 1782 ingressou na Justiça contra o padre João Ferreira Soares e, e1n 07 de março de 1783 o Ouvidor
Geral de Vila Rica, To1nás Antônio Gonzaga, pronunciou a sentença, que considerou a acusação con10 calúnia. En1 25 de
março de 1783, o padre Luís Vieira da Silva passou a receber o titulo de cônego.

O segundo livro do Cabido de Mariana traz u1n registro: "provido, e colado na 1nesn1a Sé, o Reverendo Luís Vieira da Silva,
o qual houve posse corporal, e controvérsia no dia 25 de n1arço de 1783". A palavra controvérsia representava a recusa por
pa1te dos outros cônegos, que não o desejavan1 no cabido da diocese.

Continua ...

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Passada esta etapa, o Cônego Luís Vieira da Silva avocou o 1iovo ofício religioso, no dever de suas funções obrigatórias,
mas exerceu em conexo a divulgação dos ideais iluministas. Ideais que o fizeram enveredar por trilllas complexas, que
resultaram no co1npartilhamento de in1portantes conventículos da Inconfidência -, registros dão contas de que teve
aproxi.n1ação forte com To1nás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, João Rodiigues de Macedo, intendente
fraucisc;o Gregório Pires Bandeira, lnácio José de Alvarenga Peixoto; Padre José Martins Machado. Padre Francisco
Aguiar CoutinJ10 e den1ais s.i1npatizantes do n1oviinento. Exercia com argúcia as ações efetivas do ofício, como a pregação
do conhecido sermão das exéquias do Principe Do1n José, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Vila Rica, e1n 26 de
Março de 1789. E1n paralelo aos afazeres religiosos, realizava reuniões con1 o grupo de sua prox.i1nidade, para tratar de
assuntos pertinentes ao n1ovimento.

Era u1n estudioso, un1 líder dos n1oviinentos da inteligência e do saber, se1npre ligado a u1n grupo de eruditos, conhecedores
das novas idéias políticas e sociais surgidas príncipahnente na França, postas em prática quando da Independência dos
Estados Unidos da An1érica.

"A filosofia tinha alvorada o seu estandarte contra o passado. Os princípi.os da iguaJdade dos ho1nens, da soberania popular
foran1 reconhecidos co1no dogmas incontestáveis: nobreza significou usurpação, sacerdócio, in1postura, religião, prejuízô
de educação: era o que se chamava fiJoso·fia".

Estando seu non1e envolvido e1n denúncias, o Visconde de Barbacena incun1biu o tenente-coronel Basílio de Brito
Malheiro do Lago de espioná-lo em Mariana. Recebeu visitas de Tomás Antônio Gonzaga, Freire de Andrade e padre
Miguel Eugênio da Silva Mascarenhas, que deran1 conhecimento das denúncias e da repressão i111inentes ao Cônego Luís
Vieira da Silva. Este não levou a sério tais avisos e foi preso e1n Mariana, como Inconfidente, no dia 22 de junho de 1789 e
transferido para a Casa dos Contos en124 dejunho de 1789, p.ela escolta chefiada pelo Ajudante-de-Ordens Antônio Xavier
de Resende, autor da prisão.

No período e1n que esteve preso na Casa dos Contos, fo i iuterrogado por três vezes: Duas pela Devassa Mineira e Lnna pela
Devassa do Rio de Janeiro:

A Lª Inquirição, em 01 de julho de 1789, tratou de responder aos seguintes dados: Co1no se cha1nava, de onde era natural,
onde residia, do que vivia e qual sua idade?

- Declarou se chainar Luís Vieira da Silva, natural da Freguesia de Ouro Branco, bispado de Mariana.; que vivia de suas
ordens, cadeira e púJpito; residente na u1esma cidade; de cinquenta e quatro anos de idade na época.

Tan1bém .naquela inquirição lhe foi perguntado se sabia a causa de sua prisão, ou dela tinha suspeita. Respondeu que após
várias prisões ocon·idas em Vila Rica e na Co1narca do Jl.io das Mortes e de falatórios sobre a 1natéria de un1 levante que se
queria concitai· em Minas, além do comentário do Ajudante-de-Ordens Antônio Xavier de Resende, de que sua prisão seria
para investigação do Real Serviço. sobre tal 1natéria, pronta1nente suspeitou ser o 1notivo da sua prisão.

Afirmaram-lhe que, sendo tal matéria o motivo da prisão - instavam-lhe declarar tudo quanto sabia sobre esse assunto,
relatando os acontecin1entos envolvendo sua pessoa ou outras, de seu conhecimento, e se sabia quem intentava tão
te1nerária corporação.

Luís Vieira da S.ilva revelou que, no te1npo do governo de Do1n Luís da Cunha Pacheco e Meneses, naquela Capitania,
ouviu dizer por várias pessoas que vinhan1 do Rio de Janeiro - de cujos no1nes não se recordava por não lhes ter dado muita
ate11ção -, que u111 alferes, por cognome Tiradentes, andava na dita cidade, convocando gente para un1 levante. Não levou
adiante por considerar tudo aquilo un1a ulti1nada loucura. Somente quando da prisão de Tomás Antônio Gonzaga, ouviu o
Desen1bargador Intendente Francisco Gregório Pires Bandeira (dizendo ter ouvido falar) que o n1esrno Tiradentes andara
en1 Vila Rica, por casas de várias meretrizes, a vron1eter prê1nios vara o futuro, quando se fonnasse u1na república nesta
terra. Quanto às prisões aludidas, ouviu dizer publicainente que os mesmos tinham projetado o levante, se1n, entretanto, ter
notícia 1nais parti.c ular sobre isso.

Voltou a depor e1u 08 dejulho de 1789, corno testemunha, sobre os fatos narrados no surnário do depoi1uento de Domingos
Vida! de Barbosa Lage- nada declarou.

2" lnquirição, e111 11 de julho 1789: diante das n1es1nas autoridades seguiu-se o interrogatóiio.
Continua ...

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- Sabia ou ouviu dizer(neste caso, que1n o disse) que tinha sido subtraído do Real Cofre algu111a son1a de dinheiro poralguLn
particular dos vogais da Junta da Adnlinistração da Fazenda Real, ou por seu Presidente? -·Nunca soube, neLn ouviu falar a
esse respeito.

- Sabia ou ouviu dizet(neste caso, que1n o disse) que tinhan1 sido apreendidas ou abertas cartas de Vila Rica para o Rio? Não
confinnou taJ fató.-, so1nenteouviu dizer que o Excelentíssin10 Senhor Vice-Rei tinha 111andado apreender ou abrir algun1as
cartas de particulares que iam das Minas para a cidade do Rio de Janeiro.

- Contou essa notícia que lhe deran1, da rnesma for111a, ou de outra, a alguém? Aquem fal9u? - Não se recordava, se havia
contado, incidenternente, a algurna pessoa. Se, refletindo 1nelhor, lernbrasse de algo a respeito, pronta e fiebnente o deporia
quando fosse .i nqui rido.

Perguntado se, não obstante não haver conversado corn algurn dos sujeitos presos - sobre matéria que dissesse respeito ao
levante que se premeditou, se teve algun1 discurso análogo à mes1na matéria corn algun1a outra pessoa: - Não se lembrava
de ter tido se1nelhante discurso co111 pessoa algu1na. Era sabido pela in1prensa a História da An1érica Inglesa, ela qual o
jornal Gazeta e outros, continuan1ente tàlavan1. Tendo ele, Respondente, lido a sobredita história e tido curiosidade de
examinar as referidas Gazetas - poderia ser que em alguma ocasião, sem Jin1 próprio ou particular - tivesse fejto algum
discurso ou conversa sobre unia e OLLtraA111érica, n1ovido que nisso não cometia dei ito algu.111.

Na acareação con1 Basílio de Brito Malbei.ro do Lago se concretizou a 3ª inquirição, e1n 23 de julho de 1789, ainda na casa
do Real Contrato, porén1 já na presença cio Desen1bargador Marcelino Pereira Cleto e Bel. José Caetano César Manitti,
escrivão da Devassa do Rio de Janeiro.

Nesta inquirição con1 o Cônego Luís Vieira da Silva, a priucípio houve un1a releitura cios questiona1nentos da 2" Inquirição.
por seren1 os interrogantes de outra Capitania. Seguiu-se a acareação.

Mandaram vir à sua presença Basílio de Brito MalJ1eiro do Lago, que ouviu e coofu111ou o que depôs sob jura1nento, se1n
1noclificação algun1a, o que in1plicava o Cônego Luís Vieira da Silva na Conjuração. Foi este perguntado sobre a prova que
contra ele resultava do referido depoin1ento, dos fatos e conversações nele compreendidos. - Respondeu que tudo isso era
uma tàlsidade. Não tivera contato particular com Basilio, não negava ter tido cotn ele algurn encontro na casa de João
Rodrigues ele Macedo, que isso podia ter ocorrido aproxi1nadan1ente na ocasião a que ele se referia. Absolutatnente negava
ter ticlo.algun1a conversa particular com ele.

Foratn lidas ouh·as 111atérias de acusações. Foi respondido pelo Cônego Luís Vieira da Silva que sobre os registros
mencionados, apenas co1n ULn citado por Basílio de Brito Malheiro do Lago, a moléstia dos pés-, concordava, porque já não
era 1nais novidade para muitos que convivian1 e1n Mariana. Finalizando a acareação, o Cônego Luís Vieira ela Silva
ironizou o despreparo de Basílio de Brito Malheiro cio Lago quantO'~ História das Minas.

E1n 23 de seten1bro 1789, o Cônego Luís Vieira da Silva, Do1ningos de Abreu Vieira e Luís Vaz de Toledo Piza, forarn
transportados para o Rio de Janeiro-, solicitação da Devassa cio Rio de Janeiro, tendo como responsável pela escolta o
Tenente Miguel Nunes Vidigal, con1 registro ela chegada en1 1Ode outubro de 1789.

No Rio de Janeíro, o Cônego Luís Vieira da Silva ficou preso na fortaleza da llba das Cobras· e depois no Convento da
Orclen1 Terceira. Nova1nente foi inte1Togado ern 20 de noven1bro 1789, perante o Desen1bargadorT01Tes, Ju.iz, o ouvidor do
.Rio de Janeiro, Desen1bargador Marcelo Pereira Cleto, o Tabel.ião João ela Costa Rodrigues e Faustino Soares ele Araújo,
con10 testemunha. Os questiona111entos foram os n1esmos perguntados nas inquirições de Minas Gerais, acrescidos do
seguinte:

- Sabia-se que proferia proposições sediciosas, con10 ao di:terque u111 príncipe europeu não tinha direito à América, que esta
era u1n país livre, que El-Rei não tinha gasto coisa alguma em conquistá-la, que os nacionais tiohatn restaurado a Bahia aos
holandeses, e comprado o Rio de Janeiro aos franceses - e isso a unia pessoa que não relacionou entre as de sua ai11izacle. -
Respondeu que, prin1eiro, alguén1 havia de ter direito a estes países. Os nacionais, não, porque eram oriundos da Europa e já
nascera1n vassalos. Logo, todo o direito cio país pertencia ao seu Soberano. A Bahia ou Perna111buc;o, fora1n restauradas aos
holandeses com as annas do 111esn10 Soberano. Era falso que a Majestade não tivesse gastado nada na sua conquista, pois da
história constava o con!rário, e por todas.estas razões tinham os monai·cas portugueses todo o direito a estes países. Estes
eran1 e sen1pre tinhain sido os seus sentimentos.
Contínua ...

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Após este interrogatório, outros li-ês foran1 realizados co1n o Cônego Luís Vieira da Silva, en1 lugares diferentes na cidade
do Rio de Janeiro. Registros dão conta de que sen1pre esteve incornunicável até a ocasião da sentença.

A sentença do Cônego Luís Vieira da Silva não Lhe foi dada a conhecer, já que o processo relativo aos réus eclesiásticos foi
desentranhado dos Autos da Devassa, correu em segredo por determinação régia. Foi secretarnente condenado pela Alçada
a degredo perpétuo, sendo-lhe confiscados todos os bens.

O Ministro de Ultran1ar, Marinho de Melo e Castro, recolheu o processo a seu arquivo pessoal, co1n um despacho do
PríncipeD01nJoão (futuro Dorn João VI), dizendo: "Faça-se perpétuo silêncio".

Portanto, em 18 de abril de 1789, a Alçada baixou acórdão relativo aos réus eclesiásticos, e1n cujos "consideranda'', diz:
"Mostra-se quanto ao réu Luís Vieira da Silva e Cônego que foi na cidade de Mariana, que era un1 dos chefes que os da
conjuraçãorepulava1n 111ais capaz e pronto para entrar na sua infan1e sociedade e conjuração" ...
PARTEFINALDASENTENÇA,APENA: ...
"Ao réu Luís Vieira da Silva condena1n en1 degredo por toda a vida para a Ilha de São Ton1é, e no perdi1nento dos seus bens
para o Fisco e Câmara Real".

Contudo, na própria Carta-Régia, de D. Maria I, a soberana portuguesa havia dito que:


"Quanto aos réus eclesiásticos, que seja111 re1netidos a esta Corte debaixo de segura prisão, con1 a sentença contra eles
proferida, para à vista dela Eu deter111inar o que melhor me parecer".

Foi levado para a Europa pela Fragata Golfinho, partindo do Rio de Janeiro em 24 de junho de 1792. En1 Lisboa, ficou preso
na Fortaleza de São Julião da Barra, durante quatro anos.

Registros dão conta de que o Ministro de Ultrao1ar, Marinho de Melo e Castro, cumpriu a ordem do Príncipe Regente Dom
João, fazendo cair o manto do esquecimento sobre os padres condenados. Somente com sua 111orte, em 1796, o Cônego Luís
Vieira da Silva foi retirado da prisão e recolhido ao Convento de São Francisco da cidade, onde ficou por seis anos
internado.

Passado longo período, dava-se o citado processo corno desaparecido, provavehnente em arquivo particular de um dos
descendentes de Marinho de Melo e Castro. Encontrado somente e1n 1950, foi logo publicado. Esses papéis foram
adquiridos pela Fundação Naci.ooalPró-Memória em Londres, en1 1980.

Etn 1802, o Visconde de Barbacena deu um parecer favorável ao indulto do Cônego Luís Vieira da Silva que só teve seu
regresso ao Brasil no fina l de 1804.

Passando ao ca1npo das hipóteses, crê-se que tenha chegado ao Rio de Janeiro em 1805, já septuagenário, após dezesseis
anos de cativeiro. Dúvidas existen1 quanto à data e local da sua morte. Algun1as publicações registran1 que seu passau1ento
ocorreu em Parati,já outras falarn de Angra dos Reis, em 1807 ou 1809. Temos versões de que passou os últimos tempos de
sua vida e1n Soledade, en1 con1panhia da filha e das irn1ãs.

REGlSTROS

• Tendo concorrido ao canonicato em vaga ocorrida a 04 de julho de .1780, foi provido por Carta Régia de 20 de
seten1bro dei 78 1, recebida em 1782. O Cônego Santa Apolónia, Vigário Geral, padre João Ferreira Soares, ini111igo
declarado de Luís Vieira da Silva, forjou e1n fevereiro de 1782 uma devassa eclesiástica, acusando-o de si111oníaco, isto
é, de corrupção e favoreci1nento ilíc.ito corno exa1ninador e1n concurso paroquial, estando o desfecho deste ocorrido,
registrado no penúltimo§ defls. 9 deste.

• Dados confinnan1 que o Cônego Luís Vieira da Silva, logo ao ser preso, teve seus bens sequestrados en1 Mariana,
en1 22 de junho de 1789: móveis, utensílios, louças e outros pertences que não significavam riqueza. Fez parte desta
apreensão a sua extraordinária biblioteca.

Continua ...

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Existe1u apontamentos de José Caetano César Manítti, que o Cônego Luís Vieira da Silva, como tantos outros
homens de respeitado conceito na sociedade do te1npo, possuiu u1na con1panheira, que lhe deu un1a ·filha - Auto da
Devassa.

"Te1n sua mãe. D. Josefa Maria do Espírito Santo, maior de 60 anos, que vive pobremente em co1npanhia de duas filhas
solteiras em unia fazenda chamada "Guido",junto ao Arraial da Passage1n do Ouro Branco. Ta111bé1n te1n o 1nes1no Cônego
uma filha por nome Joaquina Angélica da Silva, casada com Francisco José de Castro, cuurgião ausente e1n Portugal ou
Angola, a qual vive nesta Vila e1n casa de w11 cunhado".

Na obra de José Crux (página 671)-,já no Rio de Janeiro, quando interrogado pela Devassa Carioca: Co1no se chan1a, de
quen1 é fi1J10, de onde é natural qual a sua idade, é casado ou solteiro, que e1uprego te1n, possui ordens? - Cha1no-me Luis
Vieira da Silva, sou filho de Luís Vieira Passos e D. Josefa Maria do Espírito Santo, sou natural de freguesia de Ouro
Branco, termo de Vila Rica, tenho cinqüenta e quatro anos, nunca fui casado, sou presbítero do Hábito de São Pedro e
Cônego na Sé de M'ariana.

• Uma das n1aiores bibliotecas da colônia brasileira pertencia ao Cônego Luís Vieira da Silva. Sua biblioteca,
bastante vasta para os padrões da época, co1npreendia 270 obras, em um total de 800 volun1es, dentre os quais se
incluíam dois ton1os da Encyclopedic, as Observations sur !e Gouveme1nent des États Unis de l'A1nérique de Mably,
L'Esprit des lois de Montesquieu, a tradução francesa de The History of America de Robertson, Livros de Voltaire,
Mam1ontel, B. de Saint-Pierre, Condillac, Lafitau, alén1 de diversos volumes de teologia, direi.to canônico e historia
eclesiástica. O cônego possuía ainda obras representativas das Luzes ibéricas, cotno O Verdadeiro Método de Estudar
de Vemey eo Teatro Crítico Universal do Padre Feijó.

CONCLUSÃO

O Cônego Luis Vieira da Silva, e111 suas múltiplas identidades de sacerdote, homen1 letrado e político, teve reconhecin1ento
público e notório por seus contemporâneos, da capacidade e habilidade intelectual que possuía, desde pouca idade.

Foi um esteio para o progresso e consolidação das práticas religiosas das cidades históricas de Minas. Expressou em seus
sennões e en1 sua vida as condições socioculturais de sua época, niarcada por grande mutabilidade.

O Cônego Luís Vieira foi , se1n dúvida, u1n dos organizadores e propagandistas de unia reação contra a Coroa portuguesa,
preparando as idéias filosóficas ilun1inistas e doutrinando os dirigentes das elites de sua época.

Co1no grande ideólogo, tez genni:nar nas terras n1ineiras as sementes aladas da libertação. Homem culto, inteligente que
portava idéias novas e sendo ilun1 inista consciente, soube construir bases, que iri a1n abrir os pórticos do "novo tempo".
"A cultura é uma necessidade imprescindível de toda vida, é uma dimensão construtiva da existência humana, como as
mãos são atributo do bo1nem". Ortega y Gasset.

REFERÊNCIAS:

ALVES, Herinaldo Oliveira. Traços .Biográficos do Cônego Luís Vieira da Silva: Ser Cristão na A1nérica Portuguesa
(Século XVIII - Sociabilidade e Identidade Social), 14 páginas. Retirado: IN: Revista Brasileira de das Religiões. Maringá
(PR) v.111, n.9, jan/201 l - Dispon.ível emhttp:L/www.dhi.uen1.br

"Autos da Devassa da Inconfidência Mineira" - Edição promovida pela Cfünara dos Deputados e Governo do Estado de
Minas Gerais-Brasília - Belo Horizonte, de 1976 a 1983, vi. 1e 2, 1978.

FEITOSA, Francisco. Tiradentes: O Proto1nártir da Inconfidência do Brasil. Revista Virtual. Arte Real Nº 14. abril, 2008.
página6.

JOAQUTM, Felício dos Anjos. Men1ória do Distrito Diamantino. Ed. Itatiaia. 1976. Página 167.

VARGAS, Raimundo Fernando Queiroz. A Verdadeira face de Inconfidência Mineira. Guanapá Gráfica, Editora e Papéis
.Ltda.1997. 296 páginas.

VIEIRA, José Crux Rodrigues. Tiradentes: A inconfidência diante da História. Belo Horizonte: Copiadora Bandeirante,
v.2, 1993. p/659/690.
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Edição 03 .. Ano 1.. Fevereiro 2022

AGilney
Pedra
por
Bruta
Campodonio de Abreu
Confrade Gi lney ea·mpodonio de Abreu ( 16/05/ 1971) Teólogo, Gestor de !{.H., Coach de
Desempenho; P rofessor, Escritor e Palestrante. Me1nbro da A.R.L.S Monteiro Lobato 4009 en1
Salvador-BA. GOB-BA, Mestres lnsralado, Grau 07 do Rito Moden10 e 06 no R.E.A.A, autor do
livro O caminho para a ilunúnaçào. Presidente da Acade1nía Maçónica de Letras do GOB-BA.
Trai ner.gi1ncyabreu@gn1ail.com

A n1aior representação da nossa personalidade en1 un1a loja sin1bólica é a Pedra


Bruta, ela está en1 um local de destaque para evidenciar a condição áspera e
pri1nitiva que nos apresentamos ein nossa iniciação.
Essa condição da bnttalidade da pedra sempre nos len1brará que é constante e
progressivo o cantinho para o aperfeiçoan1ento, esse ele1nento si1nbólico denso e
sem forma é um espelho para quem busca o autoconhecimento.
Deve1nos pensar ta111bérn que a Pedra é um pedaço solto de urna rocha, ou seja,
so1uos uin pouco de u1na coisa 1uuito 1uaior. A nossa estrutura pertence a algo con1
infinita magnitude e esplendor.
Essa pedra que vem de u1na rocha tan1bén1 deve evidenciar que son1os u1n pedaço
de um ser Supremo, o Criador incriado, o Grande Arquiteto do Universo. Nessas
condições de pensan1ento nos ligamos a .Ele e passamos a descobrir u1na força energética que não estávamos nem sabendo
que tinha e que será doravante evidenciadaem nosso crescimento
Com esse pedaçQ de rocha, a pedra bruta depois de lapidada poderá ser usada en1 várias constn1ções para o ben1 de todos. E a
nossa primeira constn1ção e com toda certez.a a mais bonita de todas é o nosso templo interior.
Essa pedra colocada perto do altar do 2° Vigilante, no REAA, é a pedra angular, ou seja, sin1etrica1uente olhando é o nosso
próprio ser que deverá ser ITabalbado para uma grande obra que se mostra a nossa frente e da qual depende toda a 1naçonaria.
Em nossa chegada ao ten1plo nada é 1nais importante do que essa pedra, ela iri\ nos mostrar que precisamos elevar nossos
pensan1entos, ações e atitudes para manter à tradição de sen11os hon1ens livres e de bons costt11nes, na Juta pela melhoria
constante de nossa sociedade.
Um 1naçon1, um pedreiro de verdade se sentirá orgulhos en.1 poder ter condições de n1elborar a sua pedra interior, be1n
guardada dos 0U1os estranhos, onde somente cada um sabe onde precisa e deve melhorar.
A brutalidade da alma, a i111petuosidade de nosso caráter ou ainda a crueldade de nossas atitudes estão ben1 condensadas na
image1n da pedra que ficará por duas horas a c_ada reLmião en1 sintonia.con1 a nossa vista em loja.
Vale a pena notar que assitn con10 existe uma diversidade na constituição do ser hu1nano, porém uma única essência existe
ta1nbém un1a variedade de pedras e unia só esb"utura que é a sua condição de ser bn1ta.
Defini1iva1nente será uma condição inquestionável para quem iniciou na 1naçonaria de ter a sua postura alinhada na vontade
da constante busca pela nielboria em tudo que lhe seja apresentado, seja: Gra1nática, Retórica, Dialética, Arillnética,
Geometria, Música e Astronomia.
En1 todos os ritos, en1 todos os rituais se1npre haverá conl1ecimentos e111 alusão ao observado acima para que o maçon1que é
Lun decodificadordas verdade~ universais possa con1 ousadia e intrepidez fazer o seu t:rabaU10 na construção.do dificil social.
O ser bruto te1n que dar lugar ao ser polido, ao novo estado de espírito que a orde1n 11os apresenta, seguindo essa condição
estará sempre crescendo e nunca deixare1n.os de observar que estaremos a cada dia querendo ser un1a pessoa melhor, a pedra
colocada ali em destaque é uma alusão a esse ensinamento.
As pessoas d.e fora do ternpl.o, os profànos, que sempre criticam e denigrem a nossa 1naçonaria ainda estão con10 pedra e1n
seu estado 1nais natw·al esen1 un1a ajuda de nossa partepem1aneceran1 brutas por um longo tcn1po.
Se111pre será co1n os olhos voltados para a pedra bruta que evidenciaremos nossas respostas aos irtnãos ou aos profanos, seja
no trabalho secular ou no seio da fan1íJia. Apedra será nossa referencia do que erán1os e que não quere111os n1ais ser.
Nesse momento quero lhe convidar a fazer um desafio de tarefa, com o objetivo de melhorar-se como maçom. Consiga
umas pedras do tamanho que você achar mais conveniente e coloque a onde você sempre possa ver. Seja em seu bolso
junto com suas chaves, no console do carro, na mesa do trabalho, na estante de casa sempre aonde possa olhar e perceber
a grande lição que esse objeto quer lhe ensinar.

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