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POR QUE “SÃO JOÃO”, NOSSO PADROEIRO?

Desde que surgiram as primeiras associações de ofício organizadas – hoje, englobadas sob o rótulo geral de
“Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício” – cada ofício tinha o seu padroeiro.

A primeira organização de que se tem notícia, é a dos “Collegia Fabrorum”, criados em Roma, no século VI a.
C., por necessidade oriunda da atividade bélica: era a época em que as legiões romanas espalhavam-se pelo mundo
conhecido, em sua ânsia conquistadora. Os “collegiati” seguiam os legionários, para reconstruir o que fosse destruído por
estes com a guerra.

A princípio, os patronos dos ofícios eram os deuses do panteão greco-romano – que a Igreja, depois, chamaria
de “pagãos”- havendo, já na era cristã, a adoção de outros padroeiros, que, evidentemente, buscavam seus protetores
entre os santos e, principalmente, entre os mártires da Igreja.

Com a evolução dos ofícios, os frades passaram a ensiná-los a leigos, daí surgindo, no século XI, as Confrarias,
que sofriam influências do clero católico. Quase na mesma época surgiram as Guildas, entidades simplesmente
religiosas, passando, a partir do século XII, a formar corpos profissionais. Confrarias e Guildas, mantinham o hábito do
culto a protetores dos ofícios. São José, para os carpinteiros; Sant’ana, para os marceneiros; Santo Eloi, para os ourives;
Santa Bárbara, para os telhadores; a Assunção, para os pedreiros e canteiros, etc.

Depois do século XII surgiu a organização profissional por excelência, a dos Ofícios Francos, ou Franco-
Maçonaria. A palavra”franco” designava não só o que era livre, em oposição ao servil, mas, também, todos os
indivíduos, ou todos os bens que escapavam às servidões e direitos senhoriais. Esses grupos, dedicados à arte de
construir, tinham seus privilégios concedidos e garantidos pela Igreja, que era o maior poder da época.

Estas corporações de ofício costumavam comemorar, festivamente, o início do verão e do inverno, ou seja, as
datas solsticiais, ou solstícios. Solstício é a época do ano na qual o Sol, tendo-se afastado do equador o mais possível,
parece estacionar durante alguns dias, antes de tornar a se aproximar daquela linha. Havendo os de verão e de inverno.
Para os habitantes dos hemisfério sul da terra, o solstício de verão ocorre quando o Sol atinge sua posição mais austral
(meridional, sul) e, o de inverno, quando ele atinge sua posição mais boreal (setentrional, norte).

O solstício de inverno, no hemisfério sul, ocorre a 21 de junho, enquanto que o de verão acontece a 21 de dezembro,
invertendo-se no hemisfério norte, mas sempre nas mesmas datas.

Por influência da Igreja, mentora das corporações, essas datas solsticiais acabaram se confundindo com as datas
dedicadas a S. João, o Batista (24 de junho) e o Evangelista (27 de dezembro), que não são exatamente as mesmas dos
solstícios. E, graças a isso, os dois S. João foram considerados os patronos das corporações, hábito que chegou, em
alguns casos, à Maçonaria dos Aceitos, também chamada de “Especulativa”.

Esclareça-se, entretanto, que não é em todos os Ritos teístas que isso acontece. Para a Maçonaria inglesa, por
exemplo, a grande festa maçônica é a de São Jorge, padroeiro da Inglaterra. Para os Ritos adogmáticos, como o Moderno,
ou Francês, não há padroeiros, já que o Rito, em respeito à concepção metafísica de cada Maçom, evita símbolos
religiosos.

Pode-se notar, também, que, quando se fala, nos demais Ritos teístas, como o Escocês, em “S. João, nosso
padroeiro”, a referência não é apenas a um, mas a dois santos da Igreja Católica: o S. João Batista, filho de Zacarias e
Isabel, precursor de Jesus, anunciando a vinda do Messias e batizando-o, no rio Jordão, aquele que pregou, ao povo, a
penitência, para a espera do Messias, que teve uma vida austera no deserto, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre,
tendo sido degolado a mando de Herodes para atender um pedido de Herodias através de sua filha Salomé no ano 28 ou
29 da era atual; e o Evangelista, filho de Zebedeu, irmão de Tiago, apóstolo de Jesus, companheiro constante e o
preferido por Ele, aquele que primeiro o reconheceu ressuscitado na Galiléia, foi o último apóstolo a morrer, no fim do
primeiro século da era cristã.

Belo Horizonte, 26 de Julho de 1.999.

Fabrício Batista de Matos – M. M.


Loja General Moreira Guimarães, 0562

Bibliografia:
Transcrição resumida de trabalho do Ir. Castellani no Livro da Editora A Trolha, Fragmentos da Pedra Bruta.

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