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ALTAR DOS JURAMENTOS

Ir∴ Cícero D∴
A∴R∴L∴S∴ Luz da Acácia – Nº 2586 – Or∴ de Jaraguá do Sul (GOB/SC)

A Loja Maçônica simboliza o modo como o Universo era compreendido antigamente (1). Nossos primeiros irmãos
tiveram grande inspiração quando perceberam que o mundo é um templo, coberto por uma abóbada estrelada
durante a noite, e iluminado pelo Sol em sua jornada durante o dia. Um Universo no qual o Homem segue adiante
em seu trabalho, alternando luz e sombra, alegrias e tristezas, sempre buscando reproduzir na Terra a lei e ordem
presentes no Oriente, que é a origem de tudo (2).
Embora hoje saibamos que o mundo é fisicamente diferente daquele que era conhecido por nossos ancestrais, ainda
assim aquela inspiração inicial de nossos primeiros irmãos continua e continuará verdadeira.

Parece-me que a idéia central dessa inspiração é que se o Homem tem o propósito de construir seu próprio Templo
Interior, ou se ele está disposto a construir uma sociedade justa e duradoura nessa justiça, então ele deverá estar
iniciado nas leis e princípios que regem o Universo no qual ele vive. E para isso, o Homem necessita não apenas de
sabedoria, que deve ser desenvolvida, mas também da ajuda de Deus, que é o G∴A∴D∴U∴

Bem por isso em nossas Lojas Maçônicas está o Altar – mais antigo que qualquer Templo, e tão antigo quanto a
própria vida mesma. Um foco de fé e união. Um símbolo sagrado daquele pensamento inicial que inspirou a nossa
Arte Real. Um símbolo sagrado da existência do G∴A∴D∴U∴. Um símbolo sagrado de nosso propósito de erguer
Templos à Virtude e cavar masmorras ao vício.

Nada há de mais impressivo na face da Terra que o silencio de uma reunião de seres humanos curvados diante de um
Altar. O instinto que faz com que Homens se reúnam para orar é a mesma força invisível que move Homens a
desbastar pedras para construírem templos que corporificam o mistério de Deus.

Até onde conhecemos, o Homem é o único ser em nosso planeta que pára para rezar. E a beleza desse ato nos diz
mais sobre nós do que qualquer outro. Por uma profunda necessidade natural, o Homem procura Deus, e em
momentos de tristeza ou angústia, ou em momentos de tragédia e terror, ou ainda em momentos de sincera gratidão
e felicidade, o Homem deixa de lado suas ferramentas de trabalho e olha para o horizonte. E sem perceber, acaba por
fixar seu olhar num ponto mais elevado do relevo que está adiante. Talvez tenha nascido aí o termo Altar, substantivo
masculino proveniente do latim altare, que por sua vez derivou do adjetivo latino altus (alto, elevado, levantado).

Pelas consultas realizadas, pude imaginar que a história do Altar na vida da humanidade parece ser uma história
mais fascinante que qualquer ficção. Da procura inconsciente deste lugar mais elevado ou alto presente na natureza
que o cerca, o Homem evoluiu para construir este Altar perto de si. Inicialmente rudimentares, sua construção dava-
se pelo simples amontoar de pedras. A centralidade e importância do Altar tornaram-no mais solene e elaborado,
sendo portador de uma série de significados e elemento central dos mais variados rituais (holocaustos, preces,
declaração de compromissos, incensações, sacrifícios, etc). Todas as grandes civilizações e culturas humanas
ergueram altares: judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, romanos, gregos, egípcios, fenícios, incas, maias e astecas.
Indígenas e antigos pagãos de todas as partes tiveram e têm seus altares. Nunca, porém, o Altar perdeu sua
significação inicial, que é a de conduzir os pensamentos do Homem ao seu elevado deus, seja ele denominado como
for, e ao qual chamamos G∴A∴D∴U∴.

A partir de elementos como estes, podemos começar a perceber o significado do Altar dos Juramentos na Maçonaria,
e a razão de sua posição na Loja.

Na Maçonaria primitiva, não havia o Altar dos Juramentos, já que as Luzes da Loja (L∴  da L∴, Esq∴  e Comp∴)
ficavam sobre o Altar do V∴M∴, onde também eram tomados os juramentos. Posteriormente, em alguns ritos, criou-
se uma mesa auxiliar, considerada como extensão do Altar do V∴M∴. Tal costume deu origem ao Altar dos
juramentos, que originalmente, portanto, ficava no Oriente, embora algumas Obediências o tivessem levado para o
centro da Loja, em desacordo com suas origens, segundo Castellani (3).

Na maioria dos ritos, o Altar dos Juramentos está posicionado no Oriente, defronte ao Altar do V∴M∴,. No Rito de
York, porém, o Altar dos Juramentos está posicionado sobre o Pavimento Mosaico, no centro da Loja. No R∴E∴A∴A∴,
sua posição original é no Oriente. Posteriormente, no ritual editado em 1980 (4), o Altar foi posicionado no centro da
Loja. O ritual de 1998 e o atual, de 2001 (5), fizeram o Altar dos Juramentos retornar ao seu posicionamento original,
no Oriente, defronte ao Altar do V∴M∴ (6).

Rizardo da Camino indica que “o Altar maçônico não tem forma nem medidas definidas ou convencionais; ora é
construído no formato de um cubo ora de um triângulo e frequentemente de um quadrilátero; nada é colocado na
parte interna” (7).

Embora paire divergência entre os autores consultados acerca da localização em Loja e do formato que deve ter, fato
é que todos concordam que o Altar dos Juramentos não é simplesmente uma peça imprescindível no mobiliário
maçônico. Muito mais do que isso, ele identifica a Maçonaria como uma instituição de cunho religioso.
A Maçonaria não é uma religião, mas é religiosa em sua fé e seus princípios
básicos, em seu espírito e em seus propósitos. A Maçonaria não é uma religião,
muito menos uma seita, mas um culto em que todos os homens podem se unir
porque ela não pretende explicar, ou dogmaticamente estabelecer, o que ou
quem é deus. Maçonaria e religião andaram juntas até esta última ingressar no
feudo do sectarismo. A Maçonaria pretende unir homens, e não dividi-los.

Assim, o Altar dos Juramentos é um altar de fé – profunda e eterna fé que está


na base de todo e qualquer credo religioso. Fé num Criador que é a pedra
angular e a chave para compreensão de tudo. Fé sem a qual a vida se torna
adivinhação e fraternidade se torna futilidade.

Ao mesmo tempo o Altar dos Juramentos é um Altar de Liberdade – não liberdade pela fé, mas liberdade da própria
fé. Seja qual for a sua fé, pode o Maçom se unir aos seus irmãos. A Maçonaria, antes de ser operativa ou especulativa,
é co-operativa. E cooperação se faz pela união.

O Altar dos Juramentos exorta sentimentos natos de respeito ao Criador, conduzindo o Maçom a se tornar o operário
trabalhador e consciente, cujo labor de aperfeiçoamento moral e espiritual resultará no engrandecimento da Ordem
em geral e no bem-estar de toda a Humanidade em particular (8).

E faz-nos lembrar também que o mais sagrado altar da Terra é a nossa própria alma – Templo interior de fé,
esperança, pureza, tolerância e amor ao próximo.

NOTAS:

(1) Quanto a isso, por exemplo, esclarece-nos a 2ª Instrução do Gr:. de A∴M∴, constante do Ritual do R.E.A.A.
editado pelo GOB em 2001, p. 157. “VEN∴(o) – Que forma tem o nosso Templo? 2º VIG∴ – A de um quadrilongo,
sendo as suas medidas: - A largura, do Sul ao Norte; - O comprimento, do Oriente ao Ocidente; - A altura, da Terra
ao Céu; - A profundidade, da superfície ao centro da Terra. VEN∴ – Ir∴  1º∴  Vig∴, por que o Templo tem essas
medidas? 1º VIG∴ – Porque a Maçonaria é Universal, e o Universo é um Templo.”

(2) O Ritual do R∴E∴A∴A∴ editado pelo GOB em 2001, p. 158 também nos dá a indicação de que a origem de tudo
provém do Oriente, e que a lei e ordem presentes no Oriente devem seestender ao resto do Universo: “VEN∴ – Por
que o Templo Maçônico está situado do Oriente ao Ocidente? 1º VIG∴  – Porque assim estão situados todos os
Templos, pois o início da vida aconteceu no Oriente, estendendo-se ao Ocidente, e assim será até o fim dos Tempos.”

(3) CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 1ª ed. Editora Maçônica A Trolha: 1990. n 8, p. 30-31.

(4) Classificado como “horrível” por Castellani, conforme se pode verificar em  https://seguro002.ifxweb.com.
br/lojasmbr/consu3a/respo497.htm

(5) Vale notar que o Decreto do GOB nº 467, de 24 de abril de 2001, que “aprova e determina a aplicação do Ritual do
1º Grau – Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito, Edição 2001” menciona expressamente em seus
considerandos que “o Ritual do 1º Grau,Aprendiz Maçom do Rito Escocês antigo e Aceito sofreu, ao longo do tempo,
mudanças e acréscimos que o tornaram distante das suas origens” e que “a edição de 1998 do aludido Ritual,
procurou imprimir correções e ajustes, sem alcançar entretanto, a excelência desejada”.

(6) Segundo o Ritual do R∴E∴A∴A∴  editado pelo GOB em 2001, p. 4, “no centro do Oriente, entre os degraus do
Trono e a balaustrada, fica o Altar dos Juramentos, que é uma pequena mesa triangular ou uma pequena coluna de
um metro de altura, com caneluras e truncadas, em cima da qual ficam o L∴  da L∴  (Bíblia), um Esquadro e um
Compasso”.

(7) CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico. Madras: São Paulo, 2006. p. 37.(8) MONDEN, Ilson. O altar dos
juramentos. In. A TROLHA, n. 231, janeiro/2006. p. 29.

REFERÊNCIAS:

- Ritual do R∴E∴A∴A∴ editado pelo GOB em 2001

- CASTELLANI, José. Dicionário Etimológico Maçônico. 1ª ed. Editora Maçônica A Trolha: 1990. nº 8

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