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A IMPORTÂNCIA DOS SÍMBOLOS MAÇÔNICOS COMO ELEMENTOS

EDUCATIVOS

Ir. Ap. Mário Sérgio dos S. Nascimento


Aug. Resp.Subl. Loj. Simb. Aurora - Belém/PA.

Costuma-se marcar certas passagens da vida através de alguns objetos, gestos,


palavras ou outras coisas que são consideradas símbolos como: o anel de casamento e
noivado, o aperto de mão, levantar a mão direita quando se jura, um abraço fraterno, o
emblema de um clube de futebol ou de outra instituição, bandeiras, hinos e brasões,
fundamentais para a identificação nacional, símbolos conhecidos e até banalizados.
Existem aqueles de cunho religiosos e filosofais que levantam dúvidas que geram
em algumas pessoas a insegurança pela falta de conhecimento. Mas é perceptível que
todos os grupos sociais utilizam símbolos que são reconhecidos pelos indivíduos, sendo
utilizados em várias instâncias, por exemplo, na legitimação da ordem estabelecida,
identificação do grupo e hierarquização social. Aqui, de forma breve, objetiva-se saber:
como os símbolos maçônicos podem aprimorar o comportamento dos irmãos maçons?
Blummer (1969), defini o símbolo como qualquer coisa que pode ser indicada,
qualquer coisa que pode ser apontada ou referida: um livro, uma legislatura, um
profissional de qualquer área, uma doutrina religiosa, uma doutrina filosófica, um
artefato, um fantasma e assim por diante e podem ser de três tipos: físicos (coisas),
sociais (pessoas) e abstratos (idéias).
Os símbolos se fazem presentes por toda história, pois aparecem como elementos
tecnológicos que facilitam a vida, elementos de ligação com seres divinos e superiores,
marcam o fim de uma era e o inicio de outra, mas precisam estar em interação com o
homem para poder ter sentido para a sociedade, por ex. a bíblia, é mais um livro, porém
quando em interação com o homem passa a ser considerado sagrado, o nº 3 é só mais um
número, mas pode ser interpretado como elemento cabalístico, as palavras liberdade,
igualdade e fraternidade, é mais um grupo de palavras, todavia para outros, um marco no
regime político francês que influenciou boa parte do mundo. O indivíduo dá sentido ao
símbolo de acordo com a maneira que ele interpreta.
Os símbolos são utilizados como uma das forças reguladoras da vida coletiva, haja
vista que os seres humanos agem mediante ao significado que determinadas coisas têm
para eles e o significado de tais coisas deriva ou surge da interação que um indivíduo
mantém com seus pares, assim como pelo processo interpretativo usado pelo indivíduo ao
lidar com as coisas que ele encontra podendo manusear e até modificar tais
representações. Nesse sentido a importância que algumas coisas tem para os seres
humanos são fundamentais para o entendimento da vida em grupo.
O comportamento dos indivíduos depende das interpretações e sentidos que os
atores sociais dão aos objetos, pessoas e símbolos com os quais constroem o seu mundo
social. É por intermédio dos símbolos que as pessoas são socializadas, compartilham da
cultura e entendem qual é o seu papel social ou o seu papel no grupo que fazem parte.
Para entender a ação das pessoas é necessário que se veja os objetos enquanto as pessoas
os usam. Um objeto pode ter diferentes significados para diferentes indivíduos, pois o
significado das coisas é um produto das relações sociais e a criação de objetos e coisas
que fazem parte do cotidiano, estão de acordo com a necessidade humana.
As referências simbólicas são utilizadas para indicar os indivíduos que pertencem
à mesma sociedade ou grupo social, e também definir de forma mais ou menos precisa os
meios inteligíveis das suas relações com ela, com as divisões internas e as instituições
sociais e outros. Por exemplo, certas instituições demarcam suas hierarquias através de
patentes, jóias, peças ornamentais e outras denominações.
A vida em sociedade é um processo em que objetos estão sendo criados,
afirmados, transformados e postos de lado, a vida e as ações das pessoas necessariamente
mudam de acordo com as mudanças que ocorrem no mundo dos objetos.
É nesse sentido que se percebe os mecanismos utilizados pela maçonaria como
forma de educar seus componentes. O conteúdo a ser estudado é dividido em graus que
são: Aprendiz, Companheiro e Mestre e as lições de cada grau estão refletidas nos
quadros, painéis e pranchas de gravar ou traçar que são usadas como instrumento
simbólico de aprendizado dos irmãos.

Aqui será trabalhado o grau de aprendiz, que é considerado como a pessoa que
inicia a transição da vida do plano físico para o espiritual, grau preparatório para a
verdadeira entrada no mundo espiritual, tendo como símbolo a pedra bruta. A pedra é um
material de construção recém extraídas da pedreira que ainda não está pronta para tomar
seu lugar no edifício, precisa ser lapidada. O edifício simbólico construído por uma
humanidade lapidada é o templo de Deus. O aprendiz está iniciando o processo que o
levará a ser parte do templo de Deus.

O painel simbólico da loja no grau de aprendiz apresenta os principais símbolos


que devem ser conhecidos pelo aprendiz. Estes podem ser interpretados e divididos em:
símbolos sobre o conhecimento, justiça, virtude, religiosos, defesa e proteção, e estes
estão representados pelo pórtico e as colunas vestibulares, simbolizando a entrada no
Templo; a Pedra Bruta, a Pedra Cúbica e a Prancha de Traçar, símbolos dos três graus
simbólicos: Aprendiz, Companheiro e Mestre, respectivamente; o Compasso e o
Esquadro entrecruzados, o Nível e o Prumo, simbolizando as três luzes da oficina:
Venerável Mestre, 1º e 2º Vigilantes, respectivamente; o Maço e o Cinzel, instrumentos
de trabalho do Aprendiz no debastamento da Pedra Bruta; três janelas simbolizando a
marcha do sol; a corda de Nós; e uma Orla Dentada, enquadrando todo o conjunto,
simbolizando os opostos.

Símbolos de conhecimento: sol, lua, delta radiante, pavimento mosaico, escritura,


esquadro, compasso e as colunas.
SOL – Desde os mais remotos tempos, o Sol é o símbolo da luz e para a maçonaria a luz
representa conhecimento, esclarecimento mental e intelectual. O Sol se faz presente na
decoração do Templo, no teto, mostrando a Luz que vem do oriente; no retábulo do
oriente ladeando o Delta junto com a Lua, estando do lado em que fica o Orador, pois na
correspondência cósmica dos cargos da Loja, o Orador simboliza o Sol, pois dele emana
a Luz, como Guardião da Lei.

LUA – Cultuada desde a mais remota antiguidade como a mãe do universo, o principio
feminino que fertiliza todas as coisas, representa a alma. Suas forças são de caráter
magnético e, portanto, opostas às do Sol, que possuem caráter elétrico. A Lua deve estar
representada na parte Ocidental do teto dos Templos, em meio às trevas, em oposição ao
Sol, que está no Oriente, para mostrar a escalada iniciática do Obreiro, das trevas em
direção à Luz. Também pode estar presente no retábulo do Oriente, junto com o Sol,
ladeando o Delta do lado em que ficar o Secretário, já que o titular desse cargo, na
correspondência cósmica dos cargos em Loja, representa a Lua porque ele reflete, nas
atas, a luz que vem do orador, personificação do Sol.

PAVIMENTO MOSAICO - De origem sumeriana, simboliza, com seus quadrados


brancos e pretos, os opostos na vida do homem: a boa e a má sorte, a virtude e o vício, a
riqueza e a miséria, a alegria e a tristeza, etc. Representa a mistura de raças, das
condições sociais e do dualismo.

COLUNA J: (coluna do Norte) Também é uma das colunas que guarnecia a entrada do
templo de Salomão. Referia-se a expressão "Jachin" - que significa segundo texto bíblico:
Jeová se estabelecerá. Simbolicamente é o lugar onde os Aprendizes recebem seu salário,
isto é, o centro de irradiação dos mistérios do grau, ou seja, simbolicamente é a coluna
onde tem acento os Irmãos Companheiros e o local onde recebem as respectivas
instruções. Em Loja fica localizada no ocidente ao norte, coluna dirigida pelo 2º vigilante.

COLUNA B: (coluna do Sul) É uma das colunas que guarnecia a entrada do templo de
Salomão. Na expressão hebraica "booz", (para nós conhecida como Boaz) representando
força. Simbolicamente é o local onde os Irmãos Companheiros recebem seu salário, isto
é, o centro de irradiação dos mistérios do grau, ou seja, é sob o abrigo desta coluna que os
aprendizes recebem as instruções necessárias e aprendem a polir a pedra bruta. Em Loja,
a coluna fica localizada no ocidente ao sul. A coluna é dirigida pelo 1º vigilante.

Símbolo de justiça: compasso, esquadro.

COMPASSO- Representa a Justiça, pela qual devem ser medidos os atos do homem:
simboliza, também, o comedimento na busca, já que, traçando círculos, delimita um
espaço bem definido, símbolo do todo, do Universo. No plano esotérico, o Compasso é a
representação das qualidades espirituais e do conhecimento humano. No Grau de
Aprendiz, os ramos do Esquadro cobrem as hastes do Compasso, mostrando que a
materialidade suplanta a espiritualidade, ou que a mente ainda está subjugada pelos
preconceitos e pelas convenções sociais, sem a necessária liberdade para pesquisar e
procurar a verdade.

ESQUADRO - Simboliza a Equidade, a Justiça, a Retidão de caráter; esotericamente


representa a matéria, ou o corpo físico. Retidão é a qualidade do que é reto, tanto no
sentido físico quanto no moral e ético; assim, à retidão física, emanada do Esquadro,
corresponde a retidão moral, caracterizada pelas ações de acordo com a lei, com o direito
e com o dever, e a virtude de seguir retamente, sem se desviar, a direção indicada pela
equidade. É a joia símbolo do Venerável Mestre.

Símbolo de virtude: cinzel, maço ou malho nível, régua, nível, prumo, pedra polida,
pedra bruta, delta radiante.

CINZEL - Instrumento cortante numa das extremidades, usado por escultores e


gravadores. O Cinzel é um dos símbolos específicos do Grau de Aprendiz, pois, sendo
destinado ao esquartejamento da pedra (que transforma a pedra bruta e informe em pedra
cúbica, usada nas construções) ele simboliza a Razão, a Inteligência, enquanto que esote-
ricamente, é o físico, ou a matéria, sobre a qual atua o espírito, que é o Maço.

MAÇO ou MALHO - Instrumento utilizado para, atuando sobre o Cinzel, desbastar a


pedra. Simboliza a Força de caráter a serviço da Razão e da Inteligência (representados
pelo Cinzel). Do ponto de vista místico, é o espírito atuando sobre a matéria. Também é
um símbolo específico do Grau de Aprendiz.

RÉGUA - Haste de madeira ou metal dividida em 24 partes; cada parte corresponde a


uma polegada. Necessária para marcar os limites do esquadrejamento da pedra para que
as suas bordas sejam retas, simboliza um caminho retilíneo a seguir, com uma conduta
reta, sempre à frente. É o emblema da disciplina, da moral, da exatidão e da justiça.
Também é um símbolo do Grau de Aprendiz.

NÍVEL - Instrumento para comprovar a perfeita horizontalidade da superfície, simboliza


a Igualdade. O Nível maçônico é uma combinação de Nível e Prumo, com o formato de
um Delta ou de uma letra A, de cujo centro pende um fio vertical, o qual, se a superfície
não for perfeitamente horizontal, se deslocará para um dos lados. O Nível está presente
na saudação do Grau, no movimento horizontal da mão direita até o ombro direito. É a
jóia do Primeiro Vigilante.

PRUMO - Instrumento usado para medir a perfeita verticalidade de uma superfície, é o


símbolo da profundidade do Conhecimento, da Retidão e da Justiça. Representa, também,
o Equilíbrio, ou Estabilidade, quando perfeitamente a Prumo. Está presente na saudação
do Grau, no movimento vertical da mão direita ao longo do tronco. É a jóia do 2°
Vigilante.

PEDRA BRUTA - Objeto de trabalho do Aprendiz, deve ser desbastada e esquadrejada


para se transformar em Pedra Cúbica, polida e regular. Simboliza o próprio Aprendiz no
seu esforço para se aperfeiçoar e polir seu caráter, a sua retidão e a sua integridade; é,
enfim, o próprio símbolo de seu aperfeiçoamento na Maçonaria.

DELTA RADIANTE - O Delta, ou Triângulo Eqüilátero, é o símbolo das tríades divinas.


O Delta maçônico, além dessa representação, tem, no seu interior, as letras do nome
hebraico de Deus, embora também seja usado o Olho Onividente, que o assimilam ao
olho da Sabedoria de Horus. O Delta simboliza a Sabedoria Divina e a presença de Deus,
por isso representa o símbolo máximo presente no Templo.

Símbolo religioso: delta radiante, livro da lei, escadarias degraus, fé, esperança e
caridade.

LIVRO DA LEI - Simboliza a Lei Divina. Quando da Cerimônia da Abertura do Livro e


leitura de um trecho, espiritualiza-se a Loja e seus presentes.

ESCADA DE JACOB - Trata-se da alusão bíblica à escada que Jacob teria visto em
sonho. Símbolo da via ascendente até o céu. Através das três virtudes: Fé. Esperança e
Caridade.
Símbolo de defesa e proteção:

ESPADA - Instrumento de ataque e defesa é mais própria do Cobridor do Templo, o qual,


simbolicamente deve usá-la para proteger o recinto contra eventuais intrusos. É o símbolo
da combatividade do homem em defesa de seus domínios. Nas mãos do Venerável
Mestre, a Espada Flamejante, simboliza o poder de que está revestido para "criar" e
“construir” Aprendizes, Companheiros e Mestres.

CORDA DE OITENTA E UM NÓS - É um adorno encontrado no alto das paredes, com


um nó central acima da cadeira do Venerável Mestre, tendo de cada lado quarenta nós,
que se estendem pelo Norte e pelo Sul, terminando, seus extremos, em ambos os lados da
porta Ocidental de entrada, em duas borlas representando a Justiça (ou Equidade) e a
Prudência (ou Moderação). Essa abertura na corda significa que a Maçonaria é dinâmica
e progressista, estando, portando, sempre aberta às novas ideias que possam contribuir
para a evolução do homem e para o progresso racional da humanidade.
A corda tem também a função de proteger através da "Emanação Fluídica" gerada
pela concentração mental dos Irmãos, evitando que nenhuma energia negativa esteja
presente no recinto. As borlas separadas na entrada do Templo funcionam como captores
da energia pesada dos Irmãos que entram, devolvendo-lhes esta energia sob forma leve e
sutil quando de sua saída.

Portanto, os seres humanos agem diante das coisas com base no significado que
tais coisas têm para eles, nesse sentido, as diferentes situações indicam linhas de ações e
interpretações do comportamento, esse tem que ser construído sob as linhas
comportamentais dos outros com os quais estão interagindo. Este ajuste acontece não
apenas entre indivíduos em associação face a face, mas também entre coletividades como
corporações industriais e nações, escolas, família e outros.
Objetos, gestos, indumentárias, passiveis de interpretação, podem ser
considerados um dos elementos responsáveis pela conduta humana. O estudo dos
símbolos e sua importância no cotidiano conduzem as grandes reflexões e conclusões,
como a percepção de que os símbolos são mediadores do comportamento humano.
O comportamento humano é também fundamentado nas ações dos outros, através
do processo indicativo de como agir e interpretar certos símbolos. É através deste
processo de interpretação e definição que se forma a conduta humana, por isso, é preciso
perceber e interpretar as percepções das pessoas, o significado e o sentido que eles dão às
coisas e como estes relatos se relacionam com as experiências vivenciadas.
Os símbolos maçônicos traduzem certas manifestações internas da vontade
humana, com a finalidade de ajudar a transformar a personalidade moral, pois se tudo se
reduzisse ao externo, a aparência, a operação não daria resultado. A busca pelo
conhecimento e interpretação dos símbolos maçônicos através dos estudos e
internalização de tal conhecimento permite ao profano se transformar em um homem
novo.

Referências
BLUMER, H. Symbolic Interactionism. Perspective and Method. New Jersey: Prentice-
Hall, Inc., 1969
COULON, A. Etnometodologia. Petrópolis (RJ): Vozes; 1995.
CASTELLANI, José. Cartilha do Aprendiz. Ed. "A Trolha", 1992.
CAMINO, Rizzardo. O Aprendizado maçônico. Ed. "A Trolha", 1993.
________________. O Aprendiz Maçom. As Benesses do Aprendizado Maçônico. Ed.
Madras, 2000.

DUCHANE, Sangest. O pequeno livro da Franco Maçonaria. São Paulo: Pensamento,


2006.

GIDDENS, A. As Consequências da Modernidade. São Paulo: Ed. Universidade


Estadual Paulista (UNESP), 1991.
MAFFESOLI, M. No Fundo das Aparências. Petrópolis: Vozes, 1996.
PALACIOS, M. O Medo do Vazio: Comunicação, Sociabilidade e Novas Tribos. In
Rubim, A. Idade Mídia. Salvador: Ed. Edufba, 1995
LOPES, C., JORGE M.S.B. Interacionismo simbólico e a possibilidade para cuidar
interativo em enfermagem. Rev. Esc. Enfermagem(USP) 2005; 39(1):103-8.

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