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AS VIAGENS SIMBÓLICAS DA INICIAÇÃO DO APRENDIZ

A quarta instrução do Grau de Aprendiz trata de vários conceitos e ensinamentos direcionados à sua
formação como Maçom, sendo estes de fundamental importância e relevância para o contínuo
desbaste de sua pedra bruta e de seu aperfeiçoamento moral e espiritual. Inicia atestando a existência
de um Grande Arquiteto do Universo, que dotou a todos os seres humanos do livre arbítrio,
permitindo-lhes discernir o Bem do Mal, desde que dirigidos por uma sã Moral, sendo esta ensinada na
Maçonaria através de seu sistema de mistérios e alegorias (GOMG, 2004) e com base no ensinamento
de amor a Deus e ao próximo.

Para ser Maçom, o homem deve ser livre e de bons costumes, sendo esta liberdade representada pela
sua individualidade e sua condição de não ser escravo de suas paixões e seus preconceitos. Para tanto,
na sua Iniciação, o Aprendiz é despojado de todos os metais e tem seus olhos vendados, significando
seu desprendimento das vaidades do mundo profano e sua necessidade de instrução para construção
de sua Moral Maçônica.

Neste momento, são relembradas ao Aprendiz as três Viagens Simbólicas que realizou em sua
Iniciação. Estas viagens possuem caminhos e significados diferentes, e representam níveis através dos
quais é obrigado a passar para que, ao final, possa receber a Luz da Verdade. Especificamente quanto a
estas viagens, me dedicarei, neste trabalho, em explicá-las com maior profundidade.

O simbolismo das viagens é um dos temas centrais da literatura universal, como nas viagens lendárias
dos gregos Jasão e Ulisses e nas modernas sagas dos descobrimentos. A vivência das viagens fascina e
concentra a atenção do ser humano – o distanciamento do lugar, o sentimento de ausência, a
promessa de aquisição de novos conhecimentos e a descoberta do oculto (ZELDIS, 1995).

As Viagens Simbólicas, no Ritual de Iniciação, se realizam seguindo o Caminho do Sol, ou seja, num
sentido circular denominado dextrorsum (advérbio latino que significa “para a direita”, num sentido
indireto ou retrógrado, como o dos ponteiros do relógio, ao contrário do termo sinistrorsum, que
significa “para a esquerda”, em alusão ao movimento direto realizado pela Terra). Este movimento
circular também contém um simbolismo e significado psicológico, pois traça no Pavimento da Loja um
Círculo Mágico, ou Mandala, tendo no centro o Altar. Além disso, o próprio movimento de
Circunvolução traduz uma das formas mais primitivas, tradicionais, utilizadas nos rituais de diversas
cerimônias religiosas.

A primeira viagem é, talvez, a mais difícil de ser realizada, e caracteriza-se por caminhos tortuosos,
perigosos, de muitas dificuldades e obstáculos, em meio a ruídos e trovões. Segundo Leon ZELDIS
(1995) estes ruídos e trovões possuem dois significados, ou simbolismos. Primeiramente, representam
de forma física o caos presente na criação e na organização dos mundos. De forma moral, representam
os primórdios do homem e da sociedade, conduzidos ainda pelas paixões e excessos que não foram
dominados pela razão, ou seja, o homem em seu estado e mundo profano. A conquista da energia
moral, portanto, permite ao homem lutar contra suas paixões e obstáculos do mundo (CAMINO, 2007).
Pode-se aqui, por exemplo, tecer historicamente um paralelo entre a era do feudalismo e a era do
iluminismo, ou entre a “era das trevas” e a “era das luzes”. Ao final desta primeira viagem, o Neófito
bate à primeira porta, localizada ao Sul, e lhe é permitido passar.
A segunda viagem é uma etapa de transição, e caracteriza-se por uma estrada menos difícil do que a
primeira, mas não menos importante, com o ruído de armas e espadas batidas umas contras as outras,
e da água. Os ruídos representam, simbolicamente, o período histórico das batalhas e combates que o
ser humano travou para se colocar entre seus semelhantes. Representa, pois, a “idade da ambição” do
homem (GOMG, 2004) e a sua luta para vencer suas paixões e obstáculos do mundo. O barulho da
água simboliza os rios que deve atravessar para chegar ao seu objetivo maior, ou seja, a sua Iniciação e
a Luz da Verdade. O fato da segunda viagem apresentar menos dificuldades e obstáculos significa que
eles tendem a desaparecer à medida que o homem persiste em seguir no caminho da Virtude, apesar
dele ainda não estar totalmente liberto dos combates (CAMINO, 2007). Ao final desta viagem, o
Neófito bate à segunda porta, localizada no Ocidente, e é purificado pela água.

A terceira e última viagem, e a mais solene das três, realiza-se por uma estrada plana e suave e de
muito silêncio. A facilidade encontrada nesta viagem representa a tranquilidade e a paz obtida pelo
homem que consegue ordenar e moderar suas paixões. Como resultado, atinge sua “idade da
maturidade e da reflexão” (GOMG, 2004). Ao final desta viagem, o Neófito bate à terceira porta,
localizada no Oriente, e é purificado pelo fogo, estando em condições de receber a Luz. A purificação
pelo fogo é um conceito encontrado em várias culturas, e conforme destaca CAMINO (2007), na
Iniciação do Aprendiz as chamas do fogo objetivam inflamar de amor o coração do Maçom, através de
ações de caridade para com seus semelhantes.

As três portas pelas quais passa o Neófito simbolizam a Sinceridade, a Coragem e a Perseverança
(GOMG, 2004), e representam as três disposições necessárias à procura da Luz da Verdade, sendo o
processo de Purificação necessário para livrá-lo dos seus preconceitos e prepará-lo para receber a Luz
e buscar a Sabedoria. Conforme aponta Leon ZELDIS (1995), o processo de purificação pelos quatro
elementos da natureza – Terra, Ar, Água e Fogo – representa uma recapitulação da Obra Alquímica,
cujo trabalho inclui extrair os metais da terra – escavar, triturar, peneirar, flotar e fundir – e
transformá-los em metais refinados e preciosos. O metal do Profano é transformado, mediante o
processo de Iniciação, em metal refinado e precioso, fundamental para a composição dos Elos da
Cadeia Fraternal.

A quarta instrução continua recordando ao Aprendiz as etapas de sua Iniciação – os três passos num
quadrilongo, as espadas empunhadas pelos IIr.’. e apontadas em direção ao AP.’., representando os
raios da Luz da Verdade, o juramento, os indícios pelos quais se reconhecem os MMaç.’. (o S.’., a P.’. e
o T.’.), o Avental, a apresentação da Loja, os conceitos e simbolismos da Pedra Bruta e Pedra Polida, os
instrumentos de construção dos MMaç.’. – o Esquadro, o Compasso, o Nível e o Prumo -, o Maço e o
Cinzel, e a Prancheta de Desenho. Finalizando, explica o significado do Sol e da Lua e do Pavimento
Mosaico com a Orla Dentada.
Trata-se, portanto, de uma instrução riquíssima e de extrema importância para o desenvolvimento
contínuo do AP.’.M.’., pois recorda seus passos iniciais na Maç.’., quando da Iniciação, e clarifica todo o
significado simbólico dos mistérios e alegorias da Moral Maçônica.

BIBLIOGRAFIA:

CAMINO, Rizardo da. Rito Escocês Antigo e Aceito. São Paulo: Madras Editora, 2007.
DEXTRORSUM. Disponível em http://sorumbatico.blogspot.com/2006/11/terra-e-os-relgios.html

MINEIRO, Eduardo Silva. Instrução de Aprendiz 3.


Disponível em https://www.maconaria.net

PESSANHA, Harry. 4ª Instrução de Aprendiz.


Disponível em http://www.ictys.kit.net/Maat/haprediz4.htm

ZELDIS, Leon. Estudos Maçônicos: História, Simbolismo, Filosofia. 1ª Edição Brasileira. Londrina: Editora
Maçônica A Trolha Ltda.

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