Você está na página 1de 3

UNIDADE I - Filosofia Básica do Grau e Moral Maçônica

TEMA: O Princípio da Tolerância

1. INTRODUÇÃO

O Princípio da Tolerância

O Inciso 111 do Artigo 1° da Constituição do Grande Oriente do Brasil assevera:

“Proclama que os homens são livres e iguais em direitos (...) e que a Tolerância constitui
o princípio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a
dignidade de cada um.”

Mas o que significa a palavra “Tolerância”? Qual o seu significado na Maçonaria? Há um


limite para a “Tolerância”? São indagações que pretendemos dissecar, sem o compromisso de
esgotar o assunto, obviamente, mas com a intenção de deixar ideias para reflexões
introspectas.

2. TOLERÂNCIA

Definição:

O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (autor luso),


dá-nos a seguinte definição de Tolerância:

“Do latim, tolerantia. Constância a suportar, resistência, paciência, resiliência. Implica


aceitar que outros pensem de maneira diferente de nós, sem por isso os odiarmos.” Ou seja,
podemos ser tolerantes dentro do mesmo grupo, face aos pequenos defeitos e diferenças de
caráter, e tolerar as convicções e crenças dos outros que sejam diferentes das nossas.

Está claro aqui que tolerar não é amar; tampouco apreciar. Tolera-se aquilo que não se
gosta, no mínimo que soa estranho, mas que somos obrigados a aceitar, e na melhor das
hipóteses, compreender para evitar o conflito e a violência. É um valor necessário e muito
importante, mas atualmente insuficiente. Suficiente seria caso a nossa vida ética se limitasse
ao cumprimento dos deveres, ao respeito pelos contratos, e ao respeito pela regra de ouro da
vida em sociedade: “Não fazei ao outro o que não queres a ti.”

Na Maçonaria, desde a Cerimônia de Iniciação, o recipiendário é alertado sobre a


prática mais decantada das Virtudes Maçônicas: a Tolerância. Este princípio é cardeal, o fanal
máximo nas relações humanas, o respeito máximo às convicções e à dignidade de cada um.
Porém, um olhar mais acurado, identifica-se que procedimentos, comportamentos, atos e
atitudes de um sem número de Irmãos que convivem na Instituição, que frequentam
engalanados os Templos, proferindo eloquentes discursos e manifestando proselitismos
Salomônicos, chega-se à conclusão que se está praticando um outro tipo de Tolerância na
Maçonaria.

Escândalos na sociedade, não honrar compromissos profanos, ingresso na Ordem de


indivíduos de vida pregressa execrável ( utilizando-se de expedientes escusos), apadrinhados por
2

outros que já conseguiram ludibriar a Vigilância da Ordem, e que permanecem no Templo


defendidos acirradamente por grupos de idêntica índole, acobertados pelo manto da
Tolerância. Por conseguinte, acabamos por ter em nossa Casa Irmãos ávidos por favores
oblíquos, prestígio interno e externo, irresponsáveis no proceder e, principalmente, ausentes
nos trabalhos, sendo apenas um número, quiçá fosse um número neutro, mas infelizmente são
números negativos.

Dos parágrafos intróitos chega-se ao incômodo questionamento: “Qual o limite para a


Tolerância?” Ou quiçá nos permitam esses obreiros sem virtude questionar: “Há limite para a
Tolerância?” Sim, há de se questionar limites. A sociedade profana nos vê como uma
sociedade que agrupa homens de alta qualificação, que a história registra com riqueza ter
influenciado os destinos de muitas nações, inclusive a nossa. Não há como nos furtar de agir
com a correta Tolerância, sim, com limites, pois a maioria dos obreiros que integram a
Maçonaria são de homens livres e de bons costumes, que ingressam na Ordem com objetivos
sinceros de aperfeiçoamento, de lapidar a sua pedra interior. No interrogatório do Rito
Adonhiramita, o Venerável pergunta ao 1° Vigilante: “Para que nos reunimos?” E eis que este
responde: “Para levantar Templos à virtude, forjar algemas ao vício, e cavar masmorras ao
crime.” Está claro em todas as Sessões os nossos objetivos! Então, não obstante o princípio da
Tolerância em si mesma, deve sim haver limites!

É sabido que outras Lojas têm eliminado de seus quadros integrantes perniciosos ao
meio. Mas não somos uma casa de correição! A exclusão de Irmãos deve ser uma exceção de
Górdio, e não um ato à revelia da normalidade. O normal é a virtude no ato da seleção dos
novos Irmãos. A Tolerância neste momento é que deve ser equilibrada, porém precisa, pois ser
tolerante não significa aceitar tudo, mas antes disso, aceitar aquilo que acreditamos estar “justo
e perfeito”. Nossa Casa tem regras, a natureza tem regras, a sociedade tem regras…por que a
Tolerância não as teria?

3. CONCLUSÃO

Penso que o limite da Tolerância não deve ter seara sem fim. O adágio popular do “8 ou
80” é prefácio que justifica os extremos, o radicalismo. A virtude é o equilíbrio. O caminho da
Tolerância virtuosa e com limites é o justo e perfeito, o saudável a qualquer instituição, em
especial a nossa, que coincidentemente tem sido atacada pelas mídias esquerdistas no atual
momento político brasileiro. A Tolerância nos permite ser tolerantes ao ponto de questionar
seus próprios limites. Se assim não o fosse, teríamos que aceitar os extremismos da cultura
islâmica (casamento com meninas-crianças, censura total, mulheres tratadas como mercadoria, e o
pior, terrorismo). Teríamos que aceitar o comunismo, as ditaduras, a Guerra na Ucrânia!
Em minha propriedade eu tenho um pé de limão, desses cor de laranja, comuns na
Região Sul. Observo como ele é tolerante ao nosso clima. Enquanto todas as outras árvores
frutíferas são férteis apenas uma vez ao ano, esse tipo de limão não para nunca de produzir,
apesar do rigoroso inverno, das chuvas intensas, da seca, do rigor do verão…ele é tolerante a
tudo, e segue dando tudo de si para cumprir aquilo ao que foi destinado: produzir limões, e por
sua vez, descendentes.
3

Assim, devemos ser tolerantes como esse pé de limão, porém sempre com virtudes,
pois a tolerância não deve ser justificativa para a cegueira perniciosa, incauta ou relapsa. Em
nossa vida, assim como em nossa Instituição, qualidade deve sempre ser prioridade em
detrimento de quantidade, se esta for prejudicial ao nosso meio.

Mas como ser tolerantes quando percebemos que nosso Irmão está claramente
equivocado em sua percepção presente ou futura? Deixo aqui esse enigma moral.

“O tolerante cego permite que cegos de virtude nos governem.”

REFERÊNCIAS

1. D’ELIA Jr, R. Maçonaria: 100 Instruções de Aprendiz. 1ª ed. São Paulo: Madras, 2008.

2. MARQUES, R. A Tolerância e o Respeito em Aristóteles. Disponível em: http://www.eses.pt.


Acesso em 10 de outubro de 2022.

Você também pode gostar