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TEMA: COMO OS ESPAÇOS REFLETEM IDEOLOGIAS

TEXTO 1: Brasília: imagens dos Três Poderes


Numa época em que o número de retrocessos é sempre o dobro do de progressos, Brasília foi palco de imagens que, certamente, marcarão
o século XXI. Em certa medida, essas imagens também evidenciam o poder do povo na ocupação do espaço, mas também uma suposta fragilidade
do complexo arquitetônico-urbanístico da capital federal: a Praça dos Três Poderes, de autoria do arquiteto, urbanista e professor brasileiro nascido
na França, Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima Costa, e o projeto dos palácios, que complementam a composição urbanística, de autoria do
arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, respectivamente símbolos do
Executivo, do Legislativo e do Judiciário, os três poderes da república que constituem a praça de mesmo nome.
Três imagens repetidas dezenas de vezes: a subida do novo Chefe do Executivo pela rampa do Palácio do Planalto, no dia 01 de janeiro
de 2023, e a ocupação festiva da praça pela população; a invasão dos três edifícios acima citados por terroristas fantasiados de patriotas, no dia 08
de janeiro; e a travessia da Praça dos Três Poderes a pé pelas maiores autoridades do país para verificar os resultados da barbárie. As três são
imagens que expressam não só como a história dos espaços é, ao mesmo tempo, a história dos poderes constituídos, mas também como uma
estrutura arquitetônica ou urbanística pode assumir funções políticas diversas, muitas vezes opostas às ideias evidenciadas pela iconografia política
da cidade.
Apoiando-se em Foucault, a arquitetura e o urbanismo podem ser ferramentas políticas usadas para gerenciar conflitos, como “técnicas
de poder”. Como ele ressalta, o panóptico, entendido como “espacialidade imanente nas relações de poder”, e o urbanismo, que entre 1830 e 1880
assumiu papel fundamental na gestão de problemas referentes ao espaço urbano, entre eles “a doença”, em particular as epidemias de cólera, mas
sobretudo “a revolução”, sob a forma das revoltas urbanas que agitaram a Europa nesse mesmo período. Porém, a arquitetura e o urbanismo
também podem ser fundamentos da política e do político, como reforça Ludger Schwarte em “Filosofia da Arquitetura”. Para Schwarte, a
arquitetura do espaço público influencia os eventos revolucionários e possibilita a realização de tais ocorrências ao permitir ações específicas,
manifestações, posturas e, até mesmo, a expressão da população como tema político. Na acepção desse autor, é a ágora que possibilita a democracia
ateniense e não o contrário, pois são os espaços onde as pessoas se encontram que estabelecem os modos desse encontro e suas interações. [...]
O espaço nunca é matéria inerte. A relação entre espaço e sociedade é dialética e, com suas funções e formas, os elementos físicos
desempenham um papel nada secundário na definição dos modos de convivência civil. As relações sociais são condicionadas pelas maneiras pelas
quais os elementos no espaço se relacionam materialmente. Por isso, toda intervenção tem um valor político e as configurações que esses elementos
assumem no espaço, sempre constituindo um campo semântico, podem alimentar e educar o espírito ou deseducá-lo, se forem corrompidas por
adulterações incivilizadas, muitas vezes minando irremediavelmente sua beleza.
A primeira, uma imagem-manifesto, ratifica o ato de subir pela rampa como símbolo da ascensão ao poder. [...] Como valor intrínseco
do espaço arquitetônico, o percurso torna-se assim um processo nos limites da percepção física e um emblema do processo de percepção mental.
O movimento de subir a rampa, portanto, é um dispositivo espacial que liga a arquitetura à paisagem a partir de sua diluição dada pela transparência
literal (vidro) e fenomenal (do percurso), fazendo com que o observador seja, aos poucos, estimulado a contínuas descobertas e “enquadramentos”
da paisagem circundante. No caso específico da política brasileira, a “subida da rampa” tornou-se o símbolo de uma viagem ascendente ao poder,
que faz com que o eleito assuma sua dimensão pública. [...]
A referência e a inspiração mais profunda são os princípios da própria Constituição Brasileira, que visam desatar os nós que levaram o
país a ser econômica e socialmente injusto e, muitas vezes, a desrespeitar os direitos individuais comuns de todos os cidadãos e cidadãs, sem
exceção. Esses nós, acirrados nos últimos quatro anos, levaram a nação a ser uma ‘formação social’ em um amplo espaço de medo e sem alma: o
medo do ‘diferente’ e intimamente ligado à recusa que se lhe opõe, ao fechamento, à exclusão, e até ao ódio contra esse diferente. A consciência
da existência de pessoas com deficiência ressignificaria o conceito inicial da rampa em edifícios públicos, já que hoje sua inclinação não atende
às regras previstas na lei Nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 – que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
de indivíduos com deficiência ou mobilidade reduzida, e dá outras providências.
A segunda imagem, tão forte quanto a primeira, expõe a violência dos atos estilhaçando os panos de vidro dos três palácios e, ao mesmo
tempo, a fragilidade de uma arquitetura que tem na transparência o elemento característico de sua modernidade. [...] No caso dos Palácios de
Brasília, associado ao concreto armado, o vidro ilustra a estética da transparência preconizada pelo Movimento Moderno e permite a diluição do
objeto arquitetônico na paisagem, que se torna também metáfora da transparência entre os três poderes e da conquista da própria identidade. [...]
Do ponto de vista da composição urbanística, a Praça dos Três Poderes é o vazio urbano forjado pelos edifícios, das relações etéreas
entre as massas puristas que conversam entre si e se relacionam com a paisagem do Planalto Central. A visão simultânea integral, decorrente da
transparência dos palácios, permite que a transparência substancial e real assuma uma dimensão aparente e de organização. Na análise de Gideon,
permite “a visão global dos objetos no espaço”. Arquitetura é uma questão de diálogo, e a relação entre a superfície pública da Praça e os edifícios
públicos – como os três palácios – elevam a arquitetura à sua mais alta essência. O vazio torna-se, assim, portador de significados da política, não
só pelo valor memorial e de identificação que assume em termos sociológicos, mas também porque material e fisicamente esse vazio se manifesta
como lugar de equidade entre os poderes. Em sua dimensão mais profunda, o projeto do espaço público representa o projeto político. [...] Marco
da Arquitetura e Urbanismo Modernos, Brasília foi inscrita pela UNESCO na lista de bens do Patrimônio Mundial em 7 de dezembro de 1987,
sendo o único bem contemporâneo a merecer tal distinção. [...]
Disponível em: diplomatique.org.br/brasilia-imagens-de-tres-poderes/ - 27/01/2023
TEXTO 2:
O que é arquitetura hostil. E quais suas implicações no Brasil
Na terça-feira (2), o padre Julio Lancellotti quebrou a marretadas pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo debaixo do viaduto Dom
Luciano Mendes de Almeida. Os paralelepípedos visavam evitar a presença de pessoas em situação de rua no viaduto na avenida Salim Farah
Maluf, na zona leste da capital paulista. “É higienismo”, disse Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo,
ao jornal Folha de S.Paulo, ao criticar a medida municipal e justificar a sua ação. O prefeito Bruno Covas (PSDB) não se manifestou, mas a
prefeitura alega que a decisão de instalar os paralelepípedos foi tomada de forma isolada por um funcionário, que já teria sido exonerado – não foi
informada a identidade dele ou o departamento que integrava. Na terça (2), a prefeitura começou a retirar as pedras do local. [...]
“Exclusão arquitetural” refere-se a como a estrutura de espaços urbanos pode discriminar e segregar certos indivíduos – frequentemente,
pobres e negros, assinala a autora americana Sarah Schindler na revista The Yale Law Journal. No documentário “Arquitetura da Exclusão” (2010),
o diretor potiguar Daniel Lima aborda os muros, visíveis e invisíveis, nos centros urbanos – o filme foca no morro Santa Marta, primeira favela a
ser cercada por muros construídos pelo estado do Rio de Janeiro. Além de exclusão arquitetural, outras expressões buscam tratar do tema
criticamente nas cidades, como “design desagradável”, “arquitetura antimendigo” e “arquitetura hostil”. No livro “Unpleasant Design”, os autores
Selena Savic e Gordon Savicic definem “design desagradável” como estruturas para impedir determinados comportamentos e usos do espaço
público. No Brasil, há um longo histórico de iniciativas deste tipo, com instalação de pedras, pinos metálicos, grades, arames e outros materiais
para impedir a presença de pessoas em situação de rua.
“Arquitetura hostil” se refere a estratégias de design urbano que utiliza elementos para restringir certos comportamentos nos espaços
públicos, dificultar o acesso e a presença de pessoas, especialmente pessoas em situação de rua. [...] Segundo o historiador especializado em
arquitetura Iain Borden, citado pelo repórter Ben Quinn, a emergência deste estilo de arquitetura hostil data da década de 1990, nas gestões de um
desenho urbano que sugere, segundo suas palavras, “que só somos cidadãos se estamos trabalhando ou consumindo bens diretamente”. Isto é, não
trabalhar e não consumir quer dizer não poder estar presente como cidadão de uma cidade.
Eduardo Souza e Matheus Pereira, editores do site especializado em arquitetura e urbanismo ArchDaily, dão diversos exemplos de
construções e objetos que podem “afastar ou excluir pessoas ‘indesejáveis’”: cercas elétricas, arames farpados, grades no perímetro de praças e
gramados, bancos públicos com larguras inferiores ao recomendado pelas normas de ergonomia, bancos curvados ou ainda assumindo geometrias
irregulares, lanças em muretas e guarda-corpos, traves metálicas em portas de comércios, pedras em áreas livres, gotejamento de água em intervalos
estabelecidos sob marquises. [...]
Disponível em: nexojornal.com.br/arquitetura-hostil.-e-quais-suas-implicações-no-Brasil - 02/03/2021
TEXTO 3:
Arquitetura escolar
A arquitetura escolar brasileira vem de uma história onde princípios e soluções se refletem até hoje, caracterizadas por um ensino
tradicional. Recentemente, no panorama nacional, surgiram novas propostas de estrutura escolar, com centros educacionais que apresentam
programas pedagógicos abrangentes, sendo atendidos diversos níveis de ensino, com ambientes dinâmicos onde o aluno é o centro da educação.
Essas novas propostas se manifestam na arquitetura através do direito e da liberdade do aluno em utilizar o espaço escolar de forma mais livre,
para diferentes atividades que estimulem o aprendizado.
Um ambiente escolar de qualidade e que atenda a necessidade de todos os usuários depende de diversos fatores, sendo a reunião de todos
eles o meio para criar um ambiente adequado. Através da arquitetura o espaço escolar pode ter todo seu potencial ressaltado para ser o ambiente
ideal de aprendizagem. Cada metodologia pedagógica apresenta características particulares, no entanto, é possível elencar alguns aspectos comuns
entre elas: incentivo à experiência coletiva, de forma que é necessário que o projeto arquitetônico prever espaços onde os alunos possam se reunir,
trocar experiências e brincar juntos; o mobiliário escolhido para áreas de estudo [...] deve ser pensado para que tenha função, ora individual, ora
em grupo; contato dos alunos com o ambiente externo, o que pode acontecer através de pátios e jardins com função educacional.
Cada idade possui diferentes comportamento e aptidões, a relação com o espaço físico também influencia o comportamento humano, logo o
ambiente deve dialogar com a necessidade dos alunos em cada fase. Através do projeto arquitetônico é criado uma relação do aluno com seu
entorno, desenvolvendo um ambiente de equidade que promove a aprendizagem. [...]
Disponível em: repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/14071/1/BRUNALAUER_artigo.pdf – Curitiba, 2021.
TEXTO 4:
A paisagem urbana das cidades pós-industriais soviéticas
Encontradas pelos quatro cantos do mundo e construídas pelos mais diferentes motivos, da extração de recursos naturais à fabricação de
um determinado produto, as “monotowns” são cidades criadas ao redor de uma única indústria a qual é responsável por empregar a maioria de
seus habitantes. No antigo Bloco de Leste, onde uma série de cidades mono-industriais foram construídas durante o domínio soviético, a súbita
transição para um novo sistema econômico centrado no capitalismo abalou profundamente a estrutura dessas cidades, dando início a um rápido
processo de despovoamento e migração para outras regiões do país e do mundo.

Disponível em: archdaily.com.br/a-paisagem-urbana-das-cidades-pos-industriais-sovieticas – 16/08/2021

PROPOSTA DE REDAÇÃO
Dissertação-argumentativa
Com base nos textos acima reproduzidos e em outras informações que julgar relevantes, redija uma dissertação em prosa sobre o tema: Como
os espaços refletem ideologias.
Editorial
Sob a perspectiva de um(a) diretor(a) de um jornal de grande circulação, redija um editorial, motivado(a) pelas ideias contidas no Texto I,
sobre o tema: Como os espaços refletem ideologias.

PARA EXPANDIR SEUS CONHECIMENTOS

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